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Texto-base - 11º Encontro de CEBs - 2012

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Page 1: Texto-base - 11º Encontro de CEBs - 2012- Arquidiocese de Florianópolis

TEXTO-BASE

CNBB Regional Sul 4

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2 11º Encontro Estadual das CEBs

ApresentAção

As Comunidades Eclesiais de Base da Igreja no Regional Sul IV da CNBB estão empenhadas em preparar-se bem para o seu 11º En-contro Estadual. A qualidade deste evento dependerá de estudo e reflexão sobre a realidade atual, escuta da Palavra de Deus, oração, abertura às novidades do Espírito Santo e colaboração mútua.

Seguindo o método Ver, Julgar e Agir, o presente subsídio deixa-se orientar pelas atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil e por outros documentos eclesiais. Preparado com o ardor que caracteriza os discípulos missionários de Jesus Cristo, o texto se qualifica como precioso auxilio na preparação de nossas Co-munidades para o Encontro de Florianópolis em setembro de 2012.

O Profeta Jeremias, em cujo Livro se buscou o Lema “Eu ponho minhas palavras na tua boca” (Jr 1,9b), viveu a sedução da Fé no Deus Vivo. Em Aparecida, Bento XVI perguntava: “O que nos dá a fé nesse Deus?” E respondeu: “Dá-nos uma família, a família universal de Deus na Igreja Católica. A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos leva à comunhão: o encontro com Deus é, em si mesmo e como tal, encontro com os irmãos, um ato de convocação, de unificação, de responsabilidade para com o outro e para com os demais”.

Também as CEBs, em sua trajetória de 50 anos, marcam a his-tória com um rasto de fé. Daí vem sua capacidade de gerar família de irmãos e irmãs, de libertar do isolamento, de promover comunhão; também de convocar, de unificar e de responsabilizar em relação ao outro e aos demais. Comunidades de fé têm o dinamismo da “justiça e da profecia a serviço da vida”.

Pe. João Francisco SalmAdministrador Arquidiocesano de Florianópolis

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orAção do 11º encontro estAduAl dAs ceBs

Deus, Pai e Mãe da vida que revoa nos ares; que mergulha nos mares; que se move na terra; feita à tua imagem viva e perfeita: na criança que nasce; no jovem que sonha: sonhos de amor, de ternura e solidariedade; no adulto que trabalha e luta por uma terra sem males, sem senhores e sem escravos; no idoso que teima pela vida.

Derrama tua bênção, estende tua mão protetora sobre nós, ouve os gemidos de um parto novo, de um mundo só de irmãos e irmãs.

Pela força do Ressuscitado, e pelas luzes do teu Espírito, faze ressurgir uma Igreja toda ministerial, na qual todos tenham vez e voz.

Uma Igreja profética, humilde e corajosa, capaz de anunciar e fazer acontecer o teu Reino: no pão repartido, na lágrima enxugada, na conquista da vida, na dignidade de todos os teus filhos e filhas, de todos os teus povos e nações.

Deus, Pai e Mãe, faze com que nossa fé se faça ação profética e transformadora, rasgando as noites escuras das tempestades ameaçadoras.

Faze despontar a aurora de uma nova Páscoa, onde a Justiça e a Profecia estejam a serviço da Vida.

Uma nova Ressurreição, de alegria e de paz abundante para todas as pessoas do teu mundo.

Amém, axé, auerê, aleluia!

Pe. Luiz Fachini

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4 11º Encontro Estadual das CEBs

MeMóriA dos encontros estAduAis dAs ceBs eM sAntA cAtArinA

1º Encontro: Igreja, povo oprimido que se organiza para a libertação – Diocese de Joinville, 1980

2º Encontro: Igreja, povo oprimido que se organiza para a libertação – Diocese de Chapecó, 1981

3º Encontro: CEBs, povo unido, semente de uma nova sociedade – Diocese de Lages, 1983

4º Encontro: CEBs, Igreja em busca da terra prometida – Diocese de Tubarão, 1985

5º Encontro: Povo de Deus na América Latina a caminho da libertação – Diocese Rio do Sul, 1988

6º Encontro: Povo de Deus renascendo das culturas oprimidas – Diocese de Caçador, 1991

7º Encontro: CEBs, vida e esperança nas massas – Arquidiocese de Florianópolis, 1997

8º Encontro: CEBs, povo de Deus em dois mil anos de caminhada – Diocese de Chapecó, 1999

9º Encontro: CEBs, espiritualidade libertadora: Seguir Jesus no compromisso com os excluídos e excluídas – Diocese de Criciúma, 2004

10º Encontro: CEBs, Povo de Deus cuidando da vida – Diocese de Lages, 2008

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introdução

“Os pés dos romeiros são como lápis. Nós, pobres, somos de poucas letras. Mas a gente também escreve com os pés. Só que, pra ler essa escrita, precisa conhecer os chãos da vida e das estradas duras. E é preciso curtir o couro dos pés. Pezinhos de pele fina não deixam quase nada escrito nos caminhos da vida”.

(Depoimento de um romeiro)

Em setembro de 2012 acontecerá na Arquidiocese de Florianó-polis o 11º. Encontro Estadual das CEBs, com o tema: Justiça e Profecia a Serviço da Vida; e o lema: “Eu ponho minhas palavras na tua boca” (Jr 1,9b). Esse Encontro acontecerá nos dias 07 a 09 de setembro de 2012, nas comunidades de periferia do meio urbano da grande Florianópolis. Será um tempo de quase primavera... Tempo de fazer memória dos 100 anos do Contestado, recordando a luta dos camponeses caboclos por terra e justiça. Tempo de celebrar os 50 anos da convocação do Concílio Vaticano II, verdadeira primavera na vida da Igreja.

Além de ser um importante momento de comunhão eclesial do nosso Regional Sul 4, unindo as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) e os GR/F (Grupos de Reflexão ou Grupos de Família) das 10 dioceses do Estado, esse Encontro quer ser também preparação para outro evento maior: o 13º Intereclesial das CEBs, que acontecerá de 07 a 11 de janeiro de 2014, na Diocese de Crato, Ceará, com o tema: Justiça e Profecia a Serviço da Vida; e o lema: CEBs, romeiras do reino no campo e na cidade.

Crato fica ao lado de Juazeiro do Norte, um grande centro de de-voção popular e que já foi um lugar de resistência, uma característica que relaciona CEBs com a religião popular. Ao mesmo tempo, é um centro urbano importante do Ceará. Os romeiros também vêm das cidades, dei-xando claro que não existem fronteiras entre o rural e o urbano.

Este texto-base é uma reflexão sobre a realidade atual, ilu-minada pela Palavra de Deus e aberta para novas perspectivas de ação. Queremos ver com os olhos misericordiosos do Pai, julgar com a Palavra e o Evangelho do Filho, e agir com a força do Espírito San-to. É esta a ótica trinitária do modo de ser e agir da Igreja nos GR/F e nas CEBs.

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6 11º Encontro Estadual das CEBs

o treM dAs ceBs continuA nos trilhos...

Depois de um longo período de crise, as CEBs voltaram à pauta da CNBB e do episcopado. Sua presença no documento de Aparecida, na Missão Continental e, finalmente, na mensagem aprovada na As-sembleia da CNBB, de 2010, são aspectos significativos, ganhando for-ça no último Intereclesial, em Porto Velho, que contou com a presença de 50 bispos. Isto confirma que as CEBs não morreram, e que, mesmo num período de extrema fragilidade, elas não deixaram de existir. São esses mesmos documentos da Igreja que “apontam as CEBs como si-nal de vitalidade para a Igreja, escolas de formação para os cristãos comprometidos com sua fé, discípulos e missionários do Senhor, como testemunhas da experiência das primeiras comunidades cristãs (At 2,42-47); comunidades que permitem chegar ao povo o conhecimento da Palavra de Deus e de seu compromisso social em nome do Evangelho; lugar do surgimento de novos serviços e ministérios na educação da fé em favor da vida na sociedade e na Igreja” (cf. DAp 178).

