tipos gÊneros e espÉcies

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    A CARACTERIZAO DE CATEGORIAS DE TEXTO:TIPOS, GNEROS E ESPCIES

    Luiz Carlos TRAVAGLIA1

    RESUMO: O objetivo neste artigo discutir parmetros e critrios para caracterizarcategorias de texto, sejam tipos, gneros ou espcies (TRAVAGLIA, [2003]2007a). Essa

    caracterizao fundamental para a identificao e distino das categorias a que ostextos podem pertencer. Nossa proposta que os diferentes critrios para este fim podemser agrupados segundo cinco parmetros distintos: a) o contedo; b) a estruturacomposicional; c) os objetivos e funes sciocomunicativas da categoria; d) ascaractersticas da superfcie lingstica, geralmente em correlao com outros parmetros;e) elementos que podem ser atribudos s condies de produo da categoria de texto.

    PALAVRAS-CHAVE::::: Gneros discursivos e de texto, tipos de texto, espcies de texto,caracterizao.

    Introduo

    A identificao, distino e caracterizao das diferentes categorias de texto um dos objetivos da Lingstica Textual em seu programa de trabalho, todaviaao nos debruarmos sobre os textos circulantes em uma sociedade e cultura,vemos que esta no uma tarefa simples. Tanto a identificao quanto a distinodas categorias de textos dependem diretamente de sua caracterizao, porqueo simples nome atribudo pelos usurios dos textos nunca suficiente para

    identificar e diferenciar as categorias de texto, embora seja o primeiro passopara faz-lo. Este artigo tem por objetivo levantar e estruturar parmetros ecritrios que podem ser usados para caracterizar o grande nmero de categoriasde texto existentes em uma sociedade e cultura, sejam elas tipos, gneros ouespcies (TRAVAGLIA, [2003]/2007a)2. Os parmetros e critrios que vamos aquiapresentar so aqueles que, at agora, j observamos ser pertinentes em nossa

    1 Universidade Federal de Uberlndia Professor Associado de Lngua Portuguesa e Lingstica do Institutode Letras e Lingstica 38408-100 Uberlndia MG. Endereo eletrnico: [email protected]

    2 Este texto foi escrito em 2003, mas sua publicao s saiu em 2007, devido a problemas diversos parafinalizao do livro. Doravante ser citado apenas como Travaglia (2007a).

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    pesquisa dentro do projeto Uma teoria tipolgica geral de textos: sim ou no?e em trabalhos de outros pesquisadores.

    Estes critrios, pelo que pudemos observar at agora, esto agrupados emcinco parmetros distintos:

    a) o contedo temticocontedo temticocontedo temticocontedo temticocontedo temtico;b) a estrutura composicionalestrutura composicionalestrutura composicionalestrutura composicionalestrutura composicional;

    c) os objetivosobjetivosobjetivosobjetivosobjetivos e funes sciocomunicativasfunes sciocomunicativasfunes sciocomunicativasfunes sciocomunicativasfunes sciocomunicativas;

    d) as caractersticas da superfcie lingsticacaractersticas da superfcie lingsticacaractersticas da superfcie lingsticacaractersticas da superfcie lingsticacaractersticas da superfcie lingstica, geralmente em correlao comoutros parmetros;

    e) as condies de produocondies de produocondies de produocondies de produocondies de produo.

    Um outro critrio ou parmetro que pode contribuir para a caracterizao

    das categorias de texto, sobretudo dos gneros, o suportesuportesuportesuportesuporte tpico em que omesmo costuma ou deve aparecer.

    A caracterizao das categorias de texto feita por uma conjugao decritrios que pode ocorrer de diferentes modos e, muitas vezes, a distinodepende de uma combinao diversa dos mesmos elementos e no da presenade elementos distintos. Nem sempre uma categoria se caracteriza por critriose parmetros de todos os cinco grupos, mas de apenas alguns deles.

    O que designamos por categorias de textocategorias de textocategorias de textocategorias de textocategorias de texto um conjunto de textos comcaractersticas comuns, ou seja, uma classe de textos que tm uma dadacaracterizao, constituda por um conjunto de caractersticas comuns emtermos de contedo, estrutura composicional, objetivos e funessciocomunicativas, caractersticas da superfcie lingstica, condies deproduo, etc., mas distintas das caractersticas de outras categorias de texto,o que permite diferenci-las (TRAVAGLIA, 2004a)3. So exemplos de categoriasde texto em nossa sociedade e cultura brasileiras: descrio, dissertao,injuno, narrao, texto argumentativo stricto sensu, texto preditivo, romance,

    novela, conto, fbula, parbola, caso, ata, notcia, mito, lenda, certido,requerimento, procurao, atestado, denncia, ofcio, carta, soneto, haikai,ditirambo, ode, acrstico, epitalmio, prece, tragdia, comdia, farsa, piada, tese,artigo, etc. Diversas categorias de texto podem ter caractersticas comuns. Este o caso, por exemplo, de todas as categorias de texto que tm o tipo narrativocomo necessariamente presente em sua composio e como dominante e entreas quais podemos citar: romance, conto, novela, fbula, parbola, aplogo, mito,

    3 Em Travaglia (2004a) e outros textos, usamos o termo elemento tipolgico para designar o que agora

    designamos por categoria de texto. Mudamos o termo por considerar categoria de texto mais claro edireto para identificar o conceito.

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    lenda, caso, fofoca, notcia, ata, biografia, piada, conto de fadas, epopia, etc.)4.Todos esses gneros vo ter em comum caractersticas de narrao, mesmoque realizadas de diferentes formas. Sempre haver, todavia, caractersticas quepermitam distingui-los entre si, diferenciando, por exemplo, um romance deum conto, uma fbula de uma parbola, e assim por diante. o caso tambm

    das categorias de texto necessariamente e dominantemente dissertativas (porexemplo: tese, dissertao de mestrado, artigo acadmico-cientfico, editorialde jornal, monografia, conferncia, etc.) e assim por diante.

    De acordo com o proposto em Travaglia (2001, 2007a), consideramos que ascategorias de textos podem ser de uma entre trs naturezas distintas, quechamamos de tipelementostipelementostipelementostipelementostipelementos (classes de categorias de texto de uma dadanatureza), a saber: o tipo, o gnero e a espcie. O tipotipotipotipotipo pode ser identificado ecaracterizado por instaurar um modo de interao, uma maneira de interlocuo

    (TRAVAGLIA, 1991, captulo 2), segundo perspectivas que podem variarconstituindo critrios para o estabelecimento de tipologias diferentes(TRAVAGLIA, 2001, 2007a, p.101-104). Alguns tipos que podemos citar, divididosem sete tipologias, so: a) texto descritivo, dissertativo, injuntivo, narrativo; b)texto argumentativo stricto sensu e argumentativo no-stricto sensu; c) textopreditivo e no preditivo; d) texto do mundo comentado e do mundo narrado; e)texto lrico, pico/narrativo e dramtico; f) texto humorstico e no-humorstico;g) texto literrio e no literrio. O gnerognerognerognerognero se caracteriza por exercer uma funosciocomunicativa especfica. Estas nem sempre so fceis de explicitar. A

    espcieespcieespcieespcieespcie se define e se caracteriza apenas por aspectos formais de estrutura(inclusive superestrutura) e da superfcie lingstica e/ou por aspectos decontedo (TRAVAGLIA, 2001, 2007a, p.104-106).

    As relaes possveis entre tipos, gneros e espcies que podem ser vistascom maiores detalhes em Travaglia (2007a) e as relaes entre os tipos nacomposio dos gneros (TRAVAGLIA, 2007b) so importantes na caracterizaodas categorias de textos. Basicamente tem-se o seguinte:

    1) os tipos e espcies compem os gneros que so os tipelementos que

    existem e circulam na sociedade;

    2) as espcies podem estar ligadas a tipos (como a histria e a no-histriaque so espcies do tipo narrativo) ou a gneros (como a carta, cartacomercial, o ofcio, o memorando, o bilhete, o telegrama, o carto, que soespcies do gnero correspondncia);

    4 A narrao um tipo, enquanto romance, conto, novela, fbula, parbola, aplogo, mito, lenda, caso, fofoca,

    notcia, ata, biografia etc. so gneros (TRAVAGLIA, 2007a). Tipos compem gneros (TRAVAGLIA, 2007a,2007b).

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    3) os gneros podem estar ligados a tipos que os compem necessariamente(como a tese necessariamente composta pelo dissertativo como dominante)ou no (como a carta, que pode ser composta por descritivo, dissertativo,injuntivo ou narrativo, mas no necessariamente) ou a espcies de tipos(como o romance, o conto, a piada, por exemplo, que so compostos pela

    espcie histria do tipo narrativo) ;4) quando os tipos compem os gneros, eles podem (TRAVAGLIA, 2007b):

    a) secruzar ou fundir: neste caso, o gnero apresenta caractersticas dedois ou mais tipos simultaneamente. o caso, por exemplo, do editorialde jornal, que composto ao mesmo tempo necessria e dominantementepelos tipos dissertativo e argumentativo stricto sensu; da piada que,simultaneamente composta necessria e dominantemente pelos tiposnarrativo e humorstico; e do aplogo, fbula e parbola, que so

    compostos pelos tipos narrativo e argumentativo stricto sensu emcruzamento ou fuso;

    b) se conjugar: neste caso, os tipos aparecem lado a lado na composio dognero, mas no h uma fuso de caractersticas no mesmo trecho. Assim,o editorial apresenta trechos descritivos, injuntivos e narrativos ao ladodos trechos dissertativos, geralmente representando argumentos ou comoutras funes dentro do editorial.5J o romance geralmente apresenta,alm do narrativo (obrigatrio) que dominante, trechos descritivos,dissertativos e injuntivos. Este ltimo mais eventualmente, mas a

    descrio e a dissertao quase sempre. Na bula, tem-se os tiposdescritivo, dissertativo, injuntivo e narrativo, mas nenhum dominante.Portanto, quando os tipos se conjugam, um deles pode ser dominante ouno. A dominncia pode ser necessria (acontece sempre no gnero) ouno (pode acontecer, mas no obrigatoriamente);

    c) se intercambiar: neste caso, em uma situao de interao em que seesperava um tipo ou gnero, tendo em vista o modo de interao que seestabelece e que exigiria uma dada categoria de texto, ocorre outra

    categoria. O produtor do texto lana mo de uma categoria que no aprpria daquele tipo de interao naquela esfera de ao social, paraproduzir determinados efeitos de sentido.

    Como se ver, estes elementos so importantes na caracterizao dascategorias de texto. Vamos discutir e exemplificar a caracterizao das categoriasde texto seguindo os cinco grupos de parmetros acima.6A exemplificao que

    5 Ver Melo (2005).

    6 Evidentemente os exemplos se limitaro a algumas categorias apenas para que se tenha uma percepo

    melhor do que se est falando em cada caso, pois seria impossvel tratar, num texto como este, de centenasde categorias de texto (tipos, gneros e espcies).

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    vamos apresentar procura ser funcional no sentido de permitir um entendimentomais claro do que se discute, mas em nenhum momento pretende ser exaustivanem em relao categoria (tipo, gnero ou espcie) abordada, nem em relaoao critrios ou parmetros que se est exemplificando. Ou seja, pode havermais elementos sobre um critrio ou parmetro que se poderia dizer na

    caracterizao da categoria, mas apresentamos apenas o que parece suficientepara a clareza do que est sendo proposto e comentado.

