terras do sem fim

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Terras do Sem-Fim é um romance escrito por Jorge Amado e publicado em 1943. O livro descreve conflitos em busca da conquista de pedaços de terra nas florestas da Bahia, para transformá-los em plantações de cacau.

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TERRAS DO SEM FIM

 JORGE AMADO

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TERRAS DO SEM FIM

 JORGE AMADO

“Para Matilde, lembrança do inverno”.

“Homenagem a D. Chostakóvitch, compositor e soldado de Leningrado”.

“Para Carmen hioldi e !eresa "elman, para #parecida e Pa$lo Mendesde #lmeida e para %emi &onseca”.

H' de( anos passados escrevi $m romance, pe)$eno e violento* sobre omesmo tema do caca$, ao )$al volto ho+e. !inha e$ ento de(enove anose iniciava minha vida de romancista. -esses de( anos escrevi seteromances, d$as biograas, alg$ns poemas, centenas de artigos, de(enasde con/er0ncias. -esses de( anos l$tei d$ramente, via+ei, ( disc$rsos, vivi com me$ povo a s$a vida. Constato com imensa alegria )$e $ma linhade $nidade +amais )$ebrada liga no só toda a minha obra reali(adanesses de( anos como a vida )$e d$rante eles vivi1 a esperança 2 mais )$eesperança, certe(a, de )$e o dia de amanh ser' melhor e mais belo. 3m/$nço desse amanh, c$+a madr$gada +' se levanta sobre a noite dag$erra nos campos do este e$rope$, tenho vivido e escrito.

Montevid4$, agosto de 5678.

“3$ vo$ contar $ma história, $ma, $ma história de espantar”.9%omanceiro pop$lar:

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1 Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source co a i!te!"#o de facilitar o acesso ao co!$ecie!to a que !#o pode pagar e tab% proporcio!ar aos Deficie!tes &isuais a

oportu!idade de co!$ecere !ovas obras'Se quiser outros títulos !os procure $ttp())groups'google'co)group)&iciados*e*+ivros, ser- u prazer receb./lo e !osso grupo'

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 A terra aduada com sa!gue

O "a#io

$

  ; apito do navio era como $m lamento e corto$ o crep<sc$lo )$ecobria a cidade. ; capito =oo Magalhes encosto$2se na am$rada e vi$o casario de constr$ço antiga, as torres das igre+as. ;s telhados negros,r$as calçadas de pedras enormes. >e$ olhar abrangia $ma variedade detelhados, por4m da r$a só via $m pe)$eno trecho onde no passavaning$4m. >em saber por )$e acho$ a)$elas pedras, com )$e mos

escravas haviam calçado a r$a, de $ma bele(a comovente. 3 acho$ belostamb4m os telhados negros e os sinos das igre+as )$e começaram a tocarchamando a cidade religiosa para a b0nço. -ovamente o navio apito$rasgando o crep<sc$lo )$e envolvia a cidade da ?ahia. =oo estende$ osbraços n$m ade$s. 3ra como se estivesse se despedindo de $ma bem2amada, de $ma m$lher cara ao se$ coraço.

Dentro do navio homens e m$lheres conversavam. &ora, ao p4 daescada, $m senhor de preto, chap4$ de /eltro na mo, bei+ava os l'bios de$ma rapariga p'lida. #o lado de =oo $m s$+eito gordo, encostado noespaldar de $m banco, iniciava $ma palestra com $m cai@eiro2via+anteport$g$0s. ;$tro cons$ltava o relógio e di(ia para )$em o )$isesse

o$vir1  2 &altam cinco min$tos. . .  =oo penso$ )$e o relógio do via+ante estava atrasado, por)$e o navioapito$ $ma <ltima ve(, os )$e cavam saltaram, os )$e iam sedebr$çaram na am$rada.  ; res/olegar das m')$inas lhe de$ de repente a certe(a de )$e partiae ento se volto$ com $ma estranha comoço para a cidade, to$novamente os velhos telhados, o trecho de r$a calçada com pedrascolossais. ; sino repicava e =oo imagino$ )$e a)$ele chamado era paraele, convite para correr novamente as r$as da cidade, para descer as s$as

ladeiras, tomar minga$ nessa madr$gada no !erreiro, beber cachaça complantas arom'ticas, +ogar ronda nos cantos do Mercado pela manh, +ogarsete2e2meio A tarde na casa de Bioleta onde ia $ma t$rma boa, +ogarp)$er A noite no cabar4 com a)$eles ricaços )$e o respeitavam. 3 pelamadr$gada sair novamente pelas r$as, a cabeleira desabada sobre osolhos, di(endo piadas para as m$lheres )$e passavam de mos cr$(adassobre o peito por ca$sa do /rio, proc$rando encontrar companheirospara $ma /arra de violo na cidade bai@a. Depois eram os s$spiros de Bioleta, no )$arto da rapariga a l$a entrando pela +anela aberta, o ventobalançando os dois co)$eiros do )$intal. ;s s$spiros de amor iam com o vento, at4 a l$a, )$em sabe

;s sol$ços da moça p'lida desviaram se$s pensamentos. 3la di(ia,

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n$ma vo( de certe(a in/alEvel1  2 -$nca mais, %ob4rio, n$nca mais. . .  ; homem a bei+ava n$ma e@citaço cheia de dor e respondia comdic$ldade1  2 Para o m0s e$ volto, me$ amor, trago os meninos. 3 voc0 vai car

boa. .. ; m4dico me disse...  # vo( da moça era dorida, =oo teve pena1  2 3$ sei )$e morro, %ob4rio. -o ve+o mais voc0 nem os meninos. 2%epeti$ bai@inho1 2 -em os meninos...e rebento$ em sol$ços.  ; homem )$is di(er algo, no pde, balanço$ a cabeça, olho$ aescada, desvio$ os olhos para =oo como )$em pedia socorro. # vo( dam$lher era $m sol$ço1 Fn$nca mais lhe ve+o...G ; homem de pretocontin$ava a olhar =oo, estava só com a s$a dor. =oo co$ $m momentoindeciso, no sabia mesmo como iria ac$dir o homem de preto, depois)$is descer a escada mas +' marinheiros a retiravam, pois o navio iniciavaas manobras. ; homem só teve tempo de bei+ar mais $ma ve( os l'bios damoça, $m bei+o ardente, prolongado e pro/$ndo como se ele tamb4m)$isesse ad)$irir a mol4stia )$e comia o peito da esposa. P$lo$ no navio.Mas a s$a dor /oi mais alta )$e se$ org$lho e os sol$ços saltaram do se$peito, encheram o navio )$e partia, e at4 o coronel gordo paro$ aconversa com o via+ante. De /ora, alg$4m di(ia )$ase aos gritos1  2 Me escreva. Me escreva...  Havia o$tra vo(1  2 -o v' me es)$ecer...

%  %aros lenços deram ade$ses, só de $ma /ace correram l'grimas, /ace +ovem de m$lher )$e sol$çava ar/ando o peito. -o e@istia ainda o novocais da ?ahia e as 'g$as penetravam )$ase pela r$a. ; navio /oi sea/astando devagar, nas primeiras manobras. # moça )$e chorava sac$diao lenço mas +' no disting$ia dentre os )$e respondiam de bordo a)$ele a)$em dera se$ coraço. Logo depois o navio tomo$ velocidade, os )$eestavam a v02lo partir, se retiraram. m senhor velho pego$ no braço damoça e /oi com ela, resm$ngando palavras de consolaço e de esperança.; navio se distanciava.

  r$pos se con/$ndiam nos primeiros min$tos da viagem. M$lherescomeçavam a se retirar para os camarotes, homens espiavam as rodas)$e cortavam o mar, por)$e na)$ele tempo os navios )$e iam de ?ahiapara Ilh4$s tinham rodas como se em ve( de irem vencer o grande maroceano onde campeia o vento s$l tivessem apenas )$e navegar n$m riode 'g$as mansas.  ; vento sopro$ mais /orte e tro$@e para a noite da ?ahia /ragmentosdas conversas de bordo, palavras )$e /oram pron$nciadas em tom mais/orte1 terras, dinheiro, caca$ e morte.

&

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  #s casas desapareciam. =oo rodo$ o anel no dedo, )$erendo desviar a vista do homem de preto )$e limpava os olhos e )$e di(ia, como $mae@plicaço de toda a cena1  2 !' tEsica, coitadinha. ; m4dico no de$ esperanças. . .  =oo olho$ o mar de $m verde2esc$ro e só ento se lembro$ dos

motivos por )$e /$gia assim de cidade. ; anel de engenheiro estavaper/eito no se$ dedo e parecia at4 /eitopropositadamente para ele. M$rm$ro$ de si para si1  2 -em )$e /osse de encomenda..  %i$, se recordando do engenheiro. m pato. -$nca vira pato to grande. #)$ele, de p)$er no entendia nada, dei@aramesmo t$do )$e tinha, at4 o anel. tamb4m na)$ela noite, /a(ia $masemana, =oo limpara a mesa, só do coronel =$v0ncio levara $m conto e)$inhentos. J$e c$lpa tinha ele 3stava m$ito bem do se$, estiradosemin$ na cama da Bioleta, )$e cantava com s$a vo( delicada e enavaos dedos nos se$s cabelos, )$ando o menino do !abaris aparece$ di(endo)$e +' tinha corrido a cidade toda atr's dele. %odol/o sempre lhearran+ava $ma ban)$inha. J$ando $ma mesa no estava completa, eleperg$ntava aos parceiros1  2 ;s senhores conhecem o Capito =oo Magalhes m capitore/ormado  >empre havia $m )$e conhecia, )$e +' tinha +ogado com ele. ;s o$trosperg$ntavam1  2 -o 4 rato, no  %odol/o bancava indignaço1  2 ; Capito +oga s4rio. =oga bem, no se nega a verdade. Mas para $m

s$+eito +ogar s4rio 4 preciso )$e +og$e como o Capito.  Mentia com a cara mais cEnica desse m$ndo e ainda completava1  2 ma mesa sem o Capito no tem graça...  Para passar essa cantada, %odol/o tinha a s$a comisso e sabia )$emesa onde =oo Magalhes estava era mesa onde a bebida corria e obarato da casa era pesado. Mandava o menino atr's de =oo, preparavaos baralhos.  &ora assim na)$ela noite. =oo estava mole2mole, os dedos de Bioletanos se$s cabelos, )$ase adormecendo ao som da s$a vo(, )$ando ogaroto aparece$. >ó ho$ve mesmo tempo de botar a ro$pa e n$m instanteestava aboletado na sala dos /$ndos do cassino. Do Coronel =$v0ncio

levo$ $m conto e )$inhentos e do engenheiro levo$ t$do )$e ele tinha nobolso, levo$ at4 o anel de /ormat$ra )$e o rapa( aposto$ na hora )$e se vi$ com $m /o$r de damas na mo, mesmo n$ma hora em )$e =ooMagalhes dera as cartas. Perde$, por)$e o /o$r do Capito =ooMagalhes era de reis. >ó o o$tro parceiro, $m comerciante da cidadebai@a, tivera l$cro tamb4m* d$(entos e po$cos mil2r4is. 3m mesa em )$e =oo +ogasse, o$tro parceiro ganhava sempre, era da s$a t4cnica. 3 comoo Capito tinha $m g0nio es)$isito 9di(iam os Entimos:, escolhia oganhador pela cor dos olhos, olhos )$e mais se apro@imassem de $ns )$ehaviam cado no %io, olhando a g$ra do prossional com despre(o eno+o. 3ra de manh )$ando todos se levantaram e %odol/o avalio$ o anelem mais de $m conto. ; engenheiro +ogara por tre(entos e vinte no /o$rde damas. =oo ri no tombadilho do navio. F>ó gente besta acredita nas

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damas...F  !inha ido para a casa de Bioleta bem descansado, pensando nasatis/aço )$e a rapariga teria no dia seg$inte )$ando ele lhe levassea)$ele vestido de seda a($l )$e ela vira n$ma vitrine. Pois no 4 )$e oengenheiro, em ve( de perder calado, no o$tro dia se boto$ para a

policia, conto$ $ma história atrapalhada, disse cobras e lagartos de =oo,perg$nto$ de )$e e@4rcito era a s$a patente de Capito, e a polEcia sóno o chamo$ para $ma conversa por)$e no o encontro$ %odol/o oescondera bem escondido, #gripino Doca dissera2lhe maravilhas de Ilh4$se do caca$ e agora ele estava na)$ele navio, depois de ter passado oitomeses na ?ahia, a caminho de Ilh4$s, onde s$rgira o caca$ e com ele/ort$nas r'pidas, o anel de engenheiro no dedo, $m baralho n$mbolso, $m cento de cartKes no o$tro1

'A(IT)O Dr. Jo*o MAGA+,)ES

E"GE",EIRO MI+ITAR.

  #os po$cos, a triste(a de abandonar a cidade )$e tanto amarana)$eles oito meses, /oi desaparecendo. =oo começo$ a se interessarpela paisagem, 'rvores vistas ao longe, casas )$e cavam pe)$eninas. ;navio apito$ e a 'g$a respingo$ o chap4$ de =oo. 3le o tiro$, passo$ olenço per/$mado pela palhinha da copa e o coloco$ sob o braço.  Depois aliso$ o cabelo revolto, propositadamente desc$idado, /a(endoondas. 3 relanceo$ $m olhar por todo o tombadilho, indo desde o homemde preto )$e tinha a vista presa ao cais )$e +' no se via, at4 o gordo

coronel )$e narrava ao cai@eiro2via+ante atos de brav$ra nas terrassemib'rbaras de >o =orge dos Ilh4$s. =oo rodava o anel no dedo,est$dava a sionomia dos o$tros via+antes. >er' )$e encontraria parceiropara $ma mesinha verdade )$e levava $ma bolada reg$lar no bolso,mas dinheiro n$nca /e( mal a ning$4m. #ssobio$ devagarinho.  -o navio a conversa começava a se generali(ar. =oo Magalhes sentia)$e no tardaria a ser envolvido pela conversa e pensava em comoconseg$ir parceiros a bordo. !iro$ $m cigarro, bate$ com ele naam$rada, risco$ $m /ós/oro. Depois se interesso$ novamente pelapaisagem, por)$e agora o navio ia bem pró@imo ' terra na saEda da barra.-a /rente de $ma casa triste de barro, dois garotos n$s, de enormes

barrigas, gritavam para o navio )$e passava. Do claro de o$tra casa, meioescondida pela +anela, $ma moça, de rosto bonito, aceno$ $m ade$s. =oocalc$lo$ )$e a)$ele ade$s devia ser o$ para o /og$ista o$ para toda agente )$e ia no navio. Mas assim mesmo responde$, estendendo s$a momagra n$m gesto cordial.  ; coronel gordo espantava o cai@eiro2via+ante narrando $m bar$lho)$e tivera n$ma penso de m$lheres na ?ahia. ns malandros (eram2sede besta, tinham )$erido correr em cima dele por ca$sa de $mam$latinha. 3le p$@o$ o parab4l$m e basto$ gritar1  2 Bem com coragem )$e e$ so$ 4 de Ilh4$s. . . 2 para )$e os malandros

rec$assem acovardados.  ; via+ante se assombrava com a coragem do coronel.

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  2 ; senhor /oi macho pra b$rro  ; Capito =oo Magalhes /oi se apro@imando vagarosamente.

-

  Margot sai$ de $m camarote e atravesso$ o navio de ponta a pontarodando a sombrinha de m$ito pano, arrastando a ca$da do vestido dem$ito roda, se dei@ando admirar pelos cai@eiros2via+antes )$e di(iampiadas* pelos /a(endeiros, )$e arregalavam os olhos* at4 pelo pessoal )$eia na terceira em b$sca de trabalho nas terras do s$l da ?ahia. Margotatravesso$ os gr$pos, pedindo licença com s$a vo( )$ase s$ss$rrada eem cada gr$po se /a(ia sil0ncio para melhor a verem e a dese+arem.Por4m, mal ela passava, as conversas recaEam no tema de sempre1 caca$.;s cai@eiros2via+antes olhavam Margot passando entre os /a(endeiros eriam. ?em sabiam )$e ela ia em b$sca de dinheiro, ganhar /acilmente o)$e m$ito c$stara a)$eles homens r$des. >ó no riram)$ando =$ca ?adaró sai$ da esc$rido, tomo$ Margot por $m braço e acond$(i$ para a am$rada de onde viam Itaparica )$e desaparecia, ocasario longEn)$o da cidade da ?ahia, a noite )$e chegava rapidamente,a roda do navio levantando 'g$a.  2 Bosmic0 de onde vem 2 =$ca ?adaró corria o corpo da m$lher com osolhos mi<dos, se demorando nas pernas, nos seios. Levo$ a mo Asn'degas de Margot e as belisco$ para sentir a d$re(a da carne.

Margot tomo$ $ma atit$de de o/ensa1  2 -o lhe conheço... J$e liberdade 4 essa  =$ca ?adaró a seg$ro$ por debai@o do )$ei@o, levanto$ s$a cabeça de

cachos loiros e disse com vo( pa$sada, os olhos penetrando nos dela1  2 >e n$nca o$vi$, vosmic0 vai o$vir /alar m$ito em =$ca ?adaró.. 3)$e sabendo )$e Gta desde agora por minha conta. Be+a como secomporta por)$e e$ no so$ homem de d$as conversas.  Largo$ br$scamente o )$ei@o de Margot, volto$2lhe as costas e parti$para a popa do navio, onde os passageiros de terceira se aglomeravam ede onde vinham sons melodiosos de harmnica e violo.

  # l$a agora começava a s$bir para o alto do c4$, $ma l$a enorme e

 vermelha )$e dei@ava na negr$ra do mar $m rastro sang$inolento. #ntónio BEtor encolhe$ mais as pernas compridas, descanso$ o )$ei@osobre os +oelhos. # toada da canço )$e o sertane+o cantava perto dele seperdia na imensido do mar, enchia de sa$dades o coraço de #ntónio BEtor. %ecordava as noites de l$a de s$a cidade(inha, noites em )$e oscandeeiros no eram acesos, nas )$ais ele ia com tantos o$tros rapa(es, ecom tantas moças tamb4m pescar do alto da ponte banhada de l$ar. 3ramnoites de histórias e risadas, a pescaria era apenas prete@to para a)$elasconversas, a)$eles apertos de mo )$ando a l$a se escondia sob $man$vem. Ivone estava sempre perto dele, era $ma menina de )$in(e anos

mas +' estava na /'brica, na aço. 3 era o homem da /amElia,s$stentando a me doente, os )$atro irmos pe)$enos, desde )$e o pai

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abalara $ma noite, ning$4m sabia para onde. -$nca mais dera notEcia,Ivone cai$ na /'brica, /a(ia para todas a)$elas bocas. 3 as conversas naponte eram s$a <nica diverso. Descansava a cabeça de cabelos m$latosno ombro de #ntónio e dava2lhe os l'bios grossos todas as ve(es )$e a l$ase escondia. 3le plantava $ma roça de milho com mais dois irmos nas

imediaçKes da cidade. Mas dei@ava to po$co e tantas eram as notEcias de/arto trabalho e /arto pagamento nas terras do s$l, onde o caca$ dava $mdinheiro, )$e ele $m dia, ig$al ao pai de Ivone, ig$al a se$ irmo mais velho, ig$al a milhares de o$tros, dei@o$ a pe)$ena cidade sergipana,embarco$ em #raca+$, dormi$ d$as noites n$ma penso barata da beirado cais da ?ahia e agora estava na terceira classe de $m navio(inho comdestino a Ilh4$s. $m caboclo alto e magro, de m<sc$los salientes egrandes mos calosas. !em vinte anos e se$ coraço est' cheio desa$dade. ma sensaço )$e antes ele no conhecera invade se$ peito. Bir' da grande l$a cor de sang$e Bir' da melodia triste )$e o sertane+ocanta ;s homens e m$lheres espalhados no tombadilho conversam sobreas esperanças dessas terras do s$l.  2 3$ me boto para !abocas... 2 di( $m homem )$e +' no 4 m$ito moço,de barba rala e cabelo encrespado. 2 Di( )$e 4 $m l$gar de /$t$ro.  2 Mas di( )$e tamb4m )$e 4 $ma brabe(a. J$e 4 $m tal de matar gente )$e De$s me perdoe... 2 /alo$ $m pe)$enininho de vo( ro$ca.  2 =' o$vi contar essa conversa... Mas no acredito nem $m ti)$inho. >e/ala m$ito no m$ndo...

2 >er' o )$e De$s )$iser. . . 2 agora era a vo( de $ma m$lher )$etra(ia a cabeça coberta com $m @ale.  2 3$ vo$ 4 pra &erradas... 2 an$ncio$ $m +ovem. 2 !enho $m irmo por

l', t' bem. !' com o coronel Hor'cio, $m homem de dinheiro. Bo$ carcom ele. =' tem l$gar pra mim trabalhar. Depois volto pra b$scar a Nilda..  2 !$a noiva 2 perg$nto$ a m$lher.  2 Minha m$lher, t' com $ma lhinha de dois anos, o$tro no b$cho.ma linde(a de menina.  2 !$ no volta 4 n$nca... 2 /alo$ $m velho envolto n$ma capa. 2 !$ no volta 4 n$nca, )$e &erradas 4 o c$ do m$ndo. !$ sabe mesmo o )$e 4 )$et$ vai ser nas roçasFo coronel Hor'cio !$ vai ser trabalhador o$ t$ vaiser +ag$nço. Homem )$e no mata no tem valia pro coronel. !$ no volta 4 n$nca.. 2 e o velho c$spi$ com raiva.  #ntónio BEtor o$ve as conversas mas a m<sica )$e vem de o$tro

gr$po, harmónica e violo, o arrasta novamente para a ponte de 3stOnciaonde 4 belo o l$ar e a vida 4 tran)$ila. Ivone sempre lhe pedia )$e no viesse. # roça de milho bastaria para eles dois, para )$e essa Onsia de virb$scar dinheiro n$m l$gar do )$al contavam tanta coisa r$im -as noitesde l$a, )$ando as estrelas enchiam o c4$, tantas e to belas )$eo/$scavam a vista, os p4s dentro da 'g$a do rio, ele plane+ava a vindapara estas terras de Ilh4$s. Homens escreviam, homens )$e haviam idoantes, e contavam )$e o dinheiro era /'cil, )$e era /'cil tamb4mconseg$ir $m pedaço grande de terra e plant'2la com $ma 'rvore )$e sechamava caca$eiro e dava /r$tos cor de o$ro )$e valiam mais )$e opróprio o$ro. # terra estava na /rente dos )$e chegavam e no era aindade ning$4m. >eria de todo a)$ele )$e tivesse coragem de entrar mataadentro, /a(er )$eimadas, plantar caca$, milho e mandioca, comer alg$ns

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anos /arinha e caça, at4 )$e o caca$ começasse a /r$ticar. 3nto era ari)$e(a tanto dinheiro )$e $m homem no podia gastar, casa na cidade,char$tos, botinas rangedeiras. De )$ando em ve( tamb4m a notEcia de)$e $m morrera de $m tiro o$ da mordida de $ma cobra, ap$nhalado nopovoado o$ baleado na tocaia. Mas )$e era a vida diante de tanta

/art$ra -a cidade de #ntónio BEtor a vida era pobre e sempossibilidades. ;s homens via+avam )$ase todos, raros voltavam. Masesses )$e voltavam 2 e voltavam sempre n$ma r'pida visita 2 vinhamirreconhecEveis após os anos de a$s0ncia. Por)$e vinham ricos, deanelKes nos dedos, relógio de o$ro, p4rolas nas gravatas. 3 +ogavam odinheiro /ora, em presentes caros para os parentes, d'divas para asigre+as e para os santos padroeiros, em apadrinhamento das /estas dem de ano1 FBolto$ ricoF, era só o )$e se o$via di(er na cidade. Cadahomem da)$eles )$e chegava e logo partia, por)$e no mais seacost$mava com a pacate( da)$ela vida, era mais $m convite para #ntonio BEtor. >ó Ivone 4 )$e ainda o prendia ali. ;s l'bios dela, o calordos se$s seios, os rogos )$e ela /a(ia com a vo( e com os olhos. Mas $mdia rompe$ com t$do a)$ilo e parti$. Ivone sol$çara na ponte onde sehaviam despedido. ele prometera1  2 3nrico n$m ano, venho lhe b$scar.  #gora a l$a de 3stOncia est' sobre o navio mas no tem a)$ela coramarela com a )$al cobria os namorados na ponte. 3la est' vermelha,tinta de sang$e e $m velho di( )$e ning$4m volta destas terras do caca$.  #ntónio BEtor sente $ma sensaço desconhecida. >er' medo >er'sa$dade 3le mesmo no sabe o )$e se+a. #)$ela l$a recorda2lhe Ivone del'bios s$plicando )$e ele no parta, de olhos cheios de l'grimas na noite

da despedida. -o havia l$a na)$ela noite, no havia ning$4m sobre aponte, pescando. 3stava esc$ro e o rio m$rm$rava embai@o, ela seencosto$ nele, se$ corpo )$ente, se$ rosto molhado de l'grimas.  2 !$ vai mesmo  &ico$ em silencio $m longo min$to, triste.  2 !$ vai e no volta mais.  2 =$ro )$e volto.  3la /e( )$e no com a cabeça, se deito$ depois na margem do rio e ochamo$. #bri$ o corpo para ele como $ma or se abre para o sol. 3dei@o$ )$e ele a poss$Esse, sem di(er $ma palavra, sem soltar $mlamento. J$ando ele termino$, os olhos ainda esb$galhados pelo

imprevisto da o/erta, ela bai@o$ o vestido de chita onde agora o se$sang$e coloria novamente as ores +' desbotadas, cobri$ o rosto com amo e disse com a vo( entrecortada1  2 Boc0 no vai voltar mais, o$tro ia me pegar $m dia )$al)$er. 3melhor ser mesmo com t$. #ssim t$ ca sabendo )$anto e$ gosto de voc0.  2 =$ro )$e volto...  2 !$ no volta mais. . .  3 ele veio apesar do gosto do corpo de Ivone o prender ali, de saber)$e dei@ara nela $m lho. Di(ia para si mesmo )$e ia /a(er dinheiro paraela e para o lho, voltaria com $m ano. # terra era /'cil em Ilh4$s,plantaria $ma roça de caca$, colheria os /r$tos, voltaria por Ivone e pelacriança. ; pai dela no volto$, ning$4m sabia mesmo onde ele estava. m

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 velho est' di(endo )$e ning$4m volta destas terras, nem mesmo os )$etem m$lher e dois lhos. Por )$e essa harmónica no p'ra de tocar, por)$e essa m<sica 4 to triste Por )$e 4 vermelha como sang$e essa l$asobre o mar

  # canço 4 triste como $m press'gio de desgraça. ; vento )$e corresobre o mar a arrasta consigo e a espalha em sons m$sicais )$e parecemno terminar. ma triste(a vem com a m<sica, envolve os homens daterceira, toma conta da m$lher gr'vida )$e aperta o braço de &ilomeno.;s sons da harmónica acompanham a melodia )$e o +ovem canta com$ma vo( /orte. #ntónio BEtor se /echa mais em si mesmo, dentro dele asimagens de 3stOncia )$ieta, de Ivone se entregando sem $m gemido, secon/$ndem com novas imagens de $ma terra ainda incon)$istada, debar$lhos com tiros e mortes, dinheiro, maços de notas. m homem )$e vai so(inho e no /ala com ning$4m, atravessa os gr$pos, vem sedebr$çar na am$rada. # l$a dei@a $m rastro vermelho sobre o mar, acanço rasga coraçKes.

0Meu amor1 eu #ou2me emora"u!ca mais eu #ou #oltar.3

  ;$tras terras cam distantes, visKes de o$tros mares e de o$traspraias o$ de $m agreste serto batido pela seca, o$tros homens caram,m$itos dos )$e vo no pe)$eno navio dei@aram $m amor. #lg$ns vieram

por esse mesmo amor, b$scar com )$e con)$istar a bem2amada, b$scar oo$ro )$e compra a /elicidade. 3sse o$ro )$e nasce nas terras de Ilh4$s,da 'rvore do caca$. ma canço di( )$e +amais voltaro, )$e nessasterras a morte os espera atr's de cada 'rvore. 3 a l$a 4 vermelha comosang$e, o navio balança sobre as 'g$as tran)$ilas.  ; velhote veste capa e tra( as pernas n$as, os p4s descalços. !em osolhos d$ros, pita $ma ponta de cigarro de palha. #lg$4m lhe pede /ogo, o velho p$@a $ma ba/orada para avivar a brasa do cigarro.  2 ;brigado, me$ tio.  2 -o por isso...  2 Parece )$e vai cair temporal...

  2 3 tempo de vento s$l. . . !em ve( )$e 4 $ma disgrama, no temembarcaço )$e arrisista...  # m$lher se envolve$1  2 !emporal tem 4 no Cear'... Parece $m m de m$ndo. . .  2 =' o$vi /alar 2 disse o velho. 2 Di( )$e 4 mesmo.  >e +$ntaram a $m gr$po )$e conversava em torno de homens )$e +ogam baralho. # m$lher )$er saber.  2 Bosmec0 4 de Ilh4$s  2 !o$ em !abocas vai /a(er cinco anos. >o$ do serto...  2 3 )$e veio /a(er pra essas bandas com essa idade

  2 -o v0 )$e primeiro veio me$ lho =oa)$im... >e de$ bem, /e( $marocinha, a velha morre$, ele mando$ me b$scar...

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  &ico$ calado, agora parecia prestar m$ito atenço A m<sica )$e o vento levava para os lados da cidade escondida na noite. ;s o$trosestavam esperando. Mas só o r$mor das conversas na primeira classe e atoada )$e o negro cantava )$ebravam o silencio.

0"u!ca mais eu #ou #oltar."essas terras #ou morrer.3

  # vo( cantava e os homens se encolhiam com /rio. ; vento passavar'pido, vinha do sol e era violento. ; navio +ogava sobre as ondas m$itosda)$eles homens n$nca tinham entrado n$m navio. !inham atravessadoas 'speras catingas do serto n$m trem )$e arrastava vagKes e vagKes deimigrantes. ; velho olhava2os com se$s olhos d$ros.  2 !o vendo essa modinha F-essas terras vo$ morrerF. !' aE $macoisa verdadeira... J$em vai pra essas terras n$nca mais volta. . . !em$ma coisa )$e parece /eitiço, 4 /eito visgo de +aca. >eg$ra a gente...  2 !em dinheiro /'cil, no 4 2 o +ovem se atiro$ para a /rente de olhosacesos.  2 Dinheiro. . . !' aE o )$e prende a gente. # gente chega, /a( alg$mdinheiro, )$e dinheiro h' mesmo, De$s se+a servido. Mas 4 dinheirodesgraçado, $m dinheiro )$e parece )$e tem maldiço. -o d$ra na mode ning$4m, a gente /a( $ma roça..  # m<sica vinha em s$rdina, os +ogadores haviam parado a FrondaF. ; velho to$ o +ovem bem dentro dos olhos, depois relanceo$ a vista pelosdemais homens e m$lheres )$e estavam presos As s$as palavras1  2 =' o$viram /alar em Qca@i@eF

  2 Di( )$e 4 $m negócio de do$tor )$e toma a terra do o$tros..  2 Bem $m advogado com $m coronel, /a( ca@i@e, a gente nem sabeonde vai parar os p4s de caca$ )$e a gente planto$. .  3spio$ em volta novamente, mostro$ as grandes mos calosas1  2 !o vendo Plantei m$ito caca$eiro com essas mos )$e to a)$i...3$ e =oa)$im enchemos mata e mata de caca$, plantamos mais )$emesmo $m bando de +$par' )$e 4 bicho )$e planta caca$... J$eadianto$ R perg$ntava a todos, aos +ogadores, A m$lher gr'vida, ao +ovem.  &ico$ novamente o$vindo a m<sica, to$ longamente a l$a1  2 Di( )$e a l$a )$ando t' assim cor de sang$e )$e 4 desgraça na

estrada nessa noite. !ava assim )$ando mataram =oa)$im. -o tinhampor )$e, mataram só de malvade(.  2 Por )$e mataram ele 2 perg$nto$ a m$lher.  2 ; coronel Hor'cio /e( $m ca@i@e mais Dr. %$i, tomaram a roça )$enós havia plantado. J$e a terra era dele, )$e =oa)$im no era dono. Beiocom os +ag$nços mais $ma certido do cartório. ?oto$ a gente pra /ora,caram at4 com o caca$ )$e +' tava secando, prontinho pra vender. =oa)$im era bom no trabalho, no tinha mesmo medo do pesado. &ico$acabado com a tomada da roça, de$ de beber. 3 $ma ve(, +' bebido, disse)$e ia se vingar, ia li)$idar com o coronel. !ava $m cabra do coronel por

perto, o$vi$, /oi contar. Mandaram tocaiar =oa)$im, mataram ele na o$tranoite, )$ando vinha pra &erradas. .

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  ; velho silencio$, os homens no perg$ntaram mais nada. ;s +ogadores voltaram ao se$ +ogo, o )$e estava com o baralho boto$ d$ascartas no cho, os o$tros apostaram. # m<sica morria aos po$cos nanoite. ; vento a$mentava de min$to a min$to. ; velho volto$ a /alar1  2 =oa)$im era $m homem de pa(, ele no ia matar ning$4m. ; coronel

Hor'cio bem sabia, os cabras tamb4m sabia. 3le disse a)$ilo por)$e tavab0bedo, no ia matar ning$4m. 3ra $m homem do trabalho, )$eria eraganhar com )$e viver... >enti$ )$e tomassem a roça, isso senti$. Mas só/alo$ por)$e tinha bebido.. -o era homem pra matar.. Li)$idaram elepelas costas...  2 &oram presos  ; velho olho$ com raiva1  2 -a mesma noite )$e mataram ele, tavam bebendo n$ma venda,contando como o caso tinha se dado..  &e(2se silencio no gr$po, só $m +ogador /alo$1   2 >ete...  Mas o .o$tro nem recolhe$ o dinheiro, absorto na g$ra do velho )$eagora estava dobrado e parecia es)$ecido do m$ndo, so(inho na s$adesgraça. # m$lher gr'vida perg$nto$ bai@inho1  2 3 vosmec0  2 Me tocaram pra ?ahia, )$e e$ no podia car mais l'... Mas agorato$ voltando...  ; velho se altero$ de s<bito, se$s olhos ad)$iriram novamente a)$elebrilho d$ro )$e haviam perdido no m da s$a narraço, /alo$ com vo(decidida1  2 #gora vo$ pra no voltar mais. . . ning$4m agora vai me botar pra

/ora. . . o destino )$e /a( a gente, dona. . . -ing$4m nasce r$im o$ bom,o destino 4 )$e entorta a gente..  2 Mas... 2 e a m$lher calo$.  2 Pode /alar sem s$sto.  2 Como 4 )$e vosmec0 vai viver... =' no t' em idade de pegar nopesado...  2 J$ando a gente tem $ma tenço, dona, a gente sempre se arran+a...3 e$ tenho $ma tenço... Me$ lho era $m homem bom, ele no ia mataro coronel. 3$ tamb4m n$nca s$+ei essas mos 2 mostrava as mos calosasdo trabalho na terra 2 com sang$e. Mas mataram me$ lho...  2 Bosmec0 2 /e( a m$lher com espanto.

  ; velho viro$ as costas e sai$ devagar.  2 Mata mesmo... 2 comento$ $m homem magro.  # m<sica cresce$ mais $ma ve( dentro da noite, a l$a s$biarapidamente para o c4$. ; )$e estava com o baralho balanço$ a cabeçaapoiando o coment'rio do homem magro, volto$ a dar cartas. # m$lhergr'vida aperto$ o braço de &ilomeno, /alo$ bai@inho1  2 !o$ com medo. . .  # harmónica cesso$ s$a m<sica. ; l$ar se derramava em sang$e.

