tomografia mu/ti-slice no sistema músculo-esquelético · exame de abdome com 8 mm de espessura,...

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VINH ETA IMAGENOLÓG I CA lMAGENOLOG IC VI GNETTE Responsávei s: Ar t ur da R oc ha Corrêa Fernandes e Jamil Nato ur Tomografia Mu/ti-Slice no Sistema Músculo-Esquelético c *) Mu/ti-S/ice Tomograph y in the Muscu/oske ! eta/ Syst em Andr é Yui Aihara('), Artur da Rocha Corrêa Fernand es(1 ), Christian Munia Vi er tler(') e Jamil Natour(2) INTRODU ÇÃO o primeiro tomó grafo co mputadorizado comerc ial foi introd uzido em 1972. A introd ução da tom og rafi a co m- put adori za da (Te) na práti ca clíni ca revolucio nou o di ag- stico por imagem em razão da po ss ibilidade de se avaliar as imag ens em co rtes, se m sobreposição de es tru- tur as, e c om alta resolução (1) . Naquela é po ca houv e a necess id ade de se apre nd er anatomia secc ion al tr ansve r- sa l para se inte rpr etar corretame nt e a TC(1) . Ca da exame demorava no mínim o meia hora, quando não mais que um a hora. Quando a ressonânc ia magnéti ca foi introduzida, uma década depois, tanto radiologist as quanto clínicos já es t a- va m mais fa miliarizados co m imagens secc ionais transver- sa is. H ouve a necessidade de se familiari za r e ntão co m co rt es coro nais e sagitais, além de o utr os parâmetros inere nt es ao método de RM. N essa épo ca houve grand e alarde com a sem grandes avanços da T C(1 ). A tomografia es piral ou heli co idal foi desen vo lvida no final do s anos 80, e o primeiro tom ógrafo heli co idal co- mercial foi produ zido em 1990(2) . A TC es piral permitiu a qu ebra de alg umas limitações da T e. O tempo de exame pôde ser reduzido co nsideravelment e, e dados volumétri- cos pud eram ser adquiridos. Co m isso, maiores áreas ana- tômi cas pud eram ser examinadas, por exe mplo , em um a apn éia(1· 4) , e difere nt es es tágios de perfusão pud eram se r exa min ados em um órgão, co mo o ligado (fases arterial, p ortal e de equilíbrio/1.4). E ntr etanto , m es mo o mé todo es piral não resolve u todas as limitações e a tomo grafia com múltipl as fi leiras de detectores (TC multi- slice) foi inventada para aum entar a veloc idade de aquisição de imagem e reduzir o tempo de exa me. A diferença bási ca da tomogra fi a helicoidal simpl es para o multi-s li ce é a quantidade de fileiras de detectores de raios X. Enquanto a TC he li co idal po ss ui apenas uma fil eira, a TC multi- sli ce aprese nt a duas ou mais fil eiras de detectores, hoje chega nd o a até 16 fil eira s. Para exemplifi ca r, se uma tom ografi a heli co id al fàz um exame de abdom e co m 8 mm de es p ess ur a, uma TC I1lul - ti-slice de 4 fil eiras, com prati ca m en te os m es m os parâme- tros técnicos, p ode fazer o mesmo exame 4 vezes mais rá- pido ou co m cor t es 4 vezes mais finos. Existem outros ava nços técnicos da TC multi -slice que pod em aumentar ainda mais a veloc idade de exame como, por exe mp lo, o a um e nt o na velocidade de rotação do ga ntry. O adve nto da TC JJ1ulti- slice permitiu a aq ui sição de imagens de alta qualidade, com es p ess uras mínimas de até 0,5 111m, com rec onstruções mu ltiplanares de alta defini- ção. Em razão de sua alta vel oc idade, é po ss ível rea li za r es tudo co m cort es fin os e longa cober tura anatômica, em pe queno s es p os de te mp o (segund os). E a aq ui sição de image ns fin as poss ibilita reconstruções multiplanares bi e tridimensionais de alta qualidade, livres de art efa t os. N o sistema sc ul o-esqueléti co a utilização de cort es fi - nos e reconstruções de alta defini ção é altamente benéfi co (3) (Figuras 1 a 7.) Departamen to de Di agnóstico por Imagem da Universidade Federal de São P au lo IEPM/UNIFESPI . Departamento de Diagnóstico por Imagem da EPM/ UNIFESP 2. Di sc iplina de Reumatologia da EPM/ UNIFESP Endereço para co rres pondência: Artur da Rocha Corr êa Fern andes . Departa mento de Diagnóstico por Imagem da EPM/UNIFES P R ua Botucatu. 740, CEP 040 23-900. São Paul o, SP 372 Rev Bras Reumatol. v. 43, n. 6. p. 372-6. nov./dez .. 2003

