tese maria lucilia ruy
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MARIA LUCILIA RUY
FORMAO DE PALAVRAS
LIVRO VIII DA GRAMTICA DE VARRO
So Paulo
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MARIA LUCILIA RUY
FORMAO DE PALAVRAS
LIVRO VIII DA GRAMTICA DE VARRO
Dissertao de Mestrado, apresentadaao Programa de Ps-Graduao emLetras Clssicas da Faculdade deFilosofia, Letras e Cincias Humanas,da Universidade de So Paulo.
Orientador: Prof. Dr. Jos R. Seabra F.
So Paulo
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Aos meus pais
pela dedicao de uma vida inteira
Para Marcos, Larissa e Valter
pela presena constante
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Agradecimentos em especial para o
meu orientador, prof. Jos Seabra,
pela dedicao e pacincia.
E para o prof. Bruno Bassetto, pelo
estmulo e a ateno.
E ainda aos professores:
Marcos Martinho dos Santos,
Sidney Calheiros de Lima,
Elaine Cristine Sartorelli e
Jos Eduardo dos Santos Lohner.
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RESUMO EM PORTUGUS
Traduo crtica do livro VIII do De Lingua Latina do gramtico Varro
com o propsito de assim estudar parte dessa obra ainda pouco divulgada em
portugus. Nesse livro Varro trata sobre a maneira de se expressar na escrita, e
na fala mesmo que de uma minoria ilustrada , mas tambm lana seu olhar
para a disposio das palavras no enunciado conforme as funes que elas a
ocupam. Isso se evidencia por ele demonstrar preocupao com as regras que
deveriam ser seguidas em relao a essa disposio das palavras ao apresentar a
discusso de sua poca entre analogistas e anomalistas no que se refere
analogia existir ou no no mbito da linguagem, mais precisamente no mbito
dos processos de formao de palavras em latim.
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ABSTRACT
Critical translation of book VIII of theDe Lingua Latina(On The LatinLanguage) of the grammarian Varro with the intention to study part of this
book still little divulged in Portuguese. In this book Varro deals with on the
way if expressing in the writing, and in it speaks exactly that of an illustrated
minority , but also launches his look for the disposal of the words in
agreement statement the functions that they occupy there. This if evidences for
him to demonstrate concern with the rules that would have to be followed in
relation to this disposal of the words when presenting the quarrel of its time
between analogists and anomalists as for the analogy to exist or not in the scope
of the language, more necessarily in the scope of the processes of formation of
words in Latin.
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NDICE
INTRODUO .............................................................................. 08
VIDA, OBRA, CONTEXTO HISTRICO-FILOSFICO....... 12
Obras................................................................................................ 15
ODe Lngua Latina.......................................................................... 18
A importncia do livro VIII........................................................... 21
DE LINGUA LATINA TRADUO DO LIVRO VIII .............. 22
COMENTRIOS ........................................................................... 72
CONSIDERAES FINAIS ......................................................... 90
APNDICE ..................................................................................... 93
Esquema do Livro VIII .................................................................. 94
BIBLIOGRAFIA ............................................................................105
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INTRODUO
Pela presente dissertao apresenta-se uma traduo crtica do livro VIII
do De Lingua Latina do gramtico Varro. Tem-se o propsito, assim, de
estudar parte dessa obra ainda pouco divulgada em portugus.
Pelo meu entendimento no livro VIII em questo Varro trata sobre a
maneira de se expressar na escrita, e na fala mesmo que de uma minoria
ilustrada , mas tambm lana seu olhar para a disposio das palavras no
enunciado conforme as funes que elas a ocupam. Isso se evidencia por ele
demonstrar preocupao com as regras que deveriam ser seguidas em relao a
essa disposio das palavras ao apresentar a discusso de ento entre
analogistas e anomalistas no que se refere analogia existir ou no no mbito
da linguagem, mais precisamente no mbito dos processos de formao,
declinao e flexo de palavras em latim.
Segundo Louis Holtz (1981, Introduo), essa ateno voltada para a
construo do enunciado, para a distino de suas partes com vistas a
sistematizar uma gramtica para que no houvesse maiores discrepncias na
escrita, ou na fala, entre os escritores de ento s apareceria a partir do sculo
IV a.C.
Quando Varro escreve o seu De Lingua Latinaa gramtica servia como
auxiliar das cincias que se ocupavam em estudar a linguagem: a filosofia, a
crtica e a retrica.
A filosofia precisou da gramtica porque pesquisava a histria da
linguagem, a origem das palavras. Dessa pesquisa surgiu uma polmica quelevou os filsofos a questionar se a origem das palavras seria natural (fusij) ou
convencional (qesij). Polmica muito importante para que a gramtica pudesse
bem mais tarde tornar-se uma cincia independente e esses estudos pudessem
desenvolver-se no mbito mais adequado a eles: o da gramtica. Desse
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questionamento surgiram problemas de ordem morfolgica e fontica, que, ao
serem enfrentados pelos filsofos, os levaram a se interessar pelo estudo do
enunciado, orientados por uma espcie de lgica formal da linguagem. Da que
Plato e Aristteles teriam comeado a perceber as categorias gramaticais(nomes e verbos), isto , a estrutura das formas faladas e escritas (Collart,
1954).
A crtica a cincia mediante a qual eram editados os livros teve a
gramtica como auxiliar devido a problemas de pontuao, vocabulrio e
ortografia com que se viu s voltas com a publicao de textos dos poetas de
ento, particularmente da obra de Homero. Como havia uma infinita variedade
de edies os crticos (ou fillogos) precisavam fazer uma triagem bastante
severa desses escritores. Para essas publicaes eles se viram obrigados a
separar os enunciados ento apresentados em forma de blocos para
conseguir um melhor estabelecimento do texto. Um texto legvel e agradvel,
eu diria. E essa separao em frases levou esses crticos a criar um sistema de
sinais grficos para representar as pausas. Graas a esses problemas de ordem
gramatical nasceu a pontuao. E os crticos tambm foram obrigados a estudar
o vocabulrio porque nos textos a serem publicados havia palavras raras,
tcnicas, prprias de um escritor, de uma regio ou de uma poca, obrigando-os
a delas fazer uma compilao para uma rigorosa transcrio. Essa compilao
chamada de leceijou glwssai chamou a ateno para a existncia de diferentes
lxicos e dialetos, mas ainda sob perspectiva filosfica. A preocupao com a
ortografia tambm surgiu dessa rigorosa transcrio, trazendo luz questes em
relao a uma palavra estar ou no escrita de maneira correta porque um erro
ortogrfico pode trazer srios problemas de entendimento de um texto. Os
fillogos de ento no gostariam de correr esse risco. Essas questes tambmesbarram na controvrsia entre analogistas e anomalistas bastante forte na poca
de Varro. A gramtica ento de um modo geral beneficiou a crtica textual, eu
diria. Mas tambm a crtica ajudou a gramtica a se tornar independente
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medida que os eruditos que trabalhavam com edio de textos comearam a se
interessar pela histria das palavras.
Mas a fundao da biblioteca da Alexandria, no incio do sculo III a.C.,
tambm fez evoluir esse estado primitivo da gramtica por reunir um nmeroconsidervel de manuscritos, o que trouxe a necessidade de classific-los,
estabelecer os textos de modo a torn-los acessveis ao pblico (Baratin, 1989).
J a retrica por ser a arte do bem dizer, do falar correta e
persuasivamente, tinha a gramtica como auxiliar porque precisava escolher
entre as palavras as que lhe pudessem oferecer os melhores efeitos dentro das
necessidades e do objetivo a que se propunha no para apenas conseguir uma
fala floreada, como se diz, mas para convencimento em relao ao que quisesse
defender, ou atacar, atravs de um texto. Da preocupao com tais efeitos de
estilo surgiu o que hoje conhecemos como estilstica, por meio da qual h
grande variedade de recursos dos quais os escritores podem lanar mo para
conseguir com que os leitores sofram os efeitos produzidos com seus textos.
Essa necessidade de recursos gramaticais levou alguns retores de ento a
produzir livros a respeito, chamados tratados sobre estilo, ainda hoje muito
teis a estudiosos e pesquisadores no apenas de gramtica e de filologia, mas
tambm da rea do direito.
Por isso posso afirmar, com Jean Collart, que a filosofia, a crtica e a
retrica favoreceram o desenvolvimento da gramtica uma das ltimas
conquistas gregas para que chegasse a se tornar uma cincia independente.
Mesmo que isso tenha demorado um pouco ainda a acontecer, na poca em que
Varro, em Roma, escreve o seuDe Lingua Latinaj se comeavam a perceber
os diferentes domnios de atuao da gramtica enquanto tal. Dessa forma eu
poderia dizer ento que Varro foi um dos primeiros a se no perceb-los chamar a ateno para os problemas intrinsecamente gramaticais como hoje so
entendidos. Isso pelo fato de no livro VIII de seu DLL aparecerem as questes
mencionadas na resumida histria da gramtica apresentada acima. Todas elas
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sero mais bem analisadas nesta dissertao na parte denominada
comentrios, mais adiante.
A minha pesquisa e o desenvolvimento desta dissertao tm como base a
leitura de estudos sobre Varro, feita aps um levantamento bibliogrfico sobreesse gramtico e sua obra. Depois disso comecei a traduzir esse livro VIII,
escolhido exatamente por tratar das questes acima aludidas. A essa traduo
acrescentei apontamentos, notas e observaes que se fizeram necessrios para
os futuros leitores melhor compreenderem o texto em portugus. Para tanto,
utilizei a edio crtica inglesa doDLL completo, de Roland G. Kent, da Loeb
Edition e, para simples conferncia, a edio comentada espanhola, de Manuel
A. Marcos Casquero, da Anthropos. Mas tambm tomei como parmetro a tese
de doutoramento de Heitor Coradini (Metalinguagem na obra De Lingua Latina
de Marcos Terncio Varro), de 1999.
Ao longo do processo de traduo continuei minhas pesquisas, sempre
visando a melhor fundamentar minha dissertao. Mas desta vez fiz um
levantamento bibliogrfico com relao ao tema tratado por Varro no livro
VIII dentre alguns escritores latinos e gregos a ele contemporneos ou no para
conseguir uma viso mais ampla sobre esse tema e comparar a opinio desses
escritores com a de Varro. Para desenvolver minha dissertao dentre eles
escolhi trabalhar com Prisciano (Institutii Grammaticae) e Dionsio Trcio
(Texnh Grammatikou,Ars Grammatica).
