teu ˜tty maclean escondeu a sua paixão pelo rio sanchez ... · o rapaz mais giro do mundo. tudo...

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Segue Segue Coração Coração teu teu JULIE FISON Segue o teu coração até ao final perfeito, Tu é que decides! A m i g a s pa r a s e m p r e?

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SegueSegue

CoraçãoCoraçãoteuteu

JULIE

FISO

N

Durante meses a �tty MacLean escondeu a sua paixão pelo Rio Sanchez – que é, provavelmente,

o rapaz mais giro do mundo. Tudo parece indicar que nunca conseguirá ficar com ele.

Até que...

A Kitty vai acampar com as suas melhores

amigas e descobre que o Rio está a passar férias ali

bem perto. Será que um acampamento sem água corrente é o local ideal

para encontrar a sua megapaixão?

Em vez de ir acampar com as amigas, a Kitty

vai de férias para a praia com a popular Persephone.

Ela tem a certeza de encontrar o Rio. Mas terá a Kitty agido corretamente? E será que o Rio vai gostar

dela apesar do que fez?

Depois de leres este livro, segue o teu coração até ao próximo:

SegueSegue

teuteu

CoraçãoCoração

JULIE FISON

1

SegueSegueSegue

Segue o teu

coração até ao

final perfeito,

Tu é que decides!

Tu é que decides!Segue o teu coração até ao final perfeito,

ou volta atrás e começa tudo de novo.

Amigas para sempre?

Amigas para sempre?

Am

igas para sempre?

www.booksmile.pt

Vê o vídeo de apresentação deste livro.

Literatura Juvenil

9 789897 073045

ISBN 978-989-707-304-5

I SBN 978-989-707-304-5

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1

CapítuloUm

— A -cam -par — eu pronunciei a palavra como se estivesse

a aprender um novo vocábulo. — O quê, tipo, numa tenda

a sério?

A Izzy revirou os olhos.

— Claro — respondeu. — Então, o que te parece?

— Vai ser uma farra completa — exclamou a Mia. Eu

não estava assim tão certa.

— Mas da última vez que foram acampar não foi a pior

semana das vossas vidas? — perguntei -lhes. — Não disseram

que choveu o tempo todo? E um dos vossos irmãos não

vomitou para cima dos sacos -cama?

— Anda lá, Kitty — disse a Izzy, a tirar os livros de Mate-

mática do cacifo. — Que mais tens para fazer?

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2

Nada. Era esse o problema. Estávamos na última semana

de aulas e, na seguinte, a minha mãe e o meu pai estariam

a trabalhar e eu ficaria presa em casa, as férias inteiras. Não

me importaria com isso se tivesse alguém com quem con-

viver, mas as amigas iam -se todas embora, o que me deixa-

va sozinha com a minha irmã mais nova e o seu gangue de

parvinhos. Encolhi os ombros.

— Está bem, pronto, eu vou. — Sabia que a minha mãe

e o meu pai me deixariam ir. A Izzy e a Mia sorriram e

aproximaram -se para darmos um abraço de grupo. — Isso

desde que eu sobreviva a este primeiro período da esco-

la. Ainda não fiz o trabalho de Geografia para a Blackmore.

— Prometo que nos vamos divertir muitíssimo — guin-

chou a Mia.

— Boa sorte com esse trabalho — disse a Izzy.

Fiquei a vê -las a apressarem -se para a sala de aula, com

os rabos -de -cavalo molhados do treino de polo aquático

dessa manhã a escorrerem pelas costas abaixo. A Izzy e a Mia

pareciam gémeas, assim vistas de trás. Aliás, também eram

bastante parecidas de frente. A stora da sala delas chamava

Mizzy às duas porque não as conseguia distinguir.

Virei -me para o cacifo, a fazer má cara. Adorava mesmo

a Izzy e a Mia. Conhecia -as desde a escola primária, eram

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3

realmente as minhas melhores amigas. E por isso era evi-

dente que eu queria passar as férias com elas, mas acampar?

