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Thaise Oliveira da Silva ERRO ESSENCIAL QUANTO À PESSOA DO OUTRO CÔNJUGE Centro Universitário Toledo Araçatuba 2015

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Thaise Oliveira da Silva

ERRO ESSENCIAL QUANTO À PESSOA DO OUTRO

CÔNJUGE

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2015

Thaise Oliveira da Silva

ERRO ESSENCIAL QUANTO À PESSOA DO OUTRO

CÔNJUGE

Monografia apresentada como exigência parcial

para a obtenção do grau de Bacharel em Direito

pelo Centro Universitário Toledo sob a

orientação do Prof. Dr. Jorge Kuranaka.

Centro Universitário Toledo

Araçatuba

2015

0

BANCA EXAMINADORA

________________________________

Prof. Jorge Kuranaka

________________________________

Prof. Luciano Meneguetti Pereira

________________________________

Profª. Magaly Lopes Bruno

Araçatuba, 23 de Outubro de 2015.

1

Dedico esse trabalho primeiramente a Deus,

pois sem Ele nada seria possível. A minha mãe

Salvina, ao meu pai Arnaldo, e minha irmã

Camila, pois sempre me apoiaram e me deram

forças para chegar até aqui. E aos professores

que compartilharam seus ensinamentos

comigo e com meus colegas ao longo desses

cinco anos.

2

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, aos meus familiares,

professores e amigos.

3

“Casamento é o vínculo jurídico entre

homem e mulher que visa ao auxílio

mútuo, material e espiritual, de modo que

haja uma integração fisiopsíquica e a

constituição de uma família legítima.”

(Maria Helena Diniz)

RESUMO

Com a modernidade da sociedade, desde o primeiro conceito de família, descrito no Código Civil

de 1916, surgiram diversas transformações que tornaram necessário algumas alterações em tal

definição. Por exemplo, o acréscimo das relações monoparentais, pluriparentais, homoafetivas,

entre outras, como espécies de família. Porém, mesmo com as integrações, o casamento se

mantém como a espécie de família mais adotada no Brasil até os dias de hoje. Assim, se torna de

extrema importância nos aprofundarmos em seus efeitos, requisitos, características, dissolução e

finalidades. Ao abordar o assunto casamento, não podemos nos esquecer de mencionar suas causas

suspensivas, e as formas de tornar um casamento nulo, ou anulável. Dentro das formas de

anulação do casamento, está o erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge, assunto que deveria

ser de conhecimento de todas as pessoas, por ser um assunto importantíssimo. Todavia, a maioria

das pessoas não sabe que tal erro serve como causa de anulação do casamento. Muitas vezes, as

pessoas passam por situações onde isso ocorre, como por exemplo: Um cônjuge é portador de uma

doença contagiosa, tem consciência disso e omite até ocorrer a celebração do casamento.

Determinado tempo depois, o outro cônjuge descobre sobre a doença e que foi enganado. Na

situação citada no exemplo, se o cônjuge enganado achar que isso torna insuportável a sua

convivência com o outro cônjuge e decide que seu casamento acabou devido a isso, o mesmo pode

pedir a anulação do casamento. Portanto, a maioria das pessoas não tem acesso a essa informação

e muitas vezes sofrem as consequências de um divórcio, ou, continuam a viver com a pessoa,

mesmo de forma infeliz, por não quererem se divorciar. Sem ao menos saber, que elas poderiam se

separar do cônjuge que a enganou de uma maneira muito mais simples e benéfica a ela.

Palavras-chave: Família, Casamento, Dissolução, Divórcio, Separação, Casamento Nulo e Anulável.

ABSTRACT

With the modernity of society, from the first concept of the family, described in the Civil Code of

1916, there were several changes that made it necessary some changes in this definition. For

example, the increase in single-parent relations, pluriparentais, homoafetivas, among others, as a

family of species. But even with the integrations, marriage remains the kind of family more

adopted in Brazil until today. Thus, it is of utmost importance delving into its effects,

requirements, characteristics, and dissolution purposes. In addressing the subject marriage, we can

not forget to mention its precedent causes, and ways to make a marriage void, or voidable. Among

the forms of marriage annulment is the essential error over the person of the other spouse, a

subject that should be known to all people, to be an important subject. However, most people do

not know that this error serves as a cause of marriage annulment. Often people go through

situations where this occurs, for example: A spouse is a carrier of a contagious disease, is aware of

this and omits to occur to the wedding celebration. Determined later, the other spouse finds out

about the disease and that was wrong. In the situation mentioned in the example, if the cheated

spouse find it unbearable its coexistence with the other spouse and decide that your marriage is

over because of this, it can ask for an annulment. Therefore, most people do not have access to this

information and often suffer the consequences of a divorce, or continue to live with the person,

even unhappily, not wanting to divorce. Without even knowing that they could separate from the

spouse that cheated in a very simple and beneficial way to it.

Keywords: Famíly, marriage, dissolution, divorce, separation, marriage null and nullable.

.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................9

I- DA FAMÍLIA......................................................................................................................12

1.1- Evolução histórica..............................................................................................................12

1.2- Conceito de família de acordo com o Código Civil Brasileiro de 1916............................14

1.3- Conceito de família de acordo com a Constituição Federal de 1988................................16

1.4- Conceito de família de acordo com o Código Civil Brasileiro de 2002............................17

II- DO CASAMENTO...........................................................................................................19

2.1- Da separação e do divórcio................................................................................................19

2.1.1- Conceito de separação.....................................................................................................20

2.1.2- Conceito de divórcio.......................................................................................................22

2.2 Ŕ Emenda Constitucional 66/2010......................................................................................30

III- ERRO ESSENCIAL QUANDO À PESSOA DO CÔNJUGE....................................33

3.1- Anulabilidade do casamento..............................................................................................33

3.1.1- Casamento nulo...............................................................................................................35

3.1.2 Casamento anulável..........................................................................................................38

3.2- Erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge..............................................................42

3.2.1 Ŕ Formas e efeitos do erro essencial.................................................................................43

CONCLUSÃO.........................................................................................................................50

REFERÊNCIAS......................................................................................................................51

7

INTRODUÇÃO

O trabalho em questão tem como objetivo, trazer esclarecimento a

respeito das causas de anulabilidade do casamento, em especial, a causa por motivo de

erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge.

Este foi o tema escolhido, pois apesar de aparentar ser um tema

simples na visão dos estudantes, professores e graduados em Direito, ainda é um tema

desconhecido para muitos daqueles que mais precisam, os leigos.

E este desconhecimento pode trazer prejuízo para a vida daqueles que

passarem por situação em que precisem do tema deste trabalho e seus benefícios e não

souberem do mesmo.

Para conseguir alcançar o objetivo traçado de maneira eficaz, trarei

uma detalhada descrição desde a evolução no conceito de família até as formas de erro

essencial quanto à pessoa do outro cônjuge como causa de anulabilidade.

Deste modo, no primeiro capítulo mostrarei um breve histórico da

legislação a respeito do conceito de família. Tratei desde o conceito mais antigo, trazido

pelo Código Civil de 1916, no qual o conceito de família era muito restrito, ou seja,

tinha uma concepção muito fechada a respeito do que era família.

Ainda neste capítulo, mostrarei o conceito de família da Constituição

Federal de 1988, que já traz várias alterações importantes para nossa sociedade em seu

conceito, dando prioridade e importância os valores necessários para a constituição da

família, ampliando desta forma o conceito trazido pelo Código Civil de 1916.

E para finalizar este capítulo, tratei a visão moderna e atual trazida

pelo Código Civil brasileiro de 2002, a qual já se adaptou a modernidade de nossa

8

sociedade, ampliando as espécies de família, as formas de uniões e vários outros

requisitos que precisavam ser alterados para satisfazer a necessidade de todos os entes

que pretender formar uma estrutura familiar.

Já no segundo capítulo, abordarei as características do casamento,

espécie de família mais aderida até os dias de hoje, e de forma mais aprofundada as suas

formas de dissolução, como o divórcio e a separação judicial.

Dentro deste mesmo capítulo, mostrarei a diferença entre estas duas

formas de dissolução, suas diferenças e principalmente as alterações que estas formas

sofreram para gerar menos desconforto e prejuízo para as pessoas que necessitarem

passar por elas.

E para finalizar o segundo capítulo explicarei a respeito da Emenda

constitucional 66 de 2010.

No terceiro capítulo tratei de maneira objetiva o conceito de nulidade

e anulabilidade do casamento.

Trarei também todas as formas e os requisitos necessários para cada

uma delas.

Ainda no terceiro capítulo, mostrarei o conceito de erro essencial

quanto à pessoa do outro cônjuge e suas modalidades: Por erro quanto a sua identidade,

honra e boa fama; prática de crime, anterior ao casamento; defeito físico irremediável,

ou de moléstia grave e transmissível pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a

saúde do outro cônjuge ou sua prole; e doença mental grave.

Trarei também os outros requisitos necessários, como a ignorância do

cônjuge enganado e a necessidade de que estas modalidades de erro já existam antes do

casamento.

9

Abordarei os artigos que tratam da maneira de propositura da ação de

anulabilidade de casamento, mostrando quem pode requerer a ação, quais são os efeitos

que os envolvidos sofreram quando o casamento for anulado e outros aspectos

importantes do assunto em questão.

E por fim, trarei uma breve analise conclusiva a respeito do tema

abordado no trabalho.

10

CAPÍTULO I – DA FAMÍLIA

1.1 – Evolução histórica

Segundo ensinamento dos próprios Códigos e a Constituição Federal,

firma o Direito de Família todo o reunião de normas e regras que regulam a celebração

do casamento, sua validade e os resultantes dele, as relações próprias e financeiras da

sociedade conjugal, a dissolvência, entre outros.

Este conceito abrange todos os institutos do direito de família,

regulados pelo Código Civil em seus artigos 1.511 a 1.783.

Por isso, para Camila Andrade, é considerado o ramo do Direito civil

concernentes às relações entre pessoas juntas pelo matrimônio, pela união estável ou

pelo parentesco e aos institutos adicionais de direito de proteção ou de assistência, pois,

mesmo que a tutela e curatela não venham das famílias, elas tem, devido a sua

finalidade, uma grande conexão com o direito de família.

