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- 82- TRAÇOS BIOGRAFICOS PADRE MANUEL DA NOBREGA Nasceu em Portugal a 28 de Outubro de 1517; tinha 32 anos quando veiu para o Brasil. Era filho de um desembargador da Relação de Lisbôa. Cursou as universidades de Salamanca e de Coimbra, onde se graduou em direito canonico. Presbitero, desgostou-se por tal fórma com uma injustiça sofrida na cole- giatura do mosteiro de Santa Cruz, que aos 25 anos ingressou na Companhia de Jesús, como professor do Colegio de Coimbra. Prégava pelas aldeias de Portugal e Espanha, levando um bordão e o Bre- viario, vestindo-se pobremente, como um pregoeiro do Evangelho, esmolando e pedindo agasalho nos hospitais. No Brasil, segundo as notas que de Anchieta re- colheu o cronista da Companhia de Jesús, operou maravilhas nas conversões dos selvagens e de seus feiticeiros. Foi o principal incitador da defesa da Baía e do Rio de Janeiro contra os Tamoios, Ingleses e Franceses. Fez mais pela colonização e cultura do Brasil do que todos os governadores. PONTO 4° - 13 a LIÇÃO SEGUNDO GOVÊRNO-GERAL, DUARTE DA COSTA. o PRIMEIRO> PRELADO NO BRASIL; SEU FIM TRAGICO Passados três anos de govêrno, insistiu Thomé de Sousa com o rei pela sua sucessão, alegando a

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Page 1: reficio.ccreficio.cc/.../uploads/2019/04/max_fleiuss_04_13_segundo_governo_ger… · Title: Segundo Governo-Geral, Duarte da Costa. O Primeiro Prelado no Brasil; Seu Fim Trágico

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TRAÇOS BIOGRAFICOS

PADRE M ANUEL DA NOBREGA

Nasceu em Portugal a 28 de Outubro de 1517;

tinha 32 anos quando veiu para o Brasil. Era filho

de um desem bargador da Relação de Lisbôa. Cursou

as universidades de Salam anca e de Coim bra, onde se

graduou em direito canonico. Presbitero, desgostou-se

por tal fórm a com um a injustiça sofrida na cole-

giatura do m osteiro de Santa Cruz, que aos 25 anos

ingressou na Com panhia de Jesús, com o professor

do Colegio de Coim bra. Prégava pelas aldeias de

Portugal e Espanha, levando um bordão e o Bre-

viario, vestindo-se pobrem ente, com o um pregoeiro

do Evangelho, esm olando e pedindo agasalho nos

hospitais.

No Brasil, segundo as notas que de Anchieta re-

colheu o cronista da Com panhia deJesús, operou

m aravilhas nas conversões dos selvagens e de seus

feiticeiros. Foi o principal incitador da defesa da

Baía e do Rio de Janeiro contra osTamoios, Ingleses

e Franceses.

Fez m ais pela colonização e cultura do Brasil

do que todos os governadores.

PONTO 4° - 13a LIÇÃO

SEGUNDO GOVÊRNO-GERAL, DUARTE DA COSTA. o PRIM EIRO>

PRELADO NO BRASIL; SEU FIM TRAGICO

Passados três anos de govêrno, insistiu Thom é

de Sousa com o rei pela sua sucessão, alegando a

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idade avançada, os trabalhos e fadigas no exercicio

do cargo cujo mandato expirava.

Relutou, por um ano, dom JoãolII em dar-lhe

sucessor, até que em 8 de Maio de1553 partiu de

Lisbôa dom Duarte da Costa, num a esquadrilha com -

posta de um a náu e tres caravelas, com cerca de 250

colonos, afim de assum ir, no m esm o dia de seu de-

sem barque na Baía, isto é, a 13 de Julho daquele

ano, o m andato trienal de governador geral do

Brasil.

Seguindo logo depois para o reino, esquivou-se

Thom é de Sousa de receber a m anifestação de aprêço

que lhe havia preparado o povo da Baía, m as por

prem io de seus serviços foi agraciado com a digni-

dade de com endador da Ordem de Christo e entrou

a fazer parte do conselho do rei, onde sem pre teve

voto preponderante nos negocios relativos ao Brasil.

O exito da obra de unificação do prim eiro gover-

nador geral justifica-se, não só por suas qualidades

de adm inistrador, energia e equilibrio m oral, senso

político, espirito de prudencia e conciliação, m as

ainda pela harm onia que sem pre fez reinar entre

os dois poderes, tem poral e espiritual, colocando-se

ao lado dos jesuitas na tenáz reação contra o desre-

gram ento dos colonos, a escravização e m orticinio do

gentio.