A única tenda em que eu tinha dormido fora uma com

fadas e princesas que a minha mãe comprara pelos meus

três anos. Mas era uma tenda montada no meu quarto, e não

no meio do mato.

As famílias da Mia e da Izzy eram fanáticas pelo ar livre

e acampavam juntas montes de vezes. Mas dormir no chão

não me parece nada divertido. Já para não falar das aranhas,

cobras e sei lá que mais que há de tentar meter -se no saco-

-cama comigo. Acrescentem -se casas de banho públicas e

caminhadas imensas no mato. Népias. «Farra» não era a pala-

vra que me vinha à ideia, mas que alternativa tinha, se qui-

sesse passar as férias com as minhas melhores amigas?

Agarrei nos livros de Geografia que estavam no cacifo,

rodei nos calcanhares e quase embati na Perséfone. Estáva-

mos tão perto que consegui cheirar o perfume intenso dela

e ver bem de perto o seu brinco de pérola.

Eu tinha a certezinha absoluta de que os planos de férias

da Perséfone não implicavam montar uma tenda e andar à

bulha por causa da dose de feijão cozido. Para ela, só pode-

ria ser uma pausa de cinco estrelas.

— Olá — disse eu, a sorrir.

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4

— Olá, Kitty. — A Perséfone selecionou o código no

cadeado e escancarou a porta do cacifo. — Aguenta só um

segundo, eu vou contigo.

E eu esperei, a sentir -me ligeiramente confusa. Eu e a

Perséfone não éramos propriamente amigas. Estamos na

mesma turma, às vezes ficamos juntas na carteira em Geo-

grafia e Expressão Plástica, mas não convivemos. Depois

lembrei -me de que ela nos últimos tempos me tem guar-

dado lugar. Mesmo assim, não é propriamente conviver.

E nunca tinha ido comigo para a sala. Andava sempre com as

amigas dela — o grupo fixe. Olhei em redor à procura delas.

— Não estás à espera das…?

— Népias — respondeu logo a Perséfone.

A caminho da sala, eu ia algo siderada por caminhar

com uma das raparigas mais fixes do nosso ano.

Olá, sou eu, a Kitty, apetecia -me dizer. Não ando propria‑

mente no teu grupo. As tuas amigas são aquelas que fazem férias

espetaculares, moram em mansões e têm namorados e tudo. A minha

casa é pequena, quase nunca vou a lado nenhum e o mais certo é

nunca vir sequer a ter namorado.

Não disse nada disto, evidentemente. Antes pelo con-

trário, espreitei para trás para verificar que a Izzy e a Mia não

me viam. Elas não achavam graça nenhuma ao grupo fixe.

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5

Fui andando ao lado da Perséfone, na esperança de apa-

nhar um bocadinho do fixe dela e guardá -lo para mim. Ela ia

falando do trabalho de Geografia que era para entregar hoje

e que eu ainda não tinha terminado. Provavelmente devia

ter tomado atenção, mas tinha a cabeça a mil. Se eu possuísse

uma fração do fixe da Perséfone, talvez tivesse hipóteses com o Rio.

O Rio: o espampanante e fofíssimo Rio Sanchez. Com-

pletamente perdido de bom e integralmente inatingível

para mim. Há meses que eu andava a sonhar com ele, desde

a primeira vez que o vira no autocarro.

Estava uma tarde de calor opressivo e não ia a mais do que

um metro de distância dele, na parte de trás do autocarro.

Soube logo pelo uniforme que ele andava na minha escola,

versão rapazes. Dei uma olhadela e vi -lhe o nome na lateral

da mochila. Quando os meus olhos chegaram por fim àque-

la cara fofa e bronzeada e àquele cabelo preto despenteado,

já eu estava em transe. Felizmente, ele entretinha-se rindo

à gargalhada com os amigos e não reparou em mim a babar-

-me. Antes mesmo de me aperceber disso, tive uma visão

do nosso futuro: a caminhar de mãos dadas, a rirmo -nos das

piadas um do outro, o nosso primeiro beijo.

Nisto, a realidade meteu o bedelho. O autocarro fez

uma curva apertada e, como eu estava a olhar para o Rio

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6

em vez de me segurar bem, caí para a frente no corredor.

