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Programação de Teatros Municipais. Três estudos de caso no distrito de Aveiro: Cineteatro Alba, Cineteatro de Estarreja e Centro Cultural de Ílhavo. Rafael Figueiredo Vieira Dezembro de 2015 Trabalho de Projecto de Mestrado em Práticas Culturais para Municípios

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  • Dezembro de 2015

    Programao de Teatros Municipais.

    Trs estudos de caso no distrito de Aveiro: Cineteatro Alba,

    Cineteatro de Estarreja e Centro Cultural de lhavo.

    Rafael Figueiredo Vieira

    Dezembro de 2015

    Trabalho de Projecto de Mestrado

    em Prticas Culturais para Municpios

  • I

    Programao de Teatros Municipais.

    Trs estudos de caso no distrito de Aveiro: Cineteatro Alba,

    Cineteatro de Estarreja e Centro Cultural de lhavo.

    Rafael Figueiredo Vieira

    Trabalho de Projecto apresentado para cumprimento dos requisitos necessrios

    obteno do grau de Mestre em Prticas Culturais para Municpios realizado sob a

    orientao cientfica do Professor Carlos Vargas

    Dezembro de 2015

  • II

    AGRADECIMENTOS

    Trabalho dedicado Sandra e ao Prof. Carlos Vargas, que foram o pilar da minha vida

    ao longo da elaborao do trabalho.

    Agradeo tambm ao Andr e Catarina pela amabilidade e guarida;

    minha Me e Patrcia, pelo apoio eterno;

    Teresa;

    Isabel Pinto e ao Lus Portugal;

    ao Jos Pina;

    ao Pedro Teixeira;

    a todos os tcnicos dos Teatros que me receberam amavelmente;

    a todos os docentes de PCM, que tanto admiro intelectualmente;

    aos colegas de PCM, pela partilha de experincias.

  • III

    RESUMO

    A programao cultural nos municpios portugueses, no mbito das artes do

    espectculo, concretiza-se essencialmente atravs dos teatros municipais. Nesse sentido

    considera-se pertinente investigar junto de quem gere e programa os Teatros Municipais, o

    que significa programar um Teatro Municipal, quais os objectivos e critrios de

    programao, e analisar os dados programticos.

    No presente trabalho apresentam-se trs estudos de caso de municpios contguos e

    perifricos em relao capital de distrito: Albergaria-a-Velha, Estarreja e lhavo. A inteno

    analisar a programao e identificar estratgias comuns e distintas de actuao dos trs

    Teatros Municipais Cineteatro Alba, Cineteatro Estarreja e Centro Cultural de lhavo - que

    apresentam programao regular desde que reinaugurados e inaugurado.

    Palavras-Chave: Aveiro; Albergaria-a-Velha; Estarreja; lhavo; Teatro Municipal;

    Programao; Artes do Espectculo.

    ABSTRACT

    The cultural programming in portuguese municipalities, within the performing arts,

    takes place, above all, in the Municipal Theaters. In this sense it is considered pertinent to

    investigate with whom manages and programms Municipal Theatres, what means to

    programm a Municipal Theatre, which are the programming objectives and criteria, and to

    analyse the programming.

    In this work we present three case studies of contiguous municipalities and

    peripherals in relation to the district capital: Albergaria-a-Velha, Estarreja and Ilhavo. The

    objective is to analyze the programming and identify common and distinct strategies of the

    three Municipal Theatres - Alba Theater, Estarreja Theatre and the Cultural Centre of lhavo -

    that have been regularly programming since reopened and opened.

    Keywords: Aveiro; Albergaria-a-Velha; Estarreja; lhavo; Municipal Theatre; Programming;

    Performing Arts

  • IV

    O presente trabalho no respeita o Novo Acordo Ortogrfico.

  • V

    ndice

    ndice de Figuras ..................................................................................................................... VII

    Lista de Abreviaturas ............................................................................................................. VIII

    Introduo ................................................................................................................................ 1

    Apresentao do tema.......................................................................................................... 1

    Critrios de seleco dos estudos de caso e do intervalo de tempo .................................... 2

    Objecto de estudo................................................................................................................. 3

    Objectivos do trabalho de projecto: ..................................................................................... 3

    Instrumentos de investigao............................................................................................... 3

    1 . Para uma definio de Teatro em contexto municipal......................................................... 4

    1.1 Os Teatros Municipais em Portugal continental no fim do sc.XX e incio do sc.XXI .... 4

    1.2 Teatro em contexto municipal ........................................................................................ 5

    1.3 Aprofundar o conceito de Teatro Municipal ................................................................... 7

    2 . Programar um Teatro Municipal ........................................................................................ 11

    2.1 Portugal dotado de Teatros Municipais ........................................................................ 11

    2.2 Programar um Teatro Municipal ................................................................................... 11

    3 . Caracterizao sciogeogrfica dos municpios de Albergaria-a-Velha, Estarreja e lhavo 15

    3.1 Albergaria-a-Velha......................................................................................................... 15

    3.2 Estarreja ........................................................................................................................ 16

    3.3 lhavo ............................................................................................................................. 17

    4 . Trs estudos de caso .......................................................................................................... 18

    4.1 Cineteatro Alba.............................................................................................................. 20

    4.1.1 Caracterizao ........................................................................................................ 20

    4.1.2 O que programar o Cineteatro Alba .................................................................... 22

    4.1.3 Anlise da programao do Cineteatro Alba (2012-2014) ..................................... 23

    4.2 Cineteatro de Estarreja.................................................................................................. 30

    4.2.1 Caracterizao ........................................................................................................ 30

    4.2.2 O que programar o Cineteatro Estarreja ............................................................. 32

    4.2.3 Anlise da programao do Cineteatro Estarreja (2005-2014) .............................. 33

    4.3 Centro Cultural de lhavo............................................................................................... 41

  • VI

    4.3.1 Caracterizao ........................................................................................................ 41

    4.3.2 O que programar o CCI ........................................................................................ 42

    4.3.3 Anlise da programao do Centro Cultural de lhavo (2008-2014) ...................... 43

    Consideraes Finais............................................................................................................... 51

    Bibliografia .............................................................................................................................. 55

    Anexos .................................................................................................................................... 61

  • VII

    ndice de Figuras

    Fig. 1 - Objectivos de um Teatro (esquema Rafael Vieira, 2015) .............................................. 9

    Fig. 2 - Objectivos de um Teatro Municipal (esquema Rafael Vieira, 2015) ........................... 10

    Fig. 3 Mapa do distrito de Aveiro. (Rafael Vieira, 2015) ...................................................... 15

    Fig. 4 - Valor absoluto de aces para cada tipologia para o intervalo de tempo 2012-2014.24

    Fig. 5 - Distribuio em percentagem de aces para cada tipologia para o intervalo de

    tempo 2012-2014. (Dados recolhidos e tratados por Rafael Vieira, 2015) ................. 24

    Fig. 6 - Valor absoluto de aces para cada tipologia para o intervalo de tempo 2005-2014.

    (Dados recolhidos e tratados por Rafael Vieira, 2015) ................................................ 34

    Fig. 7 - Distribuio em percentagem de aces para cada tipologia para o intervalo de

    tempo 2005-2014. (Dados recolhidos e tratados por Rafael Vieira, 2015) ................. 34

    Fig. 8 - Valor absoluto de aces para cada tipologia para o intervalo de tempo 2008-2014.

    (Dados recolhidos e tratados por Rafael Vieira, 2015) ................................................ 44

    Fig. 9 - Distribuio em percentagem de aces para cada tipologia para o intervalo de

    tempo 2008-2014. (Dados recolhidos e tratados por Rafael Vieira, 2015) ................. 44

    Fig. 10 - Valor absoluto de aces, com excepo de cinema, por cada Teatro Municipal nos

    respectivos intervalos de tempo (Dados recolhidos e tratados por Rafael Vieira, 2015)

    ..................................................................................................................................... 52

    Fig. 11 - Esquema de objectivos alcanados. (Rafael Vieira, 2015)......................................... 54

  • VIII

    Lista de Abreviaturas

    ARMAB - Associao Recreativa e Cultural Amigos da Branca

    CCA Cineclube de Avanca

    CCGN Centro Cultural da Gafanha da Nazar

    CCI Centro Cultural de lhavo

    CIRA Comunidade Intermunicipal da Regio de Aveiro

    CMA Cmara Municipal de Albergaria-a-Velha

    CME Cmara Municipal de Estarreja

    CMI Cmara Municipal de lhavo

    CMJ Conservatrio de Msica da Jobra

    CTA Cineteatro Alba (Albergaria-a-Velha)

    CTE Cineteatro de Estarreja

    DASECD Diviso de Aco Social, Educao, Cultura e Desporto

    DeCa Departamento de Comunicao e Arte da Universidade de Aveiro

    DGArtes Direco Geral das Artes

    GAVE Guia das Artes Visuais e do Espectculo

    LAC Laboratrio de Aprendizagem Criativa

    NUT Nomenclatura de Unidades Territoriais

    OAC Observatrio das Actividades Culturais

    POC Programa Operacional de Cultura

    RUCI Rede da Comunidade Interurbana de Aveiro

    SAC Servio de Aprendizagem Criativa

    SEMI Servio Educativo do Municpio de lhavo

  • 1

    Introduo

    Apresentao do tema

    A programao cultural nos municpios portugueses concretiza-se, essencialmente, em

    equipamentos culturais sob gesto autrquica, como so o caso das bibliotecas municipais,

    dos museus municipais, dos arquivos municipais e dos Teatros Municipais. De entre os

    equipamentos municipais a programao das artes do espectculo encontra nos Teatros

    Municipais o palco principal. Os Teatros Municipais constituem-se como plos privilegiados

    para apresentar ao pblico e comunidade espectculos em circulao nacional e

    internacional.

    No mbito do mestrado de Prticas Culturais para Municpios torna-se pertinente

    estudar a programao de Teatros Municipais com a principal finalidade de analisar os

    modos de actuao. A programao, com maior ou menor regularidade, o pilar vital que

    define um Teatro Municipal e consequentemente enuncia a dinmica cultural de

    determinado ncleo urbano. Porm, programar um Teatro Municipal um conceito de

    tnue objectividade e que varia consoante a entidade e modelo de gesto.

