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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI GEPAF – Grupo de Extensão e Pesquisa em Agricultura Familiar SDT/MDA Território da Cidadania do Vale do Mucuri - MG - Relatório Analítico das Pesquisas Realizadas pela CAI-Mucuri entre Setembro/2010 e Setembro/2011 - Teófilo Otoni, outubro de 2011 Célula de Acompanhamento e Informação do Território da Cidadania do Vale Mucuri - MG Claudenir Fávero - Professor da UFVJM - Coordenador do Projeto Leonel de Oliveira Pinheiro - Professor da UFVJM - Colaborador do Projeto Luís Ricardo de Souza Corrêa - Técnico da Célula de Acompanhamento e Informação Deliene Fracete Gutierrez - Bolsista do Projeto Sandra Oliveira Fernandes - Bolsista do Projeto Maria Eliza Cota e Souza - Bolsista do Projeto (agosto a dezembro de 2010) Rosamaria Santana Paes Loures - Bolsista do Projeto (julho a setembro de 2011)

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

GEPAF – Grupo de Extensão e Pesquisa em Agricultura Familiar

SDT/MDA

Território da Cidadania do Vale do Mucuri - MG - Relatório Analítico das Pesquisas Realizadas pela CAI-Mucuri entre

Setembro/2010 e Setembro/2011 -

Teófilo Otoni, outubro de 2011

Célula de Acompanhamento e Informação do Território da Cidadania do Vale Mucuri - MG Claudenir Fávero - Professor da UFVJM - Coordenador do Projeto Leonel de Oliveira Pinheiro - Professor da UFVJM - Colaborador do Projeto Luís Ricardo de Souza Corrêa - Técnico da Célula de Acompanhamento e Informação Deliene Fracete Gutierrez - Bolsista do Projeto Sandra Oliveira Fernandes - Bolsista do Projeto Maria Eliza Cota e Souza - Bolsista do Projeto (agosto a dezembro de 2010) Rosamaria Santana Paes Loures - Bolsista do Projeto (julho a setembro de 2011)

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Acompanhamento, Monitoramento e Avaliação das Condições de Vida e do Desenvolvimento no Território do Vale do Mucuri, Minas Gerais*

- Relatório Analítico das Pesquisas Realizadas entre Setembro/2010 e Setembro/2011 -

* Projeto financiado com recursos da Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento

Agrário (SDT/MDA) via CNPq (Edital 05/2009, processo N0. 554359/2010-3).

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Página

1. Contextualização..................................................................................... 03 2. Identidade................................................................................................ 07 3. Capacidades Institucionais.................................................................... 10

3.1. Serviços e Infraestrutura Institucional.............................................................. 11 3.2. Instrumentos de Gestão...................................................................................... 14 3.3. Poder Público e Colegiado................................................................................. 15 3.4. Iniciativas Comunitárias...................................................................................... 17

4. Gestão do Colegiado.............................................................................. 19 4.1. Funcionamento.................................................................................................... 19 4.2. Gestão................................................................................................................... 21

5. Avaliação de Projetos............................................................................. 26 5.1. Planejamento dos Projetos................................................................................. 26 5.2. Execução dos Projetos....................................................................................... 30 5.3. Avaliação dos Projetos....................................................................................... 32

6. Índice de Condições de Vida - ICV........................................................ 34 6.1. Fatores do Desenvolvimento.............................................................................. 35 6.2. Características do Desenvolvimento................................................................. 37 6.3. Efeitos do Desenvolvimento............................................................................... 39

7. Análise Integradora de Indicadores e Contexto................................... 40 8. Propostas e Ações para o Território..................................................... 44 Documentos Citados.................................................................................. 46 ANEXO: Validação de Instrumentos e Procedimentos............................ 47

Sumário

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Território da Cidadania do Vale do Mucuri - MG

HISTÓRIA

Desde finais do século XVIII houve muitas tentativas frustradas de colonização do território do

Vale do Mucuri. Muitos que tentaram se perderam pela mata, outros foram vítimas do consumo

de plantas venenosas ou voltaram aterrorizados devido ao ataque que sofreram pelos índios que

habitavam a região, os quais ficaram conhecidos como Botocudos, devido aos botoques que

usavam nos lábios e lóbulos das orelhas.

Este território era habitado pelos povos indígenas, composto por várias etnias: Macuni, Malai,

Machacali, Naknenuk, Aranau, Bakuê, Bituruna, Jiporok e outras, o que nos faz concluir que as

matas do Mucuri não eram uma região intocada, pois havia uma ocupação humana de uma

sociedade que ali vivia, ainda que não fosse uma sociedade branca, imperial e cristã. Houve

matança indiscriminada dos índios; invasões e roubo de terras; epidemias de sarampo, varíola e

gripe, provocadas de propósito através de roupas contaminadas, e comidas envenenadas;

discriminação e raiva alimentada contra os índios. Todas essas atrocidades são as marcas

históricas de muitas pessoas que possuem suas raízes no Vale do Mucuri.

Atualmente, o território do Vale do Mucuri, situado no nordeste de Minas Gerais, é formado por 27

municípios. Está entre os primeiros territórios de Minas Gerais, reconhecido pela SDT/MDA, para

fazer parte do Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais

(PRONAT), no ano de 2003. Sua composição corresponde à área de atuação da Associação dos

Municípios da Microrregião do Vale do Mucuri (AMUC). No início, a articulação envolveu apenas o

1. Contextualização

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Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (IDENE) e a AMUC.

Posteriormente, foi envolvida a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER-MG)

e, por fim, organizações da sociedade civil e de representação da agricultura familiar. A partir de

então, o território assumiu os contornos atuais, incluindo representantes das prefeituras

municipais e do governo estadual, de movimentos sociais, sindicatos de trabalhadores rurais,

comunidades tradicionais e associações comunitárias, bem como, de organizações não-

governamentais.

ECONOMIA

Mesmo sem garantia de encontrar um pedaço de terra onde pudesse produzir e viver com sua

família, até o ano de 1930, ocorreram muitas migrações em direção ao Mucuri, vindas

principalmente da Bahia. Este contingente chegava às matas do Mucuri e se alojava como

agregados nas fazendas, onde se dedicava a derrubar as matas para o plantio de subsistência e

mão-de-obra barata.

Aos poucos, a extração de madeira foi ficando desvantajosa devido à diminuição das matas. Os

agregados já não satisfaziam aos interesses dos grandes proprietários que se dedicavam à

criação de gado (leite e corte), pois diferentemente das lavouras, esta atividade não requer mão-

de-obra abundante.

A partir do ano de 1940, a BR 116 integrou a região ao Centro-Sul e aos estados do nordeste,

onde possibilidades foram abertas para que a partir da década de 1970, outro movimento do

capital colocasse a região como alvo da agroindústria - café, laticínios e frigoríficos - marcando a

penetração de grandes grupos econômicos, estimulados por subsídios governamentais e pelas

guerras fiscais entre as várias unidades da federação.

A concentração fundiária continuou aumentando na década de 1970, principalmente com as

políticas de incentivos fiscais, uma das causas fundamentais da expansão das grandes empresas

agropecuárias em detrimento da agricultura camponesa.

Outra atividade econômica expressiva na região é a extração e o comércio de pedras preciosas.

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DIMENSÃO GEOGRÁFICA

O território do Mucuri está localizado na macrorregião do Jequitinhonha e Mucuri. Possui uma

área de, aproximadamente, 23,2 mil km2 e faz limite com o Vale do Rio Doce ao sul, com os

estados do Espírito Santo e da Bahia a leste, e com o Vale do Jequitinhonha a oeste. Integra as

bacias hidrográficas dos rios Doce, São Mateus, Itanhém, Jequitinhonha, Peruípe, Itaúnas e

Mucuri, sendo essa última a bacia de maior importância, pois abrange aproximadamente 60% dos

municípios (Figura 1).

Figura 1 – Localização do Vale do Mucuri. Em destaque, a bacia hidrográfica do Rio Mucuri. Fonte: http://maps-for-free.com/

O mucuri apresenta forte diversidade em seus aspectos biofísicos, com áreas de Mata Atlântica e

de transição para o Cerrado, com topografia que varia de um relevo ondulado e montanhoso, em

que predominam as unidades produtivas da agricultura familiar camponesa, a áreas planas, de

maior concentração fundiária, onde predominam as grandes propriedades pecuaristas.

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DIMENSÃO DEMOGRÁFICA

O Vale do Mucuri totaliza uma população de mais de 438 mil habitantes (IBGE, 2010),

representando, aproximadamente, 2,4% da população do estado de Minas Gerais. Teófilo Otoni é

o município de maior população do território, com cerca de 135 mil habitantes, enquanto

Umburatiba apresenta o menor conjunto populacional, com cerca de 2.700 habitantes. A

densidade demográfica é baixa, sendo inferior a 19 habitantes por km2. Se forem mantidos no

total populacional os dois municípios mais populosos (Teófilo Otoni e Nanuque), o grau de

urbanização é de, aproximadamente, 66%, o que significa que a população rural gira em torno de

34% (Figura 2).

149.091(34,02%)

289.156(65,98%)

Rural

Urbana

Figura 2 – População do território do Vale do Mucuri de acordo com IBGE, 2010.

Se não forem considerados os dois municípios mais populosos, os 25 municípios restantes

apresentam uma população total média de, aproximadamente, 10 mil habitantes por município.

