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A LÓGICA DO SISTEMA KANBAN NA INDÚSTRIA CALÇADISTA: ANÁLISE DE UM SISTEMA DE PROGRAMAÇÃO DA PRODUÇÃO DE SOLADOS E PALMILHAS Marconi Edson Esmeraldo Albuquerque Mônica Suely Guimarães de Araújo Cosmo Severiano Filho Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Cx. Postal: 5045 CEP: 58051-790 Campus I - João Pessoa/PB E-mail: [email protected] Sessões Técnicas Área Temática: Gerência da Produção ABSTRACT: The opening of new markets imposed strong pressures to the national industry, provoking intense run by improvements in its productive systems. The Brazilian Footwear Industry has been enough affected by the competition of the imported products (in particular the footwears produced in China). This paper aim to analyze and to discuss the system of programming of the production of soles and inner soles of an factory of a great company of the footwear section, that makes use of the visual technique Kanban, maid with the objective of decreasing the amount of stocks in its productive plants and, consequently, the decreasing of acquisition and maintenance costs of the stocks. For so much, technical visits were accomplished to the factory as well as collection of information with its leaders, through interviews and questionnaires. After to confront the expressed recommendations for the literature of the area, it was verified that the main rules of operation of this system, observed in the studied company, are in conformity with the literature suggests and that the advantages of the use of this system are considerable. KEYWORDS: Kanban System, Footwear Industry, Advantages and Improvement RESUMO: A abertura de novos mercados impôs fortes pressões à indústria nacional, provocando intensa corrida por melhorias em seus sistemas produtivos. A indústria calçadista brasileira tem sido bastante afetada pela concorrência dos produtos importados (em particular os calçados produzidos na China). Este trabalho tem como objetivo analisar e discutir o sistema de programação da produção de solados e palmilhas de uma unidade fabril de uma grande empresa do setor calçadista, que faz uso da técnica visual Kanban, empregada com o objetivo de diminuir a quantidade de estoques em sua unidade produtiva e, conseqüentemente, os custos de aquisição e manutenção dos estoques. Para atingir este objetivo, foram realizadas visitas técnicas à fábrica bem como coleta de

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A LGICA DO SISTEMA KANBAN NA INDSTRIA CALADISTA: ANLISE DE UM SISTEMA DE PROGRAMAO DA PRODUO DE SOLADOS E PALMILHAS Marconi Edson Esmeraldo Albuquerque Mnica Suely Guimares de Arajo Cosmo Severiano Filho Universidade Federal da Paraba, Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo, Cx. Postal: 5045 CEP: 58051-790 Campus I - Joo Pessoa/PB E-mail: [email protected] Sesses Tcnicas rea Temtica: Gerncia da Produo ABSTRACT: The opening of new markets imposed strong pressures to the national industry, provoking intense run by improvements in its productive systems. The Brazilian Footwear Industry has been enough affected by the competition of the imported products (in particular the footwears produced in China). This paper aim to analyze and to discuss the system of programming of the production of soles and inner soles of an factory of a great company of the footwear section, that makes use of the visual technique Kanban, maid with the objective of decreasing the amount of stocks in its productive plants and, consequently, the decreasing of acquisition and maintenance costs of the stocks. For so much, technical visits were accomplished to the factory as well as collection of information with its leaders, through interviews and questionnaires. After to confront the expressed recommendations for the literature of the area, it was verified that the main rules of operation of this system, observed in the studied company, are in conformity with the literature suggests and that the advantages of the use of this system are considerable. KEYWORDS: Kanban System, Footwear Industry, Advantages