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Testemunhos de 2007/2014

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“DE UM LADO CRESCE O PAÍS, DO OUTRO A MISÉRIA E A FOME QUE SUBSISTEM NAQUELES QUE FAZEM, TODOS OS DIAS, A HISTÓRIA DO POVO DE

ANGOLA.

Caminhar por estes bairros, sempre atentos a onde colocamos os pés, dá alguma dor de alma quando se pensa num país tão rico como é Angola, mas sente-se no coração destes lugares o palpitar de uma nação jovem que se alegra com os outros numa partilha constante do pouco que se tem e do muito que se é e sente!

Ao falarmos com os jovens sentimos na sua voz e no seu querer um acreditar num futuro bem melhor!”

Teresa Vieira e Elmano Campina, 2009, Formada em Ciências Religiosas e Informático

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“DAR… era o que tinha em mente quando embarquei nesta viagem. Dar o que fosse preciso, dar de mim o pouco que tinha para dar. Recebi tão mais do que dei.

O sonho de uma vida transformou-se na própria vida. Uma explosão de cores, sabores e aromas. Aquela luz que não se explica, sente-se. Aquele mar que não se descreve, entranha-se, numa beleza infinita. Aquela chuva que conforta o espírito. Aquela terra que nos curva perante a sua magnificência. O calor que nos aquece o coração. Um turbilhão de emoções onde as certezas absolutas e dogmáticas se tornam ambíguas, turvas.

Os conceitos questionam-se, perseguem-nos as perguntas e irremediavelmente reflecte-se sobre o sentido das coisas. Deus e o mundo, como compreender e ultrapassar a corrupção, a vida, a enfermidade e a morte, o que é a verdadeira riqueza e pobreza, que importância têm as pessoas na nossa vida, quem se ama, como se ama, o que é preciso para se ser feliz? O agora é já! O presente acontece no momento e o amanhã é uma mera possibilidade.” - Ana Freitas, 2010, Assistente Social

“Estar aqui é sentir… é amar e sentir-se amada de uma outra forma… é o saber a sorte que se tem em estar viva, a importância daqueles que deixamos para poder aqui estar, a importância daqueles por quem deixamos tudo.

Aqui não existe trabalho: existe vida. Será melhor dizer que as pessoas que aqui encontrei são todos os dias a minha vida e que enquanto aqui estiver a minha vida é delas. Talvez possa mesmo afirmar que parte de mim será para sempre delas. Elas que me fazem sentir mais viva, que me fazem encontrar um outro sentido. Elas com quem me descubro! Aqui, na profundeza dos olhos negros, encontrei a beleza do olhar. Como será possível que olhos tão iguais tenham olhares tão diferentes e tão belos?” - Ana Freitas, 2011, Assistente Social

“Durante este tempo, entre períodos em que estive em África e outros em que estive em preparação ou simplesmente à espera de documentos, só respirei Angola. A minha vida volveu em torno da missão e ela tornou-se o foco de todo o meu ser. Sacrificada foi a minha família e amigos mas que, mesmo quando não compreenderam, à sua maneira, sempre me apoiaram. Em todos os momentos estiveram presentes comigo. Cada gesto, cada abraço por mim dados, tinham-nos a eles. Quando amei foram também eles que amaram. Limitei-me somente a transmitir o que deles recebi.” - Ana Freitas, 2012, Assistente Social

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“APÓS O CANSAÇO DA VIAGEM E O PRIMEIRO CONTACTO VISUAL COM A TERRA DE

TIMOR LEMBREI O NOSSO EÇA ‘SE A TUA DOR TE AFLIGE FAZ DELA UM POEMA.’

(...) O resto do percurso fi-lo ciente de que nada iria ser fácil, ia cometer muito erro, não era a pessoa mais capacitada para a tarefa, faltava-me experiência, o tempo era pouco e não sei mais quantas coisas que, não tentei esquecer mas aproveitar para, com todas, tomar consciência desta nova caminhada.”

Leonida Milhões, 2013, Professora

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“Se VOLUNTÁRIO é aquele que, de livre vontade, executa uma tarefa ou serviço não é menos verdade que voluntarioso é o amigo de fazer a sua vontade e, também, o teimoso. Assim sendo tornamos, muitas vezes nossas causas em teimas ou vice versa, pese embora, o tempo e disponibilidade postos ao serviço de outros e, mesmo sem estatuto de voluntário, todos fazemos voluntariado nos mais diferentes contextos.

