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Edição Aleile Moura - [email protected] > Projeto gráfico e diagramação Agência Ops! - Adriano Neri > Textos Claudia Lessa e Lume Comunicação > Revisão Gabriela Ponce

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Edição Aleile Moura - [email protected] > Projeto gráfico e diagramação Agência Ops! - Adriano Neri > Textos Claudia Lessa e Lume Comunicação > Revisão Gabriela Ponce

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Pensava-se, no passado, que a seca, sendo um fenômeno natural, não podia ser combatida. O Semiárido baiano teria, assim, que viver conformado com a sua condição climática - que implicava em sérios prejuízos na produção agropecuária da região. O problema, na verdade, é que não havia um programa de ações que a tornasse viável social e economicamente e, consequentemente, seu potencial produtivo era abafado. Com as atuais políticas de Governo voltadas para o seu desenvolvimento a partir do fornecimento de água, do uso da tecnologia e do financiamento, o Semiárido é considerado, atualmente, um polo de agricultura irrigada que abastece o Brasil e países estrangeiros com a produção de frutas regionais e seus derivados.

Com cerca de 60% do seu território inserido no Semiárido – dos 417 municípios, 265 estão nessa região –, a Bahia é o Estado que recebe o maior volume de recursos do Programa Bolsa Família (são quase R$ 210 milhões destinados a 1,75 milhão de famílias). Para o governo baiano, o grande desafio é, mais do que continuar realizando as ações emergenciais para a época da estiagem, transformar a realidade do Semiárido. Isso significa proporcionar acesso à água doce, reorganizar as técnicas de produção e organizar os produtores em uma estrutura empresarial.

O trabalho dos técnicos da Secretaria Estadual de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia (Seagri), segundo o secretário Eduardo Salles, é justamente buscar formas de melhorar a convivência dos agricultores familiares com as

adversidades do Semiárido. Para garantir água para a produção (plantio e criação de animais), por exemplo, a Seagri estimula a construção de reservatórios e o uso de tecnologias que permitem represar água nos períodos de estiagem. Além disso, os produtores têm assistência técnica gratuita, são auxiliados na elaboração de projetos para garantir o acesso ao crédito disponível e são incentivados a desenvolver a agroindústria. Há, ainda, o programa de distribuição

de palma forrageira, coordenado pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), visando garantir a alimentação do rebanho.

Com o programa federal Água para Todos, o Estado será beneficiado com cerca de R$ 17 milhões para a construção de 135 Sistemas Simplificados de Abastecimento de Água (SSAA) em 45 municípios do Semiárido. Como declarou o secretário da Casa Civil do Governo do Estado, Rui Costa,

que coordena o Comitê Estadual para Ações de Convivência com o Semiárido, a ação visa intensificar o desenvolvimento do Semiárido e a vida dos trabalhadores da zona rural.

CulTuRA DIvERSIFICADA – Graças ao incentivo da Seagri, ressalta o secretário Eduardo Salles, produtores da Chapada Diamantina introduziram e expandiram novas culturas - como a uva e o morango – e já colhem os frutos. “Essa diversificação na

produção proporciona, sobretudo, a sustentabilidade econômica nos municípios, a garantia de emprego e renda e a fixação do homem no campo com produtividade”, pontua.

No município de Ibicoara, na Chapada da Diamantina, por exemplo, a agroindústria lavoura e Pecuária Igarashi chamou a atenção de uma delegação de produtores franceses, em visita à região. A empresa, que tem um quadro de 2.200 funcionários, produz repolho, alho, cebola, tomate e batata, dentre outras culturas. Segundo o diretor geral luiz Roberto Bortoncello, por conta dos testes realizados com a uva, o morango e a citricultura (tangerina ponkan e murcote, limão thaiti e laranja veneza), a Igarashi já anunciou que vai implantar, a médio prazo, 200 hectares de cada uma dessas atividades - o que deverá gerar centenas de novos empregos.

“Com a introdução dessas culturas, temos a possibilidade de garantir a mão de obra no campo, tendo em média dois mil funcionários no quadro fixo, cumprindo, dessa maneira, o papel social que sempre foi uma característica do Grupo Igarashi: o de manter essas famílias trabalhando”, destacou Bortoncello.

O secretário Eduardo Salles ressalta que a visita dos franceses à Chapada Diamantina é mais um dos resultados práticos das missões internacionais feitas pelo governo do Estado, através da Seagri, para divulgar, no exterior, as potencialidades e vantagens de se investir na Bahia, visando atrair investidores para a agroindustrialização do Estado, principalmente na área do Semiárido.

Potencial econômico do Semiárido baiano chama a atenção no exterior

A possibilidade de transformar Morro do Chapéu, na Chapada Diamantina, em uma grande produtora de uvas viníferas e de vinhos finos atraiu franceses da Cave Coopérative des Riceys. Referência, na região, pela diversificação de culturas – maçã, morango, uva, tomate-cereja, tangerina e goiaba –, a empresa Bagisa foi o primeiro alvo de interesse da delegação francesa que esteve no local pela primeira vez, há quatro anos.

No mês passado, quatro anos depois, o resultado era comemorado pelo governador da Bahia, pelo secretário Eduardo Salles e por uma comitiva composta por empresários franceses, que participaram da segunda colheita de uvas de Morro do Chapéu, da degustação de vinhos produzidos com a primeira safra e do lançamento da primeira Sociedade vinícola da Chapada Diamantina. Essa última trata-se de um condomínio de 20 hectares que deverá estar concluído em dois anos, e cada condômino terá direito a uma área de 200 metros quadrados para a construção residencial. Inicialmente, a capacidade produtiva será de 200 mil garrafas

de vinho/ano, segundo o diretor do empreendimento, Eraldo Cruz. Serão plantadas uvas das variedades Cabernet Sauvignon, Sirah, Malbec, Cabernet Franc, Merlot, Pinot Noir, Chardonnay, Sauvingnon Blanc e Muscat Petit Grain. “Começamos a colher os frutos que fomos buscar na França há alguns anos. Acho que, aqui, será o vetor de desenvolvimento e enriquecimento da região, principalmente para Morro do Chapéu. Muita gente não acreditava que poderíamos plantar uvas e daí produzir um vinho de qualidade. Hoje, a resposta está aí e os investidores começam a

aparecer”, afirmou o governador Jaques Wagner, durante o encontro com o diretor da Sociedade vinícola da Chapada Diamantina.

Segundo o secretário Eduardo Salles, o cultivo de uvas viníferas para a produção de vinhos finos, o cultivo protegido de hortaliças e a implantação de 200 hectares de morango vão mudar a realidade não só de Morro do Chapéu, mas de toda a Chapada Diamantina. “Começamos em Morro do Chapéu, mas o cultivo protegido poderá se expandir por toda a região”, disse. 