4

  =os4 da %ibeira dominava o$tro gr$po. Contava casos da terra do

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caca$, histórias e mais histórias. C$spia a todo momento, estava /eli( empoder /alar, di(er para a)$ela gente o )$e sabia. ;$viam2no atentamente,como se o$ve a $ma pessoa )$e tem o )$e ensinar.  2 J$ase )$e e$ no vinha 2 di( $ma m$lher bai@a )$e amamenta $macriança 2 por)$e me contaram )$e dava $ma /ebre por essas boas das )$e

mata at4 macaco.  =os4 ri$, os o$tros se voltaram para ele. ele tomo$ $ma vo( deconhecedor1  2 -o contaram mentira, no, si' dona. =' vi tanto homem cair comessa /ebre, homem /orte )$e nem cavalo. Com tr0s noites de /ebre, /orçado homem era $m dia.  2 -o 4 a tal da be@iga  2 ?e@iga tem m$ito tamb4m, mas no 4 dela )$e to$ /alando. !embe@iga de toda esp4cie, mas a )$e tem mais 4 a negra )$e 4 a pior detodas. -$nca vi macho escapar da be@iga negra. Mas no 4 dela )$e to$/alando. !o$ /alando 4 da /ebre, ning$4m sabe )$e /ebre 4, )$e nome adesgraçada tem. Bem sem o c$+o esperar, li)$ida ele n$m /echar de olhos.  2 !Gescon+$ro... 2 /e( o$tra m$lher.  =os4 c$spi$, relembro$1  2 #parece$ $m do$tor, tinha tirado diploma de m4dico, era mocinho,nem barba poss$Ea ainda, $ma linde(a de rapa(. Di( )$e ia acabar com a/ebre l' em &erradas. # /ebre acabo$ antes com ele, acabo$ toda alinde(a* /oi o de/$nto mais /eio )$e e$ +' vi. Mais /eio mesmo )$e o nadoaranga$ )$e mataram nos Macacos a /aca e cortaram todo earrancaram os olhos, a lEng$a e a pele do peito.  2 Pra )$e (eram isso com o pobre(inho R perg$nto$ a m$lher )$e

amamentava.  2 Pobre(inho 2 =os4 da %ibeira ri$ e s$a risada era para dentro,parecia )$e ele estava se divertindo enormemente 2 Pobre(inho >e +'aparece$ +ag$nço r$im pelas bandas do s$l /oi Bicente aranga$. -$mdia só ele li)$ido$ sete homens de =$parana... Cabra malvado como De$sno /e( dois...  ; gr$po estava impressionado mas $m cearense troço$1  2 >ete 4 a conta do mentiroso, se$ =os4.  =os4 ri$ de novo, pito$ se$ cigarro, no se aborrece$1  2 !$ 4 criança, )$e 4 )$e t$ +' vi$ nessa vida !$ me v0 a)$i, to$ commais de cin)$enta no costado, +' andei m$ita terra, tenho de( anos dentro

dessas matas. =' /$i soldado do e@4rcito, +' vi m$ita desgraça. Mas notem nada no m$ndo )$e cheg$e perto das desgraceiras da)$i. !$ +' vi$/alar em tocaia  2 =', sim 2 grito$ o$tro homem. 2 Di( )$e $m ca esperando o o$troatr's de $m pa$ para atirar no desin/eli(.  2 Pois olhe. !em homem de alma to danada )$e se posta na tocaia eaposta de( mil2r4is mais o amigo pra ver de )$e lado o nado vai cair. 3 oprimeiro )$e vem na estrada recebe ch$mbo )$e 4 pra aposta se decidir.!$ +' o$vi$ /alar disso  ; cearense estremece, $ma das m$lheres no )$er acreditar1  2 >ó pra ganhar $ma aposta  =os4 da %ibeira cospe, e@plica1  2 !o$ a)$i, +' corri m$ito m$ndo, /$i soldado, vi coisa de arrepiar.

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Como por essas bandas n$nca vi nada... terra de homem macho, mastamb4m dinheiro 4 cama de gato. >e o c$+o 4 bom no gatilho passa vidaregalada...  2 3 vosmec0 o )$e 4 )$e /a( por l'  2 &$i pra l' de sargento da polEcia, p$s $ma rocinha )$e 4 bem melhor

)$e as dragonas, to$ vivendo dela. Bim na ?ahia agora are+ar, comprar$mas coisas )$e tava precisando.  2 3 t' voltando de terceira, tio 2 chas)$eo$ o cearense.  3le ri$ novamente se$ riso para dentro, con/esso$1  2 #s brancas comeram o dinheiro todo, me$ lho. Dentro da)$elamata, onça 4 )$e 4 m$lher da gente... De modo )$e )$ando o c$+o v0 $mrabo branco, na capital, ca de miolo virado... &i)$ei mais limpo )$epedra de rio. . .  Mas ning$4m comento$ por)$e agora $m homem bai@o de reben)$ena mo e chap4$ Chile, estava parado diante deles. =os4 se volto$,c$mprimento$ h$mildemente1  2 Como vai vosmec0, se$ =$ca  2 Como vai, N4 da %ibeira Como vai t$a roça  2 !o$ /ora, vai /a(er trinta dias. . 3ste ano vo$ derr$bar mais mata,assim De$s me a+$de...  =$ca ?adaró assenti$ com a cabeça, olho$ o gr$po1  2 Boc0 conhece essa gente, N4 da %ibeira  2 !o$ conhecendo agora, se$ =$ca. Por )$e, se mal lhe perg$nto  =$ca em ve( de responder ando$ mais para o meio dos homens,perg$nto$ a $m deles1  2 Boc0 de onde vem

  2 Do Cear', patro. Do Crato...  2 3ra tropeiro  2 -o, sinh. . . !inha $ma plantaço(inha. . . 2 e sem esperar aperg$nta1 2 # seca acabo$ com ela.  2 !em /amElia o$ 4 so(inho  2 !enho m$lher e $m lho pra nascer...  2 J$er trabalhar pra mim  2 Inh, sim.  3 assim =$ca ?adaró /oi contratando gente, o +ogador )$e dava cartas,$m dos se$s parceiros, o cearense, o +ovem #ntónio BEtor )$e olhava oc4$ de mil estrelas. M$itos homens se o/ereceram e =$ca ?adaró os

rec$so$. 3le tinha $ma grande e@periencia dos homens e sabia conhecer/acilmente a)$eles )$e serviriam para as s$as /a(endas, para a con)$istada mata, para o trabalho da terra e pra garantir a terra c$ltivada.

5

  ; Capito =oo Magalhes mando$ descer vinho port$g$0s. 2 ;cai@eiro2via+ante aceito$2; coronel disse )$e no, ; +ogo do navio atacavase$ estmago1  2 !' $m vento brabo. . . >e e$ tomar vinho boto os b$rrinhos nG'g$a...

  2 Cerve+a, ento m conha)$e  ; coronel no )$eria nada. =oo Magalhes contava grande(as, s$a

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 vida no %io, capito do e@4rcito mas tamb4m homem de negócios e rico.  2 >o$ propriet'rio de m$itas casas... De apólices tamb4m...  %apidamente estava inventando a história de $ma herança recebida de$ma tia milion'ria e sem lhos. &alava em polEticos eminentes da 4poca,se$s amigos 2 di(ia 2, gente )$e ele t$teava, com )$em bebia e +ogava.

Dei@ara o e@4rcito, se re/ormara, agora andava via+ando o se$ paEs.3stava vindo desde o %io rande do >$l, pretendia ir at4 o #ma(onas #ntes de via+ar no estrangeiro )$eria conhecer bem o ?rasil, no eracomo essa gente )$e pega $m dinheirinho, vai logo gastar com as/rancesas em Paris... ; coronel aprovava, achava m$ito patriótico e )$issaber se era verdade )$e as Ftais /rancesasF )$e e@istiam no %io, se elas/a(iam mesmo Ft$doF o$ se isso era conversa de gente descarada. Por)$e +' tinham dito a ele )$e no %io havia $ma esp4cie de m$lheres assim. . =oo Magalhes conrmo$ e se alongo$ em detalhes escabrosos, apoiadopelo cai@eiro2via+ante )$e tamb4m )$eria mostrar conhecimentos 9+'estivera no %io $ma ve( e essa viagem era o /ato mais importante da s$a vida:. ; coronel se deliciava com os detalhes.  2 ; )$e 4 )$e me conta, Capito Mas isso 4 $ma porcaria. .  ; Capito =oo Magalhes ento carregava nas tintas. Mas no sedemoro$ m$ito nessas descriçKes, volto$ a /alar na s$a /ort$na, nas s$asboas relaçKes. ; coronel no precisava de nada no %io. De alg$mempenho +$nto a alg$m polEtico importante >e precisasse era só di(er.3le estava ali para servir aos amigos e, se bem tivesse conhecido ocoronel /a(ia po$co, tinha simpati(ado imensamente com ele, seria /eli(de servi2lo. ; coronel no precisava de nada no %io mas co$ m$itoagradecido e como Maneca Dantas ia passando, pesado e gord$cho, a

camisa s$ada e as mos pega+osas, ele o chamo$ e /e( as apresentaçKes1  2 #)$i 4 o coronel Maneca Dantas, /a(endeiro /orte l' da (ona...Dinheiro em casa dele 4 mesmo )$e mato...  =oo Magalhes se levantava, m$ito gentil1  2 Capito =oo Magalhes, engenheiro militar para o servir. Dobrava ocanto de $m dos cartKes, entregava ao coronel Maneca. Depois o/erece$$ma cadeira, /e( )$e no o$vi$ o coment'rio do cai@eiro2via+ante para ocoronel &erreirinha1  2 Moço distinto...  2 De ed$caço...  ; coronel Maneca aceitava vinho. 3n+oo no ia com ele1

  2 !o$ a)$i 4 como se tivesse em minha cama l' na #$ricEdia. #$ricEdia4 o nome l' de minha rocinha, Capito. >e )$iser passar $ns dias l'comendo carne seca...  &erreirinha ri$ escandalosamente1  2 Carne seca... Capito, na #$ricEdia, almoço 4 ban)$ete, +antar 4 /estade bati(ado. Dona #$ricEdia tem $mas negras na co(inha )$e tem mo dean+o... 2 e o coronel &erreirinha passava a lEng$a nos l'bios g$losamente,como se estivesse vendo os pratos. 2 &a(em $m sarapatel )$e 4 dedei@ar $m cristo vendo o paraEso...  Maneca Dantas sorria, inchado, com os elogios A s$a co(inha. 3e@plicava1  2 o )$e se leva da m$ndo, Capito. # gente vive n$mas brenhasdanadas, derr$bando mata pra plantar caca$, lab$tando com cada

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 +ag$nço desgraçado, escapando de mordida de cobra e de tiro de tocaia,se a gente no comer bem, o )$e 4 )$e vai /a(er L' no tem esses l$@osda cidade, teatro, penso de m$lher, cabar4, nada disso. trabalho dia enoite, derr$bar mata e plantar roça...  &erreirinha apoiava1

  2 ; trabalho 4 d$ro, sim.  2 Mas tamb4m o dinheiro 4 de /art$ra. . . 2 atalho$ o cai@eiro2via+antelimpando os l'bios s$+as de vinho.  Maneca Dantas sorri$ de novo1  2 J$e isso 4 verdade, 4 mesmo. # terra 4 boa, Capito, paga a pena. D'm$ito caca$ e a lavo$ra 4 boa, dei@a bom l$cro. Disso a gente no podese )$ei@ar. D' sempre para se poder o/erecer $m almoço aos amigos...  2 Bo$ almoçar l' no dia 5S 22 aviso$ o via+ante. J$ando e$ passar parao >e)$eiro rande vo$ pernoitar l'.  2 #s ordens... 2 /e( Maneca. 2 3 o senhor tamb4m aparece, Capito  =oo Magalhes disse )$e sim, era bem possEvel. Pensava se demorarna (ona alg$m tempo, ia mesmo ver se valia a pena empregar alg$mdinheiro em terra, em roças de caca$. Desde o %io )$e vinham lhe/alando desta (ona, da dinheirama )$e havia por l'. 3stava tentado aempregar $ma parte do se$ capital em /a(endas de caca$. verdade )$eele tamb4m no podia se )$ei@ar, tinha a maior parte do se$ dinheiro empr4dios no %io e davam boa renda. Mas restava2lhe alg$m no banco,$mas de(enas de contos e m$ita apólice da dEvida p<blica. >e valesse apena...  Maneca Dantas /alo$ s4rio, aconselhando1  2 Pois vale, se$ Capito. Bale a pena.. . Caca$ 4 $ma lavo$ra nova mas

a terra da)$i 4 a melhor do m$ndo para caca$. =' veio m$ito do$tor pora)$i est$dar e isso 4 coisa assentada. -o h' terra melhor pro caca$. 3 alavo$ra 4 o )$e h' de bom, e$ no troco por ca/4 nem por cana de aç<car.>ó )$e a gente ainda 4 $m bocado braba mas isso no h' de meter medoa $m homem como o senhor. >e$ Capito, e$ lhe digo1 dentro de vinteanos Ilh4$s 4 $ma grande cidade, $ma capital e todos esses povoados deho+e vo ser cidades enormes. Caca$ 4 o$ro, se$ Capito.  # conversa /oi assim se prolongando, /alaram da viagem, =ooMagalhes /alo$ de o$tras paisagens, viagens de trem, de naviosenormes, se$ prestEgio crescia de momento para momento. # roda /oia$mentando tamb4m, contavam histórias, o vinho corria. =oo Magalhes

/oi cond$(indo a conversa s$btilmente para o terreno dos +ogos,acabaram por /a(er $ma mesinha de p)$er. ; coronel !otonho, dono do%iacho >eco, aderi$, e o cai@eiro2via+ante desisti$ por)$e o caci/e eram$ito alto e o FhandF tamb4m. &icaram os tr0s coron4is e mais =oo, oso$tros per$ando. Maneca Dantas tiro$ o paletó1  2 -o sei +ogar isso. . .  &erreirinha estr$gi$ de novo na s$a gargalhada1  2 -o v' atr's disso, Capito. . . ; Maneca 4 $m mestre no p)$er...-o h' parceiro )$e se ag$ente com ele.  #gora Maneca botava o revólver no bolso de dentro do paletó para )$eno casse A vista no cinto, e =oo Magalhes cogitava se valia a penaperder nesse primeiro +ogo, no mostrar de ve( as s$as )$alidades.  ; rapa( do bar tro$@e $m baralho, Maneca perg$nto$1

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  2 C$ringado  2 Como )$eiram 2 responde$ =oo Magalhes.  2 P)$er C$ringado no 4 p)$er 2 /alo$ !otonho e era a primeira ve()$e ele /alava. 2 -o bote o c$ringa, por /avor.  2 !' /eita a s$a vontade, compadre 2 e Maneca +ogo$ o c$ringa no meio

das cartas in<teis.  &erreirinha /oi o caci/eiro, cada $m compro$ )$inhentos mil2r4is decha. =oo Magalhes est$dava !otonho do %iacho >eco )$e tinha $molho va(ado e n$ma das mos apenas tr0s dedos. 3ra sombrio e calado.Co$be a ele dar cartas. =oo tinha resolvido no /a(er patota no +ogo, +ogar lealmente, at4 /a(er besteira se /osse possEvel, perder alg$ma coisa. #ssim ganhava os parceiros para o$tras partidas )$e p$dessem renderbastante mais.

!inha $m par de rei na mo, /oi ao +ogo. Maneca Dantas chamo$ commais de(asseis, &erreirinha /$gi$. !otonho pago$, =oo completo$.&erreirinha de$ cartas, Maneca pedi$ d$as. !otonho pedi$ $ma.  2 !odas as tr0s... 2 pedi$ =oo.  !otonho de$ mesa, Maneca aposto$, ning$4m /oi ver. Maneca arrasto$a mesa, no se conteve, mostro$ o ble/e1  2 !rinca Pirangi. . .  3stava com $m valete, $m rei e $ma dama, tinha pedido d$as cartaspara se)$0ncia. =oo Magalhes ri$, bate$ palmadinhas nas costas deManeca1  2 M$ito bem, coronel, bem passado esse...  !otonho olho$ com $m olhar torvo, no comento$. =oo  Magalhes perde$ todo o respeito pelos parceiros. Decididamente ia

enri)$ecer nessas terras do caca$.6

  ; cai@eiro2via+ante se canso$ de per$ar o +ogo, s$bi$ para otombadilho. ; l$ar cobria Margot )$e cismava debr$çada na am$rada. ;mar era de $m verde esc$ro, h' m$ito )$e as <ltimas l$(es da cidadehaviam desaparecido. ; navio +ogava m$ito, )$ase todos os passageirosse haviam recolhido aos camarotes o$ estavam estirados em cadeiras delona, o corpo coberto com grossos cobertores. -a terceira a harmónica voltara a tocar $ma lOng$ida m<sica e a l$a, agora, estava no meio do

c4$. m /rio cortante vinha do mar, tra(ido pelo vento s$l )$e /a(ia voaras cabelos longos de Margot. 3la arrancara os grampos e a loira cabeleiraao vento $t$ava no ar. ; cai@eiro2via+ante assobio$ bai@inho )$ando a vi$ só e /oi se apro@imando de manso. -o levava nenh$m plano traçado,$ma vaga esperança no coraço apenas1  2 ?oa noite...  Margot se volto$, seg$ro$ os cabelos com a mo1  2 ?oa noite...  2 !omando /resco  2 ...

  -ovamente olhava o mar onde as estrelas se reetiam. Cobri$ acabeça com $m lenço, amarrando os cabelos, a/asto$ o corpo para )$e o

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 via+ante p$desse se encostar tamb4m na am$rada. &icaram em silencio$m longo min$to. Margot parecia no v02lo, distante na contemplaço domist4rio do mar e do mist4rio do c4$. &oi ele )$em /alo$ por m1  2 Bai para Ilh4$s  2 Bo$, sim.

  2 Bai para car  2 >ei l'... >e me der bem. ..  2 !$ estavas na penso de LEsia, no estavas  2 H$m... H$m.. 2 e balanço$ a cabeça.  2 3$ te vi l', no s'bado. Por sinal )$e estavas com o do$tor. . .  2 =' sei... 2 atalho$ ela e volto$ a espiar o mar como se no )$isessecontin$ar a conversa.  2 Ilh4$s 4 terra de m$ito dinheiro... ma bichinha assim to lindacomo voc0 4 capa( de botar roça por l'... -o h' de /altar coronel )$eentre com as massas.  3la desvio$ os olhos do mar, to$ o via+ante. Parecia pensar, como seestivesse em d<vidas se devia /alar o$ no. Mas volto$ a olhar o mar semdi(er nada. ; via+ante contin$o$1  2 =$ca ?adaró te seg$ro$ indagora... !oma c$idado...  2 J$em 4 ele  2 3 $m dos homens ricos da terra... 3 valente tamb4m... &alam por l')$e os trabalhadores dele tem pintado o diabo. Invadem terra dos o$tros,matam, /a(em e acontecem. o dono do >e)$eiro rande.  Margot estava interessada, ele completo$1  2 Di(em )$e toda a /amElia 4 valente, homens e m$lheres. J$e at4 asm$lheres tem mortes /eitas. J$er $m conselho -o se meta com ele.

  Margot estiro$ o beiço n$m gesto de despre(o1  2 3 )$em lhe disse )$e e$ tenho interesse nele 3le 4 )$e t' mecercando )$e nem galo velho com /ranga nova. . . -o )$ero nada comele, no vo$ atr's de dinheiro...  ; cai@eiro2via+ante sorri$ como )$em no acreditava, ela de$ deombros como se po$co lhe importasse a opinio dele.  2 Contam por l' )$e a m$lher de =$ca +' mando$ raspar a cabeça de$ma rapariga )$e estava amigada com ele...  2 Mas )$em mete$ na s$a cabeça )$e e$ esto$ com interesse nele 3lepode ter as m$lheres )$e )$iser, no tem essa a)$i. . . 2 batia a mo nopeito.

  Mais $ma ve( co$ como )$e d$vidando de /alar o$ no, se resolve$1  2 !$ no me vi$ no s'bado dançando com BirgElio Pois ele est' emIlh4$s, e$ vo$ ver 4 ele.  2 verdade... 3stava me es)$ecendo... 3le est' por l', sim. #dvogando... %apa( de /$t$ro, hein Di(em )$e /oi o coronel Hor'cio)$em mando$ b$scar para ele dirigir o partido. . . 2balanço$ a cabeça,convencido. 2 >e 4 assim no digo nada. >ó )$e aconselho1 c$idado com =$ca?adaró...  >e a/asto$, no valia a pena a conversa, rapariga apai@onada 4 pior)$e moça don(ela. Como =$ca ?adaró iria se arran+ar Margotdesamarrava o lenço, dei@ava )$e o vento (esse voar os se$s cabelos.

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$7

  ma sombra desli(a pela escada, antes de por o p4 na primeira classeespia se no h' movimento. #+eita o cabelo, o lenço amarrado no pescoço. #s mos ainda esto inchadas dos bolos )$e tomo$ da polEcia. -o dedo

ainda no entra o anelo /also. ; s$bdelegado disse )$e nem )$e tivessede )$ebrar a)$elas mos, elas no voltariam a se meter nos bolsosalheios. &ernando escala o <ltimo degra$, toma o lado contr'rio da)$eleonde Margot se encontra. Como vem $m marinheiro, se encosta naam$rada, parece $m passageiro de primeira vendo a noite. >ai devagar,deita2se +$nto A cadeira de lona onde o homem ronca. >$as mos s$tisdesli(am sob o cobertor, sob o paletó, tocam no revólver de aço /rio, tiramdo bolso da calça a carteira recheada. ; homem nem se move$.  %etorna para a terceira. #tira a carteira ao mar, g$arda o dinheiro nobolso. #gora anda de cócoras entre os gr$pos da terceira )$e dormem,proc$ra alg$4m. -$m canto, deitado de br$ços como se dormisse sobre aterra ressona o velho )$e volta para vingar a morte do lho. &ernandotira de entre as notas $mas )$antas, coloca2as, com toda a s$tile(a de )$eso capa(es as s$as mos, no bolso do velho. Depois esconde as notas )$elhe restaram no /orro do paletó, s$spende a gola e vai se deitar no cantomais distante, onde #ntónio BEtor se imagina em 3stOncia tendo +$nto a sio calor de Ivone.

$$

  # madr$gada 4 /ria, os passageiros se encolhem sob os cobertores.

Margot o$ve a conversa )$e vem de longe12 >e o caca$ der )$ator(e mil2r4is esse ano levo a /amElia ao %io...  2 !o$ com vontade de /a(er $ma casa em Ilh4$s...  ;s homens se apro@imavam conversando1  2 &oi $m caso /eio. Mandaram matar Ne)$inha pelas costas...  2 Mas, dessa ve( vai haver processo, e$ lhe garanto.  2 B' esperando. . .  Pararam diante de Margot, caram a espi'2la sem a menor cerimónia. ;bai@inho sorria sob $m bigode enorme )$e alisava a cada momento1  2 #ssim voc0 se res/ria, menina...  Margot no responde$. ; o$tro perg$nto$1

  2 ;nde 4 )$e voc0 vai po$sar em Ilh4$s 3m casa de Machado  2 J$e lhe importa  2 -o se+a org$lhosa, menina. -o 4 da gente mesmo )$e voc0 vai viver ;lha a)$i, o compadre Mo$ra bem )$e pode te montar $ma casa.  ; bai@o ri$ rep$@ando os bigodes1  2 3 monto mesmo, bele(inha. só di(er sim...  =$ca ?adaró veio chegando1  2 Com licença. .  ;s dois se a/astaram ligeiramente.  2 ?oa noite, =$ca.

  =$ca c$mprimento$ com a cabeça, se dirigi$ a Margot1  2 !' na hora de ir dormir, dona. melhor dormir )$e estar a)$i dando

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prosa a todo m$ndo...  ;lho$ acintosamente para os dois, eles /oram se a/astando. Margotco$ só com ele1  2 J$em lhe de$ direito a se meter na minha vida  2 3spie, dona. 3$ vo$ descer, vo$ ver se minha m$lher t' bem no

camarote. Mas volto +' e se encontrar vosmec0 ainda a)$i vai haverbar$lho. M$lher minha me obedece... 2 e sai$.  Margot repeti$ com asco1 Fm$lher minhaF e /oi andando devagar parao camarote. #inda o$vi$ o bai@inho, de bigodes, di(er )$ando elapassava1  2 3sse =$ca ?adaró est' merecendo $ma liço bem dada.

3nto se senti$ como se /osse m$lher de =$ca e perg$nto$1  2 3 por )$e voc0 no d'

$%

  >obre o navio )$e corta a noite do mar se estende $m sil0ncio cala ve(maior. =' no soavam as harmónicas e os violKes na terceira classe.-enh$ma vo( cantava +' triste(as de amor, lamentos de sa$dade. Margotse havia recolhido, ning$4m mais cismava na am$rada do navio. #spalavras dos +ogadores de p)$er no chegavam at4 o mar. ?anhado pelal$( vermelha de $ma l$a de press'gios, o navio cortava as 'g$as, cobertoagora pelo silencio. m sono povoado de sonhos de esperanças enchia anoite de bordo.  ; comandante desce$ da s$a torre do comando, vinha com o imediato. #travessaram toda a primeira classe, os gr$pos )$e dormiam nas

espreg$içadeiras, cobertos com cobertores de l. Por ve(es alg$4mm$rm$rava $ma palavra no sonho e estava sonhando com as roças decaca$ carregadas de /r$tos. ; comandante e o imediato desceram pelaestreita escada e atravessaram por entre os homens e m$lheres )$edormiam na terceira, $ns sobre os o$tros, apertados pelo /rio. ;comandante ia calado, o imediato assobiava $ma m<sica pop$lar. #ntónio BEtor dormia com $m sorriso nos l'bios, sonhava talve( com $ma /ort$nacon)$istada sem es/orço nas terras de Ilh4$s, com s$a volta a 3stOncia,em b$sca de Ivone. >orria /eli(.  ; comandante paro$, olho$ o m$lato )$e sonhava. Biro$2se para oimediato1

  2 !' rindo, v0 Bai rir menos )$ando estiver na mata. . .3mp$rro$ com o p4 a cabeça de #ntónio BEtor, m$rm$ro$1

  2 Me do pena...  Chegaram +$nto A am$rada, na popa do navio. #s ondas s$biamrevoltas, o l$ar era vermelho de sang$e. &icaram calados, o imediatoacendendo se$ cachimbo. Por m o comandante /alo$1  2 Por ve(es me sinto como o comandante de $m da)$eles naviosnegreiros do tempo da escravido...  Como o imediato no respondesse, ele e@plico$1  2 Da)$eles )$e em ve( de mercadorias tra(iam negros pra serem

escravos..  #ponto$ os homens dormidos na terceira. #ntónio BEtor )$e ainda

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sorria1  2 J$e di/erença h'  ; imediato levanto$ os ombros, p$@o$ $ma ba/orada do cachimbo, noresponde$. ;lhava o mar, a noite imensa. o c4$ de estrelas.

 A Mata

1

  # mata dormia o se$ sono +amais interrompido. >obre ela passavam osdias e as noites, brilhava o sol do vero, caEam as ch$vas do inverno. ;stroncos eram centen'rios, $m eterno verde se s$cedia pelo monte a/ora,invadindo a planEcie, se perdendo no innito. 3ra como $m mar n$ncae@plorado, cerrado no se$ mist4rio. # mata era como $ma virgem c$+acarne n$nca tivesse sentido a chama do dese+o. 3 como $ma virgem eralinda, radiosa e moça apesar das 'rvores centen'rias. Misteriosa como acarne de m$lher ainda no poss$Eda. 3 agora era dese+ada tamb4m.  Da mata vinham trinados de p'ssaros nas madr$gadas de sol. Boavamsobre as 'rvores as andorinhas de vero. 3 os bandos de macacoscorriam n$ma doida corrida de galho em galho, morro abai@o, morroacima. Piavam os cor$+Kes para a l$a amarela nas noites calmas. 3 se$sgritos no eram ainda an$nciadores de desgraças +' )$e os homens aindano haviam chegado ' mata. Cobras de in<meras esp4cies desli(avamentre as /olhas secas, sem /a(er r$Edo, onças miavam se$ espantosomiado nas noites de cio.  # mata dormia. #s grandes 'rvores sec$lares, os cipós )$e se

emaranhavam, a lama e os espinhos de/endiam o se$ sono.  Da mata, do se$ mist4rio, vinha o medo para o coraço dos homens.J$ando eles chegaram, n$ma tarde, atrav4s dos atoleiros e dos rios,abrindo picadas, e se de/rontaram com a oresta virgem, caramparalisados pelo medo. # noite vinha chegando e tra(ia n$vens negrascom ela, ch$vas pesadas de +$nho. Pela primeira ve( o grito dos cor$+Kes/oi, nesta noite, $m grito ago$reiro de desgraça. %essoo$ com vo(estranha pela mata, acordo$ os animais, silvaram as cobras, miaram asonças nos se$s ninhos escondidos, morreram andorinhas nos galhos, osmacacos /$giram. 3, com a tempestade )$e desabo$, as assombraçKesdespertaram na mata. 3m verdade teriam elas chegado com os homens,

na rabada da s$a comitiva, +$nto com os machadas e as /oices, o$ +'estariam elas habitando na mata desde o inEcio dos tempos -a)$elanoite despertaram e eram o lobisomem e a caipora, a m$la2de2padre e oboitat'.  ;s homens se encolheram com medo, a mata lhes in/$ndia $m respeitoreligioso. -o havia nenh$ma picada, ali habitavam somente os animais eas assombraçKes. ;s homens pararam, o medo no coraço.  # tempestade cai$, raios )$e cortavam o c4$, trovKes )$e ressoavamcomo o rilhar dos dentes dos de$ses da oresta ameaçada. ;s raiosil$minavam por $m min$to a mata, mas os homens no viam nada mais)$e o verde2esc$ro das 'rvores, os sentidos todos presos aos o$vidos )$eo$viam, +$ntamente com o silvo das cobras em /$ga e com o miado dasonças aterrori(adas, as vo(es terrEveis das assombraçKes soltas na mata.

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 #)$ele /ogo )$e corria sobre os mais altos galhos saEa sem d<vida dasnarinas do boitat'. 3 o tropel amedrontador )$e era seno a corridaatrav4s da oresta da m$la2de2padre, antes linda don(ela )$e seentrego$, n$ma Onsia de amor, aos braços sacrElegos de $m sacerdote-o o$viam mais o miado das onças. #gora era o grito desgraçado do

lobisomem, meio homem, meio lobo, de $nhas imensas, desvairado pelamaldiço da me. >inistro bailado da caipora na s$a <nica perna, com ose$ <nico braço, rindo com s$a /ace pela metade. ; medo no coraço doshomens,  3 a ch$va caEa pesada como se /ora o começo de o$tro dil<vio. #li t$dolembrava o princEpio do m$ndo. Impenetr'vel e misteriosa, antiga como otempo e +ovem como a primavera, a mata aparecia diante dos homenscomo a mais temEvel das assombraçKes. Lar e re/<gio dos lobisomens edas caiporas. Imensa diante dos homens. &icavam pe)$enos aos p4s damata, pe)$enos animais amedrontados. Do /$ndo da selva vinham as vo(es estranhas. 3 mais terrEvel era o espet'c$lo, +' )$e a tempestadeirrompia com /<ria, do c4$ negro, onde nem a l$( de $ma estrela brilhavapara os homens rec4m2chegados.  Binham de o$tras terras, de o$tros mares, de pró@imo de o$trasmatas. Mas de matas +' con)$istadas, rasgadas por estradas, dimin$Edaspelas )$eimadas. Matas de onde +' haviam desaparecido as onças e ondecomeçavam a rarear as cobras. 3 agora se de/rontavam com a mata virgem, +amais pisada por p4s de homens, sem caminhos no cho, semestrelas no c4$ de tempestade. -as s$as terras distantes, nas noites del$ar, as velhas narravam t4tricas histórias de assombraçKes. 3m alg$maparte do m$ndo, em alg$m l$gar )$e ning$4m sabia onde estava, nem

mesmo os andarilhos mais via+ados, a)$eles )$e cortam os caminhos dossertKes recitando pro/ecias, nesse distante l$gar tem a s$a morada asassombraçKes. #ssim di(iam as velhas )$e poss$Eam a e@peri0ncia dom$ndo.  3, de s<bito, na noite de temporal, diante da mata, os homensdescobriam esse recanto tr'gico do $niverso, onde habitavam asassombraçKes. #li, na mata, em meio da oresta, sobre os cipós, emcompanhia das cobras venenosas, das onças /ero(es, dos agoirentoscor$+Kes, estavam pagando pelos crimes cometidos a)$eles )$e asmaldiçKes haviam trans/ormado em animais /ant'sticos. 3ra dali )$e nasnoites sem l$a partiam para as estradas a esperar os viandantes )$e

b$scavam se$s lares. Dali partiam para amedrontar o m$ndo. #gora, emmeio do r$Edo do temporal, os homens parados, pe)$eninos, o$vem, vindoda mata, o r$mor das assombraçKes despertadas. 3 v0em, )$ando cessamos raios, o /ogo )$e elas lançam pela boca, e v0em, por ve(es, o v$ltoinimagin'vel da caipora bailando se$ bailado espantoso. # mata no 4$m mist4rio, no 4 $m perigo nem $ma ameaça. $m de$s  -o h' vento /rio )$e venha do mar. Distante est' o mar de verdesondas. -o h' vento /rio, nessa noite de ch$va e relOmpagos. Mas, aindaassim, os homens esto arrepiados e tremem, se apertam os se$scoraçKes. # mata2de$s na s$a /rente. ; medo dentro deles.  Dei@aram cair os machados, os serrotes e as /oices. 3sto de mosinertes diante do espet'c$lo terrEvel da mata. >e$s olhos abertos,desmes$radamente abertos, v0em o de$s em /<ria ante eles. #li esto os

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animais inimigos do homem, os animais ago$reiros, ali esto asassombraçKes. -o 4 possEvel prosseg$ir, nenh$ma mo de homem podese levantar contra o de$s. %ec$am devagar, o medo nos coraçKes.3@plodem os raios sobre a mata, a ch$va cai. Miam as onças, silvam ascobras, e, sobre todo o temporal, as lamentaçKes dos lobisomens, das

caiporas e das m$las2de2padre, de/endem o mist4rio e a virgindade damata. Diante dos homens est' a mata 4 o passado do m$ndo, o princEpiodo m$ndo. Largam os /acKes, os machados, as /oices, os serrotes, so h'$m caminho, 4 o caminho da volta.

%

  ;s homens vo rec$ando. Levaram horas, dias e. noites, para chegarat4 ali. #travessaram rios, picadas )$ase intransit'veis, (eramcaminhos, calçaram atoleiros, $m /oi mordido de cobra e co$ enterradoao lado da estrada rec4m2aberta. ma cr$( tosca, o barro mais alto, erat$do )$e lembrava o cearense )$e havia caEdo. -o p$seram o se$ nome,no havia com )$e escrever. -a)$ele caminho da terra do caca$ a)$ela/oi a primeira cr$( das m$itas )$e depois iriam ladear as estradas,lembrando homens caEdos na con)$ista da terra. ;$tro se arrasto$ com/ebre, mordido por a)$ela /ebre )$e matava at4 macacos. >e arrastandochego$ e agora ele tamb4m rec$a, a /ebre /'2lo ver visKes al$cinantes.rita para os demais1  2 o lobisomem...  Bo rec$ando. # princEpio devagar. Passo a passo at4 alcançar ocaminho mais largo, onde so menos n$merosos os espinhos e os

atoleiros. # ch$va de +$nho cai sobre eles, encharcando as ro$pas,/a(endo2os tremer. Diante deles a mata, a tempestade, os /antasmas.%ec$am.  #gora chegam A picada, 4 $ma corrida só, atingiro as margens do rioonde $ma canoa os espera. J$ase respiram aliviados. ; )$e vai com/ebre +' no sente a /ebre. ; medo d'2lhe $ma nova /orça ao corpoal)$ebrado.  Mas diante deles, parab4l$m na mo, o rosto contraEdo de raiva, est' =$ca ?adaró. !amb4m ele estava ante a mata, tamb4m ele vi$ os raios eo$vi$ os trovKes, esc$to$ o miado das onças e o silvo das cobras. !amb4mse$ coraço se aperto$ com o grito ago$rento do cor$+o. !amb4m ele

sabia )$e ali moravam as assombraçKes. Mas =$ca ?adaró no via na s$a/rente a mata, o princEpio do m$ndo. >e$s olhos estavam cheios de o$tra viso. Bia a)$ela terra negra, a melhor terra do m$ndo para o plantio docaca$. via na s$a /rente no mais a mata il$minada pelos raios, cheia deestranhas vo(es, enredada de cipós, /echada nas 'rvores centen'rias,habitada de animais /ero(es e assombraçKes. Bia o campo c$ltivado decaca$eiros, as 'rvores dos /r$tos de o$ro reg$larmente plantadas, oscocos mad$ros, amarelos. Bia as roças de caca$ se estendendo na terraonde antes /ora mata. 3ra belo. -ada mais belo no m$ndo )$e os roças decaca$. =$ca ?adaró, diante da mata misteriosa, sorria. 3m breve ali

seriam os caca$eiros, carregados de /r$tos, $ma doce sombra sobre osolo. -em via os homens com medo, rec$ando.

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  J$ando os vi$, só teve tempo de correr na s$a /rente, se postar naentrada do caminho de parab4l$m na mo, $ma deciso no olhar1  2 Meto bala no primeiro )$e der $m passo...  ;s homens pararam. &icaram $m instante assim, sem saber o )$e/a(er. #tr's estava a oresta, na /rente =$ca ?adaró disposto a atirar. Mas

o )$e tinha /ebre grito$1  2 o lobisomem... 2 e avanço$ n$m p$lo.  =$ca ?adaró atiro$, novo raio atravesso$ a noite. # mata repeti$ n$meco o som do tiro. ;s o$tros homens caram em torno do )$e caEra, ascabeças bai@as. =$ca ?adaró se apro@imo$ vagarosamente, o parab4l$mainda na mo. #ntónio BEtor tina se abai@ado, seg$rava a cabeça do/erido. # bala atravessara o ombro. =$ca ?adaró /alo$ com a vo( m$itocalma1  2 -o atire para matar, só para mostrar )$e voc0s tem )$e obedecer...2 #ponto$ para $m1 2 B' b$scar 'g$a para lavar a /erida.  #ssisti$ a todo o tratamento, ele mesmo amarro$ $m pedaço de panono ombro do homem /erido e a+$do$ a lev'2lo para o acampamento +$ntoda mata. ;s homens iam tremendo, mas iam. Deitaram o /erido )$edelirava. -a mata as assombraçKes estavam soltas.  2 #diante 2 disse =$ca ?adaró.  ;s homens se espiavam $ns aos o$tros. =$ca s$spende$ o parab4l$m1  2 #diante. . .  ;s machados e os /acKes começaram a cair n$m r$Edo monótono sobrea mata, pert$rbando se$ sono. =$ca ?adaró olho$ na s$a /rente. Bianovamente toda a)$ela terra negra plantada de caca$, roças e roçascarregadas de /r$tos amarelos. # ch$va de +$nho rolava sobre os homens,

o /erido pedia 'g$a n$ma vo( entrecortada. =$ca ?adaró g$ardo$ oparab4l$m.

