tocado por nossos sentimentos - início - congresso mv · escada de jacó, que alcançava terra e...

512
1 Tocado por Nossos Sentimentos Uma pesquisa histórica do conceito adventista sobre a natureza humana de Cristo Publicado originalmente pela Review and Herald Publishing Association sob o título “Touched With Our Feelings” Pr. Jean R. Zurcher, Ph. D. Presidente da Comissão de Pesquisa Bíblica da Divisão Euro-Africana da IASD – Secretário da Mesma Divisão Tradutor: César Luís Pagani 1

Upload: dinhxuyen

Post on 09-Nov-2018

230 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

1

Tocado porNossos

Sentimentos

Uma pesquisa histórica do conceitoadventista sobre a natureza humana de

Cristo

Publicado originalmente pela Reviewand Herald Publishing Associationsob o título “Touched With Our

Feelings”

Pr. Jean R. Zurcher, Ph. D.Presidente da Comissão de Pesquisa

Bíblica da Divisão Euro-Africana daIASD – Secretário da Mesma Divisão

Tradutor: César Luís Pagani

1

Page 2: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

2

PREFÁCIO............................................INTRODUÇÃO...................................

Parte 1.........................................................A NATUREZA DIVINO-HUMANA DECRISTO......................................................

Capítulo 1............................................A DIVINDADE DE CRISTO..............Capítulo 2............................................A NATUREZA HUMANA DE CRISTO...............................................

Parte 2.........................................................A CRISTOLOGIA DOS PIONEIROS DA IGREJA ADVENTISTA.....................

Capítulo 3............................................A CRISTOLOGIA DE ELLEN G. WHITE (1827-1915)...........................Capítulo 4............................................ELLET J. WAGGONER (1855-1916)....................................................Capítulo 5..........................................104ALONZO T. JONES (1850-1923)

2

Page 3: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

3

...........................................................104Capítulo 6..........................................128WILLIAM WARREN PRESCOTT (1855-1944).......................................128Capítulo 7..........................................153O MOVIMENTO DA CARNE SANTA..............................................153

Parte 3.......................................................169EXCERTOS DAS PUBLICAÇÕES OFICIAIS DA IGREJA - (1895-1952)...................................................................169

Capítulo 8..........................................169EXCERTOS DAS PUBLICAÇÕES OFICIAIS DA IGREJA - (1895-1915)..................................................169Capítulo 9..........................................188EXCERTOS DAS PUBLICAÇÕES OFICIAIS DA IGREJA - (1916-1952)..................................................188

Parte 4.......................................................222A CONTROVÉRSIA CRISTOLÓGICA NO SEIO DA

3

Page 4: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

4

IGREJA ADVENTISTA..........................222Capítulo 10........................................222O NOVO MARCO HISTÓRICO ADVENTISTA..................................222Capítulo 11........................................247AS PRIMEIRAS REAÇÕES AO LIVRO “QUESTÕES SOBRE DOUTRINA”....................................247Capítulo 12........................................277REAÇÕES À NOVA CRISTOLOGIA - (1970 – 1979).......277Capítulo 13........................................324O AUGE DA CONTROVÉRSIA......324Capítulo 14........................................369EM BUSCA DA VERDADE HISTÓRICA......................................369

Parte 5.......................................................421UM RETORNO ÀS FONTES DA CRISTOLOGIA BÍBLICA E ADVENTISTA.........................................421

Capítulo 15........................................421AVALIAÇÃO E CRÍTICA................421Capítulo 16........................................449

4

Page 5: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

5

DADOS BÍBLICOS SOBRE CRISTOLOGIA.................................449EPÍLOGO..........................................483

Resenha crítica do Pr. Dennis Fortin ...........................................................487Carta a Baker na Íntegra....................494Carta 8, 1895 de Ellen G. White ao Pr. Baker...................................................494Uma Análise da Carta a Baker ..........497

5

Page 6: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

PREFÁCIO

Desde que eu era um menino pequeno, no iníciode 1920, meus pais me ensinaram que o Filho deDeus veio a este mundo com a herança físicasemelhante ao de qualquer outro bebê humano.Sem destacar Sua linha de ascendência depecadores, eles me contaram de Raabe e Davi, eenfatizavam que, a despeito de Sua herança física,Jesus viveu uma vida perfeita como criança, joveme adulto. Eles me diziam ainda que Cristocompreendia minhas tentações, pois foi tentadocomo eu, e que desejava conferir-me poder paravencer como Ele o fez. Isso me impressionouprofundamente, pois me ajudou a ver Jesus nãoapenas como meu Salvador, mas como exemplo, ea crer que por Seu poder eu poderia viver umavida vitoriosa.

Em anos posteriores aprendi que o ensino demeus pais com respeito a Jesus estava bemalicerçado na Bíblia, e que Ellen G. White, amensageira do Senhor à igreja remanescente,deixou clara essa verdade em numerosasdeclarações, como as que abaixo seguem:

“Que as crianças tenham em mente que omenino Jesus tomou sobre Si mesmo a naturezahumana, em semelhança de carne pecaminosa, efoi tentado por Satanás como todas as crianças o

6

Page 7: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

são. Ele foi capaz de resistir às tentações deSatanás através da dependência do divino poder deSeu Pai celestial, enquanto era sujeito à Suavontade e obediente a todos os Seusmandamentos.” Youth’s Intructor, 23 de agosto de1894.

“Jesus teve a idade de vocês. As circunstâncias eos pensamentos que vocês têm nesse período devida, Jesus também os teve. Ele não pode passá-los por alto nessa fase crítica. Cristo compreendeos riscos que os envolvem. Ele está relacionadocom as tentações de vocês.” Manuscript Releases,vol. 4, pág. 235.

Uma das principais razões pelas quais Cristoentrou na família humana para viver uma vida deconquistas, desde o nascimento até a maturidade,foi o exemplo que Ele deveria dar àqueles a quemviera salvar. “Jesus tomou a natureza humana,passando pela infância, meninice e juventude,para que pudesse saber como simpatizar comtodos, e deixar um exemplo para todas as criançase jovens. Ele está relacionado com as tentações eas fraquezas das crianças.” Idem, 1 de setembro de1873.

Em meus anos de curso médio e faculdade,continuei a ouvir de professores adventistas epastores que Jesus tomou a mesma natureza carnalque cada ser humano tem – carne afetada e

7

Page 8: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

influenciada pela queda de Adão e Eva.Destacava-se que os católicos não criam nisso,porque sua doutrina do pecado original exige queafastem Jesus da carne pecaminosa. Eles fizeramisso ao criar o dogma da imaculada conceição, adoutrina em que Maria, a mãe de Jesus, emboraconcebida naturalmente, estava desde o momentode sua concepção, livre de qualquer mancha dopecado original. Assim, uma vez que ela eradiferente de seus ancestrais e do restante da raçadecaída, podia prover seu Filho com carnesemelhante à de Adão antes da queda. Emboraalguns protestantes rejeitem a doutrina católica, amaioria ainda debate sobre a diferença entre ahumanidade de Cristo e a da raça à qual veio Elesalvar. Sobrenaturalmente, dizem eles, Ele foiprivado da herança genética que poderia terrecebido de Seus degenerados antepassados, daíestar isento de certas tendências contra as quais osseres humanos, como um todo, precisam batalhar.

Desafiados Pelos Críticos Porque os adventistas, desde o início, sustentam

que Jesus tomou a natureza humana após 4.000anos de pecado, ministros e teólogos de outrasigrejas têm distorcido essa crença e a utilizadopara desviar o povo da verdade do sábado e dastrês mensagens angélicas. Com a doutrina do

8

Page 9: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecado original em sua ordem de referência, elesdeclaram que se Jesus tomou um corpo “emsemelhança da carne do pecado” (Rom. 8:3), Eleteria sido um pecador e, conseguintemente, teriaEle mesmo necessidade de um salvador.

No princípio de 1930, um artigo desafiando trêsensinos adventistas, inclusive a natureza de Cristo,apareceu no Moody Monthly (Mensário Moody).Francis D. Nichol, editor da Review and Herald(hoje Revista Adventista), respondeu às acusaçõesescrevendo uma carta ao editor do Moody. Comreferência ao ensino de que Cristo “herdou umanatureza decaída e pecaminosa”, ele disse: “Acrença dos adventistas do sétimo dia sobre esseassunto está claramente fundamentada em Hebreus2:14-18. Na medida em que tal passagem bíblicaensina a real participação de Cristo em nossanatureza, assim nós pregamos.” Mais tarde, numeditorial em que comentava a resposta crítica à suadeclaração, ele escreveu:

“Concordamos plenamente que para alguémdizer que Cristo herdou uma natureza pecaminosae decaída, poderia, na ausência de qualquer outradeclaração qualificativa, ser mal-interpretado,significando que Cristo era um pecador pornatureza, como nós. Essa seria, realmente, umadoutrina estarrecedora. Mas, tal ensino não é cridopor nós. Ensinamos completamente que embora

9

Page 10: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Jesus fosse nascido de mulher, partilhava damesma carne e do mesmo sangue que nós, feitotão verdadeiramente semelhante a Seus irmãos,que Lhe era possível ser tentado em todos ospontos como nós, todavia sem pecado. Ele nãoconheceu pecado.

“A chave de todo o assunto, de fato, é a frase‘contudo, sem pecado’. Cremos irrestritamentenessa declaração dos Escritos Sagrados. Cristo era,verdadeiramente, sem pecado. Cremos que Aqueleque não conheceu pecado, foi feito pecado pornós. Do contrário, Ele não poderia ter sido nossoSalvador. Não importa em que linguagem qualqueradventista se esforce por descrever a natureza queCristo herdou do lado humano – e quem podeesperar fazer isso com absoluta precisão e livre dequalquer possível mal-entendido? – cremosimplicitamente, como já declarado, que Cristo era‘sem pecado’.” Review and Herald, 12 de marçode 1931.

A posição colocada pelo Pr. Nichol eraprecisamente a crença que a igreja, bem comomuitos respeitáveis estudiosos não-adventistas daBíblia, mantiveram através das décadas. Esse era oponto de vista sustentado por Ellen White. Elaescreveu: “Tomando sobre Si a natureza humanaem seu estado decaído, Cristo não participou, nomínimo que fosse, do seu pecado... Ele foi tocado

10

Page 11: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

com a sensação de nossas fraquezas, e em tudo foitentado como nós. E todavia não conheceupecado... Não devemos ter dúvidas acerca daperfeita ausência de pecado na natureza humana deCristo.” Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 256.

Diálogo e MudançaImagine minha surpresa então, quando, como um

dos editores da Review nos anos cinqüenta, ouvialguns líderes de igreja dizerem que esse não eraum ponto de vista correto – que essa era apenas avisão de uma “ala lunática” da igreja. O diálogofoi tomando espaço entre uns poucos ministrosevangélicos, que estavam comprometidos com umponto de vista sobre a natureza do homem, o qualincluía o erro da imortalidade da alma. Foi-me ditoque nossa posição sobre a natureza humana deCristo estava sendo “elucidada”. Como resultadodesse diálogo, muitos líderes da igreja que haviamestado envolvidos nas discussões, declararam queCristo tomou a natureza de Adão antes da queda enão após ela. A mudança foi de 180 graus: pós-lapsarianos e pré-lapsarianos.

Essa dramática alteração compeliu-me a estudara questão com uma intensidade que beirou àobsessão. Com toda a objetividade que pudereunir, examinei as Escrituras e li os escritos deEllen White. Também li as declarações de

11

Page 12: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pensadores adventistas feitas nos últimos cemanos. Examinei estudos e livros de teólogoscontemporâneos, adventistas e não-adventistas.Tentei compreender que efeito essa mudança decrença poderia ter sobre: 1) o simbolismo daescada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) opropósito de haver Cristo assumido a naturezahumana; 3) a relação de Sua humanidade para serqualificado como nosso Sumo Sacerdote (Heb.2:10; cf. O Desejado de Todas as Nações, pág.745, e Vida de Jesus, pág. 155); 4) a relativadificuldade de lutar contra o adversário em carneimaculada, em lugar de carne pecaminosa; 5) oprofundo significado do Getsêmani e do Calvário;6) a doutrina da justificação pela fé; e 7) o valor davida de Cristo como exemplo para mim.

Por quarenta anos continuei esse estudo. Emconseqüência, cheguei a compreender melhor nãosomente a importância de sustentar uma corretavisão da natureza humana de Cristo, como tambémdois comentários de Ellen White sobre o porquê deverdades simples serem algumas vezesaparentemente confusas: 1) “Professos teólogosparecem ter prazer em tornar misterioso aquilo queé claro. Eles revestem os ensinos simples daPalavra de Deus com seus próprios arrazoadosobscurantistas, e assim confundem as mentesdaqueles que ouvem suas doutrinas.” (Signs of the

12

Page 13: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Times, 2 de julho de 1896). 2) “Muitas passagensda Escritura, que homens doutos considerammistérios ou passam por alto como merecendopouca importância, estão cheias de conforto paraaquele que aprender na escola de Cristo. Uma dasrazões por que muitos teólogos não têm melhorcompreensão da Bíblia é que eles fecham os olhospara as verdades que não lhes convêm praticar. Aboa compreensão da Bíblia não depende tanto daforça intelectual posta ao serviço do seu estudo,quanto da singeleza de propósito, do sincerodesejo de conhecer a verdade.” (Conselhos Sobre aEscola Sabatina, pág. 38)

Durante as recentes décadas, certo número deescritores têm tentado provar sua crença de queCristo tomou a natureza de Adão antes da queda.Seus textos bíblicos de prova parecem robustosapenas quando interpretados de acordo com suaspressuposições. Ocasionalmente utilizam-se deuma abordagem ad hominem, isto é, paraconfundir quem os ouve ou lê, na qual seempenham em desacreditar respeitabilíssimosprofessores e ministros adventistas, que mantêm oponto de vista pós-queda. Entendo que suastentativas foram moldadas segundo um advogadoa quem se atribui as seguintes palavras: “Se vocêtem um caso difícil, tente confundir a questão. Sevocê não tem nenhum caso, ralhe com o júri.”

13

Page 14: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Estou amplamente convencido de que antes de aigreja poder proclamar com poder a últimamensagem divina de advertência ao mundo, deveunir-se em torno da verdade da natureza humanade Cristo. Tenho esperado longamente que alguémcom credenciais espirituais e acadêmicasimpecáveis colocasse em forma sucinta e legível acompleta Cristologia baseada na Bíblia (e noEspírito de Profecia), e expusesse como a igreja seapartou dessa verdade 40 anos atrás.

Este livro atendeu a essa esperança. Conheço seuautor já há muitos anos. Ele é um fiel adventista dosétimo dia, um erudito que procura a verdade comobjetividade incomum. Aproximadamente há trêsdécadas ele fez uma excelente contribuição àteologia contemporânea, escrevendo a obra TheNature and Destiny of Man (A Natureza e oDestino do Homem), publicada pela PhilosophicalLibrary, de Nova Iorque, em 1969. Com claracompreensão da natureza humana, Jean Zurchertem tido o discernimento necessário para examinara doutrina da natureza humana de Cristo. Nopresente volume ele apresenta cuidadosamente averdade acerca da natureza humana de Cristo, emostra que a glória da bem-sucedida missão doSalvador a este mundo é aumentada, e nãodiminuída, pelo fato dEle haver triunfado adespeito de assumir os riscos da “carne

14

Page 15: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecaminosa”.Creio que este livro meticulosamente pesquisado

e bem escrito, será entusiasticamente recebido portodos aqueles que amam a verdade e desejamcompreender melhor quão íntima é a relação entreJesus e a família humana. Verdadeiramente, “ahumanidade do Filho de Deus é tudo para nós. É acorrente de ouro que liga nossa alma a Cristo, epor meio de Cristo a Deus.” MensagensEscolhidas, vol. 1, pág. 244.

Kenneth H. Wood, presidenteConselho Curador do Patrimônio de Ellen G.

White10 de agosto de 1996.

15

Page 16: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

INTRODUÇÃO

Através da história da Igreja Cristã, o assunto daCristologia, que trata de Cristo, Sua pessoa eobra1, foi o centro de muitas disputas teológicas.As mais danosas heresias e mais dramáticoscismas tiveram suas origens na diversidade deteorias concernentes à pessoa e obra de Cristo.

Em razão da helenização da fé (conformar a féao caráter e cultura gregos) e do surgimento dedoutrinas heréticas, os apóstolos e seus sucessoresforam forçados a contender em função da questãoda natureza divino-humana de Cristo. Isso deu emresultado à criação de “uma Cristologia no estritosentido do termo, ou uma expressa doutrina dapessoa de Jesus Cristo”.2

Hoje, a natureza humana de Cristo aindapermanece como um sério problema para oCristianismo, e várias denominações tentamresolvê-lo conforme uma variedade de modos.Esse é um importantíssimo tópico. Desse pontodependem não apenas nossa compreensão da obrade Cristo, como também o entendimento do modode vida esperado de cada um de nós, enquantoseguimos “a verdade que é em Jesus”. (Efés. 4:21)

1 Oscar Cullman, Christologie du Nouveau Testament (Cristologia do Novo Testamento) (Neuchâtel:Delacroix et Niestlé, 1968), págs. 9 e 11.

2 Karl Barth, Dogmatics (Dogmáticos) (Edimburgo: T&T Clark, 1956), vol. 1, parte 2, pág. 123.

Page 17: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Os apóstolos enfrentam as primeiras heresiasÉ interessante notar que nos primórdios do

Cristianismo, a questão da pessoa de Cristo nãofoi: “O que foi a Sua natureza?”, mas “Quem éEle?” Quando Jesus perguntou a Seus discípulos:“Quem, dizem os homens, ser o Filho dohomem?” Eles responderam: “Uns dizem que éJoão, o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias,ou algum dos profetas.” “Mas vós, perguntou-lhesJesus, quem dizeis que Eu Sou?” Simão Pedrorespondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.”(Mat. 16:13-16).

À medida que a evangelização do mundo greco-romano progredia, a questão deixou de ser umasimples matéria sobre quem Jesus era. Agora oproblema mudou de rumo: Como Jesus Se referiaa Deus? Era Ele verdadeiramente divino, ouapenas um homem? Se ambos, como podemosexplicar o relacionamento entre Sua divinanatureza e Sua humana natureza? A igreja, aoconfrontar-se com a heresia, foi obrigada aconsiderar essas questões e tentar respondê-las.

Paulo e João foram os primeiros a refutar osfalsos ensinos sobre a natureza de Cristo, emresposta a dúvidas que surgiram acerca de Suasdivindade e humanidade. Na epístola aosFilipenses, depois de enfatizar a igualdade deCristo com Deus, Paulo diz que Jesus veio a este

Page 18: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

mundo e tornou-Se “semelhante aos homens, eachado na forma de homem...” (Fil. 2:7 e 8)Igualmente, tendo escrito aos romanos que Deusenviou “Seu Filho em semelhança de carne dopecado...” (Rom. 8:3), ele declara enfaticamenteaos colossenses que Cristo “é imagem do Deusinvisível”, e que “nEle habita corporalmente toda aplenitude da Divindade”. (Col. 1:15; 2:9)

Além disso, João foi compelido a afirmar em seuevangelho que “o Verbo era Deus”, e que “o VerboSe fez carne” (João 1:1 e 14) Então, confrontadocom as alegações dos gnósticos, ele decidiu queera necessário advertir a igreja contra aqueles quenegavam a humanidade de Cristo: “Nistoconheceis o Espírito de Deus: todo espírito queconfessa que Jesus Cristo veio em carne é deDeus; e todo espírito que não confessa a Jesus, nãoé de Deus; esse é o espírito do anticristo.” (I João4:2 e 3)

A Cristologia através dos séculosDesde o início do segundo século, os sucessores

dos apóstolos foram atraídos para os inexoráveisargumentos que tratam da pessoa de Cristo, e emparticular de Sua natureza. Defrontado com odesenvolvimento do arianismo, que negava adivindade de Cristo, o Concílio de Nicéia (325 a.D.) resolveu o problema afirmando a divindade de

Page 19: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Jesus. Permaneceu ainda o problema das duasnaturezas, humana e divina, que foi solucionadopelo Concílio de Caldedônia (451 a. D.), e essedogma tornou-se a declaração de fé da IgrejaCatólica.

Os reformadores não foram, em realidade,inovadores cristológicos; eles estavam maispreocupados com os problemas referentes ànatureza da fé e da justificação, do que comaqueles da Cristologia. Em termos gerais, todoseles aceitaram “o dogma fundamental da essencialdivindade de Cristo, com a unidade da pessoa e adualidade de naturezas”.3

Apenas uns poucos

teólogos protestantes na Suíça de fala francesaabandonaram a “doutrina das duas naturezas”.4

Entretanto, muitos teólogos do século vinteseguiram suas pegadas. Oscar Culmann, porexemplo, considera que “a discussão relativa àsduas naturezas é, essencialmente, um problemagrego e não judeu ou bíblico”.5

Emil Brunner garante que “o complexo conjuntodos problemas suscitados pela doutrina das duasnaturezas é o resultado de uma questãoequivocadamente apresentada, de um problemaque deseja conhecer algo que nós simplesmente3 M. Getaz Op, Les variations de la doctrine christologique chez les theólogiens de la Suisse romande au

XIXe siècle (As variações da doutrina cristológica nos teólogos da Suíça Romanda, no século 19) (Friburgo:Edições da biblioteca da universidade, 1970), pág. 18.

4 Idem, pág. 27.5 Cullman, pág. 12.

Page 20: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

não podemos saber, ou seja, como a divindade e ahumanidade estão unidas na pessoa de Cristo”.6

Essa notável retirada do dogma de Calcedôniapor parte desses teólogos, jaz na base da novatendência em Cristologia. A vasta maioria dosteólogos, hoje, tanto católicos como protestantes,reconhecem que o estudo do mistério de Cristonão pode mais estar separado de seu significadopara a humanidade. Em outras palavras, umacaracterística das Cristologias contemporâneas éque elas estão mais estreitamente ligadas àantropologia.

Naturalmente, essa nova relação conduz algunsteólogos a uma consideração muito mais profundada natureza humana de Cristo. O conceito de que oFilho do homem tomou a natureza humana éreconhecido por todos os cristãos. Mas a questão ésobre que espécie de natureza humana Eleassumiu: aquela afetada pela queda ou aoriginalmente criada por Deus? Em outros termos,a natureza de Adão antes ou depois da queda?

Cristologia contemporâneaAtravés dos séculos passados, atrever-se a

sugerir que a natureza humana de Cristo era a deAdão após o pecado, teria sido considerado umagrave heresia. Hoje, muitos consideram que essa6 Emmil Brunner, Dogmatics (Dogmát icos) (Fi ladélf ia , Westminster Press, 1952), vo l. 2,

pág. 352.

Page 21: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

questão ainda é discutível.7

Não obstante, devemos certamente reconhecerque os mais eminentes teólogos protestantes dasegunda metade do século vinte, tais como KarlBarth, Emil Brunner, Rudolf Bultmann, OscarCulmann, J. A. T. Robinson e outros, têm-seabertamente declarado em apoio à naturezahumana afetada pela queda.

Karl Barth foi o primeiro a declarar seu apoio aessa explanação, num artigo publicado já em1934.8 Porém, sua mais abrangente análise éencontrada em Dogmatics (Dogmáticos), sob otítulo Truly God and Truly Man (VerdadeiramenteDeus e Verdadeiramente Homem).9 Tendoafirmado sua crença de que Jesus Cristo era“verdadeiramente Deus”, ele considerapormenorizadamente como o “Verbo Se fezcarne”. Para ele não havia nenhuma possíveldúvida sobre a decaída natureza humana de Jesus.Com certeza ele afirmou: “Ele (Jesus) não era umpecador. Mas interior e exteriormente Sua situaçãoera de um homem pecador. Ele nada fez do queAdão praticou, mas viveu na forma em queprecisou assumir como base o ato de Adão. Elesuportou inocentemente tudo aquilo de que temos

7 Henri Blocher, Christologie (Cristologia), série Fac. Etude, Vaux-sur-Seine: 1984), vol. 2, págs. 189-192.8

8 Kar l Barth, Offenbarung, Kirche, Theologie (Teologia Eclesiást ica da Revelação), emTheologische Existenz Heute (Existência Teológica Hoje) (Munique: 1934).

9 Barth, Dogmatics, vol. 1, parte 2, págs. 132-171.

Page 22: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

sido culpados – Adão e todos nós em Adão.Espontaneamente, Ele Se solidarizou conosco eentrou em necessária associação com nossaperdida existência. Apenas desse modo poderia arevelação de Deus a nós e nossa reconciliação comEle, manifestamente tornar-se um evento nEle epor Ele.”10

Tendo justificado suas conclusões com versos dePaulo e a epístola aos Hebreus, Barth acrescenta:“Mas não deve haver qualquer debilitação ouensombrecimento da salvadora verdade de que anatureza que Deus assumiu em Cristo é idêntica ànossa natureza, como nós a entendemos à luz daqueda. Se isso fosse diferente, como poderiaCristo ser realmente semelhante a nós? Querelação teríamos com Ele? Estamos diante de Deuscaracterizados pela queda. O Filho de Deus nãoapenas assumiu nossa natureza, mas Ele penetrouna concreta forma de nossa natureza, sob a qualestamos perante o Senhor como homensamaldiçoados e perdidos. Ele não criou ouestabeleceu essa forma diversamente da nossa;embora inocente, Ele Se tornou culpado; adespeito de ser sem pecado, Ele Se tornou pecado.Mas essas coisas não devem levar-nos a diminuirSua completa solidariedade conosco e desse modoafastá-Lo de nós.”11

10 Idem, pág. 152.11 Idem, pág. 153.

Page 23: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Emil Bruner, em seu Dogmatics, chega à mesmaconclusão. Ele não hesita em declarar que “o fatodEle ter nascido de mulher, assim como nós,mostra que Ele era verdadeiramente homem”.12

Bruner indaga: “Foi Jesus de fato um homemcomo nós e assim, um pecador?” A resposta vemda Escritura: “O apóstolo Paulo, falando dahumanidade real de Jesus, vai até onde é possívelquando diz que Deus enviou Seu Filho emsemelhança de carne pecaminosa (Rom. 8:3). Aepístola dos Hebreus acrescenta: ‘Um que, comonós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.’Hebreus 4:15.”13 Enquanto Brunner concorda que“Ele era um homem como nós”, tambémreconhece que “Ele não é um homem como nósmesmos.”14

Apoiando-se nos mesmos versos, Bultmann eCulmann, concordam inteiramente. Em seucomentário sobre Filipenses 2:5-8, Culmannescreve: “A fim de assumir a ‘forma de servo’, foinecessário antes de mais nada, tomar a forma dehomem, vale dizer, um homem afetado peladecadência humana. Esse é o significado daexpressão ‘tornando-se semelhante aos homens’(verso 7). O sentido de homoiomati éperfeitamente justificado. Ainda mais, a seguinte12 Brunner, vol. 2, pág. 322.13 Idem, pág. 323.14 Idem, pág. 324.

Page 24: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

frase enfatiza que ao encarnar-Se, Jesus, ‘homem’,aceitou completamente a condição dos ‘homens’.Aquele que, em essência, foi o único Deus-homem... tornou-Se pela obediência ao Seuchamado, um Homem celeste, de forma a cumprirSua obra expiatória, um Homem encarnado emcarne pecaminosa.”15

Seria lastimável deixar de mencionar aqui aposição do bispo anglicano J. A. T. Robinson, queem seu estudo sobre o conceito de “corpo” nateologia paulina, expressou-se mais claramente doque qualquer outro sobre a natureza humana deJesus: “O primeiro ato no drama da redenção”,escreveu ele, “é a auto-identificação do Filho deDeus até o limite, todavia sem pecado, com ocorpo carnal em seu estado decaído.”16

“É necessário acentuar essas palavras”, detalhaele, “porque a teologia cristã tem sidoextraordinariamente relutante em aceitarcorajosamente as audaciosas e quase rudes frasesque Paulo usa para demonstrar o agravo doevangelho nesse ponto. A tradicional ortodoxiacatólico-protestante sustenta que Cristo encarnou-Se numa natureza humana não-decaída.”17

“Mas, se a questão for reafirmada em seustermos bíblicos, não há razão para temor – e15 Cullmann, pág. 154.16 J. A. T. Robinson, The Body, a Study in Pauline Theology (O Corpo: um Estudo da Teologia Paulina)

(Londres: SCM Press, Ltd., 1952), pág. 37.17 Idem, págs. 37 e 38.

Page 25: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

realmente são eles os terrenos mais importantes apesquisar – a imputação a Cristo de umahumanidade sujeita a todos os efeitos econseqüências da queda.”18

Além disso, o problema foi objeto de umaproposta de Thomas F. Torrance, numa sessão daComissão “Fé e Constituição” do ConcílioEcumênico Mundial, ocorrida em Herrenalb,Alemanha, em julho de 1956. “Necessitamosconsiderar mais seriamente o fato de que o Verbode Deus assumiu nossa sarx, isto é, nossahumanidade decaída (e não uma imaculadamenteconcebida), para assim santificá-la. A doutrina daigreja necessita ser pensada em termos do fato deque Cristo Jesus assumiu nossa humanidade e Sesantificou. A igreja é santa na santificação deCristo.”19

Thomas Torrance é ainda mais explícito: “Talveza mais fundamental verdade que temos aprendidoda igreja cristã, ou antes, reaprendida, uma vezque a suprimimos, é que a encarnação foi a vindade Deus para nos salvar no cerne de nossa decaídae depravada humanidade, quando ela está em seuponto mais alto de inimizade e violência contra oreconciliante amor divino. Quer dizer, aencarnação deve ser compreendida como a vinda

18 Idem, pág. 38.19 Citado por Harry Johnson em The Humanity of The Saviour (A Humanidade do Salvador) (Londres:

Epworth Press, 1982), pág. 172.

Page 26: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

de Deus para tomar sobre Si mesmo nossa caídanatureza humana, nossa real existência carregadade pecado e culpa, nossa humanidade enferma demente e alma, em sua alienação do Criador. Essa éa doutrina encontrada em toda parte na igrejaprimitiva, nos primeiros cinco séculos, e expressa-se freqüentemente em termos de que o homemtotal teve de ser assumido por Cristo, para que ohomem total pudesse de ser salvo, e para que onão-assumido se perca, ou seja, o que Deus nãoassumiu em Cristo não seja salvo... Assim aencarnação devia ser entendida como o envio doFilho de Deus na concreta forma de nossa próprianatureza pecaminosa e como sacrifício pelopecado, no qual Ele julgou o pecado em suaverdadeira natureza, de forma a redimir o homemde sua mente carnal e hostil.”20

O rol de teólogos que hoje estão comungandocom esse pensamento poderia ser estendido. Masesses homens tiveram precursores, dentre os quaisestão pioneiros da Igreja Adventista do SétimoDia.

Os precursores da Cristologia contemporâneaSeria equivocado pensar que os teólogos do

século vinte foram pioneiros em sua posição com

20 Thomas F. Torrance, The Mediation of Christ (A Mediação de Cristo), págs. 48 e 49, citado por JackSequeira em Beyond Bel ief (Além da Crença) (Boise, Idaho: Paci f ic Press Pub. Assn.,1993), págs. 44 e 45.

Page 27: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

respeito à natureza humana de Cristo. Karl Barthcita muitos autores do século dezenove em seuDogmatics, os quais defenderam a crença danatureza decaída.21

De maneira ainda mais pormenorizada, HarryJohnson, um valoroso defensor da natureza pós-queda de Cristo, refere-se a Gregory de Nazianzus(329-389), que falou convincentemente acerca deCristo: “Pois aquilo que Ele não assumiu, Ele nãopode salvar; mas aquilo que está unido à Suadivindade, está também salvo.”22 Então Johnsondedica um capítulo inteiro ao ensino de dozeprecursores, desde o décimo sétimo até o décimonono século; desde Antoinette Bourignon atéEdward Irving; todos afirmaram que Cristo tomoua natureza de Adão tal qual ela era após a queda.

Com Johnson, concluímos o sumário históricodos testemunhos dos teólogos contemporâneos. Apartir de 1850, a Cristologia dos pioneirosadventistas seguiu as mesmas linhas deinterpretação. Nesse tempo, essa posição era aindainsólita e foi considerada herética pelocristianismo tradicional e radical. Quãointeressante é que a Cristologia desses pioneiros éagora confirmada por alguns dos melhoresteólogos contemporâneos!

Segue-se que a Cristologia desenvolvida pelos21 Ver Barth, Dogmatics, vol. 1, parte 2, págs. 153-155.22 Ver Johnson, págs. 129-189.

Page 28: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pioneiros do movimento adventista entre 1852 e1952, poderia bem ser considerada a vanguarda daCristologia contemporânea. Tal avançada posição,então, merece ser examinada em detalhes parabenefício daqueles que estão buscando pelosfundamentos cristológicos.

A história da Cristologia adventistaMuitos autores ingleses têm, em anos recentes,

se expressado sobre o assunto, a maioria dos quaisassume a posição da pré-queda ou pré-quedamodificada. Todavia, até agora, não há nenhumaobra que examine a história da crença da IgrejaAdventista sobre o assunto.

Alguns autores têm generosamente providoobras particularmente úteis neste projeto. Elasincluem, 1) de Herbert E. Douglass, A CondensedSummary of the Historic SDA Positions on theHumanity of Jesus (Um Sumário Condensado dasPosições Históricas dos Adventistas do Sétimo DiaSobre a Humanidade de Jesus); 2) William H.Grotheer, An Interpretative History of the Doctrineof the Incarnation as Taught by the SDA Church(Uma História Interpretativa da Doutrina daEncarnação, Como Ensinada Pela IgrejaAdventista do Sétimo Dia; 3) Bruno W. Steinweg,The Doctrine of the Human Nature of ChristAmong Adventists Since 1950 (A Doutrina da

Page 29: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Natureza Humana de Cristo Entre os Adventistas,Desde 1950). Esses autores devem serespecialmente reconhecidos.

A história da Cristologia apresentada nestaspáginas é dividida em cinco seções. A parte I iniciacom um capítulo dedicado à divindade de Cristo,uma doutrina que não foi aceita sem argumentaçãopor muitos líderes adventistas. No segundocapítulo, são apresentados os fundamentos bíblicosnos quais foi baseada a interpretação da naturezapós-queda de Cristo, unanimemente aceita entre1852 e 1952.

A parte II é dedicada a um pormenorizadoestudo da Cristologia como entendida pelospioneiros adventistas, enquanto que a parte IIIcontém uma coleção de testemunhos extraídos daliteratura oficial da igreja. Na parte IV, perfilamoso esquema histórico da controvérsia surgida porvolta de 1950, seguindo uma nova interpretação.Essa seção está fundamentada essencialmente nosescritos de Ellen G. White.

Espero que o leitor compreenda o significado e amagnitude da atual controvérsia. Talvez adiscussão dos correntes pontos de vista inclusos naparte V, ajude um pouco a unificar o pensamentoda igreja sobre o assunto da natureza humana deCristo.

Page 30: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Parte 1

A NATUREZA DIVINO-HUMANA DE CRISTO

Capítulo 1

A DIVINDADE DE CRISTO

Desde o início do movimento adventista, em 1844,a divindade de Jesus Cristo sempre foi uma desuas crenças fundamentais. Apresentada pelaprimeira vez em 1872, e muitas vezes desde então,foi especificada novamente nos seguintes termos,pela sessão da Associação Geral de 1980: “Deus, oEterno Filho, encarnou-Se em Jesus Cristo.Através dEle todas as coisas foram criadas, ocaráter de Deus revelado, a salvação dahumanidade consumada e o mundo julgado. Desdea eternidade, sendo verdadeiramente Deus, Eletambém Se tornou verdadeiramente homem, Jesus,o Cristo.”23

23 Seventh-day Adventists Believe: A Biblical Exposition of 27 Fundamental Doctrines (O QueCrêem os

Page 31: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Isso não significa que no começo do movimentoos crentes não tinham nuanças de opinião acercada divindade de Jesus. Dos pastores que se uniramao movimento adventista em 1844, 38 criam naTrindade, enquanto cinco eram semi-arianos,incluindo James (Tiago) White, Joseph Bates,Uriah Smith e, posteriormente, Joseph H.Waggoner – todos pilares da nova fé. Alguns delesvieram da Conexão Cristã, um movimento quenegava a igualdade do Pai e do Filho.24

Esses homens não negavam a divindade deCristo ou que Ele não fosse o Criador dos céus eda Terra, o Filho de Deus, Senhor e Salvador, masquestionavam sobre o significado das palavras:“Filho” e “Pai”, afirmando que o Filho tivera umcomeço no infinito passado – uma posição semi-ariana.

Quando se tornaram adventistas do sétimo dia,esses pastores retiveram as crenças semi-arianaspor um tempo. Isso é visto aqui e acolá em seusescritos. Seu desaparecimento foi marcado porpequena desavença. Esse litígio poderia ter postoem perigo a unidade do novo movimento, mas ospioneiros expressaram abertamente suas diferençasde opinião e as discutiram em espírito de oração,descobrindo soluções através de diligente estudo

Adventistas do Sétimo Dia – Uma Exposição Bíblica Das 27 Doutrinas Fundamentais)- (Haggerstown, Md.;Review and Herald Pub. Assn., 1988), pág. 36.

24 Ver LeRoy Edwin Froom, Movement of Destiny (O Movimento do Destino) (Washington, D.C. Review andHerald Pub. Assn., 1971), págs.148-182.

Page 32: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

da Palavra de Deus.

James (Tiago) Springer White (1821-1881) 25

James White foi co-fundador da IgrejaAdventista do Sétimo Dia, juntamente com EllenG. White e Joseph Bates. Ele nasceu no dia 4 deagosto de 1821, em Palmyra, no Maine. Seu paiera descendente de um dos peregrinos doMayflower. Após ouvir Guilherme Miller pregarsobre a segunda vinda de Cristo, James engajou-seno movimento milerita e passou pelo GrandeDesapontamento de 1844. Enquanto muitos dosque haviam esperado a vinda de Jesus em glóriano dia 22 de outubro de 1844, renunciaram à fé,James White formou o núcleo de um grupo queacabou sendo pioneiro do movimento adventista.

Ele era um brilhante pregador e escritor fecundo.Grandemente encorajado por Ellen Harmon, comquem se casou em 1846, James deu início a váriasrevistas: Present Truth (A Verdade Presente), em1849, Advent Review and Sabbath Herald(Revista do Advento e Arauto do Sábado),em1850, Youth’s Instructor (Instrutor daJuventude), em 1852, e Signs of the Times (Sinaisdos Tempos), em 1874. Entre 1853 e 1880, elepublicou quatro livros e muitos panfletos.

Em artigos publicados na Advent Review and25 Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia (Enciclopédia Adventista do Sétimo Dia) (Washington, D.C.,

Review and Herald Pub. Assn., 1976), págs. 1598-1604.

Page 33: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Sabbath Herald (Revista Adventista e Arauto doSábado), James White expressou seus pontos devista acerca da divindade de Jesus. De início, elerejeitou totalmente o que descrevia como “o velhodespropósito trinitariano”, que favorecia a idéia deque “Jesus Cristo é verdadeiramente o DeusEterno.”26

Todavia, após 1853, ele afirmou suacrença na divindade de Cristo.27

Vinte e três anos depois, James escreveu que osadventistas do sétimo dia “crêem na divindade deCristo da mesma forma que os trinitarianos”28 Em1877, ele publicou um artigo intitulado “Cristoigual a Deus”29.

Pouco tempo antes de sua morte,

ele declarou mais uma vez que “o Filho era igualao Pai na Criação, na instituição da lei e nogoverno das criaturas inteligentes.”30

Enquanto aposição de James White era moderada, tal não sedava com Uriah Smith.

Uriah Smith (1832-1903)31

Uriah Smith nasceu em New Hampshire, em1832, pouco após Guilherme Miller iniciar suapregação sobre o iminente retorno de Cristo. Eletinha apenas 20 anos de idade quando se tornou

26 James S. White, na Review and Herald (Revista e Arauto), 5 de agosto de 1852. Ver Seventh-dayAdventist Encyclopedia, págs. 286-288.

27 James S. White, em Review and Herald, 8 de setembro de 1853.28 Idem, 12 de outubro de 1876.29 Idem, 29 de novembro de 1877.30 Idem, 5 de julho de 1880.31 Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia, págs. 1355, 1356.

Page 34: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

adventista, em 1852. Já em 1855, ele foi indicadocomo editor-assistente da Review and Herald,onde esteve em estreita associação com JamesWhite. Logo se tornou editor-chefe, uma posiçãoque manteve até quase o dia de sua morte.

Uriah Smith possuía uma personalidadedominante e mantinha vigorosamente suasposições. Seus livros e artigos exerciam forteinfluência sobre as convicções doutrinárias daigreja. Smith é bem conhecido principalmente emrazão de seus livros sobre profecias bíblicas:Daniel and the Revelation (Daniel e Apocalipse),The United States in Prophecy (Os Estados Unidosna Profecia), e Looking Unto Jesus (Olhando ParaJesus).

Como James White, Joseph Bates e outros,Uriah Smith abandonou sua postura semi-ariana,mas não sem dificuldade. Em seu primeiro livro,Thoughts on the Revelation (Reflexões Sobre oApocalipse) (1867), ele declarou abertamente seuspontos de vista antitrinitarianos.32

Ele não apenasnegava a existência do Espírito Santo, comotambém considerava que “a eternidade absoluta...só pode ser atribuída a Deus, o Pai.”33

Esseatributo, dizia ele, nunca pode ser aplicado aCristo.

Em seu comentário sobre Apocalipse 3:14, Uriah32 Ver Froom, págs. 158, 159.33 Uriah Smith, Thoughts on the Revelation (Reflexões Sobre o Apocalipse) (n.p., 1867), pág. 14.

Page 35: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Smith especifica que Cristo não é reconhecidocomo “o iniciador, mas como o início, da criação,e o primeiro ser criado”.34 Pouco tempos após, elemoderou suas afirmações antitrinitarianas. Notempo da publicação de Daniel and the Revelation,em 1882, ele explicou que “Seu Filho unigênito”,de João 3:16, dificilmente poderia ser aplicado a“um ser criado no sentido comum”.35

Em 1898, em seu último livro, Looking UntoJesus, Uriah Smith abandonou a idéia de Cristocomo “um ser criado”. Mas, sustentou que emalgum ponto no tempo, Jesus “apareceu” e que,conseqüentemente, Ele teve um começo.“Unicamente Deus não tem princípio.” Na maisremota época, quando pôde haver um começo –um período tão longínquo que para mentes finitasé essencialmente eternidade – apareceu a Palavra.“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava comDeus, e o Verbo era Deus.” (João 1:1) A Palavraincriada era o Ser que, na plenitude dos tempos,tornou-Se carne e habitou entre nós. “Seuprincípio não foi semelhante ao de muitas outrascoisas no Universo.”36

Considerando a posição de Cristo antes daencarnação, Smith afirmava que ela era “igual a doPai”. No entanto, “nenhuma obra da criação foi34 Idem, pág. 59.35 Sal. 2:7; Atos 13:33; João 1:14; 3:16; Heb. 1:5; 5:5.36 Looking Unto Jesus (Olhando Para Jesus) (Battle Creek, Mich.: Review and Herald Pub. Assn., 1898) (e

reimpresso por Payson, Ariz.: Leaves of Autumn Books, 1986), pág. 10.

Page 36: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

realizada até Cristo ter-Se tornado um ativo agenteem cena”.37

Então, traz a público esta declaraçãoestranha: “Com o Filho, a evolução da Deidade,como divindade, cessou.”38

Em outras palavras,Smith advogava o conceito de que Cristo não foicriado, mas “derivado de Deus”.39

Esse ponto de vista também era defendido porJoseph H. Waggoner.

Joseph H. Waggoner (1820-1889)40

Joseph H. Waggoner foi um zeloso defensor daposição semi-ariana, especialmente quanto àdivindade de Cristo. Ele também se opunha àdoutrina da Trindade e considerava o EspíritoSanto como meramente uma influênciaimpessoal.41

Waggoner parece não ter pertencido à ConexãoCristã, mas essa compreensão era partilhada pormuitas denominações daquela época. Antes deunir-se ao crescente movimento adventista, ele eramembro da igreja batista e trabalhava como editor-assistente de um jornal político de Wisconsin. Muirapidamente ele firmou posição ao lado dospioneiros adventistas e exerceu cargos deinfluência, como editor da Signs of the Times,

37 Idem, pág. 12.38 Idem, pág. 13.39 Idem, pág. 17.40 Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia, pág. 1563.41 Ver Froom, págs. 167-175.

Page 37: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

sucedendo a James White. Posteriormente,Waggoner editou o American Sentinel (SentinelaAmericana), e finalmente, Pacific Health Jornal(Jornal da Saúde do Pacífico). Foi autor de váriosartigos e livros, inclusive o The Atonement (AExpiação) e, From Eden to Eden (Do Éden Para oÉden), em 1886.

Joseph H. Waggoner não pôde assistir à sessãoda Conferência Geral de Mineápolis, em 1888, porcausa de seu precário estado de saúde. Ele faleceuem 1889. A questão da divindade de Jesus estavana agenda da Conferência de 1888. Nessa ocasião,o filho de Joseph, Ellet J. Waggoner, refutou osúltimos argumentos semi-arianos remanescentesna igreja, e definitivamente estabeleceu ofundamento bíblico necessário ao estabelecimentoda plena e completa divindade de Jesus Cristo.

Ellet J. Waggoner (1855-1916)42

Ellet J. Waggoner foi o primeiro teólogoadventista a apresentar a Cristologia sistemáticareferente à divindade e à humanidade de JesusCristo.

Nascido em Baraboo, Wisconsin, Ellet J.Waggoner estudou no Colégio de Battle Creek,Michigan. Prosseguiu seus estudos no BellevueMedical College, New York, para a obtenção do42 Ver Eric Claude Webster, Crosscurrents in Adventist Christology (Contracorrentes na Cristologia

Adventista) (New York: Peter Lang, 1984), págs.157-247.

Page 38: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

grau em medicina. Iniciou sua carreira comomédico no Sanatório de Battle Creek, masdescobriu que preferia pregar e assim entrou parao ministério evangélico.

Depois de revelar talento para escrever, foi elechamado a trabalhar como editor-assistente darevista Signs of the Times,43 em 1884, sob adireção de seu pai. Dois anos mais tarde, tornou-seeditor-chefe, cargo que manteve até 1891. De 1892até 1902, Waggoner trabalhou na Inglaterra,primeiramente como editor da Present Truth, edepois como primeiro presidente da Associação doSul da Inglaterra. Após retornar aos EstadosUnidos por causa de seu divórcio e novocasamento, despendeu os anos restantes de suacarreira à parte da igreja, como professor deteologia no Colégio de Battle Creek, nessa épocadirigido por John Harvey Kellogg.44

Waggoner era um teólogo muito fecundo.Escreveu vários e importantes livros,45 numerosospanfletos e centenas de artigos para revistas. Noentanto, ficou mais conhecido pelo papel quedesempenhou na sessão da Conferência Geral de1888, em Mineápolis, juntamente com seu colega

43 Inicialmente essa revista foi chamada de The Signs of the Times, mas posteriormente Signs of the Times.44 Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia, vol. 10, pág. 1563.45 Os principais livros são: Fathers of the Catholic Faith (Pais da Fé Católica), (Oakland: Pacific Press Pub.

Co., 1888); The Gospel in the Book of Galatians (O Evangelho na Epístola aos Gálatas) (Oakland: PacificPress Pub. Co., 1890); The Gospel in Creation (O Evangelho na Criação),Battle Creek, Mich.: InternationalTract Society, 1895); The Glad Tidings (Felizes Novas) (Oakland: Pacific Press Pub. Co., 1900); TheEverlasting Covenant (O Concerto Eterno) (Londres: International Tract Society, 1900).

Page 39: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Alonzo T. Jones. Juntos deixaram sua marca nahistória da igreja adventista, pelas apresentaçõessobre justificação pela fé. Para Waggoner, oassunto somente poderia ser compreendido atravésdas lentes da Cristologia.

Já em 1884, Waggoner publicou uma série deartigos na Signs of the Times, nos quais afirmavasua fé na divindade de Cristo, Criador de todas ascoisas, a quem os anjos adoram exatamente comofazem a Deus, o Pai. “Ele (Deus) deu Seu FilhoUnigênito – por quem todas as coisas foram feitase a quem os anjos adoram com reverência igual àrendida a Deus – para que o homem pudesse tervida eterna.”46

Na sessão da Conferência Geral de Mineápolis,em 1888, Waggoner apresentou uma série depalestras sobre a divindade de Cristo, um assuntoque estava na agenda da Conferência. Embora nãotenha deixado versões escritas de suasapresentações, Waggoner publicou uma série dequatro artigos sobre o assunto, imediatamente apósa sessão.47

Isso sugere que eles foram relatos desuas palestras. Eles também foram vistos nasprimeiras quatro seções do livro Christ and HisRighteousness (Cristo e Sua Justiça), publicadoem 1890. Esse livro contém a maioria das idéias

46 Ellet J. Waggoner , em Signs of the Times,28 de agosto de 1884.47 Idem, 25 de março de 1889; 1, 8 e 15 de abril de 1889.

Page 40: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

prevalecentes na Cristologia de Waggoner.48

Nesse tempo, muitos líderes da igreja aindaacalentavam conceitos semi-arianos ouadocianistas, concernentes à natureza divina deCristo, daí a importância da questão levantada porWaggoner: “Cristo é Deus?”

Para provar que Ele realmente era Deus,Waggoner citou muitos versos nos quais Cristo erachamado Deus.49 Para benefício daqueles queainda negavam isso, ele explicou que o nome deDeus “não foi dado a Cristo em conseqüência dealguma grande realização, mas é Seu por direitohereditário”.50

“Cristo é a ‘expressa imagem’ dapessoa do Pai (Heb. 1:3)... Conquanto Filho doDeus auto-existente, Ele tinha por natureza todosos atributos da divindade”.51 O próprio Cristoensinou de maneira categórica que Ele era Deus(João 14:8 e 9; 10:33; 8:58)52

Waggoner enfatizavaa importância da declaração de Paulo em Col.1:19: “Porque aprouve a Deus que nEle habitassetoda a plenitude.” E 2:9: “Porque nEle habitacorporalmente toda a plenitude da divindade.”Waggoner qualifica isso como “o mais absoluto einequívoco testemunho”53, noção que foi repetida48 Ver Jean Zurcher, “Ellet J. Waggoner’s Teaching on Righteousness by Faith” (O Ensino de Ellet J.

Waggoner Sobre a Justiça Pela Fé) (ensaio apresentado na reunião dos Depositários White, Washington,D.C., em janeiro de 1988).

49 Waggoner, Christ and His Righteousness (Cristo e Sua Justiça), págs. 9-16.50 Idem, págs. 11 e 12.51 Idem, pág. 12.52 Idem, pág. 13-15.53 Idem, pág. 16.

Page 41: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

quinze vezes em seu estudo.Não basta simplesmente dizer: “Jesus Cristo é

Deus.” Os apóstolos descrevem-nO também como“Criador”. Waggoner cita Colossenses 1:15-17,afirmando que “não há coisa alguma no Universoque deixou de ser criada por Cristo... Tudodepende dEle para existir ... Ele sustém todas ascoisas pela palavra do Seu poder”.54 Em Hebreus1:10, o próprio Pai diz ao Filho: “Tu, ó Senhor, noprincípio fundaste a Terra e os céus são obra dasTuas mãos.”55

Quem, então, pode se atrever a negar “adivindade de Cristo e o fato de que Ele é o Criadorde todas as coisas”.56

Insistir, como “muitaspessoas” fazem, que “Cristo é um ser criado”,baseando-se em um único verso, como Apocalipse3:14, é simplesmente negar Sua divindade.57 Omesmo é válido quando alguém se apóia naexpressão de Paulo, declarando que Cristo era “oprimogênito de toda a Criação” (Col. 1:15). Oseguinte versículo, observa Waggoner, mostraclaramente que Ele é “o Criador e não acriatura”.58

Porém, mesmo Waggoner cria que “houve umtempo quando Cristo derivou e saiu de Deus, do

54 Idem, pág. 17.55 Idem, pág. 18.56 Idem, pág. 19.57 Idem, págs. 19-21.58 Idem, pág. 21.

Page 42: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

seio do Pai (João 8:42; 1:18), mas que esse tempovai tão distante nos dias da eternidade, que para afinita compreensão ele é praticamente semprincípio”.59 Finalmente, Waggoner enfatizou que“uma vez que Ele é o Unigênito Filho de Deus, éda mesma substância e natureza de Deus, e possui,por nascimento, todos os atributos de Deus... Eletem imortalidade por direito próprio, e podeconferi-la a outros”.60

Isso porque, Waggonerconclui: “Ele é apropriadamente chamado Jeová, oEu Sou”.61

A insistência de Waggoner sobre o fato de serCristo da mesma substância de Deus e possuir vidaem Si mesmo, não era, indubitavelmente, umanovidade aos olhos de muitos dos delegados nasessão de Mineápolis. Sua posição sobre anatureza divina de Cristo era, provavelmente, parteda razão para a oposição de muitos delegados àsua mensagem sobre a justificação pela fé. Ele,evidentemente, achou que era essencial afirmar aigualdade de Cristo com Deus, pois somente avida de Deus em Cristo tinha o poder de salvarpecadores, justificando-os por Sua graça.

Sua contribuição nesse ponto, como também arespeito da natureza humana de Cristo, foidecisiva. Froom reconhece isso prontamente: “Em

59 Idem, págs. 21-25.60 Idem, pág. 22.61 Idem, pág. 23.

Page 43: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

1888, Waggoner estava sendo pioneiro, e sem osbenefícios das muitas afirmações posteriores dela[Ellen White]”, “não apenas sobre a eternapreexistência de Cristo, como também de Suaexistência individual e Sua infinitude, igualdade eonipotência”.62

Ellen White assim se expressou após ouvirWaggoner: “A plenitude da divindade em JesusCristo foi-nos mostrada com beleza e encanto.”63

Para ela, isso demonstrava que Deus estavaoperando entre eles. A interpretação de Waggonerfoi, mormente, uma prova teológica do que elasempre creu e declarou em seus escritos paraaquele tempo.

Ellen Gould White (1827-1915)64

Educada na fé metodista, Ellen White nunca teveproblema em tratar da divindade de Cristo, Suapreexistência e igualdade com o Pai. É, em largamedida, graças a ela e a seus escritos que adoutrina da Trindade foi definitivamenteestabelecida. Não iniciada nas complexidades dateologia, ela cuidadosamente evitava cair naarmadilha das controvérsias cristológicasanteriores. Igualmente, ela nunca tomou parte emconfrontações diretas com seus associados mais

62 Froom, pág. 296.63 Ellen G. White em Review and Herald, 27 de maio de 1890.64 Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia, págs. 1584-1592; Webster, págs. 82-88.

Page 44: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

chegados que mantinham errôneas idéias sobre apessoa de Cristo. Isso não impediu que suainfluência fosse decisiva.

Nascida em 26 de novembro de 1827, emGorham, Maine, Ellen cresceu no seio de umafamília temente a Deus. Com a idade de 12 anos,ela foi batizada por imersão na Igreja Metodista.No encerramento de uma série de sermões deGuilherme Miller sobre a breve volta de Jesus,toda a família uniu-se ao movimento milerita epassou pelo Grande Desapontamento de 22 deoutubro de 1844.

Em dezembro de 1844, ainda atordoada poraqueles acontecimentos, Ellen teve sua primeiravisão durante uma reunião de oração. Com opassar do tempo, ficou evidente que o Senhor lhehavia concedido o dom de profecia, falando-lheatravés de sonhos e visões. Como mensageira doSenhor, ela serviu de conselheira no próprio seioda igreja. Em agosto de 1846, Ellen Harmoncasou-se com James White. Juntos se tornaramcolunas do movimento adventista.

Não podemos enfatizar suficientemente como oSenhor usou Ellen White para guiar, desde seuinício, a pequena comunidade adventista à Bíbliacomo a Palavra de Deus, e através dela, a JesusCristo. Se já houve um escritor ou escritora quehonrou, adorou e exaltou a Cristo, Seu caráter,

Page 45: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

vida e obra, essa foi Ellen White. Para comprová-lo alguém só precisa ler os livros que ela escreveucom relação à Sua vida e ensinos.65

Com certeza,em todos os seus livros o Filho de Deus é o temacentral.

Em Mineápolis, Ellen White sustentou oprincípio da Sola Scriptura, promovido porWaggoner, para resolver o problema enfrentadopelos delegados sobre a divindade de Cristo, ajustificação pela fé e a lei em Gálatas. Ellen nãofora capaz de encontrar um manuscrito anteriorque havia escrito para J. H. Waggoner sobre amatéria, e sugeriu que isso poderia ter sidoprovidencial: “Deus tem um propósito nisso. Eledeseja que vamos à Bíblia e tomemos a evidênciaescriturística.”66

Em sua palestra de encerramento,intitulada A Call to a Deeper Study of the Word(Um Chamado ao Estudo Mais Profundo daPalavra), Ellen White promoveu um exemplo dopróprio método de Waggoner.

“O Dr. Waggoner”, ela disse, “apresentou seuspontos de vista de maneira clara e direta, como umcristão deve fazer. Se ele estiver em erro, vocêsdeveriam, de modo calmo, racional e cristão,

65 Os mais conhecidos: Steps to Christ (Caminho a Cristo) (New York: Fleming H. Revell, 1892); ThoughsFrom the Mount of Blessing (O Maior Discurso de Cristo) (Battle Creek, Mich.: International Tract Society,1896); Christ Our Saviour (Cristo, nosso Salvador) (Battle Creek, Mich.: International Tract Society, 1896);The Desire of Ages (O Desejado de Todas as Nações) (Mountain View, Calif.: Pacific Press Pub. Co., 1898);Christ’s Object Lessons (Parábolas de Jesus) (Battle Creek, Mich.: Review and Herald Pub. Assn., 1900).

66 Ellen G. White, Manuscrito 15, 1888. Citado em A. V. Olson, Through Crisis to Victory (Da Crise à Vitória)(Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1966), pág. 293.

Page 46: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

buscar mostrar-lhe pela Palavra de Deus onde eleestá em desarmonia com seus ensinos... Tomemosnossa Bíblia e com humilde oração e espíritosuscetível de ensino, vamos ao grande Mestre doMundo... A verdade precisa ser apresentada talqual ela é em Jesus... Devemos pesquisar asEscrituras a fim de obter evidências da verdade...Todos os que reverenciam a Palavra de Deus talqual ela se apresenta, todos que fazem Suavontade segundo o melhor de suas capacidades,conhecerão se a doutrina procede de Deus.”67

Por ter seguido esse método desde o começo,Ellen White nunca teve problemas com adivindade de Jesus. Ela afirmava a igualdade deCristo com Deus.68

Descrevia-O como “aMajestade do Céu... igual a Deus”69, “Soberano doCéu, um em poder e autoridade com o Pai”70, “deuma só substância, possuindo os mesmosatributos” do Pai71

“o Unigênito Filho de Deus,que estava com o Pai desde as eras eternas”72, “OSenhor Deus... revestido das vestes dahumanidade”73, “Infinito e Onipotente; Eterno e

67 Idem, págs. 294-302.68 Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia, pág. 287.69 Ellen G. White, Manuscrito 4, 1863, citado em Selected Messages (Mensagens Escolhidas) (Washington,

D.C..: Review and Herald Pub. Co., 1958), volume 1, pág. 69.70 Ellen G. White, The Great Controversy Between Christ and Satan (O Grande Conflito) (Moutain View,

Calif.: Pacific Press Pub. Assn., 1888), pág. 459.71 ______, em Signs of the Times, 27 de novembro de 1893.72 ______, Fundamentals of Christian Education (Fundamentos da Educação Cristã) (Nashville: Southern

Pub. Assn., 1895), pág. 382.73 Idem, pág. 379.

Page 47: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

auto-existente Filho”74.Em sua maior obra, O Desejado de Todas as

Nações, publicado primeiramente em 1898, EllenWhite escreve nas linhas iniciais do livro: “Desdeos dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era umcom o Pai; era ‘a imagem de Deus’, a imagem deSua grandeza e majestade, ‘o resplendor de Suaglória’. Foi para manifestar essa glória que Eleveio ao mundo... para ser ‘Deus conosco’”75.Escreveu mais: “Em Cristo há vida original, nãoemprestada, não derivada... A divindade de Cristoé para o crente a segurança da vida eterna.”76

Num artigo publicado em 1900, Ellen Whiteinsistiu: “Cristo é o preexistente, auto-existenteFilho de Deus... Falando de Sua preexistência,Cristo conduz a mente para as eras sem fim dopassado. Ele nos garante que nunca houve tempoem que não estivesse em íntimo companheirismocom o Deus Eterno. Aquele cuja voz os judeusentão ouviam, havia estado com Deus comoAlguém convivente com Ele.”77

Semelhantemente, em outro artigo datado de 5de abril de 1906, Ellen White afirmou pela últimavez aquilo que se tornou a crença oficial da IgrejaAdventista sobre o assunto da divindade de Cristo:74 Ellen G. White, Manuscrito 101, 1897, citado em EGW, Evangelim (Evangelismo) (Washington, D.C.:

Review and Herald Pub. Assn, 1946), pág. 615.75 Ellen G. White, The Desire of Ages (O Desejado de Todas as Nações) (Nashville: Southern Pub. Assn.,

1964), pág. 19.76 Idem, pág. 530.77 ______, em Signs of the Times, 29 de agosto de 1900.

Page 48: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

“Cristo era essencialmente Deus, e no mais altosentido. Ele estava com Deus desde toda aeternidade... uma Pessoa distinta, todavia um como Pai.”78

A influência de Ellen White foi decisiva paraajudar a dissipar as crenças semi-arianas que aindaremanesciam entre alguns membros da igreja. Elafoi apoiada por Ellet J. Waggoner e mais tarde porWilliam W. Prescott79 e Arthur G. Daniells80.

78 ______, em Review and Herald, 5 de abril de 1906.79 William W. Prescott (1855-1944), editor da Review and Herald (1902-1909) e vice-presidente

da Associação Geral, publicou em 1920 The Doctrine of Christ (A Doutrina de Cristo),uma série de estudos bíblicos contendo 18 lições. Esse foi, realmente, o primeiro ensaio adventista emteologia sistemática sobre a pessoa de Cristo. Ver nosso capítulo 6.

80 Arthur G. Daniells (1858-1935), presidente da Associação Geral de 1901 a 1922, publicou em 1926, ChristOur Righteousness (Cristo, Nossa Justiça) (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn.). Esse livroexerceu notável influência cristocêntrica sobre o corpo ministerial.

Page 49: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Capítulo 2

A NATUREZA HUMANA DE CRISTO

Tem sempre sido um desafio compreender anatureza humana de Cristo, repto talvez maior doque entender Sua natureza divina. A humanidadede Cristo tem sido o ponto crucial da controvérsia,desde os primeiros séculos da Era Cristã até agora,ao ponto de a Cristologia estar hoje confinadamaiormente ao seu estudo. A questão crítica é se acarne de Cristo era a de Adão antes da queda oudepois dela. Em outras palavras, estava a carne deCristo livre das influências do pecado ou sujeita aoseu poder e à morte?

Esse é um problema de magna importância. Seerrarmos acerca da natureza humana de Jesus,arriscamo-nos a cometer erros sobre cada aspectodo plano da salvação. Podemos malograr nacompreensão da realidade redentiva da graçaconcedida por Jesus aos seres humanos, aodefendermos Sua humanidade como estando livredo poder do pecado.

Ellen White salientou essa fundamental verdade:“O triunfo e a obediência de Cristo são os de um

Page 50: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

ser humano. Em nossas considerações, podemoscometer muitos erros em razão de equivocadospontos de vista sobre a natureza humana doSenhor. Quando conferimos à Sua naturezahumana um poder que não é possível ao homempossuir em seus conflitos com Satanás, destruímosa inteireza de Sua humanidade”.81

A Encarnação – Um MistérioInegavelmente, a encarnação do Filho de Deus é

um mistério. O apóstolo Paulo declarou: “E, semdúvida alguma, grande é o mistério da piedade:Aquele que Se manifestou em carne, foijustificado em espírito, visto dos anjos, pregadoentre os gentios, crido no mundo, e recebido acimana glória.” (I Tim. 3:16).

Esse mistério diz respeito a todos os aspectos doplano da salvação, e não apenas à encarnação. Nãoadmira que Ellen White houvesse declarado: “Oestudo da encarnação de Cristo, de Seu sacrifícioexpiatório e obra mediadora, ocupará a mente dodiligente estudante enquanto o tempo durar.”82 Arespeito da encarnação, ela semelhantementeescreveu: “Ao contemplarmos a encarnação deCristo na humanidade, ficamos atônitos diante detão insondável mistério que a mente humana não81 Ellen G. White – Manuscrito 1, de 1892. Citado em Seventh-day Adventist Bible Commentary (Washington,

D.C., Review and Herald Pub. Assn., 1953-1957) Ellen G. White Comments, vol. 7,. Pág. 929.82 Ellen G. White, Gospel Workers (Obreiros Evangélicos) (Washington, D.C. Review and Herald Pub. Assn.,

1915), pág. 21.

Page 51: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pode compreender. Quanto mais refletimos sobreele, mais espantoso nos parece.”83

O fato de ser um “insondável mistério” nãoimplica que seja assunto proibido e posto de ladocomo incompreensível. Não fala Paulo do“mistério que esteve oculto dos séculos e dasgerações, mas agora foi manifesto aos seussantos... que é Cristo em vós, a esperança daglória”? (Col. 1:26 e 27) Ele também falou domistério da piedade que foi “pregado entre osgentios, crido no mundo” (I Tim 3:16). Issoimplica numa progressiva revelação de verdadesque Deus deseja partilhar com a humanidade, cujopropósito é conduzi-la à salvação.

Embora ela afirme que a encarnação de Cristoseja um mistério, Ellen White nos convida aestudá-la em profundidade. E dá boa razão de suaimportância: “A humanidade do Filho de Deus étudo para nós. É a corrente de ouro que liga nossaalma a Cristo e por meio de Cristo a Deus. Istodeve constituir nosso estudo.” Ela, porém, faz umaadvertência: “Quando abordamos este assunto,bem faremos em tomar a peito as palavrasdirigidas por Cristo a Moisés, junto à sarçaardente: ‘Tira as sandálias dos pés, porque o lugarem que estás é terra santa.’ (Êxo. 3:5) Devemosaproximar-nos deste estudo com a humildade de83 ________, em Signs of The Times (Sinais dos Tempos), 30 de julho de 1896. Citado em The Seventh-day

Adventist Bible Commentary, Ellen G. White Comments, vol. 5, pág. 1130.

Page 52: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

um discípulo, de coração contrito.” Noencerramento do parágrafo, ela diz: “E o estudo daencarnação de Cristo é campo frutífero, querecompensará o pesquisador que cave fundo embusca de verdades ocultas.”84

O problema ao buscarmos sua compreensão nãoé tanto o método da encarnação – como a divinanatureza foi capaz de unir-se à natureza humanaem Cristo. Esse é um mistério que jaz muito alémde nossa compreensão. O problema que aCristologia busca resolver é o porquê daencarnação, e em que espécie de carne Jesusrealmente Se manifestou. Eis o cerne do problema.A esse respeito, o Novo Testamento não temcarência de informação clara.

O Fundamento Bíblico da CristologiaO único jeito pelo qual os pioneiros conseguiram

se desvencilhar da influência de suas tradiçõessemi-arianas, foi confiar inteiramente no ensinodas Escrituras. Em virtude disso, eles abriram ocaminho para uma Cristologia a qual os melhoresexegetas do século 20 somente vieram verificarrecentemente em seus estudos.

À parte do Novo Testamento, é difícil especificarque fontes estão por trás da primeira atribuiçãoadventista de “carne pecaminosa” a Jesus. Por84 ________, Selected Messages (Mensagens Escolhidas) (Washington, D.C.: Review and Herald Pub.

Assn., 1958), livro 1, pág. 244.

Page 53: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

outro lado, é fácil rememorar as referênciasbíblicas usadas pelos primeiros escritoresadventistas, para definir a natureza da carne naqual o Senhor Jesus venceu o poder do pecado.

O texto mais citado e mais explícito é Rom. 8:3.Nenhuma outra passagem parece explicar melhor arazão para a encarnação, e em que espécie decarne ela foi realizada: “Deus, enviando Seu Filhoem semelhança da carne do pecado, e por causa dopecado, na carne condenou o pecado.”

Os primeiros teólogos adventistas interpretavamcom naturalidade a expressão da King JamesVersion “em semelhança da carne do pecado”como a definição paulina da carne de Jesus aotempo de Sua encarnação. Eles consideravam quea palavra “semelhança” devia ser usadaprecisamente no mesmo sentido dado emFilipenses 2:7, que diz que Jesus, após ter-Sedespojado da forma de Deus e de Sua “igualdade”com Ele, “tomou a forma de servo, tornando-Sesemelhante aos homens”. Que equivale dizer queJesus não teve simplesmente uma aparênciahumana, mas de fato uma natureza com “carnepecaminosa” sarko hamartias, como Paulo declaraem Rom. 8:3. Isso não era entendido comoimplicando que Jesus houvesse sido um pecador,ou que Ele houvesse participado, no mínimo quefosse, do pecado do homem.

Page 54: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

A expressão “Deus ... condenou o pecado nacarne” foi interpretada como significando queJesus, tendo vivido uma vida sem pecado, em“carne pecaminosa”, havia realmente “condenadoo pecado na carne” (Rom. 8:3). Dessa maneira,“veio a ser autor de eterna salvação para todos osque Lhe obedecem” (Heb. 5:9). Assim, desde oinício, a Cristologia dos pioneiros foi desenvolvidaem direta relação à sua Soteriologia, sendo aúltima uma função da primeira.

Entre outros textos amiúde citados, tambémencontramos Rom. 1:3, que define a natureza deJesus através de Seus ancestrais: “[Cristo] quenasceu da descendência de Davi segundo a carne”Hebreus 2:16 também foi citado: “Pois, naverdade, não presta auxílio aos anjos, mas sim àdescendência de Abraão.” Um escritor fez mençãode alguns dos menos louváveis da descendência deAbraão, e comentou: “Um rápido olhar nosancestrais e na posteridade de Davi, mostra que alinha da qual Cristo descendeu era tal que tenderiaa concentrar nEle todas as fraquezas dahumanidade.”85

Muitas outras passagens da epístola aos Hebreusforam citadas, as quais enfatizavam a identidadeda natureza humana de Jesus com aquela de Seusirmãos humanos. Por exemplo: “Pois tanto o que

85 Ellet J. Waggoner, em Signs of The Times, 21 de janeiro de 1889.

Page 55: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

santifica, como os que são santificados, vêm todosde um só.” (Heb. 2:11) “Portanto, visto como osfilhos são participantes comuns de carne e sangue,também Ele, semelhantemente, participou dasmesmas coisas” (verso 14). “Pelo que convinhaque em tudo fosse feito semelhante a Seusirmãos.” (verso 17). E ainda outra: “Porque nãotemos um sumo sacerdote que não posacompadecer-Se das nossas fraquezas; porém umque, como nós, em tudo foi tentado, mas sempecado.” (Heb. 4:15).

A declaração de Paulo em Gálatas 4:4 e 5, éfreqüentemente citada como implicando numacompleta e real participação na decaídahumanidade, como condição para a salvação dohomem: “Mas, vindo a plenitude dos tempos,Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher,nascido debaixo da lei, para resgatar os queestavam debaixo da lei, a fim de recebermos aadoção de filhos.” Semelhantemente, em IICoríntios 5:21: “Aquele que não conheceu pecado,Deus O fez pecado por nós; para que nElefôssemos feitos justiça de Deus.”

Aí estão algumas passagens-chave em que seapoiaram os teólogos e escritores adventistasanteriormente a 1950, para definir a naturezahumana de Jesus. De fato, as primeiras afirmaçõesna literatura oficial da igreja mostravam que o

Page 56: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

significado dado às expressões bíblicas referentesà natureza de Jesus foram firme e claramenteestabelecidas.

Os Primeiros Testemunhos AdventistasDe acordo com Ellen White, a natureza humana

de Cristo foi definida no início pelos pioneirosadventistas, juntamente com outras crençasfundamentais. “Após o grande desapontamento... averdade foi desdobrada ponto por ponto, eentrelaçada com suas mais santas lembranças esimpatias. Os pesquisadores da verdade sentiamque a identificação de Cristo com sua natureza einteresses foi completa.”86

A primeira referência à natureza humana deJesus saída da pena do editor James White seencontra na Review and Herald de 16 de setembrode 1852. No editorial da revista, ele escreveu:“Como Aarão e seus filhos, Ele [Jesus] tomousobre Si carne e sangue, a semente de Abraão.”87

No ano seguinte, num artigo intitulado “Um AutorInglês”, lemos: “Jesus Cristo, declara a você serEle o Filho de Deus, um com o Pai... o que tomousobre Si a semente de Abraão”, nossa natureza, e apreservou sem pecado.”88

Em 1854, J. M. Stephenson, escreveu uma série

86 Ellen G. White, Selected Messages, livro 2, págs. 109, 110 (itálicos supridos).87 James S. White, Review and Herald , 16 de setembro de 1852.88 Idem, 18 de outubro de 1853.

Page 57: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

de artigos sobre a natureza humana de Jesus.“Dizer que Deus enviou Seu próprio Filho ‘emsemelhança de carne do pecado’, equivale aafirmar que o Filho de Deus assumiu nossanatureza.”89 Para responder à pergunta: “Quesangue foi derramado para a remissão dospecados?”, Stephenson retorque: “Não foi ele osangue idêntico ao que fluía nas veias de Maria,Sua mãe, e que veio através de toda a suaancestralidade desde Eva, a mãe de todos osviventes? Por outro lado, Ele não era a “‘sementeda mulher’ de Abraão, Isaque, Jacó e Davi?”90

Fora esses três autores, ninguém mais escreveusobre a natureza humana de Jesus na década de1850, com exceção de Ellen G. White. Suaprimeira declaração, datando de 1858, aparece nadescrição de um diálogo entre Jesus e Seus anjos,discutindo o plano da salvação. Tendo-lhesrevelado que abandonaria Sua glória celestial,encarnaria na Terra, humilhar-Se-ia como umhomem comum, e seria tentado como homem,para poder prestar assistência àqueles que fossemtentados, “Jesus lhes disse que eles teriam umaparte a desempenhar...; Ele tomaria a naturezadecaída do homem, e Sua força não seria nemmesmo igual a deles [anjos].”91

89 J. M. Stephenson , Review and Herald, 9 de novembro de 1854.90 Idem, 15 de julho de 1854.91 Ellen G. White, Early Writings (Primeiros Escritos) (Washington, D.C., Review and Herald Pub. Assn.,

1945), pág. 150 (itálicos supridos).

Page 58: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

No mesmo relato, Ellen White diz que no finalda revelação de Jesus, Satanás “disse a seus anjosque quando Jesus assumisse a decaída natureza dohomem, ele poderia sobrepujá-Lo e impedir arealização do plano da salvação”.92

Para Ellen White todo o plano da salvaçãodependia da natureza humana de Cristo. “Estavanos planos de Deus”, escreveu ela em 1864, “queCristo tomasse sobre Si mesmo a forma e anatureza do homem caída.”93

Para ela, “a grande

obra da redenção deveria ser levada a efeito nãoapenas com o Redentor tomando o lugar dodecaído Adão... O Rei da glória Se propôshumilhar-Se a Si mesmo na degeneradahumanidade... Ele tomaria a natureza do homemcorrompido.”94

A Primeira Declaração OficialAs primeiras testemunhas expressavam não

apenas seus pontos de vista pessoais, mas tambémas convicções de toda uma comunidade. Eis porque suas opiniões foram inclusas na Declaraçãodos Princípios Fundamentais Ensinados ePraticados Pelos Adventistas do Sétimo Dia,publicada em 1872.

O preâmbulo desse documento declarava

92 Idem, pág. 152 (itálicos supridos).93 _________, Spiritual Gifts (Dons Espirituais) (Washington, D.C., Review and Herald Pub. Assn., 1945), vol.

4, pág. 115 (itálicos supridos).94 _________, Review and Herald, 24 de fevereiro de 1874 (itálicos supridos).

Page 59: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

explicitamente que os artigos de fé nãoconstituíam um credo, mas simplesmente “umaresumida declaração daquilo que é, e foi, comgrande unanimidade, mantido por eles.”95

Sabemos, de fato, que James White, já em 1847,mostrava-se contrário a qualquer idéia de confinaras crenças fundamentais da igreja num credoinflexível. “A Bíblia é uma perfeita e completarevelação. É nossa única regra de fé e prática.”96

Não se pretendia proibir qualquer declaração defé. Pelo contrário, a igreja via-se obrigada adeclarar suas crenças tão claramente quantopossível, para o benefício dos membros bem comopara os de fora. Mas “a Bíblia e a Bíblia só, deveser nosso credo... O homem é falível, mas aPalavra de Deus não falha jamais.”97

Dos 25 artigos de fé nessa primeira declaraçãodoutrinária oficial da igreja, o segundo é acerca dapessoa e obra de Jesus Cristo. Ele proclama “quehá um Senhor Jesus Cristo, o Filho do Pai Eterno,o único por quem Deus criou todas as coisas, e porquem elas subsistem; que Ele tomou sobre si anatureza da semente de Abraão, para a redençãode nossa caída raça; que Ele habitou entre os

95 Review and Herald, 2 de janeiro de 1872. Ver P. Gerard Damsteegt, Foundations of the Seventh-dayAdventist Message and Mission (Fundamentos da Mensagem e Missão dos Adventistas do Sétimo Dia)(Grand Rapids: W. B. Eerdmans Pub. Co., 1978), págs. 301-305.

96 James S. White, A Word to the Little Flock (Uma Palavra ao Pequeno Rebanho), pág. 13. Citado emSeventh-day Adventist Encyclopedia, pág. 358.

97 Ellen G. White, Selected Messages, vol. 1, pág. 416.

Page 60: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

homens, cheio de graça e verdade”.98

Essa declaração não especifica como osadventistas daquele tempo compreendiam aexpressão “a natureza da semente de Abraão”.Todavia, temos as interpretações daqueles queusaram essa frase antes e depois de 1872. Nãosatisfeito em citar simplesmente o texto bíblico,James White escreveu que Jesus “tomou sobre Sicarne e sangue, a semente de Abraão”.99

Essa já éuma explicação de espécie. Como veremos, amaioria das declarações daqueles que usaram aexpressão deu-lhe o mesmo significado que EllenWhite: “Como qualquer filho de Adão, aceitou osresultados da operação da grande lei dahereditariedade. O que estes resultados foram,manifesta-se na história de Seus ancestraisterrestres. Veio com essa hereditariedade parapartilhar de nossas dores e tentações, e dar-nos oexemplo de uma vida impecável.”100

É interessante notar que a declaração oficial de1872 sobre a natureza humana de Cristo,permaneceu intocada até 1931. Nessa época, elafoi mudada para expressar com palavras diferentesa mesma convicção básica. “Conquanto retendoSua divina natureza, Ele tomou sobre Si a naturezada família humana, e viveu na Terra como um98 Review and Herald, 2 de janeiro de 1872 (itálicos supridos).99 James S White, Review and Herald, 16 de setembro de 1852 (itálicos supridos).100 Ellen G. White, The Desire of the Ages (O Desejado de Todas as Nações), pág. 49. Ver interpretações

similares em nossas páginas adiante.

Page 61: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

homem.”101 Posta no contexto dos escritos desse

período, essa nova formulação confirma o que foio ensino unânime da igreja até 1950, isto é, que acarne de Jesus era “em semelhança da carne dopecado”.

A Natureza Humana em Estado DecaídoA declaração oficial de 1872 sobre a natureza

humana de Jesus constitui a pedra angular daCristologia Adventista anterior a 1950. De acordocom Ralph Larson, ela foi reafirmada mais de1.200 vezes pelos escritores e teólogos adventistas,das quais cerca de 400 são da própria EllenWhite.102

Por volta de 1950, todavia, influenciada porconsiderações extrabíblicas, outra interpretaçãosurgiu nos meios adventistas, afirmando que anatureza humana de Cristo era a de Adão antes daqueda. Esse foi um indisputável retorno aos credosdos primeiros séculos. Essa mudança constituiu-se, de todas, a mais surpreendente porque, aomesmo tempo, os mais eminentes teólogosprotestantes da segunda metade do século vinteemanciparam-se das tradicionais posições e

101 Ver Crença Fundamental n° 3, Seventh-day Adventista Yearbook (1931). Essa mesma declaração foiadotada pelo Concílio Outonal de 1941, e incluída no Manual da Igreja (1942), onde permaneceu inalterávelatravés de várias edições, até 1980.

102 Ralph Larson, The Word Was Made Flesh, One Hundred Years of Seventh-day Adventist Christology –1852-1952 (O Verbo Se Fez Carne, 100 anos de Cristologia Adventista do Sétimo Dia – 1852-1952),(Cherry Valley, Calif.: Cherrystone Press, 1986), págs. 220, 245. Larson levantou um censo cronológico dasdeclarações referentes à natureza humana de Cristo contidas na literatura denominacional.

Page 62: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

inconscientemente confirmaram a interpretaçãoque havia prevalecido até então na igrejaadventista.

Alguém pode ficar espantado ante essa súbitamudança de interpretação dentro da igreja,especialmente após apresentar uma frente unânimepor um século de consistente ensino sobre oassunto. De fato, desde o início do movimento, anatureza caída de Cristo nunca havia sido objetode qualquer controvérsia, distintamente doacontecido com outros pontos doutrinários como adivindade de Cristo. Uma nota manuscrita porWilliam C. White, bem como outros documentosemitidos pela sessão da Conferência Geral deMineápolis, confirma que a “Cristologia não foi oponto de atrito em 1888”.103

Através de toda a década de 1890, a Cristologiatornou-se o assunto favorito entre os pregadoresadventistas. Ellen White, em particular,continuamente insistia sobre a importância dotema em todos os seus escritos, enfatizando anatureza caída de Cristo. A razão é patente.Primeiramente, ele servia ao propósito de afirmara realidade da humanidade de Cristo, mesmo maisenfaticamente do que outros cristãos, que tendiama advogar a natureza imaculada de Jesus, isto é, ade Adão antes da queda.103 Ver Eric Claude Webster. Crosscurrents in Adventist Christology (Contracorrentes na Cristologia

Adventista), pág. 176, nota 56.

Page 63: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Como nosso estudo constatará, a obra daredenção pode ser explicada unicamente com acompreensão apropriada da pessoa divino-humanade Jesus Cristo. Enganar-se na Cristologia é errarsobre a obra de salvação realizada nos sereshumanos por Cristo, através do processo dejustificação e santificação.

Finalmente, esse tópico provou-se importante nainstrução dos novos conversos ao adventismo. Eleera totalmente contrário às suas crenças, querepresentavam para muitos um sério desafio. Nãoespanta que muitas perguntas tenham sido feitas aEllen White e aos editores das várias publicaçõesda igreja. Suas respostas contêm uma riqueza deinformações valiosas.

Page 64: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Parte 2

A CRISTOLOGIA DOS PIONEIROS DA IGREJAADVENTISTA

Capítulo 3A CRISTOLOGIA DE ELLEN G. WHITE (1827-1915)

Ellen G. White desempenhou um importante papeldurante a formação das crenças fundamentais daIgreja Adventista. Ela foi a primeira líder – erealmente a única – que, anteriormente a 1888,expressou-se por escrito sobre a posição danatureza humana de Jesus, a qual foi finalmenteadotada por toda a jovem comunidade.

Após suas primeiras declarações sobre o assunto,em 1858, Ellen continuou a expressar seuspensamentos concernentes ao tema com crescenteclareza, em artigos publicados na Review andHerald, e mais tarde em seus livros. Em 1874, uma

Page 65: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

série de artigos tratando da tentação de Cristoapresentou a essência de sua Cristologia.104

Em1888, na sessão da Conferência Geral deMineápolis, onde Ellet J. Waggoner tornou adivindade e a humanidade de Cristo o fundamentoda justificação pela fé, todos os elementos de suaCristologia haviam já sido expressos nos escritosde Ellen White.

A pessoa e a obra de Jesus foram sempre ocentro do interesse de Ellen White. “Ahumanidade do Filho de Deus” era tudo para ela.Ela a chamava “a cadeia de ouro que liga nossasalmas a Cristo, e através de Cristo a Deus”.105 Esseassunto é o âmago de seus escritos, até sua morteem 1915. Apenas seis meses antes de depor apena, ela escreveu: “Ele [Cristo] fez-Se denenhuma reputação, tomou sobre Si a forma deservo, e feito em semelhança da carne do pecado...Imaculado e exaltado por natureza, o Filho deDeus consentiu em tomar as vestes dahumanidade, para tornar-Se um com a raçadecaída. O Verbo Eterno permitiu tornar-Se carne.Deus tornou-Se homem.”106

Infelizmente, Ellen White nunca tratou o assuntocomo um todo e de modo sistemático. Essa é umafonte de dificuldade. Entre suas 120.000 páginas

104 Ellen G. White – Mensagens Escolhidas, vol. 1, págs. 242-289.105 Idem, pág. 244.106 _______, em Signs of the Times, 5 de janeiro de 1915.

Page 66: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

manuscritas107, as declarações sobre a naturezahumana de Jesus se contam às centenas. Alémdisso, dependendo das circunstâncias e do pontoespecífico em consideração, os mesmos conceitossão algumas vezes tratados de modo tão diferente,que podem parecer contraditórios. Por essa razão,é importante colocar as declarações em seu devidocontexto, e evitar a tentação de nos fiarmos emafirmações isoladas, pois isso é pré-requisitofundamental de uma exegese idônea. Esforçar-nos-emos em seguir essas regras na síntese seguinte daCristologia de Ellen G. White.

