“tornar-se mãe” maternidades contemporâneas no país basco
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Exceto onde especicado diferentemente, a matria publicada neste peridico licenciada sob forma de uma licena Creative Commons - Atribuio 4.0 Internacional.http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
Resenha
:http://dx.doi.org/10.15448/1984-7289.2015.2.17957
Tornar-se meMaternidades contemporneas no Pas Basco
Becoming mother
Contemporary maternities in the Basque Country
Heloisa Regina Souza*
Resenha de:
IMAZ MARTNEZ, Elixabete. Convertirse en madre: etnografadel tiempo de la gestacin. Madrid: Ediciones Ctedra, 2010.
Convertirse en madre: etnografa del tiempo de la gestacin, da
antroploga Elixabete Imaz Martnez, aborda a maternidade contempornea
atravs de uma densa etnograa do perodo da gestao, realizada com
mulheres gestantes do Pas Basco que estavam em processo de se tornarem
mes pela primeira vez. Atravs da anlise e da interpretao de diferentes
dimenses afetivas, corporais, de relacionamento, de trabalho e emocionais
das mulheres entrevistadas, a autora busca aceder ao complexo, contraditrio
e, muitas vezes, conitivo lugar que o exerccio da maternidade constitui para
as mulheres bascas contemporneas.
Nesse sentido, a proposta geral do livro abordar o tornar-se me
como um processo atravs do qual se gesta, simultaneamente, um novo ser
humano e uma me, isto , as mulheres do estudo de Imaz no apenas gestam,
mas so tambm, elas mesmas, mes em gestao. O livro resultado da
pesquisa de doutorado que Elixabete Imaz Martnez realizou em Antropologia
Social na Universidad del Pas Vasco, cuja concluso se deu em 2008, sob a
orientao de Tereza Del Valle, uma das pioneiras da antropologia feminista
na Espanha. A obra tem 420 pginas e est dividida em seis captulos, mais
* Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc,Florianpolis, SC, Brasil) .
http://civit%20v15n2%20-%2001.pdf/http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/http://civit%20v15n2%20-%2001.pdf/http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/http://dx.doi.org/10.15448/1984-7289.2015.2.17957http://dx.doi.org/10.15448/1984-7289.2015.2.17957http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_2/[email protected]://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_2/[email protected]://dx.doi.org/10.15448/1984-7289.2015.2.17957http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/http://civit%20v15n2%20-%2001.pdf/ -
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um apndice metodolgico que contm o perl das mulheres entrevistadas e
o roteiro das entrevistas.
Considerando que a maternidade uma das representaes maisfortes da cultura ocidental, cujos sentidos desdobram-se num emaranhado
de imagens e valores associados ao feminino normativo, a autora busca
aprofundar a compreenso acerca de como essas imagens e valores se realizam
em maternidades nicas e singulares de mulheres concretas. Seu intuito
mostrar como as mulheres bascas contemporneas enfrentam e agenciam
essas representaes historicamente construdas, as quais elas mesmas tm
incorporadas em sua identidade e socializao, mas que atualmente entram
em disputa e conito com outras denies que elas tm de si mesmas. Imazconsidera que o momento mais oportuno para apreender essas tenses o
perodo em que se adquire a conscincia de ser me pela primeira vez, isto
, durante a gestao e o nascimento do primeiro lho ou lha. Assim, em
sua pesquisa entrevistou 17 mulheres, a maioria entre 28 e 31 anos de idade,
dentre as quais haviam casadas, solteiras, lsbicas, heterossexuais, urbanas e
interioranas, todas elas grvidas pela primeira vez.
