texto18_oqueereligiao

3
Material de Apoio – Leitura Necessária e Obrigatória Teologia de Umbanda Sagrada – EAD – Curso Virtual Ministrado por Alexandre Cumino Texto 018 O que é RELIGIÃO? Por Alexandre Cumino Uma das formas de definir religião é ir direto ao significado da palavra, do latim, religare, que tem o sentido de religar-se a DEUS. Logo um entendimento teológico da mesma é propiciar um encontro ou re- encontro com DEUS. Mas, o que pode parecer simples é, no entanto, complexo, afinal há formas muito variadas de religião e até algumas, como o budismo e jainismo, em que nada se refere a DEUS, são praticamente religiões ateístas. Partindo deste ponto de vista a definição de religar-se, embora seja muito interessante não expressa todas as dimensões que as diversas religiões encerram em si mesmas. Por se tratar de algo indissociável ao ser humano, como produto cultural e social, recorremos às ciências humanas para melhor compreender o fenômeno em suas múltiplas formas de expressão. Desde que o homem habita este mundo há religião, o próprio homo sapiens é considerado um homo relligiosos, apesar de reconhecermos o quanto a religião faz parte de nossas vidas ela já passou por um período de “trevas”; justamente no período em que surge o iluminismo. É quando surge o mundo moderno, pós- revolução francesa, que o homem se voltará a um racionalismo cientificista que nega o valor da religião. No séc XIX, Augusto Conte torna-se o precursor do positivismo declarando que religião seria substituída pela ciência, pois no futuro esta teria as repostas para as inquietações humanas buscadas no mundo teológico. E assim como os períodos mitológicos e mágicos já haviam sido superados pelo religioso e este também seria ultrapassado, declarando sua inutilidade. Religião tal qual se conhece seria uma pseudo-solução para pseudo-problemas. Nos passos de Conte viriam Nietzsche declarando a morte de Deus, Freud considerando religião uma ilusão, algo infantil e Marx que afirmaria ser o suspiro dos oprimidos, ópio do povo. Cientistas promoveram uma nova inquisição na qual só tem valor o que pode ser observado, experimentado e mensurado dentro do método científico. Em meio a tanto ceticismo, Jung oferece um contraponto às idéias de Freud, demonstrando a importância das questões religiosas na vida do ser, apresentado o erro da aplicação do método cientifico para negar o valor que possui a religião na vida e na psique humana: “O conflito surgido entre ciência e religião no fundo não passa de um mal-entendido entre as duas. O materialismo científico introduziu apenas uma nova hipótese, e isto constitui um pecado intelectual. Ele deu um nome novo ao princípio supremo da realidade, pensando, com isto, haver criado algo de novo e destruído algo de antigo. Designar o princípio do ser como Deus, matéria, energia, ou o quer que seja, nada cria de novo. Troca-se apenas de símbolo. “ 1 Religião faz parte de uma realidade subjetiva do ser, o que não pode ser mensurado, já que as ciências naturais se ocupam da realidade objetiva. Buscamos no método científico respostas de como funciona a realidade física, no entanto, o mesmo é insuficiente para dar sentido a esta realidade. Para entender melhor 1 Jung. Psicologia e Religião Oriental. Petrópolis: Ed. Vozes, 1991. 5 edição. P.03

Upload: joyce-muzy

Post on 09-Nov-2015

7 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Texto reflexivo sobre o que é religião

TRANSCRIPT

  • Material de Apoio Leitura Necessria e Obrigatria Teologia de Umbanda Sagrada EAD Curso Virtual

    Ministrado por Alexandre Cumino Texto 018

    O que RELIGIO?

    Por Alexandre Cumino

    Uma das formas de definir religio ir direto ao significado da palavra, do latim, religare, que tem o sentido de religar-se a DEUS. Logo um entendimento teolgico da mesma propiciar um encontro ou re-encontro com DEUS.

    Mas, o que pode parecer simples , no entanto, complexo, afinal h formas muito variadas de religio e

    at algumas, como o budismo e jainismo, em que nada se refere a DEUS, so praticamente religies atestas. Partindo deste ponto de vista a definio de religar-se, embora seja muito interessante no expressa

    todas as dimenses que as diversas religies encerram em si mesmas. Por se tratar de algo indissocivel ao ser humano, como produto cultural e social, recorremos s cincias humanas para melhor compreender o fenmeno em suas mltiplas formas de expresso.

    Desde que o homem habita este mundo h religio, o prprio homo sapiens considerado um homo

    relligiosos, apesar de reconhecermos o quanto a religio faz parte de nossas vidas ela j passou por um perodo de trevas; justamente no perodo em que surge o iluminismo. quando surge o mundo moderno, ps-revoluo francesa, que o homem se voltar a um racionalismo cientificista que nega o valor da religio. No sc XIX, Augusto Conte torna-se o precursor do positivismo declarando que religio seria substituda pela cincia, pois no futuro esta teria as repostas para as inquietaes humanas buscadas no mundo teolgico. E assim como os perodos mitolgicos e mgicos j haviam sido superados pelo religioso e este tambm seria ultrapassado, declarando sua inutilidade. Religio tal qual se conhece seria uma pseudo-soluo para pseudo-problemas.

    Nos passos de Conte viriam Nietzsche declarando a morte de Deus, Freud considerando religio uma

    iluso, algo infantil e Marx que afirmaria ser o suspiro dos oprimidos, pio do povo. Cientistas promoveram uma nova inquisio na qual s tem valor o que pode ser observado, experimentado e mensurado dentro do mtodo cientfico.