A Humanidade de JesusComo vimos, Ellen White atestava

convictamente a divindade de Cristo. Ela éenfática sobre esse ponto. Todavia, fala dahumanidade de Cristo com a mesma convicção.Não há qualquer traço de docetismo

em seus

escritos. O triunfo do plano da salvação dependiainteiramente da encarnação, do Verbo feito carne,e do Filho de Deus revestir-Se da humanidade.

“Cristo não aparentou tomar a natureza humana;Ele realmente a assumiu. Jesus, em realidade,possuía a natureza humana. ‘Portanto, como osfilhos são participantes comuns de carne e sangue,107 Quando Ellen White faleceu, em 1915, suas obras incluíam 24 livros publicados e traduzidos em vários

idiomas, com dois outros prontos para publicação, 4.600 artigos e numerosos panfletos sobre váriosassuntos, e cerca de 45.000 páginas manuscritas. Desde sua morte, muitos livros foram publicados emforma de compilações.

Page 67: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

também Ele semelhantemente participou dasmesmas coisas...’ (Heb. 2:14). Ele era o filho deMaria; Ele era a semente de Davi, conforme adescendência humana. Declara-se ser Ele umhomem, o Homem Cristo Jesus.”108

Ellen White acentua a humana realidade deJesus: “Ele não tinha uma mera semelhança de umcorpo; Jesus tomou a natureza humana,participando da vida da humanidade.”109 “Elevoluntariamente assumiu a natureza humana. Fezisso por Sua própria iniciativa e consentimento.”110

“Ele veio como um desamparado bebê, possuindoa mesma humanidade que nós.”111

Não satisfeita em declarar sua opinião demaneira geral, Ellen não hesitou em especificar:“Quando Jesus tomou a natureza humana eassumiu a forma de homem, possuía umorganismo humano completo.”112

“Suas faculdadesforam reduzidas ao próprio nível das débeisfaculdades do homem.”113 Embora Cristo tenhaassumido a natureza humana com “os resultadosda operação da grande lei da hereditariedade”,todavia “estava livre de qualquer deformidade

108 _______, em Review and Herald, 5 de abril de 1906, citado em Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 247.109 Carta 97 de Ellen G. White, 1898.110 E. G. White, em Review and Herald, 5 de julho de 1887.111 Manuscrito 210 de Ellen G. White, 1895.112 Carta 32 de Ellen G. White, 1899. Citada em The Seventh-Day Adventist Bible Commentary, Comentários

de E.G.White, vol. 5, pág. 1130.113 Ellen G. White, em Review and Herald, 11 de dezembro de 1888.

Page 68: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

física”.114 “Sua estrutura física não estavamanchada por qualquer defeito; Seu corpo eraforte e saudável. E através de toda a Sua vida, Eleviveu em conformidade com as leis da natureza.Física bem como espiritualmente, Ele foi umexemplo do que Deus deseja que toda ahumanidade seja por meio da obediência às Suasleis.”115

Repetidamente Ellen White explica que “nãohouvesse Cristo sido plenamente humano, nãopoderia ter sido nosso substituto”.116

Sobre esseponto em particular, não há qualquer divergênciaentre os teólogos adventistas. Os pontos de vistadiferem, mas apenas com respeito à espécie denatureza humana com a qual Cristo foi revestido.Era ela a de Adão antes ou depois da queda?

Nota do tradutor – O docetismo era um ensino ligado aosgnósticos, afirmando que Jesus não possuía realmente um corpohumano; que apenas pareceu ter morrido na cruz.

A Natureza de Adão Antes ou Após a Queda?Essa é realmente uma questão preeminente. Os

proponentes das duas interpretações discordamvigorosamente desde 1950. É surpreendente que aquestão devesse surgir afinal. Obviamente,ninguém insinuaria que Adão antes da queda tinha114 _______, O Desejado de Todas as Nações, págs. 49 e 50.115 Idem, págs. 50 e 51.116 _______, em Signs of the Times, 17 de junho de 1897.

Page 69: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

uma carne “em semelhança da carne do pecado”,como o apóstolo Paulo diz que Cristo possuía.(Rom. 8:3).

Ellen White compara a natureza e posição deAdão antes da queda, e a natureza e posição deJesus após milhares de anos de pecado: “Adão foitentado pelo inimigo e caiu. Não foi o pecadointerior que o fez ceder, pois Deus fê-lo puro ejusto, à Sua própria imagem. Ele era imaculadocomo os anjos diante do trono. Não havia nelequaisquer princípios corruptos nem tendênciaspara o mal. Mas, quando Cristo foi enfrentar astentações de Satanás, portava a semelhança dacarne do pecado.”117

Em seu livro O Desejado de Todas as Nações,Ellen White muitas vezes contrasta a natureza e asituação de Adão e Jesus: “Teria sido uma quaseinfinita humilhação para o Filho de Deus tomar anatureza humana, mesmo quando Adãopermanecia em sua inocência no Éden. Mas Jesusaceitou a humanidade quando a raça estavaenfraquecida por quatro mil anos de pecado. Comocada filho de Adão, Ele aceitou os resultados daoperação da grande lei da hereditariedade. O queforam esses resultados está mostrado na história deSeus ancestrais terrenos. Ele veio com talhereditariedade para partilhar nossas dores e

117 Idem, 17 de outubro de 1900.

Page 70: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

tentações, e nos dar o exemplo de uma vida sempecado.”118

E novamente: “Cristo devia redimir, em nossahumanidade, a falha de Adão. Quando este foravencido pelo tentador, entretanto, não tinha sobresi nenhum dos efeitos do pecado. Encontrava-se napujança da perfeita varonilidade, possuindo opleno vigor da mente e do corpo. Achava-secircundado das glórias do Éden, e emcomunicação diária com seres celestiais. Nãoassim quanto a Jesus, quando penetrou no desertopara medir-Se com Satanás. Por quatro mil anosestivera a raça a decrescer em forças físicas, vigormental e moral; e Cristo tomou sobre Si asfraquezas da humanidade degenerada. Unicamenteassim podia salvar o homem das profundezas desua degradação.”119

Finalmente, Ellen White deixa pouca dúvidaacerca de sua posição referente à natureza pós-queda de Cristo, em sua declaração de 1874: “Agrande obra da redenção podia ser efetuada apenaspelo Redentor tomando o lugar do decaídoAdão.”120

Uma afirmação feita em 1901 tocou nomesmo ponto: “A natureza de Deus, cuja lei haviasido transgredida, e a natureza de Adão, otransgressor, uniram-se em Jesus, o Filho de Deus118 _______, O Desejado de Todas as Nações, pág. 49.119 Idem, pág. 117. Essa comparação já havia sido feita em Review and Herald, 28 de julho de 1874. Ver

Mensagens Escolhidas, vol. 1, págs. 267, 268.120 _______, em Review and Herald, 24 de fevereiro de 1874 (itálicos supridos).

Page 71: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

e o Filho do homem.”121 Todavia, ela qualifica isso

numa declaração feita em 1890: “Não devemospensar que a possibilidade de Cristo ceder àstentações de Satanás degradou Suahumanidade, e que Ele possuía as mesmaspecaminosas e corruptas propensões como ohomem. A natureza divina, combinada com ahumana, tornou-O suscetível de ceder às tentaçõesde Satanás. Aqui o teste de Cristo era tanto maiordo que aquele de Adão e Eva, pois Ele tomou anossa natureza, decaída mas não corrompida.”122

Em todos os escritos de Ellen White não há umasimples referência que identifique a naturezahumana de Cristo com a de Adão antes da queda.Contrariamente, sobejam declarações afirmandoque Jesus tomou a natureza de Adão após 4.000anos de pecado e degeneração. Em outraspalavras, Ele revestiu-Se de nossa carne em estadodecaído; ou, tomando emprestada a expressão dePaulo, “em semelhança da carne do pecado”.

A Natureza Humana em Estado DecaídoEllen White acentua vigorosamente a

semelhança da natureza de Jesus e a nossa. Nãosatisfeita em dizer que Jesus tomou a nossanatureza, ela repete que Ele a assumiu em seu

121Manuscrito 141 de E. G. White, 1901. Citado em Seventh-day Adventist Bible Commentary, Comentáriosde E. G. White, vol. 7, pág. 926 (itálicos supridos).122 Manuscrito 57 de E. G. White, 1890 (itálicos supridos)

Page 72: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

“estado decaído”123 Noutra colocação ela usa a

linguagem de Filipenses 2:7, a qual declara queJesus “tornou-Se semelhante aos homens”. Vale-setambém de Romanos 8:3: “Porquanto, o que eraimpossível à lei, visto que se achava fraca pelacarne. Deus, enviando a Seu próprio Filho emsemelhança da carne do pecado, e por causa dopecado, na carne condenou o pecado.”124

Com freqüência a Sra. White cita II Coríntios5:21: “Àquele que não conheceu pecado, Deus Ofez pecado por nós.” Ela faz uma conexão dissonão apenas com a morte de Cristo na cruz comosacrifício vicário “pelos pecados de todo omundo” (I João 2:2), mas também em ligação como início de Seu ministério, ao tempo de Suatentação no deserto e através de toda a Sua vida,como que estabelecendo a verdadeira natureza deCristo, que levou “Ele mesmo, os nossos pecadosem seu corpo sobre o madeiro...” (I Ped. 2:24).

“Cristo suportou os pecados e fraquezas da raçahumana tais como existiam quando Ele veio àTerra para ajudar o homem... E para elevar ohomem caído, precisava Cristo alcançá-lo onde seachava. Assumiu natureza humana e arcou com asfraquezas e degenerescência da raça. Ele, que nãoconhecia pecado, tornou-Se pecado por nós.Humilhou-Se até às mais baixas profundezas da123 Carta 106 de E. G. White, 1896.124 E G. White, em Bible Echo (publicado pela Divisão Australasiana), 15 de dezembro de 1892.

Page 73: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

miséria humana, a fim de que pudesse estarhabilitado a alcançar o homem e tirá-lo dadegradação na qual o pecado o lançara.”125

Com relação a assuntos tão sérios e delicadoscomo esse, Ellen White é muito clara e usalinguagem distinta sem duplos significados. Aparticipação de Cristo em a natureza humana caídanão poderia ser descrita com maior clareza.

“Pondo de lado Sua coroa real, Elecondescendeu em descer, passo a passo, ao nívelda decaída humanidade.”126

“Pensemos sobre ahumilhação de Cristo. Ele tomou sobre Si mesmoa decaída, sofrida, degradada e maculada naturezahumana.”127 E mais: “Ele Se humilhou e tomousobre Si a mortalidade.”128 “Foi uma humilhaçãomuito maior do que o homem podecompreender.”129 “Cristo tomou sobre Si asenfermidades da degenerada humanidade. Apenasdesse modo podia Ele resgatar o homem dosprofundíssimos abismos de sua degradação.” 130

Para evitar qualquer possível mal-entendidosobre a realidade da participação de Jesus em anatureza da humanidade caída, Ellen Whiteamiúde emprega o verbo assumir, implicando queEle realmente a tomou sobre Si mesmo. “Cristo125 _______, Mensagens Escolhidas, vol. 1, págs. 267, 268.126 _______, Boletim da Conferência Geral, 23 de abril de 1901.127 _______, em Youth’s Instructor, 20 de dezembro de 1900.128 _______, em Review and Herald, 4 de setembro de 1900 (itálicos supridos)129 Manuscrito 143 de E. G. White, 1897.130 E. G. White, O Desejado de Todas as Nações, 117.

Page 74: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

assumiu nossa natureza decaída e expôs-Se a cadatentação a que o homem está sujeito.”131

“Ele

assumiu os riscos da natureza humana, para serprovado e tentado.”132

“Ele assumiu a naturezahumana, suas enfermidades, riscos e tentações.”133

A participação de Cristo na plena naturezahumana em seu estado decaído, é colocada porEllen White como condição sine qua non para asalvação do homem. “Estava nos planos de Deusque Cristo tomasse sobre Si mesmo a forma e anatureza do homem caído, para que Ele pudesseser aperfeiçoado através do sofrimento, e suportarem Si mesmo a força das tentações de Satanás, afim de que conhecesse melhor como socorreraqueles que são tentados.”134 “Por esse ato decondescendência, Ele seria capaz de derramarSuas bênçãos em favor da raça decaída. AssimCristo nos tornou possível sermos participantes deSua natureza.”135

Foi exatamente isso o que o autor da epístola aosHebreus nos ensinou. “Convinha que em tudofosse feito semelhante a Seus irmãos”, “para quepudesse estar em posição de libertar os sereshumanos de seus pecados.” (Heb. 2:17). Eacrescenta: “Porque naquilo que Ele mesmo,

131 Manuscrito 80 de E. G. White, 1903.132 E. G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 226.133 Manuscrito 141 de E. G. White, 1901 (itálicos supridos)134 E. G. White, Spiritual Gifts (Dons Espirituais), vol. 4, págs. 115, 116.135 _______, em Review and Herald, 17 de julho de 1900.

Page 75: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que sãotentados” (verso 18).

“Tentado de Todas as Maneiras, Como Nós...”Ellen White fez tudo o que podia para explicar o

significado dessa verdade. “Nosso Salvador veio aeste mundo para suportar em natureza humana,todas as tentações com as quais o homem éassediado.”136 “Ele conhece por experiência quaissão as fraquezas da humanidade, quais as nossascarências e onde jaz a força de nossas tentações,pois Ele foi ‘tentado em todos os pontos, comonós, mas sem pecado’”137

“Ele sabe quão fortes sãoas inclinações do coração natural.”138, tendo-asexperimentado em Si mesmo. “Alguns pensamque Cristo, por ser o Filho de Deus, não tevetentações como os filhos agora têm. As Escriturasdizem que Ele foi tentado em todos os pontos,como nós.” 139

“As tentações a que Cristo esteve sujeito foramuma terrível realidade... Se não fosse assim; se nãoLhe fosse possível cair, Ele não poderia sertentado em todos os pontos como a famíliahumana é tentada. As tentações de Cristo e Seussofrimentos sob elas foram proporcionais ao Seu136 _______, Sons and Daughters de Deus (Filhos e Filhas de Deus), pág. 230.137 _______, The Ministry of Healing (A Ciência do Bom Viver) (Mountain View, Calif.: Pacific Press. Pub.

Assn., 1952), pág. 78.138 _______, Testimonies for the Church (Testemunhos Para a Igreja), vol. 5 (Mountain View, Calif.: Pacific

Press Pub. Assn., 1948) , pág. 177.139 _______, Youth’s Instructor, abril de 1873.

Page 76: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

caráter impoluto e exaltado... Ele ‘resistiu até osangue’ naquela hora quando o temor de fracassomoral era como o temor da morte. Enquantocurvado no Getsêmani, em agonia de alma, gotasde sangue afloraram-Lhe aos poros e umedeceramo relvado... Sobre a cruz Cristo sabia, comonenhum outro podia saber, o terrível poder dastentações de Satanás.”140

“Nenhum outro nascido de mulher foi tãoferozmente assaltado pela tentação.”141

“Elerealmente enfrentou e resistiu às tentações deSatanás, como qualquer ser humano.”142 Em suabatalha no deserto, “a humanidade de Cristo foiposta à prova como nenhum de nós jamais poderásaber... Essas foram tentações reais e nãosimulacros.”143 O apóstolo o confirma quando faladas provações que Jesus teve de suportar: “Aindanão resististes até o sangue, combatendo contra opecado.” (Heb. 12:4).

Na mesma carta, Ellen White descreve astentações que Jesus teve de confrontar: “O Filhode Deus, em Sua humanidade, lutou com asmesmas cruéis e aparentemente esmagadorastentações que assediam os homens - tentações paracondescender com o apetite, a se aventurar

140 Idem, 26 de outubro de 1899. Citado em Selected Messages (Mensagens Escolhidas), vol. 3, págs. 131,132.

141 _______, Education (Educação) (Mountain View, Calif.: Pacific Press. Pub. Assn., 1952), pág. 78142 Carta 17 de Ellen G. White, 1878.143 E. G. White, Selected Messages, vol. 1, págs. 94 e 95.

Page 77: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

presunçosamente aonde Deus os não conduziu, edarem culto ao deus deste mundo, sacrificaremuma eternidade de bem-aventurança pelosfascinantes prazeres desta vida.”144

“As tentações que Cristo resistiu foram aquelasque achamos tão difícil suportar. Elas foramintensificadas sobre Ele em muito maior grau, namedida em que Seu caráter era superior ao nosso.Com o terrível peso dos pecados do mundo sobreEle, Jesus resistiu à prova do apetite, do amor domundo, e do amor da ostentação que conduz àpresunção.”145

“É um mistério inexplicável aos mortais queCristo pudesse ser tentado em todos os pontos,como nós o somos, e ainda ser sem pecado.”146

Certa ocasião, algumas pessoas questionaram adecaída natureza de Cristo. Ellen White lhesrespondeu: “Tenho recebido cartas afirmando queCristo não podia ter tido a mesma natureza que ohomem, pois nesse caso, teria caído sob tentaçõessemelhantes. Se não possuísse natureza humana,não poderia ter sido exemplo nosso. Se não fosseparticipante de nossa natureza, não poderia ter sidotentado como o homem tem sido. Se não Lhetivesse sido possível ceder à tentação, não poderia

144 Idem, pág. 95.145 _______, The Desire of Ages, pág. 116.146 Carta 8 de E. G. White, 1895. Citada em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Comentários de E.

G. White, vol. 5, págs. 1128, 1129.

Page 78: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

ser nosso Auxiliador.”147

“Pretendem muitos que era impossível Cristo servencido pela tentação. Neste caso, não teria sidocolocado na posição de Adão; não poderia haverobtido a vitória que aquele deixara de ganhar. Setivéssemos, em certo sentido, um mais probanteconflito do que teve Cristo, então Ele não estariahabilitado para nos socorrer. Mas nosso SalvadorSe revestiu da humanidade com todas ascontingências da mesma. Tomou a natureza dohomem com a possibilidade de ceder à tentação.Não temos que suportar coisa nenhuma que Elenão tenha sofrido.”148

Todavia, “ao tomar sobre Si a natureza dohomem em sua decadente condição, Cristo nãoparticipou no mínimo que fosse de seu pecado.”149

Eis aqui outra solene verdade que Ellen Whitenunca deixou de repetir, enquanto enfatizando arealidade das tentações às quais Jesus estavasujeito. Pois, como está escrito: “Antes, foi Eletentado em todas as coisas, mas sem pecado.”(Heb. 4:15).

“... Mas Sem Pecado.”Toda vez que Ellen White escrevia sobre o

delicado assunto da natureza caída de Cristo, era

147 E. G. White, Selected Messages, vol. 1, pág. 408.148 _______, The Desire of Ages, pág. 117.149 _______, em Youth’s Instructor, 1 de junho de 1898. Citado em Selected Messages, vol. 1, pág. 256.

Page 79: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

muito cuidadosa em acrescentar imediatamenteque Jesus viveu “sem cometer pecado”, seja porpensamentos, palavras ou obras.

Numa carta enviada a W. L. H. Baker, queevidentemente tinha tendência de falar de Cristocomo um homem “integralmente humano”, EllenWhite sugeriu que ele fosse mais cauteloso:“Nunca, de modo algum, deixe a mais leveimpressão sobre mentes humanas de que umamancha, inclinação ou corrupção incidia sobreCristo, ou que Ele, de alguma maneira, cedeu àcorrupção.”150 “Nem mesmo por um pensamentoCristo poderia ser levado a ceder ao poder datentação.”151“Nenhuma palavra impura escapavade Seus lábios. Nunca Ele praticou uma ação má,pois era o Filho de Deus. Embora possuísse formahumana, todavia era isento da mancha dopecado.”152

“Em Sua natureza humana, Elemanteve a pureza de Seu divino caráter. Ele viveua lei de Deus e a honrou em um mundo detransgressão.”153

“Em meio à devassidão, Cristo manteve Suapureza. Satanás não podia manchá-la oucorrompê-la. Seu caráter revelava um perfeito ódio

150 Carta 8 de E. G. White, 1895. Citada em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Comentários de E.G. White, vol. 5, pág. 1128.

151 E. G. White, em Review and Herald, 8 de novembro de 1887.152 _______, Welfare Ministry (Beneficência Social) (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1952),

pág. 287.153 _______, Youth’s Instructor, 2 de junho de 1898.

Page 80: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

contra o pecado.”154 “Houvesse-se podido acharum só pecado em Cristo, tivesse Ele numparticular que fosse cedido a Satanás para escaparà horrível tortura, e o inimigo de Deus e dohomem teria triunfado.”155

Alguns acham que Jesus foi tentado apenasexternamente. Se houvesse sido assim, Ele nãoteria sido verdadeiramente tentado como nós osomos, nem teria conhecido “o poder de nossastentações”156, e a “força da paixão humana”157, aosquais os homens estão sujeitos. Porém, “nunca Elecedeu à tentação de praticar um simples ato quenão fosse puro, elevado e enobrecedor”.158

Ellen White disse: “Ao povo, e depois, maisplenamente, aos discípulos, Jesus explicou que acontaminação não procede do exterior, mas dointerior. Pureza e impureza pertencem à alma. É omau ato, a palavra ou o pensamento mau, atransgressão da lei de Deus, não a negligência decerimônias externas criadas pelo homem, o quecontamina.”159 “Se a lei alcançasse apenas aconduta exterior, os homens não seriam culpadospor seus pensamentos, desejos e desígniosinjustos. Mas a lei requer que a própria alma sejapura e a mente santa, que os pensamentos e154 _______, em Signs of the Times, 10 de maio de 1899.155 _______, The Desire of Ages, pág. 761.156 _______, The Ministry of Healing, pág. 61.157 _______, In Heavenly Places (Nos Lugares Celestiais), pág. 155.158 Ibidem.159 _______, The Desire of Ages, pág. 397.

Page 81: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

sentimentos estejam de acordo com o padrão deamor e justiça.”160

“A menos que haja a possibilidade de ceder, atentação não é tentação. A tentação é resistidaquando um homem é poderosamente influenciadoa praticar uma má ação e, sabendo que pode fazerisso, resiste pela fé, apegando-se firmemente aopoder divino. Essa foi a duríssima experiência pelaqual Cristo passou.”161

“Tomando sobre Si a natureza humana em seuestado decaído, Cristo não participou, no mínimoque fosse, do seu pecado... Não devemos terdúvidas acerca da perfeita ausência de pecado nanatureza humana de Cristo.”162

Isso não significa

que Sua natureza era impecável em si mesma – oque contradiria tudo quanto Ellen White escreveraem outras partes – mas no sentido de que, porcausa de Sua perfeita obediência, Ele a fizeraimpecável, “condenando o pecado na carne”.

Divino e HumanoA realidade da encarnação não significa que

Jesus renunciou à Sua divindade. Ellen Whitecostumava dizer que “Ele revestiu Sua divindadecom a humanidade”, ou que “Ele velou Suadivindade com a humanidade”. Esse tipo de

160 _______, em Review and Herald, 5 de abril de 1898.161 _______, em Youth’s Instructor, 20 de julho de 1899.162 _______, Selected Messages, vol. 1, pág. 256.

Page 82: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

expressão é encontrado cerca de 125 vezes emseus escritos. 163

Eis alguns exemplos: “Por nossa

causa, Ele deixou Seu trono real e vestiu Suadivindade com a humanidade. Pôs de lado Seumanto real, Sua majestosa coroa, para que pudesseser um conosco.” 164

“Cristo não trocou Sua divindade pelahumanidade, mas revestiu-a da humanidade.”165

“Ele velou Sua divindade com a roupagem dahumanidade, mas não Se separou de Suadivindade.”166

“Embora tomasse a humanidadesobre Si mesmo, Ele era divino. Tudo o que éatribuído ao próprio Pai, também o é a Cristo.”167

“NEle, o próprio Deus desceu do Céu.”168

Num comentário sobre a visita de Jesus aotemplo de Jerusalém, Ellen White escreveu: “Osegundo templo foi honrado, não com a nuvem daglória de Jeová, mas com a presença viva dAqueleem quem habita corporalmente toda a plenitude dadivindade – o próprio Deus manifesto emcarne”.169

“Eis porque, embora fosse tentado emtodos os pontos como nós, esteve no mundo, desdeSua primeira entrada nele, isento de corrupção,

163 Eric Claude Webster, Crosscurrents in Adventist Christology, pág. 76.164E. G. White, em Review and Herald , 24 de outubro de 1899.

165 Idem, 29 de outubro de 1895. Citado em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Comentários deEllen G. White, vol. 5, pág. 1128.

166 Idem, 15 de junho de 1905.167 Idem, 19 de junho de 1896.168 Idem, 1 de fevereiro de 1898.169 Idem, 16 de janeiro de 1908.

Page 83: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

embora por ela cercado.”170

Tendo dito isso, Ellen White então formula umaquestão: “Estamos nós nos tornando tambémparticipantes dessa plenitude, e não é assim, assimsomente, que venceremos como Ele venceu?”171

De fato, “Resistiu Ele à tentação, mediante oPoder que o homem também pode possuir.Apoiou-Se no trono de Deus, e não existe homemou mulher que não possa ter acesso ao mesmoauxílio, pela fé em Deus.”172

“Cristo, na fraqueza da humanidade, deviaenfrentar a tentação de alguém que possuía ospoderes de uma elevada natureza que Deusconcedera à família angélica. Mas a humanidadede Cristo estava unida à Sua divindade, e nessepoder Ele suportaria todas as tentações queSatanás pudesse lançar contra Ele, e ainda manterSua alma incontaminada do pecado. E esse poderde vencer Ele daria a cada filho e filha de Adãoque aceitasse pela fé os justos atributos de Seucaráter.”173

Participantes da Natureza DivinaEllen White enfatiza especialmente a

possibilidade oferecida à humanidade de

170 Manuscrito 16 de E. G. White, 1890. Citado em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Comentáriosde E. G. White, vol. 7, pág. 907.

171 Ibidem.172 E. G. White, Selected Messages, , vol. 1, pág. 409.173 _______, em Review and Herald, 28 de janeiro de 1909. Citado em The Seventh-day Bible Commentary,

Comentários de E. G. White, vol. 7, pág. 927.

Page 84: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

“participar da natureza divina” (II Pedro 1:4). Esseé o propósito pelo qual Cristo veio a este mundo.Ele veio para trazer aos homens o poder de Deusde livrá-los do poder do pecado, e torná-los filhosde Deus. Para esse fim Cristo participou dadecaída natureza do homem, a fim de que essepudesse ser capaz de participar de Sua divinanatureza.

“Ele [Cristo] tomou nossa natureza e venceu,para que, tomando Sua natureza, pudéssemosvencer. Tornado ‘em semelhança da carne dopecado’ (Rom. 8:3), Ele viveu uma vida sempecado.”174 Pois, “a vida que Cristo viveu nestemundo, homens e mulheres podem viver atravésde Seu poder e sob Sua instrução. No conflitocontra Satanás, eles podem ter toda ajuda que Eleteve. Podem ser mais que vencedores por Aqueleque os amou e entregou-Se a Si mesmo poreles.”175

Em Sua humanidade, Cristo triunfou sobre opecado através do poder de Deus ao qual Seapegava. Cada membro da família humana tem omesmo privilégio. “Cristo nada fez que a naturezahumana não possa fazer se for participante danatureza divina.”176

“Ele não exerceu em Seuproveito nenhum poder que não nos seja

174 _______, The Desire of Ages, págs. 311, 312.175 _______, Testimonies for the Church, vol. 9, pág. 22.176 _______, em Signs of the Times, 17 de junho de 1897.

Page 85: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

livremente oferecido. Como homem, Ele enfrentoua tentação, e a venceu na força que Lhe foi dadapor Deus.”177

“Se Cristo possuísse um poder especial que ohomem não tem o privilégio de possuir, Satanáster-se-ia aproveitado desse fato.”178

De acordo comEllen White, “Satanás declarou ser impossível aosfilhos e filhas de Adão observarem a lei deDeus.”179, fazendo com que a responsabilidadecaísse sobre o Legislador e não sobre o homem.Mas “Cristo veio a este mundo para ser tentado emtodos os pontos como nós o somos, para provar aoUniverso que neste mundo de pecado, os sereshumanos podem viver do modo que Deusaprova.”180 “O Senhor Jesus veio ao nosso mundonão para revelar o que Deus poderia fazer, mas oque o homem poderia fazer através da fé no poderde Deus para ajudar em cada emergência. Ohomem deve, mediante a fé, ser participante danatureza divina e vencer cada tentação com que éassediado.”181

Ellen White ensinava consistentemente que aobra de salvação realizada por Jesus Cristo nãoficou confinada a um simples ato legal, o perdãode nossos pecados, mas que ela também inclui177 _______, The Desire of Ages, pág. 24.178 _______, Selected Messages, vol. 3, pág. 139.179 _______, em Signs of the Times, 16 de janeiro de 1896.180 _______, em Review and Herald, 9 de março de 1905.181 Manuscrito 1 de E. G. White, 1892. Citado em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Comentários

de E. G. White, vol. 7, pág. 929.

Page 86: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

vitória sobre a tentação e o pecado. “Cristo veiopara nos tornar ‘participantes da natureza divina”(II Ped. 1:4), e Sua vida declara que a humanidade,unida à divindade, não comete pecado.”182

“Era uma solene realidade esta de que Cristo veio

para ferir as batalhas como homem, em favor dohomem. Sua tentação e vitória nos dizem que ahumanidade deve copiar o Modelo; deve o homemtornar-se participante da natureza divina.”183 “Suavida testificou que, com a ajuda do mesmo poderdivino que Cristo recebeu, é possível ao homemobedecer à lei de Deus.”184

Obviamente, essa prova não teria sido efetiva seJesus houvesse vivido uma vida sem pecado emuma natureza humana diversa da nossa – isto é, ema natureza de Adão antes da queda. Isso explicapor que, com perfeita lógica, Ellen White afirmavaque “a grande obra da redenção poderia serefetuada apenas com o Redentor tomando o lugardo decaído Adão.”185

ConclusãoEllen White escreveu exaustivamente sobre uma

ampla variedade de tópicos tais como dietética,saúde, educação, teologia, obra médica, pregação

182 E. G. White, The Ministry of Healing, pág. 180.183 _______, Selected Messages, vol. 1, pág. 408.184 Manuscrito 141, de E. G. White, 1901. Citado em Selected Messages, vol. 3, pág. 132.185 E. G. White, em Review and Herald, 24 de fevereiro de 1874.

Page 87: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

evangelística, e muito mais. 186 Não obstante, seu

assunto favorito era, indubitavelmente, a pessoa ea obra de Jesus. Embora não trate de temascristológicos de maneira sistemática, eles saturamseus escritos.

E ela declarou isso muito bem: “Cristo, Seucaráter e obra, são o centro e o âmbito de toda averdade; Ele é a corrente à qual as jóias dadoutrina estão ligadas. NEle é encontrado osistema completo da verdade.”187 Por essa razão,ela escreveu: “A humanidade do Filho de Deus étudo para nós. É a corrente de ouro que liga nossaalma a Cristo, e por meio de Cristo a Deus.”188

Como podemos constatar, o núcleo daCristologia de Ellen White está baseado na obramediatória de Jesus Cristo, por causa dareconciliação dos pecaminosos seres humanoscom o próprio Deus. Ela está em perfeita harmoniacom Paulo, que diz ser possível essa reconciliaçãopor causa da encarnação de Cristo “emsemelhança da carne do pecado” (Rom. 8:3).

Podemos pensar que não há melhor síntese daCristologia de Ellen White, do que seu comentáriosobre o Sermão da Montanha: “Cristo é a escadaque Jacó viu, tendo a base na Terra, e o topochegando à porta do Céu, ao próprio limiar da186 Ver Índex dos Escritos de E. G. White (Mountain View, Calif.: Pacific Press Pub. Assn., 1983), no qual

encontramos classificados alfabeticamente vários assuntos dos escritos de Ellen G. White.187 E. G. White, em Review and Herald, 15 de agosto de 1893.188 _______, Selected Messages, vol. 1, pág. 244.

Page 88: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

glória. Se aquela escada houvesse deixado dechegar à Terra, por um único degrau que fosse,teríamos ficado perdidos. Mas Cristo vem terconosco onde nos achamos. Tomou nossa naturezae venceu, para que, revestindo-nos de Suanatureza, nós pudéssemos vencer. Feito ‘emsemelhança da carne do pecado’ (Rom. 8:3), viveuuma vida isenta de pecado. Agora, por Suadivindade, firma-Se ao trono do Céu, ao passoque, pela Sua humanidade, Se liga a nós. Manda-nos que, pela fé nEle, atinjamos à glória do caráterde Deus. Portanto, devemos ser perfeitos, assimcomo ‘é perfeito vosso Pai que está nos Céus’.Mat. 5:48.”189

Para Ellen White, Cristo manifesto em“semelhança da carne do pecado” constitui acondição sem a qual não teria havido reconciliaçãocom Deus. “A inteireza de Sua humanidade, aperfeição de Sua divindade, formam para nós umfirme terreno sobre o qual podemos ser levados àreconciliação com Deus.”190

189 _______, The Desire of Ages, págs. 311, 312.190 Carta 35 de E. G. White, 1894. Citada em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 7-A, pág.

487.

Page 89: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Capítulo 4

ELLET J. WAGGONER (1855-1916)

Quando, em 1884, E. J. Waggoner envolveu-sepela primeira vez com a questão da naturezahumana de Jesus, Ellen White já se haviapronunciado claramente sobre o assunto. Até essetempo ninguém duvidava que Cristo, em Suaencarnação, houvesse tomado sobre Si a naturezacaída do homem.

Se Waggoner se sentiu compelido a afirmar talconvicção, foi porque considerava essa verdadeindispensável à compreensão do plano da salvaçãoem geral, e à justificação pela fé em particular. Seupropósito não era confirmar o ponto de vista deEllen White, mas usar sua Cristologia comofundamento para sua mensagem sobre a justiçaobtida através dAquele que veio “em semelhançada carne do pecado”.

Primeiras Declarações Feitas entre 1884 e1888

Em 1884, tão logo foi apontado para o cargo deeditor-assistente da Signs of the Times, Waggonerescreveu uma série de artigos relativos à natureza

Page 90: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

humana de Jesus. Neles afirmou que Cristo veio aeste mundo nas mesmas condições do homempecaminoso, e permaneceu perfeitamente justo esanto.

Em seu primeiro artigo, em 3 de julho de 1884,intitulado “Condenado e Justificado”, lemos:“Cristo era sem pecado; a lei estava em Seucoração. Como o Filho de Deus, Sua vida era maisexcelente do que todos os se-res criados, tanto naTerra como no Céu... Ele tomou sobre Si nossanatu-reza (Heb. 2:16), e levou sobre Si ‘ainiqüidade de todos nós’ (Isa. 53:6). A fim de nossalvar, Ele chegou até onde nós estávamos; emoutras palavras, Ele tinha de tomar a posição dopecador perdido... E porque Cristo ‘foi contadoentre os transgressores’, sofreu a penalidade datrans-gressão. Mas o sofrimento de Cristo não foipor Sua própria culpa. Ele ‘não cometeu pecado,nem na Sua boca se achou engano’ (I Pedro2:22)”.191

No segundo artigo, por título “Uma NovaCriatura em Cristo”, Waggoner escreveu: “Deusfez a Cristo (o Imaculado) pecado por nós. Ele foi,em todas as coisas, ‘semelhante aos irmãos’, e issosignifica não simplesmente na forma exterior,física, mas que Ele suportou o pecado como nós.Esses pecados que assumiu sobre Si não eram

191 Ellet J. Waggoner, em Signs of the Times, 3 de julho de 1884.

Page 91: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Seus, mas nossos. Ele ‘não conheceu pecado’,‘mas o Senhor fez cair sobre Ele a iniqüidade detodos nós.’ (Isa. 53:6) Muito embora os pecadosque estavam sobre Ele fossem nossos, eles foramcontados como Seus próprios, e isso Lhe causou amorte (Isa. 53:5).”192

No terceiro artigo, sob o título “Debaixo da Lei”,Waggoner reafirma que Jesus “colocou-Se naexata condição daqueles a quem viera salvar.” Issode modo algum implica que Jesus fosse umpecador. Cristo foi contado entre os transgressores,embora Ele não fosse um deles. “Ele levou ospecados do mundo como se fossem Seus.”193

Para Waggoner, a expressão “nascido debaixo dalei” (Gál. 4:4) significava não apenas que Cristoestava sujeito à lei, mas que Ele também estavasujeito à condenação da lei como um pecador.Cristo colocou-Se no lugar daqueles que haviamviolado a lei e que foram condenados à morte. Eispor que Cristo sofreu a condenação da lei.

Em seu panfleto “O Evangelho na Epístola aosGálatas”, publicado no início de 1888, Waggonerdeu especial consideração a Gálatas 4:4, João 1:14e Romanos 8:3, passagens essas que tratam daquestão de Cristo na carne. Desses textos eleconcluiu que “Cristo nasceu em semelhança de

192 Idem, 17 de julho de 1884.193 Idem, 18 de setembro de 1884. Ver Eric Claude Webster em Contracorrentes na Cristologia Adventista,

págs. 168 a 171.

Page 92: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

carne pecaminosa.”194 Seus comentários sobre

Filipenses 2:5-7; Romanos 1:3; Hebreus 2:9, 16 e17, e II Coríntios 5:21, também identificavam anatureza humana de Cristo com a da humanidadepecadora.

Longe de considerar o assunto perturbador, orebaixamento de Cristo era para Waggoner umtema encorajador que ele tinha de partilhar comseus leitores. “Um dos mais entusiasmantesensinos da Escritura é que Cristo tomou sobre Si anatureza do homem; e que Seus ancestraissegundo a carne foram pecadores. Quandoestudamos a vida dos antepassados de Cristo evemos que eles tinham todas as fraquezas epaixões que temos, descobrimos que nenhumhomem tem qualquer direito de desculpar seusatos pecaminosos em razão da hereditariedade. SeCristo não Se houvesse feito em todas as coisassemelhante a Seus irmãos, então Sua vidaimaculada não serviria de encorajamento para nós.Poderíamos olhar para ela com admiração, masseria uma consideração que nos traria inexoráveldesespero.”195

“Paulo declara que Deus o fez pecado por nós”,assegura Waggoner. “Eu simplesmente apresento

194 Ellet J. Waggoner, The Gospel in the Book of Galatians (O Evangelho na Epístola aos Gálatas) (Payson,Ariz.: Leaves of Autumn Books, 1970) Waggoner escreveu esse panfleto de 71 páginas em resposta a umpanfleto de 85 páginas, escrito por G. I. Butler, intitulado The Law in the Book of Galatians (A Lei naEpístola aos Gálatas.

195 Idem, pág. 61.

Page 93: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

fatos da Escritura; não tento explicá-los. ‘E, semdúvida alguma, grande é o mistério da piedade’.Não posso compreender como Deus pôde Semanifestar em carne, à semelhança da carnepecaminosa. Não sei como o puro e santo Salvadorpôde suportar todas as enfermidades do homem,que são resultado do pecado, e ser contado com ospecadores, sofrendo a morte de um pecador.Simplesmente aceito a declaração escriturística deque apenas assim Ele poderia ser o Salvador doshomens; regozijo-me nesse conhecimento porqueuma vez que Ele se tornou pecado, eu posso serfeito justiça de Deus nEle.”196

Pois Cristo “desceu às baixas profundidades aque o homem havia caído, para que pudesse erguê-lo ao Seu exaltado trono; todavia, Ele nuncadeixou de ser Deus, ou perdeu sequer umapartícula de Sua santidade.”197

Esses são os principais conceitos desenvolvidospor Waggoner em seus primeiros escritos, tratandoda humanidade de Jesus. Como se referem àdivindade de Cristo, Waggoner erige sobre eles osfundamentos sobre os quais estruturou suamensagem de justificação pela fé, apresentada nasessão da Conferência Geral de Mineápolis, em1888.

196 Idem, pág. 62.197 Idem, pág. 63.

Page 94: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

“Deus Manifesto em Carne”Como dito antes, nenhum dos textos dos

discursos de Waggoner apresentados na sessão deMineápolis existem agora. Mas seus artigospublicados na Signs of the Times imediatamenteapós a sessão, poderiam ser representativos desuas apresentações. A sessão foi concluída em 4 denovembro de 1888. Já em 21 de janeiro de 1889,apareceu o primeiro artigo tratando de “DeusManifesto em Carne”198 Seu teor foi reimpressointegralmente sob o mesmo título no livro deWaggoner publicado em 1890: “Cristo e SuaJustiça”.199

Ele iniciou o livro com um capítulo sobre adivindade de Cristo, e então discutiu Suahumanidade usando apenas a Bíblia paraapresentar “a maravilhosa história da humanidadede Cristo”. Introduziu o texto citando João 1:14para enfatizar que “Cristo era tanto Deus comohomem. Originalmente, apenas divino, Ele tomousobre Si mesmo a natureza humana, e andou entre

198 Sete artigos foram publicados na Signs of the Times. O primeiro versava sobre a natureza humana deCristo (21 de janeiro de 1889); os quatro seguintes, sobre a divindade de Cristo (dias 1, 8, 15, e 22 demarço de 1889); os últimos dois tinham por título, respectivamente, “Cristo, o Legislador” e “Cristo, oRedentor”.

199 Este livro foi igualmente impresso na Austrália e na Inglaterra, em 1892, e em Hamburgo e na Basiléia. VerFroom, Movement of Destiny, pág. 373. Em 1989 ele foi traduzido e publicado na França.

Page 95: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

os homens como um simples mortal”.200

Essa voluntária humilhação de Jesus é melhorexpressa por Paulo, de acordo com Waggoner, emFilipenses 2:5-8: Escreve ele: “É-nos impossívelcompreender como Cristo pôde, sendo Deus,humilhar-Se até a morte na cruz, e é mais do queinútil para nós especularmos sobre isso. Tudo oque podemos fazer é aceitar os fatos como sãoapresentados na Bíblia.”201

Para tornar claro o significado do que ocorreuquando “o Verbo Se fez carne”, Waggoner citaromanos 8:3 e 4: “Um pequeno pensamento serásuficiente para mostrar a qualquer um, que seCristo tomou sobre Si mesmo a semelhança dohomem, de forma que pudesse redimir o homem,deve ter sido a semelhança de um homem pecador,pois é ao homem pecador que Ele veio redimir...Além do mais, o fato de Cristo ter tomado sobre Sia carne, não de um ser sem pecado, mas de umpecador, isto é, a carne à qual Ele assumiu temtodas as fraquezas e tendências pecaminosas àsquais a decaída natureza humana está sujeita, émostrado pela afirmação que Ele ‘era da sementede Davi segundo a carne’. Davi tinha todas aspaixões da natureza humana. Ele disse de simesmo: ‘Eis que eu nasci em iniqüidade, e em

200 Waggoner, Christ and His Righteousness, pág. 24.201 Idem, pág. 25.

Page 96: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecado me concebeu minha mãe.’ (Sal. 51:5)”202

Para Waggoner, o texto de Hebreus 2:16-18confirma essa posição: “Se Ele [Cristo] foi feitoem todas as coisas semelhante a Seus irmãos,então deve ter suportado todas as enfermidades eestado sujeito a todas as tentações de Seusirmãos.”203

Paulo leva o tema mais adiante quandoescreve, em II Coríntios 5:21, que “Aquele quenão conheceu pecado, Deus O fez pecado por nós,para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus”.Waggoner acrescenta: “O imaculado Cordeiro deDeus, que não conhecia pecado, foi feito pecado.Embora inocente, todavia foi contado não apenascomo um pecador, mas, na verdade, Ele tomousobre Si a natureza pecaminosa. Ele foi feitopecado para que nós pudéssemos ser tornadosjustos.”204

Depois de citar mais uma vez Gálatas 4; 4 e 5, eHebreus 4:15 e 16, Waggoner comenta: “Algunspodem ter pensado, lendo superficialmente, queestamos depreciando o caráter de Jesus, trazendo-O ao nível do homem pecador.”205

“Pelocontrário”, ele replica, “estamos simplesmenteexaltando o ‘poder divino’ de nosso benditoSalvador, que voluntariamente desceu ao nível dohomem pecaminoso, de forma que pudesse exaltá-202 Idem, págs. 26 e 27.203 Idem, pág. 27.204 Idem, págs. 27 e 28.205 Idem, pág. 28.

Page 97: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

lo até Sua própria imaculada pureza, a qual Elereteve sob as mais adversas circunstâncias.”206

A despeito da fraqueza da carne, “Sua divinanatureza nunca, nem por um só momento, abrigouum mau desejo, nem Seu divino poder, por ummomento, hesitou. Tendo sofrido na carne tudo oque o homem pode sofrer, Ele retornou ao trono deSeu Pai tão imaculado como quando deixou ascortes da glória.”207

O segredo da vitória de Cristo sobre o pecadoreside nesta lógica: “Ele foi cercado pelaenfermidade, contudo, ‘não cometeu pecado’, porcausa do poder divino habitando constantementenEle. Essa mesma força pode ser nossa se ‘Cristohabitar pela fé em nossos corações; e se, comoEle, formos ‘cheios até a inteira plenitude deDeus’ (Efés. 3:17 e 19).”208

“Tendo sofrido tudo o que a carne humanapadece, Ele [Cristo] sabe tudo sobre isso, e Seidentifica tão intimamente com Seus filhos, que oque quer que os acosse faz igual impressão sobreEle, e sabe também quanto poder divino énecessário para resistir; e se nós sinceramentedesejarmos renunciar à ‘impiedade e às paixõesmundanas’, Ele está ansioso em conceder e écapaz de nos conferir poder “muitíssimo mais do

206 Ibidem.207Idem, pág. 29.

208 Ibidem.

Page 98: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

que tudo quanto pedimos ou pensamos. Todo opoder que Cristo possuía habitando nEle pornatureza, podemos tê-lo em nós pela graça, poisJesus nô-lo concede livremente.”209

“Que maravilhosas possibilidades há para nóscristãos!”, exclamava Waggoner. Daí em diante elepodia dizer: “Posso todas as coisas nAquele queme fortalece.”210

Tal é a argumentação de Waggoner sobre oassunto de “Deus manifesto em carne”. A fim devencer o poder do pecado, foi necessário, deacordo com ele, que Cristo viesse habitar conoscoem “semelhança da carne do pecado”. Tendoobtido vitória na carne, Ele poderia agora concederSeu poder àqueles que O aceitassem. Assim, omesmo poder divino que fortaleceu Cristo a viveruma existência impecável na pecaminosa naturezahumana, tornaria o pecador em quem Cristohabitasse capaz de vencer a tentação e sobrepujaro poder do pecado.

Como se pode ver, a Cristologia de Waggonerconduziu-o naturalmente à justificação pela fé. Aobra de Cristo não poderia ser separada de Suapessoa. A mensagem da justificação pela fé comoapresentada por Waggoner em 1888, é emrealidade tão-somente uma aplicação prática desua Cristologia. Por que Cristo Se identificou209 Idem, pág. 30210 Idem, págs. 30 e 31.

Page 99: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

perfeitamente com a natureza humana decaída,Sua obra em nós não está limitada a uma meratransação legal, o perdão do pecado, mas elatambém contém a purificação de “toda a injustiça”(I João 1:9).211

“Quando Cristo nos cobre com omanto de Sua própria justiça, Ele não fornece umacapa para o pecado, mas retira o pecado de nós...Na verdade Ele purifica da culpa, e se o pecadorestá limpo de sua culpa, está justificado, tornadojusto, e passou por uma mudança radical. É, defato, outra pessoa... ‘é uma nova criatura’ (II Cor.5:17).”212

A grande contribuição de Waggoner não foiapenas reintroduzir o princípio da justificação pelafé na Igreja Adventista, mas também aplicar aCristologia à obra de salvação. Para Lutero, ajustificação pela fé era puramente umatransação legal. A Fórmula de Concord confirmaesse ponto de vista: “Toda a nossa retidão está forade nós; ela habita inteiramente em Jesus Cristo.”Para Waggoner, por outro lado, a justificaçãoinclui a ação de Cristo no homem para torná-lojusto (Rom. 5:19), através do poder que Deusconcede àquele que crê em Cristo e O recebe emseu coração (João 1:12). [Ênfase acrescida].

Em seu último livro, O Concerto Eterno,publicado em Londres no ano de 1900, Waggoner211 Idem, pág. 59.212 Idem, pág. 66.

Page 100: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

declarou: “Antes que o fim venha, e ao tempo davinda de Cristo, precisa haver no mundo um povo,não necessariamente grande em relação ao númerode habitantes da Terra, mas grande o suficientepara ser conhecido em todo o planeta, e em quem‘toda a plenitude de Deus’ seja manifesta, assimcomo foi em Jesus de Nazaré. Deus demonstraráao mundo que o que Ele fez com Jesus de Nazaré,fá-lo-á com qualquer um que se entregue a Ele.”213

Waggoner Confirma Sua Cristologia (1891-1902)

Durante a década de 1890, Waggoner desfrutoude grande prestígio e autoridade na IgrejaAdventista. Apoiado por Ellen White e emcolaboração com seu colega A. T. Jones, foi-lhedada a oportunidade de apresentar a mensagem dajustificação pela fé nos encontros campais, emgrandes convenções pastorais e em várias sessõesda Conferência Geral.

Em 1891, na sessão da Conferência Geral,Waggoner foi convidado a apresentar uma série de16 estudos bíblicos, que ele dedicou à epístola aosRomanos.214

Ele dificilmente poderia escolher uma213 _______, The Everlasting Covenant (O Concerto Eterno), pág. 366. Arthur G. Daniells recomendou esse

livro de Waggoner a W. C. White, numa carta datada de 12 de maio de 1902: “Estou profundamenteconvencido de que algo deve ser feito para colocar um dilúvio de luz nos lares de nosso povo. Nãoconheço um livro melhor para fazer isso, afora a Bíblia , do que o do irmão Waggoner.” (citado em A. V.Olson, Through Crisis to Victory (Da Crise à Vitória), pág. 231).

214 Ellet J. Waggoner, no Boletim da Conferência Geral de 1891; Signs of the Times, outubro de 1895 esetembro de 1896; Waggoner on Romans (Waggoner Sobre Romanos, o Evangelho na Grande Carta dePaulo) (Paris: Glad Tidings Publishers, n.d.).

Page 101: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

epístola mais favorável para desenvolver asgrandes idéias de sua mensagem de justiça pela fé.Duas passagens, em particular, foram relevantessobre o tema da natureza humana de Jesus.

A declaração de Paulo, em Romanos 1:3, acercada posteridade de Davi ofereceu-lhe a primeiraoportunidade. Paulo disse que Jesus Cristo“nasceu da descendência de Davi segundo acarne”. Waggoner, portanto, convida-nos a “ler ahistória de Davi e dos reis que dele descenderam,os quais foram ancestrais de Jesus, e vocês verãoque o lado humano do Senhor estava emdesvantagem por sua ancestralidade, tanto quantoqualquer um de nós pode estar. Muitos deles foramlicenciosos e idólatras cruéis. Embora Jesusestivesse assim tão cercado de fraquezas, Ele ‘nãocometeu pecado, nem na Sua boca se achouengano’ (I Ped. 2:22). Isso é para dar coragem aoshomens nas mais baixas condições de vida. É paramostrar que o poder do evangelho da graça deDeus pode triunfar sobre a hereditariedade.”215

Com respeito à afirmação de que Deus enviouSeu Filho “em semelhança da carne do pecado”,Waggoner assegura: “Há a idéia comum de queisso significa que Cristo simulou ter carnepecaminosa, que Ele não Se revestiu realmente dacarne pecaminosa, mas tão-somente pareceu

215 _______, Waggoner on Romans, pág. 12.

Page 102: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

possuí-la.”216

Em réplica, Waggoner citou Hebreus 2:17, queafirma que “convinha que em tudo [Jesus] fossefeito semelhante a Seus irmãos, para Se tornar umsumo sacerdote misericordioso e fiel nas coisasconcernentes a Deus, a fim de fazer propiciaçãopelos pecados do povo”. Então referiu Gálatas 4:4e 5 novamente, onde Paulo sustenta que Jesus foi“nascido de mulher, nascido debaixo da lei, pararesgatar os que estavam debaixo da lei”. E conclui:“Ele tomou a mesma carne que todos os que sãonascidos de mulher possuem.”217

Finalmente, para estabelecer a razão por queCristo veio em semelhança da carne do pecado,Waggoner coloca lado a lado Romanos 8: 3 e 4 e IICoríntios 5:21. “Os primeiros versos dizem queCristo foi enviado à semelhança de carnepecaminosa, ‘para que a justa exigência da lei secumprisse em nós’. Os últimos dizem que Deus ‘Ofez pecado por nós’, embora Ele não houvesseconhecido pecado, ‘para que nEle fôssemos feitosjustiça de Deus’.”218

Em todas essas explanações, Waggoner ligavaconstantemente a encarnação de Cristo, que Serevestiu da decaída natureza humana compropósitos de redenção; para libertar os seres

216 Idem, pág. 128.217 Ibidem.218 Ibidem.

Page 103: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

humanos do poder do pecado e da morte, medianteo poder do Espírito de vida que está em JesusCristo (Rom. 8:2).

Em 1892, Waggoner aceitou um chamado para irà Inglaterra e tornar-se o editor da revista AVerdade Presente. Ele permaneceu ali até 1902.Nessa ocasião, foi convidado a tomar parte nasessão da Conferência Geral em 1897, ondeapresentou 19 estudos baseados nos primeiroscapítulos da epístola aos Hebreus. Isso nãosurpreende, considerando que esses capítuloscontêm a mais clara evidência da natureza divino-humana de Cristo.219 Mais uma vez Waggoner tevea oportunidade de propagar sua Cristologia, queconcordava também com aquela dos executivos daComissão da Conferência Geral e da igreja. Se nãofosse esse o caso, eles não o teriam sempreconvidado para vir da Inglaterra e participar desseseventos especiais.

Uma vez mais Waggoner confirmou sua posiçãoinicial, a qual também examinamos, sobre anatureza humana de Jesus. Num ponto eleparafraseou o apóstolo Paulo: “Se com a nossaboca confessarmos a Jesus como Senhor, que Eleveio em carne, e se crermos em nosso coração queDeus O ressuscitou dentre os mortos – que Ele é

219 Esses estudos foram publicados no Boletim da Conferência Geral, 1897, sob o título Studies in the Book ofHebrews (Estudos Sobre o Livro de Hebreus).

Page 104: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

um poder vivo – seremos salvos.”220

Para se assegurar de que o público tivesse visãoclara desse ponto, Waggoner insistiu: “A Palavratornou-Se carne perfeita em Adão, mas em Cristoa Palavra tornou-Se carne decaída. Cristo desceuaté o fundo, e eis a Palavra em carne, carnepecaminosa.”221

Num artigo publicado na Signs of the Times,intitulado “Deus Manifesto em Carne”, Waggonerespecificou que nossos pecados não foram postossobre Cristo de maneira simbólica, mas realmentelançados sobre Ele.222 Do mesmo modo, em seucomentário sobre a epístola aos Gálatas, publicadoem 1900, ele sublinha enfaticamente que Cristoportou nossos pecados “em Seu próprio corpo” (IPed. 2:24). E escreveu: “Nossos pecados nãoforam mera e figurativamente postos sobre Ele,mas ‘em Seu próprio corpo’. Ele Se ‘fez maldição’por nós, tornou-Se ‘pecado’ por nós e,conseqüentemente, morreu por nós... O mesmotexto que nos diz ter Ele levado nossos pecados‘em Seu próprio corpo’, cuida em nos deixar saberque Ele ‘não pecou’. O fato de Ele ter podido levarnossos pecados com Ele e nEle, tornando-Sepecado por nós e, todavia, sem ter cometidoqualquer pecado, é para Sua glória eterna e nossa

220 Boletim da Conferência Geral, 1897, vol. II, pág. 12.221 Idem, vol. I, pág. 57.222 E. J. Waggoner, em Signs of the Times, 21 de janeiro de 1889.

Page 105: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

eterna salvação do pecado.”223

ConclusãoIsso é o essencial da Cristologia de Waggoner.

Se sua posição não estivesse de acordo com acrença da igreja, a Comissão da Conferência Geralnão o teria convidado à sessão de 1901, pararefutar “a estranha doutrina” do movimento dacarne santa, de acordo com a qual Cristo haviatomado a “natureza de Adão antes da queda.”224

Se há um tema recorrente no ensino deWaggoner, esse é certamente sua Cristologia. Aobra Confissão de Fé, escrita pouco antes de suamorte, em 1916, permanece como a melhorevidência dessa realidade. Ali ele expressanovamente o paradoxo de Cristo, que assumiu anatureza do “homem pecaminoso”, enquantoofereceu uma “vida perfeita”, uma vida livre depecado, uma vida vitoriosa sobre a morte. “Assim,Deus em Cristo deu Sua vida em favor doshomens pecadores. Esta é, de acordo comWaggoner, a súmula do evangelho.”225

223 _______, The Glad Tidings (Felizes Novas), pág. 62 .224 Esse evento será considerado no capítulo 7.225 Confession of Faith (Confissão de Fé), págs. 8 e 10. Ver Webster, Crosscurrents in Adventist Christology,

págs.222, 223.

Page 106: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Capítulo 5

ALONZO T. JONES (1850-1923)226

Pregador entusiasta, editor de diversos periódicos,227

e autor de várias obras228, Alonzo T. Jones foium dos primeiros líderes espirituais da igrejaadventista na década de 1890.

Jones nasceu no dia 21 de abril de 1850, emRockhill, Ohio. Com 20 anos de idade alistou-seno exército e lá ficou durante três anos. Dessaexperiência ele conservou o espírito de disciplina ecerta brusquidão em seus relacionamentos.Enquanto a maioria de seus companheiros gostavade se divertir nas folgas, Jones preferia ler obrasde história ou publicações adventistas, juntamentecom a Bíblia. Assim ele adquiriu grande parte doconhecimento básico necessário a seu futurotrabalho como pregador e escritor.

Livre das obrigações militares, solicitou o

226 The Seventh-day Adventist Encyclopedia, pág. 707. Ver também George R. Knight, From 1888 to Apostasy,the Case of A. T. Jones (De 1888 Para a Apostasia – O caso de A. T. Jones). (Washington, D.C.: Reviewand Herald Pub. Assn., 1987).

227 Signs of the Times, Review and Herald e American Sentinel.228 The Third’s Angel Message (A Mensagem do Terceiro Anjo), sermões proferidos na sessão da Conferência

Geral, 1895, por A. T. Jones, publicados por John O. Ford (Angwin, Calif.: Pacific Union College Press,1977); The Consecrated Way to Christian Perfection (Mountain View, Calif.: Pacific Press Assn., 1905);Lessons on Faith (Lições Sobre Fé), uma seleção de artigos e sermões publicada por John O. Ford(Angwin, Calif.: Pacific Union College Press, s.d.).

Page 107: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

batismo na igreja adventista. Foi então designadopara ir à costa oeste como pregador. Em maio de1885, foi admitido como editor-assistente darevista Signs of the Times, uma posição quemanteve ao lado de Ellet J. Waggoner até 1889.

Embora completamente diferentes um do outro,esses homens colaboraram mui estreitamente napregação da mensagem da justificação pela fé.Com o apoio de Ellen White, eles revolucionarama sessão da Conferência Geral de 1888, emMineápolis. Como resultado, por dois anos acomissão da Conferência Geral nomeou Waggonere Jones para ensinar essa mensagem nos encontroscampais, nos concílios pastorais, nas instituições eigrejas por todo o país. Até viajar para a Austrália,em dezembro de 1891, Ellen Whitefreqüentemente os acompanhava nessascampanhas. Ela considerava sua mensagem comovinda de Deus.

Após a ida de Waggoner para a Inglaterra, em1892, Jones ficou encarregado de manter ointeresse na mensagem de 1888. E ele o fez demaneira magistral e com a plena aprovação doslíderes de igreja. Durante a década de 1890, emcada sessão da Conferência Geral, uma posiçãopreferencial era-lhe reservada para a apresentaçãode vários aspectos da “terceira mensagemangélica”, como a coleção de seus estudos bíblicos

Page 108: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

era popularmente conhecida.Por causa de seu interesse em liberdade

religiosa, Jones foi escolhido em 1889 para dirigira revista American Sentinel (SentinelaAmericana). Em 1897, ele foi chamado a servircomo um dos membros da Comissão daConferência Geral, e, ao mesmo tempo, comoeditor-chefe da Review and Herald. Então, nasessão da Conferência Geral de 1901, ele foi eleitopara a presidência da Associação da Califórnia,posição em que ficou até 1903.

Jones foi então convidado para tomar conta dodepartamento de liberdade religiosa em nível daConferência Geral, em Washington. De inícioaceitou o convite, mas depois declinou dele e foipara Battle Creek a fim de trabalhar com o Dr.John Harvey Kellogg, sob cuja influência acabouentrando em conflito com a Conferência Geral.Por causa disso deixou a Obra. Posteriormente,em razão de crescente hostilidade com a liderançada igreja, foi desligado do rol de membros em1909.

Antes dessa separação, todavia, A. G. Daniells,presidente da Conferência Geral, tentou areconciliação na sessão de 1909. Por algumarazão, Jones rejeitou essa abertura. Daí em diante,embora um observador do sábado ligado às maisfundamentais doutrinas adventistas, permaneceu

Page 109: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

afastado da igreja. Além disso, como seu biógrafoGeorge R. Knight observa: “A despeito de suaanimosidade com a igreja organizada, Jonesparecia desejoso de companheirismo adventista.”229

Ele faleceu no dia 12 de maio de 1923, em BattleCreek, após sofrer hemorragia cerebral.

A Mensagem de Jones é Ainda Digna deConfiança?

Por causa de sua posterior separação da igreja,alguns adventistas hoje questionam seriamente avalidade da mensagem de Jones. Realmente, comoregra geral, a mensagem de quem não permanecefirme na fé até o final tende a perder toda acredibilidade.230

No caso de Jones, todavia, seu desligamentoocorreu fundamentalmente por conflito com aorganização e não com a fé. George R. Knightescreve: “Tendo estudado sua vida por muitosanos, achei quase impossível crer que o vigorosoJones do início da década de 1890, pudesse ternaufragado na fé. Por outro lado, também parecequase impossível para ele – em conseqüência deseu orgulho, obstinadas opiniões e extremismo –ter feito qualquer coisa mais. A chave para o seufuturo jaz na mensagem que foi tão cara ao seu

229 Knight, pág. 255.230LeRoy Edwin Froom, em Movement of Destiny, ignora quase que inteiramente o papel e a mensagem de

A. T. Jones.

Page 110: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

coração – deixar o poder do Espírito Santotransformar sua vida através da fé. Esse foi oponto onde Jones falhou. Possuía uma corretateoria da verdade, mas fracassou em suaprática.”231

Ellen G. White acentua a diferença entre amensagem e o mensageiro. Ela conhecia bem aambos. A Sra. White havia aceito a mensagemcomo inspirada pelo Céu. Ela mesma não hesitouem pregá-la. Mas em resultado da oposição queJones e Waggoner tiveram de enfrentar, elatemia que se desanimassem e por fim“sucumbissem às tentações do inimigo”. Dequalquer modo, ela advertia: “Se isso acontecesse,não provaria que eles não tinham qualquermensagem de Deus, ou que a obra que fizeramfosse totalmente um erro.”232 [Ênfase acrescida].

Esse testemunho é ainda mais digno de nota, emvista das circunstâncias que desafortunadamentejustificaram mais tarde os temores de Ellen Whitecom relação aos mensageiros. De fato, ela nuncaduvidou da origem da mensagem básica pregadapor Jones e Waggoner, embora, às vezes, ela oscorrigisse em alguns pontos particulares.233

Tendolido, na Austrália, os 24 estudos bíblicosapresentados por Jones na sessão da Conferência

231 Knight, pág. 256.232 Ellen G. White, carta 24, de 1892. Citada em A. V. Olson, Through Crisis to Victory, págs. 315, 316.233 Para exemplo, ver Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, págs. 377-379.

Page 111: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Geral em 1893, Ellen White escreveu: “Sabemosque o irmão Jones tem dado a mensagem para estetempo – alimento no tempo devido para o famintorebanho de Deus. Aqueles que não permitem que opreconceito obstrua o coração contra a mensagemenviada pelo Céu, não podem senão sentir oespírito e a força da verdade.”234

Jones também desfrutou a confiança dos líderesda igreja, de acordo com Arthur L. White: “Talveza verdadeira atitude da igreja e seus líderes paracom Jones e Waggoner, após a sessão daConferência de 1888, seja melhor refletida nosconvites estendidos a esses dois homens, paraconduzirem estudos bíblicos nas sessões daConferência Geral realizadas nos 10 anosseguintes. É bom lembrar que a Comissão daConferência Geral foi responsável peloplanejamento das reuniões da Conferência Geral epela escolha de seus oradores. A igreja tinhamuitos oradores competentes. As escolhas feitasrevelam os sentimentos de seus líderes.”235

Uma rápida olhadela na impressiva conta deestudos bíblicos apresentados por Waggoner eJones nas várias sessões da Conferência Geral, de1891 a 1909, será suficiente para estabelecer o

234 Manuscrito 1180 de Ellen G. White. Ver Robert J. Wieland, Ellen G. White Endorsements of the 1888Message, as Brought by Jones and Waggoner (Avais de Ellen G. White à Mensagem de 1888, ComoApresentada Por Jones e Waggoner) (St. Maries, Idaho, LMN Publishing, s.d.).

235 Arthur L. White, Ellen White: The Lonely Years (Ellen White: Os Anos Solitários) (Washington, D.C.: Reviewand Herald Pub. Assn., 1984), págs. 412, 413.

Page 112: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

nível de confiança de que gozavam: 17 paraWaggoner em 1991; 24 para Jones em 1893; 26para Jones em 1895; 19 para Waggoner e 11 paraJones em 1897; 3 para Waggoner e 7 para Jonesem 1899. Esses homens nunca teriam sidosolicitados a apresentar como o fizeram, os váriosaspectos da terceira mensagem angélica, se seudiscurso não houvesse estado em harmonia comas crenças da igreja.

Cristologia de JonesJones falou profusamente sobre a natureza

humana de Cristo, primeiramente em numerososartigos na Review and Herald, da qual foi editor-chefe;236 mais tarde nos estudos bíblicosapresentados nas sessões da Conferência Geralhavidas entre 1893 e 1895, sob o título “A TerceiraMensagem Angélica”237

e finalmente num livretointitulado The Consacrated Way to ChristianPerfection (O Caminho Consagrado Para aPerfeição Cristã)238, publicado ao final de seuministério, em 1905.

Dentro do escopo deste estudo, é impossívelconsiderar todos os detalhes da mensagem expostapor Jones. Será suficiente aqui definir os pontos

236 Alonzo T. Jones, em Review and Herald, 18 de fevereiro de 1896; 16 de novembro de 1897; 11 e 18 de abrilde 1899; 4, 11, 18 e 25 de dezembro de 1900; 1 e 22 de janeiro de 1901.

237 Ver Boletim da Conferência Geral, 1893, pág. 207.238 Alonzo T. Jones,); The Consecrated Way to Christian Perfection (Mountain View, Calif.: Pacific Press Assn.,

1905), reeditado por Upward Way, Dodge Center, Minnesota, 1988.

Page 113: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

principais de sua Cristologia. Primeiramente,vamos deixar claro que Jones sempre apresentouCristo como Deus. Para ele, “tão inteiramente anatureza de Cristo é a natureza de Deus, que ela éo próprio sinete da substância de Deus.” “Ele éDeus.”239 Jones declarou: “É essencial conhecer oprimeiro capítulo aos Hebreus, de forma aentender o que é Sua natureza como homem,revelada no segundo capítulo de Hebreus.”240

Em suas apresentações no ano de 1893, Jonesconfirmou os ensinos de Waggoner sobrejustificação pela fé. Ele afirmou que “Jesusparticipou da mesma carne e sangue que nóstemos.”241 E, em seu décimo estudo ele explicoucomo Deus teceu em Cristo “as vestes da justiça”,disponíveis àqueles que O aceitam.

Jones afirmou: “Essas vestes foram tecidas emum corpo humano. O corpo humano – a carne deCristo – era o tear, não era? Essa roupa foi tecidaem Jesus; na mesma carne que você e eu temos,pois Ele tomou parte na mesma carne e sangue quetemos. Essa carne, que é sua e minha, foi a queCristo portou neste mundo, a qual foi o tear noqual Deus teceu os trajes para você e eu vestirmosna carne, e Ele quer que os usemos agora.”242

As mais completas e detalhadas apresentações239 Idem, pág. 16.240 Ibidem.241 Boletim da Conferência Geral, 1893, pág. 207.242 Ibidem.

Page 114: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

foram as feitas por Jones na sessão da ConferênciaGeral de 1895. De 26 estudos, seis foramdedicados à doutrina da encarnação.243

No curso

dessas exposições, Jones mencionou que anatureza de Cristo havia sido objeto de profundoestudo durante “três ou quatro anos”, mas queDeus os estava conduzindo “mais além” noassunto.244 Jones cria que havia novos argumentoscapazes de consolidar o ensino sobre a naturezahumana de Cristo.

Evidências sugerem que, após sua chegada àInglaterra em 1892, Waggoner enviou a Jones osescritos de um bispo anglicano, Edward Irving,bem conhecidos por sua Cristologia. Está bastanteclaro que Jones havia lido as obras de Irving e queelas tiveram influência sobre os argumentos eexpressões usados nas apresentações de 1895.245

A compreensão de Jones sobre a naturezahumana de Jesus e suas aplicações práticas na vidacristã, podem sem sumariadas em quatroprincipais conceitos:

1. A Natureza Caída de CristoJones não tinha a mínima dúvida de que Cristo

243 Ver Boletim da Conferência Geral, 1895. Os últimos 16 estudos foram publicados por John O. Ford, TheThird Angel’s Message, Sermons Given at the General Conference of 1895, por A. T. Jones (Angwin, Calif.:Pacific Union College Press, 1977).

244 Boletim da Conferência Geral, 1895, pág. 330.245 Ver William H. Grotheer, An Interpretative History of the Doctrine of Incarnation as Taught by SDA Church

(typescript) (Uma História Interpretativa da Doutrina da Encarnação, Como Ensinada Pela Igreja Adventistado Sétimo Dia), págs. 30 e 32.

Page 115: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

tomou sobre Si a natureza humana decaída oupecaminosa, “a semelhança da carne do pecado”.Esse tipo de expressão ocorre não menos que 90vezes em suas apresentações feitas no ano de1895.246

Não satisfeito em afirmar a verdade dessamensagem, Jones desejava explicar sua lógica.Para esse fim ele começou a enfatizar a origemcomum da natureza humana de Cristo e de todosos seres humanos. Para demonstrar esse ponto, elecitava Hebreus 2:11: “Pois tanto o que santifica,como os que são santificados, vêm todos de umsó...” Com base nesse verso, Jones concluiu que“em Sua natureza humana, Cristo proveio dohomem de quem todos nós viemos... Um homem éa fonte e cabeça de toda a natureza humana. E agenealogia de Cristo, como um de nós, origina-seem Adão... Todos vêm de um homem segundo acarne; são todos de um. Assim, do lado humano, anatureza de Cristo é precisamente a nossanatureza.”247

“Que carne é essa, de fato?”, interrogava Jones.“Que espécie de carne somente este mundoconhece? Tão-somente a carne que você e eutemos. O mundo não conhece qualquer outro tipode carne humana, e não tem sabido de outra pelaqual a necessidade da vinda de Cristo foi criada.246 Ver Ralph Larson, The Word Was Made Flesh (O Verbo Se Fez Carne), pág. 67.247 Boletim da Conferência Geral, 1895, pág. 231.

Page 116: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Por esse motivo, como o mundo conhece apenastal espécie de carne como a que temos, como éagora, é certamente verdade que quando ‘o VerboSe fez carne’, foi a mesma carne que a nossa. Issonão pode ser de outro modo.”248

Fundamentando-se nos versos de Hebreus 2:14-18, Jones salientava o fato de Cristo terparticipado da carne e do sangue, da mesmamaneira que nós compartilhamos da carne e dosangue. “Ele não Se revestiu da natureza dosanjos, mas da natureza de Abraão. Mas a naturezade Abraão e a semente de Abraão são tão-somentenatureza humana... ‘Pelo que convinha que emtudo fosse feito semelhante a Seus irmãos.’ Emquantas coisas? Todas as coisas. Então, em Suanatureza humana não há sequer uma partícula dediferença entre Ele e você.”249

Jones pergunta: “Percebe você que nossasalvação jaz exatamente aí? Não vê que éjustamente aí que Cristo Se aproxima de nós? Elechegou até nós precisamente onde somos tentados,e foi feito como nós exatamente onde somostentados; e esse é o ponto onde nós O encontramos– o Salvador vivo contra o poder da tentação.”250

2. O Pecado Condenado na Carne

248 Idem, pág. 232. “Nesse argumento, Jones fazia eco das palavras de Edward Irving, que havia declarado:‘Que Cristo tomou nossa natureza decaída é mais evidente porque não havia nenhuma outra em existênciapara tomar’(Obras 5:15).” (Grotheer, pág. 30).

249 Idem, pág. 233.250 Ibidem.

Page 117: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Quando Jones considerava as tentações às quaisCristo esteve sujeito, aludia a Hebreus 4:15:“Porém, um que, como nós, em tudo foi tentado,mas sem pecado.”

Obviamente, declarou Jones: “Ele não poderiaser tentado em todos os pontos como eu sou, se emtodos os pontos não fosse como eu sou.... Cristoestava em Seu lugar, e Ele possuía a natureza detoda a raça humana. Nele se encontrava toda afraqueza da humanidade, de forma que cadahomem sobre a Terra que pode ser tentado,encontra em Jesus Cristo poder contra a tentação.Para cada alma há em Jesus vitória contra todas astentações e socorro contra seu poder. Essa é averdade.”251

Em seu décimo quarto estudo, Jones repetiu oque cada homem herdou de Adão. “Assim, todasas tendências para o pecado encontradas na raçahumana vieram de Adão. Mas Jesus Cristo sofreutodas essas tentações. Ele foi tentado em todos ospontos na carne que Ele recebeu de Davi, Abraão eAdão... Assim, na carne de Jesus Cristo – não emSi mesmo, mas em Sua carne – nossa carne queEle tomou em a natureza humana – ocorreramjustamente as mesmas tentações ao pecado queexistem em você e em mim... E assim, existindoem semelhança da carne pecaminosa, Ele

251 Idem, págs. 233, 234

Page 118: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

condenou o pecado na carne.”252

Por conseguinte, Jones diz: “Todas as tendênciaspara pecar que existem na carne humana estavamem Sua carne, e a nenhuma foi jamais permitidoque se manifestasse; Ele venceu a todas elas. EnEle todos temos a vitória sobre elas.”253

Para tornar mais clara sua explanação, Jonesadmite “uma diferença entre a tendência parapecar e o aberto aparecimento desse pecado nasações.”254 Ao submeter-Se à grande lei dahereditariedade, Cristo aceitou ser tentado emtodos os pontos como nós somos, mas sem cederao poder da tentação que Ele portava em Suacarne. Então Jones declara: “Ele é um Salvadorcompleto. Ele é um Salvador dos pecadoscometidos e um Conquistador das tendências paracometimento de pecados. Nele temos a vitória.”255

Jones afirmava não haver mistério em Deus sermanifesto numa carne que não estivesse sujeita aopoder do pecado. “Mas a maravilha está no queDeus pode fazer através da e na carnepecaminosa. Esse é o mistério de Deus – Deusmanifesto em carne pecaminosa. Em JesusCristo, que estava em carne pecaminosa, Deusdemonstrou perante o Universo que Ele podeassim tomar posse da carne pecaminosa para252 Idem, págs. 266, 267.253 Idem, pág. 267. Ver também Jones, The Consecrated Way to Christian Perfection, págs. 40 e 41.254 Ibidem.255 Ibidem.

Page 119: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

revelar Sua própria presença, poder e glória, emvez de o pecado nela se manifestar.”256

3. Natureza de Adão: Antes ou Depois daQueda?

Para Jones, essa questão nunca deveria ter sidolevantada. “O segundo Adão veio, não como oprimeiro Adão era, mas com o que o primeiroAdão havia produzido em seus descendentes notempo de Sua vinda. O segundo Adão veio noponto que a degeneração da raça havia atingidodesde o primeiro Adão.”257

“Jesus veio aqui, noterritório de Satanás, e assumiu a natureza humanajustamente no ponto ao qual Satanás a havialevado.”258

É claro que alguns delegados nãocompreenderam como foi possível para Jesus ter“carne pecaminosa” e não ter sido um pecador.Conseqüentemente, houve questionamentos aosquais Jones se viu compelido a responder. Depronto ele foi forçado a recorrer à doutrina daimaculada conceição. “A falsa idéia de que Ele étão santo que Lhe seria inteiramente impróprioachegar-Se a nós e ser possuído da mesmanatureza que temos – pecaminosa, depravada,decaída natureza humana – tem sua origem na

256 Idem, pág. 303.257 Idem, pág. 435.258 Idem, pág. 448.

Page 120: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

encarnação daquela inimizade contra Deus, e quesepara o homem e Deus – o papado.”259

De acordo com essa doutrina, “Maria, portanto,deve ter nascido imaculada, perfeita, impecável, emais elevada que o querubim e o serafim; entãoCristo deve ter nascido assim, para tomar dela Suanatureza humana em absoluta impecabilidade. Masisso O coloca muito mais distante de nós do queum querubim e um serafim estão, e em naturezapecaminosa... Quero que alguém me ajude, alguémque conheça alguma coisa sobre naturezapecaminosa, pois essa é a natureza que eu tenho eé a tal que o Senhor assumiu. Ele Se tornou um denós.”260

Alguns delegados acharam que Jones estavaindo muito longe ao afirmar que “Cristo possuía asmesmas paixões que nós.” Eles o confrontaramcom uma declaração de Ellen White de que“Cristo é um irmão em nossas fraquezas, mas nãoem possuir as mesmas paixões”. Jones respondeuenfatizando a diferença entre a carne de Jesus eSua mente: “Ele foi feito em semelhança de carnepecaminosa; não à semelhança da mentepecaminosa. Não coloquem Sua mente nisso. Suacarne era a nossa carne, mas a mente era ‘a mentede Cristo Jesus’. Por conseguinte, está escrito:‘Haja em vós o mesmo sentimento [mente] que259 Idem, pág. 311.260 Ibidem.

Page 121: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

também houve em Cristo Jesus.’”261

No princípio, no Jardim do Éden, Jonesexplicava, Adão e Eva tinham a mente de CristoJesus. Ao permitirem ser seduzidos, tornaram-se“escravos” de Satanás, e assim nós depois deles.Jesus veio, portanto, para ferir a batalha no próprioterreno de Adão, onde ele foi derrotado. E por Suavitória “em Jesus Cristo, a mente de Deus éconcedida uma vez mais aos filhos dos homens; eSatanás é vencido.”262

“Jesus Cristo veio na mesmacarne que a nossa, mas com a mente que mantinhasua integridade contra cada tentação, contra cadaindução ao pecado – uma mente que jamaisconsentia em pecar. Não, nunca, nem na mínimaconcebível sombra de um pensamento.”263

Para fundamentar seu argumento, Jones citouuma declaração extraída de um artigo no qualEllen White destaca as duas naturezas de Jesus, ahumana e a divina, com base em Filipenses 2:6 e 7e Hebreus 1:2.264

Então Jones fez menção de umtrecho do manuscrito de O Desejado de Todas asNações, ainda não impresso na ocasião e comtítulo provisório de A Vida de Cristo: “Paracompletar a grande obra da redenção, o Redentorprecisa tomar o lugar do homem decaído... A fimde elevar o homem degenerado, Cristo devia261 Idem, pág. 327.262 Ibidem.263 Idem, pág. 328.264 E. G. White, em Review and Herald, 5 de julho de 1887.

Page 122: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

alcançar o homem onde esse se achava. Eleassumiu a natureza humana, suportando asfraquezas e a degeneração da raça. Ele Sehumilhou até as mais baixas profundidades damiséria humana, para poder simpatizar com ohomem e resgatá-lo da degradação na qual opecado o havia imergido... Cristo assumiu ahumanidade com todos os seus riscos. Tomou-acom a possibilidade de ceder à tentação, e apoiou-Se sobre o poder divino para sustentá-Lo.”265

Jones concluiu: “Você vê que estamos sobreterreno firme em todo o caminho, assim quequando é dito que Ele [Cristo] tomou nossa carne,mas não era participante de nossas paixões, issoestá totalmente exato, totalmente correto; porqueSua mente divina nunca consentiu com o pecado.E essa mente nos é concedida através do EspíritoSanto, o qual nos é dado livremente.”266

Alguns acham que Jones tinha, com efeito,admitido que Cristo não tinha paixões como asnossas.267 Não aceitou isso totalmente. Ele fez oseu melhor para esclarecer a diferença entretendências hereditárias para pecar, que são comunsa todos nós, e hábitos de culpa que cultivamos porceder à tentação. De mais a mais, “a carne de JesusCristo era nossa carne, e nela havia tudo o que há

265 A. T. Jones, em Boletim da Conferência Geral, 1895, págs. 332, 333.266 Idem, pág. 333.267 Ver Knight, pág. 139.

Page 123: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

em nossa carne – todas as tendências ao pecadoque há em nossa carne estavam em Sua carne,atraindo-O para que cedesse ao pecado.”268 Domesmo modo, Jesus portou em Sua própria carnenossas paixões por hereditariedade,potencialmente, mas não em atos. Eis por queJones era capaz de dizer sem se contradizer: “Queisso não signifique que Cristo participou denossas paixões.” Ele possuía nossas paixões, masnunca participou delas. Todo o problema danatureza humana de Cristo jaz na compreensãodessa diferença.269

A Vitória é Possível Através de Jesus CristoRealmente, a vitória de Jesus sobre o pecado na

carne provia para Jones a prova de que cadadiscípulo de Cristo pode também vencer o pecadona carne. Em última análise, foi para esse realpropósito que Deus enviou Jesus Cristo: paracondenar o pecado na carne “para que a justaexigência da lei se cumprisse em nós, que nãoandamos segundo a carne, mas segundo oEspírito” (Rom. 8:4).

“Em Jesus Cristo, enquanto Ele estava na carnepecaminosa, Deus demonstrou perante o Universo

268 A. T. Jones, em Boletim da Conferência Geral, 1895, pág. 328.269 Ellen G. White confirma o ponto de vista de Jones. Por um lado, ela disse que Cristo não possuía “as

mesmas paixões... de nossa humana e decaída natureza.” Testimonies for the Church, vol. 2, págs. 202,508); por outro, dizia que: “Ele tinha todo o poder da paixão da humanidade”. (Nos Lugares Celestiais,pág. 155).

Page 124: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

que pode tomar posse da carne pecaminosa, paramanifestar Sua própria presença, poder e glória,em vez de dar lugar à expressão do pecado. E tudoo que o Filho pede de qualquer homem para poderrealizar essa experiência nele, é que permita que oSenhor o possua como ocorreu com o SenhorJesus.”270

Em 1893, Jones tirou esta lição prática da vitóriade Cristo sobre o pecado: da mesma maneira queDeus vestiu os trajes de justiça na carne de Cristo,assim “Ele deseja que nós os vistamos agora,como também quando a carne se tornar imortal nofim... Cristo precisa estar em nós, assim comoDeus estava nEle; Seu caráter precisa estar emnós, assim como o de Deus estava nEle. E Seucaráter tem de nos revestir e transformar atravésdesses sofrimentos, tentações e tribulações queenfrentamos. Deus é o tecelão, mas não sem nós. Éa cooperação do divino e do humano – o mistériode Deus em você e em mim – o mesmo mistérioque havia no evangelho e que há na terceiramensagem angélica.”271

A mesma conclusão prática é extraída do final deseu décimo sétimo estudo, em 1895: “De acordocom Sua promessa, somos participantes danatureza divina.”272 E na medida em que somos

270 A. T. Jones, em Boletim da Conferência Geral, 1895, pág. 303.271 Idem, 1893, pág. 207.272 Idem, 1895, pág. 329.

Page 125: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

dependentes de Deus todo o tempo, “o divinoEspírito que estava nEle [Jesus], e que nos foiconcedido, restringirá nosso eu natural, nosso eupecaminoso... Esta é a nossa vitória”, e a maneirapela qual Deus destrói a inimizade em nossofavor.273

Os escritos e pregações de A. T. Jonesesclareceram uma das maiores verdades damensagem de 1888: que os cristãos podem vivervidas vitoriosas “através de Cristo Jesus, a lei doEspírito de vida” (Rom. 8:2). É verdade, conformeJones, que alguns se equivocam sobre osignificado dessa liberdade, guinando algumasvezes para um lamentável perfeccionismo, comose a vitória sobre o pecado pudesse serabsolutamente obtida, e o poder do pecadoerradicado da carne.

Jones fez alusão a isso em 1899, num artigorelativo ao movimento da “carne santa”,condenado na sessão da Conferência Geral de1901 (falaremos disso posteriormente). Seu artigointitulado “Carne Pecaminosa” colocou emperspectiva algumas de suas declarações sobre aperfeição cristã.

