toxocarÍase e manifestaÇÕes clÍnicas. um estudo de...

129
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS PAULA MAYARA MATOS FIALHO TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE BASE POPULACIONAL NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS/SP CAMPINAS 2016

Upload: others

Post on 10-May-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

PAULA MAYARA MATOS FIALHO

TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM

ESTUDO DE BASE POPULACIONAL NO MUNICÍPIO DE

CAMPINAS/SP

CAMPINAS

2016

Page 2: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

PAULA MAYARA MATOS FIALHO

TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE BASE

POPULACIONAL NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS/SP

Tese apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade

Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a

obtenção do título de Doutora em Saúde Coletiva (área de

concentração: Epidemiologia).

ORIENTADOR: CARLOS ROBERTO SILVEIRA CORREA

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA

ALUNA PAULA MAYARA MATOS FIALHO, E ORIENTADA PELO

PROF. DR. CARLOS ROBERTO SILVEIRA CORREA.

CAMPINAS

2016

Page 3: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis
Page 4: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE DOUTORADO

PAULA MAYARA MATOS FIALHO

ORIENTADOR: CARLOS ROBERTO SILVEIRA CORREA

COORIENTADOR:

MEMBROS:

1. PROF. DR. CARLOS ROBERTO SILVEIRA CORREA

2. PROF. DRª. MARIA ISABEL DE MORAES PINTO

3. PROF. DR. JOÃO TADEU RIBEIRO PAES

4. PROF. DR. MARCOS TADEU NOLASCO DA SILVA

5. PROF. DR. DJALMA DE CARVALHO MOREIRA FILHO

Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas

da Universidade Estadual de Campinas.

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca examinadora

encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Data: 29/02/2016

Page 5: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

AGRADECIMENTOS

Durante os quatro anos de doutorado muitas pessoas apareceram

em minha vida e contribuíram bastante para a concretização desse

trabalho. Trajetória nada fácil e cheia de percalços. Às vezes,

dolorosos, mas, na maioria das vezes prazeroso e gratificante!

Agradecer a cada pessoa que fez parte desse ciclo é primordial.

Agradeço primeiramente a Deus, Ser supremo e indispensável em

minha vida. Obrigada por todas as oportunidades ao longo da minha.

Se alguém me dizia que não era possível, Ele me mostrava que era

sim. Cursar o doutorado e poder contribuir um pouco com a sociedade

é muito gratificante.

Ao meu grande amor Fábio, saiba que esse título também é seu!

Obrigada pelo apoio incondicional, por sempre confiar em mim, por me

incentivar e me mostrar que eu sou capaz. Seu amor me alimenta e me

faz trilhar caminhos que jamais imaginei. Nossa parceria é certeira.

Muito Obrigada!

Aos meus pais, meus irmãos e sobrinhos, mesmo distantes sempre

presentes. Obrigada pela torcida e por terem entendido minha

ausência em vários momentos. Painho e mainha, muito obrigada por

terem me ensinado que só com coragem e força de vontade a gente

chega lá.

Ao meu grande mestre, Prof. Dr. Carlos Roberto Silveira Corrêa,

por ter me proporcionado a oportunidade de ser sua orientanda e de

desenvolver este trabalho. Obrigada pelo incentivo prestado ao meu

desenvolvimento intelectual, pela orientação e por todo aprendizado.

Saiba que seus ensinamentos, não só acadêmicos, mas também de vida,

Page 6: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

levarei comigo onde eu estiver. Além de ser meu orientador, é uma

pessoa que admiro muito e um ser humano único, com o coração

gigante! Obrigada por tudo!

Meu agradecimento, ao Centro de Saúde São Marcos, em especial,

a Agente Comunitária de Saúde Eni. Você foi fundamental na execução

do trabalho de campo.

Aos alunos do curso de Enfermagem- Unicamp, na pessoa do André

e em especial, a minha baixinha Paula Zaidan, grande companheira nas

aventuras pela Vila Esperança. Obrigada por sua ajuda voluntária e

constante, você é demais!

Ao Prof. Dr. Francisco Anaruma, pela ajuda e orientações no

desenvolvimento do trabalho de campo, obrigada!

Ao Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, nas pessoas do

Prof. Dr. Pedro Paulo Chieffi e a Profª. Drª. Susana Zevallos

Lescano pela oportunidade de realizar as análises sorológicas e as

contribuições nos manuscritos.

Às minhas grandes amigas, que a Unicamp me proporcionou a

oportunidade de conhecer: Tá, Dani, Flá, Pri e Carolis; quantos

momentos vividos e compartilhados. Levarei cada uma de vocês onde

quer que eu vá. Obrigada por tudo meninas!

Agradeço também a Rose, Jane, Ehidee e Ju, minhas companheiras

de PED, de várias conversas e compartilhamento do saber.

Agradeço aos professores do Departamento de Saúde Coletiva, por

todos os ensinamentos. Em especial, àqueles mais próximos e que

estiveram presentes no Programa de Estágio Docente, nas disciplinas

Page 7: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

de Prática de Ciências – IPC, e Epidemiologia, muito obrigada aos

professores: Calucho, Djalma, Priscila e Rita.

A todos os colegas, professores e demais funcionários do

Departamento de Saúde Coletiva, obrigada pela amizade, assistência e

cooperação.

Agradeço também a minha sogra, minhas cunhadas pelo incentivo.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)

pela concessão da bolsa de doutorado, muito obrigada!

Page 8: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

“Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir

ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar, porque descobri, no caminho

incerto da vida, que o mais importante é o decidir.”

Cora Coralina

Page 9: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

RESUMO

A toxocaríase é uma zoonose que está presente no Brasil e em vários países.

É causada pelos helmintos do gênero Toxocara e as espécies envolvidas são a T.

canis e T. catis. O impacto que ela tem sobre a saúde humana, principalmente a das

crianças, ainda está sendo avaliado, embora já tenha sido relacionada como causa

de manifestações clínicas importantes. Apesar disso, muitos dados relacionados

tanto com a medida de sua frequência como relacionadas com o impacto que essa

doença tem sobre a saúde das pessoas ainda são desconhecidos. Por isso, é

considerada uma doença negligenciada.

Diante destas considerações o objetivo deste estudo foi conhecer a

incidência, a prevalência, fatores que podem ser considerados associados ou de

risco para toxocaríase.

Para atender esse objetivo, foram realizados três estudos. Inicialmente, foi

feito um levantamento bibliográfico da literatura brasileira, cujo objetivo era conhecer

a prevalência de toxocaríase no Brasil e a metodologia utilizada pelos estudos para

descrever essa medida de frequência. Os outros dois estudos foram de base

populacional, realizados no município de Campinas, com a população de estudo

selecionada de maneira aleatória. Nessa população foi feito, inicialmente, um estudo

transversal. Esse estudo permitiu identificar a prevalência da toxocaríase na amostra

estudada, bem como permitiu descrever a associação de uma manifestação clínica,

a urticária, com a toxocaríase. O terceiro estudo constou de uma coorte prospectiva

em que foram estudados tanto a incidência da toxocaríase como os fatores de risco

associados a essa infecção.

Os resultados desta tese são apresentados em três capítulos,

correspondentes a três artigos. No primeiro, “Revisão Sistemática da Toxocaríase:

uma doença negligenciada, mas com alta prevalência no Brasil”, realizou-se uma

revisão sistemática da literatura, seguindo às orientações do PRISMA. Após aplicar

os critérios estabelecidos previamente, foram selecionados para análise 22 artigos,

os quais descrevem a prevalência atual da toxocaríase nas diferentes regiões do

país que variou de 4,2% a 65,4%. No segundo trabalho, “Soroprevalência de

Page 10: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

toxocaríase em crianças com urticária: estudo de base populacional no munícipio de

Campinas-SP-Brasil” foi realizado um estudo transversal de base populacional, com

crianças de 2 a 12 anos. A presença de urticária foi verificada em 38% dos

participantes. A soroprevalência de toxocaríase foi de 16%. O presente estudo

confirmou uma a associação positiva de urticária com a sorologia positiva para

Toxocara e uma associação independente negativa com contato com cão e com o

número de pessoas residentes no domicílio. O terceiro artigo, “Incidência de

toxocaríase e fatores de risco associados, em crianças de um bairro do município de

Campinas: um estudo de coorte” apresenta a incidência de toxocaríase em uma

coorte de crianças acompanhadas durante um ano. A incidência de toxocaríase foi

de 10,4 para cada 100 crianças ano. O presente estudo demonstrou que a asma foi

fator de risco para toxocaríase.

É necessária a conscientização dos profissionais da saúde, dos poderes

públicos e dos educadores de que a toxocaríase é um problema de saúde pública,

como também é necessário estabelecer medidas preventivas no controle dessa

infecção.

Palavras-Chave: Toxocaríase. Prevalência. Incidência. Urticária. Asma. Criança.

Estudo de base populacional. Estudo de coorte. Toxocara.

Page 11: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

ABSTRACT

Toxocariasis is a zoonotic disease that is present in Brazil and many other

countries. It is caused by Toxocara and the involved species are T. canis and T. cati.

The disease impact in human health, particularly children, is still being evaluated,

although it has already been suggested as a cause of major clinical manifestations.

Nevertheless, many data about the frequency measures as related to the impact of

toxocariasis on the human health are still unknown. Therefore, toxocariasis is

considered a neglected disease.

To achieve our goal was conducted the study different methodologies. Initially,

a literature review was done in order to know the prevalence of toxocariasis in Brazil.

Another Population-based Study, conducted in the city of Campinas, the study

population randomly selected, and one prospective cohort study.

The results of this thesis are presented in three chapters, corresponding to

three articles. In the first, "A Systematic Review of Toxocariasis: A Neglected but

High-Prevalence Disease in Brazil", we conducted a systematic review of the

literature following PRISMA guidelines. Applying the established criteria, we identified

160 publications and selected 22 articles for further analyses. The prevalence of

toxocariasis in various regions of the country ranged from 4.2% to 65.4%. In the

second work, "Seroprevalence of Toxocariasis in Children with Urticaria: Population-

based Study in Campinas-SP-Brazil" was a cross-sectional population-based study

with children 2-12 years old, in the city of Campinas. The presence of urticaria was

observed in 38% of participants. The seroprevalence of toxocariasis was 16%. This

study confirmed a positive association urticaria with positive serology for Toxocara

and a negative independent association with contact with dog and the number of

people living in the household. The third article, "Toxocariasis Incidence and Risk

Factors in Children of Campinas-SP-Brazil: Cohort study" shows the incidence of

toxocariasis in a cohort of children follow-up for a year. The incidence of toxocariasis

was 10.4 per 100 child year. The present study demonstrated that asthma was a risk

factor for toxocariasis.

Page 12: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

Is important that the health professionals and the public health system should

be aware that toxocariasis is a health problem and it is necessary to establish

prevention and control strategies for this infection.

Keywords: Toxocariasis. Prevalence. Incidence. Urticaria. Asthma. Child.

Population-based Study. Cohort Study. Toxocara.

Page 13: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa distritos de saúde do município de Campinas. ................................ 32

Figura 2: Região do São Marcos e Loteamento Vila Esperança. ............................. 33

Page 14: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

T. canis Toxocara canis

T. cati Toxocara cati

LMV Larva Migrans Visceral

NT Neurotoxocariasis

CDC Centers for Disease Control and Prevention

IgG Imunoglobulina G

IgM Imunoglobulina M

TES Antígeno de excreção e secreção

ELISA Enzyme-linked Immunosorbent Assay

IMC Índice de Massa Corpórea

SP São Paulo

SIGAB Sistema de Informação e Gerenciamento da Atenção Básica

SAS Statistical Analysis System

NCHS National Center for Health Statistics

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UBS Unidade Básica de Saúde

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

PBS-T PBS Tween

H2O2 Peróxido de Hidrogênio

H2SO4 Ácido Sulfúrico

Page 15: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO GERAL ..................................................................................... 18

1.1 O parasito Toxocara ....................................................................................... 18

1.1.1 Taxonomia e características ....................................................................... 18

1.1.2 Ciclo biológico ............................................................................................. 19

1.2 Epidemiologia ................................................................................................. 21

1.3 Formas clínicas da toxocaríase ...................................................................... 21

1.3.1 Histórico ...................................................................................................... 21

1.3.2 Larva Migrans Visceral ou toxocaríase visceral ........................................... 23

1.3.3 Toxocaríase ocular ...................................................................................... 23

1.3.4 Neurotoxocaríase ........................................................................................ 24

1.3.5 Toxocaríase oculta ou “covert toxocariasis” ................................................ 24

1.3.6 Formas clínicas da toxocaríase ................................................................... 25

1.3.6.1 A asma ........................................................................................................ 25

1.3.6.2 A urticária .................................................................................................... 26

1.4 A eosinofilia e a infecção por Toxocara canis ................................................. 26

1.5 A antropometria e a toxocaríase ..................................................................... 27

1.6 O diagnóstico de Toxocara canis ................................................................... 27

1.7 O tratamento da toxocaríase .......................................................................... 28

1.8 Justificativa ..................................................................................................... 29

Page 16: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 30

2.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 30

2.2 Objetivos específicos ..................................................................................... 30

3 METODOLOGIA ............................................................................................... 31

3.1 Revisão Sistemática ....................................................................................... 31

3.2 Estudo de base populacional ......................................................................... 31

3.2.1 Local de estudo ........................................................................................... 31

3.2.2 Delineamento do estudo ............................................................................. 34

3.2.3 Plano de Amostragem ................................................................................. 34

3.2.4 Critérios de inclusão e exclusão .................................................................. 35

3.2.5 Dinâmica e processamento da coleta de dados .......................................... 36

3.2.5.1 Estudo transversal ................................................................................... 36

3.2.5.2 Medidas antropométricas ......................................................................... 37

3.2.5.3 Coleta da amostra sangue ....................................................................... 37

3.2.5.4 Análise dos resultados do estudo transversal .......................................... 38

3.2.6 Estudo de coorte ......................................................................................... 38

3.2.6.1 Análise dos resultados do estudo de coorte ............................................. 39

3.2.7 Descrição da técnica sorológica ELISA para diagnóstico da toxocaríase em

humanos .................................................................................................................. 40

3.3 Aspectos éticos da pesquisa .......................................................................... 41

4 RESULTADOS (Artigos) ................................................................................... 43

Page 17: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

Capítulo 1- Revisão Sistemática da Toxocaríase: uma doença negligenciada, mas

com alta prevalência no Brasil ................................................................................. 43

Capítulo 2- Soroprevalência de toxocaríase em crianças com urticária: estudo de

base populacional no munícipio de Campinas-SP-Brasil ......................................... 65

Capítulo 3- Incidência de toxocaríase e fatores de risco associados, em crianças de

um bairro do município de Campinas: um estudo de coorte ..................................... 87

5 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO GERAL ........................................................... 109

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 113

APÊNDICE A - TCLE ............................................................................................. 120

APÊNDICE B - Questionário .................................................................................. 121

APÊNDICE C – Questionário Follow-up ................................................................. 123

APÊNDICE D – Artigo aceito para publicação no AJTMH ...................................... 124

ANEXO 1 – Comitê de Ética UNICAMP ................................................................. 125

ANEXO 2 – Comitê de Ética USP .......................................................................... 128

ANEXO 3 – Autorização Secretaria de Saúde de Campinas .................................. 129

Page 18: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

18

1 INTRODUÇÃO GERAL

A toxocaríase é uma antropozoonose causada por geohelmintos do gênero

Toxocara e que atinge pessoas de todos os continentes 1. Diversas espécies

desse parasito podem agir como agentes etiológicos da toxocaríase, sendo os

parasitos do gênero Toxocara canis e cati os mais comumente envolvidos e

também os mais estudados. Vários estudos demonstram que a infecção por

Toxocara é altamente prevalente em países em desenvolvimento.

1.1 O parasito Toxocara

1.1.1 Taxonomia e características

A classificação taxonômica do Toxocara segue a seguinte sistemática:

Reino: Metazoa

Filo: Nematoda

Classe: Chromadorera

Ordem: Ascaridida

Família: Toxocaridae

Gênero: Toxocara

Espécie: T. canis,T. cati

Na literatura existe mais de 20 espécies de Toxocara descritas, porém T.

canis e T. cati são as espécies mais estudadas e também as mais relacionadas à

toxocaríase em seres humanos 2,3.

Os vermes adultos de T. canis e T. cati parasitam o intestino delgado de

cães e gatos respectivamente, sendo esses animais os hospedeiros definitivos

Page 19: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

19

desses ascarídeos. Os vermes adultos de Toxocara canis medem entre 4 a 18 cm

de comprimento. As fêmeas medem de 6 a 18 cm e os machos de 4 a 10 cm 4.

Quanto ao Toxocara cati, os machos medem entre 3 e 6 cm e as fêmeas entre 4 e

12 cm. A diferença morfológica entre as espécies adultas de T. canis e T. cati está

nas asas cefálicas, sendo na primeira espécie mais estreitas na extremidade

anterior e mais larga na segunda espécie. Os parasitos na fase adulta vivem em

média quatro meses, sendo que por volta de seis meses, praticamente todos são

eliminados espontaneamente pelo hospedeiro definitivo 4,5.

Uma fêmea adulta pode produzir até 200.000 ovos diariamente e,

considerando que um cão pode carregar centenas de vermes em seu intestino,

esses animais são os potenciais contaminadores do ambiente, podendo causar,

dessa forma, um grave problema sanitário. Os ovos do Toxocara necessitam de

condições ambientais adequadas para que ocorra o embrionamento, e dessa

maneira tornarem-se infectantes. Isso acontece com uma temperatura de 15 a

35ºC e umidade superior a 85% 4.

1.1.2 Ciclo biológico

O hospedeiro definitivo do parasito T. canis é o cão. Esse mamífero pode

ser infectado pelo Toxocara canis por quatro vias. São elas: 1) a via direta, que

ocorre por meio da ingestão de ovos infectados; 2) a transplacentária, que ocorre

quando o feto se contamina pelas formas albergadas pela cadela e que se tornam

infectantes quando ela fica prenhe; 3) a transmamária, que ocorre quando o filhote

está sendo amamentado e finalmente, 4) pela ingestão do hospedeiro paratênico

que alberga formas larvais desse geohelminto 6.

O Toxocara canis tem seu ciclo de vida completo nos cães, o homem é um

hospedeiro paratênico desse parasito. Ovos não embrionados são liberados no

solo pelas fezes do cão. Esses ovos embrionam no meio ambiente e se tornam

Page 20: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

20

infectantes. Para ocorrer o embrionamento são necessárias condições adequadas

de temperartura (15-35ºC) e de umidade. A forma infectante é a fase L2 (2º

estágio larvário).

Nos cães os ovos eclodem e atravessam a parede do intestino. Nos filhotes

as larvas migram através do pulmão, árvore brônquica e esôfago. Os vermes

adultos voltam ao intestino onde ovipõem. Nos cães adultos esse ciclo descrito

pode ocorrer, mas o mais comum é a ocorrência de encistamento nos tecidos.

Esses cistos são reativados na fêmea no fim da gravidez e assim podem infectar

tanto os fetos, por via transplacentária, como os filhotes, por via transmamária.

Tanto no intestino do feto, como do filhote, o parasito se transforma na fase adulta.

Os filhotes são os principais responsáveis pela contaminação do meio ambiente

com ovos desse parasito 6.

A infecção desses parasitos se dá pela ingestão de ovos embrionados

presentes no solo ou em verduras ingeridas. No intestino delgado dos

hospedeiros, como o homem, ocorre o rompimento das membranas do ovo e a

liberação da larva que tem a capacidade de penetrar na parede dos órgãos e

assim migrar para os diferentes, como o fígado, o coração, pulmões, cérebro,

músculo e olhos. Dependendo da resistência conferida pelo diâmetro dos vasos

sanguíneos do tecido, a disseminação pode ser impedida, possibilitando a lesão

da parede vascular e a migração errática dessas larvas pelo tecido acometido 7.

Apesar de não se disseminarem no hospedeiro paratênico as reações

inflamatórias produzida, tanto local, como sistemicamente, podem ser

significativas.

Page 21: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

21

1.2 Epidemiologia

São fatores associados com a infecção humana pelo Toxocara, entre

outros: a coabitação no nosso meio ambiente por animais domésticos, como cães

e gatos; a frequência a parques públicos e playgrounds; a ingestão de verduras

contaminadas com ovos desse parasito, associadas com características das

pessoas infectadas 3.

Campos Júnior e colaboradores (2003) mostraram que existe diferença

significativa entre a prevalência de soropositividade ao Toxocara canis, observada

em crianças procedentes dos bairros pobres de Brasília (21,8%) e a encontrada

nas crianças residentes nos setores mais ricos da cidade (3%) 8. Aquela

prevalência compara-se com a de 37,9% em região subtropical da Argentina 9;

39% na cidade de La Plata 10

; de 29,6% na Nigéria 11

; 22% na região oeste da

França 12; 30% na periferia de Caracas 13; 27,2% na população escolar de

Trinidad 14. Em Campinas as prevalências encontradas foram de 54,3 15 e 23,9%

16.

1.3 Formas clínicas da toxocaríase

1.3.1 Histórico

A infecção por Toxocara spp em cães foi descrita pela primeira vez em um

estudo realizado em Cambridge, em 1907. Esse estudo foi realizado a partir de

necropsias de cães a partir das quais os autores identificaram um parasito que

posteriormente foi classificado como T. canis 17.

Já no ano de 1947, um provável caso de toxocaríase foi descrito numa

criança que apresentava infiltração pulmonar, granulomas hepáticos eosinofílicos

e anemia 18. Em dois estudos feitos com crianças no ano de 1950, foi verificada a

presença de larvas de Toxocara spp no tecido hepático 19 e na retina 20. Mesmo

Page 22: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

22

esses casos tendo sido relatados, ainda não havia a confirmação da toxocaríase

em humanos.

