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    CATALOGAO NA FONTE

    UERJ/REDE SIRIUS/CEH/D

    S729 Souza, Tatiane Ferreira de.

    Pensamento social do primeiro juiz de menores do Rio de Janeiro Jos

    Cndido de Albuquerque Mello Mattos e a criao das instituies assistenciais

    do Distrito Federal (1924-1934) / Tatiane Ferreira de Souza. 2011.

    48 f.

    Orientador: Prof Dr Jorge Antnio da Silva Rangel.

    Monografia (Licenciatura em Pedagogia) - Universidade do Estado do Rio

    de Janeiro, Faculdade de Formao de Professores.

    1. Mattos, Jos Cndido de Albuquerque Mello. 2. Assistncia a menores Rio de Janeiro (RJ). 3. Assistncia em Instituies Distrito Federal (Brasil). 4.Infncia. 5. Juzes. I. Rangel, Jorge Antnio da Silva. II. Universidade doEstado do Rio de Janeiro, Faculdade de Formao de Professores,Departamento de Educao.

    CDU 364-053.2

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    Universidade do Estado do Rio de JaneiroFaculdade de Formao de Professores

    Departamento de Educao

    MONOGRAFIA DE LICENCIATURA

    O PENSAMENTO SOCIAL DO PRIMEIRO JUIZ DEMENORES DO RIO DE JANEIRO JOS CNDIDO DE

    ALBUQUERQUE MELLO MATTOS E A CRIAO DASINSTITUIES ASSISTENCIAIS DO DISTRITO FEDERAL

    (1924-1934)

    Tatiane Ferreira de Souza

    SO GONALO

    2011

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    Tatiane Ferreira de Souza

    O PENSAMENTO SOCIAL DO PRIMEIRO JUIZ DE MENORES DO RIO DEJANEIRO JOS CNDIDO DE ALBUQUERQUE MELLO MATTOS E A

    CRIAO DAS INSTITUIES ASSISTENCIAIS DO DISTRITO FEDERAL(1924-1934)

    Monografia apresentada Faculdade de Formao de Professores

    da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

    para obteno do ttulo de Graduada em Pedagogia

    Orientador: Professor Doutor Jorge Antnio da Silva Rangel

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    SO GONALO2011

    Tatiane Ferreira de Souza

    O PENSAMENTO SOCIAL DO PRIMEIRO JUIZ DE MENORES DO RIO DEJANEIRO JOS CNDIDO DE ALBUQUERQUE MELLO MATTOS E A

    CRIAO DAS INSTITUIES ASSISTENCIAIS DO DISTRITO FEDERAL(1924-1934)

    Monografia apresentada Faculdade de Formao de Professores

    da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

    para obteno do ttulo de Graduada em Pedagogia

    Aprovada em: __________________________________________________________

    Banca Examinadora:

    ______________________________________________________________________

    Professor Doutor Jorge Antnio da Silva Rangel (Orientador)

    ______________________________________________________________________

    Professora Doutora Snia Camara Rangel

    SO GONALO

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    CATALOGAO NA FONTEUERJ/REDE SIRIUS/CEH/D

    S729 Souza, Tatiane Ferreira de.

    Pensamento social do primeiro juiz de menores do Rio de Janeiro JosCndido de Albuquerque Mello Mattos e a criao das instituies assistenciaisdo Distrito Federal (1924-1934) / Tatiane Ferreira de Souza. 2011.48 f.

    Orientador: Prof Dr Jorge Antnio da Silva Rangel.Monografia (Licenciatura em Pedagogia) - Universidade do Estado do Rio

    de Janeiro, Faculdade de Formao de Professores.

    1. Mattos, Jos Cndido de Albuquerque Mello. 2. Assistncia a menores Rio de Janeiro (RJ). 3. Assistncia em Instituies Distrito Federal (Brasil).4. Infncia. 5. Juzes. I. Rangel, Jorge Antnio da Silva. II. Universidade doEstado do Rio de Janeiro, Faculdade de Formao de Professores,Departamento de Educao.

    CDU 364-053.2

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    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho queles que me apoiaram: minha

    famlia, meus amigos e em especial ao meu marido Vinicius.

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    Agradecimento

    Neste momento muitas pessoas foram importantes, a ponto de no precisar citar

    nomes, pois elas sabem a quem me refiro. A amizade e a compreenso destas tornaram

    cada momento de dificuldade uma superao. Cada palavra de apoio foi sentida por

    mim com sentimento de carinho e tranqilidade, visto os desafios aos quais eu

    enfrentava.

    Agradeo ao meu av e minha madrinha (em memria) por chegarem sempre

    com sorrisos e com palavras alegres de incentivos por me fazerem no desistir da minha

    carreira desde o momento em que passei no vestibular.

    Ao meu orientador Professor Doutor Jorge Antnio (Fidel), por confiar em mim

    e acreditar na minha capacidade mesmo quando cheguei a no acreditar!

    A Professora Doutora Snia Camara pelo carinho e pacincia nos telefonemas e

    pelas dicas nas pesquisas.Especialmente a minha me por me incentivar nas noites no dormidas. No foi

    nada fcil abrir mo dos momentos de descanso para me concentrar e escrever.

    Teve um momento crucial nessa minha empreitada, em que pensei em desistir,

    onde uma pessoa mostrou o verdadeiro apoio e amor. Esta a pessoa a qual desejo

    passar todas as coisas boas da vida e junto superar as dificuldades tambm, obrigada

    Vinicius!

    Obrigada a todos!

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    Resumo

    O perodo de transio poltica que caracterizou a passagem do Imprio para a

    Primeira Repblica Brasileira caracterizou-se pelos esforos das elites polticas e

    econmicas do pas, sobretudo, s cientficas, em inserir o Brasil no eixo das economias

    capitalistas do mundo ocidental e a definirem um projeto social de aburguesamento

    dos espaos da cidade e de seus habitantes. Nesse aspecto, do ponto de vista de sua

    histria, o Distrito Federal no somente concentrou as atividades de produo de

    conhecimentos e de saberes sobre diversos campos de conhecimentos especficos, mas

    tambm os instituiu enquanto criao de modelos e de dispositivos de macro e micro

    poderes a serem aplicados pelo Estado ao conjunto da sociedade. O cenrio mundialexigia a insero das sociedades perifricas ao capitalismo. Progresso e civilizao,

    faces pretendidas do moderno modelo europeu a ser seguido, foram portas de entrada

    para a sociedade brasileira na Primeira Repblica. Impregnavam-se os discursos

    daqueles que olhavam e debatiam sobre o seu tempo, movidos pela idia de introduzir e

    consolidar valores de civilidade. A racionalidade capitalista demandava a adequao

    dos setores pobres.

    Sendo assim, o lugar do Brasil entre as naes e sua prpria identidade estava

    em questo, assim como movimentos culturais, publicaes, etc. registraram a

    intensidade dos debates. Questes referentes infncia tambm foram muito estudadas

    por intelectuais em Congressos pelas Amricas. Muito se escreveu sobre a infncia

    marginal e delinqente, mas foi Jos Cndido de Albuquerque Mello Mattos em 1924, o

    primeiro Juiz de Menores o Brasil. O Cdigo Mello Mattos, de 1927, foi o primeiro

    diploma legal a dar um tratamento mais sistemtico e humanizador criana e ao

    adolescente, consolidando normas jurdicas anteriores e prevendo, pela primeira vez, a

    interveno estatal atravs do campo jurdico neste delicado meio social. Antes mesmo

    da criao do Cdigo, o Juiz Mello Mattos, ao logo da dcada de 1920, defendia

    exaustivamente a existncia de uma poltica de estado que viesse salvaguardar a

    integridade fsica e intelectual do menor, em particular, daqueles considerados os

    deserdados da sorte. Esse fato pode ser ressaltado pela criao da Casa Maternal de

    Mello Mattos que consistia em ser abrigo para crianas rfs e abandonadas, a qual

    permanece em funcionamento at os dias de hoje, sendo mantida pela congregaoCarmelitas Descalas Servas dos Pobres do Brasil. Mello Mattos foi responsvel pela

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    criao de outras instituies de amparo ao menor como: o Recolhimento Infantil

    Arthur Bernardes, a Casa das Mesinhas e a Escola 3 de Outubro, esta ltima por falta

    de verbas fechou meses aps ser aberta.

    Palavras-chave: Mello Mattos, juiz, menor, infncia, assistencialista.

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    ndice

    Introduo........................................................................................14

    1. Jos Cndido de Albuquerque Mello Mattos dados da sua

    histria........................................................................................................23

    2. O Cdigo Mello Mattos na construo nacionalista

    brasileira.................. ..................................................................................35

    3.

    Criao da Casa Maternal Mello Mattos, RecolhimentoInfantil Arthur Bernardes, Casa das Mesinhas, Escola 3 de

    Outubro.................. ....................................................................................39

    4. A causa do menor defendida por homens em pases das

    Amricas.....................................................................................................42

    5. Consideraes preliminares......................................................48

    6. Referncias Bibliogrficas ........................................................52

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    ndice de Figuras

    Figura 1 Os novos edifcios da Avenida Central em 1905............................. 16

    Figura 2 Charge de J. Carlos em 1904 ............................................................13

    Figura 3 Mulher sendo vacinada................................................................................. 16

    Figura 4 Charge publicada no Jornal do Brasil, 11/08/1904 ........................ 17

    Figura 5 Barricadas no bairro da Gamboa, RJ, durante a Revolta da

    Vacina, novembro de 1904............................................................................................17

    Figura 6 Estalagem localizada na Rua do Senado, 1906 ............................... 18

    Figura 7 Bonde eltrico dcada de 1920. ........................................................ 20

    Figura 8 Mello Mattos ...................................................................................... 23

    Figura 9 Crianas brincando e trabalhando como ambulantes nas ruas da

    favela do morro Santo Antnio em 1914. ................................................................... 35

    Figura 10 Crianas no Morro do Pinto em 1912. .......................................... 37

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    Introduo

    Infncia e Repblica

    Escolhi o Mello Mattos quando ouvi sobre alguns pontos da sua trajetria como:

    O Cdigo de Menores, A Casa Maternal de Mello Mattos, benefcios aos quais

    instaurou nesta sociedade intitulada moderna aos moldes europeus, neste perodo em

    que se iniciava com a chamada Primeira Repblica Brasileira. Foi a partir deste

    momento em que fiquei instigada a conhecer um pouco da histria deste homem, que

    em seu tempo foi reconhecido por uns como ilustre (para Gusmo; um homem raro; um

    homem que pensava e executava a ao) e por outros como deturpador.

    Com o advento da Primeira Repblica, Rodrigues Alves, durante o seu governo,

    impulsionou a transformao do Rio de Janeiro. As principais questes a serem

    desenvolvidas eram: a remodelao da capital e a poltica de imigrao. Algumas

    medidas foram tomadas como: construo do cais do porto, a concluso do canal do

    Mangue, arrasamento do morro do Senado, a abertura da Avenida Central, Avenida

    Beira Mar, avenida ligando o Passeio Pblico ao Largo do Estcio, Ruas Marechal

    Floriano, Camerino e Treze de Maio. (Rocha, 1986, p. 62) Por ser a Capital do pas o

    crescimento econmico era inevitvel, atravs de investimentos estrangeiros e sendo o

    centro econmico do pas. Por meio desse desenvolvimento houve um aumento da

    populao, muitos imigrantes europeus vieram para a cidade com a idia de

    enriquecimento. Mas o que se viu foi o oposto, devido concentrao de ex-escravos j

    existentes, a estrutura que existia na cidade no foi o suficiente para comportar seus

    atuais moradores. E estes sem moradia e desempregados comearam a construir casas

    feitas de pedaos de madeira e se aglutinarem nos locais onde restavam para morar.