Nesse caso, a participação rural cresce para cerca de 46% (Figura 3), indicando um percentual

bastante superior à média estadual, que é de, aproximadamente, 18%.

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120.366(45,82%)

142.332(54,18%)

Rural

Urbana

Figura 3 – População do território do Vale do Mucuri sem os municípios de Teófilo Otoni e Nanuque de acordo com IBGE, 2010.

A densidade demográfica do território equivale a pouco mais de um terço do índice estadual,

ratificando ser essa região uma das menos densamente povoadas no estado. As informações

censitárias sobre a população demonstram a presença marcante de municípios rurais na

composição territorial, indicando que não se constituiu nessa região uma rede urbana expressiva,

com cidades de médio e grande porte, implicando na intensidade do dinamismo da economia

regional.

O território rural do Vale do Mucuri foi proposto pela Associação dos Municípios do Vale do

Mucuri (AMUC,) constituindo-se pelos 27 municípios de sua área de abrangência. O objetivo da

AMUC, com a proposição do território, foi garantir aos municípios a ela associados à continuidade

no acesso aos recursos oriundos do MDA para investimento em Infra-estrutura, até então, obtidos

2. Identidade

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via PRONAF-Infra-estrutura. Portanto, a composição do território se deu a partir de uma

articulação política entre os poderes públicos municipais. Não foram levados em conta critérios de

identidade ambiental, econômico, cultural e social na sua composição. As organizações

representativas da agricultura familiar se envolveram posteriormente com as discussões do

PRONAT. Dessa forma, a composição e proposição do território do Vale Mucuri não partiu da

identidade e dos anseios da agricultura familiar.

As informações obtidas com a aplicação do questionário Identidade Territorial revelam que

predomina como categoria de identidade a Agricultura Familiar (Figura 4). A presença da

agricultura familiar foi uma condição utilizada como critério no momento da seleção dos territórios

que foram incorporados ao PRONAT, em 2003, pelo Conselho Estadual de Desenvolvimento

Rural Sustentável (CEDRS). Essa “identidade” genérica, “agricultura familiar”, obtida atualmente,

é resultado da condição intrínseca do território, se expressando, também, como fruto de toda a

discussão que tem ocorrido em função das ações do PRONAT, que reafirma o conceito de

agricultura familiar. No entanto, ela não revela as especificidades e particularidades das

diferentes expressões do campesinato no território, suas formas de organização social, seus

sistemas de produção, seus modos de vida, entre outras.

Figura 4 – Categorias de identidade do território do Vale do Mucuri. Fonte: SGE/CAI Território Vale do Mucuri – MG.

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As distâncias físicas, a diversidade nas características da agricultura familiar camponesa, bem

como, nas condições sócio-econômicas e ambientais do Vale do Mucuri são tais que desde a

elaboração do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável - PTDRS (IDENE &

ARMICOPA, 2005) o território foi dividido em cinco microrregiões para efeitos de planejamento e

ações (Figura 5).

Figura 5 – Microrregiões do território do Vale do Mucuri. Fonte: GEPAF, 2010.

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Dentro das próprias microrregiões estão presentes especificidades da agricultura familiar

camponesa, notadamente, em relação à presença de povos indígenas, comunidades

remanescentes de quilombos e assentamentos da reforma agrária (GEPAF, 2010).

O aspecto de maior unificação existente no território, na lógica da agricultura familiar camponesa,

é a condição história de exclusão, opressão e empobrecimento das condições de vida, refletida

na “categoria de identidade” Pobreza, sendo esta a segunda categoria de maior expressão neste

estudo (Figura 4).

Vale ressaltar, também, que com a incorporação do Vale do Mucuri no Programa Territórios da

Cidadania, em 2008, e a conseqüente participação de organizações representativas de

segmentos da população urbana, a afirmação/reafirmação da identidade territorial ficou mais

complexa.

O questionário de Capacidades Institucionais abordou, principalmente, assuntos relacionados ao

poder público municipal. Como o enfoque dado pelo questionário foi o setor de desenvolvimento

rural ou similar, as reflexões e análises aqui apresentadas se referem a este setor.

As informações e análises foram organizadas por sub-temas. Em cada sub-tema é apresentado

um diagnóstico da situação, a partir das informações obtidas por este estudo, complementadas

por informações da atualização do PTDRS (GEPAF, 2010), seguido de análises, em que se

procura incorporar as impressões dos entrevistados juntamente com as da equipe da CAI. Por

fim, são relacionadas algumas questões que se pretende debater com o colegiado territorial, o

que não foi possível de ocorrer até o momento de elaboração deste relatório.

O Indicador de Capacidade Institucional (ICI) do território do Vale do Mucuri ficou em 0,403, ou

seja, na transição entre Médio Baixo e Médio. O Fator que mais contribuiu para o baixo ICI foram

os Serviços Institucionais Disponíveis, seguidos dos Instrumentos de Gestão Municipal (Figura 6).

3. Capacidades Institucionais

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Figura 6 – Indicador de capacidades institucionais do território do Vale do Mucuri. Fonte: SGE/CAI Território Vale do Mucuri – MG.

A situação das prefeituras municipais e, notadamente, a das secretarias municipais de agricultura

do território do Vale do Mucuri são bastante precárias. Possuem estrutura física insuficiente ao

seu funcionamento e reduzido número de funcionários. Essas questões, além de outras que

serão analisadas abaixo, tem uma relação direta com a dificuldade na elaboração, execução e

participação em projetos e programas.

3.1 - Serviços e Infraestrutura Institucional

3.1.1 – Diagnóstico

Das secretarias municipais entrevistadas, 75% disseram que não possuem funcionários

permanentes/efetivos. Na maior parte dos casos, o quadro de funcionários da secretaria é

composto pelo secretário e um auxiliar. Segundo informações dos entrevistados, muitos precisam

fazer uso de veículos próprios para realizar os serviços da secretaria e que o recurso financeiro

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destinado a execução das atividades da secretaria, no orçamento anual da prefeitura, é muito

pequeno.

As reuniões dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) têm sido

os meios de comunicação mais utilizados pelas secretarias municipais, tanto para informar suas

ações, como para receber as demandas das comunidades rurais. Destaca-se, a importância que

tem tido os CMDRS no território do Vale do Mucuri, pois os mesmos têm conseguido cumprir

razoavelmente bem o papel de debater, questionar e propor políticas públicas. Outro meio de

comunicação utilizado em 40% dos municípios são os veículos impressos (principalmente, jornais

e informativos).

3.1.2 – Análise

Quase que a totalidade das prefeituras do território tem como principal fonte de obtenção de

recursos os repasses financeiros dos outros entes federativos, sendo o Fundo de Participação

dos Municípios (FPM) o de maior relevância. Segundo informações da Associação Mineira de

Municípios (AMM), mais de 50% dos municípios do território do Vale do Mucuri estão na faixa de

arrecadação 0,6, ou seja, a mais baixa do FPM (Quadro 1).

Sendo assim, a previsão de arrecadação para cada um desses municípios, no ano de 2011, é de

R$ 4.208.616,15 que, divididos por 12, dá R$ 350.718, 01 por mês. Este montante precisa ser

alocado nos repasses obrigatórios à educação e saúde, na folha de pagamento, no custeio geral

da estrutura administrativa, nos convênios, nas empresas de prestação de serviços, dentre outros

que, geralmente, são prioridades. O que sobra para ser dividido entre as secretarias municipais

de promoção de ações sociais e de desenvolvimento, como a de agricultura, é muito pouco.

O que tem sido observado é que as secretarias municipais de agricultura recebem em torno de

R$ 4 mil mensais, incluindo neste montante, o pagamento dos respectivos funcionários. É

possível auferir diante de tal realidade, a dificuldade dos secretários municipais em

desenvolverem quaisquer atividades diferentes daquelas já comuns, como aração de terra e

distribuição de insumos.

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Quadro 1 – Previsão de distribuição de recursos financeiros a municípios do território do Vale do Mucuri no ano de 2011

FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS PREVISÃO FPM 2011

RECEITA DO FPM + EC 55/2007

FAIXA DE HABITANTES - FPM LÍQUIDO (Decreto- Lei nº 1.881/81, de 27.08.81)

Número de Municípios do Vale do

Mucuri

FPM FPM LÍQUIDO BBR-BSB

Até 10.188 14 0,6 R$ 4.208.616,15

De 10.189 a 13.584 03 0,8 R$ 5.611.488,20

De 13.585 a 16.980 02 1,0 R$ 7.014.360,25

De 16.981 a 23.772 06 1,2 R$ 8.417.232,30

De 37.357 a 44.148 01 1,8 R$ 11.222.976,40

De 129.049 a 142.632 01 3,6 R$ 25.251.696,90

Fonte: Página da Associação Mineira dos Municípios na internet (Consultada em 17/09/2011).

Esta é uma realidade que tem contribuído para a baixa execução de ações na área rural, embora

não seja a regra, pois nos municípios em que as prefeituras são mais atuantes e estabelecem,

em alguma medida, relações diferenciadas com o sindicato de trabalhadores rurais e o escritório

local da EMATER, o resultado é bastante positivo (GEPAF, 2010).

