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7/23/2019 Texto 10_Reflexões Sobre Coleções Zoológicas, Sua Curadoria e a Inserção Dos Museus Na Estrutura Universitária… http://slidepdf.com/reader/full/texto-10reflexoes-sobre-colecoes-zoologicas-sua-curadoria-e-a-insercao 1/9 EFLEXÕES SOBRE COLEÇÕES ZOOLÓGICAS, SUA  CURADORIA  E  A  INSERÇÃO DOS MUSEUS NA  ESTRUTURA  UNIVERSITÁRIA  BRASILEIRA M  ARIO DE V IVO 1,3 L UÍS  F  ÁBIO  S ILVEIRA 1,4 F  ÁBIO OLIVEIRA  DO N  ASCIMENTO 1,2 INTRODUÇÃO Nunca, na história da ciência brasileira, tivemos tantos profissionais trabalhando com nossa fauna sob os mais variados aspectos, no campo e no laborató- rio. Não só os projetos de pesquisadores lotados em universidades públicas e particulares, mas também a iniciativa privada, através da coleta para fins de estu- dos de impacto ambiental, tem obtido espécimes que terminam por serem preparados e depositados nas mais diversas coleções zoológicas em todo o país. Es- sas coleções são muito variáveis em escopo, recursos, acessibilidade, qualidade e representatividade geográ- fica e taxonômica. Partindo da premissa de que os profissionais responsáveis por cada uma dessas cole- ções trabalham para sua conservação e boa utilização, ainda assim existem diferenças importantes entre as coleções, com importantes consequências para as pró- prias e para a melhor utilização do material nelas de- positado, que se devem a um fator que nada tem a ver com a dedicação dos zoólogos: o tipo de instituição que abriga cada coleção.  Aqui argumentamos que museus, comumen- te denominados “Museus de História Natural” por conta das tradições europeia e norte-americana que se estabelecem a partir do século XVIII (Jardine & Spary, 1996; Heringman, 2013), se administrados de forma correta e populados por profissionais especia- lizados na área da taxonomia, são as mais adequadas instituições para abrigar coleções zoológicas no longo prazo, na verdade indefinidamente. Instituições uni- versitárias departamentais não estão preparadas para manter coleções por tempo indeterminado, e não es- tão equipadas para permitir o acesso geral aos mate- riais zoológicos que abrigam. A razão para tal não está simplesmente no nome da instituição, mas sim em suas distintas missões institucionais, que determinam (ou deveriam determinar) que tipos de profissionais nelas trabalham, a quais regimes de trabalhos devem ser submetidos, e que carreiras os seus profissionais devem percorrer. Embora exista ampla discussão na literatura a respeito dos muitos tipos de pesquisa que se pode desenvolver a partir das coleções de história natural (por exemplo, Lane, 1996; Shaffer et al., 1998; de Vivo, 1999; Miller et al., 2004; Winker 2004; Suarez & Tsutsui, 2004; Gaubert et al.,  2006), nada existe formalmente publicado a respeito de como um mu- seu deve atuar frente à pesquisa que permite, que tipo de profissional é mais adequado para gerir essas co- leções e se as diferentes estruturas administrativas da academia brasileira se adequam à gestão das coleções. Este ensaio visa fornecer uma reflexão a respeito desses temas. Iniciamos com uma breve descrição dos muitos tipos diferentes de coleções zoológicas que existem em nosso país, e para cada um desses tipos discutimos seus potenciais, necessidades, escopos, acessibilidade 1. Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. Caixa Postal 42.494, CEP 04218-970, São Paulo, SP, Brasil. 2. Universidade de Mogi das Cruzes, Campus Villa Lobos/Lapa, Avenida Imperatriz Leopoldina, 550, CEP 05305-000, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected]. 3. E-mail: [email protected]. 4. E-mail: [email protected].  Volume 45(esp.):105-113, 2014 http://dx.doi.org/10.11606/issn.2176-7793.v45iespp105-113

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R EFLEXOtildeES SOBRE COLECcedilOtildeES ZOOLOacuteGICAS SUA CURADORIA E A INSERCcedilAtildeO DOS MUSEUS NA ESTRUTURA UNIVERSITAacuteRIA BRASILEIRA

M ARIO DE V IVO13

LUIacuteS F AacuteBIO SILVEIRA

14

F AacuteBIO OLIVEIRA DO N ASCIMENTO12

INTRODUCcedilAtildeO

Nunca na histoacuteria da ciecircncia brasileira tivemostantos profissionais trabalhando com nossa fauna sobos mais variados aspectos no campo e no laboratoacute-rio Natildeo soacute os projetos de pesquisadores lotados emuniversidades puacuteblicas e particulares mas tambeacutem a

iniciativa privada atraveacutes da coleta para fins de estu-dos de impacto ambiental tem obtido espeacutecimes queterminam por serem preparados e depositados nasmais diversas coleccedilotildees zooloacutegicas em todo o paiacutes Es-sas coleccedilotildees satildeo muito variaacuteveis em escopo recursosacessibilidade qualidade e representatividade geograacute-fica e taxonocircmica Partindo da premissa de que osprofissionais responsaacuteveis por cada uma dessas cole-ccedilotildees trabalham para sua conservaccedilatildeo e boa utilizaccedilatildeoainda assim existem diferenccedilas importantes entre as

coleccedilotildees com importantes consequecircncias para as proacute-prias e para a melhor utilizaccedilatildeo do material nelas de-positado que se devem a um fator que nada tem a vercom a dedicaccedilatildeo dos zooacutelogos o tipo de instituiccedilatildeoque abriga cada coleccedilatildeo

Aqui argumentamos que museus comumen-te denominados ldquoMuseus de Histoacuteria Naturalrdquo porconta das tradiccedilotildees europeia e norte-americana quese estabelecem a partir do seacuteculo XVIII (Jardine ampSpary 1996 Heringman 2013) se administrados deforma correta e populados por profissionais especia-

lizados na aacuterea da taxonomia satildeo as mais adequadas

instituiccedilotildees para abrigar coleccedilotildees zooloacutegicas no longoprazo na verdade indefinidamente Instituiccedilotildees uni-versitaacuterias departamentais natildeo estatildeo preparadas paramanter coleccedilotildees por tempo indeterminado e natildeo es-tatildeo equipadas para permitir o acesso geral aos mate-riais zooloacutegicos que abrigam A razatildeo para tal natildeo estaacutesimplesmente no nome da instituiccedilatildeo mas sim em

suas distintas missotildees institucionais que determinam(ou deveriam determinar) que tipos de profissionaisnelas trabalham a quais regimes de trabalhos devemser submetidos e que carreiras os seus profissionaisdevem percorrer

Embora exista ampla discussatildeo na literaturaa respeito dos muitos tipos de pesquisa que se podedesenvolver a partir das coleccedilotildees de histoacuteria natural(por exemplo Lane 1996 Shaffer et al 1998 deVivo 1999 Miller et al 2004 Winker 2004 Suarez

amp Tsutsui 2004 Gaubert et al 2006) nada existeformalmente publicado a respeito de como um mu-seu deve atuar frente agrave pesquisa que permite que tipode profissional eacute mais adequado para gerir essas co-leccedilotildees e se as diferentes estruturas administrativas daacademia brasileira se adequam agrave gestatildeo das coleccedilotildeesEste ensaio visa fornecer uma reflexatildeo a respeito dessestemas

Iniciamos com uma breve descriccedilatildeo dos muitostipos diferentes de coleccedilotildees zooloacutegicas que existemem nosso paiacutes e para cada um desses tipos discutimos

seus potenciais necessidades escopos acessibilidade

1 Museu de Zoologia da Universidade de Satildeo Paulo Caixa Postal 42494 CEP 04218-970 Satildeo Paulo SP Brasil2 Universidade de Mogi das Cruzes Campus Villa LobosLapa Avenida Imperatriz Leopoldina 550 CEP 05305-000 Satildeo Paulo SP

Brasil E-mail fabnascgmailcom3 E-mail mdvivouspbr4 E-mail lfsuspbr

Volume 45(esp)105-113 2014

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e o tipo de pesquisadores que nelas trabalham A dis-cussatildeo final eacute claramente assimeacutetrica e enfatiza a dis-tinccedilatildeo dos museus frente aos demais tipos de coleccedilotildeesprincipalmente aquelas abrigadas em departamentosuniversitaacuterios

Eacute necessaacuterio destacar que nossas ideacuteias satildeo umreflexo de nossa experiecircncia na academia brasileiramas acreditamos que Museus de Histoacuteria Natural tecircmuma missatildeo comum que eacute maior que as fronteirasnacionais e o que escrevemos aqui natildeo se esgota emnosso proacuteprio paiacutes De fato o conjunto das coleccedilotildeeszooloacutegicas mantidas em vaacuterios paiacuteses eacute necessaacuterio paraque muitos tipos de pesquisa frutifiquem e assimMuseus de Histoacuteria Natural possuem uma funccedilatildeo deEstado que eacute fundamentalmente diversa daquela das

instituiccedilotildees universitaacuterias em geral

As coleccedilotildees zooloacutegicas e suas caracteriacutesticas

As trecircs principais coleccedilotildees zooloacutegicas brasi-leiras (Museu de Zoologia da Universidade de SatildeoPaulo MZUSP Museu Nacional MNRJ e MuseuParaense Emiacutelio Goeldi MPEG) satildeo jaacute mais quecentenaacuterias e vecircm recebendo o influxo de copiosomaterial proveniente de vaacuterias fontes desde o obti-

do atraveacutes de projetos cientiacuteficos regulares ateacute aquelecolecionado no escopo de inventaacuterios fauniacutesticos re-alizados para fins de elaboraccedilatildeo de relatoacuterios de im-pacto ambiental Natildeo existe uma avaliaccedilatildeo modernadas quantidades envolvidas mas a julgar pelo quevecircm acontecendo no MZUSP podemos inferir queas demais coleccedilotildees brasileiras tambeacutem tecircm tido umcrescimento muito vigoroso Esse material apresen-ta entretanto diversos desafios importantes para oscuradores das coleccedilotildees desde o espaccedilo destinado a

abrigar os espeacutecimes ndash escasso na maioria dos casosndash ateacute a obtenccedilatildeo de insumos apropriados para o seuarmazenamento e conservaccedilatildeo dos espeacutecimes aleacutemdo tombamento e posterior disponibilizaccedilatildeo para acomunidade cientiacutefica Aleacutem dos aspectos materiaisreferentes ao armazenamento de espeacutecimes zooloacutegi-cos o nuacutemero de horas de trabalho que curadores eteacutecnicos devem dedicar ao material aumenta com otamanho da coleccedilatildeo

Aleacutem das funccedilotildees normais atribuiacutedas ao pes-soal especializado que lida com coleccedilotildees zooloacutegicas

os curadores tambeacutem satildeo pesquisadoresprofessorescom as atribuiccedilotildees usuais desses profissionais e essasfunccedilotildees natildeo se relacionam com a curadoria criandouma instacircncia uacutenica na carreira profissional universi-taacuteria o docente que possui outras obrigaccedilotildees que natildeoas de ensino pesquisa e extensatildeo

Nosso objetivo aqui eacute argumentar que tantoos museus que abrigam coleccedilotildees zooloacutegicas como oscuradores responsaacuteveis por essas coleccedilotildees natildeo se ade-quam perfeitamente agrave estrutura universitaacuteria vigenteno paiacutes A adequaccedilatildeo destas instituiccedilotildees bem comodas suas atribuiccedilotildees cientiacuteficas tem gerado conflitosimportantes em termos das carreiras dos profissionaisque trabalham em museus ligados agraves universidadesDesta forma os museus de histoacuteria natural e os do-centes curadores de suas coleccedilotildees devem ser vistoscomo desempenhando um papel singular e diferen-ciado no sistema universitaacuterio

Uma breve introduccedilatildeo agraves coleccedilotildees

zooloacutegicas suas funccedilotildees e seus usos

A fim de demonstrar o quatildeo uacutenicos satildeo museusde histoacuteria natural quando comparados aos institutosde pesquisa e ensino das universidades consideramosaqui necessaacuterio descrever os tipos de coleccedilotildees zooloacutegi-cas existentes como coleccedilotildees satildeo formadas e como omaterial zooloacutegico nelas contido eacute trabalhado para queesteja disponiacutevel para uso pela comunidade cientiacutefica As coleccedilotildees abrigadas nos museus de histoacuteria naturalsatildeo apenas uma fraccedilatildeo do total como foi demostrado

para o Estado de Satildeo Paulo por Taddei et al (1999)mas o conjunto dessas coleccedilotildees pode ser categorizadoem alguns tipos principais (Tabela 1 e texto abaixo)

1 Coleccedilotildees sistemaacuteticas

Quando se pensa em coleccedilotildees zooloacutegicas nor-malmente vecircm agrave mente aquelas depositadas em mu-seus de histoacuteria natural que para evitar a tautoniacutemia

chamaremos aqui de coleccedilotildees sistemaacuteticas Essas cole-ccedilotildees possuem vaacuterias caracteriacutesticas importantes que asdistinguem de outros tipos de coleccedilotildees Em primeirolugar sua principal funccedilatildeo eacute servir de base a estudoscientiacuteficos do material que abriga Satildeo constituiacutedasde espeacutecimes provenientes das mais variadas regiotildeese natildeo satildeo (e nem devem ser) um reflexo direto de ne-nhum projeto cientiacutefico individual Seu crescimentose daacute inclusive atraveacutes de projetos individuais mas acoleccedilatildeo como um todo visa representar a diversidadebioloacutegica animal sem qualquer restriccedilatildeo regional ou

taxonocircmica As instituiccedilotildees capacitadas a receber talmaterial satildeo os museus mas existem casos em que co-leccedilotildees com as caracteriacutesticas de coleccedilatildeo sistemaacutetica seencontram em departamentos universitaacuterios e aiacute satildeofrequentemente devotadas a um grupo taxonocircmicoparticular

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155106

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As coleccedilotildees sistemaacuteticas dos museus tendem acrescer organicamente porque mesmo quando natildeoexiste um curador especializado em um grupo espe-ciacutefico pesquisadores de outras instituiccedilotildees tendem adepositar ali os espeacutecimes que obteacutem e que jaacute tenhamestudado e publicado Frequentemente pesquisadoresde departamentos universitaacuterios costumam depositaro material-tipo resultante de seus estudos nas coleccedilotildeessistemaacuteticas de museus em um claro reconhecimento

da missatildeo institucional dos mesmos e da sua impor-tacircncia quando comparados agraves coleccedilotildees mantidas emdepartamentos

Como resultado dessa comunalidade de uso ascoleccedilotildees sistemaacuteticas satildeo em contrapartida abertasao estudo por quaisquer pesquisadores habilitados(definidos um tanto vagamente como pesquisado-res contratados em instituiccedilotildees de ensino e pesquisa eseus alunos graduandos e poacutes-graduandos bem comoaqueles desenvolvendo pesquisas de poacutes-doutoramen-to) Essa ldquoaberturardquo eacute bastante ampla incluindo a vi-

sita direta do pesquisador interessado ao acervo bemcomo o empreacutestimo de material que pode ficar porum periacuteodo curto ou longo sob a posse deste pesqui-sador Os limites desses estudos satildeo decididos peloscuradores das coleccedilotildees sistemaacuteticas (mais sobre essetema seraacute discutido adiante)

Como as coleccedilotildees sistemaacuteticas recebem materialde vaacuterias fontes e necessariamente devem ser abertasao estudo para quaisquer pesquisadores habilitadosa instituiccedilatildeo que as abriga deve possuir um corpode funcionaacuterios especializado no trabalho junto aosacervos natildeo soacute para a sua correta manutenccedilatildeo mastambeacutem para que o material ali depositado possa serestudado em sua totalidade em consonacircncia com amissatildeo institucional dos museus Esses funcionaacuterios

incluem mas natildeo estatildeo limitados a preparadores deespeacutecimes (taxidermistas e outros teacutecnicos especiali-zados que devem preparar o material zooloacutegico paraser incluiacutedo nas respectivas coleccedilotildees finalizando aspreparaccedilotildees iniciadas em campo atuando na repara-ccedilatildeo e restauro dos espeacutecimes depositados na coleccedilatildeoetc) teacutecnicos de coleccedilatildeo muitas vezes constituiacutedo depessoal com formaccedilatildeo superior que trabalham juntoao acervo mantendo a ordem e os paracircmetros ditadospelas normas curatoriais de cada coleccedilatildeo bem comocontrolando o fluxo de empreacutestimo e visitantes teacutecni-

cos de serviccedilos gerais cuja funccedilatildeo eacute trocar e suplemen-tar os fluiacutedos preservantes nos frascos limpar espeacuteci-mes manter a organizaccedilatildeo geral da coleccedilatildeo embalare desembalar exemplares que tenham viajado comoempreacutestimo ou chegado como doaccedilotildees entre outrasfunccedilotildees

TABELA 1 Tipos de coleccedilotildees zooloacutegicas mais comuns os materiais que abrigam e seus principais usos

TIPO DE COLECcedilAtildeO TIPO DE MATERIAL USOS

Coleccedilatildeo sistemaacutetica Espeacutecimes individuais colocircnias lotes peccedilasanatocircmicas ninhos tocas e outros produtos da

atividade animal tecidos (para estudos moleculares)moldes de espeacutecimes ou de partes anatocircmicasfrequentemente abriga material-tipo utilizado para adescriccedilatildeo de novas espeacutecies Esse tipo de coleccedilatildeo eacute aque existe normalmente em Museus

Utilizada por pesquisadores interessados em estudaranatomia taxonomia relaccedilotildees filogeneacuteticas

biogeografia macroecologia e quaisquer outraspesquisas que envolvam espeacutecimes da fauna Autilizaccedilatildeo de coleccedilotildees sistemaacuteticas nunca estaacute restritaao pesquisador responsaacutevel e seus alunos mas eacuteaberta a quaisquer pesquisadores creditados

Coleccedilatildeo de pesquisa Pode abrigar os mesmos tipos de material zooloacutegicodescrito acima mas em geral em quantidade menorrefletindo a atividade do laboratoacuterio cientiacutefico quea produz Esse eacute o tipo de coleccedilatildeo que surge dotrabalho de um docentepesquisador de um institutode pesquisa e ensino das universidades

O uso pode ser o mesmo das coleccedilotildees sistemaacuteticasdescrito acima mas o acesso eacute normalmente restritoaos docentes que gerenciam o laboratoacuterio e seusalunos e natildeo haacute obrigaccedilatildeo de que o material alicontido esteja disponiacutevel para estudo por outrospesquisadores

Coleccedilatildeo de referecircncia Satildeo coleccedilotildees que conteacutem amostras representativasde um conjunto de espeacutecies de uma regiatildeo

reserva bioloacutegica ou mesmo que satildeo fruto dodesenvolvimento de um determinado projeto depesquisa Frequentemente possuem o nuacutemero deespeacutecimes por espeacutecie que se acredite suficiente parapermitir sua identificaccedilatildeo Natildeo possuem material-tipo nem seacuteries extensas da mesma espeacutecie

Coleccedilotildees de referecircncia satildeo uacuteteis para pesquisadoresque visitando uma determinada regiatildeo (por

exemplo uma reserva bioloacutegica) estatildeo interessadosem se familiarizar com as espeacutecies que ali vivemTambeacutem surgem para auxiliar um projeto especiacuteficocomo no caso de projetos ecoloacutegicos que demandema identificaccedilatildeo de espeacutecimes

Coleccedilatildeo didaacutetica Composta de espeacutecimes que representem umavariedade de taacutexons eou peccedilas anatocircmicas paraestudos por alunos de graduaccedilatildeo ou poacutes-graduaccedilatildeo

Uso exclusivo para estudo podendo incluir adestruiccedilatildeo do material normalmente composta pormaterial menos valioso do ponto de vista cientiacuteficoReposiccedilatildeo constante

Coleccedilatildeo expositiva Composta de material especialmente preparado paraexposiccedilatildeo em uma instituiccedilatildeo

A funccedilatildeo eacute essencialmente a de divulgaccedilatildeo cientiacuteficamas o uso na pesquisa natildeo estaacute totalmente excluiacutedo

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 107

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Os curadores satildeo pesquisadores contratadospara trabalhar junto a uma determinada coleccedilatildeo esatildeo normalmente especialistas em um grupo taxonocirc-mico O curador possui diversas funccedilotildees especiacuteficase possui alguma liberdade de atuaccedilatildeo no que tangeao acervo Por exemplo o curador uma vez que co-mece seu trabalho junto a um acervo do grupo ta-xonocircmico do qual eacute especialista deve imediatamentetomar conhecimento do grau de representatividadetaxonocircmica e geograacutefica da coleccedilatildeo sob sua respon-sabilidade e a partir daiacute estabelecer uma poliacutetica quevise a preencher lacunas e melhorar essas represen-tatividades Pode fazer isso ativamente realizandoprojetos de pesquisa que demandem coletas geraise portanto indo ao campo atraacutes destes espeacutecimes

ou pode tambeacutem iniciar um programa de permutascom outras instituiccedilotildees do mundo Ao fazer estas per-mutas o curador idealmente deve evitar diminuir arepresentatividade taxonocircmica e geograacutefica do acervosob seus cuidados e assim normalmente realiza trocasutilizando material de taacutexons comuns ou de taacutexonsprovenientes de localidades bem amostradas O mes-mo raciociacutenio se aplica agraves decisotildees que toma sobre apermissatildeo do uso dos espeacutecimes para estudo por ou-tros pesquisadores o curador normalmente natildeo per-mite pesquisas destrutivas em espeacutecimes pertencentes

a taacutexons raros ou mesmo se natildeo o forem de materialproveniente de regiotildees geograacuteficas pouco amostra-das O curador tambeacutem tem a funccedilatildeo de identifi-car reidentificar e verificar identificaccedilotildees realizadasno passado do material jaacute depositado e daquele quechega mantendo a coleccedilatildeo sempre atualizada sob oponto de vista taxonocircmico Agraves vezes os visitantes queestudam grupos especiacuteficos indicam reidentificaccedilotildeesde determinados espeacutecimes e tambeacutem possiacuteveis errosexistentes no acervo cabendo ao curador decidir se

implementa ou natildeo as correccedilotildees sugeridas por outrospesquisadores Finalmente a coleccedilatildeo ao ser utiliza-da sofre um desgaste natural com erros e problemasinvoluntariamente introduzidos em sua organizaccedilatildeo(um espeacutecime trocado de frasco acidentalmente par-tes de peccedilas anatocircmicas acidentalmente danificadasetc) O curador juntamente com o teacutecnico da co-leccedilatildeo deve atuar para minimizar tal desgaste A fimde manter a coleccedilatildeo efetivamente aberta para estudopara todos os pesquisadores habilitados considera-mos que o curador natildeo deve decidir prioridades de

estudo do material depositado para esse ou aquelepesquisador ndash o que tem sido praacutetica muito comumem nossos museus Pensamos que natildeo faz parte dafunccedilatildeo curatorial a administraccedilatildeo da pesquisa taxo-nocircmica dos grupos zooloacutegicos a curadoria eacute voltadapara a coleccedilatildeo natildeo para sua pesquisa embora seja

importante que os curadores possuam uma linha depesquisa proacutepria consistindo do estudo taxonocircmicodo grupo de cuja coleccedilatildeo cuidam majoritariamenteSendo um taxonomista especializado em um grupo ocurador se torna mais capacitado a tomar as decisotildeesnecessaacuterias para a melhor manutenccedilatildeo ampliaccedilatildeo eutilizaccedilatildeo do acervo

As coleccedilotildees sistemaacuteticas frequentemente ocu-pam amplos espaccedilos e assim a estrutura predial demuseus tende ndash em sua seccedilatildeo cientiacutefica natildeo expositivandash a ser quase inteiramente devotada aos armaacuterios e es-tantes especiais que abrigam os espeacutecimes bem comoaos laboratoacuterios de preparo do material Isso significaque normalmente o espaccedilo devotado a salas de aulae laboratoacuterios onde alunos e pesquisadores desenvol-

vem seus estudos representa uma porccedilatildeo minoritaacuteriado total do preacutedio (o que eacute o oposto do que sucede nasfaculdades e departamentos universitaacuterios)

Nos uacuteltimos anos o depoacutesito de amostras de te-cidos para estudos moleculares passou a fazer partedo acervo das coleccedilotildees zooloacutegicas sistemaacuteticas essematerial possui a peculiaridade de que seu uso even-tualmente pode levar agrave perda total da amostra comonatildeo eacute possiacutevel guardar amostras muito volumosas detecido por espeacutecime as aliacutequotas deste material re-tiradas e enviadas para estudo vatildeo gradualmente re-

duzindo a amostra original ateacute seu fim em um casoclaacutessico de amostra destrutiva Este tipo de coleccedilatildeose constitui em um caso desafiador e ateacute mesmo pa-radoxal na curadoria de coleccedilotildees ndash por um lado osmuseus tecircm a missatildeo institucional de preservar es-tas amostras indefinidamente jaacute que representamexemplares insubstituiacuteveis no tempo e no espaccedilo epor outro a de disponibilizar o material para estudo Aqui podem ser citados tambeacutem muitos grupos deinvertebrados onde os animais inteiros satildeo destruiacute-

dos para este tipo de estudo A tradiccedilatildeo que vecircm seestabelecendo eacute que as instituiccedilotildees possuem as suasproacuteprias regras natildeo havendo ainda uma universali-dade de normas e procedimentos relativos agrave doaccedilatildeode aliacutequotas de tecidos

Finalmente um museu possui algumas funccedilotildeesque se aplicam ao conjunto das coleccedilotildees taxonocircmi-cas que abriga a de promover e fomentar seu estudoQuando financeiramente possiacutevel eacute tambeacutem funccedilatildeodos museus atrair pesquisadores atraveacutes de bolsas eoutros incentivos financeiros ou natildeo promovendo

assim o caraacuteter de abertura e disponibilidade que ascoleccedilotildees sistemaacuteticas devem possuir O MZUSP re-centemente iniciou um programa de bolsas de estu-do para as suas coleccedilotildees muito similar aos ldquograntsrdquo jaacuteexistentes em diversas instituiccedilotildees norte-americanas eeuropeacuteias

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155108

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2 Coleccedilotildees de pesquisa

As coleccedilotildees de pesquisa satildeo aquelas criadas emantidas por pesquisadores que trabalham geralmen-te em departamentos universitaacuterios ou mesmo eminstituiccedilotildees de pesquisa mas cuja coleccedilatildeo deriva es-pecificamente de projetos do pesquisador e natildeo demissatildeo institucional A coleccedilatildeo pode ser pequena ougrande mas natildeo tem articulaccedilatildeo com outras coleccedilotildeesda mesma instituiccedilatildeo Embora o estudo cientiacutefico quese pode fazer a partir de tais coleccedilotildees seja essencial-mente o mesmo que o das coleccedilotildees sistemaacuteticas oacesso ao material eacute completamente diverso normal-mente restrito ao pesquisador responsaacutevel (docen-te universitaacuterio) e seus alunos Essa restriccedilatildeo natildeo se

deve exclusivamente agrave uma decisatildeo do responsaacutevelmas sim agrave disponibilidade de recursos normalmentedisponiacuteveis ao docente de um departamento faltamespaccedilo equipamentos teacutecnicos especializados etc Odocente universitaacuterio eacute atendido por teacutecnicos quealeacutem de auxiliarem nas pesquisas atuam igualmentenas aulas praacuteticas e em outras atividades mas que natildeotem condiccedilatildeo de atender a visitas constantes de pro-fissionais ou estudantes de outras instituiccedilotildees Aleacutemdisso o equipamento que um docente adquire paraseu laboratoacuterio visa o desenvolvimento dos projetos

para os quais obteacutem financiamento e se parte desseequipamento for utilizado por outros pesquisadoreso docente e seus alunos natildeo poderatildeo utilizaacute-los preju-dicando o desenvolvimento desses mesmos projetosFinalmente e com uma razoaacutevel frequecircncia uma co-leccedilatildeo de pesquisa facilmente pode se tornar ldquooacuterfatilderdquo nocaso de aposentadoria ou falecimento do docente oumesmo se esse muda de instituiccedilatildeo durante sua carrei-ra Uma coleccedilatildeo formada em um departamento podeou natildeo ser interessante para o docente contratado para

substituir aquele que a formou e isso caracteriza partedo problema da manutenccedilatildeo dos espeacutecimes por tempoindeterminado uma missatildeo fundamental de museuse natildeo de departamentos Natildeo eacute incomum os museusserem contatados por professores universitaacuterios agraves veacutes-peras da aposentadoria ou mesmo por departamentospara resgatar as coleccedilotildees abrigadas nestas instituiccedilotildeesde forma a mantecirc-las indefinidamente Em resumoum docente de departamento tem como funccedilotildees pri-mordiais a pesquisa e o ensino e natildeo a curadoria decoleccedilotildees e departamentos universitaacuterios natildeo estatildeo

preparados para cuidar e manter coleccedilotildees cientiacuteficasNo Brasil costuma-se dizer que os docentes de-

vem realizar trecircs funccedilotildees o ensino a pesquisa e a pres-taccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade atraveacutes da extensatildeouniversitaacuteria Eacute sintomaacutetico que a curadoria de coleccedilotildeesnatildeo esteja enquadrada em nenhuma das trecircs categorias

3 Coleccedilotildees de referecircncia

As coleccedilotildees de referecircncia satildeo aquelas que abriga-das em uma instituiccedilatildeo auxiliam qualquer profissionalque a frequente a se familiarizar com uma determina-da fauna Satildeo comuns em reservas bioloacutegicas ou emdepartamentos universitaacuterios mas nesse uacuteltimo casosatildeo o produto de um projeto especiacutefico e natildeo tem ascaracteriacutesticas de uma coleccedilatildeo de pesquisa A principalcaracteriacutestica de uma coleccedilatildeo de referecircncia eacute a de pos-suir apenas poucos indiviacuteduos por taacutexon geralmenteo nuacutemero suficiente para que cada espeacutecie possa seridentificada (macho e fecircmea em espeacutecies sexualmentedimoacuterficas classes etaacuterias ou fases de desenvolvimentoem espeacutecies com tipos morfoloacutegicos distintos ao longo

do desenvolvimento ontogeneacutetico) Tambeacutem abrigamsinais dos animais como moldes de pegadas ou ninhoscaracteriacutesticos Esse tipo de coleccedilatildeo natildeo deve nuncaabrigar qualquer material-tipo ou seacuteries extensas