De acordo com esta formulação de Direito de Família, deve-se

entender que, em cumprimento da sua utilidade, as normas ora regem as relações

pessoais entre cônjuges ou conviventes, entre pais e filhos, parentes, como é o caso das

que tratam dos efeitos pessoais do matrimônio, de sua filiação, ou as que autorizam o

filho a promover a investigação de paternidade, entre outras; ora regulam as relações

posses que surgem, entre marido e mulher ou companheiros, entre ascendentes e

descendentes, e outros.

É preciso esclarecer que o Direito de Família não tem caráter

financeiro, a não ser indiretamente, no que concerne ao regime de bens entre os

cônjuges ou conviventes, à obrigação de alimentos entre os que lhe é de dever, ao uso

da parte dos pais para com os bens dos filhos menores de idade, administração dos bens

11

dos incapazes, e que apenas de forma aparente assumem a aparência de direito de

obrigação.

Maria Helena Diniz menciona que ainda é a partir do casamento que

surgem as normas básicas do Direito de Família que formam o Direito matrimonial.

Pois o Direito matrimonial abrange normas que dizem respeito à validade do casamento,

como as que regem a capacidade matrimonial, seus impedimentos, e suas causas

suspensivas, sua celebração, sua prova, nulidade e anulabilidade. Abrange também as

relações pessoais entre os cônjuges, com a imposição de direitos e deveres recíprocos,

aspectos econômicos dos cônjuges, que chegam até a constituir um instituto, que é

conhecido como o regime de bens dos cônjuges. E, por fim, abrange à dissolução da

sociedade conjugal e seu vínculo. (DINIZ, 2007, p.5).

O Direito de Família também está associado de forma direta ao

Direito Romano, que conceituou família embasado no Princípio da autoridade. Em tal

princípio, existia uma figura suprema, conhecida como pater famílias, cujo significado é

pai de família.

O pater famílias, tinha o direito de vida e morte de seus filhos,

podendo assim, vende-los, chegando até, a poder tirar-lhes a vida.

Não era somente os filhos que viviam a sombra dessa autoridade

paterna, mas também a mulher, que era totalmente subordinada ao pater famílias.

Assim, o autor Carlos Roberto Gonçalves (2007, p. 15), descreve o

pater famílias como a autoridade sobre os descendentes não emancipados, sua esposa e

as mulheres casadas como manus com os seus descendentes. E intitula família, na

época, como uma unidade econômica, religiosa, política e jurisdicional, tendo em vista

que o ascendente comum vivo, com mais idade, era o chefe político, sacerdote e juiz,

simultaneamente.

O pater era então, uma espécie de entidade superior, se comparada aos

demais indivíduos pertencentes ao núcleo familiar.

Devido a evolução do pensamento dos homens, essa autoridade

marital foi perdendo a força, e as regras sobre família foram sendo alteradas.

12

Com o surgimento da concepção cristã de família, no direito romano,

a partir do século IV, foi dado mais liberdade para os filhos e à mulher.

A definição de família brasileira, é uma junção de influências de

vários outros conceitos criados no decorrer da história, alterado de acordo com a

modernização de nossos costumes e misturados com nossa cultura.

Conceitos esses, como os citados acima, vindos do direito romano, ou

canônico, por exemplo.

Durante o período da idade média, o único casamento reconhecido era

o religioso, regido pelo direito canônico. Tendo em vista que o surgimento do

casamento civil só ocorreu no ano de 1891.

Porém, mesmo com a criação do casamento civil, a influência

religiosa era bem presente, tanto na sociedade brasileira, como em muitas outras.

Prova disso, é que logo após o surgimento do casamento civil, criou-

se o casamento religioso com efeitos civis, na tentativa de conciliar os dois, costume e

direito, para que aos poucos a sociedade se acostuma-se com o casamento civil e seus

efeitos.

Entretanto, os princípios do Direito Canônico perduraram por muito

tempo em todos os atos nupciais, e em muitos detalhes se fazem presente até os dias

atuais.

1.2 – Conceito de família de acordo com o Código Civil de 1916

Família, palavra esta que já passou por diversas alterações em seu

conceito desde o Código Civil de 1916 até o Código Civil de 2002, vigente nos dias

atuais.

13

A mudança se faz necessária, tendo em vista que a sociedade está

ampliando de maneira constante a sua definição de afeto, e assim, tornando cada vez

mais amplo o sentido da palavra família.

Nesse sentido, Carlos Roberto Goncalves descreve:

“O Código Civil de 1916 e as leis posteriores, vigentes no século

passado, regulavam a família constituída unicamente pelo casamento,

de modelo patriarcal e hierarquizada, ao passo que o moderno enfoque

pelo qual é identificada tem indicado novos elementos que compõem

as relações familiares, destacando-se os vínculos afetivos que

norteiam a sua formação”. (GONÇALVES, 2005, p. 16).

A primeira unidade social conhecida pelos seres humanos, pode ser

considerada a família, pois levando em consideração os fatos descritos na evolução

histórica da sociedade, antes mesmo de qualquer criação de comunidades, o homem já

nascia membro de um grupo formado por seus ancestrais, a família.

Tais entidades familiares passaram a se unir, devido à grande

expansão territorial e ao aumento populacional, dando origem aos primeiros grupos

sociais existentes, como as tribos e comunidades.

O termo família, em seu início, tinha sua definição feita apenas a

partir das relações de parentesco consanguíneo, e trazia como base o conceito de

escravidão.

Inclusive, a expressão família advém do termo latino famulus, que

significa “escravo doméstico”. Tanto que na antiguidade, os integrantes da família

trabalhavam na agricultura familiar, sobre a supervisão e designação de funções

determinadas pelo pater, que representava o chefe da unidade social família.

Está disposto no artigo 229 do Código Civil de 1916 que “criando a

família legítima,” o casamento legitima os filhos comuns, antes dele nascidos ou

concebidos.

E em seu artigo 231, define o que é necessário para se constituir

família e quais são os deveres dos cônjuges. Sendo eles, o dever de fidelidade recíproca,

14

vida em comum, no domicílio conjugal, mútua assistência, e sustento, guarda e

educação dos filhos.

Quanto aos deveres dos cônjuges, poucos detalhes foram

acrescentados ao decorrer dos anos até os dias de hoje. Porém é nítido a mudança em

todos os outros aspectos da família.

1.3 – Conceito de família de acordo com a Constituição Federal de 1988

Com base nessa metamorfose que ocorreu e continua ocorrendo no

conceito de família e suas formas, o autor Carlos Roberto Gonçalves preceitua:

“A Constituição Federal de 1988 “absorveu essa transformação e

adotou uma nova ordem de valores, privilegiando a dignidade da

pessoa humana, realizando verdadeira revolução no Direito de

Família, a partir de três eixos básicos”. Assim, o art. 226 afirma que

“a entidade familiar é plural e não mais singular, tendo várias formas

de constituição”. O segundo eixo transformador “encontra-se no

parágrafo 6º do art. 227. É a alteração do sistema de filiação, de sorte

a proibir designações discriminatórias decorrentes do fato de ter a

concepção ocorrido dentro ou fora do casamento”. A terceira grande

revolução situa-se “nos artigos 5º, inciso I, parágrafo 5º. Ao consagrar

o princípio da igualdade entre homens e mulheres, derrogou mais de

uma centena de artigos do Código Civil de 1916”. A nova carta abriu

ainda outros horizontes ao instituto jurídico da família, dedicando

especial atenção ao planejamento familiar e à assistência direta à

família (art. 226, parágrafos 7º e 8º). No tocante ao planejamento

familiar, o constituinte enfrentou o problema da limitação da

natalidade, fundando-se nos princípios da dignidade humana e da

paternidade responsável, proclamando competir ao Estado propiciar

recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito. Não

desconsiderando o crescimento populacional desordenado, entendeu,

todavia, que cabe ao casal a escolha dos critérios e dos modos de agir,

“vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou

particulares” (art. 226, parágrafo 7º). Quanto a assistência familiar

direta à família, estabeleceu-se que o Estado assegurará a assistência à

família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos

para coibir a violência no âmbito de suas relações” (art. 226, parágrafo

8º). Nessa consonância, incumbe a todos os órgãos, instituições e

categorias sociais envidar esforços e empenhar recursos na efetivação

da norma constitucional, na tentativa de afastar o fantasma da miséria

15

absoluta que ronda considerável parte da população nacional”

(GONÇALVES, 2007, p. 17).

É notória a ampliação do conceito de Família na Constituição Federal

de 1988, ela transcreveu as mudanças que de fato já ocorriam na sociedade.

Em concordância com a autora Maria Helena Diniz (2005, p. 17 a 24),

o Direito de Família moderno se baseia nos princípios, tais como o Princípio da “ratio”

do matrimônio e da união estável, que determina como fundamento da vida conjugal o

afeto e a comunhão completa da vida dos cônjuges; o Princípio da igualdade jurídica

dos cônjuges e companheiros, que impõe que os direitos e deveres dos cônjuges devem

ser divididos de maneira igualitária; o Princípio da igualdade jurídica dos filhos, ou seja,

todos os filhos devem ser tratados da mesma maneira, tendo os mesmos direitos e

deveres (CF, art. 227, parágrafo 6º, e CC, arts. 1.596 a 1.629); o Princípio da

pluralidade da família, que engloba não só a família matrimonial, mas suas entidades

familiares também; o Princípio da consagração do poder familiar; o Princípio da

liberdade; e o Princípio do respeito da dignidade da pessoa humana (CF, art. 227).

1.4 – Conceito de família de acordo com o Código Civil Brasileiro de 2002

O atual Código Civil procurou atualizar ao máximo os requisitos

essenciais do conceito de direito de família e a definição de família em si, deixando o

mais próximo possível de realidade dos dias atuais.

Foram modificados e melhorados os aspectos do direito de família no

Código Civil de 2002, com base na atual Carta Magna, que garante os direitos da

sociedade, preservando a estrutura do código anterior, porém, acrescentando as

mudanças legislativas feitas pela legislação esparsa (DIAS, 2009, p. 31).

16

O doutrinador Silvio de Salvo Venosa afirma: “O Direito Civil

moderno apresenta como regra geral, uma definição restrita, considerando membros da

família as pessoas unidas por relação conjugal ou de parentesco” (VENOSA, 2008, p.1).