and Improvement RESUMO: A abertura de novos mercados imps fortes presses indstria nacional, provocando intensa corrida por melhorias em seus sistemas produtivos. A indstria caladista brasileira tem sido bastante afetada pela concorrncia dos produtos importados (em particular os calados produzidos na China). Este trabalho tem como objetivo analisar e discutir o sistema de programao da produo de solados e palmilhas de uma unidade fabril de uma grande empresa do setor caladista, que faz uso da tcnica visual Kanban, empregada com o objetivo de diminuir a quantidade de estoques em sua unidade produtiva e, conseqentemente, os custos de aquisio e manuteno dos estoques. Para atingir este objetivo, foram realizadas visitas tcnicas fbrica bem como coleta de informaes de seus dirigentes, atravs de entrevistas e aplicao de questionrios. Aps confronto com as recomendaes expressas pela literatura da rea, verificou-se que as principais regras de funcionamento deste sistema, observadas na empresa estudada, esto em conformidade com o que a literatura sugere e que as vantagens da utilizao deste sistema so considerveis. PALAVRAS-CHAVE: Sistema Kanban, Indstria Caladista, Vantagens e Melhorias 1. INTRODUO O surgimento de novos paradigmas para enfrentar os mercados globalizados tem gerado discusses constantes entre os profissionais da Engenharia de Produo. A abertura de novos mercados imps empresa nacional uma corrida por melhorias em seus sistemas produtivos. As tcnicas de produo Just-In-Time (JIT) e as ferramentas da Qualidade Total (TQC) so de ampla aplicao, fazendo com que os sistemas produtivos evoluam continuamente em termos de qualidade, flexibilidade, reduo de custos e desempenho de entregas (Tubino, 1999). O Kanban um sistema de programao e acompanhamento da produo JIT. Buscando adaptar-se aos novos tempos de globalizao da economia e, por conseguinte, a acirrada concorrncia com produtos importados, a unidade fabril da So Paulo Alpargatas - SPASA, localizada em Santa Rita - PB, implantou h 04 anos o sistema Kanban nos setores de produo de solados e palmilhas, tendo por objetivo diminuir a quantidade de estoques em sua unidade produtiva e, conseqentemente, os custos de aquisio e manuteno dos estoques. Este trabalho prope uma anlise e discusso do sistema Kanban empregado por esta empresa, onde suas diretrizes so confrontadas com as recomendaes expressas pela literatura da rea. Para realizar este intento, foram necessrios os seguintes recursos: visitas tcnicas, coletas de informaes dos mdios gerentes da fbrica atravs da aplicao de entrevistas e questionrios. 2. BASES CONCEITUAIS DO SISTEMA KANBAN 2.1. CONCEITOS, REGRAS E CARACTERSTICAS A viso geral do sistema Kanban e principal caracterstica da filosofia JIT o fato dele puxar o processo de produo, em que o processo subseqente retirar as partes do processo precedente. Fica, aqui, evidenciada a relao cliente-fornecedor que o JIT congrega e que o Kanban utilizado para movimentar e autorizar a produo (Figura 1). Figura 1 RELACIONAMENTO CLIENTE-FORNECEDOR Percebe-se, portanto, que a caracterstica produo puxada do sistema JIT inicia-se da relao fornecedor-cliente, partindo do pedido demandado (venda de um determinado produto) por um cliente externo fbrica, se estendendo pelas clulas de produo e fechando a cadeia com o fornecedor externo. Assim, a ltima unidade (X4) fornece o produto acabado, ao mesmo tempo que requisitar da unidade precedente (X3) os componentes necessrios para a fabricao do novo produto demandado e assim sucessivamente, at a entrada da matria-prima no comeo do processo. Para tanto, o JIT necessita de um sistema de informaes interno produo que seja ao mesmo tempo simples, de fcil compreenso e visual. A tcnica usada (operacionaliza o JIT) o Kanban (ou carto, normalmente confeccionado em um envelope retangular de vinil) que um sistema de controle de manufatura desenvolvido no Japo, consistindo em um mecanismo pelo qual um posto de trabalho informa a sua necessidade de mais peas e/ou materiais para a seo precedente. Segundo Monden (1991), o Kanban um sistema de