tjsp3.pdf
TRANSCRIPT
PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
ACÓRDÃO REGISTRADO(A) SOB N°
*02416652*
Vistos, relatados e discutidos estes autos de
AGRAVO DE INSTRUMENTO n° 638.370-4/0-00, da Comarca de
ATIBAIA, em que é agravante SERRARIA DE MÁRMORES E GRANITOS
SANTA CECÍLIA LIMITADA (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL) sendo
agravado O JUÍZO:
ACORDAM, em Câmara Especial de Falências e
Recuperações Judiciais de Direito Privado do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão:
"DERAM PROVIMENTO AO RECURSO, V.U.", de conformidade com o
voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos
Desembargadores BORIS KAUFFMANN e ELLIOT AKEL.
São Paulo, 30 de junho de 2009.
ROMEU RICUPERO Presidente e Relator
PODER JUDICIÁRIO Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
Seção de Direito Privado
Agravo de Instrumento n° 6 3 8 . 3 7 0 . 4 / 0 - 0 0 Agravante: SERRARIA DE MÁRMORES E GRANITOS SANTA CECÍLIA LTDA. (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL) Agravado: O JUÍZO Comarca: ATIBAIA - 3 a VARA CÍVEL
VOTO N.° 12.022
EMENTA - Recuperação judicial - Requerimento e
processamento na 3" Vara Cível da Comarca de Atibaia -
Despacho deslocando a competência para a Comarca de
São Paulo, com base em diligências encetadas pelo
Administrador Judicial e em constatação judicial -
Inexistência de dados elucidativos definitivos acerca de
existência de grupo econômico com duas outras empresas -
Ante tal situação, há de prevalecer a situação cadastral das
empresas, que são distintas, com ramos diferentes, embora
complementares, com sedes em locais situados em comarcas
diversas, e com sócios também diferentes - Manutenção da
competência no local em que a recuperação judicial foi
requerida - Agravo de instrumento provido.
RELATÓRIO.
Trata-se de agravo de instrumento interposto
por Serraria de Mármores e Granitos Santa Cecília Ltda. contra a r. decisão
interlocutória de fls. 30/32, proferida pelo MM. Juiz de Direito da 3a Vara
Cível da Comarca de Atibaia, que declinou da competência para processar e
julgar a recuperação judicial e determinou a remessa dos autos a uma das duas
Agravo de Instrumento n.° 638.370.4/0-00 -^
Voto n.° 12.022
2 Varas de Recuperação Judicial da Comarca da Capital do Estado.
A r. decisão agravada, após assinalar que a
sociedade empresária havia apontado o endereço de seu estabelecimento
principal - quando da distribuição do pedido - como sendo a Rodovia Dom
Pedro I, km 56, no município de Nazaré Paulista, naquela Comarca de
Atibaia, anotou que o ilustre Administrador Judicial, ao encetar diligências
próprias no local onde se localizaria tal estabelecimento, verificou que lá
"encontra-se apenas o setor de industrialização, ou seja, o corte e o preparo do
mármore para ser comercializado, abrigando os trabalhadores braçais da
sociedade", de maneira que "não pode ser considerado como estabelecimento
principal da recuperanda, nos termos do artigo 3o, da Lei n.° 11.101/05".
Ademais, "nessa diligência, os empregados da
recuperanda informaram (...) que o seu estabelecimento principal se encontra
na Capital de São Paulo, na Av. General Ataliba Leonel, 727 - Santana -
Acrescentou que "a constatação judicial por
mim ordenada nos autos culminou por apurar que 'no local trabalham em
média de quinze a dezesseis funcionários. A atividade ali está direcionada
para cortar, serrar e até polir a pedra bruta, mas quando tem que fazer uma pia
ou outro objeto da mesma natureza, a peça segue para São Paulo, na sede da
Empresa, a qual fica localizada à Av. General Ataliba Leonel, 727/729,
conforme cartão de visita, (...)'".