Exemplos de disponibilidade com tempo para partilhar, acompanhar, ouvir, estar e ser presença sempre surgem em nossas vidas quotidianas e, destes, alguns destacam-se pois deixam sua marca bem impressa durante essa passagem. Assim aconteceu com muitos cujas vidas cruzaram as nossas dando a segurança necessária à nossa caminhada apesar de, muitas vezes, não os termos valorizado visto ou sentido. Ao reclamar a falta de presença, em momento difícil, pois na areia só umas pegadas havia, surge a resposta: ‘- Eu estava lá, se apenas vês umas pegadas é porque nesse momento Eu te levava ao colo.’ e lá estiveram, servindo de guia ou, fazendo coaching, familiares, amigos, catequistas, párocos, chefes, professores, prefeitos e todos os que com seu trabalho, valores , exemplo e vida fizeram de nós aqueles que hoje somos.

Agradecer suas vidas, sendo nosso dever, implica também a responsabilidade de continuar cientes, como o poeta andaluz, ‘de que não há caminho. O caminho faz-se caminhando.’ Então, nossos sonhos crescem e são projectos que um dia podem ser realidade.” - Leonida Milhões, 2013, Professora

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“EM MOÇAMBIQUE O DIA É LONGO… TEMOS TODO O TEMPO DO MUNDO, POIS COMO DEVEM IMAGINAR NÃO EXISTE O ‘STRESS’ DE APANHAR TRÂNSITO, DE ESTACIONAR, DE VOLTAR PARA CASA E PASSAR UMA NOITE A VER MAIS UM PROGRAMA DE TELEVISÃO.

Em Moçambique reaprendemos a viver com os outros, a ter tempo para os outros e sobretudo a sorrir… com os outros!”

Inês Jorge e Luís Costa, 2007, Médica e Educador de Infãncia

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“Parece que a minha vida já não faz sentido sem que as férias lectivas cá sejam passadas lá. Cá, sentir-me-ia inútil, sem grande rumo a dar àqueles dias, de descanso, mas também de marasmo… Lá, estou com pessoas que me trazem novo alento, uma lufada de ar que refresca a mente e a alma e me deixa com ânimo para enfrentar um novo ano lectivo. É tão diferente entrar numa sala de aula em Moçambique! É tão gratificante ver rostos e seres ávidos de saber, que nos procuram como professores, mas também como amigos, confidentes, ou as mães que cedo perderam…” - Maria José Silva, 2007, Professora

“Acho que contribuí para a sua valorização cultural, mas, se calhar, foi mais o que recebi do que aquilo que dei. E o que é que recebi? Lições de optimismo perante a vida, apesar das dificuldades; lições de fé, simples, despida de convencionalismos; lições de paz e harmonia ao ritmo da natureza. Gostei de dar aulas de Português àqueles professores e àqueles alunos. Como era grande o seu interesse, apesar das enormes carências de material escolar e didáctico!” - João Matos, 2007, Professor

“Voltar para vos ver. Voltar para vos falar. Voltar para convosco crescer e vos ver mais crescidos. Voltar para continuar e dar mais que pudesse. Voltar para apaziguar saudades.

Voltei. Voltei a ver-vos e a sentir a vossa alegria, a vossa beleza, o vosso percurso, a vossa evolução. Voltei a admirar a Obra Salesiana. Voltei e reencontrei-vos.” - Mafalda Sebastião, 2007, Advogada

“ORGULHO-ME deste enorme fragmento do meu passado, orgulho-me ainda mais de ter a capacidade de reconhecer que a vida sem relações humanas, trocas de aprendizagens, sentimentos, sorrisos, lágrimas, ideias, cumplicidades… não tem sentido absolutamente nenhum. Sinto-me uma afortunada por saber que nunca mais voltarei a ser a mesma.” - Sara Ribeiro, 2007, Gestora

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Fotografia de Benedita Siqueira

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“O desafio de realizar uma peça de teatro com os órfãos internos (‘O Principezinho’, de Antoine de Saint-Éxupery) sem sala de teatro, sem palcos nem luzes, sem adereços ou cenários e com pouquíssimas coisas à disposição conduziu a um incomparável trabalho de equipa. É incrível como se consegue improvisar e obter um resultado espantoso quando se faz com amor!” - Sandra Rodrigues, 2008, Professora

“Foram quatro semanas intensas e com muitas actividades. Uma experiência de vida e de Fé marcante que nunca esquecerei e que sinto que ainda agora começou... Guardo no coração as amizades que fiz e tudo o que vivi mesmo num período curto!” - Daniel Pinheiro, 2008, Afinador de Pianos

“O Moçambique que observei parece um país paradoxal! Por um lado observamos as maravilhas da Natureza que Deus cria, a abundância e diversidade de plantas, de frutos e a riqueza dos solos. Por outro, existe um trabalho educativo muito grande a fazer para aprendermos a cuidar da Criação e dos nossos irmãos. É urgente conciliar a justiça social e justiça ecológica.” - João Gonçalves, 2009, Técnico Superior de Animação Cultural

“Atrevo-me a dizer que as pessoas devem procurar ser felizes com o pouco ou o muito que têm, devem dar valor à vida que lhes é concedida, todos os dias, mesmo que lhes pareça injusta, pois o bem maior já todos temos: somos filhos de Deus e preciosos aos seus olhos. Só temos de reparar nisso, eu inclusive. Lá descobri que sou fraca e distante de Deus.

