título de crédito

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II.2 CONCEITO A expressão título de crédito, em sentido amplo significa documento que consubstancia crédito de uma pessoa em relação à outra , já em sentido estrito. trata dos documentos que, observando os requisitos formais, a lei considera como títulos cambiários. No Brasil, o Código Comercial de 1850, nos artigos 354 a 427, dispunha sobre Letras de Câmbio, Notas Promissórias e Créditos Mercantis, contudo, não apresentava definição genérica acerca dos títulos de crédito. A legislação posterior que revogou os dispositivos do Código Comercial, também não cuidou de definir os títulos de crédito, se limitando a disciplinar as diversas espécies destes por meio de normas específicas. Portanto, coube à doutrina elaborar o conceito, que, através de uma noção muito simples, criada por um dos maiores comercialistas já existentes, o autor italiano Cesare Vivante, foi incorporado à legislação brasileira na forma do conceito constante do Código Civil de 2002, Título VIII, Livro I, presente no artigo 887: “O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.” O conceito supracitado enfatiza ao aspecto jurídico dos institutos, pois refere-se aos princípios do título de crédito, demonstra a necessidade de sua apresentação e seu rigor formal. II.3 CARACTERÍSTICAS O conceito constante do art. 887 do Código Civil nos permite extrair os elementos comuns a todos os títulos de crédito. O título de crédito tem natureza comercial, como aduz Luiz Emygdio (2002) “Os títulos de crédito são essencialmente comerciais, pouco importando a profissão de quem pratique o ato cambiário ou a sua causa, civil ou comercial.” A referida expressão documento é interpretada pela doutrina comercialista como apenas os escritos consubstanciados em papel ou cártula, como ensina Tullio Ascarelli (1969) :

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Page 1: Título de Crédito

II.2 CONCEITO

A expressão título de crédito, em sentido amplo significa documento que consubstancia crédito de uma pessoa em relação à outra , já em sentido estrito. trata dos documentos que, observando os requisitos formais, a lei considera como títulos cambiários.No Brasil, o Código Comercial de 1850, nos artigos 354 a 427, dispunha sobre Letras de Câmbio, Notas Promissórias e Créditos Mercantis, contudo, não apresentava definição genérica acerca dos títulos de crédito.A legislação posterior que revogou os dispositivos do Código Comercial, também não cuidou de definir os títulos de crédito, se limitando a disciplinar as diversas espécies destes por meio de normas específicas.Portanto, coube à doutrina elaborar o conceito, que, através de uma noção muito simples, criada por um dos maiores comercialistas já existentes, o autor italiano Cesare Vivante, foi incorporado à legislação brasileira na forma do conceito constante do Código Civil de 2002, Título VIII, Livro I, presente no artigo 887: “O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.”O conceito supracitado enfatiza ao aspecto jurídico dos institutos, pois refere-se aos princípios do título de crédito, demonstra a necessidade de sua apresentação e seu rigor formal.

II.3 CARACTERÍSTICAS

O conceito constante do art. 887 do Código Civil nos permite extrair os elementos comuns a todos os títulos de crédito.O título de crédito tem natureza comercial, como aduz Luiz Emygdio (2002) “Os títulos de crédito são essencialmente comerciais, pouco importando a profissão de quem pratique o ato cambiário ou a sua causa, civil ou comercial.”A referida expressão documento é interpretada pela doutrina comercialista como apenas os escritos consubstanciados em papel ou cártula, como ensina Tullio Ascarelli (1969) :

“O título de crédito é, antes de mais nada, um documento. A disciplina legislativa, necessariamente diferente quanto aos títulos diversos, indica os requisitos de cada um deles. Caráter constante, porém, de todos, é que constituem um documento escrito, assinado pelo devedor; formal, no sentido de que é submetido a condições de forma, estabelecidas justamente para identificar com exatidão o direito nele mencionado e as suas modalidades, a espécie do título de crédito (daí nos títulos cambiários até o requisito da denominação) a pessoa do credor, a forma de circulação do título e a pessoa do devedor(...)”

Outros autores, por sua vez, respaldados pela expressão documento, e não cártula, refletido no conceito de Vivante, admitem títulos de crédito veiculados por documentos diversos do papel.

“Em sentido lato, documento compreende não apenas os escritos, mas toda e qualquer coisa que transmita diretamente um registro físico a respeito de algum fato, como os desenhos, as fotografias, as gravações sonoras, filmes cinematográficos.”

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Após a edição do Código Civil de 2002, as modificações não interferiram na disciplina tratada em legislação especial, e, apesar de inalterado o arcabouço de títulos hoje existentes, com a redação do art. 889, § 3º, “O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo”, surgiu uma discussão doutrinária acerca da autorização da emissão de títulos por meio de computador ou meio técnico equivalente. Trata-se de tema enfrentado anteriormente pela doutrina, que reconhecia a validade da circulação de títulos, sem o emprego do papel. Porém, por tratar-se de tema que foge à questão central deste trabalho, não será feita análise mais detida da discussão.Outra característica que se desprende do conceito do artigo 887 do Código Civil de 2002 refere-se aos princípios norteadores do título de crédito: literalidade, que significa a interpretação literal do texto encontrado na cártula, e autonomia, segundo a qual o título possui autonomia referente à independência das obrigações corporificadas no título, conforme será analisado posteriormente. Ao mencionar que o direito cambiário está contido no título, o conceito alude ao princípio da incorporação, enfatizando a necessidade do documento ao exercício do direito nele contido, caracterizando o título como de apresentação.Tem-se ainda outras características dos títulos apontadas por Luiz Emygdio (2002) , quais sejam: “(...) e) consubstancia obrigação líquida e certa; f) possui eficácia processual abstrata; g)corresponde à obrigação quesível; h) emitido, em regra, com natureza pro solvendo; i) título de resgate; j) título de circulação” Uma característica que não ocorre em todos os títulos, porém não menos importante é a Abstração, característica conforme a qual as obrigações consubstanciadas no título de crédito não guardam relação com a fonte as criou, apenas as representa.Contrariamente, ao invés de abstrato o título pode se Causal, hipótese em que o título deve resultar de uma causa específica, e fica atrelado a esta causa, não se torna abstrato em relação a ela, como é o caso da duplicata, que deve resultar obrigatoriamente de uma operação de compra e venda ou prestação de serviços.

IV.2 TÍTULOS DE CRÉDITO RURAL

São vários os títulos de crédito rural, com a finalidade da implantação do crédito rural, e, conforme ensina Waldirio Bulgarelli (2001) , dentre os quais pode ser feita a seguinte distinção: a) Cédula Rural Pignoratícia, Cédula Rural Hipotecária, Cédula Rural Pignoratícia-Hipotecária e Nota de Credito Rural e b) Nota Promissória Rural e Duplicata Rural. Os primeiros são títulos civis, promessas de pagamento em dinheiro, com ou sem garantia real cedular, líquidos, certos e exigíveis pela soma deles constante ou do endosso, além dos juros, da comissão de fiscalização, se houver, e demais despesas que o credor fizer para segurança, regularidade e realização de seu direito creditório, a que se deve acrescer. Para a compreensão integral destes tipos de títulos de crédito, outros elementos, estabelecidos em vários dispositivos, como aplicação das normas de Direito cambiário, onde forem cabíveis, inclusive o aval, inscrição no Cartório do Registro de Imóveis, para terem eficácia contra terceiros, além de alguns outros aspectos atinentes cada título em espécie. Os segundos são títulos formais, que independem de inscrição, gozam de privilégio especial sobre determinados bens, dentre outros.O crédito rural é legalmente regulamentado pela Lei nº 4.829, de 05 de novembro de

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1.966, e tem como instrumentos básicos os contratos de que trata a Lei nº 492, de 30 de agosto de 1.937, o penhor rural, e os títulos previstos na Lei nº 3.253, de 27 de agosto de 1.957, hoje disciplinados pelo Decreto-lei nº 167, de 14 de fevereiro de 1.967. São estes últimos os títulos de que tratamos acima.O Decreto-lei nº 167 utorga aos mesmos executividade, nos seguintes termos:.“Art 41. Cabe ação executiva para a cobrança da cédula de crédito rural.

§ 1º Penhorados os bens constitutivos da garantia real, assistirá ao credor o direito de promover, a qualquer tempo, contestada ou não a ação, a venda daqueles bens, observado o disposto nos artigos 704 e 705 do Código de Processo Civil, podendo ainda levantar desde logo, mediante caução idônea, o produto líquido da venda, à conta e no limite de seu crédito, prosseguindo-se na ação.

§ 2º Decidida a ação por sentença passada em julgado, o credor restituirá a quantia ou o excesso levantado, conforme seja a ação julgada improcedente total ou parcialmente, sem prejuízo doutras cominações da lei processual.

§ 3º Da caução a que se refere o parágrafo primeiro dispensam-se as cooperativas rurais e as instituições financeiras públicas (artigo 22 da Lei número 4.595, de 31 de dezembro de 1964), inclusive o Banco do Brasil S.A.

(...)

Art 44. Cabe ação executiva para a cobrança da nota promissória rural.

Parágrafo único. Penhorados os bens indicados na nota promissória rural, ou, em sua vez, outros da mesma espécie, qualidade e quantidade pertencentes ao emitente, assistirá ao credor o direito de proceder nos termos do § 1º do artigo 41, observada o disposto nos demais parágrafos do mesmo artigo.

(...)

Art 52. Cabe ação executiva para cobrança da duplicata rural.

IV.3 TÍTULOS DE CRÉDITO INDUSTRIAL

Os títulos de crédito industrial foram criados com o propósito de implantação do crédito industrial no Brasil. Como ensina Waldirio Bulgarelli (2001) , a cédula de crédito industrial é título formal, cambiariforme, promessa de pagamento em dinheiro, com garantia real (penhor cedular, alienação fiduciária ou hipoteca cedular), constituída por via da cártula, e título líquido, certo e exigível pela soma dele constante ou do endosso, além dos juros da comissão de fiscalização, se houver, e demais despesas que o credor fizer para a segurança, regularidade e realização do seu direito creditório, ao qual se aplicam, no que for cabível, as regras do Direito cambiário.A nota de crédito industrial se difere da cédula de crédito industrial apenas no tocante à falta de garantia real, e em compensação, a garantia outorgada é o privilégio especial sobre determinados bens discriminados no Código Civil.Os títulos de credito industrial são regulamentados pelo Decreto-lei nº 413 de 9 de

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janeiro de 1969, que, apesar de determinar que os referidos títulos são certos, líquidos e exigíveis, não outorga aos mesmo força executiva. Portanto, conclui-se que estes não são títulos executivos extrajudiciais.

IV.4 CONHECIMENTO DE DEPÓSITO E WARRANT

O conhecimento de depósito é um título de representação e de legitimação, formal e causal (transmite a propriedade de mercadorias), que confere ao portador o direito de disponibilidade da mercadoria com a limitação pelo direito de penhor constituído sobre a mercadoria pelo endosso do warrant correspondente (se houver o endosso), portanto é meio de circulação das mercadorias. Este que pode estar unido ou separado do warrant, que é um título de crédito formal e causal (pressupõe uma operação de crédito), consistente numa promessa de pagamento, destinando-se a eventuais operações de crédito cuja garantia seja o penhor sobre as mercadorias depositadas.Quando juntos, possibilitam ao portador a livre disposição dos bens depositados.Ambos são títulos à ordem, podendo ser transferidos unidos ou separadamente, O conhecimento de depósito e warrant são regulados pelo Decreto nº 1.102 de 21 de novembro de 1903, lei que institui regras para o estabelecimento de empresas de armazéns gerais. Existem também a Lei Delegada nº 3, de 26 de setembro de 1962, que regulamenta a legislação supracitada, e o Decreto nº 4.544 de 26 de dezembro de 2002, que regulamenta o Imposto sobre produtos industrializados referente a tais títulos. Porém, nenhuma das legislações supracitadas outorga executividade aos referidos títulos.