    Comearam ento a ocupar os morros do centro da cidade e cortios.

    Lugar de proliferao da degenerescncia, da perversividadee do crime, a cidade foi apresentada como cenrio em que a misria eo atraso mostravam-se de forma intensa. O aumento populacional, acarestia de vida, a consolidao da vida urbana e o acirramento dos

    problemas relacionados, com este crescimento, tais como as hordasde desocupados, mendigos e esqulidos transeuntes, deflagraram,(por parte do Estado,) uma especial ateno quanto as questesrelativas situao de vida da populao(CAMARA, 2008, p. 146)

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    Em seu texto ROUANET discute uma questo que vem em contrapartida com a

    fase de mudana em que se encontra a Primeira Repblica, ao desenvolver a questo da

    modernizao vinculada a razo. Sendo esta como nos moldes europeus e defendidos

    pelo presidente Rodrigues Alves como forma de erguer a capital do pas, visto os

    investimentos estrangeiros em decorrncia da exportao da agricultura do caf. Desta

    forma, Rodrigues Alves se utiliza da razo como forma de convencer e buscar o amparo

    das elites nas mudanas estruturais do Distrito Federal e em compensao na questo da

    sade pblica com o apoio de Oswaldo Cruz na tentativa de erradicar doenas como a

    peste bubnica, febre amarela, entre outras. Com o intuito de atrair imigrantes

    investidores no crescimento do pas, com a implantao de fbricas as quais dariam

    empregos aos transeuntes desempregados.

    Com a preocupao de perder seus investimentos o presidente Rodrigues Alves

    delegou ao prefeito Pereira Passos e ao mdico Oswaldo Cruz poderes para reestruturar

    a cidade conforme o modelo europeu.

    As obras no porto tiveram incio em maro de 1904 eempregaram cerca de dois mil trabalhadores. O cais precisava dereestruturao para comportar os transatlnticos que movimentavamo comrcio mundial no comeo do sculo. As ruas do centro dacidade e as que davam acesso ao porto tambm foram modificadas.Foram alargadas, tomando aspecto de avenidas, com iluminaoeltrica e novas linhas de bondes. A cidade estava em obras(MACHADO, 1997, p.51)

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    Figura 1 Os novos edifcios da Avenida Central em 1905

    (fonte:www.educacaopublica.rj.gov.br)

    Figura 2 Charge de J. Carlos em 1904 Figura 3 Mulher sendo vacinada(fonte: projetomemoria.art.br) (fonte: projetomemoria.art.br)

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    Figura 4 Charge publicada no Jornal do Brasil, 11/08/1904

    (fonte: projetomemoria.art.br)

    Figura 5 Barricadas no bairro da Gamboa, RJ, durante a Revolta da Vacina, novembro de 1904.

    (fonte: www.educacaopublica.rj.gov.br)

    O trabalho de Oswaldo Cruz na sade pblica da cidade a partir de 1903 tentava

    acabar com doenas como a febre amarela, peste bubnica. Para suprimir as doenas da

    poca, medidas como a criao de grupos organizados de sanitarismo percorriam os

    espaos pobres (cortios).

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    Descrio da estrutura e dos moradores dos cortios:

    E, assim reunida, aglomerada, essa gente trabalhadores,

    carroceiros, homens ao ganho, catraeiros, caixeiros de bodegas,lavadeiras, costureiras de baixa freguesia, mulheres de vida reles,entopem as casa de cmodos, velhos casares de muitos andares,divididos e subdivididos por um sem nmero de tapumes de madeira,at nos vos de telhados entre a cobertura carcomida e o forrocarunchoso. s vezes, nem as divises de madeira: nada mais quesacos de aniagem estendidos verticalmente em septos, permitindoquase a vida em comum, numa promiscuidade de horrorizar. Aexistncia ali, como se pode imaginar, descartvel.(ROCHA, 1986,p. 90)

    Figura 6 Estalagem localizada na Rua do Senado, 1906

    (fonte:bndigital.bn.br)

    Escritores como Alusio Azevedo e Lima Barreto, autores, respectivamente, de

    O Cortio e os Os Bruzundangas escreveram textos que discutiam a sociedade na

    Primeira Repblica. O Cortio discutia os embates de uma sociedade que estava em

    busca da modernizao, mas presa a pobreza, que estava presente nos cortios, nos

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    amontoados de casebres que mal tapavam o sol e a chuva, onde existia a promiscuidade

    e a arrogncia misturadas e o capitalismo incipiente diagnosticava a situao do

    explorador pelo explorado. Em Os Bruzundangas, Lima Barreto fez referncia emforma de stira com aluso ao Brasil Republicano. Explora em seu texto a questo dos

    furtos como arte pelos que exercem o poder visando o benefcio. Em um pas em que

    muitas pessoas valorizam os ttulos de nobreza, por estes usufrurem de vantagens

    sociais, pertencentes a esse grupo. Um pas democrtico que corrupto e uma economia

    que destri as riquezas do pas, em que as necessidades do povo no so atendidas e os

    problemas no resolvidos. Como podemos ver em uma passagem do livro:

    ..em vez de procurarem encaminhar para a riqueza e para otrabalho a populao que j est, eles, por meio de capciosas,

    publicaes mentirosas e falsas, atraem para a nao uma multidode necessitados cuja desiluso, aps certo tempo de estadia, maisconcorre para o mal-estar do pas.(BARRETO, 2005, p.36)

    J no final do sculo XIX, a cidade est dividida em reas aristocrticas e

    populares. Nos bairros afastados do centro como Copacabana e Botafogo ficaram

    conhecidos como elite por seus moradores e os bairros de Iraj e Inhama como

    subrbios, por ser uma alternativa para alguns trabalhadores. Mas essa grande maioria

    continuou a morar no centro, amontoados em cortios, em casa de cmodos no fundo

    das pequenas fbricas ou como ltima alternativa os morros da cidade. Para ROCHA

    (1986, p.100) a origem das favelas est associada derrubada indiscriminada dos

    cortios por Perreira Passos. A cidade passava por um crescimento vertiginoso assim

    como suas linhas de bondes eltricos com seus altos preos das passagens. Como

    grande parte dos trabalhadores no tinha condies de morar longe do local de trabalho,

    por no terem como pagar os bondes, viram nos morros uma ltima alternativa para

    residirem.

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    Figura 7 Bonde eltrico dcada de 1920.

    (fonte:www.educacaopublica.rj.gov.br)

    No momento em que foi instaurada a primeira repblica no Brasil 1889 (ano da

    proclamao da repblica) surgiram tambm preocupaes a respeito dos problemas de

    ordem social como segurana pblica. Em decorrncia do grande nmero de menores

    em situao de abandono nas ruas o Estado comeou a adotar medidas de represso aestes, com o intuito de no permitir que viessem a se delinqir e perturbar a segurana e

    a ordem pblica. Surgem ento inmeras leis na tentativa de cercar o problema das

    crianas em situao de abandono e por conseqncia reprimir a criminalidade.Atrs

    das pavorosas grades do crcere muitos jovens cumpriram medida disciplinar nas

    colnias correcionais/penais ou nas prises, aps o advento da Repblica. (RIZZINI,

    2005, p.14)

    Ao longo do sculo XX o Estado intensificou as polticas de atendimento ao

    menor, em virtude da presso da sociedade. Eram entendidos como menores

    abandonados aqueles sem atendimento e assistncia dos pais e estes sem condies de

    dar amparo a sua famlia. Cabendo ao Estado o subsdio, proteo, educao e correo

    aos infligistes da Lei; de acordo com RIZZINI (2004 p.29). No perodo da Primeira

    Repblica, o Brasil sofria grande influncia europia. E em relao s crianas no era

    diferente, desta forma o seu direito sofreu uma evoluo, era inicialmente

    assistencialista e depois correcional. Com pode ser visto em Cabrera (2006, p.4) No

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    perodo at 1900 a populao recorria s igrejas para o atendimento das crianas sem a

    proteo das famlias, isto , abandonadas a prpria sorte.

    No final do sculo XIX e incio do sculo XX o governo criou o Instituto de

    Proteo e Assistncia Infncia, que tinha como funo dar subsdios aos menores.

    Neste perodo houve uma diferenciao entre o termo criana e menor. Sendo o

    primeiro destinado a populao infanto-juvenil amparada pela sociedade, com cuidados

    dos seus pais e familiares. E o segundo aos vulnerveis, sem proteo paternal e que

    viviam pelas ruas, conforme CABRERA (2006, p. 4).

    De acordo com Piovesan e Ikawa (2007, p.880), no Brasil republicano a prtica

    de castigos corporais como forma de disciplinar eram comuns.

    Uma comunicao apresentada no 1 Congresso Brasileiro deProteo Infncia por Taciano Baslio, em 1922, a qual tem comoeixo de defesa do castigo s crianas: com essa orientao racional,s h vantagens em reprimir com firmeza as ms inclinaes,infligindo-se gradativamente os castigos em geral, para que a criana

    perceba obter maior lucro para si na obsteno da prtica dedeterminados atos. Ligar ento a idia de bem ao que lhe

    permitido e de mal, ao que lhe vedado ou, na linguagem familiar,

    ser bonita se no desagradar aos pais e feia caso contrrio. Arepresso das tendncias naturais da criana dever ser, segundo ele,tanto fsica, atravs dos castigos corporais, safanes, palmadas ebofetadas, quanto passar de modo sutil pelo jogo de olhar, pelo tomda voz ou pelo silncio pesado (RAGO In: PIOVESAN e IKAWA,2007, p. 880)

    Como podemos observar anteriormente, a forma de educar, disciplinar, respeitar,

    das crianas aos pais eram feitas atravs de castigos e agresses com finalidade de

    punio para educao, a ser entendido pelas crianas. Se este fato ocorria nas casas das

    famlias da capital, como seriam as correes e punies aos menores desvalidos nascasas de detenes?

    Atravs destas preocupaes com o menor medidas correcionais foram adotadas

    para que o problema da criminalidade, educao fosse decidido na tentativa de

    proteger estes. Durante o Congresso de 1922 o intelectual Evaristo de Moraes atribuiu

    a famlia como principal percussora da criminalidade da infncia, por influncias e

    desorganizaes.

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    Nesse sentido os socilogos e antroplogos criminalistas soacordes em que o patrocnio e a assistncia infncia desvalida oumoral e materialmente abandonada a base de todo o sistema de

    proteo e socorro efetivo de que felizmente se vm ocupando osEstados modernos, como obra de fraternidade e preservao social.(KUHLMANN JR., 1998, p. 94).