“Há um sério e mui preocupante erro mantidopor muitas pessoas. Esse erro consiste em pensarque quando se convertem, sua velha natureza

273 Idem, pág. 331.

Page 126: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecaminosa é eliminada. Em outras palavras,cometem o erro de pensar que estão livres dacarne, por ela ter sido retirada completamentedelas. Então, quando descobrem que a coisa não éassim; quando verificam que ainda estão com amesma velha carne com suas inclinações,bloqueios e seduções, vêem que não estãopreparados para isso e se desanimam; ficampensando que nunca se converteram, afinal.”274

Jones continua explicando que “a conversão ...não reveste de nova carne o velho espírito, mas umnovo espírito é posto na velha carne. Ela não sepropõe a cobrir a velha mente com a nova carne,mas uma nova mente posta na velha carne.Livramento e vitória não são obtidos por que anatureza humana foi retirada, mas pelorecebimento da divina natureza para subjugar ahumana e ter domínio sobre ela... A Escritura nãodiz: ‘Transformem-se pela renovação da carne devocês’, mas diz: “Transformem-se pelarenovação de sua mente” (Rom. 12:2). Seremostransladados pela renovação de nossa carne; masdevemos ser transformados pela renovação denossas mentes.”275

Finalmente, em 1905, a Pacific Press publicou OCaminho Consagrado Para a Perfeição Cristã.

274 _______, em Review and Herald, 18 de abril de 1899. Citado em A. T. Jones e E. J. Waggoner, Lessons onFaith (Angwin, Calif.: Pacific Union College Press, 1977), págs. 90-92).

275 Ibidem.

Page 127: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Baseado na epístola aos Hebreus, o livro recordaos ensinos mais importantes de Jones sobre anatureza humana de Cristo e a perfeição de caráterque cada cristão pode conseguir, graças aoministério de Cristo, nosso grande SumoSacerdote no santuário celestial, “um que, comonós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”; “[Ele]pode socorrer aos que são tentados” (Hebreus4:15; 2:18).

ConclusãoComo George R. Knight escreveu: “A . T. Jones

foi uma das mais influentes vozes noadventistmo.”276

A despeito do fim que possa tertido, sua mensagem nada perdeu de seu valor. SuaCristologia, em particular, harmoniza-seperfeitamente com a de Ellen White e Waggoner.

Mesmo que algumas de suas expressões possamaparecer em termos um tanto absolutos, quandoconsideradas na totalidade de seus ensinos, Jonesnada disse a mais daquilo que Ellen White haviaensinado previamente sobre o tema.

Ao final das apresentações de Jones, em 1895,Ellen White escreveu à igreja de Battle Creek, emcarta datada de 1 de maio de 1895: “O Senhor, emSua grande misericórdia, enviou umapreciosíssima mensagem a Seu povo através dos

276 Knight, na sobrecapa de From 1888 to Apostasy.

Page 128: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Prs. Waggoner e Jones... Conseqüentemente, Deusconcedeu a Seus servos um testemunho queapresentou a verdade tal qual ela é em Jesus, que éa mensagem do terceiro anjo, em linhas claras edistintas.”277

A mensagem de Jones, considerada como umtodo, foi naquele tempo a melhor explanação doque veio a ser conhecida como “a terceiramensagem angélica”278, que lhe rendeu umprivilegiado status entre os líderes da igrejadurante a década de l890. Se não houvesse sidoesse o caso, eles jamais teriam convidado Jones afalar com tanta freqüência. Essa mensagem não foioutra senão a da justificação pela fé, onde anatureza divino-humana de Jesus Cristo provê omeio de reconciliação com Deus.279

Não é sem razão que Ellen White chama tãovigorosamente a atenção para as mensagens deJones e Waggoner. É importante termos em mentesua advertência: “É bem possível que os PastoresJones ou Waggoner possam ser vencidos pelastentações do inimigo; mas se eles o forem, issonão provaria que não tivessem uma mensagemvinda de Deus, ou que a obra que realizaram foi

277 Ellen G. White, carta 57, 1895. Citado em A. L. White, pág. 414.278 Esse nome é uma referência à mensagem do terceiro anjo de Apocalipse 14, a qual contém

essencialmente a mensagem da justificação pela fé. Mas essa expressão tão amiudadamente citada,também se refere às mensagens combinadas dos três anjos de Apocalipse 14.

279 Ellen G. White define melhor a natureza divino-humana de Cristo nestas palavras: “A inteireza de Suahumanidade, a perfeição de Sua divindade, criam para nós um firme terreno através do qual podemos serlevados à reconciliação com Deus.” (Carta 35, 1894).

Page 129: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

totalmente um erro. Mas, houvesse isso deacontecer, quantos tomariam essa posição ecairiam sob fatal engano porque não estão sob ocontrole do Espírito Santo.”280

[Ênfase acrescida].

Os temores de Ellen White, ai! se confirmaram.Porque falharam os mensageiros, muitos hoje emdia consideram que sua mensagem não fora deDeus, e buscam substituí-la por uma novamensagem, a qual Ellen White descreveu comoengano fatal, porque não baseada nas revelaçõesdo Espírito de Deus. Para enfatizar, além disso, acerteza dessa predição, Ellen White a repete: “Eusei que essa é a posição real que muitos tomariamse esses homens viessem a cair.”281

Por incrívelque pareça, como veremos, foi isso exatamente oque aconteceu.

280 Ellen G. White, carta 24, 1892. Citado em A. L. White, págs. 474, 475.281 Idem, em A. L. White, pág. 475.

Page 130: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Capítulo 6

WILLIAM WARREN PRESCOTT (1855-1944)282

É importante que se mencione William W. Prescottcomo alguém que contribuiu para o triunfo damensagem da justificação pela fé após Mineápolis.Durante a década de 1890, ele esteve intimamenteligado a Waggoner, Jones e Ellen White. Comoeles, Prescott fez da natureza divino-humana deCristo a base de sua Cristologia.

William W. Prescott nasceu na Nova Inglaterra,no ano de 1855, filho de pais piedosos efervorosos seguidores do movimento milerita.William viveu sua juventude no Estado do Maine.Graduou-se no Dartmouth College em 1877,exercendo então o magistério como professor degrego e latim. De 1877 a 1880, foi diretor daescola secundária de Northfield, e depois emMontpelier, no Estado de Vermont. Por certoperíodo dedicou-se ao jornalismo, antes de fundarseu próprio jornal, The State Republican (OEstado Republicano), de Montpelier.

O ano de 1885 marcou o ponto decisivo em sua

282 Ver The Seventh – day Adventist Encyclopedia, págs. 1148, 1149.

Page 131: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

vida. Primeiramente, ele se uniu ao movimentoadventista, aceitando então o comando do Colégiode Battle Creek, posto que conservou até 1894.Enquanto lá, sua competência foi requerida paraajudar no estabelecimento do Union College, noNebraska, e no Walla Walla College, no Estado deWashington. Prescott também tomou a iniciativade ajudar a organizar o primeiro institutoeducacional de treinamento em ensino pessoalpara a igreja.

Por causa de sua reputação como educador eprofessor de Bíblia, os líderes da ConferênciaGeral pediram-lhe que viajasse para a África doSul, Austrália e Europa, com o propósito deestimular o desenvolvimento da obra educacional,de ensinar nos vários institutos bíblicosespecializados na formação de pastores, e paratomar parte nas reuniões campais. Durante suaestada na Austrália, ele assistiu à criação doAvondale College. Na Inglaterra, lançou osfundamentos da obra educacional.

Durante a sessão de 1901, Prescott foi eleitovice-presidente da Conferência Geral e presidenteda comissão diretiva da Casa Publicadora; tambémse tornou editor-chefe da Review and Herald.Quando deixou esses cargos, em 1909, foi eleitoeditor da Revista Protestante. Isso lhe propiciou aoportunidade de se dedicar durante sete anos a

Page 132: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

profunda pesquisa. Essa revista mensal tinha oobjetivo de “protestar contra erros eclesiásticos epromover a verdade evangélica.”283

Um Ardoroso Partidário da Mensagem de1888

Prescott prontamente aceitou a mensagem dajustificação pela fé, como pregada por Waggonerem 1888. Um relatório datado de 1930,relembrando os nomes daqueles que tomaramposição a favor da mensagem anunciada emMineápolis, dá a Prescott lugar proeminente.284

Todavia, esse relatório também revelou que eleficou tão chocado com o estado espiritualprevalecente em certas discussões, que deixou asessão pouco antes de seu encerramento.285

Apesar de tudo, assumiu publicamente umapostura de apoio ao lado de Waggoner e Jones nassessões da Conferência Geral de 1893 e 1895. Hámuitas declarações no Boletim da ConferênciaGeral afirmando suas convicções sobre a questãoda natureza humana de Cristo. Eis uma dasenfáticas sobre o tema:

“Apesar de Jesus Cristo ter tomado sobre Sicarne pecaminosa – carne na qual pecamos – Ele aassumiu. Esvaziando-se de Si mesmo e recebendo

283 Idem, pág. 1158.284 Ver LeRoy Edwin Froom, Movement of Destiny, pág. 373.285 Idem, pág. 254.

Page 133: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

a plenitude do próprio Deus, o Senhor pôdemantê-Lo livre de pecar nessa carnepecaminosa.”286

Não obstante, mais completa e detalhadaconsideração de Prescott é encontrada em seuestudo sobre João 1:14, apresentado durante suavisita à Austrália (1894-1895). Ele foi umdestacado orador em vários encontros campaisorganizados especialmente para sua visita. EllenWhite, que estava vivendo naquele país desde ofinal de 1891, participou igualmente dessasassembléias. Por isso mesmo ouviu Prescott pregare não ocultou sua apreciação a respeito.

O teor completo de seu estudo foi publicado narevista australiana The Bible Echo (O EcoBíblico).287

Em sua análise, Prescott declaraenfaticamente que Cristo revestiu-Se de carnepecaminosa. Vinte e cinco vezes ele afirma queJesus veio a este mundo com a decaída naturezahumana, e por duas vezes especifica que nossoSenhor não chegou à Terra com a natureza deAdão antes da queda. É válido, então, sumariaraqui as quatro principais idéias que estãoclaramente registradas nesse importante estudobíblico intitulado: “E o Verbo Se Fez Carne.”286 William W. Prescott, em General Conference Bulletin, 1895, pág. 319. Na sessão da Conferência Geral de

1885, Prescott apresentou seis sermões sobre o tema The Divine Human Family (A Família Divino-Humana), estruturados inteiramente com base da natureza humana decaída de Cristo.

287 _______, em Bible Echo, 6 e 13 de janeiro de 1896,. Ver Ralph Larson, The Word Was Made Flesh (OVerbo Se Fez Carne), págs. 90-99. Todas as citações nas diversas páginas seguintes procedem dessesdois artigos.

Page 134: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

1. A Encarnação – Uma VerdadeFundamental

Prescott inicia o estudo ressaltando suapreferência pela American Revised Version(Versão Americana Revisada), a tradução mais fielao texto original: “E o Verbo Se fez carne”,preferivelmente a “A Palavra foi feita carne”. Eleescreve: “Através dEle todas as coisas vieram aexistir. Agora, Ele próprio veio a existir. Aqueleque possuíra toda a glória com Seu Pai, agora põe-na de lado e Se torna carne. Abre mão de Seumodo divino de vida, assume o modo humano deexistência, e Deus Se manifesta em carne. Essaverdade é o fundamento de toda a verdade.”

2. Humanizado em “Carne Pecaminosa” Para provar esse ponto, Prescott faz referência a

Hebreus 2:14: “Portanto, visto como os filhos sãoparticipantes comuns de carne e sangue, tambémEle semelhantemente participou das mesmascoisas, para que pela morte derrotasse aquele quetinha o poder da morte, isto é, o diabo.” Dessapassagem Prescott deduziu que “Jesus Cristo tinhaexatamente a mesma carne que nós – carne depecado, carne através da qual pecamos, mas naqual Ele não pecou e em que levou nossospecados.” Então, desafiava seu auditório: “Nãocoloquem esse ponto de lado. Não importa como

Page 135: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

você o viu no passado, veja-o agora como ele estána Palavra; e quanto mais você o vê desse modo,mais razão terá para agradecer a Deus porque issoé assim.”

Passando para o caso de Adão, Prescott asseveraque pelo seu pecado ele perdeu a imagem de Deus,e assim também seus descendentes. Eis porque“Jesus Cristo veio, da carne e em carne, nascido demulher e debaixo da lei; nascido do Espírito, masna carne. E que carne poderia Ele tomar senão adaquela ocasião? Não apenas isso, mas foi aprópria carne que Ele tencionou assumir; porque,como você pode ver, o problema era ajudar ohomem a sair da dificuldade em que se haviametido... A obra de Cristo tem de ser, não destruí-lo, não criar uma nova raça, mas recriar o homem,restaurá-lo à imagem de Deus.”

A fim de executar a obra de salvação, “JesusCristo veio para essa finalidade, e para realizá-la,Ele veio, não para onde o homem estava antes daqueda, mas após ela... Quando Cristo veio paraajudar o homem a sair do fosso, Ele não foi até abeirada do Céu para examinar a situação e dizer:Suba até aqui e Eu o ajudarei a retornar... JesusCristo desceu onde ele estava e o encontrou ali.Ele Se revestiu de sua carne e Se tornou um irmãopara ele.”

Page 136: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

3. A Carne de Adão Após a QuedaEm seu artigo, Prescott repete incansavelmente o

ponto que considera fundamental: “Ele veio etomou a carne pecaminosa que essa família haviaproduzido para si mesma pelo pecado, e operousua salvação condenando o pecado na carne... Pararedimir o homem desde o ponto em que ele haviacaído, Jesus veio e revestiu-Se da carne entãopossuída pela humanidade.”

Da mesma maneira, quando Prescott considera atentação à qual Cristo e Adão estiveram sujeitos,especifica que “foi na carne pecaminosa que Elefoi tentado, e não na carne através da qual Adãocaiu.” É verdade, acentua Prescott, que Jesus“possuía a santidade que O capacitava a vir ehabitar em carne pecaminosa e glorificá-la por Suapresença nela; e foi isso o que Ele fez, assim quequando ressurgiu dos mortos, foi glorificado. Seuobjetivo era, após purificar a carne pecaminosa porSua presença nela, poder santificar e glorificar acarne pecaminosa em nós.”

4. Cristo em Nós, a Esperança da GlóriaApós a exposição teológica, Prescott extraiu as

aplicações práticas: “Vamos penetrar naexperiência de Deus nos haver dado Jesus Cristopara habitar em nossa carne pecaminosa, para nelaatuar como fez quando aqui esteve. Ele veio e aquiviveu para que pudéssemos, através dEle, refletir a

Page 137: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

imagem de Deus.”Prescott prosseguiu, exclamando: “Esse é o

próprio âmago do cristianismo.” Em apoio, ele citao apóstolo João: “... Todo espírito que confessaque Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todoespírito que não confessa a Jesus não é de Deus.”(I João 4:2 e 3).

“Agora, isso não pode significar o simplesreconhecimento de que Jesus Cristo aqui esteve eviveu na carne. Os demônios também oreconhecem. Eles sabem que Cristo veio em carne.A fé que vem pelo Espírito de Deus afirma: ‘JesusCristo veio em minha carne; e eu O aceitei.’ Esseé o coração é a vida do cristianismo.”

“A dificuldade do cristianismo moderno é queCristo não habita nos corações dos que professamSeu nome. Ele lhes é como um intruso, alguémvisto de longe como um exemplo. Mas Ele é maisdo que um modelo para nós. Cristo nos fez saberqual é o ideal de Deus para a humanidade, e entãoveio e viveu esse ideal diante de nós, para quepudéssemos ver o que é ser conforme a imagem deDeus. Depois morreu e ascendeu ao Pai, enviando-nos Seu espírito, Seu próprio Representante, paraviver em nós, a fim de que a vida que Ele viveu nacarne possamos vivê-la mais uma vez. Isso écristianismo.”

“Não é suficiente falar de Cristo e da formosura

Page 138: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

de Seu caráter. Cristianismo sem Cristo habitandono coração não é genuíno. É tão-somente legítimocristão aquele que tem Cristo habitando em seucoração; podemos unicamente viver a vida deCristo tendo-O habitando em nós... Não estejasatisfeito com qualquer outra coisa... ‘Cristo emvós, a esperança da glória’. Seu poder, Suapresença, isso é cristianismo.”

Assim Prescott realçava consistentemente adiferença entre o cristianismo tradicional, que estásatisfeito com um Cristo que não partilha da carnee do sangue da humanidade e que,conseqüentemente, não poderia torná-los‘participantes da natureza divina’ (II Ped. 1:4); e ocristianismo evangélico que afirma, em oposição,que Cristo veio ‘em carne pecaminosa’ (Rom. 8:3),que foi ‘tentado em todas as coisas, como nós, massem pecado’ (Heb. 4:15), e que ‘é poderoso parafazer muitíssimo mais que tudo quanto pedimos oupensamos, segundo o poder que em nós opera”(Efés. 3:20).

Prescott conclui, desejando que a vida de JesusCristo, “o Verbo” que “Se tornou carne”, possa serrefletida em nós cada dia.

Ellen White Aprova a Cristologia de PrescottNo início de 1895, Jones apresentou na sessão da

Conferência Geral o que ele cognominou “aterceira mensagem angélica”. Ele a equiparou à

Page 139: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

mensagem da “justificação pela fé”, baseada naplena humanidade de Cristo e em Sua perfeitadivindade como pré-requisito de nossareconciliação com Deus.

Em virtude de ser essa também a convicção dacomunidade adventista americana, os líderes daorganização enviaram Prescott para pregar talmensagem nas igrejas além-mar, na África do Sul,na Austrália e na Europa. Graças à revistaaustraliana, que publicou seu estudo denominado“O Verbo Se Fez Carne”, e aos numerosostestemunhos de Ellen White, sabemosprecisamente o que Prescott ensinou com respeitoà natureza humana de Cristo, e a que ponto suaapresentação foi apreciada e considerada comoexpressão da fé adventista.

Na reunião campal de Armadale, próxima aMelbourne, Austrália, Prescott transmitiu seuestudo sobre João 1:14. Ellen White estavapresente. Ela havia falado perante a mesmaassembléia na noite de domingo, dia 31 de outubrode 1895. Assim, a Sra. White sabia exatamente doque estava falando quando expressava, através decartas, sua entusiástica apreciação pela mensagemapresentada por Prescott.

Eis o que descobrimos num dos manuscritos deEllen White, redigidos na manhã da apresentaçãode Prescott. “Tenho ouvido os sermões do Prof.

Page 140: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Prescott. Eles são um poderoso apelo ao povo...[Suas] palavras são ditas em demonstração doEspírito e com poder. Sua face toda brilha com aluz celestial. A presença do Senhor se faz sentir emtodos os nossos encontros diários.”288

Ainda em outro manuscrito, lemos maisespecificamente como ela recebeu o conteúdo damensagem de Prescott: “O Senhor visitou Prescottde maneira particular e lhe deu uma mensagemespecial para o povo... A verdade flui dele em ricastorrentes; o povo diz que a Bíblia é agora umanova revelação para eles.”289

Numa carta escrita nesse tempo, Ellen White diz:“O Senhor enviou Prescott; ele não é um vaso semconteúdo, mas cheio do tesouro celestial. Eleapresenta verdades com clareza e estilo simples,repletas de nutrição.”290 Outra carta: “W. W.Prescott tem sido portador de candentes verdades,tais como ouvi em 1844. A inspiração do EspíritoSanto está sobre ele. Prescott nunca teve tamanhopoder ao pregar a verdade.”291

Outras cartas poderiam ser citadas, nas quaisEllen White repete elogios não somente ao próprioPrescott, mas também ao teor de sua mensagemapresentada “sob inspiração do Espírito Santo”.292

288 Ellen G. White, manuscrito 19, de 1895. Ver Arthur L. White, Ellen White: The Australian Years (Ellen White:Os Anos Australianos) (Washington, D. C.: Review and Herald Pub. Assn., 1985), págs. 232, 233.

289 Ellen G. White, manuscrito 47, de 1895.290 Ellen G. White, carta 25, 1895.291 Ellen G. White, carta 32, 1895.292 Ellen G. White, carta 84, 1895.

Page 141: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Não se limitando simplesmente a mencioná-loem sua correspondência particular, a Sra. Whiteinsistiu em tornar conhecida a toda a igreja suaapreciação, num artigo enviado à Review andHerald, publicado em 7 de janeiro de 1896. Oseguinte excerto faz referência específica aoestudo de Prescott sobre o tema, “O Verbo Se FezCarne”.

“Certa noite (31 de outubro), o Prof. Prescottdeu a mais valiosa lição, preciosa como o ouro. Atenda estava lotada e muitos permaneciam do ladode fora. Todos pareciam fascinados com o sermão,onde ele apresentava a verdade em linhas tãonovas para aqueles que não são de nossa fé. Averdade era separada do erro e feita, pelo divinoEspírito, brilhar como jóias preciosas... O Senhorestá operando com poder através de Seus servosque estão proclamando a verdade, e Ele concedeuao irmão Prescott uma mensagem especial para opovo. O poder e o espírito da verdade veio delábios humanos em demonstração do Espírito epoder de Deus. O Senhor visitou o irmão Prescottde maneira extraordinária. Temos certeza de que oSenhor o tem dotado com Seu Santo Espírito, e averdade flui dele em ricas torrentes.”293

Esses testemunhos de Ellen White são de grandesignificado por sua relação com a história da293 Ellen G. White, Review and Herald, 7 de janeiro de 1896. Ver Ralph Larson, The Word Was Made Flesh (O

Verbo Se fez carne), págs. 88 e 89.

Page 142: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Cristologia na igreja adventista. Eles confirmam ainterpretação de Prescott acerca da naturezahumana de Jesus. Também estabelecem o contextono qual a carta dirigida ao Pr. W. L. H. Baker,294

escrita no mesmo período, deve ser interpretada.Alguns teólogos adventistas apóiam-se nessa cartapara justificar sua “nova” interpretação, comoveremos posteriormente neste estudo.295 Devemos,entretanto, lembrar o que Ellen White escreveusobre o assunto durante tal período. Está fora dequestão se ela aprovaria a interpretação de Prescottcom tal fervor, se fosse a favor de umainterpretação radicalmente oposta.

Prescott Confirma Sua CristologiaDurante o ano de 1896, Prescott confirmou suas

convicções sobre a natureza humana de Jesus,numa série de artigos publicados na Review andHerald.296 Ele as apresentou de modo natural,como um porta-voz das crenças da igreja, e combase nos ensinos bíblicos.

Disse: “A Escritura não nos deixa na incertezasobre que espécie de carne e sangue eram esses...quando Deus enviou Seu próprio Filho emsemelhança de carne pecaminosa... A carne que

294 Ellen G. White, carta 8, 1895. Citada no The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Comentários deEllen G. White, vol. 5, pág. 1128, 1129.

295 Ver nosso capítulo 10.296 W. W. Prescott, na Review and Herald, 28 de janeiro de 1896; 10 de março de 1896; 24 de março de 1896;

7 de abril de 1896; 14 de abril de 1896; 21 de abril de 1896.

Page 143: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Jesus Cristo assumiu quando veio foi a única quealguém poderia tomar ao ser nascido de mulher, aqual era a carne do pecado.”297

Para evitar qualquer dúvida sobre o significadoda expressão de Paulo “em semelhança de carnepecaminosa”, Prescott acrescentou uma declaraçãoexata: “Ele [Jesus Cristo] não assumiu asemelhança do homem como Adão antes da queda,mas veio justamente no plano em que o homem seachava caído... e tomou sobre Si mesmo a carne dopecado.”298

Como os que antes dele haviam abordado oproblema da natureza humana de Cristo, Prescottfez uso de Romanos 1:3 para afirmar que “asEscrituras dão ênfase à maneira de Seunascimento... nascido da semente de Davi.”299

Eleito vice-presidente da Conferência Geral em1901, e ao mesmo tempo editor-chefe da Reviewand Herald (1901-1909), Prescott aproveitou aoportunidade para repetir o ensino da igreja sobrea natureza humana de Jesus. Ele dedicou trêseditoriais em particular a esse tópico. Os títulospor si já revelavam o conteúdo:

“Como Seus Irmãos”, “Cristo e Seus Irmãos” e“Na Carne do Pecado.”300

O terceiro artigo foi dedicado a responder a297 Idem, 10 de março de 1896.298 Ibidem.299 Idem, 14 de abril de 1896.300 Idem, 9 de novembro de 1905; 21 de dezembro de 1905.

Page 144: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

questões apresentadas pelos leitores. De modonatural, um deles fez o seguinte comentário sobreRomanos 8:3: “Noto que esse texto não diz queDeus enviou Seu próprio Filho ‘em carnepecaminosa’, mas ‘em semelhança de carnepecaminosa’. Parece-me uma declaração muitodiferente.”301

Em sua réplica, Prescott destacouquatro verdades fundamentais:

1. Jesus Participou do Sangue e da CarneHumanos.

Primeiramente, Prescott se refere a Hebreus2:14-17, que declara que Jesus “participou dacarne e do sangue” dos filhos dos seres humanos.“A natural e legítima conclusão dessa declaraçãoseria que a carne e o sangue de Jesus foram osmesmos que os filhos têm. Isso é salientado maisadiante na mesma conexão: ‘Pois, na verdade, nãopresta auxílio aos anjos, mas sim à descendênciade Abraão.’ Pelo que convinha que em tudo fossefeito semelhante a seus irmãos.’”

Então, sua primeira conclusão: “A missão deJesus não foi resgatar anjos caídos, mas salvarhomens decaídos. Ele, portanto, identificou-Secom o homem e não com anjos; e tornou-Se ‘emtodas as coisas’ semelhante àqueles a quem Sepropusera ajudar. A carne do homem é

301 Idem, 21 de dezembro de 1905. Todas as citações em algumas das páginas seguintes são desse artigo.

Page 145: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecaminosa. Para ser igual ‘em todas as coisas’ eranecessário que Jesus assumisse a carnepecaminosa.”

2. Uma Carne Semelhante à do Pecado.Depois Prescott cita Rom. 8:3: “Em semelhança

da carne do pecado”, e levanta a questão: “O queisso significa? Quer dizer “em carne pecaminosa”?Se sim, por que não foi escrito desse modo? Porque as palavras ‘carne do pecado’, como lidas àmargem da Versão Americana Revisada, seapresentam como se não fosse intenção do autortransmitir o significado de que a carne de Jesus eraa mesma carne pecaminosa que temos? Isso pareceexigir uma interpretação forçada, a fim deadicionar qualquer outro significado à declaração.”

Prescott explica posteriormente: “Podemoscompreender mais claramente o significado dessapassagem, se a compararmos com outra declaraçãona qual uma forma similar de expressão é usada.Eis aqui uma delas: ‘Mas esvaziou-Se a Si mesmo,tomando a forma de servo, tornando-Sesemelhante aos homens.’ Não podemos nósconcluir com acerto que Jesus foi realmente umhomem, quando lemos que Ele Se tornou ‘emsemelhança de homem’? Certamente! O únicomodo pelo qual Ele poderia ser ‘em semelhança dehomem’, era tornar-Se homem... Não está

Page 146: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

igualmente claro que o único jeito pelo qual Deuspoderia enviar Seu Filho ‘em semelhança de carnepecaminosa’, seria o Filho ter carne pecaminosa?Como seria possível para Ele ser ‘em semelhançade carne pecaminosa’, e ainda Sua carne serimpecável? Tal interpretação envolveria umacontradição de expressões.”

Para evitar confusão, Prescott prontamenteacrescenta que “embora Jesus houvesse sidoenviado ‘em semelhança de carne pecaminosa’,todavia Ele não cometeu pecado. ‘Aquele que nãoconheceu pecado, Deus O fez pecado por nós; paraque nEle fôssemos feitos justiça de Deus’ (II Cor.5:21).”

3. Enviou-O Para Condenar o Pecado naCarne.

Ainda desejando tornar mais clara a necessidadeda “carne pecaminosa”, Prescott continua: “Paraque o caráter de Deus pudesse ser manifesto noshomens pecaminosos que nEle cressem, eranecessário que Jesus unisse a divindade àhumanidade em Si mesmo, para que a carne queEle portasse fosse a mesma dos outros homens emquem devia assim ser manifestado. Outra forma deexpressar isso seria dizer que o Filho de Deushabitou na carne quando apareceu na Judéia, parapoder preparar um caminho para morar na carne

Page 147: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

de todos os crentes, e que, portanto, foi-Lhenecessário tomar o mesmo tipo de carne na qualdeveria habitar mais tarde, quando estabelecessedomicílio nos membros de Sua igreja.” Essa nãofoi uma matéria meramente teórica. “Se o Filho deDeus não habitasse em carne pecaminosa quandonasceu neste mundo, então não seria baixada aescada do Céu à Terra, e o abismo entre o DeusSanto e a humanidade decaída não teria sidotransposto. Seria então preciso que alguns meiosposteriores fossem providenciados, a fim decompletar a conexão entre o Filho de Deus e acarne pecaminosa. E isso foi exatamente o que aIgreja Católica Romana fez. A doutrina dessaorganização está em perfeita harmonia com oponto de vista adotado por nosso correspondente.A expressão formal dessa doutrina é chamada de odogma da imaculada conceição da virgem Maria...Evitamos essas conseqüências, recusando taldoutrina e sustentando o claro ensinoescriturístico.”

4. Para Poder Participar de Sua DivinaNatureza.

Ainda remanesce a segunda questão do leitor aser respondida: “Como pode alguém em carnepecaminosa ser perfeito, ser santo?” Essa é umaquestão comum levantada pelos novos conversos à

Page 148: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

mensagem adventista. Ela também suscitou umaresposta da parte de Ellen White: “Prescottconsiderava que ‘essa questão toca o próprio cernede nosso cristianismo. O ensino de Jesus é: ‘Sedevós perfeitos, como é perfeito vosso Pai que estános céus.’ E por meio do apóstolo Pedro vem ainstrução: ‘Sede santos porque Eu Sou santo.’”

“Ninguém negará que temos uma carnepecaminosa e, portanto, perguntamos como serápossível atender aos reclamos da Escritura, se éimpossível a quem quer que seja ser perfeito ousanto em carne de pecado. A verdadeira esperançade atingir a perfeição e a santidade está baseada namaravilhosa verdade de que a perfeição e asantidade da divindade foram reveladas em carnepecaminosa na pessoa de Jesus. Não somoscapazes de explicar como isso acontece, mas nossasalvação se fundamenta em crer no fato. Entãopode ser cumprida a promessa de Jesus: ‘Sealguém Me amar, guardará a Minha Palavra; eMeu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nelemorada.’ Essa é a glória maior de nossa religião,que mesmo a carne do pecado pode tornar-se umtemplo para a habitação do Espírito Santo.”

“Muito mais poderia ser dito em resposta àquestão de nosso leitor, mas esperamos que osprincípios envolvidos e sua relação com aexperiência cristã tenham sido esclarecidos, e que

Page 149: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

nenhum de nossos leitores aceite a doutrinaromanista, porque eles são incapazes de explicar omistério da piedade. É seguro crer apenas no claroensino das Escrituras.”

Uma Mensagem VerdadeiramenteCristocêntrica

Aos olhos de Prescott, a verdade fundamental deque Cristo pôs de lado Sua igualdade com Deuspara Se tornar um simples homem, “semelhanteaos homens”, “em todas as coisas”, “participandoda carne e do sangue” da humanidade, permanececomo “a verdade central do Cristianismo”. Elepunha ênfase nesse ponto, em oposição àsinterpretações de outras denominações, por causade sua novidade a muitos recém-conversos àmensagem adventista, e por causa de suaimportância na compreensão de como Jesus foicapaz de “condenar o pecado na carne” e capacitarpecadores a se libertarem da “lei do pecado e damorte” pelo poder “do Espírito de vida em CristoJesus” (Rom. 8:2-4).

A mais ampla Cristologia de Prescott é vista emseu livro “A Doutrina de Cristo”, publicado em1920, como livro didático para colégios eseminários.302

Como explanado na introdução, esselivro não era um tratado de teologia sistemática,

302 William W. Prescott, The Doctrine of Christ (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Ass., 1920), pág. 1.

Page 150: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

mas “a revelação de Cristo”, visando a umaexperiência prática na vida do crente.303

Ele tratou do assunto com simplicidade em 18seções, cada qual compreendendo várias lições.Cada lição é dividida em duas partes: a primeiracontendo referências bíblicas apropriadas aoassunto; a segunda, incluindo numerosas notasexplicativas. Como um todo, essa obra érealmente uma Cristologia no sentido mais amplodo termo. Para nossos propósitos, deveríamosolhar apenas as mais significativas declarações nastrês lições dedicadas à encarnação.304

Para Prescott, Cristo era a verdade central doCristianismo, e a encarnação constituía “aintegralidade do evangelho”, “a verdade...absolutamente essencial à religião cristã”, “amadura expressão, na plenitude do tempo, daverdade de que ‘Deus é amor’.”305

De fato, “o Verbo não apenas ‘veio em carne’,como em I João 4:2, mas ‘tornou-Se carne’. Essasúltimas palavras implicam que o Eterno Filhoapresentou em Sua encarnação um modoexistencial novo para Ele, tornou-Se o que não eraantes; que Ele não somente tomou sobre Si aforma corporalmente humana, mas aceitou aslimitações de uma vida coerente com Seu modo de

303 Idem, pág. 3.304 Idem, págs. 45 a 54.305 Idem, pág. 46.

Page 151: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

existir enquanto na Terra.”306

“Aquele que compreende a encarnação do Filhode Deus”, escreveu Prescott, “tem um terreno maisseguro de fé e uma mais rica esperança e diretoacesso ao Céu, do que se a escada de Jacó ficasseao lado da cabeceira de sua cama e os anjos deDeus o estivessem servindo.”307 Pois ao tempo deSua encarnação “de um modo efetivo efundamental, embora inexplicável para nós, odivino Salvador Se uniu à raça pecadora dohomem que Ele apresentou em Seu próprio corpo,em Sua própria experiência pessoal; não somenteo peso de suas fraquezas físicas, mas também deseu pecado, embora não a culpa”.308

Para evitar qualquer possível dúvida sobre essanoção, Prescott especifica novamente o quediferencia a natureza humana de Jesus daquela deAdão. “Cristo assumiu não a original e impecável,mas nossa decaída humanidade. Nessa segundaexperiência, Ele permaneceu não precisamenteonde Adão antes dEle estava, mas com imensasdesvantagens. O mal, com todo o seu cortejo devitórias e conseqüente entronização na própriaconstituição de nossa natureza, armado do maisterrível poder contra o possível cumprimento daidéia divina de homem – a perfeita santidade.

306 Idem, pág. 47.307 Idem, pág. 48.308 Idem, pág. 52.

Page 152: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Considerando tudo isto – as desvantagens dasituação, os tremendos riscos envolvidos e aferocidade da oposição encontrada –, chegamos àcompreensão adequada da realidade e da grandezada vasta realização moral: a natureza humanatentada, provada, falida em Adão, e erguida porCristo à esfera da perfeita impecabilidade.”309

A razão para a encarnação foi o único pontodeixado para ser explicado. “O problema que, aoassumir a decaída natureza humana Cristo propôse aceitou para Si mesmo, não foi nenhum outrosenão este, isto é, pessoalmente identificar-Se comsua sorte total, e partilhar a real incapacidadeacrescentada pelo pecado, para assenhorear-se,nele e por ele, do infernal poder que operara tododano e aflição.”310

Assim Deus providenciou nossa salvação,concluiu Prescott. “Ele [Cristo] era Deusmanifesto em carne, e veio à Terra ‘para poderconduzir-nos a Deus’. Isso é o que torna Cristocentral e dominante em cada vida que O recebe,conquistando confiança, redimindo do pecado,impelindo à devoção, e inspirando esperança. Issoporque Ele é Deus manifesto, Deus que penetrouna vida humana, Deus satisfazendo às carênciashumanas.”311

309 Idem, pág. 53.310 Ibidem.311 Ibidem.

Page 153: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

“Temos apenas contado metade da história doamor divino, quando falamos da descida do Filhode Deus de Sua grandeza e majestade, para astristezas e conflitos da vida terrena; e que metadedessa história é incrível até vermos claramente queEle veio para erguer a raça humana às alturas deDeus.”312

“Ele Se manifestou – e não nos permitiuinterpretar nEle qualquer coisa pequena ouestreita. Se nós o fazemos, seremos dirigidosimediatamente ao ponto de termos de negar adeclaração de que Ele pode expiar pecados. SeCristo fosse meramente um homem como eu,embora perfeito e sem pecado, não poderiaperdoar pecados. Se nEle podemos ver tudo aquiloque João quis dizer, de acordo com o testemunhosde seus próprios escritos, começaremos a perceberalgo da estupenda idéia e algo da possibilidade de,pelo menos, crer na declaração de que ‘Ele Semanifestou para tirar os nossos pecados.’”313

ConclusãoIndubitavelmente, a carreira de Prescott foi

singular em muitos aspectos, em relação à históriada igreja adventista. Brilhante educador, professorde teologia, editor, proficiente administrador evice-presidente da Conferência Geral, ele exerceu

312 Ibidem.313 Ibidem.

Page 154: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

decisiva influência em prol do desenvolvimento daobra de educação e da clarificação de váriasdoutrinas. Em particular, Prescott contribuiu paraa expansão da mensagem da justificação pela féalém das fronteiras dos Estados Unidos, durantesuas viagens pelo mundo.

Como Waggoner e Jones, Prescott fez seumelhor para edificar a mensagem sobre aCristologia que, conquanto reconhecendoplenamente a perfeita divindade de Cristo, davadestaque à natureza humana de Adão após aqueda, vale dizer, uma natureza pecaminosa, comocondição da reconciliação da humanidade comDeus. Certamente, a Cristologia de Prescott reúneo mérito de ser a mais completa e a mais explícita.

Por sua competência e prestígio que gozavacomo vice-presidente da Conferência Geral, ele foievidentemente autorizado como porta-voz daigreja. Seu testemunho constitui inegávelindicação do que os adventistas ensinaram ecreram com respeito à natureza humana de Cristo,desde a origem do movimento até o final da longacarreira de Prescott, em 1944.

Page 155: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Capítulo 7

O MOVIMENTO DA CARNE SANTA314

Se remanesceram algumas dúvidas sobre a posiçãodos pioneiros adventistas sobre o assunto daCristologia, sua reação ao “Movimento da CarneSanta” as dissipa totalmente.

Esse movimento nasceu nas igrejas daAssociação de Indiana, entre 1898 e 1899.Instituída pelo pastor-evangelista S. S. Davis, essadoutrina logo empolgou o presidente daAssociação, R. S. Donnell, e muitos outrospastores. No fim das contas, toda a comissãodiretiva da Associação de Indiana tornou-sefavorável à “doutrina da carne santa”, como seusdefensores escolheram designá-la.

Contrariamente à Cristologia ortodoxaadventista, essa “estranha doutrina” afirmava queCristo tomou a natureza de Adão antes da queda eque Ele, portanto, possuía “carne santa”. Baseadosnessa premissa, reivindicavam ser possível aobtenção dessa mesma “carne santa” ao seguiremJesus em Sua experiência no Jardim do Getsêmani.

314 Ver Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 2, págs. 31-39.

Page 156: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Desse modo, aqueles que seguiam o Salvadorpoderiam alcançar um correspondente estadofísico de impecabilidade, e obter uma fé“transladativa” semelhante à de Enoque e Elias.315

Defrontados com o desenvolvimento dessa crençanas igrejas de Indiana, os líderes da ConferênciaGeral pensaram ser prudente enviar os irmãos S.N. Haskell e A. J. Breed como delegados aoencontro campal marcado para Muncie, Indiana,de 13 a 23 de setembro de 1900. Ao retornar aBattle Creek, Haskell viu-se compelito a informarnão apenas seus colegas da Conferência Geral,como também Ellen White. Ele lhe enviou umacarta, datada de 25 de setembro de 1900, parainformá-la da situação.

Haskell Comunica-se com Ellen WhiteHaskell316 conhecia perfeitamente bem as

convicções de Ellen White com respeito à naturezahumana de Jesus. Ele próprio achava-se emharmonia com o ensino dela. O propósito de suacarta não foi provar se ele ou os advogados dacarne santa estavam corretos. Ele simplesmenteachou ser necessário manter Ellen Whiteinformada.315 Ver Arthur L. White, Ellen White: The Early Elmshaven Years (Ellen White - Os Primeiros Anos em

Elmshaven) (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1981), vol. 5, págs. 100-110.316 Stephen-Nelson Haskell (1833-1922) foi missionário, professor, administrador e presidente de várias

associações. Suas obras escritas incluem The Story of Daniel the Prophet (A História de Daniel, o Profeta),The Story of the Seer of Patmos (A História do Vidente de Patmos), e The Cross and Its Shadow (A Cruz eSua Sombra)

Page 157: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Eis como Haskell apresentou o problema a EllenWhite: “Quando nós declaramos queacreditávamos que Cristo nasceu da decaídahumanidade, eles nos representavam como crendoque Cristo pecou, apesar do fato de havermoscolocado nossa posição com tal clareza, que nãovíamos como alguém haveria de entendê-lamal.”317 Como porta-voz da igreja, Haskell nãohesitou em incluir Ellen White, bem como a igreja,em sua declaração.

Haskell havia previamente expresso suasconvicções com muita transparência em váriosartigos. Já em 1896, ele escreveu para a revistaSigns of the Times acerca do tema: “Ele [Cristo]não veio a este mundo e tomou sobre Si mesmo acondição de Adão, mas desceu mais e mais baixo,para encontrar o homem onde ele estava,enfraquecido pelo pecado, poluído por sua própriainiqüidade.”318

Em outro artigo ele escreveu: “Cristo... não Serevestiu da natureza dos anjos, ou mesmo dohomem no estado em que foi criado, mas de nossanatureza decaída.”319

“Dessa forma, Cristo, desde aeternidade, é o elo de ligação entre o Céu e a raçacaída.”320 “Ele trouxe a divindade desde as cortes

317 Stephen-Nelson Haskell, a Ellen G. White, 25 de setembro de 1900.318 Stephen-Nelson Haskell, em Signs of the Times, 2 de abril de 1896.319 Idem, 9 de abril de 1896.320 Idem, 28 de maio de 1896.

Page 158: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

da glória até a humanidade degenerada.”321

Esse era o posicionamento de Haskell quandosurgiu a doutrina da carne santa. Numa cartaendereçada a Ellen White, ele esclarece: “Suateologia nesse particular parece ser esta: Elescrêem que Cristo tomou a natureza de Adãoantes da queda; portanto, Ele Se revestiu dahumanidade como ela era no Jardim do Éden.Então, a humanidade era santa e essa foi a queJesus tomou sobre Si. E agora, dizem eles, chegouaté nós o tempo especial de nos tornarmos santosnesse sentido. Nesse caso, teremos a ‘fé datransladação’ e nunca morreremos.’”322

Ellen G. White Responde a HaskellQuando Ellen White recebeu a carta de Haskell,

havia pouco que se instalara em Elmshaven, naCalifórnia, após retornar da Austrália. Tão graveconsiderou ela a situação, que respondeuimediatamente. Sua carta datada de 10 de outubrode 1900, estabelece uma firme e clara posturacontra o ensino do movimento da carne santa, queela define como “estranha doutrina”, “teorias emétodos errôneos”, e “uma deplorável invençãodo pensamento humano, preparada pelo pai damentira.”323

321 Idem, 17 de janeiro de 1900.322 Stephen-Nelson Haskell a Ellen G. White, 25 de setembro de 1900 (itálicos supridos).323 Ver também E. G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 37.

Page 159: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

O conteúdo da carta de Haskell não pegou EllenWhite de surpresa. Ela já estava ciente do quehavia tido lugar em Indiana. Como explicou maistarde, sua partida para a Austrália foi incitada pelomovimento da carne santa. Eis sua resposta aHaskell:

“Em janeiro último, o Senhor me mostrou queteorias e métodos errôneos seriam introduzidosem nossas reuniões campais, e que a história dopassado haveria de se repetir. Senti-megrandemente aflita. Fui instruída a dizer quenessas demonstrações, demônios em formahumana estão presentes, operando com todaengenhosidade que Satanás pode empregar paratornar a verdade repugnante às pessoas sensíveis;o inimigo está tentando arrumar assuntos para asreuniões, a fim de que as campais, que têm sido osmeios de levar a mensagem do terceiro anjoperante as multidões, percam sua força einfluência.”324

E acrescentou solenemente: “A mensagem doterceiro anjo... deve ser mantida livre dasinvenções baratas e miseráveis das teoriashumanas, preparadas pelo pai da mentira emascaradas como a brilhante serpente usada porSatanás como meio de enganar nossos primeiros

324 Ellen G. White, carta 132, 1900 (Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 37). Citado por A. L. White, pág. 103(itálicos supridos).

Page 160: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pais.”325

Se a informação de Haskell não estivesse deacordo com verdade da mensagem e dasconvicções de Ellen White, ela não teria hesitadoem dizer-lhe isso. Nesse caso, ela não apenasaprovou a posição de Haskell, mas tambémencorajou-o a defender a verdade.

Ellen escreveu novamente, desta vez para o casalHaskell: “Através dos fiéis embaixadores doSenhor, a verdade deve ser apresentada emcontornos bem delineados. Muito do que hoje échamado de verdade probante, não passa de umdisparate que leva à resistência ao EspíritoSanto.”326

Um Vigoroso ProtestoSem esperar pela reação oficial da Conferência

Geral, o Pr. S. G. Huntington publicou umvigoroso protesto num pequeno folheto de 16páginas, intitulado A Ferida do Homem. Seuobjetivo era reafirmar a posição da igreja eexplicar como Jesus foi capaz de viver uma vidaimpoluta, mesmo em carne pecaminosa. “Por meiode implícita fé em Seu Pai, Ele foi fortalecido afim de que Sua natureza divina prevalecesseesmagadoramente sobre Sua natureza pecaminosae as tendências hereditárias. Assim, do berço ao325 E. G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 37.326 Idem, pág. 38.

Page 161: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Calvário, Seus dias de sofrimento e provação, Eleviveu uma vida pura, santa e imaculada.Conseqüentemente, atendeu aos reclamos da leiquebrantada, e tornou-Se ‘o fim da lei para justiçade todo aquele que crê.’”327

Então, querendo explicar as vantagens paraaqueles que crêem em Cristo e que O recebemcomo seu Salvador, Huntington acrescenta: “ComoDeus em Cristo, 4.000 anos após a Criação, viveuuma vida perfeita e imaculada em carnepecaminosa, assim pela fé nEle, o Senhor nosexpurga de todas as nossas injustiças, comunica-nos Sua própria justiça, habita em nossos coraçõese vive o mesmo tipo de vida em nossa carnepecaminosa 6.000 anos após a Criação. Então,podemos verdadeiramente dizer: “Segundo Ele é,assim também nós somos neste mundo.’ (I João4:17)”328

Waggoner Refuta a Doutrina da Carne SantaEnfrentando a expansão do movimento da carne

santa, a Conferência Geral achou imperioso tomarum curso de ação. O problema estava incluso naagenda da sessão de 1901. Ellen G. White foiconvidada a assisti-la. Como destacou em suaapresentação, se não houvesse sido por esse

327 S. G. Huntington, A Ferida do Homem, pág. 16. Citado por William H. Grotheer, História Interpretativa daDoutrina da Encarnação, pág. 51.

328 Ibidem.

Page 162: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

movimento e seus errôneos ensinos, ela não teriarespondido positivamente ao convite. Estava entãocom 73 anos de idade. Havia retornadorecentemente da Austrália, e viajar através dosEstados Unidos até Battle Creek não era poucacoisa para alguém de sua idade e frágil saúde.

Waggoner também estava presente à sessão.Como um especialista no problema, ele,juntamente com Ellen White, foi solicitado arefutar essa “estranha doutrina” e confirmar acrença oficial como reconhecida pela igreja, sobreo assunto da natureza humana de Cristo. Ele fezisso em seu estudo de 16 de abril de 1901,dedicado inteiramente a objetar a afirmação de queCristo viera em carne santa.

Ele iniciou sua apresentação com uma pergunta:“O Ser santo que nasceu da virgem Maria fê-lo emcarne pecaminosa? Essa carne tinha as mesmasmás tendências a enfrentar que a nossa?”329

Antes de apresentar sua réplica à questão,Waggoner quis ajudar seu auditório a compreendero conceito subjacente e tão bem oculto na questão:a doutrina católica da imaculada conceição. Emseu pensamento, o conceito de “carne santa” eranada mais nada menos do que “a deificação dodemônio”.330

“Em realidade, a obra demoníaca de colocar um329 Ellet J. Waggoner, no Boletim da Conferência Geral, 1901, pág. 403.330 Idem, pág. 405.

Page 163: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

largo abismo entre Jesus, o Salvador, e os homensa quem viera salvar, para que nem Um nem outrospudessem transpô-lo. É isso.”331

“Vocês não percebem”, desafiou Waggoner, “quea idéia de que a carne de Jesus não era semelhanteà nossa (por causa de sabermos que a nossa épecaminosa), necessariamente envolve a idéia daimaculada conceição da virgem Maria? Prestematenção, nEle não há pecado, mas o mistério deDeus manifesto na carne, a maravilha dos séculos,o assombro dos anjos, que mesmo agora desejamcompreender e sobre o qual não podem formaruma idéia exata, exceto como o ensinam para aigreja, é a perfeita manifestação da vida de Deusem sua imaculada pureza na carne pecaminosa.(Congregação: amém!) Oh, não é mesmo umamaravilha?”332

Ao fazer isso. “Ele [Cristo] estabeleceu avontade de Deus na carne e também o fato de quea vontade de Deus pode ser realizada em qualquerhumana e pecaminosa carne. Mas antes de tudo,essa maravilha precisa ser realizada no homempecaminoso, não simplesmente na pessoa deCristo, mas em Jesus Cristo reproduzido emultiplicado em Seus milhões de seguidores...Jesus nos concede a experiência do poder deCristo na carne pecaminosa... para calcar a pés e331 Idem, pág. 404.332 Ibidem.

Page 164: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

tornar submissa à Sua vontade essa carnepecaminosa.”333

Geralmente falando, “os homens, como paraocultar a falta de seus antepassados, e se há umdeslustre em qualquer parte da família, essa nãoaparece quando o registro parental está escrito.Jesus Cristo ‘nasceu da semente de Davi, deacordo com a carne’, e na semente de Davi estavaManassés, que cobriu Jerusalém com sangueinocente, de um lado a outro. Nessa linhagemestava Judá, o adúltero, e o filho nascido de umincesto, e também a prostituta Raabe. Todos destalinhagem que foram postos como ancestrais deCristo, mostram que Ele não Se envergonhava dechamar homens pecaminosos de Seus irmãos.”334

Da lição da vitoriosa experiência de Cristo emcarne pecaminosa, Waggoner concluiu: “Nãoimporta o que nossa herança possa ter sido emnatureza, o Espírito de Deus tem poder sobre acarne pecaminosa e pode reverter completamentetudo isso, e tornar-nos participantes da naturezadivina, libertando-nos da corrupção que pelaconcupiscência há no mundo; assim Deusmanifesta Seu poder por nosso intermédio.”335

Ellen White Rejeita a Doutrina da Carne

333 Idem, pág. 406.334 Idem, pág. 408.335 Idem, pág. 408.

Page 165: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

SantaNa manhã seguinte, 17 de abril de 1901, foi a

vez de Ellen White condenar publicamente omovimento da carne santa. De fato, ela não repetiuos argumentos teológicos já apresentados porWaggoner. Seu objetivo consistia antes em exporas falsas conclusões derivadas do conceito dacarne santa de Cristo.

Eis aqui alguns excertos da mensagem que elapreparou para esse propósito, sob o título “ORecente Movimento em Indiana”. “Foi-me dadainstrução com respeito à recente experiência dosirmãos em Indiana e o ensino que eles apresentamnas igrejas. Por meio dessa experiência e ensino, oinimigo tem trabalhado para desviar as almas.”336

Ellen White não abordou as pressuposições comrespeito à natureza de Cristo na controvérsia dacarne santa. Em lugar disso, seu argumento de que“o ensino com respeito ao que foi denominado‘carne santa’, é um erro”,337 estava baseado em doispontos essenciais. Primeiro, ela rejeitou areivindicação de que seres humanos pecaminososprecisam obter santidade de carne. Ela escreveu:“Todos podem agora mesmo obter coraçõessantos, mas não é certo reivindicar nesta vida acarne santa... Àqueles que têm procurado obter

336 E. G. White, no Boletim da Conferência Geral, 1901, págs. 419-422. Citamo-lo de Mensagens Escolhidas,vol. 2, págs. 31 e 32.

337 ______, Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 32.

Page 166: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pela fé a assim chamada carne santa, eu gostariade dizer: Vocês não a podem conseguir. Nenhumde vocês possui carne santa presentemente.Nenhum ser humano sobre a Terra tem carnesanta. Essa é uma impossibilidade.”338

“Se aqueles que falam tão livremente sobreperfeição na carne pudessem ver as coisas sob averdadeira luz, recuariam horrorizados de suaspresunçosas idéias. Ao mostrar a falácia de suaspretensões com respeito à carne santa, o Senhorestá buscando impedir que homens e mulheresdêem às Suas palavras um significado queconduza à poluição do corpo, da alma e doespírito... E conquanto não possamos reclamarperfeição da carne, podemos obter a perfeiçãocristã da alma. Mediante o sacrifício feito emnosso favor, os pecados podem ser totalmenteperdoados. Nossa dependência não está no que ohomem pode fazer, mas no que Deus pode fazerpelo homem através de Cristo... Por meio da fé emSeu sangue, todos podem ser perfeitos em CristoJesus.”339

“Fui instruída a dizer àqueles que, em Indiana,estão advogando estranhas doutrinas: Vocêsestão dando um formato errôneo à preciosa eimportante obra de Deus. Mantenham-se dentrodos limites bíblicos... Quando seres humanos338 Ibidem.339 Ibidem.

Page 167: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

receberem carne santa, eles não permanecerão naTerra, mas serão levados ao Céu. Conquanto opecado esteja sendo perdoado nesta vida, seusresultados não serão agora plenamente removidos.É em Sua vinda que Cristo ‘transformará nossocorpo de humilhação, para ser igual ao corpo deSua glória’ (Filip. 3:21).”340

Segundo, Ellen White também criticou asturbulentas e fanáticas manifestações dosdefensores da carne santa. “O modo como têmsido realizadas as reuniões em Indiana, com ruídoe confusão, não as recomenda às mentes pensantese inteligentes. Não há nada nessas demonstraçõesque convença o mundo de que temos a verdade.Mero alarido e gritaria não são evidências desantificação ou da descida do Espírito Santo. Suasexibições buliçosas criam tão-somente aversão namente dos descrentes.”341

Como vimos, as razões de Ellen White pararejeição do movimento da carne santa foram decunho teológico e prático. Ela desaprovou seucomportamento bizarro e rejeitou a doutrina deque seres humanos podem ter carne santa aindanesta vida. Embora a Sra. White não tenha feitonenhum comentário acerca de sua posição sobre anatureza de Cristo, ela condenou claramenteaquelas práticas e crenças que emanavam da340 Idem, pág. 33 (itálicos supridos).341 Idem, pág. 35.

Page 168: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

premissa da carne santa.Arthur White esclarece, na biografia de sua avó:

“Enfrentar o fanatismo foi uma das razões por queela deixou a Austrália e retornou aos EstadosUnidos. A situação que agora estava enfrentandofoi-lhe revelada na Austrália, em janeiro de 1900,‘antes de eu deixar Cooranbong’”.342

Condenada a Doutrina da Carne SantaA mensagem de Waggoner e o testemunho de

Ellen White foram atendidos. Já no dia seguinte,os dois principais líderes do movimento, R. S.Donnell e S. S. Davis, confessaram seu errodefronte a um auditório de aproximadamente 300espectadores. Os outros delegados, bem como osmembros da comissão da Associação de Indiana,seguiram o exemplo de seu presidente.Oficialmente, o movimento da carne santa haviaruído. Mas, em realidade, a doutrina nãodesaparecera das igrejas. Donnell e Daviscontinuaram a crer e ensinar que Cristo Se revestiuna natureza de Adão antes da queda. Em resultado,eles foram definitivamente afastados doministério.

Em seu sermão, Ellen White deu algunsconselhos sobre como lidar com esse tipo desituação: “O fanatismo, uma vez iniciado e não

342 A. L. White, pág. 100.

Page 169: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

reprimido, é tão difícil de extinguir como o fogoque toma conta de um edifício. Aqueles queabraçaram e mantêm esse fanatismo, fariammelhor se se empenhassem em trabalho secular,pois que pelo seu inconsistente comportamentoestão desonrando o Senhor e pondo em perigo opovo.”343

Em 1903, I. J. Hankins, que sucedeu a R. S.Donnell como presidente da Associação deIndiana, escreveu a S. S. Davis, o promotor domovimento da carne santa, para perguntar de suafé. Hankins lhe fez oito perguntas, quatro dasquais conduziam diretamente à doutrina daencarnação.344

Não nos devemos esquecer de queseu argumento teológico básico consistia em dizerque “Cristo tomou a natureza de Adão antes daqueda”, tão nitidamente mostrado na carta deHaskell a Ellen White.

A resposta de Davis confirma que ele não haviamudado suas opiniões com relação à naturezahumana de Cristo. Não sabemos se a mesmapergunta foi feita também para Donnell. Mas, em1905, Donnell foi readmitido ao ministério,enquanto que Davis foi dele excluídodefinitivamente. Ele deixou finalmente a igrejaadventista para unir-se aos batistas, onde foiordenado ministro.343 E. G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 35.344 Ver S. S. Davis para I. J. Hankins, 15 de março de 1903. Citado por Grotheer, págs. 54 e 55.

Page 170: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Com exceção de Davis, parece que todos os queestavam envolvidos com o movimento da carnesanta finalmente aceitaram o testemunho de EllenWhite. Ainda que auspicioso o resultado, a atitudede oposição a essa doutrina tomada pelaConferência Geral em sessão, é indicativa doensino oficial da igreja sobre o assunto da naturezahumana de Jesus.

ConclusãoO movimento da carne santa foi a primeira

tentativa de introduzir na igreja adventista umadoutrina radicalmente oposta ao seu ensino paraeste tempo. Se os pronunciamentos de Waggoner,Jones e Prescott, bem como de outros, fossemequivocados, Ellen White os teria corrigido, comofez com a “estranha doutrina” da carne santa.

Um testemunho escrito em 1907 não deixadúvida sobre sua posição: “Durante a ConferênciaGeral de 1901, foi-me dada instrução com relaçãoà experiência de alguns irmãos em Indiana, e comrespeito às doutrinas que eles estavam ensinandonas igrejas. Foi-me mostrado que através dessaexperiência e das doutrinas ensinadas, o inimigotem operado para desviar as almas.”345

345 Ellen G. White, manuscrito 39, 1907.

Page 171: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Parte 3

EXCERTOS DAS PUBLICAÇÕES OFICIAIS DA IGREJA - (1895-1952)

Capítulo 8

EXCERTOS DAS PUBLICAÇÕESOFICIAIS DA IGREJA - (1895-1915)

Em acréscimo aos escritos dos pioneiros quetemos estudado, a posição da Igreja Adventistasobre Cristologia é claramente ilustrada noconteúdo das publicações oficiais, tais comorevistas, lições trimestrais da Escola Sabatina,boletins da Conferência Geral e uma amplavariedade de livros impressos por nossas casaspublicadoras.

Page 172: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Este capítulo tratará das declarações havidasentre 1895 e 1915, principiando pelo tempo emque a doutrina da encarnação começou a serolhada como básica à compreensão adequada doplano da salvação, e finalizando com o ano damorte de Ellen White. No capítulo seguinte,cobriremos o período que vai de 1916 até 1952,após o qual surgiu uma nova interpretação ealguns escritores emergiram para questionar aposição tradicional da Igreja Adventista sobre aquestão da natureza humana de Cristo.

Excertos dos Periódicos da IgrejaDurante 1895 e 1896, mais de 250 declarações

foram feitas em várias revistas pelos líderes daigreja, todas afirmando claramente que Jesustomou sobre Si a natureza humana de seresdecaídos. De 1897 a 1915 mais de 200 podem serencontradas, das quais cerca de 100 são de autoriade Ellen White, não incluindo 75 adicionais ouespalhadas em suas cartas e manuscritos.346

Todavia,

uma vez que já discutimos Ellen White, Waggoner,Jones e Prescott, neste capítulo ignoraremos ascitações desses autores.

Em 1895, uma série de artigos saídos da pena deJ. H. Durland foram publicados na Signs of theTimes, e refletiam a Cristologia de Jones como

346 Ver Ralph Larson, The Word Was Made Flesh, págs. 67 e 111.

Page 173: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

apresentada na sessão da Conferência Geral algunsmeses antes. “Para enfrentar Satanás, eranecessário fazê-lo na carne do homem decaído.”,escreveu Durland. “Assim, quando Jesus veiohabitar em carne humana, não o fez na carne dohomem antes de haver ele caído, mas em carnepecaminosa possuída após a queda... Ele veio parasalvar pecadores, portanto, precisava assumir acarne de pecadores... Ele tinha todas as fraquezasda carne que nós temos. A carne de que Ele Serevestiu possuía todos os desejos que nossaprópria carne tem.”347

Alguns meses depois, noutro artigo, Durland fezas seguintes perguntas a seus leitores: “Qual era anatureza da carne que Ele tomou? Estava ela isentade todas as tendências para pecar? Estava ela livredas tentações? A Escritura responde às perguntas...(Heb. 4:15). Assim, a carne que o Logos tomouestava sujeita à tentação, da mesma forma que acarne que temos... A carne sem quaisquer desejospelo mal não está sujeita à tentação. Mas Cristo foitentado como nós o somos, de forma que Ele deviater a mesma espécie de carne que possuímos.”348

Não contente em afirmar que Cristo assumiu acarne pecaminosa, Durland também queriaexplicar a razão para isso. “Jesus veio em carnepara enfrentar Satanás em seu próprio baluarte e347 J. H. Durland, em Signs of the Times, 12 de setembro de 1895.348 Idem, 26 de setembro de 1895.

Page 174: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

expulsá-lo... Para fazer isso Ele tinha de Serevestir da mesma carne que o homem possuíaapós a queda... Cristo não assumiu a naturezaangélica nem a do homem antes da queda, mas Elenasceu ‘sob a lei’ para redimir aqueles queestavam debaixo da lei... Houvesse Ele tomado anatureza de Adão antes da queda, e não estaria soba sentença de morte que passou para todos oshomens.”349

Contudo, Durland acentou: “Ele não possuía aspaixões de nossa natureza decaída, produzidaspelo cair em pecado. Mas a carne de que Ele serevestiu teria possuído todas as paixões que opecado nos trouxe, houvesse Ele uma só vezcedido a elas. Cristo enfrentou o tentador nafraqueza da carne pecaminosa, e a condenouporque ela não foi capaz de vencê-Lo... JesusCristo foi enviado a este mundo para condenar opecado na carne. Ele tomou a carne pecaminosapara que pudesse subjugar as corrupções de nossavelha natureza.”350

Lembre-se de que A. T. Jones havia dito: “Jesuspossuía as mesmas paixões que temos.” Todavia,Jones explicou que Ele nunca Se rendeu a elas.Durland escreveu que “Ele não possuía as paixõesde nossa natureza decaída”, significando queCristo nunca as entregou ao pecado. O ponto de349 Idem, 10 de outubro de 1895.350 Ibidem.

Page 175: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

vista de Durland está muito mais próximo do deJones, do que possa parecer de início. Jonesconsiderava o problema do ponto de vista de umanatureza herdada; Durland já via a questão sob oprisma de uma natureza cultivada.Potencialmente, “possuía as mesmas paixões quetemos”; em realidade, “Jesus não possuía asmesmas paixões que temos” por que Ele jamaissucumbiu ao poder da natureza pecaminosa dohomem, que herdou de Seus ancestrais.

Do mesmo modo, Ellen White constantementefazia a diferença entre a natureza herdada e anatureza pecaminosa cultivada. Por um lado, elaescreveu que Jesus “tinha toda a força da paixãoda humanidade”351; por outro, ela declarava que“Ele é um irmão em nossas debilidades, mas nãoem possuir idênticas paixões”352, “não possuindoas paixões de nossa natureza humana decaída”353

Ébem possível que ela tivesse em mente a diferençaentre tendências herdadas para pecar, pelas quaisnão somos culpados, e tendências cultivadas, quenos tornam pecadores. Para Ellen White bemcomo para seus contemporâneos adventistas,“semelhantemente a todo filho de Adão, Ele[Cristo] aceitou os resultados da operação dagrande lei da hereditariedade”354, mas sem jamais351 Ellen G. White, Nos Lugares Celestiais, pág. 155.352 _______, Testimonies for the Church, vol. 2, pág. 202.353 Idem, pág. 509.354 _______, O Desejado de Todas as Nações, pág. 49.

Page 176: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

ceder a essas tendências.Outras declarações sobre o tema aparecem nas

revistas australianas Bible Echo e a AustralasianSigns of the Times. G. C. Tenney, que era o diretorda revista Bible Echo, declarou num editorial:“Muito poucos de nós compreendem quãoproximamente a natureza divina estava da humanana pessoa de Jesus de Nazaré. Mais propriamentefalando, é impossível para nós mesmosconcebermos a infinita condescendência que foinecessária para que o Filho de Deus, o Associadodo Pai, viesse em carne mortal e participasse dasexperiências humanas, com todas as suas afliçõese fraquezas. O quão plenamente isso se cumpriu,foi expresso pelo apóstolo em Hebreus 2:17: “Peloque convinha que em tudo fosse feito semelhante aSeus irmãos...”

“Somente dessa maneira poderia Ele sentir opoder das tentações. Não podemos supor que astentações às quais a humanidade está sujeitaimpressionassem a Divindade. Mas ‘Ele foitentado em todos os pontos como nós’,conseqüentemente, Ele precisava participar denossa natureza... Não há senão pouca simpatia nopensamento de Jesus haver enfrentado nossastentações com Suas divinas capacidade e natureza.Elas não seriam senão como a lanugem do cardosoprada contra a montanha. Nesse sentido ‘Deus

Page 177: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

não pode ser tentado’”.“Mas quando consideramos nosso Salvador...

lutando contra inata fraqueza; quandoobservamos nossa faltosa, e freqüentemente, mal-sucedida carreira, desejamos saber: Como Elesuportou ‘tal contradição dos pecadores contra Simesmo’?”355

Muitas declarações similares poderiam sercitadas, como indicadas pela obra de RalphLarson, The Word Was Made Flesh (O Verbo SeFez Carne), na qual o autor indexou em ordemcronológica muitas declarações referentes àCristologia Adventista.356

Excertos das Lições da Escola SabatinaEm 1889, apareceu pela primeira vez a brochura

da lição trimestral da Escola Sabatina. As liçõeseram preparadas para prover o estudo diário daBíblia, e como temas de discussão para a manhãde sábado, em conjunto com o serviço de culto.

A introdução diz: “As lições de adultos daEscola Sabatina são preparadas peloDepartamento de Escola Sabatina da ConferênciaGeral dos Adventistas do Sétimo Dia. Apreparação da lição é dirigida por uma comissãomundial da lição da Escola Sabatina, cujosmembros servem como consultores-editores.” O355 G. C. Tenney, em Bible Echo, 15 de maio de 1889. (Itálicos supridos)356 Ver Larson, The Word Was Made Flesh, págs. 34 a 154.

Page 178: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

papel dessa comissão era garantir que as notasexplicativas de cada lição estivessem em harmoniacom o ensino oficial da igreja.

Durante o período compreendido entre os anosde 1895 e 1915, muitas declarações sãoencontradas nas lições da Escola Sabatina, as quaisdeixam pouca dúvida sobre o assunto da crençaadventista com respeito à natureza humana deCristo. Um exemplo disso é a seguinte explanaçãode uma das lições do segundo trimestre de 1896:“Para poder ir ao encontro do homem onde ele seachava após a queda, Cristo esvaziou-Se a Simesmo de toda a Sua glória e poder, tornando-Setão dependente de Seu Pai por vida e força diária,como o homem pecador depende dEle.”357

Em 1909, outra lição referente ao segundotrimestre tratava de João 1:1-18. Eis aqui umcomentário sobre o verso 14: “A Divindadehabitou na carne humana. Não na carne de umhomem impecável, mas na carne como a possuium filho da Terra. Essa era a Sua glória. A sementedivina pôde manifestar a glória de Deus em carnepecaminosa, até a vitória perfeita e absoluta sobretoda tendência da carne.”358

Nesse mesmo periódico, repete-se a explanação:“Jesus era Deus atuando na carne pecaminosa em357 Lição de Adultos da Escola Sabatina, segundo trimestre de 1896, pág. 11. Todas as citações das lições da

Escola Sabatina foram feitas por William H. Grotheer em A História Interpretativa dos Adventistas doSétimo Dia sobre a Doutrina da Encarnção, págs. 38 a 41.

358 Idem, segundo trimestre de 1909, pág. 8.

Page 179: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

favor do pecador. Ele Se tornou um com ahumanidade. Tomou sobre Si mesmo osinfortúnios, as necessidades e os pecados dahumanidade, assim sentiu Sua consciência e aintensidade como nenhuma outra alma o fez.”359

Entre os tópicos do primeiro trimestre de 1913,estava o estudo sobre a relação entre a encarnaçãoe o sacerdócio de Jesus Cristo. Esta declaraçãoacha-se incorporada à primeira nota: “É muitoimportante que tenhamos uma clara compreensãoda relação entre a encarnação de Cristo e Sua obramediadora. Ele foi feito sacerdote ‘segundo opoder de uma vida sem fim’, para que pudesseministrar graça, misericórdia e poder ao fraco eerrante. Isso é realizado por tal união íntima comaqueles que necessitam de auxílio, que a divindadee a humanidade são trazidas em ligação pessoal, eo próprio Espírito e a vida de Deus habitam nacarne do crente. Para estabelecer essa relação entreDeus e a carne pecaminosa, foi necessário ao Filhode Deus assumir a carne pecaminosa, e assimconstruir uma ponte sobre o abismo que separavao homem pecador de Deus.”360

A nota 3 da mesma lição finaliza com estaspalavras: “Ao assumir a carne pecaminosa, evoluntariamente tornar-Se dependente de Seu Paipara guardá-Lo de pecar enquanto estivesse no359 Idem, pág. 20.360 Idem, primeiro trimestre de 1913, pág. 14.

Page 180: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

mundo, Jesus não apenas serviu de exemplo paratodos os cristãos, como também tornou possível aSi mesmo ministrar à carne pecadora o dom deSeu próprio Espírito e o poder para obedecer àvontade de Deus.”361

Essa ótica sobre a encarnação foi tambémcontrastada com a doutrina católica da imaculadaconceição, que era, ao pensamento adventista, anegação da encarnação de Cristo. “Essa negaçãoda perfeita união de Cristo com a carnepecaminosa abre o caminho para uma série demediadores subsi-diários, cujo dever é conduzir opecador em salvífico contato com Cristo.”362

As lições do segundo trimestre de 1913 foramdedicadas ao santuário e à mediação de Cristo.Numa delas discutia-se o ensino católico: “Qual éo ensino da moderna Babilônia concernente a essadoutrina fundamental? Pelo dogma da imaculadaconceição da Virgem Maria, Roma ensina que amãe de Jesus foi preservada da mancha do pecadooriginal, e que ela possuía carne santa, sempecado. Conseqüentemente, ela foi apartada dorestante da humanidade. Como resultado dessaseparação de Jesus da carne pecaminosa, osacerdócio romano foi instituído para que pudessehaver alguém para mediar entre Cristo e o

361 Idem, pág. 15.362 Idem, pág. 14.

Page 181: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecador.”363

Então, em réplica à citação da fonte católica, queconsiderava revoltante a crença de que Jesustomara a carne pecaminosa, a nota conclui:“Assim, por apartar a Cristo da mesma carne esangue que temos... a moderna Babilôniarealmente nega a verdade vital do Cristianismo,embora pretendendo ensiná-la. Esse é ‘o mistérioda iniqüidade.’”364

O quarto trimestre de 1913 foi dedicado aoestudo da epístola aos Romanos. Na primeira liçãohá uma questão sobre Cristo “nascido da sementede Davi segundo a carne” (Rom. 1:3). A nota 5comenta: “Cristo era, portanto, da linhagem realatravés de Sua mãe. Mas Ele era mais do que isso;Ele era da mesma carne que a semente de Davi,em e através da qual, por gerações, havia fluído osangue da humanidade pecaminosa – Salomão,Roboão, Acaz, Manassés, Amom, Jeconias eoutros. O Filho de Deus tomou essa mesma carnepara poder enfrentar as tentações por nós, e vencermediante o poder divino todas as provas que temosde encarar. Cristo é nosso irmão na carne, nossoSalvador dos pecados.”365

A epístola aos Romanos foi mais uma vez objetode estudo durante o primeiro trimestre de 1914.

363 Idem, quarto trimestre de 1913, pág. 6.364 Idem, pág. 26.365 Idem, quarto trimestre de 1913, pág. 6.

Page 182: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Eis um comentário sobre Romanos 8: 3 e 4: “Oque a lei não podia fazer no homem pecador, Deuso fez enviando Seu próprio Filho. Esse Filhorevestiu-Se da carne do homem pecaminoso evenceu onde o homem fracassou, destruindo opecado na carne; assim Ele pode tomar posse dacarne daqueles que abrem seus corações pararecebê-Lo, com o mesmo poder, e vencer o pecadoali.”

Esses excertos das lições trimestrais da EscolaSabatina estão em harmonia com tudo o que foiensinado pelos escritores adventistas que seexpressaram sobre a natureza humana de Cristoatravés dos anos.

Excertos de Livros VariadosAssim como as lições da Escola Sabatina,

nenhum livro foi jamais impresso pelas editoras daigreja sem uma prévia revisão dos originais poruma comissão especial. Essa postura garante que oconteúdo dos livros esteja em harmonia com oensino oficial. Não é nosso propósito aqui repetiras obras de Waggoner, Jones, Prescott ou EllenWhite, as quais já foram tratadas nos capítulosanteriores. Basta-nos mencionar as obras maisrepresentativas.

1. Olhando Para Jesus, de Urias Smith

Page 183: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Urias Smith não foi apenas editor da Review andHerald por 35 anos, e autor de muitos livros sobreprofecia, mas também o segundo no comando daConferência Geral por 21 anos, na posição desecretário. Eis dois extratos de seu livro OlhandoPara Jesus, publicado em 1897:

“Em semelhança de carne pecaminosa... Eledesceu às profundezas da condição do homemdecaído, e tornou-Se obediente até a morte,mesmo a ignominiosa morte de cruz.”366

“Ele [Jesus] veio em semelhança de carnepecaminosa para demonstrar diante de todos ospartidos em controvérsia, que era possível aoshomens guardar a lei na carne. Demonstrou issopor observá-la Ele próprio. Em nosso plano deexistência e em nossa natureza, Ele prestou talobediência a cada princípio e preceito, que opróprio olho da Onisciência não detectou sequeruma falha nela. Toda a Sua vida não foi senão umtranscrito dessa lei, em Sua natureza espiritual, emSua santa, boa e justa demanda. Portanto,condenou Ele o pecado na carne e não pecou,mostrando ser possível ao homem viver assim.”367

2. Perguntas e Respostas, de Milton C. WilcoxInicialmente, Milton C. Wilcox foi diretor-

adjunto da Review and Herald, em associação com366 Urias Smith, Olhando Para Jesus, pág. 23.367 Idem, pág. 30.

Page 184: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Urias Smith. Mais tarde, tornou-se o primeiroeditor da Verdade Presente na Inglaterra, e entãodo Signs of the Times, por um quarto de século naPacific Press, Califórnia. Em 1911, publicouPerguntas e Respostas, uma compilação derespostas dadas pelo editor às perguntas dosleitores, enquanto encarregado da Signs of theTimes.

Eis um excerto típico, uma resposta dada a umaquestão formulada por um leitor sobre o assuntodos versos de Hebreus 2:14-17, declarando queJesus foi “feito semelhante a Seus irmãos”. “OVerbo Eterno ‘tornou-Se carne’, a mesma quepossuímos; pois Ele é ‘nascido de mulher, nascidosob a lei’, sob sua condenação, como um humano,tendo na carne todas as tendências humanas; umparticipante da ‘carne e do sangue’ dahumanidade; ‘em todas as coisas’ ‘feitosemelhante a Seus irmãos’, ‘sendo tentado’. Eleenfrentou todas as tentações que você e euenfrentamos, pela fé na vontade e Palavra de Deus.Não houve uma tendência na carne humana quenão houvesse nEle. Ele as venceu a todas.”368

3. Estudos Bíblicos Para o LarEm 1915, a Review and Herald Publishing

Association publicou um livro de estudos bíblicos368 Milton C. Wilcox, Questions and Answers (Mountain View, Calif.: Pacific Press Pub. Assn., 1911), vol. 1,

págs. 19 e 20.

Page 185: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

intitulado Estudos Bíblicos Para o Lar.369 Pelotempo de sua segunda edição, em 1936, mais de1.250.000 exemplares foram distribuídos pelomundo. A terceira edição veio a público em1946.370

Por cerca de meio século, esse livro constituiu-sena base do ensino bíblico na igreja. A maioria dosadventistas o utilizava para aumentar seuconhecimento da doutrina da igreja, e comoauxiliar na partilha da mensagem com outros.Nenhuma outra publicação denominacional foimarcada com maior aprovação oficial do que esselivro. Os estudos bíblicos receberam a“contribuição de um grande número de estudantesda Bíblia”. A introdução à edição de 1946 declaraque “a obra foi revisada, rescrita totalmente eampliada... por uma grande comissão de críticos eestudiosos competentes.”371

Alguém dificilmente encontraria um documentomais representativo do ensino da igreja. As liçõessão apresentadas em forma de perguntas erespostas, com notas explanatórias ocasionais. Adoutrina da Encarnação, intitulada “Uma VidaSem Pecado” é nele reproduzida em suainteireza:372

369 A primeira edição dos Estudos Bíblicos Para o Lar data de antes dos anos 1880s. Até 1915, as váriasedições não possuíam notas.

370 Estudos Bíblicos Para o Lar, terceira edição (1936), pág. 11.371 Ibidem.372 Idem, págs. 115 e 116 (Todos os textos bíblicos dessa citação são da King James Version).

Page 186: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

1. Que testemunho é dado com respeito àvida de Cristo na Terra? “Ele não cometeupecado, nem na Sua boca se achou engano.” IPedro 2:22.

2. O que se diz de todos os demais membrosda família humana? “Porque todos pecaram edestituídos estão da glória de Deus.” Rom. 3:23.

3. Com que pergunta Jesus desafiou Seusinimigos? “Quem dentre vós Me convence depecado?” João 8:46.

4. Em que extensão Cristo foi tentado?“[Ele] como nós, em tudo foi tentado, mas sempecado.” Hebreus 4:15.

5. Em Sua humanidade, de que naturezaCristo participou? “Portanto, visto como osfilhos são participantes comuns de carne esangue, também Ele semelhantemente participoudas mesmas coisas, para que pela mortederrotasse aquele que tinha o poder da morte, istoé, o diabo.” Hebreus 2:14.

6. Quão plenamente Cristo participou denossa humanidade? “Pelo que convinha que emtodas as coisas fosse feito semelhante a Seusirmãos, para Se tornar fiel nas coisasconcernentes a Deus, a fim de fazer propiciaçãopelos pecados do povo.” Verso 17.

Nota: Em Sua humanidade, Cristo participoude nossa natureza pecaminosa, decaída. Não

Page 187: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

fosse assim, Ele não teria sido “semelhante aSeus irmãos”, nem “tentado em todos os pontoscomo nós”, nem venceria como temos nós devencer, e não é, portanto, um completo e perfeitoSalvador que o homem necessita e precisa terpara ser salvo. A idéia de que Cristo nasceu deuma mãe imaculada ou isenta de pecado, sem terherdado quaisquer tendências para o pecado, epor essa razão não cometeu pecado, remove-O doreino do mundo decaído e do verdadeiro lugaronde a ajuda é necessária. Pelo Seu lado humano,Cristo herdou tudo o que cada filho de Adãoherda – uma natureza pecaminosa. Pelo ladodivino, desde Sua concepção, Ele foi gerado enascido do Espírito. E tudo isso foi feito paracolocar a humanidade num lugar vantajoso, epara demonstrar que do mesmo modo, todo o queé “nascido do Espírito” pode obter a vitória sobreo pecado em sua própria carne pecaminosa.Assim, cada um deve vencer como Cristovenceu. Apoc. 3:21. Sem esse nascimento nãopode haver vitória sobre a tentação e nenhumasalvação do pecado. João 3:3-7.

7. Onde Deus, em Cristo, condenou opecado e obteve para nós a vitória sobre atentação e o pecado? “Portanto, o que eraimpossível à lei, visto que se achava fraca pelacarne, Deus, enviando a Seu próprio Filho em

Page 188: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

semelhança da carne do pecado, e por causa dopecado, na carne condenou o pecado.” Rom. 8:3.

Nota: Deus, em Cristo, condenou o pecado,não por Se pronunciar contra ele meramentecomo um juiz assentado em sua cadeira, masvindo e vivendo na carne, em semelhança dacarne pecaminosa, todavia sem pecado. EmCristo Ele demonstrou que é possível por Suagraça e poder, resistir à tentação, vencer o pecadoe viver uma vida sem pecado na carne.

8. Através de que poder Cristo viveu umavida perfeita? “Eu não posso de Mim mesmofazer coisa alguma...” João 5:30. “As palavrasque Eu vos digo, não as digo por Mim mesmo;mas o Pai, que permanece em Mim, é quem fazas suas obras.” João 14:10.

Nota: Em Sua humanidade, Cristo eradependente do divino poder para realizar as obrasde Deus como qualquer homem. Para viver umavida santa, Ele não empregou nenhum meio quenão esteja disponível a cada ser humano. AtravésdEle, cada um pode ter Deus habitando eoperando em si “tanto o querer como o efetuarSua boa vontade”. I João 4:15; Filipenses 2:13.

9. Que propósito altruísta Jesus tinhasempre diante de Si? “Porque Eu desci do Céu,não para fazer a Minha vontade, mas a vontadedAquele que Me enviou.” João 6:38.

Page 189: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Esta lição trata de modo sumário os váriosaspectos da Cristologia adventista. Contudo, apergunta 6 foi obviamente considerada comosendo de importância fundamental, tanto assimque exigiu uma nota explicativa. As notas estavamem harmonia com a Cristologia adventista comoensinada consistentemente pelos pioneiros damensagem, desde a origem do movimento e semantendo até a terceira edição da obra em 1946.

Como vimos, é precisamente na base das notasapenas às perguntas 6, 7 e 8, que um bom númerode teólogos evangélicos têm condenado osadventistas de não serem cristãos autênticos,porque atribuem uma natureza pecaminosa aJesus. Mas elas estavam corretas, considerandoque as declarações feitas nessa lição eramverdadeiramente representativas da igreja.

Page 190: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Capítulo 9

EXCERTOS DAS PUBLICAÇÕESOFICIAIS DA IGREJA - (1916-1952)

O ano de 1915 não apresentou qualquer mudançana interpretação da doutrina adventista daEncarnação. Todavia, ele marcou a morte de EllenWhite. Com seu passamento, o últimosobrevivente do grupo de pioneiros de 1844desapareceu. Ellen White repetiu a ressonanteadvertência pouco antes do fim de sua vida: “Nadatemos a temer do futuro, a menos que nosesqueçamos a maneira como Deus nos temconduzido, e Seu ensino em nossa históriapassada.”373

Todos os documentos do período de 1916 a 1952existentes trazem um testemunho uniforme daposição mantida pela igreja sobre a naturezahumana de Jesus, a saber, que Ele tomou sobre Simesmo a natureza de Adão após a queda; emoutras palavras, natureza decaída, mas sem havercometido um só pecado.

373 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, vol. 9, pág. 10. (itálicos supridos). Originalmente publicados emVida e Ensinos de Ellen G. White (Life Sketches of Ellen G. White) (Mountain View, Calif., Pacific PressPub. Assn. , 1915), pág. 196.

Page 191: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Excertos dos Periódicos da IgrejaUm índice contendo cerca de 200 declarações

dos periódicos oficiais da igreja mostra que nãohouve qualquer variação nessa tradicional posição.Pastores, professores, editores, administradores,executivos da Conferência Geral, incluindo muitospresidentes, todos falaram em uníssono.

Em 6 de setembro de 1917, Joseph E. Steedescreveu na Review and Herald: “Foi necessárioque Cristo tivesse uma experiência como a dohomem, de forma a poder socorrê-lo em todas assuas tentações e também agir como seuintercessor... Já ficou demonstrado que esseSalvador tornou-Se um homem sujeito a todasdebilidades da carne, nascido em carnepecaminosa; e enquanto nessa carne, sofreu comooutros homens sofrem em seu conflito com opecado.”374

O testemunho de R. S. Owen é tambéminteressante: “A obra de Cristo na carne foi acondenação do pecado na carne. O pecado habitaem nossa carne pecaminosa, e Cristo o condenouhabitando na própria casa do pecado, mas nuncaSe rendeu a clamores ilícitos e nunca respondeua seus maus convites. Ele demonstrou que ohomem pode conseguir com a ajuda de Deus,aquilo que o capacitará a viver na carne, e ainda

374 Joseph E. Steed, na Review and Herald, 6 de setembro de 1917.

Page 192: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

viver para Deus.”375

Nesse mesmo mês, J. A. Rippey escreveu noperiódico australiano Signs of the Times: “Nada,então, poderia estar mais claro do que ser essaespécie de carne que Davi possuía, a mesma queJesus tomou. Quem foi Davi? Ele foi o filho deJessé. Mas quem foi Jessé? Ele era filho de Rute.Rute era uma moça moabita, uma descendente deMoabe; e Moabe era filho de uma das filhas de Ló.Gênesis 19:36 e 37. Descobrimos do estudo dosancestrais de Jesus que eles eram os mais obscurosda Terra, e desceram às maiores profundezas dopecado.”