Em pânico, agarrei -me à única coisa que me apareceu

— a camisa do Rio. Ele olhou para mim com um olhar

aterrorizado. Devia achar -me completamente louca. Foi

confrangedor. Murmurei qualquer coisa a pedir desculpa e

saí do autocarro na paragem seguinte, a qual ficava a cerca

de cem quilómetros da minha casa.

Desde então, tenho mantido uma distância de seguran-

ça do Rio, mas a minha missão na vida é conhecê -lo — mas

sem ter propriamente de falar com ele.

Todos os dias, quando o autocarro chegava à paragem

dele, eu sustinha o fôlego, desejosa de que ele surgisse pela

porta da frente. Nos dias em que aparecia, eu mirava -o.

Ele dava -se com os desportistas. Não eram malucos como

outros rapazes que apanhavam o autocarro e se portavam

como uma cambada de orangotangos. O Rio e os amigos

estavam sempre a rir. Os olhos castanhos dele faziam rugui-

nhas quando sorria, ficava tão giro que parecia impossível.

Por vezes, eu chegava -me perto o bastante para ouvir

as conversas deles. A maioria era sobre equipas de futebol

de que eu nem nunca ouvira falar, e de jogadores que não

significavam nada para mim. Mas não me importava com

isso. Gostava de ouvir a voz do Rio. Ele tinha um bocadinho

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7

de sotaque que eu não sabia dizer de onde vinha, mas era

amoroso!

Depois, houve uma altura em que me apercebi de

outro aspeto do Rio. Entrara sozinho e sentara -se mesmo

à minha frente. Tinha os auscultadores e encostara a cabe-

ça ao vidro da janela. Do meio do nada, apareceu uma bola

perdida pelo autocarro fora na minha direção. Antes que

eu tivesse sequer hipótese de levantar as mãos para me

proteger, o Rio apanhou -a no ar. Atirou -a de volta e

depois virou -se para mim.

— Tu estás bem? — perguntou -me.

Eu estava toda entaramelada, não consegui dizer nada,

limitei -me a fazer que sim com a cabeça vigorosamente.

O Rio sorriu e voltou à sua música como se não tives-

se acontecido nada, mas quando eu saí do autocarro, três

paragens depois, ia completamente nas nuvens: o Rio San‑

chez sorriu para mim!

Fui a correr para casa. Depois sentei -me com o meu

caderno de desenho e esbocei o rosto do Rio. Tentei captar-

-lhe a expressão. Tinha sido forte mas atenciosa. E o sor-

riso — de tão abrasador podia derreter um glaciar. Lindo!

Estava toda contente com os meus esquissos. Se ao menos

falar com o Rio fosse tão fácil como era desenhá -lo.

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Descartei estes sonhos e lembrei -me de onde estava

— no corredor a caminho da sala com a Perséfone. Olhei

para ela, a pensar se seria maquilhagem ou um creme espe-

cial que fazia a pele dela brilhar daquela maneira. Foi quan-

do me apercebi de que ela me estava a perguntar qualquer

coisa.

— Kitty? — perguntou a Perséfone, a erguer uma sobran-

celha. — Tu fizeste?

Não fazia a mais pálida ideia do que ela estava a dizer, mas

tentei não dar a entender que não tinha ouvido patavina.

— Hum…

— Fizeste o trabalho de Geografia?

Até praguejei.

— Não, vou pedir adiamento. — Era óbvio que tinha

passado demasiado tempo em devaneios sobre o Rio e pouco

ou nenhum com os trabalhos de casa. A Perséfone sorriu.

— Encontrei na Internet montes de cenas que ajudam.

Posso mandar -te os links, se quiseres.

— Isso era fantástico! — Senti -me genuinamente grata.

— Anseio pela chegada das férias. Estou tão fartinha das aulas!

— Eu também. Vai ser divertido. Vamos para Paradise

Point — disse a Perséfone. — A tua família também vai

para lá?

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Abanei a cabeça.

— Nem por isso.