    O contedo temtico

    O contedo temticocontedo temticocontedo temticocontedo temticocontedo temtico refere ao que pode ser dito em uma dada categoriade texto, natureza do que se espera encontrar dito em um dado tipo, gneroou espcie de texto, o que, obviamente tem de estar ligado a um tipo de

    informao. As caractersticas relativas ao contedo temtico nos levam, emprincpio, ao que devemos dizer ao produzir a categoria ou ao que esperar naleitura/compreeenso de uma categoria. Vejamos alguns exemplos decaracterizaes ligadas ao contedo temtico.

    Para Travaglia (1991), o tipo narrativonarrativonarrativonarrativonarrativo tem como contedo temtico osacontecimentos ou fatos organizados em episdios (indicao e detalhamento geralmente por meio de descrio de lugar, tempo, participantes/actantes/personagens + acontecimento: aes, fatos ou fennemos que ocorrem). No

    caso da espcie histriahistriahistriahistriahistria da narrao, os episdios aparecem encadeados entresi caminhando para um desfecho ou resoluo e um resultado. J na espcieno-histriano-histriano-histriano-histriano-histria da narrao, os episdios esto lado a lado no texto, mas no seencadeiam, conduzindo a uma resoluo e a um resultado. O tipo descritivodescritivodescritivodescritivodescritivo vaise caracterizar por trazer a localizao do objeto de descrio (noobrigatoriamente), caractersticas (cores, formas, dimenses, texturas, modosde ser, etc.) e/ou componentes ou partes do objeto descrito. No tipodissertativodissertativodissertativodissertativodissertativo, o que importa como informao so as entidades, as proposiessobre elas e as relaes entre estas proposies, sobretudo as de

    condicionalidade, causa/conseqncia, de oposio (ou contrajuno), as deadio (ou conjuno), de disjuno, de especificao, inclusive exemplificao,de ampliao, de comprovao, etc. No tipo injuntivoinjuntivoinjuntivoinjuntivoinjuntivo, o contedo semprealgo a ser feito e/ou como ser feito, uma ou vrias aes ou fatos e fennemoscuja realizao pretendida por algum. Os fatos e fenmenos aparecemsobretudo, nos injuntivos de volio, os chamados textos optativos (TRAVAGLIA,1991, p.55-57). J um texto do tipo humorsticohumorsticohumorsticohumorsticohumorstico quase sempre se construirsobre dois mundos textuais que so intercambiveis, por serem compatveiscom os recursos lingsticos de expresso utilizados, como na piada do exemplo(1) em que diamante, na lngua oral, tanto pode ser entendido como diamante

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    (a pedra preciosa), quanto como de amante (pessoa com que se tem umrelacionamento visto, em muitos quadros sociais, como ilcito). Sem estecontedo dbio dificilmente se constri um texto humorstico.

    (1) A mulher est na festa com um belssimo solitrio de dois quilates no dedo.

    A amiga chega e pergunta: diamante?Ao que ela responde: No. Foi meu marido mesmo que me deu.

    QuantoQuantoQuantoQuantoQuanto aos gnerosgnerosgnerosgnerosgneros, observa-se que muitos vo ter como uma de suascaractersticas o contedo. O aceiteaceiteaceiteaceiteaceite o texto pelo qual pessoas ou instituies7

    declaram que aceitam convite ou proposta feita por outrem (pessoa, instituio)(TRAVAGLIA, 2002a, p.130-131). Os gneros conviteconviteconviteconviteconvite, convocaoconvocaoconvocaoconvocaoconvocao, intimao,intimao,intimao,intimao,intimao,notificaonotificaonotificaonotificaonotificao, (TRAVAGLIA, 2002a, p.139-140, 144-145), que tm o objetivo desolicitar a presena de algum, sempre contm um chamado para estar em umlugar e/ou evento (festa, apresentao/show, conferncia, reunio, etc.) paradeterminado fim (se divertir, se instruir, decidir coisas, cumprir determinadopapel dentro de um processo legal na justia, etc.). Alguns elementos de contedoaparecem nos quatro, como, por exemplo, quem solicita a presena, quando eonde se deve comparecer e para o que: festa, apresentao de alguma natureza(espetculo, conferncia, etc.), curso, realizar algo, etc. O chamado podeconfigurar uma obrigatoriedade de atendimento (convocao, notificao,

    intimao) ou no (convite), conforme quem o faz, mas isso tem a ver com ascondies de produo. Ainda se pode observar, na caracterizao, umdetalhamento maior no contedo de alguns gneros, na dependncia deespcies. Por exemplo, no caso do conviteconviteconviteconviteconvite, conforme o elemento para o qual seconvida, se configuram espcies de convite com influncia no contedo: convitede casamento, de aniversrio, para apresentaes (espetculos, conferncias,etc.), cursos, etc. Assim, um convite de casamento se caracteriza por indicarminimamente: quem se casa, os pais dos nubentes (opcional, mas espervelpelas regras sociais de cortesia), local e data do casamento e se haver ou no

    recepo festiva aps o ato religioso ou civil. J num convite para umaapresentao, deve-se colocar outro tipo de informao: o tipo da apresentao(espetculo, conferncia, outra), o contedo/tema/assunto quando for o caso(palestras e cursos, por exemplo), quem faz a apresentao, se para estar presenteo convidado dever ou no pagar. Uma precepreceprecepreceprece ou oraooraooraooraoorao geralmente contmuma louvao entidade (Deus, Jesus, Nossa Senhora, santo, etc.) a que a prece

    7 Estaremos sempre usando o termo instituio como um hipernimo para empresas comerciais, industriais,de servios (pblicas ou privadas), rgos pblicos, associaes de todas as naturezas, clubes, instituies

    educacionais, religiosas, financeiras, filantrpicas, culturais e assemelhados. Quando houver necessidade,especificaremos as instituies envolvidas.

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    dirigida e pedidos e/ou agradecimentos. interessante observar que, quandoum gnero apresenta diferentes tipos de informao, geralmente essasinformaes aparecem distribudas em diferentes partes ou categorias dasuperestrutura do gnero. No caso da prece, a superestrutura ser exatamentemarcada pelas informaes: louvao + solicitao/pedido + agradecimento.

    Na rea jurdica, temos muitos gneros, e aqui especificamos o contedode alguns que os caracteriza: a) qualificaoqualificaoqualificaoqualificaoqualificao,que, segundo Pimenta (2007, p.84), um gnero necessria e dominantemente descritivo, que contm nome,nacionalidade, estado civil, profisso, domiclio e residncia (que podem serincertos e no sabidos) e documentos pessoais (optativo em alguns casos) etem por objetivo identificar indivduos, enquanto pessoas capazes de direitose deveres diante do Estado e da sociedade. Na verdade, a qualificao aparececompondo muitos gneros jurdicos, forenses e administrativos, como o

    requerimento, a procurao, termo de fiana, o rol de testemunhas em um processopenal, a denncia, etc.; b) o termo de fianatermo de fianatermo de fianatermo de fianatermo de fiana,que para Pimenta (2007) um

    gnero textual redigido e assinado pelo escrivo, no uso de suasatribuies, tambm assinado pelo delegado de polcia, pelo indiciadoe por duas testemunhas. Neste texto, basicamente narrativo edescritivo, indicado o nmero do inqurito policial, o nome doindiciado e sua qualificao, e dito que, na presena das testemunhas,

    deposita o valor arbitrado pelo delegado de polcia da fiana, prestada

    a seu favor, para solto se defender. O indiciado tambm assume suas

    obrigaes previstas em lei, que so lidas e narradas neste termo defiana, fica tambm registrado que no caso de quebramento da fiana

    o afianado ser recolhido priso. A funo scio-comunicativadeste texto a de formalizar o pagamento da fiana com suasrespectivas ressalvas. (PIMENTA, 2007, p.89-90) (Grifo nosso paradestacar o contedo temtico)

    c) a exceo de litispendncia,exceo de litispendncia,exceo de litispendncia,exceo de litispendncia,exceo de litispendncia, definida por Pimenta (2007) como:

    gnero textual redigido por qualquer das partes, com a funo scio-

    comunicativa de demonstrar para determinado juzo que h causaidntica em andamento, em outro foro, ainda pendente de julgamento.Neste texto a prova de que h causa idntica em andamento em outroforo funciona como argumento agir estratgico para que o processoseja extinto sem julgamento do mrito. (PIMENTA, 2007, p.103)

    Portanto como um gnero cujo contedo sempre dizer ao juzo que existeoutra causa em andamento julgando o mesmo fato/crime; d) a dennciadennciadennciadennciadenncia,que um

    gnero textual redigido pelo MP no qual o MP expe o fato criminosocom todas as suas circunstncias, a qualificao do acusado e da

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    vtima (se possvel) ou esclarecimentos pelos quais se possa identificar

    o acusado, a classificao do crime e, quando necessrio, o rol das

    testemunhas. (PIMENTA, 2007, p.110) (MP = Ministrio Pblico) (Grifonosso para destacar o contedo).

    Como se pode observar, nas caracterizaes feitas por Pimenta (2007),

    aparecem as funes sciocomunicativas ou objetivos e quais tipos compemo gnero, o que exemplifica outros critrios que comentamos aqui.

    Tavares (1974, p.237, 256), ao buscar caracterizar e distinguir a epopiaepopiaepopiaepopiaepopia oupoema picopoema picopoema picopoema picopoema pico do poema hericopoema hericopoema hericopoema hericopoema herico, usa o critrio do contedo, dizendo que: a) aepopiaepopiaepopiaepopiaepopia a narrao de um fato herico grandioso e de interesse nacional emque se trata de cantar os feitos dum povo que haja contribudo para a realizaode acontecimentos que interessam vida da humanidade. s vezes secaracteriza a epopia como um relato de uma saga nacional com heris nacionais,

    fundando uma nacionalidade; b) o poema hericopoema hericopoema hericopoema hericopoema herico, por sua vez, embora tambmde interesse nacional, trata de assunto menos importante, tais como faanhasdum varo notvel, qualquer fato histrico ou lendrio que haja impressionadoa imaginao popular, embora de ordem secundria. Portanto o critrio dadistino o que se diz e sua importncia para um povo.

    Quanto s espciesespciesespciesespciesespcies, j registramos a definio pelo contedo das espcieshistria e no-histria ligadas ao tipo narrativo e da espcie de convite que oconvite de casamento representa.

    Travaglia (2007a) comenta sobre vrias espcies que se caracterizam pelocontedo temtico. Vejamos alguns exemplos.

