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CONHECENDO O PAI ADOLESCENTE Sonia Maria Könzgen Meincke 1 Ana Cândida Lopes Corrêa 2 Marilu Correa Soares 3 Simoní Saraiva Bordignon 4 Introdução: No Brasil existem cerca de 39 milhões de adolescentes conforme o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2007. Destes, aproximadamente, 19 milhões entre 10 e 14 anos e 20 milhões entre 15 e 19 anos. 1 Na fase da adolescência ocorre uma oscilação entre um mundo infantil, que está sendo deixado para trás, e um novo mundo, marcado pelo início da vida adulta, o qual está repleto de descobertas e surpresas. 2 Acrescentar a essa etapa a paternidade é vivenciar um processo de transformações, construções e reconstruções, e uma busca de identidade para este homem ainda adolescente, bem como para sua família. A paternidade na adolescência é vivenciada de acordo com a cultura e, geralmente, está embasada em valores e sentimentos familiares, os quais foram construídos ao longo das gerações. 3 O tema em questão, enquadra-se em um importante problema de saúde pública, uma vez que os programas sociais e de saúde do homem e adolescente não beneficiam de forma concreta essa população específica. O tema paternidade na adolescência não é tão discutido na literatura brasileira, quando comparado com a maternidade. Razão pela qual urge a necessidade da realização de estudos, que abordem o tema paternidade na adolescência a fim de produzir conhecimento científico para proporcionar subsídios aos profissionais na atenção a esta população. 4 Diante disto, desenvolve-se a pesquisa multicêntrica “Redes Sociais de Apoio à Paternidade na Adolescência (RAPAD), em três hospitais universitários das Universidades Federais de Pelotas, Florianópolis e Paraíba dos estados brasileiros, Rio Grande do Sul (RS), Santa Catarina (SC) e Paraiba (Pb) que busca conhecer o pai adolescente junto ao seu contexto de vida e como ele desenvolve o processo da paternidade. É dividida em dois subestudos, 1 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem e Obstétrica da Universidade Federal de Pelotas - RS. Coordenadora da Pesquisa Multicêntrica: Redes de Apoio a Paternidade na Adolescência – RAPAD financiada pelo CNPq processo 551222/2007-7. Email: [email protected] ; Telefone para contato: (53) 91433343 2 Discente do 8° semestre da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Bolsista de Iniciação Cientifica CNPq na pesquisa RAPAD. Membro do Núcleo de Estudos em Práticas de Saúde e Enfermagem (NEPEn). 3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem em saúde Pública EERP-USP. Docente do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Rio Grande do Sul, pesquisadora colaboradora da pesquisa RAPAD 4 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem UFPEL. Bolsista CAPES. Membro do NEPEn. 836 Trabalho 192

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CONHECENDO O PAI ADOLESCENTE

Sonia Maria Könzgen Meincke 1

Ana Cândida Lopes Corrêa2 Marilu Correa Soares3

Simoní Saraiva Bordignon4

Introdução: No Brasil existem cerca de 39 milhões de adolescentes conforme o censo do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2007. Destes, aproximadamente, 19 milhões entre 10 e

14 anos e 20 milhões entre 15 e 19 anos.1 Na fase da adolescência ocorre uma oscilação entre um mundo

infantil, que está sendo deixado para trás, e um novo mundo, marcado pelo início da vida adulta, o qual

está repleto de descobertas e surpresas.2 Acrescentar a essa etapa a paternidade é vivenciar um processo

de transformações, construções e reconstruções, e uma busca de identidade para este homem ainda

adolescente, bem como para sua família. A paternidade na adolescência é vivenciada de acordo com a

cultura e, geralmente, está embasada em valores e sentimentos familiares, os quais foram construídos ao

longo das gerações.3 O tema em questão, enquadra-se em um importante problema de saúde pública, uma

vez que os programas sociais e de saúde do homem e adolescente não beneficiam de forma concreta essa

população específica. O tema paternidade na adolescência não é tão discutido na literatura brasileira,

quando comparado com a maternidade. Razão pela qual urge a necessidade da realização de estudos, que

abordem o tema paternidade na adolescência a fim de produzir conhecimento científico para proporcionar

subsídios aos profissionais na atenção a esta população.4 Diante disto, desenvolve-se a pesquisa

multicêntrica “Redes Sociais de Apoio à Paternidade na Adolescência (RAPAD), em três hospitais

universitários das Universidades Federais de Pelotas, Florianópolis e Paraíba dos estados brasileiros, Rio