“Quando Jesus nasceu, tomou sobre Si mesmo acarne pecaminosa após estar ela enfraquecida porcerca de 4.000 anos de iniqüidade. Ele poderia tervindo de outra linhagem, mas proveio da maisfraca dentre as fracas, para que pudesse provar aomundo que o homem nunca submerge tão fundono pecado, que o poder de Deus não seja suficientepara habilitá-lo a viver uma vida vitoriosa. Ele ‘foitentado em todos os pontos, como nós, mas sempecado’ Heb. 4:15. Ele não foi apenas tentado, masSuas tentações eram tão fortes que Ele sofreuquando era tentado. Hebreus 2:18. Embora Jesustivesse em Sua carne todos os desejos quehabitaram na carne de Seus antepassados, todavia

375 R. S. Owen, na Review and Herald, 29 de maio de 1924.

Page 193: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Ele nunca, nem mesmo por uma só vez, cedeu aopecado.”376

Em 22 de março de 1927, L. A. Wilcox publicouna Signs of the Times um artigo que discutia aquestão: “Há esperança de vencer nossas herdadastendências para o mal?” Ele responde recorrendo àgenealogia de Jesus: “Eu estou feliz por causa dela[a genealogia de Cristo]. Pois ela me ajuda acompreender como Ele pôde ser ‘tocado pelosentimento’ de todas as minhas enfermidades. Eleveio até onde eu estava e ficou em meu lugar. EmSuas veias estava o incubo de uma hereditariedadecorrompida, como um leão enjaulado semprebuscando atacar e destruir. Por 4.000 anos a raçaviera se deteriorando em força física, poder mentale dignidade moral; e Cristo tomou sobre Si asfraquezas da humanidade em seu pior estado.Apenas assim poderia Ele resgatar o homem dasmais baixas profundidades da degradação.”377

Então Wilcox cita em apoio à sua declaraçãouma passagem de Ellen White, extraída do livro ODesejado de Todas as Nações: “Se tivéssemos, emcerto sentido, um mais probante conflito do queteve Cristo, então Ele não estaria habilitado paranos socorrer. Mas nosso Salvador Se revestiu dahumanidade com todas as contingências damesma. Tomou a natureza do homem com a376 J. A. Rippey, na Signs of the Times, 5 de maio de 1924.377 L. A. Wilcox, na Signs of the Times, 22 de março de 1927.

Page 194: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

possibilidade de ceder à tentação. Não temos quesuportar coisa nenhuma que Ele não tenhasofrido.”378

“É bom saber que”, acentua Wilcox, “Ele, oFilho de Deus, tornou-Se o Filho do homem, paraque eu, um filho do homem, pudesse tornar-me umfilho de Deus. Ele Se tornou como eu sou, paraque eu pudesse tornar-me como Ele é. Eleparticipou da minha humana natureza, para que eupudesse participar de Sua natureza divina. Emcada tentação que ataca, há poder em saber que taltentação, em toda a sua avassaladora força, Oatacou também de todas as maneiras e em ocasiõesinesperadas, e que, com iguais tendências para omal, a despeito do mau sangue e maldadeherdados, através do mesmo poder ao qual eutenho acesso, Ele venceu. Ele venceu por mim. Eleme oferece Sua vitória como minha própria – umdom gratuito. E assim, em todas essas coisas, soumais do que vencedor através dAquele que meamou.”379

Mais tarde, F. M. Wilcox, editor da Review andHerald (1911-1944), também co-fundador doPatrimônio Literário Ellen G. White e membro doconselho de seus depositários, explicou por queachava importante identificar a carne de Cristocom a da humanidade decaída: “O terreno seguro378 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 117.379 Wilcox, na Signs of the Times, 22 de março de 1927.

Page 195: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

para nós ao irmos ao Senhor Jesus é o fato de queEle tomou sobre Si a natureza do homem, e naforma humana venceu Satanás, transpondo dessemodo o abismo que o pecado abrira entre Deus e ahumanidade. Passando por essa experiência emfavor da raça perdida, Ele Se tornou um Salvadorperfeito... Identificou-Se com o homem em todasas provas e tentações... Cristo foi intensa eseveramente tentado, tentado como nenhum outroser humano jamais foi, contudo Ele suportou tudoisso sem pecar. Nem uma só vez Ele cedeu aopoder do tentador. Em cada conflito Ele foivitorioso. Com a mente firmada em Deus,confiando no amor e no poder de Seu Pai celestial,Cristo resistiu todas as vezes aos ataques doinimigo. Isso, a herança da vitória sobre o pecado,Ele igualmente nos transmitiu, em acréscimo, asimpatia que nos dispensa em tempos de provação.Como Ele lançou mão do divino poder, é nossoprivilégio fazer o mesmo. Os recursos que estavamabertos a Seu pedido, também estão a nós.”380

Esse ensino não ficou restrito aos editores dosvários periódicos denominacionais. Ele tambémfoi pregado pelas mais altas autoridades da igreja,como presidentes de divisão, vice-presidentes, epresidentes da Conferência Geral. Essa foirealmente a mais autêntica expressão da fé380 W. W. Prescott, na Australian Signs of the Times, 7 de janeiro d 1924; 4 de maio de 1936; 7 de agosto de

1936; Signs of the Times, 15 de janeiro de 1929; 22 de fevereiro de 1929.

Page 196: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

encontrada na comunidade adventista sobre aquestão da Cristologia. Sem desejar citar cada umindividualmente, desejamos fazer referência a unspoucos testemunhos dos mais representativosautores.

Durante esse período, W. W. Prescott foicertamente o mais prolífico e competente. Então,como secretário geral e vice-presidente daConferência Geral no período de 1915 a 1937, elecontinuou a propagar esse ensino denominacionalatravés de seus numerosos artigos. Suainterpretação já foi amplamente apresentada, deforma que não será repetida aqui. Mais tarde, W.H. Branson, que foi presidente da ConferênciaGeral de 1950 a 1954, proclamava as mesmasconvicções em artigos publicados nos diferentesperiódicos.381

Repetidas vezes ele escreveu: “Para Cristo podercompreender as fraquezas da natureza humana,precisava experimentá-la... Portanto, Ele Se tornouosso de nossos ossos e carne de nossa carne...Deus precisou primeiro descer até o homem parapoder erguê-Lo até Si mesmo.”382

“Não foi anatureza dos anjos que Ele assumiu, mas a deAbraão. Ele Se tornou ‘semelhante a Seusirmãos’”.383

“Oh, que vergonha que o Grande Deus381 W. H. Branson, no The Watchman (O Atalaia), julho-agosto de 1932; Australian Signs of the Times, 30 de

outubro de 1933; 1 de novembro de 1937.382 _______, The Watchman, agosto de 1933.383 _______, Signs of the Times, 8 de novembro de 1936.

Page 197: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Se propusesse vir habitar com os homens, morarem sua própria carne.”384

Dois presidentes da Divisão Sul-Européia, cujasede se achava em Berna, Suíça, fizeram o seumelhor para divulgar na Europa a Cristologiaensinada nos Estados Unidos. A. V. Olson385 foi oprimeiro a expressar-se sobre o assunto danatureza humana decaída que Cristo assumiu.Olson escreveu: “Jesus herdou... a natureza de Suamãe. Um homem chamado Jesus, feito de carne esangue como os outros homens, viveu realmenteem seu meio.”386

“Nesse sentido, o segundo Adão não erafisicamente idêntico ao primeiro. Foi também nosentido de depreciação em estatura e vitalidadeque Cristo, pela lei da hereditariedade, tomousobre Si mesmo nossa ‘natureza decaída’ (ODesejado de Todas as Nações, pág. 112), ‘nossanatureza em sua deteriorada condição (Signs of theTimes, 9 de junho de 1898).”387

M. V. Campbell, igualmente, foi presidente daDivisão Sul-Européia (1954-1958), e mais tardetornou-se vice-presidente da Conferência Geral.Eis como ele se expressou, num tempo quando se

384 _______, TheW atchman, julho de 1932.385 A. V. Olson foi o primeiro presidente da União Latina (1917-1920), depois presidente da Divisão Sul-

Européia (1920-1946), e finalmente vice-presidente da Conferência Geral. Foi o autor do livro ThirteenCrisis Years (Treze Anos de Crise), 1888-1901 (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1966).

386 _______, na Review and Herald, 6 de agosto de 1942.387 _______, em Ministry (O Ministério), janeiro de 1962. Citado em A Encarnação de Cristo, estudo publicado

por Fred C. Metz (setembro de 1964).

Page 198: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

estava começando a formular a nova interpretaçãoreferente à natureza de Jesus:

“Ao vir a nosso mundo, o Salvador não desceudo Céu como um anjo ou como um ser de outroplaneta. Ele tomou Seu lugar como membro daraça humana ao nascer numa família cujosancestrais eram bem conhecidos. Nasceu tãodesamparado como qualquer outro bebê... Jesusnão veio à Terra como fez o primeiro Adão, quedeixou as mãos do Criador sem nenhumainclinação para pecar. Antes, Ele veio emsemelhança ‘de carne pecaminosa’ (Rom. 8:3).Sua divindade não diminuiu Sua humanidade. Elaa preencheu, inundou-a, cercou-a, mas de modonenhum a destruiu. O Salvador foi influenciadopara pecar através da hereditariedade, do ambientee das poderosas tentações do diabo... Para vencer opecado, Jesus não usou qualquer poder espiritualque era Seu em virtude de ser o Filho de Deus. Eleapenas Se utilizou das armas que estão nas mãosdo mais humilde de Seus seguidores.”388

Excertos da Literatura Adventista EuropéiaOs testemunhos desses dois presidentes da

Divisão Sul-Européia – ambos americanos – sãorepresentativos do ensino que, naquele tempo,havia nas igrejas adventistas de fala inglesa do

388 M. V. Campbell, na Review and Herald, 5 de outubro de 1950.

Page 199: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

mundo. Mas, qual era a crença geral sobre oassunto na Europa continental, onde a mensagemhavia sido oficialmente introduzida em 1874?389

Como sabemos, a revista Signes des Temps(Sinais dos Tempos em francês) foi fundada porJohn Nevins Andrews na cidade de Basiléia, em1876. É interessante notar que até 1938, nenhumamenção foi feita com relação à natureza humanacaída de Cristo. Evidentemente, esse aspecto daCristologia não constituía nenhuma importantecaracterística do ensino adventista nesse tempo.390

Pode ser que os adventistas do continentepartilhavam dos mesmos pontos de vista damaioria dos protestantes sobre esse assunto. Oapoio para isso veio do editor-chefe da Signes desTemps: “Para salvar a humanidade, foi necessário,de acordo com a justiça de Deus, que Cristo fossecolocado sob as mesmas condições de Adão nacriação, vale dizer, livre do pecado, mas suscetívelde cair em tentação.”391

Desse modo, a Cristologia adventista tradicional,como ensinada no mundo de fala inglesa, não foicompletamente obscurecida, mas sua introduçãofoi retardada no continente europeu até que as

389 Nossa pesquisa restringiu-se à Divisão Sul-Européia, compreendendo os seguintes países: Áustria,Bélgica, Bulgária, Checoslováquia, França, Grécia, Hungria, Israel, Itália, Portugal, Romênia, Espanha,Suíça, Iugoslávia e as colônias francesas na África.

390 Esse aspecto particular da Cristologia adventista não foi incluído nos cursos teológicos de nossosseminários. Em seu manual sobre doutrina, L’Histoire du Salut (A História da Salvação), Alfred Vauchersimplesmente afirma que Jesus tornou-se humano.

391 Jules Boureau, na Signes des Temps, maio de 1950.

Page 200: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

traduções inglesas dos livros e artigos de EllenWhite se tornassem disponíveis.

A primeira menção da Cristologia tradicional éencontrada na Revue Adventiste (RevistaAdventista em francês), o órgão informativo dosadventistas do sétimo dia na Europa Latina. Oartigo está datado de 15 de novembro de 1923. Foiescrito por Tell Nussbaum, primeiro presidente daAssociação Francesa.392 Seu título: “Jesus, Filhode Deus e Filho do Homem”, sumaria o ensino daIgreja Adventista sobre o tema da pessoa e obra deCristo. Eis um extrato:

“Jesus foi declarado com poder ser o Filho deDeus através do Espírito Santo, por Suaressurreição dos mortos. Rom. 1:4. Tendo vindoem nossa carne enferma, nascido sob a lei, capazde pecar, Ele não cometeu qualquer pecado. Foinela que o pecado deveria ser vencido e o homem,em sua decaída natureza, pôde ser colocado numestado em que a santidade seria possível. Eledeveria viver a vida de Deus que se achaunicamente em Jesus Cristo, a qual Ele nosassegura continuamente pela fé.”

“O propósito de Jesus Cristo foi cumprido:transmitir Sua perfeita natureza à Sua posteridade.Mas ela não será completamente adquirida até o

392 Tell Nussbaum foi presidente da Associação das Igrejas Adventistas na França (1910-1914). Era pai do Dr.Jean Nussbaum, conhecido mundialmente por suas atividades em favor da liberdade religiosa, e fundadorda revista Consciene et Liberté (Consciência e Liberdade).

Page 201: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

dia quando nós O virmos como é agora no Céu(João 17:22). Hoje, aceitando pela fé o que Cristofez por nós, andamos pelo Espírito de JesusCristo... O Espírito de vida, que está em JesusCristo, nos libertou do pecado. Por Sua morte, Eletriunfou sobre o pecado a fim de nos conceder essepoder.”393

É duvidoso que essa declaração represente opensamento da maioria dos adventistas da Europacontinental. O objetivo do autor era aparentementetornar conhecido mais amplamente o ensino aceitopela Igreja Adventista. Outra série de artigos como mesmo propósito apareceu na Revue Adventiste,entre 1925 e janeiro de 1926.394

Esses foram, mais tarde, reimpressos em formade panfleto com este significativo título: ATouchstone – Jesus Christ Come in Flesh (UmaPedra de Toque – Jesus Cristo Veio em Carne).395

Seu autor foi Jules-Cesar Guenin, entãopresidente da Associação Francesa. Ele tinha umperfeito conhecimento da Cristologia comoestabelecida por Ellen White e os pioneiros, aosquais faz referências. Para introduzir o assunto, elese baseia em I João 4:1-3, asseverando que “todoespírito que confessa que Jesus veio em carne” éde Deus, mas todo espírito que não reconhece que393 Tell Nusbaum, na Revue Adventiste, 15 de novembro de 1923.394 Revue Adventiste, 1 e 15 de dezembro de 1925; janeiro, 1 a 15 de 1926.395 Jules-Cesar Guenin, Une Pierre de Touche - Jesus Cristo veio em Carne (Dammarie-les-Lys): Imprensa

“Os Sinais dos Tempos” n.d.). Ver Seventh-day Adventist Encyclopedia, págs. 544, 545.

Page 202: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Jesus veio em carne é do anticristo.Mas Guenin pergunta: “O que a Bíblia quer dizer

quando fala que ‘Jesus veio em carne’? Depois deconsiderar as principais passagens que tratam daEncarnação (Filip. 2:5-8; João 1:14; Rom. 8:3;Heb. 2:14-18; 4:15), ele conclui: “Essa doutrinatem tal importância que é, por assim dizer, adoutrina das doutrinas, o ponto alto da pregaçãoapostólica e evangelística, a pedra de toque docristianismo autêntico.”396

Abordando o problema da natureza humana deCristo, Guenin perfila com seus colegasamericanos: “A redenção da humanidade somentepoderia ser adquirida mediante Deus tornar-Sehomem. Foi revestido de carne como a nossa queCristo enfrentou as lutas morais e correu osmesmos riscos que nós, de modo a provar que ajustiça da lei poderia ser alcançada pelo homem. OFilho de Deus veio a este mundo com carnesemelhante à nossa... Assim, o pecado foigloriosamente vencido e finalmente condenado, ea santidade efetivada na carne humana.”397

Falando sobre as tentações que Cristo suportou,Guenin faz referência a várias declarações deEllen White, tais como estas: “Se tivéssemos, emcerto sentido, um mais probante conflito do queteve Cristo, então Ele não estaria habilitado para396 Idem, págs. 3 e 4.397 Idem, págs. 4 e 5.

Page 203: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

nos socorrer. Mas nosso Salvador Se revestiu dahumanidade com todas as contingências damesma. Tomou a natureza do homem com apossibilidade de ceder à tentação. Não temos quesuportar coisa nenhuma que Ele não tenhasofrido.”398

Ademais, J. C. Guenin também citou o teólogoprotestante E. de Presence, na questão dastentações que Jesus enfrentou no deserto: “ORedentor passou por Seu grande teste de liberdadesem o qual nenhum destino moral é alcançado. Éaqui que precisamos aceitar o completo mistériode Sua humilhação. Se Lhe atribuirmosimpecaminosidade, separamo-Lo das reaiscondições de uma existência terrestre; Suahumanidade não é, então, mais que uma ilusão, umvéu transparente através do qual é vista Suatranscendente divindade. Não sendo como nós, Elenão mais está conosco. Ao excitante drama da lutamoral segue uma indescritível fantasmagoriametafísica. Não devemos mais falar de tentaçõesou provas com respeito a esse assunto.”399

Da vitória de Jesus sobre o pecado, Gueninextrai a seguinte lição prática: “Cristo venceu opecado para provar que cada crente pode vencertambém; mas Ele triunfou porque desejava fazê-loe porque lutou e sofreu usando apenas as armas da398 Idem, pág. 5. Ver Ellen White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 117.399 Ibidem.

Page 204: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

fé e da oração. É por esses meios, com essesarmamentos, que o crente pode triunfar... Isso é oque significa confessar ter vindo Cristo emcarne.”400

A doutrina da Encarnação constitui para J. C.Guenin “o ponto vital da religião redentiva eregenerativa de Jesus; negar isso é fazer com que ocristianismo perca toda a sua eficácia e valorprático.”401

Num artigo sobre os dois Adões publicado naRevue Adventiste, em 1942, J. C. Gueninreenfatiza a importância de Jesus ter participadode nossa completa humanidade. “Se Jesushouvesse vindo com a impossibilidade de pecar,como certos crentes e certa teologia preconizam,como poderia Ele ter-Se tornado o pai da novahumanidade vitoriosa, um ‘grande sumosacerdote’ que podia simpatizar com as fraquezasda humanidade e provar a possibilidade de umavida vitoriosa? Jesus não veio ao mundo apenaspara resgatar do pecado, para expiar a culpa dospecadores, mas também para dar à humanidade umexemplo de perfeita obediência à vontade divina,para provar que tal obediência é possível àqueleque sinceramente deseja tê-la. Para fazer isso, eranecessário que Cristo vivesse uma absoluta vida

400 Idem, pág. 6.401 _______, na Revue Adventiste, 15 de dezembro de 1925.

Page 205: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

santa, sem pecado.”402

Almejando explicar a doutrina da Encarnação aseus leitores não-adventistas, J. C. Gueninpublicou uma série de três artigos na Signes desTemps.403 Foi a primeira menção da Cristologiaadventista nesse magazine após 62 anos deexistência. O conteúdo desses artigos estáclaramente patenteado em seus títulos: “JesusCristo Veio em Carne”; “Jesus Cristo, o Ideal daHumanidade”; “Foi Jesus um Pecador?” Nelesencontramos repetido o ensino desenvolvido nabrochura Uma Pedra de Toque: Jesus Veio emCarne.

Outros autores fizeram referências semelhantes àcrença comum dos adventistas daquele tempo.Num artigo escrito por James Howard, traduzidodo inglês e publicado na Revue Adventiste,encontramos a seguinte declaração acerca datentação de Cristo: “A tendência hereditária parapecar é verdadeiramente forte. A mãe de JesusCristo herdou a ‘forma e a semelhança’ de seusancestrais; ela nascera em carne pecaminosa.Sendo assim, seu Filho Jesus Cristo herdou anatureza humana.”404

Também na exposição de um sermão pregado nodia 11 de julho de 1928, em Genebra, sobre “o

402 _______, na Revue Adventiste, janeiro de 1942.403 _______, na Signes des Temps, julho, agosto e setembro de 1938.404 James Howard, Revue Adventiste, 15 de julho de 1927.

Page 206: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

preço de nossa redenção”, B. E. Beddoe, umvisitante, falou acerca da natureza humana deJesus que, sendo como nós, “conhecia astendências da carne, os desejos que levam aopecado”. Daí, ante a pergunta: “Poderia ter Elepecado?”, o pregador respondeu sem hesitar:“Certamente”. 405

Finalmente, é bom repetir o que CharlesGerber406 escreveu em seus folhetosevangelísticos, distribuídos aos milhares e maistarde compilados e formatados num livrointitulado Le Chemin du Salut (O Caminho daSalvação).407 No capítulo que trata do “mistério daEncarnação”, ele confirma a Cristologia adventistaaceita. “Para salvar a humanidade, Deus deu SeuFilho, o qual assumiu nossa natureza e Seidentificou conosco. O Filho de Deus consentiuem tornar-Se Filho do homem. ‘Deus enviou Seufilho, nascido de mulher, nascido sob a lei’ (Gál.4:4). ‘O Verbo Se fez carne e habitou entre nós’(João 1:14). ‘... Deus, enviando a Seu próprioFilho em semelhança da carne do pecado, na carnecondenou o pecado.”

“É um milagre, é um mistério, Deus descer entrenós e tornar-Se carne, é o Céu humilhando-se

405B. E. Beddoe, Revue Adventiste, 25 de janeiro de 1929.406 Charles Gerber foi, ao mesmo tempo, editor-chefe dos periódicos Signes des Temps (1933-1940), Revue

Adventiste (1933-1939), e Vie et Santé (Vida e Saúde) (1939-1969).407 Charles Gerber, Le Chemin du Salut (O Caminho da Salvação) (Dammarie-les-Lys: Impresa “Os Sinais dos

Tempos”, n.d.).

Page 207: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

diante da Terra, é a escada de Jacó ligando a Terraao Céu e o Céu à Terra... Jesus Se tornou homem...Sofreu fome, sede e cansaço assim como nós. Era‘em todas as coisas... semelhante a Seus irmãos’;Ele enfrentou semelhantes tentações, derramoulágrimas e finalmente morreu.”408

Excertos das Lições da Escola SabatinaComo já foi dito, as lições da Escola Sabatina

são o melhor indicador oficial do ensino da IgrejaAdventista. Preparadas por especialistas erevisadas por uma comissão de representatividademundial, elas são realmente a mais autênticaexpressão da fé adventista. Cada vez que as liçõestocam no assunto da natureza humana de Jesus, asnotas explicativas invariavelmente apresentam oensino tradicional. Exemplos do períodocompreendido entre 1916 e 1952 são tão poucosque é possível citá-los todos. O primeiro data doprimeiro trimestre de 1921, e é relevante sobre aquestão da Encarnação.

“Cristo assumiu, não a original impecável, masnossa humanidade decaída. Nessa segundaexperiência, Ele Se encontrou não precisamenteonde Adão estivera antes dEle, mas, como ditoanteriormente, com imensas desvantagens contraSi – o mal, com todo o seu vitorioso prestígio e

408 _______, Signes des Temps, outubro de 1937.

Page 208: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

sua conseqüente entronização na própriaconstituição de nossa natureza, armado com omais terrível poder contra a possível realizaçãodesse divino ideal no homem – perfeita santidade.Tudo isso considerado, as desvantagens dasituação, os tremendos riscos envolvidos e aferocidade da oposição encontrada, faz-nos teruma idéia da realidade e da grandeza desse vastoempreendimento moral; a natureza humanatentada, provada e extraviada em Adão, é elevadapor Cristo à esfera da consumada santidade.”409

Noutra lição acerca do sacerdócio de Cristo,editada no mesmo ano, verificamos estecomentário versando sobre os primeiros doiscapítulos da epístola aos Hebreus: “Aquele que éapresentado no primeiro capítulo como Filho,Deus e Senhor, cuja divindade e eternidade sãoenfatizadas, encontra-nos no segundo capítulocomo o Filho do homem, com todas as limitaçõesde nossa humanidade comum. Ele é conhecido porSeu nome pessoal e terrestre e como alguém quepode provar a morte (Heb. 2:9), e pode ser‘aperfeiçoado pelos sofrimentos’ (verso 10). Eleparticipou da mesma carne e sangue que nós(verso 14), tornando-se tão verdadeiramentehomem (verso 17), como é verdadeiramenteDeus.”410

409 Lições Trimestrais da Escola Sabatina, adultos, primeiro trimestre de 1921, pág. 16.410 Idem, segundo trimestre de 1921, págs. 13 e 14.

Page 209: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

No terceiro trimestre de 1921, o mesmo conceitoé encontrado destacadamente: “Quando o Filho deDeus nasceu de mulher (Gál. 4:4) e participou denossa carne pecaminosa (Rom. 8:3), a vida eternase manifestou em corpo humano (I João 1:2).”411

Em 1928, as lições do primeiro trimestre forambaseadas na epístola aos Efésios. Eis uma notaexplicativa em relação a Efésios 2:15)“O homemcarnal, natural, não pode abolir sua inimizadecontra Deus. Ela faz parte de sua natureza. Estáentretecida em cada fibra de seu ser. Mas Jesustomou sobre Si mesmo nossa natureza de carne esangue (Heb. 2:14), ‘em todas as coisas.... para sersemelhante a Seus irmãos’ (Heb. 2:17), ‘dasemente de Davi segundo a carne’ (Rom. 1:3); ‘Eleenfrentou e aboliu a inimizade em Sua carne’, ‘amente carnal’ (Rom. 8:7). Ele venceu o pecado nacarne por nós, para sempre.”412

Excertos de Livros SelecionadosDurante o período que vai de 1916 até 1952,

muitos livros tratando direta ou indiretamente dadoutrina da Encarnação foram publicados pelasdiversas casas editoras da igreja, tais como:Review and Herald Publishing Association, PacificPress Publishing Association e Southern411 Idem, terceiro trimestre de 1921, pág. 20.412 Idem, primeiro trimestre de 1928, pág. 15. Todos os exemplos citados por William H. Grotheer estão

contidos na obra História Interpretativa dos Adventistas do Sétimo Dia - Doutrina da Encarnação, págs. 56 e57.

Page 210: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Publishing Association. Todos os livros por elaseditados haviam recebido o prévio selo deaprovação de uma comissão editorial, certificandoque o conteúdo estava em harmonia com a fé a asdoutrinas adventistas.

1. A Doutrina de Cristo, de W. W. PrescottRelembramos que Prescott, em seu livro datado

de 1920 e por título A Doutrina de Cristo,demonstrava que sem participar da “carne e nosangue” daqueles a quem Ele viera libertar dopoder do pecado e da morte, Cristo não poderia tersido nosso Salvador. Essa verdade, na mente dePrescott, era a verdade central do evangelho.

2. Uma Vida Vitoriosa, de Mead MacGuireEm 1924, foi lançado o livro de Mead

MacGuire, Uma Vida Vitoriosa. O autor tambémfoi um dos fundadores do Departamento de Jovensem nível de Conferência Geral. Ele foi,sucessivamente, secretário dos DepartamentosMissionário e Ministerial.413

No capítulo em quetrata da “medonha natureza do pecado”, MacGuireresponde à questão levantada por Paulo emRomanos 7:23: “Mas vejo nos meus membrosoutra lei guerreando contra a lei do meuentendimento, e me levando cativo à lei do

413 Meade Macquire, ver Seventh-day Adventista Encyclopedia, pág. 825.

Page 211: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecado, que está nos meus membros.”“Há apenas um meio de livramento dessa

congênita lei do pecado. Ele é Cristo. Ele Serevestiu da humanidade. Ele venceu o pecadoenquanto num corpo que estava sob a hereditárialei do pecado. Agora Ele nos propõe viver essamesma vida impecável em meus membros. Suapresença neutraliza completamente o poder da leido pecado.”414

Noutro capítulo, Macguire escreve: “QuandoJesus suportou a cruz, Ele admitiu a sentença demorte sobre a natureza do pecado. Cristo tomounossa natureza, a natureza de Adão, a vida deSaulo, e concordando com o Pai de que essanatureza estava qualificada apenas para morrer,Ele foi voluntariamente até a cruz e conduziu essanatureza decaída até sua inevitável e necessáriamorte... Por Seu grande sacrifício, Cristo fezprovisão para a morte da natureza de Adão emvocê e em mim, se estivermos dispostos a levaressa nossa degenerada natureza até Sua cruz epregá-la nela.”415

3. Fatos da Fé, de Christian EdwardsonEm 1942, Edwardson abordou o assunto da

Encarnação e da natureza humana de Cristo sob

414 _______, The Life of Victory (Vida Vitoriosa) (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1924),págs. 17 e 18.

415 Idem, pág. 43.

Page 212: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

um ângulo diferente. Ele discutiu II João 7, quedeclara que os enganadores e o anticristo não“confessam que Jesus Cristo veio em carne”. Emoposição ao argumento de que o papado poderianão ser o anticristo, uma vez que o catolicismo nãonega a encarnação de Cristo, Edwardson escreveu:

“Esse argumento, todavia, está baseado nummal-entendido produzido pelo descuido de umapalavra no texto. O anticristo não nega que Cristoveio em carne, mas nega que Ele houvesse ‘vindona carne, na mesma espécie de carne da raçahumana que viera salvar... Sobre essa vitaldiferença articula-se a verdade ‘vital doevangelho’. Desceu Cristo totalmente paraestabelecer contato com a raça caída, ou sóparcialmente, de modo que precisamos ter santos,papas e padres para interceder por nós juntamentecom Cristo, que está muito afastado dahumanidade decaída e de suas necessidades paraestabelecer contato direto com o pecadorindividualmente? Justamente aqui jaz a grandedivisor que separa o protestantismo do catolicismoromano.”

Edwardson estende-se sobre o segredo dasalvação do homem: “Por meio do pecado ohomem separou-se de Deus, e sua naturezadecaída é oposta à vontade divina... Apenasatravés de Cristo, nosso Mediador, pode o homem

Page 213: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

ser resgatado do pecado e novamente entrar emligação com a fonte da pureza e do poder. Porém,para tornar-Se tal elo de ligação, Cristo teve departicipar da divindade de Deus e da humanidadedo homem, de forma que Seu divino braçopudesse cingir a Deus e com Seu braço humanoenvolver o homem, ligando assim ambos em Suaprópria Pessoa. Nessa união do divino com ohumano jaz o ‘mistério’ do evangelho, o segredodo poder para erguer o homem de suadegradação.”

Edwardson busca explicar o porquê daencarnação de Cristo: “Era o homem decaídoquem devia ser resgatado do pecado. E para fazercontato com ele, Cristo tinha de condescender emtomar nossa natureza sobre Si mesmo (e nãoalguma espécie mais elevada de carne). ‘Portanto,visto como os filhos são participantes comuns decarne e sangue, também Ele semelhantementeparticipou das mesmas coisas... Pelo que convinhaque em tudo fosse feito semelhante a Seus irmãos.’Esse texto está redigido de um modo que não podeser malcompreendido. Cristo‘tomou parte damesma carne e sangue que os nossos’; Ele veio ‘nacarne’. Negar isso é a marca do anticristo.” 416

4. O Vinho da Babilônia Romana, de Mary E.

416 Christian Edwardson, Fatos da Fé (Nashville, Tenn.: Southern Pub. Assn., 1942), págs. 204 e 205, emWilliam H. Grotheer, História Interpretativa dos Adventistas do Sétimo Dia - Doutrina da Encarnação, págs.58 e 59.

Page 214: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Walsh Como sugerido pelo próprio título, esse livro

contrasta o ensino católico com o das Escrituras.Mary E. Walsh, a autora, foi por 20 anos umafervorosa católica.417

No capítulo dedicado à imaculada conceição,Mary Walsh escreve: “Tudo o que Maria deu aCristo foi Seu corpo humano. É uma lei daNatureza que alguém não pode dar aquilo que nãopossui, e Maria, sendo humana em cada aspecto dapalavra, não poderia conceder a Seu Filho anatureza da divindade.”418

Então, tendo mostrado ambos os aspectos danatureza de Jesus, o divino e o humano, MaryWalsh cita Rom. 8:3 e Hebreus 2:14, 17 e 18, paraconcluir: “Na genealogia de Cristo, comoapresentada em Mateus, verificamos que Jesus échamado o filho de Davi e também Filho deAbraão. Alguém tem de estudar apenas oscaracteres de Abraão e Davi, para aprender queeles foram verdadeiramente humanos e tinhamtendência para pecar. Assim vemos que espécie denatureza humana Cristo herdou de Seusprogenitores.”419

No início dos anos cinqüenta, muitas outrasobras foram publicadas buscando explicar o417 Mary W. Walsh, The Wine of Babylon, pág. 3, em William H. Grotheer, obra História Interpretativa dos

Adventistas do Sétimo Dia - Doutrina da Encarnação, págs. 59 e 60.418 Idem, pág. 132.419 Idem, pág. 134.

Page 215: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

porquê da Encarnação e o que Cristo realizouvivendo uma vida impecável em carnepecaminosa. O livro de A. B. Lickey, Cristo ParaSempre e a obra de W. B. Ochs, Nisso eu Creio,ambos publicados em 1951 pela Review andHerald Publishing Association420, mantiveram oensino adventista tradicional dos últimos 100 anos.

Para completar nosso exame, abordaremos maisdois autores cujo testemunho é particularmentevalioso porque veio num tempo em que umaradical mudança estava sendo implementada: F. D.Nichol, editor-chefe da Review and Herald de1945 a 1966, e autor de muitos livros, e W. H.Branson, presidente da Conferência Geral de 1950a 1954.

5. Respostas a Objeções, de F. D. Nichol421

Em 1952, Nichol se sentiu compelido a replicarao criticismo freqüentemente dirigido contra osadventistas, nestes termos: “Os adventistas dosétimo dia ensinam que, como toda a humanidade,Cristo nasceu com uma natureza pecaminosa. Issoindica plenamente que Seu coração, também, era‘enganoso, mais do que todas as coisas, eperverso’ (Jer. 17:9). Em harmonia com isso elestambém ensinam que Cristo poderia ter falhado420 A. E. Lickey, Christ Forever (Cristo Para Sempre) (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1951).

421Ver The Seventh-day Adventist Encyclopedia, artigo “F. D. Nichol”, págs. 974 e 975. Simultaneamente àsua longa carreira como editor-chefe da Review and Herald, ele também foi editor do The Seventh-dayAdventist Bible Commentary. Nichol escreveu cerca de 20 livros.

Page 216: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

enquanto em Sua missão terrestre como Salvadordo homem; que Ele veio ao mundo ‘sob risco defracasso e eterna perda’, e que Ele ‘não falhounem ficou desanimado’.”422

A resposta de Nichol é encontrada, antes detudo, em dois artigos da Review and Herald,depois reproduzida no livro Answers to Objections(Respostas a Objeções)423, publicado no mesmoano. O prefácio foi escrito por W. H. Branson,então presidente da Conferência Geral. Bransonescreveu: “Este volume fornece uma bem definidae convincente resposta às objeções mais amiúdelevantadas pelos críticos das doutrinas mantidaspela Igreja Adventista do Sétimo Dia... Comcordial aprovação, portanto, recomendamos estelivro a cada obreiro evangélico. Ele se provará umpronto auxiliar no enfrentamento dos ataques doscríticos teológicos, e sincero ao responder asindagações do perplexo inquiridor.”424

Em sua réplica, Nichol não diz que os críticosestavam enganados quanto às crenças dosadventistas sobre o assunto. Ele simplesmenteprocurou mostrar que eles se enganaram emconcluir que “os adventistas do sétimo dia eramculpados de terrível heresia”.425 Na verdade,

422 Nichol, Review and Herald, 10 e 17 de julho de 1952.423 Nichol, Answers to Objections (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1952), objeção 94, págs.

389 e 397.424 Idem, págs. 23 e 24.425 Idem, pág. 389.

Page 217: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

observa Nichol: “Os adventistas nunca fizeram umpronunciamento formal sobre o assunto em suadeclaração de crenças. A única declaração emnossa literatura que poderia ser considerada comoverdadeiramente autorizada nessa questão é aquelaque a Sra. Ellen G. White escreveu.”426 Alémdisso, os contestadores citam um excerto do livroO Desejado de Todas as Nações, para provar queeles não estão equivocados em seu julgamento, eNichol faz o mesmo para confirmar que “Cristotinha de ser, em todas as coisas, semelhante a Seusirmãos”.

“Essa é a crença adventista. E nós a sustentamosporque sentimos que ela concorda com a revelaçãoe a razão.” Apoiando-se nos textos bíblicoshabituais (Rom. 8:3; Hebreus 2:14, 16 e 17, e4:15), Nichol assevera: “O opositor procura evitara força dessas passagens declarando que quanto aCristo, ‘tentado’ simplesmente significa ‘provado’ou ‘experimentado’. Mas os textos que vimosenfatizam que a natureza da tentação de Cristo foiexatamente a mesma que sobrevém à humanidade.Realmente, essas escrituras mencionam umadiferença – quando Cristo foi tentado, Ele nãopecou. O que não pode ser dito da humanidade.Em maior ou menor grau, todos caímos diante datentação. O texto não diz que Cristo não poderia

426 Idem, pág. 390.

Page 218: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecar, mas que Ele não pecou. Se em Sua naturezahumana fosse-Lhe impossível pecar, por que Paulonão nos mostra os textos concernentes? Essa teriasido uma grande revelação.”427

Então Nichol prossegue mostrando que osadventistas não são os únicos que mantêm esseponto de vista. Ele cita uma constelação deteólogos de diferentes denominações protestantesantes de concluir: “A crença adventista comrelação a Cristo é que Ele era verdadeiramentedivino e verdadeiramente humano; que Suanatureza humana estava sujeita às mesmastentações para pecar que nos confrontam, para quetriunfasse sobre a tentação mediante o poder a Eledado por Seu Pai; e que Ele pode ser literalmentedescrito como ‘santo, inocente, imaculado’ (Heb7:26).”428

Algumas das expressões de Nichol alhures têmlevado muitos a pensar que ele era um defensor danova interpretação que surgiu por essa época.429

Mas o que ele escreveu sobre o tema das tentaçõesde Cristo indica que esse não foi o caso. Note acomparação entre os dois Adões: “Cristo venceu adespeito do fato de ter tomado sobre Si ‘asemelhança da carne pecaminosa’, com tudo o queela implica em efeitos maléficos e debilitantes do427 Idem, pág. 391.428 Idem, pág. 397.429 Ver William H. Grotheer, História Interpretativa dos Adventistas do Sétimo Dia - Doutrina da Encarnação,

págs. 70 a 72; e Ralph Larson, The Word Was Made Flesh, págs. 221 a 223.

Page 219: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecado sobre o corpo e o sistema nervoso dohomem, e seus resultados sobre o meio ambiente –‘Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?’”.430

Em nota adicional à objeção 94, Nichol explicoua expressão ‘carne pecaminosa’: “Os críticos,especialmente aqueles que vêem as Escriturasatravés de olhos calvinistas, lêem no termo ‘carnepecaminosa’ algo que a teologia adventista nãorequer. Assim, se usamos o termo ‘carnepecaminosa’ em relação à natureza humana deCristo, como alguns de nossos escritores têm feito,arriscamo-nos a ser mal compreendidos.Realmente, com essa expressão queremos dizersimplesmente que Cristo ‘tomou sobre Si asemente de Abraão’, e Se tornou ‘em semelhançade carne pecaminosa’, mas os críticos não estãodispostos a crer nisso.”431

De acordo com o testemunho de Kenneth H.Wood, por muito tempo editor-associado de F. D.Nichol e seu sucessor como editor-chefe, de 1966a 1982, Nichol sempre advogou em suas conversase discussões a crença de que Cristo veio a estemundo com a natureza decaída do homem. Issoexplicaria por que Walter Martin declarou: “AConferência Geral inteligentemente separouNichol de mim. Ele foi proibido de fazer contato

430 Nichol, Idem, pág. 393.431 _______, Answers to Objections, pág. 397.

Page 220: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

comigo.”432

6. A Expiação e o Drama dos Séculos, de W.H. Branson

O ponto de vista expresso por W. H. Branson emvários artigos é confirmado em dois de seus livros.No primeiro, A Expiação, publicado em 1935, eledeclara aquilo que sempre foi o ensino da igrejaaté então. “Cristo, o Filho de Deus, o Criador doUniverso, tomou sobre Si mesmo nossa natureza etornou-Se homem. Ele nasceu de uma mulher.Tornou-Se ‘a semente de Abraão’, tornou-Se umde nós.”433

Em 1953, enquanto Branson era presidenteda Conferência Geral, e provavelmenteestando ciente de uma nova interpretaçãoemergente, ele escreveu em sua última obra,Drama dos Séculos: “Foi da carne e sangue dohomem que Jesus participou. Ele Se tornou ummembro da raça humana. Ele Se tornou como oshomens... Essa, então, era uma humanidade real.Não foi a natureza dos anjos que Ele assumiu, masa de Abraão. Ele foi ‘em todas as coisas feitosemelhante a Seus irmãos’. Tornou-Se um deles.Estava sujeito à tentação; Ele conhecia asangústias do sofrimento e não era estranho aos

432 Ver Larson, The Word Was Made Flesh, pág. 223; Adventist Currents (Correntes Adventistas), julho de1983, pág. 18.

433 Branson, The Atonement (A Expiação) (Mountain View, Calif.: Pacific Press Pub. Assn., 1935), pág. 14.

Page 221: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pesares comuns aos homens.”434

Então W. H. Branson explica sua posição comrespeito ao motivo da participação de Cristo nanatureza decaída da humanidade: “Para que Cristopudesse compreender a fraqueza da naturezahumana, Ele teve de experimentá-la. A fim depoder simpatizar com os homens em suasaflições, Jesus teve de ser afligido. Precisou sofrerfome, cansaço, desapontamento, tristezas eperseguições. Teve de trilhar os mesmoscaminhos, viver sob as mesmas circunstâncias epassar pelo mesmo tipo de morte. Portanto, Ele Setornou osso de nossos ossos, carne de nossa carne.Sua encarnação foi na humanidade real.”435

ConclusãoNossa pesquisa, cobrindo um século de

Cristologia adventista (de 1852 até 1952), permite-nos afirmar que os teólogos e administradores daigreja falaram em uníssono sobre o assunto dapessoa de Cristo e Sua obra em favor da salvaçãodo homem.

Embora, primeiramente, descobríssemos algunssentimentos semi-arianos sobre o tema da naturezadivina de Cristo entre os líderes da igreja, essesforam abandonados antes da passagem do século.Por outro lado, sobre a natureza humana de Cristo,434 _______, Drama of the Ages (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1980), págs. 97 e 98.435 Idem, pág. 98.

Page 222: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

não havia divergência. Desde o início, a IgrejaAdventista apresentou notável unanimidade emseu ensino sistemático desse ponto. Seu estudoneotestamentário levou os pioneiros da mensageme seus seguidores a compreenderem a Encarnação,não simplesmente envolvendo a crença de queJesus veio em carne, mas acima de tudo, “àsemelhança de carne pecaminosa”. E pela razão deser seu ensino radicalmente oposto à tradição dasigrejas estabelecidas, foi necessário repeti-laconsistentemente para benefício dos novosconversos à mensagem adventista. Essa doutrinafoi considerada como a “pedra de toque doCristianismo autêntico”; como a “áurea cadeia naqual foram incrustadas as jóias da doutrina”, “adoutrina das doutrinas”, em resumo, “o ponto vitalda regeneradora e redentiva religião de Jesus”.

Por volta de 1950, surgiu uma novainterpretação: Cristo não assumiu a decaídanatureza da humanidade, mas aquela de Adãoantes da queda. De fato, tal drástica mudança deinterpretação encontrou viva reação. É, porconseguinte, muito importante considerar essenovo passo na história da Cristologia adventista,para compreender as causas reais da controvérsiaque perfurou o próprio âmago da igreja. Muitoimportante: é necessário afiar a capacidade dedistinguir o ensino que concorda com o evangelho,

Page 223: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

daquele que não o faz. Esse é um ponto dedestaque, porque de acordo com o apóstolo João, oteste do verdadeiro Espírito de Deus centraliza-seprecisamente sobre o conceito de Cristo vindo emcarne (I João 4:1-3).

Page 224: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Parte 4

A CONTROVÉRSIA CRISTOLÓGICA NO SEIO DA IGREJA ADVENTISTA

Capítulo 10

O NOVO MARCO HISTÓRICO ADVENTISTA

Através da história do Cristianismo, as mudançasdoutrinárias têm geralmente ocorrido lenta, sutil eimperceptivelmente. Por via de regra é muitodifícil determinar a origem dessas mudanças ou osque foram responsáveis por elas. Mas tal não é ocaso da modificação doutrinária sobre a naturezahumana de Cristo, a qual teve lugar na IgrejaAdventista durante a década de 1950. Osprincipais responsáveis pela alteração deixaramsuas marcas sobre as crenças da igreja.

Parece óbvio que os autores das mudanças eram

Page 225: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

plenamente cientes de que estavam introduzindoum novo ensino doutrinário com referência àEncarnação. Isso ficou evidente no relato dascircunstâncias registrado por LeRoy Edwin Froomem seu livro Movement of Destiny;436 e numaexposição que poderia ser considerada como ummanifesto dessa nova interpretação, publicado narevista Ministry (O Ministério) sob o título “ONovo Marco Histórico Adventista”.437 Estecapítulo focaliza a história dessa nova ótica comodelineada nessas fontes.

Não pretendo questionar o compromisso demeus colegas com a verdade ou sua lealdade àigreja. Estou certo de que eles amam ao Senhor eSua Palavra. Mas tenho de examinar certasabordagens doutrinárias, buscando fazê-lo combondade cristã.

A Primeira Data Memorável de UmaMudança Radical

Em 1949, a Review and Herald PublishingAssociation solicitou ao Prof. D. E. Rebok,presidente do Seminário Teológico Adventista deWashington, D.C., que revisasse o texto do livroEstudos Bíblicos Para o Lar438, em preparo denova edição.

436 Leroy Edwin Froom, Movimento do Destino.437 Roy Allan Anderson, no O Ministério, abril de 1957.438 A primeira edição do Estudos Bíblicos Para o Lar data da década de 1880.

Page 226: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Esse livro, que teve numerosas edições, élargamente usado pelas famílias adventistas noestudo sistemático da Bíblia. Ele apresenta oensino oficial da igreja com muitos detalhes.Como já dissemos, a edição de 1915, reimpressaem 1936 e 1945, especifica inequivocamente: “EmSua humanidade, Cristo participou de nossanatureza pecaminosa decaída. Não fosse assim eEle não poderia ser ‘semelhante a Seus irmãos’,ser ‘tentado em todos os pontos como nós’, nemvencido como temos de vencer; e portanto, nãoteria condições de ser o completo e perfeitoSalvador que o homem necessita e deve ter paraser salvo.”439

Froom faz comentários acerca de Rebok:“Encontrando esta infortunada nota na pág. 174,no estudo sobre a ‘Vida Sem Pecado’, elereconheceu que ela não era verdadeira... Assim, ainexata nota foi suprimida e ficou fora de todas asedições subseqüentes.”440 Como resultado, a novaedição do Estudos Bíblicos deu outra resposta àquestão: “Quão plenamente Cristo participou denossa humanidade comum?” É feita a citação deHebreus 2:17 com a seguinte observaçãoexplicativa: “Jesus Cristo é o Filho de Deus e oFilho do Homem. Como membro da famíliahumana ‘convinha que Ele fosse semelhante a439 Estudos Bíblicos Para o Lar (1915), pág. 115 (itálicos supridos).440 Froom, pág. 428.

Page 227: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Seus irmãos’ – ‘em semelhança de carnepecaminosa’. Até que ponto essa ‘semelhança’chegou, é um mistério da Encarnação que oshomens nunca foram capazes de desvendar. ABíblia claramente ensina que Cristo foi tentadocomo os outros homens são tentados – ‘em todosos pontos... como nós somos’. Tal tentaçãoprecisa, necessariamente, incluir a possibilidade depecar; mas Cristo foi sem pecado. Não há apoiobíblico para o ensino de que a mãe de Cristo, pormeio da imaculada conceição, foi preservada dapecaminosa herança da raça, sendo Seu divinoFilho, portanto, incapaz de pecar.”441

Esta é uma significativa diferença da edição de1946. Enquanto a versão anterior realça aparticipação de Cristo na “pecaminosa natureza dohomem”, em “sua natureza decaída”, a posteriorafirma decididamente que “Cristo era sempecado”. Obviamente, a afirmação é perfeitamentecorreta. Ninguém alegou nada em contrário. Masessa não é a questão. O problema prende-se àhumanidade de Cristo, Sua “carne pecaminosa”,como Paulo a coloca.

Como foi mostrado442, pela rejeição do dogma daimaculada conceição e pela declaração de queMaria herdou naturalmente as imperfeições dahumanidade, Rebok deixa sem explicação como441 Estudos Bíblicos Para o Lar (1958), págs. 143 e 144.442 William H. Grotheer, Interpretative History of DAS Doctrine of Incarnation, pág. 65.

Page 228: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Jesus não herdou, Ele próprio, a carne pecaminosa,a exemplo de todos os descendentes de Adão.Paulo não diz expressamente que Ele nasceu “dasemente de Davi, segundo a carne”?

Rebok, em sua edição dos Estudos Bíblicos,também alterou a segunda nota explanatória emresposta à questão: “Onde, em Cristo, condenouDeus o pecado e nos obteve a vitória sobre atentação e o pecado?” As duas notas explicativasdas duas diferentes edições foram a seguircolocadas em paralelo a título de comparação:

Edição de 1946“Deus, em Cristo, condenou o pecado, não por

Se pronunciar contra ele como um simples juizassentado no tribunal, mas vindo e vivendo nacarne, na pecaminosa carne, sem todavia pecar.Em Cristo Ele demonstrou que é possível, por Suagraça e poder, resistir à tentação, vencer o pecadoe viver uma vida sem pecado na pecaminosacarne.”

Texto Revisado Por Rebok“Deus, em Cristo, condenou o pecado, não por

Se pronunciar contra ele como um simples juizassentado no tribunal, mas vindo e vivendo nacarne, (omissão), sem todavia pecar. Em CristoEle demonstrou que é possível, por Sua graça e

Page 229: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

poder, resistir à tentação, vencer o pecado, e viveruma vida sem pecado (omissão) na carne.”

As diferenças entre as duas notas são pequenasporém significativas. A expressão de Paulo, “carnepecaminosa”, é omitida. Essa edição revisada dosEstudos Bíblicos não aparece, todavia, até 1958,após a nova interpretação haver sido fomentadapor uma série de artigos no Ministry, uma revistapublicada especialmente para os ministros.

A Rejeição das “Errôneas” Idéias do PassadoOs eventos que conduziram à nova interpretação

sobre a natureza humana de Cristo são bemconhecidos. Um forte proponente, LeRoy EdwinFroom, registrou as circunstâncias descendo aosmais minudentes detalhes.443

Tudo começou emjaneiro de 1955, quando apareceu uma declaraçãono periódico evangélico Nossa Esperança,declarando que a Igreja Adventista do Sétimo Dia“rebaixa a Pessoa e a obra de Cristo”, ao ensinarque Ele, em Sua humanidade, ‘participou de nossapecaminosa e decaída natureza’. A opinião deSchuyler English, editor do periódico, era queCristo não participou da natureza decaída dosoutros homens.444 De acordo com Froom, Englishfoi desencaminhado pela velha edição do Bible443 Froom, págs. 468 a 475.444 Idem, pág. 469.

Page 230: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Readings for the Home Circle.Froom imediatamente escreveu a English

observando que ele estava equivocado quanto àposição adventista sobre a natureza humana deCristo. “A nota sobre o ponto de vista minoritáriode Colcord, saída no Bible Readings –contendendo por uma inerente pecaminosa edecaída natureza de Cristo – foi anos antesexaminada por causa de seus erros.”445

No encerramento dessa correspondência, Englishficou convencido de que ele estava errado. Entãopublicou uma correção sobre o assunto na revistaNossa Esperança. Alguns meses mais tarde, elepublicou um artigo de Walter R. Martin, umteólogo batista que, após estudar os adventistas porsete anos, concluiu: “Acusar a maioria dosadventistas hoje como mantendo esses heréticospontos de vista, é injusto, incorreto edecididamente anticristão.”446

Após esses contatos iniciais com English, Froomfoi apresentado a Donald Grey Barnhouse, pastorpresbiteriano e editor do periódico Eternidade, deFiladélfia, e a Walter Martin, que estava ansiosopor informações sobre os adventistas para concluirseu livro A Verdade Sobre os Adventistas doSétimo Dia.447 De 1955 a 1956, uma série de 18445 Ibidem.446 Idem, pág. 473.447 Walter R. Martin, A Verdade Acerca dos Adventistas do Sétimo Dia (Grand Rapids: Zondervan Publishing

House, 1960).

Page 231: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

conferências teve lugar entre os evangélicos e osadventistas, com o propósito de discutir a doutrinada Encarnação.

Quando o tópico sobre a natureza humana deCristo foi apresentado, os representantesadventistas afirmaram, de acordo com o relatóriode Barnhouse, que “a maioria da denominaçãosempre mantivera [a humanidade assumida porCristo] como sendo sem pecado, santa e perfeita, adespeito do fato de que alguns de seus escritoresocasionalmente imprimiram obras com pontos devista totalmente contrários e incompatíveis com aigreja em geral.”448

De acordo com esse relatório, os representantesadventistas revelaram a Walter Martin que “elestinham entre seus membros certos indivíduosextremistas, assim como há irresponsáveis emcada campo do cristianismo fundamental.449

Obviamente os representantes adventistas deram aimpressão de que havia alguns lunáticosirresponsáveis que haviam escrito que Cristo haviatomado sobre si a decaída natureza humana.”

Ao ler o relatório de Froom acerca dessesencontros, alguém pode ficar impressionado peloseu forte desejo de ver os adventistas retratadoscomo autênticos cristãos. Os sub-títulos de seu

448 Donald Grey Barnhouse, Os Adventistas do Sétimo Dia São Cristãos? Eternity, setembro de 1956. Citadopor Grotheer, pág. 75.

449 Ibidem (Itálicos supridos).

Page 232: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

relatório são por si sós reveladores: “Walter MartinAfirma Que os ASD São Irmãos em Cristo”; “OsAdventistas São ‘Mais Decididamente’ Cristãos.”Ele chega mesmo a dizer que os evangélicos agoravêem essa mudança de atitude como resultado dos‘Pontos de Vista Anteriores ‘TotalmenteRejeitados’.”450

O Manifesto da Nova CristologiaEnquanto esses encontros estavam tendo lugar,

concordou-se que os resultados das discussõesseriam publicados simultaneamente nos periódicosoficiais de ambos os grupos. A nova interpretaçãoadventista, como matéria de fato, foi publicada emO Ministério de setembro de 1956, sob o títulogeral “Conselhos do Espírito de Profecia”. Emapoio à nova interpretação, oito páginas decitações de Ellen White foram cuidadosamenteselecionadas para definir “a natureza de Cristo naencarnação”.

Sob esse título achamos expresso em destaque ospontos essenciais do manifesto: “Ele AssumiuNossa Natureza Humana, Não Nossas PropensõesPecaminosas; Nosso Pecado, Culpa e Puniçãoforam-Lhe todos imputados, Mas Não EramRealmente Seus.”451 O referido texto faz um bomtrabalho ao resumir os diferentes aspectos da nova450 Froom, págs. 472 e 473. O mesmo conceito é encontrado no editorial de Anderson.451 Anderson, no O Ministério, setembro de 1956.

Page 233: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Cristologia. Os títulos de sete seções revelam aidéia geral: “1) O Mistério da Encarnação; 2) AMiraculosa União do Humano e o Divino; 3)Assumiu a Natureza Humana Impecável; 4) RiscosAssumidos da Natureza Humana; 5) Tentado emTodos os Pontos; 6) Suportou o Pecado Imputadoe a Culpa do Mundo; 7) A Perfeita Impecabilidadeda Natureza Humana de Cristo.”

Os subtítulos de cada seção também transmitema saliente posição dada aos conceitos fundamentaisatinentes à natureza humana de Jesus: “CristoAssumiu a Humanidade Como Deus a Criou”;“Iniciou Onde Adão Começou”; “Tomou a FormaHumana Mas Não a Sua Corrompida ePecaminosa Natureza”; “Assumiu a ImpecávelNatureza Humana de Adão”; “A PerfeitaImpecabilidade de Sua Natureza Humana”; “NãoHerdou de Adão Nenhuma Má Propensão”, eoutros semelhantes.452

As notas elucidativas de cada uma dessasafirmações foram todas extraídas dos escritos deEllen G. White. Não há uma simples referência atextos bíblicos. Esse foi um novo ponto de vistasobre o tema, pois até esse tempo a discussãohavia sido fundamentada nas Escrituras. Issocertamente abriria a porta a controvérsias porquetornar-se-ia essencialmente um problema de

452 Ibidem.

Page 234: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

definição do significado das declarações de EllenG. White. Essa foi também a opinião de MorrisVenden: “Penso que o problema semântico maisárduo que temos hoje é sobre a natureza de Cristo.E a mim me parece que ele é tão pesadamentesemântico que é quase impossível trabalhar noassunto.”453 Eis por que Roy Allan Anderson,secretário da Associação Ministerial daConferência Geral e editor-chefe de O Ministério,cria ser necessário apresentar o relato a seguir, oqual representa verdadeiramente a caracterizaçãoda nova Cristologia adventista.454

“Humano, Mas Não Carnal”Esse é o título do editorial de Anderson. Eis seu

ponto de vista sobre o tema da natureza humana deCristo:“Através de nossa história denominacionalnem sempre tivemos clara compreensão desseassunto, como seria desejável. De fato, esse pontoparticular na teologia adventista provocou severascríticas por parte de muitos eminentes eruditosbíblicos, tanto os de nossa fé como de fora. Aolongo dos anos foram feitas afirmações emsermões, e ocasionalmente em impressos, que,consideradas devidamente, têm desacreditado a

453 Morris L. Venden, na Insight, 15 de maio de 1979.454 Este artigo, escrito por Anderson no O Ministério Adventista de setembro de 1956, foi também publicado no

apêndice do Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine (Washington, D.C.: Review and HeraldPub. Assn., 1957), págs. 647 a 660, e no The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 7-A, págs. 647a 660.

Page 235: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pessoa e a obra de Jesus Cristo, nosso Senhor.Temos sido acusados de torná-Lo totalmentehumano.”455

Mencionando numerosas e bem escolhidascitações de Ellen White como evidência, Andersonafirmou “que nosso Senhor participou de nossalimitada natureza humana, mas não de nossacarnal e corrupta natureza, com todas as suaspropensões para o pecado e concupiscências. Nelenão havia pecado, quer herdado quer cultivado,como é comum a todos os descendentes naturaisde Adão.”456

Anderson também declarou que “em apenas trêsou quatro lugares em todos esses inspiradosconselhos” de Ellen White, ela usa “expressõestais como ‘natureza decaída’ e ‘naturezapecaminosa’”. Porém acrescentou:

“Essas são fortemente contrabalançadas eclaramente explicadas por muitas outrasdeclarações, que revelam o pensamento daescritora (Ellen G. White). Cristo realmenteparticipou de nossa natureza, nossa naturezahumana com todas as suas limitações físicas, masnão nossa natureza carnal com suasconcupiscentes corrupções. Quando Ele entrou nafamília humana, fê-lo após a raça haver sidotremendamente enfraquecida pela degeneração.455 Anderson, no O Ministério, setembro de 1956.456 Ibidem.

Page 236: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Por milhares de anos a humanidade foi sendofisicamente deteriorada. Comparada com Adão esua imediata posteridade, a humanidade, quandoDeus apareceu em carne humana, havia definhadoem estatura, longevidade e vitalidade... Ele nãocessou de ser Deus. Verdadeiramente, nãopodemos compreender isso, mas temos de aceitá-lo pela fé.”457

No mesmo editorial, Anderson mais adiantealude à declaração que “apareceu na obra EstudosBíblicos Para o Lar (edição de 1915), a qualdeclarava que Cristo veio ‘em carne pecaminosa’.Justamente como essa expressão escapuliu para olivro é difícil saber. Ela tem sido muitas vezescitada pelos críticos ao redor do mundo, comosendo típica da Cristologia adventista.”458

No final, Anderson convoca a classe ministerial“para estudar cuidadosamente e com oração aseção Conselho sobre essa questão. Mas façamo-lo com a mesma mente aberta com quereconhecemos ser tão importante no estudo dostemas fundamentais da Bíblia.”459

O Novo Marco Histórico AdventistaA editora-associada, Louise C. Kleuser, publicou

outro editorial sobre a temática, destinado a

457 Ibidem.458 Idem. Estudos Bíblicos Para o Lar foi revisado em 1949 e não 1946.459 Ibidem.

Page 237: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

promover a plataforma que ela chamou de “ONovo Marco Histórico Adventista”460 Lousieanunciou as mudanças, primeiramente comrespeito às nossas relações com “nossos irmãosevangélicos em Cristo”, de quem “estamostentando aprender algumas lições”461, e então comrespeito à natureza humana de Cristo, tratada porAnderson na segunda parte do editorial.

De acordo com Anderson, “nada há maisclaramente ensinado na Escritura do que, quandoDeus tornou-Se homem através da Encarnação,Ele participou da natureza do homem, isto é, Eletomou sobre Si mesmo a natureza humana. EmRomanos 1:3 lemos que Jesus Cristo nasceu ‘dasemente de Davi segundo a carne’, e em Gálatas4:4, que Ele era ‘nascido de mulher’. Ele Setornou filho da humanidade por Seu nascimentohumano e submeteu-Se às condições da existênciahumana, possuindo um corpo humano (Heb.2:14).”462

Porém, “quando lemos de Jesus Cristo tomandoa natureza do homem, é imperativo reconhecermosa diferença entre natureza humana no sentidofísico da palavra, e natureza humana no sentidoteológico do termo. Ele foi realmente um homem,mas, além disso, era Deus manifesto em carne.

460 Anderson, no O Ministério, abril de 1957.461 Ibidem.462 Ibidem.

Page 238: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Verdadeiramente, Ele tomou nossa naturezahumana, isto é, nossa forma física, mas nãopossuía nossas pecaminosas propensões.”463

Finalmente, Anderson insiste em que a diferençaentre o primeiro e o segundo Adão não era denatureza, mas uma simples diferença de situação.“Quando o encarnado Deus adentrou a históriahumana e tornou-Se um com a raça, entendemosque Ele possuía a impecaminosidade da naturezacom a qual Adão foi criado no Éden. O ambienteem que Jesus viveu, entretanto, era tragicamentediferente daquele que Adão conhecia antes daqueda.”464

Como resultado, conclui Anderson, “nossospecados Lhe foram imputados. Assim,vicariamente Ele assumiu nossa pecaminosa edecaída natureza, morrendo em nosso lugar, e foi‘contado com os transgressores’(Isa. 58:12). Opecado foi colocado sobre Ele; o pecado nuncateve parte nEle. Era exterior e não interior. Tudo oque Ele assumiu não era inerentemente Seu;tomou-o, isto é, Ele o aceitou. ‘Elevoluntariamente assumiu a natureza humana.Foi um ato Seu próprio e mediante Seuconsentimento pessoal’ (Ellen G. White, naReview and Herald, de 5 de julho de 1887; Ênfase

463 Ibidem.464 Ibidem.

Page 239: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

suprida).465

No mesmo número de O Ministério, apareceuum artigo escrito por W. E. Read, que perfilavacom Anderson e Froom. Sob o título A Encarnaçãoe o Filho do Homem, Read apresenta um sumárioda Cristologia. Para cada uma de suas declaraçõesele cita textos bíblicos apropriados, seguidos porexcertos dos escritos de Ellen White. E sugeriutambém o advérbio “vicariamente” como palavra-chave da nova Cristologia, para nos capacitar acompreender a natureza humana de Cristo.

Confiantemente ele escreveu: “Cristo foitentado em todos os pontos, como nós. Esse éum pensamento confortador, maravilhoso. Maslembremo-nos de que embora ele seja verdadeiro,também é verdade que Cristo era ‘sempecado’(Heb. 4:15). Sua natureza tentada,entretanto, não contaminou o Filho de Deus. Elesuportou vicariamente nossas fraquezas, nossastentações, do mesmo modo que portou nossasiniqüidades.”466

Esses artigos pretendiam preparar as mentes parareceber “o novo marco histórico do adventismo”,como desenvolvido no livro Os Adventistas doSétimo Dia Respondem a Questões SobreDoutrina. Pouco antes de sua impressão, Andersonanunciou-o no O Ministério como o mais465 Ibidem.466 W. E. Read, no O Ministério, abril de 1957.

Page 240: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

maravilhoso livro jamais publicado pela igreja.467

Uma vez que ele trata da natureza humana deCristo em detalhes, fazia-se necessário examiná-lomais detidamente.

Questões Sobre DoutrinaEssa obra foi resultado das reuniões mantidas

com os representantes evangélicos Donald GreyBarnhouse e Walter R. Martin. Martin estava paraimprimir seu livro A Verdade Sobre o Adventismodo Sétimo Dia, publicado em 1960.468

Questões Sobre Doutrina não lida apenas com adoutrina da Encarnação. Ele é uma resposta àsnumerosas questões doutrinárias feitas porevangélicos sobre os temas da “salvação pelagraça versus salvação pelas obras, a distinção entrea lei moral e a lei cerimonial, o antítipo do bodeexpiatório, a identidade de Miguel, e assim pordiante, através de um amplo elenco de crenças epráticas fundamentais dos adventistas, cobrindodoutrina e profecia”.469

Martin e Barnhouse fizeram específicas objeçõesàs posições sustentadas pelos pioneiros adventistasem relação à divindade de Cristo e Sua naturezahumana, as quais eles sinceramente consideravamerrôneas e heréticas. Não foi de todo surpresa que467 Anderson, no O Ministério, julho de 1957.468 Walter R. Martin, A Verdade Sobre o Adventismo do Sétimo Dia (Grand Rapids; Zondervan Pub. House,

1960).469 Froom, pág. 481.

Page 241: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

eles perguntassem se a posição oficial haviamudado nesses pontos.470 Questões específicascom respeito à encarnação de Cristo foramcolocadas: “O que os adventistas entendem pelouso do título ‘Filho do homem’, por parte deCristo? E qual, vocês acreditam, ter sido opropósito básico da Encarnação?”471

Em resposta, quase todos os textos bíblicosreferentes à Cristologia foram citados. Como notasexplicativas, eles geralmente as redigiram combase nas citações de Ellen White. Os oficiaisadventistas fizeram o máximo para mostrar que“os escritos de Ellen G. White estão inteiramenteem harmonia com as Escrituras acerca disso”.472

“Não se negou que Cristo ‘era o segundo Adão,vindo em ‘semelhança’ de carne pecaminosa(Rom. 8:3)”473, ou que Ellen White tenha usadoexpressões como“natureza humana”, “nossa carnepecaminosa”, “nossa decaída natureza”, “anatureza do homem em sua caída condição”.474

Ninguém argüiu se “Jesus ficava doente ou sehavia experimentado as debilidades das quaisnossa decaída natureza é herdeira. Mas Ele sofreutudo isso. Não poderia ocorrer que Ele tambémtenha suportado isso vicariamente, justamente

470 Questions on Doctrine, pág. 29.471 Idem, pág. 50.472 Idem, pág. 57.473 Idem, pág. 52.474 Idem, pág. 60.

Page 242: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

como suportou os pecados de todo o mundo?Essas fraquezas, debilidades, enfermidades efalhas são coisas que nós, em nossa decaída epecaminosa natureza, temos de arrostar. Para nóselas são naturais, inerentes, porém, quando Ele assuportou, tomou-as não como algo inato Seu, mascomo nosso substituto. Cristo as sofreu em Suaperfeita e impecável natureza. Mais uma vezafirmamos que Cristo tolerou tudo vicariamente,assim como vicariamente sofreu as iniqüidades detodos nós.”475

Em suma, “o que quer que Jesus tenha assumido,não foi Seu intrínseca ou congenitamente... Tudo oque Ele recebeu, tudo o que Ele suportou, quersejam cargas e penalidades de nossas iniqüidadesou males e fragilidades de nossa natureza humana,tudo foi assumido ou suportado vicariamente.”476

Essa expressão é realmente a fórmula mágicacontida no “novo marco histórico do adventismo”.De acordo com os autores do Questões SobreDoutrina, “é nesse sentido que deveriam sercompreendidos os escritos Ellen G. White quandoela se refere ocasionalmente à natureza humanapecaminosa, decaída e deteriorada”.477

Os autores do livro publicaram num apêndice,478

cerca de 66 citações de Ellen White divididas em475 Idem, págs. 59 e 60.476 Idem, pág. 61 e 62.

477Idem, pág. 60 (itálicos supridos).478 Idem, págs. 647 a 660.

Page 243: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

seções com subtítulos tais como: “Assumiu aImpecável Natureza Humana”479, ou “A PerfeitaImpecabilidade da Natureza Humana de Cristo”.Tais frases, naturalmente, jamais foram escritaspor Ellen White.480

Está claro que “o novo marco histórico doadventismo” difere significativamente dotradicional ensino sobre a natureza humana deCristo em quatro pontos. Ele advoga que:

1) Cristo tomou a natureza espiritual de Adãoantes da queda; o que quer dizer, uma naturezahumana impecável.

2) Cristo herdou apenas as conseqüências físicasda pecaminosa natureza humana; ou, suahereditariedade genética foi debilitada por4.000 anos de pecado.

3) A diferença entre a tentação de Cristo e a deAdão remanesce unicamente na diferença doambiente e das circunstâncias, mas não denatureza.

4) Cristo levou vicariamente os pecados domundo, não em realidade, mas apenas comosubstituto do homem pecador, sem participarde sua natureza pecaminosa.

Apresentado com o aparente selo de aprovação

479 Idem, págs. 650 e 658.480 Ralph Larson, em seu livro The Word Was Made Flesh, oferece mil dólares a quem encontrar uma

citação de Ellen White declarando que Cristo veio à Terra com a natureza de Adão antes da queda(pág. 274).

Page 244: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

da Conferência Geral,481 o livro Os Adventistas doSétimo Dia Respondem a Questões SobreDoutrina foi amplamente divulgado emseminários, universidades e livrarias públicas.482

Milhares de exemplares foram enviados aosmembros do ministério, bem como a professoresnão-adventistas de teologia.483 As quase 140.000cópias tiveram influência evidente tanto dentrocomo fora da Igreja Adventista.484

A publicação dessa obra produziu um impactocujas reações não demoraram a ser sentidas. Malela havia saído do prelo e já se tornara objeto deviva controvérsia, que prosseguiu com intensidadeatravés dos anos até nossos dias. Trataremos dissonos próximos capítulos deste estudo.Primeiramente, todavia, é imperativo mencionaraqui a importantíssima carta de Ellen White, queserviu como um dos principais esteios da novateologia.

A Carta de Ellen White a William L. H. BakerEm 1895, enquanto ainda na Austrália, Ellen

White escreveu uma longa carta de encorajamentoa William Baker, que estava incumbido da obra naAustrália, Tasmânia e Nova Zelândia. Ele era um

481 Froom esforçou-se por mostrar que esse não era um assunto de decisão “oficial”. Movement of Destiny,pág. 492.

482 Idem, pág. 492.483 Idem, págs. 488 a 492.484 Idem, pág. 489.

Page 245: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

homem que a Sra. White muito apreciava e dequem deu positivas referências.

Antes de deixar os Estados Unidos em viagempara a Austrália, Baker havia trabalhado na PacificPress, Califórnia, de 1882 a 1887. Durante quatroanos ele foi assistente de Waggoner. Em 1914, foiescolhido para ser professor de Bíblia no AvondaleCollege, Austrália. Ao retornar aos Estados Unidosem 1922, encerrou sua carreira como professor ecapelão. Baker morreu em 1933.485

A carta endereçada a Baker é composta de 19páginas manuscritas, das quais duas sãointeiramente dedicadas a erros que devem serevitados na apresentação pública da naturezahumana de Cristo. Essa carta, como muitas outrasmissivas particulares, nunca foi publicada nosTestemunhos Para a Igreja, a exemplo do queocorreu com várias delas. Preservada nos arquivosdo Patrimônio de Ellen G. White, ela não foiconhecida dos pesquisadores até 1955. Após suadescoberta, os advogados da nova interpretaçãoentenderam que seu teor parecia condenar aposição tradicional e apoiar o novo ponto de vistaconcernente à natureza humana de Cristo.

Cinco parágrafos dedicados a esse tema forampublicados em 1956 no The Seventh-day AdventistBible Commentary, como nota explanatória do

485 Ver a Review and Herald do dia 30 de maio de 1933.

Page 246: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

primeiro capítulo do evangelho de João.486 Em

1957, uma seleção de citações foi também feita nolivro Questões Sobre Doutrina.487 Tendo-se emvista a importância dada ao conteúdo dessacarta488, é preciso que se cite aqui os maissignificativos e controversos parágrafos:

“Sejam cuidadosos, extremamente cuidadososquando tratarem da natureza humana de Cristo.Não O ponham diante do povo como um homemcom propensões para o pecado. Ele é o segundoAdão. O primeiro Adão foi criado como um serpuro e impecável, sem uma mancha de pecadosobre si; ele era a imagem de Deus. Ele poderiacair e caiu por meio da transgressão. Por causa dopecado, sua posteridade nasceu com inerentespropensões à desobediência. Mas Jesus Cristo foio unigênito Filho de Deus. Ele tomou sobre Si anatureza humana, e foi tentado em todos os pontosem que a natureza humana é assaltada. Ele poderiahaver pecado; Ele poderia haver caído, mas nempor um só momento houve nEle qualquer mápropensão.”489

“Nunca, de modo algum, deixem a mais leveimpressão sobre mentes humanas de que havia emCristo uma mancha, uma inclinação para o mal, ouque Ele de algum modo tenha cedido à corrupção.486 Ver o Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 5, págs. 1128 e 1129.487 Ver Questions on DoctrineI, págs. 621, 651 e 652.488 Ellen G. White, carta 8 de 1895.489 Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 5, pág. 1128.

Page 247: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Jesus foi tentado em todos os pontos como ohomem é tentado, todavia, Ele é chamado ‘oSanto’. Que cada ser humano tenha cuidado emnão fazer Cristo totalmente humano, tal como umde nós; pois isso não pode ser... Não deveríamoster nenhuma dúvida com respeito à perfeitaimpecabilidade da natureza humana de Cristo.”490

Essas declarações desempenharam – e aindadesempenham – um papel decisivo em favor danova interpretação. O testemunho de Robert J.Spangler, que em 1967 tornou-se o editor-chefe deO Ministério, é especialmente significativo: “À luzdessa declaração, eu pessoalmente devo admitirque qualquer tipo de natureza pecaminosa queCristo houvesse tido (se realmente a teve), nãotinha qualquer propensão, nem natural inclinação,tendência ou pendor para o mal.”491

Os defensores da posição tradicional citam adeclaração de Baker sem concluir que Jesus estavalivre de todas as “tendências hereditárias”.Obviamente, ambos os lados não podem estarcertos. Voltaremos mais tarde à carta de Baker.

Desde a publicação do Questões Sobre Doutrina,a Igreja Adventista tem experimentado uma sériacontrovérsia teológica. Alguns a consideram umacrise fundamental, enquanto outros acham que elanão deve ser nada mais do que um simples490 Idem, pág. 1128 e 1129; Questions on Doctrine, pág. 652 e 651.491 Robert J. Spangler, em O Ministério, abril de 1978, pág. 23.

Page 248: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

diferença de opinião. O que quer que ela possa ser,uma avaliação das teses predominantes éimpositiva. Eis o que procuraremos fazer na ParteV, mas é importante para nós primeiramenteanalisar detalhadamente as suposições feitas porambos os lados.

Page 249: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Capítulo 11

AS PRIMEIRAS REAÇÕES AO LIVRO “QUESTÕES SOBRE DOUTRINA”

Como era de se esperar, as novas interpretaçõesdas declarações de Ellen White sobre a questão danatureza humana de Cristo provocaram enérgicasreações. Os mais francos e diretos denunciavam oque viam como erros de interpretação, enquantooutros calmamente confirmavam o ensino daigreja desde sua origem. Essas reações ao livroQuestões Sobre Doutrina merecem nossa maisdedicada atenção.

A Cristologia Tradicional Autenticada PeloThe Seventh-day Adventist Bible Commentary

Entre 1953 e 1957, enquanto encontros não-oficiais entre três ou quatro adventistas e dois outrês evangélicos estavam tendo lugar, cerca de 40teólogos sob a liderança de Francis D. Nicholestavam trabalhando no The Seventh-dayAdventist Bible Commentary (Comentário BíblicoAdventista do Sétimo Dia). Desconhecemos aposição individual que os vários comentaristastinham sobre a natureza humana de Cristo. Mas

Page 250: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

sabemos que as duas epístolas neotestamentáriasque tratam mais diretamente da Cristologia, foramdesignadas a teólogos que eram ardentesdefensores da posição tradicional: M. L.Andreasen (Hebreus) e A. G. Maxwell (Romanos).

Embora os sete volumes do comentário tenhamsido publicados em 1957, no mesmo ano doQuestões Sobre Doutrina, nenhum traço da novateologia foi neles encontrado. Contrariamente,muitas das declarações suplementares encontradasno final de cada volume tendem a confirmar aposição histórica. Eis a seguir muitos exemplostípicos:

Gênesis 3:15: “O Rei da glória dispôs-Se ahumilhar a Si próprio até a decaída humanidade!Ele poria Seus pés nas pegadas de Adão. Eletomaria a natureza decaída do homem econtenderia com o forte adversário que triunfarasobre Adão.”492

Isaías 53:2 e 3: “Pense sobre a humilhação deCristo. Ele tomou sobre Si a decaída e sofredoranatureza humana, degradada e corrompida pelopecado... Ele suportou todas as tentações com asquais o homem é assediado... ‘O Verbo Se fezcarne e habitou entre nós’, pois fazendo assim Elepoderia associar-Se com os pecaminosos e

492 The Seventh-day Adventist Bible Commentary , Comentários de Ellen G. White, vol. 1, pág. 1085 (Reviewand Herald, 24 de fevereiro de 1874).

Page 251: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

sofridos filhos e filhas de Adão.”493

Mateus 4:1-4: “O Redentor, em quem estavamunidos o humano e o divino, ficou em lugar deAdão e suportou um terrível jejum de quase seissemanas. A extensão desse jejum é a mais forteevidência da pecaminosidade e do poder do apetitedepravado sobre a família humana.”494

Mateus 4:1-11: “Aqui Cristo venceu em favordo pecador, quatro mil anos após Adão havervoltado as costas ao resplendor de seu lar... Cristosuportou os pecados e as debilidades da raça comoexistiam quando Ele veio à Terra para socorrer ohomem. Em prol da raça, com as fraquezas dohomem decaído sobre Si, Ele veio para resistir àstentações de Satanás em todos os pontos nos quaiso homem era assaltado... E a fim de erguer ohomem caído, Cristo precisava alcançá-lo ondeesse estava. Ele tomou a natureza humana,carregou suas debilidades e arrostou a degeneraçãoda raça. Ele, que não conhecera pecado, tornou-Sepecado por nós.”495

Lucas 22:44: “Não foi uma humanidade fictíciaque Cristo tomou sobre Si. Ele assumiu a naturezahumana e nela viveu... Tomou nossasenfermidades. Ele não somente Se tornou carne,mas foi formado em semelhança da carne

493 Idem, vol. 4, pág. 1147 (O Instrutor da Juventude, 20 de dezembro de 1900).494 Idem, vol. 5, pág. 1079 (Review and Herald, 4 de agosto de 1974).495 Idem, pág. 1081 (Review and Herald, 28 de julho de 1874).

Page 252: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecaminosa.”496

João 1:1-3 e 14: Acerca desses textos, sãocitados cinco parágrafos da carta de Ellen White aBaker. Retornaremos a essa carta mais tardeporque ela é o principal documento sobre o qual osdefensores da nova Cristologia se apóiam. Alémdessas, a seguinte declaração é citada: “Ele[Cristo] tomou sobre Si mesmo a naturezahumana, e foi tentado em todos os pontos como anatureza humana é tentada. Ele poderia ter pecado;Ele poderia ter caído, mas nem por um momentohavia nEle propensão para o mal... É uminexplicável mistério a mortais que Cristo pudesseser tentado em todos os pontos, como nós osomos, e todavia ser sem pecado... Ele humilhou-Se a Si mesmo quando esteve em forma humana,para que pudesse compreender a força de todas astentações com as quais o homem é assediado.”497

Romanos 5:12-19: “Em carne humana Ele foiao deserto para ser tentado pelo inimigo... Eleconhece as fraquezas e as enfermidades da carne.Foi tentado em todos os pontos como nós.”498

Romanos 8:1-3: “Cristo enfrentou, venceu econdenou o pecado na esfera esse havia exercidopreviamente seu domínio e senhorio. A carne, acena dos anteriores triunfos do pecado, agora

496 Idem, pág. 1124 (Ellen G. White, carta 106 de 1896).497 Idem, pág. 1128 (Ellen G. White, carta 8 de 1895).498 Idem, vol. 6, pág. 1074 (Ellen G. White, manuscrito 76 de 1903).

Page 253: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

tornou-se o cenário de sua derrota e expulsão.”499

Filipenses 2:5-8: “A humanidade do Filho deDeus é tudo para nós. Ela é a cadeia dourada queliga nossas almas a Cristo e, através de Cristo, aDeus.”500

Hebreus 2:14-16: “Em Cristo estavam unidos odivino e o humano – o Criador e a criatura. Anatureza de Deus, cuja lei havia sido transgredida,e a natureza de Adão, o transgressor, encontraram-se em Jesus – o Filho de Deus e o Filho dohomem.”501

Hebreus 4:15: “A vitória e a obediência deCristo é a de um ser humano real. Em nossasconclusões, cometemos muitos erros por causa denossos equivocados pontos de vista sobre anatureza humana de nosso Senhor. Quandoconferimos à Sua humana natureza um poder quenão é possível ao homem ter em seu conflito comSatanás, destruímos a inteireza de Suahumanidade.”502

“Satanás exibiu seu conhecimento dos pontosfracos do coração humano, e aplicou seu máximopoder para obter vantagem da fraqueza dahumanidade que Cristo havia assumido, paravencer suas tentações em prol do homem.”503

499 Idem, pág. 562 (o comentário é de A. G. Maxwell e não de Ellen G. White).500 Idem, vol. 7, pág. 904 (Ellen G. White, manuscrito 67 de 1898).501 Idem, pág. 926 (Ellen G. White, manuscrito 141 de 1901).502 Idem, pág. 929 (Ellen G. White, manuscrito 1 de 1892).503 Idem, pág. 930 (Review and Herald, 1 de abril de 1875).

Page 254: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

“Não devemos colocar a obediência de Cristoem si mesma, como algo para o qual Ele estavaespecialmente dotado por Sua particular naturezadivina, porque Ele permaneceu diante de Deuscomo representante do homem e foi tentado comosubstituto e penhor do homem. Se Cristo possuísseum poder especial o qual não é privilégio dohomem ter, Satanás teria extraído o máximoproveito dessa questão.”504

A respeito da expressão “sem pecado”,Andreasen fez o seguinte comentário: “Nisso jaz oinescrutável mistério da vida perfeita de nossoSalvador. Pela primeira vez a natureza humana foiconduzida à vitória sobre sua natural tendênciapara pecar, e por causa da vitória de Cristo sobre opecado, nós também podemos triunfar sobreele.”505

Esses poucos exemplos, entre outros,506 têm omérito de confirmar o ensino tradicional numaobra que é geralmente observada como aexpressão oficial da doutrina da igreja.

O Patrimônio de Ellen G. White Publica oLivro - Mensagens Escolhidas

Em 1958, o Patrimônio de Ellen G. Whitepublicou dois livros conhecidos como Mensagens504 Idem, pág. 930 (Ellen G. White, manuscrito 1 de 1892).505 Idem, pág. 426.506 Bruno W. Steinweg referiu as mesmas citações em seu documento de 1986, intitulado A Doutrina da

Natureza Humana de Cristo Entre os Adventistas, desde 1950, págs. 5 a 7.

Page 255: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Escolhidas. Essas obras contêm algumas das maisclaras e significativas passagens concernentes ànatureza humana assumida por Cristo. Artigossobre a Encarnação, a natureza de Cristo e astentações de Jesus ocupam lugar proeminente noprimeiro volume.507 Há uma declaração que nãopoderia expressar a noção mais claramente: “Aotomar sobre Si a natureza do homem em suadecaída condição, Cristo não participou nomínimo que fosse de seu pecado.”508

E novamente:“Cristo não fez crer que tomou a natureza humana;Ele verdadeiramente dela Se revestiu. Cristo, emrealidade, possui natureza humana... Ele era ofilho de Maria, a semente de Davi de acordo com adescendência humana.”509

No segundo volume encontramos o textocompleto do discurso de Ellen White, por ocasiãodo encerramento da sessão da Conferência Geralem 1901, onde ela condenou o movimento dacarne santa,510

cuja posição teológica, de acordocom Haskell, era que “Cristo tomou a naturezade Adão antes de sua queda”.511

Ellen Whitedescreve a ruidosa confusão e sensualidadeassociados ao movimento, e adverte sobre “teorias

507 E. G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, págs. 285-339. Ver nosso capítulo 2, O Testemunho dosPrimeiros Adventistas.

508 Idem, pág. 256.509 Idem, pág. 247.510 Idem, volume 2, págs. 31-39. Ver nosso capítulo 7 O Movimento da Carne Santa.511 S. N. Haskell, carta a Ellen G. White, setembro de 1900. Citado por William H. Grotheer, An Interpretative

History of the Doctrine of the Incarnation, pág. 50.