&

  # manh de sol do$rava os cocos ainda verdes dos caca$eiros. ;coronel Hor'cio ia andando devagar entre as 'rvores plantadas dentrodas medidas estabelecidas. #)$ela roça dava se$s primeiros /r$tos,caca$eiros +ovens de cinco anos. #ntes ali tamb4m /ora a mata,ig$almente misteriosa e amedrontadora. 3le a varara com se$s homens ecom o /ogo, com os /acKes, os machados e as /oices, derr$bo$ as grandes

'rvores, +ogo$ para longe as onças e as assombraçKes. Depois /ora oplantio das roças, c$idadosamente /eito, para )$e maiores /ossem ascolheitas. 3, após cinco anos, os caca$eiros enoraram e nessa manhpe)$enos cocos pendiam dos troncos e dos galhos. ;s primeiros /r$tos. ;sol os doirava, o coronel Hor'cio passeava entre eles. !inha cerca decin)$enta anos e se$ rosto, picado de be@iga, era /echado e sot$rno. #sgrandes mos calosas seg$ravam o /$mo de corda e o canivete com )$e/a(iam o cigarro de palha. #)$elas mos, )$e m$ito tempo mane+aram ochicote )$ando o coronel era apenas $m tropeiro de b$rros, empregadode $ma roça no %io2do2?raço, a)$elas mos mane+aram depois a

repetiço )$ando o coronel se /e( con)$istador da terra. Corriam lendassobre ele, nem mesmo o coronel Hor'cio sabia de t$do )$e em Ilh4$s e

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em !abocas, em Palestina, e em &erradas, em Tg$a2Preta, se contavasobre ele e s$a vida. #s velhas beatas )$e re(avam a G>o =orge na igre+ade Ilh4$s cost$mavam di(er )$e o coronel Hor'cio, de &erradas, tinhadebai@o da s$a cama, o diabo preso n$ma garra/a. Como o prendera era$ma história longa, )$e envolvia a venda da alma do coronel n$m dia de

temporal 3 o diabo, /eito servo obediente, atendia a todos os dese+os deHor'cio, a$mentava2lhe a /ort$na, a+$dava2o contra os se$s amigos. Mas$m dia 2 e as velhas persignavam ao di(e2lo 2 Hor'cio morreria semconsso e n diabo saindo da garra/a levaria a s$a alma para aspro/$ndas dos in/ernos. Dessa história o coronel Hor'cio sabia e ria dela,$ma da)$elas s$as risadas c$rtas e secas, )$e amedrontavam mais )$emesmo os se$s gritos nas manhs de raiva.  ;$tras histórias se contavam e essas estavam mais pró@imas darealidade. ; Dr. %$i, )$ando bebia demasiado, gostava de lembrar ade/esa )$e certa ve( (era do coronel n$m processo de h' m$itos anospassados. #c$savam Hor'cio de tr0s martes e de tr0s mortes b'rbaras.Di(ia o processo )$e no contente de ter matado $m dos homens, cortara2lhe as orelhas, a lEng$a, o nari(, e os ovos. ; promotor estava comprado,estava ali para impron$nciar o coronel. #inda assim o Dr. %$i p$derabrilhar, escrevera $ma de/esa linda, onde /alara em Fclamorosa in+$stiçaF,em Fcal<nias /or+adas por inimigos anónimos sem honra e semdignidadeF. m tri$n/o, $ma da)$elas de/esas )$e o consagraram como$m grande advogado. &i(era o elogio do coronel, $m dos /a(endeiros maisprósperos da (ona, homem )$e (era levantar no só a capela de&erradas, como ainda agora começava a levantar a igre+a de !abocas,respeitador das leis, por d$as ve(es +' vereador em Ilh4$s, gro2mestre

de maçonaria. m homem destes poderia por acaso praticar to hediondocrime  !odos sabiam )$e ele o havia praticado. &ora $ma )$esto de contratode caca$. -$ns terrenos de Hor'cio o preto #ltino. mais se$ c$nhado;rlando e $m compadre chamado Nacarias, haviam botado $ma roça, emcontrato com o coronel. Derr$baram a mata, )$eimaram2na, plantaramcaca$ e, entre o caca$, a mandioca, o milho de )$e iam viver os tr0s anosde espera at4 )$e os caca$eiros crescessem. Passaram2se os tr0s anos,eles /oram ao coronel para entregar a roça e receber o dinheiro.J$inhentos r4is por p4 plantado e vingado de caca$. Com a)$ele dinheiropoderiam ad)$irir $m terreno, $m pedaço de mata )$al)$er e desbrav'2

la e plantar ento $ma roça para eles mesmos. Iam alegres e cantavampela estrada. ;ito dias antes tinha vindo Nacarias tra(er milho e /arinhade mandioca e levar carne seca, cachaça e /ei+o, do arma(4m da/a(enda. 3ncontrara ento o coronel e tinham cado os dois conversando,ele dando conta do estado dos caca$eiros, o coronel lembrando )$e/altava po$co tempo para ndar os tr0s anos. Depois Hor'cio lheo/erecera $ma pinga na varanda da casa2grande e lhe perg$ntara o )$epensavam /a(er depois. Nacarias lhe contara do pro+ecto de comprar $mpedaço de mata, derr$b'2la e plantar $ma roça. ; coronel no só oaprovo$ como, amavelmente, se disps a a+$d'2los. -o v0 )$e ele tinhaótimas matas em terrenos e@celentes para o plantio de caca$ 3m toda a(ona de &erradas, a)$ela imensa (ona )$e lhe pertencia, eles podiamescolher $m pedaço de mata. #ssim era melhor para ele tamb4m, +' )$e

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no teria de p$@ar do dinheiro. Nacarias volto$ radiante para o rancho.  &oram ao coronel )$ando o pra(o ndo$. &i(eram as contas dos p4s decaca$ )$e haviam vingado, +' antes tinham escolhido o pedaço de mata)$e )$eriam comprar. Chegaram a $m acordo com o coronel, beberam$mas cachaças, Hor'cio disse1

  2 Boc0s podem se botar pra mata )$e $m dia desses )$ando e$ descera Ilh4$s mando avisar a voc0s pra ir $m tamb4m e a gente botar o pretono branco no cartório...  #ssim di(iam de passar a escrit$ra. ; coronel mando$ )$e eles /ossemem pa(, com $m m0s mais o$ menos iriam a Ilh4$s. ;s tr0s /oram, depoisde c$mprimentos e reverencias ao coronel. -o o$tro dia partiram para amata, começaram a derr$b'2la, armando $m rancho. Passo$2se o tempo, ocoronel /oi a Ilh4$s d$as e tr0s ve(es, eles +' haviam iniciado a plantaçoe nada de escrit$ra. m dia #ltino tomo$ coragem e /alo$ ao coronel1  2 Bosmec0 me adisc$lpe, se$ coronel, mas nós )$eria saber, )$ando 4)$e a gente passa a escrit$ra da terra  Hor'cio primeiro se indigno$ com a /alta de conança. Mas diante dasdesc$lpas de #ltino e@plico$ )$e +' dera ordens ao Dr. %$i, se$ advogado,para tratar do ass$nto. -o ia demorar, $m dia destes eles seriamchamados para darem $m p$lo a Ilh4$s, e li)$idarem o ass$nto. Maistempo se passo$, da terra plantada começaram a s$rgir as m$das decaca$, ainda simples gravetos )$e em breve seriam 'rvores. #ltino,;rlando e Nacarias olhavam as plantas com amor. 3ram caca$eiros deles,plantados com as s$as mos, em terras )$e eles haviam desbravado.Cresceriam e dariam /r$tos amarelos como o$ro, dinheiro. -em serecordavam da escrit$ra. >ó o negro #ltino, por ve(es parava pensando.

H' m$ito )$e conhecia o coronel Hor'cio e desconava. #inda assimcaram s$rpresos no dia )$e so$beram )$e a /a(enda ?ei+a2&lor /ora vendida ao coronel %amiro e )$e a roça deles estava compreendida na venda. &oram /alar ao coronel Hor'cio. ;rlando co$, /oram os o$trosdois. -o encontraram o coronel, estava em !abocas. Boltaram no o$trodia, o coronel estava em &erradas. 3nto ;rlando resolve$ ir ele mesmo.Para ele a)$ela terra era t$do, no a perderia. Disseram2lhe )$e ocoronel estava em Ilh4$s. 3le /e( )$e sim mas entro$ pela casa2grandeadentro e encontro$ o coronel na sala de +antar, comendo. Hor'cio olho$o lavrador, /alo$ com s$a vo( seca1  2 J$er comer, ;rlando >e )$er se aban)$e..

  2 -o sinh, obrigado.  2 J$e lhe tra( por a)$i #lg$ma novidade  2 ma novidade bem /eia, sinh, sim. ; coronel %amiro aparece$ l'pela roça, di( )$e a roça 4 dele, di( )$e compro$ ao sinh, coronel.

2 >e o coronel %amiro 4 )$e di( deve ser verdade. 3le no 4 homempra mentira...  ;rlando co$ mirando o coronel Hor'cio )$e voltava a comer. ;lhavaas grandes mos calosas do coronel, a s$a /ace /echada. Por m, /alo$1  2 Bosmec0 vende$  2 Isso 4 negócio me$...  2 Mas vosmec0 no se arrecorda )$e nos vende$ esse pedaço de mataPelo dinheiro do contrato de caca$  2 Boc0s tem a escrit$ra 2 e Hor'cio volto$ a comer. ;rlando rodo$ na

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mo o chap4$ enorme de palha. !inha consci0ncia de toda a desgraça )$elhes havia acontecido, a ele e aos dois companheiros. >abia tamb4m )$elegalmente no havia como l$tar contra o coronel. >abia )$e no tinhammais terra, nem roça plantada, no tinham mais nada. m v4$ de sang$et$rvo$2lhe o olhar, no media mais s$as palavras1

  2 Desgraça po$ca 4 bobagem, coronel. Bosmec0 )$e avisado )$e nodia )$e o coronel %amiro entrar na roça, nesse dia vosmec0 paga port$do. . . Pense bem.

Disse e sai$ a/astando com o braço a negra &elEcia )$e estava servindoo coronel. Hor'cio contin$o$ a comer, como se nada ho$vesse passado.  De noite Hor'cio chego$ com se$s cabras na roça dos tr0s amigos.Cerco$ o rancho, di(em )$e ele mesmo li)$ido$ os homens. 3 )$e depois,com s$a /aca de descascar /r$tas, corto$ a lEng$a de ;rlando, s$asorelhas, se$ nari(, arranco$2lhe as calças e o capo$. !inha voltado para a/a(enda com se$s homens e )$ando $m deles /oi pegado, b0bado, pelapolEcia e o den$ncio$, ele apenas ri$ s$a risada. &oi impron$nciado.  >e$s +ag$nços di(iam )$e ele era $m macho de verdade e )$e valia apena trabalhar para $m homem assim. -$nca dei@ava )$e +ag$nço se$parasse na cadeia e certa ve( saEra especialmente da /a(enda paralibertar $m )$e estava na priso de &erradas. Depois de tir'2lo de entreas grades,rasgara o processo na cara do escrivo.  M$itas histórias contavam do coronel Hor'cio. Di(iam )$e, antes deser che/e do partido polEtico oposicionista, para con)$istar esse posto,mandara )$e se$s +ag$nços esperassem na tocaia o antigo che/e polEtico,$m comerciante de !abocas, e o li)$idassem. Depois lanço$ a c$lpa

contra os inimigos polEticos. #gora o coronel era che/e indisc$tido da(ona, o maior /a(endeiro dali e imaginava estender s$as terras por m$itolonge. J$e importavam as histórias )$e contavam sobre ele ;s homens,/a(endeiros e trabalhadores, contratistas e lavradores de pe)$enas roças,o respeitavam, o n<mero dos se$s alhados era incont'vel.  -essa manh ele ia entre os caca$eiros novos )$e davam se$sprimeiros /r$tos. #cabara de preparar o cigarro com as grandes moscalosas. Pitava vagarosamente e no pensava em nada, nem nas histórias)$e contavam dele, nem mesmo na chegada recente do Dr. BirgElio, onovo advogado )$e o partido enviara da ?ahia para os trabalhos de!abocas, no pensava nem mesmo em 3ster, s$a esposa, to linda e to

 +ovem, ed$cada pelas /reiras na ?ahia, lha do velho >al$stiano,comerciante de Ilh4$s )$e a dera, encantado, de esposa ao coronel. 3ra as$a seg$nda m$lher, a primeira morrera )$ando ele era ainda tropeiro.3ra triste e linda, magra e p'lida, e era a <nica coisa )$e /a(ia o coronelHor'cio sorrir de $ma maneira di/erente. -este momento nem em sterpensava. -o pensava em nada, via apenas os /r$tas dos caca$eiros, verdes ainda, pe)$eninos, as primeiros da)$ela roça. Com a mo tomo$de $m deles, doce e vol$pt$osamente o acaricio$. Doce e vol$pt$osamente como se acariciasse a carne +ovem de 3ster. Com amor.Com innito amor.

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  3ster ando$ para o piano, piano de ca$da, n$m canto da sala enorme.Descanso$ as mos sobre as teclas, os dedos iniciaram ma)$inalmente$ma melodia. Belha valsa, /arrapo de m<sica )$e lhe lembrava as /estasdo col4gio. %ecordo$2se de L<cia. ;nde andaria ela, &a(ia tempo )$e no

lhe escrevia, )$e no mandava $ma das s$as cartas lo$cas e divertidas.!amb4m a c$lpa era s$a, no respondera As d$as <ltimas cartas de L<cia.. . -em agradecera as revistas /rancesas e os g$rinos )$e ela mandara.. #inda estavam em cima do piano, +$nto com antigas m<sicas es)$ecidas.ster ri$ tristemente, arranco$ o$tro acorde do piano. Para )$e g$rinosna)$ele m do m$ndo, na)$elas brenhas -as /estas de >o =os4, em!abocas, nas /estas de >o =orge, em Ilh4$s, as modas andavam atrasadasde anos e ela no poderia e@ibir os vestidos )$e a amiga vestia em Paris. .. #h se L<cia p$desse imaginar se)$er o )$e era a /a(enda, a casaperdida entre as roças de caca$, o silvo das cobras nos charcos ondecomiam rs 3 a mata... Por detr's da casa ela se estendia trancada nostroncos e nos cipós. 3ster a temia como a $m inimigo. -$nca seacost$maria, tinha certe(a. 3 se desesperava por)$e sabia )$e toda a s$a vida seria passada ali, na /a(enda, na)$ele m$ndo estranho )$e aaterrori(ava.  -ascera na ?ahia, em casa dos avós, onde a me /ora ter criança emorre$ do parto. ; pai negociava em Ilh4$s, na)$ele tempo iniciava a vida e 3ster co$ com os avós )$e lhe /a(iam todas as vontades, )$e amimava. e viviam e@cl$sivamente para ela. ; pai prospero$ em Ilh4$scom $m arma(4m de secos e molhados, aparecia de )$ando em ve(, d$as viagens por ano A capital, a negócios. 3ster c$rsara o melhor col4gio para

moças da ?ahia, $m col4gio de /reiras, primeiro e@terna, interna depois)$ando os avós morreram no <ltimo ano do c$rso. Morreram $m após oo$tro no mesmo m0s. 3ster vesti$ l$to, na)$ele momento no chego$ ase sentir so(inha por)$e tinha as colegas. -o col4gio sonhavam sonhoslindos, liam romances /ranceses, histórias de princesas, de $ma vida/ormosa. !odas tinham planos de /$t$ro, ing4n$os e ambiciosos1casamentos ricos e de amor, vestidos elegantes, viagens ao %io de =aneiroe A 3$ropa. !odas menos eni )$e dese+ava ser /reira e passava o diare(ando. 3ster e L<cia, consideradas as mais elegantes e belas docol4gio, sonhavam de imaginaço solta. Conversavam nos p'tios, d$ranteos recreios, no silencio do dormitório tamb4m.

  3ster dei@a o piano, o <ltimo acorde vai morrer na mata. #h ostempos /eli(es do col4gio 3ster se recordava de $ma /rase de sóror #ng4lica, a /reira mais simp'tica de todas, )$ando elas dese+avam )$e otempo de col4gio passasse )$anto antes e chegasse o momento de viver a vida intensamente. 3nto soror #ng4lica po$sara nos se$s ombros asdelicadas mos, to magras e lhe dissera1  2 -enh$m tempo 4 melhor )$e este, 3ster, em )$e o sonho 4 possEvel.  -a)$ele dia ela no entendera, /ora preciso )$e passassem os anos,at4 )$e a /rase lhe viesse A memória de novo para ser recordada desdeento )$ase diariamente. #h ;s tempos /eli(es do col4gio... 3ster andaat4 a rede )$e a espera na varanda. DaE ela v0 a estrada real onde de raroem raro $m trabalhador passa em b$sca do caminho de !abocas o$ de&erradas. B0 tamb4m o gr$po de barcaças onde o caca$ seca ao sol,

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pisado pelos p4s negros dos trabalhadores. !erminado o c$rso, ela vierapara Ilh4$s, nem assistira ao casamento de L<cia com o Dr. #l/redo, om4dico de tanto s$cesso. # amiga via+ara logo. %io de =aneiro e 3$ropa,onde o marido ia se demorar em hospitais c4lebres, especiali(ando2se.L<cia /ora reali(ar se$s sonhos, os vestidos caros, os per/$mes, os bailes

de grande or)$estra. ster pensa nas di/erenças do destino. 3la vierapara Ilh4$s, o$tro m$ndo. ma cidade pe)$ena, )$e apenas começava acrescer, de avent$reiros e lavradores, onde só se /alava em caca$ emortes.  ; pai morava n$m primeiro andar, por cima do arma(4m, da s$a +anela3ster via a monótona paisagem da cidade. m morro de cada lado. -oencontrava bele(a no rio, nem no mar. Para ela a bele(a estava com a vidade L<cia, os bailes em Paris. -em mesmo nos dias de chegada de navios,)$ando toda a cidade se animava, )$ando havia +ornais da capital,)$ando os bote)$ins se enchiam de homens )$e disc$tiam polEtica, nemnesses dias )$ase de /esta 3ster saEa de s$a triste(a. ;s homens aadmiravam e a corte+avam de longe. -o tempo das /4rias $m est$dantede medicina escreve$2lhe $ma carta e mando$2lhe versos. Mas para 3stero tempo era po$co para chorar, para lastimar a morte dos avós )$e aobrigavam a viver na)$ele desterro. #s notEcias de brigas e de mortes aass$stavam, dei@avam2na n$ma agonia. #os po$cos /oi se dei@ando vencer pela vida da cidade, se despreoc$pando da elegOncia )$e tantos$cesso 9e certo escOndalo: (era )$ando da s$a chegada, e )$ando $mdia se$ pai, m$ito alegre, lhe com$nico$ )$e o coronel Hor'cio, $m doshomens mais ricos da (ona, pedia a s$a mo, ela se contento$ em chorar.  #gora era $ma /esta )$ando ia a Ilh4$s. ; sonho das grandes cidades,

da 3$ropa, dos bailes imperiais e dos vestidos parisienses, cara paratr's. Parecia t$do m$ito longe, perdido no tempo, na)$ele tempo Fem )$eera possEvel sonharF. Po$cos anos se haviam passado. Mas era como setoda $ma vida tivesse sido vivida n$ma rapide( de al$cinaço. >e$ melhorsonho desses dias 4 $ma viagem a Ilh4$s, assistir As /estas da igre+a, $maprocisso, $ma )$ermesse com leilo de prendas.  ?alança2se na rede mansamente. -a s$a /rente, at4 onde se$s olhosalcançam, estendem2se, s$bindo e bai@ando os morros, as roças de caca$,carregadas de /r$tos. -o terreiro ciscam as galinhas e os per$s. ;snegros trabalham nas barcaças, revolvendo o caca$ mole. ; sol irrompesobre a paisagem, saindo de entre as n$vens. 3ster se recorda do dia do

casamento. -o dia )$e casara, nesse mesmo dia, havia vindo para a/a(enda. 3ster estremece na rede ao lembrar. &ora a s$a maior sensaçode horror. >e lembrava )$e antes, ao ser an$nciado o noivado, a cidade seenche$ de cochichos, de disses2no2disses. ma senhora, )$e n$nca a visitara, aparece$ $m dia para lhe contar histórias. #ntes haviam vindo velhas beatas, conhecidas da igre+a, )$e lhe di(iam das lendas sobre ocoronel. Mas a)$ela m$lher tro$@e $ma notEcia )$e era mais concreta emais terrEvel. Dissera )$e Hor'cio matara a primeira m$lher a reben)$epor)$e a encontrara com o$tro na cama. Isso no tempo em )$e ainda eratropeiro e atravessava as picadas rec4m2abertas no mist4rio da mata. >óm$ito tempo depois, )$ando +' ele enricara, essa história começara acirc$lar nas r$as de Ilh4$s, nas estradas da terra do caca$. !alve( por)$etoda a cidade /alasse dele em vo( bai@a, 3ster, com certo org$lho e m$ito

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despeito, levo$ o noivado adiante, $m noivado /eito de sil0ncios longosnos raros domingos em )$e ele bai@ava A cidade e ia +antar em s$a casa.m noivado sem bei+os, sem carEcias s$tis, sem palavras de romance, todi/erente do noivado )$e 3ster imaginara $m dia, na )$iet$de do col4giode /reiras.

  J$isera $m casamento simples, se bem Hor'cio tentasse /a(er ascoisas a grande1 ban)$ete e baile, /og$etes e missa cantada. Mas /orat$do m$ito Entimo, reali(ados em casa os dois casamentos, o do padre e odo +$i(. ; padre /e( $m sermo, o +$i( dese+o$ /elicidades com s$a caracansada de b0bado, o Dr. %$i boto$ disc$rso bonito. Casaram pela manh,e A noitinha, no lombo dos b$rros, atrav4s dos atoleiros, chegavam Acasa2grande da /a(enda. ;s trabalhadores )$e se haviam re$nido noterreiro em /rente dispararam s$as repetiçKes )$ando os b$rros seapro@imaram. 3stavam dese+ando boas2vindas ao casal, por4m 3stersenti$ se$ coraço apertar com o estampido dos tiros na noite. Hor'ciomandara distrib$ir cachaça pelo pessoal mas, min$tos depois, +' adei@ava so(inha e saEa para se in/ormar do estado das roças, para sabercomo se haviam perdido as arrobas de caca$ )$e estavam secando naest$/a, devido As ch$vas. >ó )$ando ele volto$ as negras acenderam aslOmpadas de )$erosene. 3ster se ass$sto$ com o grito das rs. Hor'cio)$ase no /alava, esperava impaciente )$e o tempo passasse. J$andoo$tra r grito$ no charco, ela perg$nto$1  2 J$e 4  # vo( dele veio indi/erente1  2 ma r na boca de $ma cobra...  3 chego$ o +antar servido pelas negras )$e olhavam desconadas para

3ster. 3 de repente, mal terminado o +antar, /oi a)$ele rasgar de vestidose do se$ corpo na posse br$tal e inesperada.  >e acost$mo$ com t$do, agora se dava bem com as negras, a &elEciaat4 estimava, era $ma m$latinha dedicada. >e acost$mo$ at4 com omarido, com o se$ silencio pesado, com os se$s repentes de sens$alidade,com as s$as /<rias )$e dei@avam os mais /ero(es +ag$nços encolhidos demedo, acost$mo$ com os tiros A noite na estrada, com os cad'veres )$epor ve(es passavam estirados em redes, $m triste acompanhamento dem$lheres chorando, só no se acost$mo$ com a mata no /$ndo da casa,onde pelas noites, ao charco )$e o riacho /a(ia, as rs gritavam se$ gritodesesperado na boca das cobras assassinas. -o m de de( meses nascera

$m lho, agora tinha ano e meio e 3ster via horrori(ada )$e Hor'cionascera novamente na criança. 3ra t$do dele e 3ster pensava consigomesma )$e ela era c$lpada, pois no colaborara no gestar da)$ele ser,n$nca se entregara, /ora sempre tomada como $m ob+ecto o$ $m animal.Mas ainda assim o )$eria, o amava ardentemente e so/ria por ele. >eacost$mara com t$do, no sonhava mais. >ó no se acost$mara com amata e com a noite da mata.  -as noites de temporal era espantoso1 os raios il$minando os altostroncos, derr$bando as 'rvores, os trovKes roncando. -essas noites 3sterse encolhia com medo e chorava sobre o se$ destino. 3ram noites depavor, de medo irreprimEvel, $m medo )$e era como $ma coisa concreta epalp'vel. Começava na hora dilacerante do crep<sc$lo. #h a)$elescrep<sc$los da mata, an$nciadores de tempestades. .. J$ando a tarde

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caEa, cheia de n$vens negras, as sombras eram como /atalidadesdenitivas, no havia l$( de )$erosene )$e tivesse /orça de espant'2las,de evitar )$e elas cercassem a casa e (essem dela, das roças de caca$ eda mata, $ma coisa só, ligadas pelo crep<sc$lo ig$al a $ma noite. #s'rvores se agigantavam, cresciam com o estr$me misterioso das sombras,

os r$Edos se /a(iam dolorosos, pios de aves desconhecidas, gritos deanimais )$e 3ster n$nca sabia onde estavam. 3 o silvar dos r4pteis, ob$lir das /olhas secas onde se arrastavam.... 3ster tem sempre aimpresso de )$e as cobras terminaro $m dia por s$birem na varanda,penetrarem na casa e chegarem, n$ma noite de temporal, ao se$ pescoçoe ao da criança, nos )$ais se enroscaro como $m colar. 3la mesma nopoderia contar o horror da)$eles momentos )$e d$ravam desde achegada do crep<sc$lo at4 o cair do temporal. 3nto, )$ando eledesabava, a nat$re(a dese+ando destr$ir t$do, ela proc$rava os l$garesonde a l$( das lOmpadas de )$erosene mais brilhava. #inda assim assombras )$e a l$( pro+ectava lhe davam medo, /a(iam s$a imaginaçotrabalhar, acreditar nas mais s$persticiosas histórias dos capangas. Havia$ma coisa )$e sempre voltava A s$a memória nessas noites. 3ram ascantigas de ninar )$e s$a avó cantava para acalent'2la na s$a in/Onciadistante. 3 3ster, +$nto ' cama da criança, as repetia bai@inho, $ma a$ma, por entre l'grimas, acreditando mais $ma ve( no se$ sortil4gio.Cantava para a criança )$e a olhava com se$s olhos baços e d$ros, osolhos de Hor'cio, mas cantava parasi tamb4m, tamb4m ela $ma criança amedrontada. Cantava bai@inho, seembalava na melodia, as l'grimas rolavam pela s$a /ace. 3s)$ecia aesc$rido da varanda, as terrEveis sombras do campo, o gemer a(iago das

cor$+as nas 'rvores, a triste(a da noite, ; mist4rio da mata. Cantavadistantes cantigas, melodias simples contra os male/Ecios. 3ra como se asombra protectora da avó se estendesse ainda sobre ela, carinhosa ecompreensiva.  Mas, de s<bito, ; grito de $ma r assassinada n$m charco por $macobra atravessava a mata, as roças, entrava pela casa adentro, era maisalto )$e o pio das cor$+as e o r$mor das /olhas, era mais alto )$e o vento)$e assobiava, vinha morrer na sala )$e a lOmpada de )$eroseneil$minava, estremecia o corpo de 3ster. >ilenciava a cantiga. &echava osolhos e via 2 via nos mEnimos detalhes 2 o r4ptil )$e chegava devagar,;leoso e repelente, se arrastando em c$rvas sobre a terra e as /olhas

caEdas, de s<bito se +ogava em cima de $ma r inocente. 3 o grito dedesespero, de despedida da vida, abalava as 'g$as calmas do riacho,enchia de medo, de maldade e de dor, ; cen'rio da noite amedrontadora.  -essas noites ela via as cobras em cada canto da casa, saindo de entreas gretas do tab$ado, de entre as telhas, de cada vo de porta. Bia deolhos /echados como cada $ma ia se arrastando, se apro@imandoca$telosamente at4 o p$lo /atal sobre as rs. !remia sempre )$e pensava)$e sobre o telhado podia estar $ma delas, s$til e silenciosa, vindo demanso para o leito de +acarand', talve( para se enroscar no se$ pescoçod$rante o sono. ;$ ento para penetrar no berço da criança e seenrodilhar sobre ela. J$antas noites passara sem dormir por)$erepentinamente pensara )$e $ma cobra descia pela parede ?astava $mr$mor o$vido no princEpio do sono. 3ra o bastante para enche2la de

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terror. Levantava2se, arrancava as cobertas, atirava2se para a cama dolho. J$ando se convencia de )$e ele estava dormindo sem perigo,reali(ava $ma b$sca por todo o )$arto, ; candeeiro n$ma mo, ;s olhosabertos de medo. Hor'cio por ve(es acordava e resm$ngava na cama,mas 3ster contin$ava s$a b$sca in/r$tE/era. -o dormia mais. 3sperava e

esperava com terror )$e ela chegasse. #pareceria de s<bito, movendo2sepela cama e 3ster +' no poderia tentar nenh$ma reacço. Chegava asentir o estrang$lamento na s$a garganta onde a cobra se enroscaria.Chegava a ver o lho morto, vestido de an+o no cai@o a($l. -o rosto amarca dos dentes venenosos.  Certa ve( /oi $m pedaço de corda entrevisto na esc$rido )$e a /e(soltar $m grito )$e, ig$al ao das rs, atravesso$ o campo e o charco, /oimorrer na mata.

3ster se recorda de o$tra noite. Hor'cio via+ara para !abocas, elaestava só com a criança e as empregadas. Dormiam, )$ando pancadas naporta as despertaram. &elEcia /oi ver o )$e era e chamo$ 3ster aos gritos.3la chego$ e deparo$ com $ns trabalhadores )$e tra(iam #maro mordidopor $ma cobra. 3ster espiava da porta, sem )$erer se apro@imar. ;$viaos homens )$e pediam medicamentos e o$via a e@plicaço )$e $m davaem vo( ro$ca1 F/ora $ma s$r$c$c$ apaga2/ogo, venenosa como )$eF. #marraram a perna de #maro com $m cordo, acima do l$gar damordida. &elEcia tro$@e $ma brasa da co(inha, 3ster vi$ )$ando ap$seram sobre a picada. # carne )$eimada chio$, #maro geme$, $mcheiro estranho se espalho$ pela casa. m trabalhador havia montadopara ir a &erradas em b$sca de $m soro antio/Edico. Mas o veneno teve$ma acço m$ito r'pida. #maro morre$ entre 3ster, as negras e os

trabalhadores, o rosto esverdeado, os olhos demasiadamente abertos.3ster no podia se desprender do cad'ver e o$via sair da)$ela boca parasempre calada gritos dolorosos como os das rs assassinadas noscharcos. J$ando Hor'cio chego$, pelo meio da noite, de !abocas, e de$ordem para )$e levassem o cad'ver para $ma das casas detrabalhadores, 3ster teve $ma crise de choro e pedi$ ao marido,sol$çando, )$e /ossem embora dali, )$e partissem para a cidade o$ elamorreria, as cobras viriam, seriam m$itas, a picariam toda, matariam acriança, terminariam por estrang$l'2la com se$s an4is viscosos. >entia nopescoço o /rio do corpo mole da cobra, $m arrepio a percorria e choravamais alto. Hor'cio ri$ do medo dela. 3 )$ando ele se toco$ para a

sentinela de #maro, ela no )$is car só em casa e tamb4m /oi.  ;s homens em torno do cad'ver bebiam cachaça e contavam histórias.Histórias de cobras, a história de =os4 da !araranga )$e vivia b0bado e$ma noite voltava para casa caindo de cachaça, na mo direita o /óaceso, na es)$erda $m litro de parati. -a c$rva da estrada a s$r$c$c$p$lo$ no /ó, com o ba)$e =os4 da !araranga cai$. J$ando senti$ aprimeira picada da cobra abri$ o litro e o bebe$ todo. -o o$tro dia,)$ando os homens passaram para o trabalho nas roças, encontraram =os4da !araranga )$e dormia, a s$r$c$c$ dormindo tamb4m enroscada nose$ peito. Mataram a cobra, =os4 da !araranga tinha de(essete picadas,mas nada lhe acontece$ por ca$sa da cachaça. ; 'lcool dil$i$ o veneno,só )$e =os4 incho$ d$rante )$in(e dias, co$ do tamanho de $m cavalo,depois /oi cando so.

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  Contaram tamb4m de homens c$rados de cobra )$e as pegavam pelasestradas sem )$e elas nada (essem. ?em pró@imo da /a(enda, morava #gostinho )$e era Fc$radoF, cobra no lhe /a(ia mal, e ele, só para sedivertir entregava o braço pra elas morderem.

 =oana, m$lher do tropeiro, )$e bebia como )$al)$er dos homens,

conto$ )$e, n$ma /a(enda do serto, onde ela vivera antes de vir paraessas terras do s$l, s$cedera $ma história triste.  Certa cobra penetrara na casa2grande ande os senhores estavam apasseio. Binham sempre no m do ano e desta ve( vinham /eli(es poishavia nascido $ma criança. Mas a cobra entrara e /ora se aninhar noberço da criança )$e era a primeira dos senhores casados h' po$co maisde $m ano. # criança chorava pelo seio materno e tomo$ do rabo dacobra na s$a inoc0ncia. -o o$tro dia tinha na boca o rabo da +araraca )$edormia mas +' no mamava por)$e o veneno agira logo. # senhora saErapelos campos, os cabelos de oiro soltos ao vento, os p4s n$s e alvos, como =oana n$nca vira ig$ais, pisando os espinhos, e di(em )$e n$nca mais voltara a ser per/eita da cabeça, )$e cara idiota e en/eara, perdera todaa)$ela linde(a de rosto e de corpo. #ntes, parecia $ma destas bonecasestrangeiras, depois do acontecido cara )$e nem $ma br$@a de pano. # casa2grande se /echo$ para sempre, n$nca mais as senhores voltaram, ahera cresce$ pelas varandas, o capim invadi$ a co(inha e os )$e passamperto o$vem ho+e os pios das cobras )$e /a(em ninho l' dentro. =oanatermino$ a s$a narraço, bebe$ o$tro trago de cachaça, c$spi$, proc$ro$com os olhos a 3ster. Mas ela +' no estava, correra para casa, para +$ntodo lho, como se /ora enlo$)$ecer tamb4m.  #gora, na varanda, onde o sol brinca desc$idado, ster recorda essa e

o$tras noites de terror. De Paris, L<cia lhe escrevia, cartas )$e levavamtr0s meses a chegar e )$e tra(iam notEcias de o$tra vida, de o$tra gente,de civili(aço e de /estas. #)$i eram as noites da mata, do temporal e dascobras. -oites para chorar sobre o destino desgraçado. Crep<sc$los )$eapertavam o coraço, tiravam toda a esperança. 3sperança de )$e !$doera to denitivo na s$a vida...  Chorava no$tras noites tamb4m. J$ando via Hor'cio sair ' /rente de$m gr$po de homens para $ma e@pediço )$al)$er. >abia )$e nessanoite, em alg$ma parte soariam os tiros. J$e homens morreriam por $mpedaço de terra, )$e a /a(enda de Hor'cio, )$e era tamb4m s$a,a$mentaria de mais $m pedaço de mata. De Paris, L<cia escrevia, contava

bailes na 3mbai@ada, óperas e concertos. -a casa2grande da /a(enda, opiano de ca$da esperava $m anador )$e n$nca viera.  -oites em )$e Hor'cio saEa na /rente dos homens para e@pediçKesarmadas Certa ve(, depois dele partir, 3ster se encontro$ imaginando amorte de Hor'cio. >e ele morresse... 3nto as /a(endas seriam somentedela, entregaria ao pai para administr'2las e partiria... Iria encontrarL<cia... &oi por4m $m sonho c$rto. Para 3ster, Hor'cio era imortal, era odono, o patro, o coronel... !inha certe(a de )$e morreria antes dele...3le disp$nha da terra, do dinheiro e dos homens. 3ra /eito de /erro,n$nca adoecera, parecia )$e as balas o conheciam e temiam... Por issoela nem se abalo$ na)$ele sonho to r$im e to maravilhoso... Para elano tinha mesmo +eito, nem esperança. >$a vida era a)$ela, a)$ele erase$ destino. 3 em Ilh4$s )$anta moça no a inve+ava 3la era a dona 3ster,

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a m$lher do homem mais rico de !abocas, do che/e polEtico, dono detantas terras plantadas de caca$ e de tanta mata virgem...  Hor'cio chego$ +$nto da rede. 3ster mal teve tempo de en@$gar asl'grimas. 3le tra(ia na mo $m pe)$eno coco de caca$, primEcia da roçanova. Binha )$ase sorridente1

  2 # roça +' est' botando...  &ico$ parado, no compreendia por )$e ela estava chorando. Primeirolhe de$ raiva1  2 Por )$e diabo est' chorando >$a vida 4 chorar -o tem t$do o )$e)$er J$e 4 )$e lhe /alta

3ster prende$ o sol$ço1  2 -o 4 nada... ?esteira minha...  !omo$ do /r$to do caca$eiro, sabia )$e a)$ilo agradaria ao marido.Hor'cio sorri$ +' alegre, +' /eli( da esposa, os olhos descendo pelo corpodela. #li estavam as <nicas coisas )$e ele amava no m$ndo1 3ster ecaca$. >ento$2se +$nto a ela na rede, perg$nto$1  2 Por )$e chora, tola  2 -o esto$ mais chorando...  Hor'cio co$ pensando, logo /alo$, os olhos estirados para o lado dasroças, o pe)$eno coco de caca$ na mo calosa1  2 J$ando o menino crescer 2 sempre chamava o lho de FmeninoF 2 eleh' de encontrar t$do isso a)$i cheio de roça. !$do c$ltivado...  &ico$ mais tempo calado, por m concl$i$1  2 Me$ lho no vai precisar viver socado nas brenhas como a gente. Bo$ meter ele na polEtica, vai ser dep$tado e governador. Pra isso 4 )$e/aço dinheiro.

