tese mestrado - pfa cássio nascimento batista - 5/2015

Upload: sindpfa

Post on 02-Nov-2015

201 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Tese de Mestrado do Perito Federal Agrário Cássio Nascimento Batista, da Superintendência Regional do Incra no Mato Grosso, sobre o Cadastro de Imóveis Rurais, apresentada na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS

    DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

    CSSIO NASCIMENTO BATISTA

    ANLISE DO CADASTRO DE IMVEIS RURAIS NOS MUNICPIOS DO PANTANAL MATO-GROSSENSE

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Geografia, Campus Cuiab, da Universidade Federal de Mato Grosso UFMT, como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Geografia.

    ORIENTADORA- PROF. DR. ONLIA CARMEM ROSSETTO

    CUIAB, MT MARO 2014

  • CSSIO NASCIMENTO BATISTA

    ANLISE DO CADASTRO DE IMVEIS RURAIS NOS MUNICPIOS DO PANTANAL MATO-GROSSENSE

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Geografia, Campus Cuiab, da Universidade Federal de Mato Grosso UFMT, como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Geografia.

    ORIENTADORA PROF. DR. ONLIA CARMEM ROSSETTO

    CUIAB, MT MARO - 2014

  • FICHA CATALOGRFICA

    B333a Batista, Cssio Nascimento. Anlise do cadastro de imveis rurais nos municpios do Pantanal

    mato-grossense / Cssio Nascimento Batista. 2014.

    133 f. : il. color.

    Orientadora: Prof. Dr. Onlia Carmem Rossetto. Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Cincias Humanas e Sociais, Ps-Graduao em Geografia, rea de Concentrao: Cincias da Terra, Geografia, Cadastro Tcnico Multifinalitrio, 2014.

    Bibliografia: f. 109-114.

    1. Pantanal mato-grossense Desenvolvimento sustentvel. 2. Planejamento agrcola Pantanal mato-grossense. 3. Desenvolvimento territorial Pantanal Mato Grosso. 4. Cadastro de Imveis Rurais - Anlise. I. Ttulo.

    CDU 911.3:32(817.2:252.6) Ficha elaborada por: Rosngela Aparecida Vicente Shn CRB-1/931

  • A minha esposa Cludia, e aos meus filhos Amanda e Arthur, pelo tempo que deixamos de estar juntos...

    Aos meus pais, Jos Calisto e Dorca, a eles todos os crditos... Principalmente a DEUS, sem o qual nada possvel...

    Dedico

  • A leitura aps certa idade distrai excessivamente o esprito humano das suas reflexes criadoras. Todo o homem que l demais e usa o crebro de menos adquire a preguia de pensar.

    Albert Einstein.

  • AGRADECIMENTOS

    UFMT e todos do departamento de Geografia por proporcionarem a estrutura e a organizao para que este trabalho pudesse ser realizado. Aos Professores que de uma forma generosa compartilharam com os alunos seus conhecimentos. A Prof. Dr. Onlia Carmem Rossetto, que me estendeu a mo. Aos meus colegas de ps-graduao que tornaram um perodo de longa dedicao em algo divertido. A Banca examinadora composta pelos Professores Profa. Dra Onlia Carmem Rossetto, Prof. Dr Luiz Da Rosa Garcia Netto e Prof. Dr Ricardo Garcia Aratani , muito obrigado pela inestimvel contribuio. A todo Grupo de Pesquisas em Geografia Agrria e Conservao da Biodiversidade do Pantanal GECA, pela convivncia enriquecedora. Aos vrios colegas do INCRA pela prontido em colaborar.

  • RESUMO

    Este trabalho analisa o Sistema Nacional de Cadastro de Imveis Rurais(SNCR) quanto a sua organizao, resultados e como instrumento de planejamento. O planejamento como ferramenta bsica para alcanar o desenvolvimento dividido em trs partes. A primeira o planejamento estratgico que prev a anlise de extensa gama de dados e o aproveitamento das vantagens locais para atingir objetivos (segunda parte). Os quais so melhor estabelecidos de forma participativa, trazendo os atores locais para o controle. A terceira que liga as outras duas o programa de ao. O desenvolvimento pretendido discutido a partir das idias de igualdade e liberdade de escolha evidenciando novamente a mobilizao e participao da populao como fator decisivo. A abordagem territorial permite uma anlise a partir do ponto de vista da economia, poltica e cultura das foras que vo formar o territrio e dos processos de territorializao, desterritorializao e reterritorializao (T-D-R). Os aspectos e as aplicaes da ferramenta Cadastro Tcnico Multifinalitrio so apresentadas. O SNCR detalhado desde a constituio legal, coleta de dados, comprovaes exigidas at a gesto das responsabilidades na sua atualizao. Os cadastros existentes a nvel federal foram avaliados com destaque para a Cadastro Fiscal de Imveis Rurais(CAFIR) da Receita Federal Brasileira quanto a sua funo bsica, arrecadao. Os resultados do SNCR ligados ao desenvolvimento do pantanal so discutidos, suas falhas e seus acertos so analisados. A concluso final de o SNCR fidedigno e atualizado e pode ser convertido em um Cadastro Tcnico Multifinalitrio, que enriquecido pela abordagem territorial pode ampliar a gama de produtos oferecidos para orientar as restries ao acesso e uso da terra que junto com a pesquisa tcnico-cientfica buscar solues para conduzir ao desenvolvimento sustentvel do Pantanal.

    Descritores: 1. Desenvolvimento territorial, 2. Sistema Nacional de Cadastro Rural(SNCR), 3. Cadastro Tcnico Multifinalitrio(CTM), 4. Pantanal Mato-grossense, 5. Planejamento

  • ABSTRACT

    This study analyzes the National System of Cadastre of Rural Property (SNCR) as to its organization, results and as a tool for planning. Planning as a basic tool to achieve development is divided into three parts. The first is strategic planning that provides for the analysis of extensive range of data and use local advantages to achieve goals (second part). These are best established in a participatory way, bringing local actors to control, the third that connects the other two is the program of action. The proposed development is discussed from the ideas of equality and freedom of choice showing the population mobilization and participation as a decisive factor again. The territorial approach allows an analysis from the economics, politics and cultural view of the forces that will form the territory and processes of territorialization, deterritorialization and reterritorialization (T-D-R). Aspects and applications of Multipurpose Technical Cadastre tool are presented. The SNCR is detailed from legal establishment, data collecting, the required evidence until management responsibilities in your update. The federal cadastres were evaluated with emphasis on the Fiscal Cadastre of Rural Properties (CAFIR) of the Brazilian Internal Revenue Service(IRS) as its basic function, collect taxes. The results of SNCR linked to the development of the wetland are discussed, their failures and their successes are analyzed. The final conclusion is that the SNCR is trustworthy and updated and can be converted into a Multipurpose Technical Cadastre, which enriched by the territorial approach can extend the range of products offered to guide the restrictions on access and use of land along with technical - scientific research look for solutions to drive sustainable development to Pantanal.

    Key words: 1. Territorial development, 2. National Rural Registration System (SNCR), 3. Multipurpose Technical Cadastre (CTM), 4. Pantanal 5. Planning

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Caracterizao da regio Pantanal Mato-Grossense .......................... 19Tabela 2 - Indicao da elaborao das variveis dos grficos deste trabalho 27Tabela 3 - O sistema territorial ............................................................................... 54Tabela 4 - Concepes predominantes de territrio (n de ocorrncias) .......... 62Tabela 5 - Arrecadao do ITR ( base corrigida a Preos de Dezembro/2013 IPCA) ........................................................................................................................ 70Tabela 6 - Composio dos dados alimentados no SNCR .................................. 82Tabela 7 - Documentao comprobatria ao Cadastro Rural - INCRA ............... 83Tabela 8 - Datas limite de obrigatoriedade de georreferenciamento .................. 86Tabela 9 - Ranking municipal da soma das reas dos imveis no SNCR x rea IBGE, 2012................................................................................................................ 90Tabela 10 - Incluses indevidas no SNCR ............................................................ 91Tabela 11 - Municpios das Microrregies de MT participao na Agricultura Temporria ............................................................................................................... 94

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Evoluo anual do saldo da balana comercial brasileira e do agronegcio - 1992 a 2012 - (em US$ bilhes) ...................................................... 36Grfico 2 - Pobreza por tamanho do estabelecimento e classes de produtividade - sul .................................................................................................. 49Grfico 3 - Participao Estadual na Agropecuria do Brasil x Emisso de CCIR, 2012................................................................................................................ 88Grfico 4 - Anlise da soma das reas dos imveis no SNCR x rea IBGE, 2012 .................................................................................................................................. 91Grfico 5 - Participao das Mesorregies na Agropecuria de MT, 2012 ......... 92Grfico 6 - Participao das Microrregies na Agropecuria de MT, 2012 ........ 95Grfico 7 - Evoluo da lavoura temporria municpios do Pantanal de MT- 1994 a 2011 .............................................................................................................. 97Grfico 8 - Evoluo do Rebanho Bovino dos municpios do Pantanal de MT- 1994 a 2011 .............................................................................................................. 98Grfico 9 - Participao dos municpios pantaneiros na emisso mensal mdia de CCIRs - 2011 a 2012 ......................................................................................... 100Grfico 10 - Participao das classes fundirias- numrica e por rea no Pantanal/MT ........................................................................................................... 101Grfico 11 - rea mdia das propriedades, municpios do Pantanal de MT- 2012 ................................................................................................................................ 102

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - O Pantanal Brasileiro ............................................................................. 18Figura 2 - Distribuio do crdito agropecurio -Evoluo de 1999 -2010 ........ 22Figura 3 - Comunidade quilombola Capo Verde, Pocone/MT Margens BR070 50Figura 4 - rea de plantio de Banana, Capo Verde, Pocon/MT ....................... 51Figura 5 - Agroindstria de processamento de banana, Capo Verde, Pocon/MT ............................................................................................................... 52Figura 6 - Trajeto para Usinas Itamarati passando dentro de Nova Olmpia ..... 56Figura 7 - rea da Fazenda Itamarati sob colheita mecnica, Nova Olmpia/MT .................................................................................................................................. 57Figura 8 - Refeitrio da escola: Lid. Indgenas, Professores, Mestrandos e graduandos da Geografia/UFMT. ........................................................................... 59Figura 9 - Vista parcial da aldeia ............................................................................ 59Figura 10 - Diretoria de ordenamento da estrutura fundiria .............................. 72Figura 11 - Organograma das Superintendncias Regionais .............................. 73Figura 12 - Formulrio Estrutura ........................................................................... 78Figura 13 - Formulrio Dados Pessoais Frente ................................................. 79Figura 14 - Formulrio Dados Pessoais Verso .................................................. 80Figura 15 - Formulrio Dados de uso Frente ..................................................... 81Figura 16 - Formulrio Dados de Uso - verso ....................................................... 81Figura 17- Cartograma Microrregies MT Produo Agric. Temporria ............ 93Figura 18 - Proposta de desenvolvimento territorial .......................................... 107

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    SNCR - Sistema Nacional de Cadastro Rural SR13 - Superintendncia Regional de Mato Grosso INCRA - Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria CCIR - Certificado de Cadastro de Imveis Rurais CTM -. Cadastro Tcnico Multifinalitrio ITR - imposto territorial rural IBGE -, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica GECA - Grupo de Estudos do Pantanal FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations OCDE - Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico PNUD - Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento IDH - ndice de Desenvolvimento Humano - T-D-R territorializao e desterritorializao e reterritorializao FIG - Federao Internacional dos Agrimensores CAFIR - Cadastro Fiscal de Imveis Rurais VTNm - Valor da Terra Nua, mnimo CAR -. Cadastro Ambiental Rural NRCs - Ncleos Regionais de Cadastro UMCs - Unidades Municipais de Cadastro CREA -, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia ART - Anotao de Responsabilidade Tcnica CCU - Contratos de Concesso de Uso

  • !"

