themaeducando - 2015 relatório · se aproxima de seus amigos de maneira contida e acolhedora,...
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”A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do
processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura,
fora da boniteza e da alegria.” Paulo Freire
Ao olharmos para trás podemos observar quantas coisas boas
passamos no nosso dia-a-dia, tantos aprendizados e experiências
enriquecedoras que construímos como um grupo em nossa caminhada.
Foi neste ambiente que estabelecemos diversas relações, trilhando
caminhos em direção ao conhecimento, tendo como norteadores o
fantástico, a fantasia e a imaginação.
Como é enriquecedor o dia-a-dia com as crianças, descobrir em
cada detalhe a sua grandeza, transformando experiências e vivências
em conhecimentos, que iam muito além da teoria, nos permitindo
conhecer um mundo fascinante e cheio de descobertas.
E agora estamos chegando ao fim de mais um ano, e gostaria de
compartilhar um pouco do que o Davi experimentou, aprendeu e de
como se desenvolveu ao logo desta caminhada.
ROTINA
As crianças, desde muito pequenas, interagem com o meio natural e social em qual vivem, com isso aprendem sobre o mundo, fazendo perguntas e procurando respostas as suas indagações e questões. RCNEI, 1998.
A Educação Infantil possibilita à criança
ampliar suas experiências e favorece o seu
desenvolvimento em todas as dimensões humanas:
afetiva, motora, cognitiva, social, imaginativa, lúdica,
estética, criativa, expressiva, linguística. Isto implica
considerar que a escola possibilita contextos de
aprendizagens e de trocas de significações a partir
de diversas linguagens.
As experiências da criança nesse ambiente são
repletas de emoções e desafios, a medida que
enfrenta situações cada vez mais complexas, conta
THEMAeducando - 2015
Relatório
Davi Marques de Toledo Grupo 2.2
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com mais recursos para superá-los. Adaptar-se a um novo grupo é um dos desafios vivenciados
pela criança, por ser um processo contínuo de mudança, crescimento, desenvolvimento e
amadurecimento, é o momento em que crianças e pais passam a criar relações afetivas com o
novo grupo e educadora. Segundo Balaban (1988), é necessário tempo para que a criança
apreenda toda a nova situação que está vivenciando, ou seja, tanto as características desse novo
adulto, amigos, rotina, quanto o ambiente e a nova situação: organização do tempo, do espaço e
referência do adulto.
A adaptação do Davi ocorreu de maneira
saudosista, pois no início do ano ele ainda tinha
como referência o antigo grupo do G1, procurando
seus antigos amigos e educadora, questionando o
motivo da troca de grupo. Em alguns momentos
necessitou da ajuda da educadora para buscá-lo no
portão, posteriormente, o pai começou a buscar
subterfúgios para incentivar o Davi, permitindo que
ele levasse objetos de sua escolha para a escola.
Por mais que fosse difícil o momento da
separação no portão, quando Davi chegava à sala e
era acolhido pelos amigos, logo se recompunha e
levava sua rotina normalmente, brincando e se divertindo com seus amigos.
Um elemento bastante importante que proporciona sentimentos de estabilidade e
segurança dentro da escola é a rotina, além disso, ela favorece a adaptação da criança em
diferentes situações. O período que a criança está na escola precisa ser rico, alegre e
prazeroso, com a rotina organizada numa sequência habitual de atividades, possibilitando que se
torne mais autônoma e segura, pois sabe todo o caminho que percorrerá durante o período em
que estiver na escola. A rotina das atividades é compartilhada com o grupo diariamente para que
se situem e compreendam a noção de tempo, conceito este que é construído ao longo da
escolaridade. Deste modo, reforçamos o quanto é importante que os adultos estabeleçam
horários para as atividades diárias das crianças.
Davi tem a sua frequência bem regular
na escola, o que lhe possibilita ter uma boa
compreensão de tempo, entendendo quais
são os dias de ir à escola e quais são os de
ficar em casa. Esta frequência também
permite a Davi compreender a rotina do
grupo, os momentos de roda de conversa, os
momentos de atividades, os de refeição e
etc.