3.1.3 – Questões para debate Somente os recursos disponibilizados pelo Programa Territórios da Cidadania são suficientes

para promover o desenvolvimento rural sustentável?

Como o colegiado pode contribuir e influenciar para que exista maior disponibilidade

financeira para a área rural nos municípios?

O que o colegiado pode fazer para que o poder público seja um aliado na divulgação de suas

ações e conquistas?

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3.2 - Instrumentos de Gestão

3.2.1 – Diagnóstico

Das secretarias municipais entrevistadas, 50% disseram que os investimentos municipais não são

orientados por cadeias produtivas locais. Porém, o que mais chama a atenção neste ponto é a

baixa participação das mesmas na concepção e elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias e

do respectivo Orçamento Anual. Na maioria dos casos, estas peças jurídicas são elaboradas por

empresas contratadas pela prefeitura com a participação das secretarias de planejamento,

fazenda e administração, quando existem. Houve casos em que o entrevistado nem sabia da

elaboração destes ordenamentos legais.

Em relação às funções desempenhadas pelas secretarias municipais, 70 % disseram que não

elaboram diagnósticos da realidade e 50 % disseram não ter um plano municipal de

desenvolvimento rural e que não elaboram projetos.

No tocante às normas expedidas e medidas tomadas pelo poder público municipal para

conservação dos recursos naturais, 70% dos entrevistados disseram que nenhuma medida foi

tomada nos últimos dois anos, 25% disseram que houve uma normatização no que diz respeito à

regulamentação do uso e ocupação do solo e 75% disseram não existir na prefeitura nenhum

mapa com as áreas degradadas do município.

3.2.2 – Análise

Nota-se que os gestores públicos, de uma forma geral, assumem os cargos, sem conhecer a

dinâmica de funcionamento da esfera pública e sem realizar um planejamento prévio. Como o

cotidiano das demandas da população consome todo o tempo, estes passam a atuar como

“apagadores de incêndio”, não sobrando tempo para planejamento e capacitação. Alia-se a isto, a

falta de estrutura física e de recursos humanos, resulta em secretarias municipais com baixa

capacidade de planejamento, de captação de recursos e de elaboração de programas e projetos.

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3.2.3 – Questões para debate

Como o colegiado pode contribuir com a capacitação sobre gestão pública para os gestores

públicos, em especial para aqueles diretamente ligados a área rural?

O colegiado pode promover e/ou incentivar espaços de intercâmbios com os secretários

municipais de agricultura no que diz respeito a experiências exitosas e superação de

dificuldades?

Este formato de gestão das decisões e aplicação dos recursos públicos utilizados na gestão

territorial vai de encontro com o formato utilizado nas gestões municipais em nosso território?

O que o colegiado pode fazer para gerar reflexão e ação sobre modelos de gestões publica?

3.3 - Poder Público e Colegiado

3.3.1 – Diagnóstico

Os membros do colegiado, em sua maioria, afirmam que o mesmo propicia o fortalecimento de

ações integradoras entre os diversos níveis do poder público, bem como, facilita a busca de

novas informações e soluções para os problemas encontrados, sendo este um espaço importante

de troca de experiências. Destacam, porém, que esta interação pode melhorar.

Quanto à capacidade de decisão dos representantes do poder público municipal nas instâncias

do colegiado, 73,8% dos entrevistados dizem que é média e alta. Em contraposição, a

participação dos gestores públicos (prefeitos municipais) é muito baixa, segundo 76,1% dos

entrevistados, sendo este, um problema que prejudica muito o desempenho do colegiado.

A participação dos representantes do poder público municipal no colegiado tem se dado, em sua

maioria, pelos secretários municipais. Atualmente, pode-se afirmar que participam efetivamente

das atividades do colegiado em torno de 50% destes representantes. Nos momentos de decisão

dos projetos de investimento, este número aumenta. Quando se trata da participação dos

prefeitos municipais, o número é alarmante: dos 27 prefeitos do território, apenas 01 participa

ativamente das atividades do colegiado.

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3.3.2 – Análise

Segundo as opiniões dos entrevistados e os debates com membros atuais do colegiado territorial,

a baixa participação dos gestores públicos municipais e a baixa credibilidade em relação ao

programa de desenvolvimento territorial podem ser atribuídas a alguns motivos: a concepção dos

gestores públicos municipais de que o formato do PRONAF-Infraestrutura era melhor, pois

permitia a todas as prefeituras ter acesso aos recursos e maior liberdade ao município para

destinação dos mesmos; em decorrência do formato de alocação dos recursos adotado no

programa territorial, algumas prefeituras ainda não tiveram projetos de investimentos implantados

em seus municípios; o fato ocorrido no ano de 2009, no qual houve a substituição da secretaria

executiva do território. Até então, a mesma ficava na Associação dos Municípios do Vale do

Mucuri (AMUC), entidade representativa dos prefeitos municipais do Vale do Mucuri. A partir de

então, a secretaria foi transferida para uma entidade da sociedade civil. Existem relatos de que

este processo não ocorreu de forma harmoniosa e teve como resultado o afastamento da AMUC

das atividades e instâncias do colegiado.

O desafio colocado é como fazer com que o programa não caia em descrédito e como retornar

com a participação dos gestores públicos sem que os mesmos monopolizem o colegiado.

3.3.3 – Questões para debate

Os representantes do poder público municipal conseguem levar para as respectivas

instâncias de representação as questões discutidas e decididas dentro do colegiado? (Caso

positivo, como isto tem sido feito? Caso negativo, o que deve ser feito para que isto ocorra?)

O que pode ser feito para aumentar a participação dos gestores públicos nas instâncias do

colegiado?

O que pode acontecer com a dinâmica de funcionamento das reuniões do colegiado, caso

venhamos a ter a participação massiva dos gestores municipais?

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Como fazer para que os gestores públicos se comprometam com as decisões tomadas no

colegiado, principalmente no que diz respeito aos projetos de infraestrutura?

3.4 - Iniciativas Comunitárias

3.4.1 – Diagnóstico

Em relação à existência de manifestações e/ou protestos, no último ano, apenas 20% dos

entrevistados disseram que ocorreram em seus municípios.

De acordo com mais de 90% dos entrevistados, as associações de agricultores familiares e os

sindicatos de trabalhadores rurais são as organizações sociais que mais realizam ações de apoio

às áreas rurais no município. Vale destacar, a atuação dos grupos de mulheres, pois na

atualização do PTDRS (GEPAF, 2010), esta atuação ainda era muito tímida. Pelos dados da

pesquisa, esse segmento aparece como desenvolvendo atividades de apoio em áreas rurais em

40% dos municípios.

Segundo 50% dos entrevistados, em seus municípios ocorrem iniciativas de projetos produtivos

de iniciativa comunitária ou de produtores rurais sem apoio de governo e, também, segundo 50%,

não existe acordo para venda da produção entre agricultores e organizações voltadas para a

comercialização.

3.4.2 – Análise

A análise deste ponto é debilitada, pois o questionário foi respondido pelos gestores públicos e

muitos não acompanham o cotidiano dos trabalhos desenvolvidos pelas entidades da sociedade

civil. Como este questionário não foi aplicado diretamente às entidades da sociedade civil, não é

possível auferir o que de fato as mesmas estão realizando, os motivos por não estarem

realizando mais atividades, quais os resultados alcançados e qual a avaliação das mesmas sobre

os programas públicos de fortalecimento da agricultura familiar. De qualquer forma, destaca-se o

baixo índice de acordos para comercialização, o que pode indicar a fragilidade do diálogo entre

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gestores públicos e representantes da sociedade civil ou, por outro lado, que programas como o

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar

(PNAE) ainda não foram incorporados pelo poder público, seja por desconhecimento, por não

acreditar na eficiência dos mesmos ou por falta de vontade política.

A atualização do PTDRS (GEPAF, 2010) traz algumas reflexões importantes sobre a influência da

relação entre o Poder Público e Entidades da Sociedade Civil na implementação de políticas

públicas.

“Atualmente, os programas implementados pelo MDS, como o PAA, por exemplo, tem

nas prefeituras seu principal parceiro, bem como, os instrumentos importantes para a

sustentabilidade da aplicação do PRONAF”.

“As palavras das lideranças sindicais revelam o significado dessa afirmação: o governo

federal tem disponibilizado várias políticas importantes para a agricultura familiar, mas

tem muita dificuldade para operacionalizar essas políticas pela falta de preparo das

organizações, problema que é maior quando as prefeituras não dão apoio a essas

organizações”.

“O que se observa, no momento, é que ainda é restrito o conhecimento das lideranças

sindicais sobre as políticas públicas, seus normativos e condições de

operacionalização e sua capacidade de articular diferentes parceiros, intervindo de

forma ativa nessas articulações e cobrando dos gestores públicos o funcionamento das

políticas”.

3.4.3 – Questões para debate

Como estão as relações entre as organizações da sociedade civil e o poder público?

Quais são os avanços, retrocessos e dificuldades encontradas pelos municípios em relação

aos programas PAA e PNAE? Como o colegiado pode atuar em relação a estes programas?

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Da mesma forma que se procedeu com as Capacidades Institucionais, as informações e análises

para Gestão do Colegiado foram organizadas por sub-temas adotando-se os mesmos

procedimentos.

