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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL - MESTRADO PROFISSIONAL Osvaldo Edson Borges Martins Junior TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL: UM OLHAR SOBRE SÃO FRANCISCO DO CONDE BAHIA Feira de Santana BA´ 2016

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Page 1: TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL: …Pose. Humberto Gessinger. “Isso é só Pra não correr O risco de ver um cientista louco Ele é o maior a afirmar Que o

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL - MESTRADO PROFISSIONAL

Osvaldo Edson Borges Martins Junior

TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL: UM OLHAR SOBRE SÃO FRANCISCO DO CONDE

– BAHIA

Feira de Santana – BA´ 2016

Page 2: TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL: …Pose. Humberto Gessinger. “Isso é só Pra não correr O risco de ver um cientista louco Ele é o maior a afirmar Que o

OSVALDO EDSON BORGES MARTINS JUNIOR

TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL: UM OLHAR SOBRE SÃO FRANCISCO DO CONDE

– BAHIA.

Relatório técnico, apresentado ao Programa de Pós Graduação Mestrado Profissional, Universidade Estadual de Feira de Santana, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Planejamento Territorial. Orientadora: Profª. Drª. Nacelice Freitas Barbosa.

Feira de Santana 2016

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OSVALDO EDSON BORGES MARTINS JUNIOR

TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL: UM OLHAR SOBRE SÃO FRANCISCO DO CONDE

– BAHIA

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ Orientadora: Profª. Drª. Nacelice Freitas Barbosa

Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS UEFS

____________________________________________ Banca: Profª. Drª. Jocimara Souza Britto Lobão

Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS UEFS

____________________________________________ Banca: Profª. Drª. Tatiana Ribeiro Velloso

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB UFRB

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“Se queres saber de tudo

De tudo então saberás Sou índio de sangue latino

Sou negro dos canaviais Eu sou da nação da cana

Da Bahia suburbana Do samba em linhas gerais”

Recôncavo. Márcio Valverde / Chico Porto.

“Vamos remar contra a corrente Desafinar o coro dos contentes

Vamos velejar num mar de lama se faltar o vento a gente inventa Vamos remar contra a corrente

Desafinar o coro dos contentes”

Pose. Humberto Gessinger.

“Isso é só Pra não correr

O risco de ver um cientista louco Ele é o maior a afirmar

Que o maior poço do mundo De petróleo

Tá aqui”

O Petróleo é nosso. Pepeu Gomes / Galvão

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AGRADECIMENTOS

A conclusão de um mestrado, nunca é uma tarefa individual. Afinal de contas,

o espírito coletivo sempre permeou meu conceito de vida e sem dúvida de forma direta

ou indireta, muitas pessoas colaboraram para a concretização deste projeto. Não

classificarei por nível de importância, principalmente, pelo fato de várias pessoas

terem sido fundamentais neste momento.

Gostaria de agradecer a minha família, principalmente meu pai, mãe e irmã,

que sempre esteviram ao meu lado e dando todo o apoio necessário para que eu

tivesse sabedoria emocional para tornar meus sonhos realidade. Agradeço

especialmente ao meu companheiro, Romero Paulo, que colaborou, não apenas

emocionalmente, mas também na construção deste trabalho, diagramação da cartilha,

confecção de gráficos etc. Sem dúvida, ele foi quem mais sofreu com os fins de

semanas comprometidos, enquanto eu catalogava dados, lia livros e escrevia.

Não poderia deixar de agradecer, a Nacelice Freitas, que neste momento, não

chamarei de orientadora e sim, grande amiga. Nacelice, sempre me inspiro em você

não apenas como profissional, mas principalmente pelo ser humano que és. Sempre,

com muito cuidado e delicadeza, auxiliou grandiosamente, o desenvolvimento deste

trabalho, tendo todo o cuidado, por saber do meu ritmo acelerado de trabalho e

demandas profissionais, incetivando e dando todo o apoio intelectual e emocional para

que este projeto se concretizasse.

Agradeço as amigas Iari Dantas e Patrícia Mello, proprietárias do Instituto de

Educação Criativa, que me deram todo o apoio, inclusive dispensando alguns dias de

trabalho, para que eu pudesse realizar as saídas de campo à São Francisco do Conde

e investir na escrita do texto. Na mesma proporção, é importante agradecer Marilda

Miedema, coordenadora da Área de Geociências, a primeira incentivadora para que

eu fizesse a inscrição no mestrado.

Um agradecimento mais que especial a todos os amigos que, de certa forma,

sofreram com minha ausência em vários momentos, mas que agora irão usufruir com

mais qualidade da minha presença.

Enfim, um grande abraço e energias positivas, a todos que possibilitaram que

este sonho se concretizasse.

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RESUMO

O presente relatório técnico, intitulado – “Território, territorialidade e participação social: um olhar sobre São Francisco do Conde” – tem como objetivo analisar a formação do território e a territorialidade de São Francisco do Conde, na Bahia e os rebatimentos na contemporaneidade no que diz respeito à participação social dos integrantes da Colônia de Pescadores do referido município. Considerando a participação social como uma possibilidade de diminuição das desigualdades sociais, justifica-se a necessidade deste estudo baseado na discussão dos conceitos de território e de territorialidade, relacionada à situação sócio econômica dos representantes da Colônia de Pescadores no município de São Francisco do Conde. A opção teórica foi centrada na discussão de território e de territorialidade, a partir das vertentes políticas, social e econômica. A pesquisa teve como metodologia a pesquisa-ação, a partir das seguintes fases: exploratória, com o reconhecimento da área de pesquisa, entrevistas e oficinas com os representantes da Colônia de Pescadores. Os resultados previstos ao longo do relatório técnico explicitam a relação da formação do território de São Francisco do Conde e a participação social dos integrantes da Colônia de Pescacores na territorialidade no município. Palavras- chave: Território. Territorialidade. Participação Social.

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ABSTRACT

This technical report entitled - "Territory, territoriality and social participation: an overview at São Francisco do Conde "- it is analyze the formation of territory and territoriality São Francisco do Conde, Bahia and the repercussions in the contemporaneity when it about social participation of the members of the Fishermen Colony that municipality. Considering the social participation as a possibility the reduction of social differences, justified the need for this study based on the discussion of the concepts of territory and territoriality, related to socio economic situation of the representatives of the Fishermen Colony in São Francisco do Conde. The theoretical option was centered on the territory and territoriality discussion from the policy strands, social and economic. The research was the methodology action research, the following stages: scanning, with the recognition area of research, interviews, workshops with representatives of the Fishermen Colony. The results provided over Technical Report explain the relationship of the formation of the territory of São Francisco do Conde and social participation of members of the Fishermen Colony in territoriality in the municipality. Key words: Territory. Territoriality. Social participation.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1

Figura 2

Figura 3

Recôncavo da Bahia, no século XVII, por Thales de Azevedo....

Croqui da evolução do desenho urbano do município de São

Francisco do Conde.......................................……………………..

Pirâmide etária de São Francisco do Conde, Bahia e Brasil........

63

87

97

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1

Gráfico 2

Gráfico 3

Gráfico 4

Gráfico 5

Gráfico 6

Gráfico 7

Gráfico 8

Gráfico 9

Gráfico 10

Gráfico 11

Gráfico 12

Gráfico 13

Gráfico 14

Gráfico 15

Gráfico 16

Gráfico 17

Gráfico 18

Gráfico 19

Evolução da população urbana e rural em 1970 (São Francisco

do Conde – BA ............................................................................

Evolução da população em 1950 – 2010 (São Francisco do

Conde –BA)..................................................................................

São Francisco do Conde: população rural e urbana e.................

São Francisco do Conde: evolução populacional........................

Bahia: evolução populacional (1991-2000)..................................

Brasil: evolução populacional (1991-2000)..................................

Evolução do IDHM de São Francisco do Conde (1991 – 2010)...

Evolução do IDHM: São Francisco do Conde, Bahia, Brasil e

demais municípios (2010) ...........................................................

IDHM de São Francisco do Conde com base nos índices de

educação, renda e longevidade (2010)........................................

Brasil e regiões brasileiras: produção total de pescado em

toneladas (t) em 2007..................................................................

Produção total de pescado (t) estimado por ano, segundo as

regiões e unidades da federação – 2000 – 2007.........................

Produção de pescado na região Nordeste (t) em 2007................

Pescadores cadastrados – Sede do município de São Francisco

do Conde, Distrito de Caípe em São Franscisco do Conde e

Santo Amaro – 2016......................................................

São Francisco do Conde: indicadores de habitação....................

São Francisco do Conde: divisão de homens e mulheres na

atividade pesqueira (%) – 2016....................................................

São Francisco do Conde: Tipo de pesca – peixes, mariscagem,

camarão (%) – 2016.....................................................................

São Francisco do Conde: tipo de pesca – peixes, mariscagem,

camarão – Homens e mulheres (%) - 2016..................................

Percentual de pescadores inscritos na Colônia de Pescadores Z-

05 (%) entre 1970 e 2010.........................................................

82

82

93

94

95

95

98

99

100

109

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124

124

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Gráfico 20

Gráfico 21

Gráfico 22

Gráfico 23

Gráfico 24

Gráfico 25

Percentual de pescadores inscritos na Colônia de Pescadores Z-

05(%) – Sexo masculino entre 1970 e 2010.............................

Percentual de pescadores inscritos na Colônia de Pescadores Z-

05(%) – Sexo feminino entre 1970 e 2010................................

Média de idade – por década de nascimento dos associados da

Colônia de Pescadores Z-05 em 2016.........................................

Média de idade – por década de nascimento dos associados da

Colônia de Pescadores Z-05 – sexo masculino em 2016............

Média de idade – por década de nascimento dos associados da

Colônia de Pescadores Z-05 – sexo feminino em 2016...............

Pobreza e população vulneráveis a pobreza em São Francisco

do Conde – BA.............................................................................

Renda per capita em São Francisco do Conde (em R$ mil)........

129

129

130

131

132

133

133

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1

Mapa 2

Mapa 3

Mapa 4

Mapa 5

Mapa 6

Bahia: Territórios de Identidade ....................……………………..

Territórios de Identidade Recôncavo: localização e divisão

municipal ………….......................................................................

São Francisco do Conde / Refinaria de Landulpho Alves …......

Localização do município de São Francisco do Conde - Bahia…

Distribuição de Colônias de Pescadores no Estado da Bahia.....

São Francisco do Conde: localização da Colônia de Pescadores-

Z-05..........................................................................

50

52

68

73

114

115

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LISTA DE FOTOS

Foto 1

Foto 2

Foto 3

Foto 4

Foto 5

Foto 6

Foto 7

Foto 8

Foto 9

Foto 10

Foto 11

Foto 12

Foto 13

Foto 14

Foto 15

Foto 16

Foto 17

Foto 18

Foto 19

Foto 20

Igreja matriz de São Gonçalo do Amarante e Convento de Santo

Antônio – 1947…………………………………………………………….

Igreja matriz de São Gonçalo do Amarante e Convento de Santo

Antônio – 2016…………………………………………………………….

Ruíns da Imperial Escola Agrícola da Bahia.............................…......

Obras de terraplanagem – Refinaria Landulpho Alves – 1947………

Obras de terraplanagem – Refinaria Landulpho Alves – 1947...........

Construção da Refinaria Landulpho Alves – 1947…………………….

Entrada da Refinaria Landulpho Alves em Mataripe – 1949.………..

Escola Municipal São Francisco do Conde – 1963………………......

Centro de saúde e obstetrícia – Célia Almeida Lima – 1970………..

Tanques da Refinaria Landulpho Alves – 1990……………………….

Redes cortadas por plataformas desativadas da Petrobras………....

Distrito de Caípe em São Francisco do Conde: derramamento de

óleo que vazou da Refinaria Landulpho Alves...................................

Distrito de Caípe em São Francisco do Conde: técnicos da Petrobras

realizando a limpeza da praia no Distrito de Caípe...........

Área atingida pelo derramamento de óleo no Distrito de Caipe em

São Francisco do Conde....................................................................

Sede da Colônia de Pescadores Z-05 em São Francisco do Conde

– BA....................................................................................................

Área externa da da Colônia de Pescadres Z-05 em São Francisco

do Conde – BA...................................................................................

Ancoradouro na Colônia de Pescadores – Z- 05 – São Francisco do

Conde – BA .......................................................................................

Ancoradouro na Colônia de Pescadores – Z – 05 – São Francisco do

Conde – BA ..................................................................................

Ancoradouro e moradias ao lado da Colônia de Pescadores – Z – 05

– São Francisco do Conde – BA ..................................................

Bairro Babilônia – Periferia de São Francisco do Conde…………….

74

75

77

78

78

79

80

83

83

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91

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116

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117

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Foto 21

Foto 22

Foto 23

Foto 24

Foto 25

Foto 26

Foto 27

Foto 28

Avenida Santa Rita – Periferia de São Francisco do Conde…………

Bairro Babilônia – Periferia de São Francisco do Conde ……………

Resultado das oficinas sobre cidadania com representantes da

Colônia de Pescadores Z-05.............................................................

Resultado das oficinas sobre cidadania com representantes da

Colônia de Pescadores Z-05.............................................................

Resultado das oficinas sobre cidadania com representantes da

Colônia de Pescadores Z-05.............................................................

Resultado das oficinas sobre participação social com representantes

da Colônia de Pescadores Z-05................................

Resultado das oficinas sobre democraria com representantes da

Colônia de Pescadores Z-05..............................................................

Resultado das oficinas sobre democraria com representantes da

Colônia de Pescadores Z-05..............................................................

120

121

136

136

137

139

141

142

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1

Quadro 2

Quadro 3

Quadro 4

Quadro 5

Quadro 6

Síntese da estrutura da pesquisa………………………….............

Síntese do referencial teórico – conceitual………………………...

Serviços de saúde em 2005 – 2009.............................................

Nível de escolaridade e matrícula 2007 – 2012 ...........................

Número de redes de ensino 2007 – 2012....................................

Linha do tempo da atividade pesqueira no Brasil........................

31

57

100

101

101

112

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LISTA DE FLUXOGRAMAS

Fluxograma 1

Fluxograma 2

Fluxograma 3

Fluxograma 4

Fluxograma 5

Fluxograma 6

Fluxograma 7

Fluxograma 8

Fluxograma 9

Fluxograma 10

Fluxograma 11

Etapas da pesquisa....................................………….…………

Paradigma funcionalista...........................................................

Paradigma territorialista............................................................

Endogenia e organização territorial..........................................

Território e dinheiro – primeiro momento..................................

Território e dinheiro – segundo momento.................................

Dimensão cultural, política e econômica do território...............

A territorialidade .......................................................................

Participação social e cidadania ...............................................

Tipos de produção pesqueira do Brasil....................................

Organograma da Colônia de pescadores………….……….......

30

34

36

39

41

42

46

48

56

106

118

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LISTA DE SIGLAS

BPD

CIA

CIS

CNP

CUCA

DCHF

DLET

FEPESBA

IBAMA

IBGE

IDH

IDHM

IMA

INPG

ICMS

MPA

NUEG

PEA

PIB

PLANDEB

PLANTERR

PNB

PNUD

PROFOTA

RLAM

SEI

Barris de Petróleo por Dia

Centro Industrial Aratu

Centro Industrial Subaé

Conselho Nacional do Petróleo

Centro Universitário de Cultura e Arte

Departamento de Ciências Humanas e Filosofia

Departamento de Letras e Artes

Federação dos Pescadores e Agricultores do Estado da

Bahia

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Índice de Desenvolvimento Humano

Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

Instituto de Meio Ambiente

Índice Nacional do Preço do Consumidor

Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços

Ministério da Pesca e Agricutura

Núcleo de Editoração Gráfica da Universidade Estadual

de Feira de Santana

População Economicamente Ativa

Produto Interno Bruto

Plano de Desenvolvimento da Bahia

Programa de Pós Graduação em Planejamento

Territorial – Mestrado Profissional

Produto Nacional Bruto

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Programa Nacional de Financiamento da Ampliação e

Modernização da Frota Pesqueira Nacional

Refinaria Landulpho Alves

Superintendência de Estudos Econômicos

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UEFS

UNILAB

Universidade Estadual de Feira de Santana

Universidade da Integração Internacional da Lusofonia

Afro-Brasileira

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SUMÁRIO

1

1.1

2

2.1

2.2

2.3

2.4

2.5

2.6

3

3.1

3.2

3.3

3.3.1

3.3.2

3.3.3

3.3.4

4

4.1

4.2

4.3

4.3.1

4.3.1.1

4.3.1.2

INTRODUÇÃO.......................................................................................

Procedimentos Metodológicos...........................................................

TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL.....

A organização territorial e dimensão endógena.......……………......

A organização territorial e o dinheiro………………………………….

O território e a dimensão cultural, política e econômica.................

A territorialidade..................................................................................

Território de Identidade do Recôncavo.............................................

Participação social e cidadania..........................................................

O RECÔNCAVO BAIANO, SÃO FRANCISCO DO CONDE E A

PETROBRAS………………………………………………………………..

O Recôncavo baiano, a ocupação do território e a dinâmica

econômica............................................................................................

A Petrobras e a influencia na formação socioterritorial do

Recôncavo baiano e de São Francisco do Conde………………......

São Francisco do Conde e a formação territorial.............................

A formação territorial de São Francisco do Conde………………..........

São Francisco do Conde, a formação da estrutura urbana e a

Petrobras...............................................................................................

A atividade pesqueira em São Francisco do Conde e a Petrobras.......

Aspectos sociodemográficos de São Francisco do Conde……….........

A RELAÇÃO ENTRE AS COMUNIDADES HUMANAS, O MAR E OS

TIPOS DE PESCA...........................................................................

As comunidades humanas da pesca e a relação com o mar..........

A organização da produção pesqueira no Brasil e a distribuição

territorial...............................................................................................

A colônia de Pescadores Z-05, a comunidade humana da pesca

de São Francisco do Conde e a pesca artesanal..............................

Relato das Oficinas e Entrevistas..........................................................

PRIMEIRA OFICINA: CIDADANIA........................................................

SEGUNDA OFICINA: PARTICIPAÇÃO SOCIAL...................................

20

24

32

32

39

43

47

49

52

60

60

65

71

72

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88

92

103

103

105

113

134

134

138

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4.3.1.3

4.3.1.4

5

TERCEIRA OFICINA: DEMOCRACIA...................................................

PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA COLÔNIA DE PESCADORES Z-05:

RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS.................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................

REFERÊNCIAS.....................................................................................

APÊNDICES..........................................................................................

ANEXOS................................................................................................

ANEXO A...............................................................................................

ANEXO B...............................................................................................

ANEXO C...............................................................................................

ANEXO D...............................................................................................

ANEXO E...............................................................................................

140

142

146

149

152

153

154

169

188

194

197

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1 INTRODUÇÃO

O interesse pelo estudo no município de São Francisco do Conde surgiu

durante a realização do curso de Licenciatura em Geografia na Universidade Estadual

de Feira de Santana (UEFS), ao longo da iniciação científica, como projeto de

pesquisa: as transformações no desenho urbano do Recôncavo baiano: a importância

da Petrobras.

A pesquisa de iniciação científica baseou-se principalmente na discussão dos

conceitos de espaço urbano, urbanização, desenho e redesenho urbano e nas

investigações visuais dos elementos construtivos e formadores da paisagem urbana

do Brasil. O objetivo geral foi analisar a introdução da Petrobras no Recôncavo baiano

e explicar como a empresa, direta ou indiretamente, modificou o desenho urbano do

município de São Francisco do Conde.

A partir da realização do estudo de campo, em São Francisco do Conde, foi

possível uma aproximação com a Colônia de Pescadores e os associados,

estabelecendo um contato inicial que estimulou o interesse em analisar a importância

da Colônia de Pescadores Z-05, na perspectiva da formação sócioterritorial do

município, questão não contemplada no projeto de iniciação científica.

Com a implantação do Programa de Pós Graduação em Planejamento

Territorial - Mestrado Profissional (PLANTERR), da Universidade Estadual de Feira

de Santana, veio à possibilidade de retomar as discussões que não foram

contempladas na iniciação científica, ampliando os horizontes de investigação,

principalmente no que diz respeito em analisar a relação existente entre a Colônia de

Pescadores, participação social, território e territorialidade do município de São

Francisco do Conde.

Para a elaboração do projeto de mestrado e consequente produção deste

estudo foi necessário aprofundar as leituras relacionadas à formação do território

brasileiro, que durante os séculos XVI, XVII, XVIII e XIX estava voltada,

principalmente, para a uma economia eminentemente agrícola. A crise do café, na

década de 1930, passou a redefinir aspectos ligados a economia, com a possibilidade

de um processo de industrialização mais acelerado, que resultou numa reorganização

do território brasileiro.

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21

Durante a década de 1930 o governo do então presidente Getúlio Vargas,

reuniu esforços direcionados à exploração petrolífera no território brasileiro, a partir

de uma política de desenvolvimento nacional, tendo como um dos pilares o

desenvolvimento da indústria de base, que possibilitaria o crescimento de outros

setores indústrias como: a indústria de bens intermediários e a indústria de bens de

consumo (BRITO, 2006). Porém, apesar dos esforços para o desenvolvimento de uma

política de exploração do petróleo nacional, dentro do próprio governo federal existiam

divergências sobre a exploração no território nacional. Por um lado, um grupo liderado

por General Juarez Távora defendia a parceria com o capital nacional e estrangeiro,

principalmente norte americano. Por outro lado, o General Horta Barbosa defendia

uma linha nacionalista e centralista, com monopólio no investimento relacionado à

exploração do petróleo. Nesse contexto político e econômico, após uma série de

investimentos em pesquisa à procura deste recurso mineral no subsolo do Recôncavo

baiano, foi encontrado reservas no ano de 1939 (BRITO, 2006)

A partir da década de 1950 o município de São Francisco do Conde, no Estado

da Bahia, sofreu significativa influência na organização socioterritorial, por conta da

exploração petrolífera, tendo em vista a implantação da Refinaria Landulpho Alves

(RLAM), no distrito de Mataripe, que interferiu na economia, geração de empregos e

dinâmica social.

Na década de 1960, a quantidade de óleo extraído no Recôncavo baiano

impressionava pelo volume, tendo significância na economia nacional e na

organização do território brasileiro (BRITO, 2006).

A partir desse contexto geohistórico, a discussão realizada neste relatório

técnico está baseada principalmente, no estudo da relação entre território e

territorialidade em São Francisco do Conde, município fortemente influenciado pela

exploração petrolífera, tendo como referência a participação social dos integrantes da

Colônia de Pescadores Z-05.

Além da influência da produção açucareira nas relações de poder tanto do

Recôncavo baiano, quanto em São Francisco do Conde, a pesquisa tem como

objetivo geral analisar a influência da Petrobras a partir da década de 1950 na

territorialidade do Recôncavo baiano e suas implicações nas transformações

econômicas, políticas e sociais no município de São Francisco do Conde, articulando

ações junto a Colônia de Pescadores Z-05, estimulando à participação social.

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A escolha da Colônia de Pescadores Z-05 deu-se principalmente pelo

significativo impacto socioeconômico, sofrido pela atividade pesqueira, no município

de São Francisco do Conde, desde a implantação da Petrobras, até a importância dos

pescadores e da pesca na organização socioterritorial na atualidade.

Nesta perspectiva, o presente estudo está pautado nas seguintes questões:

como a participação social dos integrantes da Colônia de Pescadores Z-05, interferiu

e interfere na formação do território e na territorialidade em São Francisco do Conde,

e de que forma a Petrobras influenciou no território e na territorialidade do município

e sua relação com os integrantes da Colônia de Pescadores Z-05.

Diante das problemáticas estabelecidas, foram delimitados os seguintes

objetivos específicos: entender como a participação social dos integrantes da Colônia

de Pescadores Z-05 influenciou e influencia na formação territorial e na territorialidade

de São Francisco do Conde; analisar como a Petrobrás interferiu na formação

territorial de São Francisco do Conde e avaliar a relação da empresa com os

integrantes da Colônia de Pescadores; analisar as ações e participação social dos

integrantes da Colônia de Pescadores Z-05 em São Francisco do Conde no contexto

atual.

De acordo com pesquisa realizada sobre a origem da Colônia de Pescadores

Z05, localizada no município de São Francisco do Conde, a mesma foi fundada em

23 de dezembro de 1973, momento em que as atividades de extração de petróleo da

Refinaria Landulpho Alves (RLAM) estavam em ascensão.

Nesse contexto, a Colônia de Pescadores Z-05 surgiu com o objetivo de

defender os interesses da comunidade pesqueira do município de São Francisco do

Conde, tanto no que diz respeito à manutenção desta atividade econômica, quanto na

própria ação da Petrobras, que desde a implantação, em 1953, prejudicou a atividade

pesqueira, por conta das explosões para fixação das plataformas e a utilização de

sondas que espantavam os peixes.

Para além da análise da relação entre território, territorialidade e participação

social dos integrantes da Colônia de Pescadores Z-05, no município de São Francisco

do Conde, a pesquisa também tem como motivação o interesse em estudar as

mudanças que se estabeleceram no Recôncavo baiano, com a implantação da

Petrobras, em 1950, no distrito de Mataripe, e o crescimento econômico do município

de São Francisco do Conde, que foi analisado com o intuito de explicar os principais

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aspectos e contradições que envolvem desenvolvimento territorial, territorialidade e

participação social.

Dessa forma, o objeto de estudo da presente pesquisa é o território, a

territorialidade e a participação social, respeitando não apenas a subjetividade que

envolve a definição de conceitos, mas também diferentes abordagens disciplinares,

que discutem os mesmos sob diversas perspectivas.

Para a realização da pesquisa, foram analisadas as transformações ocorridas

no Recôncavo baiano, especificamente em São Francisco do Conde, explicando as

ações implementadas pelos diferentes sujeitos sociais, assim como as relações de

poder dela resultantes, buscando uma análise da situação que se encontrava na

década de 1950, com uma economia baseada principalmente na produção agrícola,

para atividade extrativista a partir da Petrobras.

A implantação da Petrobras na Bahia modificou o território do Recôncavo

baiano, intensificou as redes de comunicação, com a abertura de rodovias, influenciou

na reorganização da estrutura urbana, rural e na distribuição populacional de São

Francisco do Conde, incorporando novos elementos nos setores de comércio e

serviços que a partir daquele momento comporiam a nova configuração territorial.

Explicar a relação desta nova configuração territorial, a partir da Petrobras até

o século XXI, em São Francisco do Conde, é fundamental para analisar a participação

social dos integrantes da Colônia de Pescadores Z-05, na formação do território e da

territorialidade do município.

Metodologicamente, o presente relatório técnico foi dividido em cinco capítulos,

onde o primeiro destaca os objetivos, a problemática, a justificativa, motivação,

relevância do estudo, os procedimentos metodológicos com a descrição do

desenvolvimento de cada etapa, até a conclusão da pesquisa.

O segundo capítulo expõe os conceitos de território, com o intuito de analisar

os territórios a partir da perspectiva do desenvolvimento endógeno. Além dessa

discussão, também se analisa o território a partir das relações de poder,

contextualizando-o com a territorialidade do município de São Francisco do Conde,

na perspectiva da participação social.

O terceiro capítulo aborda aspectos relacionados à organização territorial do

Recôncavo baiano, no período colonial e após implantação da Petrobras e seus

rebatimentos neste território. Este capítulo também destaca a formação territorial do

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município de São Francisco do Conde e expõe a relação com a Petrobras e a Colônia

de pescadores Z-05.

O quarto capítulo apresenta uma discussão mais pontual sobre a relação entre

as comunidades, o mar e os tipos de pesca, a organização da produção pesqueira no

Brasil, a distribuição territorial desta atividade econômica, a pesca artesanal, a

contextualização no município de São Francisco do Conde e os resultados das

entrevistas e oficinas realizadas, assim como o processo de construção da cartilha

que será um dos produtos finais do estudo.

O quinto capítulo é reservado para as considerações finais, analisando os

principais aspectos da territorialidade e concluindo sobre, as fragilidades da

participaração social da Colônia de Pescadores Z-05 e seus associados, na formação

territorial de São Franscico do Conde.

1.1 Procedimentos Metodológicos

Buscou-se uma revisão bibliográfica sobre os conceitos de território,

territorialidade e participação social. Para além da discussão sobre os referidos

conceitos, foi realizado um estudo sobre a formação territorial do Recôncavo baiano

e de São Francisco do Conde e o processo de implantação da Petrobras no Estado

da Bahia.

Para analisar aspectos sócioeconômicos do município de São Francisco do

Conde foi realizada coleta de dados dos índices de escolaridade, economia, renda per

capita, saúde, moradia, de São Francisco do Conde, no Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos

da Bahia (SEI), Prefeitura Municipal de São Francisco do Conde e Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Além do levantamento bibliográfico foram realizadas pesquisas de campo, que

possibilitaram uma análise da realidade social do município de São Francisco do

Conde e maior interação com os integrantes da Colônia dos Pescadores através da

realização de entrevistas, oficinas, análise de fichas cadastrais, para consequente

elaboração de relatório técnico e a cartilha relacionada a aspectos geohistóricos do

município; breve justificativa e caracterização da área de estudo; contextualização dos

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conceitos de terriório, territorialidade e participação social e apresentação dos

resultados das oficinas realizadas com integrantes da comunidade pesqueira. Para

além do resultado de um estudo, a cartilha representa o retorno social da pesquisa à

comunidade pesqueira que colaborou para a efitivação do projeto.

A aproximação com a Colônia de Pescadores Z05 e os associados tornou o

processo de investigação mais próximo da realidade local, possibilitando perceber as

potencialidades e fragilidades da associação. “O processo de pesquisa deve tornar-

se um processo de aprendizagem para todos os participantes e a separação entre o

sujeito e objeto de pesquisa deve ser superada” (ENGEL, 2000, p. 183).

O projeto foi desenvolvido tendo como base a metodologia pesquisa ação, que

além de compreender, visa uma ação social ou a possibilidade de solução de um

problema específico, centrado principalmente numa ação coletiva. De acordo Thiollent

(2004), o conhecimento produzido deve articular-se a uma pretensão de transformar

a situação pesquisada, onde ao mesmo tempo em que se efetiva a análise do objeto

de estudo, propõe-se aos sujeitos envolvidos alterações na situação vigente.

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação da realidade a ser investigada estão envolvidos de modo cooperativo e participativo. (THIOLLENT, 2004, p,14).

A definição da pesquisa de campo seguiu as seguintes fases: a fase

exploratória: reconhecimento de área, que consistiu em observar o campo de

pesquisa, os interessados e suas expectativas; e os problemas da situação,

características da população, estabelecer um primeiro contato, um diagnóstico da

situação e as ações já existentes (THIOLLENT, 2004).

Nesse primeiro momento realizou-se visitas ao município de São Francisco do

Conde, visita a Colônia de Pescadores Z-05 e diálogos com o presidente da Colônia

de pescadores.

Após o primeiro momento, onde se fez um diagnóstico, deu-se início o processo

de entrevista com o presidente da Colônia de Pescadores Z-05, com o objetivo de

reunir informações sobre aspectos relacionados ao surgimento da colônia, a relação

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com a Petrobras e a gestão pública municipal, assim como, sobre o vínculo dos

associados com a gestão administrativa da colônia, problemáticas, dificuldades e a

participação social dos integrantes da Colônia de Pescadores em relação à

organização territorial de São Francisco do Conde. Nessa fase, foi definido o período

da realização das oficinas com os integrantes da Colônia de Pescadores Z-05,

analisando juntamente com o presidente, o melhor dia da semana para que houvesse

maior participação dos associados.

As oficinas tiveram por objetivo reunir os integrantes da Colônia de Pescadores

Z-05, para investigar os problemas e os desafios enfrentados pelos associados em

São Francisco do Conde, e também verificar as ações e participação social dos

integrantes da associação no município e possibilitar uma aproximação com os

sujeitos de pesquisa.

Por conta da rotina de trabalho dos pescadores e a dificuldade de conseguir

reuni-los, foram realizadas três oficinas, para discussão de três temas definidos comm

fundamentais para compreensão da realidade investigada: cidadania, democracia e

participação social. A proposta de debater estas temáticas tem por meta o

atendimento dos objetivos da pesquisa e da possibilidade de analisar a visão dos

pescadores sobre as mesmas.

Realizou-se intervenções necessárias durante as oficinas onde foi possível

durante as discussões, levantarem questões sobre a importância da atividade

pesqueira no município, a relação entre os associados, a Colônia de Pescadores e o

poder público, assim como, a relação com a Petrobras e as principais dificuldades

encontradas pelos associados para o desenvolvimento da atividade econômica no

cotidiano.

As divulgações para a realização das oficinas aconteceram na sede da Colônia

de Pescadores Z-05, através de cartazes expostos no mural, mediante carro de som

disponibilizado pelo presidente da Colônia. Após diálogo com o presidente da Colônia

de Pescadores Z-05 combinou-se que a divulgação das datas para a realização das

oficinas ocorreia duas semanas antes. O dia da semana escolhido para a realização

das oficinas, pelo presidente e pescadores, foi às quintas-feiras, e o melhor horário,

definiu-se pelo turno matutino, que na opinião dos mesmos era a melhor opção para

que todos pudessem estar presentes.

Por tratar-se de oficinas, com o objetivo de facilitar as discussões, valorizar as

falas e a participação da maioria dos presentes, em um universo de aproximadamente

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1.200 associados da Colônia de Pescadores, foi estabelecido um número máximo de

30 participantes por oficina. A inscrição para participação da atividade poderia ser feita

previamente na sede da Colônia de Pescadores Z-05, ou comparecimento, sem prévia

inscrição, no dia da oficina, ao prédio do Curso Pré-vestibular Comunitário da

Prefeitura Municipal de São Francisco do Conde, localizado na Praça Santa Cruz S/N,

Centro, já que o espaço destinado à realização de reuniões e oficinas, da Colônia de

Pescadores Z-05, está ocupado com equipamentos de pesca, dos associados. A

média de partipantes variou entre 16 a 23 pessoas, por oficina, sendo a maioria

mulheres. Vale ressaltar que durante a catalogação das fichas cadastrais dos

associados da Colônia de Pescadores Z-05, cerca de 68,8% dos filiados da

associação são mulheres.

Cada oficina tinha duração de três horas, iniciando as atividades às 08h30, e

finalizando às 11h30; apesar do tempo didático de cada oficina ser 90 minutos, o

horário estabelecido levava em consideração os atrasos dos pescadores e o horário

lanche durante o intervalo de cada atividade. Por conta da maioria das participantes

serem mulheres, esse foi o horário sinalizado pelas mesmas como a melhor

possibilidade, pois assim elas conseguiriam executar as atividades relacionadas à

pesca a partir das 05h00, retornar as suas casas, realizar as atividades domésticas,

em alguns casos levar os (as) filhos (as) à escola, e retornar as suas casas em tempo

hábil para o almoço.

Como o nível de escolaridade entre os participantes era variado, além da

escrita, foi utilizado o desenho como forma de expressar os anseios e a visão dos

participantes sobre os temas discutidos.

Nesta perspectiva o desenho, torna-se expressão gráfica, releitura dos fatos,

ocorridos no passado ou no presente, e este pode ser expresso tanto no espaço

construído, quanto no espaço do papel.

O desenho é,

uma linguagem de comunicação, pois aceita-se que linguagem é o uso de signos que servem à expressão e à comunicação individual ou entre os indivíduos; que pode ser percebida pelos diversos órgãos dos sentidos, seja por meio da palavra articulada e escrita, ou pela representação gráfica.( OLIVEIRA, 1998, P.157).

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O Desenho é a história de um espaço expresso na forma gráfica, servindo de base

tanto para o entendimento das mudanças ocorridas num espaço, quanto na percepção atual

deste. O mesmo será um instrumento de analise, que pode revelar as relações existentes

entre o passado e futuro de determinadas territórios, permitindo-se um diálogo crítico de

tempos diferentes e colocando-se também “como um texto a ser apreendido, decodificado”

(OLIVEIRA, P.157, 1998).

Desta forma, definiu-se por realizar as oficinas, pois se considerou que uma

técnica que favorecia a reunião dos associados. De acordo com Paviani (2009),

trabalhar com oficinas é

uma oportunidade vivenciar situações concretas e significativas, baseada no tripé: sentir-pensar-agir, com objetos pedagógicos. Nesse sentido, a metodologia da oficina muda o foco tradicional da aprendizagem (cognição), passando a incorporar a ação e a reflexão. Em outras, numa oficina ocorrem apropriação, construção e produção de conhecimentos teóricos e práticos, de forma ativa e reflexiva. (PAVIANI, 2009, p.78).

Nessa perspectiva, a aprendizagem dos participantes, acontece a partir da

troca de conhecimentos e contribuições entre os pesquisados e os pesquisadores.

“Dentro da concepção da pesquisa-ação, o estudo da relação entre saber formal e o

saber informal visa estabelecer (ou melhorar) a estrutura de comunicações entre os

dois universos culturais: o dos especialistas e o dos interessados” (THIOLLENT, 2004,

p. 67).