Em suas falas às vezes confunde as
expressões temporais “ontem” e “hoje” e, ao
conversar sobre o que realizou no final de
semana, gosta de trazer informações de casa como, por exemplo, o dia do livro, uma informação
trazida por seu pai, que ele contou animado para a educadora e seus amigos na roda.
Dentre os rituais de rotina, as crianças do G2, quando chegam ao Thema, devem colocar a
mochila no local correto, pegar o caderno e a escova de dente e guardá-los na sala, além de tirar
outros objetos da mochila, assim como organizar seus pertences.
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Davi chega à escola de maneira sorridente e tímida,
mostrando estar feliz por ter chego na escola, aproxima da
professora de maneira tranquila e sorridente, contando alguma
novidade. Tem autonomia para cuidar de seus pertences, mas
às vezes necessita ser lembrado de retirar da mochila o seu
caderno, escovação e outros objetos que sejam necessários,
como o livro da biblioteca.
Para ir ao banheiro Davi avisa ao adulto a sua
necessidade, pedindo para que o acompanhe caso necessite de
ajuda, mas abaixa e levanta as calças sozinho, dando descarga
sem grandes dificuldades. Ao sair do banheiro lava as suas
mãos com água e sabão, informando o adulto que já terminou.
Davi gosta de ajudar seus colegas e os adultos em
diversas atividades do dia, fica animado quando é sorteado
para ser o ajudante do dia, e assim que percebe que pode ajudar a
professora a levar algo para a sala se entusiasma, tomando a
frente quando é solicitado pelo o adulto.
Nos momentos de refeição Davi se alimenta bem,
inicialmente por estar mais sensível com o nascimento de seu
irmão, ele passou a solicitar a ajuda do adulto para se alimentar,
mas com o decorrer dos meses e o estímulo do adulto voltou a se
alimentar sozinho. Davi aceita grande variedade de frutas, bolos,
pães, sucos, verduras e legumes que são oferecidos.
Ao terminar o almoço mostra animado seu prato vazio,
levando o prato até o local que será lavado, limpa a boca com papel
e passa álcool em gel nas mãos para higienizá-las. Solicita seu
caderno para guardar na bolsa, levando-a até o portão para
esperar o momento de ir embora.
SOCIALIZAÇÃO
Dentro deste contexto, a escola exerce um papel importante na consolidação do processo
de socialização, processo esse que ocorre já no início da vida da criança. A escola é
determinante para o desenvolvimento cognitivo e social e, também, para o curso posterior de sua
vida. É ainda na escola que se constrói
parte da identidade de ser e pertencer
ao mundo; nela adquirem-se
aprendizagens e princípios éticos e
morais que permeiam a sociedade; na
escola depositam-se expectativas, bem
como dúvidas, inseguranças e
perspectivas em relação ao futuro e às
suas próprias potencialidades.
Davi é uma criança bem
entrosada ao grupo, estando em grande
parte do tempo com um sorriso no
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rosto, não demonstra preferência por um
amigo ou tão pouco os seleciona, nos
momentos em que havia alguma criança
nova fazendo adaptação na turma, ele era
um dos primeiros a buscar fazer amizade,
contando sobre o projeto que estávamos
estudando, informando da rotina,
mostrando a escola e principalmente
convidando-os para brincar. Ele interage
com todos isoladamente ou ao mesmo
tempo, sempre com a mesma intensidade
de envolvimento.
Gosta de convidar os amigos para
brincar juntamente com ele, não
necessitando de estímulos para que se envolva com o grupo. Ele inicia o seu dia com entusiasmo,
se aproxima de seus amigos de maneira contida e acolhedora, conversando e convidando para
brincar. Davi é solicito em ajudar os amigos, ajudando-os nos momentos de organização, como
por exemplo, a guardar ou localizar os seus pertences quando estes não estão conseguindo
sozinhos.
Uma das maneiras da criança
iniciar a aprendizagem é pela convivência,
ou seja, pela socialização. No Thema, as
crianças têm a oportunidade de conviver
com outras crianças e isso é fundamental
para seu desenvolvimento social, afetivo
e cognitivo. Mas, para se estabelecer uma
boa relação, é necessário aprender as
regras de convivência, como dividir,
partilhar, fazer valer seus direitos,
respeitar o espaço e o direito do outro.