4.1 - Funcionamento

4.1.1 – Diagnóstico

O colegiado do território do Vale do Mucuri, ha vários anos, vem discutindo e elaborando o seu

Regimento Interno. Porém, somente no mês de julho/2011 é que o mesmo foi votado pelo

colegiado. No momento de elaboração do presente relatório, o colegiado estava em fase de

reorganização a partir da nova composição estipulada no regimento.

Como os questionários da presente pesquisa foram aplicados antes da aprovação do regimento

interno, identificaram-se diversas incoerências e incongruências no funcionamento do colegiado,

como: a forma de ingresso no colegiado se dar de forma aleatória e voluntarista; as decisões

serem tomadas ora com todo o público presente nas plenárias do colegiado, ora somente com os

formalmente cadastrados e; as reuniões não acontecerem com uma periodicidade pré-definida.

Um ponto importante, levantado no questionário, e que merece atenção, é sobre a forma como o

colegiado está se comunicando com a sociedade. O item mais citado foi “internet”, com 52,2% de

citações, seguido das “reuniões comunitárias”, com 45,7% de citações. O que estas respostas

apontam é que o colegiado tem se comunicado pouco com a sociedade e que suas ações e

decisões ficam restritas aos seus membros. A “internet” foi a mais citada, porém, a circulação de

informações na internet é feita, apenas, por uma lista de e-mails dos membros do colegiado.

Mesmo entre os membros do colegiado esta forma de comunicação não é eficaz, pois somente

52,2% dos membros afirmam que a utiliza como meio de troca de informações com o colegiado.

4. Gestão do Colegiado

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4.1.2 – Análise

A incorporação do território do Vale do Mucuri no Programa Territórios da Cidadania causou

diversos transtornos no funcionamento do colegiado com a entrada de diversas entidades do

meio urbano no mesmo. Como o programa Territórios da Cidadania frustrou expectativas quanto

à disponibilidade de recursos que pudessem ter sua aplicação decidida no colegiado, muitas

dessas entidades abandonaram-no. As entidades do meio urbano que continuam atuando no

colegiado começam a desanimar, pois constatam que as ações discutidas e implementadas, via

colegiado territorial, estão centradas na agricultura familiar e suas especificidades. Isto ficou muito

evidente na elaboração do regimento interno e definição da composição do colegiado em que

predominaram as representações da agricultura familiar e suas especificidades.

Observa-e uma grande angústia por parte dos membros do colegiado territorial quanto à dinâmica

de funcionamento do programa territorial, pois somente alguns programas do MDA passam pelas

instâncias do colegiado. Os programas dos demais ministérios que são nominados como

participantes do desenvolvimento territorial, continuam na lógica da relação direta entre

prefeituras e ministérios.

A aprovação do regimento interno do colegiado proporcionou alguns avanços, como a garantia da

equidade de gênero nas suas instâncias e a instituição da coordenação tríplice. Outro ponto a

destacar é a presença de representantes dos povos indígenas e de comunidades quilombolas,

como especificidades da agricultura familiar, no núcleo diretivo, pois até então, o núcleo diretivo

era composto apenas pelos representantes das câmaras temáticas.

Em relação à comunicação, a grande questão de estrangulamento são as condições materiais e

humanas para implementar uma política eficaz de comunicação. As instâncias operativas do

colegiado (Núcleo Diretivo e Assessor Territorial), não dispõem de recursos humanos e

financeiros para elaborar e replicar materiais impressos, nem para participar de eventos nos

municípios para divulgar suas ações.

Outro problema, que tem se tornado crônico, é a instabilidade e as interrupções na contratação

do assessor territorial, bem como, a falta de estrutura para que o mesmo desempenhe com

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eficiência suas funções. Este, não dispõe de veículo e outros equipamentos necessários a

execução do trabalho, como o acesso a internet e a linha telefônica.

4.1.3 – Questões para debate

É importante que o colegiado comunique suas decisões e ações à sociedade? Quais as

formas possíveis, dentro da realidade do colegiado, que o mesmo tem condição de

implementar?

As reuniões dos conselhos municipais, das entidades da agricultura familiar e as rádios locais

têm sido as ferramentas mais utilizadas nos municípios para divulgação das informações.

Como o colegiado pode utilizar estes meios para conhecer mais a realidade e divulgar suas

ações? Que outros meios de comunicação podem ser utilizados pelo colegiado?

Como tem sido a comunicação do colegiado com outras instâncias colegiadas (por exemplo:

Comitê de Bacias Hidrográficas, CEDRS, CONSEA) e com os órgãos públicos? É possível

melhorar? Como?

4.2 - Gestão

4.2.1 – Diagnóstico

O colegiado do Mucuri tem na sua composição 47,8% dos membros com até dois anos de

participação. Ao serem questionados sobre quais temáticas receberam capacitação, a resposta

foi “desenvolvimento territorial” para, apenas, 32,6% das respostas, sendo que a maioria dos

entrevistados disse que não sabe e/ou que não ocorreu capacitação em nenhuma temática.

Sobre os temas tratados com freqüência nas instâncias do colegiado, foram citados por mais de

50% dos entrevistados, os seguintes: Projetos, Desenvolvimento Agropecuário, Educação,

Gênero, Raça e Etnia e Infraestrutura.

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A capacidade de decisão dos diferentes segmentos nas instâncias do colegiado pode ser

observada na Figura 7, destacando-se: universidades, agricultores familiares e comunidades

tradicionais com alta capacidade de decisão.

Figura 7 – Capacidade de decisão dos representantes no colegiado do território do

Vale do Mucuri.

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Segundo os entrevistados, o que prejudica muito o desempenho do colegiado é a pouca

participação dos gestores públicos, seguida da baixa capacidade técnica para avaliar os projetos

e a baixa participação dos agricultores (Figura 8).

Figura 8 – Problemas que prejudicam o desempenho do colegiado do território do

Vale do Mucuri.

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Sobre o papel desempenhado pelo colegiado na elaboração do PTDRS, vale destacar que, como,

aproximadamente, metade dos membros do colegiado participa a menos de dois anos do

colegiado, ao serem entrevistados se referiram, apenas, ao processo de atualização do PTDRS

ocorrido em 2010. Segundo os entrevistados, a participação maior dos membros do colegiado

ocorreu nas fases de concepção/elaboração e nas oficinas de discussão para sua formação (40 e

50%, respectivamente). Já, da revisão, apenas 30% dos entrevistados disseram ter participado.

No momento da maioria das entrevistas, a atualização do PTDRS ainda não tinha sido

apresentada ao colegiado.

4.2.2 – Análise

Pelas informações prestadas pelos entrevistados sobre capacitações recebidas, verifica-se que o

colegiado tem pautado seus debates, ações e encontros na dinâmica dada pelo PRONAT de

apresentação e decisão acerca dos projetos e, mesmo em relação a isto, o colegiado não tem se

preparado com antecedência para estes momentos.

Sobre a capacidade de decisão dos diferentes segmentos nas instâncias do colegiado, a

influência dos representantes da universidade, do governo federal e do governo estadual,

segundo os entrevistados, é uma intervenção qualitativa, pois se trata de, apenas, um

representante de cada segmento. Outro destaque, é a capacidade de decisão dos representantes

das comunidades tradicionais, pois apesar de ainda não estarem com número significativo de

representantes, conseguem pautar suas reivindicações específicas.

Em relação aos principais problemas que prejudicam o desempenho do colegiado, a pouca

participação dos gestores públicos foi analisada no item “Capacidades Institucionais” e a baixa

capacidade técnica para avaliar os projetos será analisada no item “Avaliação de Projetos”.

Quanto a baixa participação dos agricultores, certamente, se refere a alta rotatividade de

representantes da agricultura familiar e a pequena influência dos mesmos nos momentos de

tomada de decisão em comparação com os demais segmentos representados no colegiado.

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Embora a influência política apareça como algo que prejudica pouco o desempenho do colegiado,

pela maior parte dos entrevistados, ela merece ser analisada, pois a pouca influência exercida

pelo colegiado junto a esferas do poder público e a outras instâncias colegiadas, como por

exemplo, o comitê de bacia hidrográfica, limita a influência do colegiado no desenvolvimento

territorial.

Quando da elaboração do PTDRS, em 2005 ainda não existia um colegiado territorial e, sim, a

Comissão de Implantação de Ações Territoriais (CIAT). Esta participou da concepção, da

elaboração e da aprovação do PTDRS, ocorridas em Oficinas Territoriais. No entanto, o PTDRS

tem sido pouco utilizado pelo colegiado como instrumento que oriente suas ações e tomada de

decisões.

Na atualização do PTDRS, ocorrida em 2010, o colegiado participou da concepção e,

posteriormente, da aprovação do mesmo.

Nas reuniões do colegiado ocorridas em 2011, por várias vezes o colegiado recorreu ao PTDRS,

tendo tido, inclusive, um momento específico para que cada câmara temática estudasse os

respectivos eixos temáticos. Percebe-se que há, atualmente, grande disposição por parte do

colegiado para que o PTDRS seja a referência para o desenvolvimento territorial.

4.2.3 – Questões para debate

Como suprir a constante demanda por capacitação dos membros do colegiado?

As metodologias utilizadas nas instâncias do colegiado têm permitido que os diferentes

representantes tenham a mesma condição de opinar e decidir sobre os temas debatidos?

Como o colegiado deve atuar frente à baixa participação dos prefeitos municipais?

