textos_autobiograficos
DESCRIPTION
Informações diversas sobre os textos de carácter autobiográfico.TRANSCRIPT
1
PORTUGUÊS – 10º ANO
TEXTOS DE CARÁCTER AUTOBIOGRÁFICO
Caravaggio c. 1598-99, Narciso
Biografia
vem de BIO, que significa VIDA e GRAFIA, que significa ESCRITA.
Uma Biografia é a história de vida de uma pessoa. Quando nós mesmos vamos escrever a
nossa própria história, então temos uma AUTOBIOGRAFIA.
A escrita intimista e autobiográfica é aquela em cujo ato de escrita o sujeito se reflete e reflete
sobre si mesmo.
O auto-retrato, a autobiografia, os poemas autobiográficos, o diário, as cartas, as memórias, são
exemplos de textos autobiográficos.
A escrita intimista e autobiográfica pode concretizar-se, entre outros, através de memórias,
diários, autobiografias, cartas e até mesmo textos poéticos. De referir que a delimitação entre os três
primeiros géneros citados nem sempre é nítida, o que muitas vezes gera dúvidas relativamente à
classificação literária de determinados textos deste género. Na realidade, os géneros literários intimistas
pressupõem um discurso virado para o eu (presente ou subentendido), predominando, por isso, formas
verbais, pronomes e determinantes na primeira pessoa, bem como uma linguagem conotativa, subjetiva e
emotiva. Neste tipo de textos, o eu evoca experiências marcantes, momentos, etapas, iniciativas da sua
2
vida pessoal/profissional, a sua relação com quem/o que o rodeia, transmitindo simultaneamente as
sensações, sentimentos, emoções que essas vivências lhe despertaram.
TEMÁTICAS PRESENTES NOS TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS:
Percursos/etapas/momentos de vida particular.
Relação consigo próprio/com os outros.
Recordação de vivências marcantes. Atitudes e comportamentos.
Iniciativas/escolhas pessoais.
Experiências e suas consequências.
Individualidade/identidade.
Sentimentos/emoções.
Reflexão/meditação.
Conflitos/busca de paz interior.
Introspeção.
Percepções/sensações/captação através dos sentidos.
AO NÍVEL DA EXPRESSÃO, O DISCURSO AUTOBIOGRÁFICO CARACTERIZA-SE POR:
Discurso na 1.ª pessoa;
Predomínio do eu (presente ou subentendido);
Formas verbais na 1.ª pessoa;
Presença de pronomes pessoais (forma de sujeito e de complemento);
Presença de determinantes e de pronomes possessivos (meu/minha …);
Privilégio de linguagem conotativa e emotiva;
Uso de nomes abstratos, adjetivação expressiva;
Verbos do domínio do “ser” (definição/permanência) e do “estar” (caracterização do momento);
Pontuação sugestiva;
Frases do tipo exclamativo e interrogativo;
Utilização de recursos estilísticos.
RELATIVAMENTE AO TEXTO AUTOBIOGRÁFICO, DISTINGUEM-SE VÁRIAS TIPOLOGIAS TEXTUAIS:
Carta pessoal ou particular
Diário
Memórias
Confissões
Biografia
Autobiografia
Tábua cronológica
Retrato
Auto-retrato
Caricatura
Fotobiografia
3
A biografia é um género narrativo em prosa que consiste na descrição da vida de uma determinada
personalidade, onde devem constar datas, lugares, pessoas e acontecimentos marcantes. É redigida na 3ª
pessoa e a linguagem predominantemente objetiva e informativa; pode apresentar-se, quer como um
relato meramente informativo, quer como um texto onde se evidenciam e valorizam aspectos relevantes
do percurso do biografado.
A biografia pode ser uma simples nota biográfica ou mesmo constituir-se como um livro, segundo a
finalidade a que se propõe. Ao contrário da autobiografia, na biografia deve-se respeitar a ordem
cronológica.
Diferenças entre a autobiografia e a biografia:
Autobiografia
- Texto predominantemente expressivo e subjetivo.
- Texto que acentua o percurso existencial do autor.