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VIDA, OBRA, CONTEXTO HISTRICO-FILOSFICO
A infncia de Marcos Terncio Varro (116-27 a.C.), natural de Rieti,
antiga cidade Sabina, de austera simplicidade, mas sua famlia uma das mais
ricas do seu tempo, com propriedades em Rieti e fazendas em Tsculo e
Cassino. Conhecido como Reatinus, Varro o mais fecundo erudito da
antiguidade: produziu nada menos do que 620 livros. De sua cidade natal vai a
Roma para receber formao com os melhores mestres de sua poca. Na escola
de Lcio cio seu primeiro mestre a quem dedica sua primeira obra, a De
antiquitate litterarum, aprende os primeiros rudimentos de gramtica e passa
de Lcio lio Estilo pelo qual encaminhado cincia etimolgica e
atividade oratria, iniciando sua carreira poltica e forense. Ainda em Roma
comea a estudar filosofia com Filo de Larissa e Antoco de Ascalon,
conhecidos Acadmicos, aperfeioando esses estudos em Atenas entre 84 e 82
a.C.
A vida poltica de Varro bastante agitada. Em 97 torna-se triumuirus
capitalis agente pblico encarregado de fiscalizar as prises e a execuo dos
julgamentos criminais e questor. Em 78, embaixador para suceder Gaio
Coscnio. De 76 a 72 Pompeu concede-lhe os cargos de embaixador e pr-
questor na Espanha. Em 70 tribuno da plebe e pretor em 68. Em 67 assume o
comando do setor naval de Siclia e de Delos em substituio a Pompeu. Em 59
torna-se um dos 20 membros da comisso que aplicaria a lei agrria Jlia
(uigintiuiri ad agros diuidendos) em Cpua. Em seguida lugar-tenente dePompeu na Espanha Ulterior. Sua presena marcante na cena poltica romana
como fragoroso partidrio de Pompeu. Aps a batalha de Farslia perseguido
por Antonio, mas consegue salvar seus bens do confisco graas interveno
de Csar. Este em 47 o encarrega de organizar a primeira biblioteca pblica de
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Roma. Assassinado Csar, Varro perde esse apoio e proscrito por Antonio
em 43, mas encontra ajuda em Ffio Caleno. Em 27 a.C. morre com quase 90
anos de idade, pondo fim a sua infatigvel atividade de escritor.
Para a pesquisa de tudo o que diz respeito ao mundo em que Varro viveu e mais do que isso em tudo o que se refere doutrina varroniana e s
influncias das chamadas escolas filosficas da antiguidade que o ajudaram a
estabelecer tal doutrina preciso basear-se muito mais em seus livros que
conseguiram sobreviver do que propriamente nos fragmentos das obras de seus
predecessores. Ou seja, o fato de no haver muita segurana por tais obras no
terem sobrevivido em torno dos estudos das fontes de Varro, segundo Jean
Collart (1954), poderia tornar a pesquisa sobre esse gramtico decepcionante. A
meu ver, no entanto, esses trechos tm importncia medida que por meio
deles muito j foi descoberto em relao histria da gramtica.
Segundo o mesmo Collart (1978), Varro sculo aps sculo o
gramtico mais citado por seus sucessores, como Quintiliano, Aulo Glio,
Carsio, Prisciano, Isidoro e Donato. Conhecer essas teorias, ou tendncias
filosficas das quais Varro sofreu influncia, no apenas torna um pouco mais
facilitada a compreenso da opinio desse escritor em relao polmica entre
analogistas e anomalistas o objeto de anlise desta dissertao como
tambm proporciona uma viso, bem sucinta na verdade, do avano dos estudos
sobre linguagem e ainda das diversas posies em relao a esses estudos por
parte de alguns filosfos e gramticos de ento.
No livro VIII doDe Lingua Latinapode-se sentir esse pulsar de pontos de
vista contrrios. Por tal razo compreend-lo e mesmo o DLL inteiro sem
esse conhecimento prvio do contexto histrico-filosfico em que Varro
estava inserido pode dar a impresso de certa confuso de idias. bastantepertinente ento tratar um pouco sobre essas vrias tendncias filosficas que
de certa forma fizeram a cabea de Varro. Para tanto, preciso conhecer as
correntes que circulavam pelo mundo greco-romano porque, segundo Louis
Holtz (1981,Introduo), tanto a gramtica latina quanto a gramtica grega nos
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seus incios so definitivamente tributrias de uma mesma instituio: a escola
helenstica. Holtz acrescenta ainda que, at o fim do sculo em que viveu
Donato, as duas partes do imprio grega e romana tm em comum no
apenas uma histria poltica e institucional como tambm uma mesma histriaintelectual.
Varro produziu extensa obra 620 livros. A partir da se poderia afirmar
que ele conhecesse profundamente as obras filosficas de ento, sobretudo
pelas citaes que delas faz ao longo doDe Lingua Latina. Ele cita Aristteles,
Plato, Pitgoras, Epicuro, Zeno de Ccio, Crates, Aristarco e outros. Mas
alm dessas citaes percebem-se os princpios doutrinrios de vrias
tendncias filosficas pelo prprio texto de Varro, ou antes, tais princpios
esto presentes no desenvolvimento do raciocnio de Varro em relao aos
assuntos tratados no livro VIII doDLL.
Desde a escola helenstica, no incio do sculo III, criada como instituio
de ensino permanente para formar intelectualmente com o objetivo de dar
condies aos alunos de avanarem para os estudos superiores (Holtz, 1981),
at a poca de Varro surgiram outras a dos pitagricos, peripatticos,
acadmicos, esticos, sofistas, epicuristas, eruditos alexandrinos e cada uma
delas seguia uma linha filosfica diferente. Para alm dessas diferenas a
linguagem o ponto de partida para o desenvolvimento de tais estudos
superiores. As pesquisas desses filsofos em torno da palavra levaram a duas
preocupaes: a explicao dos poetas para, entre outras coisas, interpretar as
palavras mediante comparao de versos e a boa retrica para garantir um
cuidado especial aos discursos dos retores da poca. Devido a essas pesquisas
conforme j mencionei antes a preocupao com a linguagem foi tomando
corpo (Neves, 1987, p. 32 e ss.).Todas essas questes e tambm outras so levadas em considerao
com maior rigor em minha anlise sobre o livro VIII do De Lingua Latinado
gramtico Varro.
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Obras
Varro desenvolveu atividades alm de sua atuao poltica em
variados campos culturais: poesia, filosofia, oratria, crtica literria, gramtica,
agronomia e antiguidades. Dessas atividades ele produziu extensa obra, da qual
Jernimo organizou um catlogo, considerado incompleto porque cita apenas
39 ttulos, num total de 320 livros. F. Ritschl, em uma pesquisa mais profunda e
abrangente, relaciona 74 ttulos e 620 livros.
No entanto, dessa extensa obra apenas conseguiram sobreviver os trs
livros do De Re Rustica, seis livros dos 25 do De Lingua Latinae um grande
nmero de fragmentos de vrios ttulos daqueles 620 livros. Grande parte deles
(608) se refere gramtica.
Toda a produo de Varro pode ser dividida, segundo Heitor Coradini
(1999, p. 95-103), em quatro grandes partes ou conjuntos temticos:
1- De erudio sobre a antiguidade: histria, antiqurio e teologia:
Antiquitates(41 livros, de 56 a.C.),De uita populi Romani(4 livros, entre 56 e
44 a.C.),De familiis Troianis(de 68 a.C.),Rerum urbanorum libri III (3 livros),
Liber Tribuum (entre 47 e 45 a.C.), Annalium libri III (3 livros), De gente
populi romani libri IV (4 livros, aps 43 a.C.), Legationum libri III (3 livros),
Aetia (de 60 a.C.), De Pompeio libri III (3 livros), De sua uita libri III (3
livros).
2- Sobre gramtica, filologia, crtica literria e dramatologia: De
descriptionibus libri III (3 livros), De personis libri III (3 livros), De actis
scaenicis libri III (3 livros), Scaurus uel De scaenicis originibus libri III (3livros), De actionibus scaenicis libri V (5 livros), Quaestionum Plautinarum
libri V(5 livros),De comoediis Plautinis, Epistulae Latinae(8 livros, antes de
44 a.C.), Quaestiones epistolatum(7 livros), De bibliothecis libri III (3 livros,
antes de 47 a.C.),De lectionibus libri III(3 livros),De compositione saturarum,
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De proprietate scriptorum libri III (3 livros), De poematis libri III (3 livros,
aps 45 a.C.), De poetis, Imaginum libri XV (15 livros, de 45 a 39 a.C.),
Epitome ex imaginum libris (4 livros), De lingua Latina (25 livros, entre 47 e
45 a.C.), Epitome De lingua Latina (9 livros, aps 44 a.C.), De similitudineuerborum libri III (3 livros, entre 56 e 47 a.C.), Peri( xarakthrwn Sobre os
caracteres,De utilitate sermonis libri IV(4 livros),De antiquitate literarum ad
Accium (2 livros), De origine linguae Latinae libri III (3 livros, entre 56 e 47
a.C.),De sermone Latino ad Marcellum libri V(5 livros, entre 46 e 44 a.C.),De
Grammatica ouDisciplinarum liber I(1 livro, entre 35 e 32 a.C.).
3- De interesse didtico: tcnico, doutrinrio, jurdico, burocrtico
Disciplinarum libri IX(9 livros, entre 33 e 31 a.C.), De Ephemeris naualis ad
Pompeium (de 77 a.C.), De ora marituma, De litoralibus, De aestuariis, De
mensuris(de 59 a.C.), De ualetudine tuenda lber (1 livro),De iure ciuili libri
XV(15 livros),De gradibus (1 livro),Liber de philosophia(1 livro), De forma
philosophiae libri III (3 livros), De principiis numerorum libri III (3 livros,
entre 45 e 36 a.C.),Isagogicum ad Pompeium(71 a.C.),Rerum rusticarum libri
III De re rustica(3 livros, de 37 a.C.).
4- De finalidade filosfico-artstica: Logistorikw=n Logistorici libri
LXXVI(76 livros), Orationes, Suasionum libri tres (3 livros),Laudatio Porciae,
Poematum libri X (10 livros), Saturae (4 livros), Pseudotragoediarum libri VI
(6 livros), Saturarum Menippearum libri CL(150 livros, entre 80 e 55 a.C.).
Essa reconstituio da extensa obra de Varro foi feita mediante
trabalhosa pesquisa e compilao por parte de fillogos e comentaristas com
base em fragmentos mantidos graas citao de historiadores e gramticos
antigos.
Percebe-se por essa compilao o grande interesse de Varro porgramtica medida que alm doDe Lingua Latinah outros nove ttulos, num
total de 60 livros: Quaestionum Plautinarum libri V (5 livros, aps 45 a.C.),
Epitome De Lingua Latina (9 livros, aps 44 a.C.), De similitudine uerborum
libri III (3 livros, entre 56 e 47 a.C.), Peri( xarakthrwnSobre os caracteres,De
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utilitate sermonis libri IV(4 livros, entre 56 e 47 a.C.), De antiquitate literarum
ad Accium(2 livros),De origine linguae Latinae libri III(3 livros, entre 56 e 47
a.C.),De sermone Latino ad Marcellum libri V(5 livros, entre 46 e 44 a.C.),De
Grammatica ouDisciplinarum liber I(1 livro, entre 35 e 32 a.C.).Da obra gramatical de Varro existem 608 fragmentos, embora em
relao a alguns deles no haja certeza sobre a localizao. Deles h
importantes edies com base nas quais muitos estudos puderam ser
desenvolvidos, como os de:
- Keil, Heinrich. Grammatici Latini(GLK), Teubner, entre 1857 e 1880.