Em 1952, Beaver e colaboradores confirmaram pela primeira vez a

presença de larvas de Toxocara spp. em crianças, confirmada após biópsias

hepáticas. Essas três crianças diagnosticadas pela primeira vez com toxocaríase,

apresentavam eosinofilia extrema, hepatomegalia com granulomas eosinofílicos,

anemia e pneumonia. Com esses sintomas relatados, denominou-se a síndrome

da “Larva Migrans Visceral” (LMV). Após um estudo detalhado, evidenciou-se que

as larvas reportadas nos estudos descritos anteriormente, eram deste nematódeo

e não de Ascaris como haviam suspeitado 21.

Beaver em 1956 caracterizou a síndrome da LMV e o papel desempenhado

pelo cão e gato. A infecção pelo Toxocara é mais comum em crianças e nelas as

manifestações são mais evidentes e entre elas estão: hepatomegalia, eosinofilia e

acometimento pulmonar.

Sprent (1963) 5 caracterizou a LMV como: a migração visceral de larvas de

nematódeos em humanos incluindo-se todos os ancilostomídeos. Todavia, Beaver

(1969) restringiu a definição da síndrome LMV para: a migração persistente de

larvas de nematódeos em tecidos de hospedeiros eventuais ou paratênicos por

longos períodos, sendo as espécies de nematódeos envolvidas nessa síndrome

Toxocara canis e T. cati, parasitos de cães e gato, respectivamente. Dessa forma,

o termo toxocaríase passou ser mais utilizado 22.

A classificação das formas clínicas da toxocaríase foi feita por vários

autores2,4,23, eles classificaram a toxocaríase humana em três tipos: LMV,

toxocaríase ocular e a toxocaríase oculta. A classificação de Pawlowski (2001) 24

engloba quatro tipos as manifestações clínicas da infecção por Toxocara canis: a

Oculta, a Ocular; a Neurológica e a Larva Migrans Visceral.

Page 23: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

23

1.3.2 Larva Migrans Visceral ou toxocaríase visceral

A forma clássica da toxocaríase foi primeiramente descrita por Beaver

(1952) como Síndrome da Larva Migrans Visceral. É uma doença relativamente

benigna, que acomete principalmente crianças 2,3, porém há relatos na literatura

de adultos afetados pela doença 25,26.

As manifestações clínicas mais frequentes nos pacientes com LMV são: dor

abdominal, febre, hepatomegalia, manifestações pulmonares, tais como

broncoespasmo, sibiliância e tosse 2,7,27,28. Estudos mostram que a asma, rinite e

anemia são comuns em pacientes com toxocaríase visceral 8,27. Alguns pacientes

apresentam alterações cutâneas, como urticária e prurido 29. Um dos sinais

encontrados em pacientes com a forma clássica da toxocaríase é a eosinofilia,

sendo a cronicidade um indício da doença 24

.

1.3.3 Toxocaríase ocular

A toxocaríase ocular ocorre quando as larvas do Toxocara se instalam no

globo ocular, geralmente de crianças com idade média superior daquelas que são

acometidas pela toxocaríase visceral. É uma doença consideravelmente grave,

manifestando-se com perda progressiva da visão, geralmente unilateral 2,3,24.

O exame de fundo de olho mostra uma massa esbranquiçada, por isso é

muito comum confundir a toxocaríase ocular com retinoblastoma, que é um tumor

maligno, o qual também acomete principalmente crianças 2,3,20. As crianças

acometidas pela forma ocular, também podem ter a forma visceral associada 7.

Page 24: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

24

1.3.4 Neurotoxocaríase

A neurotoxocaríase (NT) é uma doença relativamente rara. Ocorre por meio

da migração das larvas de Toxocara para o cérebro. Como consequência dessa

invasão, pequenas áreas necrosadas e infiltração inflamatória têm sido descritos.

Pode ocorrer desde quadros assintomáticos até casos mais graves como

meningoencefalite, convulsões, acometimento multifocal dos sistemas nervosos

central e periférico, encefalite associada a vasculite 30,31.

1.3.5 Toxocaríase oculta ou “covert toxocariasis”

A toxocaríase oculta é caracterizada por sintomas e sinais que não se

enquadram nas outras formas já relatadas, anteriormente. Taylor et al (1987) 32

observaram níveis eosinófilos bem menores do que os vistos em pacientes com

toxocaríase visceral e sintomas inespecíficos.

Segundo Pawlowski (2001) 24

, a forma oculta da toxocaríase parece está

relacionada com uma resposta imunopatológica do hospedeiro em direção a um

órgão e pela estimulação dos antígenos relacionados ao parasito. Uma das formas

clínicas envolvidas na toxocaríase oculta é as que envolvem as funções

pulmonares, dentre as quais estão: a asma, bronquite e a pneumonite. A literatura

descreve também, doenças dermatológicas tais como urticária ou eczema, como

expressões clínicas 33.

Page 25: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

25

1.3.6 Formas clínicas da toxocaríase

1.3.6.1 A asma

A asma é uma doença crônica, frequentemente encontrada em crianças,

que pode ser desenvolvida ou agravada por vários fatores 6, dentre eles, as

doenças infecciosas e a obesidade e o sobrepeso 27,34,35. A asma está incluída na

classificação de Pawlowski dentro das formas ocultas, todavia ela vem sendo

estudada como uma manifestação clínica da toxocaríase.

A relação entre asma e toxocaríase foi descrita por alguns autores.

Figueiredo et al (2005) encontraram soroprevalência de 57% em asmáticos. Buijs

et al (1997)34 em estudo realizado com crianças de 4 a 6 anos de idade,

encontraram associação entre a presença de Toxocara canis com asma. Chan et

al (2001)36 verificaram em seu estudo que as crianças asmáticas apresentavam

maior soropositividade para Toxocara canis que as não asmáticas.

A associação da asma com as doenças infecciosas e parasitárias já foi

apontada em diversos estudos 28,34,36. Ponte e colaboradores (2007) 37 fizeram

uma revisão dos artigos que abordam a associação da asma e da alergia com

doenças parasitárias e mostraram que a presença dessas infecções está

correlacionada positivamente com as doenças alérgicas e com a asma.

Page 26: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

26

1.3.6.2 A urticária

As doenças dermatológicas, como urticária, e a associação com a

toxocaríase, foi descrita por Wolfrom e colaboradores (1995) 33. Eles realizaram

um estudo caso-controle com 51 indivíduos com urticária crônica, quando

encontraram forte associação entre essa infecção e a manifestação

dermatológica.

As dermatites, incluindo a urticária, têm causas multifatoriais, uma delas é a

infecção por parasitos intestinais. A literatura descreve como uma das

manifestações clínicas encontradas em pacientes que apresentam toxocaríase e

alterações cutâneas, como urticária e prurido 38.

1.4 A eosinofilia e a infecção por Toxocara canis

A infecção por Toxocara está associada com eosinofilia. O papel da

eosinofilia na patogênese da toxocaríase é motivo de vários estudos. Infecções

parasitárias constituem uma causa importante de eosinofilia, sendo que, parasitos

que invadem os tecidos, causam uma eosinofilia mais pronunciada que aqueles

que permanecem na luz intestinal. A toxocaríase, cujo parasito permanece

quiescente no hospedeiro por tempo prolongado, é uma causa importante das

síndromes hipereosinofílicas da infância 7.

Em um estudo realizado por Figueiredo et al, no período de janeiro de 2000

a janeiro de 2001, em 208 crianças de 1 a 14 anos de idade na região da Capela

do Socorro, periferia da cidade de São Paulo, mostrou que 67,6% dos testes

sorológicos de Toxocara canis , apresentaram alta dos eosinófilos, ou seja, o

desenvolvimento de eosinofilia.

A eosinofilia encontrada em pacientes com toxocaríase pode estar

envolvida tanto no mecanismo de defesa do hospedeiro contra o parasito, como

na lesão inflamatória tecidual 7.

Page 27: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

27

1.5 A antropometria e a toxocaríase

Recentemente, em estudo descritivo realizado no bairro Jardim Santa

Mônica, em Campinas, Fialho e Correa (2014), encontraram associação entre

asma, aumento do índice de massa corporal (IMC) e a soropositividade de

Toxocara canis.

A associação entre Toxocara canis e dados antropométricos foi abordada

em alguns estudos e os resultados são controversos. Figueiredo et al (2005),

encontraram uma associação estatura/idade em relação a desnutrição, as

crianças apresentaram estatura abaixo do normal para idade e a soropositividade

para Toxocara. Worley et al (1984) 39 ao estudarem crianças com toxocaríase, não

encontraram relação entre os resultados da sorologia e as medidas

antropométricas.

A associação de infecções com a obesidade vem ganhando relevância nos

últimos anos. Um estudo realizado por Calixto et al (2010) 40 mostrou que existe

associação entre a obesidade de camundongos com o tipo de colonização

bacteriana do intestino desses animais, bem como explicaram os mecanismos

envolvidos nessa associação. Em revisão sobre infecções parasitárias, Maizels et

al (2009) 41 apresentam os diferentes mecanismos que podem associar as

infecções parasitárias com as manifestações nutricionais de animais infectados.

1.6 O diagnóstico de Toxocara canis

O homem como sendo hospedeiro paratênico de Toxocara, não é possível

encontrar em suas fezes larvas ou vermes adultos 42. O encontro de larvas em

exames anatomopatológicos, embora bastante específico, apresenta sensibilidade

muito baixa. O diagnóstico é baseado em sinais clínicos, dados laboratoriais com

valores aumentados de leucócitos, eosinófilos, com níveis séricos elevados de IgG

e IgM e títulos altos de isohemaglutininas 2,43.

Page 28: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

28

Devido às limitações das técnicas parasitológicas para detectar a

toxocaríase humana, houve a necessidade do desenvolvimento de técnicas

imunológicas 44. Segundo Glickman & Schantz (1981) 4, a utilização da técnica

imunoenzimática (ELISA) com antígenos mais específicos (antígenos de secreção

e excreção larvários), é bastante segura para essa prática e a ocorrência de

reações consideradas como falso positivas pode significar infecções inaparentes

não detectadas por outros métodos.

1.7 O tratamento da toxocaríase

Os anti-helmínticos têm sido utilizados no tratamento da toxocaríase em

seres humanos. Os benzimidazólicos têm apresentado eficácia moderada na

resolução dos sinais clínicos em pacientes com toxocaríase visceral.

A droga frequentemente mais utilizada, comparando-se com o mebendazol,

é o albendazol, na dose de 15mg/kg por cinco dias 24. A administração de

tiabendazol, mebendazol e albendazol tem demonstrado melhoria em 47% a 57%

dos indivíduos tratados. Outras drogas não derivadas dos benzimidazólicos

também têm demonstrado alguma eficácia, como a diethylcarbamazina e a

ivermectina, porém com resultados menos expressivos 8,45.

Page 29: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

29

1.8 Justificativa

A toxocaríase humana acomete, principalmente, as crianças no Brasil, tem

sua magnitude pouco conhecida e é uma doença negligenciada em nosso meio.

Existem inúmeros estudos que mostram a prevalência desta morbidade,

mas são raros os estudos relacionados à incidência. Os estudos de incidência,

feitos pela observação de uma população não doente que vem a se tornar doente,

fornecem informações sobre diferentes riscos associados a uma doença, no caso

a toxocaríase.

A literatura descreve a associação da toxocaríase com vários fatores,

porém, são raros os estudos da incidência e que possam descrever, por meio de

uma metodologia adequada, os possíveis fatores de risco associados à

soropositividade da doença. A realização de um estudo de coorte prospectiva, na

sequência de um estudo transversal de base populacional, com a população

selecionada de maneira aleatória, viabilizará a descrição tanto da prevalência

quanto da incidência, assim como os fatores associados e os fatores de risco.

O estudo da toxocaríase humana por meio de um estudo de coorte poderá

auxiliar os profissionais de saúde pública a delinear estratégias de intervenção ou

subsidiar programas de prevenção dessa infecção.

Page 30: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

30

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar parâmetros epidemiológicos, incidência e prevalência, bem como

estabelecer fatores de risco e associados à causalidade da toxocaríase.

2.2 Objetivos específicos

- Verificar por meio de revisão sistemática, características dos estudos

sobre toxocaríase no Brasil tais como: população de estudo, população de

referência e prevalência ou incidência descritas.

- Descrever a soroprevalência de anticorpos contra Toxocara spp da classe

IgG e a sua associação com urticária, em crianças de 2 a 12 anos residentes num

bairro do município de Campinas, São Paulo, Brasil.

- Descrever a incidência e os fatores de risco associados com a toxocaríase

em uma coorte de crianças de 2 a 12 anos, residentes num bairro do município de

Campinas, São Paulo, Brasil.

Page 31: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

31

3 METODOLOGIA

Para atender aos objetivos do trabalho foram realizados três estudos.

3.1 Revisão Sistemática

Para a realização deste estudo foi feito um levantamento bibliográfico das

produções brasileiras publicadas entre janeiro de 2008 e outubro de 2014 nas

seguintes bases de dados: PubMed (www.ncbi.nlm.nih.gov/PubMed/), Literatura

Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde - LILACS, Brasil

(http://www.bireme.br) e Embase (https://www.embase.com).

Os descritores e termos MesH consultados nas buscas foram: “toxocariasis

Brazil”, “toxocaríase Brasil” no campo todas as palavras das bases bibliográficas,

em combinação por meio do conector boleano AND, no campo todas as palavras

e associados por intermédio do conector boleano AND, no campo Título e/ou

abstract + key words. Foram eleitos artigos nos idiomas inglês e português.

Todo o estudo foi realizado seguindo as orientações metodológicas para

elaboração de revisão sistemática preconizada pelo PRISMA (Preferred Reporting

Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses).

3.2 Estudo de base populacional

3.2.1 Local de estudo

O estudo foi desenvolvido na Ocupação Vila Esperança, que se localiza na

região do Complexo São Marcos, distrito norte do município de Campinas, São

Paulo (Figura 1 e 2).

Page 32: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

32

Figura 1: Mapa distritos de saúde do município de Campinas.

FONTE: Secretaria de Saúde de Campinas

Page 33: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

33

Figura 2: Região do Jardim São Marcos e Loteamento Vila Esperança.

FONTE: Google maps

O Jardim São Marcos possui uma população de 17.474 habitantes, sendo

8.740 homens e 8.734 mulheres, e desses, vinte e cinco por cento (25%) são

menores de 14 anos, e 1.336 são crianças menores de 5 anos de idade . Em 2014

o coeficiente de mortalidade infantil em Campinas foi de 8,1 óbitos < 1 ano/1000

nascidos vivos, e o da região de cobertura do CS São Marcos foi de 6,8 óbitos < 1

ano para cada 1000 nascidos vivos 46.

Page 34: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

34

O Centro de Saúde abrange uma área que compreende as localidades de:

Jardim Campineiro, Favela Jardim Campineiro I, Favela Jardim Campineiro II,

Ciatec, Parque Cidade de Campinas, Ocupação Parque Cidade de Campinas

(I,II,III), Ocupação Vila Esperança, Favela Recanto Fortuna, Ocupação Recanto da

Fortuna CDHU, Pólo Técnico de Campinas, Favela Recanto Fortuna, Favela

Recanto Fortuna (CTI), Vila San Martin, Jardim Santa Mônica, Chácara São João,

Favela São Marcos, Jardim São Marcos, Loteamento Tecno Park e Tic 46.

Segundo Censo de 2010 a região do São Marcos, Amarais e Ceasa possui

69,5% das ruas pavimentadas, 35,9% de galerias para escoamento pluvial, 97,2%

de rede geral de esgoto e 2,8% de logradouros com lixo acumulado (terreno

baldio) 47.

3.2.2 Delineamento do estudo

Foi realizado um estudo de coorte prospectiva na sequência de um estudo

transversal de base populacional. A população estudada foi composta por 200

crianças de 02 a 12 anos, que foram selecionadas aleatoriamente no bairro Jardim

Santa Mônica, região norte de Campinas, SP. Essa faixa etária foi escolhida por

representar a idade mais suscetível à toxocaríase, segundo a literatura 2.

3.2.3 Plano de Amostragem

A população estudada foi identificada a partir de amostragem aleatória dos

domicílios localizados no Jardim São Marcos, cadastrados no Sistema de

Informação e Gerenciamento de Atenção Básica (SIGAB) da Secretaria de Saúde

de Campinas.

O cálculo do tamanho mínimo da amostra seguiu as seguintes informações:

Para calcular o tamanho da população pesquisada, foi utilizada a prevalência

Page 35: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

35

presumida de 50% de fatores a serem descritos (asma, toxocaríase) visando

maximizar o tamanho da amostra.

Nessa região 100% dos domicílios são cadastrados no SIGAB. Estimando a

população de 5000 habitantes a amostra teve um tamanho de 200 indivíduos

considerando-se a perda 5%. Para atingir o tamanho da amostra foram

necessários 139 domicílios.

Esses domicílios foram identificados por meio do sorteio feito com o auxílio

do programa Epi-info, o qual forneceu os números dos domicílios que foram

sorteados na lista do SIGAB.

3.2.4 Critérios de inclusão e exclusão

Foram incluídos na pesquisa indivíduos com idades entre 2 e 12 anos,

independentemente do sexo, originários da Vila Esperança, sorteados na amostra

e que não apresentassem nenhuma doença aparente.

Excluiu-se do estudo qualquer um dos sorteados que, por algum motivo,

não tivessem consentimento dos pais ou responsável, mediante a assinatura do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Em relação às amostras de sangue, excluíram-se aquelas que

apresentassem qualquer limitação que dificultasse o processamento pelo método

ELISA.

Page 36: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

36

3.2.5 Dinâmica e processamento da coleta de dados

3.2.5.1 Estudo transversal

Inicialmente realizou-se o estudo transversal em que todas as crianças

foram avaliadas quanto à presença de anticorpos anti-Toxocara, sintomas

respiratórios, urticária e a antropometria.

Após os devidos esclarecimentos sobre a pesquisa e a assinatura do Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A), o responsável pela

criança, respondeu a um questionário (Apêndice B) que incluía informações

divididas em três blocos:

a) Condições demográficas e socioeconômicas: data de nascimento;

sexo; número de pessoas na residência; escolaridade da mãe; número de

pessoas que trabalham; uso de lenha; presença de cão e/ou gato no

domicílio; contato com cão e/ou gato; tipo de habitação (alvenaria, madeira,

barro ou metal (folhas de zinco)); delimitador da residência (muro, cerca de

arame, nenhum).

b) Comportamentos relacionados à saúde: tabagismo intradomiciliar;

peso (foi medido no momento da entrevista); estatura (foi medido no

momento da entrevista).

c) Condições de saúde: história de asma; história de urticária; presença

de sintomas respiratórios (foi perguntado se a criança foi a algum serviço de

saúde por problema respiratório no último mês). Os sintomas respiratórios

incluem: tosse, sibilos, bronquite, independentemente de ter feito uso de

medicação broncodilatadora, ou se a criança acordou à noite nos últimos 15

dias, por tosse ou falta de ar.

Page 37: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

37

3.2.5.2 Medidas antropométricas

O peso foi aferido em balança digital portátil com capacidade mínima de 2

Kg e máxima de 180 Kg, e divisão de 100 g, segundo os procedimentos de

Lohman et al (1998) 48. Por sua vez, a altura foi aferida com auxílio de um

estadiômetro vertical portátil para crianças, também segundo procedimentos

preconizados por Lohman et al (1998) 48.

3.2.5.3 Coleta da amostra sangue

Foi realizada a coleta das amostras de sangue de cada criança por punção

digital, em papel filtro (Whatman nº 3®). A coleta do sangue foi feita em

cadernetas que foram confeccionadas previamente, utilizando-se tiras com largura

de 1 cm do papel filtro, separadas por tiras de papel celofane e depois

protocoladas segundo a sequência de amostras que eram colhidas.

Fez-se a desinfecção do dedo anelar da criança, com álcool 70%, em

seguida perfurou-se a polpa digital utilizando-se uma lanceta descartável e colheu-

se o sangue deslizando-se a fita de papel filtro sobre o dedo, até a completa

absorção. Secaram-se as fitas em temperatura ambiente e depois foram

conservadas a - 20ºC.

As amostras de sangue foram enviadas para o laboratório de Helmintologia

do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, sendo eluídas e

posteriormente submetidas às técnicas sorológicas de ELISA (Enzime-Linked

Immunosorbent Assay) com antígeno TES, evidenciando anticorpos da classe

IgG. Esta técnica foi descrita por De Savigny et al. 1979 e posteriormente,

modificada por Bach-rizzatti 1984.

A coleta foi realizada nos locais de apoio da pesquisa, no mesmo dia da

entrevista. Foram utilizadas luvas descartáveis e seguiram-se as regras universais

de descarte adequado do material contaminado.

Page 38: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

38

3.2.5.4 Análise dos resultados do estudo transversal

Realizou-se a análise descritiva das variáveis. As associações entre as

variáveis independentes e a dependente foram analisadas pelo teste qui-quadrado

e quando o valor esperado de qualquer casela foi menor que 5, aplicou-se o teste

exato de Fisher. Também foi usada a análise de regressão logística para estimar

as razões de chances das variáveis pesquisadas com a variável dependente.

Inicialmente, foram introduzidas as variáveis independentes que apresentaram um

nível de significância menor de 20% (p<0,20) na associação com a variável

dependente e permaneceram no modelo aquelas com p<0,10.