O superintendente de Atração de Negócios da Seagri, Jairo vaz, chama a atenção para o fato de que o sucesso do experimento e o início do cultivo comercial em Morro do Chapéu são os primeiros passos de um projeto bem maior. “Nosso foco, agora, é agregar os pequenos produtores, organizando-os em cooperativa, e atrair investimentos para a instalação de uma vinícola na região”. um hectare de uva, completa, pode produzir dez mil garrafas de vinho que, por exemplo, comercializadas a R$ 15 cada, significarão R$ 150 mil por hectare.

DIvERSIFICAçãO DE CulTuRAS NA CHAPADA DIAMANTINA

O cultivo protegido poderá se expandir por toda a região da Chapada Diamantina.

FOTOS MANu DIAS/ AGECOM

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A Bahia é o Estado brasileiro que possui o maior número de agricultores familiares. São 665 mil empreendimentos agrícolas em todo o Estado, o que corresponde a 15% de toda a agricultura familiar do Brasil. Isso significa que o setor é responsável por, pelo menos, 70% dos alimentos que chegam à mesa da população baiana, além de responder por 7% do Produto Interno Bruto (PIB) baiano. Frente ao desafio de fortalecer a agricultura familiar no Semiárido baiano, minimizar os efeitos da estiagem e buscar instrumentos de convivência com a seca, o Governo do Estado vem implantando uma série de ações, dentro do Plano Safra Bahia, cujo orçamento 2013/2014, destinado especificamente ao agricultor familiar, é de R$ 1,2 bilhão. Entre as ações do Plano Safra, destacam-se o seguro Fundo Garantia Safra e os Programas Assistência Técnica e Extensão Rural, Crédito Emergencial e Segunda Água para a Produção. “O desafio do Governo é grande porque temos um Estado enorme, formado por três biomas - Semiárido, Mata Atlântica e Cerrado. Particularmente, em relação ao Semiárido baiano, a primeira questão imposta é absorvermos a compreensão de que não se combate a seca, aprendemos a conviver com ela. Daí a necessidade de promovermos ações com o objetivo de ajudar os agricultores no enfrentamento da seca”, afirma o superintendente da Agricultura Familiar da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia (Seagri/Suaf), Wilson Dias.

vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Fundo Garantia Safra é um dos programas de Governo que têm contribuído para garantir as condições mínimas de sobrevivência aos agricultores familiares de municípios vulneráveis à perda de sua produção, em razão do fenômeno de estiagem (ou das enchentes, em outros casos). Com a instituição do benefício, explica Wilson Dias, agricultores familiares que efetivarem a adesão ao programa antes dos períodos de plantio e for constatada uma perda da safra das culturas do feijão, milho, algodão, mandioca e arroz maior que 50%, recebem uma indenização anual de R$ 850, dividida em cinco parcelas de R$ 170.

INCENTIvO - O Fundo que garante as indenizações é constituído de recursos da união, dos Estados, dos municípios e dos próprios agricultores familiares, nas proporções 20%, 6%, 3% e 1%, respectivamente. Para se beneficiar do seguro, o agricultor deverá ter uma área total plantada de 0,6 a cinco hectares e a renda média bruta familiar mensal nos 12 meses que antecederem à inscrição não pode exceder a 1,5 salário mínimo, e que não receba outros benefícios previdenciários rurais.

Com o objetivo de incentivar a agricultura familiar, o Governo do Estado decidiu subsidiar a metade dos valores referentes às contribuições ao Fundo das prefeituras e dos agricultores. Desse modo, o agricultor paga somente

0,5% do valor de sua cota, ou seja, ou seja, R$ 4,75, por ano. “Essa medida estimula os agricultores à adesão ao Fundo Garantia Safra, um programa que, em 2005, só tinha seis mil beneficiários em todo o Estado e, hoje, está chegando aos 300 mil”, comemora Wilson.

A meta do Governo Estadual é atender a todos os agricultores familiares do Semiárido que têm os critérios para pertencer ao Fundo. “Com a expansão do seguro, estamos impulsionando a economia dos municípios”, ressalta Wilson Dias.

ASSISTêNCIA TéCNICA – O Programa Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), por sua vez, visa à qualificação da assistência técnica rural para garantir melhores condições de vida no campo. A EBDA, que é responsável pela prestação do serviço e, em 2007, atendia 80 mil agricultores, pretende alcançar, com esse instrumento, os 665 mil agricultores familiares. “O Ater é uma importante ferramenta de fortalecimento da agricultura e reforma agrária, uma vez que permite a melhoria da produção, além de ser condição necessária para que outras políticas públicas cheguem às famílias, observa Wilson Dias. Ele ressalta que a EBDA dispõe de, pelo menos, mais mil técnicos contratados, além do quadro pertencente ao órgão.

Os agricultores familiares afetados pela seca em municípios localizados na área de atuação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) – e que, por isso, tiveram sua situação decretada emergencial ou de calamidade pública, desde 1º de dezembro de

2011 – contam com uma linha de crédito especial do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). A resolução federal – que está beneficiando cerca de 150 mil agricultores familiares de mais de 700 municípios nordestinos – faz parte de um conjunto de ações do Governo Federal que inclui desde auxílio financeiro não reembolsável (auxílio estiagem) até alimentação para os animais, como explica o superintendente da Agricultura Familiar da Seagri.

A nova linha de crédito beneficia os agricultores familiares que estejam adimplentes e que desejem realizar operações de investimento voltadas para a convivência com a seca. “O prazo para pagamento é de até dez anos, com três anos de carência, e taxa de juros zero, já que o Governo da Bahia está assumindo o juro de 1% ao ano, estabelecido pelo Governo Federal”, explica Wilson Dias. Para acessar o crédito, o agricultor deve procurar uma empresa de assistência técnica e extensão rural, no seu município, para obter orientações de como melhor empregar os recursos. De posse da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), ele deve se dirigir ao agente financiador para solicitar a contratação do crédito.

SEGuNDA ÁGuA – Dentro do Plano Brasil Sem Miséria – executado no âmbito do Programa Água para Todos, que é coordenado pelo Ministério da Integração Nacional, do Governo Federal –, o Programa Segunda Água, na Bahia, tem sido, também, parte dos esforços do Governo do Estado de dar à Agricultura Familiar uma estrutura maior no armazenamento da água. As famílias são selecionadas entre as que já têm acesso à água para consumo próprio (“primeira água”). A “segunda água”, no caso, é destinada à criação de animais e à irrigação para o cultivo de frutas e hortaliças.

Entre as tecnologias que são utilizadas, enumera Wilson Dias, têm-se as de cisternas de placas de cimento, as de barragens subterrâneas de lona plástica (que retêm a água que escorre por baixo da terra) e as de barreiros trincheiras (com paredes e fundos de pedra para impedir a infiltração, capazes de estocar até 132 mil litros).