Quando em departamentos universitaacuterios a cole-ccedilatildeo de referecircncia eacute comumente um produto de um pro- jeto de pesquisa e serve para que o docente responsaacutevele seus alunos tenham uma raacutepida referecircncia aos taacutexonscom que lidam Por exemplo um pesquisador pode terum projeto que vise o estudo das flutuaccedilotildees populacio-nais de vaacuterias espeacutecies de roedores e na primeira fase da

pesquisa pode ocorrer coleta com preservaccedilatildeo de espeacute-cimes para fins de identificaccedilatildeo Em reservas bioloacutegicasos administradores podem desejar manter alguns espeacute-cimes para que visitantes se familiarizem com a faunaEsse tipo de coleccedilatildeo natildeo requer um profissional espe-cializado em qualquer dos grupos taxonocircmicos repre-sentados mas eacute necessaacuterio no miacutenimo algum cuidadoteacutecnico para sua manutenccedilatildeo Outro tipo de coleccedilatildeoatualmente muito menos comum satildeo as coleccedilotildees par-ticulares Estas coleccedilotildees geralmente regionais por sua

proacutepria natureza mas usualmente de grande impor-tacircncia hoje estatildeo em franca decadecircncia por causa dalegislaccedilatildeo relativa agrave coleta de material (em especial nocaso de vertebrados) e pela crescente profissionalizaccedilatildeode quem estuda a biodiversidade Colecionadores deinvertebrados mais chamativos como besouros borbo-letas e moluscos (conchas) hoje respondem pela maio-ria das coleccedilotildees particulares ainda existentes no BrasilEstas coleccedilotildees com o falecimento ou com a perda deinteresse do colecionador frequentemente satildeo destina-das agraves coleccedilotildees cientiacuteficas existentes nos museus

4 Coleccedilotildees didaacuteticas

Como o nome indica essas coleccedilotildees pertencema departamentos e incluem espeacutecimes utilizados em

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 109

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aula Satildeo preferencialmente animais com menorvalor cientiacutefico geralmente criados em cativeiro emzooloacutegicos ou mesmo espeacutecies muito comuns Essascoleccedilotildees necessitam na imensa maioria dos casos so-mente de atenccedilatildeo teacutecnica para sua manutenccedilatildeo repa-ro e reposiccedilatildeo para fins de ensino e eacute esperado que aomenos parte do material apresente muito desgaste ede forma relativamente raacutepida

5 Coleccedilotildees expositivas

Museus departamentos universitaacuterios e reser-vas bioloacutegicas podem manter coleccedilotildees visando a ex-posiccedilatildeo ao puacuteblico em geral Essas coleccedilotildees podem

particularmente no caso dos museus abrigar espeacuteci-mes pertencentes a espeacutecies de interesse geral e ateacute asmuito raras mas natildeo devem possuir material-tipo eespera-se um desgaste dos espeacutecimes por estarem ex-postos a condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo que frequentementesatildeo deleteacuterias para a preservaccedilatildeo a longo prazo Teacutec-nicos especializados satildeo necessaacuterios para a preparaccedilatildeodo material e sua manutenccedilatildeo Embora excepcional-mente tais materiais zooloacutegicos possam ser estudadoscientificamente o propoacutesito essencial de tais coleccedilotildeeseacute o de divulgaccedilatildeo cientiacutefica Eacute usual que estas coleccedilotildees

se valham de espeacutecimes obtidos em zooloacutegicos e em

cativeiro com um valor cientiacutefico mais limitado oude espeacutecimes de vida livre coletados especificamentepara esta finalidade Neste uacuteltimo caso natildeo deixa deser interessante que estes exemplares mantenham jun-to a si ou agrave base onde estatildeo montados (aleacutem de umlivro de registros especiacutefico na curadoria desta cole-ccedilatildeo) todos os dados sobre a sua coleta Natildeo eacute rara aincorporaccedilatildeo em um determinado momento destesexemplares agraves coleccedilotildees cientiacuteficas onde os mesmossatildeo desmontados e repreparados para se juntarem aestas coleccedilotildees As coleccedilotildees expositivas devem manterpelo menos um teacutecnico especializado (taxidermista depreferecircncia) para cuidar da preparaccedilatildeo e manutenccedilatildeodo material exposto e de um curador que idealmentedecide sobre a temaacutetica da exposiccedilatildeo sobre a forma

de expor este material seguindo uma linha loacutegica des-ta exposiccedilatildeo e que tambeacutem vai tomar as providecircnciassobre a guarda e eventual reposiccedilatildeo dos exemplares

Os museus satildeo diferentes

A resposta claro eacute ldquosimrdquo mas eacute necessaacuterio ex-plicar em algum detalhe a natureza dessa diferenccedilados museus para outras instituiccedilotildees particularmenteos departamentos universitaacuterios e entatildeo discutir as

implicaccedilotildees

FIGURA 1 Os espeacutecimes presentes em diferentes coleccedilotildees permitem uma apreciaccedilatildeo adequada de aspectos taxonocircmicos e biogeograacuteficosde um determinado taacutexon Como exemplo a distribuiccedilatildeo geograacutefica de todas as amostras do gecircnero Leopardus demonstra o papel centraldos museus em estudos taxonocircmicos As coleccedilotildees satildeo a = Museu de Zoologia da USP Satildeo Paulo b = Museu Nacional UFRJ Rio de

Janeiro c = Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Beleacutem d = Museu de Histoacuteria Natural ldquoCapatildeo da Imbuiardquo Curitiba e = Museu de BiologiaMello-Leitatildeo Santa Teresa f = Museo Nacional de Histoacuteria Natural e Antropologiacutea Montevideacuteu g = Museo Argentino de CienciasNaturales ldquoBernardino Rivadaviardquo Buenos Aires h = American Museum of Natural History Nova York As diversas coleccedilotildees contribuemcom amostras distintas e complementares Notar que as coleccedilotildees mais importantes contribuem com o maior nuacutemero amostral e a maiorrepresentatividade geograacutefica

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155110

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A Fig 1 feita a partir de dados obtidos de doNascimento (2010) mostra o papel coletivo que osmuseus tecircm na pesquisa de biodiversidade A figuramostra a distribuiccedilatildeo de representantes do gecircnero Le-opardus que foi inferida a partir da combinaccedilatildeo de to-das as amostras estudadas em oito museus distintos eao seu lado estaacute a contribuiccedilatildeo de cada um dos museusindividualmente em termos das amostras disponiacuteveisEacute possiacutevel perceber que mesmo o melhor de todosos museus em termos de representaccedilatildeo geograacutefica o American Museum of Natural History de Nova Yorkisoladamente natildeo forneceria dados suficientes para acompreensatildeo da distribuiccedilatildeo deste taacutexon Aleacutem dissovecirc-se claramente que diferentes museus tecircm diferentesecircnfases determinadas pela histoacuteria de seu crescimen-

to de acervo e na representatividade das amostras queabrigam Museus como o Bernardino Rivadavia da Argentina o de Montevideacuteu e os de Satildeo Paulo e Riode Janeiro satildeo coleccedilotildees nacionais o Museu Goeldi eacuteuma coleccedilatildeo basicamente Amazocircnica enquanto osdo Espiacuterito Santo e Paranaacute satildeo estaduais na amostra-gem Mas reiterando o que foi dito no iniacutecio destaseccedilatildeo os museus coletivamente exercem um papelque nenhum laboratoacuterio departamental universitaacute-rio pode realizar Os museus tornam disponiacuteveis seusacervos aos pesquisadores que entatildeo publicam suas

pesquisas Os museus natildeo satildeo na praacutetica ldquonacionaisrdquoou ldquoestaduaisrdquo e tecircm um papel central no estudo deproblemas sistemaacuteticos evolutivos biogeograacuteficos ede conservaccedilatildeo que extrapola as fronteiras da unida-de poliacutetica onde se localizam Possuem uma funccedilatildeo deEstado onde o Paiacutes ou EstadoProviacutencia sustentam amanutenccedilatildeo de acervos equipamentos e pessoal paraque a comunidade cientiacutefica mundial possa estudaros espeacutecimes neles abrigados O material depositadonas coleccedilotildees dos museus deve ser encarado como pa-

trimocircnio material da humanidade museus abrigam otestemunho mais evidente da nossa biodiversidade eo vem fazendo haacute seacuteculos

Disso deriva uma importante consequecircncia parao pesquisador que assume a curadoria de uma coleccedilatildeode museu a coleccedilatildeo natildeo eacute o seu laboratoacuterio pessoal Acoleccedilatildeo pertence ao Estado e as funccedilotildees do curadorde uma coleccedilatildeo incluem a) a manutenccedilatildeo da coleccedilatildeocomo um acervo aberto a todos os pesquisadores habi-litados (geralmente pesquisadores de outros museusuniversidades e seus alunos) b) o cuidado para que

os exemplares da coleccedilatildeo estejam o mais corretamen-te identificados quanto possiacutevel bem como com amenor quantidade de erros (que aleacutem dos erros deidentificaccedilatildeo incluem os derivados do uso indevidoe descuido) c) as decisotildees referentes a empreacutestimostrocas e doaccedilotildees d) decisotildees sobre a ampliaccedilatildeo da

amostragem d) decisotildees sobre pesquisa destrutivaEssas decisotildees satildeo feitas em prol da contiacutenua boa ma-nutenccedilatildeo da melhoria do acervo e tambeacutem visando aprestaccedilatildeo de um serviccedilo qualificado agrave comunidade depesquisadores que satildeo usuaacuterios das coleccedilotildees

Esse perfil de curador eacute parcialmente incompatiacute-vel com aquele de um professor universitaacuterio com atu-accedilatildeo em um departamento Este uacuteltimo eacute o gerente deseu proacuteprio laboratoacuterio e atua principalmente no ensi-no e na pesquisa Todos os recursos de seu laboratoacuterioembora possam ser compartilhados com alguns colegase colaboradores devem ter seu uso otimizado para jus-tificar o investimento que as agecircncias de fomento fize-ram O pesquisador de um departamento universitaacuterionatildeo tem uma parcela importante de suas atividades

voltada para os interesses dos demais pesquisadores desua aacuterea de interesse Enquanto para um departamentouniversitaacuterio o melhor eacute contratar um profissional quese dedique integralmente agrave pesquisa e ao ensino para osmuseus eacute importante contratar um pesquisador que te-nha capacidade de se dedicar a um bem puacuteblico o acer-vo sem retorno para a proacutepria carreira Isso cria umaassimetria profissional resultando em pesquisadores demuseus que se dedicam mais agrave pesquisa e ao ensino emenos agrave curadoria (atuando de fato como docentesde departamentos universitaacuterios) ou entatildeo curadores

cujas carreiras satildeo menos valorizadas pela academia porefetuarem menos pesquisa nos padrotildees vigentes

Um excelente professor e pesquisador natildeo eacute ne-cessariamente a melhor contrataccedilatildeo para um Museude Histoacuteria Natural Ainda assim como os concur-sos de ingresso na carreira satildeo os mesmos em toda auniversidade por forccedila de lei e estatuto curadores satildeoselecionados pelas aulas que ministram entre outrosatributos mas natildeo por sua capacidade de dedicaccedilatildeo agravecuradoria Natildeo haacute um padratildeo acadecircmico definido para

avaliar a qualidade da curadoria realizada em coleccedilotildeesde histoacuteria natural Um reflexo disso eacute o fato de quemuitos curadores de museus ao escreverem relatoacuteriosde atividades descrevem a curadoria que realizam nacategoria de ldquoextensatildeordquo que eacute certamente improacutepria

Mas as diferenccedilas continuam no niacutevel institu-cional um museu necessita de numeroso corpo teacutec-nico especializado em diferentes funccedilotildees e todas elascom pouca ou nenhuma interface com o ensino oupesquisa de um laboratoacuterio As coleccedilotildees satildeo consti-tuiacutedas de espeacutecimes peccedilas anatocircmicas amostras de

tecidos para estudos moleculares e estruturas produ-zidas por animais como ninhos e tocas Esse mate-rial eacute obtido atraveacutes de esforccedilo dos pesquisadores quetrabalham como curadores de coleccedilotildees e numerososoutros profissionais e amadores Eacute comum encontrarespeacutecimes nas coleccedilotildees tatildeo velhos quanto as proacuteprias

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 111

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instituiccedilotildees aleacutem de material receacutem-colecionadoCada espeacutecime (aqui entendido como um indiviacuteduoou peccedila individual) ou lote (um conjunto de espeacuteci-mes entre dois a milhares de indiviacuteduos) pode chegardo campo jaacute preparado para ser incluiacutedo na coleccedilatildeoou entatildeo sofrer tratamento adicional em laboratoacuteriopara que sua inclusatildeo seja possiacutevel por exemplo nocaso de muitos tipos de insetos os espeacutecimes podemser individualmente etiquetados e alfinetados mamiacute-feros podem ter preparados seus esqueletos e peles eassim por diante Na maioria das coleccedilotildees em que eacuteconveniente separar indiviacuteduos e peccedilas anatocircmicascada um dos espeacutecimes eacute etiquetado ou rotulado edeve receber um nuacutemero de tombo uacutenico A identifi-caccedilatildeo de espeacutecimes e lotes eacute feita primariamente pelos

curadores das coleccedilotildees mas natildeo eacute infrequente que omaterial venha jaacute identificado do campo no caso deter sido coletado por especialistas Mas a identificaccedilatildeoque eventualmente chega ao evento do tombamento einclusatildeo do material na coleccedilatildeo pode ser alterada maistarde quando examinada por um profissional queesteja realizando uma revisatildeo taxonocircmica do grupoCuradores e teacutecnicos trabalham nessas vaacuterias etapasdo processamento dos espeacutecimes O pessoal teacutecnicotrabalha ainda na preparaccedilatildeo de lotes para envio pelocorreio no caso dos empreacutestimos e permutas bem

como no retorno e incorporaccedilatildeo desse material Jaacute no caso dos departamentos universitaacuterios

o pessoal teacutecnico trabalha assessorando a pesquisados docentes e tambeacutem nas aulas teoacutericas e praacuteticasComo as coleccedilotildees de pesquisa departamentais natildeo satildeovisitadas com grande frequecircncia por outros pesquisa-dores natildeo haacute sobrecarga do trabalho dos teacutecnicos quepodem entatildeo dedicar-se agraves missotildees principais de suainstituiccedilatildeo o ensino e a pesquisa

Mas a diferenccedila entre os tipos de instituiccedilotildees

natildeo cessa aiacute e sim se estende para o problema damanutenccedilatildeo por tempo indeterminado dos acervosEnquanto um museu tem como missatildeo manter essascoleccedilotildees mesmo na ausecircncia de um curador especia-lizado em um determinado grupo os demais especia-listas que ali trabalham bem como o pessoal teacutecnicofornecem o cuidado necessaacuterio para a sobrevivecircnciado acervo Em um departamento universitaacuterio o inte-resse por um acervo amealhado por um docente podeperfeitamente cessar apoacutes o teacutermino do viacutenculo pro-fissional desse docente

As consequecircncias das diferenccedilas

A principal consequecircncia do que foi exposto aci-ma eacute que um museu natildeo pode ser administrado como

um departamento universitaacuterio nem seus profissio-nais podem ser avaliados e mesmo contratados utili-zando-se os mesmos criteacuterios que aqueles empregadospara seus colegas dos departamentos

Eacute de se esperar que a carreira de um curador emmeacutedia envolva menos ensino que a de um docentede departamento universitaacuterio Tambeacutem eacute altamentedesejaacutevel que os curadores sejam taxonomistas profis-sionais com abordagem organiacutesmica natildeo apenas mo-lecular A razatildeo para tal eacute a necessidade de familiarida-de com os taacutexons que a coleccedilatildeo abriga e a capacidadecriacutetica para avaliar a literatura taxonocircmica produzidapelos pesquisadores de todo o mundo Em um de-partamento universitaacuterio um pesquisador pode ndash emuitas vezes eacute ateacute desejaacutevel ndash ampliar seus interesses

a ponto de se tornar um profissional muito diferentedaquele que ingressou na carreira por exemplo umdocente que comeccedila a carreira como sistemata podese tornar um especialista em macroecologia ou bioge-ografia ou mesmo deixar a sistemaacutetica morfoloacutegica epassar a utilizar principalmente meacutetodos molecularesEsse tipo de percurso profissional eacute bem menos de-sejaacutevel para um curador de coleccedilotildees em museus Seufoco sempre deveraacute ser a coleccedilatildeo e a pesquisa baseadaem coleccedilotildees e seu principal esforccedilo o de servir agrave co-munidade de pesquisadores devotados ao estudo da

biodiversidade atraveacutes do trabalho que dedica agrave cole-ccedilatildeo sob seus cuidados

A compreensatildeo do papel diferenciado dos mu-seus de histoacuteria natural e do papel que os curadoresque neles trabalham devem ter eacute muito incipiente in-felizmente mesmo entre profissionais dos museus Ahistoacuteria recente dos museus brasileiros apresenta exem-plos pouco edificantes de curadores que impediram otrabalho de concorrentes e outros profissionais por ra-zotildees obscuras e assim fugiram da missatildeo essencial de

manter acervos abertos agrave pesquisa Esse tipo de atituderesultou em um destrutivo antagonismo entre pesqui-sadores Se os museus realizarem bem suas funccedilotildees pri-mordiais e permitirem amplo acesso aos acervos esseantagonismo tende a desaparecer Aleacutem disso eacute im-portante que os gestores e docentes em departamentosuniversitaacuterios percebam que a criaccedilatildeo de um museu dehistoacuteria natural natildeo significa somente a junccedilatildeo de umconjunto de coleccedilotildees zooloacutegicas sob o nome de ldquomu-seurdquo Um museu deve ser compreendido sob uma pers-pectiva diferente incorporando toda uma estrutura

diferenciada de curadoria teacutecnica seccedilotildees cientiacuteficas eexpositivas que possuem impactos importantes no or-ganograma e no orccedilamento das instituiccedilotildees A criaccedilatildeode um museu eacute uma decisatildeo em uacuteltima instacircncia doEstado pois realizaraacute funccedilatildeo de Estado como fiel de-positaacuteria da fauna que eacute um bem difuso da sociedade

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155112

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Acreditamos que as universidades que possuemmuseus de histoacuteria natural precisam ainda compreen-der mais profundamente a extensatildeo de suas responsa-bilidades relativas aos acervos de que dispotildeem assimcomo os Estados quando satildeo esses os principais man-tenedores O Brasil no momento em que escrevemoseste trabalho vem adotando uma poliacutetica completa-mente uniforme para todo o corpo de pesquisadoresque emprega todos satildeo julgados pelos mesmos criteacute-rios de produtividade sem qualquer distinccedilatildeo para afunccedilatildeo curatorial Em nossa opiniatildeo esse procedimen-to eacute deleteacuterio para os museus de histoacuteria natural bemcomo para o avanccedilo do estudo da biodiversidade emnosso paiacutes

AGRADECIMENTOS

Agradecemos imensamente ao Dr Joseacute Lima deFigueiredo a quem este ensaio eacute dedicado Muito doque aqui estaacute eacute derivado de numerosas discussotildees arespeito do papel da curadoria na universidade e dotrabalho do curador Essas foram sempre preocupa-ccedilotildees centrais de toda a sua vida profissional

REFEREcircNCIAS

G983137983157983138983141983154983156 P P983137983152983141983155 M 983078 P983141983156983141983154983155983151983150 AT 2006 Natural historycollections and the conservation of poorly known taxaecological niche modeling in Central African rainforest genets

(Genetta spp) Biological Conservation 130 106-117H983141983154983145983150983143983149983137983150 N 2013 Sciences of Antiquity Oxford OxfordUniversity Press

J983137983154983140983145983150983141 JAS 983078 S983152983137983154983161 E EC (E983140983155) 1996 Cultures of NaturalHistory Cambridge Cambridge University Press

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M983145983148983148983141983154 B C983151983150983159983137983161 W R983141983137983140983145983150983143 RP W983141983149983149983141983154 C W983145983148983140983156 DK983148983141983145983149983137983150 D M983151983150983142983151983154983156 S R983137983138983145983150983151983159983145983156983162 A A983154983149983155983156983154983151983150983143 B983078 H983157983156983139983144983145983150983155 M 2004 Evaluating the conservation missionof Zoos Aquariums Botanical Gardens and Natural HistoryMuseums Conservation Biology 18(1) 86-93

N983137983155983139983145983149983141983150983156983151 FO 2010 Revisatildeo taxonocircmica do gecircnero Leopardus Gray 1842 (Carnivora Felidae) (Tese de doutorado) SatildeoPaulo Departamento de Zoologia Instituto de Biociecircncias daUSP

S983144983137983142983142983141983154 HB F983145983155983144983141983154 RN 983078 D983137983158983145983140983155983151983150 C 1998 The role ofnatural history collections in documenting species declinesTrends in Ecology and Evolution 13(1) 27-30

S983157983137983154983141983162 AV 983078 T983155983157983156983155983157983145 ND 2004 The value of museumcollections for research and society Bioscience 54(1) 66-74

T983137983140983140983141983145 VA M983137983154983156983145983150983155 UR 983140983141 V983145983158983151 M 983078 P983141983154983139983141983153983157983145983148983148983151 AR1999 O acervo das coleccedilotildees zooloacutegicas do Estado de Satildeo PauloIn Wey de Brito MC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidadedo Estado de Satildeo Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 53-67

983140983141 V983145983158983151 M 1999 Museus e coleccedilotildees zooloacutegicas In Wey de BritoMC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidade do Estado de Satildeo

Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 49-51 W983145983150983147983141983154 K 2004 Natural History Museums in a postbiodiversity

era Bioscience 54(5) 455-459

Aceito em 14012014Impresso em 30092014

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 113

Page 2: Texto 10_Reflexões Sobre Coleções Zoológicas, Sua Curadoria e a Inserção Dos Museus Na Estrutura Universitária Brasileira

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e o tipo de pesquisadores que nelas trabalham A dis-cussatildeo final eacute claramente assimeacutetrica e enfatiza a dis-tinccedilatildeo dos museus frente aos demais tipos de coleccedilotildeesprincipalmente aquelas abrigadas em departamentosuniversitaacuterios

Eacute necessaacuterio destacar que nossas ideacuteias satildeo umreflexo de nossa experiecircncia na academia brasileiramas acreditamos que Museus de Histoacuteria Natural tecircmuma missatildeo comum que eacute maior que as fronteirasnacionais e o que escrevemos aqui natildeo se esgota emnosso proacuteprio paiacutes De fato o conjunto das coleccedilotildeeszooloacutegicas mantidas em vaacuterios paiacuteses eacute necessaacuterio paraque muitos tipos de pesquisa frutifiquem e assimMuseus de Histoacuteria Natural possuem uma funccedilatildeo deEstado que eacute fundamentalmente diversa daquela das

instituiccedilotildees universitaacuterias em geral

As coleccedilotildees zooloacutegicas e suas caracteriacutesticas

As trecircs principais coleccedilotildees zooloacutegicas brasi-leiras (Museu de Zoologia da Universidade de SatildeoPaulo MZUSP Museu Nacional MNRJ e MuseuParaense Emiacutelio Goeldi MPEG) satildeo jaacute mais quecentenaacuterias e vecircm recebendo o influxo de copiosomaterial proveniente de vaacuterias fontes desde o obti-

do atraveacutes de projetos cientiacuteficos regulares ateacute aquelecolecionado no escopo de inventaacuterios fauniacutesticos re-alizados para fins de elaboraccedilatildeo de relatoacuterios de im-pacto ambiental Natildeo existe uma avaliaccedilatildeo modernadas quantidades envolvidas mas a julgar pelo quevecircm acontecendo no MZUSP podemos inferir queas demais coleccedilotildees brasileiras tambeacutem tecircm tido umcrescimento muito vigoroso Esse material apresen-ta entretanto diversos desafios importantes para oscuradores das coleccedilotildees desde o espaccedilo destinado a

abrigar os espeacutecimes ndash escasso na maioria dos casosndash ateacute a obtenccedilatildeo de insumos apropriados para o seuarmazenamento e conservaccedilatildeo dos espeacutecimes aleacutemdo tombamento e posterior disponibilizaccedilatildeo para acomunidade cientiacutefica Aleacutem dos aspectos materiaisreferentes ao armazenamento de espeacutecimes zooloacutegi-cos o nuacutemero de horas de trabalho que curadores eteacutecnicos devem dedicar ao material aumenta com otamanho da coleccedilatildeo

Aleacutem das funccedilotildees normais atribuiacutedas ao pes-soal especializado que lida com coleccedilotildees zooloacutegicas

os curadores tambeacutem satildeo pesquisadoresprofessorescom as atribuiccedilotildees usuais desses profissionais e essasfunccedilotildees natildeo se relacionam com a curadoria criandouma instacircncia uacutenica na carreira profissional universi-taacuteria o docente que possui outras obrigaccedilotildees que natildeoas de ensino pesquisa e extensatildeo

Nosso objetivo aqui eacute argumentar que tantoos museus que abrigam coleccedilotildees zooloacutegicas como oscuradores responsaacuteveis por essas coleccedilotildees natildeo se ade-quam perfeitamente agrave estrutura universitaacuteria vigenteno paiacutes A adequaccedilatildeo destas instituiccedilotildees bem comodas suas atribuiccedilotildees cientiacuteficas tem gerado conflitosimportantes em termos das carreiras dos profissionaisque trabalham em museus ligados agraves universidadesDesta forma os museus de histoacuteria natural e os do-centes curadores de suas coleccedilotildees devem ser vistoscomo desempenhando um papel singular e diferen-ciado no sistema universitaacuterio

Uma breve introduccedilatildeo agraves coleccedilotildees

zooloacutegicas suas funccedilotildees e seus usos

A fim de demonstrar o quatildeo uacutenicos satildeo museusde histoacuteria natural quando comparados aos institutosde pesquisa e ensino das universidades consideramosaqui necessaacuterio descrever os tipos de coleccedilotildees zooloacutegi-cas existentes como coleccedilotildees satildeo formadas e como omaterial zooloacutegico nelas contido eacute trabalhado para queesteja disponiacutevel para uso pela comunidade cientiacutefica As coleccedilotildees abrigadas nos museus de histoacuteria naturalsatildeo apenas uma fraccedilatildeo do total como foi demostrado

para o Estado de Satildeo Paulo por Taddei et al (1999)mas o conjunto dessas coleccedilotildees pode ser categorizadoem alguns tipos principais (Tabela 1 e texto abaixo)

1 Coleccedilotildees sistemaacuteticas

Quando se pensa em coleccedilotildees zooloacutegicas nor-malmente vecircm agrave mente aquelas depositadas em mu-seus de histoacuteria natural que para evitar a tautoniacutemia

chamaremos aqui de coleccedilotildees sistemaacuteticas Essas cole-ccedilotildees possuem vaacuterias caracteriacutesticas importantes que asdistinguem de outros tipos de coleccedilotildees Em primeirolugar sua principal funccedilatildeo eacute servir de base a estudoscientiacuteficos do material que abriga Satildeo constituiacutedasde espeacutecimes provenientes das mais variadas regiotildeese natildeo satildeo (e nem devem ser) um reflexo direto de ne-nhum projeto cientiacutefico individual Seu crescimentose daacute inclusive atraveacutes de projetos individuais mas acoleccedilatildeo como um todo visa representar a diversidadebioloacutegica animal sem qualquer restriccedilatildeo regional ou

taxonocircmica As instituiccedilotildees capacitadas a receber talmaterial satildeo os museus mas existem casos em que co-leccedilotildees com as caracteriacutesticas de coleccedilatildeo sistemaacutetica seencontram em departamentos universitaacuterios e aiacute satildeofrequentemente devotadas a um grupo taxonocircmicoparticular

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155106

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As coleccedilotildees sistemaacuteticas dos museus tendem acrescer organicamente porque mesmo quando natildeoexiste um curador especializado em um grupo espe-ciacutefico pesquisadores de outras instituiccedilotildees tendem adepositar ali os espeacutecimes que obteacutem e que jaacute tenhamestudado e publicado Frequentemente pesquisadoresde departamentos universitaacuterios costumam depositaro material-tipo resultante de seus estudos nas coleccedilotildeessistemaacuteticas de museus em um claro reconhecimento

da missatildeo institucional dos mesmos e da sua impor-tacircncia quando comparados agraves coleccedilotildees mantidas emdepartamentos

Como resultado dessa comunalidade de uso ascoleccedilotildees sistemaacuteticas satildeo em contrapartida abertasao estudo por quaisquer pesquisadores habilitados(definidos um tanto vagamente como pesquisado-res contratados em instituiccedilotildees de ensino e pesquisa eseus alunos graduandos e poacutes-graduandos bem comoaqueles desenvolvendo pesquisas de poacutes-doutoramen-to) Essa ldquoaberturardquo eacute bastante ampla incluindo a vi-

sita direta do pesquisador interessado ao acervo bemcomo o empreacutestimo de material que pode ficar porum periacuteodo curto ou longo sob a posse deste pesqui-sador Os limites desses estudos satildeo decididos peloscuradores das coleccedilotildees sistemaacuteticas (mais sobre essetema seraacute discutido adiante)

Como as coleccedilotildees sistemaacuteticas recebem materialde vaacuterias fontes e necessariamente devem ser abertasao estudo para quaisquer pesquisadores habilitadosa instituiccedilatildeo que as abriga deve possuir um corpode funcionaacuterios especializado no trabalho junto aosacervos natildeo soacute para a sua correta manutenccedilatildeo mastambeacutem para que o material ali depositado possa serestudado em sua totalidade em consonacircncia com amissatildeo institucional dos museus Esses funcionaacuterios

incluem mas natildeo estatildeo limitados a preparadores deespeacutecimes (taxidermistas e outros teacutecnicos especiali-zados que devem preparar o material zooloacutegico paraser incluiacutedo nas respectivas coleccedilotildees finalizando aspreparaccedilotildees iniciadas em campo atuando na repara-ccedilatildeo e restauro dos espeacutecimes depositados na coleccedilatildeoetc) teacutecnicos de coleccedilatildeo muitas vezes constituiacutedo depessoal com formaccedilatildeo superior que trabalham juntoao acervo mantendo a ordem e os paracircmetros ditadospelas normas curatoriais de cada coleccedilatildeo bem comocontrolando o fluxo de empreacutestimo e visitantes teacutecni-

cos de serviccedilos gerais cuja funccedilatildeo eacute trocar e suplemen-tar os fluiacutedos preservantes nos frascos limpar espeacuteci-mes manter a organizaccedilatildeo geral da coleccedilatildeo embalare desembalar exemplares que tenham viajado comoempreacutestimo ou chegado como doaccedilotildees entre outrasfunccedilotildees

