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Maio/Junho de 2016 . ANO XVI Nº 148 FOTO: BRENO LAPROVITERA / ARTE: BRENDA BARROS Mascates 2.0 Novas formas de prestação de serviços via aplicativos impactam na economia local e exigem mediação do Poder Público Novas formas de prestação de serviços via aplicativos impactam na economia local e exigem mediação do Poder Público Págs. 4 e 5 Mascates 2.0 Págs. 4 e 5

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Page 1: TP JUNHO 2016 - Alepe...Cruz do Capibaribe, em parceria com a Prefeitura de Condado. “O curso foi oferecido por meio da Secretaria Mu-nicipal de Educação. Eles faziam a pr-paganda

Maio/Junho de 2016 . ANO XVI – Nº 148FO

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de serviços via aplicativos

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Novas formas de prestação

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impactam na economia

local e exigem mediação

do Poder Público

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Mascates 2.0

Págs. 4 e 5

Page 2: TP JUNHO 2016 - Alepe...Cruz do Capibaribe, em parceria com a Prefeitura de Condado. “O curso foi oferecido por meio da Secretaria Mu-nicipal de Educação. Eles faziam a pr-paganda

EXPEDIENTE: MESA DIRETORA: Presidente, Deputado Guilherme Uchoa; 1º Vice-Presidente, Deputado Augusto César; 2º Vice-Presidente, Deputado Pastor Cleiton Collins; 1º Secretário, Deputado Diogo Moraes; 2º Secretário, Deputado

Vinícius Labanca; 3º Secretário, Deputado Romário Dias; 4º Secretário, Deputado Eriberto Medeiros. Superintendente de Comunicação Social: Raero Monteiro (interino). Chefe do Departamento de Imprensa: Helena Alencar. Editores:

Christianne Alcântara, Helena Alencar e Luciano Galvão Filho. Revisão: Christianne Alcântara e Cláudia Lucena. Repórteres: André Zahar, Edson Alves Júnior, Gabriela Bezerra, Haymone Neto, Helena Alencar, Ivanna de Castro e

Luciano Galvão Filho. Gerente de Fotografia: Roberto Soares. Edição de Fotografia: Breno Laprovitera. Fotógrafos: Jarbas Araújo, João Bita e Rinaldo Marques. Tratamento de Imagem: Lucas Neves. Design: Brenda Barros e Danilo Freire.

Diagramação e Editoração Eletrônica: Alécio Nicolak Júnior. Endereço: Palácio Joaquim Nabuco, Rua da Aurora, nº 631 – Recife-PE. Fone: 3183-2368. PABX: 3183.2211. E-mail: [email protected]

O Jornal Tribuna Parlamentar é uma publicação de responsabilidade da Superintendência de Comunicação Social da Assembleia Legislativa - Departamento de Imprensa.

02 Maio/Junho de 2016

“Represento todos os

usuários de saúde

mental. Vim para

reivindicar nossas

prioridades:

atendimento 24 horas,

sede própria, centros

de convivência,

trabalho protegido e

medicação contínua,

sem interrupção.

Graças ao Caps, hoje

estou reinserida na

sociedade.”

Janete da SilvaEstudante e ex-paciente deum Centro de AtençãoPsicossocial (Caps), duranteaudiência pública daComissão de Cidadaniapara debater a lutaantimanicomial, em 16 de maio

“A visita é muito

interessante, rica em

informações. A

arquitetura do

Palácio Joaquim

Nabuco é belíssima e,

apesar de o prédio ser

bastante antigo, achei

muito conservado. O

evento me

proporcionou uma

experiência que me

fez conhecer ainda

mais nosso Estado.”

Dione EstevesGuia de turismo, esteve na Alepe em 19 de maiopara participar daprogramação da 14ªSemana Nacional dos Museus

“Estou aqui para assistir

à votação do reajuste de

12% no salário-base dos

servidores do

Departamento Estadual

de Trânsito (Detran).

Acompanhamos a

tramitação do projeto de

lei ao longo da semana,

na tentativa de agilizar o

processo. Conseguimos

cumprir nosso

objetivo.”

Alexandre BulhõesPresidente do Sindicatodos Servidores do Detran de Pernambuco(Sindetran-PE), em 29 de maio, durante a Reunião Plenária quediscutiu o Projeto de Lei nº 837/2016

Museus, paisagens e culturaO debate sobre as políticas de manutenção, ampliação e

fortalecimento dos museus ganhou as galerias do PalácioJoaquim Nabuco em maio. O edifício-sede do PoderLegislativo estadual recebeu, no dia 19, um evento da 14ªSemana Nacional dos Museus. Na ocasião, especialistas daFundação Joaquim Nabuco e da Prefeitura do Recife fizeramreflexões sobre como esses espaços ultrapassam o ambientefísico, ao estarem inseridos na paisagem e na cultura de umlugar. Os deputados Lucas Ramos (PSB) e Teresa Leitão (PT)participaram do Grande Expediente Especial sobre o tema, quando defenderam o comprometimento doPoder Público com a valorização da política museológica.

Instância parlamentar reservada a temas comoviolência doméstica, saúde reprodutiva e políticasde gênero, a Comissão de Defesa da Mulhercomeçou um projeto itinerante no dia 11 de maio,quando visitou a cidade de Condado, na Mata Norte.A necessidade de uma delegacia especializada nomunicípio e a criação de uma casa de apoio paramulheres em situação de risco foram demandaslevantadas entre as condadenses. A ação docolegiado quer aproximar o Legislativo das cidadãsdo Interior, contemplando 12 municípios em todasas regiões do Estado. “Não viemos dar palestras,mas dar voz às mulheres”, ressaltou a presidenteda Comissão, deputada Simone Santana (PSB).

