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Trabalho acadêmico sobre Mies van der Rohe

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Universidade Federal do Par Instituto de Tecnologia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Teoria e Histria da Arquitetura e Urbanismo VI Prof Dra. Celma Chaves Pont Vidal

Andr Assuno Louise Ferry BELM NOVEMBRO, 2010

INTRODUO No sculo XX a arquitetura passou por mudanas drsticas no apenas com o surgimento de novos materiais e tcnicas, mas por uma profunda reviso dos conceitos do fazer arquitetnico. Mies Van der Rohe foi um dos grandes nomes da arquitetura moderna, e suas obras so de grande influncia at nos dias de hoje. Este trabalho abordar o surgimento da arquitetura moderna, seu contexto histrico e as caractersticas desta nova linguagem com foco na obra do arquiteto alemo Mies Van der Rohe.

CONTEXTO HISTRICO: SURGIMENTO DO MOVIMENTO MODERNO Sculo XXI primeira guerra Mundial O Movimento Moderno no tem uma data ou cidade oficial de nascimento, seu processo de criao e definio ocorreu na Europa, iniciando-se ao final do sculo XIX com o advento da era moderna e a revoluo industrial e democrtica. As mudanas geradas por estes eventos foram profundas e envolveram todas as esferas da sociedade: proporcionou no somente o advento de novas tecnologias, mas mudou os meios de produo, a economia e a organizao social e espacial dos ncleos humanos. Essa nova realidade trouxe consigo uma demanda de conflitos dos quais o homem medieval desconhecia, fomentando novas formas de pensar a sociedade. Portanto, assim como todos os outros elementos da cultura ocidental a arquitetura se viu em um processo de repensamento e mudana buscando adaptao nova realidade, novas necessidades e novos problemas do homem moderno. Os primeiros pensadores que contriburam significativamente para o surgimento do movimento moderno abordavam a temtica da relao da industria com a produo artstica/ornamental, elementos vitais do fazer arquitetnico sendo considerado por Ruskin como elemento principal da Arquitetura (PEVSNER, P.1). Neste cenrio o artista plstico e escritor William Morris estimulava a integrao entre a produo industrial e produo artstica de forma sistematizada, aderindo discusso o carter social da produo artstica: De fato a indstria conseguia baratear os custos da arte, porm no se podia simplesmente replicar infinitamente elementos artsticos, mas sim proporcionar principalmente novas ferramentas, materiais, tecnologias e possibilidades ao artista de maneira que ele pudesse produzir mais, de forma mais barata e acessvel toda a sociedade. Baseado neste pensamento de Morris, o Arts and Crafts Movement (Inglaterra, dcada de 1840 a 1900) colaborou para a renovao do artesanato artstico. A relao entre industria e produo artstica teve seu pensamento evoludo por outros pensadores como Ashbee, alm do desenvolvimento de uma nova linguagem estilstica na Blgica, que posteriormente se espalhou por diversos pases, o Art Noveau, representado por arquitetos como Otto Wagner, van de Velde e Sullivan, que contriburam

para o surgimento do movimento moderno como novas formas de pensar o ornamento e a estrutura, empregando maciamente o ferro e o vidro. Ao mesmo tempo havia quem o condenasse, como Adolf Loos que j se posicionava contrrio a qualquer tipo de ornamentao. Todos estes questionamentos em torno das artes e ornamentao culminou no aparecimento de vanguardas artsticas que questionavam o academicismo e preceitos estticos em vigor, produzindo manifestos onde divulgavam seus ideais. Nas artes plsticas surgem movimentos como o fauvismo, cubismo, futurismo, entre outros. Na arquitetura e design Multhesius incia o discuso sobre a estandardizao (PEVSNER, p. 23), que ganha fora na Alemanha com o surgimento de vanguardas como a Deustcher Werkbund (1907) que pregavam uma qualidade superior da arte diretamente ligada ao industrial. A Werkbund baseando-se diretamente em Multhesius teve um papel primordial por conglomerar na Alemanha o iderio do movimento moderno influenciando arquitetos como Van de Velde, Olbrich, Frank Lloyd Writh, e Mies Van der Rohe. Vale ressaltar que todos estes questionamentos de valores e novos pensamentos ocorriam de forma simultnea na Europa. Primeira guerra mundial e o ps guerra. O cenrio econmico e poltico gerado pela primeira guerra mundial, o agravamento de questes como moradia, a destruio de cidades, arroxo econmico acarretou uma diminuio do ritmo da construo civil e redirecionou os debates na arquitetura, como observa Benvolo.Onde quer que o problema das moradias j se encontravam presentes antes da guerra este se torna agudo no ps guerra, sobretudo depois de alguns anos graas retomada do crescimento demogrfico (...) modifica-se assim, a clientela dos arquitetos: menos encargos particulares e mais do estado e entidades pblicas, menos casas isoladas, e mais bairros e arranjos de conjuntos. A importncia da urbanstica cresce rapidamente (Benvolo, 1976: 390)