Os dados foram digitados numa planilha do Microsoft Office Excel e

analisados pelos programas SAS 9.4 e Epi-info 7. Calcularam-se também, os seus

respectivos intervalos de confiança de 90%. As diferenças foram consideradas

estatisticamente significantes quando p≤ 0,10.

3.2.6 Estudo de coorte

As crianças cuja sorologia para toxocaríase foi negativa, no estudo

transversal, constituíram a coorte e foram acompanhadas durante um período de

12 meses para avaliar a presença de urticária e de queixa respiratória – ida ao

Pronto-Socorro ou Unidade de Saúde para realizar consulta por tosse ou sibilos,

ou uso de broncodilatores inalatório ou via oral, dias em que ficou com sibilos no

último mês. Para essa avaliação utilizou-se o módulo do questionário “condições

de saúde” (Apêndice C), sendo feita as seguintes perguntas:

“seu filho ou filha foi no último mês ou se foi consultar qualquer serviço de

saúde por urticária, no último ano?”

Page 39: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

39

“seu filho ou filha está com alguma ferida, coceira, bolha ou mancha

avermelhada na pele no último mês”?

“Seu filho ou filha teve tosse, falta de ar, chiadeira no último mês?”

“Seu filho ou filha foi a algum serviço de saúde por problema respiratório no

último mês?”

“Seu filho ou filha teve urticária no último mês?”

Essas crianças também foram submetidas à nova punção digital para

diagnóstico sorológico de anticorpos anti-Toxocara da classe IgG, um ano após a

realização da última sorologia.

A coleta de sangue foi realizada na residência da criança utilizando os

mesmos critérios e parâmetros já descritos no item 3.5.1.2 – coleta da amostra de

sangue.

3.2.6.1 Análise dos resultados do estudo de coorte

A análise dos dados incluiu, inicialmente, a descrição da coorte, segundo

cada variável estudada, calculando-se as frequências absolutas e relativas e os

seus respectivos intervalos de confiança de 95%.

Page 40: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

40

A seguir foi realizada a análise bivariada das variáveis socioeconômicas,

comportamentais e de condições de saúde, em função da sorologia positiva ou

não para toxocaríase. Utilizou-se o teste exato de Fisher nas análises, visto que a

maioria das variáveis tinha um n menor que 5 em alguma das caselas.

Foi realizada regressão logística, considerando-se como variável

dependente a presença (sim ou não) de toxocaríase; as demais variáveis foram

variáveis preditoras. Utilizou-se o método Forward, onde foi adicionada uma

variável por vez, selecionando-se em primeiro lugar aquela que apresentou um

valor de correlação maior com a variável resposta, e assim sucessivamente.

Adotou-se o nível de significância de 10% 49.

As análises estatísticas foram realizadas nos softwares SAS 9.4 e Epi Info

7.

3.2.7 Descrição da técnica sorológica ELISA para diagnóstico da

toxocaríase em humanos

Preparação do eluato: a partir das tiras de papel de filtro Whatman nº 3, as

quais continham o sangue coletado da polpa digital, cortaram-se pedaços com

área de 1,0cm². Acrescentou-se 330 μL de PBS 0,01, pH 7,2 em microtubos

Eppendorf. Deixou-se a 4º C por 16 horas na geladeira. No dia seguinte, retirou-se

o papel de filtro, deixando-o escorrer o líquido pelas paredes do tubo.

Sensibilização da placa: Costar 3590 (high binding). A reação foi realizada

em placas de poliestireno. Cada uma das cavidades foi sensibilizada com 100 μL

de solução antigênica TES diluída em PBS 1:800 μg/mL. As placas foram

tampadas e incubadas a 37ºC por 2 horas e mantidas na geladeira por 16 horas a

4ºC.

Bloqueio: Foi feito o bloqueio dos sítios inespecíficos, com 200 μL em cada

orifício, de PBS–Tween-Gelatina (0.05%) durante uma hora a 37°C.

Page 41: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

41

Absorção dos eluatos: Diluiu-se o antígeno Ascaris suum 1:200 em PBS –

Tween (absorvente). Em seguida, diluíram-se os soros controle positivos e

negativos 1/320 também no absorvente (PBS-T Ascaris) e incubou-se da mesma

forma que aos eluatos.

Após o bloqueio lavaram-se as placas três vezes com PBS-Tween (5

minutos cada). Em seguida, adicionaram-se nas placas100 μL dos eluatos em

duplicata e 200 μL do soro de paciente positivo (conhecido) previamente

absorvido, e nas fileiras seguintes colocaram-se 100 μL de PBS-T em cada orifício

e passaram-se 100 μL com a pipeta multicanal para as fileiras seguintes, diluindo-

se de forma seriada, desprezaram-se os últimos 100 μL. Colocaram-se 100 μL dos

soros padrão negativo absorvidos com PBS-T-Ascaris, assim como os dois

brancos com PBS-T, nos primeiros seis orifícios. Incubaram-se a placa por 40

minutos a 37º C. Após, lavaram-se a placa três vezes (5 minutos cada) com PBS-

T. Em seguida, diluiu-se o conjugado enzimático anti-IgG marcado com

Peroxidase 1:5.000 em PBS-T-G, aplicaram-se 100 μL em todos os orifícios e

incubaram-se a 37º C por 40 minutos. Outro ciclo de lavagem, como descrita

anteriormente. Em seguida, fez a revelação com solução de

ortofenilenodiamino(OPD) em Tampão Citrato Fosfato, acrescido de 5 μL de

Peróxido de Hidrogênio (H2O2) 30%, adicionaram-se 100 μL por orifício e

incubou-se em câmara escura à temperatura ambiente por 20 minutos; a reação

foi interrompida pela adição de 50ul solução de H2SO4 (ácido sulfúrico) 4N por

orifício. A leitura da placa foi efetuada em leitor de ELISA Multiskan com filtro 492

nm.

3.3 Aspectos éticos da pesquisa

O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Faculdade de Ciências Médicas, da Universidade Estadual de Campinas, com

parecer nº 237.742 (Anexo 1) e do Instituto de Medicina Tropical, da Universidade

de São Paulo, com parecer nº 2013/194 (Anexo 2), conforme determina a

Page 42: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

42

Resolução 196/96 estabelecida pelo Conselho Nacional de Saúde para pesquisas

com seres humanos. O trabalho também foi aprovado pela Secretaria Municipal de

Saúde de Campinas (Anexo 3).

Todas as amostras foram coletadas após o livre consentimento dos

responsáveis pelas crianças e a assinatura do TCLE (Apêndice A). No termo, os

responsáveis autorizaram a utilização do material biológico para esse estudo, bem

como as publicações que serão oriundas desse trabalho.

Page 43: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

43

4 RESULTADOS (Artigos)

Capítulo 1- Revisão Sistemática da Toxocaríase: uma doença

negligenciada, mas com alta prevalência no Brasil

Objetivo: Realizar uma revisão sistemática da literatura para conhecer como

estão sendo realizados os estudos sobre toxocaríase no Brasil: qual a população

de estudo, qual a população de referência e qual a prevalência descrita em cada

um deles.

Page 44: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

44

Produção Bibliográfica referente ao Capítulo 1

Artigo aceito para publicado em periódico

FIALHO, P. M. M.; CORRÊA, C.R.S. A Systematic Review of Toxocariasis: A Neglected but High-Prevalence Disease in Brazil. American Journal of Tropical Medicine & Hygiene. 2015. (Anexo 4)

Resumos publicados em anais de congressos

FIALHO, P. M. M.; CORRÊA, C.R.S. TOXOCARIASIS: A DISEASE OF HIGH PREVALENCE BUT FORGOTTEN. In: 20º IEA World Congress of Epidemiology, 2015, Anchorage - Alaska. International Journal of Epidemiology - Abstracts from the 20th IEA World Congress of Epidemiology, Anchorage, Alaska, USA, 17 21 August 2014 WCE2014, 2015. v. 44. p. i95.

Apresentações de Trabalho

FIALHO, P. M. M.; CORRÊA, C.R.S . TOXOCARIASIS: A DISEASE OF HIGH

PREVALENCE BUT FORGOTTEN. 2014. (Apresentação de Trabalho/Congresso).

Page 45: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

45

Revisão Sistemática da Toxocaríase: uma doença negligenciada,

mas com alta prevalência no Brasil

* A Systematic Review of Toxocariasis: A Neglected but High-Prevalence

Disease in Brazil

* Artigo aceito para publicação no American Journal of Tropical

Medicine & Hygiene (Anexo 4)

Autores:

Paula Mayara Matos Fialho 1; Carlos Roberto Silveira Correa

1

1 Departamento de Saúde Coletiva, Faculdade de Ciências Médicas, Campinas, São

Paulo, Brasil.

Page 46: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

46

RESUMO

A toxocaríase é uma antropozoonose, que ocorre em diversas regiões do

mundo, frequentemente encontrada em países em desenvolvimento e em regiões

onde as condições de saneamento básico são precárias. Apesar disso, mesmo

países desenvolvidos, apresentam uma prevalência de 14,2%. Esta doença tem o

homem como o seu hospedeiro paratênico e os hospedeiros definitivos são, os

cães e os gatos. Para conhecer como estão sendo realizados os estudos sobre

toxocaríase no Brasil: qual a população de estudo, qual a população de referência

e qual a prevalência descrita em cada um deles, foi realizada esta revisão

sistemática da literatura, seguido às orientações do PRISMA. Foram identificadas

160 publicações. Após aplicar os critérios estabelecidos previamente, foram

selecionados para análise 22 artigos, os quais descrevem a prevalência atual da

toxocaríase nas diferentes regiões do país que variou de 4,2% a 65,4%. As

maiores prevalências foram encontradas na região Nordeste e a maioria dos

estudos foi concentrada na região Sudeste. Em virtude disso, torna-se importante

a conscientização dos profissionais de saúde e dos poderes públicos de que a

toxocaríase é um problema sanitário relevante.

Page 47: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

47

INTRODUÇÃO

O termo toxocaríase é usado na clínica médica para designar a infecção no

ser humano produzida pelos vermes Toxocara canis e Toxocara cati. O Toxocara

canis é o nematódeo mais frequente em canídeos que são os hospedeiros

definitivos desse verme. Outras espécies animais, como ratos, aves e o homem,

são seus hospedeiros paratênicos e funcionam como reservatório para esses

parasitos 1,2.

A infecção do homem acontece pela ingestão dos ovos que estão presentes

no solo e em alimentos como as verduras, por exemplo. Uma vez ingeridos os

ovos eclodem na luz intestinal e as larvas liberadas passam para o sistema

circulatório e vão se alojar em diferentes órgãos ou tecidos como olho, cérebro,

pulmões, fígado ou músculos. As manifestações clínicas no homem são função do

órgão acometido e da reação inflamatória produzida que, por sua vez, depende do

indivíduo acometido 2,3. A resposta do hospedeiro envolve o sistema imunológico

inato e o adaptativo. Os linfócitos Th2 produzidos envolvem as interleucinas 4, 5,

10 e 13, bem como a liberação de lecitinas 4.

Uma característica importante da resposta inflamatória produzida por

parasitos caninos, é que ela varia em função de o organismo infectado ser ou não

o hospedeiro definitivo desse parasito. Essa afirmação, feita por Maizels (2009) 4 e

Holland (2001) 5, parte de estudos feitos com animais de experimentação. Essa

observação está de acordo com a hipótese higiênica, segundo a qual as

helmintíases diminuiriam as manifestações alérgicas e de outras doenças, entre

elas a obesidade, por interferirem na resposta imunológica 6,7,8. Maizels (2009) 4

observa que essa diminuição não acontece com as infecções produzidas com

Toxocara canis e um dos motivos seria o de que os animais de experimentação

não são os hospedeiros definitivos desses parasitos e haveria então outra

modulação inflamatória nesse tipo de hospedeiro.

Assim, Fialho & Correa (2014) 9 mostraram que as crianças infectadas pelo

Toxocara e asmáticas têm maior Índice de Massa Corporal (IMC) que as crianças

Page 48: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

48

asmáticas não infectadas por esse parasito. A associação de asma e toxocaríase

é apontada por diferentes artigos publicados em diversos países realizados por

meio de delineamento de estudo transversal ou seccional 10 que, apesar de

adequados para propor hipóteses, têm como grande limitação a impossibilidade

de inferência sobre a relação de causa e efeito na associação dos fatores

encontrados, nesse caso, toxocaríase com a asma e obesidade.

A infecção no homem pode causar quadros clínicos agudos de gravidade

variada e eventualmente cronicidade. O diagnóstico da doença é feito por meio de

um ensaio imunoenzimático (ELISA) contra antígenos de excreção e secreção 11.

O tratamento clássico é feito com anti-helmínticos benzimidazólicos 12,13.

A toxocaríase, sempre esteve presente nos mais diferentes meios, porém

com prevalências diferentes. Um estudo realizado por Campos Júnior et al (2003)

13, mostrou que existia diferença significativa entre a prevalência de

soropositividade de Toxocara canis observados em crianças procedentes dos

bairros pobres de Brasília (21,8%) e a encontrada nas crianças residentes nos

setores mais ricos da cidade (3%). A prevalência em Brasília foi comparada com a

de outros estudos como: 37,9% em região subtropical da Argentina 15; 39% na

cidade de La Plata 16; de 29,6% na Nigéria 17; 22% na região oeste da França 18;

30% na periferia de Caracas 19; 27,2% na população escolar de Trinidad 20.

Assim, pela magnitude de prevalência e pela possibilidade de se associar

com diferentes doenças ou manifestações clínicas, a toxocaríase se torna um

objeto relevante de investigação para a saúde pública. Mas para tanto é

necessário conhecer como estão sendo realizados esses estudos no Brasil. Neste

sentido, o presente trabalho tem como objetivo verificar, por meio de revisão

sistemática, qual a população de estudo e de referência desses estudos e qual a

prevalência ou incidência descrita nos diferentes contextos do país.

Page 49: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

49

METODOLOGIA

Bases e estratégia de busca

Foram selecionados artigos das seguintes bases de dados: PubMed

(www.ncbi.nlm.nih.gov/PubMed/), Literatura Latino-Americana e do Caribe em

Ciências da Saúde - LILACS, Brasil (http://www.bireme.br) e Embase, publicados

entre os anos de janeiro de 2008 e outubro de 2014. Os descritores e termos

MesH consultados nas buscas foram: “toxocariasis Brazil”, “toxocaríase Brasil” no

campo todas as palavras das bases bibliográficas, em combinação por meio do

conector boleano AND, no campo todas as palavras e associados por intermédio

do conector boleano AND, no campo Título e/ou abstract + key words. Foram

eleitos artigos nos idiomas inglês e português.

Critérios de seleção

Foram adotados os seguintes critérios de seleção: artigo científico original

publicado em periódicos nacionais e internacionais; período de publicação entre

janeiro 2008 e outubro de 2014; sem limites de idade da população do estudo;

estudos feitos com seres humanos; apresentar prevalência ou incidência de

toxocaríase.

Como é objetivo saber qual a prevalência mais atual da toxocaríase nas

diversas regiões do Brasil, foram selecionados somente artigos cujo local de

estudo foi em alguma cidade brasileira, e por este motivo o período de busca de

artigos começou a partir de 2008.

Page 50: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

50

Extração dos dados

A seleção dos artigos e a extração dos dados foram feitas por três

revisores, de forma independente, mediante instrumento padronizado que

continha as seguintes informações: região da realização do estudo; número

amostral; total de soropositivos; desenho do estudo; variáveis estudadas;

principais resultados e limitações identificadas.

Os dados foram compilados no programa computacional Microsoft Office

Excel e analisados por meio de comparação das variáveis categóricas de

interesse.

RESULTADOS/DISCUSSÃO

Após a busca bibliográfica, foram identificadas 160 publicações. Dessas,

foram descartadas 29 duplicadas por serem oriundas de duas ou mais bases de

dados e, após a leitura dos títulos e resumos, 109 foram excluídos devido a: não

serem estudos realizados com seres humanos; ter sido estudo experimental; ou

não apresentar a prevalência ou incidência da toxocaríase. Foram selecionados

para análise 22 artigos completos, e após a leitura, os 22 artigos foram elegíveis.

A Figura 1 apresenta o fluxo de seleção dos estudos.

Page 51: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

51

Figura 1: Fluxograma do PRISMA. (Adaptado de Moher D et al. The PRISMA Group. Preferred reporting items for systematic reviews and meta-analyses: The PRISMA Statement. PLoS Med. 2009;6(6):e1000097.) doi:10.1371/journal.pmed1000097.

Foram selecionados 22 artigos, publicados entre janeiro de 2008 e outubro

2014, que descrevem a prevalência atual da toxocaríase nas diferentes regiões do

país variando de 4,2% a 65,4% (Tabela 1).

Page 52: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

52

Os artigos analisados possibilitaram a caracterização epidemiológica da

toxocaríase no Brasil nos últimos 6 anos. Quase todos os estudos encontrados

utilizaram desenho de estudo transversal e, portanto, apresentaram como medida

de frequência a prevalência da doença. Um único estudo descreveu a incidência

de toxocaríase, que foi de 7/100 crianças ano pesquisadas 37.

Page 53: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

53

Tabela 1: Descrição dos artigos publicados na literatura, em função das variáveis pesquisadas, segundo estudos de 2008

a 2014.

Artigo Região Estado n Total

positivos Soroprevalência

Principais características estudadas

Análise estatística

Oliart-Guzmán H. et al. 2014

21

Norte Amazonas 182 + 357

41 + 65 28,0% + 23,3%

6 meses-59 meses; variáveis sócio-econômicas

e demográficas; sibilos; asma; helmintos; cão em

casa; gato em casa; cor da pele

Análise de variância; Qui-quadrado ou Teste de

Fisher

Marchioro AA et al. 2014 22

Sul Paraná 544 136 25,0%

1-12 anos; Toxoplasma gondii; contato com cão;

contato com gato; eosinofilia; brinca na areia

Análise bivariada; regressão logística

múltipla

Cassenote AJF et al. 2014 23

Sudeste São Paulo 252 39 15,5%

1-12 anos; características sócio-demográficas;

geofagia; onicofagia; hábito de lavar as mãos;

eosinofilia; parasitas intestinais

Regressão múltipla de Poisson.

Fialho PMM et al, 2014 9 Sudeste São Paulo 116 63 54,3%

2-14 anos; asma; eosinofilia; altura; peso; Índice de

Massa Corporal;

Análise descritiva; teste de Wilcoxon para duas

amostras

Negri EC et al. 2013 24

Sudeste São Paulo 253 22 8,7%

19-65 anos (doadores de sangue); escolaridade;

renda mensal; localização da residência; cão; gato; jardim; contato com solo;

geofagia; onicofagia, come carne crua

Análise bivariada; regressão logística

Page 54: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

54

Guilherme EV et al. 2013 25

Sul Paraná 167 7 4,2%

1-15 anos; eosinofilia; alergias; rinite; asma;

bronquite; cão em casa; gato em casa;

Comparação de frequências; razão

entre o diâmetro externo da amostra e a

densidade óptica do valor de cut-off

Mendonça LR et al. 2013 26

Nordeste Bahia 1,309 633 48,4%

4-11 anos; escolaridade da mãe; frequenta creche;

pavimentação na rua; cão em casa; gato em casa

Análise univariada; regressão logística

multivariada;odds ratio; IC 95%

Schoenardie ER et. 2013 27

Sul

Rio Grande do Sul

427 216 50,6% 1-12 anos Qui-quadrado; teste

Mantel-Haenzel; odds ratio

Prestes LE et al. 2013 28

Sudeste São Paulo 194 28 14,4%

5-73 anos; exposição a cão e gato; nível educacional;

renda familiar,estudo coproparasitológico; eosinofilia; anemia;

Toxoplasma gondii;Taenia solium metacestode

Qui-quadrado; Teste exato de Fisher;

coeficientes de regressão

Mendonça LR et al. 2012 29

Nordeste Bahia 1,148 540 47,0%

(1.445) 4-11 anos; sibilos; alergias; análise

parasitológica; eosinofilia;

Análise univariada; regressão logística

multivariada

Manini MP et al. 2012 30

Sul Paraná 90 16 17,8% 1-12 anos; asma; bronquite; alergias de pele; eosinofilia

Média e desvio padrão; freqüências relativas e

absolutas; teste exato de Fisher

Mattia S et al. 2012 31

Sul Paraná 353 130 36,8%

0-12 anos; sibilos recorrentes; dor de cabeça;

febre; dor abdominal; eosinofilia; contato com cão; contato com gato; geofagia;

oncofagia

Análise bivariada; regressão logística

Page 55: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

55

Souza RF et al. 2011 32

Nordeste Bahia 150+188 78+123 52,0% + 65,4%

≤15 - ≥15 anos; comparação entre dois grupos

populacionais; contato com cão; contato com gato;

classe social

Qui-quadrado; r regressão logística

univariada e multivariada

Fragoso RP et al. 2011 33

Sudeste Espírito Santo 391 202 51,6%

7 anos; parasitológico; eosinofilia; histórico de

asma; histórico de alergias na pele; variáveis sócio-

demográficas

Frequências das variáveis; intervalo de

confiança de 95%.