Obra estimada em R$ 165 milhões visando melhorar otrânsito entre os municípios de Igarassu e Abreu e Lima, naRegião Metropolitana do Recife, o miniarco metropolitanomotivou discussões na Alepe durante os últimos meses.No dia 17 de maio, o parlamento estadual recebeu, emaudiência pública, o secretário executivo de Transportes,Antônio Cavalcanti Júnior, que apresentou o projeto edefendeu a viabilidade da rodovia como “uma respostarápida” para o escoamento da produção industrial da MataNorte em direção ao Porto de Suape. Entre os deputados,o projeto dividiu opiniões: “Um empreendimento caroque não terá a eficiência que esperamos”, disse PriscilaKrause (DEM). “Com certeza, teremos ganhos emmobilidade urbana”, avaliou Aluísio Lessa (PSB).

Miniarco em discussão

Parlamento portátilNem só a compras, viagens e jogos se resumem

os aplicativos para celulares. Ferramentas quecontribuem para o exercício da cidadania têmconquistado cada vez mais espaço nas telas dossmartphones. Um exemplo vem da AssembleiaLegislativa do Rio de Janeiro (Alerj): o parlamentofluminense é o criador do app “Carteirada doBem”, que disponibiliza toda a legislação estadualrelacionada a temas como lazer, transporte, saúdee direito do consumidor. A iniciativa facilita oexercício dos direitos dos cidadãos sempre que estiverem diante de umasituação de desrespeito às leis. Outros parlamentos também oferecemacesso não apenas às normas, mas às discussões em andamento. É ocaso da Câmara dos Deputados, que divulga a agenda completa dereuniões da Casa, em Brasília, na plataforma “Infoleg”, além doconteúdo e da situação das proposições legislativas. Em Pernambuco, aAlepe disponibiliza ao cidadão o aplicativo “sigAlepe”, que permite aousuário acompanhar de perto as atividades de deputados estaduais eacompanhar projetos de lei em tramitação.

Baixe o

aplicativo

da Alepe

no seu

celular:

AN

DR

OID

IOS

Mais voz às mulheres

JOÃO BITA

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03Maio/Junho de 2016

FACULDADES IRREGULARES

Aestudante Danielly Lima mora emCondado, na Mata Norte dePernambuco. O município até hoje

não tem nenhuma faculdade. Mas, hátrês anos, parecia ter surgido a chancede realizar o sonho de conquistar umdiploma de nível superior em ServiçoSocial sem sair da cidade. As supostasgraduações eram oferecidas pela Fa-culdade de Desenvolvimento e IntegraçãoRegional (Fadire), com sede em SantaCruz do Capibaribe, em parceria com aPrefeitura de Condado. “O curso foioferecido por meio da Secretaria Mu-nicipal de Educação. Eles faziam a pr-paganda e veiculavam com carro de som,panfletos, e as inscrições eram feitas nopróprio órgão”, conta.

Assim como Danielly, cerca de 20mil estudantes pernambucanos foramseduzidos pela proposta de cursar umafaculdade no próprio município, comcarga horária reduzida e mensalidadesque cabiam no orçamento familiar. Foiapenas em julho de 2015 que o escân-dalo veio à tona. A Justiça Federal deSerra Talhada decidiu suspender asatividades das Faculdades Extensivasde Pernambuco (Faexpe), um institutosem credenciamento do Ministério daEducação (MEC) que ofertava cursossemelhantes ao que Danielly frequen-tava em Condado.

Três meses depois, foi criada na Alepeuma Comissão Parlamentar de Inquérito(CPI) para investigar o caso. Finalmente,no último dia 1º de junho, os integrantes

do colegiado apresentaram o relatóriofinal do trabalho, que durou nove mesese teve a participação de 151 testemunhas.

O que chama a atenção de imediatoé a quantidade de siglas desconhecidascitadas no documento: Ieduc, Iesa, Cenpi,Ierg, Ideb, Isef, Faeco e muitas outras.Ao todo, 17 instituições foram citadas e19 pessoas tiveram o indiciamento reco-mendado ao Ministério Público por cri-mes como estelionato, sonegação fiscal,associação criminosa, falsidade ideológicae publicidade enganosa (confira a listacompleta no site www.alepe.pe.gov.br).Entre os suspeitos, estão os diretores daFundação de Ensino Superior de Olinda(Funeso), uma faculdade com mais de 40anos de história, e os gestores da Fadire,a instituição que havia prometido a Da-nielly e a centenas de outros estudantesum diploma de graduação.

O relatório da CPI vai ser encaminha-do a órgãos como os Ministérios PúblicosEstadual e Federal, o Ministério daEducação e a Receita Federal. O presidentedo colegiado, deputado Rodrigo Novaes(PSD), espera atitudes firmes dessesórgãos, para que os institutos não voltema atuar. “É preciso que a gente tenhaações judiciais bem fundamentadas eque as medidas sejam tomadas com mui-ta energia, para que essas pessoas se ar-rependam do que fizeram e procuremoutro meio de ganhar a vida, que nãoseja enganar o povo”, avalia.

Muitos dos cursos oferecidos pelosinstitutos denunciados eram vendidoscomo extensão, e não graduação. De acor-do com a relatora da CPI, deputada TeresaLeitão (PT), as falsas faculdades seaproveitaram de interpretações errôneas

da Lei de Diretrizes e Bases da Educação(LDB) para ofertar cursos sem nenhumavalidade acadêmica. “Estamos propondoa regulamentação desses artigos peloConselho Nacional de Educação para im-pedir esse desvio de um dos pilares maisimportantes da universidade. A extensãoé que dá à academia a possibilidade deinteragir com a comunidade”, explica.

A recomendação dos integrantes daCPI aos estudantes é de que busquemreaver o dinheiro investido e os danosmorais na Justiça. Para quem não podecontratar um advogado, a sugestão éacionar a Defensoria Pública Estadual,que já está a par do caso. No entanto,alguns estudantes ainda procuram umaforma de conseguir o reconhecimentooficial das disciplinas já cursadas. É ocaso de Camila Cristina da Silva, quefazia Administração na Fadire, em SãoCaetano, no Agreste Central, e já estavano terceiro ano. “A minha busca é que agente pudesse aproveitar o período queeu estudei. Só faltaria um ano para euconcluir. Hoje, tive que recomeçar umafaculdade nova, do zero”, relata.