O papel da indstria deixa de ser o foco dos debates e este passa a focar-se na prpria produo artstica e arquitetnica, no espao e como ele interage com o usurio. Tendo como ferramentas os novos recursos tecnolgicos proporcionados pela guerra, fortalece-se os ideais de ordem, racionalizao e funo dos espaos e recursos, alm de passar a abordar a questo social. Continuam surgindo novas vanguardas tanto nas artes quanto na arquitetura, como o dadasmo, o surrealismo, o construtivismo sovitico, o Neoplasticismo e De Stijl. O discurso de Multhesius da padronizao consolidado por Walter Gropius tanto no plano da criao quanto da teoria (PEVSNER, p.25) atravs da fundao da Bauhaus em 1919.(...) a didtica de Gropious reabrem tambm a possibilidade de uma flexo mais animada das formas, de uma maior liberdade de plantas e da distribuio e utilizao funcional dos espaos, de uma aderncia mais viva do edifcio ao terreno, de uma relao mais aberta com o ambiente. (Argan, 2004, p171)

A Bauhaus considerada a escola que inaugura o movimento modernista.

BIOGRAFIA Ludwig Mies van der Rohe, (nascido Maria Ludwig Michael Mies) nasceu em 27 de Maro de 1886 em Aachen na Alemanha, e ficou conhecido pelo nome Filho de um pedreiro, com quem deu seus primeiros passos no ramo da construo, Mies considerado uma das principais referncias da Arquitetura Moderna.

Figura 1 Mies Van der Rohe, 1940. Fonte: http://www.papodearquiteto.com

Caracterizado por um arquitetura simples, limpa e funcional, Mies van der Rohe teve sua formao inicial na Escola da Catedral de Aachen de 1897 a 1900, passando ento para a Escola de Artes e Ofcios de Aachen, onde ficou at 1902. Foi um dos arquitetos mais influentes do sculo XX ao lado de Frank Lloyd Wright e LeCorbusier. Trabalhando inicialmente com sua famlia, no incio de sua carreira conheceu o arquiteto Bruno Paul, para quem foi trabalhar em seu escritrio e conseguiu seus primeiros clientes como o filsofo Aloi Riehl, o que lhe permitiu fazer contato com outros nomes importantes para a consolidao do pensamento modernista, como Peter Behrens com quem fez parceria entre 1908 e 1912, at abrir seu prprio escritrio. Seus primeiros trabalhos foram influenciados por Hendrix Petrus, um dos fundadores da arquitetura funcional, Durante a primeira guerra trabalhou como engenheiro voluntrio, e posteriormente ente 1921 e 1927, comandou o o November-gruppe e a exposio de