Se ensinei? Espero que sim. Mas prefiro que a resposta seja dada pelos que me conheceram.” - Adriana Augusto, 2007, Professora

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“Vamos para educar e ensinar, mas são eles que nos educam e ensinam a dar valor ao que realmente importa. Quando embarcamos nestas experiências queremos mudar o Mundo. Temos que nos mentalizar que isso não acontece, mas pelo menos, a um pequeno grupo vamos fazer a diferença e é a isso que temos de nos agarrar.” - Benedita Siqueira, 2012, Licenciada em Marketing e Publicidade

“Visitei comunidades de bairros muito pobres, onde a maior parte das pessoas sobrevive com cerca de 50 Euros por mês, onde as escolas estão cheias de crianças (uma turma tem entre 50 a 60 alunos), onde nem sempre é fácil aprender por faltar tudo: mesas, cadeiras, material escolar, alimentação. Também visitei alguns lugares mais parecidos com a nossa realidade. É aí que sentimos alguma “revolta” pelas diferenças encontradas: uns com tudo, outros com quase nada. Muitas vezes, de um lado da rua encontra-se o paraíso, do outro, o inferno. E apetece-me gritar ‘PORQUÊ?’. Mas ninguém me escutaria.” - Maria José Silva, 2010, Professora

“Assumindo este compromisso e com o carisma salesiano, pude ensinar! Não apenas Português, mas acima de tudo educar para os valores da entrega e da gratuitidade. Penso que com o meu humilde exemplo, pude fazer nascer alguns sorrisos, promover a equidade social e a sustentabilidade, através dos projectos de alfabetização, informatização e até de agricultura e pecuária – aos quais me dediquei de corpo e alma, literalmente, trabalhando na machamba e vendendo os nossos produtos no mercado, para assim ajudar a dar de comer aos nossos rapazes mais carenciados e internos.” - Sandra Rodrigues, 2010, Professora

“Vale a pena estarmos longe de quem mais amamos, a nossa família amigos de sempre que para sempre ficarão... pois assim entregamo-nos melhor à missão, a todos os desafios que encontramos pela frente e conseguirmos ver melhor aquilo de que realmente somos capazes de fazer e ser.” - Sara Ferreira, 2009, Engenheira Agro-Pecuária

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“Durante 3 meses vivi num mundo ao contrário: as terras a norte eram mais quentes, as terras a sul eram mais frias. Não existem estações do ano. O tempo passa a um ritmo diferente, cada minuto é encarado como especial. A cada tempestade as pessoas sorriem e agradecem pela vida (em vez de se revoltarem contra Deus por ficarem sem casa e sem comida). A vida faz sentido na entrega aos outros e não num caminho solitário à conquista de interesses pessoais.” - Mafalda Mascarenhas, 2012, Estudante Universitária

“Partir em missão é como abraçar alguém, agarrar uma causa, único momento, sentir uma satisfação pura, prazer de se dar. O estar disponível para ser voluntário implica força de vontade, prazer em ajudar, disponibilidade e muitas vezes deixar quem mais amamos para partir. Por vezes, não é fácil, é preciso aceitar o que vem e encarar da maneira mais sincera e simples, é como estender uma mão para dar e outra para receber. Procuramos sorrisos sinceros e esperamos dar o nosso melhor.” - Janete Massuça, 2012, Professora

“Este trabalho permitiu-me testemunhar a relevância do trabalho realizado pelos Salesianos num pais tão genuinamente acolhedor e de um povo que marcou-me pela sua fraternidade e alegria inata, onde senti-me sempre um entre os demais por toda a comunidade Salesiana.” - Hugo Machado, 2012, Licenciado em Economia

“Ao assistir às aulas verifiquei que alguns alunos trazem de suas casas cadeiras para se sentar. Nesse momento verifiquei o número elevado de injustiças que existem pelo mundo fora. Cheguei à conclusão que os nossos alunos em Portugal levam para a escola nintendos para brincar e estas crianças com os mesmos direitos e deveres transportam para a escola o lugar para se sentarem.” - Joana Massuça, 2012, Estudante do Ensino Básico

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“Terminada esta experiência reconheço o quanto do mundo me era desconhecido até então. Podemos ver fotografias e ouvir histórias de outras gentes, mas senti-las em primeira mão é uma experiência transformadora. Só trabalhando diretamente com estas comunidades nos apercebemos da dimensão de alguns problemas de saúde e sociais, como a pobreza ou a infeção por HIV. Compreendi que sozinhos não podemos mudar o mundo, mas que somos valiosos se aliviarmos um pouco do sofrimento destas pessoas (principalmente num país que tanto precisa de caridade).” - Sara Costa, 2014, Médica