    Nesse sentido considera-se uma mais-valia investigar junto de quem gere e programa

    os Teatros Municipais, o que significa programar um Teatro Municipal, quais os objectivos e

    critrios de programao, e analisar os dados programticos.

    No presente estudo verifica-se, logo no primeiro captulo, a necessidade de definir

    Teatro em contexto de municpio enquanto equipamento com diferentes designaes. Por

    outro lado distingue-se Teatro Municipal enquanto equipamento cultural de Teatro

    Municipal como instituio cultural ao servio do municpio; distino que se revela

    imprescindvel para contextualizar a investigao e a anlise da programao. Definir o que

    programar um Teatro Municipal corresponde a mais uma etapa fundamental da fase de

    investigao, que se desenvolve no segundo captulo. O terceiro captulo remete para a

    caracterizao scio-geogrfica dos municpios em estudo. O quarto captulo centra-se nos

    trs estudos de caso - Cineteatro Alba, Cineteatro Estarreja e Centro Cultural de lhavo -, no

    qual se caracteriza cada Teatro, se descreve a perspectiva do que programar cada

    instituio e se analisa a programao. Por ltimo, nas consideraes finais, reflecte-se

    sobre as principais diferenas e semelhanas de modelos operativos de cada Teatro e

    comparam-se dados programticos.

  • 2

    Critrios de seleco dos estudos de caso e do intervalo de tempo

    Os Teatros Municipais distribuem-se pelo territrio continental portugus e

    arquiplagos, quer em reas metropolitanas quer em cidades de pequena e mdia

    dimenso. Com a perspectiva de tomar contacto com as prticas culturais de comunidades

    que se fixam fora dos grandes centros urbanos, excluram-se, como hipteses de estudo, os

    municpios que integram as reas metropolitanas de Lisboa e Porto. Por incompatibilidade

    geogrfica tambm se excluiu qualquer municpio dos arquiplagos.

    O intuito de analisar os contedos programticos e os critrios que os definem

    declinou que a investigao se centrasse num territrio que abrange localidades com

    caractersticas comuns e semelhantes. A escolha do distrito de Aveiro deve-se

    identificao de 14 Teatros Municipais1 que apresentam actividade regular.2 Na perspectiva

    de comparar a dinmica cultural do Teatro da capital de distrito com Teatros de municpios

    perifricos, de menor escala territorial e populacional, optou-se por estudar os Teatros de

    Aveiro, Estarreja e lhavo. A resposta negativa por parte do municpio de Aveiro para que se

    estudasse a programao do Teatro Aveirense3 originou o convite ao Teatro de Albergaria-a-

    Velha, quer por apresentar programao regular quer pela proximidade geogrfica,

    motivando uma alterao na finalidade do estudo, que passou a centrar-se na anlise da

    programao de trs Teatros de municpios contguos e perifricos em relao capital de

    distrito Aveiro.

    No se revelou profcuo delimitar um intervalo de tempo para o estudo da

    programao que fosse comum aos trs Teatros devido ao facto de se verificar que iniciaram

    actividade em anos distintos. Para um intervalo de tempo comum apenas seria possvel

    estudar a programao dos trs Teatros desde 2012, ano em que foi reinaugurado o

    Cineteatro Alba Albergaria-a-Velha. Nesse contexto decidiu-se estudar a programao de

    cada Teatro desde o respectivo reincio ou incio de actividade regular.

    1 Teatro Aveirense - Aveiro; Centro Cultural de lhavo; Cineteatro de Estarreja; Cineteatro Alba Albergaria-a-Velha; Quartel das Artes Oliveira do Bairro; Centro de Artes e Espectculos de Sever do Vouga; Centro de Arte de Ovar; Cineteatro So Pedro gueda; Auditrio de Espinho; Cineteatro Antnio Lamoso Sta.Maria da Feira, Casa da Criatividade So Joo da Madeira, Auditrio Municipal de Castelo de Paiva, Cineteatro Caracas Oliveira de Azemis, Cineteatro Municipal Messias Mealhada. 2 Para efeito deste trabalho considera-se actividade regular como um conjunto aces planeadas num perodo de tempo. 3 No podemos aceder sua solicitao, dado que o Teatro Aveirense se encontra num processo profundo e complexo de reestruturao em termos institucionais, organizativos, nomeadamente ao nvel da gesto financeira e de recursos humanos, pelo que nesta fase e durante os prximos meses no podemos aceder a este tipo de pedidos. Eng. Jos Ribau Esteves, Presidente da C.M. Aveiro; resposta enviada via email a 18/01/2015.

  • 3

    Objecto de estudo

    O objecto de estudo do presente trabalho a anlise da programao de trs Teatros

    Municipais do distrito de Aveiro dos municpios de Albergaria-a-Velha, Estarreja e lhavo

    que apresentam programao regular desde que reinaugurados e inaugurado. O objecto de

    estudo relaciona-se com duas questes de partida inseparveis: O que um Teatro

    Municipal? e O que programar um Teatro Municipal?

    Objectivos do trabalho de projecto:

    - apresentar e desenvolver o conceito de Teatro Municipal;

    - descrever o que entendido por programar um Teatro Municipal, segundo diversos

    autores e as instituies em estudo;

    - identificar objectivos e critrios de programao de cada um dos Teatros;

    - compilar e apresentar um conjunto de dados trabalhados (grficos e tabelas) com

    base nas agendas municipais e culturais de cada municpio e Teatro em estudo;

    - analisar a programao cultural de trs Teatros Municipais estudos de caso;

    Instrumentos de investigao

    A leitura de fontes impressas e digitais referentes a dissertaes, trabalhos de

    projecto, artigos, ensaios, crnicas, legislao, bem como a leitura de fontes institucionais

    apenas em formato digital - websites municipais e estatais, websites de peridicos nacionais

    e regionais - constituram-se como os primeiros instrumentos de investigao a que se

    recorreu e aqueles que se revelaram indispensveis elaborao e desenvolvimento de

    conceitos

    As metodologias privilegiadas no processo de investigao de dados e critrios de

    programao dos Teatros incidiram na recolha de fontes municipais - agendas municipais e

    culturais, dados estatsticos e outros documentos oficiais dos municpios -; mas sobretudo

    em entrevistas presenciais e questionrio por via de correio electrnico aos responsveis

    pela programao de cada instituio e ainda a outros tcnicos autrquicos.

    O acesso aos dados sobre programao do Cineteatro de Estarreja foi concedido por

    duas vias: documento interno disponibilizado e agendas e outros documentos de acesso

    pblico, enquanto que nos casos do Cineteatro Alba e Centro Cultural de lhavo recorreu-se

    apenas a agendas disponveis publicamente.

  • 4

    1 . Para uma definio de Teatro em contexto municipal

    1.1 Os Teatros Municipais em Portugal continental no fim do sc.XX e incio do sc.XXI

    No mbito do presente trabalho torna-se indispensvel aludir a alguns estudos que

    contextualizam os resultados da reconstruo de Teatros e Cineteatros em Portugal, embora

    se considere prescindvel uma descrio detalhada dos acontecimentos. A contextualizao

    restringe-se a um diagnstico das principais alteraes que se fizeram sentir no mapa dos

    Teatros Municipais na ltima dcada do sc.XX e incio de sc.XXI, na medida em que os

    Teatros em estudo contriburam para o desenho desse novo mapa.

    O estudo de Ana Rita Sousa (2013) contempla uma introduo que remete para a

    realidade mencionada. A autora refere que em 1996 surgiu um Despacho Normativo para o

    Programa de Adaptao e Instalao de Recintos Culturais4. Todavia, em 1999 que o

    Ministrio da Cultura, atravs do Programa Operacional de Cultura estabelecido com o apoio

    mecentico da Tabaqueira, S.A.5, impulsiona programas de descentralizao cultural: Rede

    Municipal de Espaos Culturais e Rede Nacional de Teatros e Cineteatros.6 Nesse contexto

    um grande nmero7 de autarquias beneficiou8 da possibilidade de recuperar o edifcio

    correspondente ao Teatro do municpio9 ou, em casos especficos, de construir um

    equipamento cultural de raiz.10 Um cenrio que se desenhou, no final do sc.XX e incio do

    sc.XXI, com a recuperao de antigos Teatros e Cineteatros, mas tambm com a construo

    de novos equipamentos salas de espectculos, auditrios, centros culturais -, muitos com

    caractersticas multidisciplinares, isto , com condies tcnicas para criao e apresentao

    de distintas obras artsticas e diversas tipologias de espectculos. (Sousa, 2013)

    O quadro de Teatros e Cineteatros existentes em Portugal continental tornava-se

    bastante diferente, sobretudo a nvel de paisagem edificada nos municpios do interior do

    pas e perifricos relativamente aos ncleos urbanos de Lisboa e Porto. Segundo dados da

    Arteemrede (2009) apresentados por Sousa (2013), entre 2002 e 2006, assistiu-se

    4 Despacho Normativo n46/96 (1996), que visa a constituio de um conjunto de salas em que as actividades das artes do espectculo sejam preponderantes e com valncias tcnico-funcionais que permitam assegurar o acolhimento de espectculos de natureza profissional, sem prejuzo das actividades de carcter local e, eventualmente, amador. Procura-se, desta forma, promover a recuperao e a construo de recintos que assegurem uma utilizao artstica permanente (...). (Sousa, 2013, p.21). 5 Sobre o apoio mecentico da Tabaqueira, S.A. leia-se Cruz (2008). 6 Leia-se Santos & Arajo (2004). 7 Tome-se em ateno Vargas (2011). 8 Tome-se em ateno POC (2007) 9 Como sucedeu em Estarreja e Albergaria-a-Velha. 10 Como sucedeu em lhavo.

  • 5

    reabertura de mais de cento e trinta Teatros Municipais em cidades capitais de distrito e em

    localidades de mdia e pequena dimenso. Pode-se afirmar que relativamente a infra-

    estruturas fsicas e equipamentos tcnicos estavam reunidas as condies para as autarquias

    dinamizarem o tecido cultural local, facto que se revelou pouco ou nada homogneo. A vida

    de grande parte dos Teatros estava agora dependente da poltica cultural dos municpios.

