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* Elaborado com base em Aires (2010). 1 Graduada em Geografia, doutoranda em Ciências Ambientais. Docente, curso de Geografia, campus de Porto Nacional, Universidade Federal do Tocantins. Palmas, TO, Brasil. <[email protected]> 2 Graduado e doutor em Ciências Biológicas. Docente, Departamento de Ecologia/ICB, Universidade Federal de Goiás. Goiânia, GO, Brasil. <[email protected]> REPRESENTAÇÕES SOBRE MEIO AMBIENTE DE ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA DE PALMAS (TO) * Palmas (TO) Basic Education students’ representations of the Environment 353 Ciência & Educação, v. 17, n. 2, p. 353-364, 2011 Berenice Feitosa da Costa Aires 1 Rogério Pereira Bastos 2 Resumo: As representações sociais sobre meio ambiente, de 791 alunos da Educação Básica de Palmas (TO), no Ensino Fundamental e Médio das redes privada, municipal e estadual, foram investi- gadas mediante análise de documentos e pesquisa de campo, utilizando-se a técnica de mapas mentais. A identificação dos elementos das representações de meio ambiente, apresentada pelos alunos, tomou por base a análise global dos desenhos de cada aluno das fases de Ensino Fundamental I e II, e Ensino Médio. Possivelmente, as origens das representações categorizadas estejam associadas, sobretudo, aos discursos dos professores e à própria vivência de cada aluno, à percepção que cada um tem do ambi- ente/lugar no qual reside Palavras-chave: Meio ambiente. Representações sociais. Educação Básica. Abstract: The social representations of the environment of 791 students of Basic Education for Palmas (TO) in elementary and high school networks both private, municipal and state were investi- gated by examining documents and field research, using the technique of mind mapping. The identi- fication of elements of representations of the Environment, presented by the students was based on the overall analysis of each student’s drawings of the stages of elementary school I and II, and High School. We considered that the origins of the representations are linked through categorization, espe- cially the discourses of teachers and the very existence of each student, and the perception that each has of the environment / location in which they reside. Keywords: Environment. Social representations. Basic Education. 1 806 Sul, Alameda 17, Lote 10 e 12 Plano Diretor Sul – Palmas, TO 77.023-048

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  • * Elaborado com base em Aires (2010).1 Graduada em Geografia, doutoranda em Cincias Ambientais. Docente, curso de Geografia, campus de PortoNacional, Universidade Federal do Tocantins. Palmas, TO, Brasil. 2Graduado e doutor em Cincias Biolgicas. Docente, Departamento de Ecologia/ICB, Universidade Federalde Gois. Goinia, GO, Brasil.

    REPRESENTAES SOBRE MEIO AMBIENTE DEALUNOS DA EDUCAO BSICA DE PALMAS (TO)*

    Palmas (TO) Basic Education students representationsof the Environment

    353Cincia & Educao, v. 17, n. 2, p. 353-364, 2011

    Berenice Feitosa da Costa Aires1Rogrio Pereira Bastos2

    Resumo: As representaes sociais sobre meio ambiente, de 791 alunos da Educao Bsica dePalmas (TO), no Ensino Fundamental e Mdio das redes privada, municipal e estadual, foram investi-gadas mediante anlise de documentos e pesquisa de campo, utilizando-se a tcnica de mapas mentais.A identificao dos elementos das representaes de meio ambiente, apresentada pelos alunos, tomoupor base a anlise global dos desenhos de cada aluno das fases de Ensino Fundamental I e II, e EnsinoMdio. Possivelmente, as origens das representaes categorizadas estejam associadas, sobretudo, aosdiscursos dos professores e prpria vivncia de cada aluno, percepo que cada um tem do ambi-ente/lugar no qual reside

    Palavras-chave: Meio ambiente. Representaes sociais. Educao Bsica.

    Abstract: The social representations of the environment of 791 students of Basic Education forPalmas (TO) in elementary and high school networks both private, municipal and state were investi-gated by examining documents and field research, using the technique of mind mapping. The identi-fication of elements of representations of the Environment, presented by the students was based onthe overall analysis of each students drawings of the stages of elementary school I and II, and HighSchool. We considered that the origins of the representations are linked through categorization, espe-cially the discourses of teachers and the very existence of each student, and the perception that eachhas of the environment / location in which they reside.