    1) Os gneros romanceromanceromanceromanceromance e contocontocontocontoconto apresentam vrias espcies que se definem ecaracterizam tendo em vista o contedo temtico: a) histricoshistricoshistricoshistricoshistricos: falam semprede fatos ligados histria da humanidade ou de um pas, regio, etc; b)psicolgicospsicolgicospsicolgicospsicolgicospsicolgicos: que fazem estudos de personagens do ponto de vista de suapsiqu; c) regionalistasregionalistasregionalistasregionalistasregionalistas: tratam temas muito ligados cultura de uma regio,como os romances brasileiros referentes seca na regio Nordeste e seu

    efeito sobre os homens; d) indianistasindianistasindianistasindianistasindianistas: cujo tema o ndio, como algunsromances de Jos de Alencar; e) fantsticosfantsticosfantsticosfantsticosfantsticos, em que acontecem fatosmgicos ou estranhos sem muita explicao dentro do senso comum e/oucientfico (Cf. contos do autor mineiro Murilo Rubio); f) de fico cientficade fico cientficade fico cientficade fico cientficade fico cientfica,em que o tema gira em torno de viagens espaciais, alta tecnologia no futuroou no presente, experimentos cientficos, etc; g) de capa e espadade capa e espadade capa e espadade capa e espadade capa e espada, em quese tem as aventuras de espadachins; h) policiaispoliciaispoliciaispoliciaispoliciais,em que se trata de casosde crimes e sua soluo; i) erticoserticoserticoserticoserticos, cujo tema intimamente ligado sexualidade, com passagens que buscam e causam um erotismo, a

    sensualidade, etc.;

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    2) O tipo descritivotipo descritivotipo descritivotipo descritivotipo descritivo tem relacionadas a ele algumas espcies que secaracterizam por aspectos de contedo, s vezes em conjugao comaspectos formais:

    a) segundo a tradio dos estudos tipolgicos (classificatrios) de textos,na descrio objetivaobjetivaobjetivaobjetivaobjetiva o produtor do texto se guia exclusivamente pelo

    objeto visto como algo exterior ou no ao falante, ou seja, o contedo soa localizao, as caractersticas e componentes ou partes do objeto dedescrio sem interferncia do estado emocional, afetivo, psicolgico dequem diz, enquanto na descrio subjetivasubjetivasubjetivasubjetivasubjetiva tem-se o tipo de informaoprpria do tipo descritivo (localizao, caractersticas, partes ouelementos) fundida a uma expresso dos sentimentos, afetividade eestados psicolgicos daquele que diz;

    b) a descrio estticaestticaestticaestticaesttica tem como contedo dizer como so objetos e seres,

    j a dinmicadinmicadinmicadinmicadinmica caracteriza movimentos, eventos (uma dana, umatempestade, uma festa), dizendo como so. Dizer como algo constitui oobjetivo da descrio, como veremos adiante;

    c) Travaglia (1991, p.225, 234-237) props a distino de duas espcies dedescrio: a comentadoracomentadoracomentadoracomentadoracomentadora e a narradoranarradoranarradoranarradoranarradora. A narradora se refere sempre aum exemplar nico do elemento descrito (acontecimento, ser, coisa,objeto, etc.) e a comentadora se refere sempre a uma classe de elementodescrito. Por exemplo, uma descrio narradora diria como foi a festa decasamento de minha filha, enquanto uma descrio comentadora diria

    como so as festas de casamento em geral em qualquer lugar ou pocaou pelo menos em uma dada sociedade.

    3) Considerando o gnero poema,poema,poema,poema,poema, o tipo lricotipo lricotipo lricotipo lricotipo lrico tem vinculadas a ele muitasespcies caracterizadas e distinguveis pelo contedo. Segundocaracterizaes tomadas a Tavares (1974, p.269 e ss.), temos, por exemplo:a) ditiramboditiramboditiramboditiramboditirambo o poema que celebra os prazeres da mesa, principalmente nahora do brinde de modo jovial e entusistico; b) a elegiaelegiaelegiaelegiaelegia comporta ascomposies de tristeza e de luto; c) o epitalmioepitalmioepitalmioepitalmioepitalmio composio destinada

    a celebrar bodas e npcias; d) os poemas buclicospoemas buclicospoemas buclicospoemas buclicospoemas buclicos tm por assunto a vidado campo e apresenta duas espcies diferenciadas pela forma: o idlioidlioidlioidlioidlio (que monolgico) e clogaclogaclogaclogacloga (que dialogada); e) o genetlacogenetlacogenetlacogenetlacogenetlaco,que celebra onascimento e aniversrios de nascimento; f) o madrigalmadrigalmadrigalmadrigalmadrigal, que j foicaracterizado pela forma e pelo contedo, mas modernamente se caracterizamais pelo contedo: contm sempre pensamentos graciosos, numa discretae galante confisso de amor (TAVARES, 1974, p.288), s vezes sutilmentesatrica.

    4) O mistriomistriomistriomistriomistrio, que a representao de episdios da vida de Cristo e o milagremilagremilagremilagremilagre,que a representao de episdios envolvendo homens e santos

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    (TAVARES, 1974, p.139), em que acontecem fatos excepcionais e graasconcedidas pelos santos, so duas espcies, definidas pelo contedo e quese vinculam ao tipo dramticotipo dramticotipo dramticotipo dramticotipo dramtico.

    5) Na oratria tem-se o gnero discurso com espcies definidas pelo contedo(TAVARES, 1974, p.144-145): a) exquiasexquiasexquiasexquiasexquias, que um discurso fnebre em

    homenagem a algum falecido; b) o genetlacogenetlacogenetlacogenetlacogenetlaco, que o discurso feito parasaudar o nascimento de algum; c) o brindebrindebrindebrindebrinde um discurso muito breve quese faz em ocasies festivas, para saudar algum e contendo saudaes,louvaes e desejando boa sorte.

    A estrutura composicional

    Vrios elementos podem ser considerados quando pensamos em estruturacomposicional. Vamos aqui falar de alguns j observados por ns nacaracterizao de categorias de texto (tipos, gneros e espcies), com algunsexemplos, lembrando mais uma vez que os exemplos no pretendem serexaustivos nem em relao categoria, nem em relao ao critrio ou parmetroenfocado.

    No que diz respeito ao parmetro da estrutura composicionalestrutura composicionalestrutura composicionalestrutura composicionalestrutura composicional,o primeirocritrio a lembrar a superestruturasuperestruturasuperestruturasuperestruturasuperestrutura, de importncia fundamental nacaracterizao de categorias de texto. Assim, por exemplo, os textos que tm o

    tipotipotipotipotipo narrativonarrativonarrativonarrativonarrativo como necessrio e dominante em sua composio e so da espcieespcieespcieespcieespciehistriahistriahistriahistriahistria (por exemplo, romance, conto, novela literria, de rdio, de TV , conto,conto de fadas, fbula, aplogo, parbola, piada, lenda, mito, caso, fofoca,biografia, epopia, poema herico, etc.) encaixam-se todos na superestruturageral, proposta por Travaglia (1991) e apresentada no esquema 1.

    A complicao e a resoluo so as nicas partes ou categoriasobrigatrias da superestrutura da narrativa histria. Assim, possvel fazer umtexto narrativo histria com apenas duas oraes, como em (2). So recursivas,

    podendo aparecer vrias vezes: a) a introduo, a complicao, o clmax, oscomentrios, os resultados, quando h vrias linhas ou cadeias de episdios; b)a orientao que pode aparecer para cada novo episdio ou cadeia de episdios.

    (2) O meu filho adoeceu com cinco anos e morreu em um ms.

    Todas as partes ou categorias da superestrutura que so opcionais podemou no se realizar, conforme o gnero e quando isto sistemtico faz parte dacaracterizao do mesmo.

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    Narrativa

    Introduo

    Anncio

    Resumo

    Cenrio/

    Contexto/

    Situao

    Orientao

    Complicao

    Comentrios

    Eplogo

    O

    rientao

    Trama

    Resoluo

    Resultado

    Avaliao

    Expectativa

    Explicao

    Fecho

    ouCoda

    ouMoral

    Episdios

    Clmax

    Orienta

    o

    Acontecimentos

    Episdio

    Conseqncias

    Estados

    Eventos

    /

    Atos/

    Acontecime

    ntos

    Reaes

    Verbais

    Esquema1Superestruturadanarrativahistria

    +

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    Todas as categorias da superestrutura podem realizar-se de modo diferente,conforme o gnero, o que certamente importante para caracteriz-lo. Assim,por exemplo, a piadapiadapiadapiadapiada geralmente s tem uma pequena orientao quandonecessria para tipificar minimamente o(s) personagem (ns) e a situao coma(s) caractersticas fundamentais para o estabelecimento do humor (Ver no

    exemplo 1 o trecho A mulher est na festa com um belssimo solitrio de doisquilates no dedo.) e um ou alguns poucos episdios, geralmente com umaresoluo que chega rpido. J um romanceromanceromanceromanceromance ser constitudo de um grandenmero de episdios, geralmente organizados em vrias cadeias paralelas ouno no tempo em diferentes ncleos de personagens. A orientao vai aparecerrecursivamente em muitos momentos. Podemos ter comentrios diversos paraepisdios diferentes ou cadeias deles, geralmente do tipo avaliao e explicao,mas pouco provavelmente do tipo expectativa. Os resultados (conseqncias)que aparecem so os estados e eventos/atos/acontecimentos, mas muito pouco

    provavelmente o resultado do tipo reaes verbais. Vrios clmax e resoluesintermedirios ou secundrios podem acontecer representando episdio(s) quemantm (mantm) o interesse pela narrativa e que estabelece(m) as condiespara um acontecimento posterior. O comentrio do tipo expectativa e o resultadodo tipo reaes verbais, que so pouco provveis no romance, j so bastantefreqentes na notcianotcianotcianotcianotcia quando ela uma narrativa da espcie histria. Arantes(2006), estudando a caracterizao de trs gneros muito prximos (a fbulafbulafbulafbulafbula, oaplogoaplogoaplogoaplogoaplogo e a parbolaparbolaparbolaparbolaparbola) que so compostos em fuso pelos tipos narrativo eargumentativo stricto sensu, evidencia que h diferenas no modo derealizao da superestrutura do esquema 1, o que os caracteriza e diferencia.Assim, segundo Arantes (2006, p.103), nenhum desses gneros apresenta aintroduo. Nos trs, a orientao, a complicao e a resoluo aparecem domesmo modo. Todavia, nos resultados Arantes (2006, p.105-106, 110) observouuma certa preferncia conforme o gnero: a) nos aplogosaplogosaplogosaplogosaplogos o resultado preferencialmente do tipo estado(50%), mas apresentados em uma reao verbal.Ainda ocorreram 20% de resultados do tipo reao verbal e 30% de eventos; b)nas fbulasfbulasfbulasfbulasfbulas o resultado mais comum (56,7%) foi do tipo reaes verbais. A autora

    ainda encontrou 10% de estado nos resultados e 33,3% de eventos; c) nasparbolasparbolasparbolasparbolasparbolas o tipo de resultado mais freqente foi o do tipo evento/acontecimento(76,7%), mas encontrou-se 16,7% de resultados do tipo reao verbal e 6,7% deestados. Essa autora encontrou ainda diferenas significativas na forma deargumentar e no tipo de argumento utilizado, o que nos parece ter a ver tambmcom a estrutura composicional (Ver mais adiante neste mesmo item).