TABELA 1 Tipos de coleccedilotildees zooloacutegicas mais comuns os materiais que abrigam e seus principais usos

TIPO DE COLECcedilAtildeO TIPO DE MATERIAL USOS

Coleccedilatildeo sistemaacutetica Espeacutecimes individuais colocircnias lotes peccedilasanatocircmicas ninhos tocas e outros produtos da

atividade animal tecidos (para estudos moleculares)moldes de espeacutecimes ou de partes anatocircmicasfrequentemente abriga material-tipo utilizado para adescriccedilatildeo de novas espeacutecies Esse tipo de coleccedilatildeo eacute aque existe normalmente em Museus

Utilizada por pesquisadores interessados em estudaranatomia taxonomia relaccedilotildees filogeneacuteticas

biogeografia macroecologia e quaisquer outraspesquisas que envolvam espeacutecimes da fauna Autilizaccedilatildeo de coleccedilotildees sistemaacuteticas nunca estaacute restritaao pesquisador responsaacutevel e seus alunos mas eacuteaberta a quaisquer pesquisadores creditados

Coleccedilatildeo de pesquisa Pode abrigar os mesmos tipos de material zooloacutegicodescrito acima mas em geral em quantidade menorrefletindo a atividade do laboratoacuterio cientiacutefico quea produz Esse eacute o tipo de coleccedilatildeo que surge dotrabalho de um docentepesquisador de um institutode pesquisa e ensino das universidades

O uso pode ser o mesmo das coleccedilotildees sistemaacuteticasdescrito acima mas o acesso eacute normalmente restritoaos docentes que gerenciam o laboratoacuterio e seusalunos e natildeo haacute obrigaccedilatildeo de que o material alicontido esteja disponiacutevel para estudo por outrospesquisadores

Coleccedilatildeo de referecircncia Satildeo coleccedilotildees que conteacutem amostras representativasde um conjunto de espeacutecies de uma regiatildeo

reserva bioloacutegica ou mesmo que satildeo fruto dodesenvolvimento de um determinado projeto depesquisa Frequentemente possuem o nuacutemero deespeacutecimes por espeacutecie que se acredite suficiente parapermitir sua identificaccedilatildeo Natildeo possuem material-tipo nem seacuteries extensas da mesma espeacutecie

Coleccedilotildees de referecircncia satildeo uacuteteis para pesquisadoresque visitando uma determinada regiatildeo (por

exemplo uma reserva bioloacutegica) estatildeo interessadosem se familiarizar com as espeacutecies que ali vivemTambeacutem surgem para auxiliar um projeto especiacuteficocomo no caso de projetos ecoloacutegicos que demandema identificaccedilatildeo de espeacutecimes

Coleccedilatildeo didaacutetica Composta de espeacutecimes que representem umavariedade de taacutexons eou peccedilas anatocircmicas paraestudos por alunos de graduaccedilatildeo ou poacutes-graduaccedilatildeo

Uso exclusivo para estudo podendo incluir adestruiccedilatildeo do material normalmente composta pormaterial menos valioso do ponto de vista cientiacuteficoReposiccedilatildeo constante

Coleccedilatildeo expositiva Composta de material especialmente preparado paraexposiccedilatildeo em uma instituiccedilatildeo

A funccedilatildeo eacute essencialmente a de divulgaccedilatildeo cientiacuteficamas o uso na pesquisa natildeo estaacute totalmente excluiacutedo

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 107

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Os curadores satildeo pesquisadores contratadospara trabalhar junto a uma determinada coleccedilatildeo esatildeo normalmente especialistas em um grupo taxonocirc-mico O curador possui diversas funccedilotildees especiacuteficase possui alguma liberdade de atuaccedilatildeo no que tangeao acervo Por exemplo o curador uma vez que co-mece seu trabalho junto a um acervo do grupo ta-xonocircmico do qual eacute especialista deve imediatamentetomar conhecimento do grau de representatividadetaxonocircmica e geograacutefica da coleccedilatildeo sob sua respon-sabilidade e a partir daiacute estabelecer uma poliacutetica quevise a preencher lacunas e melhorar essas represen-tatividades Pode fazer isso ativamente realizandoprojetos de pesquisa que demandem coletas geraise portanto indo ao campo atraacutes destes espeacutecimes

ou pode tambeacutem iniciar um programa de permutascom outras instituiccedilotildees do mundo Ao fazer estas per-mutas o curador idealmente deve evitar diminuir arepresentatividade taxonocircmica e geograacutefica do acervosob seus cuidados e assim normalmente realiza trocasutilizando material de taacutexons comuns ou de taacutexonsprovenientes de localidades bem amostradas O mes-mo raciociacutenio se aplica agraves decisotildees que toma sobre apermissatildeo do uso dos espeacutecimes para estudo por ou-tros pesquisadores o curador normalmente natildeo per-mite pesquisas destrutivas em espeacutecimes pertencentes

a taacutexons raros ou mesmo se natildeo o forem de materialproveniente de regiotildees geograacuteficas pouco amostra-das O curador tambeacutem tem a funccedilatildeo de identifi-car reidentificar e verificar identificaccedilotildees realizadasno passado do material jaacute depositado e daquele quechega mantendo a coleccedilatildeo sempre atualizada sob oponto de vista taxonocircmico Agraves vezes os visitantes queestudam grupos especiacuteficos indicam reidentificaccedilotildeesde determinados espeacutecimes e tambeacutem possiacuteveis errosexistentes no acervo cabendo ao curador decidir se

implementa ou natildeo as correccedilotildees sugeridas por outrospesquisadores Finalmente a coleccedilatildeo ao ser utiliza-da sofre um desgaste natural com erros e problemasinvoluntariamente introduzidos em sua organizaccedilatildeo(um espeacutecime trocado de frasco acidentalmente par-tes de peccedilas anatocircmicas acidentalmente danificadasetc) O curador juntamente com o teacutecnico da co-leccedilatildeo deve atuar para minimizar tal desgaste A fimde manter a coleccedilatildeo efetivamente aberta para estudopara todos os pesquisadores habilitados considera-mos que o curador natildeo deve decidir prioridades de

estudo do material depositado para esse ou aquelepesquisador ndash o que tem sido praacutetica muito comumem nossos museus Pensamos que natildeo faz parte dafunccedilatildeo curatorial a administraccedilatildeo da pesquisa taxo-nocircmica dos grupos zooloacutegicos a curadoria eacute voltadapara a coleccedilatildeo natildeo para sua pesquisa embora seja

importante que os curadores possuam uma linha depesquisa proacutepria consistindo do estudo taxonocircmicodo grupo de cuja coleccedilatildeo cuidam majoritariamenteSendo um taxonomista especializado em um grupo ocurador se torna mais capacitado a tomar as decisotildeesnecessaacuterias para a melhor manutenccedilatildeo ampliaccedilatildeo eutilizaccedilatildeo do acervo

As coleccedilotildees sistemaacuteticas frequentemente ocu-pam amplos espaccedilos e assim a estrutura predial demuseus tende ndash em sua seccedilatildeo cientiacutefica natildeo expositivandash a ser quase inteiramente devotada aos armaacuterios e es-tantes especiais que abrigam os espeacutecimes bem comoaos laboratoacuterios de preparo do material Isso significaque normalmente o espaccedilo devotado a salas de aulae laboratoacuterios onde alunos e pesquisadores desenvol-

vem seus estudos representa uma porccedilatildeo minoritaacuteriado total do preacutedio (o que eacute o oposto do que sucede nasfaculdades e departamentos universitaacuterios)

Nos uacuteltimos anos o depoacutesito de amostras de te-cidos para estudos moleculares passou a fazer partedo acervo das coleccedilotildees zooloacutegicas sistemaacuteticas essematerial possui a peculiaridade de que seu uso even-tualmente pode levar agrave perda total da amostra comonatildeo eacute possiacutevel guardar amostras muito volumosas detecido por espeacutecime as aliacutequotas deste material re-tiradas e enviadas para estudo vatildeo gradualmente re-

duzindo a amostra original ateacute seu fim em um casoclaacutessico de amostra destrutiva Este tipo de coleccedilatildeose constitui em um caso desafiador e ateacute mesmo pa-radoxal na curadoria de coleccedilotildees ndash por um lado osmuseus tecircm a missatildeo institucional de preservar es-tas amostras indefinidamente jaacute que representamexemplares insubstituiacuteveis no tempo e no espaccedilo epor outro a de disponibilizar o material para estudo Aqui podem ser citados tambeacutem muitos grupos deinvertebrados onde os animais inteiros satildeo destruiacute-

dos para este tipo de estudo A tradiccedilatildeo que vecircm seestabelecendo eacute que as instituiccedilotildees possuem as suasproacuteprias regras natildeo havendo ainda uma universali-dade de normas e procedimentos relativos agrave doaccedilatildeode aliacutequotas de tecidos

Finalmente um museu possui algumas funccedilotildeesque se aplicam ao conjunto das coleccedilotildees taxonocircmi-cas que abriga a de promover e fomentar seu estudoQuando financeiramente possiacutevel eacute tambeacutem funccedilatildeodos museus atrair pesquisadores atraveacutes de bolsas eoutros incentivos financeiros ou natildeo promovendo

assim o caraacuteter de abertura e disponibilidade que ascoleccedilotildees sistemaacuteticas devem possuir O MZUSP re-centemente iniciou um programa de bolsas de estu-do para as suas coleccedilotildees muito similar aos ldquograntsrdquo jaacuteexistentes em diversas instituiccedilotildees norte-americanas eeuropeacuteias

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155108

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2 Coleccedilotildees de pesquisa

As coleccedilotildees de pesquisa satildeo aquelas criadas emantidas por pesquisadores que trabalham geralmen-te em departamentos universitaacuterios ou mesmo eminstituiccedilotildees de pesquisa mas cuja coleccedilatildeo deriva es-pecificamente de projetos do pesquisador e natildeo demissatildeo institucional A coleccedilatildeo pode ser pequena ougrande mas natildeo tem articulaccedilatildeo com outras coleccedilotildeesda mesma instituiccedilatildeo Embora o estudo cientiacutefico quese pode fazer a partir de tais coleccedilotildees seja essencial-mente o mesmo que o das coleccedilotildees sistemaacuteticas oacesso ao material eacute completamente diverso normal-mente restrito ao pesquisador responsaacutevel (docen-te universitaacuterio) e seus alunos Essa restriccedilatildeo natildeo se

deve exclusivamente agrave uma decisatildeo do responsaacutevelmas sim agrave disponibilidade de recursos normalmentedisponiacuteveis ao docente de um departamento faltamespaccedilo equipamentos teacutecnicos especializados etc Odocente universitaacuterio eacute atendido por teacutecnicos quealeacutem de auxiliarem nas pesquisas atuam igualmentenas aulas praacuteticas e em outras atividades mas que natildeotem condiccedilatildeo de atender a visitas constantes de pro-fissionais ou estudantes de outras instituiccedilotildees Aleacutemdisso o equipamento que um docente adquire paraseu laboratoacuterio visa o desenvolvimento dos projetos

para os quais obteacutem financiamento e se parte desseequipamento for utilizado por outros pesquisadoreso docente e seus alunos natildeo poderatildeo utilizaacute-los preju-dicando o desenvolvimento desses mesmos projetosFinalmente e com uma razoaacutevel frequecircncia uma co-leccedilatildeo de pesquisa facilmente pode se tornar ldquooacuterfatilderdquo nocaso de aposentadoria ou falecimento do docente oumesmo se esse muda de instituiccedilatildeo durante sua carrei-ra Uma coleccedilatildeo formada em um departamento podeou natildeo ser interessante para o docente contratado para

substituir aquele que a formou e isso caracteriza partedo problema da manutenccedilatildeo dos espeacutecimes por tempoindeterminado uma missatildeo fundamental de museuse natildeo de departamentos Natildeo eacute incomum os museusserem contatados por professores universitaacuterios agraves veacutes-peras da aposentadoria ou mesmo por departamentospara resgatar as coleccedilotildees abrigadas nestas instituiccedilotildeesde forma a mantecirc-las indefinidamente Em resumoum docente de departamento tem como funccedilotildees pri-mordiais a pesquisa e o ensino e natildeo a curadoria decoleccedilotildees e departamentos universitaacuterios natildeo estatildeo

preparados para cuidar e manter coleccedilotildees cientiacuteficasNo Brasil costuma-se dizer que os docentes de-

vem realizar trecircs funccedilotildees o ensino a pesquisa e a pres-taccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade atraveacutes da extensatildeouniversitaacuteria Eacute sintomaacutetico que a curadoria de coleccedilotildeesnatildeo esteja enquadrada em nenhuma das trecircs categorias

3 Coleccedilotildees de referecircncia

As coleccedilotildees de referecircncia satildeo aquelas que abriga-das em uma instituiccedilatildeo auxiliam qualquer profissionalque a frequente a se familiarizar com uma determina-da fauna Satildeo comuns em reservas bioloacutegicas ou emdepartamentos universitaacuterios mas nesse uacuteltimo casosatildeo o produto de um projeto especiacutefico e natildeo tem ascaracteriacutesticas de uma coleccedilatildeo de pesquisa A principalcaracteriacutestica de uma coleccedilatildeo de referecircncia eacute a de pos-suir apenas poucos indiviacuteduos por taacutexon geralmenteo nuacutemero suficiente para que cada espeacutecie possa seridentificada (macho e fecircmea em espeacutecies sexualmentedimoacuterficas classes etaacuterias ou fases de desenvolvimentoem espeacutecies com tipos morfoloacutegicos distintos ao longo

do desenvolvimento ontogeneacutetico) Tambeacutem abrigamsinais dos animais como moldes de pegadas ou ninhoscaracteriacutesticos Esse tipo de coleccedilatildeo natildeo deve nuncaabrigar qualquer material-tipo ou seacuteries extensas

Quando em departamentos universitaacuterios a cole-ccedilatildeo de referecircncia eacute comumente um produto de um pro- jeto de pesquisa e serve para que o docente responsaacutevele seus alunos tenham uma raacutepida referecircncia aos taacutexonscom que lidam Por exemplo um pesquisador pode terum projeto que vise o estudo das flutuaccedilotildees populacio-nais de vaacuterias espeacutecies de roedores e na primeira fase da

pesquisa pode ocorrer coleta com preservaccedilatildeo de espeacute-cimes para fins de identificaccedilatildeo Em reservas bioloacutegicasos administradores podem desejar manter alguns espeacute-cimes para que visitantes se familiarizem com a faunaEsse tipo de coleccedilatildeo natildeo requer um profissional espe-cializado em qualquer dos grupos taxonocircmicos repre-sentados mas eacute necessaacuterio no miacutenimo algum cuidadoteacutecnico para sua manutenccedilatildeo Outro tipo de coleccedilatildeoatualmente muito menos comum satildeo as coleccedilotildees par-ticulares Estas coleccedilotildees geralmente regionais por sua

proacutepria natureza mas usualmente de grande impor-tacircncia hoje estatildeo em franca decadecircncia por causa dalegislaccedilatildeo relativa agrave coleta de material (em especial nocaso de vertebrados) e pela crescente profissionalizaccedilatildeode quem estuda a biodiversidade Colecionadores deinvertebrados mais chamativos como besouros borbo-letas e moluscos (conchas) hoje respondem pela maio-ria das coleccedilotildees particulares ainda existentes no BrasilEstas coleccedilotildees com o falecimento ou com a perda deinteresse do colecionador frequentemente satildeo destina-das agraves coleccedilotildees cientiacuteficas existentes nos museus

4 Coleccedilotildees didaacuteticas

Como o nome indica essas coleccedilotildees pertencema departamentos e incluem espeacutecimes utilizados em

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 109

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aula Satildeo preferencialmente animais com menorvalor cientiacutefico geralmente criados em cativeiro emzooloacutegicos ou mesmo espeacutecies muito comuns Essascoleccedilotildees necessitam na imensa maioria dos casos so-mente de atenccedilatildeo teacutecnica para sua manutenccedilatildeo repa-ro e reposiccedilatildeo para fins de ensino e eacute esperado que aomenos parte do material apresente muito desgaste ede forma relativamente raacutepida

5 Coleccedilotildees expositivas

Museus departamentos universitaacuterios e reser-vas bioloacutegicas podem manter coleccedilotildees visando a ex-posiccedilatildeo ao puacuteblico em geral Essas coleccedilotildees podem

particularmente no caso dos museus abrigar espeacuteci-mes pertencentes a espeacutecies de interesse geral e ateacute asmuito raras mas natildeo devem possuir material-tipo eespera-se um desgaste dos espeacutecimes por estarem ex-postos a condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo que frequentementesatildeo deleteacuterias para a preservaccedilatildeo a longo prazo Teacutec-nicos especializados satildeo necessaacuterios para a preparaccedilatildeodo material e sua manutenccedilatildeo Embora excepcional-mente tais materiais zooloacutegicos possam ser estudadoscientificamente o propoacutesito essencial de tais coleccedilotildeeseacute o de divulgaccedilatildeo cientiacutefica Eacute usual que estas coleccedilotildees

se valham de espeacutecimes obtidos em zooloacutegicos e em

cativeiro com um valor cientiacutefico mais limitado oude espeacutecimes de vida livre coletados especificamentepara esta finalidade Neste uacuteltimo caso natildeo deixa deser interessante que estes exemplares mantenham jun-to a si ou agrave base onde estatildeo montados (aleacutem de umlivro de registros especiacutefico na curadoria desta cole-ccedilatildeo) todos os dados sobre a sua coleta Natildeo eacute rara aincorporaccedilatildeo em um determinado momento destesexemplares agraves coleccedilotildees cientiacuteficas onde os mesmossatildeo desmontados e repreparados para se juntarem aestas coleccedilotildees As coleccedilotildees expositivas devem manterpelo menos um teacutecnico especializado (taxidermista depreferecircncia) para cuidar da preparaccedilatildeo e manutenccedilatildeodo material exposto e de um curador que idealmentedecide sobre a temaacutetica da exposiccedilatildeo sobre a forma

de expor este material seguindo uma linha loacutegica des-ta exposiccedilatildeo e que tambeacutem vai tomar as providecircnciassobre a guarda e eventual reposiccedilatildeo dos exemplares

Os museus satildeo diferentes

A resposta claro eacute ldquosimrdquo mas eacute necessaacuterio ex-plicar em algum detalhe a natureza dessa diferenccedilados museus para outras instituiccedilotildees particularmenteos departamentos universitaacuterios e entatildeo discutir as

implicaccedilotildees

FIGURA 1 Os espeacutecimes presentes em diferentes coleccedilotildees permitem uma apreciaccedilatildeo adequada de aspectos taxonocircmicos e biogeograacuteficosde um determinado taacutexon Como exemplo a distribuiccedilatildeo geograacutefica de todas as amostras do gecircnero Leopardus demonstra o papel centraldos museus em estudos taxonocircmicos As coleccedilotildees satildeo a = Museu de Zoologia da USP Satildeo Paulo b = Museu Nacional UFRJ Rio de

Janeiro c = Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Beleacutem d = Museu de Histoacuteria Natural ldquoCapatildeo da Imbuiardquo Curitiba e = Museu de BiologiaMello-Leitatildeo Santa Teresa f = Museo Nacional de Histoacuteria Natural e Antropologiacutea Montevideacuteu g = Museo Argentino de CienciasNaturales ldquoBernardino Rivadaviardquo Buenos Aires h = American Museum of Natural History Nova York As diversas coleccedilotildees contribuemcom amostras distintas e complementares Notar que as coleccedilotildees mais importantes contribuem com o maior nuacutemero amostral e a maiorrepresentatividade geograacutefica

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155110

7232019 Texto 10_Reflexotildees Sobre Coleccedilotildees Zooloacutegicas Sua Curadoria e a Inserccedilatildeo Dos Museus Na Estrutura Universitaacuteriahellip

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A Fig 1 feita a partir de dados obtidos de doNascimento (2010) mostra o papel coletivo que osmuseus tecircm na pesquisa de biodiversidade A figuramostra a distribuiccedilatildeo de representantes do gecircnero Le-opardus que foi inferida a partir da combinaccedilatildeo de to-das as amostras estudadas em oito museus distintos eao seu lado estaacute a contribuiccedilatildeo de cada um dos museusindividualmente em termos das amostras disponiacuteveisEacute possiacutevel perceber que mesmo o melhor de todosos museus em termos de representaccedilatildeo geograacutefica o American Museum of Natural History de Nova Yorkisoladamente natildeo forneceria dados suficientes para acompreensatildeo da distribuiccedilatildeo deste taacutexon Aleacutem dissovecirc-se claramente que diferentes museus tecircm diferentesecircnfases determinadas pela histoacuteria de seu crescimen-

to de acervo e na representatividade das amostras queabrigam Museus como o Bernardino Rivadavia da Argentina o de Montevideacuteu e os de Satildeo Paulo e Riode Janeiro satildeo coleccedilotildees nacionais o Museu Goeldi eacuteuma coleccedilatildeo basicamente Amazocircnica enquanto osdo Espiacuterito Santo e Paranaacute satildeo estaduais na amostra-gem Mas reiterando o que foi dito no iniacutecio destaseccedilatildeo os museus coletivamente exercem um papelque nenhum laboratoacuterio departamental universitaacute-rio pode realizar Os museus tornam disponiacuteveis seusacervos aos pesquisadores que entatildeo publicam suas

pesquisas Os museus natildeo satildeo na praacutetica ldquonacionaisrdquoou ldquoestaduaisrdquo e tecircm um papel central no estudo deproblemas sistemaacuteticos evolutivos biogeograacuteficos ede conservaccedilatildeo que extrapola as fronteiras da unida-de poliacutetica onde se localizam Possuem uma funccedilatildeo deEstado onde o Paiacutes ou EstadoProviacutencia sustentam amanutenccedilatildeo de acervos equipamentos e pessoal paraque a comunidade cientiacutefica mundial possa estudaros espeacutecimes neles abrigados O material depositadonas coleccedilotildees dos museus deve ser encarado como pa-

trimocircnio material da humanidade museus abrigam otestemunho mais evidente da nossa biodiversidade eo vem fazendo haacute seacuteculos

Disso deriva uma importante consequecircncia parao pesquisador que assume a curadoria de uma coleccedilatildeode museu a coleccedilatildeo natildeo eacute o seu laboratoacuterio pessoal Acoleccedilatildeo pertence ao Estado e as funccedilotildees do curadorde uma coleccedilatildeo incluem a) a manutenccedilatildeo da coleccedilatildeocomo um acervo aberto a todos os pesquisadores habi-litados (geralmente pesquisadores de outros museusuniversidades e seus alunos) b) o cuidado para que

os exemplares da coleccedilatildeo estejam o mais corretamen-te identificados quanto possiacutevel bem como com amenor quantidade de erros (que aleacutem dos erros deidentificaccedilatildeo incluem os derivados do uso indevidoe descuido) c) as decisotildees referentes a empreacutestimostrocas e doaccedilotildees d) decisotildees sobre a ampliaccedilatildeo da

amostragem d) decisotildees sobre pesquisa destrutivaEssas decisotildees satildeo feitas em prol da contiacutenua boa ma-nutenccedilatildeo da melhoria do acervo e tambeacutem visando aprestaccedilatildeo de um serviccedilo qualificado agrave comunidade depesquisadores que satildeo usuaacuterios das coleccedilotildees

Esse perfil de curador eacute parcialmente incompatiacute-vel com aquele de um professor universitaacuterio com atu-accedilatildeo em um departamento Este uacuteltimo eacute o gerente deseu proacuteprio laboratoacuterio e atua principalmente no ensi-no e na pesquisa Todos os recursos de seu laboratoacuterioembora possam ser compartilhados com alguns colegase colaboradores devem ter seu uso otimizado para jus-tificar o investimento que as agecircncias de fomento fize-ram O pesquisador de um departamento universitaacuterionatildeo tem uma parcela importante de suas atividades

voltada para os interesses dos demais pesquisadores desua aacuterea de interesse Enquanto para um departamentouniversitaacuterio o melhor eacute contratar um profissional quese dedique integralmente agrave pesquisa e ao ensino para osmuseus eacute importante contratar um pesquisador que te-nha capacidade de se dedicar a um bem puacuteblico o acer-vo sem retorno para a proacutepria carreira Isso cria umaassimetria profissional resultando em pesquisadores demuseus que se dedicam mais agrave pesquisa e ao ensino emenos agrave curadoria (atuando de fato como docentesde departamentos universitaacuterios) ou entatildeo curadores

cujas carreiras satildeo menos valorizadas pela academia porefetuarem menos pesquisa nos padrotildees vigentes

Um excelente professor e pesquisador natildeo eacute ne-cessariamente a melhor contrataccedilatildeo para um Museude Histoacuteria Natural Ainda assim como os concur-sos de ingresso na carreira satildeo os mesmos em toda auniversidade por forccedila de lei e estatuto curadores satildeoselecionados pelas aulas que ministram entre outrosatributos mas natildeo por sua capacidade de dedicaccedilatildeo agravecuradoria Natildeo haacute um padratildeo acadecircmico definido para

avaliar a qualidade da curadoria realizada em coleccedilotildeesde histoacuteria natural Um reflexo disso eacute o fato de quemuitos curadores de museus ao escreverem relatoacuteriosde atividades descrevem a curadoria que realizam nacategoria de ldquoextensatildeordquo que eacute certamente improacutepria

Mas as diferenccedilas continuam no niacutevel institu-cional um museu necessita de numeroso corpo teacutec-nico especializado em diferentes funccedilotildees e todas elascom pouca ou nenhuma interface com o ensino oupesquisa de um laboratoacuterio As coleccedilotildees satildeo consti-tuiacutedas de espeacutecimes peccedilas anatocircmicas amostras de

tecidos para estudos moleculares e estruturas produ-zidas por animais como ninhos e tocas Esse mate-rial eacute obtido atraveacutes de esforccedilo dos pesquisadores quetrabalham como curadores de coleccedilotildees e numerososoutros profissionais e amadores Eacute comum encontrarespeacutecimes nas coleccedilotildees tatildeo velhos quanto as proacuteprias

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 111

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instituiccedilotildees aleacutem de material receacutem-colecionadoCada espeacutecime (aqui entendido como um indiviacuteduoou peccedila individual) ou lote (um conjunto de espeacuteci-mes entre dois a milhares de indiviacuteduos) pode chegardo campo jaacute preparado para ser incluiacutedo na coleccedilatildeoou entatildeo sofrer tratamento adicional em laboratoacuteriopara que sua inclusatildeo seja possiacutevel por exemplo nocaso de muitos tipos de insetos os espeacutecimes podemser individualmente etiquetados e alfinetados mamiacute-feros podem ter preparados seus esqueletos e peles eassim por diante Na maioria das coleccedilotildees em que eacuteconveniente separar indiviacuteduos e peccedilas anatocircmicascada um dos espeacutecimes eacute etiquetado ou rotulado edeve receber um nuacutemero de tombo uacutenico A identifi-caccedilatildeo de espeacutecimes e lotes eacute feita primariamente pelos

curadores das coleccedilotildees mas natildeo eacute infrequente que omaterial venha jaacute identificado do campo no caso deter sido coletado por especialistas Mas a identificaccedilatildeoque eventualmente chega ao evento do tombamento einclusatildeo do material na coleccedilatildeo pode ser alterada maistarde quando examinada por um profissional queesteja realizando uma revisatildeo taxonocircmica do grupoCuradores e teacutecnicos trabalham nessas vaacuterias etapasdo processamento dos espeacutecimes O pessoal teacutecnicotrabalha ainda na preparaccedilatildeo de lotes para envio pelocorreio no caso dos empreacutestimos e permutas bem

como no retorno e incorporaccedilatildeo desse material Jaacute no caso dos departamentos universitaacuterios

o pessoal teacutecnico trabalha assessorando a pesquisados docentes e tambeacutem nas aulas teoacutericas e praacuteticasComo as coleccedilotildees de pesquisa departamentais natildeo satildeovisitadas com grande frequecircncia por outros pesquisa-dores natildeo haacute sobrecarga do trabalho dos teacutecnicos quepodem entatildeo dedicar-se agraves missotildees principais de suainstituiccedilatildeo o ensino e a pesquisa

Mas a diferenccedila entre os tipos de instituiccedilotildees

natildeo cessa aiacute e sim se estende para o problema damanutenccedilatildeo por tempo indeterminado dos acervosEnquanto um museu tem como missatildeo manter essascoleccedilotildees mesmo na ausecircncia de um curador especia-lizado em um determinado grupo os demais especia-listas que ali trabalham bem como o pessoal teacutecnicofornecem o cuidado necessaacuterio para a sobrevivecircnciado acervo Em um departamento universitaacuterio o inte-resse por um acervo amealhado por um docente podeperfeitamente cessar apoacutes o teacutermino do viacutenculo pro-fissional desse docente

As consequecircncias das diferenccedilas

A principal consequecircncia do que foi exposto aci-ma eacute que um museu natildeo pode ser administrado como

um departamento universitaacuterio nem seus profissio-nais podem ser avaliados e mesmo contratados utili-zando-se os mesmos criteacuterios que aqueles empregadospara seus colegas dos departamentos

Eacute de se esperar que a carreira de um curador emmeacutedia envolva menos ensino que a de um docentede departamento universitaacuterio Tambeacutem eacute altamentedesejaacutevel que os curadores sejam taxonomistas profis-sionais com abordagem organiacutesmica natildeo apenas mo-lecular A razatildeo para tal eacute a necessidade de familiarida-de com os taacutexons que a coleccedilatildeo abriga e a capacidadecriacutetica para avaliar a literatura taxonocircmica produzidapelos pesquisadores de todo o mundo Em um de-partamento universitaacuterio um pesquisador pode ndash emuitas vezes eacute ateacute desejaacutevel ndash ampliar seus interesses

a ponto de se tornar um profissional muito diferentedaquele que ingressou na carreira por exemplo umdocente que comeccedila a carreira como sistemata podese tornar um especialista em macroecologia ou bioge-ografia ou mesmo deixar a sistemaacutetica morfoloacutegica epassar a utilizar principalmente meacutetodos molecularesEsse tipo de percurso profissional eacute bem menos de-sejaacutevel para um curador de coleccedilotildees em museus Seufoco sempre deveraacute ser a coleccedilatildeo e a pesquisa baseadaem coleccedilotildees e seu principal esforccedilo o de servir agrave co-munidade de pesquisadores devotados ao estudo da

biodiversidade atraveacutes do trabalho que dedica agrave cole-ccedilatildeo sob seus cuidados