Há, ainda, o Programa Palmas para o Sertão, que visa assegurar alimentação para o rebanho da agricultura familiar. “Cada agricultor familiar receberá mil mudas de palma, sendo que, até agora, já distribuímos 11 milhões delas e outras 17 milhões serão fornecidas. A ideia é criarmos um novo agricultor: o palmeiro, que produzirá a planta para os próprios agricultores. Cada um poderá produzir 60 mil mudas por ano, que serão compradas pelo Governo para distribuição. Com isso, incentivaremos um efeito multiplicador e esperamos, em um período de cinco anos, que toda a agricultura familiar do Semiárido tenha a sua produção de palma para abastecimento próprio”, informa o superintendente da Agricultura Familiar.

A festa na Chapada Diamantina é, também, do tomate grape sweet, cuja inauguração dos primeiros três hectares de produção foi prestigiada, recentemente, pelo governador Jaques Wagner e pelo secretário Eduardo Salles. Serão 50 hectares de estufas para o cultivo protegido de hortaliças que a empresa Ban Bahia Tomates Especiais está implantando em Morro de Chapéu, juntamente com a participação de sócios do México. De acordo com o diretor da empresa, Cid Baylão de Carvalho, esses três primeiros hectares de tomates deverão produzir um milhão de quilos de tomate grape sweet, em duas safras anuais. A produção, segundo ele, visa abastecer o Nordeste, mas vai também dar suporte a Goiás.

A produção de umbu e de maracujá da caatinga, da mesma forma, está rendendo resultados positivos aos agricultores baianos. Por meio da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, uauá e Curaçá (Coopercuc), 242 cooperados, em sua maioria mulheres, produzem doces e geleias à base dessas frutas nativas do Sertão. A entidade comercializa seus produtos nos mercados brasileiros, bem como os exporta para a Itália, França e Áustria.

“Temos enfrentado muitos desafios por conta da estiagem, mas estamos conseguindo produzir o ano todo graças à melhoria das estradas para o escoamento dos produtos, à nossa maior organização e às novas tecnologias de armazenamento da polpa durante a safra para posterior processamento do doce e da geleia”, afirma o vice-presidente da Coopercuc, Adilson Ribeiro. A cooperativa, conta, atua junto a 450 famílias em 18 comunidades do Sertão da Bahia, que estão envolvidas na produção de  doces cremosos, de corte, light, sucos, geleias, compotas e polpas que compõem a linha Gravetero.

PolíticaS PúblicaS fortalecem a agricultura familiar

“Não se combate a seca,

aprendemos a conviver com ela”

NOvAS CulTuRAS GANHAM ESPAçO NA CHAPADA DIAMANTINA

O projeto de integração com os pequenos produtores dos municípios de Mucugê, Ibicoara e Barra da Estiva para produzir morangos, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), se deu sob a responsabilidade da empresa Bagisa. A partir dessa iniciativa nasceu o Projeto Morango - um experimento que deve chegar a 50 hectares de área plantada da fruta.

Segundo o engenheiro agrônomo da Bagisa e coordenador do Projeto Morango, Mauro Carneiro, a Bagisa atua como um grande laboratório para a região, “desenvolvendo e difundindo novas tecnologias, fomentando o crescimento econômico da Chapada Diamantina e garantindo emprego e renda para a população”. Ele ressalta que o cultivo do morango é ideal para os pequenos produtores, que podem colher a fruta até três vezes durante a semana, garantindo a renda da família através da comercialização diária do produto.

A empresa Peterfrut – responsável pela produção e distribuição de frutas por todo o território nacional, em especial o morango -, por sua vez, assumiu o compromisso de implantar uma unidade de Beneficiamento e Processamento de Morango na região da Chapada Diamantina. Segundo o diretor-presidente da empresa, Aguilar José, serão implantados 200 hectares de morangos, envolvendo 800 famílias (cerca de 2.400 pessoas, considerando que cada grupo familiar tenha, pelo menos, três pessoas). Ele afirma, ainda, que a Peterfrut fomentará 70% do custeio do agricultor, viabilizando assistência e treinamento. “Não vamos apenas plantar e vender morangos. vamos fazer o negócio morango. A cultura do morango gera empregos e renda. Atualmente, um dia de trabalho no campo rende ao trabalhador cerca de R$ 25, mas, dentro de alguns anos, esse valor vai chegar a R$ 80”.

PROJETO MORANGO IRÁ GARANTIR A COMERCIAlIzAçãO DIÁRIA DO PRODuTO

MANu DIAS/ AGECOM

DIvulGAçãO

WIlSON DIAS, DA SEAGRI/ SuAF

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A TARDE - Como o sEnhoR imAginA A REgião Do sEmiáRiDo bAiAno Do fuTuRo?EDuARDo sAllEs - Com sustentabilidade. Pelo que os institutos de pesquisa sinalizam, as próximas décadas serão muito difíceis para essa região em função do agravamento das secas e dos recursos hídricos que estão se exaurindo. Desta forma, se realmente a convivência plena com a seca não for encarada pelos governos, ao longo desse tempo, a tendência será a de um êxodo rural de grandes proporções. Imagino a região semiárida comparavelmente aos países nórdicos, que têm todos os anos, durante seis meses, seus solos cobertos de neve e, nem por isso, seus rebanhos são dizimados. Podemos, sim, nos preparar com reserva alimentar e reserva de água para esse convívio com a seca. E isso já é realidade em locais do nosso Semiárido.

AT - QuAis os DEsAfios DA AgRopECuáRiA no EsTADo E Como A sECA E sEus EfEiTos vêm sEnDo EnfREnTADos, no sEmiáRiDo bAiAno? QuAis As pRinCipAis AçõEs Do govERno, nEssE sEnTiDo?Es - Os desafios são muitos devido à grandiosidade e à diversidade do nosso Estado, no tocante ao setor agropecuário. São 56 milhões de hectares com três biomas diferentes e a Bahia está sempre entre as cinco primeiras colocadas no ranking de produção do maior número de produtos agropecuários. Em relação à seca, temos trabalhado com dois pilares básicos. Primeiramente, criar as melhores condições para que o produtor tenha água para a dessedentação animal e, nesse item, cada realidade é uma realidade, dando as soluções que são diferenciadas: construção de barreiros, cisternas de produção, barragens subterrâneas, poços artesianos (mesmo com água salobra), perenização de rios e riachos, através de pequenos barramentos, entre outras. O segundo pilar é a reserva alimentar e, para isso, a solução principal tem sido o cultivo da palma forrageira (tipo de cacto). Temos distribuído, diretamente aos produtores, milhares de mudas e plantado unidades de multiplicação (uTDs) em todos os municípios do Semiárido e nas estações experimentais da EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola) e, por ultimo, estamos construindo uma grande biofábrica para a produção de um milhão de mudas por mês para a distribuição aos produtores.

