themaeducando - 2015 relatório · se aproxima de seus amigos de maneira contida e acolhedora,...

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1 ”A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.” Paulo Freire Ao olharmos para trás podemos observar quantas coisas boas passamos no nosso dia-a-dia, tantos aprendizados e experiências enriquecedoras que construímos como um grupo em nossa caminhada. Foi neste ambiente que estabelecemos diversas relações, trilhando caminhos em direção ao conhecimento, tendo como norteadores o fantástico, a fantasia e a imaginação. Como é enriquecedor o dia-a-dia com as crianças, descobrir em cada detalhe a sua grandeza, transformando experiências e vivências em conhecimentos, que iam muito além da teoria, nos permitindo conhecer um mundo fascinante e cheio de descobertas. E agora estamos chegando ao fim de mais um ano, e gostaria de compartilhar um pouco do que o Davi experimentou, aprendeu e de como se desenvolveu ao logo desta caminhada. ROTINA As crianças, desde muito pequenas, interagem com o meio natural e social em qual vivem, com isso aprendem sobre o mundo, fazendo perguntas e procurando respostas as suas indagações e questões. RCNEI, 1998. A Educação Infantil possibilita à criança ampliar suas experiências e favorece o seu desenvolvimento em todas as dimensões humanas: afetiva, motora, cognitiva, social, imaginativa, lúdica, estética, criativa, expressiva, linguística. Isto implica considerar que a escola possibilita contextos de aprendizagens e de trocas de significações a partir de diversas linguagens. As experiências da criança nesse ambiente são repletas de emoções e desafios, a medida que enfrenta situações cada vez mais complexas, conta THEMAeducando - 2015 Relatório Davi Marques de Toledo Grupo 2.2

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1

”A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do

processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura,

fora da boniteza e da alegria.” Paulo Freire

Ao olharmos para trás podemos observar quantas coisas boas

passamos no nosso dia-a-dia, tantos aprendizados e experiências

enriquecedoras que construímos como um grupo em nossa caminhada.

Foi neste ambiente que estabelecemos diversas relações, trilhando

caminhos em direção ao conhecimento, tendo como norteadores o

fantástico, a fantasia e a imaginação.

Como é enriquecedor o dia-a-dia com as crianças, descobrir em

cada detalhe a sua grandeza, transformando experiências e vivências

em conhecimentos, que iam muito além da teoria, nos permitindo

conhecer um mundo fascinante e cheio de descobertas.

E agora estamos chegando ao fim de mais um ano, e gostaria de

compartilhar um pouco do que o Davi experimentou, aprendeu e de

como se desenvolveu ao logo desta caminhada.

ROTINA

As crianças, desde muito pequenas, interagem com o meio natural e social em qual vivem, com isso aprendem sobre o mundo, fazendo perguntas e procurando respostas as suas indagações e questões. RCNEI, 1998.

A Educação Infantil possibilita à criança

ampliar suas experiências e favorece o seu

desenvolvimento em todas as dimensões humanas:

afetiva, motora, cognitiva, social, imaginativa, lúdica,

estética, criativa, expressiva, linguística. Isto implica

considerar que a escola possibilita contextos de

aprendizagens e de trocas de significações a partir

de diversas linguagens.

As experiências da criança nesse ambiente são

repletas de emoções e desafios, a medida que

enfrenta situações cada vez mais complexas, conta

THEMAeducando - 2015

Relatório

Davi Marques de Toledo Grupo 2.2

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com mais recursos para superá-los. Adaptar-se a um novo grupo é um dos desafios vivenciados

pela criança, por ser um processo contínuo de mudança, crescimento, desenvolvimento e

amadurecimento, é o momento em que crianças e pais passam a criar relações afetivas com o

novo grupo e educadora. Segundo Balaban (1988), é necessário tempo para que a criança

apreenda toda a nova situação que está vivenciando, ou seja, tanto as características desse novo

adulto, amigos, rotina, quanto o ambiente e a nova situação: organização do tempo, do espaço e

referência do adulto.

A adaptação do Davi ocorreu de maneira

saudosista, pois no início do ano ele ainda tinha

como referência o antigo grupo do G1, procurando

seus antigos amigos e educadora, questionando o

motivo da troca de grupo. Em alguns momentos

necessitou da ajuda da educadora para buscá-lo no

portão, posteriormente, o pai começou a buscar

subterfúgios para incentivar o Davi, permitindo que

ele levasse objetos de sua escolha para a escola.

