texto nº 01 - o homem quem é ele

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  • 8/18/2019 Texto Nº 01 - o Homem Quem é Ele

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    TEXTO Nº. 01: O HOMEM. QUEM E ELE? PARADIGMAS: CERTEZAS E INCERTEZAS

    A concepção do mundo que imperava antes dos tempos modernos, aquilo que podemos chamar decosmovisão ou visão de mundo do homem antigo e do homem medieval, se caracterizava por ser uma cosmovisãocosmológica. Que quer dizer isto? Quer dizer que existia uma idéia de "Cosmos" como uma ordem naturalacabada, echada, pereita, e, portanto, est!tica. "ma ordem natural em que o homem estava inserido como um deseus elementos, com a particularidade apenas de que ele podia compreend#$la% mas não proundamente. & porisso a principal atitude do homem diante do "Cosmos", era a contemplação. ' homem podia contemplar, investigare admirar a beleza e a harmonia da ordem natural, mas ele não era o criador desta ordem, nem tinha o poder detransorm!$la a undo. Além disso, o tempo desta ordem natural era, por sua vez, um tempo homog#neo, quetranscorria sempre o mesmo, num ciclo imanente% não era um tempo que trouxesse alguma coisa de novo, ou queavançasse num ritmo evolutivo.

    ( tudo isto que se quer dizer quando se airma que a visão tanto do homem antigo como do homemmedieval era essencialmente uma visão cosmológica. )ara a explicação de todos os problemas e para ainterpretação do próprio homem, ele partia sempre da idéia do *+osmos*, da idéia de uma ordem natural dada emsi mesma, concluda, pereita, echada, est!tica e homog#nea. Ao lado desta caracterstica comum, h!, entretanto,uma dierença importante entre a cosmovisão do homem antigo e a cosmovisão do homem medieval.

    Ambas são cosmológicas, mas a cosmovisão do homem antigo, além de cosmológica, era cosmoc#ntrica,enquanto a visão do homem medieval era cosmológica, mas por sua vez, teoc#ntrica. A visão do homem antigoera cosmológica e ao mesmo tempo cosmoc#ntrica porque não só tinha na idéia do *+osmos* o ponto de partidapara a explicação de todos os problemas, como além disto se centralizava nesse *+osmos*, ou ordem natural,como que num mundo auto$suiciente, que não era visto como um mundo criado por um ser superior, mas simcomo um mundo em que o homem estava presente apenas para contempl!$lo.

    ' cristianismo, a revelação bblica, o ato histórico do +risto, iria introduzir nesta visão tradicional umatransormação prounda. )orque de repente o mundo deixou de sustentar$se em si próprio, deixou de ser auto$suiciente e passou a ser visto como um mundo criado% um mundo criado por -eus e um mundo que se destinavatambém, algum dia, a ser destrudo por -eus. ' homem estava neste mundo de passagem, nu, de itiner!rio curto,o seu destino seria voltar ao -eus de onde viera e para onde se dirigia. )or isso a visão do homem medieval seera por um lado cosmológica, porque interpretava toda a realidade do mundo a partir da idéia de uma ordem

    natural, era teoc#ntrica por outro lado, porque esta ordem natural era vista como uma ordem criada por -eus eporque toda a vida do homem medieval estava centralizada em -eus e na esperança da salvação.A idade moderna vai proceder desagregação desta visão do mundo e a é que devemos e reside a raiz

    teórica e /ltima dos grandes problemas do pensamento moderno. A crise começa com a 0enascença. ' conte/doessencial do 0enascimento, do ponto de vista ilosóico, o que nos interessa no momento, é o humanismo. -erepente a preocupação do homem deixa de estar voltada apenas para o mundo e para -eus, deixa de sercosmológica e teoc#ntrica, e passa a centralizar$se no próprio homem. -a, inclusive o retorno ao pensamentohel#nico, a descoberta da arte grega, o esprito aventureiro do homem renascentista. )ouco a pouco, através destainversão humanista do renascimento toda a visão medieval vai ser transormada.

    ' que acontecia com o problema do homem? 1nicialmente, o homem medieval tinha de si mesmo umavisão essencialmente cristã, ou uma parte da natureza, como uma peça daquele *+osmos* e daquela harmonianatural, est!tica, echada e pereita a que 2! nos reerimos, mas do ponto de vista sobrenatural, do ponto de vistada é, o homem era visto como transcendendo radicalmente a natureza, porque 2ustamente se airmava que a

    ess#ncia de seu destino não era a realidade deste mundo, mas a realidade de um outro mundo e de uma outravida, que estaria para além do plano da história e do plano deste mundo emprico.