    O contexto levou o poder poltico de determinadas cidades de pequena e mdia

    dimenso a adoptar estratgias para o sector cultural que colocassem o municpio no mapa

    cultural da regio e do pas. Sobre o assunto, e o novo mapa de recintos culturais, diversos

    autores11 tm apresentado as suas lgicas reflexivas, das quais se pretende realar as

    perspectivas de Joo Teixeira Lopes e do Observatrio de Actividades Culturais (OAC).

    Teixeira Lopes descreve que na primeira dcada do sc.XXI, so as cidades de (...) mdia dimenso a revelar uma franca aposta no sector da cultura, a que no ser alheio, por um lado, o estmulo que resulta de um ambiente de feroz competitividade entre cidades (Lopes, 2000, p.85) .

    Uma ideia partilhada por autores de estudos do OAC, que tambm realam a

    crescente relevncia do sector cultural enquanto factor de coeso social mas indissocivel

    de modelos de desenvolvimento econmico locais, na tentativa de que os concelhos sejam

    economicamente competitivos atravs da criao de uma imagem forte e identitria, muitas

    vezes com vista ao desenvolvimento do turismo local (Gomes, Loureno, & Martinho, 2006).

    Dinmicas que tornaram os Teatros Municipais como equipamentos ncora12 da vida

    cultural dos municpios, possibilitando ao poder poltico local responder aos desafios

    enunciados pelos autores.

    1.2 Teatro em contexto municipal

    O estudo da programao de Teatros Municipais torna incontornvel definir o que

    um Teatro Municipal. O primeiro passo recaiu na pesquisa de referncias legisladoras, com o

    intuito de verificar se estes equipamentos so regulados por normas demarcadas pelo

    estado central, concluindo-se que no existe qualquer lei ou programa estatal que defina o

    que um Teatro Municipal e que regule o seu funcionamento, ao contrrio do que acontece

    com outros equipamentos culturais municipais, como so o caso dos museus13 e das

    11 Tome-se em ateno as reflexes de Costa (2007), Ribeiro (2011), Grande (2006), Depputter (2009), Rodrigues (2009), Ramos (2009). 12 Expresso utilizada pelos programadores dos Teatros Municipais em estudo (ver Anexos 5.1, 5.2, 6.1, 6.2, 7.1, 7.2). 13 Lei n 47/2004 publicada em Dirio da Repblica n 195, de 19 de Agosto de 2004.

  • 6

    bibliotecas.14 A ausncia de legislao incitou ainda mais a necessidade de recorrer a

    estudos acadmicos e cientficos, ensaios e artigos, em que o conceito de Teatro Municipal

    definido, abordado, discutido ou analisado.

    Em primeiro lugar importa realar as duas lgicas de Teatro Municipal: Teatro e

    Teatro em contexto municipal. A palavra Teatro tem origem na palavra grega Thatron que

    significa lugar onde se v um espectculo (Costa, 1987, p.1594)15, sendo a partir desta

    definio que se passa para a perspectiva do Teatro como um palco cultural pertencente a

    um municpio.16 Ou seja, um Teatro geograficamente localizado em determinado concelho e

    que gerido pela respectiva autarquia.17

    Para efeito do presente trabalho considerado o paradigma enunciado por Sousa

    (2013), de que um Teatro Municipal um equipamento que pode possuir diferentes

    caractersticas e designaes: Teatro, Cineteatro, Auditrio ou Centro Cultural, mas que em

    comum se definem como um espao cultural destinado apresentao de espectculos de

    natureza artstica sob gesto municipal. Em Portugal correspondem a edifcios reabilitados

    ou construdos no mbito de programas referidos anteriormente e que se desejam que

    sejam um factor motivador fruio cultural e prtica das artes nos diversos municpios.

    O Teatro Municipal enquanto espao cultural ao servio de um municpio constitui-se

    como uma mais-valia no quadro de equipamentos locais, que em muitos casos, a par do

    museu, biblioteca e arquivo, formam uma rede municipal de equipamentos culturais.18

    Os Teatros Municipais so equipamentos privilegiados para assegurarem o acesso

    das populaes s artes do espectculo, tornando-se lugares de concertao entre os

    interesses dos seus diversos destinatrios o pblico, os artistas, o poder politico, os

    responsveis pela programao.19 Na ptica do pblico e dos artistas o Teatro Municipal

    provoca a comunicao e a aprendizagem (de linguagens, formas, contedos artsticos,

    culturas e ideias) entre ambos, e na perspectiva da autarquia o Teatro constitui-se como um

    espao de mediao entre o poder local e a populao.20

    Ana Rita Sousa, no seu estudo, pormenoriza que os Teatros Municipais por serem

    14 Atravs da Direco-Geral do Livro e das Bibliotecas criada pelo Decreto-Lei n 92/2007, publicado em Dirio da Repblica n 371, 30 de Maro de 2007, e respectivo Programa de Apoio s Bibliotecas Municipais, de 2009. 15 in Sousa (2013, p.8). 16 possvel complementar a definio de Teatro a partir de Houaiss, A. (2002, p.3472). 17 A propsito da definio de Municipal tome-se em ateno Houaiss, A. (2002, p.2568). 18 Para alm da possibilidade de integrarem as redes municipais, h Teatros Municipais que integram redes regionais ou nacionais de programao. 19 A.A.V.V. (s/d, p.7). 20 Sobre o assunto leia-se Lopes (2010) e Bru (2015).

  • 7

    parte integrante dos servios autrquicos devem ser espaos vividos pelos muncipes,

    espaos impulsionadores de desenvolvimento local, e agentes fundamentais na dinmica

    cultural do municpio. (Sousa, 2013, p. 43).

    1.3 Aprofundar o conceito de Teatro Municipal

    A definio de Teatro Municipal enquanto equipamento cultural no contexto de um

    municpio insuficiente para o presente estudo, na medida em que interessa a referncia de

    Teatro Municipal enquanto instituio cultural, ou seja, muito mais que um espao

    destinado apresentao de artes do espectculo sob gesto de um municpio.

    A existncia de um espao onde decorrem espectculos culturais no um factor

    para que o mesmo se torne uma organizao cultural. A fronteira tnue, mas a acrescentar

    programao, mesmo que regular, considera-se indispensvel acrescentar outros factores:

    a) constituio de uma equipa multidisciplinar que integre um responsvel pela

    programao; b) pessoal especializado em equipamento tcnico; c) equipa de comunicao;

    d) promoo de diversos servios, em especial o servio educativo; e) acolhimento de

    companhias residentes ou grupos pontuais. O modelo de actuao referido salvaguarda a

    designao de instituio.

    Na lgica de instituio municipal a leitura de estudos e ensaios de determinados

    autores remete para uma perspectiva comum relativamente misso de um Teatro

    Municipal: prestar um servio pblico que potencie o acesso de todos os cidados cultura

    direito definido na Declarao Universal dos Direitos do Homem21 e na Constituio da

    Repblica Portuguesa.22 No obstante, torna-se essencial esclarecer que o conceito de

    Teatro Municipal abordado ao longo do presente trabalho no se reduz a esta perspectiva

    de democratizao, considerando-se que servio pblico no mbito de um Teatro Municipal

    promover o desenvolvimento cultural do territrio; proporcionar comunidade local23 o

    acesso fruio cultural mas, tambm, o estmulo criao artstica e respectiva

    21 Declarao Universal Direitos Humanos. Artigo 27 1.Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar no progresso cientfico e nos benefcios que deste resultam. . 22 Captulo III, Art 73. 1 Todos tm direito educao e cultura. 23 Para efeito do presente estudo define-se comunidade local como um grupo de indivduos que habitam o mesmo territrio - municpio e que partilham as respectivas caractersticas recursos, normas, legados culturais e histricos, apesar das mltiplas vivncias actualmente existentes no seio da comunidade (Sousa, 2013). Uma definio a partir de Ferdinand Tonnies in Gazeneuve & Victoroff (1982), que encara comunidade como relaes pessoais, esprito emocional, cooperao e costumes num territrio comum (famlia, aldeia, meios urbanos) e na partilha da mesma lngua, religio, etnia ou profisso.

  • 8

    apresentao; promover o encontro e partilha de experincias entre artistas, pblico24 e

    comunidade local; e potenciar parcerias com agentes locais e regionais. Um percurso de

    servio pblico que vai ao encontro do que descreve Ana Rita Sousa:

    Os Teatros Municipais (...) semelhana de outras instituies culturais, e no s, sentindo a premncia de um novo paradigma social, adaptam-se aos novos desafios, dirigindo as misses, objectivos, estratgias e polticas culturais para o cumprimento das exigncias da sociedade contempornea. (Sousa, 2013, p. 52).

    Todavia, de notar que no legtimo que um servio pblico de cultura se

    concretize somente nos grandes centros urbanos. Como afirma Amrico Rodrigues (2009),

    os direitos dos habitantes de pequenas e mdias cidades do interior do pas so os mesmos

    dos cidados que vivem na capital, no apenas no mbito de acesso a espectculos mas

    tambm na possibilidade de criao e crtica cultural e artstica.

    A perspectiva de servio pblico prestado por um Teatro Municipal que se contempla

    no mbito do presente estudo rev-se na dimenso de democracia cultural defendida por

    alguns autores, isto , aproxima-se da ideia de criao e crtica que Amrico Rodrigues

    enuncia. De notar que um servio pblico que promova a democratizao cultural , muitas

    vezes, confundido com democracia cultural.25 A democratizao da cultura, como forma de

    proliferao cultural massiva e extenso generalizada de bens culturais, no significa

    necessariamente um contributo diversidade e heterogeneidade cultural e artstica, e,

    menos ainda, participao-activa das gentes. Com base nesta ideia considera-se que um

    Teatro Municipal dever partir da democratizao cultural mas com o intuito de alcanar a

    democracia cultural.26

    Neste contexto, o Teatro Municipal no se limita incitao do consumo passivo mas

    privilegia tambm a participao e a criao, partindo do pressuposto de envolvimento da

    comunidade local.