    "

    #

    ##

    $%&'

    !

    ""!#

    $

    ( ! !

    )(*

    +

    )(,

  • 13

    INTRODUO

    Parte dos conhecimentos contidos nesta dissertao tem origem na recente passagem do autor pelo Servio Nacional de Cadastro Rural(SNCR) da Superintendncia Regional de Mato Grosso(SR13) do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA) em Cuiab-MT nos anos de 2010 e 2011, antes atuou como membro do comit de certificao da cartografia de 2007 a 2009, ambos pertencem a Diviso de Ordenamento da Estrutura Fundiria da citada Superintendncia. Tambm cabe mencionar a experincia deste junto a pequenos produtores de caf na zona da mata de Minas Gerais como representante de empresas de fertilizantes e insumos para a cafeicultura de montanha e na assistncia tcnica rural no assentamento Caet em Diamantino-MT. Estas experincias de parte da vida profissional contribuem para a formao das crenas e valores. A razo de cit-las aqui ajudar ao leitor a analisar e criticar os pontos de vista, as posturas, a organizao, o raciocnio e as concluses aqui contidas, para, numa reflexo madura e isenta, contribuir na construo do conhecimento do meio rural Brasileiro. Sem preconceitos marxistas ou capitalistas, mas fazendo uso de prticas que contribuam para melhoria das condies da vida do homem do campo, minha verdadeira motivao.

    O cadastro de imveis rurais tem notada importncia na histria das grandes naes, pois a primeira fonte de prosperidade de uma nao relatada na histria foram as abundantes safras da regio inundvel do rio Nilo. No Egito, para administrar o solo agricultvel havia um sistema de cadastro parcelrio que usava coordenadas para identificar e localizar as reas. Na Europa antiga cabe citar o cadastro Romano como exemplo de organizao. Este foi usado para arrecadar impostos, uma das funes bsicas do cadastro, de uma forma justa, que avaliava no s o tamanho da rea, mas tambm a qualidade dos solos. Seguiram-se o famoso cadastro napolenico, o ingls e o alemo com apurada tcnica. No possvel imaginar uma grande nao sem um cadastro rural que garanta justia social e tributria, e no caso do Brasil que um pas agrcola este uma ferramenta imprescindvel para garantir um acesso igualitrio a terra, enquanto um meio de produo e fonte de prosperidade.

  • 14

    O Cadastro poderia ter sido a verdadeira constituio do Imprio, isto , a verdadeira garantia das propriedades e a certeza da independncia de cada um...(sic) Aquele que faa uma boa lei cadastral merecer que a ele se erga uma esttua. (NAPOLEO I apud NASCIMENTO,p. 06, 2007)

    O ordenamento do territrio de um estado para garantir a funo planejamento e administrao ao Governo e aos cidados direitos e deveres encontra no cadastro sua mais eficaz ferramenta. Um cadastro pode ser definido como um arquivo de informaes, direitos e deveres sobre parcelas do territrio. O conceito deste tem evoludo muito acompanhando as novas tecnologias e as novas regulamentaes e assumido encargo de prestar informaes diversas aos vrios rgos encarregados de assegurar os mais diversos direitos. (LOCH, 2007).

    Em matria publicada no jornal O Estado de So Paulo dia 07 de abril de 2014 o Professor de filosofia da UFRGS Denis Lerrer Rosenfield ao comentar os nmeros expressivos no avano da certificao de georreferenciamentos por uma nova metodologia adotada ressalta a importncia do cadastro na garantia dos direitos e a ferramenta imprescindvel para o planejamento bem sucedido.

    O INCRA est atualmente assumindo a posio que lhe compete de rgo incumbido da gesto territorial do Pas. No h pas moderno e desenvolvido que carea de tal poltica. E isso no contexto de sermos, hoje, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, detentores de invejvel biodiversidade.(ROSENFELD, 2014)

    O citado banco de dados de imveis rurais foi criado recentemente pela lei 10.267 de 2001. Este se trata de um cadastro de plantas de imveis preciso (com preciso de 0,5m nos vrtices), no tendo informaes de interesse social como a posse e uso da terra. Essas informaes podem ser encontradas em outro cadastro da mesma instituio o Cadastro Nacional de Imveis Rurais, que ser objeto de detalhada discusso, foi institudo em 1964 atravs da lei 4.504(Brasil, legislao, 1964), conhecida como Estatuto da Terra. Formatado pela lei 5.868(Brasil, legislao, 1972), como Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) foi regulamentado no decreto 72.106(Brasil, legislao, 1973). Tem como objetivo fornecer ao governo federal dados para o planejamento da poltica agrria e da reforma agrria e informaes sobre a concentrao e distribuio da terra alm de fins de arrecadao.

    O principal documento emitido pelo Sistema o Certificado de Cadastro de Imveis Rurais (CCIR) mais conhecido no meio rural apenas por o CCIR. Ele tem

  • 15

    pelo menos quatro aplicaes consolidadas dentro da sociedade. A mais usual que j a muitos anos que os bancos exigem para o financiamento do custeio anual da safra que os proprietrios apresentem o CCIR atualizado. A partir de 2010 o Banco do Brasil passou a exigir, para aprovar o financiamento, que alm de atualizado que apresentasse como classificao fundiria do imvel, no corpo do CCIR, o termo produtivo. Os cartrios exigem o CCIR atualizado para a transferncia de domnio, a maioria deles no registra sequer um contrato de compra e venda de imveis sem o CCIR. O Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS usa documento, que comprova atividade rural, emitido pelo INCRA aps consulta ao banco de dados do SNCR, para conceder a aposentadoria rural. Extraordinariamente o Ministrio do Meio Ambiente, em 2008, atravs do decreto 6321 utilizou a inibio automtica do CCIR em imveis includos em 19 municpios de Mato Grosso MT para frear o desmatamento e a partir do recadastramento obrigatrio obter dados de produtores rurais que estivessem desmatando.

    Para estudar este banco de dados(SNCR) que tem, j por longa data, uma forte presena no dia a dia do homem do campo foi escolhido um recorte que apresentava um delineamento territorial definido. Os territrios so construdos a partir da interao dos homens uns com os outros e com o meio ambiente alm da interao entre as comunidades que habitam outros territrios. O Bioma pantanal conforme Abreu et al. (2008) o mais preservado dos biomas do pas contando com 80% de vegetao original. Isto se deve a atividade econmica praticada desde o sculo XVIII a bovinocultura de corte extensiva que se desenvolveu de forma harmoniosa com o meio ambiente. As suas transformaes tem origem nas dimenses econmica, poltica e cultural. Este territrio composto em 95% de propriedades privadas. Estas apesar dos limites legais esto includas nos planos pessoais de seus proprietrios, ou seja, podem ver seu uso alterado para atender a objetivos pessoais.

    Na dimenso cultural, conforme Rossetto(2004) nas ltimas dcadas a mudana cultural dos pantaneiros tem se tornado mais visvel na alterao do ambiental quando as pastagens naturais so substitudas por pastagens plantadas na busca de um melhor retorno na atividade pecuria. Na poltica recentemente a Comisso de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalizao e Controle (CMA) do Senado aprovou o projeto de lei (PLS 626/2011) que permite o plantio de

  • 16

    cana-de-acar em reas alteradas nos biomas Cerrado e Campos Gerais da Amaznia Legal. Na Cmara uma comisso estuda medidas para alterar o zoneamento da cana de acar permitindo o acesso ao crdito oficial iniciativas de cultivo nos municpios do Pantanal. No plano econmico sabido que a cana oferece melhores retornos que qualquer outra cultura.

    As condies para a mudana esto postas, resta discutir como elas se daro. Sero a partir de informaes detalhadas da realidade local contemplando a abordagem territorial e os objetivos definidos pelo planejamento participativo ou viro de forma desordenada e predatria alterando completamente o territrio. Mais que uma reforma para criar um cadastro de imveis rurais preciso e fidedigno precisamos de um que contemple informaes econmicas, polticas e culturais que possam subsidiar propostas de desenvolvimento bem sucedidas. O Cadastro Tcnico Multifinalitrio que cuida de assegurar a distribuio justa da carga tributria, garantir a segurana jurdica da propriedade e fornecer uma base qualitativa para o planejamento. Neste ltimo quesito tem na abordagem territorial um novo patamar a ser alcanado para ampliar a sua participao no desenvolvimento. Assim o objetivo geral deste trabalho a Anlise do Cadastro de Imveis Rurais (SNCR) para o desenvolvimento a partir da abordagem territorial utilizando o recorte territorial do Pantanal Mato-Grossense.

    Conforme Haesbaert(2006) uma cincia s se justifica na medida em que, da sua aplicao nasa a crtica realmente transformadora da sociedade. Neste sentido as propostas para melhoramos a nossa sociedade devem se originar da observao da sua dinmica transformadora para serem eficazes.

    Para isto proponho os seguintes objetivos especficos: _ Avaliar a estrutura do Servio Nacional Cadastro de Imveis

    Rurais(SNCR); _ Avaliar os resultados do Servio Nacional Cadastro de Imveis

    Rurais(SNCR) nos municpios do pantanal. No captulo um, referencial terico, uma definio objetiva de planejamento

    buscada para atender os objetivos deste trabalho. O planejamento dividido em trs partes. A elaborao de sua aes, os dados que alimentam a construo da representao da realidade e os seus objetivos. Estes so discutidos atravs de exemplos apresentados.

  • 17

    O texto sobre desenvolvimento procura inicialmente qualificar a distribuio de renda no Brasil. Porm alm da renda, o desenvolvimento visto como realizaes pessoais ou, na nomenclatura do texto, efetivaes. Cita que medidas setoriais na agricultura e educao contribuem de forma decisiva para a reduo na desigualdade. O fator mais importante para o desenvolvimento de comunidades rurais foi a mobilizao seguido de melhoria na infraestrutura melhorando integrao a redes locais e nacionais e exteriores facilitando a colocao de produtos, no s agrcolas, mas processados em uma pluriatividade que aumenta a lucratividade.