Como o colegiado deve atuar para que seja uma instância “ouvida” e atuante dentro dos

diversos espaços constituídos dentro do território?

O PTDRS é suficiente para orientar as ações do colegiado? Como detalhar/aprofundar as

ações contidas nos eixos temáticos do PTDRS?

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A análise deste tópico será feira por fases: Planejamento, Execução e Avaliação dos Projetos.

5.1 - Planejamento dos Projetos

5.1.1 - Participação dos beneficiários na fase de planejamento dos projetos

Segundo 50% dos entrevistados a definição do projeto ocorre por demanda espontânea dos

beneficiários e 22% disseram que o projeto foi indicado no PTDRS.

Sobre a participação dos beneficiários na elaboração do projeto, ela ocorreu segundo 72,2% dos

entrevistados. Porém, conforme Quadro 2, podemos observar que a mesma ocorre somente nas

fases iniciais, já nas fases de concepção, implementação e gestão a porcentagem de participação

cai gradativamente.

Quadro 2 – Participação dos beneficiários nas diferentes fases dos projetos no território do Vale do Mucuri

Participação dos beneficiários Freqüência Percentagem

Na definição do tipo de projeto 11 61,1

Na elaboração do diagnóstico 9 50,0

Na definição da área de intervenção 8 44,4

Na concepção do projeto 4 22,2

No acompanhamento do processo de implementação 4 22,2

Na gestão do projeto 3 16,7

5. Avaliação de Projetos

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5.1.2 - Ações de planejamento dos projetos

É possível identificar no Quadro 3 que os beneficiários, participaram de algumas atividades

preliminares a conclusão do projeto, principalmente em relação ao levantamento de informações.

No entanto, segundo os entrevistados, todas estas ações começaram quando os projetos já

haviam sido aprovados pelo CEDRS.

Quadro 3 – Ações de planejamento dos projetos no território do Vale do Mucuri

Ações realizadas no planejamento dos projetos Freqüência Percentagem

Levantamento de informações 12 66,7

Capacitação/Formação 8 44,4

Visitas técnicas e intercâmbios 8 44,4

Assistência técnica em produção 6 33,3

Assessoria em Gestão 4 22,2

Integração a redes 3 16,7

Acesso a Crédito 2 11,1

Não sabe 2 11,1

Dos projetos com finalidade produtiva, segundo 57,14% dos entrevistados, não foi realizado

estudo preliminar de viabilidade econômica do projeto. Quando questionados se o projeto realizou

estudos sobre o mercado de produtos ou serviços, 85% da respostas foram afirmativas de que foi

realizado algum tido de estudo, destacando-se os estudos de demanda, com 22,2% das citações

(Quadro 4).

5.1.3 - Atividades sócio-econômicas atendidas pelos projetos

Sobre as atividades sociais, que foram atendidas com a execução dos projetos, destacam-se as

atividades produtivas e educacionais, citadas por 77,8% e 61,1%, respectivamente.

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Quadro 4 – Estudos sobre mercado de produtos e serviços dos projetos no território do Vale do Mucuri

Estudos sobre mercado de produtos e serviços Freqüência Percentagem Estudo de demanda 4 22,2

Estudo de localização 3 16,7

Qualidade do produto 3 16,7

Análise de custos 2 11,1

Análise de preços 2 11,1

Transporte 2 11,1

Não realizou nenhum estudo 2 11,1

Sanidade do produto 1 5,6

Comercialização 1 5,6

Não sabe 1 5,6

Em relação as atividades econômicas promovidas pelos projetos as mais citadas foram

beneficiamento de produtos, comercialização e agricultura, citadas por 50%, 44,4% e 44,4%,

respectivamente.

5.1.4 - Papel das organizações locais no planejamento do projeto

No que diz respeito a participação do colegiado territorial, fica evidente que, na percepção dos

entrevistados, o mesmo tem atuado, diretamente, até a fase de aprovação do projeto pelo

CEDRS. A partir de então, percebe-se uma ausência do colegiado no andamento do projeto

(Quadro 5).

Em relação ao poder público, a percepção é de que o mesmo tem grande poder e influência

desde a elaboração, co-financiamento, apoio técnico e avaliação dos projetos (Quadro 6).

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Quadro 5 – Participação do colegiado territorial no andamento dos projetos no território do Vale do Mucuri

Papel do colegiado territorial Freqüência Percentagem Avalia 10 55,6

É consultado 9 50,0

Prepara a proposta 7 38,9

Não sabe 5 27,8

Autoriza desembolsos 3 16,7

Outros 2 11,1

Co-administra o projeto 1 5,6

Quadro 6 – Participação do poder público no andamento dos projetos no território do Vale do Mucuri

Papel das entidades públicas Freqüência Percentagem Participam com apoio técnico 16 88,9

Aprovam a proposta 11 61,1

Co-financiam 11 61,1

Elaboram a proposta 10 55,6

Avaliam o projeto 9 50,0

5.1.5 - Análise Em relação aos projetos, em geral, os beneficiários ficam sabendo dos projetos e, ou, participam

das reuniões nas associações locais e, ou, no CMDRS, onde a proposta do projeto é apresentada

e aprovada. De outra forma, são informados nestes espaços que determinado projeto foi

aprovado para o município.

No que diz respeito aos projetos com finalidade produtiva, o processo de planejamento também

ocorre, como para todos os projetos, em geral. No entanto, percebe-se que os beneficiários, a

entidade gestora, o colegiado e demais instituições envolvidas não estão e não são

preparadas/capacitadas para iniciar e desenvolver os projetos.

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Sobre o papel desempenhado pelo colegiado e pelas instituições públicas, é possível, nesta fase,

identificar a expressiva atuação dos mesmos. Adiante, veremos que, a partir deste ponto, começa

a ocorrer o declínio da atuação do colegiado e o fortalecimento do poder público municipal (gestor

dos projetos).

5.2 - Execução dos Projetos

5.2.1 - Participação dos beneficiários na fase de execução dos projetos

Segundo, 72,2% dos entrevistados os beneficiários foram suficientemente informados sobre o

projeto e acompanham a implementação do mesmo.

Quando perguntados sobre quem são os responsáveis pelo monitoramento dos projetos, 44,4%

dos entrevistados disseram que é a prefeitura, 27,8% que são os beneficiários, 11,1% que é o

colegiado territorial e 16,7% que não sabem.

Sobre o processo de gestão dos projetos, 55,6% dos entrevistados disseram que ela acontece no

âmbito da prefeitura municipal, 16,7% que ela acontece com a ampla participação dos

beneficiários, 11,1% que não existe um processo caracterizado e 5,6% que ela ocorre a partir de

uma articulação entre o colegiado e os beneficiários.

5.2.2 - Capacidade de execução dos projetos

Dos entrevistados, 94,4% disseram que a prefeitura municipal é a instância gestora do projeto e,

apenas, 5,6% disseram que uma associação participa da gestão do projeto, ao mesmo tempo em

que 66,7% disseram ser necessário firmar parceria com organizações da sociedade civil para

implementação dos projetos. Outra questão percebida é que as estruturas físicas e/ou bens

adquiridos estão todos sob a custódia das prefeituras, não havendo nenhum repasse para

associações locais.

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Sobre a manutenção da estrutura existente, a mesma é feita pela prefeitura municipal, segundo

72,2% dos entrevistados. Segundo 27,8% não é feito nenhum tipo de manutenção nas estruturas.

Sobre o monitoramento e acompanhamento dos projetos, muitos entrevistados não souberam

precisar se é feito ou se foram construídos indicadores. O que destaca, é que em alguns

municípios o CMDRS e as associações locais buscam, na medida do possível, acompanhar a

execução dos projetos. O colegiado, em geral, não tem conseguido acompanhar a execução dos

projetos.

Sobre os elementos que auxiliam na sustentabilidade dos projetos, ocorre dispersão nas

respostas e todas com baixa citação. Os itens mais citados foram: lideranças locais consolidadas,

definição de acordos para a gestão do projeto, envolvimento de todos os beneficiários na gestão

do projeto e não sabe, com 38,9%, 27,8%, 27,8% e 16,7% de citações, respectivamente.

5.2.3 - Capacidade ociosa dos projetos

Na questão que aborda se o projeto esta funcionando com capacidade ociosa, chega-se ao

seguinte diagnóstico: 50,0 % dos entrevistados disseram que o projeto não esta funcionando,

33,3% que funciona com capacidade ociosa e 5,6% não souberam dizer, restando 11,1% de

afirmação de que o projeto está funcionado e não está com capacidade ociosa.

5.2.4 - Análise

Merece destaque a percepção dos entrevistados de que os beneficiários foram bem informados

sobre os projetos. Este conhecimento acerca dos projetos, pelos beneficiários, é um tanto

subjetiva, pois ao mesmo tempo em que é feita esta afirmação, observa-se que à medida que o

projeto avança a participação dos beneficiários fica proporcionalmente insignificante comparada a

atuação do poder público municipal. Isto fica evidente na questão sobre quem é a entidade

gestora do projeto, pois 94,4% dos entrevistados dizem ser a prefeitura.

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5.3 - Avaliação dos Projetos

5.3.1 - Públicos atendidos pelos projetos

Somente 27,8% dos entrevistados disseram que o projeto esta beneficiando outros públicos, além

dos que foram previstos no projeto.