    Keywords: Environment. Social representations. Basic Education.

    1 806 Sul, Alameda 17, Lote 10 e 12Plano Diretor Sul Palmas, TO77.023-048

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    Aires, B. F. C.; Bastos, R. P.

    Cincia & Educao, v. 17, n. 2, p. 353-364, 2011

    Introduo

    O termo meio ambiente tornou-se comum no cotidiano dos brasileiros, sobretudoaps a ECO-92 (ou RIO 92) - Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desen-volvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992. Essa conferncia, com seus desdobramen-tos, fomentou um uso frequente da expresso meio ambiente no nosso dia a dia, seja nasescolas, na comunidade ou nos veculos de comunicao social, tornando-a comum em nossasfalas3. Geralmente, a expresso Meio Ambiente (MA) adotada e usada como smbolo denatureza, ambientalismo, educao ambiental, ecologia, entre outros, no havendo um consen-so geral sobre o significado deste termo, mesmo na comunidade cientfica. certo, tambm,que o meio cientfico no ficou imune ao processo de popularizao do termo MA. Podemosverificar isso em alguns discursos que querem congregar tudo em nome do ambiental, e o que pior, com enfoque reducionista.

    Pode-se observar, nas ltimas disputas, que tem se intensificado uma evoluo noconceito deste termo. Entretanto, parecendo cansativo e intil discutir as concepes destetema, tal discusso pertinente, advindo da extrema necessidade, nos dias atuais, da interaoentre desenvolvimento e MA, como nos fala Mendona (2002, p. 43):

    O debate acerca da concepo de meio ambiente parece por demaisdesnecessrio, cansativo que o mesmo se tornou no seio da intelectua-lidade, mas a insistncia na sua retomada neste momento advm dapreocupao em evidenciar [...] a complexidade adquirida pelo termonas duas ltimas dcadas, quando a mesma passa a envolver a socieda-de, alm de sua clssica base naturalista.

    Ressaltamos que o termo MA ou ambiente tem uma longa histria, marcada quasesempre por aspectos basicamente naturalistas, mas que, nas ltimas dcadas, tem se cercado,tambm, de aspectos sociais, inseridos no contexto de crise ecolgica, de crise ambiental.

    Assim, traar caminhos para a compreenso do meio ambiente no uma via simples,uma vez que diferentes concepes passam a incorporar o cotidiano. As representaes ex-pressas nos discursos, nas falas e nas prticas produzem diversos sentidos para o MA.

    Neste sentido, alguns autores, como Leff (2001) e Moraes (2002), afirmam que, paraum estudo do MA, necessrio conhecer e percorrer os fundamentos epistemolgicos queso bases para o entendimento do mesmo e da temtica ambiental. Para Moraes (2002), oavano em qualquer rea do conhecimento demanda um acompanhamento epistemolgicoconstante. atravs dele que estamos continuamente checando os enunciados gerados numcampo de conhecimento, aferindo os instrumentos analticos que temos e avaliando os resul-tados obtidos. Enfim, de acordo com este autor, a epistemologia que permite agregar osnovos conhecimentos que o desenvolvimento da pesquisa vai trazendo.

    Moraes (2002) salienta ainda que mais que adequado falar em bases epistemolgi-

    3 Essa afirmativa foi comprovada pela pesquisa realizada por Samyra Crespo (2003) nos anos de 1992 e 2002.

  • 355Cincia & Educao, v. 17, n. 2, p. 353-364, 2011

    Representaes sobre meio ambiente de alunos ...

    cas sempre no plural, pois implica diferenciadas dimenses de trabalho. Assim, para umainvestigao de ordem epistemolgica, preciso a evoluo de trs juzos. O primeiro deles a defesa da necessria anterioridade do desenvolvimento disciplinar da pesquisa ambiental,ante o trabalho interdisciplinar, ou seja, primeiramente, necessria uma base disciplinar.Somente a partir dos resultados obtidos na pesquisa disciplinar que a interdisciplinar podeavanar. O segundo juzo refere-se necessidade de uma reflexo metodolgica ante a inves-tigao emprica. Por fim, o terceiro juzo seria uma relao comunicativa em que os conceitostivessem uma padronizao mnima. Somado a estes trs juzos, o autor acrescenta o funda-mento tico para questionar a moral do trabalho cientfico.