informao que, harmoniosamente, controla a produo dos produtos necessrios, nas quantidades necessrias e no tempo certo, em cada processo de uma fbrica e tambm entre empresas. Sob o prisma da abordagem gerencial dos sistemas de produo, o termo kanban designa um sistema que autoriza a operacionalizao da produo, assim como a reduo dos estoques intermedirios e final, atravs da utilizao de sinais que informam, por exemplo, que o posto de trabalho B est pronto para receber o trabalho processado no posto A (Severiano Filho, 1999). A funo do Kanban pode ser resumida nos seis pontos seguintes (Moura, 1989): 1. O Kanban estimula a iniciativa por parte dos empregados da rea; 2. O Kanban um meio de controle de informaes; 3. O Kanban controla o estoque; 4. O Kanban ressalta o senso de propriedade entre os empregados; 5. O Kanban simplifica os mecanismos de administrao do trabalho, atravs do controle de informaes e estoque; 6. O controle de informaes e estoque tambm permite a administrao visual do trabalho na rea. Crouhy e Greif (1991) afirmam que o sistema Kanban repousa sobre trs regras fundamentais, apresentadas a seguir: 1. Um Kanban para cada contentor; 2. No produzir nunca sem um Kanban aberto; 3. A prioridade de produo dada referncia cujo Kanban est mais prximo do sinalizador. Apresentando as consideraes propostas por Boyst e Belt (1992) apud Severiano Filho (1999), quanto s caractersticas do sistema Kanban, estas se resumem em trs grupos: 1. Reatividade do fluxo a montante o sistema Kanban procura reduzir o tamanho do lote, permitindo a circulao de um fluxo rpido e contnuo. Essa acelerao do fluxo obtida a partir de duas condies: rapidez de circulao e flexibilidade do posto fornecedor; 2. Regularidade do fluxo a jusante o funcionamento do kanban pressupe que o fluxo a sua jusante seja regular; 3. Progressividade permanente do fluxo o mtodo Kanban requer que cliente (posto a jusante) e fornecedor (posto a montante) estejam estreitamente ligados atravs do fluxo fsico e do fluxo de informao, de modo que haja um melhoramento permanente na diminuio dos prazos, na reduo do tamanho dos lotes, nos nveis de qualidade, etc. A operacionalizao adequada de um sistema de produo de controle Kanban requer a satisfao de algumas precondies mnimas, de modo que o sistema esteja articulado para desenvolver as operaes kanbans. Essas precondies so apresentadas de maneira bastante diversificada na literatura, sendo que Carillon (1986) apud Severiano Filho (1999) as descreve em relativa consonncia com aquelas definidas pela Japan Management Association (1986). De forma geral, essas condies podem ser listadas de acordo com o seguinte esquema: C1 o posto de trabalho a montante deve fornecer os componentes, peas e/ou produtos sem nenhum defeito ou problema de qualidade, respeitando sempre o princpio de que produtos defeituosos no so enviados ao processo subseqente. C2 o posto de trabalho a jusante deve retirar suas necessidades apenas no momento exato, depositando sempre o carto onde se registra a operao. Atende-se, assim, ao princpio de que a etapa subseqente retira apenas o que necessita da etapa anterior, num processo em que a produo puxada do trmino para o incio da linha. C3 o posto de trabalho a montante deve produzir apenas sob recepo de cartes utilizados pelo posto a jusante, de modo que a quantidade produzida equivale sempre quantidade retirada. C4 os artigos devem ser padronizados e tecnicamente estabilizados, o que no exclui as ocasionais evolues tcnicas, pois o carto kanban pode ser alterado em qualquer momento. C5 o processo deve ser estabilizado e racionalizado, admitindo a ocorrncia de paradas nos equipamentos, devidas s falhas no processo ou no produto, bem como por falta de demanda. O acompanhamento das peas ou materiais durante o fluxo produtivo tambm uniformizado. C6 as responsabilidades devem ser descentralizadas, num processo que requer o engajamento de todo o pessoal de produo, buscando criar e desenvolver uma dinmica de progresso constante (Kaizen). A sincronizao e controle da manufatura devem ser responsabilidade do pessoal de produo (autocontrole). 