Desse modo, conclui-se que família na visão moderna é fundamentada

em dados pertencentes a sociedade moderna, admitindo assim não só a família

constituída pelo matrimonio, mas as que surgiram de outros núcleos familiares como as

formadas através da união estável, união homoafetiva, entre outras.

Carlos Roberto Gonçalves bem enfatiza:

“As alterações introduzidas visam preservar a coesão familiar e os

valores culturais, conferindo-se à família moderna um tratamento mais

consentâneo à realidade social atendendo-se às necessidades da prole

e de afeição entre os cônjuges e os companheiros e aos elevados

interesses da sociedade”. (GONÇALVES, 2005, p. 6).

Portanto, é evidente que o Código Civil de 2002 aproximou o conceito

de família com as reais famílias existentes nos dias de hoje e englobou em sua definição

as novas espécies criadas com a modernidade da sociedade.

Ainda, Maria Berenice destaca:

“O direito das famílias- por estar voltado à tutela da pessoa Ŕ é

personalíssimo, adere indelevelmente à personalidade da pessoa em

virtude de sua posição na família durante toda a vida. Em sua maioria

é composto de direitos intransmissíveis, irrevogáveis, irrenunciáveis e

indisponíveis.” (DIAS, 2009, p. 35).

Afirmando assim, que os direitos da família não podem ser cedidos ou

renunciados, ou seja, cada um se encaixa em seu determinado papel no núcleo familiar

ao qual pertence.

17

CAPÍTULO II – DO CASAMENTO

2.1 Da separação judicial e do divórcio

Separação judicial e divórcio são formas de dissolução do casamento,

tendo em vista que as causas terminativas são: morte, anulabilidade e nulidade do

casamento, divórcio e separação judicial (CC, art. 1.571).

Porém o divórcio se diferencia da separação, tendo em vista que a

separação judicial encerra o vínculo conjugal, mas não cessa o vínculo matrimonial

como o divórcio.

A separação judicial é uma fase preparatória para o divórcio, pois a

mesma não tem caráter definitivo e é restrita, não podendo os cônjuges convolar novas

núpcias.

Já o divórcio encerra qualquer tipo de vínculo entre os cônjuges, tanto

o conjugal, quanto o matrimonial, possibilitando assim que ex-marido ou ex-esposa se

casem novamente.

O divórcio tem caráter definitivo. Ao ponto que se após o divórcio, os

envolvidos se reconciliarem e decidir retomar sua união, só poderão através de novo

casamento.

18

2.1.1 Conceito de separação judicial

Ocorre a separação judicial por acordo recíproco dos cônjuges, ou

seja, quando é da vontade dos dois, ou pela forma litigiosa, em que um dos cônjuges

atribui a culpa ao outro pela dissolução.

“Dar-se-á a separação judicial por mútuo consentimento dos cônjuges

se forem casados por mais de um ano e o manifestarem perante o juiz, sendo por ele

devidamente homologada a convenção” (CC, art. 1.574).

Há duas espécies de separação judicial, a litigiosa e consensual.

A separação consensual ocorre através de um procedimento judicial

de requerimento conjunto, fácil e simples, apenas é necessário a observância ao disposto

no Código de Processo Civil, artigos 1.120 a 1.124, sob pena de nulidade da mesma.

Os cônjuges devem requerer a separação através petição pelos dois e

seus advogados, e pelo advogado escolhido em comum acordo, conforme Lei 6,515/77,

artigo 34, parágrafo 1º.

A petição deve ser feita junto aos documentos e dados exigidos pelo

Código de Processo Civil, artigo 1.121, tendo a mesma todos os requisitos legais

necessários, o magistrado ouvirá ambos, separadamente, de forma a esclarecer e

constatar que os mesmos estão plenamente conscientes de seus atos.

Ao concluir que sim, mandará reduzir a termo seus dizeres, ouvirá o

representante do MP, e no prazo de cinco dias homologará o acordo para que assim

produza seus efeitos jurídicos.

Após ser transitada em julgado, a decisão deverá ser inscrita no

Registro Civil, e se a partilha incluir bens imóveis, deverá ser averbada no registro

imobiliário. Somente com a homologação judicial que a separação consensual se torna

eficaz, que é ato de fiscalização e controle.

19

Há também a separação litigiosa, descrita no artigo 5º da Lei 6.515/77,

e é feita através de pedido dos cônjuges, mediante processo, independentemente do

tempo de casamento, desde que presente as possibilidades legais, que tornam intolerável

a vida em comum, em acordo com as causas previstas em lei. São três as espécies de

separação litigiosa.

A separação litigiosa como forma de sanção, que ocorre quando um

dos cônjuges tem atitude desonrosa ou ato que não esteja de acordo com os deveres

matrimoniais.

Tem também a separação litigiosa na forma de falência, desde que

qualquer um dos cônjuges comprove a ruptura da vida em comum há mais de cinco

anos consecutivos e prove que é impossível uma reconciliação, não importando a razão

da ruptura.

E por fim, tem a separação litigiosa como forma que remédio, que

ocorre quando o cônjuge pede a separação pelo fato do outro cônjuge estar acometido

de grave doença mental, que foi manifestada após o casamento e que torne impossível a

vida em comum, desde que, após a duração de cinco anos seja reconhecida que a doença

é de cura improvável.

A separação litigiosa pode se dar por separação de corpos e consiste

na suspensão autorizada da coabitação, por curto prazo, devendo assim ser alegada a

ação de separação litigiosa, obedecendo o rito ordinário, e poderá ser alegada apenas

pelo cônjuge que não lhe deu causa, em concordância com as circunstâncias previstas na

lei, podendo gerar o ônus da prova, se necessário.

Em relação aos efeitos da separação judicial, eles se dão em relação a

pessoa dos cônjuges, aos bens e em relação aos filhos, mudando de acordo com a

espécie de separação, conjugal ou litigiosa.

Na conjugal, o que vale são as condições impostas pelo próprio casal.

Já na litigiosa, são estabelecidos pelo juiz, de acordo com os termos legais, com certa

margem de arbítrio.

São efeitos pessoais da separação quanto aos cônjuges, os deveres

mútuos do casamento, fidelidade, coabitação e assistência. Não deixar que a mulher

20

continue a usar o nome do marido, desde que condenada na separação litigiosa, ou se

teve a teve a iniciativa da separação com base na ruptura da vida em comum ou moléstia

grave do marido. Impedir a realização de novas núpcias, tendo em vista que a separação

judicial é relativa e não desfaz o vínculo. E autorizar a conversão em divórcio, desde

que cumprido um ano de vigência de separação judicial.

Já os efeitos patrimoniais são, decidir a situação financeira, colocando

fim ao regime de bens. Substituir o dever de sustento pela obrigação alimentar. Os

efeitos patrimoniais dão origem, se a separação for litigiosa, a indenização de perdas e

danos, tendo em vista os prejuízos morais ou/e patrimoniais suportado pelo cônjuge

inocente. E suprimi o direito sucessório entre os consortes.

E por fim, os efeitos em relação aos filhos são, passa-los a guarda para

um dos cônjuges, ou, se houver, motivos significativos, a terceiros. Assegurar ao

genitor, que não tem a guarda, dos seus direitos de fiscalizar a educação, visita-los e de

ter a companhia dos filhos de forma temporária nos períodos de férias escolares ou em

dias comemorativos. E garantir aos filhos inválidos, menores ou maiores, pensão

alimentar, criação e educação.

2.1.2 Conceito de divórcio

De acordo com Maria Helena Diniz, o divórcio é a forma de

dissolução de um casamento válido, ou seja, é a extinção do vínculo do casamento, que

se faz por sentença judicial, proporcionando que as pessoas convolem novas núpcias.

O divórcio foi inserido no Direito brasileiro, pela Lei 6.515/77, a qual

regulamentou a cessação do vínculo matrimonial, que havia sido permitido pela Emenda

Constitucional 9, publicada também no ano de 1977. Antes, havia apenas previsão para

o desquite, no qual se rompia a convivência, mas não os liberava para novas núpcias.

21

Foram ampliadas as hipóteses de dissolução do casamento por

divórcio na Constituição Federal de 1988, uma delas é a possibilidade do divórcio

depois de anterior separação judicial por mais de um ano nos casos previstos em lei,

hipótese de divórcio interno, e no caso de separação de fato por mais de dois anos,

hipótese de divórcio direto.

O caráter do divórcio é personalíssimo, ou seja, só compete aos

cônjuges seu pedido. Se um dos cônjuges for incapaz, poderá se defender ou ajuizar

ação representado por seu curados, ascendente ou irmão.

O Código Civil, em seu artigo 1.580, em conformidade com a

Constituição Federal de 1988, trouxe duas modalidades de divórcio, o denominado

divórcio indireto ou conversão e o divórcio direto.

O divórcio indireto opera após ocorrido um ano do trânsito em julgado

da sentença que houver determinado a separação judicial, ou da decisão concessiva da

medida cautelar da separação de corpos. Pode ser litigioso ou consensual.

O juiz concederá o pedido diretamente, na conversão litigiosa, desde

que não haja contestação ou precisão de produzir prova em audiência e então a sentença

será gerada em dez dias.

Já o divórcio direto é aquele que se faz presente após passado mais de

dois anos da separação de fato dos cônjuges. Existe um único requisito legal para o

divórcio direto, que é que os cônjuges estejam separados de fatos, ou seja, vivendo

separados, no mínimo dois anos consecutivos. Se durante esses dois anos, o casal voltar

a viver junto, o prazo é cessado. Nesta espécie de divórcio não se exige a causa da

separação.

A respeito dos motivos que ocasionam o divórcio, geralmente eles não

são previsíveis, pois no começo do casamento os cônjuges ainda não se conhecem

completamente, exceto nas situações em que os cônjuges já moraram juntos antes de

convolarem núpcias.

Pois somente com a convivência, aquelas características antes

escondidas durante o período de namoro serão reveladas, características antes

22

imperceptíveis irão se aflorar, situação que gera os confrontos entre o casa, culminando

na grande maioria em um processo de divórcio.

É necessário ressaltar, que concernente as consequências, a obrigação

com a educação, sustento e guarda dos filhos continua com ambos os pais. E que além

dos efeitos jurídicos, há também os efeitos emocionais, de caráter psicológico, e que é o

mais afetado pelos confrontos e que geralmente impulsiona os cônjuges a uma

separação.