AT - Como não sE poDE CombATER A sECA, A busCA DE AlTERnATivAs pARA ConvivER Com ElA TEm siDo o CompRomisso Do govERno. Como os AgRiCulToREs vêm sE CompoRTAnDo Em RElAção A EssA novA CompREEnsão sobRE A sECA?Es - Eles, na verdade, na sua grande maioria, dependem das ações governamentais e, quando as ações de convivência são implantadas nas suas comunidades rurais, existe, sim, claramente, um compromisso participativo deles.

AT - QuE AçõEs o EsTADo EsTá implAnTAnDo no sEnTiDo DE vAloRizAR o AgRiCulToR fAmiliAR? E, nEssE sEnTiDo, QuAnTo o govERno invEsTE, AnuAlmEnTE, no sEToR?Es -Muitas ações: a assistência técnica que era prestada pela EBDA alcançava apenas 80 mil agricultores familiares dos 665 mil que existem na Bahia. Nesta safra, queremos alcançar a marca dos 350 mil assistidos. O Seguro Garantia Safra que, como um seguro de carro, garante uma renda mínima ao produtor no caso de perda da safra por seca, tinha somente seis mil segurados por ano e, agora, serão 300 mil nesta safra. O governo da Bahia é o único no país que paga metade do que caberia ao produtor

e à prefeitura. O número de DAPs (Declaração de Aptidão ao Pronaf), que é como se fosse a carteira de identidade do agricultor familiar e que lhe dá acesso a todas as políticas públicas disponíveis, era de somente 80 mil no Estado e, hoje, são 570 mil unidades. Atualmente, o Estado tem uma política de doação de sementes para 150 mil famílias. Enfim, são muitas ações, porque o governador sinaliza a agricultura familiar como uma prioridade do Estado.

AT - EspECifiCAmEnTE, sobRE o plAno sAfRA, QuAl o plAno DE Ação pARA 2014?Es - A recuperação da agropecuária baiana, principalmente, pois estes três anos de seca causaram prejuízos ainda incalculáveis e, sem dúvida, demoraremos décadas para recuperar alguns setores, como o de leite, por exemplo.

AT - Em RElAção Aos sEToREs DE ovinoCApRinoCulTuRA E DE CRiAção DE pEixEs, o govERno TEm plAnos EspECífiCos?Es - A ovinocaprinocultura e a piscicultura serão sempre alternativas das melhores para a convivência com a seca e, por isso, estamos estruturando estes setores de forma definitiva. Criamos um programa chamado Pré-berro, no qual, com o apoio dos agentes financeiros BNB e BB, são financiados, a juros subsidiados, animais para o melhoramento genético de ovinos e caprinos. Neste momento, estamos selecionando produtores para receber, como doação do Estado, 40 mil ovinos e caprinos com aptidão para corte e/ou leite, visando à recomposição de rebanhos em função da seca. Cada criador selecionado receberá cinco fêmeas e, 18 meses depois, entregará ao seu vizinho cinco filhas desses seus animais. Também, cada grupo de dez famílias receberá um macho PO (Puro de Origem) para cruzamento coma as fêmeas. Essa é uma das muitas ações que estão sendo planejadas para este setor, como os projetos de terminações de ovinos de corte e a produção de queijos especiais. Em relação à piscicultura, a Bahia Pesca tem feito um importante trabalho de produção de alevinos (filhotes de peixes) para a doação a milhares de produtores. Há poucos anos, o Estado produzia e doava 15 milhões de alevinos por ano, mas queremos fechar 2013 com 60 milhões de alevinos doados. Temos outros projetos sendo desenvolvidos em todo o Semiárido, a exemplo dos tanques escavados e dos tanques-rede para a produção de peixes, entre muitos outros.

AT - o QuE EsTá sEnDo plAnEjADo Em RElAção à pRoDução DE fEno (misTuRA DE plAnTAs CEifADAs E sECAs, gERAlmEnTE gRAmínEAs E lEguminosAs, usADA Como foRRAgEm pARA o gADo), no muniCípio bAiAno DE ponTo novo?Es - Este será um projeto muito importante para o desenvolvimento tanto da ovinocaprinocultura de corte como a de leite na região. As associações de criadores vão produzir feno irrigado para a venda subsidiada aos produtores associados de toda a região de Senhor do Bonfim, resolvendo um dos problemas mais complicados que é a manutenção dos animais nos períodos de seca.

AT - A bARRAgEm DE ponTo novo, poR suA vEz, é DE ExTREmA impoRTânCiA pARA A pRoDução AgRíColA E pARA o AbAsTECimEnTo humAno. é possívEl AmpliAR os invEsTimEnTos pARA o AumEnTo DA suA CApACiDADE? ExisTEm AçõEs Com EssE pRopósiTo?Es - A barragem de Ponto Novo é fundamental para a geração de milhares de postos de trabalho, em uma região que precisa muito desses empregos. A fruticultura irrigada

é a base de sustentabilidade de toda essa região. A barragem de Ponto Novo tem papel estratégico nesse processo. A ampliação da capacidade de armazenamento da barragem já está sendo estudada pela CERB (Companhia de Engenharia Ambiental e de Recursos Hídricos da Bahia), que contratou uma empresa que comercializa no Brasil um equipamento chamado Fusegate, que é colocado no vertedouro do barramento e pode ampliar em até 25% a sua capacidade de armazenamento. Já existe o compromisso do secretário estadual de Meio Ambiente, Eugênio Spengler, de instalar esse equipamento na barragem de Ponto Novo, tão logo os estudos definirem esta possibilidade.

AT - sECRETáRio, fAlE um pouCo sobRE A ConsTRução DAs bARRAgEns subTERRânEAs. QuAl A suA impoRTânCiA pARA A AgRiCulTuRA Do EsTADo?Es - Olha, essa tecnologia, desenvolvida pela Embrapa Semiárido, sem dúvidas, é uma opção das mais viáveis para o Nordeste brasileiro e é uma construção bem simples. Em uma baixada, por exemplo, faz-se uma valeta com quatro metros de profundidade e 100 metros de comprimento, coloca-se uma lona nessa valeta e faz-se um vertedouro, fechando a valeta. Quando vierem as chuvas, as águas se acumularão no subsolo e dali o agricultor pode cultivar e ter água para o consumo nos meses de seca. Claro que citei um exemplo básico, mas tudo isto depende de um estudo do perfil do solo e das condições locais para a determinação do ponto correto e da possibilidade de instalação. Conseguimos R$ 26 milhões de reais do BNDES e do Ministério da Integração para o Estado da Bahia e já licitamos, via CAR/Sedir (Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional/Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional), aproximadamente, 100 retroescavadeiras para serem doadas a municípios, juntamente com os demais itens necessários para construirmos milhares de barragens subterrâneas no nosso Semiárido.