Por mais que fosse difícil o momento da

separação no portão, quando Davi chegava à sala e

era acolhido pelos amigos, logo se recompunha e

levava sua rotina normalmente, brincando e se divertindo com seus amigos.

Um elemento bastante importante que proporciona sentimentos de estabilidade e

segurança dentro da escola é a rotina, além disso, ela favorece a adaptação da criança em

diferentes situações. O período que a criança está na escola precisa ser rico, alegre e

prazeroso, com a rotina organizada numa sequência habitual de atividades, possibilitando que se

torne mais autônoma e segura, pois sabe todo o caminho que percorrerá durante o período em

que estiver na escola. A rotina das atividades é compartilhada com o grupo diariamente para que

se situem e compreendam a noção de tempo, conceito este que é construído ao longo da

escolaridade. Deste modo, reforçamos o quanto é importante que os adultos estabeleçam

horários para as atividades diárias das crianças.

Davi tem a sua frequência bem regular

na escola, o que lhe possibilita ter uma boa

compreensão de tempo, entendendo quais

são os dias de ir à escola e quais são os de

ficar em casa. Esta frequência também

permite a Davi compreender a rotina do

grupo, os momentos de roda de conversa, os

momentos de atividades, os de refeição e

etc.

Em suas falas às vezes confunde as

expressões temporais “ontem” e “hoje” e, ao

conversar sobre o que realizou no final de

semana, gosta de trazer informações de casa como, por exemplo, o dia do livro, uma informação

trazida por seu pai, que ele contou animado para a educadora e seus amigos na roda.

Dentre os rituais de rotina, as crianças do G2, quando chegam ao Thema, devem colocar a

mochila no local correto, pegar o caderno e a escova de dente e guardá-los na sala, além de tirar

outros objetos da mochila, assim como organizar seus pertences.

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Davi chega à escola de maneira sorridente e tímida,

mostrando estar feliz por ter chego na escola, aproxima da

professora de maneira tranquila e sorridente, contando alguma

novidade. Tem autonomia para cuidar de seus pertences, mas

às vezes necessita ser lembrado de retirar da mochila o seu

caderno, escovação e outros objetos que sejam necessários,

como o livro da biblioteca.

Para ir ao banheiro Davi avisa ao adulto a sua

necessidade, pedindo para que o acompanhe caso necessite de

ajuda, mas abaixa e levanta as calças sozinho, dando descarga

sem grandes dificuldades. Ao sair do banheiro lava as suas

mãos com água e sabão, informando o adulto que já terminou.

Davi gosta de ajudar seus colegas e os adultos em

diversas atividades do dia, fica animado quando é sorteado

para ser o ajudante do dia, e assim que percebe que pode ajudar a

professora a levar algo para a sala se entusiasma, tomando a

frente quando é solicitado pelo o adulto.

Nos momentos de refeição Davi se alimenta bem,

inicialmente por estar mais sensível com o nascimento de seu

irmão, ele passou a solicitar a ajuda do adulto para se alimentar,

mas com o decorrer dos meses e o estímulo do adulto voltou a se

alimentar sozinho. Davi aceita grande variedade de frutas, bolos,

pães, sucos, verduras e legumes que são oferecidos.

Ao terminar o almoço mostra animado seu prato vazio,

levando o prato até o local que será lavado, limpa a boca com papel

e passa álcool em gel nas mãos para higienizá-las. Solicita seu

caderno para guardar na bolsa, levando-a até o portão para

esperar o momento de ir embora.

SOCIALIZAÇÃO

Dentro deste contexto, a escola exerce um papel importante na consolidação do processo

de socialização, processo esse que ocorre já no início da vida da criança. A escola é

determinante para o desenvolvimento cognitivo e social e, também, para o curso posterior de sua

vida. É ainda na escola que se constrói

parte da identidade de ser e pertencer

ao mundo; nela adquirem-se

aprendizagens e princípios éticos e

morais que permeiam a sociedade; na

escola depositam-se expectativas, bem

como dúvidas, inseguranças e

perspectivas em relação ao futuro e às

suas próprias potencialidades.

Davi é uma criança bem

entrosada ao grupo, estando em grande

parte do tempo com um sorriso no

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rosto, não demonstra preferência por um

amigo ou tão pouco os seleciona, nos

momentos em que havia alguma criança

nova fazendo adaptação na turma, ele era

um dos primeiros a buscar fazer amizade,

contando sobre o projeto que estávamos

estudando, informando da rotina,

mostrando a escola e principalmente

convidando-os para brincar. Ele interage

com todos isoladamente ou ao mesmo

tempo, sempre com a mesma intensidade

de envolvimento.