É de extrema importância que saibam controlar o emocional abalado

para manter uma boa relação com a ex-cônjuge, para que o homem possa exercer seu

direito de visita aos filhos de forma plena, a concessão de alimentos se mostra

impositivo pela norma jurídica e, principalmente, a convivência com o atual

companheiro do cônjuge divorciado se houver.

Estes são apenas alguns dos muitos desafios colocados ao divorciados

diante da atual situação.

A maioria das mulheres que passam por um processo de divórcio

passa por uma instabilidade afetiva, algumas até por depressões que só são superadas

anos após o divórcio.

Isso torna, de certo modo, as mulheres mais vulneráveis nestes casos,

tendo em vista sua alta sensibilidade.

Os divorciados enfrentam uma grande batalha para superar a crise

pós-divórcio, pois o mesmo deixa inúmeras pendencias em inúmeros sentidos.

É preciso que se houver prole, que os mesmos sejam esclarecidos

sobre a situação e todos as mudanças que os envolvem, para não serem tão afetados pela

crise pós-divórcio. Como por exemplo, deverão saber quem ficará responsável pela

guarda, se será exercida plenamente pelos dois progenitores em caso se guarda

compartilhada, competindo a cada um desempenharem suas obrigações como

responsáveis e garantindo a presença constante no cotidiano e nas atividades que

compõem a vida de seus filhos, auxiliando de forma financeira, moral e emocional. Os

progenitores não devem proibir o contato do filho com o outro genitor, não devem

manipular seus filhos com o intuito de criar empedimentos emocionais na relação pai e

23

filho, pois, assim, estaria configurando alienação parental o que gera vários problemas

na vida dos filhos.

Porém, mesmo com essas consequência nada fáceis de se enfrentar, o

divórcio continua sendo a maneira mais eficaz para colocar fim aos confrontos

existentes entre os casais, quando não houve mais soluções cabíveis para uma boa

relação.

Inúmeras situações podem servirem de causada para o divórcio, como

por exemplo, a presença de um relacionamento fora do casamento, o frieza sexual,

brigas a todo tempo entre o casal, interferência da família de um dos cônjuges, ou dos

dois, a falta de dedicação nas obrigações perante o outro cônjuge, ou simplesmente pela

perda de amor pelo outro.

Alguns motivos do divórcio são considerados psicológicos, e na visão

de Alice Sibili e Dayane Dimário, estes motivos são: a) a escolha da pessoa do outro

cônjuge, tendo em vista que não é raro que seja feita uma escolha inábil e que tenha

uma repercussão através do divórcio somente depois de anos de convivência e certeza

de que não fez a escolha certa no momento de escolher seu cônjuge. b) o

amadurecimento do casal, é uma segunda causa psicológica para o divórcio a medida

que o que casal amadurece de forma desigual. As mudanças que ocorrem em todas as

pessoas ao longo de sua vida, podem gerar no parceiro desconforto e a sensação de que

o cônjuge está estranho e diferente da pessoa por quem se apaixonou e por quem se

casou. c) a decadência dos aspectos saudáveis do casamento, ou seja, a diminuição de

certas rotinas que costumavam ter no namoro e que alegrava o outro cônjuge e que após

o casamento, por comodidade, falta de tempo, entre outros motivos, deixaram de ser

feitas. Isto, em vários casos determina o fim de um casamento. Pois não é raro que uma

pessoa encontre na outra alguém que vai aliviar algumas coisas que te pesam, seja

ansiedade, angústia, ou outro problema que a pessoa tenha em sua vida pessoal. Isto é

algo normal na maioria das uniões. d) outro motivo pode ser a mudança psicológica de

um dos cônjuges, pois várias vezes o que une pessoas são seus problemas e conflitos, é

como se um ajudasse o outro a combater esse seu lado. Assim, se um cônjuge ao longo

dos anos melhora sua característica psicológica, passando a não ter os problemas que

antes lhe atrapalhavam e que necessitada do auxílio do outro conjugue para enfrentar,

isto pode vir a se tornar uma causa de divórcio. e) o surgimento de um problema

24

psicológico em um dos cônjuges, também pode ser causa de um divórcio. Por exemplo,

no caso de um marido trabalhador e esforçado, passar por uma situação e se tornar

alcóolatra e deprimido. Da mesma forma pode acontecer com a mulher, por exemplo,

que antes era ativa e segura de si, e que no período de menopausa (período climatério)

se torna insegura e depressiva. f) a ilusão sobre o divórcio pode ser causa de separação,

pois muitas pessoas se iludem a respeito da vida do divorciado, entendendo ser uma

vida prazerosa, sem responsabilidades e compromissos e acabam ocasionando o

divórcio para poderem viver esta vida.

O divórcio tem se tornado muito frequente nas famílias brasileiras,

portanto, não é raro também que as separações retrocedam. Pois na maioria das vezes, o

divórcio vem em um período de crise que pode ser que com o tempo, ambos percebam

que a crise era passageira e resolvam se reaproximar.

Quase sempre ocorre uma reação de luto pelo fim da união, por pior

que já estivesse ruim e abalada a relação antes da separação.

Assim, não é incomum que pessoas relatem sentimentos depressivos e

de angustia, relacionadas a incertezas, dúvidas e variação constante no humor no

período do divórcio. Apesar de uma separação poder acontecer de maneira rápida, o

processo de recuperação psicológica do divórcio leva em média dois anos para se ter

uma resolução satisfatória, para que ambos os cônjuges se cicatrizem das marcas que

ficaram. E quando se torna possível que o ex-cônjuge seja visualizado de modo

imparcial, com os separados aceitando a sua nova identidade de pessoa divorciada.

Em uma pesquisa realizada nos processos de divórcio que tramitaram

no ano de 2009, foi constatado que a falta de amor, a presença de uma relação

extraconjugal e as brigas foram os principais motivos que levaram a propositura da

ação.

É evidente que a principal consequência do divórcio é a extinção do

casamento, cessando o vínculo que unia os cônjuges.

O divórcio pode ocasionar outros tipos de consequências, como

problemas financeiros, em curto prazo, devido às custas do processo de divórcio, os

quais podem alavancar gastos superiores a sua renda, bem como terão que procurar

nova moradia, acarretando despesas com alugueis, dentre outras.

25

A saúde também muitas vezes é afetada com o divórcio,

principalmente a saúde mental, pois os divorciados podem adquirir sérios problemas de

saúde mais cedo que o normal, como depressão, enfermidades neurológicas, hipertensão

arterial e outros.

As relações sociais também serão afetadas, pois desfarão amizades

durante o processo do divórcio, o que afetará a sua segurança e sua autoestima, e

contribuirá ainda mais para o surgimento de consequências maléficas para os cônjuges.

A respeito da sentença do divórcio, ela possui efeito ex nunc, não

atingindo os efeitos produzidos pelo casamento até o pronunciamento do divórcio.

Conforma citado no artigo 32 da Lei nº 6,515/77, o divórcio produzirá

apenas efeitos jurídicos a partir da data em que for registrado no Cartório de Registros

Públicos competente. Não bastando apenas a sentença judicial para alterar nomes e o

estado civil dos documentos dos divorciados.

Para que seja feita essas alterações é imperioso que o Juiz faça os

mandados de inscrição para o oficial do Registro Civil, provocando as averbações e

alterações e, com a certidão feita e atualizada, possa o interessado retificar o nome e

estado civil de seus documentos.

No Código Civil de 2002, não há vínculo da produção de efeitos da

sentença de divórcio ao registro feito no Cartório, como dizia o artigo 32 da Lei de

Divórcio. No entanto, o artigo 1.525, inciso V do Código Civil atual exige que seja feito

a instrução do processo de habilitação de novo casamento com a certidão do registro da

sentença de divórcio.

Com a concretização do divórcio, será dissolvido o vínculo do

casamento civil e irá cessar os efeitos civis do religioso que estiver transcrito no

Registro Público (Lei nº 6.515/77, art. 24; CC, art. 1.571, § 1º).

Será também o fim dos deveres recíprocos dos cônjuges; a extinção do

regime matrimonial de bens, realizando a partilha conforme o regime do casamento.

Assim, o divórcio pode ser concedido sem precisar de prévia partilha

de bens, que poderá ocorrer após a ação ordinária ajuizada para esse fim, dividindo o

patrimônio dos ex-cônjuges de acordo com o regime de bens; encerra o direito

26

sucessório dos cônjuges, que deixam de ser herdeiros um do outro, em concorrência ou

na falta de descendentes e ascendentes; possibilita o formação de novo casamento aos

divorciados, desde que observando o disposto no art. 1.523, III e parágrafo único, do

Código Civil.

Porém não se admite a reconciliação entre os cônjuges divorciados, de

modo que se quiserem recompor o casamento, ou seja, retomar a união conjugal

somente poderão se contraírem casamento novo (Lei n. 6.515/77, art. 33).

Possibilita também o pedido de divórcio sem limitação numérica,

pois a Lei n. 7.481/89, no art. 3º, ao revogar o art. 38 da Lei n. 6.515, permite,

hodiernamente, no Brasil, a possibilidade de uma pessoa divorciar-se quantas vezes

julgar necessário.

No Brasil estabelecia-se como limite um único pedido de divórcio.

Se permite que os ex-cônjuges, mesmo divorciados, possam adotar

conjuntamente uma criança, concordando sobre a guarda, desde que o estágio de

convivência tenha começado na constância da sociedade conjugal mantêm inalterados

os direitos e deveres dos pais relativamente aos filhos menores maiores incapazes, ainda

que contraiam novo casamento.

A respeito do divórcio, questiona-se muito se com o divórcio qual dos

dois quem sobre mais, se é o homem ou a mulher, e isso é bem relativo, tendo em vista

que cada divórcio tem uma causa particular que muda de casal para casal, e o

sofrimento geralmente está ligado ao nível de culpa, podendo assim, o sofrimento ser

até igual para os dois dependendo da causa. O homem e a mulher, na maioria das

situações, após o divórcio, se tornam inimigos, no entanto, o homem recebe uma carga

muito maior de problemas do que a mulher.

