teste diagnÓstico 2014

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Page 1: TESTE DIAGNÓSTICO 2014

Escola Básica e Secundária do Nordeste

Departamento de Ciências Sociais e Humanas

Ano letivo de 2013 / 2014

TESTE DE AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA

A primeira Revolução Industrial

Testemunho 1O primeiro livro dedicado à revolução industrial é o de Arnold Toynbee (1852-1883), professor da Universidade de Oxford, volume póstumo publicado em 1884, no qual incluía uma série de lições catedráticas sobre vários aspectos da industrialização na Inglaterra. Posteriormente, o francês Paul Mantoux analisou minuciosamente as transformações económicas e sociais ocorridas na Inglaterra entre 1760 e 1832, num livro que se tornou clássico: La révolution industrielle en Angleterre, de 1906 (tradução inglesa, revista, de 1928). Da obra de Mantoux surgiu uma visão particular da revolução industrial como consistindo numa série de transformações na agricultura, na indústria e nosdomínios político e social, todas intimamente ligadas por uma causa comum: a mecanização da indústria. Mas o defeito de Mantoux consiste em sublinhar excessivamente a importância do movimento de industrialização na Inglaterra e em considerá-lo um movimento quase espontâneo, desligado dos seus antecedentes.A obra de historiadores mais recentes superou esta imagem duma mudança um tanto surpreendente e quase, situando a revolução industrial em contornos mais reais. Podemos citar, neste sentido, os trabalhos de J. U. Nef, T. S. Ashton e M. Dobb.

Em primeiro lugar, desfez-se a ideia simplista duma transformação revolucionária, duma rotura brusca com as fases anteriores. Quando muito, pode falar-se duma, particularmente na Inglaterra, pelo concurso de uma série de circunstâncias propícias. Também já não se admite hoje o que acentuaram Marx e os seus sequazes, que a causa determinante e essencial da revolução industrial fosse o impacto produzido pela mecanização nas formas de trabalho. A transformação da mentalidade – a consciência burguesa – é anterior à modificação das estruturas materiais e sociais que foram efeito dela, apesar de, por sua vez, se reflectirem sobre essa mentalidade. A revolução industrial constitui um vasto fenómeno em que convergem uma série de causas, de factos coadjuvantes, demográficos, sociais, ideológicos, políticos, económicos, etc., que preparam e determinam o aparecimento de novas estruturas históricas em que se baseia o sistema capitalista.

Mais recentemente, a questão da revolução industrial do século XVIII na Europa Ocidental tentou apresentar-se como paradigmática para a resolução dos actuais problemas suscitados pelas economias subdesenvolvidas. W. W. Rostow caracteriza a revolução industrial como um  (take-off into a self-sustained growth)durante o qual . Mas não se esqueça que este é hoje possível só pela acção das autoridades políticas, através duma planificação mais ou menos estreita da economia, enquanto no século XVIII teve de realizar-se pela revolução que pôs a burguesia à cabeça das decisões económicas. Devemos ter sempre presente a diferença entre as condições em que se realizou a revolução industrial do século XVIII e as actuais revoluções industriais (Vilar).

A revolução industrial no seu sentido estrito não pode isolar-se das condições sociais do seu começo, que são

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as. Entendida deste modo, não é mais que o resultado da transformação estrutural e doutrinal que opera a onda revolucionária burguesa e que representa, no campo económico, o triunfo do capital; no social, o triunfo da propriedade como direito básico e, no ideológico, a vitória da razão. É uma revolução no sentido de que transforma e substitui as estruturas políticas, sociais e económicas do Antigo Regime por outras novas, em que primam outros valores culturais e mentais distintos e até opostos aos tradicionais1.

A revolução industrial, cuja manifestação económica é o triunfo do capitalismo industrial, não é mais que uma consumação do processo iniciado com o capitalismo comercial, originado também pela burguesia dos séculos XVI e XVII. A diferença consiste em que, durante o século XVIII, a burguesia, classe madura, poderosa e consciente da sua força, já não busca subir até ao nível da nobreza e misturar-se com ela, antes se afirma como classe superiormente dotada e reclama uma mudança de estruturas em que possa plasmar o vigor e a eficácia das suas crenças e postulados de acção.