    Esta nfase nas redes conduz ao conceito de territrio. Este fruto da construo humana sobre o espao natural, contempla as dimenses econmica, poltica e cultural. As mudanas no poder poltico e no modo de produo determinam a reorganizao completa dos territrios. E enquanto categoria de anlise da geografia pode ser fonte de inspirao para polticas pblicas.

    As mais modernas concepes de cadastro so apresentadas e criticadas at a elaborao da definio de Cadastro Tcnico Multifinalitrio (CTM). Este alm dos aspectos econmicos, fsicos e jurdicos tradicionais, deve armazenar os dados ambientais e sociais do imvel e das pessoas que habitam o territrio. A parcela apresentada como unidade fundamental e suas caractersticas so apresentadas. A estrutura e atualizao do CTM so discutidas e por fim os cadastros na esfera federal so avaliados com nfase no desempenho da arrecadao do imposto territorial rural(ITR) como indicativo do desempenho do seu cadastro.

    No captulo dois trata da origem legal do Sistema Nacional de Cadastro Rural apresentada acompanhada da estrutura do INCRA que executa as aes do cadastro e dos detalhes que garantem a fidedignidade das informaes deste. Este tem como objetivo fornecer ao governo federal dados para o planejamento da poltica agrria e da reforma agrria e informaes sobre a concentrao e distribuio da terra alm de fins de arrecadao. Por ltimo o Banco de dados de imveis rurais georreferenciados apresentado.

    No capitulo trs os resultados o Sistema Nacional de Cadastro Rural(SNCR) analisado a partir da emisso de seu principal documento o Certificado de Cadastro de Imveis Rurais(CCIR) relacionando-o com a produo agropecuria. E tambm os dados referentes as reas das propriedades rurais so analisados.

    As consideraes finais comeam posicionando o Sistema Nacional de Cadastro Rural(SNCR) como um instrumento consolidado na sociedade e no dia a

  • dia do homem do campo. O tratamento dispensado aos cadastros brasileiros discutido. Os dados do SNCR cruzados com os dados do IBGE revelaram que estes so fidedignos e podem ser utilizados para o planejamento. A aboem combinao com o cadastro tcnico Multifinalitrio so analisados como complementares. A combinao de restrio de acesso a terra com o foco no beneficio social e a pesquisa tcnico que pode promover o desenvolvimento do pantanal.

    A rea de estudo uma das delimitaes da pesquisa e de deve estar bem clara para embasar desde o incio da pesquisa at os questionamentos que os leitores formularem. Assim neste trabalho o recorgeogrfico ser os municpios do Pantanal Mato-Grossense. Este formado pelos municpios de Baro de Melgao, Cceres, Itiquira, Lambari DOeste, Nossa Senhora do Livramento, Pocon e Santo Antnio do Leverger. Conhecer um territrio para planejamento controle indispensvel. Considerando que para conservar preciso conhecer, tambm se faz necessrio definir o espao geogrfico para planejar. (VILA DA SILVA; ABDON, p.1705, 1998). Estes autores delimitaram o pantanal brasileiro (fig. 1) como uma rinundaes anuais ou plurianuais nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do sul. Os fatores solo, relevo, rea inundada, vegetao alm de visitas a campo

    dia do homem do campo. O tratamento dispensado aos cadastros brasileiros discutido. Os dados do SNCR cruzados com os dados do IBGE revelaram que estes so fidedignos e podem ser utilizados para o planejamento. A aboem combinao com o cadastro tcnico Multifinalitrio so analisados como complementares. A combinao de restrio de acesso a terra com o foco no beneficio social e a pesquisa tcnico - cientifica so apontados como uma formula

    e promover o desenvolvimento do pantanal.

    AREA DE ESTUDO

    A rea de estudo uma das delimitaes da pesquisa e de deve estar bem clara para embasar desde o incio da pesquisa at os questionamentos que os leitores formularem. Assim neste trabalho o recorte geogrfico ser os municpios

    Grossense. Este formado pelos municpios de Baro de Melgao, Cceres, Itiquira, Lambari DOeste, Nossa Senhora do Livramento, Pocon e Santo Antnio do Leverger. Conhecer um territrio para planejamento e controle indispensvel. Considerando que para conservar preciso conhecer, tambm se faz necessrio definir o espao geogrfico para planejar. (VILA DA SILVA; ABDON, p.1705, 1998). Estes autores delimitaram o pantanal brasileiro (fig. 1) como uma rea contnua sujeita a inundaes anuais ou plurianuais nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do sul. Os fatores solo, relevo, rea inundada, vegetao alm de visitas a campo

    Figura 1 - O Pantanal Brasileiro

    Fonte: Abreu et al. (2008, p. 2) Alterado por Batista 2013

    18

    dia do homem do campo. O tratamento dispensado aos cadastros brasileiros discutido. Os dados do SNCR cruzados com os dados do IBGE revelaram que estes so fidedignos e podem ser utilizados para o planejamento. A abordagem territorial em combinao com o cadastro tcnico Multifinalitrio so analisados como complementares. A combinao de restrio de acesso a terra com o foco no

    cientifica so apontados como uma formula

    A rea de estudo uma das delimitaes da pesquisa e de deve estar bem clara para embasar desde o incio da pesquisa at os questionamentos que os

    ea contnua sujeita a inundaes anuais ou plurianuais nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do sul. Os fatores solo, relevo, rea inundada, vegetao alm de visitas a campo

    O Pantanal Brasileiro

    Fonte: Abreu et al. (2008, p. 2) Alterado por Batista 2013

    Limite estadual Limite municipal

  • 19

    foram levados em conta na determinao das reas do Pantanal. Estes mostraram consistncia, os principais foram o relevo e a rea de inundao. Resultando na delimitao de uma rea de 138.183kms2 .

    O pantanal tem anualmente perodos de inundao e vazante e um ciclo mais longo que dura entre dez e vinte anos que determina a intensidade das cheias e secas. Sua paisagem natural caracteriza-se pela rara beleza da flora e da fauna, distribudas em um mosaico de reas alagveis, no alagveis ou sazonalmente inundadas. Rossetto e Girardi(2012, p.138) .A partir dessa descrio a singularidade deste bioma tropical fcil inferir, a multiplicidade de espcies de peixes, aves, mamferos e rpteis e a fora com que a vida se reproduz neste local.

    Os sete municpios do Pantanal Mato-Grossense contam com 80.035 km2 de rea total e 48.865 km2 de rea sujeita a inundaes representando 35,36% da rea total do Pantanal brasileiro. A tabela 01 foi organizada em ordem decrescente da participao da rea de pantanal na rea total de cada municpio, visa testar a importncia desta na produo agropecuria dos municpios. As principais constataes iniciais so a diviso entre os dois relevos predominantes de 38,95% de planalto e 61,05% de rea inundvel nos municpios que formam o pantanal Mato-Grossense. O municpio de Santo Antnio do Leverger pode ser considerado com caractersticas mdias (Tpico) tendo 38,93% de planalto e 61,07% pantanal.

    Tabela 1 - Caracterizao da regio Pantanal Mato-Grossense

    %

    &'()*+,-.-/(-)0* &'()*+,-.-/(-)1 &'(.+*+2(3(

    (,4(,(2 -./.-01 ./0./.- 10.- -./.-01 ./0./.- 10.-

    23 #2#"3 23 #2#"3

    '" " 23 #2'3 2"3 "23

    45 # "# # 2"3 23 2#3 "'23

    01 ' #' # 2'3 23 23 '23

    6 " " ## 23 23 23 '"23

    ' 2#'3 2#3 23 ''23

    7 ' " " 23 23 23 23

    849.:;10.9: " ## # 3 3 3

    Fonte: Adaptado de Vila da Silva e Abdon (1998 p.1709). Elaborado por Batista, 2013 1- Planalto: so as reas no inundveis e que se diferenciam principalmente no relevo e

    vegetao de forma complementar; 2- Pantanal: plancie intermitentemente inundada que possui caractersticas de relevo e

    vegetao tpicos do Pantanal. 3- Cceres ainda incorporando Curvelndia com 359,762 km2 ou 1,43% de sua rea total. Sem

    impacto significativo nas anlises deste estudo

  • 20

    Os outros se dividem em dois grupos de municpios de acordo com o relevo predominante. O primeiro representado pelos 3 da parte de cima da tabela, nos quais o pantanal ocupa acima de 55% de suas reas individuais, somados, estes respondem por quase 80% da rea da plancie inundvel do pantanal (norte). Nos trs ltimos da tabela ocupa abaixo de 22% de suas reas individuais, predominando com 78% o relevo de planalto. Ainda assim, estes respondem por somente 39,17% da rea do planalto no pantanal, ou seja, so municpios pequenos, somados respondem somente por menos de 20% da rea deste estudo e 6,38% da rea do pantanal.

    Em Mato Grosso as primeiras expedies ocorreram em busca de riquezas extrativistas a cana de acar e a pecuria surgiram posteriormente. Somente no incio sculo XIX, com a construo de postos avanados militares que houve segurana para a efetiva ocupao das sesmarias concedidas quase 100 anos antes. As sesmarias da plancie pantaneira tinham um tamanho maior em funo da atividade econmica pecuria, as no planalto eram menores em funo da atividade mineradora, somado a isso havia o costume de se pedirem sesmarias em nome da esposa e filhos, sem importar com a idade, criando enormes propriedades. A fazenda jacobina em Cceres um exemplo extremo com mais de um milho de hectares tinha mais de 600.000 cabeas de gado, produo acar, rapadura, aguardente, algodo e tecidos (CORREA FILHO, 1955)

    O pesquisador Lima (2012) analisa a expanso da cana de acar no Brasil e nos municpios do Pantanal. Relata que ela foi uma das principais atividades da regio embora pouco representativa no plano nacional. As margens do rio Cuiab chegaram a se instalar 6 usinas: Aric, Conceio, Flechas, Itaici, Maravilha e So Miguel. Apesar de o sudeste responder por 70% da produo nacional de acar, na dcada passada a regio centro-oeste foi a que apresentou maior crescimento relativo, liderada por Gois. Dentre os municpios do Pantanal Lambari DOeste, Itiquira, Pocon e Santo Antnio do Leverger se destacam. Entretanto conclui

    Mas a estrutura produtiva da cana-de-acar no foi dominante nesta regio [Pantanal], pelo contrrio, ao seu lado desenvolveu-se uma importante atividade produtiva que, de fato, delineou os contornos socioeconmicos do pantanal brasileiro a pecuria bovina. Como de praxe, resgata-se o processo poltico de formao da estrutura produtiva regional, contemplando uma anlise macroestrutural da economia brasileira.( LIMA, p.62, 2012)

  • 21

    Devido caracterstica de solos distrficos (baixa fertilidade) a pastagem natural tem baixa capacidade de sustento por unidade de rea que favoreceu a instalao da pecuria extensiva. Esta inicialmente era subsidiria as atividades extrativistas minerais e vegetais. Devido ao modelo brasileiro de apropriao do solo pela ocupao e posse, grandes latifndios viabilizaram este tipo de pecuria que altera pouco o ambiente. Por muitos anos a baixa remunerao da pecuria e a disponibilidade de terras em locais mais prximos dos centros consumidores mantiveram este arranjo produtivo.