    Leff (2001) prope uma epistemologia ambiental que seria um trajeto para chegar asaber o que o ambiente, mas que essa epistemologia da cincia normal no suficiente paraaprender o ambiente. Assim, para pensar uma epistemologia ambiental, o faz inicialmente peladiscusso da articulao entre as cincias na relao natureza-sociedade.

    Essa articulao cientfica no pode ser pensada como uma fuso dosobjetos tericos das cincias - os quais constituem sua especificidadeterica e dos quais derivam seu efeito de conhecimento - mas comouma superdeterminao ou uma interdeterminao dos processosmateriais dos quais as cincias produzem um efeito de conhecimentopela articulao de seus conceitos em seus respectivos campos teri-cos. (LEFF, 2001, p. 31-32)

    A partir dessa discusso relativa articulao das cincias, o autor conduz constru-o do saber ambiental especificamente pela racionalidade ambiental, numa contraposio chamada racionalidade econmica, e declara, ainda, que o sentido ideolgico da noo deambiente ocorre na interface entre o conceito de MA e sua assimilao pelo sistema. Ainda,conforme Leff (2001)

    O ambiente no um objeto perdido no processo de diferenciao eespecificao das cincias, nem um espao reintegrvel pelo intercm-bio interdisciplinar dos conhecimentos existentes. O ambiental a fal-ta insupervel do conhecimento, esse vazio onde se aninha o desejo desaber gerando uma tendncia interminvel para a completude das cin-cias, o equilbrio ecolgico e a justia social. (LEFF, 2001, p. 18)

    Desta forma, torna-se urgente e necessria a discusso dessas questes na escola,desde a mais tenra idade. Toda via, no em uma perspectiva mistificadora, ou como modismo,mas que possibilite, ao aluno, uma reavaliao crtica perante os problemas ambientais. Por-tanto, conhecer a representao dos alunos sobre as questes relativas ao Meio Ambientepoder auxiliar o professor a entender como eles esto captando, interpretando, agindo em suarealidade prxima, j que essas representaes so fundamentais na formao de opinies eno estabelecimento de atitudes individuais e coletivas. No entanto, como so dinmicas, importante identific-las, para que sejam trabalhadas tanto com alunos quanto nas relaesescola-objetivos (BRASIL, 200l).

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    Aires, B. F. C.; Bastos, R. P.

    Cincia & Educao, v. 17, n. 2, p. 353-364, 2011

    Procedimentos metodolgicos

    O estudo foi realizado entre janeiro e novembro de 2009, em 15 escolas das redespblica e privada da Educao Bsica da cidade de Palmas (TO). Foi solicitado, ao grupo deestudantes, que representasse, de forma grfica, o que eles entendem por MA, levando emconsiderao seu mundo vivido, o cotidiano, o lugar em que vivem e o concebido, ou seja, asideias, as concepes que foram trabalhadas na escola pelos professores, as experincias traba-lhadas em sala de aula a respeito do tema MA.

    Os estudantes correspondem a 791 alunos da Educao Bsica, assim distribudos:284 alunos do Ensino Fundamental I; 332 do Ensino Fundamental II e 175 alunos do EnsinoMdio.

    As representaes de MA dos estudantes foram identificadas por meio de mapa men-tal, porque pode ser considerado como um outro tipo de imagem que reflete o nvel icnicoda cognio e possui algum tipo de estruturao interna entre seus elementos formadores,remontando a uma algica operacional (DEL RIO, 1996 apud SOUZA; COELHO, s/d, p.5). Alm disso, porque, ao trabalharmos com as representaes grficas, em forma de mapamental, estamos, de alguma forma, tornando a representao do conceito trabalhado maisprxima do sujeito pesquisado e, mesmo, qualificando essa representao, permitindo que setorne mais elaborada e tambm mais prxima do prprio mundo do sujeito.

    A identificao dos elementos das representaes de Meio Ambiente, por intermdiodo mapa mental, apresentada pelos alunos da Educao Bsica de Palmas - (TO), tomou porbase a anlise global dos desenhos de cada aluno, identificados por nvel de ensino e escolaspertencentes rede municipal, estadual e privada, conforme Tabelas 1, 2 e 3, respectivamente.