As CEBs seguem cheias de desafios: por uma espiritualidade nova, capaz de reconstruir o universo simbólico da nossa expressão religiosa; pela renovação das lideranças nas CEBs e a incorporação dos jovens; por uma relação ecumênica e de diálogo inter-religioso; por uma relação de parcerias com os movimentos sociais; por experiências ecológicas; pela aproximação com as novas redes virtuais de comunicação social; pela equidade nas relações de gênero, dentro da Igreja; pela formação e reno-vação do seu próprio quadro de assessoria e acompanhamento.

A caminhada das CEBs está presente na história da nossa Igreja, desde os anos 60, como sinal de esperança na diversidade de culturas e lutas de resistência. Delas emerge um povo teimoso na esperança, corajoso na profecia, destemido no testemunho, cuidadoso com a vida, e fiel ao Deus que caminha com os pobres e alimenta a esperan-ça de um outro mundo possível. O maior desafio que se nos impõe é o de manter viva a memória desta caminhada, para confirmar as CEBs como voz profética do Reino de Deus em nossa história.

“Na vida das CEBs acolhemos com alegria o sorriso das crianças, a coragem da juventude, a ousadia das lideranças, e as bandeiras erguidas; acolhemos o gosto à vida no sangue dos velhos e no pão da partilha dos pobres libertos”

(Pe. Reneu Zortea).

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pArte i – Ver

Preparando o estadual, devemos vivenciar cada dia o tema: Justiça e profecia a serviço da vida, e o lema: “Eu ponho minhas palavras na tua boca” (Jr 1,9b). Somos cada dia pátria de justiça, profecia, serviço e vida.

As ceBs no contexto cAtArinense

Antes mesmo de existirem as CEBs, em nosso Estado houve ini-ciativas semelhantes, tais como a dos redutos do Contestado e a das missões de João Maria, considerado santo e profeta do Contestado. O 11º Encontro Estadual das CEBs faz parte de um conjunto de iniciativas que estarão celebrando, entre os anos de 2012 a 2016, o centenário do Contestado. As CEBs são convidadas a animar e participar das iniciati-vas que visam a resgatar a memória do Contestado como um dos maio-res conflitos armados e movimentos de resistência popular da história do Brasil. Esse conflito deixou marcas profundas na vida e na cultura dos descendentes do Contestado. A região sul do Brasil e, mais parti-cularmente, a cultura cabocla catarinense incorpora em sua mística e religiosidade a mensagem de João Maria, considerado santo e profeta do Contestado. Em torno dele existem diversos mitos, ritos, símbolos, monumentos, sacrifícios e rezas, que continuam alimentando as lutas populares dos descendentes do Contestado na justiça e profecia em defesa da vida e na construção de um outro mundo possível.

Outra referência importante para as CEBs é o Concilio Ecumênico Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII, há 50 anos. O Concílio Vati-cano II provocou eco em nível de Igreja e sociedade. Foi realmente uma “inesperada primavera” na história da Igreja. Foi a partir desse Concílio que, na América Latina, desde Medellín, a Igreja, comprometida com a ‘construção da paz, que é fruto da justiça’, e com a ‘defesa dos direi-tos dos pobres e oprimidos’, iniciou um amplo processo de reforma e conversão, assumido com novo entusiasmo como mandato evangélico. Com o resgate da Igreja – Povo de Deus, o Concílio motivou as comuni-dades e suas lideranças a buscar e a encontrar o próprio Cristo no meio

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dos povos e culturas desprezados e esquecidos por parte dos poderes públicos e de outras tantas instituições elitistas e burocratizadas. A par-tir do Concílio Vaticano II, a Igreja aprendeu, também, que as CEBs, ar-ticuladas em redes de serviço à vida, constituem uma forma autêntica da própria Igreja de Jesus Cristo na atualidade.

Vários documentos da Igreja assinalam que vivemos uma mudan-ça de época, que o mundo sofreu transformações profundas, nas últi-mas décadas, pela hegemonia do capitalismo neoliberal. Em detrimento das políticas nacionais básicas (saúde, educação, moradia e segurança), o país optou pelo pagamento da dívida externa, trazendo graves conse-quências, tais como o alargamento ainda maior da distância entre ricos e pobres, e, também, a desestruturação do mundo do trabalho, o desem-prego, a precarização do trabalho, a destruição do tecido social e de suas relações solidárias, o aumento da favelização e da criminalidade.

Nos últimos anos, a esperança respirava novos ares. O Brasil elegeu um presidente que prometia erradicar a fome e a miséria, fazer acontecer a reforma agrária, distribuir a renda e colocar ética na política. Muitas pessoas imaginavam que ele seria o salvador da pátria. Passados seus dois mandatos, são visíveis apenas pequenas mudanças no país, enquanto as grandes ainda não aconteceram: as estruturas geradoras da desigualdade social permanecem, a reforma agrária não saiu do papel, a corrupção não parece ter diminuído. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) se deixou cooptar pelo gover-no, e diversos movimentos sociais enfraqueceram; o projeto alterna-tivo de sociedade, que previa a transformação social através da luta contra o neoliberalismo, foi substituído por pequenas melhorias e reformas. Os pobres puderam se alimentar melhor e acessar a certos bens, como um carro e alguns eletrodomésticos, mas isso não sig-nifica que houve diminuição da desigualdade social. Os banqueiros, os latifundiários e os grandes empresários nunca acumularam tanta renda como na última década.

Nosso Estado de Santa Catarina conta com muitas riquezas: re-ligiosa, cultural, ecológica, econômica e outras mais, todavia ainda são grandes os problemas e desafios a serem enfrentados. Muitos gritos continuam brotando do chão de nossa realidade. Eles podem ser classificados em cinco grandes blocos:

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1 O gritO que brOta dO chãO da nOssa cultura

Santa Catarina é um Estado com grande diversidade cultural, o que faz da identidade catarinense um mosaico de etnias. Indígenas e descendentes de europeus, africanos e asiáticos, geralmente miscige-nados, compõem e expressam, de diferentes maneiras, a riqueza e a beleza de nossa cultura e religiosidade (cf. DAEISC, n. 12).

Vivemos um tempo marcado por profundas mudanças e trans-formações, com sérias implicações para o contexto catarinense. Des-tacam-se a crescente fragmentação sócio-cultural; a crise do projeto civilizacional e a crise da razão e das ciências, das utopias e das institui-ções. A supervalorização da subjetividade e o individualismo enfraque-cem os vínculos comunitários e geram frustração, ansiedade, angústia; tentação de refugiar-se em falsas seguranças; impõe-se, como valor, viver o presente, sem projetos a longo prazo, sem preocupação, sem compromisso com as pessoas, sem responsabilidade social; cresce o sentido estético com pouco senso ético; o consumismo desperta cada vez mais desejos irrealizáveis, nos quais se confundem felicidade com bem-estar econômico, saúde física com satisfação hedonista... O mer-cado, com sua sede de lucros, cria mecanismos de consumo compulsi-vo e oferece facilidades que resultam no endividamento das pessoas e na desestruturação familiar.

