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Os direitos ao casamento e à união estável estão reconhecidos no artigo 226º da Constituição Federal do Brasil: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Es- tado. § 1.º O casamento é civil e gratuita a celebração. § 2.º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. § 3.º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. (...). Se a emenda constitucional (PEC) proposta pelo deputado Jean Wyllys for aprovada, o novo texto do artigo 226º, parágrafos 1, 2 e 3, será o seguinte: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1.º O casamento é civil e é gratuita sua celebração. Ele será realizado entre duas pessoas e, em qualquer caso, terá os mesmos requisitos e efeitos sejam os cônjuges do mesmo ou de diferente sexo. § 2.º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. § 3.º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre duas pessoas, sejam do mesmo ou de diferente sexo, como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. (...). Texto da PEC Locais que reconhecem o casamento entre pessoas do mesmo sexo Depoimentos JEAN WYLLYS EXPLICA: www.casamentociviligualitario.com.br “Acho que todo ser humano tem direito à felicidade. Desde que essa felicidade não cause a infelicidade do outro. Se um gay se casa com outro, a mim não me causa problema nenhum. Então, por que ser contra uma coisa que significa felicidade pra eles?” Roberto Carlos, entrevistado por Jô Soares. “A lei de casamento gay [aprovada na Espanha] é um extraordinário passo adiante no campo dos direitos humanos e da cultura da liberdade que mostra, de maneira espetacular, quanto e quão rápido se modernizou esta sociedade onde, lembremos, faz uns quantos séculos, os homossexuais eram queimados nas praças públicas. (...) Os argumentos contra o casamento gay não resistem a menor análise racional e se desfazem como teias de aranha quando examinados de perto”. Mário Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura, numa coluna para o jornal espanhol El País. “Hoje, nós somos uma sociedade mais igualitária do que na semana passada. Ao dia seguinte da sanção da lei, eu me levantei com os mes- mos direitos, mas havia centenas de milhares que conquistaram o que eu já tinha. Ninguém tirou nada de mim e eu não tirei nada de ninguém. Por isso, eu digo que agora somos uma sociedade mais igual”. Cristina Fernández de Kirchner, presidenta argentina, no dia em que promulgou a lei de matrimônio igualitário. “O que é próprio de um humanista é sentir-se ele próprio humilhado com a humilhação dos outros; o que é próprio de um humanista é sentir-se excluído com a exclusão dos outros; o que é próprio de um humanista é sentir a sua liberdade diminuída e os seus direitos limita- dos quando a liberdade de outros é diminuída e os seus direitos são limitados. É por isso que, quando aprovamos uma lei que vai fazer mais pessoas felizes, é da nossa própria felicidade que estaremos a cuidar”. José Sócrates, ex primeiro-ministro português, defendendo o casamento homossexual na Assembleia da República. “O matrimônio é um sacramento em declínio. Os gays podem recu- perá-lo. Quem pode ser contra?”. Luis Fernando Veríssimo, escritor brasileiro. “Nós não estamos legislando para gentes remotas e estranhas. Estamos ampliando as oportunidades de felicidade para os nossos vizinhos, os nossos companheiros de trabalho, os nossos amigos e os nossos familiares, e ao mesmo tempo estamos construindo um país mais decente, porque uma sociedade decente é aquela que não humilha seus membros”. José Luis Rodríguez Zapatero, presidente da Espanha, no discurso pronunciado no Congresso antes da aprovação da lei de matrimônio homossexual. Como deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro, mas também como cidadão homossexual e ativista de direitos humanos, vou propor ao Congresso brasileiro a aprovação de um projeto de emenda constitucional para garantir o direito ao casamento civil a todas as pessoas, sejam gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais ou heterossexuais. “Casamento civil” quer dizer “os mesmos direitos com os mesmos nomes”, porque a nossa Constituição Federal diz que todas as pessoas são iguais perante a lei. JEAN WYLLYS - Deputado Federal setembro/2011

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Os direitos ao casamento e à união estável estão reconhecidos no artigo 226º da Constituição Federal do Brasil:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Es-tado.§ 1.º O casamento é civil e gratuita a celebração.§ 2.º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.§ 3.º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. (...).

Se a emenda constitucional (PEC) proposta pelo deputado Jean Wyllys for aprovada, o novo texto do artigo 226º, parágrafos 1, 2 e 3, será o seguinte:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.§ 1.º O casamento é civil e é gratuita sua celebração. Ele será realizado entre duas pessoas e, em qualquer caso, terá os mesmos requisitos e efeitos sejam os cônjuges do mesmo ou de diferente sexo.§ 2.º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.§ 3.º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre duas pessoas, sejam do mesmo ou de diferente sexo, como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.(...).