Dattoli VCC et al. 2011 34

Nordeste Bahia 268 124 46,3%

31-40 anos (doadores de sangue); eosinofilia;

helmintos intestinais (não encontrado nas amostras);

nivel de escolaridade

Análise univariada; regressão logística

multivariada; odds ratio (OR) com intervalo de

confiança de 95%

Marchioro AA et al. 2011 35

Sul Paraná 1,199 386 32,2% 7 meses-12 anos; eosinofilia

Análise descritiva; qui-quadrado

Santarém VA et al. 2011 36

Sudeste São Paulo 252 28 11,1%

10 meses - 15 anos; eosinofilia; presença de

cachorro em casa; presença de gato em casa; onicofagia; classe social (comparação

de duas classes)

Teste de Mann-Whitney; qui-quadrado ou teste

exato de Fisher; regressão logística

multivariada; odds ratio; IC95%

Correa CRS et al. 2010 37

Sudeste São Paulo 100 28 28,0% 6-14 anos; incidência de

toxocaríase; Cálculo de incidência e

de prevalência

Colli CM et al. 2010 38

Sul Paraná 376 194 51,6%

1-12 anos; eosinofilia; dores abdominais; cefaleia; sibilos

recorretes; parasitológico (não detectado parasitas);

onicofagia; geofagia;

Regressão logística múltipla

Page 56: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

56

Prestes-Carneiro LE et al.2009

39

Sudeste São Paulo 182 25 13,7%

4 a 84 anos (≤15 - ≥15 anos) ; fatores de risco (criação de

cão, criação de gato, condições sanitárias, nível

educacional, sintomas clínicos); anemia;

leucopenia; neutropenia; linfocitose; monocitose;

eosinofilia

Teste t de amostras independentes; qui-quadrado; Exato de Fisher; correlação;

testes de coeficiente; odds ratio; regressão

logística múltipla.

Prestes-Carneiro LE et al. 2008

40

Sudeste São Paulo 79 17 21,5%

≤15 - ≥15 anos; eosinofilia; escolaridade; helmintos;

compartilha casa com cão ou gato; anemia; instalações

sanitárias, renda familiar

Testes t de amostras independente; qui-

quadrado; teste exato de Fisher; coeficientes de

correlação (r)

Rubinsky-Elefant G et al. 2008

41

Norte Amazonas 403 108 26,8%

5-90 anos; escolaridade do chefe de família; presença de cão; presença de gato; setor de residência, índice

de riqueza; parasitas intestinais;

Taxas de prevalência; IC 95%; quia-quadrado; teste exato de Fisher;

Mann-Whitney; razões de chances; regressão

logística .

Page 57: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

57

Áreas geográficas estudadas e classe social

Dentre os 22 artigos analisados, a região geográfica brasileira com maior

número de pesquisas foi a Sudeste (41%), seguida do Sul (32%), Nordeste

(18%) e Norte (9%). Não foi identificado nenhum estudo realizado com

população da região Centro-oeste.

Na região Nordeste, um estudo com 1.309 crianças de 4 a 11 anos,

realizado município de Salvador – BA, investigou as possíveis associações

entre soropositividade para Toxocara, atopia e sibilância da infância, numa

população de crianças que vivem em áreas pobres da cidade 29. Outro estudo

realizado também no município de Salvador, com 338 indivíduos de classe

média e baixa, verificou maior prevalência de toxocaríase entre os de classe

social baixa com maior contato com cães e gatos. O estudo demonstrou que

quanto mais baixa a classe social, maior o risco de infecção pelo Toxocara

canis. Essa associação pode estar relacionada com o pouco conhecimento da

população em relação às formas de infecção, bem como o contato com cães e

gatos, e principalmente devido à ausência total ou parcial de vermifugação

desses animais 32.

Outro trabalho, realizado por Santarém e colaboradores no ano de 2011,

no munícipio de Presidente Prudente, SP, analisou também a associação entre

classes sociais e a soropositividade para Toxocara. Os resultados mostraram

que a renda familiar elevada como um fator de proteção, tanto para a

população total, como para ambos os subgrupos (classe média e baixa

renda)36.

População de estudo

A idade dos sujeitos que participaram das pesquisas variou de seis

meses a 90 anos, porém, a maioria dos estudos foi realizada com crianças de

até 15 anos (68%) (Tabela 1).

Page 58: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

58

Os estudos analisados nesta revisão incluíram tamanho amostral que

variou de 79 a 1.309 sujeitos, sendo que 55% dos estudos na faixa de

amostragem entre 250 e 500 indivíduos (Tabela 1).

A seleção da população estudada em 86% trabalhos foi por

conveniência ou não aleatorizada. Em três estudos foi descrito o cálculo do

tamanho da amostra, mas não o método de aleatorização.

Soroprevalência

Os 22 artigos analisados nesta revisão abrangeram a somatória de

8.980 indivíduos avaliados quanto à presença de toxocaríase em quatro, das

cinco regiões brasileiras.

Devido às diferentes metodologias empregadas nos estudos, não foi

possível realizar um cálculo de prevalência média da toxocaríase no Brasil.

Mesmo não sendo possível realizar esse cálculo, pode-se verificar que a maior

parte dos estudos mostrou uma prevalência maior que 20%. A maior parte dos

estudos avaliou a associação da toxocaríase com outras manifestações

clínicas.

Em relação à soroprevalência da doença descrita nos estudos, esta

variou de 4,2% a 65,4%. Em 45% deles, a prevalência foi superior a 50%. As

maiores prevalências foram encontradas na região Nordeste (Tabela 1).

Na Região Sul, um estudo realizado com 1.199 crianças de sete meses

a 12 anos, atendidas pelo SUS e residentes em áreas urbanas de 9 municípios

pertencentes à região Noroeste do Paraná atendidas pelo Sistema Único de

Saúde (SUS), encontrou prevalência de 32,2% de toxocaríase 35 . A maioria das

crianças investigadas (80,4%) não apresentou eosinofilia, diferentemente do

encontrado por outros 42, 43, 44, 45, 46,47.

Quanto à associação da toxocaríase com outras variáveis, 36% dos

estudos descreveram a relação da toxocaríase com a asma ou sibilos 21, 9, 25, 29,

30,31, 33,38. Em todos eles se encontrou maior proporção de asmáticos entre os

Page 59: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

59

infectados pelo Toxocara, ressaltando o impacto desta infecção na saúde

infantil e grande relevância na saúde pública.

A maioria dos estudos (95,4%) descreveu o método diagnóstico

empregado para a detecção da toxocaríase, sendo esse método, o teste

imunoenzimático ELISA 21, 22, 23, 9, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 38, 39, 40, 41.

Um estudo não descreveu qual foi a metodologia diagnóstica empregada 37.

Apesar do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA,

reconhecer que a toxocaríase é uma das cinco doenças parasitárias

negligenciadas, para a qual se deve investir em métodos diagnósticos e

terapêuticos 48, 49, 50, no Brasil ela ainda não foi reconhecida como uma doença

com a qual a saúde pública deva se preocupar.

Sabe-se que existe uma associação da infecção por Toxocara canis,

com quadros clínicos polimórficos que variam de infecção assintomática até

quadros asmatiformes e meningoencefálicos. Portanto, torna-se importante a

conscientização dos profissionais de saúde e dos poderes públicos de que a

toxocaríase é um problema sanitário relevante. Assim, o presente estudo

oferece subsídios para a reflexão e revisão das políticas públicas voltadas à

toxocaríase.

A prevalência da toxocaríase no Brasil ainda é desconhecida. Esta

revisão foi realizada a fim de determinar essa prevalência, utilizando os dados

disponíveis nos diferentes estudos realizados no Brasil e identificar as áreas

que necessitam de futuras pesquisas. Outro ponto importante refere-se às

medidas de educativas e de prevenção, tais como a prevenção da

contaminação do solo por cães e gatos fezes nas áreas públicas, lavar as

mãos após o contato com o solo e tratamento preventivo dos cachorros e gatos

com anti-helmíntico, pode ajudar a minimizar a exposição ao Toxocara spp. e

controlar potencial morbidade associada à infecção por Toxocara.

Page 60: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Andrade LD. Aspectos clínico-epidemiológicos da toxocaríase humana. Rev Patol Trop. 2000; 29(2):147-59.

2. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). http://www.cdc.gov/parasites/toxocariasis/. (Acessado em 12/out/2014).

3. Despommier D. Toxocariasis: Clinical Aspects, Epidemiology, Medical Ecology, and Molecular Aspects. Clin Microbiol Ver. 2003.16(2):265–72. DOI: 10.1128/CMR.16.2.265-272.2003

4. Maizels RM. Exploring the immunology of parasitism from surface antigens to the hygiene hypothesis. Parasitology. 2009 Oct;136(12):1549-64. DOI: http://dx.doi.org/10.1017/S0031182009006106

5. Holland CV, Cox DM. Toxocara in the mouse: a model for parasite-altered host behaviour? Journal of Helminthology. 2001;75:125-35. DOI: http://dx.doi.org/10.1079/JOH200169

6. Lumeng CN, Saltiel AR. Inflammatory links between obesity and metabolic disease. J Clin Invest. 2011; 121(6):2111-7. DOI: 10.1172/JCI57132

7. Bergmann GG, Bergmann MLA, Pinheiro ES, Moreira RB, Marques AC, Garlipp DC, et al. Body mass index: secular trends in children and adolescents from Brazil. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2009;19(3):280-5.

8. Terres NG, Pinheiro RT, Horta BL, Pinheiro KAT, Horta LL. Prevalence and factors associated to overweight and obesity in adolescents. Rev Saude Publica. 2006 ago;40(4):627-33.

9. Fialho PMM, Corrêa CRS. Toxocariasis, asthma and body mass index in children and adolescent in Campinas, São Paulo State, Brazil, 1996-1998. Epidemiol. Serv. Saúde. 2014 abr-jun; 23(2):361-368. DOI: 10.5123/S1679-49742014000200018

10. Medronho RA, editor. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2009.

11. Schantz PM. Toxocara Larva Migrans now. Am J Trop Med Hyg. 1989; 41(3): 21-34.

12. Lescano SZ, Chieffi PP, Amato Neto V, Ikai DK, Ribeiro MCSA. Anthelmintics in experimental toxocariasis: effects on larval recovery of Toxocara canis and on immune response. J Bras Patol Med Lab. 2005; 41:21(4).

13. Campos Júnior D, Elefant GR, Melo e Silva EO, Gandolfi L, Abe Jacob CM, Tofeti A, et al. Frequency of seropositivity to Toxocara canis in children of

Page 61: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

61

different socioeconomic strata. Rev Soc Bras Med Trop. 2003; 36: 509(13). DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0037-86822003000400013

14. Bismarck CMFM. Incidência de toxocaríase em crianças do Jardim Santa Mônica em Campinas - SP. Dissertação [Mestrado em Saúde Coletiva] – Universidade Estadual de Campinas; 2008.

15. Alonso JM, Bojanich MV, Chamorro M, Gorodner JO. Toxocara seroprevalence in children from a subtropical city in Argentina. Ver Inst Med Trop S. Paulo. 2000; 42: 235-237. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0036-46652000000400010

16. Shields JA. Ocular toxocariasis. A review. Surv of Ophtalmol. 1984; 28: 361-381. DOI:10.1016/0039-6257(84)90242-X

17. Ajayi OO, Duhlinska DD, Agwale SM, Njoku M. Frequency of human toxocariasis in Jos, Plateau State, Nigeria. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2000; 95: 147-149. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0074-02762000000200002

18. Gueglio B, De Gentile L, Nguyen JM, Achard J, Chabasse D, Marjolet M. Epidemiological approach to human toxocariasis in westwern France. Parasitol Research. 1994; 80: 531-536.

19. Lynch NR, Hagel I, Vargas V, Rotundo A, Varela MC, Di Prisco MC, et al. Comparable seropositivity for ascariasis and toxocariasis in tropical slum children. Parasitol Research. 1993; 79: 547-550.

20. Baboolal S, Rawlins SC. Seroprevalence of toxocariasis in schoolchildren in Trinidad. Trans Roy Trop Med and Hyg. 2002; 96: 139-143. DOI: 10.1016/S0035-9203(02)90281-6

21. Oliart-Guzmán H, Delfino BM, Martins AC, Mantovani SAS, Branã AM, Pereira TM, et al. Epidemiology and Control of Child Toxocariasis in the Western Brazilian Amazon – A Population-Based Study. Am. J. Trop. Med. Hyg. 2014; 90(4), 670–681. DOI:10.4269/ajtmh.13-0506

22. Marchioro AA, Colli CM, Ferreira EC, Viol BM, Araújo SM, Falavigna-Guilherme AL, et al. Risk factors associated with toxoplasmosis and toxocariasis in populations of children from nine cities in southern Brazil. J Helminthol. 2014; 1-5. DOI:10.1017/S0022149X14000212

23. Cassenote AJF, Abreu Lima AR, Pinto Neto JM, Rubinsky-Elefant G. Seroprevalence and Modifiable Risk Factors for Toxocara spp. in Brazilian Schoolchildren. PLoS Negl Trop Dis. 2014 8(5): e2830. DOI:10.1371/journal.pntd.0002830

24. Negri EC, Santarém VA, Rubinsky-Elefant G, Giuffrida R. Anti-Toxocara spp. antibodies in an adult healthy population: serosurvey and risk factors in Southeast Brazil. Asian Pac J Trop Biomed. 2013; 3(3): 211-216. DOI: 10.1016/S2221-1691(13)60052-0.

Page 62: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

62

25. Guilherme EV, Marchioro AA, Araujo SM, Falavigna DLM, Adami C, Falavigna-Guilherme G, et al. Toxocariasis in children attending a Public Health Service Pneumology Unit in Paraná State, Brazil. Rev. Inst. Med. Trop. Sao Paulo. 2013; 55(3): 189-92. DOI 10.1590/S0036-46652013000300009

26. Mendonça LR, Figueiredo CA, Esquivel R, Fiaccone RL, Pontes-de-Carvalho L, Cooper P, et al. Seroprevalence and risk factors for Toxocara infection in children from an urban large setting in Northeast Brazil. Acta Tropica. 2013; 128, 90– 95. DOI:10.1016/j.actatropica.2013.06.018

27. Schoenardie ER, Scaini CJ, Brod CS, Pepe MS, Villela MM., McBride AJA. Seroprevalence of Toxocara infection in children from southern Brazil. J. Parasitol. 2013; 99(3), 537–539. DOI: http://dx.doi.org/10.1645/GE-3182

28. Prestes-Carneiro LE, Rubinsky-Elefant G, Ferreira AW, Araujo PR, Troiani C, Zago SC, et al. Seroprevalence of toxoplasmosis, toxocariasis and cysticercosis in a rural settlement, São Paulo State, Brazil. Pathog and Glob Heal. 2013; 107, 2. DOI 10.1179/2047773213Y.0000000079

29. Mendonca LR, Veiga RV, Dattoli VCC, Figueiredo CA, Fiaccone R, Santos J, et al. Toxocara Seropositivity, Atopy and Wheezing in Children Living in Poor Neighbourhoods in Urban Latin American. PLoS Negl Trop Dis. 2012; 6(11). DOI:10.1371/journal.pntd.0001886

30. Manini MP, Marchioro AA, Colli CM, Nishi L, Falavigna-Guilherme AL. Association between contamination of public squares and seropositivity for Toxocara spp. in children. Vet Parasitol. 2012; 188, 48– 52. DOI:10.1016/j.vetpar.2012.03.011

31. Mattia S, Colli CM, Adami CM, Guilherme GF, Nishi L, Rubinsky-Elefant G, et al. Seroprevalence of Toxocara infection in children and environmental contamination of urban areas in Paraná State, Brazil. J Helminthol. 2012; 86,440–445. DOI:10.1017/S0022149X11000666

32. Souza RF, Dattoli VCC, Mendonça LR, Jesus JR, Baqueiro T, Santana CC, et al. Prevalence and risk factors of human infection by Toxocara canis in Salvador, State of Bahia, Brazil Rev Soc Bras Med Trop. 2011; 44(4):516-519. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0037-86822011000400024

33. Fragoso RP, Monteiro MBM, Lemos EM, Pereira FEL. Anti-Toxocara antibodies detected in children attending elementary school in Vitoria, State of Espírito Santo, Brazil: prevalence and associated factors. Rev Soc Bras Med Trop. 2011; 44(4):461-466.

34. Dattoli VCC, Freire SM, Mendonça LR, Santos PC, Meyer R, Alcantara-Neves NM. Toxocara canis infection is associated with eosinophilia and total IgE in blood donors from a large Brazilian centre. Trop Med Int Heath. 2011; 16, 4, 514–517. DOI:10.1111/j.1365-3156.2010.02719.x

Page 63: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

63

35. Marchioro AA, Colli CM, Mattia S, Paludo ML, Melo GC, Adami CM, et al. Avaliação eosinofílica e soropositividade para anticorpos IgG anti-toxocara em crianças atendidas pelo Sistema Único de Saúde. Rev Paul Pediatr. 2011; 29(1):80-4.

36. Santarém VA, Leli FNC, Rubinsky-Elefant G, Giuffrida R. Protective and risk factors for toxocariasis in children from two different social classes of Brazil. Rev Inst Med Trop S. Paulo. 2011; 53(2): 67-72. DOI: 10.1590/S0036-46652011000200002

37. Correa CRS, Bismarck CM. Toxocariasis: Incidence, Prevalence and the Time Serum remains Positive in School Children from Campinas, SP, Brazil. J Trop Ped. 2010; 56, 3. DOI:10.1093/tropej/fmp095

38. Colli CM, Rubinsky-Elefant G, Paludo ML, Falavigna DLM, Guilherme EV, Mattia S, et al. Serological, clinical and epidemiological evaluation of toxocariasis in urban Areas of south Brazil. Rev Inst Med Trop S. Paulo. 2010. 52(2):69-74. DOI: 10.1590/S0036-46652010000200003

39. Prestes-Carneiro LE, Souza DHP, Moreno GC, Troiani C, Santarém V, Zago SCS, et al. Toxocariasis/cysticercosis seroprevalence in a long-term rural settlement, São Paulo, Brazil. Parasitol. 2009; 136, 681–689. DOI:10.1017/S0031182009005769

40. Prestes-Carneiro LE, Santarém V, Zago SCS, Miguel NA, Zambelli SF, Villas R, et al. Sero-epidemiology of toxocariasis in a rural settlement in São Paulo state, Brazil. Annals Trop Med Parasitol. 2008; 102, 4, 347–356. DOI: 10.1179/136485908X278801

41. Rubinsky-Elefant G, Silva-Nunes M, Malafronte RS, Muniz PT, Ferreira MU. Human Toxocariasis in Rural Brazilian Amazonia: Seroprevalence, Risk Factors, and Spatial Distribution. Am. J. Trop. Med. Hyg. 2008; 79(1), 93–98.

42. Núñez CR, Martínez GDM, Arteaga SY, Macotela MP, Montes PB, Durán NR. Prevalence and Risk Factors Associated with Toxocara canis Infection in Children. The Scientific World Journal. 2013. DOI: http://dx.doi.org/10.1155/2013/572089

43. Kim YH, Huh S, Chung Y-B. Seroprevalence of Toxocariasis among Healthy People with Eosinophilia. Korean J Parasitol. 2008. 46, No. 1: 29-32. DOI: 10.3347/kjp.2008.46.1.29.

44. Roldán WH, Espinoza YA, Atúncar A, Ortega E, Martinez A, Saravia M. Frequency of eosinophilia and risk factors and their association with Toxocara infection in schoolchildren during a health survey in the north of Lima, Peru. Rev Inst Med Trop. 2008; 50(5): 273-278. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0036-46652008000500005

Page 64: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

64

45. Paludo ML, Falavigna DLM, Rubinsky-Elefant G, Gomes ML, Baggio MLM, Amadei LB, et al. Frequency of Toxocara infection in children attended by the health public service of Maringá, South Brazil. Rev Inst Med Trop. 2007 49(6): 343-348. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0036-46652007000600002

46. Figueiredo SD, Taddei JA, Menezes JJ, Novo NF, Silva EO, Cristóvão HL, et al. Clinical-epidemiological study of toxocariasis in a pediatric population. J Pediatr. 2005; 81:126-32. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0021-75572005000300007.

47. Jacob CMA, Pastorino AC, Peres BA, Mello EO, Okay Y, Oselka GW. Clinical and laboratorial features of visceral toxocariasis in infancy. Inst Med Trop. 1994; 36 (1): 19-26. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0036-46651994000100004

48. Parise ME, Hotez PJ, Slutsker L. Neglected parasitic infections in the United States: Needs and opportunities. Am J Trop Med Hyg. 2014; 90: 783–785. DOI: 10.4269/ajtmh.13-0727

49. Woodhall DM, Eberhard ML, Parise ME. Review Article: Neglected parasitic infections in the United States: Toxocariasis. Am J Trop Med Hyg. 2014; 90:810–813. DOI: 10.4269/ajtmh.13-0725

50. Lee RM, Moore LB, Bottazzi ME, Hotez PJ. Toxocariasis in North America: A Systematic Review. PLoS Negl Trop Dis. 2014; 8(8): e3116. DOI: 10.1371/jour

Page 65: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

65

Capítulo 2- Soroprevalência de toxocaríase em crianças com

urticária: estudo de base populacional no munícipio de

Campinas-SP-Brasil

Objetivo: Descrever a soroprevalência de anticorpos contra Toxocara spp da

classe IgG e a sua associação com urticária, em crianças de 2 a 12 anos

residentes num bairro do município de Campinas, São Paulo, Brasil.

Page 66: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

66

Produção Bibliográfica referente ao Capítulo 2

Resumos publicados em anais de congressos

FIALHO, P. M. M.; CORRÊA, C.R.S; LESCANO, S. A. Z. ; CHIEFFI, P. P. Estudo descritivo de crianças diagnosticadas com toxocaríase: estudo de base populacional. In: 11º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, 2015, Goiânia. Anais do 11º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, 2015.

Apresentações de Trabalho

FIALHO, P. M. M.; CORRÊA, C.R.S; LESCANO, S. A. Z. ; CHIEFFI, P. P. Estudo descritivo de crianças diagnosticadas com toxocaríase: estudo de base populacional. 2015. (Apresentação de Trabalho/Congresso).