A compreensatildeo do papel diferenciado dos mu-seus de histoacuteria natural e do papel que os curadoresque neles trabalham devem ter eacute muito incipiente in-felizmente mesmo entre profissionais dos museus Ahistoacuteria recente dos museus brasileiros apresenta exem-plos pouco edificantes de curadores que impediram otrabalho de concorrentes e outros profissionais por ra-zotildees obscuras e assim fugiram da missatildeo essencial de

manter acervos abertos agrave pesquisa Esse tipo de atituderesultou em um destrutivo antagonismo entre pesqui-sadores Se os museus realizarem bem suas funccedilotildees pri-mordiais e permitirem amplo acesso aos acervos esseantagonismo tende a desaparecer Aleacutem disso eacute im-portante que os gestores e docentes em departamentosuniversitaacuterios percebam que a criaccedilatildeo de um museu dehistoacuteria natural natildeo significa somente a junccedilatildeo de umconjunto de coleccedilotildees zooloacutegicas sob o nome de ldquomu-seurdquo Um museu deve ser compreendido sob uma pers-pectiva diferente incorporando toda uma estrutura

diferenciada de curadoria teacutecnica seccedilotildees cientiacuteficas eexpositivas que possuem impactos importantes no or-ganograma e no orccedilamento das instituiccedilotildees A criaccedilatildeode um museu eacute uma decisatildeo em uacuteltima instacircncia doEstado pois realizaraacute funccedilatildeo de Estado como fiel de-positaacuteria da fauna que eacute um bem difuso da sociedade

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155112

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Acreditamos que as universidades que possuemmuseus de histoacuteria natural precisam ainda compreen-der mais profundamente a extensatildeo de suas responsa-bilidades relativas aos acervos de que dispotildeem assimcomo os Estados quando satildeo esses os principais man-tenedores O Brasil no momento em que escrevemoseste trabalho vem adotando uma poliacutetica completa-mente uniforme para todo o corpo de pesquisadoresque emprega todos satildeo julgados pelos mesmos criteacute-rios de produtividade sem qualquer distinccedilatildeo para afunccedilatildeo curatorial Em nossa opiniatildeo esse procedimen-to eacute deleteacuterio para os museus de histoacuteria natural bemcomo para o avanccedilo do estudo da biodiversidade emnosso paiacutes

AGRADECIMENTOS

Agradecemos imensamente ao Dr Joseacute Lima deFigueiredo a quem este ensaio eacute dedicado Muito doque aqui estaacute eacute derivado de numerosas discussotildees arespeito do papel da curadoria na universidade e dotrabalho do curador Essas foram sempre preocupa-ccedilotildees centrais de toda a sua vida profissional

REFEREcircNCIAS

G983137983157983138983141983154983156 P P983137983152983141983155 M 983078 P983141983156983141983154983155983151983150 AT 2006 Natural historycollections and the conservation of poorly known taxaecological niche modeling in Central African rainforest genets

(Genetta spp) Biological Conservation 130 106-117H983141983154983145983150983143983149983137983150 N 2013 Sciences of Antiquity Oxford OxfordUniversity Press

J983137983154983140983145983150983141 JAS 983078 S983152983137983154983161 E EC (E983140983155) 1996 Cultures of NaturalHistory Cambridge Cambridge University Press

L983137983150983141 MA 1996 Roles of Natural History collections Annals ofthe Missouri Botanical Garden 83(4) 536-545

M983145983148983148983141983154 B C983151983150983159983137983161 W R983141983137983140983145983150983143 RP W983141983149983149983141983154 C W983145983148983140983156 DK983148983141983145983149983137983150 D M983151983150983142983151983154983156 S R983137983138983145983150983151983159983145983156983162 A A983154983149983155983156983154983151983150983143 B983078 H983157983156983139983144983145983150983155 M 2004 Evaluating the conservation missionof Zoos Aquariums Botanical Gardens and Natural HistoryMuseums Conservation Biology 18(1) 86-93

N983137983155983139983145983149983141983150983156983151 FO 2010 Revisatildeo taxonocircmica do gecircnero Leopardus Gray 1842 (Carnivora Felidae) (Tese de doutorado) SatildeoPaulo Departamento de Zoologia Instituto de Biociecircncias daUSP

S983144983137983142983142983141983154 HB F983145983155983144983141983154 RN 983078 D983137983158983145983140983155983151983150 C 1998 The role ofnatural history collections in documenting species declinesTrends in Ecology and Evolution 13(1) 27-30

S983157983137983154983141983162 AV 983078 T983155983157983156983155983157983145 ND 2004 The value of museumcollections for research and society Bioscience 54(1) 66-74

T983137983140983140983141983145 VA M983137983154983156983145983150983155 UR 983140983141 V983145983158983151 M 983078 P983141983154983139983141983153983157983145983148983148983151 AR1999 O acervo das coleccedilotildees zooloacutegicas do Estado de Satildeo PauloIn Wey de Brito MC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidadedo Estado de Satildeo Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 53-67

983140983141 V983145983158983151 M 1999 Museus e coleccedilotildees zooloacutegicas In Wey de BritoMC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidade do Estado de Satildeo

Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 49-51 W983145983150983147983141983154 K 2004 Natural History Museums in a postbiodiversity

era Bioscience 54(5) 455-459

Aceito em 14012014Impresso em 30092014

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 113

Page 3: Texto 10_Reflexões Sobre Coleções Zoológicas, Sua Curadoria e a Inserção Dos Museus Na Estrutura Universitária Brasileira

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As coleccedilotildees sistemaacuteticas dos museus tendem acrescer organicamente porque mesmo quando natildeoexiste um curador especializado em um grupo espe-ciacutefico pesquisadores de outras instituiccedilotildees tendem adepositar ali os espeacutecimes que obteacutem e que jaacute tenhamestudado e publicado Frequentemente pesquisadoresde departamentos universitaacuterios costumam depositaro material-tipo resultante de seus estudos nas coleccedilotildeessistemaacuteticas de museus em um claro reconhecimento

da missatildeo institucional dos mesmos e da sua impor-tacircncia quando comparados agraves coleccedilotildees mantidas emdepartamentos

Como resultado dessa comunalidade de uso ascoleccedilotildees sistemaacuteticas satildeo em contrapartida abertasao estudo por quaisquer pesquisadores habilitados(definidos um tanto vagamente como pesquisado-res contratados em instituiccedilotildees de ensino e pesquisa eseus alunos graduandos e poacutes-graduandos bem comoaqueles desenvolvendo pesquisas de poacutes-doutoramen-to) Essa ldquoaberturardquo eacute bastante ampla incluindo a vi-

sita direta do pesquisador interessado ao acervo bemcomo o empreacutestimo de material que pode ficar porum periacuteodo curto ou longo sob a posse deste pesqui-sador Os limites desses estudos satildeo decididos peloscuradores das coleccedilotildees sistemaacuteticas (mais sobre essetema seraacute discutido adiante)

Como as coleccedilotildees sistemaacuteticas recebem materialde vaacuterias fontes e necessariamente devem ser abertasao estudo para quaisquer pesquisadores habilitadosa instituiccedilatildeo que as abriga deve possuir um corpode funcionaacuterios especializado no trabalho junto aosacervos natildeo soacute para a sua correta manutenccedilatildeo mastambeacutem para que o material ali depositado possa serestudado em sua totalidade em consonacircncia com amissatildeo institucional dos museus Esses funcionaacuterios

incluem mas natildeo estatildeo limitados a preparadores deespeacutecimes (taxidermistas e outros teacutecnicos especiali-zados que devem preparar o material zooloacutegico paraser incluiacutedo nas respectivas coleccedilotildees finalizando aspreparaccedilotildees iniciadas em campo atuando na repara-ccedilatildeo e restauro dos espeacutecimes depositados na coleccedilatildeoetc) teacutecnicos de coleccedilatildeo muitas vezes constituiacutedo depessoal com formaccedilatildeo superior que trabalham juntoao acervo mantendo a ordem e os paracircmetros ditadospelas normas curatoriais de cada coleccedilatildeo bem comocontrolando o fluxo de empreacutestimo e visitantes teacutecni-

cos de serviccedilos gerais cuja funccedilatildeo eacute trocar e suplemen-tar os fluiacutedos preservantes nos frascos limpar espeacuteci-mes manter a organizaccedilatildeo geral da coleccedilatildeo embalare desembalar exemplares que tenham viajado comoempreacutestimo ou chegado como doaccedilotildees entre outrasfunccedilotildees

TABELA 1 Tipos de coleccedilotildees zooloacutegicas mais comuns os materiais que abrigam e seus principais usos

TIPO DE COLECcedilAtildeO TIPO DE MATERIAL USOS

Coleccedilatildeo sistemaacutetica Espeacutecimes individuais colocircnias lotes peccedilasanatocircmicas ninhos tocas e outros produtos da

atividade animal tecidos (para estudos moleculares)moldes de espeacutecimes ou de partes anatocircmicasfrequentemente abriga material-tipo utilizado para adescriccedilatildeo de novas espeacutecies Esse tipo de coleccedilatildeo eacute aque existe normalmente em Museus

Utilizada por pesquisadores interessados em estudaranatomia taxonomia relaccedilotildees filogeneacuteticas

biogeografia macroecologia e quaisquer outraspesquisas que envolvam espeacutecimes da fauna Autilizaccedilatildeo de coleccedilotildees sistemaacuteticas nunca estaacute restritaao pesquisador responsaacutevel e seus alunos mas eacuteaberta a quaisquer pesquisadores creditados

Coleccedilatildeo de pesquisa Pode abrigar os mesmos tipos de material zooloacutegicodescrito acima mas em geral em quantidade menorrefletindo a atividade do laboratoacuterio cientiacutefico quea produz Esse eacute o tipo de coleccedilatildeo que surge dotrabalho de um docentepesquisador de um institutode pesquisa e ensino das universidades

O uso pode ser o mesmo das coleccedilotildees sistemaacuteticasdescrito acima mas o acesso eacute normalmente restritoaos docentes que gerenciam o laboratoacuterio e seusalunos e natildeo haacute obrigaccedilatildeo de que o material alicontido esteja disponiacutevel para estudo por outrospesquisadores

Coleccedilatildeo de referecircncia Satildeo coleccedilotildees que conteacutem amostras representativasde um conjunto de espeacutecies de uma regiatildeo

reserva bioloacutegica ou mesmo que satildeo fruto dodesenvolvimento de um determinado projeto depesquisa Frequentemente possuem o nuacutemero deespeacutecimes por espeacutecie que se acredite suficiente parapermitir sua identificaccedilatildeo Natildeo possuem material-tipo nem seacuteries extensas da mesma espeacutecie

Coleccedilotildees de referecircncia satildeo uacuteteis para pesquisadoresque visitando uma determinada regiatildeo (por

exemplo uma reserva bioloacutegica) estatildeo interessadosem se familiarizar com as espeacutecies que ali vivemTambeacutem surgem para auxiliar um projeto especiacuteficocomo no caso de projetos ecoloacutegicos que demandema identificaccedilatildeo de espeacutecimes

Coleccedilatildeo didaacutetica Composta de espeacutecimes que representem umavariedade de taacutexons eou peccedilas anatocircmicas paraestudos por alunos de graduaccedilatildeo ou poacutes-graduaccedilatildeo

Uso exclusivo para estudo podendo incluir adestruiccedilatildeo do material normalmente composta pormaterial menos valioso do ponto de vista cientiacuteficoReposiccedilatildeo constante

Coleccedilatildeo expositiva Composta de material especialmente preparado paraexposiccedilatildeo em uma instituiccedilatildeo

A funccedilatildeo eacute essencialmente a de divulgaccedilatildeo cientiacuteficamas o uso na pesquisa natildeo estaacute totalmente excluiacutedo

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Os curadores satildeo pesquisadores contratadospara trabalhar junto a uma determinada coleccedilatildeo esatildeo normalmente especialistas em um grupo taxonocirc-mico O curador possui diversas funccedilotildees especiacuteficase possui alguma liberdade de atuaccedilatildeo no que tangeao acervo Por exemplo o curador uma vez que co-mece seu trabalho junto a um acervo do grupo ta-xonocircmico do qual eacute especialista deve imediatamentetomar conhecimento do grau de representatividadetaxonocircmica e geograacutefica da coleccedilatildeo sob sua respon-sabilidade e a partir daiacute estabelecer uma poliacutetica quevise a preencher lacunas e melhorar essas represen-tatividades Pode fazer isso ativamente realizandoprojetos de pesquisa que demandem coletas geraise portanto indo ao campo atraacutes destes espeacutecimes

ou pode tambeacutem iniciar um programa de permutascom outras instituiccedilotildees do mundo Ao fazer estas per-mutas o curador idealmente deve evitar diminuir arepresentatividade taxonocircmica e geograacutefica do acervosob seus cuidados e assim normalmente realiza trocasutilizando material de taacutexons comuns ou de taacutexonsprovenientes de localidades bem amostradas O mes-mo raciociacutenio se aplica agraves decisotildees que toma sobre apermissatildeo do uso dos espeacutecimes para estudo por ou-tros pesquisadores o curador normalmente natildeo per-mite pesquisas destrutivas em espeacutecimes pertencentes

a taacutexons raros ou mesmo se natildeo o forem de materialproveniente de regiotildees geograacuteficas pouco amostra-das O curador tambeacutem tem a funccedilatildeo de identifi-car reidentificar e verificar identificaccedilotildees realizadasno passado do material jaacute depositado e daquele quechega mantendo a coleccedilatildeo sempre atualizada sob oponto de vista taxonocircmico Agraves vezes os visitantes queestudam grupos especiacuteficos indicam reidentificaccedilotildeesde determinados espeacutecimes e tambeacutem possiacuteveis errosexistentes no acervo cabendo ao curador decidir se

implementa ou natildeo as correccedilotildees sugeridas por outrospesquisadores Finalmente a coleccedilatildeo ao ser utiliza-da sofre um desgaste natural com erros e problemasinvoluntariamente introduzidos em sua organizaccedilatildeo(um espeacutecime trocado de frasco acidentalmente par-tes de peccedilas anatocircmicas acidentalmente danificadasetc) O curador juntamente com o teacutecnico da co-leccedilatildeo deve atuar para minimizar tal desgaste A fimde manter a coleccedilatildeo efetivamente aberta para estudopara todos os pesquisadores habilitados considera-mos que o curador natildeo deve decidir prioridades de

estudo do material depositado para esse ou aquelepesquisador ndash o que tem sido praacutetica muito comumem nossos museus Pensamos que natildeo faz parte dafunccedilatildeo curatorial a administraccedilatildeo da pesquisa taxo-nocircmica dos grupos zooloacutegicos a curadoria eacute voltadapara a coleccedilatildeo natildeo para sua pesquisa embora seja

importante que os curadores possuam uma linha depesquisa proacutepria consistindo do estudo taxonocircmicodo grupo de cuja coleccedilatildeo cuidam majoritariamenteSendo um taxonomista especializado em um grupo ocurador se torna mais capacitado a tomar as decisotildeesnecessaacuterias para a melhor manutenccedilatildeo ampliaccedilatildeo eutilizaccedilatildeo do acervo

As coleccedilotildees sistemaacuteticas frequentemente ocu-pam amplos espaccedilos e assim a estrutura predial demuseus tende ndash em sua seccedilatildeo cientiacutefica natildeo expositivandash a ser quase inteiramente devotada aos armaacuterios e es-tantes especiais que abrigam os espeacutecimes bem comoaos laboratoacuterios de preparo do material Isso significaque normalmente o espaccedilo devotado a salas de aulae laboratoacuterios onde alunos e pesquisadores desenvol-

vem seus estudos representa uma porccedilatildeo minoritaacuteriado total do preacutedio (o que eacute o oposto do que sucede nasfaculdades e departamentos universitaacuterios)

Nos uacuteltimos anos o depoacutesito de amostras de te-cidos para estudos moleculares passou a fazer partedo acervo das coleccedilotildees zooloacutegicas sistemaacuteticas essematerial possui a peculiaridade de que seu uso even-tualmente pode levar agrave perda total da amostra comonatildeo eacute possiacutevel guardar amostras muito volumosas detecido por espeacutecime as aliacutequotas deste material re-tiradas e enviadas para estudo vatildeo gradualmente re-

duzindo a amostra original ateacute seu fim em um casoclaacutessico de amostra destrutiva Este tipo de coleccedilatildeose constitui em um caso desafiador e ateacute mesmo pa-radoxal na curadoria de coleccedilotildees ndash por um lado osmuseus tecircm a missatildeo institucional de preservar es-tas amostras indefinidamente jaacute que representamexemplares insubstituiacuteveis no tempo e no espaccedilo epor outro a de disponibilizar o material para estudo Aqui podem ser citados tambeacutem muitos grupos deinvertebrados onde os animais inteiros satildeo destruiacute-

dos para este tipo de estudo A tradiccedilatildeo que vecircm seestabelecendo eacute que as instituiccedilotildees possuem as suasproacuteprias regras natildeo havendo ainda uma universali-dade de normas e procedimentos relativos agrave doaccedilatildeode aliacutequotas de tecidos

Finalmente um museu possui algumas funccedilotildeesque se aplicam ao conjunto das coleccedilotildees taxonocircmi-cas que abriga a de promover e fomentar seu estudoQuando financeiramente possiacutevel eacute tambeacutem funccedilatildeodos museus atrair pesquisadores atraveacutes de bolsas eoutros incentivos financeiros ou natildeo promovendo

assim o caraacuteter de abertura e disponibilidade que ascoleccedilotildees sistemaacuteticas devem possuir O MZUSP re-centemente iniciou um programa de bolsas de estu-do para as suas coleccedilotildees muito similar aos ldquograntsrdquo jaacuteexistentes em diversas instituiccedilotildees norte-americanas eeuropeacuteias

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155108

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2 Coleccedilotildees de pesquisa

As coleccedilotildees de pesquisa satildeo aquelas criadas emantidas por pesquisadores que trabalham geralmen-te em departamentos universitaacuterios ou mesmo eminstituiccedilotildees de pesquisa mas cuja coleccedilatildeo deriva es-pecificamente de projetos do pesquisador e natildeo demissatildeo institucional A coleccedilatildeo pode ser pequena ougrande mas natildeo tem articulaccedilatildeo com outras coleccedilotildeesda mesma instituiccedilatildeo Embora o estudo cientiacutefico quese pode fazer a partir de tais coleccedilotildees seja essencial-mente o mesmo que o das coleccedilotildees sistemaacuteticas oacesso ao material eacute completamente diverso normal-mente restrito ao pesquisador responsaacutevel (docen-te universitaacuterio) e seus alunos Essa restriccedilatildeo natildeo se

deve exclusivamente agrave uma decisatildeo do responsaacutevelmas sim agrave disponibilidade de recursos normalmentedisponiacuteveis ao docente de um departamento faltamespaccedilo equipamentos teacutecnicos especializados etc Odocente universitaacuterio eacute atendido por teacutecnicos quealeacutem de auxiliarem nas pesquisas atuam igualmentenas aulas praacuteticas e em outras atividades mas que natildeotem condiccedilatildeo de atender a visitas constantes de pro-fissionais ou estudantes de outras instituiccedilotildees Aleacutemdisso o equipamento que um docente adquire paraseu laboratoacuterio visa o desenvolvimento dos projetos

para os quais obteacutem financiamento e se parte desseequipamento for utilizado por outros pesquisadoreso docente e seus alunos natildeo poderatildeo utilizaacute-los preju-dicando o desenvolvimento desses mesmos projetosFinalmente e com uma razoaacutevel frequecircncia uma co-leccedilatildeo de pesquisa facilmente pode se tornar ldquooacuterfatilderdquo nocaso de aposentadoria ou falecimento do docente oumesmo se esse muda de instituiccedilatildeo durante sua carrei-ra Uma coleccedilatildeo formada em um departamento podeou natildeo ser interessante para o docente contratado para

substituir aquele que a formou e isso caracteriza partedo problema da manutenccedilatildeo dos espeacutecimes por tempoindeterminado uma missatildeo fundamental de museuse natildeo de departamentos Natildeo eacute incomum os museusserem contatados por professores universitaacuterios agraves veacutes-peras da aposentadoria ou mesmo por departamentospara resgatar as coleccedilotildees abrigadas nestas instituiccedilotildeesde forma a mantecirc-las indefinidamente Em resumoum docente de departamento tem como funccedilotildees pri-mordiais a pesquisa e o ensino e natildeo a curadoria decoleccedilotildees e departamentos universitaacuterios natildeo estatildeo

preparados para cuidar e manter coleccedilotildees cientiacuteficasNo Brasil costuma-se dizer que os docentes de-

vem realizar trecircs funccedilotildees o ensino a pesquisa e a pres-taccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade atraveacutes da extensatildeouniversitaacuteria Eacute sintomaacutetico que a curadoria de coleccedilotildeesnatildeo esteja enquadrada em nenhuma das trecircs categorias

3 Coleccedilotildees de referecircncia

As coleccedilotildees de referecircncia satildeo aquelas que abriga-das em uma instituiccedilatildeo auxiliam qualquer profissionalque a frequente a se familiarizar com uma determina-da fauna Satildeo comuns em reservas bioloacutegicas ou emdepartamentos universitaacuterios mas nesse uacuteltimo casosatildeo o produto de um projeto especiacutefico e natildeo tem ascaracteriacutesticas de uma coleccedilatildeo de pesquisa A principalcaracteriacutestica de uma coleccedilatildeo de referecircncia eacute a de pos-suir apenas poucos indiviacuteduos por taacutexon geralmenteo nuacutemero suficiente para que cada espeacutecie possa seridentificada (macho e fecircmea em espeacutecies sexualmentedimoacuterficas classes etaacuterias ou fases de desenvolvimentoem espeacutecies com tipos morfoloacutegicos distintos ao longo

do desenvolvimento ontogeneacutetico) Tambeacutem abrigamsinais dos animais como moldes de pegadas ou ninhoscaracteriacutesticos Esse tipo de coleccedilatildeo natildeo deve nuncaabrigar qualquer material-tipo ou seacuteries extensas

Quando em departamentos universitaacuterios a cole-ccedilatildeo de referecircncia eacute comumente um produto de um pro- jeto de pesquisa e serve para que o docente responsaacutevele seus alunos tenham uma raacutepida referecircncia aos taacutexonscom que lidam Por exemplo um pesquisador pode terum projeto que vise o estudo das flutuaccedilotildees populacio-nais de vaacuterias espeacutecies de roedores e na primeira fase da

pesquisa pode ocorrer coleta com preservaccedilatildeo de espeacute-cimes para fins de identificaccedilatildeo Em reservas bioloacutegicasos administradores podem desejar manter alguns espeacute-cimes para que visitantes se familiarizem com a faunaEsse tipo de coleccedilatildeo natildeo requer um profissional espe-cializado em qualquer dos grupos taxonocircmicos repre-sentados mas eacute necessaacuterio no miacutenimo algum cuidadoteacutecnico para sua manutenccedilatildeo Outro tipo de coleccedilatildeoatualmente muito menos comum satildeo as coleccedilotildees par-ticulares Estas coleccedilotildees geralmente regionais por sua

proacutepria natureza mas usualmente de grande impor-tacircncia hoje estatildeo em franca decadecircncia por causa dalegislaccedilatildeo relativa agrave coleta de material (em especial nocaso de vertebrados) e pela crescente profissionalizaccedilatildeode quem estuda a biodiversidade Colecionadores deinvertebrados mais chamativos como besouros borbo-letas e moluscos (conchas) hoje respondem pela maio-ria das coleccedilotildees particulares ainda existentes no BrasilEstas coleccedilotildees com o falecimento ou com a perda deinteresse do colecionador frequentemente satildeo destina-das agraves coleccedilotildees cientiacuteficas existentes nos museus

4 Coleccedilotildees didaacuteticas

Como o nome indica essas coleccedilotildees pertencema departamentos e incluem espeacutecimes utilizados em

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 109

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aula Satildeo preferencialmente animais com menorvalor cientiacutefico geralmente criados em cativeiro emzooloacutegicos ou mesmo espeacutecies muito comuns Essascoleccedilotildees necessitam na imensa maioria dos casos so-mente de atenccedilatildeo teacutecnica para sua manutenccedilatildeo repa-ro e reposiccedilatildeo para fins de ensino e eacute esperado que aomenos parte do material apresente muito desgaste ede forma relativamente raacutepida

5 Coleccedilotildees expositivas

Museus departamentos universitaacuterios e reser-vas bioloacutegicas podem manter coleccedilotildees visando a ex-posiccedilatildeo ao puacuteblico em geral Essas coleccedilotildees podem

particularmente no caso dos museus abrigar espeacuteci-mes pertencentes a espeacutecies de interesse geral e ateacute asmuito raras mas natildeo devem possuir material-tipo eespera-se um desgaste dos espeacutecimes por estarem ex-postos a condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo que frequentementesatildeo deleteacuterias para a preservaccedilatildeo a longo prazo Teacutec-nicos especializados satildeo necessaacuterios para a preparaccedilatildeodo material e sua manutenccedilatildeo Embora excepcional-mente tais materiais zooloacutegicos possam ser estudadoscientificamente o propoacutesito essencial de tais coleccedilotildeeseacute o de divulgaccedilatildeo cientiacutefica Eacute usual que estas coleccedilotildees

se valham de espeacutecimes obtidos em zooloacutegicos e em

cativeiro com um valor cientiacutefico mais limitado oude espeacutecimes de vida livre coletados especificamentepara esta finalidade Neste uacuteltimo caso natildeo deixa deser interessante que estes exemplares mantenham jun-to a si ou agrave base onde estatildeo montados (aleacutem de umlivro de registros especiacutefico na curadoria desta cole-ccedilatildeo) todos os dados sobre a sua coleta Natildeo eacute rara aincorporaccedilatildeo em um determinado momento destesexemplares agraves coleccedilotildees cientiacuteficas onde os mesmossatildeo desmontados e repreparados para se juntarem aestas coleccedilotildees As coleccedilotildees expositivas devem manterpelo menos um teacutecnico especializado (taxidermista depreferecircncia) para cuidar da preparaccedilatildeo e manutenccedilatildeodo material exposto e de um curador que idealmentedecide sobre a temaacutetica da exposiccedilatildeo sobre a forma

de expor este material seguindo uma linha loacutegica des-ta exposiccedilatildeo e que tambeacutem vai tomar as providecircnciassobre a guarda e eventual reposiccedilatildeo dos exemplares

Os museus satildeo diferentes

A resposta claro eacute ldquosimrdquo mas eacute necessaacuterio ex-plicar em algum detalhe a natureza dessa diferenccedilados museus para outras instituiccedilotildees particularmenteos departamentos universitaacuterios e entatildeo discutir as

implicaccedilotildees

FIGURA 1 Os espeacutecimes presentes em diferentes coleccedilotildees permitem uma apreciaccedilatildeo adequada de aspectos taxonocircmicos e biogeograacuteficosde um determinado taacutexon Como exemplo a distribuiccedilatildeo geograacutefica de todas as amostras do gecircnero Leopardus demonstra o papel centraldos museus em estudos taxonocircmicos As coleccedilotildees satildeo a = Museu de Zoologia da USP Satildeo Paulo b = Museu Nacional UFRJ Rio de

Janeiro c = Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Beleacutem d = Museu de Histoacuteria Natural ldquoCapatildeo da Imbuiardquo Curitiba e = Museu de BiologiaMello-Leitatildeo Santa Teresa f = Museo Nacional de Histoacuteria Natural e Antropologiacutea Montevideacuteu g = Museo Argentino de CienciasNaturales ldquoBernardino Rivadaviardquo Buenos Aires h = American Museum of Natural History Nova York As diversas coleccedilotildees contribuemcom amostras distintas e complementares Notar que as coleccedilotildees mais importantes contribuem com o maior nuacutemero amostral e a maiorrepresentatividade geograacutefica

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155110

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A Fig 1 feita a partir de dados obtidos de doNascimento (2010) mostra o papel coletivo que osmuseus tecircm na pesquisa de biodiversidade A figuramostra a distribuiccedilatildeo de representantes do gecircnero Le-opardus que foi inferida a partir da combinaccedilatildeo de to-das as amostras estudadas em oito museus distintos eao seu lado estaacute a contribuiccedilatildeo de cada um dos museusindividualmente em termos das amostras disponiacuteveisEacute possiacutevel perceber que mesmo o melhor de todosos museus em termos de representaccedilatildeo geograacutefica o American Museum of Natural History de Nova Yorkisoladamente natildeo forneceria dados suficientes para acompreensatildeo da distribuiccedilatildeo deste taacutexon Aleacutem dissovecirc-se claramente que diferentes museus tecircm diferentesecircnfases determinadas pela histoacuteria de seu crescimen-

to de acervo e na representatividade das amostras queabrigam Museus como o Bernardino Rivadavia da Argentina o de Montevideacuteu e os de Satildeo Paulo e Riode Janeiro satildeo coleccedilotildees nacionais o Museu Goeldi eacuteuma coleccedilatildeo basicamente Amazocircnica enquanto osdo Espiacuterito Santo e Paranaacute satildeo estaduais na amostra-gem Mas reiterando o que foi dito no iniacutecio destaseccedilatildeo os museus coletivamente exercem um papelque nenhum laboratoacuterio departamental universitaacute-rio pode realizar Os museus tornam disponiacuteveis seusacervos aos pesquisadores que entatildeo publicam suas

pesquisas Os museus natildeo satildeo na praacutetica ldquonacionaisrdquoou ldquoestaduaisrdquo e tecircm um papel central no estudo deproblemas sistemaacuteticos evolutivos biogeograacuteficos ede conservaccedilatildeo que extrapola as fronteiras da unida-de poliacutetica onde se localizam Possuem uma funccedilatildeo deEstado onde o Paiacutes ou EstadoProviacutencia sustentam amanutenccedilatildeo de acervos equipamentos e pessoal paraque a comunidade cientiacutefica mundial possa estudaros espeacutecimes neles abrigados O material depositadonas coleccedilotildees dos museus deve ser encarado como pa-

trimocircnio material da humanidade museus abrigam otestemunho mais evidente da nossa biodiversidade eo vem fazendo haacute seacuteculos