Essa proposta desmistifica a ideia que os membros das classes mais

populares, não apresentam conhecimento, não tem cultura, nem percepção dos

problemas sociais vivenciados. De acordo com THIOLLENT, 2004,

os participantes são levados a descrever a situação ou o problema que estão focalizando, com aspectos de conhecimento (busca de explicações) e da ação (busca de soluções). A descrição dá lugar a uma lista de temas que são ponderados em função da relevância que lhes é atribuída pelos participantes. Por sua vez, os especialistas estabelecem a sua própria temática relativa ao mesmo problema ou assunto, com indicação de sua ponderação. (THIOLLENT, 2004, p.68)

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Foram executadas três oficinas com as temáticas: cidadania, democracia e

participação social. Durante a realização das oficinas era realizada uma breve

apresentação da proposta de trabalho, em seguida uma pergunta disparadora, que

conduziria a discussão de cada tema. A depender do número de presentes, os

participantes reuniam-se em grupos de três a quatro pessoas, era distribuída uma

cartolina, onde poderiam expor suas ideias sobre a temática trabalhada em forma de

desenho ou escrita. Após este momento, era feita uma exposição daquilo que foi

expresso na cartolina e o mediador relacionava o texto e os desenhos, a temática da

oficina.

A partir da análise das discussões realizadas durante as oficinas, foi possível

detectar os problemas vivenciados pelos associados da Colônia de Pescadores Z-05,

constatarem as divergências e convergências de opiniões, além de aspectos da vida

social, econômica e política da comunidade pesqueira.

Durante as oficinas, três partipantes, que sempre estiveram presentes nas

atividades propostas, se destacaram por apresentarem uma visão mais critíca sobre

a realidade vivênciada pela comunidade pesqueira em São Francisco do Conde.

Esses pescadores foram convidados para a realização de entrevistas, com o

objetivo de levantar informações sobre a participação social dos associados da

Colônia de Pescadores Z-05 e nas transformações territoriais no município de São

Francisco do Conde, a importância da atividade pesqueira para o município de São

Francisco do Conde, a realção entre os associados da Colônia de Pescadores Z-05 e

o poder público de São Francisco do Conde e a relação dos pescadores com a

Petrobrás assim como, as principais dificuldades encontradas pelos associados da

Colônia de Pescadores Z-05, para o desenvolvimeto da sua atividade econômica.

Após levantamento dos dados, foi elaborado o relatório técnico, explicando o

que motivou o desenvolvimento da pesquisa, a abordagem teórico-conceitual, os

procedimentos metodológicos, e os resultados obtidos em cada uma das etapas, além

das dificuldades encontradas no decorrer da pesquisa e as considerações finais.

Por fim, foi confeccionou-se a Cartilha intitulada Território, Territorialidade e

Participação Social: um olhar sobre São Francisco do Conde, utilizando-se o

programa de editoração Adobe Indesign cs 6, visando principalmente uma linguagem

e diagramação, mais próxima, das pessoas que a mesma pretende atingir, que são

os associados da Colônia de Pescadores Z-05.

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A cartilha visa através de uma linguagem mais acessível e didática, destacar

os resultados da pesquisa, a discussão sobre os conceitos de território, territorialidade

e principalmente a importância da participação social e cidadania para que os direitos

democráticos sejam garantidos à comunidade pesqueira.

A cartilha será apresentada para a comunidade pesqueira de São Francisco do

Conde, em um dia de reunião solicitada pelo presidente da Colônia de Pescadores Z-

05, onde será reservado um tempo, para que seja possível expor os resultados da

pesquisa e distribuição da cartilha para os associados presentes, além de

disponibilizá-la na sede da Colônia de Pescadores. A tiragem inicial será de 100

exemplares, que serão reproduzidas em parceria com a Universidade Estadual de

Feira de Santana (UEFS), através do Núcleo de Editoração Gráfica da Universidade

Estadual de Feira de Santana (NUEG).

FLUXOGRAMA 01 – ETAPAS DA PESQUISA

São Francisco do Conde Pesquisa - ação

Base conceitual

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Elaboração do autor, 2016.

Participação social Território Territorialidade

Revisão Bibliográfica

Pesquisa de campo

Entrevistas Oficinas Registros fotográficos

Fichas cadastrais

Relatório técnico

Cartilha

Cidadania Participação social

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QUADRO 01 - SÍNTESE DA ESTRUTURA DA PESQUISA

TEMA

PROBLEMA

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

ITEM DO TEXTO FINAL

Analisar a influência da

Petrobras a partir da década de

1950 na territorialidade do

Recôncavo baiano e suas

implicações nas

transformações econômicas,

políticas e sociais no município

de São Francisco do Conde,

articulando ações junto a

Colônia de Pescadores Z-05,

estimulando à participação

social.

1. Como a participação social dos

integrantes da Colônia de pescadores

influenciou na formação do Território de São

Francisco do Conde a partir da implantação

da Petrobras?

1. entender como a participação social dos

integrantes da Colônia de Pescadores Z-05

influenciou e influencia na formação

territorial e na territorialidade de São

Francisco do Conde.

1. Referencial

Participação Social e

Território

Colônia de pescadores

2. De que forma a Petrobrás influenciou na

territorialidade de São Francisco do Conde

e sua relação com os integrantes da

Colônia de pescadores?

2. Analisar como a Petrobrás interferiu na

formação territorial de São Francisco do

Conde e avaliar a relação da empresa

com os integrantes da Colônia de

Pescadores;

2. Referencial

Territorialidade

Origem da Petrobras

3. Quais as ações e participação social dos

integrantes da Colônia de pescadores no

município de São Francisco do Conde?

3. Analisar as ações e participação social

dos integrantes da Colônia de Pescadores

Z-05 em São Francisco do Conde no

contexto atual.

3. Referencial

Participação Social

Projetos e ações da colônia

de pescadores em São

Francisco do Conde,

relacionados à

responsabilidade social.

Elaboração do autor, 2016.

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2 TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

O quadro teórico em relação à pesquisa se fundamentará principalmente nas

discussões relacionadas aos conceitos de território, territorialidade e participação

social.

É importante compreender que os conceitos de território, territorialidade e

participação social apresentam diferentes concepções, a partir da perspectiva teórica

de cada autor e do contexto da pesquisa. Por isso, a importância de discutir os

mesmos e delimitar aquele que mais se aproxima do objeto de estudo deste relatório

técnico. Para além de uma descrição dos conceitos, foi necessário estabelecer

relações com a formação territorial do Recôncavo baiano e especificamente do

município de São Francisco do Conde.

2.1 A organização territorial e a dimensão exógena e endógena.

Calheiros (2005) apresenta dois paradigmas: o paradigma funcionalista,

décadas de 1960 e início de 1970 e o paradigma territorialista, a partir da década de

1970. Estes paradigmas fomentaram as discussões sobre a organização dos

territórios em decorrência das transformações demográficas, as mudanças

tecnológicas, a expansão do modelo capitalista de produção e o crescimento das

desigualdades sociais e a distribuição de riqueza no mundo.

Segundo Calheiros (2005), o paradigma funcionalista, evidenciado no espaço

Europeu após a Segunda Guerra Mundial, foi principalmente fundamentado no

período de euforia econômica da Europa. As redes de informação eficazes

delimitavam que a melhoria da qualidade de vida era possível apenas a partir do

crescimento da economia.

As diferenças entre os países, pós Segunda Guerra Mundial, estavam

fundamentadas em três bases: a acessibilidade aos mercados e aos fatores de

produção que determinavam as diferenças espaciais de rendimento; as disparidades

entre os territórios que fortalecem a busca do capital em áreas onde a mão de obra é

mais barata, gerando uma difusão do fenômeno do crescimento e este respaldado na

acumulação de capital e o subdesenvolvimento entendido com um atraso na questão

econômica e em consequência um obstáculo para o desenvolvimento socioterritorial.

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O paradigma funcionalista parte do princípio de que as populações não

apresentam capacidade para solucionar as necessidades e dificuldades,

necessitando recorrer ao capital externo, Estado ou outras instituições privadas,

potencializando os fatores exógenos na organização do território.

Este modelo destaca que o desenvolvimento está focado em três bases: a

sociedade desenvolvida é urbano-industrial; o desenvolvimento tem como base o

capital intensivo, e, por fim que as tecnologias são também portadoras de

desenvolvimento.

Para a concepção funcionalista o desenvolvimento acontece através de uma

passagem de sistema produtivo ineficaz para eficaz, a partir da transferência de

capital e do avanço tecnológico, tendo como objetivo principal o aumento da

economia. De acordo com esta perspectiva, todo desenvolvimento de um determinado

território deve privilegiar a acumulação de capital, como base para o crescimento

econômico. Desta forma, torna-se necessário atuar sobre o mercado de maneira a

aperfeiçoar o seu funcionamento. Esta concepção de desenvolvimento é carregada

de problemática, principalmente por entender que o desenvolvimento de um território,

só é possível a partir do crescimento da economia e que esta por si só possibilita

melhorias na qualidade de vida. Situando esta concepção de desenvolvimento, no pós

Segunda Guerra Mundial, momento de expansão do modelo capitalista de produção,

a mesma torna-se ainda mais contraditória tendo em vista que a principal

característica do capitalismo é o aumento das desigualdades sociais.

O paradigma funcionalista defende a ideia de que a indústria é o setor motriz

da economia e que o setor secundário deve sobrepor-se ao setor primário. Para

aperfeiçoar, o desenvolvimento dos territórios privilegia-se: a transferência de capital

e tecnologia, a partir dos incentivos as empresas para que as mesmas se desloquem

dos centros econômicos para as periferias, aproveitando o potencial das regiões;

investimentos públicos na criação de infraestrutura, redes de transporte e criação de

polos de crescimento e complexos industriais (fluxograma 02).

FLUXOGRAMA 02 – PARADIGMA FUNCIONALISTA E A DIMENSÃO EXÓGENA

PARADIGMA FUNCIONALISTA

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Elaboração do autor, 2016.

Analisando aspectos relacionados à economia brasileira nas décadas de 1950

a 1970, percebem-se características dentro do modelo de desenvolvimento do

território brasileiro, pautado no crescimento econômico e desenvolvimento do setor

secundário da economia. Inclusive no estado da Bahia, foi criado, a partir desta lógica,

o Centro Industrial de Aratu (CIA), Polo Petroquímico de Camaçari, Centro Industrial

do Subaé (CIS) e a exploração petrolífera em cidades como São Francisco do Conde,

Candeias e Madre de Deus.

É importante analisar que o paradigma funcionalista, baseado principalmente

no crescimento econômico, apresenta contradições principalmente em relação ao

desenvolvimento socioterritorial.

Um exemplo dessa contradição é a relação entre pobreza e riqueza em São

Francisco do Conde. Apesar grande potencial econômico, gerado principalmente

pelos royalties1 da extração de petróleo, problemas relacionados à educação, saúde,

1 Royalty é o termo utilizado para designar a importância paga ao detentor ou proprietário ou um

território, recurso natural, produto, marca, patente de produto, processo de produção, ou obra original, pelos direitos de exploração, uso, distribuição ou comercialização do referido produto ou tecnologia. Os detentores ou proprietários recebem porcentagens geralmente prefixadas das vendas finais ou dos lucros obtidos por aquele que extrai o recurso natural, ou fabrica e comercializa um produto ou

Qualidade de vida

Crescimento da economia

Capital externo Estado ou

Instituições privadas Avanços

tecnológicos

Potencialização das desigualdades sociais

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moradia, ainda são presentes, caracterizando a desigualdade socioterritorial de São

Francisco do Conde.

De acordo com Becker (1994), a modernização brasileira entre 1968 e 1972,

que influenciou o município de São Francisco do Conde, com a implantação da

Petrobras, baseando-se num projeto de organização territorial pautado na integração

do território nacional e a inserção do Brasil como potência econômica.

Apesar da tentativa em diminuir as desigualdades regionais brasileiras, a partir

de uma modernização industrial, o mesmo não conseguiu reverter à situação social

de alguns territórios, como no caso do município de São Francisco do Conde, com a

Petrobras. Esta característica deve-se, principalmente ao fato do projeto não estar

pautado na relação economia e sociedade na perspectiva de reverter a situação social

dos indivíduos ali presentes e sim de criar possibilidades para o desenvolvimento do

setor industrial.

Por outro lado, entre as décadas de 1970 e 1980 a crise do capital influenciou

na produção industrial europeia, principalmente no setor automobilístico e os

desequilíbrios territoriais evidenciaram a necessidade de questionar o paradigma

funcionalista e evidenciar o paradigma territorialista.

De acordo com Calheiros (2005), a crise econômica mundial possibilitou o

repensar da organização territorial. Esta não poderia ser baseada apenas, na

exploração e no crescimento da economia, era necessário discutir a organização e as

transformações estruturais a partir do nível do território.

O Paradigma Territorialista tem como fundamento o desenvolvimento

endógeno com recursos oriundos do próprio território, ou seja, uma crítica ao

desenvolvimento a partir, apenas, dos fatores externos, mas também derivados de

recursos locais e regionais. Defende a ideia de que os agentes transformadores do

território criem seu próprio modelo de desenvolvimento. Este novo modelo tem como

princípios: a satisfação das necessidades básicas não somente em ternos

quantitativos, mas também qualitativos; um desenvolvimento determinado pela

sociedade presente em um determinado território e baseado na mobilização dos

recursos humanos, materiais e institucionais; um desenvolvimento mais justo

possibilitando a diminuição das desigualdades sociais; enfatizando um

tecnologia, assim como o concurso de suas marcas ou dos lucros obtidos com essas operações. O proprietário em questão pode ser uma pessoa física, uma empresa ou o próprio Estado.

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desenvolvimento onde as tomadas de decisões pertencem aos diversos níveis da

sociedade (fluxograma 03).

Para a concretização do paradigma territorialista, foi criada uma série de

instrumentos de política territorial: a seleção de tecnologias diferenciadas, com base

no nível da mão de obra; o reforço da acessibilidade das áreas periféricas e a

dinamização de pequenos centros urbanos.

FLUXOGRAMA 03 – PARADIGMA TERRITORIALISTA E A DIMENSÃO ENDÓGENA

Elaboração do autor, 2016.

Vale ressaltar que no ano de 1984 foi aprovada “A Carta Europeia de

Ordenamento do Território” que visava “reduzir as disparidades regionais e melhorar

o uso e a organização do espaço, a distribuição das atividades, a proteção ambiental

PARADIGMA TERRITORIALISTA

Qualidade de vida

Modelos próprios de desenvolvimento Desenvolvimento endógeno

Recursos locais e regionais

Quantitativos e qualitativos

Recursos: humanos, materiais e institucionais

Tomada de decisões em diferentes níveis da sociedade

Diminuição das desigualdades sociais

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38

e a melhoria da qualidade de vida”. A proposta da Carta Europeia de Ordenamento

do Território está pautada em quatro aspectos: democrático, integrado, funcional e

prospectivo.

Com base nos estudos realizados sobre a implantação da Petrobras em São

Francisco do Conde e as contradições relacionadas ao acúmulo de capital e melhorias

na qualidade de vida da população, dois aspectos devem ser citados referente à Carta

Europeia de Ordenamento do Território. De acordo com a mesma,

o ordenamento do território deve procurar conter o crescimento das regiões superpovoadas ou sujeitas a um desenvolvimento demasiado rápido, encorajar o desenvolvimento das regiões atrasadas e manter ou adaptar as infra-estruturas indispensáveis à recuperação econômica das regiões em declínio ou ameaçadas por graves problemas de emprego, nomeadamente por migrações de mão de obra ao nível europeu (...) (...) favorece a melhoria da qualidade de vida quotidiana, quer se trate de habitação, trabalho, cultura, recreio ou, ainda, das relações no seio das comunidades humanas, nomeadamente a melhoria do bem estar individual traduzido na criação de empregos e na instalação de equipamentos de natureza – econômica, social e cultural, correspondendo às aspirações das diferentes camadas da população. (p.11, 1998)

Estabelecendo um paralelo entre a base teórica e a pesquisa realizada, em

São Francisco do Conde, é importante ressaltar a significância da organização

territorial, a partir da perspectiva do paradigma territorialista, principalmente por criar

possibilidades de modelos de desenvolvimento, onde diferentes agentes sociais, a

partir da coletividade, participações sociais, recursos locais e regionais, mobilizam-se

para promover uma organização de território mais condizente com as necessidades

da comunidade local.

Para Silva (2003) a formação do território está relacionada não apenas aos

elementos exógenos, no caso do objeto de estudo, a Petrobras, como este elemento

exógeno, mas também pelos elementos endógenos. A sociedade, neste caso, surge

como um elemento fundamental na organização territorial a partir das necessidades,

definindo desta forma, a relação com este território.

De acordo com Silva (2003), uma possibilidade de analisar a discussão entre

a organização do território está principalmente relacionada à classificação e

discussões que valorizam a organização social dentro da perspectiva local. Segundo

Page 39: TERRITÓRIO, TERRITORIALIDADE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL: …Pose. Humberto Gessinger. “Isso é só Pra não correr O risco de ver um cientista louco Ele é o maior a afirmar Que o

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o autor, é importante analisar as ideias sobre território e territorialidade com o intuito

de melhor compreender as suas relações. Em primeiro lugar, privilegia-se questões

ao estudo da territorialidade com base na solidariedade, primando o futuro, dentro do

contexto da globalização mundial e em segundo lugar devem ser repensados os

novos conceitos de desenvolvimento de acordo com as novas concepções de

progresso e crescimento.

Silva (2003) expõe a necessidade de discutir sobre território a partir das

necessidades do mundo contemporâneo, buscando uma visão mais autônoma e

participativa da sociedade na organização do território. Esse é um dos aspectos

discutidos neste estudo, que parte do princípio da organização do território a partir dos

diferentes agentes que compõem o mesmo. A participação social e a organização do

território são uma das mais primordiais características da contemporaneidade

politicamente organizada em torno de objetivos comuns.

Partindo do princípio da organização do território de São Francisco do Conde,

busca-se possibilitar a partir da intervenção na Colônia de pescadores a ideia de que

o território deve ser organizado também a partir da participação social.

Para isso, assim como destaca os estudos de Silva (2003), deve-se relacionar

a organização do território a partir tanto de fatores endógenos como exógenos,

encontrando no território pontos em comum entre os dois fatores (fluxograma 04).

Desta forma, busca-se uma análise, apesar de complexa, mais totalitária do

território. A proposta é pensar a endogenia caracterizada,

mais pela capacidade organizacional das comunidades locais e regionais em definir prioridades e formas de ações inovadoras que possam dinamizar as atividades econômicas sociais, políticas e culturais em busca de patamares mais elevados (SILVA, 2001, p.23)

FLUXOGRAMA 04 – ENDOGENIA E ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL

ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL

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Elaboração do autor, 2016.

Desta forma, busca-se através da metodologia utilizada na pesquisa, entender

os aspectos endógenos que compõem o território de São Francisco do Conde, a partir

do olhar dos integrantes da Colônia de pescadores Z-05, com o objetivo de estimular

a participação deste grupo na organização territorial do município.

2.2 A organização territorial e o dinheiro

Santos (2006) destaca a importância de analisar o conceito de território, a

partir da relação deste com o dinheiro. O dinheiro neste sentido influenciará na

organização territorial, delimitando-o a partir dos interesses do acúmulo deste

dinheiro, sendo o território na contemporaneidade o lugar onde o ser humano

manifesta a sua existência.

o território é o lugar em que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem plenamente se realiza a partir das manifestações de sua existência (SANTOS, 2011, p. 13).

Fatores endógenos

Participação social Ações inovadoras Organização das

comunidades locais

Dinamização das atividades econômicas, sociais, políticas e

culturais

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Na perspectiva do autor, no que diz respeito ao conceito de território, percebe-

se como o mesmo, destaca a complexidade e abrangência deste conceito, sendo a

geografia a disciplina que tem maior capacidade de revelar as angustias, da nação e

do lugar.

A relação entre território e o dinheiro torna-se um ponto de destaque no

pensamento de Santos (2006), quando o autor ressalta que no mundo

contemporâneo, que busca tudo “desmanchar” (SANTOS, 2006, p.13), o território

mostra que há coisas que não podem se desmanchar. O território é o sentimento de

pertencer aquilo que nos pertence. O Território é o fundamento do trabalho, lugar da

residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida (SANTOS, 2006,

p.14).

Santos (2006) salienta a relação existente entre o dinheiro e a organização

Territorial, destacando que em um primeiro momento, o dinheiro, expressivo de

contextos geográficos limitados, tinha uma proporção apenas local e a dinâmica do

território estava relacionada à suas características naturais, as quais a sociedade se

adaptava às limitações técnicas, inclusive pelo fato das técnicas estarem

relativamente ligadas à própria natureza (fluxograma 05).

As relações sociais eram pouco densas e numerosas e a natureza de certa

forma delimitava a ação do indivíduo sobre o território. “O território assim delineado

rege o dinheiro; o território era usado por uma sociedade localizada assim como o

dinheiro” (SANTOS, 2006, p.15).

FLUXOGRAMA 05 – ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL E O DINHEIRO – PRIMEIRO MOMENTO

ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL E O DINHEIRO

Primeiro momento

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Elaboração do autor, 2016.

Como as dinâmicas econômicas intensificaram-se ao longo do tempo e as

relações de interdependência entre a sociedade ficou cada vez mais intensa, o

dinheiro passa a ter outros significados, inclusive na organização dos territórios. O

dinheiro passa a ser um regulador da sociedade, definindo um período onde se vive

a partir de duas grandes forças da contemporaneidade a informação e o dinheiro.

Esse misto entre informação e dinheiro acaba por ter um papel fundamental na

materialidade e na existência das pessoas, inclusive no que diz respeito à

competitividade. O dinheiro, dentro desta perspectiva, passa a ter uma importância

tanto na vida do indivíduo, quando na ideologia das empresas e do governo. Partindo

do princípio que estes elementos compõem o território, o mesmo passa a ser

delimitado e organizado a partir da intervenção do dinheiro (fluxograma 06).

FLUXOGRAMA 06 – ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL E O DINHEIRO – SEGUNDO MOMENTO

Proporção local Características

naturais Limitação técnica

Relações sociais pouco densas.

ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL E O DINHEIRO

Segundo momento

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Elaboração do autor, 2016.

São Francisco do Conde pode ser um exemplo dessa relação entre dinheiro e

organização dos territórios, partindo do princípio que o lucro gerado principalmente

pelos royalties da Petrobras, possibilita o acúmulo do dinheiro por parte do poder

público e, consequentemente, a disputa por esse poder para que seja possível, o

acúmulo constante do dinheiro.

Hoje, sob a influência do dinheiro, o conteúdo do território escapa a toda regulação interna, trazendo aos agentes um sentimento de instabilidade, essa produção sistemática de medo que é um dos produtos da globalização perversa dentro da qual vivemos esse medo que paralisa esse medo que nos convoca a apoiar aquilo em que não cremos apenas pelo receio de perder mais. (SANTOS, 2006, p. 19)

Para além, da relação entre a organização do território e o dinheiro no âmbito

empresarial e governamental, no caso específico de São Francisco do Conde, foi

possível perceber, através da metodologia utilizada, a significância do dinheiro e de

interesses particularidades da comunidade pesqueira na participação das reuniões

promovidas pela administração da Colônia de Pescadores Z-05 e nas atividades

propostas pela pesquisa, como as oficinas.

Intensificação das dinâmicas econômicas

Dinheiro e informação

Regulador da sociedade

O dinheiro e sua importância na vida

Indivíduo Governo Empresa

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No caso das reuniões realizadas pela diretoria da Colônia de Pescadores Z-05,

o comparecimento dos pescadores era muito mais frequente quando a temática do

encontro estava pautada em algum benefício, ou dinheiro, para os associados.

É importante destacar que esta relação com o dinheiro, tem origem com a

própria formação territorial de São Francisco do Conde, principalmente após a

instalação da Petrobrás, na década de 1950. Por conta do capital gerado pelos

impostos com a extração do petróleo no município, potenciolizou uma política

assistencialista no território.

Para Santos (2006), uma forma de ressignificar essa ação do dinheiro sobre o

território é a cidadania e participação social como bases para uma formação territorial,

mais justa e menos desigual.

2.3 O Território e a dimensão cultural, política e econômica

Segundo Haesbatert (2004), no contexto mundial desde a década de 1960, o

conceito de território vem ganhando visibilidade na área de Ciências Sociais, inclusive

em estudos de relacionados a Sociologia, porém com pouco diálogo com outras áreas

de conhecimento, inclusive com a própria Geografia.

De acordo com Haesbaert (2004), a primeira publicação que discutia aspectos

ligados a territorialidade na Geografia foi o livro Territorialidade Humana de Torsten

Malmberg, escrito em 1976,

obra de referência, mas cuja fundamentação teórica behaviorista foi motivo de fortes críticas. Embora ele tenha estabelecido as bases de um diálogo mais frequente com outras áreas, este foi muito mais o de refutação, já que a base do conceito envolve uma associação demasiado estreita entre territorialidade humana e territorialidade animal (HAESBAERT, 2004, p. 36)

O conceito de território apresenta diferentes definições e discussões que

envolvem desde a Ciência Política, História, Antropologia e a Geografia. Devido a

amplitude do conceito, cada área de conhecimento apresenta particularidades, em

sua análise, definindo ao mesmo tempo bases mais sólidas relacionadas à

territorialidade, mas por outro lado, distanciando a discussão dentro de uma

perspectiva interdisciplinar.

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Segundo Haesbaert (2004), a Ciência Política enfatiza a construção do território

a partir das relações de poder, a Antropologia analisa sua dimensão a partir de um

campo simbólico inclusive das sociedades tradicionais; a Sociologia estuda as

relações sociais e o território, em um sentido mais amplo; e a Psicologia incorpora

uma discussão voltada para o indivíduo ou de uma identidade pessoal, o geógrafo por

sua vez, “enfatiza a materialidade do território, em suas múltiplas dimensões”

(HAESBAERT, 2004, p. 37).

Haesbaert (2004) define três vertentes básicas para a analise da concepção de

território: política, cultural e econômica que ressalta o território como fonte de

recursos, no choque das classes sociais e na relação capital - trabalho.

Para Haesbaert (2004),

- política (referida às relações espaço – poder em geral) ou jurídico – política (relativa também a todas as relações espaço – poder institucionalizadas): a mais difundida, onde o território é visto como um espaço delimitado e controlado através do qual se exerce um determinado poder, na maioria das vezes, mas não exclusivamente relacionado ao poder político do Estado. - cultural (muitas vezes culturalista) ou simbólico – cultural: prioriza a dimensão simbólica e mais subjetiva, em que o território é visto, sobretudo como o produto da apropriação/valorização simbólica de um grupo em relação ao seu espaço vivido. - econômica (muitas vezes economicista): menos difundida, enfatiza a dimensão espacial das relações econômicas, o território como fonte de recursos e/ou incorporado no embate das classes sociais e na relação capital-trabalho, como produto da divisão ¨territorial¨do trabalho, por exemplo. (HAESBAERT, 2004, p. 40)

Encontra-se no estudo de Haesbaert (2004) um aprofundamento da

discussão sobre território, territorialidade e questões políticas que devem ser levadas

em consideração, na definição da territorialidade de São Francisco do Conde.

Territorialidade, esta, marcada pelo exercício das relações políticas, culturais e

econômica.

Para além de Haesbaert (2004), a discussão de Raffestin (1993) foi

fundamental para definir São Francisco do Conde como território. Raffestin (1993)

afirma que: “toda prática espacial, mesmo embrionária, induzida por um sistema de

ações ou comportamento se traduz por uma produção territorial” (RAFFESTIN, 1993,

p. 150).

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A organização territorial é realizada segundo as ações e a importância que os

indivíduos e/ou os grupos dão ao território. Nesta perspectiva, o indivíduo passa a ser

um elemento fundamental na organização territorial.

Estabelecendo uma relação da discussão trazida por Raffestin (1993), com

Haesbaert (2004), sobre a definição de território, percebe-se uma vertente em comum

nas discussões quando Haesbaert (2004), afirma:

que o território é relacional não apenas no sentido de ser definido sempre dentro de um conjunto de relações histórico-sociais, mas também no sentido, destacado por Godelier, de incluir uma relação complexa entre processos sociais. (HAESBAERT, 2004, p. 82)

De acordo com Raffestin (1993), uma interação política, econômica, social e

cultural que resulta de jogos de oferta ou procura “possibilita um conjunto de nós e

redes que se imprimem no espaço e que constitui de algum modo o território”

RAFFESTIN (1993, p. 150-151). Esse conjunto de nós e redes organizados tendo

como base uma hierarquia permitem garantir o controle em relação ao que pode ser

possuído e distribuído, estabelecendo, desta forma, as relações de poder no território

(fluxograma 07).

FLUXOGRAMA 07 – DIMENSÃO CULTURAL, POLÍTICA E ECONÔMICA DO TERRITÓRIO

Território

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Elaboração do autor, 2016.

Partindo do princípio das relações históricas e dos processos sociais que

compõem o território, foi possível perceber esse processo em São Francisco do

Conde, onde as relações de poder foram estabelecida desde o período colonial, na

formação territorial do município, baseado principalmente na relação dos proprietários

de terra, produtores de cana-de-açúcar e a sociedade escravista, até o século XX

onde o capital gerado pelos royalties do petróleo, que incentivavam a disputa pelo

poder público e uma hierarquização social baseada principalmente na relação de

dependência do indivíduo com o poder público.

Essas relações de poder são estabelecidas principalmente por conta do

domínio que os gestores públicos têm do capital gerado, através dos impostos da

Petrobras, que acabam criando uma hierarquização social e uma relação de

dependência do cidadão ao poder público.

2.4 Territorialidade

De acordo com Haesbaert (2004), território e territorialidade tiveram suas

fundamentações conceituais, no campo da Etologia, ciência que estuda o

comportamento animal no campo das Ciências Sociais.

Política Econômica Cultural

Relações de poder Apropriação /

valorização simbólica de um grupo

Fonte de recursos Relação capital -

trabalho

Conjunto de relações histórico social. Relação complexa entre os processos

sociais.

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Em alguns momentos, de forma bastante sutil ou muito enfática, dependendo do contexto histórico, político e ideológico, essas propostas se cruzaram, seja no sentido de fazer valer, unilateralmente, os paradigmas da territorialidade animal sobre a humana, seja para fazer prevalecer o sentido social, humano da territorialidade (como na grande maioria dos estudos desenvolvidos nas Ciências Sociais) (HAESBAERT, 2004, p. 64)

Para Haesbaert (2004), a territorialidade embora comumente esteja

relacionada a aspectos políticas e de poder, o mesmo não se limita apenas ao poder

do estado, mas também ao fato de como o estabelecimento deste poder aparece

vinculada a questões culturais, relações sociais, identidade social e o poder simbólico.

territorialidade é o conceito utilizado para enfatizar as questões de ordem simbólico-cultural. Territorialidade, além da acepção genérica ou sentido lato, onde é vista como a simples ‘qualidade de ser território‘ é muitas vezes concebida em um sentido estrito como a dimensão simbólica do território¨ (HAESBAERT, 2004, p. 74)

No caso de São Francisco do Conde, o simbólico-cultural está relacionado à

própria formação deste território e os diferentes grupos que o configuraram.

A territorialidade pode ser exercida desde os proprietários de terra e escravos

no período colonial e na contemporaneidade a territorialidade da Colônia de

pescadores em influenciar, a organização territorial do município, inclusive a partir da

representação simbólica da associação que desde a década de 1970, momento de

sua fundação, desenvolve atividades com o objetivo de defender os direitos da

comunidade pesqueira.

Segundo Raffestin (1993) as relações de poder influenciam na definição da

territorialidade, que pode ser definida como um conjunto de relações que se originam

num conjunto tridimensional sociedade- espaço- tempo. Porém, essa territorialidade

é dinâmica e sofre alterações no decorrer do tempo, a depender das relações como a

sociedade interage com essa territorialidade num determinado momento (fluxograma

08).

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Só é possível entender a territorialidade se entendermos o que a constitui,

a territorialidade adquire um valor bem particular, pois reflete a multidimensionalidade do ‘vivido’ territorial pelos membros de uma coletividade, pelas sociedades em geral. Os homens ‘vivem’ ao mesmo tempo, o processo territorial por intermédio de um sistema de relações existenciais e / ou produtivistas. Quer se tratem de relações existenciais ou produtivas, todas as relações de poder, visto que há interação entre os atores que procuram modificar tanto as relações com a natureza, como as relações sociais (RAFFESTIN, 1993, p. 158-159).

FLUXOGRAMA 08 – A TERRITORIALIDADE

Elaboração do autor.

Para Saquet (2009), os aspectos históricos, as transformações sociais,

espaciais, culturais, políticos e econômicos também refletem na formação da

territorialidade.

Para Saquet (2009), compreender a territorialidade

significa entender, necessariamente, os fatores históricos condicionantes, isto é, as mudanças sociais e espaciais que se

Territorialidade

Relações de poder

Sociedade Espaço Tempo

Simbólico - cultural

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processavam na economia, na política e na cultura como processos relacionais que determinaram a renovação dessa ciência; suas principais características, tais como temas, conceitos, recortes, objetivos etc. bem como conflitos e contradições à ciência geográfica (SAQUET, 2009, p. 137).

Assim como Raffestin (1993), Saquet (2009), analise a territorialidade partindo

do princípio das relações simbólicas culturais, acrescido das relações políticas e

mercantis efetivadas pelas pessoas. Sendo a territorialidade que corresponde ao

comportamento cultural, geopolítico, econômicos e psicológicos, ou seja, o “exercício

da influência, controle e pertencimento” (SAQUET, 2009, p.141).

Levando em consideração os aspectos históricos, sociais e econômicos que

compõem o território de São Francisco do Conde, a territorialidade tal qual se

apresenta na atualidade é marcada principalmente por características

socioeconômicas, que reforçam a contradição entre a concentração de capital e a

qualidade de vida da população.

2.5 Participação social e cidadania

Com base nos estudos de Barcelos (2008), a participação social é o caminho

para que os sujetos organizem o território a partir de suas necessidades. Para isso, é

necessário que a sociedade participe no processo de discussão de um determinado

problema, até sua implementação e avaliação.

A participação não deve ser vista meramente como um instrumento necessário para a solução dos problemas, mas sim como uma necessidade do homem se auto afirmar, de interagir com a sociedade, de criar, de realizar, de contribuir (BARCELOS, 2008, p.206)

No caso de São Francisco do Conde, a participação social dos integrantes da

Colônia de pescadores, será discutida tendo como fundamento a importância desse

grupo na busca de alternativas que possibilitem a solução para os problemas

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enfrentados pela comunidade pesqueira, como investimentos nas áreas de estrutura

urbana, educação, saúde existentes no município.

De acordo com Barcelos (2008), o processo participativo engloba:

- nível econômico, com presença ativa na tomada de decisões das unidades de produção, sendo possível detectar várias experiências de cogestão, empresas comunitárias, cooperativas etc.; - área sociocultural, que compreende ações em diferentes instituições da sociedade em que se articulam interesses de classes ou grupos, circulam valores, normas, pautas de conduta, manifestações de criatividade artística; - área política, que corresponde à participação no processo de tomada de decisão, desde a estrutura do poder local até o plano nacional (BARCELOS, 2008, p.208).

No entanto, vale destacar que as decisões resultantes da participação social,

dependem da capacidade da comunidade ou daqueles que os representa de

identificar as soluções para os problemas. A participação social,

nas discussões da problemática local funciona como o sentimento de compartilhamento de uma comunidade territorialmente localizada (...) comunidade esta surgida de processos políticos, sociais, econômicos e culturais que fazem com que os habitantes de um determinado território consolidem a sua percepção levando em conta, claro, as diferenças e os fortes interesses que possam ter em comum (BARCELOS, 2008, p.209).

Segundo Milani (2008), a participação social tornou-se, nos anos de 1990, um

dos princípios básicos para a construção de políticas públicas e da organização

territorial democrática (fluxograma 09).

Desde o início dos anos de 1990, no bojo do processo de reforma da administração pública na América Latina e alhures, a participação social vem sendo construída como um dos princípios organizativos centrais, declarado e repetido em foros regionais e internacionais, dos processos de deliberação democrática local. (MILANI, 2008, p.554)

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Partindo deste princípio, a proposta é possibilitar que através da metodologia

utilizada na pesquisa, os integrantes da Colônia de pescadores do município de São

Francisco do Conde reflitam sobre a importância da participação social na formação

de um território menos desigual, a partir das necessidades locais.

A partir desta perspectiva, é importante destacar a importância da cidadania

principalmente nos aspectos relacionados à participação social. Segundo Gomes

(2006), o conceito de cidadania, na contemporaneidade ao mesmo tempo em que é

uma ideia valorizada, é imprecisa em suas significâncias ou contornos, principalmente

por diferentes áreas do conhecimento discutir o conceito a partir de diversas

perspectivas.

No caso deste estudo, é importante delimitar a contribuição da geografia nesta

discussão e compreender como o pensamento geográfico pode auxiliar na construção

de uma sociedade pautada dos princípios da participação social e cidadania. Para

Gomes (2006), “ser cidadão é pertencer a uma determinada porção territorial”

(GOMES, 2006, p.13). Desta forma,

o território é um conceito que atua como uma das chaves de acesso à interpretação de práticas sociais circunscritas a uma dada porção do espaço. O território é o limite dessas práticas, o terreno onde elas se concretizam e, muitas vezes, a condição para que elas existam (GOMES, 2006, p.136).

Essas práticas sociais estão ligadas essencialmente a participação social e a

cidadania, pois parte do princípio que no território essas práticas se concretizam e

efetivam-se na busca da construção de uma sociedade menos desigual, onde o

respeito às decisões coletivas devem ser asseguradas.

Desta forma, “a cidadania não é assim simplesmente uma representação

dentro do Estado Nacional, mas, sem dúvida, um fenômeno muito mais complexo que

incide no quadro da dinâmica territorial cotidiana da sociedade” (GOMES, 2016,

p.139).