As CEBs estão inseridas nesses contextos: de crise, de mudan-ças profundas e rápidas, numa era de globalização. Os cenários são múltiplos e complexos. O mundo atual, predominantemente urbano, é marcado pelo desenvolvimento cada vez maior das tecnologias de informação e comunicação. Seus instrumentos se multiplicam em alta velocidade: a internet, as redes sociais, os celulares possibilitam novas formas de informação e de organização e reduzem as antigas fronteiras entre o rural e o urbano. As CEBs, nascidas num contexto rural (1960-70), enfrentam, agora, o desafio de adaptar-se aos cen-tros urbanos e enfrentar os desafios que eles apresentam.

Frente a esse contexto, questiona-se: como transmitir às novas gerações as experiências e valores das gerações anteriores, inclusive a fé e o modo de vivê-la? Como atrair os jovens e inseri-los nas lutas em defesa da vida e nas CEBs?

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2 O gritO que brOta dO nOssO chãO sóciO-ecOnômicO

O Brasil não é um país pobre, mas um país extremamente de-sigual, com muitos pobres. Considerando o crescimento em todos os setores da economia, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística), o Brasil é o 7º país na economia mundial, com o Produto Interno Bruto (PIB) acumulado em 7,5% e com PIB nacional em 4%, mas com uma taxa de desemprego variando em 6,2% nos últimos meses. Não basta a mão de obra qualificada, é necessário um plano de desenvolvimento que transforme a situação de desemprego estrutural e exclusão social existentes.

O Estado de Santa Catarina vive um processo de urbanização: são 293 municípios, com mais de 6 milhões de habitantes, dos quais 83% vivem em áreas urbanas e 17% no meio rural. De 2006 para cá, intensificou-se também o processo de “litoralização”: 65% da popula-ção vive nos 70 municípios do litoral (cf. DAESC, n 14).

A economia é diversificada, voltada para a exportação, com desta-que para os setores: de alimentos, metalúrgico, carvão mineral, cerâmico, elétrico, de plásticos, e, também, o polo madeireiro, mobiliário, de celulo-se, têxtil e tecnológico. É um modelo econômico que gera o progresso, mas falta o desenvolvimento, uma vez que o desenvolvimento supõe que todas as pessoas que habitam um mesmo espaço tenham vida digna.

Santa Catarina aparece entre os Estados com melhor índice de desenvolvimento humano (IDH), mas ainda convive com graves proble-mas sociais, como a urbanização desordenada, com uma infra-estrutura deficitária e sem planejamento, com a favelização, o trabalho infantil, a prostituição infanto-juvenil, o sub-emprego, a falta de qualificação da mão de obra, o sistema de transporte coletivo insuficiente e ineficiente, a concentração de renda, o aumento da violência, do tráfico e do con-sumo de drogas, que envolve cada vez mais crianças e adolescentes; a superlotação de pobres nos presídios, e a impunidade para os criminosos de colarinho branco, o que leva instituições públicas ao descrédito.

A falta de oportunidades locais de emprego, de salário decente faz do nosso Estado destaque na migração para outros Estados em busca de melhores condições de vida. Contrapondo-se a esse cená-rio, surge em algumas comunidades a prática da Economia Popular Solidária, que é um novo jeito de convivência solidária, sustentável e de inclusão social.

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O Estado ganha destaque nacional em campos como a educa-ção e a comunicação. Na educação, 93% da população, acima de 5 anos, está alfabetizada. O que falta é uma educação de qualidade e remuneração digna aos profissionais de ensino. No ano de 2011, os professores fizeram uma das maiores greves da história do Estado. Multiplicaram-se as instituições de ensino superior, mas predomina nelas a lógica do mercado, a vontade de lucros. Houve grande desen-volvimento nas áreas da informação e comunicação, surgiram muitos jornais, rádios e internet, todavia o acesso à internet ainda é restrito (para 26% da população), e a grande mídia do Estado é dominada por apenas um grupo poderoso que manipula as informações.

Na agricultura impera o agronegócio, o monocultivo em gran-des propriedades, a concentração de terra e o controle da produção e do capital por grandes empresas. A falta de produção de alimentos para o consumo interno e o uso de agrotóxicos comprometem a saú-de da população. As pequenas propriedades exercem atividades que absorvem muita mão de obra, geralmente da família, mas a baixa re-muneração, a falta de descanso semanal e a falta de políticas públicas de proteção, crédito e de incentivo provocam o êxodo rural e diversos outros problemas humanos, sociais e ecológicos.

A multiplicação de barragens e a mercantilização e privatização da água, diante das possibilidades do uso de energia solar e eólica, denotam a falta de responsabilidade e seriedade dos governos no que tange à de-fesa da ecologia e da vida. 56% dos municípios sofrem a contaminação do solo e das águas (cf. IBGE), e não há qualquer cuidado e fiscalização em relação à perfuração de poços artesianos. A criação de suínos e aves au-menta a contaminação do solo e do ar, e os lucros dessa produtividade fi-cam para duas ou três grandes empresas do setor. Pouco se reflete sobre a diminuição e a privatização da água, sobre as taxas exorbitantes para o uso da energia elétrica e sobre os projetos e negociatas que impedem a pesquisa e o desenvolvimento de novas fontes de energia.

O Estado tem um dos piores índices de coleta de esgoto do país, sendo que apenas 12% dos municípios catarinenses possuem rede coletora de esgoto sanitário implantado e adequado, enquanto a média nacional é de 44%. 22% têm rede de distribuição de água, e o déficit habitacional é de 400 mil moradias.

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3 O gritO que brOta dO nOssO chãO pOlíticO

Nos últimos anos, o Estado vive uma reengenharia no campo político. Enquanto em âmbito nacional segmentos da classe traba-lhadora chegaram ao governo, no Estado a classe dominante ignorou diferenças de partidos, distâncias históricas e formou um bloco único, chamado “tríplice aliança”, para inviabilizar o projeto político do cam-po democrático popular. Constata-se, também, uma forte diminuição no interesse pela política por parte das classes populares. Muitas li-deranças populares, ao assumirem determinadas funções políticas, negam suas origens, esquecem projetos que antes defendiam, dei-xam-se cooptar por grupos poderosos e, em não raros casos, deixam de apoiar os movimentos sociais e as organizações populares e aca-bam por dar legitimidade ao atual modelo econômico neoliberal.

Alguns movimentos populares e sindicatos esqueceram a sua capacidade de mobilização, voltando-se para demandas pontuais e da própria categoria, abandonando as lutas mais amplas ligadas à busca de um outro mundo possível e de um projeto político para o país. As lutas populares, por sua vez, emergem e se multiplicam, po-rém estão dispersas e pouco articuladas, não há unidade de projetos e nem de metodologia. A capacidade de atrair os setores excluídos e empobrecidos é reduzida a poucas iniciativas. Percebe-se um em-penho de lideranças religiosas, de ONGs e de movimentos sociais na proposição e reivindicação de políticas públicas, nos conselhos e fó-runs, preocupadas com o cotidiano das comunidades, com a erradi-cação da miséria e da fome, e com a inclusão social.

O atual governo é uma mera continuação do governo anterior, pois mantém a estrutura das regionais, que mais servem para acomo-dar os parceiros políticos do que para ajudar na administração, além dos altos custos que isso significa para o Estado. Do ponto de vista das prioridades básicas, a saúde não tem apresentado mudanças, o SUS ainda não é um serviço de qualidade e acessível a toda a popu-lação, e a educação segue o mesmo descaso de governos passados; os profissionais precisam apelar para mobilizações de paralisação dos serviços, para se fazerem ouvir.