CAPÍTULO I Do Financiamento Rural

Art 1º O financiamento rural concedido pelos órgãos integrantes do sistema nacional de crédito rural e pessoa física ou jurídica poderá efetivar-se por meio das células de crédito rural previstas neste Decreto-lei.

Parágrafo único. Faculta-se a utilização das cédulas para os financiamentos da mesma natureza concedidos pelas cooperativas rurais a seus associados ou às suas filiadas.

Art 2º O emitente da cédula fica obrigado a aplicar o financiamento nos fins ajustados, devendo comprovar essa aplicação no prazo e na forma exigidos pela instituição financiadora.

Parágrafo único. Nos casos de pluralidade de emitentes e não constando da cédula qualquer designação em contrário, a utilização do crédito poderá ser feita por qualquer um dos financiados, sob a responsabilidade solidária dos demais.

Art 3º A aplicação do financiamento poderá ajustar-se em orçamento assinado pelo financiado e autenticado pelo financiador dele devendo constar expressamente qualquer alteração que convencionarem.

Parágrafo único. Na hipótese, far-se-á, na cédula, menção no orçamento, que a ela ficará vinculado.

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Art 4º Quando for concedido financiamento para utilização parcelada, o financiador abrirá com o valor do financiamento contra vinculada à operação, que o financiado movimentará por meio de cheques, saques, recibos, ordens, cartas ou quaisquer outros documentos, na forma e tempo previstos na cédula ou no orçamento.

Art 5º As importâncias fornecidas pelo financiador vencerão juros as taxas que o Conselho Monetário Nacional fixar e serão exigíveis em 30 de junho e 31 de dezembro ou no vencimento das prestações, se assim acordado entre as partes; no vencimento do título e na liquidação, por outra forma que vier a ser determinada por aquele Conselho, podendo o financiador, nas datas previstas, capitalizar tais encargos na conta vinculada a operação.

Parágrafo único. Em caso de mora, a taxa de juros constante da cédula será elevável de 1% (um por cento) ao ano.

Art 6º O financiado facultará ao financiador a mais ampla fiscalização da aplicação da quantia financiada, exibindo, inclusive, os elementos que lhe forem exigidos.

Art 7º O credor poderá, sempre que julgar conveniente e por pessoas de sua indicação, não só percorrer todas e quaisquer dependências dos imóveis referidos no título, como verificar o andamento dos serviços neles existentes.

Art 8º Para ocorrer às despesas com os serviços de fiscalização poderá ser ajustada na cédula taxa de comissão de fiscalização exigível na forma do disposto no artigo 5º, a qual será calculada sobre os saldos devedores da conta vinculada a operação respondendo ainda o financiado pelo pagamento de quaisquer que se verificarem com vistorias frustradas ou que forem efetuadas em conseqüência de procedimento seu que possa prejudicar as condições legais e celulares.

SEÇÃO III Da Cédula Rural Hipotecária

        Art 20. A cédula rural hipotecária conterá os seguintes requisitos, lançados no contexto:

        I - Denominação "Cédula Rural Hipotecária".

        II - Data e condições de pagamento; havendo prestações periódicas ou prorrogações de vencimento, acrescentar: "nos têrmos da cláusula Forma de Pagamento abaixa" ou "nos têrmos da cláusula Ajuste de Prorrogação abaixo".

        III - Nome do credor e a cláusula à ordem.

        IV - Valor do crédito deferido, lançado em algarismos e por extenso, com indicação da finalidade ruralista a que se destina o financiamento concedido e a forma de sua utilização.

        V - Descrição do imóvel hipotecado com indicação do nome, se houver, dimensões, confrontações, benfeitorias, título e data de aquisição e anotações (número, livro e fôlha) do registro imobiliário.

        VI - Taxa dos juros a pagar e a da comissão de fiscalização, se houver, e tempo de seu pagamento.

        VII - Praça do pagamento.

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        VIII - Data e lugar da emissão.

        IX - Assinatura do próprio punho do emitente ou de representante com podêres especiais.

        § 1º - Aplicam-se a êste artigo as disposições dos §§ 1º e 2º do artigo 14 dêste Decreto-lei.

        § 2º - Se a descrição do imóvel hipotecado se processar em documento à parte, deverão constar também da cédula tôdas as indicações mencionadas no item V dêste artigo, exceto confrontações e benfeitorias.

        § 3º - A especificação dos imóveis hipotecados, pela descrição pormenorizada, poderá ser substituída pela anexação à cédula de seus respectivos títulos de propriedade.

        § 4º - Nos casos do parágrafo anterior, deverão constar da cédula, além das indicações referidas no § 2º dêste artigo, menção expressa à anexação dos títulos de propriedade e a declaração de que êles farão parte integrante da cédula até sua final liquidação.

        Art 21. São abrangidos pela hipoteca constituída as construções, respectivos terrenos, maquinismos, instalações e benfeitorias.

        Parágrafo único. Pratica crime de estelionato e fica sujeito às penas do art. 171 do Código Penal aquêle que fizer declarações falsas ou inexatas acêrca da área dos imóveis hipotecados, de suas características, instalações e acessórios, da pacificidade de sua posse, ou omitir, na cédula, a declaração de já estarem êles sujeitos a outros ônus ou responsabilidade de qualquer espécie, inclusive fiscais.

        Art 22. Incorporam-se na hipoteca constituída as máquinas, aparelhos, instalações e construções, adquiridos ou executados com o crédito, assim como quaisquer outras benfeitorias acrescidas aos imóveis na vigência da cédula, as quais, uma vez realizadas, não poderão ser retiradas, alteradas ou destruídas, sem o consentimento do credor, por escrito.

        Parágrafo único - Faculta-se ao credor exigir que o emitente faça averbar, à margem da inscrição principal, a constituição de direito real sôbre os bens e benfeitorias referidos neste artigo.

        Art 23. Podem ser objeto de hipoteca cedular imóveis rurais e urbanos.

        Art 24. Aplicam-se à hipoteca cedular os princípios da legislação ordinária sôbre hipoteca no que não colidirem com o presente Decreto-lei.

CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO

O crédito tem seu fundamento na fidúcia, na idéia da confiança aplicada aos negócios; nasce da qualidade da pessoa que promete e a ele se obriga. A própria palavra crédito, do latim creditum, que decorre da expressão credere, significa "confiar", "ter fé". Segundo Ciccone, há maior confiança em um homem honesto do que no rico _ se não o faz com relação ao pobre é porque este não poderia, provavelmente, pagar seus débitos. A garantia do poder se traduz na capacidade e na riqueza: a capacidade, como dote pessoal, assegura a boa direção do negócio, e a riqueza, como fundo real, pode suprir a perda.

Na legislação pátria, o Código Comercial Brasileiro de 1850, todavia, não empregou a expressão "títulos" a não ser para as apólices da Dívida Pública, chamando-as de "títulos de

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fundos públicos" (art.191, 2ª parte; art. 255 e art. 257). As expressões por ele empregadas foram "papéis de crédito" (art.10, nº 4), "papéis de créditos endossáveis" e "papéis de créditos negociáveis" (art.54 e 55), "papéis de crédito comerciais" (art.191, 2ª parte), "papéis de crédito negociáveis no comércio" (art.273), "escritos ao portador" (art.425). Já o Código Civil tão-somente utiliza a expressão títulos de crédito nos arts. 789 a 795, "títulos de bolsa" no art. 1.479 e "títulos ao portador" nos arts. 1.505 a 1.511.

A denominação títulos de crédito predomina nos países de língua portuguesa, italiana (titolo di credito) e espanhola (titolo de credito). Na França, os mesmos são chamados de effets de commerce.

Em que pese ao mérito de outras definições, a de Cesare Vivante é a que melhor identifica e explica os atributos essenciais do título de crédito:

um documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado. Diz-se que o direito contido no título (a) é literal, porquanto ele existe segundo o teor do documento: (b) é autônomo, porque a posse de boa-fé enseja um direito próprio, que não pode ser limitado ou destruído pelas relações existentes entre os precedentes possuidores e o devedor: (c) é um documento necessário para exercitar o direito, porque enquanto o título existe, o credor deve exibí-lo para exercitar todos os direitos seja ele principal, seja acessório, que ele porta consigo e não se pode fazer qualquer mudança na posse do título sem anotá-la sobre o mesmo. Esse é o conceito jurídico, preciso e limitado, que se deve substituir à frase vulgar pela qual se consigna que o direito está incorporado ao título (trad. livre).

É procedente a crítica de Vivante aos que afirmam estar o direito incorporado ao título. Na realidade, o direito a ele não se "incorpora"; tem, sim, apenas uma relação de conexão, daí resultando o fenômeno da cartularidade. Sendo algo imaterial, o direito não se extingue com o documento. Tanto isso é verdade que, com a perda da cártula, não ocorre o desaparecimento do direito, o qual resulta suspenso até que o título seja substituído por outro equivalente.

Seguiram-se àquela numerosas definições, muitas delas sem o vigor e a síntese proposta por Vivante, dentre essas assoma a de Alberto Asquini:

Título de crédito é o documento de um direito literal destinado à circulação, idôneo a conferir de modo autônomo a titularidade de tal direito ao proprietário do documento, e necessário e suficiente para legitimar o possuidor ao exercício do mesmo direito (trad. livre).

Navarrini, por sua vez, conceitua título de crédito como o documento que certifica uma operação de crédito cuja posse é necessária para exercer o direito que dele deriva e para conferí-lo a outras pessoas.

No Brasil, José Maria Whitaker se destacou nesse assunto, ao abordá-lo sob o enfoque econômico. Segundo ele, "todo documento capaz de realizar imediatamente o valor que representa" é título de crédito. Enfatizando o aspecto não abordado por Vivante, o da fungibilidade do título, que consiste na mobilização imediata de seu valor, permite-se ao

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portador receber a importância contida no documento, antes da data do vencimento, por meio de uma operação denominada desconto bancário. Pelo desconto, o banqueiro paga ao portador o valor do título diminuído do juro devido em razão do prazo que medeia as datas do pagamento e a data do vencimento do mesmo: afinal, o título nasce com o objetivo de circular e não o de restar nas mãos das partes primitivas. Ele realiza uma função nitidamente econômica. Trata-se, pois, de um verdadeiro elemento propiciador de circulação rápida e segura de riqueza e, em consequência, dinamizador da economia. É estimável, portanto, a contribuição do título de crédito para a formação e o desenvolvimento das modernas economias de mercado.

Salienta com precisão José Luiz da Silva Machado que, de fato, a vida econômica seria de todo inadmissível sem a existência dos títulos de crédito eis que faltariam meios jurídicos para a adequada formalização das relações comerciais, as quais, por essa razão, teriam necessariamente de assumir outro aspecto.