Segundo Santos (2002), a contribuição da geografia no que diz respeito à

relação entre cidadania e território está principalmente pautada, na igualdade de

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direitos dos cidadãos, possibilitando que todos tenham acessibilidade semelhante aos

bens e serviços, para que a vida seja usufruída com a mínima dignidade. Por outro

lado, uma “organização territorial onde a localização dos serviços essenciais é

deixada a mercê da lei do mercado, tudo colabora para que as desigualdades sociais

aumentem” (SANTOS, 2002, p.116).

A geografia, neste caso, contribui para a analise do território dentro da

perspectiva da participação social, quando analisa a cidadania como preceito para

uma organização territorial, focada nas expectativas e visão do cidadão sobre o seu

território de vivência e como este contribuiu para sua formação e ordenação.

Esta se caracteriza como um dos pontos principais deste estudo, entendendo

dentro da perspectiva do território a sociedade e a participação social, como parte

fundamental para a organização territorial e a cidadania.

FLUXOGRAMA 09 – PARTICIPAÇÃO SOCIAL E CIDADANIA

.

Participação social e cidadania

Nível econômico Área política Área sociocultural

Organização territorial democrática e participativa

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Elaboração do autor

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QUADRO 02 - SÍNTESE DO REFERENCIAL TEÓRICO-CONCEITUAL

AUTOR

CONCEITO

DEFINIÇÃO

APLICABILIDADE NA PESQUISA

Calheiros (2005)

Paradigma Fundamentalista

O desenvolvimento acontece através de uma passagem de sistema produtivo ineficaz para eficaz a partir da transferência de capital e do avanço tecnológico, tendo como objetivo principal o aumento do crescimento econômico.

Modelo de desenvolvimento da economia evidenciado no espaço europeu após a Segunda Guerra Mundial. Percebe-se a influência deste modelo de desenvolvimento no território brasileiro entre as décadas de 1950 a 1970, pautado no desenvolvimento do setor secundário da economia. Período de implantação da Petrobras no município de São Francisco do Conde – Bahia.

Paradigma Territorialista

Fundamentado no desenvolvimento endógeno. Os agentes transformadores do território criam seu modelo de desenvolvimento. Tem como princípios a satisfação das necessidades básicas não somente em termos quantitativos, mas também qualitativos.

A importância da participação social na organização do território, com o objetivo de satisfazer as necessidades da própria sociedade.

Silva (2003)

Território

Organização do território a partir das necessidades do mundo contemporâneo, buscando uma visão mais autônoma e participativa da sociedade na organização do território.

Possibilitar a partir da intervenção na Colônia de Pescadores no município de São Francisco do Conde a ideia de que o território deve ser organizado também a partir da participação social.

Santos (2011)

Território

Relação território e dinheiro. O dinheiro influenciará na organização territorial, delimitando-o a partir dos interesses do acúmulo deste dinheiro, sendo o território na contemporaneidade o lugar onde o ser humano manifesta sua existência.

São Francisco do Conde, pode ser um exemplo dessa relação entre dinheiro e organização do território, quando partisse do princípio que o lucro gerado principalmente pelos royalties da Petrobrás, possibilita o acumulo de dinheiro por parte do poder público e consequentemente a

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disputa por esse poder para que seja possível, o acumulo constante deste dinheiro.

Haesbaert (2004)

Território

Defende três vertentes básicas para a análise da concepção de território: política, cultural e econômica.

Analise da formação territorial de São Francisco do Conde, levando em consideração os aspectos político, cultural e econômico.

Raffestin (1993)

Território

Defende a concepção que uma interação política, econômica, social e cultural que resulta de jogos de oferta ou procura possibilita um conjunto de nós e redes que se imprimem no espaço e que constitui de algum modo o território. Esse conjunto de nós e redes organizados tendo como base uma hierarquia permite garantir o controle em relação ao que pode ser possuído e distribuído, estabelecendo as relações de poder no território.

As relações de poder estabelecidas na formação territorial de São Francisco do Conde do período colonial até a contemporaneidade, baseado principalmente na hierarquização social e na disputa pelo poder.

Haesbaert (2004)

Territorialidade

A territorialidade não se limita apenas ao poder do estado, mas também ao fato de como o estabelecimento deste poder aparece vinculada a questões culturais, relações sociais, identidade social e poder simbólico.

No caso de São Francisco do Conde, o simbólico cultural está relacionado a própria formação deste território e os diferentes grupos que o configuram. A territorialidade pode ser exercida desde os proprietários de terra e escravos no período colonial e mais recentemente a territorialidade do poder público e da Colônia de Pescadores em delimitar a partir do simbólico a organização territorial do município.

Raffestin (1993)

Territorialidade

A territorialidade pode ser definida como um conjunto de relações que se originam num conjunto tridimensional sociedade-espaço-tempo. Essa territorialidade é dinâmica e sofre alterações no decorre do tempo, a depender das relações como a sociedade interage com essa territorialidade num determinado momento.

Analise do conjunto tridimensional sociedade – espaço – tempo na formação territorial de São Francisco do Conde.

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Saquet (2009)

Territorialidade

Os aspectos históricos, as transformações sociais, espaciais, culturais, políticos e econômicos refletem na formação da territorialidade.

Analise da territorialidade de São Francisco do Conde, relacionado ao comportamento da sociedade na perspectiva cultural, geopolítica, econômica e psicológica.

Barcelos (2008)

Participação Social

A participação social é o caminho mais viável para que os indivíduos organizem o território a partir de suas necessidades. A sociedade deve participar no processo de discussão de um determinado problema, até sua implementação e avaliação.

A participação social dos integrantes da Colônia de pescadores, será discutida tendo como fundamento a importância desse grupo na busca de alternativas que possibilitem a solução para os problemas enfrentados pela comunidade pesqueira.

Milani (2008)

Participação Social

A participação social torna-se um dos princípios básicos para a construção de políticas públicas e da organização social.

Possibilitar que a através da metodologia utilizada, os integrantes da Colônia de pescadores do município de São Francisco do Conde reflitam a importância da participação social na formação de um território menos desigual, a partir das necessidades locais.

Santos (2002) Cidadania Pautada da igualdade de direitos, possibilitando que a vida seja usufruída com mínima dignidade.

Possibilitar através da metodologia utilizada, a conscientização de cidadania, o pensar e agir coletivamente, como proposta de transformação social.

Gomes (2006) Cidadania e Participação Social

Cidadania e Participação Social como iniciativa para a construção de uma sociedade menos desigual.

A participação social dos pescadores nas decisões e na organização territorial, como possibilidade de formação de uma consciência cidadã.

Elaboração do autor

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3 RECÔNCAVO BAIANO, SÃO FRANCISCO DO CONDE E A PETROBRAS

Os estudos sobre a relação Recôncavo baiano, Petrobras e o município de São

Francisco do Conde podem ser encontrados em trabalhos acadêmicos,

principalmente aqueles que buscam analisar aspectos relacionados às questões

políticas e econômicas do município.

Embora essas discussões sejam de grande importância para o

desenvolvimento desta pesquisa, o presente estudo, tem como proposta analisar a

relação existente entre território, territorialidade e a participação social da Colônia de

Pescadores em São Francisco do Conde.

Dessa forma, para que fosse possível analisar a territorialidade de São

Francisco do Conde e a participação social dos integrantes da Colônia de pescadores

é necessário entender a formação territorial do Recôncavo baiano e do próprio

município estudado.

3.1 O Recôncavo baiano: a ocupação do território e a dinâmica econômica

Existem diferentes definições de Recôncavo e Recôncavo baiano. Ferreira

(1986) discute o conceito de Recôncavo como: “cavidade funda, gruta, antro, lapa.

Terra circunvizinha duma cidade ou dum porto; enseada. Extensa e fértil região da

Bahia; recôncavo baiano” (FERREIRA, 1986, p. 1463).

De acordo com Brandão (1998), o Recôncavo baiano é definido como:

região que circunda a Baía de Todos os Santos, formando um grande anfiteatro no qual, há quatrocentos anos, se vem desenrolando um dos mais antigos capítulos da colonização do Brasil, que ali teve o seu começo, mas também uma das perspectivas mais promissoras do seu futuro (BRANDÃO, 1998, p. 53).

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Partindo do princípio desta pesquisa e de sua relação com os conceitos de

território e territorialidade, foi utilizada a definição de Brito (2008) que descreve o

Recôncavo baiano afirmando que:

toma-se aqui como Recôncavo Baiano uma extensão do espaço geográfico diretamente associado aos aspectos econômicos, sociais e culturais que evoluíram sob as influências da tradição da economia açucareira e de suas respectivas atividades acessórias – produção de alimentos e criação de animais para o abastecimento no tráfico negreiro e depois se consolidou como lavoura comercial de alto rendimento nos mercados europeus (BRITO, 2008, p. 38).

Territorialmente, segundo Matos (1975) as terras de Paripe e Freguesia

(Salvador) , Matoim (Candeias), se destacavam como área de ocupação populacional

mais antiga do Recôncavo baiano, datado do dia 05 de agosto de 1552, a partir das

expedições jesuíticas e o processo de catequização no território.

De acordo com Matos (1975) a ocupação do Recôncavo baiano, a partir da

produção canavieira e do modo de produção escravista, delimitou as características

socioterritoriais do Recôncavo. É importante destacar a relevância dos canaviais na

produção do território do Recôncavo da Bahia e na definição das relações entre

aqueles de detinham maior poder, principalmente os donos de engenhos e a

sociedade deste território.

Apesar do lucro gerado, pelos engenhos, a partir da produção canavieira,

segundo Becker (1994), o controle em relação aos escravos, homens livres e sobre a

terra era mais importante para delimitar o status social dos proprietários de terra do

que a acumulação de riqueza.

Os pressupostos que guiavam essa política no século XVI sobreviveram até o século XIX. Se essa estratégia não trouxe a prosperidade econômica almejada, em contrapartida ela lançou as bases da estrutura econômica, social e política da colônia, da ocupação efetiva do território contra ameaças externas e de interiorização do povoamento (BECKER, 1994, p. 42).

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O controle exercido pelos senhores de engenho, sobre o território brasileiro,

inclusive no Recôncavo baiano, definiu as bases da estrutura social, econômica e

política do Brasil, caracterizada pela desigualdade social na formação territorial. As

plantations litorâneas das áreas canavieiras foram fundamentais para a estrutura

social, econômica e definição das relações de poder na colônia.

Segundo Santos (1959), devido à insegurança das terras do Recôncavo baiano

por conta dos possíveis ataques de povos estrangeiros, no século XVI, e as

constantes investidas dos indígenas, houve uma estruturação do território voltado

principalmente para as cidades fortificadas.

Assim como Salvador, os municípios de Santiago do Iguape, São Francisco do

Conde, Cairu e Jaguaripe tinham a função de influenciar na incorporação de novas

áreas à fronteira econômica da cidade de Salvador.

Na segunda metade do século XVI, a função militar deu espaço ao maior

aproveitamento econômico, que atendia aos interesses da metrópole. As funções

administrativas deixavam de ser voltadas para a proteção militar e passavam a estar

direcionadas aos objetivos econômicos.

De acordo com estudos de Matos (1975), no período das capitanias

hereditárias a colonização não havia alcançado as terras do Caboto (no atual

município de Candeias) e Matoim (na atual baía de Aratu, município de Salvador), por

conta principalmente da presença de comunidades indígenas que impediam a

ocupação de determinadas áreas.

No governo de Tomé de Souza as terras do Recôncavo baiano ainda não

tinham sido ocupadas de maneira significativa, havendo ocupação com maiores

proporções no governo de Mem de Sá entre os anos de 1558 a 1572. Nesse período,

a organização territorial e a exploração econômica do Recôncavo baiano

apresentavam-se ainda pouco representativas, iniciando o processo de implantação

do cultivo de cana-de-açúcar no fértil solo de massapê2.

De acordo com representação do Recôncavo da Bahia no século XVII,

elaborado por Thales de Azevedo, havia nove municípios que se destacavam

2 Denominação popular para os solos argilosos. No Estado de São Paulo, são constituídos por solos oriundos da

decomposição do granito. No Nordeste são solos férteis nos quais o calcário concorre para a sua formação, sendo muito cultivados com os grandes canaviais. Na Bahia, massapê é o barro originado pela alteração dos folhelhos

da bacia cretácea do Recôncavo (GUERRA, 2008, p. 416).

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principalmente pela produção de fumo e cana-de-açúcar, interligados por linha férrea,

que possibilitava o escoamento da produção (figura 1).

A produção principalmente de cana-de-açúcar cresce, estimulada pelo valor

comercial do açúcar no mercado mundial, influenciando diretamente na organização

territorial do Recôncavo baiano.

FIGURA 1 – RECÔNCAVO DA BAHIA, NO SÉCULO XVII, POR THALES DE AZEVEDO.

Fonte: Brandão (1998).

Segundo Zorzo (2001), nesse contexto o meio de transporte mais utilizado

eram os carros de boi, o lombo de animais, as costas dos homens e o transporte

marítimo. Por conta dos meios de transportes do período, era muito comum o

desenvolvimento de cidades localizadas próximas às margens dos rios como,

Cachoeira, Nazaré e Santo Amaro.

O crescimento da produção canavieira alterou as relações sócio econômicas

entre os municípios do Recôncavo baiano. A proximidade entre os municípios e as

relações econômicas baseadas principalmente na produção de cana-de-açúcar,

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possibilitou que Jaguaripe sofresse influência da cidade de Nazaré, São Francisco do

Conde, Cachoeira e Santiago de Iguape de Santo Amaro.

Ainda no século XVI, a supremacia militar, econômica e importância do

Recôncavo baiano na organização territorial do estado da Bahia já eram evidentes.

A ocupação do território baiano pelos portugueses intensificou-se no século

XVI, baseada numa economia voltada para o mercado externo. A capitania da Bahia

de Todos os Santos foi a primeira a se tonar capitania real, fundando neste mesmo

século a cidade de São Salvador, que foi nomeada a capital da colônia.

Os senhores de engenho que funcionavam como detentores do território do

Recôncavo baiano, exercendo inclusive uma posição de defesa em relação ao

território, delimitavam também as relações de poder e de autoridade existentes no

Recôncavo baiano.

De acordo com Matos (1975), as fazendas de produção açucareira eram

verdadeiros campos de Guerra, principalmente pelos ataques sofridos, decorrentes

da invasão holandesa no início do século XVII. Apesar dos esforços, inclusive a partir

do poderio bélico, vinte e sete engenhos foram incendiados e alguns destruídos. Os

holandeses alcançaram Nossa Senhora de Candeias, atual município de Candeias,

Mataripe, atual distrito de São Francisco do Conde.

Segundo dados existentes na publicação de Matos (1975) o início do século

XVII existiam em média cinquenta engenhos, todos em atividade no Recôncavo

baiano. No século XVIII, esse número triplica para cento e setenta e um engenhos, e

no século XIX o Recôncavo baiano atingiu seiscentos e três engenhos dos quais

apenas quarenta e seis tinham máquinas a vapor, dois utilizando a força d`água, os

outros quatrocentos e noventa e cinco utilizavam força muscular de animais.

Os dados relevam o grande potencial dos canaviais, tanto no que diz respeito

à questão econômica, quanto na formação territorial do Recôncavo baiano. De acordo

com Matos (1975) o aumento no número de engenhos, possibilitou o entendimento

que mesmo a cana-de-açúcar não sendo um produto que interessava a Coroa

Portuguesa, no século XIX, principalmente no que diz respeito à exportação, este

produto apresentava significativa importância dentro da economia nacional, baiana e

do Recôncavo baiano, desmistificando a ideia de crise em sua produção no século

XVIII.

Alcoforado (2007) destaca que na perspectiva da divisão territorial, do século

XIX, o Estado da Bahia, estava organizado em quatro zonas de produção, a primeira

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no Recôncavo baiano com destaque a produção de cana-de-açúcar; a segunda entre

Jaguaribe e Camamu, com a produção de farinha de mandioca; a terceira, com a

produção de fumo e mandioca, e a quarta, o sertão com a criação do gado.

O aperfeiçoamento da fabricação do açúcar, ocorreu no final do século XIX,

graças à implementação de técnicas aperfeiçoadas de produção, incentivadas pela

Revolução Industrial do século XVIII. Ao mesmo tempo, os engenhos que mantinham

as relações tradicionais de trabalho, baseados na mão de obra escrava, sofreram os

impactos da abolição da escravatura nos engenhos.

Apesar dos senhores de engenho terem influência nas decisões políticas,

econômicas e na formação do território do Recôncavo baiano, as relações entre eles

e o trabalhador rural começavam a apresentar alterações com a abolição da

escravatura, incentivadas principalmente pela utilização de novas técnicas de

produção, desemprego nas áreas rurais e o crescimento dos espaços urbanos.

Segundo Santos (1959), no contexto do Brasil República, em 1940, do século

XX, inicia um período de transformações nas cidades do Recôncavo baiano, inclusive

no que diz respeito à hierarquia regional. A primeira mudança foi à implantação de

uma rede de estradas de rodagem aos antigos caminhos das ferrovias; o crescimento

da população urbana da cidade de Salvador, e consequente elevação dos padrões de

vida, exigiam um maior abastecimento e desenvolvimento das novas áreas de

produção alimentar.

Na visão de Matos (1975), a descoberta do petróleo no subsolo do Recôncavo

baiano, possibilitou transformações territoriais, intensificando os desequilíbrios

econômicos entre as classes sociais. Nesse contexto, a exploração petrolífera,

possibilitou transformações na organização territorial, a partir da dinamização da

economia e intensificação das redes de comunicação, através de rodovias,

possibilitando um maior fluxo de pessoas e mercadorias neste território.

3.2 A Petrobras e a influência na organização sócio territorial do Recôncavo baiano e de São Francisco do Conde

Na década de 1930, pesquisas relacionadas à extração de petróleo e gás

natural, cresciam no Brasil, inclusive no Recôncavo baiano. Com a pretensão de inibir

a atuação dos trustes mundiais de petróleo, o governo brasileiro tomou algumas

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medidas, como: a publicação do Código de Minas de 1934 e 1940, a criação do

Conselho Nacional do Petróleo (CNP) em 1938, e a nacionalização para a pesquisa

e extração do petróleo.

No Recôncavo baiano, neste período, a CNP encontrou um território baseado

na produção e industrialização da cana-de-açúcar por meio de grandes usinas, cultivo

do fumo e sua manufatura.

Oliveira (2003) destaca que em 1950 o Brasil passava por um momento político

- econômico em que a implantação de empresas nacionais seria de fundamental

importância para a consolidação da estratégia nacionalista de desenvolvimento,

baseado principalmente na implementação de empresas estatais voltadas

principalmente para o setor extrativista, como a Petrobras. O enfraquecimento das

atividades primárias ligadas à agricultura e o crescimento das ações da CNP

ganharam espaço com a ampliação e as descobertas de campos de petróleo e gás

natural.

Em contraposição à comissão Mista Brasil-Estados Unidos que pretendia, em

1951, investir com a ajuda de capital norte-americano nos setores energético e viário,

surgiram os movimentos de nacionalização do Petróleo, com o lema “O Petróleo é

nosso”. Oliveira (2003) afirma que

entre 1947 e 1953, a polêmica sobre a proposta da criação de uma empresa estatal monopolista para exploração do petróleo mobilizou e dividiu o Brasil. Os defensores da ideia argumentavam que essa era a única alternativa para evitar que as gingantes anglo-americanas como Standard Oil, Shell, Texaco, Mobil Oil e Esso tivessem o controle oligopolizado sobre a prospecção, o refino e a distribuição do produto que se constituía no elemento – chave da Segunda Revolução Industrial. A criação da Petrobras foi finalmente aprovada pelo Senado e sancionada por Getúlio Vargas em 3 de outubro de 1953 (OLIVEIRA, 2003, p.43)

No Recôncavo baiano, as condições naturais, ligadas principalmente a bacia

sedimentar, possibilitou a exploração petrolífera. Segundo Guerra (2008), a bacia

sedimentar define-se como:

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depressão enchida de detritos, carregados das áreas circunjacentes. A estrutura dessas áreas é geralmente composta de estratos concordantes ou quase concordantes que mergulham normalmente da periferia para o centro da bacia (GUERRA, 2008, p. 77-78).

No Recôncavo baiano, na década de 1950, o processo de industrialização

intensifica-se, impulsionado pela instalação da Refinaria Landulpho Alves no distrito

de Mataripe e Caípe, em São Francisco do Conde (mapa 03).

Segundo Becker (1994), a Petrobras consolidou um projeto em defesa de um

capitalismo nacional com intervenção do Estado, baseado principalmente na indústria

petroquímica estatal. Esse projeto efetivou-se inicialmente em São Francisco do

Conde, na Bahia, redefinindo as relações políticas, de poder e econômicas do

município, reorganizando este território para a exploração petrolífera.

“Os investimentos na construção de estradas restrita aos campos de

exploração de petróleo, cresceram à taxa real média de 16% entre os anos de 1958

e 1959” (OLIVEIRA, 2003, p. 44).

Neste contexto econômico, Brito (2004) destaca, como a partir da exploração

petrolífera as relações sociais, influenciaram na organização territorial do Recôncavo

baiano. Segundo o autor, a década de 1960 foi marcada principalmente por um

momento onde houve um consenso firmado taticamente entre a Petrobras, enquanto

companhia, e dos demais agentes sociais que de forma direta ou indireta tinham

interesse nas atividades relacionadas ao petróleo no Recôncavo baiano.

Neste momento, a Petrobras não se apresentava mais como um elemento

estranho na sociedade e por este motivo não precisava mais ser combatida. A

empresa petroquímica despontava como um elemento hegemônico no Recôncavo

baiano, tornando possível novas configurações a este território.

A partir de estudos de Oliveira (2003), o número de investimentos da Petrobras,

no Estado da Bahia e mais especificamente no Recôncavo baiano, aumenta de forma

gradativa,

entre 1955 e 1959, o total de investimentos corresponderá de 1% até 7,4% da renda total e de 8,1% a 66,9% da renda interna industrial do estado da Bahia. A massa de salários pagos pela Petrobras despejada na economia baiana cresceu à razão anual de 18% reais, entre 1958 a 1969, e no mesmo período se elevou de 7,64% a 38,7% do total da

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renda industrial interna do estado, tendo atingido o nível de quase 50% no ano de 1967. Toda essa massa monetária, de investimentos e salários concentrada num espaço reduzido, praticamente no Recôncavo e em Salvador, transformou a economia baiana radicalmente (OLIVEIRA, 2003, p. 43).

MAPA 1 – LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DO CONDE / REFINARIA DE LANDULPHO ALVES – BA

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A Refinaria Landulpho Alves representou um referencial no processo de

crescimento na Bahia, marcando um novo período tanto na organização do território

baiano, quanto na economia do Estado.

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São Francisco do Conde, sendo o município onde inicialmente implanta-se a

Refinaria Landulpho Alves (RLAM), sofreu os impactos, relacionados à exploração

Petrolífera, na economia, inclusive na geração de empregos.

Dados do IBGE afirmam que na década de 1970, o setor industrial era o

segundo que absorvia maior quantidade de mão de obra, com 1.870 trabalhadores

voltados principalmente para atividades ligadas à exploração petrolífera. O setor

industrial perdia apenas para a agricultura que absorvia na mesma década, 1.932

trabalhadores.

De acordo com Brito (2004), no que diz respeito à quantidade de petróleo

extraído, o grande volume do óleo no Recôncavo baiano entre as décadas de 1950 e

1960 já superavam a expectativa governamental, ultrapassando a barreira dos 100

mil barris de petróleo por dia. A instalação da indústria automobilística no Brasil na

década de 1950 e o acelerado processo de urbanização estimularam o aumento de

consumo de derivados de petróleo.

O autor afirma que, apesar do grande volume de recursos financeiros,

direcionados para Recôncavo baiano, os cincos anos seguintes ao início das

atividades de exploração petrolífera no município de São Francisco do Conde em

1953, não se traduziram em um desenvolvimento econômico baseado nas atividades

industriais. Os investimentos da Petrobras na Bahia resumiam-se a obras de

infraestrutura, como: ampliação das refinarias, abertura e asfaltamento de estradas

no Recôncavo baiano e despesas com suprimentos de serviços por empresas locais.

Desta forma, o papel econômico na organização territorial do Recôncavo baiano era

focado nos interesses da própria companhia. Destaca que as ações microeconômicas

da Petrobras no Recôncavo baiano, voltadas principalmente para o benefício quase

que exclusivo da companhia, desencadeou um forte grau de insatisfação e atos contra

a empresa, inclusive de trabalhadores, que se manifestavam através de greves em

defesa de melhores condições de trabalho e salários.

Analisando as ações da Petrobras em infraestrutura relacionadas ao objeto de

estudo, percebe-se o quanto as mudanças aplicadas pela companhia tinham como

interesse a reorganização territorial do Recôncavo baiano, para atender as

necessidades da própria empresa e não da sociedade do município de São Francisco

do Conde, onde a extração do petróleo acontecia em grandes proporções.

Um exemplo deste fato, citado, por Brito (2004), ocorreu nos fins de 1959,

momento em que a extração de óleo do Recôncavo baiano atingiu cerca de 100 mil

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barris de petróleo por dia (bpd), porém a capacidade de refino da Refinaria de

Landulpho Alves (RLAM), localizada em São Francisco do Conde, era de apenas 10

mil barris de petróleo por dia (bpd). Nessa perspectiva, a RLAM foi definida como

sendo uma Refinaria pequena demais em relação ao volume de óleo extraído por dia

e concorrendo diretamente com outras refinarias localizadas no Sul e Sudeste

brasileiro, tanto da iniciativa privada, quanto públicas, que apresentavam uma

capacidade de refino bem maior como a Refinaria Presidente Bernardes - Cubatão,

no Estado de São Paulo que no ano de 1958 já tinha capacidade de refinamento de

petróleo de 80 mil barris de petróleo por dia(bpd).

O pequeno potencial de refino de petróleo da Refinaria Landulpho Alves, a

colocava no ano de 1959 na quinta posição, no Brasil, em volume de processamento

de óleo, graças a uma política empregada pela Petrobras em investir nas regiões de

maior mercado consumidor de seus produtos, como o estado de São Paulo, não

promovendo um desenvolvimento de outras regiões brasileiras.

Segundo Brito (2008), na década de 1970, além do crescimento na extração de

Petróleo no Recôncavo baiano e litoral paulista e do Rio de Janeiro, iniciou o processo

de implantação de projetos industriais que tinham como principal objetivo a produção

de bens intermediários, pretendendo complementar a matriz de produção

desenvolvida no Sudeste brasileiro. Todo esse conjunto de investimentos foi

concentrado, principalmente nos municípios próximos a Salvador, como Candeias,

Camaçari e Simões Filho.

O investimento no setor industrial reduziu a produção na agricultura e uma

participação mais intensa do setor secundário e terciário no Produto Interno Bruto

(PIB) estadual.

Até o ano de 1970, a Bahia apresentou um processo intenso de

transformações, fortalecidas pelo Plano de Desenvolvimento da Bahia (PLANDEB),

que projetou um crescimento do setor industrial, promovendo um equilíbrio entre os

bens de consumo e os bens de capital, priorizando as grandes empresas produtoras

de bens intermediários, aproveitando potencialidades do Recôncavo baiano como o

petróleo.

Nesse contexto, a capacidade de refinamento da Refinaria Landulpho Alves em

São Francisco do Conde, segundo dados de Brito (2004), tinham aumentado 77,5 mil

barris de petróleo por dia. O aumento no refinamento de petróleo em RLAM começava

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a atender as necessidades do crescimento da economia da Bahia, mas ainda não

conseguia suprir as necessidades do estado.

De acordo com estudos de Brandão (1998, p.57),

o advento da Petrobras, apesar de sua estrutura gigantesca, de seu papel catalizador na ampliação e geração de intensas transformações no sistema viário, no mercado de trabalho e nos mercados bancário e imobiliário, criou um novo mundo relativamente fechado, que se mostraria incapaz de revitalizar a região, em seu conjunto, frente a uma estrutura arcaica e desgastada.

No decorrer das décadas de 1980 e 1990, ao mesmo tempo em que a

Petrobras possibilitou alterações estruturais no Recôncavo baiano, a estrutura arcaica

e as relações de poder centradas numa política assistencialista, não possibilitaram

uma redinâmica no aspecto social, principalmente em relação àqueles menos

favorecidos economicamente.

Segundo dados da Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos da

Bahia (SEI), em 2013 a extração de petróleo e a petroquímica representaram 60% da

economia baiana. De acordo com a Petrobras, os investimentos na extração e

refinamento tendem a aumentar na Bahia e no Recôncavo uma vez que o petróleo

tem alto valor agregado e boa qualidade para o refino.

3.3 São Francisco do Conde e a formação territorial

Nessa seção abordam-se aspectos relacionados à caraterização da área de

São Francisco do Conde, no Estado da Bahia, levando em consideração a formação

territorial do município, a relação São Francisco do Conde e a Petrobras, assim como

a formação da estrutura urbana do município, com a Colônia de Pescadores Z-05 e

os aspectos demográficos de São Francisco do Conde.

3.3.1 A formação territorial de São Francisco do Conde.

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Levando em consideração as características geoambientais, o município de

São Francisco do Conde, possui altitude variável de 3 a 135 m, clima tropical úmido

com temperatura entre 19ºC a 28ºC. Dista de Salvador 66 km por rodovias asfaltadas

como, BR-324, BA- 522 e BA-879. Possui área de 184 km², distribuídos em topografia

pouco acidentada de elevações de baixa altitude, sendo o seu ponto mais alto o Monte

Recôncavo situado ao fundo da Baía de Todos os Santos, na foz do rio Sergimirim.

Têm limites com os municípios de Santo Amaro da Purificação ao norte, São

Sebastião do Passé a leste, e Candeias ao sul (mapa 2).

MAPA 2 – LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DO CONDE - BAHIA

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No ano de 2010, o Governo do Estado da Bahia, reconheceu os Territórios de

Identidade como divisão territorial oficial para o planejamento das políticas públicas

da Bahia. Classificando 417 municípios baianos, subdivididos em 27 Territórios de

Identidade, a partir da especificidade de cada território (Mapa 01).

MAPA 3 – BAHIA: TERRITÓRIOS DE IDENTIDADE

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Fonte: Freitas, 2013.

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De acordo com Secretaria do Planejamento (SEPLAN), o território é definido

como:

um espaço físico, geograficamente definido, geralmente contínuo, caracterizado por critérios multidimensionais, tais como o ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política e as instituições, e uma população com grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de processos específicos, onde se pode distinguir em ou mais elementos que indicam identidade, coesão social, cultural e territorial (SEPLAN, 2010)

O município pesquisado, São Francisco do Conde, está localizado no Território

de Identidade Metropolitano de Salvador, juntamente com os municípios de Camaçari,

Candeias, Dias D'Ávila, Itaparica, Lauro de Freitas, Madre de Deus, Mata de São

João, Pojuca, Salvador, São Sebastião do Passé , Simões Filho e Vera Cruz.

Registros históricos comprovam que as terras que atualmente fazem parte do

município de São Francisco do Conde, foram habitadas pelos tupinambás, caetés,

potiguaras e negros provenientes principalmente das lavouras de cana-de-açúcar.

Em 1559, o terceiro governador-geral do Brasil, Mem de Sá, concedeu uma

sesmaria perto de Salvador a Fernão Rodrigues Castelo Branco.

De acordo com Cunha (1976), em 1629, Gaspar Pinto dos Reis e sua mulher

Dona Isabel Fernandes, doaram no lugar conhecido por Sítio, na antiga Sesmaria de

D. Fernando de Noronha, Conde de Linhares, cento e quarenta e três braças de terras,

aos religiosos franciscanos que deram início a construção de uma Igreja e um

Convento denominado Convento Santo Antônio (fotos 1 e 2).

FOTO 1 – IGREJA MATRIZ DE SÃO GONÇALO DO AMARANTE E CONVENTO DE SANTO ANTÔNIO - 1947

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Fonte: IBGE (2015).

FOTO 2 – IGREJA MATRIZ DE SÃO GONÇALO DO AMARANTE E CONVENTO DE SANTO ANTÔNIO - SÃO FRANCISCO DO CONDE, BAHIA

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Fonte: Trabalho de campo (2015).

Com a inauguração do Convento no ano de 1636, o número de residências no

seu entorno aumentou consideravelmente, sendo formada uma próspera povoação e

passou a ser denominado São Francisco do Sítio ou Sítio de São Francisco.

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A partir da Carta Régia de D. Pedro II, em 27 de dezembro de 1693, que

autorizava a criação de vilas na Bahia, em locais potencialmente favoráveis

economicamente, para a Coroa Portuguesa, o Governador Geral do Brasil Dom João

de Lancastro, realizou uma excursão pelo Recôncavo baiano.

Esta excursão resultou na Portaria de 27 de novembro de 1697, que propiciou

a elevação para categoria de vila a Povoação de São Francisco da Barra do Sergi do

Conde, por está situada na foz do Rio Sergi do Conde. Nesse período, a produção

agrícola de cana-de-açúcar destacava-se na Vila, garantindo lucros signifivativos para

a Coroa Portuguesa.

Segundo Cunha (1976), a Vila de São Francisco da Barra do Sergi do Conde

foi instalada numa solenidade em 16 de fevereiro de 1698, pelo Desembargador

Estevão Ferraz de Campos. Nesse momento, pertenciam ao território da Vila às

freguesias de Nossa Senhora da Purificação do Sergi do Conde, Nossa Senhora do

Monte Recôncavo e Nossa Senhora do Socorro do Recôncavo.

Vale ressaltar que São Francisco do Conde, por meio de um decreto nº 5.857,

de 23/06/1875, a partir de uma política de D. Pedro II, foi criado a Imperial Escola

Agrícola da Bahia, que tinha como principal pretensão solucionar problemas

relacionados à mão-de-obra, capital e atraso tecnológico que apresentava a

agricultura brasileira no final do século XIX. Atualmente o prédio encontra-se em

ruínas no bairro Babilônia (FOTO 03).

Após ser denominada Vila de São Francisco da Barra do Sergi do Conde,

passou a ser denominada Vila de São Francisco e com esse nome pelo Decreto

número 10.724, de 30 de março de 1938, foi elevada a categoria de cidade. Com essa

denominação permaneceu até 1943, quando o decreto número 141, de 31 de

dezembro foi transformado para São Francisco do Conde.

A formação territorial de São Francisco do Conde destacou-se principalmente

numa economia baseada na produção canavieira, com engenhos que tiveram

representatividade econômica na Bahia e no território brasileiro.

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FOTO 3 – RUÍNAS DA ESCOLA AGRÍCOLA DA BAHIA – SÃO FRANCISCO DO CONDE – BAHIA.

Fonte: Trabalho de campo (2015) .

A cidade de São Francisco do Conde, antes da implantação da Petrobras,

apresentava uma estrutura urbana com poucas ruas principais, das quais se seguiam

ruas secundárias. Não havendo veículos automotores, o meio de transporte particular

mais usado era o carro de boi ou o animal de montaria. Não havia rede de esgotos,

existindo instalações sanitárias somente nas casas dos latifundiários que além de ter

grandes extensões de terra na área rural, possuíam residências no centro urbano.

Nesse espaço urbano ocorria uma mínima divisão entre as zonas de residência,

comércio e lazer.

3.3.2 São Francisco do Conde, a formação da estrutura urbana e a Petrobras

De acordo com Santana (2011), a construção da Refinaria Landulpho Alves, foi

iniciada em 1947, com obras de terraplanagem, porém apenas em 1949 a construção

foi efetivada, na Fazenda Barreto, localizada entre os rios Mataripe e São Paulo, no

território de São Francisco do Conde (FOTOS 04, 05, 06 E 07).

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FOTO 04 – REFINARIA LANDULPHO ALVES – OBRAS DE TERRAPLANAGEM – 1947. SÃO FRANCISCO DO CONDE – BAHIA.

Fonte: Santana (2011).

FOTO 05 – REFINARIA LANDULPHO ALVES – OBRAS DE TERRAPLANAGEM – 1947. SÃO FRANCISCO DO CONDE – BAHIA.

Fonte: Santana (2011).

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Desde a decadência da produção de cana-de-açúcar, o município apresentou

um forte declínio de sua economia. A partir da década de 1950, as mudanças iniciam-

se, relacionados principalmente a extração de petróleo.

FOTO 06 – CONSTRUÇÃO DA REFINARIA LANDULPHO ALVES – 1947. SÃO FRANCISCO DO

CONDE – BAHIA.

Fonte: Santana (2011).

No município de São Francisco do Conde, a Petrobras inicia a pesquisa e

consequente exploração de petróleo e instala uma pequena refinaria no distrito de

Mataripe. Segundo Santana, a construção da Refinaria Landulpho Alves (RLAM),

envolveu trabalhadores rurais e pescadores, da região, que mesmo sem preparo técnico, enfrentaram as intempéries do trabalho pesado para ver a obra avançar, uns treinavam nas máquinas enquanto outros cavavam os buracos para a construção do campo (SANTANA, 2011, p.40).

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Do ponto de vista da estrutura social, as atividades da Petrobras instauraram

um processo migratório para a cidade de São Francisco do Conde, principalmente

para a construção da Refinaria Landulpho Alves. Para Santana (2011, p.37),

surgiu então uma nova classe social oriunda das atividades da empresa petrolífera. Criaram-se os acampamentos para os engenheiros, técnicos e operários que se superpõem ao território, enquanto estava na jornada de trabalho e como um elemento estranho a estrutura tradicional existente; advindas de lugares diferentes, em diversas escalas e temporalidades.

Por conta do status social, a carência de serviços, a fragilidade de estrutura

urbana e saneamento básico em São Francisco do Conde, as famílias pertencentes

principalmente à mão de obra técnica, fixaram-se na cidade de Salvador.