Weissenhofsiedlung a fim de expandir a arquitetura moderna na Europa. Foi ainda, no incio da dcada de 30 o ltimo diretor da principal escola de arquitetura alem, a Bauhaus. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, Mies van der Rohe se viu obrigado a migrar para os EUA, onde em 1938 foi contratado pelo Armour Institute of Technology, como diretor do seu Departamento de Arquitetura, a fim de elevar o patamar de arquitetura tradicional da escola para um nvel mais internacional e inovador. Esta instituio, que veio posteriormente ser denominada Instituto de Tecnologia de Illinois, teve vinte edificaes de Mies construdas em seu campus, tornando-se um importante referencial de sua arquitetura nos Estados Unidos. Entre meados das dcadas de 40 e 50, Mies projetou e construiu suas principais obras nos EUA, especialmente aquelas que se tornaram marcos da arquitetura moderna e do uso de novas tecnologias. Neste perodo fora construda a Casa Farnsworth que hoje um pequeno museu sobre Mies, os edifcios de apartamentos da Lake Shore Drive em Chicago, considerados prottipos bem-sucedidos da aplicao de tecnologias de ao e vidro na construo de arranha-cus, e o edifcio Seagram (1958) em Nova York em parceria com Philip Johnson, que se tornara um smbolo do funcionalismo e do estilo internacional Mies sempre esteve ligado s inovaes tecnolgicas, usando novos materiais e explorando novas possibilidades em seus projetos. O custo no era um fator problemtico para ele, visto que nunca teve inclinao para questes sociais em suas obras, Ele sempre seguiu trs princpios bsicos em seus projetos: preciso de detalhes, valorizao da esttica estrutural e rigor na expresso das obras. Mies van der Rohe morreu em Chicago, cidade que lhe deu abrigo durante a 2 guerra, e onde ele teve mais espao para sua manifestao tcnica e criativa, em 17 de Agosto de 1969.

CARCACTERSTICAS DAS OBRAS A obra de Mies foi muito particular na sua poca. No incio de sua carreira Mies Van der Rohe produziu algumas residncias de caractersticas mais clssicas e regionais para a alta burguesia alem, porm sua participao nas vanguardas como a Deustcher Werkbund e a Bauhaus estimulou seu carter experimentalista em busca de um novo conceito estilstico, assim como novas tcnicas e materiais que proporcionassem a reproduo das caractersticas formais e estticas modernas. A arquitetura de Mies busca a essncia da obra atravs da abstrao e o minimalismo, reduzindo ao mximo o nmero de elementos de composio arquitetnica onde a prpria estrutura da edificao torna-se o principal elemento de composio esttica, primando pelo acabamento de qualidade superior. A ortogonalidade marcante das suas obras firma-se na caracterstica objetiva das linhas retas. O arquiteto tornou-se famoso pela ampla utilizao do vidro em sua obra, onde buscava uma integrao do ambiente exterior com o interior: O espao no podia simplesmente enclausurar-se em si, mas buscar a conexo visual com o ambiente sua volta, de forma que no houvesse um limite claro entre espao interno e externo. As delgadas estruturas de ao proposta pelo arquiteto trouxeram a caracterstica de leveza, mesmo em combinao com o pesado mrmore polido, utilizado amplamente como revestimento de paredes e pisos em sua obra. Sempre utilizando estes elementos Mies Van de Rohe produziu muitas obras de grande reconhecimento na arquitetura moderna.

OBRAS Como j foi dito anteriormente Mies Van der Rohe no iniciou sua carreira com sua produo projetual inserida nas caractersticas modernista, portanto a seguir traaremos um perfil cronolgico das obras do arquiteto. Casa Riehl - Potsdam, Alemanha (1907). Esta residncia, construda em Potsdam, foi o primeiro projeto inteiramente desenvolvido por Mies, quando ele ainda tinha 21 anos e trabalhava no escritrio do arquiteto Bruno Paul. bastante diferente do estilo que o caracterizou no auge de sua carreira, no entanto o projeto abriu portas importantes para o futuro do arquiteto, j que permitiu fazer contatos com outros clientes atravs do casal Riehl, o tornando conhecido no meio.

Figura 2 - Casa Riehl Fonte:

A casa segue o estilo neoclssico sem grandes surpresas. So dois andares em plantas retangulares. O que chama a ateno so as mansardas suavemente curvadas, de

aspecto orgnico. Com aparncia que remete ainda ao sculo XIX, a residncia que fora construda entre 1906 e 1907, foi projetada segundo o princpio de arquitetura para reas externas. O terreno dividido em um jardim superior com espaos simtricos distribudos similares aos jardins franceses do sculo XIX, alm de uma rea ajardinada maior na parte inferior. H um muro de conteno que cria um nvel superior para os jardins e configura-se semelhante uma espcie de plataforma onde fica a casa. A distribuio da planta se concentra ao redor de um hall central, que guarda caractersticas decorativas que parecem ter sido influncias de Bruno Paul, no que se refere ao uso de madeira nos adornos. Do alpendre da casa visualiza-se o belo jardim, e um lago nas proximidades de Griebnitz.