Grande do Sul (RS), Santa Catarina (SC) e Paraiba (Pb) que busca conhecer o pai adolescente junto ao

seu contexto de vida e como ele desenvolve o processo da paternidade. É dividida em dois subestudos,

1 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem e Obstétrica da Universidade Federal de Pelotas - RS. Coordenadora da Pesquisa Multicêntrica: Redes de Apoio a Paternidade na Adolescência – RAPAD financiada pelo CNPq processo 551222/2007-7. Email: [email protected]; Telefone para contato: (53) 91433343 2 Discente do 8° semestre da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Bolsista de Iniciação Cientifica CNPq na pesquisa RAPAD. Membro do Núcleo de Estudos em Práticas de Saúde e Enfermagem (NEPEn). 3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem em saúde Pública EERP-USP. Docente do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Rio Grande do Sul, pesquisadora colaboradora da pesquisa RAPAD 4 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem UFPEL. Bolsista CAPES. Membro do NEPEn.

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um quantitativo e um qualitativo, sendo que o presente trabalho aborda dados do subestudo quantitativo

da pesquisa. Objetivo: descrever o perfil do pai adolescente por meio de variáveis sócio-demográficas.

Metodologia: O presente estudo é de caráter quantitativo e descritivo. Trata-se de um recorte dos dados

da pesquisa multicêntrica RAPAD, aprovada no Comitê de Ética da Faculdade de Odontologia sob nº

007/2008. Os sujeitos do estudo foram 74 pais adolescentes, cujas parceiras realizaram o parto nos

hospitais das Universidades participantes da pesquisa. As variáveis abordadas incluem os aspectos

relacionados aos dados sócio-demograficos do pai adolescente. Os instrumentos aplicados aos pais

adolescentes que fizeram parte do estudo foram codificados e revisados. O banco de dados sofreu duas

digitações independentes pelos integrantes da pesquisa no software EPI-INFO 6.04 (version, CDC,

Atlanta, Georgia, USA) a fim de garantir a fidedignidade dos dados. Resultados : Dos 74 pais

adolescentes que se inseriram nos critérios de seleção nos 3 locais participantes da pesquisa, foram

entrevistados, 23 (31,1%) em Pelotas; 41 (55,4%) em Florianópolis e 10 (13,5%) em João Pessoa.

Quanto a faixa etária dos pais adolescentes 68(92,0%) encontravam-se entre 17 a 19 anos. Este dado nos

permite inferir que os adolescentes estão cada vez mais iniciando a vida sexual precocemente, resultando,

na maioria das vezes, em gravidez da parceira.5 Em relação à escolaridade paterna 61(82,4%) dos

adolescentes não estudavam, enquanto que 13(17,6%) dos pais adolescentes mantinham vínculo com

alguma instituição educacional. Quanto ao nível de escolaridade, percebe-se que 46(62,2%), tinham

apenas o ensino fundamental e 28(37,8%) tiveram acesso ao ensino médio sem concluí-lo. Estudos têm

demonstrado que os pais adolescentes possuem baixa escolaridade quando comparados aos pais adultos, e

que o baixo desempenho escolar está presente entre os pais adolescentes não só como conseqüência, mas

como causa da paternidade, como um dos fatores de risco mais significativo.6,7 Verificou-se neste estudo

que 60(81,1%) dos pais adolescentes trabalhavam enquanto 14(18,9%) não desenvolviam nenhuma