FOTO 07 – ENTRADA DA REFINARIA LANDULPHO ALVES EM MATARIPE – 1949. SÃO

FRANCISCO DO CONDE – BAHIA.

Fonte: Santana (2011).

Durante três décadas, o Recôncavo baiano foi o único produtor nacional de

petróleo, chegando a produzir um quarto das necessidades nacionais. A cidade

exponencialmente torna-se o local onde o novo operariado residiu, sendo à base de

operação de outras firmas subcontratadas da Petrobras. Modifica-se a configuração

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do desenho urbano daquele espaço, visto “como produto da transformação da

natureza pelo trabalho social/ político” (CASTRO, 1992, p. 95).

Segundo Oliveira (2003, p. 57),

os salários pagos pela Petrobras, injetavam na economia baiana uma redinamização do capital e na geração de empregos. As atividades demandadas pela Petrobras dão uma nova dinâmica à construção civil, inclusive em São Francisco do Conde. Os investimentos na construção de estradas restritas aos campos de exploração de petróleo crescerão à taxa média anual de 16% entre 1958 e 1959, além disso, por causa da escassez na área de habitação, aconteceu um importantíssimo crescimento da indústria da construção civil e de seus materiais, influenciando principalmente na transformação do espaço urbano.

As transformações ocorridas no espaço urbano possibilitaram o êxodo rural -

saída do campo para a cidade - em São Francisco do Conde e a criação de empregos

indiretos, principalmente na construção civil e estradas.

Esta transição da população rural para a urbana em São Francisco do Conde

foi bastante significativa principalmente entre as décadas de 1980 e 1990. Durante

este intervalo de 10 anos, a população urbana passou de 39,7% em 1980, para 84,5%

em 1990 (gráfico 01).

As transformações na estrutura social e urbana no município de São Francisco

do Conde foi resultado das transformações da estrutura populacional, antes

concentrada no espaço rural, por conta de atividades econômica como cana-de-

açúcar, pecuária e pesca, mas que aos poucos passou a concentrar a população na

cidade, por causa não somente da Petrobras, que gerava empregos, mas também do

crescimento urbano e do setor de comércio e serviços.

Ao mesmo tempo em que o êxodo rural foi marcante durante as décadas de

1980 a 1990 em São Francisco do Conde, o incremento populacional foi relativamente

pequeno, passando de 17.825 habitantes em 1980, para 20.238 habitantes em 1990.

Ainda no que diz respeito à evolução populacional, no município de São

Francisco do Conde, ocorreu entre as décadas de 1970 e 1980, um fato que merece

ser registrado. Ao invés do crescimento da população total, houve uma diminuição

deste índice entre as décadas de 1970 a 1980, observando o município apresentava

20.738 habitantes em 1970 e 17.825 habitantes em 1980. Esta diminuição da

população entre as duas décadas foi resultado do fluxo migratório de funcionários da

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Petrobrás para a cidade de Salvador, e outros habitantes do município em busca de

maiores possibilidades de serviços, principalmente na capital baiana. A população em

São Francisco do Conde volta a crescer a partir da década de 1990, graças ao

desenvolvimento do setor terciário no município (gráfico 02).

GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO URBANA E RURAL EM 1970 – 2010 (SÃO FRANCISCO DO CONDE – BA)

Fonte: Censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE - 1970, 1980, 1991, 2000, 2010). Elaboração do autor.

GRÁFICO 2 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO EM 1950 – 2010 (SÃO FRANCISCO DO CONDE – BA)

Fonte: Censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE - 1970, 1980, 1991, 2000, 2010). Elaboração do autor.

70,8

60,3

15,5 16,7 17,4

29,2

39,7

84,5 83,3 82,6

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1970 1980 1990 2000 2010

Rural Urbana

11.181

18.200

20.738

17.825

20.238

28.144

33.172

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

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A Petrobras marcou o Recôncavo Baiano e São Francisco do Conde com o

crescimento no número de estradas, oleodutos, tanques, poços, escolas, hospitais,

abertas para a pesquisa, a extração e o embarque do petróleo (fotos 8, 9 e 10).

FOTO 8 – ESCOLA MUNICIPAL SÃO FRANCISCO DO CONDE – 1963. SÃO FRANCISCO DO

CONDE- BA.

Fonte: IBGE (2015).

FOTO 09 – CENTRO DE SAÚDE E OBSTETRÍCIA – CÉLIA ALMEIDA LIMA – 1970. SÃO FRANCISCO DO CONDE- BA

Fonte: IBGE (2015).

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Para além das transformações estruturais, segundo Oliveira (2003), a inserção

da Petrobras em São Francisco do Conde, provocou um choque entre a economia do

petróleo e sociedade tradicional existente no campo, conduzindo a mudanças

significativas no meio rural. Dentre elas: prejuízos diretos das lavouras, da pecuária e

das atividades industriais; concorrência de salários, entre a atividade agrícola e as

atividades desenvolvidas pela Petrobras, obrigando os proprietários de terra reajustar

os salários e a consequente evasão da mão-de-obra, recrutada pela Petrobras,

principalmente aqueles trabalhadores de nível médio mais qualificado como:

motoristas, ferreiros, tratoristas, soldadores e torneiros.

Além das alterações relacionadas às atividades econômicas presentes no

campo, houve prejuízos significativos na atividade pesqueira, que sofreu os impactos

da implantação da Petrobras, principalmente desaparecimento dos peixes no

momento de instalação das plataformas de extração de petróleo, que causavam

explosões e os espantavam, causando prejuízos para aqueles que sobreviviam da

atividade da pesca.

De acordo com Oliveira (2003), outros problemas foram causados nas áreas

rurais como: a dificuldade em mão-de-obra, por conta dos frequentes desvios de

trabalhadores para reparos nas estradas; divisão de propriedades de terra por conta

da abertura de estradas e passagem de oleodutos e implantação de tanques (foto 10);

os prejuízos causados pelo não pagamento das indenizações recebidas pelos

estragos sofridos e das rendas auferidas de áreas ocupadas, somados a

desvalorização das propriedades rurais e também os latifúndios pertencentes ao

estado em terras férteis, mas que a partir daquele momento não teria aproveitamento

econômico.

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FOTO 10 – TANQUES DA REFINARIA LANDULPHO ALVES – 1950. SÃO FRANCISCO DO CONDE – BAHIA.

Fonte: Santana , 2011.

Todos os impactos causados pela extração petrolífera influenciaram de forma

direta e indireta nas áreas rurais de São Francisco do Conde, aumentando os

prejuízos dos proprietários de terras, causando desempregos e consequente

migração para o espaço urbano (gráfico 01).

Se para os latifundiários, a situação ficou complicada, para os pequenos

produtores rurais, houve uma diminuição de suas rendas, desorganização de suas

economias, da estrutura familiar e migração para o centro urbano.

Os comerciantes tiveram um papel importante no crescimento da cidade e na

configuração da rede urbana, pois se distribuíam principalmente pelo centro,

assumindo as diversas categorias sociais, desde o negociante até o ambulante, sendo

os maiores pagantes dos impostos.

Porém, mesmo com o crescimento do comércio e beneficiamento por parte

desses comerciantes, estes fatos não significaram a construção de diferente modo de

vida; surgiram às feiras livres, que depois iriam configurar em grandes mercados

cobertos, como forma de urbanizar o acontecimento de penetração da esfera rural no

meio urbano.

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A migração da população do espaço rural para o urbano provocaram

transformações significativas no território de São Francisco do Conde, redesenhando-

o a partir das novas necessidades dos habitantes locais. O croqui produzido a partir

do redesenho dos mapas utilizados para o abastecimento de água da cidade, mostra

a evolução do desenho urbano do município de São Francisco do Conde entre as

décadas de 1970, 1980, 1990 e 2000 (figura 2).

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FIGURA 02 – CROQUI DA EVOLUÇÃO DO DESENHO URBANO DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DO CONDE - BA

BA 522 BA

522

BA 522

EstádioEstádio

BA 522

6

4

2

1

3

Baía de Todos os Santos Baía de Todos os Santos

MangueMangue Mangue

Mangue

Mangue

Mangue

Mangue

Mangue

Mangue

Mangue

LEGENDA

BA 522

Primeira escola agrícola da América Latina, criadaem 1959, por D. Pedro II

e inaugurada em 1877,funcionou até 1930.

Convento Santo Antônio,conjunto arquitetônicodo século XVII, na praçaArtur Sales.

Petrobras, im plantada na década de 50 no governo de G etúlio Vargas, no

distrito de M ataripe, parte da política nacionalista de desenvolvim ento

1- Cais do Porto2- Colônia de Pescadores3- Estádio Municipal4- Reservatório da Embasa5- Mercado Municipal6- Praça Aurthur Sales

Centro urbano 2000

Década de 80

Década de 70

Zona periférica

Rodovias

5

Zona Periférica, que cresceu nadécada de 90, sendo habitadaprincipalmente, pela comunidade

pesqueira da cidade

Fonte: EMBASA, 1970, 1984, 1992, 2000. Elaboração do autor

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3.3.3 A atividade pesqueira em São Francisco do Conde e a Petrobras

Para além das transformações no território de São Francisco do Conde, uma

das atividades que sofreu impacto causado pela atuação da Petrobras foi à

piscicultura. Com o objetivo de defender os interesses da comunidade pesqueira, a

Colônia de Pescadores Z-05 é fundada no ano 1973, por conta de uma série de

problemas gerados pela instalação da Refinaria Landulpho Alves (RLAM).

Primeiro, a perda de mão-de-obra, para a construção da Refinaria Landulpho

Alves, segundo, pela ocupação das áreas de pesca e de mariscagem por conta dos

trabalhos de exploração do lençol petrolífero e terceiro as explosões constantes para

a inserção das plataformas, que causavam a fuga dos peixes.

Em 2007, a retirada de antigas plataformas desativadas, desde 1997, da

Petrobras, na zona litorânea de São Francisco do Conde, veio a prejudicar a produção

da pesca do município. De acordo com os pescadores, a plataforma foi retirada acima

da lama do mar, não havendo inclusive sinalizações para que fosse evitada a pesca

no local, ou seja, a estrutura metálica da plataforma não foi retirada em sua base e

sim, acima da plataforma continental 3 cortando as redes dos pescadores e

consequentemente causando prejuízos para a comunidade pesqueira (foto 11).

Por conta do prejuízo causado pelo corte das redes dos pescadores, foi movida

uma ação judicial da Colônia de Pescadores Z-05, contra a Petrobras e até o momento

não houve uma sentença definitiva, com o objetivo de reparar os danos causados a

comunidade pesqueira.

FOTO 11 – REDES CORTADAS POR PLATAFORMAS DESATIVADAS DA PETROBRAS. SÃO FRANCISCO DO CONDE – BA.

3 “Planalto Continental é o nome dado ao planalto submerso que orla todos os continentes. O aspecto

topográfico é de uma superfície quase plana, cujos declives são pouco acentuados até a cota de 200 metros. Na morfologia submarina é nele que encontramos o maior número de acidentes, pelo fato de o efeito da erosão submarinha não se fazer sentir a grandes profundidades. A plataforma continental possui depósitos de origem continental, algumas vezes grosseiros, que não se tornando mais finos à medida que aumentam a profundidade e a distância da linha da costa. A região da plataforma continental aparece em continuação às terras firmes, ou melhor, às terras emersas, e constitui um prolongamento da área continental emersa. Em termos numéricos temos, por conseguinte, para a plataforma continental, a área que vai desde o nível zero até a isóbata de 200 metros. O planalto continental representa, por assim dizer, o limite batimétrico de penetração da luz solar e das variações da temperatura, em função da mudança das estações. Marca, ainda, o planalto continental o limite da existência da vegetação submarina e, e consequentemente, da fauna herbívora. Abaixo da zona oceânica, isto é, a partir do talude continental, encontramos uma fauna carnívora” (GUERRA, 2008, p. 496).

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Fonte: Colônia de Pescadores Z-05, 2007.

Em 2009, acidentes relacionados aos vazamentos de óleo também

prejudicaram a atividade pesqueira. Segundo dados do Instituto do Meio Ambiente da

Bahia (IMA), em abril de 2009, houve multa à Petrobras em R$ 30 milhões pelo

vazamento de 2,3 mil litro de óleo se espalhou por 2,5 quilômetros de mar aberto, e

no primeiro dia causou a morte de 15 toneladas de peixe.

O desastre ambiental atingiu os municípios de São Francisco do Conde, São

Sebastião do Passé, Saubara, Santo Amaro, Madre de Deus e Candeias, causando

prejuízos aos pescadores e consequente diminuição de renda.

FOTO 12 – DISTRITO DE CAÍPE EM SÃO FRANCISCO DO CONDE: DERRAMAMENTO DE ÓLEO QUE VAZOU DA REFINARIA LANDULPHO ALVES.

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Fonte: Jornal A Tarde (2015).

De acordo com dados do IMA, em 2012, outro acidente ambiental ocorreu

relacionado a um duto da Petrobras, que liga a Refinaria de Landulpho Alves ao

Terminal de Madre de Deus, que sofreu um vazamento de 130 litros de diluente de

óleo combustível, que também causou prejuízos a comunidade pesqueira.

O vazamento foi resultado de uma ruptura na tubulação da Refinaria. Segundo

informações do presidente da Colônia de Pescadores Z-05, no ano do acidente, a

Petrobras alegou que a responsabilidade em relação ao rompimento da tubulação era

da Prefeitura de São Francisco do Conde, tendo em vista que a Refinaria repassa a

verba para que a mesma se responsabilize pela manutenção da tubulação.

FOTO 13 – DISTRITO DE CAIPE EM SÃO FRANCISCO DO CONDE- BA: TÉCNICOS DA PETROBRÁS REALIZANDO A LIMPEZA DA PRAIA NO DISTRITO DE CAIPE.

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Fonte: Jornal A Tarde (2012).

FOTO 14 – DISTRITO DE CAIPE EM SÃO FRANCISCO DO CONDE-BA: ÁREA ATINGIDA PELO DERRAMAMENTO DE ÓLEO.

Fonte: Jornal A Tarde (2012).

Em 2015, de acordo com o Diário de Justiça do Estado da Bahia, o julgamento

da Ação Indenizatória por Danos Morais e Materiais, determinou que a Petrobras

indenizasse cerca de 5.046 pescadores dos municípios São Sebastião do Passé,

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Saubara, Santo Amaro, Madre de Deus e Candeias, por conta do vazamento de óleo

na Bahia de Todos os Santos em 2009. Porém, segundo o Tribunal de Justiça da

Bahia, a Petrobras informou que adotará as medidas necessárias para recorrer à

decisão judicial e garantir o seu direito de rever a indenização para os pescadores. O

valor da indenização delimitada pela justiça baiana é no valor de R$ 500,00 mensais

por um período de um ano, para cada pescador, sujeito a juros de 1%, a contar pela

data da citação, e correção monetária de acordo com o Índice Nacional de Preço ao

Consumidor (INPG).

De acordo com a Federação de Pescadores e Aquicultores da Bahia

(FEPESCA), a decisão judicial beneficiará a comunidade pesqueira dos municípios

atingidos, que na época ficaram impossibilitados de exercer sua atividade profissional,

por causa do óleo que acabou matando peixes, afetando inclusive as áreas de

manguezais.

No caso dos pescadores da cidade de São Francisco do Conde, local onde

está localizada a Refinaria Landulpho Alves, devido à gravidade do acidente e os

prejuízos causados para a comunidade pesqueira local, há uma ação própria da

Colônia de Pescadores Z-05, que ainda não houve uma decisão judicial no que diz

respeito à indenização à comunidade pesqueira.

Em 2014, a Bahia Pesca em parceria com a Petrobras começou a desenvolver

o Projeto Pescando Saberes4, que segundo a Secretaria de Agricultura do Estado da

Bahia (2014) entregaram 30 embarcações aos pescadores de São Francisco do

Conde e Madre de Deus, via sorteio, juntamente com redes de pesca e freezers.

3.3.4 Aspectos sociodemográficos de São Francisco do Conde

Apesar das transformações estruturais, causadas principalmente pela

implantação da Petrobras, o incremento populacional, no município de São Francisco

do Conde foi relativamente lento, se levarmos em consideração que entre as décadas

4 O Projeto Pescando Saberes realizou oficinas com os pescadores de São Francisco do Conde sobre

confecção e manutenção das redes de pesca, além de atividades relacionadas à saúde ocupacional,

segurança no mar, navegação, primeiros socorros e combate a incêndio e trânsito marítimo.

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de 1950 a 2010, houve um aumento de aproximadamente 20.000 habitantes (gráfico

2).

Se comparado a outros municípios próximos como, Camaçari que em 1950

possuía uma população de aproximadamente 13.880 habitantes (IBGE-1950) e 2010,

242.970 habitantes (IBGE-2010), o crescimento populacional de São Francisco do

Conde nos últimos 60 anos foi pouco significativo.

Segundo Oliveira (2003), a ausência de um setor terciário (comércio e serviços)

representativo no município é um dos fatores que atualmente explicam o pouco

crescimento populacional.

Acompanhando o movimento migratório, êxodo rural, ocorrido em diversas

cidades brasileiras, em São Francisco do Conde, da população absoluta de 33.172

habitantes (IBGE, 2010), 5.792 habitantes, 17,46% (IBGE, 2010) encontra-se no

espaço rural, enquanto 27.380 pessoas, 82,53% (IBGE, 2010) estão concentradas no

urbano, conforme representado no gráfico 3, distribuídos numa densidade

demográfica de 126 hab./km2 (IBGE, 2010).

GRÁFICO 03 – SÃO FRANCISCO DO CONDE: POPULAÇÃO RURAL E URBANA.

Fonte: Censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2010). Elaboração do autor.

A evolução da população de São Francisco do Conde entre os anos de 1992 a

2008 acompanhou relativamente o ritmo de crescimento da população da Bahia e do

Brasil, que cresceu durante este período em ritmo menos acelerado, do que em

5.792

27.380

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

População residente rural População residente urbana

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meados do século XX, momento do crescimento das cidades e dinamização dos

setores de comércio, serviços e industrial (gráficos 4, 5 e 6).

GRÁFICO 4 – SÃO FRANCISCO DO CONDE: EVOLUÇÃO POPULACIONAL (1991 – 2010)

Fonte: Censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-1991, 2010) e Contagem de População (IBGE-1996-2007). Elaboração do autor. .

GRÁFICO 5 – BAHIA: EVOLUÇÃO POPULACIONAL (1991 – 2010)

Fonte: Censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-1991, 2010) e Contagem de População (IBGE-1996-2007). Elaboração do autor.

GRÁFICO 6 – BRASIL: EVOLUÇÃO POPULACIONAL (1991 – 2010)

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

35.000

1991 1996 2000 2007 2010

10.500.000

11.000.000

11.500.000

12.000.000

12.500.000

13.000.000

13.500.000

14.000.000

14.500.000

1991 1996 2000 2007 2010

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Fonte: Censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-1991, 2010) e Contagem de População (IBGE-1996-2007). Elaboração do autor.

A estrutura etária da população de São Francisco do Conde, representada na

Figura 3, também apresenta características similares das pirâmides etárias da Bahia

e do Brasil: base larga, que indica uma taxa de natalidade relativamente alta, uma

População Economicamente Ativa (PEA), entre 20 a 59 anos, também representativa.

FIGURA 3 – PIRÂMIDE ETÁRIA DE SÃO FRANCISCO DO CONDE, BAHIA E BRASIL (2010)

Fonte: Censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-1991, 2010) e Contagem de População (IBGE-2010). Reelaboração Romero Paulo da Silva Junior.

Porém, quando se analisa a população acima de 59 anos - população idosa -

percebe-se um topo mais estreito em São Francisco do Conde, se comparados com

a Bahia e o Brasil, o que indica uma menor expectativa de vida no município.

0

50.000.000

100.000.000

150.000.000

200.000.000

250.000.000

1991 1996 2000 2007 2010

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A partir da analise das pirâmides etárias, vale ressaltar, que apesar da riqueza

gerada, através dos royalties da exploração petrolífera em São Francisco do Conde,

não há grandes diferenças da realidade do município acima citado, se comparado à

Bahia e ao Brasil, principalmente no que diz respeito à taxa de natalidade e

expectativa de vida. Estas características podem representar um indicador importante

no que diz respeito a analise da carência de investimentos na qualidade de vida da

população, principalmente por parte do poder público.

De acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD, 2010) a mortalidade infantil - número de crianças que

morrem com menos de um ano de idade - em São Francisco do Conde passou de

37,8 por mil nascidos vivos em 2000, para 17,4 por mil nascidos vivos em 2010,

levando em consideração o número total de habitantes do município este índice é

relativamente alto.

Considerando o potencial econômico do município, no que diz respeito à

arrecadação de impostos gerados, principalmente, pela atuação da Petrobras, a renda

per capita está em torno de R$ 433,23 (mil), segundo dados do PNUD (2010). Com

base em informações do IBGE (2010), São Francisco do Conde caracteriza-se como

maior renda per capita da Bahia.

No mesmo período, no território brasileiro, a taxa de mortalidade infantil caiu de

30,6 por mil nascidos vivos em 2000, para 16,7 por mil nascidos vivos em 2010.

De qualquer forma, tanto o Brasil, quanto o município de São Francisco do

Conde cumpre as metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações

Unidas, que delimitou uma taxa de mortalidade infantil no país abaixo de 17,9 óbitos

por mil em 2015.

O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)5 de São Francisco do

Conde, entre os anos de 1991 a 2010 variou em 0,355 (1991), para 0,674 (2010).

Comparando os índices do IDHM de São Francisco do Conde ao IDH brasileiro no

mesmo período, percebe-se que o desenvolvimento humano de São Francisco do

5 Medida composta de indicadores de três dimensões do desenvolvimento humano: longevidade,

educação e renda. O índice varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano (PNUD, 2010).

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Conde, não acompanhou o desenvolvimento humano do território brasileiro,

explicitado na representação do gráfico 7.

GRÁFICO 7 – EVOLUÇÃO DO IDHM DE SÃO FRANCISCO DO CONDE (1991 – 2010)

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD-2010). Elaboração do autor.

A partir da análise do IDHM de São Francisco do Conde, segundo o PNUD

(2010) entre os anos de 1991 a 2000 a taxa de crescimento do IDHM foi de 42,92%.

Entre 2000 a 2010, a porcentagem de crescimento foi de 30,12%. Apesar do

crescimento do índice de IDHM expressivo, entre os anos de 1991 a 2010, a

estatística está abaixo do crescimento do IDH nacional, e relativamente abaixo do

município com maior IDHM no Brasil.

Porém, é possível perceber que o ritmo de evolução do IDHM de São Francisco

do Conde, se deu de maneira muito similar ao IDH do Estado da Bahia, conforme

representado no gráfico 8.

GRÁFICO 8 – EVOLUÇÃO DO IDHM: SÃO FRANCISCO DO CONDE, BRASIL, BAHIA E DEMAIS MUNICÍPIOS - (2010)

0,355

0,518

0,674

0,612

0,682

0,739

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

1991 2000 2010

São Francisco do Conde Brasil

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Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD-2010). Elaboração do autor.

De acordo com pesquisa realizada pelo PNUD (2010), São Francisco do Conde

ocupa a 2.573ª posição entre os 5.565 municípios do território brasileiro, com taxa de

IDHM 0,674.

Dentre os índices que avaliam o IDHM de um município estão à longevidade,

a Renda e a Educação, no caso de São Francisco do Conde, os mesmos apresentam

os seguintes valores (gráfico 9).

GRÁFICO 9 – IDHM DE SÃO FRANCISCO DO CONDE COM BASE NOS ÍNDICES DE

EDUCAÇÃO, RENDA E LONGEVIDADE (2010)

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD-2010). Elaboração do autor.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

1991 2000 2010

São Francisco do Conde

Município de maior IDHMno Brasil

Município de menor IDHMno Brasil

IDH Brasil

IDH Bahia

0,587

0,641

0,812

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

Educação Renda Longevidade

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Os índices sociais como o nível de escolaridade e intuições de ensino e saúde

podem expressar as características sociais do município de São Francisco do Conde

(quadro 3, 4 e 5).

QUADRO 3 - SERVIÇOS DE SAÚDE EM 2005 – 2009. SÃO FRANCISCO DO CONDE - BA

Serviços de saúde Número de estabelecimentos

(2005)

Número de estabelecimentos

(2009)

Estabelecimento de Saúde Público Municipal 15 21

Estabelecimento de Saúde Federal 0 0

Estabelecimento de Saúde Estadual 1 0

Estabelecimento de Saúde Privado 1 1

Estabelecimento de Saúde com internação total

1 0

Estabelecimento de Saúde sem internação total

16 18

Estabelecimento de Saúde com internação público.

1 0

Estabelecimento de Saúde sem internação público.

15 18

Estabelecimento de Saúde com internação privado

0 0

Estabelecimento de Saúde com internação privado/SUS

0 0

Estabelecimento de Saúde especializado com internação total

0 0

Estabelecimento de Saúde com especialidades sem internação total

9 1

Estabelecimentos de Saúde com atendimento de emergência clínica

2 1

Estabelecimento de saúde com atendimento de emergência cirurgia

1 1

Fonte: Censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2005-2009). Elaboração do autor.

Os dados referentes a saúde no município revelam a precariedade deste

serviço, sendo muito comum a migração principalmente para a cidade de Salvador e

Candeias, tanto em casos de internação, emergência, cirurgias como na realização

de exames e consultas cujas especialidades não existem na cidade.

É possível verificar também na comparação dos dados do ano de 2005 para o

ano de 2009 pouca evolução no sistema de saúde do município de São Francisco do

Conde, apresentando índices baixos de estabelecimentos de saúde em relação ao

índice populacional do município.

QUADRO 4 – NÍVEL DE ESCOLARIDADE E MATRÍCULA 2007-2012. SÃO FRANCISCO DO CONDE - BA

Nível de escolaridade Número de Matrículas

(2007)

Número de Matrículas (2012)

Ensino Médio – escola pública estadual 348 1.163

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Ensino Médio – escola pública federal 0 Não existe matrícula

Ensino Médio – escola privada 0 0

Ensino Médio – escola pública municipal 891 0

Pré–escolar pública federal 0 Não existe matrícula

Pré-escolar pública municipal 1.924 1.753

Pré-escolar privada 16 34

Ensino Fundamental pública estadual 852 0

Ensino Fundamental pública federal 0 Não existe matrícula

Ensino Fundamental pública municipal 4.859 6.351

Ensino Fundamental escola privada 78 101

Fonte: Censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2007-2012). Elaboração do autor.

QUADRO 5 – NÚMERO DE REDES DE ENSINO 2007-2012. SÃO FRANCISCO DO CONDE - BA

Redes de ensino Número de escolas (2007)

Número de escolas (2012)

Ensino Fundamental pública estadual 2 0

Ensino Fundamental pública federal Não existem escolas Não existem escolas

Ensino Fundamental pública municipal 34 46

Ensino Fundamental escola privada 1 1

Ensino Médio público estadual 1 2

Ensino Médio público federal 0 Não existem escolas

Ensino Médio municipal 2 0

Ensino Médio escola privada 0 0

Pré – escolar pública estadual 0 0

Pré – escolar pública federal 0 Não existem escolas

Pré – escolar pública municipal 28 27

Pré – escolar rede privada 1 1

Ensino superior – escola pública municipal Não existem escolas Não existem escolas

Ensino superior – escola privada Não existem escolas Não existem escolas

Fonte: Censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2007-2012). Elaboração do autor.

A partir da análise dos dados, pode-se constatar um maior investimento

municipal nas escolas do Ensino Fundamental, com um leve crescimento entre os

anos de 2007 e 2012. Porém, este índice é reduzido quando analisamos os dados

referentes às escolas de Ensino Médio, que entre esses dois períodos houve uma

involução no número de escolas, passando exclusivamente a responsabilidade do

Estado em relação ao ensino público voltado para os estudantes do Ensino Médio.

Segundo dados da Secretaria de Educação de São Francisco do Conde, além

da evasão provocada pela inserção dos discentes no mercado de trabalho,

principalmente em atividades como a pesca e o mercado informal, o baixo

investimento público em infraestrutura e número de matrículas acabou afastando-os

da Educação Básica.

Os investimentos no Ensino Superior em São Francisco do Conde, iniciaram

em fevereiro de 2013, com a implantação do campus dos Malês, da Universidade da

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Integração Internacional da Lusofonia Afro- Brasileira (UNILAB), com os cursos de

graduação presencial de Bacharelado em Humanidades (BHU) e Letras – Língua

Portuguesa. O curso de graduação, modalidade à distância de Bacharelado em

Administração Pública e os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu (Especialização),

modalidade à distância, em Gestão Pública, Gestão Pública Municipal e Gestão em

Saúde. De acordo com informações fornecidas pela Secretaria de Educação de São

Francisco do Conde, aqueles que desejam ingressar no Ensino Superior, em outros

cursos, migram para cidades circunvizinhas como, Santo Amaro, Salvador e Feira de

Santana.

As características de São Francisco do Conde, em relação aos índices de

educação e saúde, são importantes para a análise do nível de desenvolvimento de

um determinado território, abrindo a discussão, para as especificidades existentes

entre o grande capital acumulado a partir dos royalties da extração de petróleo, o

papel do poder público na administração deste recurso e a participação social dos

integrantes da Colônia de pescadores em relação ao desenvolvimento sócio territorial

do município. Este último ponto será discutido nos capítulos posteriores deste relatório

técnico.

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4 A RELAÇÃO ENTRE AS COMUNIDADES HUMANAS, O MAR E OS TIPOS DE PESCA

O conhecimento dos mares, na atualidade, vai além dos aspectos geofísicos.

Partindo desta perspectiva, tanto as comunidades humanas da pesca, que segundo

Diegues (1995) se enquadram os sujeitos que vivem nos espaços litorâneos ou nas

áreas de rio, e deste ambiente garantem sua sobrevivência, quanto os não-humanos,

a biodiversidade de espécies que vivem na água, são objetivos de análise e pesquisa

que perpassam por diferentes áreas de conhecimento, como a Biologia, Geografia,

Antropologia, Geologia etc.

4.1 As comunidades humanas da pesca e a relação com o mar

Para a realização do pesquisa, considerou-se importante discutir aspectos e

características das denominadas comunidades humanas da pesca, analisando a

relação destes com o mar. De acordo com Diegues (1995),

no início da década de 1970, começaram a surgir os primeiros centros organizados de pesquisa sobre as comunidades marítimas e de pescadores. Em 1970 foi fundado em Paris o Centro de Etnotecnologia em Meio Aquático, reunindo pesquisadores de Ciências Humanas do Museu Nacional de História Natural (DIEGUES, 1995, p.16). As metodologias de analise são muito diferenciadas, mas algumas tendências dominaram a produção científica: a ecologia cultural se concentrou nos estudos de adaptação do homem marítimo a um ambiente muito particular e distinto da terra, enfatizando os aspectos tecnológicos e organizacionais: a ecologia humana enfatiza os aspectos bioenergéticos das populações marítimas em busca do alimento, e a antropologia neomarxista enfoca principalmente a penetração das relações capitalistas de produção na pesca artesanal, entendida como modo de produção mercantil (DIEGUES, 1995, p.17).

Segundo o autor, no Brasil, os primeiros estudos, até a década de 1940,

relacionados aos pescadores ressaltavam por ora a vida tranquila, ora a coragem, ora

os perigos no mar. Em outros casos, havia a descrição das comunidades humanas da

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pesca como entidades isoladas e alheias aos processos econômicos que emergiam

no Brasil, principalmente por conta do processo de industrialização.

Com base em Diegues (1995), até a década de 1950, o número de publicações

relacionadas às comunidades humanas da pesca, do Brasil foi relativamente reduzido,

inclusive com as contribuições entre as décadas de 1950 e 1960 de geógrafos

humanos que descreveram diferentes aspectos da distribuição das formas de vida dos

pescadores nos estados do Rio de Janeiro e Santa Catarina. Contudo,

caracterizavam-se como trabalhos descritivos e empíricos, e no final da década de

1960, surgiram pesquisas relacionadas ao estudo de comunidades humanas e sua

relação com o mar.

Diegues (1995) afirma que as pesquisas relacionadas às comunidades

humanas da pesca e o mar no Brasil, tornaram-se mais numerosas na década de

1970, onde a pesca começava a ser entendida tendo por base o contexto mais amplo

na sociedade nacional, a partir das relações capitalistas e dos consequentes conflitos

entre a atividade pesqueira, realizada a partir da perspectiva da pequena produção

mercantil e a capitalista.

No Brasil, por exemplo, há necessidade de pesquisas mais aprofundadas sobre constituição, produção e reprodução dos pescadores artesanais marítimos e dos engajados na pesca empresarial – capitalista. Temos de um lado a pequena produção mercantil litorânea que, a nosso ver, abarca tanto a produção dos pescadores- lavradores quanto à dos pescadores artesanais marítimos. De outro lado, existe a produção capitalista ou empresarial – capitalista que inclui tanto a produção dos armadores de pesca (proprietários de mais de uma embarcação), quanto à das empresas de pesca (DIEGUES, 1995, p.33-34).

Dessa forma, conforme estudo desenvolvido por Diegues (1995) havia de um

lado a pequena produção mercantil litorânea, que englobava a produção dos

pescadores mais tradicionais, que utilizam baixos recursos tecnológicos, como os

barcos à remo, e de outro lado, a produção empresarial capitalista ligada à pesca que

incluía os proprietários de grandes embarcações e as empresas de pesca.

Essa introdução da produção empresarial capitalista nas atividades ligadas à

pesca, fez com que houvesse a necessidade, do ser humano ao explorar e gerir os

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recursos naturais, elaborar diferentes maneiras de apropriação social, econômica,

cultural e territorial.

No caso de São Francisco do Conde, apesar da atividade pesqueira, ainda

hoje, não ser realizado por meio de grandes embarcações, esta tem uma

representatividade, tanto no que diz respeito à questão econômica, como meio de

sobrevivência para a comunidade pesqueira, além de sua importância nas relações

econômicas, sociais e culturais que se estabeleceram neste território por conta da

pesca.

Quando se refere à influência da pesca nos aspectos culturais, econômicos e

sociais no território, não se tratam apenas de destacar a relação das comunidades

humanas com o mar, mas sim como estas se constituíram dentro de um contexto

geohistórico, onde desempenham um papel importante na formação do território.

4.2 A organização da produção pesqueira no Brasil e a distribuição territorial

Partindo do princípio da pesquisa realizada, o território é analisado a partir da

perspectiva de três vertentes básicas, que segundo Haesbaert (2004), se dividem pela

visão política, cultural e econômica. Faz-se, portanto, necessário realizar

contextualização sobre a organização da atividade pesqueira no Brasil e a distribuição

no território brasileiro.

Baseado na Lei Nº 11.959 (ANEXO A), de 29 de junho de 2009, vigente no

Brasil, no Art. 8º, a atividade pesqueira e classificada como comercial (artesanal e

industrial) e não comercial (científica, amadora, de subsistência), conforme explicado

no fluxograma 10.

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FLUXOGRAMA 10 - TIPOS DE PRODUÇÃO PESQUEIRA DO BRASIL

Fonte: Legislação Pesqueira do Brasil, 2009). Elaboração do autor.

TIPOS DE PESCA

Comercial

Artesanal

Praticada diretamente por pescador profissional, de formaautônoma ou em regime de economia familiar, com meiosde produção próprios ou mediante contrato de parceria,desembarcado, podendo utilizar embarcações de pequenoporte.

Industrial

Praticada por pessoa física ou jurídica e envolverpescadores profissionais, empregados ou em regime deparceria por cotas - partes, utilizando embarcações depequeno, médio ou grande porte, com finalidade comercial

Não comercial

CientíficaPraticada por pessoa física ou jurídica, com finalidade de pesquisa científica.

AmadoraPraticada por brasileiro ou estrangeiro, com equipamentosou petrechos previstos em legislação, tendo por finalidade olazer ou o desporto.

De subsistênciaPraticada com fins de consumo doméstico ou escambo semfins de lucro e utilizando pretechos previstos em legislaçãoespecífica.

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De acordo com estudos de Diegues (1995), durante o período colonial brasileiro

a pesca realizava-se como uma atividade marginal nos latifúndios, com o objetivo de

abastecer os senhores de engenho e sua família. Até o início do século XX, a atividade

pesqueira, principalmente a pesca costeira subsistia dentro do contexto econômico

brasileiro, voltado principalmente para a agroexportação (produtos agrícolas para o

mercado externo). Com o crescimento das cidades e dos centros urbanos, a partir da

década de 1930, a atividade pesqueira passou a se desenvolver com a utilização de

embarcações maiores e canoas motorizadas, aumentando desta forma, a

produtividade.

O crescimento da atividade pesqueira e das comunidades humanas da pesca,

a partir da década de 1930, foi tão significativo que o então presidente do Brasil,

Getúlio Vargas, aprovou o Código de Pesca, Decreto Lei n. 794 – de 19 de outubro

de 1938 onde todo pescador deveria fazer parte da colônia em cuja zona resida

(ANEXO B).

A partir desse decreto, as colônias de pescadores foram consideradas

agrupamentos de pescadores que atuam numa mesma área e constituídas, no

mínimo, por 150 (cento e cinquenta) profissionais da pesca e designadas pelo prefixo

“Z”, seguido do número de ordem que lhes couber no seu respectivo Estado.