    As preocupaes em torno do menor eram vastas, sejam de maneira a educar

    como modo de priso ou como assistncia a compor a sociedade vigente. Existiam os

    que defendiam ter medo dos menores por estes serem a causa da criminalidade, e os que

    tinham o cuidado em proteg-los, por ser indefesa, da explorao pelo trabalho,

    explorao sexual. Muitas eram as funes do Patronato de Menores como: fundar

    creches e jardins de infncia; proporcionar a estes pobres o aproveitamento no ensinoprimrio e aproveitar para instruir as famlias destes; auxiliar os Juzes de rfos no

    abrigo dos abandonados; reforma das prises para evitar a convivncia de menores de

    ambos os sexos com intuito de cessar a promiscuidade atravs da fiscalizao de todos

    os ambientes de assistncia a infncia, sejam eles pblicos ou privados.

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    1.Jos Cndido de Albuquerque Mello Mattos dados da

    sua histria

    Figura 8 Mello Mattos

    (fonte: jornalorebate.com)

    Mello Mattos tem em sua origem uma famlia burguesa, sua me D. Christalia

    Maria de Albuquerque Mello Mattos e seu pai o Desembargador Carlos Esperidio de

    Mello Mattos, o qual foi referncia para a escolha de seus estudos. Nasceu na cidade de

    Salvador, Bahia, em 19 de Maro de 1864. Cursou o secundrio no Externato Pedro II,

    no Rio de Janeiro onde sua famlia morava. Mas como Mello Mattos desde princpio era

    um jovem homem de desafios, matriculou-se na Faculdade de Direito de So Paulo e

    depois se transferiu para a Faculdade de Direito de Recife, terminando em 30 de

    Novembro de 1887, com 23 anos.

    Depois de formado foi promotor pblico na cidade mineira de Queluz. Mas com

    a morte de seu pai mudou-se para o Rio de Janeiro, Distrito Federal. Nesta poca o

    jovem promotor admitia grande responsabilidade ao assumir as incumbncias da

    famlia. A partir deste momento ele comeou a investir na sua carreira dedicando-se aos

    estudos e admitindo cargos pblicos.

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    De 1889 a 1891 foi adjunto de Promotor Pblico no Distrito Federal e depois

    terceiro Promotor Pblico at 1893. Neste momento Mello Mattos buscava causas e

    aes relacionadas sociedade da Primeira Repblica. Foi neste perodo o qualconheceu Evaristo de Moraes que futuramente tornou-se companheiro de luta pela causa

    do menor desvalido.

    Aps a Proclamao da Repblica foi convidado pelo Ministro da Justia do

    Governo Provisrio, Campos Sales, a uma reunio de conhecimento de carter dos

    membros, ao qual se destacou e recebeu honrosos elogios. Mello Mattos j se mostrava

    um homem de verdadeira posio e expresso, pois com estas palavras se referiu a

    Campos Sales:

    Sr. Ministro. Ha poucos meses aceitei um posto de trabalhono escritrio de advocacia do Visconde de Ouro Preto, que me honracom sua amizade e confiana. Se ha incompatibilidade entre oexercicio do cargo de promotor e a continuao do meu esforo noescritrio do mestre e amigo, hoje banido da Ptria, eu declaro a V.Excia. que prefiro ser fiel a quem confiou em mim, sobretudo porqueo escritrio vai certamente sofrer as consequencias do ostracismo doSr. Visconde.(Gusmo, 1964, p.5)

    Em 1894 deixou as funes de Promotor e dedicou-se a advocacia criminal. Em1887 criou a Assistncia Judiciria e foi nomeado Diretor Geral, pelo Presidente

    Prudente de Moraes, neste cargo permaneceu at 1903. Foi orador oficial do Instituto

    dos Advogados, membro da Diretoria e integrante em vrias comisses, referente ao

    direito da sociedade nas questes de organizao, civilidade. Na poltica atuou com

    xito a representao do Distrito Federal na Cmara dos Deputados, renunciou em fins

    de 1904, mas foi reeleito para o perodo seguinte.

    Aps esse perodo candidatou-se a representao do Distrito Federal no Senado,apesar de eleito no foi reconhecido. Pois na poltica interna existiam muitos favores

    e burlas aos cargos de interesses e uma pessoa de personalidade e dignidade como

    Mello Mattos no era bem vinda aos planos e prticas polticas. Em virtude destes

    acontecimentos, aps este episdio abandonou a poltica. (Gusmo, 1964, p.5,6)

    Em 1910 o Presidente Nilo Peanha nomeou-o Diretor do Externato Pedro II, e

    logo depois, o Presidente Hermes da Fonseca nomeava-o professor da cadeira de

    Instruo Cvica e Noes de Direito. Nesta poca foi decretada uma reforma que

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    reuniu sobre uma nica direo o Internato e o Externato Pedro II e pela Congregao

    de Professores, Mello Mattos foi eleito Diretor. Ocupou outros cargos como: Diretor do

    Instituto Benjamin Constant de 1920-1924, e neste em entrevista ao jornal O Brasilfalou sobre o que pretendia ser ministrado: ..._ O Instituto Benjamin Constant tem por

    fim ministrar aos cegos: _ a instruco primria; a instruco secundria; _ ensino da

    musica theorica, instrumental e vocal; o ensino de artes e officios que estejam ao seu

    alcance e lhe sejam reconhecida utilidade... (O Brasil, 1923). Professor docente de

    Teoria e Prtica do Processo Penal da Faculdade de Direito da Universidade do Rio de

    Janeiro em 1923. No governo de Campos Sales foi incumbido pelo Ministro Epitcio

    Pessa de elaborar um projeto de reforma da Polcia, que foi convertido em lei.

    Apresentou um projeto de Cdigo Criminal, no qual foi encarregado pelo Ministro

    Rivadavia, durante a administrao de Hermes da Fonseca. No quadrinio de Epitcio

    Pessa recebeu a tarefa de redigir projeto de organizao de assistncia e proteo aos

    menores desvalidos e delinqentes.

    Em reportagem do jornal A NOTICIA de 13 de fevereiro de 1925 fica claro o

    despropsito do governo frente aos problemas dos menores: ... pela pasta da Justia a

    infancia brasileira viveu sem a curatela protectora do Estado, que se desinteressava doseu destino, deixando-a, com profunda e desoladora indifferena entregue ao azares da

    prpria sorte, s vexes por demais infelizes ( A Noticia, 1925).

    Neste perodo Mello Mattos estudou a questo do menor em outros pases e a

    preocupao destes em proteg-los com a estruturao de congressos em que a palavra

    principal era o menor. A importncia deste na sociedade, assim como o seu desamparo

    em relao ao que estes se tornariam ao futuro. Como esta sociedade que se encontrava

    em crescimento obteria como resultado positivo o seu futuro intelectual e o crescimento

    ureo desta Repblica inconseqente em relao ao menor? Muito teria que se fazer

    para acolh-los, apar-los, assisti-los e educ-los frente a esta modernizao que se fazia

    presente ao moldes europeus.

    Na sua incessante busca em colocar em prtica a questo da proteo ao menor

    foi em viagem a Portugal e em sua visita que conheceu o Padre Antonio Oliveira que se

    preocupava com os menores delinqentes. Em Portugal Mello Mattos visitou a Tutoria

    da Infncia de Lisboa (criada em 1911 pelo Padre Antonio Oliveira), onde se logo se

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    engajou e produziu defesa oral de menores que estavam sendo julgados. Este fato

    ocorreu durante o Governo Provisrio, aps a implantao da Repblica, no poder de

    Afonso Costa.

    Em 1918 Mello Mattos tinha o seu prestgio fora do Brasil em reconhecimento

    feito no jornal A Epoca: Lisboa, 2(A.A.) _ O ministro da Justia convidou o juris

    consulo brazileiro, Sr. Dr. Mello Mattos, actualmente nesta capital, para elaborar o

    projecto de reforma das escolas correcionaes. ( Epoca, 1918)

    Aps sua volta ao Brasil em Junho de 1923, o jurista portugus Dr. Souza Costa

    em Conferncia no Instituto dos Advogados Brasileiros, informa ao Dr. Mello Mattos

    sobre o interesse do Padre Oliveira na colaborao excelente para a causa do menor e o

    sistema correcional. (Gusmo, 1964, p. 6,7)

    Neste momento Mello Mattos faz jus a sua pessoa e a sua causa, como podemos

    observar nas palavras de GUSMO:

    Ao entrar para o Ministrio da Justia, na PresidenciaEpitacio Pessa, Alfredo Pinto, autoridade no assunto deparando como projeto, resolve encarregar Mello Mattos de elaborar um projetosubstantivo que , ento, submetido a uma comisso de notveis.Eram eles: Professores Carvalho Mouro e Esmeraldino Bandeira;

    Juiz Alfredo Russel; Pretor Edgard Costa; Advogados Astolfo deRezende, Evaristo de Morais e Baltazar da Silveira; MdicoMoncorvo Filho; Deputado federal Deodato Maia; Diretor da Escola15 de Novembro, Sr. Franco Vaz.(GUSMO, 1964, p. 09)

    Ao observar a cadncia de Mello Mattos nos seus interesses pelo que acreditava,

    Alfredo Pinto se evidencia pelo caso e aps conseguir algumas emendas propostas pela

    comisso obteve no Congresso autorizao para a reforma. E o Senador Gonzaga Jaime

    incluiu no oramento das despesas do Ministrio da Justia a organizao dos dois

    primeiros captulos do ante-projeto de Mello Mattos, e outras particularizaes que so

    as constates do artigo 3 da Lei 4242 de 5 de Janeiro de 1921.

    Esse perodo ficou bem marcado pela presso em que o notvel Mello Mattos

    com a ajuda de seus apoiadores na ratificao da sua pretenso com os menores

    desvalidos, frente a esta sociedade em crescimento, na incessante procura e apoio. O

    governo se v pressionado a autorizar a criao de um Juzo Privativo independente da

    origem da verba;

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    interessante observar, portanto, que as primeirasdisposies legais autorizando a criao de um Juzo Privativo de

    Menores e dispondo sobre a organizao do servio de assitncia eproteo infncia abandonada e delinquente, nascem no ventre deuma lei oramentria. (GUSMO, 1964, p. 9,10)

    O oramento de 1921 tem em sua estrutura questes como: definio do

    abandono, a suspenso e perda do ptrio poder, as questes especiais dos menores de 18

    anos, a aplicao de medidas (re) educativas e tutelares aos mesmos, a separao nos

    processos de co-autoria envolvendo maiores com menores; propostas caractersticas de

    um Cdigo de Menores.

    Ao obter a autorizao legislativa, Alfredo Pinto encarregou Mello Mattos de

    formular o regulamento, mas a questo poltica, financeira e a disputa de poderes era em

    muitos momentos uma barreira na trajetria de luta de Mello Mattos.

    Em virtude das dificuldades financeiras que enfrentava oPas Epitcio Pessa deixou de utilizar a autorizao, aliasligeiramente alterada pela Lei 4547 de 22 de Maio de 1922. E afinal,deixando de realizar a reforma sob alegao de que a mesma tinha

    figurado na plataforma eleitoral de Artur Bernades. (GUSMO,1964, p.10)

    Com o amparo do Ministro da Justia Joo Luiz Alves, na causa do menor,

    conseguiu-se atravs do Decreto Executivo, o Regulamento de Assistncia e Proteo

    aos Menores Abandonados e Delinqentes Decreto 16.272 de 20 de Dezembro de

    1923.