Nota - ainda Tulio Ascarelli que, graças ao título de crédito, pôde o mundo moderno mobilizar as próprias riquezas, vencendo o tempo e o espaço e transportando, com maior facilidade, bens distantes e materializando, no presente, as possíveis riquezas futuro

Cédula de crédito industrial

É uma promessa de pagamento emitida pelo devedor, em razão de um financiamento dado pelo credor. Pode ser garantida por penhor cedular, a alienação fiduciária ou hipoteca cedular. O texto legal dá uma relação dos bens que podem ser oferecidos em garantia. Ex.: máquinas, matérias primas, veículos, títulos de crédito, etc.

Em outras palavras: É um título de crédito consistente numa promessa de pagamento em dinheiro, com garantia real, cedularmente constituída, e destinada ao financiamento concedido por instituições financeiras a pessoa física ou jurídica que se dedique à atividade industrial. O emitente da cédula fica obrigado a aplicar o financiamento nos fins ajustados, devendo comprovar tal aplicação no prazo e forma exigidos pela financiadora. As importâncias fornecidas pelo financiador vencerão juros e poderão sofrer correção monetária às taxas e índices fixados pelo Conselho Monetário Nacional, calculados sobre os saldos devedores de conta vinculada à operação, e serão exigíveis em 30 de junho, 31 de dezembro, no vencimento, na liquidação da cédula ou, também, em outras datas convencionadas no título ou admitidas pelo Conselho. Em caso de mora, a taxa de juros constante da cédula será elevável de 1% (um por cento) ao ano. O devedor facultará ao credor a mais ampla fiscalização do emprego da quantia financiada, exibindo os elementos que lhe forem exigidos. O financiador poderá, sempre que julgar conveniente e por pessoas de sua indicação, percorrer todas as dependências dos estabelecimentos industriais bem como verificar o andamento dos serviços neles efetuados. Observa-se o DL 413, de 9.1.1969, que rege a matéria, no Art. 10, caput. A cédula conterá os seguintes requisitos: I - denominação Cédula de Crédito Industrial; II - data do pagamento (se a cédula for emitida para pagamento parcelado, acrescentar-se-á cláusula discriminando valor e data de pagamento das prestações; III - nome do credor e cláusula à ordem; IV - valor do crédito deferido, lançado em algarismos e por extenso,

Page 9: Título de Crédito

e a forma de sua utilização; V - descrição dos bens objeto do penhor, ou da alienação fiduciária, que se indicarão pela espécie, qualidade, quantidade e marca, se houver, além do local ou do depósito de sua situação, indicando-se, no caso de hipoteca, situação, dimensões, confrontações, benfeitorias, título e data de aquisição do imóvel e anotações (número, livro e folha) do registro imobiliário; VI - taxa de juros a pagar e comissão de fiscalização, se houver, e épocas em que serão exigíveis, podendo ser capitalizadas; VII - obrigatoriedade de seguro dos bens objeto da garantia; VIII - praça do pagamento; IX - data e lugar da emissão; X - assinatura do próprio punho do emitente ou de representante com poderes especiais. A cédula poderá ser aditada, ratificada ou retificada, sendo as menções adicionais e aditivos datados e assinados pelo emitente e pelo credor, lavrados em folha à parte do mesmo formato, passando a fazer parte do documento cedular.

LETRA DE CRÉDITO

A Letra de Crédito Imobiliário, criada pela MP, é garantida por hipoteca imobiliária ou alienação fiduciária. Seu detentor tem direito a crédito pelo valor nominal da letra, além de juros e, em alguns casos, atualização monetária. O documento poderá ser transferido por meio de endosso, e conterá informações como o nome da instituição emitente; valor nominal e data de vencimento; nome do titular; e forma de pagamento do principal, dos juros e da correção monetária.

O texto prevê a atualização mensal da LCI por índice de preços, desde que o título tenha prazo mínimo de 36 meses. A pedido do credor, poderá ser dispensada a emissão de certificado, caso em que a letra será registrada em sistema de liquidação financeira de títulos privados autorizados pelo Banco Central.

No caso de resgate antecipado da letra, total ou parcial, não haverá pagamento de correção monetária. O Banco Central poderá estabelecer o prazo mínimo e outras condições para emissão e resgate de LCI.

Ainda segundo o texto, o título poderá ser garantido por um ou mais créditos imobiliários, mas seu prazo de vencimento não poderá ser superior ao prazo dessas garantias. Por iniciativa do emitente da LCI, o crédito de lastro poderá ser substituído por outro da mesma natureza nos casos de liquidação ou vencimento antecipados do crédito.

Revogada pela LEI Nº 10.931, DE 02 DE AGOSTO DE 2004

MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.223, DE 4 DE SETEMBRO DE 2001.

Dispõe sobre a Letra de Crédito Imobiliário, a Cédula de Crédito Imobiliário e dá outras providências.

        O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de lei:

Capítulo IDa Letra de Crédito Imobiliário

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        Art. 1o  Os bancos comerciais, os bancos múltiplos com carteira de crédito imobiliário, a Caixa Econômica Federal, as sociedades de crédito imobiliário, as associações de poupança e empréstimo, as companhias hipotecárias e demais espécies de instituições que, para as operações a que se refere este artigo, venham a ser expressamente autorizadas pelo Banco Central do Brasil, poderão emitir, independentemente de tradição efetiva, Letra de Crédito Imobiliário (LCI), lastreada por créditos imobiliários garantidos por hipoteca ou por alienação fiduciária de coisa imóvel, conferindo aos seus tomadores direito de crédito pelo valor nominal, juros e, se for o caso, atualização monetária nelas estipulados.

        § 1o  A LCI será emitida sob a forma nominativa, podendo ser transferível mediante endosso em preto, e conterá:

        I - o nome da instituição emitente e as assinaturas de seus representantes;        II - o número de ordem, o local e a data de emissão;        III - a denominação "Letra de Crédito Imobiliário";        IV - o valor nominal e a data de vencimento;

        V - a forma, a periodicidade e o local de pagamento do principal, dos juros e, se for o caso, da atualização monetária;

        VI - os juros, fixos ou flutuantes, que poderão ser renegociáveis, a critério das partes;        VII - a identificação dos créditos caucionados e seu valor;        VIII - o nome do titular;        IX - cláusula à ordem, se endossável.

        § 2o  A critério do credor, poderá ser dispensada a emissão de certificado, devendo a LCI sob a forma escritural ser registrada em sistemas de registro e liquidação financeira de títulos privados autorizados pelo Banco Central do Brasil.

        Art. 2o  A LCI poderá ser atualizada mensalmente por índice de preços, desde que emitida com prazo mínimo de trinta e seis meses.

        Parágrafo único.  É vedado o pagamento dos valores relativos à atualização monetária apropriados desde a emissão, quando ocorrer o resgate antecipado, total ou parcial, em prazo inferior ao estabelecido neste artigo, da LCI emitida com previsão de atualização mensal por índice de preços.

        Art. 3o  A LCI poderá contar com garantia fidejussória adicional de instituição financeira.

        Art. 4o  A LCI poderá ser garantida por um ou mais créditos imobiliários, mas a soma do principal das LCI emitidas não poderá exceder o valor total dos créditos imobiliários em poder da instituição emitente.

        § 1o  A LCI não poderá ter prazo de vencimento superior ao prazo de quaisquer dos créditos imobiliários que lhe servem de lastro.

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        § 2o  O crédito imobiliário caucionado poderá ser substituído por outro crédito da mesma natureza por iniciativa do emitente da LCI, nos casos de liquidação ou vencimento antecipados do crédito, ou por solicitação justificada do credor da letra.

        Art. 5o  O endossante da LCI responderá pela veracidade do título, mas contra ele não será admitido direito de cobrança regressiva.

        Art. 6o  O Banco Central do Brasil poderá estabelecer o prazo mínimo e outras condições para emissão e resgate de LCI, observado o disposto no art. 2o desta Medida Provisória.

Cédulas de créditoOrigem: Cadernos Colaborativos, a enciclopédia livre.

Cédulas de Crédito

1. Introdução. Há certos instrumentos cedulares que representam o crédito decorrente de financiamentos abertos por instituições financeiras, conforme leciona o Prof. Fábio Ulhoa Coelho. Se houver garantia de direito real do pagamento do valor financiado, por parte do mutuário, esta garantia é constituída no próprio título, independentemente de qualquer outro instrumento jurídico.   Os títulos de financiamento são, também, importantes meios de incremento de atividades econômicas, sendo também utilizados para o financiamento, por exemplo, da aquisição da casa própria. Tais títulos costumam chamar-se "Cédula de Crédito" quando o pagamento do financiamento a que se referem é garantido por hipoteca, penhor ou alienação fiduciária. Inexistindo garantia de direito real como as acima mencionadas, o título é, comumente, denominado "Nota de Crédito" . Nesta categoria de títulos de crédito se enquadram: a. Cédula e Nota de Crédito Rural (Dec.-lei nº 167, de 1967), relacionados com o financiamento das atividades agrícolas e pecuárias; b. Cédula e Nota de Crédito Industrial (criadas pelo Dec.-lei nº 413, de 1969), referentes ao financiamento da indústria; c. Cédula e Nota de Crédito Comercial (Lei nº 6.840, de 1980), destinadas ao financiamento de atividade comercial ou de prestação de serviços; d. Cédula e Nota de Crédito à Exportação (Lei nº 6.313, de 1975), pertinentes ao financiamento da produção de bens para a exportação, da própria exportação e de atividades complementares; e e. Cédula de Produto Rural – CPR (Lei nº 8.929, de 1.994), representativa de promessa de entrega de produtos rurais, com ou sem garantia cedularmente constituída. Os títulos de financiamento não se enquadram, completamente, no regime jurídico-cambial, estando, por isso, enquadrados na categoria de títulos impróprios, em virtude de algumas características especiais, como, por exemplo, a possibilidade de endosso parcial, mas, principalmente, com relação ao princípio da cedularidade, estranho ao direito cambiário, que informa que a constituição dos direitos reais de garantia se faz no próprio instrumento de crédito, na própria Cédula. As especifidades de cada uma delas serão abordadas no decorrer deste trabalho. Há ainda as Cédulas de Crédito Bancário, que se diferenciam das duas espécies citadas

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acima. Por ser nova no ordenamento brasileiro, suas peculiaridades serão tratadas mais minuciosamente. Por hora é relevante apontar que as Cédulas Bancárias não se destinam apenas a setores da econômia ou ao estímulo de certas atividades, mas ao financiamento da população como um todo, consistindo nisso sua principal diferenciação das Cédulas Setoriais e das “Cédulas do Mercado de Capitais”. Há outras espécies de Cédulas de Crédito que não se enquadram na lógica que se expôs anteriormente e, por isso, não serão abordadas com detalhes nesse trabalho. As chamadas Cédulas Setoriais, tratadas acima, se diferenciam das “Cédulas vocacionadas para o mercado de capitais, quais sejam: a Cédula Hipotecária (Decreto-Lei 70 de 1966) e a Cédula de Debêntures (Lei 9457 - reforma parcial em 1977 da Lei 6404). Estes últimos dois títulos têm função diferente das outras cédulas, pois se voltam para o mercado de capitais. Sua vocação é operar valores mobiliários. Inserem-se no sistema próprio dos títulos padronizados, lançados no mercado sob autorização e fiscalização do Poder Público (CVM) e negociados em massa. Deles se diferenciam o sistema dos títulos de crédito”. (FRONTINI, 2000). Isto posto, passamos a explorar as principais espécies de Cédulas de Crédito, Setoriais e Bancárias, onde buscaremos chamar a atenção para suas peculiaridades e suas conseqüências. Iniciaremos pelas Cédulas de Crédito Bancário, em virtude de seu recente aparecimento no direito brasileiro, bem como de sua recente disciplina, buscando dar uma ênfase especial em sua análise.