Já a estudante Ivete Andrade, do cursode Serviço Social do Instituto Belchior,em Goiana, na Mata Norte, não tem amesma esperança. “Eu acho que tempoe sonho não têm valor. Mas, pelo menos,queria tentar recuperar o que perdi”,afirma. Ela revela que a decepção a fezabandonar a vontade de estudar. “Às ve-zes, à noite, eu nem consigo dormir. Ficopensando que desperdicei muito tempo”,diz. Os integrantes da CPI ainda preten-dem se reunir com o MEC a fim de en-contrar alternativas para os estudantesprejudicados.

Haymone Neto

Parlamentares deram coletiva à imprensa para apresentar o relatório da CPI das Faculdades Irregulares

Investigações realizadas pela CPI na Alepe apontam mais de 20 mil estudantes prejudicados.Deputados recomendaram indiciamento de 19 pessoas e citaram 17 instituições

Ilusão de futuro

JARBAS ARAÚJO

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Oavanço da tecnologia já fez asociedade aposentar video-cassetes, máquinas de es-

crever, listas telefônicas e outrostantos aparelhos e ferramentas quehoje fazem parte apenas de museusou da memória da população. Aospoucos, itens imprescindíveistornam-se dispensáveis, mas asmudanças nem sempre ocorrem demaneira pacífica. Em alguns casos,mercados ameaçados reagem àsinovações e, diante das tensões entregrupos de interesses distintos, oPoder Público é chamado a se posi-cionar, de forma a garantir os di-reitos da coletividade.

Atualmente, o embate que vemganhando mais repercussão envolvetaxistas e motoristas do aplicativoUber. A plataforma digital, recém-lançada no Recife, oferece o trans-porte particular de passageiros. Em-bora a regulamentação da atividadeseja de competência municipal, asdiscussões – por terem impacto sig-nificativo em todas as esferas – che-garam à Assembleia Legislativa, quejá promoveu duas audiências pú-blicas para compreender o proces-

so. De um lado, o serviço de táxi,normatizado pelos municípios, quetem regras a cumprir e cujos forne-cedores entendem estar enfrentandouma concorrência desleal. De outro,uma atividade ainda à margem dalegislação, mas que vem ganhandoo apreço dos consumidores em razãoda qualidade do atendimento e dopreço competitivo.

Ainda sem consenso, as catego-rias protagonizam enfrentamentosfísicos nas ruas de várias cidadesbrasileiras. No Recife, a Companhiade Trânsito e Transporte Urbano(CTTU) afirma que o Uber atua emdesacordo com a Lei Federal n°12.468/2011, que regula a profissãode taxista. “Quem descumpre a leiestá passível de sofrer penalidades,como apreensão de veículo e multade R$ 4.322,18”, explicou, em nota.O fato é que, apesar dessa interpre-tação da norma, o Uber continuafuncionando na capital pernambu-cana e em outros 11 centros urbanosdo País, cobrando, com cada vezmais apoio da população, a atua-lização da lei.

Um Grupo de Trabalho, for-mado pelos deputados RodrigoNovaes (PSD), Beto Accioly (PSL),Rogério Leão (PR) e Socorro Pi-mentel (PSL), foi criado informal-

mente na Alepe para acompanhara questão. Para Novaes, o objetivoé promover discussões e, com asdevidas informações, acionar ospoderes competentes para intervirno setor. “As assembleias esta-duais têm competência legislativaresidual e concorrente, mas, comocasas democráticas que são, têmo dever de abrir suas portas e in-cluir a população nesse debate”,

opina, defendendo a intervençãodo Estado na questão. Para ele, aatividade do Uber deve ser regula-mentada e, de forma simultânea,as autoridades competentes preci-sam rever as regras que cabemaos taxistas, tornando-as menosrígidas.

“Estabelecer critérios similarespara os dois grupos daria con-dições de mais pessoas participa-

rem, legitimamente, desse mer-cado. Isso aumentaria a concor-rência, resultando em queda nospreços e melhoria na qualidade doserviço oferecido à população”,prevê. O parlamentar acredita quea prática do Uber - subsidiar cor-ridas para oferecer preços maiscompetitivos - não é sustentávele, por isso, lesará consumidores etaxistas. “É preciso intervir quan-do um grupo utiliza artimanhasque não são justas para o usuárioou para o concorrente”, argu-menta.

A opinião é compartilhada pelodeputado Beto Accioly. “Os taxistastêm uma série de regras a cumprir,as quais não cabem atualmenteao Uber. Assim, a concorrência fi-ca desleal. Depois do estabeleci-mento de regras similares aosgrupos, me posicionarei favorávelao aplicativo. Hoje, acho eleilegal.”

Novaes assegura ainda que éinviável tentar conter os avançostecnológicos, mas os gestores devematuar focados, também, na questãosocial. “Não podemos protegerdeterminados mercados e impedirque a sociedade usufrua das ino-vações que surgem todos os dias.Porém, devemos considerar os

impactos sociais das mudanças,como a perda de empregos por tra-balhadores dos setores atingidos”,complementa.

Por outro lado, Jacques Barcia,consultor de tendências do PortoDigital, defende que o papel dosórgãos administrativos, nesse caso,é fugir do conservadorismo e ofe-recer um novo horizonte para essesprofissionais. “Em vez de tentarpreservar um setor, os governosprecisam requalificar os trabalha-dores que vierem a ser excluídos doprocesso e reinseri-los no mercado”,propõe.

O consultor explica que o Uberé apenas a mais conhecida de umasérie de ferramentas que estãomudando a forma como a socieda-de se organiza. “Vivemos hoje umprocesso de monetização de itensociosos, sejam eles carros, quartosou livros. Com o suporte da inter-net, retira-se o intermediário doserviço e aumenta-se a escala deusuários, o que, consequentemen-te, reduz os custos da operação.Isso significa preços melhores paraos consumidores”, elucida Barcia.

