toxicidade in vitro da planta pteridium aquilinum :...
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Toxicidade in vitro da planta Pteridium aquilinum : avaliação em sangue bovino
Elcio Airton Fidelis1, Mary Anne Tomacheski1, Claudia Consuelo do Carmo Ota2
1 Acadêmicos do curso de Tecnologia em Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba, PR); 2 Bióloga, Prof. Dnda. Universidade Tuiuti do Paraná Endereço para correspondência: Elcio Airton Fidelis, [email protected] RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo avaliar a citotoxicidade do
extrato de Pteridium aquilinum em eritrócitos bovinos, obtidos de sangue
periférico. Foram avaliadas diferentes extratos obtidos a partir do broto, da
folha e broto/folha. Todos os extratos foram avaliados nas seguintes diluições
2:1; 1:1 e 1:2 (extrato + células). Os quais foram incubados com 2x 106 células
levados à agitação por 20 minutos. Em seguida foram feitas a contagem e a
viabilidade das células, em câmaras de Neubauer com auxílio de microscópio
de luz. Como também foi realizado o teste MTT (3-(4,5-dimetiltiazol-2yl)-2,5-
difenil brometo de tetrazolina), para verificar a viabilidade celular para possível
comparação das análises, através de três diluições.
Palavras-chave: Pteridium aquilinum, citotoxicidade, planta tóxica.
ABSTRACT .The present work had as objective to evaluate the cytotoxicity of
the extract of the toxic plant Pteridium aquilinum in bovine erythrocytes, gotten
of peripheral blood. Different extracts gotten from the sprout had been
evaluated, of the leaf and sprout/leaf. All the extracts had been evaluated in the
following dilutions 2:1; 1:1 and 1:2 (extract + cells). Which had been incubation
with 2x106 cells taken to the agitation for 20 minutes. After that the counting and
the viability of the cells had been made, in chambers of Neubauer with aid of
light microscope. As well as test MTT (3-(4,5-dimethylthiazol-2yl)-2,5-diphenyl
bromide tetrazolina) was carried through to verify the cellular viability for
possible comparison of the analyses,through three dilutions.
Keywords: Pteridium aquilinum, cytotoxicity, toxic plant.
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INTRODUÇÃO
A planta Pteridium aquilinum é conhecida popularmente como
samambaia, samambaia das taperas e samambaia do campo (TOKARNIA, et
al 2000, 2002). É uma planta perene, rizomatosa, herbácea, ereta e ramificada,
medindo entre 50 a 180 cm de altura. (MARÇAL, 2002).
A P. aquilinum é muito conhecida como planta invasora, porém, no
Brasil, poucos sabem ou aceitam que ela é uma das plantas tóxicas mais
importantes. Ela é encontrada em regiões tropicais e temperadas. Distribui-se,
praticamente, por todo o Brasil, mas é encontrada principalmente na região sul
do país, como também há indícios de sua presença na América do Norte e
América Central, na Cordilheira do Andes e África (PAGE, 1976). Esta planta é
encontrada em solos ácidos, arenosos e de baixa fertilidade. Isto ocorre, devido
o excesso de hidratos de carbono armazenado em seu rizoma, ocorrendo
crescimento rápido e com propagação em matas ciliares, capoeiras, beiras de
matas e estradas (CRUZ, et.al. 2004).
Para o gado, um dos principais fatores que envolvem à ingestão da
planta é a superlotação do pasto e, principalmente, a fome. Os princípios ativos
tóxicos presentes na planta são responsáveis pelas intoxicações. Entre eles,
encontra-se o ptaquilosídeo um grupo glicosídeios norsesquiterpenos iludano
que causa intoxicação aguda. Este composto produz tumor intestinal e de
bexiga. E é principalmente encontrado nos brotos aéreos, caule subterrâneo e
folhas (MARÇAL, 2001). A toxicidade também varia em função do estágio de
crescimento da planta e da época do ano, sendo mais tóxica as plantas mais
jovens. As porções do caule que ficam enterradas e as folhas novas da
samambaia também contém o principio tóxico em concentração cinco vezes a
mais do que a encontrada nas folhas maduras (RIET-CORREA, et.al 2001).