Page 67: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

67

ARTIGO ORIGINAL

Soroprevalência de toxocaríase em crianças com

urticária: estudo de base populacional no munícipio de

Campinas-SP-Brasil

Paula Mayara Matos Fialho I ; Carlos Roberto Silveira Corrêa I ; Susana

Zevallos Lescano II

I Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas, Departamento de Saúde Coletiva. Campinas – SP, Brasil.

II Universidade de São Paulo, Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, Laboratório de Imunopatologia da Esquistossomose.

E-mails:

[email protected]

[email protected]

[email protected]

Correspondência:

Paula Mayara Matos Fialho

UNICAMP - Faculdade de Ciências Médicas- Departamento de Saúde Coletiva.

Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. Cidade Universitária. CEP: 13087-970

Campinas, SP – Brasil. Telefone: (19) 3521-8042 – FAX: (19) 3521-8044

E-mail: [email protected]

Page 68: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

68

Fialho PMMF.; Corrêa CRS.; Lescano SZ. Soroprevalência de toxocaríase

em crianças com urticária: estudo de base populacional no munícipio de

Campinas-SP-Brasil. Pediatr Allergy Immunol.

RESUMO

Introdução

A toxocaríase é uma zoonose muito difundida em todo o mundo. É uma

infecção causada pelo helminto das espécies Toxocara canis e T. cati, que

parasitam o cão e o gato, respectivamente. O homem é um hospedeiro

paratênico. As crianças são as mais acometidas por esse parasito.

Objetivo

Descrever a soroprevalência de anticorpos contra Toxocara spp da classe IgG

e a sua associação com urticária, em crianças de 2 a 12 anos residentes num

bairro do município de Campinas, São Paulo, Brasil.

Metodologia

Estudo transversal de base populacional realizado entre maio de 2012 e

setembro de 2014. A amostra foi constituída por 168 crianças com idades entre

2 a 12 anos, selecionadas em uma população do município de Campinas.

Foram colhidas amostras de sangue para verificar a presença de toxocaríase,

por meio do teste imunoenzimático (ELISA). Para caracterizar a presença ou

não de outras morbidades, como a urticária, os responsáveis pelas crianças

foram entrevistados.

Resultados

A presença de urticária foi verificada em 38% dos participantes. A

soroprevalência de toxocaríase nessa população foi de 16%. O presente

estudo confirmou uma a associação positiva de urticária com a sorologia

Page 69: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

69

positiva para Toxocara e uma associação independente negativa com contato

com cão e com o número de pessoas residentes no domicílio.

Conclusão

Não consta para os autores do presente estudo que esse resultado tenha sido

encontrado em outro estudo de base populacional. É necessário se estabelecer

algumas medidas de prevenção para que essas doenças infecciosas sejam

erradicadas na população.

DESCRITORES: Toxocaríase; urticária; ELISA; prevalência; criança; Toxocara.

Page 70: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

70

INTRODUÇÃO

A toxocaríase é uma zoonose cosmopolita, causada pelo helminto das

espécies Toxocara canis e T. cati, que parasitam o cão e o gato,

respectivamente. O homem é um hospedeiro paratênico, e a sua contaminação

ocorre pela ingestão acidental dos ovos em estágio embrionado 1. As crianças

2 a 12 anos de idade são as mais acometidas por esse parasito 2,3. Os

principais meios de contaminação das crianças por Toxocara são: a ingestão

de verduras contaminadas com ovos desse parasito, contato com filhotes de

cão e gato, contato com solo, entre outros 4. O método mais utilizado para o

diagnóstico da infecção por Toxocara é a pesquisa de anticorpos utilizando a

técnica de Enzyme-linked Immunosorbent Assay (ELISA). A sensibilidade

desse método é de 78% e a especificidade é de 92% 5.

Estudos da prevalência mostram que a toxocaríase está presente em

todo o mundo, e nos estudos realizados no Brasil essa prevalência variou de

4,2% a 65,4% 6,7. Estudos realizados em diversos países têm demonstrado que

frequentemente ocorrem reações alérgicas em indivíduos com soropositividade

para Toxocara, dessa forma, sugere que a infecção por este parasito intestinal

contribui para o desenvolvimento de tais reações 8–11, e entre essas

manifestações incluem-se a urticária. A associação da urticária com infecções

parasitárias, e dentre elas também a toxocaríase, já foi apontada em diferentes

estudos 12–14.

O presente trabalho teve por objetivo descrever a soroprevalência de

anticorpos contra Toxocara spp da classe IgG e a sua associação com

urticária, em crianças de 2 a 12 anos residentes num bairro do município de

Campinas, São Paulo, Brasil.

Page 71: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

71

MATERIAL E MÉTODOS

Área, população e amostra do estudo

Trata-se de um estudo transversal de base populacional, realizado entre

2012 e 2014, no bairro São Marcos, Distrito Norte da cidade de Campinas, São

Paulo. O bairro possui 17.474 habitantes, sendo 4.148 crianças na faixa etária

de 1 a 14 anos.

A população de estudo foi composta por 200 crianças na faixa etária de

2 a 12 anos, identificadas a partir de amostragem aleatória dos domicílios,

cadastrados no Sistema de Informação e Gerenciamento de Atenção Básica

(SIGAB) da Secretaria de Saúde de Campinas.

O tamanho da amostra (n=200) foi calculado utilizando os seguintes

parâmetros: prevalência presumida de 50% dos fatores a serem descritos

(asma, toxocaríase) visando maximizar o tamanho da amostra. Nessa região

100% dos domicílios foram cadastrados no SIGAB. Estimou-se a população de

5000 habitantes e a perda 5%. Cada domicílio tem, em média, uma criança na

faixa etária considerada, dessa maneira, foi necessário sortear 200 domicílios.

O sorteio foi realizado com o auxílio do programa Epi-info 6.

Aspectos éticos e variáveis sóciodemográficas e clínicas

Após os devidos esclarecimentos sobre a pesquisa e a assinatura do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), um dos quatro

entrevistadores treinados no preenchimento do questionário, entrevistava o

responsável pela criança.

O questionário foi divido em blocos e continha as variáveis descritas

abaixo:

a) condições demográficas e socioeconômicas:

Page 72: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

72

data de nascimento: dia, mês e ano.

idade: calculada pela distância em anos completos;

da data de nascimento à data da entrevista. Essa variável,

posteriormente, foi estratificada em crianças menores de 5

anos e maiores de 5 anos.

sexo da criança

número de pessoas que moram na residência:

variável numérica discreta.

quantos anos a mãe estudou: variável numérica

discreta.

número de pessoas residentes na casa que tem

remuneração: variável numérica discreta.

presença de cão no domicílio: variável lógica se

família tinha pose de um cão.

presença de gato no domicílio: variável lógica se

família tinha pose de um gato.

contato com cão: variável lógica se a criança tinha

contato com cão, sem ser dono do mesmo.

contato com gato: variável lógica se a criança tinha

contato com gato, sem ser dono do mesmo.

b) comportamentos e condições relacionados à saúde:

história de urticária: variável lógica a ser preenchida

caso o responsável referisse que a criança apresentou, no

último mês lesão na pele caracterizada por vermelhidão e

Page 73: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

73

edema. Para a caracterização da urticária a mãe ou o

responsável pela criança foi questionado e respondeu se:

“seu filho ou filha foi no último mês ou se foi consultar

qualquer serviço de saúde por urticária, no último ano?”

“seu filho ou filha está com alguma ferida, coceira,

bolha ou mancha avermelhada na pele”?

Os entrevistadores foram treinados para a análise dessa variável.

tabagismo intradomiciliar: variável lógica, caso a

mãe e/ou algum morador do domicílio fosse tabagista.

presença de sintomas respiratórios nos últimos 15

dias: variável lógica a ser considerada positiva se a criança

tivesse ido a algum serviço de saúde por problema respiratório

no último mês; ou se apresentara algum dos seguintes

sintomas respiratórios: tosse produtiva, chiadeira ou sibilos, ou

se a criança acordou à noite nos últimos 15 dias, por tosse ou

falta de ar.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade

de Ciências Médicas, da Universidade Estadual de Campinas, com parecer nº

237.742, do Instituto de Medicina Tropical, da Universidade de São Paulo, com

parecer nº 2013/194 e com anuência da Secretaria Municipal de Saúde de

Campinas.

Coleta da amostra de sangue

Foi realizada a coleta das amostras de sangue de cada criança por

punção digital, em papel filtro (Whatman nº 3®). A coleta foi feita em

cadernetas que foram confeccionadas previamente, utilizando-se tiras com

Page 74: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

74

largura de 1 cm do papel filtro, separadas por tiras de papel celofane e depois

protocoladas segundo a sequência de amostras que eram colhidas. Fez-se a

desinfecção do dedo anelar da criança, com álcool 70%, em seguida perfurou-

se a polpa digital utilizando-se uma lanceta descartável e colheu-se o sangue

deslizando-se a fita de papel filtro sobre o dedo, até está completamente

absorvido. Secaram-se as fitas em temperatura ambiente e depois foram

conservadas a - 20ºC.

As amostras de sangue foram enviadas para o laboratório, sendo

eluídas e posteriormente submetidas à técnica sorológica de ELISA (Enzime-

Linked Immunosorbent Assay) com antígeno TES (Excreção-Secreção de

Toxocara), evidenciando anticorpos da classe IgG. Esta técnica foi descrita De

Savigny et al. 1979 e posteriormente, modificada por Bach-rizzatti, 1984.

A coleta foi realizada nos locais de apoio da pesquisa, no mesmo dia da

entrevista, utilizando-se luvas descartáveis e seguindo as regras universais de

descarte adequado do material contaminado.

Descrição da técnica da sorológica ELISA para diagnóstico da

toxocaríase em humanos

Preparação do eluato: a partir das tiras de papel de filtro Whatman nº 3,

as quais continham o sangue coletado da polpa digital, cortaram-se pedaços

com área de 1,0cm². Acrescentou-se 330 μL de PBS 0,01, pH 7,2 em

microtubos Eppendorf. Deixou-se a 4º C por 16 horas na geladeira. No dia

seguinte, retirou-se o papel de filtro, deixando-o escorrer o líquido pelas

paredes do tubo.

Sensibilização da placa: Costar 3590 (high binding). A reação foi

realizada em placas de poliestireno. Cada uma das cavidades foi sensibilizada

com 100 μL de solução antigênica TES diluída em PBS 1:800 μg/mL. As placas

Page 75: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

75

foram tampadas e incubadas a 37ºC por 2 horas e mantidas na geladeira por

16 horas a 4ºC.

Bloqueio: Foi feito o bloqueio dos sítios inespecíficos, com 200 μL em

cada orifício, de PBS–Tween-Gelatina (0.05%) durante uma hora a 37°C.

Absorção dos eluatos: Diluiu-se o antígeno Ascaris suum 1:200 em PBS

– Tween (absorvente). Em seguida, diluíram-se os soros controle positivos e

negativos 1/320 também no absorvente (PBS-T Ascaris) e incubou-se da

mesma forma que aos eluatos.

Após o bloqueio lavaram-se as placas três vezes com PBS-Tween (5

minutos cada). Em seguida, adicionaram-se nas placas100 μL dos eluatos em

duplicata e 200 μL do soro de paciente positivo (conhecido) previamente

absorvido, e nas fileiras seguintes colocaram-se 100 μL de PBS-T em cada

orifício e passaram-se 100 μL com a pipeta multicanal para as fileiras

seguintes, diluindo-se de forma seriada, desprezaram-se os últimos 100 μL.

Colocaram-se 100 μL dos soros padrão negativo absorvidos com PBS-T-

Ascaris, assim como os dois brancos com PBS-T, nos primeiros seis orifícios.

Incubaram-se a placa por 40 minutos a 37º C. Após, lavaram-se a placa três

vezes (5 minutos cada) com PBS-T. Em seguida, diluiu-se o conjugado

enzimático anti-IgG marcado com Peroxidase 1:5.000 em PBS-T-G, aplicaram-

se 100 μL em todos os orifícios e incubaram-se a 37º C por 40 minutos. Outro

ciclo de lavagem, como descrita anteriormente. Em seguida, fez a revelação

com solução de ortofenilenodiamino(OPD) em Tampão Citrato Fosfato,

acrescido de 5 μL de Peróxido de Hidrogênio (H2O2) 30%, adicionaram-se 100

μL por orifício e incubaram-se em câmara escura à temperatura ambiente por

20 minutos; a reação foi interrompida pela adição de 50ul solução de H2SO4

(ácido sulfúrico) 4N por orifício. A leitura da placa foi efetuada em leitor de

ELISA Multiskan com filtro 492 nm.

Page 76: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

76

Análises estatísticas

Realizou-se a análise das variáveis, comparando as proporções de

crianças com urticária e sem urticária. As associações entre as variáveis

independentes e a urticária foram analisadas pelo teste qui-quadrado e quando

o valor esperado de qualquer casela foi menor que 5, aplicou-se o teste exato

de Fisher. Também foi usada a análise de regressão logística para estimar as

razões de chances das variáveis pesquisadas com a variável presença de

urticária tomada como variável dependente. Inicialmente, foram introduzidas as

variáveis independentes que apresentaram um nível de significância menor de

20% (p<0,20) na associação com a variável dependente e permaneceram no

modelo aquelas com p<0,10. As diferenças foram consideradas

estatisticamente significantes quando p≤ 0,10. As análises estatísticas foram

realizadas nos softwares SAS 9.4 e Epi Info 7.

RESULTADOS

Das 168 crianças estudadas, 64 (38%; 64/168) apresentaram urticária. A

soroprevalência de toxocaríase nessa população foi de 16% (26/167) e foi

diagnosticada pelo método ELISA. A média de idade das crianças foi de 6,44 ±

3,55 anos. Em relação ao sexo, 63,7% foram do sexo masculino e 36,3%

feminino. A prevalência de problemas respiratórios foi 54,2% (91/168). Das

crianças estudadas 4,8% (8/168) internou por problemas respiratórios.

A tabela 1 apresenta as variáveis relacionadas às condições

socioeconômica, comportamental e de saúde, em relação à presença ou não

de urticária. Verificou-se que 38,3% dos meninos apresentaram urticária e

37,7% das meninas, não houve diferença significativa entre o sexo (p= 0,93). O

número de pessoas na residência e a positividade para urticária apresentou

associação com um p valor= 0,03. Das crianças estudadas e que tiveram

sorologia positiva para Toxocara, 46,5% tiveram urticária (p= 0,37). Das

crianças que foram internadas por problemas respiratórios 62,5% tiveram a

positividade para urticária (p= 0,10).

Page 77: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

77

Os resultados da análise de regressão logística são apresentados na

Tabela 2. Foi possível verificar a associação independente positiva entre a

urticária, a toxocaríase. O contato ou presença de cão no domicílio e o número

de pessoas na residência, aquelas crianças que moram na residência com

menos de seis pessoas, apresentaram associação independente negativa com

a presença de urticária.

Page 78: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

78

Tabela 1: Perfil socioeconômico, comportamental e condições de saúde de 168

avaliadas quanto à presença de urticária, residentes na Vila Esperança, São

Marcos, Campinas-SP, 2012-2014.

Número Frequência Urticária

Variáveis Positivo

Negativo

p*

N % N %

N %

Idade 6,44 ±

3,55

Sexo

Masculino 107 63,7 41 38,3

66 61,7 0,93

Feminino 61 36,3 23 37,7

38 62,3

Número de pessoas na

residência

<6 133 79,2 56 42,1

77 57,9 0,03

>6 35 20,8 8 22,9

27 77,1

Número de pessoas que

trabalham

<3 152 90,5 56 36,8

96 63,2 0,30

>3 16 9,5 8 50,0

8 50,0

Escolaridade da mãe

Não estudou 124 73,8 52 41,9

72 58,1 0,08

Estudou 44 26,2 12 27,3

32 72,7

Presença ou contato de

cão no domicílio

Sim 86 52,8 26 30,2

60 69,8 0,06

Não 77 47,2 34 44,2

43 55,8

Presença ou contato de

gato no domicílio

Sim 39 23,9 17 43,6

22 56,4 0,31

Não 124 76,1 43 34,7

81 65,3

Tabagismo

intradomiciliar

Sim 38 23,3 11 28,9

27 71,1 0,25

Não 125 76,7 49 39,2

76 60,8

Problemas respiratórios

Sim 91 54,2 36 39,6

55 60,4

0,67

Page 79: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

79

Não 77 45,8 28 36,4

49 63,6

Internação por

problemas respiratórios

Sim 8 4,8 5 62,5

3 37,5 0,10**

Não 160 95,2 59 36,9

101 63,1

Toxocaríase

Sim 26 15,6 12 46,2

14 53,8

0,37 Não 141 84,4 52 36,9

89 63,1

* Valor de p do teste qui-quadrado.

**Teste exato de Fischer

Tabela 2: Modelo de regressão logística para urticária com 168 crianças

residentes na Vila Esperança, São Marcos, Campinas-SP, 2012-2014.

Variáveis OR IC 95%

Toxocaríase 2,51 1,12-5,58

Presença ou contato de cão no domicílio 0,56 0,33-0,97

Número de pessoas na residência: <6 0,33 0,15-0,75

Page 80: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

80

DISCUSSÃO

Nesse estudo foi possível verificar nas crianças pesquisadas, a

associação positiva de urticária com a sorologia positiva para Toxocara, e uma

associação independente negativa com contato com cão e com o número de

pessoas residentes no domicílio. Não consta para os autores do presente

estudo que esse resultado tenha sido encontrado em outro estudo de base

populacional. A categorização da criança como tendo história positiva para

urticária foi feita por meio de um questionário preenchido por entrevistadores

treinados entre si.

A associação de sorologia positiva para infecção por Toxocara e urticária

já foi descrita por Wolfrom e colaboradores (1995)13 que realizaram um estudo

caso-controle com 51 indivíduos com urticária crônica, quando encontraram

forte associação entre essa infecção e a manifestação dermatológica. Embora

outros estudos também já tenham apontado essa associação, esse não é um

achado constante. Em um estudo realizado com 122 crianças de 6 a 15 anos

de idade, no munícipio de Uberlândia- MG, os autores não encontraram

associação da toxocaríase e urticária em criança atópicas 15.

A prevalência de urticária encontrada nesse estudo foi 38% e a

soropositividade para Toxocara canis (16%) foi semelhante à encontrada em

outros estudos realizados no Brasil 15–18, porém, menor do que a encontrada

em outro inquérito sorológico realizado na mesma região 19.

As dermatites, incluindo a urticária, têm causas multifatoriais, uma delas

é a infecção por parasitos intestinais. A literatura descreve como uma das

manifestações clínicas encontradas em pacientes que apresentam toxocaríase,

alterações cutâneas, como urticária e prurido 20.

Outro ponto importante detectado nas análises foi associação da

urticária com o número de pessoas residentes no domicílio. Crianças que

residem no domicílio com menos de seis pessoas apresentaram associação

independente negativa comparada com aquelas crianças que vivem na

Page 81: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

81

residência com mais de seis pessoas, ou seja, morar numa residência com

menos indivíduos protegeu as crianças de urticária. Esse achado vai de

encontro a chamada “Hipótese da Higiene” formulada após um estudo

conduzido por Strachan (1989) 21 que estudou crianças e jovens de até 23 anos

de idade, e encontrou que crianças provenientes de famílias maiores e com

irmãos mais velhos estavam significativamente mais protegidas de doenças

alérgicas. Por outro lado, estudos realizados no município de Salvador-BA 22

mostraram que as doenças alérgicas ocorrem em mais de 30% da população

de baixa renda, e em segmentos da população de alta renda esses números

chegam a 44%. Vale salientar que o presente estudo foi realizado em uma

região de nível socioeconômico baixo, onde a maioria das residências é

composta por vários membros, e muitas vezes não só da mesma família.

A presença ou contato com cão apresentou também associação

independente negativa com a urticária, ou seja, ter cão no domicílio foi fator de

proteção para urticária. Alguns estudos sugerem que a exposição a cães ou

gatos durante a infância está associada a risco reduzido de doenças alérgicas

23. Assim, pode-se sugerir que o contato com animais de estimação nos

primeiros anos de vida, seria um fator de proteção contra a alergia.

Porém, a presença ou contato com gato não apresentou associação com

a urticária É muito comum relatos na literatura sobre a associação das alergias

com o contato/presença de cão e/ou gato. Na área de estudo é comum

existência de cães e gatos em estado de abandono e a maioria das crianças

dessa localidade, brincam com esses animais.

O sexo e idade não apresentaram associação com a urticária. A média

de idade foi de cerca de seis anos. Esses resultados são semelhantes com os

apresentados por outros autores, pois essa faixa etária é a que possui maior

exposição com o ambiente e paralelamente, uma exposição alergênica 3.

Uma limitação do dado é que há muitos cães peridomiciliados e

errantes. Esses cães são os menos cuidados e possivelmente os mais

parasitados. Nesse trabalho não foi realizado estudo da contaminação do solo

Page 82: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

82

por ovos de Toxocara. Assim, outro fator que pode estar associado é o fato de

que ter cão domiciliado ou que está na posse da família pode afastar o cão

errante ou peridomiciliado.

Deve-se ressaltar que este foi um dos poucos estudos de base

populacional que teve a população amostrada aletoriamente, essa metodologia

permite que os vieses de seleção sejam minimizados, e que os resultados

teriam reprodutibilidade na população de referência.