  >orri$ para 3ster, desce$ a mo pelo corpo dela. Depois aviso$1  2 3n@$g$e esses olhos, mande /a(er $m +antar direito )$e ho+e vemcomer a)$i o Dr. BirgElio, esse advogado novo )$e t' em !abocas e 4protegido do Dr. >eabra. 3 voc0 se vista direito tamb4m. 3 precisomostrar ao moço )$e a gente no 4 bicho do mato..  %i$ s$a risada c$rta, dei@o$ com 3ster o coco de caca$, sai$ para darordens aos trabalhadores. 3ster co$ pensando nesse +antar da noite,com esse tal de advogado, ig$al nat$ralmente ao Dr. %$i )$e seembriagava e cava, na hora da sobremesa, a c$spir para todos os ladose a contar histórias porcas... 3, de Paris, L<cia escrevia cartas, /alava de/estas e de teatros, de vestidos e de ban)$etes...

  ;s dois homens transp$seram a porta, o negro /alo$1  2 Mando$ chamar, coronel  =$ca ?adaró ia di(er )$e eles entrassem, mas o irmo /e( $m gestocom a mo )$e eles esperassem l' /ora. ;s homens obedeceram esentaram n$m dos bancos de madeira )$e estavam na varanda larga dacasa2grande. =$ca ando$ de $m lado para o$tro da sala, pito$ o cigarro.3sperava )$e o irmo /alasse. >inh ?adaró, o che/e da /amElia,

descansava n$ma alta cadeira de braços, cadeira a$strEaca )$econtrastava no só com o resto do mobili'rio, bancos de madeira,

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cadeiras de palhinha redes nos cantos, como tamb4m com a mEsticasimplicidade, das paredes caiadas. ; relógio na sala de +antar de$ ascinco horas da tarde. >inh ?adaró pensava, os olhos semicerrados, alonga barba negra se estendendo sobre o peito. Levanto$ os olhos, espio$ =$ca )$e andava nervosamente pela sala, o reben)$e n$ma mo, o

cigarro /$megando na boca. Mas logo desvio$ os olhos e to$ o <nico)$adro da parede, $ma reprod$ço oleogr'ca de $ma paisagem decampo e$rope$. ;velhas pastavam n$ma s$avidade a($l. Pastorestocavam $ma esp4cie de a$ta e $ma camponesa, loira e linda, bailavaentre as ovelhas. Descia $ma imensa pa( da oleograv$ra. sinh ?adaró selembro$ de como a comprara. 3ntrara cas$almente n$ma casa de sEriosna ?ahia para avaliar $m relógio de o$ro. Bira o )$adro e se lembrara)$e DonG#na h' m$ito di(ia )$e as paredes da sala necessitavam de algo)$e as alegrasse. Por isso o comprara e só agora reparava neleatentamente. 3ra $m campo tran)$ilo, de ovelhas, pastores, a$tas ebaile. #($l, )$ase cor do c4$. ?em di/erente era esse campo deles 3ssaterra do caca$. Por )$e no haveria de ser assim tamb4m como essecampo e$rope$ Mas =$ca ?adaró andava impaciente de $m lado parao$tro, esperava a deciso do irmo mais velho. # >inh ?adaró rep$gnava ver correr sang$e de gente. -o entanto m$itas ve(es tivera )$e tomar$ma deciso como a )$e =$ca esperava na)$ela tarde. -o era a primeira ve( )$e ordenava )$e $m o$ dois de se$s homens /ossem se postar naFtocaiaF para esperar alg$4m )$e passaria na estrada.  ;lho$ o )$adro. ?onita m$lher... De /aces rosadas, os olhos celestes.Mais bonita talve( )$e DonG#na. . . 3 os pastores eram sem d<vida bemdiversos dos tropeiros da /a(enda... >inh ?adaró gostava da terra e de

plantar a terra. ostava de criar animais, os grandes bois mansos, osnervosos cavalos, as ovelhas de terno balar. Mas lhe rep$gnava ter deordenar a morte de homens. Por isso demorava s$a deciso, só apron$nciava )$ando via )$e era o <nico caminho. 3le era o che/e da/amElia, estava constr$indo a /ort$na dos ?adarós, tinha de passar porcima da)$ilo )$e =$ca chamava as Fs$as /ra)$e(asF. -$nca haviareparado antes, detidamente, na)$ele )$adro. ; colorido a($l era $mabele(a... ?em mais bonito )$e )$al)$er /olhinha de m de ano, e havia/olhinhas lindas. . .

 =$ca ?adaró paro$ em /rente ao irmo1  2 3$ +' lhe disse, sinh, )$e no h' o$tro +eito... ; homem empaco$

)$e nem $m +$mento... J$e no vende a roça, )$e no h' dinheiro, )$eele no precisa... 3 voc0 bem sabe )$e &irmo sempre teve /ama decabeç$do. .. -o tem +eito mesmo.  >inh ?adaró arranco$ com triste(a os olhos da oleograa1  2 pena )$e 4 $m homem )$e n$nca /e( mal A gente. . . >e no /ossepor)$e esse 4 o <nico +eito de estender a /a(enda prós lados de >e)$eirorande... >eno vai cair nas mos de Hor'cio...  >$a vo( se altero$ ligeiramente )$ando pron$ncio$ o nome odiado. =$ca aproveito$1  2 >e a gente no manda /a(er o serviço, Hor'cio manda na certa. 3)$em tiver a roça de &irmo tem a chave das matas de >e)$eiro rande..  >inh ?adaró estava perdido novamente na contemplaço do )$adro. =$ca contin$o$1

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  2 !$ sabe, >inh, )$e ning$4m conhece terra pra caca$ como e$conheço. !$ veio de /ora mas e$ +' nasci a)$i e desde menino )$e aprendia conhecer terra )$e 4 boa pro plantio. Posso te di(er )$e basta e$ pisarn$ma terra e sei logo se ela presta o$ no pro caca$eiro. $ma coisa )$etenho na sola dos p4s. Pois e$ te digo )$e no h' terra melhor pra

lavo$ra de caca$ )$e as de >e)$eiro rande. !$ sabe )$e e$ +' passeim$ita noite dentro da)$ele m$ndo de mata espiando a terra. 3 se a genteno chega l' depressa, Hor'cio chega antes. 3le tamb4m tem /aro. . .  >inh ?adaró passo$ a mo pela barba negra1  2 3 engraçado, =$ca, t$ 4 me$ irmo, t$a me /oi a mesma velha&ilomena )$e me pari$ e De$s tenha em s$a g$arda. !e$ pai era o nadoMarcelino )$e era o me$ pai tamb4m. 3 nós dois 4 to di/erente $m doo$tro como pode ser d$as pessoas no m$ndo. !$ gosta de resolver logot$do com tiros e mortes. 3$ )$eria )$e t$ me dissesse1 t$ acha bommatar gente !$ no sente nada -ada por dentro #)$i 2 e >inh?adaró mostrava o l$gar do coraço.  =$ca pito$ o cigarro, bate$ com o reben)$e na bota enlameada, ando$pela casa. Depois /alo$1  2 >e e$ no te conhecesse, >inh, mo e$ te conheço, e se no terespeitasse como me$ irmo mais velho, e$ era at4 capa( de pensar )$et$ era $m cago.  2 !$ no responde$ o )$e e$ te perg$ntei.  2 >e gosto de ver a gente morrer -em sei mesmo. J$ando tenho raivade $m, so$ capa( de cortar ele devagarinho. !$ sabe...  2 3 )$ando no tem raiva  2 !oda ve( )$e $m se mete na minha /rente tem )$e sair pra e$ passar.

!$ 4 me$ irmo mais velho e 4 t$ )$em resolve das coisas da /amElia. !$ 4)$e Pai dei@o$ tomando conta de t$do1 das roças, das meninas, de mimmesmo. !$ 4 )$e t' /a(endo a ri)$e(a dos ?adarós. Mas e$ te digo,>inh, )$e se e$ tivesse no te$ l$gar a gente tinha d$as ve(es mais terra.  >inh ?adaró levanto$2se. 3ra alto de )$ase dois metros a barbarolava2lhe pelo peito, negra de tinta. ;s olhos se acenderam, s$a vo(enche$ a sala1  2 3 )$ando t$ +' me vi$, =$ca, dei@ar de /a(er $ma coisa )$ando eranecess'rio !$ bem sabe )$e e$ no tenho esse gosto de sang$e )$e t$tem. Mas )$ando t$ +' vi$ e$ dei@ar de mandar li)$idar $m )$ando ho$venecessidade

  =$ca no responde$. %espeitava o irmo e talve( a <nica pessoa dom$ndo )$e ele temesse /osse >inh ?adaró. 3ste bai@o$ a vo(1  2 >ó )$e no so$ como t$, $m assassino. >o$ $m homem )$e só /a( ascoisas por necessidade. !enho mandado li)$idar gente, mas De$s 4testem$nha )$e só /aço )$ando no tem +eito. >ei )$e isso no vale nada)$ando chegar o dia de prestar contas l' em cima 2 apontava o c4$.1Maspara mim mesmo, tem o se$ valor.  =$ca espero$ )$e o irmo se acalmasse.  2 !$do isso por ca$sa de &irmo, $m idiota cabeç$do. !$ pode mechamar do )$e )$iser, e$ no me importo. #gora só te digo $ma coisa1no h' terra pra caca$ como as de >e)$eiro rande e se t$ )$er elas prós?adarós no h' +eito mesmo... &ilmo no vende a roça.  >inh ?adaró /e( $m gesto com a mo, =$ca compreende$, chamo$ os

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homens )$e estavam na varanda. Mas, antes )$e eles entrassem, disse1  2 >e t$ no )$er, e$ e@plico t$do aos cabras.

>inh semicerro$ os olhos, sento$2se na alta cadeira1  2 J$ando decido $ma coisa, tomo a responsabilidade. 3$ mesmo /alo.  ;lho$ o )$adro, to tran)$ilo na s$a pa( a($l. >e a)$ela terra

retratada na oleograv$ra /osse boa para o c$ltivo do caca$ ele, >inh?adaró, teria )$e mandar +ag$nços pra detr's de $ma 'rvore, para aFtocaiaF, +ag$nços )$e li)$idassem os pastores )$e tocavam gaita, a moçarosada )$e dançava to alegre... ;s homens estavam esperando, ele /e($m es/orço, es)$ece$ toda a cena do )$adro, a m$lher parando se$ bailecom o tiro )$e ele mandara dar, começo$ a repetir ordens com s$a vo(pa$sada de sempre, rme e calma.

  Pela estrada onde o venta da tarde levanta $ma poeira vermelha debarro vo dois homens, cada $m com s$a repetiço a tiracolo. Biriato,m$lato sarar' )$e viera do serto, propKe $ma aposta1  2 !o$ apostando cinco mil2r4is )$e o homem vem 4 do me$ lado. . .  #contecia )$e a estrada real se bi/$rcava nas pro@imidades da/a(endola de &irmo. Por isso >inh ?adaró mandara dois homens. mpara cada caminho. ; negro Damio, )$e era se$ homem de conança,certeiro na pontaria, devotado como $m co de caça, caria no atalho poronde era mais prov'vel )$e &irmo passasse, economi(ando caminho etempo. Biriato esperaria na estrada real, por detr's de $ma goiabeiraonde +' o$tros haviam caEdo antes. Biriato est' propondo $ma aposta e

apesar de )$e 4 )$ase certo )$e &irmo venha pelo atalho, Damio noaceita. Biriato se admira1  2 !o$ te desconhecendo, irmo. !' c$rto de arame...  Mas no era por)$e lho /altasse cinco mil2r4is, sal'rio de dois dias,)$e Damio no aceitava. M$itas ve(es havia apostado mais )$e isso, emo$tras tocaias, no$tras tardes como esta. Mas ho+e h' alg$ma coisa )$e oimpede de aceitar.  # noite vai caindo sobre os dois homens na estrada deserta de viandantes. >ó encontraram at4 agora $m homem montado n$m b$rro)$e os olho$ m$ito e logo esporeo$ o b$rro pedindo distOncia. J$em noconhece nessas redonde(as ao negro Damio, o +ag$nço de conança de

>inh ?adaró >$a /ama corre terra, h' m$ito )$e est' al4m da Palestina,de &erradas e de !abocas. Dos bote)$ins de Ilh4$s* onde comentavamse$s /eitos, ele via+ara nos pe)$enos navios at4 a capital e $m +ornal da?ahia +' p$blicara se$ nome em letra redonda. Como era $m +ornal deoposiço /alava m$ito mal dele, chamava2o de nomes /eios. Damio selembra per/eitamente desse dia1 >inh ?adaró o mandara chamar nacasa2grande na hora do almoço. 3stava m$ita gente na mesa, onde asgarra/as de vinho destapadas revelavam a presença do +$i(. 3stavatamb4m o Dr. enaro, o advogado dos ?adarós, e /ora ele )$em tro$@erao +ornal. Dr. enaro no era brilhante como o Dr. %$i, no sabia /a(er

a)$eles disc$rsos cheios de palavras bonitas, mas conheciametic$losamente todos os intrincados detalhes da lei e de como passar

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por cima da lei, e >inh ?adaró o pre/eria a )$al)$er dos v'riosadvogados do /oro de Ilh4$s. >inh ?adaró sorri$ para Damio, mostro$2oaos o$tros1  2 !' a)$i a /era. . .  Como ele ri$, Damio ri$ tamb4m, se$ largo riso inocente, os dentes

brancos e per/eitos brilhando na enorme boca negra. ; +$i( b0bado ri$alegremente mas o Dr. enaro apenas sorri$ e dava a impresso de )$e o/a(ia por p$ra cortesia. >inh ?adaró contin$o$, agora /alava paraDamio1  2 !$ sabe, negro, )$e os +ornais da capital to se oc$pando de ti Di()$e no h' melhor matador nessa (ona )$e Damio, o cabra de >inh?adaró.  Di(ia com org$lho e com org$lho Damio responde$1  2 3 verdade, >inh, sim. -o sei de cabra mais certeiro na pontaria)$e esse negro )$e t' a)$i 2 e ri$ novamente com satis/aço.  Dr. enaro engoli$ em seco, enche$ se$ copo. ; +$i(acompanho$ a gargalhada de >inh ?adaró. 3sse le$ a notEcia paraDamio )$e só a compreende$ pela metade, havia m$itos termosdemasiado di/Eceis para ele. Mas se /oi satis/eito por)$e >inh ?adarógritara para dentro1  2 DonG#na DonG#na  # lha chego$ da co(inha onde dirigia o andamento do almoço, eramorena e /orte, silvestre or da mata1  2 J$e 4, pai  ; +$i( a olhava de olhos interessados. >inh ?adaró ordeno$1  2 !ira cin)$enta mil2r4is do co/re e d' a Damio. ; nome dele anda

pelos +ornais..  Depois despedi$ o negro e a conversa contin$ara na sala de almoço.Damio /ora a Palestina gastar o dinheiro com as rameiras. ?ebera anoite toda e a toda gente contava )$e $m +ornal da ?ahia tinha escrito)$e no havia pontaria como a dele.  Por isso o homem montado esporeava o b$rro. >abia )$e tiro do negroDamio era cai@o de enterro encomendado e sabia tamb4m )$e cabra de>inh ?adaró era cabra garantido, no havia polEcia para eles. !oda agente sabia )$e o +$i( era homem dos ?adarós, at4 roça tinham botadopara ele, os ?adarós estavam por cima na polEtica, contavam com a +$stiça. J$ando o homem esporeo$ o b$rro, Biriato ri$ se divertindo. Mas

o negro Damio co$ s4rio e Biriato repeti$1  2 !o$ te desconhecendo, irmo..  Damio tamb4m estava se desconhecendo. M$itas ve(es +' /ora parao$tras FtocaiasF, esperar homens a )$em matar. 3 ho+e era como se /ossepela primeira ve(.  #)$i a estrada se bi/$rcava. Biriato insisti$1  2 -o )$er apostar, negro  2 =' disse )$e no.  >e separaram, Biriato /oi assobiando. # noite descera completamente,a l$a iniciava s$a s$bida para o c4$. -oite boa para $ma FtocaiaF. >e via aestrada como se /osse de dia. ; negro Damio tomo$ pelo atalho, sabiade $ma 'rvore magnEca para a espera. 3ra $ma +a)$eira /rondosa nabeira da estrada, parecia de propósito para $m homem se esconder atr's

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dela e atirar no )$e passasse. F-$nca atirei em nenh$m dessa +a)$eiraF,penso$ Damio. ; negro vai triste, desde a varanda ele o$vira a conversados irmos ?adarós. ;$vira o )$e >inh dissera a =$ca e 4 isso )$e opert$rba nessa noite. >e$ coraço inocente est' apertando n$ma agonia.-$nca Damio se senti$ assim. -o compreende, nada lhe dói no corpo,

no est' doente, e no entanto era como se o estivesse.  >e antes alg$4m lhe dissesse )$e era terrEvel esperar homens naFtocaiaF para mat'2los, ele no acreditaria, pois se$ coraço era inocentee livre de toda a maldade. #s crianças da /a(enda adoravam o negroDamio )$e servia de cavalo para as mais pe)$enas, )$e ia b$scar +acamole nas grandes +a)$eiras, cachos de banana2o$ro nos bananais onde viviam as cobras, )$e selava cavalos mansos para os maiore(inhospassearem, )$e levava todos para o banho no rio e lhes ensinava a nadar. #s crianças o adoravam, para elas ning$4m era melhor )$e o negroDamio.  >$a prosso era matar, Damio nem sabe mesmo como começo$. ;coronel manda, ele mata. -o sabe )$antos +' mato$. Damio no sabecontar al4m de cinco e ainda assim pelos dedos. !ampo$co lhe interessasaber. -o tem ódio de ning$4m, n$nca /e( mal a pessoa alg$ma. Pelomenos assim penso$ at4 ho+e. Por )$e ho+e tem o coraço pesado como seestivesse doente delicado na s$a r$de(a, se h' $m trabalhadoren/ermo na /a(enda, logo aparece Damio para /a(er companhia, paraensinar rem4dios de ervas, para chamar =eremias, o /eiticeiro. Por ve(esos cai@eiros2via+antes )$e param na casa2grande obrigam2no a contaralg$mas das mortes )$e ele pratico$. Damio narra com vo( calma,inocente de todo o mal. Para ele $ma ordem de >inh ?adaró 4

indisc$tEvel. >e ele manda matar h' de matar. Da mesma maneira )$e)$ando ele manda selar a s$a m$la preta para $ma viagem h' )$e selar am$la preta rapidamente. 3 demais, no h' o perigo da cadeia por)$ecabra de >inh ?adaró n$nca /oi preso. >inh sabe garantir os se$shomens, trabalhar para ele 4 $m pra(er. -o 4 como o coronelClementino )$e mandava /a(er o trabalho e depois entregava os homens.Damio despre(ava o coronel. m patro assim no 4 patro para $mhomem de coragem servir. ele o servira m$ito antes )$ando era $mrapa(ola. L' aprendera a atirar, para Clementino matara o primeirohomem. 3 $m dia teve )$e /$gir da /a(enda por)$e a polEcia /ora proc$r'2lo e o coronel nem o avisara se)$er... >e acoitara em terras

dos ?adarós e agora era o homem de conança de >inh >e no se$coraço h' alg$m ma$ sentimento 4 o despre(o pro/$ndo )$e ele sentepelo Coronel Clementino. Por ve(es, )$ando /alam no se$ nome nas casasdos trabalhadores, o negro Damio cospe e di(1  2 #)$ilo no 4 homem. mais covarde )$e $ma m$lher... Devia vestirsaia...  Di( e depois ri com se$s dentes brancos, com se$s olhos grandes, como rosto todo. %isada /eli( e s, inocente como a gargalhada de $macriança. %olava pela /a(enda, ning$4m a disting$ia da risada das crianças)$ando Damio estava brincando com elas no terreiro, ao lado da casa2grande.  ; negro Damio chega A +a)$eira. !ira a repetiço, coloca2a sobre otronco d' 'rvore. De $m bolso da calça de b$lgariana saca o pedaço de

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/$mo de corda. Começa com o /aco a cortar /$mo para $m cigarro. # l$aagora 4 enorme e redonda, to grande assim Damio n$nca vi$. >ente)$edentro dele alg$ma coisa se aperta como se tivesse $ma mo enorme,$ma das s$as enormes mos negras, a apert'2lo por dentro. -os se$s

o$vidos ainda soam as palavras de >inh ?adaró1 F!$ acha bom matargente !$ no sente nada -ada por dentroF Damio n$nca penso$ )$ese p$desse sentir nada. 3 ho+e ele sente, as palavras do coronel estosobre se$ peito como $m peso impossEvel de arrancar, mesmo por $mnegro /orte como Damio. ele sempre odio$ a dor /Esica. >$portava2abem, $ma ve( de$ $m pro/$ndo talho no braço es)$erdo com o /aco,)$ando cortava os cocos de caca$ nas roças. #tingira )$ase o osso e eleodio$ a dor, se bem )$e contin$asse assobiando en)$anto DonG#na?adaró botava iodo na /erida. ;$tra ve( =ac$ndino o cortara tamb4m a/aco, tr0s talhos n$ma perna. #)$ilo, a)$ela dor ele compreendia, era$ma coisa )$e estava, por assim di(er, diante dos se$s olhos. Mas o )$eele sente agora 4 di/erente. Coisas em )$e ele n$nca penso$ enchem s$acabeça )$ase to grande como a de $m boi. !inha as palavras de >inh?adaró metidas na cabeça e atr's delas vinham imagens e sensaçKes, velhas imagens +' es)$ecidas e novas sensaçKes antes desconhecidas.  #cabo$ de /a(er se$ cigarro. # l$( do /ós/oro brilho$ na mata. Pito$.ele n$nca p$dera imaginar o coronel com remorso. 3ra remorso apalavra. ma ve( $m cai@eiro2via+ante lhe perg$ntara se ele, Damio, notinha remorsos. ele pedira )$e lhe e@plicasse o )$e era. ; via+antee@plico$ e Damio apenas disse na maior inoc0ncia1  2 Por )$e

  ; cai@eiro2via+ante saEra assombrado e at4 ho+e narrava o caso nosca/4s da ?ahia, )$ando, com o$tros, disc$tia sobre a h$manidade, a vida,os homens, e o$tras losoas. Depois, n$m -atal, >inh ?adaró tro$@era$m /rade para celebrar missa na /a(enda. Havia armado $m altar na varanda 2 $ma bele(a de altar, ao se lembrar Damio sorri se$ <nicosorriso dessa noite de FtocaiaF 2 Damio a+$dara m$ito a DonG#na, a +'nada LEdia, esposa de >inh, a ;lga, m$lher de =$ca, )$e tratavam da/esta. ; /rade chego$ de noite, ho$ve $m +antar com $ma innidade depratos, galinhas, per$s, carne de porco e de carneiro, caça e at4 pei@e)$e haviam mandado b$scar em Tg$a2?ranca. Havia a)$ela pedra /ria)$e chamavam gelo e DonG#na, )$e era $ma menina cando moça, dera

$m pedaço a Damio, pedaço )$e lhe )$eimara a boca. DonG#na riram$ito com a cara desconsolada do negro. -o o$tro dia /oi a missa, )$emera amigado se caso$, os meninos se bati(aram, os padrinhos eramsempre da /amElia dos ?adarós. Por m o /rade /e( $m sermo, $mdisc$rso )$e nem o Dr. %$i era capa( de /a(er to bonito nos +$ris deIlh4$s. verdade )$e ele tinha a lEng$a meio embolada por)$e eraestrangeiro, mas talve( por isso mesmo )$ando /alava do in/erno, daschamas )$e )$eimavam os condenados para todo o sempre, /a(iaestremecer os homens. #t4 Damio cara com medo. #ntes n$ncapensara no in/erno, depois tampo$co volto$ a pensar. >ó ho+e se lembrado /rade, da s$a vo( gritando com ódio contra os )$e matavam se$ssemelhantes. ; /rade /alara m$ito em remorso, o in/erno em vida. Damio +' sabia o )$e era remorso, mas na)$ela ocasio tampo$co a palavra o

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impressiono$. &icara impressionado, sim, com a descriço do in/erno, $m/ogo )$e no acabava, $m )$eimar sem m das carnes. -o p$lso Damiotem a marca de $ma )$eimad$ra, $ma brasa )$e lhe caEra em cima, $mdia em )$e a+$dava as negras na co(inha. Doera de /a(er medo. Imagineento o corpo todo )$eimado e )$eimando sempre, sempre, sempre. 3 o

/rade disse )$e bastava matar $m para ir com certe(a pro in/erno.Damio nem sabe )$antos mato$. >abe )$e /oram mais de cinco por)$eat4 cinco sabe contar e conto$. Depois perdera a conta, sem achar )$ea)$ilo tivesse m$ita importOncia. -o entanto ho+e, en)$anto /$ma se$cigarro na FtocaiaF, ele se es/orça in$tilmente para se recordar de todos.Primeiro /ora a)$ele tropeiro )$e des/eiteara o coronel Clementino. &ora$ma coisa inesperada, ele ia com o coronel, montados os dois, )$andocr$(aram com a tropa )$e via+ava para o ?anco2da2Bitória. ; tropeiro)$ando vi$ Clementino lançara o longo chicote de tocar os b$rros na carado coronel. Clementino cara branco, gritara para Damio1  2 #bai@a ele. . .  &oi com $m revólver )$e levava no cinto. #tiro$ e o tropeiro cai$, osb$rros passaram por cima do cad'ver. Clementino toco$ para a /a(enda,no rosto levava a marca vermelha do chicote. Damio nem tivera tempode pensar no caso por)$e a polEcia aparece$ dias depois e ele tivera )$e/$gir. Depois começaria a matar para >inh ?adaró1 Ne)$inha &ontes, ocoronel 3d$ardo, a)$eles dois +ag$nços de Hor'cio no encontro de!abocas, /a(iam cinco, mas +' >Elvio da !oca o negro Damio no sabia)$e n<mero era. M$ito menos o homem )$e )$isera atirar em =$ca?adaró n$ma casa de m$lheres em &erradas e )$e só no atiro$ por)$eDamio p$@ara antes o revólver. M$ito menos os )$e se seg$iram. J$e

n<mero seria &irma FBo$ pedir a DonG#na )$e me ensine a contar nao$tra mo.F Havia trabalhadores )$e sabiam contar nos dedos da mo enos dedos dos p4s, mas estes eram $ns inteligentes, no eram $m negrob$rro como Damio. Mas agora era necess'rio saber contar pelo menosos dedos da o$tra mo. J$antos homens +' havia matado # l$a sobesobre a +a)$eira, il$mina a estrada por onde vir' &irmo. >im, por)$e comcerte(a ele vir' por a)$i e no pela estrada real onde est' Biriato. $matalho de )$ase $ma l4g$a, &irmo deve estar com pressa de chegar emcasa, de arrancar as botas e deitar com dona !eresa, s$a m$lher. Damioa conhecia, alg$mas ve(es parara em /rente da casa, )$ando ia de viagem, para pedir $m caneco de 'g$a. 3 dona !eresa, $m certo dia at4

lhe dera $ma pinga e trocara d$as palavras com ele. 3ra bonita, branca)$e nem $m papel de escrever. Mais branca )$e DonG#na. DonG#na eramorena, )$eimada do sol. Dona !eresa parecia )$e n$nca tinha estado aosol, )$e o sol no )$eimava s$as /aces, s$a carne branca. !inha vindo dacidade, era lha de $m italiano e poss$Ea $ma vo( bonita, parecia )$eestava cantando )$ando /alava. &irmo, com certe(a, vem com pressa dechegar em casa, deitar com a m$lher, se enar na)$elas carnes brancas.M$lher na)$elas bandas era coisa rara. !irando as rameiras dospovoados, )$atro o$ cinco em cada $m, cada )$al mais acabada dedoença, apenas $ns po$cos homens tinham m$lher. 3 claro )$e isso sepassava com os trabalhadores e &irmo no era $m trabalhador, tinha $marocinha, ia andando para a /rente, se dei@assem ia acabar $m coronelcom m$itas terras. ?otara a rocinha, /oi logo pra Ilh4$s arran+ar $ma

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m$lher. Casara com a lha de $m italiano )$e era padeiro. M$lher brancae bonita, at4 haviam dito )$e =$ca ?adaró, )$e era doido por m$lher,andara de ;lho nela. Damio no sabia ao certo. Mas mesmo )$e /osse verdade, com certe(a ele no tinha )$erido nada por)$e =$ca arrepiaracarreira e os coment'rios haviam cessado. >im, no tinha d<vida, &irmo

 viria pelo atalho, no ia encompridar caminho )$ando tinha $ma m$lherbranca e moça esperando por ele. 3G a verdade 4 )$e o negro Damioest' pre/erindo )$e &irmo venha pela estrada real... a primeira ve( )$elhe acontece isso. -a con/$so )$e vai pela s$a cabeça e pelo se$ peitoele sente tamb4m $ma certa h$milhaço.  Parecia at4 )$e ele no estava acost$mado. Parecia at4 #ntónio BEtor,a)$ele trabalhador )$e viera de >ergipe e )$e )$ando matara $m homemno encontro de !abocas, com a gente de Hor'cio, cara tremendo a noitetoda, chegara mesmo a chorar )$e nem $ma /0mea. Depois acost$mara eagora era o capanga de =$ca ?adaró, andava sempre a se$ lado nas s$as viagens. J$em estava ig$al a #ntónio BEtor, na)$ele dia era o negroDamio como se no estivesse acost$mado a car $ma noite toda naFtocaiaG esperando $m homem. >e os o$tros so$bessem ia se rir delecomo se haviam rido de #ntónio BEtor na)$ela noite do bar$lho de!abocas. ; negro Damio /echa os olhos para ver se conseg$e es)$ecertodas a)$elas imagens. ; cigarro +' acabo$ e ele pensa se vale a pena/a(er o$tro. !em po$co /$mo e a espera pode demorar. J$em sabe a )$ehoras vir' &irmo &ica indeciso, est' )$ase contente por)$e agora sópensa nesse problema do /$mo. &$mo bom... 3sse 4 sertane+o do bom, o)$e 4 /eito em Ilh4$s no vale nada, 4 $ma desgraça, seco, no d$ra...Mas )$e /a( ali !eresa 3 branca, Damio est' pensando e no /$mo

negro, )$e 4 )$e vem /a(er ali o rosto branco de dona !eresa J$em achamo$ ; negro Damio tem raiva. M$lher 4 sempre metida, aparecesempre onde ning$4m a chama. M's tamb4m, por )$e >inh ?adaró,na)$ela tarde, dera de /alar na)$elas coisas para o irmo Por )$e pelomenos no mandara )$e ele e Biriato /ossem para longe Da varandao$via a conversa toda1  2 !$ acha bom matar gente !$ no sente nada -ada por dentro  ; negro Damio est' sentindo. #ntes n$nca sentia nada. !alve( se no/osse >inh ?adaró )$em ho$vesse /alado, se /osse o próprio =$ca, talve(ele nem ligasse. Mas >inh ?adaró era como $m de$s para Damio.%espeitava2o mais )$e a =eremias, o /eiticeiro )$e o tinha Fc$radoF de

bala e de mordida de cobra. 3 as palavras tinham cado dentro dele,pesavam sobre se$ coraço, andavam pela s$a cabeça. 3 tra(iam Para as$a /rente o rosto branco de dona !eresa, esperando o marido, repetindoas palavras de >inh ?adaró, as palavras do /rade tamb4m. 3la era meioestrangeira como o /rade. >ó )$e a vo( do /rade era cheia de raiva,an$nciava coisas terrEveis, e a vo( de dona !eresa era doce como $mam$sica.  =' no pensava em /a(er $m cigarro e pitar. Pensava era em dona!eresa esperando &irmo para o amor na cama de casal. Carnes brancas)$e esperavam o marido. !inha cara de ser $ma criat$ra boa. ma ve(dera $ma pinga ao negro Damio... 3 trocara com ele $mas palavrassobreo sol )$e batia a estrada na)$ela tarde. >im, era $ma m$lher boa, sem

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besteiras. ?em )$e podia nem ter /alado a $m negro assassino comoDamio. 3la tinha s$a roça de caca$, podia ser $ma org$lhosa comotantas o$tras. Mas tinha lhe dado $ma pinga e /alara sobre o solescaldante. -o tivera medo dele como m$itas o$tras... M$itas o$tras)$e, mal en@ergavam o negro Damio )$e vinha vindo, se escondiam pela

casa adentro, eram os maridos )$e atendiam. Damio sempre se riradesse medo )$e alg$mas senhoras lhe tinham, at4 se org$lhava dele1 eraa s$a /ama, )$e corria m$ndo. Mas ho+e, Damio, pela primeira ve(,imagina )$e no /$giam de $m negro valente. J$e /$giam de $m negroassassino... m negro assassino... %epeti$ as palavras bai@inho,devagarinho, e elas soaram tragicamente aos se$s o$vidos. ; /rade disse)$e ning$4m deve matar os o$tros, )$e 4 $m pecado mortal )$e sepagava com o in/erno Damio no ligara. Mas ho+e /ora >inh ?adaró )$edissera a)$elas coisas sobre matar. m negro assassino. . . 3 dona !eresaera boa, bonita como )$e, branca como ela no havia o$tra nas /a(endaspró@imas... ostava do marido, bem se via, tanto )$e nem aceitara oarrastar de asa de =$ca ?adaró, homem rico por )$em as m$lheres viviamse babando. . . #s m$lheres tinham medo dele, do negro Damio, oassassino. .. #gora se recordava de $ma s4rie longa de detalhes,m$lheres )$e desapareciam dos terreiros )$ando ele s$rgia, o$tras )$e oespiavam a medo pelas /restas das +anelas, a)$ela prostit$ta de &erradas)$e no )$is dormir com ele de +eito nenh$mF apesar dele mostrar a notade de( mil2r4is na mo... -o )$isera dormir com ele. -o dissera por)$0, inventara )$e estava doente, mas na s$a cara, Damio vira o$tracoisa1 o medo. -o ligara, rira s$a gargalhada ampla, /oi em b$sca deo$tra m$lher. Mas agora a rec$sa da rameira lhe dói no peito +' to /erido

nesse dia. >ó DonG#na ?adaró era boa com ele, no tinha medo do negro.Mas DonG#na era $ma m$lher valente, era da /amElia dos ?adarós. #scrianças 4 )$e no tinham medo dele, as crianças no entendiam nadaainda, no sabiam )$e ele era $m assassino )$e ia para as FtocaiasFesperar homens para derr$bar com s$a pontaria certeira. ostava dascrianças. >e entendia melhor com elas )$e com os grandes. ostava debrincar com os ing4n$os brin)$edos dos meninos das casas2grandes,gostava de /a(er as vontades dos lhos miser'veis dos trabalhadores. >edava bem com as crianças. . . 3, de s<bito, a id4ia aterradora corto$ s$acabeça1 e se dona !eresa estivesse prenhe, $m lho na barriga Ia nascersem pai, o pai teria cado debai@o da pontaria do negro Damio. . . &a(