Page 256: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

e métodos errôneos”, e “infelizes invenções deteorias humanas, preparadas pelo pai damentira”.512 A doutrina e as práticas dessemovimento foram consideradas tão perigosas parao futuro da igreja, que incorreram em condenaçãopelos delegados da sessão da Conferência Geral de1901, e seus promotores desligados do ministériopastoral.

M. L. Andreasen e o Seu “Cartas às Igrejas”A primeira e mais vigorosa reação contra o livro

Questions on Doctrine partiu de M. L. Andreasen.Eminente teólogo e professor em váriosestabelecimentos de ensino superior nos EstadosUnidos, Andreasen encerrou sua carreiramagisterial no Seminário Teológico deWashington, D. C. (1938-1949). Autor denumerosos artigos e muitos livros, ele desfrutavade indisputada autoridade.513

Já em 1948, Andreasen claramente afirmava suaconvicção sobre o assunto da natureza humana deCristo em O Livro de Hebreus.514 O segundocapítulo é inteiramente dedicado à humanidade deJesus.515

Seu comentário sobre essa mesmaepístola, no Seventh-day Adventist Bible512 Ellen G. White, carta 132 de 1900 (Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 37).513 Ver Seventh-day Adventist Encyclopaedia, pág. 43. Entre os livros de M. L. Andreasen , mencionaríamos

em particular O Ritual do Santuário, O Livro de Hebreus; A Fé Pela Qual Eu Vivo; O Que Pode o HomemCrer; Santos e Pecadores.

514 Milian L. Andreasen, O Livro de Hebreus (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1948).515 Idem, págs. 79-109.

Page 257: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Commentary,516 segue a Cristologia adventistatradicional. Sua enérgica reação pode,conseqüentemente, ser entendida quando oQuestions on Doctrine promoveu umainterpretação da Cristologia de Ellen White, quediferia radicalmente do ensino tradicional daigreja.

Alguns alegaram que Andreasen ficou ofendidopor não ter sido convidado a participar dasdiscussões que aconteceram com Walter Martin eDonald G. Barnhouse. Andreasen gozava, então,de sua aposentadoria. Talvez essa tenha sido umadas razões de não ter sido ele convidado. Porém, arazão fundamental foi, provavelmente, sua bemconhecida posição com respeito à Pessoa e obra deJesus Cristo.

Andreasen publicou sua sistemática e veementecrítica em Cartas às Igrejas517, que teve amplacirculação no meio adventista. Um grupo dedissidentes na França aproveitou-se daoportunidade para traduzi-los e acusar a igreja deapostasia, de modo similar ao do movimento deBrinsmead.518

Ele iniciou posicionando a questão fundamental:Estava Cristo ‘isento das paixões herdadas econtaminações que corrompem os descendentes516 The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 7, págs. 387-494.517 M. L. Andreasen, Cartas às Igrejas (Conway, Mo.: Gems of Truth, n.d.).518 _______, Lettres aux Eglises (Cartas às Igrejas) (Roiffieux, Ardeche, France: Association Culturelle Laique

Adventiste, n.d.).

Page 258: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

naturais de Adão”?519 Ele mesmo replicou citando

Hebreus 2:10 e 2:17: “É correto e justo para Deustornar Cristo ‘perfeito através do sofrimento’ e“por essa razão é necessário para Cristo, em todasas coisas, tornar-Se semelhante a Seus irmãos”520

“É a participação de Cristo nas aflições efraquezas, que O capacita a ser o compadecidoSalvador que Ele é.”521

“Se Cristo estava isento das paixões dahumanidade, Ele era diferente dos outros homens,nenhum dos quais tivera essa condição. Tal ensinoé trágico e completamente oposto ao que osadventistas do sétimo dia têm ensinado e crido.Cristo veio como homem entre homens, nãosolicitando favores e nem recebendo qualquerconsideração especial. De acordo com os termosdo concerto, Ele não deveria receber qualquerajuda de Deus que não estivesse disponível aosoutros homens. Essa seria uma condiçãonecessária se Sua demonstração devesse ser dealgum valor e Sua obra aceitável. O menor desviodessa lei invalidaria a experiência, nulificando ocontrato, esvaziando o concerto e efetivamentedestruindo toda a esperança do homem.”522

Com respeito a Romanos 8:3, Andreasendeclarou que Deus não enviou Seu próprio Filho,519 _______, Letters to the Churches (Cartas às Igrejas), pág. 4.520 Idem, págs. 1-3.521 Idem, págs. 3 e 4.522 Ibidem.

Page 259: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

em semelhança de carne pecaminosa, paradesculpar o pecado na carne, mas para condená-lo.523 Em apoio a suas afirmações, ele citou váriaspassagens de Ellen White afirmandoinequivocamente que “o inimigo foi vencido porCristo em Sua natureza humana”, “apoiando-Seem Deus para recebimento de poder.”524 “Se Elenão fosse um participante de nossa natureza,não poderia ter sido tentado como o homem é.Se não Lhe fosse possível ceder às tentações, Elenão poderia ser nosso ajudador.”525

Algumas vezes Andreasen hiperbolizava o caso.Com referência ao que ele via como perigosaheresia, concluiu: “Um Salvador que nunca foitentado, nunca combateu as paixões, que nuncaofereceu ‘com grande clamor e lágrimas, orações esúplicas ao que O podia livrar da morte’, queembora sendo ‘Filho, aprendeu a obediência pormeio daquilo que sofreu’, mas estava ‘isento’ dascoisas que um verdadeiro salvador precisaexperimentar, tal salvador é o que essa novateologia nos oferece. Essa não é a espécie deSalvador que eu necessito, nem o mundo. Alguémque nunca lutou com paixões não pode ternenhuma compreensão de seu poder, nem jamaisexperimentou o gozo de vencê-las. Se Deus523 Idem, pág. 4.524 Idem, pág. 5. Ellen G. White, em O Instrutor da Juventude, 25 de abril de 1901.525 Andreasen, Letters to the Churches (Cartas às Igrejas), pág. 5. White, Review and Herald, 18 de fevereiro

de 1890.

Page 260: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

concedeu favores especiais e isenções a Cristo, nopróprio ato Ele O desqualificou para Sua obra.Não pode haver heresia mais danosa do que essaaqui discutida. Ela anula o Salvador que euconheço e O substitui por uma personalidadefraca, não considerada por Deus como capaz deresistir e conquistar as paixões que Ele pede aoshomens que vençam.”526

“De fato, está patente a todos que ninguém podeafirmar crer nos Testemunhos e ainda acreditar nanova teologia de que Cristo estava isento daspaixões humanas. Ou é uma coisa ou outra. Adenominação é agora convocada a decidir. Aceitaro ensino do Questions on Doctrine significaabandonar a fé no Dom que Deus deu a Seupovo.”527

Andreasen explicou a seus leitores como essanova doutrina penetrou na igreja. Ele se espantavacom o que “é certamente anômalo quando umministro de outra denominação tem suficienteinfluência com nossos líderes para fazê-los corrigirnossa teologia, realizando uma mudança no ensinoda denominação sobre a mais vital doutrina daigreja.”528

Ele não podia entender porque nunca forapublicado um relatório sobre as reuniões. “Não

526 Andreasen, Letters to the Churches (Cartas às Igrejas), págs. 5 e 6.527 Ibidem.528 Idem, pág. 8.

Page 261: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

sabemos e não estamos supondo saber, justamentequem escreveu Questions on Doctrine... Mesmo naprópria sessão da Conferência Geral do último ano(1958), o assunto não foi discutido.”529 Alémdisso, ele especifica: “Essa é uma nova doutrinaque jamais apareceu em qualquer Declaração deCrença da denominação Adventista do Sétimo Dia,e se acha em conflito direto com nossasprecedentes afirmações doutrinárias. Ela não foi‘adotada pela Conferência Geral em sua sessãoquadrienal, quando autorizados delegados de todoo mundo estavam presentes’, como Questions onDoctrine diz ter sido feito para ela ser oficializada.Ver página 9. Ela, portanto, não é uma doutrinaaprovada ou aceita.”530

Numa de suas últimas cartas, Andreasenretornou ao problema das paixões hereditárias. Elecontinuou a refutar as declarações encontradas napág. 383 do Questions on Doctrine, de que Cristo“estava isento de paixões herdadas econtaminações que corrompem os descendentesnaturais de Adão”.531 Em primeiro lugar, escreveuele, “essa não é uma citação do Espírito deProfecia”.532

Também paixão e contaminação “sãodois conceitos inteiramente diferentes”, e nãodeveriam ser postos juntos como estão no529 Idem, pág. 13.530 Idem, pág. 53.531 Ibidem.532 Ibidem.

Page 262: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Questions on Doctrine. “Paixão pode geralmenteser equiparada à tentação, e tal não é pecado. Umpensamento impuro pode ocorrer espontaneamentemesmo numa ocasião sagrada, mas ele não polui;não é pecado a menos que seja tolerado e nutrido.Um desejo profano pode repentinamente lampejarna mente sob instigação de Satanás, mas ele não épecado se não for acariciado... A lei dahereditariedade aplica-se às paixões e não àscontaminações. Se paixão é hereditária, entãoCristo teria Se poluído quando veio a este mundo,e não poderia ser chamado de “Ser santo”. Lucas1:35. Mesmo os filhos de um pai descrente sãochamados santos – uma declaração que deveriaservir de conforto às esposas de tais homens. ICoríntios 7:14. Como adventistas, portanto, nãocremos no pecado original.”533

Finalmente, nas duas passagens citadas nosTestemunhos,534

“como provando que Cristo estavaisento de paixões herdadas”, “ambas essasdeclarações mencionam paixões, mas nenhumacontaminações. A palavra isento não éencontrada.”535 Então Andreasen levantou aquestão: “A declaração da Sra. White de queCristo não teve ou possuiu paixões significariaque Ele estava isento delas? Não, pois não ter

533 Idem, pág. 56.534 E. G. White, Testimonies for the Church, vol. 2, págs. 202, 509.535 Andreasen, Letters to the Churches, págs. 53 e 54.

Page 263: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

paixões não é equivalente a estar isento delas.Esses são dois conceitos inteiramente diferentes...A Sra. White não diz que Cristo estava isento daspaixões. Diz sim que Ele não tinha paixões, nãopossuía paixões e não de que Ele era imune aelas... Fico ainda intrigado sobre como podealguém fazer a Sra. White dizer que Jesus eraIsento, quando ela de fato declara justamente ocontrário e não faz uso da palavra isento.”536

Depois de citar copiosamente Ellen White,Andreasen pergunta: “Em vista dessas e muitasoutras declarações, como pode alguém dizer queEle era isento? Longe de estar isento ourelutantemente submeter-Se a essas condições,Ele as aceitou. Por duas vezes isso é dito nascitações aqui feitas. Ele aceitou os resultados daoperação da grande lei da hereditariedade, e com‘tal hereditariedade Ele veio partilhar de nossastristezas e tentações’.”537

“A escolha do adventista devoto está, portanto,entre o Questions on Doctrine e O Desejado deTodas as Nações, entre a falsidade e a verdade... Agrande lei da hereditariedade foi decretada porDeus para tornar a salvação possível, e é uma dasleis elementares que nunca foi abrogada. Anule-seessa lei e não teremos um Salvador que possaservir de ajuda ou exemplo para nós.536 Idem, pág. 54.537 Idem, pág. 55.

Page 264: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Graciosamente Jesus aceitou essa lei e assimtornou possível a salvação. Ensinar que Cristoestava isento dessa lei nega o cristianismo e tornaa Encarnação uma brincadeira piedosa. Que Deuspossa livrar os adventistas do sétimo dia de taisensinos e ensinadores.”538

O protesto de Andreasen não ficou sem efeito.Um coro de vozes ergueu-se quase que em todosos lugares contra o livro Questions on Doctrine.Não apenas por causa de seu ensino sobre anatureza humana de Cristo, como também por suafalta de concernência com outros pontosdoutrinários. É bom mencionar que váriaspropostas pedindo uma revisão do livro foramenviadas à mesa da Conferência Geral.

Propostas Para Revisão do Livro Questionson Doctrine

Numa carta endereçada à mesa da ConferênciaGeral, redigida com o objetivo de apoiar a reaçãode Andreasen, A. L. Hudson acusou os autores doQuestions on Doctrine de falta de honestidadeintelectual, por causa da maneira com que o editordo Ministry apresentou as citações de Ellen Whiteno número de setembro de 1956, reproduzidas noapêndice B do Questions on Doctrine.

Por um lado, observou Hudson, muitas

538 Idem, págs. 55 e 56.

Page 265: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

passagens importantes tratando da decaídanatureza humana assumida por Jesus não foramcitadas;539

por outro, muitas não foram citadas em

sua integralidade. Por exemplo, Hudson mencionauma citação extraída da Review and Herald de 28de julho de 1874, na qual a parte essencial haviasido omitida, uma porção especificando que“Cristo tomou sobre Si os pecados e as debilidadesda raça assim como existiam quando Ele veio àTerra para ajudar o homem. Em favor da raça, coma fraqueza do homem decaído sobre Si, Eleenfrentou as tentações de Satanás em todos ospontos nos quais o homem é assaltado.”540

Hudson, conseqüentemente, propôs que osdelegados à sessão da Conferência Geral de 1958autorizassem a revisão do Questions onDoctrine.541

No entanto, como Andreasenobservou, o assunto sequer foi tocado.

Ao mesmo tempo, um grupo de membros daigreja de Loma Linda, Califórnia, formou umacomissão encarregada de revisar esse livro. Seurelatório apresentado à mesa da ConferênciaGeral, alega que o livro deturpa “certos dogmasfundamentais e compromete outros princípios denossa fé”.542 “É evidente que determinadas

539 A. L. Hudson refere-se ao manuscrito 21 de 1895, de autoria de E. G. White; à Carta 121 de 1897, e aomanuscrito 1 de 1892.

540 E. G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, págs. 267 e 268.541 Essa carta de A . L. Hudson é mencionada por Steinweg, págs. 7 e 8.542 Detalhes apontados por William H. Grotheer.

Page 266: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

declarações e ensinos do livro nunca serão aceitospor um considerável número de membros de nossaigreja. De fato, estamos convencidos de que, desdeo tempo da controvérsia panteística de J. H.Kellogg, mais de meio século atrás, não surgiu talinquietude, dissensão e desunião entre nosso povocomo aquelas oriundas da publicação desselivro.”543

A despeito das citações de Ellen Whitepublicadas pelos Depositários White, e apesar dasnumerosas críticas contra o ensino contido no OMinistério e Question on Doctrine, os postuladosda nova teologia tiveram aceitação crescente daparte de alguns teólogos, professores e pastores deigreja.

Uma Votação EsclarecedoraEm 1962, Robert Lee Hancock empreendeu um

estudo sobre o ensino da igreja concernente ànatureza humana de Cristo. Em verdade, opropósito de seu trabalho era determinar qualposição era mais popular, “se aquela em que Cristotomou a natureza de Adão como originalmentecriada, ou se Ele tinha a carne ‘pecaminosa’ comas inerentes fraquezas que cada filho herdanaturalmente de seus pais.”544

543 Idem, pág. 81.544 Robert Lee Hancock, A Humanidade de Cristo (monografia apresentada ao Departamento de História da

Igreja, Andrews University, julho de 1962). Ver Grotheer, págs. 81 e 82.

Page 267: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Eis a seguir as conclusões a que chegouHancock:

Primeira, “desde seus primeiros dias, a IgrejaAdventista do Sétimo Dia tem ensinado quequando Deus participou da humanidade, Eletomou não a perfeita e imaculada natureza dohomem antes da queda, mas a caída, pecaminosa,transgressora e degenerada natureza do homemcomo ela se encontrava quando Ele veio à Terrapara ajudar o homem”.

Segunda, “que durante os quinze anos quemediaram entre 1940 e 1955, as palavras‘pecaminosa’ e ‘decaída’, com referência ànatureza humana de Cristo, foram muito oucompletamente eliminadas dos materiaisdenominacionais publicados”.

Terceira, “que desde 1952, frases tais como‘natureza humana impecável‘, ‘natureza de Adãoantes da queda’, e ‘natureza humana imaculada’têm tomado o lugar da terminologia inicial”.545

O resultado final desse estudo levou Hancock aconcluir: “As descobertas desse estudo garantem aconclusão de que o que os adventistas do sétimodia ensinam com respeito à natureza humana deCristo mudaram, e que essas mudanças envolvemconceitos não meramente semânticos”546

De fato, durante 1970 muitas publicações545 Hancock, págs. 26 e 27. Ver Grotheer, pág. 82.546 Hancock, pág. 27.

Page 268: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

serviram para popularizar esses novos dogmas.Eles foram mais prontamente aceitos dentro daigreja porque eram proclamados comorepresentando a posição oficial da ConferênciaGeral.

Publicação do Volume 7-A do The Seventh-day Adventist Bible Commentary

O volume 7-A do The Seventh-day AdventistBible Commentary547 é uma compilação de todasas citações de Ellen White anteriormentepublicadas no final de cada um dos sete volumesda série. Como já pôde ser notado, essescomentários incluem algumas de suas maisvigorosas declarações em favor da decaídanatureza humana assumida por Cristo.

A nova teologia foi apresentada nesse volumeem três apêndices, os quais foram retirados doQuestion on Doctrine. O apêndice B, emparticular, mostra uma visão radicalmente nadatradicional sobre a natureza humana de Cristo. Ossubtítulos acrescentados pelo editor tendem acontradizer algumas das declarações de EllenWhite que aparecem alhures no volume. Por umlado, Ellen White é citada como dizendo que “Ele[Cristo] tomou sobre Si mesmo a decaída esofredora natureza humana, degradada e maculada

547 Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1970.

Page 269: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pelo pecado”548, “a natureza de Adão, otransgressor”549, o que equivale a dizer, a naturezade Adão após a queda. Por outro lado, umsubtítulo indica que Cristo “tomou a impecávelnatureza humana”550, ou, a natureza de Adão antesda queda, que é algo que a Sra. White nuncaescreveu.

O problema não escapuliu à observação dealguns membros da Comissão de Pesquisa Bíblicada Conferência Geral, que reagiram recomendandouma séria revisão do apêndice B.551

Roy Allan Anderson, O Deus-Homem, SuaNatureza e Obra

No mesmo ano (1970), Roy Allan Andersonpublicou o livro The God-Man, His Nature andWork.552 O título da página de rosto chama-o de“Uma Apresentação Escriturística na Área daCristologia”.553 Anderson era, nesse tempo, editordo Ministry, uma revista para pastores adventistas.Ele tomara parte ativa nas reuniões com osevangélicos e foi um dos autores do livroQuestions on Doctrine.

No prólogo de seu livro, Anderson enfatizou que548 The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 7-A, pág. 157 (Youth’s Instructor, 20 de dezembro de

1900).549 Idem, pág. 370 (Ellen G. White, manuscrito 141 de 1901).550 Idem, pág. 446, subtítulo III.551 Ver nosso capítulo 12.552 Roy Allan Anderson, The God-Man, His Nature and Work (Washington, D.C.: Review and Herald Pub.

Assn., 1970).553 Idem, pág. 3.

Page 270: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

a obra era necessária para edificar sobre “ainabalável Rocha do Deus-Homem”, sobre a qual“o cristão precisa assentar sua vida em Deus”554

“Para melhor compreender o que Cristo fez, temosnecessidade de uma clara definição de quem Eleé.”555

O livro explica o plano da salvação comoum todo e mostra com simplicidade como ele serealiza em Jesus Cristo.

Até onde a Cristologia se acha envolvida, o livronão contém nenhum material controverso no tratocom o delicado problema de natureza humana deCristo. “Ao vir ao mundo”, declara Anderson,“Cristo tornou-Se o que nos somos, para tornar-nos o que Ele é. Irineu se expressa belamentequando diz: ‘Ele Se fez o que nós somos, para quepudesse fazer-nos como Ele próprio é.’”556

No capítulo “A Encarnação – A SupremaRevelação de Deus,”557 Anderson afirma: “Ahumanidade de Cristo e Sua deidade são as duasverdades gêmeas. Precisamos guardar-nos de fazerJesus Cristo meramente um homem divino, oupensar nEle como um Deus humano. Ele não énenhum dos dois. Ele foi, e é, Deus-Homem. EmJesus Cristo está a absoluta humanidade e aabsoluta divindade.”558

Por Sua encarnação, “Ele

554Idem, pág. 10.555 Idem, pág. 14.556 Idem, pág. 35.557 Idem, págs. 32-48.558 Idem, pág. 40.

Page 271: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

não Se despojou de Sua divina natureza, masaceitou a natureza humana... Ele Se impôs aslimitações e restrições de nossa natureza humana.E nada do que é humano ficou alienado dEle.”559

Em seguida, Anderson explorou a questão sobreo que distinguia a natureza humana de Cristo denossa natureza. “Ele ‘esvaziou-Se’ e ‘tomou sobreSi a forma de servo’. Ele a tomou; essa não Lhefoi transmitida, como acontece em nossa natureza.Quando nascemos, ninguém nos consultou sobrenossa vinda ao mundo. Além do mais, nossosgenitores nos legaram a única natureza quepossuíam, a qual é decaída e pecaminosa.Herdamos de todas as gerações passadastendências para pecar. Verdadeiramente, fomos“formados em iniqüidade”. Mas desde Suaprimeira inspiração, nosso Senhor era impecável.Ele estava na semelhança da carne pecaminosa,mas Ele foi impecável em Sua natureza e vida.”560

Descobrimos aqui um conceito básico da novaCristologia. Por um lado Anderson afirma “aabsoluta humanidade” de Cristo, enquanto que poroutro ele rejeita a verdadeira essência da naturezahumana em seu estado decaído, subserviente aopoder do pecado. O fato de o Senhor “ser sempecado...” em Sua vida, ninguém disputa. Mascomo harmonizar isso com a declaração de Paulo559 Idem, pág. 53.560 Ibidem.

Page 272: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

de que Ele era ‘em semelhança de carnepecaminosa’”?

Anderson foi aparentemente relutante empolemizar num livro propositado para o públicogeral.561

Tal não é o caso da monumental obra deLeRoy E. Froom” Movement of Destiny.Publicada no mesmo ano do volume 7-A do TheSeventh-day Adventist Bible Commentary, e dolivro de Anderson The God-Man, His Nature andWork, a obra de Froom foi instrumental emalimentar os princípios da nova teologia, e mereceatenção muito especial.

LeRoy Edwin Froom Aprova a Nova TeologiaAté que LeRoy Edwin Froom publicasse o

Movement of Destiny, em 1970, ele conseguiraum indisputável reconhecimento comopesquisador, erudito e historiador. Sua coleção dequatro volumes intitulada The Prophetic Faith ofOur Fathers (A Fé Profética de Nossos Pais), e osdois volumes da Conditionalist Faith of OurFathers (A Fé Condicionalista de Nossos Pais),contribuíram grandemente para sua reputação.562

Não surpreende que seu Movement of Destinytenha recebido endosso oficial.

O projeto teve aprovação nos mais altos níveis

561 O livro The God-Man, His Nature and Work, de Roy Allan Anderson, teve origem numa série de suasreuniões públicas.

562 Ver a The Seventh-day Adventist Encyclopedia, pág. 484.

Page 273: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

da igreja. O próprio Froom declarou que “sessentados mais competentes eruditos denominacionais,de uma dúzia de especialidades”, aprovaram osconteúdos.563

No Movement of Destiny, Froom apresenta asprincipais doutrinas adventistas na moldura de seudesenvolvimento histórico. Fica evidente que otópico sobre pessoa e obra de Cristo era muitocaro ao seu coração. Acima de tudo, ele desejavarestabelecer a verdade sobre a natureza humana deCristo, a qual, de acordo com ele, uma “minoria”havia falsamente apresentado como a posiçãoadventista. “Como resultado”, sustentou Froom,“os adventistas foram tremendamente censuradospelos teólogos não pertencentes à nossa fé, portolerarem essa errônea posição da minoria.”564

O principal objetivo de Froom era “mudar aenfraquecida imagem do adventismo”.565

Primeiramente, por meio de discussões comrepresentantes evangélicos; depois, através dapublicação do Question on Doctrine.566

Froomconcluiu que “acima de tudo, as compreensíveisdeclarações do Questions on Doctrine sobre apreexistência e a completa deidade de Cristo, Suaimpecável natureza e vida durante a Encarnação,e o transcendente ato expiatório consumado na563 LeRoy Edwin Froom para William H. Grotheer, 17 de abril de 1971. Ver Grotheer, pág. 83.

564Froom, Movement of Destiny, pág. 428. (itálicos supridos).565 Idem, págs. 465-475.566 Idem, págs. 476-492.

Page 274: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

cruz, são fatores determinantes. Muitos eruditosnão-adventistas nos disseram francamente queesses fatores fizeram com que fôssemosreconhecidos como verdadeiros crentes cristãos.”

Na força de expressões típicas tomadas dasdeclarações de Ellen White, Froom consideravaque ele estava em posição de fazer uma“estupenda apresentação da deidade e dahumanidade de Cristo.”567 A demonstração foirealizada em 10 pontos, incluindo os seguintes etendenciosos subtítulos: Cristo “tomou aimpecável natureza de Adão antes da queda”;‘assumiu ‘os riscos’ da ‘natureza humana’; foi“tentado em todos os pontos ou princípios”;“levou os pecado imputado e a culpa do mundo”;“sem as ‘paixões’ da natureza decaída”.568

Como uma matéria de fato, Froom estava apenasrepetindo os conceitos contidos no Ministry desetembro de 1956, e no livro Questions onDoctrine. Mas sua meta consistia principalmenteem colocá-los em sua moldura histórica569,rememorando as circunstâncias que lhe permitiramcorrigir o que ele considerava como a “errônea”imagem do adventismo.

O livro era bastante polêmico. Sobre adivulgação do Movement of Destiny, um dos

567 Idem, pág. 495.568 Idem, págs. 495-499.569 Idem, págs. 485 e 486.

Page 275: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

críticos de Froom escreveu: “O leitor precisasempre estar alerta quando estudando Froom,perguntando-se se ele está apresentando umaexplicação completa ou se importantes aspectosforam negligenciados ou desfigurados.”570

Essa é uma avaliação grave, mas verdadeira comrespeito ao modo como Froom tratou a história dadoutrina da Encarnação. Para demonstrar queJesus assumiu uma natureza impecável semelhanteà de Adão antes da queda, ele propositadamenteomitiu tudo o que contrariava sua tese. Algumasvezes referências foram apresentadas fora de suacontextuação ou sob títulos que distorciam osignificado das declarações feitas pelo autor.

Não dispomos de espaço para examinar todos osproblemas contidos no Movement of Destiny. Unspoucos detalhes bastarão. Primeiramente, por queFroom sistematicamente ignora as declaraçõesclaramente a favor do ponto de vista de Cristo terassumido a pecaminosa natureza humana? Amissão do historiador é reportar os fatos tãoobjetivamente quanto possível. Por que, então, eledescartou todas as inequívocas declarações deEllen White sobre a “natureza pecaminosa”?

Outras omissões por parte do historiador sãojustamente tão inexplicáveis, que requerem umavolta às origens do desenvolvimento de uma

570 Ingemar Linden, Apologetics as History (Apologética Como História), Espectrum, outono de 1971.

Page 276: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

doutrina crucial como a justificação pela fé, nocontexto dos pioneiros que a proclamaram. Froomquase não fez menção de A. T. Jones, que foi oprincipal expoente dessa doutrina, exceto pararelembrar que Jones finalmente apostatou. Omovimento da “carne santa” foi passado por alto,em completo silêncio – com boa razão,naturalmente, pois seus defensores ensinavam queCristo possuía carne santa, e isso os levou acometerem extravagâncias que atraíramcondenação por parte de Ellen White e dosdelegados da sessão da Conferência Geral de1901.

De todos aqueles que escreveram sobre a pessoae a obra de Jesus no passado, Prescott foi o únicoque, de acordo com Froom, fez uma contribuiçãoapreciável.571

Seu livro, The Doctrine of Christ,publicado em 1920, foi, segundo Froom, oprimeiro a colocar “a centralidade de Cristo emtoda a Sua ‘plenitude’ como a essência doevangelho, e a justiça pela fé nEle como a únicaesperança do homem”.572 Froom considerava olivro tão importante, que sumariou seus principaiscapítulos.

Muito embora Prescott tenha dedicado trêslições à doutrina da Encarnação, Froom nãomencionou uma só palavra com respeito ao ensino571 Froom, pág. 380.572 Idem, págs. 380 e 381.

Page 277: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

de Prescott sobre a natureza humana de Cristo,porque estavam em oposição à sua tese.Outrossim, Froom silenciou sobre o sermão dePrescott, O Verbo Se Fez Carne, proferido naAustrália e amplamente divulgado nos periódicosoficiais da igreja,573 embora Ellen White tenhaentusiasticamente aprovado suas explanações.574

Quando, em diversos pontos, Froom não maispodia ignorar certas declarações de Waggoner eEllen White que se opunham à sua tese, ele asinterpretou “vicariamente”575 Froom introduziu nooriginal o termo “vicariamente”, como se eleprocedesse da própria pena de Waggoner. [Ênfaseacrescida]. Tendo citado a expressão “Ele Se fezpecado”, de II Coríntios 5:21, Waggoner concluiu:“Impecável, todavia não apenas contado como umtransgressor, mas realmente tomando sobre Sipróprio a natureza pecaminosa.”576 Froom repetiua declaração, escrevendo: “Mais do que isso, Elerealmente ‘Se fez’ – vicariamente – pecado pornós, para que ‘pudéssemos ser feitos justiça deDeus nEle’. (II Cor. 5:21).”577

A despeito de suas muitas falhas, esse livroexerceu considerável influência. Froom desfrutavaelevada reputação de autoridade entre certos

573 Ver nosso capítulo 6, dedicado à Cristologia de Prescott. 574 Ibidem.575 Ellet J. Waggoner, Christ and His Righeousness, págs. 28 e 28.576 Ibidem.577 Froom, pág. 197.

Page 278: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

líderes da igreja, muitos dos quais nãocompreendiam o ensino tradicional da igreja.578 Dequalquer modo, Movement of Destiny produziuum despertamento, e uma nova rodada de reaçõespor parte de muitas organizações oficiais da igreja,bem como de indivíduos cuja competência erainquestionável.

578 Foi meu privilégio remontar à origem da história da Cristologia adventista, dentro da Conferência IV dosDepósitários de E. G. White, em Washington, em janeiro de 1987. É óbvio que muitos na distinta audiêncianão estavam cientes do ensino dos pioneiros. Um deles destacou, ao final da apresentação: “Se isso éassim, precisamos mudar nossa posição sobre o assunto.”

Page 279: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Capítulo 12

REAÇÕES À NOVA CRISTOLOGIA - (1970 – 1979)

A influência da nova teologia foi crescente.Embora os defensores da Cristologia tradicionalficassem, de início, um tanto aturdidos com arapidez da mudança, começaram a reagirenergicamente, principalmente através dos canaisoficiais de mídia da igreja. No começo, eles sefizeram ouvir em artigos publicados na Reviewand Herald, e então por meio do Instituto dePesquisas Bíblicas, em nível da Conferência Geral.Mais tarde, mediante as lições da Escola Sabatinae em muitos livros. Em seguida à publicação doMovement of Destiny, o ano de 1970 marcou oinício de um despertamento do interesse nosensinamentos históricos dos pioneiros da igreja.

A Reação da Review and HeraldApós a morte de F. D. Nichol, em 1966, Kenneth

H. Wood, seu associado, tornou-se editor-chefe daReview and Herald. Sob sua liderança, de 1966 a1982, a Review nunca cessou de rememorar oensino histórico. Como presidente do Patrimôniode Ellen G. White e também da junta de seusdepositários, desde 1980, Wood fez tudo o que

Page 280: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

podia para incentivar a publicação de artigossustentando a posição tradicional.

Para esse fim, Wood chamou dois editores-associados: Thomas A. Davis, em 1970, e HerbertE. Douglass, em 1971. Ambos se revelaram fortesdefensores da tradicional Cristologia adventista.Por meio de artigos, livros e ocasionaisparticipações nas lições da Escola Sabatina, elessistematicamente se opuseram ao ensinoapresentado no Questions on Doctrine e noMovement of Destiny.

Mesmo antes de ser chamado à Review, ThomasA. Davis havia publicado em 1966 um livro demeditações diárias, que apoiava a posiçãohistórica. Davis escreveu: “O Poderoso Criadorque havia colocado o átomo do mundo girando noespaço, Ele próprio Se tornou participante da carnee do sangue do homem pecaminoso, e edificouSua casa sobre o minúsculo planeta que fizera.Que espantosa condescendência! Houvesse Eletomado sobre Si a forma impecável de Adão, e játeria feito um sacrifício infinito. Mas Ele foi muitomais além quando Se achou na forma de homemdegradada por milênios de pecado.”579 Em 1971,Davis repetiu suas convicções no livro Romans forthe Every-day Man (Romanos Para o Homem de

579 Thomas A. Davis, Preludes to Prayer (Prelúdios à Oração) (Washington, D.C.: Review and Herald Pub.Assn., 1906), pág. 346.

Page 281: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Cada Dia).580

Herbert E. Douglass também assumiu firmedefesa contra os novos pontos de vista doAdventismo. Ele era conhecido como um teólogoequilibrado e respeitado professor de Bíblia, tendoservido como presidente do Colégio União doAtlântico. Chamado para unir-se ao staff daReview and Herald como editor-associado, tornou-se conhecido como um dos mais ardentesdefensores da posição histórica pós-lapsariana.581

Ao chegar à Review, ele publicou uma série deartigos e editoriais expondo um aspecto da questãomuito caro ao seu coração: “Naquele primeiroNatal, os jubilosos anjos sabiam que o dramáticomomento chegara. Seu amado Senhor haviaentrado pessoalmente na batalha... Ele provariaque o que Ele requerera do homem decaído, seriarealizado.”582

No segundo editorial, Douglass explicou por queCristo tinha de tomar sobre Si mesmo a naturezadecaída do homem. “Todos os outros passos noplano da salvação, incluindo a ressurreição dosfiéis durante os tempos do Velho Testamento,dependiam totalmente do sucesso que Jesus teriacomo co-participante na arena da tentação. Pois se580 _______, Romans for the Every-Day Man (Romanos Para o Homem de Cada Dia) () (Washington, D.C.:

Review and Herald Pub. Assn., 1971).581 Eric Claude Webster, em Crosscurrents in Adventist Christology, fez um pormenorizado estudo da

Cristologia de Herbert E. Douglass (págs. 347-428).582 Herbert E. Douglass, The Humanity of the Son of God Is Everything to Us, Review and Herald, 23 de

dezembro de 1971.

Page 282: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Cristo, perante o expectante Universo, nãovencesse sob as mesmas condições que todohomem precisa enfrentar, então nenhum homempoderia esperar vencer.”583

No último artigo da série, Douglas mostrou queo homem pode vencer a tentação conforme oexemplo de Jesus. “Como substituto do homem,Ele provou que esse poderia viver sem pecar. ‘Nóstambém podemos vencer como Cristo venceu.’(ODesejado de Todas as Nações, pág. 389). Jesus nãoSe valeu de nenhuma vantagem que não estejadisponível a cada ser humano. Unicamente Sua féconstitui-se no segredo de Seu triunfo sobre opecado. ‘A vitória e a obediência de Cristo é a deum ser humano... Quando conferimos à Suanatureza humana um poder que não é possível aohomem possuir em seus conflitos com Satanás,destruímos a integralidade de Sua humanidade’(Seventh-day Adventist Bible Commentary,Comentários de Ellen G. White, vol. 7, pág.929).”584

Um dos conceitos que Douglass desenvolveu emseus editoriais era-lhe especialmente caro. Essetinha que ver com a última geração vivente aotempo do retorno de Cristo. “A fé de Jesus produzo caráter de Jesus; essa é a meta de todos aquelesque desejam tomar parte naquela extraordinária583 _______, Jesus Showed Us the Possible, Review and Herald, 30 de dezembro de 1971.584 _______, The Demonstration That Settles Everything, Review and Herald, 6 de janeiro de 1972.

Page 283: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

demonstração de um viver semelhante ao de Cristona última geração de adventistas.”585

“A últimageração dos que ‘guardam os mandamentos deDeus e a fé de Jesus’ dissipará para sempre todasas dúvidas remanescentes sobre se a vontade dohomem, unida ao poder de Deus, pode afastartodas as tentações de servir ao eu e ao pecado.”586

Por vários anos, entre 1971 e 1974, Douglasspublicou um editorial natalino que chamava aatenção para a natureza humana decaída de Cristo,e para a razão por que Ele teve de tomar ahumanidade sobre Si.587

Quando lhe perguntarampor que ele escrevera esses editoriais, Douglassrespondeu: “Obviamente, isso se tornou um pontode encontro ou bandeira para muitos quepensavam nunca mais poder ver a verdadeimpressa... Eu simplesmente queria dar um suportemais rico ao ponto de vista que foi proeminente nahistória de nossa igreja, e ainda o é na vida epensamento de muitos irmãos da ConferênciaGeral, com quem convivo no dia-a-dia.”588

A Reação do Instituto de Pesquisa BíblicaPouco após o lançamento do volume 7-A do

Seventh-day Adventist Bible Commentary, em585 Ibidem.586 Ibidem.587 Ver Why the Angels Sang, Review and Herald, 21 de dezembro de 1972; Emmanuel, God With Us, 20 de

dezembro de 1973; The Mistery of Manger, 19 de dezembro de 1974.588 Herbert E. Douglass para Bruno W. Steinweg, janeiro de 1986, em The Doctrine of the Human Nature of

Christ Among Adventists Since 1950, pág. 12.

Page 284: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

1970, os membros do Instituto de Pesquisa Bíblicada Conferência Geral foram convocados pararevisar um dos apêndices. Isso foi feito através deum suplemento especial do Ministry, em fevereirode 1972,589 com a seguinte introdução:

“Com a publicação do Question on Doctrine...despertou-se considerável interesse com respeito ànatureza de Cristo durante a Encarnação, e arelação dessa natureza com a natureza do homem,especialmente na guerra do homem contra atentação e o pecado.

“Como o estudo se seguiu à publicação doQuestions on Doctrine, foi feita a sugestão de queo Apêndice B, intitulado ‘A Natureza de CristoDurante a Encarnação’ poderia ser mais útil se oselementos de possível interpretação – ênfase poritalização, interpretação por título, etc. –, fossemminimizados para que as declarações pudessem serpostas diante do leitor em sua própria força,falando-lhe à mente.

“O material em seu presente feitio foiconsiderado pela Comissão de Pesquisa Bíblica daConferência Geral, e aprovado como a maisproveitosa forma para futura apresentação... Seusleitores são estimulados a considerar nessasdeclarações, o equilíbrio entre a divindade e ahumanidade de Cristo, e os perigos inerentes em

589 _______, em Ministry, fevereiro de 1972.

Page 285: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

torná-Lo tão exclusivamente divino ou tãocompletamente humano. O elemento de mistériona Encarnação pede constante reconhecimento.”590

O Instituto de Pesquisa Bíblica eliminou ositálicos, reorganizou o texto e suprimiu algumascitações. E o mais importante: rescreveu muitosdos títulos e subtítulos para torná-los menostendenciosos teologicamente. Assim, por exemplo,o título III, que diz que Jesus “assumiu a naturezahumana isenta de pecado”591, foi substituído poroutro mais de acordo com o conteúdo das citações:“Tomando a natureza humana, Cristo nãoparticipou de seu pecado ou propensão para omal.”592 Dessa maneira, sem entrar em polêmicacom os autores do apêndice B, os membros doInstituto de Pesquisa Bíblica apresentaram umtexto neutro, deixando que os leitores tirassemsuas próprias conclusões.

Em seu relatório público, Gordon Hyde, entãodiretor do Instituto de Pesquisa Bíblica daConferência Geral, notou com pesar a crescenteinfluência da nova Cristologia. Escreveu ele: “Égeralmente sabido que nem todos ficaram felizescom a ênfase dada no Question on Doctrine, e defato, um ou dois estudiosos entre nós, bem comolíderes de alguns grupos discordantes, tomaram

590 Ibidem.591 Question on Doctrine, pág. 650.592 Ministry, Supplement, fevereiro de 1972, pág. 5.

Page 286: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

uma atitude negativa diante da ênfase dada edisputaram enfaticamente pela posição pós-lapsariana. Em geral, todavia, a posição doQuestion on Doctrine pareceu prevalecer e foimantida pela liderança da igreja como sendocorreta... Porém, nos últimos três ou quatro anos,houve um reacendimento dos assuntos por parte decertos editores da Review em seus editoriais, e emalgumas publicações dos grupos divergentes.”593

Herbert E. Douglass Reage Através dasLições da Escola Sabatina

Nessa ocasião, enquanto Herbert Douglasspublicava seus editoriais na Review and Herald,foi-lhe solicitado preparar as lições da EscolaSabatina sobre “Cristo, Nossa Justiça”, para oprimeiro trimestre de 1974.594

O problema da natureza humana de Jesus étratado sob o título “O Justo Jesus”.595 O versobásico é Romanos 8:3, e a introdução do tópicoapresenta esta citação de Ellen White: “Cristosuportou os pecados e fraquezas da raça humanatais como existiam quando Ele veio à Terra paraajudar o homem. Em favor da raça, tendo sobre Sias fraquezas do homem caído, devia Ele resistir àstentações de Satanás em todos os pontos em que o593 Gordon H. Hyde, na Review and Herald, 20 de agosto de 1974.594 Lições de Adultos da Escola Sabatina (Grantham, Eng.: Stanborough Press Ltd., 1973), primeiro trimestre

de 1974, pág. 3. As referências das cinco seguintes notas de rodapé foram reimpressas nessa fonte.595 Ibidem.

Page 287: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

homem era tentado.”596

Tendo desenvolvido o tema da divindade deCristo nas primeiras duas seções da lição,Douglass abordou Sua humanidade nas outrasquatro, sob os seguintes títulos “Jesus FoiHomem” (Fil. 2:5-7); “Compreensão Mútua”(Heb. 2:17); “Jesus Foi Tentado” (Heb. 4:15; 12:3e 4); “Uma Vida Sem Pecado” (Rom. 8:3; João16:33). Os comentários de cada texto foramextraídos principalmente dos escritos de EllenWhite. Considerando que a nova interpretaçãoestava supostamente baseada nas citações de EllenWhite, achou-se apropriado refutar essaexplanação com apoio em seus escritos. Por essarazão, eis esta clássica citação em conexão comFilipenses 2:5-7 e João 1:14: “Cristo não fingiuassumir a natureza humana; Ele de fato a tomousobre Si... (Heb. 2:14). Ele era o filho de Maria;era da semente de Davi segundo a descendênciahumana. É declarado ser Ele homem, o HomemCristo Jesus.”597 E outra ainda: “Por quatro milanos estivera a raça a decrescer em forças físicas,vigor mental e moral; e Cristo tomou sobre Si asfraquezas da humanidade degenerada. Unicamenteassim podia salvar o homem das profundezas desua degradação.”598

596 E. G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, págs. 267, 268.597 Idem, pág. 247.598 _______, O Desejado de Todas as Nações, pág. 117.

Page 288: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Jesus era imaculado não por que possuísse carneimpecável, mas porque Ele viveu sem pecar numa‘carne em semelhança do pecado’. AssimDouglass concluiu que Jesus havia demonstradoser possível “viver sem pecar, em obediência à leido Céu, a quem quer que se lance inteiramente nasmãos de Deus”.599

Como veremos mais tarde, Douglass é específicosobre enfatizar a razão de Jesus ter vindo em carnepecaminosa. Para ele existia uma relação de causae efeito entre Cristologia e Soterologia.Realmente, ele sentiu ser precisamente essa toda acontrovérsia havida.

Numa tentativa de resolver as divergências sobreo assunto da justificação pela fé, os líderes daConferência Geral entenderam que deveria serescolhida uma comissão especial. Obviamente,essa comissão não poderia considerar o problemasem também examinar a natureza humana deCristo.

Pesquisaremos os relatórios dessa comissão paracoligir suas conclusões com respeito à Cristologia.

A Cristologia da Comissão da JustificaçãoPela Fé

Essa comissão foi especificamente criada paraexaminar o manuscrito de Robert J. Wieland e

599 _______, Review and Herald, 27 de setembro de 1906.

Page 289: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Donald K. Short. Por essa razão, ela foiinicialmente conhecida como “A ComissãoRevisora do Manuscrito Wieland e Short.”600 Jáem 1950, esses dois missionários, ao retornaremda África, foram os primeiros a advertir aConferência Geral sobre as novas interpretações arespeito da Pessoa e obra de Cristo, que estavamameaçando a igreja. Subseqüentemente, eles foramsolicitados a apresentar suas preocupações porescrito, o que fizeram em forma de um compêndiodatilografado intitulado 1888 Reexaminado.601

Para facilitar o trabalho da comissão, trêssubcomissões foram criadas para reunir adocumentação necessária. A própria comissãoreuniu-se em 25 de outubro de 1974, e numasegunda vez em 17 a 19 de fevereiro de 1975. Umterceiro e final encontro, de 23 a 30 de abril de1976, em Palmdale, Califórnia, incluiu umaimportante delegação proveniente da Austrália.

É interessante notar como o relatório da reuniãode 17 de fevereiro de 1975 sumariou o acordohavido com os irmãos Wieland e Short.Primeiramente, eles reconheceram a contribuiçãosem paralelo de Jones e Waggoner em suamensagem sobre a justificação pela fé, e a relaçãoexistente entre a natureza humana de Jesus e a

600 Ver Minutes of the Righteousness by Faith Committee, fevereiro de 1975.601 Robert J. Wieland and Donald K. Short, 1888 Re-Examinado, revised and updated (Leominster, Mass.:

Eusey Press, Inc., 1987).

Page 290: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

justiça pela fé. A comissão concluiu, todavia, queEllen White não teria aprovado todas asdeclarações feitas por Jones e Waggoner.602

Ademais, ela se recusou entrar na controvérsiasobre o assunto da natureza humana de Cristo.

Em essência, esses pontos foram abordados norelatório da comissão de Palmdale sobrejustificação pela fé.603 Entretanto, alguns teólogosadventistas da Austrália desafiaram a interpretaçãotradicional da justificação pela fé, afirmando quede acordo com a Bíblia, a expressão diz respeitoapenas à justificação, sem incluir santificação.Uma delegação de 19 líderes da igreja australiana,incluindo Desmond Ford e Alwyn Salom, foiconvidada a discutir a matéria na conferência dePalmdale. Esses homens tiveram a oportunidadede apresentar seus pontos de vista sobrejustificação pela fé e a natureza humana de Cristo.Ficou claro que ninguém duvidava da relaçãodireta entre as duas.

Na sessão que tratou da humanidade de Cristo, orelatório sintetizou as conclusões da comissãoconforme estes termos:

“1. Que Cristo era, e ainda é, o Deus-Homem – a união da verdadeira Divindade eda verdadeira humanidade.

602 Wieland, Ellen G. White, Endorsements of the 1888 Message, as Brought By Jones and Waggoner (St.Maries, Idaho: LMN Publishing).

603 Review and Herald, 27 de maio de 1976.

Page 291: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

“2. Que Cristo experimentou toda a extensãodas tentações, com risco de fracasso e perdaeterna.

“3. Que Cristo venceu a tentação,apropriando-Se unicamente daquelas provisõesque Deus dispõe à família humana.

“4. Que Cristo viveu em perfeita obediênciaaos mandamentos de Deus e que Ele era sempecado.

“5. Que por Sua vida e morte expiatóriatornou possível aos pecadores ser justificadospela fé e, portanto, considerados justos à vistade Deus.

“6. Que pela fé no ato redentor de Cristo, nãoapenas a posição da pessoa diante de Deus podeser mudada, mas seu caráter também, enquantocresce na graça e obtém a vitória tanto sobre astendências hereditárias como sobre as cultivadaspara o mal. Essa experiência de justificação esantificação prossegue até a glorificação.”604

O relatório cita as declarações de Ellen Whitemais favoráveis à posição tradicional, enfatizandoa participação de Cristo na natureza caída dohomem e Sua vida imaculada. Mas, naturalmente,os participantes dessa conferência não eramunânimes com respeito às interpretações dessasdeclarações. Em realidade, tanto estavam

604 Ibidem.

Page 292: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

presentes ali muitos defensores da posição pós-lapsariana como da pré-lapsariana. Assim, orelatório da conferência não tomou posição sobreesse tema, mas finalizou com um apelo pelaunidade e encorajamento para o prosseguimentodesse estudo num espírito de tolerância de ambasas partes.

Com efeito, isso já não era mais uma questão dedecidir qual das duas interpretações estava correta,mas simplesmente de reconhecer que os doisdiferentes pontos de vista existiam. Esses desviosdas doutrinas fundamentais como justificação pelafé e a natureza humana de Cristo, foramconsiderados por alguns como evidência de umaaguda crise teológica no seio da Igreja Adventista.A obra de Geoffrey J. Paxton, The Shaking ofAdventism (O Abalo do Adventismo), representaclaramente a opinião daqueles que acompanharamas discussões da conferência de Palmdale do ladode fora.605

Vistas do lado de dentro, Arthur Leroy Moore,um teólogo adventista, chegou à mesma conclusãoem sua tese doutoral publicada em 1980, sob otítulo The Theology Crisis (A Crise da Teologia)606

Moore refuta sistematicamente as novas

605 Geoffrey J. Paxton, The Shaking of Adventism (Wilmington, Del.: Zenith Publishers, Inc., 1977). Ver FritzGuy em Spectrum, julho de 1978, págs. 28 a 60. Ver também David P. Duffie, Theological Issues Facing theAdventist Church (Grand Terrace, Calif.: 1975).

606 Arthur Leroy Moore, Theology in Crisis: A Study of Righteousness by Faith (Amarillo, Tex.: SouthwesternPub. Co., 1980).

Page 293: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

interpretações dos “reformistas” – como ele oschamou – sobre a justificação pela fé e a naturezahumana de Cristo, baseadas nas apresentações deFord na Conferência de Palmdale.607

As Dissertações de Ford na Conferência dePalmdale

Entre os delegados australianos à Conferência dePalmdale, em abril de 1976, estava um influenteteólogo por nome Desmond Ford, que ensina noColégio Adventista de Avondale, em seu paísnatal.

Por anos Ford havia propagado suas idéias sobrea doutrina da justificação pela fé, declarando que aigreja havia anulado esse ensino ao rejeitar adoutrina do pecado original. Ford escreveu:“Isso... deu origem a três heresias relacionadas: a)que o evangelho inclui santificação bem comojustificação; b) que Cristo tomou a decaídanatureza de Adão; e c) que a ‘última geração’ devedesenvolver caracteres perfeitos antes da volta deCristo.”608

Como essas idéias se houvessem espalhadoamplamente pelos Estados Unidos, era desejávelque Ford as apresentasse à Comissão daJustificação Pela Fé, para chegar, se possível, auma declaração oficial. Assim foi dada a Ford a607 Com respeito à natureza humana de Cristo, ver Moore, págs. 242-292.608 Idem, pág. 23, nota 1.

Page 294: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

oportunidade de apresentar três documentos naconferência de Palmdale. O primeiro era “OEscopo e os Limites da Expressão Paulina ‘JustiçaPela Fé’”; o segundo, ‘A Relação Entre aEncarnação e a Justiça Pela Fé’; e o terceiro,‘Ellen G. White e a Justiça Pela Fé.’609

Ford assumiu posição semelhante à encontradano Question on Doctrine,610 mas sua colocação erabem mais definida: “Cristo tomou a naturezaimpecável de Adão, mas não sua força. Eleassumiu nossa fraqueza mas não nossapecaminosidade. Ele poderia ter pecado, mas nãoo fez.”611

A partir dessa Cristologia, Ford desenvolveu suadoutrina da justificação pela fé, no sentido de umatransação puramente legal, limitada à justiçaimputada. E escreveu: “Para colocá-la ainda deoutra forma, justificação, e não santificação, é ajustiça pela fé do Novo Testamento, e tal justiça éo dom do encarnado, crucificado e ressurretoSenhor.”612

Esse ensino de uma justiça puramente legallevou Ford e seus seguidores a uma forma deadventismo evangélico,613 que tendia a subestimar609 Jack D. Walker, Documents From the Palmdale Conference on Righteousness by Faith (Goodlessville,

Tenn.: 1976). 610 Idem, págs. 36-41; Questions on Doctrine, págs. 647-660.611 Desmond Ford, citado em Gillian Ford, The Human Nature of Christ in Salvation, págs. 8 e 9.612 Desmond Ford, Documents From the Palmdale Conference on Righteousness by Faith, pág. 36.613 O periódico Evangélico, publicado pelos estudantes da Andrews University seguidores de Ford, é um

exemplo. Ele sistematicamente colocava em oposição “o adventismo evangélico contra o adventismotradicional”.

Page 295: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

a importância da obediência como condição desalvação, oferecendo uma remissão sem temor deum julgamento por vir, e negava todo o significadoprofético do evento de 1844.614

Essas conclusõesextremadas estão em harmonia lógica com suassuposições, mas em radical oposição à Cristologiaadventista tradicional e à mensagem dajustificação pela fé proclamada em 1888. Nãoadmira que a reação a essas opiniões fosseimediata.

Herbert E. Douglass Reafirma a CristologiaTradicional

Depois da impressão de sua primeira lição daEscola Sabatina para o primeiro trimestre de 1974,Douglas foi requisitado a preparar os originaispara o segundo trimestre de 1977. Ele intitulouesse trabalho Jesus, o Homem-Modelo. Essa foiuma seqüência lógica às precedentes lições sobreO Justo Jesus.

Os originais das lições sempre são submetidos aexame por uma comissão mundial responsávelpela manutenção do conteúdo doutrinário, emharmonia com os princípios da igreja. O segundooriginal encontrou alguma oposição, mas oDepartamento da Escola Sabatina da ConferênciaGeral aprovou sua publicação, a despeito das614 Ver o documento de Desmond Ford apresentado na Conferência de Glacier View, Colorado, em agosto de

1980.

Page 296: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

críticas.615

O tema dominante dessas lições pode sersintetizado por esta declaração de Ellen White,citada na introdução geral: “Devemos olhar para ohomem Cristo Jesus, que é completa na perfeiçãoda justiça e santidade. Ele é o Autor e Consumadorde nossa fé. Ele é o homem-modelo. Suaexperiência é a medida da experiência que temosde obter. Seu caráter é nosso modelo... Enquanto Ocontemplamos e meditamos nEle, Ele seráformado interiormente.”616

Fiel ao conceito básico da Cristologia adventistatradicional, Douglass repetiu que “Jesus, oCarpinteiro de Nazaré, veio a este mundo e aceitou‘os resultados da operação da grande lei dahereditariedade’. Ele estava ‘sujeito à fraqueza dahumanidade... para ferir a batalha em que cada serhumano precisa se empenhar, com risco defracasso e perda eterna’,”617

Apoiando-seconstantemente no ensino de Ellen White,Douglass se gratificava em afirmar que a vitória deCristo sobre o pecado pode ser também a nossa.“Como um de nós, Ele tinha de dar um exemplo615 Steinweg (pág. 12) menciona os nomes daqueles que aprovaram a publicação do manuscrito por Douglass:

Prs. Pierson, Rampton, Nigri, Eva, Hyde, Lesher e Dower. Essa não foi uma aprovação da tese deDouglass com respeito à natureza humana decaída assumida por Cristo, mas uma aceitação de suapublicação nas lições da Escola Sabatina, em harmonia com o espírito da Conferência de Palmdale. Aopinião contrária foi apresentada nas lições do primeiro trimestre de 1983. Ver nosso capítulo 13, págs.175, 176.

616 The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White Comments, vol. 7, pág. 970. Citado porHerbert Douglass, Jesus, o Homem-Modelo, Lições de Adultos da Escola Sabatina, segundo trimestre de1977, pág. 3.

617 E. G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 24. Citado em Douglass, Trimensário.

Page 297: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

de obediência... Cristo suportou cada prova a queestamos sujeitos, e não exerceu em Seu própriofavor nenhum poder que não nos seja livrementeoferecido... Sua vida testifica de que é possíveltambém a nós obedecermos à lei de Deus.”618

“Se Deus houvesse vindo à Terra e apenasparecendo ser um homem, Seu desempenho nãoteria respondido às acusações de Satanás; aquestão não era o que Deus poderia fazer, mas se ohomem poderia guardar a lei e resistir aopecado.”619

Em apoio a suas convicções, ele citou a

declaração de Ellen White de que “a vitória e aobediência de Cristo são aquelas de um verdadeiroser humano. Em nossas conclusões, cometemosmuitos equívocos por causa de nossos errôneospontos de vista sobre a natureza humana doSenhor. Quando conferimos à Sua naturezahumana um poder que não é possível ao homemdispor em seus conflitos com Satanás, destruímosa perfeição de Sua humanidade.”620

Além das lições da Escola Sabatina, Douglastambém publicou uma espécie de comentáriosobre as várias lições, em parceria com Leo VanDolson: Jesus – O Ponto de Referência daHumanidade.621 Para Douglass, Jesus foi não

618 _______, O Desejado de Todas as Nações, pág. 24. Citado em Douglass, Trimensário.619 Douglass, Jesus, o Homem-Modelo, lição 2, seção 6.620 The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White Comments, vol. 7, pág. 929. Citado em

Douglass, Jesus, Homem-Modelo.621 Herbert E. Douglass, Jesus, o Ponto de Referência da Humanidade (Nashville: Sothern Pub. Assn., 1977).

Page 298: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

apenas o “Homem-Modelo”, mas também “OPonto de Referência da Humanidade”. Em outraspalavras, a medida do que podemos nos tornarpela graça de Deus em Jesus Cristo.

Douglass já havia desenvolvido esse tema numcapítulo do livro Perfeição, A ImpossibilidadePossível, publicado em 1975.622

Sob o título OMostruário da Graça de Deus, Douglass reafirmouo ensino dos pioneiros e de Ellen White, cujosescritos citou profusamente. Ele se alegravatambém ao reconhecer que proeminentes teólogoscomo Karl Barth e Emil Brunner, os quais, comoele, haviam demonstrado que a participação deJesus no estado da decaída natureza humana, eranão apenas uma verdade cristológica, mas umarealidade soterológica de grande importância. Naótica de Douglass, a perfeição cristã é possívelapenas na extensão do reconhecimento de queJesus Cristo mesmo participou da natureza dohomem pecaminoso.

Ele é explicito: “De nenhum modo Ellen Whitemenosprezaria o triunfo de Jesus e emprestariasuporte à grande heresia de que a natureza humanado Senhor era a de Adão antes da queda – isentados riscos e da degeneração do pecado.”623

Naturalmente, Douglass não estava sozinho em

622 Herbert E. Douglass, Edward Heppenstall, Hans K. LaRondelle, C. Merwyn Maxwell, Perfeição, AImpossibilidade Possível (Nashville: Southern Pub. Assn., 1977). Ver págs. 35-45.

623 Idem, pág. 42.

Page 299: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

relembrar qual era o fundamento da Cristologiaadventista desde o começo do movimento. Outrasvozes também foram ouvidas,624

tais como a deKenneth H. Wood, editor-chefe do órgão oficial daigreja, a Review and Herald.

Kenneth H. Wood Confirma a CristologiaTradicional

Kenneth H. Wood, atualmente presidente dosDepositários de Ellen G. White, foi editor daReview and Herald de 1966 a 1982. Ele nãoexpressou diretamente seus pontos de vista sobre oproblema da natureza humana de Cristo até 1977,quando publicou três editoriais paralelamente àslições da Escola Sabatina do segundo trimestre,tratando de Jesus, o Homem-Modelo.

O primeiro surgiu em 5 de maio de 1977,sincronizado para coincidir com o estudo daslições preparadas por Herbert Douglass. Woodconsiderava essas lições como “sendo deexcepcional valor”. “Essas lições da EscolaSabatina enfatizavam que Jesus satisfezplenamente cada qualificação necessária à missãode salvar a humanidade perdida. Excetuando-seSua absoluta pureza, Jesus identificou-Se

624 A. John Clifford e Russell R. Standish, Conceitos Conflitantes sobre a Justificação Pela Fé (Rapidan, Va.:Hartland Institute Publications, 1976); Robert J. Wieland, Como Poderia Cristo Ser Inocente Como umBebê? E Algumas Questões Com Respeito à Natureza de Cristo, segunda edição (Chula Vista, Calif.:1977); Albert H. Olesen, Pensando Corretamente Sobre a Encarnação (Platina, Calif.: Unwalled VillagePublishers, 1977).

Page 300: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

completamente com a raça humana (Ver Ellen G.White, carta 17, de 1878).”625

“Mas ai”, observou Woods, “nem todos oscristãos – mesmo os adventistas do sétimo dia –concordam com a interpretação dessas e outrasinspiradas declarações”.626

Isso ficou demonstrado

na Conferência de Palmdale onde, de acordo como relatório, os participantes ficaram divididos entreaqueles que sustentavam o pontos de vista acercada natureza pertencente à pecaminosahumanidade, como herdada por Cristo, e aquelesque criam que Sua natureza havia sido dahumanidade impecável.”627

Wood cria que os adventistas haviam sidocomissionados por Deus para exaltar a Cristo.“Estão eles fazendo isso? Não tão plenamentequanto deveriam. E talvez uma razão para isso sejaque por anos muitos membros e ministros têm-searreceado discutir a humanidade de Cristo, pormedo de parecerem irreverentes e fazer a Jesustotalmente humano (o que Ele não foi; nossoSenhor também era divino). Eles ficavamtranstornados quando alguns membros da igreja elíderes pregavam o Cristo do adventismo histórico,o Cristo que viveu como nós temos de viver, quefoi tentado como nós o somos, que venceu como625 Kenneth H. Wood, Jesus, o Deus-Homem, Review and Herald, 5 de maio de 1977.626 Idem, pág. 12.627 Registros da Comissão de Palmdale Sobre a Justiça Pela Fé, pág. 1. Ver Review and Herald, 5 de maio de

1977.

Page 301: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

nós temos de vencer, e que prometeu viver em nóspelo Seu Santo Espírito (unindo nossa naturezahumana com Sua natureza divina).”628

Wood expressou sua satisfação nestes termos:“Assim, estamos felizes porque o Departamentode Escola Sabatina da Conferência Geral, atravésdas lições trimestrais, está levando o mundo acontemplar demorada e firmemente a Jesus.Cremos que como resultado dessas lições sobre avida e ministério de Jesus, haverá maior proveitopara cada crente, e entendemos que foi criado umclima de abertura no qual o estudo pode propiciaraspectos da Encarnação que precisam sercompreendidos integralmente, antes que amensagem do terceiro anjo possa se dilatar até oalto clamor.”629

Nos meses que se seguiram a esses editoriais, foipublicado o livro de Edward Heppenstall, OHomem Que É Deus, e cujo subtítulo dizia: “UmEstudo Sobre a Pessoa e a Natureza de Jesus, Filhode Deus e Filho do Homem.”630 Falaremos maistarde sobre seu conteúdo, mas queremos destacaraqui que os dois editoriais saídos da pena deKenneth Wood no final do ano, tinham relaçãocom a publicação desse livro.

Em resposta aos argumentos de Heppenstall,

628 Wood.629 Ibidem.630 Edward Heppenstall, O Homem Que é Deus (Washington, D.C.: Review and Herald, 27 de maio de 1976.

Page 302: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Wood reafirmou sua posição em 22 de dezembrode 1977, num editorial intitulado “O DomSupremo”. Wood primeiramente expressou suagratidão a Deus por esse dom que excede a todoentendimento. “O aspecto espantoso da história deBelém é que o infinito Deus viria a este mundo ese uniria à raça humana.”631

“Porém, mais admirável ainda do que o fato deDeus Filho vir habitar com a humanidade, é averdade de que Ele veio morar com a humanidadepecadora! ‘Teria sido uma quase infinitahumilhação para o Filho de Deus, revestir-Se danatureza humana mesmo quando Adão permaneciaem seu estado de inocência, no Éden. Mas Jesusaceitou a humanidade quando a raça havia sidoenfraquecida por quatro mil anos de pecado. Comoqualquer filho de Adão, aceitou os resultados daoperação da grande lei da hereditariedade. O queestes resultados foram, manifesta-se na história deSeus ancestrais terrestres. Veio com essahereditariedade para partilhar de nossas dores etentações, e dar-nos o exemplo de uma vidaimpecável.(O Desejado de Todas as Nações, pág.49).’”632

Em seu segundo editorial, Wood explicou comoJesus pôde viver sem pecar enquanto em carnehumana pecaminosa. Certamente, assinalou ele,631 Wood, na Review and Herald, 22 de dezembro de 1977.632 Ibidem.

Page 303: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

isso “desafia a fé e a razão, mas não ousamosrejeitar a verdade meramente porque não podemoscompreendê-la ou explicá-la.”633 Outros aspectosda Encarnação são também um mistério, todavia,nós os aceitamos – tais “como a natureza divina ea natureza humana poderiam combinar-se em umaPessoa”.634

Wood advertiu contra duas perigosas conclusõesque alguns extraíam da declaração de que Cristotomou a natureza pecaminosa do homem.Primeira: “que isso tornou Cristo apenas humano enão divino.” Segunda: “que Jesus foi por causadisso maculado pelo pecado ou tivesse inclinaçãopara ele.”635 Wood citou Ellen White contra essespontos de vista: “Nunca, de modo algum, deixem amais leve impressão sobre mentes humanas de quehavia em Cristo uma mancha ou inclinação para acorrupção, o ou que Ele, de alguma forma, cedeu àtentação.’ (The SDA Bible Coomentary,Comentários de Ellen G. White, vol. 5, pág.1128).”636

De fato, Wood declarou: “1) Tomar a naturezapecaminosa do homem não poluiu ou manchou aCristo. 2) Jesus foi totalmente leal a Seu Pai econtrário à rebelião, que é a verdadeira essência do

633 _______, em Review and Herald, 29 de dezembro de 1977.634 Ibidem.635 Ibidem.636 Ibidem.

Page 304: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecado.”637

Wood justificou a primeira declaração com aseguinte explanação: “Notem o que aconteciaquando Jesus tocava os leprosos. Foi Elecontaminado por tocá-los?... Não, em lugar disso,os leprosos é que foram purificados.” “Quando aDivindade toca a humanidade, Ela não écontaminada; em vez, a humanidade é abençoada,curada e purificada.” Cristo nasceu do Espírito, equando Ele Se uniu à pecaminosa naturezahumana, “pelo fato de tê-la tomado, purificou-a detoda a sua inerente depravação.”638

Quanto à segunda declaração, Wood explicouque nenhum traço de rebelião foi encontrado emJesus. “Ele sempre estava em completa harmoniacom a vontade e a lei de Seu Pai... Jesus disse deSi mesmo: ‘Vem aí o príncipe deste mundo; e elenada tem em Mim’ (João 14:30). E também: ‘...não procuro a Minha própria vontade, e, sim, adAquele que Me enviou’ (cap. 5:30). Jesus possuíaSua própria vontade – como todo ser humano –mas submeteu-a a Seu Pai – como deveria ser coma vontade de todo aquele que nasce do Espírito.”639

“Quando se escreve que Jesus foi tentado emtodos os pontos como nós, sem cometer pecado

637 Ibidem.638 Ibidem.639 Ibidem.

Page 305: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

(Heb. 4:15), a quem esse “nós” descreve?”,pergunta Woods. “Ele não se refere aos pagãos,mas ao povo de Deus... Talvez se refiraprimariamente aosS nascidos do Espírito (cf. João3:3-8), a pessoas não mais dirigidas pela carne e‘na carne’, mas espiritualmente conduzidas e ‘noespírito’ (ver Rom. 8:4-9).”640 Conseqüentemente,“aqueles que são nascidos do Espírito podem,através do poder de Cristo, resistir com êxito acada tentação e ser vitoriosos em sua luta contra oinimigo de suas almas.”641

Ao viver vitoriosamente em a natureza humanadecaída, “Jesus deu um exemplo de que Seusseguidores podem se valer em sua batalha contra opecado.”642

Encerrando, Wood exclama: “Quemaravilhoso Deus nós servimos! Que maravilhosoSalvador nós temos! Que maravilhoso poder estádisponível para nos capacitar a viver uma vidavitoriosa!”643

A Cristologia de Edward HeppenstallEdward Heppenstall foi um proeminente

professor de filosofia cristã, para quem a teologianão era verdadeiramente útil, a menos queconduzisse a um relacionamento com Deus atravésde Jesus Cristo. Nascido na Inglaterra, Heppenstall640 Ibidem.641 Ibidem.642 Ibidem.643 Ibidem.

Page 306: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

ensinou em várias universidades americanas e noSeminário Teológico Adventista do Sétimo Dia emWashington, D.C., a partir de 1955. NaUniversidade Andrews, em Berrien Springs,Michigan, ele tinha a seu cargo as cadeiras deteologia sistemática e filosofia cristã. Em 1967, eleaceitou o chamado para a Universidade de LomaLinda, Califórnia, para ensinar no Departamentode Religião, onde ficou até sua aposentadoria em1970.644

Através dos anos, Heppenstall foi um fielcolaborador de vários periódicos adventistas, emparticular do Ministry, Signs of the Times e TheseTimes. O comentário da segunda epístola aosCoríntios, no SDA Bible Commentary, procede desua pena. Muitos dos livros escritos durante suaaposentadoria, são dignos de crédito: Our HighPriest (Nosso Sumo Sacerdote), 1972; SalvationUnlimited (Salvação Ilimitada), 1974, In TouchWith God (Em Contato Com Deus), 1975, TheMan Who Is God (O Homem Que é Deus), 1977,todos publicados em Washington, D.C., pelaReview and Herald Publishing Association.

Até onde nosso tema está envolvido, Heppenstalldetalhou sua Cristologia no livro The Man Who IsGod. Essa é talvez a mais sistemática abordagemfeita por um teólogo adventista sobre “a pessoa e a

644 Ver Webster, págs. 248-346.

Page 307: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

natureza de Jesus, o Filho de Deus e o Filho doHomem” (o subtítulo do livro). Nele são tratadostodos os aspectos da Cristologia: Cristo na históriahumana, a Encarnação, o nascimento de Jesus, adoutrina da kenosis (a abdicação da forma divinapor Jesus ao tornar-Se homem e sofrer a morte), ocentro da consciência de Cristo, Cristo e o pecado,a impecabilidade de Jesus, a tentação de Cristo e asingularidade de Cristo.

Para Heppenstall, a Encarnação constitui o maiormilagre de todos os tempos e da eternidade. Ela éverdadeiramente o fato central do Cristianismo.“Se alguém não crê na Encarnação, então éimpossível compreender o que a fé cristãrepresenta”,645 porque, “a substância de nossa féjaz no que Cristo foi e fez, e não meramente noque Ele ensinou.”646 “A união do divino e dohumano resultou em duas naturezas em umapessoa, Jesus Cristo. Daí o termo usado para Jesus– o Deus-Homem.”647

Tendo enfatizado omiraculoso nascimento de Jesus, Heppenstallprossegue afirmando a perfeita divindade de Cristoe Sua perfeita humanidade; plenamente Deus etotalmente homem.

Heppenstall cria que a humanidade de Jesus nãoera a impecável humanidade de Adão antes da

645 Heppenstall, pág. 21.646 Idem, pág. 25.647 Idem, pág. 22.

Page 308: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

queda. “Cristo veio na humilde forma de um servoem Sua encarnação, representando servidão,sujeição, subordinação. Ele assumiu a debilitadanatureza humana e não a perfeita natureza queAdão possuía antes de pecar. Jesus não veio àTerra como um novo ser humano, criadonovamente em poder e esplendor... Em lugar decomandar e reinar em poder e majestade,ocupando um lugar de honra e preeminência entreos homens, Ele humilhou-Se a Si mesmo. Trilhoua senda da humilhação que culminou em Suamorte sobre a cruz.”648

Enquanto Heppenstall diferia daqueles queafirmavam que Jesus tomou a natureza de Adãoantes da queda, também divergia dos queatribuíam a Jesus a natureza de Adão após a queda.Ele via uma diferença entre ter uma naturezapecaminosa e uma natureza que portavasimplesmente os resultados do pecado.Obviamente, “se a transmissão do pecado é porpropagação natural, então Jesus deve ter herdadode Maria o que todos nós herdamos de nossos pais,a menos que admitamos alguma forma de doutrinade imaculada conceição.”649

Para Heppenstall, o pecado não é algo genético.O que os seres humanos herdaram de Adão pelonascimento foi um estado de pecado que separa de648 Idem, pág. 74.649 Idem, pág. 126.

Page 309: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Deus, isto é, “pecado original”. “O pecado é umfato espiritual causado pela alienação total deDeus por parte do ser humano. Não podemosaplicar essa condição alienada a Cristo. Ele nãonasceu como nós, separado de Deus. Ele era opróprio Deus. Ele poderia herdar de Maria apenasaquilo que seria transmitido geneticamente. Issosignifica que Ele herdou a constituição físicaenfraquecida, os resultados do pecado sobre ocorpo, que todos nós herdamos. Com referênciaaos demais homens, eles nascem sem Deus. Todosos homens necessitam de regeneração. Cristo não.Aqui jaz a grande diferença entre Cristo e nós.”650

Porque distinguiu o pecado original do processogenético, Heppenstall pôde afirmar que Cristo nãoteve uma natureza pecaminosa como o restante dahumanidade. Além disso, destacou ele: “EssaEscritura [Rom. 8:3] não diz que Deus enviou SeuFilho ‘em carne pecaminosa’, mas apenas ‘emsemelhança’ dela... Se Cristo houvesse nascidoexatamente como nós, Paulo não teria escrito ‘emsemelhança’, mas ‘em carne pecaminosa’. Oapóstolo é muito cuidadoso em tornar clara aimpecabilidade da natureza de Cristo.”651

“Cristonão nasceu isento de deterioração física. Ele aherdou totalmente de Maria... Ele estavafisicamente sujeito ao declínio da raça; mas uma650 Ibidem.651 Idem, págs. 136, 137.

Page 310: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

vez que o pecado não é transmitido geneticamente,mas como resultado da separação do homem deDeus, Cristo nasceu sem pecado.”652

Ao lidar com o problema da tentação,Heppenstall considerou que ‘a possibilidade de sertentado é a mesma para um ser sem pecado comopara um pecaminoso. Adão foi tentado quando eraum ser impecável. Ele enfrentou a tentação naplena força de um sistema físico e mental perfeito.Mas Cristo não Se tornou carne no perfeito estadoem que Adão foi criado. Para Cristo, o poder datentação foi enormemente aumentado em virtudede Sua herança de uma constituição físicaenfraquecida por 4.000 anos de crescentedegeneração da raça. A possibilidade de servencido era muito maior do que a de Adão porcausa disso.”653

Em razão de Sua confiança em Seu Pai celestiale pelo poder do Santo Espírito, Cristo triunfousobre o pecado. “Nisso Ele é nosso Padrãoperfeito. Nossa união com Deus é pela fé e não pornossos próprios esforços. Cristo escolheu vivercomo um ser humano, em total dependência deDeus. Nada poderia mudar isso. Ele andou comDeus pela fé, assim como temos de fazer.”654

Em conclusão, alguém pode apreciar o esforço

652 Idem, pág. 138.653 Idem, pág. 154.654 Idem, pág. 162.

Page 311: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

de síntese tentado por Heppenstall entre aCristologia tradicional e aquela ensinada pelosautores do livro Questions on Doctrine. Mais doque uma vez, ele declarou que Cristo haviatomado sobre Si, não a natureza de Adão antes daqueda, mas a natureza humana após 4.000 anos dedegenerescência da raça. Todavia, se afirmamosque o pecado é meramente um fato espiritualaparentado com a natureza religiosa, e nãotransmitido geneticamente, somos deixados comum Cristo que realmente não “condenou o pecadona carne”, a verdadeira missão pela qual Ele foienviado por Deus para cumprir “em semelhançada carne pecaminosa” (Rom. 8:3).

O argumento de Heppensttall tende a ser maisfilosófico do que bíblico, e ele não faz nenhumacitação de Ellen White.

Está evidente por que, após a publicação do TheMan Who Is God, Kenneth Wood sentiu aresponsabilidade de reafirmar a Cristologiaadventista histórica em seu editorial publicado nonatal de 1977. Longe de esclarecer o problema danatureza humana de Cristo, Heppenstall tornou-amais hipotética. Recentes descobertas genéticasparecem contradizer essa hipótese. De acordo coma antropologia bíblica, os seres humanos são umtodo; e se os efeitos do pecado são transferíveis,certamente o mesmo deveria ser verdadeiro quanto

Page 312: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

ao pecado como um poder.

A Posição de J. R. Spangler Sobre Cristologia,Enquanto Editor do Ministry

Lembramo-nos do papel desempenhado peloeditor-chefe do Ministry, Roy Allan Anderson,quando “o novo marco histórico do adventismo”foi publicado em 1956. J. R. Spangler sucedeu-oem 1966, mas ele achou melhor pôr-se à margemda controvérsia que foi crescendo de intensidadeatravés dos anos. Ela alcançou tal ponto quemuitos acharam estranho que o editor do Ministrynão se envolvesse no assunto.

A questão lhe foi colocada: “Por que os editoresdo Ministry não têm algo a dizer sobre a presentediscussão a respeito da natureza de Cristo e dajustiça pela fé? Qual é sua posição sobre essestemas?”655

A réplica de Spangler foi franca, direta e clara.Durante seus 36 anos de ministério, sua opiniãosobre esses pontos havia mudado. Ele escreveu:“Mesmo agora, hesito em responder a taisquestões por medo de deixar impressões errôneassobre a natureza do Senhor.”656

Mas desde omomento em que não havia nenhuma declaraçãode fé votada pela Conferência Geral sobre esseassunto, ele se sentiu livre para expressar seu655 J. R. Spangler, em Ministry, abril de 1978.656 Ibidem.

Page 313: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

ponto de vista.“Antes da publicação do Questions on Doctrine

e de certos artigos no Ministry, eu não dedicaramuita atenção sobre a exata natureza de Cristo.Simplesmente cria que Ele era Deus-Homem e Oapresentava como tal nas campanhasevangelísticas. Durante os primeiros anos de meuministério, eu esposava firmemente o ponto devista de que Cristo tinha tendências e propensõespara o mal, justamente como nós. Eu cria queCristo possuía uma natureza exatamente igual àminha, exceto que Ele nunca cedera à tentação.Todavia, nos anos 50, enquanto a igreja focalizavaa natureza de Cristo, minha posição mudou. Agoraera a favor da idéia de que Cristo foigenuinamente homem, sujeito às tentações e aofracasso, mas com uma natureza humanaimpecável, totalmente livre de qualquer tendênciaou predisposição para o mal.”657

Tendo examinado o que a Bíblia ensinava sobrea natureza humana de Cristo, Spangler fez-seperguntas como estas: “Nasceu Jesus com umanatureza corrompida como a minha? Foi Ele‘apartado do útero’? Era Ele, por natureza, filho daira? Recebeu injustos traços de caráter pelonascimento? Teve Ele de batalhar contra as fortestendências para o mal com as quais nasceu? Se

657 Ibidem.

Page 314: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

sim, que tendências e perversões hereditáriaspossuía? Ou Sua natureza tinha toda variedade,embora nunca houvesse cedido a elas?”658 Algunselementos contidos na carta de Ellen White aoPastor Baker, tornados públicos no Question onDoctrine, definiram sua posição, particularmente adeclaração “nem por um momento houve nElequalquer propensão para o mal”.659

Foi Jesus realmente como nós? Spangler nãoestava sozinho em seu desejo de saber sobre essafundamental questão. Thomas A. Davis, editor-associado da Review and Herald, ocupou-se doproblema e tentou dar-lhe uma resposta através dolivro Was Jesus Really Like Us? (Era JesusRealmente Como Nós?), publicado em 1979.660

Thomas A. Davis: Foi Jesus Realmente ComoNós?

Se o livro de Heppenstall teve a distinção de sero mais completo estudo entre aqueles quesustentavam que Jesus tinha uma naturezaimpecável, o livro de Davis oferecia umainteressante alternativa. Graças às suas primeiraspublicações, a posição de Davis era bemconhecida. Seu objetivo nesse ponto não erarepetir sua primeira postura. Em Era Jesus658 Idem, pág. 23.659 Ibidem.660 Thomas A. Davis, Foi Jesus, Realmente, Como Nós? (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn.,

1979).

Page 315: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Realmente Como Nós?, o autor tentou, em vez,definir quem era o “nós” a quem se supunha JesusSe assemelhava. Esse foi o ponto central desseestudo.

Davis convida seus leitores a lerem atentamenteHebreus 2:11-17. O verso 11 diz: “Pois tanto oque santifica como os que são santificados,todos vêm de um só. Por isso é que Ele não Seenvergonha de lhes chamar irmãos.” O verso 12refere-se mais uma vez aos ‘irmãos’; no verso 13,“os filhos que Deus Me deu; no verso 14, “osfilhos têm participação comum de carne esangue”. O verso 16 diz que Jesus veio parasocorrer os descendentes de Abraão. Eis por queo verso 17 especifica que Jesus ‘em todas as coisasSe tornasse semelhante aos irmãos.’661

O autor conclui que “aqueles que sãosantificados – postos à parte como filhos de Deus– são homens e mulheres que, em resumo,nasceram de novo”.662 E acrescenta: “Latente notermo irmãos está, talvez, uma das mais vitaischaves de toda a Bíblia para a compreensão danatureza humana de Jesus. O modo pelo qual otermo é usado em Hebreus 2:11-17 abre um vastocampo de exploração tanto nas Escrituras comonos escritos do Espírito de Profecia.”663

661 Idem, pág. 22 (itálicos supridos). 662 Idem, pág. 24 (itálicos supridos).663 Idem, pág. 25.

Page 316: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

A partir de Hebreus 2:17, Davis concluiu que“Jesus não Se encarnou na natureza comum detodos os homens. Ele não veio a este mundosemelhante ao homem em todos os aspectos. Anatureza humana que Ele adotou não erasemelhante àquela dos pecadores não regenerados.Sua natureza humana era comum apenas com adaqueles que haviam experimentado umrenascimento espiritual. Então, quando lemosque Jesus era, em todos os respeitos, semelhante aSeus irmãos, compreendemos que Ele possuía umanatureza semelhante à das pessoas renascidas.”664

Essa posição já fora mantida por outros teólogosadventistas do passado. Davis refere-se, entreoutros, a W. W. Prescott, que havia escrito em umde seus editoriais que “Jesus nasceu novamentepelo Espírito Santo... Quando alguém se entrega aDeus e se submete ao novo nascimento doEspírito, entra em um novo estágio da existência,justamente como Jesus fez.”665 Esse conceito foratambém mencionado por Kenneth Wood em seueditorial de 29 de dezembro de 1977.666

Isso não significa que Jesus tivesse de passar porum novo nascimento, esclarece Davis. “Jesussempre foi cheio do Espírito, puro, impecável,totalmente incontaminado pelo pecado. Dessa

664 Idem, págs. 30, 31.665 Idem, pág. 32.666 Wood, em Review and Herald, 29 de dezembro de 1977. Ver nosso capítulo 12.

Page 317: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

forma, Ele nunca necessitou da experiênciatransformadora. Então, quando usamos o termocom referência a Ele, fazemo-lo no sentidoacomodativo, por não possuirmos um vocábulomelhor.”667

“Quando descrevemos a natureza espiritual emoral de Jesus como ‘nascida de novo’, nãoqueremos transferir a idéia de que ela sejaexatamente como a natureza moral e espiritual deuma pessoa regenerada. Jesus é o Homem ideal, oAbsoluto em perfeição de caráter em todos osaspectos. Uma pessoa regenerada é ainda alguémfalho, de quem Jesus está removendo osdefeitos.”668

Davis interpretava Romanos 8:3 significando“que há íntima similaridade entre a humanidade deCristo e a nossa, mas elas não são idênticas. Háuma singularidade nEle que não poderia serencontrada em ninguém mais.”669

No capítulo 6, após examinar algumasdeclarações de Ellen White particularmentedifíceis de alguém aceitar, Davis chega ao “pontocentral” de seu argumento. “Devemos ter diante denós o conceito ao redor do qual toda a nossainvestigação gira: que Jesus possuía uma naturezasemelhante à de uma pessoa renascida. Ele foi

667 Davis, Foi Jesus, Realmente, Como Nós?, pág. 35.668 Idem, pág. 37.669 Idem, pág. 46.

Page 318: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

‘feito em tudo semelhante a Seus irmãos’,‘todavia, sem pecado’ (Hebreus 2:17; 4:15).Tenhamos em mente que Sua natureza humana era‘idêntica à nossa’,670

que Ele ‘assumiu os riscos danatureza humana, para ser provado e tentado’,671 eque tomou ‘sobre Si mesmo nossa decaídanatureza’. 672, 673

“Se isso for verdade, se concordarmos que Jesus

não estava fingindo quando Se tornou homem,então precisamos aceitar o conceito de que Eleencontrou dificuldades com Sua natureza humanadecaída, justamente como o ser humano – um serhumano renascido – teria. Insistir que a naturezahumana de Jesus era menos do que a de umapessoa regenerada, que ela era como a de alguémnão-convertido, é algo imponderável... Por outrolado, crer que Sua natureza era superior àquela deuma pessoa convertida, é realmente colocá-Loacima da própria humanidade, o que é algoigualmente inadmissível. Isso é reivindicar paraEle vantagens que nenhum ser humano pode ter,pois o novo nascimento é o mais alto estágioespiritual ao qual a humanidade pode atingir emseu presente estado.”674

Para Davis, Jesus foi realmente o Deus-Homem.670 Ellen G. White, Manuscrito 94, 1893.671 Ellen G. White, Signs of the Times, 2 de agosto de 1905.672 _______, O Desejado de Todas as Nações, pág. 112.673 Davis, Foi Jesus, Realmente, Como Nós?, pág. 53.674 Ibidem.