Valentín Vasquez de Prada,  História Económica MundialLiv. Civilização, Porto, 1973, pp. 20-23

Testemunho 2

No curto espaço de tempo que vai desde a subida ao poder de jorge III até à do seu filho Guilherme IV, o aspecto da Inglaterra modificou-se profundamente1. Extensões de terreno que durante séculos tinham sido cultivadas como campos livres ou conservadas como pastos comuns foram demarcadas ou valadas; algumas aldeolas transformaram-se em cidades populosas, onde os canos das chaminés, ao crescerem, escondiam os velhos campanários. Fizeram-se estradas mais alinhadas, mais resistentes e largas do que aqueles péssimos caminhos que faziam perder a linha aos viajantes do tempo de Defoe2. O mar do Norte, o mar da Irlanda e as zonas navegáveis do Mersey, Ouse, Trent, Severn, Tamisa, Forth e Clyde foram ligados por meio de canais. No Norte assentaram-se as primeiras linhas-férreas para as locomotivas havia pouco construídas; os navios a vapor começaram a povoar estuários e estreitos.

Na estrutura da sociedade ocorreram mudanças paralelas. O número de habitantes aumentou muito e a proporção de crianças e jovens também deve ter aumentado. O desenvolvimento das novas povoações fez deslocar a área mais populosa do Sul e Leste para o Norte e para o Midlands (interior); escoceses empreendedores iniciaram um processo que ainda não terminou; e uma massa de irlandeses não especializados mas vigorosos entrou na Inglaterra, não sem ter os seus efeitos na saúde e no tipo de vida ingleses. Homens e mulheres nascidos e criados no campo passaram a viver apinhados, ganhando a vida não já como famílias ou grupo de vizinhos, mas como unidades da mão-de-obra fabril mais especializada; desenvolveram-se novas especialidades e outras deixaram de existir; a mão-de-obra tornou-se mais móvel, proporcionando-se mais altos padrões de bem-estar aos que podiam e sabiam deslocar-se para os centros onde essas oportunidades se ofereciam.

Ao mesmo tempo, exploraram-se novas fontes de matérias-primas, abriram-se novos mercados e criaram-se técnicas comerciais novas. O volume e a mobilidade do capital aumentaram. A circulação monetária organizou-se na base do estalão-ouro e nasceu o sistema bancário. Varreram-se velhos privilégios e monopólios e as limitações legislativas à criação de empresas desapareceram. O Estado passou a desempenhar um papel menos activo na actividade económica, ao mesmo tempo que aumentava a participação dos indivíduos e das

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sociedades económicas. Ideias de inovação e progresso minaram os juízos de valor tradicionais: os homens passaram a olhar mais para o futuro e os seus pensamentos sobre a natureza e fins da vida social transformaram-se por completo.

Poderá discutir-se se tão variadas mudanças cabem dentro da designação de . As alterações não foram meramente, mas também sociais e intelectuais. A palavra implica uma rapidez de mudança que não é, de facto, a característica dos processos económicos. O sistema de relações humanas, algumas vezes designado por, teve a sua origem muito antes de 1760 e atingiu o seu pleno desenvolvimento muito depois de 1830: há assim, com esta expressão, o perigo de não tomar na devida conta o facto fundamental da continuidade. Mas a designação de, usada por grande número de historiadores, de tal forma se vulgarizou que seria pretensiosismo tentar substituí-la.

T. S. Ashton, A Revolução Industrial

1 - Distinga, no testemunho 1, uma concepção mais restrita e outra concepção mais global sobre aindustrial.

2 - Integre a opinião de T. S. Ashton  (testemunho 2)  numa dessas concepções.

3 - Explique a afirmação de V. V. de Prada (último parágrafo do testemunho 1):  "A revolução industrialnão é mais que uma consumação do processo iniciado com o capitalismo comercial  (…)".