    Est finalmente regulamentada a lei de assistncia eproteco aos menores abandonados e delinquentes. Tratando-se deto relevante providencia de saneamento social, era de presumir quea no protelassem por tanto tempo, como aconteceu. Em todo o caso,

    cabe aqui a phase de uso frequente, quando nos conformamos com osmales atenuados: antes tarde do que nunca. No de hoje que sereclama uma interveno energica dos poderes publicos, em benefciode geraes que parasitam nos alfobres da vagabundagemincorrigivel, perigoso aprendizado do vicio e do crime. O menordelinqente um produto do menor abandonado. No ha peor escola,nem mais suggestivos exemplos, para o homem em formao, do quea convivencia nos meios dissolventes do carater, e da vontade, pelaescravizao incondicional aos maus hbitos. (Correio da Manh,1923)

    Aps intensas lutas e disputas polticas em 2 de Fevereiro de 1924 Mello Mattos

    enfim nomeado Juiz de Menores do Distrito Federal, primeiro Juiz de Menores do

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    Brasil. Um marco na histria da sociedade brasileira de dedicao, respeito e

    reconhecimento, pela sua hombridade com o menor delinqente e desvalido. Como

    podemos observar na passagem do jornal A PATRIA de 3 de fevereiro de 1924, amanchete: Foi nomeado Juiz de Menores o Dr Mello Mattos:

    ...No governo Campos Salles foi incumbido pelo ministroEpitcio Pessoa de elaborar um projeto de reforma policial, que foiconvertido em lei; o governo Hermes, foi incumbido pelo ministro

    Rivadavia Correia de um projecto de reforma do Codigo Penal; nogoverno Epitacio, foi nomeado pelo ministro Alfredo Pinto pararedigir o projecto de organizao da assistncia e proteo dosmenores abandonados e delinquentes, que lei vigente... Para essedifficil mister ninguem mais indicado do que o Sr dr Jose Candido de

    Albuquerque Mello Mattos, antigo e ilustre advogado e abalisadoespecialista do assumpto... (A Patria, 1924)

    Esses que por que por muitos da sociedade eram vistos com desrespeito e

    repugnncia, obtiveram por parte deste Juiz o respeito e a dedicao dignas de um ser

    humano. Como pode ser visto em LIMA (1937, p.161), Estes infelizes meninos

    requeriam um estabelecimento especial, onde encontrassem acolhimento substitutivo do

    das mes, que no tm ou so taes que para elles ainda peor do que se no tivessem.

    O apelo de Mello Mattos particulares foi notado e acolhido por homens como:

    Evaristo de Morais, Franco Vaz, Alfredo Pinto, Moncorvo Filho, Ataulfo de Paiva,

    Nabuco de Abreu, Astolfo de Rezende, Alfredo Russel, Joo Chaves, Candido Mota,

    No Azevedo, Alfredo Baltazar da Silveira, Edgard Costa, Lemos Brito, Fernandes

    Figueira, Jnas Serrano, Zeferino de Farias.

    Dentre estes podemos destacar a funo de alguns como: Evaristo de Morais,

    excelente criminalista, estudioso sobre o caso dos menores escrevia e publicava artigos

    em jornais analisando a legislao de menores deixando claro aos leitores as medidas decunho educador e benemritas a infncia e juventude; Fernandes Figueira e Moncorvo

    Filho responsveis pelas iniciativas de maior repercusso como a criao de

    estabelecimentos e a busca por recursos; Baltazar da Silveira, No de Azevedo e

    Ataulfo de Paiva bradavam pela prudncia dos poderes pblicos, analisavam a

    legislao, cooperavam na preparao de projetos, indicavam medidas novas; Nabuco

    de Abreu, era Desembargador, foi Presidente da Corte de Apelao, era tambm

    presidente do artigo Patronato de Menores, fundado em 1908 pelos Juzes de rfosque, naquele tempo, acumulavam as funes de juzes de menores abandonados,

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    recebendo diariamente da Policia as pobres crianas encontradas na via publica, recebeu

    a incumbncia de administrar a Casa de Preservao, situada em Terespolis.

    No Governo de Washington Luiz, em Julho de 1925, Mello Mattos conseguiu

    com que o projeto do Cdigo de Menores seja apresentado no Senado. Sendo este

    convertido na Lei 5083 de 1 de Dezembro de 1926. E em seu art. 1 o Governo

    autorizado a consolidar as leis de proteo aos menores at o presente momento

    expedido, adicionando os dispositivos do novo diploma e adotando as outras medidas

    necessrias as aes como: a guarda da tutela, a vigilncia, a educao, preservao e

    reforma dos abandonados e delinqentes.

    Em 12 de Outubro de 1927 foi expedido o Decreto Executivo n 17.943, o

    Cdigo de Menores. Que em seu primeiro captulo trata do principal objetivo e

    finalidade da Lei, com Art.1 sendo os menores de 18 anos, sejam eles de qualquer

    sexo, abandonados ou delinqentes sero submetidas pela autoridade responsvel as

    medidas de assistncia e proteo contidas no cdigo.

    A legislao e o jeito como os menores eram tratados foram questionadas em

    diversos momentos da Primeira Repblica, porm elas s foram efetivamentemodificadas na implantao do primeiro Cdigo de Menores, o Cdigo Mello Matos,

    em 1927. As crianas e adolescentes menores de dezoito anos que estavam em estado de

    abandono eram protegidas pela legislao do Cdigo. O Cdigo de Menores de 1927

    qualificava os menores segundo a sua conduta: expostos eram os menores de sete

    anos, os menores de dezoito anos eram considerados abandonados, os que

    esmolassem ou vendessem pelas ruas eram classificados de vadios e os que

    freqentassem prostbulos recebiam a denominao de libertinos.

    Os menores de quatorze anos passaram a ser considerados irresponsveis e desta

    forma, o Cdigo aboliu definitivamente a teoria do discernimento. No perodo de

    1927 o Juzo de Menores estava instalado no prdio do Instituto de Surdos Mudos.

    Durante a ocasio em que esteve frente do Juizado de Menores da Guanabara, Mello

    Mattos contou com a colaborao de amigos como: Luiz Alves Saio, Affonso

    Montenegro Louzada e Murilo Brtas de Araujo. Com o apoio dos seus amigos criou o

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    Comissariado Voluntrio de Vigilncia para a fiscalizao e sindicncia do

    cumprimento das leis, segundo o art.152 do Cdigo de Menores de 1927.

    Logo que entra em vigor o Cdigo de Menores. o juiz de menores pe em

    prtica, com o respaldo da lei, a defesa dos mesmos. Em Dezembro de 1927 Mello

    Mattos baixou portaria considerando imprpria a revista pea teatral para menores de

    18 anos. Este sem dvida um dos maiores embates do juiz aps a legalidade do

    Cdigo que se arrasta por anos na sociedade, pois se tornou um confronto de juristas,

    advogados, promotores, defensores pblicos, famlias, imprensa, artistas, intelectuais;

    alguns a favor das decises de Mello Mattos e muitos contra. Escritores e jornalistas

    (maioria catlicos) comearam a analisar os filmes na especificidade da moral e dos

    bons costumes como sendo estes filmes uma fora dominante e decisiva, para o bem e

    para o mal.

    Os filmes eram instrutores do vcio e do crime: ensina-se aosespectadores a arte de fazer farras crapulosas, de praticar rapto de

    filhas de famlia, de utilizar chaves falsas, de cometer assaltos, dedinamitar um cofre-forte, de sair-se bem de um golpe astucioso ouousado, de estrangular o prximo, de escapar da polcia .(EDOUARD POULAIN, 2003, p. 33)

    Irineu Machado, famoso jurista da poca, ao ser procurado pelos artistas props

    a suspenso do Cdigo de Menores ao Parlamento, aps agitaes nas audincias. Em

    princpio de 1928 as discusses tornaram-se acirradas pelo envolvimento de todos os

    meios de diverses: teatro e cinema. A questo causou a comoo de todas as esferas da

    sociedade. As famlias diziam que o juiz somente poderia intervir na questo dos

    menores abandonados e desvalidos os quais o Estado confiou tutela e no as crianas

    que estavam amparadas por suas famlias. Os donos dos teatros e cinemas por sua vez,

    viam estas diverses com interesse comercial. O jovem advogado Prado Kelly

    apresentou habeas-corpus ao Conselho Supremo da Corte de Apelao do Distrito

    Federal em favor de diversos pais que queriam freqentar as casas de diverses com

    seus filhos sem que houvesse as restries do Juiz de Menores. Em 1 de Maro o

    Conselho cedeu ordem. O Procurador Geral do Distrito, Andr Faria de Pereira,

    recorreu ao Supremo Tribunal Federal.

    O Conselho, todavia, entendeu que o habeas-corpus tinhafuno correcional e acolheu o argumento de Prado Kelly no sentidode que a deciso operava em carater geral. Declarou tambem

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    inconstitucional o Cdigo de Menores, nos dispositivos aplicados, porentender que a consolidao feita pelo poder Executivo fra muitoalem dos limites permitidos, ferindo o Cdigo Civil e impondorestries ao ptrio poder. (GUSMO, 1964, p. 17)

    Em seu texto Jos Incio de Melo Souza faz referncia a dois advogados que

    entram com o pedido de habeas-corpus para que seus filhos tenham acesso ao cinema

    e teatro.

    Dois advogados, um do Rio e outro de Belo Horizonte,procuraram os tribunais em busca de desagravo coero legal queprivavam do ptrio poder. O dr. Fausto Werneck Furquim deAlmeida, tendo assistido a revista Ouro bessa, no teatro JooCaetano, no encontrou nela motivo que impedisse sua filha de 13

    anos de assisti-la. Outro advogado, o dr. Lauro de Oliveira Santos, deBelo Horizonte, impetrou habeas-corpus no Supremo para que seusfilhos Rui e Leo, maiores de 14 anos e Gil , menor que esta idade,pudessem entrar nos cinemas, os primeiros desacompanhados dequalquer pessoa e o terceiro acompanhado de seu pai, inclusive nosdias em que forem exibidos pelculas julgadas prejudiciais aos jovens

    pela censura policial ou pelo Juizado de Menores. Os argumentosempregados na recusa da concesso dos habeas-corpus invocavamtrs pontos: a) o direito que o Estado tinha em proteger a infncia; b)a necessidade de restrio do ptrio poder em favor do Estado e; c)antes dos poderes, eram os deveres que os pais tinham com aeducao dos seus filhos que deviam ser postos em jogo (SOUZA,2003, p. 37-38)

    E o autor vem ratificar esta passagem com a defesa do prprio Mello Mattos:

    ...entende o paciente que, por estar em pleno exerccio doptrio poder, somente a ele dirigir a educao de seus filhos, esomente a ele incumbe se este ou aquele espetculo teatral , ou no,

    prejudicial educao de sua filha. No h tal. Um pai [...] no tem afaculdade de conceder a um filho, o que proibido por lei [...]Ningum mais hoje pe em dvida a necessidade de restringir osdireitos do ptrio poder, como um dever imposto ao Estado de afastar

    o menor em via de corrupo, infncia perniciosa do meio em quevive.(SOUZA, 2003, p. 38)

    Em notcia retirada de um jornal da poca: O Jornal de 2 de Maro de 1928,

    podemos verificar a amplitude em que tornou-se a atitude de Mello Mattos; com o ttulo

    da reportagem: A frequencia de menores nos theatros O Conselho Supremo da Crte

    de Appellao, dando provimente a um habeas-corpus, tornou sem effeito a iniciativa

    do juiz Mello Mattos.(O Jornal, 1928) 1

    [1] Texto de O JORNAL de 2 de Maro de 1928

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    Reunido hontem, sob a presidencia do desembargador,Miranda Montenegro e com a presena dos desembargadores SaraivaJunior, Virgilio S Pereira e Nabuco, o Conselho Supremo da Crtede Appellao tomou conhecimento do habeas-corpus impetrado

    pelo advogado Prado Kelly, em nome da Empresa Brasileira deAutores Theatraes, para o fim de se permitir o ingresso nos theatros,de menores at dezoito annos.