2. Cédulas de Crédito Bancário. A Cédula de Crédito Bancário, instrumento ágil e seguro para amparar a concessão de crédito, foi criada objetivando a redução dos juros cobrados em contratos bancários. Isso porque ela permite que as instituições financeiras tenham uma enorme força econômica contra os devedores. As CCBs foram incluídas no ordenamento brasileiro em 1999 pela Medida Provisória n. 1.925, cujo texto foi repetido mais tarde no Capítulo IV da Lei 10.931 de 2004 para que houvesse uma maior segurança à utilização desse instituto na praxe bancária. A CCB pode ser classificada como “um título de crédito estrito senso, dotado de cartularidade, literalidade, autonomia, causalidade e dependência” . Ela pode ser circulada e tem a efetividade processual de um título executivo extrajudicial, pois representa dívida em dinheiro certa liquida e exigível. http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=0003492531513250B1CECAA988543009D80345C0C35A1A15 http://www.cosif.com.br/mostra.asp?arquivo=mtvm_credimob http://www.bovespa.com.br/Investidor/Juridico/080424NotA.asp Título de crédito. O artigo 26 da Lei 10.931 define a Cédula de Crédito Bancário como um “título de crédito emitido, por pessoa física ou jurídica, em favor de instituição financeira ou de entidade a esta equiparada, representando promessa de pagamento em dinheiro, decorrente de operação de crédito, de qualquer modalidade.” As CCBs são reguladas pela Lei 10.931 e, conforme o art. 44 desse diploma legal, as normas da legislação cambial, ou seja, da Lei Uniforme (Decreto 57.663 de 1966) são subsidiariamente aplicáveis nos casos de omissão. Ainda, visto que as CCBs são títulos de crédito, aplica-se o Código Civil naquilo que não for estipulado pelas leis especiais, conforme o art. 903, CC. Cartularidade e autonomia. As CCBs são autônomas, pois não são cabíveis as exceções do devedor após circulação da cédula, como compensações de débito que o beneficiário original do título tenha para com o emissor. Elas consistem em documento escrito podendo conter

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cláusula à ordem. As CCBs são dotadas de dependência no sentido de que está vinculada ao fato de que elementos externos à cártula a integrarão nos direitos e obrigações nela mencionados. Isso porque a promessa cartular fica também integrada por documentos fisicamente separados, visto que o valor da obrigação cartular pode ser aquele expressamente indicado na CCB, o estipulado na planilha de cálculo feita pelo credor ou o extrato de conta corrente elaborado por este, conforme o art. 28, caput. A CCB, conforme o art. 28 par. 1o, “a reforçar-lhe a cartularidade, pode estar acrescida de pactuação de juros, sua capitalização, despesas com encargos, atualização monetária, variação cambial, ocorrência de mora, incidência de multas, penalidades, vencimento antecipado, critérios de apuração e ressarcimento de despesas de cobrança e honorários, garantias e sua substituição, obrigações a cargo do credor e outras condições, inclusive obrigações adicionais do devedor ou do garante”. Importante ressaltar que deverão haver tantas vias quantas forem as partes nela intervenientes, assinadas pelo credor, pelo emitente, pelo terceiro garantidor e por seus respectivos mandatários, se for o caso. Apenas a via do credor é negociável, devendo estar registrado nas demais que elas não são negociáveis, como diz o art. 29, par. 2o e 3o, Lei 10.931. Ainda, conforme par. 4o, as cédulas são variáveis no sentido de que podem ser aditadas e ratificadas mediante documento escrito, datado, passando esse documento a integrar a cédula para todos os fins. As garantias podem ser constituídas em documento separado, sendo necessária a menção disto na cédula. Literalidade. A CCB deve trazer todas as regras da relação. A determinação da existência, conteúdo, extensão e modalidades do direito é decisivo para constituir o direito do título. Isso se deve à necessidade de garantir certa segurança ao endossatário e ao avalista, pois é através do próprio título que se informa o credor de todos os seus direitos. É nesse sentido que o art. 888, CC e o art. 29 da Lei 10.931 preserva o rigor formal da CCB estipulando seus requisitos sem previsão da possibilidade de completar posteriormente qualquer um deles no caso de omissão. Dessa forma, o escrito que faltar algum requisito não produzirá efeitos como título de crédito. Art. 29. A Cédula de Crédito Bancário deve conter os seguintes requisitos essenciais: I - a denominação "Cédula de Crédito Bancário"; II - a promessa do emitente de pagar a dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível no seu vencimento ou, no caso de dívida oriunda de contrato de abertura de crédito bancário, a promessa do emitente de pagar a dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, correspondente ao crédito utilizado; III - a data e o lugar do pagamento da dívida e, no caso de pagamento parcelado, as datas e os valores de cada prestação, ou os critérios para essa determinação; IV - o nome da instituição credora, podendo conter cláusula à ordem; V - a data e o lugar de sua emissão; e VI - a assinatura do emitente e, se for o caso, do terceiro garantidor da obrigação, ou de seus respectivos mandatários.

Há uma certa amplitude contratual nas CCBs no sentido de que as regras que podem ser convencionadas no título são flexíveis. Há uma livre estipulação da taxa de juros, bem como dos períodos de capitalização dos juros cobrados, ou seja, conforme o art. 28 par. 1o, não há que se falar no art. 591, CC, na Lei de Usura ou na Súmula 591 do STF para as relações decorrentes de CCBs. É por esse motivo que a dívida do emitente da CCB estará perfeitamente constituída através dos cálculos do credor, desde que as exigências formais estejam presentes. Caberá ao devedor o ônus de provar que os cálculos

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efetuados pelo credor estão errados, desde que “credora tenha sido transparente em sua configuração” , além dos outros requisitos do art. 28, par. 2o, da Lei 10.931.

http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=0003DA62A4D3CBC045C35919722B41B902DE4FC4020C5661

http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=00031698D57A2B646EBF78122B933FED46CDB6C402092646

http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=00034A58C788525ED197BEEE21C7D5284211F487C3574C57

Causalidade. As CCBs são dotadas de causalidade porque necessariamente originam de uma operação de crédito de qualquer modalidade. Pela causalidade, a validade fica a depender da causa. Se houver vício na causa, prejudicada fica a cédula.  Elas somente poderão ser emitidas em favor de instituições financeiras ou entidades a ela equiparadas, tanto nacionais quanto estrangeiras, desde que sejam constituídas conforme os critérios da legislação brasileira (art. 26 da Lei 10.931 c/c arts. 17 e 18, Lei 4.595). Porém, outras pessoas podem ser titulares da CCB através do endosso, conforme o art. 29, par. 1o. Cessão, Execução e Garantias. No que diz respeito à cessão, a CCB pode ser circulada através de endosso ou de cessão civil. Para que as CCBs circulem por meio de endosso, deve haver a estipulação “à ordem”. O endossante não é garante do pagamento da letra, conforme afirma o art. 914 do CC. Isso porque se aplica, nesse caso, a regra da lei especial. Os artigos 30 até 39 da Lei 10.931 dispõem sobre as normas relativas às garantias da CCB. Ela comporta terceiros garantidores ou aval. As garantias ao pagamento da CCB serão reais e pessoais, ou fidejussórias, cedularmente constituídas nos termos do art. 27 da Lei 10.931. Não há restrições de bens no que diz respeito à constituição das garantias. O art. 44 desse diploma legal e o art. 30 da LUG permitem o aval. As garantias são cedularmente constituídas, e, ao serem estabelecidas em um documento separado, devem ser referidas expressamente na cártula. Há uma grande proteção ao credor na estipulação das garantias, visto que estas são as mais amplas possíveis, e qualquer modificação do bem dado em garantia por parte do garantidor dependerá de autorização do credor. Finalmente, a execução da CCB pode ser feita pelo procedimento executivo ou falencial, ou seja, através de protesto e protesto parcial, como afirma o art. 41 da Lei 10.931. Importante ressaltar que, caso haja qualquer irregularidade formal em relação aos requisitos necessários à constituição da CCB, ela será descaracterizada do regime jurídico próprio aos títulos de crédito, sendo executadas através de ações de cobrança pelo procedimento ordinário, em que servirão apenas como prova.

 http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=0003C87798F65DDF6FD9CAEC66904B82B29FB7C402100309 http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=000323993C5C51D5442A838ED8F2D21429A873C4020D2905 http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?

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idDocumento=0003E3201ADF717DA0596172DAE5C50C54670030C402092A

Certificado de Cédulas de Crédito Bancário. O Certificado serve para facilitar a negociação dos valores representados pela CCB. Isso porque a sua circulação permite que haja um reagrupamento ou desdobramento das CCBs. O Certificado deve obedecer aos requisitos do art. 43 da Lei 10.931 e as CCBs às quais o Certificado se refere devem ser mantidas em custódia da instituição financeira que o emitiu.

http://www.cosif.com.br/mostra.asp?arquivo=mni020806 https://www3.bcb.gov.br/normativo/detalharNormativo.do?method=detalharNormativo&N=101125633 http://www.cetip.com.br/informacao_tecnica/regulamento_e_manuais/manuais_de_operacoes/online/Instrumentos_Credito/Cetip_WebHelp/Emissao_CCCB.htm

3. Cédula de Crédito Rural . Em meados da década de 30, objetivando a criação de uma política creditícia oficial e com o intuito de incrementar o financiamento da produção agropecuária no Brasil, criou-se o instrumento jurídico do contrato de abertura de crédito com garantia de penhor rural. A liquidez e a exeqüibilidade desses títulos eram evidentes. No entanto, com o aumento substancial do volume de financiamentos rurais, começou a haver a necessidade de criação de verdadeiros títulos de crédito. Em 1957, através da Lei 3.253, houve a experiência frustrada com Cédulas Rurais. Apesar de buscar facilitar as transações no meio rural, a lei em questão se mostrava bastante debilitada. Neste contexto, apenas em 1967 é que o Decetro-lei nº. 167 instituiu, de maneira definitiva, a figura das Cédulas de Crédito Rural. Esse foi o primeiro modelo de cédulas existente no nosso ordenamento e, devido aos bons resultados, inspirou a criação das demais. Características. O Decreto-lei nº. 167 regula o financiamento rural mediante a emissão das chamadas cédulas de crédito rural. Em seu artigo 2º, é previsto que o emitente da cédula fica obrigado a aplicar o financiamento para os fins ajustados – a produção agropecuária – devendo comprovar essa utilização para a instituição financeira. As mencionadas cédulas de crédito rural, em sentido lato, são nada mais do que promessas de pagamento, que podem se dar com ou sem garantia real. A promessa com garantia real de pagamento é a Cédula de Crédito Rural em sentido estrito; a sem, de Nota de Crédito Rural, como já se citou anteriormente. Referente às garantias, de acordo com o artigo 68, elas poderão ser ofertadas tanto pelo próprio financiado como por terceiros. Quanto a sua natureza jurídica, o artigo 10 afirma se tratarem de títulos civis; no entanto, o artigo 60 estipula que elas se sujeitarão à disciplina do Direito Cambiário. As cédulas de crédito rural, por si só se presumem válidas, porém, para que possuam eficácia perante terceiros, fica determinada a necessidade de registro no Cartório de Registro de Imóveis. Quanto às taxas de juros, importante mencionar que o artigo 5º, § único do mencionado Decreto-lei prevê que, no caso de inadimplemento contratual revestido da cédula rural, opera-se a elevação da taxa de juros para 1% ao ano. Importante frisar que as taxas de juros não funcionam de maneira ilimitada e o próprio STJ já se manifestou acerca da questão, restringindo ao percentual de 12% ao ano, de maneira a incentivar o produtor.