A escritora Mayeve Rochane Gerônimo Leite Araújo (2010)

esclarece: As taxas concernentes ao processo de separação/divórcio entre casais vêm

aumentando consideravelmente nas mais variadas culturas e camadas sociais. Conforme

dados apresentados por Waldemar (1996) o número de divórcio nos países ocidentais

atinge cerca de 30 a 50% dos casamentos. No que diz respeito ao Brasil, foram

encerrados, em primeira instância, 36. 251 processos de divórcio, no ano de 1985, e 99.

887, no ano de 1995, o que demonstra que houve um aumento de 175,5% neste período.

27

Quanto ao número de processos de separação judicial, foram encerrados 76. 296, em

1985, e 88. 118, em 1995, denotando um aumento de 15,5% (Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística [IBGE], 1985, 1995).

De acordo com Michel Dorais (1988, p. 26), em sua obra: O lugar da

família na vida dos homens e o lugar dos homens na família mudaram. Como, em geral,

eles passam mais tempo no trabalho que em casa, os homens demoraram a se dar conta

disso. Quando decidiram fazer uma reflexão, não gostaram do que viram. Depois de

negligenciarem a educação dos filhos e resistirem a pagar-lhes pensão alimentícia, os

homens querem agora a guarda dos filhos.

Será que estão perturbados por estarem sozinhos? Uma vez que o

divórcio se banalizou, as famílias reconstituídas multiplicam-se mais rapidamente que

as famílias tradicionais, pois bem mais da metade dos homens divorciados logo

constituem um novo casal. Dos aproximadamente somente o resto fica só, quantos

realmente optaram por isso? O divórcio aumenta o risco de morte por suicídio, bem

como aumenta também a frequência de problemas psiquiátricos, o risco do

aparecimento de vícios como o de alcoolismo, uso de drogas (substâncias químicas em

geral) e de morte por câncer ou enfermidades cardiovasculares. Alguns homens chegam

a sofrer mais as consequências psicológicas e físicas do divórcio do que as mulheres,

pois sobre eles, aparecem incontáveis desconfianças após o divórcio por parte do resto

dos familiares.

Quando o casal decide pelo divórcio, depois de esgotadas as

alternativas, é preciso no mínimo manter um relacionamento sadio entre o ex casal, pais

e filhos, para que desta forma todos os envolvidos no processo passem de uma maneira

mais fácil e com menos problemas por ele, com menos sofrimento e maior segurança

emocional.

Alguns reflexos do divórcio são vistos através dos próprios filhos, que

muitas vezes desenvolvem dificuldades em se relacionar, baixa autoestima, falta de

maturidade, negam responsabilidade e criam uma espécie de trauma e medo de

reviverem algum dia de alguma forma a história de seus pais.

28

Até mesmo as crianças pequenas, que na visão dos adultos ainda não

tem discernimento para entender a situação sentem a dor e sofrimento dos pais e

também transferem a elas tal dor. Se tornam manhosos, se irritam facilmente.

Durante este período, é necessário que os pais mesmo sofrendo com a

situação, acalentem seus filhos, tomando cuidado para tranquilizá-los, uma vez que os

mesmo não têm culpa alguma pelo o que acontece na vida do casal. Cabe assim aos pais

transmitirem essa tranquilidade às crianças e adolescentes de todas as idades, evitando

que presenciem as discussões e transmitindo também o amor por eles,

independentemente da situação que o casal está vivendo, dando extrema importância ao

que pensam e sentem. E deixando claro que o casal está passando por um momento

difícil, mas, que o filho não tem relação alguma com a situação que está acontecendo e

que é natural casais discutirem.

2.2 Emenda Constitucional 66/2010

A partir do momento em que houve a promulgação da Emenda

Constitucional nº 66, em Julho de 2010 surgiram muitas perguntas a seu respeito, tendo

em vista que a mesma se limitou a alterar a redação do parágrafo 6º do artigo 226 da

Constituição Federal, nestes simples termos: “O casamento civil pode ser dissolvido

pelo divórcio”.

Com esta nova ideia do Direito de Família que se busca garantir, antes

de tudo, o direito baseado no princípio que rege à dignidade humana, e onde demonstra,

um Estado que deixa os cônjuges escolherem sua vida de casados.

Surge desta forma a edição de uma lei nova a respeito do divórcio

para adequar o texto legal à nova ordem constitucional que se deu pela Emenda

66/2010. Esta nova lei vem sendo editada com o objetivo de solucionar as questões em

29

aberto com a criação da Emenda, esclarecendo as diversas dúvidas e questionamentos

frequentes a respeito do divórcio.

O Projeto de Lei pretende virar a nova Lei do Divórcio,

complementando a disposição trazida pela Emenda Constitucional nº. 66/2010, com o

intuito de substituir a Lei n 6.515/77.

Tal projeto foi criado pelos Senadores, Sr. Accioly Filho e Sr. Nelson

Carneiro e foi fixado depois da Emenda nº 9, de 28 de Junho de 1977.

Tal emenda não tem como objetivo revogar o Código Civil para tratar

em lei a parte o assunto, apenas inserir a matéria dentro do Código já existente,

mudando apenas a escrita dos artigos que necessitam de mudança para que nele foquem

na matéria do novo divórcio, à luz do que tem determinado a norma constitucional

nova.

De forma mais específica, os artigos que se pretende alterar são: Os

artigos 1.571 a 1.577 e revogar o inciso III do artigo 1.571, o parágrafo 3º do artigo

1.572, o parágrafo único do artigo 1.573, o parágrafo único do artigo 1.576, o parágrafo

único do artigo 1.577, e os artigos 1.578, 1.580, 1.581, e 1,582.

Ainda no Código civil, pretende-se alterar a redação do artigo 1.584,

inciso I, pois trata da guarda dos filhos incapazes, e dos artigos 1.695, 1.700, 1.7001,

1.702, 1.703, 1.707 e 1.708, que tratam dos alimentos e devem ser adaptados para o

novo tratamento do divórcio.

Pretende-se revogar o artigo 1.520 do Código Civil, que autoriza a

dispensa da idade núbil para o casamento, até porque, tal dispositivo já está sem

eficácia, diante da revogação dos incisos VII e VIII do artigo 107 do Código Penal pela

Lei nº 11.106/05, e também porque, mesmo na parte que o dispositivo ainda tem

eficácia, é absolutamente injustificável a permissão do casamento antes dos 16 anos,

mesmo em casos de gravidez.

Além da modificação destes artigos, pretende-se dar uma estrutura

nova ao capítulo todo que trata da dissolução do casamento. Começando pelo adaptação

do próprio título do capítulo, que se tornou impróprio, para um que esteja de acordo

com a nova norma constitucional do divórcio.

30

Também pretende-se alterar o Código de processo civil, na redação de

alguns artigos, para melhor regulamentar o processo do novo divórcio.

31

CAPÍTULO III – ERRO ESSENCIAL QUANTO À PESSOA DO

CONJUGE

3.1 – Anulabilidade do casamento

O casamento pode ser nulo ou anulável, isto irá depender do tamanho

da falha na observância dos requisitos necessários para a validade do casamento, em

conformidade com a lei.

Em relação a teoria das nulidades, Carlos Roberto Gonçalves

menciona:

“A teoria das nulidades apresenta algumas exceções em matérias de

casamento. Assim, embora os atos nulos em geral não produzam

efeitos, há uma espécie de casamento, o putativo, que produz todos os

efeitos de um casamento válido para o cônjuge de boa-fé. Não se

aplica, assim, ao matrimônio a parêmia quod nullum est nullum

producit effectum. E, também, malgrado o juiz deva pronunciar de

ofício a nulidade dos atos jurídicos em geral (art. 168, parágrafo

único), a nulidade do casamento somente poderá ser declarada em

ação ordinária (artigos 1.549 e 1.563), não podendo, pois, ser

proclamada de ofício. Desse modo, enquanto não declarado nulo por

decisão judicial transitada em julgado, o casamento existe e produz

efeitos, incidindo todas as regras sobre efeitos do casamento (deveres

dos cônjuges, regimes de bens)” Quando o casamento é nulo, a ação

adequada é a declaratória de nulidade. Os efeitos da sentença são ex

tunc, retroagindo à data da celebração. A anulabilidade reclama a

propositura de ação anulatória, em que a sentença, segundo uma

corrente, produz efeitos somente a partir de sua prolação, não

retroagindo (ex nunc). A irretroatividade dos efeitos da sentença

anulatória é sustentada por Orlando Gomes, Maria Helena Diniz,

Carlos Alberto Bittar, dentre outros”. (GONÇALVES, 2005, p. 133).

32

Tanto a ação anulatória, quanto a ação declaratória de nulidade do

casamento regem a respeito dos direitos indisponíveis e são ações de Estado. Portanto,

ambas necessitam obrigatoriamente da intervenção do Ministério Público, como fiscal

da lei (CPC, artigos 82 a 84), porém, não é mais necessário a participação de curador ao

vínculo; também nestas ações não se operam os efeitos da revelia. (CPC, artigo 320,

inciso II) e não se presume verdadeiros os fatos não contestados; não há ônus da prova

na impugnação especificada (CPC, artigo 302), não se presumindo também como

verdade os fatos não impugnados especificamente.

Dentre as consequências da declaração de nulidade do casamento,

alguns se destacam mais do que os outros. Assim o casamento nulo não gera o efeito de

antecipar a idade maior através da emancipação, salvo em caso de boa-fé.

Em relação aos filhos, o artigo 1.587 pede que se atente ao disposto

nos artigos 1.584 e 1.586 do Código Civil de 2002.

No quesito regime de bens, a eficácia retroativa da sentença de

nulidade é clara. A sentença faz desaparecer retroativamente o regime de bens, ou seja,

as relações patrimoniais eventualmente surgidas no período de vida em comum que

existiu, se liquidam.

Isto deverá ser feito em concordância com as normas referentes a

sociedade de fato.

Entretanto, está solução só é, incidente nas formas de casamento nulo

em que os cônjuges estiverem de má-fé, no momento da celebração do casamento. Já

em caso de boa-fé da parte de um cônjuge, de outro, ou de ambos, a solução será dada

com base nos princípios próprios do casamento putativo.

O sistema de nulidades do casamento tem regras próprias que o torna

uma especialização da teoria geral das nulidades. Por isso, não seria eficaz adotar o

casamento, na totalidade, os princípios e critérios do regime das nulidades dos negócios

jurídicos.