5.3.2. - Impactos na qualidade de vida dos beneficiários

Observa-se que a meta de beneficiários a serem atendidos pelos projetos, não está sendo

atingida na sua totalidade, variando de projeto para projeto. Em sua maioria, os projetos têm

atingido um número baixo de beneficiários.

Em relação a melhoria na qualidade de vida dos beneficiados, após a implementação dos

projetos, apesar das respostas terem sido dispersas, no geral, os entrevistados entenderam que

ocorreram melhorias. No que diz respeito a melhoria na renda familiar, 22,3% dos entrevistados

disseram que ocorreu elevação na renda.

5.3.3. - Tamanho do mercado coberto pelos projetos

Em relação ao aumento da demanda por produção ocorrido em decorrência da implementação

dos projetos, segundo alguns entrevistados (20%), ocorreu esta alteração, mas não conseguem

quantificar. Por outro lado, alguns entrevistados afirmam não ter havido alteração (10%) ou não

sabem dizer (20%).

Os entrevistados que afirmam ter sido possível ampliar o acesso a mercados, afirmam que foi

possível ampliar nos próprios municípios (33%) , na esfera territorial (17%) e estadual (11%).

5.3.4 - Impactos nas condições sócio-político-econômicas territoriais

Na percepção dos entrevistados, as principais mudanças ocorridas no território com a

implementação dos projetos foram: melhoria da infra-estrutura (33%), aumento da auto-estima da

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comunidade (33%), aumento no nível de organização da comunidade (27%) e maior envolvimento

dos jovens (27%).

Sobre os ganhos institucionais que podem ser atribuídos aos projetos, destacam-se na opinião

dos entrevistados: alianças entre os diversos atores do território (44%), alianças entre as

instituições do território e a comunidade (44%), alianças entre os produtores (38%), alianças entre

instituições locais e estaduais (33%) e construção de acordos entre distintos interesses (28%).

5.3.5 - Dificuldades encontradas para operação dos projetos

Sobre as dificuldades encontradas para que o projeto possa operar de forma ideal, segundo os

entrevistados, a gestão é a principal dificuldade, citada por 78%, seguida por capacitação e

acesso a informação, citadas por 39 e 32%, respectivamente.

5.3.6 – Expectativas em relação aos projetos

Sobre o quanto os projetos atenderam as expectativas, na visão dos entrevistados, 50% dos

entrevistados disseram que atendeu/superou as expectativas e os outros 50% não soube

responder ou disseram que não atenderam as expectativas.

5.3.7 - Análise

Dos projetos dos quais se obteve informações, quatro não estavam funcionando, um estava

praticamente inutilizado e, apenas, dois estavam em pleno funcionamento. Dessa forma, é

possível fazer uma análise mais acurada apenas dos dois que estão funcionando. Nestes casos,

mesmo que timidamente, tem melhorado as condições de vida dos beneficiários, pois possibilitou

ampliar as possibilidades de comercialização e de produção.

Ficou claro que na percepção dos entrevistados os maiores ganhos obtidos pelos projetos são

qualitativos, no sentido do estabelecimento de parcerias, alianças e negociações entre os

diferentes atores/instituições que atuam no território.

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O Índice de Condições de Vida (ICV) no Território do Vale do Mucuri apresentou-se Médio, tanto

na sua composição geral, como por segmento, variando de 0,533 a 0,589 (Quadro 7). O ICV para

o segmento Sem Produção ficou acima do ICV Geral e do ICV dos demais segmentos. No

entanto, o ICV Sem Produção foi obtido apenas pelo componente Efeitos do Desenvolvimento,

sendo que neste componente o mesmo ficou abaixo do ICV Geral e do ICV dos demais

segmentos, revelando uma contradição do índice ou, por outro lado, o peso dos componentes

Fatores do Desenvolvimento e Características do Desenvolvimento na composição do ICV.

Quadro 7 – Índice de Condições de Vida geral e por segmento no território do Vale do Mucuri

ICV Geral ICV Agricultura Familiar

ICV Com Produção

ICV Sem Produção

Índice de Condições de Vida 0,537 0,533 0,538 0,589

Fatores do Desenvolvimento 0,485 0,476 0,485 *

Características do Desenvolvimento 0,538 0,538 0,538 *

Efeitos do Desenvolvimento 0,602 0,600 0,602 0,589 Escala do ICV: 0,00 -0,20 = Baixo; 0,20 - 0,40 = Médio Baixo; 0,40 - 0,60 = Médio; 0,60 - 0,80 = Médio Alto; 0,80 - 1,00 = Alto. * Para o segmento ICV Sem Produção não foram coletadas informações sobre Fatores de Desenvolvimento e Características de Desenvolvimento. Fonte: SGE/CAI Território Vale do Mucuri – MG.

Comparando-se o ICV Geral com o ICV dos segmentos Agricultura Familiar e Com Produção,

observa-se que o que diferenciou os valores do ICV foi o componente Fatores do

Desenvolvimento, uma vez que os componentes Características do Desenvolvimento e Efeitos do

Desenvolvimento apresentaram valores bem próximos entre os três índices. Essa diferença se

deu, basicamente, do ICV Agricultura Familiar em relação aos demais, sendo o ICV Geral e o ICV

6. Índice de Condições de Vida - ICV

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Com Produção semelhantes (Quadro 7). Isso revela a necessidade de um olhar mais atento para

o segmento Agricultura Familiar e as causas dessa diferenciação.

A seguir, será feita uma análise, mais detalhada, sobre cada um dos componentes do ICV ou das

“dimensões” do desenvolvimento.

6.1 - Fatores do Desenvolvimento

Em todos os segmentos avaliados, os itens que mais contribuíram para baixar os valores do ICV

no componente Fatores de Desenvolvimento foram a Participação em Programas do Governo, o

Acesso a Crédito e o Acesso a Assistência Técnica, conforme pode ser visualizado no Quadro 8.

Os valores para esses itens variaram de 0,250 a 0,358, sendo que o menor valor (0,250) foi

obtido pelo item Acesso a Assistência Técnica no segmento Agricultura Familiar, revelando que o

acesso a assistência técnica está ainda mais complicado para este segmento.

Comparando-se as respostas dadas aos questionários pelas famílias de agricultor familiar,

comparativamente as famílias que não são de agricultor familiar, algumas questões merecem

destaque.

Sobre a escolaridade dos membros da família, há mais pessoas alfabetizadas, acima de quinze

anos, nas famílias de não agricultor familiar, onde 61,65% dessas pessoas são alfabetizadas,

contra 56,49% das famílias de agricultor familiar. Levando em conta o quanto os membros da

família estudaram, se os que estudam freqüentam normalmente a escola, nas famílias que não

são de agricultor familiar os índices também foram melhores com 72,61% de citação regular e

boa contra 66,41 % de citação regular e boa nas famílias de agricultor familiar. Em relação aos

adultos que concluíram o ensino fundamental, as famílias que não são de agricultor familiar

também citaram um índice melhor, indicando que 27,40% das pessoas destas famílias concluíram

o ensino fundamental, contra, apenas, 8,40% das famílias de agricultor familiar com o mesmo

grau de instrução.

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Quadro 8 – Índice de Condições de Vida geral e por segmento e seus respectivos componentes no território do Vale do Mucuri Fatores do Desenvolvimento Características do Desenvolvimento Efeitos do Desenvolvimento

ICV Geral

ICV Agricultura Familiar

ICV Com Produção

ICV Sem Produção

-- --

Fonte: SGE/CAI Território Vale do Mucuri – MG.

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Sobre as condições de moradia, 47,33% das famílias de agricultor familiar acreditam que as

condições de sua moradia estão boas, contra 60,28% das famílias que não são de agricultor

familiar que também escolheram essa opção.

Quanto ao acesso aos mercados, percebe-se um grau de dificuldade parecido, tanto para as

famílias de agricultor familiar quanto para as famílias que não são de agricultor familiar, com

citação de 64,12 e 69,87% para condições ruins e regulares de acesso ao mercado para famílias

de agricultor familiar e não agricultor familiar, respectivamente.

Em relação ao acesso ao crédito, a percepção é de que o grau de dificuldade é parecido, tanto

para as famílias de agricultor familiar (58,77 % citações de acesso complicado), tanto para as

famílias que não são de agricultor familiar (58,90% citações de acesso complicado).

Sobre a assistência técnica, 71,76% das famílias de agricultor familiar entende que o acesso é

complicado, contra 56,16% das famílias que não são de agricultor familiar com a mesma posição.

6.2 - Características do Desenvolvimento

Chamam a atenção no componente do ICV Características do Desenvolvimento os baixos valores

obtidos para o item Diversificação nas Fontes de Renda Familiar em todos os segmentos (Quadro

8), sendo de 0,281, 0,288 e 0,281 para o ICV Geral, Agricultura Familiar e Com Produção,

respectivamente.

Estes dados revelam que, na percepção dos entrevistados, a fonte de renda da família é pouco

variada e que no segmento agricultura familiar esta é um pouco mais diversificada, indicando a

pluriatividade maior deste segmento em relação aos demais.

Em relação à produtividade do trabalho, a citação de que as condições são ruins e regulares foi

de 58,02 e 57,54% para as famílias de agricultor familiar e famílias que não são agricultor familiar,

respectivamente.