Concluiu que "tudo está a indicar, pois, que o
direcionamento da presente ação para este foro possa visar o descumprimento
Agravo de Instrumento n.° 638.370.4/0-00
Voton.° 12.022 O &
3 da regra inseria no artigo 3o da Lei de Recuperação Judicial, regra essa que
estabelece - em caráter absoluto e, ipso facto, improrrogável - como sendo
"competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a
recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal
estabelecimento do devedor ou da filial da empresa que tenha sede fora do
Brasil".
A agravante alega que tal decisão foi tomada
sem que lhe tivesse sido dada qualquer possibilidade de discussão sobre tal
configuração, com nítida afronta ao contraditório.
Diz que é empresa regularmente constituída há
mais de 18 (dezoito) anos, explorando desde o início a atividade de serragem
e comércio de mármores e granitos em geral, sendo reconhecida no mercado e
praça pela excelência de seus serviços; afirma que, de fato, o sócio da
empresa "DECORAMA" foi sócio da agravante, mas se retirou em 10 de
outubro de 2008; as empresas têm relações comerciais, sendo certo e sabido
que grande parte da produção da agravante é escoada pela empresa
"DECORAMA", mas a administração, gerência, faturamento e demais
atividades consectárias são independentes; a premissa em que se apoia o Juízo
resta fundada tão somente em suposições levantadas pelos credores da
recuperanda, fazendo crer a existência de uma suposta ligação fraudulenta
entre as empresas; na verdade, tais suposições deveriam ter sido investigadas
no endereço da empresa "DECORAMA"; para dizer que a agravante possui
sua sede em São Paulo seria preciso existir a prova cabal dessa alegação e não
foi isto o que ocorreu.
Em suma, sustenta que é empresa distinta de
Agravo de Instrumento n.° 638.370.4/0-00
Voto n.° 12.022 or?
DECORAMA Mármores e Granitos. 4
Preparado (fls. 53/54) e instruído o recurso (fls.
11/42), deferi o pretendido efeito suspensivo (fls. 44/45), a agravante
comprovou o cumprimento do disposto no art. 526 do CPC (fls. 62/63), o
ilustre Administrador Judicial ofereceu o parecer de fls. 65/68, instruído com
cópias de peças do processo principal (fls. 69/78) e, finalmente, a douta
Procuradoria Geral de Justiça, em parecer da Dra. Maria da Glória Villaça
Borin Gavião de Almeida, também opinou pelo não provimento (fls. 80/82).
FUNDAMENTOS.
Como consignei no despacho inicial, em que
deferi o pretendido efeito suspensivo e mantive o processamento da
recuperação judicial na 3a Vara Cível da Comarca de Atibaia, neste Estado,
naquela Comarca foi pleiteada a recuperação judicial (fls. 12/20) e lá foi
mandada processar (cf. fl. 21).
Embora a agravante não tenha juntado a estes
autos cópia dos documentos albergando diligências do Administrador Judicial
e constatação judicial (foram juntadas posteriormente pelo ilustre
Administrador Judicial), que serviram de supedâneo para a r. decisão
recorrida de fls. 30/32, é certo, em face de fichas cadastrais fornecidas pela
JUCESP, que a recuperanda existe desde 20/11/1991, sempre com sede de sua
matriz na Rodovia Dom Pedro I, km 56, bairro Nazaré Paulista, Município e
Comarca de Atibaia (fls. 36/39), enquanto que, em São Paulo, na Avenida
Ataliba Leonel n.° 727/729, Santana, estaria sediada empresa diversa, ou seja,
DECORAMA Mármores e Granitos Ltda. (cf. fls. 40/42), também com
Agravo de Instrumento n.° 638.370.4/0-00
Voton.° 12.022 a&
constituição em 15/08/1991. 5
A agravante alega que mantém relações
comerciais com a mencionada empresa DECORAMA, mas com ela não se
confunde, fato este que não prescinde de prova.