$ma /orça imensa, s$a enorme cabeça est' pesada como nos dias degrande bebedeira1 no, dona !eresa no est' gr'vida, ele reparara bemnela no dia em )$e haviam trocado d$as palavras na porta da casa de&irmo. 3la no tinha barriga nenh$ma, no, no estava prenhe... Mas isso +' /a(ia seis meses, )$em sabe se agora ?em )$e pode estar pra parir,$m lho na barriga... Ia nascer sem pai, ia saber )$e o pai caEra naestrada n$ma noite de l$a, derr$bado pelo negro Damio. 3 teria ódio donegro, no seria como as o$tras crianças )$e vinham brincar comDamio, )$e s$biam nas s$as costas )$ando ainda no podiam montarnos b$rros mais mansos.. -o comeria +aca colhida pelo negro Damio,nem banana2o$ro )$e o negro ia b$scar nos bananais. ;lharia o negrocom ódio, para ele Damio seria sempre o assassino de se$ pai...  Damio sente $ma triste(a innita. # l$a sobre ele, a +a)$eira o

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esconde da estrada, a repetiço descansa no tronco. ;$tros marcavam nocabo da arma, com $m traço, cada morto derr$bado. 3le n$nca o (erapor)$e no )$eria estragar s$a repetiço. ostava dela, g$ardava2asempre depend$rada sobre s$a cama de t'b$as, sem colcho. Por ve(es,A noite, >inh ?adaró tinha )$e sair de viagem e mandava chamar o

negro para acompanh'2lo. 3ra só pegar da repetiço e andar para a casa2grande. ;s b$rros +' estavam selados, )$ando >inh montava elemontava tamb4m, ia atr's do patro, a repetiço na /rente da sela. Podia$m homem de Hor'cio estar escondido na estrada. #contecia )$e >inh?adaró o chamava para a /rente e ia conversando com ele sobre as raças,as sa/ras, sobre o estado do caca$ mole, sobre $ma s4rie de coisas )$e serelacionavam com a vida da /a(enda. 3sses eram dias /eli(es para o negroDamio. &eli(es tamb4m por)$e, )$ando chegavam no termo da viagem1%io2do2?raço, !abocas, &erradas o$ Palestina, o coronel lhe dava $manota de cinco mil2r4is e ele ia passar o resto da noite na cama com $mam$lher. #E dei@ava a repetiço nos p4s da cama por)$e >inh poderia)$erer voltar a )$al)$er momento e $m mole)$e do povoado corria ascasas de m$lheres A proc$ra do negro. 3le saltava da cama 2 certa noitesalto$ mesmo do corpo da m$lher 2 pegava da repetiço e ia de novo. >eencaminhara com a arma, a tra(ia limpa, dava gosto ver. Ho+e, noentanto, nem a )$er mirar, se$s olhos proc$ram o$tra viso. # l$a est' noalto dos c4$s. Por )$e se pode tar a l$a e no h' olhos )$e ag$entemtar o sol 3sse problema n$nca ocorrera ao negro Damio #gora setranca nele, s$a cabeça toda empregada em resolve2lo. #ssim no v0 dona!eresa, nem o lho )$e ela vai ter, nem a vo( de >inh ?adaróperg$ntando a =$ca1

  2 !$ acha bom matar gente !$ no sente nada -ada por dentro  Por )$e ning$4m pode olhar o sol de cara para cima -o h' )$emag$ente. !amb4m aos homens )$e matara, Damio n$nca havia olhadodepois. -o tinha tempo, tinha )$e arribar logo depois de /eito oFtrabalhoF. !amb4m n$nca tivera o desgosto de saber )$e $m cara com vida, como o nado Bicente aranga$ )$e tinha tanta /ama e /oi acabarnas mos de $m em )$em atirara. -o /oi se certicar se o homem estavamorto mesmo e depois termino$ da)$ela maneira horrorosa, cortado aospedacinhos. . Damio tamb4m n$nca /oi ver nenh$m dos )$e derr$bo$.Como cariam 3le +' vi$ m$ito homem morto, mas como seria )$ehaviam de car os )$e ele mato$ Como caria &irmo nessa noite de

ho+e Cairia de br$ços sobre o b$rro, )$e o arrastaria na corrida, o$cairia logo no cho, o sang$e correndo do peito #ssim de peito /$rado olevariam para casa )$ando o encontrassem no o$tro dia. Dona !eresa laestaria aita com a demora. 3 )$e /aria )$ando o visse chegar +' /rio,morto pelo negro Damio #s l'grimas desceriam pelo se$ rosto brancode cal. !alve( at4 (esse mal A prenhe( dela. !alve(, com o cho)$e,tivesse o lho antes do tempo. !alve( at4 morresse, )$e era /raca, tomagra na s$a branc$ra... #ssim, em ve( de matar $m, o negro teriamatado dois. . . !eria matado $ma m$lher e isso $m negro valente no/a(... 3 o menino -o estava contando com o menino. Com o menino 2Damio conto$ nos dedos R eram tr0s. . . #gora +' no disc$tia )$e !eresaestivesse gr'vida. 3ra $ma coisa certa para ele. Ia matar tr0s nessanoite.. m homem, $ma m$lher e $m menino. ;s meninos so to lindos,

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bons para o negro Damio, gostam dele. Com a)$ele tiro ele ia matar$m... 3 tamb4m a dona !eresa, a carne branca morta no cai@o dede/$ntos, o enterro saindo para o cemit4rio de &erradas )$e era o maisperto. Ia ser preciso m$ita gente para levar os tr0s cai@Kes. Iriam b$scargente pela redonde(a, possivelmente ac$diriam A /a(enda dos ?adarós. 3

Damio viria e levaria o cai@o(inho a($l da criança )$e estaria vestidade an+o... 3ra )$ase sempre ele )$em levava os cai@Kes de Fan+oG )$ando$ma criança morria na /a(enda. Damio arran+ava ores silvestres,en/eitava o cai@o, levava2o no ombro. Mas o do lho do &irmo ele nopoderia levar... Pois se /oi ele )$em o mato$... ; negro Damio /a( /orçanovamente. >$a cabeça no lhe obedece, por )$e # verdade 4 )$e eleno mato$ nenh$ma criança, no mato$ dona !eresa, no mato$ nemmesmo a &irmo ainda. -esse momento /oi )$e a id4ia de no matar&irmo aparece$ pela primeira ve( na cabeça do negro Damio.Levemente apenas, ele no chego$ propriamente a pensar em no matar.&oi $ma coisa r'pida e /$gidia, mas ainda assim o amedronto$. Como noc$mprir $ma ordem de >inh ?adaró Homem direito, >inh ?adaró.Demais gostava dele, do se$ negro Damio. -a estrada conversava comele, tratava2o )$ase como a $m amigo. 3 DonG#na tamb4m. Lhe davamdinheiro, se$ sal'rio era dois mil e )$inhentos r4is por dia, mas em verdade ele tinha m$ito mais, cada homem )$e derr$bava era $magraticaço na certa. #l4m de )$e trabalhava po$co, h' m$ito )$e no iapara as roças, cava sempre /a(endo pe)$enos serviços na casagrande,acompanhando o coronel nas s$as viagens, brincando com as crianças,esperando ordens para matar $m homem.. >$a prosso1 matar. #goraDamio se d' per/eita conta disso. >empre lhe parecera )$e ele era $m

trabalhador da /a(enda dos ?adarós. #gora 4 )$e via )$e era apenas $mF+ag$nçoF. J$e s$a prosso era matar, )$e, )$ando no havia homens)$e derr$bar na estrada, ele no tinha nada )$e /a(er. #companhava>inh mas era para g$ardar a vida dele, era para bai@ar alg$m )$e)$isesse balear o coronel. 3ra $m assassino.. 3ssa /ora a palavra )$e>inh ?adaró empregara a respeito de =$ca, na conversa da)$ela tarde.Palavra +$sta para ele tamb4m. #inda agora )$e /a(ia ali seno esperar$m homem para atirar nele 3stava sentindo alg$ma coisa por dentro,alg$ma coisa )$e era terrivelmente dolorosa. DoEa como $ma /erida. 3racomo se o tivessem ap$nhalado por dentro. # l$a brilha sobre a matasilenciosa. Damio se lembra )$e pode /a(er $m cigarro, assim ter'

alg$ma coisa em )$e se oc$par.  J$ando acabo$ de acender o cigarro a id4ia volto$1 e se ele nomatasse &irmo #gora chego$ como $ma coisa denida, Damio seencontro$ pensando no ass$nto. -o, isso no era possEvel. Damio sabiaper/eitamente por )$e >inh ?adaró necessitava da morte de &irmo. 3rapara poder mais /acilmente se apossar da s$a roça e marchar para asmatas de >e)$eiro rande. J$ando os ?adarós tiverem a)$elas matas vo ter a /a(enda maior do m$ndo* vo ter mais caca$ )$e o resto de todagente +$nta, vo ser mais ricos )$e mesmo o coronel Misael. -o, dei@arde li)$idar &irmo nessa noite era /altar A conança )$e >inh depositavanele. >e o mandara 4 por)$e conava no negro Damio. !inha )$e matar.>e a/erro$ a esse pensamento. Matara tantos antes, por )$e ho+e era todi/Ecil ; pior era !eresa, a branca dona !eresa, com $m lho no b$cho.

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Ia morrer com certe(a, o menino tamb4m. 3st' vendo dona !eresa, antesa)$i era o branco l$ar )$e caEa, agora 4 o rosto alvo da m$lher de &irmo.-em )$e tivesse bebido, $m porreme. ;$tros bebiam antes de ir li)$idar $m homem. 3le n$nca preciso$. Beio sempre calmo, conante na s$a pontaria. -$nca preciso$ tomar $m

trago como os o$tros, se embebedar para atirar n$m homem. Mas ho+ese encontra mo se tivesse bebido m$ito e a cachaça tivesse s$bido. 3st' vendo no cho o rosto branco de dona !eresa. #ntes era o l$ar, alvo deleite, se derramando sobre a terra. Biro$ dona !eresa, de rosto branco eaito, de rosto aberto n$ma s$rpresa tr'gica* estava esperando o maridopara o amor, ele chegava morto, $ma bala no peito. Do cho ela olhavapara o negro Damio. 3st' pedindo )$e ele no mate &irmo, )$e peloamor de De$s ele no mate... -o cho de l$ar o negro v0 per/eitamente visto o rosto de !eresa. >e estremece todo, se$ enorme corpo de gigante.  -o, no podia atender, dona !eresa. >inh ?adaró mando$, o negroDamio tem )$e /a(er. -o podia trair a conança de $m homem direitocomo >inh ?adaró. #inda se /osse =$ca )$e tivesse mandado.. Mas era>inh, dona !eresa, esse negro no pode /a(er nada. # c$lpa tamb4m 4 dese$ marido... Por )$e diabo ele no vende a roça -o t' vendo )$econtra os ?adarós ele no pode l$tar Por )$e ele no vende$ a roça,dona !eresa -o chore )$e o negro Damio 4 capa( de chorar tamb4m...3 $m cabra valente no pode chorar )$e se desmorali(a. ; negro Damiolhe +$ra )$e se p$desse no matava &irmo, lhe /a(ia a vontade. Mas /oi>inh )$em mando$, negro Damio tem )$e obedecer...  J$em disse )$e Dona !eresa era boa mentira. #gora ela abre a bocae com s$a vo( m$sical repete a)$elas palavras de >inh ?adaró1

  2 !$ acha bom matar gente !$ no sente nada -ada por dentro  # vo( dela 4 m$sical mas 4 terrEvel tamb4m. >oa como $ma praga namata, no coraço amedrontado do negro. ; cigarro se apago$, ele notem coragem de riscar $m /ós/oro para no despertar as assombraçKes damata. >ó agora penso$ nelas por)$e esse rosto de dona !eresa sedesenhando no cho 4 com certe(a coisa de br$@aria. Damio sabe )$em$ita gente tem rogado praga contra ele. Parentes de gente )$e elemato$. Pragas horrEveis, ditas na hora do so/rimento e do ódio. Mas eramcoisas distantes. Damio apenas sabia delas por o$vir di(er. #gora no. dona !eresa )$e est' ali, se$s olhos tristes, se$ branco rosto, s$a vo(m$sical e terrEvel. #maldiçoando o negro Damio. Perg$ntando se ele no

sente nada por dentro, l' no /$ndo do coraço. >ente, sim, dona !eresa.>e o negro Damio p$desse no matava &irmo. Mas no tem +eito, no 4por)$e ele )$eira, no. . .

3, se dissesse )$e erro$ o tiro 3ra $ma id4ia nova, il$mino$ oc4rebro de Damio. Por $m seg$ndo ele vi$ o l$ar em ve( do rosto de!eresa. &icaria desmorali(ado, o$tros cabras no erravam a pontaria,)$anto mais o negro Damio >$a pontaria era a melhor de toda a)$ela(ona do caca$. -$nca dera dois tiros para matar $m homem. ?asto$sempre com o primeiro. &icaria desmorali(ado, toda a gente ia rir dele,at4 as m$lheres, at4 os meninos. >inh ?adaró daria se$ l$gar a o$tro...Iria ser $m trabalhador como os o$tros, colhendo caca$, tocando b$rros,dançando na barcaça para secar os caroços moles. !oda gente ia rir dele.-o, no podia. Demais ia trair da mesma maneira a conança de >inh

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?adaró. ; coronel precisava )$e &irmo morresse, )$em tinha c$lpa eramesmo &irmo )$e era to cabeç$do.  Dona !eresa sabe de t$do no m$ndo, 4 mesmo assombraço, por)$eela agora est' lembrando ao negro, desde o cho onde se$ rostos$bstit$i$ novamente o l$ar, )$e >inh estava indeciso na)$ela tarde, só

mando$ os homens por)$e =$ca /orçara. Damio levanta os ombros...>inh ?adaró era l' homem para decidir $ma coisa só por)$e =$cainsistia... Isso era no conhecer >inh ?adaró... ?em se v0 )$e dona!eresa no o conhece... 3la, por4m, est' lembrando detalhes e o negroDamio começa a vacilar. 3 se >inh no )$isesse tamb4m a morte de&irmo >e tamb4m ele tivesse pena de dona !eresa Do lho )$e ela temna barriga >e ele tamb4m estivesse sentindo alg$ma coisa por dentrocomo o negro Damio Damio aperta a cabeça com as mos. -o, era verdade. 3ra t$do mentira de dona !eresa, de dona !eresa com s$asbr$@arias. >inh ?adaró, se no )$isesse )$e &irmo morresse, no omandaria. >inh ?adaró só /a( o )$e )$er. Para isso ele 4 rico e 4 o che/eda /amElia. =$ca tinha medo dele, apesar de toda valentia )$e arrota.J$em 4 )$e no tinha medo de >inh ?adaró >ó mesmo o negro Damio.Mas, se no matar &irmo, vai ter medo toda vida, n$nca mais vai olhardireito para >inh ?adaró.  Do cho a vo( de dona !eresa se rindo do negro1 Fento 4 só de medode >inh ?adaró )$e ele vai matar &irmo Com medo de >inh ?adaró 3esse 4 o negro Damio )$e se di( o cabra mais valente da redonde(a...F

Dona !eresa no ri, a risada cristalina e b$rlona sacode os nervos donegro. 3le est' tremendo todo por dentro. # risada vem do cho, vem damata, da estrada, do c4$, de toda parte, todos esto di(endo )$e ele tem

medo, )$e ele 4 $m medroso, $m cago, ele, o negro Damio /alado nos +ornais... dona !eresa no ria mais, e$ so$ capa( de lhe dar $m tiro. -$ncaatirei em m$lher, $m homem no /a( isso. Mas so$ capa( de atirar em vosmec0, se vosmec0 no parar de rir. -o ria do negro Damio, dona!eresa. ; negro no tem medo de >inh ?adaró.. !em 4 respeito, no)$er /altar ' conança )$e >inh tem nele. . Por De$s )$e 4 isso. . . -oria mais )$e e$ lhe do$ $m tiro, lhe meto bala nessa cara branca...  3sto apertando se$ peito. ; )$e /oi )$e p$seram em cima dele Isso4 br$@aria, 4 praga )$e lhe rogaram. Praga de m$lher em cima do negro. Bem da mata a vo( )$e repete as palavras de >inh ?adaró1  2 !$ acha bom matar gente !$ no sente nada -ada por dentro

  # mata inteira ri dele, a mata toda grita a)$elas palavras, a mata todaaperta se$ coraço, dança na s$a cabeça. -a /rente dona !eresa, no 4ela toda, 4 só o rosto. Isso 4 br$@aria, 4 praga )$e rogaram no negro.Damio sabe bem o )$e eles )$erem. J$erem )$e ele no mate &irmo...Dona !eresa est' pedindo, o )$e ele pode /a(er >inh ?adaró 4 $mhomem direito, dona !eresa tem o rosto branco. 3st' chorando... Mas)$em 4 3 dona !eresa com se$ rosto no cho o$ 4 o negro Damio 3st'chorando... Dói mais )$e talho de /aco, )$e brasa chiando na carne donegro...  Prenderam se$s braços, no pode matar. Prenderam se$ coraço, eletem )$e matar.. . Pelo rosto negro de Damio choram os olhos a($is dedona !eresa... # mata se sacode em riso, se sacode em pranto, a br$@ariada noite rodeia o negro Damio. ele sento$ no cho e chora mansamente

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como $ma criança castigada.  ; r$Edo de $m b$rro trotando a$menta na estrada. Bem mais perto,cada ve( mais perto, sob o l$ar aparece o v$lto de &irmo. ; negro Damioalteia se$ corpo, se levanta, $m nó na garganta, s$as mos tremem narepetiço. # mata grita em torno, &irmo se apro@ima.

4

  2 Cristal bacarat... 2 an$ncio$ Hor'cio batendo com o dedo na taça.>onoridades claras e pe)$enas se espalharam pela mesa. Hor'ciocompleto$*  2 Me c$sto$ $m dinheiro. . . &oi )$ando casei. Mandei b$scar no %io...  ; Dr. BirgElio tomo$ da s$a taça onde as gotas do vinho port$g$0smanchavam de sang$e a transpar0ncia do cristal. >$spende$2a A alt$rados olhos1  2 de renado bom gosto. . .  >e dirigia a todos mas se$ olhar demoro$ em 3ster como a lhe di(er)$e ele, BirgElio, sabia per/eitamente )$e o bom gosto era dela. &alavacom s$a bela vo( cheia e mod$lada e escolhia as palavras como seestivesse n$m torneio de oratória. >aboreava o vinho como $mconhecedor, em pe)$enos goles )$e valori(avam a bebida. >$as maneirasnas, se$ lOng$ido olhar, s$a cabeleira loira, t$do contrastava com a sala.Hor'cio o sentia vagamente. Maneca Dantas se dava conta. Mas para3ster a sala no e@istia. 3la, com a presença do +ovem advogado, /orabr$scamente retirada da /a(enda, +ogada para os dias do passado. 3racomo se ainda estivesse no col4gio de irms, n$ma da)$elas grandes

/estas de m de ano, )$ando dançava com os rapa(es mais nos edistintos da capital. >orria a respeito de t$do re)$intava tamb4m naspalavras e nos modos, $ma doce melancolia )$e era )$ase alegre andavadentro dela. F3ra o vinhoF, pensava 3ster. ; vinho lhe s$bia /acilmente Acabeça. Pensava e bebia mais e bebia tamb4m as palavras do Dr. BirgElio.  2 &oi $ma /esta em casa do senador Lago. . . m baile comemorandoe@actamente a s$a eleiço. J$e /esta, dona 3ster #lgo inimagin'vel ;ambiente era o )$e havia de mais aristocr'tico. 3stavam as Paivas 2 3sterconhecia as Paivas, haviam sido s$as colegas 2 Maria(inha estavaencantadora de ta/et' a($l. Parecia $m sonho...  2 3la 4 linda... 2 /e( 3ster, e ia certa reserva em s$a vo(, )$e no

escapo$ ao Dr. BirgElio.  2 -o, por4m, a mais linda do col4gio no se$ tempo... 2esclarece$ oadvogado e 3ster r$bori(o$ se. ?ebe$ mais vinho.  BirgElio contin$o$ discorrendo. &alava de m<sica, lembro$ $ma valsapelo nome, 3ster recordo$ a melodia. Hor'cio interveio1  2 3ster 4 $ma pianista de mo cheia, hein  # vo( de BirgElio n$ma s<plica doce1  2 3nto, após o +antar iremos ter a alegria de o$vi2la.. . -o nas vainegar esse pra(er. . .  3ster disse )$e no, h' m$ito )$e no tocava, +' tinha perdido a

agilidade dos dedos e demais o piano estava )$e era $m horror...desanado, abandonado ali na)$ele m de m$ndo. . .

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  Mas BirgElio no aceito$ as desc$lpas. 3 se dirigi$ a Hor'cio e lhepedi$ )$e Finsistisse +$nto a dona 3ster para )$e ela abandonasse amod4stia e enchesse a casa de harmonia1G Hor'cio insisti$1  2 Dei@e de rodeio e to)$e pro moço o$vir. 3$ tamb4m )$ero o$vir.. #nal meti $m dinheiro nesse piano, o maior )$e havia na ?ahia, de$

$m trabalho dos diabos tra(er ele para a)$i e pra )$e m dinheiroposto /ora.. seis contos de r4is. . .  %epeti$, era )$ase $m desaba/o1  2 >eis contos postos /ora... 2 e olhava Maneca Dantas, este era capa(de compreender o )$e ele sentia... Maneca Dantas acho$ )$e deviaapoiar1  2 >eis contos 4 m$ito dinheiro... $ma roça...  Dr. BirgElio tinha completa imp$nidade1  2 J$e so seis contos de r4is, seis mEseros contos, se so empregadosem dar $ma alegria A s$a esposa, coronel. . . 2 e levava o dedo ao alto,pró@imo ao rosto do coronel, o dedo de $nha bem tratada onde o r$bi doanel de advogado brilhava escandaloso. 2 ; coronel /ala, mas garanto )$e +amais gasto$ seis contos to satis/eito como )$ando compro$ esse piano.-o 4 verdade  2 ?em, )$e dei contente, 4 verdade. 3la tocava piano na casa do pai..3$ no )$is )$e ela tro$@esse o de l', $m piano pe)$enininho, chin/rim,m$ito reles. . 2 /e( com a mo enorme $m gesto de despre(o. 2 Compreiesse. Mas ela )$ase no toca. ma ve( na vida...  3ster o$via m$da, $m ódio ia s$bindo dentro dela. Maior ainda )$e o)$e sentira na noite do se$ casamento )$ando Hor'cio rasgo$ se$s vestidos e se lanço$ sobre se$ corpo. 3stava ligeiramente tomada pelo

 vinho, embriagada tamb4m pelas palavras de BirgElio, e se$s olhos eramnovamente os tr0/egos e sonhadores olhos da normalista dos anospassados. 3 viram Hor'cio trans/ormado n$m grande porco s$+o, ig$al a$m )$e havia na /a(enda e habitava os lamaçais pró@imos A estrada. 3 BirgElio s$rgia como $m cavalheiro andante, $m mos)$eteiro, $m conde/ranc0s, mist$ra de personagens de romances lidos no col4gio, todasnobres, a$da(es e belas. . #pesar de t$do, apesar do ódio 2 o$ mesmo porca$sa do ódio 2 era delicioso a)$ele +antar. >orve$ mais $m copo de vinho e an$ncio$ sorrindo1  2 Pois e$ toco... 2 tinha /alado para BirgElio e ento volto$2se paraHor'cio. 2 Boc0 tamb4m n$nca me pedi$... 2 s$a vo( era s$ave e meiga e

se$ ódio se satis/a(ia por)$e ela agora compreendia )$e podia se vingardele. &alo$ mais, tinha dese+os de, depois, mago'2lo m$ito1  2 Pensava at4 )$e a m<sica no lhe agradava... #gora, )$e sei )$e voc0gosta, o piano no vai ter descanso.  !$do havia m$dado para Hor'cio. 3ssas no eram palavrascontra/eitas. 3ssa no era a 3ster de antes. 3ra o$tra. J$e pensava nele,n$m dese+o se$. >entia $ma sensaço boa, $ma coisa )$e rompe$ asm$itas capas com )$e estava coberto o se$ coraço e o lavo$ de bondade.!alve( tivesse sido sempre in+$sto com 3ster... -o a havia compreendido,ela era de o$tro meio... #cho$ )$e devia lhe prometer alg$ma coisa m$itogrande, m$ito boa, )$e a (esse m$ito /eli(. &alo$1  2 Pelas /estas, vamos A ?ahia... 2 /alava para ela, somente para ela, noen@ergava mais ning$4m na mesa.

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  3 a conversa ad)$iri$ novamente s$a brilhante normalidade. Conversagasta )$ase )$e somente por 3ster e BirgElio, descriçKes de /estas,disc$sso sobre modas, sobre m<sicas e romances. Hor'cio envolvido naadmiraço da esposa, Maneca Dantas olhando de olhos ast$tos.  2 osto de =orge ;hnet. .. 2 esclarece$ 3ster. 2 Chorei )$ando li F;

rande Ind$strialF.  Dr. BirgElio se /e( levemente melancólico1  2 Por)$e lhe encontro$ algo de a$tobiogr'co  Hor'cio e Maneca Dantas no compreendiam nada e a própria 3sterdemoro$ $m po$co em compreender. Mas )$ando o compreende$, ps$ma mo sobre o rosto e nego$ nervosamente1  2 ;h no, no  >$spiro de Dr. BirgElio1  2 #h  3la acho$ )$e tinha ido demasiado longe.  2 Isso no )$er di(er...  Por4m ele no )$eria saber. 3stava radiante, se$s olhos brilhavam eperg$nto$ nali(ando a conversa1  2 Nola, +' le$ Nola  -o, no havia lido, as /reiras no col4gio no dei@avam. BirgElio acho$)$e, realmente, para mocinhas no estava bem. Mas $ma senhoracasada... ele tinha o FerminalF em Ilh4$s. Ia mandar A dona 3ster.  #s negras serviam as innd'veis sobremesas. 3ster props )$etomassem o ca/4 na sala. BirgElio levanto$2se rapidamente, tomo$ dacadeira da )$al ela se levantava, p$@o$2a para tr's /a(endo espaço paraela sair. Hor'cio olhava com certa longEn)$a inve+a. Maneca Dantas

admirava os modos do advogado. Considerava )$e a ed$caço era $magrande coisa. 3 penso$ nos lhos e os imagino$, no /$t$ro, ig$ais ao Dr. BirgElio. 3ster saEa da sala, os homem a seg$iram.  Ch$viscava no campo, $m ch$visco mi<do, atravessado pela claridadeda l$a. #s estrelas eram m$itas, nenh$ma o$tra l$( empanava s$a l$(celeste. BirgElio chego$ at4 a porta, ando$ $m passo na varanda. &elEciaentrava com a bande+a de ca/4, 3ster servia o aç<car. BirgElio volto$, /e( aconsideraço como se declamasse $m poema1  2 >ó na mata se v0 $ma noite to bela...  2 3st' bonita, sim... 2 apoio$ Maneca Dantas )$e me@ia s$a @Ecara deca/4. Bolto$2se para 3ster1 2 Mais $ma colher(inha, comadre. osto de

ca/4 bem doce...Mais $ma ve( atende$ ao advogado. 2 M$ito bonita anoite e essa ch$vinha ainda d' mais graça... 2 /a(ia /orça paraacompanhar o ritmo )$e BirgElio e 3ster emprestavam A conversa. &ico$contente por)$e teve a impresso de )$e dissera $ma /rase parecida comas deles.  2 3 o do$tor Po$co o$ m$ito aç<car  2 Po$co, dona 3ster... ?asta... M$ito obrigado... # senhora tamb4m noacha )$e o progresso mata a bele(a  3la entrego$ o aç$careiro a &elEcia, tardo$ $m min$to a responder.3stava pensativa e s4ria.  2 #cho )$e o progresso tamb4m tem tanta bele(a...  2 Mas 4 )$e nas grandes cidades, com a il$minaço, nem se v0em asestrelas... 3 $m poeta ama as estrelas, dona 3ster... #s da c4$ e as da

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terra...  2 Mas h' o$tras noites )$e no so de estrelas...agora a vo( de 3sterera pro/$nda, vinha do coraço. 2 -as noites de tempestade 4 horroroso..  2 Deve ser terrivelmente belo... 2 a /rase s$bia pela sala, dançavadiante de todos. Completo$1 2 o belo horrendo...

  2 !alve(. . . 2 disse 3ster. 2 Mas e$ tenho medo nessas noites 2 e oolhava com $m olhar s<plice, como a $m amigo de largos anos.  BirgElio vi$ )$e ela +' no representava e teve pena, imensa pena. &oinesse momento )$e po$so$ os olhos nela com doç$ra e com verdadeirointeresse. 3 os pensamentos risonhos e ast$ciosos de antesdesapareceram s$bstit$Edos por algo mais s4rio e mais pro/$ndo.  Hor'cio se mete$1  2 >abe de )$e essa tola tem medo, do$tor Do grito das rs )$ando ascobras engolem elas na beira do rio...  ; Dr. BirgElio +' tinha tamb4m o$vido a)$ele grito e tamb4m ao se$coraço ele con/rangera. Disse apenas1  2 3$ compreendo. . .  &oi $m momento /eli(, os olhos dela estavam p$ros e de $ma alegrias. #gora no representavam. &oi $m seg$ndo só mas /oi o bastante. -elano resto$ nem o ódio por Hor'cio.  #ndo$ para o piano. Maneca Dantas começo$ a e@por a BirgElio o se$negócio. 3ra $m Fca@i@eF importante, ca$sa de m$itos contos de r4is. BirgElio es/orçava2se para prestar atenço. Hor'cio aparteava por ve(escom s$a e@peri0ncia. BirgElio cito$ $ma lei. ;s primeiros acordes vibraram na sala. ; advogado sorri$1  2 #gora vamos o$vir dona 3ster. Depois a$mentaremos s$a /a(enda. .

  Maneca Dantas concordo$ n$m gesto, BirgElio se apro@imo$ do piano. # valsa no cabia na sala, saEa pelo campo at4 a mata nos /$ndos da casa.-o so/', Maneca Dantas comento$1  2 Moço distinto, hein 3 )$e talento Di( )$e 4 at4 poeta... Como /ala...De advogado estamos bem servidos. . !em t$tano na cabeça.  Hor'cio estende$ as grandes mos, es/rego$2as $ma na o$tra, sorri$se$ sorriso para dentro1  2 3 3ster J$e 4 )$e voc0 me di(, se$ compadre J$em 4 )$e tem emIlh4$s, e mesmo na ?ahia R repetia 2 e mesmo na ?ahia, $ma m$lher toed$cada... 3ntende desses troços todos1 /ranc0s, m<sica, g$rinos, det$do. . . !em cabeça 2 batia com o dedo na testa 2 no 4 só bonite(a. . . 2

/alava com org$lho como $m dono /alaria de $ma propriedade s$a. >$a vo( respirava vaidade. 3 era /eli( por)$e imaginava )$e 3ster /a(iam<sica para ele, tocava por)$e ele pedira. Maneca Dantas concordo$balançando a cabeça. F# comadre era m$lher ed$cada, simF.  =$nto ao piano, os olhos enternecidos, BirgElio tra$teia a melodia.J$ando 3ster termina e vai levantar2se, ele lhe d' a mo para a+$d'2la.3la ca em p4, bem pró@ima a ele. 3n)$anto bate palmas, apla$dindo, BirgElio m$rm$ra para )$e só ela o o$ça1  2 como $m passarinho na boca de $ma cobra. .  Maneca Dantas pedia, com ent$siasmo, o$tra m<sica. Hor'cio vinhase chegando, 3ster /e( $m es/orço s$premo e prende$ as l'grimas.

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  #o bordo da mata o negro Damio esperava $m homem na tocaia. #ol$ar via al$cinaçKes e so/ria. #o bordo de o$tra mata, na sala da casagrande, o Dr. BirgElio p$nha se$s conhecimentos da lei a serviço da

ambiço dos coron4is e descobria o amor nos olhos amedrontados de3ster. =$nto ' mata )$e descambava por detr's do morro, na /a(enda>antG#na da #legria, a /a(enda dos ?adarós, #ntónio BEtor espera, os p4senados na 'g$a do rio. ; rio corria manso, pe)$eno e claro, e nas s$as'g$as se mist$ravam as /olhas caEdas dos caca$eiros e as )$e caEam doo$tro lado, das grandes 'rvores )$e os homens no haviam plantado. #)$elas 'g$as limitavam a mata das roças, e #ntónio BEtor, en)$antoespera, pensa )$e no tardar' )$e os machados e o /ogo ponham a mataabai@o. >eria t$do caca$eiro, o rio no marcaria mais nenh$maseparaço. =$ca ?adaró /alava em derr$bar a)$ela mata nesse mesmoano. ;s trabalhadores se aprontavam para as )$eimadas, +' estavamsendo preparadas as m$das de caca$ )$e encheriam o l$gar )$e a mataainda oc$pava. #ntónio BEtor gostava da mata. >$a cidade de 3stOncia,to distante agora at4 no se$ pensamento, cava dentro de $m bos)$e,dois rios a cercavam e as 'rvores a penetravam nas r$as e nas praças. 3lese acost$mara mais com a mata, onde todas as horas eram horas decrep<sc$lo, )$e mesmo com as roças de caca$ )$e e@plodiam no o$ro velho dos /r$tos, l$minosos e brilhantes. Binha para +$nto da mata)$ando, nos primeiros tempos, terminava o trabalho nas raças. #li 4 )$edescansava. #li recordava 3stOncia todavia presente, recordava Ivonedeitada na ponte sobre o rio Pia$itinga. #li so/ria a doce dor da sa$dade.

-os primeiros tempos, )$e /oram tempos d$ros, a sa$dade roendo pordentro, o trabalho pesado, imensamente mais pesado )$e no milharal )$eele plantara com os irmos, antes de vir para estas terras do >$l. -a/a(enda era o levantar2se As )$atro da manh, preparar a carne seca paracomer ao meio2dia com o piro de /arinha, beber a caneca de ca/4 e estarna roça colhendo caca$ As cinco, )$ando o sol apenas começava a s$as$bida pelo morro de detr's da casa2grande. Depois o sol chegava aocimo do morro e doEa nas costas n$as de #ncóneo BEtor, dos o$trostamb4m, principalmente dos)$e haviam vindo com ele e no estavam acost$mados. ;s p4s a/$ndavamnos atoleiros, o visgo do caca$ mole se gr$dava neles, de )$ando em ve(

a ch$va vinha s$+'2los ainda mais pois atravessava as copadas roças echegava carregada de gravetos, de insectos, de im$ndEcies de todaclasse. #o meio2dia 2 conheciam pelo sol 2 paravam o trabalho. 3ngoliam abóia, derr$bavam $ma +aca mole de $ma +a)$eira )$al)$er e era asobremesa. Mas +' o capata( estava gritando de cima de se$ b$rro )$epegassem as /oices. 3 recomeçavam at4 As seis horas da tarde )$ando osol abandonava as roças. Chegava a noite triste e cheia de cansaço, semm$lher com )$em deitar, sem Ivone para acariciar na ponte )$e noe@istia, sem as pescarias de 3stOncia. &alavam nesse dinheiro do s$l. madinheirama de /a(er medo. #li por a)$ele trabalho todo, eram dois mil e

)$inhentos r4is por dia, empregados inteiramente no arma(4m da/a(enda, $m saldo miser'vel no m do m0s, )$ando havia saldo. Chegava

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a noite, tra(ia a sa$dade com ela, pensamentos tamb4m. #ntónio BEtor vinha para perto da mata, metia os p4s no rio, cerrava os olhos erecordava. ;s demais cavam pelas casas de barro batido, +ogados nosleitos de t'b$as, dormindo)$ebrados de cansaço, o$tros cantavam sa$dosas tiranas. emiam as

 violas, versos de o$tras terras, lembranças de $m m$ndo dei@ado paratr's, m<sica de partir coraçKes. #ntónio BEtor vinha para perto da mata,tra(ia consigo s$as recordaçKes. -ovamente, pela cent4sima ve(, poss$EaIvone na ponte de 3stOncia. 3 era sempre pela primeira ve(. -ovamente atinha nos braços e novamente manchava de sang$e se$ desbotado vestidode ores vermelhas. >$a mo calosa do trabalho nas roças era m$lher des$ave pele, era Ivone se entregando. >$a mo tinha a )$ent$ra, a macie(,o re)$ebro e deng$e do corpo de m$lher. Crescia +$nto da mata, virava,no se@o de #ntónio BEtor, a vir em se entregando. #li, na beira do rio, nosprimeiros tempos. Depois o rio lavava t$do, corpo e coraço, no banhonot$rno. >ó restava mesmo o visgo de caca$ mole preso na sola dos p4s,cada ve( mais grosso, ig$al a $m estranho sapato.  Depois =$ca ?adaró se a/eiçoara a ele. Primeiro por)$e, )$andoderr$bavam a mata onde ho+e era a roça do %epartimento, ele no atemera como os o$tros )$ando chegaram de noite, na tempestade. &oramesmo ele, #ntónio BEtor, )$em derr$bara a primeira 'rvore. Ho+e era aroça do %epartimento, onde as m$das de caca$ começavam a virartroncos d4beis ainda, mas +' pró@imos ' primeira oraço. Depois, nobar$lho de !abocas, #ntónio BEtor bai@ara $m homem 2 se$ primeirohomem 2 para salvar =$ca. verdade )$e chorara m$ito na volta para a/a(enda, desesperado, 4 verdade )$e passo$ noites e noites vendo o

homem cair, a mo no peito, a lEng$a saindo pra /ora. Mas isso passaratamb4m. =$ca o tirara do trabalho nas roças para o trabalho m$ito maiss$ave de FcapangaF. #companhava =$ca ?adaró na scali(aço dotrabalho da /a(enda, nas viagens repetidas )$e ele /a(ia aos povoados e Acidade, trocara a /oice pela repetiço. Conhecera as prostit$tas de!abocas, de &erradas, de Palestina, de Ilh4$s, tivera doença /eia, levara$m tiro no ombro. Ivone agora era $ma sombra distante e vaga. 3stOncia$ma lembrança )$ase perdida. %estara o cost$me de vir pela noite deitarno bordo da mata, os p4s dentro do rio.