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A crise no campo da atuação política é sobretudo sentida em relação à atuação dos Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Percebe-se a necessidade de pautar de forma mais qualificada o debate da Democracia Representativa, na tentativa de superar a prática de eleger representantes do povo, mas não fiscalizar sua atuação, prática nada diferente à de quem entrega um cheque em branco a alguém, com um agravante: nem sempre se lembra para quem foi dado o cheque. No Executivo, são criadas certas estruturas para atender demandas decorrentes de alianças que visam a ga-rantir as elites no governo, fazendo do Estado um instrumento que protege os interesses dos donos de indústrias. No Legislativo, está em curso o debate sobre a forma de organização da sociedade, so-bretudo na esfera dos gastos públicos: compromisso com a folha de pagamento, pouco investimento em programas de inclusão social. É impedida a participação popular em questões importantes, como o aumento do salário dos vereadores, a administração dos gastos públicos e a definição de prioridades. Quanto ao Judiciário, crescem as denúncias de falta de imparcialidade, de favoritismos e de julga-mentos equivocados e comprados.

O Movimento pela Criação da Defensoria Pública em Santa Catarina mobilizou a Sociedade Civil organizada, estabelecendo um cronograma de atividades ao longo do ano de 2010 e 2011, a fim de tramitar no Parlamento Catarinense o projeto de lei de iniciativa po-pular assinado por mais de 48 mil cidadãos. A implantação da Defen-soria Pública no Estado, de acordo com o que está estabelecido pela Constituição Federal de 1988, assegura o direito à assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. “Esperamos que, ao longo deste ano, o projeto seja discutido, votado e aprovado, para que se corrija uma ilegalidade flagrante no modelo de assistência jurídica que pre-domina no Estado”.

Com a lei 9840 de iniciativa popular percebe-se algum avanço, uma vez que ela ofereceu mudanças no processo eleitoral, exigindo a Ficha Limpa e criando consciência política. Essa causa, porém, ainda não foi abraçada por vários poderes públicos e instituições sociais e religiosas que, muitas vezes, se beneficiam com a corrupção ou se omitem.

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4 O gritO que brOta dO nOssO chãO ecOlógicO

Nos últimos anos, sobretudo na esfera nacional, os governos têm ignorado os alertas divulgados por diferentes organismos internacio-nais, tais como o IPCC (Painel Intergovernamental das Mudanças Climá-ticas), sobre as ameaças ao meio ambiente. Em vez de recuar, também em nosso Estado possibilitou-se o plantio de sementes transgênicas, inclusive a soja, que havia sido plantada ilegalmente no país.

O Estado de Santa Catarina tem sofrido significativas e preocupan-tes alterações climáticas nos últimos anos, muitas delas agravadas pela ação humana, desmedida e irresponsável, deixando vítimas de toda sor-te, perdas de entes familiares e de bens adquiridos com muito sacrifício.

Nos últimos 50 anos, a temperatura no Estado subiu entre 1,4°C e 3,2°C. As consequências das mudanças climáticas estão cada vez mais vi-síveis em nossa região: catástrofes, furacões, tufões, vendavais, enchen-tes, deslizamentos, secas, granizos, marés elevadas, calor e frio além do normal. Em 2008, o Estado sofreu danos irreparáveis com enchentes no sul e no norte, e secas e estiagens no oeste. O modo de produção capi-talista privilegia o capital e não se preocupa com a destruição do meio ambiente e da vida das pessoas. A biodiversidade sofre com os desmata-mentos. Santa Catarina é o 2º Estado que mais desmata. Apenas 23% da floresta está protegida. Convivemos com o grave problema das emissões de gases na atmosfera, provocados pela poluição automotiva e queimas de gás, óleo, carvão e lenha nas indústrias. O Estado já se depara com uma nova realidade, a dos migrantes ambientais.

Crimes ambientais se alastram pelo Estado, sem que qualquer medida seja tomada: criação da Fosfateira de Anitápolis, que vai pro-vocar a destruição dos lagos; a destruição de mangues para constru-ção de shopping center; as construções de usina hidrelétrica e termo-elétrica em Treviso; as mineradoras, o uso de agrotóxicos, que trazem prejuízo à saúde e à natureza com a contaminação dos lençóis freáti-cos; a plantação de pinus e eucalipto, que destroem as nascentes e a biodiversidade, e o descaso quanto à regulamentação da mata ciliar.

É urgente e necessário que nos coloquemos contra o projeto de lei (PLC 30/2011), aprovado pela Câmara dos Deputados em maio desse ano, que modifica, para pior, o Código Florestal Brasileiro. Temos que nos mo-

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15Texto-Base

bilizar para garantir uma lei que efetive a conservação e uso sustentável das florestas em todos os biomas brasileiros; que trate de forma dife-renciada e digna agricultores familiares e populações tradicionais; que garanta a recuperação florestal das áreas ilegalmente desmatadas; que reconheça e valorize quem promove o uso sustentável; que acabe de vez com o desmatamento ilegal; e que contribua para evitar desastres am-bientais e ajude a garantir água de boa qualidade para as cidades. Con-forme as orientações vindas da CNBB, com o abaixo-assinado podemos garantir a modificação do texto que tramita no Senado.

Constata-se, também, que emerge um novo campo de luta e resistência contra o neoliberalismo, a partir de iniciativas de recicla-gens, cooperativas de catadores, de produção orgânica e agroecológi-ca, de abaixo-assinado pelo limite da propriedade, entre outras.

5 O gritO que brOta dO nOssO chãO religiOsO

O campo católico (com 80% da população) vem cedendo espa-ço para o pluralismo religioso. É rica a presença da religiosidade po-pular, mas uma mentalidade individualista, utilitarista e subjetivista a quer dominar. A procura do bem-estar interior e do sucesso nos ne-gócios, pautada pela teologia da prosperidade, se impõe através dos meios de comunicação, inclusive em alguns programas da mídia cató-lica, contribuindo assim para a banalização da religião, reduzindo-a à esfera privada, ou como espetáculo para entreter o público (cf. DAEISC nº 30,32). Nessa perspectiva, não há lugar para a solidariedade, para “o amor de Deus e o serviço aos semelhantes” (cf. DGAEIB 2011-2014, nº22).

Constata-se uma volta ao clericalismo: as decisões ficam cen-tralizadas no líder religioso, no bispo ou no padre. Fruto de uma insu-ficiente formação, tanto do clero quanto dos leigos e leigas, emerge a confusão de crenças, superficialismo, subjetivismo, incapacidade de dar respostas às questões próprias do pluralismo religioso; a falta de uma espiritualidade bíblica e eclesial leva à idolatria, a fazer de Deus um objeto de desejos humanos, um meio de ganhar dinheiro (cf. DAEISC nº40). Há um conjunto de pastorais, mas não uma pastoral de conjunto, um planejamento, com diretrizes assumidas pelo conjunto das paróquias, movimentos e pastorais. O número de vocacionados à vida consagrada vem decaindo por falta de uma proposta atraente e motivadora no campo da ação pastoral.

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Mesmo reconhecendo que a maioria das ações pastorais são desenvolvidas pelas mulheres, não lhes é dada a devida valorização, os espaços de decisões continuam dominados pelos homens. Ganham corpo a Pastoral do dízimo e os Conselhos. É invejável a estrutura física e econômica de grande parte das comunidades eclesiais, todavia o in-vestimento dos recursos financeiros é direcionado muito mais para as estruturas do que para as pessoas. Cresce o empenho e o espírito mis-sionário, das missões populares, mas há pouca abertura ao ecumenis-mo. Há poucas e fracas iniciativas em prol dos afastados da Igreja e dos excluídos da sociedade. A Cáritas e as Pastorais Sociais, preocupadas com o cotidiano das comunidades, procuram manter viva a esperança de um outro mundo possível, porém, a dimensão social da Igreja tem tido pouco incentivo por parte dos seus dirigentes. A mídia promove os ídolos religiosos, com suas liturgias sacramentalistas e alienantes, e despreza as lutas concretas de tantos cristãos pela vida, pela justiça, contra a corrupção e a violência, e por um mundo melhor.