Para a criança de 3 a 4 anos, esse é
um desafio, pois compreender os pontos
de vista é resultado de um longo processo
de desenvolvimento, preocupar-se com o outro o
suficiente para agir de uma maneira benéfica é
decorrência de uma longa história de vivências.
Isto ilustra o que Piaget quis dizer quando
afirmou que as crianças constroem as regras
morais. A compreensão e o cuidado para com o
outro não existem separadamente. Nós não
podemos nos interessar pelo bem estar de
alguém sem termos a perspectiva do outro, e
assumir esta perspectiva é tanto intelectual
quanto emocional. Estas condições interpessoais
estão relacionadas à construção da moral
autônoma, baseada em sentimentos internos,
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pela necessidade de considerar os outros além de
si mesmo. Sem uma convicção pessoal sobre as
regras, muito provalvemente as crianças não as
seguirão quando o adulto não estiver presente.
Neste ambiente ativo onde ocorrem
interações sociais, os conflitos são inevitáveis e
de grande importância para a construção moral da
criança. As crianças dessa faixa etária já
descobriram o poder que a palavra possui e, por
isso, começam a deixar de utilizar agressões
físicas, passando a tentar negociar e impor
oralmente suas vontades e desejos.
Davi tem autonomia para resolver os seus conflitos, não necessitando mais de ações
físicas para resolver seus problemas. Quando necessário ele solicita a ajuda de um adulto para
intermediar o conflito, contando o que se sucedeu, e verbalizando que não gostou da ação do
amigo, às vezes recorre ao choro para demonstrar que ficou chateado, procurando o colo do
adulto para lhe acolher, mas assim que o amigo lhe pede desculpas ele verbaliza que o desculpou
e volta a brincar com ele.
EXPRESSÃO CORPORAL E O BRINCAR
O movimento é uma importante
dimensão do desenvolvimento e da cultura
humana. As crianças se movimentam desde
que nascem, adquirindo um controle maior
sobre seu próprio corpo e apropriando-se
cada vez mais das possibilidades de
interação com o mundo. Ao se movimentar
as crianças expressam sentimentos,
emoções e pensamentos, ampliando as
possibilidades do uso significativo de gestos
e posturas corporais.
A Expressão Corporal consiste em um
trabalho de estimulação das potencialidades
criativas e expressivas da criança por meio da linguagem do corpo. Ela não se limita à codificação
de movimentos, mas sim, permite a expressão de individualidades. No Thema, o ambiente físico e
social é favorável para que as crianças se sintam estimuladas e seguras a arriscar e enfrentar
desafios. Quanto mais rico e desafiador for este ambiente, mais possibilidades existirão de
ampliar os conhecimentos acerca de si mesmos, dos outros e do meio em que vivem. Sendo assim,
foram realizadas diversas atividades, como circuitos, brincadeiras com obstáculos, propostas
que envolviam equilíbrio, força, coordenação entre outros desafios motores, a fim de estimular
as crianças e favorecer o desenvolvimento físico.
Davi é uma criança que explora constantemente as suas capacidades motoras, mostrando
facilidade em executar os movimentos corporais que são propostos pela professora, pelos seus
colegas ou por ele mesmo, quando consegue realizar algo diferente gosta de mostrar para seus
amigos e professora, se divertindo com suas descobertas.
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Ele não demonstra receio em executar
movimentos, gosta de brincar de corrida com seus
amigos, de subir e escorregar nos brinquedos do
parque. Está constantemente traçando novos
desafios para executar, convidando os amigos a
desempenhar juntamente com ele.
Um certo dia ele estava brincando pelo espaço
da escola e se debruçou no chão tentando se
esconder atrás do degrau e chamou a professora
para mostrar rindo com a tentativa.
Os momentos dos jogos simbólicos são
apreciados por Davi, que envolve os amigos nas suas
fantasias e brincadeiras. Os momentos de
brincadeira com peças de encaixe e com animais são
muito convidativos para Davi, pois gosta de construir
torres altas e castelos.
Quando estamos em uma proposta em que a turma é dividida em equipes, Davi às vezes se
frustra em estar naquela que não atingiu o objetivo, saindo do espaço ou chorando, mas quando a
brincadeira se inicia novamente, fica animado em recomeçar.