A autora, Maria Helena Diniz esclarece a respeito dos atos nulos e

anuláveis:

“Convém recordarmos que os atos nulos ou de nulidade absoluta

(Código Civil, artigos 166 e 167) são os que, inquinados por algum

vício essencial, não podem ter eficácia jurídica, ou seja, são aqueles

em que falta elemento essencial (consentimento, objeto lícito, sujeito

capaz, forma prescrita em lei) à sua formação ou aqueles que, apesar

de possuírem os elementos essenciais, foram praticados com

simulação, infração à lei, à ordem pública e aos bons costumes. Se o

ato nulo, pois o artigo 1.561, parágrafo 1º e 2º do Código Civil não

proclama a ausência de efeitos. O casamento nulo, mesmo sem ser

putativo, acarreta efeitos (CC, artigo 1.561, parágrafo 2º), como:

comprovação de filiação; matrimonialidade dos filhos com o

reconhecimento da maternidade e da paternidade; manutenção do

33

impedimento de afinidade, dissuasão de casamento da mulher nos 300

dias subsequentes à dissolução da sociedade e do vínculo conjugal

pela presença que decreta a nulidade, e atribuição de alimentos

provisionais ao cônjuge que deles precisar enquanto aguarda a decisão

judicial. Os atos anuláveis ou de nulidade relativa (CC, artigo 171) são

os que se acham inquinados de vício capaz de lhes determinar a

ineficácia, mas que poderá ser eliminado restabelecendo-se a

normalidade do ato. Ou melhor, quando o defeito advém da

imperfeição da vontade ou porque emanada de relativamente incapaz

ou porque sua manifestação se encontra eivada de algum vício que a

oblitere, como, p. ex., o erro, ou a coação, temos atos anuláveis. O

casamento é também passível de anulação pelos motivos que

invalidam os negócios jurídicos, mas sua anulabilidade, como logo

mais veremos, não se rege inteiramente pelas normas atinentes às

relações negociais, podendo gerar vários efeitos civis, principalmente

para os filhos havidos durante o casamento”. (DINIZ, 2007, p. 252).

3.1.1 – Casamento nulo

Segundo o Código Civil atual:

Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:

I Ŕ pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos

da vida civil;

II Ŕ por infringência de impedimento.

Art. 1.549 Ŕ A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos

previstos no artigo antecedente, pode ser promovida mediante ação

direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.

Assim, Antônio Carlos Antunes Junior, explica o inciso I menciona,

que o casamento será nulo quando for feito por doente mental que não seja capaz para

realizar todas as atividades da vida civil.

Já no inciso II do artigo, disciplina que o casamento será nulo quando

desrespeitar as maneiras de impedimentos, previstos no artigo 1.521 do Código Civil de

2002.

34

Quanto aos efeitos jurídicos, a declaração de nulidade o deixa sem

validade desde o momento de sua celebração. Não produz os efeitos civis do

matrimonio perante os contraentes, exceto nos casos de boa-fé dos nubentes, tendo em

vista que tem efeito ex tunc.

Porém, Antônio Carlos dispõe de acordo com oo artigo 1.563 do

Código Civil atual:

“Apesar de ter efeito ex tunc, a declaração de nulidade do casamento

não prejudica a aquisição de direitos, onerosos, por terceiros de boa-fé, nem a resultante

de sentença transitada em julgado”.

Já quanto à ação de declaração de nulidade, vale mencionar que esta

ação, de rito ordinário, com natureza de Ação Declaratória, pode ser feita por qualquer

interessado ou pelo Ministério Público, conforme descrito no artigo 1.549 do Código

Civil de 2002.

Os interessados são aquelas pessoas com qualquer interesse moral, e

econômico, ou seja, cônjuges, ascendentes, irmãos, cunhados e ao primeiro consorte do

bígamo no quesito moral, e os filhos de matrimônio anterior, colaterais sucessíveis

adquirente de seus bens e credores do conjugue no quesito econômico.

Esta ação é imprescritível, tendo em vista que é uma causa de

nulidade do casamento.

Vale ressaltar que a nulidade pode ser declarada de ofício, ou seja,

caso o oficial de registro ou o juiz tenha conhecimento de um fato que se encaixe na

causa de impedimento, este deve declará-lo. (CC, Art. 1.522/2002).

O ato nulo não produz efeito quando ofende, gravemente, princípios

de ordem pública ou contém vícios que infringem o artigo 104 do Código Civil.

Será considerado ato nulo aquele que: a) for praticado por pessoa que

não tenha capacidade para tal ato (absolutamente incapaz); b) tiver objeto impossível ou

ilícito; c) não estiver em conformidade com a forma da legislação ou que tenha alguma

formalidade e solenidade para sua validação; d) quando, tendo elementos que não

podem faltar, ainda assim for realizado com alguma infração à lei e aos bons costumes;

e) quando a lei o declarar nulo ou lhe negar a produção de efeito.

35

Quando o ato se torna nulo é como se nunca houvesse existido, desde

sua criação. Somente continuará a existir após o ato nulo, os efeitos produzidos em

relação a terceiros. Efeitos estes que serão de responsabilidade dos cônjuges.

Tendo em vista que o casamento é um forma contratual diferenciada,

ao se verificar ofensa a qualquer dos pilares deste negócio jurídico, impõe-se ao cônjuge

que deu causa a ofensa a obrigação de indenizar o cônjuge de boa-fé que teve prejuízo.

Em relação a reparação de danos sofridos, em caso de nulidade do ato,

diz respeito a requisitos que determinam a forma correta da constituição, a criação do

ato e sua validade. Tratam-se então, de vícios insanáveis, ou seja, sem reversão, de

ordem pública, e que, podem ser vistos a qualquer tempo, não pairando sobre eles o

instituto da preclusão.

O casamento nulo ocorre também se for infringido o artigo 1.548 do

Código Civil de 2002, sendo assim, nulo o matrimônio realizado por doente mental que

não tenha o entendimento que precisa para assumir as responsabilidades da vida civil e

por infringir impedimentos.

Em relação à primeira hipótese, Pereira cita:

“Aludindo ao enfermo mental, “sem discernimento para os atos da

vida civil”, tem o Código em vista o disposto no artigo 3º, alínea II,

cujo teor é este: “Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não

tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos”.

Sucintamente, o presente artigo fulmina de “nulidade” o casamento

daquele enfermo mental, que é absolutamente incapaz.” (PEREIRA,

2004, p. 304)

Então, para que o casamento seja nulo não é necessário apenas que a

pessoa seja portadora de enfermidade mental. É preciso que tal enfermidade lhe tire de

forma completa a capacidade de entendimento para portar-se de maneira correta perante

a vida civil e entender de forma clara as responsabilidades do casamento.

Portanto, se o enfermo mental tiver capacidade relativa, com apenas

uma diminuição da aptidão mental, não irá configurar a nulidade.

36

3.1.2 – Casamento anulável

Em relação ao casamento anulável, o Código Civil de 2002 prevê:

Art. 1.550. É anulável o casamento:

I Ŕ de quem não completou a idade mínima para casar;

II Ŕ do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu

representante legal;

III Ŕ por vício da vontade, nos termos dos artigos 1.556 a 1.558;

IV Ŕ do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o

consentimento;

V Ŕ por incompetência da autoridade celebrante.

Parágrafo único. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato

judicialmente decretada.

Art. 1.551. Não se anulará, por motivo de idade, o casamento de que

resultou gravidez.

Art. 1.552. A anulação do casamento dos menores de dezesseis anos

será requerida:

I Ŕ pelo próprio cônjuge menor;

II Ŕ por seus representantes legais;

III Ŕ por seus ascendentes.

Art. 1.553. O menor que não atingiu a idade núbil poderá, depois de

completá-la, confirmar seu casamento, com autorização de seus

representantes legais, se necessária, ou com suprimento judicial.

Art. 1.554. Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem

possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as funções

de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado o ato no

Registro Civil.

Art. 1.555. O casamento do menor em idade núbil, quando não

autorizado por seu representante legal, só poderá ser anulado se a ação

for proposta em cento e oitenta dias, por iniciativa do incapaz, ao

deixar de sê-lo, de seus representantes legais ou de seus herdeiros

necessários.

37

§ 1º O prazo estabelecido neste artigo será contado do dia em que

cessou a incapacidade, no primeiro caso; a partir do casamento, no

segundo; e, no terceiro, da morte do incapaz.

§ 2º Não se anulará o casamento quando à sua celebração houverem

assistido os representantes legais do incapaz, ou tiverem, por qualquer

modo, manifestado sua aprovação.

Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se

houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial

quanto à pessoa do outro.

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro

cônjuge:

I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo

esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida

em comum ao cônjuge enganado;

II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua

natureza, torne insuportável a vida conjugal;

III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico

irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou

herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua

descendência;

IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que,

por sua natureza, torne insuportável a vida em comum ao cônjuge

enganado.

Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o

consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado

mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a

saúde e a honra, sua ou de seus familiares.

Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação,

pode demandar a anulação do casamento; mas a coabitação, havendo

ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses dos incisos III e

IV do art. 1.557.

Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do

casamento, a contar da data da celebração, é de:

I - cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550;

II - dois anos, se incompetente a autoridade celebrante;

III - três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557;

IV - quatro anos, se houver coação.

§ 1º Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de anular o

casamento dos menores de dezesseis anos, contado o prazo para o

menor do dia em que perfez essa idade; e da data do casamento, para

seus representantes legais ou ascendentes.

§ 2º Na hipótese do inciso V do art. 1.550, o prazo para anulação do

casamento é de cento e oitenta dias, a partir da data em que o

mandante tiver conhecimento da celebração.

38

Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé

por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos

filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.

§ 1º Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os

seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão.

§ 2º Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o casamento,

os seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão.

Art. 1.562. Antes de mover a ação de nulidade do casamento, a de

anulação, a de separação judicial, a de divórcio direto ou a de

dissolução de união estável, poderá requerer a parte, comprovando sua

necessidade, a separação de corpos, que será concedida pelo juiz com

a possível brevidade.

Art. 1.563. A sentença que decretar a nulidade do casamento

retroagirá à data da sua celebração, sem prejudicar a aquisição de

direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé, nem a resultante de

sentença transitada em julgado.

Art. 1.564. Quando o casamento for anulado por culpa de um dos

cônjuges, este incorrerá:

I - na perda de todas as vantagens havidas do cônjuge inocente;

II - na obrigação de cumprir as promessas que lhe fez no contrato

antenupcial.