Texto da PEC

Locais que reconhecem o casamento entre pessoas do mesmo sexo

DepoimentosJEAN

WYLLYSEXPLICA:

www.casamentociviligualitario.com.br

“Acho que todo ser humano tem direito à felicidade. Desde que essa felicidade não cause a infelicidade do outro. Se um gay se casa com outro, a mim não me causa problema nenhum. Então, por que ser contra uma coisa que significa felicidade pra eles?”Roberto Carlos, entrevistado por Jô Soares.

“A lei de casamento gay [aprovada na Espanha] é um extraordinário passo adiante no campo dos direitos humanos e da cultura da liberdade que mostra, de maneira espetacular, quanto e quão rápido se modernizou esta sociedade onde, lembremos, faz uns quantos séculos, os homossexuais eram queimados nas praças públicas. (...) Os argumentos contra o casamento gay não resistem a menor análise racional e se desfazem como teias de aranha quando examinados de perto”.Mário Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura, numa coluna para o jornal espanhol El País.

“Hoje, nós somos uma sociedade mais igualitária do que na semana passada. Ao dia seguinte da sanção da lei, eu me levantei com os mes-mos direitos, mas havia centenas de milhares que conquistaram o que eu já tinha. Ninguém tirou nada de mim e eu não tirei nada de ninguém. Por isso, eu digo que agora somos uma sociedade mais igual”.Cristina Fernández de Kirchner, presidenta argentina, no dia em que promulgou a lei de matrimônio igualitário.

“O que é próprio de um humanista é sentir-se ele próprio humilhado com a humilhação dos outros; o que é próprio de um humanista é sentir-se excluído com a exclusão dos outros; o que é próprio de um humanista é sentir a sua liberdade diminuída e os seus direitos limita-dos quando a liberdade de outros é diminuída e os seus direitos são limitados. É por isso que, quando aprovamos uma lei que vai fazer mais pessoas felizes, é da nossa própria felicidade que estaremos a cuidar”.José Sócrates, ex primeiro-ministro português, defendendo o casamento homossexual na Assembleia da República.

“O matrimônio é um sacramento em declínio. Os gays podem recu-perá-lo. Quem pode ser contra?”.Luis Fernando Veríssimo, escritor brasileiro.

“Nós não estamos legislando para gentes remotas e estranhas. Estamos ampliando as oportunidades de felicidade para os nossos vizinhos, os nossos companheiros de trabalho, os nossos amigos e os nossos familiares, e ao mesmo tempo estamos construindo um país mais decente, porque uma sociedade decente é aquela que não humilha seus membros”.José Luis Rodríguez Zapatero, presidente da Espanha, no discurso pronunciado no Congresso antes da aprovação da lei de matrimônio homossexual.

Como deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro, mas também como cidadão homossexual e ativista de direitos humanos, vou propor ao Congresso brasileiro a aprovação de um projeto de emenda constitucional para garantir o direito ao casamento civil a todas as pessoas, sejam gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais ou heterossexuais.

“Casamento civil” quer dizer “os mesmos direitos com os mesmos nomes”, porque a nossa Constituição Federal diz que todas as pessoas são iguais perante a lei.

JEAN WYLLYS - Deputado Federalsetembro/2011

Perguntas e questionamentos mais frequentes e as respostas para cada um delesQuestões e Respostas

“A finalidade do casamento é a procriação”.

Falso. Se assim fosse, o casamento deveria ser proibido às pes-soas estéreis, aos anciãos e às mulheres depois da menopausa. Seria necessário se instaurar um exame de fertilidade prévio e cada casal deveria jurar que vai procriar, sob pena de nulidade se não o fizer num certo prazo. Há também muitos casais de lésbicas recorrem a métodos de fertilização assistida e gays com filhos, naturais ou adotivos. Mas a finalidade do casamento é outra: as pessoas se casam porque se amam, têm um projeto de vida em co-mum e querem receber a proteção da lei. Algumas pessoas casam e nunca procriam, porque não podem ou não querem, enquanto outras têm vários filhos sem nunca casar.

“O casamento gay destruirá a família”.