    3 medida que desenvolve sua ci#ncia e sua técnica, o homem moderno vai se tornar cada vez maisnacionalista, ou se2a, vai cada vez mais ter é, sobretudo e antes de tudo, em sua razão, em seu poder criador.Assim, a visão medieval vai ser, progressivamente, substituda por uma visão tipicamente humanista, porque partedo homem para explicar tudo, até a própria ordem natural. A situação se inverte. 4e a visão do homem medievalera prevalentemente uma visão cosmológica, a visão do homem moderno passa a ser cada vez maisantropológica. &le parte da ideia do homem para explicar toda a realidade do mundo, e não da ideia de "Cosmos".' homem passa a ser então a raiz e a explicação /ltima de todos os problemas teóricos. )or que acontece isto?)orque, pouco a pouco, o homem ia se descobrindo como su2eito, como sub2etividade, e não mais como ob2eto naperspectiva medieval e antiga, isto é, o homem descobre que tem o poder de conhecer e o poder de transormar omundo.

    &m primeiro lugar, o poder de conhecer e o seu conhecimento não são um simples conhecimento danatureza, mas é uma certa recriação da realidade ob2etiva. 5este sentido a posição do homem, a sua atitudediante da natureza, 2! não é uma atitude meramente passiva, contemplativa% ao contr!rio, no próprio ato de

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    conhecimento da natureza, o homem tem uma atitude ativa, ele recria a natureza. &ntão o homem 2! não é ohomem$espelho da visão cosmológica% &le é, agora, o homem conhecedor, o homem$su2eito. )orém, além disso,na medida em que desvenda a ordem natural, o homem descobre que tem o poder de utilizar seu conhecimentopara transormar a própria realidade natural. A ci#ncia moderna culmina e desemboca na técnica moderna. Arevolução cientica se coroa numa revolução tecnológica. 'ra, a técnica do homem moderno lhe d! um podertremendo de transormação da natureza. & o homem descobre que ele é su2eito não apenas porque tem o poder

    de conhecer a undo a natureza, e de recri!$la pelo conhecimento, mas porque possui, além disso, o poder detransormar a própria natureza. &le prolonga sua vida, combate as doenças, transorma a isionomia da terraabrindo rios onde não havia, transpondo montanhas, alargando oceanos, etc.

    ' homem realmente é um su2eito, é uma sub2etividade criadora. &sta é a grande descoberta. ( o grandemergulho do homem moderno. 6as ao mesmo tempo em que se descobre como su2eito, ele,necessariamente, sedescobre como um ser histórico. )orque, se é su2eito, se tem poder de transormar a realidade ob2etiva, então elenão est! obrigado a permanecer preso ao ciclo imanente da natureza. &le 2! não é uma peça est!tica de umaordem natural dada em si mesma, mas por ter o poder criador, ele tem o poder de renovar, de inventar coisasnovas. 7em o poder de azer história propriamente dita. 1sto é, o homem se descobriu na aurora dos temposmodernos como um ser histórico, como um su2eito criador de um tempo histórico especiicamente humano. -izeristo, que signiica? 4igniica dizer que 2! não existe aquela ordem natural echada, acabada e pereita. 4igniicadizer que a natureza mesma est! em g#nese, est! em evolução, est! em desenvolvimento, e que este

    desenvolvimento est! agora entregue s mãos do homem moderno que se tornou antropológico.+om todo este poder, por que então a ang/stia humana a partir do inal do século 818? A exist#nciaentra crise, devido a qu#? A ci#ncia e a técnica respondem s ang/stias humanas? +omo explicar o princpio deincerteza do século 88? &is a volta para -eus e, conseq9entemente, para a 0eligião. 6as que 0eligião?

    :ica$nos o desaio ético e humanit!rio; +omo tornar o mundo acessvel para todos os humanos edemais seres que o habitam e ainda o habitarão?

    &nim, uma nova história est! por se construir. & se somos seres inteligentes, precisamos constru$lapara todos indistintamente ou, então, em vez de construir, continuaremos em nome do progresso positivista adestruir.

    Adaptação do texto original< Paradigmas Humanos, de Amauri +arlos :erreira, eita pelo )roessor =ander6oreira da +osta.

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