- Texto onde a ordem cronológica dos factos narrados pode não ser respeitada.
-Texto predominantemente narrado na 1ª pessoa.
Biografia
- Texto predominantemente informativo e objetivo.
- Texto que acentua o percurso de vida do autor.
- Texto onde a ordem cronológica dos factos narrados é respeitada.
- Texto onde consta a data dos factos narrados.
A Autobiografia visa retratar a vida de uma pessoa, mas, neste caso, autor, narrador e personagem
identificam-se, na medida em que é o próprio quem narra a sua experiência vivencial. Trata-se de um
discurso de primeira pessoa, pelo que assume um carácter subjetivo. O relato autobiográfico tem, em geral,
um carácter mais expressivo do que informativo. A partir da memória, o autor recria vivências passadas,
direta ou indiretamente relacionadas com a sua própria vida, podendo modificar a narração cronológica
dos acontecimentos.
As marcas linguísticas da autobiografia
Formas verbais na 1.ª pessoa;
Marcas de 1.ª pessoa nos pronomes pessoais e nos determinantes possessivos;
Explicitação das coordenadas de enunciação (determinação das características do momento em
que se escreve);
4
Verbos epistémicos (achar, acreditar, calcular, considerar, pensar, supor, reconhecer...); verbos
avaliativos (detestar, gostar, lamentar, suportar, tolerar...); verbos perceptivos (ouvir, sentir, ver...);
verbos volitivos (desejar, esperar, querer, tencionar...); verbos de rememoração (recordar-se,
lembrar-se...);
Projeção das ações num intervalo temporal lato;
Conectores de ordenação temporal.
Outros recursos expressivos que contribuem para a subjetividade dos textos autobiográficos: a
adjetivação, as repetições, outras figuras de estilo, as interjeições e os sinais de pontuação como,
por exemplo, os pontos de exclamação e as reticências.
A fotobiografia, tal como o próprio nome indica, é uma biografia baseada e apresentada numa série de
fotografias. Contudo, a seleção das fotografias exige muita pesquisa, pois estas devem ter qualidade
suficiente, ser expressivas e ilustrar momentos diferentes da vida da personalidade escolhida. Além disso,
estas, devidamente legendadas, devem estar dispostas segundo a ordem cronológica da história de vida
que se está a relatar.
É no início da Idade Média que surge o primeiro grande modelo de obra autobiográfica, as Confessiones
(Confissões) de santo Agostinho (século IV), que, pela sua introspeção psicológica e antevisão
existencialista, permanecem vivas até hoje, tendo exercido profunda influência sobre filósofos como Pascal
e Kierkegaard ou escritores como Rousseau.
O romance autobiográfico
Romance no qual se misturam ficção e realidade, com uma relação de identidade entre autor, narrador e
personagem, já que relatam eventos e descrevem espaços indissociáveis do testemunho e vivências
pessoais dos autores. O romance autobiográfico difere da autobiografia: "a biografia e a autobiografia são
textos referenciais: exactamente como o discurso científico e histórico, elas pretendem trazer uma
informação sobre uma realidade exterior ao texto, e portanto se submetera uma prova de verificação". (P.
Lejeune, 1975. p.36.)
As memórias estão no meio-termo entre a autobiografia e a crónica, variando, de caso para caso, o
peso relativo do eu no conjunto do narrado. São, sem dúvida, uma forma de escrita sobre si mesmo, mas
dão-nos também o testemunho de um tempo e de um meio, somando ao relato de casos pessoais e
familiares o de conhecimentos históricos e políticos .A narrativa memorialista tem um fundo histórico-
cultural, embora sujeito à filtragem subjetiva de quem a produz.
5
A memória é a capacidade que cada um tem de reter informações sobre alguém ou alguma coisa. Pode-se
falar em memória individual ou memória coletiva. A primeira cinge-se aos acontecimentos, realidades,
experiências e emoções de cada indivíduo; a segunda engloba o conjunto de recordações pertencentes a
um país, a uma comunidade, a um povo.