Falso. A legalização do casamento gay vai incluir milhares de famílias que hoje estão excluídas, que receberão a proteção do Estado e o reconhecimento jurídico e simbólico de uma instituição que, além de assegurar uma série de direitos fundamentais, tem efeitos ordenadores em nossa cultura. Com o casamento civil igualitário, as famílias formadas por casais do mesmo sexo serão incluídas, sem que isso prejudique de forma alguma as famílias formadas a partir da união de homem e mulher. Muitos ganham, mas ninguém perde.

“Deus criou o homem e a mulher para que se unam. O casamento gay vai contra o plano de Deus”.

Há pessoas que acreditam em Deus e há pessoas que não. Alguns acreditam num único Deus, outros em vários deuses e em outras entidades. Tem pessoas que acreditam no mesmo Deus, mas de formas diferentes. E outras que, a partir da própria fé, interpretam os textos sagrados de suas religiões — por exemplo, a Bíblia — de diferentes maneiras. Há muitos debates teológicos sobre o que esses textos dizem — ou não dizem — a respeito da homossexualidade. Todas as crenças são legítimas e devem ser respeitadas, mas não devem interferir no debate das leis civis, que se ocupam dos direitos dos que crêem e dos que não crêem. Por outro lado, lembremos que outros direitos foram negados, em distintas épocas, em nome de Deus. Em meados do século XX, nos EUA, uma sentença de um juiz de Virgínia justificou a proibição do casamento entre brancos e negros com o seguinte argumento: “Deus Todo-poderoso criou as raças branca, negra, amarela, malaia e vermelha e as colocou em continentes separados. O fato de Ele ter separado as raças demonstra que Ele não tinha a intenção de que as raças se misturassem”. Em nome de Deus foram negados os direitos das mulheres (que, segundo a Igreja, não tinham alma), foram massacrados os índios (que não eram pessoas), escravizados os negros (que eram uma raça inferior) e perseguidos os judeus (que eram infiéis, porque negavam Jesus Cristo). Ao longo da história, muitas vezes, os homens têm se desculpado pelos seus próprios preconceitos, atribuindo-os a Deus, como se a culpa fosse dele.

“A Bíblia diz que a homossexualidade é pecado”.

Falso. A palavra “homossexualidade” sequer existia quando a Bíblia foi escrita, não porque não existissem homens que se apaixonassem ou tivessem atração sexual por outros homens, ou mulheres que sentissem o mesmo por outras mulheres, mas porque esse não era um critério classificatório das línguas e culturas da época. Da mesma maneira que nós não classificamos os seres hu-manos de acordo com a cor dos seus parceiros sexuais e afetivos - por exemplo, “negrossexuais” e “brancossexuais” - os antigos não classificavam as pessoas como homos e héteros. Portanto, a Bíblia não poderia jamais dizer que “a homossexualidade é pecado”, e de fato não diz.

“A Bíblia diz: ‘Não te deitarás com homem como com mulher, isso é abominação’”.

Certo; Levítico 18:22. Entretanto, nesse mesmo texto, também diz: não farás a barba, não cortarás o cabelo, não usarás roupas que misturem fios diferentes, não plantarás sementes distintas na mesma horta, não comerás mariscos etc. Do ponto de vista do Levítico, se fizermos uma leitura literal, as relações sexuais entre dois homens são tão “abomináveis” como as empadas de camarão e os cabeleireiros. No mesmo capítulo, a Bíblia aprova a escravidão, diz que os adúlteros e os filhos rebeldes merecem a morte e que as mulheres, depois de terem filhos, são imundas, ordena o sacrifício de animais etc. No entanto, de todo esse capítulo da Bíblia, os fundamentalistas apenas se lembram de uma frase e esquecem o resto. O Levítico — livro proibido durante a Inquisição, considerado pela Igreja católica “a lei morta de Moisés” — era um código de conduta dos judeus anteriores a Cristo, que servia para diferenciar seus ritos e costumes dos que eram praticados por outros povos da época. Alguns judeus ortodoxos ainda seguem suas regras quase

ao pé da letra. No entanto, a proibição de “deitar-se com homem como com mulher” não tinha nada a ver com a homossexualidade, que, como já dissemos, não era uma categoria daquela cultura, mas com a pureza das práticas rituais e com a conservação do sêmen, que devia ser usado para a procriação. A palavra “abominação” também não significava uma coisa má. As edições contemporâneas da Bíblia traduzem assim o termo hebraico “toevá”, que designava uma prática não habitual, impura, mas não implicava um juízo moral. Cortar o cabelo não era imoral, mas violava os costumes dos judeus da época, da mesma maneira que o sexo entre homens. Essa e outras passagens da Bíblia são distorcidas pelos fundamentalistas para justificar seus preconceitos irracionais contra gays e lésbicas.