“Vivi em comunidade nas três Casas Salesianas por onde passei o que me permitiu participar em todos os seus atos religiosos e assim aprofundar e aumentar a minha fé. O ter vivido integrado no dia a dia das Casas permitiu-me também ter ficado com uma maior noção da vida Salesiana que muito se surpreendeu pela positiva. Realmente desenvolvem um trabalho único a favor do ensino, sobretudo profissional.” - Jorge Luz, 2014, Militar

“Ser psicóloga em Moçambique não é tão diferente de o ser em Portugal. Mas algumas realidades, necessidades, vivências e características da cultura fizeram-me ir para além dos meus horizontes, colocar-me na pele, no coração e na mente das crianças e dos jovens que encontrei. Tudo isto fez-me ‘ser mais’, recebendo muito mais do que o pouco que dava.” - Natália Pita, 2013, Psicóloga

“Lembro-me perfeitamente do dia em que pensei pela primeira vez ‘vou ser feliz aqui’. Na segunda-feira, dia 23, roubaram-me, por descuido meu, os dois telemóveis. Estava sozinha em África e sem contacto nenhum com Portugal, desesperei. Mas, por mais incrível que pareça, no dia a seguir acordei, fui dar uma volta com a Beny pela cidade e pela vila e senti que estava realmente no lugar certo. Naquele dia, senti que tinha tomado a decisão correta ao embarcar naquela aventura, nunca antes nada me tinha parecido tão acertado.” - Inês Pinheiro, 2012, Licenciada em Comunicação Social e Cultura

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“PREFIRO UMA IGREJA ACIDENTADA, FERIDA E ENLAMEADA POR TER SAÍDO PELAS ESTRADAS, A UMA IGREJA ENFERMA PELO FECHAMENTO E A COMODIDADE DE SE AGARRAR ÀS PRÓPRIAS SEGURANÇAS”

EVANGELII GAUDIUM, 49 Posso dizer que já há muitos anos que o desejo missionário existia dentro de mim. A vontade de mudar o mundo para melhor era uma vontade constante, mas estava preso à comodidade e às seguranças que existiam no meu mundo e, por isso, a ideia de ir para África trabalhar com os que mais necessitam não passava de um sonho. Depois de terminada a minha licenciatura em Terapia da Fala, foi inspirado nas palavras do Papa Francisco nas Jornadas Mundiais da Juventude no Rio de Janeiro e mais tarde na sua exortação apostólica Evangelii Gaudium que decidi romper com tudo o que me prendia e dar passos definitivos e concretos para concretizar a minha missão ad gentes. Foi assim que no dia 19 de Janeiro, depois de uma preparação

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cuidada, através do Programa D. Bosco Projeto Vida e da Fundação para a Fé e Cooperação, parti do aeroporto de Lisboa rumo à Paróquia-Missão de S. José de Lhanguene, em Maputo.

Quando aterrei em Maputo o termómetro marcava 26ºC e não demorei a perceber ‘no terreno’ que todas as camisolas com que trazia vestidas, para me proteger do frio lisboeta, de nada me serviriam. O choque inicial não foi dramático como me diziam ser, talvez por estar já à espera do pior, mas ainda assim era impossível que as ruas fizessem parecer com que estávamos numa capital de um país ou mesmo numa cidade. A luz na estrada era pouca, o estado da estrada não era de todo o melhor, as pessoas sentavam-se à beira da estrada, onde existia lixo que se misturava com a areia, esperando que alguém lhes comprasse uma garrafa de Coca-cola por 20 meticais. Aqui em casa, vim encontrar-me com uma pequena comunidade religiosa, constituída por 2 padres e 3 irmãos Salesianos. Ao nosso lado começava, no dia seguinte por visitar as duas camaratas dos rapazes que iríamos acolher, cada uma com mais de 30 camas. Cada rapaz teria direito a uma cama, um cacifo para guardar todos os seus pertences pessoais e uma carteira na sala de estudo onde podiam colocar todo

o material escolar, certamente mais do que muitos poderiam ter em casa.

Assim começava a primeira semana, a conhecer e a preparar, com a ajuda dos assistentes, tudo o que era necessário para a chegada de cerca de 60 rapazes que aqui viriam viver aqui para terem uma oportunidade de estudar. O entusiasmo pela novidade não parava e havia a sensação de ser a preparação de um dos momentos mais marcantes da minha vida. Na semana seguinte as saudades já começavam a surgir, o sentimento de não saber muito bem o que fazer e por onde ajudar começava a aparecer, mas tudo ia sendo suportado através das partilhas animadas com os assistentes e com a ajuda da oração comunitária diária. Tudo haveria de se compor ainda mais com a chegada dos miúdos e começo das aulas, no dia 2 de Fevereiro. Não demorei muito tempo para perceber as dificuldades escolares que muitos apresentavam, sobretudo ao nível da leitura e escrita, área onde eu melhor podia intervir. Desde aí o trabalho não tem parado, não só na ajuda escolar, como também como catequista e nas aulas de solfejo. É assim que tento cada dia ajudar estes rapazes a crescerem. “Esta casa serve para vocês crescerem”, dizia o pe. António, “é importante que saiam daqui não só bons

alunos como boas pessoas”, concluía o irmão Gomes.