Além do mais, em se tratando de fixar a
competência para o processamento da recuperação judicial, mostra-se
inconcebível declinar do processo e remetê-lo a uma das duas Varas
Especializadas da Comarca da Capital, sem que a devedora tenha sido ouvida,
tanto acerca das diligências encetadas pelo Administrador Judicial, quanto da
constatação judicial.
Pois bem, agora, com as peças juntadas pelo
Administrador Judicial, sabe-se que a alegação principal, para o deslocamento
da competência, foi a de que "no local indicado a empresa recuperanda exerce
a sua atividade principal, que é o comércio de mármore, juntamente com duas
empresas do mesmo grupo, denominadas COLOPOL - Colocações e
Polimento Ltda. e DECORAMA Mármores e Granitos Ltda., que são
vendedoras e prestadoras de serviços sobre mármore, fato que deslocaria a
competência de processar esta recuperação judicial para uma das Varas
Especializadas de Falências e Recuperação de Empresas da Capital" (cf. fl.
70).
Ao contrário do que alega na minuta, a
recuperanda foi instada a manifestar-se sobre as diligências e requerimento do
Administrador Judicial, tanto que, na petição de fls. 71/73, afirmou que possui
estabelecimento único, na Rodovia Dom Pedro I, s/n.°, km 56, Município de
Agravo de Instrumento n.° 638.370.4/0-00
Voto n.° 12.022 e)
6 Nazaré Paulista, Comarca de Atibaia; esclareceu que tem gerente no local, ou
seja, Antônio Clareti Martins, vulgo "Toninho", que trabalha há mais de 18
anos, exercendo tais funções, apesar do fato de que o proprietário da empresa,
Alcides Paulo Gaeta, comparece 03 ou 04 vezes por semana no referido local;
acrescentou que as empresas COLOPOL e DECORAM A são distintas, não
pertencem absolutamente ao mesmo grupo; enquanto que a recuperanda tem
como objetivo social apenas serviços de serraria de mármores e granitos em
geral, a COLOPOL tem por objeto a prestação de serviços e mão de obra no
ramo de colocação e polimento de pedras em geral e a DECORAMA trabalha
apenas com vendas de produtos diversos, não só da recuperanda, como
também de outras empresas que exercem o referido ramo de atividades.
Com a devida vênia do MM. Juiz e do ilustre
Administrador Judicial, e também da douta Promotora designada em segunda
instância, não se pode assentar a existência de um grupo econômico entre as
três empresas só com base em ilações, não sendo também suficiente para
deslocar a competência o fato de existir cartão de visita da recuperanda, onde
consta como endereço o de São Paulo (cf. fls. 77v° e 78).
Está provado nos autos que a recuperanda
existe desde 20/11/91, sempre com sede no Município de Nazaré Paulista,
Comarca de Atibaia, tendo como últimos sócios Zuleica Miranda Bozza e
Alcides Paulo Gaeta (fl. 39), enquanto que a empresa DECORAMA
Mármores e Granitos Ltda. também existe desde 15/08/91, com sede na
Avenida General Ataliba Leonel n.° 727/729, nesta Capital, tendo como
últimos sócios Sérgio Sávio e Guilherme Sávio (fl. 42).
É óbvio que as empresas tiveram
Agravo de Instrumento n.° 638.370.4/0-00
Voton." 12.022 <à&
7
relacionamentos, tanto que o atual sócio da recuperanda, Alcides Paulo Gaeta,
foi sócio da DECORAMA, dela tendo se retirado em 01/10/2008.
Na falta de elementos elucidativos definitivos
de existência de um grupo econômico, há de prevalecer a situação cadastral
das empresas, que são distintas, com ramos diferentes, embora
complementares, com sedes em locais situados em comarcas diversas, e com
sócios também diferentes.
Por isso, confirmo o despacho inicial e dou
provimento ao recurso, mantendo a competência para a recuperação judicial
na Comarca de Atibaia.
Destarte, pelo meu voto, dou
provimento ao recurso.
^ROMEU RECUPERO Relator
Agravo de Instrumento n.° 638.370.4/0-00
Voton.° 12.022