    Com o intuito de envolver a comunidade so dinamizadas determinadas aces que

    se revelam estratgias profcuas, sobretudo atravs de servios promovidos pelas

    24 Para efeito do presente trabalho entende-se pblico na perspectiva de Antnio Firmino da Costa. Uma relao das pessoas com as instituies . uma relao de generalidade ou de uma grande parte das populaes com as instituies especializadas da modernidade avanada (...). Costa in LOPES (2007, p.98). 25 A propsito de democratizao cultural e democracia cultural considera-se relevante aludir para a diferena entre os conceitos segundo a percepo de Victor Ventosa: Democratizacin cultural () es conseguir el reparto ms amplio possible de los bienes culturales para que lleguen al mayor nmero de gente. El medio bsico para llevar a cabo esta politica es el de la diffusin cultural (...). No processo de democracia cultural () la cultura ahora no es solo un bien de consumo sino sobre todo se revela como mbito de desarrollo personal y de participacin social, () con la democracia cultural se le da al ser humano la posibilidad de trascender los limites de un determinado tipo de cultura impuesta () (Ventosa, 2002, p.39-42). 26 A propsito de democratizao cultural e democracia cultural leia-se tambm Lopes (2007, p.80-86).

  • 9

    instituies. Sobre o assunto leia-se Toni Puig (2004), em que o autor esclarece que uma

    programao regular no sinnimo de aproximao da instituio comunidade, podendo

    os servios culturais constiturem-se como um complemento fundamental. Todavia,

    acrescenta o autor, Fabricar servicios no es coser y cantar: es construir relaciones, es

    facilitar vida ciudadana mejor. (Puig, 2004, p.194).

    Um acto de mediao que poder ajudar a afastar a imagem elitista com que muitas

    instituies culturais so catalogadas pela prpria populao. Os Teatros Municipais que

    apenas actuam para a comunidade e que no envolvem a comunidade parecem seguir um

    paradigma obsoleto. neste mbito que importa definir Teatro Municipal numa lgica que

    se aproxima de centro comunitrio, em que a instituio est ao servio das potencialidades

    e necessidades da comunidade local.

    Com base nos documentos bibliogrficos anteriormente referidos, e para efeito do

    estudo apresentado, enunciam-se os objectivos de um Teatro e os objectivos especficos

    inerentes ao conceito de Teatro em contexto municipal. (Fig. 1 e Fig. 2)

    Teatro

    . apresentar uma oferta cultural regular, diversificada e de qualidade;

    . divulgar a criao artstica em diferentes linguagens e com contedos diversos

    . apoiar novos artistas e novas criaes;

    . captar, formar e fidelizar pblicos;

    . alcanar um pblico amplo e diversificado;

    . promover a cooperao entre agentes culturais pblicos e privados;

    . contribuir para a formao quer de pblicos quer de artistas;

    . proporcionar diferentes bens e servios culturais;

    Fig. 1 - Objectivos de um Teatro (esquema Rafael Vieira, 2015)

  • 10

    De modo a alcanar os objectivos mencionados cada Teatro assegura o seu modelo

    de actuao enquadrado numa poltica de interveno cultural e comunitria, cuja

    programao regular se constitui como a estratgia privilegiada.

    Teatro em contexto municipal

    . apresentar uma oferta cultural regular, diversificada e de qualidade;

    . divulgar a criao artstica em diferentes linguagens e com contedos diversos

    . apoiar novos artistas e novas criaes;

    . captar, formar e fidelizar pblicos;

    . alcanar um pblico amplo e diversificado;

    . promover a cooperao entre agentes culturais pblicos e privados;

    . contribuir para a formao quer de pblicos quer de artistas;

    . proporcionar diferentes bens e servios culturais;

    . qualificar e desenvolver o tecido cultural e artstico local;

    . estimular as realidades artsticas locais atravs do confronto com as realidades nacionais e internacionais; . contribuir para o desenvolvimento cultural da populao e da regio bem como para a valorizao da sua imagem; . promover a participao activa da comunidade;

    Fig. 2 - Objectivos de um Teatro Municipal (esquema Rafael Vieira, 2015)

  • 11

    2 . Programar um Teatro Municipal

    2.1 Portugal dotado de Teatros Municipais

    Nos primeiros anos do sc.XXI constata-se que Portugal um pas dotado de Teatros

    Municipais, recuperados ou construdos; realidade que se tornava potencial factor de

    desenvolvimento e descentralizao cultural. Porm, como reflectido anteriormente, a

    existncia de um equipamento cultural municipal dedicado difuso das artes do

    espectculo nem sempre traduz vitalidade cultural e artstica de determinada cidade. Na

    primeira dcada do sc.XXI os municpios em Portugal deparavam-se com novos desafios

    para os Teatros Municipais, com a incgnita de quem geria, quem programava e o que

    programar.

    Autores diversificados tm reflectido criticamente em torno destas problemticas,

    dos quais se destacam, no presente trabalho, Joo Teixeira Lopes e Amrico Rodrigues.

    Construdo o Teatro necessrio p-lo a funcionar, dinamiz-lo, lig-lo comunidade. Mais uma vez atravs do POC, apoiado o primeiro ano de programao. (...) a seguir deixa de haver apoios programao por parte do Ministrio da Cultura, na maioria dos Teatros Municipais do pas. Ou seja, o MC esquece-se que os Teatros prestam um servio pblico (...).(Rodrigues, 2009, p. 77).

    O autor menciona ainda que s entidades que ficaram responsveis pelos Teatros

    Municipais quase nada foi exigido. Desse modo os critrios de programao ficaram

    refns, no caso dos Teatros geridos pelas autarquias, da vontade e capacidade de

    investimento do poder local.

    A crtica de Rodrigues pertinente; porm, algumas autarquias conseguiram

    contrariar o paradigma da ausncia de programao e de pblicos nos Teatros Municipais.

    Joo Teixeira Lopes (2007) faz referncia ao facto de municpios perifricos e de pequena

    dimenso, como so os casos de estudo, sentirem necessidade de criar estratgias de

    programao, (...) a que o marketing territorial no alheio (...). (Lopes, 2007, p.74), e de

    afirmao identitria em relao a centros urbanos de maior escala, como o caso de

    capitais de distrito, por exemplo Aveiro.

    2.2 Programar um Teatro Municipal

    O acto de programar um Teatro Municipal requer, em primeiro lugar, considerar o que

    se entende por Teatro em contexto municipal. Em segundo lugar a dimenso do que

    programar uma instituio cultural. Neste sentido, destaca-se a perspectiva de Antnio Pinto

  • 12

    Ribeiro (2011).

    Programar () implica uma srie de opes que partiram do conhecimento de uma realidade cultural que abrange no s o contexto social, os limites e as possibilidades oramentais, os espaos a programar, mas tambm as ofertas dos produtores (aquilo que se pode designar mercado), as propostas dos artistas, dos espectadores, do ambiente local. (Ribeiro, 2011, p. 149).

    O autor alude para a programao enquanto processo de escolha, o que

    inevitavelmente sugere tambm excluso de propostas. O acto de escolha est envolto num

    procedimento mais amplo, que envolve planear, diagnosticar, propor, calendarizar,

    concretizar e, acrescente-se, avaliar. Programar revela-se uma estratgia cultural da

    entidade, pressupondo-se que muito mais que apresentao de um conjunto de

    actividades. A programao () tem subjacente uma viso do mundo, uma viso de um

    grupo que se auto-representa e representa os outros. (Ribeiro, 2011, p.155), que no caso

    de um Teatro Municipal a autarquia.

    Sobre programar um Teatro Municipal o Guia das Artes Visuais e do Espectculo

    (GAVE) defende uma ideia de programao que muito mais que a mera aquisio regular

    de produes.

    O teatro que julgar que programar apresentar um conjunto avulso de espectculos, sem uma estratgia cultural previamente definida, no cumpre em nada, ou cumpre pouco, a sua funo cultural transfigura-se facilmente numa sala de distribuio, num circuito administrativo, sem identidade cultural prpria ().27

    Por outro lado, em contexto de municpio, a programao do Teatro caracteriza-se

    pela abrangncia das disciplinas artsticas que so promovidas e pela diversidade das formas

    de expresso de cada uma das reas. Mark Deputter28 (2009) alerta para que a programao

    de um Teatro Municipal no se dedique a uma monocultura, sob pena de no prestar um

    servio pblico. Salvaguardada a abrangncia e a diversidade torna-se imperativo que a

    programao no despreze o municpio29 e no se concretize apenas com espectculos.

    Programar regularmente espectculos no sinnimo de intervir na cidade e de

    aproximao do Teatro comunidade - por vezes confundida com cedncia de espao aos

    agentes associativos locais. A proximidade e a envolvncia surgem atravs de aces que

    promovem a participao-activa.

    Toni Puig partilha a sua ideia, de que Basta pues, programaciones estereotipadas,

    27 A.A.V.V. (s/d). 28 Director Artstico do Teatro Municipal Maria Matos Lisboa. 29 O Teatro Municipal Relaciona-se com a vida da cidade, da cidade e quer intervir na cidade. (Rodrigues, 2009, p.85).

  • 13

    sosas, slo bonitas, vacas, hamburguesadas (...) (Puig, 2004, p.19). Nesse sentido, procura-

    se indagar se a programao dos Teatros em estudo vai ao encontro de uma programao

    com critrios definidos, que no seja aleatria e oportunista, pelo contrrio, que

    pressuponha uma estratgia programtica numa ptica de desenvolvimento artstico e

    cultural do municpio.

    A perspectiva de Ribeiro complementa a ideia, ao expressar que programar (...) mais do que fazer suceder espectculos a espectculos, filmes a filmes, exposies a exposies, edies a edies! ento desejvel que () haja programaes amadoras, alternativas, exposies em stios no convencionais (...). Estas aces () podem activar o sentido ldico e festivo de comunidades que muitas vezes no eram parte activa e consumidora de programas culturais. (Ribeiro, 2011, p.49)

    neste contexto que a formao essencial que integre a programao de um

    Teatro Municipal. Atravs da componente pedaggica e artstica das actividades promovem-

    se hbitos culturais e possibilita-se o envolvimento na criao, representando mltiplos

    interesses e ideias. Iniciativas como ateliers, workshops, oficinas, conferncias, debates,

    exposies, ou textos de sala, ao integrarem a programao em particular do servio

    educativo revelam-se uma estratgia complementar difuso das artes do espectculo.

    Ou seja, programar um Teatro Municipal numa lgica de democracia cultural e de mediao.

    Programar um Teatro Municipal tambm mediar; e atravs das prticas enunciadas que

    se provoca o dilogo entre os agentes culturais e o potencial pblico, entre a instituio e a

    comunidade local.