Imaz tambm chama a ateno para uma ausncia de investigaes
antropolgicas acerca das metforas e imagens atravs das quais se interpreta a
procriao no Ocidente, e arma que isso se deve ao fato de que as consideramos
como autoevidentes. Assim, mesmo considerando que existem diversas formas
de se viver e signicar a maternidade na contemporaneidade, Imaz optou por
dedicar sua investigao precisamente ao modelo normal de maternidade
ocidental: aquela que resulta do parto, e na qual convergem o siolgico, o
gentico, o social e o jurdico sendo o normal aqui entendido na dupla
acepo do termo, como estatisticamente majoritrio e como mais prximo
do normativo. O desao metodolgico que permeia todo o livro , ento, o
de desentranhar processos sociais prprios da sociedade de pertencimento da
autora a partir de uma perspectiva de estranhamento de situaes cotidianas
e prximas.
Para realizar sua investigao, Elixabete Imaz Martnez valeu-se de
instrumentos clssicos da antropologia, tanto no trabalho de campo recorrendo
perspectiva biogrca por meio de entrevistas (organizadas em sesses antes
e depois do parto) e observao participante (aproximando-se tanto do que as
mes dizem quanto do que elas fazem); quanto na elaborao de referncias
tericas, recorrendo teoria da ddiva e dos ritos de passagem; alm de servir-se do corpus terico mais recente relacionado antropologia do gnero.
Para adentrar no tema a autora recorre, nos captulos iniciais, s
contribuies tanto da historiograa quanto da crtica feminista. O decorrer
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do livro, contudo, ampara-se abundantemente e, sobretudo, na experincia
concreta das mulheres e no dilogo com as teorias antropolgicas. Assim, no
captulo 1 - Una historia de la maternidad y de su ejercicio, Imaz procede a umadesconstruo da maternalizao da mulher mostrando como, de meados
do sculo 18 a meados do sculo 20, a maternidade vai se transformando
no centro da identidade feminina, ao mesmo tempo em que tomada como
algo que deve ser melhorado, instrudo e tutelado pelo estado, passando a ser
alvo de discursos mdicos, loscos, polticos e religiosos que constroem
uma imagem de me cujos elementos constituem at hoje os referentes da
boa me: amor incondicional reiteradamente expresso; individualizao dos
cuidados com as crianas, que antes eram compartilhados; a exclusividadeda dedicao feminina aos trabalhos maternos e a moralizao das prticas
de criao e cuidado tudo isso em um contexto marcado pela excluso das
mulheres da vida pblica e da participao poltica, concomitante inveno
da infncia e do instinto materno.
No captulo 2 Lecturas feministas de la maternidad, Imaz apresenta
o interesse feminista pela maternidade, detendo-se principalmente em trs
autoras da segunda onda do feminismo Simone de Beauvoir, Sulamith
Firestone e Adrienne Rich as quais converteram as questes reprodutivas
em seu principal campo de batalha produzindo importantes reexes sobre a
sujeio das mulheres, a maternidade e o lugar que esta ocupa ou pode ocupar
na emancipao feminina. Imaz destaca a inuncia de Beauvoir no feminismo
francs, em autoras como Marie-Blanche Tahon, Franoise Hritier e Nicole
Mathieu, que localizam no controle masculino sobre a capacidade reprodutiva
feminina a origem da sujeio universal das mulheres. Imaz tambm contrasta
o feminismo radical de Firestone com o feminismo maternalista de Adrienne
Rich, mostrando que, enquanto a primeira props o m da maternidade
biolgica por meio da reproduo tecnolgica como condio para a liberao
das mulheres, a segunda inaugurou uma linha de pensamento oposta que v
na maternidade uma fonte de prazer, conhecimento e poder especicamente
femininos. A autora tambm discute hipteses feministas que postulam a
maternidade como origem da dominao masculina, em autoras como Sherry
Ortner, Nancy Chodorow e Michele Rosaldo, e conclui, fazendo uma crtica
naturalizao da maternidadenos discursos das cincias sociais, mostrando
que procriao, vnculo materno-infantil e cuidados com os lhos no podem
ser tomados como dados unicamente biolgicos.No captulo 3 Sobre el deseo de convertirse en madre,a autora inicia
sua indagao a respeito dos signicados atribudos descendncia e
maternidade pelas mulheres bascas contemporneas e sobre as motivaes
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que as levam a querer ter lhos. Imaz vai mostrando que o tornar-se me,
longe de ser a atualizao de uma essncia feminina latente ou oculta, um
processo complexo de aprendizagem e negociao de signicados. Atravs daanlise de depoimentos, ela mostra como o desejo de ter lhos um desejo
difuso, no objeticado, varivel, vinculado a valores e imaginrios diversos, e
que nem sempre busca a sua realizao. A autora analisa tambm o sentido que
a maternidade adquire dentro das trajetrias de vida das mulheres, mostrando
que, com o desfazimento do encadeamento noivado-matrimnio-maternidade,
o tornar-se me que se transformou em um ponto de inexo no itinerrio
feminino, como uma marca que rearticula toda a biograa da mulher. Nesse
sentido tambm que atravs do ingresso na maternidade (e tambm napaternidade) se d o abandono da juventude e ingresso na vida adulta para as
mulheres estudadas.