Page 319: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

“Ele era um homem com uma ‘natureza humanadecaída, que foi ‘degradada e poluída pelopecado’, em uma ‘deteriorada condição’ com asmesmas ‘susceptibilidades’ mentais e físicas que ohomem pecaminoso tem, estando sujeito à‘fraqueza da humanidade’, sem todavia Elepróprio ser pecaminoso, e portanto, sem culpa. Eleera impecável, inculpável; Sua vontade estavaconstantemente em concórdia com a de SeuPai.”675

O Ponto de Vista de William G. JohnssonWilliam G. Johnsson foi indicado para o cargo

de editor-chefe da Adventist Review em 2 dedezembro de 1982. É importante para nóscompreendermos seu ponto de vista com respeito àcontrovérsia sobre a natureza humana de Cristo.676

Ele não se envolveu diretamente no debate.Todavia, expressou suas idéias num livro sobre aepístola aos Hebreus, publicado em 1979. InAbsolute Confidence: The Book of HebrewsSpeaks to Our Days (Em Confiança Absoluta: OLivro de Hebreus Fala Para os Nossos Dias).677 Oprefácio explica que o livro não pretende ser umcomentário. “O propósito da obra é básico:explanar claramente a ‘mensagem’ de Hebreus e675 Idem, pág. 97.676 Depois do dia 5 de janeiro de 1978, a Review and Herald passou a denominar-se Adventist Review.677 William G. Johnsson, Em Absoluta Confiança: O Livro de Hebreus Fala Para os Nossos Dias (Nashville:

Southern Pub. Assn., 1979).

Page 320: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

mostrar sua significação para os cristãos hoje.”678

Ninguém pode explicar Hebreus sem falar deCristologia, uma vez que os primeiros doiscapítulos afirmam tanto a divindade quanto ahumanidade de Jesus Cristo. Johnsson consideravaque Jesus era plenamente Deus e plenamentehomem. Sobre Sua natureza humana, “o apóstoloquer que estejamos totalmente convencidos dela[que Cristo Se tornou nosso irmão]. Realmente,todo o seu argumento com respeito a Jesus comoSumo Sacerdote celestial se romperá em ruínas, seele não puder mostrar a humanidade. Assim,conquanto ele discuta mais extensivamente oponto em Hebreus 2:5-18, retorna a ele mais emais vezes.”679

Mas embora Jesus “Se identifique conosco”, issose faz “na base de laços sangüíneos familiares”.Ele é nosso irmão de sangue, ‘não por adoção, maspor nascimento. E embora Suas origens Ocoloquem muito distante de nossos limites, Elenão Se envergonha de nós, mas proclama aoUniverso reunido que nós somos Seus irmãos.”680

No capítulo 3, Johnsson viu os sofrimentos e astentações de Cristo como garantindo “agenuinidade da plena humanidade de JesusCristo”.681 Mas ele cria que a epístola aos Hebreus678 Idem, pág. 11.679 Idem, pág. 55.680 Idem, pág. 57, 58.681 Idem, pág. 61.

Page 321: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

não responde às modernas questões do âmago dodebate sobre a natureza de Jesus. “O problema éque os escritores do Novo Testamento não estavamconscientes da distinção entre natureza“pecaminosa” e “impecável”, e assim não amencionam. Podemos ficar perturbados quanto aisso, mas não eles. Para eles foi suficiente afirmara realidade da humanidade do Filho e Suas provas,a certeza de Sua impecabilidade através de todasas tentações, e Sua capacidade de ajudar o cristãoa vencer na hora de sua provação.”682

Em uma nota explicativa, Johnsson declarou:“Apenas dois versos do Novo Testamentofocalizam diretamente o tema da ‘natureza’ deCristo: Romanos 8:3 e Filipenses 2:7. Cada verso,contudo, é ambíguo; assim, os proponentes deambos os lados usam-nos nos debates.”683

Embora Johnsson não se inclinasseexplicitamente para nenhum dos lados da questãoem seu livro, suas palavras sugerem que elefavorecia o conceito da natureza humana sempecado, como a de Adão antes da queda, conformesuas declarações posteriores também sugerem.684

Edward W. H. Vick: Jesus, o HomemEm 1979, surgiu outro livro notável em muitos

682 Idem, pág. 63, 64.683 Idem, pág. 73, nota 11. 684 Ver nosso capítulo 14.

Page 322: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

aspectos: Jesus, o Homem, de autoria de EdwardW. H. Vick. Vick era conhecido nos meiosadventistas por causa de muitos de seus livros,como Deixe-me Garantir-lhe.685

Com diplomas das Universidades de Londres eOxford, e um Ph.D. da Vanderbilt University, Vickdirigia o Departamento de Estudos Religiosos doForest Fields College, em Nottingham, Inglaterra,na ocasião em que surgiu Jesus, o Homem, numasérie de estudos sobre teologia adventista. Ao seupróprio estilo, Vick buscou responder àsnumerosas questões que os teólogos haviamlevantado sobre o tema da pessoa de Jesus: “Quemo povo diz que Sou?”

Bem naturalmente o problema da naturezahumana de Jesus foi exercendo pressão sobreVick. Ele o aborda no capítulo 6: “Realmente, UmHomem Verdadeiro”. Então, tendo listado muitasexpressões similares que jazem na raiz da fé cristã,Vick destacou: “Note que essas declarações nãoalegam que Jesus, em todo o alcance de Suapessoa, é idêntico a nós. Elas meramente afirmamque com respeito à Sua humanidade, Ele ésemelhante a nós e que isso é essencial. Essenciala quê? Uma resposta eficaz sugere que aidentidade é necessária à salvação do homem. Foidito que o que não é alcançado não pode ser salvo.685 Edward W. H. Vick, Deixe-me Garantir-lhe (Mountain View, Calif.: Pacific Press Publ Assn., 1968); Jesus, o

Homem (Nashville: Southern Pub. Assn., 1979).

Page 323: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Para salvar um ser humano é preciso serinstrumental, útil.”686

Vick concluiu: “Ele é a agência da redençãohumana, por virtude de Sua humanidade.”687 Alémdisso, “a humanidade de Jesus é uma confissão defé. Ela foi a pressuposição de fé para os crentesprimitivos e veio a ser uma declaração explícitacomo a ocasião exigia, quando, por exemplo, aameaça do docetismo a questionava.”688

Mas,obviamente, não é fácil falar acertadamente sobreJesus Cristo, que é Deus e Homem,“verdadeiramente Deus e verdadeiramenteHomem”, como o Concílio de Calcedônia Odefiniu. Mas Vick perguntava: “Quando alguémdiz que em Jesus Cristo, Deus e o homem são um,que espécie de unidade isso quer significar? Émesmo certo falar em uma espécie de unidade?”689

Para compreender essa unidade, de acordo comVick, o problema de Jesus Cristo precisa serconsiderado sob dois pontos de vista: um históricoe outro experimental. Mediante essas duasabordagens, Vick então buscou definir aEncarnação nestes termos: “A Encarnaçãosignifica que Deus toma parte da humanidade.Significa que, embora Jesus tenha participado dasestruturas de uma existência humana pecaminosa,686 _______, Jesus, o Homem, pág. 53.687 Idem, pág. 54.688 Idem, pág. 57.689 Idem, pág. 93.

Page 324: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

como formada pelo homem, Ele não foi vencidopor tal participação... Através dEle, que Seentregou, Deus recebe o mundo para Si mesmo.Tal é o mistério da graça de Deus – um mistérioexperimentado pelo crente quando ele encontra afé em Deus, e participa da renovação da fé dia-a-dia. Quando o homem pecador abandona a Deus,Ele descobre um meio de Se revelar ao homem.”690

Vick insistia que em Cristo “Deus e homemestão unidos. O termo ‘encarnação’ expressa umarealidade objetiva. Em Jesus a humanidade estácompreendida, e Ele Se tornou as primícias, oparadigma, o exemplo, o modelo capaz, omediador – mas nenhum símbolo é adequado... Alinguagem que não permite que Jesus sejarealmente Deus e realmente Homem é totalmenteinaceitável.” “Nada deve comprometer a realhumani-dade de Jesus. Não podemos permitirhibridação de qualquer espécie.”691

Esse era o ponto de vista de Vick sobre ahumanidade de Jesus. Em certo sentido, eleretorna à definição de Ellen White: “Aintegralidade de Sua humanidade, a perfeição deSua divindade, formam para nós um seguroterreno sobre o qual podemos ser levados àreconciliação com Deus.”692

690 Idem, pág. 94.691 Idem, págs. 94, 95.692 Ellen G. White, carta 35, de 1894. Citada em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Comentários

de Ellen G. White, vol. 7-A, pág. 487.

Page 325: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Com o testemunho de Vick, a década de 1970 seencerrou. Durante esse período, a Cristologia dospioneiros foi confirmada de muitos modos, pelasautorizadas publicações da igreja. Confrontadoscom esse revigorado ensino tradicional, aquelesque se lhe opunham tentaram várias fórmulasconcessivas envolvendo uma posiçãointermediária, como a chave da natureza humanade Cristo, ou simplesmente decidiram convivercom ambas as posições. Essa tendência culminouem junho de 1985, com a simultânea publicaçãono Ministry das duas interpretações opostas.

Page 326: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Capítulo 13

O AUGE DA CONTROVÉRSIA

Depois de mais de 25 anos de controvérsia sobre anatureza humana de Cristo, era de se esperar umperíodo de distensão. Mas, ao contrário, aintensidade da discussão foi-se elevando numcrescendo no período compreendido entre 1980 e1985.

Enquanto a Cristologia tradicional estavaganhando popularidade, a nova teologia pareciaestar perdendo força e seus proponentesprocurando novos argumentos. Enfrentando até ascríticas mais contundentes, os defensores da novateologia se esforçaram por harmonizar as duasposições contrárias, como se elas fossem de igualvalor e mérito.

Um Zeloso Defensor da CristologiaTradicional

Como já mostrado, Wieland e Short foram osprimeiros a alertar a igreja sobre as novasinterpretações concernentes à pessoa e obra deCristo.693

Para estudar o assunto, a ConferênciaGeral escolheu uma comissão especial cujasconclusões foram publicadas no relatório da693 Ver nosso capítulo 12.

Page 327: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Conferência de Palmdale, após muitas reuniões.Totalmente insatisfeito com os resultados, Wielandprocurou esclarecer o assunto através dapublicação, em 1977, de um livro intitulado ComoPôde Cristo Ser Inocente Como um Bebê?694

Em1979, ele escreveu novamente para responderquestões complementares relacionadas àCristologia tradicional.695

Tendo sido um missionário, Wieland era bemversado em assuntos africanos. Ele foi convidado avoltar à África com o específico propósito depreparar ali uma variedade de livros para suprir asnecessidades espirituais dos cristãos da regiãosubsaariana. Já na África, ele publicou em 1981,entre outros livros, um estudo da natureza humanade Cristo denominado O Elo Rompido.696

No prefácio, Wieland declarou que o propósitode seu livro era “tentar esclarecer as aparentes ousupostas contradições sobre a questão dahumanidade de Cristo. A total divindade de Cristoé fundamental e espera-se que seja compreendida.Nosso único problema em discussão aqui é queespécie de humanidade Cristo tomou ouassumiu em Sua encarnação. Que Ele retiveraSua plena divindade na encarnação não é nem

694 Robert J. Wieland, How Could Christ Be Sinless as a Baby? (Chula Vista, Calif.: 1977).695 _______, Answers to Some Questions (Chula Vista, Calif.: 1979).696 ______, The Broken Link (Kendu Bay, Kenya: Africa Herald Publishing House, 1981). Esse livro foi também

impresso na Austrália por Elija Press. Esse estudo já havia sido assunto de uma brochura publicada em1975, no tempo em que a Comissão Sobre Justiça Pela Fé estava reunida em Palmdale.

Page 328: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

minimamente questionada.”697

Wieland reconheceu que parecia haver algumascontradições em muitas declarações de EllenWhite sobre a natureza de Cristo. “Mas quandosuas declarações são estudadas dentro do contexto,os paradoxos demonstraram que ela levou muito asério seus conselhos sobre ‘ser cuidadoso,extremamente cuidadoso, quando tratar danatureza humana de Cristo’. Ela não se omitesobre o assunto e nem nós deveríamos fazê-lo; eporque ele significa ‘tudo para nós’, ‘a correntedourada que liga nossas almas a Cristo, e atravésde Cristo a Deus’, não pode haver nenhum elorompido nessa corrente.”698

Para Wieland “provavelmente a mais clara emais bela apresentação de Cristo como ‘Deusconosco’, desde os tempos apostólicos, éencontrada na mensagem de 1888 sobre a justiçade Cristo.” Mas essa mensagem continha umapedra de tropeço para muitos que temiam que ainocência de Cristo pudesse ser violada. Wielanddeclara: “Os mensageiros de 1888 sustentavamque a justiça de Cristo foi por Ele vivida numanatureza humana idêntica à nossa, e que quando opovo de Deus verdadeiramente compreender ereceber essa ‘justiça pela fé’, serão capazes de

697 Idem, pág. 2.698 Ibidem.

Page 329: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

vencer como Cristo venceu.”699

Wieland apresentou 32 questões e as respondeucom a Escritura e as declarações de Ellen White.Primeiramente, Wieland mostrou que não hánenhuma contradição na Bíblia com referência ànatureza humana de Cristo.700 Então demonstrouque Ellen White nunca se opôs ao ensino deWaggoner ou Jones sobre esse assunto.701

Prosseguiu então mostrando que a carta escrita aBaker em 1895 não tinha a intenção dedesacreditar os pontos de vista dessespregadores.702

Sua análise de algumas declaraçõescontidas na carta de Baker revelou que elas nãoeram contrárias aos ensinos de Ellen White.703

Wieland respondeu a algumas séries deinquirições de pessoas que, compreensivelmente,não aceitavam a noção de que Jesus poderia tervivido uma vida isenta de pecado numa naturezahumana decaída. Ele não apenas colocou em seudevido contexto algumas citações contidas noQuestions on Doctrine, como também refutoucertas declarações equivocadas tais como a de que“Jesus assumiu uma natureza humana impecável”,destacando que “a própria Ellen White nuncajamais escreveu tais palavras; elas foram

699 Idem, pág. 5.700 Idem, págs. 9-11.701 Idem, págs. 11-14.702 Idem, págs. 14-16.703 Idem, págs. 16-19.

Page 330: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

unicamente suposições dos editores.”704 Em

resumo, esse estudo continha respostas detalhadasa muitas das questões básicas que podem serlevantadas sobre a natureza humana de Cristo.

Em 1983, a Pacific Press publicou o livro OuroProvado no Fogo,705 no qual Wieland explicou o“que Cristo necessitava para ser nosso substituto”,isto é, “ouro provado no fogo”, como o títulosugere. De fato, segundo Wieland, “Cristo nãopode ser nosso Substituto a menos que tenhaenfrentado nossas tentações como temos de fazer.Ele precisava enfrentar nosso inimigo em seupróprio terreno, em seu próprio covil, e alieliminá-lo.”706

Posteriormente, ao comentar Romanos 8:3,Wieland escreveu: “A palavra semelhança usadapor Paulo não pode significar diferença, pois seriauma monstruosa fraude para Cristo professar quecondenou o pecado na carne, a carne na qual Paulodiz que fomos ‘vendidos sob pecado’, onde “a leido pecado” opera, se Ele apresentasse umacontrafação de Sua encarnação por tomarsimplesmente o que parecia ser nossa carnepecaminosa, mas que não era de fato a coisa real ...Paulo usa a palavra semelhança (com boa razão)para denotar a realidade da plena identificação de704 Idem, págs. 33 e 34.705 _______, Gold Tried in the Fire (Outro Provado no Fogo) (Mountain View, Calif.: Pacific Press Pub. Assn.,

1983).706 Idem, pág. 73.

Page 331: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Cristo conosco, todavia, tornando claro que Ele, demodo nenhum, participou de nosso pecado. Agloriosa vitória de Cristo jaz no fato de que Ele foi‘tentado em tudo, como nós o somos, mas sempecado’ (Heb. 4:15).”707

Extraindo dessa “vitória” a conclusão óbvia,Wieland anima seus leitores a vencer a tentaçãocomo Cristo o fez: “Não importa quem você sejaou onde esteja, tenha a certeza de que Alguém jáesteve exatamente em seu lugar, ‘mas sempecado’. Olhar para Ele, ‘vê-Lo’, com todas asnuvens do engano dissipadas pela verdade de Suajustiça, ‘em semelhança da carne pecaminosa’.Crer que o pecado que o atrai foi ‘condenado nacarne’. Você pode vencer através da fé nEle.”708

A Nova Cristologia nas Lições da EscolaSabatina

Como já declarado, as lições da escola sabatinapreparadas por Herbert E. Douglass em 1977,ensinavam que Cristo assumiu a natureza humanade Adão após a queda. Em contraposição, as liçõespreparadas por Norman R. Gulley, professor deBíblia do Southern Missionary College, para oprimeiro trimestre de 1983, ensinavam que anatureza espiritual de Cristo foi pré-queda, masSua natureza física foi pós-queda. Realmente,707 Idem, pág. 75.708 Idem, pág. 77.

Page 332: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Gulley tentou provar que os dois modos decompreender a natureza humana de Cristo serealçavam mutuamente.

Para lograr seu intento, Gulley explicoudetalhadamente essa teoria no livro Cristo, NossoSubstituto.709

“Os adventistas do sétimo dia crêemque Jesus Cristo era plenamente Deus eplenamente homem. Mas podemos entender afrase ‘plenamente homem’ de dois modos. Jesuspossuía (1) a natureza humana impecável, talcomo Adão a tinha antes da queda, ou a naturezahumana decaída. Qual é a correta? Ele assumiuambas. Pois Cristo tinha a natureza espiritual dohomem antes da queda, e sua natureza física apósa queda.”710

Gulley tentou uma síntese das duasinterpretações e reivindicou o apoio de EllenWhite. “Se ela estiver defendendo Suaimpecabilidade, então a natureza pré-queda estáapoiada. Se ela estiver defendendo Sua limitadahumanidade, então a natureza pós-queda éadvogada”, escreveu ele.711

A explicação, em princípio, pode pareceratraente. Pelo menos ela tem o mérito de suportaro ímpeto da oposição entre as duas idéias. Masalguns podem discutir o fato dela criar mais

709 Norman R. Gulley, Christ Our Substitute (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1982).710 Idem, pág. 33.711 _______, em Adventist Review, 30 de Junho de 1983.

Page 333: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

confusão ao atribuir a Cristo duas naturezashumanas em acréscimo à Sua divina natureza.Face a isso, prorromperam comentários e objeçõesatravés das cartas dos leitores da seção daAdventist Review. O que se segue é de autoria deDonald K. Short:

“Ellen White não diz uma simples palavra sobre‘a natureza pré-queda’ de Cristo, e sugerir isso épôr palavras em sua boca e promover confusão.Não há um lugar onde ela coloque Jesus à parte deSeu povo e tente equilibrar as naturezas pré-lapsariana e pós-lapsariana. Como pode esse tipode confusão ser promovido em nome da ‘unidadedentro de nossa igreja’?”712

Herbert Douglass enviou dois artigos ao editorda Adventist Review, para serem ambospublicados no natal de 1983, sob o significativotítulo “Por Que os Anjos Cantaram em Belém”.713

Sem reparos ao ponto de vista geral de Douglass,mencionamos a seguir sua lista de expressõesdistintivas emprestadas de Ellen White e deeminentes teólogos com relação à naturezahumana de Cristo:

“Embora Jesus... [houvesse] tomado ‘nossanatureza decaída’ ‘o lugar do decaído Adão’, ‘anatureza humana... à semelhança da carne

712 Donald K. Short para William G. Johnsson (editor da Adventist Review), 4 de julho de 1983. Citado porBruno W. Steinweg, The Doctrine of the Human Nature of Christ, pág. 21.

713 Herbert E. Douglass, na Adventist Review, 22 e 29 de dezembro de 1983.

Page 334: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecaminosa, e haja sido tentado por Satanás comotodos os filhos são tentados’, a ‘natureza de Adão,o transgressor’, ‘a ofensiva natureza do homem’, emuitas outras expressões similares, esses eruditose Ellen White são claros em dizer que o materialhumano decaído, degradado, não O forçou a pecar,quer em pensamento, quer em atos. Ele Semanteve imaculado e puro, embora tenha sidotentado por dentro e por fora.”714

Outros protestos foram feitos diretamente a H. F.Rampton, diretor do Departamento de EscolaSabatina da Conferência Geral. Um deles, datadode 19 de janeiro de 1983, foi enviado pelos líderesda igreja de Anderson, na Califórnia. Elesexpressavam sua preocupação com os “graveserros doutrinários” apresentados “sutilmente” pormeio das lições da Escola Sabatina. “Sentimos queessas lições representam um deliberado esforçopara ‘persuadir’ a massa de leitores e preparar osmembros da Escola Sabatina para receberemnovos conceitos teológicos, totalmente contráriosàs crenças adventistas tradicionais, crençasfundamentadas em sadios princípios bíblicos e doEspírito de Profecia.”715

“A lição do dia 15 de janeiro torna confusa anatureza humana de Cristo na Encarnação, mas

714 _______, na Adventist Review, 29 de dezembro de 1983.715 The Voice of Present Truth (A Voz da Verdade Presente) (Platina, Calif.: revista publicado por Unwalled

Village Publishers, 1983), pág. 13.

Page 335: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

com decidida tendência para uma ‘natureza nãodecaída’”716 A escolha das citações de Ellen Whitefoi criticada. “A doutrina da ‘natureza não decaídade Cristo’ é vital ao novo conceito teológico.Satanás tem trabalhado diligentemente paraintroduzir as idéias da ‘nova teologia’ na IgrejaAdventista. Nos anos cinqüenta, Satanás operouatravés de um grupo de destacados teólogos parapromover sua “Cristologia”, mas a igreja não arecebeu. Estará ele novamente usando a EscolaSabatina para realizar seu propósito?”717

O periódico A Voz da Verdade Presente, emboranão sendo uma publicação denominacional,imprimiu cartas de grupos e membrosescandalizados com a apresentação da ‘novateologia’ na igreja, por meio das lições da EscolaSabatina. Com a missão de “representar osprincípios fundamentais do MovimentoAdventista”718, esse periódico dedicouinteiramente a edição de março à reafirmação doensino tradicional sobre o tema da naturezahumana de Cristo. A fim de cumprir esse objetivo,foram solicitados artigos de autores como HerbertE. Douglas e Dennis E. Priebe.

716 Ibidem.717 Idem, págs. 18 e 19.718 Idem, pág. 1.

Page 336: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

A Voz da Verdade PresenteO artigo de Herbert Douglass trouxe seu título

estampado em letras garrafais no topo da primeirapágina: “O Homem Modelo”. De fato, nada houvenesse artigo que Douglass não tivesse ditopreviamente. O objetivo não era apresentar novasverdades, mas relembrar as antigas.

Douglass escreveu: “Deus não veio pela metadeà Terra em Sua tentativa de redimir homens emulheres. Ele não veio como um simpático anjo,ou mesmo como um super-homem inexpugnável atodos os problemas e fraquezas da humanidade. Aescada do Céu à Terra atingiu plenamente oponto onde os pecadores estavam. Se elahouvesse deixado de tocar a Terra por um simplesdegrau, estaríamos perdidos. Mas Cristo veio aténós onde estávamos. Ele tomou nossa natureza evenceu, para que tomando Sua natureza possamosvencer” (O Desejado de Todas as Nações, págs.311 e 312).”719

Naturalmente, o alvo do artigo de Douglas eramostrar que “Jesus entrou para a família humanatomando a mesma natureza de todos os outros‘descendentes de Abraão’... Jesus era um homemreal, exceto por não ter pecado.”720 Todavia, Elefoi tentado como nós o somos em todas as coisas.Para destacar esse ponto, Douglass citou as mais719 Herbert E. Douglass, em The Voice of Present Truth, pág. 1.720 Idem, págs. 1 e 2 .

Page 337: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

impressivas declarações de Ellen White sobre oassunto.

Entre muitas, Douglass relembrou a resposta deEllen White àqueles que supunham que se Jesushouvesse realmente possuído a mesma natureza detodos os seres humanos, Ele teria sucumbido àtentação. “Se Ele não tivesse a natureza dohomem, não poderia ser nosso exemplo. Se elenão fosse participante de nossa natureza, nãopoderia ser tentado como o homem é. Se não Lhefosse possível ceder à tentação, não poderia sernosso auxiliador. É uma solene realidade queCristo veio para ferir as batalhas como homem, emfavor do homem. Sua tentação e vitória nosensinam que a humanidade tem de copiar oModelo; o homem precisa tornar-se participanteda natureza divina (Mensagens Escolhidas, vol. 1,pág. 408).”721

O artigo de Denis E. Priebe, então professor deBíblia no Pacific Union College, na Califórnia,também merece nossa atenção. Para ele “aprincipal doutrina, o tema que determina o rumode ambos os sistemas de crença, o fundamento e apremissa de toda a controvérsia, é a questão ‘OQue é Pecado?’ O evangelho é todo sobre comosomos salvos do pecado. É o pecado que nos fazperdidos e o evangelho é a boa-nova de como

721 Idem, pág. 2 (itálicos supridos).

Page 338: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Deus nos redime do pecado. A maioria de nóssupõe que sabemos o que é pecado, sem tomartempo para definir pecado.”722

Primeiramente, Priebe conduziu a questão aopecado original. De acordo com os reformadores,“o pecado original é simplesmente a crença de quesomos culpados por causa de nosso nascimentocomo filhos e filhas de Adão. Essa doutrina ensinaque somos culpados por natureza, antes quequalquer escolha do bem ou mal entre em cena.”723

Priebe observou com propriedade: “Sob esse pontode vista, fraqueza, imperfeições e tendências sãopecado. É um enfoque interessante e significativoque os reformadores tenham edificado suadoutrina do pecado original sobre a premissa dapredestinação... É um pouco estranho queconquanto a predestinação tenha sido rejeitadapela maioria dos cristãos hoje, o pecado original éainda visto como o fundamento do correto ensinoevangélico.”724

“Obviamente, Ele [Cristo] tem de possuir umanatureza impecável, totalmente diferente danatureza que você e eu herdamos por nascimento...Por causa da crença de que a natureza pecaminosaenvolve culpa à vista de Deus, é absolutamenteimperativo que Cristo não tenha ligação com nossa

722 Dennis E. Priebe, em The Voice of Present Truth, pág. 12.723 Idem, pág. 13.724 Ibidem.

Page 339: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

natureza decaída.”725

A visão de Priebe sobre a natureza do pecado eratotalmente diferente. Para ele, “o pecado não ébasicamente o que o homem é, mas o que eleescolhe ser. O pecado ocorre quando a menteconsente com aquilo que parece desejável e assimrompe seu relacionamento com Deus. Falar deculpa em termos de natureza herdada é passar poralto a importante categoria da responsabilidade.Até termos unido nossa vontade à rebelião humanacontra Deus, até nos opormos à Sua vontade, aculpa não é cabível. O pecado está envolvido navida do homem, em sua rebelião contra Deus, emsua voluntariosa desobediência, e com otranstornado relacionamento com Deus que dissoresulta. Se a responsabilidade pelo pecado deve teralgum significado, não se pode afirmar que anatureza humana decaída torna o homeminevitavelmente culpado de pecado.Inevitabilidade e responsabilidade são conceitosmutuamente exclusíveis na esfera moral. Assim, opecado é definido como voluntariosa escolha derebelar-se contra Deus em pensamento, palavra ouação. Nesse evangelho, o pecado é a escolhaintencional para exercitar nossa decaída naturezaem oposição à vontade de Deus.”726

Priebe aplicou sua definição de pecado à725 Ibidem.726 Idem, pág. 14.

Page 340: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

natureza de Cristo: “Se o pecado não é natural,mas escolha, então Cristo poderia herdar nossadecaída natureza sem, por meio disso, tornar-Sepecador. Ele permaneceu sempre impoluto porqueSua conscienciosa escolha sempre foi a obediênciaa Deus, nunca permitindo que Sua naturezadecaída Lhe controlasse as opções. Sua herançaera a mesma que a nossa, sem necessidade derecorrer a uma especial intervenção divina paraevitar que Jesus recebesse a plenitude humana deMaria. Cristo aceitou espontaneamente ahumilhação de descer não apenas ao nível dohomem sem pecado, mas ao nível que o homemhavia caído através do pecado de Adão e dospecados das sucessivas gerações. O homem nãoestava no estado de Adão antes da queda, assim,algo muito mais drástico era necessário se osefeitos da queda de Adão devessem sersuplantados. Cristo precisava baixar àsprofundezas às quais a humanidade havia descido,e em Sua própria Pessoa erguê-la de seus baixios aum novo nível de vida. Jesus desceu desde asalturas até as profundezas para nos erguer, para sernosso Salvador.”727

Em seguida Priebe considerou o que teriaacontecido “se Jesus Se houvesse revestido danatureza humana perfeita”, ou a natureza de Adão

727 Idem, págs. 14 e 15.

Page 341: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

antes da queda. Ele teria sido ‘intocado pelaqueda’, ‘e não estaria lado a lado com o homemem suas necessidades’, ‘haveria um grande abismoentre Jesus e aqueles a quem Ele representavadiante de Deus... Se Jesus assumisse a perfeitanatureza humana, teria atravessado o abismo entreDeus e o homem, mas essa voragem entre ohomem caído e o homem não-caído aindaprecisaria ser cruzada.”728

“Se, todavia”, acrescentou Priebe, “Cristopartilhou de nossa natureza humana decaída, entãoSua obra mediatória cruzou todo o abismo desde ohomem caído, em sua triste necessidade, até Deus.Tão somente por ter entrado em nossa situação, nomais profundo e pleníssimo sentido, eidentificando-Se totalmente conosco, foi Ele capazde ser nosso Salvador. Quaisquer outras condições,exceto numa carne decaída, poderiam ter sidodesafiadas de vez pelo inimigo e influenciado opensamento de seu universo.”729

Priebe escreveu que esse modo de compreendera natureza humana de Cristo foi tambémproclamado por Waggoner e Jones em 1888, eclaramente apoiado por Ellen White. “De fato,essa compreensão da vida de Cristo foi o poderdinâmico da mensagem – o Senhor Jesus Cristo,

728 Ibidem.729 Idem, pág.15.

Page 342: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

que foi leal a Deus em carne pecaminosa.”730

Considerando a aplicação prática da mensagemda justificação, Priebe abordou-a em duas frentes.“Daqui a mensagem do evangelho vem até nossasituação. O evangelho é a boa-nova sobre o caráterde Deus – de que Ele perdoa e restaura. Oevangelho é a declaração de Deus de que somosjustos nos méritos de Cristo e da renovação denossas vidas pecaminosas, para que, gradualmente,possamos ser restaurados à Sua imagem. Oevangelho é um veredicto legal e um podertransformador. A união com Cristo é a chave da fé,através da qual a justificação deve ocorrer. Oevangelho inclui justificação, uma ligação comCristo pela fé na base da qual somos declaradosjustos, e santificação, uma sempre crescentesemelhança com Cristo mediante o exercíciodiário de uma progressiva fé, na base da qualsomos feitos justos.”731

Em 1985, Priebe desenvolveu detalhadamentecada um de seus argumentos num livro publicadopela Pacific Press, intitulado Face to Face With theReal Gospel (Cara a Cara com o EvangelhoReal).732 Citaremos apenas uma observação queconsideramos apropriada: “Como igreja, nuncadefinimos formalmente nossas crenças nestas três

730 Ibidem.731 Ibidem.732 _______, Face to Face With The Real Gospel (Mountain View, Calif.: Pacific Press Pub. Assn., 1985).

Page 343: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

áreas críticas – pecado, Cristo e perfeição. E porcausa de nossa falta de clareza e pontos de vistadivergentes acerca delas, temos peregrinado numdeserto teológico de incerteza e frustração atravésde 40 anos. Além disso, porque temos tidocontraditórios pontos de vista nessas áreas, fomosincapazes de definir claramente nossa mensagem emissão.”733

O contraste entre as diferentes Cristologiasencontrou clarificação numa excelente tesedoutoral de Eric Claude Webster, defendida nafaculdade de teologia da Stellenbosch University,Província do Cabo, na África do Sul, e publicadaem 1984 sob o título Crosscurrents in AdventistChristology734 (Correntes Conflitantes naCristologia Adventista).

Correntes Conflitantes na CristologiaAdventista

Como um hábil cirurgião, Eric ClaudeWebster735

expôs o verdadeiro cerne da Cristologiaadventista em sua volumosa obra sobre o assunto.No primeiro capítulo, Webster abordou o problemada Cristologia em suas variadas moldurashistóricas. Nos capítulos sucessivos ele analisou as

733 Idem, pág. 9.734 Eric Claude Webster, Crosscurrents in Adventist Christology.735 Webster nasceu em 26 de agosto de 1927 na África do Sul. Após a conclusão de seus estudos teológicos

no Heldelberg College, próximo à Cidade do Cabo, ele obteve o mestrado em divindade na AndrewsUniversity. Desde 1948 ele trabalhou na igreja adventista em vários setores.

Page 344: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Cristologias de quatro eminentes escritores eteólogos adventistas: Ellen G. White, Ellet J.Waggoner, Edward A. Heppenstall e Herbert E.Douglass, dois deles representando a geração dospioneiros e dois contemporâneos. No capítulofinal, Webster sumariou seus pensamentos comrespeito a essas quatro Cristologias, as quais sãorealmente representativas das diferentes correntese contra-correntes na Cristologia adventista.

Já examinamos a posição de cada um dessesautores e, por conseguinte, evitaremos repeti-lasaqui. De especial interesse são os notáveis pontosde vista pessoais com respeito à controvérsia sobrea natureza humana de Cristo. Por exemplo, eleclassificou as Cristologias de Ellen White eHeppenstall como ontológicas; a de Waggonercomo especulativa e a de Douglas como funcional.

Webster também citou o que ele considerava sero fator dominante de cada Cristologia. Para EllenWhite, Waggoner e Heppenstall, foi a pessoa deJesus, enquanto que para Douglass, a obra deCristo. Como objetivo proposto de cada um, eleafirmou que Ellen White focalizou a manifestaçãodo caráter de Deus, enquanto Waggoner destacou ainteireza da santidade no homem; Heppenstalldeteve-se sobre o objetivo da salvação, e Douglasenfatizou a semelhança com Cristo.

Quanto à natureza humana de Jesus, Webster

Page 345: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

confirmou a análise que até aqui fizemos arespeito de cada um desses autores. No entanto,suas conclusões acerca de Ellen White diferiamsobre importantes pontos: “Em relação ao pecado,achamos que Ellen White entende a vinda deCristo à Terra em natureza pós-queda, com todasas ‘simples enfermidades e fraquezas do homem’,juntamente com os pecados imputados e a culpado mundo, suportando assim vicariamente a culpae a punição de todo pecado; e ainda numa naturezaque era impecável e sem perversão, poluição,corrupção, propensões pecaminosas e tendênciasou mancha de pecado.”736

Webster então reafirmou a posição pós-lapsariana de Ellen White. Todavia, ele alude às‘simples enfermidades’ em citações avulsas, comose essa expressão fosse de Ellen White. Comopreviamente declarado, essa expressão nunca foiusada por Ellen White; quanto ao termo‘vicariamente’, ela nunca o utilizou em todos osseus escritos.

Na apresentação de seu ponto de vista, Websterconcordou essencialmente com Heppenstall.737

Eleescreveu: “Durante a Encarnação, Jesus Cristomanifestou Sua divindade de forma a serplenamente Deus, e ... Sua humanidade de forma a

736 _______, Crosscurrents in Adventist Christology, pág. 156. A expressão “simples enfermidades” deve seratribuída a Henry Melvill. Ver nosso capítulo 14.

737 Idem, págs. 450-452. Ver proposições apresentadas por Webster em sua conclusão às págs. 450-452.

Page 346: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

ser plenamente homem.” Mas acima de tudo,“Jesus Cristo veio a este mundo na humanidade deAdão após a queda e não antes dela. Ele assumiu ahumanidade afetada pelas leis da hereditariedade esujeita à fraqueza, enfermidades e tentações.”738

Webster acrescenta: “Porém, Jesus Cristo,conquanto vindo em natureza humana decaída,não foi infectado pelo pecado original e nasceusem quaisquer propensões para o pecado; assim,não precisamos ter dúvidas com respeito à Suaabsoluta impecabilidade.”739

Todavia, “Jesus Cristoescolheu livremente assumir não apenas umanatureza como a nossa em todos os respeitos,excetuando-se o pecado, como também a situaçãocomum de sofrimento, alienação e perda, vindoem carne mortal, aceitando vicariamente nossaculpa, punição e separação sobre Si mesmo.”740

O estudo de Webster é uma mina de ouro paraaqueles que desejam melhor compreensão doproblema atual, no centro da controvérsia na IgrejaAdventista. Sua posição em favor da natureza pós-queda de Cristo constitui um voto a favor daCristologia tradicional. Não obstante, alguns vêemcontradição nas posições de Webster. Por um lado,ele afirma que “Jesus Se revestiu da humanidadeafetada pela lei da hereditariedade”, enquanto que

738 Idem, pág. 451, proposições 8 e 9.739 Idem, proposição 10.740 Idem, proposição 11.

Page 347: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

por outro, ele garante que Cristo “não foiinfectado pelo pecado original e nasceu semquaisquer tendências e propensões para pecar.”Nossas objeções com relação àqueles quedeclaram que Cristo não possuía tendência parapecar e que Ele herdou apenas “simplesfraquezas”, aplicam-se também a Webster. De fato,essas declarações não são bíblicas nem estão emharmonia com o ensino de Ellen White.

As Duas Cristologias Face a FaceEm resposta à polêmica, J. Robert Spangler,

editor do Ministry, solicitou que dois teólogos,cada um especializado no assunto, apresentassemseus pontos de vista para os pastores adventistas.No editorial de junho de 1985, ele escreveu: “Pormuitos anos temos intencionalmente evitadopublicar em nosso periódico qualquer artigotratando da natureza de Cristo. Meu editorial deabril de 1978 no Ministry testificou de minhaprópria luta sobre esse tema. Destaquei que euhavia sido oprimido com sentimentos deinsuficiência própria na tentativa de expressarminhas convicções.”741

“Entretanto, em vista do fato de que há aquelesque sinceramente crêem que a igreja cairá ou seerguerá segundo sua compreensão sobre Cristo e

741 Robert J. Spangler, no Ministry, junho de 1985, pág. 24.

Page 348: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Sua natureza, e em vista das reimpressões e dadiscussão sobre o assunto, achei que ambos oslados da questão deveriam ser reexaminados.Portanto, estamos publicando dois extensos artigosde dois eruditos adventistas.”742

Spangler esforçou-se para dar ênfase às linhascomuns em ambas as interpretações. “Ambos oslados crêem que nosso Senhor era plenamentehumano e plenamente divino; que Ele foi tentadoem todos os pontos, como nós o somos; que Elepoderia haver caído em pecado, abortando assimtodo o plano de salvação, mas que nunca cometeupecado. (Parece que em alto grau a diferença depontos de vista pode ser atribuída à variação decompreensão do que constitui a naturezapecaminosa. Pode haver muito menos do queparece separando os dois lados em seu debate).”743

Depois de rever os pontos concordes, o editorponderou umas poucas questões fundamentais dasquais o debate dependia. “Em Sua naturezahumana, começou nosso Senhor onde todos osoutros filhos começam? Cristo assumiu a naturezahumana pré ou pós-queda? Se a raça humana foiafetada pela queda de Adão e Eva, foi Cristotambém atingido ou Ele estava imune a isso? SeCristo aceitou a natureza humana impecável, tinhaEle alguma vantagem sobre nós? Tomou Ele742 Ibidem.743 Ibidem.

Page 349: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

vicariamente a natureza humana decaída? Se Eleassumiu a natureza humana decaída, esse elemento‘caído’ dizia respeito apenas ao Seu físico e não aoSeu caráter moral? É possível resolver o assuntoda natureza de Cristo, com o qual a igreja cristãvem se debatendo por dois mil anos? É-nosnecessário ter uma definitiva e acuradacompreensão da natureza de Cristo para sermossalvos? Precisava Cristo ter nossa natureza decaída(sem pecado, é claro), a fim de os cristãospoderem viver a vida imaculada que Ele viveu?”744

Essas foram as perguntas às quais os doisteólogos indicados deveriam responder. Para evitarinfluenciar os leitores, as duas apresentaçõesforam publicadas sob pseudônimos. Num artigoposterior, os dois nomes foram revelados: NormanR. Gulley e Herbert E. Douglas.

1. Gulley: A Natureza Humana Antes daQueda

Gulley defendia a posição pré-lapsariana. Mascontrariamente à prática daqueles que partilhavamesse ponto de vista, ele não estabeleceu suaposição com base nas declarações de Ellen White.Sua exposição se apoiava no estudo exegético deversos bíblicos cristológicos.745

Ele cria que todaverdade doutrinária deveria estar fundamentada744 Ibidem.745 Norman R. Gulley fez um estudo dos textos de Ellen G. White na Adventist Review de 30 de junho de 1983.

Page 350: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

em terreno escriturístico.Ele procedeu a um estudo lingüístico e teológico

para definir o significado das palavras gregas sarx,hamartia, isos, homoioma, monogenes eprototokos, e o significado das expressões“descendentes de Abraão” (Heb. 2:16) e“descendente de Davi” (Rom. 1:3). Sua premissaprincipal: “Através da investigação,documentaremos a esmagadora evidência de queJesus, de fato, tomou a natureza humana sempecado em Seu nascimento (espiritualmente),conquanto possuindo natureza física similar aosoutros de Seu tempo.”746

Um só texto, sustentava ele, fazia referênciadireta à carne e pecado: “O pecado habita emmim” (Rom. 7:17). “Portanto, sarx não significanecessariamente ‘pecaminoso’... Em I Tim. 3:16não aparece soma, mas sarx. Isso significasimplesmente ‘encarnado’, não ‘pecaminoso’.”747

Então Gulley passou a discutir o significado dapalavra ‘semelhança’ como citada em Romanos8:3, Filipenses 2:7 e Hebreus 2:17, para concluirque “Jesus era apenas semelhante a outros sereshumanos, tendo um corpo humano físico afetadopelo pecado, mas não o mesmo de outros sereshumanos, pois somente foi impecável em Seu

746 _______, no Ministry, junho de 1985.747 Ibidem.

Page 351: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

relacionamento espiritual com Deus.”748

Tratando do pecado, Gulley considerava que elenão poderia ser definido apenas como um “ato”.“Essa é uma definição muito superficial. Embora opecado inclua escolhas errôneas e, portanto, atos, emesmo pensamentos (ver Mateus 5:28), eletambém inclui natureza. Se não houvéramosnascido pecadores, então não teríamos necessidadede um Salvador até um primeiro ato oupensamento pecaminoso. Tal idéia presta umterrível desserviço às trágicas conseqüências dopecado e à missão de Cristo, como o únicoSalvador de cada ser humano (João 14:6; Atos4:12). Isso também significa que se Jesus veiocom uma natureza pecaminosa, mas resistiu, entãotalvez alguém mais possa fazer o mesmo, e queessa pessoa não necessita de Jesus para salvá-la.”749

Citando Salmos 51:7;22:10;139:3 e outros,Gulley argumentava que todos são pecadores, comexceção de Cristo. O fato de Jesus ser impecávelnão justifica a imaculada conceição. “Mas se Deuspôde realizar tal ato salvífico por um humano, porque não por todos? Isso teria poupado Cristo detodas as angústias de Se tornar humano. Alémdisso, se Maria se tornou imaculada sem Cristo,

748 Ibidem.749 Ibidem.

Page 352: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

isso coloca a missão de Cristo em questão.”750

De acordo com declarações bíblicas, Jesus era“único”, monogenes; “o primogênito”,prototokos. Certamente essas expressões nãodeveriam ser interpretadas literalmente,especificava Gulley. “Elas implicam que Ele era oúnico de uma espécie. Sua missão era tornar-Se onovo Adão, o novo primogênito, ou cabeça, deuma raça. Isso O qualificava a ser nossorepresentante, sumo sacerdote e intercessor nogrande conflito. Jesus é nosso exemplo em Suavida, mas não em nascimento... Ele nasceu sempecado para atender à nossa primeira necessidadedEle como Salvador, enquanto que nós nascemospecadores.”751

De acordo com Gulley, os versos que declaramque Jesus é “descendente” de Abraão e de Davi,“não estão levando em conta a natureza, mas amissão de Cristo. Eles não dizem respeito ao tipode carne com a qual Ele nasceu (impecável oupecaminosa) ... O contexto se refere à missão enão à natureza.”752

“Aquele que não ‘conheceupecado’, tornou-Se ‘pecado por nós’ em Sua morte(II Cor. 5:21). Nunca antes daquele momento opecado O separara de Seu Pai e O levara a clamar‘Deus Meu, Deus Meu, por que Me

750 Ibidem.751 Ibidem.752 Ibidem.

Page 353: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

desamparaste?’ (Mat. 27:46). O homem Jesustornou-Se pecado por nós em missão para a mortee não em natureza por nascimento.”753

Em sua “doxologia”, Gulley afirmavaenergicamente que “a Cristologia é o centro e ocoração da teologia, pois Jesus Cristo é a maiorrevelação de Deus ao homem. Ele é também amelhor revelação do autêntico homem para ohomem. Jesus Cristo é único não somente comoDeus conosco, mas como Homem conosco. Eleera a divindade imaculada unida à carne humanadebilitada pelo pecado, mas era igualmenteimpecável em ambas as naturezas.”754

Gulley explicava que a verdadeira Cristologianão é completa com adoração, obediência e oraçãoapenas. Pelo contemplar a Cristo tornamo-noscomo Ele (II Cor. 3:18). Gulley também concluiuque “a Cristologia culmina na declaração: ‘Vivo,não mais eu, mas Cristo vive em mim’ (Gál. 2:20).Tão somente nessa dependente união pode Jesusser nosso homem-modelo, nunca em Sua naturezade nascimento.”755

Ninguém censuraria Gulley por basear suademonstração unicamente nas Escrituras, enquantoque seus predecessores haviam fundamentado assuas principalmente sobre os escritos de Ellen

753 Ibidem.754 Ibidem.755 Ibidem.

Page 354: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

White.756 Mas sua exegese é similar àquela

encontrada na maioria dos teólogos protestantesortodoxos, o que o coloca em oposição aospioneiros e à Ellen White.

2. Douglass: a Natureza Humana Após aQueda

Herbert Douglass estava corretíssimo quandodisse a seus leitores que se eles houvessem vividoantes de 1950, estariam completamente desatentoscom respeito da presente controvérsia. Pois “até oterceiro quarto do século vinte, os porta-vozesadventistas afirmavam consistentemente que Jesusassumiu nossa natureza decaída.”757

Douglas voltou a focalizar a atenção de seusleitores na questão do “por quê” antes que do“como”. De acordo com ele, “o tema da salvaçãonão é primariamente como Deus Se tornouhomem, mas por que... Sem a questão, o mistérioenvolve a Encarnação. Mas o mistério éconcernente a como Deus e o homem secombinaram, não por quê.”758

De fato, “o assunto parece estagnado atéperguntarmos por que Ele veio do modo como ofez. Se não encararmos a questão corretamente,cada tema bíblico parecerá distorcido.”759

Por outro756 Ver Ministry, abril de 1957; Questions on Doctrine, apêndice B, págs. 647-660.757 Herbert E. Douglass, no Ministry, junho de 1985.758 Ibidem.759 Ibidem.

Page 355: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

lado, o plano da salvação aparece em suasimplicidade quando é formulada a pergunta: “Porque Jesus, como todo bebê dois mil anos atrás,assumiu a condição da humanidade decaída, e nãoa de Adão ‘em sua inocência no Éden’?”760

Muitos teólogos não-adventistas têm desafiado oponto de vista tradicional que afirma que Cristotomou a natureza de Adão antes da queda, eassumem a posição pós-lapsariana. Douglass listoucerca de 15 deles.761

Ele escreveu: “Nenhumdesses homens cria que Cristo pecou, quer fosseem pensamento ou ato, e que por causa de haverEle assumido a pecaminosa carne decaídanecessitava de um salvador. Genericamentefalando, o termo carne pecaminosa significa acondição humana em todos os seus aspectos, comoatingida pela queda de Adão e Eva. Tal natureza ésuscetível tanto à tentação de dentro como de fora.Contrariamente ao dualismo grego, queinicialmente impregnou muito do cristianismoortodoxo, a carne não é má nem peca por simesma. Embora a carne seja amoral, ela provê oequipamento, a ocasião e o sítio para o pecado, sea vontade humana não for constantementeassistida pelo Espírito Santo. Mas a pessoa nascidacom carne pecaminosa não necessita ser um

760 Ibidem.761 Ibidem.

Page 356: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecador.”762

Quais são as implicações de ensinar que Jesuspossuía natureza impecável? “Sugerir que Elenascera livre das riscos da hereditariedade é trilhara mesma estrada que o catolicismo romano tomouquando confundiu pecado com substância física...Nenhuma evidência bíblica sugere que a correnteda hereditariedade humana ficou rompida entreMaria e Jesus.”763

Nada demonstra melhor a solidariedade de Jesuscom a raça humana do que a maneira dEle Seapresentar sob o nome de Filho do homem (Mat.8:20; 24:27, etc.), e a analogia que Pauloestabelece entre Cristo e Adão (Rom. 5:1; I Cor.15). “Muitos consideram Romanos 5:12 comoevidência de que homens e mulheres nascempecadores, mas esse não é o argumento de Paulo.Ele está simplesmente declarando um fato óbvio: otrilho da morte começou com Adão”.

“Mas todos os descendentes de Adão morrem‘porque todos os homens pecaram’... Asuposição de que Jesus tomou a natureza de Adãoantes da queda destrói a força do paralelo de Pauloe seu princípio de solidariedade. A analogiapaulina Adão-Cristo torna-se relevante para ahumanidade e no contexto do grande conflito,somente se Jesus Se incorporou à natureza humana762 Ibidem.763 Ibidem.

Page 357: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

decaída; somente se Ele enfrentou o pecado naarena onde todos os homens estão – ‘em Adão’ –, evenceu cada apelo para servir a Si mesmo, quer dedentro ou de fora. Jesus desejava que aqueles queestivessem nEle se unissem corporativamente aosresultados de Sua obra salvadora. Mas paracumprir isso, Ele precisava primeiro ter estadocorporativamente ligado à humanidade em suacondição decadente.”764

Douglass observou então que Paulo foi muitocuidadoso na sua escolha de palavras em Romanos8:3. Por que ele disse, nesse caso, ‘en homoiomatisarkos hamartias’ (em semelhança de carnepecaminosa), antes que simplesmente ‘em sarkihamartias’ (em carne pecaminosa)?765

Douglascitou C. E. B. Cranfield, professor de teologia daUniversidade de Durham: “A intenção não é, demodo algum, atrair a atenção para o fato de que,conquanto o Filho de Deus tenha verdadeiramenteassumido sarx hamartias, Ele nunca Se tornousarx hamartias e nada mais, nem mesmo sarxhamartias habitada pelo Espírito Santo.”“Entendemos... que o pensamento de Paulo(concernente a seu uso de homoioma aqui), sejade que o Filho de Deus assumiu idêntica naturezadecaída à nossa, mas que em Seu caso essanatureza humana decaída nunca foi integral nEle –764 Ibidem.765 Ibidem.

Page 358: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Ele nunca cessou de ser o eterno Filho deDeus.”766

Analisando os versos cristológicos da epístolaaos Hebreus (2:11-18; 4:15; 5:7-9), Douglassdemonstrou a necessidade de o sumo sacerdote sersolidário com a humanidade. “Uma das principaislinhas de argumento em Hebreus é que a eficáciado sumo sacerdote depende de quão intimamenteele se identifica com aqueles por quem media.Jesus é um perfeito sumo sacerdote por causa deSua real identificação com os predicamentoshumanos, quer do espírito (tentações), quer docorpo (privações e morte).”767

“Porque não temos um Sumo Sacerdote que nãopossa compadecer-Se das nossas fraquezas, antesfoi Ele tentado em todas as cousas, à nossasemelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos,portanto, confiadamente... (Heb.4:15 e 16)”768

“Jesus foi vitorioso sob os mesmos riscos edesvantagens comuns a toda a humanidade;Conseqüentemente, homens e mulheres tambémpodem vencer recebendo o mesmo auxílio do qualEle dependia, se se ‘aproximarem’ em tempos denecessidade.”769

Para Cristo ser um perfeito sumo sacerdote, a

766 Idem. As citações são de C. E. B. Cranfield, The Epistle to the Romans, International Critical Commentary(Edinburgo: T. T. Clark, Ltd., 1980), vol. 1, pág. 379.

767 Ibidem.768 Ibidem.769 Ibidem.

Page 359: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

epístola aos Hebreus exige que Ele “seja um como homem em cada aspecto do material humano(princípio da solidariedade), mas não um com elecomo pecador, isto é, do ponto de vista dodesempenho humano (princípio dadissimilaridade)... Na Encarnação, o Salvadortornou-Se um homem em cada aspecto essencial;Ele estava cercado de todas as desvantagenshumanas... Ao tomar a natureza do homem noestado em que se encontrava quando Ele encarnou,Jesus cruzou o abismo entre Céu e Terra, entreDeus e o homem. Assim fazendo, Cristo tournou-Se a escada posta no Céu e fincada solidamente naTerra, Alguém em quem os homens e mulherespoderiam confiar.” 770

Para Douglass não havia sombra de dúvida: “Atéo terceiro quarto do século vinte os pregadoresadventistas consistentemente apresentaram Jesuscomo alguém que assumiu nossa natureza decaída.Como muitos eruditos não-adventistas, eles teriamsido intimidados pela falsa conclusão de que aocrerem que por Jesus ter tomado a naturezahumana decaída, necessitassem também crer queEle houvesse de ser um pecador. Ou que Eletivesse necessidade de um salvador.”771

“De modonenhum uma mancha de pecado jazeu sobre Jesus,porque Ele nunca foi um pecador. Cristo nunca770 Ibidem.771 Ibidem.

Page 360: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

teve uma ‘má propensão’ porque jamais pecou.Tentações genuínas, seduções reais para satisfazerdesejos legítimos de modos egoístas,inquestionavelmente nosso Senhor asexperimentou e com toda a possibilidade de a elasceder. Porém, ‘nem por um momento’ Jesuspermitiu tentações que concebessem e dessem àluz o pecado. Ele também travou cruentas batalhascom o eu e as tendências potencialmentehereditárias, mas nunca permitiu que umainclinação se tornasse pecaminosa (ver Tiago 1:14e 15). Cristo Se mantinha dizendo ‘não!’,enquanto todos os outros seres humanos diziam‘sim!’”.772

Concluindo, Douglass uma vez mais colocou aquestão que deveria dirigir todas as pesquisassobre a natureza humana de Cristo: “Por que Jesusveio à Terra?” “A razão de Sua vindadeterminou o modo por que veio, ou jamais elateria cumprido seu propósito. Ele triunfougloriosamente sobre o mal; Ele Se tornou osubstituto adequado, o homem pioneiro, o modeloda humanidade. E realizou todas as coisas emmeio às piores circunstâncias, sem exceção denada, com a mesma hereditariedade partilhada portodos os homens e mulheres aos quais veiosalvar.”773

772 Ibidem.773 Ibidem.

Page 361: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

É interessante notar que a apresentação deDouglass, como a de Gulley, está apoiadainteiramente em versos do Novo Testamento.Todavia, para provar que suas conclusões estavamem harmonia com o ensino tradicional da igreja,Douglass foi cauteloso, numa nota, ao listar 27autores adventistas com suas apoiadorasdeclarações, juntamente com afirmações de EllenWhite.774

Revisão Recíproca de Teses e AntítesesPosteriormente, o editor do Ministry pediu que

os dois autores criticassem cada um os artigos dooutro, na edição de agosto de 1985.775

Douglass foi o primeiro e destacou que asopiniões de Gulley surgiram no cenário da IgrejaAdventista apenas na década de 50. “Asconseqüências dessas mudanças tiveram muito quever com o trauma e as divisões teológicas que aigreja experimentou nos últimos trinta anos.”776

Douglass mostrou que Gulley não havia “feitodiferença entre bagagem humana herdada edesempenho dentro da humanidade degeneradapelas conseqüências do pecado”.777

De fato, o queGulley antecipou como natureza humana de Jesuscorrespondia à heresia da carne santa, que774 Ibidem.775 Ministry, agosto de 1985.776 Ibidem.777 Ibidem.

Page 362: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

afirmava “que Jesus tomou a natureza pré-quedade Adão. Os adeptos daquele movimento criamque Jesus recebeu de Maria uma natureza físicaenfraquecida pelo pecado. Mas eles também criamque Ele recebeu do Espírito Santo a naturezaespiritual de Adão antes da queda, e assim foievitado o pleno impacto da lei dahereditariedade.”778

Agora, “uma errôneacompreensão da Encarnação tem resultadospráticos infelizes, especialmente quando alguémtenta harmonizar o erro e a verdade”.779

Com respeito à teoria da salvação, Douglassconsiderava que Gulley havia sido fortementeinfluenciado por sua própria Cristologia. “Por queJesus Se tornou homem, me parece, pode sercompreendido apenas do ponto de vista do grandeconflito – uma perspectiva acentuadamenteperdida no ‘protestantismo ortodoxo, bem comono catolicismo. Jesus não veio para satisfazer umDeus ofendido que requeria sangue antes de poderperdoar, ou para provar que Deus poderia observaras leis divinas, ou mesmo que Adão poderia terpermanecido obediente.”780

Gulley, por sua vez, atacou o argumento deDouglass de que “Jesus não era um pecador pornascimento, porque todos os homens são

778 Ibidem.779 Ibidem.780 Ibidem.

Page 363: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

impecáveis no nascimento. Pois, alguém ‘nascidocom carne pecaminosa não necessita ser umpecador’”.781

De acordo com Gulley, a Bíblia contesta talidéia. “Ela indica que todos os homens ‘tornaram-se pecadores pela transgressão de Adão, de modosimilar àquele pelo qual se tornaram justos pelaobediência de Cristo. Douglass passou por altoesse paralelo em Romanos 5. Somos pecadorespelo nascimento e justos em Cristo. Apenas osdois Adões entraram sem pecado no planeta Terra.Todos os outros nasceram pecadores.”782

Cristo não veio a este mundo “como um pródigo,mas como Deus-homem... Conseqüentemente,como o segundo Adão, Ele veio não à imagem dohomem, mas na exata imagem de Deus (Col.1:15; Heb. 1:1-3).”783

Ademais, “O ponto de vistade Douglass sobre propensões é simplesmentemuito superficial. Por definição, as propensõesestão contidas na natureza decaída, antes dequalquer ato pecaminoso. Mas Jesus não aspossuía. Não surpreende que Satanás não tenhaencontrado nenhum mal nEle (João 14:30)... Aimagem criativa de Deus não tem nada a ver com aqueda. Esse reino está confinado à imagem dohomem.”784

781 Ibidem.782 Ibidem.783 Ibidem.784 Ibidem.

Page 364: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Gulley destacou as contradições daargumentação de Douglass com relação ao fato deque “Cristo tomou a natureza pós-queda de Adão”,conquanto admitisse que não houve nenhuma‘mancha de pecado’, nenhumas ‘más propensões’,ou fraquezas pecaminosas como as nossas... Essasisenções destroem Sua exata identidadeconosco”.785

“Douglas declarou que o porquê de Jesustornar-Se humano é mais importante que o comoEle Se tornou humano... Mas todas as seis razõesque Douglass deu foram plenamente satisfeitaspela vinda de Jesus como espiritualmenteimaculado numa natureza humana enfraquecidapelo pecado.”786 “Nunca devemos perder de vista ofato de que a identidade de Jesus como Deus émais importante do que Sua solidariedade com ahumanidade. Ele não é simplesmente outrohomem, mas Deus tornado homem.”787

Em suma, Gulley concordou com Douglass nofato de que “Jesus era um homem real e que Elefoi realmente tentado e poderia ter fracassado; queSua dependência de Deus proveu-nos umexemplo. Concordamos que Ele Se manteveimaculado... O Jesus de Douglass não é muitohumano? Reconheceu ele apropriada e

785 Ibidem.786 Ibidem.787 Ibidem.

Page 365: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

adequadamente Sua divindade?”788

A resposta recíproca nada trouxe de novo. Cadaautor manteve sua posição. Até certo ponto essareserva era uma questão de semântica: os doisteólogos deram diferentes significados a termosbíblicos e teológicos básicos.

Críticas e Perguntas dos Leitores do MinistryPara ampliar o círculo, o periódico Ministry

franqueou suas páginas aos leitores. Os maissignificativos comentários foram publicados nasedições de dezembro de 1985 e junho de 1986.

A incisiva crítica apresentada por Joe E. Crewsmerece menção especial.789

“Ele (Gulley) nãoapenas confunde pecado com efeitos do pecado,mas torna a natureza pecaminosa equivalente aopróprio pecado... Uma vez que natureza decaída éo mesmo que culpa e pecado, cada bebê nascidotem necessidade de redenção antes que possapensar, falar ou agir. Isso significa que Jesus seriaculpado já por ter nascido, a menos que Suanatureza fosse diferente de todos os outrosbebês.”790

“Do mesmo modo que ele mistura pecado comnatureza pecaminosa, os resultados do pecado como próprio pecado e a separação de Deus com

788 Ibidem.789 Joe E. Crews, no Ministry, dezembro de 1985.790 Ibidem.

Page 366: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

natureza corrompida, o autor [Gulley] confundemás propensões com propensões naturais. Eledefine más propensões como ‘inclinação parapecar’. Ele escreve: ‘Más propensões (inclinaçãopara pecar) são adquiridas de dois modos:mediante o ato de pecar e através do nascimentocomo pecador. Cristo não participou de nenhumdeles.’”791

“Eu não conheço uma só pessoa que creia queJesus pecou ou nasceu pecador. Nem conheçoalguém que creia que Jesus tinha ‘propensõespecaminosas’. Mas conheço muitos que crêem queEle possuía ‘propensões naturais’, justamentecomo todos nós, como resultado de haver nascidocomo nós, com uma natureza decaída. Máspropensões são aqueles impulsos para o pecadoque foram cultivados e fortalecidos pelaindulgência para com o pecado. Propensõesnaturais são aquelas tendências herdadas. A culpaestá contida numas mas não em outras. Isso não épecaminoso a menos que alguém ceda àpropensão.”792

Outro leitor, Anibal Rivera, ficou pasmado deque alguém desse crédito à idéia de que há doispontos de vista possíveis na teologia adventista,com relação à natureza humana de Jesus.793

791 Ibidem.792 Ibidem.793 Anibal Rivera, no Ministry, junho de 1986.

Page 367: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

“Nossos pioneiros e o Espírito de Profecia nãoestavam em conflito com respeito à questão danatureza humana de Jesus. É como se nós, comoum povo, houvéssemos decidido crer que osguardadores do domingo e os observadores dosábado estão justificados aos olhos de Deus.Obviamente, houve uma mudança em nossaposição histórica.”794

Alguns leitores ficaram simplesmenteespantados com que o Ministry publicasse artigospró e contra sobre uma doutrina bem estabelecidana Igreja Adventista do Sétimo Dia.795

Porexemplo, eis um enérgico comentário de R. R. D.Marks, um professor australiano: “Nossas liçõesda escola sabatina, por mais de um quarto deséculo antes da morte de Ellen G. White,enfatizavam que Cristo assumiu nossa naturezadecaída; e embora ela as tenha estudado, comotambém aconselhou outros a fazer, nunca ergueusua voz contra os enfáticos ensinos do trimensáriosobre ao assunto. Note a lição do segundotrimestre de 1909, pág. 8: ‘A semente divinapoderia manifestar a glória de Deus em carnepecaminosa, e igualmente obter uma absoluta eperfeita vitória sobre qualquer tendência dacarne.’”796

794 Ibidem.795 Ibidem.796 R. R. D. Marks, no Ministry, junho de 1986.

Page 368: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Uma leitora californiana, Ethel Wildes,apresentou um único argumento: “Se Cristohouvesse vindo com a natureza de Adão antes daqueda, o homem teria fugido de Sua presença. Opecado furtou de Adão a sua glória e ele percebeuque estava nu. A face de Moisés resplandecia comuma pequeníssima porção da pureza e glória deDeus, e o povo temeu. Ele foi obrigado a velar suaface. Quando Jesus vier em Sua glória, a qual foivelada pela humanidade quando andava entre oshomens, muitos clamarão às rochas e montanhasque os escondam dEle. Essa glória destrói osímpios. Deus habitou numa natureza como aminha e resistiu a toda tentação. Ele pode fazer omesmo por mim ao habitar em meu coração porSeu Espírito. Bendito seja Seu santo nome!”797

O Ponto de Vista Alternativo de Thomas A.Davis

Também no Ministry, Thomas A. Davisapresentou uma proposta alternativa sobre anatureza humana de Cristo, como explanada emseu livro Was Jesus Really Like Us? (Foi JesusRealmente Como Nós?) Ele cria que seu ponto devista poderia servir de ponte entre asinterpretações de Douglass e Gulley, e resolveradequadamente o problema por eles levantado.

797 Ethel Wildes, no Ministry, junho de 1986.

Page 369: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Davis escreveu: “Lemos em Hebreus 2:17 queJesus em todas as coisas Se tornou ‘semelhante aSeus irmãos [os renascidos e santificados].’ Creioque não se causa dano à sintaxe fazer essa conexãoe, ademais, estamos naturalmente aplicando aregra da primeira menção. É simplesmente bomsenso supor que o significado explícito ouimplícito dado a uma palavra na primeira vez emque ela é usada numa passagem, seja mantidoatravés da passagem, a menos que indicado deoutro modo.”798

“À luz do precedente, podemos concluir quehouve algo importante sobre a encarnada naturezade Cristo que era semelhante à pessoa recém-nascida, mas dessemelhante à pessoa degenerada.Acho que nessa idéia está um conceito que poderiaunir os dois pontos de vista discutidos noMinistry.”799

Davis concluiu: “Jesus, então, tornou-Se homemcom uma natureza humana integral (conquantotambém plenamente Deus). Assim, na carne, Eletinha a fraqueza da humanidade atacada pelatentação como acontece conosco, com apossibilidade de pecar. Mas, nessa condição,Cristo possuía mente, coração e vontadeimpecáveis; estava total e continuamente afinadocom o Pai e dirigido pelo Espírito Santo. Desse798 Ver nosso capítulo 12.799 Thomas A. Davis, no Ministry, junho de 1986.

Page 370: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

modo, Ele era semelhante ao Adão não decaído. Eé nesse ponto que, cremos, o regenerado e Jesus seacham em terreno comum.”800

Essa interpretação parece atraente. Todavia, nocontexto do segundo capítulo da epístola aosHebreus, é questionável se a palavra “irmãos” seaplicar estritamente aos regenerados. Além disso, acomparação feita entre Jesus e “Seus irmãos” nãopretende cotejar suas semelhanças espirituais, massublinhar a semelhança natural de “carne esangue” partilhada com Cristo. “Os filhos” (verso14) aqui mencionados como vindo “de um só”(verso 11), são todos aqueles por quem Jesussofreu a morte (verso 9). “Por isso é que Ele nãoSe envergonha de lhes chamar irmãos” (Verso 11).

800 Ibidem.

Page 371: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Capítulo 14

EM BUSCA DA VERDADE HISTÓRICA

É bastante óbvio que não pode haver duasverdades incongruentes sobre a natureza humanade Cristo. Todavia, alguns tentam harmonizarambas as posições como se as diferenças fossemde pouca monta. Outros ainda sugerem que os doispontos de vista realmente se realçam um ao outro.

Independentemente do mérito, isso parece umatentativa de reconciliação com pouca chance desucesso. Pelo contrário, a vigorosa reação dosmembros da igreja e as críticas já destacadas dealguns teólogos, mostram que a controvérsia estámui longe de ser resolvida. Contudo, o períodocompreendido entre 1986 e 1994 marcou um certoreavivamento da Cristologia tradicional.

Se é verdade que um grande número deadventistas hoje desconhecem a posição históricada igreja sobre o assunto, também é verdade queestudos recentes feitos por pesquisadorescontemporâneos acham-se agora disponíveis pararecordá-la.

Um Século de Cristologia Adventista

Page 372: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

O primeiro estudo, publicado em 1986, foi o deRalph Larson e teve por título The Word WasMade Flesh: One Hundred Years of AdventistChristology (O Verbo Se Fez Carne: Cem Anos deCristologia Adventista).801

Esse livro é a maiscompleta obra sobre o assunto, do ponto de vistaessencialmente histórico.

Ralph Larson estudou teologia na AndrewsUniversity e obteve seu doutorado na Andover-Newton Seminary, na cidade de Boston. Por 40anos ele serviu à Igreja Adventista como pastor,evangelista, secretário departamental, missionárioe professor de teologia. Seu último cargo antes daaposentadoria foi a presidência do seminárioteológico das Filipinas.

Por muitos anos Larson analisousistematicamente a literatura oficial da igrejapublicada entre 1852 e 1952, colecionandocuidadosamente as declarações sobre Cristologianela havidas. Assim ele foi capaz de indexar cercade 1.200 citações, das quais mais de 400procedentes da pena de Ellen White e arranjadasem seqüência cronológica. Com isso Larsonesperava prover comprovação para o que haviasido a crença adventista sobre a natureza humanade Cristo entre 1852 e 1952.

O objetivo de Larson não era fazer um estudo

801 Ralph Larson, The Word Was Made Flesh.

Page 373: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

escriturístico ou teológico, mas simplesmente“estabelecer o que os adventistas haviam crido enão por que haviam crido”.802 O mais importanteera que ele desejava que todos estivessem cientesda principal questão e assunto da controvérsia: “OCristo encarnado veio à Terra com a naturezahumana de Adão em estado de santidade, ou com anatureza humana do homem caído?”803

Primeiramente Larson tentou clarificar asexpressões-chave usadas pelos pioneiros,particularmente aquelas utilizadas por EllenWhite, tais como “natureza pecaminosa”,“natureza decaída”, “natureza pecaminosaherdada”, etc.,804

e elucidar os sentidos daspalavras “paixão” e “propensão, dependendo deserem ou não atribuídas a Cristo ou à parte de Suanatureza.”805 Finalmente ele tentou colocar certasdeclarações contidas na carta de Ellen White a W.H. L. Baker em seu contextos histórico-literário.806

Baseado em sua coleção de citações, Larson vêuma “era de lucidez” durante a qual “a igreja falaem uníssono” (1852-1952), e após a qual segue a“era de confusão” (seção 4), de 1952 em diante.As últimas três seções são dedicadas a enfatizar aestreita conexão entre Cristologia e Soteriologia.807

802 Idem, pág. 7.803 Ibidem.804 Idem, págs. 15-21.805 Idem, págs. 22-28.806 Idem, págs. 29-31.807 Ver O Ministério, junho de 1989, para as duas revisões dos livros de Ralph Larson feitas por Herbert E.

Page 374: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

E prossegue dando a entender que Larsongentilmente discordou da nova teologia.808 Eleconsiderava que seu lançamento no Ministry, emQuestions on Doctrine e em Movement of Destinytinha exercido um incalculável grau de influência,promovendo confusão entre os adventistas pelomundo afora. Ela fez parecer que Ellen Whitefalara em termos contraditórios e que oadventismo histórico havia estado enganadoacerca da doutrina da salvação. Larson expressousua crença de que a “Cristologia, a natureza deCristo, a Soteriologia e a obra salvífica de Cristoestão inseparável e intimamente ligadas. Quandofalamos de uma, inevitavelmente falamos de outra.Quando mudamos uma, inevitavelmente mudamosoutra”.809

A obra de Larson provê uma fonte deinformações sem precedente. Sua análise crítico-histórica ilumina a quem deseja estar informadocom respeito ao ensino unânime da igreja desde1852 a 1952, e sobre a mudança que teve lugar nosanos cinqüenta.

Em conclusão, Larson convidou seus leitores acomprovarem os resultados de sua pesquisa, e nãomeramente aceitá-la ou rejeitá-la sem estudopessoal. Em caso de erros de interpretação, ele

Douglas e Eric C. Webster.808 Larson, págs. 224-264.809 Idem, pág. 281.

Page 375: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

achava que a igreja deveria ter a coragem deadmiti-los e corrigi-los.810

O Patrimônio White é Solicitado a Posicionar-se

Como membro da mesa diretiva dosDepositários de Ellen G. White,811 eu não poderiapermanecer indiferente à crescente controvérsia,particularmente porque suas origens foramfundamentadas em muitas declarações de Ellen G.White com respeito à natureza humana de Cristo.Eu cria que o Patrimônio Ellen G. White,comissionado para cuidar dos escritos de EllenWhite, deveria falar claramente como houverafeito em muitas ocasiões.812

Em setembro de 1985, aceitei um convite paradar um curso de Cristologia na faculdadeadventista de teologia, na França. Pareceu-meimperativo cientificar meus alunos sobre acontrovérsia no setor de fala inglesa do mundoadventista. Para seu benefício, preparei um manualque foi a primeira seleção histórica da Cristologiaadventista em francês.813

810 Idem, págs. 297-300.811 O Patrimônio ou Depositários de Ellen White foi criado pela própria escritora em 1912. Ele designou quatro

depositários ou fideicomissários. Em 1950, o número cresceu para sete e, em 1958, para nove, um dosquais representava a América do Sul e outro a Europa. Fui honrado e designado para a Europa durante 20anos, de 1970 a 1990.

812 Ver Documents Available (Documentos Disponíveis) do Patrimônio de Ellen G. White, Washington, D.C.,maio de 1982. Essa brochura sugere que diversas publicações sejam preparadas para corrigir certasinterpretações errôneas dos escritos de Ellen White: sobre o santuário, sobre o juízo investigativo, sobre areforma da saúde, ou contra a acusação de plágio.

813 Esse resumo, A História da Cristologia Adventista, composto de 120 páginas poligrafadas, foi preparadopara benefício dos estudantes matriculados em cursos de Cristologia.

Page 376: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Essa era uma oportunidade sem igual para euavaliar a magnitude do problema e alimentar aesperança de sua solução. Achei que o PatrimônioWhite deveria discutir o assunto e declarar-se arespeito da Cristologia de Ellen G. White. Sugeri aseu presidente, Kenneth H. Wood, que o item fosseposto na agenda da reunião anual.814

Minha carta de 9 de julho de 1986 não foi umasugestão para a tentativa de uma nova exegese dasdeclarações de Ellen White, ou para formular umacrítica de uma ou outra das teses em voga. Propus,antes, que se verificasse mais detidamente aposição de Ellen White, bem como sua avaliaçãodo ensino de seus contemporâneos Waggoner,Jones, Prescott e Haskell sobre o assunto, cujasposições ela aprovava.

Em carta de retorno, Kenneth Wood avisou-meque ele concordava com minha sugestão, e que oitem estaria na agenda da IV Reunião. Ao mesmotempo, todavia, Robert W. Olson, secretário doPatrimônio de Ellen G. White, informou-me queessa não era uma questão que o Patrimônio Whitedeveria resolver.

“O Patrimônio White nunca emitiu umdocumento sobre Cristologia. Tenho para mim quea única razão pra isso é que não concordamos

814 As reuniões do Patrimônio de Ellen G. White são encontros anuais dos fideicomissários com os membrosdo staff do White Estate, para o estudo de problemas referentes aos escritos de Ellen White, e a feitura deplanos para expandir sua influência.

Page 377: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

entre nós mesmos sobre uma conclusãodefinitiva... Considerando o fato de que há, pelomenos, duas diferentes escolas de pensamentoentre nós, senti que não seria prudente para oPatrimônio White tentar decidir quem está certo equem está errado. Uma vez feito isso e noscolocaríamos numa posição confrontativa contratodos aqueles que discordam de nós.”815

No entanto, conquanto favorável à idéia de umadiscussão na IV Reunião, Robert Olson desejavater os dois pontos de vista representados. Olsonsugeriu a apresentação de um documento no qualele próprio expressaria sua opinião. Sem esperarpor uma resposta, ele me enviou um sumário desuas idéias em duas cartas datadas de abril esetembro de 1986.

O Ponto de Vista de Robert OlsonEm sua carta de 21 de abril de 1986, Robert

Olson sumariou para meu benefício suacompreensão do problema. “Minha opiniãopessoal sobre o aspecto-chave da questão é queCristo não possuía tendências hereditárias parapecar, mas como meu substituto Ele foi capaz deexperimentar todos os meus sentimentos, para quepudesse entender plenamente a natureza de minhastentações.”816

815 Robert W. Olson, carta de 21 de abril de 1986.816 Ibidem.

Page 378: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

“Pessoalmente acho que Cristo foi diferente denós em Seu nascimento. Lucas 1:35 diz-me isso.Ele era santo quando nasceu; por outro lado, eu, aonascer, não o era. Cristo nunca precisou deconversão, mas nós sim. Sei que o tema é pleno demuitos mistérios que nos são realmenteincompreensíveis. Creio, todavia, que Ele foicapaz de tomar meus pecados sobre Si eexperimentar as sensações da alma perdida sobre acruz; que Lhe foi possível experimentar minhanatural inclinação para o mal, sem assumir essependor.”817

Em sua segunda carta, datada do dia 3 desetembro de 1986, Olson mais uma vez foi aocerne do problema: “Penso, particularmente, seJesus herdou tendências pecaminosas de Sua mãe.O Pr. Wood acha que Ele as teve; minha opinião éque não, mas que em certas ocasiões de Suaexistência terrena Ele experimentou vicariamenteo que é possuir tendências pecaminosas. Em outraspalavras, creio que Jesus aceitou, às vezes, minhastendências pecaminosas de maneira vicária, domesmo modo que tomou minhas culpas. Se eupuder explicar uma, posso explicar outra. Pode serque estejamos aqui falando sobre algo que sejainexplicável.”818

817 Ibidem.818 Bruno W. Steinweg, suplemento de seu estudo datilografado The Doctrine of the Human Nature of Christ

Among Adventists Since 1950 (A Doutrina do Natureza Humana de Cristo Entre os Adventistas Desde1950).

Page 379: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Olson publicou seus pontos de vista durante umseminário havido na Andrews University, de 14 a24 de julho de 1986. Depois de dois contraditóriosartigos publicados no Ministry, em junho de 1985,e da crítica que eles provocaram, o assunto danatureza humana de Cristo turnou-se uma questãocandente. Em resposta, Olson preparou um resumode três páginas contendo questões respondidasdiretamente com o uso de textos extraídos doNovo Testamento e dos escritos de Ellen White.

Em 1989, Olson deu a público um panfletomuito elaborado sob o título The Humanity ofChrist (A Humanidade de Cristo),819

no formato deum programa de estudos. Escreveu que, “opropósito deste pequeno livro é apresentar umacurado retrato de nosso Senhor em Suahumanidade. Visto que Ellen G. White conheceuJesus tão bem e que ela própria conversou com Eleem visão... temos citado abundantemente, masainda mui longe de fazê-lo exaustivamente, seusescritos bem como as Santas Escrituras.”820

Porque essa compilação foi feita em nome doPatrimônio de Ellen G. White, seu secretárioprocurou manter-se o mais possível no terreno daneutralidade. Essa brochura constitui-se numaexcelente fonte para quem deseja saber asrespostas de Ellen White às perguntas de Robert819 Robert W. Olson, The Humanity of Christ (Washington, D.C.: Ellen G. White Estate, 1986).820 Idem, pág. 3.

Page 380: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Olson. Entretanto, uma vez que alguém queirainterpretar à vontade as citações providas comorespostas, o problema permanece.

Discussão Sobre Cristologia no PatrimônioWhite

A IV Reunião teve lugar em Williamsburg,Virgínia, de 23 a 25 de janeiro de 1987. Por causade uma tremenda tempestade de neve queparalisou todo o tráfego da costa oeste dos EstadosUnidos, o encontro foi transferido para Columbia,Maryland. Posteriormente, foi ela condensada numsó dia. Toda a sessão foi dedicada ao problema danatureza humana de Cristo baseada em minhaapresentação.

Seu conteúdo foi essencialmente aquele expostona segunda parte deste estudo, a qual foi dedicadaà Cristologia dos pioneiros.821 Ela tambémcontinha uma crítica à nova teologia, que seriadiscutida com mais detalhes na quinta parte dolivro.822

Outros documentos foram preparados mas nãopuderam ser apresentados por falta de tempo. Dequalquer modo, os textos foram incluídos novolumoso registro da IV Reunião. Dois deles, emespecial, têm relação direta com nosso tema e

821 Document of Consultation IV of Ellen G. White Estate. Esse estudo foi publicado na revista francesa Servir,segundo trimestre de 1989, sob o título A Natureza Humana de Cristo, págs. 13-30.

822 Ver nossos capítulos 15 e 16.

Page 381: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

merecem consideração.823

Tim Poirier e as Fontes da Cristologia deEllen White

Tim Poirier, secretário-associado e arquivista doPatrimônio de Ellen G. White, preparou um estudocomparativo entre a Cristologia de Ellen White e ados autores de cuja linguagem ela aparentementese utilizou. De acordo com Poirier, essas fontessão úteis no esclarecimento da Cristologia de EllenWhite.824

Um pregador anglicano, Henry Melvill (1798-1871), foi uma das fontes de que Ellen White seserviu para escrever seu artigo Christ, Man’sExample (Cristo, o Exemplo do Homem),publicado na Review and Herald de 5 de julho de1887. O Patrimônio White conserva um exemplardos Sermões de Melvill.825 Poirier encontrou osermão de Melvill denominado The Humiliation ofthe Man Christ Jesus (A Humilhação do HomemCristo Jesus), de especial valor para esclarecer osignificado de algumas expressões de Ellen Whitecom respeito à humanidade de Cristo.

De acordo com Melvill, a queda de Adão teveduas conseqüências fundamentais: (1ª) “simples

823 Ver Document of Consultation IV, sob o título A Humanidade de Cristo.824 Idem. Tim Poirier Uma Comparação da Cristologia de Ellen G. White e Suas Fontes Literárias, págs. 99-

104. Ver também Ministry, dezembro de 1989.825 Henry Melvill, Sermões (New York: Stanford and Swords, 1844). Ver White Estate Consultation IV, págs.

105-115.

Page 382: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

debilidades”826 e (2ª) “propensões pecaminosas”.Em “simples debilidades”, Melvill incluiu fome,sofrimento, fraqueza e tristeza. Por “propensãopecaminosa” ele entendia “tendência para pecar”.No fecho de seu argumento Melvill concluiu:“Antes da queda, Adão não possuía ‘simplesdebilidades’ nem ‘propensões pecaminosas’; nósnascemos com ambas; Cristo assumiu as primeirasmas não as segundas.”827

Conseqüentemente, “a humanidade de Cristonão foi a adâmica, isto é, a humanidade de Adãoantes da queda; nem a humanidade decaída emcada aspecto da humanidade de Adão após aqueda. Não foi a adâmica porque ela possuía assimples debilidades da decaída. Não foi a decaídaporque a humanidade de Jesus nunca baixou àimpureza moral. Foi, portanto, mais literalmente anossa humanidade, mas sem pecado.”828

Poirier também comparou a linguagem de EllenWhite com a de Octavius Winslow,829 para mostrarque ambos usaram o termo propensão, limitação,e tendência no mesmo sentido e em harmoniacom Melvill. Poirier colocou as passagens de EllenWhite ao lado dos textos cristológicos deWinslow830, dos quais ela havia tomado826 Poirier, pág. 100.827 Idem, pág. 101.828 Ibidem.829 Octavius Winslow, A Glória do Redentor (Londres: John Farquhar Shaw, 1855). Ellen White tinha esse livro

em sua biblioteca particular.830 Idem, págs. 129, 132-134. Citado por Poirier, págs. 101, 102.

Page 383: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

emprestados termos, expressões e mesmoconceitos.

Mas isso significa que Ellen White tinha idênticoponto de vista? Um exame cuidadoso dasevidências permite-nos chegar a outra conclusão.Em seu argumento, Winslow chegou à conclusãode que em a natureza humana de Cristo “não haviaqualquer sinal de princípios corruptos oupropensões; nem operavam quaisquer desejos etendências; pois até o momento de Sua vinda àTerra, nenhum anjo do Céu permaneceu diante dotrono mais puro e mais imaculado do que Ele (TheGlory of the Redeemer - A Glória do Redentor,pág. 129, 132-134).”831

No excerto comparativo apresentado por Poirier,Ellen White empregou essencialmente a mesmalinguagem, mas aplicou-a a Adão antes da queda enão a Cristo. “Não havia princípios corruptos noprimeiro Adão, nem corrompidas propensões etendências para o mal. Adão era irrepreensívelcomo os anjos diante do trono de Deus.”832

E nacitação precedente, também posta em paralelo como texto de Winslow, Ellen White escreveu sobreCristo: “Aqui a provação de Cristo foi muito maiordo que a de Adão e Eva, pois Ele assumiu nossanatureza, decaída mas não corrompida, e que não

831 Poirier, pág. 102.832 Carta 181 de Ellen G. White, 1899, no The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White

Comments, vol. 1, pág. 1083. Citada por Poirier, pág. 103.