    Resultados e discusso

    Com base no critrio quantitativo, elencamos numericamente os elementos que com-pem os mapas mentais dos estudantes. Destacamos que essa anlise quantitativa importan-te na medida em que oferece elementos para identificarmos as razes das representaes.

    O primeiro fato que destacamos nos mapas mentais analisados, da Rede Municipal deEnsino, foi o de que praticamente todos eles trazem elementos que caracterizam ambientespreservados. Outro fator que evidenciamos que as formas de apresentao dos mapas secaracterizam pela forte presena de cores, o que consideramos que seja um mecanismo utiliza-do pelos estudantes para dar nfase ao contedo da representao.

    Outro destaque dado aos elementos que fazem parte deste MA. Os elementos queaparecem com maior frequncia so: vegetao, lago, lixeiras, casas - todos em alta proporcio-nalidade -, seguem serras e montanhas e ambientes urbanos. Um total de quarenta e trs (43)mapas mentais trouxeram representao do lago, o que est associado formao do Lago daUsina do Lajeado que margeia toda a cidade. Conforme demonstrado na Figura 1.

    Ressaltamos que as representaes grficas que dizem respeito presena da figurado lago constituem forte indicador da ligao afetiva dos estudantes com o ambiente e reve-lam, tambm, o modo como percebem o lugar onde residem.

  • 357Cincia & Educao, v. 17, n. 2, p. 353-364, 2011

    Representaes sobre meio ambiente de alunos ...

    Fonte: Dados da pesquisa (2009).

    Tabela 1. Quantitativo das representaes grficas dos estudantes da Rede Municipal.

    Elementos

    VegetaoLagoSeres humanosSerras e montanhasCasasEscolaOutros elementos:

    a) Lixeirasb) Ambientes urbanosc) Planeta Terrad) Nuvense) Cachoeirasf) OutrosTotal

    Total/ Mapa mental escola

    EF I

    08-

    04---

    16-----

    28

    EF II

    1005010105

    -

    ---

    01--

    2351

    Escola M.Vinicius

    de MoraesEF I

    160205

    -01

    -

    0401

    ----

    29

    EF II

    15----

    04

    0705

    -

    --

    3160

    Escola M.Olga

    BenrioEF I

    1508

    --

    0501

    0102

    ----

    32

    EF II

    10---

    01-

    -----

    0415

    47

    Escola M.Antnio G.Carvalho

    Elementos

    VegetaoLagoSeres humanosSerras e montanhasCasasEscolaOutros elementos:

    a) Lixeirasb) Ambientes urbanosc) Planeta Terrad) Nuvense) Cachoeirasf) OutrosTotal

    Total/ Mapa mental escola

    EF I

    24---

    04-

    -02

    ----

    30

    EF II

    22-

    02-

    02-

    --

    02---

    2858

    Escola M.Darcy

    RibeiroEF I

    -18

    ----

    07--

    0102

    -28

    EF II

    0610

    --

    07-

    -02

    ----

    2553

    Escola M.MonteiroLobato

    EF I

    552809

    -1001

    2805

    -0102

    -

    139

    EF II

    631503011504

    07070201

    -04

    132

    TotalTotalgeral

    1064312012505

    351202020204

    249

    Outro destaque desta anlise refere-se presena de lixeiras, que aparecem em 35mapas mentais (Figuras 2 e 3). Associamos estas representaes a uma prtica comum na salade aula e que tambm foi retratada pelos professores nos questionrios, onde a maioria delesassinalou o tema lixo como contedo curricular dos temas transversais.

  • 358

    Aires, B. F. C.; Bastos, R. P.

    Cincia & Educao, v. 17, n. 2, p. 353-364, 2011

    Em diversos mapas mentais, a figura da casa foi marcante e assume uma dimensoimportante na anlise. Para Bachelard (2003 p. 23), ao tratar do universo da casa, assume quea casa o nosso canto do mundo. Ela , como se amide, o nosso primeiro universo. umverdadeiro cosmos. Um cosmos em toda acepo do termo. Nos mapas mentais, a casaaparece com maior frequncia nas representaes de estudantes do Ensino Fundamental I,destacando-se a presena de vegetao e o lago em torno. Esses fatores so indicativos daidia de aconchego, de interao com o lugar.