    Os professores Rossetto e Girardi, (2012) apontam o Zoneamento da cana de acar como mecanismo legal mais eficaz em vigor na proteo ao pantanal, pois as leis federais e estaduais que tratam deste territrio so de pouco efeito prtico. Defendem o efeito indireto da Cana de Acar na ocupao do Pantanal. Quando esta toma reas de pastagens em Gois, Mato Grosso do Sul e So Paulo empurra a demanda de carne bovina para a produo pantaneira. Alm da elevao do preo acima da mdia histrica que as commodities agrcolas tm sofrido nos anos recentes e tambm o aumento da exportao de carne bovina. Fatores que pressionam por mudana no modo de produo da pecuria dos municpios do Pantanal.

    A distribuio dos estabelecimentos agropecurios tambm estudada por tipo de produo agropecuria das propriedades rurais dos municpios do Pantanal mato-grossense em 2010. A proeminncia dos estabelecimentos de pecuria demonstrada com uma mdia de 84% nos municpios do pantanal sendo que nos trs de maior predominncia Baro de Melgao, Pocon e Cceres os estabelecimentos agrcolas ficam com em torno de 1% de participao nestes municpios e em mdia no pantanal de 10%. Com participao acima desta mdia esto Itiquira com 39,3%, Santo Antnio do Leverger com 28,7% e Nossa Senhora do Livramento com 11% de estabelecimentos agrcolas.

    Ainda segundo os pesquisadores foi identificado o aumento no desmatamento a partir das bordas do pantanal o qual atribudo ao aumento de pastagens plantadas em reas mais altas. Onde se localizam as propriedades de menor tamanho que tem com um manejo mais intensivo resultando em mais animais por unidade de rea. Entretanto esses avanos no foram identificados com uma melhor distribuio da renda.

  • 22

    Para a populao da regio, principalmente para os trabalhadores assalariados rurais, as transformaes nas tcnicas de manejo resultam em desemprego e baixo ndice de qualidade de vida, evidenciados atravs das taxas de IDH dos municpios em questo. Assim, o quadro de estagnao regional apontado pelas pesquisas de campo tende a se manter, uma vez que as polticas pblicas pouco influenciam para o desenvolvimento socioeconmico sustentvel do Pantanal (ROSSETTO; GIRARDI, op.cit., p.155)

    As transformaes citadas acabam refletindo no perfil do empregado. A qualificao exigida dos antigos pees no tem proveito nas atividades desenvolvidas na abertura e manejo das pastagens plantadas. Acabam por ocorrer migraes que contribuem para modificao dos costumes e valores alterando a cultura local e, por fim, criando uma nova identidade, mista entre o antigo e o novo. E concluem que o desenvolvimento sustentvel ainda no foi contemplado pelas polticas pblicas para o pantanal, que est vulnervel as intervenes empresariais predatrias tanto no aspecto social quanto ambiental.

    O crdito a agropecuria assumiu, nos dias atuais, um papel decisivo na dinamizao da produo. E seu direcionamento como poderosa poltica pblica pode modificar profundamente um territrio ou consolidar o modo de produo. Segundo Moreira(2012) a distribuio do crdito no Brasil e em Mato Grosso concentradora e privilegiou os grandes produtores e veio reforar a concentrao histrica de terras.

    Figura 2 - Distribuio do crdito agropecurio -Evoluo de 1999 -2010

    Fonte: Moreira, p.150, 2012

  • 23

    A figura 2 e um recorte do mapa original para evidenciar os municpios do pantanal. Mostra os municpios de Itiquira e Cceres liderando o acesso ao crdito atingindo um volume de segunda grandeza, com a prevalncia no primeiro da agricultura e da pecuria no segundo. Logo a seguir com um volume de crdito de terceira grandeza Pocon com a maior parte destinado a agropecuria e Sto. Antnio do Leverger com crdito bem divido entre agricultura e pecuria. Os outros trs obtiveram um acesso mnimo ao crdito. Destes, Baro de Melgao chama a ateno por ser um municpio de grande extenso territorial e aquele com maior parte de seu territrio em rea inundvel.

  • 24

    PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    A seleo e organizao de experincias da rotina diria pode contribuir para a academia desde que feita objetivamente. Cabe aqui ento distinguir o conhecimento cientfico do senso comum. Este ltimo se difere do primeiro pelo contedo e pela forma de obteno e transmisso, pois no tem o rigor da falseabilidade e so pouco extensos na sua aplicabilidade. A postura do pesquisador deve ser da maior imparcialidade possvel na coleta e anlise dos dados, visto que a objetividade pura uma qualidade pouco provvel de ser alcanada.

    Por sua vez, o ideal de objetividade, isto , a construo de imagens da realidade, verdadeiras e impessoais, no pode ser alcanado se no ultrapassar os estreitos limites da vida cotidiana, assim como da experincia particular; necessrio abandonar o ponto de vista antropocntrico, para formular hipteses sobre a existncia de objetos e fenmenos alm da prpria percepo de nossos sentidos, submet-los verificao planejada e interpretada com o auxlio das teorias. (LAKATOS, et al., 2003 p. 76)

    A caracterstica predominante desta dissertao se d pela opo do mtodo de abordagem indutivo, pois a partir de dados disponveis e do estudo dos padres de comportamento estatisticamente observados e referenciados na literatura foram elaboradas concluses explicativas das lacunas de informaes. Os procedimentos utilizados podem ser classificados como histrico, estatstico e comparativo conforme a descrio a seguir deixar claro. (ANDRADE, 2010)

    A vivncia do dia a dia do SNCR por vezes como ator e outras vezes como observador permitiu apreender as mltiplas formas do servio prestado a sociedade, sem fazer prejulgamentos sobre informaes e documentos apresentados. Na academia, o primeiro contato com pessoas das mais distintas formaes permitiu enriquecer a viso dos fatos e dados. A leitura orientada de livros de vrios autores permitiu o contato com os paradigmas vigentes. As dissertaes, teses, artigos cientficos e estudos de caso completaram os conhecimentos mais especficos necessrios.

    Alm das fontes impressas na forma de livros e revistas especializadas neste trabalho as fontes eletrnicas foram muito utilizadas. Os sites do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica(IBGE), INCRA, Banco Central, Ministrio da Agricultura, Embrapa, Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA), Ncleo de Estudos Pesquisas e Projetos de Reforma Agrria (NERA), Sociedade Brasileira de

  • 25

    Economistas Rurais (SOBER), Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados de So Paulo (SEADE-SP), Portal da Biblioteca Digital de Teses e Dissertaes da Universidade de So Paulo, Palcio do Planalto e Senado na Revista de Informao Legislativa as revistas eletrnicas Revista Brasileira de Administrao Pblica e Revista de poltica econmica sendo essas as principais fontes via web, alm os inmeros artigos e trabalhos do Grupo de Estudos do Pantanal (GECA) em formato eletrnico. No poderia de deixar de citar a ferramenta de pesquisa Google Acadmico.

    As consultas aos sites do IBGE e INCRA merecem detalhamento. O IBGE disponibiliza ao pblico uma ferramenta, Sistema IBGE de Recuperao Automtica (SIDRA), que permite a partir de suas pesquisas como o censo agropecurio e produo agrcola municipal entre outras o cruzamento de variveis escolhidas entre 19 temas como agricultura, populao, construo civil, contas nacionais, etc. Dentro dos temas variveis especficas como culturas temporrias ou permanentes, reas plantadas ou valores de colheitas, selecionar intervalos de tempo e regies que variam desde municpios at macrorregies nacionais. O IBGE cidades tambm foi consultado.

    J o INCRA ainda no tem um modulo de consulta to avanado, entretanto procedimentos internos disponibilizam relatrios. Um deles traz dados municipais da distribuio de nmero de imveis e suas reas em 18 categorias de tamanho. Tambm foi possvel consultar individualmente cada municpio dividindo os dados em categorias desejadas, de acordo com a classificao fundiria de pequena, mdia e grande propriedade rural. Outro relatrio usado foi o de atividades que mostra a emisso de CCIRs por municpios por ms nos anos de 2009 a 2012.

    O volume de dados coletados foi muito grande Planilhas com 5 mil linhas foram muito usadas algumas chegaram a ter 17 mil linhas .A planilha de calculo EXCEL com suas inmeras funes de consulta e compilao de dados tornou possvel a elaborao das planilhas apresentadas e dos grficos. O indexador utilizado entre os dados do IBGE e do INCRA foi o cdigo dos municpios que nos relatrios utilizados era o mesmo, originrio do IBGE. Colunas com o nmero das mesorregies e microrregies para todos os municpios do estado serviram de indexador para a funo SOMASE permitindo o agrupamento fiel dos dados. Ver anexos.

  • 26

    Para a anlise do desenvolvimento regional e das possveis causas de desigualdade foi escolhido o ndice de GINI que uma medida de desigualdade, tem vrias aplicaes nas cincias sociais, sendo a mais conhecida delas a medida da desigualdade da distribuio de renda. Este calculado como a relao entre a desigualdade apurada (Curva de Lorenz) e a desigualdade mxima, onde somente um indivduo concentra toda renda, neste caso o ndice assumiria o valor igual a 1. A frmula escolhida disponibilizada pela Food and Agriculture Organization of the United Nations(FAO) que o organismo membro da Organizao Naes Unidas(ONU) responsvel pelo tema alimentos e agricultura, descrita abaixo.

    Foi calculado o ndice de GINI de concentrao fundiria para os municpios do pantanal no estado de Mato Grosso que foram cruzados com ndices de GINI de renda do IBGE.

    ELABORAO DOS GRFICOS (AGRUPAMENTOS E NDICES)

    Na perspectiva de analisar o banco de dados do Sistema Nacional de Cadastro de Imveis Rurais os dados do IBGE foram tomados como parmetro de comparao para verificar sua ligao com a construo da realidade do homem do campo. Dois caminhos foram tomados, um deles foi estabelecer a realidade da distribuio fundiria dos municpios que compem o pantanal e verificar sua relao com a distribuio de renda. O outro foi testar a relao do seu principal documento o CCIR com o valor da produo agropecuria. Neste sentido os dados foram agrupados por estados da unio, por mesorregies de Mato Grosso, por microrregies de Mato Grosso, e em cada municpio do Pantanal.

    A rea dos municpios quando comparada com a rea da soma dos imveis cadastrado no SNCR para os mesmos municpios indicava valores muito diferentes. Os grandes imveis foram listados e seus dados filtrados.