Disso deriva uma importante consequecircncia parao pesquisador que assume a curadoria de uma coleccedilatildeode museu a coleccedilatildeo natildeo eacute o seu laboratoacuterio pessoal Acoleccedilatildeo pertence ao Estado e as funccedilotildees do curadorde uma coleccedilatildeo incluem a) a manutenccedilatildeo da coleccedilatildeocomo um acervo aberto a todos os pesquisadores habi-litados (geralmente pesquisadores de outros museusuniversidades e seus alunos) b) o cuidado para que

os exemplares da coleccedilatildeo estejam o mais corretamen-te identificados quanto possiacutevel bem como com amenor quantidade de erros (que aleacutem dos erros deidentificaccedilatildeo incluem os derivados do uso indevidoe descuido) c) as decisotildees referentes a empreacutestimostrocas e doaccedilotildees d) decisotildees sobre a ampliaccedilatildeo da

amostragem d) decisotildees sobre pesquisa destrutivaEssas decisotildees satildeo feitas em prol da contiacutenua boa ma-nutenccedilatildeo da melhoria do acervo e tambeacutem visando aprestaccedilatildeo de um serviccedilo qualificado agrave comunidade depesquisadores que satildeo usuaacuterios das coleccedilotildees

Esse perfil de curador eacute parcialmente incompatiacute-vel com aquele de um professor universitaacuterio com atu-accedilatildeo em um departamento Este uacuteltimo eacute o gerente deseu proacuteprio laboratoacuterio e atua principalmente no ensi-no e na pesquisa Todos os recursos de seu laboratoacuterioembora possam ser compartilhados com alguns colegase colaboradores devem ter seu uso otimizado para jus-tificar o investimento que as agecircncias de fomento fize-ram O pesquisador de um departamento universitaacuterionatildeo tem uma parcela importante de suas atividades

voltada para os interesses dos demais pesquisadores desua aacuterea de interesse Enquanto para um departamentouniversitaacuterio o melhor eacute contratar um profissional quese dedique integralmente agrave pesquisa e ao ensino para osmuseus eacute importante contratar um pesquisador que te-nha capacidade de se dedicar a um bem puacuteblico o acer-vo sem retorno para a proacutepria carreira Isso cria umaassimetria profissional resultando em pesquisadores demuseus que se dedicam mais agrave pesquisa e ao ensino emenos agrave curadoria (atuando de fato como docentesde departamentos universitaacuterios) ou entatildeo curadores

cujas carreiras satildeo menos valorizadas pela academia porefetuarem menos pesquisa nos padrotildees vigentes

Um excelente professor e pesquisador natildeo eacute ne-cessariamente a melhor contrataccedilatildeo para um Museude Histoacuteria Natural Ainda assim como os concur-sos de ingresso na carreira satildeo os mesmos em toda auniversidade por forccedila de lei e estatuto curadores satildeoselecionados pelas aulas que ministram entre outrosatributos mas natildeo por sua capacidade de dedicaccedilatildeo agravecuradoria Natildeo haacute um padratildeo acadecircmico definido para

avaliar a qualidade da curadoria realizada em coleccedilotildeesde histoacuteria natural Um reflexo disso eacute o fato de quemuitos curadores de museus ao escreverem relatoacuteriosde atividades descrevem a curadoria que realizam nacategoria de ldquoextensatildeordquo que eacute certamente improacutepria

Mas as diferenccedilas continuam no niacutevel institu-cional um museu necessita de numeroso corpo teacutec-nico especializado em diferentes funccedilotildees e todas elascom pouca ou nenhuma interface com o ensino oupesquisa de um laboratoacuterio As coleccedilotildees satildeo consti-tuiacutedas de espeacutecimes peccedilas anatocircmicas amostras de

tecidos para estudos moleculares e estruturas produ-zidas por animais como ninhos e tocas Esse mate-rial eacute obtido atraveacutes de esforccedilo dos pesquisadores quetrabalham como curadores de coleccedilotildees e numerososoutros profissionais e amadores Eacute comum encontrarespeacutecimes nas coleccedilotildees tatildeo velhos quanto as proacuteprias

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 111

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instituiccedilotildees aleacutem de material receacutem-colecionadoCada espeacutecime (aqui entendido como um indiviacuteduoou peccedila individual) ou lote (um conjunto de espeacuteci-mes entre dois a milhares de indiviacuteduos) pode chegardo campo jaacute preparado para ser incluiacutedo na coleccedilatildeoou entatildeo sofrer tratamento adicional em laboratoacuteriopara que sua inclusatildeo seja possiacutevel por exemplo nocaso de muitos tipos de insetos os espeacutecimes podemser individualmente etiquetados e alfinetados mamiacute-feros podem ter preparados seus esqueletos e peles eassim por diante Na maioria das coleccedilotildees em que eacuteconveniente separar indiviacuteduos e peccedilas anatocircmicascada um dos espeacutecimes eacute etiquetado ou rotulado edeve receber um nuacutemero de tombo uacutenico A identifi-caccedilatildeo de espeacutecimes e lotes eacute feita primariamente pelos

curadores das coleccedilotildees mas natildeo eacute infrequente que omaterial venha jaacute identificado do campo no caso deter sido coletado por especialistas Mas a identificaccedilatildeoque eventualmente chega ao evento do tombamento einclusatildeo do material na coleccedilatildeo pode ser alterada maistarde quando examinada por um profissional queesteja realizando uma revisatildeo taxonocircmica do grupoCuradores e teacutecnicos trabalham nessas vaacuterias etapasdo processamento dos espeacutecimes O pessoal teacutecnicotrabalha ainda na preparaccedilatildeo de lotes para envio pelocorreio no caso dos empreacutestimos e permutas bem

como no retorno e incorporaccedilatildeo desse material Jaacute no caso dos departamentos universitaacuterios

o pessoal teacutecnico trabalha assessorando a pesquisados docentes e tambeacutem nas aulas teoacutericas e praacuteticasComo as coleccedilotildees de pesquisa departamentais natildeo satildeovisitadas com grande frequecircncia por outros pesquisa-dores natildeo haacute sobrecarga do trabalho dos teacutecnicos quepodem entatildeo dedicar-se agraves missotildees principais de suainstituiccedilatildeo o ensino e a pesquisa

Mas a diferenccedila entre os tipos de instituiccedilotildees

natildeo cessa aiacute e sim se estende para o problema damanutenccedilatildeo por tempo indeterminado dos acervosEnquanto um museu tem como missatildeo manter essascoleccedilotildees mesmo na ausecircncia de um curador especia-lizado em um determinado grupo os demais especia-listas que ali trabalham bem como o pessoal teacutecnicofornecem o cuidado necessaacuterio para a sobrevivecircnciado acervo Em um departamento universitaacuterio o inte-resse por um acervo amealhado por um docente podeperfeitamente cessar apoacutes o teacutermino do viacutenculo pro-fissional desse docente

As consequecircncias das diferenccedilas

A principal consequecircncia do que foi exposto aci-ma eacute que um museu natildeo pode ser administrado como

um departamento universitaacuterio nem seus profissio-nais podem ser avaliados e mesmo contratados utili-zando-se os mesmos criteacuterios que aqueles empregadospara seus colegas dos departamentos

Eacute de se esperar que a carreira de um curador emmeacutedia envolva menos ensino que a de um docentede departamento universitaacuterio Tambeacutem eacute altamentedesejaacutevel que os curadores sejam taxonomistas profis-sionais com abordagem organiacutesmica natildeo apenas mo-lecular A razatildeo para tal eacute a necessidade de familiarida-de com os taacutexons que a coleccedilatildeo abriga e a capacidadecriacutetica para avaliar a literatura taxonocircmica produzidapelos pesquisadores de todo o mundo Em um de-partamento universitaacuterio um pesquisador pode ndash emuitas vezes eacute ateacute desejaacutevel ndash ampliar seus interesses

a ponto de se tornar um profissional muito diferentedaquele que ingressou na carreira por exemplo umdocente que comeccedila a carreira como sistemata podese tornar um especialista em macroecologia ou bioge-ografia ou mesmo deixar a sistemaacutetica morfoloacutegica epassar a utilizar principalmente meacutetodos molecularesEsse tipo de percurso profissional eacute bem menos de-sejaacutevel para um curador de coleccedilotildees em museus Seufoco sempre deveraacute ser a coleccedilatildeo e a pesquisa baseadaem coleccedilotildees e seu principal esforccedilo o de servir agrave co-munidade de pesquisadores devotados ao estudo da

biodiversidade atraveacutes do trabalho que dedica agrave cole-ccedilatildeo sob seus cuidados

A compreensatildeo do papel diferenciado dos mu-seus de histoacuteria natural e do papel que os curadoresque neles trabalham devem ter eacute muito incipiente in-felizmente mesmo entre profissionais dos museus Ahistoacuteria recente dos museus brasileiros apresenta exem-plos pouco edificantes de curadores que impediram otrabalho de concorrentes e outros profissionais por ra-zotildees obscuras e assim fugiram da missatildeo essencial de

manter acervos abertos agrave pesquisa Esse tipo de atituderesultou em um destrutivo antagonismo entre pesqui-sadores Se os museus realizarem bem suas funccedilotildees pri-mordiais e permitirem amplo acesso aos acervos esseantagonismo tende a desaparecer Aleacutem disso eacute im-portante que os gestores e docentes em departamentosuniversitaacuterios percebam que a criaccedilatildeo de um museu dehistoacuteria natural natildeo significa somente a junccedilatildeo de umconjunto de coleccedilotildees zooloacutegicas sob o nome de ldquomu-seurdquo Um museu deve ser compreendido sob uma pers-pectiva diferente incorporando toda uma estrutura

diferenciada de curadoria teacutecnica seccedilotildees cientiacuteficas eexpositivas que possuem impactos importantes no or-ganograma e no orccedilamento das instituiccedilotildees A criaccedilatildeode um museu eacute uma decisatildeo em uacuteltima instacircncia doEstado pois realizaraacute funccedilatildeo de Estado como fiel de-positaacuteria da fauna que eacute um bem difuso da sociedade

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155112

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Acreditamos que as universidades que possuemmuseus de histoacuteria natural precisam ainda compreen-der mais profundamente a extensatildeo de suas responsa-bilidades relativas aos acervos de que dispotildeem assimcomo os Estados quando satildeo esses os principais man-tenedores O Brasil no momento em que escrevemoseste trabalho vem adotando uma poliacutetica completa-mente uniforme para todo o corpo de pesquisadoresque emprega todos satildeo julgados pelos mesmos criteacute-rios de produtividade sem qualquer distinccedilatildeo para afunccedilatildeo curatorial Em nossa opiniatildeo esse procedimen-to eacute deleteacuterio para os museus de histoacuteria natural bemcomo para o avanccedilo do estudo da biodiversidade emnosso paiacutes

AGRADECIMENTOS

Agradecemos imensamente ao Dr Joseacute Lima deFigueiredo a quem este ensaio eacute dedicado Muito doque aqui estaacute eacute derivado de numerosas discussotildees arespeito do papel da curadoria na universidade e dotrabalho do curador Essas foram sempre preocupa-ccedilotildees centrais de toda a sua vida profissional

REFEREcircNCIAS

G983137983157983138983141983154983156 P P983137983152983141983155 M 983078 P983141983156983141983154983155983151983150 AT 2006 Natural historycollections and the conservation of poorly known taxaecological niche modeling in Central African rainforest genets

(Genetta spp) Biological Conservation 130 106-117H983141983154983145983150983143983149983137983150 N 2013 Sciences of Antiquity Oxford OxfordUniversity Press

J983137983154983140983145983150983141 JAS 983078 S983152983137983154983161 E EC (E983140983155) 1996 Cultures of NaturalHistory Cambridge Cambridge University Press

L983137983150983141 MA 1996 Roles of Natural History collections Annals ofthe Missouri Botanical Garden 83(4) 536-545

M983145983148983148983141983154 B C983151983150983159983137983161 W R983141983137983140983145983150983143 RP W983141983149983149983141983154 C W983145983148983140983156 DK983148983141983145983149983137983150 D M983151983150983142983151983154983156 S R983137983138983145983150983151983159983145983156983162 A A983154983149983155983156983154983151983150983143 B983078 H983157983156983139983144983145983150983155 M 2004 Evaluating the conservation missionof Zoos Aquariums Botanical Gardens and Natural HistoryMuseums Conservation Biology 18(1) 86-93

N983137983155983139983145983149983141983150983156983151 FO 2010 Revisatildeo taxonocircmica do gecircnero Leopardus Gray 1842 (Carnivora Felidae) (Tese de doutorado) SatildeoPaulo Departamento de Zoologia Instituto de Biociecircncias daUSP

S983144983137983142983142983141983154 HB F983145983155983144983141983154 RN 983078 D983137983158983145983140983155983151983150 C 1998 The role ofnatural history collections in documenting species declinesTrends in Ecology and Evolution 13(1) 27-30

S983157983137983154983141983162 AV 983078 T983155983157983156983155983157983145 ND 2004 The value of museumcollections for research and society Bioscience 54(1) 66-74

T983137983140983140983141983145 VA M983137983154983156983145983150983155 UR 983140983141 V983145983158983151 M 983078 P983141983154983139983141983153983157983145983148983148983151 AR1999 O acervo das coleccedilotildees zooloacutegicas do Estado de Satildeo PauloIn Wey de Brito MC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidadedo Estado de Satildeo Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 53-67

983140983141 V983145983158983151 M 1999 Museus e coleccedilotildees zooloacutegicas In Wey de BritoMC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidade do Estado de Satildeo

Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 49-51 W983145983150983147983141983154 K 2004 Natural History Museums in a postbiodiversity

era Bioscience 54(5) 455-459

Aceito em 14012014Impresso em 30092014

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 113

Page 4: Texto 10_Reflexões Sobre Coleções Zoológicas, Sua Curadoria e a Inserção Dos Museus Na Estrutura Universitária Brasileira

7232019 Texto 10_Reflexotildees Sobre Coleccedilotildees Zooloacutegicas Sua Curadoria e a Inserccedilatildeo Dos Museus Na Estrutura Universitaacuteriahellip

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Os curadores satildeo pesquisadores contratadospara trabalhar junto a uma determinada coleccedilatildeo esatildeo normalmente especialistas em um grupo taxonocirc-mico O curador possui diversas funccedilotildees especiacuteficase possui alguma liberdade de atuaccedilatildeo no que tangeao acervo Por exemplo o curador uma vez que co-mece seu trabalho junto a um acervo do grupo ta-xonocircmico do qual eacute especialista deve imediatamentetomar conhecimento do grau de representatividadetaxonocircmica e geograacutefica da coleccedilatildeo sob sua respon-sabilidade e a partir daiacute estabelecer uma poliacutetica quevise a preencher lacunas e melhorar essas represen-tatividades Pode fazer isso ativamente realizandoprojetos de pesquisa que demandem coletas geraise portanto indo ao campo atraacutes destes espeacutecimes

ou pode tambeacutem iniciar um programa de permutascom outras instituiccedilotildees do mundo Ao fazer estas per-mutas o curador idealmente deve evitar diminuir arepresentatividade taxonocircmica e geograacutefica do acervosob seus cuidados e assim normalmente realiza trocasutilizando material de taacutexons comuns ou de taacutexonsprovenientes de localidades bem amostradas O mes-mo raciociacutenio se aplica agraves decisotildees que toma sobre apermissatildeo do uso dos espeacutecimes para estudo por ou-tros pesquisadores o curador normalmente natildeo per-mite pesquisas destrutivas em espeacutecimes pertencentes

a taacutexons raros ou mesmo se natildeo o forem de materialproveniente de regiotildees geograacuteficas pouco amostra-das O curador tambeacutem tem a funccedilatildeo de identifi-car reidentificar e verificar identificaccedilotildees realizadasno passado do material jaacute depositado e daquele quechega mantendo a coleccedilatildeo sempre atualizada sob oponto de vista taxonocircmico Agraves vezes os visitantes queestudam grupos especiacuteficos indicam reidentificaccedilotildeesde determinados espeacutecimes e tambeacutem possiacuteveis errosexistentes no acervo cabendo ao curador decidir se

implementa ou natildeo as correccedilotildees sugeridas por outrospesquisadores Finalmente a coleccedilatildeo ao ser utiliza-da sofre um desgaste natural com erros e problemasinvoluntariamente introduzidos em sua organizaccedilatildeo(um espeacutecime trocado de frasco acidentalmente par-tes de peccedilas anatocircmicas acidentalmente danificadasetc) O curador juntamente com o teacutecnico da co-leccedilatildeo deve atuar para minimizar tal desgaste A fimde manter a coleccedilatildeo efetivamente aberta para estudopara todos os pesquisadores habilitados considera-mos que o curador natildeo deve decidir prioridades de

estudo do material depositado para esse ou aquelepesquisador ndash o que tem sido praacutetica muito comumem nossos museus Pensamos que natildeo faz parte dafunccedilatildeo curatorial a administraccedilatildeo da pesquisa taxo-nocircmica dos grupos zooloacutegicos a curadoria eacute voltadapara a coleccedilatildeo natildeo para sua pesquisa embora seja

importante que os curadores possuam uma linha depesquisa proacutepria consistindo do estudo taxonocircmicodo grupo de cuja coleccedilatildeo cuidam majoritariamenteSendo um taxonomista especializado em um grupo ocurador se torna mais capacitado a tomar as decisotildeesnecessaacuterias para a melhor manutenccedilatildeo ampliaccedilatildeo eutilizaccedilatildeo do acervo

As coleccedilotildees sistemaacuteticas frequentemente ocu-pam amplos espaccedilos e assim a estrutura predial demuseus tende ndash em sua seccedilatildeo cientiacutefica natildeo expositivandash a ser quase inteiramente devotada aos armaacuterios e es-tantes especiais que abrigam os espeacutecimes bem comoaos laboratoacuterios de preparo do material Isso significaque normalmente o espaccedilo devotado a salas de aulae laboratoacuterios onde alunos e pesquisadores desenvol-

vem seus estudos representa uma porccedilatildeo minoritaacuteriado total do preacutedio (o que eacute o oposto do que sucede nasfaculdades e departamentos universitaacuterios)

Nos uacuteltimos anos o depoacutesito de amostras de te-cidos para estudos moleculares passou a fazer partedo acervo das coleccedilotildees zooloacutegicas sistemaacuteticas essematerial possui a peculiaridade de que seu uso even-tualmente pode levar agrave perda total da amostra comonatildeo eacute possiacutevel guardar amostras muito volumosas detecido por espeacutecime as aliacutequotas deste material re-tiradas e enviadas para estudo vatildeo gradualmente re-

duzindo a amostra original ateacute seu fim em um casoclaacutessico de amostra destrutiva Este tipo de coleccedilatildeose constitui em um caso desafiador e ateacute mesmo pa-radoxal na curadoria de coleccedilotildees ndash por um lado osmuseus tecircm a missatildeo institucional de preservar es-tas amostras indefinidamente jaacute que representamexemplares insubstituiacuteveis no tempo e no espaccedilo epor outro a de disponibilizar o material para estudo Aqui podem ser citados tambeacutem muitos grupos deinvertebrados onde os animais inteiros satildeo destruiacute-

dos para este tipo de estudo A tradiccedilatildeo que vecircm seestabelecendo eacute que as instituiccedilotildees possuem as suasproacuteprias regras natildeo havendo ainda uma universali-dade de normas e procedimentos relativos agrave doaccedilatildeode aliacutequotas de tecidos

Finalmente um museu possui algumas funccedilotildeesque se aplicam ao conjunto das coleccedilotildees taxonocircmi-cas que abriga a de promover e fomentar seu estudoQuando financeiramente possiacutevel eacute tambeacutem funccedilatildeodos museus atrair pesquisadores atraveacutes de bolsas eoutros incentivos financeiros ou natildeo promovendo

assim o caraacuteter de abertura e disponibilidade que ascoleccedilotildees sistemaacuteticas devem possuir O MZUSP re-centemente iniciou um programa de bolsas de estu-do para as suas coleccedilotildees muito similar aos ldquograntsrdquo jaacuteexistentes em diversas instituiccedilotildees norte-americanas eeuropeacuteias

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155108

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2 Coleccedilotildees de pesquisa

As coleccedilotildees de pesquisa satildeo aquelas criadas emantidas por pesquisadores que trabalham geralmen-te em departamentos universitaacuterios ou mesmo eminstituiccedilotildees de pesquisa mas cuja coleccedilatildeo deriva es-pecificamente de projetos do pesquisador e natildeo demissatildeo institucional A coleccedilatildeo pode ser pequena ougrande mas natildeo tem articulaccedilatildeo com outras coleccedilotildeesda mesma instituiccedilatildeo Embora o estudo cientiacutefico quese pode fazer a partir de tais coleccedilotildees seja essencial-mente o mesmo que o das coleccedilotildees sistemaacuteticas oacesso ao material eacute completamente diverso normal-mente restrito ao pesquisador responsaacutevel (docen-te universitaacuterio) e seus alunos Essa restriccedilatildeo natildeo se

deve exclusivamente agrave uma decisatildeo do responsaacutevelmas sim agrave disponibilidade de recursos normalmentedisponiacuteveis ao docente de um departamento faltamespaccedilo equipamentos teacutecnicos especializados etc Odocente universitaacuterio eacute atendido por teacutecnicos quealeacutem de auxiliarem nas pesquisas atuam igualmentenas aulas praacuteticas e em outras atividades mas que natildeotem condiccedilatildeo de atender a visitas constantes de pro-fissionais ou estudantes de outras instituiccedilotildees Aleacutemdisso o equipamento que um docente adquire paraseu laboratoacuterio visa o desenvolvimento dos projetos

para os quais obteacutem financiamento e se parte desseequipamento for utilizado por outros pesquisadoreso docente e seus alunos natildeo poderatildeo utilizaacute-los preju-dicando o desenvolvimento desses mesmos projetosFinalmente e com uma razoaacutevel frequecircncia uma co-leccedilatildeo de pesquisa facilmente pode se tornar ldquooacuterfatilderdquo nocaso de aposentadoria ou falecimento do docente oumesmo se esse muda de instituiccedilatildeo durante sua carrei-ra Uma coleccedilatildeo formada em um departamento podeou natildeo ser interessante para o docente contratado para

substituir aquele que a formou e isso caracteriza partedo problema da manutenccedilatildeo dos espeacutecimes por tempoindeterminado uma missatildeo fundamental de museuse natildeo de departamentos Natildeo eacute incomum os museusserem contatados por professores universitaacuterios agraves veacutes-peras da aposentadoria ou mesmo por departamentospara resgatar as coleccedilotildees abrigadas nestas instituiccedilotildeesde forma a mantecirc-las indefinidamente Em resumoum docente de departamento tem como funccedilotildees pri-mordiais a pesquisa e o ensino e natildeo a curadoria decoleccedilotildees e departamentos universitaacuterios natildeo estatildeo

preparados para cuidar e manter coleccedilotildees cientiacuteficasNo Brasil costuma-se dizer que os docentes de-

vem realizar trecircs funccedilotildees o ensino a pesquisa e a pres-taccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade atraveacutes da extensatildeouniversitaacuteria Eacute sintomaacutetico que a curadoria de coleccedilotildeesnatildeo esteja enquadrada em nenhuma das trecircs categorias

3 Coleccedilotildees de referecircncia

As coleccedilotildees de referecircncia satildeo aquelas que abriga-das em uma instituiccedilatildeo auxiliam qualquer profissionalque a frequente a se familiarizar com uma determina-da fauna Satildeo comuns em reservas bioloacutegicas ou emdepartamentos universitaacuterios mas nesse uacuteltimo casosatildeo o produto de um projeto especiacutefico e natildeo tem ascaracteriacutesticas de uma coleccedilatildeo de pesquisa A principalcaracteriacutestica de uma coleccedilatildeo de referecircncia eacute a de pos-suir apenas poucos indiviacuteduos por taacutexon geralmenteo nuacutemero suficiente para que cada espeacutecie possa seridentificada (macho e fecircmea em espeacutecies sexualmentedimoacuterficas classes etaacuterias ou fases de desenvolvimentoem espeacutecies com tipos morfoloacutegicos distintos ao longo

do desenvolvimento ontogeneacutetico) Tambeacutem abrigamsinais dos animais como moldes de pegadas ou ninhoscaracteriacutesticos Esse tipo de coleccedilatildeo natildeo deve nuncaabrigar qualquer material-tipo ou seacuteries extensas

Quando em departamentos universitaacuterios a cole-ccedilatildeo de referecircncia eacute comumente um produto de um pro- jeto de pesquisa e serve para que o docente responsaacutevele seus alunos tenham uma raacutepida referecircncia aos taacutexonscom que lidam Por exemplo um pesquisador pode terum projeto que vise o estudo das flutuaccedilotildees populacio-nais de vaacuterias espeacutecies de roedores e na primeira fase da

pesquisa pode ocorrer coleta com preservaccedilatildeo de espeacute-cimes para fins de identificaccedilatildeo Em reservas bioloacutegicasos administradores podem desejar manter alguns espeacute-cimes para que visitantes se familiarizem com a faunaEsse tipo de coleccedilatildeo natildeo requer um profissional espe-cializado em qualquer dos grupos taxonocircmicos repre-sentados mas eacute necessaacuterio no miacutenimo algum cuidadoteacutecnico para sua manutenccedilatildeo Outro tipo de coleccedilatildeoatualmente muito menos comum satildeo as coleccedilotildees par-ticulares Estas coleccedilotildees geralmente regionais por sua

proacutepria natureza mas usualmente de grande impor-tacircncia hoje estatildeo em franca decadecircncia por causa dalegislaccedilatildeo relativa agrave coleta de material (em especial nocaso de vertebrados) e pela crescente profissionalizaccedilatildeode quem estuda a biodiversidade Colecionadores deinvertebrados mais chamativos como besouros borbo-letas e moluscos (conchas) hoje respondem pela maio-ria das coleccedilotildees particulares ainda existentes no BrasilEstas coleccedilotildees com o falecimento ou com a perda deinteresse do colecionador frequentemente satildeo destina-das agraves coleccedilotildees cientiacuteficas existentes nos museus

4 Coleccedilotildees didaacuteticas

Como o nome indica essas coleccedilotildees pertencema departamentos e incluem espeacutecimes utilizados em

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 109

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aula Satildeo preferencialmente animais com menorvalor cientiacutefico geralmente criados em cativeiro emzooloacutegicos ou mesmo espeacutecies muito comuns Essascoleccedilotildees necessitam na imensa maioria dos casos so-mente de atenccedilatildeo teacutecnica para sua manutenccedilatildeo repa-ro e reposiccedilatildeo para fins de ensino e eacute esperado que aomenos parte do material apresente muito desgaste ede forma relativamente raacutepida

5 Coleccedilotildees expositivas

Museus departamentos universitaacuterios e reser-vas bioloacutegicas podem manter coleccedilotildees visando a ex-posiccedilatildeo ao puacuteblico em geral Essas coleccedilotildees podem

particularmente no caso dos museus abrigar espeacuteci-mes pertencentes a espeacutecies de interesse geral e ateacute asmuito raras mas natildeo devem possuir material-tipo eespera-se um desgaste dos espeacutecimes por estarem ex-postos a condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo que frequentementesatildeo deleteacuterias para a preservaccedilatildeo a longo prazo Teacutec-nicos especializados satildeo necessaacuterios para a preparaccedilatildeodo material e sua manutenccedilatildeo Embora excepcional-mente tais materiais zooloacutegicos possam ser estudadoscientificamente o propoacutesito essencial de tais coleccedilotildeeseacute o de divulgaccedilatildeo cientiacutefica Eacute usual que estas coleccedilotildees

se valham de espeacutecimes obtidos em zooloacutegicos e em

cativeiro com um valor cientiacutefico mais limitado oude espeacutecimes de vida livre coletados especificamentepara esta finalidade Neste uacuteltimo caso natildeo deixa deser interessante que estes exemplares mantenham jun-to a si ou agrave base onde estatildeo montados (aleacutem de umlivro de registros especiacutefico na curadoria desta cole-ccedilatildeo) todos os dados sobre a sua coleta Natildeo eacute rara aincorporaccedilatildeo em um determinado momento destesexemplares agraves coleccedilotildees cientiacuteficas onde os mesmossatildeo desmontados e repreparados para se juntarem aestas coleccedilotildees As coleccedilotildees expositivas devem manterpelo menos um teacutecnico especializado (taxidermista depreferecircncia) para cuidar da preparaccedilatildeo e manutenccedilatildeodo material exposto e de um curador que idealmentedecide sobre a temaacutetica da exposiccedilatildeo sobre a forma

de expor este material seguindo uma linha loacutegica des-ta exposiccedilatildeo e que tambeacutem vai tomar as providecircnciassobre a guarda e eventual reposiccedilatildeo dos exemplares

Os museus satildeo diferentes

A resposta claro eacute ldquosimrdquo mas eacute necessaacuterio ex-plicar em algum detalhe a natureza dessa diferenccedilados museus para outras instituiccedilotildees particularmenteos departamentos universitaacuterios e entatildeo discutir as

implicaccedilotildees

FIGURA 1 Os espeacutecimes presentes em diferentes coleccedilotildees permitem uma apreciaccedilatildeo adequada de aspectos taxonocircmicos e biogeograacuteficosde um determinado taacutexon Como exemplo a distribuiccedilatildeo geograacutefica de todas as amostras do gecircnero Leopardus demonstra o papel centraldos museus em estudos taxonocircmicos As coleccedilotildees satildeo a = Museu de Zoologia da USP Satildeo Paulo b = Museu Nacional UFRJ Rio de

Janeiro c = Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Beleacutem d = Museu de Histoacuteria Natural ldquoCapatildeo da Imbuiardquo Curitiba e = Museu de BiologiaMello-Leitatildeo Santa Teresa f = Museo Nacional de Histoacuteria Natural e Antropologiacutea Montevideacuteu g = Museo Argentino de CienciasNaturales ldquoBernardino Rivadaviardquo Buenos Aires h = American Museum of Natural History Nova York As diversas coleccedilotildees contribuemcom amostras distintas e complementares Notar que as coleccedilotildees mais importantes contribuem com o maior nuacutemero amostral e a maiorrepresentatividade geograacutefica