Page 384: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

se perverteria a menos que Ele aceitasse aspalavras de Satanás em lugar das palavras deDeus.”833

É verdade que Ellen White usou palavras eexpressões de outros teólogos. Mas issonecessariamente não implica que ela as utilizoupara dizer as mesmas coisas. Assim, por exemplo,Winslow afirmou que “a exposição de nossoSenhor à tentação e Sua conseqüente capacidadede resistir às suas solicitações, tem o fundamentoem Sua perfeita humanidade.”834

Ellen Whiteempregou a mesma expressão desta maneira: “Aperfeita humanidade de Cristo é a mesma que ohomem pode possuir através da ligação comEle.”835

Em outras palavras, enquanto Winslowaplica a expressão à natureza humana de Cristo,herdada desde o nascimento, Ellen White diz quepodemos ter a mesma “perfeita humanidade” queEle possuía.

Com relação ao argumento de Melville de queCristo tinha apenas “simples fraquezas”, éimportante destacar que uma pesquisa do CD-ROM de Ellen G. White indica que ela nuncaempregou tal expressão. Certamente EGW fezmúltiplas menções das “fraquezas” que Cristosuportou, mas nunca as qualificou como833 Manuscrito 57 de Ellen G. White, 1890. Citado por Poirier, pág. 103. Em muitos outros contextos, Ellen

White estabeleceu o mesmo contraste entre os dois Adões. Ver nosso capítulo 3.834 Winslow. Citado por Poirier, pág. 102 (itálicos supridos).835 Manuscrito 57 de Ellen G. White, 1890. Citado por Poirier, pág. 103.

Page 385: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

“simples”. Contrariamente, ela repetidamente falaque “Cristo tomou sobre si as fraquezas dahumanidade degenerada”.836 Ou que “Cristosuportou os pecados e fraquezas da raça como elesexistiam quando Ele veio à Terra para socorrer ohomem.”837

Assim, não é suficiente compararpalavras e expressões; seu uso também precisa serverificado.

D. A. Delafield Confirma a Cristologia deEllen White

O terceiro documento contido nos registros daIV Reunião procedeu da pena de D. A. Delafield,um dos decanos do Patrimônio White. Comosecretário-associado, ele era mundialmenteconhecido por seus seminários sobre o Espírito deProfecia e pelos numerosos artigos abordandovários aspectos dos escritos de Ellen White. NaEuropa, ele e sua esposa são especialmentelembrados em razão do ano em que passaramensinando sobre o Espírito de Profecia nas igrejas,e por causa de seu livro tratando das visitas deEllen White a diferentes países europeus.838

O estudo preparado para Williamsburg trouxe oseguinte título: The Credentials of the TrueProphet (As Credenciais do Verdadeiro Profeta).

836 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 117.837 _______, Mensagens Escolhidas, vol. 1, págs. 267, 268.838 D. A. Delafield, Ellen G. White na Europa (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn.,1975).

Page 386: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Entre essas credenciais Delafield citou I João 4:1-3, que ele considerava o selo do testemunhocristão. De acordo com ele, Ellen White fez daCristologia seu tema permanente, conforme éindicado no Index to the Writings of Ellen G.White (Índice dos Escritos de Ellen G. White).Sob o verbete Cristo estão 87 páginas dereferências, todas dedicadas a Cristo comoencarnado e impecável, o qual morreu pelospecados dos homens.839

Delafield escreveu: “Sempre que estudarmos oassunto da Encarnação, deveríamos ter em mente ofato central: Jesus viveu vitoriosamente em carnehumana real - carne decaída, mas nãocorrompida.”840

Então, apoiando-se numa

declaração de Ellen White, ele especificou: “NossoSenhor foi tentado como o homem é tentado. Eleera capaz de ceder à tentação, como o são os sereshumanos... Aqui, a provação de Cristo foi muitomaior do que a de Adão e Eva, pois Ele tomounossa natureza, decaída mas não corrompida, eque não seria corrompida a menos que Eleaceitasse as palavras de Satanás em lugar daspalavras de Deus.”841

Delafield sublinhou o fato de que Cristo era“caído mas não corrompido”, citando a carta a

839 _______, em Document of Consultation IV of Ellen G. White Estate (datilografado).840 Idem, pág. 130 (Ellen G. White, manuscrito 57 de 1890).841 _______, em Document of Consultation IV.

Page 387: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Baker: “Nunca, de modo algum, deixai a mais leveimpressão sobre mentes humanas de que umamancha ou inclinação para a corrupção existiamem Cristo, ou que Ele de alguma maneira cedeu àcorrupção... Que cada ser humano seja advertidosobre fazer Cristo totalmente humano, tal comoqualquer um de nós; pois isso não pode ser.” (TheSDA Bible Commentary, vol. 5, págs. 1128,1129).”842

Para Delafield, “Jesus realizou o que nenhumoutro ser humano fez antes dEle: viver uma vidasem pecado, sem mancha e incorruptível em Suacarne humana... Mesmo Seus inimigosreconheciam-Lhe a inocência. Pilatos (Lucas23:14); sua esposa (Mat. 27:19) e também ospróprios demônios (Marcos 1:24) O declararam ‘oSanto de Deus’”.843

Delafield concluiu com uma citação de EllenWhite: “‘Ele enfrentou todas as tentações com queAdão foi assaltado, e as venceu porque, em Suahumanidade, Se apoiava no poder divino... A vidade Cristo é uma revelação do que os decaídosseres humanos podem tornar-se através da união ecompanheirismo com a natureza divina’ (TheFaith I Live By, Fé Pela Qual Eu Vivo, pág.219).”844

Delafield expressou sua convicção de

842 Idem, pág. 131.843 Ibidem.844 Idem, pág. 131, 132.

Page 388: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

que essa era a Cristologia dos pioneiros da IgrejaAdventista.

George R. Knight Confirma a Cristologia dosPioneiros

Dentre as declarações sobre a história daCristologia Adventista, as de George R. Knight sãoespecialmente valiosas. Professor de História daIgreja na Andrews University, Michigan, Knight éclaro em sua opinião objetiva sobre a crençaadventista acerca da natureza humana de Cristo,desde o início do movimento. A maioria de suasobras é dedicada aos vários aspectos da história daIgreja Adventista.845

O que o levou a escrever sobre a naturezahumana de Cristo originou-se do caso de A. T.Jones. Um capítulo completo é dedicado adetalhada análise do ensino de Jones quanto ànatureza de Cristo.846

São de interesse especial,porém, as observações de Knight sobre a históriada Cristologia Adventista em geral. Ele acentuouque “Waggoner, Jones e Prescott... desenvolveramo conceito de que Cristo era exatamente comoqualquer outro filho de Adão – incluindo atendência para pecar – , na característica central de

845 As principais obras de George R. Knight são: Mitos no Adventismo (1985); De 1888 Para a Apostasia – OCaso de A. T. Jones (1987); Santos Irados (1989); Meu Apego Com Deus (1990); todos publicados pelaReview and Herald Publishing Association.

846 Knight, De 1888 Para a Apostasia, págs. 132-150.

Page 389: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

sua doutrina da justiça pela fé.”847

Mas, observou ele que “seu ponto de vista sobrea natureza de Cristo não criou controvérsias noadventismo da década de 1890. A opinião erageralmente aceita como um ponto teológico nãolitigioso. Isso tudo mudaria na década de 1950,quando se tornaria o tema teológico para muitosadventistas sobre ambos os lados da questão.”848

“M. L. Andreasen, um dos principais teólogosdenominacionais dos anos 50, sustentava que adoutrina da natureza pecaminosa de Cristo é umdos ‘pilares fundamentais’ do adventismo. Mudaressa posição, atestou ele, não foi apenas abandonaro adventismo histórico, mas também abjurar acrença nos testemunhos de Ellen White. Muitostêm seguido esse caminho. Outros, na igreja,crêem que uma fé adequada em Cristo precisareconhecer que Ele foi diferente dos outros sereshumanos em suas tendências para o pecado. Por30 anos o adventismo tem vivido uma guerra depalavras sobre o tópico.”849

“A natureza de Cristo não era um ponto divisivonos círculos adventistas até os anos 50. Até essetempo os escritores denominacionais haviamestado em harmonia com Jones, Waggoner ePrescott, acerca de ter Cristo vindo em carne

847 Idem, pág. 133.848 Ibidem.849 Ibidem.

Page 390: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

humana a qual detinha, como a do decaído Adão,todas as tendências da humanidade para pecar.”850

De acordo com Knight, dois fatores motivaram amudança teológica no anos 50. Um deles foi adescoberta, em 1955, da carta de Ellen White a W.L. H. Baker. Outro foi a sensibilidade de algunslíderes da igreja “à crítica de certos evangélicos deque a Cristologia de ‘tendências pecaminosas’ dosadventistas era inadequada.”851

Porém, afirmou Knight, havia uma profusão dedeclarações de Ellen White afirmando que Cristo“tomou sobre Si nossa pecaminosa natureza”, ou“que Ele tomou sobre Si próprio a decaída esofredora natureza humana, degradada e poluídapelo pecado”. E acrescenta o autor: “Essas nãoforam afirmações isoladas.” No mesmo ano dacarta a Baker, ela escreveu que “Cristo assumiu anatureza humana decaída.”852

Por fim, Knight asseverou: “Não há a mais levedúvida de que Ellen White cria que Cristo assumiua natureza humana decaída e pecaminosa naEncarnação. O que quer que ela consistisse,todavia, fica claro que não estavam incluíadas asmás propensões para o pecado – ‘os cardos e asroseiras bravas’ do egoísmo, do amor próprio eassim por diante.”853

850 Idem, pág. 140.851 Ibidem.852 Idem, pág. 141.853 Ibidem.

Page 391: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Não é fácil averiguar o ponto de vista de Knightsobre o assunto. Sua análise objetiva comohistoriador confirma, todavia, o que os defensoresda Cristologia histórica sempre afirmaram. Oobjetivo de seu livro não foi dizer o que elepróprio cria, mas atestar o que os adventistascrêem e explicar como ocorreu a mudança radicalem sua Cristologia nos anos 50.

Uma Exposição Bíblica no Nisto CremosDurante a sessão da Conferência Geral de 1980

foi preparada uma nova declaração de crenças.Muitas vezes, desde a primeira declaração de féem 1872, os líderes da Igreja Adventista do SétimoDia compreenderam a necessidade de reafirmarsuas crenças fundamentais, de forma a torná-lascada vez mais claras. Para esse fim, a AssociaçãoMinisterial da Conferência Geral tomou ainiciativa de preparar “uma exposição bíblica das27 doutrinas fundamentais dos adventistas dosétimo dia”854, e pô-las num livro que veio à luzem 1988, e foi traduzido e distribuído em muitasdas principais línguas do mundo.

Vários autores foram escolhidos para redigir osartigos, enquanto uma comissão de 194 membrosescolhidos dentre as 10 divisões mundiais, foramcomissionados a criticar cada capítulo. Uma

854 Nisto Cremos.

Page 392: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

comissão menor, composta de 27 líderes da igreja,teólogos e pastores, reuniram-se regularmente parasupervisionar a preparação da obra.855

Embora o livro parecesse ser uma declaraçãooficial, os editores tomaram o cuidado deenfatizar: “Enquanto esse volume não foroficialmente votado – e somente a ConferênciaGeral em sessão mundial pode realizar isso – elepode ser visto como representante da ‘verdade ...em Jesus’ (Efés. 4:21), que os adventistas dosétimo dia ao redor do mundo estimam eproclamam.”856

Por causa das diferenças de opinião, adeclaração votada na sessão da Conferência Geralde 1980 evitou definir a natureza humana deCristo de maneira precisa. Ela meramente afirmouque Jesus era “Deus verdadeira e eternamente” e“verdadeiramente homem”. “Ele foi concebido doEspírito Santo e nascido da virgem Maria. Viveu esofreu tentações como um ser humano, masexemplificou perfeitamente a justiça e o amor deDeus.”857

A referida sessão apurou, todavia, que nocapítulo 4 do Nisto Cremos não faltaram detalhesprecisos com referência aos vários aspectos daCristologia. Em particular, a natureza humana de

855 Idem, pág. V.856 Idem, pág. IV.857 Idem, pág. 36.

Page 393: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Cristo foi ali desenvolvida de maneira sistemáticaa partir de textos bíblicos. Jesus foi apresentadocomo “verdadeiramente homem”.858 “Ele podiareivindicar verdadeira humanidade através de Suamãe”; “durante Sua juventude Ele esteve sujeito aSeus pais (Lucas 2:51)”; “o nome Filho do homemenfatiza Sua solidariedade com a raça humanamediante a Encarnação.”859

A questão controversa foi claramente colocada:“Em que extensão Ele [Cristo] Se identificou comou tornou-Se idêntico à decaída humanidade? Umcorreto ponto de vista sobre a expressão ‘àsemelhança de carne pecaminosa’, ou homempecaminoso, é crucial. Opiniões inexatas têmpromovido discussão e contenda através dahistória da igreja cristã.”860

O capítulo usa expressões típicas do ensinotradicional da Igreja Adventista: “Ele revestiu Suadivindade da humanidade; tornou-Se em‘semelhança de carne pecaminosa’, ‘naturezahumana pecaminosa’ ou ‘natureza humanadecaída’ (cf. Rom. 8:3) Isso de nenhum modoindica que Jesus foi pecaminoso ou participou deatos ou pensamentos pecaminosos. Embora emforma ou semelhança de carne pecaminosa, Ele foisem pecado e Sua inocência está fora de

858 Idem, págs. 45-50.859 Idem, págs. 45-50.860 Ibidem.

Page 394: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

questão.”861

A natureza humana de Jesus não foi identificadacom a de Adão antes da queda. “Cristo tomou anatureza humana que, comparada com a naturezanão decaída de Adão, decresceu em força física emental, embora Ele nunca houvesse pecado.Quando Cristo assumiu a natureza humana queportava as conseqüências do pecado, tornou-Seobjeto de fraquezas e inclinações que todosexperimentam. Sua natureza humana estava‘assolada por fraquezas’ou ‘cercada dedebilidades’ (Heb. 5:2; Mat. 8:17; Isa. 53:4).”862

Com referência às declarações do bispoanglicano Henry Melvill, afirmou-se: “Ahumanidade de Cristo não era a adâmica, isto é, ahumanidade de Adão antes da queda; nem ahumanidade decaída, ou seja, em cada aspecto dahumanidade de Adão pós-queda. Não era aadâmica porque ela possuía as simples fraquezasda decaída. Não era a decaída porque ela nuncahavia descido à impureza moral. Ela era, portanto,mais literalmente a nossa humanidade, mas sempecado.”863

Finalmente, com referência ao problema datentação, “o modo como enfrentou a tentaçãoprova que Ele era verdadeiramente humano. Que

861 Idem, págs. 46 e 47.862 Idem, pág. 47.863 Ibidem.

Page 395: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Cristo fosse ‘tentado em todos os pontos comonós’ (Heb. 4:15), mostra que Ele era participanteda natureza humana. Tentação e a possibilidade depecar eram reais para Cristo. Se Ele não pudessepecar, não teria sido humano e nem poderia sernosso exemplo. Cristo assumiu a natureza humanacom todos os seus riscos, incluindo a possibilidadede ceder à tentação.”864

Para realçar a realidade das tentações a queCristo estava sujeito, dois teólogos bemconhecidos foram citados. “Concordamos comPhilip Schaff, que disse: ‘Houvesse Ele sidodotado desde o início de absoluta impecabilidade,ou com a impossibilidade de pecar, e não poderiater sido um homem real, nem nosso modelo paraimitação; Sua santidade, em lugar de ser um feitoauto-adquirido ou de mérito próprio, teria sidoacidental ou dom exterior, e Suas tentações umshow fantasioso.’ Karl Ullmann acrescenta: ‘Ahistória da tentação, conquanto possa serexplicada, não teria significado; e a expressão naepístola aos Hebreus: ‘foi tentado em todas ospontos como nós’, seria sem sentido.’”865

Segundo essas declarações, alguém só pode ficarespantado ao ler que “a natureza humana de Cristotenha sido retratada como impecável”; que “JesusCristo tomou sobre Si nossa natureza com todos os864 Ibidem.865 Idem, págs. 48 e 49.

Page 396: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

seus riscos, mas que Ele estava livre da corrupçãohereditária ou degradação e do pecado.” Ou que“Jesus não possuía más propensões ou inclinações,ou mesmo paixões pecaminosas.”866 CertamenteCristo nada teve desse tipo. Ele nos deu “oexemplo de uma vida sem pecado”.867

Mas isso foirealizado em a “natureza humana decaída”868

sujeita à “operação da grande lei dahereditariedade.”869

Mesmo que não tivesse másinclinações, “Ele sabia quão fortes eram asinclinações do coração natural.”870 E por que falar,como Melvill, de “simples fraquezas”, quandoEllen White declara que “Cristo tomou sobre Si asfraquezas da humanidade degenerada”?871

De qualquer modo, em outros aspectos aCristologia apresentada no Nisto Cremos confirmaa posição pós-queda. Portanto, limitando ahereditariedade de Cristo apenas às conseqüênciasfísicas – a “simples fraquezas”872

– os autores seafastaram da posição tradicional num ponto muitoimportante. Assim fazendo, o Nisto Cremosestabeleceu uma interpretação intermediária sobrea natureza humana de Cristo, a qual Roy Adamstentou divulgar por meio de seus artigos na

866 Idem, pág. 49.867 E. G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 49.868 _______, Primeiros Escritos, págs. 150, 152.869 _______, O Desejado de Todas as Nações, pág. 49.870 _______, Testimonies for the Church, vol. 5, pág. 177.871 _______, O Desejado de Todas as Nações, pág. 117.872 Nisto Cremos, pág. 47.

Page 397: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Adventist Review e no livro The Nature of Christ:Help for a Church Divided Over Perfection (ANatureza de Cristo: Auxílio a uma Igreja DivididaSobre a Perfeição).

Roy Adams Busca Reacender o DebateDepois dos debates dos anos oitenta, a Adventist

Review publicou uma série de seis artigos deautoria de Norman R. Gulley sob títulos como“Model or Substitute, Does it Matter How We SeeJesus?” (Modelo ou Substituto: Importa ComoNós Vemos a Jesus)?” e “Pressing Together”.Esses artigos incluíam alguns conceitos própriosde Gulley, tais como “Jesus tornou-se pecado pornós vicariamente”; “Jesus não experimentoutentações como as nossas, porque Sua natureza eradiferente da nossa”; e Ellen White “via a missãode Cristo em duas dimensões. Ela fala de umadimensão pré e de uma dimensão pós-queda.”873

Na primavera de 1990, Roy Adams, editor-associado da Review, reacendeu o debate aopublicar três editoriais sobre se Cristo era comoAdão (antes da queda) ou como os pecadores.Esses artigos tiveram como título: “Como Adão ouComo Nós?”874 Adams cita Ellen White: “Quando873 Norman R. Gulley, na Adventist Review, 18 e 25 de janeiro, e 1, 8, 15 e 22 de fevereiro de 1990. Ver

Donald Karr Short, Feito Como... Seus Irmãos (publicado pelo autor em 1991). Ele criticou severamenteesses artigos, destacando a confusão por eles causada no seio da igreja; então defendeu as idéiasfundamentais da Cristologia tradicional.

874 Roy Adams, na Adventist Review, 29 de março de 1990; 19 e 26 de abril de 1990. Esses três editoriaisforam inicialmente publicados no Canadian Adventist Messenger, abril e maio de 1988.

Page 398: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

quisermos um profundo problema para estudar,fixemos nossas mentes sobre o mais maravilhosofato que teve lugar na Terra ou no Céu – aencarnação do Filho de Deus.”875

“Essa é adoutrina central da fé cristã.” E acrescenta: “Semela todo o cânon das Escrituras se torna umdocumento sem significado, um absurdo.”876

“O problema que enfrentamos aqui é semelhanteàquele encarado por nossos pioneiros cristãos nosprimeiros séculos – a falta de uma definidadeclaração na Escritura. Essa é a razão por que osadventistas se têm apoiado tão maciçamente nosescritos de Ellen White sobre essa questão.”877

Adams mostrou que Ellen White afirmaperemptoriamente, por um lado, que Cristo erasemelhante a nós em todas as coisas, e por outro,que Ele era, ao mesmo tempo, “diferente de nós”.A dificuldade jaz na aparente contradição: “SeCristo, de fato, tornou-Se humano, como foi Elecapaz de contornar a infecção universal dopecado?”878

Para explicar esse paradoxo, Adams apelou paraHenry Melvill, o ministro anglicano que afirmavaque os dois resultados essenciais da queda foram(1) “simples fraquezas” e (2) “propensões

875 _______, na Adventist Review, 29 de março de 1990. The Seventh-day Adventist Bible Commentary, EllenG. White Comments, vol. 7, pág. 904.

876 _______, na Adventist Review, 29 de março de 1990.877 _______, na Adventist Review, 19 de abril de 1990.878 _______, na Adventist Review, 26 de abril de 1990.

Page 399: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecaminosas” Agora, concordando com Melvill,“antes da queda, Adão não possuía ‘simplesfraquezas’, nem ‘propensões pecaminosas’. Somosnascidos com ambas, e ... Cristo tomou asprimeiras, mas não as segundas”.879

Adamsconcluiu, como Melvill, que “o encarnado Cristonão era nem como Adão antes da queda, nemcomo nós. Ele era sem igual.”880

Essa é a solução proposta por Adams em seulivro (publicado em 1994) sobre a natureza deCristo.881

Tendo criticado a Cristologia de alguns“irmãos rebelados” da herança de Jones eWaggoner, bem como a enérgica reação deAndreasen contra a nova teologia,882 eledesenvolveu as idéias contidas em seuseditoriais.883

Em particular, Adams recunhou emdetalhes a explanação de Melvill. E, como TimPoirier, considerou que Ellen White, por ter usadoas mesmas expressões, deve-lhes ter dado omesmo significado.884

Como outros antes dele, Adams justificou seuponto de vista citando extensivamente a carta deEllen White a Baker. Posteriormente, revelou quesua interpretação corresponde àquela de seus

879 Ibidem.880 Ibidem.881 _______, A Natureza de Cristo (Hagerstown, Md.: Review and Herald Pub. Assn., 1994) Ele considerou a

noção de uma igreja dividida sobre a questão da perfeição.882 Idem, págs. 19-36.883 Idem, págs. 37-54.884 Idem, págs. 68 e 69.

Page 400: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

professores de teologia.885

Reconhecemos que a interpretação de RoyAdams representa positivamente a postura mantidapor grande parte dos adventistas hoje. Todavia,seria errôneo concluir que esse ponto de vista épartilhado pela maioria na Igreja Adventistaespalhada pelo mundo.

A Situação EuropéiaComo já referimos886, até o início da década de

50 a Cristologia adventista nos países da DivisãoSul-européia estava em linha com os ensinos daigreja em geral. Desde então, a despeito daimportância dada ao problema da natureza humanade Cristo na literatura dos adventistas de falainglesa, nenhuma controvérsia havia aindaemergido desse lado do Atlântico. Afora algunspoucos especialistas, não muitos adventistas seentregaram à leitura de livros de teologia eminglês. Além disso, os especialistas que tomaraminteresse nas sutilezas do problema em questãoforam mesmo escassos. Em 1969, o editor daRevue Adventiste, Jean Caseaux, foi o primeiro apublicar os princípios da nova teologia.887

Alfred Valcher, o pai dos teólogos adventistas de

885 Idem, pág. 58. Adams diz seguir a interpretação “como todos os seminaristas universitários dos últimos 25anos, ou recebida dos lábios do professor de teologia, Dr. Raoul Dederen, que por muitos anos lecionou emnossas universidades.

886 Ver nosso capítulo 9.887 Jean Cazeaux, na Revue Adventiste, julho de 1969.

Page 401: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

fala francesa,888 também dedicou um artigo sobre“A Dupla Natureza Divino-Humana de Cristo”, noqual analisou as várias tendências do pensamentona Igreja Adventista.889

A única observação pessoalexpressa neste artigo concernia à palavra“semelhança”, que para ele não era “sinônima deidentidade”. “E se alguém sustenta que Jesusassumiu uma natureza pecaminosa, isso significaunicamente que Ele aceitou a realidade da tentaçãoe a possibilidade de pecar.”890 A questão de saberse Cristo tinha a natureza de Adão antes ou depoisda queda não parece preocupar Vaucher. Em suamagistral obra, Histoire du Salud (História daSalvação), ele se satisfez em afirmar a simplesrealidade de Sua humanidade e Suas tentações.891

É difícil determinar exatamente quando a novateologia se tornou conhecida dos pastores emembros da igreja na Europa.892 No ensinoministrado no Seminário Adventista de Collonges,onde pastores de muitos países são treinados,893

asduas linhas de pensamento foram apresentadas por888 Alfred Felix Vaucher (1887-1993) esteve diretamente ligado com o início da Igreja Adventista na Europa.

Como pastor e professor, ele também se tornou um pesquisador especializado no campo da profeciabíblica. Ele foi distinguido pela Andrews University, que o premiou com o grau de doutor honoris causa, em1963, pelos méritos de suas contribuições.

889 Vaucher, na Revue Adventiste, fevereiro de 1978. Ver também a revista Servir, primeiro trimestre de 1957,págs. 17 e 18.

890 Ibidem, pág. 5.891 Vaucher, A História da Salvação, quarta edição (Dammarie-les-Lys, França: Edições Vie et Santé, 1987),

págs. 193-198.892 Paul Nouan, na Revue Adventiste, dezembro de 1994, apresenta o problema da natureza de Cristo de

modo semelhante ao da Cristologia de Heppenstall.893 Os pastores da Bélgica, Espanha, França, Itália, Portugal e Suíça, bem como os de muitos outros países

da Europa, África e Américas, são preparados na Faculdade Adventista de Teologia de Collonges-sous-Salève, França.

Page 402: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

professores como: Raoul Dederen, até ele setransferir para a Andrews University, em 1963;Georges Stéveny, de 1967 a 1980; e eu, de 1960 a1970, e de 1985 a 1998.

Quando contatado recentemente, Raoul Dederenassegurou-me que seus pontos de vista sobre anatureza humana de Cristo eram, em substância,exatamente os mesmos defendidos por EdwardHeppenstall. Em outras palavras, Cristo tomou anatureza de Adão após a queda, mas semparticipação nas tendências naturais para o mal –uma carne semelhante a do pecado, mas nãoidêntica.894 Quanto às opiniões de GeorgesStéveny, temo-las por escrito e bem detalhadas,graças a seu recente livro A La Découverte duChrist (A Descoberta de Cristo).895

Georges Stéveny, “Na Esteira dos Pioneiros”Georges Stéveny estudou teologia no Seminário

Adventista de Collonges-sous-Salève e recebeuseu diploma de pós-graduação em filosofia naUniversidade de Genebra. Depois de muitos anoslecionando, ele serviu a Igreja Adventista por 18anos como pastor-evangelista na França e naBélgica. Brilhante orador, Stéveny fascinou muitasvezes grandes auditórios com seus argumentosfilosóficos e bíblicos. Chamado para ser professor894 Ver nosso capítulo 12.895 Georges Stéveny, A Descoberta de Cristo (Dammarie-les-Lys, França: Editions Vie et Santé, 1991).

Page 403: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

de teologia no Seminário Adventista de Collonges-sous-Salève em 1967, foi ele posteriormenteguindado à liderança da instituição, de 1970 a1980. Deu continuidade a seu ministério comopresidente da Associação Franco-Suíça esecretário geral da Divisão Euro-Africana dosAdventistas do Sétimo Dia, de 1985 a 1990.

Embora houvesse escrito muitos artigos eauxiliado na edição de muitas obras publicadas,teve ele de esperar até sua aposentadoria paraescrever A La Découverte du Christ, querepresentou a colheita do conhecimento e dasmeditações espirituais de toda a sua vida. Essesforam apresentados em forma de uma Cristologiade dois níveis. Primeiramente como a “BaixaCristologia”, arraigada na história que nos capacitaa descobrir Cristo em Sua vida terrena. Então, numsegundo nível, a “Alta Cristologia”, que era arevelação do Cristo de nossa fé. Essa parte de suaobra é de particular interesse porque tratadiretamente da Encarnação, suas implicações econseqüências.896

O método seguido é a apresentação da exegesesistemática para cada texto cristológico,começando com o Prólogo do evangelho de João,seguido por passagens-chaves das epístolas dePaulo. Essa é uma Cristologia inteiramente

896 Idem, págs. 229-299.

Page 404: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

baseada no estudo da revelação bíblica. O estudoleva o leitor através da demonstração de que“Jesus era Deus antes de Sua encarnação”, e“permaneceu inevitavelmente Deus acima de Suahumilhação.”897

“Mas em Cristo, o próprio Deushabitou conosco. Ele Se fez homem, o segundo eúltimo Adão. Surge, porém, uma questão,indubitavelmente delicada, mas legítima: Quãoidentificado conosco realmente estava Jesus?Tomou Ele a natureza de Adão antes ou após daqueda?”898

Georges Stéveny rejeitou categoricamente anoção de que Cristo possuía a natureza de Adãoantes da queda. A expressão paulina “emsemelhança (similitude) de carne pecaminosa” nãopoderia ser atribuída a Adão antes da queda. Mas,“não é suficiente denunciar a diferença entre asduas situações experimentadas pelos dois Adões, oque é totalmente óbvio. O que precisamosreconhecer é que eles não viveram na mesmacarne nem na mesma natureza.”899

“Dizer que Jesus viveu na carne semelhante à deAdão antes da queda é, portanto, discordar dadivina revelação. Mas seria outro erro dizer queEle era idêntico a Adão após a queda. Prendemo-nos a falsas opções ao querermos definir a

897 Idem, pág. 259.898 Idem, pág. 284.899 Idem, pág. 287.

Page 405: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

natureza de Jesus simplesmente em relação aAdão, antes ou depois da queda. Uma enorme eessencial diferença que distingue Jesus do homem,o qual se tornou ontologicamente separado deDeus.”900

“Jesus não era apenas Deus; não eraapenas homem. Cristo ocupou uma posiçãodiferente, uma nova posição, no começo de umanova era.”901

Mas, então, “qual é exatamente a carne de Cristoe quais as Suas inclinações interiores? Até ondevai Sua identificação conosco?”902

Para renovar acondição humana, tinha Ele de assumi-lainteiramente. Uma mera semelhança externa nãoestá em harmonia com a declaração de Paulo, deque Deus enviou Seu Filho em “semelhança decarne pecaminosa” (Rom. 8:3). “Foi na carne queDeus condenou o pecado por Jesus Cristo. Ademonstração do apóstolo Paulo é válida apenaspara uma condição formal, para dar a conhecerque Jesus resistiu sob as mesmas condições que asnossas. Não admitir isso é dizer que toda aargumentação é falha e a conclusão inaceitável: ‘...para que a justa exigência da lei se cumprisse emnós, que não andamos segundo a carne, massegundo o Espírito.’ (Rom. 8:4)”903

“Se Jesus não houvesse enfrentado a tentação900 Idem, pág. 288, 289.901 Idem, pág. 292.902 Ibidem.903 Idem, pág. 293.

Page 406: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

sob as mesmas condições que as nossas”, asseveraStéveny, “a luta seria desigual e Seu exemploimpróprio.”904

Mas o poder do Espírito, através dequem Cristo condenou o pecado na carne, éoferecido a todos os que O recebem pela fé.Conseqüentemente, “graças a Jesus Cristo oEspírito Santo desenvolve em nosso favor omesmo ministério que Ele cumpriu em favor doFilho de Deus. Nisso repousa um aspecto essencialdo evangelho... Quão confortador é saber que ahumanidade, comprometida por Adão, seu líder,pode ser regenerada por Jesus Cristo, em Quemtodas as coisas são feitas novas.”905

William G. Johnsson Tenta HarmonizarNuma série de cinco editoriais publicados na

Adventist Review, William G. Johnsson, editor-chefe, tentou amainar a discussão sobre a naturezade Cristo em seus artigos “Nosso IncomparávelSalvador”.906

“Meu propósito nesses editoriais nãoé tentar provar que um lado está certo e o outroerrado. Espero reconciliar-nos apresentandofielmente as preocupações de cada lado emostrando quanto temos em comum, a despeito detudo. Não espero mudar as mentes; desejo apelarpara a sabedoria e o bom senso de nosso povo, em

904 Idem, pág. 296.905 Idem, pág. 298.906 William G. Johnsson, na Adventist Review, 8 e 22 de julho de 1993; 12, 19 e 26 de agosto de 1993.

Page 407: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

quem deposito grande confiança.”907

Tendo salientado que os adventistas confessam acompleta e eterna divindade de Jesus Cristo,Johnsson enfatizou que Sua humanidade éigualmente vital. Mas é precisamente aí que jaz opomo da discórdia entre os adventistascontemporâneos. Johnsson recapitulouobjetivamente ambos os pontos de vista e entãoperguntou: “O que a Bíblia nos diz sobre ahumanidade de Jesus?”908 A resposta foiexatamente aquela dada em seu livro sobre aepístola aos Hebreus.909 “O silêncio do NovoTestamento sobre esse específico ponto de debateé ensurdecedor. A meu ver nós, como igreja,somos prudentes em não tentar definir em nossascrenças fundamentais a natureza humana deCristo, mais detidamente do que o faz aEscritura.”910

“Mas o que Ellen White nos diz acerca deJesus?”911, Johnsson pergunta. Ela enfatizou Suadivindade tanto quanto Sua humanidade e amiraculosa unidade entre ambas. “Ele padeceutristezas, sofrimento e tentação; Suas provaçõesforam reais – Ele Se arriscou ao fracasso e à perdaeterna. Porém, em meio a tudo isso, Ele Se

907 Idem, 8 de julho de 1993.908 Idem, 12 de agosto de 1993.909 Ver nosso capítulo 12.910 Johnsson, na Adventist Review, 12 de agosto de 1993.911 Idem, 19 de agosto de 1993.

Page 408: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

manteve perfeitamente impecável; Ele é nossoincomparável Salvador.”912

Se Ellen White nos estimulou a estudarmos ahumanidade de Jesus, também se esforçou paranos relembrar que devemos fazer isso comextremo cuidado: “Sejam cuidadosos,extremamente cuidadosos quando tratando danatureza humana de Cristo.” Mas o que ela dissesobre Sua natureza? Era a de Adão antes ou depoisda queda? Para saber disso “precisamos atentarpara o que ela escreveu e não escreveu arespeito”.913

Ellen White, que fez múltiplas referências aos“fundamentos” ou “pilares” da mensagemadventista, nunca mencionou a natureza humanade Cristo como sendo um deles. Ademais, é fácildescobrir declarações dela para apoiar cada pontode vista. De fato, notou Johnsson, Ellen Whiteafirmou que “conquanto Jesus Se tenha tornadoverdadeiramente humano e passado por nossasexperiências, Ele era diferente de nós em aspectos-chave. Cristo era Deus-Homem e não participoude nossas paixões, inclinação para o mal epropensões para pecar. Ele era semelhante a nós etodavia diferente de nós. Somente tendo esses doisfatos em mente podemos fazer justiça a ela.”914

912 Ibidem.913 Idem. Ver The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White Comments, vol. 5, pág. 1128.914 Johnsson, na Adventist Review, 19 de agosto de 1993. Mas compare o que Ellen White escreveu em sua

carta ao Dr. J. H. Kellogg datada de 29 de agosto de 1903 (publicada na Adventist Review, 7 de fevereiro

Page 409: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Com freqüência, observou Johnsson, osargumentos não tocam no problema real – anatureza do pecado. “A questão por trás da questãoé o conceito de pecado. Aqueles que pretendemcompreender mais claramente a natureza humanade Cristo, conseguiriam mais se parassem dedebater se Jesus veio em natureza humana pré oupós-queda, e despendessem tempo buscando sabero que a Bíblia diz a respeito do pecado.”915

Johnsson sustentava que a Bíblia não restringe adefinição de pecado à transgressão da lei. “Empenetrante análise, Paulo descreve o pecado comouma força, um princípio inato, um estado – ‘opecado habita em mim’(Rom. 7:14-20). Assim nãosomente nossos atos são pecaminosos; nossaprópria natureza está em guerra contra Deus.”916

“Possuía Jesus tal natureza? Não. Se assim fosse,Ele teria necessidade de um Salvador. Ele nãopossuía propensão para o mal; nenhumadeformação em Sua natureza moral que Opredispusesse à tentação. Ele é o único totalmentesem pecado – em ações e também em Seu serinterior. Ele é ‘santo, inocente, imaculado,separado dos pecadores’ (Heb. 7:26).”917

“Mas eunecessito de um Salvador que é diferente, alguémque não participa do problema do pecado, que não

de 1994) e disicutida em nosso capítulo 14.915 _______, na Adventist Review, 26 de agosto de 1993.916 Ibidem.917 Ibidem.

Page 410: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

necessita Ele próprio de um salvador. E meuSalvador deve não apenas estar livre da mancha dopecado, mas também ser o próprio Deus! SomenteDeus pode remover meus pecados.”918

O esforço de Johnsson para resolver o problemaé, sem dúvida, digno de louvor.Inquestionavelmente, o primeiro passo para asolução jaz na definição bíblica do conceito depecado. As aparentes contradições entre a decaída,sofredora e degradada natureza humana que Cristoassumiu, e a pura, santa e impecável natureza quetodos Lhe atribuem, não encontrarão de outromodo uma explicação capaz de reconciliar doispontos de vista radicalmente opostos.

Entretanto, para alcançar esse propósito, não ésuficiente declarar o que Cristo é ou não é.919

Cadaadventista crê que Jesus era impecável, que Elenão tem em Si más propensões, e que somentepoderia ser nosso salvador nesse estado. Precisaser explicado como Ele pôde ser tentado em todasas coisas como nós, em carne semelhante à carnepecaminosa, sem cometer pecado. Essa é averdadeira essência do problema. Mas quando oimpasse é resolvido, Cristo surge maisefetivamente como nosso incomparável Salvador.

Jack Sequeira e o Problema do Pecado918 Ibidem.919 Ver observações de Jack Sequeira na Adventist Review de 23 de setembro de 1993.

Page 411: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Em seu livro Beyond Belief,920 Jack Sequeirabusca a solução para o problema da naturezahumana de Cristo na definição bíblica de pecado.Como sugerido no título, o autor pretendeconduzir seus leitores “além da crença”, para “apromessa, o poder e a realidade do evangelhoeterno”.

Sequeira está mais interessado em Soteriologiado que em Cristologia; ele busca colocar “o planoda salvação sob uma nova luz”.921

Mas, uma vezque não se pode falar da obra de Cristo sem falarde Sua pessoa, Sequeira é compelido a tomarposição sobre a natureza humana de Cristo e anatureza do pecado. Para ele, “o evangelho é asolução de Deus para o problema do pecado.Assim, é importante principiar nosso estudo doevangelho compreendendo o pecado.Amiudadamente tentamos compreender a soluçãoque Deus nos preparou em Cristo (o evangelho),sem primeiro reconhecer a plena extensão doproblema... Unicamente quando compreendermosnossa completa pecaminosidade em natureza eação, entenderemos a solução de Deus. Atépercebermos a depravada natureza do pecado, nãoperderemos nossa confiança própria nem920 Jack Sequeira, Beyond Belief: The Promise, The Power and the Reality of the Everlasting Gospel (Além da

Crença: a Promessa, o Poder e a Realidade do Evangelho Eterno) (Boise, Idaho: Pacific Press Pub. Assn.,1993). Sequeira nasceu no Quênia. Estudou teologia no Newbold College, Inglaterra. Por 12 anos foimissionário na África, tendo pastoreado em seguida diversas igrejas nos Estados Unidos. No tempo desselivro, ele era o pastor-chefe da Capital Memorial Seventh-day Adventist Church em Washington, D.C.

921 Idem, pág. 7.

Page 412: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

tornaremos para Cristo como nossa única justiça.O evangelho torna-se significativo, então,unicamente contra o pano de fundo de uma plenacompreensão do pecado.”922

Sequeira então traça a origem e odesenvolvimento do pecado. “Como descendentesde Adão e Eva, somos todos escravos do pecado.Nascemos egoístas e nossa inclinação natural éviver independentemente de Deus (ver João 8:34;Rom. 1:20-23; 6:17).”923 O Velho Testamento sevale de uma dúzia de diferentes termos parapecado. Mas no Salmo 51:2 e 3, descobrimosconceitos básicos expressos em três palavras-chave: iniquidade, pecado e transgressão.“a.)Iniqüidade. Ela não se refere primariamente aoato do pecado, mas à condição de pecaminosidade;por natureza, somos espiritualmente ‘inclinados’(ver Sal.51:5; Isa.53:6; 64:6). b.) Pecado.Literalmente ‘perder a marca’. Isso se refere aonosso fracasso em alcançar o ideal de Deus (verRom. 3:23; 7:15-24; Isa. 1:4-6). c.) Transgressão.Ela é uma deliberada violação da Lei de Deus, umato espontâneo de desobediência (ver I João 3:4;Rom. 7:7-13).”924

Comentando Isaías 53:6, Sequeira escreve:“Primeiro, cada um de nós se desviou porque

922 Idem, pág. 11 (itálicos supridos).923 Idem, pág. 17.924 Idem, ver págs. 13-16.

Page 413: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

todos seguimos a inclinação natural para o‘próprio caminho’. Segundo, esse pendor deseguir nosso próprio caminho, essa auto-centralização, é a iniqüidade que foi posta sobreCristo, nosso Portador de pecados. Quando Ele‘condenou o pecado na carne’ sobre a cruz (Rom.8:3), foi a inclinação para o pecado que Elesentenciou.”925

Deus enviou Seu Filho em carne pecaminosa,não para provar a Seus filhos que eles poderiamigualmente obedecer a lei de Deus ou para servircomo um exemplo para eles, mas para libertá-losdo pecado. “No próprio centro da doutrina daCristologia está a gloriosa verdade de que Cristoassumiu a humanidade para poder ser o Salvadordo mundo. Unicamente àqueles que primeiramenteo receberam como Salvador, tornou-Se Ele umExemplo.”926

Tendo explicado o porquê da Encarnação,Sequeira também considerou o como. “ComoCristo salvou o gênero humano em Suahumanidade? “Isso se deu vicariamente comCristo agindo no lugar da raça humana, ourealmente, isto é, com Cristo assumindo a decaídanatureza da humanidade?” Sequeira opta pelaúltima, rejeitando a idéia da substituição vicária, aqual diz ele “tornar o evangelho antiético”. Que925 Idem, pág. 14.926 Idem, pág. 41.

Page 414: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

um homem inocente pudesse morrer em lugar deum culpado é inaceitável. Ademais, isso reduz muifacilmente o evangelho a “graça barata”.927

De acordo com Sequeira, “Cristo, em Suahumanidade, salvou os homens e as mulheresem realidade e não vicariamente. Os defensoresdessa posição ensinam que Cristo tomou anatureza que Adão possuía após a queda.Argumentam eles que uma vez que Cristo veiopara salvar a decaída humanidade, Ele tinha deassumir a natureza humana pecaminosa quenecessitava de redenção. Identificando-Se assimcom nossa coletiva humanidade degenerada,Cristo qualificou-Se a ser o segundo Adão elegalmente obteve o direito de ser nossoSubstituto.”928

Para Sequeira isso não significa que Cristo emSua humanidade teria sido exatamente como nósem nossa caída humanidade. Certamente, “aEscritura ensina que Cristo realmente assumiunossa condenada natureza humana pecaminosacomo nós a conhecemos. Mas Ele derrotoucompletamente “a lei do pecado e da morte”(Rom. 8:2) que habitava nessa natureza humanapecaminosa, e então a executou na cruz. HouvesseCristo consentido, mesmo por um pensamento,com os pecaminosos desejos da natureza que Ele927 Idem, págs. 41 e 42.928 Idem, pág. 43.

Page 415: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

assumiu, então Se teria tornado um pecador comnecessidade, Ele próprio, de um salvador. Eis porque, lidando com a natureza humana de Cristo,devemos ser extremamente cautelosos para nãoinduzir Sua mente ou escolha ao pecado ou dizerque Ele ‘teve’ uma natureza pecadora.”929

Com respeito ao problema do pecado, Sequeiraenfatiza que não deveríamos ir além do que aEscritura diz. “Não devemos ensinar que em Adãotoda a humanidade herdou a culpa. Esta é a heresiado ‘pecado original’ introduzida por Agostinho eadotada pela Igreja Católica Romana. Culpa, emsentido legal, sempre inclui volição pessoal ouresponsabilidade e Deus não nos tornapessoalmente responsáveis por algo pelo qual nãotivemos escolha. Somente quando pessoal,conscienciosa, deliberada, persistente edefinitivamente rejeitamos o dom da vida eternaem Cristo, a culpa, a responsabilidade e a segundamorte tornam-se nossas (ver João 3:18, 36; Marcos16:1; Hebreus 2:1-4; 10:14, 26-29).”930

A Cristologia de Sequeira é apenas umfundamento de sua teologia com respeito a comoos pecadores são salvos “em Cristo”. Sua posiçãointransigente contra a expiação substitutiva tem-seprovado controversa, mas ele claramente assumepostura favorável à Cristologia tradicional,929 Idem, pág. 44.930 Idem, pág. 54.

Page 416: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

baseando seus argumentos na Escritura e não emEllen White.

A Derradeira Declaração de Ellen WhiteSobre a Natureza Humana de Cristo

Começamos este estudo histórico focalizando150 anos de Cristologia, com a primeiradeclaração de Ellen White. Daremos o toque finala essa história com uma de suas últimasafirmações. Essa intrigante manifestação foidescoberta apenas recentemente e trata com aparte mais controversa do assunto: se Cristo estavasujeito a todas as “más tendências” da humanidadeou se Ele era isento delas.

Nossa pesquisa confirma a de George Knight,que afirma que Ellen White nunca usou aexpressão “tendências pecaminosas” em relação ànatureza humana de Cristo. De acordo comKnight, isso fazia parte dos “ensinos de Prescott,Waggoner e Jones sobre as tendências da naturezahumana de Cristo”, que “permeavam o climaadventista em meados da década de 1890”.931 Masa recém descoberta carta levanta a questão sobrese ela realmente usou uma expressão tão forte.

A Adventist Review de 17 de fevereiro de 1994anunciou que uma carta inédita de Ellen Whitehavia sido descoberta recentemente.932 Escrita em931 Knight, From 1888 to Apostasy, pág. 144.932 Idem, Ver Adventist Review, 17 de fevereiro de 1994.

Page 417: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

29 de agosto de 1903, em Elmshaven, Sta. Helena,Califórnia, essa carta foi dirigida ao Dr. J. H.Kellogg.933

Parece que ela nunca foi enviada, comofoi o caso com muitas outras retidas por EllenWhite, enquanto aguardava para ver como acontrovérsia com Kellogg se desenvolveria entre1902 e 1908. Qualquer que seja a razão, essa carta,ou sua cópia, estava fora dos arquivos. Oarquivista Tim Poirier descobriu-a totalmente poracaso em dezembro de 1993. Quando o anúncio dadescoberta foi feito, o Patrimônio White ofereceuuma cópia a todos aqueles que desejassem tê-la.

Como a maioria das cartas de Ellen White, elatrata de vários assuntos de natureza prática. Masum dos parágrafos tocou no assunto dahumanidade de Cristo em termos particularmentesignificativos. Ao revisar a passagem na qual elafala da natureza humana decaída assumida porCristo, Ellen White fez várias alteraçõesmanuscritas no texto. Essas mudanças sãoapresentadas abaixo em negrito. Essa amostra deseu trabalho testifica de sua preocupação com aclareza sobre um ponto particularmente sensível epassível de mal-entendidos. Eis o parágrafo emquestão:

“Quando Cristo, no início, anunciou à hostecelestial Sua missão e obra no mundo, declarou

933 Ellen G. White, carta 303, 1903.

Page 418: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

que estava para deixar Sua posição de dignidade eocultar Sua santa missão assumindo a semelhançado homem, quando em realidade Ele era o Filhodo infinito Deus. E quando chegasse a plenitudedos tempos, Ele desceria de Seu trono do altocomando, poria de lado Seu manto régio e coroareal, revestindo Sua divindade com a humanidade,vindo à Terra para exemplificar o que ahumanidade deve fazer e ser para vencer o inimigoe assentar-se com o Pai em Seu trono. Vindo comoo fez, como um homem, para enfrentar e estarsujeito a todas as más tendências das quais ohomem é herdeiro, operando de toda maneiraconcebível para destruir Sua fé, consentiu emser ferido pelas agências humanas inspiradas porSatanás, o rebelde que havia sido expulso doCéu.”934

Esse texto tem paralelo com algo que EllenWhite publicara no Early Writings.935

Ali ela usou,pela primeira vez, a expressão “natureza humanadecaída” para descrever a natureza assumida porCristo. Na declaração de 1903, desejou ser aindamais precisa. De início ela escrevera: “Vindocomo O fez, como um homem, com todas as mástendências das quais o homem é herdeiro, a Simesmo tornou possível ser ferido pelas agênciashumanas inspiradas por Satanás.” Isso pareceria934 Ibidem.935 E. G. White, Early Writings, pág. 150. Ver nosso capítulo 2.

Page 419: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

ser um claro apoio a uma natureza humana sujeitaa “todas as tendências más”, às quais Cristo nuncacedeu.

Mas, evidentemente, Ellen White, ao reler otexto datilografado, sentiu que esse não eraexatamente o pensamento que pretendiacomunicar. Assim, adicionou duas frasesmanuscritas as quais foram negritadas no textoacima. Com o texto interlinear acrescentado, apassagem ficaria assim: “Vindo como fez, comoum homem, para enfrentar e estar sujeito atodas as más tendências das quais o homem éherdeiro, operando de toda maneira concebívelpara destruir Sua fé, consentiu em ser ferido pelasagências humanas inspiradas por Satanás.” Algunsdiriam que essa revisão apresenta significativamudança de sentido, fazendo parecer que as mástendências estavam em outras que foram formadascontra Cristo, embora isso seja discutível.

Ao publicar essa importante passagem, o editorda Adventist Review escreveu com propriedade:“Os estudantes dos escritos de Ellen White estarãointeressados na sentença final desse parágrafo.Eles irão observar como ela estava preocupada emnão ser mal compreendida e, ao ler o rascunhodatilografado, fez mudanças de próprio punho paratornar mais claro o significado. Essa asserçãotomará seu lugar entre muitas outras que ela

Page 420: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

escreveu sobre a natureza humana de Cristo.”936

Segundo Paul Gordon, então diretor doPatrimônio de Ellen G. White, “não é provável quequalquer nova carta mude significativamente acompreensão adventista de seus [Ellen White]ensinos. Temos já uma imensa coleção dos seusescritos em livros, cartas, diários e manuscritos,pela qual podemos estar confiantes em saber o queela cria.”937

Nos parágrafos seguintes, Ellen White explicouo segredo da vitória de Cristo sobre as “mástendências”. “Como Cabeça da humanidade,Cristo viveu na Terra uma vida consistente eperfeita, em conformidade com a vontade de SeuPai celestial. Quando Ele deixou as cortescelestiais, anunciou a missão que Se propuseracumprir: ‘Eis aqui venho; no rolo do livro estáescrito a Meu respeito: Deleito-Me em fazer a Tuavontade, ó Deus Meu.’ Sempre supremo em Suamente e coração estava o pensamento: ‘Não aMinha humana vontade, mas a Tua vontade sejafeita.’ Esse era o infalível princípio que O moviaem todas as Suas palavras e atos, e que moldouSeu caráter.”938

Desse modo, tendo vencido “todas as mástendências das quais o homem é herdeiro”, Jesus

936 Johnsson, na Adventist Review, 17 de fevereiro de 1994.937 Adventist Review, 18 de fevereiro de 1994.938 Ellen G. White, carta 303, 1903.

Page 421: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Cristo, nosso Senhor, “deu-nos um exemplo doque homens e mulheres precisam ser, seescolherem ser Seus discípulos e mantiverem oprincípio de sua confiança até o fim.”939 Pois,“através de Sua experiência, durante os 33 anosque Ele viveu na Terra, Cristo foi assediado portodas as tentações com as quais a família humanaé tentada; contudo, Ele Se manteve sem sequeruma mancha de pecado.”940

Tendo chegado ao fim de um estudo abrangendo150 anos de Cristologia Adventista, nossopropósito é proceder a uma síntese doconhecimento obtido até aqui e lançar a base paraavaliação das diferentes posições.

Em última análise, esperamos sugerir umaCristologia que se harmonize com o ensino bíblicoe reconciliar os diferentes pontos de vista.

939 Ibidem.940 Ibidem.

Page 422: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Parte 5

UM RETORNO ÀS FONTES DA CRISTOLOGIA BÍBLICAE ADVENTISTA

Capítulo 15

AVALIAÇÃO E CRÍTICA

Seria errado pensar que a questão da naturezahumana de Cristo seja apenas de interesse epreocupação dos teólogos. Presentemente, ela temperturbado muitos membros da igreja, ameaçandodividi-los. A seguinte carta, enviada por um leitoraos editores da Adventist Review, é um bomindicador dessa realidade.

“A igreja de que sou membro está dividida naquestão da natureza de Cristo. Surgem argumentosnas classes da Escola Sabatina, depois dasreuniões da igreja, nas refeições sabáticas, nosencontros de oração, ao telefone, em todo lugar.

Page 423: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

As pessoas estão realmente perdendo a amizade aodebaterem sobre a natureza de Cristo. É, de fato,necessário decidir sobre esse ponto para ser umbom adventista? Isso me aborrece, mas o queposso fazer?”941

Para responder a essas angustiosas perguntas,não basta dizer, como foi feito nesse caso, que esseé um assunto do “grande mistério”, queprecisamos “estudar a Bíblia e o Espírito deProfecia diligentemente e pensar que as tendênciasda igreja sobre essa questão são dignas de todaaceitação, e que devem ser evitadas todas asdiscussões acrimoniosas.”942

A igreja precisa tertambém uma resposta adequada e suficiente paratrazer conforto à consciência turbada, e satisfazer amente sequiosa de compreender essa verdade vital,acerca da qual Ellen White declara: “Ahumanidade do Filho de Deus é tudo para nós. Elaé o elo dourado que liga nossa alma a Cristo, eatravés de Cristo a Deus. Ela deve ser nossoestudo.”943

Tendo compreendido a importância da naturezahumana de Cristo no plano da salvação, ospioneiros adventistas fizeram dela a pedra detoque de sua Cristologia, em harmonia com oconselho dado pelo apóstolo João: “Nisto

941 Adventist Review, 31 de março de 1994.942 Ibidem.943 Ellen G. White, Selected Messages, livro 1, pág. 244.

Page 424: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

conheceis o Espírito de Deus: todo espírito queconfessa que Jesus Cristo veio em carne é deDeus; e todo espírito que não confessa a Jesus nãoé de Deus. Mas é o espírito do anticristo...” (I João4:2 e 3).

Isso é Realmente Essencial?Uma vez que a controvérsia acerca da natureza

humana de Cristo atingiu grandes proporções,muitos adventistas têm-se seriamente perguntado:É realmente imperioso decidir sobre isso?

Já em 1978, o presidente da Associação Geral,Robert Pierson, estava desejoso de pôr um fim àdivisão sobre a questão que, em sua mente, não eraessencial à salvação.944 Pela mesma razão, o artigo4 das crenças fundamentais, votado na reunião daAssociação Geral de 1980, o qual diz respeito ao“Filho”, silencia sobre o assunto.

É verdade que ninguém consideraria comoessencial para a salvação a correta compreensãointelectual de uma doutrina específica. ComoGeorge Knight apropriadamente afirmou: “Não énossa teologia que nos salva, mas o Senhor denossa teologia.”945

Aceitar a Jesus como nossoSalvador e participar de Sua vida divina torna-nosautênticos discípulos de Cristo. Poucos dos

944 Robert H. Pierson, na Review and Herald, 7 de dezembro de 1978. Ver Adventist Review, 1 de novembrode 1990: “An Appeal for church Unity” (Um Apelo à Unidade da Igreja), do Instituto de Pesquisa Bíblica.

945 George R. Knight, From 1888 to Apostasy, pág. 135.

Page 425: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

discípulos de Jesus, através dos séculos, sepreocuparam com detalhes da Cristologia quediscutimos hoje. Mas, semelhantemente ao ladrãona cruz, possuíam a certeza da salvação pela fé emJesus Cristo. “Não louvamos o evangelho, mas aCristo. Não adoramos o evangelho, mas ao Senhordo evangelho”946,

exclama Ellen White.Todavia, isso não significa que o conteúdo do

evangelho ou as doutrinas não sejam importantes.Longe disso! O viver cristão e o crescimentoespiritual são possíveis apenas através doconhecimento da verdade conforme ela é emJesus. (Efés. 4:21). Todo cristão é chamado acrescer no “pleno conhecimento, segundo aimagem dAquele que o criou”. (Col. 3:10).Ninguém poderia se apegar apenas aos “princípioselementares dos oráculos de Deus” (Heb. 5:12).Todos deveriam se esforçar para compreendersempre mais “os mistérios de Deus” (I Cor. 4:1),em particular “o mistério da piedade”, isto é,conhecer a Cristo “manifesto em carne... ejustificado no Espírito” (I Tim. 3:16).

A experiência cristã tem mostrado uma diretarelação entre nossa compreensão da naturezahumana de Cristo e Sua obra de salvação. Emoutras palavras, entre Cristologia e Soteriologia.Enganar-se sobre o significado da Encarnação e a

946 The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White Comments, vol. 7, pág. 907.

Page 426: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

realidade da humilhação de Cristo, conduzinevitavelmente ao engano sobre a realidade deSua obra de justificação.

A história da Cristologia adventista revela queerros de interpretação têm sido cometidos,especialmente à luz do fato de que hoje temos,pelo menos, três explicações acerca da naturezahumana de Cristo. Obviamente, elas não podemestar todas de acordo com as Escrituras e osescritos de Ellen White.

Em nossa busca pela verdade, é necessárioanalisar e avaliar as teses conflitantes. Osargumentos básicos de cada posição cristológicaserão sumariados a seguir.

Sumário das Três Interpretações AtuaisPara que ninguém conclua que a Igreja

Adventista não é clara com relação à sua crença arespeito à Pessoa que é central em sua fé, vamosrevisar as linhas comuns que ligam essasinterpretações antes de examinarmos suasdiferenças. O artigo 4 das Crenças Fundamentaisafirma com muita clareza o que os adventistassempre creram acerca de Jesus, Filho de Deus eFilho do Homem. A seguir, apresentamos suaíntegra, conforme votada na sessão da ConferênciaGeral, em 1980:

“O Eterno Deus-Filho encarnou-Se em Jesus

Page 427: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Cristo. Através dEle todas as coisas foram criadas,o caráter de Deus revelado, a salvação dahumanidade realizada, e o mundo julgado. Parasempre verdadeiramente Deus, Ele também Setornou verdadeiramente homem, Jesus, o Cristo.Foi concebido do Espírito Santo e nasceu davirgem Maria. Viveu e sofreu tentação como umser humano. Por Seus milagres manifestou o poderde Deus e foi confirmado como o prometidoMessias divino. Ele sofreu e morreuvoluntariamente na cruz por nossos pecados e emnosso lugar; ressurgiu dos mortos e ascendeu aoCéu para ministrar no santuário celestial em nossofavor. Ele virá novamente em glória para olivramento final de Seu povo e a restauração detodas as coisas.”947

Obviamente, essa declaração não expressa oponto controverso sobre a natureza humana deCristo. Entretanto, a declaração de fé de 1872, quepermaneceu intocada até 1931, especificava queCristo “tomou sobre Si a natureza da semente deAbraão, para a redenção de nossa raça caída”.948

Por causa das diferenças que surgiram nesseparticular desde a década de 50, os delegados nasessão da Conferência Geral de 1980 julgarammais sábio abandonar essa fraseologia, e substituira fórmula que expressava a crença comum.947 Nisto Cremos, pág. 36.948 Ver nosso capítulo 2.

Page 428: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Isso, porém, não extinguiu a controvérsia, a qualse intensificou até que os diferentes pontos devista fossem mais claramente definidos e umainterpretação alternativa surgisse. Escolhemosclassificá-la como alternativa porque ela tomaemprestados argumentos básicos de cada uma dasoutras duas Cristologias, conhecidas pelosteólogos como posições pós-lapsariana e pré-lapsariana. O que segue é um sumário das trêsCristologias:

1. A Cristologia Tradicional ou HistóricaEssa posição possui prioridade histórica na

Igreja Adventista. Ela é chamada pós-lapsarianaporque ensina que Jesus veio em natureza humanadecaída, a natureza de Adão após a queda.Conseqüentemente, a carne de Cristo éconsiderada semelhante a de todos os sereshumanos. Não uma carne corrompida, mas umacarne que, de acordo com a lei da hereditariedade,porta consigo inerentes tendências para pecar,tendências às quais Jesus nunca sucumbiu.Embora “tentado em todos os pontos, como nós”(Heb. 4:15), Ele não cometeu pecado. Daí, Ele nãoapenas “condenou o pecado na carne”, mas tornoupossível que “a justiça da lei se cumprisse em nós,que não andamos segundo a carne, mas segundo oEspírito” (Rom. 8:3 e 4).

Page 429: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Esse ensino, conquanto baseado em o NovoTestamento, era contrário às crenças básicas daCristandade. Isso porque os adventistas eramconsiderados como hereges, visto que algunspensavam que eles ensinavam que Jesus erapecador por nascimento, como o restante dahumanidade.

Muitos adventistas hoje não sabem que suaigreja ensinou durante um século – desde a origemdo movimento até 1950 –, a posição pós-lapsariana. No entanto, alguns teólogosadventistas, não compreendendo como pôde serpossível para Jesus viver sem pecar numa naturezahumana decaída, criam ser necessário formularuma nova Cristologia.

2. A Nova Cristologia ou a Posição Pré-Lapsariana

O argumento básico da nova Cristologia é bemconhecido: Jesus “assumiu a natureza humana deAdão sem pecado”, isto é, a natureza de Adãoantes da queda. Na verdade, “nEle não haviapecado, quer herdado quer cultivado, como énatural em todos os descendentes de Adão.”949 Domesmo modo, “se Cristo foi tentado em todos ospontos como nós”, isso nunca ocorreu comoproveniente de Seu íntimo, uma vez que Ele não

949 R. Allan Anderson, no Ministry, setembro de 1956. Ver nosso cap. 14.

Page 430: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

herdou de Adão nenhuma de nossas propensõespara o mal.

Em suma, “o que quer que Jesus tenha assumido,não o foi intrínseca ou inatamente... Tudo o queJesus adotou, tudo o que Ele suportou, quer ofardo e a penalidade de nossas iniqüidades, ou asdoenças e fragilidades da natureza humana – tudofoi experimentado vicariamente”950

“Vicariamente Ele tomou nossa pecaminosa edecaída natureza... Suportou nossas fraquezas,tentações, vicariamente, do mesmo modo quesuportou nossas iniqüidades.”951

É difícil compreender por que o ensinotradicional foi subitamente posto de lado.Aparentemente, não foi tanto por falta deconhecimento da posição histórica, como pelodesejo da parte de alguns de serem reconhecidoscomo cristãos “autênticos”.

Mais surpreendente é que os promotores da novaCristologia apoiaram sua causa nos escritos deEllen White. Assim a disputa resumiu-se adiferenças de interpretação com respeito a certasdeclarações cruciais da Sra.White.

3. A Cristologia AlternativaA Cristologia alternativa é mais recente e

provavelmente a mais difundida hoje. Ela é agora950 Questions on Doctrine, págs. 61 e 62.951 W. E. Read, no Ministry, abril de 1957. Ver nosso cap. 10.

Page 431: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

promovida pelo livro Nisto Cremos952, que foipreparado por mais de 200 representativos líderese eruditos selecionados dos mais altos níveis dadenominação.

Em harmonia com a Cristologia tradicional dospioneiros, a postura alternativa ensina que Jesustomou a natureza de Adão após a queda.Obviamente, consoante seus defensores, Cristonão veio em “poder e esplendor” ou mesmo com anatureza impecável de Adão. Pelo contrário, Eletomou a forma de servo, com a naturezaenfraquecida por 4.000 anos de degeneraçãoracial.

Isso não implica, todavia, que Jesus tenhaherdado “más tendências” de Adão. Embora ocorpo de Cristo estivesse sujeito à deterioraçãofísica e tenha herdado as fraquezas da constituiçãocorporal do homem, Ele não recebeu nenhuma dasinclinações para o mal associadas à decaídanatureza humana.

Baseados na fórmula emprestada de uma dasfontes de Ellen White, o ministro anglicano HenryMelvill, eles sustentam que Jesus herdou de Adãoapenas “simples fraquezas” e “características taiscomo fome, dor, fraqueza, tristeza e morte. Apesarde serem conseqüências do pecado, elas não sãopecaminosas.” 953 Assim, Cristo não era952 Ver Nisto Cremos, págs. 45-52.953 Idem, pág. 68.

Page 432: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

exatamente como Adão antes da queda e nem apósela. Diferentemente de outros seres humanosdecaídos, Ele nasceu sem tendências para o mal.Nesse ponto eles concordam com a novaCristologia.

Cada uma dessas Cristologias é definida na baseda hereditariedade humana. Obviamente, asdiferenças de interpretação sugerem que podem tersido cometidos erros. Ellen White aponta a causaprincipal: “Cometemos muitos erros por causa denossos errôneos pontos de vista acerca da naturezahumana de nosso Senhor. Quando conferimos àSua natureza humana um poder que não é possívelpara o homem obter em seus conflitos comSatanás, destruímos a integralidade de Suahumanidade.”954

Essa declaração sugere claramente o critériopelo qual uma interpretação deve ser avaliada.Precisamos reconsiderar toda interpretação queapouca ou obscurece a participação de Cristo em anatureza humana pecaminosa, se desejarmosretornar à Cristologia bíblica.

Erros de AvaliaçãoNas várias reuniões anuais do Patrimônio de

Ellen G. White, tivemos a oportunidade nãoapenas de estudar a Cristologia dos pioneiros,954 Ellen G. White, manuscrito 1, 1892. No The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White

Comments, vol. 7, pág. 929.

Page 433: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

como também de criticar certos aspectos da novaCristologia.

O primeiro dos erros foi passar por alto o ensinotradicional da igreja. É difícil compreender porque as unânimes declarações feitas por líderesadventistas por mais de um século devessem sercondenadas sem uma verificação mais séria. Se osdefensores da nova Cristologia houvessemexaminado a literatura oficial da igreja à luz dahistória, mesmo que de leve, provavelmente nãoteriam declarado que apenas uma minoria dosadventistas escreveu que Cristo tomou a naturezahumana decaída de Adão após a queda. Alémdisso, eles nunca teriam ousado dizer que “essaequivocada posição da minoria” procedia de unspoucos “lunáticos irresponsáveis”.955

O mais grave erro de análise foi cometido nainterpretação do ensino de Ellen White, sobre oqual os advogados da nova teologia se basearampara mostrar que Cristo tomara a naturezaimpecável de Adão antes da queda. Essa afirmaçãonão é encontrada em nenhum lugar dos escritos deEllen White; mas o contrário dela é afirmadocentenas de vezes. Como, então, poderia alguémescrever que “em apenas três ou quatro lugares emtodos esses inspirados conselhos” de Ellen Whiteexistem alusões feitas à natureza humana decaída

955 LeRoy Edwin Froom, Movement of Destiny, pág. 428. Ver nosso cap. 10.

Page 434: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

assumida por Cristo?956

Os estudiosos evangélicos, com quem oproblema da Encarnação foi discutido nos anoscinqüenta, não estavam errados quando dirigiram amira de sua crítica contra o livro Estudos BíblicosPara o Lar. Esse volume declarava que Cristo veio“em carne pecaminosa”. Por que eles foramlevados a acreditar que “essa expressão passoudespercebida no livro por algum errodesconhecido?”957

Esse livro, de fato, até quando aCristologia foi mudada por volta de 1950, era omais representativo das crenças gerais dosadventistas.

Finalmente, a maneira como a nova Cristologiafoi apresentada constitui-se em erro complementar.Publicando-a sem os nomes dos autores e sob otítulo Seventh-day Adventists Answer Questionson Doctrine (Os Adventistas do Sétimo DiaRespondem a Questões Sobre Doutrina), somentepoderia provocar uma justificada reação. Por quedeveria a nova Cristologia do Questions onDoctrine ser considerada mais em harmonia com averdade bíblica do que aquela inicialmente contidanos Estudos Bíblicos? Somente um exame críticodos diferentes pontos de vista pode prover umaresposta.

956 Anderson.957 Ibidem.

Page 435: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Uma Doutrina Condenada Pela IgrejaA nova Cristologia foi apresentada por seus

patrocinadores como “o novo marco histórico” doadventismo. Obviamente, para os crentesadventistas esse ensino era novo, mas não para osdemais cristãos. De fato, ele foi antes umlamentável retrocesso ao antigo ensino dasprincipais igrejas cristãs.

A fim de considerar Cristo como tendo umaimpecável natureza humana, como a de Adãoantes da queda, os concílios da Igreja Católicacreram ser necessário criar o dogma da imaculadaconceição de Maria. As igrejas protestantes, emcontraste, baseavam sua Cristologia na doutrinaagostiniana do pecado original, de acordo com aqual todos os homens são pecadores e culpadospor nascimento. Cristo, portanto, não poderiaassemelhar-Se a eles, uma vez que Ele não foi nempecador nem culpado. Daí a crença geral de queJesus, desde Sua encarnação, assumira a naturezahumana de Adão antes da queda.

Os pioneiros adventistas opuseram-se àsdoutrinas da imaculada conceição e do pecadooriginal. Alguns novos conversos ao adventismoalgumas vezes tinham dificuldades decompreender como Cristo, com uma decaída

Page 436: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

natureza humana, poderia viver sem pecado, comoos pioneiros ensinavam. Cartas foram escritas aEllen White “afirmando que Cristo não poderia tertido a mesma natureza que o homem, pois se assimfosse, Ele teria sucumbido sob tentaçõessimilares”. Eis sua resposta: “Se Ele não tivesse anatureza do homem, não poderia ser nossoexemplo. Se Ele não fosse participante de nossanatureza, não poderia ter sido tentado como ohomem é. Se não Lhe fosse possível ceder àtentação, Ele não poderia ser nosso ajudador.”958

A nova Cristologia não é apenas um retrocessoàs velhas crenças cristãs; ela é também um retornoà uma crença amplamente rejeitada pela IgrejaAdventista. Lembremo-nos da infeliz experiênciado movimento da carne santa. Esse movimentotambém ensinava que “Cristo tomou a naturezahumana de Adão antes da queda; assim Eleassumiu a humanidade como ela se encontrava noJardim do Éden”.959

Tal ensino foi discutido e rechaçado na sessão daConferência Geral de 1901. Quando Ellen Whitefoi informada a respeito, retornou da Austrália epessoalmente se opôs à doutrina da carne santa.Ela não hesitou por um só momento paradescrevê-la como “errôneas teorias e métodos” euma “invenção barata e miserável de teorias958 E. G. White, Selected Messages, livro 1, pág. 408 (Review and Herald, 18 de fevereiro de 1890).959 S. N. Haskell para Ellen G. White, 25 de setembro de 1900. (Itálicos supridos) Ver nosso cap. 7.

Page 437: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

humanas, engendrada pelo pai das mentiras”.960

Os propugnadores da nova teologia nuncamencionam esse incidente em sua história dasdoutrinas adventistas. Considerando que o autordo Movement of Destiny rememorapormenorizadamente como os pioneirossobrepujaram suas diferenças a respeito danatureza humana de Cristo, ele não diz umasimples palavra sobre o que eles ensinavamuniformemente sobre Sua natureza humana.Outrossim, ele dedica vários capítulos àmensagem de 1888 e ao papel desempenhado porWaggoner e Jones, mas conserva significativosilêncio quanto à sua Cristologia. Contudo isso seconstituiu a base de sua mensagem da justificaçãopela fé.

Métodos TendenciososA declaração original da nova Cristologia foi

feita no Ministry, em setembro de 1956, seção 11,apoiada em nove citações de Ellen White, semcomentários ou referências bíblicas. O título geralanuncia o conceito básico da nova teologia:“Tomou a Impecável Natureza de Adão Antes daQueda.” Então, para introduzir cada uma dascitações, há subtítulos pretendendo reforçar a idéiaprincipal envolvida, tais como: “Cristo Assumiu a

960 Ellen G. White, carta 132, 1900 (Selected Messages, vol. 2, pág. 37). Ver nosso cap. 7.

Page 438: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Humanidade Como Deus a Criou”, “Tomou aForma Humana, Mas não a Corrompida ePecaminosa Natureza”, “Assumiu a NaturezaHumana Impecável de Adão”, “PerfeitaImpecabilidade da Natureza Humana”, etc.961

Ninguém precisa ser um especialista para notarque nenhuma das citações de Ellen Whiteapresentadas nesse documento realmente seharmoniza com esses subtítulos. Ellen Whitenunca escreveu o que essas titulações insinuam.Na verdade, ela afirma exatamente o oposto. Masnenhuma dessas declarações é mencionada. Tendoaceito a posição comum do cristianismo comrespeito à natureza humana de Cristo, eaparentemente convencidos de que essa era aposição de Ellen White, os editores publicaramuma seleção tendenciosa de citações para justificarseu pontos de vista, sem fundamento textualobjetivo.

Uma declaração sucinta, registrada noMovement of Destiny, constitui-se noutro exemplotípico. Cada afirmação citada sem referênciamerece ser cuidadosamente examinada, colocadaem seu contexto imediato e explicada à luz doensino geral de Ellen White.962 Restringiremosnossa demonstração à seguinte sentença: “Cristoera como Adão antes da queda – ‘um ser puro,961 Anderson. Ver nosso cap. 10.962 Ralph Larson faz uma análise crítica dessa declaração em The Word Was Made Flesh, págs. 249-261.

Page 439: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

impecável, sem mancha de pecado sobre Si.’”963

Mas isso faz violência ao texto original. Aprimeira parte, “Cristo era como Adão antes daqueda”, é apresentada como procedente da pena deEllen White, ao passo que, em realidade, é da lavrado autor do texto. A segunda parte; ‘– ‘um serpuro, impecável, sem mancha de pecado sobre Si’,é na verdade uma descrição que Ellen White faz deAdão e não de Cristo. Eis a declaração comoapresentada em seu contexto original: “O primeiroAdão foi criado um ser puro, impecável, semmancha de pecado sobre si; ele era a imagem deDeus... Mas Jesus Cristo era o unigênito Filho deDeus. Ele tomou sobre Si a natureza humana e foitentado em todos os pontos como o serhumano.”964

[Ênfase suprida]Se essa declaração registrada na carta de Ellen

White a W. H. L. Baker não foi suficientementeexplícita, a seguinte, encontrada no O Desejado deTodas as Nações, não deixa dúvida sobre que elaensinava sobre o assunto: “Cristo devia redimir,em nossa humanidade, a falha de Adão. Quandoeste fora vencido pelo tentador, entretanto, nãotinha sobre si nenhum dos efeitos do pecado.Encontrava-se na pujança da perfeita varonilidade,possuindo o pleno vigor da mente e do corpo.

963 Froom, pág. 497.964 Ellen G. White, carta 8, 1895, no Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White Comments, vol.

5, pág. 1128.

Page 440: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Achava-se circundado das glórias do Éden... Nãoassim quanto a Jesus, quando penetrou no desertopara medir-Se com Satanás. Por quatro mil anosestivera a raça a decrescer em forças físicas, vigormental e moral; e Cristo tomou sobre Si asfraquezas da humanidade degenerada. Unicamenteassim podia salvar o homem das profundezas desua degradação.”965

Outro exemplo de “métodos errôneos” está emignorar declarações evidentes de O Desejado deTodas as Nações, em favor de outras contidas nacarta a Baker. Apenas alguém que perdeu todosenso de proporção poderia escrever que asdeclarações contidas na carta a Baker –“fortemente contrabalançadas”, “três ou quatrolugares” – na qual Ellen White usa os termos“natureza decaída” e “natureza pecaminosa”, paradescrever a natureza humana assumida por Cristo.

Em face a esses “errôneos métodos e teorias”,apenas uma exegese saudável, que tome em contatodas as fontes disponíveis e o significado dostermos empregados, tornará possível restabelecer aunidade interpretativa com respeito à naturezahumana de Cristo. É verdade que muito poucosdefensores atuais da nova Cristologia aindaseguem os métodos equivocados de seusfundadores. Hoje um simples argumento – de fato,

965 Ellen G. White, The Desire of Ages, pág. 117.

Page 441: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

uma simples palavra – é usado por muitos delespara justificar seu ponto de vista. Mas resistiráesse argumento a um cuidadoso escrutínio?

Um Argumento Fictício, uma ExpressãoDesencaminhadora

O método e o sistema de interpretaçãoempregados no livro Question on Doctrine diferemum tanto daqueles usados no argumento básico danova Cristologia. Aqui, os proponentes não maisafirmam explicitamente que “Cristo tomou aimpecável natureza de Adão antes da queda”,embora mantenham firmemente que “em Suanatureza humana, Cristo era perfeito eimpecável”.966

Eles não mais negam que “Ele era osegundo Adão, vindo em ‘semelhança’ de carnehumana pecaminosa (Rom. 8:3).”967

Reconhecemque Ellen White “ocasionalmente” usavaexpressões tais como “natureza pecaminosa” ou“natureza decaída” de Cristo.968

Todavia, estão ansiosos para especificar que “oque quer que Jesus tenha tomado, não era Seuinata ou intrinsecamente... Tudo o que Jesusassumiu, tudo o que Ele suportou – quer a carga ea penalidade de nossas iniqüidades, ou asenfermidades e fraquezas de nossa natureza

966 Anderson. Ver nosso cap. 10.967 Questions on Doctrine, pág. 55.968 Idem, pág. 52.

Page 442: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

humana – foi adotado vicariamente.”969 Deacordo com os autores do Question on Doctrine,“é nesse sentido que todos deveriam compreenderos escritos de Ellen G. White, quando ela se refereocasionalmente à pecaminosa, decaída edeteriorada natureza humana.”970

Se Ellen White houvesse realmente escrito queCristo tomou nossa natureza humana apenasvicariamente, bem como os pecados de todo omundo, esse seria um forte argumento. Emrealidade, ela nunca usou o advérbio“vicariamente”,971 nem jamais escreveu queCristo “tomou a natureza humana impecável.”972

Por outro lado, a Sra. White usou apenas umavez a palavra vicário com relação ao sacrifícioredentor de Cristo.973 Certamente Jesus nãopoderia perdoar pecados e imputar Sua justiça aospecadores penitentes de outro modo senão pelasubstituição. Mas afirmar que Ele tomouvicariamente a decaída natureza humana, significadizer que Ele a assumiu apenas aparentemente enão em realidade. Isso também significaria que amorte de Cristo deveria ser entendidavicariamente, uma vez que o salário do pecado é a

969 Idem, págs. 60.970 Idem, págs. 61 e 62.971 Ver o CD-ROM de Ellen G. White. É verdade que a palavra vicariamente aparece num subtítulo do

Selected Messages, vol. 3, pág. 133. Obviamente, esse subtítulo deve ser creditado aos autores dacompilação do livro e não à pena de Ellen White.

972 Questions on Doctrine, pág. 650.973 E. G. White, na Review and Herald, 1 de novembro de 1892.

Page 443: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

morte e a natureza humana de Jesus era impecável.Em suma, essa espécie de arrazoamento leva, nofinal das contas, ao docetismo, isto é, umaCristologia na qual Jesus é um ser humano apenasaparente.

É-nos inconcebível que Ellen White tenhainsistido sobre a realidade da participação deCristo “na carne e no sangue” da humanidade, “emsemelhança de carne pecaminosa”, querendo dizerque essa relação foi apenas vicária. Essa expressãonão é encontrada em parte alguma de seus escritos,assim, não há suporte para tal interpretação. Aoinvés, Ellen White não cessou de enfatizar arealidade da natureza humana decaída adotada porCristo.

Como poderia ela haver dito isso maisclaramente? “Cristo não deu a entender que tomoua natureza humana; Ele, de fato, a tomou. Emrealidade, Cristo tinha a natureza humana.” E paranão deixar qualquer dúvida sobre esse tipo denatureza, ela acrescenta: “‘Portanto, visto como osfilhos são participantes comuns de carne e sangue,também Ele semelhantemente participou dasmesmas coisas...’ (Heb. 2:14) Ele era o filho deMaria; a semente de Davi de acordo com adescendência humana. Cristo declarou ser umhomem, o homem Cristo Jesus.’”974

“Ele não

974 E. G. White, na Review and Herald, 5 de abril de 1906 (Selected Messages, vol. 1, pág. 247).

Page 444: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

possuía a mera semelhança de um corpo, mastomou a natureza humana participando da vida dahumanidade.”975

“Ele não apenas Se tornoucarne, mas foi feito em semelhança de carnepecaminosa.” 976

Ellen White não usava, como regra, linguagemsimbólica e metafórica com duplo significado. Oprincípio por ela expresso com relação àinterpretação da linguagem bíblica, aplica-seigualmente à sua própria: “A linguagem da Bíbliadeveria ser explicada de acordo com seusignificado óbvio, a menos que um símbolo oufigura seja empregado.”977

Ela escreveu emlinguagem clara que significa exatamente o quepretendia dizer. Isso é ainda mais necessário comrespeito ao delicado e difícil tópico da naturezahumana de Cristo.

Pontos Fortes e Fracos da CristologiaAlternativa

Nossa apreciação seria incompleta se osconceitos básicos da Cristologia alternativa nãofossem submetidos a um exame crítico. Por umlado, essa posição intermediária tem o mérito dereforçar a posição pós-lapsariana; mas por outro,ela perpetua o erro principal da posição pré-975 Ellen G. White, carta 97, 1898.976 Ellen G. White, carta 106, 26 de junho de 1896. Citado no The Seventh-day Adventist Bible Commentary,

Ellen G. White Comments, vol. 5, pág. 1126.977 E. G. White, The Great Controversy, pág. 599.

Page 445: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

lapsariana ao declarar impecável a naturezahumana de Cristo.

De fato, os patronos da Cristologia alternativaafirmam, como os pioneiros, que a humanidade deCristo não era a inocente humanidade de Adãoantes da queda. A fim de poder realizar a obra desalvação para a qual o Pai enviou Jesus em carne“semelhante ao pecado”, foi necessário que Eleviesse “em Sua encarnação na humilde forma deservo, retratando servitude, sujeição,subordinação. Ele tomou uma enfraquecidanatureza humana e não a perfeita natureza de Adãoantes de esse haver pecado.”978

Essa posição faz grande progresso na direção deum retorno à verdade central do evangelho. Masela ainda se prende à idéia equivocada do pecadooriginal, de acordo com a qual os seres humanosnascem pecadores. Visto que a Jesus não seriapermitido herdar pecado, Ele precisava nascer comuma natureza impecável. Conseqüentemente,dizem eles que Cristo herdou apenas as fraquezasda constituição física do homem, “simplesfraquezas: fome, dor, debilidade, tristeza e morte”,mas não “tendência para pecar” ou “propensõespecaminosas”.979

Essas conclusões encobrem muitos lamentáveisenganos. O primeiro envolve a missão de Jesus. O978 Edward Heppenstall, The Man Who is God, pág. 74. Ver nosso cap. 12.979 Roy Adams, na Review and Herald, 26 de abril de 1990, e The Nature of Christ, págs. 68, 69.

Page 446: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

propósito da Encarnação não era livrar ahumanidade de todas as “simples fraquezas”, maslibertá-la do pecado interior que “me leva cativo àlei do pecado que está em meus membros” (Rom.7:23). Para livrar-nos da escravidão do pecado éque Jesus foi enviado em “semelhança da carnepecaminosa” e teve de ser feito “semelhante aSeus irmãos” (Heb. 2:17).

Há também equívocos em certas expressões taiscomo “propensões herdadas” e “más propensões”.Elas não são semelhantes nas obras de EllenWhite. Propensão é uma tendência, umainclinação, um atração à tentação. Se resistida elanão se torna pecado. “Propensões herdadas”tornam-se “más propensões” apenas após cessão àtentação. Ellen White diz: “Não O exponham[Cristo] diante do povo como um homem compropensões para pecar. Ele é o segundo Adão. Oprimeiro Adão foi criado puro, impecável, semuma mancha de pecado sobre si... Por causa dopecado, sua posteridade nasceu com inerentespropensões para a desobediência. Mas Jesus Cristoera o Filho Unigênito de Deus. Ele tomou sobre Simesmo a natureza humana... Nem por ummomento houve nEle uma má propensão.”980

Evidentemente, “Ele sabe por experiência quais asfraquezas da humanidade, quais as nossas

980 The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White Comments, vol. 5, pág. 1128.

Page 447: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

necessidades, e onde jaz a força de nossastentações; pois Ele foi “tentado em todas as coisas,como nós, mas sem pecado’ (Heb. 4:15).”981

Igualmente, há um mal-entendido entre asexpressões “más tendências” e “más propensões”.Ellen White faz uma clara distinção entre as duaslocuções. Enquanto declara solenemente que Jesusnunca teve “más propensões”,982 também afirmaque “Ele tinha de enfrentar e estar sujeito a todasas más tendências das quais o homem é herdeiro,operando de toda maneira concebível para destruirSua fé”.983

Como William Hyde observou: “emboraoprimido pelas fraquezas da humanidade decaída,Jesus nunca permitiu que as tendências epropensões da raça humana se tornassem más. Elenunca permitiu que uma fraqueza humana setornasse um pecado pessoal. Embora tentado apecar, nunca participou do pecado, nuncadesenvolveu propensões más ou pecaminosas.”984

Para justificar o ponto de vista de que Jesuspossuía uma natureza humana sem pecado,Heppenstall afirmou que o pecado nunca foitransmitido por “propagação natural”. Sendo “umacoisa espiritual”, o próprio pecado não pode “ser981 E. G. White, The Ministry of Healing (A Ciência do Bom Viver), pág. 71.982 The Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White Comments, vol. 5, pág. 1128.983 Ellen G. White, manuscrito 303, 1903, publicado na Review and Herald, 17 de fevereiro de 1994. Todavia,

esse manuscrito não apenas não foi publicado em toda a vida de Ellen White; ele nunca foi enviado e assimdeve ser usado com extrema cautela.