  • 27

    Tabela 2 - Indicao da elaborao das variveis dos grficos deste trabalho

    Grfico Variveis Forma de obteno 1 - Evoluo anual do saldo da balana comercial brasileira e do agronegcio - 1992 a 2012 - (em US$ bilhes)

    Varivel saldo da balana comercial Total Brasil

    Diretamente do valor de tabela da fonte Agrostat do Ministrio da Agricultura

    Varivel saldo da balana comercial Agronegcio

    Diretamente do valor de tabela da fonte Agrostat do Ministrio da Agricultura

    Arquivo: Apresentao.xls 3 - Participao Estadual na Agropecuria do Brasil, 2012

    Varivel Emisso de CCIR1

    Partir da mdia das emisses de 2011 e 2012 por superintendncia. Nos estados com mais de uma superintendncia os valores foram somados. Obtidos de relatrios do SNCR.

    Varivel Produo Agropecuria

    Soma dos valores da Produo da Agricultura Permanente, Produo da Agricultura temporria e da Produo animal selecionada por estado para o ano de 2012. Obtidos no SIDRA.

    Arquivo: Panorama Geral.ods 4 - Anlise da soma das reas dos imveis no SNCR x rea IBGE, 2012

    Varivel Imveis INCRA com falha

    Soma das reas de imveis com insero irregular no banco de dados do SNCR. Obtidos de relatrios do SNCR.

    Varivel Cadastros desatualizados

    Soma das reas de imveis com incluso antiga, anterior a 2002.

    Varivel Remanescentes

    rea total dos imveis de um municpio subtrada das duas acima.

    Arquivo: Analise_excesso_01.ods

  • 28

    Tabela 2- Indicao da elaborao das variveis dos grficos deste trabalho (continuao) 5 - Participao das Mesorregies na Agropecuria de MT, 2012

    Varivel CCIR Partir da mdia das emisses de 2011 e 2012 por municpio de MT para todos os 141. Foram somados os valores dos municpios pertencentes a cada mesorregio. Obtidos de relatrios do SNCR.

    Varivel Valor Prod Soma dos valores da Produo da Agricultura Permanente, Produo da Agricultura temporria e da Produo animal selecionada por municpio e somada dos municpios de cada mesorregio para o ano de 2012. Obtidos no SIDRA.

    Varivel rea Soma das reas dos municpios pertencentes a cada mesorregio. Obtida do IBGE cidades

    Varivel Populao Soma das populaes dos municpios pertencentes a cada mesorregio. Obtida do IBGE cidades

    Varivel PIB municipal Soma dos PIBs dos municpios pertencentes a cada mesorregio. Obtida do IBGE cidades

    Arquivo: Mato Grosso.ods

  • 29

    Tabela 2- Indicao da elaborao das variveis dos grficos deste trabalho (continuao) 6 - Participao das Microrregies na Agropecuria de MT, 2012

    Varivel Emisso de CCIR

    Partir da mdia das emisses de 2011 e 2012 por municpio de MT para todos os 141. Foram somados os valores dos municpios pertencentes a cada microrregio. Obtidos de relatrios do SNCR.

    Varivel Valor da Produo

    Soma dos valores da Produo da Agricultura Permanente, Produo da Agricultura temporria e da Produo animal selecionada por municpio e somada dos municpios de cada microrregio para o ano de 2012. Obtidos no SIDRA.

    Varivel rea Soma das reas dos municpios pertencentes a cada microrregio. Obtida do IBGE cidades

    Varivel Renda per capta

    PIBs dos municpios dividido pelas populaes destes pertencentes a cada microrregio. Obtida do IBGE cidades

    Arquivo: Mato Grosso.ods

    7 - Evoluo da lavoura temporria municpios do Pantanal de MT- 1994 a 2011

    Varivel Valor da Produo

    Valores da Produo da Agricultura temporria para cada municpios do Pantanal Mato-Grossense para os anos de 1994 a 2011. Obtidos no SIDRA.

    Arquivo: Gini Pantanal.xls

    8 - Evoluo do Rebanho Bovino dos municpios do Pantanal de MT- 1994 a 2011

    Varivel Valor da Produo

    Valores cabeas de gado temporria para cada municpios do Pantanal Mato-Grossense para os anos de 1994 a 2011. Obtidos no SIDRA.

    Arquivo: Gini Pantanal.xls

  • 30

    Tabela 2- Indicao da elaborao das variveis dos grficos deste trabalho (continuao) 9 - Participao dos municpios na emisso mensal mdia de CCIRs - 2011 a 2012

    Varivel Emisso de CCIR

    Mdia das emisses mensais de 2011 e 2012 por municpio do pantanal. Obtidos de relatrios do SNCR.

    Arquivo: Pantanal novo.ods 10 - Participao das classes fundirias- numrica e por rea no Pantanal

    Varivel Nmero de imveis Pequena

    Somados os valores da tabela do relatrio do SNCR ate 4 Mdulos fiscais.

    Varivel Nmero de imveis Mdia

    Somados os valores da tabela do relatrio do SNCR de 4 ate 15 Mdulos fiscais.

    Varivel Nmero de imveis Grande

    Somados os valores da tabela do relatrio do SNCR acima de 15 Mdulos fiscais

    Varivel rea dos imveis Pequena

    Somados os valores da tabela do relatrio do SNCR ate 4 Mdulos fiscais.

    Varivel rea dos imveis Mdia

    Somados os valores da tabela do relatrio do SNCR de 4 ate 15 Mdulos fiscais

    Varivel rea dos imveis Grande

    Somados os valores da tabela do relatrio do SNCR acima de 15 Mdulos fiscais

    Arquivo: GINI Pantanal.xls 11 - rea mdia das propriedades, municpios do Pantanal de MT- 2012

    Varivel rea mdia dos imveis pequena

    Soma das reas dos imveis pequenos dividido pelo nmero de imveis pequenos. Obtidos de relatrio do SNCR

    Varivel rea mdia dos imveis mdia

    Idem acima mdios dividido pelo nmero de imveis mdios. Obtidos de relatrio do SNCR

    Varivel rea mdia dos imveis grande

    Idem acima grandes dividido pelo nmero deimveis grandes. Obtidos de relatrio do SNCR

    Varivel GINI Fund. Clculo do ndice de gini conforme frmula da FAO. Obtido de relatrio do SNCR.

    Varivel GINI Renda Site do IBGE via SIDRA.

    Arquivo: Gini Pantanal

  • 31

    1 REFERENCIAL TERICO

    DEFININDO PLANEJAMENTO

    O crescimento ou desenvolvimento se do quando um objetivo qualificado como desejvel alcanado. Este pode ser simples como atravessar um campo e colher uma laranja para se alimentar ou complexo como elevar o rendimento de uma populao de uma determinada regio para atender as suas necessidades bsicas. Seja qual for o objetivo, h sempre um caminho a ser percorrido para alcan-lo. Traar o melhor caminho a partir de uma realidade inicial bem conhecida sem perder de vista os reais objetivos o verdadeiro desafio. Objetivos pessoais, como se alimentar com uma laranja do outro lado de um campo, so aparentemente simples de se alcanar. Quando se trata de um grupo de pessoas, o desafio de atingir um objetivo comum enorme, impossvel de atingir sem um bom planejamento.

    Assim, o planejamento deve contemplar trs partes: a base de informaes, a sequncia de aes e os objetivos. Para iniciar a discusso sobre planejamento, necessrio fazer um recorte no tempo. Os estados modernos so predominantemente estados industriais. Suas leis regulam relaes consolidadas neste contexto, portanto a discusso darse- a partir da revoluo industrial. Os precursores americanos Taylor e Ford e seu contemporneo, o engenheiro francs, Henri Fayol (1976) so os principais nomes que lanaram as bases desta nova cincia. Destes, o tratamento dado ao planejamento por Fayol ser o nosso ponto inicial de discusso. Em sua obra Administrao Geral e industrial estabelece um marco que influenciou a organizao de empresas privadas, estatais e at naes. Ele divide a administrao em funes, princpios e elementos, que at hoje se percebem vigentes no dia a dia das empresas.

    As seis funes definidas por Fayol derivam diretamente da classificao das operaes verificadas no dia a dia das empresas ou instituies, e so elas: funo tcnica, funo comercial, funo financeira, funo de segurana, funo de contabilidade e funo administrativa. Esta ltima mais complexa e compreender o planejamento que ser objeto de discusso. Pois, conforme o autor: Os cinco primeiros grupos so bem conhecidos. Poucas palavras bastaro para delimitar as respectivas atribuies. O grupo administrao requer explicao mais ampla. (FAYOL, 1976, p. 14)

  • 32

    Planejar a arte de ver o futuro almejado, seja ele prximo ou distante, e coordenar aes para chegar l. Quanto melhor for o planejamento maiores sero as possibilidades de atingir as metas desejadas. A previso tem uma infinita variedade de ocasies e de maneiras de se manifestar; sua principal manifestao, sua pedra de toque, seu instrumento mais eficaz o programa de ao. (FAYOL, op. cit., p. 58). Uma boa previso deve se calcar no histrico de fatos e dados atualizados, confiveis e pertinentes aos objetivos do plano.

    As informaes necessrias que constituem a base do processo de planejamento muitas vezes esto desatualizadas ou no esto disponveis com o nvel de detalhamento que um plano bem elaborado exige, e os resultados colhidos acabam por desacreditar esta ferramenta. As informaes podem ser obtidas por vrias formas de pesquisa. O recenseamento uma delas. Neste, o objetivo conhecer toda uma populao e, portanto, presumvel um grande esforo para execut-lo e mesmo um bom recenseamento pode perder o valor rapidamente, dependendo da dinmica de transformao da populao que for seu objeto.

    A consequncia dessa ruptura se traduz no nvel da ao, isto , essa ruptura significar ento uma relao de poder dissimtrica, pois os ganhos antecipados correm o risco de ser inferiores aos ganhos efetivamente realizados, considerando-se a energia investida no processo. S aps a ao se verifica o valor da energia informada, cristalizada na representao.(RAFFESTIN,1993, p.147)

    Por muito tempo o planejamento no estado brasileiro, quando foi feito, se resumiu na elaborao de um plano por um pequeno grupo de tcnicos altamente qualificados usando dados de recenseamentos e pesquisas. Observamos ento um grande nmero de planos que fracassaram e uns poucos que deram certo, isto nos permite concluir que faltava algo ao modelo adotado de planejamento. A anlise superficial da sucesso de planos monetrios que vivemos nas dcadas de 80 e 90 sugere que aqueles onde a participao popular foi maior, os resultados foram melhores: planos Cruzado e Real. Os recentes Planos de Acelerao do Crescimento (PACs), que tem resultado em crescimentos pfios, so exemplos evidentes que expem as deficincias do planejamento centralizado brasileiro.