CONCLUSÃO

O presente estudo confirmou uma soropositividade de 16% para

Toxocara e de 38% de urticária em crianças, assim como a associação da

urticária com a toxocaríase e associação negativa com a presença de cão na

residência e o número de pessoas no domicílio, ou seja, ter cão ou contato e

residir com menos pessoas no domicílio foram fatores de proteção para

urticária. É necessário se estabelecer algumas medidas de prevenção para que

essas doenças infecciosas sejam erradicadas na população.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem: à FAPESP (Processo nº. 2012/14134-6) pela

bolsa de doutorado de PMM. Fialho; à Drª. Guita Rubinsky Elefant pela

orientação nos testes.

Page 83: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

83

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Rubinsky-Elefant G, Hirata CE, Yamamoto JH, Ferreira MU.

Human toxocariasis: diagnosis, worldwide seroprevalences and clinical

expression of the systemic and ocular forms. Ann Trop Med Parasitol.

2010;104(1):3-23. doi:10.1179/136485910X12607012373957.

2. Alderete JM, Jacob CM, Pastorino AC, Elefant GR, Castro AP,

Fomin AB, Chieffi PP. Prevalence of Toxocara infection in schoolchildren

from the Butantã region, São Paulo, Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz.

2003;98:593-597.

3. Figueiredo SDP, Taddei JAAC, Menezes JJC, Novo NF, Silva

EOM, Cristóvão HLG, Cury MCFS. Estudo clínico-epidemiológico da

toxocaríase em população infantil. J Pediatr (Rio J). 2005;81:126-132.

4. Carvalho EAA, Rocha R. Toxocariasis: visceral larva migrans in

children. J Pediatr (Rio J). 2011;87(2):100-110.

doi:http://dx.doi.org/10.2223/JPED.2074.

5. Glickman LT, Schantz PM. Epidemiology and pathogenesis of

zoonotic Toxocariasis. Epidemiol Rev. 1981;3(1):230-250.

6. Souza RF, Dattoli VCC, MendonÃ\Sa LR, Jesus JR de, Baqueiro

T, Santana C de C, Santos NM, Barrouin-Melo SM, Alcantara-Neves NM.

Prevalência e fatores de risco da infecção humana por Toxocara canis em

Salvador, Estado da Bahia. Rev Soc Bras Med Trop. 2011;44:516-519.

7. Guilherme EV, Marchioro AA, Araujo SM, Falavigna DLãoM,

Adami C, Falavigna-Guilherme G, Rubinsky-Elefant G, Falavigna-

Guilherme AL. Toxocariasis in children attending a Public Health Service

Pneumology Unit in Paraná State, Brazil. Rev Inst Med Trop São Paulo.

2013;55:189-192.

Page 84: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

84

8. Buijs J, Borsboom G, Renting M, Hilgersom W, van Wieringen J,

Jansen G, Neijens J. Relationship between allergic manifestations and

Toxocara seropositivity: a cross-sectional study among elementary school

children. Eur Respir J. 1997;10(7):1467-1475.

9. Sharghi N, Schantz PM, Caramico L, Ballas K, Teague BA, Hotez

PJ. Environmental Exposure to Toxocara as a Possible Risk Factor for

Asthma: A Clinic-Based Case-Control Study. Clin Infect Dis.

2001;32(7):e111-e116. doi:10.1086/319593.

10. Chan PW, Anuar AK, Fong MY, Debruyne JA, Ibrahim J. Toxocara

seroprevalence and childhood asthma among Malaysian children. Pediatr

Int. 2001;43(4):350-353. doi:10.1046/j.1442-200X.2001.01421.x.

11. Pinelli E, Brandes S, Dormans J, Gremmer E, Van Loveren H.

Infection with the roundworm Toxocara canis leads to exacerbation of

experimental allergic airway inflammation. Clin Exp Allergy.

2008;38(4):649-658. doi:10.1111/j.1365-2222.2007.02908.x.

12. Heratizadeh A, Werfel T, Kapp A. Atopische Dermatitis: Hygiene-

Hypothese. Hautarzt. 2006;57(7):576-585. doi:10.1007/s00105-006-1171-

2.

13. Wolfrom E, Chêne G, Boisseau H, Beylot C, Géniaux M, Taïeb A.

Chronic urticaria and Toxocara canis. The Lancet. 345(8943):196.

14. Dal T, Çiçek M, Uçmak D. Seroprevalence of IgG anti-Toxocara

canis antibodies and anti-Fasciola sp. antibodies in patients with urticaria.

Clin Ter. 2013;(4):315-317. doi:10.7417/CT.2013.1579.

15. Grama DF, Lescano SZ, Pereira Mota KC, Anjos Pultz B dos,

Miranda JS, Silva Segundo GR, Taketomi EA, Fernandes KP, Limongi JE,

de Paula FM, Chieffi PP, Cury MC. Seroprevalence of Toxocara spp. in

children with atopy. Trans R Soc Trop Med Hyg. 2014;108(12):797-803.

doi:10.1093/trstmh/tru165.

Page 85: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

85

16. Manini MP, Marchioro AA, Colli CM, Nishi L, Falavigna-Guilherme

AL. Association between contamination of public squares and seropositivity

for Toxocara spp. in children. Vet Parasitol. 2012;188(1–2):48-52.

doi:http://dx.doi.org/10.1016/j.vetpar.2012.03.011.

17. Prestes-Carneiro LE, Rubinsky-Elefant G, Ferreira AW, Araujo

PR, Troiani C, Zago SC, Kaiahara M, Sasso L, Iha A, Vaz A.

Seroprevalence of toxoplasmosis, toxocariasis and cysticercosis in a rural

settlement, São Paulo State, Brazil. Pathog Glob Health. 2013;107(2):88-

95. doi:10.1179/2047773213Y.0000000079.

18. Cassenote AJF, de Abreu Lima AR, Pinto Neto JM, Rubinsky-

Elefant G. Seroprevalence and Modifiable Risk Factors for Toxocara spp.

in Brazilian Schoolchildren. PLoS Negl Trop Dis. 2014;8(5):e2830.

doi:10.1371/journal.pntd.0002830.

19. Anaruma Filho F, Chieffi PP, Correa CRS, Camargo ED, Silveira

EPR da, Aranha JJB, Ribeiro MCSA. Human toxocariasis: a

seroepidemiological survey in the municipality of Campinas (SP), Brazil.

Rev Inst Med Trop São Paulo. 2002;44:303-307.

20. Gavignet B, Piarroux R, Aubin F, Millon L, Humbert P. Cutaneous

manifestations of human toxocariasis. J Am Acad Dermatol. 59(6):1031-

1042. doi:10.1016/j.jaad.2008.06.031.

21. Strachan DP. Hay fever, hygiene, and household size. BMJ.

1989;299(6710):1259-1260.

22. Baqueiro T, Pontes-de-carvalho L, Carvalho FM, Santos NM,

Alcantara-Neves NM. Asthma and rhinitis symptoms in individuals from

different socioeconomic levels in a Brazilian city. Allergy Asthma Proc Off J

Reg State Allergy Soc. 2007;28(3):362-367.

Page 86: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

86

23. Ownby DR, Johnson C, Peterson EL. Exposure to dogs and cats

in the first year of life and risk of allergic sensitization at 6 to 7 years of age.

JAMA. 2002;288(8):963-972. doi:10.1001/jama.288.8.963.

Page 87: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

87

Capítulo 3- Incidência de toxocaríase e fatores de risco

associados, em crianças de um bairro do município de

Campinas: um estudo de coorte

Objetivo: Descrever a incidência e os fatores de risco associados com a

toxocaríase em uma coorte de crianças de 2 a 12 anos, residentes num bairro

do município de Campinas, São Paulo, Brasil.

Page 88: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

88

ARTIGO ORIGINAL

Incidência de toxocaríase e fatores de risco

associados, em crianças de um bairro do município de

Campinas: um estudo de coorte

Paula Mayara Matos Fialho I ; Carlos Roberto Silveira Corrêa

I ; Susana

Zevallos Lescano II

I Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas, Departamento de Saúde Coletiva. Campinas – SP, Brasil.

II Universidade de São Paulo, Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, Laboratório de Imunopatologia da Esquistossomose.

E-mails:

[email protected]

[email protected]

[email protected]

Correspondência:

Paula Mayara Matos Fialho

UNICAMP - Faculdade de Ciências Médicas- Departamento de Saúde Coletiva.

Rua Tessália Vieira de Camargo, 126. Cidade Universitária. CEP: 13087-970

Campinas, SP – Brasil. Telefone: (19) 3521-8042 – FAX: (19) 3521-8044

E-mail: [email protected]

Page 89: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

89

RESUMO

Com o objetivo de descrever a incidência e os fatores de risco para

toxocaríase, em uma coorte de crianças de 2 a 12 anos, residentes num bairro

do município de Campinas, São Paulo, Brasil, o presente estudo foi realizado.

Trata-se de um estudo de coorte prospectiva, realizado após um estudo

transversal de base populacional. As 164 crianças que tiveram a sorologia

negativa constituíram a coorte e foram acompanhadas por um ano. Sendo esta

uma coorte aberta ocorreram 87 perdas. Para descrever a coorte foi feito o

estudo univariado e bivariado de acordo as variáveis socioeconômicas,

comportamentais e de condições de saúde. Foi realizada a regressão logística,

considerando-se como variável dependente a presença (sim ou não) de

toxocaríase; as demais variáveis foram variáveis preditoras. As análises

estatísticas foram realizadas nos softwares SAS 9.4 e Epi Info 7. Os resultados

deste trabalho referem-se a 77 crianças que concluíram a coorte. A incidência

de toxocaríase foi de 10,4% crianças ano. A média de idade da coorte foi de

7,7 anos e das crianças infectadas foi de 9,3 anos. O resultado da regressão

logística mostrou que a asma foi fator de risco toxocaríase. A conscientização

dos profissionais da saúde, dos poderes públicos e dos educadores de que a

toxocaríase é um problema de saúde pública é necessário e urgente, como

também é importante à utilização de medidas de prevenção e educativas no

controle dessa parasitose.

DESCRITORES: Toxocaríase; asma; incidência; fator de risco; criança;

Toxocara.

Page 90: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

90

INTRODUÇÃO

A toxocaríase é uma zoonose causada pelos nematódeos do gênero

Toxocara. O ser humano é um hospedeiro paratênico desse parasito e os

hospedeiros definitivos são os cães e os gatos1. A contaminação humana

ocorre pela ingestão de ovos em estado embrionado desse parasito. 2. Entre os

fatores de risco um dos mais relatados é o contato do homem com cães

principalmente com os cães peridomiciliados que são os mais contaminados3,4.

A faixa etária mais susceptível à infecção por Toxocara é de 2 a 12 anos de

idade 4,5.

A toxocaríase é uma doença cosmopolita ocorre em diversas regiões do

mundo, sendo mais frequentemente encontrada em países em

desenvolvimento e em regiões onde as condições de saneamento básico são

precárias6–9. Com o aumento da população humana nas grandes cidades e

consequentemente, com o aumento da população de cães e gatos, o ambiente

urbano está sendo cada vez mais contaminado por fezes desses mamíferos.

Por esses motivos, a toxocaríase é atualmente uma antropozoonose muito

comum também em países desenvolvidos, apresentando nos EUA uma

prevalência de 13,9% 10.

Vários estudos descrevem a prevalência da toxocaríase em

humanos5,11–13 porém, são raros os que estudam a sua incidência. Assim, uma

lacuna importante no conhecimento da epidemiologia dessa parasitose é o

estudo da sua incidência principalmente se descrita em uma amostra

populacional. O presente trabalho teve como objetivo descrever a incidência e

os fatores de risco para toxocaríase, em uma coorte de crianças selecionadas

de maneira aleatória, residentes num bairro do município de Campinas, São

Paulo, Brasil.

Page 91: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

91

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo do tipo coorte, fechada e prospectiva, em uma

amostra de crianças que tiveram sorologia negativa para Toxocara, residentes

no bairro São Marcos, Distrito Norte da cidade de Campinas, São Paulo.

O primeiro momento do estudo foi realizado entre os anos 2012 e 2014

num estudo de base populacional composto por 200 crianças na faixa etária de

2 a 12 anos, identificadas a partir de amostragem aleatória dos domicílios,

cadastrados no Sistema de Informação e Gerenciamento de Atenção Básica

(SIGAB) da Secretaria de Saúde de Campinas. Inicialmente, foram avaliadas

192 crianças quanto à presença ou não de anticorpos anti-Toxocara, 28 delas

tiveram sorologia positiva e foram tratadas. As 164 que tiveram a sorologia

negativa constituíram a coorte. Sendo esta uma coorte aberta ocorreram 87

perdas (Figura 1). O principal motivo dessas perdas foi mudança de endereço

(92%). Os resultados deste trabalho referem-se a 77 crianças que concluíram a

coorte.

Page 92: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

92

A coorte foi acompanhada por um período de 12 meses. Cada criança

foi visitada quatro vezes e em todas elas foi perguntado sobre a presença de

urticária e de queixa respiratória – ida ao Pronto-Socorro ou Unidade de Saúde

para realizar consulta por tosse ou sibilos, ou uso de broncodilatores inalatório

ou via oral, dias em que ficou com sibilos no último mês. Para essa avaliação

foram feitas as seguintes perguntas:

“seu filho ou filha foi no último mês ou se foi consultar qualquer serviço

de saúde por urticária, no último ano?”

Figura 1: Dinâmica da coorte. Campinas-SP, 2015.

Eleitos para constituírem a coorte

164 crianças

58 perdas por mudança de endereço (constatada na primeira ligação)

Coorte potencial (início do seguimento)

106 crianças (100%)

29 perdas durante o seguimento

Coorte no final da pesquisa

77 crianças com seguimento total

106 crianças com seguimento parcial

77 crianças concluíram o seguimento (73%)

Page 93: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

93

“seu filho ou filha está com alguma ferida, coceira, bolha ou mancha

avermelhada na pele no último mês”?

“Seu filho ou filha teve tosse, falta de ar, chiadeira no último mês?”

“Seu filho ou filha foi a algum serviço de saúde por problema respiratório

no último mês?”

Essas crianças também foram submetidas à nova punção digital para

diagnóstico sorológico de anticorpos anti-Toxocara da classe IgG, um ano após

a realização da última sorologia.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade

de Ciências Médicas, da Universidade Estadual de Campinas, com parecer nº

237.742 e do Instituto de Medicina Tropical, da Universidade de São Paulo,

com parecer nº 2013/194 e com anuência da Secretaria Municipal de Saúde de

Campinas.

Coleta da amostra de sangue

Foi realizada a coleta das amostras de sangue de cada criança por

punção digital, em papel filtro (Whatman nº 3®). A coleta foi feita em

cadernetas que foram confeccionadas previamente, utilizando-se tiras com

largura de 1 cm do papel filtro, separadas por tiras de papel celofane e depois

protocoladas segundo a sequência de amostras que eram colhidas. Fez-se a

desinfecção do dedo anelar da criança, com álcool 70%, em seguida perfurou-

se a polpa digital utilizando-se uma lanceta descartável e colheu-se o sangue

deslizando-se a fita de papel filtro sobre o dedo, até está completamente

Page 94: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

94

absorvido. Secaram-se as fitas em temperatura ambiente e depois foram

conservadas a - 20ºC.

As amostras de sangue foram enviadas para o laboratório, sendo

eluídas e posteriormente submetidas à técnica sorológica de ELISA (Enzyme-

Linked Immunosorbent Assay) com antígeno TES, evidenciando anticorpos da

classe IgG. Esta técnica foi descrita De Savigny et al. 1979 e posteriormente,

modificada por Bach-rizzatti, 1984.

A coleta foi realizada na residência da criança, utilizando-se luvas

descartáveis e seguindo as regras universais de descarte adequado do

material contaminado.

Descrição da técnica sorológica ELISA para diagnóstico da

toxocaríase em humanos

Preparação do eluato: a partir das tiras de papel de filtro Whatman nº 3,

as quais continham o sangue coletado da polpa digital, cortaram-se pedaços

com área de 1,0cm². Acrescentaram-se 330μl de PBS 0,01, pH 7,2 em

microtubos Eppendorf. Deixou-se a 4º C por 16 horas na geladeira. No dia

seguinte, retirou-se o papel de filtro, deixando-o escorrer o líquido pelas

paredes do tubo.

Sensibilização da placa: Costar 3590 (high binding). A reação foi

realizada em placas de poliestireno. Cada uma das cavidades foi sensibilizada

com 100μl de solução antigênica TES diluída em PBS 1:800 μg/mL. As placas

foram tampadas e incubadas a 37ºC por 2 horas e mantidas na geladeira por

16 horas a 4ºC.

Bloqueio: Foi feito o bloqueio dos sítios inespecíficos, com 200 μL em

cada orifício, de PBS–Tween-Gelatina (0.05%) durante uma hora a 37°C.

Absorção dos eluatos: Diluiu-se o antígeno Ascaris suum 1:200 em PBS

– Tween (absorvente). Em seguida, diluíram-se os soros controle positivos e

Page 95: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

95

negativos 1/320 também no absorvente (PBS-T Ascaris) e incubou-se da

mesma forma que aos eluatos.

Após o bloqueio lavou-se as placas três vezes com PBS-Tween (5

minutos cada). Em seguida, adicionou-se nas placas100 μL dos eluatos em

duplicata e 200 μL do soro de paciente positivo (conhecido) previamente

absorvido, e nas fileiras seguintes colocou-se 100 μL de PBS-T em cada

orifício e passou-se 100 μL com a pipeta multicanal para as fileiras seguintes,

diluindo-se de forma seriada, desprezaram-se os últimos 100 μL. Colocou-se

100 μL dos soros padrão negativo absorvidos com PBS-T-Ascaris, assim como

os dois brancos com PBS-T, nos primeiros seis orifícios. Incubou-se a placa

por 40 minutos a 37º C. Após, lavou-se a placa três vezes (5 minutos cada)

com PBS-T. Em seguida, diluiu-se o conjugado enzimático anti-IgG marcado

com Peroxidase 1:5.000 em PBS-T-G, aplicou-se 100 μL em todos os orifícios

e incubou-se a 37º C por 40 minutos. Outro ciclo de lavagem, como descrita

anteriormente. Em seguida, fez a revelação com solução de

ortofenilenodiamino (OPD) em Tampão Citrato Fosfato, acrescido de 5 μL de

Peróxido de Hidrogênio (H2O2) 30%, adicionou-se 100 μL por orifício e incubou-

se em câmara escura à temperatura ambiente por 20 minutos; a reação foi

interrompida pela adição de 50ul solução de H2SO4 (ácido sulfúrico) 4N por

orifício. A leitura da placa foi efetuada em leitor de ELISA Multiskan com filtro

492 nm.

Análises estatísticas

A análise dos dados incluiu, inicialmente, a descrição da coorte, segundo

cada variável estudada, calculando-se as frequências absolutas e relativas e os

seus respectivos intervalos de confiança de 95%.

A seguir foi realizada a análise bivariada das variáveis socioeconômicas,

comportamentais e de condições de saúde, em função da sorologia positiva ou

Page 96: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

96

não para toxocaríase. Utilizou-se o teste exato de Fisher nas análises, visto

que a maioria das variáveis tinha um n menor que 5 em alguma das caselas.

Foi realizada regressão logística, considerando-se como variável

dependente a presença (sim ou não) de toxocaríase; as demais variáveis foram

variáveis preditoras. Utilizou-se o método Forward, onde foi adicionada uma

variável por vez, selecionando-se em primeiro lugar aquela que apresentou um

valor de correlação maior com a variável resposta, e assim sucessivamente.

Adotou-se o nível de significância de 10% 14.

As análises estatísticas foram realizadas nos softwares SAS 9.4 e Epi

Info 7.

Page 97: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

97

RESULTADOS

A incidência de toxocaríase nessa coorte foi 10,4 (8/77) para cada 100

crianças ano.

A tabela 1 apresenta a descrição das crianças que concluíram a coorte

(n=77), passando por todas as etapas do seguimento. A média de idade da

coorte foi de 7,7 anos e 63,6% eram do sexo masculino.

A tabela 2 apresenta o estudo bivariado da coorte em função da

sorologia positiva ou não para toxocaríase. No presente estudo não foi possível

verificar associação da toxocaríase com variáveis socioeconômicas,

comportamentais, bem como, com as condições de saúde.

O resultado da regressão logística mostrou que a asma foi fator de risco

para toxocaríase (p=0,083). As demais variáveis não apresentaram

significância estatística (Tabela 3).

Page 98: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

98

Tabela 1: Descrição das 77 crianças que concluíram a coorte, segundo as

características estudadas. Campinas-SP, 2015.

Variáveis n % IC 95%

Idade 7,7 ± 3,9

Sexo

Masculino 49 63,6 51,9-74,3

Feminino 28 36,4 25,7-48,1

Toxocaríase

Sim 8 10,4 4,6-19,5

Não 69 89,6 80,6-95,4

Urticária

Sim 4 5,2 1,4-12,8

Não 73 94,8 87,2-98,6

Sibilos nos últimos 15 dias

Sim 3 3,9 0,8-11,0

Não 74 96,1 89,0-99,2

Bronquite

Sim 1 1,3 0,0-7,0

Não 76 98,7 93,0-100,0

Ida ao Centro de Saúde por problemas respiratórios no último mês

Sim 4 5,2 1,4-12,8

Não 73 94,8 87,2-98,6

Tosse ou falta de ar nos últimos 15 dias Sim 15 19,5 11,3-30,1

Não 62 80,5 69,9-88,7

Page 99: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

99

Tabela 2: Análise bivariada da coorte com 73 crianças segundo a presença ou

não da sorologia positiva para Toxocara spp. Campinas-SP, 2015.