6 O gritO que brOta nO chãO da arquidiOcese

A Arquidiocese de Florianópolis é formada por 30 municípios, com uma área de 8.645 km2.

Como grande parte dos municípios se situa geograficamente na área litorânea, o número de migrantes em busca de oportunidades é crescente, e consequentemente há um aumento do número de famí-lias em situação de vulnerabilidade social.

Na Arquidiocese somam-se 1.434.669 habitantes, o que 9equivale a 24,08% do total dos catarinenses. Da população total da Arquidiocese 92,57% vivem no meio urbano;Como consequência do processo de litoralização, temos um 9empobrecimento dos municípios de pequeno porte, situa-dos em áreas rurais, com destaque para 16 municípios de nossa Arquidiocese. Somam-se 14,79% das famílias que vi-vem em situação de pobreza absoluta. Economia marcada pelos serviços ligados ao turismo, co- 9mércio, pesca, agricultura familiar e serviços. Nos últimos anos, a pesca artesanal cedeu lugar para a maricultura, com a produção de mexilhões, ostras e camarão. O setor que mais emprega mão-de-obra é o da construção civil;

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Crescimento desordenado das grandes cidades, resultando 9no aumento do número dos bolsões de pobreza situados em locais de risco social; só na grande Florianópolis são mais de 50 bolsões de pobreza; Especulações imobiliárias; grande número de condomínios 9fechados, de classe média alta e classe alta, surgindo em meio à mata atlântica e áreas de preservação permanente, como manguezais, entre outros. Ineficácia do Estado na pre-servação dessa área;A região geográfica da Arquidiocese está muito vulnerável 9às consequências ocorridas pelas mudanças climáticas: en-chentes e deslizamentos são os principais eventos adversos que ocorrem nessa região;Fragilidade e ineficácia do Estado na política pública de De- 9fesa Civil, resultando no empobrecimento ainda maior dos pobres, que são os que mais sofrem com as emergências;A falta de creches e de educação de qualidade para crianças e 9adolescentes tem sido uma das pautas nas principais reivindi-cações dos movimentos sociais e associações de moradores;Falta de Serviço de qualidade, que oportunizasse às crianças 9e adolescentes, pessoas idosas, mulheres e famílias das co-munidades mais vulneráveis o acesso aos direitos sociais;A luta pelo direito à terra indígena também é um grito forte 9em nossa Arquidiocese. Das 09 comunidades indígenas Gua-rani presentes em nossa região, apenas uma está com a sua situação fundiária demarcada, as demais estão em processo de regularização e demarcação como terra indígena;O modelo de desenvolvimento brasileiro prioriza obras de 9infra-estrutura, sem levar em consideração as comunidades tradicionais que vivem próximo da obra. No caso do Gua-rani, diversas obras são executadas e entram em confronto direto, seja pelo uso do solo, como no caso da BR 101 e da ferrovia Litorânea, seja como projetos novos de investimen-tos e novas indústrias na região, que chamam de sinergia, reduzindo drasticamente os espaços no entorno das terras indígenas, gerando pressão sobre essas comunidades;O que mais assusta a nossa região é a violência gerada pelo 9narcotráfico; as maiores vítimas desse processo são os jo-vens entre 15 e 24 anos, que cada vez mais cedo se envol-vem nos crimes de alta periculosidade.

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pArte ii – JulgAr

Deus, Pai e Mãe da vida que revoa nos ares; que mergulha nos mares; que se move na terra; feita à tua imagem viva e perfeita: na criança que nasce; no jovem que sonha: sonhos de amor, de ternura e solidariedade; no adulto que trabalha e luta por uma terra sem males, sem senhores e sem escravos; no idoso que teima pela vida.

O julgar a realidade acontece na perspectiva da fé em Jesus Cris-to. Queremos dirigir o nosso olhar para a realidade social e eclesial, orientados pela convicção de que “Jesus Cristo é a razão de nosso ser, origem de nosso agir, motivo de nosso pensar e sentir” (DGAE, 2011-2015, n. 4). Não é um julgar de acusação ou condenação, mas de discernimen-to e busca de compreensão das interpelações da realidade à fé da Igre-ja e sua ação evangelizadora. Este julgamento da realidade parte das questões: O que significa anunciar Jesus Cristo como “caminho, verda-de e vida” (Jo 14,6) para as pessoas e a sociedade atual? Como se deve fazer hoje esse anúncio? Devemos buscar respostas a essas perguntas na Igreja, que assume uma atitude orante, contemplativa, fraterna, servidora da vida, profética e testemunha do Reino de Deus.

1 Olhar a realidade e nela discernir a presença de deus e dOs ídOlOs

Deixamo-nos orientar pela Palavra de Deus, que é “lâmpada para nossos passos” (Sl 118,105) e luz de todas as nações. Olhando para a realidade, somos chamados a identificar o Deus que se manifesta na vida das pessoas e nas situações pelas quais passam a pessoa, o grupo, a comunidade eclesial e a sociedade. Não basta dizer que cre-mos em Deus. É preciso dizer em qual Deus cremos, como Ele é e como se manifesta. A pergunta fundamental é: Como conhecemos a Deus e qual é a sua vontade para o mundo de hoje?

No centro da realidade histórica está a questão de Deus, que des-mascara as contradições da sociedade e da Igreja. Só conhecemos o Deus que se manifesta na história. A história das nossas comunidades e da sociedade é o lugar de encontro com Deus, e quem não está nesse lugar

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não pode descobrir e anunciar Deus. Por isso, a prática de evangelização está unida à análise da realidade, à vivência de uma cultura, ao compro-misso social, como exigências da fé. Ao procurar conhecer a realidade, nos capacitamos espiritualmente para uma ação evangelizadora eficaz.

É fundamental, na constatação da realidade, responder à per-gunta: “O que devo fazer?” (Mt 19,16); “o que temos que fazer?” (Lc 2,12.14); “o que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” (Jo 6,28; cf. At 2,38; 26,20; Ap 16,11). Não se trata de qualquer tipo de ação (Mt 12,33), mas daquela que leva a “praticar a justiça” (At 10,35; cf. At 11,33; 1Jo 2,29). Assim, a fé não se constitui em mera forma de “ver” as coisas, mas em uma maneira de viver que é operativa. O fiel é quem “conhece a Javé” (Jr 22,15-16), é o “justo” que “pratica a justiça e a verdade”. Fundamental é amar os que não podem retribuir, ou seja, os pobres e os pequenos: “Tive fome e me destes de comer... Na medida em que o fizerdes a um destes irmãos mais pequenos é a mim que o fazeis” (Mt 25,35-36.40).

Evangelizar é uma atividade conflitiva, como nos mostra Jesus ao enfrentar e questionar os sacerdotes, os doutores da lei, os fariseus, os grandes daquele tempo (Mc 11-13; Mt 23; Lc 20; Jo 8). Esse conflito continua presente quando a Igreja assume as lutas em defesa da vida e do meio ambiente, Projetos de Lei como os da Ficha Limpa, da defensoria públi-ca e do limite da propriedade, abaixo-assinados contra a privatização da Vale do Rio Doce e a transposição do Rio São Francisco. Essas lutas, motivadas pela fé, apresentam os seus mártires: Oscar Romero, Chico Mendes, Ir. Dorothy, e tantos outros que deram a sua vida, a exemplo de Jesus Cristo, por um outro mundo possível e pelo Reino de Deus. Evangelizar significa colocar-se contra todo tipo de idolatria: do ter, do poder, do prazer, do consumir, e de todos os mecanismos que a geram e promovem. Ao mesmo tempo que se anuncia o Deus verdadeiro é necessário denunciar os ídolos da opressão e da morte, os sistemas que escravizam, aprisionam e violentam as pessoas.