A sensação de gratificação cresce a cada dia, através dos sorrisos brincadeiras e conversas. É verdade que, por vezes, este sentimento ainda é abalado por algumas saudades e frustração quando não conseguimos cumprir o esperado. Contudo, essa frustração faz-me perceber a importância de quando me disseram “não queiras mudar o mundo pelas tuas forças”, pois o verdadeiro objetivo que pode fazer a diferença é entregarmo-nos a cada criança com o Amor de Deus, o amor que levou D. Bosco a construir os Salesianos. Só isto pode fazer a diferença porque é esta entrega que fica, enquanto nós vamos.

Por tudo isto, termino dizendo que tem sido fantástico estar nesta casa; tem sido fantástico fazer parte da obra que D. Bosco quis edificar e que continua tão viva; tem sido fantástico fazer parte da vida destes rapazes. E se nada ficar retido dentro das suas cabeças da minha presença, que fique guardado nos seus corações que em 2014 um jovem, por vontade de Deus, quis sair de Portugal para lhes entregar um pouco da sua vida.

Ricardo Mendes, 2014, Terapeuta da Fala

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“FOI MARAVILHOSO CONHECER UM POVO QUE TEM TANTO PARA DAR APESAR DAS GRANDES DIFICULDADES EM QUE VIVE.

CABO VERDE É VIDA! LÁ, AS PESSOAS MAIS FELIZES NÃO TÊM AS MELHORES COISAS, MAS APROVEITAM O MELHOR QUE TÊM.

Quem realiza este tipo de trabalho aprende que recebe mais do que dá. Rapidamente nos apercebemos de que não vale a pena preocuparmo-nos se temos ou não as melhores condições porque tudo passa a ser natural e a fazer parte do nosso dia-a-dia.” - Maria José Barroso, 2013, Professora

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“Muitas ideias terão ficado por realizar… um mês foi pouco tempo para concretizar tudo o que levava na mente e no espírito, mas o tempo real nunca corresponde ao tempo ideal, porque esse se reporta ao sonho, e o primeiro à realidade. E esta experiência misturou o sonho com a realidade. O sonho de poder ser útil e capaz de levar àquelas crianças, que durante aquele período me foram confiadas, a esperança da felicidade que vem na Palavra de Deus e testemunhá-la com alegria num dia-a-dia partilhado.” - Mariana Nabais, 2008, Estudante

“Era EMOCIONANTE ver os seus sorrisos de alegria e a sua boa disposição durante todo o tempo que passávamos juntos! O saber que aos fins de semana ficavam tristes porque não havia Escola de Verão, foi algo que me comoveu.” - Cláudia Fernandes, 2008, Professora

“A partida é sem dúvida um acto de soltar amarras. Partir é no fundo ‘partir-se’, é ‘afastar-se’ de uma série de certezas para voltar a ‘construir-se’ e saborear o dom da vida!” - Claudine Pinheiro, 2009, Gestora de Marketing

“Quando começou a Escola de Verão, era chegada a altura de aplicar toda uma expectativa, um sonho. Comunicar, construir, transmitir valores, mas também o mais simples, carinho e compaixão. Foi essa a nossa tarefa e com a maior honra procurámos cumpri-la.” - Diogo Seixas, 2010, 12º. Ano

“Um povo apaixonante, com muito para dar, sem querer nada em troca. É assim que resumo Cabo Verde. O meu coração continua lá. E vai ser difícil fazer com que ele regresse.” - Joana Ressurreição, 2010, Estudante Universitária

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“Eram rapazes e raparigas muito humildes e amigas/os, como dos seus amigos ou pessoas que estavam a ver pela primeira vez na sua vida. Marcou-me muito ver que eles davam-me o pouco que tinham, para ficar com uma recordação deles...