- Wilmans, A., de 1864.
- Goetz-Schoell, Leipzig, Teubner, de 1910.
- Funaioli, G. Grammaticae Romanae Fragmenta(GRF), de 1907.
Segundo Jean Collart (1954, p. 32), com base nesses estudos acima
referidos, esses fragmentos podem ser distribudos segundo o tema gramatical a
que se referem: grafia e fontica (34), morfologia: analogia, anomalia, palavras
duvidosas (72), etimologia (309), semntica (110), sintaxe e estilstica (10),
histria da lngua e reflexes gramaticais (11), mtrica (17) e crtica literria
(45). E essas referncias podem servir para a interpretao do De Lingua
Latina. Mas tambm delas pode-se perceber o interesse de Varro por
gramtica em seu conjunto e, ainda, concluir sobre o grande prestgio de que ele
gozava que, ainda segundo Collart (1978, p. 4), se manteve intacto por 700
anos.
De fato Varro era muito respeitado entre os gramticos da antiguidade.
Para Quintiliano (Instituti Oratoriae X, I, 95), alterum illud etiam prius saturae
genus, sed non sola carminum uarietate mixtum condidit Terentius Varro, uir
Romanorum eruditissimus(Terncio Varro, homem eruditssimo dos romanos,estabeleceu tambm aquele outro tipo de stira, mas no poesia misturada com
uma nica variante) e para Aulo Glio (Noctes Acticae XIX, 14, 1),aetas M.
Ciceronis et C. Caesaris praestanti facundia uiros paucos habuit, doctrinarum
autem multiformium uariarumque artium, quibus humanitas erudita est,
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columina habuit M. Varronem et P. Nigidium (a poca de M. Ccero e de C.
Csar teve poucos homens com notvel eloqncia; ela teve M. Varro e P.
Nigdio como pilares das diversas doutrinas e das diferentes cincias com as
quais d-se a cultura erudita).Esse grande prestgio reiterado por esses grandes mestres comprova
a importncia, e tambm a influncia, do De Lingua Latina, ainda que
mutilado, para os estudos filolgico-gramaticais tanto de tempos atrs quanto
de hoje.
ODe Lingua Latina
Dos livros V ao X doDLLa nica fonte o manuscrito F (Laurentianus
LI, 10) do sculo XI, da Biblioteca Laurentiana de Florena que, segundo
Roland Kent, talvez por descuido dos copistas j estava seriamente mutilado
quando descoberto. (Curiosamente, Varro no captulo 28, pargrafo 51, de seu
livro VIII, faz uma observao prpria de fillogos sobre os copistas: ... de hoc
genere parcius tetigi, quod librarios haec sp(i)nosiora indiligentius elaturos
putaui sobre essa categoria me referi mais parcamente porque calculei que a
essas coisas mais dificultosas os copistas haveriam de expor mais
desmazeladamente.)
Ainda segundo Kent, L. Spengel em seu trabalho de recomposio desse
manuscrito fixou um nmero de 6 lacunas: 1- aps o captulo XXIII, pargrafo
162 do livro V; 2- no incio do livro VII; 3- aps o captulo II, pargrafo 23 do
livro VII; 4- do final do livro VIII at o incio do livro IX; 5- aps o captulo II,pargrafo 23 do livro X; e 6- aps o captulo II, pargrafo 34 do livro X.
A partir desse manuscrito foram estabelecidas vrias edies do DLL.
Segundo Roland Kent (1977, p. XVII-XXIII), a do sculo XV a mais antiga
delas, a Editio Princeps, publicada em Roma em 1471, preparada por
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Pompnio Leto. Em seguida surgiram a Editio Vetustissima (1473), a Editio
Veneta (1483), a Editio Rholandeli (1475, Veneza). No sculo XVI, a Editio
Baptistae (1510, Milo), Editio Aldina (1513, 1517 e 1527, Veneza), Editio
Parisiensis (1529), Editio Gryphiana (1535, Lion), Editio Vulgata (1554,Roma), Editio Vertranii
(1563, Lion), Editio Turnebi (1566, Paris), Editio de
Enrico Stefano (1569, Paris). No sculo XVII h apenas duas edies: Popma
(1601, Leiden) e Editio Gaspari (1602 e 1605, Ingolstadt). No sculo XVIII
somente a Editio Bipontina(1788, Baviera).
Ainda conforme Roland Kent, as primeiras edies autenticamente
filolgicas so do sculo XIX. A de Leonhard Spengel (1826, Munique; 1885
esta preparada por Andras Spengel e extremamente elogiada por Kent devido
ao aparato crtico) e a de K. O. Muller (1833, Leipzig; 1837, Paris, por A.
Egger). Finalmente, do sculo XX so conhecidas as edies de Goetz-Schoel
(1910, Leipzig, Teubner edio crtica monolingue), de Roland G. Kent
(1951, Londres edio crtica bilnge ingls/latim) e de A. Traglia (1974,
Turim edio com aparato crtico).
Alm dessas edies crticas do DLL completo h ainda algumas
parciais com aparato crtico, notas e traduo: de Jean Collart (1954, Paris, livro
V), de E. Riganti (1978, Bolonha, livro VI), H. Dahlmann (1940 e 1966,
Berlim, livro VIII), H. J. Mette (1952, Halle, do livro VIII ao X), A. Traglia
(1956, Bari e 1967 em Roma), Pierre Flobert (1985, Paris, livro VI) e de
Manuel-Antonio Marcos Casquero (1990, Barcelona, do livro V ao X edio
sem aparato crtico).
Segundo dados retirados principalmente das obras de Jean Collart (1954 e
1978) e de Francisco Della Corte (1978), o De Lingua Latina foi previsto
dentro de um esquema rigoroso e bem articulado. O primeiro livro se dedica introduo, seguida de quatro blocos de seis livros (hxadas), subdivididos em
duas partes (trades) cada um deles.
Os seis primeiros livros (do II ao VII) tratam sobre etimologia. Destes,
como j disse antes, sobreviveram trs (do V ao VII). Na primeira trade
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dedicada a P. Septmio, infelizmente perdida dessa primeira hxada Varro
exps sobre o carter terico da etimologia. Na segunda trade dedicada a
Ccero ele apresenta no livro V um vasto repertrio (de carter prtico)
etimolgico de termos relativos a espao, no livro VI de termos relacionados atempo e no livro VII os usados pelos poetas referentes a tempo e espao.
Para a segunda hxada estava prevista a parte dedicada morfologia. A
primeira trade tambm sobrevivente trata sobre a teoria da deriuatio
(flexo, derivao e declinao) das palavras em latim. O livro VIII traz
argumentos contra a analogia, o livro IX argumentos contra a anomalia e o livro
X expe em relao ao que Varro acreditava ser a verdadeira analogia. Na
segunda trade estava apresentada a prtica, isto , havia exemplos prticos em
relao morfologia.
Do livro XI ao XXV, com base nos estudos filolgicos e edies crticas,
h a hiptese de que na segunda trade da segunda hxada o livro XI trouxesse
exemplos prticos da deriuatio na lngua falada, o livro XII da deriuatio na
lngua escrita em prosa e o livro XIII da deriuationa lngua escrita em poesia.
Para as duas hxadas seguintes (do livro XIV ao XXV) havia a previso,
ainda segundo esses importantes estudos filolgicos e edies crticas, de
Varro se dedicar exposio sobre sintaxe, com base no plano geral do DLL
por ele exposto no captulo I, pargrafo 1 do livro V: quemadmodum uocabula
essent imposita rebus in lingua Latina, sex libris exponere institui(decidi expor
em seis livros de que maneira os vocbulos teriam sido aplicados s coisas em
lngua latina) e em VII-110 do livro VII: quocirca quoniam omnis operis de
Lingua Latina tris feci partis, primo quemadmodum vocabula imposita essent
rebus, secundo quemadmodum ea in casus declinarentur, tertio quemadmodum
coniungerentur, prima parte perpetrata, ut secundam ordiri possim, huic librofaciam finem (por conseguinte, como toda a obra De Lingua Latina foi
estruturada em trs partes a primeira a de que maneira os vocbulos foram
aplicados s coisas, a segunda como se declinam esses vocbulos em seus
diferentes casos e a terceira a de que maneira esses vocbulos se juntam /no
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enunciado/ , terminada a primeira, iniciarei este livro para que eu possa
comear a segunda).
Entretanto apesar de grande parte do DLL ter sido perdida, esses livros
sobreviventes conservaram importante documentao filolgico-gramatical noque diz respeito etimologia com base nos estudos de Varro sobre textos em
prosa e em poesia.
NoDLLVarro toca em questes gramaticais, lingsticas e filolgicas
poca prprias da filosofia. Nesse aspecto ele contribuiu enormemente para que
a gramtica como referi na introduo desta dissertao se tornasse uma
cincia independente tal como hoje.
A importncia do livro VIII
A importncia do livro VIII doDLLnesse contexto explica-se exatamente
pelo fato de tratar diretamente da polmica entre analogistas e anomalistas.
Voltar as atenes ao exame dessa polmica levou Varro a tocar em problemas
especificamente gramaticais mesmo que deles ele no tivesse plena conscincia.
Portanto, o papel do livro VIII (alm do IX e do X que fazem parte de uma
trade) foi de extrema importncia para o avano dos estudos gramtico-
filolgicos e lingsticos. Isso fica mais evidente e mais bem explicitado em
meus comentrios sobre esse livro logo aps a parte em que est a sua traduo
e o texto em latim, com notas, apontamentos e observaes.
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DE LINGUA LATINA
TRADUO DO LIVRO VIII
De Lingua Latina
Marci Terenti Varronis
Liber VII explicit, incipit Liber VIII
Quae dicantur cur non sit analogia liber 1.
I- 1 Quom oratio natura tripertita esset, ut superioribus libris ostendi,
cuius prima pars, quemadmodum uocabula rebus essent imposita, secunda, quo
pacto de his declinata in discrimina ierint, tertia, ut ea inter se ratione
coniuncta sententiam efferant, prima parte exposita de secunda incipiam hinc.
Ut propago omnis natura secunda, quod prius illud rectum, unde ea, sic
declinata: itaque declinatur in uerbis: rectum homo, obliquum hominis, quod
declinatum a recto.
Da Lngua Latina
de Marcos Terncio Varro
Est apresentado o livro VII; comea o livro VIII.
