texto sobre reclamação constitucional

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Outro exemplo: imagine que uma ação coletiva tenha sido proposta na primeira instância com o objetivo de declarar a inconstitucionalidade de norma. Como já explanado, cabe ao STF analisar, em decisão de mérito, a inconstitucionalidade de normas. Claro que o tribunal a quo não teria competência para essa análise, só podendo conhecer da inconstitucionalidade incidentalmente. Dessa forma, caso a inconstitucionalidade conste do pedido da ação coletiva, é possível o manejo da reclamação constitucional. b) Para garantir a autoridade das decisões do STF, STJ e STM. Existe uma diferença tênue que é bom compartilhar. Desrespeito à jurisprudência consolidada não autoriza o uso de reclamação. Para ser utilizada esta ação, o desrespeito deve ser específico, com relação a uma decisão determinada que o juiz deve respeitar e não o faz. Há uma exceção, que é referente a decisão proferida em recurso inominado de Juizado Especial, pois o art. 105, III não prevê o Resp para essa hipótese. Assim, por não existir outra medida processual para provocar o Superior Tribunal de Justiça em ações em trâmite nos Juizados Especiais, é admissível reclamação contra decisões de Turma recursal que desrespeite jurisprudência daquele Tribunal. Essa regra somente se aplica no âmbito dos Juizados Especiais Estaduais, pois nos Juizados Especiais Federais (art. 14, § 4.º, da Lei 10.259/2009) e nos Juizados Especiais da Fazenda Pública Municipal e Estadual (arts. 18 e 19 da Lei 12.153/2009) existe previsão do instituto da uniformização de jurisprudência, o qual permite a provocação do STJ quando, em questões de direito material, a Turma recursal contrariar súmula ou jurisprudência dominante no Superior

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Page 1: texto sobre reclamação constitucional

Outro exemplo: imagine que uma ação coletiva tenha sido proposta na primeira instância com o objetivo de declarar a inconstitucionalidade de norma. Como já explanado, cabe ao STF analisar, em decisão de mérito, a inconstitucionalidade de normas. Claro que o tribunal a quo não teria competência para essa análise, só podendo conhecer da inconstitucionalidade incidentalmente. Dessa forma, caso a inconstitucionalidade conste do pedido da ação coletiva, é possível o manejo da reclamação constitucional.

b) Para garantir a autoridade das decisões do STF, STJ e STM.

Existe uma diferença tênue que é bom compartilhar. Desrespeito à jurisprudência consolidada não autoriza o uso de reclamação. Para ser utilizada esta ação, o desrespeito deve ser específico, com relação a uma decisão determinada que o juiz deve respeitar e não o faz. Há uma exceção, que é referente a decisão proferida em recurso inominado de Juizado Especial, pois o art. 105, III não prevê o

Resp

para essa hipótese. Assim, por não existir outra medida processual para provocar o Superior Tribunal de Justiça em ações em trâmite nos Juizados Especiais, é admissível reclamação contra decisões de Turma recursal que desrespeite jurisprudência daquele Tribunal. Essa regra somente se aplica no âmbito dos Juizados Especiais Estaduais, pois nos Juizados Especiais Federais (art. 14, § 4.º, da Lei 10.259/2009) e nos Juizados Especiais da Fazenda Pública Municipal e Estadual (arts. 18 e 19 da Lei 12.153/2009) existe previsão do instituto da uniformização de jurisprudência, o qual permite a provocação do STJ quando, em questões de direito material, a Turma recursal contrariar súmula ou jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça. De regra, somente as decisões de mérito proferidas por esses tribunais rendem ensejo à reclamação caso sejam descumpridas. Porém, caso haja descumprimento de decisão liminar em controle de constitucionalidade, nada impede o uso da reclamação, pois essas decisões, apesar de precárias, produzem efeitos vinculante e erga omnes. E mais, a coisa julgada só atinge a parte dispositiva da decisão, por isso somente essa parte da sentença rende ensejo à reclamação. No entanto, também há uma exceção: em controle de constitucionalidade abstrato o Supremo Tribunal Federal permite que os motivos determinantes da fundamentação do julgado produzam efeito erga omnes (transcendência dos motivos determinantes). Desta sorte, caberá reclamação caso outro magistrado descumpra as razões determinantes do julgado proferido pelo STF nos processos de controle de constitucionalidade abstrato. Outro ponto que merece relevo é o de que, caso a autoridade administrativa descumpra decisão do STF ou STJ, não caberá reclamação, pois basta a

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autoridade judiciária imputar a estas autoridades crime de desobediência ou crime de responsabilidade.

c) Contrariedade de súmula vinculante:

Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem

a aplicação da súmula, conforme o caso”; no mesmo sentido, art. 7.º da Lei 11.417/2006.