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Os Tipos de Cédula Rural. Como já mencionado anteriormente, as cédulas de crédito em sentido estrito são aquelas que estão atreladas a alguma garantia real. Sendo assim, é possível classificá-las em três grupos distintos: as cédulas rurais pignoratícias, as cédulas rurais hipotecárias e as cédulas rurais pignoratícias e hipotecárias. a) Cédulas Rurais Pignoratícias. Nesse caso, o título se consubstancia em uma promessa de pagamento com garantia de bens. No entanto, os bens em questão continuam na posse do devedor. O artigo 769 do Código Civil já dispunha essa idéia referindo-se ao penhor agrícola ou pecuário. Portanto, o artigo 17 do Decreto-Lei nº. 167 apenas repetiu essa regra. No artigo 14 do mesmo Decreto-lei, estão os requisitos formais desse título, que são, de forma genérica, os seguintes: denominação “Cédula Rural Pignoratícia” (I), data e condições de pagamento (II), nome do credor e cláusula à ordem (III), valor do crédito deferido (IV), descrição dos bens vinculados em penhor (V), taxa dos juros a pagar e da fiscalização de pagamento (VI), praça do pagamento (VII), data e lugar da emissão (VIII), assinatura do próprio punho do emitente ou de representante com poderes especiais (IX).

b) Cédulas Rurais Hipotecárias. Diferentemente do título anterior, aqui a garantia se dará através de um imóvel. De acordo com o artigo 811 do Código Civil, a hipoteca abrangerá todas as acessões e melhoramentos do imóvel. A lei específica das cédulas rurais determina, ainda, que a garantia será prestada não apenas pelo imóvel e suas acessões, como também pelos bens originariamente móveis, incorporados ao imóvel devido à sua destinação. Exemplos desse caso são as máquinas e aparelhos existentes na constituição da hipoteca. Os requisitos da cédula rural hipotecária estão presentes no artigo 20 do Decreto-Lei nº. 167, sendo os mesmos da cédula anterior, variando apenas o inciso V, que determina a descrição do imóvel hipotecado, ao invés do bem. c) Cédula Rural Pignoratícia E Hipotecária. Aqui, a garantia é prestada tanto por bens imóveis quanto por bens móveis. A diferença é que, nesse caso, não apenas os móveis incorporados aos imóveis – como as máquinas e aparelhos – mas também os existentes em local diferente do imóvel se darão como garantia. Trata-se, portanto, de uma dupla garantia, caracterizada pelo penhor e pela hipoteca. Os requisitos para esse tipo de cédula estão previstos no artigo 25 do Decreto-lei nº. 167. Jurisprudência: http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=0003E9CF9A5E868F6DE61BDA35B15EA8B612B7C4020E2427 http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=00038C248DD518E9C20B03E1D48E62EECB9B0BD5C3601D41 http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=0003C2A6AB1FD23F2710CD3517CE0AEE4F628EC4020C2B5C

4. Cédula de Crédito Comercial. As cédulas de crédito comercial foram criadas a partir da Lei 6.840 de 1980. Têm elas a finalidade, assim como a generalidade dos Títulos de Crédito, de financiar, nesse caso específico, os comerciantes e empresas comerciais. De acordo com a redação do artigo 1° da Lei, os referidos títulos poderão representar “as operações de empréstimos concedidos por instituições financeiras à pessoa física ou

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jurídica que se dedique a atividade comercial ou de prestação de serviços”. Nesses casos, em vez de operar com as conhecidas notas promissórias como de costume, poderão ser emitidas cédulas de crédito comercial. Essa cédula poderá “ser ajustada em orçamento assinado pelo financiado e autenticado pela instituição financeira”. Nesse caso, a cédula ficará vinculada ao orçamento. As cédulas de crédito serão aplicáveis as normas constantes dos Decretos-Lei n° 413 de 1969, o mesmo que regula os títulos de crédito industrial. Um dos principais pontos a ser estudado sobre esse tipo de cédula setorial são os juros. Assim como nas cédulas de crédito industrial e de exportação, na cédula de crédito comercial existem interpretações judiciais opostas no que diz respeito à aplicação dos limites das taxas e suas possibilidades de capitalização mensal de juros. A doutrina majoritária tem entendimento predominante no sentido de entender ser aplicável a taxa de juros disposta no Código Civil de 2002 (art. 406 e 591). No que diz respeito a capitalização de juros, o tratamento dispensado é variável nos tribunais, hora sendo admitida a capitalização mensal, hora a capitalização semestral. Sobre a capitalização, o assunto já foi sumulado pelo STJ, que prescreve a possibilidade de capitalizar, mas não estabelece período mínimo a ser pactuado. Jurisprudência: http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=00034DDD78F2EAB982D6F8703FA43569F581B3C402034F08 http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=00032888693F77487DB0DBF29AB8577E60875293C35F0F31 http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=0003185E4D4DB734561B7FD407DD85909C9A26C402022457 http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=00031779530DFA2AF7A8CF7E3022BBFF0D816E50C3542944

5. Cédula de Crédito Industrial. O Decreto-lei nº 413, de 9 de janeiro de 1969, regula tudo o que diz respeito aos Títulos de Crédito Industriais, que engloba tanto a disciplina das Cédulas de Crédito Industrial quanto a Nota de Crédito Industrial, cuja diferença conceitual já foi vista no Item 1 deste trabalho, mas será brevemente levantada no fim deste item. A definição de cédula de crédito industrial se encontra no artigo 9˚ do Decreto-lei n˚ 413/69, e dispõe que esta é “uma promessa de pagamento em dinheiro, com garantia real, cedularmente constituída”. Tal garantia real poderá ser constituída através de penhor, alienação fiduciária ou hipotéca e ser oferecida por terceiro, sendo apresentado no próprio título, dispensando documento à parte, até mesmo na hipoteca. O artigo 10º deste mesmo Decreto-lei regula este tipo de cédula de crédito, onde este será um titulo líquido e certo, “com exigibilidade obtida através da soma constante ou do endosso, além de juros, da comissão de fiscalização e das demais despesas que forem realizadas pelo credor com o intuito de segurar, realizar e regularizar o seu direito creditório”. Existem dez requisitos que devem estar presentes em uma Cédula de Crédito Industrial, que se encontram dispostos no artigo 14 do Decreto-lei 413/69, sendo eles: a. A denominação “Cédula de Crédito Industrial”; b. A data de pagamento, no caso de parcelamento a cláusula deverá conter descriminado a data e o valor de cada prestação; c. O nome do credor e cláusula à ordem; d. O valor do crédito aprovado, devendo este ser lançado por extenso e em algarismos, e sua forma de utilização;

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e. A descrição dos bens no caso de penhor ou alienação fiduciária, que serão indicados pela espécie, quantidade, qualidade e marca, também deve constar local ou depósito de sua situação, dimensões, confrontações, benfeitorias, títulos e datas de aquisição do imóvel e anotações do registro imobiliário; f. A taxa de juros à pagar e comissão de fiscalização, caso haja, e épocas que serão exigíveis podendo ser capitalizadas; g. A obrigatoriedade de seguro dos bens objetos da garantia; h. O local do pagamento; i. A data e lugar da emissão; e j. A assinatura do próprio punho do emitente ou de representante com poderes especiais.

A lei permite, no entanto, que seja colocado em documento à parte os bens vinculados à Cédula, devendo conter a assinatura do emitente e credor. O instrumento deverá ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis do local onde se situam os bens de garantia a dívida, caso se queira que a Cédula de Crédito Industrial produza efeitos contra terceiros; caso contrário, o efeito produzido é inter partes. Se for aceita a possibilidade de transferência do crédito entre instituições financeiras, através de formalidades solenes, se terá, em verdade, a cessão de direitos. A transferente por órgão público, apenas legitima a relação com a instituição em caso, tendo a opção de ver antecipada a soma, mesmo antes da data do vencimento. A ação de cobrança de débito referente a cédulas de crédito deste tipo fazem parte de um rito especial, na qual não cabe recurso de efeito suspensivo, como dispõe o artigo 41 do Decreto-lei nº 413/69. Estas cédulas nas operações bancárias representam um enorme e importante acréscimo na atividade do setor empresarial, pois a moratória só é prevista para os credores quirografários, dando assim maior liberdade para que os bancos cobrem o crédito. No caso de não estar sofrendo a execução de solução de continuidade, porém caso haja mais de um credor, unicidade da coisa empenhada e não se mostrando suficiente a solvência, o rateio será posto em pratica até o limite que possui a contratação do negócio. Tendo visto todos os requisitos e características das cédulas, passamos a falar, brevemente, sobre as Notas de Crédito Industrial. Os requisitos para tais Notas se encontram no artigo 16 do Decreto-lei 413/69, e, frisa-se, diferenciam-se das cédulas pelo fato de não oferecerem uma garantia real, não sendo necessário, portanto, o registro no Cartório de Registro de Imóveis. No entanto, elas conferem um certo privilégio aos bens que se encontram no artigo 1.563 do Código Civil de 1916.

Jurisprudência: http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=00033C951B37A59AE9584E918BD8DFF2CF0912C4020D5D17 http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=0003EA67E94F2FFC96A3DB307AFA0D75895C3DD1C35B235A http://srv85.tj.rj.gov.br/ConsultaDocGedWeb/faces/ResourceLoader.jsp?idDocumento=00038F251DC1178F159B2102CF5CDD50EB6C7ECFC3601D40 http://br.geocities.com/dunivap/artigosjuridicos/direitocomercial/12.htm

6. Cédula de Crédito à Exportação. A Lei nº 6.313, de 16 de dezembro de 1975, trata sobre os Títulos de Crédito à Exportação, englobando, assim, a disciplina das Cédulas de Crédito à Exportação e a

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Nota de Crédito à Exportação, cuja diferença conceitual foi abordada no item 1 do presente trabalho e desenvolvida ao longo deste estudo. Define a Lei 6.313/75, que as Cédulas de Crédito à Exportação e as Notas de Crédito à Exportação são títulos negociáveis que poderão ser emitidos por pessoas naturais e jurídicas, que necessitem delas para a realização de operações de financiamento à exportação ou à produção de bens para a exportação, bem como às atividades de apoio e complementação integrantes e fundamentais das exportações, realizadas por instituições financeiras. Por possuir características semelhantes às Cédulas de Crédito Industrial e a Nota de Crédito Industrial, como dispõe o Art. 1º da Lei nº 6.313/75, serão aplicáveis aos títulos de crédito à exportação, os dispositivos do Decreto-lei nº 413, de 9 de janeiro de 1969, referente aos Títulos de Crédito Industriais, conforme o Art. 3º da supracitada Lei. Logo, o modelo para as Cédulas de Crédito Industrial, em anexo ao Decreto-lei 413/69, será o modelo das Cédulas de Crédito à Exportação, rescpeitada, porém, sua denomição (Art. 5º, Lei 6.313/75). Outra questão digna de referência sobre a aplicação do referido Decreto-lei à disciplina dos Títulos de Crédito à Exportação se reporta a seu registro, que será feito no mesmo livro e observados os requisitos aplicáveis à Cédula Industrial (Art. 4º, Lei 6.313/75). Finalmente, uma última característica das Cédulas de Crédito à Exportação é sua isenção para o Imposto sobre operações financeiras (IOF), instituido pela Lei nº 5.143, de 20 de outubro de 1966, conforme prevê o Art. 2º da Lei 6.313/75.