    A regularidade da programao de Teatros Municipais reflexo de diversos critrios

    que influenciam a forma e os contedos da dinmica institucional. De entre os aspectos

    basilares que condicionam a estratgia programtica destaca-se a poltica cultural do

    municpio, o contexto territorial e a autonomia do programador em relao vereao e

    presidncia.

    Como refere Depputter, nem todos os Teatros Municipais so programados por

    tcnicos especializados, como o exemplo inesperado de alguns equipamentos municipais

    programados pelos vereadores da cultura - casos que no contemplam o conceito de Teatro

    Municipal abordado no estudo. De notar que o mais comum a programao de um Teatro

    Municipal ficar a cargo de um programador cultural responsvel pela programao cujos

    seus critrios definem as aces desenvolvidas.

    O programador deve estar muito bem informado sobre a terra onde o Teatro se insere, as suas dinmicas sociais, a sua histria e o seu imaginrio. Deve estar ciente de que o trabalho que desenvolve a partir do Teatro se deve enquadrar numa politica cultural e numa estratgia de desenvolvimento da cidade. (Rodrigues, 2009, p. 99).

  • 14

    Aspectos que condicionam a programao de um Teatro Municipal a par de

    determinados factores internos que tambm interferem na programao. Mencione-se as

    caractersticas fsicas do equipamento, que influenciam a possibilidade de concretizao de

    determinados projectos, o nmero e as caractersticas dos elementos que integram a

    equipa, e, claro, os recursos disposio da instituio, sejam comunicacionais, materiais

    mas sobretudo financeiros. Todavia, tambm no possvel abstrair dos factores externos,

    que inesperada, involuntria e incontrolavelmente perturbam a programao.

    Com as presses a que uma instituio pblica est sujeita, sejam externas ou internas, e que vo no sentido da rentabilizao a todo o custo, isso leva os programadores a construrem uma estratgia de equilbrio entre propostas artsticas ditas de risco (...) e propostas artsticas de grande pblico. (Costa, 2004, p. 99)

    Independentemente da rea artstica e dos contedos, Cludia Madeira (2002)

    esclarece que os Teatros Municipais programam de acordo com as seguintes matrizes:

    produo, co-produo, iniciativa, seleco, acolhimento, encomenda.30 De modo a

    aplicarem-se os modelos programticos expostos por Madeira e com o intuito de se

    alcanarem os objectivos definidos com a programao, a lgica de programar em rede

    constitui-se, muitas vezes, como uma mais-valia para as instituies municipais.31

    Na procura de interpretar o que programar um Teatro Municipal revelam-se

    essenciais os contributos dos autores referenciados anteriormente. Para efeito deste estudo

    destaca-se a perspectiva apresentada pelo GAVE, de que programar um Teatro em contexto

    municipal vai alm da difuso e apresentao regular de espectculos, sendo imprescindvel

    definir estratgias programticas que tenham em considerao a poltica cultural que se

    pretende desenhar, com a comunidade, para o municpio.32

    30 Para uma definio de cada modelo programtico leia-se o respectivo estudo de Madeira (2002, p.11). 31 A propsito de programao em rede leia-se Centeno (2010) e Dmaso (2013). 32 Complemente-se esta dimenso com a percepo de oferta cultural descrita por Ander-Egg: No que diz respeito intencionalidade/modalidade da oferta cultural, esta pode ir desde oferecer cultura para o seu consumo passivo at realizao de programas que implicam a participao da gente nos projectos culturais.(Ander-Egg, 1999, p.55).

  • 15

    3 . Caracterizao sciogeogrfica dos municpios de Albergaria-a-Velha, Estarreja e lhavo

    3.1 Albergaria-a-Velha

    Albergaria-a-Velha uma cidade sede de

    concelho que se situa na regio (NUTS33 III) de

    Aveiro, distrito de Aveiro. Localiza-se a cerca de

    23km da capital de distrito, a cerca de 17km de

    Estarreja e a 30km da cidade de lhavo. (Fig. 3)

    A populao residente no concelho de

    Albergaria-a-Velha cerca de 25 000 habitantes,

    nmero que apresenta um decrscimo insignificante

    entre 2012 e 2014.34 Apesar da freguesia urbana -

    Albergaria-a-Velha e Valmaior - corresponder

    freguesia com maior rea e maior nmero de

    populao35, a maioria dos habitantes reside nas

    restantes cinco freguesias.36 A densidade populacional do concelho no intervalo de tempo

    em estudo cerca de 155 habitantes/km237, o que representa um valor maior que a mdia

    em Portugal continental mas menor que o valor mdio da regio de Aveiro.38

    A actividade econmica do concelho assenta essencialmente na agricultura e

    indstria, com mais de metade da populao activa empregada no sector secundrio.39

    Na rea da cultura os equipamentos municipais so: a Biblioteca Municipal, a Casa

    Municipal da Juventude, o Centro Cultural da Branca40 e o Cineteatro Alba. De entre os

    33 Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatsticos. 34 24 998 em 2012 e 24 652 em 2014. Dados recolhidos em e [consultados em 15/01/2015]. 35 Cerca de 10 500 habitantes segundo o stio de internet do municpio [consultado em 15/01/2015]. 36 Alquerubim; Angeja; Branca; Ribeira de Frguas; So Joo de Loure e Frossos. 37 157,4 h/km2 em 2012 e 155,2h/km2 em 2014. Dados recolhidos em [consultado em 15/01/2015]. 38 [consultado em 15/01/2015]. 39 Mais informao em [consultado em 15/01/2015]. 40 Espao destinado exclusivamente s actividades do Conservatrio de Msica da Jobra (CMJ).

    Fig. 3 Mapa do distrito de Aveiro. (Rafael Vieira, 2015)

  • 16

    agentes culturais locais destacam-se o Conservatrio Msica da Jobra (CMJ), as bandas

    filarmnicas do concelho41 e a associao CulturAlba.42

    3.2 Estarreja

    Estarreja um concelho que se situa na regio (NUTS III) de Aveiro, distrito de Aveiro.

    A cidade localiza-se a cerca de 22km da capital de distrito, a cerca de 17km de Albergaria-a-

    e acerca de 25km de lhavo. (Fig. 3 Mapa do distrito de Aveiro. (Rafael Vieira, 2015)

    O nmero de residentes do concelho no sc.XX tem decrescido tenuemente desde

    cerca de 28 000 para 26 000 habitantes.43 O concelho composto por cinco freguesias44, das

    quais se destaca a Unio de Freguesias de Bedudo e Veiros que integra a cidade de Estarreja

    e que a mais populosa, com cerca de 10 000 habitantes.45 A densidade populacional de

    Estarreja entre 2001 e 2013 apresenta valores ligeiramente superiores mdia da regio de

    Aveiro, com um decrscimo de cerca de 259 para 246 habitantes/km2 no intervalo de tempo

    mencionado.46

    O concelho de Estarreja caracteriza-se pela dinmica empresarial destaque para o

    projecto do Ecoparque Empresarial -, e pela actividade industrial, com um dos maiores

    complexos qumicos do pas. O ano de 2005 foi marcante para o concelho com a criao do

    Parque Municipal do Antu, reinaugurao do Cineteatro e elevao de Estarreja a cidade47.

    A rede de equipamentos de cultura e lazer do municpio integra a Biblioteca

    Municipal, a Casa Municipal da Cultura, a Casa-Museu Egas Moniz, a Casa-Museu Marieta

    Solheiro Madureira e o Cineteatro de Estarreja (CTE). Os agentes locais que assumem uma

    relao de maior proximidade com o CTE so o Cineclube de Avanca, a Big Band Estarrejazz -

    formada a partir de uma masterclass em 2013 -, bem como o Agrupamento de Escolas do

    concelho e a Cerciesta.48

    41 Banda da Associao Recreativa e Cultural Amigos da Branca (ARMAB); Banda Velha Unio Sanjoanense; Banda Recreativa Unio Pinheirense; Filarmnica. Angejense; Banda Filarmnica do Grupo Desportivo e Cultural de Ribeira de Frguas. 42 Associao de Artes, Recreio e Cultura de Albergaria-a-Velha. 43 Mais detalhes em e [consultados em 15/01/2015]. 44 Avanca; Unio de Freguesias de Bedudo e Veiros; Unio de Freguesias de Canelas e Fermel; Pardilh; Salreu 45 Dados recolhidos na pgina oficial da CME [consultado em 15/01/2015]. 46 Mais detalhes em [consultado em 15/01/2015]. 47 Mais informao em [consultado em 15/01/2015]. 48 No so agentes exclusivamente ligados rea da cultura, mas que mantm uma dinmica cultural regular junto do Cineteatro de Estarreja.

  • 17

    O Festival de Cinema de Avanca e o Estarrejazz constituem-se como dois projectos

    culturais consolidados no concelho e reconhecidos a nvel nacional.

    3.3 lhavo

    O concelho de lhavo integra duas cidades lhavo e Gafanha da Nazar e situa-se

    na regio (NUTS III) de Aveiro, distrito de Aveiro. um concelho da orla litoral sul do distrito

    e integra a rea da Ria de Aveiro. A cidade de lhavo dista menos de 10km da capital de

    distrito a norte - e de Gafanha da Nazar a litoral. (Fig. 3 Mapa do distrito de Aveiro.

    (Rafael Vieira, 2015)

    A populao residente no concelho de lhavo, entre 2008 e 2014, caracteriza-se por

    uma rigorosa estabilidade, com cerca de 38 000 habitantes49 distribudos por quatro

    freguesias.50 A freguesia de So Salvador, que integra a cidade de lhavo, e a freguesia de

    Gafanha da Nazar acolhem quase toda a populao do concelho, a primeira com mais de

    16000 habitantes e a ltima com cerca de 15 000 residentes.51 A densidade populacional

    neste concelho enorme - superior a 520 habitantes/km2 desde 2009 - sobretudo se

    comparada com a densidade registada nos outros municpios em estudo e com a mdia em

    Portugal continental e na regio de Aveiro.