O captulo 4 El proceso de convertirse en madreapresenta um dos
principais argumentos da autora. Longe de considerar o vnculo materno-lial
como espontneo, evidente ou como algo que se d imediatamente ao parto,
Imaz o apresenta como um processo complexo. Segundo a autora, durante a
gestao, ou at mesmo antes, a mulher vai transitando por uma srie de etapas
que a conduzem a reconhecer-se e a ser reconhecida pelos demais como me
de um lho ou lha. O processo de incorporao de uma nova categoria social
se estende no tempo e culmina com o reconhecimento de si mesma como me
de uma criana que ela reconhece como sua. A concluso do captulo culmina,
ento, com a ideia de que todo lho ou lha, independente de suas origens
biolgicas, adotado, ou seja, no processo de tornar-se me existe um trabalho
intenso de identicao e aceitao de um beb concreto como lho ou lha.
Um dos pontos fundamentais que ela apresenta nesse captulo a
centralidade, para as mulheres entrevistadas, da ideia da maternidade como
um direito de escolha. Aqui o mandato individualista moderno impregna
o discurso: considera-se legtimo que as pessoas escolham se querem ou
no ter lhos, o momento de faz-lo, a quantidade etc. Em contrapartida, a
maternidade se agura como parte do planejamento da vida, de modo que
a maternidade boa aquela que planejada. A estabilidade econmica e
laboral aparece como um pr-requisito fundamental para a deciso de ser
me, pois se considera fundamental poder garantir um entorno estvel que
proporcione suporte afetivo e material para os lhos. Problemas nesse aspecto
levam, em geral, a um adiamento consciente da deciso de ter lhos. Almdisso, Imaz mostra que a busca deliberada pela gravidez sempre se d em
meio a dvidas, medos e incertezas. A conrmao da gravidez atravs de
exames apenas uma das etapas pelas quais a gestante passa, sendo reiterada
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aos poucos atravs de marcos sucessivos que vo dando materialidade ao
projeto de maternidade: compras de roupinhas de beb, o receber presentes, o
comunicar aos parentes e amigos, os primeiros movimentos do feto, ecograase exames mdicos em geral e cursos para gestantes etc.
No captulo 5 La vivencia del cuerpo, a autora analisa algumas
interpretaes acerca do corpo grvido atravs de trs diferentes metforas
do corpo materno e seus correlatos a respeito do feto: a gravidez como
fuso (a simbiose me-lho), a gravidez como invaso (o feto parasita) e a
gravidez como corpo dividido (o feto-indivduo). Cada uma delas funciona
como metfora para a relao me-lho inclusive depois do nascimento.
Elixabete Imaz Martnez mostra que, embora o modelo do corpo divididoseja o dominante na atualidade, essas imagens se sobrepem e se combinam
no imaginrio, sendo que por trs delas est a concepo do corpo materno
como corpo-para-o-outro: aquele que existe graas a, se perde por culpa
de, ouse dilui mediante um Outro, que o feto. A autora aponta tambm a
desorientao e a vulnerabilidade que as mulheres sentem diante do sistema
mdico, o que as leva a acatar a maior parte das decises e indicaes feitas
pelos mdicos, sendo que um medo profundo da dor do parto aparece como
algo que as acompanha desde a infncia.