    De acordo com o que foi proposto em Travaglia (1991, p.237, 239, 1992), asuperestrutura de um texto do tipo injuntivoinjuntivoinjuntivoinjuntivoinjuntivo constituda de trs partes ouapresenta trs categorias esquemticas, a saber:

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    a) o elencoelencoelencoelencoelenco ou descriodescriodescriodescriodescrio em que se apresentam os elementos a seremmanipulados na ao a ser feita. Pode-se dar apenas uma lista desseselementos (V. ingredientes das receitas culinrias) ou pode-se list-los e descrev-los, como nos manuais de instruo em que,comumente, a descrio substituda por fotos ou desenhos comindicao dos nomes das partes seguida ou no de indicao de sua

    funo;b) a determinaodeterminaodeterminaodeterminaodeterminao ou incitaoincitaoincitaoincitaoincitao em que aparecem as situaes acuja realizao se incita ou por determinao ou desejo. Aqui teramosa injuno em si;

    c) ajustificativajustificativajustificativajustificativajustificativa, explicaoexplicaoexplicaoexplicaoexplicao ouincentivoincentivoincentivoincentivoincentivo em que se d razes paraa realizao das situaes especificadas em bbbbb.Estas partes no tm ordem fixa e podem se intercalar. A nica parteobrigatria a determinao, mas s vezes o produtor do texto apenasd a justificativa ou explicao e a determinao fica implcita, sendodeduzvel atravs de inferncias. Isto comum em horscopos (V.

    exemplos de 224).(224) a) Cncer/sade: A dieta da Lua especialmente recomendada para

    as cancerianas (Horscopo da revista Elle. Ano 2, n. 10. SoPaulo, Ed. Abril, outubro 1989:209).

    b) Carneiro/pessoal: A amizade exige s vezes discrio esacrifcios. (texto n. 51).

    c) Touro/pessoal: Dia favorvel para transformar sua casa. (texton. 51)

    (TRAVAGLIA, 1991, p.237)

    Travaglia (1991, 1992) observa que a parte do elenco ou descrioelenco ou descrioelenco ou descrioelenco ou descrioelenco ou descrio sempredescritiva, a determinaodeterminaodeterminaodeterminaodeterminao ou incitaoincitaoincitaoincitaoincitao sempre injuntiva e a explicaoexplicaoexplicaoexplicaoexplicao,justificativajustificativajustificativajustificativajustificativa ou incentivoincentivoincentivoincentivoincentivo pode ser descritiva, dissertativa ou narrativa. Dessemodo, os gneros que so necessria e dominantemente injuntivos (mensagemreligiosa-doutrinria, instrues, manuais de uso e/ou montagem de aparelhose outros, receitas de cozinha e receitas mdicas, textos de orientaocomportamental: por exemplo, como dirigir sob neblina, etc.) vo apresentaresta superestrutura em seu todo ou em parte de sua superestrutura prpria.

    Vimos a superestrutura de tipos que vo influir nos gneros que o tipocompuser. Vejamos a superestrutura de um gnero: o requerimentoo requerimentoo requerimentoo requerimentoo requerimento, cujocontedo sempre uma solicitao de algo a que se tem direito por lei. Orequerimento apresenta em nossa sociedade a seguinte superestrutura:

    a) especificao da autoridade e/ou rgo a quem se dirige a solicitao;

    b) qualificao do solicitante;

    c) especificao do que est sendo solicitado;

    d) especificao do que sustenta o direito e/ou qual a lei que lhe d o direito,

    se esta no for amplamente conhecida para o caso em questo e as condiesque voc preenche de acordo com a lei;

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    e) especificao de para quem e para onde deve ir a resposta (opcional e seespecificao de para quem e para onde deve ir a resposta (opcional e seespecificao de para quem e para onde deve ir a resposta (opcional e seespecificao de para quem e para onde deve ir a resposta (opcional e seespecificao de para quem e para onde deve ir a resposta (opcional e senecessrio)necessrio)necessrio)necessrio)necessrio);

    f) fecho tradicional;

    g) local e data;

    h)assinatura do solicitante acima da especificao do seu nome e da condio queocupa e que pertinente no caso, se for necessrio.

    Veja no exemplo (3) abaixo a realizao dessa superestrutura: o tipo de letraindica a correspondncia com a parte ou categoria acima com o mesmo tipo deletra.

    (3) Prof. Dr. Jos XPTOExmo. Sr. Secretrio de Estado de Educao de Minas Gerais

    Luiz Carlos Travaglia, brasileiro, casado, carteira de identidade M-275.907, MASP 212.217,lotado na Escola Estadual de Uberlndia como contratado Uberlndia MG, tendosido aprovado em concurso de habilitao para o magistrio de Ensino Fundamental eMdio, conforme publicao no Dirio Oficial do dia 12/11/2006, pgina 06, coluna 03, etendo o ttulo de Mestre em Lngua Portuguesa pela Pontifcia Universidade Catlicade Minas Gerais, conforme atesta cpia autenticada do diploma (em anexo), vem, muitorespeitosamente, requerer/solicitar a V. Exa. sua nomeao para o referido cargo e

    sua lotao como efetivo na Escola Estadual de Uberlndia.

    Nestes termos,

    Aguarda deferimento

    Uberlndia, 22 de novembro de 2006

    Luiz Carlos Travaglia

    Professor contratado da Escola Estadual de Uberlndia

    Vrias espcies do gnero correspondncia (carta, telegrama, ofcio, memorando,bilhete, carto, etc.) geralmente so caracterizadas por aspectos formais,

    particularmente de superestrutura. Assim, a cartacartacartacartacarta vai apresentar a seguintesuperestrutura, em que os parnteses indicam uma categoria ou parte opcional:

    1) A superestrutura da carta mais ou menos a seguinte:8

    a) local e data;

    b) vocativo;

    c) (saudao) / introduo

    d) corpo

    8 Adaptado de Yage (2002) apud Gomes (2002, p.35).

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    e) despedida

    f) assinatura

    g) (ps-escrito)

    h) (notas)

    2) Para Gomes (2002), o gnero carta teria a seguinte estrutura retrica:Funo 1: Estabelecer contatoEstabelecer contatoEstabelecer contatoEstabelecer contatoEstabelecer contato

    Subfuno 1: situar o tempo e o espao da produo (local e data)Subfuno 2: definir o interlocutor / destinatrio (vocativo)Subfuno 3: assegurar o contato ((saudao) / introduo)

    Funo 2: Realizar propsitoRealizar propsitoRealizar propsitoRealizar propsitoRealizar propsitoSubfunes: o nmero e o tipo de subfuno depende do(s) tpico(s) eobjetivos da carta. (corpo)

    Funo 3:Finalizar contatoFinalizar contatoFinalizar contatoFinalizar contatoFinalizar contatoSubfuno 1: despedir-se (despedida)Subfuno 2: identificar-se (assinatura)

    Ps-escrito e notasgeralmente tm funo de complementao do corpo

    Ainda preciso considerar que, no que diz respeito composio dos gnerospelos tipos, determinadas categorias da superestrutura so formuladas/compostas por determinadas categorias de texto especficas e, portanto,atendero s determinaes deste fator tipolgico em sua formulao, apesar

    de o texto como um todo se definir pela dominncia como de um tipo, gneroou espcie que no coincide com aquele da parte ou categoria da superestrutura.Assim, na superestrutura da narrao histria temos o seguinte:

    a) a orientao e o resultado (estado) so descritivos;

    b) o anncio, o resumo, a complicao, a resoluo, o resultado (eventos, atos,acontecimentos, algumas reaes verbais) e o eplogo ou concluso (fecho)so narrativos e os comentrios (expectativas) geralmente so narrativospreditivos;9

    c) os resultados (as reaes verbais em sua maioria), os comentrios (avaliaoe explicao) e o eplogo ou concluso (coda e moral) so dissertativos.10

    Algumas categorias de texto incluem outros aspectos nesta superestruturaoutros aspectos nesta superestruturaoutros aspectos nesta superestruturaoutros aspectos nesta superestruturaoutros aspectos nesta superestrutura.Assim, alguns gneros e espcies que so narrativas histria incluem

    9 Sobre textos preditivos ver Fvero e Koch (1987) e Travaglia (1991).

    10 Sobre a relao entre partes ou categorias de superestruturas e elementos tipolgicos ver Castro (1980) eTravaglia (1991, item 6.4).

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    personagens tpicospersonagens tpicospersonagens tpicospersonagens tpicospersonagens tpicos ou prototpicos. o caso dos contos de fadascontos de fadascontos de fadascontos de fadascontos de fadas (reis e rainhas,princpes e princesas, fadas, bruxas, objetos e animais mgicos ou fantsticos)e das piadaspiadaspiadaspiadaspiadas (o portugus e a loira burros, o judeu e o rabe avarentos, o papagaioe o mineiro espertos, o genro e sogra que se odeiam, etc.). Os romances daespcie de fico cientficafico cientficafico cientficafico cientficafico cientfica normalmente incluem aparelhos e recursos de alta

    tecnologia, descobertas cientficas ainda no existentes no mundo real, seresaliengenas, geralmente episdios com ocorrncia no futuro; j os romancesromancesromancesromancesromancespoliciaispoliciaispoliciaispoliciaispoliciaistrazem sempre as figuras dos policiais, detetives, criminosos e vtimas.A tradio costuma caracterizar fbulas, aplogos e parbolas dizendo que tmcomo personagens respectivamente animais, objetos inanimados e pessoas.Todavia, Arantes (2006, p.101) observou que, embora haja realmente uma maiorfreqncia desses tipos de personagens nesses gneros, eles no so exclusivos.No corpusestudado ela encontrou os seguintes nmeros: a) fbulasfbulasfbulasfbulasfbulas: 71% animais,7% objetos e 22% pessoas; b) aplogosaplogosaplogosaplogosaplogos: 60% objetos, 20% animais e 20% pessoas;

    c) parbolasparbolasparbolasparbolasparbolas: 72% pessoas, 15% animais e 13% objetos. Tavares (1974, p.237-238) afirma que a epopiaepopiaepopiaepopiaepopia se caracteriza pela presena necessria de dois tiposde personagens: o heri nacional e os deuses (pagos ou entidades crists) queaparecem pela necessidade de grandeza e majestade do poema. Vimos que osmilagresmilagresmilagresmilagresmilagres sempre tm santos como personagens.

    Alm da superestrutura, outros elementos de estruturao do texto soconsiderados como critrios dentro do parmetro da estrutura composicional.

    Estamos nos referindo, por exemplo, ao que temos na caracterizao de

    algumas espcies do gnero poemapoemapoemapoemapoema do tipo lrico: a) acrsticoacrsticoacrsticoacrsticoacrstico: as letras iniciaisdos versos lidas na vertical formam um nome ou frase; b) baladabaladabaladabaladabalada: poemacomposto de trs oitavas e uma quadra final, s vezes substituda por umaquintilha, que o ofertrio, versos octosslabos, trs rimas cruzadas ou variveis;c) sonetosonetosonetosonetosoneto: composio de quatorze versos, distribudos em duas quadras e doistercetos, sendo o ltimo verso chamado de chave de ouro por conter a essnciado poema; d) haicaihaicaihaicaihaicaihaicai: poema de forma fixa com estrofes de trs versos com umtotal de dezessete slabas mtricas assim distribudas: primeiro verso: cinco

    slabas; segundo verso: sete slabas; terceiro verso: cinco slabas); etc.Estas caractersticas relativas:

    1) disposio de elementos do textodisposio de elementos do textodisposio de elementos do textodisposio de elementos do textodisposio de elementos do texto, como no caso das letras iniciais dosversos no acrstico e das palavras em poemas figurativos;

    2) a elementos de versificaoelementos de versificaoelementos de versificaoelementos de versificaoelementos de versificao, tais como: a) nmero de versos e tipos deverso quanto ao nmero de slabas mtricas e o ritmo (herico, alexandrino,sfico, redondilha maior, redondilha menor, octosslabo, etc.); b) nmero deestrofes e tipo de estrofe quanto ao nmero de versos (dstico, quadra/

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    quarteto, quintilha, oitavas, etc); c) esquemas de rimas (emparelhadas,alternadas, continuadas, etc.) e tipos de rima (consoante, toante, interna, etc.);

    quando seu uso for obrigatrio ou altamente freqente na categoria de texto,seriam includas entre os elementos caracterizadores dentro do parmetro daestrutura composicional.