2.2. A CIRCULAO DOS CARTES KANBAN Segundo Oishi (1995) so determinados alguns procedimentos para o perfeito processo de circulao de kanbans: 9 O processo posterior pega o kanban de produo, do painel de kanbans e o leva para o processo anterior para retirar o material; 9 Quando retirar os contentores com material processado do processo anterior, os kanbans de produo que acompanham os contentores so retirados e colocados no painel de kanbans; 9 Retirar o contentor cheio, afixando nele o kanban de produo; 9 O processo anterior recolhe os kanbans de produo deixados no receptor de kanbans de produo e os coloca no painel de produo para sua ordenao de produo; 9 O processo anterior realiza a produo, observando o grau de prioridade por meio da quantidade de Kanbans de produo colocada no painel de produo; 9 O volume de produo pelo Sistema Kanban controlado pela quantidade de kanbans que determina o nmero de rotao; 9 A retirada (busca) dos materiais necessrios nos vrios processos anteriores feita pelo prprio operador ou por um auxiliar. 2.3. PROGRAMAO E CONTROLE DA PRODUO ATRAVS DE CARTES KANBAN De acordo com Moura (1989), numa fbrica JIT utilizando o sistema Kanban, as funes de programao e controle da produo so divididas entre o departamento de programao da produo e a superviso da fbrica. O departamento de planejamento da produo fica responsvel pelo planejamento da produo, at a emisso do programa mestre, e pelos pedidos para os fornecedores externos. O Kanban assume todas as funes de controle da produo abaixo do programa mestre mensal. Toda a produo da fbrica, o fluxo de peas dos fornecedores externos e o controle do inventrio da fbrica se tornam responsabilidade da superviso. O sistema Kanban operado pelos empregados da linha de produo, os quais possuem a visibilidade e o conhecimento profundo das necessidades imediatas dentro da fbrica, para atender s necessidades do programa mestre de produo. 2.4. DETERMINAO DA QUANTIDADE DE CARTES KANBAN A literatura especializada apresenta uma srie de modelos, frmulas e equaes matemticas, com o objetivo de orientar a determinao do nmero adequado de kanbans num processo produtivo (Severiano Filho, 1999). Conforme estudo de Contador e Senne (1994), o nmero de kanbans definido o mais prximo quanto possvel da quantidade necessria, para to somente suprir a demanda durante o lead-time de produto fabricado. Esse procedimento pode levar a um aumento na quantidade de preparaes em relao quela que ocorreria caso se adotasse lotes econmicos de fabricao. Como conseqncia, tem-se uma reduo no volume de material em processamento, acompanhado, porm, de um aumento no custo e no tempo dedicado s preparaes, podendo gerar dois inconvenientes: y inviabilidade do programa de produo, devido ao excesso da carga de trabalho imposta ao setor e y reduo da rentabilidade econmica dos produtos. Para evitar os incovenientes acima descritos, o nmero de kanbans poderia ser determinado com o auxlio de modelos matemticos de otimizao. 2.5. BENEFCIOS DECORRENTES DA UTILIZAO CORRETA DO SISTEMA KANBAN DE PRODUO De um modo geral, a literatura da rea de gesto da produo apresenta um certo consenso sobre os benefcios decorrentes do Sistema Kanban, conforme exposio abaixo (Severiano Filho, 1999): y Reduo dos desperdcios, fora e dentro do cho-de-fbrica; y Melhoria dos nveis de controle da fbrica, pela descentralizao e simplificao dos processos operacionais; y Reduo do tempo de durao do processo (lead-time); y Aumento da capacidade reativa da empresa (resposta aos clientes); y Elevao do nvel de participao e engajamento das pessoas, atravs da descentralizao do processo decisrio; y Ajustamento dos estoques flutuao regular da demanda; y Reduo dos estoques de produtos em processo; y Diminuio dos lotes em produo; y Eliminao dos estoques intermedirios e de segurana; y Sistematizao e aperfeioamento do fluxo de informaes, assim como dos mecanismos de comunicao entre o pessoal de produo; y Integrao do controle de produo nos demais mecanismos de flexibilidade da empresa; y Maior facilidade na programao da produo. 