De acordo com Vidal (2010), até a década de 1960, a atividade pesqueira no

Brasil era predominantemente artesanal (realizada com pequenas embarcações,

movidas à vela ou motorizadas), porém com a política de incentivos fiscais concebida,

via Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE), que teve início no

ano de 1967, com considerável aumento na década de 1970, gerou um acréscimo no

volume de pescado por meio da pesca industrial.

Conforme Diegues (1995), a presença de um grande volume de estoques

pesqueiros no sul do Brasil, a existência de centros consumidores e urbanos de

importância significativa, possibilitaram na região Sul, o desenvolvimento de uma

pesca empresarial capitalista. Porém, apesar desta, consolidar-se a partir de 1967,

através das leis de incentivos fiscais realizados pela SUDEPE,

O resultado dessa política de incentivos maciços, com volumosa importação de tecnologia não foi animador: grande parte das empresas, depois de realizarem pesados investimentos em infraestrutura da terra foram à falência, pois como resultado da

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sobrepesca 6 , os recursos pesqueiros procurados começaram a escassear. Uma vez dizimados os cardumes de peixes e crustáceos na região, as empresas do Sul se implantaram no norte do país, particularmente no Pará, repetindo as ações predatórias (DIEGUES, 1995, p. 55).

Com base em Diegues (1995), ao mesmo tempo, em que houve o crescimento

da pesca empresarial – capitalista na região Norte do Brasil, a pesca artesanal

realizada no litoral brasileiro, era responsável por uma quantidade importante da

captura de peixes.

No entanto, a pesca artesanal realizada no litoral, além de receber menores

recursos financeiros por parte do governo federal, sofria os impactos do uso crescente

dos ecossistemas litorâneos, para a instalação de polos de extração de petróleo, que

influenciava na diminuição da quantidade de peixes, por conta das explosões

constantes para implantação de plataformas petrolíferas, fato ocorrido, inclusive, no

munícipio de São Francisco do Conde, na Bahia, com a instalação da Refinaria de

Landulpho Alves (RLAM), no distrito de Mataripe, que teve como uma das

consequências, na década de 1970, a fundação da Colônia de Pescadores Z-05,

como forma de defender os direitos das comunidades humanas da pesca local.

Para Vidal (2010),

o foco restrito no aumento da produção, sem qualquer preocupação com as demais variáveis, levou a um quadro de esgotamento de determinadas espécies. Até o fim dos anos de 1980, os recursos pesqueiros foram considerados como um recurso econômico. As condições de produção, além da estrutura e funcionamento das instituições, possibilitavam um modelo econômico que privilegiava a concentração de capital, a promoção do setor exportador e a intensificação do uso da tecnologia para a produção em grande escala. O referido sistema comprometeu rapidamente a sustentabilidade dos recursos explorados. O livre acesso à entrada de novos participantes na pescaria possibilitou o crescimento continuado do esforço de pesca no Brasil, culminando com a diminuição nas capturas e, em consequência, no decréscimo na margem de lucro. A prevalência dos interesses imediatos dos benefícios individuais sobre os da coletividade levou a sobrepesca, estando próxima em alguns casos a exaustão (VIDAL, 2010, p.30).

6 Quando a extração do recurso ocorre em volume e velocidade superior a sua capacidade biológica, não mantendo seu equilíbrio populacional (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2006, p.64)

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A partir da década de 1990, com a instalação do Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), vinculado ao Ministério do Meio

Ambiente, a gestão dos recursos, relacionados à atividade pesqueira passou a

incorporar princípios ambientais, ligados à preservação e conservação de algumas

espécies, como a lagosta, que sofreu um declínio significativo em sua produtividade,

graças à pesca industrial. O impacto ambiental causado pela pesca industrial levou

ao aumento da pesca artesanal, principalmente no litoral brasileiro.

De acordo com Vidal (2010), a produção de pescado no Brasil, entre os anos

de 1997 e 2006, aumentou de 732.258,5 toneladas para 1.050.880 toneladas,

respectivamente. Nesse contexto de crescimento da atividade pesqueira a região

brasileira que ganhou destaque foi à região Nordeste, tornando-se a maior produtora

de pescado o país.

Dados baseados na Estatística da Pesca, do Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA, 2007), confirmam esse crescimento da

Região Nordeste no que diz respeito à produção de peixes no Brasil, ocasionada

principalmente pela sobrepesca nas Regiões Sudeste e Sul, que nas décadas de 1980

e 1990 foram intensificadamente exploradas pela pesca industrial (GRÁFICOS 10 e

11).

GRÁFICO 10 – BRASIL E REGIÕES BRASILEIRAS: PRODUÇÃO TOTAL DE PESCADO EM

TONELADAS (t) EM 2007

Fonte: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA, 2007). Elaboração do autor.

1.072.226,00

238.345,50

331.608,50

196.528,50255.080,50

50.663,00

0

200000

400000

600000

800000

1000000

1200000

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste

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GRÁFICO 11 - PRODUÇÃO TOTAL DE PESCADO (t) ESTIMADO POR ANO, SEGUNDO AS REGIÕES E UNIDADES DA FEDERAÇÃO ENTRE 2000 E 2007

Fonte: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA, 2000 - 2007). Elaboração do autor.

A partir da análise dos dados, conforme o gráfico 11, pode-se constatar que

entre os anos dois mil e dois mil e sete, o volume de pescado na Região Nordeste

teve um crescimento de 50,9 %, passando de 219.614,5 (t), para 331.608,5 (t)

respectivamente.

Assim, alguns fatores favoreceram o crescimento da Região Nordeste em

relação à produção de pescado, como a sobrepesca nas Regiões Sul e Sudeste, a

vasta faixa litorânea nordestina e principalmente a criação da Lei nº 10.849, de março

de 2004 (ANEXO C) com a criação do Programa Nacional de Financiamento da

Ampliação e Modernização da Frota Pesqueira Nacional (PROFROTA), que

beneficiou os produtores da região Nordeste, com financiamentos para aquisição,

construção, conversão, modernização, substituição, adaptação e equipagem de

embarcações pesqueiras com a pretensão de reduzir a pressão de captura sobre

espécies ameaçadas, proporcionando a eficiência e sustentabilidade da frota

pesqueira e continental.

Dentre alguns benefícios do PROFOTA foram estabelecidos e destacou-se que

o limite de financiamento fosse de até 90% (noventa por cento) do valor aprovado e o

prazo de 20 anos, para amortização da dívida com parcelas anuais, iguais e

sucessivas.

0,00

200.000,00

400.000,00

600.000,00

800.000,00

1.000.000,00

1.200.000,00

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste

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Segundo Vidal (2010), até o óleo diesel utilizado pelas embarcações

pesqueiras seriam isentas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação

de Serviços (ICMS). Os estados do Nordeste que mais se beneficiaram foram Ceará

e Sergipe, porém segundo dados do IBAMA, 2007 os estados Ceará, Bahia e

Maranhão, são os que mais produzem pescado na região.

GRÁFICO 12 - PRODUÇÃO DE PESCADO NA REGIÃO NORDESTE (t) EM 2007

Fonte: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA, 2007). Elaboração do autor.

Com base em Vidal (2010), na região Nordeste o tipo de pesca artesanal

representa 94,0 %, em volume, da pesca marinha, nos estados do Maranhão, Piauí,

Alagoas, Sergipe e Bahia. A pesca industrial é concentrada nos estados do Rio

Grande do Norte e Paraíba e a maior parte da produção nordestina é de peixes, que

representa cera de 76,3% do volume total de pesca na região.

A linha do tempo abaixo destaca momentos importantes para a produção de

pescado no Brasil (Quadro 6).

13.088,50

76.010,00 76.444,50

64.272,50

11.452,00

19.800,50

7.941,00

51.326,00

11.273,50

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

90000

Valor em toneladas (t)

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112

QUADRO 06 - LINHA DO TEMPO DA ATIVIDADE PESQUEIRA NO BRASIL

Fonte: Vidal, 2010. Elaboração do autor.

ATÉ O SÉCULO XIX

Pesca como atividade marginal dentro dos latifúndios no território

brasileiro.

SÉCULO XX - 1930

Crescimento do espaço urbano brasileiro.

Maior consumo de pescado.

Aprovação da Lei n. 794 - de 19 de outubro de 1938.

Regulamentação das colônias de Pescadores

SÉCULO XX - 1960

Predominância da pesca artesanal.

Política de incentivos fiscais (SUDEPE), para o

desenvolvimento da pesca industrial.

SÉCULO XX - 1970

Crescimento da pesca industrial, principalmente nas regiões Sul e

Sudeste.

Problemas, relacionados a sobrepesca nas Regiões Sul e

Sudeste.

SÉCULO XX - 1970

Aumento da produção pesqueira nas regiões Norte e Nordeste.

Problemas na costa litorânea nordestina com a instalação de

pólos de extração de Petróleo que afugentava os peixes.

Criação da colônia de pescadores Z-05 em São Fracisco do Conde -

BA.

SÉCULO XX - 1990

Instalação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (IBAMA). Princípios ambientais, relacionados a

preservação de conservação de determinados tipos de pescado

SÉCULO XXI - 2007

Lei 10.849/ 2004 (Profrota) Crescimento significativo da

atividade pesqueira na Região Nordeste - Lei de incentivos

para o setor pesqueiro brasileiro.

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4.3 A Colônia de Pescadores Z-05, a comunidade humana da pesca de São Francisco do Conde e a pesca artesanal

De acordo com catalogação das fichas cadastrais presentes na secretaria da

Colônia de Pescadores Z-05, a mesma apresenta aproximadamente 1.230

pescadores associados, localizados na sede do município de São Francisco do

Conde, Distrito de Caipe em São Francisco do Conde e Santo Amaro (GRÁFICO 13).

GRÁFICO 13 - PESCADORES CADASTRADOS – SEDE DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO DO

CONDE, DISTRITO DE CAÍPE EM SÃO FRANCISCO DO CONDE E SANTO AMARO – 2016

Fonte: Colônia de Pescadores Z-05, 2016. Elaboração do autor.

A Bahia apresenta um total 90 (noventa) Colônias de Pescadores, distribuídas

nas faixas litorâneas do Estado, cerca de 62%, ou cidades próximas a rios e bacias

hidrográficas e 38%, conforme representado no mapa 04.

A maior porcentagem de Colônias de Pescadores, na faixa litorânea da Bahia,

está relacionada a significativa extensão do litoral baiano e concentração de

habitantes nas áreas próximas ao mar.

53,8

37,4

8,8

0

10

20

30

40

50

60

Sede do município Distrito de Caípe Santo Amaro

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MAPA 04 - DISTRIBUIÇÃO DE COLÔNIA DE PESCADORES NO ESTADO DA BAHIA

A Colônia de Pescadores, de São Francisco do Conde, está localizada na

mesma área desde a sua criação na década de 1970, no endereço, Avenida

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Presidente Kennedy, número 10, no centro de São Francisco do Conde- BA. A

localização da Colônia é estratégica, pois está situado próxima à área pesqueira da

cidade e o mercado municipal de venda de peixes (mapa 05).

MAPA 05 – SÃO FRANCISCO DO CONDE: LOCALIZAÇÃO DA COLÔNIA DE PESCADORES Z-05

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116

FOTO 15 – SEDE DA COLÔNIA DE PESCADORES Z-05 EM SÃO FRANCISCO DO CONDE – BA

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

FOTO 16 – ÁREA EXTERNA DA COLÔNIA DE PESCADORES Z-05 EM SÃO FRANCISCO DO

CONDE – BA

Fonte: Trabalho de campo, 2016.

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FOTO 17 – ANCORADOURO NA COLÔNIA DE PESCADORES – Z-05 - SÃO FRANCISCO DO CONDE – BA

Fonte: Trabalho de campo, 2016.

FOTO 18 – ANCORADOURO NA COLÔNIA DE PESCADORES – Z-05 - SÃO FRANCISCO DO CONDE – BA

Fonte: Trabalho de campo, 2016. .

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FOTO 19 – ANCORADOURO E MORADIAS AO LADO DA COLÔNIA DE PESCADORES – Z-05 EM SÃO FRANCISCO DO CONDE – BA

Fonte: Trabalho de campo, 2016.

Em entrevista realizada com o Presidente da Colônia de Pescadores Z-05 de

São Francisco do Conde, foi citada a organização administratriva da associação, que

apresenta dividida nos seguintes cargos: um presidente, um vice-presidente, um

tesoureiro, um presidente do conselho fiscal, um suplente, eleitos por voto direto,

pescadores cadastrados na colônia.

O processo eleitoral é realizado durante um dia, onde os pescadores

cadastrados se dirigem até a sede da Colônia de Pescadores Z-05 e votam no

representante, que desejam na liderança da Colônia de Pescadores.

A chapa eleita tem um mandato de três anos, podendo se reeleger,

continuamente (FLUXOGRAMA 11).

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FLUXOGRAMA 11 - ORGANOGRAMA DA COLÔNIA DE PESCADORES

Fonte: Colônia de Pescadores Z-05, 2015. Elaboração do autor.

A função do presidente eleito é administrar a colônia, mediar à relação dos

associados, com o poder público local, estabalecer parcerias com a Bahia Pesca,

Federação dos Pescadores e Aquicultores – Bahia (FEPESCA-BA), Ministério da

Pesca e Agricultura (MPA), Secretaria de Agricultura e Pesca de São Francisco do

Conde, Petrobras, agregar projetos a Colônia de Pescadores, assegurar os direitos

dos associados, principalmente àqueles relacionados ao defeso camarão e desefo

inverso além de parcerias com orgaõs públicos nas escalas municipais, estaduais e

federais (ANEXO D).

O vice-presidente juntamente com o presidente, trabalha no intuito de garantir

a efivação das parcerias e administração da colônia, o tesoureiro envolve-se com as

atividades relacionadas ao aspecto financeiro da Colônia de Pescadores, o presidente

do Conselho Fiscal, ficaliza as ações realizadas pelos administradores e opina sobre

as contas da Colônia de Pescadores e o suplente, que assume o cargo, caso haja

exoneração ou saída do tesoureiro ou do presidente do conselho fiscal.

Com base em pesquisa realizada, a partir das fichas cadastrais dos pescadores

que residem na sede do município de São Francisco do Conde, a maioria dos

associados reside nos espaços periféricos da cidade (FIGURA 01), nos bairros da

Babilônia (FOTOS 19 e 21), Roseira, Porto de Brotas e Avenida Santa Rita (FOTO

20).

Presidente

Vice - presidente

Tesoureiro Presidente do Conselho Fiscal

Suplente

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FOTO 20 – BAIRRO BABILÔNIA – PERIFERIA DE SÃO FRANCISCO DO CONDE

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

FOTO 21 – AVENIDA SANTA RITA – PERIFERIA DE SÃO FRANCISCO DO CONDE

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

.

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FOTO 22 – BAIRRO BABILÔNIA – PERIFERIA DE SÃO FRANCISCO DO CONDE

Fonte: Trabalho de campo, 2015.

Segundo relatório do PNDU (2010), no ano de 1991, apenas 31,88 % da

população residente em São Francisco do Conde, tinha água encanada e serviço de

esgotamente sanitário. Esta taxa foi ampliada no ano de 2010 para 93,56% população

com água encanada e esgotamento sanitário, porém ainda foi possível verificar

durante os trabalhos de campo, áreas onde havia esgoto a céu aberto e condições

sanitárias desfavoráveis (GRÁFICO 14).

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GRÁFICO 14 – SÃO FRANCISCO DO CONDE: INDICADORES DE HABITAÇÃO 2010.

Fonte: Programa de Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD 1991-2010). Elaboração do autor

Com base na análise das fichas cadastrais dos associados da Colônia de

Pescadores Z-05 de São Francisco do Conde, foi possível fazer um levantamento de

aspectos relacionados à comunidade pesqueira, que vão desde o número de

mulheres e homens na atividade de pesca no município, o momento de inscrição na

colônia, média de idade e tipo de pesca exercida, neste caso, levando em

consideração as categorias delimitadas pelos próprios pescadores e não definições

científicas.

GRÁFICO 15 – SÃO FRANCISCO DO CONDE: DIVISÃO DE HOMENS E MULHERES NA ATIVIDADE PESQUEIRA (%) - 2016

31,88

83,86

41,68

51,14

93,78

67,76

93,56

98,9897,03

0

20

40

60

80

100

120

% da população emdomicíliios com água

encanada

% da população emdomicíliios com energia

elétrica

% da população emdomicíliios com coleta de lixo

1991 2000 2010

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Fonte: Colônia de Pescadores Z-05, 2016. Elaboração do autor.

De acordo com o gráfico 15, pode-se perceber um número significativo de

mulheres desenvolvendo em São Francisco do Conde, atividades ligadas a pesca.

Inclusive na divisão de categorias estabelecidas pela Colônia de Pescadores Z-05,

seja na pesca de peixes, mariscagem ou camarão, as mulheres é maioria na

realização da atividade pesqueira. Esse índice foi percebido, inclusivo nos momentos

de encontros para a realização de oficinas ou reunião solicitada pela Colônia de

Pescadores, onde a maioria dos presentes eram mulheres (GRÁFICO 17).

GRÁFICO 16 – SÃO FRANCISCO DO CONDE: TIPO DE PESCA – PEIXES, MARISCAGEM, CAMARÃO (%) – 2016.

30,2

68,8

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Homens Mulheres

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Fonte: Colônia de Pescadores Z-05, 2016. Elaboração do autor.

GRÁFICO 17 - SÃO FRANCISCO DO CONDE: TIPO DE PESCA PEIXES, MARISCAGEM,

CAMARÃO – HOMENS E MULHERES (%) – 2016.

Fonte: Colônia de Pescadores Z-05, 2016. Elaboração do autor.

No caso específico deste estudo, se aprofundou numa análise da relação das

comunidades humanas, que sobrevivem daquilo que o mar oferece em termos de

espécies que são comercializados e geram retorno financeiro e a forma como esses

78

15,3

6,7

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Peixe Camarão Mariscos (ostra, siri, sururu)

19,6

25

44,4

80,4

75

55,6

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Peixes Mariscagem Camarão

Homens Mulheres

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indivíduos se relacionaram com a formação do território e da territorialidade de São

Francisco do Conde.

Com o objetivo de compreender a importância e influência da atividade

pesqueira na formação territorial e da territorialidade de São Francisco do Conde,

houve a necessidade de entender os diferentes tipos de pesca artesanal, delimitando

aquela que mais se identifica com as características da pesca são franciscana.

De acordo com Andriguetto (1999), a pesca artesanal pode ser dividida em três

categorias: a pesca artesanal rudimentar, que apresenta baixa intensidade

tecnológica, baixa diversidade de práticas de pesca e baixa produção, com pequenos

barcos, movidos a motor ou a velas, a pesca artesanal diversificada de média

tecnologia, que abrange alta diversificação de práticas pesqueiras, mas de média

intensidade tecnológica e baixa ou média produção e a pesca empresarial e artesanal

comercial de alta tecnologia, nas zonas de produção e tecnologia altas, e

diversificação intermediária, com barcos de maior porte e motorizada.

Em entrevista realizada, na sede da associação, com o presidente da Colônia

de Pescadores – Z05 em São Francisco do Conde, o mesmo caracteriza a atividade

pesqueira desenvolvida como artesanal rudimentar, por dois aspectos: não apresentar

grandes embarcações e técnicas de pesca que requer esforço humano, a partir do

trabalho com redes, e ser uma atividade tradicional que atravessou diferentes

gerações. Durante a entrevista com o presidente da colônia de pescadores Z-05, o

mesmo destacou que “não houve evolução na forma de pescar em São Francisco do

Conde, ela ainda acontece em muitos casos como no passado, passando de geração

para geração”.

De acordo com estudos realizados por Diegues (1995, p.35),

a questão da tradição está relacionada também ao cerne da própria pesca artesanal: o domínio do saber-fazer e do conhecer que forma o cerne da profissão. Esta é entendida como o domínio de um conjunto de conhecimentos e técnicas que permitem ao pescador se reproduzir enquanto tal.

Diegues (1995) destaca que uma das características da pesca artesanal é a

utilização das redes de náilon, de novos processos de conservação e transporte do

pescado e a introdução da modernização, através da embarcação motorizada.

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Segundo dados do Ministérios da Pesca e Aquicultura (MPA, 2014 / IBGE,

2010), um em cada duzentos brasileiros são pescadores artesanais e esta é

considerada uma das atividades econômicas mais tradicionais do Brasil,

principalmente pelo fato de estar no contexto da economia brasileira desde o período

colonial.

De acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura (2014),

a pesca artesanal é exercida por produtores autônomos, em regime de economia familiar ou individual, ou seja, comtempla a obtenção de alimento para as famílias dos pescadores ou para fins exclusivamente comerciais. É uma atividade baseada em simplicidade, na qual os próprios trabalhadores desenvolvem suas artes e instrumentos de pesca, auxiliados ou não por pequenas embarcações, como jangadas e canoas. Esses pescadores atuam na proximidade da costa, dos lagos e rios. (MPA, 2014)

As características delimitadas pelo MPA (2014) aproximam-se do contexto da

atividade pesqueira em São Francisco do Conde, sinalizadas tanto pelo presidente da

colônia de pescadores, quanto evidenciada em oficinas realizadas (ANEXO E), sobre

participação social e cidadania, com representantes da Colônia de Pescadores Z-05,

que sinalizaram a utilização dos barcos a motor como um dos seus anseios, que

segundo os mesmos possibilitaria uma maior produtividade e otimização no tempo de

trabalho.

De acordo com o Registro Geral da Atividade Pesqueira (RGP) do Ministério

da Pesca e Aquicultura (MPA),

estima-se que hoje no Brasil existe quase um milhão de pescadores artesanais. Sendo assim, esta é uma das atividades de maior impacto social e econômico no Brasil, que usufrui da grande extensão litorânea e da biodiversidade pesqueira nas 12 grandes bacias hidrográficas brasileiras. Aproximadamente 45% de toda produção anual do pescado desembarcada são oriundas da pesca artesanal (MPA, 2014).

O MPA reconhece a profissão de pescador artesanal e diferentes ações são

realizadas e financiadas pelo governo federal tais como: fábrica de gelo, caminhões

frigoríficos, cozinhas comunitárias, câmaras frias e kit de manipulação de pescados

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127

em específicos de mariscos. Porém, segundo dados do presidente da Colônia de

Pescadores Z-05, muitos desses benefícios não atendem a comunidade pesqueira de

São Francisco do Conde, por conta do governo direcionar boa parte dos recursos para

a pesca industrial e também pela falta da participação social dos pescadores

associados à colônia na reinvindicação de seus direitos e por participarem das

reuniões, apenas com interesses particulares.

Em entrevista realizada com o presidente da Colônia de Pescadores Z-05, era

sinalizado frequentemente: “pescador gosta de dinheiro e benefícios, se não houver

um retorno financeiro imediato, ou se numa reunião, a Colônia não oferecer algo,

como cesta básica, os pescadores não comparecem ao evento”.

Ao mesmo tempo durante as oficinas realizadas, em contradição ao que citado

pelo presidente da Colônia, foi sinalizado pelos pescadores a falta de clareza da

gestão da Colônia de Pescadores, no momento de passar as informações e os direitos

dos pescadores, para que os mesmos possam “correr atrás do prejuízo”.

Além de cursos e aspectos ligados a estrutura, o governo federal garante ao

pescador artesanal, o seguro defeso que é pago durante o período de reprodução de

determinadas espécies. No caso de São Francisco do Conde, o chamado defeso

camarão atingiu cerca de 400 pescadores, em 2015, dos quase 1.230 cadastrados na

colônia.

O defeso do Camarão foi regulamentado por uma Instrução Normativa do

IBAMA nº 189 de 2008, onde durante os meses de abril à final de maio é proibida a

pesca do camarão, garantindo desta forma sua reprodução. Neste período, o

pescador artesanal recebe um seguro desemprego no valor de um salário mínimo com

o objetivo de auxiliar em suas despesas. Os recursos que garantem o defeso camarão

são do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), sendo de responsabilidade da

Secretaria do Trabalho, Renda e Esporte (SETRE) a habilitação no estado da Bahia

(ANEXO D).

Além do defeso camarão, a Lei Municipal nº 189/2011 do município de São

Francisco do Conde, garante aos pescadores artesanais o benefício defeso inverso,

que colabora com os pescadores com um salário mínimo por mês, durante três meses,

relativo ao período de junho a agosto.

Segundo dados da Prefeitura Municipal de São Francisco do Conde, através

da Secretaria Municipal de Agricultura e Pesca no ano de 2015 foram cadastrados

414 pescadores para receberem o benefício, dos quais 211 foram beneficiados. Para

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128

ter acesso ao benefício o pescador deve exercer a atividade de maneira exclusiva e

ininterrupta, por 12 meses anteriores ao defeso em curso, sendo registrado como

Pescador Profissional, categoria artesanal, no Registro Geral de Atividade Pesqueira

(RGP).

Outro dado que chamou a atenção, no momento de catalogação dos dados, foi

que entre os anos de 2000 a 2010, houve um maior número de pescadores inscritos

na Colônia de Pescadores Z-05, justamente quando foi estabelecida a lei federal do

defeso camarão (gráficos 18, 19 e 20).

GRÁFICO 18 – PERCENTUAL DE PESCADORES INSCRITOS NA COLÔNIA DE PESCADORES – Z 05 (%) ENTRE 1970 E 2010.

Fonte: Colônia de Pescadores Z-05, 2016. Elaboração autor.

GRÁFICO 19 - PERCENTUAL DE PESCADORES INSCRITOS NA COLÔNIA DE PESCADORES – Z 05 – SEXO MASCULINO ENTRE 1970 E 2010.

2,7 2,7

5,4

48,6

40,6

0

10

20

30

40

50

60

1970 1980 1990 2000 2010

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129

Fonte: Colônia de Pescadores Z-05, 2016. Elaboração autor.

GRÁFICO 20 - PERCENTUAL DE PESCADORES INSCRITOS NA COLÔNIA DE PESCADORES – Z 05 – SEXO FEMININO ENTRE 1970 E 2010.

Fonte: Colônia de Pescadores Z-05, 2016. Elaboração autor.

É notório em São Francisco o caráter quase hereditário da pesca artesanal. Em

oficina realizada com 15 representantes da Associação de Pescadores, quando foi

5,9 5,9

11,8

58,8

17,6

0

10

20

30

40

50

60

70

1970 1980 1990 2000 2010

1,7 1,7

3,6

45,6

47,4

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1970 1980 1990 2000 2010

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perguntado há quantos anos os mesmos estavam na atividade econômica, o tempo

variou entre 20 a 35 anos. Porém, a partir da análise das fichas cadastrais pode-se

perceber que os pescadores associados, com idade entre 40 a 60 anos predominam

na atividade econômica. Durante a oficina foi perguntado o motivo do menor número

de jovens na atividade pesqueira; os participantes informaram que os jovens estão em

busca de novas oportunidades, nas atividades de comércio e serviços e atividades

voltadas para o estudo em universidades.

GRÁFICO 21 - MÉDIA DE IDADE - POR DÉCADA DE NASCIMENTO DOS ASSOCIADOS DA COLÔNIA DE PESCADORES – Z 05 EM 2016

Fonte: Colônia de Pescadores Z-05, 2016. Elaboração autor.

GRÁFICO 22 - MÉDIA DE IDADE - POR DÉCADA DE NASCIMENTO DOS ASSOCIADOS DA COLÔNIA DE PESCADORES – Z 05 - SEXO MASCULINO EM 2016

2,3

23,2

26,7

25,6

18,6

3,6

0

5

10

15

20

25

30

76 - 67 anos 66 - 57 anos 56 - 47 anos 46 - 37 anos 36 - 27 anos 26 - 18 anos

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131

Fonte: Colônia de Pescadores Z-05, 2016. Elaboração autor.

GRÁFICO 23 - MÉDIA DE IDADE - POR DÉCADA DE NASCIMENTO DOS ASSOCIADOS DA

COLÔNIA DE PESCADORES – Z 05 – SEXO FEMININO EM 2016

Fonte: Colônia de Pescadores Z-05, 2016. Elaboração autor.

Segundo Diegues (1995, p.43),

0

31,8

36,4

22,7

9,1

0

5

10

15

20

25

30

35

40

76 - 67 anos 66 - 57 anos 56 - 47 anos 46 - 37 anos 36 - 27 anos

3,2

20,3

23,4

26,6

21,8

4,7

0

5

10

15

20

25

30

76 - 67 anos 66 - 57 anos 56 - 47 anos 46 - 37 anos 36 - 27 anos 26 - 18 anos

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A desorganização da pesca artesanal é causada, maioria das vezes, pela própria dinâmica do avanço do capital de outros setores da produção social capitalista (avanço das indústrias poluentes e o consequente empobrecimento biológico do ambiente, das imobiliárias, das empresas de colonização, madeireiras, da expressão turística, etc).

No caso de São Francisco do Conde essa desarticulação vai além de aspectos

ligados ao avanço de indústrias, empobrecimento biológico ou outros aspectos ligados

à questão turística no município.

A vulnerabilidade social no município de São Francisco do Conde, ainda é

significativa, onde segundo pesquisa realizada pelo PNUD (2010), 47,42% da

população está vulnerável a pobreza; 6,41% são extramamento pobres e 18,88% são

pobres (gráfico 23).

As taxas de pobreza e vulnerabilidade à pobreza são contraditórias se

comparados a Renda per capita7 (em R$) do município que no ano de 2010, de acordo

com o PNUD (2010), esteve em torno de R$ 433,23 mil. (gráfico 24)

GRÁFICO 24 – POBREZA E POPULAÇÃO VULNERÁVEIS A POBREZA EM SÃO FRANCISCO DO CONDE – BA.

7 É um dos indicadores socioeconômicos que avaliam o grau de desenvolvimento econômico de um

determinado lugar. A média é obtida através da divisão do Produto Nacional Bruto (PNB) pelo número de habitantes. O PNB é o total dos bens e serviços, sendo composto pela produção anual juntamente com os rendimentos oriundos de exterior, subtraídos pela renda que saiu para o exterior. Essa quantia é dividida pelo número de habitante, obtendo-se a renda per capita. (PNUD, 2010)

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Fonte: Programa de Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD 1991-2010). Elaboração do autor

GRÁFICO 25 – RENDA PER CAPITA EM SÃO FRANCISCO DO CONDE ( em R$ mil)

Fonte: Programa de Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD 1991-2010). Elaboração do autor

A forma de organização deste território tanto no contexto histórico, quanto na

atualidade marcado principalmente por uma expressiva desigualdade socioeconômica

favorece de forma significativa para uma configuração territorial desarticulada às

39,39

67,69

82,38

26,14

48,87

71,66

6,41

18,84

47,42

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

% de extremamente pobres % de pobres % de vulneráveis à pobreza

1991 2000 2010

204,7

248,79

433,23

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

1991 2000 2010

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necessidades da comunidade local e voltada para o benefício de grupos políticos e

econômicos detentores do poder.

4.3.1 A realidade investigada: as Oficinas e as Entrevistas

Ao todo ocorreram três oficinas com os pescadores associados da Colônia de

Pescadores Z-05, todas com áudio gravado e anotações feitas no diário de campo. A

primeira em 07 de janeiro de 2016, a segunda 28 de janeiro de 2016 e a terceira em

25 de fevereiro de 2016.

Durante as oficinas participaram em média 20 a 30 pessoas, entre homens e

mulheres, que se revezavam entre pessoas que estavam indo pela primeira vez e

outros que já haviam participado ao menos uma vez da atividade.

Na primeira oficina realizada houve a presença do presidente do conselho fiscal

da Colônia de Pescadores Z-05. Porém, para que os pescadores ficassem mais livres

para expor suas opiniões, sobre as temáticas discutidas o suplente preferiu não

participar das outras duas atividades.

As oficinas foram registradas através de fotografias e de áudios, que

subsidiaram a conclusão sobre os aspectos relacionados à participação social,

cidadania e democracia, na perspectiva dos pescadores de São Francisco do Conde

–BA.

A escolha por realizar oficinas foi baseada principalmente em potencializar a

troca de conhecimentos, através de situações concretas e significativas, através do

tripé: sentir- pensar – agir, alterando desta forma, o foco tradicional da aprendizagem,

passando a incorporar a ação e a reflexão (PAVIANI, 2009).

Com o objetivo de colher dados referentes à pesquisa, na realização das

oficinas, foi utilizado como recurso o desenho. Desta forma, considera-se o desenho

não apenas uma simples forma de expressão, mas precisamente uma forma de

perpetuar, registrar um determinado contexto sócio territorial. Enquanto registro, o

desenho carrega em si, “uma espessa camada de acontecimentos que esperam do

futuro uma releitura crítica” (OLIVEIRA, 1998, p. 156)

Assim o ato de desenhar é aqui compreendido como a arte de liberar e compartilhar emoções para e/com o mundo. Portanto o desenho é, sobretudo, canal de comunicação. (...)

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(...) Percebe-se com isso o Desenho, enquanto entidade histórica, e a própria história é interpretação. O desenho se coloca como um texto a ser apreendido, decodificado. Não só por estar relacionado com preexistências, como também por condensar toda uma série de imagens, com seus resultados e significados multifacetados (OLIVEIRA, 1998, p. 156).

Após a realização das oficinas, foram convidados os pescadores que mais se

destacaram, quanto à participação, para realização de entrevistas. As entrevistas com

os três pescadores que se destacaram nas oficinas, aconteceram em 03 de março de

2016, uma semana após a realização da última oficina. Por solicitação dos

pescadores, as entrevistas foram realizadas, com os três pescadores ao mesmo

tempo, na Praça da Independência, s/número, Centro de São Francisco do Conde.

4.3.1.1 PRIMEIRA OFICINA: CIDADANIA

A primeira oficina foi realizada na sede no Curso Pré-vestibular Comunitário da

Prefeitura de São Francisco do Conde, situado na Praça Santa Cruz S/N, no dia 07

de janeiro de 2016. Esta foi iniciada com uma breve apresentação do mediador, e os

objetivos do estudo realizado e da proposta de trabalho a ser executada naquele

momento.

Após esse primeiro momento, foi realizada a apresentação dos participantes,

quando cada um deveria falar seu nome e informar há quanto tempo estava na

atividade pesqueira em São Francisco do Conde.

Foi colocada a seguinte pergunta disparadora no quadro: para vocês o que é

cidadania? Inicialmente, houve certa timidez em falar sobre a temática, um dos

participantes iniciou sua fala destacando as carências dos pescadores em São

Francisco do Conde e suas necessidades priorietárias. Os aspectos citados foram

principalmente a falta de equipamentos mais modernos, para potencializar o trabalho

do pescador e a necessidade de maior apoio frente ao poder público.

Após a primeira fala, apenas mais um participante reinterou a fala anterior

afirmando a falta de dinheiro dos pescadores para conseguir melhorar ser trabalho.

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No terceiro momento, foi solicitada a formação de dois grupos. Em cada grupo

foi distribuído uma cartolina branca e giz de cera para que os participantes

expusessem suas ideias sobre cidadania.

Inicialmente, os participantes tiveram dificuldade em entender o que estava

sendo solicitado, porém foi deixado livre para que expusessem aquilo que desejavam

inclusive, anseios e angustias.

No quarto momento, houve apresentação de cada grupo, expondo o desenho

realizado e as devidas considerações, acompanhado de um debate sobre a questão

levantada, apesar de observar-se fragilidades quanto a compreensão sobre tão

importante tema.

Apesar da temática da oficina ser cidadania, a principal abordagem dos

participantes, nos desenhos realizados, foi em relação às necessidades dos

pescadores no que diz respeito à realização da atividade pesqueira. A impressão era

que a ansiedade em serem escutados e destacar suas dificuldades eram maiores do

que discutir a temática principal do encontro.

Foram sinalizadas algumas carências na comunidade como: barcos a vapor,

criatório de peixe-lagosta e Escola de Capacitação de pescadores, representadas nos

desenhos das fotos 23, 24 e 25, confeccionadas durante oficina com representantes

da Colônia de Pescadores Z-05.

Durante o estudo de campo, foi perceptível que atividade pesqueira em São

Francisco do Conde acontece nos moldes da pesca comercial artesanal, realizado de

forma autônoma ou com regime familiar, com meios de produção próprios,

embarcações de pequeno porte, confirmando algumas sinalizações dos pescadores,

expostos nos desenhos.

Após a retirada das redes, o pescado capturado é vendido diretamente pelos

pescadores, ainda no momento do ancoramento das embarcações ou direcionados

para as feiras livres e mercados que comercializam os peixes e crustáceos no

município. Outra parcela é da produção é emcaminhada para os municípios

circunvizinhos, principalmente da Região Metropolitana de Salvador.

Por conta do caráter autônomo da atividade, nem a Colônia de Pescadores Z-

05, nem os pescadores, têm controle em relação ao total do pescado capturado e o

volume de produção que fica no município de São Francisco do Conde e aquele que

é direcionado para outras cidades.

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FOTO 23 - RESULTADO DAS OFICINAS SOBRE CIDADANIA COM REPRESENTANTES

DA COLÔNIA DE PESCADORES Z-05.

Fonte: Oficina realizada com representantes da Colônia de Pescadores Z-05, 2016.

FOTO 24 - RESULTADO DAS OFICINAS SOBRE CIDADANIA COM REPRESENTANTES DA COLÔNIA DE PESCADORES Z-05.

Fonte: Oficina realizada com representantes da Colônia de Pescadores Z-05, 2016.

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FOTO 25 - RESULTADO DAS OFICINAS SOBRE CIDADANIA COM REPRESENTANTES DA COLÔNIA DE PESCADORES Z-05.

Fonte: Oficina realizada com representantes da Colônia de Pescadores Z-05, 2016. .