    Outro elemento importante para caracterizao dos gneros, na dimensoda estrutura composicional, a sua composio por tipos e espciescomposio por tipos e espciescomposio por tipos e espciescomposio por tipos e espciescomposio por tipos e espcies. Aquiparece importar quais tipos entram na composio de um gnero, como essestipos se relacionam (Ver Introduo) e sua distribuio ou no por partes oucategorias da superestrutura do gnero. J apresentamos alguns exemplos dessefato ao comentar que as narrativas histrianarrativas histrianarrativas histrianarrativas histrianarrativas histria podem ser compostas pelos tiposdescritivo, dissertativo, injuntivo e narrativo, em conjugao, e o narrativo dominante (da se dizer que temos um gnero narrativo) e os outros aparecem

    subordinados a ele. Alm disso, ao falar da superestrutura da narrativa histrica,vimos que as partes da superestrutura so realizadas preferencialmente por umdesses tipos de acordo com o especificado. Na verdade, como essas partes oucategorias da superestrutura se realizam vai distinguir gneros, como jregistramos e exemplificamos com os aplogos, fbulas e parbolas. Vimostambm que os gneros injuntivosgneros injuntivosgneros injuntivosgneros injuntivosgneros injuntivos so compostos, em conjugao, por trechosdos tipos descritivo, na parte da superestrutura que chamamos de elenco oudescrio; injuntivo (que necessrio e dominante para o gnero), na parte daincitao; e descritivo, narrativo ou dissertativo, na parte da justificativa.

    o caso tambm do editorialeditorialeditorialeditorialeditorial (composto necessariamente pelo dissertativo eargumentativo stricto sensu, em cruzamento ou fuso, e mais o descritivo,narrativo e injuntivo, em conjugao), da piadapiadapiadapiadapiada (composta pela fuso dos tiposnarrativo e humorstico) e dos aplogosaplogosaplogosaplogosaplogos,fbulasfbulasfbulasfbulasfbulaseparbolasparbolasparbolasparbolasparbolas (compostos sempreem fuso pelos tipos narrativo e argumentativo stricto sensu). Os gnerosgnerosgnerosgnerosgnerospreditivospreditivospreditivospreditivospreditivos (como programas de viagem ou outros programas, boletinsmetereolgicos e astronmicos, profecias, etc.) sempre sero compostosnecessariamente pelo tipo preditivo geralmente em fuso com o descritivo ou o

    narrativo e s vezes o dissertativo. Um gnero como o atestadoatestadoatestadoatestadoatestado ser semprecomposto pelo tipo narrativo ou pelo tipo descritivo, mas se define como atestadoem funo de seu objetivo ou funo dado por um ato de fala.

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    No Quadro 1,11 apresentamos exemplos de gneros necessariamentecompostos por determinados tipos como dominantes.

    Quadro 1 Gneros necessariamente compostos por um tipo

    Como se pode perceber, ao caracterizar os gneros, ser sempre importanteobservar: a) quais tipos entram em sua composio; b) se o fazem fundindo-seou conjugando-se. At onde pudemos observar, parece que o intercmbio no caracterizador de nenhuma categoria de texto, mas apenas um recurso utilizadopara criao de certos efeitos na interao comunicativa feita por meio do texto;c) se quando se conjugam algum dos tipos dominante ou no e qual o papel

    dos demais; d) se os tipos esto ou no correlacionados com partes dasuperestrutura.

    Outro aspecto de estrutura composicional que geralmente utilizado nacaracterizao dos gneros a dimensodimensodimensodimensodimenso: o tamanho mdio dos textos daquele

    11 Este quadro baseado no Quadro 3 de Travaglia (2007a, p.109) com acrscimos e modificaes.

    12 Segundo proposta de Pimenta (2007).

    13 Segundo proposta de Silva (2007).

    14 Apesar do quadro falar em gneros, para o tipo lrico temos espcies, segundo a definio de Travaglia(2001, 2007a). Essa lista de espcies foi tomada a Tavares (1974, p.269-312).

    TTTTTipoipoipoipoipo Exemplos de gneros necessariamente compostosExemplos de gneros necessariamente compostosExemplos de gneros necessariamente compostosExemplos de gneros necessariamente compostosExemplos de gneros necessariamente compostos

    por um tipo em termos de dominnciapor um tipo em termos de dominnciapor um tipo em termos de dominnciapor um tipo em termos de dominnciapor um tipo em termos de dominncia

    Descritivo At 2003, no observramos nenhum gnero necessariamente descritivo.

    Atualmente inclumos a qualificao12e o classificado.13

    Dissertativo Tese, dissertao de mestrado, artigo acadmico-cientfico, editorial de

    jornal, monografia, conferncia, artigo de divulgao cientfica, etc.

    Injuntivo Mensagem religiosa-doutrinria, instrues, manuais de uso e/ou

    montagem de aparelhos e outros, receitas de cozinha e receitas mdicas,

    textos de orientao comportamental (ex.: como dirigir), etc.

    Narrativo Atas, notcias, peas de teatro, romances, novelas (literrias, de rdio e

    TV), contos, contos de fadas, fbulas, aplogos, parbolas, mitos, lendas,

    anedotas, piadas, fofoca, caso, biografia, epopia, poema herico, poemaburlesco, etc. Podem ser includos aqui os gneros em que h fuso com

    o tipo dramtico: comdia, tragdia, drama, farsa, auto, esquete, pera,

    vaudeville, etc.

    Preditivo Boletins metereolgicos e astronmicos, profecias, programas, etc.

    Humorstico Piada, comdia, farsa, esquete humorstico, etc.

    Lrico Espcies:14Soneto, madrigal, ditirambo, elegia, poemas buclicos (cloga,

    idlio), haicai, ode, acrstico, balada, epitalmio, hino, vilancete, acalanto,

    barcarola, canto real, trova.

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    gnero. Embora nunca se possa estabelecer e nunca se estabelea um tamanhoexato para um gnero h um padro esperado de dimenso. Assim, por exemplo,uma epopia (como Os Lusadas de Cames) sempre muito maior que umpoema herico (como o Uruguai de Jos Baslio da Gama, Caramuru de S.Rita Duro, I-Juca Pirama de Gonalves Dias, Navio Negreiro de Castro Alves,

    O Caador de Esmeraldas de Olavo Bilac, Juca Mulato de Menotti delPicchia)15. Do mesmo modo se espera que um romance seja muito maior queum conto. Vimos anteriormente que uma piada sempre constituda de um oupoucos episdios, caracterizando-se por ser uma narrativa bem curta. Sotambm narrativas curtas os aplogos, fbulas e parbolas que, geralmente, somenores que um conto. Nas programaes de cinema os textos do gnero resumode filme so bem curtos, do mesmo modo que os classificados. Como vimos, obrinde um tipo de discurso sempre muito breve.

    Certamente muitos diro que este critrio problemtico. No se pode deixarde concordar com tal afirmao, mas tambm no se pode deixar de reconhecerque a dimenso do texto de dado gnero caracterizadora do mesmo. Bastapensar que ningum imaginar ser um conto, uma fbula, um aplogo, umaparbola, um caso, um texto narrativo de duzentas pginas impressas em umlivro. Alm disso, convm lembrar que alguns gneros podem apresentardimenso muito varivel. o caso do conto de fadas, que no tem a dimensocomo um critrio vlido em sua caracterizao, pois se tem contos de fada curtose contos de fada bastante longos. Nesse caso, ainda acresce o problema de

    caracterizao criado por adaptaes e verses facilitadas desses contos quegeralmente reduzem, e muito, a sua dimenso.

    Um outro critrio que podemos colocar como pertencendo ao parmetro daestrutura composicional o que a Teoria Literria props como uma classificaodas obras quanto composio (TAVARES, 1974, p.116): texto representativorepresentativorepresentativorepresentativorepresentativoversus expositivoexpositivoexpositivoexpositivoexpositivo, podendo aparecer ainda os textos mistosmistosmistosmistosmistos. Assim, por exemplo,os gneros teatrais, compostos pelo tipo dramtico (comdia, tragdia, drama,farsa, auto, esquete, etc.) so quase todos representativos em oposio aos

    gneros narrativos (Ver Quadro 1), que so basicamente expositivos, podendoter trechos representativos. J os gneros dissertativos (Ver Quadro 1) parecemser essencialmente expositivos. Outros gneros essencialmente representativosso as histrias em quadrinhos, as tiras, os filmes e os textos dramticos quandoencenados no teatro. No representativo, a forma essencial parece ser o dilogoe, no expositivo, o monlogo, mas no s isso que caracteriza um texto comoexpositivo ou representativo. Na verdade, o representativo, como o nome diz,faz com que o recebedor do texto tenha diante de si uma reproduo dedeterminada situao, enquanto no expositivo tem-se um relato ou um

    15 A classificao destes textos como poemas hericos tomada a Tavares (1974, p.259-265).

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    comentrio da situao, mas no h, por exemplo, nos gneros narrativos no-dramticos, uma reproduo da situao como se o recebedor do texto, o alocutrio,presenciasse o transcorrer dos fatos. A composio representativa aparece tambmem gneros que utilizam diversas linguagens, como os quadrinhos, as tiras, osfilmes, as peras e os gneros teatrais quando encenados. O uso de diversas

    linguagens nos permite passar para outro critrio de estrutura composicional.A(s) linguagem(ns)linguagem(ns)linguagem(ns)linguagem(ns)linguagem(ns) que entra(m) na composio do gnero um outro

    critrio da estrutura composicional importante para a caracterizao dessascategorias de texto. Quase todos os gneros que citamos at agora socompostos exclusivamente pela lngua. Todavia, podemos lembrar algunsexemplos em que a presena de vrias linguagens caracterizadora dos gneros:a) as histrias em quadrinhoshistrias em quadrinhoshistrias em quadrinhoshistrias em quadrinhoshistrias em quadrinhos e astirastirastirastirastiras so compostas pela linguagem verbal(lngua), geralmente dialogada, e pelas imagens em desenhos, que representamoutras formas de linguagem utilizadas na interao face a face, como gestos eexpresses fisionmicas. Em alguns casos, esses gneros lanam mo tambmdas cores para sugesto, por exemplo, de atmosferas, sentimentos, estados deesprito; b) os filmesfilmesfilmesfilmesfilmes e novelas de televisonovelas de televisonovelas de televisonovelas de televisonovelas de televiso utilizam uma grande nmero delinguagens: lngua, gestos, expresses fisionmicas, imagens (em desenho oufotografia), msica, luz e suas variaes, cores e, menos sistematicamente,arquitetura, escultura, dana e determinados sons que evocam elementospsicolgicos ou onomatopezam sons e rudos da realidade representada; c) ostextos publicitriostextos publicitriostextos publicitriostextos publicitriostextos publicitrios podem usar linguagens diversas, mas parece que no

    obrigatoriamente, e h diferenas entre as publicidades impressas e aquelasapresentadas por meio de filmes e vdeos; d) A linguagem bsica das notciasnotciasnotciasnotciasnotcias ereportagensreportagensreportagensreportagensreportagens, seja impressa, seja nos telejornais e outras formas de transmissopossveis, a lngua. As outras formas de linguagem (imagem desenhos efotos, msica, sons, cores, gestos, expresses fisionmicas, etc.) parecem terum papel de apoio, ilustrao, esclarecimento, complementao, etc. (isso precisaser estudado mais detidamente); e) o gnero jornalstico texto legendatexto legendatexto legendatexto legendatexto legenda foicaracterizado por Silva (2007, p.132) como uma variedade de notcia em que setem uma foto e um texto que a explica e relata o fato/evento noticiado e pode

    funcionar como outro gnero jornalstico, a chamada. Portanto, um gnerocomposto por duas linguagens: a lngua e a imagem (geralmente foto).