    Pode-se dizer que o projeto de irrigao de Juazeiro/Petrolina, que fica s margens do rio So Francisco e a poucos quilmetros da barragem de Sobradinho, um exemplo de sucesso, pois mudou a realidade econmica de uma regio cuja populao passa de 500 mil habitantes. Nota-se uma diferenciao completa do

  • 33

    agricultor que passou a ser empresrio sem deixar de empregar mo de obra familiar. Devido aos altos custos que a agricultura irrigada tem, para viabiliz-la necessrio garantir uma qualidade padro para atender uma produo direcionada para um mercado consumidor cuja demanda pr-definida deve ser suprida. A presena do agricultor familiar empreendedor se fortaleceu, pois enquanto a rea com fruticultura das empresas duplicou de 1991 para 1997(passou de 16% para 32%); no caso dos produtores familiares (colonos), quintuplicou (passou de13% para 68%). (CORREIA, et al., 2001, p. 2).

    Para esta regio foi criada uma superintendncia regional do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (Incra), a SR-29, que fica em Petrolina, para regular o acesso terra. H tambm uma unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa) designada por CPATSA, tambm em Petrolina, pesquisando solues para os problemas locais. Isto indica que a combinao da tecnologia com condies regulamentadas de acesso aos territrios do permetro irrigado est produzindo distribuio de emprego e renda, um avano. Entretanto, este tipo de projeto ainda tem questes que podem ser melhoradas. Um estudo do comportamento populacional de reas irrigadas no semirido concluiu que Os resultados mostraram que h concentrao hdrica e fundiria nos dois casos estudados. (CARMO, 2012, p. 4) Houve os que foram deixados de fora do sistema por opo ou excluso, mostrando que h uma compensao a ser feita a uma parte dos moradores locais.

    O planejamento estratgico pode ser chamado de uma evoluo do planejamento, pois coloca em evidncia algumas variveis as quais eram dadas menor ateno no planejamento tradicional ou nem mesmo eram consideradas explicitamente. De acordo com Ferreira, estratgia a arte de explorar condies favorveis com o fim de alcanar objetivos especficos. (FERREIRA, 2004, p. 154).

    No incio da revoluo industrial a preocupao era de produzir em larga escala sem cuidar da qualidade. A concorrncia globalizada iniciada no ps-guerra forou a mudana do processo de planejar, o binmio custo-benefcio passou a reger a escolha do mercado consumidor. A formulao de uma estratgia deve considerar quatro fatores bsicos.

    Os pontos fortes e fracos da companhia so seu perfil de ativos e qualificaes em relao a concorrncia, incluindo recursos financeiros, postura tecnolgica, identificao da marca e assim por diante. Os valores pessoais de uma organizao so as motivaes e as necessidades de

  • 34

    seus principais executivos e de outras pessoas responsveis pela implementao da estratgia escolhida. [...].As ameaas e oportunidades definem o meio competitivo, com seus riscos conseqentes e recompensas potenciais. As expectativas da sociedade refletem o impacto sobre a companhia de fatores como a poltica governamental, os interesses sociais e muitos outros. (PORTER, 1986 p. 17)[grifo nosso].

    Recorrendo ao gegrafo alemo Friedrich Ratzel que com outras palavras j falava em planejamento estratgico muito antes dos atuais consultores de empresas e naes que muito habilmente transformam o conhecimento existente em ferramentas administrativas. Pode-se, portanto aceitar como regra que uma grande parte dos progressos da civilizao so obtidos de um desfrute mais perspicaz das condies naturais, e que nesse sentido esses progressos estabelecem uma relao mais estreita entre povo e territrio.(RATZEL apud SAQUET, 1990, p.72)

    Os planos elaborados a partir da estratgia competitiva obtm mais sucesso na implementao, pois o nmero de informaes avaliadas muito maior. Muitos projetos bem sucedidos quando avaliados a causa fundamental do bom desempenho muito frequentemente nem foi mencionada, de forma explcita e com o devido peso, no planejamento inicial. As cidades de Juazeiro e Petrolina com seu projeto de irrigao so um exemplo de sucesso alm do planejado.

    Conforme se pode verificar, a Regio Nordeste do Brasil possui caracterstica original: tem o nico clima semirido tropical do mundo, diferentemente de outras regies semiridas como as localizadas no Chile, Mxico, EUA e Austrlia. Isso representa enorme vantagem, pois a constncia do calor, a alta luminosidade e a baixa umidade relativa do ar, associadas irrigao, resultam em condies favorveis a uma agricultura eficiente (CORREIA, et al., 2001, p. 5).

    As condies favorveis acima descritas criaram uma vantagem competitiva que permitiu regio ser a maior exportadora de uvas e mangas do Brasil e melhorar a renda do agricultor familiar de um territrio que est entre os mais miserveis da nao. Esta condio poderia ser superada a qualquer momento por outro pas, ento foram necessrios investimentos em logstica como um aeroporto com capacidade de receber avies cargueiros de grande porte e com seis cmaras frias com capacidade total de 300 toneladas de armazenamento de frutas e comercializao por moderno sistema de leiles para garantir um resultado duradouro a longo prazo. preciso ter muita clareza de que existem trs estratgias que podem ser usadas para manter e ampliar a vantagem conquistada. Para esclarecer, foram modificados a partir de Porter (1986) os itens a seguir:

  • 35

    enfoque: produzir tipos de frutas com caractersticas para atender um mercado especfico;

    diferenciao: produzir frutas para o mercado com caractersticas nicas, como a aparncia superior, doura ou acidez que garantam a preferncia do consumidor;

    liderana no custo total: nesta, mesmo que as frutas dos concorrentes sejam iguais, o nosso custo inferior, garantindo uma margem de lucro maior pois a negociao s pode continuar a erodir os lucros at o ponto em que os lucros do prximo concorrente mais eficiente tenham sido eliminados (PORTER, 1986, p. 50)

    O Brasil um grande exportador em duas reas: na produo de commodities minerais e agrcolas. A primeira se d por motivos bvios, a presena de minerais ricos e minas de fcil explorao e a segunda alguns erroneamente tambm atribuem a condies naturais. Esta afirmao no traduz as reais razes, como demonstrado a seguir. O saldo positivo do agronegcio vem sendo divulgado com muita frequncia ultimamente na grande mdia, entretanto esta j uma verdade de longa data. Abaixo ser estudado de forma concisa e agregada o comportamento das commodities agrcolas. O grfico 1 mostra o comportamento de duas variveis, o saldo comercial do agronegcio e o total do pas. Lembro que neste ltimo os resultados do primeiro esto includos.

    Nestes ltimos vinte anos o crescimento do agronegcio foi constante e regular como mostra a linha de tendncia do polinmio de segundo grau com alto coeficiente de correlao (R2). Os inmeros incidentes como quando a China impediu navios brasileiros de descarregarem a soja, a Rssia suspendeu a importao de carne suna, os Estados Unidos embargaram a importao de suco de laranja, cito estes apenas para exemplificar o comportamento regular dos nossos principais parceiros, no afetaram em nada o comportamento final, indicando um robusto posicionamento estratgico. O saldo total do Brasil neste perodo foi de US$ 340,166 bilhes e do agronegcio foi de US$ 684,807 bilhes, ou seja, aproximadamente 50% do saldo do agronegcio cobriu o deficit da balana comercial total, numa anlise sem aprofundamento.

  • Grfico 1 - Evoluo anual do saldo da balana comercial brasileira e do agronegcio 2012 - (em US$ bilhes)

    Fonte: AgroStat Brasil, a partir de dados da SECEX/MDIC Elaborado por Batista, 2013

    No podemos dizer o mesusceptibilidade s instabilidades internacionais. Acima vemos trs perodos distintos, conforme o polinmio de terceiro grau com Rprimeiro de 92 a 97, um perodo de declnio a segultimo at 2012 com novo declnio. Neste ltimo perodo de cinco anos, o saldo comercial total representou apenas 35,73% do agronegcio, ou seja, 64,27% do saldo da exportao de produtos agrcolas foi utilizado para cobrirbalana comercial do pas, numa anlise sem aprofundamento.

    O Brasil tem um enorme potencial agrcola desenvolvido como resultado do avano da pesquisa agronmica. Esta desenvolveu formas de incorporar produo solos considerados improdutida incansvel pesquisa da fertilidade e correo dos solos. A pesquisa agronmica propiciou a adaptao de plantas aos mais diversos climas e solos, citandoexemplo a soja e a cana. Alm disso, possibilitou at trs cultivos numa mesma rea em um ano. Criou tcnicas de conservao de solos que restituram a solos degradados a capacidade produtiva (o

    US$ bilhes

    Evoluo anual do saldo da balana comercial brasileira e do agronegcio

    Fonte: AgroStat Brasil, a partir de dados da SECEX/MDIC Elaborado por Batista, 2013

    No podemos dizer o mesmo do comportamento total do Brasil, que mostrou susceptibilidade s instabilidades internacionais. Acima vemos trs perodos distintos, conforme o polinmio de terceiro grau com R2 no to alto aponta. O primeiro de 92 a 97, um perodo de declnio a seguir, uma recuperao at 2007 e o ltimo at 2012 com novo declnio. Neste ltimo perodo de cinco anos, o saldo comercial total representou apenas 35,73% do agronegcio, ou seja, 64,27% do saldo da exportao de produtos agrcolas foi utilizado para cobrirbalana comercial do pas, numa anlise sem aprofundamento.

    O Brasil tem um enorme potencial agrcola desenvolvido como resultado do avano da pesquisa agronmica. Esta desenvolveu formas de incorporar produo solos considerados improdutivos. Os solos do cerrado so o maior exemplo, atravs da incansvel pesquisa da fertilidade e correo dos solos. A pesquisa agronmica propiciou a adaptao de plantas aos mais diversos climas e solos, citandoexemplo a soja e a cana. Alm disso, reduziu seu ciclo, aumentou a produtividade e possibilitou at trs cultivos numa mesma rea em um ano. Criou tcnicas de conservao de solos que restituram a solos degradados a capacidade produtiva (o

    36

    Evoluo anual do saldo da balana comercial brasileira e do agronegcio - 1992 a

    Fonte: AgroStat Brasil, a partir de dados da SECEX/MDIC Elaborado por Batista, 2013

    smo do comportamento total do Brasil, que mostrou susceptibilidade s instabilidades internacionais. Acima vemos trs perodos

    no to alto aponta. O ir, uma recuperao at 2007 e o

    ltimo at 2012 com novo declnio. Neste ltimo perodo de cinco anos, o saldo comercial total representou apenas 35,73% do agronegcio, ou seja, 64,27% do saldo da exportao de produtos agrcolas foi utilizado para cobrir o negativo na

    O Brasil tem um enorme potencial agrcola desenvolvido como resultado do avano da pesquisa agronmica. Esta desenvolveu formas de incorporar produo

    vos. Os solos do cerrado so o maior exemplo, atravs da incansvel pesquisa da fertilidade e correo dos solos. A pesquisa agronmica propiciou a adaptao de plantas aos mais diversos climas e solos, citando-se como

    reduziu seu ciclo, aumentou a produtividade e possibilitou at trs cultivos numa mesma rea em um ano. Criou tcnicas de conservao de solos que restituram a solos degradados a capacidade produtiva (o

  • 37

    plantio direto um exemplo), equilibrou o uso de solos frgeis e permitiu a perenizao da explorao agrcola onde antes era impossvel. Reduziu o uso de defensivos agrcolas com o manejo integrado de pragas e doenas, cessou o uso dos produtos mais txicos.