Segundo a pescadora A:

Precisamos de barco a vapor, criatório de peixes, da construção da escola de capacitação para os pescadores. Estas são as nossas necessidades para que possamos ter um trabalho mais digno, uma

vida melhor e mais valorização na cidade.

Por outro lado, no momento em que foi questionada a função da Colônia de

Pescadores, para que fosse possível a promoção de melhores condições de trabalho,

atraindo investimentos, para a comunidade pesqueira, o representante da mesma,

presente no encontro, se manifestou afirmando,

que muitas coisas o presidente não pode fazer, pois não tem condição que seja feita e se eles querem reclamar podem ir diretamente na Colônia e que aquele momento não era para isso. Eu sugiro que o senhor faça a próxima palestra na comunidade deles, para que eles fiquem mais a vontade para falar o que pensam (SUPLENTE DO TESOUREIRO – REPRESENTANTE DA COLÔNIA DE PESCADORES).

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Pode-se perceber, a partir das afirmações, que no momento em que a gestão

da Colônia de Pescadores Z-05, foi questionada sobre a forma de gerir e direcionar o

diálogo com os pescadores, é possível, no âmbito das relações de poder entre direção

e associados, ocorrer a restrição da participação social da comunidade pesqueira,

pois foi visível a existência do conflito de interesses entre o suplente de tesoureiro

presente na oficina e os pescadores participantes da mesma.

Reinterando a discussão teórica trazida por Haesbaert (2004), no que diz

respeito a complexidade entre os processos sociais. Ou seja, a organização territorial

é resultado da importância que os indivíduos e/ou grupos dão a este território.

Para além desta analise, Raffestin (1993) destaca que o conjunto de nós e

redes organizados tendo como princípio uma hierarquia, garante o controle com

relação aquilo que pode ser possuído e distribuído, configurando as relações de poder

existentes no território.

Como houve momentaneamente distanciamento do tema estabelecido para

discussão, inicialmente, foi necessário relacionar aquilo que foi exposto pelos

participantes, reiterando a importância de ser um cidadão ativo na sociedade, para

que os desejos da comunidade fossem conquistados. Aproveitando esse momento de

discussão, foi utilizada data show, para expor alguns conceitos sobre cidadania e

como os sujeitos sociais podem ser transformadores do seu espaço de vivência.

Reafirmando a partir deste momento, com base em Santos (2002) que a

cidadania baseda na igualdade de direitos, possibilita que a vida seja usufruída com

mínima dignidade.

4.3.1.2 SEGUNDA OFICINA: PARTICIPAÇÃO SOCIAL

A segunda oficina foi também realizada na sede Curso Pré-vestibular

Comunitário da Prefeitura de São Francisco do Conde, situado na Praça Santa Cruz

S/N no dia 28 de janeiro de 2016. Esta oficina foi a que reuniu um menor número de

participantes, ao todo dezesseis pescadores sendo nove mulheres e sete homens.

Como havia presença de pessoas que não participaram da primeira oficina, foi

realizada breve apresentação do projeto, para que os mesmos entendessem os

objetivos do trabalho a ser realizado.

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Em seguida, houve a apresentação dos participantes, logo após apresentou-

se a seguinte pergunta disparadora: “O que vocês acham que vieram fazer aqui?”.

Dentre aqueles que participaram da primeira oficina, um pescador destacou que eles

estavam ali para aprender, conhecer coisas novas. Outros ficaram calados,

esperando o início da atividade prática.

A partir da expectativa dos pescadores, foi destacada a importância da parceria

e participação social dos mesmos para que as oficinas tenham funcionalidade e

consiga obter êxito.

Partipação social, analisada dentro daquele contexto, como o caminho mais

viável, para que os indivíduos organizem o território a partir de suas necessidades.

Neste caso, a sociedade deve está inserida no processo de discussão de uma

problemática, implementação e avaliação ( BARCELOS, 2008)

No quarto momento foram formados dois grupos e distribuído para cada um

deles, uma folha cartolina branca e giz de cera. A proposta era que os participantes

demonstrassem através de desenhos qual a ideia sobre organização e participação

social, definindo qual o papel da comunidade na formação territorial de São Francisco

do Conde. Apesar de ter sido solicitado desenhos, os participantes de um dos grupos

perguntaram se poderiam representar a questão através de texto escrito.

No quinto momento houve apresentação da conclusão da discussão nos

grupos, onde os participantes da oficina expuseram desenho realizado e o texto

produzido.

Uma equipe destacou que para que houvesse uma maior participação social

dos pescadores era necessário:

Uma maior participação do presidente, com relação ao pescador, que venha nos atender melho os pescadores. Para que assim, possamos entender melho nossos direitos. Mais união dos pescadores para que possamos lutar junto perante o poder pubrico (TEXTO DO CARTAZ - FOTO 26).

Essa maior participação do presidente está principalmente na queixa exposta

pelos participantes, que durante as reuniões as informações não ficam claras,

principalmente no que diz respeito aos seus direitos como o defeso camarão e defeso

inverno.

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FOTO 26 - RESULTADO DAS OFICINAS SOBRE PARTICIPAÇÃO SOCIAL COM REPRESENTANTES DA COLÔNIA DE PESCADORES Z-05.

Fonte: Oficina realizada com representantes da Colônia de Pescadores Z-05, 2016.

Ainda sobre a questão tem as seguintes afirmações:

que se os pescadores não se unirem, se não, se não andar juntos a atividade pesqueira no município irá acabar, pois como a vida do pescador é sofrida e tem vários problemas, os mais jovens não irão se interessar pela atividade, buscando novas oportunidades em outros lugares (PESCADOR B).

Na fala do pescador B, ficou clara a necessidade de uma organização mais

coesa entre os pescadores, para que a atividade não apenas se fortaleça, mas

também que agregue um maior número de jovens e que os mesmos possam ver na

atividade pesqueira uma possibilidade de renda e garantia de sobrevivência.

Assim, baseado em Gomes (2006), a participação social e a cidadania torna-

se básica como iniciativa para a formação de uma sociedade menos desigual. No caso

específico de São Francisco do Conde, a participação social dos pescadores nas

decisões e na organização territorial, abre possibilidades de uma formação de uma

consciência cidadã.

Após a exposição dos resultados dos pescadores sobre o tema da oficina foi

necessário relacionar aquilo que foi exposto pelos participantes, reiterando a

importância da sociedade, na história e na atualidade, para a formação e

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transformação territorial de São Francisco do Conde, e que melhorias sociais só serão

possíveis se contarmos com a participação de todos.

4.3.1.3 TERCEIRA OFICINA: DEMOCRACIA

A terceira oficina foi realizada na sede Curso Pré-vestibular Comunitário da

Prefeitura de São Francisco do Conde, situado na Praça Santa Cruz S/N no dia 25 de

fevereiro de 2016. Essa foi oficina com maior número de participantes, somando um

total de 23 integrantes. Mais uma vez a maioria dos participantes foram mulheres,

totalizando 15 pescadoras e 8 pescadores.

No primeiro momento foi exposta a proposta de trabalho, em seguida

apresentação dos pescadores que estavam participando pela primeira vez e

consequentemente a pergunta disparadora: “O que é democracia para os

participantes?”.

Uma participante expôs, que a democracia existe no momento que votamos e

vamos as urnas. Outro participante, afirmou que a democracia estava relacionada a

união de todos.

No momento posterior, os participantes foram organizados em círculo e foi

distribuído um rolo de cordão e solicitado que cada um segurasse uma ponta,

formando uma teia, denominada “teia da democracia”.

A partir da construção da teia, foi solicitado que os participantes relacionassem

com o tema democracia. Isso resultou numa discussão onde todos expuseram a sua

opinião sobre a questão levantada.

A teia da democracia foi utilizada como recurso, para que os mesmos

pudessem entender que a partir da coletividade e da união, a democracia também se

efetiva, pois a cobrança pelos direitos sociais acaba fortalecida. Porém, caso uma das

partes apresente fragilidade, isso compromete todo o coletivo e a garantia desses

direitos.

Ao mesmo tempo essa proposta, concretiza a perspectiva de que além da

cobrança de direitos, cada integrante tem deveres a cumprir, para manter a

coletividade coesa e firme.

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Após a exposição dos grupos pescadores sobre a atividade realizada foi

solicitado à formação de dois grupos. Cada grupo construiu e expôs sua ideia sobre

democracia na cartolina.

Durante a realização da oficina com a temática Democracia alguns problemas

foram sinalizados tanto no que diz respeito à relação com a Colônia de Pescadores,

quanto à situação socioeconômica dos pescadores.

Uma equipe destacou: “nós pescadores e marisqueiros precisamos ter nossos

direitos garantido e que nossa profição seja vista como toda as outras porque ela e

digna como quaquer profição” (TEXTO DO CARTAZ - FOTO 27).

A frase, exposta no cartaz, deixa clara a necessidade da comunidade pesqueira

em sentir-se valorizada pela atividade que desenvolvem destacando a dignidade do

trabalho realizado pelos pescadores em São Francisco do Conde. Revela também, o

quanto há uma desvalorização da pesca no município, pois de maneira direta ou

indireta, nas oficinas realizadas este ponto sempre era exposto.

FOTO 27 - RESULTADO DAS OFICINAS SOBRE DEMOCRACIA COM REPRESENTANTES DA

COLÔNIA DE PESCADORES Z-05.

Fonte: Oficina realizada com representantes da Colônia de Pescadores Z-05, 2016.

Houve relatos que descreveram a necessidade de sentirem-se respeitados

profissionalmente, principalmente na garantia de direitos iguais em relação a qualquer

outra profissão. No momento da discussão, oralmente ficava evidente que a

valorização e respeito destacados, tinha significativa relação com a forma como a

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sociedade exerga a atividade pesqueira, colocando-a como uma atividade menor que

outras atividades profissionais.

Durante a explanação daquilo que foi exposto no cartaz ficou evidente a relação

de desvalorização do trabalho dos pescadores tanto no que diz respeito à comunidade

local, como o poder público local, que apesar de beneficiar com o defeso inverso, não

valoriza nem incentiva ações mais palpáveis como a reforma da Colônia de

Pescadores e um local mais apropriado para que os mesmos possam comercializar

sua produção.

Além dos aspectos relacionados à valorização do trabalho do pescador, foi

sinalizada a necessidade de moradia digna e condições básicas de saneamento e

abastecimento de água.

FOTO 28 - RESULTADO DAS OFICINAS SOBRE DEMOCRACIA COM REPRESENTANTES DA COLÔNIA DE PESCADORES Z-05.

Fonte: Oficina realizada com representantes da Colônia de Pescadores Z-05, 2016.

A maioria dos presentes na oficina relatou que moram nas zonas periféricas da

cidade de São Francisco do Conde, principalmente nos bairros Babilônia e na Avenida

Santa Rita. Áreas destacadas anteriormente neste relatório, como aquelas que

apresentam uma série de problemas estruturais, como: saneamento básico, coleta de

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lixo, habitações precárias. Segundo os presentes, boa parte dos pescadores reside

em zonas periféricas da cidade, desfavorecidas de determinados benefícios.

4.3.1.4 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA COLÔNIA DE PESCADORES Z-05: RESPOSTAS DOS ENTREVISTADOS

As entrevistas ocorreram no dia 03 de março de 2016, no turno matutino entre

09:00 h e 12h00, mesmo horário marcado para a realização das oficinas. Enquanto

coordenava a oficina, um entrevistador, em sala reservada realizou esta atividade.

O critério para a escolha dos entrevistados foi à frequência nas três oficinas e

identificação da participação significativa durante as discussões, elemento

fundamental para facilitar o diálogo sobre os temas a serem questionados. Por

solicitação dos pescadores as entrevistas aconteceram ao mesmo tempo, na Praça

da Independência S/N, Centro, com a presença dos três representantes da

comunidade pesqueira, sendo duas mulheres e um homem.

As perguntas da entrevista permearam os temas discutidos nas oficinas, ou

seja, participação social dos associados da Colônia de Pescadores Z-05 nas

transformações territoriais do município de São Francisco do Conde, além da

importância da atividade pesqueira para o município de São Francisco do Conde, a

relação entre os associados da Colônia de Pescadores Z -05 e o poder público de São

Francisco do Conde, a relação dos pescadores com a Petrobrás e as principais

dificuldades encontradas pelos associados da Colônia de Pescadores Z-05, para o

desenvolvimento de sua atividade econômica.

No momento do primeiro questionamento, referente à participação social dos

associados na Colônia de Pescadores nas transformações territoriais de São

Francisco do Conde, os entrevistados tiveram um pouco de dificuldade em entender

o que significava o termo: transformações territoriais.

Foi realizada uma breve explicação sobre as mudanças geohistóricas,

ocorridas no município no decorrer do tempo, para que fosse possível compreender a

importância dos associados da Colônia de Pescadores nas transformações territoriais

da cidade.

Após explicação realizada pelo entrevistador, os entrevistados destacaram que

os pescadores nunca tiveram voz em São Francisco do Conde, muito menos participar

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das transformações territoriais e mais uma vez, fizeram menção a um ponto destacado

durante as oficinas, que é a falta de valorização da comunidade pesqueira.

Ao mesmo tempo destacaram que parte dessa responsabilidade era da própria

comunidade pesqueira que só tinha interesse em participar das reuniões

proporcionadas pela Colônia de Pescadores Z-05, quando o assunto estava

relacionado ao defeso camarão, defeso inverno ou indenização da Petrobras,

provocado por conta de crimes ambientais ocorridos.

Por outro lado o pescador B, sinalizou que os pescadores não necessitam

apenas dos benefícios do defeso inverno ou defeso camarão. Mas, também de mais

estrutura para venda de sua produção, capacitação dos profissionais e modernização

das embarcações, e facilidades para financiamento de barcos de maior porte.

A pescadora A sinalizou a falta de um representante da comunidade pesqueira,

na Câmara de Vereadores do município de São Francisco do Conde, para defender

os seus direitos.

A gente precisa de um representante na Câmara de Vereados para facilitar a nossa vida e lutar pelos nossos direitos. Precisamos que este vereador defenda as necessidades dos pescadores, para que nossa vida seja melhor (PESCADORA A).

Segundo todos os entrevistados, a relação com o poder público é tranquila, o

acesso aos secretários e vereadores não é difícil, principalmente pelo fato de ser uma

cidade pequena, porém eles sentem a necessidade de um representante dos

pescadores na gestão pública. Na opinião deles isso aumentaria as chances de haver

mais benefícios em prol dos pescadores.

Em seguida, foi perguntada qual a relação dos pescadores com a Petrobras e

se há benefícios gerados pela empresa petroquímica, para com a comunidade

pesqueira. A pescadora A, falou que a Petrobras realiza cursos para os pescadores

sobre meio ambiente, formação de cooperativa e que normalmente nestas atividades

o número de pescadores participantes é maior.

Quando a Petrobras vem aqui realiza uns curso pra gente, ensina a cuidar melhor da natureza, dos peixes, para que a gente pode

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trabalhar na pesca por mais tempo e garantir a sobrevivência e ter uma vida melhor para a família (PESCADORA A).

Porém, o pescador B destacou que essas atividades realizadas pela Petrobras,

são somente para minimizar os problemas criados pela empresa, por causa dos

acidentes, que prejudicam o desenvolvimento da atividade pesqueira.

A Petrobras não está querendo uma melhor vida para o pescador, seu interesse é calar a boca do pescador, por causa do problema criado pela Petrobras, poluindo as águas, derramando petróleo, prejudicando a vida do pescador (PESCADOR B).

Vale ressaltar que neste relatório, foi sinalizado os acidentes ligados ao

derramamento de petróleo, provocados pela Petrobrás que atingiram, São Francisco

do Conde, Santo Amaro, Candeias, causando prejuízos a comunidade pesqueira

destes municípios.

Os entrevistados, destacaram a importância da atividade pesqueira para o

município de São Francisco do Conde, principalmente por ser uma atividade que

passa de geração em geração. Porém, também foi abordada a falta de organização

na realização da atividade, que acontece ainda de maneira muito individual e não

coletiva.

Meu pai me ensinou a pescar, quando eu era criança, mas, os pescador nunca foi unido, querendo melhoras para todos. Cada um realizava a sua atividade, pescava, vendia o que pescava e sustentava a sua família, da forma como achava melhor (PESCADORA C).

Cada pescador pratica a atividade, sem que houvesse o espírito de

coletividade, nem a ideia de construírem uma cooperativa. Foi abordado também pela

Pescadora C, a falta de iniciativa da Colônia de Pescadores Z-05, no que diz respeito

a orientá-los a formar uma cooperativa, que aumentaria o poder de competitividade

dos pescadores, diante do mercado.

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O presidente da colônia precisa marcar encontro para escutar os pescador e falar o nosso direito e como podemos criar coisas que faça nossa vida ficar melhor. A reunião precisa ser com coisas que interessam os pescador para construir cooperativas e cursos para evoluir nossas atividades. (PESCADORA C)

De certa forma, é possível perceber um discurso fortemente marcado pela

centralização do poder e das decisões na figura do presidente da Colônia de

Pescadores, que acaba por influenciar diretamente na participação social dos

pescadores, diante das problemáticas enfrentadas pela comunidade pesqueira.

Por fim, apesar de reconhecerem que a atual gestão da Colônia de Pescadores

Z-05, realiza administração, mais próxima dos pescadores e que atualmente há uma

relação mais próxima da associação na vida dos pescadores, principalmente no que

diz respeito aos direitos legais, como o defeso inverno e defeso camarão, a todo o

momento, os entrevistados destacaram a necessidade de mais encontros, como os

que foram realizados através da presente pesquisa.

Mesmo com os problema o atual presidente da colônia é mais próximo dos pescador, melhorou muita coisa pra nós. A quantidade de associados na colônia aumentaram e temos nosso direito do defeso camarão e inverno garantido, que ajuda nossa vida e família (PESCADORA A).

Segundo os entrevistados, os encontros possibilitam “abrir os olhos” e aprender

mais, sobre temas que não são discutidos durante as reuniões da Colônia de

Pescadores e que era uma pena, uma participação tão pequena e a falta de interesse

dos pescadores.

O trabalho com as oficinas e o processo de entrevista veio concretizar a

proposta e a concepção de que a participação social é fundamental na territorialidade

e na formação territorial de uma determinada área. Pois, através desta participação é

possível transformar e ressignificar o espaço de vivência dos cidadãos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar a presente pesquisa, é necessário rever alguns pontos delimitados

na fase inicial de construção do estudo e sua relação com o trabalho de campo,

aplicabilidade da metodologia, as problemáticas e objetivos inicialmente delimitadas,

para a conclusão do Relatório Técnico.

No que diz respeito ao objetivo geral delimitado na pesquisa, foi possível

analisar a influência da Petrobrás a partir da década de 1950 na territorialidade do

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Recôncavo baiano e as implicações socioeconômicas e políticas em São Francisco

do Conde.

A partir de uma contextualização geohistórica foi possível, entender o processo

de implantação da Petrobras no Recôncavo baiano e em São Francisco do Conde,

não perdendo de vista os três conceitos básicos que permearam este estudo:

território, territorialidade e participação social.

Dentre as problemáticas definidas neste estudo, que estão diretamente ligadas

aos objetivos específicos, pode-se ter uma visão mais específica no que se refere à

participação social dos integrantes da Colônia de Pescadores Z-05 e sua influencia

na formação territorial e na territorialidade de São Francisco.

Compreendeu-se que existe uma fragilidade histórica na participação social

dos integrantes da Colônia de Pescadores Z-05, principalmente pela centralização da

tomada de decisões, na figura do presidente da colônia. Apesar da gestão atual,

conseguir agregar um número maior de associados nas reuniões realizadas, as

mesmas são voltadas, muito mais para informes, do que discussões que venham a

garantir os desejos e anseios da comunidade pesqueira. Principalmente, no que diz

respeito à posição e valorização social desta comunidade, dentro outros desejos,

como espaços para a comercialização do pescado.

A partir do estudo, constatou-se a sensível relação entre a Petrobras e a

comunidade pesqueira, desde o período de implantação da empresa petroquímica

que afugentava o pescado, por conta das constantes explosões provocadas para

instalação das plataformas de extração de petróleo e problemas mais recentes,

causados pelo corte das redes de pesca, na desativação e retirada de algumas

plataformas que foram feitas de forma errônea.

Além destes aspectos, os derramentos de Petróleo causaram grandes

prejuízos, tanto ambientais, quanto na renda daqueles que sobrevivem da atividade

pesqueira, gerando com isso, uma relação conflituosa com os pescadores.

No contexto atual, assim como já sinalizado anteriormente, a participação

social dos integrantes da Colônia de Pescadores Z-05, é muito pequena diante do

número de empregos gerados pela atividade econômica, e da importância

geohistórica da pesca na formação do território e da territorialidade de São Francisco

do Conde.

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Os benefícios da comunidade pesqueira como o defeso inverno, que faz parte

de política pública municipal, estão aquém dos interesses sinalizados pelos

pescadores durante a realização das oficinas e entrevistas.

No decorrer de elaboração do relatório técnico, é importante destacar a

significância do referencial teórico utilizado, para que fosse possível refletir sobre os

conceitos de território, territorialidade e participação social, para explicar a

organização socioterrtorial da comunidade de pescadores em São Francisco do

Conde.

A organização territorial e a territorialidade perpassam por uma série de

relações culturais, políticas, econômicas e sociais que a partir da participação da

sociedade torna-se o caminho mais viável para que os sujeitos organizem o território

a partir das suas necessidades.

Diante do estudo realizado foi possível verificar a importância da Petrobras na

formação territorial de São Francisco do Conde e identificar quanto à territorialidade

no município está relacionada à implantação desta empresa petroquímica, tanto no

diz respeito aos aspectos econômicos, geopolíticos, quanto sociais.

Na formação e organização territorial de São Francisco do Conde a Petrobras,

como elemento econômico, teve significativa importância na dinâmica territorial do

município, com a geração de novos empregos, o incentivo ao êxodo rural, abertura de

rodovias, dinamização dos setores de comércio e serviços, aumentando

consideravelmente os impostos gerados, por conta da exploração petrolífera.

Por outro lado, o número de impostos gerados pela exploração petrolífera em

São Francisco do Conde, não condiz com a estrutura do município, nem com as

condições sociais da população, que apresenta problemas com serviços ligados a

educação, saúde, moradia e saneamento básico, ocupando a 2.573ª posição na taxa

de IDHM (PNDU, 2010), entre os 5.565 municípios brasileiros, contrapondo a renda

per capita de R$ 433,23 mil, segundo dados do Programa de Nações Unidas para o

desenvolvimento (PNDU, 2010). Ou seja, o capital gerado pela exploração petrolífera

não revertiu-se em condições dignas de vida para parte da população.

Diante deste quadro socioterritorial, a participação social, como um instrumento

fundamental para a formação de um território, tendo como base a construção de uma

consciência voltada para o desenvolvimento da cidadania e cooperação entre

diferentes sujeitos sociais, sejam estes representantes do poder público e/ou

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associados da colônia de pescadores, apresenta fragilidades que acaba por

influenciar na organização territorial do município.

O individualismo, tão comum e recorrente dentro do modo de produção

capitalista, e a falta da cultura da participação social, influenciaram e influenciam

diretamente na organização territorial de São Francisco do Conde, quando as ações

coletivas tornam-se enfraquecidas, diante também da falta de interesse da

comunidade pesqueira em participar das atividades promovidas pela presente

pesquisa, que não tinha relação com benefícios e indenizações, como no caso do

derramamento de petróleo, causado pela Petrobras.

Como já citado, na discussão do trabalho, era comum a sinalização não apenas

do presidente da Colônia de Pescadores Z-05, mas também dos próprios participantes

das oficinas promovidas por este estudo, à falta de participação e interesse dos

pescadores, nas atividades realizadas.

Durante a realização das oficinas, apesar de estabelecermos o número máximo

de 30 participantes, para cada atividade, esta meta não foi alcançada. Foi relatado

pelos pescadores que participaram das mesmas e das entrevistas, sobre a

necessidade de uma participação mais ativa da comunidade pesqueira nos encontros

realizados e proporcionados pela Colônia de Pescadores Z-05, questionando

inclusive, ações realizadas pelo Presidente da Colônia de Pescadores Z-05. Além

disso, observou-se que as oficinas possibilitaram ampliar os horizontes dos

participantes em relação às questões debatidas e que ainda não tinham sido

discutidas entre a comunidade pesqueira.

É importante salientar, que a não cultura da participação social, não se limita

apenas a comunidade pesqueira de São Francisco do Conde, mas da própria

construção histórica da sociedade brasileira, fruto de um processo colonizador

impositor e explorador dos recursos naturais e da sociedade menos favorecida

existente no Brasil.

Apesar de não ter sido um objetivo discutir a gestão pública municipal de São

Francisco do Conde, no caso específico deste município, a participação social, perde

força e torna-se ainda mais evidente, por conta do grande capital gerado pelos

impostos da exploração de petróleo e uma política local paternalista, onde os próprios

pescadores afirmaram que quando precisam pagar despesas básicas como: luz,

água, gás etc, direcionam-se a prefeitura pedindo o dinheiro necessário para pagar

dívidas.

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A não participação da comunidade pesqueira em relação aos interesses, que

envolvem, pode ser inclusive analisada pelo fato da última eleição realizada no mês

de junho de 2016, para a presidência da Colônia de Pescadores Z-05, onde iria definir

a gestão que ficaria em vigor nos próximos 3 anos, apenas 8% dos associados

votaram nas chapas que disputavam as eleições.

Como no regimento da Colônia de Pescadores Z-05, não existe uma clausula

relacionada à porcentagem mínima de pescadores para garantir a legitimidade da

eleição, a chapa da gestão presente entre os anos 2013 a 2016 foi reeleita, pela

terceira vez.

Outra dificuldade encontrada no desenvolvimento desta pesquisa, foi a falta

de arquivos relacionados a gestões passadas da Colônia de Pescadores Z-05. De

acordo com informações do atual presidente da Colônia, as gestões passadas ou não

faziam pauta das reuniões, ou aqueles que faziam descartavam o material no final da

gestão. Vale ressaltar a resistência do atual presidente da Colônia em fornecer a pauta

dos encontros realizados com a comunidade pesqueira. O único material facilmente

disponibilizado foram às fichas cadastrais, presentes da Colônia que facilitaram a

catalogação de dados importantes expostos no decorrer da elaboração do relatório.

Apesar de não ser o objetivo principal do estudo, discutir questões políticas e

políticas públicas em São Francisco do Conde, é importante registrar que a fragilidade

de participação social, tanto da sociedade brasileira, quanto dos pescadores de São

Francisco do Conde, é resultado de uma construção social, política e econômica, onde

as decisões que dizem respeito à coletividade são tomadas de forma verticalizada (de

cima para baixo), e estas influenciam diretamente na organização territorial.

Todos estes aspectos acabaram por concretizar dentro da perspectiva deste

estudo, a necessidade da construção da cartilha, voltada não somente para o trabalho

de pesquisa realizado no município, mas principalmente apresentar um produto final,

para ser apresentada a comunidade pesqueira, tendo como temática principal,

aspectos relacionados ao conceito de participação social e cidadania e a importância

destes elementos na organização territorial, tendo em vista a necessidade de

construção de elementos necessários à explicação e consolidação da cidadania no

Brasil.

A cartilha dará continuidade ao trabalho desenvolvido durante este estudo,

buscando a possibilidade de mudança de um comportamento social dos pescadores,

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diante da realidade vivenciada, associado à construção de cidadãos socialmente

participativos na construção e reconstrução do seu território de vivência.

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APÊNDICES

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ANEXOS

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ANEXO A- LEI Nº 11.959.

Presidência da República

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 11.959, DE 29 DE JUNHO DE 2009.

Mensagem de veto

Vigência

Dispõe sobre a Política Nacional de

Desenvolvimento Sustentável da

Aquicultura e da Pesca, regula as

atividades pesqueiras, revoga a Lei

no 7.679, de 23 de novembro de 1988, e

dispositivos do Decreto-Lei no 221, de 28

de fevereiro de 1967, e dá outras

providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

NORMAS GERAIS DA POLÍTICA NACIONAL DE

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA AQUICULTURA E

DA PESCA

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Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento

Sustentável da Aquicultura e da Pesca, formulada, coordenada e executada com o

objetivo de promover:

I – o desenvolvimento sustentável da pesca e da aquicultura como fonte de

alimentação, emprego, renda e lazer, garantindo-se o uso sustentável dos recursos

pesqueiros, bem como a otimização dos benefícios econômicos decorrentes, em

harmonia com a preservação e a conservação do meio ambiente e da biodiversidade;

II – o ordenamento, o fomento e a fiscalização da atividade pesqueira;

III – a preservação, a conservação e a recuperação dos recursos pesqueiros e

dos ecossistemas aquáticos;

IV – o desenvolvimento socioeconômico, cultural e profissional dos que exercem

a atividade pesqueira, bem como de suas comunidades.

CAPÍTULO II

DEFINIÇÕES

Art. 2o Para os efeitos desta Lei, consideram-se:

I – recursos pesqueiros: os animais e os vegetais hidróbios passíveis de

exploração, estudo ou pesquisa pela pesca amadora, de subsistência, científica,

comercial e pela aquicultura;

II – aquicultura: a atividade de cultivo de organismos cujo ciclo de vida em

condições naturais se dá total ou parcialmente em meio aquático, implicando a

propriedade do estoque sob cultivo, equiparada à atividade agropecuária e

classificada nos termos do art. 20 desta Lei;

III – pesca: toda operação, ação ou ato tendente a extrair, colher, apanhar,

apreender ou capturar recursos pesqueiros;

IV – aquicultor: a pessoa física ou jurídica que, registrada e licenciada pelas

autoridades competentes, exerce a aquicultura com fins comerciais;

V – armador de pesca: a pessoa física ou jurídica que, registrada e licenciada

pelas autoridades competentes, apresta, em seu nome ou sob sua responsabilidade,

embarcação para ser utilizada na atividade pesqueira pondo-a ou não a operar por

sua conta;

VI – empresa pesqueira: a pessoa jurídica que, constituída de acordo com a

legislação e devidamente registrada e licenciada pelas autoridades competentes,

dedica-se, com fins comerciais, ao exercício da atividade pesqueira prevista nesta Lei;

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VII – embarcação brasileira de pesca: a pertencente a pessoa natural residente

e domiciliada no Brasil ou a pessoa jurídica constituída segundo as leis brasileiras,

com sede e administração no País, bem como aquela sob contrato de arrendamento

por empresa pesqueira brasileira;

VIII – embarcação estrangeira de pesca: a pertencente a pessoa natural

residente e domiciliada no exterior ou a pessoa jurídica constituída segundo as leis de

outro país, em que tenha sede e administração, ou, ainda, as embarcações brasileiras

arrendadas a pessoa física ou jurídica estrangeira;

IX – transbordo do produto da pesca: fase da atividade pesqueira destinada à

transferência do pescado e dos seus derivados de embarcação de pesca para outra

embarcação;

X – áreas de exercício da atividade pesqueira: as águas continentais, interiores,

o mar territorial, a plataforma continental, a zona econômica exclusiva brasileira, o

alto-mar e outras áreas de pesca, conforme acordos e tratados internacionais firmados

pelo Brasil, excetuando-se as áreas demarcadas como unidades de conservação da

natureza de proteção integral ou como patrimônio histórico e aquelas definidas como

áreas de exclusão para a segurança nacional e para o tráfego aquaviário;

XI – processamento: fase da atividade pesqueira destinada ao aproveitamento

do pescado e de seus derivados, provenientes da pesca e da aquicultura;

XII – ordenamento pesqueiro: o conjunto de normas e ações que permitem

administrar a atividade pesqueira, com base no conhecimento atualizado dos seus

componentes biológico-pesqueiros, ecossistêmico, econômicos e sociais;

XIII – águas interiores: as baías, lagunas, braços de mar, canais, estuários,

portos, angras, enseadas, ecossistemas de manguezais, ainda que a comunicação

com o mar seja sazonal, e as águas compreendidas entre a costa e a linha de base

reta, ressalvado o disposto em acordos e tratados de que o Brasil seja parte;

XIV – águas continentais: os rios, bacias, ribeirões, lagos, lagoas, açudes ou

quaisquer depósitos de água não marinha, naturais ou artificiais, e os canais que não

tenham ligação com o mar;

XV – alto-mar: a porção de água do mar não incluída na zona econômica

exclusiva, no mar territorial ou nas águas interiores e continentais de outro Estado,

nem nas águas arquipelágicas de Estado arquipélago;

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XVI – mar territorial: faixa de 12 (doze) milhas marítimas de largura, medida a

partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular brasileiro, tal como indicada

nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente pelo Brasil;

XVII – zona econômica exclusiva: faixa que se estende das 12 (doze) às 200

(duzentas) milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para

medir a largura do mar territorial;

XVIII – plataforma continental: o leito e o subsolo das áreas submarinas que se

estendem além do mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural do

território terrestre, até o bordo exterior da margem continental, ou até uma distância

de 200 (duzentas) milhas marítimas das linhas de base, a partir das quais se mede a

largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental

não atinja essa distância;

XIX – defeso: a paralisação temporária da pesca para a preservação da espécie,

tendo como motivação a reprodução e/ou recrutamento, bem como paralisações

causadas por fenômenos naturais ou acidentes;

XX – (VETADO);

XXI – pescador amador: a pessoa física, brasileira ou estrangeira, que,

licenciada pela autoridade competente, pratica a pesca sem fins econômicos;

XXII – pescador profissional: a pessoa física, brasileira ou estrangeira residente

no País que, licenciada pelo órgão público competente, exerce a pesca com fins

comerciais, atendidos os critérios estabelecidos em legislação específica.

CAPÍTULO III

DA SUSTENTABILIDADE DO USO DOS RECURSOS

PESQUEIROS E DA ATIVIDADE DE PESCA

Seção I

Da Sustentabilidade do Uso dos Recursos Pesqueiros

Art. 3o Compete ao poder público a regulamentação da Política Nacional de

Desenvolvimento Sustentável da Atividade Pesqueira, conciliando o equilíbrio entre o

princípio da sustentabilidade dos recursos pesqueiros e a obtenção de melhores

resultados econômicos e sociais, calculando, autorizando ou estabelecendo, em cada

caso:

I – os regimes de acesso;

II – a captura total permissível;

III – o esforço de pesca sustentável;

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IV – os períodos de defeso;

V – as temporadas de pesca;

VI – os tamanhos de captura;

VII – as áreas interditadas ou de reservas;

VIII – as artes, os aparelhos, os métodos e os sistemas de pesca e cultivo;

IX – a capacidade de suporte dos ambientes;

X – as necessárias ações de monitoramento, controle e fiscalização da

atividade;

XI – a proteção de indivíduos em processo de reprodução ou recomposição de

estoques.

§ 1o O ordenamento pesqueiro deve considerar as peculiaridades e as

necessidades dos pescadores artesanais, de subsistência e da aquicultura familiar,

visando a garantir sua permanência e sua continuidade.

§ 2o Compete aos Estados e ao Distrito Federal o ordenamento da pesca nas

águas continentais de suas respectivas jurisdições, observada a legislação aplicável,

podendo o exercício da atividade ser restrita a uma determinada bacia hidrográfica.

Seção II

Da Atividade Pesqueira

Art. 4o A atividade pesqueira compreende todos os processos de pesca,

explotação e exploração, cultivo, conservação, processamento, transporte,

comercialização e pesquisa dos recursos pesqueiros.

Parágrafo único. Consideram-se atividade pesqueira artesanal, para os efeitos

desta Lei, os trabalhos de confecção e de reparos de artes e petrechos de pesca, os

reparos realizados em embarcações de pequeno porte e o processamento do produto

da pesca artesanal.

Art. 5o O exercício da atividade pesqueira somente poderá ser realizado

mediante prévio ato autorizativo emitido pela autoridade competente, asseguradas:

I – a proteção dos ecossistemas e a manutenção do equilíbrio ecológico,

observados os princípios de preservação da biodiversidade e o uso sustentável dos

recursos naturais;

II – a busca de mecanismos para a garantia da proteção e da seguridade do

trabalhador e das populações com saberes tradicionais;

III – a busca da segurança alimentar e a sanidade dos alimentos produzidos.

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Art. 6o O exercício da atividade pesqueira poderá ser proibido transitória,

periódica ou permanentemente, nos termos das normas específicas, para proteção:

I – de espécies, áreas ou ecossistemas ameaçados;

II – do processo reprodutivo das espécies e de outros processos vitais para a

manutenção e a recuperação dos estoques pesqueiros;

III – da saúde pública;

IV – do trabalhador.

§ 1o Sem prejuízo do disposto no caput deste artigo, o exercício da atividade

pesqueira é proibido:

I – em épocas e nos locais definidos pelo órgão competente;

II – em relação às espécies que devam ser preservadas ou espécimes com

tamanhos não permitidos pelo órgão competente;

III – sem licença, permissão, concessão, autorização ou registro expedido pelo

órgão competente;

IV – em quantidade superior à permitida pelo órgão competente;

V – em locais próximos às áreas de lançamento de esgoto nas águas, com

distância estabelecida em norma específica;

VI – em locais que causem embaraço à navegação;

VII – mediante a utilização de:

a) explosivos;

b) processos, técnicas ou substâncias que, em contato com a água, produzam

efeito semelhante ao de explosivos;

c) substâncias tóxicas ou químicas que alterem as condições naturais da água;

d) petrechos, técnicas e métodos não permitidos ou predatórios.

§ 2o São vedados o transporte, a comercialização, o processamento e a

industrialização de espécimes provenientes da atividade pesqueira proibida.