    Publicidades geralmente usam a lngua, as imagens desenhos, fotos (nasimpressas e em filmes) e todas as linguagens usadas nos filmes, quando sopublicidades em vdeo. Contudo, no h uma obrigatoriedade de nenhumalinguagem, da podermos hipotetizar que as linguagens utilizadas pela publicidadeno so caracterizadoras. Isso pode ser o caso para outras categorias de texto.

    Finalmente, mas sem dizer que esgotamos os critrios relacionados

    estrutura composicional, queremos lembrar que outros elementos podem ser

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    vistos como parte da estrutura composicional de uma categoria de texto. Noh como referenciar, num artigo como este, todos os elementos que podem entraraqui, at porque seria preciso ter caracterizado todas as categorias existentes eter conhecimento de todas essas caracterizaes. Queremos aqui exemplificarcom o caso do tipo de argumentotipo de argumentotipo de argumentotipo de argumentotipo de argumento que geralmente usado em determinados

    gneros, alm de outros elementos relacionados argumentao e quecaracterizam o gnero, seja em oposio a outro ou no.

    Segundo Arantes (2006), nos aplogosaplogosaplogosaplogosaplogos o tipo de argumento mais usado acomparao (95%, sendo 80% de comparao em si e 15% de argumento dosacrifcio, para ela um tipo de comparao); nas fbulasfbulasfbulasfbulasfbulas a argumentao feitaprincipalmente com argumentos pelo exemplo (73,3%) e pragmticos que tma ver com a conseqncia (26,7%), e ainda os argumentos de autoridade (10%);e nas parbolasparbolasparbolasparbolasparbolas a argumentao usa sobretudo argumentos pela analogia

    (56,7%), pelo exemplo (10%) pela comparao, justia e reciprocidade (6,7%cada).16Essa autora ainda observou outras diferenas relativas ao como aargumentao feita nesses trs gneros com referncia a acordos ou pontosde partida da argumentao e ao auditrio. Esses elementos so importantespara distinguir esses gneros to prximos em sua funo ou objetivosciocomunicativo e em sua constituio por tipos.

    Parreira (2006, p.144-152), estudando o uso de operadores argumentativosno gnero jornalstico editorialeditorialeditorialeditorialeditorial, observa que os tipos de argumento mais usadospelos editoriais so os argumentos pragmticos (51%), os por ilustrao (25,3%),

    os por compatibilidade/incompatibilidade (11,7%) e por definio (6,8%)(PARREIRA, 2006, p.150, tabela 11) que juntos so responsveis pela quasetotalidade dos argumentos usados nesse gnero (94,89%), ficando apenas 5,11%para todos os outros tipos de argumentos (p.151, 152). Por outro lado, Parreira(2006) registra que 80,5% dos argumentos de um editorial so argumentosfundamentados na estrutura do real e 19,5% so argumentos quase-lgicos.Esses dados tm um reflexo na superfcie textual quanto aos operadoresargumentativos mais usados no editorial, o que relatamos no item 5, ao falar

    das caractersticas da superfcie textual.Outros elementos de constituio/composio das categorias, para os quais

    sejam observadas regularidades como as anotadas aqui, tambm podem entrarna caracterizao das categorias pela estrutura composicional.

    Cremos ser pertinente colocar aqui a questo sobre acategoria de textocategoria de textocategoria de textocategoria de textocategoria de textoser em prosa ou em versoem prosa ou em versoem prosa ou em versoem prosa ou em versoem prosa ou em verso, o que consideramos como espcie por ser definido

    16 Arantes (2006) registra outros tipos de argumento para cada gnero, mas que aparecem em porcentagem

    bem menor. As porcentagens s vezes ultrapassam 100% devido ao modo de computar os tipos de argumentosem cada gnero.

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    apenas pela forma. Muitas categorias se caracterizam por ser em verso (epopia,poema herico, poemas lricos, etc.), outras por ser em prosa (romance, conto,ata, atestado, editorial, etc.). Algumas tiveram uma forma e passaram a ser feitasem outra no correr da histria. o caso das fbulas, inicialmente apenas emverso e que depois passaram a ser em prosa e a ter verses em prosa de textosoutrora em verso. um critrio que serve para distinguir grandes grupos decategorias, todavia ficamos em dvida se ele se inclui no parmetro da estruturacomposicional ou no das caractersticas da superfcie lingstica. Essa dvidano faz com que o critrio seja invlido enquanto tal, mas apenas um problemade modelizao terica, com uma certa importncia, mas que no inviabiliza ouso do critrio em anlises diversas. Em princpio, parece-nos ser um critriode estrutura composicional com conseqncias gerais na superfcie lingstica,mas permanece a questo.

    Objetivos ou funo sciocomunicativa

    O terceiro parmetro para caracterizar as categorias de texto seu objetivoobjetivoobjetivoobjetivoobjetivoe/ou funo sciocomunicativafuno sciocomunicativafuno sciocomunicativafuno sciocomunicativafuno sciocomunicativa. Embora os gneros sejam definidos por suafuno sciocomunicativa, os tipos tambm apresentam objetivos. Essesobjetivos ou funes sciocomunicativas so identificados por muitos comoum ato ou macro-ato de fala (FVERO; KOCH, 1987).

    Lembrando que a descrio e a dissertao so discursos do saber/conhecer

    e que a narrao e a injuno so discursos do fazer/acontecer, Travaglia (1991,p.49-50) prope que os objetivos do enunciador ou funes comunicativas dessestipos so:

    a) na descriodescriodescriodescriodescrio visa-se, ao caracterizar, dizer como o objeto do dizer;

    b) na dissertaodissertaodissertaodissertaodissertao busca-se o refletir, o explicar, o avaliar, o conceituar, exporidias para dar a conhecer, para fazer saber, associando-se anlise e sntese de representaes;

    c) na injunoinjunoinjunoinjunoinjunoobjetiva-se dizer a ao requerida, desejada, dizer o que e/ou

    como fazer e assim incitar o alocutrio realizao da situao;d) na narraonarraonarraonarraonarraoo objetivo contar, dizer os fatos, os acontecimentos, entendidos

    estes como os episdios, a ao em sua ocorrncia.

    Como se sabe, os textos do tipo argumentativoargumentativoargumentativoargumentativoargumentativo stricto sensustricto sensustricto sensustricto sensustricto sensu tm semprepor objetivo convencer e, mais ainda, persuadir o alocutrio a fazer algo, ou aparticipar de certo modo de ver os fatos, os elementos do mundo. Busca-se aadeso do alocutrio a algo. J os textos preditivospreditivospreditivospreditivospreditivos buscam antecipar aocorrncia de situaes por alguma razo.

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    Os objetivos do locutor/enunciador nos tipos de texto sempre configuram oalocutrio/enunciatrio de um certo modo. Para Travaglia (1991, p.50), nadescrio, o alocutrio se instaura como um voyeur do espetculo; j nadissertao, ele deve ser um ser pensante, que raciocina; na injuno, ele constitudo como aquele que realiza aquilo que se requer ou se determina que

    seja feito, aquilo que se deseja que seja feito ou acontea; e na narrao oalocutrio aquele que assiste, o espectador no-participante que apenas tomaconhecimento ou se inteira dos episdios ocorridos. fcil perceber que oalocutrio do tipo argumentativo stricto sensu aquele que pode aderir aoque se espera (ao, idia, sentimento, etc.) e o do tipo preditivo aquele quedeve crer, acreditar.

    Como dissemos em Travaglia (2001, 2007a), o gnero se define por exerceruma funo sciocomunicativa, que nem sempre fcil especificar. Por exemplo,

    qual o objetivo, a funo sciocomunicativa de um romance? O objetivo/funopode variar conforme a poca e, neste caso, mudaria a caracterizao do gnero.Em muitos casos, todavia, mais fcil perceber a funo sciocomunicativados gneros. Assim, por exemplo, em Travaglia (2002a), ao falar dos gnerosdefinidos por atos de fala, tratamos de 48 gneros que se definem por atos defala que representam exatamente sua funo sciocomunicativa. Muitos delesapresentam funes bsicas comuns, conforme foi mostrado pelo Quadro 2,que reproduzimos aqui.

    Quadro 2 Gneros com funo bsica comum (TRAVAGLIA, 2002a, p.152, Quadro 2)

    Grupos de gnerosGrupos de gnerosGrupos de gnerosGrupos de gnerosGrupos de gneros Funo bsica comumFuno bsica comumFuno bsica comumFuno bsica comumFuno bsica comum01 Aviso, comunicado, edital, informao, informe, Dar conhecimento de algo

    participao, citao a algum

    02 Acrdo, acordo, convnio, contrato, conveno Estalecer concordncia

    03 Petio, memorial, requerimento, abaixo assinado, Pedir, solicitar

    requisio, solicitao

    04 Alvar, autorizao, liberao Permitir

    05 Atestado, certido, certificado, declarao Dar f da verdade de algo

    06 Ordem de servio, deciso, resoluo Decidir, resolver

    07 Convite, convocao, notificao, intimao Solicitar a presena08 Nota promissria, termo de compromisso, voto Prometer

    09 Decreto, decreto-lei, lei, resoluo Decretar ou estabelecer

    normas

    10 Mandado, interpelao Determinar a realizao de

    algo

    11 Averbao, apostila Acrescentar elementos a

    um documento, declarando,

    corrigindo, ratificando

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    Os gneros que apresentam a mesma funo bsica vo se distinguir porcaractersticas de outros parmetros e critrios. Veja no item Condies deproduo, abaixo, uma proposta de distino dos gneros do grupo 5 (queobjetivam dar f da verdade de algo) por meio de caractersiticas relativas acondies de produo.

