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Faculdade de Medicina de Lisboa
Curso de Mestrado Integrado em Medicina
- Ano Lectivo 2012/2013 - 1º Semestre
MÓDULO I.I
Biologia Molecular, Celular e do Desenvolvimento Humano e Genética
Aulas Teórico-Práticas
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Aula1
A MOLÉCULA DE DNA: ESTRUTURA, MANIPULAÇÃO E ANÁLISE.
CLONAGEM MOLECULAR: CONCEITOS BÁSICOS.
Consultar no livro de texto recomendado: A molécula de DNA: estrutura e função pág. 172-178 Do DNA à proteína pág. 231-235 Manipulação e análise de DNA pág. 327-331 e 333-336 A MOLÉCULA DE DNA ESTRUTURA A estrutura da molécula de DNA foi descoberta conjuntamente por James Watson e
Francis Crick em 1953, o que lhes conferiu o Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia
em 1962. Do ponto de vista químico, o DNA é um polímero de nucleótidos. Cada um
destes nucleótidos é constituído por três componentes: um grupo fosfato, uma pentose e
uma base azotada (adenina, timina, citosina ou guanina). Cada novo nucleótido liga-se
pelo grupo fosfato ao carbono 3’ da pentose do último nucleótido da cadeia por uma
ligação fosfodiester, repetindo-se o processo na direcção 5’ → 3’. De acordo com o
modelo proposto por Watson e Crick, a molécula de DNA é constituída por duas
cadeias de nucleótidos complementares e anti-paralelas, ou seja, com sentidos de
crescimento inversos e dispostas em forma de hélice. Esta dupla hélice mantém-se unida
devido à complementaridade das bases azotadas, que se ligam através de pontes de
hidrogénio.
MANIPULAÇÃO Digestão de DNA com enzimas de restrição
As enzimas de restrição são o bisturi dos biologistas moleculares pois permitem
“cortar” o DNA de um modo preciso e reprodutível.
As enzimas de restrição fazem parte do grupo das nucleases, enzimas que clivam
ligações fosfodiester entre nucleótidos adjacentes. As enzimas de restrição usadas em
biologia molecular têm a grande vantagem de clivarem apenas as ligações entre
nucleótidos inseridos numa sequência específica. Existem comercializadas mais de 230
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enzimas de restrição, cada uma das quais reconhece e cliva uma determinada sequência
de nucleótidos.
As enzimas de restrição identificam-se por uma nomenclatura própria. Por exemplo,
EcoRI refere-se à primeira (I) enzima isolada do género Escherichia (E) espécie coli
(co), estirpe RY13 (R) e Hind III à terceira enzima (III) isolada de Haemophilus
influenzae, estirpe Rd.
Ligação de moléculas de DNA
A ligação entre duas moléculas de DNA é catalisada por enzimas denominadas ligases
de DNA, que estabelecem ligações fosfodiéster entre extremidades 5’-fosfato e
extremidades 3’-hidroxilo adjacentes. Esta ligação ocorre preferencialmente quando as
moléculas de DNA possuem extremidades salientes e complementares entre si. Neste
caso, ocorre emparelhamento das extremidades de ambas as moléculas, facilitando a
acção da ligase de DNA.
ANÁLISE
Electroforese de DNA em gel de agarose
A electroforese em gel de agarose é o método utilizado por rotina para separar,
identificar e purificar fragmentos de DNA. A agarose é um polímero natural extraído do
agar. Os geis preparam-se fundindo a agarose na presença de um tampão apropriado. A
solução obtida é colocada num molde e deixada arrefecer até solidificar. Ao solidificar
forma-se uma matriz cuja densidade é determinada pela concentração da agarose.
Quando se aplica um campo eléctrico através do gel, o DNA carregado negativamente
migra em direcção ao ânodo. A velocidade de migração é determinada por um conjunto
de parâmetros, entre os quais o tamanho da molécula e a concentração da agarose. A
velocidade de migração é inversamente proporcional ao log10 do tamanho do fragmento
(em pares de bases, bp) e, para um mesmo tamanho de fragmento de DNA, a velocidade
de migração é maior num gel com menor concentração de agarose. A migração das
moléculas de DNA através do gel, depende ainda da voltagem aplicada; quanto mais
alta for a voltagem, mais rápida a migração. Para visualizar o DNA nos geis de agarose
utilizam-se corantes fluorescentes como por exemplo o brometo de etídio. Esta
substância possui grupos químicos que se intercalam entre as bases do DNA. Em
consequência, o corante ligado ao DNA fluoresce com mais intensidade do que o
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corante livre, quando irradiado com luz ultravioleta. O brometo de etídio permite
detectar cadeias simples e duplas de ácidos nucleicos, tanto de DNA como de RNA.
Por convenção, os geis de DNA são lidos da esquerda para a direita, com os poços
colocados no topo. A área do gel perpendicular ao poço designa-se “pista” ou lane.
Portanto, ao olhar para uma pista analisam-se os fragmentos de DNA colocados no poço
correspondente. Fragmentos de DNA com o mesmo tamanho migram a mesma
distância no gel dando origem a bandas. Por convenção, o tamanho de cada fragmento
de DNA é expresso pelo número de pares de bases que o constituem (bp).