    Com relao ao elemento humano presente nas representaes grficas, chamou aten-o o fato de que ele aparece em 12 mapas mentais. Notamos, nos mapas, que os elementosnaturais so fortemente caracterizados e o ser humano est rodeado pelos elementos da natureza.

    Figura 1. Exemplo de mapa mentalrepresentando o lago.

    Figura 2. Exemplo de mapa mental representando o lixo. Figura 3. Exemplo de mapa mental representando o lixo.

  • 359Cincia & Educao, v. 17, n. 2, p. 353-364, 2011

    Representaes sobre meio ambiente de alunos ...

    Os mapas a seguir, das Figuras 4 e 5, revelam que a representao de MA presenteest associada relao entre o eu, a sociedade e a comunidade, tendo a escola como elo nestecontexto. Essa representao destaca a prtica social e as relaes humanas, ou seja, a intera-o social entre escola/comunidade como sendo MA.

    Figura 4. Mapa mental. Figura 5. Mapa mental.

    Observamos que as representaes nestes mapas mentais se inserem na dimensocomplexo-interativa, na medida em que a representao grfica pressupe uma contribuio,uma relao conjunta entre: a comunidade, a escola, o eu e o MA.

    A partir dos dados levantados nas representaes grficas dos estudantes da RedeMunicipal de Ensino, nos chamou ateno a presena mnima de elementos urbanos, e deambientes construdos pela ao humana, deixando evidente compreenso de MA como sin-nimo de natureza/vida. Observamos que essas representaes focam a dimenso significati-va. Esse fato est relacionado tanto ao ensino quanto ao discurso dos professores.

    Conforme Tabela 2, os elementos que compem os mapas mentais dos estudantes daRede Estadual de Ensino esto demonstrados a seguir.

    Evidenciamos um enorme quantitativo de mapas mentais que trazem elementos quecaracterizam ambientes preservados, tambm evidenciado na Rede Municipal de Ensino. Outrodestaque o nmero elevado de representaes de serras/montanhas/rios/lagos e cachoeiras.Esse quantitativo est expresso na seguinte proporo: 22 mapas mentais foram representadospor alunos do Ensino Fundamental I, 48 por alunos do Ensino Fundamental II, sendo apenas17 do Ensino Mdio.

    No caso especfico do Ensino Fundamental I, II, esse quantitativo de setenta mapasmentais caracteriza os elementos serras/montanhas/lagos/cachoeiras, conforme Figuras 6 e7. Ressaltamos que estes elementos esto associados s formaes do relevo em que se encon-tra a cidade. Evidenciamos que o lugar em que se d a pesquisa, conforme demonstrado naFigura 6, est localizado em uma regio fortemente caracterizada por esses elementos. Areferncia repetitiva destes elementos constitui um forte indicador da ligao afetiva dos estu-dantes com o ambiente, e revela, tambm, o modo de perceber esse lugar.

  • 360

    Aires, B. F. C.; Bastos, R. P.

    Cincia & Educao, v. 17, n. 2, p. 353-364, 2011

    Tabela 2. Quantitativo das representaes grficas dos estudantes da Rede Estadual.

    Elementos

    VegetaoRioSerras e montanhas/lagoCasasrvoresOutros elementos:

    a) Lixeirasb) Ambientes urbanosc) Planeta Terraf) OutrosTotal

    Total/Mapa mental escola

    EF I

    14

    13

    020130

    EF II

    12

    19

    0132

    62

    Colgio E.So Jos

    EF II

    10

    25

    0136

    EnsinoMdio

    04

    0120

    02

    27

    63

    Colgio E.Madre Belm

    EF I

    19

    080305

    0136

    EF II

    08

    1906

    0302

    3874

    Colgio E.Dom Alano

    Elementos

    VegetaoRioSerras e montanhas/lagoCasasrvoresOutros elementos:

    a) Lixeirasb) Ambientes urbanosc) Planeta Terraf) OutrosTotal

    Total/Mapa mental escola

    1 ano

    04070502

    0321

    3 ano

    07040205

    0321

    42

    Centro de EnsinoTiradentes

    EF I

    19

    220318

    0202

    66

    EF II

    20

    480625

    0302

    02

    106

    Total Total Total

    EnsinoMdio

    04172156

    11080715

    139

    Total

    Geral

    3904873099

    14100919

    311

    1 ano

    01052002

    030435

    3 ano

    0504090208020535

    70

    Centro de EnsinoMdio de Palmas

    Fonte: Dados da pesquisa (2009).