    Cerca de 30% de territrio do concelho agrcola, embora o comrcio martimo, a

    indstria e o turismo sejam as reas basilares da actividade econmica. De notar que, para

    alm do territrio estar associado Marca Turstica da Ria de Aveiro, grande parte do Porto

    de Aveiro est localizado na freguesia de Gafanha da Nazar e a Zona Industrial da Mota em

    Gafanha da Encarnao.52

    Na rea da cultura o concelho de lhavo dotado de diversos equipamentos para

    alm dos centros culturais de lhavo (CCI) e da Gafanha da Nazar (CCGN): o Museu

    Martimo de lhavo, o Museu da Vista Alegre, o Navio-Museu Santo Andr, a Casa Gafanhoa-

    Museu Municipal, a Biblioteca Municipal e o Centro de Documentao de lhavo. Os agentes

    locais com uma relao prxima e regular com o CCI so: a Banda dos Bombeiros Voluntrios

    de lhavo, a associao Chio-P-P, as casas do povo de lhavo e de Gafanha da Nazar, a

    49 Dados recolhidos em e [consultado em 15/01/2015]. 50 So Salvador, Gafanha da Nazar, Gafanha da Encarnao, Gafanha do Carmo. 51 Informao recolhida na stio de internet do municpio [consultado em 15/01/2015] . 52 Mais detalhes em [consultado em 15/01/2015] ; para informaes complementares visite-se [consultado em 15/01/2015].

  • 18

    Escola de Msica e a Filarmnica Gafanhense, e o Grupo Recreativo Amigos da Lgua.

    4 . Trs estudos de caso

    A anlise da programao dos Teatros Municipais em estudo requereu a distino de

    reas de actuao e consequente definio de tipologias artsticas. Embora as catalogaes

    apresentadas em agenda por cada instituio tenham sido tomadas em considerao,

    tornou-se fundamental e profcuo adaptar uma definio comum a todos os Teatros, sem

    desprezar as caractersticas de cada linguagem artstica. Assim, para a elaborao do

    presente trabalho, e com o auxlio de descries de Manuel Portela (2009), apresentam-se

    as seguintes tipologias em anlise:

    .Oficinas: tipologia que inclui workshops e ateliers. Iniciativas que motivam

    participao-activa do pblico atravs da aprendizagem. Estas aces caracterizam-se por

    no induzirem passividade e ao mero consumo cultural. Os participantes tornam-se

    agentes activos, orientados por um formador que motiva criao e apresentao de uma

    obra artstica concebida individualmente ou em grupo. comum serem promovidas pelo

    servio educativo.

    .Cinema: projeco de todo o gnero de obras cinematogrficas, desde curtas-

    metragens a longas-metragens, fico, documentrio ou cinema de animao.

    .Circo: no presente mbito esta tipologia est relacionada com o designado novo-

    circo, que apresenta performances baseadas essencialmente na expresso corporal e no

    malabarismo, de carcter contemporneo e sem recurso a animais domesticados.

    .Dana: inclui reportrios desde o folclore, dana clssica e contempornea.

    .Exposies: apresentao de obras no mbito das artes visuais e/ou plsticas, como

    a fotografia, o vdeo, a pintura, a escultura, a instalao, ou documentos de arquivo;

    incluem-se nas aces de exposies as visitas organizadas pela instituio.

    .Literatura: incluem-se recitais e lanamentos de obras com espao para o debate.

    .Multidisciplinar: todas as actividades que no se incluem em nenhuma rea artstica,

    como so exemplo os congressos e conferncias, festividades escolares e associativas,

    audies e gravaes, debates e apresentaes pblicas; por norma so aces promovidas

    pelos agentes locais mas que integram a programao dos Teatros.

    .Msica: todos os sub-gneros de msica.

    .Stand-up: actividade de representao sem guio encenado, por norma um

    espectculo de comdia e com destaque para a improvisao.

  • 19

    .Teatro: todas as criaes, desde o teatro comercial ao teatro declamado.

    A anlise detalhada de todas as aces dos Teatros Municipais em estudo permite

    identificar que na rea da msica h uma grande diversidade de sub-gneros apresentados,

    o que motiva uma exposio de dados pormenorizada de cada um dos sub-gneros, com o

    intuito de se entender melhor a estratgia programtica dos Teatros, em especial na rea da

    msica.

    O nmero de aces apresentado contabilizado da seguinte forma: cada aco no

    representa literalmente uma criao, na medida em que a mesma obra ou o mesmo

    espectculo podero ser apresentados em diversas datas ou horrios para um pblico

    distinto. Exemplifique-se: so contabilizadas trs aces referentes a um filme que seja

    projectado em trs dias; por outro lado, contabilizada apenas uma aco referente a uma

    determinada oficina de teatro anual, dirigida sempre aos mesmos participantes. Neste

    sentido, muito importante ter em considerao que a contabilizao das aces, para alm

    da margem de erro associada investigao53, poder revelar concluses que deturpem a

    realidade programtica de cada instituio. Tome-se em ateno o caso das oficinas, cuja

    simples contabilizao de aces no fornece dados conclusivos54 sobre a promoo da

    participao-activa do pblico.

    Alerta-se, ainda, que nem sempre o nmero absoluto de aces por cada rea est

    directamente relacionado com a percentagem a que corresponde cada uma das tipologias,

    ou seja, h anos em que o nmero de aces poder ser maior mas a percentagem

    corresponder a um valor menor.

    A programao em rede no mbito da Comunidade Intermunicipal da Regio de

    Aveiro (CIRA) abrange encomendas a artistas e companhias para integrarem a programao

    dos Teatros da regio, a par de projectos que promoveram o envolvimento das comunidades

    concelhias.55

    53 limitada aos dados fornecidos pelas instituies e agendas online. 54 Por exemplo: um workshop contabilizado como uma aco, porm, essa aco poder ser dinamizada diversas vezes em datas distintas e estendendo-se por vrios meses. A mesma contabilizao acontece para um atelier dinamizado apenas num dia e com durao de 2h, por exemplo. 55 Os responsveis pela programao destacam os mesmos benefcios e desvantagens da programao em rede promovida no mbito da CIRA. O benefcio de maior realce a possibilidade dos Teatros programarem projectos que fora do mbito da rede no seria possvel. Um dos aspectos a ser reavaliado tem que ver com a apresentao dos mesmos espectculos noutros Teatros da regio em datas prximas e que, em alguns casos, tem impacto na afluncia de pblico. (Ver anexos 5.1; 5.2; 6.1; 6.2; 6.3; 7.1; 7.2)

  • 20

    4.1 Cineteatro Alba

    4.1.1 Caracterizao

    Sobre o Cineteatro Alba (CTA) informa-se, em primeiro lugar, que o actual

    equipamento corresponde a uma recuperao do anterior Cineteatro56 com a mesma

    designao reinaugurado em 2012. Com uma histria semelhante a inmeros Teatros em

    Portugal, o Alba a partir da dcada de oitenta do sc.XX assume o cinema como a sua

    actividade principal. Posteriormente, em 1995, adquirido pela autarquia, sobretudo

    destinado a cedncias de espao pontuais aos agentes locais. Em 2002 assiste-se a uma nova

    fase, com o municpio de Albergaria-a-Velha a estabelecer contactos com o Estado com o

    intuito de obteno de apoios tcnicos e financeiros para a concretizao de um novo

    projecto. Em 2012 concluem-se as obras e o CTA assume uma nova etapa, nomeadamente

    com reflexos na regularidade da programao.

    O edifcio recuperado composto por diversos espaos com caractersticas distintas,

    dos quais se destacam: a sala principal, com 503 lugares; a sala de exposies; a cafetaria; o

    espao caf-concerto; a sala-estdio; e os gabinetes de trabalho.57

    A entidade responsvel pela gesto a autarquia. O financiamento, informa Pedro

    Teixeira58, advm:

    quase 100% (...) do oramento municipal, oramento anual, que retirado para este equipamento; inclui manuteno do equipamento e programao. () Depois, h um retorno de mecenato59, mas isto sendo Teatro Municipal captado pelo Cineteatro. As pessoas quatro ou cinco, no sei precisar, de trs nveis distintos - investem a nvel de mecenato, que eu agora no sei precisar o valor, mas uma boa quantia, e o mecenato entra nas contas do municpio geral; mas claro que canalizado para a programao. (Anexo 5.1).

    Acrescente-se que segundo Pedro Teixeira a programao corresponde a cerca de

    metade do oramento total do CTA, no conseguindo objectivar a quanto corresponde o

    retorno proveniente da bilheteira.

    No que respeita a lgica de redes de programao, por Albergaria-a-Velha ser

    56 O primeiro edifcio correspondente ao Teatro de Albergaria-a-Velha tem data de 1924, embora a inaugurao do edifcio do Cineteatro Alba remonte a 1950 - construdo no mesmo local foi impulsionado por um projecto a cargo da empresa Alba, cujo o investimento se deveu deciso daqueles empresrios locais. Para informaes histricas detalhadas visite-se [consultado a 20/01/2015] e CMA (2012) 57 Mais detalhes em [consultado a 20/01/2015]. 58 Responsvel pela programao do CTA. 59 Para mais detalhes visite-se [consultado a 20/01/2015].

  • 21

    municpio integrante da CIRA60, o CTA beneficiou da rede Rede da Comunidade Interurbana

    de Aveiro (RUCI)61, que desenvolveu uma programao cultural em rede em onze municpios

    da CIRA.62 As parcerias estabelecem-se de formas distintas: as protocoladas, destacando-se

    duas contnuas - renovveis anualmente - com o Departamento de Comunicao e Arte da

    Universidade de Aveiro (DeCa) e com o CMJ; as parcerias pontuais; e as de co-produo que

    esto a ser delineadas para 2016. Com a Orquestra Filarmonia das Beiras h um

    compromisso para trs aces anuais, e, para alm das parcerias referenciadas, h (...)

    coisas que se vo fazendo com as instituies locais, que acabam por ser parcerias de

    espectculo (...).( Anexo 5.1).