3. A EMPRESA ESTUDADA A SPASA atua no Brasil desde 1907, porm sua histria de parceria com o Estado da Paraba s comeou em 1985, quando da aquisio do controle acionrio da BESA Borracha Esponjosa S.A., fbrica de sandlias de borracha localizada em Campina Grande. Em 1987, inaugurou a fbrica de Santa Rita e em 1990 adquiriu o controle acionrio da Norcalsa, Nordeste Calados S.A., em Joo Pessoa. O pioneirismo da SPASA avanou rumo s cidades do interior do Estado, onde foram instaladas pequenas unidades fabris postos de costura num total de 08 (oito), localizadas nas cidades paraibanas de Soledade, Pocinhos, Esperana, Massaranduba, Serra Redonda, Ing, Itabaiana e Guarabira. A empresa tem buscado melhorias, em termos de tecnologia e processos industriais para fabricao de calados, tendo como meta ser, at o final do ano 2000, o smbolo da vantagem competitiva na produo de calados autoclavados. A SPASA, no Estado da Paraba, emprega cerca de 5000 colaboradores em suas trs fbricas e 08 postos de costura sendo, portanto, a maior empregadora do setor caladista no Estado e, devido ao seu volume de produo (s em Santa Rita so 16000 pares/dia), o terceiro maior contribuinte de ICMS na Paraba (FIEP, 1997). A fbrica de Santa Rita, ambiente deste estudo, produz diversos modelos de calados esportivos, de numeraes e cores diversas. Os estgios bsicos na produo de calados nesta unidade fabril so: corte, produo de emborrachados (solados, palmilhas, etc.), costura, montagem e acabamento. Dividindo-se a fabricao em operaes, tem-se: operaes nas linhas de montagem, operaes fora das linhas de montagem e operaes fora da fbrica (costura, aposio de enfeites, etc., so realizados nos postos de costura). A seguir, apresenta-se o processo de funcionamento do sistema Kanban nos setores de produo de palmilha e solados, fazendo-se um paralelo com os princpios e regras que a literatura corrente recomenda. 4. O SISTEMA KANBAN DA SPASA O sistema de controle de produo Kanban, utilizado pela empresa em questo, foi implantado apenas nos setores de produo de solados e palmilhas. Os aspectos conceituais do sistema Kanban foram muito bem incorporados pela empresa, que segue criteriosamente as trs regras fundamentais, descritas na seo 2.1. A programao o prprio kanban, que significa melhoria do processo produtivo. Cada carto corresponde produo de 24 pares (solados ou palmilhas) contidos em contentores (caixas). Os cartes so colocados no lugar correspondente dos painis kanban, cujos nveis de prioridade de produo so identificados respectivamente pelas cores verde e vermelho (indica urgncia), e sua ausncia um indicador de que o processo est crtico, tornando-se necessrio verificar a causa do problema. O mix de vendas (percentual de vendas de determinado nmero ou cor) maior se d nos nmeros medianos 38, 39 e 40, em relao aos calados masculinos e 34, 35 e 36, aos femininos. Para atender a essa demanda especfica, a empresa opta por uma maior freqncia de produo dos nmeros mais solicitados. Como h limitao na quantidade de moldes de estamparia e navalhas para esses nmeros, os (moldes) existentes giram com maior freqncia na linha de produo. Essa informao imprescindvel para o balanceamento da linha de produo, indicando as ordens de produo que so prioritrias, destacadas pelos cartes kanban. Basicamente o kanban segue a seqncia numrica descrita anteriormente. Aqui, no necessariamente o pedido do cliente final (cliente externo), e sim o pedido do cliente do setor de produo de solados e palmilhas, ou seja, o setor de montagem (posto a jusante). Na SPASA o sistema Kanban utilizado o de um nico carto carto de produo. O carto que gira, vai e volta. Obrigatoriamente, neste sistema, o carto percorre todo o processo. Caso no percorra, perde-se a seqncia e, conseqentemente, sua caracterstica. Durante a coleta de dados, percebeu-se que a empresa em estudo utiliza todos os procedimentos para circulao de kanbans (apresentados na seo 2.2), adaptando-os s suas necessidades de sistema de carto nico. Quanto quantidade de cartes kanban em circulao, sua determinao feita de acordo com o nmero de dias de estoque