O que se diz por que no exista analogia livro I
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I- 1 Como a linguagem por natureza1 se divide em trs partes, como
demonstrei nos livros anteriores2 a primeira delas se refere a como os
vocbulos foram aplicados s coisas, a segunda a de que maneira seus
derivados tenham passado por significados diferentes, a terceira a como,combinados entre si num complexo de regras, eles exponham um pensamento
tendo exposto a primeira parte, daqui comearei a falar sobre a segunda. Do
mesmo modo que toda forma derivada , por natureza, secundria porque
antes vem aquela forma reta donde ela se originou , assim se declina nas
palavras: a forma reta3 homo (homem) e a oblqua4 hominis (do homem),
porque se derivou a partir da reta.
1 O termo natura ao longo deste livro VIII tem um significado filosfico porque mesmo napoca em que ele foi escrito apesar de j se dedicar unicamente a questes gramaticais os
problemas relacionados linguagem ainda eram tratados no mbito da filosofia (como se verno desenvolvimento desta dissertao). Por isso, este livro de Varro est impregnado deconceitos e idias filosficas da antiguidade.Para Pitgoras a opinio do qual deve ser examinada com reservas porque problemtica aconfigurao do pensamento pitagrico original que apenas encontrado em esclios tardioscomprometidos com distines posteriores a linguagem obra da natureza, conforme oCrtilo[obra de Plato]. Os nomes so puras imagens das coisas e o ato de dar nomes s coisasno obra do acaso, mas de algum que entende a natureza das coisas: da resulta que as
palavras existem fusei (por natureza). Segundo outras fontes, tambm indiretas e tardias, no
pensamento de Pitgoras h a idia de um ser primeiro que deu nome a todas as coisas e ento alinguagem seria qesei(por conveno) no fusei(Neves, 1987, p. 32).J para os esticos nem toda linguagem obra da natureza, mas apenas a correta o que
pressupe a busca da orqothj(correo, virtude) e para tanto a linguagem possui qualidades quedeveriam ser buscadas: clareza, conciso, convenincia, propriedade e helenismo ou latinitas,
para os romanos isto , o uso da expresso autenticamente grega (latina, no caso de Varro)no comprometida por elementos estranhos (Ibid, ibidem, p. 97).2 O De Lingua Latina possua originalmente 25 livros, dos quais apenas seis (do V ao X)chegaram at ns. Mesmo assim com algumas partes faltando. Segundo M. A. M Casquero(1990), apud Heitor Coradini, conjetura-se que o DLL tenha sido dividido em dois blocosdesiguais e uma Introduo (livro I). No primeiro deles, os trs livros iniciais (do II ao IV)foram escritos como monografia sobre etimologia inflelizmente perdidos. O segundo (do V aoXXV), dedicado morfologia e sintaxe. Contudo, nos livros V, VI e VII Varro tambm se
dedica etimologia, mais exatamente sua prtica.Neste trecho de minha traduo Varro avisa ter concludo exatamente essa parte sobreetimologia. Da em diante ele pode dar incio ao segundo bloco e seguir seu plano geral doDLL.3No geral o adjetivo rectuspode significar direto, direito; reto; simples; limite. Neste pargraforectus se refere a caso reto, conceito gramatical, para designar o nominativo. Isto porquemorfologicamente s pode estar no nominativo um nome que, em latim, compreendesubstantivo, pronome e artigo. A partir desse nome podem-se gerar outras palavras, nonecessariamente um nome.
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2 De huiusce(modi)5 multiplici natura discriminum (ca)usae sunt hae,
cur et quo et quemadmodum in loquendo declinata sunt uerba. De quibus duo
prima duabus causis percurram breuiter, quod et tum, cum de copia uerborum
scribam, erit retractandum et quod de tribus tertium quod est habet suaspermultas ac magnas partes.
2 A respeito de tal natureza multiforme os motivos das diferenas so
estes: por que, para que e de que maneira as palavras so flexionadas na fala6.
Dentre eles, examinarei brevemente os dois primeiros por duas razes: porque
/esse assunto/7dever ser reproduzido quando eu escrever sobre a abundncia
lexical e porque dentre os trs o terceiro /ponto/ contm numerosas e
importantes divises prprias.
II- 3 Declinatio inducta in sermones non solum Latinos, sed omnium
hominum utili et necessaria de causa: nisi enim ita esset factum, neque
di(s)cere tantum numerum uerborum possemus (infinitae enim sunt naturae in
quas ea declinantur) neque quae didicissemus, ex his, quae inter se rerum
cognatio esset, appareret. At nunc ideo uidemus, quod simile est, quod
4 Obliquus (em grego, lexrioj) pode significar oblquo, indireto, derivado; parentesco; ligaocolateral, no direta; casos oblquos. assim denominado em relao ao caso reto exatamente
por esse significado. Principalmente como derivado e ligao colateral, ou ligao familiar, emconformidade com o ponto de vista de Varro que procura explicar essa relao traando um
paralelo com o significado de rvore genealgica que, segundo ele, no apenas as pessoas apossuem, mas tambm as palavras.5 Esses parnteses sero encontrados ao longo de todo o texto do livro VIII no original emlatim. Eles foram colocados, segundo Roland G. Kent, no estabelecimento de sua edio crticacom base no Codex Vindobonensis, do sculo XV, de Viena, examinado por L. Spengel em1835. Os termos, frases ou mesmo letras que aparecem entre parnteses foram neles colocadosdevido existncia de mais de um manuscrito do DeLinguaLatina. Poderiam ser anotaes ou mesmo acrscimo de copistas, tornando discrepantes os textos desses manuscritos quechegaram at ns. Por isso, para no correr o risco de divulgar o De Lingua Latina maistruncado ainda (v. nota 2) Spengel optou pela manuteno desses termos, frases e at letras.6 Neste pargrafo Varro se refere fala com a expresso in loquendo, pois sua anlise dadeclinatio engloba no apenas textos escritos, mas tambm o modo de falar de sua poca,embora se refira fala de uma minoria erudita. De qualquer forma bem diferente da escrita,
pois aquela (a fala) muito mais suscetvel a influncias e, portanto, se modifica mais rpida eintensamente.
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propagatum: legi (c)um (de lego) declinatum est, duo simul apparent, quodam
modo eadem dici et non eodem tempore factum; at si uerbi gratia alterum
horum diceretur Priamus, alterum Hecuba, nullam unitatem adsignificaret,
quae apparet in lego et legi et in Priamus Priamo.
II- 3 A derivao foi introduzida em linguagens8no apenas latinas, mas
/nas/ de todos os homens por um motivo til e necessrio: de fato se assim no
tivesse sido feito nem poderamos aprender um to grande nmero de palavras
(na verdade so infinitas as formas9 em que elas se derivam), nem no que se
refere s que tivssemos aprendido a partir delas ficaria claro que semelhana
haveria entre elas. Mas agora por essa razo percebemos o que semelhante
/pelo/ que foi produzido10. Quando se flexiona legi (li) a partir de lego (leio)
duas coisas ficam simultaneamente evidentes: que, de certo modo, so ditas
coisas idnticas e que no se agiu no mesmo tempo. Mas se, por exemplo, uma
dessas palavras fosse Priamus e outra Hecuba no ficaria indicada unidade11
alguma, como aparece em lego, legie em Priamus, Priamo12.
7Os termos ou as expresses entre barras ao longo desta traduo foram inseridos por mim paracompletar o sentido das frases, pois so necessrios para a compreenso do texto em portugus.8Para se referir linguagem Varro usa o termo sermoneste pargrafo, mas em I-1 usou oratioque, normalmente tem o sentido de enunciado, no de linguagem.9Neste trecho traduzi naturacomoforma, uma acepo de aspecto, porque no possui o mesmosentido com que aparece ao longo deste livro VIII.10Aqui traduzi propagatumcomo o que foi produzido porque Varro quis enfatizar aquelesentido depropagoutilizado por ele logo no incio deste livro (I, 1) para indicar que as palavrasderivadas possuem semelhana com aquela da qual se originaram.11 Unitas pode designar no geral identidade, perfeita semelhana, harmonia, acordo. Nestetrecho a unitas a que Varro se refere diz respeito identidade da palavra, ou melhor, duas
palavras possuem unidade porque tm o mesmo radical. Trata-se no de desinncias
semelhantes, mas de radicais idnticos no s graficamente, mas tambm semanticamente.Portanto tais palavras tm identidade porque partem do mesmo significado. O significado quedeu origem palavra primeira, de quando foi aplicada a alguma coisa.12PriamusPriamo exemplo usado por Varro para justificar o que significa a unitasa que serefere neste trecho (v. nota 11). Os dois termos possuem em comum o radical Priam-, que lhesgarante o mesmo significado, ou melhor, o flexionado (Priamo)parte do sentido do termo deque se originou. E as desinncias so as diferenas a que Varro se refere. Neste exemplo - usindica nominativo singular e -oablativo singular, justamente para diferenciar a funo sintticade cada termo no enunciado.
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4 Ut in hominibus quaedam sunt agnationes ac gentilitates, sic in
verbis: ut enim ab Aemilio homines orti Aemilii ac gentiles, sic ab Aemilii
nomine declinatae uoces in gentilitate nominali: ab eo enim, quod est
impositum recto casu Aemilius, orta Aemilii, Aemilium, Aemilios, Aemiliorumet sic reliquae eiusdem quae sunt stirpis.
4 Do mesmo modo que entre os homens existe algum parentesco e
consanginidade assim tambm se d entre as palavras: da mesma maneira,
pois, a partir de um Emlio provm os Emlios e suas famlias, bem como do
nome Emlio so formadas palavras em relao ao nome da famlia: a partir
disso, pois, como Aemilius dado no nominativo, so gerados Aemili,
Aemilium,Aemilios,Aemiliorume tambm os restantes dessa mesma famlia.
5 Duo igitur omnino uerborum principia, impositio (et declinatio),
alterum ut fons, alterum ut riuus. Impositicia nomina esse uoluerunt quam
paucissima, quo citius ediscere possent, declinata quam plurima, quo facilius
omnes quibus ad usum opus esset dicerent.
5 Por conseguinte, no geral, so duas as origens das palavras13: a
aplicao de um nome e a flexo. Uma como nascente, outra como rio.
Quiseram que houvesse bem poucos nomes aplicados14 para que mais
rapidamente pudessem decor-los; os derivados em grande nmero para que
todos considerassem mais facilmente os que fossem necessrios para o uso.
13Pelo contexto, neste trecho, a origem das palavras se refere aos processos de formao e dederivao de palavras, e no ao fenmeno que deu origem fala e, conseqentemente, escrita
em torno do qual h muitas controvrsias.14 Para os pitagricos apenas quem entende a natureza das coisas que poderia criar novas
palavras, isto , dar nome s coisas (v. nota 1). Para Varro, no entanto apesar da forteinfluncia pitagrica que sofreu , vrias pessoas poderiam faz-lo: os antigos romanos, pais da
ptria e da lngua, conforme ele prprio afirma na frase impositicia nomina esse uolueruntquam.paucissima(quiseram que houvesse bem poucos nomes aplicados).