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Segundo as informações da atualização do PTDRS, em 2010

“A agricultura familiar se concentra nas áreas mais acidentadas, nas serras divisoras

de águas entre as bacias dos rios Mucuri e Jequitinhonha, do São Mateus ao sul e do

Alcobaça ao norte. Esta realidade dificulta a produtividade da agricultura. Muitas vezes,

diante de tais dificuldades, o agricultor deixa de produzir e passa a adquirir seus

produtos no mercado. Alguns fatores como o enfraquecimento da terra, que leva ao

uso de insumos externos, a invasão pela monocultura de eucalipto, a diminuição dos

fluxos d’água e políticas públicas que mais aprisionam do que emancipam o agricultor

possibilitam esse cenário” (GEPAF, 2010).

Em relação à conservação das fontes de água, conservação do solo e preservação da vegetação

nativa, os percentuais de citação das famílias de agricultor familiar e das famílias que não são de

agricultor familiar podem ser observados no Quadro 9.

Quadro 9 – Preservação de recursos naturais no território do Vale do Mucuri

Agricultor Familiar Não Agricultor Familiar

Ruim Regular Boa Ruim Regular Boa

%

Conservação das fontes de água 21,38 12,22 66,42 17,80 12,33 69,87

Conservação do solo 17,56 22,90 59,55 10,96 28,77 60,28

Preservação da vegetação nativa 13,75 13,75 72,52 9,59 13,69 76,72

Fonte: SGE/CAI Território Vale do Mucuri – MG.

Apesar de 60% ou mais da citação dos entrevistados é de que a conservação/preservação dos

recursos naturais é boa, percebe-se, por todo o território, que os agricultores sentem os impacto

da degradação ambiental, principalmente, em relação à redução da quantidade e qualidade da

água e ao enfraquecimento das terras.

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Segundo as informações da atualização do PTDRS, 79,9% das famílias possuem água sem

tratamento e sem contaminação aparente; 15,4% possuem água sem tratamento, com possível

contaminação doméstica ou de animais e; 2,8% possuem água tratada e devem estar

relacionadas às redes de distribuição (GEPAF, 2010).

O excesso de desmatamento, a poluição do ambiente com lixo e o uso de agrotóxicos são

problemas importantes a serem superados para a promoção da sustentabilidade no território do

Mucuri.

6.3 - Efeitos do Desenvolvimento

No componente do ICV Efeitos do Desenvolvimento merece destaque o item Permanência dos

Familiares no Domicílio como o único item, dentre todos os itens avaliados, que obteve pontuação

acima de 0,700, variando de 0,718 a 0,725 e contribuindo significativamente para a elevação do

ICV neste componente, ao ponto de colocá-lo na transição de Médio a Médio Alto, se tomado

isoladamente. Essa informação corrobora com informação obtida com a atualização e

qualificação do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável em que 86,21% dos

entrevistados afirmaram que nenhum membro da família realiza trabalho temporário em outra

cidade ou estado (GEPAF, 2010).

Comparando os dados obtidos em relação aos efeitos de desenvolvimento entre os segmentos

com produção e sem produção, observa-se que o segmento com produção apresentou um índice

melhor em relação ao segmento sem produção, sendo estes de 0,605 e 0,589, respectivamente

(Quadro 10).

Merece destaque os índices relacionados às condições de alimentação e nutrição e a

participação em organizações comunitárias.

Em relação às condições de alimentação e nutrição, o segmento com produção apresentou um

índice melhor (0,676) do que o segmento sem produção (0,625) evidenciando a sua importância

do ponto de vista da segurança alimentar das famílias.

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Quadro 10 – Indicadores dos efeitos do desenvolvimento para os segmentos com e sem produção no território do Vale do Mucuri

Efeitos do desenvolvimento Com produção Sem produção ICV geral 0,605 0,589

Condições de alimentação e nutrição 0,676 0,625

Condições de saúde 0,618 0,620

Permanência dos familiares no domicílio 0,718 0,723

Situação econômica 0,613 0,598

Situação ambiental 0,569 0,554

Participação em organizações comunitárias 0,550 0,516

Participação política 0,588 0,576

Participação em atividades culturais 0,506 0,478

Fonte: SGE/CAI Território Vale do Mucuri – MG.

Da mesma forma, a participação em organizações comunitárias mostrou-se melhor no segmento

com produção (0,550) em relação ao segmento sem produção (0,516).

Nos demais itens as diferenças nos índices, entre os dois segmentos, foram menores.

A configuração do território do Vale do Mucuri, reconhecida pela SDT/MDA, permitindo sua

inserção no PRONAT, é resultado de uma estratégia política de continuidade do acesso a

recursos destinados a infraestrutura para os municípios vinculados a AMUC. Toda a discussão

que se seguiu, a partir deste reconhecimento, nas oficinas e reuniões do colegiado territorial,

levou a construção de uma identidade ao território, sendo esta, fruto da expressiva presença da

7. Análise Integradora de Indicadores e Contexto

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agricultura familiar, embora esta “identidade” não consiga explicitar toda a diversidade de

expressões do campesinato presentes no território.

Fruto da dependência história em relação às outras esferas públicas da federação (estado e

união) os poderes públicos municipais não estão estruturados adequadamente para

desempenharem as funções de promotores do desenvolvimento local. Mesmo porque, a partir da

constituição brasileira de 1988, os municípios assumiram várias atribuições para as quais são

dadas prioridades, notadamente, no que se refere à educação e saúde. No Vale do Mucuri, esta

realidade não é diferente, onde se observa uma precariedade geral na infraestrutura e serviços

voltados a promoção do desenvolvimento rural. Não são todos os municípios do território que

possuem secretaria de agricultura na estrutura da prefeitura e quando estas existem não é dada

prioridade a sua estruturação física e a destinação de recursos para as mesmas.

Da mesma forma, é recente no Brasil a criação, de forma democrática e participativa, de

instrumentos jurídicos que normatizem o uso e a gestão dos recursos naturais, em nível dos

municípios. Mesmo que haja um razoável funcionamento dos CMDRS no território do Vale do

Mucuri, estes ainda se atêm, de forma geral, a discussões e decisões pragmáticas sobre

destinação de recursos e projetos do poder executivo. São raros, também, os municípios do

território que possuem conselhos de meio ambiente constituído e funcionando.

Por outro lado, observa-se frustração por parte da maioria dos gestores públicos municipais,

principalmente os prefeitos, em relação ao programa de desenvolvimento territorial. Muitos deles,

baseados na lógica anterior de acesso aos recursos do PRONAF-Infraestrutura, se queixam que

o seu município ainda não recebeu recursos do programa. Certamente, estas insatisfações se

devem a incompreensões de alguns sobre a perspectiva do desenvolvimento territorial, mas, de

outros, a divergência em relação ao programa pela perda do poder de decisão.

Merece atenção a constatação de que, apesar da imensa ausência dos gestores públicos

municipais (no caso, os prefeitos) no colegiado territorial, a percepção da maioria dos seus

membros é de que estes possuem alta capacidade de decisão. Isto reflete, por um lado, a

organização do estado brasileiro que centraliza nos gestores públicos vários aspectos de decisão

e gestão dos recursos públicos e, de outro lado, a cultura política, ainda predominante, de poder

de decisão dado aos prefeitos municipais.

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Acompanhamento, Monitoramento e Avaliação das Condições de Vida e do Desenvolvimento no Território do Vale do Mucuri, Minas Gerais*

- Relatório Analítico das Pesquisas Realizadas entre Setembro/2010 e Setembro/2011 -

* Projeto financiado com recursos da Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento

Agrário (SDT/MDA) via CNPq (Edital 05/2009, processo N0. 554359/2010-3).

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A rotatividade dos membros do colegiado territorial do Vale do Mucuri é intensa, tanto dos

representantes dos órgãos públicos, quanto dos representantes da sociedade civil. Isto acarreta a

descontinuidade de processos e a falta de acúmulo por parte das pessoas que participam do

mesmo. Nesse sentido, a capacitação e a retomada de questões já debatidas deve ser algo

contínuo em todas as instâncias do colegiado. Os temas a serem abordados nos momentos de

capacitação, além de refletirem toda a problemática do desenvolvimento territorial, devem ser

acordados com os membros do colegiado para que a capacitação seja efetiva e haja maior

participação.

Por mais que tenha havido avanços na interação dos beneficiários dos projetos financiados pelo

PRONAT com os elaboradores, executores e gestores públicos, ainda é muita baixa a

participação dos beneficiários na concepção, implantação e gestão dos projetos. As pesquisas

demonstraram que a implantação e gestão dos projetos tem ficado, praticamente, à cargo das

prefeituras municipais.

Por outro lado, a participação do colegiado territorial tem se restringido as fases de discussão e

deliberação sobre quais projetos serão encaminhados para aprovação pelo CEDRS. Muito pouco

tem sido feito no sentido do monitoramento e da avaliação dos projetos. Uma sugestão que tem

aparecido nas discussões é a criação, pelo colegiado territorial, de duas comissões, uma de

avaliação e outra de monitoramento dos projetos. Outra reflexão que se faz necessária, é o

estabelecimento de procedimentos para que o colegiado não fique a mercê dos calendários para

aprovação dos projetos. Que este se antecipe e analise, com mais detalhe e cuidado, os projetos

a serem encaminhados para aprovação.