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CLONAGEM MOLECULAR
A manipulação genética permite a criação de uma nova molécula de DNA, geralmente
pela recombinação de DNA de diferentes organismos, por meios artificiais, utilizando-
se enzimas conhecidas como enzimas de restrição, e a consequente produção de muitas
cópias de DNA recombinante. Este processo designa-se clonagem.
Os passos básicos numa experiência de clonagem molecular são os seguintes:
1. Insere-se o fragmento de DNA a ser clonado numa molécula de DNA com
capacidade de auto-replicação, denominada vector, originando uma molécula
de DNA recombinante.
2. O vector funciona com um veículo que introduz o DNA numa célula hospedeira,
geralmente uma bactéria, embora se possam usar outros tipos de células.
3. Uma vez no interior da célula hospedeira o vector multiplica-se, produzindo-se
inúmeras cópias idênticas, não só do vector mas também do fragmento de DNA
que ele contém.
4. Quando a célula hospedeira se divide, as cópias das moléculas de DNA
recombinante são transmitidas à descendência e ocorre novo ciclo de replicação.
5. Após um grande número de divisões celulares, uma colónia ou clone de células
hospedeiras geneticamente idênticas é gerado. Cada célula do clone contém
muitas cópias da molécula de DNA recombinante; o fragmento de DNA
introduzido na molécula de DNA recombinante diz-se agora clonado.
6. Para além da obtenção de múltiplas cópias idênticas de um fragmento de DNA,
a clonagem de um gene num vector adequado (vector de expressão) permite a
obtenção de grandes quantidades de proteína recombinante.
Vectores de clonagem
Os vectores de clonagem são moléculas de DNA que têm como função transportar o
DNA de interesse para a célula hospedeira. A introdução de DNA em bactérias recorre
normalmente à utilização de vectores plasmídicos. Estes vectores têm como base
plasmídeos naturais que são posteriormente modificados por técnicas de engenharia
genética, por forma a obter vectores de clonagem com as características mais vantajosas
para diferentes tipos de aplicações. As características mais importantes de um vector de
clonagem são:
Origem de replicação: permite que o vector, e consequentemente a molécula de
DNA recombinante, se mantenha na célula e seja transmitida à descendência.
Marca de selecção: a maioria dos vectores plasmídicos possui um gene que
confere resistência a um antibiótico. Assim, apenas as bactérias que possuem o
DNA recombinante sobrevivem quando crescidas em presença desse antibiótico.
Local de policlonagem: pequena sequência de DNA (~100 pb) que contém locais
de corte únicos para várias enzimas de restrição. É neste local que é introduzido o
fragmento de DNA que se pretende clonar.
Promotor: presente apenas em vectores de expressão e adjacente ao local de
policlonagem.
Exercício 1
Qual dos seguintes nucleótidos, quando incorporados pela DNA polimerase numa cadeia de DNA nascente, provoca uma paragem da elongação :
Exercício 2
Considere o cDNA do gene X cuja sequência é apresentada na seguinte figura 1.1.
Identifique na sequência:
a) extremidades 5’ e 3’ b) codão de iniciação (start) c) codão de finalização (stop) d) 5’UTR e 3’UTR e) os primeiros 10 aa obtidos após tradução (consulte o código genético
apresentado na Fig 1.2)
Figura 1.1 - cDNA do gene X
Figura 1.2 - Código genético
Exercício 3
Qual das moléculas de DNA II pode formar uma molécula de DNA recombinante com o
DNA I? Que enzima é necessária para a formação da ligação?
1 acatttgtat tcggatccac tgtgttcact agcaacctca aacagacacc atggtgcatc 61 tgactcctga ggagaagtct gccgttactg ccctgtgggg caaggtgaac gtggatgaag 121 ttggtggtga ggccctgggc aggctgctgg tggtctaccc ttggacccag aggttctttg 181 agtcctttgg ggatctgtcc actcctgatg ctgttatggg caaccctaag gtgaaggctc 241 atggcaagta ttcgctcggt gcctttagtg atggcctggc tcacctggac aacctcaagg 301 gcacctttgc cacactgagt gagctgcact gtgacaagct gcacgtggat gctgagaact 361 tcaggctcct gggcaacgtg ctggtctgtg tgctggccca tcactttggc aaagtattca 421 ccccaccagt gcaggctgaa ttccagaaag tggtggctgg tgtggctaat gccctggccc 481 acaagtatca ctaagctcgc tttcttgctg tccaatttct attaaaggat cctttgttcc 541 ctaagtccaa ctactaaact gggggatatt atgaagggcc ttgagcatct ggattctgcc 601 taataaaaaa gctttatttt cattgc
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Exercício 4
Como identificar locais de restrição na sequência de DNA indicada?
http://tools.neb.com/NEBcutter2/index.php
Exercício 5
Dê um exemplo de um análogo de um componente do DNA usado em Medicina.
Explique o seu mecanismo de acção e indique qual a doença que trata.
Exercício 6
Durante o estágio no laboratório de Biologia Molecular, um estudante isolou DNA
cromossómico de E. coli. RY13. Em seguida colocou a mesma quantidade desse DNA
em dois tubos diferentes e fez uma digestão com enzimas de restrição. A um dos tubos
adicionou Bam HI, e ao outro, Eco RI. Que resultados espera observar? Justifique.