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6 Ad illud genus, quod prius, historia opus est: nisi discendo enim aliter
id non peruenit ad nos; ad reliquum genus, quod posterius, ars: ad quam opus
est paucis praeceptis quae sunt breuia. Qua enim ratione in uno uocabulo
declinare didiceris, in infinito numero nominum uti possis: itaque nouisnominibus allatis (in) consuetudinem sine dubitatione eorum declinatus statim
omnis dicit populus; etiam nouicii servi empti in magna familia cito omnium
conseruorum (n)om(i)na recto casu accepto in reliquos obliquos declinant.
6 Em relao a esse primeiro tipo de palavras necessrio /servir-se/ da
histria, pois o conhecimento delas no chega at ns de outro modo seno com
o estudo; quanto ao segundo, porque /vem/ depois, necessrio /servir-se/ da
gramtica, para a qual so necessrios poucos preceitos15, que so breves. Com
efeito, j que se aprende a declinar pela regra de uma nica palavra pode-se
usar esse aprendizado para um nmero infinito de nomes. E assim, sendo
produzidos novos nomes para a fala habitual, sem dvida a flexo deles todo o
povo entende sem demora; alm disso, os escravos recm-comprados por uma
grande famlia ao conhecerem os nomes de todos os seus companheiros de
escravido no nominativo logo os declinam nos outros casos oblquos.
7 Qui s(i) non numquam offendunt, non est mirum: et enim illi qui primi
nomina imposuerunt rebus fortasse an in quibusdam sint lapsi: uoluis(se) enim
putant(ur) singularis res notare, ut ex his in multitudine(m) declinaretur, ab
homine homines; sic mares liberos uoluisse notari, ut ex his feminae
declinarentur, ut est ab Terentio Terentia; sic in recto casu quas imponerent
uoces, ut illinc essent futurae quo declinarentur: sed haec in omnibus tenere
15 Neste trecho Varro quis dizer que s com o estudo gramatical, isto , s com a anlisemorfolgica e/ou semntica, no h como conhecer profundamente as palavras, no h comoconhecer sua trajetria, entender quais significados elas foram adquirindo ao longo do tempo,que influncias receberam etc. Porque sozinhas as regras gramaticais no do conta disso. Hnecessidade do auxlio de outra(s) cincia(s). Neste caso, conforme Varro, trata-se da histria.Atualmente, o conhecimento da trajetria de uma palavra (do terminusa quo ao terminus adquem) constitui o campo de estudos da filologia romnica.
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nequisse, quod et una(e) et (binae) dicuntur scopae, et mas et femina aquila, et
recto et obliquo uocabulo uis.
7 No de admirar se por ventura aqueles dois /tipos de palavra/ sechocarem alguma vez, pois tambm os que primeiramente aplicaram nomes s
coisas talvez tenham cometido erros em alguns momentos. De fato, imagina-se
terem pretendido dar nome s coisas no singular para que a partir deles se
flexionasse no plural: hominesde homo (homem); bem como imagina-se terem
pretendido denominar os filhos homens nascidos livres para que a partir deles
fossem flexionados os das filhas, como Terentia de Terentius. Assim
determinariam esses termos no nominativo para que da usassem os futuros
vocbulos a que fossem derivados. Mas no se pode apegar a essas questes
todo tempo porque scopae (vassouras) so ditas tanto unae quanto binae16;
aquila (guia) tanto masculino como feminino; uis (fora) tanto o
nominativo como o genitivo.
8 Cur haec non tam si(n)t in culpa quam putant, pleraque soluere non
difficile, sed nunc non necesse: non enim qui potuerint adsequi sed qui
uoluerint, ad hoc quod propositum refert, quod nihilo minus declinari potest ab
eo quod imposuerunt scopae scopa(rum), quam si imposuissent scopa, ab eo
scopae sic alia.
8 A maior parte das vezes no difcil de explicar por que essas
situaes no ocorram tanto por imperfeio quanto se julga. Mas no
16
Varro constata o fato de que no h como declinar alguns termos com base no paradigmaestabelecido (declinar a partir de uma palavra no masculino, singular) porque so usados tantono singular quanto no plural, citando como exemplo scopae. Ele comenta isso adiante em III-8dizendo que esse paradigma s poderia ser usado se scopaetivesse sido estabelecida a partir dosingular scopae no do plural. Neste mesmo trecho cita ainda aquilae uis. Aquila tanto podeser do gnero masculino quanto do gnero feminino, e uis funciona tanto como nominativoquanto como genitivo. Tais exemplos so usados por Varro como argumento para comprovarque realmente no existe analogia. Se existisse no deveria haver teoricamente esses tiposde problemas.
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necessrio /ver este assunto/ neste momento. Pois no importante como
tenham podido alcanar o propsito em relao a isso, mas como o tenham
desejado, pois por forma nenhuma scopae scoparum pode ser flexionado a
partir desse nominativo como estabeleceram, o que poderia ocorrer se tivessemestabelecido scopaea partir de scopa, como outros.
III- 9 Causa, inquam, cur eas ab impositis nominibus declinarint, quam
ostendi; sequitur, in quas uoluerint declinari aut noluerint, ut generatim ac
summatim item informem. Duo enim genera uerborum, unum fecundum, quod
declinando multas ex se parit disparilis formas, ut est lego legi legam, sic alia,
alterum genus sterile, quod ex se parit nihil, ut est et iam uix cras magis cur.
III- 9 Para mim, a razo por que tenham derivado essas palavras a partir
de nomes dados no nominativo, como mostrei, basta para que eu exponha
genrica e sucintamente em relao a quais delas tenham desejado ou no que
fossem derivadas. H, pois, dois tipos de palavra: um frtil17porque a partir
de si ao flexionar gera muitas formas diferentes, como lego (leio), legi (li),
legam(lerei); outro, improdutivo18porque a partir de si no gera nada, como et
(e, tambm), iam (j), uix (apenas, com dificuldade), cras (amanh, no dia
seguinte), magis (mais), cur (por que, de que, do que, por que causa).
10 Quarum rerum usus erat simplex, (simplex) ibi etiam uocabuli
declinatus, ut in qua domo unus seruus, uno seruili opust nomine, in qua multi,
pluribus. Igitur et in his rebus quae sunt nomina, quod discrimina uocis plura,
propagines plures, et in his rebus quae copulae sunt ac iungunt uerba, quod
non opus fuit declinari in plura, fere singula sunt: uno enim loro alligare possis17Varro se refere neste trecho a substantivo, verbo, adjetivo classes de palavras que admitemflexo de nmero, caso, gnero e grau (no latim) , a partir dos quais outras palavras podem serformadas.18Aqui Varro fala de conjunes e advrbios que no admitem nenhum tipo de flexo e nemgeram outras palavras. As conjunes ele as chama de fulmentum (suporte) e delas trata no
pargrafo seguinte.
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uel hominem uel equum uel aliud quod, quicquid est quod cum altero potest
colligari. Sic quod dicimus in loquendo Consul fuit Tullius et Antonius,
eodem illo et omnis binos consules colligare possumus, uel dicam amplius,
omnia nomina, atque adeo etiam omnia uerba, cum fulmentum ex una syllabaillud et maneat unum. Quare duce natura (factum)st, quae imposita essent
uocabula rebus, ne ab omnibus his declinatus putaremus.
10 O uso daquelas coisas era simples, ento a derivao de um vocbulo
tambm era simples como na casa em que h um nico escravo necessrio
um nico nome de escravo e onde h muitos so necessrios tambm muitos
nomes. Portanto tambm nessas coisas que tm nomes, visto que h muitas
variaes de uma palavra, so mltiplos os derivados; e naquelas que existem
para ligao e unem palavras normalmente h um nico porque no foi
necessrio flexion-las em mltiplas outras. De fato, com uma s correia pode-
se amarrar um homem, um cavalo ou qualquer coisa que possa ser ligada a uma
outra. Assim quando dizemos na fala Tlio e Antonio foram cnsules com
esse mesmo e podemos unir todas as parelhas de cnsules e, alm disso, eu
diria todos os nomes e tambm absolutamente todas as palavras, enquanto
aquele suporte e de uma nica slaba permanece ntegro. Por isso, com a
natureza como condutor, aconteceu que aqueles vocbulos fossem aplicados s
coisas para que a partir de todos eles considerssemos as derivaes.
IV- 11 Quorum generum declinationes oriantur, partes orationis sunt
duae, (ni)si item ut Dion in tris diuiserimus partes res quae uerbis
significantur: unam quae adsignificat casus, alteram quae tempora, tertia(m)
quae neutrum. De his Aristoteles orationis duas partes esse dicit: uocabula etuerba, ut homo et equus, et legit et currit.
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IV- 11 Quanto a que tipos de palavras so as que do origem s flexes
as partes do enunciado19 so duas, a no ser que tal como Dio20 tivermos
dividido em trs categorias as coisas que tomam um significado atravs das
palavras. Uma, que indica os casos; outra, os tempos; a terceira, que /noindica/ nenhum dos dois. Sobre esses assuntos, Aristteles21 diz haver duas
partes do enunciado: nomes e verbos, como homo (homem) e equus (cavalo),
legit(colhe) e currit (corre).
12 Utriusque generis, et uocabuli et uerbi, quaedam priora, quaedam
posteriora; priora ut homo, scribit, posteriora ut doctus et docte: dicitur enim
homo doctus et scribit docte. Haec sequitur locus et tempus, quod neque homo
nec scribi(t) potest sine loco et tempore esse, ita ut magis sit locus homini
coniunctus, tempus scriptioni.
12 De cada um desses tipos nomes e verbos h umas formas
primrias outras secundrias22. Primrias: homo, scribit (escreve), secundrias:
19Pelo incio deste trecho fica claro que Varro entendia como tambm partes do enunciado as
preposies, as conjunes e os advrbios. Ou melhor, ao registrar tratar-se das palavras por eleconsideradas frteis ao dizer quorum generum declinationes oriantur (quanto a que tipos de
palavra so as que do origem s flexes).20 Conforme Roland G. Kent (1999, p. 379), Dio nascido na Alexandria em 56 a.C.freqentava a Academia.21 Segundo Aristteles, Compem o todo da linguagem as seguintes partes: letra, slaba,conectivo, articulao, nome, verbo, flexo, frase. (...) Nome um som composto significativo,sem referncia a tempo, do qual nenhuma parte de si significativa, pois nas composies dedois elementos no os empregamos como tendo cada um o seu sentido; por exemplo - doro, emTeodoro, nada significa. Verbo um som composto, com significado, com referncia a tempo,do qual nenhuma parte tem sentido prprio, como no caso dos nomes; com efeito, homem, oubranco, no do idia de quando, mas anda, ou andou, trazem de acrscimo, um a idia dotempo presente, o outro a do passado. Flexo acidente do nome ou do verbo, que ou significa
deou ae relaes que tais, ou d a idia de umou muitos, por exemplo, homensou homem, ou,com a inflexo do ator, uma pergunta, ou uma ordem; com efeito, as vozes caminhou? , oucaminha, so flexes de um verbo segundo esses aspectos (Potica, XX traduo de JaimeBruna; grifos meus).22A noo de primria e secundria no trecho em questo diz respeito ordem dos termos noenunciado e sua importncia para o entendimento do mesmo. Primrias so as palavras maisimportantes porque sem elas esse entendimento fica prejudicado. Trata-se dos nomes e verbos.E secundrias as palavras ditas acessrias que servem umas os advrbios para modificar oaspecto da ao indicada pelo verbo e outras os adjetivos para qualificar os nomes. So
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doctus(douto) e docte (doutamente). Diz-se, pois, homo doctus(homem douto)
e scribit docte (escreve doutamente). Essas expresses obedecem a lugar e
tempo, porque nem homonem scribitpodem existir sem lugar e tempo; tanto
que lugar est mais vinculado a homoe tempo a scribit.