Só fomos uma vez, aliás. Paradise Point era fixe demais

para nós. Era a central das celebridades. Toda a gente que

fosse alguém na vida tinha lá um lugar. Praia perfeita, lojas

perfeitas e gente perfeita. Não era nada o estilo da minha

família.

— Nós temos um apartamento mesmo à beira da praia

— disse a Perséfone.

Pois claro que têm, pensei eu.

— Devias ir lá um dia destes e ficavas connosco.

Parei e olhei em redor. Mas a Perséfone ainda estava

realmente a falar comigo? Se calhar, tinha entretanto apa-

recido uma das amigas. Não. Ela estava mesmo a olhar para

mim.

— Ficar convosco? Em Paradise Point?

A Perséfone fez uma cara de quem se arrependeu da

proposta.

— Quer dizer, não faz mal que não queiras ir.

— Não, não. Quer dizer, sim! — exclamei. — Gostaria

muito.

— Só não sei quando, mas temos mesmo de combinar! —

A Perséfone parecia mais animada. — Aquilo é tão divertido.

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10

Dias grandes e quentes na praia, gelados deliciosos, bateladas

de tipos giros, e depois à noite deixamo -nos ficar até tarde.

Temos de combinar um dia destes.

— Completamente. — Ora cá estava aquilo a que eu

chamo diversão.

— Mas há uma condição.

Devia ter calculado que tinha de haver uma condição.

Estar com a miúda mais fixe da escola no seu apartamento

de praia parecia -me mesmo demasiado bom para ser ver-

dade. A Perséfone estava muito séria.

— Tu não podes nunca, jamais — pausa — tratar -me

pela minha alcunha.

— Ah, isso é fácil — disse eu, aliviada por não ter de

passar a nenhum exame do «fixe». — Eu nem sequer sei

qual é a tua alcunha.

Por segundos, a Perséfone parecia mesmo tímida.

— A minha família chama -me Percy Pony. Foi o meu

irmão quem começou, tinha ele três anos, e a alcunha ficou.

Eu sorri.

— É fofo.

— Mato -te se me tratares assim — disse ela, meio a rir.

Eu levei a mão ao peito num gesto solene.

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— Prometo que nunca te tratarei assim. — Depois hesi-

tei. — Sabes qual é a alcunha que a minha família me dá?

A Perséfone chegou -se mais, a sorrir.

— Bichaninha.

A Perséfone riu -se.

— Isso é que é mesmo fofo.

Eu fiz má cara.

— Quando tinha seis anos, talvez; mas agora é emba-

raçoso, especialmente quando temos amigos lá em casa e

a minha mãe me chama assim. — Até estremeci só de pen-

sar nisso. Talvez não o devesse ter contado à miúda mais fixe da

escola.

Todavia, a Perséfone limitou -se a abanar a cabeça.

— Os pais são uma seca. Espero que os meus cresçam

um dia!

Desatámos as duas a rir. A Perséfone enlaçou o braço no

meu e lá fomos as duas para a sala.

Eu ia a fervilhar de tão empolgada. Teria acabado de

ganhar uma nova amiga muito fixe?

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Quando deu o toque para o almoço, apercebi -me de que

se passava na minha vida algo novo e emocionante. Parecia

cedo demais para pensar na Perséfone como minha amiga,

mas as coisas estavam mesmo a mudar entre nós. Pormeno-

res, como ela a guardar -me lugar e fazer -me companhia no

caminho para a sala, eram pequenos sinais. Havia também

grandes sinais. Afinal, ela tinha -me convidado para ficar em

sua casa e até me contara acerca da alcunha secreta. O gelo

entre nós estava a quebrar -se. Ainda não éramos amigas

propriamente ditas e andávamos por enquanto em grupi-

nhos diferentes. Porém, eu agora sentia que teria mesmo

hipótese de a conhecer e apercebi -me de que ela também

me queria conhecer melhor.

CapítuloDois

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Talvez pudéssemos encontrar -nos numa das semanas de

férias? Quem sabe irmos às compras ou ao cinema? Eu só

iria acampar por uma semana. Depois disso, a Izzy e a Mia

voltavam à piscina, para treinar. Eu ficaria de certeza com

tempo livre para me dar com a Perséfone.