Gosta de convidar os amigos para

brincar juntamente com ele, não

necessitando de estímulos para que se envolva com o grupo. Ele inicia o seu dia com entusiasmo,

se aproxima de seus amigos de maneira contida e acolhedora, conversando e convidando para

brincar. Davi é solicito em ajudar os amigos, ajudando-os nos momentos de organização, como

por exemplo, a guardar ou localizar os seus pertences quando estes não estão conseguindo

sozinhos.

Uma das maneiras da criança

iniciar a aprendizagem é pela convivência,

ou seja, pela socialização. No Thema, as

crianças têm a oportunidade de conviver

com outras crianças e isso é fundamental

para seu desenvolvimento social, afetivo

e cognitivo. Mas, para se estabelecer uma

boa relação, é necessário aprender as

regras de convivência, como dividir,

partilhar, fazer valer seus direitos,

respeitar o espaço e o direito do outro.

Para a criança de 3 a 4 anos, esse é

um desafio, pois compreender os pontos

de vista é resultado de um longo processo

de desenvolvimento, preocupar-se com o outro o

suficiente para agir de uma maneira benéfica é

decorrência de uma longa história de vivências.

Isto ilustra o que Piaget quis dizer quando

afirmou que as crianças constroem as regras

morais. A compreensão e o cuidado para com o

outro não existem separadamente. Nós não

podemos nos interessar pelo bem estar de

alguém sem termos a perspectiva do outro, e

assumir esta perspectiva é tanto intelectual

quanto emocional. Estas condições interpessoais

estão relacionadas à construção da moral

autônoma, baseada em sentimentos internos,

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pela necessidade de considerar os outros além de

si mesmo. Sem uma convicção pessoal sobre as

regras, muito provalvemente as crianças não as

seguirão quando o adulto não estiver presente.

Neste ambiente ativo onde ocorrem

interações sociais, os conflitos são inevitáveis e

de grande importância para a construção moral da

criança. As crianças dessa faixa etária já

descobriram o poder que a palavra possui e, por

isso, começam a deixar de utilizar agressões

físicas, passando a tentar negociar e impor

oralmente suas vontades e desejos.

Davi tem autonomia para resolver os seus conflitos, não necessitando mais de ações

físicas para resolver seus problemas. Quando necessário ele solicita a ajuda de um adulto para

intermediar o conflito, contando o que se sucedeu, e verbalizando que não gostou da ação do

amigo, às vezes recorre ao choro para demonstrar que ficou chateado, procurando o colo do

adulto para lhe acolher, mas assim que o amigo lhe pede desculpas ele verbaliza que o desculpou

e volta a brincar com ele.

EXPRESSÃO CORPORAL E O BRINCAR

O movimento é uma importante

dimensão do desenvolvimento e da cultura

humana. As crianças se movimentam desde

que nascem, adquirindo um controle maior

sobre seu próprio corpo e apropriando-se

cada vez mais das possibilidades de

interação com o mundo. Ao se movimentar

as crianças expressam sentimentos,

emoções e pensamentos, ampliando as

possibilidades do uso significativo de gestos

e posturas corporais.

A Expressão Corporal consiste em um

trabalho de estimulação das potencialidades

criativas e expressivas da criança por meio da linguagem do corpo. Ela não se limita à codificação

de movimentos, mas sim, permite a expressão de individualidades. No Thema, o ambiente físico e

social é favorável para que as crianças se sintam estimuladas e seguras a arriscar e enfrentar

desafios. Quanto mais rico e desafiador for este ambiente, mais possibilidades existirão de

ampliar os conhecimentos acerca de si mesmos, dos outros e do meio em que vivem. Sendo assim,

foram realizadas diversas atividades, como circuitos, brincadeiras com obstáculos, propostas

que envolviam equilíbrio, força, coordenação entre outros desafios motores, a fim de estimular

as crianças e favorecer o desenvolvimento físico.

Davi é uma criança que explora constantemente as suas capacidades motoras, mostrando

facilidade em executar os movimentos corporais que são propostos pela professora, pelos seus

colegas ou por ele mesmo, quando consegue realizar algo diferente gosta de mostrar para seus

amigos e professora, se divertindo com suas descobertas.