13 Cum de his nomen sit primum (prius enim nomen est quam uerbum
temporale et reliqua posterius quam nomen et uerbum), prima igitur nomina:
quare de eorum declinatione quam de uerborum ante dicam.
13 J que dessas categorias a primeira seja o nome (de fato, o nome vem
antes do verbo que designa tempo e as categorias restantes depois do nome e do
verbo), por conseguinte os substantivos prprios so os primeiros. Por isso
tratarei sobre a flexo deles antes que sobre a dos verbos.
V- 14 Nomina declinantur aut in earum rerum discrimina, quarum
nomina sunt, ut ab Terentius Terenti(a), aut in ea(s) res extrinsecus, quarum ea
nomina non sunt, ut ab equo equiso. In sua discrimina declinantur aut propter
ipsius rei naturam de qua dicitur aut propter illius (usum) qui dicit. Propter
ipsius rei discrimina, aut ab toto (aut a parte. Quae a toto, declinata sunt aut
propter multitudinem aut propter exiguitatem. Propter exiguitatem), ut ab
homine homunculus, ab capite capitulum; propter multitudinem, ut ab homine
hominess; ab eo (abeo) quod alii dicunt ceruices et id Hortensius in poematis
ceruix.
V- 14 Os nomes so flexionados ou em conformidade com as diferenas
daquelas coisas de que provm23
, como Terentia a partir de Terentius ou,
acessrias porque sem tais palavras o entendimento central do enunciado no fica muito
prejudicado.23 Trata-se de uma questo morfolgica porque a forma derivada Terentia a partir deTerentiusno adquire um novo significado, apenas muda de gnero gramatical: de masculino
passa a feminino. Essa mudana obtida pela troca de suas terminaes: de -us que designa,
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externamente, em relao quelas coisas de que esses nomes no provm, como
equiso (cavaleiro) de equus24. Em conformidade com suas prprias diferenas
eles se derivam ou em razo da natureza da coisa em si sobre a qual se fala, ou
em razo do uso daquele que fala25. Em funo das diferenas da coisa em si /osnomes se flexionam/ ou com relao ao todo ou com relao parte. Os
flexionados com relao ao todo foram derivados em razo ou do plural ou do
diminutivo. Em razo do diminutivo: homunculusde homo, capitulum de caput.
Em razo do plural: hominesde homo. Omito aquele fato de que alguns digam
ceruicese em seus poemas Hortncio26diga ceruix.
15 Quae a parte declinata, aut a corpore, ut a mamma mammosae, a
manu manubria, aut ab animo, ut a prudentia pruden(te)s, ab ingenio ingeniosi.
Haec sine agitationibus; at ubi motus maiores, item ab animo (aut a corpore),
ut ab strenuitate et nobilitate strenui et nobiles, sic a pugnando et currendo
pugiles et cursores. Ut aliae declinationes ab animo, aliae a corpore, sic aliae
quae extra hominem, ut pecuniosi, agrarii, quod foris pecunia et ager.
15 Aqueles nomes flexionados com relao parte o fazem no que se
refere ou ao corpo como mammosae (tetuda) de mamma, manubria (asa,
cabo) de manus ou alma como prudentes de prudentia, ingeniosi de
neste exemplo, desinncia de palavra masculina passa a -a que indica, neste exemplo,
palavra feminina. Portanto, um simples caso de flexo de gnero.24 uma questo semntica porque a forma derivada equiso a partir de equus adquire umsignificado diferente daquele de quando equus foi originado. Equiso no diz respeitodiretamente a cavalo (animal irracional), mas sim a uma pessoa (animal racional), contudo
perfeitamente possvel um substantivo ser criado a partir de outro, morfologicamente falando.No entanto, semanticamente a forma equiso derivada a partir de equus pode causar certo
incmodo. Exatamente a isso Varro chama a ateno neste trecho.25Conforme Varro diz em II, 3, deste livro, percebemos o que semelhante /pelo/ que foiproduzidoporque a diferena entre uma e outra dada por desinncias ou terminaes, quecarregam importantes informaes morfolgicas e sintticas. Tais derivaes podem ocorrer porrazes morfolgicas para definir numa classe gramatical determinada seu gnero, nmero egrau; sintticas para marcar sua funo no enunciado, por meio dos casos; e semnticas,conforme o exemplo equiso(v. nota 24).26Quintus Hortensius Hortalus (114-50 a.C.), orador que tambm citado no incio de Brutus,de Ccero.
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ingenium. Esses vocbulos existem sem movimento. Entretanto, quando h
movimentos maiores, igualmente eles se referem ou alma ou ao corpo. Por
exemplo: strenui (valentes, cuidadosos) e nobiles a partir de strenuitas e de
nobilitas, pugiles e cursores de pugnare (lutar) e de currere (correr). Comoalgumas derivaes se referem alma e outras ao corpo, tambm h outras que
se referem a coisas extrnsecas ao homem: pecuniosi (ricos) e agrarii
(agricultores) porquepecuniae agerso externos ao homem.
VI- 16 Propter eorum qui dicunt usum declinati casus, uti is qui de
altero diceret, distinguere posset, cum uocaret, cum daret, cum accusaret, sic
alia eiusdem (modi) discrimina, quae nos et Graecos ad declinandum duxerunt.
Sine controuersia (sunt obliqui, qui nascuntur a recto: unde rectus an sit casus)
sunt qui quae(rant. Nos uero sex habemus, Graeci quinque): quis uocetur, ut
Hercules; quemadmodum uocetur, ut Hercule; quo uocetur, ut ad Herculem; a
quo uocetur, ut ab Hercule; cui uocetur, ut Herculi; cuius uocetur, ut Herculis .
VI- 16 Os casos so declinados pelo uso que os falantes fazem desses
/nomes/, de modo que aquele que conte sobre outrem possa diferenar quando
chame, quando d, quando censure, assim como outras diferenas de mesmo
tipo que levaram a ns e aos gregos a declinar. Sem controvrsia so
oblquos os casos gerados a partir do nominativo, do qual h aqueles que
questionem se seria um caso27. Os gregos tm cinco28 casos, ns por certo
27Nominativo o caso da denominao, da nomeao, da identidade, da identificao. ocaso do nome como ele , na sua expresso referencial [...] H tambm quem afirme que onominativo no um caso, talvez por influncia do registro tradicional dos nomes, nonominativo e genitivo e dos adjetivos no nominativo [...] a forma do nominativo seria a forma-
referncia e o genitivo enquadraria o nome nos diversos paradigmas (declinaes) [...] Onominativo um caso porque tem desinncia, e por isso tem uma funo. [Murachco, 2000,p. 88-92; grifos do autor.]28 O grego, como o latim, uma lngua sinttica basicamente porque exprime as relaessintticas das palavras por meio dos casos. O grego possui cinco casos: nominativo, vocativo,acusativo, genitivo e dativo. [O vocativo no propriamente uma funo; no faz parte domecanismo da frase, exterior a ela. uma espcie de interjeio, um chamado, um aceno, ogancho do dilogo, que bipolar, singular. prprio da oralidade.] Ao grego, em relao aolatim, falta o ablativo; contudo, as relaes que abrangem esse caso so expressas pela mesma
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temos seis: quem chamado, como Hercules; de que modo chamado, como
Hercule; para onde chamado, como ad Herculem; por quem chamado, como
ab Hercule; para quem chamado, comoHerculi; da parte de quem chamado,
comoHerculis.
VII- 17 Propter ea uerba quae erant proinde ac cognomina, ut prudens,
candidus, strenuus, quod in his praeterea sunt discrimina propter incrementum,
quod maius aut minus in his esse potest, accessit declinationum genus, ut a
candido candidius candidissimum sic a longo, diuite, id genus aliis ut fieret.
VII- 17 Com respeito quelas palavras equivalentes a sobrenomes29,
como prudens, candidus, strenuus, como nelas alm disso ocorrem diferenas
devido a um acrscimo que nelas pode dar-se exagerada ou escassamente,
aplicou-se um tipo de flexo como candidius e candidissimus a partir de
candidus e do mesmo modo em relao a longuse diues(rico) , para que esse
tipo de flexo ocorresse em outros vocbulos.
18 Quae in eas res quae extrinsecus declinantur, sunt ab equo equile, ab
ouibus ouile, sic alia: haec contraria illis quae supra dicta, ut a pecunia
pecuniosus, ab urbe urbanus, ab atro atratus: ut nonnunquam ab homine locus,
ab eo loco homo, ut ab Romulo Roma, ab Roma Romanus.
18 H aquelas derivaes que se formam com relao a essas coisas de
fora: equile (estrebaria) de equus, ouile (redil) de ouis, como outras. Essas
palavras acima mencionadas so opostas a estas:pecuniosus(rico em gado) de
desinncia do dativo tanto no singular quanto no plural. E o falante grego [...] no temdificuldades em entender e se fazer entender, mesmo no plano da oralidade (Murachco, Idem,
p. 83-93; grifos do autor)29Trata-se dos adjetivos. Neste trecho Varro fala sobre os graus do adjetivo comparativo esuperlativo para os quais, segundo ele, foi preciso aplicar um novo tipo de flexo por meio doacrscimo de uma desinncia (isto , sufixo; para Varro, incrementum) prpria (-ius para o
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pecunia, urbanus (urbano) de urbs, atratus (enegrecido, enlutado) de ater:
porque algumas vezes o lugar /recebe o nome/ de uma pessoa ou uma pessoa /o/
de um lugar, por exemplo:RomadeRomulus,RomanusdeRoma.
19 Aliquot modis declinata ea quae foris: nam aliter qui a maioribus
suis, Laton(i)us et Priamidae, aliter quae (a) facto, ut a praedando praeda, a
merendo merces; sic alia sunt, quae circum ire non difficile; sed quod genus
iam uidetur et alia urgent, omitto.
19 Aquelas palavras derivadas em relao a coisas de fora /o fazem/ por
alguns modos /diferentes/. De fato, de um modo os provenientes de seus
antepassados Latoniuse Priamidae; de outro os gerados a partir de uma ao:
praeda(roubo) depraedare, merces(salrio) de mereri(ser merecedor). Assim
como h outros a que no difcil acompanhar /a trajetria/. Mas deixo de lado
esse tipo de vocbulo porque j est claramente entendido e porque outros
reclamam /nossa ateno/.