Toxocaríase

Variáveis Sim

Não p *

n % n %

Sexo Masculino 7 9,6

40 54,8

0,12 Feminino 1 1,4

25 34,2

Número de pessoas na residência

<6 6 8,2

38 52,1 0,21

>6 2 2,7

27 37,0

Número de pessoas que trabalham Não trabalha 6 8,2

39 53,5

0,22 1 ou mais pessoas 2 2,7

26 35,6

Escolaridade da mãe**

0 a 7 anos 3 4,1 27 37,0 0,29

8 anos e mais 5 6,9 38 52,0

Delimitador da residência Muro 8 11,0

59 80,8

0,48 Cerca 0 0,0

2 2,7

Nenhum 0 0,0

4 5,5

Presença de cão no domicílio

Sim 5 6,9

35 47,9 0,29

Não 3 4,1

30 41,1

Contato com cão Sim 7 9,6 52 71,2

0,35 Não 1 1,4

13 17,8

Presença de gato no domicílio

Sim 2 2,7

11 15,1 0,29

Não 6 8,2

54 74,0

Contato de gato no domicílio Sim 5 6,8

26 35,6

0,14 Não 3 4,1

39 53,4

Asma

Sim 4 5,6

14 19,4 0,08

Não 4 5,6

50 69,4 Bronquite

Sim 3 4,1

11 15,4 0,13

Não 5 6,9 53 73,6

Urticária

Sim 2 2,8

22 30,6

0,28 Não 6 8,3

42 58,3

* Fisher's Exact Test

** Na ausência da mãe foi perguntada a escolaridade do responsável pela criança

Page 100: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

100

Tabela 3: Modelo de regressão logística* para a coorte de 77 crianças com a

presença (sim/não) da sorologia para toxocaríase, segundo variáveis

estudadas. Campinas-SP, 2015.

Variáveis Qui-quadrado P

Asma 3,0 0,083

Delimitador da residência NC >0,1

Número de pessoas na residência NC >0,1

Presença de cão no domicílio NC >0,1

Contato com cão NC >0,1

Presença de gato no domicílio NC >0,1

Contato de gato no domicílio NC >0,1

* Método de seleção forward

NC: não calculado

Page 101: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

101

DISCUSSÃO

Os dados deste artigo indicam que a taxa de infecção por toxocaríase foi

de 8 em 77 crianças-ano acompanhadas ou de 10,4 para cada 100 crianças-

ano acompanhadas.

Em um estudo de incidência da toxocaríase que acompanhou crianças

que frequentavam uma creche dessa mesma região, Correa e Bismark (2010)15

verificaram uma taxa incidência, semelhante à encontrada neste estudo,

mostrando que a incidência da toxocaríase em crianças se mantém estável.

Essa estabilidade reforça a ideia de que a toxocaríase é uma doença

cosmopolita, pois, para se manter, ela se adapta às condições ambientais e

sociais.

Entre as variáveis independentes estudadas, apenas a presença de

asma na criança foi um fator de risco para ela vir a se tornar sorologicamente

positiva para a infecção por Toxocara. A relação entre asma e a toxocaríase já

foi relatada em vários estudos transversais 4,16,17 que mostraram a associação

entre essas duas variáveis, mas, por serem estudos transversais, eles não

permitiam dizer qual delas antecedeu cronologicamente à outra. Mas em

função do entendimento de que a toxocaríase produz uma resposta

inflamatória no hospedeiro entendia-se que a asma fosse consequência da

toxocaríase.

O presente estudo, por ser de coorte, encontrou que a presença de

asma precedeu à toxocaríase, encontrando, portanto uma relação inversa: ao

invés da toxocaríase favorecer o aparecimento da asma, foi encontrado que a

asma teria favorecido o aparecimento da toxocaríase ou, pelo menos, teria

antecedido à viragem sorológica. Tal fato deve ser analisado com cautela além

de demandar confirmação por estudos posteriores. Uma explicação seria o fato

de essas crianças já serem positivas e o exame não ter detectado, quer seja

por existir um intervalo entre o momento que a criança se infecta e a viragem

sorológica, e pode ter sido nesse período que a criança foi avaliada, quer seja

Page 102: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

102

porque o exame não tem sensibilidade de 100% 1. Outra explicação seria que

as condições ambientais que favoreceram o aparecimento da asma na criança,

também, favoreceriam a contaminação dessa criança por Toxocara. Assim a

asma seria entendida não apenas como uma doença, mas como proxy de

condições desfavoráveis que propiciariam a contaminação pelo parasito.

É importante salientar que na análise bivariada a variável “asma”

apresentou um valor de p= 0,08 e na análise crítica dos dados, foi possível

verificar que as crianças que tinham o histórico de asma, tiveram a sorologia

positiva para toxocaríase em maior proporção do que àquelas que não

apresentaram positividade para Toxocara. Por este motivo decidiu-se aplicar a

regressão logística, utilizando as variáveis que tiveram p=0,114.

Em relação o sexo, a maioria das crianças positivas foi do sexo

masculino. Quando os pesquisadores analisaram os dados pela primeira vez,

constataram que o número de meninos era superior ao de meninas. Esse fato

foi discutido com o coordenador da UBS e com o agente comunitário de saúde,

bem como foi abordado com algumas lideranças civis do território às quais os

pesquisadores tiveram acesso e a explicação encontrada mais plausível foi a

de que as famílias selecionavam os meninos para participar dessa pesquisa,

hipótese que ainda precisa ser confirmada.

A média de idade foi de 7,7 ± 3,9, o que é consistente com a faixa etária

utilizada em outros estudos e que apresentou maiores prevalências de

toxocaríase 18.

Anaruma e cols13 encontraram que, na mesma região, o delimitador da

residência era um fator que ajudava a prevenir a infecção por Toxocara. Essa

proteção estaria associada ao fato de que tais obstáculos limitariam o acesso

do cão ao peridomicílio. Essa associação não foi encontrada no presente

estudo pelo fato de que a quase totalidade das casas, tanto as casas das

crianças que se infectaram, como as casas das crianças que não se

infectaram, apresentavam delimitadores: portões, muros, cercas e assim não

poderia discriminar quem iria ou não se infectar com o parasito. Nem por isso

Page 103: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

103

houve modificação na epidemiologia. O que reforça a afirmação de que o

parasito é cosmopolita e se adapta às condições sociais vigentes no território.

Fan (2004)19 verificou que a alta prevalência de toxocaríase ocorreu de

forma semelhante nos indivíduos que tinham contato com cães e os que não

tinham, dessa maneira, sugeriu que os dois grupos apresentaram o mesmo

fator de risco para a infecção por Toxocara canis. É importante salientar que foi

relatado por vários responsáveis pelas crianças, que não tinham cães ou gatos

em casa, mas que a criança tinha contato diário com esses animais na casa de

outros familiares.

A escolaridade materna também foi outra variável que não apresentou

significância estatística e que corrobora com Ferreira et al (2000)20, que atribuiu

o declínio significativo da prevalência de enteroparasitoses em crianças

residentes no município de São Paulo ao índice de escolaridade da mãe e à

melhoria da renda observada nas últimas décadas. Mas é válido ressaltar que

este foi um estudo desenvolvido em um bairro de Campinas que tem baixo

IDH, em que 25% das grávidas têm menos de 20 anos de idade e com baixo

nível de escolaridade 21.

Um ponto que chama a atenção nesse estudo é a quantidade

significativa de crianças que abandonou a coorte. Essa perda ocorreu,

exclusivamente, pela mudança das famílias da região estudada, provavelmente

em virtude de fatores sociais que obrigaram a família a se mudar da região.

É importante salientar que o acesso às famílias e ao território em que

elas viviam foi feito com o conhecimento e anuência dos responsáveis pela

Unidade Básica de Saúde da região, e foi facilitado pelo agente comunitário de

saúde, responsável por aquela área. O período em que foi feita a coorte foi o

mesmo em que ocorreu a maior epidemia de dengue da história de Campinas e

que trouxe reflexos importantes para o trabalho pelo assoberbamento que

trouxe para o agente comunitário de saúde.

Page 104: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

104

O diagnóstico da toxocaríase é feito através da pesquisa de anticorpos.

Para isto, várias técnicas foram desenvolvidas, e a mais comum empregada

atualmente é o teste imunoenzimático ELISA, no qual se utilizam antígenos

larvários de excreção e secreção. O presente teste apresenta sensibilidade de

78% e especificidade de 92% 22, com esses dados pode-se avaliar a

capacidade dessa técnica identificar pessoas verdadeiramente positivas e

verdadeiramente negativas, pois um teste sensível raramente deixa de

encontrar pessoas com a doença e um teste específico raramente classificará

erroneamente pessoas que não tem a doença.

É válido ressaltar nessa discussão, que a presença de anticorpos anti-

Toxocara detectáveis não significa necessariamente infecção ativa. Reações

falso-positivas podem ocorrer em indivíduos com ascaridíase, esquistossomose

e filariose. Em virtude da não aderência da população de estudo para a

realização do parasitológico de fezes, não foi possível fazer a pesquisa de

geohelmintos nesse trabalho.

A maior parte das crianças infectadas por Toxocara será classificada

como assintomática, mas em virtude da quantidade de crianças que se infecta

é possível o aparecimento de manifestações clínicas mais severas que

comprometem a qualidade de vida das crianças. Se considerarmos que a

terapêutica da toxocaríase tem eficácia questionável2,23 o dado encontrado

neste estudo aponta para a necessidade de medidas preventivas no controle

dessa infecção.

CONCLUSÃO

O presente trabalho demonstrou que a toxocaríase apresenta uma taxa

de incidência de 10,4% em crianças.

Apresentou como fator de risco a asma. Contrariando o esperado nem a

posse de cão ou gato e nem o contato com ambos foi fator de risco para

soropositividade da toxocaríase.

Page 105: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

105

A conscientização dos profissionais da saúde, dos poderes públicos e

dos educadores de que a toxocaríase é um problema de saúde pública é

necessário e urgente, como também é importante à utilização de medidas de

prevenção e educativas no controle dessa parasitose.

Page 106: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

106

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem: à FAPESP (Processo nº. 2012/14134-6) pela

bolsa de doutorado de PMM. Fialho; à Drª. Guita Rubinsky Elefant pela

orientação nos testes.

Page 107: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

107

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Holland CV, Smith H. Toxocara: The Enigmatic Parasite.; 2006.

2. Carvalho EAA, Rocha R. Toxocariasis: visceral larva migrans in children. J Pediatr (Rio J). 2011;87(2):100-110. doi:http://dx.doi.org/10.2223/JPED.2074.

3. Chieffi PP, Ueda M, Camargo ED, Souza AMC de, Silva CL e, Nova AV, Guedes ML da S. Contacto domiciliar e profissional com cães como fatores de risco para infecção humana por larvas de Toxocara. Rev Inst Med Trop São Paulo. 1988;30:379-382.

4. Figueiredo SDP, Taddei JAAC, Menezes JJC, Novo NF, Silva EOM, Cristóvão HLG, Cury MCFS. Estudo clínico-epidemiológico da toxocaríase em população infantil. J Pediatr (Rio J). 2005;81:126-132.

5. Alderete JM, Jacob CM, Pastorino AC, Elefant GR, Castro AP, Fomin AB, Chieffi PP. Prevalence of Toxocara infection in schoolchildren from the Butantã region, São Paulo, Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2003;98:593-597.

6. Hotez PJ. Neglected Infections of Poverty in the United States of America. PLoS Negl Trop Dis. 2008;2(6):e256. doi:10.1371/journal.pntd.0000256.

7. Anaruma Filho F, Corrêa CRS, Ribeiro MCSA, Chieffi PP. Parasitoses intestinais em áreas sob risco de enchente no município de Campinas, estado de São Paulo, Brasil. Rev Patol Trop V 36 N 2 2007. October 2007. http://www.revistas.ufg.br/index.php/iptsp/article/view/1805.

8. Despommier D. Toxocariasis: Clinical Aspects, Epidemiology, Medical Ecology, and Molecular Aspects. Clin Microbiol Rev. 2003;16(2):265-272. doi:10.1128/CMR.16.2.265-272.2003.

9. Andrade LD de. ASPECTOS CLINICO-EPIDEMIOLOGICOS DA TOXOCARÍASE HUMANA. Rev Patol Trop. 2000;29(2):147-159. doi:10.5216/rpt.v29i2.17003.

10. Won KY, Kruszon-Moran D, Schantz PM, Jones JL. National Seroprevalence and Risk Factors for Zoonotic Toxocara spp. Infection. Am J Trop Med Hyg. 2008;79(4):552-557.

11. Núñez CR, Martínez GDM, Arteaga SY, Macotela MP, Montes PB, Durán NR. Prevalence and Risk Factors Associated with Toxocara canis Infection in Children. Sci World J. 2013;2013. doi:10.1155/2013/572089.

12. Fragoso RP, Monteiro MBM, Lemos EM, Pereira FEL. Anti-Toxocara antibodies detected in children attending elementary school in Vitoria, State of Espírito Santo, Brazil: prevalence and associated factors. Rev Soc Bras Med Trop. 2011;44(4):461-466.

Page 108: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

108

13. ANARUMA FILHO F, CHIEFFI PP, CORREA CRS, CAMARGO ED, SILVEIRA EPR da, ARANHA JJB, RIBEIRO MCSA. Human toxocariasis: a seroepidemiological survey in the municipality of Campinas (SP), Brazil. Rev Inst Med Trop São Paulo. 2002;44:303-307.

14. Greenland S, Poole C. Living with p values: resurrecting a Bayesian perspective on frequentist statistics. Epidemiol Camb Mass. 2013;24(1):62-68. doi:10.1097/EDE.0b013e3182785741.

15. Correa CRS, Bismarck CM. Toxocariasis: Incidence, Prevalence and the Time Serum remains Positive in School Children from Campinas, SP, Brazil. J Trop Pedriatrics. 2010;56(3):215-216. doi:10.1093/tropej/fmp095.

16. Taylor MRH, Keane CT, O’connor P, Anthony Girdwood RW, Smith H. Clinical Features of Covert Toxocariasis. Scand J Infect Dis. 1987;19(6):693-696. doi:10.3109/00365548709117206.

17. Buijs J, Borsboom G, Renting M, Hilgersom W, van Wieringen J, Jansen G, Neijens J. Relationship between allergic manifestations and Toxocara seropositivity: a cross-sectional study among elementary school children. Eur Respir J. 1997;10(7):1467-1475.

18. Roldán WH, Cavero YA, Espinoza YA, Jiménez S, Gutiérrez CA. Human toxocariasis: a seroepidemiological survey in the Amazonian city of Yurimaguas, Peru. Rev Inst Med Trop São Paulo. 2010;52:37-42.

19. Fan C-K, Hung C-C, Du W-Y, Liao C-W, Su K-E. Seroepidemiology of Toxocara canis infection among mountain aboriginal schoolchildren living in contaminated districts in eastern Taiwan. Trop Med Int Health. 2004;9(12):1312-1318. doi:10.1111/j.1365-3156.2004.01332.x.

20. Ferreira MU, Ferreira C dos S, Monteiro CA. Tendência secular das parasitoses intestinais na infância na cidade de São Paulo (1984-1996). Rev Saúde Pública. 2000;34:73-82.

21. PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Plano Diretor 2006. http://www.campinas.sp.gov.br/governo/seplama/publicacoes/planodiretor2006/pdfinal/cap3.pdf.

22. Glickman L, Schantz P, Dombroske R, Cypess R. Evaluation of Serodiagnostic Tests for Visceral Larva Migrans. Am J Trop Med Hyg. 1978;27(3):492-498.

23. Lescano SZ, Chieffi PP, Amato Neto V, Ikai DK, Ribeiro MCSA. Anti-helmínticos na toxocaríase experimental: efeito na recuperação de larvas de Toxocara canis e na resposta humoral. J Bras Patol E Med Lab. 2005;41:21-24.

Page 109: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

109

5 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO GERAL

A toxocaríase é uma doença cosmopolita, encontrada em diversos

países e que tem relevância clínica. Ela atinge todas as faixas etárias, mas as

crianças são as mais acometidas. Neste trabalho estudaram-se as prevalências

de toxocaríase nas diferentes publicações da literatura brasileira. Descreveu a

prevalência de toxocaríase em crianças com urticária, num estudo transversal

de base populacional no município de Campinas e num estudo de coorte

descreveu a incidência e os fatores de risco para a sorologia positiva para

Toxocara.

Para a construção da tese, bem como dos artigos, foi realizada a

pesquisa bibliográfica para o desenvolvimento da introdução e discussão.

Como esse levantamento, verificou-se que no Brasil não tínhamos nenhum

artigo de revisão que descrevesse a metodologia utilizada nos estudos sobre

toxocaríase no Brasil: qual a população de estudo, qual a população de

referência e qual a prevalência descrita em cada um deles. Essa constatação

possibilitou, e nos orientou, a desenvolver uma revisão sistemática da

literatura, o que culminou no desenvolvimento do primeiro artigo.

Os resultados do primeiro artigo mostraram que a toxocaríase apresenta

uma prevalência que varia de 4.2% a 65.4% nas diferentes regiões brasileiras.

Não foi possível realizar uma um estudo de meta-análise em virtude das

diferentes metodologias utilizadas nos estudos. A maioria dos estudos

descreveu uma prevalência superior a 20% bem como a associação com

outras morbidades importantes na saúde pública.

Nós constatamos que em nenhum dos trabalhos realizados no Brasil a

população de estudo foi selecionada de maneira aleatória. Um estudo

observacional de base populacional e que a população é amostrada de

maneira aleatória, minimiza os vieses de seleção e garante a reprodutibilidade

dos estudos na população de referência. Dessa forma, o segundo artigo que

Page 110: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

110

compõe essa tese realizou um estudo utilizando como delineamento o corte

transversal.

Este estudo encontrou uma prevalência de 38% de urticária e de 16% de

toxocaríase em crianças de 2 a 12 anos residentes em um bairro do município

de Campinas. Achado importante nesse trabalho diz respeito à associação da

sorologia positiva para Toxocara e a urticária. Achado já descrito na literatura

em 1995 por Wolfrom e colaboradores 33.

Outro ponto que vale a pena salientar foi a associação da urticária com o

número de pessoas que residem na mesma casa. Morar com menos de seis

pessoas no mesmo domicílio protegeu a criança de urticária. A presença ou o

contato com cão também protegeu a criança de urticária. Vale a pena salientar

que a quantidade de cães e gatos peridomicilados no local onde a pesquisa foi

realizada é alta. Verificamos que muitas crianças do bairro brincam diariamente

com esses animais e mesmos aqueles que não possuem o felino em casa tem

contato.

A escolaridade da mãe foi utilizada neste trabalho como indicativo da

condição socioeconômica da família. A região do presente estudo tem baixo

IDH, em que 25% das grávidas têm menos de 20 anos de idade e com baixo

nível de escolaridade 50.

Seguindo os aspectos éticos de toda pesquisa que envolve seres

humanos, todas as crianças diagnosticadas com toxocaríase nesse trabalho

foram tratadas e também foi informado a UBS da região sobre a

soropositividade das mesmas.

Cabe ressaltar que um dos objetivos deste trabalho seria, também,

verificar a positividade para parasitos em amostras de fezes, por meio da

realização de protoparasitológico. Porém, a não adesão da população a

realização do exame inviabilizou essa análise.

Objetivando-se descrever a incidência e os fatores de risco para

toxocaríase, nós realizamos um estudo longitudinal, o qual foi composto por

Page 111: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

111

todas as crianças que apresentarem sorologia negativa no estudo transversal.

A incidência de toxocaríase nessa coorte foi de 10,4 em 100 crianças-ano

acompanhadas.

O presente estudo apresenta como fator de risco para a sorologia

positiva para Toxocara, a asma. A relação entre essas duas morbidades já foi

relatada em outros estudos, porém com delineamento transversal 27,32,34 e com

essa metodologia não se permite dizer qual delas antecedeu cronologicamente

à outra. Mas em função do entendimento de que a toxocaríase produz uma

resposta inflamatória no hospedeiro entendia-se que a asma fosse

consequência da toxocaríase.

O nosso trabalho, por ter uma metodologia adequada, encontrou que a

presença de asma precedeu à toxocaríase, descrevendo, portanto uma relação

inversa: ao invés da toxocaríase favorecer o aparecimento da asma, foi

encontrado que a asma teria favorecido o aparecimento da toxocaríase ou,

pelo menos, teria antecedido à viragem sorológica. Tal fato deve ser analisado

com cautela além de demandar confirmação por estudos futuros.

O conhecimento do território nos permitiu identificar vários fatores e com

que ele tomar algumas decisões, uma delas foi como “olhar o dado”. A análise

crítica nos permitiu verificar vários fatores que muitas vezes ficariam sem

entendimento. O local de estudo é um local carente, que as pessoas vivem, em

sua maioria, com bolsa família e que a formação da família nem sempre é

como descrita na Constituição Federal.

Para o desenvolvimento desse trabalho foi necessário que fossemos

apresentados para os diferentes moradores e líderes de associação da região

e que identificássemos a melhor linguagem para abordagem. Todo esse

trabalho foi franqueado pelo agente comunitário de saúde responsável por

aquele território.

O período em que foi feita a coorte foi o mesmo em que ocorreu a maior

epidemia de dengue da história de Campinas e como o acesso às famílias e ao

Page 112: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

112

território foi facilitado pelo agente comunitário de saúde, e, isso trouxe reflexos

para o trabalho de campo e nos permitiu realizar apenas 1 coleta de sangue.

Em conclusão, esse estudo descreve que a prevalência de toxocaríase

no município de Campinas permanece semelhante à encontrada em outro

estudo realizado na mesma região em 2002 16.