Nos ruminantes, ocorrem duas síndromes principais. A ingestão das
plantas por duas a quatro semanas causa doença hemorrágica amplamente
conhecida como intoxicação por samambaia. A ingestão de quantidades bem
menores de samambaias durante muitos anos provoca hematúria enzoótica
bovina. (Hirono, et al. 1972)
Essa intoxicação pela samambaia em ruminantes manifesta-se pela
redução da atividade da medula, aumentando as fragilidades capilares,
ocorrendo hemorragia nas paredes da bexiga de forma intermitente, resultando
em perda contínua de sangue. As mortes são causadas pela anemia
decorrente dessa hemorragia (OTTO, et. al. 2002).
Inicialmente, ocorrem perdas da condição da saúde, secura e falta de
elasticidade da pele. Os sintomas clínicos manifestam-se de maneira súbita e
consistem em febre alta (40,5 – 43º C), diarréia intensa com disenteria ou
melena na maioria dos casos, sangramentos pelas narinas, olhos e vagina,
bem como salina pendente da boca (OTTO, et. al. 2002).
Deste modo este trabalho teve por objetivo verificar a toxicidade da
planta P. aquilinum em meio a eritrócitos bovinos, pelo teste de ação hemolítica
in vitro e pelo teste do 3-(4,5-dimetiltiazol-2yl)-2,5-difenil brometo de tetrazolina
(MTT).
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram coletadas amostras da planta P. aquilinum, na Chácara
Domacoski (Rodovia dos Minérios, km 15,5, Almirante Tamandaré / PR). As
plantas, ainda na fase jovem, em desenvolvimentos (formação de brotos),
foram levadas ao Biotério do Jardim Botânico, situado na Rua Eng°. Ostoja
Roguski – bairro Jardim Botânico para sua identificação pelo biólogo Eraldo
Barbosa.
Estas amostras foram separadas para preparação de três extratos
(folha, broto e broto/folha) sendo maceradas com o auxílio de um gral. Depois
foram pesadas (para cada amostra) 5 gramas da planta para obter um extrato
de 5% com a solução de PBS (Phosphate Buffered Saline).
As amostras de sangue bovino foram coletadas em tubos específicos
com anticoagulante EDTA antes das avaliações. As amostras (n=5) foram
cedidas voluntariamente pela fazenda Veterinária da UFPR e por dois
proprietários situados na região de Almirante Tamandaré – PR.
Teste de avaliação hemolítica
A metodologia utilizada para a análise foi baseada nas análises de
PEQUENO (et. al, 2005), com algumas modificações.
As análises de toxicidade foram feitas em tubos de ensaio. Para cada
tubo de ensaio utilizado no experimento, foram feitas as seguintes diluições:
• 2:1 → Extrato + células.
• 1:1 → Extrato + células.
• 1:2 → Extrato + células.
Nas análises realizadas foram feitas em triplicatas, com cada uma
contendo os seguintes controles:
•Número de células 2x106.
•Número de células mais solução de PBS (controle negativo);
•Número de células mais solução hemolítica (controle positivo);
•Número de células mais extrato do broto P. aquilinum;
•Número de células mais extrato do broto e folha P. aquilinum; e,
•Número de células mais extrato da folha P. aquilinum.
Após as respectivas diluições, as amostras foram levadas à
incubação sob homogeneização contínua por 20 minutos em um agitador. Logo
após, foi feita a contagem das células com o auxilio da Câmara de Neubauer.
O corante utilizado para a avaliação da viabilidade celular foi o corante
Azul de Tripan à 0,4%. A viabilidade das células foi avaliada por observação
direta das preparações em Câmara de Neubauer, em microscopia óptica,
conforme a exclusão do corante. As células que se coraram em azul estavam
mortas, enquanto que as brilhantes e refringentes à luz internas quando da
contagem 99% das células linfóides estavam vivas.
Teste do MTT
A metodologia utilizada para a análise do MTT foi baseada nas análises
de PEREZ (et. al, 2008), com algumas modificações.
Após a coleta do sangue, foi feita a contagem de células na Câmara de
Neubauer com o corante Azul de Tripan à 0,4%. Cada amostra utilizada teve
uma concentração de células de 2x106.
As análises de toxicidade foram feitas em microtúbulos (ependorfs). As
amostras foram feitas em triplicatas e para cada variável utilizada foram feitas
as seguintes doses:
• Dose I → 1:2 (extrato+ células).
• Dose II → 1:1(extrato+ células).
• Dose III → 2:1(extrato+ células).