    A prohibio partil, como O JORNAL noticiou amplamente deuma circular do juiz de Menores, dr. Mello Mattos, circular essa que

    foi rigorosamente observada, graas aco da 2 delegacia auxiliar,a cargo do dr. Renato Bittencourt.

    Resolvendo, preliminarmente, que o caso era de habeas-corpus, o Conselho Supremo concedeu a ordem, cntra unico votodo desembargador Nabuco de Abreu e fei-o pelos seguintes

    fundamentos:

    o juiz de Menores exerceu a esphera de sua competencia quese deve restringir aos menores abandonados e delinquentes;

    o Codigo de Menores no pode ser applicado na parte em quederoga os principios de direito civil concernentes ao patrio poder,consagrados pelo Codigo Civil;

    policia civil, por meio da censura theatral, a quemcompete no permitir a exhibio scenas immoraes ou palavreado debaixo calo que escandalize.

    A deciso do Conselho Supremo causou enorme estranhezaem todo fro, depois do pronunciamento do Supremo TribunalFederal, que negou o habeas- corpus a um pae de familia quequeria levar uma filha menor a um espectaculo. (O Jornal, 1928)

    Mello Mattos resistiu e contestou mostrando a sua viso em defesa de todos os

    menores. Mas foi punido e suspenso por 30 dias, neste perodo foi substitudo por

    Candido Lobo at ento Pretor. Mesmo diante de tal deciso tomada pelo Conselho o

    aguerrido Juiz de Menores continuava na sua incessante causa. Como pode ser

    verificado em entrevista para: O JORNAL de 3 de Maro de 1928 com a seguinte

    manchete: Ingresso de menores NOS THEATROS E CINEMAS O Juiz de Mello

    Mattos acatar a deciso do Conselho Supremo da Crte de Appellao. (O Jornal,

    1928)2

    Havendo o Conselho Supremo da Crte de Appellaodecidido conseder o habeas-corpus impretado pela Empresa

    Brasileira de Autores Theatraes para tornar sem effeito a portaria do

    2 Texto de O JORNAL do dia 3 de Maro de 1928

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    Juizo de Menores relativamente frequencia dos menores de 18annos nos theatros e cinemas, O JORNAL procurou inteirar-se daopinio do dr. Mello Mattos sobre essa deciso.

    Um dos seus redactores dirigiu-se, para isso, ao Juizo deMenores, tendo encontrado aquelle magistrado com a serenidade egentileza que lhe so habituaes.

    A QUESTO NO ESTA DEFINITIVAMENTERESOLVIDA

    - Na minha opinio, - disse o dr. Mello Mattos, o ConselhoSupremo no resolveu a questo definitivamente. As decises dehabeas-corpus so de effeito individuaes, s aproveitam os

    pacientes aos quaes so concedidos. Portanto, poderia continuar amanter o meu acto, respeitando smente a liberdade de ingresso nos

    espectaculos aos menores que obtiveram ordem de habeas-corpus.Mas, isso viria complicar a situao sem proveito a justia. Assim,resolvi cumprir o accordo com effeitos geraes e amplos.

    Entretanto, os juzes de menoress dos Estados de S. Paulo,Minas e Paran, que acompanharam o meu modo de entender, oCodigo de Menores, no devem obediencia ao Conselho Supremo daCrte de Appelao, e, portanto podem continuar a proceder comoat agora.

    Se fr implantado habeas-corpus ao tribunal superior dealgum desses Estados e a deciso fr negativa, haver recurso para o

    Supremo Tribunal Federal tiver de manifestar-se, a opinio doConselho Supremo da Crte de Appellao no prevalecer.

    DANDO SCIENCIA DO ACCORDO DA CRTE DEAPPELLAO

    Em virtude da deciso firmada ante-hontem pela Crte deAppellao, o dr. Prado Kelly requereu ao desembargador SaraivaJunior, que fosse officiado ao Juiz de Menores dr. Mello Mattos e aochefe da policia, dando sciencia do accordo proferido pela EgregiaCrte de Appellao, que faculta o livre ingresso de menores nas casade diverses.(O Jornal, 1928)

    Em 11 de Julho de 1928 o Tribunal da Relao de Minas julgou caso sobre o

    habeas-corpus em favor de pais de menores, mas por 8 votos contra 2 o Supremo

    decidiu pela constitucionalidade do Cdigo de Menores, a todos os menores que no os

    abandonados e infratores.

    Com o trmino da briga judicial sobre as casas de diverses entra no cenrio a

    questo da explorao do trabalho de menores. Em 29 de Dezembro de 1928 foi

    concedido um prazo de trs meses para que os estabelecimentos industriais

    regulamentassem os artigos do Cdigo de Menores; proibio do trabalho de menores

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    de 14 anos no alfabetizados e vedara at 18 anos as atividades em local insalubre,

    perigosos ou contrrios moral e os bons costumes.

    A briga foi acirrada, pois de um lado os donos das fbricas resistiram com

    ameaas de desemprego aos menores de 18 anos, e de outro Mello Mattos j exausto

    pelos anos de luta resistia e tentava reunir foras para no deixar mais essa batalha

    escapar-lhe.

    Na fiscalizao do trabalho do menordesenvolveu atuao do mais alto grau de significadosocial pois, como sabido, somente aps o advento da

    Revoluo de 1930, com a vigencia da legislao

    trabalhista, seriam tomadas medidas efetivas e geraisde tutela do trabalho, envolvendo a proteo do menortrabalhador.(GUSMO, 1934, p.27-28)

    Em todos os pases em que existia a preocupao com o menor, seu

    reconhecimento e admirao eram incontestveis, a medida de que em 1930 foi eleito

    Vice-Presidente da Associao Internacional de Juizes de Menores com sede em

    Bruxelas.

    Mas o bravo heri dos menores delinqentes e desvalidos no resistiu ao tempoe aos embaraos da vida. Mello Mattos faleceu em 3 de Janeiro de 1934, durante

    operao da lcera no duodeno no Hospital da Beneficncia Portuguesa. Quem diria que

    um homem to forte e lutador perderiam a batalha da vida para a sade fragilizada.

    Ao ler VELHO (1987, p.107) momento em que ele discute a noo de projeto

    logo fiz aluso Mello Mattos, quando ele [...] procura ver a escolha individual no

    mais apenas como uma categoria residual da explicao sociolgica, mas sim como

    elemento decisivo para a compreenso de processos globais de transformao dasociedade. E o que o Mello Mattos faz, atuando como sujeito da ao. Ele

    transforma a sociedade atravs de seus pensamentos e atuaes, e esta verdade pode

    ser constatada atravs da luta pela prtica do Cdigo de Menores, e quando atua de

    forma significativa na sua fiscalizao.

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    2.O Cdigo Mello Mattos na construo nacionalista

    brasileira

    Melo Mattos procurava no nacionalismo a base para a conquista do seu espao

    atravs da preocupao com a sociedade na construo de leis que protegessem e

    buscassem os meios para a educao. Ele procurava mostrar para a sociedade que a

    sade e a educao eram as bases para o crescimento de toda a sociedade.

    A sade e a educao como apoio para a construo de uma nova nao. Sendo a

    ao reformista na sade pblica brasileira como fonte para a construo da

    nacionalidade e a educao fazendo-se presente como processo de construo da

    conscincia do cidado.

    Figura 9 Crianas brincando e trabalhando como ambulantes nas ruas da favela do morro

    Santo Antnio em 1914.

    (fonte: bndigital.bn.br)

    Buscava orientar as famlias para a preocupao com a educao e sade das

    crianas. E com os menores abandonados procurava assegurar-lhes os seus cuidados.

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    Atravs da criao do Juizado de Menores pde dar a estes um maior amparo, e com a

    sano do Cdigo de Menores um respaldo aos que eram acolhidos nos abrigos.

    Na sociedade republicana era valorizada a questo patriarcal, onde aquelas

    crianas que tinham pais estavam protegidas e bem tratadas perante o Estado. E as

    crianas desprotegidas eram vistas como "expostos", "vadios", "transviados",

    "libertinos". Exemplos: permitia-se a interveno do Estado no ptrio poder de quem

    submetesse os filhos a abusos, negligncia e crueldades (art. 31); garantia-se que o

    menor delinqente de at quatorze anos no fosse "submetido a processo penal de

    espcie alguma" (art. 68), devendo aquele, entre quatorze e dezoito anos merecer

    "processo especial" (art. 69); proibia-se o recolhimento do menor priso comum (art.

    86); vedava-se o trabalho aos menores de doze anos (art. 101) e, aos que tinham menos

    de quatorze anos, sem que tivessem instruo primria, assim, impulsionando sua

    escolarizao. Da mesma forma como era importante libertar o corpo das doenas que

    o atacavam, a mente deveria se libertar dos males que a mantinham atrasada (LIPPI,

    1990, p.175).

    Sendo assim, Mello Mattos defendia a criao de creches e espaos paraescolarizao dos menores desassistidos como forma de nacionalizao. Como nos diz

    Lippi em seu texto citando Bomilcar e fazendo referncia ao seu pensamento: A

    histria do Brasil s comear quando a solidariedade entre os habitantes produzir uma

    conscincia de unidade moral, algo que a unidade poltica est longe de realizar

    (LIPPI, 1990, p. 133).

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    Figura 10 Crianas no Morro do Pinto em 1912.

    (fonte: bndigital.bn.br)

    Para Clvis Bevilacqua (SOUZA, 2003, p.39), velho civilista brasileiro, o

    Cdigo de Menores era um auxlio aos pais. Pois este no era contra os pais, apenas

    amparava os menores que viessem a sofrer algum abuso de poder, por parte dos seus

    responsveis, ou a falta do cumprimento dos deveres, atravs da suspenso de sua

    autoridade. Pois os pais deveriam formar seus filhos conscientes e disciplinados pela

    moral.