3 de esperar ali a %aim$nda. 3la vinha pelas latas de 'g$a para obanho not$rno de DonG#na ?adaró. Descia cantando, mas mal en@ergava

 #ntónio BEtor parava o canto e /echava a cara, $m ar de aborrecida.%espondia de ma$s modos ao c$mprimento dele e a <nica ve( )$e ele)$is peg'2la, apert'2la contra si, ela de$ $m +eito no corpo e atirara ocabra no rio, era /orte e decidida como $m homem. -em por isso eledei@ara de voltar todas as noites, apenas n$nca mais tento$ ab$sar dela.Dava as boas noites, recebia a resposta resm$ngada, cava assobiando amodinha )$e ela cantava pelo caminho. 3la enchia a lata de )$erosene nabeira no rio, ele a+$dava2a a p2la na cabeça. 3 %aim$nda se perdia entreos caca$eiros, os p4s grandes, m$ito mais negros )$e o rosto m$lato,a/$ndando na lama da picada. 3le se atirava nG'g$a. >e estava distante odia em )$e dormira com m$lher n$m povoado, poss$Ea antes %aim$nda)$e aparecia n$a na s$a mo trans/ormada em se@o. Boltava pela roça decaca$, ia receber as ordens de =$ca ?adaró para o dia seg$inte. Por

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 ve(es, DonG#na mandava lhe dar $m copo de pinga. #ntónio BEtor o$via ospassos de %aim$nda na co(inha, s$a vo( )$e respondia ao chamado doDonG#na.  2 =' to$ indo, madrinha.,  3ra alhada de DonG#na se bem )$e /ossem as d$as da mesma idade.

-ascera no mesmo dia )$e DonG#na, lha da negra %isoleta, co(inheirada casa2grande, $ma negra linda, de ancas roliças e carne d$ra. -ing$4msabia )$em era o pai de %aim$nda )$e nascera m$lata clara, de cabelos)$ase lisos. Mas m$ita gente m$rm$rava )$e no era o$tro )$e o velhoMarcelino ?adaró, o pai de >inh e de =$ca. 3ssas m$rm$raçKes no/oram motivo para )$e dona &ilomena mandasse a co(inheira embora. #ocontr'rio, /oi %isoleta )$em amamento$ nos se$s grandes seios negros aFsinha(inhaF rec4m2nascida, a primeira neta dos velhos ?adarós. DonG#nae %aim$nda cresceram +$ntas nos primeiros tempos, $ma em cada braçode %isoleta, $ma em cada seio se$. -o dia do bati(ado de DonG#na, am$latinha %aim$nda se bati(o$ tamb4m. # negra %isoleta escolhera ospadrinhos. >inh, )$e era ento $m rapa( de po$co mais de vinte anos, eDonG#na )$e tinha apenas meses. ; padre no protesto$, +' ento os?adarós eram $ma potencia diante da )$al a lei e a religio seinclinavam. %aim$nda cresce$ na casa2grande, era a irm de leite deDonG#na. 3 como DonG#na chegara inesperadamente para alegrar a/amElia, na )$ase velhice dos avós, vinte anos depois da <ltima menina?adaró )$e enchera a casa de deng$es, a /amElia toda /a(ia2lhe as vontades. 3 %aim$nda ganhava as sobras desse carinho. Dona &ilomena,)$e era $ma m$lher religiosa e boa, cost$mava di(er )$e DonG#na haviatomado a me de %aim$nda e por isso os ?adarós tinham )$e dar algo A

m$latinha. 3 era verdade1 a negra %isoleta no tinha olhos para o$tracoisa no m$ndo )$e no /osse a Fs$a lha brancaG, a s$a Fsinha(inhaF, as$a DonG#na. Por ela, na in/Oncia da menina branca, chegara a levantar a vo( contra Marcelino )$ando o velho ?adaró tentava castigar a netamimada. p desobediente. # negra %isoleta virava /era )$ando esc$tava ochoro de DonG#na. Chegava da co(inha, os olhos brilhando, o rostoin)$ieto. &ora mesmo $ma das diversKes predilectas de =$ca, entomeninote, /a(er a sobrinha chorar para assistir ' tempestade de /<ria de%isoleta. 3sta o chamava de FdemónioF, no o respeitava, chegara por ve(es at4 a di(er )$e ele era Fpior )$e $m negroF. -a co(inha, di(ia 'so$tras negras, en@$gando as l'grimas1

  2 3ste menino 4 $ma pestinha...  Para DonG#na a co(inha /ora sempre o grande l$gar do asilo. J$ando/a(ia $ma tra)$inagem demasiado grande /$gia para ali, para +$nto dassaias de s$a Fme negraF e ali nem mesmo dona &ilomena, nem mesmo o velho Marcelino, nem mesmo >inh )$e era se$ pai, a vinham b$scar. # negra se preparava como se /osse para $ma batalha. %aim$nda /a(iape)$enos trabalhos caseiros, aprendia a co(inhar, mas na casa2grande lheensinaram tamb4m cost$ra e bordado, lhe ensinaram a ler as primeirasletras, a assinar o nome e a /a(er contas de somar e de dimin$ir. ;s?adarós acreditavam estar pagando a s$a dEvida. %isoleta morrera com onome de DonG#na na boca, olhando a lha de criaço )$e lhe dera aalegria de estar ao se$ lado na)$ela hora nal. ; velho Marcelino ?adaró +' estava enterrado ha dois anos e h' $m ano /alecera a s$a lha, )$e

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casara com $m comerciante e /ora morrer na ?ahia, no tendo seacost$mado com a cidade, longe da /a(enda. Dera de en/ra)$ecer epegara a tEsica. Dona &ilomena tiro$ %aim$nda da co(inha, a tro$@e emdenitivo para dentro da casa2grande. 3 protege$ sempre a m$latinhaen)$anto vive$. Depois, )$ando a esposa de >inh morre$ tEsica, caram

os padrinhos, >inh e DonG#na, mas aos po$cos %aim$nda /oi tendo $ma vida ig$al As das demais criadas da casa1 lavar, remendar ro$pa, b$scar'g$a no rio, /a(er os doces. >ó )$e nas /estas DonG#na lhe regalava $mcorte de /a(enda para $m vestido melhor e >inh lhe dava $m par desapatos e $m po$co de dinheiro. 3la no tinha ordenado, para )$eprecisava ela de dinheiro se tinha de t$do na casa dos ?adarós J$ando>inh, pelas /estas de >o =oo e de -atal, lhe dava de( mil2r4is, di(iasempre1  2 B' g$ardando para o se$ en@oval...  )$e ele mesmo no se dava conta de )$e %aim$nda p$desse ternenh$m dese+o. -o entanto, desde s$a in/Oncia, o coraço de %aim$nda vivia cheio de dese+os irreali(ados. Primeiro /oram as bonecas e osbrin)$edos )$e vinham da ?ahia para DonG#na e nos )$ais lhe proibiamde tocar. J$antas s$rras no levara da negra %isoleta por b$lir nosbrin)$edos da Firm de criaçoF. Depois /ora o dese+o de montar comoDonG#na n$m cavalo bem arreado e partir a correr os campos. 3 por mdese+ara ter, como ela, alg$mas da)$elas coisas to lindas, $m colar, $mpar de argolas, $m pente espanhol para os cabelos. Herdara $m destes,/ora b$sc'2lo no li@o onde DonG#na o +ogara como in<til, os dentespartidos, restando dois o$ tr0s apenas. 3, no se$ pe)$eno )$arto )$e $mcandeeiro il$minava pelas noites, ela o colocava no cabelo e sorria para si

mesma. !alve( /osse esse o se$ primeiro sorriso da)$ele dia, pois%aim$nda tinha $ma cara s4ria e (angada, /echada para todos. =$ca, )$eno dei@ava passar m$lher perto dele, /osse m$lher da vida o$ m$lhercasada na cidade, /ossem as m$latinhas na roça, mesmo as negras, n$ncase metera com %aim$nda, talve( a achasse /eia, o nari( chatocontrastando com o rosto )$ase claro. 3ra (angada, a própria DonG#na onotava e em geral, na /a(enda, di(iam )$e %aim$nda era Fr$imF, no erade bom coraço. Parecia no estimar ning$4m, vivia s$a vida calada,trabalhando como )$atro, recebendo, o )$e lhe davam, com $magradecimento m$rm$rado. #ssim crescera ese (era moça. Mais de $m pretendente lhe aparecera, na certe(a de )$e

>inh ?adaró no dei@aria de a+$dar a)$ele )$e casasse com s$aalhada, a irm de leite de DonG#na. ; empregado do arma(4m, $mloiraço )$e viera da ?ahia e sabia contas e lia livros, )$is casar com ela.3ra magro, e /raco, $sava óc$los, %aim$nda no aceito$, choro$ )$ando>inh /alo$ no ass$nto, disse )$e no e no. >inh /e( $m gesto dedesinteresse com os ombros1  2 -o )$er, acabo$2se... -o to$ obrigando...  =$ca ainda se mete$1  Mas 4 $m casamento... m rapa( branco, instr$Edo... -$nca maisaparece o$tro ig$al. -em sei o )$e ele vi$ nessa negra...  Por4m %aim$nda, s$plico$ a >inh e esse de$ o ass$nto porencerrado. >inh com$nico$ ao empregado do arma(4m a rec$sa de%aim$nda, =$ca ?adaró lhe perg$nto$ o )$e ele vira de bonito na)$ela

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cara /echada da m$lata. !amb4m #gostinho, )$e era capata( n$ma dasroças dos ?adarós, a dese+o$ e /alo$ com ela. %aim$nda responde$ dema$s modos. DonG#na tinha $ma e@plicaço para o /ato1  2 %aim$nda n$nca h' de dei@ar a gente. 3la tem a)$ela cara /echadamas gosta da gente...

  3 se enternecia de repente, lembrando2se de %isoleta e nesses diasdava sempre $m vestido A m$lata, o$ $ma prata de dois mil2r4is. Masessas conversas sobre %aim$nda eram raras, os ?adarós nem sempretinham tempo de se preoc$par com o /$t$ro da Firm de criaçoF.  #ntónio BEtor /a(ia m$ito )$e andava de olho nela. -a /a(enda m$lherera ob+ecto de l$@o e se$ corpo +ovem pedia m$lher. -o bastava o amor/eito com as rameiras nas viagens aos povoados. 3le )$eria $m corpo )$ees)$entasse o dele nas longas noites de ch$va dos meses de inverno, demaio a setembro, a estaço das 'g$as.  3sperava2a no bordo da mata. -o tardar' )$e a vo( de %aim$ndacheg$e pela picada, precedendo a m$lata. # cara dela talve( no se+a$ma bele(a, mas #ntónio BEtor tem na cabeça 4 o se$ corpo /orte, den'degas grandes, de seios ri+os, de roliças co@as. -o c4$ de crep<sc$lo anoite se prepara. ; rio corre manso, talve( ch$vis)$e nesta noite. ;sgrilos iniciam se$ canto na mata. Caem /olhas, sobre as 'g$as. &alavamdessa dinheirama do s$l. #ntónio prometera voltar $m dia, rico, bem vestido, de botinas rangedeiras #gora, esses pensamentos +' no e@istemna s$a cabeça. #gora ele 4 $m capanga de =$ca ?adaró, conhecido pelarapide( do se$ tiro. # lembrança de 3stOncia, de Ivone se entregando naponte, se es/$maço$ na s$a memória. ;s sonhos tampo$co enchem s$acabeça como na noite de bordo. >ó $m dese+o1 casar com a m$lata

%aim$nda, terem $ma casa de barro batido para os dois. Casar com%aim$nda, ter $m corpo em )$e repo$sar do dia 'rd$o do trabalho, das viagens longas pelos caminhos di/Eceis, da morte de $m derr$bado porele. Descansar no corpo dela. Corpo em )$e repo$sar s$a cabeça semsonhos. # vo( de %aim$nda na picada. #ntónio BEtor levanta a cabeça e ob$sto, se prepara para a+$d'2la e encher a lata de 'g$a. # noite envolve amata, corre tran)$ilo o rio.

6

  ;s homens pararam em /rente da casa2grande da /a(enda dos

Macacos.  ; nome ocial era o$tro m$ito mais bonito1 &a(enda #$ricEdia,homenagem de Maneca Dantas A esposa, gorda e preg$içosa matronac$+os <nicos interesses na vida eram os lhos e os doces )$e ela sabia/a(er como ning$4m. mas, com grande triste(a do coronel, o nome nopegara e toda a gente tratava a /a(enda por FMacacosF, nome da roçainicial, encravada nas matas de >e)$eiro rande entre as grandespropriedades dos ?adarós e de Hor'cio, onde os macacos em bandocorriam pela selva. >ó nos doc$mentos ociais de posse da terra apareciao nome F#$ricEdiaF. 3 somente Maneca Dantas di(ia1 FI', na #$ricEdia...G

!odos os mais ao se re/erirem A /a(enda /alavam dos FMacacosF.  ;s homens pararam, descansaram a rede atravessada com $m pa$,

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onde o cad'ver e/et$ava s$a <ltima viagem. De dentro da sala malil$minada dona #$ricEdia perg$nto$, movendo preg$içosamente asbanhas1  2 J$em 4  2 de pa(, dona 2 responde$ $m dos homens.

  ; menino havia corrido at4 a varanda e volto$ com a notEcia1  2 Mame, 4 dois homens com $m morto.. m morto negro...  #ntes de se alarmar, dona #$ricEdia, )$e /ora pro/essora corrigi$mansamente1  2 dois no, %$i. >o dois 4 como se deve di(er..  Movimento$2se para a porta, o lho ia agarrado nas s$as saias. ;smenores +' dormiam. -a varanda os homens haviam sentado n$m banco,no cho se abria a rede com o cad'ver.  2 =es$s Cristo lhe de boa noite... 2 /alo$ $m deles, era $m velho decarapinha branca.  ; o$tro tiro$ o chap4$ /$rado e c$mprimento$. Dona #$ricEdiaresponde$, /oco$ esperando. ; moço e@plico$1  2 -ós t' tra(endo ele da &a(enda ?ara<na, trabalhava l'... !amoslevando pro cemit4rio de &erradas..  2 Por )$e no enterraram na mata  2 -o v0 )$e ele tem tr0s lhas em &erradas !amos levando paraentregar a elas. >e vosmec0 consente a gente descansa $m tempinho. # caminhada 4 m$ita, o tio a)$i +' t' dando o prego... 2 aponto$ para o velho.  2 De )$e /oi )$e ele morre$ 2 perg$nto$ a senhora.  2 &ebre. . . 2 agora era o velho )$e respondia. R 3ssa /ebre braba )$e

d' na mata. !ava derr$bando mata, a /ebre pego$ ele... &oi tr0s dias só.-o teve rem4dio )$e prestasse. .  Dona #$ricEdia a/asto$ o lho, a/asto$2se ela mesma alg$ns passos.&ico$ reetindo. ; cad'ver do homem magro, velho ele tamb4m,repo$sava na rede sobre a varanda.  2 Levem para a casa de $m trabalhador. Descansem l'... #)$i, no. só andar $m po$co mais, encontraro logo as casas. Digam )$e e$mandei. #)$i, no, por ca$sa dos meninos...  !emia o cont'gio, a)$ela /ebre no conhecia rem4dio )$e servisse. >óm$itos anos depois os homens /oram saber )$e era o ti/o, end4mico entoem toda a (ona do caca$. Dona #$ricEdia co$ espiando os homens

levantarem a rede, colocarem2na nos ombros e partirem1  ?oa noite, dona...  2 ?oa noite. .  ;lhava o l$gar onde o cad'ver estivera. 3 ento a)$ela gord$ra todase movimento$. rito$ pelas negras l' dentro, mando$ )$e tro$@essem'g$a e sabo e, apesar de ser de noite, lavassem a varanda. Levo$consigo o lho, lavo$2lhe as mos at4 a criança )$ase chorar. 3 na)$elanoite no dormi$, de hora em hora levantava2se para ver se %$i noestava com /ebre. 3 ainda por cima Maneca no se encontrava em casa,/ora comer na /a(enda de Hor'cio...  ;s homens chegaram com rede em /rente de $ma casa detrabalhadores. ; velho ia cansado, o o$tro /alo$1  2 ; nado est' pesando, hein, tio

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  #)$ela id4ia de levar o morto at4 &erradas /ora do velha. 3ram amigosos dois, ele e o )$e morrera. Decidira entregar o cad'ver As lhas para)$e estas o Fenterrassem coma cristoF, e@plicava ele. 3ra $ma viagemde cinco l4g$as e h' horas )$e eles andavam sob o l$ar, bai@aramnovamente a rede, o maço en@$go$ o s$or en)$anto o velho golpeava

com se$ basto na porta mal cerrada, de t'b$as desig$ais. ma l$( seacende$, a perg$nta sai$1  2 J$em 4  2 de pa(. . . 2 responde$ novamente o velho.  #inda assim o negro )$e abri$ a porta tra(ia $m revólver na mo,na)$elas terras no havia )$e desc$idar. ; velho e@plico$ s$a história.!ermino$ di(endo )$e /ora dona #$ricEdia )$em os mandara. m homemmagro )$e s$rgira por detr's do negro comento$1  2 L' ela no )$is... Podia pegar nos lhos a /ebre... Mas para a)$i no/a( mal, no 4 2 e ri$.  ; velho penso$ )$e o iam mandar mais $ma ve( para adiante.Começo$ $ma e@plicaço, mas o homem magro interrompe$1  2 -o tem nada, me$ velho. Pode entrar. -a gente a /ebre no pegamesmo. !rabalhador tem o co$ro c$rtido...  3ntraram. ;s o$tros homens )$e dormiam despertaram. 3ram cincoao todo e a casa no tinha mais )$e $ma peça, as paredes de barro, o tetode (inco, o cho de terra. #li era sala, )$arto e co(inha, a latrina era ocampo, as roças, a mata. Descansaram o morto em cima de $m dos +ira$sonde os homens dormiam. &icaram todos em torno, o velho tiro$ $ma velado bolso, acende$ na cabeceira do de/$nto. =' estava )$eimada pelametade, il$minara o corpo no princEpio da noite, iria il$min'2lo )$ando

chegassem tamb4m na casa das lhas.  2 J$e 4 )$e elas /a(em 2 perg$nto$ o negro.  2 !$do 4 p$ta nas &erradas. . . 2 e@plico$ o velho.  #s tr0s 2 o homem magro se admiro$.  2 !odas tr0s, sim >inh...  Ho$ve $m min$to de silencio. ; morto repo$sava magro, a barbacrescida, pintada de branco. ; velho contin$o$1  2 ma /oi casada... Depois o marido morre$...  2 3ra $m homem velho, hein 2 /e( o magro apontando o cad'ver.  2 !inha se$s sessenta bem contados...  2 &ora os )$e mamo$. . . 2 disse $m )$e at4 ento no tinha intervindo

na conversa. Mas ning$4m ri$.  ; homem magro tro$@e a garra/a de cachaça. Havia $m caneco )$epasso$ de mo em mo. %eagiram com o trago. m dos )$e morava nacasa havia chegado para a /a(enda na)$ele dia. J$is saber )$e /ebre eraa)$ela de )$e o velho morrera.  2 -ing$4m sabe mesmo. 3 $ma /ebre da mata, pega $m, li)$ida emdois tempos. -o h' rem4dio )$e de +eito. . . -em mesmo do$tor/ormado. -em mesmo =eremias )$e trata com erva...

; negro e@plico$ para o cearense rec4m2chegado )$e =eremias era o/eiticeiro )$e morava nas matas de >e)$eiro rande so(inho, socadoentre as 'rvores n$ma cabana em r$Enas. >ó n$m <ltimo caso os homensse atreviam a ir at4 l'. =eremias se alimentava com raE(es e com /r$tassilvestres. &echava o corpo dos homens contra bala e contra mordida de

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cobra. -a s$a cabana as cobras andavam soltas e cada $ma tinha se$nome como se /osse $ma m$lher. Dava rem4dio para males do corpo epara males do amor. Mas com essa /ebre nem ele podia.  2 Me /alaram l' no Cear' mas e$ no dei crença... >e /alava tantahistória dessas terras )$e at4 parecia coisa de milagre...

  ; trabalhador magro )$is saber o )$e 4 )$e di(iam1  2 Coisa boa o$ coisa r$im  2 ?oa e r$im, mais r$im )$e boa. De boa só di(ia )$e a)$i era $ma/art$ra de dinheiro )$e o /$lano enricava logo )$e desembarcava. J$edinheiro era calçamento de r$a, era poeira de estrada. . . De r$im, )$etinha a /ebre, os +ag$nços as cobras... De r$im m$ita coisa...  2 3 ainda assim t$ veio...  ; cearense no responde$, /oi o velho )$e vinha tra(endo o cad'ver)$em /alo$1  2 Pode ter a r$indade )$e tiver, se tem dinheiro o homem no en@erganada. Homem 4 bicho )$e só v0 dinheiro, ca cego e s$rdo )$ando v0/alar em dinheiro. . . Por isso 4 )$e h' tanta desgraça nessas terras. . .  ; homem magro apoio$ com a cabeça. !amb4m ele dei@ara pai e me,noiva e irm, para vir atr's do dinheiro dessas terras de Ilh4$s. 3 os anosse haviam passado e ele contin$ava a colher caca$ nas roças paraManeca Dantas. ; velho contin$ava1  2 !em dinheiro m$ito, mas a gente no v...  # vela il$minava a cara magra do de/$nto. 3le parecia esc$tar atento aconversa dos homens em torno dele. # caneca de cachaça passo$ mais$ma ve(. Começaram os ch$viscos l' /ora, o negro /echo$ a porta. ; velho to$ longamente o rosto barbado do morto, s$a vo( era cansada e

sem esperança1  2 !o vendo o nado Pois bem1 /a(ia pra mais de de( anos )$etrabalhava nas ?ara<nas pro coronel !eodoro. -o tinha nada, nemmesmo as lhas... Passo$ de( anos devendo pro coronel. .. #gora a /ebrelevo$ ele, o coronel no )$is dar nem $m vint4m pra a+$dar as meninas a/a(er o enterro. . .  ; moço concl$i$ a história )$e o velho contava1  2 Inda disse )$e /a(ia m$ito no mandando a conta )$e o velho deviapras lhas pagar. J$e rapariga ganha m$ito dinheiro. . .  ; homem magro c$spi$ com no+o. #s orelhas largas do de/$ntopareciam esc$tar. ; cearense estava $m po$co alarmado. 3le chegara

na)$ele dia, $m capata( de Maneca Dantas o contratara em Ilh4$s +$ntamente com o$tros )$e haviam desembarcado do mesmo navio.Haviam chegado +' tarde e tinham sido distrib$Edos pelas casas dostrabalhadores. ; negro esclarece$, en)$anto emborcava o caneco decachaça1  2 #manh t$ vai ver...  ; velho )$e tra(ia o de/$nto res$mi$1  2 -$nca vi destino mais r$im )$e o de trabalhador de roça de caca$. . .  ; homem magro considero$1  2 ;s capangas ainda passam melhor... 2 viro$ para o cearense. 2 >e t$tem boa pontaria, t$ t' /eito na vida. #)$i só tem dinheiro )$em sabematar, os assassinos...  ; cearense arregalo$ os olhos. ; morto o ass$stava vagamente, era

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$m prova concreta do )$e conversavam.  2 J$em sabe matar  ; negro ri$, o homem magro /alo$1  m cabra certeiro na pontaria tem regalias de rico... Bive pelospovoados, com as m$lheres, tem dinheiro no bolso, n$nca /alta saldo pra

ele.. . Mas )$em só serve pra roça... !$ vai ver amanh...  Como o homem magro era o seg$ndo )$e /alava nesse dia de amanh,o cearense )$is saber o )$e ia se passar. )$al)$er $m podia e@plicar mas/oi mesmo o homem magro )$em /alo$1  2 #manh cedo o empregado do arma(4m chama por t$ para /a(er oFsacoF da semana. !$ no tem instr$mentos pro trabalho, tem )$ecomprar. !$ compra $ma /oice e machado, t$ compra $m /aco, t$compra $ma en@ada. . . 3 isso t$do vai car por cem mil2r4is. Depois t$compra /arinha, carne, cachaça, ca/4 pra semana toda. !$ vai gastar $nsde( mil2r4is pra comida. -o m da semana t$ tem )$in(e mil2r4is ganhodo trabalho 2 o cearense /e( as contas, seis dias a dois e )$inhentos, econcordo$. 2 !e$ saldo 4 de cinco mil2r4is, mas t$ no recebe, ca l' parair descontando a dEvida dos instr$mentos... !$ leva $m ano pra pagar oscem mil2r4is, sem ver n$nca $m tosto. Pode ser )$e no -atal o coronelmande te emprestar mais de( mil2r4is pra t$ gastar com as p$tas nas&erradas...  ; homem magro disse a)$ilo t$do com $m ar meio b$rlo, entrecEnico, desanimado e tr'gico. Depois pedi$ cachaça. ; cearense tinhacado em$decido, olhava o morto. &alo$, por m1  2 Cem mil2r4is por $m /aco, $ma /oice e $ma en@ada

&oi o velho )$em e@plico$1

  2 3m Ilh4$s t$ tira $m /aco =acar4 por do(e mil2r4is. -o arma(4m das/a(endas t$ no tira por menos de vinte e cinco. . .  2 m ano. . . 2 /e( o cearense, e estava /a(endo c'lc$los sobre )$ando ach$va cairia novamente na s$a terra de secas do Cear'. 3le pretendia voltar logo )$e chovesse sobre a terra abrasada e pretendia levardinheiro para poder comprar $ma vaca e $m be(erro. 2 m ano.. 2 repeti$,e to$ o morto )$e parecia sorrir.  2 Isso t$ pensa... #ntes de terminar de pagar t$ +' a$mento$ a dEvida. .. !$ +' compro$ mais calça e camisa de b$lgariana... !$ +' compro$rem4dio )$e 4 $m De$s nos ac$da de caro, t$ +' compro$ $m revólver)$e 4 o <nico dinheiro bem empregado nessa terra... 3 t$ n$nca paga a

dEvida.. . #)$i 2 e o homem magro /e( $m gesto circ$lar com a moabarcando todos eles, os )$e trabalhavam para os FMacacosF e os dois)$e vinham com o morto das F?ara<nasF a)$i t$do deve, ning$4m temsaldo. . ,  ;s olhos do cearense estavam amedrontados. # vela se gastavail$minando o morto com s$a l$( vermelha. Ch$viscava l' /ora, o velho selevanto$1  2 3$ era menino no tempo da escravido... Me$ pai /oi escravo, minhame tamb4m.. Mas no era mais r$im )$e ho+e... # coisa no m$do$ /oit$do palavras...  ; cearense tinha dei@ado m$lher e lha no Cear'. Biera para voltarcom a notEcia das primeiras ch$vas, carregado de dinheiro ganho no >$l,dinheiro para recomeçar a vida na s$a terra. #gora estava com medo. ;

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morto ria, a l$( da vela a$mentava e dimin$Ea se$ sorriso. ; homemmagro concordo$ com o velho1  2 -o /a( di/erença...  ; velho apago$ a vela, g$ardo$ no bolso. Levantaram lentamente arede, ele e o moço. ; homem magro abri$ a porta. ; negro perg$nto$1

  2 #s lhas dele, as p$tas. . .  2 >im. . . 2 /e( o velho.  2...onde mora  2 -a r$a do >apo. .. 3 a seg$nda casa..  Depois o velho volto$2se pro cearense1  2 Da)$i n$nca ning$4m volta. &ica amarrado no arma(4m desde o dia)$e chega. >e t$ )$er ir embora v' ho+e mesmo, amanh +' 4 tarde. . . >et$ )$er ir, vem com a gente, assim /a( tamb4m a caridade de a+$dar acarregar o nado.. . Depois 4 tarde...  ; cearense d$vidava ainda. ; velho e o moço +' estavam com a redesobre os ombros. ; cearense perg$nto$1  2 3 pra onde vo$ J$e vo$ /a(er  -ing$4m so$be responder, a)$ela perg$nta no havia ocorrido anenh$m deles. -em mesmo o velho, nem mesmo o homem magro )$etinha a vo( b$rlona e cEnica. ; ch$visco caEa sobre o morto. ; velho de$boa noite e agradece$. ; moço tamb4m. &icaram olhando da porta, onegro se ben(e$ em homenagem ao cad'ver mas logo penso$ nas tr0slhas, rameiras as tr0s. F%$a do >apoF, seg$nda casa. . . Iria l' )$ando/osse a &erradas... ; cearense olhava os homens )$e iam s$mindo nanoite. De repente disse1  2 3 e$ vo$ tamb4m. . .

  =$nto$ /ebrilmente se$s trapos, sol$ço$ $ma despedida, sai$ correndo.; homem magro /echo$ a porta1  2 3 pra onde vai 2 3 como ning$4m respondesse A s$a perg$nta elemesmo responde$1 2 Pra o$tra /a(enda, vai ser o mesmo )$e a)$i.  #pago$ o candeeiro.

$7

  #pago$ o candeeiro com $m sopro. #ntes Hor'cio havia dese+ado boasnoites, desde a porta, ao Dr. BirgElio )$e dormia no )$arto em /rente. #  vo( sonora do advogado respondera delicadamente1

  2 J$e d$rma bem, coronel.  -o silencio do )$arto 3ster o$vi$ e prende$ as mos sobre o peito,)$eria prender as batidas do se$ coraço. Chegavam da sala os roncoscompassadas de Maneca Dantas. ; compadre dormia n$ma rede armadana sala de visitas, cedera ao do$tor o )$arto em )$e sempre sehospedava. 3ster, no esc$ro, espiava os movimentos do marido. Havianela $ma sensaço denida1 era a certe(a da presença de BirgElio no)$arto em /rente. Hor'cio despi$2se no esc$ro, 3ster esc$to$ o r$Edo dasbotas ao serem descalçadas. 3le estava sentado na beira da cama e aindaestava alegre, ainda tra(ia no peito a)$ela sensaço )$ase +$venil de

/elicidade )$e o acompanhava desde a mesa )$ando 3ster resolvera tocarpiano a pedido dele. Da beira da cama o$via a respiraço de 3ster.

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 #rranco$ a camisa e as calças, vesti$ o camisolo de pe)$enas ores vermelhas bordadas no peito. Levanto$2se para /echar a porta )$ecom$nicava o )$arto deles com a)$ele onde o lho dormia g$ardado por&elEcia. # m$ito c$sto 3ster consentira em tirar a criança do se$ )$arto,em dei@'2la dormir sob os c$idados da empregada. 3 e@igira )$e a porta

casse sempre aberta no se$ medo )$e pela noite as cobras descessem eestrang$lassem o menino. Hor'cio cerrava a porta devagarinho. 3sterseg$ia, se$ olhos abertos no esc$ro, os movimentos do marido. >abia )$eele a iria tomar essa noite sempre )$e /echava a porta entre os dois)$artos era por)$e a )$eria poss$ir. 3 2 era o mais estranho de )$antacoisa estranha acontecera na)$ela noite 2 pela primeira ve( ster nosentia a)$ela obsc$ra sensaço de asco )$e se renovava todas as ve(es)$e Hor'cio a proc$rava para o amor. Das o$tras ve(es se encolhia nacama, inconscientemente, $m /rio a percorria toda, se$ ventre, se$sbraços, se$ coraço. >entia se$ se@o se /echar n$ma ang<stia. Ho+e nosente nada disso. Por)$e, se bem se$s olhos visl$mbrassem na esc$ridodo )$arto os movimentos de Hor'cio, s$a cabeça est' no )$arto em/rente onde BirgElio dorme. Dormir' !alve( no, talve( pense nela, talve(se$s olhos atravessem a esc$rido e a porta, o corredor e a o$tra porta eproc$rem ver sob a camisa de cambraia o corpo de 3ster. 3stremece aoimagin'2lo. Mas no de horror, 4 $m estremecimento doce )$e descepelas s$as costas, sobe pelas co@as, morre no se@o n$ma morte de delEcia.-$nca sentira o )$e sente ho+e. >e$ corpo magoado das passadasbr$talidades de Hor'cio, se$ corpo poss$Edo sempre com a mesma viol0ncia, se negando sempre com a mesma rep$lsa, se$ corpo )$e sehavia trancado para o dese+o, acost$mado a receber o ad+etivo 2 F/riaF 2

c$spido por Hor'cio após a l$ta de instantes, se$ corpo se abri$ ho+ecomo se abri$ se$ coraço. -o sente no se@o a)$ela sensaço de coisa)$e se aperta, )$e se esconde na casca como $m caram$+o. # só presençade BirgElio no o$tro )$arto a abre toda, com o só pensar nele, no se$bigode largo e bem cortado, nos se$s olhos to compreensivos, no se$cabelo loiro, sente $m /rio no se@o )$e se banha de morna sensaço.J$ando ele lhe dissera a)$ela comparaço do passarinho e da cobra, as$a boca estivera perto do o$vido de 3ster mas /oi no coraço e no se@o)$e ela o$vi$. Cerra os olhos para no ver Hor'cio )$e se apro@ima. B0 4 BirgElio, o$ve s$as palavras boas.. e ela )$e pensara )$e ele /osse b0badocomo o Dr. %$i... >orri. Hor'cio pensa )$e o sorriso 4 para ele. !amb4m

ele est' /eli( nessa noite. 3ster v0 BirgElio, s$a mos c$idadas, se$s l'bioscarn$dos, e sente no se@o, coisa )$e ela n$nca senti$, $m dese+o doido.ma vontade de te2lo, de apert'2lo, de se entregar, de morrer nos braçosdele. -a garganta $m estrang$lamento como se /osse sol$çar. Hor'cioestende as mos sobre 3ster. Delicadas e doces mos de BirgElio, carEcias)$e ele saber', ela vai desmaiar, Hor'cio esta por cima dela, BirgElio 4a)$ele por )$em ela espero$ desde os dias longEn)$os de col4gio...3stende as mos proc$rando os se$s cabelos para acarici'2los, esmaganos l'bios de Hor'cio os l'bios dese+ados de BirgElio... 3 vai morrer, s$a vida escoa pelo se@o em chamas.  Hor'cio n$nca a encontrara assim. Ho+e 4 o$tra m$lher a s$a m$lher.!ocara m<sica para ele, se entregara com pai@o. Parece morta nos se$sbraços... #perta2a mais, prepara2se para te2la novamente. Para Hor'cio 4

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como madr$gada, $ma inesperada primavera, 4 a /elicidade )$e ele +'no esperava. >$stenta s$a cabeça /ormosa, soam os golpes na porta dar$a. Hor'cio s$spende se$ gesto de carinho, o$ve de o$vido atento. ;$veManeca Dantas )$e se levanta, os golpes )$e se repetem, a tranca daporta )$e 4 aberta, a vo( do compadre perg$ntando )$em 4. -as s$as

mos a cabeça de 3ster. ;s olhos vo se abrindo devagar. Hor'cio senteos passos de Maneca )$e se apro@imam, abandona o doce calor do corpode 3ster. 3 sente $ma repentina raiva de Maneca, do import$no )$echego$ nessa hora /eli(, se$s olhos se tornam pe)$enos. Do corredor vema vo( de Maneca Dantas1  2 Hor'cio Compadre Hor'cio  2 J$e 4  2 Benha a)$i $m min$to. coisa s4ria...  Do o$tro )$arto chega a vo( de BirgElio1  23$ so$ preciso  Maneca responde1  2 Benha tamb4m, do$tor.  Do leito sai a vo( estrang$lada de 3ster1  2 J$e 4, Hor'cio  Hor'cio volta2se para ela. >orri, leva a mo ao se$ rosto1  2 Bo$ ver, volto +'.. .  3$ tamb4m vo$. . .  3, en)$anto ele sai, ela salta da cama, veste $ma bata sobre a camisa.%ecorda2se )$e assim pode ver mais $ma ve( a BirgElio nessa noite.Hor'cio sai$ como estava, o candeeiro aceso n$ma mo, o camisolo at4os p4s, as ores no peito, pe)$enas e cómicas. BirgElio +' se encontra na

sala com Maneca Dantas )$ando Hor'cio chega. %econheceimediatamente o terceiro homem1 4 &irmo )$e tem $ma roça +$nto dasmatas de >e)$eiro rande. 3st' cansado, se sento$ n$ma cadeira, asbotas enlameadas, o rosto tamb4m pingando de lama. Hor'cio o$ve ospassos de 3ster, di(1  2 !ra( $ma pinga. . .  3la mal teve tempo de constatar )$e BirgElio no veste como os o$tros$m camisolo para dormir. Beste pi+ama m$ito elegante, e /$manervosamente. Maneca Dantas aproveita a saEda de 3ster para enar$mas calças sobre o camisolo. &ica mais ridEc$lo ainda, $m pedaço das/raldas saindo pelas calças. &irmo volta a e@plicar para Hor'cio1