AT - sECRETáRio, Além DA pAlmA, o milho é funDAmEnTAl pARA A AlimEnTAção AnimAl. Como EssA QuEsTão EsTá sEnDo TRATADA?Es -é verdade. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) só possui cinco armazéns na Bahia, nos municípios de Entre Rios, Ribeira do Pombal, Santa Maria, Itaberaba e Irecê e, apesar do esforço e empenho da superintendente da companhia na Bahia, Rose Pondé, não conseguíamos atender a demanda. Assim, para fazer com que o milho chegasse rapidamente ao criador, em um esforço conjunto do Governo do Estado, através da Secretaria da Agricultura e da Casa Civil, da Conab e das prefeituras, conseguimos ampliar os polos de distribuição de cinco para 27, alcançando toda região do Semiárido. Dessa forma, tem sido possível manter o programa de vendas em balcão, fazendo o milho subsidiado chegar ao criador ao preço de R$ 18,10 a saca de 60 quilos, que no mercado custa até R$ 50 reais. vamos fechar o ano tendo vendido cerca de 150 milhões de quilos de milho subsidiado.

AT - Com As novAs pERspECTivAs pARA o sEmiáRiDo, é possívEl ATRAiR invEsTimEnTos pRivADos pARA EssA REgião?Es - Sem dúvidas. O Semiárido é o melhor lugar do mundo para se produzir frutas, ovinos e caprinos e a pecuária como um todo, e isto implica em agroindústrias que vêm agregar valor e gerar empregos neste nosso maravilhoso Semiárido. Temos feito este dever de casa e já são 28 protocolos de investimento no setor agropecuário assinados, em construção ou já inaugurados, e boa parte deles no Semiárido.

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eviSt

a “Imagino o Semiárido baiano do futuro com sustentabi-

lidade”

SECRETÁRIO DE AGRICulTuRA, IRRIGAçãO E REFORMA AGRÁRIA DO ESTADO DA BAHIA (SEAGRI), EDuARDO SAllES

O Semiárido baiano do Futuro, no olhar do secretário Eduardo Salles, da Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia (Seagri), deverá trazer em si o conceito da sustentabilidade. Levando em conta que o fenômeno natural da seca irá se agravar nas próximas décadas - segundo avaliação de institutos de pesquisas -, o gestor da Seagri afirma que as políticas públicas precisam atuar na implantação de ações que proporcionem, especialmente, aos 665 mil agricultores familiares baianos a sua convivência com a terra. É com essa perspectiva, ressalta, que o Governo Estadual está trabalhando. Em entrevista à repórter Claudia Lessa, o secretário Eduardo Salles destacou as iniciativas que vêm sendo realizadas – assistência técnica, crédito especial, seguro Garantia Safra, cultivo da palma forrageira e construção de barreiros, cisternas de produção, barragens subterrâneas e poços artesianos, entre outras –, dentro dos compromissos e desafios do Plano Safra Bahia 2013/2014, elaborado pelo Governo do Estado da Bahia, com o principal objetivo de recuperar a agropecuária baiana.

MANu DIAS/ AGECOM

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O fortalecimento das atividades econômicas no Semiárido, região que corresponde a 70% do território baiano, com cerca de 6,7 milhões de habitantes, é um dos motivos para algumas instituições financeiras fornecerem linhas de crédito especiais para os empreendedores de diferentes setores dessa região.

Com o lançamento do Plano Agrícola do Semiárido pela presidenta Dilma Rousseff, em julho, ficou ainda mais evidente o olhar diferenciado que precisa ser dado a essa região. Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Desenbahia, dentre outros bancos e agências de fomento pretendem, através de programas diferenciados que ampliam prazos ou reduzem taxas de juros, contribuir para a fixação do produtor rural do Semiárido, gerando emprego e renda para a região, colaborando, assim, para o desenvolvimento local.

“Concretizando a política do governo, a Agência de Fomento do Estado da Bahia oferece linhas de crédito com taxas reduzidas para a região semiárida, em comparação com as linhas comerciais”. Declara o presidente da Desenbahia, o economista vitor lopes. Segundo ele, só no primeiro semestre deste ano, a agência liberou cerca de R$

200 milhões em financiamentos para o Semiárido, recursos que foram direcionados para a indústria, comércio, serviços e agricultura.

vitor lopes cita como exemplo a linha Prodese Indústria, Comércio e Serviços, direcionada para a construção civil, a reforma e a aquisição de máquinas e equipamentos. “O prazo vai até 12 anos, incluídos até três anos de carência. Se o empreendimento estiver localizado fora do Semiárido, a taxa de juros é de 4% ao ano. Entretanto, se o empreendimento for dentro da região semiárida a taxa cai para 3,5%”, explica.

Para financiar os projetos dos produtores dessa região, as instituições realizam uma análise prévia da viabilidade econômica e financeira de cada iniciativa. Além disso, segundo Daniela Graziane, gerente executiva do Banco do Nordeste (BNB), após a aprovação do projeto, o BNB fornece acompanhamento técnico para contribuir na gestão dos recursos disponibilizados. “Para os financiamentos destinados aos agricultores familiares, o BNB dispõe de uma equipe de assessores que orientam os agricultores”, comenta Daniela.

Os financiamentos geralmente

são utilizados para a compra de insumos como sementes e fertilizantes, podendo, também, ser empregados na modernização e ampliação do negócio, através da aquisição de animais, máquinas e equipamentos novos, assim como para criar, ampliar e renovar lavouras e pastagens. Para melhor orientação sobre como empregar cada recurso, no caso da Caixa Econômica Federal, que também disponibiliza programas de custeio e investimento para empreendedores rurais, a instituição está firmando convênio com empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER).

O objetivo é formar uma rede

de profissionais habilitados a elaborar orçamentos, planos e projetos agropecuários para o atendimento aos produtores rurais que financiam suas produções por meio do Crédito Rural Caixa. De acordo com informações da instituição, o profissional de ATER é contratado diretamente pelo produtor, mas o valor referente à consultoria poderá ser incluído no financiamento realizado pela Caixa, desde que o serviço conste no projeto técnico.

Outro exemplo de atendimento diferenciado é a linha do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) - Programa Especiais Semiárido -, disponibilizada pelo Banco do Brasil para os beneficiários do Pronaf. Para esses produtores, o banco oferece financiamentos que podem chegar a até R$ 18 mil. “O objetivo é fortalecer atividades do agricultor familiar, integrá-lo à cadeia do agronegócio, aumentar sua renda e agregar valor ao produto e à propriedade”, afirma o gerente de Desenvolvimento Sustentável, Romeu Schiavon. Esses recursos, segundo ele, contribuem para a profissionalização dos produtores e familiares, a modernização do sistema produtivo e promovem a valorização do produtor rural familiar.