“O casamento provém da natureza. O casamento gay é antinatural”.

Falso. O casamento é uma invenção humana, uma construção social e cultural que apareceu em um determinado momento da história, respondendo às necessidades da época. Foi mudando ao longo do tempo e continuará mudando. O casamento não é para nós a mesma coisa que era para as nossas avós, ou para as avós delas. E isso não tem nada a ver com a natureza. O casamento heterossexual é tão “antinatural” como o casamento homossexual — os cachorros e os cavalos não casam, não moram juntos, não praticam a monoga-mia, não são fiéis entre si, não têm propriedades para dividir ou se herdar, não registram o parceiro no plano de saúde nem passam o sobrenome aos filhotes. Nada disso é natural, mas tudo isso faz parte do casamento. Também não são naturais a medicina, os sambas de Cartola, os romances de Jorge Amado e a luz elétrica. E nós não poderíamos viver sem eles. A humanidade subverte a natureza e às vezes luta contra ela: antibióticos para curar as doenças, máquinas para atravessar os céus e os oceanos, aquecedores e ar condicio-nado para que o inverno e do verão sejam mais toleráveis e perfumes para ficar cheirosos. O casamento é mais uma dessas invenções.

“A palavra ‘casamento’ pertence à religião”.

Falso. A Constituição brasileira, no artigo 226 § 1, diz claramente: “O casamento é civil”. Casamento religioso e casamento civil são duas instituições diferentes, com regulações diferentes — o casamento civil, por exemplo, admite o divórcio, proibido por várias religiões. Também é falso que o casamento tenha sua origem na religião cristã. O casamento como contrato civil é bem anterior ao sacramento que leva o mesmo nome: foi no ano 1215 que a Igreja o adotou, mas ele já existia como contrato civil desde muito antes e também era praticado por outras religiões, com diferentes regras — os judeus, por exemplo, sempre admitiram o divórcio.

“O casamento gay viola a liberdade religiosa: padres e pastores serão obrigados a casar homossexuais”.

Falso. O projeto de emenda constitucional do deputado Jean Wyllysse refere exclusivamente ao casamento civil. Se for aprovado, os casais homossexuais brasileiros vão poder casar no cartório, não na igreja. Em alguns países, tem igrejas — por exemplo, luteranos, metodistas e anglicanos — que casam homossexuais, e a Igreja católica dá a bênção aos casais que casam pelo civil. Pois é, a Igreja católica faz isso em alguns países! Também tem rabinos judeus que aceitam o casamento gay. No entanto, essa decisão corresponde a cada religião. Se as igrejas não querem casar os gays, ninguém vai obrigá-las.

“O casamento sempre foi entre um homem e uma mulher”.

Falso. Na história do ocidente, o casamento homossexual foi proibidopela primeira vez no ano 342, por um decreto do Imperador romano. O casamento era um contrato privado que produzia efeitos jurídicos e existe evidência histórica de que também havia casamentos homossexuais, cujos efeitos — p. ex., a herança — eram reconhecidos. O imperador Nerão casou duas vezes, em cerimônia oficial, com homens. Suetônio se refere a ele com ironia, dizendo que “se o pai de Nerão tivesse casado com esse tipo de esposa, a humanidade teria tido melhor sorte”. A proibição do casamento gay se deu no contexto do avanço do cristianismo, adotado como religião do Império. No entanto, existe evidência histórica de que a própria Igreja, séculos atrás, aceitava o casamento gay. O historiador americano John Boswell, que fora professor de história medieval na Universidade de Yale, escreveu um livro sobre isso, “As bodas da semelhança”. Entretanto, vamos supor que o casamento sempre tivesse sido entre um homem e uma mulher... E daí? As mulheres nunca tinham podido votar até que conquistaram esse direito. A história é assim: as coisas mudam.

“A homossexualidade não é natural”.

Falso. Se ao longo da história, em todas as épocas e em todas as cul-turas, houve sempre uma proporção mais ou menos estável de pessoas homossexuais, e se a homossexualidade também existe em muitas es-pécies animais, é claro que ela também faz parte da natureza. Quan-

do um homem se apaixona ou se sente atraído por outro homem, ou quando isso acontece entre duas mulheres, é porque essa é a inclinação natural que eles têm. Não é uma escolha, como algu-mas pessoas pensam (Você é heterossexual? Quando escolheu? Alguma vez considerou a outra possibilidade e “decidiu” se gos-taria de homens ou de mulheres ou, simplesmente, sempre gostou do que gosta? Pois é, foi assim mesmo para os/as homossexuais!).