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155110

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A Fig 1 feita a partir de dados obtidos de doNascimento (2010) mostra o papel coletivo que osmuseus tecircm na pesquisa de biodiversidade A figuramostra a distribuiccedilatildeo de representantes do gecircnero Le-opardus que foi inferida a partir da combinaccedilatildeo de to-das as amostras estudadas em oito museus distintos eao seu lado estaacute a contribuiccedilatildeo de cada um dos museusindividualmente em termos das amostras disponiacuteveisEacute possiacutevel perceber que mesmo o melhor de todosos museus em termos de representaccedilatildeo geograacutefica o American Museum of Natural History de Nova Yorkisoladamente natildeo forneceria dados suficientes para acompreensatildeo da distribuiccedilatildeo deste taacutexon Aleacutem dissovecirc-se claramente que diferentes museus tecircm diferentesecircnfases determinadas pela histoacuteria de seu crescimen-

to de acervo e na representatividade das amostras queabrigam Museus como o Bernardino Rivadavia da Argentina o de Montevideacuteu e os de Satildeo Paulo e Riode Janeiro satildeo coleccedilotildees nacionais o Museu Goeldi eacuteuma coleccedilatildeo basicamente Amazocircnica enquanto osdo Espiacuterito Santo e Paranaacute satildeo estaduais na amostra-gem Mas reiterando o que foi dito no iniacutecio destaseccedilatildeo os museus coletivamente exercem um papelque nenhum laboratoacuterio departamental universitaacute-rio pode realizar Os museus tornam disponiacuteveis seusacervos aos pesquisadores que entatildeo publicam suas

pesquisas Os museus natildeo satildeo na praacutetica ldquonacionaisrdquoou ldquoestaduaisrdquo e tecircm um papel central no estudo deproblemas sistemaacuteticos evolutivos biogeograacuteficos ede conservaccedilatildeo que extrapola as fronteiras da unida-de poliacutetica onde se localizam Possuem uma funccedilatildeo deEstado onde o Paiacutes ou EstadoProviacutencia sustentam amanutenccedilatildeo de acervos equipamentos e pessoal paraque a comunidade cientiacutefica mundial possa estudaros espeacutecimes neles abrigados O material depositadonas coleccedilotildees dos museus deve ser encarado como pa-

trimocircnio material da humanidade museus abrigam otestemunho mais evidente da nossa biodiversidade eo vem fazendo haacute seacuteculos

Disso deriva uma importante consequecircncia parao pesquisador que assume a curadoria de uma coleccedilatildeode museu a coleccedilatildeo natildeo eacute o seu laboratoacuterio pessoal Acoleccedilatildeo pertence ao Estado e as funccedilotildees do curadorde uma coleccedilatildeo incluem a) a manutenccedilatildeo da coleccedilatildeocomo um acervo aberto a todos os pesquisadores habi-litados (geralmente pesquisadores de outros museusuniversidades e seus alunos) b) o cuidado para que

os exemplares da coleccedilatildeo estejam o mais corretamen-te identificados quanto possiacutevel bem como com amenor quantidade de erros (que aleacutem dos erros deidentificaccedilatildeo incluem os derivados do uso indevidoe descuido) c) as decisotildees referentes a empreacutestimostrocas e doaccedilotildees d) decisotildees sobre a ampliaccedilatildeo da

amostragem d) decisotildees sobre pesquisa destrutivaEssas decisotildees satildeo feitas em prol da contiacutenua boa ma-nutenccedilatildeo da melhoria do acervo e tambeacutem visando aprestaccedilatildeo de um serviccedilo qualificado agrave comunidade depesquisadores que satildeo usuaacuterios das coleccedilotildees

Esse perfil de curador eacute parcialmente incompatiacute-vel com aquele de um professor universitaacuterio com atu-accedilatildeo em um departamento Este uacuteltimo eacute o gerente deseu proacuteprio laboratoacuterio e atua principalmente no ensi-no e na pesquisa Todos os recursos de seu laboratoacuterioembora possam ser compartilhados com alguns colegase colaboradores devem ter seu uso otimizado para jus-tificar o investimento que as agecircncias de fomento fize-ram O pesquisador de um departamento universitaacuterionatildeo tem uma parcela importante de suas atividades

voltada para os interesses dos demais pesquisadores desua aacuterea de interesse Enquanto para um departamentouniversitaacuterio o melhor eacute contratar um profissional quese dedique integralmente agrave pesquisa e ao ensino para osmuseus eacute importante contratar um pesquisador que te-nha capacidade de se dedicar a um bem puacuteblico o acer-vo sem retorno para a proacutepria carreira Isso cria umaassimetria profissional resultando em pesquisadores demuseus que se dedicam mais agrave pesquisa e ao ensino emenos agrave curadoria (atuando de fato como docentesde departamentos universitaacuterios) ou entatildeo curadores

cujas carreiras satildeo menos valorizadas pela academia porefetuarem menos pesquisa nos padrotildees vigentes

Um excelente professor e pesquisador natildeo eacute ne-cessariamente a melhor contrataccedilatildeo para um Museude Histoacuteria Natural Ainda assim como os concur-sos de ingresso na carreira satildeo os mesmos em toda auniversidade por forccedila de lei e estatuto curadores satildeoselecionados pelas aulas que ministram entre outrosatributos mas natildeo por sua capacidade de dedicaccedilatildeo agravecuradoria Natildeo haacute um padratildeo acadecircmico definido para

avaliar a qualidade da curadoria realizada em coleccedilotildeesde histoacuteria natural Um reflexo disso eacute o fato de quemuitos curadores de museus ao escreverem relatoacuteriosde atividades descrevem a curadoria que realizam nacategoria de ldquoextensatildeordquo que eacute certamente improacutepria

Mas as diferenccedilas continuam no niacutevel institu-cional um museu necessita de numeroso corpo teacutec-nico especializado em diferentes funccedilotildees e todas elascom pouca ou nenhuma interface com o ensino oupesquisa de um laboratoacuterio As coleccedilotildees satildeo consti-tuiacutedas de espeacutecimes peccedilas anatocircmicas amostras de

tecidos para estudos moleculares e estruturas produ-zidas por animais como ninhos e tocas Esse mate-rial eacute obtido atraveacutes de esforccedilo dos pesquisadores quetrabalham como curadores de coleccedilotildees e numerososoutros profissionais e amadores Eacute comum encontrarespeacutecimes nas coleccedilotildees tatildeo velhos quanto as proacuteprias

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 111

7232019 Texto 10_Reflexotildees Sobre Coleccedilotildees Zooloacutegicas Sua Curadoria e a Inserccedilatildeo Dos Museus Na Estrutura Universitaacuteriahellip

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instituiccedilotildees aleacutem de material receacutem-colecionadoCada espeacutecime (aqui entendido como um indiviacuteduoou peccedila individual) ou lote (um conjunto de espeacuteci-mes entre dois a milhares de indiviacuteduos) pode chegardo campo jaacute preparado para ser incluiacutedo na coleccedilatildeoou entatildeo sofrer tratamento adicional em laboratoacuteriopara que sua inclusatildeo seja possiacutevel por exemplo nocaso de muitos tipos de insetos os espeacutecimes podemser individualmente etiquetados e alfinetados mamiacute-feros podem ter preparados seus esqueletos e peles eassim por diante Na maioria das coleccedilotildees em que eacuteconveniente separar indiviacuteduos e peccedilas anatocircmicascada um dos espeacutecimes eacute etiquetado ou rotulado edeve receber um nuacutemero de tombo uacutenico A identifi-caccedilatildeo de espeacutecimes e lotes eacute feita primariamente pelos

curadores das coleccedilotildees mas natildeo eacute infrequente que omaterial venha jaacute identificado do campo no caso deter sido coletado por especialistas Mas a identificaccedilatildeoque eventualmente chega ao evento do tombamento einclusatildeo do material na coleccedilatildeo pode ser alterada maistarde quando examinada por um profissional queesteja realizando uma revisatildeo taxonocircmica do grupoCuradores e teacutecnicos trabalham nessas vaacuterias etapasdo processamento dos espeacutecimes O pessoal teacutecnicotrabalha ainda na preparaccedilatildeo de lotes para envio pelocorreio no caso dos empreacutestimos e permutas bem

como no retorno e incorporaccedilatildeo desse material Jaacute no caso dos departamentos universitaacuterios

o pessoal teacutecnico trabalha assessorando a pesquisados docentes e tambeacutem nas aulas teoacutericas e praacuteticasComo as coleccedilotildees de pesquisa departamentais natildeo satildeovisitadas com grande frequecircncia por outros pesquisa-dores natildeo haacute sobrecarga do trabalho dos teacutecnicos quepodem entatildeo dedicar-se agraves missotildees principais de suainstituiccedilatildeo o ensino e a pesquisa

Mas a diferenccedila entre os tipos de instituiccedilotildees

natildeo cessa aiacute e sim se estende para o problema damanutenccedilatildeo por tempo indeterminado dos acervosEnquanto um museu tem como missatildeo manter essascoleccedilotildees mesmo na ausecircncia de um curador especia-lizado em um determinado grupo os demais especia-listas que ali trabalham bem como o pessoal teacutecnicofornecem o cuidado necessaacuterio para a sobrevivecircnciado acervo Em um departamento universitaacuterio o inte-resse por um acervo amealhado por um docente podeperfeitamente cessar apoacutes o teacutermino do viacutenculo pro-fissional desse docente

As consequecircncias das diferenccedilas

A principal consequecircncia do que foi exposto aci-ma eacute que um museu natildeo pode ser administrado como

um departamento universitaacuterio nem seus profissio-nais podem ser avaliados e mesmo contratados utili-zando-se os mesmos criteacuterios que aqueles empregadospara seus colegas dos departamentos

Eacute de se esperar que a carreira de um curador emmeacutedia envolva menos ensino que a de um docentede departamento universitaacuterio Tambeacutem eacute altamentedesejaacutevel que os curadores sejam taxonomistas profis-sionais com abordagem organiacutesmica natildeo apenas mo-lecular A razatildeo para tal eacute a necessidade de familiarida-de com os taacutexons que a coleccedilatildeo abriga e a capacidadecriacutetica para avaliar a literatura taxonocircmica produzidapelos pesquisadores de todo o mundo Em um de-partamento universitaacuterio um pesquisador pode ndash emuitas vezes eacute ateacute desejaacutevel ndash ampliar seus interesses

a ponto de se tornar um profissional muito diferentedaquele que ingressou na carreira por exemplo umdocente que comeccedila a carreira como sistemata podese tornar um especialista em macroecologia ou bioge-ografia ou mesmo deixar a sistemaacutetica morfoloacutegica epassar a utilizar principalmente meacutetodos molecularesEsse tipo de percurso profissional eacute bem menos de-sejaacutevel para um curador de coleccedilotildees em museus Seufoco sempre deveraacute ser a coleccedilatildeo e a pesquisa baseadaem coleccedilotildees e seu principal esforccedilo o de servir agrave co-munidade de pesquisadores devotados ao estudo da

biodiversidade atraveacutes do trabalho que dedica agrave cole-ccedilatildeo sob seus cuidados

A compreensatildeo do papel diferenciado dos mu-seus de histoacuteria natural e do papel que os curadoresque neles trabalham devem ter eacute muito incipiente in-felizmente mesmo entre profissionais dos museus Ahistoacuteria recente dos museus brasileiros apresenta exem-plos pouco edificantes de curadores que impediram otrabalho de concorrentes e outros profissionais por ra-zotildees obscuras e assim fugiram da missatildeo essencial de

manter acervos abertos agrave pesquisa Esse tipo de atituderesultou em um destrutivo antagonismo entre pesqui-sadores Se os museus realizarem bem suas funccedilotildees pri-mordiais e permitirem amplo acesso aos acervos esseantagonismo tende a desaparecer Aleacutem disso eacute im-portante que os gestores e docentes em departamentosuniversitaacuterios percebam que a criaccedilatildeo de um museu dehistoacuteria natural natildeo significa somente a junccedilatildeo de umconjunto de coleccedilotildees zooloacutegicas sob o nome de ldquomu-seurdquo Um museu deve ser compreendido sob uma pers-pectiva diferente incorporando toda uma estrutura

diferenciada de curadoria teacutecnica seccedilotildees cientiacuteficas eexpositivas que possuem impactos importantes no or-ganograma e no orccedilamento das instituiccedilotildees A criaccedilatildeode um museu eacute uma decisatildeo em uacuteltima instacircncia doEstado pois realizaraacute funccedilatildeo de Estado como fiel de-positaacuteria da fauna que eacute um bem difuso da sociedade

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155112

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Acreditamos que as universidades que possuemmuseus de histoacuteria natural precisam ainda compreen-der mais profundamente a extensatildeo de suas responsa-bilidades relativas aos acervos de que dispotildeem assimcomo os Estados quando satildeo esses os principais man-tenedores O Brasil no momento em que escrevemoseste trabalho vem adotando uma poliacutetica completa-mente uniforme para todo o corpo de pesquisadoresque emprega todos satildeo julgados pelos mesmos criteacute-rios de produtividade sem qualquer distinccedilatildeo para afunccedilatildeo curatorial Em nossa opiniatildeo esse procedimen-to eacute deleteacuterio para os museus de histoacuteria natural bemcomo para o avanccedilo do estudo da biodiversidade emnosso paiacutes

AGRADECIMENTOS

Agradecemos imensamente ao Dr Joseacute Lima deFigueiredo a quem este ensaio eacute dedicado Muito doque aqui estaacute eacute derivado de numerosas discussotildees arespeito do papel da curadoria na universidade e dotrabalho do curador Essas foram sempre preocupa-ccedilotildees centrais de toda a sua vida profissional

REFEREcircNCIAS

G983137983157983138983141983154983156 P P983137983152983141983155 M 983078 P983141983156983141983154983155983151983150 AT 2006 Natural historycollections and the conservation of poorly known taxaecological niche modeling in Central African rainforest genets

(Genetta spp) Biological Conservation 130 106-117H983141983154983145983150983143983149983137983150 N 2013 Sciences of Antiquity Oxford OxfordUniversity Press

J983137983154983140983145983150983141 JAS 983078 S983152983137983154983161 E EC (E983140983155) 1996 Cultures of NaturalHistory Cambridge Cambridge University Press

L983137983150983141 MA 1996 Roles of Natural History collections Annals ofthe Missouri Botanical Garden 83(4) 536-545

M983145983148983148983141983154 B C983151983150983159983137983161 W R983141983137983140983145983150983143 RP W983141983149983149983141983154 C W983145983148983140983156 DK983148983141983145983149983137983150 D M983151983150983142983151983154983156 S R983137983138983145983150983151983159983145983156983162 A A983154983149983155983156983154983151983150983143 B983078 H983157983156983139983144983145983150983155 M 2004 Evaluating the conservation missionof Zoos Aquariums Botanical Gardens and Natural HistoryMuseums Conservation Biology 18(1) 86-93

N983137983155983139983145983149983141983150983156983151 FO 2010 Revisatildeo taxonocircmica do gecircnero Leopardus Gray 1842 (Carnivora Felidae) (Tese de doutorado) SatildeoPaulo Departamento de Zoologia Instituto de Biociecircncias daUSP

S983144983137983142983142983141983154 HB F983145983155983144983141983154 RN 983078 D983137983158983145983140983155983151983150 C 1998 The role ofnatural history collections in documenting species declinesTrends in Ecology and Evolution 13(1) 27-30

S983157983137983154983141983162 AV 983078 T983155983157983156983155983157983145 ND 2004 The value of museumcollections for research and society Bioscience 54(1) 66-74

T983137983140983140983141983145 VA M983137983154983156983145983150983155 UR 983140983141 V983145983158983151 M 983078 P983141983154983139983141983153983157983145983148983148983151 AR1999 O acervo das coleccedilotildees zooloacutegicas do Estado de Satildeo PauloIn Wey de Brito MC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidadedo Estado de Satildeo Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 53-67

983140983141 V983145983158983151 M 1999 Museus e coleccedilotildees zooloacutegicas In Wey de BritoMC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidade do Estado de Satildeo

Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 49-51 W983145983150983147983141983154 K 2004 Natural History Museums in a postbiodiversity

era Bioscience 54(5) 455-459

Aceito em 14012014Impresso em 30092014

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 113

Page 5: Texto 10_Reflexões Sobre Coleções Zoológicas, Sua Curadoria e a Inserção Dos Museus Na Estrutura Universitária Brasileira

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2 Coleccedilotildees de pesquisa

As coleccedilotildees de pesquisa satildeo aquelas criadas emantidas por pesquisadores que trabalham geralmen-te em departamentos universitaacuterios ou mesmo eminstituiccedilotildees de pesquisa mas cuja coleccedilatildeo deriva es-pecificamente de projetos do pesquisador e natildeo demissatildeo institucional A coleccedilatildeo pode ser pequena ougrande mas natildeo tem articulaccedilatildeo com outras coleccedilotildeesda mesma instituiccedilatildeo Embora o estudo cientiacutefico quese pode fazer a partir de tais coleccedilotildees seja essencial-mente o mesmo que o das coleccedilotildees sistemaacuteticas oacesso ao material eacute completamente diverso normal-mente restrito ao pesquisador responsaacutevel (docen-te universitaacuterio) e seus alunos Essa restriccedilatildeo natildeo se

deve exclusivamente agrave uma decisatildeo do responsaacutevelmas sim agrave disponibilidade de recursos normalmentedisponiacuteveis ao docente de um departamento faltamespaccedilo equipamentos teacutecnicos especializados etc Odocente universitaacuterio eacute atendido por teacutecnicos quealeacutem de auxiliarem nas pesquisas atuam igualmentenas aulas praacuteticas e em outras atividades mas que natildeotem condiccedilatildeo de atender a visitas constantes de pro-fissionais ou estudantes de outras instituiccedilotildees Aleacutemdisso o equipamento que um docente adquire paraseu laboratoacuterio visa o desenvolvimento dos projetos

para os quais obteacutem financiamento e se parte desseequipamento for utilizado por outros pesquisadoreso docente e seus alunos natildeo poderatildeo utilizaacute-los preju-dicando o desenvolvimento desses mesmos projetosFinalmente e com uma razoaacutevel frequecircncia uma co-leccedilatildeo de pesquisa facilmente pode se tornar ldquooacuterfatilderdquo nocaso de aposentadoria ou falecimento do docente oumesmo se esse muda de instituiccedilatildeo durante sua carrei-ra Uma coleccedilatildeo formada em um departamento podeou natildeo ser interessante para o docente contratado para

substituir aquele que a formou e isso caracteriza partedo problema da manutenccedilatildeo dos espeacutecimes por tempoindeterminado uma missatildeo fundamental de museuse natildeo de departamentos Natildeo eacute incomum os museusserem contatados por professores universitaacuterios agraves veacutes-peras da aposentadoria ou mesmo por departamentospara resgatar as coleccedilotildees abrigadas nestas instituiccedilotildeesde forma a mantecirc-las indefinidamente Em resumoum docente de departamento tem como funccedilotildees pri-mordiais a pesquisa e o ensino e natildeo a curadoria decoleccedilotildees e departamentos universitaacuterios natildeo estatildeo

preparados para cuidar e manter coleccedilotildees cientiacuteficasNo Brasil costuma-se dizer que os docentes de-

vem realizar trecircs funccedilotildees o ensino a pesquisa e a pres-taccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade atraveacutes da extensatildeouniversitaacuteria Eacute sintomaacutetico que a curadoria de coleccedilotildeesnatildeo esteja enquadrada em nenhuma das trecircs categorias

3 Coleccedilotildees de referecircncia

As coleccedilotildees de referecircncia satildeo aquelas que abriga-das em uma instituiccedilatildeo auxiliam qualquer profissionalque a frequente a se familiarizar com uma determina-da fauna Satildeo comuns em reservas bioloacutegicas ou emdepartamentos universitaacuterios mas nesse uacuteltimo casosatildeo o produto de um projeto especiacutefico e natildeo tem ascaracteriacutesticas de uma coleccedilatildeo de pesquisa A principalcaracteriacutestica de uma coleccedilatildeo de referecircncia eacute a de pos-suir apenas poucos indiviacuteduos por taacutexon geralmenteo nuacutemero suficiente para que cada espeacutecie possa seridentificada (macho e fecircmea em espeacutecies sexualmentedimoacuterficas classes etaacuterias ou fases de desenvolvimentoem espeacutecies com tipos morfoloacutegicos distintos ao longo

do desenvolvimento ontogeneacutetico) Tambeacutem abrigamsinais dos animais como moldes de pegadas ou ninhoscaracteriacutesticos Esse tipo de coleccedilatildeo natildeo deve nuncaabrigar qualquer material-tipo ou seacuteries extensas

Quando em departamentos universitaacuterios a cole-ccedilatildeo de referecircncia eacute comumente um produto de um pro- jeto de pesquisa e serve para que o docente responsaacutevele seus alunos tenham uma raacutepida referecircncia aos taacutexonscom que lidam Por exemplo um pesquisador pode terum projeto que vise o estudo das flutuaccedilotildees populacio-nais de vaacuterias espeacutecies de roedores e na primeira fase da

pesquisa pode ocorrer coleta com preservaccedilatildeo de espeacute-cimes para fins de identificaccedilatildeo Em reservas bioloacutegicasos administradores podem desejar manter alguns espeacute-cimes para que visitantes se familiarizem com a faunaEsse tipo de coleccedilatildeo natildeo requer um profissional espe-cializado em qualquer dos grupos taxonocircmicos repre-sentados mas eacute necessaacuterio no miacutenimo algum cuidadoteacutecnico para sua manutenccedilatildeo Outro tipo de coleccedilatildeoatualmente muito menos comum satildeo as coleccedilotildees par-ticulares Estas coleccedilotildees geralmente regionais por sua

proacutepria natureza mas usualmente de grande impor-tacircncia hoje estatildeo em franca decadecircncia por causa dalegislaccedilatildeo relativa agrave coleta de material (em especial nocaso de vertebrados) e pela crescente profissionalizaccedilatildeode quem estuda a biodiversidade Colecionadores deinvertebrados mais chamativos como besouros borbo-letas e moluscos (conchas) hoje respondem pela maio-ria das coleccedilotildees particulares ainda existentes no BrasilEstas coleccedilotildees com o falecimento ou com a perda deinteresse do colecionador frequentemente satildeo destina-das agraves coleccedilotildees cientiacuteficas existentes nos museus

4 Coleccedilotildees didaacuteticas

Como o nome indica essas coleccedilotildees pertencema departamentos e incluem espeacutecimes utilizados em

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 109

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aula Satildeo preferencialmente animais com menorvalor cientiacutefico geralmente criados em cativeiro emzooloacutegicos ou mesmo espeacutecies muito comuns Essascoleccedilotildees necessitam na imensa maioria dos casos so-mente de atenccedilatildeo teacutecnica para sua manutenccedilatildeo repa-ro e reposiccedilatildeo para fins de ensino e eacute esperado que aomenos parte do material apresente muito desgaste ede forma relativamente raacutepida

5 Coleccedilotildees expositivas

Museus departamentos universitaacuterios e reser-vas bioloacutegicas podem manter coleccedilotildees visando a ex-posiccedilatildeo ao puacuteblico em geral Essas coleccedilotildees podem

particularmente no caso dos museus abrigar espeacuteci-mes pertencentes a espeacutecies de interesse geral e ateacute asmuito raras mas natildeo devem possuir material-tipo eespera-se um desgaste dos espeacutecimes por estarem ex-postos a condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo que frequentementesatildeo deleteacuterias para a preservaccedilatildeo a longo prazo Teacutec-nicos especializados satildeo necessaacuterios para a preparaccedilatildeodo material e sua manutenccedilatildeo Embora excepcional-mente tais materiais zooloacutegicos possam ser estudadoscientificamente o propoacutesito essencial de tais coleccedilotildeeseacute o de divulgaccedilatildeo cientiacutefica Eacute usual que estas coleccedilotildees

se valham de espeacutecimes obtidos em zooloacutegicos e em

cativeiro com um valor cientiacutefico mais limitado oude espeacutecimes de vida livre coletados especificamentepara esta finalidade Neste uacuteltimo caso natildeo deixa deser interessante que estes exemplares mantenham jun-to a si ou agrave base onde estatildeo montados (aleacutem de umlivro de registros especiacutefico na curadoria desta cole-ccedilatildeo) todos os dados sobre a sua coleta Natildeo eacute rara aincorporaccedilatildeo em um determinado momento destesexemplares agraves coleccedilotildees cientiacuteficas onde os mesmossatildeo desmontados e repreparados para se juntarem aestas coleccedilotildees As coleccedilotildees expositivas devem manterpelo menos um teacutecnico especializado (taxidermista depreferecircncia) para cuidar da preparaccedilatildeo e manutenccedilatildeodo material exposto e de um curador que idealmentedecide sobre a temaacutetica da exposiccedilatildeo sobre a forma

de expor este material seguindo uma linha loacutegica des-ta exposiccedilatildeo e que tambeacutem vai tomar as providecircnciassobre a guarda e eventual reposiccedilatildeo dos exemplares

Os museus satildeo diferentes

A resposta claro eacute ldquosimrdquo mas eacute necessaacuterio ex-plicar em algum detalhe a natureza dessa diferenccedilados museus para outras instituiccedilotildees particularmenteos departamentos universitaacuterios e entatildeo discutir as

implicaccedilotildees

FIGURA 1 Os espeacutecimes presentes em diferentes coleccedilotildees permitem uma apreciaccedilatildeo adequada de aspectos taxonocircmicos e biogeograacuteficosde um determinado taacutexon Como exemplo a distribuiccedilatildeo geograacutefica de todas as amostras do gecircnero Leopardus demonstra o papel centraldos museus em estudos taxonocircmicos As coleccedilotildees satildeo a = Museu de Zoologia da USP Satildeo Paulo b = Museu Nacional UFRJ Rio de

Janeiro c = Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Beleacutem d = Museu de Histoacuteria Natural ldquoCapatildeo da Imbuiardquo Curitiba e = Museu de BiologiaMello-Leitatildeo Santa Teresa f = Museo Nacional de Histoacuteria Natural e Antropologiacutea Montevideacuteu g = Museo Argentino de CienciasNaturales ldquoBernardino Rivadaviardquo Buenos Aires h = American Museum of Natural History Nova York As diversas coleccedilotildees contribuemcom amostras distintas e complementares Notar que as coleccedilotildees mais importantes contribuem com o maior nuacutemero amostral e a maiorrepresentatividade geograacutefica

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155110

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A Fig 1 feita a partir de dados obtidos de doNascimento (2010) mostra o papel coletivo que osmuseus tecircm na pesquisa de biodiversidade A figuramostra a distribuiccedilatildeo de representantes do gecircnero Le-opardus que foi inferida a partir da combinaccedilatildeo de to-das as amostras estudadas em oito museus distintos eao seu lado estaacute a contribuiccedilatildeo de cada um dos museusindividualmente em termos das amostras disponiacuteveisEacute possiacutevel perceber que mesmo o melhor de todosos museus em termos de representaccedilatildeo geograacutefica o American Museum of Natural History de Nova Yorkisoladamente natildeo forneceria dados suficientes para acompreensatildeo da distribuiccedilatildeo deste taacutexon Aleacutem dissovecirc-se claramente que diferentes museus tecircm diferentesecircnfases determinadas pela histoacuteria de seu crescimen-

to de acervo e na representatividade das amostras queabrigam Museus como o Bernardino Rivadavia da Argentina o de Montevideacuteu e os de Satildeo Paulo e Riode Janeiro satildeo coleccedilotildees nacionais o Museu Goeldi eacuteuma coleccedilatildeo basicamente Amazocircnica enquanto osdo Espiacuterito Santo e Paranaacute satildeo estaduais na amostra-gem Mas reiterando o que foi dito no iniacutecio destaseccedilatildeo os museus coletivamente exercem um papelque nenhum laboratoacuterio departamental universitaacute-rio pode realizar Os museus tornam disponiacuteveis seusacervos aos pesquisadores que entatildeo publicam suas

pesquisas Os museus natildeo satildeo na praacutetica ldquonacionaisrdquoou ldquoestaduaisrdquo e tecircm um papel central no estudo deproblemas sistemaacuteticos evolutivos biogeograacuteficos ede conservaccedilatildeo que extrapola as fronteiras da unida-de poliacutetica onde se localizam Possuem uma funccedilatildeo deEstado onde o Paiacutes ou EstadoProviacutencia sustentam amanutenccedilatildeo de acervos equipamentos e pessoal paraque a comunidade cientiacutefica mundial possa estudaros espeacutecimes neles abrigados O material depositadonas coleccedilotildees dos museus deve ser encarado como pa-

trimocircnio material da humanidade museus abrigam otestemunho mais evidente da nossa biodiversidade eo vem fazendo haacute seacuteculos

Disso deriva uma importante consequecircncia parao pesquisador que assume a curadoria de uma coleccedilatildeode museu a coleccedilatildeo natildeo eacute o seu laboratoacuterio pessoal Acoleccedilatildeo pertence ao Estado e as funccedilotildees do curadorde uma coleccedilatildeo incluem a) a manutenccedilatildeo da coleccedilatildeocomo um acervo aberto a todos os pesquisadores habi-litados (geralmente pesquisadores de outros museusuniversidades e seus alunos) b) o cuidado para que

os exemplares da coleccedilatildeo estejam o mais corretamen-te identificados quanto possiacutevel bem como com amenor quantidade de erros (que aleacutem dos erros deidentificaccedilatildeo incluem os derivados do uso indevidoe descuido) c) as decisotildees referentes a empreacutestimostrocas e doaccedilotildees d) decisotildees sobre a ampliaccedilatildeo da

amostragem d) decisotildees sobre pesquisa destrutivaEssas decisotildees satildeo feitas em prol da contiacutenua boa ma-nutenccedilatildeo da melhoria do acervo e tambeacutem visando aprestaccedilatildeo de um serviccedilo qualificado agrave comunidade depesquisadores que satildeo usuaacuterios das coleccedilotildees

Esse perfil de curador eacute parcialmente incompatiacute-vel com aquele de um professor universitaacuterio com atu-accedilatildeo em um departamento Este uacuteltimo eacute o gerente deseu proacuteprio laboratoacuterio e atua principalmente no ensi-no e na pesquisa Todos os recursos de seu laboratoacuterioembora possam ser compartilhados com alguns colegase colaboradores devem ter seu uso otimizado para jus-tificar o investimento que as agecircncias de fomento fize-ram O pesquisador de um departamento universitaacuterionatildeo tem uma parcela importante de suas atividades

voltada para os interesses dos demais pesquisadores desua aacuterea de interesse Enquanto para um departamentouniversitaacuterio o melhor eacute contratar um profissional quese dedique integralmente agrave pesquisa e ao ensino para osmuseus eacute importante contratar um pesquisador que te-nha capacidade de se dedicar a um bem puacuteblico o acer-vo sem retorno para a proacutepria carreira Isso cria umaassimetria profissional resultando em pesquisadores demuseus que se dedicam mais agrave pesquisa e ao ensino emenos agrave curadoria (atuando de fato como docentesde departamentos universitaacuterios) ou entatildeo curadores

cujas carreiras satildeo menos valorizadas pela academia porefetuarem menos pesquisa nos padrotildees vigentes