que deseja-se trabalhar e o mix de vendas. Em cima disso, determina-se se as quantidades esto dentro da curva do mix de produo e faz-se os ajustes necessrios. Conforme a literatura, o kanban admite um certo estoque. No caso estudado esse estoque formado pequeno, o suficiente para uma produo de 2,5 dias. 5. DISCUSSO A partir das observaes feitas no setor de produo de solados e palmilhas da fbrica em estudo, no que diz respeito ao funcionamento do sistema Kanban, verificou-se que as principais regras de funcionamento do sistema foram consolidadas. Elas so apresentadas no Quadro 1. Quadro 1 PRINCIPAIS OBSERVAES DO SISTEMA KANBAN NO SETOR DE SOLADOS E PALMILHAS DA FBRICA ALPARGATAS DE SANTA RITA - PB Regras do Kanban Principais Resultados O processo subseqente (setor de montagem) busca as peas necessrias (solados e palmilhas) no processo anterior (setor de preparao) Os solados e palmilhas demandados pelo setor de montagem e o momento em que so necessrios, so determinados automaticamente No produzir mais do que a quantidade de solados e palmilhas requisitada pelo setor de montagem (a jusante) Como o prprio kanban a ordem de produo, ela gerada automaticamente. S se produz o necessrio (cada carto corresponde a 24 pares). No enviar solados e palmilhas defeituosos ao setor de montagem Possibilita a identificao e eliminao de defeitos e das causas que os originaram As flutuaes de demanda de produo por solados e palmilhas so ajustadas pelos cartes kanban A produo sincronizada torna-se possvel Estabilizao e racionalizao da produo A padronizao dos mtodos de trabalho permite o balanceamento da linha de produo, reduzindo tempos improdutivos e desperdcios de material em processo ou acabado (solados e palmilhas) Fonte: Pesquisa Realizada A confiabilidade do sistema Kanban garantida pelo cumprimento dessas medidas, as quais esto em conformidade com as recomendaes que a literatura da rea fornece. 6. CONCLUSES O sistema Kanban, um dos principais pilares da filosofia JIT, foi implantado pela empresa estudada no setor de preparao de solados e palmilhas da unidade fabril instalada no municpio de Santa Rita, no Estado da Paraba. A partir das observaes feitas no estudo, pde-se evidenciar que h conformidade entre as regras assumidas no sistema da empresa e aquelas sugeridas pelo referencial literrio revisado. A perfeio no funcionamento do sistema Kanban garante a produtividade, uma vez que, no haver erros de programao nem modificaes no seqenciamento, garantindo continuidade no fluxo de produo. O gerenciamento visual da produo atravs do Kanban , talvez, a mais poderosa ferramenta para melhor coordenar a produo, tornando-a administrvel pelos colaboradores e resgatando o seu poder de interferncia na programao, para atender as condies de seqenciamento e, em breve espao de tempo, os ajustes decorrentes de flutuaes de demanda. A inexistncia de documentos datados da poca anterior produo de solados e palmilhas, hoje operacionalizada por meio do Kanban, impossibilitou uma avaliao quantitativa dos ganhos de produtividade do setor. Apesar disto, e de acordo com as entrevistas realizadas na fbrica, constatou-se que, qualitativamente, as vantagens do emprego de um sistema Kanban nesta unidade fabril so considerveis, sendo o principal argumento levantado em sua defesa a simplicidade de funcionamento, uma maior flexibilidade da produo em atender a flutuaes na demanda e a dispensa de emisso de relatrios impressos e/ou ordens de produo. Este estudo possibilitou, ainda, a percepo da emergncia de uma nova realidade da produo industrial, caracterizada pelo uso de sistemas avanados de gesto da produo, dentre eles o sistema visual de programao da produo - Kanban. 7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ANTUNES JR, J. A., KLIEMANN NETO, F. J., FENSTERSEIFER, J. E. Consideraes crticas sobre a evoluo das filosofias de administrao da produo: do just-in-case ao just-in-time. Revista de Administrao de Empresas, So Paulo, v.29, n.3, jul./set. 1989, pp.49-64. CIOSAKI, Lincoln M., COLENCI JR, Alfredo. 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