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Ele não demonstra receio em executar

movimentos, gosta de brincar de corrida com seus

amigos, de subir e escorregar nos brinquedos do

parque. Está constantemente traçando novos

desafios para executar, convidando os amigos a

desempenhar juntamente com ele.

Um certo dia ele estava brincando pelo espaço

da escola e se debruçou no chão tentando se

esconder atrás do degrau e chamou a professora

para mostrar rindo com a tentativa.

Os momentos dos jogos simbólicos são

apreciados por Davi, que envolve os amigos nas suas

fantasias e brincadeiras. Os momentos de

brincadeira com peças de encaixe e com animais são

muito convidativos para Davi, pois gosta de construir

torres altas e castelos.

Quando estamos em uma proposta em que a turma é dividida em equipes, Davi às vezes se

frustra em estar naquela que não atingiu o objetivo, saindo do espaço ou chorando, mas quando a

brincadeira se inicia novamente, fica animado em recomeçar.

LINGUAGEM ARTÍSTICA

O homem sempre desenhou. Sempre deixou registros gráficos, índices de suas experiências, comunicados íntimos destinados à posteridade. O desenho, a linguagem é tão antiga e tão permanente, sempre esteve presente desde que o homem inventou o homem. DERDYK, 1989.

Segundo Moreira

(2008), toda criança desenha.

Tendo um instrumento que

deixa uma marca, como a

varinha na areia, a pedra na

terra, o caco de tijolo no

cimento, o carvão nos muros e

calçadas, o lápis, o pincel com

tinta no papel, a criança

brincando vai deixando sua

marca, criando jogos,

contando histórias.

Desenhando, cria em torno de

si um espaço de jogo

silencioso e concentrado, ou

ruidoso, seguido de comentários e canções, mas sempre um espaço de criação. Lúdico. A criança

desenha para brincar.

As crianças do G2 estão numa fase de transição, em que o suporte não é mais visto como

mero instrumento de exploração. Os procedimentos de construção artística nos desenhos,

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pinturas e colagens começam a permear o processo de produção, uma vez que as crianças passam

a pensar no que irão fazer e, de certo modo, projetam o que farão no suporte. O percurso ainda

continua sendo muito mais importante que o produto final, porém, ganhou novo significado, como

apreciar e expor a produção que foi realizada.

Com a produção de DESENHOS, as

crianças podem desenvolver a autoexpressão

e atuar efetivamente com o mundo:

opinando, criticando e sugerindo. Assim

como na brincadeira, ao desenhar, a criança

representa a realidade, transformando-a de

acordo com sua vontade. Quanto mais

oportunidades de desenhar e observar

desenhos de outras crianças, maiores serão

as situações de aprendizagem vivenciadas.

No G2, o

traçado

tem um desenvolvimento significativo e, para favorecer esse

grafismo e criatividade, são realizadas diversas propostas de

desenho, como desenho da imaginação, livre, interferências

gráficas etc.

Davi iniciou o ano realizando desenhos com traçados

que remetiam as características humanas, como braços e

pernas, e ao longo do ano os seus desenhos foram sendo

enriquecidos com detalhes, arriscando novas representações

gráficas e atualmente traça figuras humanas, se dedicando a

traçar todas as partes do corpo, como dedos e o tronco. Ele

segue as propostas feitas pela professora, mas no início não

planejava anteriormente o que pretendia desenhar, mas com

o tempo começou a planejar os seus desenhos, dedicando

mais tempo as suas produções e detalhes.

JANEIRO ABRIL SETEMBRO

As cores são selecionadas de acordo com a sua preferência, utiliza cores com

intencionalidade quando conversamos anteriormente sobre as possibilidades de cores a serem

usadas. Gosta de desenhar com canetão preto e pede para pintar sua produção com lápis de cor,

selecionando diversas cores para compor o seu desenho. Ele é cuidadoso com seus suportes e

com suas produções, buscando mantê-los organizados.

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Davi gosta de ressaltar os cuidados com

cada tipo de material, às vezes, necessita de

incentivo para se dedicar e, durante sua produção,

busca o olhar do adulto, perguntando se está

bonito e caprichado.