    O resultado um produto agropecurio de qualidade superior e com o menor custo mundial, dentro das fazendas. Notcias recentes comprovam que neste campo de pesquisa o Pas tem se destacado e continuar a trazer vantagens comerciais.

    'Para Rssia, ndia, China e Coria do Sul as reas em foco so fsica, qumica, engenharia e estudos sobre os materiais', nota o relatrio . J no Brasil haveria mais avanos e esforos no que definido como 'economia do conhecimento da natureza', que inclui reas como 'cincias agrcolas', 'estudo de plantas e animais' e 'farmacologia e toxicologia' (FOCO, 2013).

    Portanto o aumento da renda pode ser conseguido com um bom planejamento e muito trabalho, em outras palavras, desfrutar das condies naturais de forma mais eficaz atravs de tcnicas e variedades de plantas e animais melhor adaptados a condies dos diversos territrios. Porm nem tudo so nmeros, alis estes representam bem pouco da realidade vivida.

    Na elaborao dos objetivos do planejamento a participao no processo de elaborao daqueles que sero afetados pelo resultado decisiva, pois nem sempre os objetivos dos planos refletem os seus anseios. Muitos planos elaborados pelo alto escalo de planejamento de pases desenvolvidos tambm no conseguem ser bem implementados. A falta de informao ou a presuno de desejos uniformes para diferentes pessoas na tomada deciso na elaborao dos planos pode ser uma grande fonte de falhas nos planos, o que evidencia a importncia do processo participativo como soluo.

    Portanto, o processo de planejamento um processo de deciso poltico que depende de informaes precisas, transparncia, tica, temperana, aceitao de vises diferentes e vontade de negociar e buscar solues conjuntamente que sejam aceitveis para toda a sociedade e principalmente para as partes envolvidos. (OLIVEIRA, 2006, p.284)

    O exemplo de Juazeiro e Petrolina chama a ateno, entretanto ainda falho. Um caminho para melhorar ainda mais o planejamento sugerido por Michel Roux (2004), que faz uma anlise do planejamento francs criticando o estabelecimento dos objetivos. O apelo ao consumo dos dias atuais assume propores muitas vezes desmedidas quando objetos tomam o lugar de objetivos de

  • 38

    vida e uma pessoa pode se dizer bem sucedida quando atinge o padro de consumo elaborado de acordo com o mercado. Assim, a almejada felicidade sempre estar por vir num interminvel ciclo que se realimenta. Os territrios no mais so a expresso do peculiar, do pessoal, mas um conjunto de objetos e servios em intensa renovao onde no h espao para tradies e costumes antigos.

    Desta forma, o planejamento estatal foi formatado exclusivamente sobre dados oficiais macroeconmicos de infraestrutura, telecomunicaes e outros. Estes so cruzados com diversos dados e fatos das potencialidades dos territrios que indicam os caminhos para os objetivos intermedirios que quase sempre terminam no objetivo final de aumentar os fluxos e a participao no mercado mundial e Europeu. So tantas as modificaes propostas, porm no levam em conta a vontade dos habitantes locais, que podem resistir a este tipo de desterritorializao. Algumas regies da Frana so citadas como foco de resistncia transformao radical do territrio imposta por planos governamentais de desenvolvimento como o departamento do Haut-Doubs onde agricultores se negaram a aderir a uma forma de produo com o uso mais intensivo de capital.

    Como eles integram os habitantes da Galcia que, a partir de pequenos portos dispersos escondidos no fundo de rios mais ou menos escarpadas, nimbadas de praias desertas, com cenrio de campanhas diversificadas, numa regio onde se misturam tradio e modernidade, bares a tapas (comida espanhola) e cibercafs , mantm, por uma vontade cultural forte, uma pesca ativa no plano regional e europeu? (ROUX, op. cit., 57)

    Os termos trunfos objetivos, boas razes, beleza da paisagem ou interesse geral que so usados na elaborao de argumentos para formulao de polticas, entretanto esto intrinsecamente ligados aos paradigmas que lhes d sustentao. As leituras do territrio so to somente tradues das memrias e conceitos que os sujeitos carregam e como tal no so verdades definitivas. Assim, numa postura mais humilde, os planejadores passam a assumir o papel de condutores, os locais devem ser chamados a pensar o espao priorizando o seu uso e a alienao do espao para o uso individual uma via de mo dupla, pois cada um aliena e alienado pelo seu prximo.

    O autor sugere ainda algumas etapas para a elaborao de um bom planejamento, a saber:

    1. Designar os atores do territrio, entendo isso no por somente determinar as categorias dos usurios, mas determinar o processo pelo qual nos consideramos a sua opinio[...];

  • 39

    2. Evitar que a expresso dos olhares e dos projetos pegue um caminho combinado de um discurso estandardizado, impessoal e politicamente correto;

    3. Construir com os materiais coletados as diferentes representaes 4. Confrontar os atores de cada esfera de dependncia as representaes

    edificadas a partir de seus discursos, para ver com eles (indo eventualmente a campo) se traduzem bem seus olhares e seus projetos;

    5. Reunir todos os atores a convid-los a se conscientizar coletivamente de seus olhares e de seus projetos, a fim de que realizem juntos suas posies para que sejam, provavelmente, portadoras de concorrncias de antagonismos mas tambm de complementaridades.

    6. Projetar as condies de uma aparelhagem abordo de um mesmo barco... e isso apesar das clivagens e das feridas. Este ltimo ponto coloca a questo das indenizaes para todos os que se sentem lesados. (ROUX, op. cit., 64)

    A aplicao destas etapas tem potencial de fortalecer o sentimento de comunidade e de solidariedade. Em comunidades carentes tem um potencial enorme de gerar bons resultados de longo prazo proporcionando um desenvolvimento equilibrado ou sustentvel. O pantanal mato-grossense um territrio onde esta proposta pode gerar excelentes resultados, pois l a natureza se reproduz com muita intensidade gerando excedentes que atualmente no so aproveitados.

    Para finalizar, devemos nos perguntar: podemos esquecer os jacars, enquanto produto? Certamente podemos diversificar os sub-produtos (carne, souvenir, turismo) oriundos dos jacars, para agregar mais valor ao produto e eventualmente viabilizar alguns criadouros. Entretanto, a nica alternativa que parece ser capaz de ir na direo de devolver ao Brasil uma condio de destaque no mercado internacional de produtos oriundos de animais silvestres adequar a legislao brasileira para permitir o manejo da fauna silvestre, ou seja, a caa comercial criteriosa, monitorada, fiscalizada, e cientificamente embasada. (MOURO p. 4)

    O Brasil j conquistou uma posio respeitada mundialmente na produo de solues para o uso melhor dos recursos naturais, ento por que no ampliar os benefcios que uma parte da populao vem colhendo pesquisando outros potenciais em outros territrios, alm dos bons exemplos de Juazeiro-Petrolina e do Agronegcio.

    O cadastro rural que contemple a expresso dos habitantes dos diversos territrios seria uma ferramenta decisiva. Combinando informaes atualizadas e anseios legtimos os planejadores veriam seu trabalho muito facilitado. No mais seriam responsveis por determinar o que bom ou desejvel para territrios que pouco ou nada vivenciaram. Poderiam se dedicar mais a avaliar viabilidades de

  • 40

    insero multiescalar dos territrios como tambm cooperao estratgicas entre eles potencializando os resultados.

    CARACTERIZANDO O DESENVOLVIMENTO

    O tema desenvolvimento um tema central para a nossa sociedade. Organismos internacionais e governos mantm ministrios, rgos e instituies inteiras dedicadas a esse estudo, com milhares de funcionrios gerindo a mquina pblica e tambm produzindo conhecimento. Para exemplificar, a Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Internacional para Reconstruo e Desenvolvimento (BIRD), Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome, Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior ao qual o poderoso Banco Nacional de desenvolvimento (BNDES) pertence, Ministrio do Desenvolvimento Agrrio ao qual o INCRA est ligado e em Mato Grosso existe o MT fomento que fornece crdito a pequenos empresrios, alm de inmeras organizaes no governamentais criando uma lista quase interminvel. Portanto como este tema vastssimo, assim ser restrito a uma discusso que enfoque o ser humano em sua real necessidade de crescimento levando em conta o meio rural. Para ser objetivo alguns ndices devem ser citados, pois so objeto de polmica na imprensa e por consequente acabam transformando as polticas pblicas as quais so destinados milhes em recursos pblicos.

    Este assunto adquire no Brasil importncia que em nenhum outro lugar do mundo igual devido as nossas dimenses continentais. Quando se verifica que o Brasil a stima maior economia do mundo (FMI, 2013) seria razovel pensar que ento o seu povo tem uma fartura de se invejar por muitas naes. Ledo engano, pois a distribuio de renda est entre as piores do mundo. O ndice de GINI aplicado a avaliao da renda, regularmente utilizado em diversos pases, aponta que o Brasil esteve historicamente entre as piores distribuies de renda do mundo, ou seja, as mais concentradas do mundo. Nos ltimos anos houve mudanas, pois os programas sociais de distribuio de renda se encarregaram de melhorar bastante esse ndice.

  • 41

    Em uma anlise dos bloqueios ao desenvolvimento do Brasil, Martins(1999) critica a postura histrica em priorizar o crescimento econmico em detrimento do desenvolvimento social como se este fosse um entrave. E avalia que a teoria da causao circular cumulativa, de Gunnar Myrdal, a melhor alternativa para interpretao do comportamento de fatores e condies do desenvolvimento. Cita estudos do grupo de sociologia da USP entre eles o de Fernando Henrique Cardoso que atribuiu abolio da escravatura um grande momento de desbloqueio. Neste, os cafeicultores que eram fruto do capitalismo, diferente dos senhores feudais da Europa, se prontificaram como atores protagonistas da transio. Outro grande momento que foi a crise de 1929 na verdade apenas impulsionou a industrializao que j existia, contrariando a tese de Celso Furtado. O autor faz o seguinte diagnstico sobre a nossa frmula de evoluo social O modelo brasileiro inverteu o modelo clssico. Nesse sentido, reforou politicamente a irracionalidade da propriedade fundiria no desenvolvimento capitalista, reforando, conseqentemente, o sistema oligrquico nela apoiado. (MARTINS, op. cit., p. 80)

    Num estudo sobre desigualdade Soares (2010) utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domiclio(PNAD) na comparao da queda anual do ndice de GINI de pases integrantes da OCDE, na poca em que estruturavam os servios do estado de bem estar social. A situao avaliada pela renda recebida somada as transferncias monetrias feitas pelo estado no levando em considerao os impostos pagos ou o valor do servio prestado pelo estado aos cidados. O autor conclui que o ritmo de queda de desigualdade de renda brasileira de 0,7% ao ano de 2001 a 2006 um bom ritmo e identifica como principais instrumentos a poltica de reajuste do salrio mnimo e a bolsa famlia, cuja eficcia est se esgotando. Para atingir nveis de outras naes como Estados Unidos e Canad deve-se manter o ritmo por mais duas dcadas. Outra forma de distribuio est em impostos progressivos combinados com servios de sade e educao, por exemplo, que estados de bem estar social srios como a Inglaterra prestam sua populao. L estes implicam numa reduo de 20% do GINI enquanto aqui a reduo de 8% somente.