    Um dos grupos que se organizou sob o impulso dos ideaiscatlicos sobre a educao foi o da Associao Brasileira deEducao ABE, que contava nos seus quadros com figurasimportantes como o educador Jnatas Serrano, autor de um livro queestimulava a ligao entre cinema e educao. O nacionalismo foisegundo aspecto deste contexto scio-poltico. Suas origens estavam

    na Liga Defesa Nacional, com Bilac frente. A juno donacionalismo bilaqueano com o catolicismo de Jackson de Figueiredodesembocou, em 1919, no movimento da Propaganda Nativista cujocorpo doutrinrio propagava, entre outros postulados, pela educaocvica, o controle da imigrao estrangeira e o anti-lusitanismo. Em

    fevereiro de 1920 fundou-se a Ao Social Nacionalista, defensora degovernos fortes, xenfoba e inimiga da imitao servil econtraproducente dos figurinos alheios, contrria a degradantesituao do povo manietado camisa de fora estrangeira. Oestrangeiro imprecado pela Ao Social Nacionalista tinha um ntido

    perfil lusitano, seja pela lngua, comrcio ou heranapoltica.(SOUZA, 2003, p.36)

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    Mello Mattos incansavelmente vinha chamando a ateno de toda sociedade

    para a questo da infncia no como um problema particular de cada pai, mas como um

    problema social, de todos. Afinal o que se esperar de um adulto que quando crianacresceu como excludo, negado, as margens de uma sociedade burguesa e

    discriminatria?

    O interesse pela criana no mais problema sentimental,tem fundamento na economia social e no melhoramento humano quetende cada vez mais a se ampliar em todas as classes sociais,constituindo hoje preocupao dominante de todos os homens dasociedade. (Lima, 1937, p.192)

    Neste momento o saudoso Rui Barbosa atentava em seus discursos para a

    questo da educao da nao, em passagem citada pelo autor LIMA: A nosso ver, a

    chave misteriosa das desgraas que nos afligem s esta: a ignorncia popular, me da

    servilidade e da misria. (LIMA, 1939, p.268)

    Louzada nos faz pensar em Mello Mattos como um Ser de realizaes,

    conquistas na disputa da queda de braos fortes entre o Juiz de Menores, o Governo e a

    populao burguesa. E a criao do Cdigo de Menores, vem ratificar a fora do Juiz e a

    nacionalizao dos direitos infantis.

    A obra que conseguiu realizar no Brasil teve sempre umcarater fundamentalmente nacional, sem visos de imitaes exoticasou de velleidades megalomanacas. Laborioso e emprehendedor,espirito pratico de administrador, objetivo nas suas realizaes e queera forrado de uma vontade tenaz como poucas, mas que tambemsabia construir para o futuro, na esparana de melhores tempos,cheio de f na grandeza de sua terra, porque, elle o sabia, o Brasilno deixaria de acompanhar o progresso do mundo, tanto que, jagora, um dos pases mais adiantados em matria de assistencia

    social, e que, alis, pode dar lies a outros povos, Mello Mattos,patriota e nacionalista, realizou a sua obra com esprito deverdadeira brasilidade, consciente e bem orientado, sem os deliriosda xenophobia, aproveitando da experiencia alheia apenas o que erabom e util aos nossos interesses; as suas construces eraminspiradas pela energia creadora que o animava, procurando realiza-las em perfeita correspondencia com o meio, adaptando-as s nossastradies, fundamentando-se para leva-las a termo, nas propriasrealidades nacionaes de ento de uma super viso que raiva, mesmo

    pela intuio genial. Tudo o que elle fez, como fez, era necessario quese fizesse. (Louzada, 1938, p.20)

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    3.Criao da Casa Maternal Mello Mattos, Recolhimento

    Infantil Arthur Bernardes, Casa das Mesinhas, Escola 3

    de Outubro.

    Mello Mattos era casado com Francisca Barroso de Mello Mattos, companheira

    fiel ao longo da sua carreira e apoiadora da causa do menor. Ele criava as instituies e

    Dona Chiquita, como era conhecida, dirigia os estabelecimentos criados pelo honrado

    marido. Logo que foram criados os estabelecimentos de assistncia a infncia, surgiram

    as reclamaes da sociedade sobre as superlotaes, sendo assim, Mello Mattos apelou

    para as autoridades, iniciativa privada e o pblico em geral com a inteno da criao

    de obras para construo de novos espaos de cuidados aos menores abandonados.

    (Gusmo, 1964, p.24,25)

    Em reportagem retirada de: O JORNAL de 1 de Maro de 1928 com o ttulo de

    Collocao para menores abandonados, podemos ratificar o que acontecia no cenrio

    da poca;

    Actualmente muito difficil para o juiz de menores acollocao de meninos e meninas de idade inferior a oito annos,

    porque nos institutos a elles destinados no h vagas, e raramente sedo.

    Para os de idade superior a oito annos o dr. Mello Mattosest recorrendo a institutos que no dependem da sua jurisdio, sservindo por favor, mas em cujos chefes felizmente tem encontradoboa vontade e franco apoio.

    Assim aconteceu com o almirante Noronha, diretor-geral dopessoal da Armada Nacional, que ps sua disposio na Escola deAprendizes Marinheiros 40 logares para menores de 14 e 16 annos.

    Nessa escola alm do curso de marinheiro, ha cursosespeciaes de electricista, mecanico, enfermeiro, dactylographo, eoutros de utilidade pratica para os alumnos; os que completarem ocurso geral podero chegar at ao posto de sub-official. ( O Jornal,1928) 3

    3 O JORNAL de 1 de Maro de 1928

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    Neste perodo de clamores da sociedade o Distrito Federal vivia um

    desequilbrio populacional em virtude da Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

    alargamento do parque industrial e o aumento sem precedentes da populao obreiranas cidades, j fazia prver a agravao continuada e rpida do problema da assistncia

    social. (GUSMO,1964, p.24)

    O magistrado Juiz mesmo com poucos recursos no desistiu da causa ao qual o

    fazia resistir, mesmo sem total resguardo do Estado, atravs de seus muitos contatos

    recorreu a iniciativa de particulares para a criao da Casa Maternal que pelo

    reconhecimento de seus esforos recebeu o nome de Casa Maternal de Mello Mattos,

    Recolhimento Infantil Arthur Bernardes, Casa das Mesinhas e a Escola 3 de Outubro.

    O jurista se dirigiu a impressa jornalstica para expor o seu desejo de ajuda

    referente aos menores com a seguinte manchete: O Sr. Mello Mattos deseja a criao

    da Casa Maternal

    Sr. Director do Jornal do Brasil _ Respeitososcumprimentos_ Tem sido objecto constante e elevada propaganda dovosso conceituado jornal a necessidade da organizao da assistencia

    e proteco aos menores abandonados e delinquentes. Prevaleo-me,pois dessa honrosa circunstancia para solicitar o vosso valiosoconcurso em um prehendimento, que s pode ser bem succedido coma collaborao da sociedade inteira, para cuja invocao recorro dovosso prestigio intermedio e efficaz apoio. (Jornal do Brasil, 1924)

    A Casa Maternal de Mello Mattos foi, e ainda situada na Gvea na Rua Faro,

    dispondo de um terreno amplo e arborizado. Em sua iniciao recebia crianas de um a

    sete anos de ambos os sexos com a finalidade de educar, amparar e abrigar estas. Desde

    o ano de sua fundao 1924 at 1934 na Casa habitavam cem crianas e neste ltimo

    ano foi construdo um pavilho e no ano de 1936 o Governo concedeu a permisso parareceber mais oitenta crianas. (Lima, 1937, p.162)

    O Recolhimento Infantil Arthur Bernardes foi fundado em 30 de outubro de

    1926, para recolher e educar crianas de ambos os sexos de sete a doze anos com

    estrutura para receber cem crianas. Era administrado pelas freiras da Congregao das

    Servas de Maria e funcionava na Rua Cosme Velho 174, em um prdio alugado. (Lima,

    1937, p.163)

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    A Casa das Mesinhas foi fundada em 25 dezembro de 1927, com objetivo de

    amparar menores grvidas, pois nos ltimos perodos da gestao requeriam maiores

    cuidados fsicos e psquicos. Elas permaneciam na instituio aps o parto durantequatro meses, sob a superviso de uma enfermeira diplomada, que aps esse perodo as

    ajudavam a dispor de uma famlia. Sua capacidade era de quinze a vinte meninas.

    (Lima, 1937, p.163)

    A instalao da Escola 3 de Outubro foi penosa ao Juiz, pois custou-lhe tempo,

    flego e dinheiro. Por ser um antigo chefe da polcia e ter um grande prestgio poltico,

    acreditando no investimento do governo, fez um emprstimo pessoal na Caixa

    Econmica e com o dinheiro instalou a Escola 3 de Outubro. Pouco tempo depois foi

    obrigado a fechar as portas por falta de recursos e diante da negao da verba pblica.

    (Gusmo, 1964, p.25)

    Em reportagem do jornal GAZETA DE NOTICIAS de 30 de novembro de 1924,

    j se registrava elogios por parte da sociedade com a retirada de menores das ruas:

    J se registra que os menores recolhidos recebem com amaior cordura, respeito e ba vontade os ensinamentos que lhes esto

    sendo ministrados. No ha melhor prova de que se trata de creaturasfacilmente corrigiveis, arrastadas ao crime, precisamente pela faltade assistencia que o actual governo, graas a Deus, vae procurandosanar com sincero empenho, agora to meridinamente positivado.

    Mas, no tocante delicadissimo problema, ha ainda muito que fazer...(Gazeta de Noticias, 1924)

    Lemos Brito, amigo de luta pelo menor desvalido, descreve a situao de Mello

    Mattos:

    Guardo esse periodo disse ele uma serie imensa de missivas e,em cada qual delas se reflete a alma do insigne magistrado...Mello

    Mattos lembrava-me, ento, a figura de um naufrago que, de vez emquando, se firma sobre um rochedo mas a quem as ondas vo de novobuscar para arrebatarem no torvelinho.(GUSMO, 1964, p.25-26)

    Para LOUZADA, a personalidade de Mello Mattos era incomparvel, pela suabondade, seu senso de justia, o patriotismo, o sacrifcio, a defesa dos seus princpios eideais, a vontade pelo trabalho, o destemor dos perigos e dificuldades. (1938, p.9).

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    4.A causa do menor defendida por homens em pases das

    Amricas.

    Para situar o conceito de cultura da sociedade brasileira, precisamos buscar um

    caminho, trajetria a qual esta passou. Como ponto de partida para entendermos a

    sociedade, devemos dimensionar o nosso olhar e entender a partir deste meio e no

    outro como esta funciona dentro das suas possibilidades e seus embates. Temos que ter

    ateno para apreender como se deu o processo de construo das relaes entre os

    pases das Amricas nos Congressos pela infncia.

    O momento, estgio ao qual a sociedade brasileira vivia, durante a Primeira

    Repblica, foi imposto pela escolha do presidente Rodrigues Alves, atravs do seu

    projeto de modernizao que modificou a estrutura da capital, assim como o modo de

    pensar dos indivduos. E que VELHO (1987, p. 107) bem define em seu texto: O que a

    noo de projeto procura dar conta da margem relativa da escolha que indivduos e

    grupos tm em determinado momento histrico de uma sociedade.Vindo de encontro

    com o pensamento dos intelectuais engajados na causa da infncia.

    Para ARIS a vida deve ser cuidada e se isso acontecer desde a infncia ela

    chega a fase adulta, pois devido a grande mortalidade, o cuidado era o alicerce do

    futuro.