984 William T. Hyde, no Ministry, fevereiro de 1972. Ver nosso cap. 12.

Page 448: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

transmitido geneticamente”.985 Se isso fosseverdade, deveria ser válido para toda ahumanidade, o que claramente não é o caso. Aodeclarar que Jesus nasceu “de mulher, nasceu soba lei” (Gál. 4:4), Paulo confirma que Jesus herdou,como todos os homens, “os resultados da operaçãoda grande lei da hereditariedade. O que foramesses resultados é mostrado na história de Seusantepassados terrestres. Ele veio com talhereditariedade para partilhar de nossas dores etentações, e dar-nos exemplo de uma vidaimpecável”.986 A diferença entre Jesus e o restantede humanidade não procede do fato de que todosos humanos são pecadores por hereditariedade.Eles são pecadores “porque todos pecaram” (Rom.5:12). Somente Jesus nunca pecou, emborahouvesse vindo “em semelhança de carnepecaminosa”.

Obviamente, os ancestrais de Cristo possuíammais que “simples fraquezas”. Ellen White afirmaque “Cristo tomou sobre Si as fraquezas dahumanidade degenerada. Somente assim poderiaEle resgatar o homem das profundezas de suadegradação”987 “Ao tomar sobre Si a natureza dohomem em sua condição decaída, Cristo nãoparticipou, no mínimo que fosse, de seu

985 Heppenstall, pág. 126. Ver nosso cap. 12.986 E. G. White, The Desire of Ages, pág. 49.987 Idem, pág. 117.

Page 449: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pecado.”988

Para explicar esse paradoxo, é imperativo quenos abstenhamos dos erros da imaculadaconceição e do pecado original. Isso é o quetentaremos fazer no capítulo final, com base naEscritura.

988 E. G. White, Selected Messages, vol. 1, pág. 256.

Page 450: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Capítulo 16

DADOS BÍBLICOS SOBRE CRISTOLOGIA

A posição de que Cristo tomou a decaída naturezahumana têm tido apenas uns poucos defensoresatravés da história do Cristianismo, e aqueles quea ensinavam foram freqüentemente consideradoshereges. Isso precisa ser prontamente reconhecido.Mas a verdade não depende do número de seusseguidores. Muitas verdades bíblicas essenciaistêm sido distorcidas através dos séculos, em razãode idéias preconcebidas ou conceitos errôneos,resultando num ensino completamente estranho àsEscrituras.

O problema da natureza e destino dahumanidade é o primeiro exemplo.989

Ao aceitarema idéia platônica da imortalidade da alma, os paisda Igreja perpetuaram erros graves com respeito àmorte, ressurreição e vida eterna. Do mesmomodo, por desconsideração às informações doNovo Testamento sobre o assunto da naturezahumana de Cristo, foram formuladas teoriasarbitrárias que resultaram em doutrinasdefeituosas.

989 Ver Jean R. Zurcher, The Nature and Destiny of Man (New York: Philosophical Library, 1969).

Page 451: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Evidências NeotestamentáriasPara resolver o problema, é preciso iniciar com

uma cuidadosa análise das informações. Umproblema bem entendido está meio resolvido. Osdados escriturísticos claramente definidos sobre osquais a Cristologia se apóia, podem sersintetizados como um paradoxo: Cristo participouda “semelhança de carne pecaminosa”, semcompartilhar de nenhum pecado da humanidade.

Essa afirmação dupla está colocada no coraçãodo prólogo do evangelho de João. Por um lado, oapóstolo declara: “O Verbo Se fez carne”, e poroutro afirma que o Verbo “habitou entre nós” ...“cheio de graça e verdade” (João 1:14). Oparadoxo surge do fato de que, conquanto Se tenhatornado humano em estado de decaimento, Cristo,não obstante, viveu entre nós sem pecado, emperfeita obediência à lei de Deus.

João torna essa verdade a pedra de toque de suaCristologia: “Nisto conheceis o Espírito de Deus:todo espírito que confessa que Jesus Cristo veioem carne é de Deus; e todo espírito que nãoconfessa a Jesus não é de Deus; mas é o espíritodo anticristo...” (I João 4:2 e 3).

A palavra carne, em João, tem geralmenteconotação pejorativa. Seres humanos nascem deacordo com “a vontade da carne” (João 1:13), ejulgam “segundo a carne” (João 8:15). E João

Page 452: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

conclui: “Porque tudo o que há no mundo, aconcupiscência da carne, a concupiscência dosolhos e a soberba da vida, não vem do Pai, massim do mundo.” O próprio Jesus sempre opôssistematicamente “carne” e “Espírito”. “O que énascido da carne é carne, e o que é nascido doEspírito é espírito.” (João 3:6) “O Espírito é o quevivifica, a carne para nada aproveita.” (João 6:63).

Paulo também enfatiza em suas epístolas aoposição entre a carne e o Espírito na pessoa deCristo. Na introdução de sua epístola aosRomanos, ele define a dupla natureza de Cristonestes termos: “... nasceu da semente de Davisegundo a carne; e que com poder foi declaradoFilho de Deus, segundo o espírito de santidade(Rom. 1:3 e 4). Então, apelando à grandeza do“mistério da piedade”, Paulo declara uma vez maisos fundamentos da Cristologia: “Aquele que Semanifestou em carne, foi justificado emespírito...” (I Tim. 3:16).

Não satisfeito em afirmar que Cristo é, aomesmo tempo, carne e Espírito – isto é,verdadeiramente homem e verdadeiramenteDeus – Paulo diz que Deus enviou “... Seu próprioFilho em semelhança da carne do pecado”, assim“na carne condenou o pecado” (Rom. 8:3).Qualquer que seja o significado dado à palavra“semelhança”, isso não significa que a carne de

Page 453: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Cristo seria diferente daquela da humanidade emSeu nascimento. Jesus, todavia, não era comoAdão antes da queda, pois Deus não criou Adão“em semelhança da carne pecaminosa”.

Em sua epístola aos Filipenses, Paulo destaca oparadoxo existente entre a realidade da condiçãohumana e a perfeição da obediência de Jesus até ofim de Sua vida. De um lado, o apóstolo acentua aplena e total participação de Cristo na naturezahumana: “Ele tomou ‘a forma de servo’”(literalmente escravo); Ele Se tornou “semelhanteaos homens” e foi “obediente até à morte, e mortede cruz” (Fil. 2:7 e 8). Em outras palavras, embora“nascido de mulher, nascido sob a lei” como todosos seres humanos, por Sua perfeita obediência àLei de Deus Cristo não apenas “condenou opecado na carne” (Rom. 8:3), mas tornou-Se oRedentor daqueles que estão “sob a lei” (Gál. 4:5).Com efeito, escreveu Paulo: “Porque a lei doEspírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da leido pecado e da morte.” (Rom. 8:2).

A epístola aos Hebreus realça esse duplo aspectoda pessoa e obra de Cristo. “Pois, na verdade, nãopresta auxílio aos anjos, mas sim à descendênciade Abraão. Pelo que convinha que em tudo fossefeito semelhante a seus irmãos...” (Heb. 2:16 e17). Uma vez que os irmãos “são participantescomuns de carne e sangue, também Ele,

Page 454: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

semelhantemente, participou das mesmas coisas”(verso 14). Portanto, Ele “em tudo foi tentado, massem pecado” (Heb. 4:15). Essa foi a condiçãonecessária para o cumprimento de Sua missão deservir como “um sumo sacerdote misericordioso efiel nas coisas concernentes a Deus, a fim de fazerpropiciação pelos pecados do povo. Porquenaquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu,pode socorrer aos que são tentados”. (Heb. 2:17 e18).

Esses são os dados bíblicos fundamentais daCristologia. Ninguém tem o direito de debilitarou alterar essas informações com argumentosfaltos de idoneidade bíblica.

O Conceito Bíblico de PecadoUm dos principais problemas da Cristologia

envolve mal-entendidos sobre a natureza dopecado. De forma a resolver o problema danatureza humana de Cristo, precisamos determinarprimeiramente o conceito bíblico de pecado.Através dos séculos ele foi entendido de váriasmaneiras, mas raramente em harmonia com oensino das Escrituras.

Os católicos e muitos protestantes ensinam adoutrina do pecado original. Há muitos modos deentender essa doutrina, mas o conceito básico éque somos pecadores por nascimento, culpados

Page 455: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

simplesmente porque pertencemos à famíliahumana como descendentes de Adão. Desse pontode vista, se Jesus houvesse nascido com a mesmanatureza pecaminosa como todos os outroshomens, Ele seria um pecador, culpado pornascimento. Conseqüentemente, não poderia sernosso Salvador.

Tendo adotado essa premissa, em harmonia comos teólogos evangélicos, os promotores da novaCristologia adventista puderam apenas concluirque “Cristo tomou a natureza de Adão antes daqueda”. A fim de ser o Salvador do mundo, Cristotinha de possuir uma natureza sem pecado, a qualnão teria se houvesse nascido com a natureza deAdão após a queda.

Em razão de não haver base bíblica para adoutrina do pecado original, o adventismotradicional a condenou ou simplesmente a ignorou.Ellen White, em todos os seus escritos, nunca amencionou. Uma vez apenas ela usou a expressão“o pecado original” em relação ao pecadocometido por Adão no princípio. “Cada pecadocometido”, escreveu ela, “reaviva o eco do pecadooriginal.”990

Hoje, alguns teólogos de outrasconfissões, do mesmo modo, consideram adoutrina do pecado original como estranha aoensino bíblico.991

990 Ellen G. White, em Review and Herald, 16 de Abril de 1901.991 Ver nosso capítulo 7 e Emil Brunner, Dogmatics, vol. 2, pág. 103.

Page 456: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

A fim de compreender o ensino bíblico sobre aquestão do pecado, não é suficiente saber que o“pecado é ilegalidade” (I João 3:4), e que todos oshomens são pecadores “porque todos pecaram”(Rom. 5:12). Os redatores das Escrituras, e Pauloem particular, estabelecem certas distinções sem asquais a natureza humana de Cristo permaneceriaincompreensível. Primeiramente, é importante nãoconfundir pecado como um princípio de ação epecados como ação.

1. Pecado Como um Poder e Pecados ComoAções

A Bíblia estabelece importante distinção entrepecado, no singular, como o poder da tentação, epecados, no plural, como atos transgressores dalei. Paulo, em especial, faz a diferença entre o queele chama de “lei do pecado”, que o mantém“prisioneiro” (Rom. 7:23), e “as obras da carne”,as quais ele classifica (Gál. 5:19-21; Tito 3:3).

Em sua análise do homem “vendido sobpecado”, Paulo especifica que o princípio dopecado vive nele, isto é, em sua carne. Esseprincípio atua em seus membros, “guerreandocontra a lei ...” Assim, “mesmo querendo eu fazero bem, o mal está comigo”. “Com efeito, o quererestá em mim, mas o efetuá-lo não”.Conseqüentemente, “não sou mais eu que faço

Page 457: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

isto, mas o pecado que habita em mim”. (Rom.7:14-23).

Paulo define o princípio que torna a humanidade“prisioneira da lei do pecado”, usando váriasexpressões. Primeiro o chama de “inclinação dacarne” (phronema tes sarkos), opondo-se à“inclinação do Espírito” (phronema toupneumatos) (Rom. 8:6). A palavra phronema incluias afeições, a vontade, bem como a razão dealguém que vive de acordo com sua naturezapecaminosa ou de acordo com o Espírito (Rom.8:4 e 7). Paulo utiliza a expressão “a cobiça dacarne” (ephithumian sarkos)? (Gál. 5:16 e 17)traduzida freqüentemente pela palavra carne(Rom. 1:24; 6:12; 7:7). Finalmente, a expressão“poder do pecado” (dunamis tes hamartia) (I Cor.15:56) traduz bem o aspecto dinâmico do princípioque opera no homem e o torna escravo do pecado.

Através dessas expressões Paulo não querreferir-se ações do pecado, mas simplesmente àstendências da carne que impelem ao pecado. Essassão apenas inclinações, não pecados ainda. Mastais tendências naturais para a desobediência,herdadas de Adão, inevitavelmente se tornampecados quando cedemos aos seus apelos.

Em sua análise do processo de tentação, Tiagoestabelece precisamente a diferença que existeentre “cobiça” (ephitumia) e o ato pecaminoso. De

Page 458: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

acordo com ele, “cada um, porém, é tentadoquando atraído e engodado pela sua própriaconcupiscência; então a concupiscência, havendoconcebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendoconsumado, gera a morte.” (Tiago 1:14 e 15). Emoutras palavras “a concupiscência da carne, aconcupiscência dos olhos e a soberba da vida” (IJoão 2:16), são as origens de todas as tentações,como as de Cristo no deserto, tornando-se pecadosomente com o consentimento do tentado.

Ellen White confirma esse ponto de vista quandoescreve: “Há pensamentos e sentimentos sugeridose despertados por Satanás, que afetam mesmo omelhor dos homens; mas se esses não são nutridos,se eles são repelidos como odiosos, a alma não écontaminada com a culpa, e ninguém é poluídopor sua influência.”992

Qualquer que possa ser aintensidade da tentação, ela nunca é, em si mesma,um pecado. “Nenhum homem pode ser forçado atransgredir. Seu próprio consentimento deve serprimeiramente obtido; a pessoa tem de propor-se apraticar o ato pecaminoso antes de a paixão poderdominar a razão, ou a iniqüidade triunfar sobre aconsciência. A tentação, embora forte, nunca édesculpa para pecar.”993

Ellen White escreveu: “O Filho de Deus, em Suahumanidade, lutou contra as mesmas impetuosas e992 Ellen G. White, em Review and Herald, 27 de março de 1888.993 _______, Testimonies for the Church, vol. 5, pág. 177.

Page 459: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

aparentemente esmagadoras tentações queassaltam o homem – tentação à indulgência com oapetite, à presunçosa ousadia de aventurar-se ondeDeus não O conduzira, e à adoração do deus destemundo, sacrificando assim uma feliz eternidadepelos fascinantes prazeres desta vida.”994“Ele sabepor experiência quais são as fraquezas dahumanidade, quais são nossas necessidades, eonde jaz a força de nossas tentações; pois Ele foi“tentado em todos os pontos, como nós, mas sempecado’.”995

A diferença entre Jesus e os seres humanos nãoestá no plano da carne ou da tentação, uma vezque Ele “foi tentado em todos os pontos, comonós”. A diferença está no fato de Jesus nunca tercedido às seduções da carne, enquanto todos nós,sem exceção, sucumbimos a elas e ficamos sob opoder do pecado (Rom. 3:9). Mesmo quandoalguém sente o desejo de fazer o bem, não tem emsi mesmo o poder para resistir à força do pecadoque habita nele (Rom. 7:18). Só Cristo, pelo poderdo Espírito de Deus que nEle habitava, foi capazde resistir “até o sangue, combatendo contra opecado” (Heb. 12:4). Ellen White confirma:“Embora Ele sofresse toda a força da paixão dahumanidade, nunca cedeu à tentação de praticarum simples ato que não fosse puro, elevado e994 _______, Selected Messages, livro 1, pág. 95.995 _______, The Ministry of Healing, pág. 71.

Page 460: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

enobrecedor.”996

Para compreender como Jesus pôde viver sempecar “em semelhança da carne pecaminosa”,outra importante distinção deveria ser feita: adiferença entre as conseqüências do pecado deAdão, transmitidas a todos os seus descendentes,de acordo com a “grande lei dahereditariedade”997, e a culpa, que não étransmissível de pai para filho.

2. Somente Aqueles Que Pecam São CulpadosConsoante a doutrina do pecado original, não

apenas são culposos os desejos da carne, mastambém todos os seres humanos em virtude donascimento, por causa do pecado de Adão. Issoexplica a prática do batismo infantil para livrar damaldição do pecado. Essa crença e prática sãototalmente estranhas às Escrituras. Nem mesmoRom. 5:12, o locus classicus (posição clássica) dadoutrina do pecado original, afirma que todos osseres humanos são nascidos pecadores. Alémdisso, Paulo acrescenta que antes de Moisés, ahumanidade não pecara “à semelhança datransgressão de Adão” (verso 14).

A Escritura ensina que a culpa não étransmissível por hereditariedade. Apenas aqueleque peca é culpado. “Não se farão morrer os pais996 _______, In Heavenly Places, pág. 155.997 _______, The Desire of Ages, pág. 49.

Page 461: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pelos filhos, nem os filhos pelos pais; cada qualmorrerá pelo seu próprio pecado.” (Deut. 24:16;II Reis 14:6). O profeta Ezequiel repete essamesma lei nestes termos: “A alma que pecar, essamorrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai,nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça dojusto ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairásobre ele.” (Eze. 18:20).

Cada um, portanto, é culpado de suas própriasfaltas. Conseqüentemente, mesmo que eu seja“pecador desde o tempo em que minha mãe meconcebeu” e “pecador desde o nascimento”, deacordo com as palavras do salmista (Sal. 51:5), demaneira alguma sou, culpado do pecado de meusancestrais. Paulo escreve que antes de seunascimento, os filhos de Isaque e Rebeca nãohaviam “praticado bem ou mal” (Rom. 9:11).Certamente eles levavam em si mesmos, porhereditariedade, as conseqüências do pecado deAdão, que inevitavelmente os tornariam pecadorese responsáveis por suas próprias transgressões dalei de Deus, mas não eram culpados quer pornatureza quer por hereditariedade. Assim ocorrecom todos os que são “nascidos de mulher,nascidos sob a lei” (Gál. 4:4), e aconteceu com opróprio Jesus.

Sobre esse ponto, Ellen White escreve; “Éinevitável que os filhos sofram as conseqüências

Page 462: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

dos maus feitos de seus pais, mas eles não sãopunidos pela culpa de seus pais, exceto separticiparem de seus pecados. Se os filhosandarem nos pecados dos pais, esse será o caso.Por herança e exemplo os filhos tornam-separticipantes do pecado de seus pais. Tendênciasao erro, apetites pervertidos e corrupção moral,bem como enfermidades físicas e degeneração, sãotransmitidos como legado de pai para filho, até aterceira e quarta geração.”998

O que a posteridade de Adão e Eva herdou foi atendência para pecar e as conseqüência do pecado:morte. Por suas transgressões o veneno da serpentefoi inoculado em a natureza humana como umvírus mortal. Mas em Cristo, Deus proveu a vacinasalvadora.

“Em Semelhança de Carne Pecaminosa”À luz do que temos dito sobre a natureza do

pecado, deveria ser compreendido que era possívelpara Jesus viver sem pecar, livre de todacorrupção, em pensamento e atos, “em semelhançada carne pecaminosa”.

Já houve muita discussão sobre o significado dapalavra “semelhança” (homoiomati).Naturalmente, ela enfatiza semelhança, similitude,identidade, mas não diferença. Nas três passagens998 _______, Patriarchs and Prophets (Mountain View, Calif.: Pacific Press Pub. Assn., 1913), pág. 306 (itálicos

supridos).

Page 463: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

onde a expressão é usada, sempre indicaidentidade de uma natureza que tem a ver comparecença ou semelhança da carne (Rom. 8:3),com o homem (Fil. 2:7), ou com a tentação (Heb.2:17). Para estar em posição de poder ajudar os“descendentes de Abraão”... Ele devia sersemelhante a Seus irmãos” (Heb. 2:16 e 17).

Entretanto, é importante entender que Paulo nãoestá dizendo que Cristo Se “assemelhava” aohomem carnal, nem que Sua carne Se parecia comaquela do homem pecaminoso, corrompido poruma vida de pecado e escravo das más propensões.O apóstolo limitou a semelhança à carne na qualhabitava “a lei do pecado”, e onde “aconcupiscência da carne, a concupiscência dosolhos e a soberba da vida” (I João 2:16)dominavam.

De acordo com Tiago 1:15, a concupiscência é amãe do pecado, e não pecado em si mesma, assimcomo o pecado é pai da morte e não a própriamorte. As concupiscências são tentações às quaistodos os seres humanos estão sujeitos, e que opróprio Jesus teve de enfrentar, uma vez que Elefoi “tentado em todos os pontos, como nós” (Heb.4:15). Mas, diferentemente do que acontececonosco, Cristo nunca permitiu que as mástendências, embora hereditárias e potencialmentepecaminosas, se tornassem pecado. Ele sempre

Page 464: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

soube “rejeitar o mal e escolher o bem” (Isa. 7:15),desde o dia de Seu nascimento até a morte na cruz.

Ellen White e os defensores da Cristologiatradicional fazem distinção entre “tendênciashereditárias” e “tendências cultivadas para omal”999 Agora, se Jesus herdou tendências para omal, por outro lado, Ele nunca as “cultivou”. Eisporque ela pôde escrever que Cristo conhecia “porexperiência... o poder de nossas tentações”1000,bem como “o poder da paixão dahumanidade”1001, mas sem nunca ceder à sua forçade atração.

A melhor explanação referente às diferençasentre tendências herdadas e cultivadas, éencontrada na carta de Ellen White a Baker. Essaexplicação é muito significativa, porque a carta é oprincipal documento sobre o qual ospropugnadores da nova Cristologia se fiam paraafirmar que Cristo tomou a impecável natureza deAdão antes da queda.

“Não O apresentem diante do povo como umhomem com ‘propensões para pecar’. Ele é osegundo Adão. O primeiro Adão foi criado puro esem pecado, sem mancha de pecado sobre si; eleera a imagem de Deus. Poderia cair e caiu pela

999 _______, Counsels to Parents, Teachers and Students (Mountain View, Calif.: Pacific Press. Pub. Assn.,1913), pág. 20; Christ’s Object Lessons (Washington, D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1941), pág. 330.

1000 _______, The Ministry of Healing, pág. 71. Carta 8 de Ellen G. White, 1895, em Seventh-day AdventistBible Commentary, Ellen G. White Comments, vol. 5, pág. 1129 (itálicos supridos).

1001 _______, In Heavenly Places, pág. 155 (itálicos supridos).

Page 465: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

transgressão. Por causa do pecado, sua posteridadenasceu com inerentes propensões para adesobediência. Mas Jesus Cristo era o UnigênitoFilho de Deus. Ele tomou sobre Si a naturezahumana, e foi tentado em todos os pontos comoser humano. Ele poderia ter pecado; poderia tercaído, mas nem por um momento havia nEle umamá propensão.”1002

[Ênfase acrescida].Comparando “inerentes propensões para a

desobediência”, herdadas por toda a posteridadede Adão, com “más propensões”, que Jesus nãopossuía, os teólogos da nova Cristologia, bemcomo aqueles da Cristologia alternativa,interpretaram mal a carta de Ellen White a Baker,em contradição com seus próprios ensinos noutraspartes. [Ênfase acrescida].

Escrevendo a Baker, ela disse: “Ao tratar dahumanidade de Cristo, você precisa estar atento acada asserção, com receio de que suas palavrassejam interpretadas como significando mais doque querem dizer, e assim percam ou ofusquem asclaras percepções sobre Sua humanidadecombinada com a divindade.”1003

E acrescentou:“Percebo que há perigo em abordar assuntos quetratem da humanidade do Filho do infinitoDeus.”1004

1002 Carta 8 de Ellen G. White, 1895, em Seventh-day Adventist Bible Commentary, Ellen G. White Comments,vol. 5, págs. 1128, 1129 (itálicos supridos).

1003 Ibidem.1004 Ibidem.

Page 466: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Daí essas advertências: “Sejam cuidadosos,extremamente cuidadosos ao tratarem da naturezahumana de Cristo. Não O apresentem ao povocomo um homem com propensões para opecado.”1005

“Nunca, de modo algum, deixem amais leve impressão sobre mentes humanas, deque uma mancha de pecado ou inclinação para acorrupção habitava em Cristo, ou que Ele, dealguma forma, cedeu a ela... Que cada ser humanose abstenha de fazer Cristo totalmente humano,como um de nós, pois isso não pode ser.”1006

Porém, se Ellen G. White insiste, por um lado,sobre a perfeição imaculada de Cristo, ela tambémdeclara que Sua natureza impecável foi adquirida“sob as mais probantes circunstâncias”1007, “paraque pudesse compreender a força de todas astentações com as quais o homem é atacado”.1008

Mas “em nenhuma ocasião houve qualquerresposta às suas [Satanás] múltiplas tentações.Nem por uma única vez Cristo entrou no terrenode Satanás, para conceder-lhe qualquer vantagem.Satanás nada encontrou nEle para encorajar seusavanços.” “‘Está escrito’, era Sua arma de defesa,e é essa a espada do Espírito Santo que todo serhumano deve usar.”1009

1005 Ibidem.1006 Ibidem.1007 Ibidem.1008 Ibidem.1009 Ibidem.

Page 467: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Certamente, nunca compreenderemosplenamente como Cristo pôde ser “tentado emtodos os pontos, como nós, mas sem pecado”.Ellen White afirma: “A encarnação de Cristo foi eserá para sempre um mistério.”1010 Paulo declarouque “grande é o mistério da piedade: Aquele queSe manifestou em carne, foi justificado emespírito, visto dos anjos, pregado entre os gentios,crido no mundo, e recebido acima na glória” (ITim. 3:16).

Dado que a nova Cristologia reivindica estarapoiada em algumas declarações de Ellen White –particularmente aquelas feitas na carta a Baker – épertinente demonstrar que essa carta está emperfeito acordo com o ensino dos pioneiros, e emharmonia com a doutrina dos apóstolos.

Razões Para a EncarnaçãoSem dúvida, a encarnação do Filho de Deus

sempre estará envolta em certo mistério para acompreensão humana. Todavia, o mistério dizmais respeito ao como da encarnação do que aoporquê. Nenhuma passagem bíblica explica como“o Verbo Se fez carne”, ou como as naturezasdivina e humana foram combinadas na pessoa deCristo. Por outro lado, Jesus e os apóstolosmanifestaram-se claramente sobre o porquê de

1010 Ibidem.

Page 468: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Sua vinda. Vale dizer, a solução para o problemada encarnação deveria primeiro ser buscada à luzdo que Deus revelou.

Através dos séculos, os teólogos se perderam emsuas respostas ao porquê. Com muita freqüência,explicam o sacrifício de Cristo em relação a Deusantes que ao homem. As teorias da substituiçãopenal têm feito parecer que Deus precisava dossofrimentos de Cristo, ou do sangue de uma vítimainocente, para perdoar pecados. Mas Deus Sedefine como sendo, por natureza, “misericordioso,compassivo, tardio em irar-Se... que perdoa ainiqüidade, a transgressão e o pecado.” (Êxo. 34:6e 7)

Isaías 53 mostra até que ponto a compreensãohumana acerca do dom de Deus pode estarequivocada: “... nós O reputávamos por aflito,ferido de Deus e oprimido”, ao passo que “Ele foiferido por causa das nossas transgressões, eesmagado por causa das nossas iniqüidades” (Isa.53:4 e 5). Obviamente, Jesus não Se ofereceu emsacrifício para apaziguar a ira de um Deusofendido. Deus não Se vingou em Cristo parasatisfazer Sua justiça. Todos os textos queexplanam a razão da vinda de Cristo afirmam ocontrário, isto é, que Deus enviou Seu Filhounigênito por nossa causa. Deus sempre éapresentado como o Iniciador do plano da

Page 469: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

salvação e Jesus como o Mediador entre Deus e oshomens. “Aquele que nem mesmo a Seu próprioFilho, antes O entregou por (hyper) todos nós...”(Rom. 8:32). Jesus confirmou isso através dossímbolos da Ceia do Senhor: “Isto é o Meu corpo ,que é dado (hyper) por vós... Este cálice é o novopacto em Meu sangue, que é derramado por[hyper] vós.” (Lucas. 22:19 e 20).

Paulo se esforçou para ajudar-nos a compreenderas razões da vinda de Cristo. Mas devemosconcordar com Pedro, que em suas epístolas há“pontos difíceis de entender, que os indoutos einconstantes torcem...” (II Pedro 3:16). ACristologia de Paulo realmente constitui-se numadas mais difíceis. Todavia, nenhuma passagem émais reveladora do que aquela na qual ele mostra,por um lado, a miserável situação do homem“vendido sob pecado” (Rom. 7:14-24); e poroutro, as razões pelas quais Deus enviou “Seupróprio Filho em semelhança da carnepecaminosa” (Rom. 8:2-4).

A pergunta que faz a si mesmo: “Quem melivrará do corpo desta morte?”, ele próprioresponde: “Graças a Deus, por Jesus Cristo nossoSenhor.” (Rom. 7:24 e 25). Então, Paulo sumarizaquatro razões específicas para explicar o porquêda ação salvífica de Deus:

Page 470: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

1. “Para Ser Uma Oferta Pelo Pecado”Essa razão é fundamental e justifica todas as

outras. Obviamente, se não tivesse havido pecadono início, a encarnação de Cristo não serianecessária. Mas, por causa do pecado e do amordivino pela humanidade, “Deus ... deu o Seu FilhoUnigênito, para que todo aquele que nEle crê, nãopereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16). Todaa Bíblia é a resposta de Deus ao problema dopecado.

Tão logo o pecado entrou no mundo comoresultado da desobediência de Adão e Eva às leisdo Criador, Deus revelou Seu plano de salvação.Antes de mostrar a nossos primeiros pais asconseqüências do pecado, Ele lhes prometeu umSalvador nascido da semente da mulher.Conquanto a serpente ferisse Seu calcanhar, Elepisaria sua cabeça (Gên. 3:15).

Assim, através dos séculos, a promessa de umSalvador foi renovada. Por meio do anjo Gabriel,Deus anunciou a Daniel, o profeta, que o Messiasviria num tempo específico para realizar Sua obraredentiva, “para fazer cessar a transgressão, paradar fim aos pecados, para expiar a iniqüidade etrazer a justiça eterna...” (Dan. 9:24). QuandoJesus Se apresentou a João Batista, às margens doJordão, esse O proclamou como “o Cordeiro deDeus que tira o pecado do mundo”. (João 1:29).

Page 471: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

A missão de Cristo, uma vez completada, éexplicada por Paulo em termos similares à razãopor que Deus “enviou Seu Filho em semelhança dacarne pecaminosa”, para condenar “o pecado nacarne” (Rom. 8:3).

2. Para Condenar “o Pecado na Carne”Evidentemente, essa condenação do pecado não

foi realizada “vicariamente” ou na base de umamera transação legal da parte de Deus. Por causado pecado, foi necessário que o Verbo Se tornassecarne (João 1:14), que Cristo “fosse feitosemelhante a Seus irmãos” (Heb. 2:17) e que fosse“tentado como nós, mas sem pecado” (Heb. 4:15).

Para condenar “o pecado na carne”, Pauloespecifica que foi “no corpo de Sua carne” (Col.1:22) que Cristo triunfou sobre o pecado, lutandocontra o pecado ao ponto de derramar sangue(Heb. 12:4). Através de “Sua carne” Cristo “abriuum novo e vivo caminho” (Heb. 10:20), que noslevou à reconciliação com Deus. Pedro declarouque Cristo levou “Ele mesmo os nossos pecadosem Seu corpo sobre o madeiro, para que, mortospara os pecados, pudéssemos viver para ajustiça...”(I Ped. 2:24).

Além disso, para abolir a morte (II Tim. 1:10)bem como todas “as obras do diabo” (I João 3:8),Cristo teve de participar da “carne e do sangue” do

Page 472: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

homem, “para que pela morte derrotasse aqueleque tinha o poder da morte, isto é, o diabo” (Heb.2:14). Esse foi o pré-requisito para Cristo tornar-Se “um Sumo Sacerdote santo, inocente,imaculado, separado dos pecadores...” (Heb. 7:26),e estar em posição de livrar “todos aqueles que,com medo da morte, estavam por toda a vidasujeitos à escravidão” (Heb. 2:15). Esta é asegunda razão dada por Paulo para justificar aencarnação de Cristo.

3. Para Libertar os Seres Humanos “da Leido Pecado e da Morte”

Tendo condenado o pecado na carne, Cristopodia agora agir para livrar o homem daescravidão do pecado. “Porque naquilo que Elemesmo, sendo tentado [mas sem pecado] sofreu,pode socorrer aos que são tentados” (Heb.2;18;4:15). Livrar o homem do pecado constitui,portanto, o primeiro objetivo da encarnação deCristo.

A fim de nos ajudar, os escritores sacros usarama linguagem de uma sociedade praticante doescravismo, onde era necessário pagar resgatepara libertar um escravo. O próprio Jesus usouessas palavras para ilustrar a razão de Sua missão.Ele afirmou: “Todo aquele que comete pecado éescravo do pecado.” E acrescentou para obenefício de Seu público: “Se, pois, o Filho vos

Page 473: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:34e 36) Pois “o Filho do homem veio... para dar aSua vida em resgate de muitos.” (Marcos 10:45;Mateus 20:28)

Paulo, semelhantemente, usa essas expressões.Ele escreveu aos gálatas: “Mas vindo a plenitudedos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido demulher, nascido debaixo da lei, para resgatar[literalmente, comprar] os que estavam debaixoda lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.”(Gál. 4:4 e 5). Em sua carta a Timóteo, ele lembraque Cristo “... Se deu a Si mesmo em resgate portodos”. (I Tim. 2:6) Então, em Tito, ele escreveque Jesus “... Se deu a Si mesmo por nós, para nosremir [literalmente, nos libertar] de todainiqüidade, e purificar para Si um povo todo Seu,zeloso de boas obras” (Tito 2:14). Em suma, Jesusnão somente veio para tirar nossos pecados (IJoão 3:5), mas também para libertar-nos deles(Apoc. 1:5; I João 1:7-9).

4. “Para Que a Justiça da Lei se Cumprisseem Nós”

Esse é o principal objetivo pelo qual Deusenviou Seu Filho “em semelhança da carnepecaminosa”. A conjunção “para que” (ina), queintroduz a última declaração de Paulo, assinala opropósito da ação de Cristo em nosso favor. Note

Page 474: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

que não é sobre a justificação (dikaiosune) que seestá tratando aqui, mas dos justos (dikaioma)reclamos da lei.

Em nossa situação como seres humanos,prisioneiros da lei do pecado, somos incapazes deobedecer aos mandamentos de Deus. Mesmoquando desejamos fazê-lo, falta-nos poder.Ademais, por si mesma, a lei é impotente paralivrar-nos do poder do pecado. “... Se a justiça vemmediante a lei, logo Cristo morreu em vão.” (Gál.2:21) Entretanto, isso não significa que a lei foiabolida e que não mais devemos observá-la. Pelocontrário, Paulo afirma que “a observância dosmandamentos de Deus” é que conta. (I Cor. 7:19)Jesus foi enviado para nos capacitar a viver deacordo com a vontade de Deus, expressa em SuaLei, como nos ensinou por Seu exemplo.

Por Sua participação no sangue e carne dahumanidade, e em razão de Sua vitória sobre o“pecado na carne”, Jesus tornou-Se para nós umprincípio vital, uma licença para a transformação,capaz de fortalecer cada pecador na “obediênciaque provém da fé” (Rom. 1:5; 16:26). Pois se,através da solidariedade humana, “peladesobediência de um só homem muitos foramconstituídos pecadores”, Paulo nos dá a certeza deque “pela obediência de um, muitos serãoconstituídos justos”. (Rom. 5:19)

Page 475: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Em harmonia com o novo concerto prometido,do qual Cristo é o Mediador, a lei não está maissimplesmente escrita em tábuas de pedra. “Este é opacto que farei com eles depois daqueles dias, dizo Senhor. Porei as Minhas leis em seus corações, eas escreverei em seu entendimento.” (Heb. 10:16).Desse modo, a justiça da lei pode ser realizada emnós, para que, depois disso, não mais andemossegundo a carne, mas segundo o Espírito, seguindoo exemplo de Cristo.

Vitória Através “do Espírito de Vida emCristo Jesus”

Na mesma passagem da epístola aos Romanos,Paulo não explica meramente o porquê da missãode Cristo. Ele também nos revela o segredo de Suavitória sobre o pecado, e como o impossível setorna possível para aqueles que estão em Cristo.Por duas vezes o apóstolo faz referência aoEspírito: primeiro, ao dizer que em Cristo estava“o Espírito de vida”, e então, ao mostrar como,pelo Espírito de Cristo, somos capacitados a“andar como Jesus andou” (I João 2:6).

1. Cristo, “Justificado no Espírito”Uma das revelações essenciais da Cristologia

reside no fato de que o próprio Cristo, durante Suamanifestação na carne, teve de ser “justificado no

Page 476: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Espírito” (I Tim. 3:16). Em razão de Sua vitóriasobre o pecado e a morte, Jesus “... com poder foideclarado Filho de Deus.” (Rom. 1:4). EmboraJesus tenha nascido “da semente de Davi segundoa carne” (Rom. 1:3), Mateus especifica que Ele foiconcebido pelo Espírito Santo (Mat. 1:18 e 20). Deacordo com o salmista, Ele foi posto sob o cuidadode Deus desde Seu nascimento (Sal. 22:10).

Então, em Seu batismo, Jesus “viu o Espírito deDeus descendo como pomba e vindo sobre Ele”(Mateus 3:16). O Espírito também O conduziu aodeserto “para ser tentado pelo diabo” (Mat. 4:1).Porque Deus não concedeu a Jesus “o Espírito pormedida”, Paulo escreveu que “nEle habitacorporalmente toda a plenitude da Divindade”(Col. 2:9). Realmente, “Deus estava em Cristoreconciliando Consigo mesmo o mundo”. (II Cor.5:19).

Toda a vida de Cristo neste mundo, assim comotoda a Sua obra em favor da salvação do homem,porta o selo do “Espírito de vida” que nEle estava.“Deus O ungiu com o Espírito Santo e com poder,o qual andou por toda parte, fazendo o bem ecurando a todos os oprimidos do diabo, porqueDeus era com Ele.” (Atos 10:38) Sem o Espírito,Jesus nunca teria sido capaz de realizar as obrasque efetuou. “O Filho, de Si mesmo, nada podefazer...” (João 5:19, 30). Além disso, sem o

Page 477: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Espírito de Deus, Ele nunca teria sido capaz dederrotar o poder do pecado em Sua própria carne.Mas pelo Espírito, Ele Se santificou (João 17:19),para tornar-Se “tal Sumo Sacerdote, santo,inocente, imaculado, separado dos pecadores, efeito mais sublime que os céus” (Heb. 7:26).

Para ajudar-nos a compreender como Deusdeseja beneficiar-nos com a vitória de Cristo,Paulo aplica a tipologia dos dois Adões. Eleapresenta Jesus como o novo Adão, destinado asubstituir o Adão transgressor. Enquanto que “oprimeiro Adão tornou-se alma vivente; o últimoAdão, espírito vivificante” (I Cor. 15:45); emoutras palavras, um espírito que cria vida. Daí, deacordo com o princípio da solidariedade humana,pela desobediência do primeiro Adão, “entrou opecado no mundo, e pelo pecado a morte, assimtambém a morte passou a todos os homens...”(Rom. 5:12). Mas, por Sua obediência, o segundoAdão trouxe a “todos os homens ... justificação evida”. (Rom. 5:18). “E, assim como trouxemos aimagem do terreno, traremos também a imagem docelestial.” (I Cor. 15:49). Há uma condição,todavia: o Espírito de vida que estava em Cristodeve, igualmente, habitar em nós. Pois, “se alguémnão tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle”.(Rom. 8:9).

Page 478: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

2. Transformado Pelo “Espírito de Cristo”O mesmo Espírito que permitiu a Jesus obter a

vitória sobre o pecado, deveria, semelhantemente,atuar em nós com poder para tornar-nos filhos deDeus. Jesus foi o primeiro a explicar isso aNicodemos: “Em verdade, em verdade te digo quese alguém não nascer da água e do Espírito, nãopode entrar no reino de Deus... Necessário vos énascer de novo.” Como a ação do vento, “assim étodo aquele que é nascido do Espírito”. (João 3:5-8).

Jesus falou a Seus discípulos sobre “o Espíritoque haviam de receber o que nEle cressem”. MasJoão explica: “... o Espírito ainda não fora dado,porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.”(João 7:39) Eis por que, após ter anunciado Suapartida, Jesus reassegurou-lhes: “Todavia, digo-vos a verdade, convém-vos que Eu vá; pois se Eunão for, o Consolador não virá a vós; mas, se Eufor, vo-Lo enviarei. E quando Ele vier, convenceráo mundo do pecado, da justiça e do juízo.” (João16:7 e 8) E mais: “Quando vier, porém, Aquele, oEspírito da verdade, Ele vos guiará a toda averdade.” (João 16:13).

Imediatamente após Sua ressurreição, Jesusrenovou a promessa: “... Mas vós sereis batizadosno Espírito Santo dentro de poucos dias.” (Atos1:5) E repetiu: “Mas recebereis poder, ao descer

Page 479: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

sobre vós o Espírito Santo, e ser-Me-eistestemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda aJudéia e Samaria, e até os confins da Terra.” (Atos1:8) Aquilo que Jesus prometeu aos doze e secumpriu no Pentecostes, semelhantementepromete a todos os que respondem aos apelos doEspírito. Pois “toda a autoridade no Céu e naTerra” foi dada a Ele (Mat. 28:18) Cristo estátrabalhando para atrair todos os seres humanos aSi mesmo (João 12: 32), para lhes tornar clara averdade e capacitá-los a viver pelo Espírito, comoEle mesmo fez quando esteve na Terra.

Desde o Pentecostes, Deus concede Seu Espíritoa todo aquele que pede (Lucas 11:13). E o Espíritohabita - e também Cristo através de Seu Espírito,naqueles que O recebem. Assim como Jesusvenceu “o pecado na carne” pelo Espírito Santo,igualmente Ele habilita Seus filhos a vencerempelo poder do Espírito. De fato, II Pedro 1:4declara que eles se tornam “participantes danatureza divina, havendo escapado da corrupção,que pela concupiscência há no mundo”.

Por Seu ministério, Jesus tem aberto o caminhopara o Espírito e proporcionado novo nascimento àgeração de seres humanos regenerados peloEspírito. E a todos os que são nascidos do Espírito,Deus não somente dá o poder para dizer “não” à“impiedade e às paixões mundanas” mas também

Page 480: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

para viver “no presente mundo sóbria, e justa, epiamente, aguardando a bem-aventurada esperançae o aparecimento da glória de nosso grande Deus eSalvador Cristo Jesus”. (Tito 2:12 e 13).

Ellen White sumariou perfeitamente o que osadventistas crêem com respeito ao papel doEspírito na vida do crente. “É o Espírito que tornaefetivo o que foi realizado pelo Redentor domundo. É pelo Espírito que o coração é purificado.Através dEle o crente se torna participante danatureza divina. Cristo concedeu Seu Espíritocomo um divino poder para vencer todas astendências herdadas e cultivadas para o mal, e paraimprimir Seu próprio caráter na igreja.”1011

“Cristomorreu no Calvário para que o homem pudesse tero poder de vencer suas tendências naturais para opecado.”1012

A vida dos professos cristãos não está, portanto,limitada ao perdão dos pecados, ou a “umareligião fácil que não exija luta, abnegação eseparação dos desatinos do mundo”1013.Contrariamente, o Espírito de vida que está emCristo tem realmente libertado o cristão daescravidão do pecado, de forma que ele possaviver vitoriosamente, segundo o exemplo doSalvador. “A vida que Cristo viveu neste mundo,

1011 E. G. White, The Desire of Ages, pág. 671.1012 _______, Review and Herald, 2 de fevereiro de 1992.1013 _______, The Great Controversy, pág. 472.

Page 481: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

homens e mulheres podem viver através do Seupoder e sob Sua instrução. Em seu conflito comSatanás, eles podem ter toda ajuda que Ele teve.Podem ser mais do que vencedores por Aquele queos amou e a Si mesmo Se deu por eles.”1014

ConclusãoPara encerrar este capítulo, citamos uma

passagem extraída de um manuscrito de EllenWhite, sobre o assunto da humilhação de Cristo.Nele, Ellen White explica a natureza humana deCristo de um modo que não poderia ser mais claro.

Primeiramente ela evoca o dado fundamental daCristologia bíblica: “Ele [Cristo] não tomou paraSi a natureza dos anjos, mas a humanidade,perfeitamente idêntica à nossa própria natureza,excetuando-se a mancha do pecado.”

Então, reconhecendo as dificuldades de algunsem compreender uma verdade totalmente opostaao credo das principais igrejas, Ellen Whiteprossegue: “Mas não devemos nos apegar àsnossas idéias comuns e terrenas, e em nossosdeturpados pensamentos cogitar que o risco deCristo ceder às tentações de Satanás tenhadegradado Sua humanidade, e que Ele possuía asmesmas tendências pecaminosas e corruptaspropensões como o homem.”

1014 _______, Testimonies for the Church, vol. 9, pág. 22.

Page 482: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

“A natureza divina, combinada com a humana,tornou-O suscetível de ceder às tentações deSatanás. A prova de Cristo foi muito maior do quea de Adão e Eva, pois o Salvador tomou nossanatureza decaída mas não corrompida, a qual nãose perverteria a menos que Ele atendesse àspalavras de Satanás em lugar das palavras deDeus. Supor que Cristo não pudesse ceder àtentação, coloca-O onde Ele não pode ser umperfeito exemplo para o homem.”1015

O trecho seguinte mostra claramente que seJesus viveu uma vida impecável numa naturezahumana diferente da nossa, e se Ele não houvessesido “em tudo semelhante a Seus irmãos” (Heb.2:17), não poderia “socorrer aos que são tentados”(Heb. 2:18). Essa é a mesma verdade que Joãosintetiza no prólogo de seu evangelho, e que é ocoração da Cristologia bíblica: “O Verbo”, que“estava com Deus no princípio” – “Se fez carne ehabitou entre nós cheio de graça e verdade... poistodos nós recebemos da Sua plenitude, e graçasobre graça”. “A todos quantos O receberam, aosque crêem no Seu nome, deu-lhes o poder de setornarem filhos de Deus.” (João 1:2, 14, 16, 12)

1015 Ellen G. White, manuscrito 111, 1890. Extraído do Journal 14, págs. 272-285.

Page 483: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

EPÍLOGO

Não é a primeira vez que a Igreja Adventista temconfrontado sérios problemas teológicos.Nenhuma das doutrinas da igreja foi aceita semcuidadoso e diligente estudo, algumas vezesseguido por longos períodos de discussão,pesquisa e oração. Comparando suas divergentesconvicções, os pioneiros foram capazes de excluirerrôneos conceitos teológicos herdados de váriastradições cristãs, e esclarecer verdades bíblicas taiscomo reveladas pelas Escrituras.

Para cumprir sua tarefa, o princípio aplicado eraconsistente com o praticado pelos reformadores:sola scriptura (Só a Escritura). “A Bíblia, e aBíblia só, é nosso credo... O homem é falível, masa Palavra de Deus é infalível... Ergamos a bandeirana qual está escrito: ‘A Bíblia é nossa regra de fé edisciplina’”.1016

Esse foi o fundamento sobre o qualas crenças essenciais da Igreja Adventista foramestabelecidas – e nenhum outro mais.

Quando o problema da justificação pela fé foidiscutido em Minneapolis, no ano de 1888, EllenWhite achava ser necessário lembrar aosdelegados o único método válido para resolverproblemas doutrinários. “Tomemos a Bíblia e comhumilde oração e espírito de aprendiz, vamos ao

1016 Ellen G. White, Selected Messages, livro 1, pág. 416.

Page 484: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

grande Mestre do mundo... Devemos examinar asEscrituras procurando as evidências da verdade...Todos os que reverenciam a Palavra de Deus, talcomo ela ensina; todos os que cumprem Suavontade segundo o melhor que podem, conhecerãose a doutrina é de Deus... Qualquer outro meio nãoé o modo de Deus e criará confusão.”1017

Por causa de a igreja nem sempre seguirestritamente esse método em sua busca pelaverdade, ela sofre hoje de um lamentável estado deconfusão com respeito à Cristologia. O inevitávelresultado é que a mesma confusão agora reaparececom relação à doutrina da justificação pela fé.1018 Éalto o tempo de reconhecer a seriedade da situaçãoe promover um fórum especial com o propósitoexpresso de aprofundar a pesquisa sobre os váriosaspectos históricos e teológicos da Cristologia.

Este estudo não foi empreendido pararecrudescer a controvérsia que infelizmente jápagou alto preço. Nosso propósito é simplesmentetornar conhecido o ensino unânime dos pioneirosda igreja, desde seu início até os anos cinqüenta,bem com as várias interpretações apresentadaspelos autores em décadas recentes. A objetividadenessa questão requer compreensão de toda ahistória. O conselho de Ellen White – cujos1017 Ellen G. White, Manuscrito 15, 1888. Citado em A. V. Olson, Through Crisis to Victory, 1801-1901, págs.

293-302 (itálicos supridos).1018 Martin Weber, Who’s Got the Truth? (Quem Tem a Verdade?) (Silver Spring, Md.: Home Study International,

1994).

Page 485: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

escritos são, em si mesmo, o âmago dacontrovérsia – deveria ser cuidadosamente seguidose esperamos alcançar a unidade: “Que todosprovem suas posições pelas Escrituras esubstanciem cada ponto reivindicado comoverdade pela revelada Palavra de Deus.”1019

Desde que comecei a escrever a história daCristologia Adventista – intencionalmente restritaaos primeiros 150 anos da igreja (1844-1994) –muitas obras foram publicadas para ajudar aresolver a controvérsia que nos divide.1020

Cada umdesses livros faz significativa contribuição aodebate, mas por causa de seus pontos de vistaantagônicos, eles ainda sustentam a confusão.

É importante lembrar a declaração de KennethWood: “Antes de a igreja proclamar com poderdivino a última mensagem de advertência aomundo, ela deve unir-se em torno da verdadesobre a natureza humana de Cristo.”1021

[Ênfase

acrescida]. Nunca é demais repetir: “A humanidadedo Filho de Deus é tudo para nós. É a corrente deouro que liga nossa alma a Cristo, e por meio de

1019 Ellen G. White, Evangelism (Washington D.C.: Review and Herald Pub. Assn., 1946), pág. 256.1020 A. Leroy Moore, Adventism in Conflict: Resolving the Issues That Divide Us (O Adventismo em Conflito:

Solucionando as Questões Que Nos Dividem) (Hagerstown, Md.: Review and Herald Pub. Assn., 1995); verespecialmente as págs. 145-157; Woodrow W. Whidden II, Ellen White on Salvation: A Chronological Study(Ellen G. White e a Salvação – Um Estudo Cronológico) (Hagerstown, Md.: Review and Herald Pub. Assn.,1995) ver especialmente as págs. 57-65); Jack Sequeira , Saviour of the World: The Humanity of Christ inthe Light of the Everlasting Gospel (O Salvador do Mundo: a Humanidade de Cristo à Luz do EvangelhoEterno) (Boise, Idaho: Pacific 6. Press Pub. Assn., 1996); Woodrow W. Whidden II, Ellen White on TheHumanity of Christ (Ellen White e a Humanidade de Cristo) (Hagerstown, Md.: Review and Herald Pub.Assn., 1997).

1021 Kenneth H. Wood, em nosso prefácio, pág. 9.

Page 486: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Cristo a Deus. Esse deve ser nosso estudo.”1022

1022 E. G. White, Selected Messages (Mensagens Escolhidas), vol. 1, pág. 244.

Page 487: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Resenha crítica do Pr. DennisFortin 1023

Comentário publicado no Seminário de Estudos da Universidade Andrews, volume. 38, Outono de 2000, Número 2, Andrews University Press.

Zurcher, J. R. Tocado por nossos Sentimentos:Uma pesquisa histórica do conceito adventistasobre a natureza humana de Cristo. Hagerstown,MD: Review and Herald, 1999. 308 páginas. LivroBrochura. US$15,99.

No Adventismo do Sétimo Dia poucos assuntos podemgerar tanto calor quanto uma discussão sobre anatureza humana de Cristo. Por décadas osAdventistas têm debatido se a natureza humana deCristo era idêntica àquela do Adão antes da queda (pré-lapsarianismo), ou àquela do Adão depois da queda(pós-lapsarianismo), ou até mesmo uma posiçãointermediária. Embora muitos fatores teológicos entremem jogo neste debate, ao centro está a questão seCristo pode verdadeiramente ser um exemplo moral àhumanidade. O último livro neste debate é a obra doveterano teólogo Jean R. Zurcher, traduzido doFrancês, Tocado por nossos sentimentos. Em suapesquisa histórica do conceito adventista sobre a

1023 Traduzido por Olvide Zanella. As ênfases foram acrescentadas.

Page 488: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

natureza humana de Cristo, Zurcher busca resolver oproblema demonstrando como, nos últimos 150 anos, oconceito adventista evoluiu de uma posiçãoestritamente pós-lapsariana para as posições atuais.

Os dezesseis capítulos neste livro estão agrupadosem cinco partes. A primeira brevemente pesquisa adiscussão teológica sobre a natureza humana de Cristoe acertadamente averigua que muitos dos primeirosteólogos adventistas, com a exceção de Ellen G. White,tinham uma visão semi-ariana da divindade de Cristo.Na segunda parte, Zurcher examina a Cristologia dospioneiros adventistas como Ellen G. White, Ellet J.Waggoner, Alonzo T. Jones, e William W. Prescott. Aterceira estuda extratos de publicações oficiais da igrejasobre a natureza humana de Cristo de 1895 a 1952. Aquarta é a mais extensa e trata da controvérsiaprovocada pelo livro Questions on Doctrine (1957),reações à sua publicação, e posições teológicas atuais.A parte final é o apelo de Zurcher a um retorno a umaautêntica Cristologia pós-lapsariana como ensinadaantes de 1950.

À parte de algumas desajeitadas traduções deexpressões francesas, o livro de Zurcher é uma boaobra de pesquisa histórica e se empenha emapresentar um acurado quadro do desenvolvimento doconceito adventista sobre a natureza humana de Cristo.Sua pesquisa de numerosas publicações apresenta umsurpreendente quadro ao leitor contemporâneo, que

Page 489: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

pode não estar familiarizado com os primeiros escritosteológicos sobre a natureza de Cristo. Suascomparações entre diferentes edições de documentosoficiais e livros, como Estudos Bíblicos (155), ilustramas mudanças no conceito adventista a respeito danatureza de Cristo. As evidências históricas eteológicas que o autor apresenta são abundantes.Muito embora o autor pretenda apresentar uma soluçãoautorizada ao debate por mostrar como os teólogosadventistas nos anos 1950 e 1960 ‘abandonaram’ oentendimento tradicional da natureza humana de Cristo,sua obra está longe de ser neutra e imparcial. Seutratamento de posições apoiadas por vários teólogos éclaramente polêmica. Até mesmo o prefácio peloanterior editor da Revista Adventista, Kenneth Wood,estabelece o tom: a obra destina-se a sustentar aposição pós-lapsariana.

Enquanto Zurcher é para ser altamente recomendadopor sua completa pesquisa sobre este assunto, suaobra no entanto é débil em algumas áreas importantes.A maior debilidade está em seu tratamento dedeclarações de Ellen White sobre a natureza humanade Cristo, que são o foco desta controvérsia adventista.Em seu capítulo sobre a Cristologia de Ellen White (53-67) Zurcher provê uma síntese do pensamento dela,realçando as semelhanças entre a natureza humana deCristo e as nossas. Mas ele evita qualquer menção deoutras declarações que enfatizam as diferenças entre a

Page 490: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

natureza humana de Cristo e as nossas. Além disto,entre várias explícitas declarações apoiando a posiçãoadventista pré-lapsariana desde os anos 1950, a cartade Ellen White de 1895 a W. H. L. Baker écompletamente ignorada aqui. Zurcher discute oconteúdo e as implicações desta carta umas poucasvezes ao longo do livro em outros lugares, mas nuncanuma maneira clara e sistemática. Isto, creio, é umagrande omissão.

Como muitos outros teólogos pós-lapsarianos,Zurcher falha em considerar como White apresentauma tensão entre semelhanças e diferenças entre anatureza de Cristo e as nossas. Muitas de suasdeclarações que realçam as semelhanças com nossanatureza são feitas no contexto de discussões sobrecomo Cristo foi tentado a pecar como nós o somos. Oautor dá um bom exemplo à pág. 302. Contudo, falhaem reconhecer que na carta a Baker elacategoricamente contesta uma completa semelhançaentre Cristo e os seres humanos pecaminosos, atémesmo na maneira de suas tentações. Enquanto osprimeiros adventistas situaram suas discussõescristológicas no contexto das doutrinas da salvação eescatologia (como eles poderiam seguir o exemplo deCristo em vencer as tentações e o pecado napreparação para o segundo advento de Cristo), asdiscussões depois de 1950 tem-se muitas vezessituado dentro do contexto da doutrina da humanidade

Page 491: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

e como o pecado nos afeta, e até que magnitude anatureza de Cristo foi e não foi afetada pelo pecado.Zurcher faz um comentário sobre esta significantemudança teológica, causada em grande parte pela'redescoberta' da carta de Ellen White a Baker, mas nãopode reconciliar esta mudança e julga-a antitética àinicial posição adventista.

Não apenas Zurcher está evitando uma claraexposição da carta a Baker; ele a está tambéminterpretando mal e tomando declarações fora docontexto. Em sua ‘Avaliação e Crítica’ ele discute oatual híbrido teológico em que Cristo tinha umanatureza física pós-lapsariana e uma natureza moralpré-lapsariana. Duas vezes Zurcher cita a carta a Bakerpara apoiar sua visão de que tal posição éhistoricamente inválida e que Ellen White não cria numanatureza moral pré-lapsariana. Ele argumenta queLeRoy Froom faz violência ao pensamento de EllenWhite quando citou a carta a Baker (277-278). Porém,para provar seu ponto, Zurcher cita apenas parte damesma carta e deixa fora duas importantes sentençascurtas nas quais Ellen White estabelece um agudocontraste entre a natureza de Cristo e as nossas. Amesma coisa acontece novamente à pág 281. Aqui oautor tenta distinguir entre as expressões de EllenWhite ‘propensões inerentes’ e ‘más propensões’,argumentando que as ‘propensões inerentes’ se tornam‘más propensões’ somente depois de se ceder à

Page 492: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

tentação. Então ele cita a carta a Baker, parando umpouco antes de incluir uma sentença na qual EllenWhite compara as tentações de Cristo no desertoàquelas de Adão no Éden. A distinção entre‘propensões inerentes’ e ‘más propensões’ não éapoiada por Ellen White em sua carta. Mais ela usa asduas expressões como sinônimos ao argumentar queCristo não tinha tais propensões. Em ambas instâncias,Zurcher viola o contexto para sustentar seus pontos.

Este livro certamente se enfileirará entre as melhoresapologias à posição pós-lapsariana. Mas, como muitosoutros, falha em ser convincente, porque aborda oassunto com semelhante parcialidade. O livro está tãoinclinado em fazer de nossa pecaminosa naturezahumana o padrão para medir a natureza de Cristo quefalha em mostrar como a humanidade de Cristo é opadrão puro e verdadeiro pelo qual seremos medidos.

Andrews University / DENIS FORTIN

Comentário:Conforme se concluirá a seguir, é lastimável que o Pr.

Fortin teça os comentários que realçamos no texto. Seele não se tivesse equivocado quanto ao objetivo dacarta de Ellen White, nunca teria escrito da maneira queo fez!

Page 493: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

A fim de avaliarmos com inteira segurança a críticaque acabamos de transcrever, vamos primeiramenterecordar a:

Page 494: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Carta a Baker na Íntegra

Carta 8, 1895 de Ellen G. White ao Pr. Baker

“Seja cuidadoso, extremamente cuidadoso aoapresentar a natureza humana de Cristo. Não Oapresente às pessoas como um homem compropensões ao pecado. Ele é o segundo Adão. Oprimeiro Adão foi criado como um ser puro, imaculado,sem mancha de pecado nele; foi feito à imagem deDeus. Podia cair, e caiu pela transgressão. Por causade seu pecado, sua posteridade nasceu com propensãoinerente para a desobediência. Mas Jesus Cristo era oFilho unigênito de Deus. Ele tomou sobre Si a naturezahumana e foi tentado em todos os pontos em que anatureza humana é tentada. Podia ter pecado; podia tercaído, mas nem por um momento houve nEle qualquerpropensão para o mal. Foi assediado pelas tentaçõesno deserto, como Adão foi assediado pelas tentaçõesno Éden.

Evite toda discussão a respeito da humanidade deCristo que dê lugar a mal-entendidos. A verdade andaperto do caminho da presunção. Ao tratar sobre anatureza humana de Cristo, você precisa cuidar aoextremo toda afirmação, impedindo que suas palavrassignifiquem mais do que devem e assim você perca ouobscureça a clara percepção de Sua humanidadecombinada com a divindade. Seu nascimento foi um

Page 495: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

milagre, pois o anjo disse: ‘E eis que em teu ventreconceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nomede Jesus. Este será grande, e será chamado Filho doAltíssimo; e o Senhor Deus Lhe dará o trono de Davi,seu pai; e reinará eternamente na casa de Jacó, e oSeu reino não terá fim. E disse Maria ao anjo: Como sefará isto, visto que não conheço varão? E, respondendoo anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e avirtude do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; peloque também o Santo, que de ti há de nascer, seráchamado Filho de Deus’ (Lucas 1-31-35).

Estas palavras não se referem a qualquer serhumano, exceto ao Filho do Deus Infinito. Nunca, demodo algum, deixe a mais leve impressão nas menteshumanas, de que uma mancha de corrupção, ouinclinação a ela havia em Cristo, ou que Ele, de algumaforma, cedeu à corrupção. Foi tentado em todos ospontos como o homem é tentado, contudo foi chamado‘o Ser Santo’. É um mistério que foi deixado semexplicação para os mortais, que Cristo pôde ser tentadoem todos os pontos como nós o somos, e, no entanto,ser sem pecado. A encarnação de Cristo foi e sempreserá um mistério. O que foi revelado é para nós enossos filhos, mas que todo o ser humano sejaadvertido contra a idéia de considerar Cristo totalmentehumano, como qualquer um de nós, pois não pode ser.Não é necessário que saibamos o exato momentoquando a humanidade se uniu à divindade. Devemos

Page 496: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

firmar nossos pés sobre a Rocha, Cristo Jesus, comoDeus revelado na humanidade.

Percebo que há perigo na abordagem de assuntosque tratem da humanidade do Filho do Deus Infinito.Ele humilhou-Se a Si mesmo quando viu que tinhatomado a forma humana, e que poderia compreender aforça de todas as tentações pelas quais o homem éassediado.

O primeiro Adão caiu; o segundo Adão apegou-Sefirmemente à mão de Deus e à Sua Palavra nas maisprobantes circunstâncias, e Sua fé na bondade,misericórdia e amor do Pai não oscilou em momentoalgum. ‘Está escrito’ foi Sua arma de resistência, e essaé a espada do Espírito que todo ser humano deve usar.‘Já não falarei muito convosco; por que se aproxima opríncipe deste mundo, e nada tem em Mim’ (João14.30). – nada que seja suscetível à tentação. Emnenhuma ocasião houve reação favorável às suasmúltiplas tentações. Nenhuma vez Cristo pisou noterreno de Satanás, para não lhe dar qualquervantagem. Satanás nada encontrou nEle queencorajasse seus avanços.”

Page 497: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Uma Análise da Carta a Baker 1024

Pelo Pr. Ralph Larson – O que oferece US$1.000,00 aquem apresentar uma única citação de Ellen G. White,afirmando que Jesus possuiu a natureza de Adão antes daqueda! (vide nota de referência 480 deste).

Quais foram os problemas na experiência do Pr. W. L.H. Baker que deram origem à carta de conselhosescrita por Ellen White?

Quanto aos conselhos profissionais e práticos, queocupam a maior parte da carta, não devemosespecular, já que ela – a Sra. White – escreveu ao Pr.Baker: “Estáveis abatidos e vos sentíeisdesanimados ... Considerais vosso trabalho como umfracasso.” Porém os intérpretes de Ellen Whiteaparentemente pensaram que duas páginas e meia deconselhos cristológicos, dirigidos ao Pr. Baker, nãoincluíram uma declaração adequada ao problema, e seaventuraram a escrever uma em seu lugar. Seresumíssemos a declaração escrita por eles diriaassim: “Você, tem estado equivocado ao crer queCristo veio à Terra na natureza humana do homemcaído.”

Proponho que este esforço, ainda que bemintencionado, foi totalmente desnecessário. Em meuparecer a declaração de Ellen White é suficientemente

1024 Traduzido por Olvide Zanella.

Page 498: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

clara e satisfatória. Ela escreveu: “que todo o serhumano seja advertido contra a idéia de considerarCristo completamente [totalmente] humano, comoqualquer um de nós.” A ênfase é minha.

Procuremos analisar cabalmente esta declaração,tendo cuidado de não misturar uma “eiségesis” –nossa própria interpretação – com a “exégesis” – osignificado das palavras da autora. Os seguintespontos pareceram inquestionáveis:

a. O propósito da mensagem é admoestar.

b. A advertência, ainda que dirigida ao Pr. Baker, seestende a “todo ser humano”.

c. O tema da advertência é cristologia, isto é, adoutrina de Cristo.

d. Os termos empregados não limitam a advertênciaà natureza humana nem à natureza divina deCristo. A autora fala de Cristo em Sua totalidade,Cristo em Sua plenitude, em Sua inteireza, oSalvador divino-humano que tanto é Deus comohomem. Isto é evidente nas palavras da oração,e seu contexto, que nos levam a sermosprudentes não seja que “assim você perca ouobscureça a clara percepção de Suahumanidade combinada com Sua divindade.”A ênfase é minha.

Page 499: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

e. O conteúdo específico da advertência é quetenhamos cuidado de não apresentar Cristodiante das pessoas como:1 – Completamente humano,2 – Como um de nós.

Esta advertência vem imediatamente depois deumas declarações que sustentam que onascimento de Cristo foi um milagre de Deus, e quea descrição bíblica de Cristo como o Filho de Deusnão pode aplicar-se a nenhum ser humano senão aCristo.

É necessário que assinalemos que não temcabimento para uma natureza divina em um Cristo quefosse completamente humano?

É necessário que assinalemos que não há cabimentopara uma natureza divina em um Cristo que em Suagrandiosidade fosse como um de nós?

Por que temos dificuldade em nos dar-nos conta deque a advertência de Ellen White ao Pr. Baker era deque tivesse cuidado para que sua frisante ênfase nahumanidade de Cristo não viesse a fazer com que seusouvintes perdessem de vista a importante divindade deCristo, e que chegassem à conclusão de que na vidade Cristo pudesse ter havido pecado? (Nãoesqueçamos que esta advertência contém não menosde dez declarações que afirmam que Cristo nuncapecou, nem sequer uma única vez).

Vacilamos em aceitar o significado óbvio da

Page 500: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

advertência escrita porque não podemos aceitar queexista um cristão que creia que, na vida de Cristo,pudesse ter havido pecado?

De fato, tem havido muitos cristãos que temacreditado que, na vida de Cristo, pudesse ter havidopecado. Estes tem sido classificados geralmente emdois grupos:

A. Os chamados modernistas – este termo faztempo que está em desuso e tem sido substituídopelo termo mais geral: liberais – que surgiram emfins do século XIX e nos princípios do século XX.Eles ensinavam que os descobrimentos científicostem comprovado que o registro bíblico donascimento miraculoso de Cristo não temfundamento, e viam a Cristo simplesmente comoum grande e bom homem, não como o Filho deDeus. Eles não vacilaram em admitir apossibilidade de pecado na vida de Cristo – amenos que também negassem a realidade dopecado, como outros tem feito. Estas pessoasenfrentaram a vigorosa oposição dos líderesadventistas de seu tempo, assim como de outroscristãos conservadores. Eram classificados entreos piores inimigos de Cristo e do Evangelho. Édifícil acreditar que o Pr. Baker tivesse continuadono ministério adventista se tivesse adotado asdoutrinas dos modernistas.

Page 501: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

B. Os Adocianistas [ou adocionistas] da igrejaprimitiva. Estes eram um número significativo decristãos que criam que Cristo iniciou Sua vidaterrestre como um ser completamente humano,como um de nós, mas que eventualmente foiadotado para converter-Se no Filho de Deus. Nãopareciam preocupar-se muito pelo pecado quepudesse haver existido na vida de Cristo, anteriorà Sua adoção. Suas opiniões encontram-se nosescritos dos Pais da igreja cristã, acerca dos quaisEllen White advertiu ao Pr. Baker.

Minha análise da carta a Baker, apresentada nestesite, tem-me levado à concluir que o adocianismo [ouadocionismo] é o erro contra o qual Ellen Whiteadvertiu ao Pr. Baker. Parece-me que a explicação queos intérpretes de Ellen White tem dado a esta carta étotalmente artificial e estranha, uma explicação que sópode ser o fruto de haver ignorado a clara declaraçãode Ellen White quanto ao problema.

É de conhecimento geral que os pioneiros da IgrejaAdventista vinham de uma grande variedade deantecedentes religiosos e teológicos, e que, depois dagrande decepção do ano de 1844, eles dedicarammuito tempo, e estudo, ao desenvolvimento de umaplataforma de verdades bíblicas sobre a qual puderamunir-se. Em suas primeiras conferências bíblicasconseguiram chegar a um acordo comum acerca danatureza de Deus, a natureza do homem, o sábado, a

Page 502: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

justificação pela fé, etc. Sem dúvida, não puderamchegar a um acordo quanto à natureza de Cristo.

ArianismoNo início do século, todavia, ouviam-se algumas

vozes entre nós que advogavam em diferentesmaneiras por limitadas idéias acerca da divindade deCristo.1025 Falando de forma geral, estes conceitospertenciam ao que os teólogos tem denominadoarianismo, em homenagem a um sacerdote deAlexandria, chamado Ário, que, com muito vigor,defendeu opiniões similares nas grandes controvérsiascristológicas do século IV.1026

Segundo Ário – e aqueles que crêem em suas idéias– Cristo não havia coexistido com o Pai através de todaa eternidade, senão que foi criado pelo Pai em algumponto do tempo antes da história do mundo. Cristo eravisto como o maior e mais elevado dos seres criadospor Deus. Por essa razão Ele não podia ser “overdadeiro Deus”, senão uma forma de deidade inferiore menor.

Ellen White não usou o termo técnico arianismo, masdeixou a certeza da divindade eterna de Cristo em suagrande obra ‘O Desejado de Todas as Nações’, de talforma que os erros cristológicos, específicos doarianismo, foram ineqüivocadamente refutados.1027 Porexemplo: “Desde os dias da eternidade o Senhor Jesus1025 Froom, LeRoy Edwin, Moviment of Destiny, págs. 148-166.1026 Schaff, Phillip, History of the Christian Church, 1953, vol. 3, págs. 618-621.1027 White, Ellen G., O Desejado de Todas as Nações.

Page 503: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Cristo era um com o Pai.” (O Desejado de Todas asNações, pág. 19).

“O nome de Deus, dado a Moisés para exprimir aidéia da presença eterna, fora reclamado como Seupelo Rabi da Galiléia. Declarara-Se Aquele que temexistência própria.” (O Desejado de Todas as Nações,págs. 469-470). “Em Cristo há vida original, nãoemprestada, não derivada..” (O Desejado de Todas asNações, pág. 530).

À luz deste claro testemunho, os erros cristológicosdo arianismo desvaneceram-se gradualmente, e duvidoque hoje exista algum Adventista do Sétimo Dia,estudante da Bíblia, que pense que Jesus era um sercriado.

Adocianismo [ou adocionismo]De igual maneira, sem identificar o erro cristológico

com seu termo específico, Ellen White achou ocasiãopara refutar os princípios do adocianismo, que diz queCristo não era o Filho de Deus ao nascer nem durantea primeira parte de Sua vida terrena, senão queconverteu-Se em Filho de Deus por adoção. Esteconceito foi ensinado em Roma, entre os anos de 189-199 d. C., por um mercador de couro, chamadoTeodoro, nascido em Bizâncio.1028 Foi desenvolvido eampliado por Paulo de Samosata, que serviu comobispo de Antioquia, durante os anos 260-269 d. C.Devido à forte influência de Paulo de Samosata, este1028 Carrington, Phillip, The Early Christian Church, vol. 2, pág. 415.

Page 504: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

conceito tornou-se muito popular entre as igrejasorientais e nas igrejas da Armênia, onde se mantevepor muitos séculos.1029 No século VIII foi defendidoentre as igrejas ocidentais por Elipando de Espanha.1030

Ainda que tivesse diversos matizes nas opiniões dosadocianistas, três conceitos básicos predominavam. Oscomentários e os argumentos de Ellen White a estasidéias encontram-se não só em ‘O Desejado de Todasas Nações’, senão também num testemunho pessoaldirigido a W. L. H. Baker, um pastor que trabalhava nodistrito de Tasmânia, quando Ellen White vivia naAustrália e trabalhava no manuscrito de sua obra ‘ODesejado de Todas as Nações’. 1031

Nesta interessante carta encontramos:

(1) uma advertência ao Pr. Baker quanto aocupar muito tempo com a leitura,

(2) um aviso quanto a não aceitar as tradiçõesdos Pais – termo que, ao ser escrito com letramaiúscula, refere-se aos Pais da igreja e

(3) uma admoestação quanto a ensinar teoriasespeculativas que não seriam de proveito paraos membros da igreja. Ademais refutaespecificamente, ponto por ponto, os erros doadocianismo – descritos na seqüência:

1029 Newman, Albert Henry, A Manual of Church History, vol. 2, págs. 379-380.1030 Mackintosh, H. R., The Person of Jesus Chist, 1962, pág. 223 ff.1031 White, Ellen G., Carta 8, 1895, não publicada. Parte desta carta aparece no SDABC, vol. 5,

págs. 1102-1103.

Page 505: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

I. Conceito Adocianista: Ao nascer, Jesus não era oFilho de Deus. Nasceu de uma mulher de maneira iguala todos os homens. Ainda que possa ter nascido deuma virgem, este feito não havia tido nenhumsignificado teológico. Nasceu como filho de homem,não como Filho de Deus.

Ellen White escreveu ao Pr. Baker: “Mas JesusCristo era o unigênito Filho de Deus ... Seu nascimentofoi um milagre de Deus pois o anjo disse: ‘Eis queconceberás e darás à luz um filho, ao qual porás onome de Jesus. Este será grande e será chamadoFilho do Altíssimo; o Senhor Deus Lhe dará o trono deDavi Seu pai; e reinará eternamente sobre a casa deJacó, e o Seu reino não terá fim. Então Mariaperguntou ao anjo: Como se fará isso, uma vez quenão conheço varão? Respondeu-lhe o anjo: Virá sobreti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirácom a Sua sombra; por isso O que há de nascer seráchamado santo, Filho de Deus.” (Lucas 1:31-35). Estaspalavras não se referem a nenhum ser humano,exceto ao Filho do Deus Infinito.” Carta 8, 1985. Aênfase é minha.

II. Conceito Adocianista: Jesus não era o Filho deDeus durante a primeira fase de Sua existência terrena.Era um ser humano normal com conceitos de pureza esantidade muito elevados, pelos quais lutouheroicamente, mas não foi divino em nenhum sentido.

Page 506: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Durante esta fase de Sua existência, posto que eracompleta e exclusivamente humano, devia possuir asmesmas tendências ao pecado e manchas decorrupção que todos os humanos possuem. Pode tersido vencido pela tentação e inclusive pode ter pecado.Mas nenhuma destas coisas, em vista de sua lutaheróica e contínua por alcançar a santidade, O tinhamdesqualificado para converter-Se no Filho adotivo deDeus ao culminar Seu progresso espiritual. Paulo deSamosata o expressou desta maneira: “Maria não deuà luz a Palavra, porque Maria não existia desde aeternidade. Senão que ela deu à luz a um homem domesmo nível que nós.”1032 A ênfase é minha.

Ellen White escreveu ao Pr. Baker: “Que cada serhumano permaneça em guarda para que não façam aCristo completamente humano, como um de nós,porque isto não pode ser.” Ênfase minha.

“Nunca, de modo algum, deixe a mais leve impressãonas mentes humanas, de que uma mancha decorrupção, ou inclinação a ela havia em Cristo, ou queEle, de alguma forma, cedeu à corrupção”.

“Não O apresente às pessoas como um homem compropensões ao pecado.”

“Podia ter pecado; podia ter caído, mas nem por ummomento houve nEle qualquer propensão para o mal.”Carta 8, 1985.

1032 Newman, Albert Henry, op. Cit., tomo K, pág. 19?.

Page 507: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Esta interessante expressão, “nem por ummomento”, parecia indicar que Ellen White se retraíade horror ao conhecer a posição dos adocianistas.Talvez eles pudessem contemplar serenamente apossibilidade de que houvera propensões perversas[cultivadas],1033 corrupção e algum pecado na vida deCristo, mas ela não podia conceber semelhanteconceito. Esta parecia ser sua maior preocupação nacarta ao Pr. Baker. Na carta ela reitera um total de dezvezes que Cristo não pecou, excluindo cuidadosamentea possibilidade de sequer uma única ocasião em queCristo houvesse cedido a tentação.

“Em nenhuma ocasião houve uma resposta asmuitas tentações de Satanás.” Ênfase minha.

III. Conceito Adocianista: Como resultado de Suaslutas heróicas para conseguir a santidade, Jesus foifinalmente adotado para ser o Filho de Deus. Hádiversas opiniões quanto a quando isto aconteceu.Alguns crêem que foi um processo gradual, outrospensam que aconteceu no batismo de Jesus, e outroscrêem que foi em Sua ressurreição. Depois de Suaadoção, a humanidade uniu-se com a divindade.

Ellen White escreveu ao Pr. Baker: “Não énecessário que saibamos o momento exato quando ahumanidade se combinou com a divindade.” Ênfaseminha.

1033 Adendo do tradutor.

Page 508: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

Apesar desta precisa e clara refutação aos erros doadocianismo – em sua carta ao Pr. Baker –, Ellen Whiteabundou, em sua obra ‘O Desejado de Todas asNações’, sobre os temas da divindade e preexistênciade Cristo, assim como em Sua total impecabilidade[ausência de pecado] através de toda Sua vida.

Alguns tem estudado a carta a Baker, e, talvez devidoao pouco conhecimento que têm dos específicos erroscristológicos adocianistas, que ela refutou tãoenergicamente, tiveram dificuldades com a expressão“em nenhum momento houve nEle uma propensão aomal [perversa]1034.” Alguns tem visto nesta declaraçãouma evidência de que ela acreditava que Cristo tomoua natureza não-caída de Adão. Outros, ao compararessa declaração com os comentários que ela faz sobreo tema no ‘O desejado de Todas as Nações’, temchegado a desafortunada conclusão de que ela secontradiz a si mesma ao apoiar ambas as posições.Nenhuma destas conclusões tem fundamento. Uma vezque reconheçamos que o propósito da carta a Baker érebater todos os pontos do adocianismo, com os quais

1034 Sempre vemos, no Espírito de Profecia, que Jesus não teve tendências ao mal em Seucaráter; teve, entretanto, as tendências ao mal hereditárias, características da nossa naturezahumana que assumiu conforme Rom 8.3-4: “Conquanto sentisse Ele toda a força da paixãohumana, jamais cedeu à tentação.” NUNCA teve nenhuma tendência ao mal CULTIVADA, poissempre falou NÃO aos Seus impulsos naturais ao mal, os quais Ele odiou como nenhum outroser humano jamais o fez: “Amas a justiça e odeias a iniqüidade; por isso Deus, o Teu Deus, Teungiu com o óleo de alegria como a nenhum dos Teus companheiros.” (Salmo 45.7).Se o crente ‘chora’ (Mt 6.4) também devido a seus impulsos e tendências ao mal quepermanecerão com ele até a morte [ou até o retorno de Cristo], quanto mais Jesus! Se nóspudéssemos extirpar, de nossa natureza humana pecaminosa, as tendências ou impulsos aomal: (a) o Espírito já não teria necessidade de ‘militar contra a carne’; (b) Teríamos obtido ‘carnesanta’, que é o mesmo fanatismo de outrora. Nota do tradutor.

Page 509: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

o Pr. Baker, aparentemente, havia se envolvidomediante os escritos dos Pais da igreja, a linha depensamento de Ellen White se torna clara como ocristal. E de nenhuma maneira podemos usar ofragmento de uma carta pessoal, dirigida a um pastorem Tasmânia, para contrariar todas as declarações arespeito da natureza humana de Cristo, que seencontram em ‘O Desejado de Todas as Nações’, que éclaramente o legado consciente e deliberado de suaposição cristológica ao mundo inteiro. Fazer isto seriauma hermenêutica questionável, para não dizer outracoisa.

Quanto à natureza humana de Cristo, Ellen White,separando-se conscienciosamente da Cristologia daReforma, adota a mesma posição que o teólogo suíçoKarl Barth sustentou, e pela mesma razão. Façamos acomparação:

Karl Barth: “A carne – no que se converteu a Palavra– é a forma concreta da natureza humana marcadapela queda de Adão ...

“Mas não se deve debilitar-se ou obscurecer-se averdade salvadora de que a natureza, que Deusassumiu em Cristo, é idêntica à nossa natureza, talcomo o vemos à luz da queda. De outra maneira comopoderia Cristo ser realmente como nós? Que relaçãoteríamos com Ele?

“Jesus não recusou a condição e situação do homemcaído, senão que a tomou sobre Si mesmo, a viveu e a

Page 510: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

elevou como o eterno Filho de Deus.”1035

Ellen White: “Teria sido uma quase infinitahumilhação para o Filho de Deus, revestir-Se danatureza humana mesmo quando Adão permanecia emseu estado de inocência, no Éden. Mas Jesus aceitou ahumanidade quando a raça havia sido enfraquecida porquatro mil anos de pecado.”1036

“A fim de elevar ao homem caído, Cristo tinha quechegar ao lugar deste, tomou a natureza humana, elevou as fraquezas e degenerações da raça.”1037

“Ao tomar sobre Si a natureza humana em suacondição caída, Cristo não participou no mínimo emseu pecado.”1038

Concluo dizendo que, se utilizarmos os princípioshermenêuticos corretos, seria impossível usar a cartade Baker para contradizer o escrito em ‘O Desejado deTodas as Nações’. Comparar a natureza humana deCristo com a natureza não-caída de Adão, distinguindo-a da natureza do homem depois da queda, certamentenão foi o propósito da autora desta carta. É evidenteque ela estava respondendo às necessidades de umproblema totalmente diferente – o desafortunadoenvolvimento do Pr. Baker com os erros cristológicosdo adocianismo.1035 Barth, Karl, Church Dogmatics, págs. 151-158.1036 White, Ellen G., O Desejado de Todas as Nações, pág. 32.1037 White, Ellen G., Review And Herald, 28 de Julho de 1874.1038 White, Ellen G., SDABC, vol. 5, pág. 1105.

Page 511: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

E a evidência, de nenhuma maneira, dá lugar a quese acuse a Ellen White de sustentar ambas posições nacontrovérsia sobre a natureza humana de Cristo.Quando os princípios hermenêuticos corretos sãoaplicados, seus escritos sobre o tema são muito claros,conscientes e inequívocos. Qualquer intento de traçaruma linha demarcatória entre a natureza humana deCristo e a nossa, deve ser eliminado completamentepor esta simples porém profundamente significativadeclaração: “Ele foi, em Sua natureza humana,precisamente o que você pode chegar a ser.”1039

Comentário:Como o Pr. Larson magistralmente apresenta, a carta

ao Pr. Baker é nada mais que uma admoestação contrao adocianismo! A ‘nova teologia’, ao colocar a Cartafora de contexto, equivoca-se redondamente. É, defato, uma lástima que tanta controvérsia, ao longo danossa história, tenha como fundamento apenas um‘texto fora do contexto’, gerando incontáveis pretextos!

“Em questões de consciência, a alma deve serdeixada livre. Ninguém deve controlar o espírito de1039 White, Ellen G., SDABC, vol. 5, pág. 1124.

Page 512: Tocado por Nossos Sentimentos - Início - Congresso MV · escada de Jacó, que alcançava Terra e Céu; 2) o propósito de haver Cristo assumido a natureza humana; 3) a relação

outro, julgar por outro, ou prescrever-lhe o dever. Deusdá a toda alma liberdade de pensar, e seguir suaspróprias convicções. ‘Cada um de nós dará contas de simesmo a Deus.’ Rom. 14:12. Ninguém tem direito deimergir sua individualidade na de outro. Em tudo quantoenvolve princípios, ‘cada um esteja inteiramente seguroem seu próprio ânimo’. Rom. 14:5. No reino de Cristonão há nenhuma orgulhosa opressão, nenhumaobrigatoriedade de costumes.” 1040

“Temos uma individualidade e uma identidade quenos é inerente. Ninguém pode submergir sua identidadena de qualquer outra pessoa. Todos devem agir por simesmos, segundo os ditames de sua própriaconsciência.” 1041

“O dono serve de mente, juízo e vontade para oanimal. Uma criança pode ser ensinada de maneira a,como o animal, não ter vontade própria. Suaindividualidade pode imergir na da pessoa que lhedirige o ensino; sua vontade, para todos os intentos edesígnios, está sujeita à de seu mestre. Há direitos quepertencem a cada indivíduo. Temos uma individualidadee uma identidade que é nossa própria. Ninguém podesubmergir sua identidade na de outrem.” 1042

1040 Ellen G. White, Mente, Caráter e Personalidade, vol. 2, pág. 707.1041 Ellen G. White, A fé pela qual eu vivo, pág. 165.1042 Ellen G. White, Cons. s/Regime Alimentar, pág. 58.