    Pimenta (2007) define os objetivos/funes de um grande nmero de gnerosforenses, como, por exemplo: a) ordem de servioordem de servioordem de servioordem de servioordem de servio, a funo scio-comunicativadeste gnero textual detalhar o que o investigador deve fazer (PIMENTA,2007, p.90). um gnero produzido pelo delegado de polcia e dirigido ainvestigadores policiais; b) a dennciadennciadennciadennciadenncia um gnero produzido pelo MinistrioPblico, dirigido ao Juiz de Direito, com o objetivo de solicitar ao juiz (petio)que leve a julgamento dada pessoa por crimes relatados e qualificados no gnero(PIMENTA, 2007, p.110); c) a citaocitaocitaocitaocitao um gnero produzido pelo Juiz de Direito

    cuja funo scio-comunicativa citar somente o ru ou acusado paracomparecer em juzo e apresentar defesa (PIMENTA, 2007, p.110); d) a defesadefesadefesadefesadefesaprviaprviaprviaprviaprvia um gnero textual redigido pelo defensor do acusado com a funoscio-comunicativa de negar os atos imputados ao ru e narrar os fatos segundoa defesa, neste momento, o ru pode inclusive negar todo seu depoimentocontido no IP17(PIMENTA, 2007, p.113); e) apelaoapelaoapelaoapelaoapelao,que um gnero textualque pode ser redigido tanto pela acusao quanto pela defesa e cujo objetivo/funo interpor recurso contra sentena proferida em primeira instnciasolicitando a uma instncia imediatamente superior a reforma total ou parcial

    dessa sentena (PIMENTA, 2007, p.132); e f) o ofcioofcioofcioofcioofcio, que um gnero redigidopelo escrivo da secretaria da vara criminal ao Instituto de Identificao eEstatstica com o objetivo de comunicar sobre a remessa dos autos ao juizcompetente (PIMENTA, 2007, p.145).

    Cremos que esses exemplos so suficientes para deixar claro como aquesto dos objetivos ou funes sciocomunicativas para a caracterizao decategorias de texto. As espcies parecem no ter objetivos especficos, massempre incorporam o(s) objetivo(s)/funo(es) dos tipos e gneros a que se ligam.

    Caractersticas da superfcie lingstica do texto

    As caractersticas da superfcie lingstica do texto, a que Bakhtin (1992)chamou de estilo, so elementos composicionais de formulao da seqncialingstica, do que muitos chamam de superfcie lingstica. Essas caractersticaspodem referir-se a qualquer plano da lngua (fonolgico, morfolgico, sinttico,semntico, pragmtico) ou nvel (lexical, frasal, textual).

    17 IP = inqurito policial.

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    preciso que fique claro que a caracterizao por meio desse parmetrono se refere pura e simplesmente ao recurso lingsticorecurso lingsticorecurso lingsticorecurso lingsticorecurso lingstico utilizado, mas tambma sua relao com as propriedades da categoria. Estamos chamando depropriedadespropriedadespropriedadespropriedadespropriedades, por exemplo, as perspectivas definidoras dos tipos, a instauraode locutor e alocutrio enquanto enunciadores (produtores de uma enunciao

    contextualizada e condicionada pelos contextos de situao e scio-histrico-ideolgico, por objetivos de interao, etc., enfim, considerando-se as condiesde produo), os objetivos/funes das categorias de texto, os objetivos/funesdefinidores de gneros, etc. Assim, por exemplo, se tomarmos a forma verbalpresente do indicativo que aparece nos textos narrativos (histria ou no-histria), injuntivos, dissertativos e descritivos dos mais variados gneros,veremos que ela exerce papis ou funes diferentes em cada caso. Na narrativapassada, pode ter papel de relevo emocional; na narrativa presente real, suafuno marcar a relao entre o tempo da enunciao e o referencial como

    simultneo; na narrativa de presente histrico, dar aparncia de atualidade eforte presenciamento pelo alocutrio dos episdios narrados; nos textosdissertativos e descritivos em conjugao com o aspecto imperfectivo,18a funo marcar a simultaneidade referencial das situaes que aparecem no texto;alm disso, nos textos dissertativos, em conjugao com os aspectosindeterminado ou habitual, tem o papel de estabelecer uma durao ilimitadadas situaes, o que produz o efeito anotado para este tipo de texto de verdadeeterna ou validade por todos os tempos. Por isso mesmo, nos textos dissertativos,essa forma no marca tempo presente, mas onitemporal. J nos textos injuntivos,essa forma aparece com valor de futuro e, em conjugao com modalidadescomo ordem, obrigao, proibio, necessidade, volio, produz o efeito deincitao realizao de algo (TRAVAGLIA, 1991).

    Vamos apresentar outros exemplos de caractersticas ligadas a esseparmetro.

    Considerando os tipos propostos por Weinrich (1968), no Portugus, para osdois tipos, temos grupos de verbos que seriam, segundo Koch (1984), os seguintes:

    a) textos do mundo narrado(em que a perspectiva de no comprometimentodo locutor/enunciador com o que diz): pretritos imperfeito, perfeito e mais-que-perfeito (simples e composto) do indicativo, futuro do pretrito (simplese composto);

    b) textos do mundo comentado(em que a perspectiva de comprometimentodo locutor/enunciador com o que diz): presente do indicativo, pretritoperfeito composto, pretrito perfeito simples (retrospectiva), futuro dopresente simples e composto.

    18 Estamos utilizando o quadro de aspectos proposto por Travaglia (1981).

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    Como se sabe, Weinrich ainda agrupa as formas verbais de cada tipo detexto segundo uma perspectiva comunicativa (grau zero, prospeco,retrospeco) e relevo (primeiro e segundo planos).

    Isso nos d, por exemplo, uma diferena importante entre uma descriocom o presente do indicativo e uma descrio com o pretrito imperfeito do

    indicativo. Na primeira, que ser do mundo comentado, o falante pode, numainterao, ser cobrado pelo interlocutor em termos de responsabilidade peloque disse. J com a descrio no pretrito imperfeito, isso no ser possvel.

    Em Travaglia (1991), estudamos o funcionamento textual-discursivo do verbono Portugus do Brasil e observamos que o uso dos tipos de verbos e situaespor eles indicadas e das formas e categorias verbais altamente regulado pelosquatro tipos de textos que utilizamos na anlise (descrio, dissertao, injunoe narrao), havendo uma correlao clara entre propriedades e marcas

    lingsticas na formulao de cada tipo de texto. Alguns fatos so apresentadosa seguir, em forma resumida e bastante simplificada:19

    A)A)A)A)A) TTTTTextos descritivosextos descritivosextos descritivosextos descritivosextos descritivosa) contrariamente ao que se tem proposto, a descrio se faz sobretudo

    com verbos dinmicos.20Os estticos aparecem muito na descrioesttica, mas eles no so a maioria;

    b) os nicos verbos gramaticais que aparecem so os de ligao,sobretudo na descrio esttica, da o alto nmero de frases nominais,que aparecem tambm sem verbo;

    c) aparecem verbos enunciativos ligados viso, j que se instaura ointerlocutor como voyeur: ver, perceber, notar, observar, admirar,avistar (todos em sentido sensorial);

    d) os textos descritivos s so possveis com o aspecto imperfectivo,sendo que na descrio narradora aparecem os aspectos durativo eiterativo (de durao limitada) e na descrio comentadora,21 osaspectos indeterminado e habitual (de durao ilimitada). A descrioainda caracterizada pelos aspectos comeado e cursivo;

    e) por ser um tipo de texto do conhecer, o predomnio quase total damodalidade epistmica da certeza. s vezes aparece a possibilidade

    (menos de 1%);f) a hiptese de Travaglia (1991, p.261) de que o tempo22 para a

    descrio ser dado sempre pela relao entre o tempo referencial e

    19 Permitam os leitores que repitamos aqui um resumo feito em Travaglia (2002b).

    20 Utiliza-se aqui a classificao de verbos proposta por Travaglia (1991, captulo 3).

    21 Sobre a distino entre descrio narradora e comentadora ver o item sobre o tipo descritivo, acima, eTravaglia (1991, captulo 2 e item 6.3.1).

    22 Entenda-se aqui a categoria de tempo e no as formas verbais. Para ns (TRAVAGLIA, 1991), o verbo no

    portugus faz as seguintes marcaes temporais: passado, passado at o presente, presente, presente parao futuro, futuro, onitemporal; alm, claro, da ausncia de marcao temporal.

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    o da enunciao23: a) passado para as descries passadas (estticase dinmicas, narradoras e comentadoras) (observou-se ocorrncia de100%); b) onitemporal para as descries presentes de comentrio(estticas ou dinmicas) (observou-se ocorrncia de 100%); c)presente para as descries presentes de narrao; e d) futuro paraas descries futuras.24

    B)B)B)B)B) TTTTTextos dissertativosextos dissertativosextos dissertativosextos dissertativosextos dissertativosa) so os textos com maior porcentagem de verbos gramaticais,

    sobretudo os auxiliares modais das mais diferentes modalidades, osordenadores textuais, as expresses e os verbos de relevncia. Estesseriam caracterizadores dos textos dissertativos;

    b) contm todos os tipos de verbos: dinmicos, estticos e gramaticais;c) aparecem os verbos enunciativos de pensar, j que se instaura o

    interlocutor como ser pensante, que raciocina: pensar, achar, saber,parecer, etc;

    d) os textos dissertativos s podem ser formulados com os aspectos

    imperfectivo, comeado, cursivo e os de durao ilimitada(indeterminado e habitual), j que pretendem apresentar fatos comovlidos para todos os tempos;

    e) como um texto do conhecer conceitual, o tipo de texto com o maiornmero de modalidades presentes, mas predominam as modalidadesda certeza (83,7%), da possibilidade (10,37%) e da probabilidade(4,08%). Ainda aparecem obrigatoriedade, permissibilidade,necessidade e volio (todas com menos de 1% e como objeto deanlise);

    f) aparecem todos os tempos verbais (categoria), mas a predominncia

    do onitemporal (67,85%) ou do tempo no marcado (21,86%),seguidos do futuro (4,18%), do presente (3,21%) e do passado at opresente (1,61%) nesta ordem. A marcao de presente para o futurono apareceu. Entende-se a predominncia do onitemporal e do no-marcado, tendo em vista as propriedades da dissertao de apresentaridias vistas como vlidas para todos os tempos, o conhecer abstradodo tempo. A marcao de passado at o presente parece sercaracterstica do texto dissertativo.

    C)C)C)C)C) TTTTTextos injuntivosextos injuntivosextos injuntivosextos injuntivosextos injuntivosa) aparecem auxiliares modais de modalidades imperativas, sobretudo

    ordem, obrigao e prescrio;b) so constitudos essencialmente de verbos dinmicos (aes);c) aparecem verbos enunciativos mais no discurso indireto, e ligados

    condio do produtor do texto de incitador e do recebedor de potencialexecutor das aes: mandar, ordenar, determinar, pedir, suplicar,sugerir, recomendar, etc.

    23 Travaglia (1991, captulo 5) prope e distingue trs tipos de tempos envolvidos na formulao dos textos: oreferencial, o do texto e o da enunciao.

    24 As porcentagens referem-se aos verbos com a categoria de tempo atualizada. Para os casos que no se

    apresentam porcentagens, o autor considerou os dados encontrados no significativos quantitativamente,mas confirmando a hiptese.

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    d) so marcados pela no atualizao do aspecto;e) s so possveis com as modalidades imperativas (obrigao,

    permisso, ordem, proibio, prescrio) e com a volio e que socaractersticas dos textos injuntivos;

    f) o tempo caracterstico o futuro independentemente da forma verbal(100% dos verbos com tempo atualizado).