Pesquisador da área de inovaçãoe empreendedorismo, o professoremérito da Universidade Federal dePernambuco Sílvio Meira vê a

04 Maio/Junho de 2016

APLICATIVOS

Grupo de Trabalho vai

promover debates sobre a

questão que envolve

taxistas e motoristas do

aplicativo Uber

Legislativo enfrenta desafios para acompanhar – e regulamentar – as novidades trazidas pela tecnologia

Polêmica na ponta dos dedos

Ivanna de Castro

Page 5: TP JUNHO 2016 - Alepe...Cruz do Capibaribe, em parceria com a Prefeitura de Condado. “O curso foi oferecido por meio da Secretaria Mu-nicipal de Educação. Eles faziam a pr-paganda

mudança provocada pelo aplicativocomo positiva para a sociedade,porque representa o enfrentamentoa um “oligopólio provido por leis”.Ele garante que a transformação é“inevitável” e que o Legislativoprecisa se preparar para anteciparoutras discussões desse tipo. “Amudança trazida pelo Uber não temmais volta. Ficar discutindo sualegalidade representa a perda de umtempo precioso, que poderia serutilizado em uma discussão maisútil: a mobilidade urbana como umtodo. Se os governos não olharemadiante, o mercado de tecnologiacontinuará definindo as regras dessee de outros setores, sem a partici-pação dos governos”, prevê.

Meira acredita que os gestorespúblicos “discutem o passado”, eisso é resultado da falta de pensa-mento estratégico e de investi-mentos em inovação no Brasil.“Apenas absorvemos, pelo consu-mo, as mudanças criadas em ou-tros mercados. Assim, não dis-cutimos o processo e, depois, per-demos muito tempo apenas ten-tando entender as transforma-ções”, analisa. Segundo ele, osprejuízos dessa postura são am-plos. “Em qualquer ambiente, nãohá vantagem competitiva ou es-trutural em ser o último a com-preender a nova dinâmica estabe-lecida. O País perde o timing paraformar capital humano e não a-proveita as oportunidades trazi-das pela nova realidade.”À MARGEM

Não é apenas o setor de trans-portes que está enfrentando mu-danças. Além de pedir um táxi,outras atividades rotineiras comoreservar um hotel, assistir a umfilme ou fazer uma ligação tambémestão ganhando, dia a dia, uma novaroupagem (confira no infográfico).Todos esses serviços têm, emcomum, o fato de estarem atuandoem um “vácuo” legislativo, reali-dade que abre espaço para o sur-gimento de novos atritos entremercados e gera insegurança aoconsumidor.

Presidente da Comissão deTecnologia da Informação da Or-

dem dos Advogados do Brasil emPernambuco, Frederico Duarteentende que, para ser eficiente, anormatização precisa ser abran-gente, focada no objetivo maiordo Estado. “É equivocado tentarregular situações específicas. Da-qui a pouco, surgem novos apli-cativos e tal legislação não aten-derá mais à realidade. A saída édelimitar regras básicas para o se-tor envolvido, de forma a assegu-rar que o interesse do usuário se-ja garantido por qualquer presta-dor de serviço que surgir”, avalia.

Em paralelo, a qualidade do queé oferecido ao consumidor – tantopor setores estabelecidos quantopelas novas plataformas – precisaser fiscalizada pelas agências re-guladoras, defende Sílvio Meira. Noentanto, o professor acredita queesses órgãos têm que reavaliar suasposturas. “A imposição de limite deinternet, que vem sendo atualmenteproposta pelas telefônicas e afeta ouso de várias dessas ferramentas,mostra o descompasso entre o in-teresse público e a atuação dasagências. Em razão da capacidade delobby dos agentes provedores domercado ser maior que a articulaçãodos usuários, esses são despres-tigiados no processo”, critica. Para

mudar essa realidade, ele propõe “aregulação dos reguladores e me-canismos mais eficientes de ava-liação permanente disponíveis paraos usuários”.INOVAÇÃO

Um dos primeiros recifenses aabrir as portas de sua casa para re-ceber hóspedes por meio do aplica-tivo AirBNB, ainda em 2011, EiranSimis não é só um entusiasta dasnovidades trazidas por essas tecno-

logias, mas um profissional da área:atua como consultor do Centro deEstudos e Sistemas Avançados noRecife (C.E.S.A.R.). “Quando minhafilha foi morar com a mãe, fiqueicom um quarto ocioso em casa. Co-mo sempre gostei de receber ami-gos, experimentei a ferramenta, quetambém tem a vantagem de trazerum retorno financeiro bacana”,

lembra. Atualmente, as hospedagensjá respondem por 10% da renda dele.

Eiran, que também é professor,conta que o modelo de negócios doAirBNB o inspirou. Em 2013, elecriou o eventplatz.com, site que ofe-rece estrutura física para eventos.“Quando chegava antes do horáriodas aulas, ficava incomodado coma ociosidade de salas, laboratóriose equipamentos. Assim, tive a ideiade criar uma plataforma que inte-gra pessoas que têm espaços denegócios disponíveis a profissionaisem busca de estrutura para seuseventos.” O empreendedor cobra10% sobre cada transação, valor ain-da insuficiente para suprir os gastoscom o site. “Não tenho lucros, porenquanto, mas esse mercado exigeque se corra riscos”, diz o empre-sário, que critica as regras do setor.“As leis atuais, por serem anterioresa muitas dessas tecnologias,favorecem apenas as grandes em-presas, e a inovação nasce em pe-quenos empreendimentos”, pontua.