  2 ;s ?adarós mandaram me li)$idar..  Maneca Dantas est' ridEc$lo e ansioso na)$eles tra+es. >$a perg$ntaenvolve $m pro/$ndo conhecimento dos capangas dos ?adarós1  2 3 como 4 )$e voc0 t' vivo ainda  Hor'cio tamb4m espera a resposta. BirgElio o olha , ; coronel temr$gas na testa, est' enorme no cómico camisolo. &irmo conta1  2 ; negro se amedronto$, erro$ a pontaria...  2 Mas era mesmo $m homem dos ?adarós R Hor'cio )$eria certe(a.  2 3ra o negro Damio...  3 erro$ 2 a vo( de Maneca vinha cheia de incred$lidade.  2 3rro$... Parece )$e tava b0bado... >ai$ correndo pela estrada comodoido. # l$a tava bonita, e$ vi bem a cara do negro...  Maneca Dantas /alo$ pa$sado1

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  2 Pois pode mandar acender $ma vela ao >enhor do ?onm...3scapar do tiro do negro Damio 4 milagre e dos grandes...  &icaram todas calados. 3ster chegava com a garra/a de cachaça e oscopos. >ervi$. &irmo bebe$ e pedi$ o$tro. 3mborco$2o tamb4m de $mtrago. BirgElio admiro$ a n$ca de 3ster )$e se c$rvara para servir

Maneca Dantas. ; cangote branco aparecia aos pedaços sob o cabelosolto. Hor'cio estava parado, agora 3ster servia a ele. BirgElio os olhavae teve $m dese+o de rir, ; coronel era ridEc$lo, parecia $m palhaço decirco, com a)$ele camisolo bordado, a cara picada de be@iga. -a mesaera $m homem tEmido )$e no entendia a maior parte do )$e eleconversava com 3ster. #gora era s$mamente cómico, BirgElio se senti$dono da)$ela m$lher )$e o acaso +ogara ali, n$m meio )$e no era odela. ; gigantesco /a(endeiro parecia2lhe $ma coisa /r'gil e semimportOncia, incapa( de ser obst'c$lo aos pro+ectos )$e nasciam noc4rebro de BirgElio. # vo( de &irmo o tro$@e para a realidade ambiente1  2 3 di(er )$e esto$ bebendo essa cachacinha... Podia estar na estrada,estirado...  3ster estremece$, a garra/a treme$ na s$a mo, BirgElio /oi +ogadotamb4m, s$bitamente, dentro da cena. 3stava diante de $m homem )$eescapara de ser morto. 3ra a primeira ve( )$e ele constatava $mda)$eles tantos acontecimentos dos )$ais os amigos lhe haviam /alado na?ahia, )$ando ele se preparava para vir para Ilh4$s. Mas ainda assim nose dava per/eita conta da importOncia do /ato. =$lgava )$e as r$gas deHor'cio, o olhar ansioso de Maneca Dantas, reetiam apenas as emoçKes)$e lhes ca$sava a vista de $m homem )$e escapara de ser assassinado.-o tempo relativamente c$rto, em )$e BirgElio estava na (ona do caca$,

o$vira /alar de m$ita coisa mas ainda no se encontrara /rente a /rentecom $m /ato concreto. ; bar$lho das !abocas, entre a gente de Hor'cio ea dos ?adarós, se dera )$ando ele voltara A ?ahia, a passeio. J$andochegara, restavam os coment'rios mas ele d$vidara de m$ita coisa. ='o$vira /alar nas matas de >e)$eiro rande, +' o$vira di(er )$e tantoHor'cio como os ?adarós as dese+avam, mas n$nca dera $ma grandeimportOncia a t$do a)$ilo. 3 demais encontrava Hor'cio ig$al a $mFcloUnF na)$ela ro$pa de dormir, presença cómica )$e completava $maimagem /ormada com a atit$de dele no +antar e na sala de visitas. >e no/osse o ar de &irmo ele nem se daria conta do dram'tico da cena. Por issose admiro$ )$ando Hor'cio se volto$ para Maneca Dantas e disse1

  2 -o h' mais +eito... 3les to )$erendo, vo ter..  BirgElio no esperava a)$ela vo( rme e en4rgica de Hor'cio. Chocavacom a imagem )$e ele /ormara do coronel. ;lho$ interrogativamente,Hor'cio /alo$ para ele n$ma e@plicaço1  2 Bamos precisar m$ito do senhor, do$tor. J$ando e$ mandei pedir aoDr. >eabra $m advogado bom 4 )$e +' previa )$e isso ia se dar... # gentet' por bai@o na polEtica, no conta com +$i(, precisa de $m advogado )$eentenda das leis.. 3 no Dr. %$i no cono mais.. G m cachaceiro, brigadocom todo m$ndo, com o +$i(, com os escrives... &ala bem, mas 4 só o )$esabe /a(er.. 3 a)$i, agora e preciso $m advogado )$e tenha cabeça emanha. . .  #)$ela /ran)$e(a com )$e Hor'cio /alava dos advogados, daadvocacia e da +$stiça, as palavras /ortes envoltas em certo despre(o,

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novamente chocaram BirgElio. # g$ra do coronel como $m palhaço torpee cómico ia r$indo na imaginaço do advogado. Perg$nto$1  Mas, de )$e se trata  3ra $m gr$po estranho. 3stavam todos de p4 em torno de rmo )$etinha a ro$pa molhada do ch$visco e )$e ainda ar/ava da corrida a

cavalo. Hor'cio, enorme no camisolo branco. BirgElio /$mando nervoso.Maneca Dantas p'lido, sem notar o pedaço de camisa )$e saia das calças.ster havia sentado tamb4m, só tinha olhos para BirgElio. !amb4m elacara p'lida, ela sabia )$e ia começar a l$ta pela posse de >e)$eirorande. Mas, mais importante )$e esse /ato, era a presença de BirgElio,era o p$lsar novo do se$ coraço, era a alegria in4dita dentro dela.J$ando BirgElio /e( a perg$nta, Hor'cio disse1  2 Bamos sentar.. .  Binha $ma a$toridade da vo( dele )$e BirgElio no conhecera antes.Como se $ma ordem s$a no p$desse se)$er ser disc$tida. BirgElio serecordo$ do Hor'cio de )$em /alavam em !abocas e em Ilh4$s, o dasm$itas mortes, o das velhas beatas )$e tinha o diabo preso n$ma garra/a. Bacilava entre as d$as imagens1 $ma mostrando $m homem poderoso e/orte, dono e senhor* a o$tra mostrando $m palhaço ignorante edesgraçado, de $ma innita /ra)$e(a. Da s$a cadeira Hor'cio /alo$, opalhaço /oi desaparecendo.  2 >e trata do seg$inte1 essa mata do >e)$eiro rande 4 terra boa pracaca$, a melhor de toda (ona. -$nca ning$4m entro$ nela pra plantar. >ó)$em vive l' 4 $m mal$co, metido a c$randeiro.. . Do lado de c' da matato$ e$ com minha propriedade. =' meti o dente na mata por esse lado. Dolado de l' to os ?adarós com a /a(enda deles. 3les tamb4m +' meteram o

dente na mata. Mas po$ca coisa de $m lado e de o$tro. 3ssa mata 4 $mm do m$ndo, se$ do$tor, e )$em tiver ela 4 o homem mais rico dessasterras de Ilh4$s... 3 mesmo )$e ser dono de $ma ve( de !abocas, de&erradas, dos trens e dos navios. . .  ;s o$tros bebiam as s$as palavras, Maneca Dantas apoiava com acabeça. BirgElio começava a compreender. &irmo ia se repondo do se$s$sto. Hor'cio contin$o$1  2 -a /rente da mata, entre e$ e os ?adarós t' o compadre ManecaDantas com a /a(enda dele. Mais arriba ta !eodoro das ?ara<nas. >ó temessas d$as /a(endas grandes. ; mais 4 roça pe)$ena, como a do &irmo,$mas vinte... !$do mordendo a mata, mas sem coragem de entrar. . . &a(

m$ito )$e e$ tenho o plano de derr$bar a mata de >e)$eiro rande. ;s?adarós bem sabe... >e mete por)$e )$er...  ;lho$ em /rente, as <ltimas palavras soavam como an$nciandodesgraças irremedi'veis. Maneca Dantas esclarece$1  3les to de cima na polEtica, por isso se atrevem...  BirgElio )$eria saber $ma coisa1  2 Mas )$e 4 )$e &irmo tem )$e ver  Hor'cio volto$ a /alar1  2 3 )$e a roça dele est' entre a mata e a propriedade dos ?adarós. . .&a( tempo )$e eles andavam propondo comprar a roça dele. ;/ereceramat4 mais do )$e valia. Mas &irmo e me$ amigo me$ eleitor h' m$itosanos, ma cons$lto$, aconselhei )$e no vendesse. 3$ sabia a tenço dos?adarós )$e era entrar pela mata. Mas imaginei )$e eles mandassem

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li)$idar &irmo... J$er di(er )$e eles to decididos... !o )$erendo...  Binha $ma ameaça na s$a vo(, os homens abai@aram as cabeças.Hor'cio ri$ se$ riso para dentro, BirgElio via $m gigante de /orçainimagin'vel. >ob o imp4rio da s$a vo( desapareciam at4 as cómicasores do camisolo. &e( $m gesto, 3ster servi$ o$tra rodada de cachaça.

Hor'cio viro$2se para o Dr. BirgElio1  2 ; senhor acha mesmo, do$tor, )$e o >eabra vai ganhar as eleiçKes...  2 3sto$ certo disso...  2 !' bem... #credito no senhor 2 /alo$ como se acabasse de tomar $maresol$ço denitiva. 3 era certo por)$e levanto$ e ando$ para &irmo1 2-o tem nada, &irmo. !$, )$e acha 3 t$, compadre 2 virava2se paraManeca Dantas. 2 !em alg$m dono de roça na beira da mata )$e noeste+a comigo  3@plico$ a BirgElio1  2 ;s donos de roça t$do sabe )$e se e$ car com as matas no vo$botar eles para /ora das terras deles... #t4 do$ parte da mata.. . >e mea+$darem. =' temos conversado. #gora, os ?adarós )$erem 4 t$do, a matae as roças +$nto... !$do, )$erem mais do )$e podem engolir..

;lho$ para Maneca e para &irmo esperando a resposta da perg$nta)$e (era antes. &irmo /alo$ primeiro1  2 !' t$do com vosmec0. . .  Maneca Dantas tinha $ma restriço1  2 -o endosso por !eodoro das ?ara<nas. homem m$ito da casa dos?adarós... >ó vendo...  Hor'cio resolvia rapidamente1  2 !$, &irmo, vai voltar agorinha mesmo. Mando dois homens pra lhe

garantir... !$ /ala com os o$tros todos1 ?ra( =os4 da %ibeira, com a vi<vaMiranda, com Colo, com todo o m$ndo. -o es)$eça compadre =arde )$e4 $m homem valente. Diga )$e venha t$do almoçar a)$i amanh. !' odo$tor, a gente bota t$do no preto e no branco. &ico com a mata at4 abeira do rio, o mais, o )$e t' do o$tro lado, 4 pra dividir. . . 3 tamb4m asterras )$e se tomar... !' certo  &irmo concordo$ +' se levantando para partir. BirgElio se sentia tonto,olhava 3ster branca mais )$e branca, p'lida mais )$e p'lida, )$e nopron$nciava $ma palavra. Hor'cio /alava agora para Maneca Dantas,dava ordens, e era o senhor1  2 3 t$, compadre, vai /alar com !eodoro. 3@plica o caso a ele. >e ele

)$iser vir, )$e venha. &aço $m acordo com ele. >e no )$iser, )$e seprepare, por)$e vai chover tiro nessas vinte l4g$as de terra..  >ai$ at4 o terreiro. BirgElio o seg$i$ com os olhos prenhes deadmiraço. Depois olho$ timidamente 3ster, encontro$2a distante e )$aseinatingEvel. La /ora Hor'cio gritava para as casas dos trabalhadores1  2 #lgemiro =os4 Dedinho =oo Bermelho  Depois /oram todos para a varanda. -o terreiro os b$rros eramselados, os homens se armavam. Partiram +$ntos, Maneca, &irmo e os tr0scapangas, a cavalhada ressoando na madr$gada )$e chegava. ; capata( viera tamb4m, Hor'cio estava e@plicando o caso para ele. BirgElio e 3sterentraram na sala. 3la se apro@imo$, estava lEvida, /alo$ em vo( r'pida,palavras arrancadas do coraço1  2 Me leve da)$i para m$ito longe...

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  ;$viram os passos de Hor'cio antes )$e BirgElio respondesse. ;coronel entro$, /alo$ para a esposa e para o advogado1  2 3ssa mata vai ser minha nem )$e tenha de lavar a terra toda comsang$e. . . >e$ do$tor, se prepare, o bar$lho vai começar...  Descobri$ 3ster com medo1

  2 !$ vai para Ilh4$s, 4 melhor. . 2 mas estava interessado era nosacontecimentos. 2 Do$tor, vosmec0 vai ver como se li)$ida $ns bandidos..Por)$e os ?adarós no so mais )$e $ns bandidos. .  !omo$ BirgElio pelo braço, cond$(i$2o at4 a varanda. -a madr$gada)$e se avi(inhava a terra se vestia de $ma l$( ainda baça e triste.Hor'cio aponto$ para longe, $m hori(onte )$e mal se via.  2 -essa direcço, se$ do$tor, esto as matas de >e)$eiro rande.Da)$i $ns tempos vai ser t$do p4 de caca$... !o certo como e$ mechamar Hor'cio da >ilveira...

$$

  J$ando o cachorro $ivo$ no terreiro, DonG#na ?adaró se estremece$na rede. -o era medo, na cidade, nos povoados e nas /a(endas a gentedi(ia )$e os ?adarós no sabiam o )$e era medo. Mas estava in)$ieta,assim passara toda a tarde, na certe(a de )$e lhe oc$ltavam algo, de )$e,entre o pai e o tio havia $m segredo )$e as m$lheres de casa noconheciam. -otara a a$s0ncia da Damio e de Biriato, perg$ntara poreles a =$ca )$e respondera )$e os homens Fhaviam ido a $m recado.DonG#na percebera a mentira na vo( do tio mas nada dissera. Havia $magravidade espalhada no ar e ela a sentia e se in)$ietava. ; $ivo do

cachorro se repeti$, chorava ao l$ar n$ma ang<stia de macho sem /0meaem noite de dese+o. DonG#na olho$ o rosto do pai )$e, de olhossemicerrados, esperava )$e ela iniciasse a leit$ra. >inh ?adaró estavatran)$ilo, $ma serenidade descia2lhe pelos olhos e pelas barbas, s$asmos grandes apoiadas nas pernas, todo ele seg$rança e pa(. >e no/osse =$ca se movendo in)$ieto na cadeira, DonG#na talve( no sentisseto dentro de si o $ivo do cachorro.  3stavam na sala de visitas e era chegada a hora da leit$ra da ?Eblia. #)$ele era $m h'bito de m$itos anos, vinha desde os tempos da nadadona LEdia, me de DonG#na. 3ra religiosa e amava b$scar na ?Eblia apalavra conselheira para os negócios do marido. J$ando ela morrera

>inh conservo$ o h'bito e o respeitava religiosamente. ;nde )$er )$eele estivesse, na /a(enda, em Ilh4$s, mesmo na ?ahia a negócio, onde)$er )$e /osse, alg$4m havia de ler para ele o$vir, cada noite, trechosesparsos da ?Eblia onde ele proc$rava adivinhar conselhos e pro/eciaspara os se$s negócios. Desde )$e LEdia morrera, >inh se /a(ia cada ve(mais religioso, mist$rando agora ao se$ catolicismo $m po$co deespiritismo e m$ito de s$perstiço. Principalmente lhe era arraigadoa)$ele h'bito da leit$ra da ?Eblia. #s m's lEng$as, em Ilh4$s, pilheriavamsobre o ass$nto e contavam nos ca/4s )$e certa noite >inh ?adaró, depasseio na ?ahia, resolvera ir a $ma casa de prostit$tas. 3 antes de se

deitar com a rameira sacara do bolso a velha ?Eblia e (era com )$e elalesse $m trecho. Por ca$sa dessa história =$ca ?adaró armara $m bar$lho

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no ca/4 do Neca !ripa, partindo a cara do /armac0$tico Carlos da >ilva)$e a contava entre gargalhadas.  Desde )$e dona LEdia morrera, DonG#na passara a ser leitora, na/a(enda o$ em Ilh4$s, das p'ginas +' s$+as e por ve(es rasgadas do velhoe@emplar de ?Eblia. 3@emplar )$e >inh ?adaró n$nca )$isera trocar por

o$tro, certo de )$e a)$ele era o )$e tinha capacidade m'gica de o g$iar.-em mesmo )$ando o Cnego &reitas, n$ma noite )$e dormi$ na/a(enda, lhe /e( notar )$e a)$ela era $ma ?Eblia editada pelosprotestantes e )$e no cava bem a $m católico ler $m livroFanatemadoF. >inh ?adaró no entende$ o ad+etivo e no pedi$e@plicaçKes. %esponde$ )$e po$ca di/erença /a(ia, )$e ele sempre sedera bem com a)$ela e )$e F?Eblia no era almana)$e )$e se m$dassetodo anoF. ; Cónego &reitas no encontro$ arg$mentos e pre/eri$ calar,achando )$e +' era $ma grande coisa )$e $m coronel lesse a ?Eblia todasas noites. !ampo$co >inh ?adaró admiti$ )$e DonG#na ordenasse aleit$ra, como ela o tento$ ao s$bstit$ir LEdia nos c$idados da casa.DonG#na prop$sera partir da primeira p'gina e lerem at4 o m. Mas>inh protesto$, ele acreditava )$e a ?Eblia devia ser aberta ao acaso,para ele era $m livro m'gico, a p'gina aberta cas$almente era a)$ela)$e tinha o )$e ensinar. J$ando no se satis/a(ia mandava )$e a lhaabrisse no$tro trecho )$al)$er e mais no$tro e no$tro, at4 )$eencontrava $ma relaço entre a p'gina lida e o negócio )$e o estavapreoc$pando. Prestava $ma enorme atenço As palavras m$itas delas noentendia 2 b$scava2lhes o sentido, interpretava2as ao se$ modo, em/$nço das s$as necessidades. B'rias ve(es dei@ara de reali(ar negóciosdevido As palavras de Mois4s o$ de #brao. 3 cost$mava di(er )$e n$nca

se havia dado mal. 3 ai da)$ele, parente o$ visita, )$e, chegada a hora daleit$ra, pilheriasse o$ protestasse. >inh ?adaró perdia a calma e tinha$ma e@ploso de cólera. -em mesmo =$ca se atrevia a reclamar contraa)$ele h'bito )$e ele considerava s$mamente molesto. ;$via proc$randoprestar atenço, se divertindo com os trechos )$e tratavam das relaçKesse@$ais, era o <nico )$e entendia certas palavras c$+o sentido realescapava a >inh e a DonG#na.  DonG#na ta o pai sereno na s$a cadeira alta. Parece2lhe )$e, com osse$s olhos semicerrados, ele olha o )$adro da parede, a)$ele )$adro )$eele tro$@era da ?ahia )$ando ela lembrara )$e a sala precisava de algo)$e a alegrasse. 3la tamb4m olha o )$adro e sente toda a pa( )$e desce

da oleograa. Mas logo v0 )$e =$ca est' nervoso, )$e no se interessapelo +ornal )$e l0, $m +ornal da ?ahia atrasado de )$in(e dias. ; cachorro$ivo$ novamente e =$ca /alo$1  2 J$ando vier de Ilh4$s vo$ tra(er $ma cadela. Peri anda sentindo/alta. . .  DonG#na acho$ )$e a /rase soava /also, )$e =$ca proc$rava apenasoc$ltar com o r$Edo das próprias palavras a s$a agitaço. -o a enganam,e@iste algo, algo de grave. ;nde estaro Damio e Biriato M$itas noitesassim +' passo$ DonG#na ?adaró, sentindo na casa esse ar pert$rbado,essa atmos/era de segredo. Por ve(es só m$itos dias depois ela ia saber)$e $m homem morrera e )$e as terras dos ?adarós haviam a$mentado.3 cava terrivelmente magoada por lhe haverem escondido o /ato, comose ela /osse $ma menina. Desvia o olhar do tio, a )$em ning$4m

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responde$, e agora inve+a a calma de ;lga, a esposa de =$ca )$e /a(FcrochetF n$ma cadeira ao lado do marido. ;lga po$co demorava na/a(enda e )$ando, obrigada por =$ca, s$bia no trem de Ilh4$s para passar$m m0s com DonG#na, vinha chorando e se lastimando. >$a vida eram oscochichos de Ilh4$s, era se /a(er de m'rtir perante as velhas beatas e as

amigas, o se )$ei@ar dia e noite das avent$ras amorosas de =$ca. # princEpio )$isera reagir contra as s$cessivas indelidades do marido.Mandara cabras ameaçar m$lheres )$e se metiam com ele, certa ve(mando$ raspar a cabeça de $ma m$latinha para )$em =$ca botara casa.Mas a reacço de =$ca /oi violenta 2 as vi(inhas di(iam )$e ele a s$rrara 2e ela passo$ a se contentar com os coment'rios, com as )$ei@as /eitas atodo m$ndo, com o ar de vEtima resignada )$e p$nha nas /estas de igre+a.3 isso era a s$a própria vida, nada lhe agradava mais )$e se )$ei@ar, )$eo$vir as m$rm$raçKes e as lamentaçKes das velhas beatas, possivelmentese sentiria de/ra$dada se =$ca se convertesse n$m esposo modelo. ;diavaa /a(enda onde >inh no )$eria o$vir s$as lam<rias, onde DonG#na,oc$pada todo o dia, tinha po$co tempo para se condoer dela. DemaisDonG#na tinha a viso de vida dos ?adarós e no chegava a encontrar malnenh$m nas avent$ras de =$ca desde )$e ele dava A esposa t$do )$e elanecessitava. #ssim /ora se$ pai, assim haviam de ser sempre os homens,pensava DonG#na. #l4m de )$e ;lga, desinteressada de todos osproblemas dos ?adarós, inimiga de terra, desconhecendo t$do )$e serelacionava com o c$ltivo do caca$, parecia a DonG#na terrivelmenteestranha A /amElia, distante e perigosa. DonG#na a sentia como )$erespirando o$tra atmos/era )$e no a )$e ela, >inh e =$ca respiravam.Por4m nesse momento ela ta ;lga com certa inve+a da s$a calma, da s$a

indi/erença ante o mist4rio )$e perd$ra na sala. DonG#na pressente )$ealg$ma coisa de m$ito s4rio se est' processando. 3 sente triste(a e raivapor)$e a a/astam do segredo, no lhe do o l$gar )$e lhe compete na/amElia ?adaró. 3 demora o inEcio da leit$ra, se$s olhos passeiam de rostoem rosto.  %aim$nda chega, terminadas as tare/as da co(inha, se senta no cho,por detr's da rede, começa a catar ca/$n4 nas ancas de DonG#na. ;sdedos da m$lata estalam na morte de imagin'rios piolhos, nem mesmoa)$ela carEcia s$ave conseg$e adormecer a in)$ietaço da moça. J$esegredo g$ardam >inh e =$ca, se$ pai e se$ tio ;nde se encontraro Biriato e o negro Damio Por )$e =$ca est' to in)$ieto, por )$e olha o

relógio tantas ve(es ; $ivo do cachorro corta a noite de agonia.  >inh abre lentamente os olhos, demora2os na lha1  2 Por )$e no começa, lha  DonG#na abre a ?Eblia, ;lga olha com desinteresse, =$ca larga o +ornalsobre as pernas. DonG#na começa a ler1

8E todos estes sa9ram com as suas tropas1uma multid*o de ge!te t*o !umerosa como aareia ue h; !as praias do mar< e um !=mero

ime!so de ca#alos e carro>as.8

  3ra a história das l$tas de =os$4, e DonG#na se admira de >inh no

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mandar )$e ela abra no$tra p'gina. 3, en)$anto o pai o$ve m$ito atentoos versEc$los, ela proc$ra tamb4m penetrar o sentido deles, encontrar aligaço )$e e@iste entre eles e o segredo )$e a preoc$pa. >inh est' voltado para a /rente, a barba descansando sobre as pernas, c$rvado, nointeresse de no perder $ma só palavra. Mais de $ma ve( olho$ para

 =$ca. DonG#na l0 vagarosamente, proc$ra ela tamb4m sair de $m m$ndode d<vidas.  3 >inh pede )$e ela repita $m versEc$lo, a)$ele )$e di(ia1

8Tomou pois Josu? toda a terra das mo!ta!has e do meio2dia1 e aterra de Gose!1 e a pla!9cie1 e o distrito ocide!tal1 e o mo!te de

Israel e as suas campi!as.8

  # vo( de DonG#na silencio$, o pai /e( $m gesto para ela esperar.3stava reetindo, se bem lhe parecesse clara a bendiço divina ' s$a/amElia e aos se$s pro+ectos. >e sentia invadido por $ma grandetran)$ilidade e por $ma seg$rança absol$ta. &alo$1  2 # ?Eblia no mente n$nca. -$nca me dei mal seg$indo ela. -ós setoca pra essas matas de >e)$eiro rande, essa 4 a vontade de De$s. Ho+eainda tava com d<vida, agora no tenho mais.  3, de repente, DonG#na compreende$ e co$ /eli(, agora sabia )$e asmatas de >e)$eiro rande iam ser dos ?adarós, )$e na)$elas terras iamcrescer os p4s de caca$ e )$e, como $ma ve( >inh lhe prometera, onome da)$ela /a(enda seria escolhido por ela. >e$ rosto se abri$ dealegria.  >inh ?adaró se levanto$, era ma+estoso, parecia $m pro/eta antigo

com os longos cabelos )$e começavam a embran)$ecer e a barba negrarolando sobre o peito. =$ca olho$ o irmo mais velho1  2 >empre te disse, >inh, )$e a gente tinha )$e entrar nessa mata. -odia )$e a gente tiver ela ning$4m vai mesmo poder com os ?adarós. .  DonG#na abri$ mais se$ riso. #poiava as palavras do tio. # vo( de ;lga veio ass$stada1  2 Bo começar de novo com os bar$lhos >e 4 assim vo$ pra Ilh4$s.-o me do$ com essa vida de ver se matar gente..  -esse momento DonG#na a odio$. !eve $m olhar deinnito despre(o pela esposa do tio, despre(o e raiva, era $ma pessoa deo$tro m$ndo, $m m$ndo in<til e torpe, seg$ndo pensava DonG#na.

  ; relógio bate$ as horas. >inh /alo$ para a lha1  2 B' dormir, DonG#na, esta na hora. Boc0 tamb4m, ;lga, )$e e$ )$eroconversar com =$ca.  !oda alegria desaparece$ do rosto de DonG#na. ;lga e %aim$nda +' selevantavam, ela ainda proc$rava as palavras para pedir a >inh paracar. Mas os latidos do cachorro )$e ac$sava alg$4m no terreiro (eramcom )$e todos parassem. >eg$ndos depois Biriato aparecia na porta da varanda, o cachorro o seg$ia, logo )$e o reconhecera parara de latir. =$case adianto$ perg$ntando1  2 3 o serviço

  ; m$lato bai@o$ os olhos, /alo$ apressadamente1  2 ; homem veio pelo atalho, no veio pelo me$ lado. >e tivesse vindo

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e$ tinha derr$bado ele...  >inh perg$nto$1  2 J$e /oi )$e teve >e passo$ alg$ma coisa com Damio &ale logo.  2 3rro$ a pontaria...  2 -o 4 possEvel

  2 3rro$ 2 =$ca se admira.  2 o )$e to$ pensando, sim senhor. -o sei o )$e de$ nele. !avaes)$isito desde )$e sai$ da)$i. -o sei o )$e de$ nele. Cachaça no era,e$ havia de conhecer. .  2 ; )$e 4 )$e t$ sabe 2 perg$nto$ >inh.  ; m$lato bai@o$ de novo os olhos1  2 >e$ &irmo nem /oi /erido. !odo m$ndo +' sabe Pela redonde(a. !odi(endo )$e Damio mal$)$ece$. -ing$4m sabe )$e r$mo tomo$...  2 3 &irmo 2 )$is saber =$ca.  2 !opei com dois homens levando $m de/$nto. Di( )$e se$ &irmopasso$ no r$mo da casa do coronel Hor'cio. Ia no galope, só paro$ paradi(er )$e vosmec0 tinha mandado li)$idar ele mas )$e Damio erro$ apontaria. -o )$is mais conversa, ia com $ma pressa da disgrama.. !opeicom os homens, +' tava m$ita gente conversando. . .  #s m$lheres estavam paradas, DonG#na seg$rava a ?Eblia na mo,seg$ia a conversa com os olhos 'vidos. #gora compreendia t$do. 3 davaao acontecimento toda a s$a importOncia. >abia )$e o /$t$ro dos ?adarósestava sendo +ogado na)$ela noite. >inh atravesso$ a sala em passoslargos. &alo$1  2 J$e teria dado no negro  Biriato tento$ e@plicar1

  2 Parece )$e de$ o medo nele. . .  2 -o esto$ lhe perg$ntando. . .  ; m$lato se encolhe$, =$ca es/rego$ as mos, proc$rava esconder se$nervosismo1  2 #gora no tem mais +eito... melhor começar antes )$e Hor'ciocomece... Por)$e vai ser g$erra de verdade. .  ;lga s$spende$ $m gesto com medo do marido. >inh sento$2senovamente. 3steve $m min$to silencioso, pensava nos trechos da ?Eblia)$e a lha lera. 3ra bem claro mas ele )$eria mais1  2 L0 mais, DonG#na. ..  3la tomo$ do livro, abri$2o ao acaso e le$ mesmo de p4. >$as mos

tremiam $m po$co mas s$a vo( estava rme1

8"*o ter;s miseric@rdia com ele1 mas ar2lhe2;s pagar #ida por  #ida1 olho por olho1 de!te por de!te1 m1o por or p? po. p?.8

 >inh s$spende$ a cabeça, +á não tinha dú vidas. &e( com a mão $m gesto

para )$e as m$lheres saíssem. ;lga e %aim$nda começaram a andar masDonG#na não se move$. =á as d$as estavam no corredor e ela ainda seencontrava de livro na mão, em pé na sala, olhando o pai. =$ca estavaansioso )$e ela partisse para conversar livremente com >inhô. 3ste disse

com vo( áspera1  2 =' te mandei ir dormir, DonG#na. J$e est' esperando

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  3 ento ela recito$ de memória, sem olhar se)$er para o livro, olhostos nos do pai1

8"*o te po!has co!tra mim origa!do2mea deiBar2te e a ir2me< porue para o!de uer ue

tu ores irei eu< e o!de uer ue tu Ccares1 Ccarei eu tam?m.8

  2 Isso no 4 coisa pra m$lher. . . 2 começo$ =$ca.Mas >inh ?adaró o interrompe$1

  2 Dei@e )$e ela )$e. 3 $ma ?adaró. m dia vo ser os lhos dela, =$ca, )$e vo colher o caca$ das roças de >e)$eiro rande. Pode car,minha lha.  =$ca e DonG#na sentaram2se perto dele. 3 começaram a traçar osplanos da l$a pela posse das matas de >e)$eiro grande. DonG#na ?adaróestava alegre e a alegria /a(ia ainda mais /ormosa s$a cabeça morena, deolhos ardentes e negros.

$%

  3m torno da mata, na noite de ambiçKes, dese+os e sonhosdesencadeados, as l$(es se acendiam. L$(es de placas de )$erosene dacasa de Hor'cio, l$(es da casa dos ?adarós. Bela )$e DonG#na acenderaaos p4s da Birgem, no altar da casa grande, para )$e ela a+$dasse os?adarós nos dias )$e iam vir, vela )$e il$minava o caminho do de/$nto)$e os homens levavam para entregar As lhas, em &erradas. L$(es na/a(enda das ?ara<nas, onde =$ca ?adaró e Maneca Dantas chegaram

)$ase ao mesmo tempo pra conversar com !eodoro. L$( de /ós, vermelha e /$macenta, nas casas dos trabalhadores )$e despertavammais cedo para o$vir a história do negro Damio )$e havia errado apontaria e s$mira ning$4m sabia para onde. L$( na casa de &irmo ondedona !eresa esperava o marido com se$ corpo branco, pronto para oamor na cama de +acarand'. L$(es nas casas dos pe)$enos lavradoresdespertados pela inesperada chegada de &irmo com os cabras deHor'cio, convidando2os para o almoço no dia seg$inte. 3m torno da matabrilhavam as l$(es das lanternas, das placas, dos candeeiros e dos /ós.Marcavam os limitesda mata de >e)$eiro rande, ao norte e ao s$l, a leste e a oeste.

  ;s homens a cavalo o$ a p4 cortavam, por ve(es, para atalhar aestrada real, pe)$enos trechos da mata. 3ram os )$e iam de /a(enda em/a(enda, de roça em roça, nos convites para as conversaçKes do dia )$ese avi(inhava. 3m torno da mata a ambiço dos homens acendia l$(es,cortava as estradas n$m galope. Mas nem as l$(es, nem o passo doshomens acordava a mata de >e)$eiro rande )$e dormia se$ sono decentenas de anos pelos galhos e pelos troncos. %epo$savam as onças, ascobras e os macacos. #inda no se haviam despertado os p'ssaros parasa$dar a madr$gada. >omente os vaga2l$mes, lanternas deassombraçKes, il$minavam com s$a verde l$( o verde espesso das

'rvores. # mata de >e)$eiro rande dormia, em torno dela os homens'vidos de dinheiro e de poder concertavam planos para con)$ist'2la. 3,

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no coraço da mata, no mais /echado da oresta, il$minado somente pelal$( incerta e inconstante dos vaga2l$mes, dorme =eremias, o /eiticeiro.  Como as 'rvores e os animais tamb4m ele no se de$ ainda conta de)$e a mata est' ameaçada, de )$e a ambiço dos homens a cerco$, de)$e os dias das grandes 'rvores, dos animais /ero(es e das assombraçKes

chegaram ao m. -a s$a cabana miser'vel ele dorme +$nto com as'rvores e os animais.  J$antos anos ter' esse negro =eremias, de carapinha branca, de olhos)$e +' perderam o brilho, )$ase cegos, de corpo c$rvado, seco de carnes,de rosto retalhado de r$gas de boca sem $m só dente, e c$+a vo( 4 apenas$m m$rm<rio )$e 4 necess'rio adivinhar  -ing$4m no sabe nessas vinte l4g$as de terra em torno das matas de>e)$eiro rande. Para toda gente ele 4 $m ser da mata, to temEvel comoas onças e as cobras, como os troncos enredados de cipós, como aspróprias assombraçKes )$e ele dirige e desencadeia. 3le 4 dono e senhordessa mata de >e)$eiro rande )$e Hor'cio e os ?adarós disp$tam.Desde a /Embria do mar, no porto de Ilh4$s, at4 o mais longEn)$o povoadono caminho do serto, os homens /alam em =eremias, o /eiticeiro, o )$ec$ra as mol4stias, o )$e /echa o corpo dos homens para as balas e paraas mordidas de cobra, o )$e d' rem4dios tamb4m, para os males do amor,a)$ele )$e sabe as mandingas )$e /a(em $ma m$lher se agarrar a $mhomem )$e nem visgo de +aca mole. >$a /ama anda por cidades epovoados )$e ele n$nca vi$. De m$ito longe vem gente para cons$lt'2lo.  m dia, m$itos anos antes, )$ando a oresta cobria m$ito mais terra,)$ando se estendia em todas as direcçKes, )$ando os homens ainda nopensavam em derr$bar as 'rvores para plantar a 'rvore do caca$ )$e

todavia no chegara da #ma(ónia, =eremias se acoito$ na)$ela mata. 3ra$m negro +ovem, /$gido da escravido. ;s capites2do2mato o perseg$iame ele entro$ pela oresta ;nde moravam os Endios e no sai$ mais dela. Binha de $m engenho de aç<car onde o senhor mandara chicotear as s$ascostas escravas. D$rante m$itos anos tivera tat$ada nas esp'd$as amarca do chicote. Mas mesmo )$ando ela desaparece$, mesmo )$andoalg$4m lhe disse )$e a aboliço dos escravos havia sido decretada, eleno )$is sair da mata. &a(ia m$itos anos )$e chegara, =eremias haviaperdido a conta do tempo, +' tinha perdido tamb4m a memória dessesacontecimentos. >ó no havia perdido a lembrança dos de$ses negros)$e se$s antepassados haviam tra(ido da T/rica e )$e ele no )$isera

s$bstit$ir pelos de$ses católicos dos senhores de engenho. Dentro damata vivia em companhia de ;g$m, de ;mol$, de ;@óssi e de ;@ol$/,com os Endios havia aprendido o segredo das ervas medicinais. Mist$ro$aos se$s de$ses negros alg$ns dos de$ses indEgenas e invocava a $ns e ao$tros nos dias em )$e alg$4m ia lhe pedir conselho o$ rem4dio nocoraço da mata. Binha m$ita gente, vinha mesmo gente da cidade, e aospo$cos /oram abrindo $m caminho at4 a s$a cabana, estrada /eita pelospassos dos doentes e dos ang$stiados.  Bi$ os homens brancos chegarem para perto da mata, assisti$ a o$trasmatas serem derr$badas, vi$ os Endios /$girem para mais longe, assisti$ao nascimento dos primeiros p4s de caca$, vi$ como se /ormavam asprimeiras /a(endas. &oi se retirando cada ve( mais para o /$ndo da matae $m temor /oi se apossando dele1 o de )$e os homens chegassem $m dia

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para derr$bar a mata de >e)$eiro rande. Pro/eti(ara desgraças semconta para esse dia. # todos )$e o vinham ver ele di(ia )$e essa mata eramoradia dos de$ses, cada arvore era sagrada, e )$e, se os homensp$sessem a mo nela, os de$ses se vingariam sem piedade.  >e alimenta de raE(es e ervas, bebe a 'g$a p$ra do rio )$e corta a

mata, tem na s$a cabana d$as cobras mansas )$e assombram os visitantes. 3 nem mesmo os coron4is mais temidos, nem mesmo >inh?adaró )$e e che/e polEtico e homem respeitado, Hor'cio, sobre )$emcontam tantas histórias, nem mesmo !eodoro das ?ara<nas )$e tem $ma/ama terrEvel de malvado, nem mesmo ?rasilino )$e 4 sEmbolo de valentia, ning$4m 4 to temido nessas terras de >o =orge dos Ilh4$scomo o /eiticeiro =eremias. Dele so as /orças sobrenat$rais, a)$elas )$edesviam o c$rso das balas, )$e trans/ormam em 'g$a ino/ensiva o venenomais perigoso da cobra mais mortE/era )$e 4 a cascavel.  -a s$a cabana dorme =eremias, o /eiticeiro. Mas se$s o$vidosacost$mados a todos os r$Edos da oresta percebem, mesmo no sonopassos precipitados )$e se apro@imam. #bre os olhos cansados, levanta acabeça )$e repo$sa na terra. Proc$ra en@ergar na madr$gada )$eapenas se avi(inha, erg$e o b$sto magro, vestido de /arrapos. ;s passosesto cada ve( mais pró@imos, alg$4m corre pela picada )$e cond$( Acabana. #lg$4m )$e vem em b$sca de rem4dio o$ de conselho e )$e vemcom o desespero no coraço. =eremias +' se acost$mo$ a conhecer aang<stia dos homens pela rapide( com )$e atravessam a mata. 3sse vemdesesperado, vem correndo pela picada, deve tra(er o peito pesado dedor. ; /eiticeiro se acocora no cho, de entre os galhos chega $ma l$(d<bia )$e il$mina /racamente a cobra )$e se arrasta pela cabana.