Figura 3 - Planta baixa Fonte:

Casa Werner - Zehlendorf, Alemanha (1913) Foi mais um dos primeiros projetos totalmente feito por Mies. No possvel encontrar muitas referncias e estudos sobre a edificao, porm observamos que esta obra apresenta caractersticas comuns s residncias da alta sociedade alem, mas j

apresentando um numero reduzido de elementos decorativos em suas fachadas. O grande telhado de telhas de madeira de formato tradicional da regio germnica o elemento focal da edificao

Figura 5 - Elevaes e corte, por Mies Van der Rohe Fonte: Site THE MUSEUM OF MODERN ART

Figura 6 - Plantas da casa Werner Fonte: Site THE MUSEUM OF MODERN ART

Durante a pesquisa devido a escassez de material sobre a residncia e ausncia de fotografias da mesma, a equipe se questionou se este no passou apenas de um projeto, ou at acabou sendo demolida posteriormente. Porm esta residncia foi construda e ainda encontra-se com suas caractersticas originais na fachada, como podemos constatar em imagens retiradas de um documentrio sobre o arquiteto.

Figura 7 - Casa Werner Fonte: Documentrio Visions of Space: Mies Van der Rohe, BBC, 2003

Figura 8 Detalhe das esquadrias da fachada e telhado, casa Werner. Fonte: Documentrio Visions of Space: Mies Van der Rohe, BBC, 2003

Pavilho Barcelona - Barcelona, Espanha (1929) Foi projetado por Ludwig Mies van der como o pavilho nacional alemo para a Exposio Internacional de Barcelona em 1929, sendo conhecido pelos nomes de Pavilho Alemo, ou Pavilho Barcelona. O Pavilho foi concebido para acomodar a recepo oficial presidida pelo rei Afonso XIII de Espanha, juntamente com as autoridades alems. Os materiais empregados na sua construo foram vidro, ao e quatro tipos diferentes de mrmore: travertino romano, mrmore Alpine verde, mrmore verde da Grcia antiga e nix dourado das Montanhas Atlas. O edifcio assentado sobre um grande patamar, possui partido assimtrico e uma soluo estrutural independente a partir de delgados pilares de ao em forma de cruz. O espao foi delimitado por painis de mrmore e vidro, trabalhados de forma a proporcionar a modelagem do espao sem o efeito de confinamento proporcionados pela transparncia e reflexos do vidro e dos espelhos dgua elaborados pelo arquiteto.

Figura 9 - Vista externa do pavilho. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki

Mies detalhou cada elemento deste projeto incluindo a orientao dos painis de mrmore e seu mnimo mobilirio seguindo sua expresso de ordem e perfeccionismo. O nico elemento decorativo do pavilho uma esttua de Bronze de autoria de George Kolbe, agindo como ponto focal em certos pontos do pavilho, e o mobilirio conhecido como cadeiras Barcelona ainda produzido e utilizado em decoraes contemporneas em larga escala.

Figura 10 - Maquete digital: laje de forma translcida para melhor visualizao dos elementos espaciais Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki

Figura 11 - Vista interna: Decorao minimalista e espao fluido. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki

Figura 12 - Detalhamento da soluo estrutural Fonte: http://www.greatbuildings.com

Figura 13 Cadeiras e banco Barcelona desenhado por Mies para mobiliar o pavilho.

Figura 14 - "Der Morgen", escultura em Bronze de George Kolbe. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki Figura 15 - Pilar em cruz Fonte: http://www.miesbcn.com

O volume construdo destoava completamente da arquitetura de Barcelona ao seu entorno onde predominavam os arabescos, formas curvas e cores vivas. A concepo de Mies neste espao foi de criar uma zona ideal de tranqilidade para os visitantes da exposio, e assim o pavilho no serviria como mera estrutura para atraes assumindo o papel de atrao principal tomando partido do efeito criado pelas constantes reflexes dos materiais polidos e translcidos. Por se tratar de um espao inabitado e efmero Mies teve total liberdade para aplicar os conceitos modernos e de reduo de forma que julgasse necessrios, transformando a edificao em cone do movimento moderno, como enfatiza Scully no seguinte pargrafo:O pavilho de Barcelona foi, desse modo, o templo, talvez apropriadamente temporrio, do Estilo Internacional, e personificava os smbolos ideais dos componenes europeus e americanos que haviam participado de sua criao (Scully p.56)

Aps o encerramento da Exposio, o Pavilho foi desmontado em 1930. Porm, tornou-se um ponto fundamental de referncia no s na prpria carreira de Mies van der Rohe, mas tambm na arquitetura do sculo XX como um todo, sendo reconstrudo fielmente por arquitetos espanhis no seu local original em 1983 e inaugurado em 1986. Hoje o espao sede da The Fundaci Mies van der Rohe, abriga exposies peridicas e alugado para eventos diversos.