“O ambiente de negócios noBrasil é hostil e burocrático, comexcessivas cobranças tarifárias e re-gras”, complementa Jacques Barcia.Para ele, tais condições inibem os in-vestidores. “Arriscar-se no País,com essas condições, é muito com-

plicado. Por isso, a maioria das em-presas que trabalham com inovaçãoacabam parando em um nível con-fortável de desenvolvimento de so-luções, não atingindo o patamar deimpacto global”, analisa. Ele explicaque o Porto Digital, centro respon-sável pela formulação de políticaspúblicas que fomentam a inovaçãoem Pernambuco, incuba, atualmen-te, cerca de 200 empresas, mas ape-nas 1% delas são consideradas “uni-córnios”, ou seja, iniciativas quetransformam os mercados em queatuam. “Nossa função é mudar essarealidade”, assegura.

Para essa missão, Barcia acre-dita ser imprescindível uma novapostura da gestão pública diante dainovação. “Minha função é olharpara frente, para um horizonte de10 ou 15 anos, e dizer o que está porvir. Há lugares no mundo em queesse tipo de profissional trabalhajunto com o governo, preparando-o para as mudanças”, comenta. Econclui, explicando as consequênciasdessa política estratégica: “Se vocêtem um Poder Público que consegueenxergar as mudanças e se adaptara elas de forma rápida, você cria umambiente inovador mais adequado,que atrairá profissionais que farãoa diferença para toda a sociedade.”

05Maio/Junho de 2016

Especialistas defendem

que governos pensem

estrategicamente e

invistam em inovação

Consultor do C.E.S.A.R., Eiran Simis se inspirou no AirBNB para criar o eventplatz.com, site que oferece estrutura física para eventos

GIOVANNI COSTA

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06 Maio/Junho de 2016

SAÚDE

Na 18ª semana de gestação, aestudante de AdministraçãoDaniella Carneiro, de 26 anos,

recebeu uma notícia que mudaria ocurso da vida dela e do marido, oprofessor de Física Leandro Lima,29. Um exame de ultrassom revelouque o bebê que esperavam era porta-dor de uma deficiência congênitarara na medula espinhal: a mielome-ningocele. “Foi um choque. Esperá-vamos ver o sexo, ouvir o coraçãobater. A última coisa que uma mãedeseja é saber que o filho tem umproblema como esse”, relata a mo-radora de Jaboatão dos Guararapes,na Região Metropolitana do Recife.

Além de cirurgias realizadasantes e depois de Daniel Bernardonascer, o casal se viu às voltas comuma nova rotina, tendo que propor-cionar ao filho, no primeiro ano devida, exames, fisioterapia, fonoau-diologia e terapia ocupacional. “Como tempo, fui vendo que não era ofim do mundo, e o amor se tornouaté maior”, garante.

Estima-se que existam oito miltipos de doenças raras – aquelas que,de acordo com a OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS), afetam até65 pessoas a cada 100 mil. No Brasil,segundo o Ministério da Saúde, até13 milhões de pessoas podem

apresentar alguma dessas patologias,cujo diagnóstico leva, em média, dezanos. Histórias como as de Danielrevelam exemplos semelhantes dededicação, mas também idênticasdificuldades com lacunas deixadaspelo Poder Público.

Um dos obstáculos apontadospor Daniella e por outras mães é afalta de vagas para atendimentoespecializado. Além disso, é frequentea mãe ter que deixar o emprego paraser cuidadora em tempo integral. Foio que aconteceu com a zeladora HildaVenâncio da Silva, 38, depois que ofilho Mateus nasceu, em outubro de2015, com microcefalia causada pelozika vírus. Seu marido, Jober, tam-bém pediu demissão para assumir a

responsabilidade pelas duas outrasfilhas do casal.

O casal ainda não recebe o Bene-fício da Prestação Continuada (BPC),auxílio de um salário mínimo mensalpago pelo Governo Federal ao cidadãocom deficiência. “Atualmente esta-mos vivendo de doações. Não é justo.Tive de abrir mão do meu saláriopor um problema pelo qual não tiveculpa. As ruas não têm saneamento,acumulam água parada e ficamcheias de mosquitos”, diz Hilda.

Para ter direito ao BPC, é neces-sário que a renda por membro dafamília seja menor que R$ 220. Ovalor do auxílio é considerado baixopelas famílias raras, que dependemde remédios e de exames de alto

custo. De acordo com o Ministério doDesenvolvimento Social e Agrário,em Pernambuco, 172 mil pessoascom deficiência recebem o benefício.O órgão diz que trabalha para acelerara concessão em casos de microcefalia.

Vice-presidente da Aliança dasMães e Famílias Raras (Amar),Daniela Rorato considera que a epi-demia provocada pelo zika chamoua atenção da sociedade para os pro-blemas enfrentados cotidianamentepelas pessoas raras. Ela defende queos cuidadores tenham sua atividadereconhecida em lei, e que recebamuma renda para exercê-la. “Tambémé preciso descentralizar o atendi-mento para além da Região Metro-politana”, acrescenta a empreen-dedora social, cujo filho, Augusto,19, possui as síndromes de Down ede West (tipo grave de epilepsia).

Toda a rede de serviços que rece-be esses pacientes em Pernambucofica no Recife. Uma das unidades, oCentro de Referência em Erros Inatosdo Metabolismo do Imip (Cetreim),

realiza cerca de 200 atendimentospor mês. De acordo com a coorde-nadora da instituição, Ana CecíliaMenezes, a maior dificuldade para asfamílias é o diagnóstico, que implicagrandes despesas e por vezes precisaser realizado fora do Estado. “Nocaso do tratamento, alguns remédiossão caros e não são oferecidos peloSistema Único de Saúde (SUS). Afamília precisa conseguir na Justiça,o que é doloroso”, explica.

Desde 2014, o Brasil conta comuma Política Nacional de Atenção àsDoenças Raras. Em nota, o Ministérioda Saúde informa que, para a im-plantação da iniciativa, foram in-corporados 15 exames ao SUS. Se-gundo o órgão, a previsão de in-vestimento para essa politica é deaproximadamente R$ 130 milhões.“Planejamos lançar, até 2018, pro-tocolos clínicos para 47 doençasraras, orientando profissionais desaúde a como realizar o diagnósticoe o tratamento dos pacientes”,registra o documento.