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Page 1: Tomografia Mu/ti-Slice no Sistema Músculo-Esquelético · exame de abdome com 8 mm de espessura, uma TC I1lul ti-slice de 4 fil eiras, ... Tomografia Mu lti-Slice no Sistema Músculo-Esquelético

VINHETA IMAGENOLÓGICA

lMAGENOLOGIC VIGNETTE

Respo nsáveis: Artur da Rocha Corrêa Fernandes e Jami l Natour

Tomografia Mu/ti-Slice no Sistema Músculo-Esqueléticoc*)

Mu/ti-S/ice Tomography in the Muscu/oske!eta/ System

André Yui Aihara('), Artur da Rocha Corrêa Fernandes(1 ), Christian Munia Viertler(') e Jamil Natour(2)

INTRODU ÇÃO

o primeiro tomógrafo computadorizado comercial foi introduzido em 1972. A introdução da tomografi a com­putadori zada (Te) na prática clínica revolucionou o diag­nóstico por imagem em razão da possibilidade de se avaliar as imagens em cortes, sem sobreposição de estru ­turas, e com alta resolução (1) . Naquela época houve a

necessidade de se aprender anato mia seccional transver­sal para se interpretar corretamente a TC(1) . Cada exame

demorava no mínimo meia hora, quando não mais que uma hora.

Quando a ressonância magnética foi introduzida, uma década depois, tanto radiologistas quanto clínicos j á esta­vam mais fa miliarizados com imagens seccionais transver­

sais. H ouve a necessidade de se familiarizar então com cortes coronais e sagitais, além de outros parâmetros inerentes ao método de RM. N essa época houve grande alarde com a I~ , sem grandes avanços da TC(1 ).

A tomografia espiral ou helicoidal foi desenvolvida no final dos anos 80, e o primeiro tomógrafo helicoidal co­mercial foi produzido em 1990(2) . A TC espiral permitiu a

quebra de algumas limitações da Te. O tempo de exame pôde ser reduzido consideravelmente, e dados volumétri­cos puderam ser adquiridos. Com isso, maiores áreas ana­tômicas puderam ser examinadas , por exemplo, em uma apnéia(1· 4) , e diferentes estágios de perfusão puderam ser

examinados em um órgão, como o ligado (fases arterial, portal e de equilíbrio/1.4).

Entretanto , mesmo o método espiral não resolveu todas as limitações técnic~, e a tomografia com múltiplas fi leiras de detectores (TC multi-slice) foi inventada para aumentar a velocidade de aquisição de imagem e reduzir o tempo de exame. A diferença básica da tomogra fi a helicoidal simples para o multi -slice é a quantidade de fileiras de detectores de raios X . Enquanto a TC helicoidal possui apenas uma fileira, a TC multi-slice apresenta duas ou mais fileiras de detectores, hoje chegando a até 16 fil eiras.

Para exemplificar, se uma tomografia helicoidal fàz um exame de abdome com 8 mm de espessura, uma TC I1lul­ti-slice de 4 fil eiras, com prati camente os mesmos parâme­tros técnicos, pode fazer o mesmo exame 4 vezes mais rá­pido ou com cortes 4 vezes mais finos.

Existem outros ava nços técni cos da TC multi-slice que podem aumentar ainda mais a velocidade de exame como, por exemplo, o aumento na velocidade de rotação do gantry.

O advento da TC JJ1ulti-slice permitiu a aquisição de imagens de alta qualidade, com espessuras mínimas de até 0,5 111m, com reconstruções multiplanares de alta defini­ção. Em razão de sua alta velocidade, é possível reali zar estudo com cortes fin os e longa cobertura anatômica, em pequenos espaços de tempo (segundos). E a aq uisição de imagens fin as possibilita reconstruções multiplanares bi e tridimensionais de alta qualidade, livres de artefatos.

N o sistema músculo-esqueléti co a uti lização de cortes fi­nos e reconstruções de alta defini ção é altamente benéfi co(3)

(Figuras 1 a 7.)

• Departamen to de Diagnóst ico por Imagem da Universidade Federal de São Pau lo IEPM/UNIFESPI .