    ...consideramos a vida como um fenmeno biolgico, comouma situao na sociedade, sim, mais no mais que isso. Entretanto,dizemos a vida para exprimir ao mesmo tempo nossa resignao enossa convico de que existe, fora do biolgico e do sociolgico,alguma coisa que no tem nome, mas que nos comove, que

    procuramos nas notcias corriqueiras dos jornais, ou sobre a qualpodemos dizer isto tem vida. A vida se torna ento um drama, quenos tira do tdio do quotidiano. Para o homem de outrora, aocontrrio, a vida era a continuidade inevitvel, cclica, s vezeshumorstica ou melanclica das idades, uma continuidade inscrita naordem geral e abstrata das coisas, mais do que na experincia real,

    pois poucos homens tinham o privilgio de percorrer todas essasidades naquelas pocas de grande mortalidade. (Aris, 1986, p. 38-39)

    A questo do nacionalismo comeou a ser abordada por muitos pases no finaldo sculo XIX e incio do sculo XX, como forma de preocupao com a medicina, o

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    sanitarismo, a criana, a educao, como construo social e poltica das relaes

    internacionais.

    Tabela 1 Congressos internacionais em pases americanos (1882-1922) [4]

    1882 B. Aires Congresso Pedaggico Internacional

    1893 Washington Pan-American Medical Congres, 1

    1898 B. Aires Congresso Cientfico Latino-Americano, 1

    1900 R. Janeiro Congresso Jurdico Americano

    1901 Montevidu Congresso Cientfico Latino-Americano, 2

    Santiago Congresso Mdico Latino Americano, 1

    1904 B. Aires Congresso Mdico Latino Americano, 2

    1905 R. Janeiro Congresso Cientfico Latino-Americano, 3

    1907 Mxico Conferncia Sanitria Pan-americana

    1908/9 Santiago Congresso Cientfico Latino-Americano, 4

    1909 R. Janeiro Congresso Mdico Latino Americano, 4

    1909/10 Costa Rica Conferncia Sanitria Pan-americana

    1910 B. Aires Congresso Cientfico Internacional Americano

    Congresso Internc. De Medicina e Higiene, 8

    1911 S. Paulo Congresso Mutualismo Sul-Americano

    1916 B. Aires Congresso Americano da Criana, 1

    Tucumam Congresso Americano de Cincias Sociais

    4 KUHLMANN JR. 1998, p.48

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    1919 Montevidu Congresso Americano da Criana, 2

    Washington Congresso Internacional de Trabalho, 1

    1922 R. Janeiro Congresso Americano da Criana, 3

    Foi nos Congressos da Criana, mencionados acima, que encontramos uma

    maior preocupao com a educao, pelos intelectuais. O Dia da Criana, 12 de

    Outubro, foi escolhido no encerramento do 3 Congresso Americano da Criana

    realizado junto com o 1 Congresso Brasileiro de Proteo Infncia em 1922. Foi

    exposto, nesta ocasio, por um integrante do Instituto de Proteo Infncia de Niteri,

    Sr. Almir Madeira:

    Considerando que:a)

    a instituio de um dia consagrado criana se vai generalizando portodo mundo civilizado, que, hoje como ontem e cada vez mais, devecuidar-se carinhosamente, religiosamente, num verdadeiro e sadioculto, da semente humana; mas,

    b)sendo varivel a data dessa celebrao, quer de um pas para o outro,quer de uma para outra cidade, e particularmente,

    c)

    no Brasil, onde, muito embora caiba a prioridade da idia ao nossoprncipe da proteo cientfica infncia Moncorvo Filho -, quevem realizando a festa da criana pobre com tamanho sucesso e h 20anos por ocasio do Natal. (...)

    f) devendo ser cada vez mais acorooada, fortalecida, a sbia poltica deconcrdia

    do Novo Continente, e particularmente fomentada, desde logo, entreos nossos filhos, a idia da fraternidade americana:

    Venho propor neste auspicioso momento histrico, em que secongregam, na mais bela solidariedade, cientistas, escritores e

    filantropos brasileiros de todos os Estados e os mais notveis

    representantes das naes americanas, o seguinte VOTO:O 3 Congresso Americano da Criana e o 1 CongressoBrasileiro de Proteo infncia promovero, por todos os meios,junto aos governos nele apresentados, a celebrao da Festa daCriana nos respectivos pases no dia 12 de outubro, datacomemorativa da descoberta da Amrica.(KUHLMANN JR., 1998,p.43-44)

    O Instituto Internacional Americano de Proteo Infncia, que anteriormente era

    chamado de Congresso Americano da Criana, tinha a finalidade de realizar congressos

    pan-americanos da criana. Com a funo de: reunir e publicar leis e documentos

    oficiais de proteo infncia; documentar as instituies pblicas e privadas com este

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    fim; reunir obras e revistas; elaborar estatsticas sobre morbidade, mortalidade,

    nascimentos; informao de dados as autoridades e instituies; atuar como centro de

    informaes sobre a infncia aos interessados.

    A noo de projeto vista em Velho (1987, p.107) focaliza a feio dinmica da

    sociedade em sua cultura como expresso, produo da modernizao de cdigos em

    construo. Os smbolos e os cdigos no so apenas usados: so tambm

    transformados e reinventados, com novas combinaes e significados.

    Em pases como os Estados Unidos da America do Norte desde 1866 existia a

    Sociedade Protetora da Infncia, em 1901 comearam a funcionar as Childrens

    Courts. Desde 1908 na Inglaterra Children Act discutiam sobre os menores de 16

    anos. Na Alemanha desde 1905, na Frana desde 1912, na Itlia desde 1917.

    No Brasil desde 1893, juristas, educadores, mdicos, socilogos discutiam a

    legislao em vigor sobre a penalidade do menor.

    Tobias Barreto em 1894, Joo Vieira de Arajoem 1893, Alfredo Pinto em 1909, Candido Mota em1900, Galdino Siqueira em 1916 e Gonzaga Jaime em1920 todos tentaram, sem resultado, modificar a nossalegislao penal.(GUSMO, 1964, p.9)

    Em 28 de Outubro de 1902, Lopes Trovo apresentou ao Senado o primeiro

    projeto legislativo e o segundo foi exposto em 1906, na Cmara, por Alcino Guanabara.

    Posteriormente, em 21 de Agosto de 1917 Joo Chaves e Alcino Guanabara

    apresentaram seus projetos no Senado. Alcino Guanabara em seu projeto, no se livrara

    do discernimento e considerava no criminosos os menores de 12 e maiores de 17 que

    agissem sem discernimento. O projeto de Alcino Guanabara foi levado as Comisses, e

    depois de encerrada a reunio, o Ministro da Justia foi ouvido pela Comisso de

    Finanas, mas no se tornou lei.

    No perodo de 1920 houve uma preocupao maior com a m influncia dos

    cinemas e teatros em relao infncia, por parte de mdicos, juristas e pedagogos

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    baseados pela psicologia e pela psiquiatria. A ponto de Astolfo Resende, jurista amigo

    de Mello Mattos, afirmar no I Congresso Brasileiro da Criana (1922) que:

    o cinematgrafo incontestavelmente, uma das maravilhas dosculo XX, um precioso instrumento do progresso. Mas, tambm

    fora de dvida que a par de suas grandes aplicaes teis, tem elevariadas aplicaes nocivas, contra as quais mister, que se

    premunam aqueles que, como crianas, no esto em condies deopor suficiente resistncia s suas influncias malficas. verdadeintuitiva que as exibies cinematogrficas so um poderoso meio desugesto. A produo de dramas violentos, de cenas poderosamenteexcitantes, de episdios empolgantes, atuam energicamente sobre a

    psique humana, como correntes contnuas de alta potncia. Assim

    atuando, o cinematgrafo converte-se num acumulador monstruosode excitaes que perturbam o organismo do espectador, oferecendo,na silente luminosidade do cran, esses horrendos espetculos deGrand Guignol que estraalham os nervos, contundindo-os

    fortemente(SOUZA, 2003, p.34).

    Algumas medidas foram tomadas contra o teatro e o cinema como a censura

    policial e o controle sobre os espetculos. E os pedagogos passaram a questionar

    medidas educacionais para o cinema e teatro de cunho infantil, com carter histrico

    instigado temas que levem a cordialidade entre os povos. A assistncia aos pobres foi

    muito discutida nos congressos a partir do final do sculo XIX e incio do sculo XX.

    Criaram-se leis e propagaram-se instituies sociais em vrias reas; sade pblica,

    direito da famlia, relaes de trabalho, educao, instituies jurdicas, sanitrias.

    A histria da assistncia infncia representa um embate poltico, terico e

    jurdico, envolvendo questes como a sua funo, as propriedades e modalidades na

    sociedade, o questionamento do papel do Estado na organizao e desenvolvimento para

    a prestao dos servios. Contudo, assistncia aosmaispobres era vista como forma de

    poltica social da burguesia intelectual que garantia os direitos. E a lei, produzida por

    esses, servia para assegurar aos donos das fbricas contra a revolta ou qualquer

    violncia por parte dos trabalhadores, assegurando a todos a paz social das civilizaes.

    Para percebermos a mudana ocorrida em uma sociedade ou cultura faz-se necessrio

    que percebamos e pensemos que nesta existe um campo de possibilidades.

    Nela existem equvocos, por ser complexa e heterognea, na prtica socialsurgem impossibilidades e dificuldades que vo, por sua vez, atuar sobre os projetos

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    originais, transformando-os. E de qualquer forma, o sujeito do projeto pode

    conscientemente alter-lo, renegociando a realidade, em confronto com outros

    indivduos ou grupos. Como ocorreu nos congressos sobre a criana, os projetos sofriamtantas mudanas que a cada congresso tinham atualizaes.

    Como pode ser visto na citao de VELHO, sobre projeto na sociedade:

    O projeto uma forma de manipular e dar uma direo aconjunto de smbolos existentes em uma cultura. Implica semprealgum tipo de seleo em funo de experincias, necessidades e

    estratgias particulares. A possibilidade de construir e expressarprojetos prprios uma das maneiras de distinguir grupos sociaisenquanto unidades com um mnimo de integrao, pois o projeto indispensvel para a organizao de indivduos em torno deinteresses comuns (Adams, 1970). Podem ser distinguidos em grau deelaborao, em termos de complexidade, em permanncia econtinuidade, em abrangncia. No basta, no entanto, uma tipologiade projetos, pois fundamental, procurar perceber as relaes entre

    projetos particulares. Uns sero mais contaminadores do que outros,tero maior eficcia simblica e podero tornar-se dominadores emcertas circunstncias. Em uma sociedade de classes, sem dvida, umdos principais problemas ver at que ponto certos projetos

    particulares podem ser considerados como de uma classe socialespecfica, de um setor de classe, ou se no tem nenhum vnculoespecfico com classe, podendo ser relacionado com um grupodefinido por outras variveis, podendo mesmo atravessar diferentesclasses sociais. Cabe a ns pesquisar essas possibilidades emsituaes scio-culturais determinadas.(VELHO, 1987, p.108-109)

    Para Marilena Chau, se acompanharmos a trajetria histrica dos intelectuais

    em que Bourdieu referencia situao paradoxal e sntese difcil, nos deparamos com

    as dvidas que os acercam diante da exposio frente sociedade que busca respostas as

    suas atitudes, ao seu domnio. ... o silncio e a interveno em pblico, oscilao quedecorre das circunstncias nas quais as demandas de autonomia racional respeitada ou

    ameaada pelos poderes institudos. (Chau, 2006, p.20-21) O poder do Juiz de

    Menores era em freqente questionado diante das questes, dos menores, as quais

    defendiam.