2 qual igreja queremOs?

A Igreja que busca compreender o mundo atual e é “fermento na massa”. Quem evangeliza não foge da realidade, mas a assume e a transforma.

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Preocupam mais, na atualidade, as interpelações pastorais da realidade, sobretudo no contexto urbano em que se encontra a gran-de maioria da população. Essas interpelações chamam não apenas para uma mudança de mentalidade, mas para uma mentalidade de mudança; chamam a novas práticas, com métodos inclusivos e de di-álogo nos espaços de decisão na Igreja, capazes de estabelecer par-cerias e olhar em redes, articulando os vários modos de compreender a realidade; chamam, também, para uma nova forma de organização estrutural da Igreja, com flexibilidade institucional para as necessá-rias reformas ou mudanças que a realidade atual exige.

Deixa de ser Igreja aquela que é transformada em show, aquela que deixa de ser Comunidade Eclesial de/na Base. A Igreja, presente no cotidiano da vida da sociedade, acontece, de maneira especial, na vida e articulação dos GR/F e das CEBs, onde busca, na profundidade da vida e das relações da nossa gente, a presença do Deus vivo. Esta é sua iden-tidade. É nesse caminho que ela se torna instrumento de salvação, de renovação espiritual, de conversão pessoal e de transformação social.

Reafirmamos, portanto, o valor das CEBs, como “escolas que têm ajudado a formar cristãos comprometidos com sua fé, discípulos e missionários do Senhor” (DAp 178). Pelas e nas CEBs, vive-se a Palavra de Deus, o compromisso social em nome do Evangelho, a ministeria-lidade leiga, a opção preferencial pelos pobres (DAp 178). Elas “se con-vertem em sinal de vitalidade na Igreja particular” (DAp 179).

A Igreja CEBs não é outra Igreja ou paralela à Igreja institucional. É um modo de ser da Igreja que provoca renovação eclesial dentro da Igreja institucional, pois existe em comunhão com ela. A Igreja toda se renova a partir da experiência espiritual e teológica das Comunidades de Base. As tensões que surgem são aquelas próprias da renovação e da conversão que esse modo de ser provoca na Igreja como um todo.

A Igreja CEBs é profética, celebrativa, ministerial, comunhão, comprometida socialmente. É entendida pelos bispos da América La-tina e do Caribe como a Igreja “família de famílias” (DAp 119), “Igreja doméstica”, onde “uma família se faz evangelizadora de muitas ou-tras famílias e do ambiente em que ela vive” (DAp 204). Isso permite entender que “a Igreja é nossa casa” (DAp 246), são os GR/F, é comuni-dade de comunidades.

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A Igreja CEBs entende que sua missão e espiritualidade apre-sentam exigências e urgências:

a) Exigências E urgências para a igrEja

Exige um repensamento de suas estruturas e instituições, na coragem de abandonar os fardos institucionais que não mais corres-pondem à necessidade de atualização e dinamização da evangelização. Assim existe de fato uma “Igreja família”, “Igreja doméstica”, com rela-ções de proximidade e compromissos mútuos. As CEBs, bem como os nossos GR/F, contribuem para essa reorganização da Igreja, tornando a paróquia uma rede de comunidades e grupos (DAp 173), uma célula viva da Igreja (DAp 170). Eles contribuem para nuclear as paróquias em unida-des territoriais menores, com equipes de animação e coordenação que facilitam a proximidade de pessoas e grupos. (DAp 372).

b) Exigências E urgências para a missão

O DAp pede uma Igreja em “permanente estado de missão”. Essa missão deve impregnar a Igreja inteira: estruturas, planos, níveis (DAp 365). O objetivo da missão consiste em identificar e anunciar o verda-deiro Deus, os sinais do Reino na história, transformando as realidades de morte, dor, sofrimento injusto em realidades de “vida em abundân-cia” (Jo 10,10), vida feliz e com dignidade. A missão consiste em identifi-car o rosto de Cristo nos rostos sofredores: de crianças, adolescentes, jovens, idosos, mulheres, negros, índios; dos marginalizados, dos de-sempregados, dos doentes..., e com eles viver as bem-aventuranças do Reino, na compaixão e fidelidade a Cristo que neles se revela. CEBs é a Igreja defensora dos pobres, acolhedora de um novo pentecostes, onde se manifesta o Espírito da Verdade e da Justiça.

c) Exigências E urgências para a EspiritualidadE

A mística que nos alimenta é vivida e celebrada no contexto histórico de injustiça-justiça, opressão-libertação, morte-vida. A raiz da nossa espiritualidade é a experiência de Deus na história huma-na. Nessa experiência fazemos em nossa celebração ecoar o clamor dos pobres e dos que sofrem injustamente; nossa liturgia celebra o Deus da vida; nossa espiritualidade não nos distancia da realidade, mas nela nos encarna, nos torna comunidade de irmãos e irmãs, nos ajuda a superar o individualismo e a teologia da retribuição. A sua

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legitimidade está na experiência do Deus do êxodo, dos profetas, de Jesus Cristo, das primeiras comunidades cristãs e nos santos e márti-res de ontem e de hoje. Nessa espiritualidade está a “razão da nossa esperança” (1Pd 3,21), mesmo contra toda esperança.

d) dEsafios à igrEja cEbs

Retomar criativamente a sua força teológica: de um lado, é pre-ciso retomar a tradição teológica das CEBs, para fortalecer a natureza e missão específica da Igreja no meio social; de outro lado, é preciso es-tender essa vivência de renovação eclesial ao conjunto de toda a Igreja. Isso exige uma argumentação teológica capaz de “aguentar” contra-dições na sociedade e na Igreja. A Igreja CEBs cresce na medida em que assume esse duplo desafio, desenvolvendo a criatividade teológica para responder ao desafio de esclarecer e aprofundar sua identidade.

Inserção no mundo dos pobres: essa inserção explicita a nossa opção preferencial pelos pobres como constitutiva da evangelização e implícita na fé em Cristo (DAp 392). Nessa inserção está a força prin-cipal da Igreja, pois ali acontece a experiência espiritual, que é a terra onde a Igreja deve aprofundar suas raízes. Então ela se torna, de fato, “advogada da justiça e defensora dos pobres” (DAp 395). Dela emerge a “pastoral popular”, cuja lógica vai de fora para dentro e de baixo para cima, criando, assim, uma gama de ministérios e condições para que os pobres sejam protagonistas da sua própria evangelização e da história. A Igreja cresce em meio à realidade do povo, quando ele se apropria dos meios de construção eclesial. A Igreja não é portado-ra de um projeto político, nem usa o poder político como meio de crescimento ou defesa. É a fé em Jesus Cristo que a leva a assumir o movimento popular e um projeto político para a sociedade.

“Na vida das CEBs, o Pentecostes acontece e o Espírito agita o novo; a Bíblia nos mata a sede e aquece o coração da gente; o Pão Vivo nos alimenta na partilha que abre os olhos, e a missão nos desafia tendo Jesus como guia, a luta se faz companheira.”