Não era que quisesse trocar de melhores amigas, mas a

ideia de uma amiga nova agradava -me. Especialmente uma

que tivesse tempo para se divertir. E o mais certo era a

Perséfone estar ocupadíssima nas férias, mas calculei que

não faria mal em lhe perguntar.

Esperei por ela à saída da sala. Ela apareceu finalmente

com a Tori, a melhor amiga. A Tori não era bonita como a

Perséfone, mas destacava -se do grupo porque tinha auto-

confiança, bateladas dela.

A Tori tinha começado a moda das tranças na escola.

Um dia, viera de trança e, no dia seguinte, toda a gente usava

o cabelo assim. Toda a gente, menos as raparigas do polo

aquático e eu. Nós usávamos rabos -de -cavalo. Não era que

eu jogasse polo aquático, mas usava o cabelo assim porque

me dava com elas.

— Então — começou a Perséfone. Mas, antes que eu

lhe pudesse perguntar pelas férias, a Tori levou -a dali.

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A Perséfone levantou o braço no ar teatralmente e

arqueou o corpo para trás, como se estivesse a ser arrastada

para a prisão. Depois fez -me sinal para que fosse com elas.

— Queres almoçar connosco? — chamou ela.

Sorri perante a ideia, mas depois abanei a cabeça nega-

tivamente. Eu almoçava sempre com a Izzy e a Mia. Não era

todos os dias que me convidavam para almoçar com as miú-

das fixes, mas eu sabia que não seria nada fixe dar tampa às

minhas amigas.

A Mia e a Izzy estavam no banco do costume. Sorriram-

-me, mas eu não as conseguia encarar. De repente, senti -me

um pouco culpada por ter sequer considerado almoçar com

a Perséfone e as miúdas fixes.

— Estás bem? — perguntou a Izzy quando me sentei.

— Safaste -te com a Blackmore?

— Safei — respondi. — Deu -me mais tempo. Até quinta-

-feira.

— Ai que bom, fazer trabalhos na última semana de

aulas — disse a Mia, a revirar os olhos.

— Pois é — disse eu, e suspirei —, mas a Perséfone disse

que me podia dar uma mãozinha com uns endereços de

uns sites úteis.

A cara da Izzy torceu -se numa careta. Parecia que aca-

bava de chupar um limão.

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— Percebes? — Ela pronunciou mal, de propósito, o nome

da Perséfone. — Desde quando é que vocês são amigas do

peito?

— Não somos — respondi logo. — Só estamos na mesma

sala e às vezes ficamos sentadas na mesma carteira, mais nada.

— Hesitei. — Ah, além disso, eu encontro -a na paragem

quando vocês têm treino de polo aquático depois das aulas.

Seja como for, ela só queria ajudar.

A Izzy enfiou um bocado de um queque que parecia

muito nutritivo na boca. Ainda tinha cara de limão azedo

quando rematou:

— Eu cá não confio nela.

— Mas nem sequer a conheces!

A Izzy encolheu os ombros.

— Conheço que chegue. — Depois começou a des-

fiar um rol enorme de razões para não gostar da Perséfone.

A maioria, coisas parvas. Não gostava do nome dela, nem

da forma como ela usava o cabelo, ou da maneira como ela

falava. Contudo, o principal crime da Perséfone, segundo a

Izzy, era fazer parte do grupo da Tori. — São todas umas

empertigadas.

Olhei com má cara para a minha barra de cereais meio

comida. A Izzy não sabia nada da Perséfone. Talvez houvesse

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raparigas empertigadas no grupo da Perséfone, mas ela não

era assim. Além disso, eu não precisava da autorização da

Izzy para ser amiga da Perséfone, ou fosse de quem fosse.

— A Perséfone até é bem fixe — disse eu. — E também

adora os The Lads.

A Mia e a Izzy praguejaram. Não suportavam os The

Lads e gemiam sempre que eu punha a tocar canções deles.

— Não sei — disse a Izzy devagar. — Há qualquer coisa

que não está bem numa rapariga tão bonita.