Um excelente professor e pesquisador natildeo eacute ne-cessariamente a melhor contrataccedilatildeo para um Museude Histoacuteria Natural Ainda assim como os concur-sos de ingresso na carreira satildeo os mesmos em toda auniversidade por forccedila de lei e estatuto curadores satildeoselecionados pelas aulas que ministram entre outrosatributos mas natildeo por sua capacidade de dedicaccedilatildeo agravecuradoria Natildeo haacute um padratildeo acadecircmico definido para

avaliar a qualidade da curadoria realizada em coleccedilotildeesde histoacuteria natural Um reflexo disso eacute o fato de quemuitos curadores de museus ao escreverem relatoacuteriosde atividades descrevem a curadoria que realizam nacategoria de ldquoextensatildeordquo que eacute certamente improacutepria

Mas as diferenccedilas continuam no niacutevel institu-cional um museu necessita de numeroso corpo teacutec-nico especializado em diferentes funccedilotildees e todas elascom pouca ou nenhuma interface com o ensino oupesquisa de um laboratoacuterio As coleccedilotildees satildeo consti-tuiacutedas de espeacutecimes peccedilas anatocircmicas amostras de

tecidos para estudos moleculares e estruturas produ-zidas por animais como ninhos e tocas Esse mate-rial eacute obtido atraveacutes de esforccedilo dos pesquisadores quetrabalham como curadores de coleccedilotildees e numerososoutros profissionais e amadores Eacute comum encontrarespeacutecimes nas coleccedilotildees tatildeo velhos quanto as proacuteprias

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 111

7232019 Texto 10_Reflexotildees Sobre Coleccedilotildees Zooloacutegicas Sua Curadoria e a Inserccedilatildeo Dos Museus Na Estrutura Universitaacuteriahellip

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instituiccedilotildees aleacutem de material receacutem-colecionadoCada espeacutecime (aqui entendido como um indiviacuteduoou peccedila individual) ou lote (um conjunto de espeacuteci-mes entre dois a milhares de indiviacuteduos) pode chegardo campo jaacute preparado para ser incluiacutedo na coleccedilatildeoou entatildeo sofrer tratamento adicional em laboratoacuteriopara que sua inclusatildeo seja possiacutevel por exemplo nocaso de muitos tipos de insetos os espeacutecimes podemser individualmente etiquetados e alfinetados mamiacute-feros podem ter preparados seus esqueletos e peles eassim por diante Na maioria das coleccedilotildees em que eacuteconveniente separar indiviacuteduos e peccedilas anatocircmicascada um dos espeacutecimes eacute etiquetado ou rotulado edeve receber um nuacutemero de tombo uacutenico A identifi-caccedilatildeo de espeacutecimes e lotes eacute feita primariamente pelos

curadores das coleccedilotildees mas natildeo eacute infrequente que omaterial venha jaacute identificado do campo no caso deter sido coletado por especialistas Mas a identificaccedilatildeoque eventualmente chega ao evento do tombamento einclusatildeo do material na coleccedilatildeo pode ser alterada maistarde quando examinada por um profissional queesteja realizando uma revisatildeo taxonocircmica do grupoCuradores e teacutecnicos trabalham nessas vaacuterias etapasdo processamento dos espeacutecimes O pessoal teacutecnicotrabalha ainda na preparaccedilatildeo de lotes para envio pelocorreio no caso dos empreacutestimos e permutas bem

como no retorno e incorporaccedilatildeo desse material Jaacute no caso dos departamentos universitaacuterios

o pessoal teacutecnico trabalha assessorando a pesquisados docentes e tambeacutem nas aulas teoacutericas e praacuteticasComo as coleccedilotildees de pesquisa departamentais natildeo satildeovisitadas com grande frequecircncia por outros pesquisa-dores natildeo haacute sobrecarga do trabalho dos teacutecnicos quepodem entatildeo dedicar-se agraves missotildees principais de suainstituiccedilatildeo o ensino e a pesquisa

Mas a diferenccedila entre os tipos de instituiccedilotildees

natildeo cessa aiacute e sim se estende para o problema damanutenccedilatildeo por tempo indeterminado dos acervosEnquanto um museu tem como missatildeo manter essascoleccedilotildees mesmo na ausecircncia de um curador especia-lizado em um determinado grupo os demais especia-listas que ali trabalham bem como o pessoal teacutecnicofornecem o cuidado necessaacuterio para a sobrevivecircnciado acervo Em um departamento universitaacuterio o inte-resse por um acervo amealhado por um docente podeperfeitamente cessar apoacutes o teacutermino do viacutenculo pro-fissional desse docente

As consequecircncias das diferenccedilas

A principal consequecircncia do que foi exposto aci-ma eacute que um museu natildeo pode ser administrado como

um departamento universitaacuterio nem seus profissio-nais podem ser avaliados e mesmo contratados utili-zando-se os mesmos criteacuterios que aqueles empregadospara seus colegas dos departamentos

Eacute de se esperar que a carreira de um curador emmeacutedia envolva menos ensino que a de um docentede departamento universitaacuterio Tambeacutem eacute altamentedesejaacutevel que os curadores sejam taxonomistas profis-sionais com abordagem organiacutesmica natildeo apenas mo-lecular A razatildeo para tal eacute a necessidade de familiarida-de com os taacutexons que a coleccedilatildeo abriga e a capacidadecriacutetica para avaliar a literatura taxonocircmica produzidapelos pesquisadores de todo o mundo Em um de-partamento universitaacuterio um pesquisador pode ndash emuitas vezes eacute ateacute desejaacutevel ndash ampliar seus interesses

a ponto de se tornar um profissional muito diferentedaquele que ingressou na carreira por exemplo umdocente que comeccedila a carreira como sistemata podese tornar um especialista em macroecologia ou bioge-ografia ou mesmo deixar a sistemaacutetica morfoloacutegica epassar a utilizar principalmente meacutetodos molecularesEsse tipo de percurso profissional eacute bem menos de-sejaacutevel para um curador de coleccedilotildees em museus Seufoco sempre deveraacute ser a coleccedilatildeo e a pesquisa baseadaem coleccedilotildees e seu principal esforccedilo o de servir agrave co-munidade de pesquisadores devotados ao estudo da

biodiversidade atraveacutes do trabalho que dedica agrave cole-ccedilatildeo sob seus cuidados

A compreensatildeo do papel diferenciado dos mu-seus de histoacuteria natural e do papel que os curadoresque neles trabalham devem ter eacute muito incipiente in-felizmente mesmo entre profissionais dos museus Ahistoacuteria recente dos museus brasileiros apresenta exem-plos pouco edificantes de curadores que impediram otrabalho de concorrentes e outros profissionais por ra-zotildees obscuras e assim fugiram da missatildeo essencial de

manter acervos abertos agrave pesquisa Esse tipo de atituderesultou em um destrutivo antagonismo entre pesqui-sadores Se os museus realizarem bem suas funccedilotildees pri-mordiais e permitirem amplo acesso aos acervos esseantagonismo tende a desaparecer Aleacutem disso eacute im-portante que os gestores e docentes em departamentosuniversitaacuterios percebam que a criaccedilatildeo de um museu dehistoacuteria natural natildeo significa somente a junccedilatildeo de umconjunto de coleccedilotildees zooloacutegicas sob o nome de ldquomu-seurdquo Um museu deve ser compreendido sob uma pers-pectiva diferente incorporando toda uma estrutura

diferenciada de curadoria teacutecnica seccedilotildees cientiacuteficas eexpositivas que possuem impactos importantes no or-ganograma e no orccedilamento das instituiccedilotildees A criaccedilatildeode um museu eacute uma decisatildeo em uacuteltima instacircncia doEstado pois realizaraacute funccedilatildeo de Estado como fiel de-positaacuteria da fauna que eacute um bem difuso da sociedade

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155112

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Acreditamos que as universidades que possuemmuseus de histoacuteria natural precisam ainda compreen-der mais profundamente a extensatildeo de suas responsa-bilidades relativas aos acervos de que dispotildeem assimcomo os Estados quando satildeo esses os principais man-tenedores O Brasil no momento em que escrevemoseste trabalho vem adotando uma poliacutetica completa-mente uniforme para todo o corpo de pesquisadoresque emprega todos satildeo julgados pelos mesmos criteacute-rios de produtividade sem qualquer distinccedilatildeo para afunccedilatildeo curatorial Em nossa opiniatildeo esse procedimen-to eacute deleteacuterio para os museus de histoacuteria natural bemcomo para o avanccedilo do estudo da biodiversidade emnosso paiacutes

AGRADECIMENTOS

Agradecemos imensamente ao Dr Joseacute Lima deFigueiredo a quem este ensaio eacute dedicado Muito doque aqui estaacute eacute derivado de numerosas discussotildees arespeito do papel da curadoria na universidade e dotrabalho do curador Essas foram sempre preocupa-ccedilotildees centrais de toda a sua vida profissional

REFEREcircNCIAS

G983137983157983138983141983154983156 P P983137983152983141983155 M 983078 P983141983156983141983154983155983151983150 AT 2006 Natural historycollections and the conservation of poorly known taxaecological niche modeling in Central African rainforest genets

(Genetta spp) Biological Conservation 130 106-117H983141983154983145983150983143983149983137983150 N 2013 Sciences of Antiquity Oxford OxfordUniversity Press

J983137983154983140983145983150983141 JAS 983078 S983152983137983154983161 E EC (E983140983155) 1996 Cultures of NaturalHistory Cambridge Cambridge University Press

L983137983150983141 MA 1996 Roles of Natural History collections Annals ofthe Missouri Botanical Garden 83(4) 536-545

M983145983148983148983141983154 B C983151983150983159983137983161 W R983141983137983140983145983150983143 RP W983141983149983149983141983154 C W983145983148983140983156 DK983148983141983145983149983137983150 D M983151983150983142983151983154983156 S R983137983138983145983150983151983159983145983156983162 A A983154983149983155983156983154983151983150983143 B983078 H983157983156983139983144983145983150983155 M 2004 Evaluating the conservation missionof Zoos Aquariums Botanical Gardens and Natural HistoryMuseums Conservation Biology 18(1) 86-93

N983137983155983139983145983149983141983150983156983151 FO 2010 Revisatildeo taxonocircmica do gecircnero Leopardus Gray 1842 (Carnivora Felidae) (Tese de doutorado) SatildeoPaulo Departamento de Zoologia Instituto de Biociecircncias daUSP

S983144983137983142983142983141983154 HB F983145983155983144983141983154 RN 983078 D983137983158983145983140983155983151983150 C 1998 The role ofnatural history collections in documenting species declinesTrends in Ecology and Evolution 13(1) 27-30

S983157983137983154983141983162 AV 983078 T983155983157983156983155983157983145 ND 2004 The value of museumcollections for research and society Bioscience 54(1) 66-74

T983137983140983140983141983145 VA M983137983154983156983145983150983155 UR 983140983141 V983145983158983151 M 983078 P983141983154983139983141983153983157983145983148983148983151 AR1999 O acervo das coleccedilotildees zooloacutegicas do Estado de Satildeo PauloIn Wey de Brito MC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidadedo Estado de Satildeo Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 53-67

983140983141 V983145983158983151 M 1999 Museus e coleccedilotildees zooloacutegicas In Wey de BritoMC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidade do Estado de Satildeo

Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 49-51 W983145983150983147983141983154 K 2004 Natural History Museums in a postbiodiversity

era Bioscience 54(5) 455-459

Aceito em 14012014Impresso em 30092014

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 113

Page 6: Texto 10_Reflexões Sobre Coleções Zoológicas, Sua Curadoria e a Inserção Dos Museus Na Estrutura Universitária Brasileira

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aula Satildeo preferencialmente animais com menorvalor cientiacutefico geralmente criados em cativeiro emzooloacutegicos ou mesmo espeacutecies muito comuns Essascoleccedilotildees necessitam na imensa maioria dos casos so-mente de atenccedilatildeo teacutecnica para sua manutenccedilatildeo repa-ro e reposiccedilatildeo para fins de ensino e eacute esperado que aomenos parte do material apresente muito desgaste ede forma relativamente raacutepida

5 Coleccedilotildees expositivas

Museus departamentos universitaacuterios e reser-vas bioloacutegicas podem manter coleccedilotildees visando a ex-posiccedilatildeo ao puacuteblico em geral Essas coleccedilotildees podem

particularmente no caso dos museus abrigar espeacuteci-mes pertencentes a espeacutecies de interesse geral e ateacute asmuito raras mas natildeo devem possuir material-tipo eespera-se um desgaste dos espeacutecimes por estarem ex-postos a condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo que frequentementesatildeo deleteacuterias para a preservaccedilatildeo a longo prazo Teacutec-nicos especializados satildeo necessaacuterios para a preparaccedilatildeodo material e sua manutenccedilatildeo Embora excepcional-mente tais materiais zooloacutegicos possam ser estudadoscientificamente o propoacutesito essencial de tais coleccedilotildeeseacute o de divulgaccedilatildeo cientiacutefica Eacute usual que estas coleccedilotildees

se valham de espeacutecimes obtidos em zooloacutegicos e em

cativeiro com um valor cientiacutefico mais limitado oude espeacutecimes de vida livre coletados especificamentepara esta finalidade Neste uacuteltimo caso natildeo deixa deser interessante que estes exemplares mantenham jun-to a si ou agrave base onde estatildeo montados (aleacutem de umlivro de registros especiacutefico na curadoria desta cole-ccedilatildeo) todos os dados sobre a sua coleta Natildeo eacute rara aincorporaccedilatildeo em um determinado momento destesexemplares agraves coleccedilotildees cientiacuteficas onde os mesmossatildeo desmontados e repreparados para se juntarem aestas coleccedilotildees As coleccedilotildees expositivas devem manterpelo menos um teacutecnico especializado (taxidermista depreferecircncia) para cuidar da preparaccedilatildeo e manutenccedilatildeodo material exposto e de um curador que idealmentedecide sobre a temaacutetica da exposiccedilatildeo sobre a forma

de expor este material seguindo uma linha loacutegica des-ta exposiccedilatildeo e que tambeacutem vai tomar as providecircnciassobre a guarda e eventual reposiccedilatildeo dos exemplares

Os museus satildeo diferentes

A resposta claro eacute ldquosimrdquo mas eacute necessaacuterio ex-plicar em algum detalhe a natureza dessa diferenccedilados museus para outras instituiccedilotildees particularmenteos departamentos universitaacuterios e entatildeo discutir as

implicaccedilotildees

FIGURA 1 Os espeacutecimes presentes em diferentes coleccedilotildees permitem uma apreciaccedilatildeo adequada de aspectos taxonocircmicos e biogeograacuteficosde um determinado taacutexon Como exemplo a distribuiccedilatildeo geograacutefica de todas as amostras do gecircnero Leopardus demonstra o papel centraldos museus em estudos taxonocircmicos As coleccedilotildees satildeo a = Museu de Zoologia da USP Satildeo Paulo b = Museu Nacional UFRJ Rio de

Janeiro c = Museu Paraense Emiacutelio Goeldi Beleacutem d = Museu de Histoacuteria Natural ldquoCapatildeo da Imbuiardquo Curitiba e = Museu de BiologiaMello-Leitatildeo Santa Teresa f = Museo Nacional de Histoacuteria Natural e Antropologiacutea Montevideacuteu g = Museo Argentino de CienciasNaturales ldquoBernardino Rivadaviardquo Buenos Aires h = American Museum of Natural History Nova York As diversas coleccedilotildees contribuemcom amostras distintas e complementares Notar que as coleccedilotildees mais importantes contribuem com o maior nuacutemero amostral e a maiorrepresentatividade geograacutefica

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155110

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A Fig 1 feita a partir de dados obtidos de doNascimento (2010) mostra o papel coletivo que osmuseus tecircm na pesquisa de biodiversidade A figuramostra a distribuiccedilatildeo de representantes do gecircnero Le-opardus que foi inferida a partir da combinaccedilatildeo de to-das as amostras estudadas em oito museus distintos eao seu lado estaacute a contribuiccedilatildeo de cada um dos museusindividualmente em termos das amostras disponiacuteveisEacute possiacutevel perceber que mesmo o melhor de todosos museus em termos de representaccedilatildeo geograacutefica o American Museum of Natural History de Nova Yorkisoladamente natildeo forneceria dados suficientes para acompreensatildeo da distribuiccedilatildeo deste taacutexon Aleacutem dissovecirc-se claramente que diferentes museus tecircm diferentesecircnfases determinadas pela histoacuteria de seu crescimen-

to de acervo e na representatividade das amostras queabrigam Museus como o Bernardino Rivadavia da Argentina o de Montevideacuteu e os de Satildeo Paulo e Riode Janeiro satildeo coleccedilotildees nacionais o Museu Goeldi eacuteuma coleccedilatildeo basicamente Amazocircnica enquanto osdo Espiacuterito Santo e Paranaacute satildeo estaduais na amostra-gem Mas reiterando o que foi dito no iniacutecio destaseccedilatildeo os museus coletivamente exercem um papelque nenhum laboratoacuterio departamental universitaacute-rio pode realizar Os museus tornam disponiacuteveis seusacervos aos pesquisadores que entatildeo publicam suas

pesquisas Os museus natildeo satildeo na praacutetica ldquonacionaisrdquoou ldquoestaduaisrdquo e tecircm um papel central no estudo deproblemas sistemaacuteticos evolutivos biogeograacuteficos ede conservaccedilatildeo que extrapola as fronteiras da unida-de poliacutetica onde se localizam Possuem uma funccedilatildeo deEstado onde o Paiacutes ou EstadoProviacutencia sustentam amanutenccedilatildeo de acervos equipamentos e pessoal paraque a comunidade cientiacutefica mundial possa estudaros espeacutecimes neles abrigados O material depositadonas coleccedilotildees dos museus deve ser encarado como pa-

trimocircnio material da humanidade museus abrigam otestemunho mais evidente da nossa biodiversidade eo vem fazendo haacute seacuteculos

Disso deriva uma importante consequecircncia parao pesquisador que assume a curadoria de uma coleccedilatildeode museu a coleccedilatildeo natildeo eacute o seu laboratoacuterio pessoal Acoleccedilatildeo pertence ao Estado e as funccedilotildees do curadorde uma coleccedilatildeo incluem a) a manutenccedilatildeo da coleccedilatildeocomo um acervo aberto a todos os pesquisadores habi-litados (geralmente pesquisadores de outros museusuniversidades e seus alunos) b) o cuidado para que

os exemplares da coleccedilatildeo estejam o mais corretamen-te identificados quanto possiacutevel bem como com amenor quantidade de erros (que aleacutem dos erros deidentificaccedilatildeo incluem os derivados do uso indevidoe descuido) c) as decisotildees referentes a empreacutestimostrocas e doaccedilotildees d) decisotildees sobre a ampliaccedilatildeo da

amostragem d) decisotildees sobre pesquisa destrutivaEssas decisotildees satildeo feitas em prol da contiacutenua boa ma-nutenccedilatildeo da melhoria do acervo e tambeacutem visando aprestaccedilatildeo de um serviccedilo qualificado agrave comunidade depesquisadores que satildeo usuaacuterios das coleccedilotildees

Esse perfil de curador eacute parcialmente incompatiacute-vel com aquele de um professor universitaacuterio com atu-accedilatildeo em um departamento Este uacuteltimo eacute o gerente deseu proacuteprio laboratoacuterio e atua principalmente no ensi-no e na pesquisa Todos os recursos de seu laboratoacuterioembora possam ser compartilhados com alguns colegase colaboradores devem ter seu uso otimizado para jus-tificar o investimento que as agecircncias de fomento fize-ram O pesquisador de um departamento universitaacuterionatildeo tem uma parcela importante de suas atividades

voltada para os interesses dos demais pesquisadores desua aacuterea de interesse Enquanto para um departamentouniversitaacuterio o melhor eacute contratar um profissional quese dedique integralmente agrave pesquisa e ao ensino para osmuseus eacute importante contratar um pesquisador que te-nha capacidade de se dedicar a um bem puacuteblico o acer-vo sem retorno para a proacutepria carreira Isso cria umaassimetria profissional resultando em pesquisadores demuseus que se dedicam mais agrave pesquisa e ao ensino emenos agrave curadoria (atuando de fato como docentesde departamentos universitaacuterios) ou entatildeo curadores

cujas carreiras satildeo menos valorizadas pela academia porefetuarem menos pesquisa nos padrotildees vigentes

Um excelente professor e pesquisador natildeo eacute ne-cessariamente a melhor contrataccedilatildeo para um Museude Histoacuteria Natural Ainda assim como os concur-sos de ingresso na carreira satildeo os mesmos em toda auniversidade por forccedila de lei e estatuto curadores satildeoselecionados pelas aulas que ministram entre outrosatributos mas natildeo por sua capacidade de dedicaccedilatildeo agravecuradoria Natildeo haacute um padratildeo acadecircmico definido para

avaliar a qualidade da curadoria realizada em coleccedilotildeesde histoacuteria natural Um reflexo disso eacute o fato de quemuitos curadores de museus ao escreverem relatoacuteriosde atividades descrevem a curadoria que realizam nacategoria de ldquoextensatildeordquo que eacute certamente improacutepria

Mas as diferenccedilas continuam no niacutevel institu-cional um museu necessita de numeroso corpo teacutec-nico especializado em diferentes funccedilotildees e todas elascom pouca ou nenhuma interface com o ensino oupesquisa de um laboratoacuterio As coleccedilotildees satildeo consti-tuiacutedas de espeacutecimes peccedilas anatocircmicas amostras de

tecidos para estudos moleculares e estruturas produ-zidas por animais como ninhos e tocas Esse mate-rial eacute obtido atraveacutes de esforccedilo dos pesquisadores quetrabalham como curadores de coleccedilotildees e numerososoutros profissionais e amadores Eacute comum encontrarespeacutecimes nas coleccedilotildees tatildeo velhos quanto as proacuteprias

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instituiccedilotildees aleacutem de material receacutem-colecionadoCada espeacutecime (aqui entendido como um indiviacuteduoou peccedila individual) ou lote (um conjunto de espeacuteci-mes entre dois a milhares de indiviacuteduos) pode chegardo campo jaacute preparado para ser incluiacutedo na coleccedilatildeoou entatildeo sofrer tratamento adicional em laboratoacuteriopara que sua inclusatildeo seja possiacutevel por exemplo nocaso de muitos tipos de insetos os espeacutecimes podemser individualmente etiquetados e alfinetados mamiacute-feros podem ter preparados seus esqueletos e peles eassim por diante Na maioria das coleccedilotildees em que eacuteconveniente separar indiviacuteduos e peccedilas anatocircmicascada um dos espeacutecimes eacute etiquetado ou rotulado edeve receber um nuacutemero de tombo uacutenico A identifi-caccedilatildeo de espeacutecimes e lotes eacute feita primariamente pelos

curadores das coleccedilotildees mas natildeo eacute infrequente que omaterial venha jaacute identificado do campo no caso deter sido coletado por especialistas Mas a identificaccedilatildeoque eventualmente chega ao evento do tombamento einclusatildeo do material na coleccedilatildeo pode ser alterada maistarde quando examinada por um profissional queesteja realizando uma revisatildeo taxonocircmica do grupoCuradores e teacutecnicos trabalham nessas vaacuterias etapasdo processamento dos espeacutecimes O pessoal teacutecnicotrabalha ainda na preparaccedilatildeo de lotes para envio pelocorreio no caso dos empreacutestimos e permutas bem

como no retorno e incorporaccedilatildeo desse material Jaacute no caso dos departamentos universitaacuterios

o pessoal teacutecnico trabalha assessorando a pesquisados docentes e tambeacutem nas aulas teoacutericas e praacuteticasComo as coleccedilotildees de pesquisa departamentais natildeo satildeovisitadas com grande frequecircncia por outros pesquisa-dores natildeo haacute sobrecarga do trabalho dos teacutecnicos quepodem entatildeo dedicar-se agraves missotildees principais de suainstituiccedilatildeo o ensino e a pesquisa

Mas a diferenccedila entre os tipos de instituiccedilotildees

natildeo cessa aiacute e sim se estende para o problema damanutenccedilatildeo por tempo indeterminado dos acervosEnquanto um museu tem como missatildeo manter essascoleccedilotildees mesmo na ausecircncia de um curador especia-lizado em um determinado grupo os demais especia-listas que ali trabalham bem como o pessoal teacutecnicofornecem o cuidado necessaacuterio para a sobrevivecircnciado acervo Em um departamento universitaacuterio o inte-resse por um acervo amealhado por um docente podeperfeitamente cessar apoacutes o teacutermino do viacutenculo pro-fissional desse docente

As consequecircncias das diferenccedilas

A principal consequecircncia do que foi exposto aci-ma eacute que um museu natildeo pode ser administrado como

um departamento universitaacuterio nem seus profissio-nais podem ser avaliados e mesmo contratados utili-zando-se os mesmos criteacuterios que aqueles empregadospara seus colegas dos departamentos

Eacute de se esperar que a carreira de um curador emmeacutedia envolva menos ensino que a de um docentede departamento universitaacuterio Tambeacutem eacute altamentedesejaacutevel que os curadores sejam taxonomistas profis-sionais com abordagem organiacutesmica natildeo apenas mo-lecular A razatildeo para tal eacute a necessidade de familiarida-de com os taacutexons que a coleccedilatildeo abriga e a capacidadecriacutetica para avaliar a literatura taxonocircmica produzidapelos pesquisadores de todo o mundo Em um de-partamento universitaacuterio um pesquisador pode ndash emuitas vezes eacute ateacute desejaacutevel ndash ampliar seus interesses

a ponto de se tornar um profissional muito diferentedaquele que ingressou na carreira por exemplo umdocente que comeccedila a carreira como sistemata podese tornar um especialista em macroecologia ou bioge-ografia ou mesmo deixar a sistemaacutetica morfoloacutegica epassar a utilizar principalmente meacutetodos molecularesEsse tipo de percurso profissional eacute bem menos de-sejaacutevel para um curador de coleccedilotildees em museus Seufoco sempre deveraacute ser a coleccedilatildeo e a pesquisa baseadaem coleccedilotildees e seu principal esforccedilo o de servir agrave co-munidade de pesquisadores devotados ao estudo da

biodiversidade atraveacutes do trabalho que dedica agrave cole-ccedilatildeo sob seus cuidados

A compreensatildeo do papel diferenciado dos mu-seus de histoacuteria natural e do papel que os curadoresque neles trabalham devem ter eacute muito incipiente in-felizmente mesmo entre profissionais dos museus Ahistoacuteria recente dos museus brasileiros apresenta exem-plos pouco edificantes de curadores que impediram otrabalho de concorrentes e outros profissionais por ra-zotildees obscuras e assim fugiram da missatildeo essencial de

manter acervos abertos agrave pesquisa Esse tipo de atituderesultou em um destrutivo antagonismo entre pesqui-sadores Se os museus realizarem bem suas funccedilotildees pri-mordiais e permitirem amplo acesso aos acervos esseantagonismo tende a desaparecer Aleacutem disso eacute im-portante que os gestores e docentes em departamentosuniversitaacuterios percebam que a criaccedilatildeo de um museu dehistoacuteria natural natildeo significa somente a junccedilatildeo de umconjunto de coleccedilotildees zooloacutegicas sob o nome de ldquomu-seurdquo Um museu deve ser compreendido sob uma pers-pectiva diferente incorporando toda uma estrutura

diferenciada de curadoria teacutecnica seccedilotildees cientiacuteficas eexpositivas que possuem impactos importantes no or-ganograma e no orccedilamento das instituiccedilotildees A criaccedilatildeode um museu eacute uma decisatildeo em uacuteltima instacircncia doEstado pois realizaraacute funccedilatildeo de Estado como fiel de-positaacuteria da fauna que eacute um bem difuso da sociedade

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155112

7232019 Texto 10_Reflexotildees Sobre Coleccedilotildees Zooloacutegicas Sua Curadoria e a Inserccedilatildeo Dos Museus Na Estrutura Universitaacuteriahellip

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Acreditamos que as universidades que possuemmuseus de histoacuteria natural precisam ainda compreen-der mais profundamente a extensatildeo de suas responsa-bilidades relativas aos acervos de que dispotildeem assimcomo os Estados quando satildeo esses os principais man-tenedores O Brasil no momento em que escrevemoseste trabalho vem adotando uma poliacutetica completa-mente uniforme para todo o corpo de pesquisadoresque emprega todos satildeo julgados pelos mesmos criteacute-rios de produtividade sem qualquer distinccedilatildeo para afunccedilatildeo curatorial Em nossa opiniatildeo esse procedimen-to eacute deleteacuterio para os museus de histoacuteria natural bemcomo para o avanccedilo do estudo da biodiversidade emnosso paiacutes

AGRADECIMENTOS

Agradecemos imensamente ao Dr Joseacute Lima deFigueiredo a quem este ensaio eacute dedicado Muito doque aqui estaacute eacute derivado de numerosas discussotildees arespeito do papel da curadoria na universidade e dotrabalho do curador Essas foram sempre preocupa-ccedilotildees centrais de toda a sua vida profissional

REFEREcircNCIAS

G983137983157983138983141983154983156 P P983137983152983141983155 M 983078 P983141983156983141983154983155983151983150 AT 2006 Natural historycollections and the conservation of poorly known taxaecological niche modeling in Central African rainforest genets

(Genetta spp) Biological Conservation 130 106-117H983141983154983145983150983143983149983137983150 N 2013 Sciences of Antiquity Oxford OxfordUniversity Press

J983137983154983140983145983150983141 JAS 983078 S983152983137983154983161 E EC (E983140983155) 1996 Cultures of NaturalHistory Cambridge Cambridge University Press

L983137983150983141 MA 1996 Roles of Natural History collections Annals ofthe Missouri Botanical Garden 83(4) 536-545

M983145983148983148983141983154 B C983151983150983159983137983161 W R983141983137983140983145983150983143 RP W983141983149983149983141983154 C W983145983148983140983156 DK983148983141983145983149983137983150 D M983151983150983142983151983154983156 S R983137983138983145983150983151983159983145983156983162 A A983154983149983155983156983154983151983150983143 B983078 H983157983156983139983144983145983150983155 M 2004 Evaluating the conservation missionof Zoos Aquariums Botanical Gardens and Natural HistoryMuseums Conservation Biology 18(1) 86-93

N983137983155983139983145983149983141983150983156983151 FO 2010 Revisatildeo taxonocircmica do gecircnero Leopardus Gray 1842 (Carnivora Felidae) (Tese de doutorado) SatildeoPaulo Departamento de Zoologia Instituto de Biociecircncias daUSP