As memórias pertencem a um género literário narrativo, cujo autor relembra acontecimentos passados e
experiências vividas, transmite as suas emoções/sentimentos e apresenta simultaneamente realidades
sociais, humanas e políticas. Daí que, com alguma frequência, surjam citações a pessoas ilustres e
momentos históricos marcantes.
Uma vez que é a memória o principal suporte dessas evocações, torna-se, por vezes, necessário recorrer a
outras fontes como documentos de vária espécie: cartas, diários, jornais, etc., que conferem uma tónica
mais convincente e autêntica ao que se escreve. No fundo, as memórias possuem um valor documental, ao
associar experiências de vida do próprio com o contexto sociocultural que o envolve, muito embora de
carácter subjetivo, dado serem perspectivados pelo eu.
Papel da memória (os acontecimentos são passados pelo crivo da lembrança. Esta, por vezes, necessita de
ajudas: os memorialistas socorrem-se de documentação diversa, como o diário íntimo, as cartas, os
jornais...);
Escrita sobre si mesmo (“ retrato de uma voz “);
Relevância do acontecimento narrado; Fundo histórico-cultural (testemunho dum tempo e de um meio,
somando ao relato de casos pessoais e familiares o de acontecimentos históricos e políticos);
Valor documental do texto (o memorialista presta um serviço aos vindouros, legando-lhes um
testemunho).
O diário é um dos géneros da literatura autobiográfica. Ele pressupõe o registo das vivências e
sentimentos de um eu face ao mundo que o rodeia. Possui, por esse motivo, um carácter intimista e
confidente.
O diário é o testemunho quotidiano, por vezes com algumas descontinuidades, do quotidiano de alguém
que fixa, através da escrita, factos, desejos e emoções. Por vezes, o diário adquire interesse nacional ou
internacional enquanto testemunho histórico-político, social e cultural. Exemplos: Diário de Miguel Torga,
Diário de Sebastião da Gama, Diário de Anne Frank.
O diário inscreve-se, geralmente, no género narrativo e constitui-se como o registo de vivências,
pensamentos, eventos e emoções quotidianos de um narrador que se exprime na 1ª pessoa (daí o
predomínio da função emotiva) e que assume o seu diário como seu confidente, uma espécie de “amigo
secreto”. A datação surge como forma de organizar a narração intercalada e fragmentária dos factos
imposta pelo ritmo quotidiano, apesar de ser possível uma leitura descontínua e desordenada do diário,
sem prejudicar a sua compreensão. De facto, o diário é íntimo, privado e secreto, no entanto, com a sua
publicação, afigura-se igualmente como partilha a partir do momento em que se comunica com os outros,
6
perdendo, assim, o seu estatuto de privado. Aliás, para os mais radicais a sua publicação é mesmo uma
contradição.
TEMÁTICAS:
• Vivências do Eu
• Relações do Eu com os outros
• Testemunhos de situações
• Contexto histórico, político e social em que o Eu se insere
• Reflexão sobre as problemáticas:
- que o afetam (individuais)
- que afetam o seu país (nacionais)
- que afetam o mundo (internacionais)
• Confissões / Confidências
EXPRESSÃO/MARCAS DISCURSIVAS:
• Marcas autobiográficas
• Realidade filtrada por grande subjectividade
• Ações situadas no tempo (temporização mais ou menos pormenorizada)
• Linguagem informativa, emotiva e poética
• Discurso acessível com linguagem de registo familiar
• Escrito em prosa ou em verso
O retrato consiste na representação oral, escrita ou por meio de uma imagem (fotografia, pintura,
desenho…) de pessoas (caracterização física e/ou psicológica),animais ou objetos.
O retrato é, muitas vezes, uma criação ficcional com função crítica, estética e poética. Pode partir de um
referente real, mais ou menos fiel, dando, muitas vezes, lugar à denúncia das limitações de uma visão
redutora – a caricatura.
7
Na elaboração de um retrato, enquanto produção literária, dever-se-ão salientar:
• Traços importantes do aspecto físico (aparência, estatura, tamanho, modo de andar, cabelos, tom de
pele, rosto, olhos, nariz, boca, vestuário…);
• Qualidades psicológicas (personalidade, comportamento…);
• Características sociais (meio ambiente, profissão, hábitos…).