Jurisprudência: Sobre Capitalização Mensal de Juros: • REsp 219175 / RS: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=c%E9dula+de+cr%E9dito+%E0+exporta%E7%E3o&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=1 • REsp 36184 / PR: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=c%E9dula+de+cr%E9dito+%E0+exporta%E7%E3o&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=5

Bibliografia. SIQUEIRA, de, Graciano Pinheiro. Cédula De Crédito Comercial E Cédula De Produto Rural, 2007. SALOMÃO NETO, Eduardo. Direito Bancário. São Paulo: Editora Atlas S.A, 2005. pp. 199 - 211. VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. A Cédula de Crédito Bancário. Revista de Direito Mercantil, São Paulo, SP, ano XXXVIII, n. 116, pp. 129 - 135, outubro-dezembro de 1999. FRONTINI, Paulo Salvador. Cédula de Crédito Bancário. Revista de Direito Mercantil, São Paulo, SP, ano XXXIX, n. 119, pp. 52 - 67, julho-setembro de 2000. ABRÃO, Nelson, Direito Bancário, Editora Saraiva, 8ª Ed., 2002. MORAES, Mauro Dephin, Cédula Rural Pignoratícia in Revista de Direito Mercantil, nº. 26, São Paulo, pp.126 , 1977. _________________________________________________________________________________________________________ Para melhor ilustrar alguns dos pontos sobre o tema em referência seguem os seguintes julgados: 1) cédula de crédito industrial Processo AgRg no REsp 940843 / SE AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2007/0071215-6 Relator(a) Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA

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(1123) Órgão Julgador T4 - QUARTA TURMA Data do Julgamento 02/10/2008 Data da Publicação/Fonte DJe 28/10/2008 Ementa PROCESSO CIVIL. DESNECESSIDADE DE AUTENTICAÇÃO DA PROCURAÇÃO OU SUBSTABELECIMENTO. AFASTAMENTO DA SÚMULA N. 115/STJ. CONTRATO BANCÁRIO. CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL. AÇÃO REVISIONAL. EXAME DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME NA VIA DO RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. NÃO-OCORRÊNCIA. JUROS REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO. 1. É desnecessária a autenticação de cópia de procuração e de substabelecimento, porquanto se presumem verdadeiros os documentos juntados aos autos pelo autor, cabendo à parte contrária argüir-lhe a falsidade. Inaplicabilidade da Súmula n. 115/STJ. 2. O recurso especial não é sede própria para o exame de matéria constitucional. 3. Não há por que falar em violação do art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido, integrado pelo julgado proferido nos embargos de declaração, dirime, de forma expressa, congruente e motivada, as questões suscitadas nas razões recursais. 4. Os juros remuneratórios que incindirem nas cédulas de crédito industrial estão limitados ao patamar de 12% ao ano, nos termos do art. 1º, do Decreto n. 22.626/33 (Lei da Usura). 5. Agravo regimental desprovido. Acórdão Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Luis Felipe Salomão, Carlos Fernando Mathias (Juiz Federal convocado do TRF 1ª Região), Fernando Gonçalves (Presidente) e Aldir Passarinho Junior votaram com o Sr. Ministro Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Fernando Gonçalves. 2) cédula de crédito rural: Processo REsp 784422 / MG RECURSO ESPECIAL 2005/0160362-8 Relator(a) Ministra NANCY ANDRIGHI (1118) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 16/10/2008 Data da Publicação/Fonte DJe 28/10/2008 Ementa EXECUÇÃO. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. EXTRATO DA CONTA VINCULADA. DISPENSÁVEL, DESDE QUE HAJA DOCUMENTO HÁBIL À DEMONSTRAÇÃO DO DÉBITO. ALONGAMENTO DA DÍVIDA. REQUISITOS. REVISÃO DE PROVA. SÚMULA 07/STJ. JUROS MORATÓRIOS. ELEVAÇÃO DE APENAS 1% AO ANO. CAPITALIZAÇÃO. PERMITIDA, DESDE QUE PACTUADA. - O extrato da conta vinculada não constitui documento indispensável à execução do crédito oriundo de cédula rural, desde que a petição inicial seja instruída com documento hábil à demonstração pormenorizada do débito, propiciando ampla defesa ao devedor. - A verificação do preenchimento dos requisitos necessários à concessão do prolongamento da dívida oriunda de cédula de crédito rural demandaria o revolvimento do substrato fático-probatório dos autos, o que encontra óbice na Súmula nº 07 do STJ. - Nas cédulas de crédito rural, em caso de mora, admite-se seja a taxa inicialmente pactuada elevada de apenas 1% ao ano, , a teor do que dispõe o parágrafo único do art. 5º do DL nº 167/67. Precedentes. - Não há ilegalidade na cobrança de juros capitalizados mensalmente na cédula de crédito rural se acordado entre as partes. Precedentes. Recurso especial não conhecido. Acórdão Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, não conhecer do recurso especial, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Massami Uyeda e Sidnei Beneti votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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No tocante a ações cambiárias, segue abaixo jurisprudência citada no Livro de Luiz Emygdio (ROSA JUNIOR, Luiz Emygdio Franco, Títulos de Crédito, Editora: Renovar. Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, 2007. Págs. 480 a 487).

Cédula Comercial hipotecária.

"Imóvel hipotecado alienado com concordância do credor e assunção do débito pelos adquirentes. Execução contra os primitivos devedores. Novação subjetiva passiva operada" [TARS, TR 699/165]

Cédula de Crédito Comercial

"A cédula de crédito comercial não é título executivo. O credor, que dela é portador, pode propor, em face do devedor, ação de conhecimento, submetida ao rito especial so art. 41 do Dec.-lei 413, de 09/01/1969 ". Voto vencido. A cédula de crédito comercial, por ser líquida, certa e exigível, é sonsiderada título executivo estrajudicial; o fato de art. 41 do Dec.-lei 413/60 prever procedimento próprio para a cobrança da cédula de crédito não lhe retira a executividade, face as mesmas características de cártula nela impressas (TJRJ, Ap 2000.001.08333-4, rel. Des. Wilson Marques, 4ª Câm., v.m., 12/12/00, DORJ de 20/09/01, RT nº. 796/379)

Cédula de Crédito Rural

"O bem objeto de gravame em cédula de crédito rural só é impenhorável até o vencimento da dívida, podendo, posteriormente, ser constrito por outros débitos, mantido o direito de prelação obre o credor hipotecário. Recurso conhecido e provido" [STJ, REsp 5399/77?PR, rel. Min. Cesas Asfor Rocha, 4ª T, 0909/2003, v.u. DJU 28/10/2003, p.284]

Ainda, Súmula nº 93 do STJ - 27/10/1993 - DJ 03.11.1993

Cédulas de Crédito Rural, Comercial e Industrial - Pacto de Capitalização de Juros

"A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite o pacto de capitalização de juros. "

Postado por Isadora Ruiz:

Execução fiscal. Penhora. Bens gravados com hipoteca oriunda de cédula de crédito comercial podem ser penhorados para satisfazer o débito fiscal. Preferência concedida pelo art. 184 do CTN. Recurso provido. REsp 522.469 . . . . . . . . 246/31

Ed.646-Agravo de Instrumento 2003.014408-0 Timbó. Relator : Des. Eládio Torret Rocha Juiz(a) : Edson Marcos de Mendonça Agravantes: Bar e Lanchonete La Piu Bella Ltda. e outro Advogado : Hans Lorenz Júnior Agravado : Banco do Brasil S/A

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Advogado : Paulo Roberto Costa Dutra DECISÃO: por votação unânime, dar provimento ao agravo. Custas na forma da lei. EMENTA: “EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE”. EXECUÇÃO LASTREADA EM CÉDULA DE CRÉDITO COMERCIAL. DESVIO DE FINALIDADE ADMITIDA PELA PRÓPRIA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA NO CONTRATO CELEBRADO. NUMERÁRIO UTILIZADO PARA AMORTIZAÇÃO DO SALDO DE CHEQUE-OURO EMPRESARIAL. IMPOSSIBILIDADE. NULIDADE DO TÍTULO. CONSEQÜENTE EXTINÇÃO DA EXECUCIONAL. INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 618, I, E 267, IV, AMBOS DO CPC. AGRAVO PROVIDO. A emissão de cédula de crédito para o fim de quitar dívida oriunda de contrato de abertura de crédito rotativo em conta corrente, caracteriza, induvidosamente, desvio de finalidade. Diante disso, demonstrada a nulidade do título executivo, a extinção da ação de execução é medida que se impõe.

Ed.646-Apelação Cível 2001.003441-7 Chapecó. Relator : Des. Eládio Torret Rocha Juiz(a) : Francisco José R. de Oliveira Neto Apelante: Banco do Estado do Paraná S/A BANESTADO Advogado: Pedro Lademir Julio Apelados: Estancia das Aguas Recreacao e Turismo S/A e outros Advogado: Renato Giuriatti DECISÃO: por votação unânime, de ofício, extinguir o processo de execução, prejudicado o recurso. Custas na forma da lei. EMENTA: PROCESSO DE EXECUÇÃO. CÉDULA DE CRÉDITO COMERCIAL DESTINADA À LIQUIDAÇÃO DE AVENÇA ANTERIOR. NOVAÇÃO NÃO CARACTERIZADA. NECESSIDADE DE JUNTADA DO CONTRATO INICIAL SOB PENA DE ILIQUIDEZ E INCERTEZA DO TÍTULO EXECUTIVO. IMPOSSIBILIDADE, ADEMAIS, DE SE VALIDAR POR NOVAÇÃO OBRIGAÇÕES NULAS (CC/1916, ART. 1.007) A JUSTIFICAR A DISCUSSÃO DO CONTRATO RENEGOCIADO. NULIDADE DA EXECUÇÃO

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(CPC, ARTS. 586; 618, I; E 267, IV). EXTINÇÃO DO PROCESSO. I - Não opera novação o contrato de cédula de crédito comercial destinado à liquidação de avença anterior, eis que ausentes, nesse instrumento, dois dos requisitos essenciais à caracterização do instituto novatório: a) criação de obrigação com nova prestação ou causa debendi (aliquid novit); e b) vontade induvidosa de ambas as partes de extinguir a obrigação novada, substituindo-a por outra (animus novandi). Daí por que se faz necessária a juntada à execucional do contrato inicial a fim de que se possa verificar a origem e legalidade do valor renegociado e, com isso, a liquidez e certeza do título executivo. II - Ainda que o contrato de cédula de crédito comercial operasse novação, não haveria impedimento para a apreciação do contrato “novado”, até porque a eventual nulidade das cláusulas que estipulam encargos, das quais resultam os saldos devedores objeto da renegociação, não pode ser convalidada pelo instrumento novatório, ex vi da interpretação do art. 1.007 do CC/1916.