São raríssimos os estudos de coorte realizados tanto no Brasil como em

outros países. Esse delineamento possibilita descrever: a incidência da

soropositividade para Toxocara, que em nosso estudo foi de 8 em 77 crianças

acompanhadas.

Com isso, demonstramos que a toxocaríase é uma parasitose prevalente

e incidente em nosso meio e que necessita da conscientização dos

profissionais da saúde, dos poderes públicos e dos educadores de que a

toxocaríase é um problema de saúde pública e que requer medidas preventivas

para que essa zoonose seja controlada.

Page 113: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

113

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Andrade LD de. Aspectos clinico-epidemiologicos da toxocaríase humana. Rev Patol Trop. 2000;29(2):147-159. doi:10.5216/rpt.v29i2.17003.

2. Magnaval J-F, Glickman LT, Dorchies P, Morassin B. Highlights of human toxocariasis. Korean J Parasitol. 2001;39(1):1-11. doi:10.3347/kjp.2001.39.1.1.

3. Despommier D. Toxocariasis: Clinical Aspects, Epidemiology, Medical Ecology, and Molecular Aspects. Clin Microbiol Rev. 2003;16(2):265-272. doi:10.1128/CMR.16.2.265-272.2003.

4. Glickman LT, Schantz PM. Epidemiology and Pathogenesis of Zoonotic Toxocariasis. Epidemiol Rev. 1981;3(1):230-250.

5. Sprent JFA. Visceral Larva Migrans. Aust J Biol Sci. 1963;25:344-354.

6. CDC. http://www.cdc.gov/parasites/toxocariasis. http://www.cdc.gov/parasites/toxocariasis.

7. Jacob CMA, Oselka GW. Toxocaríase na Infância. Pediatr São Paulo. 1991;13(2):48-55.

8. Campos Júnior D, Elefant GR, Silva EOM, Gandolfi L, Jacob CMA, Tofeti A, Pratesi R. Freqüência de soropositividade para antígenos de Toxocara canis em crianças de classes sociais diferentes. Rev Soc Bras Med Trop. 2003;36:509-513.

9. Alonso JM, Bojanich MVI, Chamorro M, Gorodner JO. Toxocara seroprevalence in children from a subtropical city in Argentina. Rev Inst Med Trop São Paulo. 2000;42:235-237.

10. Shields JA. Ocular toxocariasis. A review. Surv Ophthalmol. 1984;28(5):361-381. doi:10.1016/0039-6257(84)90242-X.

11. Ajayi O, Duhlinska D, Agwale S, Njoku M. Frequency of human toxocariasis in Jos, Plateau State, Nigeria. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2000;95:147-149.

12. Gueglio B, de Gentile L, Nguyen JM, Achard J, Chabasse D, Marjolet M. Epidemiologic approach to human toxocariasis in western France. Parasitol Res. 1994;80(6):531-536. doi:10.1007/BF00932703.

13. Lynch N, Hagel I, Vargas V, Rotundo A, Varela M, Di Prisco M, Hodgen AN. Comparable seropositivity for ascariasis and toxocariasis in tropical

Page 114: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

114

slum children. Parasitol Res. 1993;79(7):547-550. doi:10.1007/BF00932238.

14. Baboolal S, Rawlins SC. Seroprevalence of toxocariasis in schoolchildren in Trinidad. Trans R Soc Trop Med Hyg. 2002;96(2):139-143. doi:10.1016/S0035-9203(02)90281-6.

15. Fialho PMM, Corrêa CRS. Toxocaríase, asma e índice de massa corporal em crianças e adolescentes em Campinas-SP, 1996 a 1998. Epidemiol E Serviços Saúde. 2014;23:361-368.

16. Anaruma Filho F, Chieffi PP, Correa CRS, Camargo ED, Silveira EPR, Aranha JJB, ribeiro MCSA. Human toxocariasis: a seroepidemiological survey in the municipality of Campinas (SP), Brazil. Rev Inst Med Trop São Paulo. 2002;44:303-307.

17. Nuttall GHF, Strickland C. Note on the Prevalence of Intestinal Worms in Dogs in Cambridge. Parasitology. 1908;1(03):261-262. doi:10.1017/S0031182000003504.

18. Perlingiero JG, György P. Chronic eosinophilia: Report of a case with necrosis of the liver, pulmonary infiltrations, anemia and ascaris infestation. Am J Dis Child. 1947;73(1):34-43. doi:10.1001/archpedi.1947.02020360041003.

19. Mercer RD, Lund HZ, Bloomfield RA, Caldwell FE. Larval ascariasis as a cause of chronic eosinophilia with visceral manifestations. Am J Dis Child. 1950;80(1):46-58. doi:10.1001/archpedi.1950.04040020053005.

20. Wilder HC. Nematode endophthalmitis. Trans Am Acad Ophthalmol Otolaryngol. 1950;55:99-109.

21. Beaver PC, Snyder CH, Carrera GM, Dent JH, Lafferty JW. Chronic Eosinophilia due to Visceral Larva Migrans: Report of Three Cases. Pediatrics. 1952;9(1):7-19.

22. Beaver PC. The Nature of Visceral Larva Migrans. J Parasitol. 1969;55(1):3-12. doi:10.2307/3277335.

23. Smith H, Holland C, Taylor M, Magnaval J-F, Schantz P, Maizels R. How common is human toxocariasis? Towards standardizing our knowledge. Trends Parasitol. 2009;25(4):182-188. doi:10.1016/j.pt.2009.01.006.

24. Pawlowski Z. Toxocariasis in humans: clinical expression and treatment dilemma. J Helminthol. 2001;75(04):299-305. doi:10.1017/S0022149X01000464.

25. Elefant, G, Jacob, CMA, Rkanashiro, EHY, Peres, BA. Toxocaríase. Em: Antonio Walter Ferreira; Sandra Do Lago Moraes. (Org.). Diagnóstico de

Page 115: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

115

Laboratório Das Principais Doenças Infecciosas E Parasitárias. 2nd ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001.

26. Alonso JM, López MDLA, Bojanich MV, Marull J. Infección por Toxocara canis en población adulta sana de un área subtropical de Argentina. Parasitol Latinoam. 2004;59:61-64.

27. Figueiredo SDP, Taddei JAAC, Menezes JJC, Novo NF, Silva EOM, Cristóvão HLG, Cury MCFS. Estudo clínico-epidemiológico da toxocaríase em população infantil. J Pediatr (Rio J). 2005;81:126-132.

28. Tonelli E. Toxocaríase e asma: associação relevante. J Pediatr (Rio J). 2005;81:95-96.

29. Gavignet B, Piarroux R, Aubin F, Millon L, Humbert P. Cutaneous manifestations of human toxocariasis. J Am Acad Dermatol. 59(6):1031-1042. doi:10.1016/j.jaad.2008.06.031.

30. Finsterer J, Auer H. Neurotoxocarosis. Rev Inst Med Trop São Paulo. 2007;49:279-287.

31. Salvador S, Ribeiro R, Winckler MI, Ohlweiler L, Riesgo R. Neurotoxocaríase infantil com acometimento cerebral, cerebelar, e periférico simultâneo: relato de caso e revisão da literatura. J Pediatr (Rio J). 2010;86:531-534.

32. Taylor MRH, Keane CT, O’connor P, Anthony Girdwood RW, Smith H. Clinical Features of Covert Toxocariasis. Scand J Infect Dis. 1987;19(6):693-696. doi:10.3109/00365548709117206.

33. Wolfrom E, Chêne G, Boisseau H, Beylot C, Géniaux M, Taïeb A. Chronic urticaria and Toxocara canis. The Lancet. 345(8943):196.

34. Buijs J, Borsboom G, Renting M, Hilgersom W, van Wieringen J, Jansen G, Neijens J. Relationship between allergic manifestations and Toxocara seropositivity: a cross-sectional study among elementary school children. Eur Respir J. 1997;10(7):1467-1475.

35. von Mutius E, Schwartz J, Neas L, Dockery D, Weiss S. Relation of body mass index to asthma and atopy in children: the National Health and Nutrition Examination Study III. Thorax. 2001;56(11):835-838. doi:10.1136/thorax.56.11.835.

36. Chan PW, Anuar AK, Fong MY, Debruyne JA, Ibrahim J. Toxocara seroprevalence and childhood asthma among Malaysian children. Pediatr Int. 2001;43(4):350-353. doi:10.1046/j.1442-200X.2001.01421.x.

37. Ponte EV, Rizzo JÂ, Cruz ÁA. Inter-relação entre asma, atopia e infecções helmínticas. J Bras Pneumol. 2007;33:335-342.

Page 116: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

116

38. Gavignet B, Piarroux R, Aubin F, Millon L, Humbert P. Cutaneous manifestations of human toxocariasis. J Am Acad Dermatol. 2008;59(6):1031-1042. doi:10.1016/j.jaad.2008.06.031.

39. Worley G, Green JA, Frothingham TE, Sturner RA, Walls KW, Pakalnis VA, Ellis GS. Toxocara canis Infection: Clinical and Epidemiological Associations with Seropositivity in Kindergarten Children. J Infect Dis. 1984;149(4):591-597. doi:10.1093/infdis/149.4.591.

40. Calixto M, Lintomen L, Schenka A, Saad M, Zanesco A, Antunes E. Obesity enhances eosinophilic inflammation in a murine model of allergic asthma. Br J Pharmacol. 2010;159(3):617-625. doi:10.1111/j.1476-5381.2009.00560.x.

41. Maizels RM. Exploring the immunology of parasitism – from surface antigens to the hygiene hypothesis. Parasitology. 2009;136(Special Issue 12):1549-1564. doi:10.1017/S0031182009006106.

42. Rubinsky-Elefant G, Hirata CE, Yamamoto JH, Ferreira MU. Human toxocariasis: diagnosis, worldwide seroprevalences and clinical expression of the systemic and ocular forms. Ann Trop Med Parasitol. 2010;104(1):3-23. doi:10.1179/136485910X12607012373957.

43. Chieffi PP, Santos SV dos, Queiroz ML de, Lescano SAZ. Human toxocariasis: contribution by Brazilian researchers. Rev Inst Med Trop São Paulo. 2009;51:301-308.

44. Schantz PM. Toxocara Larva Migrans now. Am J Trop Med Hyg. 1989;41(3 Part 2):21-34.

45. Lescano SZ, Chieffi PP, Amato Neto V, Ikai DK, Ribeiro MCSA. Anti-helmínticos na toxocaríase experimental: efeito na recuperação de larvas de Toxocara canis e na resposta humoral. J Bras Patol E Med Lab. 2005;41:21-24.

46. Secretaria Municipal de Saúde de Campinas. http://2009.campinas.sp.gov.br/saude/tabnet-home/index.htm. http://2009.campinas.sp.gov.br/saude/tabnet-home/index.htm.

47. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.. http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=350950&search=sao-paulo|campinas. http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=350950&search=sao-paulo|campinas.

48. Lohman T, Roche A, Martorell R. Anthropometric Standardization Reference Manual. Illinois: Human Kinetics Books; 1988.

Page 117: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

117

49. Greenland S, Poole C. Living with p values: resurrecting a Bayesian perspective on frequentist statistics. Epidemiol Camb Mass. 2013;24(1):62-68. doi:10.1097/EDE.0b013e3182785741.

50. Prefeitura Municipal de Campinas. Plano Diretor 2006. http://www.campinas.sp.gov.br/governo/seplama/publicacoes/planodiretor2006/pdfinal/cap3.pdf.

51. Marchioro AA, Colli CM, Ferreira ÉC, Viol BM, Araújo SM, Falavigna-Guilherme AL. Risk factors associated with toxoplasmosis and toxocariasis in populations of children from nine cities in southern Brazil. J Helminthol. 2014;FirstView:1-5. doi:10.1017/S0022149X14000212.

52. Cassenote AJF, de Abreu Lima AR, Pinto Neto JM, Rubinsky-Elefant G. Seroprevalence and Modifiable Risk Factors for Toxocara spp. in Brazilian Schoolchildren. PLoS Negl Trop Dis. 2014;8(5):e2830. doi:10.1371/journal.pntd.0002830.

53. Negri EC, Santarém VA, Rubinsky-Elefant G, Giuffrida R. Anti-Toxocara spp. antibodies in an adult healthy population: serosurvey and risk factors in Southeast Brazil. Asian Pac J Trop Biomed. 2013;3(3):211-216. doi:10.1016/S2221-1691(13)60052-0.

54. Guilherme EV, Marchioro AA, Araujo SM, Falavigna DLM, Adami C, Falavigna-Guilherme G, Rubinsky-Elefant G, Falavigna-Guilherme AL. Toxocariasis in children attending a Public Health Service Pneumology Unit in Paraná State, Brazil. Rev Inst Med Trop São Paulo. 2013;55:189-192.

55. Schoenardie ER, Scaini CJ, Brod CS, Pepe MS, Villela MM, McBride AJA, Borsuk S, Berne MEA. Seroprevalence of Toxocara Infection in Children from Southern Brazil. J Parasitol. 2013;99(3):537-539. doi:10.1645/GE-3182.

56. Prestes-Carneiro LE, Rubinsky-Elefant G, Ferreira AW, Araujo PR, Troiani C, Zago SC, Kaiahara M, Sasso L, Iha A, Vaz A. Seroprevalence of toxoplasmosis, toxocariasis and cysticercosis in a rural settlement, São Paulo State, Brazil. Pathog Glob Health. 2013;107(2):88-95. doi:10.1179/2047773213Y.0000000079.

57. Manini MP, Marchioro AA, Colli CM, Nishi L, Falavigna-Guilherme AL. Association between contamination of public squares and seropositivity for Toxocara spp. in children. Vet Parasitol. 2012;188(1–2):48-52. doi:http://dx.doi.org/10.1016/j.vetpar.2012.03.011.

58. Mattia S, Colli CM, Adami CM, Guilherme GF, Nishi L, Rubinsky-Elefant G, Marchioro AA, Gomes ML, Falavigna-Guilherme AL. Seroprevalence of Toxocara infection in children and environmental contamination of urban

Page 118: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

118

areas in Paraná State, Brazil. J Helminthol. 2012;86(04):440-445. doi:10.1017/S0022149X11000666.

59. Fragoso RP, Monteiro MBM, Lemos EM, Pereira FEL. Anti-Toxocara antibodies detected in children attending elementary school in Vitoria, State of Espírito Santo, Brazil: prevalence and associated factors. Rev Soc Bras Med Trop. 2011;44(4):461-466.

60. Marchioro AA, Colli CM, Mattia S, Paludo ML, Melo GC de, Adami CM, Pelloso SM, Guilherme ALF. Avaliação eosinofílica e soropositividade para anticorpos IgG anti-Toxocara em crianças atendidas pelo Sistema Único de Saúde. Rev Paul Pediatr. 2011;29:80-84.

61. Santarém VA, Leli FNC, Rubinsky-Elefant G, Giuffrida R. Protective and risk factors for toxocariasis in children from two different social classes of Brazil. Rev Inst Med Trop São Paulo. 2011;53:66-72.

62. Correa CRS, Bismarck CM. Toxocariasis: Incidence, Prevalence and the Time Serum remains Positive in School Children from Campinas, SP, Brazil. J Trop Pedriatrics. 2010;56(3):215-216. doi:10.1093/tropej/fmp095.

63. Colli CM, Rubinsky-Elefant G, Paludo ML, Falavigna DLM, Guilherme EV, Mattia S, Araujo SM, Ferreira É, Previdelli ITS, Falavigna-Guilherme AL. Serological, clinical and epidemiological evaluation of toxocariasis in urban areas of south Brazil. Rev Inst Med Trop São Paulo. 2010;52:69-74.

64. Prestes-Carneiro LE, Souza DHP, Moreno GC, Troiani C, Santarém V, Zago SCS, Miguel NA, Freitas SBZ, Faria R, Martini L, Rubinsky-Elefant G, IHA A, Vaz AJ. Toxocariasis/cysticercosis seroprevalence in a long-term rural settlement, São Paulo, Brazil. Parasitology. 2009;136(06):681-689. doi:10.1017/S0031182009005769.

65. Prestes-Carneiro LE, Santarém V, Zago SCS, Miguel NA, Zambelli S de F, Villas R, Vaz AJ, Rubinsky-Elefant G. Sero-epidemiology of toxocariasis in a rural settlement in São Paulo state, Brazil. Ann Trop Med Parasitol. 2008;102(4):347-356. doi:10.1179/136485908X278801.

66. Mendonça LR, Figueiredo CA, Esquivel R, Fiaccone RL, Pontes-de-Carvalho L, Cooper P, Barreto ML, Alcantara-Neves NM. Seroprevalence and risk factors for Toxocara infection in children from an urban large setting in Northeast Brazil. Acta Trop. 2013;128(1):90-95. doi:10.1016/j.actatropica.2013.06.018.

67. Mendonça LR, Veiga RV, Dattoli VCC, Figueiredo CA, Fiaccone R, Santos J, Cruz ÁA, Rodrigues LC, Cooper PJ, Pontes-de-Carvalho LC, Barreto ML, Alcantara-Neves NM. Toxocara Seropositivity, Atopy and Wheezing in Children Living in Poor Neighbourhoods in Urban Latin American. Brooker S, ed. PLoS Negl Trop Dis. 2012;6(11):e1886. doi:10.1371/journal.pntd.0001886.

Page 119: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

119

68. Souza RF, Dattoli VCC, MendonÃ\Sa LR, Jesus JR de, Baqueiro T, Santana C de C, Santos NM, Barrouin-Melo SM, Alcantara-Neves NM. Prevalência e fatores de risco da infecção humana por Toxocara canis em Salvador, Estado da Bahia. Rev Soc Bras Med Trop. 2011;44:516-519.

69. Dattoli VCC, Freire SM, Mendonça LR, Santos PC, Meyer R, Alcantara-Neves NM. Toxocara canis infection is associated with eosinophilia and total IgE in blood donors from a large Brazilian centre. Trop Med Int Health. 2011;16(4):514-517. doi:10.1111/j.1365-3156.2010.02719.x.

70. Oliart-Guzmán H, Delfino BM, Martins AC, Mantovani SAS, Braña AM, Pereira TM, Branco FLCC, Ramalho AA, Campos RG, Fontoura PS, de Araujo TS, de Oliveira CSM, Muniz PT, Rubinsky-Elefant G, Codeço CT, da Silva-Nunes M. Epidemiology and Control of Child Toxocariasis in the Western Brazilian Amazon – A Population-Based Study. Am J Trop Med Hyg. 2014;90(4):670-681. doi:10.4269/ajtmh.13-0506.

71. Rubinsky-Elefant G, da Silva-Nunes M, Malafronte RS, Muniz PT, Ferreira MU. Human Toxocariasis in Rural Brazilian Amazonia: Seroprevalence, Risk Factors, and Spatial Distribution. Am J Trop Med Hyg. 2008;79(1):93-98.

Page 120: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

120

APÊNDICE A - TCLE

Page 121: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

121

APÊNDICE B - Questionário

QUESTIONÁRIO

Data :____/____/____

Nome da criança:________________________________________________________

Nome da mãe ou responsável:______________________________________________

Endereço:______________________________________________________________

MÓDULO I - CONDIÇÕES DEMOGRÁFICAS E SOCIOECONOMICAS

1- Data de nascimento:____/____/_____ 2- Sexo: ( ) masculino ( ) feminino

3- Número de pessoas na residência:

4- Escolaridade da mãe (em anos de estudo):

5-Quantas pessoas trabalham na casa?

6- Usa ou já usou lenha ( ) Sim ( ) Não Há quanto

tempo?__________

7- Presença de cão no domicílio ( ) Sim ( ) Não 8- Contato com

cão

( ) Sim

( ) Não

9- Presença de gato no domicílio ( ) Sim ( ) Não 10- Contato com

gato

( ) Sim

( ) Não

11-Condições de habitação :

( ) alvenaria ( ) madeira ( ) barro ( ) metal

(latas ou folhas de zinco) ( )

outro____________

12- Delimitador de residência: ( ) muro ( ) cerca de arame ( ) nenhum

MÓDULO II - COMPORTAMENTOS RELACIONADOS À SAÚDE

1- Fuma ( ) Sim ( ) Não 2- Já fumou? ( ) Sim ( ) Não

Quanto tempo?_________________ 3- Alguém mais na casa

fuma? ( ) Sim ( ) Não

Colar

etiqueta!

Page 122: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

122

MÓDULO III - CONDIÇÕES DE SAÚDE

1- Histórico de asma ( ) Sim

( ) Não

2- Histórico de

urticária ( ) Sim ( ) Não

3- A criança foi a algum serviço de saúde por problema respiratório no último

mês? ( ) Sim ( ) Não

3- A criança teve bronquite este mês ? ( ) Sim ( ) Não

4- A criança internou por bronquite , pneumonia ou asma este mês? ( ) Sim ( ) Não

5- A criança acordou à noite nos últimos 15 dias, por tosse ou falta de ar? ( ) Sim ( ) Não

MÓDULO IV - ANTROPOMETRIA

1- Peso em quilos: ______________kg

2-Estatura em metros: _______________m

Page 123: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

123

APÊNDICE C – Questionário Follow-up

Page 124: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

124

APÊNDICE D – Artigo aceito para publicação no AJTMH

Page 125: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

125

ANEXO 1 – Comitê de Ética UNICAMP

Page 126: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

126

Page 127: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

127

Page 128: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

128

ANEXO 2 – Comitê de Ética USP

Page 129: TOXOCARÍASE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS. UM ESTUDO DE …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/312529/1/Fialho... · 2018-08-30 · LMV Larva Migrans Visceral NT Neurotoxocariasis

129

ANEXO 3 – Autorização Secretaria de Saúde de Campinas