Eu não podia acreditar no que estava a ouvir.

— Então é por isso que não gostas dela? Porque é dema-

siado bonita?

A Izzy encolheu os ombros.

— Izzy, o que é que isso quer dizer? — perguntou a

Mia. — Gostas de nós porque não somos bonitas?

A Izzy abanou a cabeça.

— Eu não disse…

A Mia interrompeu -a.

— A Kitty é mais bonita do que a Perséfone. Então

como é que gostas da Kitty?

A Izzy tornou a encolher os ombros.

— A Kitty é diferente. Conheço -a desde sempre. Já a

conhecia ainda ela não era tão bonita.

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17

— Então? — refilei eu.

— Lembras -te de quando foste a uma festa do terceiro

ano mascarada de miúda das cavernas — disse a Izzy, aos

risinhos — e vestias uma coisa de pele velha que vinha da

cama do teu cão? E tinhas a cara mascarrada com carvão?

E o cabelo todo empastado e cheio de folhas, como se tives-

ses dormido no quintal uma semana inteira? — A Izzy

começou a engasgar -se com a risota. — Não, Kitty, tu não

eras mesmo nada bonita. A tua mãe deve ter mesmo um

sentido de humor tramado.

— Pois tem — disse eu, e ri -me. Era sempre difícil con-

tinuar zangada com a Izzy, especialmente tendo ela na

manga tantas histórias embaraçosas que nos aconteceram

na escola primária. — Onde é que a minha mãe estava com

a cabeça?

A Mia sorriu -nos. Detestava zangas e parecia contente

por estarmos amigas outra vez.

— É tão bom irmos acampar juntas.

— Pois é! — Exclamei, embora ainda me provocasse

um nervoso miudinho só de pensar nisso. — Uma semana

inteira numa tenda. Boa! Vai ser mais do que espetacular!

A Izzy e a Mia entreolharam -se. Percebi que tinha exa-

gerado no entusiasmo.

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— Tu vais adorar — disse a Mia. — Acredita no que te

digo.

A Izzy sorriu, descarada.

— Mas sabes que vamos improvisar, não sabes?

Encolhi os ombros.

— Hei de safar -me sem alisar o cabelo uma semana.

Não tenho medo de duches frios.

A Izzy riu -se.

— Não há chuveiros no sítio para onde vamos e tere-

mos de cavar um buraco para as necessidades.

Até me encolhi ao pensar numa sanita «faça você

mesma» — a humilhação de sair do acampamento com uma

pá e um rolo de papel higiénico, já para não falar nas moscas e

no cheiro. Ai, o cheiro! E se desenterrasse a que alguém já tinha

cavado? Que nojo! Depois reparei no ar preocupado da Mia.

— Estás bem? — perguntou ela. A mim só me apetecia

apagar o piaçaba da minha cabeça.

— Portanto, há mais alguma coisa que eu deva saber

sobre esse acampamento?

— Não te importas com cobras, pois não? — pergun-

tou a Izzy.

A Izzy sabia que eu me importava sim com tudo o que

rastejasse. Até as lagartixas me faziam impressão. Sei que elas

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têm patas e não rastejam propriamente, mas continuam a

parecer -se demasiado com cobras para o meu gosto.

Contudo, via -se bem a emoção que as minhas amigas

do peito sentiam com a minha adesão a ir finalmente acam-

par com elas.

— Não me importo com as cobras. Desde que fiquem

fora da tenda.

— E não te importas com carraças? Provavelmente há

algumas nesta altura do ano — disse a Mia.

Só de pensar num desses bichos do inferno pegajosos e

sugadores de sangue agarrados a um tornozelo, ficava toda

arrepiada. Com o sapato, enxotei uma carraça imaginária

do outro tornozelo.

A Izzy soltou uns risinhos, e eu ri -me mesmo, como se

fosse tudo uma brincadeira. Porém, sabia que não teria graça

nenhuma quando estivesse realmente no meio do mato.