    Figura 6. Mapa mental. Figura 7. Mapa mental.

  • 361Cincia & Educao, v. 17, n. 2, p. 353-364, 2011

    Representaes sobre meio ambiente de alunos ...

    Em relao ao Ensino Mdio, o destaque o elevado nmero de mapas mentais quetrazem como elemento o desenho de rvores, sendo um total de 56, o que caracteriza ambien-tes preservados. Outro destaque o nmero de mapas mentais em que aparece o elementocasa, num total de 21 representaes, o que, segundo Bachelard (2003, p. 23), ao tratar douniverso casa, assume, tambm, que a casa o nosso canto do mundo. Nos mapas mentais,a casa aparece, com maior frequncia, nas representaes dos estudantes cuja faixa etria entre 15 e 16 anos. Destacamos que esse fator revela que a representao de MA presente estassociada relao entre o eu, a sociedade e a comunidade, tendo a escola como elo nestecontexto. Essas representaes destacam a prtica social e as relaes humanas, ou seja, ainterao social entre escola/comunidade como sendo MA.

    Outro fator nos chamou ateno no que diz respeito ao elemento humano totalmenteinexistente nas representaes grficas dos estudantes da Rede Estadual de Ensino. O quevem confirmar, mais uma vez, a viso de MA como sinnimo de natureza/vida, uma visode EA focada no discurso do professor que ainda trabalha com uma vertente de EA conserva-cionista.

    Na Tabela 3, apontamos os elementos que compem as representaes grficas dosestudantes da Rede Privada de Ensino.

    Ao analisarmos os mapas mentais dos estudantes da Rede Privada de Ensino, desta-camos que praticamente todos eles trazem elementos que caracterizam ambientes preserva-dos. Os elementos que aparecem com maior frequncia so: serras/montanhas/lagos/rios,vegetao, rvores, num total de 172 elementos.

    Em relao s representaes grficas que dizem respeito presena dos elementosserras/montanhas/lagos/rios, estas representam a percepo que os alunos possuem do lu-gar, uma vez que o lugar em que se realizou a pesquisa uma regio fortemente caracterizadapor esses elementos. O mapa mental da Figura 8 indicativo dessa representao.

    Outro fator de destaque para as representaes grficas dos alunos do Ensino Fun-damental I e II, o elevado nmero de elementos (rvores e vegetao) que caracterizam osambientes preservados, que pode estar relacionado aos discursos dos professores e prticade uma EA focada numa vertente conservacionista, em que ocorre a transmisso de conceitosespecficos e naturais. A representao grfica da Figura 9 uma demonstrao desse fator.

    J com relao ao Ensino Mdio, queremos destacar a presena, nas representaesgrficas dos estudantes, do elemento que caracteriza ambientes urbanos construdos pela aohumana (conforme demonstrado na Figura 10). Esse fator pode estar relacionado tanto aoensino e discurso do professor quanto ao prprio nvel de desenvolvimento cognitivo dosestudantes, bem como ao nvel socioeconmico, pois esses estudantes pertencem uma classesocial com maior poder aquisitivo, portanto, com maior acesso s informaes divulgadas pelamdia e outros conhecimentos.

    Pudemos observar que os estudantes da Educao Bsica de Palmas que fizeramparte da nossa investigao reproduzem os significados prprios do grupo; e mesmo sendosempre nicos na criao de suas ideias, ao interagirem com o grupo, ao participarem de umprocesso educativo, os estudantes formam, ento, sua representao a partir do intra e inter-pessoal. Assim, ao interagirem com o grupo e participarem de um processo educativo, osestudantes incorporam os conhecimentos do vivido, do percebido e do concebido.

  • 362

    Aires, B. F. C.; Bastos, R. P.

    Cincia & Educao, v. 17, n. 2, p. 353-364, 2011

    Figura 8. Mapa mental.

    Tabela 3. Quantitativo das representaes grficas dos estudantes da Rede Privada.