Modelo de cédula de créditos:

Cédula de Crédito Industrial - obs.dji: Art. 9º; Títulos de Crédito à Exportação - L-006.313-1975 Nº............ Vencimento em ...........de...............de 19......

NCr$_______________________________ A ......................de....................................de 19..........................pagar.............................. por esta cédula de crédito industrial a ................................................................................ . .....................ou à sua ordem, a quantia de__________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ em moeda corrente, valor do crédito deferido para aplicação na forma do orçamento anexo e que será utilizado do seguinte modo:............................................................................ ........ ................................................................................ ........................................................ ................................................................................ ........................................................ ................................................................................ ........................................................

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................................................................................ ........................................................ Os juros são devidos à taxa de ..........................................ao ano exigíveis em trinta (30) de junho trinta e um (31) de dezembro, no vencimento e na liquidação da cédula........................... ................................................................................ ........................................................ sendo de ................................................................................ .......................................... a comissão de fiscalização exigível juntamente com os juros................................................... ................................................................................ ........................................................ O pagamento será efetuado na praça de .............................................................................. Os bens vinculados, obrigatòriamente segurados, são os seguintes: ...................................... ................................................................................ ........................................................ ................................................................................ ........................................................ ................................................................................ ........................................................ ................................................................................ ........................................................ ................................................................................ ........................................................

VANTAGENS DA CÉDULA DE CRÉDITO À EXPORTAÇAO:

* Não há exposição cambial, pois os recursos são concedidos em reais; * Isenção de IOF (Lei 6.313 de 16/12/1975); * Não vinculação do financiamento ao embarque para exportação; * Flexibilidade na escolha no modo de amortização; * Possibilidade de renovação do financiamento; * Disponível na modalidade Compror; * Os recursos poderão ser liberados diretamente aos fornecedores.

GARANTIAS POSSÍVEIS

* Aval * Fiança * Nota Promissória * Cessão Fiduciária em Garantia de Direitos Creditórios * Cessão Fiduciária em Garantia de Títulos de Crédito * Propriedade Fiduciária * Alienação Fiduciária de Imóveis * Penhor Mercantil * Penhor Agrícola

Uma vez apontadas as principais caracteríticas de cada cédula de crédito, cabe, agora, traçar uma comparação entre elas.

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CARACTERÍSTICAS COMUNS ÀS CÉDULAS DE CRÉDITO

Segundo o autor Humberto Theodoro Júnior, Professor Titular da Faculdade de Direito da UFMG, são tão semelhantes os requisitos e elementos fixados na legislação que cuida das diversas espécies de cédulas de crédito que se pode afirmar existir um microssistema jurídico dotado de regras gerais aplicáveis ao gênero cédulas de crédito, e que regulam a natureza, os elementos, e os efeitos desse negócio jurídico.

Sendo assim, tal autor enumera as seguintes semelhanças entre as cédulas:

a) todos são definidos como títulos líqüidos e certos (Dec.-Lei nº 167, art. 10; Dec.-Lei nº 413, art. 10; Lei nº 6313, art. 1º; Lei nº 6840, art. 5º; MP 2.160-25);

b) todos poderão ser articulados com a estrutura de abertura de crédito, ou seja, são instrumentos que permitem “financiamento para utilização parcelada”, devendo o financiador abrir “conta vinculada à operação, que o financiado movimenta por meio de cheques, saques, recibos, ordens, cartas ou quaisquer outros documentos, na forma e tempo previstos na cédula ou no orçamento” (Dec.-Lei nº 167, art. 4º, Dec.-Lei 413, art. 4º; Lei 6313, art. 3º, Lei 6840, art. 5º, MP 2.160-25, art. 3.º, § 2.º);

c) todos são exigíveis pelo saldo da conta, que compreende os levantamentos feitos, menos os pagamentos parciais e mais “juros, comissão de fiscalização, se houver, e demais despesas que o credor fizer para segurança, regularidade e realização de seu direito creditório” (Dec.-Lei nº 167, art. 10 e § 1º; Dec.-Lei 413, art. 10 e § 1º; Lei 6313, art. 3º; Lei nº 6840, art. 5º; MP 2.160-25, art. 3.º caput e § 2.º, I); as cédulas bancárias, industriais, comerciais e de exportação admitem que a abertura de crédito seja fixa ou em conta-corrente, pois permitem que se convencione a reutilização do crédito após amortizações, dentro do prazo de vigência do contrato (Dec.-Lei nº 413, art. 47; Lei 6313, art., 3º; Lei 6840, art. 5º, MP 2.160-25, art. 16);

d) todos podem ser emitidos com ou sem garantia real (Dec.- Lei nº 167, arts. 14, 20, 25 e 27; Dec.-Lei 413, arts. 15 e 19, MP n.º 2.160-25, arts. 3.º, IV, e 6.º);

e) a todos são aplicáveis as normas do direito cambial, inclusive quanto ao aval (Dec.-Lei nº 167, art. 60; Dec.-Lei nº 413, art. 52; Lei 6313, art. 3º; Lei 6840, art. 5º, MP n.º 2.160-25, art. 20);

f) a todos é atribuída a força de título executivo extrajudicial (Dec.-Lei 167, art. 41; Dec.-Lei 413, art. 41; Lei 6313, art. 3º; Lei 6840, art. 5º; MP n.º 2.160-25, art. 3.º).

Segue texto sobre Exequibilidade e Inexequibilidade da cédula de crédito.

A EXEQÜIBILIDADE: A questão se põe em torno da exeqüibilidade da cédula de crédito industrial. O termo é a exeqüibilidade (do latim exsequibile – "seguir até o fim"), no sentido de "qualidade daquilo que pode ser executado", porque o punctum saliens está justamente na possibilidade de que esta espécie de título seja admitida no processo de execução.

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O que se pretende é responder à pergunta: a cédula de crédito industrial pode ser executada consoante o Livro II do Código de Processo Civil?

Diz o artigo 566, inciso I, do Código de Processo Civil, que pode promover a execução forçada "o credor a quem a lei confere título executivo". No artigo 583 o texto dispõe: "Toda execução tem por base título executivo, judicial ou extrajudicial".

Da conjugação destes dois dispositivos tem-se que o processo de execução pressupõe um título executivo, judicial ou extrajudicial, e que tal título assim será segundo previsão legal; a lei é que designará quais são os títulos executivos.

Na seqüência – artigos 584 e 585 – a lei enumera os títulos judiciais e os extrajudiciais. Estes interessam à discussão. Cabem aqui os incisos II e VII do artigo 585, o primeiro sobre instrumentos particulares e o último acerca de previsões legais expressas. A executividade do título se caracteriza exatamente pela sua classificação legal como executivo, judicial ou extrajudicial.

O artigo 586, por sua vez, preceitua que "a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título líquido, certo e exigível".

Tem-se, assim, que é requisito da execução o título judicial ou extrajudicial executivo, líquido, certo e exigível. A reunião destes atributos (liquidez, certeza e exigibilidade) somada ao pressuposto da executividade do título, é que caracteriza materialmente a sua exeqüibilidade.

Em síntese, são cinco os requisitos materiais para que se aperfeiçoe a exeqüibilidade: 1) a existência de um título; 2) a liquidez; 3) a certeza; 4) a exigibilidade; 5) a executividade.

São requisitos materiais, pois ligados ao direito perseguido (obrigação). O requisito processual principal, dentre outros acessórios que não vêm ao caso, é a adequação procedimental. Não se pode pretender a execução de uma certidão de dívida ativa pelo rito das execuções comuns, nem a de uma duplicata pela execução de alimentos, nem a de um contrato de locação pela execução fiscal. A cada direito corresponde uma ação, e a cada ação um rito próprio.

A INEXEQÜIBILIDADE: Dito isto, cabe perquirir a respeito da exeqüibilidade (condição de título, liquidez, certeza, exigibilidade, executividade e adequação procedimental) da cédula de crédito.

Demonstrar-se-á que a cédula de crédito não atende a dois dos cinco requisitos materiais da exeqüibilidade, e nem ao requisito formal da adequação da via.

PRIMEIRO REQUISITO: TÍTULO

O que vem a ser um título? Qualquer documento? Não, é certo que não. Derivado do latim titulus, esta expressão assumiu principalmente o significado de sinal, mostra, nome, rótulo. Seria simplesmente a demonstração de algo. Juridicamente, o título se refere à demonstração de um direito ou mesmo ao fundamento do próprio direito. Ou seja: tanto pode ser o fundamento do direito quanto a prova deste fundamento.

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Ocorre que, por razões práticas, inviável é conceber juridicamente um título que não possa ser demonstrado, e esta demonstração se dá por via documental; daí que em regra o fundamento do direito e sua representação andam juntos: o título será o fundamento de direito consubstanciado em documento. E o título é requisito fundamental para a execução. Esta não será possível sem um instrumento que efetivamente comprove o direito pleiteado. Nulla executio sine titulo.

A cédula de crédito industrial é título, e disto não há dúvida, vez que surgiu para representar cedularmente um financiamento. A cédula pressupõe documento, que representa a obrigação e portanto é, mesmo, título.

SEGUNDO REQUISITO: TÍTULO EXECUTIVO

Dada a significação de título, impõe analisar o que seja título executivo. Como a questão gira em torno do processo de execução regulado pelo Código de Processo Civil em seu Livro II, é nesta norma que se buscará a delimitação do tema.

Segundo já demonstrado, os artigos 584 e 585 ditam as espécies possíveis de títulos executivos, judiciais ou extrajudiciais. Para além das enumerações daqueles dispositivos, há uma brecha no inciso VII do artigo 585, quando rotula como executivo o título "a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva". Então são executivos os títulos expressamente enumerados nos artigos 584 e 585 e os expressamente assim declarados por lei extravagante.

A executividade será verificada, então, nos dispositivos do Código de Processo Civil. Sendo título extrajudicial, deverá figurar no artigo 585. Dentre as hipóteses deste artigo, duas são as que, em tese, poderiam se conformar à cédula de crédito. A primeira está em parte do inciso II, que trata de documento particular assinado pelo devedor mais duas testemunhas. A segunda fica no inciso VII, compreendida na disposição genérica sobre os títulos executivos extravagantes (aqueles que não constam no rol mas em leis esparsas que assim os definam).

Delimitada a busca no texto legal, passa-se à leitura dessas duas hipóteses do artigo 585 do Código de Processo Civil:

"Art. 585 - São títulos executivos extrajudiciais: (...)

II – (...); o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; (...); (...)

VII - todos os demais títulos, a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva."

É "documento particular" a cédula de crédito? Sim, já que se trata de escrito representando ato celebrado entre particulares, sem intervenção do Poder Público. Então desde que "assinado pelo devedor e por duas testemunhas", a cédula de crédito seria, sim, título executivo, por previsão do inciso II do artigo 585 do Código de Processo Civil.

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Ocorre que a cédula de crédito, em razão da conta-corrente a ela vinculada, não é auto-suficiente; depende sempre da apuração do que foi pago, do que não foi retirado pelo cliente, dos encargos acrescidos pelo banco, et coetera, e esta apuração invariavelmente se realiza mediante extratos emitidos unilateralmente pela instituição financeira.