Art. 7o O desenvolvimento sustentável da atividade pesqueira dar-se-á

mediante:

I – a gestão do acesso e uso dos recursos pesqueiros;

II – a determinação de áreas especialmente protegidas;

III – a participação social;

IV – a capacitação da mão de obra do setor pesqueiro;

V – a educação ambiental;

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VI – a construção e a modernização da infraestrutura portuária de terminais

portuários, bem como a melhoria dos serviços portuários;

VII – a pesquisa dos recursos, técnicas e métodos pertinentes à atividade

pesqueira;

VIII – o sistema de informações sobre a atividade pesqueira;

IX – o controle e a fiscalização da atividade pesqueira;

X – o crédito para fomento ao setor pesqueiro.

CAPÍTULO IV

DA PESCA

Seção I

Da Natureza da Pesca

Art. 8o Pesca, para os efeitos desta Lei, classifica-se como:

I – comercial:

a) artesanal: quando praticada diretamente por pescador profissional, de forma

autônoma ou em regime de economia familiar, com meios de produção próprios ou

mediante contrato de parceria, desembarcado, podendo utilizar embarcações de

pequeno porte;

b) industrial: quando praticada por pessoa física ou jurídica e envolver

pescadores profissionais, empregados ou em regime de parceria por cotas-partes,

utilizando embarcações de pequeno, médio ou grande porte, com finalidade

comercial;

II – não comercial:

a) científica: quando praticada por pessoa física ou jurídica, com a finalidade de

pesquisa científica;

b) amadora: quando praticada por brasileiro ou estrangeiro, com equipamentos

ou petrechos previstos em legislação específica, tendo por finalidade o lazer ou o

desporto;

c) de subsistência: quando praticada com fins de consumo doméstico ou

escambo sem fins de lucro e utilizando petrechos previstos em legislação específica.

Seção II

Das Embarcações de Pesca

Art. 9o Podem exercer a atividade pesqueira em áreas sob jurisdição brasileira:

I – as embarcações brasileiras de pesca;

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II – as embarcações estrangeiras de pesca cobertas por acordos ou tratados

internacionais firmados pelo Brasil, nas condições neles estabelecidas e na legislação

específica;

III – as embarcações estrangeiras de pesca arrendadas por empresas,

armadores e cooperativas brasileiras de produção de pesca, nos termos e condições

estabelecidos em legislação específica.

§ 1o Para os efeitos desta Lei, consideram-se equiparadas às embarcações

brasileiras de pesca as embarcações estrangeiras de pesca arrendadas por pessoa

física ou jurídica brasileira.

§ 2o A pesca amadora ou esportiva somente poderá utilizar embarcações

classificadas pela autoridade marítima na categoria de esporte e recreio.

Art. 10. Embarcação de pesca, para os fins desta Lei, é aquela que,

permissionada e registrada perante as autoridades competentes, na forma da

legislação específica, opera, com exclusividade, em uma ou mais das seguintes

atividades:

I – na pesca;

II – na aquicultura;

III – na conservação do pescado;

IV – no processamento do pescado;

V – no transporte do pescado;

VI – na pesquisa de recursos pesqueiros.

§ 1o As embarcações que operam na pesca comercial se classificam em:

I – de pequeno porte: quando possui arqueação bruta - AB igual ou menor que

20 (vinte);

II – de médio porte: quando possui arqueação bruta - AB maior que 20 (vinte) e

menor que 100 (cem);

III – de grande porte: quando possui arqueação bruta - AB igual ou maior que

100 (cem).

§ 2o Para fins creditícios, são considerados bens de produção as embarcações,

as redes e os demais petrechos utilizados na pesca ou na aquicultura comercial.

§ 3o Para fins creditícios, são considerados instrumentos de trabalho as

embarcações, as redes e os demais petrechos e equipamentos utilizados na pesca

artesanal.

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§ 4o A embarcação utilizada na pesca artesanal, quando não estiver envolvida

na atividade pesqueira, poderá transportar as famílias dos pescadores, os produtos

da pequena lavoura e da indústria doméstica, observadas as normas da autoridade

marítima aplicáveis ao tipo de embarcação.

§ 5o É permitida a admissão, em embarcações pesqueiras, de menores a partir

de 14 (catorze) anos de idade, na condição de aprendizes de pesca, observadas as

legislações trabalhista, previdenciária e de proteção à criança e ao adolescente, bem

como as normas da autoridade marítima.

Art. 11. As embarcações brasileiras de pesca terão, no curso normal de suas

atividades, prioridades no acesso aos portos e aos terminais pesqueiros nacionais,

sem prejuízo da exigência de prévia autorização, podendo a descarga de pescado ser

feita pela tripulação da embarcação de pesca.

Parágrafo único. Não se aplicam à embarcação brasileira de pesca ou

estrangeira de pesca arrendada por empresa brasileira as normas reguladoras do

tráfego de cabotagem e as referentes à praticagem.

Art. 12. O transbordo do produto da pesca, desde que previamente autorizado,

poderá ser feito nos termos da regulamentação específica.

§ 1o O transbordo será permitido, independentemente de autorização, em caso

de acidente ou defeito mecânico que implique o risco de perda do produto da pesca

ou seu derivado.

§ 2o O transbordo de pescado em área portuária, para embarcação de

transporte, poderá ser realizado mediante autorização da autoridade competente, nas

condições nela estabelecidas.

§ 3o As embarcações pesqueiras brasileiras poderão desembarcar o produto da

pesca em portos de países que mantenham acordo com o Brasil e que permitam tais

operações na forma do regulamento desta Lei.

§ 4o O produto pesqueiro ou seu derivado oriundo de embarcação brasileira ou

de embarcação estrangeira de pesca arrendada à pessoa jurídica brasileira é

considerado produto brasileiro.

Art. 13. A construção e a transformação de embarcação brasileira de pesca,

assim como a importação ou arrendamento de embarcação estrangeira de pesca,

dependem de autorização prévia das autoridades competentes, observados os

critérios definidos na regulamentação pertinente.

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§ 1o A autoridade competente poderá dispensar, nos termos da legislação

específica, a exigência de que trata o caput deste artigo para a construção e

transformação de embarcação utilizada nas pescas artesanal e de subsistência,

atendidas as diretrizes relativas à gestão dos recursos pesqueiros.

§ 2o A licença de construção, de alteração ou de reclassificação da embarcação

de pesca expedida pela autoridade marítima está condicionada à apresentação da

Permissão Prévia de Pesca expedida pelo órgão federal competente, conforme

parâmetros mínimos definidos em regulamento conjunto desses órgãos.

Seção III

Dos Pescadores

Art. 14. (VETADO)

Art. 15. (VETADO)

Art. 16. (VETADO)

Art. 17. (VETADO)

CAPÍTULO V

Da Aquicultura

Art. 18. O aquicultor poderá coletar, capturar e transportar organismos

aquáticos silvestres, com finalidade técnico-científica ou comercial, desde que

previamente autorizado pelo órgão competente, nos seguintes casos:

I – reposição de plantel de reprodutores;

II – cultivo de moluscos aquáticos e de macroalgas disciplinado em legislação

específica.

Art. 19. A aquicultura é classificada como:

I – comercial: quando praticada com finalidade econômica, por pessoa física ou

jurídica;

II – científica ou demonstrativa: quando praticada unicamente com fins de

pesquisa, estudos ou demonstração por pessoa jurídica legalmente habilitada para

essas finalidades;

III – recomposição ambiental: quando praticada sem finalidade econômica, com

o objetivo de repovoamento, por pessoa física ou jurídica legalmente habilitada;

IV – familiar: quando praticada por unidade unifamiliar, nos termos da Lei

no 11.326, de 24 de julho de 2006;

V – ornamental: quando praticada para fins de aquariofilia ou de exposição

pública, com fins comerciais ou não.

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Art. 20. O regulamento desta Lei disporá sobre a classificação das modalidades

de aquicultura a que se refere o art. 19, consideradas:

I – a forma do cultivo;

II – a dimensão da área explorada;

III – a prática de manejo;

IV – a finalidade do empreendimento.

Parágrafo único. As empresas de aquicultura são consideradas empresas

pesqueiras.

Art. 21. O Estado concederá o direito de uso de águas e terrenos públicos para

o exercício da aquicultura.

Art. 22. Na criação de espécies exóticas, é responsabilidade do aquicultor

assegurar a contenção dos espécimes no âmbito do cativeiro, impedindo seu acesso

às águas de drenagem de bacia hidrográfica brasileira.

Parágrafo único. Fica proibida a soltura, no ambiente natural, de organismos

geneticamente modificados, cuja caracterização esteja em conformidade com os

termos da legislação específica.

Art. 23. São instrumentos de ordenamento da aquicultura os planos de

desenvolvimento da aquicultura, os parques e áreas aquícolas e o Sistema Nacional

de Autorização de Uso de Águas da União para fins de aquicultura, conforme definidos

em regulamentação específica.

Parágrafo único. A implantação de empreendimentos aquícolas em áreas de

salinas, salgados, apicuns, restingas, bem como em todas e quaisquer áreas

adjacentes a rios, lagoas, lagos, açudes, deverá observar o contido na Lei no 4.771,

de 15 de setembro de 1965 – Código Florestal, na Medida Provisória no 2.166-67, de

24 de agosto de 2001, e nas demais legislações pertinentes que dispõem sobre as

Áreas de Preservação Permanente – APP.

CAPÍTULO VI

DO ACESSO AOS RECURSOS PESQUEIROS

Art. 24. Toda pessoa, física ou jurídica, que exerça atividade pesqueira bem

como a embarcação de pesca devem ser previamente inscritas no Registro Geral da

Atividade Pesqueira - RGP, bem como no Cadastro Técnico Federal - CTF na forma

da legislação específica.

Parágrafo único. Os critérios para a efetivação do Registro Geral da Atividade

Pesqueira serão estabelecidos no regulamento desta Lei. Regulamento Vigência

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Art. 25. A autoridade competente adotará, para o exercício da atividade

pesqueira, os seguintes atos administrativos: Regulamento Vigência

I – concessão: para exploração por particular de infraestrutura e de terrenos

públicos destinados à exploração de recursos pesqueiros;

II – permissão: para transferência de permissão; para importação de espécies

aquáticas para fins ornamentais e de aquicultura, em qualquer fase do ciclo vital; para

construção, transformação e importação de embarcações de pesca; para

arrendamento de embarcação estrangeira de pesca; para pesquisa; para o exercício

de aquicultura em águas públicas; para instalação de armadilhas fixas em águas de

domínio da União;

III – autorização: para operação de embarcação de pesca e para operação de

embarcação de esporte e recreio, quando utilizada na pesca esportiva; e para a

realização de torneios ou gincanas de pesca amadora;

IV – licença: para o pescador profissional e amador ou esportivo; para o

aquicultor; para o armador de pesca; para a instalação e operação de empresa

pesqueira;

V – cessão: para uso de espaços físicos em corpos d’água sob jurisdição da

União, dos Estados e do Distrito Federal, para fins de aquicultura.

§ 1o Os critérios para a efetivação do Registro Geral da Atividade Pesqueira

serão estabelecidos no regulamento desta Lei.

§ 2o A inscrição no RGP é condição prévia para a obtenção de concessão,

permissão, autorização e licença em matéria relacionada ao exercício da atividade

pesqueira.

Art. 26. Toda embarcação nacional ou estrangeira que se dedique à pesca

comercial, além do cumprimento das exigências da autoridade marítima, deverá estar

inscrita e autorizada pelo órgão público federal competente.

Parágrafo único. A inobservância do disposto no caput deste artigo implicará a

interdição do barco até a satisfação das exigências impostas pelas autoridades

competentes.

CAPÍTULO VII

DO ESTÍMULO À ATIVIDADE PESQUEIRA

Art. 27. São considerados produtores rurais e beneficiários da política agrícola

de que trata o art. 187 da Constituição Federal as pessoas físicas e jurídicas que

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desenvolvam atividade pesqueira de captura e criação de pescado nos termos desta

Lei.

§ 1o Podem ser beneficiários do crédito rural de comercialização os agentes que

desenvolvem atividades de transformação, processamento e industrialização de

pescado, desde que atendido o disposto no § 1o do art. 49 da Lei no 8.171, de 17 de

janeiro de 1991.

§ 2o Fica o Poder Executivo autorizado a criar sistema nacional de informações

sobre a pesca e a aquicultura, com o objetivo de coletar, agregar, intercambiar e

disseminar informações sobre o setor pesqueiro e aquícola nacional.

Art. 28. As colônias de pescadores poderão organizar a comercialização dos

produtos pesqueiros de seus associados, diretamente ou por intermédio de

cooperativas ou outras entidades constituídas especificamente para esse fim.

Art. 29. A capacitação da mão de obra será orientada para o desenvolvimento

sustentável da atividade pesqueira.

Parágrafo único. Cabe ao poder público e à iniciativa privada a promoção e o

incentivo da pesquisa e capacitação da mão de obra pesqueira.

Art. 30. A pesquisa pesqueira será destinada a obter e proporcionar, de forma

permanente, informações e bases científicas que permitam o desenvolvimento

sustentável da atividade pesqueira.

§ 1o Não se aplicam à pesquisa científica as proibições estabelecidas para a

atividade pesqueira comercial.

§ 2o A coleta e o cultivo de recursos pesqueiros com finalidade científica

deverão ser autorizados pelo órgão ambiental competente.

§ 3o O resultado das pesquisas deve ser difundido para todo o setor pesqueiro.

CAPÍTULO VIII

DA FISCALIZAÇÃO E DAS SANÇÕES

Art. 31. A fiscalização da atividade pesqueira abrangerá as fases de pesca,

cultivo, desembarque, conservação, transporte, processamento, armazenamento e

comercialização dos recursos pesqueiros, bem como o monitoramento ambiental dos

ecossistemas aquáticos.

Parágrafo único. A fiscalização prevista no caput deste artigo é de competência

do poder público federal, observadas as competências estadual, distrital e municipal

pertinentes.

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Art. 32. A autoridade competente poderá determinar a utilização de mapa de

bordo e dispositivo de rastreamento por satélite, bem como de qualquer outro

dispositivo ou procedimento que possibilite o monitoramento a distância e permita o

acompanhamento, de forma automática e em tempo real, da posição geográfica e da

profundidade do local de pesca da embarcação, nos termos de regulamento

específico.

Art. 33. As condutas e atividades lesivas aos recursos pesqueiros e ao meio

ambiente serão punidas na forma da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e de

seu regulamento.

CAPITULO IX

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 34. O órgão responsável pela gestão do uso dos recursos pesqueiros

poderá solicitar amostra de material biológico oriundo da atividade pesqueira, sem

ônus para o solicitante, com a finalidade de geração de dados e informações

científicas, podendo ceder o material a instituições de pesquisa.

Art. 35. A autoridade competente, nos termos da legislação específica e sem

comprometer os aspectos relacionados à segurança da navegação, à salvaguarda da

vida humana e às condições de habitabilidade da embarcação, poderá determinar que

os proprietários, armadores ou arrendatários das embarcações pesqueiras

mantenham a bordo da embarcação, sem ônus para a referida autoridade,

acomodações e alimentação para servir a:

I – observador de bordo, que procederá à coleta de dados, material para

pesquisa e informações de interesse do setor pesqueiro, assim como ao

monitoramento ambiental;

II – cientista brasileiro que esteja realizando pesquisa de interesse do Sistema

Nacional de Informações da Pesca e Aquicultura.

Art. 36. A atividade de processamento do produto resultante da pesca e da

aquicultura será exercida de acordo com as normas de sanidade, higiene e segurança,

qualidade e preservação do meio ambiente e estará sujeita à observância da

legislação específica e à fiscalização dos órgãos competentes.

Parágrafo único. (VETADO)

Art. 37. Esta Lei entra em vigor após decorridos 60 (sessenta) dias de sua

publicação oficial.

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Art. 38. Ficam revogados a Lei no 7.679, de 23 de novembro de 1988, e os arts.

1o a 5o, 7o a 18, 20 a 28, 30 a 50, 53 a 92 e 94 a 99 do Decreto-Lei no 221, de 28 de

fevereiro de 1967.

Brasília, 29 de junho de 2009; 188o da Independência e 121o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Tarso Genro

Guido Mantega

Reinhold Stephanes

Carlos Lupi

Izabela Mônica Vieira Teixeira

Altemir Gregolin.

Este texto não substitui o publicado no DOU de 30.6.2009 e retificado em 9.7.2009

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ANEXO B - DECRETO-LEI N. 794

DECRETO-LEI N. 794 – DE 19 DE OUTUBRO DE 1938

Aprova e baixa o Código de Pesca

O Presidente da República, usando da faculdade que lhe confere o art. 180 da

Constituição Federal e tendo em vista a necessidade que a prática demonstrou de

serem modificadas as disposições atinentes à pesca, constantes do Código de Caça

e Pesca, baixado pelo decreto n. 23.672, de 2 de janeiro de 1934,

DECRETA:

Art. 1º Fica aprovado o Código de Pesca que com este baixa assinado pelos

Ministros de Estado e cuja execução compete ao Serviço de Caça e Pesca, do

Departamento Nacional da Produção Animal, do Ministério da Agricultura.

Art. 2º Fica revogado o decreto n. 23.672, de 2 de janeiro de 1934, na parte

referente à pesca, o qual baixou o Código de caça e Pesca.

Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1938, 117º da Independência e 50º da

República.

GETULIO VARGAS.

Francisco Campos.

A. de Souza Costa.

Eurico G. Dutra.

Henrique A. Guilhem.

Erico De Lamare S. Paulo.

Oswaldo Aranha.

Fernando Costa.

Gustavo Capanema.

Waldemar Falcão.

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CÓDIGO DE PESCA A QUE SE REFERE O DECRETO-LEI N. 794, DE 19 DE

OUTUBRO DE 1938

CAPÍTULO I

DA PESCA E SEU EXERCÍCIO

Art. 1º De serviços de pesca em todo o Brasil, inclusive a administração, direção,

fiscalização técnica do pessoal e material respectivos, a instrução especializada dos

pescadores e sua organização profissional, e tudo mais que com a mesma se

relacione no interesse da defesa da fauna e flora agrícolas e desenvolvimento de suas

indústrias, ficam inteiramente subordinados ao Ministério da Agricultura pelo seu

orgão competente – o Serviço de Caça e Pesca do Departamento Nacional da

Produção Animal e sujeitos às determinações deste Código.

Art. 2º Quanto às águas em que é exercida, a pesca se divide em interior e

marítima, sendo esta subdividida em: litorânea, costeira e de alto mar.

§ 1º A litorânea é a exercida nos portos, baías, enseadas, lagoas, lagos e braços

de mar, canais e quaisquer outras bacias de água salgada ou salobra, ainda que só

comuniquem com o mar durante uma parte do ano.

§ 2º A costeira é a exercida até a distância de 12 milhas na perpendicular da

costa.

§ 3º A de alto mar é aquela que se exerce alem das águas territoriais.

Art. 3º A pesca interior é a exercida em lagos, lagoas e lagunas, açudes ou

quaisquer depósitos dágua doce, nos rios e outros cursos dágua, bem como em

canais sem nenhuma ligação com o mar.

Art. 4º São do domínio público todos os animais e vegetais que se encontrem

nas águas públicas dominicais, de acordo com a definição dos arts. 6º a 11 do Código

de águas, baixado com o decreto 24.643, de 10 de julho de 1934.

Art. 5º Sómente aos brasileiros é facultado exercer o explorar profissionalmente

a pesca e indústrias correlatas.

Parágrafo único. A exigência deste artigo é extensiva aos armadores de pesca

e à administração das sociedades civis, comerciais ou industriais, que explorarem a

pesca.

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Art. 6º É permitido o exercício da pesca em todo o território da República,

mediante licença, a todos os brasileiros maiores de 16 anos.

§ 1º Isenta-se dessas exigências a pesca de caniço ou linha de mão, feita de

terra.

§ 2º Os infratores deste artigo serão punidos com multa de réis 50$000 a

100$000 (cincoenta a cem mil réis), elevada ao dobro na reincidência e apreensão do

material de pesca utilizado.

CAPÍTULO II

DOS PESCADORES E SUAS ASSOCIAÇÕES DE CLASSE

Art. 7º A matrícula de pescador profissional será concedida gratuitamente pelas

repartições competentes do Ministério da Marinha, na forma das leis e regulamentos

em vigor.

Art. 8º Todo o pescador profissional é obrigado a fazer parte da colônia em cuja

zona resida.

Parágrafo único. Si, por qualquer circunstância, não for possivel o exato

cumprimento do disposto neste artigo, será o pescador obrigado a fazer parte da

colônia em cuja zona estacione habitualmente sua embarcação.

Art. 9º As colônias de pescadores são agrupamentos de pescadores atuando

numa mesma zona e constituidas, no mínimo, por 150 (cento e cincoenta)

profissionais de pesca.

Parágrafo único. As colônias serão designadas pelo prefixo “Z”, seguido do

número de ordem que lhes couber no seu respectivo Estado e estabelecer-se-ão em

zonas limitadas pelo Serviço de Caça e Pesca.

Art. 10. As colônias de pescadores de cada Estado formam uma Federação.

Art. 11. As federações estaduais e colônias do Distrito Federal e do Estado do

Rio de Janeiro formam a Confederação Geral dos Pescadores do Brasil, com sede e

foro na Capital da República.

§ 1º As colônias, federações e Confederação Geral dos Pescadores do Brasil

ficam sujeitas à fiscalização, que no caso couber, do Serviço de Caça e Pesca.

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§ 2º As colônias do Distrito Federal e do Estado do Rio de Janeiro, pelo voto da

maioria de seus presidentes, elegerão respectivamente um delegado para representá-

las junto à Confederação.

Art. 12. As colônias, federações e a Confederação Geral dos Pescadores do

Brasil reger-se-ão por estatutos elaborados pela última e aprovados pelo Ministro da

Agricultura, ouvido o Conselho de Pesca.

Art. 13. Aos Estados, que tiverem delegação de poderes para executar o Código

de Pesca, fica facultado por seu serviço competente acompanhar a atuação das

associações de classe dos pescadores, representando ao Serviço de Caça e Pesca

federal.

CAPÍTULO III

DOS DEVERES DO PESCADOR

Art. 14. Constituem deveres do pescador:

a) observar fielmente os dispositivos deste Código e demais determinações

legais sobre a pesca, assim como as instruções e decisões baixadas pelas

autoridades competentes;

b) dar conhecimento à diretoria de sua colônia, para as devidas providências, de

quaisquer infrações que verificar ou de que tiver ciência, praticadas contra as

disposições deste Código ou instruções emanadas do Serviço de Caça e Pesca;

c) fornecer ao entreposto de pesca, ou na falta deste, à Diretoria da colônia, ao

termo de cada pescaria, todos os dados relativos à quantidade e qualidade do

pescado colhido, o lugar em que foi praticada e as ocorrências havidas em viagem;

d) zelar pela defesa e conservação da fauna e flora aquáticas;

e) cumprir fielmente ao estatutos das colônias.

Parágrafo único. Os infratores deste artigo serão punidos com a multa de 50$000

(cincoenta mil réis), elevada ao dobro na reincidência e apreensão da respectiva

matrícula.

CAPÍTULO IV

DAS RESTRIÇÕES GERAIS À PESCA

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Art. 15. E’ proibido pescar:

a) com redes ou aparelhos de qualquer espécie, tipo ou denominação nos

lugares em que embaracem à navegação;

b) com redes ou aparelhos de espera que impeçam o livre trânsito das espécies

da fauna aquática, nas barras, rios, riachos e canais ou a menos de cinco milhas de

distância dos citados lugares;

c) com redes ou aparelhos de arrasto de qualquer espécie, tipo ou denominação,

na pesca interior ou na litorânea;

d) com redes de arrasto (trawl) a menos de tres milhas da costa;

e) com redes de “arrastão de praia”, na pesca litorânea ou na interior e nas

proximidades das embocaduras dos rios;

f) com redes "traineiras" a menos de 200 metros das margens, nas baías ou

enseadas;

g) com dinamite ou qualquer explosivo; com substâncias tóxicas;

i) a menos de 500 metros dos tubos de descargas dos esgotos;

j) à distância menor de 200 metros da montante ou jusante das cachoeiras,

corredeiras, barragens e escadas para peixes;

k) com facho ou luz de qualquer natureza, quando tal processo possa causar

embaraços à navegação;

l) em outros lugares interditados pelo Serviço de Caça e Pesca;

m) por meio de qualquer sistema ou processo que prejudique a criação ou

procriação das espécies da fauna aquática, a juizo do Serviço de Caça e Pesca.

§ 1º Os infratores deste artigo serão punidos com a multa de 100$000 a

2:000$000 (cem mil réis a dois contos de réis), elevada ao dobro na reincidência.

§ 2º A infração das alíneas “g” e “h” é considerada crime, ficando os seus

infratores sujeitos às sanções da Consolidação das Leis Penais.

Art. 16. O lançamento de resíduos e detritos comprovadamente tóxicos nas

águas interiores ou litorâneas será regulado por instruções emanadas do Serviço de

Caça e Pesca.

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§ 1º E’ expressamente proibido o lançamento de óleos e produtos oleosos nas

águas interiores ou litorâneas.

§ 2º Os infratores deste artigo serão punidos com multa de 1:000$000 a

5:000$000 (um conto a cinco contos de réis), elevada ao dobro na reincidência.

Art. 17. E’ proibido colher, pescar, vender, comprar, transportar ou empregar em

qualquer uso, espécies da fauna aquática em desacordo com o presente Código e as

instruções emanadas do Serviço de Caça e Pesca.

Art. 18. Qualquer sistema de pesca pode ser, em determinada zona, região ou

local, temporária ou definitivamente proibido pelo Serviço de Caça e Pesca.

Art. 19. As cercadas de peixe, fixas, de qualquer denominação (tais como

currais, camboas, parís, cacurís, tapagens, coração, caçoal, curral duplo, curral em

série), as estaqueadas e muruadas, são proibidas.

§ 1º O material destinado à construção destas cercadas será apreendida e

destruido.

§ 2º Os infratores deste artigo serão punidos com multa de réis 500$000 a

5:000$000 (quinhentos mil réis a cinco contos de réis), elevada ao dobro na

reincidência.

CAPÍTULO V

DOS APARELHOS DE PESCA

Art. 20. Quaisquer que sejam as denominações dadas nas diversas localidades

aos aparelhos destinados à pesca, são os mesmos agrupados nas seguintes

categorias:

a) móveis;

b) flutuantes;

c) de arrasto;

d) de pescas especiais.

§ 1º Os aparelhos móveis são os mantidos temporariamente no fundo, por meio

de pesos, chumbadas ou ancorotes.

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§ 2º Flutuantes são os que vão à mercê do vento, da corrente, da onda ou a

reboque de embarcações, sem tocar o fundo.

§ 3º Os de arrasto são os mergulhados no fundo por meio de pesos e arrastados

de terra ou do mar.

§ 4º Os de pescas especiais são os exclusivos a determinadas espécies de

pescado.

Art. 21. São considerados aparelhos móveis:

a) as redes de “espera” ou de “barrar”, de qualquer tipo, não podendo ter malhas

inferiores a 30 mm.;

b) os gradeados de qualquer espécie, os covos, matapis, cestas de junco, de

palha ou flexa, de tela ou arame, com espaçamento mínimo de 40 mm.;

c) cercadas móveis ou currais móveis com espaçamento mínimo de 50 mm.;

d) linhas e espinheis.

Art. 22. Os aparelhos flutuantes devem ter malha mínima de 30 mm.

Art. 23. São considerados aparelhos de arrasto:

a) as redes denominadas “arrastão de praia”, com malha mínima de 30 mm.,

seja qual for o seu tipo ou dimensão;

b) as redes de arrasto para camarão "sete barbas”, com malha mínima de 12

mm.;

c) a rede de arrasto “trawl", com malha mínima de 30 mm., no ''copo''.

Art. 24. São considerados aparelhos especiais de pesca:

I – As redes denominadas vulgarmente “traineiras”, de dois tipos:

a) a "sardinheira” de malha mínima de 10 mm., no ensacador e de 25 mm. e 30

mm. nas armaduras superior e inferior;

b) a “traineira de malha lassa" com 15 mm., de malha, no mínimo, no ensacador

e 35 e 40 mm., no mínimo, nas armaduras.

II – A rede denominada "cai-cai” ou “tróia", com malhas mínimas de 20 mm.,

comprimento máximo de 80 metros.

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III – Redes “candomblê” e "balão”, para camarão, com malhas mínimas de 12

mm.

IV – Tarrafas de fio fino:

a) para peixe, com malha mínima de 15 mm.

b) para camarão, com malha mínima de 12 mm., e carapuça de 10 mm.

Parágrafo único. O cerco das "traineiras" só poderá ser efetuado, quando a

profundidade das águas for nitidamente superior ao calado das redes.

Art. 25. As malhas das redes serão medidas pela distância entre dois nós

consecutivos do mesmo fio.

Parágrafo único. A rede tinta será medida depois do terceiro banho e a rede

branca depois de uma permanência de 24 horas nágua.

Art. 26. A infração dos arts. 21, 22, 23 e 24 será punida com multa de 50$000 a

500$000 (cincoenta a quinhentos mil réis), elevada ao dobro na reincidência com

apreensão e destruição do aparelho.

CAPÍTULO VI

DAS EMBARCAÇÕES DE PESCA

Art. 27. As embarcações de pesca de qualquer natureza obedecerão à

regulamentação das repartições competentes do Ministério da Marinha e às

disposições do presente Código.

Art. 28. Toda embarcação de pesca trará na proa, de um e de ouro bordo, a letra

Z, seguida do número da colônia a que estiver filiado o seu proprietário, um sinal

característico da empresa a que pertencer, seguido das letras indicativas do Estado

onde estiver sua sede.

§ 1º A letra “Z”, o número correspondente ao da colônia a que pertencer a

embarcação e o indicativo do Estado serão reproduzidos na vela grande, em

dimensões convenientes, e cor bem destacada.

§ 2º Nenhuma embarcação de pesca poderá ter externamente desenhos nomes

ou letras, sinão os acima especificados, à exceção das movidas a vapor ou a motor,

que poderão trazer na chaminé, além dos símbolos das empresas, um número de

ordem determinado pela repartição competente para identificação em alto mar.

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§ 3º As embarcações de pesca de menos de 50 toneladas terão o costado

pintado de cor uniforme.

Art. 29. Nenhuma embarcação de pesca poderá amarrar ou fundear sobre boias,

redes ou instrumentos de pesca de outra embarcação, nem suspender ou verificar,

sob qualquer pretexto, os aparelhos de outrem.

Art. 30. Ninguem poderá cortar as linhas de pesca de aparelhos alheios, sinão

por força maior, cumprindo-lhe, neste caso, reatar as mesmas antes de as largar de

novo.

Art. 31. As embarcações que concorrerem à pesca, em uma certa zona, não

poderão lançar suas redes de modo a se prejudicarem mutuamente.

Art. 32. Às embarcações de pesca é vedado o acesso a logar circunscrito pelas

redes de outra embarcação.

Art. 33. Num mesmo pesqueiro as embarcações maiores ocuparão o lado do

barlavento das menores, em distância nunca inferior a 100 metros.

Art. 34. As tripulações das embarcações de pesca serão constituidas por dois

terços de brasileiros natos, no mínimo.

Art. 35. As pequenas embarcações de pesca poderão transportar livremente as

famílias dos pescadores, produto de pequena lavoura ou indústria doméstica.

Art. 36. O comandante, patrão de pesca ou mestre das embarcações destinadas

à pesca deverá preencher os mapas fornecidos pelo Serviço de Caça e Pesca,

entregando-os no fim de cada viagem ou semanalmente.

Art. 37. As embarcações de pesca, no curso normal das pescarias, tendo suas

equipagens completas e devidamente registradas na repartição competente, poderão

sair livremente dos portos a qualquer hora.

Art. 38. As embarcações estrangeiras e às nacionais guarnecidas por

estrangeiros é proibido o exercício da pesca em águas territoriais brasileiras.

Parágrafo único. A infração deste artigo resultará na apreensão da embarcação,

dos seus apetrechos de pesca e carregamento, como contrabando, e punida com as

leis que regem a matéria.

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Art. 39. O comando das embarcações de pesca costeira ou de alto mar só será

permitido a pescadores que possuam ao menos carta de patrão de pesca, devendo

ser dada preferência aos diplomados pelas escolas profissionais dirigidas pelo Serviço

de Caça e Pesca ou por outras a elas equiparadas.

Parágrafo único. Tais diplomados poderão matricular-se nas repartições

competentes ficando habilitados ao exercício de suas funções, em embarcações de

pesca, dispensadas quaisquer outras exigências.

Art. 40. As embarcações de pesca terão as tripulações organizadas de acordo

com as suas necessidades técnicas, a critério do Serviço de Caça e Pesca,

obedecidas as disposições deste Código.

Art. 41. Nenhuma embarcação poderá ser empregada na pesca sem o

certificado fornecido pelo Serviço de Caça e Pesca.

Parágrafo único. A diretoria do Serviço de Caça e Pesca baixará instruções sobre

as exigências que as embarcações devem satisfazer para atenção deste certificado.

CAPÍTULO VII

DOS MOLUSCOS, CRUSTÁCEOS, ESPONJAS E ALGAS

Art. 42. A exploração dos campos naturais de moluscos, bem como a de plantas

aquáticas, só poderá ser feita dentro de condições especificadas pelo Serviço de Caça

e Pesca.

Parágrafo único. Os infratores deste artigo serão punidos com multa de 50$000

a 100$000 (cincoenta a cem mil réis), elevada ao dobro na reincidência.

Art. 43. A descoberta de um campo natural de moluscos ou esponjas deverá ser

comunicada, no prazo de 60 dias, ao Serviço de Caça e Pesca, discriminando-se sua

situação e dimensões.

Art. 44. É permitido colocar aparelhos coletores de ostras aos bancos naturais e

suas proximidades para coleta de material destinado à cultura desses moluscos em

parques artificiais.

Art. 45. O serviço de Caça e Pesca regulamentará o estabelecimento de

parques para a cultura de ostras e mexilhões.

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Art. 46. Ao Serviço de caça e Pesca compete a fiscalização sanitária dos

campos naturais e parques artificiais de moluscos.

Art. 47. O Serviço de Caça e Pesca poderá suspender a exploração em qualquer

parque ou banco quando as condições tal justifiquem.

Art. 48. É proibido fundear embarcações ou lançar detritos de qualquer natureza

sobre os bancos de moluscos devidamente demarcados.

Parágrafo único. Os infratores deste artigo serão punidos com multa de 50$000

a 100$000 (cincoenta a cem mil réis), elevada ao dobro na reincidência, independente

de qualquer ação judiciária que no caso couber.

Art. 49. O Serviço de Caça e Pesca regulamentará a época e condições de

exploração dos bancos e parques de cultura de moluscos.

Art. 50. Quem desejar instalar parques de cultura de moluscos ou crustáceos

deverá submeter ao Serviço de Caça e Pesca o respectivo plano.

Art. 51. É proibido revolver o solo submerso, cortar as ervas e raizes, salvo por

imperiosa necessidade de saneamento, a critério do Serviço de caça e Pesca.

Parágrafo único. Os infratores deste artigo serão punidos com multa de 50$000

a 100$000 (cincoenta a cem mil réis), elevada ao dobro na reincidência.

Art. 52. O Serviço de Caça e Pesca publicará as instruções referentes a este

Capítulo dentro do prazo de 6 meses da execução deste Código.

CAPÍTULO VIII

DAS LICENÇAS PARA AMADORES DE PESCA E CIENTISTAS

Art. 53. O exercício da pesca é permitido aos amadores brasileiros, mediante

pagamento de uma licença anual de 20$000 (vinte mi réis), válida até 31 de dezembro

do ano civil.

§ 1º O amador de pesca só poderá possuir embarcações arroladas na classe de

recreio.

§ 2º O amador de pesca, que de qualquer maneira negociar produto de sua

pescaria, terá sua licença cassada e apreendidos os apetrechos de pesca

encontrados em seu poder.

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§ 3º A licença referida poderá ser, nos Estados, fornecida pelas delegacias

fiscais do Tesouro Nacional e coletorias federais, enquanto não se instalarem

repartições do Serviço de Caça e Pesca.

Art. 54. Qualquer expedição artística ou científica, cujo programa se estenda à

pesca, dependerá de prévia permissão do Serviço de Caça e Pesca federal.

Parágrafo único. O Conselho das Expedições Artísticas e Científicas do Brasil

ouvirá previamente o Serviço de Caça e Pesca antes de autorizar as expedições em

apreço.

Art. 55. Aplicam-se aos amadores estrangeiros as disposições do art. 53 e

parágrafos, quando devidamente autorizados pelo Serviço de Caça e Pesca.

Art. 56. Fica instituido no Serviço de Caça e Pesca um registro especial para

inscrição dos clubes ou associações de amadores de pesca, que poderão ser

organizadas distintamente ou em conjunto com os de caça.

Parágrafo único. Tais clubes ou associações pagarão uma taxa de registro de

100$000 (cem mil réis).

CAPÍTULO IX

DA PESCA INTERIOR

Art. 57. A pesca interior será regulada, em cada zona ou região, por instruções

especiais expedidas pelo Serviço de Caça e Pesca.

Art. 58. Em benefício do repovoamento natural ou artificial das águas interiores,

o Serviço de Caça e Pesca poderá interditar a pesca nos cursos dágua, lagos, lagoas

e lagunas, de água doce.

Art. 59. É expressamente proibido na pesca interior o emprego de “arrastão” de

qualquer espécie, como de qualquer outro aparelho que, rascando o fundo, revolvo o

solo.