Departamento de Diagnóst ico por Imagem da EPM/UNIFESP

2. Disc iplina de Reumatologia da EPM/UNIFESP

Endereço para correspondência: Artur da Rocha Corrêa Fern andes. Departamento de Diagnóst ico por Imagem da EPM/UNIFESP Rua Botucatu. 740, CEP 040 23-900. São Paulo, SP

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Tomografia Mu lti-Slice no Sistema Músculo-Esquelético

Figura 1 - Te multi-s/ice com reconstruções tridimensionais dos arcos costais por suspeita de fratura. A) vi são frontal; B) visão posterior; e) visão lateral. Não se evidenciam fraturas.

F 30 17e9'116-b_ Jul 21 200;:

Figura 2 - Reconstruções tridimensionais da face por Te multi-s/ice por suspeita de fratura . A) visão frontal; B) visão oblíqua anterior; e) visão lateral. Te normal.

Figura 3 - Te multi-s/ice do sacro-coccix por suspeita de fratura . A) reconstrução sagital; B e e) reconstruções 3D frontal e posterior. Ausência de fraturas.

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Aihara et aI.

Figura 4 - Raiz conjugada. TC mult;­sUce da coluna lombo-sacra. A) pla­no axial; B e C) plano sagital oblí­quo demonstrando com grande defi­nição e clareza a raiz conjugada.

Figura 5 - Reconstruções tridimensionais multi-sUce da coluna cervical demonstrando costelas cervicais bilaterais. A) visão frontal; B) visão posterior; C) visão lateral.

Figura 6 - TC mult;-slice de arcos costais superiores evidenciando fraturas do 5.° e 6.° arcos costais à direita . A) visão frontal; B) visão posterior; C) visão lateral.

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Tomografia Multi -S/ice no Sistema Músculo-Esquelético

Figura 7 - Te multi-slice de paciente com antecedente de neoplasia de mama evidenciandp múltiplas lesões predominantemente blásticas envolvendo várias vértebras, inclusive os elementos posteriores. A) corte axial; B, e e D) imagens sagitais; E e F) imagens coronais.

Além da possibilidade de se realiza r cortes finos e recons­truções multiplanares de alta defini ção em curto espaço de tempo, a Te multi-slice diminui também os artefatos pro­venientes de fixações metálicas, o que antes inviabilizava estudos tomográfi cos como, por exemplo, da coluna lom­bar após artrodese.

Em razão da "falta de fótons" e artefatos de endureci­mento do feixe nos detectores de raios X do tomógrafo, pacientes obesos e com materiais metálicos causam artefà-

• tos na Te. A utilização de maior kilovoltagem e maior

miliamperagem pode reduzir estes artefatos. Para a tomo­grafi a single-slice, a corrente do tubo de raios X limita este aumento. Já na Te illulti-slice, em razão de sua maior quan­tidade de fileiras de detectores, entre outros aspectos téc­nicos, é possível utilizar aumento efetivo na miliampera­gem, melhorando a qualidade das imagens nestas situações (Figuras 8 e 9). As desvantagens são o aumento da radiação e menor cobertura anatômica (o que numa Te multi-slice não chega a ser limitante) (3)

ura 8 - Te multi-s/ice da coluna lombo-sacra evidenciando material metálico de artrodese posterior. Os artefatos são pequenos e praticamente não a avaliação do canal vertebral. A) corte sagital mediano; B) corte parasagital; C) corte coronal posterior.

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Aihara et aI.

REFERÊNCIAS

1. R.eiser MF, Takahashi M, M odic M, Bruening R.. Multislice CT. Springer-Verlag Berlin H eidelberg, 2001.

2. Lee JKT , Sagel SS , Stanley RJ, Heiken JP . Computed Body Tomography wi th MRI Correlation. Lippincott- Raven Philadelphia New Vork, 1998.

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Figura 9 - TC multi-slice de paciente com artrode­se posterior. Praticamente não observamos arte­fatos metálicos, o que possibilita a avaliação do canal vertebral, forames intervertebrais e articu­lações interfacetárias. A a D) cortes sagitais de mediano para lateral; E) corte coronal posterior.

3. Buckwater KA, R ydberg J , Kopecky KK, et aI. Musculoskeletal imaging with multislice CT. AJR 2001 ;176:979-86.

4. Hu H, He HD , Foley WD, et aI. Four multidetec tor- row helical CT: Image qua li ty and volume coverage speed. R adiol 2000; 215 :55-62.

Rev Bras Reumatol , v. 43 , n. 6, p. 37 2-6, nov/ dez .. 2003