Lá fiz muitos amigos e amigas, mas não daqueles que dizem que são amigos ou amigas por dizer, são aqueles que quando precisamos estão ao nosso lado, mas também nós ao lado deles.” - Joana Massuça, 2011, Estudante do Ensino Básico

“Posso dizer-vos que a primeira noite passada em São Vicente foi surreal! Sozinha num quarto desconhecido, numa casa desconhecida, com pessoas desconhecidas, um calor igual ao que se fazia sentir durante o dia… Toda esta estranheza foi-se atenuando com a simplicidade das pessoas, a sua simpatia, com a sua morabeza (amabilidade).” - Patrícia Maurício, 2012, Professora

“Não interessa porque comecei, interessa porque continuei, o que me motivou inicialmente foi um motivo intrínseco, que só dizia respeito a mim mesmo, nada tinha a ver com ajudar ou ser solidário, mas estou lá ainda, porque aprendi o que é o voluntariado e apaixonei-me por ele.” - Patrícia Ramalho, 2012, Licenciatura em Psicologia Educacional

“Foi uma das experiências mais marcantes e positivas que realizei até hoje.

Não gosto das despedidas, deixo apenas um até já... Quero repetir, quero ajudar, quero aprender, quero dar, quero receber, quero estar com quem mais precisa de mim.” - Janete Massuça, 2011, Professora

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“O facto de viver no meio de baratas, ratos e tudo mais tornou-se habitual. A constante inquietação em relação ao facto de poder acabar a eletricidade ou a água tornou-se parte da rotina. A areia nos pés a toda a hora, o cheio a aterro, a música todas as noites, o crioulo...tudo se tornou natural para nós. O mais importante era dar um pouco de miminhos e liberdade de expressão a quem mal sabe o que isso é.” - Margarida Cepeda, 2013, Estudante

“Com o meu grupo, decidimos trabalhar a arte de amar, a importância de amar os outros. Era tão enriquecedor ver que aquelas crianças com o passar dos dias começavam a interiorizar aquilo que lhes tentávamos transmitir. Mas no fundo, o que fica é o nosso exemplo aquilo que lhes fomos mostrando, nós somos o espelho das crianças.” - Cláudia Maia, 2013, Educadora de Infância

“Duas experiências, em duas ilhas diferentes, com um mesmo objetivo: amor e serviço aos jovens. Saudade e vontade de voltar existe, mas agora também há que colocar em prática as coisas que por lá aprendi, porque aprende-se muita coisa, por vezes, aprende-se muito mais do que se transmite aos outros.” - Diogo Pinto, 2013, Animador Social

“Cabo Verde foi para mim uma terra que me acolheu durante 20 dias de alguma privação, pouco descanso, trabalho diário esgotante mas, foi lá no bairro da Boa Esperança na ilha da Boa Vista que me senti mais útil, mais reconhecido, mais necessário e mais amado do que em qualquer outro local por onde já tenha passado. Não há valor possível ou palavras que expliquem o sorriso de cada criança, o abraço de cada pequenino e as lágrimas de cada um que nos viu partir. A Saudade é muito pois, em terra Africana fomos felizes com pouco, ou com muito? Tivemos tudo o que é necessário para poder dar valor ao dom da Vida, ao auxílio e partilha com o próximo.” - Pedro Roque, 2013, Fisioterapeuta

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“É que afinal, luxos são isso mesmo e não trazem assim tanta felicidade, da mesma forma que família é quem nos abraça todos os dias e quem ora connosco e por nós, e afinal a verdadeira sabedoria está onde menos se procura. Se pudesse voltar, não voltaria a dizer que ia lá ajudar, dizia antes obrigada, lá e com eles e com a família que viveu comigo aprendi o que é a vida, segui Dom Bosco e encontrei Deus. ” - Ana Fonseca, 2013, Fisioterapeuta

“Com os 8 missionários aprendi o que é o espírito de grupo: todos tínhamos calor, todos tivemos uma noite ou outra em que dormimos mal, todos chegávamos ao fim do dia cansados, etc., mas cada um de nós fez rir os outros todos com incontáveis piadas e inúmeras situações, cada um de nós teve um abraço quando um dia foi difícil, e cada um de nós dividiu o guardanapo de papel ao meio e deu a outra metade!” - Madalena Pontes, 2013, Estudante Universitária

“Os dias eram passados em atividades com as crianças e jovens. Com os mais pequenos os jogos, brincadeiras, danças e músicas eram as atividades mais apreciadas. Com os mais velhos as dinâmicas, debates, jogos e reflexões levavam a melhor. E, como não podia deixar de ser, a espiritualidade juvenil salesiana estava presente em cada um destes momentos mas também nos bons-dias e nas eucaristias que realizávamos diariamente.” - João Fialho, 2013, Estudante de Engenharia Biológica

“No início, era tudo novo. A experiência era nova, o local desconhecido e as pessoas eram estrangeiros que nunca tínhamos visto. Tudo era tão diferente daquilo que nos lembramos agora! Na verdade, passado uma semana já olhávamos aquela experiência de uma maneira completamente diferente. As pessoas e os espaços já não nos eram estranhos, tudo era mais pessoal e fazia sentido.” - Bernardo Silva, 2013, Estudante de Medicina