No sexto e ltimo captulo, intitulado Efectos de la maternidad en
los diferentes mbitos vitales, Imaz trata das transformaes na vida das
mulheres bascas contemporneas em decorrncia do nascimento da criana:
as mudanas nas redes de sociabilidade, o novo protagonismo da famlia
extensa, as mudanas na relao do casal, os dilemas da amamentao e as
diculdades de retorno e conciliao da maternidade com o trabalho. A autora
mostra que o protagonismo das mulheres na deciso de ter um lho acaba
conduzindo-as a se sentirem mais responsveis em garantir os cuidados e o
bem-estar da criana. Contudo, essa disponibilidade adquire um carter de
satisfao na medida em que considerada no como algo imposto, mas sim
decidido, mesmo que resulte em prejuzo em outras reas. O abandono do
trabalho ou sua reduo ou adiamento, por exemplo, so percebidos menos
como sacrifcio e mais como um exerccio de autonomia pessoal. Por outro
lado, as mulheres mencionam que o nascimento da criana e os cuidados
dispensados a ela implicam em maior aproximao e envolvimento da mulher
com a esfera domstica, ou seja, elas acabam assumindo o cuidar do beb e o
cuidar da casa como tarefas contguas.Por m, o livro conclui detendo-se na progressiva divergncia entre o
modelo normativo de maternidade e as expectativas vitais que as mulheres
colocam para si mesmas. A sensvel etnograa de Imaz revela que as mulheres
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bascas contemporneas falam da maternidade a partir de uma concepo
altamente exigente que ainda coincide grandemente com o modelo de
maternidade intensiva, recebido das geraes anteriores: disponibilidadeabsoluta, a me como responsvel prioritria do bem-estar presente e futuro da
criana e a centralidade da criana em detrimento de qualquer outra dimenso
vital. Contudo, ao mesmo tempo em que esse modelo de maternidade
percebido como o mais adequado para a criana, ele tido como impossvel
de cumprir e como frustrante para o desenvolvimento pessoal feminino o
que resulta em ambivalncia, culpabilidade e sensaes contraditrias por
parte das mulheres.
Apesar da persistncia desse modelo de cuidado intensivo, Imaz insisteem mostrar que a maternidade est mudando e que as mulheres se sentem
protagonistas dessas mudanas. Assim, diferena das geraes anteriores, a
maternidade no aparece como o nico destino possvel para as mulheres. Muito
embora elas no cheguem a romper com todos os clichs e papis tradicionais,
elas consideram que renunciar maternidade devido s limitaes que esta
impe uma opo possvel para as mulheres contemporneas. Elas referem-
se tambm s transformaes na paternidade, percebendo seus companheiros
mais presentes no s na vida dos lhos, mas tambm na gravidez e no parto
e trazem tona reexes sobre o cuidado e sobre a dupla jornada de trabalho
feminino, na qual as mulheres assumiram responsabilidades de trabalho sem
liberar-se das tradicionais responsabilidades domsticas. Elas mostram-se
tambm abertas a novas formas familiares que esto surgindo no cenrio
atual, como aquelas articuladas com a reproduo assistida, a adoo, casais
homossexuais ou a maternidade independente.
Vale assinalar que a reexividade e a introspeco que a perspectiva
biogrca impe ao estudo rompem com os clichs da maternidade como
experincia no comunicvel, ntima, individual. De modo eloquente e
perspicaz, Imaz enfatiza que as mulheres que se convertem em mes no
podem ser consideradas passivas ou submissas diante dos modelos e estruturas
sociais, mas devem ser consideradas como atrizes que desenvolvem tticas e
estratgias a partir de circunstncias pessoais e sociais. Com isso, ela arma
que a maternidade no apenas um elemento construdo historicamente,
mas est em histria e faz histria. O livro uma importante contribuio
no s para os estudos de gnero e para os estudos acerca das maternidades
contemporneas, mas cumpre o importante papel de tirar o tema do silncioe da privacidade, convertendo-a em debate e reexo social. Talvez resida a
o amplo interesse que seu trabalho tem despertado no contexto espanhol, no
s nos crculos acadmicos, mas tambm na mdia e na sociedade em geral.