Semiárido baiano conta com linhaS de crédito eSPeciaiS

Com a proposta de ampliar a renda e garantir a estabilidade alimentar e nutricional dos agricultores familiares, o Programa Semeando deverá distribuir para os agricultores familiares, até o final de 2014, 2,9 mil toneladas de sementes de feijão, milho, mamona e sorgo. “Sessenta por cento dessas sementes, que serão distribuídas nas duas safras de 2014, estão sendo produzidas por cooperativas de agricultores familiares, em convênio com a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA)”, afirma a coordenadora de Produção Agrícola da Seagri, da Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri), Yêda leite Dias. O programa, que atende aos 417 municípios baianos e nasceu como um braço do Plano Safra Bahia 2013/2014, do Governo do Estado, é executado pela Seagri, através da Superintendência de Agricultura Familiar e da EBDA.

O Programa Semeando, conforme Yêda leite Dias, vem assegurando a produção e a distribuição de sementes e mudas de boa qualidade para os agricultores, ao longo do ano. Todo o processo de plantio, tratos culturais, colheita

e armazenamento, ressalta, é acompanhado e orientado, gratuitamente, pelos técnicos da EBDA. “Eles auxiliam o agricultor para que o aproveitamento das sementes seja o mais abrangente possível, ajudando-os na formação de bancos comunitários de sementes e mudas, o que proporciona aos agricultores mais independência e garantia do provimento de sementes de alto valor genético para os próximos cultivos”.

Nas safras de verão e inverno de 2012, relata a coordenadora, foram beneficiados, aproximadamente, 210

mil agricultores familiares e na safra verão de 2013 foram disponibilizados 962 mil quilos de sementes de feijão (dos tipos phaseolus e vigna) e de milho. Já na safra inverno 2013 foram atendidos 163.736 agricultores familiares, indígenas e quilombolas em 19 territórios com 1.850.140 kg de sementes de feijão (dos mesmos tipos) e de milho.

Cada agricultor familiar recebe cinco quilos de sementes de feijão dos dois tipos – comum e de corda – e a mesma quantidade de sementes de milho, sendo que os beneficiados devem ser participantes do Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf) e ter aderido ao Fundo Garantia Safra. “Para os pequenos agricultores, que enfrentaram um longo período de estiagem, a distribuição de sementes e a assistência técnica significam a retomada da sua produção”.

Ainda segundo a coordenadora Yêda leite Dias, o Programa Semeando será ampliado com a disponibilização de sementes de gramíneas forrageiras (capim) para a recuperação de pastagens destruídas pela seca, em áreas da agricultura familiar.

PROGRAMA DE DISTRIBuIçãO DE SEMENTES AuMENTA A PRODuçãO AGRíCOlA E AMPlIA A RENDA DO AGRICulTOR

Programa deverá distribuir para os agricultores

familiares, até o final de 2014,

2,9 mil toneladas de sementes

“A Agência de Fomento

oferece linhas de crédito com taxas reduzidas para a região

semiárida”

“O objetivo é fortalecer atividades

do agricultor familiar”

luCIANO ATAíDE/ DIvulGAçãO DIvulGAçãO

vITOR lOPES, PRESIDENTE DA DESENBAHIA ROMEu SCHIAvON

YêDA lEITE DIAS, DA SEAGRI

DIvulGAçãO

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Imagine a vida sem água ou a sede castigando. Para muitos baianos, essa situação está mais perto de acabar ou já terminou. A Bahia concentra 40% de todo o Semiárido brasileiro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010. é um número alto e um desafio para os governos estadual e federal, que têm feito investimentos para melhorar a situação de moradores do Semiárido baiano, que conta também com iniciativas privadas.

Segundo informações da Embasa, já são mais de 87% de municípios baianos que passaram a ter acesso à água potável, como Bom Jesus da lapa e mais de 40 localidades beneficiadas pelo abastecimento. Para levar água potável às regiões carentes do Sertão, diversas ações estão sendo realizadas, inclusive em parceria com instituições internacionais.

uma das mudanças já pode ser vista na região de Irará, que fica a 107 km de

Salvador, lugar onde a água potável era raridade. A comerciante vânia Santos conta que a água sempre foi tida como uma mercadoria valiosa. Para conseguir a quantidade necessária para se manter, chegava a pagar o aluguel de caminhões-pipa e o transporte de galões de água de qualidade em carros de boi.

A antiga realidade é reforçada pelo secretário estadual do Meio Ambiente, Eugênio Spengler. “lá [em Irará],

os moradores enfrentavam muitas dificuldades para adquirir água de qualidade destinada ao consumo humano e animal”, destacou. Para João da Silva, que também vive em Irará, a água caindo na torneira representa melhorias na qualidade de vida da família. “A gente, agora, tem a garantia de que não vai haver contaminação com doenças de pele e estômago e poderemos beber água tranquilamente, sem o gosto salobro”, enfatiza.

maiS de 87% de municíPioS baianoS PaSSam a ter aceSSo à água Potável

Os agricultores familiares do Semiárido baiano dispõem de uma nova tecnologia para a convivência com a seca: a biofábrica de mudas de palmas, que é um laboratório de multiplicação in vitro de espécies vegetais. Dentre as múltiplas funções da biofábrica está a geração de mudas com rapidez e precocidade e, acima de tudo, dispor de um quantitativo rápido e suficiente para atender os produtores.

A planta foi escolhida para ser trabalhada em laboratório porque, com os últimos anos de estiagem, todo o estoque de palmas nos municípios baianos acabou. Além disso, a palma foi dizimada por uma doença chamada ‘cochonilha do carmim’ em alguns Estados do Nordeste, como Ceará, Pernambuco, Paraíba.

Segundo Humberto Oliveira, superintendente adjunto do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-Bahia) e coordenador do programa viver BEM no Semiárido, “aqui na Bahia, nós não temos essa doença, mas por uma questão de segurança estamos fazendo a multiplicação de plantas resistentes à cochonilha. São três espécies de palmas utilizadas para que o produtor que vá colocá-la no seu campo, na sua propriedade rural, tenha além de uma muda de qualidade, uma muda com precocidade e segurança sanitária, para que depois de pouco tempo a espécie não venha a ser contaminada pela doença”, explicou.

BIOFÁBRICA DE PAlMA- Humberto Oliveira informa que

existe uma biofábrica pronta no município de Guanambi, construída em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e com a prefeitura local. A segunda está sendo construída no município de Miguel Calmon, em parceria com o município, com o Senar Bahia e a Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia. Já em fase final, o laboratório está previsto para começar a produzir no início de 2014.