Em 2015, a Assembleia Legisla-tiva instituiu a Semana Estadual deConscientização sobre Doenças Ra-ras, celebrada na última semana defevereiro. Autor da iniciativa, o de-putado Zé Maurício (PP) afirma quea política nacional tem que ser re-produzida nos estados e municípioscom foco na atenção integral, vol-tada ao suporte não só dos pacien-tes, como também dos cuidadores.

“O município está na base des-sa pirâmide, mas não possui re-cursos suficientes para atender –

com a qualidade que sonhamos –,todos os seus usuários. Por isso, épreciso uma rede de políticaspúblicas interligadas, contemplan-do educação, saúde, previdência,assistência social e trabalhista”,diz o parlamentar, que já solicitouao Poder Executivo um projeto delei tratando do tema.

Motivada pelo surto associadoà epidemia do zika vírus, a Casainstituiu ainda a Comissão Especialde Acompanhamento da Microce-falia, que, em 18 de maio, apre-

sentou o relatório preliminar desuas atividades. Os principais pro-blemas encontrados pelo grupocoincidem com muitos daquelescitados pelas famílias raras. O re-latório destaca a indisponibilidadede remédios anticonvulsivantes,além da falta de um número sufi-ciente de especialistas em neuro-pediatria. “A partir desse colegia-do, queremos ampliar o foco paratodas as pessoas raras", frisou acoordenadora da Comissão, depu-tada Socorro Pimentel (PSL).

André Zahar

Doenças raras, dificuldades comuns

Semana Estadual visa conscientizar população

Surto de microcefalia relacionado ao zika vírus chama a atenção para desafios de famílias que precisamlidar com síndromes pouco conhecidas

DIEGO DA COSTA/DIVULGAÇÃO

Daniel Bernardo é submetido a diversos tratamentos

DIEGO DA COSTA/DIVULGAÇÃO

Jober Alves Silva pediu demissão após a chegada do filho Mateus

RINALDO MARQUES

Famílias raras estão engajadas na busca por políticas públicas

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07Maio/Junho de 2016

Criação da Guarda Civil do Recifefoi autorizada pelo Legislativo

Superintendência de Preservação do Patrimônio Histórico do

Legislativo. Lei nº 1.172, de 24 de abril de 1913. Acervo do Arquivo

Geral Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco.

O documento pode ser consultado no Arquivo Geral da Alepe,

custodiado pela Superintendência de Preservação do Patrimônio

Histórico do Legislativo.

Dar a preferência, reduzir avelocidade ao ultrapassar erespeitar a distância mínima

de 1,5 metro. São esses os deveres dosmotoristas – previstos, desde 1998,no Código de Trânsito Brasileiro –sempre que os carros, ônibus e ca-minhões dividirem as ruas com asbicicletas. Essas obrigações, bemcomo os princípios da Política Na-cional de Mobilidade Urbana, agoratêm de integrar o conteúdo das aulasministradas em autoescolas dePernambuco, a partir da entrada emvigor, em abril deste ano, da Lei nº15.629/2015.

Presidente do Sindicato dosCentros de Formação de Condutoresdo Estado, Jorge Viana garante quea medida já está sendo respeitadapelos instrutores . “Antes existiaminiciativas pontuais de autoescolas,mas agora o conteúdo tem sidoexigido dos alunos sistematica-mente”, afirma. “O conteúdo da dis-ciplina não é longo, ele já é cobradonos testes práticos do DepartamentoEstadual de Trânsito (Detran), entãonão houve resistência para a im-plementação”, explica.

Desde julho do ano passado,bicicletas estáticas compõem o pátiode provas do Detran, no Recife. Deacordo com o presidente do órgão,Charles Ribeiro, a medida pretendegarantir que os condutores emprocesso de habilitação obedeçamàs regras. “Mais de dois mil instru-

tores de autoescolas do Estado foramcapacitados. Precisamos formarmotoristas com foco no convíviosadio da bicicleta com os outrosmodais de transporte”, aponta.

Embora o Código de Trânsitoestabeleça a máxima de que no trá-fego o maior cuida do menor, naprática, pessoas que se locomovemnos veículos de menor porte aindasão as que mais sofrem. Os últimosdados do Sistema Único de Saúde(SUS), reunidos pela entidade semfins lucrativos Observatório do Recife,são de 2014. Os números mostramque, na capital do Estado, quase doisterços das mortes no trânsito estãorelacionadas a pedestres, ciclistas emotociclistas. Os óbitos diminuíramquase pela metade desde o início dolevantamento, em 2010, mas aindasuperam a média de uma morte por

dia no Recife em decorrência deacidentes automobilísticos. A quanti-dade de feridos no trânsito tambémtem registrado melhoras ano apósano. Entretanto, em 2014, chegou aultrapassar os 2,5 mil casos.

Integrante da Associação Me-tropolitana de Ciclistas do GrandeRecife (Ameciclo), Cristiane Crespoenxerga na nova lei mais uma opor-tunidade para fazer cumprir o que jáé determinado pela legislação detrânsito. A cicloativista ressalva, noentanto, que nenhum conteúdo mi-nistrado em autoescolas tem efeitopedagógico maior que a oferta deuma estrutura cicloviária apropriadanas cidades. “As leis precisam seracompanhadas de fiscalização. Épreciso controlar a velocidade doscarros nas vias, o respeito às ci-clofaixas – para que não sirvam de

estacionamento – e a obediência àdistância mínima de 1,5 metro”,acrescenta.