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    5.Consideraes preliminares

    Atravs deste trabalho conhecemos um pouco da figura deste notvel brasileiroque traou a histria das crianas na capital do seu pas. Em um momento de construo

    da cidade em que Pereira Passos, prefeito da poca, tinha como foco principal o modelo

    europeu como referncia. A cidade crescia a passos largos e sem preocupao com a

    populao que vivia em seu centro. O objetivo do prefeito era atrair investimentos

    estrangeiros e a construo de fbricas, para que alavancasse a economia do Rio de

    Janeiro frente aos pases do Exterior. Com isso a populao pobre passou a viver as

    margens da sociedade, construindo suas moradias prximas aos locais de trabalho.

    Em virtude desta situao as crianas foram as mais afetadas, pois cresceram

    sem amparo do poder pblico por parte do prefeito em questo. As polticas voltadas

    para a assistncia infncia foram influenciadas pela introduo dos hbitos e das idias

    higienistas de saneamento bsico. Na poca foram publicadas teorias cientficas em que

    atribuam que comportamentos diferentes dos moralmente aceitveis eram resultados da

    influncia do meio social e de caractersticas hereditrias, por isso se fazia necessrio a

    proteo das crianas. Assim, juristas, filantropos, mdicos, entre outros, lutavam

    para que as questes referentes ao menor se tornassem objetos especficos de uma

    normatizao.

    O problema do menor era visto com perplexidade pelas elites, pois o contexto

    da limpeza da paisagem era estimado pelas elites europias. Neste sentido era

    necessrio eliminar os ftidos cortios e esgotos que corriam pelas ruas. Era

    indispensvel controlar as epidemias e dar novos ares ao Rio de Janeiro, para tanto a

    derrubada do Morro do Castelo foi uma providncia tomada na tentativa de limpar a

    paisagem da ndoa de crianas pobres, entregues mendicncia ou delinqncia.

    Obtm-se a conscientizao quanto gravidade das precrias condies de

    sobrevivncia das crianas pobres. Com o aumento da proliferao das epidemias,

    superstio materna e o nacionalismo insensvel s orientaes quanto s providncias

    bsicas de sade e higiene. Visto este quadro da situao da capital, Jos Cndido

    Albuquerque de Mello Mattos atravs da preocupao e do seu trabalho de assistnciaaos infantes, comeou a traar uma nova ordem a histria desses desvalidos.

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    O clima era de ufanismo, esperana e crdito na capacidade humana de

    transformao da realidade. A questo da criana realada, destacando-se nessa

    reflexo mdicos, polticos e advogados. Assim, o futuro do Brasil dependia de atenoespecial para com a infncia.

    Um fato importante ocorrido em 1922: o Primeiro Congresso Brasileiro de

    Proteo Infncia, realizado na Capital da Repblica, em conjunto com o Terceiro

    Congresso Pan-Americano da Criana, sob inspirao de conferncias internacionais.

    Criaram-se algumas normas de contorno mais sistemtico para a proteo social,

    difundidas em questes de higiene, medicina, pedagogia, assistncia social e legislao.

    Tambm surgem recomendaes para criao de leis de proteo infncia, atravs de

    grandes idealistas como Tobias Barreto, passando por Evaristo de Moraes, Lopes

    Trovo, Alcindo Guanabara, dentre outros, foram empreendidas, mas sem que o

    Congresso as aprovasse ou simplesmente, as discutisse.

    Diante desse contexto, os juristas, os mdicos e filantropos foram responsveis

    pela luta por novas formas de assistncia infncia, passando a exigir do Estado aes

    que viessem a moralizar os hbitos da populao. Nessa perspectiva, o decreto

    n17.943, de 12 de outubro de 1927, regulamentou o Cdigo de Menores, elaborado

    pelo primeiro juiz de menores do Brasil, Jos Cndido de Albuquerque Mello Mattos.

    O Cdigo Mello Mattos consistiu no primeiro diploma legal a dar um tratamento

    mais sistemtico e humanizador criana e ao adolescente, com 231 artigos

    consolidados previa, pela primeira vez, a interveno estatal neste delicado momento

    social. Embora elaborado exclusivamente para o controle da infncia abandonada e dos

    delinqentes de ambos os sexos, menores de 18 anos (art.1).

    O Presidente da Repblica dos Estados Unidos do Brasil,usando da autorizao constante do artigo 1 do Decreto n5.038 de 1de Dezembro de 1926, resolve consolidar as leis de assistncia e

    proteco a menores, as quaes ficam constitudo o Cdigo deMenores, no teor seguinte. (Decreto n17.943 A, 1927) [ 5]

    5 Museu do Tribunal de Justia do Rio de Janeiro. Consolidao das Leis da Assistncia e

    Proteo a Menores.

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    O senhor juiz Mello Mattos tornou-se um marco como referncia intelectual na

    histria do pas por seus grandiosos feitos. Este fato desencadeou muitos elogios a sua

    pessoa e ao profissional, como referenciado por Gusmo:

    Na extraordinaria personalidade de Mello Mattos, sob otrplice aspecto em que se manifesta a natureza humana _ ainteligencia, o sentimento e a ao _ encontro o melhor smiledaquele personagem ideal, daquele HOMEM, com letra maiscula, deque nos fala Rudyard Kipling no seu poema celebre _ Se.

    Se podes conservar a calma quando todos tua volta

    Perdem-na e te culpam por isso;

    Se podes confiar em ti prprio quando todos duvidam de ti,Admitindo, todavia, essa duvida alheia;

    Se s capaz de esperar sem te fatigares pela espera;

    Se sendo caluniado no compartilhas em calunias

    Ou sendo enganados no procuras enganar;

    Nem aparentas demasiada bondade nem falas com demasiadasabedoria;

    Se s capaz de sonhar sem todavia, te fazeres um sonhador;Se s capaz de pensar sem tornares apenas um terico;

    Se podes deparar com o triunfo e a derrota

    E tratar esses dois impostores de maneira idntica;

    Se suportas ouvir a verdade que disseste, ...

    ... _ E _ o que muito mais _ tu s um HOMEM, meu filho!(GUSMO, 1964, p. 33, 34 e 35) [6]

    Mello Mattos era uma figura de poder e esse fato torna-se exposto em seus anosde luta frente causa do menor. Em busca dos espaos pblicos de cuidado ao menor,esbarra na falta de comprometimento e investimento do Governo, e neste sentidoprocura espaos privados na tentativa de sanar a condio destes. Com esta atitude elefaz um alargamento das questes sociais, atentando para o fato de no ser um problema

    6 (Conferncia pronunciada pelo Juiz de Menores da Guanabara, dr. ALBERTO AUGUSTOCAVALCANTI DE GUSMO, no dia 24 de maro de 1964, no auditrio do Instituto de Resseguros do

    Brasil, durante os festejos de comemorativos do 1 Centenrio de Nascimento do dr. JOS CANDIDODE ALBUQUERQUE MELLO MATTOS, 1 Juiz de Menores do Brasil)

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    particular de cada um. O Estado tem que assumir sua responsabilidade de educar eamparar a sociedade como um todo e no como partes diferentes que merecemcuidados diferentes. As pessoas viviam num estado de contraste; o nascimento nobre

    ou a fortuna andavam lado alado com a misria, o vcio com a virtude, o escndalo coma devoo. (Aris, 1986, p. 279)

    O prprio Mello Mattos, Juiz de Menores, era um ser antagnico. Era umhomem do Estado e pertencia ao mesmo, mas lutava para resolver as questes que seuprprio Estado no resolvia ou no pretendia resolver.

    Ora a democracia institui a cidadania como a ao decontra-poderes sociais para a garantia de direitos, graas

    participao nas lutas polticas. Se os direitos conquistados nosembates do espao pblico e na luta de classes, so privatizados ao setransformar em servios vendidos e comprados como mercadorias, o

    cerne da democracia ferido mortamente e a despolitizao dasociedade uma decorrncia necessria. O recuo da cidadania e adespolitizao produzem a substituio do intelectual engajado pela

    figura do especialista competente cujo suposto saber lhe confere opoder para em todas as esferas da vida social, dizer aos demais o quedevem pensar, sentir, fazer e esperar. (Chau, 2006, p.30)

    Este trabalho abre portas para uma extenso e um estudo mais profundo arespeito da sociedade vigente na Primeira Repblica e seus contrastes econmicos,polticos.

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    6.Referncias Bibliogrficas

    1.

    A EPOCA, de 1918

    2. A NOTICIA, de 1925

    3. A PATRIA, de 1924

    4. ARIS, Philippe. Histria Social da criana e da famlia. Flaksman, Dora

    (trad.) 2 Ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

    5.

    AZEVEDO, Alusio. O Cortio. So Paulo: Nobel, 2009.

    6. BARRETO, Lima. Os Bruzundangas. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

    7. Biblioteca Nacional Digital. Disponvel em

    Acesso em

    5/11/10

    8. BRASIL. Cdigo de Menores. Rio de Janeiro: DECRETO N 17.943-A DE 12

    DE OUTUBRO DE 1927.

    9. CABRERA, Carlos Cabral. Direitos da Infncia e Juventude. In: SEREJO,Lourival (org.). Direito Constitucional da Famlia. Belo Horizonte: Ed. DelRey, 2006.

    10.CAMARA, Snia. Por uma cruzada regeneradora A cidade do Rio deJaneiro como canteiro de aes tutelares e educativas da infnciamenorizada na dcada de 1920. In: Vidal, Diana (org.)Educao e Reforma:O Rio de Janeiro nos anos 1920-1930. So Paulo: EDUSP, 2008.

    11.CHAU, Marilena. Intelectual engajado: uma figura em extino? In:Novaes, Adauto (org.) O silncio dos intelectuais. So Paulo: Companhia dasLetras, 2006.

    12.CORREIO DA MANH, de 1923

    13.Educao Pblica Acesso

    em 21/ 09/10

    14.GAZETA DE NOTICIAS, de 1924

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    15.GUSMO, Alberto Augusto Cavalcanti. Vida e Obra de Mello Mattos.Conferncia. Instituto de Resseguros do Brasil, 24 de maio de 1964.

    16.

    JORNAL DO BRASIL, de 1924

    17.Jornal Rebate. Disponvel em Acesso em 05/11/10

    18.KUHLMANN, Moyss Jr. Infncia e Educao Infantil: uma abordagemhistrica. Porto Alegre: Mediao, 1998.

    19.LIMA, Augusto Saboia. A Infancia Desamparada. Rio de Janeiro: Imprensa

    Nacional, 1939.20.LIMA, Augusto Saboia. Relatrio do Juizo de Menores do Distrito Federal.

    Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1937.

    21.LIPPI, Lcia Oliveira. A questo nacional na Primeira Repblica. So Paulo:Ed. Brasiliense, 1990.

    22.LOUZADA, Affonso. O Apostolo da Infancia. Rio de Janeiro: Irmos PongettiEditores, 1938.

    23.

    MACHADO, Ana Claudia; SOUZA, Claudia Moraes de. Movimentos sociaisno Brasil contemporneo. So Paulo: Ed Loyola, 1997.

    24.O BRASIL, de 1923

    25.O JORNAL, de 1928

    26.PIOSERVAN, Flvia; IKAWA, Daniela. Direitos humanos: fundamento,proteo e implementao: perspectivas e desafios contemporneos.Cur