No auto-retrato encontramos um eu que se olha, que se descobre no espelho de Narciso e que se
apresenta a si próprio. O auto-retrato é, pois, o retrato de uma pessoa feito por ela própria.
Fazendo uma análise de vários auto-retratos, podemos verificar que são assumidas diferentes perspectivas.
Assim sendo, podemos observar o seguinte: um tipo de registo objetivo/subjectivo, uma perspectiva
geral/pormenorizada, uma perspectiva fixa/móvel, a selecção de características físicas, psicológicas,
intelectuais ou emocionais, os diferentes aspectos ou partes seleccionados e evidenciados.
A caricatura consiste igualmente na representação de algo ou alguém, quer por meio da escrita quer da
imagem, mas deformando ou exagerando certos traços salientes, com intenção crítica, satírica ou
humorística, e a partir da qual se enfatizam determinadas características pessoais ou sociais.
Historicamente a palavra caricatura vem do italiano caricare (carregar, no sentido de exagerar, aumentar
algo em proporção). A caricatura é a mãe do expressionismo, onde o artista desvenda as impressões que a
índole e a alma deixaram na face da pessoa. A distorção e o uso de poucos traços são comuns na caricatura.
Diz-se que uma boa caricatura pode ainda captar aspectos da personalidade de uma pessoa através do jogo
com as formas. É comum a sua utilização nas sátiras políticas; às vezes, esse termo pode ainda ser usado
como sinónimo de grotesco (a imaginação do artista é priorizada em relação aos aspectos naturais) ou
burlesco.
O relato de vivências e experiências do próprio ou de outrem possui um carácter intimista, por vezes,
confessional, que aponta para o memorialismo, género que remonta, ainda que de forma incipiente, às
primeiras manifestações literárias em prosa da época medieval, nomeadamente às crónicas de viagem.
Também na Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, no século XVI, se vislumbram traços do memorialismo,
pelo seu cariz predominantemente narrativo e autobiográfico. É, no entanto, nos séculos XVIII e XIX, com a
adesão preferencial dos leitores às narrativas autobiográfica, epistolar e diarística, que o memorialismo
ganha especificidade, sendo que se trata de um género cujo autor recorda o que, num determinado
momento, viveu ou presenciou, e que possui interesse pessoal ou coletivo.
8
Carta pessoal ou particular – numa carta informal, a linguagem utilizada depende do grau de
intimidade entre o remetente e o destinatário. Contudo, o mais frequente é situar-se entre a língua
corrente e familiar, sendo o discurso predominantemente de primeira pessoa, com marcas de subjetividade
e emotividade do emissor.
A carta possui uma vertente literária, sempre que trata temas profundos e complexos e se registam
preocupações ao nível estético e da linguagem. Neste caso, trata-se do género epistolar, onde se inserem
as Cartas de António Ferreira; a Carta de Achamento do Brasil, de Pêro Vaz de Caminha, as Cartas a
Ramalho de Eça de Queirós, as Cartas a Sandra de Vergílio Ferreira, entre outras.
A cronologia também pretende ser a escrita da vida de uma determinada personalidade, através da
sucessão temporal de eventos ou factos. Distingue-se, no entanto, da biografia, pela sua estrutura e pelo
discurso utilizado.
- quanto à estrutura, a data (ano) é a primeira referência e aparece em tabela ou lista.
- quanto ao discurso, é essencialmente informativo e constituído por frases curtas e sintéticas;
- o tempo verbal utilizado é o presente.
Exemplo: CRONOLOGIA DE VERGÍLIO FERREIRA
1916 - Vergílio Ferreira nasce em Melo, concelho de Gouveia.
1926 - Entra no seminário do Fundão, que frequentará durante seis anos.
1932 - Deixa o seminário e acaba o Curso Liceal no Liceu da Guarda.
1936 - Entra para a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
1940 - Conclui a sua Licenciatura em Filologia Clássica.
1942 - Começa a leccionar em Faro.