“A homossexualidade não é normal”.

Não devemos confundir “maioria” com “normalidade”. A homossexualidade é tão normal quanto a heterossexualidade, só que é minoritária. Não é melhor nem pior, nem mais nem menos saudável, da mesma maneira que não é melhor ser branco ou negro. Os/as ruivos/as, as pessoas que vivem mais de cem anos, os que têm olhos azuis e os gênios da matemática também são minoria, e nem por isso devem ser discriminados. E todos/as eles/as têm direito a casar.

“Não há discriminação: os gays podem casar, desde que seja com alguém do sexo oposto”.

Absurdo! Os homossexuais desejam, apaixonam-se e constroemprojetos de vida com pessoas do mesmo sexo. O ministro da Cor-te Suprema da Justiça argentina Raúl Zaffaroni já disse que, se aceitarmos esse raciocínio, deveríamos aprovar “a proibição dosmatrimônios mistos do regime nazista ou a racista norte-america-na, dado que nada impedia aos judeus e aos afro-americanos decasar entre eles nem aos ‘arianos’ e brancos fazer o mesmo”.

“Não é necessário o casamento gay. Os homossexuais devem se conformar com a união civil”.

Jamais. Não existe a quase-igualdade, mas somente a igualdadee a desigualdade. E a única maneira de garantir a igualdade emrelação ao casamento é que todas as pessoas tenham acesso aele. Quando um homem homossexual aluga um apartamento, eleassina um contrato de “aluguel”, não de “vínculo imobiliário gay”. Da mesma forma, quando um gay ou uma lésbica casa, isso é um “casamento”. Algum político democrático defenderia que quando um negro se casa, seu casamento fosse chamado “união de negros”? É a mesma coisa! A “união civil”, como instituição alternativa ao casamento, destinada aos casais do mesmo sexo, seria um tipo de gueto. Trata-se de uma alternativa inspirada na doutrina “Iguais, mas separados”, que serviu para justificar as leis racistas que vigoraram até as décadas de 1950 e 1960 em alguns estados dos EUA: no caso Plessy v. Ferguson, em 1896, a Corte Suprema dos Estados Unidos convalidou uma lei de Luisiana que estabelecia assentos separados para brancos e negros nos ônibus, alegando que, desde que os assentos de uns e outros fossem do mesmo tipo e qualidade, não violavam o princípio de igualdade perante a lei. Essa doutrina se manteve até meados do século XX, e agora parece ressuscitar nos discur-sos de alguns dos opositores ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.

“Em muitos países, os direitos dos casais do mesmo sexo foram reconhecidos através da união civil e o problema ficou resolvido”.

Falso: sem casamento, nunca ficará resolvido. Em alguns países,a união civil foi o primeiro passo, numa época em que a dis-cussão sobre o casamento parecia impossível, mas tempo de-pois, o assunto voltou a ser debatido e o casamento gay foi apro-vado, ou será aprovado em breve. Em outros, a união civil foi a resposta de políticos sem coragem que se recusaram a aceitar a igualdade jurídica, mas os coletivos LGBT continuam lutando pelo direito ao casamento. A alternativa da união civil foi defen-dida pelos setores mais reacionários da política, por exemplo, na Espanha, em Portugal e na Argentina. Esses mesmos setores anti-gamente se opunham à união civil e só começaram a defendê-la quando perceberam que o casamento gay seria aprovado, como uma maneira de tentar impedi-lo — eles chamavam de “mal menor”. À medida que a negação de direitos materiais como a herança, a pensão, o plano de saúde e outros semelhantes deixa de ser “politicamente correta”, o preconceito resiste na “defesa” do nome. Em Portugal, onde essa discussão dominou o debate naAssembléia da República, que legalizou o casamento gay em 2010, o ex primeiro-ministro José Sócrates explicou sua oposiçãoem relação à união civil com as seguintes palavras: “Falemos claro: o que acontece é que essa proposta mantém a discrimi-nação, e uma discriminação tanto mais ofensiva quanto, sendo quase inútil nos seus efeitos práticos, é absolutamente violenta na exclusão simbólica, porque atinge pessoas na sua dignidade, na sua identidade e na sua liberdade (...) Pela minha parte, não aceito ficar a meio caminho”. Tanto na Espanha quanto na Argentina, os coletivos LGBT defenderam o lema “Os mesmos direitos com os mesmos nomes”, o mesmo que nós defendemos no Brasil.