Duarte da Costa trouxe em sua com panhia sete

religiosos jesuitas, entre os quais José de Anchieta,

futuro Apostolo do Brasil, joven de m enos de 20

anos de idade e ainda não ordenado, e os padres Luis

da Grã, Braz Lourenço e Am brosio Pires e m ais tres

irm ãos.

Por excesso de autoridade, preferia Duarte da

Costa agir por si só, pondo de parte as norm as de sã

experiencia traçadas por Thom é de Sousa, de que

lhe com petia ser em tudo sucessor.

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o conselho da Camara rompeu com o governador,

logo que este se indispôz com o bispo primáz do

Brasil (1554), incom patibilizando-se tam bem com o

provedor-m ór Antonio Cardoso de Barros.

Acusava o prelado ao governador, em carta ao

rei, de 11 de Abril de 1554, de abuso do poder, de

sancionar violencias, hom icidios, escandalos e desa-

bono dos lares, com etidos por Alvaro da Costa, joven

m ilitar, filho de Duarte da Costa, e por seus com pa-

nheiros de façanhas João Rodrigues, Luis de Góes e

Vaz da Costa.

Acusava-o m ais de traficar com sesm arias, direi-

tos e oficios públicos, assim com o de em pregar em

fins m ercantis os navios reais do cruzeiro de costa.

Rebatendo essas acusações, Duarte da Costa, em

cartas dirigi das ao rei, em data de 8 de Abril e 20

de M aio de 1555, arguia o bispo de dissoluto, usur-

pador das atribuições e jurisdições legais, de intole-

rante, faccioso e cruel, e até de sim oniaco, de atacar,

do pulpito, ao governador, seu filho e partidarios

seus, de lançar m ultas eclesiasticas e cartas de exco-

m unhão m aior por m otivos insignificantes e, por

perseguição, fazendo-as lêr em público ou m andando

afixá-Ias ás portas da igreja.

Tais fatos dividiram a população da cidade

do Salvador em dois grupos: de um lado, a auto-o

ridade pastoral, com o o vigario geral, a clerezia, nu-

m erosas fam ilias catolicas. o provedor-m ór, o segundo

capitão-m ór, o proto-m edico da colonia e todos os

vereadores do conselho da cidade; de outro lado,

o govêrnador geral, com seu filho Alvaro, seu loco-

tenente, com andante das arm as e seus partidarios.

O ouvidor-geral achava-se em Pernam buco e dos

jesuítas apenas seu com panheiro de viagem , o padre

Luis da Grã, assistia junto a Duarte da Costa e era

seu conselheiro, em m ateria eclesiastica, na decisão

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de agravos e apelações, interpostas pelas partes con-

tra o bispo.

Havia entre as duas facções constantes desa-

venças, motins, prisões e devassas.

Uma parte dos clerigos rebelou-se contra a au-

toridade diocesana, que os mandou prender.

Por seu turno, Alvaro da Costa e seus asséclas

prenderam , certa noite, um clerigo, que na casa do

bispo espancava um colono seu desafeto.

Em 1555 houve um a trégua e aparente reconcilia- .

ção, devido aos bons oficios dos jesuitas .

Enquanto, na capital, tais rixas estereis se des-

enrolavam , os Tupinambás, aliados aos Tapuias,que pela politica de Duarte da Costa se viam pri-

vados da m issão dos padres da Com panhia, com o

abandonados pelo prim eiro bispo e pelo segundo go-

vernador-geral, tom aram o engenho de Pirajá, for-

tif'ícaram -se em Porto Grande, m atando a quantos

lhes caíam ás m ãos, indo ao ponto de am eaçar a ci-

dade, o que produziu panico geral.

Alvaro da Costa foi então encarregado de ba-

tê-los em Porto Grande, á frente de 80 hom ens a

pé e seis a cavalo, ao m esm o passo que Christóvão de

Oliveira contornava o inim igo por m ar, até além de

Itapagipe.

A derrota foi com pleta, ficando prisioneiros

m uitos selvagens.

No litoral do sul, porém , os Franceses se forti-

ficavam com Villegagnon no interior da baía de Gua-

nabara.

O governador-geral pedia, sem resultado, auxilios

de navios e de hom ens arm ados, para desalojar dali

os Franceses.

Interceptada se achava todacorr+nicação entre

a séde do govêrno-geral e as capitanias sulinas.

Tam bem de Pernam buco, para cim a, o litoral se

m antinha inteiram ente abandonado e inculto.

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A trégua de 1555 entre o governador-geral e o

bispo foi, em grande parte, devida á am eaça da in-

vasão da Baía pelos selvagens.

o ano seguinte, porém , tendo a Cam ara M uni-

cipal representado ao rei, pedindo a rem oção do go-

vernador, o prelado, acudindo ao cham ado do rei,

em barcava para Lisbôa.