Considera-se anulável, o casamento que não atua de acordo com os

preceitos legais, não tendo eficácia, e assim se tornando inválido. Porém, se forem

removidos os vícios o casamento pode recobrar a sua validade jurídica.

A respeito do casamento anulável, Antônio Carlos Antunes Junior,

descreve que o Código Civil de 2002 apresentou inovação ao separar as situações de

nulidade do casamento e de anulabilidade, casos estes previstos pelos incisos do artigo

1.550 do Código.

Então, em conformidade com o disposto no artigo 1.550, as causas

que possibilitarão a anulação do casamento, são:

Quando um dos nubentes não tiver completado a idade mínima para se

casar e do menor em idade núbil quando o mesmo não tiver a autorização de seu

representante legal (incisos I e II, artigo 1.550 do Código Civil de 2002).

39

Antônio Carlos ainda cita:

“É necessário ressaltar que, no artigo 1.517 do Código atual, a idade

mínima para se casar baixou para dezesseis anos.”

Também em outro trecho explica:

“Sendo assim, será anulável apenas o casamento de menor de

dezesseis anos, ou do menor entre dezesseis e dezoito anos que não tiver autorização de

seus representantes legais.”

Entretanto, a respeito da visão do Código sobre o assunto, também

traz exceções quanto a esta matéria:

“A primeira exceção está no artigo 1.551, que dispões que o

casamento que houver resultado em gravidez, não será anulado em razão da idade dos

nubentes.”

Também, o menor que não completou a idade núbil, poderá confirmar

seu casamento, depois de completar a idade permitida, com a consentimento de seus

responsáveis perante a lei ou pelo suprimento judicial (Artigo 1.553 do Código Civil de

2002).

Assim, Antônio entende que:

“Somente o cônjuge menor, os seus representantes legais ou seus

ascendentes terão competência para realizar a propositura da ação judicial de anulação

de casamento em razão da idade dos nubentes”. (Artigo 1.552 do Código Civil de

2002).

Lembrando assim, que o casamento anulável se torna inválido, porém

ele pode retomar a sua validade, ao contrário do casamento nulo, que mesmo com o

consentimento e vontade dos cônjuges não pode ter sua validade restituída.

Pois no casamento anulável, as partes convolam núpcias com o ato

contaminado por vícios sanáveis, como por exemplo, defeito de idade, ausência de

autorização do responsável legal, erro essencial quanto a pessoa do outro cônjuge, entre

outros (Artigo 1.550 e seguintes do Código Civil de 2002).

40

Assim, por não serem vícios de ordem pública, podem ser

convalidados tanto pelo decurso de prazo, tendo cada hipótese de anulabilidade seu

prazo decadencial correspondente, quanto pela vontade dos cônjuges.

E enquanto o casamento não for anulado, o mesmo será válido e desta

forma produzirá todos os seus efeitos jurídicos.

Para que o casamento se anule, é preciso que seja feita a propositura

da ação anulatória, por aqueles que tenham interesse exclusivo no ato.

A sentença que anula o casamento retroage à data do ato.

3.2 – Erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge

O erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge é uma das formas

de anulabilidade do casamento, e está descrito no Código Civil de 2002:

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro

cônjuge:

I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo

esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida

em comum ao cônjuge enganado;

II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua

natureza, torne insuportável a vida conjugal;

III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico

irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou

herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua

descendência;

IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que,

por sua natureza, torne insuportável a vida em comum ao cônjuge

enganado.

Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o

consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado

mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a

saúde e a honra, sua ou de seus familiares.

41

Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação,

pode demandar a anulação do casamento; mas a coabitação, havendo

ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses dos incisos III e

IV do art. 1.557.

O casamento pode se tornar anulável por erro, quando um dos

cônjuges houver incidido erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge, ou seja, é

necessário que um dos cônjuges seja enganado pelo outro, por qualquer uma das

hipóteses descritas no artigo, desde que tenha ocorrido anteriormente ao casamento.

3.2 – Formas e efeitos do erro essencial

Este erro pode ocorrer no que diz respeito à identidade do outro, sua

honra, tornando assim impossível manter a vida conjugal por parte do cônjuge

enganado.

Valéria Silvia, diz a respeito disso que:

“É causa de erro essencial também, a ignorância de crime inafiançável

cometido anteriormente ao casamento e definitivamente julgado por sentença

condenatória.”

Ainda sobre a causa de erro, Valéria menciona:

“Além disso, também é considerado causa de erro os defeitos físicos

irreparáveis ou de moléstia grave transmissíveis por contagio ou herança, que sejam

capaz de colocar em risco a vida da prole e do cônjuge.”

É necessário que se explique o teor de cada parágrafo do artigo 1.557

do Código Civil de 2002 para a compreensão exata das formas de erro essencial sobre a

pessoa do outro cônjuge.

O parágrafo I do artigo em questão diz respeito a erro essencial

cometido em relação à identidade de um dos cônjuges, sua honra e boa fama, e que

tendo o outro cônjuge obtido conhecimento deste erro posterior ao casamento não

deseja mais a vida em comum com o cônjuge que o enganou.

42

A título de exemplo, este erro ocorre quando um dos cônjuges passa

por uma cirurgia de mudança de sexo antes do casamento e a mantém em segredo, e

após o casamento o cônjuge enganado, de alguma forma, tem conhecimento do fato e

isto torna insuportável a vida conjugal.

Ou ainda, quando um dos cônjuges já se prostituiu antes do casamento

e omitiu do outro até após o casamento, e no momento que o cônjuge enganado toma

conhecimento não suporta mais a vida em comum com a pessoa do outro cônjuge.

Já o parágrafo II dispõe que é causa de erro a ignorância de crime,

praticado antes do casamento, que, por sua natureza, cause desconforto no cônjuge

enganado de forma que o mesmo não suporte mais manter a vida conjugal.

De maneira mais simples para o entendimento, esta forma do

parágrafo II ocorre quando um dos cônjuges houver praticado um crime anterior ao

casamento e por ele houver recebido sentença condenatória, porém tiver escondido do

outro cônjuge. E após o casamento, o cônjuge enganado toma conhecimento do fato e

isto torna insuportável a vida conjugal.

No parágrafo III, cita a ignorância de um dos cônjuges, anterior ao

casamento.

Antônio demonstra ainda que é necessário:

“...a respeito de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e

transmissível, por herança ou contágio, capaz de pôr em risco a saúde do cônjuge

enganado ou de sua prole.”

Ou seja, quando um dos cônjuges esconde do outro cônjuge até

período posterior ao casamento, doença que o mesmo já tinha conhecimento antes do

casamento. E que, desta forma, quando o cônjuge descobre que foi enganado, não

admite e deseja romper o vínculo da vida conjugal com a pessoa do outro cônjuge.

Na visão médica, o defeito físico é a ausência ou anomalia funcional

ou anatômica. Porém no mesmo parágrafo, engloba defeitos capazes de colocar em risco

a saúde do cônjuge enganado e de sua descendência.

Portanto, analisando o texto todo do parágrafo, é possível entender

que o mesmo abrangeu os defeitos de natureza sexual, caracterizando desta forma, o

impedimento ou dificuldade na relação sexual uma causa de erro essencial quanto a

pessoa do outro cônjuge.

Em artigo de Marcelo, diz:

43

“É necessário entender que nem todo defeito físico autoriza a anulação

do casamento, mas somente aqueles que dificultem ou impeçam de algum modo a

relação. “

E ainda, é preciso que o defeito seja irremediável, ou seja, que não

seja passível de tratamento, não tenha cura ou que o tratamento seja ineficaz, não

importando a justificativa, podendo ser pela recusa do cônjuge ao tratamento, ou até

mesmo pela repulsa do mesmo posterior ao início do tratamento.

Além disso, deve ser observado que há mais dois requisitos no

parágrafo de extrema importância. Sendo eles que, o defeito seja anterior ao casamento

e que o outro cônjuge não tenha conhecimento do defeito.

Portanto, se o cônjuge for portador de defeito físico que se enquadre

na forma de anulação, porém o outro cônjuge tem ciência de tal defeito antes do

casamento, não será autorizada a anulação, pois faltará um requisito necessário, o da

ignorância do cônjuge.

A respeito disso, a jurisprudência tem inúmeros casos, como os

retratados a seguir:

““DIREITO CIVIL. ANULAÇÃO DE CASAMENTO.

VIRGINDADE DA MULHER CASADA APÓS OITO MESES DE

CASAMENTO. RÉU CONFITENTE. IMPOTÊNCIA CŒUNDE

RELATIVA. EXAME PERICIAL PARTICULAR EM HARMONIA

COM O CONJUNTO DAS PROVAS. SUA VALIDADE. APELO

PROVIDO. Válido se afigura o exame ginecológico não oficial que

testifica a integralidade do hímen da mulher casada, após oito meses

do matrimônio, dês que se harmoniza com o conjunto das provas

produzidas, máxime sendo o réu confitente, referentemente a ausência

de coito vaginal. Tal fato configura impotência cœunde presumida e,

frustrando a finalidade precípua do casamento: A procriação cristaliza

erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge, justificando, a

anulação do casamento. De modo uniforme, reformou-se a sentença,

provendo-se o apelo, para decretar a nulidade do casamento, com a

inversão do ônus sucumbencial”. (Apelação Cível nº 16272-3/Olinda,

Rel. Des. Siqueira Campos, 3ª Câmara Cível, ac. un. 11.10.1994).

“CIVIL. ANULAÇÃO DE CASAMENTO. ERRO ESSENCIAL

SOBRE A PESSOA DO OUTRO CÔNJUGE. DEFERIMENTO DO

PEDIDO. Comprovado o erro essencial sobre a pessoa do outro

cônjuge, tendo a ação de anulação de casamento seguido todos os

trâmites legais, confirma-se a sentença que acolheu o pedido.

Reexame necessário improvido. Decisão discrepante”. (Duplo Grau

Obrigatório de Jurisdição nº 74364-6/Recife, Rel. Des. Santiago Reis,

TJPE, 2ª Câmara Cível, ac. un. 20.11.2001, DJ-PE 07.03.2002).