(Pe. Reneu Zortea)

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pArte iii – Agir

Deus, Pai e Mãe, faze com que nossa fé se faça ação profética e transformadora, rasgando as noites escuras das tempestades ameaçadoras. Faze despontar a aurora de uma nova Páscoa, onde a Justiça e a Profecia estejam a serviço da Vida. Uma nova Ressurreição, de alegria e de paz abundante para todas as pessoas do teu mundo.

Alguns caminhos precisamos percorrer: Detectar as urgências da evangelização, conforme as atuais Diretrizes da Ação Evangeliza-dora da Igreja no Brasil (DGAEIB 2011-2015, n.25-72):

a) Organizar a Igreja em estado permanente de missão: a Igreja é essencialmente missionária. Essa missão hoje é: urgente, em decorrência da oscilação de critérios sobre a vida humana; ampla e includente, pois todas as situações, tempos e locais são interlocuto-res do anúncio do Evangelho (DGAEIB 2011-2015, n.31). A ação concreta é “sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos, para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo” (DAp 548). Para isso, precisamos:

fortalecer a 9 visitação das casas, animando as famílias a par-ticiparem dos GR/F; 9 ir ao encontro dos que estão mais afastados, sobretudo dos empobrecidos e marginalizados, moradores de rua, ajudan-do-os a serem protagonistas com e na Igreja, para a constru-ção de uma nova realidade eclesial e social; ir ao encontro dos jovens, com uma metodologia de ação, 9presença e linguagem que os ajude a se integrarem na co-munidade eclesial e na construção de uma nova sociedade.

b) Igreja, casa da iniciação à vida cristã: trata-se de desenvolver, nas comunidades, um processo de formação cristã no horizonte catecu-menal que leve ao encontro pessoal com Cristo (DAp 289), procurando:

resgatar a memória das CEBs em nossas dioceses; 9elaborar subsídios sobre as dimensões da Igreja CEBs; 9sustentar a consciência dos GR/F como caminhos e também 9expressão das CEBs;

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sustentar a pequena comunidade e o GR/F como lugar de 9verdadeira relação, comunhão, compromisso de fé; possibilitar a formação integral, social e religiosa, para toda 9a comunidade; formar um grupo de “assessores e assessoras” das CEBs em 9nossas dioceses, capazes de sustentar esse projeto eclesial diante das resistências;criar um canal de comunicação entre as dioceses do Regio- 9nal Sul IV da CNBB, para partilhar experiências de CEBs.

c) Igreja: lugar de animação bíblica da vida e da pastoral: o contato vivencial com a Palavra de Deus é condição da qualidade do anúncio do Reino e da sua acolhida. A ação concreta aqui pretende:

fortalecer as celebrações da Palavra em nossas comunidades; 9incentivar a leitura orante da Bíblia, pessoal e comunitária; 9fortalecer a leitura, reflexão e meditação da Palavra nos 9GR/F;usar mais a Bíblia nos cursos de formação pastoral em nos- 9sas comunidades.

d) Igreja: comunidade de comunidades, acolhedora, formado-ra e transformadora. Propostas de ação:

tecer uma Igreja como rede de pequenas comunidades, pro- 9curando superar a massificação e o emocionalismo dos en-contros religiosos; revitalizar e expandir as pequenas comunidades e os GR/F, 9favorecendo o mútuo conhecimento, o mútuo enriqueci-mento e convívio imediato, fraterno e solidário; criar comunidades a partir da rede dos GR/F. Para isso é 9necessário:

“Repensar” a paróquia: a paróquia, como está, não mais res-ponde às exigências fundamentais da experiência humana de vida comunitária. No sentido bíblico, paróquia é o lugar de acolhida dos “paroikói”, daqueles que se acham fora da pátria, que vivem disper-sos como estrangeiros (cf. 1Pd 1,17). No sentido teológico-pastoral, pa-róquia é a experiência de Igreja que acontece ao redor da casa. É uma Igreja que está onde as pessoas se encontram de verdade, mesmo se, às vezes, independentemente dos vínculos territoriais. Repensar a

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paróquia é rever o critério do território paroquial, já muito questiona-do pela mobilidade das cidades como critério de organização pasto-ral. O verdadeiro “território paroquial”, território da comunidade, é o lugar da relação, e não o espaço físico/geográfico. E o território físico não se identifica com o território das relações sociais. Precisamos sim de um território, mas que seja o lugar da relação de fé, onde está a comunidade paroquial. Ali é que se realizam as exigências da evange-lização: o serviço da caridade, o diálogo, o anúncio, o testemunho de comunhão (DGAE, n. 51). Esse repensar deve responder à questão: qual é a base territorial da nossa ação pastoral? Qual o discurso da Igreja para cada território, para cada realidade?

“Setorizar” as paróquias em pequenas unidades territoriais, para isso, muito ajudam os GR/F. Onde a territorialidade for signifi-cativa, a sensibilidade pastoral deve investir em pequenas comunida-des, territorialmente estabelecidas, com laços de vizinhança geográ-fica (DAp 307-310). E onde as comunidades se configuram afetivamente, por carismas e “comunidades ambientais” que transcendem territó-rios, deve-se evitar o perigo da não inserção na caminhada maior da Igreja local. A formação de comunidades a partir da rede dos GR/F ajuda para a setorização das paróquias.

É preciso ter em vista a cidade/município como um todo. A pa-róquia não é um todo, embora tenha a sensação de sê-lo. Não é a Igreja que contém a sociedade, o bairro, mas a sociedade/bairro que contém a Igreja.

e) Igreja a serviço da vida plena para todos, procurando iden-tificar quem são os que mais precisam hoje da presença solidária, acolhedora e amorosa da Igreja. É preciso recuperar a presença públi-ca da Igreja para responder à questão: “Como pode a Igreja contribuir para a solução dos urgentes problemas sociais e políticos e responder ao grande desafio da pobreza e da miséria?” (DAp 276-277).

Para isso, a Igreja precisa: mudar de rota: é visível a tendência atual das comunidades 9e paróquias a se centrarem sobre si mesmas. Muitos mem-bros das comunidades e paróquias não se sentem parte da sociedade. E o engajamento social do agente de pastoral fica produto derivado ou secundário da evangelização. Entretan-

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to, a Igreja é reconhecida socialmente por seus serviços jun-to aos mais empobrecidos, no seu empenho de promoção humana nos campos da saúde, da economia solidária, da educação, do trabalho, do acesso à terra, da cultura, da ha-bitação e assistência (DAp 98). É preciso fortalecer esses tra-balhos e compreendê-los como evangelização; superar motivações pastorais apenas de manutenção das 9estruturas tradicionais e favorecer uma “conversão pasto-ral” (DAp 370), através de uma grande retomada missionária que sustente a identidade do ser cristão e o alcance social dessa identidade;fortalecer e oferecer cursos de Fé e Política em nossas dio- 9ceses, possibilitando o conhecimento da Doutrina Social da Igreja para toda a comunidade eclesial;assumir, como Igreja, as lutas concretas a favor de melhorias 9na saúde, educação, transporte, etc.,assumir, como Igreja, os projetos das organizações populares 9que favorecem o bem comum, como: projetos de economia solidária e sustentabilidade, projeto de lei Ficha Limpa e do Limite de Propriedade Privada, Defensoria Pública, reforma do Código Florestal, e outros.integrar a comunidade eclesial nos Conselhos Paritários e 9Políticas Públicas.Fortalecer 9 os três âmbitos que orientam a ação pastoral em “um único processo”: ser pessoa que vive na comunidade e a partir daí formar uma sociedade justa e solidária. Assumir o diálogo ecumênico e interreligioso 9 : diante do pluralismo eclesial e religioso, a Igreja é chamada a buscar o diálogo e a cooperação ecumênica e interreligiosa. O diá-logo não é estratégia de evangelização, mas seu método e conteúdo. As ações concretas para isso:1. desenvolver o diálogo, a convivência e a cooperação en-

tre etnias, culturas, igrejas, religiões;2. formar GR/F ecumênicos, convidando os vizinhos que

pertencem a outras igrejas a refletirem juntos a Palavra de Deus, comum para todos;