    Elementos

    VegetaoSeres humanosSerras e montanhas/riosCasasrvoresOutros elementos

    a) Lixeirasb) Ambientes urbanosc) Planeta Terrae) Cachoeirasf) OutrosTotal

    Total/Mapa mental escola

    EF I

    07

    060102

    16

    EF II

    11

    08

    1935

    Colgio SoFranciscode Assis

    EF II

    07010401

    0103

    17

    EF II

    060105

    01

    0417

    34

    ColgioEinstein

    EF II

    06

    09

    08

    02

    25

    1 anodo EM

    050217

    0204

    3055

    Colgio Ulbrade Palmas

    Elementos

    VegetaoSeres humanosSerras e montanhas/riosCasasrvoresOutros elementos

    a) Lixeirasb) Ambientes urbanosc) Planeta Terrae) Cachoeirasf) OutrosTotal

    Total/Mapa mental escola

    EF I

    07

    18

    05

    30

    EF II

    12

    03

    02

    0118

    48

    Escola MadreCllia

    EF I

    1401170220

    010305

    63

    EF II

    2202440315

    040408

    06

    108

    Total Total Total

    EnsinoMdio

    100230

    02130201

    60

    Total

    Geral

    4605910535

    0720150106

    231

    EF II

    0502090202

    0206

    0129

    1 anodo EM

    05

    13

    090201

    3058

    Colgio Objetivode Palmas

    Fonte: Dados da pesquisa (2009).

  • 363Cincia & Educao, v. 17, n. 2, p. 353-364, 2011

    Representaes sobre meio ambiente de alunos ...

    Por meio dos mapas mentais, pudemos, ento, desvelar as dimenses do vivido, dopercebido e do concebido na representao do MA dos estudantes, onde est inserida tanto adimenso significativa quanto a dimenso interativa.

    Consideraes finais

    Por meio da tcnica de mapa mental utilizada, observamos uma diferena consider-vel em termos de liberdade de expresso dos sujeitos investigados. Esta constatao nos enco-raja a citar alguns cuidados que, segundo nosso julgamento, podem ser levados em considera-o e avaliados no que diz respeito s investigaes em representaes sociais junto a estudan-tes da Educao Bsica: a utilidade exclusiva de questionrios para coleta de dados pode seapresentar como fator limitante para expresso, em vista das dificuldades apresentadas porcrianas daquela faixa etria com relao escrita.

    Ao analisar os mapas mentais dos estudantes, temos claro que estes so representa-es que, inicialmente, tm por base a percepo. Portanto, ao buscarmos compreender asrepresentaes grficas de MA dos estudantes, devemos levar em conta, primeiramente, o atoperceptivo que os estudantes tm de MA, e que foi construdo durante seu contato com oambiente em que vivem.

    Desta forma, os elementos que apareceram com maior frequncia foram: a vegetao,seguida pelos corpos de gua (lagos, cachoeiras) e representaes da fauna - o que constituium forte indicador da ligao afetiva dos estudantes com o ambiente, e revela, tambm, omodo de perceberem esse lugar. Evidenciamos que o lugar em que se d a pesquisa estlocalizado em uma regio fortemente caracterizada por elementos da vegetao, rios e lagos.

    No geral, a representao preservacionista aquela que predomina entre os alunos daEducao Bsica de Palmas, ou seja, a compreenso de MA como sinnimo de natureza/vida.Essa representao est relacionada s prticas pedaggicas de EA dos professores que est

    Figura 9. Mapa mental. Figura 10. Mapa mental.

  • 364

    Aires, B. F. C.; Bastos, R. P.

    Cincia & Educao, v. 17, n. 2, p. 353-364, 2011

    focada numa vertente de EA conservacionista, em que ocorre a transmisso de conceitosespecficos e naturais.

    Nesse sentido, importante ressaltar que, perante a complexidade das questes ambien-tais, as prticas educativas no podem deixar de buscar a aproximao com ideias, crenas,valores e atitudes dos envolvidos no processo educativo. Assim sendo, a escola deve incentivarum trabalho coletivo, capaz de desencadear reflexes e aes que levem o professor a compre-ender as questes ambientais para alm de suas dimenses biolgicas, refletindo sobre aspec-tos polticos, socioeconmicos e ticos, em um processo contnuo de formao do educadorambiental.

    Referncias

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    Artigo recebido em maio de 2010 e aceito em dezembro de 2010.