testemunhos 25 abril de 1974 gonçalo santiago-6ºb

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Page 1: Testemunhos 25 abril de 1974 gonçalo santiago-6ºb
Page 2: Testemunhos 25 abril de 1974 gonçalo santiago-6ºb

Neste trabalho realizei 6 entrevistas a familiares e amigos que viveram os acontecimentos do 25 de Abril de 1974.

Perguntei como viveram esse dia, do que se recordavam, como souberam das notícias e como foram os dias seguintes à

revolução?

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Estava em casa e pelas 7h30 da manhã ao ligar a rádio, ouvi as noticias que eram constantes sobre a revolução que se tinha iniciado. Recordo a música que tocava repetidamente na rádio “Grândola vila morena “ uma musica que era na altura proibida pelo sistema. Tinha 44 anos e fiquei muito aflita. Acompanhei pela televisão as notícias, onde me recordo ver os militares na rua, com armas e canhões. De tarde e como habitual fui dar aulas. As crianças estavam preocupadas , assustadas sem perceber o que se estava a passar. Tentei explicar o que estava a acontecer e principalmente tranquilizá-las. Dei aulas durante a tarde mas sempre muito preocupada pois tinha a minha filha de 10 anos no ciclo. Estava aflita com algo de mau que pudesse acontecer e assim decidi acabar com a aula nesse dia mais cedo, mandei todos os alunos para casa e recomendei que não saíssem para a rua. Fui então buscar a minha filha à escola e fiquei em casa, sempre a acompanhar as notícias. Recordo que nesse dia muitos aviões passaram e que isso me deixava nervosa, pois tinha medo de uma guerra civil. Mas ao final do dia, pela televisão ao ver as pessoas abraçadas em cima dos canhões ao lado dos soldados sorridentes e com cravos vermelhos percebi que esta seria uma nova etapa onde a liberdade e as oportunidades poderiam ser uma realidade. Um novo Portugal estava a nascer.

Maria Balbina Xavier SantiagoAvóNa altura era professora primaria e tinha 44 anos.Vivia em Fiães. Natural de Sabrosa.

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Nesse dia estava em casa e soube das notícias pela Rádio Renascença. O meu marido tinha ido fazer uma viagem e fiquei muito preocupada. Não fiquei contente na altura, pois temia muito o que iria acontecer. Tinha medo que tudo se transformasse numa guerra. Aqui em Grijó havia pessoas muito contentes e outras muito preocupadas. Quando meu marido chegou pela noite vinha numa enorme alegria. Eu como estava tão nervosa zanguei-me com ele, pois não acreditava que fosse uma coisa boa o que estava a acontecer. Fiquei muito triste e sentida com o que fizeram ao Marcelo Caetano, pela forma como o levaram para a Madeira, pela forma como o maltrataram. Gostava muito dele, pois era um homem sério e íntegro. Para mim foi uma grande injustiça.Lembro-me dos comunistas que só faziam asneiras. Queriam tomar conta de tudo e não queriam trabalhar. Os comunistas eram a minha maior preocupação pois não via um grande futuro com eles, pela forma como agiam: a roubar, a ocupar, a maltratar as pessoas. Lembro-me que os comunistas queriam ocupar a RR no Porto e de lá pelo rádio os locutores pediram à população para os irem ajudar, pois estavam fechados no 7º andar do prédio da RR. Os comunistas queriam tomar conta da estação da rádio. O meu marido foi para o Porto ajudar e a polícia incentivava o povo a opor-se aos comunistas. Diziam…”vocês avancem que nós estamos por trás para ajudar quando for preciso.” Foi uma fase de grande preocupação que não recordo com alegria.

Dº Nazaré BarrosVizinhaNa altura era dona de casa e tinha 40 anos.Vivia em Grijó. Natural de Vila nova de Gaia.

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Como tinha o habito de ouvir radio durante a noite fiquei durante a madrugada acordado a procurar entender o que se passava pelas notícias que iam passando. De manhã, confirmei que o exército estava na rua e que a revolução tinha iniciado. Fui para o trabalho sempre com a preocupação do que poderia acontecer. Na empresa, a inquietação era grande e todos estavam excitados, pensando numa revolução, mas também apoquentados pois o governo poderia não cair e iniciar uma guerra civil.Durante o dia as noticias iam melhorando e ao ver que não aconteceram confrontos fiquei mais tranquilo. Com o cair do governo fiquei contente com a nova liberdade que poderíamos ter mas também que muitas lutas políticas estavam por acontecer. Recordo as notícias do Alentejo onde muitas herdades foram ocupadas pelos comunistas e essa era uma grande preocupação que tinha. Até haver paz e verdadeira liberdade muito ainda iria acontecer.

Sr. Custódio SantiagoAvôNa altura trabalhava na empresa Cinca e tinha 43 anosVivia em Fiães. Natural de Guisande.

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Foi através da radio pela manhã. Fiquei muito aflita pois acreditava que uma guerra civil poderia acontecer. Nas ruas ouvia manifestações de alegria, mas eu fiquei em casa com medo de que algo de mau pudesse acontecer. Durante o dia pela televisão acompanhei as manifestações mas quando vi pela televisão as pessoas a abraçar os militares e os militares com as armas com cravos vermelhos entendi que esta poderia ser uma revolução sem mortes e pacífica. Então fiquei mas tranquila e imaginei uma nova etapa em que Portugal iria entrar.

Dª Alzira AmorimVizinhaNa altura era professora primária e tinha 42 anos.Vivia em Fiães. Natural de Arouca.

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Na altura estava a trabalhar na fábrica quando soube da notícia. Tinha 34 anos. Fiquei contente pensando que iriam regressar a Portugal aqueles políticos que estavam fora do Pais. Pensei que iriamos ter mais liberdade. Marcou-me muito esse dia e os seguintes. Durante o dia e sempre que conseguia ia junto do rádio para saber como estavam a correr as coisas em Lisboa e no Porto. Recordo os meus colegas muito felizes porque Portugal iria mudar. Nesse dia a minha vontade era ir para o Porto juntar-me às manifestações. Estava pronto para tudo, pois estava cansado da miséria e da fome em que vivia Portugal.

Sr. Domingos SantosAmigoNa altura era trabalhador da industria corticeira e tinha 34 anos.Vivia em Lourosa. Natural de Lourosa

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Estava em Paris, tinha emigrado uns anos antes. Pela televisão e radio Francesa soubemos da revolução em Portugal. Alguns familiares telefonaram a contar que se tinha iniciado uma revolução. Através da Tv, jornais e rádio acompanhei dia a dia, hora a hora o que se passava em Portugal. Fiquei muito preocupado com os meus familiares, pois tinha medo que se iniciasse uma guerra civil. A seguir à revolução tinha um sentimento de alegria de que podia regressar a um Portugal livre. Onde a liberdade de expressão era possível e o nível de vida podia ser bem melhor. Um ano depois quando voltamos de férias a Portugal notei grandes diferenças: um povo mais alegre e uma enorme diferença na liberdade de expressão. Havia liberdade e tudo tinha mudado. Portugal estava a ferver com a mudança.

Sr. Manuel PinhoVizinhoNa altura emigrante e tinha 26 anos.Vivia em Paris. Natural de Lourosa.

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