As atividades artísticas devem perpassar o

cotidiano da Educação Infantil, fazendo-se

presentes nas diversas situações, possibilitando,

assim, que as crianças construam e vivenciem o

fazer artístico. Ao entrar em contato com a arte,

a criança passa por experimentações, que vão

desde uma pintura até a construção de uma escultura. Para tanto, é fundamental que a criança

tenha contato com variados tipos de materiais,

ferramentas e suportes, explorando e

conhecendo técnicas e procedimentos para

colocar em prática em suas produções. Neste

sentido, as atividades de PINTURA e COLAGEM

no Grupo 2 tem como objetivo propor,

experimentar e conversar com as crianças sobre

os cuidados que precisam ter com os registros, as

formas de utilizar os materiais e os suportes, os

diferentes processos e maneiras de se fazer uma

produção artística, além de favorecer o desenho

figurativo.

Nas propostas de recorte e colagem Davi se mostra

empolgado, selecionando os materiais que pretende utilizar e

planejando previamente onde deseja colar. O contato da cola

com as mãos é animador para ele, pois acha engraçado os dedos

colarem e ficarem melecados. Para realizar o recorte Davi

seleciona o que quer recortar e se concentra para realizar o

corte.

Ao realizar uma proposta de pintura Davi fica interessado

pelo manuseio da tinta com o pincel, utiliza seus suportes

corretamente, segue as propostas e normalmente realiza seus

desenhos com intencionalidade, pois também gosta de explorar

os desenhos com a tinta sem uma intencionalidade ou

planejamento prévio da produção.

LINGUAGEM PORTUGUESA

Segundo o Referencial da Educação Infantil, por viverem em sociedades letradas, as

crianças desde os primeiros meses, estão em permanente contato com a linguagem escrita. É por

meio deste contato diversificado em seu ambiente social que a criança descobre o aspecto

funcional da comunicação escrita, desenvolvendo interesse e curiosidade por esta linguagem.

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No G2 nosso principal foco é a ORALIDADE, uma vez que a criança só será uma boa escriba

se antes tiver sido uma boa oradora. Deste modo, todas as atividades deste grupo têm como

objetivos aumentar o repertório de palavras, possibilitar que sejam falantes e ouvintes em

diversas situações da rotina e, principalmente, proporcionar às crianças modelos de leitora e

escritora. Afinal, a criança desta idade lê com os ouvidos e escreve com a boca.

Davi tem uma compreensível oralidade, se

comunicando, mesmo de uma forma tímida, com

todos a sua volta. Nos momentos de roda gosta

de falar e se expressar, se envolve com os

colegas que estão ao seu lado, aguardando a sua

vez de falar. Ele se interessa pelas novidades e

informações que são trazidas na roda, seja pela

professora ou por seus colegas, escuta com

atenção e questiona mais acerca do assunto.

Suas falas por diversas vezes foram

associadas ao projeto, pois se encanta com os

detalhes pesquisados. Certa vez Davi me contou

de maneira divertida que meu olho parecia com o

do crocodilo, rindo com a mão na boca enquanto me

dizia que estava ficando com medo.

Suas Nas pesquisas gosta de mostrar e contar o

que descobriu, expondo de maneira claras as

informações encontradas, podendo ser notado uma

ampliação de seu repertório de palavras.

Sabendo da importância de trabalhar com a

oralidade, leitura e escrita como práticas sociais

e culturais, as propostas de atividades do

GIROLETRAS puderam, de forma divertida,

contribuir para que as crianças entendam o

porquê se fala, lê e escreve. Com as cantigas, parlendas, adivinhas e muitas brincadeiras,

estimulamos a concentração, atenção, memorização, percepção auditiva, além de favorecer o

conhecimento de diversas estruturas de textos.

Nas rodas de prosa Davi fica atento, escutando a leitura

realizada pelo adulto, com o texto em mãos, já nas cantigas e nas

parlendas gosta de repetir o texto juntamente com o adulto.

Ainda dentro das práticas de linguagem, os projetos MUNDO

ÁRABE e ANIMAIS DO MUNDO ampliaram o repertório de

conhecimento, contribuindo para que a criança desenvolva sua

postura de estudante, pesquisadora e leitora, pois foram realizadas

buscas de informações em diferentes contextos sociais, como

livros, revistas, enciclopédias, documentários etc. A criança é um

ser pensante dotada de argumentos, porque seu padrão cultural

oferece suporte para a exploração do conhecimento. É interessante

instigar, provocar sua imaginação, porque a partir dessa prática

pedagógica grandes aprendizados surgirão.