Não me achava nada resistente para lidar com carraças e

cobras. Queria passar uma semana com a Izzy e a Mia, mas

não me agradava ter de aturar carraças ou não tomar duche,

e de certezinha que não queria cavar a minha própria sani-

ta. Já me começava a arrepender de ter aceitado ir com elas.

— Agrada -me o teu feitio, menina — disse a Izzy, em

voz de stora de Educação Física e a dar -me um palmadão

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nas costas. — Sei que detestas carraças, mas não vais deixar

que te levem a melhor.

Nisto, ocorreu -me uma ideia. Talvez eu conseguisse safar-

-me daquela viagem.

— Espero que a minha mãe me deixe ir — arrisquei,

em voz incerta.

— Claro que vai deixar — disse a Mia. — A minha mãe

comentou que ia ligar à tua ainda hoje.

— Ótimo — concordei eu com a voz débil. Sabia que a

minha mãe provavelmente diria que sim. Estava tramada.

— Vai ser tão fixe — disse a Mia. — Comer marshmallows

à roda da fogueira, ficar acordada até tarde a contar histórias

de fantasmas. Vais ver.

Deu o toque para o fim da hora de almoço.

— Kitty, não te esqueças de que temos encontro de polo

aquático mais logo. São as provas, lembras -te? — perguntou

a Izzy. Abanei a cabeça.

— Nem por sombras consigo entrar para a equipa.

— Tu és ótima. Vá lá, experimenta — pediu a Mia.

— Népias, tenho de fazer o trabalho de Geografia. — Sus-

pirei. — Seja como for, o polo aquático não é a minha cena.

Ainda não sabia bem qual era «a minha cena». Andava

ainda à procura.

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21

Até não era nada má a desporto, mas a Izzy e a Mia eram

tão espetaculares que toda a gente parecia inútil em com-

paração com elas. Também eram empenhadíssimas naquilo.

As duas tinham entrado para a secção de elite do polo aquá-

tico no princípio do ano. Desde então, quase não tinham

tempo livre. Estavam sempre a treinar.

Devia ser por isso que me agradava a ideia de passar

algum tempo com a Perséfone. Embora ela fosse uma das

raparigas fixes, até era bastante normal, comparada com a

Izzy e a Mia. Eu e a Perséfone até devíamos ter bastante em

comum. Parecia que ela gostava de ir às compras, de arran-

jar as unhas, de ir à praia. A Izzy e a Mia, por outro lado,

achavam que acampar é que era fixe. Elas praticamente só

tinham uma semana por período sem treinos e queriam

passá -la com cobras e carraças. Mas quem é que faz uma

coisa dessas?

Encaminhei -me para as aulas, perdida em conjeturas

para me safar das férias num acampamento. Porque é que

tinha de ser campismo?

Engoli em seco. As férias iam ser um inferno.

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SegueSegue

CoraçãoCoraçãoteuteu

JULIE

FISO

N

Durante meses a Kitty MacLean escondeu a sua paixão pelo Rio Sanchez – que é, provavelmente,

o rapaz mais giro do mundo. Tudo parece indicar que nunca conseguirá ficar com ele.

Até que...

A Kitty vai acampar com as suas melhores

amigas e descobre que o Rio está a passar férias ali

bem perto. Será que um acampamento sem água corrente é o local ideal

para encontrar a sua megapaixão?

Em vez de ir acampar com as amigas, a Kitty

vai de férias para a praia com a popular Persephone.

Ela tem a certeza de encontrar o Rio. Mas terá a Kitty agido corretamente? E será que o Rio vai gostar

dela apesar do que fez?

Depois de leres este livro, segue o teu coração até ao próximo:

SegueSegue

teuteu

CoraçãoCoração

JULIE FISON

1Segue o teu

coração até ao

final perfeito,

Tu é que decides!

Tu é que decides!Segue o teu coração até ao final perfeito,

ou volta atrás e começa tudo de novo.

Amigas para sempre?

Amigas para sempre?

Am

igas para sempre?

www.booksmile.pt

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Literatura Juvenil

9 789897 073045

ISBN 978-989-707-304-5

I SBN 978-989-707-304-5

Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_CAPA.indd 1 5/12/14 11:52