O deputado Pedro Serafim Neto(PDT), autor do projeto que originoua Lei 15.629 concorda. “Diariamente,cerca de 15 mil pessoas, a maioriacom poucos recursos financeiros,deslocam-se do subúrbio para ocentro do Recife, usando bicicletascomo alternativa ao sistema detransporte coletivo precário da Ca-pital. Não se pode fingir que esses ci-dadãos não existem”, argumenta.“É imprescindível educar e prepararmelhor os condutores para a reali-dade das ruas.”MOTORISTAS DE ÔNIBUS

As exigências da nova lei atin-gem, ainda, cursos voltados a con-dutores profissionais. O texto prevêque capacitações e atualizações ofe-

recidas por empresas de transportecoletivo devem abranger o assunto,além de tornar obrigatórios cursosde reciclagem para motoristas que seenvolvam em acidentes com pe-destres ou bicicletas – ou mesmopara profissionais denunciados noscanais de comunicação disponi-bilizados pelos órgãos fiscalizadores.

Presidente do Sindicato das Em-presas de Transportes de Passageirosno Estado de Pernambuco (Urbana-PE), Fernando Bandeira asseguraque o conteúdo já compõe a capaci-tação dos trabalhadores do sistemade transporte público da Região Me-tropolitana do Recife desde 2014. “Oinvestimento em treinamento ecampanhas educativas é constante.Os profissionais já passam por re-ciclagens periódicas sobre direçãodefensiva, atendimento aos clientese cidadania nos transportes”, ga-rante.

O deputado Edilson Silva (PSOL)– que, durante a tramitação damatéria na Assembleia Legislativa,apresentou a emenda que incluiua exigência referente aos moto-ristas de ônibus – defende o com-bate à “lei da selva” no trânsito. “Oprojeto original, uma iniciativaexcelente do deputado Pedro Se-rafim Neto, tinha foco na preven-ção de acidentes. Colocamos numaperspectiva mais abrangente, re-conhecendo os pedestres e ciclistascomo sujeitos de direito no trânsi-to”, explica. “O veículo maior nãopode apenas tomar cuidado com omenor, mas aprender a convivercom ele”, conclui.

Luciano Galvão Filho

Condutores e ciclistas: rumo à convivência pacífica RINALDO MARQUES

Pedestres, ciclistas e motociclistas são as principais vítimas no trânsito, segundo dados mais recentes

Historicamente, a Assembleia Legislativa de Pernambuco possui a incumbência de deliberar sobre osmais diversos assuntos ligados à vida dos cidadãos pernambucanos, como saúde, educação, obras, criaçãode cargos, nomeações, salários e gratificações, aposentadoria, autorização para construção de pontes,instalação de fábricas e segurança pública. Com a Proclamação da República, algumas dessas funções foramassumidas pelo Poder Executivo. Porém, a aliança entre o Governo e o Legislativo em benefício da populaçãopermaneceu.

Exemplo disso foi a criação da Guarda Civil do Recife. Em 29 de abril de 1913, o então governador do Estado,Emídio Dantas Barreto, recebeu autorização do Congresso Legislativo de Pernambuco para estabelecer umacompanhia com no máximo 400 homens, com a função de auxiliar a Polícia Militar, subordinada ao chefe dePolícia. Ao comandante da Guarda, era designada a tarefa de inspetor-geral, sendo nomeado pelo governador.Todos os outros cargos criados no regulamento do órgão seriam ocupados por pessoas nomeadas pelos secretáriosda Justiça e da Fazenda, indicadas pelo chefe de polícia. O tema continua sendo pauta prioritária do Executivo eLegislativo que, ao longo dos anos, propõem matérias visando aprimorar o sistema de segurança pública.

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Page 8: TP JUNHO 2016 - Alepe...Cruz do Capibaribe, em parceria com a Prefeitura de Condado. “O curso foi oferecido por meio da Secretaria Mu-nicipal de Educação. Eles faziam a pr-paganda

Em maio deste ano, a As-sembleia Legislativa de Ala-goas aprovou, sob forte po-

lêmica, a lei do Programa Escola Li-vre, que prevê a neutralidade política,ideológica e religiosa nas salas deaula dos colégios estaduais. Pela ma-téria, os professores ficam proibidosde “doutrinar” alunos para quais-quer crenças ou correntes de pensa-mento, bem como ficam impedidosde fazer propaganda delas. Tambémnão deverão introduzir, em disci-plinas ou atividades obrigatórias,conteúdos em conflito com a normae poderão ser punidos, caso "incitemmanifestações ou atos públicos”.

O regulamento foi alvo de ques-tionamentos do Ministério da Edu-cação (MEC), que considerou queele fere “o princípio constitucionaldo pluralismo de ideias e concepçõespedagógicas”. Desde 10 de maio, umdia após a promulgação da lei pelopresidente da Assembleia Legislativado Estado de Alagoas, o órgão federalencaminhou à Advocacia Geral daUnião (AGU) argumentos que jus-tificam uma ação direta de incons-titucionalidade, ainda não impetrada.

Em Pernambuco, uma proposi-ção similar ao Programa Escola Livrefoi apresentada, na Alepe, pelodeputado Pastor Cleiton Collins (PP):o Projeto de Lei nº 823/2016. Pro-postas correlatas também tramitamem pelo menos sete estados e novemunicípios em todo o Brasil, tendocomo base as ideias do advogadoMiguel Nagib, integrante do mo-vimento Escola Sem Partido.

Fundado em 2004, o grupo éuma “reação à doutrinação políticae ideológica em sala de aula e livrosdidáticos e à usurpação do direitodos pais dos alunos sobre a educaçãoreligiosa e moral dos seus filhos”,nas palavras de Nagib. “Isso é feitode maneira sistemática e organizadapor professores de esquerda, comapoio de partidos e da burocraciavinculada à educação pública emvários níveis da Federação. Existemtambém professores de direita quesão doutrinadores, mas estes agemde maneira isolada”, considera oadvogado.