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Os projetos proporcionaram diversas situações em que as crianças eram levadas a

pesquisar informações em livros e imagens, Davi se sentiu animado e instigado nesses momentos,

procurando um livro para folhear, verbalizando seus achados, narrando descobertas e

questionando outras informações que encontrava, tanto com adultos como com seus colegas.

Nas atividades em pequenos grupos Davi gosta de

argumentar sobre os processos de realização da atividade,

ressaltando os procedimentos em relação ao que era

proposto, como por exemplo, a utilização das lupas para

pesquisa e a necessidade de dividir os livros e imagens que

estavam dispostos.

Nos momentos em que era encorajado a escrever

alguma informação, Davi realizava a escrita de maneira

dedicada, desenhando símbolos, como círculos, riscos e

quadrados, para representar as letras desejadas.

As informações eram bem assimiladas por Davi, mesmo

que se passasse um tempo que uma informação não era

trazida em roda, quando pedido para que recordassem, ele

conseguia retomar diversos detalhes, quando não se

recordava sorria timidamente e levantava os ombros como

forma de mostrar que não sabia.

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Os momentos de RODA DE HISTÓRIA são importantes, pois possibilitam desenvolver a

imaginação, o encanto e o interesse pelo mundo letrado. Ao longo do ano foram abordados

diferentes títulos e autores de acordo com o interesse da faixa etária, apresentando livros que

trazem mais personagens, mas com um protagonista que tenha características que, de algum

modo, permitam que as crianças se identifiquem com ele; histórias com personagens animais com

características humanas; histórias em que os fatos podem se passar em espaços reais ou

imaginários e histórias com a presença de repetições (permitindo a recuperação da narrativa).

Os momentos de roda de história para Davi são instigantes, ele escuta com atenção o que

é narrado, fica ansioso para saber o que irá acontecer, desta forma, tenta antecipar os

acontecimentos do livro, falando o que irá acontecer em seguida. Se a história não lhe chama a

atenção, ele acaba dispersando, deitando para fora da roda e buscando outra coisa que lhe

interesse mais naquele momento.

De acordo com Emília Ferreiro, que estrutura o

processo de desenvolvimento da escrita em sistemas

conceituais, a criança desta faixa etária se caracteriza

no momento pré-silábico. A didática dessa fase visa,

entre outras coisas, o reconhecimento de que letras

desempenham um papel na escrita e o outro é o da

compreensão do discurso oral com o texto escrito. A

criança deve diferenciar a imagem de texto e letras

dos números, para que, assim, possa estabelecer um

vínculo entre o que se pensa e escreve. Reproduz os

traços da escrita de acordo com seu contato com as

formas gráficas (imprensa ou cursiva), escolhendo a

que lhe é mais familiar para usar nas suas hipóteses de

escrita.

Deste modo, a descoberta da escrita do nome

próprio é um momento mágico e fundamental para que o aprendizado da prática de leitura e

escrita ocorra. No Grupo 2, o foco da escrita está no NOME próprio, por ser um conjunto de

letras que fazem parte da identidade da criança, carrega grande valor significativo. Para que a

criança continue avançando após a estabilização do nome próprio, o reconhecimento e a grafia

dos nomes dos amigos auxiliarão na produção de escritas de novas palavras nos anos seguintes.

Davi tem contato com seu nome em diversas

situações, desta forma identifica seu nome mesmo

quando está misturado com o de outras crianças.

Gosta de buscar identificar o nome e o de seus

amigos também, mesmo que não consiga acertar se

diverte na tentativa.

A grafia de seu nome no começo do ano era

composta de alguns riscos para representar as

letras, sendo progressivamente substituído por

símbolos e desenhos para compor seu nome, se esforçando para representar a sua letra inicial

“D” e o “A”. A distinção entre números e letras está em desenvolvimento, e quando questionado

fala aleatoriamente na tentativa de acertar.

Assim como diz o ditado: “Quem canta seus males espanta”, nas RODAS DE MÚSICA

cantamos e dançamos muito. Adriana Partimpim e Palavra Cantada fizeram parte do nosso

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repertório, unindo a música com as rimas, também escutamos os “Poemas Musicais” de Cecília

Cavalieri França, também apreciados pelas crianças.

A música para Davi é prazerosa, ele se

atenta para a letra, cantando juntamente com os

amigos, repetindo os gestos e sons que compõe a

cantoria, se divertindo com esta interação.