LINGUAGEM ARTÍSTICA
O homem sempre desenhou. Sempre deixou registros gráficos, índices de suas experiências, comunicados íntimos destinados à posteridade. O desenho, a linguagem é tão antiga e tão permanente, sempre esteve presente desde que o homem inventou o homem. DERDYK, 1989.
Segundo Moreira
(2008), toda criança desenha.
Tendo um instrumento que
deixa uma marca, como a
varinha na areia, a pedra na
terra, o caco de tijolo no
cimento, o carvão nos muros e
calçadas, o lápis, o pincel com
tinta no papel, a criança
brincando vai deixando sua
marca, criando jogos,
contando histórias.
Desenhando, cria em torno de
si um espaço de jogo
silencioso e concentrado, ou
ruidoso, seguido de comentários e canções, mas sempre um espaço de criação. Lúdico. A criança
desenha para brincar.
As crianças do G2 estão numa fase de transição, em que o suporte não é mais visto como
mero instrumento de exploração. Os procedimentos de construção artística nos desenhos,
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pinturas e colagens começam a permear o processo de produção, uma vez que as crianças passam
a pensar no que irão fazer e, de certo modo, projetam o que farão no suporte. O percurso ainda
continua sendo muito mais importante que o produto final, porém, ganhou novo significado, como
apreciar e expor a produção que foi realizada.
Com a produção de DESENHOS, as
crianças podem desenvolver a autoexpressão
e atuar efetivamente com o mundo:
opinando, criticando e sugerindo. Assim
como na brincadeira, ao desenhar, a criança
representa a realidade, transformando-a de
acordo com sua vontade. Quanto mais
oportunidades de desenhar e observar
desenhos de outras crianças, maiores serão
as situações de aprendizagem vivenciadas.
No G2, o
traçado
tem um desenvolvimento significativo e, para favorecer esse
grafismo e criatividade, são realizadas diversas propostas de
desenho, como desenho da imaginação, livre, interferências
gráficas etc.
Davi iniciou o ano realizando desenhos com traçados
que remetiam as características humanas, como braços e
pernas, e ao longo do ano os seus desenhos foram sendo
enriquecidos com detalhes, arriscando novas representações
gráficas e atualmente traça figuras humanas, se dedicando a
traçar todas as partes do corpo, como dedos e o tronco. Ele
segue as propostas feitas pela professora, mas no início não
planejava anteriormente o que pretendia desenhar, mas com
o tempo começou a planejar os seus desenhos, dedicando
mais tempo as suas produções e detalhes.
JANEIRO ABRIL SETEMBRO
As cores são selecionadas de acordo com a sua preferência, utiliza cores com
intencionalidade quando conversamos anteriormente sobre as possibilidades de cores a serem
usadas. Gosta de desenhar com canetão preto e pede para pintar sua produção com lápis de cor,
selecionando diversas cores para compor o seu desenho. Ele é cuidadoso com seus suportes e
com suas produções, buscando mantê-los organizados.
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Davi gosta de ressaltar os cuidados com
cada tipo de material, às vezes, necessita de
incentivo para se dedicar e, durante sua produção,
busca o olhar do adulto, perguntando se está
bonito e caprichado.
As atividades artísticas devem perpassar o
cotidiano da Educação Infantil, fazendo-se
presentes nas diversas situações, possibilitando,
assim, que as crianças construam e vivenciem o
fazer artístico. Ao entrar em contato com a arte,
a criança passa por experimentações, que vão
desde uma pintura até a construção de uma escultura. Para tanto, é fundamental que a criança
tenha contato com variados tipos de materiais,
ferramentas e suportes, explorando e
conhecendo técnicas e procedimentos para
colocar em prática em suas produções. Neste
sentido, as atividades de PINTURA e COLAGEM
no Grupo 2 tem como objetivo propor,
experimentar e conversar com as crianças sobre
os cuidados que precisam ter com os registros, as
formas de utilizar os materiais e os suportes, os
diferentes processos e maneiras de se fazer uma
produção artística, além de favorecer o desenho
figurativo.