S983144983137983142983142983141983154 HB F983145983155983144983141983154 RN 983078 D983137983158983145983140983155983151983150 C 1998 The role ofnatural history collections in documenting species declinesTrends in Ecology and Evolution 13(1) 27-30

S983157983137983154983141983162 AV 983078 T983155983157983156983155983157983145 ND 2004 The value of museumcollections for research and society Bioscience 54(1) 66-74

T983137983140983140983141983145 VA M983137983154983156983145983150983155 UR 983140983141 V983145983158983151 M 983078 P983141983154983139983141983153983157983145983148983148983151 AR1999 O acervo das coleccedilotildees zooloacutegicas do Estado de Satildeo PauloIn Wey de Brito MC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidadedo Estado de Satildeo Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 53-67

983140983141 V983145983158983151 M 1999 Museus e coleccedilotildees zooloacutegicas In Wey de BritoMC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidade do Estado de Satildeo

Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 49-51 W983145983150983147983141983154 K 2004 Natural History Museums in a postbiodiversity

era Bioscience 54(5) 455-459

Aceito em 14012014Impresso em 30092014

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 113

Page 7: Texto 10_Reflexões Sobre Coleções Zoológicas, Sua Curadoria e a Inserção Dos Museus Na Estrutura Universitária Brasileira

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A Fig 1 feita a partir de dados obtidos de doNascimento (2010) mostra o papel coletivo que osmuseus tecircm na pesquisa de biodiversidade A figuramostra a distribuiccedilatildeo de representantes do gecircnero Le-opardus que foi inferida a partir da combinaccedilatildeo de to-das as amostras estudadas em oito museus distintos eao seu lado estaacute a contribuiccedilatildeo de cada um dos museusindividualmente em termos das amostras disponiacuteveisEacute possiacutevel perceber que mesmo o melhor de todosos museus em termos de representaccedilatildeo geograacutefica o American Museum of Natural History de Nova Yorkisoladamente natildeo forneceria dados suficientes para acompreensatildeo da distribuiccedilatildeo deste taacutexon Aleacutem dissovecirc-se claramente que diferentes museus tecircm diferentesecircnfases determinadas pela histoacuteria de seu crescimen-

to de acervo e na representatividade das amostras queabrigam Museus como o Bernardino Rivadavia da Argentina o de Montevideacuteu e os de Satildeo Paulo e Riode Janeiro satildeo coleccedilotildees nacionais o Museu Goeldi eacuteuma coleccedilatildeo basicamente Amazocircnica enquanto osdo Espiacuterito Santo e Paranaacute satildeo estaduais na amostra-gem Mas reiterando o que foi dito no iniacutecio destaseccedilatildeo os museus coletivamente exercem um papelque nenhum laboratoacuterio departamental universitaacute-rio pode realizar Os museus tornam disponiacuteveis seusacervos aos pesquisadores que entatildeo publicam suas

pesquisas Os museus natildeo satildeo na praacutetica ldquonacionaisrdquoou ldquoestaduaisrdquo e tecircm um papel central no estudo deproblemas sistemaacuteticos evolutivos biogeograacuteficos ede conservaccedilatildeo que extrapola as fronteiras da unida-de poliacutetica onde se localizam Possuem uma funccedilatildeo deEstado onde o Paiacutes ou EstadoProviacutencia sustentam amanutenccedilatildeo de acervos equipamentos e pessoal paraque a comunidade cientiacutefica mundial possa estudaros espeacutecimes neles abrigados O material depositadonas coleccedilotildees dos museus deve ser encarado como pa-

trimocircnio material da humanidade museus abrigam otestemunho mais evidente da nossa biodiversidade eo vem fazendo haacute seacuteculos

Disso deriva uma importante consequecircncia parao pesquisador que assume a curadoria de uma coleccedilatildeode museu a coleccedilatildeo natildeo eacute o seu laboratoacuterio pessoal Acoleccedilatildeo pertence ao Estado e as funccedilotildees do curadorde uma coleccedilatildeo incluem a) a manutenccedilatildeo da coleccedilatildeocomo um acervo aberto a todos os pesquisadores habi-litados (geralmente pesquisadores de outros museusuniversidades e seus alunos) b) o cuidado para que

os exemplares da coleccedilatildeo estejam o mais corretamen-te identificados quanto possiacutevel bem como com amenor quantidade de erros (que aleacutem dos erros deidentificaccedilatildeo incluem os derivados do uso indevidoe descuido) c) as decisotildees referentes a empreacutestimostrocas e doaccedilotildees d) decisotildees sobre a ampliaccedilatildeo da

amostragem d) decisotildees sobre pesquisa destrutivaEssas decisotildees satildeo feitas em prol da contiacutenua boa ma-nutenccedilatildeo da melhoria do acervo e tambeacutem visando aprestaccedilatildeo de um serviccedilo qualificado agrave comunidade depesquisadores que satildeo usuaacuterios das coleccedilotildees

Esse perfil de curador eacute parcialmente incompatiacute-vel com aquele de um professor universitaacuterio com atu-accedilatildeo em um departamento Este uacuteltimo eacute o gerente deseu proacuteprio laboratoacuterio e atua principalmente no ensi-no e na pesquisa Todos os recursos de seu laboratoacuterioembora possam ser compartilhados com alguns colegase colaboradores devem ter seu uso otimizado para jus-tificar o investimento que as agecircncias de fomento fize-ram O pesquisador de um departamento universitaacuterionatildeo tem uma parcela importante de suas atividades

voltada para os interesses dos demais pesquisadores desua aacuterea de interesse Enquanto para um departamentouniversitaacuterio o melhor eacute contratar um profissional quese dedique integralmente agrave pesquisa e ao ensino para osmuseus eacute importante contratar um pesquisador que te-nha capacidade de se dedicar a um bem puacuteblico o acer-vo sem retorno para a proacutepria carreira Isso cria umaassimetria profissional resultando em pesquisadores demuseus que se dedicam mais agrave pesquisa e ao ensino emenos agrave curadoria (atuando de fato como docentesde departamentos universitaacuterios) ou entatildeo curadores

cujas carreiras satildeo menos valorizadas pela academia porefetuarem menos pesquisa nos padrotildees vigentes

Um excelente professor e pesquisador natildeo eacute ne-cessariamente a melhor contrataccedilatildeo para um Museude Histoacuteria Natural Ainda assim como os concur-sos de ingresso na carreira satildeo os mesmos em toda auniversidade por forccedila de lei e estatuto curadores satildeoselecionados pelas aulas que ministram entre outrosatributos mas natildeo por sua capacidade de dedicaccedilatildeo agravecuradoria Natildeo haacute um padratildeo acadecircmico definido para

avaliar a qualidade da curadoria realizada em coleccedilotildeesde histoacuteria natural Um reflexo disso eacute o fato de quemuitos curadores de museus ao escreverem relatoacuteriosde atividades descrevem a curadoria que realizam nacategoria de ldquoextensatildeordquo que eacute certamente improacutepria

Mas as diferenccedilas continuam no niacutevel institu-cional um museu necessita de numeroso corpo teacutec-nico especializado em diferentes funccedilotildees e todas elascom pouca ou nenhuma interface com o ensino oupesquisa de um laboratoacuterio As coleccedilotildees satildeo consti-tuiacutedas de espeacutecimes peccedilas anatocircmicas amostras de

tecidos para estudos moleculares e estruturas produ-zidas por animais como ninhos e tocas Esse mate-rial eacute obtido atraveacutes de esforccedilo dos pesquisadores quetrabalham como curadores de coleccedilotildees e numerososoutros profissionais e amadores Eacute comum encontrarespeacutecimes nas coleccedilotildees tatildeo velhos quanto as proacuteprias

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 111

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instituiccedilotildees aleacutem de material receacutem-colecionadoCada espeacutecime (aqui entendido como um indiviacuteduoou peccedila individual) ou lote (um conjunto de espeacuteci-mes entre dois a milhares de indiviacuteduos) pode chegardo campo jaacute preparado para ser incluiacutedo na coleccedilatildeoou entatildeo sofrer tratamento adicional em laboratoacuteriopara que sua inclusatildeo seja possiacutevel por exemplo nocaso de muitos tipos de insetos os espeacutecimes podemser individualmente etiquetados e alfinetados mamiacute-feros podem ter preparados seus esqueletos e peles eassim por diante Na maioria das coleccedilotildees em que eacuteconveniente separar indiviacuteduos e peccedilas anatocircmicascada um dos espeacutecimes eacute etiquetado ou rotulado edeve receber um nuacutemero de tombo uacutenico A identifi-caccedilatildeo de espeacutecimes e lotes eacute feita primariamente pelos

curadores das coleccedilotildees mas natildeo eacute infrequente que omaterial venha jaacute identificado do campo no caso deter sido coletado por especialistas Mas a identificaccedilatildeoque eventualmente chega ao evento do tombamento einclusatildeo do material na coleccedilatildeo pode ser alterada maistarde quando examinada por um profissional queesteja realizando uma revisatildeo taxonocircmica do grupoCuradores e teacutecnicos trabalham nessas vaacuterias etapasdo processamento dos espeacutecimes O pessoal teacutecnicotrabalha ainda na preparaccedilatildeo de lotes para envio pelocorreio no caso dos empreacutestimos e permutas bem

como no retorno e incorporaccedilatildeo desse material Jaacute no caso dos departamentos universitaacuterios

o pessoal teacutecnico trabalha assessorando a pesquisados docentes e tambeacutem nas aulas teoacutericas e praacuteticasComo as coleccedilotildees de pesquisa departamentais natildeo satildeovisitadas com grande frequecircncia por outros pesquisa-dores natildeo haacute sobrecarga do trabalho dos teacutecnicos quepodem entatildeo dedicar-se agraves missotildees principais de suainstituiccedilatildeo o ensino e a pesquisa

Mas a diferenccedila entre os tipos de instituiccedilotildees

natildeo cessa aiacute e sim se estende para o problema damanutenccedilatildeo por tempo indeterminado dos acervosEnquanto um museu tem como missatildeo manter essascoleccedilotildees mesmo na ausecircncia de um curador especia-lizado em um determinado grupo os demais especia-listas que ali trabalham bem como o pessoal teacutecnicofornecem o cuidado necessaacuterio para a sobrevivecircnciado acervo Em um departamento universitaacuterio o inte-resse por um acervo amealhado por um docente podeperfeitamente cessar apoacutes o teacutermino do viacutenculo pro-fissional desse docente

As consequecircncias das diferenccedilas

A principal consequecircncia do que foi exposto aci-ma eacute que um museu natildeo pode ser administrado como

um departamento universitaacuterio nem seus profissio-nais podem ser avaliados e mesmo contratados utili-zando-se os mesmos criteacuterios que aqueles empregadospara seus colegas dos departamentos

Eacute de se esperar que a carreira de um curador emmeacutedia envolva menos ensino que a de um docentede departamento universitaacuterio Tambeacutem eacute altamentedesejaacutevel que os curadores sejam taxonomistas profis-sionais com abordagem organiacutesmica natildeo apenas mo-lecular A razatildeo para tal eacute a necessidade de familiarida-de com os taacutexons que a coleccedilatildeo abriga e a capacidadecriacutetica para avaliar a literatura taxonocircmica produzidapelos pesquisadores de todo o mundo Em um de-partamento universitaacuterio um pesquisador pode ndash emuitas vezes eacute ateacute desejaacutevel ndash ampliar seus interesses

a ponto de se tornar um profissional muito diferentedaquele que ingressou na carreira por exemplo umdocente que comeccedila a carreira como sistemata podese tornar um especialista em macroecologia ou bioge-ografia ou mesmo deixar a sistemaacutetica morfoloacutegica epassar a utilizar principalmente meacutetodos molecularesEsse tipo de percurso profissional eacute bem menos de-sejaacutevel para um curador de coleccedilotildees em museus Seufoco sempre deveraacute ser a coleccedilatildeo e a pesquisa baseadaem coleccedilotildees e seu principal esforccedilo o de servir agrave co-munidade de pesquisadores devotados ao estudo da

biodiversidade atraveacutes do trabalho que dedica agrave cole-ccedilatildeo sob seus cuidados

A compreensatildeo do papel diferenciado dos mu-seus de histoacuteria natural e do papel que os curadoresque neles trabalham devem ter eacute muito incipiente in-felizmente mesmo entre profissionais dos museus Ahistoacuteria recente dos museus brasileiros apresenta exem-plos pouco edificantes de curadores que impediram otrabalho de concorrentes e outros profissionais por ra-zotildees obscuras e assim fugiram da missatildeo essencial de

manter acervos abertos agrave pesquisa Esse tipo de atituderesultou em um destrutivo antagonismo entre pesqui-sadores Se os museus realizarem bem suas funccedilotildees pri-mordiais e permitirem amplo acesso aos acervos esseantagonismo tende a desaparecer Aleacutem disso eacute im-portante que os gestores e docentes em departamentosuniversitaacuterios percebam que a criaccedilatildeo de um museu dehistoacuteria natural natildeo significa somente a junccedilatildeo de umconjunto de coleccedilotildees zooloacutegicas sob o nome de ldquomu-seurdquo Um museu deve ser compreendido sob uma pers-pectiva diferente incorporando toda uma estrutura

diferenciada de curadoria teacutecnica seccedilotildees cientiacuteficas eexpositivas que possuem impactos importantes no or-ganograma e no orccedilamento das instituiccedilotildees A criaccedilatildeode um museu eacute uma decisatildeo em uacuteltima instacircncia doEstado pois realizaraacute funccedilatildeo de Estado como fiel de-positaacuteria da fauna que eacute um bem difuso da sociedade

983140983141 V983145983158983151 M ET AL C983157983154983137983140983151983154983145983137 983140983141 C983151983148983141983271983285983141983155 Z983151983151983148983283983143983145983139983137983155112

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Acreditamos que as universidades que possuemmuseus de histoacuteria natural precisam ainda compreen-der mais profundamente a extensatildeo de suas responsa-bilidades relativas aos acervos de que dispotildeem assimcomo os Estados quando satildeo esses os principais man-tenedores O Brasil no momento em que escrevemoseste trabalho vem adotando uma poliacutetica completa-mente uniforme para todo o corpo de pesquisadoresque emprega todos satildeo julgados pelos mesmos criteacute-rios de produtividade sem qualquer distinccedilatildeo para afunccedilatildeo curatorial Em nossa opiniatildeo esse procedimen-to eacute deleteacuterio para os museus de histoacuteria natural bemcomo para o avanccedilo do estudo da biodiversidade emnosso paiacutes

AGRADECIMENTOS

Agradecemos imensamente ao Dr Joseacute Lima deFigueiredo a quem este ensaio eacute dedicado Muito doque aqui estaacute eacute derivado de numerosas discussotildees arespeito do papel da curadoria na universidade e dotrabalho do curador Essas foram sempre preocupa-ccedilotildees centrais de toda a sua vida profissional

REFEREcircNCIAS

G983137983157983138983141983154983156 P P983137983152983141983155 M 983078 P983141983156983141983154983155983151983150 AT 2006 Natural historycollections and the conservation of poorly known taxaecological niche modeling in Central African rainforest genets

(Genetta spp) Biological Conservation 130 106-117H983141983154983145983150983143983149983137983150 N 2013 Sciences of Antiquity Oxford OxfordUniversity Press

J983137983154983140983145983150983141 JAS 983078 S983152983137983154983161 E EC (E983140983155) 1996 Cultures of NaturalHistory Cambridge Cambridge University Press

L983137983150983141 MA 1996 Roles of Natural History collections Annals ofthe Missouri Botanical Garden 83(4) 536-545

M983145983148983148983141983154 B C983151983150983159983137983161 W R983141983137983140983145983150983143 RP W983141983149983149983141983154 C W983145983148983140983156 DK983148983141983145983149983137983150 D M983151983150983142983151983154983156 S R983137983138983145983150983151983159983145983156983162 A A983154983149983155983156983154983151983150983143 B983078 H983157983156983139983144983145983150983155 M 2004 Evaluating the conservation missionof Zoos Aquariums Botanical Gardens and Natural HistoryMuseums Conservation Biology 18(1) 86-93

N983137983155983139983145983149983141983150983156983151 FO 2010 Revisatildeo taxonocircmica do gecircnero Leopardus Gray 1842 (Carnivora Felidae) (Tese de doutorado) SatildeoPaulo Departamento de Zoologia Instituto de Biociecircncias daUSP

S983144983137983142983142983141983154 HB F983145983155983144983141983154 RN 983078 D983137983158983145983140983155983151983150 C 1998 The role ofnatural history collections in documenting species declinesTrends in Ecology and Evolution 13(1) 27-30

S983157983137983154983141983162 AV 983078 T983155983157983156983155983157983145 ND 2004 The value of museumcollections for research and society Bioscience 54(1) 66-74

T983137983140983140983141983145 VA M983137983154983156983145983150983155 UR 983140983141 V983145983158983151 M 983078 P983141983154983139983141983153983157983145983148983148983151 AR1999 O acervo das coleccedilotildees zooloacutegicas do Estado de Satildeo PauloIn Wey de Brito MC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidadedo Estado de Satildeo Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 53-67

983140983141 V983145983158983151 M 1999 Museus e coleccedilotildees zooloacutegicas In Wey de BritoMC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidade do Estado de Satildeo

Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 49-51 W983145983150983147983141983154 K 2004 Natural History Museums in a postbiodiversity

era Bioscience 54(5) 455-459

Aceito em 14012014Impresso em 30092014

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 113

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instituiccedilotildees aleacutem de material receacutem-colecionadoCada espeacutecime (aqui entendido como um indiviacuteduoou peccedila individual) ou lote (um conjunto de espeacuteci-mes entre dois a milhares de indiviacuteduos) pode chegardo campo jaacute preparado para ser incluiacutedo na coleccedilatildeoou entatildeo sofrer tratamento adicional em laboratoacuteriopara que sua inclusatildeo seja possiacutevel por exemplo nocaso de muitos tipos de insetos os espeacutecimes podemser individualmente etiquetados e alfinetados mamiacute-feros podem ter preparados seus esqueletos e peles eassim por diante Na maioria das coleccedilotildees em que eacuteconveniente separar indiviacuteduos e peccedilas anatocircmicascada um dos espeacutecimes eacute etiquetado ou rotulado edeve receber um nuacutemero de tombo uacutenico A identifi-caccedilatildeo de espeacutecimes e lotes eacute feita primariamente pelos

curadores das coleccedilotildees mas natildeo eacute infrequente que omaterial venha jaacute identificado do campo no caso deter sido coletado por especialistas Mas a identificaccedilatildeoque eventualmente chega ao evento do tombamento einclusatildeo do material na coleccedilatildeo pode ser alterada maistarde quando examinada por um profissional queesteja realizando uma revisatildeo taxonocircmica do grupoCuradores e teacutecnicos trabalham nessas vaacuterias etapasdo processamento dos espeacutecimes O pessoal teacutecnicotrabalha ainda na preparaccedilatildeo de lotes para envio pelocorreio no caso dos empreacutestimos e permutas bem

como no retorno e incorporaccedilatildeo desse material Jaacute no caso dos departamentos universitaacuterios

o pessoal teacutecnico trabalha assessorando a pesquisados docentes e tambeacutem nas aulas teoacutericas e praacuteticasComo as coleccedilotildees de pesquisa departamentais natildeo satildeovisitadas com grande frequecircncia por outros pesquisa-dores natildeo haacute sobrecarga do trabalho dos teacutecnicos quepodem entatildeo dedicar-se agraves missotildees principais de suainstituiccedilatildeo o ensino e a pesquisa

Mas a diferenccedila entre os tipos de instituiccedilotildees

natildeo cessa aiacute e sim se estende para o problema damanutenccedilatildeo por tempo indeterminado dos acervosEnquanto um museu tem como missatildeo manter essascoleccedilotildees mesmo na ausecircncia de um curador especia-lizado em um determinado grupo os demais especia-listas que ali trabalham bem como o pessoal teacutecnicofornecem o cuidado necessaacuterio para a sobrevivecircnciado acervo Em um departamento universitaacuterio o inte-resse por um acervo amealhado por um docente podeperfeitamente cessar apoacutes o teacutermino do viacutenculo pro-fissional desse docente

As consequecircncias das diferenccedilas

A principal consequecircncia do que foi exposto aci-ma eacute que um museu natildeo pode ser administrado como

um departamento universitaacuterio nem seus profissio-nais podem ser avaliados e mesmo contratados utili-zando-se os mesmos criteacuterios que aqueles empregadospara seus colegas dos departamentos

Eacute de se esperar que a carreira de um curador emmeacutedia envolva menos ensino que a de um docentede departamento universitaacuterio Tambeacutem eacute altamentedesejaacutevel que os curadores sejam taxonomistas profis-sionais com abordagem organiacutesmica natildeo apenas mo-lecular A razatildeo para tal eacute a necessidade de familiarida-de com os taacutexons que a coleccedilatildeo abriga e a capacidadecriacutetica para avaliar a literatura taxonocircmica produzidapelos pesquisadores de todo o mundo Em um de-partamento universitaacuterio um pesquisador pode ndash emuitas vezes eacute ateacute desejaacutevel ndash ampliar seus interesses

a ponto de se tornar um profissional muito diferentedaquele que ingressou na carreira por exemplo umdocente que comeccedila a carreira como sistemata podese tornar um especialista em macroecologia ou bioge-ografia ou mesmo deixar a sistemaacutetica morfoloacutegica epassar a utilizar principalmente meacutetodos molecularesEsse tipo de percurso profissional eacute bem menos de-sejaacutevel para um curador de coleccedilotildees em museus Seufoco sempre deveraacute ser a coleccedilatildeo e a pesquisa baseadaem coleccedilotildees e seu principal esforccedilo o de servir agrave co-munidade de pesquisadores devotados ao estudo da

biodiversidade atraveacutes do trabalho que dedica agrave cole-ccedilatildeo sob seus cuidados

A compreensatildeo do papel diferenciado dos mu-seus de histoacuteria natural e do papel que os curadoresque neles trabalham devem ter eacute muito incipiente in-felizmente mesmo entre profissionais dos museus Ahistoacuteria recente dos museus brasileiros apresenta exem-plos pouco edificantes de curadores que impediram otrabalho de concorrentes e outros profissionais por ra-zotildees obscuras e assim fugiram da missatildeo essencial de

manter acervos abertos agrave pesquisa Esse tipo de atituderesultou em um destrutivo antagonismo entre pesqui-sadores Se os museus realizarem bem suas funccedilotildees pri-mordiais e permitirem amplo acesso aos acervos esseantagonismo tende a desaparecer Aleacutem disso eacute im-portante que os gestores e docentes em departamentosuniversitaacuterios percebam que a criaccedilatildeo de um museu dehistoacuteria natural natildeo significa somente a junccedilatildeo de umconjunto de coleccedilotildees zooloacutegicas sob o nome de ldquomu-seurdquo Um museu deve ser compreendido sob uma pers-pectiva diferente incorporando toda uma estrutura

diferenciada de curadoria teacutecnica seccedilotildees cientiacuteficas eexpositivas que possuem impactos importantes no or-ganograma e no orccedilamento das instituiccedilotildees A criaccedilatildeode um museu eacute uma decisatildeo em uacuteltima instacircncia doEstado pois realizaraacute funccedilatildeo de Estado como fiel de-positaacuteria da fauna que eacute um bem difuso da sociedade

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Acreditamos que as universidades que possuemmuseus de histoacuteria natural precisam ainda compreen-der mais profundamente a extensatildeo de suas responsa-bilidades relativas aos acervos de que dispotildeem assimcomo os Estados quando satildeo esses os principais man-tenedores O Brasil no momento em que escrevemoseste trabalho vem adotando uma poliacutetica completa-mente uniforme para todo o corpo de pesquisadoresque emprega todos satildeo julgados pelos mesmos criteacute-rios de produtividade sem qualquer distinccedilatildeo para afunccedilatildeo curatorial Em nossa opiniatildeo esse procedimen-to eacute deleteacuterio para os museus de histoacuteria natural bemcomo para o avanccedilo do estudo da biodiversidade emnosso paiacutes

AGRADECIMENTOS

Agradecemos imensamente ao Dr Joseacute Lima deFigueiredo a quem este ensaio eacute dedicado Muito doque aqui estaacute eacute derivado de numerosas discussotildees arespeito do papel da curadoria na universidade e dotrabalho do curador Essas foram sempre preocupa-ccedilotildees centrais de toda a sua vida profissional

REFEREcircNCIAS

G983137983157983138983141983154983156 P P983137983152983141983155 M 983078 P983141983156983141983154983155983151983150 AT 2006 Natural historycollections and the conservation of poorly known taxaecological niche modeling in Central African rainforest genets

(Genetta spp) Biological Conservation 130 106-117H983141983154983145983150983143983149983137983150 N 2013 Sciences of Antiquity Oxford OxfordUniversity Press

J983137983154983140983145983150983141 JAS 983078 S983152983137983154983161 E EC (E983140983155) 1996 Cultures of NaturalHistory Cambridge Cambridge University Press

L983137983150983141 MA 1996 Roles of Natural History collections Annals ofthe Missouri Botanical Garden 83(4) 536-545

M983145983148983148983141983154 B C983151983150983159983137983161 W R983141983137983140983145983150983143 RP W983141983149983149983141983154 C W983145983148983140983156 DK983148983141983145983149983137983150 D M983151983150983142983151983154983156 S R983137983138983145983150983151983159983145983156983162 A A983154983149983155983156983154983151983150983143 B983078 H983157983156983139983144983145983150983155 M 2004 Evaluating the conservation missionof Zoos Aquariums Botanical Gardens and Natural HistoryMuseums Conservation Biology 18(1) 86-93

N983137983155983139983145983149983141983150983156983151 FO 2010 Revisatildeo taxonocircmica do gecircnero Leopardus Gray 1842 (Carnivora Felidae) (Tese de doutorado) SatildeoPaulo Departamento de Zoologia Instituto de Biociecircncias daUSP

S983144983137983142983142983141983154 HB F983145983155983144983141983154 RN 983078 D983137983158983145983140983155983151983150 C 1998 The role ofnatural history collections in documenting species declinesTrends in Ecology and Evolution 13(1) 27-30

S983157983137983154983141983162 AV 983078 T983155983157983156983155983157983145 ND 2004 The value of museumcollections for research and society Bioscience 54(1) 66-74

T983137983140983140983141983145 VA M983137983154983156983145983150983155 UR 983140983141 V983145983158983151 M 983078 P983141983154983139983141983153983157983145983148983148983151 AR1999 O acervo das coleccedilotildees zooloacutegicas do Estado de Satildeo PauloIn Wey de Brito MC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidadedo Estado de Satildeo Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 53-67

983140983141 V983145983158983151 M 1999 Museus e coleccedilotildees zooloacutegicas In Wey de BritoMC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidade do Estado de Satildeo

Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 49-51 W983145983150983147983141983154 K 2004 Natural History Museums in a postbiodiversity

era Bioscience 54(5) 455-459

Aceito em 14012014Impresso em 30092014

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 113

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Acreditamos que as universidades que possuemmuseus de histoacuteria natural precisam ainda compreen-der mais profundamente a extensatildeo de suas responsa-bilidades relativas aos acervos de que dispotildeem assimcomo os Estados quando satildeo esses os principais man-tenedores O Brasil no momento em que escrevemoseste trabalho vem adotando uma poliacutetica completa-mente uniforme para todo o corpo de pesquisadoresque emprega todos satildeo julgados pelos mesmos criteacute-rios de produtividade sem qualquer distinccedilatildeo para afunccedilatildeo curatorial Em nossa opiniatildeo esse procedimen-to eacute deleteacuterio para os museus de histoacuteria natural bemcomo para o avanccedilo do estudo da biodiversidade emnosso paiacutes

AGRADECIMENTOS

Agradecemos imensamente ao Dr Joseacute Lima deFigueiredo a quem este ensaio eacute dedicado Muito doque aqui estaacute eacute derivado de numerosas discussotildees arespeito do papel da curadoria na universidade e dotrabalho do curador Essas foram sempre preocupa-ccedilotildees centrais de toda a sua vida profissional

REFEREcircNCIAS

G983137983157983138983141983154983156 P P983137983152983141983155 M 983078 P983141983156983141983154983155983151983150 AT 2006 Natural historycollections and the conservation of poorly known taxaecological niche modeling in Central African rainforest genets

(Genetta spp) Biological Conservation 130 106-117H983141983154983145983150983143983149983137983150 N 2013 Sciences of Antiquity Oxford OxfordUniversity Press

J983137983154983140983145983150983141 JAS 983078 S983152983137983154983161 E EC (E983140983155) 1996 Cultures of NaturalHistory Cambridge Cambridge University Press

L983137983150983141 MA 1996 Roles of Natural History collections Annals ofthe Missouri Botanical Garden 83(4) 536-545

M983145983148983148983141983154 B C983151983150983159983137983161 W R983141983137983140983145983150983143 RP W983141983149983149983141983154 C W983145983148983140983156 DK983148983141983145983149983137983150 D M983151983150983142983151983154983156 S R983137983138983145983150983151983159983145983156983162 A A983154983149983155983156983154983151983150983143 B983078 H983157983156983139983144983145983150983155 M 2004 Evaluating the conservation missionof Zoos Aquariums Botanical Gardens and Natural HistoryMuseums Conservation Biology 18(1) 86-93

N983137983155983139983145983149983141983150983156983151 FO 2010 Revisatildeo taxonocircmica do gecircnero Leopardus Gray 1842 (Carnivora Felidae) (Tese de doutorado) SatildeoPaulo Departamento de Zoologia Instituto de Biociecircncias daUSP

S983144983137983142983142983141983154 HB F983145983155983144983141983154 RN 983078 D983137983158983145983140983155983151983150 C 1998 The role ofnatural history collections in documenting species declinesTrends in Ecology and Evolution 13(1) 27-30

S983157983137983154983141983162 AV 983078 T983155983157983156983155983157983145 ND 2004 The value of museumcollections for research and society Bioscience 54(1) 66-74

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983140983141 V983145983158983151 M 1999 Museus e coleccedilotildees zooloacutegicas In Wey de BritoMC amp Joly E CA (Eds) Biodiversidade do Estado de Satildeo

Paulo Brasil Satildeo Paulo FAPESP p 49-51 W983145983150983147983141983154 K 2004 Natural History Museums in a postbiodiversity

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Aceito em 14012014Impresso em 30092014

A983154983153983157983145983158983151983155 983140983141 Z983151983151983148983151983143983145983137 45(983141983155983152) 2014 113