Suas músicas preferidas eram as que

envolviam animais, gostava de reproduzir o rugido

final da música do leão na jaula e em diversas

outras músicas gostava de bater palma enquanto

contava. Seu repertório de palavras e de músicas

aumentou com tempo, e quando realizava o

registro das músicas gostava de desenhar de

acordo com o momento, colorindo intensamente

de acordo com a música cantada.

LINGUAGEM MATEMÁTICA

A matemática faz parte do nosso cotidiano, precisamos dela

em quase tudo. Na hora de cozinhar uma culinária, na organização de

espaços, para saber as horas e quando utilizamos o calendário. O

conhecimento lógico matemático não se dá por informação, mas pela

possibilidade da criança agir sobre os objetos e a partir dessa

relação conhecer a nomenclatura específica e formar conceitos. As

atividades de classificação, seriação e correspondência têm caráter

nitidamente matemático, porque se trata do estabelecimento de

relações. É por meio de atividades concretas que as crianças

conseguem se apropriar do conhecimento, por isso, realizamos na

rotina atividades com calendário, jogos e brincadeiras, coleções e

resoluções de problemas.

Nosso CALENDÁRIO foi de grande importância. Com ele, favorecemos o acompanhamento e

compreensão da questão temporal dos dias da semana e meses do ano, o que possibilita que as

crianças entendam sobre a funcionalidade da matemática. Assim, buscamos permitir a

construção gradativa do conceito de número e

outros conceitos matemáticos de forma lúdica e

prazerosa.

O calendário é normalmente trabalhado

com as crianças nas rodas de conversa no inicio

da manhã, Davi participava com frequência

devido o seu horário de chegada ao grupo, o que

lhe possibilitou o entendimento em relação à

função social do calendário. Mostra-se animado

para falar o mês em que estamos.

Já com os JOGOS e BRINCADEIRAS

tivemos como objetivo além da concentração,

autonomia, autocontrole e espírito esportivo, a

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sequência lógica das regras, contagem de pontos e sua representação gráfica. No primeiro

semestre, as brincadeiras foram de corpo e espaço (pega-pega, estátua e elefantinho colorido)

e, no segundo, as que utilizam o número como marcação de tempo ou pontuação (se eu fosse um

peixinho, dança da cadeira, cabo-de-guerra, pega-rabo e amarelinha).

Nos momentos de brincadeiras Davi se

mostra animado, e durante a roda de conversa

em que estabelecemos nossa rotina, quando

surge a oportunidade de se realizar uma

brincadeira fica animado, perguntando se já

chegou o momento de brincar.

Quando conversamos sobre as regras

que compõe a brincadeira fica atento para

ouvir as etapas e as regras estabelecidas,

verbalizando o que se pode ou não fazer

naquele momento.

Quando não está na equipe vencedora

fica temporariamente frustrado, sentando-se

e cruzando os braços, mas logo que surge a possibilidade de brincar novamente para tentar

ganhar, logo se anima e volta para a brincadeira.

Nos momentos de registro da brincadeira Davi tem como objetivo representar os

movimentos da brincadeira, já no desenho da brincadeira de cabo de guerra Davi representou a

corda, com seus amigos a segurando, acrescentando o detalhe do pano no centro da corda.

Com a intenção de ampliar ainda mais as atividades de contagem e reconhecimento de

quantidade, montamos uma COLEÇÃO coletiva de borracha que foi votada e acolhida por todas

as crianças.

Nos procedimentos de contagem Davi conta utilizando os dedos como ferramenta,

retirando um por um e organizando-os. Nota-se que Davi se desconcentra com as características

das borrachas, procurando retirar aquelas que mais lhe atrai, fazendo algumas vezes

sobrecontagem, sendo necessário retomar com ele a contagem desde o início. Neste momento

trabalhamos a importância de se ter atenção e concentração.

O DADO também foi um instrumento amplamente

utilizado, uma vez que aproxima a criança da contagem. No

segundo semestre, as crianças do G2 participaram de

diversas atividades com esse instrumento, como jogos de

trilha, jogos de contagem etc., a fim de aproximá-las da

recitação numérica e quantificação dos números.

Davi já reconhece as faces do dado, mas não busca

manipulá-lo de forma que o maior número fique para cima,

utiliza o dedo como suporte para contagem, conta em voz

alta, e depois, para pegá-los sinaliza com os dedos a

quantidade necessária e, por algumas vezes, acaba se

perdendo na manipulação e pega objetos a mais.