Nas propostas de recorte e colagem Davi se mostra
empolgado, selecionando os materiais que pretende utilizar e
planejando previamente onde deseja colar. O contato da cola
com as mãos é animador para ele, pois acha engraçado os dedos
colarem e ficarem melecados. Para realizar o recorte Davi
seleciona o que quer recortar e se concentra para realizar o
corte.
Ao realizar uma proposta de pintura Davi fica interessado
pelo manuseio da tinta com o pincel, utiliza seus suportes
corretamente, segue as propostas e normalmente realiza seus
desenhos com intencionalidade, pois também gosta de explorar
os desenhos com a tinta sem uma intencionalidade ou
planejamento prévio da produção.
LINGUAGEM PORTUGUESA
Segundo o Referencial da Educação Infantil, por viverem em sociedades letradas, as
crianças desde os primeiros meses, estão em permanente contato com a linguagem escrita. É por
meio deste contato diversificado em seu ambiente social que a criança descobre o aspecto
funcional da comunicação escrita, desenvolvendo interesse e curiosidade por esta linguagem.
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No G2 nosso principal foco é a ORALIDADE, uma vez que a criança só será uma boa escriba
se antes tiver sido uma boa oradora. Deste modo, todas as atividades deste grupo têm como
objetivos aumentar o repertório de palavras, possibilitar que sejam falantes e ouvintes em
diversas situações da rotina e, principalmente, proporcionar às crianças modelos de leitora e
escritora. Afinal, a criança desta idade lê com os ouvidos e escreve com a boca.
Davi tem uma compreensível oralidade, se
comunicando, mesmo de uma forma tímida, com
todos a sua volta. Nos momentos de roda gosta
de falar e se expressar, se envolve com os
colegas que estão ao seu lado, aguardando a sua
vez de falar. Ele se interessa pelas novidades e
informações que são trazidas na roda, seja pela
professora ou por seus colegas, escuta com
atenção e questiona mais acerca do assunto.
Suas falas por diversas vezes foram
associadas ao projeto, pois se encanta com os
detalhes pesquisados. Certa vez Davi me contou
de maneira divertida que meu olho parecia com o
do crocodilo, rindo com a mão na boca enquanto me
dizia que estava ficando com medo.
Suas Nas pesquisas gosta de mostrar e contar o
que descobriu, expondo de maneira claras as
informações encontradas, podendo ser notado uma
ampliação de seu repertório de palavras.
Sabendo da importância de trabalhar com a
oralidade, leitura e escrita como práticas sociais
e culturais, as propostas de atividades do
GIROLETRAS puderam, de forma divertida,
contribuir para que as crianças entendam o
porquê se fala, lê e escreve. Com as cantigas, parlendas, adivinhas e muitas brincadeiras,
estimulamos a concentração, atenção, memorização, percepção auditiva, além de favorecer o
conhecimento de diversas estruturas de textos.
Nas rodas de prosa Davi fica atento, escutando a leitura
realizada pelo adulto, com o texto em mãos, já nas cantigas e nas
parlendas gosta de repetir o texto juntamente com o adulto.
Ainda dentro das práticas de linguagem, os projetos MUNDO
ÁRABE e ANIMAIS DO MUNDO ampliaram o repertório de
conhecimento, contribuindo para que a criança desenvolva sua
postura de estudante, pesquisadora e leitora, pois foram realizadas
buscas de informações em diferentes contextos sociais, como
livros, revistas, enciclopédias, documentários etc. A criança é um
ser pensante dotada de argumentos, porque seu padrão cultural
oferece suporte para a exploração do conhecimento. É interessante
instigar, provocar sua imaginação, porque a partir dessa prática
pedagógica grandes aprendizados surgirão.
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Os projetos proporcionaram diversas situações em que as crianças eram levadas a
pesquisar informações em livros e imagens, Davi se sentiu animado e instigado nesses momentos,
procurando um livro para folhear, verbalizando seus achados, narrando descobertas e
questionando outras informações que encontrava, tanto com adultos como com seus colegas.
Nas atividades em pequenos grupos Davi gosta de
argumentar sobre os processos de realização da atividade,
ressaltando os procedimentos em relação ao que era
proposto, como por exemplo, a utilização das lupas para
pesquisa e a necessidade de dividir os livros e imagens que
estavam dispostos.