Seagram Building Nova York, Estados Unidos (1929) A arquitetura de arranha cus com estruturas de ao j se consolidava na Amrica do Norte desde a Escola de Chicago e Manhatan passava por um intenso processo de verticalizao, substituindo o modelo tradicional de pesadas estruturas de tijolos que ocupavam os centros urbanos norte americanos.

Figura 16 - Edifcio Montana, demolido para construo do Seagram Fonte: http://citynoise.org/article/10672 Figura 17 - Fachada do Seagram Building Fonte: http://citynoise.org/article/10672

O edifcio composto de uma grande torre de vidro com acesso pela praa frontal dotada de duas fontes, mais um volume posterior de menor altura e dois prolongamentos laterais com acessos independentes que abrigam dois restaurantes: o Four Seasons e o francs Brasserie. O diferencial na obra de Mies Van der Rohe ia alm dos grandes painis de vidro, mas diversas solues estruturais inovadoras como ligaes parafusadas (e no rebitadas) de alta resistncia, e a determinao que a estrutura de ao da edificao estivesse visvel.

Porm a legislao norte americana no permitia que o ao estrutural ficasse exposto, obrigando seu revestimento com material no combustvel como concreto usado comumente. Assim, o arquiteto determina a aplicao de revestimento em tons de bronze sem funo estrutural, sobre o concreto para conservar a aparncia de estrutura metlica dos grandes pilares mostra.

Figura 19 - Detalhe dos pilares revestidos Fonte: www.greatbuildings.com

Figura 20 - Cena do filme Bonequinha de Luxo com detalhe da estrutura Fonte: http://www.beltstl.com/2009/09/mid-century-fetish-the-best-of-everything/

O afastamento frontal da edificao proposto por Mies com a implementao de um grande ptio urbano de mrmore com fontes era visto inicialmente como luxo, um

gasto desnecessrio do aproveitamento real do terreno, porm o espao promove o destaque da edificao e a contemplao de sua fachada.

Figura 21 - Vista geral do edifcio Fonte: http://www.beltstl.com/2009/09/mid-century-fetish-the-best-of-everything/

Mies queria manter o aspecto uniforme da grande fachada envidraada, porm havia uma irregularidade invevitvel causada pelo uso das persianas, pois as pessoas as colocariam em alturas diferentes. Para reduzir esse aspecto desproporcional, Mies especifica persianas que s podem ser operados em trs posies - totalmente aberta, meio aberta/fechada ou totalmente fechada.

Casa Farnsworth Illinois, Estados Unidos (1946) Seguindo o aspecto caracterstico das demais obras, Mies van der Rohe expressa nesta residncia o minimalismo e os traos limpos de um simples bloco vtreo e a integrao da habitao com a natureza. A casa Farnsworth, tem planta livre consistindo em um ambiente principal e espao dedicado s instalaes sanitrias. A integrao tanto interna quanto externa quando se trata de sua vista sobre o entorno, um prado repleto de rvores grandes e um rio que delimita o terreno em sua poro sul (BLASER, 1972).

Foto de Jon Miller/Hedrich Blessing Fonte:

Sua estrutura em perfis metlicos e grande rea envidraada proporciona a sensao de integrao e d amplitude ao interior. Como Blaser diz ao se referir s residncias trreas de Mies van der Rohe, Essas casas so como grandes cristais colocados na natureza. A arte da subtrao at a extrema simplicidade da aparncia permite que se perceba melhor a beleza pura dos volumes.

Fonte:

Os pilares metlicos, colocados externamente sustentam as lajes de piso e cobertura, e embora todas as fachadas sejam transparentes, um bloco interno em madeira serve como ncleo central onde ficam os banheiros. Esse nucleo serve ainda para separar a cozinha, dos dormitrios e rea social.