    O modelo de gesto do CTA obedece a uma linha hierrquica com base na

    presidncia da Cmara Municipal de Albergaria-a-Velha (CMA), depois a Vereao da Cultura

    e ainda a Diviso de Aco Social, Educao, Cultura e Desporto (DASECD). A programao

    do CTA corresponde a grande parte da programao cultural do municpio e alguns servios

    municipais, como o caso do servio educativo Servio de Aprendizagem Criativa (SAC)63 -,

    so sobretudo dinamizados no CTA, seguindo um modelo de funcionamento em rede entre

    os diversos equipamentos do concelho.64

    Os elementos constituintes da equipa do CTA so tcnicos da autarquia, com

    excepo para os prestadores de servios que colaboram pontualmente nas aces do

    Teatro.65 Pedro Teixeira informa que a equipa tcnica que trabalha quase em exclusivo para

    manuteno e programao do CTA composta por dois administrativos, um responsvel

    pela segurana e manuteno do espao; trs tcnicos que asseguram a produo, uma

    tcnica do SAC, e o responsvel pela programao.66 No mbito do estudo da programao

    60 A CIRA definiu como estratgia para a cultura, entre outras, a criao de uma rede de programao cultural em onze municpios. Para mais informaes visite-se o site [consultado a 10/02/2015]. 61 A RUCI definiu uma Nova Agenda para a Cultura, com destaque para a programao cultural em rede, e que financiava, parcialmente, determinadas aces que as instituies quiseram integrar na programao. Para mais informaes visite-se o site http://www.regiaodeaveiro.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=29289&projectoId=12 [consultado a 10/02/2015). 62 Segundo pesquisa no stio de internet da CIRA, a programao atravs da RUCI deu-se entre 2011 e 2013. 63 Visite-se o stio de internet do SAC, em que se apresentam os objectivos do servio e os modelos operativos [consultado a 22/02/2015). 64 CTA, Centro Cultural da Branca; Biblioteca Municipal; Arquivo Municipal; Casa Municipal da Juventude. 65 Exemplos: assistentes de sala - que correspondem a um outsourcing - que colaboram somente quando h aces no CTA que justifiquem; colaboradores externos que dinamizam aces promovidas pelo SAC. 66 De notar que as funes nas reas especificadas no so assumidas unicamente pelos tcnicos referidos, ou seja, as funes podero estar a cargo de diversos funcionrios, o que leva a afirmar que a fronteira de responsabilidades no estanque. No stio de internet do CTA apresentado um nmero distinto de tcnicos que, na realidade, correspondem a tcnicos do municpio que colaboram com o Cineteatro.

  • 22

    do CTA destaca-se a funo de Pedro Teixeira, que o principal responsvel pela

    programao, embora designe o seu cargo como interlocutor cultural (Anexo 5.1) por dar

    resposta a uma estratgia cultural do municpio.67 Quando questionado sobre o que ser

    um interlocutor cultural de um municpio, Pedro Teixeira afirma:

    Um provocador que tem que pr o Teatro a vibrar, o Teatro e no s o Teatro, o municpio culturalmente a vibrar, porque o Teatro no consegue viver hermeticamente; ou seja, tanto nas ideias de criao que d aos municpios, como no que pede s instituies, na maneira como junta as instituies, nas criaes que traz c que possam interessar a essas instituies ou o pblico, tentar perceber as correntes, ouvir as pessoas, ver os espectculos, sentir o pblico, ouvir, provocar e organizar-se muito bem, e pensar a longo prazo (...). (Anexo 5.1).

    Apesar de se considerar que Pedro Teixeira o programador do CTA, relevante

    referir que, como o prprio indica, a sua autonomia no total. Embora cada vez mais

    autnomo nas suas tomadas de deciso, no deixa de ser apenas um tcnico do municpio

    que responde ao organograma municipal, que tem no topo o presidente, seguido do

    vereador e chefia da DASECD.

    4.1.2 O que programar o Cineteatro Alba

    Tome-se em considerao o que programar um Teatro Municipal, em especfico o

    CTA, no entendimento do municpio de Albergaria-a-Velha e do programador.

    No stio de internet do CTA apresenta-se o equipamento como um espao destinado

    (...) apresentao, produo, acolhimento e criao de projetos artsticos amadores e

    profissionais (...)68 em articulao com os outros equipamentos culturais do municpio. A

    misso do CTA apostar na formao, qualificao e fidelizao de pblicos atravs de

    projectos que tenham em considerao as potencialidades do territrio e com reflexos na

    mediao entre pblico e criao artstica contempornea.

    Acrescente-se que o municpio assume a pretenso do CTA Ser uma referncia de

    produo artstica e fruio cultural na Regio e no Pas.69 A programao do CTA dirige-se

    ao pblico local, embora haja o intuito de:

    (...) atrair o mais possvel, e articulado com os seus parceiros e outros da CIRA, o pblico regional, e a nvel nacional, nem que seja em aces de promoo de espectculos que c vm, (...) consoante o que nos interessa (...).70 (Anexo 5.1).

    < http://www.cineteatroalba.com/cine-teatro-alba/a-equipa/> [consultado a 22/02/2015). 67 Pedro Teixeira, que tambm assume a coordenao do SAC, comeou a programar o CTA apenas em 2013. 68 Visite-se [consultado a 22/02/2015). 69 Idem 70 De notar que Pedro Teixeira afirma que o pblico local, em determinados espectculos, se revela

  • 23

    Sobre os destinatrios, Pedro Teixeira acrescenta que a programao do Teatro

    para um pblico familiar, desde o infantil ao snior, para toda a comunidade, com projectos

    em que todas as faixas etrias podem ser intervenientes.71

    O programador considera que um Teatro, quando municipal, poder arriscar numa

    pequena especializao, tornando-se referncia nacional em determinada rea. Contudo,

    Pedro Teixeira afirma que programar o CTA no segue essa lgica. Pelo contrrio, considera-

    se que programar o CTA apostar numa programao o mais ecltica possvel, elevando a

    qualidade atravs de oportunidades que surgem no panorama nacional e internacional. No

    obstante, elucida que determinados trimestres caracterizam-se pela grande percentagem de

    aces de uma rea especfica, por norma, associados a datas celebrativas.

    A instituio no se rev numa perspectiva de programao que se esgote na

    apresentao de espectculos que abranja diversas disciplinas artsticas e destinados a

    diferentes pblicos.

    Aumentar, sempre que possvel, a participao, nem que seja de comunidade para comunidade, neste caso, se pudermos chamar assim, dar palco aos criadores ou s colectividades com cariz mais criativo, sejam elas amador, semi-profissionais ou at profissionais. (Anexo 5.2).

    Apesar do conceito de democracia cultural no ser enunciado no discurso do

    programador, a lgica de actuao descrita por Teixeira sugere essa dimenso.

    4.1.3 Anlise da programao do Cineteatro Alba (2012-2014)

    Para analisar a programao do CTA h que ter em considerao que em 2012 o

    mapa de aces referente a cerca de 8 meses.72 Outro dado indispensvel de ser

    mencionado tem que ver com a estratgia de programao adoptada pela instituio, que

    segundo Pedro Teixeira delineada especificamente para cada uma das reas.73

    A leitura dos grficos 1 e 1.2 (Fig. 4 e Fig. 5) indicam que a programao do CTA, no

    intervalo de tempo 2012-2014, abrange todas as tipologias definidas, embora se denote um

    desequilbrio acentuado entre algumas das reas. Os grficos retratam uma disparidade na

    programao entre a rea da msica e as restantes disciplinas.

    insuficiente, e que com o pblico do distrito e da regio que conseguem encher a sala principal. 71 No entanto, Pedro Teixeira assume que a programao no se tem destinado ao pblico adolescente e universitrio, revelando-se por isso um pblico ausente. 72 Em 2012 o CTA iniciou a actividade no final do ms de Abril pelo facto de ter sido inaugurado a 27 desse ms. 73 Note-se o exemplo do Ciclo de Fado, resultado de uma estratgia definida para a rea da msica.

  • 24

    Fig. 4 - Valor absoluto de aces para cada tipologia para o intervalo de tempo 2012-2014. (Dados recolhidos e tratados por Rafael Vieira, 2015)

    Fig. 5 - Distribuio em percentagem de aces para cada tipologia para o intervalo de tempo 2012-2014. (Dados recolhidos e tratados por Rafael Vieira, 2015)

    As aces de msica correspondem a cerca de 40% da actividade do CTA. A rea

    multidisciplinar surge como a segunda tipologia com maior nmero de aces, seguida do

    cinema e do teatro, formando um grupo com valores percentuais prximos, desde os 12,3%

    - para o teatro - e 17,3% - para a rea multidisciplinar. As restantes tipologias formam um

    segundo grupo que corresponde s reas com menor representatividade na programao,

    no qual se contempla a dana, que representa apenas 3,5% da programao do CTA e as

    exposies com os mesmos valores. As oficinas, o circo, a literatura e o stand-up

    correspondem, cada uma das reas, a cerca de 2% da programao.

    As artes do espectculo de maior relevncia na programao - a msica, o teatro e a

    dana assumem-se como mais de metade da programao da instituio, cerca de 56%. O

    cinema surge como a terceira aposta da instituio. Os mesmos grficos permitem verificar

    que as oficinas assumem uma relevncia tnue na programao, pelo menos no que diz

    respeito ao nmero de aces distintas. Por outro lado, as exposies apesar de no

    corresponderem a mais de 3,5% do total da programao, so a quinta tipologia mais

    7

    54

    5 12 12 6

    59

    138

    7

    42

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    2.0 15.8

    1.5 3.5

    3.5 1.8

    17.3 40.4

    2.0 12.3 Ateliers/Workshops/O;icinas Cinema Circo/Novo Circo Dana Exposies Literatura Multidisciplinar Msica Stand-up Teatro

  • 25

    representada nos grficos.

    O quadro 2 (Anexo 1.1) remete para um crescente nmero de aces do CTA desde

    2012 a 2014, com especial destaque para a subida registada em 2013. Em 2014, apesar de

    uma escalada menor, o nmero absoluto volta a aumentar. A msica, o cinema, a dana, as

    exposies e a literatura acompanham proporcionalmente a tendncia, o que no acontece

    com o teatro.

    Os grficos 13 e 13.1 (Anexo 1.9) esclarecem o crescimento da rea de msica, que

    no ano de 2014 corresponde a quase metade da actividade - cerca de 46% da programao.