1944 - Passa a leccionar no Liceu de Bragança.
1945 - Ingressa no Liceu de Évora.
1946 - Casa-se com Regina Kasprzykowsky.
1980 – Lauro António realiza a longa-metragem Manhã Submersa, onde Virgílio Ferreira interpreta o papel
de reitor.
1992 - É eleito para a Academia das Ciências de Lisboa.
1996 - Morre em Lisboa, a 1 de Março.
9
EXEMPLOS DE TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS
Sophia de Mello Breyner Andresen
Autobiografias
Nasci no Porto mas vivo há muito em Lisboa.
Durante a minha infância e juventude passava os verões na praia da Granja, de que falo em tantos dos
meus poemas e contos.
Estudei no Colégio Sagrado Coração de Maria, no Porto, e quando tinha 17 anos inscrevi-me na Faculdade
de Letras de Lisboa, em Filologia Clássica, curso que, aliás, não terminei. Antes de 25 de Abril de 1974 fiz
parte de diversas organizações de resistência, tendo sido um dos fundadores da Comissão Nacional de
Socorro aos Presos Políticos.
Depois de 25 de Abril de 1974 fui deputada à Assembleia Constituinte (1975-1976) e detesto escrever
currículos...
[...]
Comecei a inventar histórias para crianças quando os meus filhos tiveram sarampo. Era no inverno e o
médico tinha dito que eles deviam ficar na cama, bem cobertos, bem agasalhados. Para isso era preciso
entretê-los o dia inteiro. Primeiro, contei todas as histórias que sabia. Depois, mandei comprar alguns livros
que tentei ler em voz alta. Mas não suportei a pieguice da linguagem nem a sentimentalidade da
"mensagem"; uma criança é uma criança, não é um pateta. Atirei os livros fora e resolvi inventar. Procurei a
memória daquilo que tinha fascinado a minha própria infância. Lembrei-me de que quando eu tinha 5 ou 6
anos e vivia numa casa branca na duna - a minha mãe me tinha contado que nos rochedos daquela praia
morava uma menina muito pequenina. Como nesse tempo, para mim, a felicidade máxima era tomar
banho entre os rochedos, essa menina marinha tornou-se o centro das minhas imaginações. E a partir
desse antigo mundo real e imaginário, comecei a contar a história a que mais tarde chamei Menina do Mar.
Os meus filhos ajudavam. Perguntavam:
- De que cor era o vestido da menina?
O que é que fazia o peixe?
Aliás, nas minhas histórias para crianças quase tudo é escrito a partir dos lugares da minha infância
in De que são feitos os sonhos
ATIVIDADES:
Mesmo antes de ler este texto já deves saber que um texto autobiográfico tem características próprias.
Em que pessoa se vai expressar a voz narrativa? a)
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
10
Que parte do texto mais se assemelha a um curriculum vitae? E a um excerto autobiográfico? b)
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
AUTOBIOGRAFIAS
Alberto Caeiro
Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimento nenhum.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
11
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza.