Reproduo da planta baixa. Fonte:

A casa tem suaves desnveis separados por degraus em sua extenso. Esses degraus, assim como o piso e o terrao foram feitos em travertino (um tipo de rocha calcria) enquanto que a estrutura metlica fora pintada em branco, tendo os pilares um espaamento de pouco mais de 6 metros entre si.

Detalhamento da estrutura de escada, a partir do terrao. Fonte:

Essa estrutura externa a principal caracterstica em comum com os demais projetos de Mies van der Rohe. Seu aspecto funcional tambm fica evidente, sem no entanto, excluir a elegncia na forma. Outros projetos onde pode ser observada essa relao de semelhana so os da Casa Caine, e de uma casa de vidro sobre quatro pilares, ambos de de 1950, alm da casa McCormick, de 1952, que com um espaamento reduzido entre os pilares, lembra razoavelmente a Casa Farnsworth. Edifcios na Lake Shore Drive Chicago, Estados Unidos (1948) Construdos entre 1948 e 1951, as duas torres residenciais da Lake Shore Drive (nmeros 860 e 880) em Chicago esto entre as obras mais emblemticas de Mies van der Rohe, especialmente quando se observa seu aspecto externo, com a estrutura metlica aparente, a transparncia e leveza do vidro e a regularidade de suas formas.

Viso geral dos edifcios Fonte:

O conjunto fica separado do Lago Michigan por uma avenida de oito pistas, e o par de edificios fica orientado em angulo reto, um perpendicular em relao ao outro, devido ao traado das vias de circulao (BLASER, 1994). Suas tcnicas construtivas representaram uma prvia do que se tornaria comum na construo de arranha-cus nas duas dcadas seguintes, especialmente em edifcios comerciais (FRENCH, 2008), por exemplo, o 330 North Wabash, de Mies, outrora conhecido como IBM Plaza. A estrutura do 860/880 formada por um esqueleto metlico, que foi revestido para atender s normas de incndio. So 26 pavimentos com cerca de 2,5 metros de p direito. A estrutura de sustentao das vigas configura-se em 3 vigas dispostas nas pores mais estreitas e 5 nas mais largas de cada pavimento.

IBM Plaza Fonte:

Implantao do conjunto Fonte:

A estrutura aparente dos pilares e do revestimento do piso fica no mesmo nvel das vidraas e o contraste da estrutura pintada de preto junto as vidraas fica realado por persianas em tons claros. O trreo recuado em relao aos demais pavimentos, de modo a estar centralizado em relao um conjunto de pilotis que fica no entorno da planta. So pouco mais de 5 metros de altura no p direito deste pavimento, que totalmente envidraado, e o piso, exemplo da Casa Farnsworth revestido em travertino, interligando o vestbulo e galeria dos edifcios. A semelhana deste conjunto o coloca a par com outros projetos do arquiteto. Alm dos vizinhos imediatos como o Esplanade 900, tambm de Mies, conjuntos de apartamentos Commonwealth Promenade, tambm em Chicago (posterior aos edifcios da Lake Shore) e edificios comerciais como o Edifcio Seagram (1954-58) tem reminiscncias claras que impedem de reconhecer o conjunto da Lake Shore Drive como singular, mas no o desmerece como edificao eficiente em sua funo.

Os quatro edifcios da Lake Shore Drive, direita o Esplanade 900/910. Fonte:

Embora os dois edificios da Lake Shore sejam muitos parecidos em sua parte externa, as plantas diferem: a torre norte tem 8 apartamentos de aproximadamente 66m e a torre sul conta com 4 apartamentos de 133m. Eles se baseiam em um mesmo ponto de partida: um ncleo aonde ficam os elevadores e escadas, e na parte privativa de cada apartamento, tambm ficam centralizados planta os banheiros e cozinha, provendo assim aos demais espaos habitveis condies privilegiadas de iluminao e vista (FRENCH, 2008).