No território do Vale do Mucuri estão presentes, pelo menos, 517 comunidades de agricultura

familiar, que se conseguiu identificar/mapear nos momentos de elaboração (IDENE &

ARMICOPA, 2005) e atualização (GEPAF, 2010) do PTDRS, incluindo, aldeias indígenas,

remanescentes de comunidades quilombolas e assentamentos da reforma agrária (Figura 9). As

informações coletadas e os indicadores obtidos, nas presentes pesquisas, não conseguem

abarcar toda a diversidade da agricultura familiar presente no território, principalmente no tocante

as especificidades relacionadas aos povos e comunidades tradicionais. Nesse mesmo sentido, os

poucos projetos que foram executados, ou estão em execução, com recursos do PRONAT,

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conseguem beneficiar um contingente muito pequeno de agricultores familiares e, por

conseguinte, não conseguem influenciar nas condições de vida da população rural do território, a

ponto de se refletir no índice (ICV) analisado. Seguramente, outros programas e políticas do

governo federal, como o sistema de aposentadoria especial para trabalhadores/as rurais e o

“bolsa família”, exercem maior influência sobre tal índice. De qualquer forma, o ICV e demais

indicadores apontados por estas pesquisas servem como balizadores das condições de vida da

população rural do território.

Figura 9 – Comunidades de agricultura familiar do território do Vale do Mucuri. Fonte: GEPAF, 2010.

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Merece reforçar, aqui, os fatores que mais contribuíram para o baixo índice das condições de vida

no território do Vale do Mucuri e, especialmente, em relação à agricultura familiar: os históricos

problemas de baixo acesso a programas do governo, a crédito e, principalmente, a assistência

técnica.

O fruto mais profícuo do programa de desenvolvimento territorial para o Vale do Mucuri, que se

percebe, é o esforço que tem sido feito por uma gama ampla de instituições estatais e,

notadamente, da sociedade civil no sentido da construção de uma perspectiva de

desenvolvimento sustentável para o território, merecendo destaque, as parcerias, alianças e

negociações realizadas pelos diferentes atores/instituições que atuam no território.

Em face à realidade do território do Vale do Mucuri, propomos pesquisas de caráter

complementar/contextualizada nas seguintes temáticas:

Povos Tradicionais

Os remanescentes dos povos indígenas no Vale do Mucuri estão aldeiados e com territórios

reconhecidos em apenas quatro localidades. Por sua vez, apenas cinco comunidades

remanescentes de quilombos são certificadas pela Fundação Cultural Palmares, embora existam

outras tantas no território que ainda não foram certificadas (GEPAF, 2010). A presença e o

contexto histórico destes povos tradicionais precisam ser mais bem conhecidos para que lhes

sejam garantidos os direitos constitucionais e o acesso às políticas e aos programas públicos

específicos voltados a estes segmentos da população brasileira.

8. Propostas e Ações para o Território

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Experiências Agroecológicas

Um dos maiores desafios da agricultura familiar camponesa frente à concentração fundiária e a

minifundização, é a produção de alimentos para o auto-abastecimento, com excedentes para

comercialização e, ao mesmo tempo, a manutenção de sistemas de produção regenerativos que

não comprometam as potencialidades naturais dos ambientes em que está inserida. Sistemas de

produção sustentáveis são aqueles fundamentados nos princípios da agroecologia, implantados e

manejados a partir dos saberes históricos dos camponeses com graus variados de interação com

os conhecimentos científicos sobre a dinâmica ecológica dos agroecossistemas. Aprofundar

estudos, promovendo a sistematização de sistemas agroecológicos de produção contribuirá para

sua potencialização, ampliação e multiplicação no território.

Comercialização – Feiras Livres

Praticamente, em todos os municípios do Território do Vale do Mucuri ocorrem Feiras Livres em

que parte significativa da agricultura familiar camponesa comercializa os excedentes de sua

produção diretamente aos consumidores. São espaços de expressão cultural muito forte e que

proporcionam uma dinamização econômica nos municípios, além da socialização e troca de

experiências, características destes espaços. No entanto, é uma economia “invisível”, uma vez

que não aparece nas estatísticas e indicadores oficiais de geração de renda. Entender melhor

toda a dinâmica das Feiras Livres, seus limites e potencialidades, contribuirá para dar maior

visibilidade a sua importância e fornecer subsídios para sua melhoria.

Além da pesquisas citadas, se faz necessária uma atenção especial para o aumento das

capacidades para elaboração, gestão, monitoramento e avaliação de projetos no território.

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IBGE. Resultados do Censo 2010. Disponível em: http://www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/index.php?uf=31. Acessado em 10 de novembro de 2010. INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO DO NORTE E NORDESTE DE MINAS (IDENE);

ASSOCIAÇÃO REGIONAL MUCURI DE COOPERAÇÃO DOS PEQUENOS AGRICULTORES (ARMICOPA). Plano de Desenvolvimento Territorial do Vale do Mucuri. [S.l.]: 2005.

GRUPO DE EXTENSÃO E PESQUISA EM AGRICULTURA FAMILIAR (GEPAF). Atualização do plano territorial de desenvolvimento rural sustentável: território da cidadania do Vale do Mucuri-MG. Teófilo Otoni: UFVJM, 2010. 120p.

Documentos Citados

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A seguir, algumas considerações sobre questões dos questionários Questionário 1: Capacidades Institucionais

P10- Quais segmentos sociais realizam ações de apoio às áreas rurais do município?

Esta pergunta ficou confusa em relação às “ações de apoio”, pois não ficou claro que tipo de ação

seria.

Questionário 2: Identidade Territorial

P9- Na gestão do território, como é avaliada a participação das seguintes instituições:

Nesta pergunta, não ficou explícito o sentido de participação: se quer dizer que a instituição está

sempre presente ou se ela participa ativamente dos debates levantados no território. Muitas

vezes a “instituição” é entendida como sendo um membro da mesma e não a própria instituição

em si.

P10- Quanto à visão de futuro do território, como você avalia os seguintes aspectos:

P11- Na definição das metas e objetivos de desenvolvimento propostos pelo território, qual a

importância dos seguintes aspectos:

P12- Na definição das características marcantes do território, como é avaliada a importância dos

seguintes aspectos:

Nestas quatro perguntas (P10, P11 e P12), quando na opção “A pobreza, a marginalidade ou os

problemas sociais”, o entrevistado fica meio confuso quanto a esta questão, pois a pergunta não

ficou bem elaborada, confundindo qual o sentido de pobreza e marginalização se trata na hora de

dar as respostas.

ANEXO: Validação de Instrumentos e Procedimentos

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P14- Que importância tem os seguintes aspectos, nos principais conflitos existentes no território:

Nesta pergunta os entrevistados teriam que dizer se é “muito importante, nenhuma importância

ou atribuir notas 2, 3 ou 4”. A pergunta é muito confusa, pois não ficou claro se quando há

conflitos deva-se colocar muito importante ou nenhuma importância, bem como se as notas

devem ser maiores ou menores quando há ou não conflitos existentes no território, sendo

necessário no momento da aplicação do questionário reelaborar a pergunta para um melhor

entendimento dos entrevistados.

Questionário 3: Acompanhamento da Gestão dos Colegiados Territoriais

As questões P13 e P18 ficaram repetitivas, pois a primeira pergunta: “Você sabe qual a data de

constituição do Colegiado?” e a outra: “Indique o ano de constituição do Colegiado” é a mesma

pergunta, logo estas duas perguntas têm a mesma resposta.

P16- Como é avaliada a capacidade de decisão de cada um dos seguintes membros do

Colegiado?

Esta pergunta ficou um pouco confusa no que diz respeito à palavra “decisão”. Fica a dúvida se é

o membro do Colegiado que decide algo dentro do colegiado dando a palavra final, ou se é o

membro que tem uma boa participação nos debates, opinando e passando idéias nos espaços de

reuniões do Colegiado.

P19- Com que freqüência cada um dos seguintes temas são “tratados” no Colegiado?

A palavra “tratado” não ficou bem explicada. Ficou a dúvida se seria quando o tema foi realmente

discutido ou se foi falado esporadicamente sem nenhum aprofundamento, o que confundiu um

pouco as respostas das pessoas entrevistadas.

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Questionário 4: Índice de Condições de Vida

Questões confusas, como a 3.a, o que se quis dizer com alfabetizadas?;

Confuso na classificação dos Agricultores Familiares e não Familiares, no que diz respeito à

questão “x”, que pergunta se a renda da família vem principalmente da produção. Causou muita

dúvida, pois muitos entrevistados têm como principal fonte de renda a aposentadoria de

trabalhador rural, ou são beneficiados por programas de transferência de renda, ou ainda,

famílias que tem a propriedade rural, mas tem membro que trabalha informal em outra

propriedade.

Em relação à questão “vii”, a partir do momento que o entrevistado responde que não tem

produção no seu domicílio, vai para a questão 17 do III componente. Quando isso ocorre, fica o

entrevistado impossibilitado de responder questões referentes à escolaridade, condições de

moradia, participação em programas governamentais, atuação de instituições e organizações

locais, situação da renda da família e preservação dos recursos naturais. Questões estas,

também fundamentais para avaliar a condição de vida da família. Há que se ressaltar que o

componente III, nos casos analisados, contribui significativamente para o aumento do ICV.