Ainda existe uma terceira biofábrica que está sendo projetada pelo sistema Faeb/Senar para a região do Sisal, provavelmente ficará no município de Conceição do Coité.“As biofábricas são fruto de uma parceria com os municípios e o Senar Bahia. Os municípios, normalmente, entram com a parte

da construção civil e o Senar com o recurso para formação, capacitação da equipe, compra do material de laboratório, e com a parte do conhecimento tecnológico, da pesquisa que temos feito com a Embrapa, que também nos dá esse suporte”, frisou Humberto Oliveira.

A Secretaria de Agricultura, na Bahia, também está investindo na construção de uma biofábrica de palma, só que essa é no município de Juazeiro, em parceria com a Moscamed Brasil, com recursos da ordem de R$ 1,3 milhão, do Fundo Estadual de Combate à Pobreza, segundo informou o secretário da Agricultura, Eduardo Salles. “Inicialmente, serão produzidas 1 milhão de mudas por mês e distribuídas com os produtores. O objetivo da Secretaria da Agricultura

é fazer com que cada criador tenha, pelo menos, um quarto de hectare plantado com palma”, informou.

PRODuçãO- O funcionamento razoável de uma biofábrica tem condição de produzir 400 mil mudas por mês, que é um número bastante significativo, afirma Humberto Oliveira. A ideia dos fomentadores é que, futuramente, os laboratórios possam produzir outras espécies também. “Acreditamos que depois de algum tempo vai haver uma saturação de mudas de palma e, consequentemente, nós poderemos diversificar esses laboratórios de multiplicação in vitro para produzir outras espécies que sejam interessantes para o Semiárido baiano e até para outras regiões do Estado, como a cultura do abacaxi, da mandioca”, concluiu.

BIOFÁBRICA DE PAlMA lEvA ESPERANçA PARA AGRICulTORES FAMIlIARES DO SEMIÁRIDO BAIANO

O programa é um dos mais importantes do Estado nesse segmento. Ele prevê o aumento da oferta de água de qualidade, especialmente no Semiárido, e ampliar os serviços de saneamento básico, articulando a essas iniciativas componentes de sustentabilidade ambiental. De janeiro de 2007 a setembro deste ano, o programa Água para Todos já beneficiou 4,5 milhões de pessoas com a oferta de água e quase dois milhões de baianos com esgotamento sanitário. No total, a empresa investiu R$ 3 bilhões durante todo o programa. Para o secretário estadual do Meio Ambiente, Eugênio Spengler, o sucesso do programa serviu de referência para o Governo Federal, que criou a versão nacional como vertente do Plano Brasil Sem Miséria, de 2011.

A Adutora do Algodão visa levar água do Rio São Francisco para Guanambi, além de outras cidades e distritos da região. é uma obra executada por meio de convênio entre a Companhia de Desenvolvimento dos vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), vinculada ao Ministério da Integração Nacional e a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), com o objetivo de atender os municípios da região que têm grande deficiência de recursos hídricos. A iniciativa conta com um investimento de R$ 180 milhões e mais de 400 quilômetros de extensão e visa beneficiar cerca de 230 mil pessoas. O empreendimento pretende atender mais de 100 mil pessoas da sede Caetité e mais seis localidades do município. “Serão cerca de 160 quilômetros de ampliação, onde teremos oito estações elevatórias e três reservatórios”, conclui o presidente da Embasa, Abelardo Oliveira.

Recentemente, o Brasil realizou um Acordo de Cooperação Técnica voltado para o desenvolvimento e a implementação de serviços de água e esgoto, assinado pelas corporações da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), Companhia de Engenharia Rural da Bahia (Cerb) e pelo Mekorot EnterPrise and Development, subsidiária da Companhia Nacional de Águas de Israel. Os projetos e programas frutos desta parceria são voltados para a gestão de recursos hídricos, controle de perdas de água em sistemas de abastecimento de água (SAAs); automação em SAAs e em sistemas de esgotamento sanitário (SESs); medição de água para fins operacionais e comerciais; tratamento e reúso de águas residuais, entre outros.

O Água Doce, programa criado pelo Governo Federal, está sendo implantado na Bahia desde setembro de 2012, com um investimento de R$ 61 milhões. Coordenado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) em parceria com demais instituições. O objetivo é promover a melhoria das condições de vida do Semiárido, onde boa parte da população consome água subterrânea salobra. Entre as principais ações estão a perfuração de poços, a implantação da caixa d’água, a estação de tratamento ligada às residências, entre outras.

PROGRAMA ÁGuA PARA TODOS

AMPlIAçãO DA ADuTORA DO AlGODãO

ACORDO DE COOPERAçãO INTERNACIONAl

ÁGuA DOCE

ESTAçãO DE CAPTAçãO DA ADuTORA DO AlGODãO

ESTAçãO DE CAPTAçãO DA ADuTORA DO SãO FRANCISCO

MAuRI AzEvêDO/ DIvulGAçãO

PATY ARAúJO/ DIvulGAçãO

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caSeS

uma tecnologia simples e de baixo custo vem despertando boas expectativas e devolvendo a esperança de dias melhores às comunidades dos municípios do Semiárido baiano. A barragem subterrânea é uma construção rápida e barata que mantém perfeitamente a umidade do solo favorecendo o plantio durante, praticamente, o ano todo. “Trata-se de uma tecnologia que vai transformar a vida de 2,6 mil famílias agricultoras no Semiárido baiano, auxiliando a segurança alimentar e nutricional, e criando renda a partir dos produtos comercializados nas feiras municipais. As ações na Bahia estão previstas para o início do próximo mês de dezembro, nos 50 municípios do entorno de Bom Jesus da lapa e nas 27 cidades do entorno de Juazeiro”, afirma o coordenador do Programa Água para Todos, leonardo Miranda.

Segundo a Secretaria de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura (Seagri), o governador Jaques Wagner autorizou, no mês de agosto deste ano, a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional da Bahia (CAR), vinculada à Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional (Sedir), realizar o processo licitatório para a aquisição de 82 retroescavadeiras destinadas à efetivação de termos de cooperação com 82 prefeituras localizadas na área de atuação da Codevasf, onde o governo da Bahia pretende construir 2.600 barragens subterrâneas.

vivaldo Mendonça, diretor executivo da CAR, explica que a aquisição de retroescavadeiras, para a região de Bom Jesus da lapa e de Juazeiro, vai criar condições efetivas para o Semiárido. “A disponibilidade das máquinas, além de proporcionar uma redução de mais 50% no valor da construção da barragem, ainda, possibilitará a execução de outras obras e serviços que contribuirão para os pequenos agricultores recuperarem sua capacidade produtiva, tais como: construção, recuperação e ampliação de aguadas e barreiros, aumentando a captação e o armazenamento de água para fins produtivos; e recuperação, desobstrução e ampliação da rede de estradas vicinais, proporcionando a melhoria das condições de escoamento da produção e a circulação dos moradores do meio rural”.

leonardo Miranda afirma que a seca que atinge fortemente a região do Semiárido baiano tem seus impactos mais visíveis na agricultura familiar, cujos estragos na produção agropecuária somente poderão ser desfeitos com alternativas tecnológicas de baixo custo, simplicidade, rapidez e praticidade de construção – que contribuam para a recuperação produtiva desses agricultores.