atividade remunerada. No que se refere à renda dos pais adolescentes, 36(48,6%) recebiam até 2 salários

mínimos, 15(20,3%) até um salário mínimo, e 9(12,2%) mais de 2 salários mínimos. O valor do salário

mínimo considerado neste estudo foi de R$465,00. A renda familiar possibilita a caracterização do

contexto social em que se encontram inseridos os adolescentes que vivenciaram a paternidade na

adolescência. Dos 74 pais adolescentes, 32(43,2%) referiram renda familiar maior que 2 salários

mínimos; para 28(37,8%) a renda familiar era de até 2 salários mínimos, 9(12,2%) das famílias dos pais

adolescentes ganhavam até 1 salário mínimo e 5(6,8%) dos pais adolescentes não souberam informar a

renda familiar. O trabalho remunerado pode contribuir para a ascensão social, o aumento da auto-estima e

a realização pessoal embora, possuir trabalho não pressuponha independência econômica. Entretanto, a

soma da remuneração paterna com a dos demais familiares pode ser fundamental para atender às

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necessidades básicas da família e da criança.6 Conclusão:Existem poucos estudos que falam a respeito da

paternidade na adolescência no Brasil, quando comparado à maternidade negligenciando assim, o papel e

a importância do pai para o desenvolvimento saudável da criança, bem como o contexto no qual ele está

inserido. A família tem papel fundamental enquanto suporte emocional e financeiro, independentemente

das condições de vida a que esteja exposto o núcleo familiar; mas o silêncio social traduz a paternidade

adolescente como um problema a ser vivido e resolvido em família, e via de regra, sem outras formas de

apoio.8 É necessário que profissionais de saúde estejam engajados em desenvolver e concretizar ações

voltadas para uma assistência que dê atenção para as questões gerais que envolvem a vida dos

adolescentes homens que apresentam necessidades especificas relativas ao processo gestacional e

paternidade. Desta forma consideramos a importância da elaboração de novos estudos que proporcionem

maior conhecimento do perfil do pai adolescente, para promover maior inserção destes sujeitos nas

políticas sociais, uma vez que o foco das publicações se concentra, principalmente, no público feminino e

na criança.5

Descritores: Adolescência. Paternidade

Área Temática do trabalho: Processo de cuidar em Saúde e Enfermagem

Eixo temático do evento: Ciência de Enfermagem em tempos de interdisciplinaridade

Referências:

1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE [página na Internet]. Censo demográfico 2007. [Acesso em 16 de julho de 2010]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home 2. Meincke SMK. O cuidado na família da adolescente grávida solteira: uma abordagem cultural. 1999. 200 f. Dissertação [Mestrado] – Centro de Ciências da Saúde , Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. 3. Meincke SMK, Carraro TE. Vivência da Paternidade na Adolescência: sentimentos expressos pela família do pai adolescente. Texto Contexto Enfermagem, 2009; 18(10): 83-91. 4 Rodrigues EA, Souza EP,Guedes CC, Madeira AM. O adolescente e a vivência da paternidade:uma abordagem fenomenológica. Belo Horizonte: Rev.Min. Enf.; jul./dez., 2003; 7(2):82-8. 5. Romero SS. Perfil do pai adolescente [ Trabalho de Conclusão de Curso da Graduação]. Pelotas. Universidade federal de pelotas; 2010. 6. Schelemberg JM, Pereira LD, Grisard N, Hallal AL. Características socioeconômicas e psicossociais do pai adolescente. Arquivos Catarinenses de Medicina, 2007; 36(2).

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7. Dias AB, Aquino EMl. Maternidade e paternidade na adolescência:Algumas constatações em três cidades do Brasil. Rio de Janeiro:Cad. Saúde Pública; jul. 2006; 22(7):1447-1458. 8. Corrêa AC, Ferriane MG. Paternidade Adolescente: Um desafio a ser enfrentado pelos serviços. Cienc. Cuid. Saúde; Abr/Jun. 2007; 6(2):157-163

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