VIII- 20 In uerborum genere quae tempora adsignificant, quod ea erant
tria, praeteritum, praesens, futurum, declinatio facienda fuit triplex, ut ab
saluto salutabam, salutabo; cum item personarum natura triplex esset, qui
loqueretur, (ad quem), de quo, haec ab eodem verbo declinata, quae in copia
uerborum explicabuntur.
VIII- 20 Em relao ao tipo de palavras que indicam tempos, como
existissem trs pretrito, presente e futuro tripla era a flexo a ser feita 30
por exemplo, salutabam (eu saudava) e salutabo (saudarei) de saluto (sado).
comparativo e -issimuspara o superlativo), como paradigma a ser seguido por outros vocbulosdessa mesma classe de palavras, conforme o prprio Varro diz na seqncia neste pargrafo.30 Em relao aos verbos a forma flexionada tambm no adquire novo significado, mas otempo da ao expressa por ela alterado. Portanto, Varro afirma existir essa tripla flexo
porque a desinncia -baindica pretrito imperfeito; -bofuturo; e -opresente.
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Como igualmente a natureza das pessoas /verbais/ fosse tripla a que falaria,
para quem e sobre quem31 estas so flexionadas a partir do mesmo verbo, as
quais se explicaro com a aplicao no grande nmero de verbos.
IX- 21 Quoniam dictum de duobus, declinatio cur et in qua(s) sit facta,
tertium quod relinquitur, quemadmodum, nunc dicetur. Declinationum genera
sunt duo, uoluntarium et naturale; uoluntarium est, quo ut cuiusque tulit
uoluntas declinauit. Sic tres cum emerunt Ephesi singulos seruos, nonnunquam
alius declinat nomen ab eo qui uendit Artemidorus, atque Artemam appellat,
alius a regione quod ibi emit, ab Ion(i)a Iona, alius quod Ephesi Ephesium, sic
alius ab alia aliqua re, ut uisum est.
IX- 21 Visto que se tratou sobre dois assuntos por que h derivao e
em quais vocbulos ela seja levada a efeito , agora se descrever um terceiro
que foi deixado de lado: de que maneira /isso se evidencia/. Os tipos de
derivao so dois: o voluntrio e o natural. voluntrio quando se formam
/palavras/ em razo do livre-arbtrio de cada pessoa. Assim quando trs pessoas
compraram um escravo de feso para cada uma, ocasionalmente uma batiza o
seu deArtemasa partir de Artemidorus, o nome de quem o vendeu; a outra de
Ionaa partir de Jnia, o nome da regio em que o comprou; a outra de Ephesius
por ser de feso. Como se v, cada pessoa /forma um nome/ por um motivo
diferente.
22 Contra naturalem declinationem dico, quae non a singulorum oritur
uoluntate, sed a com(m)uni consensu. Itaque omnes impositis nominibus eorum
31 Pessoa verbal neste trecho refere-se aos participantes da comunicao e do enunciado
produzido. A situao de comunicao definida pela relao entre um falante que enuncia eum outro a quem o enunciado dirigido. A comunicao implica pois um falante (o eu) que o centro da comunicao, um interlocutor (o tu) para quem ela dirigida, e algo ou algumenunciado (o ele) sobre o que se fala. Primeiramente h distino entre o eu e o que no oeu (o interlocutor) que na interao verbal pode, por seu turno, tornar-se um falante. Depoisa distino entre o eu e o ele, o objeto da comunicao.
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item declinant casus atque eodem modo dicunt huius Artemidori et huius Ionis
et huius Ephesi, sic in casibus aliis.
22 Ao contrrio, defino declinatio naturale aquele nome derivado noem razo do livre-arbtrio de cada um, mas em razo do consenso comum. E
assim desses, sendo/-lhes/ aplicados nomes, todos igualmente flexionam os
casos oblquos e do mesmo modo pronunciam huius Artemidori (deste
Artemidoro), huius Jonis(deste Jnio) e huius Ephesi (deste feso), como nos
demais casos.
23 Cum utrumque nonnunquam accidat, et ut in uoluntaria declinatione
animaduertatur natura et in naturali uoluntas, quae, cuiusmodi sint, aperientur
infra; quod utraque declinatione alia fiunt similia, alia dissimilia, de eo Graeci
Latinique libros fecerunt multos, partim cum alii putarent in loquendo ea uerba
sequi oportere, quae ab similibus similiter essent declinata, quas appellarunt
analogiaj, alii cum id neglegendum putarent ac potius sequendam
(dis)similitudinem, quae in consuetudine est, quam uocarunt anwmalian, cum, ut
ego arbitror, utrumque sit nobis sequendum, quod (in) declinatione uoluntaria
sit anomalia, in naturali magis analogia.
23 Como algumas vezes ocorrem esses dois /tipos de derivao/, porque
tanto na derivao voluntria se observa a natureza quanto na derivao natural
o livre-arbtrio, mais adiante se mostrar de que espcie elas sejam. Porque em
ambas as derivaes so geradas algumas /formas/ semelhantes e outras
diferentes, sobre esse tema gregos e latinos produziram muitos livros, j que
uns32
, em parte, consideravam ser preciso adotar na fala essas palavras quetivessem sido geradas por semelhana a partir de semelhantes a que
32Os analogistas (eruditos alexandrinos) que viam a lngua como conveno (qesij). Para eles,as conjugaes e declinaes corresponderiam a modelos-base convencionais (Collart, 1978, p.16).
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denominaram de analogiai (analogia); outros33 porque consideravam que isso
devia ser negligenciado e, de preferncia, devia ser adotada a dessemelhana
que existe na fala habitual a que chamaram a[n]wmaliai (anomalia). No meu
entender, ambas deveriam ser adotadas34porque na derivao voluntria ocorraa anomalia e na natural, com mais freqncia, a analogia.
24 De quibus utriusque generis declinationibus libros faciam bis ternos,
prioris tris de earum declinationum disciplina, posteriores de eius disciplinae
propaginibus. De prioribus primus erit hic, quae contra similitudinem
declinationum dicantur, secundus, quae contra dissimilitudinem, tertius de
similitudinum forma; de quibus quae expediero singulis tribus, tum de alteristotidem scribere ac diuidere incipiam.
24 Sobre esses dois tipos de derivao produzirei seis livros35: os trs
primeiros sobre a teoria dessas derivaes; os seguintes sobre os resultados
prticos dessa teoria. Daqueles iniciais o primeiro ser este: o que se diz contra
a semelhana das derivaes; o segundo o que se diz contra a dessemelhana; o
terceiro sobre a forma das semelhanas. Sobre esses assuntos quando eu tiver
dado explicaes em cada um dos trs, ento comearei a escrever sobre outros
assuntos e a dividir segundo essa mesma proporo.
33Os anomalistas (esticos) que entendiam a lngua como natural (fusij). Segundo eles, as regrasgerais gramaticais seriam insignificantes e as variedades e irregularidades reinariam sobre alinguagem, como a natureza (Collart, 1978, p. 16).34 Neste pargrafo Varro trata de derivao voluntria e derivao natural especificamente,mas ele j deixa bem claro qual sua posio em relao analogia e anomalia. Ele aprova aambas, com ressalvas, conforme se perceber ao longo deste texto traduzido. Essa posio podeser percebida porque, como esses tipos de derivao sejam perfeitamente possveis de ocorrer,
seria plausvel que levassem em conta ou a analogia ou a anomalia, mas no as duas (oualgumas caractersticas de cada uma delas) ao mesmo tempo. Varro chama a ateno para issoao afirmar que curiosamente na derivao voluntria h exemplos de anomalia e na derivaonatural exemplos de analogia. O que teoricamente ou melhor, pelo ponto de vista tanto dosanalogistas quanto dos anomalistas no deveria acontecer.35 O De Lingua Latina foi constitudo originalmente em 25 livros, divididos em trs partes:etimologia, morfologia e sintaxe. Individualmente cada livro constitui uma unidade, mas
pertencente a uma srie de trs livros que, por sua vez, se agrupam em duas partes constituindoum bloco completo de seis livros (ver nota 2).
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X- 25 Quod huiusce libri est dicere contra eos qui similitudinem
sequuntur, quae est ut in aetate puer ad senem, (puella) ad anum, in uerbis ut
est scribo scribam, dicam prius contra uniuersam analogiam, dein tum desingulis partibus. A natura sermo(nis) incipiam.
X- 25 Como o assunto deste livro falar contra aqueles que seguem a
analogia, que ocorre tal como em relao idade entre um menino e um velho,
uma menina e uma velha, em relao aos verbos, como acontece em scribo
(escrevo) e scribam (escreverei), referirei antes contra a analogia em geral,
depois, sobre cada uma das partes. Iniciarei pela natureza da linguagem.
XI- 26 Omnis oratio cum debeat dirigi ad utilitatem, ad quam tum
denique peruenit, si est aperta et breuis, quae petimus, quod obscurus et
longi(or) orator est odio; et cum efficiat aperta, ut intellegatur, breuis, ut cito
intellegatur, et aperta(m) consuetudo, breuem temperantia loquentis, et
utrumque fieri possit sine analogia, nihil ea opus est. Neque enim, utrum
Herculi an Herculis clauam dici oporteat, si doceat analogia, cum utrumque sit
in consuetudine, non neglegendum, quod aeque sunt et breui(a) et aperta.
XI- 26 Todo discurso, como deva ser concebido para a utilidade, qual
ento afinal ele chega se claro e breve, como determinamos, porque um
orador prolixo e difcil de compreender faz perder a pacincia, e como fique
claro para que se compreenda e breve para que logo se compreenda, para os
eloqentes o costume /torna o discurso/ claro e a moderao, breve. E ambos
podem ser produzidos sem a analogia ela no necessria. Pois nem se aanalogia ensinar que seja correto dizer Herculi clauamou Herculis clauam (o
cajado de Hrcules), como ambos so permitidos no uso no se deve desprez-
los, pois so igualmente breves e claros.
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XII- 27 Praeterea quoius utilitatis causa quaeque res sit inuenta, si ex
ea quis id sit consecutus, amplius ea(m) scrutari cum sit nimium otiosi, et cum
utilitatis causa uerba ideo sint imposita rebus ut ea(s) significent, si id
consequimur una consuetudine, nihil prodest analogia.
XII- 27 Alm disso se algum a partir de uma coisa compreendeu que
cada uma delas tenha sido inventada em razo dessa utilidade /poder/
pesquis-la por um prazo maior porque tenha muito tempo livre. E como em
razo da utilidade os nomes tenham sido aplicados s coisas para revelar /o
significado delas/ se compreendermos isso simplesmente com o uso, a analogia
no tem serventia.