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3. desenvolver atitudes de respeito, diálogo e iniciativas de cooperação com outras igrejas/religiões existentes em nossas cidades;

4. integrar a comunidade em iniciativas ecumênicas locais;5. fortalecer a realização das Semanas de Oração pela Uni-

dade dos Cristãos. Assumir a 9 pastoral de conjunto. Pode haver “diversidade” na organização da comunidade, mas não “divergência” na propos-ta pastoral. Apenas na comunhão com a Igreja rede de comu-nidades, na co-responsabilidade de todos, é que se pode ga-rantir um processo de evangelização. A “caminhada comum” é própria da vida da Igreja CEBs. Pequenas comunidades com liberdade para se organizarem correspondem às exigências de mobilidade e pluralismo da sociedade atual. Sendo pequenas, as comunidades melhor possibilitam a participação de todos na missão da Igreja e no compromisso sociotransformador. Para fortalecer a pastoral de conjunto, precisamos:1. organizar ou fortalecer os conselhos da comunidade,

respeitando a participação de todos nas tomadas de decisão;

2. intensificar os momentos de encontros dos pequenos grupos, em reuniões de articulação, de celebração e de ação. É fundamental que tais encontros não favoreçam o consumismo religioso, mas animem a vida cristã na pers-pectiva da pequena comunidade e da missionariedade;

3. desenvolver o diálogo entre pastorais e movimentos, pos-sibilitando a cooperação num projeto comum de evangeli-zação, onde cada um colabora com o que lhe é específico;

4. enraizar e fortalecer a formação e a caminhada das CEBs nos GR/F;

5. integrar as lideranças das pastorais e dos movimentos na articulação dos GR/F.

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uM olhAr pArA Frente

Irmãs e irmãos das CEBs do Brasil Paz e Bem!

Juazeiro do Norte, terra do padrinho Pe. Cícero Romão, da Beata Maria de Arauújo e do Beato José Lourenço. Terra de Romeiros e Romeiras de Religiosidade Popular, que destaca a romaria como um ato de penitência de muita liberdade que dá sentido ao sofrimento do romeiro(a), que criam sua própria liturgia nos caminhos de Juazeiro. Jesus disse: “Eu sou o Caminho”. Neste sentido, os romeiros(as) dão continuidade a esta tradição cristã, a religião do Caminho. A cruz traz alegria para os momentos vividos, a romaria não é alienante, é uma terapia para dar sentido ao sofrimento com liberdade.

Nas terras de Juazeiro do Norte, Dom Fernando Panico, bispo da diocese de Crato, anfitriã do 13º Intereclesial, desde já faz uma ca-lorosa acolhida aos participantes dos 17 regionais da CNBB do Brasil, e a todas as representatividades da América Latina, dizendo: “Este-jam na terra do Pe. Cícero, terra feliz que acolhe o 13º Intereclesial”. A romaria não começa no Juazeiro, mas na caminhada do romeiro(a) desde a saída de sua terra.

Considerando que a missão é a razão de ser da Igreja, se-guimos com dinamismo missionário rumo ao 13º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e ao jubiloso Centenário da Diocese de Crato em 2014. O rosto da Nossa Igreja é romeira e missionária e tem uma caminhada de CEBs, fruto das exigências do Vaticano II, que desenvolveu projetos sociais apoiados pela Fundação Pe. Ibiapina.

Atualmente, a diocese de Crato construiu um Plano de Evan-gelização Rumo ao 13º Intereclesial, com objetivo e metodologia de reformular suas estruturas paroquiais, para que seja uma rede de comunidades, na missão permanente, comprometida, no cuidado com a vida em todas as suas dimensões, animando a fé do romeiro e da romeira.

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Façamos dessa mensagem um grande incentivo, para conti-nuarmos firmes na missão em preparação ao 13º Intereclesial, em janeiro de 2014.

“Unimos nosso caminho, nosso compromisso e nossa oração a toda santa tribo romeira, no lançamento da oração pelo 13º Intereclesial das CEBs. Preparando o Intereclesial, devemos vivenciar cada dia o tema: Justiça e profecia a serviço da vida, e o lema: ‘CEBs Romeiras do Reino’ no campo e na cidade. Somos cada dia pátria de justiça, profecia, serviço e vida. No Evangelho dos pobres, na memória dos nativos, na co-responsabilidade eclesial, recebam um forte abraço do tamanho da nossa esperança pessoal”

(Pedro Casaldáliga, caminhante de bengala).

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orAção do 13º intereclesiAl dAs coMunidAdes eclesiAis de BAse

Deus da vida e do amor, Pai de Jesus e Pai nosso, Santíssima Trindade, a melhor comunidade:

abençoai as nossas CEBs, rumo ao 13º Intereclesial que iremos celebrar no coração alegre e forte do Nordeste,

nas terras do Pe. Cícero e do Pe. Ibiapina, do beato Zé Lourenço e da beata Maria de Araújo, e de tantos sofredores e lutadores,

profetas e mártires da caminhada, no Brasil, em nossa América, no mundo solidário.

Ajudai-nos a reacender sempre mais a nossa paixão pelo Reino, no seguimento de Jesus.

À luz da Bíblia e na mesa da Eucaristia, na opção pelos pobres, em diálogo ecumênico e ecológico,

na defesa dos Direitos Humanos, sobretudo dos Povos Indígenas e Quilombolas. No cuidado da Terra, nossa mãe.

Em família e na comunidade eclesial, no trabalho, na política, no movimento popular, crianças, jovens e adultos,

mulheres e homens, denunciando a economia neoliberal dos grandes projetos depredadores,

da seca, da cerca, do consumismo e da exclusão.

Mãe das Dores e das Alegrias, ensinai-nos a sermos CEBs romeiras do Reino, no campo e na cidade,

fermento de justiça, de profecia e de esperança pascal. Proclamando a Boa Nova do Evangelho,

sobretudo com a própria vida, que é “o melhor presente que Deus nos deu”.

Amém , axé, auerê, aleluia!

(D. Pedro Casaldáliga)

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31Texto-Base

reFerênciAs BiBliográFicAs

9 Carta da Ampliada Nacional 2011. Carta às CEBs – Doc. da 48º Assembleia dos Bispos do Brasil 9– CNBB. Diagnóstico social da Arquidiocese de Florianópolis. 9Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAEIB 9– 2011-2015).Diretrizes da Ação Evangelizadora de Santa Catarina (DAEISC 9– 2009-2011).Documento de Aparecida – Citações atinentes. 9Informativo do 13º Intereclesial 2011. 9Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 9Texto Base da Romaria da Terra e da Água 2011. 9Verbum Domini – Doc. Palavra do Senhor – CNBB. 9

Produção coletiva: Coordenação regional e coordenações diocesanas dos GR/F e CEBs; membros participantes do seminário e assessores das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e Grupos de Reflexão / Família (GR/F).

Capa e Editoração Eletrônica: Atta

Page 32: Texto-base - 11º Encontro de CEBs - 2012- Arquidiocese de Florianópolis

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASILCNBB – REGIONAL SUL 4 – SANTA CATARINA

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