Alexandre O'Neil
HOMEM
INSOFRIDO TEMÍVEL ADAMADO PURO SAGAZ INTELIGENTÍSSIMO MODESTO RARO CORDIAL EFICIENTE CRITERIOSO
EQUILIBRADO RUDE VIRTUOSO MESQUINHO CORAJOSO VELHO RONCEIRO ALTIVO ROTUNDO VIL INCAPAZ
TRABALHADOR IRRECUPERÁVEL CATITA POPULAR ELOQUENTE MASCARADO FARROUPILHA GORDO HILARIANTE
PREGUI‚OSO HIEROMÂNTICO MALƒVOLO INFANTIL SINISTRO INOCENTE RIDÍCULO ATRASADO SOERGUIDO
DELEITÁVEL ROMÂNTICO MARRÌO HOSTIL INCR'VEL SERENO HIANTE ONANISTA ABOMINÁVEL RESSENTIDO
PLANIFICADO AMARGURADO EGOCÉNTRICO CAPAC'SSIMO MORDAZ PALERMA MALCRIADO PONDEROSO VOLÚVEL
INDECENTE ATARANTADO BILTRE EMBIRRENTO FUGITIVO SORRIDENTE COBARDE MINUCIOSO ATENTO JÚLIO
PANCRÁCIO CLANDESTINO GUEDELHUDO ALBINO MARICAS OPORTUNISTA GENTIL OBSCURO FALACIOSO MÁRTIR
MASOQUISTA DESTRAVADO AGITADOR RO'DO PODEROS'SSIMO CULT'SSIMO ATRAPALHADO PONTO MIRABOLANTE
BONITO LINDO IRRESIST'VEL PESADO ARROGANTE DEMAGÓGICO ESBODEGADO ÁSPERO VIRIL PROLIXO AFÁVEL
TREPIDANTE RECHONCHUDO GASPAR MAVIOSO MACACÌO ESFOMEADO ESPANCADO BRUTO RASCA PALAVROSO
ZEZINHO IMPOLUTO MAGNÂNIMO INCERTO INSEGURÍSSIMO BONDOSO GOSMA IMPOTENTE COISA BANANA
VIDRINHO CONFIDENTE PELUDO BESTA BARAFUNDOSO GAGO ATILADO ACINTOSO GAROTO ERRADÍSSIMO
INSINUANTE MELÍFLUO ARRAPAZADO SOLERTE HIPOCONDRÍACO MALANDRECO DESOPILANTE MOLE MOTEJADOR
12
ACANALHADO TROCA TINTAS ESPINAFRADO CONTUNDENTE SANTINHO SOTURNO ABANDALHADO IMPECÁVEL
MISERICORDIOSO VOLUPTUOSO AMANCEBADO TIGRINO HOSPITALEIRO IMPANTE PRESTÁVEL MOROSO
LAMBAREIRO SURDO FAQUISTA AMORUDO BEIJOQUEIRO DELAMBIDO SOEZ PRESENTE PRAZENTEIRO BIGODUDO
ESPARVOADO VALENTE SACRIPANTA RALHADOR FERIDO EXPULSO IDIOTA MORALISTA MAU NÌO TE RALES
AMORDA‚ADO MEDONHO COLABORANTE INSENSATO CRAVA VULGAR CIUMENTO TACHISTA GASTO IMORALÌO
IDOSO IDEALISTA INFUNDIOSO ALDRABÌ0 RACISTA MENINO LADRADOR POBRE DIABO ENJOADO BAJULADOR VORAZ
ALARMISTA INCOMPREENDIDO VÍTIMA CONTENTE ADULADO BRUTALIZADO COITADINHO FARTO PROGRAMADO
IMBECIL CHOCARREIRO INAMOVIVEL...
Auto-retrato
O'Neill (Alexandre), moreno português,
cabelo asa de corvo; da angústia da cara,
nariguete que sobrepuja de través
a ferida desdenhosa e não cicatrizada.
Se a visagem de tal sujeito é o que vês
(omita-se o olho triste e a testa iluminada)
o retrato moral também tem os seus quês
(aqui, uma pequena frase censurada...)
No amor? No amor crê (ou não fosse ele O'Neill!)
e tem a veleidade de o saber fazer
(pois amor não há feito) das maneiras mil
que são a semovente estátua do prazer.
Mas sobre a ternura, bebe de mais e ri-se
do que neste soneto sobre si mesmo disse...
Poemas com endereço (1962)
ATIVIDADES:
1. Apresenta, a partir deste poema de O'Neill, a apresentação dos seus traços:
Físicos a)
Morais b)
Afetivos c)
13
2. Dá a tua opinião sobre a forma como o sujeito poético se refere:
ao seu retrato moral a)
ao amor b)
Adaptado da Internet
Revê, por favor, estes vídeos para consolidar/verificar algumas informações sobre
esta unidade.
http://www.youtube.com/watch?v=3nLtHcLwSuI&feature=related
''Autobiografia de mim mesmo, à maneira de mim próprio'', por Rolando Boldrin
http://www.youtube.com/watch?v=w9UU5ZWb3WU
Autobiografia
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=xVkc-0cI91o
Conhece a história de Anne Frank!