Após realizadas as dosagens, aguardaram-se 30 minutos. Logo adiante,
as amostras foram levadas à centrifugação a 1.200 rpm por 8 minutos, o
sobrenadante foi descartado. Foram pipetados 10 µl de MTT e 90 µl de meio
enriquecido a 5 % de solução de soro fetal bovino em meio RPMI. As amostras
foram encubadas por 3 horas a 37 º C em uma estufa.
Logo após a incubação, as amostras foram levadas à centrifuga nas
mesmas condições anteriormente citadas. O sobrenadante foi desprezado. E
as amostras foram ressuspensas com 100 µl da solução DMSO. As amostras
foram colocadas em placa ELISA, agitadas e analisadas em espectrofotômetro
(ELISA) em comprimento de onda de 550 nm.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os métodos de obtenção e técnicas empregadas permitiram verificar a
viabilidade das células e sua citotoxicidade nos extrato da planta Pteridium
aquilinum. A viabilidade das células pode ser verificada nos gráficos abaixo:
folha broto broto e folha0
20
40
60
80
100inicial2:11:11:2
animal
% d
e cé
lula
s vi
ávei
s
Gráfico 01: teste de avaliação hemolítica
Os resultados da análise de ação hemolítica no sangue bovino exposto
ao extrato da planta Pteridium aquilinum, encontram-se sumarizados no gráfico
01, no qual apresenta o número de células ainda viáveis nas seguintes
diluições: 2:1, 1:1, 1:2, para os extratos da folha, broto e broto/folha.
Foram evidenciados no gráfico, alterações nos resultados sobre a
toxicidade da planta nas seguintes proporções:
• Para o extrato folha/broto, foi verificado que na diluição 2:1,
apresentaram um resultado próximo a 20% de células viáveis, seguido
de 30% das folhas e 50% do broto, em comparação com o controle sem
a adição de extrato.
• Para o extrato da folha/broto, foi verificado que na diluição 1:1,
apresentaram um resultado próximo a 20 % de células viáveis, seguidos
de 30% das folhas e 70% do broto,em comparação com o controle sem
a adição de extrato.
• Para o extrato do broto, foi verificado que na diluição 1:2 apresentou um
resultado próximo à 40 % de células viáveis, seguidos de 45% das
folhas e 45% do folha/broto, em comparação com o controle sem a
adição de extrato.
Todos os resultados foram analisados conforme o padrão utilizado de
100% de células viáveis.
Gráfico 02. Teste avaliação MTT nas doses, controles positivo e negativo
(amarelo), dose 1:2 (preto), dose 1:1 (azul) e dose 2:1 (vermelho).
Os resultados da análise do MTT em sangue bovino contaminado com o
extrato da planta Pteridium aquilinum, encontram-se sumarizados no gráfico
02, no qual apresenta o número de células ainda viáveis nas seguintes
diluições:1:2 , 1:1 e 2:1 para os extratos da folha, broto e broto/folha.
Foram evidenciados no gráfico, alterações nos resultados sobre a
toxicidade da planta nas seguintes proporções:
• Para o extrato do broto, foi verificado que em todas as diluições ele foi o
mais tóxico dentre as variáveis.
• Para o extrato da folha, foi verificado que a maior toxicidade ocorreu na
diluição 1:1, seguido da diluição 1:2 e 2:1.
• Para o extrato da folha/broto, foi verificado que na diluição 1:2
apresentou a maior toxicidade, seguido da diluição 2:1 e 1:1.
Com relação as análises realizadas podemos verificar que há uma
grande toxicidade no sangue bovino com o extrato da planta P. aquilinum, por
não existir um tratamento eficaz dessa intoxicação aos bovinos o único
tratamento existente é profilático, que envolve apenas a remoção das
samambaias nas pastagens como também o abate do animal.
Por questões financeiras, o produtor leva o animal doente para
abatedouros, repassando essa toxicidade para consumidor final. Sendo este
tema um caso de saúde publica.
CONCLUSÃO:
Pode-se concluir através de ensaios preliminares que o extrato aquoso
do broto/folha da planta P. aquilinum , para o teste de hemólise, nas diluições
1:1 e 2:1 são os mais tóxicos, seguido do extrato da folha. E em comparação
com o teste do MTT, os extratos do broto foram os mais tóxicos, seguidos do
extrato broto/folha, conclusão obtida devido a presença de saponinas no
extrato aquoso do broto, pois esta interfere na parede celular hemolisando a
célula.
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