Nos momentos em que era encorajado a escrever
alguma informação, Davi realizava a escrita de maneira
dedicada, desenhando símbolos, como círculos, riscos e
quadrados, para representar as letras desejadas.
As informações eram bem assimiladas por Davi, mesmo
que se passasse um tempo que uma informação não era
trazida em roda, quando pedido para que recordassem, ele
conseguia retomar diversos detalhes, quando não se
recordava sorria timidamente e levantava os ombros como
forma de mostrar que não sabia.
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Os momentos de RODA DE HISTÓRIA são importantes, pois possibilitam desenvolver a
imaginação, o encanto e o interesse pelo mundo letrado. Ao longo do ano foram abordados
diferentes títulos e autores de acordo com o interesse da faixa etária, apresentando livros que
trazem mais personagens, mas com um protagonista que tenha características que, de algum
modo, permitam que as crianças se identifiquem com ele; histórias com personagens animais com
características humanas; histórias em que os fatos podem se passar em espaços reais ou
imaginários e histórias com a presença de repetições (permitindo a recuperação da narrativa).
Os momentos de roda de história para Davi são instigantes, ele escuta com atenção o que
é narrado, fica ansioso para saber o que irá acontecer, desta forma, tenta antecipar os
acontecimentos do livro, falando o que irá acontecer em seguida. Se a história não lhe chama a
atenção, ele acaba dispersando, deitando para fora da roda e buscando outra coisa que lhe
interesse mais naquele momento.
De acordo com Emília Ferreiro, que estrutura o
processo de desenvolvimento da escrita em sistemas
conceituais, a criança desta faixa etária se caracteriza
no momento pré-silábico. A didática dessa fase visa,
entre outras coisas, o reconhecimento de que letras
desempenham um papel na escrita e o outro é o da
compreensão do discurso oral com o texto escrito. A
criança deve diferenciar a imagem de texto e letras
dos números, para que, assim, possa estabelecer um
vínculo entre o que se pensa e escreve. Reproduz os
traços da escrita de acordo com seu contato com as
formas gráficas (imprensa ou cursiva), escolhendo a
que lhe é mais familiar para usar nas suas hipóteses de
escrita.
Deste modo, a descoberta da escrita do nome
próprio é um momento mágico e fundamental para que o aprendizado da prática de leitura e
escrita ocorra. No Grupo 2, o foco da escrita está no NOME próprio, por ser um conjunto de
letras que fazem parte da identidade da criança, carrega grande valor significativo. Para que a
criança continue avançando após a estabilização do nome próprio, o reconhecimento e a grafia
dos nomes dos amigos auxiliarão na produção de escritas de novas palavras nos anos seguintes.
Davi tem contato com seu nome em diversas
situações, desta forma identifica seu nome mesmo
quando está misturado com o de outras crianças.
Gosta de buscar identificar o nome e o de seus
amigos também, mesmo que não consiga acertar se
diverte na tentativa.
A grafia de seu nome no começo do ano era
composta de alguns riscos para representar as
letras, sendo progressivamente substituído por
símbolos e desenhos para compor seu nome, se esforçando para representar a sua letra inicial
“D” e o “A”. A distinção entre números e letras está em desenvolvimento, e quando questionado
fala aleatoriamente na tentativa de acertar.
Assim como diz o ditado: “Quem canta seus males espanta”, nas RODAS DE MÚSICA
cantamos e dançamos muito. Adriana Partimpim e Palavra Cantada fizeram parte do nosso
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repertório, unindo a música com as rimas, também escutamos os “Poemas Musicais” de Cecília
Cavalieri França, também apreciados pelas crianças.
A música para Davi é prazerosa, ele se
atenta para a letra, cantando juntamente com os
amigos, repetindo os gestos e sons que compõe a
cantoria, se divertindo com esta interação.
Suas músicas preferidas eram as que
envolviam animais, gostava de reproduzir o rugido
final da música do leão na jaula e em diversas
outras músicas gostava de bater palma enquanto
contava. Seu repertório de palavras e de músicas
aumentou com tempo, e quando realizava o
registro das músicas gostava de desenhar de
acordo com o momento, colorindo intensamente
de acordo com a música cantada.