XIII- 28 Accedit quod quaecumque usus causa ad uitam sint assumpta,
in his no(strumst) utilitatem quaerere, non similitudinem: itaque in uestitu cum
dissimillima sit uirilis toga tunica(e), muliebri(s) stola pallio, tamen
inaequabilitatem hanc sequimur nihilo minus.
XIII- 28 Acrescenta-se a isso que na vida a qualquer coisa que seja
adotada por causa do uso prprio de ns nelas procurar a utilidade, no a
semelhana. E assim em relao roupa embora a toga masculina seja diferente
da tnica e a estola feminina do manto apesar da dessemelhana usamos
/ambas/.
XIV- 29 In aedificiis, quom non uideamus habere (ad) atrium peri/stulon
similitudinem et cubiculum ad equile, tamen propter utilitatem in his
dissimilitudines potius quam similitudines sequimur: itaque et hiberna tricliniaet aestiva non item ualuata ac fenestrata facimus.
XIV- 29 Nos edifcios, como no percebemos existir semelhana entre
peristuloj (peristilo, colunata) e atrium (alpendre), cubiculum (quarto) e equile
(estrebaria), como quer que seja por causa da utilidade adotamos em relao a
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essas coisas mais as diferenas do que as semelhanas. E assim, no
aparelhamos as salas de jantar com janelas e portas duplas do mesmo modo no
inverno e no vero.
XV- 30 Quare cum, ut in vestitu aedificiis, sic in supellectile cibo
ceterisque omnibus quae usus (causa) ad uitam sunt assumpta dominetur
inaequabilitas, in sermone quoque, qui est usus causa constitutus, ea non
repudianda.
XV- 30 Por isso, como na roupa e nos edifcios, na moblia e na comida
e em todas as outras coisas que se tomam na vida por causa de sua utilidade
domine a dessemelhana, tambm na linguagem que foi determinada em
razo do uso no se deve rejeit-la.
XVI- 31 Quod si quis duplicem putat esse summam, ad quas metas
naturae sit perueniendum in usu, utilitatis et elegantiae, quod non solum uestiti
esse uolumus ut uitemus frigus, sed etiam ut uideamur uestiti esse honeste, non
domum habere ut simus in tecto et tuto solum, quo necessitas contruserit, sed
etiam ubi uoluptas retineri possit, non solum uasa ad uictum habilia, sed etiam
figura bella atque ab artifice (ficta), quod aliud homini, aliud humanitati satis
est; quodvis sitienti homini poculum idoneum, humanitati (ni)si bellum parum;
sed cum discessum e(s)t ab utilitate ad uoluptatem, tamen in eo ex
dissimilitudine plus uoluptatis quam ex similitudine saepe capitur.
XVI- 31 Pois caso algum considere existir um duplo propsito para que
se deva alcanar aquelas metas da natureza acerca do uso utilidade eelegncia como no nos desejamos vestir apenas para evitar o frio, mas
tambm para parecer convenientemente vestidos; ter uma casa apenas para estar
sob um teto em segurana, aonde a necessidade /nos/ tiver levado, mas tambm
onde o desejo possa ser contemplado; no apenas as convenientes louas para a
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alimentao, como tambm as de bela aparncia e produzidas com arte um
suficiente ao homem, o outro, erudio. A qualquer homem sedento
suficiente um copo em bom estado, ao erudito se no /for/ bonito /no/
suficiente. Mas quando se afasta da utilidade e se aproxima do desejo, muitasvezes nisso se obtm mais satisfao com relao dessemelhana do que com
relao semelhana.
32 Quo nomine et gemina conclavia dissimiliter poliunt et lectos non
omnis paris magnitudine ac figura faciunt. Quod (si) esset analogia petenda
supellectili, omnis lectos haberemus domi ad unam formam et aut cum fulcro
aut sine eo, nec cum ad tricliniarem gradum, non item ad cubicularem; neque
potius delectaremur supellectile distincta quae esset ex ebore (aliisue) rebus
disparibus figuris quam grabatis, qui ana logon, ad similem formam plerumque
eadem materia fiunt. Quare aut negandum nobis disparia esse iucunda aut,
quoniam necesse est confiteri, dicendum uerborum dissimilitudine(m), quae sit
in consuetudine, non esse uitandam.
32 Portanto aposentos iguais se arrumam de modo diferente e nem todas
as camas so produzidas em igual tamanho e tipo. Porque se tivesse de ser
exigida analogia para moblia, teramos todas as camas de casa em um nico
modelo, com balastre ou no, e quando no houvesse degrau para o triclnio
no haveria igualmente para o quarto. E, de preferncia, no nos alegraramos
nem com uma moblia diversificada que fosse de marfim ou de outros materiais
com formas diferentes, nem com camas ruins feitas em um modelo semelhante
como a analogia, ana logoj e na maioria das vezes de um mesmo material.
Portanto, ou as coisas diferentes no devem ser afirmadas como aprazveis parans, ou pois preciso admitir /isso/ deve ser fixado que a dessemelhana
das palavras que ocorre no uso no h de ser evitada.
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XVII- 33 Quod si analogia sequenda est nobis, aut ea obseruanda est
quae est in consuetudine aut quae non est. Si ea quae est sequenda est,
praeceptis nihil opus est, quod, cum consuetudinem sequemur, ea nos sequetur;
si quae non est in consuetudine, quaeremus: ut quisque duo uerba in quattuorformis finxerit similiter, quamuis haec nolemus, tamen erunt sequenda, ut
Iuppit(r)i, Marspitrem? Quas si quis seruet analogias, pro insano sit
reprehendendus. Non ergo ea est sequenda.
XVII- 33 Porm se a analogia deve ser seguida por ns, deve ser
considerada ou a que est em uso ou a que no est. Se aquela que est em uso
deve ser seguida no h nenhuma necessidade de regulamentos, porque quando
seguimos o uso aquela analogia nos segue. Se se deve seguir a que no est em
uso, perguntamos: dado que algum tenha adequado duas palavras nas quatro
formas /oblquas/ igualmente, mesmo que no as admitamos ainda assim elas
devero ser observadas, como em Iuppitri (de Jpiter genitivo arcaico) e
Marspitrem? Se algum seguir essa analogia deveria ser acusado como louco.
Portanto a analogia no deve ser seguida.
XVIII- 34 Quod si oportet id es(se), ut a similibus similiter omnia
declinentur uerba, sequitur, ut ab dissimilibus, dissimilia debeant fingi, quod
non fit: nam et (ab) similibus alia fiunt similia, alia dissimilia, et ab
dissimilibus partim similia partim dissimilia. Ab similibus similia, ut a bono et
malo bonum malum; ab similibus dissimilia, ut ab lupus lepus lupo lepori.
Contra ab dissimilibus dissimilia, ut Priamus Paris, Priamo Pari: ab
dissimilibus similia, ut Iuppiter ouis, Ioui oui.
XVIII- 34 Porm se isso for conveniente para que todas as palavras se
flexionem igualmente com relao a coisas semelhantes e para que devam ser
arranjadas as /palavras/ dessemelhantes com relao a coisas dessemelhantes,
isso no acontece porque resultam algumas /palavras/ semelhantes outras
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dessemelhantes em relao tanto a coisas semelhantes quanto dessemelhantes.
Palavras semelhantes provenientes de semelhantes: bonum e malumde bonuse
malus; palavras dessemelhantes provenientes de semelhantes: lupoe leporide
lupus (lobo) e lepus (lebre). De outra parte, palavras dessemelhantesprovenientes de dessemelhantes: Priamo e Pari de Priamus e Paris; palavras
semelhantes a partir de dessemelhantes: Ioui e oui de Iuppiter (Jpiter) e ouis
(ovelha).
35 Eo iam magis analogias (esse negandum, quod non modo ab
similibus) dissimilia finguntur, sed etiam ab isdem uocabulis dissimilia neque a
dissimilibus similia, sed etiam eadem. Ab isdem uocabulis dissimilia fingi
apparet, quod, cum duae sint Albae, ab una dicuntur Albani, ab altera
Albenses; cum trinae fuerint Athenae, ab una dicti Athenae(i), ab altera
Athenaiis, a tertia Athenaeopolitae.
35 Por causa disso a analogia deve ser evitada to mais intensamente
porque no somente vocbulos dessemelhantes so produzidos a partir de
semelhantes, mas tambm a partir de vocbulos idnticos. E no so produzidos
/apenas/ vocbulos semelhantes a partir de dessemelhantes, mas tambm
vocbulos idnticos. evidente que desses idnticos so produzidos vocbulos
dessemelhantes, pois como existem duas cidades chamadas Alba, as pessoas
provenientes da primeira se denominam albanos e, da segunda, albenses e
como teriam existido trs Atenas, as pessoas oriundas da primeira se chamam
athenaei; da segunda, athenaiis; e, da terceira, athenaepolitae.
36 Sic ex diversis uerbis multa facta in declinando inueniuntur eadem,ut cum dico ab Saturni Lua Luam, et ab soluendo luo luam. Omnia fere nostra
(n)omina uirilia et muliebria multitudinis cum recto casu fiunt dissimilia,
ea(de)m (in) dand(i): dissimilia, ut mares Terentiei, feminae Terentia(e), eadem
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7/25/2019 Tese Maria Lucilia Ruy
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in dandi, uireis Terentieis et mulieribus Terentieis. Dissimile Plautus et
Plautius, (Marcus et Marcius); et commune, ut huius Plauti et Marci.
36 Desse modo, muitos vocbulos produzidos de palavrasdessemelhantes na derivao resultam idnticos36. Por exemplo, quando digo
luamcom relao a lua saturnie luamcom relao a luere (purificar). Todos os
nossos nomes de homens e de mulheres, comumente no plural, quando no
nominativo ficam dessemelhantes; no dativo, semelhantes. Por exemplo
Terentiei (os Terncio) e Terentiae (as Terncia) no nominativo so
dessemelhantes e no dativo semelhantes: Terentieis. Plautus e Plautius,Marcus
e Marcius tm nominativo singular dessemelhante e /genitivo singular/
semelhante: PlautieMarci.
XIX- 37 Denique si est analogia, quod in multis uerbis e(s)t similitudo
uerborum, sequitur, quod in pluribus est dissimilitudo, ut non sit in sermone
sequenda analogia.
XIX- 37 E afinal se existe analogia como em muitas palavras h
semelhana de termos resta que, porque h dessemelhana em muitas delas, a
analogia no deva ser seguida na linguagem.
XX- 38 Postremo, si est in oratione, aut in omnibus eius partibus est aut
in aliqua: at in omnibus non est, in aliqua esse parum est, ut album esse
Aethiopa non satis est quod habet candidos dentes: non est ergo analogia.
36Trata-se das palavras homnimas que no apenas so escritas da mesma forma, mas tambmfaladas, e s podem ser distinguidas pelo contexto de um enunciado ou texto. Varro traz comoexemplo a palavra luam que pode ser substantivo ou verbo dependendo do contexto. Comosubstantivo luam a declinao de lua, forma do nominativo singular,