Parágrafo único. Os infratores deste artigo serão punidos com multa de 100$000

a 500$000 (cem a quinhentos mil réis), elevada ao dobro na reincidência.

Art. 60. A pesca interior só será praticada nas épocas determinadas pelo Serviço

de Caça e Pesca.

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CAPÍTULO X

DA PISCICULTURA E COMÉRCIO DE PEIXES VIVOS

Art. 61. O Serviço de Caça e Pesca regulamentará as estações de piscicultura

federais, estaduais, municipais e particulares.

Art. 62. O Serviço de Caça e Pesca manterá um registro de piscicultores, cujas

condições de inscrição serão reguladas por instruções organizadas pelo mesmo

Serviço.

§ 1º Aos piscicultores será concedida licença para negociar com peixes de sua

criação, de acordo com as instruções do Serviço de Caça e Pesca.

§ 2º Essas licenças serão concedidas mediante o pagamento anual da taxa de

100$000 (cem mil réis).

Art. 63. É proibida a condução ou remessa para o exterior, de peixes vivos ou

ovos, sem prévia autorização do Serviço de Caça e pesca.

Parágrafo único. Os infratores deste artigo serão punidos com multa de 100$000

a 1:000$000 (cem mil réis a um conto de réis).

Art. 64. A importação, por particulares, de peixes vivos ou ovos, só será

permitida com autorização do Serviço de Caça e Pesca.

Art. 65. A criação e cultura de anfíbios comestíveis ou de adorno obedecerão à

mesma regulamentação do art. 62.

Art. 66. O comércio de anfíbios, peixes e crustáceos vivos será regulamentado

pelo Serviço de Caça e Pesca.

Art. 67. O Serviço de Caça e Pesca instalará estações experimentais de

biologia, tendo por fim:

a) realizar estudos referentes à biologia, propagação e defesa da fauna segundo

as condições regionais;

b) fornecer aos interessados que se queiram dedicar à piscicultura todos os

elementos e informações necessárias;

c) cuidar do povoamento ou repovoamento dos cursos dágua, tanques ou

açudes, fornecendo ovos, alevinos ou adultos de espécies adaptáveis às condições

da região;

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d) observar quais as espécies que mereçam ser industrializadas e realizar os

estudos referentes aos processos mais aconselhaveis à sua conservação e

aproveitamento industrial;

e) divulgar entre os industriais instruções concernentes ao melhor

aproveitamento do produto e à sua consequente valorização comercial.

CAPÍTULO XI

DO REPOVOAMENTO E DEFESA DAS ÁGUAS INTERIORES

Art. 68. As represas dos rios, ribeirões ou córregos devem ter, como

complemento obrigatório, obras que permitam a conservação da fáuna fluvial, seja

facilitando a passagem dos peixes, seja instalando estações de piscicultura.

§ 1º O Serviço de Caça e Pesca, após detido estudo in loco determinará ao

proprietário da represa quais as medidas a adotar para garantia da fauna fluvial.

§ 2º Os infratores deste artigo serão punidos com multa de 1:000$000 a

5:000$00 (um conto a cinco contos de réis), sucessivamente elevada ao dobro, caso

não tenham iniciado o cumprimento deste artigo dentro de 60 dias após a última multa.

CAPÍTULO XIII

DO CONSELHO DE PESCA

Art. 69. O Conselho de Pesca, que por este ato fica creado, terá sede no Rio de

Janeiro e compor-se-á de sete membros, indicados pelo Ministro da Agricultura e

nomeados pelo Presidente da República:

a) um zoólogo;

b) um representante do Serviço de Caça e Pesca;

c) um representante da Marinha de Guerra;

d) um representante dos pescadores;

e) um representante dos armadores de embarcações de pesca;

f) um representante dos industriais de conservas de pescado; e

g) um jurista especializado em direito marítimo.

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Parágrafo único. O diretor geral do Departamento Nacional da Produção Animal

poderá assistir às reuniões do Conselho e o diretor do Serviço de Caça e Pesca

poderá tomar parte em todas as discussões do Conselho sem direito a voto.

Art. 70. Na constituição do Conselho de Pesca, o zoólogo e o representante do

Serviço de Caça e Pesca serão indicados pelo diretor do mesmo Serviço, o

representante da Marinha de Guerra pelo ministro referente e os demais, eleitos por

seus sindicatos ou associações de classe.

Art. 71. O conselheiro que deixar de comparecer às reuniões do Conselho, por

cinco (5) vezes consecutivas, sem causa justificada, é considerado resignatário,

cumprindo ao Presidente levar o fato ao conhecimento do Ministro da Agricultura para

o efeito de exoneração e substituição.

Art. 72. O Conselho de Pesca poderá requisitar um oficial administrativo do

Ministério da Agricultura para seu secretário.

Art. 73. Ao Conselho incumbe:

a) propor ao Ministro da Agricultura qualquer emenda ou alteração dos

dispositivos do presente Código;

b) emitir parecer sobre os assuntos de relevância que o Serviço de Caça e Pesca

tenha de resolver, nos que lhe forem solicitados pelo Governo e aqueles enumerados

por este Código;

c) patrocinar os congressos de pesca;

d) instituir prêmios de animação à pesca, à piscicultura e às indústrias correlatas,

de acordo com o Ministro da Agricultura;

e) organizar seu regimento interno.

Art. 74. Aos membros do Conselho, ao diretor do Serviço de Caça e Pesca e ao

secretário do Conselho será paga, por sessão, uma gratificação igual à que percebem

ou venham a perceber os membros dos demais conselhos do Ministério da

Agricultura.

CAPÍTULO XIII

DA FISCALIZAÇÃO

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Art. 75. A fiscalização técnica da pesca obedecerá às instruções organizadas

pelo Serviço de Caça e Pesca e será exercida em todo o território nacional por

funcionários nomeados pelo Governo.

Art. 76. Os funcionários incumbidos da fiscalização da pesca, no exercício de

suas funções, são equiparados aos agentes de segurança pública e oficiais de justiça,

sendo-lhes facultado o porte de arma de defesa e cabendo-lhes, em relação à polícia

de pesca, as mesmas atribuições e deveres consignados nas leis vigentes para

aqueles funcionários.

Art. 77. A polícia civil fica obrigada a prestar auxílio na fiscalização da pesca,

sempre que for requisitada por funcionário do Serviço de Caça e Pesca, no exercício

do seu cargo.

Art. 78. Aos funcionários incumbidos da fiscalização da pesca fica assegurado

o direito de prender e autuar os infratores deste Código.

§ 1º A autorização supra é extensiva aos casos de desacate praticados contra

estes mesmos funcionários.

§ 2º Sempre que, no cumprimento deste Código, houver necessidade de ser

praticada uma prisão de contraventor, deverá ser este recolhido à delegacia mais

próxima, que o deterá, à disposição do Serviço de Caça e Pesca, para a formação do

respectivo processo.

CAPÍTULO XIV

DAS INFRAÇÕES E DOS INFRATORES

Art. 79. Todas as infrações dos preceitos preventivos neste Código serão

consideradas como contravenções e o contraventor punido com penas pecuniárias.

Art. 80. Os crimes cometidos no exercício da pesca e aqueles que com esta se

relacionarem, serão punidos de acordo com os preceitos que lhes forem aplicáveis da

Consolidação das Leis Penais.

Art. 81. Os contraventores presos em flagrante, que resistirem violentamente,

serão sempre punidos com o grau máximo, salvo se forem primários.

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Art. 82. O Serviço de Caça e Pesca poderá apreender as matriculas ou licenças

dos pescadores, sempre que julgar conveniente, quando esses incidam mais de uma

vez na mesma falta.

CAPÍTULO XV

DO PROCESSO

Art. 83. Os contraventores, autores ou cúmplices de crimes cometidos no

exercício da pesca ou que com esta se relacionem, serão processados e julgados de

acordo com os preceitos que lhes forem aplicáveis na Consolidação das Leis Penais.

Art. 84. A competência do juizo para conhecer das contravenções e crimes

regulada pelas leis de organização judiciária.

CAPÍTULO XVI

Art. 85. Os pescadores poderão organizar suas cooperativas de consumo, de

crédito, de produção e outras modalidades, na forma da legislação vigente.

Art. 86. O Serviço de Caça e Pesca exercerá o controle nos entrepostos de

pesca e fábricas de conserva de pescado, no sentido de exigir as boas condições

sanitárias de suas instalações e da manipulação dos produtos.

Art. 87. É obrigatório o registo no Serviço de Caça e Pesca das empresas de

pesca, fábrica de conserva ou de sub-produtos do pescado, bem como o do comércio

do peixe fresco.

§ 1º As condições exigidas para o registo constarão de instruções baixadas pelas

autoridades competentes.

§ 2º Aos proprietários que não satisfizerem as exigências deste artigo será

aplicada multa de 500$000 (quinhentos mil réis), e cassada a licença de

funcionamento até seu cumprimento.

Art. 88. O Serviço de Caça e Pesca, a Confederação Geral dos Pescadores do

Brasil e as federações poderão apreender a caderneta de matrícula de todo o

indivíduo matriculado com pescador que não exerça a profissão, enviando-a ao

Ministério da Marinha para a necessária baixa, salvo nos casos de doença, idade

avançada ou exercício de cargos eletivos.

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§ 1º Cabe às colônias fornecer as relações dos pescadores matriculados e que

não exerçam a profissão, para os efeitos do presente artigo.

§ 2º Em caso de não cumprimento deste artigo o presidente da colônia incorrerá

na multa de 200$000 (duzentos mil réis) elevada ao dobro em caso de reincidência.

Art. 89. As providências do § 1º do art. 19 competem ao Ministério da Marinha,

com a colaboração dos Ministérios da Viação e da Agricultura.

Art. 90. O Governo Federal providenciará para a criação de Entrepostos de

Pesca nas principais cidades litorâneas ou ribeirinhas do País.

§ 1º A construção e exploração dos Entrepostos de Pesca poderá ser entregue

aos governos estaduais.

§ 2º O plano e regulamentação geral dos Entrepostos de Pesca serão feitos pelo

Serviço de Caça e Pesca e aprovados pelo Conselho de Pesca.

§ 3º A fiscalização dos entrepostos caberá ao Serviço de Caça e Pesca ou ao

Governo Estadual, nos termos das leis e regulamentos em vigor.

Art. 91. O pescado a ser manipulado nas fábricas ou recolhido aos frigoríficos e

destinado à exportação fica dispensado de passar pelos entrepostos.

§ 1º Essa isenção será dada às fábricas e frigoríficos devidamente registrados e

autorizados pelo Serviço de Caça e Pesca, cabendo-lhes fornecer ao mesmo a

relação semanal das entradas e saídas.

§ 2º O pescado poderá ser diretamente recolhido aos frigoríficos, mesmo quando

destinado ao comércio local ficando, porém, obrigatória a passagem pelos

entrepostos, antes de ser entregue ao consumo.

§ 3º Frigoríficos e fábricas ficam sujeitos à fiscalização do Serviço de Caça e

Pesca, de acordo com a regulamentação geral dos entrepostos de pesca.

Art. 92. Cabe às associações dos pescadores pleitearem a concessão de

terrenos de marinha para instalação e feitorias de pesca.

Parágrafo único. Tais pedidos serão encaminhados pelas Capitanias dos Portos

locais ao Serviço de Caça e Pesca que informará de sua conveniência e justificação.

Art. 93. Todo o serviço de carga e descarga das embarcações de pesca fica

dispensado da interferência da Estiva e da Resistência.

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Art. 94. Revogam-se as disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1938. – Fernando Costa.

ANEXO C – LEI Nº 10.849.

Presidência da República

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

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LEI No 10.849, DE 23 DE MARÇO DE 2004.

Regulamento

Regulamento

Texto compilado

Conversão da MPv nº 140, de 2003

Cria o Programa Nacional de

Financiamento da Ampliação e

Modernização da Frota Pesqueira

Nacional - Profrota Pesqueira, e dá outras

providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta

e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Fica criado o Programa Nacional de Financiamento da Ampliação e

Modernização da Frota Pesqueira Nacional - Profrota Pesqueira.

Art. 2o O Profrota Pesqueira compreende financiamentos para a aquisição,

construção, conversão, modernização, adaptação e equipagem de embarcações

pesqueiras com o objetivo de reduzir a pressão de captura sobre estoques

sobreexplotados, proporcionar a eficiência e sustentabilidade da frota pesqueira

costeira e continental, promover o máximo aproveitamento das capturas, aumentar a

produção pesqueira nacional, utilizar estoques pesqueiros na Zona Econômica

Exclusiva brasileira e em águas internacionais, consolidar a frota pesqueira oceânica

nacional e melhorar a qualidade do pescado produzido no Brasil.

Parágrafo único. As modalidades referenciadas para a frota costeira e continental

no caput deste artigo vinculam-se à diretriz de redução da pesca de espécies

sobreexplotadas e envolvem duas linhas de financiamentos:

I - conversão e adaptação: consiste no aparelhamento de embarcações oriundas

da captura de espécies oficialmente sobreexplotadas para a captura de espécies cujos

estoques suportem aumento de esforço com abdicação da licença original;

II - substituição de embarcações: visa à substituição de embarcações e

equipamentos de pesca tecnicamente obsoletos, com ou sem transferência de

atividade sobreexplotada, por novas embarcações e apetrechos que em quaisquer

das hipóteses impliquem redução de impactos sobre espécies com estoques

saturados ou em processo de saturação e que resultem em melhores condições

laborais.

Art. 2o O Profrota Pesqueira compreende financiamentos para a aquisição,

construção, conversão, modernização, substituição, adaptação e equipagem de

embarcações pesqueiras com o objetivo de reduzir a pressão de captura sobre

estoques sobre-explotados, proporcionar a eficiência e sustentabilidade da frota

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pesqueira costeira e continental, promover o máximo aproveitamento das capturas,

aumentar a produção pesqueira nacional, utilizar estoques pesqueiros na Zona

Econômica Exclusiva brasileira e em águas internacionais, consolidar a frota

pesqueira oceânica nacional e melhorar a qualidade do pescado produzido no

Brasil. (Redação dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

Parágrafo único. São beneficiárias do Profrota Pesqueira as pessoas físicas e

jurídicas, inclusive cooperativas e associações, devidamente inscritas no Registro

Geral da Atividade Pesqueira - RGP nas categorias de Armador de Pesca, Pescador

Profissional, Indústria ou Empresa Pesqueira, classificadas por porte, conforme

critérios a serem definidos em regulamento. (Redação dada pela Lei nº 12.712, de

2012.)

I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

II - (revogado) (Redação dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

Art. 3o O Profrota Pesqueira será financiado com recursos do Fundo da Marinha

Mercante - FMM, previsto no Decreto-Lei no 2.404, de 23 de dezembro de 1987, e dos

Fundos Constitucionais de Financiamento do Nordeste e do Norte, instituídos pela Lei

no 7.827, de 27 de setembro de 1989, podendo ser realizado em bases e condições

diferenciadas das vigentes para os respectivos Fundos.

§ 1o Constituem metas do Profrota Pesqueira:

I - construção de até 100 (cem) embarcações destinadas à pesca oceânica;

II - aquisição de até 30 (trinta) embarcações, construídas há no máximo 5 (cinco)

anos, destinadas à pesca oceânica;

III - conversão de até 240 (duzentas e quarenta) embarcações da frota costeira

que atua sobre recursos em situação de sobrepesca ou ameaçados de esgotamento

para a pesca oceânica ou outras pescarias em expansão, de forma a reduzir o esforço

de pesca sobre aquelas espécies; e

IV - construção de até 150 (cento e cinqüenta) embarcações de médio e grande

porte para a renovação das frotas que capturam piramutaba (Brachyplatystoma

vaillanti), pargo (Lutjanus purpureus) e camarão (Farfantepenaeus subtilis) no litoral

das regiões Norte e Nordeste.

§ 2o O regulamento desta Lei especificará:

I - as bases e condições de financiamento, por tamanho de empresa e por fonte

de recursos;

II - o detalhamento das metas, para cada fonte de financiamento;

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195

III - as especificações das embarcações, por espécie pesqueira a serem objeto

dos financiamentos;

IV - critérios e requisitos para aprovação dos projetos de financiamentos; e

V - os limites financeiros anuais para a concessão de financiamentos ao amparo

do Profrota Pesqueira.

Art. 3o O Profrota Pesqueira será financiado com recursos do Fundo da Marinha

Mercante - FMM, previsto na Lei no 10.893, de 13 de julho de 2004, e dos Fundos

Constitucionais de Financiamento do Norte - FNO e do Nordeste - FNE, instituídos

pela Lei no 7.827, de 27 de setembro de 1989, podendo ser realizado em bases e

condições diferenciadas das vigentes para os respectivos Fundos. (Redação dada

pela Lei nº 12.712, de 2012.)

§ 1o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

§ 2o O regulamento desta Lei especificará: (Redação dada pela Lei nº 12.712,

de 2012.)

I - as metas globais do Programa com cronogramas anuais, por fonte de

financiamento, levando em consideração a sustentabilidade ambiental da

atividade; (Redação dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

II - as bases e condições de financiamento, garantindo tratamento diferenciado

pelo porte do beneficiário, em especial para as cooperativas e associações de míni e

pequeno porte, e segundo aspectos ambientais; (Redação dada pela Lei nº 12.712,

de 2012.)

III - as embarcações, por espécie pesqueira, a serem objetos dos

financiamentos; (Redação dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

IV - os critérios e requisitos para aprovação dos projetos de

financiamento; (Redação dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

V - os limites financeiros anuais para a concessão de financiamentos ao amparo

do Programa; e (Redação dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

VI - outros critérios necessários à eficiente implementação e operacionalização

do Profrota Pesqueira. (Incluído pela Lei nº 12.712, de 2012.)

Art. 4o Para fins do disposto no caput do art. 2o desta Lei, os financiamentos para

empresas pesqueiras industriais, assim definidas no regulamento, observarão os

seguintes parâmetros:

I - limite dos financiamentos: até 90% (noventa por cento) do valor do projeto

aprovado;

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196

II - prazo de amortização: até 20 (vinte) anos, em parcelas anuais, iguais e

sucessivas;

III - prazo de carência: até 4 (quatro) anos, incluído o prazo de construção;

IV - encargos: taxa de juros pré-fixada, incluída a remuneração do agente

financeiro, diferenciada por tamanho de empresa; e

V - garantia: alienação fiduciária, arrendamento mercantil da embarcação

financiada ou outras garantias, nas formas e condições estabelecidas em

regulamento.

Parágrafo único. Nas aquisições de barcos para a pesca oceânica, nos termos

do disposto no inciso II do § 1o do art. 3o desta Lei, será observado o seguinte:

I - o limite de financiamento será de 50% (cinqüenta por cento) do valor do barco;

II - o prazo de financiamento será de até 20 (vinte) anos, sendo 2 (dois) anos de

carência e até 18 (dezoito) anos para a amortização.

Art. 4o Para fins do disposto no caput do art. 2o desta Lei, os financiamentos

observarão os seguintes parâmetros: (Redação dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

I - limite dos financiamentos para as modalidades de construção, substituição,

modernização e conversão: até 90% (noventa por cento) do valor do projeto

aprovado; (Redação dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

II - prazos de amortização, em parcelas anuais, iguais e sucessivas: (Redação

dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

a) modalidades de construção e de substituição: até 20 (vinte) anos, incluídos

até 4 (quatro) anos de carência; (Incluída pela Lei nº 12.712, de 2012.)

b) modalidade de modernização: até 10 (dez) anos, incluídos até 3 (três) anos

de carência; e (Incluída pela Lei nº 12.712, de 2012.)

c) modalidade de conversão: até 15 (quinze) anos, incluídos até 4 (quatro) anos

de carência; (Incluída pela Lei nº 12.712, de 2012.)

III - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

IV - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

V - (revogado).(Redação dada pela Lei nº 12.712, de 2012.)

§ 1o Nas aquisições de barcos para a pesca oceânica, será observado o

seguinte: (Incluído pela Lei nº 12.712, de 2012.)

I - limite de financiamento: 50% (cinquenta por cento) do valor do

barco; (Incluído pela Lei nº 12.712, de 2012.)

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II - prazo de financiamento de até 20 (vinte) anos, sendo 2 (dois) de carência e

até 18 (dezoito) para amortização. (Incluído pela Lei nº 12.712, de 2012.)

§ 2o Os financiamentos de aquisição e instalação de equipamentos contarão

com até 5 (cinco) anos para amortização e até 3 (três) anos de carência, após a

entrega. (Incluído pela Lei nº 12.712, de 2012.)

§ 3o Os financiamentos para reparo de embarcações contarão com até 3 (três)

anos para amortização e até 2 (dois) anos de carência, após a entrega. (Incluído pela

Lei nº 12.712, de 2012.)

Art. 5o Os financiamentos com recursos do Profrota Pesqueira, para a

modalidade prevista no caput do art. 2o desta Lei, que incluem o aumento da

capacidade de carga (jumborização) e conversão de embarcações, aquisição e

instalação de equipamentos e reparos de embarcações, terão os mesmos parâmetros

estabelecidos no art. 4o desta Lei, de acordo com os respectivos portes dos

beneficiários, exceto quanto aos prazos de amortização e de carência, que,

independentemente do porte do tomador, serão os seguintes: (Revogado pela Lei nº

12.712, de 2012.)

I - aumento da capacidade de carga (jumborização) e conversão: até 15 (quinze)

anos para amortização e até 4 (quatro) anos de carência, incluído o prazo de

construção;(Revogado pela Lei nº 12.712, de 2012.)

II - aquisição e instalação de equipamentos: até 5 (cinco) anos para amortização

e até 3 (três) anos de carência, incluído o prazo de entrega; e(Revogado pela Lei nº

12.712, de 2012.)

III - reparo de embarcações: até 3 (três) anos para amortização e até 2 (dois)

anos de carência, incluído o prazo de entrega.(Revogado pela Lei nº 12.712, de 2012.)

Art. 6o Serão concedidos bônus por adimplemento sobre os encargos das dívidas

das operações de financiamento no âmbito do Profrota Pesqueira vinculados a fatores

de ordem ambiental, social e de estímulo à captura de novas espécies, na forma a ser

definida em regulamento.

Art. 7o É a União autorizada a equalizar as taxas dos financiamentos, tendo como

parâmetro de remuneração dos Fundos a variação anual da Taxa de Juros de Longo

Prazo - TJLP, ou índice oficial que vier a substituí-la.

Art. 7o É a União autorizada a equalizar as taxas dos financiamentos realizados

no âmbito do Profrota Pesqueira, tendo como parâmetro de remuneração dos Fundos

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a Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP ou índice oficial que vier a substituí-

la.(Redação dada pela Lei nº 10.893, de 2004.)

Parágrafo único. As despesas com a equalização prevista no caput deste artigo

correrão à conta de dotações orçamentárias específicas alocadas no Orçamento

Geral da União, observados os limites de movimentação e empenho e de pagamento

da programação orçamentária e financeira anual.

Art. 8o Constituem requisitos mínimos para a aprovação dos projetos no âmbito

do Profrota Pesqueira:

I - a homologação, pela Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da

Presidência da República, dos aspectos técnicos das propostas, bem como da

habilitação do proponente para o desenvolvimento da atividade pretendida;

II - a concessão de permissão prévia de pesca pela Secretaria Especial de

Aqüicultura e Pesca da Presidência da República; e

III - a licença de construção e conversão do barco emitida pelo Comando da

Marinha.

Art. 9o O Poder Executivo regulamentará o disposto nesta Lei.

Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 23 de março de 2004; 183o da Independência e 116o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Antonio Palocci Filho

Guido Mantega

Ciro Ferreira Gomes

Marina Silva

Este texto não substitui o publicado no DOU de 24.3.2004

ANEXO D – Defeso Camarão

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS

RENOVÁVEIS INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 189, DE 23 DE SETEMBRO DE 2008

O PRESIDENTE DO INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS

RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - IBAMA, no uso das atribuições que lhe

confere o inciso V, art. 22 do Anexo I ao Decreto no 6.099, de 26 de abril de 2007,

que aprovou a Estrutura Regimental do IBAMA, publicado no Diário Oficial da União

do dia subseqüente, Considerando os resultados das reuniões promovidas pelo

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA

nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina

para discutir o período de defeso do camarão sete barbas (Xiphopenaeus kroyeri),

nas regiões sudeste e sul do Brasil; Considerando que as reuniões estaduais foram

precedidas de reuniões nas comunidades de pescadores artesanais, promovidas

pelas Superintendências Estaduais do IBAMA com o apoio do Instituto Chico Mendes

de Conservação da Biodiversidade - ICMBio e que contaram com a participação do

setor produtivo que opera na captura do camarão sete barbas; Considerando que nas

reuniões estaduais participaram, também das discussões, representantes dos

Escritórios Estaduais da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência

da RepúblicaSEAP/PR nos citados estados e de outras instituições governamentais e

não governamentais para que as discussões pudessem refletir o anseio dos usuários

do recurso camarão sete barbas; Considerando as recomendações da reunião final

com representações das regiões sudeste e sul, ocorrida em Itajaí/SC, no dia 21 de

agosto de 2008; e o que consta do Processo IBAMA/SC nº 2026.001828/2005-35,

resolve: Art. 1º Proibir o exercício da pesca de arrasto com tração motorizada para a

captura de camarão rosa (Farfantepenaeus paulensis, F. brasiliensis e F. subtilis),

camarão sete barbas (Xiphopenaeus kroyeri), camarão branco (Litopenaeus schmitti),

santana ou vermelho (Pleoticus muelleri) e barba ruça (Artemesia longinaris),

anualmente, nas seguintes áreas e períodos: I - na área marinha compreendida entre

os paralelos 21º18'04,00"S (divisa dos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro) e

33º40'33,00"S (Foz do Arroio Chuí, estado do Rio Grande do Sul), de 1º de março a

31 de maio; II - na área marinha compreendida entre os paralelos 21º18'04,00"S

(divisa dos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro) e 18º20'45,80"S (divisa dos

estados da Bahia e Espírito Santo): a) de 15 de novembro a 15 de janeiro; e, b) de 1º

de abril a 31 de maio. § 1º Durante o mês de março a pesca de arrasto com tração

motorizada para a captura de camarões no litoral do estado do Espírito Santo,

somente será permitida às embarcações cuja Permissão de Pesca tenha sido

concedida pelo órgão competente nesse estado, conforme disposto na norma vigente.

§ 2º Após o início dos períodos de defeso estabelecidos nos incisos I e II deste artigo,

o desembarque das espécies mencionadas será tolerado, anualmente, somente até

o segundo dia corrido após o início do defeso. Art. 2º Fica permitida a pesca de

camarão branco (Litopenaeus schmitti), nas áreas e períodos estabelecidos nos

incisos I e II do Art. 1º desta Instrução Normativa, desde que não seja realizada por

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arrasto com tração motorizada. Art.3º As pessoas físicas ou jurídicas que atuam na

captura, conservação, beneficiamento, industrialização ou comercialização de

camarões, deverão fornecer às Superintendências Estaduais do IBAMA, a partir do

início dos períodos de defeso estabelecidos nos incisos I e II do art. 1º desta Instrução

Normativa, anualmente, até o sétimo dia corrido a contar do início do defeso, a relação

detalhada do estoque das espécies existentes, indicando os locais de

armazenamento, conforme consta no Anexo 1 desta Instrução Normativa. Art. 4º

Proibir, durante os períodos estabelecidos nos incisos I e II do art. 1º desta Instrução

Normativa, o transporte interestadual, a estocagem, o beneficiamento, a

industrialização e a comer cialização de qualquer volume de camarão das espécies

proibidas, sem a comprovação de origem do produto, conforme formulário de guia de

origem que consta no Anexo 2 desta Instrução Normativa, a ser obtido junto a unidade

do IBAMA mais próxima e que deverá acompanhar o produto desde a origem até o

destino final. Art. 5º Nas áreas estuarinas e lagunares os períodos de defeso serão

definidos em instruções normativas específicas de acordo com as características

ambientais de cada região e considerando as peculiaridades locais da atividade

pesqueira. Art. 6º Proibir as frotas permissionadas para a pesca de arrasto de

camarões das espécies de que trata o art. 1º desta Instrução Normativa, durante os

períodos de defeso, de capturar outras espécies cujo esforço de pesca esteja sob

controle ou aquelas listadas no Anexo II da Instrução Normativa MMA Nº 5, de 21 de

maio de 2004 e na Instrução Normativa MMA N.º 52, de 8 de novembro de 2005.

Parágrafo único. A captura de outras espécies não contempladas no caput deste

artigo, pela frota camaroeira devidamente permissionada para a pesca do camarão

rosa, deverá ser realizada mediante a obtenção de permissão de pesca específica do

órgão competente. Art. 7º Aos infratores da presente Instrução Normativa serão

aplicadas as penalidades previstas na Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 e no

Decreto nº 6.514 de 22 de julho de 2008. Art. 8º Ficam revogadas a Instrução

Normativa IBAMA N.º 91, de 06 de fevereiro de 2006, publicada no Diário Oficial da

União Nº 27, do dia 07 de fevereiro de 2006 Seção I, página 51 e retificação publicada

no D.O.U. Nº 216, Página 51, de 9 de novembro de 2007 e a Instrução Normativa

IBAMA N.º 92, de 07 de fevereiro de 2006, publicada no Diário Oficial da União Nº 30,

do dia 10 de fevereiro de 2006 Seção I, página 80. Art. 9º Esta Instrução Normativa

entra em vigor na data de sua publicação. ROBERTO MESSIAS FRANCO

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ANEXO E – ROTEIRO DE OFICINAS E ENTREVISTAS

PLANEJAMENTO DA OFICINA

I. IDENTIFICAÇÃO

Mediador: Osvaldo Edson Borges Martins Junior.

Tempo didático: 90 minutos

Ano: 2016

Público alvo: Associados da Colônia de Pescadores Z-05

Número de participantes: 30

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II. OBJETIVO

Relacionar os saberes dos integrantes da Colônia de Pescadores Z-05 e o conceito

de cidadania.

III. TEMÁTICA A SER DISCUTIDA

Cidadania

IV. RECURSOS NECESSÁRIOS

5 cartolinas, 5 caixas de giz de cera (cores variadas) e data show.

V. PROCEDIMENTOS – PROPOSTA DE TRABALHO

1º momento: Apresentação da proposta de trabalho da oficina. 5 minutos.

2º momento: Apresentação dos participantes e pergunta disparadora: ¨Para vocês o

que é cidadania? ¨- 15 minutos.

3º momento: Formar grupos, a depender do número de participantes. Distribuir uma

cartolina branca para cada grupo e com giz de cera os participantes irão mostrar a

partir de desenhos, qual a ideia sobre cidadania. – 20 minutos

4º momento: Apresentação de cada grupo, expondo o desenho feito e fazendo

considerações. – 20 minutos.

5º momento: O mediador irá relacionar aquilo que foi exposto pelos participantes,

reiterando a importância de ser um cidadão ativo na sociedade, para a construção de

um território, onde os sujeitos sociais possam ser transformadores do seu espaço de

vivência. Apresentar conceitos de cidadania e relacionar com a vivência da oficina –

15 minutos.

VI. AVALIAÇÃO

Os participantes irão relatar o que acharam deste primeiro encontro. Agradecimentos–

15 minutos.

VII. BIBLIOGRAFIA

PAVIANI, Neires Maria Soldatelli. Oficinas Pedagógicas: relato de uma

experiência. Conjectura: Caixias do Sul, v.14, n.2 maio/ago. 2009.

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THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2005.

PLANEJAMENTO DA OFICINA

I. IDENTIFICAÇÃO

Mediador: Osvaldo Edson Borges Martins Junior.

Tempo didático: 90 minutos

Ano: 2016

Público alvo: Associados da Colônia de Pescadores Z-05

Número de participantes: 30

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II. OBJETIVO

Analisar a importância da democracia para a formação de indivíduos socialmente

participativos.

III. TEMÁTICA A SER DISCUTIDA

Democracia.

IV. RECURSOS NECESSÁRIOS

Rolo de cordão e data show.

5 cartolinas, 5 caixas de giz de cera (cores variadas) e data show.

V. PROCEDIMENTOS – PROPOSTA DE TRABALHO

1º momento: Apresentação da proposta de trabalho – 5 minutos.

2º momento: Apresentação dos participantes e pergunta disparadora: ¨O que é

democracia para os participantes? ¨ - 15 minutos.

3º momento: Organizar os participantes em círculo. Pegar um rolo de cordão e pedir

que cada um segure numa ponta, formando uma teia. – 5 minutos.

4º momento: A partir da construção da teia, solicitar que os participantes a relacionem

a atividade proposta com o tema democracia – 20 minutos

5º momento: Solicitar que os participantes, formem grupos. Cada grupo deverá

construir e expor seu conceito de democracia ou ideia sobre democracia na cartolina.

O formato de apresentação do conceito do grupo sobre democracia, será livre. – 20

minutos.

6º momento: O mediador irá relacionar aquilo que foi exposto pelos participantes,

com o conceito de democracia e o papel da democracia na construção de uma

sociedade justa e menos desigual – 20 minutos.

VI. AVALIAÇÃO

Os participantes irão relatar o que acharam da oficina. Agradecimentos– 15 minutos.

VII. BIBLIOGRAFIA

PAVIANI, Neires Maria Soldatelli. Oficinas Pedagógicas: relato de uma

experiência. Conjectura: Caixias do Sul, v.14, n.2 maio/ago. 2009.

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THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2005.

PLANEJAMENTO DA OFICINA

I. IDENTIFICAÇÃO

Mediador: Osvaldo Edson Borges Martins Junior.

Tempo didático: 90 minutos

Ano: 2016

Público alvo: Associados da Colônia de Pescadores Z-05

Número de participantes: 30

II. OBJETIVO

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206

Analisar a relação existente entre a participação social e os representantes da Colônia

de Pescadores.

III. TEMÁTICA A SER DISCUTIDA

Participação social

IV. RECURSOS NECESSÁRIOS

5 cartolinas, 5 caixas de giz de cera (cores variadas) e data show.

V. PROCEDIMENTOS – PROPOSTA DE TRABALHO

1º momento: Apresentação breve do projeto. 5 minutos.

2º momento: Apresentação dos participantes e pergunta disparadora: ¨O que vocês

acham que vieram fazer aqui? ¨ - 15 minutos.

3º momento: A partir da expectativa dos pescadores, falar da importância da parceria

e participação dos mesmos para que as oficinas tenham funcionalidade e consiga

obter êxito. – 5 minutos.

4º momento: Formar grupos, a depender do número de participantes. Distribuir uma

cartolina branca para cada grupo e com giz de cera os participantes irão mostrar a

partir de desenhos, qual a ideia deles sobre organização e participação social e qual

o papel da comunidade na formação territorial de São Francisco do Conde. – 20

minutos

5º momento: Apresentação de cada grupo, expondo o desenho feito e fazendo

considerações. – 10 minutos.

6º momento: O mediador irá relacionar aquilo que foi exposto pelos participantes,

reiterando a importância da sociedade, na história e na atualidade, para a formação e

transformação territorial de São Francisco do Conde, e que melhoras sociais só serão

possíveis se contarmos com a presença de todos. – 10 minutos.

VI. AVALIAÇÃO

Os participantes irão relatar o que acharam deste primeiro encontro. Agradecimentos–

15 minutos.

VII. BIBLIOGRAFIA

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207

PAVIANI, Neires Maria Soldatelli. Oficinas Pedagógicas: relato de uma

experiência. Conjectura: Caixias do Sul, v.14, n.2 maio/ago. 2009.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2005.

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Presidente da Colônia de Pescadores – Z – 05

São Francisco Do Conde – BA

1) Quando surgiu a Colônia de Pescadores Z - 05?

2) Qual o contexto econômico e social da atividade pesqueira em São Francisco do Conde no

momento do surgimento da Colônia de Pescadores Z – 05?

3) Qual o contexto social e econômico dos pescadores no momento da criação da Colônia de

Pescadores Z – 05?

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4) Qual a relação entre a Petrobrás e a colônia de pescadores Z- 05?

5) Como é a relação entre a Colônia de Pescadores Z-05 e a gestão pública?

6) Quais os benefícios, tanto em espera federal, quanto municipal que os pescadores tem

direito? E quais pescadores tem direito a estes benefícios?

7) Qual o destino do pescado de São Francisco do Conde? Essa produção é mais voltada

para o mercado interno ou externo?

8) Quantos associados estão cadastrados na Colônia de Pescadores Z-05 ?

9) Quais as ações da Colônia de Pescadores Z-05 no que diz respeito a melhorar as condições

de vida e de trabalho dos pescadores?

10) Quantos anos é a gestão de um do presidente da Colônia de Pescadores? É possível

reeleição? Quantas vezes o presidente pode ser reeleito?

11) Como acontece o processo de votação para presidente da Colônia?

12) Como é a organização institucional da Colônia de Pescadores Z-05?

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Associados da Colônia de Pescadores – Z – 05

São Francisco Do Conde – BA

1) Como você entende a participação social dos associados da Colônia de

Pescadores nas transformações territoriais do município de São Francisco do Conde?

2) Na sua opinião, qual a importância da atividade pesqueira para o município de São

Francisco do Conde?

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3) Qual a relação entre os associados da Colônia de Pescadores Z -05 e o poder

público de São Francisco do Conde?

4) Como é a relação dos pescadores com a Petrobrás?

5) Quais as principais dificuldades encontradas pelos associados da Colônia de

Pescadores Z-05, para o desenvolvimento de sua atividade econômica?