    Em meio a tanto ceticismo, Jung oferece um contraponto s idias de Freud, demonstrando a

    importncia das questes religiosas na vida do ser, apresentado o erro da aplicao do mtodo cientifico para negar o valor que possui a religio na vida e na psique humana:

    O conflito surgido entre cincia e religio no fundo no passa de um mal-entendido entre as duas. O

    materialismo cientfico introduziu apenas uma nova hiptese, e isto constitui um pecado intelectual. Ele deu um nome novo ao princpio supremo da realidade, pensando, com isto, haver criado algo de novo e destrudo algo de antigo. Designar o princpio do ser como Deus, matria, energia, ou o quer que seja, nada cria de novo. Troca-se apenas de smbolo. 1

    Religio faz parte de uma realidade subjetiva do ser, o que no pode ser mensurado, j que as cincias naturais se ocupam da realidade objetiva. Buscamos no mtodo cientfico respostas de como funciona a realidade fsica, no entanto, o mesmo insuficiente para dar sentido a esta realidade. Para entender melhor

    1 Jung. Psicologia e Religio Oriental. Petrpolis: Ed. Vozes, 1991. 5 edio. P.03

  • esta dinmica humana do ente que busca respostas alm de si mesmo que se abriu campo nas cincias humanas, com fim de entender a experincia religiosa em suas diversas dimenses.

    O pai da sociologia, mile Durkheim, em sua obra clssica, As Formas Elementares de Vida Religiosa, faz

    consideraes importantes sobre o que vem a ser religio:

    No h, pois, no fundo, religies que sejam falsas. Todas so verdadeiras sua maneira: todas respondem, ainda que de maneiras diferentes, a determinadas condies da vida humana [...]2

    A concluso geral deste livro que a religio coisa eminentemente social [...].3

    Para aquele que v na religio apenas manifestao natural da atividade humana, todas as religies so instrutivas, sem nenhuma espcie de exceo, pois todas exprimem o homem sua maneira e podem assim ajudar a melhor compreender esse aspecto da nossa natureza [...] Uma noo que geralmente considerada como caracterstica de tudo aquilo que religioso a de sobrenatural. Com esse termo entende-se toda ordem de coisas que vai alm do alcance no nosso entendimento; o sobrenatural o mundo do mistrio, do incognoscvel, do incompreensvel [...]4

    Max Muller via em toda religio um esforo para conceber o inconcebvel, para exprimir o inexprimvel, uma aspirao ao infinito [...]5

    Todas as crenas religiosas conhecidas, sejam elas simples ou complexas, apresentam um mesmo carter comum: supem uma classificao das coisas... pelas palavras profanoe sagrado [...] Eis como o budismo uma religio: na falta de deuses, admite a existncia de coisas sagradas, a saber, das quatro verdades santas e das prticas que delas derivam [...] 6

    Uma religio um sistema solidrio de crenas seguintes e de prticas relativas a coisas sagradas, ou seja, separadas, proibidas; crenas e prticas que unem na mesma comunidade moral, chamada igreja, todos os que a ela aderem [...] 7

    Ednio Valle, em sua obra Psicologia e Experincia Religiosa afirma que W. H. Clark reuniu, em 1958, nada menos que 48 definies psicolgicas de religio. Entre estas ele transcreveu algumas e destas ns destacamos algumas abaixo para concluir o que vem a ser religio:

    Rudolf Otto, A religio o empreendimento humano pelo qual se estabelece um cosmo sagrado. Ou a cosmificao feita de maneira sagrada. Por sagrado entende-se aqui uma qualidade de poder misterioso e tremendo, distinto do ser humano e, contudo, com ele relacionado, pois se acredita em sua presena em certos objetos de experincia... o que faz tremer e o fascinante. B. Grom, Religioso tudo o que para os seres humanos encerra uma relao a algo sobre-humano e sobre-mundano, prescindindo-se dos modos concretos pelos quais o religioso pode ser concebido e experimentado. W. James, So os sentimentos, atos e experincias do indivduo humano, em sua solido, enquanto se situa em uma relao com seja o que for por ele considerado divino.

    2 Op. Cit. P. 31 3 Op. Cit. P.38 4 Op. Cit. P.54 5 Op.Cit. p. 55 6 Op. Cit. P. 68 7 Op. Cit. P. 79

  • M. F. Verbit, A religio a relao do ser humano com qualquer coisa que ele conceba como sendo a realidade ltima dotada de significado. M. W. Calkin, Religio a relao consciente do self humano como self divino, isto , com um self visto como maior que o self humano. Toms de Aquino, A religio a virtude pela qual os homens rendem a Deus o devido culto e reverncia. Ernest Renan, A Religio a mais alta e atraente das manifestaes da natureza humana8

    Definir o que vem a ser religio no tarefa fcil, resumir em poucas palavras pode nos levar a um reducionismo de seu valor, estender-se na explicao pode tornar vago o conceito e da mesma forma um religioso falando sobre religio costuma antes definir o que sua religio correndo o risco de excluir as outras. Antes de mais nada, pode ser algo to universal e ao mesmo tempo diverso preciso certa neutralidade para apreender seu significado. Quando se trata de religio nossa postura deveria ser antes de entender que explicar, principalmente a religio do outro. E para fechar fica a definio do Mestre e Mstico Hindu Vivekananda: A religio no consiste em doutrinas e dogmas. Ela no o que voc l nem os dogmas que voc acredita serem importantes, mas o que voc percebe... A finalidade de todas as religies a percepo de Deus na alma. Essa a nica religio universal.9

    8 Ernest Renan, tudes d`Histoire Religieuse. In Flicien Challaye, As Grandes Religies. So Paulo: Ed. Ibrasa, 1998. p.13 9 Vivekananda: O Professor Mundial. Ed. Madras