    Em outras palavras, os que defendem que cedo para soltar foguetes para comemorar a queda da desigualdade esto ao mesmo tempo certos e profundamente errados. Esto profundamente errados se se referem ao ritmo de reduo da desigualdade no Brasil, que e, como vimos, ate alto para padres histricos e permite chegar a um pas igualitrio em uma gerao. Esto, no entanto, certos, se referem-se ao pouco tempo que

  • 42

    este processo perdura. Se o coeficiente de Gini (x100) brasileiro se estagnar em 55,9, teremos apenas perdido o ttulo de pais mais desigual do mundo para ficar na metade de cima da Amrica Latina, a regio mais desigual do mundo. (SOARES, 2010, p. 377)

    A poltica de pagamentos regulares a pessoas em condio de vulnerabilidade uma poltica recomendvel. A bolsa famlia e o auxlio desemprego vem sendo empregada com muita permissividade e muito pouco critrio. A porta de sada destes programas carece de uma fiscalizao mais efetiva aos beneficirios, coisa distante da nossa tradio. Entretanto este o tipo de desenvolvimento que queremos? Onde as classes menos favorecidas esto em dependncia direta do Estado. As migalhas que so distribudas obedecem rigorosamente a critrios tcnicos? Os recursos pblicos no Brasil, nas mos dos polticos, pouqussimas vezes foram distribudos de forma impessoal. A melhor opo deve ser a que todas as pessoas tenham sob seu poder acessar todos os bens e servios que compe o seu bem estar e no depender do favor de algum poltico amigo.

    What the poor masses need is not a little money, the distribution of which ordinarily only would spur inflation, which regularly works to their disadvantage. They do need fundamental changes in the conditions under which they are living and working. The important thing is that these changes regularly must imply both increased productivity and greater equality. The two purposes are inextricably joined

    O que as massas pobres precisam no um pouco dinheiro, distribuio que, de uma forma geral, s estimularia a inflao, que trabalha normalmente em sua desvantagem. Eles precisam de mudanas fundamentais nas condies sob as quais eles vivem e trabalham. O importante que essas mudanas devem implicar tanto aumento no da produtividade como numa maior igualdade. Os dois efeitos so indissoluvelmente unidos. (MYRDAL, 1974, p. 734, traduo nossa)

    O Brasil nos ltimos anos tem se destacado no mundo por pertencer a um grupo chamado de BRIC, composto tambm pela Rssia, ndia e China, so os pases de crescimento econmico acelerado. O crescimento econmico do estado de Mato Grosso tem se destacado no Brasil, em 2000 era o dcimo primeiro (IBGE, 2001) em 2010 subiu para a oitava (IBGE, 2012) posio do PIB per capta entre os estados, este se deve principalmente ao aumento das exportaes do estado que so compostas por commodities agrcolas.

    Segundo o Gunnar Myrdal (1974), desenvolvimento o movimento pra cima de um sistema social por completo. Isto inclui os fatores econmicos e no econmicos como acesso a sade e educao em todos os nveis, consumos dos

  • 43

    diversos grupos da sociedade e distribuio do poder. Entre estes diversos fatores existem correlaes, de modo que quando h uma mudana em um afeta outros que tambm mudam e por sua vez afetam outros fatores que podem vir a causar mudanas nos fatores iniciais que novamente iniciam o ciclo que o modelo da causalidade circular cumulativa.

    As polticas pblicas devem ter o poder de iniciar este ciclo como um fator exgeno que deve ser acrescentado a um sistema para desencadear um ciclo positivo. Esses fatores tm trs aspectos que devem ser previamente observados :

    Mudanas de diferentes fatores no mesmo sentido tendem a ser cumulativas.

    Determinar se o sentido da mudana contribui para o desenvolvimento. A taxa ou coeficiente de correlao que liga os fatores.(MYRDAL, op. cit.)

    Este autor continua investigando as variveis tradicionais que so avaliadas em propostas de desenvolvimento. Houve por muito tempo uma crena que o crescimento da produo e distribuio de riquezas podiam ser resolvidas separadamente no caminho para o desenvolvimento. Mesmo quando foi provado que h uma correlao positiva entre elas, s reformas que propiciariam a redistribuio atribudo um custo que dificultaria o aumento da produo. H inmeros exemplos que essas reformas aumentam a qualidade e produtividade da fora de trabalho e tambm seus nveis de poupana.

    Quando estudada a renda e riqueza acumulada sua anlise conduz a concluses superficiais quanto ao desenvolvimento, quando a igualdade no considerada. O pagamento ao estado de impostos e taxas deve ser avaliado no retorno que ele d as diversas camadas da sociedade, em pases do estado de bem estar social nos pases nrdicos (como foi nos antigos comunistas) o consumo/renda individual pouco representativo. Nestes pases socialistas, por exemplo, o atendimento mdico s grvidas to bom que na mesma sala de espera esto mulheres de todos os nveis sociais.

    Numa anlise de medidas setoriais recomendadas a pases subdesenvolvidos ele sugere que, na agricultura preciso uma mudana que eleve a produtividade do trabalho, com financiamento, assistncia tcnica e melhorias de infraestrutura. Porm a mais fundamental de todas a reforma agrria. Na educao h grandes possibilidades de aumentar a igualdade e a produtividade. Mas os sistemas

  • 44

    educacionais dos pases subdesenvolvidos precisam de uma reforma completa principalmente por que alguns pregam o preconceito contra o trabalho manual. Entretanto a melhor reflexo sobre as condies que levam a situao do subdesenvolvimento foi:

    Underdeveloped countries are usually "soft states" with grave deficiencies in legislation and the implementation of laws. In such a society laxity and licentiousness spread to all social and economic strata

    Pases subdesenvolvidos so geralmente estados soft, com profundas deficincias na legislao e na aplicao das leis. Em tais sociedades a frouxido e a permissividade se espalham por todos os estratos sociais e econmicos (MYRDAL, 1974, p. 735, traduo nossa)

    Assim as abordagens parciais de elaborao de propostas de desenvolvimento se mostraram ineficazes nos resultados e bem estar da populao. Somente uma abordagem holstica pode dar uma resposta satisfatria.

    O pesquisador Amartya Sen aprofunda o estudo sobre quais devem ser os objetivos do crescimento econmico e que deve ser visto como um meio para alcanar o desenvolvimento e no um fim em si. Mesmo quando visto como um meio a sua busca para conduzir ao desenvolvimento pode ser desastrosa quando no se conhece quais so os verdadeiros fins a serem alcanados. Pases com PIBs per capta elevados foram constatados com alta mortalidade infantil, expectativa de vida baixa e altas taxas de analfabetismo da populao configurando uma baixa qualidade de vida.

    Os seres humanos so os agentes, beneficirios e juzes do progresso, mas tambm so, direta ou indiretamente, os meios primrios de toda produo. Esse duplo papel dos seres humanos d origem confuso entre fins e meios no planejamento e na elaborao de polticas (SEN, 1993, p. 1)

    A base de sua pesquisa determinar quais so as atividades e modos de ser, aos quais denomina de efetivaes (functionings), capazes de promover o enriquecimento da vida humana. A qualidade de vida avaliada pela capacidade de atingir as efetivaes almejadas, esse enfoque se origina nas ideias de Adam Smith e Karl Marx. A avaliao das efetivaes nas mercadorias que nos permitem realiz-las errnea, pois nos leva ao utilitarismo, confundindo meios e fins. Essas efetivaes podem ser atividades simples como estar bem nutrido, evitar a morbidade, ou efetivaes complexas como elevada autoestima e apresentar-se bem em sociedade. Assim as efetivaes vo constituindo as pessoas, e a soma de

  • 45

    tudo o que ela consegue ser ou fazer se constitui sua capacidade (capabilities). Isto constitui o modo de vida que a pessoa escolhe. Um erro muito comum avaliar que algumas pessoas ou grupos sociais como tendo uma qualidade de vida regular por que mesmo vivendo em excluso social ou condies de extrema pobreza tendem a se resignar encontrando prazer em coisas bsicas e simples e se acostumam a condies de restries inaceitveis.

    No h como ser simplista nas definies de efetivaes, pois poderamos nos afastar muito do seu real sentido, entretanto essas atividades e modos de ser acabam em um elemento real. Cabendo ento qualificar as efetivaes em grau de importncia, entrando em cena os valores sociais locais e as realizaes adicionais que as efetivaes podem contemplar sob diferentes pontos de vista. Em diferentes sociedades as efetivaes para completar o bem estar mudam, entretanto as bsicas se repetem podendo a estas ser acrescentadas outras peculiares dependendo do estgio de desenvolvimento que esta sociedade se encontra.

    Na medida em que h genunas ambiguidades nos objetos fundamentais de valor, elas se refletiro em ambiguidades correspondentes na caracterizao da capacidade. Na pesquisa e mensurao sociais, sem dvida mais importante ser vagamente correto do que precisamente errado. (SEN, 1993, p. 3)

    Hoje ainda prevalecem avaliaes utilitaristas nas determinaes de bem estar mais aceitas. Contra elas pode-se dizer que nem todas as pessoas obtm a mesma satisfao das mesmas coisas. Mesmo as ditas necessidades bsicas podem variar muito dependendo da idade, sade, local onde as pessoas se encontram. Assim uma pessoa portadora de alguma deficincia consumir alm da renda mnima estabelecida para a mdia da populao.

    As efetivaes compem a capacidade de uma pessoa, quando esta pessoa pode escolher um outro conjunto de efetivaes surge um outro valor que a liberdade de escolha. Se esta uma ferramenta para se chegar a opo desejada ento o conjunto de oportunidades perde o valor esta a avaliao elementar, seno, se ela importante por si mesma ento a existncia das opes valorizada esta ser o valor intrnseco. A medio deste ltimo problemtica, pois somente a escolhida que se materializa. Jejuar uma realizao de uma opo de passar fome, porm esta pode ser a nica opo, neste caso a falta de escolha fcil de identificar.

  • 46

    Podem existir vrios nveis de efetivaes desde as mais simples as mais sofisticadas. A coleta de dados para as efetivaes pode ser bem fcil, pois as mais simples como se alimentar so observveis, em oposio a comprovao do prazer ou satisfao que so muito difceis de apurar. Entre as mais importantes efetivaes podemos citar a Longevidade que pressupe uma sade melhor e doenas evitadas, tambm h liberdade de escolha de viver mais tempo em contradio ao suicdio, alm da liberdade de viver mais realizaes. A educao um outro item indiscutvel, pois afeta a p