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Para as/os estudantes e pesquisadoras/es brasileiras/os o livro de
Elixabete Imaz Martnez , sem dvida, um rico subsdio para a elaborao
de estudos comparativos. Considerando as maternidades brasileiras a partir dasexperincias de mulheres de camadas mdias urbanas sendo, estas ltimas,
objeto de minha pesquisa de doutorado pode-se perceber que, de modo geral,
h muitas semelhanas com relao s mulheres bascas do estudo de Imaz. Um
dos aspectos da anlise da autora que considero muito frutfero para pensarmos
o caso brasileiro que aqui tambm possvel perceber as maternidades
contemporneas se constituindo como pontos de inexo que rearticulam as
biograas femininas. Esses pontos de inexo se tornaram mais prontamente
perceptveis atravs da emergente blogosfera maternaque cotidianamenteregistra os movimentos e dilemas que compem esses intensos processos de
subjetivao que Imaz chamou, muito acertadamente, de converter-se em
me. Nesse sentido, as mulheres brasileiras tambm tm se posicionado cada
vez mais como sujeitos ativos de suas prprias histrias.
Contudo, cabe ressaltar que no Brasil, embora tambm haja muita
desorientao e vulnerabilidade diante do sistema mdico, v-se emergir aqui,
justamente em torno do parto e nascimento, um vigoroso ativismo materno
articulado principalmente a partir das redes sociais digitais, mas tambm pela
composio de diversos espaos de discusso e debates em rodas de gestantes
e diversos grupos de militncia engajados com a transformao de realidades
locais, que inclui. Tais debates tm includo no apenas os temas clssicos da
gravidez, parto, ps-parto imediato e amamentao, mas tambm a criao
dos lhos ao longo da vida, a participao do(a) companheiro(a) nessa
criao, a ampliao das licenas-maternidade e paternidade, as articulaes
da maternidade com a carreira prossional, o aborto e os direitos sexuais
e reprodutivos, a judicializao das violncias institucionais no parto e um
crescente envolvimento com polticas pblicas de sade materna e perinatal,
dentre outras tantas pautas de reivindicao que evidenciam uma crescente
(re)politizao da maternidade conduzida pelas prprias mulheres. Uma
(re)politizao que tende a aproximar e embaralhar, cada vez mais, certos dom-
nios que o pensamento ocidental moderno historicamente manteve separados:
a ao poltica e a vida pessoal, o pblico e o privado, a maternidade e a pater-
nidade, a natureza e a cultura. Uma nova forma de militncia que, semelhana
dos novos movimentos sociais que vm surgindo no mundo todo, no separa a
vida das suas formas, mas que se constitui enquanto forma de vida.Descrever e analisar essas maternidades emergentes no mundo
contemporneo constitui um grande desao para aqueles/as que se dedicam
a acompanh-las e apreend-las. Acostumados que estamos a abordar o
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tema da maternidade pelo vis do maternalismo de estado, da puericultura
medicalizadora ou da denncia da maternidade como locusde opresso das
mulheres, precisamos, urgentemente, renovar nosso vocabulrio tericopara melhor apreender as transformaes em esto em curso. Nesse sentido,
tornar-se me uma poderosa metfora elaborada por Imaz que muito
contribuir para compreendermos a maternidade enquanto processo, captando
seus movimentos, devires e novas conguraes.
Recebido em: 2 jul. 2014Aprovado em: 12 jan. 2015
Autora correspondente:Heloisa Regina SouzaUniversidade Federal de Santa CatarinaPrograma de ps-graduao em Antropologia SocialCentro de Filosoa e Cincias Humanas (CFH)Campus Reitor Joo David Ferreira Lima Bloco D, salas 116-116ACaixa Postal 476 Trindade88040-900 Florianpolis, SC