Ora, tais extratos é que, em verdade, constituem os documentos levados à execução, em complemento indissociável da cédula. E estes documentos não estão assinados pelo devedor e muito menos por duas testemunhas. Obviamente que qualquer alteração ao título só pode ser bilateral, pois do contrário nenhuma eficácia terá contra aquele que não participou da alteração. E a cédula de crédito, repita-se, só está completa quando acompanhada do demonstrativo da conta-corrente, pois é esta a única forma de se verificar o quanto foi recebido, pago e cobrado, tanto do principal quanto dos acessórios. Pois bem. A cédula, sozinha, não tem o condão de representar o valor real do débito. Se acompanhada da conta-corrente, só terá eficácia se este documento complementar estiver assinado pelo devedor e por testemunhas. Como isto nunca acontece (pelo menos não tenho notícia), a cédula de crédito, ainda que acompanhada dos extratos, jamais terá o status de executividade. Daí não se enquadrar no disposto pelo artigo 585, inciso II, do Código de Processo Civil.

Quanto ao inciso VII, este permite a mesma inferência quando classifica de executivos "todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva". Não se aplica ao caso da cédula de crédito simplesmente porque o Decreto-Lei 413/69 em nenhuma passagem dispõe expressamente que a cédula de crédito industrial tem força executiva.

O que se lê no artigo 10 é sobre a liquidez, certeza e exigibilidade, mas não sobre a executividade do título. O artigo prevê – impropriamente, diga-se – que o título é líquido, certo e exigível, mas não diz em momento algum que é executivo ou que tem força executiva. E o artigo 41 confirma a falta de força executiva quando prescreve um procedimento especial de conhecimento – inclusive com instrução – para a cobrança da cédula.

Vê-se, então, que a cédula de crédito industrial não pode ser admitida como título executivo porque não está enunciada pelo artigo 585 do Código de Processo Civil. Independentemente de ser título extrajudicial líquido, certo e exigível, não é executivo.

Enfim, não se subsumindo a nenhuma das hipóteses do artigo 585 do CPC, a cédula de crédito está despida deste requisito; não é título executivo.

Embora se tenha já aqui neste segundo crivo a ausência de um requisito elementar, é propósito nosso prosseguir na análise dos demais requisitos. O título executivo, por si, não basta à execução. É pressuposto da execução que o título executivo seja provido de liquidez, certeza e exigibilidade.

Esta condição é essencial, já que o artigo 618, I, do CPC, diz ser nula a execução "se o título executivo não for líquido, certo e exigível". O artigo 10 do Decreto-Lei 413/69 não é suficiente para declarar esta condição. Ora, estes atributos são situações eminentemente de fato. Humberto Theodoro Júnior (O Contrato de Abertura de Crédito... em Processo de Execução e Assuntos Afins, coord. Teresa Arruda Alvim Wambier, 1ªed, RT, SP, 1998, p.272) leciona que "o título executivo não é apenas o

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documento que contenha a respectiva denominação e alguns requisitos formais estabelecidos em lei". E conclui: "Só tem o poder de autorizar a execução forçada quando seja, de fato, título certo, líquido e exigível". (grifo nosso)

Cada situação deve ser analisada in concreto. Como pode a lei dizer, v.g, que é exigível um título se, de fato, não ocorreu o seu termo? Prossigamos com os demais requisitos.

TERCEIRO REQUISITO: LIQUIDEZ

A liquidez do título se configura quando é determinada a sua importância, o seu valor. O Código Civil não distingue certeza e liquidez quando se refere às obrigações em geral no artigo 1.533: "Considera-se líquida a obrigação certa, quanto à sua existência, e determinada, quanto ao seu objeto."

Mas em se tratando de título executivo a liquidez há de ser entendida especificamente como a qualidade da obrigação cujo objeto independe de apuração ou verificação de adimplemento, tendo valor determinado. Anota Araken de Assis (Manual do Processo de Execução, 5ªed, RT, 1998, p.125) que "a liquidez importa expressa determinação do objeto" e quanto aos títulos extrajudiciais será a "simples determinabilidade do valor (quantum debeatur) mediante cálculos aritméticos".

Quanto à cédula de crédito industrial o valor a ser exigido é de ser apurado pela liqüidação da conta, com acréscimo dos encargos devidos ao banco e abatimento dos valores restituídos ou não retirados pelo cliente.

Melhor explicitando: a cédula de crédito está indissociavelmente ligada ao sistema de conta-corrente, porque, diferentemente de outros títulos, não tem o caráter da literalidade. O princípio da literalidade é aquele pelo qual só são eficazes os atos jurídicos representados na própria cártula. Um cheque, por exemplo, vale pelo que nele constar; nada além poderá alterar a força do título. Mas a cédula de crédito não atende a este princípio, por uma simples razão: carrega no seu bojo um financiamento.

Sendo um financiamento, a relação necessariamente cai no sistema de conta-corrente, pois o financiamento pressupõe concessão de crédito, e esta, é cediço, se opera e se resolve gradativamente pelas partidas de débito e crédito que as partes fazem. Recebimento, pagamento, encargos, tudo é lançado numa conta-corrente. É assim que funciona o financiamento, e disto não pode fugir a cédula de crédito.

Está claro, então, o porquê de a cédula de crédito não respeitar a literalidade: o valor nela grafado é apenas, e apenas, o ponto de partida – o débito definitivo só será conhecido na finalização da conta. Daí, não sendo literal, a cédula é título que sempre depende de prévia liqüidação – momento em que as partes encerram a conta e apuram o resultado.

Vamos repetir: o valor exigível, na cédula, é aquele resultante da liqüidação. Então, não será líquida a obrigação, pois não se poderia levar à liqüidação o que já fosse líquido.

Este é o ponto: não vai à liqüidação o que já é líquido. Esta iliquidez está na essência da cédula de crédito.

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Vejamos a razão disto analisando a sua natureza jurídica.

A cédula de crédito é representativa de um contrato, como qualquer título. Neste caso, é uma espécie do gênero contrato de crédito em conta-corrente, semelhante à abertura de crédito com algumas distinções que adiante serão apontadas. A família contratual se inicia com o contrato de depósito, para chegar – sem classificação exaustiva – ao financiamento representado por cédula de crédito.

O contrato de depósito, na lição de Fran Martins (Contratos e Obrigações Comerciais, Forense, 13ªed, Rio, 1995, p.433) é "a operação bancária segundo a qual uma pessoa entrega ao banco determinada importância em dinheiro, ficando o mesmo com a obrigação de devolvê-la no prazo e nas condições convencionadas".

Consoante a lição do comercialista, este tipo de contrato se denomina depósito em conta-corrente quando o depositante tem liberdade para tomar de volta o valor depositado a qualquer momento, integral ou parceladamente. Poderá ser ainda contrato de abertura de crédito em conta-corrente, cuja diferença está na origem do valor depositado: é o próprio banco depositário que empresta ao depositante o valor inicial (crédito). O depositante então movimenta a conta da forma que lhe convier mas deve restituir o valor creditado, com os encargos contratuais, ao fim do prazo convencionado.

Já a cédula de crédito industrial é o instrumento através do qual a instituição financeira concede o financiamento regulado pelo Decreto-Lei 413/69.

Tal financiamento, por sua vez, também é uma espécie de contrato de abertura de crédito, em que o banco deixa o valor financiado à disposição do devedor numa conta-corrente (artigo 4º), para que seja sacado segundo a previsão contratual.

Inobstante existam diferenças (disponibilidade de retirada, finalidade do crédito, etc), há certa semelhança entre os institutos, vez que em ambos os casos o banco é depositário de um valor que fica à disposição do depositante. De todo modo, a natureza é a mesma.

E a característica da conta-corrente como essencial não se altera, pelo contrário, se reafirma no caso da cédula de crédito, quando, no parágrafo primeiro do artigo 10 do Decreto-Lei 413/69 a norma manda que se desconte da dívida qualquer parcela paga ou não sacada, "tornando-se exigível apenas o saldo".

É um comando congruente com a espécie contratual em questão. Isto porque as obrigações dos contratantes são estabelecidas e solvidas a partir de uma conta-corrente, cuja exigibilidade, na lição de Fran Martins (op.cit., p.406), "só se verifica no encerramento final", momento de verificação do saldo e da extinção do contrato.

Então o limite da exigibilidade há mesmo de se cingir ao saldo final da conta-corrente. É da natureza desta espécie de contrato que a obrigação seja exigível a partir da apuração do saldo.

Assim, como a lei (Decreto-Lei 413/69) define a exigibilidade pelo saldo, e em face da própria característica desta espécie contratual, só mesmo a partir de um encerramento de conta-corrente é que se poderá ter um título completo, pleno, pronto para receber a presunção legal de título hábil à execução.

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Por isto, não se pode negar que a cédula de crédito nenhuma força executiva terá se desacompanhada do respectivo demonstrativo, na sua completitude.

Assim, se já é por si e essencialmente ilíquida, a cédula de crédito só poderia ganhar liquidez se acompanhada de um demonstrativo fiel, nos exatos moldes da necessidade de compreensão. Não se trata aqui do mesmo demonstrativo necessário a instruir uma execução. Aquele corresponde à atualização da dívida liqüidada; este, à própria liqüidação.

É preciso atentar para o enfoque do demonstrativo neste tópico. Quando pugnamos pela indispensabilidade do demonstrativo (conta-corrente) para a executividade, estamos nos referindo à necessidade de que o título esteja completo e assinado pelo devedor e testemunhas, porque para a executividade o título só se aperfeiçoa com esta condição. Já no caso da liquidez, não importam as assinaturas, porque a liquidez nada tem a ver com aquela regra de garantia da bilateralidade.

De qualquer forma, vê-se, a falta do demonstrativo tanto contribui para a iliquidez quanto fulmina a executividade.

Por tudo isto, a cédula de crédito, em essência, é ilíquida.

QUARTO REQUISITO: CERTEZA

Certeza, nos dizeres da doutrina, é a condição de existência incontestável, como nas palavras do jurista Leib Soibelman: "dívida de cuja existência não se duvida" (Enciclopédia do Advogado, 2ªed, Editora Rio, Rio, 1979, p.134).

Haverá certeza enquanto restar incontroversa a origem e a existência do título. Esta se confirma pela autenticidade do documento, e aquela pela regularidade formal, quando atendidas as exigências legais peculiares à formação do título.

Em relação à cédula de crédito industrial, basta que sejam atendidas as formalidades exigidas para a emissão do título, consoante o artigo 14 do Decreto-Lei 413/69 (elementos extrínsecos), e que não haja desvio de finalidade na aplicação dos recursos (elemento intrínseco).

Presentes tais conformidades, a cédula de crédito será, de fato, um título certo.

QUINTO REQUISITO: EXIGIBILIDADE

Exigível é a obrigação atual, que não depende de que se realize condição ou ocorra termo.

A verificação do implemento do termo não requer prova, já que é fato natural. A realização da condição, ao contrário, deve ser provada. O atendimento a tais requisitos é condição sine qua non para que a obrigação seja exigível, segundo o artigo 572 do Código de Processo Civil.

No caso da cédula de crédito, desde que vencido o prazo final para a devolução do valor financiado e não quitada a dívida, será exigível a obrigação e, com isto, o título."