De sua com itiva faziam parte o deão e dois co-

negos de seu capitulo, o provedor-m ór, variosfi-

dalgos com suas fam ílias, m ulheres, creanças e es-

cravos indios da Baía.

A náu que os levava partiu a 2 de Junho de

1556 e, a 16 do m esm o m ês, batida por violenta bor-

rasca, sossobrou junto aos baixios de dom Rodrigo,

na costa de Alagôas, entre as bôcas do São Fran-

cisco e do Cururipe.

Os naufragos conseguiram alcançar a praia, onde

foram acolhidos com falsas m óstras de am izade pelo

gentio da região, os barbarosCahetés, que os truci-

daram e devoraram a todos, exceto dois indios da

Baía e um português que lhes conhecia a lingua e era

filho do m eirinho da correição.

No local da m atança do prim eiro prelado, Pero

Fernandes Sardinha, e de sua com itiva, diz a lenda

que nunca m ais brotou vegetação algum a, tendo

sido antes fertil e verdejante.

QUADRO SINóTICO

DUARTE DA COSTA, SEGU~DO GOVERNADOR GERAL (1553-1557)

Tom ou posse a 13 de Junho de 1553.

Não soube continuar a grande obra de coloni-

zação fundada por Thom é de Sousa.

A catequese do selvagem e a reação m oralizadora

do poder civil contra a dissolução dos costum es entre

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os colonos não foram objeto de atenção do segundo

governador geral em seus tres elementos principais:

o selvagem, o colono e o corsario.

Assim tam bem o prim eiro bispo e o segundo go-

vêrnador não tiveram com preensão de seu papel de

consolida dores da obra iniciada por Thom é de Sousa

e pelos prim eiros m issionarios da Com panhia de

Jesús.

O govêrno de Duarte da Costa foi um triste exem -

plo de exerci cio do m andato e de discordia entre o

poder tem poral e o espiritual.

Assinalou-o ainda m ais o tragico fim do pri-

m eiro bispo.

TRAÇOS BIOGRAFICOS

DUARTE DA COSTA

Filho do em baixador dom Alvaro da Costa e dona

Beatriz de Paiva.

Foi arm eiro-m ór desde 1522, presidente do se-

nado de Lisbôa e segundo governador-geral do Bra-

sil, com o ordenado de 600 m il réis anuais.

Seus descendentes conservaram nacôrte a digni-

dade dearmeiros-móres.Duarte da Costa foi provedor da Santa Casa da

M isericordia de Lisbôa em 1551 e em 1559. Governou

o Brasil de 1553 a 1557

DOM PERO FERNA~DES SARDINHA

O bispado de São Salvador do Brasil foi insti-

tuido no reinado de dom João111 pela bula - Superspecula militantis Ecclesia,de 5 de M arço de 1550;

elevado á categoria de arcebispado pelo papa Ino-

cencio XI em sua bula - Inier pastoralis ofticii, de

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16 de Novem bro de 1676, tendo com o sufraganeas

as dioceses da Barra, Caetité e Ilhéos.

Por ter sido a arquidiocese da Baía a prim eira

na ordem cronologica, ao seu arcebispo m etropolitano

cabe o título deprimáz.Ordenou-se dom Pero Fernandes Sardinha em

Paris, tendo lógo após partido para Portugal, donde

saíu despachado provisor e vigario:-geral em Gôa, na

lndia. Foi nom eado depois prim eiro bispo do Brasil

em 25 de Fevereiro de 1551.

Chegou á Baía na arm ada de Sim ão da Gam a de

Andrade, trazendo em sua com panhia quatro sacer-

dotes jesuitas, para ajudarem os seis que já aqui se

achavam , além de varios clérigos.

Foi devorado pelos selvagens em 16 de Junho de

1556, na costa de Alagôas, após o naufragio do navio

que, com sua com itiva, o reconduzia ao reino.

PONTO 4° - LIÇÃO 14a

CONFEDERAÇÃO DOS TAM OIOS. PRIM EIRA INVASÃO DOS FRAN-

CESES ~O RIO DE JANEIRO. FRANÇA ANTARTICA

Até ao fim do govêrno de Thom é de Sousa e ao

falecim ento, em 1554, do donatario de Pernam buco,

Duarte Coelho, m anteve-se pacificam ente o gentio

do Nordeste, recolhido ás suas tabas, na Baía e Per-

nam buco, tais o respeito e a confiança que lhe sou-

beram inspirar esses dois adm inistradores.

A partir do segundo govêrno geral, porém , vitim a

de iniquidades e traições dos que adm inistravam de

Pernam buco até ao Rio de Janeiro, entraram os sel-

vagens a investir contra as caiçaras que defendiam

os povoados, destruindo plantações e assassinando,

de surpresa, os colonos desprevenidos .

.•