Na RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS, com o objetivo de

desafiar as crianças, atividades de pequenas contagens

foram propostas: “Quantos ovos tinham na caixa?”, “Quantas

bananas o macaco comeu?” etc., e eram realizadas de

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maneira coletiva. Em seguida, as crianças registravam o resultado, utilizando representações

pictográficas (desenhos e símbolos), depois discutiam os valores encontrados e o registro dos

mesmos com o grupo.

Nas resoluções de problemas Davi se mantém atento

e participa da roda levantando diversas hipóteses. Nos

momentos de contagem de objetos se utiliza do dedo como

ferramenta, conta um objeto por vez e devagar para não se

perder na contagem. Para registrar a quantidade de

objetos inicialmente utilizava desenhos para representar a

quantidade, mas depois foi arriscando substituir os

desenhos pelo número que representava a sua contagem.

CIÊNCIAS NATURAIS

A ciência é uma produção social e cultural que, em vez de descrever o mundo, interpreta de modo particular a concepção dos fatos e dos fenômenos, a ciência elabora conhecimento para explicar o mundo. ESPINOSA, 2010

O desenvolvimento da curiosidade e da

capacidade de observação das crianças permite

que proporcionemos a elas momentos em que

possam praticar todos os questionamentos de

acordo com a observação da natureza que as

rodeiam. Criar hipóteses e testá-las possibilita

que as crianças, gradativamente, tornem-se

pesquisadoras, capazes de observar situações do

dia a dia e confrontá-las.

As experiências realizadas com o tema LUZ

E SOMBRA favoreceram a postura investigativa e

pesquisadora do grupo. Elaborar experimentos

com diversos materiais simples e reconhecer o seu envolvimento com a luz, como pedrinhas de

plástico, areia, papel e moldes vazados trouxe situações de reflexões e muitas descobertas para

que a atenção e a vontade do conhecimento científico sejam despertadas nas crianças, que

observam atentamente o reflexo e a

sombra que eram projetadas na

parede, buscando entender e

estabelecer relações entre estes

materiais com a luz, afinal, elas, assim

como os cientistas, buscam por

respostas sobre o mundo que vivem.

Durante as atividades de luz e

sombra Davi buscou testar e explorar

os materiais que estavam a sua

disposição, se interessando pelos

objetos que ficavam a sua disposição

nas caixas de luz, assim como realizava

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diversos experimentos e hipóteses com os materiais que eram projetados na parede pelo

retroprojetor, descendo e subindo as imagens como forma de perceber se elas aumentavam ou

diminuíam.

***

As crianças desta idade estão passando por

grandes transformações, revoluções e explosões. Tudo

é vivido com muita intensidade, pois passam de um

extremo para o outro com facilidade. As alternativas

são muitas, todos os caminhos da cultura são, para elas,

vias de trânsito nos dois sentidos, devido à sua grande

inexperiência, o domínio do sim e do não, do ir e vir, do

correr e parar se encontram em perfeito desequilíbrio.

Podemos afirmar que o Davi conquistou maior

autonomia em diversos aspectos ao longo do ano.

Tivemos momentos de aprendizagens, trocas e,

principalmente, momentos prazerosos. Agora,

despedimo-nos com alegria por saber que contribuímos no seu desenvolvimento, pois sabemos

que muitos dos seus avanços foram alcançados a partir das centenas de desafios propostos

neste ano. Foi surpreendente observar o seu crescimento!

Que as experiências compartilhadas no percurso até aqui sejam a alavanca para

alcançarmos a alegria de chegar ao destino projetado. Davi continuará descobrindo muitas

novidades, informações e novos conhecimentos durante este percurso da Educação Infantil.

Sentiremos saudades de cada descoberta em que estávamos juntos. Uma despedida é necessária

antes de podermos nos encontrar outra vez. Que nossas despedidas sejam um eterno

reencontro!

"... A minha contribuição foi encontrar uma explicação segundo a qual, por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que

escutam, há uma criança que pensa." Emília Ferreiro

Um grande abraço,

Professora Mayara Pizzolitto

Coordenadora Camila Izoli

Dez/2015

BIBLIOGRAFIA:

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MOREIRA, A. A. A. O espaço do desenho: a educação do educador. 12. ed. São Paulo: Loyola, 2008.

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TEBEROSKY, Ana. Aprender a ler e a escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre: Artmed, 2003.

JÁCOMO, Ana Claudia. Almas Perfumadas. http://www.releituras.com/ne_acdjacomo_almas.asp.