LINGUAGEM MATEMÁTICA
A matemática faz parte do nosso cotidiano, precisamos dela
em quase tudo. Na hora de cozinhar uma culinária, na organização de
espaços, para saber as horas e quando utilizamos o calendário. O
conhecimento lógico matemático não se dá por informação, mas pela
possibilidade da criança agir sobre os objetos e a partir dessa
relação conhecer a nomenclatura específica e formar conceitos. As
atividades de classificação, seriação e correspondência têm caráter
nitidamente matemático, porque se trata do estabelecimento de
relações. É por meio de atividades concretas que as crianças
conseguem se apropriar do conhecimento, por isso, realizamos na
rotina atividades com calendário, jogos e brincadeiras, coleções e
resoluções de problemas.
Nosso CALENDÁRIO foi de grande importância. Com ele, favorecemos o acompanhamento e
compreensão da questão temporal dos dias da semana e meses do ano, o que possibilita que as
crianças entendam sobre a funcionalidade da matemática. Assim, buscamos permitir a
construção gradativa do conceito de número e
outros conceitos matemáticos de forma lúdica e
prazerosa.
O calendário é normalmente trabalhado
com as crianças nas rodas de conversa no inicio
da manhã, Davi participava com frequência
devido o seu horário de chegada ao grupo, o que
lhe possibilitou o entendimento em relação à
função social do calendário. Mostra-se animado
para falar o mês em que estamos.
Já com os JOGOS e BRINCADEIRAS
tivemos como objetivo além da concentração,
autonomia, autocontrole e espírito esportivo, a
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sequência lógica das regras, contagem de pontos e sua representação gráfica. No primeiro
semestre, as brincadeiras foram de corpo e espaço (pega-pega, estátua e elefantinho colorido)
e, no segundo, as que utilizam o número como marcação de tempo ou pontuação (se eu fosse um
peixinho, dança da cadeira, cabo-de-guerra, pega-rabo e amarelinha).
Nos momentos de brincadeiras Davi se
mostra animado, e durante a roda de conversa
em que estabelecemos nossa rotina, quando
surge a oportunidade de se realizar uma
brincadeira fica animado, perguntando se já
chegou o momento de brincar.
Quando conversamos sobre as regras
que compõe a brincadeira fica atento para
ouvir as etapas e as regras estabelecidas,
verbalizando o que se pode ou não fazer
naquele momento.
Quando não está na equipe vencedora
fica temporariamente frustrado, sentando-se
e cruzando os braços, mas logo que surge a possibilidade de brincar novamente para tentar
ganhar, logo se anima e volta para a brincadeira.
Nos momentos de registro da brincadeira Davi tem como objetivo representar os
movimentos da brincadeira, já no desenho da brincadeira de cabo de guerra Davi representou a
corda, com seus amigos a segurando, acrescentando o detalhe do pano no centro da corda.
Com a intenção de ampliar ainda mais as atividades de contagem e reconhecimento de
quantidade, montamos uma COLEÇÃO coletiva de borracha que foi votada e acolhida por todas
as crianças.
Nos procedimentos de contagem Davi conta utilizando os dedos como ferramenta,
retirando um por um e organizando-os. Nota-se que Davi se desconcentra com as características
das borrachas, procurando retirar aquelas que mais lhe atrai, fazendo algumas vezes
sobrecontagem, sendo necessário retomar com ele a contagem desde o início. Neste momento
trabalhamos a importância de se ter atenção e concentração.
O DADO também foi um instrumento amplamente
utilizado, uma vez que aproxima a criança da contagem. No
segundo semestre, as crianças do G2 participaram de
diversas atividades com esse instrumento, como jogos de
trilha, jogos de contagem etc., a fim de aproximá-las da
recitação numérica e quantificação dos números.
Davi já reconhece as faces do dado, mas não busca
manipulá-lo de forma que o maior número fique para cima,
utiliza o dedo como suporte para contagem, conta em voz
alta, e depois, para pegá-los sinaliza com os dedos a
quantidade necessária e, por algumas vezes, acaba se
perdendo na manipulação e pega objetos a mais.
Na RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS, com o objetivo de
desafiar as crianças, atividades de pequenas contagens
foram propostas: “Quantos ovos tinham na caixa?”, “Quantas
bananas o macaco comeu?” etc., e eram realizadas de
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maneira coletiva. Em seguida, as crianças registravam o resultado, utilizando representações
pictográficas (desenhos e símbolos), depois discutiam os valores encontrados e o registro dos
mesmos com o grupo.