44

E por fim, Antônio dispõe a respeito do parágrafo IV, cita que:

“A respeito da ignorância, anterior ao casamento, quanto à doença

mental grave de um dos cônjuges, que por sua natureza, com o conhecimento da

mesma, torne para o cônjuge enganado intolerável a vida em comum.”

A respeito do que foi descrito neste último parágrafo, cito abaixo uma

jurisprudência para exemplificar e auxiliar no entendimento sobre tal causa:

“CIVIL. AÇÃO DE ANULAÇÃODE CASAMENTO. MARIDO

PORTADOR DE DOENÇA MENTAL. ENFERMIDADE

CONSTATADA ATRAVÉS DE LAUDO PSIQUIÁTRICO

CONCLUSIVO. VERIFICADO ERRO ESSENCIAL SOBRE A

PESSOA DO OUTRO CÔNJUGE. IMPROVIMENTO DO

REEXAME COMPULSÓRIO. Uma vez testificado que o cônjuge

varão é portador de doença de natureza psiquiátrica, percebida pela

sua esposa após o casamento, afigura-se correto o decisum de

primeiro grau que, com fulcro no art. 219, III, do Código Civil

Brasileiro, decreta a anulação do casamento, por erro essencial em

relação à pessoa do outro cônjuge. Indiscrepantemente negou-se

provimento à remessa necessária.” (Duplo Grau Obrigatório de

Jurisdição nº 36100-8/Recife, Rel. Des. Siqueira Campos, TJPE, 3ª

Câmara Cível, ac. un. 31.03.1998, DJ-PE 26.08.1998).

Conclui-se então, que os requisitos como o do defeito físico

irremediável, anterior ao casamento, e a ignorância do outro cônjuge, não bastam

isoladamente para que seja realizada a anulação. É preciso que haja os três requisitos

juntos para gerar autorização para que o casamento seja anulado.

Além das formas de erro essencial quanto a pessoa do outro cônjuge e

os seus requisitos para a anulação do casamento, é importante levarmos em

consideração os seguintes artigos do Código Civil de 2002:

Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o

consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado

mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a

saúde e a honra, sua ou de seus familiares.

Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou sofreu coação,

pode demandar a anulação do casamento; mas a coabitação, havendo

ciência do vício, valida o ato, ressalvadas as hipóteses dos incisos III e

IV do art. 1.557.

45

O artigo 1.558 explica o caso em que mesmo tendo o consentimento

de um cônjuge ou dos dois o casamento ainda pode ser anulado. Este caso ocorre

quando o consentimento for obtido através de coação, como por exemplo o uso de força

física ou psicológica. E com a coação, o prazo se entende para anular o casamento.

Já no artigo seguinte, artigo 1.559, diz que quem pode requerer a

anulabilidade do casamento é o cônjuge que sofre a coação ou que sofreu o prejuízo do

erro. Trata-se de um direito personalíssimo.

Os seguintes artigos nos mostram a ação de anulação de casamento

quanto a pessoa do outro cônjuge, descrevendo assim seus prazos, a sentença e seus

efeitos.

Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do

casamento, a contar da data da celebração, é de:

I Ŕ cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do artigo 1.550;

II Ŕ dois anos, se incompetente a autoridade celebrante;

III Ŕ três anos, nos casos dos incisos I a IV do artigo 1.557;

IV Ŕ quatro anos, se houver coação.

Parágrafo 1º Extingue-se em cento e oitenta dias, o direito de anular o

casamento dos menores de dezesseis anos, contado o prazo para o

menor do dia em que perfez essa idade; e da data do casamento, para

seus representantes legais ou ascendentes.

Parágrafo 2º Na hipótese do inciso V do artigo 1.550, o prazo para

anulação do casamento é de cento e oitenta dias, a partir da data em

que o mandante tiver conhecimento da celebração.

Tal artigo dispõe todos os prazos para anular o casamento de acordo

com as formas dos vícios possíveis e obedecendo os requisitos necessários. O prazo

começa da data do casamento.

O artigo 1.561 do Código Civil de 2002 e seguintes menciona que:

Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé

por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos

filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.

Parágrafo 1º Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o

casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão.

Parágrafo 2º Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o

casamento, os seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão.

46

Art. 1.562. Antes de mover a ação de nulidade do casamento, a de

anulação, a de separação judicial, a de divórcio direto ou a de

dissolução de união estável, poderá requerer a parte, comprovando sua

necessidade, a separação de corpos, que será concedida pelo juiz com

a possível brevidade.

Art. 1.563. A sentença que decretar a nulidade do casamento

retroagirá à data da sua celebração, sem prejudicar a aquisição de

direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé, nem a resultante de

sentença transitada em julgado.

Art. 1.564. Quando o casamento for anulado por culpa de um dos

cônjuges, este incorrerá:

I Ŕ na perda de todas as vantagens havidas do cônjuge inocente;

II Ŕ na obrigação de cumprir as promessas que lhe fez no contrato

antinupcial.

Estes últimos artigos não mencionam somente a questão de

anulabilidade do casamento, mas engloba dispositivos a respeito do casamento nulo,

separação judicial, divórcio direto e até mesmo da dissolução da união estável. Todos

estes artigos são bem claros e objetivos quanto a regras que estabelecem.

Citam as situações do casamento contraído por boa-fé ou má-fé, seus

efeitos e sobre quem recairão estes efeitos.

O artigo 1.563 dispõe que antes de ser movida a ação, tanto de

nulidade ou outras formar de dissolução do casamento, se a parte comprovar a

necessidade, poderá ser pedido a separação de corpos.

E por fim, o artigo 1.564 dispõe que em caso da anulação do

casamento por culpa de um dos cônjuges, isso acarretará na perda das vantagens havida

do cônjuge inocente, e na obrigação de cumprir promessas que lhe fez no momento do

contrato antinupcial.

Segundo entendimento de Mazoni Ferreira, mudanças insignificantes

não pode servir como causa para a propositura de ação para anulação do casamento por

erro essencial, pois não se trata de nenhum dos requisitos necessários para a anulação.

A este respeito, menciona os julgados na Corte Estadual de Justiça:

"FAMÍLIA. ANULAÇÃO DE CASAMENTO. ERRO ESSENCIAL.

NÃO-CARACTERIZAÇÃO.

'Não se pode admitir que a mudança de humor do cônjuge varão após

47

o casamento possa ensejar a anulação deste por erro essencial, pois

não se trata de fato que diga respeito à sua identidade, honra e boa

fama.

'A característica negativa apresentada por um dos cônjuges deve ser

preexistente ao casamento, ainda que desconhecida do outro cônjuge.

'REMESSA PROVIDA." (Apelação Cível n. 99.004662-1, de

Tubarão, rel. Des. Silveira Lenzi, Terceira Câmara Civil, j. 7-12-99).

"ANULAÇÃO DE CASAMENTO - ERRO ESSENCIAL DE

PESSOA - AUSÊNCIA DE PROVA - SENTENÇA CONFIRMADA

- APELO - DESPROVIMENTO.

"Indemonstrado o gênio irascível, autoritário, desvinculado das

obrigações do lar conjugal, o matrimônio deve persistir. A

insuportabilidade da vida em comum exige prova segura a ser

considerada em face das circunstâncias em que vivia o casal."

(Apelação Cível n. 42.869, da Capital, rel. Des. Francisco de Oliveira

Filho, Primeira Câmara Civil, j. 3-5-95).

No mesmo sentido: AC n. 98.000114-5, de Jaraguá do Sul, rel. Des.

Anselmo Cerello, Segunda Câmara Civil, j. 19-3-98; AC n.

96.012136-6, de São José, rel. Des. Nelson Schaefer Martins, Segunda

Câmara Civil, j. 15-5-97; AC n. 96.009353-2, da Capital, rel. Des.

Cláudio Barreto Dutra, Terceira Câmara Civil, j. 29-4-97.

Destarte, estando ausentes os requisitos que autorizam a anulação do

casamento, outra não poderia ser a solução da quaestio senão a

improcedência do pedido anulatório.

O Código Civil nos mostra com clareza a formas de nulidade do

casamento, e a explicação trazida aqui a respeito da forma de nulidade em razão do erro

essencial quanto à pessoa do outro cônjuge, foi feita de maneira mais aprofundada pois

apesar de muito presente em nossa sociedade, muitas pessoas não tem conhecimento de

sua existência e com isso acabam passando pelo sofrimento e prejuízo de um divórcio e

seus efeitos.

48

CONCLUSÃO

É possível concluir, inicialmente, que a família em si vem se

modificando com o passar do tempo e que não se pode dizer que hoje ela tem uma

definição perpétua.

Nossa sociedade sofre inúmeras mudanças com o passar dos anos, a

mente humana vem ampliando os horizontes e se abrindo para ideias novas, não só

quanto ao conceito de família, como para tudo.

Porém apesar de toda esta mudança em nossa sociedade, e da criação

de novas e modernas espécies de famílias, o casamento ainda é a espécie de família

adotada pela maioria das pessoas de nossa sociedade.

Com isso, entende-se que é de extrema importância que nossa

sociedade conheça com clareza as características, efeitos, formas, celebração,

dissolução, entre outros aspectos que rodeiam o casamento.

Para muitas pessoas, a única visão de dissolução de casamento é o

divórcio ou a separação judicial somente. Então, com o estudo deste trabalho, foi

mostrado as formas de tornar o casamento nulo ou anulável.

Dentre estas causas, está a do erro essencial quanto à pessoa do outro

cônjuge, causa esta que deveria ser de conhecimento de todos, pois assim evita que o

cônjuge enganado passe pelo constrangimento de um divórcio.

Conclui-se portanto, que desde que se preencha todos os requisitos

necessários para a anulabilidade do casamento, é mais válido anular do que sofrer as

consequências do divórcio, ou, viver com a pessoa, mesmo infeliz, só pelo fato de não

querer se divorciar, por mera falta de conhecimento de que poderiam se separar do outro

cônjuge de uma maneira benéfica.

49

REFERÊNCIAS

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volume, 4ª edição, ed. Saraiva, 2007.

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DINIZ, Maria Helena; Curso de Direito Civil Brasileiro Ŕ Direito de Família, V

volume, 20ª edição, ed. Saraiva, 2005.

GONÇALVES, Carlos Roberto; Direito civil brasileiro - Direito de Família, VI

volume, ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

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2006.

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50

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