    D)D)D)D)D) TTTTTextos narrativosextos narrativosextos narrativosextos narrativosextos narrativosa) os verbos gramaticais predominantes so os marcadores temporais

    e os auxiliares aspectuais, o que coerente com a propriedade dadapela perspectiva de insero no tempo e tambm os auxiliaressemnticos (que do detalhes ou nuances dos fatos narrados);

    b) so constitudos essencialmente por verbos dinmicos (aes, fatos,fenmenos, transformativos);

    c) aparecem verbos enunciativos de contar e assistir, j que o produtor o contador e o receptor o assistente dos episdios: presenciar,assistir, ver (tudo/o que acontecer/suceder/ocorrer), contar, relatar,

    narrar, falar/dizer (tudo/o que acontecer/ suceder/ocorrer);d) s so possveis com o aspecto perfectivo que caracteriza a narrao.

    Dos aspectos de durao, os mais caractersticos da narrao so odurativo, o iterativo e o pontual;

    e) as modalidades caractersticas desse tipo de texto so a certeza e aprobabilidade, uma vez que so os textos que do a conhecer osacontecimentos;

    f) tambm para a narrao o tempo atualizado depende da relao entreo tempo referencial e o da enunciao: a) presente na narraopresente (85,65% dos verbos com tempo atualizado. O passado

    aparece com funo retrospectiva.); b) passado na narrao passada(98,50% dos verbos com tempo atualizado). O presente aparece comfuno de relevo emocional; c) futuro nas narraes futuras (os dadosno foram quantitativamente significativos, mas confirmam ahiptese).

    Travaglia (1991) ainda apresenta outros fatos sobre os tipos de verbos esituaes, as formas e as categorias verbais (inclusive pessoa e voz), mas cremosque esses exemplos so suficientes para mostrar caractersticas desses quatro

    tipos de textos relativas superfcie lingstica no que respeita ao uso dos tiposde verbos e das formas verbais, mas sobretudo das categorias de tempo,modalidade e aspecto.

    Um outro exemplo, fora dos elementos do verbo, o fato de que nos textostextostextostextostextosnarrativosnarrativosnarrativosnarrativosnarrativos (em que a perspectiva do produtor do texto em relao ao objeto dodizer a do fazer ou acontecer inserido no tempo tempo tempo tempo tempo TRAVAGLIA, 1991, 2007a) aformulao lingstica vai exigir o uso de recursos da lngua para marcaodesse tempo, da a presena maior em textos narrativos de recursos da lngua

    marcadores de tempomarcadores de tempomarcadores de tempomarcadores de tempomarcadores de tempo, pois, alm da marcao de tempo feita pelos verbos,observa-se o uso muito freqente nesse tipo de texto de recursos, tais como: a)

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    expresses: era uma vez; b) datas: em 1997, no dia 25 de outubro de 2003; c)conectores de valor temporal: conjunes e locues conjuntivas (quando,enquanto, logo que, assim que, depois/antes que, etc.);preposies ou locues

    prepositivas(aps, antes de, depois de, etc.); seqenciadores ou encadeadorestemporais no tempo referencial, tais como: a, da, ento, etc.; d) advrbios e

    adjuntos adverbiais de tempo: h muito tempo atrs, noite, em trs dias, pormuitos anos, dali a algum tempo, naquele momento; e) nomes (substantivos eadjetivos) indicadores de tempo: dia, ms, semana, ano, dcada, atrasado,adiantado, temporrio, transitrio, etc.), entre outros; f) tempos verbais: passado,presente, futuro.

    interessante observar que alguns desses recursos so mais usados paracertos tipos de narrativas. Assim, por exemplo, as narrativas ficcionais geralmentese inserem num tempo pouco especfico, como em (4), j as narrativas nas notcias

    costumam ter indicaes temporais mais precisas, com datas, por exemplo, comoem (5). Outras formas de narrativa parece que apresentam uma insero notempo dada apenas pelo tempo verbal como algo passado (veja, por exemplo,piadas, fbulas, aplogos, parbolas) ou futuro (como no caso das profecias e previses).

    (4) Era uma vez, h muito tempo atrs, quando havia fadas e bruxas andando pela Terra,um prncipe ...

    (5) O presidente Lula, esteve em Cuba no dia 26/09/2003, onde estabeleceu acordoscomerciais com aquele pas...

    Na verdade o uso de conectores e de tipos de relaes entre clusulasuso de conectores e de tipos de relaes entre clusulasuso de conectores e de tipos de relaes entre clusulasuso de conectores e de tipos de relaes entre clusulasuso de conectores e de tipos de relaes entre clusulastem se revelado ligado ao tipo de texto:

    a) nos descritivosdescritivosdescritivosdescritivosdescritivos predominam os conectores de conjuno, somando ascaractersticas que formam o quadro resultante da descrio e aparecemtambm os de contrajuno, permitindo a oposio de caractersticas parao mesmo fim (Ela bonita, mas um pouco deselegante);

    b) nos dissertativosdissertativosdissertativosdissertativosdissertativos, como importam as relaes entre idias constituintes do

    conhecer, aparecem conectores para os mais diferentes tipos de relaes:conjuno, contrajuno ou oposio, disjuno ou alternncia, causa /conseqncia (explicativas, justificativas, causais, condicionais, finais,consecutivas, conclusivas), comparao (comparativas, conformativas),comprovao, especificao (incluindo a exemplificao) entre outras;

    c) na narraonarraonarraonarraonarrao j falamos da importncia dos conectores para marcar asrelaes temporais;

    d) na injunoinjunoinjunoinjunoinjuno so importantes os conectores de seqenciamento de aes(em textos injuntivos que ensinam a fazer e como fazer com diversos passos)

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    e de justificativa (para justificar o incitamento feito para determinada ao,na parte da superestrutura do texto injuntivo vista quando falamos daestrutura composicional).

    O recurso principal no estabelecimento de seqncia e ordem referencialde situaes nos textos o aspecto verbal que, segundo Travaglia (1991, captulo

    5, 1994), constitui o princpio bsico do seqenciamento e ordenao referencialtranscrito em (6). Esse princpio d conta do seqenciamento e ordenao nos na narrativa, mas tambm nas descries, dissertaes e injunes.

    (6) 1) Dada uma seqncia de situaes em um texto, duas situaes contguas nalinearidade textual:

    a) sero seqentes, se o aspecto do verbo das oraes ou frases que as expressamfor perfectivo (Ver exemplos 8 e 9);

    b) sero simultneas, se o aspecto do verbo de pelo menos uma das oraes ou

    frases que as expressam for imperfectivo (Ver exemplo 10);

    c) se forem seqentes, a ordem referencial (cronolgica) ser aquela em que aparecemno texto (Ver exemplos 8 e 9), a no ser que haja instrues em contrrio dadas porqualquer um dos elementos ordenadores apontados em (7) (Ver exemplos 11, emque se tem a mesma ordem referencial do exemplo 8)

    d) a simultaneidade estabelecvel por b pode ser transformada em seqncia peloselementos ordenadores de (7.1) a (7.7).

    2) se tivermos duas situaes seqentes e uma delas tiver aspecto acabado emcombinao com tempo relativo de anterioridade ou com o advrbio j, ou com tempo

    passado em relao a presente ou futuro, a situao com aspecto acabado ser anterior outra, mesmo que esteja depois no texto. (TRAVAGLIA, 1991, p.129-130) (Ver exemplo12 em que se tem a mesma ordem do exemplo 8)

    (7) A atuao do princpio de (6) no seqenciamento e ordenao complementada pelosseguintes recursos e princpios:

    1) o tempo verbal absoluto (passado, presente, futuro) seqencia as situaes nestaordem;

    2) o tempo relativo: a) pretrito mais-que-perfeito do indicativo, em conjunto com o

    aspecto acabado, marca a situao como anterior a um momento indicado por adjuntoadverbial ou situao(es) no perfectivo (Veja exemplo 12); b) o futuro do pretritomarca posterioridade;

    3) elementos lingsticos diversos de valor temporal ou com implicaes temporais,que podem marcar anterioridade, simultaneidade, posterioridade: a) elementos adverbiaisde valor temporal: advrbios, sintagmas adverbiais, oraes adverbiais; b) datas; c)preposies (aps, antes de, depois de, etc.); d) conjunes (enquanto, depois que, antesque, logo que, etc.); e) verbos (iniciar, comear, terminar, etc.) outros elementosordenadores, tais como: primeiro, segundo, ltimo, penltimo, a, da, etc.;

    4) o conhecimento de mundo, por meio: a) do conhecimento de esquemas, planos escripts; b) de relaes entre oraes e perodos que expressam situaes: causa e

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    (9) Joo comprou uma casa e mudou para Uberlndia.

    (10) Joo comprou uma casa quando morava em Uberlndia.

    (11) a) Joo comprou uma casa, depois que mudou para Uberlndia.b) Antes de comprar uma casa, Joo mudou para Uberlndia.

    (12) Quando comprou a casa, Joo tinha mudado para Uberlndia.

    O uso desse princpio vai permitir a caracterizao de descrio, dissertao,injuno e narrao quanto a esses aspectos de superfcie lingstica diretamenteligada a elementos de contedo e sua organizao, uma vez que o que estnesses princpios tem uma realizao lingstica especfica.

    Vimos que o editorialeditorialeditorialeditorialeditorial de jornal um texto composto pela fuso dos tiposdissertativo e argumentativo stricto sensu, fuso que aparece como necessriae dominante na composio desse gnero. Parreira (2006, p.125-132) faz umestudo do uso de operadores argumentativosoperadores argumentativosoperadores argumentativosoperadores argumentativosoperadores argumentativos em tal gnero25e constata queos dois grupos de operadores que so mais usados so os que tm as seguintesfunes: a) introduzir um argumento apresentado como acrscimo, umargumento a favor de uma determinada concluso (22,10%); b) assinalar umaoposio (15,04% + 3,35% = 18,39%) (PARREIRA, 2006, p.128), contraporargumentos orientados para concluses contrrias (p.130). No primeiro grupoesto includos os seguintes operadores: alm disso, ainda mais, alm de, e mais,

    e, tambm, nem, nem mesmo, ademais, no apenas ... mas, no apenas ... mastambm, e no s porque ... mas tambm, no s ... mas tambm, sobretudo, etambm, alm, mais uma vez, mais ainda, alis, ainda, e ainda (PARREIRA, 2006,p.124, 130). O segundo grupo a autora divide em dois subgrupos: a) no primeiroaparecem aqueles que introduzem argumentos que se contrapem usando umaestratgia de suspense (15,04%): mas, mais ainda, mas tambm, entretanto,porm, contudo, todavia, do contrrio, no entanto, agora, ao contrrio. b) nosegundo aparecem aqueles que introduzem argumentos que se contrapemusando uma estratgia de antecipao (3,35%): embora, mesmo que, apesar de,

    ainda que. Parreira (2006) ainda evidencia que o predomnio dos operadorescom essas duas funes tem uma correlao direta com os tipos de argumentosmais usados, conforme vimos ao falar da estrutura composicional. Como se podever, essa caracterstica da superfcie lingstica acaba por ser caracterizadorado editorial em seu funcionamento argumentativo. Por isso dissemos que acaracterizao pelos recursos da superfcie lingstica no pode s