Nas resoluções de problemas Davi se mantém atento
e participa da roda levantando diversas hipóteses. Nos
momentos de contagem de objetos se utiliza do dedo como
ferramenta, conta um objeto por vez e devagar para não se
perder na contagem. Para registrar a quantidade de
objetos inicialmente utilizava desenhos para representar a
quantidade, mas depois foi arriscando substituir os
desenhos pelo número que representava a sua contagem.
CIÊNCIAS NATURAIS
A ciência é uma produção social e cultural que, em vez de descrever o mundo, interpreta de modo particular a concepção dos fatos e dos fenômenos, a ciência elabora conhecimento para explicar o mundo. ESPINOSA, 2010
O desenvolvimento da curiosidade e da
capacidade de observação das crianças permite
que proporcionemos a elas momentos em que
possam praticar todos os questionamentos de
acordo com a observação da natureza que as
rodeiam. Criar hipóteses e testá-las possibilita
que as crianças, gradativamente, tornem-se
pesquisadoras, capazes de observar situações do
dia a dia e confrontá-las.
As experiências realizadas com o tema LUZ
E SOMBRA favoreceram a postura investigativa e
pesquisadora do grupo. Elaborar experimentos
com diversos materiais simples e reconhecer o seu envolvimento com a luz, como pedrinhas de
plástico, areia, papel e moldes vazados trouxe situações de reflexões e muitas descobertas para
que a atenção e a vontade do conhecimento científico sejam despertadas nas crianças, que
observam atentamente o reflexo e a
sombra que eram projetadas na
parede, buscando entender e
estabelecer relações entre estes
materiais com a luz, afinal, elas, assim
como os cientistas, buscam por
respostas sobre o mundo que vivem.
Durante as atividades de luz e
sombra Davi buscou testar e explorar
os materiais que estavam a sua
disposição, se interessando pelos
objetos que ficavam a sua disposição
nas caixas de luz, assim como realizava
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diversos experimentos e hipóteses com os materiais que eram projetados na parede pelo
retroprojetor, descendo e subindo as imagens como forma de perceber se elas aumentavam ou
diminuíam.
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As crianças desta idade estão passando por
grandes transformações, revoluções e explosões. Tudo
é vivido com muita intensidade, pois passam de um
extremo para o outro com facilidade. As alternativas
são muitas, todos os caminhos da cultura são, para elas,
vias de trânsito nos dois sentidos, devido à sua grande
inexperiência, o domínio do sim e do não, do ir e vir, do
correr e parar se encontram em perfeito desequilíbrio.
Podemos afirmar que o Davi conquistou maior
autonomia em diversos aspectos ao longo do ano.
Tivemos momentos de aprendizagens, trocas e,
principalmente, momentos prazerosos. Agora,
despedimo-nos com alegria por saber que contribuímos no seu desenvolvimento, pois sabemos
que muitos dos seus avanços foram alcançados a partir das centenas de desafios propostos
neste ano. Foi surpreendente observar o seu crescimento!
Que as experiências compartilhadas no percurso até aqui sejam a alavanca para
alcançarmos a alegria de chegar ao destino projetado. Davi continuará descobrindo muitas
novidades, informações e novos conhecimentos durante este percurso da Educação Infantil.
Sentiremos saudades de cada descoberta em que estávamos juntos. Uma despedida é necessária
antes de podermos nos encontrar outra vez. Que nossas despedidas sejam um eterno
reencontro!
"... A minha contribuição foi encontrar uma explicação segundo a qual, por trás da mão que pega o lápis, dos olhos que olham, dos ouvidos que
escutam, há uma criança que pensa." Emília Ferreiro
Um grande abraço,
Professora Mayara Pizzolitto
Coordenadora Camila Izoli
Dez/2015
BIBLIOGRAFIA:
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TEBEROSKY, Ana. Aprender a ler e a escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre: Artmed, 2003.
JÁCOMO, Ana Claudia. Almas Perfumadas. http://www.releituras.com/ne_acdjacomo_almas.asp.