A construção da barragem é simples. Primeiro, é feita uma escavação de quatro metros de profundidade por 100 de comprimento em áreas de baixadas ou no leito seco dos rios, depois é colocada uma lona apropriada e coberta de novo. Quando a chuva chegar, a água ficará retida ali e poderá ser usada na época da seca. A escavação é feita por retroescavadeiras que, de acordo com o secretário da Seagri, Eduardo Salles, serão doadas às prefeituras, que receberão também orientação técnica para fazer as barragens. “O investimento é de 26 milhões, dos quais 22,1 milhões não reembolsáveis, oriundos do Ministério da Integração e do BNDES”, informa.

Segundo dados do Ministério da Integração Nacional (MI), a barragem é uma parede construída para dentro da terra, com a função de barrar as águas das chuvas que escorrem no interior e acima do solo, formando uma vazante artificial onde os agricultores ficam com o terreno molhado entre três e cinco meses (a depender da quantidade de chuvas no ano) após a época chuvosa, permitindo a plantação de culturas de subsistência, como fruteiras, forragem, hortaliças, plantas medicinais, cana-de-açúcar, batata-doce, arroz.

valdemar Oliveira dos Santos, 59 anos, pai de sete filhos e morador às margens do Rio São Francisco, no município de Bom Jesus da lapa, planta e vende alface, quiabo, cebolinha, pimentão e tomate, sendo que este último tem a caixa de 20 kg vendida a R$ 35. Graças à assessoria gratuita dos técnicos da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) – programa vinculado ao Plano Brasil Sem Miséria, do Governo Federal –, o agricultor familiar tem acesso a recursos não reembolsáveis no valor de R$ 2,400, divididos em três parcelas, por meio dos quais ele compra insumos e equipamentos adequados para uma produção agropecuária rentável.

O caso de Seu valdemar é um exemplo de sucesso, resultado das ações do Plano Brasil Sem Miséria que, na

Bahia, tem como parceira a EBDA, vinculada à Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado (Seagri). “Sempre trabalhei em roça como diarista. Ia para Goiás e ficava longe da família por muito tempo. Hoje, já consigo ficar aqui, onde trabalho a terra, planto, colho e vendo na feira livre da lapa”, revela o agricultor familiar, que cultiva e mora em uma área cedida por um fazendeiro local, já que não possui terra.

Com o recurso que recebe, conta o engenheiro agrônomo da EBDA, Josman Pedro Silva vieira, o agricultor consegue cultivar cinco mil pés de tomate, da variedade Santa Cruz, com a estimativa de produção de 450 caixas de 20 kg. “Além de vender na feira livre do município, ele conseguiu, também, realizar contrato com mercados locais”.

Outro exemplo de caso exitoso do Plano Brasil Sem Miséria, do Governo Federal, é encontrado na Ilha da Canabrava, no Rio São Francisco. Ali, onde vive com seus dez filhos, Josina Maria da Cruz, 62 anos, produz coentro, cebolinha, alface, couve e demais verduras que consome e, o excedente, vende na feira livre do município.

“Antes, só tínhamos o Bolsa Família e eu só plantava para comer. Agora, melhoraram muito as nossas condições, pois já dá para guardar um dinheirinho para manter os meninos na escola e nos alimentarmos melhor”, declara dona Josina, que ficou viúva

recentemente.

A técnica Deliane Rebouças, que começou a atender a agricultora em outubro de 2011, fala das mudanças ocorridas na localidade: “São muitas as famílias beneficiadas aqui com o Plano Brasil Sem Miséria, do Governo Federal. Com os recursos, eles compraram telas, adubos e mais sementes para plantar nas hortas”, diz. A média de rendimento, com a venda das hortaliças na feira local, por semana e por cada família, é em torno de R$ 130, o que é considerado o valor de “uma feira boa”, pelos agricultores.

O pecuarista Aderbal César de Oliveira Filho se sente um vitorioso. Enquanto a maioria dos produtores rurais perdeu seus rebanhos, por conta da longa estiagem, ele foi um dos que atravessaram a seca sofrendo um menor impacto na sua criação de gado. Graças à plantação de palma adensada – a que é plantada com espaçamento entre fileiras e raquetes menores que os normalmente adotados pelos criadores, obtendo-se, com isso, uma maior produção de forragem por área –, ele conseguiu manter viva a sua criação de gado e ovelhas, em meio à escassez de água.

“Em 2006, fui a um seminário, em Fortaleza, sobre a plantação de palma adensada para a sobrevivência dos rebanhos. Desde então, passei a ver a palma como uma dádiva para a pecuária”, conta Aderbal Filho. A plantação de palma, que faz parte do Programa de Segurança Alimentar do Rebanho da Agricultura Familiar, da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia

(Seagri), tem beneficiado rebanhos de várias regiões do Semiárido baiano. No último dia 10 de outubro, a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), realizou o Pregão Presencial que tratou da aquisição de 11 milhões de mudas de palma forrageira para agricultores familiares selecionados no referido Programa.

Em Morro do Chapéu, garante Aderbal Filho, quem plantou a palma sofreu menos com a seca. Ele, que é vice-presidente da Associação dos Criadores e Produtores de Morro de Chapéu, conta que é dono de uma produção de palma adensada em oito hectares de terra, destinada ao consumo do seu rebanho, bem como à comercialização. A nova cultura de plantio da palma, destaca o pecuarista, promove uma maior sustentabilidade da bovinocultura de leite e da ovinocaprinocultura da agricultura familiar, além de incentivar a produção de alimentos, a geração de trabalho e renda.

BARRAGENS SuBTERRâNEAS BENEFICIARãO 2,6 MIl AGRICulTORES FAMIlIARES DO SEMIÁRIDO BAIANO

vAlDEMAR OlIvEIRA DOS SANTOS

JOSINA MARIA DA CRuz

ADERBAl CéSAR DE OlIvEIRA FIlHO

Produção agrícola rentável graças à assistência técnica

Agricultora muda de vida com o Plano Brasil Sem Miséria

Plantação de palma adensada para salvar os rebanhos

FOTOS AuRElINO xAvIER/ DIvulGAçãO

DIvulGAçãO

vIvAlDO MENDONçA, DA CAR

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