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“Sabemos que não mudámos o mundo, nem o bairro, nem a escola mas com certeza deixámos a nossa marca. Dou por mim a dar mais valor ao meu estilo de vida, mas a desejar o deles, todos os dias desde que cheguei.” - Madalena Morais, 2014, Licenciatura em Relações Públicas e Comunicação Empresarial

“Como é que eu posso explicar a quem não esteve lá que sinto saudades de coisas tão simples como comer uma chupeta depois do jantar, tomar banho de água fria com duas baratas ao meu lado, dormir num colchão numa sala de aula, lavar a loiça a três, vestir t-shirts verdes todos os dias ou ir buscar pão de manhã para o pequeno-almoço?” - Inês Pinheiro, 2014, Licenciada em Comunicação Social e Cultura

“Se há coisa que aprendi com tudo aquilo que vivi é que não precisamos de grandes materiais, de grandes atividades ou de grandes estruturas para se animar dezenas de crianças e jovens dos 4 aos 20/22 anos, com quem podemos ter dificuldade em falar, devido à barreira linguística. Precisamos de um único recurso: nós próprios. Se nos entregamos verdadeiramente e nos despimos de preconceitos, nada mais precisamos, pois somos capazes de chegar aos seus corações... E uma coisa é certa, são crianças e jovens que chegam e conquistam verdadeiramente os nossos corações!” - João Gonçalves, 2013, Pedagogo

“A Missão Boa Esperança fez-me conhecer uma nova realidade, que eu desconhecia totalmente, e que foi complicada de enfrentar à primeira vista. Só o diferente cheiro, as casas por acabar e as pessoas a estranharem a nossa presença fizeram-me recuar, e pensar duas vezes se deveria estar ali, se teria capacidade e maturidade para ficar 20 dias com aquelas pessoas e com aquela paisagem. 20 dias depois chorei por me vir embora, queria ficar lá mais tempo, queria ficar mais tempo com aquelas pessoas espetaculares e naqueles sítios que afinal não eram assim tao maus.” - Maria Figueiredo, 2013, Estudante de Gestão

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“Chegou o dia da viagem, partir em missão, viver uns dias diferentes, dedicar parte do meu tempo aos outros, conhecer uma outra realidade, viver em grupo, reconhecer o agir de Deus nas pequenas coisas do quotidiano... Cada dia era um desafio, ir ao encontro de cada criança, transmitir a alegria de ser cristão e de viver o espírito salesiano que tanto nos caracteriza. O tempo que passei com aquelas crianças e adolescentes foi muito gratificante, a barreira linguística por vezes dificultava a comunicação, mas um sorriso tem o mesmo significado em todo mundo... é linguagem universal!” - Diana Arrobas, 2014, Estudante de Ensino Secundário

“Para compensar a falta das palavras certas, acabei por expressar os meus pensamentos ao ler passagens da Bíblia em Português. Eu já acreditava, mas nunca tinha visto tão claramente como a palavra de Deus se pode traduzir no nosso quotidiano. Os meus novos amigos em Cabo Verde podem não ter compreendido muito mais do que eu disse, mas enquanto eu servia ao altar ou apoiava os catequistas da paróquia, ao ler a palavra de Deus aos jovens pude ver o efeito nos seus corações.” - Michael Zimmerman, 2014, Seminarista

“Gostei muito de ver e sentir a alegria expressa por ‘alguns’, de que a Palavra é um bom exemplo, com suas gargalhadas bem como da forma como os cabo-verdianos se aproximam e acolhem. De igual modo não gostei do outro lado: episódios mais violentos, da falta de água, da fome, da falta de higiene e de cuidados básicos na área da saúde, das muitas carências (até afectivas) a que não se consegue dar resposta mas são bem visíveis em alguns olhares triste, atitudes ou posturas.” - Leonida Milhões, 2014, Professora

“Embora lhes falte tanto, estas crianças encaram a vida sempre com um sorriso e são tão felizes. Guardo no coração cada uma delas, que me marcaram profundamente por uma palavra, um gesto, uma característica. Por cada um deles uma lágrima na despedida. Posso não me lembrar do nome de todos, mas acredito que todas me ajudaram a ter a certeza que esta é uma experiência a repetir.” - Elsa Barrelas, 2014, Arquitecta

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“SERVI UNS AOS OUTROS DE ACORDO COM O DOM QUE CADA UM RECEBEU, COMO BONS ADMINISTRADORES DA MULTIFORME GRAÇA DE DEUS.”

1 PEDRO 4:10

Esta era uma aventura da qual queria tomar parte há muito tempo. Envolvi-me nela sozinha, fui falando com pessoas que me podiam tirar algumas dúvidas, e ao fim de algum tempo vi-me a ir às formações e reuniões de preparação. Fui conhecendo o grupo e aprendendo com eles, e esperei que viesse a viagem. Éramos 14 voluntários a partir para a Ilha do Sal na Missão SALes XXI, e a maior parte já se conhecia há alguns anos dentro dos seus grupos de amigos, apenas eu estava mais de fora. Contudo, a relação com todos foi boa e acabei por fazer novas amizades.