    Pedro Teixeira assume que a msica a rea mais forte e com mais pblico, um facto

    que no difere da realidade do resto do pas (Anexo 5.2). A predominncia da tipologia

    msica deve-se, para alm da maior oferta e de maior nmero de pblico, dos diversos

    protocolos celebrados com entidades locais e regionais, que o programador do CTA

    considera uma forma de programar. No caso da dOrfeu Associao Cultural74 o acordo75

    permite que haja um conjunto de propostas para o ciclo Outonalidades, em que a equipa do

    CTA escolhe os artistas e datas consoante os seus critrios, embora no mbito do Festim,

    apesar do CTA definir as datas, as propostas da associao so menos negociveis. Os

    projectos apresentados pelo CMJ e pelo DeCa so, por norma, de componente formativa e o

    programador do CTA considera que no seria correcto interferir no plano de actividades das

    entidades referidas, para alm de assumir que o Teatro somente consegue programar

    semanalmente o Caf-Concerto devido a estas parcerias. Tome-se em ateno que o valor

    contabilizado de aces de msica , em grande parte, resultante das iniciativas

    concretizadas semanalmente no Caf-concerto. O envolvimento da comunidade em

    projectos de msica inteno do CTA. Pedro Teixeira alude para um exemplo:

    (...) uma espcie de concerto comunitrio (...) onde se fazem inscries e depois so chamados um ou dois msicos, coregrafos, maestros, encenadores, digamos assim, para produzir ou criar o espectculo, embora haja conscincia de que o nvel que tem sido menos trabalhado o que recebe a comunidade, trabalha e faz um espectculo. (Anexo 5.2)

    Atravs dos grficos 17 e 17.1 (Anexo 1.13) constata-se que a programao de

    msica do CTA apresenta uma distribuio equilibrada pelos diferentes sub-gneros. No

    obstante, denota-se que a msica pop/rock constitui a maior aposta da rea musical,

    74 Associao do concelho de gueda que promove espectculos (sobretudo na rea da msica) protocolados com os trs Teatros em estudo, atravs da apresentao de um conjunto de artistas ou bandas que depois so escolhidos e distribudos para integrarem a programao dos Teatros. 75 Acordo tripartido entre DGArtes, municpio de Albergaria-a-Velha e dOrfeu Associao Cultural.

  • 26

    correspondendo a cerca de da programao de msica. Pedro Teixeira revela que a

    programao de msica do CTA inclui, pelo menos, uma vez por ms um grande concerto

    de pop/rock, isto , um nome de referncia. Depois o destaque vai para a msica

    clssica/erudita, com percentagem de 18%, para a qual contribuem os concertos anuais

    protocolados com a Orquestra Filarmonia das Beiras e as aces sob responsabilidade do

    DeCa e do CMJ. Com a dOrfeu Associao Cultural tambm esto protocolados espectculos

    no mbito do Festim76 que colocam a msica do mundo como o terceiro sub-gnero mais

    programado pelo Teatro. Com menor incidncia, mas com um nmero de actuaes

    prximo, surge a msica jazz, a msica de bandas filarmnicas, que se distribui por todos os

    trimestres com actuaes de bandas filarmnicas do concelho, e a msica fado.77 A msica

    infantil/juvenil, tradicional/popular e coral revelam-se os sub-gneros com menor

    incidncia.78

    A dana (Grficos 9 e 9.1, Anexo 1.5) tambm apresenta uma evoluo ascendente,

    sobretudo de 2013 para 2014. Porm, a representao em 2013 regressiva relativamente a

    2012, para depois atingir mais de 5% em 2014. O programador do CTA esclarece que na rea

    da dana promove-se um a dois espectculos por trimestre. Os dados apresentados revelam

    uma realidade coerente com a perspectiva descrita, na medida em que se verifica que o CTA

    programa em mdia um espectculo por trimestre.79 A primeira aposta incide numa

    companhia de referncia a nvel nacional e no caso de haver possibilidade de programar

    dois espectculos abre-se espao a uma companhia da regio ou da comunidade (Anexo

    5.2). Os critrios para a menor aposta na dana so o pblico e a oferta.

    Tambm tem a ver com a oferta e da regio onde ests, porque todos os Teatros fazem uma criao de dana tambm por trimestre (...) Agora imagina eu fazer trs, no tenho pblico na regio para isso (...). (Anexo 5.2)

    O teatro (Grficos 15 e 15.1, Anexo 1.11) apresenta uma tendncia distinta,

    denotando-se que a percentagem das aces decresce abruptamente em comparao com

    outras reas - de 20,7% em 2012 passa apenas a representar 8,8% da programao no ano

    de 2014.80 Segundo o programador do CTA, a instituio intenta programar trs projectos de

    76 Concertos de projectos de msica do mundo de iniciativa da associao mas organizado pelo CTA. 77 Os espectculos de msica fado esto concentrados no primeiro trimestre num ciclo de fado. 78 De notar que no foi possvel catalogar algumas aces contempladas na programao fornecida, que equivalem tipologia Msica (no especificada). 79 No significa integralmente um espectculo por trimestre; corresponde a uma estimativa mdia tendo em conta o nmero total de aces de dana dividido por trimestres. 80 No foi possvel descortinar as razes por que se assiste a uma queda da percentagem de aces de Teatro. No se obteve resposta a um grupo de questes enviado por correio electrnico (Anexo 5.4).

  • 27

    teatro por trimestre de mbitos distintos, em que um deles baseia-se num texto de autor de

    relevo, outro protagonizado por um actor ou companhia de valor artstico ou reconhecido

    do pblico, e outro com agentes de criao - do concelho, distrito ou regio (Anexo 5.2). O

    decrscimo da percentagem de aces no significa uma representao de teatro menor

    que a indicada pelo programador, pelo contrrio, em 2013 o CTA apresenta, em mdia,

    quatro espectculos por trimestre. De realar que o gnero revista no integra, consciente e

    voluntariamente, a programao do CTA.

    O cinema (Grficos 7 e 7.1, Anexo 1.3) apresenta um cenrio semelhante rea da

    msica, embora com valores menores e uma subida menos acentuada, sobretudo de 2013

    para 2014, em que mnima. Duas sesses por ms, por norma de filmes que estrearam h

    trs ou quatro semanas, a estratgia de cinema que o programador tem para o CTA. No

    entanto, apenas no ano de 2014 os nmeros de sesses correspondem ideia enunciada,

    pois nos anos anteriores esse nmero menor - com grande discrepncia no ano inaugural.

    A subida do nmero e percentagem de aces explica-se por o cinema revelar-se a rea que

    acaba por se pagar a ela prpria (Anexo 5.2), sobretudo as sesses de cinema infantil.

    Para promover a vinda ao CTA das famlias e tambm porque rentvel, dos mais

    rentveis, temos a sesses que esgotam, 500 lugares vendveis. (...). (Anexo 5.2). Os

    critrios na programao de cinema assentam em filmes de cartaz na maioria das salas do

    pas, sem espao para cinema de autor dirigido a um pblico cinfilo.

    (...) ns no nos podemos dar ao luxo de abrir uma sala destas para quatro pessoas ou para cinco; o que no quer dizer que no possamos fazer - inserido em determinado ciclo ou festival (...)., que no intervalo de tempo estudado no se verifica. (Anexo 5.2)

    As oficinas (Grficos 6 e 6.1, Anexo 1.2) revelam-se uma aposta intermitente e com

    um nmero diminuto de aces contabilizadas. O ano de 2014 o que apresenta mais

    actividades distintas, que correspondem a cerca de 3,2% da programao no respectivo

    ano.81 Pedro Teixeira informa que o teatro e a dana so as reas privilegiadas na

    programao de oficinas, visto que na rea da msica h muita oferta no concelho.82 De

    referir que no foi possvel esclarecer como o CTA envolve a comunidade nos projectos de

    criao artstica com o nmero reduzido de oficinas que apresenta.83 Mas realce-se que o

    programador do CTA considera que h diversas formas de motivar a comunidade a

    81 De notar que grande parte destas iniciativas dinamizadas pelo CTA so planeadas no mbito do SAC e que somente esto contabilizadas as que se concretizam no Teatro. 82 Sobretudo atravs do CMJ. 83 No se obteve resposta a um grupo de questes enviado por correio electrnico.

  • 28

    participar, atravs de iniciativas como por exemplo: assistir a sound-checks, visitas aos

    bastidores, participao na concepo de guarda-roupa, e ainda a apresentao de

    espectculos ou obras criados por agentes locais.

    No mbito de SAC h sempre um a dois espectculos que fazemos para a infncia e famlias, ou pelo menos que criem hbitos do pblico mais jovem vir ao Teatro (...) ou seja, que potencie j hbitos de crtica artstica, nem que seja em famlia; os workshops e as oficinas no mbito da programao; mediao do que est programado, como seja o caso das visitas-guiadas, visitas-jogo ou visitas-danadas (...). (Anexo 5.2)

    Os grficos da rea multidisciplinar (Grficos 12 e 12.1, Anexo 1.8) remetem para um

    decrscimo relevante da referida tipologia em 2013 e 2014 em comparao com 2012. Com

    uma representao de 37,5% de toda a programao da instituio no ano inaugural passa-

    se a cerca de 10% em 2014. Esta tipologia remete, essencialmente, para iniciativas

    promovidas por outras entidades que requerem a cedncia de espao, e que Pedro Teixeira

    confirma: h vrias situaes em que algumas instituies (...) requisitam a sala, com o

    apoio municipal, para realizar as suas actividades, e pelo menos a cedncia da sala gratuita

    (...). (Anexo 5.2).84 A diminuio das actividades multidisciplinares no mapa programtico

    do CTA consequente da crescente aposta nas iniciativas de msica, dana e cinema.

    A tipologia exposies (grficos 10 e 10.1, Anexo 1.6) descreve uma linha

    ascendente, que em 2014 representa mais de 5% da actividade do CTA.

    Comemos por fazer trs por trimestre, mas o horrio em que o Cineteatro est aberto a exposio nem respira, quase no se tem conhecimento, e estamos numa periodicidade de duas por trimestre. (Anexo 5.2)

    Das duas exposies apresentadas uma aposta no mbito documental e outra nas

    artes plsticas, embora seja assumida a dificuldade em expor arte contempornea,

    sobretudo escultura.

    Sobre os espectculos de ndole internacional o programador informa que o CTA no

    tem agendado aces nesse mbito, com excepo dos projectos inseridos em iniciativas

    especficas, como o caso do Festim.

    Os dados de aces apresentados contemplam a programao em rede da RUCI que

    se concretizou atravs da CIRA e que criou a oportunidade do CTA programar projectos a

    partir de uma bolsa de programao que de outro modo no seria possvel.

    Relativamente escolha dos artistas, grupos ou companhias que integram a

    84 O programador esclarece ainda que o municpio de Albergaria-a-Velha destaca ver