O objetivo da reclamação diante do ato administrativo contrário à súmula vinculante é a anulação no STF (§ 2.º do art. 7.º da Lei 11.417/2006), ficando a critério da Administração editar outro ato ou não, vez que o Poder Judiciário não pode interferir na Administração. De modo inverso, o propósito da reclamação perante provimento jurisdicional é a cassação do ato, delineando-se que o STF não profere outro ato, mas sim o reenvia ao juízo para que seja prolatada nova decisão com ou sem a aplicação da súmula, em obediência ao princípio do Juiz natural. A parte final do art. 7.º da Lei da Súmula Vinculante (Lei 11.417/2006) admite a propositura

da reclamação “sem prejuízo dos

recurso

s ou outros meios admissíveis de impugnação”.

Às vezes, a propositura do recurso se mostra necessária para evitar o trânsito em julgado e possibilitar o uso, com calma, da reclamação, já que a Súmula 734 do STF não admite reclamação sobre decisão desrespeitosa transitada em julgado. O art. 7.º, § 1.º, da Lei 11.417/2006, exige o esgotamento das vias administrativas para possibilitar o uso da reclamação (isso só no caso de descumprimento de Súm. Vinc.).

4 Legitimidade ativa

: A legitimidade da reclamação é bem extensa, podendo ser impetrada por qualquer interessado ou pelo Ministério Público. Não é possível limitar a reclamação às partes no processo originário, pois não podemos excluir a possibilidade de ofensa a terceiros interessados. Ademais, é cabível reclamação até mesmo sem existência de processo. Ao propor a reclamação, é importante que o proponente demonstre o interesse no caso posto em juízo. Já o Ministério Público não precisará demonstrar o interesse, já que sua legitimidade decorre de sua finalidade de defender a ordem jurídica.

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5 Prazo:

Não há prazo processual para propositura da reclamação, somente tendo que observar a orientação de que não cabe reclamação contra decisão transitada em julgado (Súmula 734 do STF). Neste caso, somente será possível ação rescisória. Se o trânsito em julgado da decisão combatida vier a ocorrer após o ajuizamento da reclamação, ela continuará, pois a coisa julgada impede a propositura da demanda e não a continuidade dela.

6 Procedimento:

é similar ao do mandado de segurança (procedimento sumário especial documental) e está previsto nos arts. 13 e seguintes da Lei 8.038/1990. Segundo respeitável posição doutrinária, é possível o indeferimento monocrático da reclamação quando a matéria em questão for objeto de jurisprudência consolidada na Corte, aplicando o art. 161, parágrafo único, do RISTF, e, por analogia, o art. 557 do CPC. O art. 161 do RISTF estabelece que, julgando procedente a reclamação, o Plenário ou a Turma poderão: a) avocar o conhecimento do processo em que se verifique usurpação de sua competência. Avocar significa chamar para si. Assim, pode o Tribunal de superposição determinar a remessa dos autos ao seu conhecimento; b) ordenar que lhe sejam remetidos, com urgência, os autos do recurso para ele interposto;

c) cassar decisão exorbitante de seu julgado ou determinar medida adequada à observância de sua jurisdição. Por ter natureza de direito de petição, não cabe condenação em ônus de sucumbência. No que toca aos recursos, caberá a oposição de embargos de declaração e, sendo a decisão monocrática, agravo regimental. Caberá recurso especial ao STJ quando a reclamação for julgada originariamente pelo TJ, e recurso extraordinário para o STF quando julgada originariamente por outro tribunal. Por fim, segundo o STJ, da decisão do relator que indefere o processamento da reclamação não cabe recurso. Em razão disso, admite a propositura de mandado de segurança para o órgão especial do próprio tribunal contra aquela decisão (art. 105, I, b, da CR).