Antes de partir para a ilha, sentia imenso entusiasmo e medo ao mesmo tempo. Estava entusiasmada por querer mostrar às crianças o que tínhamos preparado para elas, e estava com medo pois por muito que nos informemos nunca sabemos o que nos espera nem como seremos

capazes de lidar com o que nos espera.

A experiência na Ilha do Sal foi de muita aprendizagem. Aprendi a conhecer os meus limites, os meus pontos fortes e fracos, com as crianças descobri uma outra maneira de ver o mundo, e com a sua comunidade descobri uma nova cultura e uma outra maneira de encarar a vida. O que vemos na ilha é um mundo à parte daquele que conhecemos. Não vou exagerar, porque com certeza existem lugares bem piores, mas uma vez comparando o que esta comunidade tem com aquilo a que nós temos acesso, ficamos de facto tocados, em especial quando fomos apresentar as nossas actividades às crianças do Bairro de Santa Cruz.

Apesar da frieza que recebemos da paisagem (afinal de contas Sal é das ilhas mais secas de Cabo Verde, e a paisagem é composta maioritariamente por um ambiente seco de terra e pedra), recebemos das crianças uns abraços calorosos e um carinho imenso que acredito ser muito puro, muito genuíno. Acredito nisto, pois nos primeiros dias apenas os entretínhamos e ensinávamos alguma catequese, música, e jogos, ainda não lhes tínhamos oferecido nenhum do material que tínhamos trazido para

lhes dar. Até porque o nosso objectivo era ensinar-lhes o valor da recompensa pelo esforço, isto é, apenas oferecer em troca do seu bom comportamento, e vontade de ter um bom desempenho. Nestes primeiros dias já nos agradeciam e abraçavam apenas por termos aparecido naquelas horas, e é por isso que acredito que aquele carinho era mesmo genuíno, eles precisavam de ajuda (nem que fosse só para fazer companhia, rezar, ouvir, e ensinar brincadeiras novas), nós estávamos lá para eles, e eles agradeceram como puderam. E não podia haver recompensa melhor pelo nosso esforço, do que ver os sorrisos e ouvir as gargalhadas.

As reuniões e os dias reservados para arrumar o material para a missão acabaram por ajudar bastante a criar uma intimidade que veio a ser útil ao longo da missão, pois 14 pessoas a viver juntas, cada uma com a sua personalidade, foi um dos desafios a que nos propusemos. Não vou dizer que foi sempre cinco estrelas, pois várias personalidades juntas tendem a colidir a uma dada altura, mas isso só serviu como exercício de autoconhecimento para que assim pudéssemos lidar melhor uns com os outros, com as nossas qualidades e defeitos.

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Nos nossos momentos de convívio havia sempre alegria e diversão e isso ajudou (pelo menos a mim) a aliviar o cansaço acumulado ao fim do dia. Tínhamos o desafio de ser solidários para com um amigo secreto, dividimos tarefas, aprendemos jogos locais (com os adultos e com as crianças) que nos serviam de entretenimento depois do jantar e da reunião diária, enquanto uns lavavam e estendiam roupa, outros tomavam banho, ao som dos outros que animavam com uns ensaios de música. Resumindo isto, por muito diferentes e talvez estranhos que fossemos, acabámos por nos dar bem e conseguimos criar um ambiente de boa convivência que se reflectia no nosso trabalho com os miúdos.

Escolhi registar aqui a passagem acima, pois para mim transmite aquilo que eu sentia antes e depois desta viagem. Todos fomos presenteados com o dom da vida, e a forma que temos de agradecer esse dom é no mínimo ser bondosos uns para os outros, ajudar-nos mutuamente da forma que cada um é capaz. Escolhi esta missão pois achei que em termos de tempo e trabalho seria desafiante mas ao mesmo tempo estava dentro das minhas possibilidades, e depois de vir embora apenas penso “superei os meus medos, dei o meu melhor, e só espero que o que

viemos cá trazer seja continuado, ainda que em menor escala, e que pelo menos tenhamos conseguido fazer chegar a nossa mensagem e os nossos valores a algumas das crianças”.

Esta experiência serviu para me despertar para um mundo diferente que há “lá fora”, e enquanto estiver dentro das minhas capacidades ajudar, de que forma seja, irei fazê-lo.

Joana Barruncho, 2014, Estudante de Engenharia Electrotécnica e

Computadores

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UM ESPECIAL OBRIGADOa todos os voluntários, pessoas e entidades que apoiaram esta iniciativa!