O Escola Sem Partido incentivaa notificação extrajudicial de pro-fessores que, na visão dos integran-tes, estejam promovendo suas visõesideológicas em sala de aula. ParaNagib, não se trata de censurar, masde diferenciar liberdade de ensino ede expressão. “O docente se dirigea uma audiência cativa. Se o pro-fessor pode obrigar alunos a ouvi-lo e opinar sobre qualquer assunto,a liberdade de consciência e de crençados estudantes, garantida pela Cons-tituição, vira letra morta”, argu-menta.

Na justificativa do PL 823, o de-putado Pastor Cleiton Collins apre-

senta a mesma linha de argumen-tação do movimento. “O projetotambém segue o artigo 12 da Con-venção Americana de Direitos Hu-manos, da qual o Brasil é signatá-rio, segundo o qual ‘os pais têmdireito a que seus filhos recebam aeducação religiosa e moral que estejade acordo com suas próprias convic-ções’”, ressaltou o parlamentar.

A iniciativa recebeu críticas doSindicato dos Trabalhadores emEducação de Pernambuco (Sintepe).“Vemos esse projeto com grandepreocupação. Na prática, o professorficará temeroso de fazer qualquerdiscussão política em sala de aula,pois poderá ser acusado de ser

parcial, já que a neutralidade que sepede é impossível”, avalia FernandoMelo, presidente da entidade. “De-fendemos uma educação que ensineas pessoas a conviver com as dife-renças ideológicas, mas não que-remos que uma lei interfira na au-tonomia de escolas e professores,quando estes incentivam seus alunosa exercer a cidadania”, argumenta.

A neutralidade do ato pedagógicotambém é questionada pelo psicó-logo especialista no desenvolvimentode crianças e adolescentes CarlosBrito. “Toda e qualquer ação peda-gógica está vinculada a uma con-cepção de sociedade e de construção

do conhecimento”, avalia ele, quetambém é professor da UniversidadeCatólica de Pernambuco. “Por outrolado, com a polarização políticarecente, ocorrem muitos casos deposicionamento partidário de pro-fessores, que apresentam suas po-sições como verdade absoluta, o quenão é adequado”, pondera Brito. “Osalunos devem ser contemplados comdiversas ideologias e possibilidadesde conhecimento.”

A posição da presidente da Co-missão de Educação da Alepe, depu-tada Teresa Leitão (PT), é seme-lhante. “O estudante já não pode serperseguido politicamente, pois osprofessores devem cumprir a Lei

Estadual nº 12.280/2002, que tratada proteção integral dos direitos doaluno. Não precisamos de novasregras, mas de apoio para que oseducadores ensinem tudo o que sa-bem”, considera a parlamentar. “Fuiprofessora e vejo antigos alunos semobilizando tanto contra como afavor dos meus posicionamentospolíticos. Mas todos dizem queaprenderam comigo a se colocar, oque é algo que me orgulha.”

Estudante do Ginásio Pernam-bucano, Ikaro Monteiro, 16 anos,diz não ver problemas na manifesta-ção de pensamentos. “Geralmente,os alunos mantêm sua opinião,

independentemente do que o pro-fessor fala. O que eu acho errado épunir alguém por ter uma posiçãodiferente”, observa. Para a colegadele, Ana Clara Santana, também de16 anos, “se há diferenças na socie-dade, elas devem ser vistas na salade aula”. “A partir daí, cada um podeter sua visão, mas com respeito entreas pessoas”, complementa a jovem.GENÊRO EM DEBATE

Outra discussão presente atual-mente nos legislativos trata da abor-dagem das identidades de gênero eda sexualidade dentro da escola. NaAlepe, o Projeto de Lei nº 709/2016,do deputado Joel da Harpa (PTN),pretendia vetar a discussão, mas foi

arquivado após recusa unânime daComissão de Constituição, Legislaçãoe Justiça. Na ocasião, o GovernoEstadual também se manifestoucontrário ao tema, por meio de umparecer da Secretaria da Mulher.

Joel da Harpa lamenta a re-jeição e argumenta que pretendiaproteger as crianças e adolescentesda chamada “ideologia de gênero”.“A ideia de que a sexualidade deuma pessoa se forma no decorrerda vida agride a formação dascrianças. O que existe na verdadeé o sexo masculino e o feminino”,afirma o parlamentar. Ele admite,porém, que as escolas devem dis-cutir questões relacionadas ao pre-conceito contra homossexuaismesmo com crianças. “Aceitar ohomossexual deve ser incentivado,mas sem a ideologia de gênero”,acredita.

Relatora da proposta, a deputa-da Teresa Leitão, discorda do con-ceito de “ideologia de gênero”. “Oque existe, na verdade, é identidadede gênero. As pessoas nascem comcaracterísticas biológicas de ho-mem e mulher, mas têm a liber-dade de assumir diferentes identi-dades”, considera a petista. Segun-do ela, há um impedimento legala projetos como esse na própriaLei de Diretrizes e Bases (LDB),uma vez que o complemento àsorientações curriculares nacionaissó pode ser feito pelas escolas e ór-gãos de educação estaduais. “Osparlamentares não têm competên-cia para incluir ou retirar temasdo currículo da escola, por melhorque seja o mérito da alteraçãodesejada”, explica.

Para o psicólogo Carlos Brito,não deveria existir um conflito nadiscussão sobre gêneros e diversi-dade sexual, mas unidade entrefamília e escola. “Hoje nem a es-cola nem a família estão prepara-das para discutir a quebra do bina-rismo masculino/feminino comoúnica condição humana. O adoles-cente que não se enquadra nos pa-péis de gênero tradicionais ficadesamparado”, garante. “Questãode gênero não deve ser debatidaatravés de uma cartilha que digao que é certo ou errado, mas pormeio da discussão de situaçõesconcretas”, sentencia.

08 Maio/Junho de 2016

Propostas que interferem na abordagem de conteúdos em sala de aula geram polêmica entre deputados.Especialistas defendem pluralidade de ideias na construção do conhecimento

Edson Alves Jr.

Neutralidade na escola em questãoEDUCAÇÃO