Plantas dos pavimentos tipo, torres Sul Fonte: Os + Importantes Conjuntos Habitacionais do Sculo XX, p97

Plantas dos pavimentos tipo, torre Norte Fonte: Os + Importantes Conjuntos Habitacionais do Sculo XX, p97

Crown Hall - Illinois, Estados Unidos (1956) O Crown Hall foi um dos vinte edifcios que Mies van der Rohe construiu para o Instituto de Tecnologia de Illinois (IIT), em Chicago, e abriga a escola de arquitetura do instituto. Ao todo foram projetados 35 prdios. O campus desta universidade a maior concentrao dos trabalhos de Mies no mundo, cobrindo uma rea de mais de 50 hectares, e tem o Crown Hall como a pea central do complexo fundado em 1940. O desenvolvimento do projeto no entanto teve de superar diversos obstculos, especialmente devido ao seu alto custo.

Crown Hall em perspectiva Fonte:

Mies inicialmente pretendia construir duas edificaes principais que abrigariam o campus e uma biblioteca; posteriormente o projeto teve de ser adaptado para cumprir as exigncias do instituto. Outros problemas surgidos durante as obras foram questes tcnicas relativas a segurana contra incndio. A localizao do Crown Hall uma das mais privilegiadas no campus, praticamente central sua geografia, nas proximidade de uma estao de metr e de reas verdes que a isolam do rudo originado das ruas prximas. Alm deste prdio, os demais

ficam afastados entre si, e em geral no ultrapassam os 3 ou 4 andares de modo a no obstrurem a vista e passagem de luz. O Crown Hall tem forma retangular separada em dois nveis. Sua forma livre, com as quatro fachadas construdas em ao e vidro rodeada por rea verde repleta de grandes rvores, que auxiliam na regulao da entrada de luz e integram visualmente a natureza com o interior do prdio. O visual minimalista como em outros projetos do arquiteto, tal qual na Casa Farnsworth, diferenciando-se especialmente na cor dos perfis metlicos, que na residncia eram brancos, enquanto que nas edificaes do IIT os perfis so pintados de preto.

Planta simples do Crown Hall Fonte:

Os ambientes do prdio compreendem escritrios, salas de estudo e reunio, salas de servio, e cerca de 50% do prdio configura-se como uma grande rea para estudo de arquitetura, que o arquiteto chamara de espao universal. Esse espao flexvel em seu layout, com subdivises modulares que com poucas partes mveis compostas de painis leves, permitem reorganizar o ambiente de acordo com a necessidade.

Estrutura durante a contruo Fonte:

A estrutura da edificao cobre uma rea de 36 por 67 metros, e constitui-se de uma srie de colunas de 6 por 9 metros em ao locadas de modo que parecem um exoesqueleto. Ali se encaixam as paredes e painis de vidro. Tambm foi utilizado concreto reforado em sua estrutura, assim como madeira nas divisrias interiores. O piso do terrao externo, como em outros trabalhos de Mies, revestido em travertino. Assim como no caso dos edifcios da Lake Shore Drive, o Crown Hall foi considerado inovador em sua concepo arquitetnica combinando tecnologias construtivas que empregaram com xito ao e vidro, criando assim uma estrutura leve, vistosa e elegante.

CONCLUSO A obra do arquiteto Mies Van de Rohe apesar de ter se desenvolvido inicialmente na Europa representou mudanas profundas principalmente no cenrio da arquitetura norte americana: uma cultura em formao ainda carente de historicidade e identificao arquitetnica, que no perodo entre guerras se beneficiou da vinda de pensadores, cientistas e arquitetos trazendo em sua bagagem a vanguarda moderna do cenrio europeu, que encontrou um terreno frtil para seu desenvolvimento no novo mundo. Sua proposta de linguagem indita e nova forma de lidar com a arquitetura onde o espao em si tem maior importncia do que a estrutura e seus planos limitantes possibilitaram novas formas de interao do usurio com o espao, influenciando grande parte dos arquitetos que vieram em seguir. Mies tambm aperfeioou tcnicas construtivas que possibilitaram o uso de estruturas mais delgadas. Apesar de toda a inovao proposta pelo arquiteto seu trabalho sujeito a crticas, primeiro por acabar sobrepondo seus princpios arquitetnicos ao princpios de conforto ambiental e a prpria vivncia do usurio ignorando totalmente s particularidades humanas de identidade. Outro elemento muito criticado na obra de Mies o uso exclusivo de materiais de custo elevado, tornando suas solues estticas pouco acessveis e vinculando sua arquitetura conceitos sociais de status.

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