 =eremias espera. 3sse )$e vem no tra( l$( )$e il$mine o caminho, se$so/rimento 4 s$ciente para g$i'2lo. ; /eiticeiro morde palavrasininteligEveis.

3, s$bitamente, o negro Damio se arroga na cabana, a+oelha no cho,bei+a as mos de =eremias1  2 Pai =eremias, me s$cede$ $ma desgraça. . . -em tenho vo( pracontar, nem sei como di(er... Pai =eremias, e$ to$ perdido. .  ; negro Damio treme todo, se$ corpo enorme parece $m /r'gilbamb$ batido pelo vento na beira do rio. =eremias po$sa sobre a testa donegro as s$as mos descarnadas1  2 &ilho, no h' desgraça sem c$ra. !$ conta pra e$, negro velho vai

dar rem4dio. . .  >$a vo( 4 /raca mas s$as palavras tem $ma /orça de convicço. ;negro Damio se apro@ima mais, arrastando os +oelhos pela terra1  2 Me$ pai, no sei como se de$... -$nca se de$ isso com o negroDamio. Desde )$e vosmec0 me /echo$ o corpo pras balas )$e n$ncaperdi $m tiro, n$nca me mete$ medo ter de derr$bar $m desin/eli(.. -osei como se de$, pai =eremias, /oi coisa de /eitiço..  =eremias espera a história em silencio. >$as mos sobre a testa deDamio so se$ <nico gesto. # cobra agora paro$ de andar, se enrodilho$no )$ente onde o /eitiço dormia. Damio treme ao contin$ar com $ma vo()$e ora 4 precipitada, ora 4 demorada na b$sca das palavras1  2 >inh ?adaró mando$ e$ ir li)$idar o homem. 3ra se$ &irmo, o )$etem a roça dele bem a)$i +$ntinho. &$i tocaiar no atalho e veio

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assombraço, me$ pai, veio assombraço, era a m$lher dele a dona!eresa, e me pert$rbo$ o entendimento. . .  &ica esperando. >e$ coraço est' pe)$eno, so as emoçKes )$eenchem se$ peito, emoçKes novas e desencontradas. =eremias di(1

  2 Conta, me$ lho.  2 !ava tocaiando o homem, aparece$ a m$lher, andava de barriga, di()$e o lho ia morrer, )$e o negro Damio ia matar todos tr0s... &oi meamolecendo, /oi me pegando, /oi botando coisa na minha cabeça, tiro$ a/orça de minha mo, tiro$ a pontaria de me$ ;lho. Coisa de /eitiço, me$pai, negro Damio erro$ o tiro. . . J$e vai di(er agora >inh ?adaró 3le4 $m homem bom, e$ atraiçoei ele. . . -o matei o homem, /oi coisa de/eitiço, botaram mandinga, me$ pai  =eremias est' com o corpo d$ro e os olhos parados, se$s olhos )$asecegos. !amb4m ele compreende )$e, por detr's da histórias do negroDamio, est' $ma história m$ito mais importante, )$e por detr's dodestino do negro est' o de toda a mata de >e)$eiro rande1  2 Pra )$e era )$e >inh )$eria /a(er o trabalho em &irmo, lho  2 >e$ &irmo no )$is vender a roça, como >inh podia entrar na mata,nessa mata, me$ pai 3 e$ atraiçoei ele, no derr$bei o homem, os olhosda m$lher tiro$ a coragem do me$ peito. 3$ +$ro )$e vi, me$ pai, no 4mentira do negro no...  =eremias se erg$e. Desta ve( no preciso$ de bordo para s$stentarem p4 se$ corpo centen'rio. De$ dois passos para a porta da cabana. #gora se$s olhos )$ase cegos viam per/eitamente vista a mata em todose$ esplendor. 3 a via desde os dias mais longEn)$os do passado at4 esta

noite )$e marcava o se$ m. >abia )$e os homens a iam penetrar, iamderr$bar a oresta, matar os animais, plantar caca$ na terra onde haviasido a mata de >e)$eiro rande. 3n@ergo$ o /ogo das )$eimadas seestorcendo nos cipós, lambendo os troncos, o$vi$ o miado das onçasacossadas, o g$incho dos macacos, o silvo das cobras se )$eimando. Bi$os homens de machado e /acKes acabando com o resto )$e o /ogodei@ara, pelando t$do, pondo a terra n$a, arrancando at4 as raE(es maispro/$ndas dos troncos. -o via o negro Damio )$e traEra se$ che/e echorava agora a s$a traiço. Bia era a mata devastada, derr$bada e)$eimada, via os caca$eiros nascendo, e estava poss$Edo de $m ódioimenso. >$a vo( no sai$ n$m m$rm<rio como sempre, no se dirigia

tampo$co ao negro Damio )$e tremia e chorava na espera das palavras)$e ali+ariam o so/rimento para longe. #s palavras de =eremias eram paraos se$s de$ses,os de$ses )$e tinham vindo das orestas da T/rica, ;g$m, ;@óssi, Ians,;@ol$/, ;mol$, e tamb4m a 3@$, )$e 4 o diabo. Clamava por eles para)$e desencadeassem a s$a cólera sobre a)$eles )$e iam pert$rbar a pa(da s$a moradia. 3 disse1  2 ; olho da piedade seco$ e eles t' olhando pra mata com o olho dar$indade. #gora eles vai entrar na mata mas antes vai morrer homem em$lher, os menino e at4 os bicho de pena. Bai morrer at4 no ter maisb$raco onde enterrar, at4 os $r$b$ no dar mais abasto de tanta carniça,at4 a terra t' vermelha de sang$e )$e vire rio nas estrada e nele sea/og$e os parente, os vi(inho e as ami(ade deles, sem /altar nenh$m. Bo

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entrar na mata mas 4 pisando carne de gente, pisando de/$nto. Cada p4de pa$ )$e eles derr$be vai ser $m homem derr$bado, e os $r$b$ vai sertanto )$e vai esconder o sol. Carne vai ser estr$me de p4 de caca$, cadam$da vai ser regada com sang$e deles, deles t$do, t$do, sem /altarnenh$m.

  rito$ mais $ma ve( o nome dos se$s de$ses )$eridos. rito$ por 3@$tamb4m, entregando2lhe s$a vingança, s$a vo( atravessando a mata,despertando as aves, os macacos, as cobras e as onças. rito$ mais $ma ve(, era $ma praga ardente1  2 Cada lho vai plantar se$ caca$eiro em riba do sang$e do pai. . .  Depois olho$ to para a madr$gada )$e se abria em trinados dep'ssaros sobre a mata de >e)$eiro rande. >e$ corpo /oi cedendo, tinhasido imenso o es/orço. &oi cedendo, se$s olhos cegaram de todo, aspernas se dobraram e ele cai$ sobre a terra, os p4s tocaram no negroDamio transido de medo. -o sai$ da s$a boca nem $m s$spiro, nem $mlamento. -o estertor da morte, =eremias proc$rava apenas repetir s$apraga, torcida de ódio s$a boca agoni(ante. -as 'rvores, os p'ssarosgor+eavam $m canto matinal. # l$( da madr$gada il$minava a mata de>e)$eiro rande.

Gesta>*o de 'idades

1

  3ra $ma ve( tr0s irms1 Maria, L<cia, Bioleta, $nidas nas correrias,$nidas nas gargalhadas. L<cia, a das negras tranças* Bioleta, a dos olhos

mortos* Maria, a mais moça das tr0s. 3ra $ma ve( tr0s irms, $nidas nose$ destino.  Cortaram as tranças de L<cia, cresceram se$s seios redondos, s$asco@as como col$nas, morenas, cor de canela. Beio o patro e a levo$.Leito de cedro e penas, travesseiro, cobertores. 3ra $ma ve( tr0s irms.  Bioleta abri$ os olhos, se$s seios eram pont$dos, grandes n'degas emor, ondas no caminhar. Beio o /eitor e a levo$. Cama de /erro e de crina,lençóis e a Birgem Maria. 3ra $ma ve( tr0s irms.  Maria, a mais moça das tr0s, de seios bem pe)$eninos, de ventre liso emacio. Beio o patro, no a )$is. Beio o /eitor, no a levo$. Por <ltimo veioPedro, trabalhador da /a(enda. Cama de co$ro de vaca, sem lençol, sem

cobertor, nem de cedro, nem de penas. Maria com se$ amor.  3ra $ma ve( tr0s irms1 Maria, L<cia, Bioleta, $nidas nas gargalhadas,$nidas nas correrias. L<cia com o se$ patro, Bioleta com se$ /eitor eMaria com se$ amor. 3ra $ma ve( tr0s irms, diversas no se$ destino.  Cresceram as tranças de L<cia, caEram se$s seios redondos, s$asco@as como col$nas, marcadas de ro@as marcas. -$m a$to pela estradacade o patro )$e se /oi Levo$ a cama de cedro, travesseiros, cobertores.3ra $ma ve( tr0s irms.  &echo$ os olhos Bioleta com medo de olhar em torno* se$s seiosbambos de pele, $m lho pra amamentar. -o se$ cavalo ala(o, o /eitorparti$ $m dia, n$nca mais h' de voltar. Cama de /erro se /oi. 3ra $ma ve(tr0s irms.  Maria, a mais moça das tr0s, /oi com se$ homem pro campo, pras

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plantaçKes de caca$. Bolto$ do campo Maria, era a mais velha das tr0sPedro parti$ $m dia, no era patro nem /eitor, parti$ n$m pobre cai@o,dei@o$ a cama de co$ro e Maria sem se$ amor. 3ra $ma ve( tr0s irms.  Cade as tranças de L<cia, os seios de Bioleta, cade o amor de Maria  3ra $ma ve( tr0s irms n$ma casa de p$tas pobres. nidas no

so/rimento, $nidas no desespero, Maria, L<cia, Bioleta, $nidas no se$destino.

%

  -a porta da casa de barro, sem pint$ra e sem caiaço, os tr0s homenspararam. ; +ovem e o cearense levavam a rede com o cad'ver, o velhodescansava, apoiado no bordo. -a porta da casa caram $m min$toparados. 3ra manh(inha e na r$a de rameiras no havia movimento. ; +ovem disse1  2 3 se ela tiver dormindo com macho  ; velho s$spende$ os braços1  2 # gente tem mesmo )$e acordar.  ?ateram palmas mas ning$4m responde$ de dentro da casa. ; silencioia pela r$a a /ora. ma r$a de canto no povoado de &erradas. Casaspe)$enas, de barro batido, alg$mas cobertas de palha, d$as o$ tr0s detelhas, a maioria de (inco. #li viviam as rameiras, ali os trabalhadores das/a(endas vinham nos dias de /esta em b$sca do amor. ; velho bate$ naporta com o bordo. ?ate$ $ma ve( e o$tra. #nal alg$4m grito$ l' dedentro1  2 J$em 4 J$e diabo 4 )$e )$er 2 era $ma vo( de m$lher mal

despertada.  Logo $m homem completo$1  2 B' adiante... #)$i t' t$do cheio.. 2 e ri$ $ma gargalhada satis/eita.  2 !o com macho... 2 comento$ o +ovem. 3le no via como entregar ocad'ver As lhas se elas estivessem dormindo com homens.  ; velho reeti$ $m momento1  2 -o tem +eito... # gente tem mesmo )$e entregar...  ; cearense interveio na conversa1  2 -o era melhor esperar  2 3 o )$e 4 )$e a gente /a( com ele 2 o velho apontava ; cad'ver.2 ='t' sem cova h' m$ito tempo. ; pobre precisa descansar...

  3 grito$ para dentro1  2 L<cia Bioleta L<cia  2 J$e 4 )$e )$er 2 era $ma vo( de homem )$e perg$ntava.  ; velho chamo$ pela terceira lha1  2 Maria ;h Maria  -a porta da casa vi(inha aparece$ $ma m$lher velha e sonolenta. Binha reclamar contra o r$Edo mas ao ver o cad'ver paro$ e apenasperg$nto$1  2 J$em 4  2 3 o pai delas...2 responde$ o cearense apontando para a casa.

  2 &oi morte matada 2 )$is saber a m$lher.  2 &oi de /ebre...

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  # m$lher sai$ da porta, se apro@imo$ do gr$po. 3@amino$ o cad'vercom ar de no+o1  2 J$e coisa..  ; velho perg$nto$1  2 3las to em casa -ing$4m atende...

  2 !avam de /arra na noite passada. 3ra anivers'rio de =$)$inha )$etem $m rabicho com Bioleta. !iveram de /erra at4 de madr$gada. Porisso no acordam.  =$nto$ a s$a vo( ' do velho1  2 Bioleta Bioleta  2 J$e 4 J$e diabo 4 )$e )$er  # m$lher se esganiço$ n$m grito.  2 te$ pai  2 J$em 2 a vo( chegava de dentro da casa n$ma s$rpresa.  2 !e$ pai  Ho$ve $m silencio logo cortado pelo movimento de gente )$e andavana casa. # porta se abri$ e aparece$ a cabeça de Bioleta. Bi$ o gr$po,estico$ o pescoço, reconhece$ o cad'ver do pai. De$ $m grito, ; r$Edodentro da casa a$mento$.  3 logo se movimento$ a r$a toda. >aEam m$lheres de todas as casas,mais lentamente vieram vindo homens )$e pernoitavam com alg$masdelas. # maior parte das rameiras vinha em tra+es menores, alg$mastra(iam apenas $ma camisa sobre o corpo. Cercavam o cad'ver,m$rm$ravam coment'rios1  2 &oi a /ebre...  2 -ing$4m pode com ela.

  2 >er' )$e no pega mais  2 Di( )$e pega at4 pelo ar. . .  2 melhor enterrar logo.. .  2 &a(ia anos )$e no via as lhas. . . !inha raiva delas ser perdidas...  2 Di()$e nem vinha a &erradas de vergonha...  M$lheres de caras mach$cadas, m$latas, negras, $ma )$e o$trabranca. -as pernas e nos braços, por ve(es nos rostos, marcas de /eridas.Havia no ar $m cheiro de 'lcool mist$rado com per/$me barato. mam$lata c$+a cabeleira despenteada s$bia enorme para o alto ando$ at4 +$nto do cad'ver1  2 ma ve( dormi com ele... &oi em !abocas...

  Ho$ve $m silencio em torno dela. Bioleta ainda parava na porta semcoragem de se apro@imar. 3 /oi a m$lata )$e ordeno$1  2 Levem ele pra dentro.  L<cia e Maria iam chegando. L<cia chorava1 Fme$ pai, me$ paiF. Maria vinha devagar, se$s olhos medrosos. ns homens apareceram atr's. mam$lher comento$, rindo1  2 =$)$inha, te$ sogro morre$...  ; velho pedi$1  2 %espeitem o morto. . .  ;$tra m$lher @ingo$ a )$e /alara1  2 !$ 4 mesmo $ma p$ta s$+a...  Levantaram a rede, levaram para dentro. 3ntro$ todo m$ndo atr's docad'ver. #lg$ns homens ainda terminavam de abotoar as calças, as

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m$lheres iam mesmo como estavam, vestidas pela metade. !odaspareciam ter a mesma idade e a mesma cor, $ma cor de doença. 3ra $mresto de gente perdido no m do m$ndo. 3, como no havia sala na casa,eram cinco )$artos pe)$enos oc$pados por cinco m$lheres, deitaram omorto na cama de Bioleta, )$e era no )$arto da /rente. ; velho acende$ o

toco de vela )$e estava )$ase todo gasto. Por detr's da cama havia $magrav$ra de $m santo, >enhor do ?onm. ma p'gina de revista mostrava,pregada na parede, $ma m$lher loira e n$a. L<cia sol$çava, Mariaatendia ao cad'ver, Bioleta /ora em b$sca de o$tra vela. # gente seespalho$ pelo corredor. =$)$inha /oi l' dentro, tro$@e $ma garra/a decachaça, começo$ a servir aos homens )$e haviam tra(ido o cad'ver.Maria tiro$ o violo )$e estava ao lado da cama, +$nto A cabeça do morto.  ; velho /alo$ pro cearense, apontando Maria )$e passava com o violo.  2 Conheci ela )$ando era menina. .. 3ra $ma linde(a. Depois /oi $mamoça bonita como )$e. . . J$ando caso$ com Pedro. Ho+e nem parece.  2 #inda tem $ns traços. . .  2 3ssa vida de rapariga come a bele(a de m$lher em dois dias. . .  ; +ovem co$ olhando Maria com interesse.  #lg$mas m$lheres se retiravam para se vestir. #ntes de partir, $mhomem o/erece$ se$s pr4stimos a L<cia. Bioleta /a(ia com =$)$inhac'lc$los demorados sobre o cai@o e o enterro. 3ra caro. 3ntraram para o)$arto onde estavam, com o cad'ver, L<cia e Maria. &icaram no )$artodisc$tindo. =$)$inha era como se /osse da /amElia. &a(ia contas. -o erapossEvel comprar $m cai@o. =' o l$gar no cemit4rio era m$ito caro1  2 ; +eito 4 enterrar mesmo na rede... 2 disse L<cia. 2 # gente cobre com

$m lençol.  Bioleta, )$e agora, após os gritos iniciais, estava serena, /alo$1  2 !amb4m no sei por )$e no enterraram de $ma ve( na estrada... 3len$nca ligo$ pra gente...  2 !$ no tem mesmo coraço... 2 atalho$ Maria. 2 -o sei por )$e t$grito$ )$ando vi$ ele. . >ó de ta.. 3le era $m homem bom.  Bioleta ia retr$car, Maria contin$o$1  2 3le tinha era vergonha da gente ser m$lher da vida. . . !inhasentimento... -o era )$e no gostasse da gente...  -o corredor, o velho )$e tro$@era o cad'ver contava para as visitascomo o homem morreraF a)$ela /ebre de tr0s dias li)$idando com a /orça

dele1  2 -o teve rem4dio )$e servisse... &ico$ $ma conta braba demedicaço no arma(4m das ?ara<nas... -o adianto$.  -o )$arto, L<cia, )$e era m$ito religiosa, props chamarem &rei?ento para re(ar as oraçKes. =$)$inha d$vido$ )$e o /rade viesse1  2 3le no vem em casa de m$lher2dama. .  2 J$em /oi )$e disse 2 perg$nto$ Bioleta. R J$ando Isa$ra morre$ ele veio... >ó )$e cobra caro.  3 no acrescento$ nenh$m coment'rio, ela no )$eria )$e atomassem por ma inimiga do pai. &oi =$)$inha )$em a apoio$1  2 >ó vem por m$ito dinheiro. Por menos de vinte mil r4is no h' de vir...  L<cia ia desistindo do se$ pro+ecto1

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  2 >e 4 assim no se chama. . .  ;lho$ o de/$nto, s$a cara magra, verdosa, parecendo sorrir na aiçoda morte. 3 de$ em L<cia $ma agonia, $ma triste(a do pai se enterrarsem oraçKes, balb$cio$ n$ma crise de choro1  2 Bai se enterrar sem oraço, coitado -o /e( mal a ning$4m, era $m

homem bom... 3 vai se enterrar sem ser encomendado. -$nca pensei. . .Me$ pai. . .  Bioleta tomo$ do braço dela, o melhor gesto de carinho )$e conhecia.  2 # gente mesmo re(a... 3$ ainda me lembro de $ma oraço...  Mas a m$lata )$e havia certa ve( dormido com o morto, e )$e docorredor o$via o di'logo, tiro$ vinte mil2r4is da meia e, entrando no)$arto, entrego$ a L<cia1  2 -o dei@e ele sem oraço. . .  &oi isso )$e de$ id4ia a =$)$inha de /a(er $ma s$bscriço. >ai$ entreos presentes recolhendo dinheiro. m homem )$e no tinha o )$e dar seo/erece$ para ir chamar &rei ?ento e parti$. 3ra a s$a maneira decolaborar.  L<cia lembro$ en@$gando as l'grimas1  2 preciso dar ca/4 aos homens )$e tro$@eram ele...  Maria parti$ para os /$ndos da casa. J$ando chamo$ o velho, o +oveme o cearense, todos a acompanharam para a co(inha. -o )$arto caramapenas Bioleta e, a m$lata )$e dera os vinte mil2r4is. 3la n$nca tinha visto, repo$sando na pa( da morte, $m homem com )$em ho$vessedormido. 3stava impressionada e o considerava como $m morto se$,como $m parente pró@imo.  -a co(inha, em torno do ca/4, o velho conto$ para m$dar a conversa1

  2 >abe )$e ontem os ?adarós mando$ li)$idar se$ &irmoHo$ve $m interesse geral1  2 ; )$e t' me di(endo  2 Mataram ele  2 ; tiro no pego$. de admirar... &oi o negro Damio.  m homem assobio$ s$a admiraço. ;$tro /alo$1  2 ; negro Damio errando tiro o m do m$ndo...  ; velho se sentia org$lhoso do interesse despertado. Mete$ a $nha nodente, como se /ora $m palito, arrancando $ma /elpa de aipim. 3 conto$1  2 >e$ &irmo passo$ pela gente, ia n$ma pressa dos diabos, ia tocandopra casa do coronel Hor'cio. Di( )$e a coisa vai pegar /ogo.. .

  Haviam es)$ecido o de/$nto e cercavam o velho, alg$nsse debr$çavam sobre a pe)$ena mesa da co(inha para noperder $ma palavra. #ssomavam cabeças sobre os )$e estavam na /rente,olhos abertos de c$riosidade. ; velho e@plico$ o )$e todos sabiam1  2 por ca$sa da mata de >e)$eiro rande...  2 # coisa vai começar. .  ; velho pedi$ silencio e relato$1  2 =' t' começando... Mais adiante a gente se encontro$ com se$ &irmo)$e vinha de volta com dois cabras do coronel Hor'cio. Binha tamb4m ocoronel Maneca Dantas )$e tomo$ pelo atalho pras ?ara<nas. . . Ia t$dono galope. . .  =$)$inha, )$e era homem dos ?adarós, interveio1  2 Coronel Hor'cio t' pensando )$e !eodoro vai /a(er parte com ele.

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Parece menino )$e se engana com ch$peta. -o v0 )$e coronel !eodoro4 $nha e carne com os ?adarós. . .  L<cia interrompe$1  2 miser'vel, isso sim. m bandido da)$eles.. !a com )$em der mais vantagem pra ele...

  ma m$lher ri$1  2 !$ 4 )$e bem sabe, /oi am'sia dele, /oi ele )$e te descabaço$.  L<cia erg$e$ o b$sto, os olhos com raiva1  2 #)$ilo 4 a pior mis4ria do m$ndo. -o h' homem to desgraçado.  2 Mas 4 valente. . . 2 /alo$ $m homem.  2 Balente pro lado de m$lher 2 era a vo( de L<cia, 2 )$ando )$er comer$ma ca mais manso )$e $m passarinho. !o$ me lembrando comigo. Binha pra me$ lado, era $m presente todo dia, $m corte de /a(enda, $masand'lia, $m lenço bordado. 3 promessa de /a(er medo. Me promete$casa em Ilh4$s, me promete$ vestido, at4 a)$ele anelo de brilhante )$e$sa no dedo mindinho. Promete$ t$do at4 )$e e$ /$i na conversa e deipra ele... Depois, promessa /oi $m dia... Me largo$ /oi na r$a de m$lher2dama e sem a b0nço de me$ pai. . .  3stavam calados, o cearense olhava alarmado, L<cia espio$ todos, vi$)$e ainda estavam esperando mais1  2 3 pensa )$e /oi só J$ando me tinha comido e no )$eria mais, +'tinha se cansado, boto$ o olho em Bioleta... >e no /osse #nanias, )$e erao capata(, )$e +' tinha passado antes e +$ntado as pernas com ela.. . >óno /e( mais por)$e tinha medo de #nanias.. .  ; velho /alo$1  2 -egro tem lha 4 mesmo pra cama de branco. . .

  L<cia ainda tinha o )$e contar1  2 3 )$ando morre$ Pedro, )$e tinha casado com Maria, na mesmanoite do enterro, o coronel aparece$ na casa dela com a conversa deo/erecer se$s pr4stimos. . . 3 no respeito$ nem a dor da pobre, /oi aimesmo, na cama )$e ainda tava )$ente do corpo do marido... #)$ilo 4pior )$e a desgraça...  Ho$ve silencio. ; +ovem )$e tro$@era o cad'ver, desde )$e chegaraolhava Maria com olhos de dese+o. >e no /osse dia de no+o teria propostodormir com ela. &a(ia dois meses )$e ele no sabia o )$e era m$lher.Desde )$e entrara, )$e os restos de bele(a de Maria lhe haviam chamadoa atenço. 3 de toda a conversa, só a)$ele caso do coronel !eodoro

poss$indo ela no dia do enterro do marido interessara ao +ovem.  ; velho )$e perdera importOncia com a interr$pço de L<cia, p$@o$de novo a conversa para os acontecimentos da noite1  2 =ag$nço agora vai valer o$ro... >e começar os bar$lhos )$em tiverpontaria vai enricar. Pode botar roça.. .  2 3$ to$ apostando nos ?adarós 2 disse =$)$inha. 2 3les to por cimana polEtica. Bo ganhar com certe(a. >inh e =$ca so dois machos.  2 -ing$4m pode com o coronel Hor'cio. . . 2 /alo$ o$tro.

m homem sai$. =$)$inha comento$1  2 Chico +' vai se apresentar... -o h' bar$lho )$e no se meta. homem do coronel Hor'cio...  #lg$mas visitas saEram tamb4m na Onsia de espalhar as notEcias )$e o velho tra(ia. 3 se distrib$Eram pelas po$cas r$as de /erradas, indo de

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conhecido a conhecido. ; cearense se admirava da)$ela terra1  2 -essa terra só se /ala em morte. . .  ; velho sentencio$1  2 Morte a)$i 4 mercadoria barata. 3 agora vai ser mesmo de graça. !$sai$ em tempo. .

  2 !' /$gindo 2 perg$nto$ $ma m$lher,  2 !o$ indo embora..  =$)$inha ri$1  2 Logo agora )$e a coisa vai se por boa  M$lheres +' vestidas voltavam a entrar na casa. ma tra(ia ores,m$rchas ores )$e $m amante ocasional lhe dera dois dias antes, e asdeposito$ nos p4s do cad'ver. Chegavam homens tamb4m, )$eriam saberdas notEcias )$e o velho tro$@era. Pelo povoado circ$lavam, a$mentadas.Di(iam )$e havia chegado o cad'ver de $m cabra )$e acompanhava&irmo e morrera com o tiro destinado ao patro. J$e &irmo escapara pormilagre do tiro do negro Damio. ;$tros di(iam )$e /ora o cad'ver dopróprio &irmo )$e chegara.  &rei ?ento entro$ em casa das m$lheres. ma )$e ainda estava emcamisa sai$ correndo para se vestir direito. #tr's de &rei ?ento vinha osacristo. ; /rade sa$do$ da porta, com s$a vo( estrangeira1  2 De$s este+a convosco.  3ntro$ pelo corredor, antes de t$do )$is saber das notEcias. Depois do velho ter repetido toda a história n$ma vo( h$milde, o /rade se dirigi$para o )$arto, paro$ +$nto ao cad'ver. Bioleta e@plico$, com vo(envergonhada, as dic$ldades de dinheiro. Depois /e( contas com osacristo de$ a nota de vinte mil2r4is )$e a o$tra o/erecera e mais $mas

pratas. ; /rade inicio$ as oraçKes. Homens e m$lheres repetiam em coro1  2 ;ra pro nobis..  L<cia chorava bai@inho, as tr0s irms estavam +$ntas, apertadas $mana o$tra. ; +ovem olhava Maria. >er' )$e ela no aceitaria dormir comele nesse mesmo dia, depois do enterro -o +' dormira ela com ocoronel !eodoro depois do enterro de Pedro, )$e /ora se$ marido. %epetiacom o coro ma)$inalmente1  2 ;rai pro nobis..  ; /rade desava as oraçKes da ladainha. Da porta alg$4m grito$1  2 L' vem =$ca ?adaró.. .  Correram todos para a r$a onde, n$m galope )$e levantava poeira,

 =$ca passava acompanhado por #ntónio BEtor e mais dois cabras, acaminho de !abocas. Haviam corrido todos, at4 o sacristo, para v02lospassar. &rei ?ento espio$ pela +anela, a cabeça esticada por cima docad'ver, sem parar a oraço. >ó as tr0s irms e o +ovem )$e dese+avaMaria caram com o /rade ao lado do cad'ver. =$ca ?adaró e os cabras +'iam no m do povoado. Passavam em /rente ao grande arma(4m deHor'cio, onde era depositado o se$ caca$ seco, e deram $ns tiros pro ar.;s homens e m$lheres /oram voltando. #s oraçKes de de/$ntos seperdiam em meio aos coment'rios. ; +ovem ia se apro@imando de Maria.

&

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  M$itos anos depois )$ando alg$4m atravessava esse povoado de&erradas em companhia de $m velho )$e conhecia as histórias da terrado caca$, era )$ase certo o velho comentar apontando as casas e as r$asc$+a lama desaparecera sob o calçamento de pedras1  2 Isso a)$i +' /oi coito dos piores bandidos dessa terra. M$ito sang$e +'

corre$ em &erradas. -o começo do caca$. . .  ; povoado de &erradas era /e$do de Hor'cio. 3stava encravado entreas /a(endas dele. D$rante alg$m tempo &erradas marcara os limites daterra do caca$. J$ando os homens iniciaram no %io2do2?raço a plantaçoda nova lavo$ra, ning$4m pensava )$e ela ia terminar com os engenhosde aç<car, os alambi)$es de cachaça e as roças de ca/4 )$e e@istiam emredor do %io2do2?raço, de ?anco2da2Bitória, de 'g$a2?ranca, os tr0spovoados da beira do rio Cachoeira )$e ia dar no porto de Ilh4$s. Mas ocaca$ no só li)$ido$ os alambi)$es, os pe)$enos engenhos e as roças deca/4, como ando$ mata adentro. 3 no se$ caminho nasceram as casas dopovoado de !abocas e mais longe as casas do povoado de &erradas,)$ando os homens de Hor'cio haviam con)$istado a mata da margemes)$erda do rio. &erradas /oi, d$rante alg$m tempo, o povoado maisdistante de Ilh4$s. Dali partiam os con)$istadores de novas terras. Por ve(es, rompendo a mata, chegavam via+antes de Itapira, da ?arra do %iode2Contas, )$e era o o$tro lado das terras do caca$. &erradas /oi $mcentro de com4rcio, pe)$eno e movimentado. Iria parar se$ crescimentocom a con)$ista da mata de >e)$eiro rande, nos limites da )$alnasceria o povoado de Pirangi, $ma cidade /eita em dois anos. 3 anosdepois, com o andar r'pido da lavo$ra do caca$, nasceria ?a/or4, +' nocaminho do serto, )$e logo trocaria se$ nome pelo mais e$/nico de

$araci. Mas, nos tempos da con)$ista, &erradas era importante, talve(mesmo mais importante )$e !abocas. &alava2se )$e a estrada de /errochegaria at4 l'. 3ra $m pro+ecto m$ito disc$tido nas vendas e na/arm'cia. Ditavam2se pra(os, /alava2se no progresso )$e isso traria a&erradas. Mas a estrada n$nca veio. #contecia )$e &erradaspoliticamente era de Hor'cio. Mandava ele e mais ning$4m. 3 como eleera seabrista, estava na oposiço, o governo n$nca aprovara o pro+ectodos ingleses de criarem $m ramal da estrada at4 &erradas. 3 )$ando>eabra s$bi$ ao governo e Hor'cio esteve de cima +' se encontrava m$itomais interessado em levar a estrada at4 >e)$eiro rande +$nto ao )$alnascia Pirangi. &erradas /oi $ma etapa, na)$eles anos /ervia de gente,

comerciava, era conhecida das grandes casas e@portadoras da ?ahia,estava no roteiro de todos as cai@eiros2via+antes. 3stes chegavam nolombo dos cavalos, as malas de amostras tra(idas por $ma tropa deb$rros, e d$rante alg$ns dias e@ibiam s$as ro$pas de linho branco entrea ro$pa ca)$is dos grapi<nas. ;s cai@eiros2via+antes namoravam asmoças solteiras do povoado, bailavam )$ando havia bailes, bebiamcerve+a )$ente reclamando contra a /alta de gelo, /a(iam grandesnegócios. 3 na cidade da ?ahia, na volta das viagens, contavam noscabar4s as histórias bravias da)$ele povoado de avent$reiros e +ag$nços,onde havia apenas $ma penso, onde a lama era o calçamento da r$a,mas onde )$al)$er homem de p4 descalço levava $m maço de dinheiro nobolso. Comentavam1  2 -$nca vi tanta nota de )$inhentas mil2r4is como em &erradas. .

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  3ra a nota mais alta )$e havia na)$ele tempo. 3m &erradas ning$4mtinha troco, nE)$eis )$ase no e@istiam. Contavam o$tras anedotas tolas,como todas as anedotas dos cai@eiros2via+antes.  2 J$ando alg$4m cheg' em &erradas, Chico Martins, )$e 4 o dono dapenso, pKe aç<car na cama onde o hóspede vai dormir.

; )$e o$via a história se admirava1  2 #ç<car Para )$0  2 Para dar /ormiga e as /ormigas comerem os perceve+os.  # varEola e o ti/o eram end4micos no povoado e a casa melhor de&erradas no estava propriamente nas s$as r$as. 3stava mais para dentroda mata, era o la(areto onde internavam os be@igosos. Di(iam )$enenh$m be@igoso voltara de l'. 3ra c$idado por $m preto velho )$etivera a be@iga negra e se salvara. -ing$4m entrava no pedaço de mataonde estava o la(areto. In/$ndia terror em toda a pop$laço.

&erradas nascera em torno do arma(4m de caca$ )$e Hor'cio (eraconstr$ir ali. 3le precisava de $m depósito onde +$ntar o caca$ +' secodas s$as diversas /a(endas. #o lado do arma(4m /oram s$rgindo casas,em po$co tempo se abri$ $ma r$a na lama, dois o$ tr0s becos a cortaram,chegaram as primeiras prostit$tas e os primeiros comerciantes. m sErioabri$ $ma venda, dois barbeiros se estabeleceram vindos de !abocas,passo$ a haver /eira aos s'bados, Hor'cio mandava abater dois bois para vender a carne. !ropeiros, )$e vinham cond$(indo tropa de caca$ secodas /a(endas mais distantes, pernoitavam em &erradas, os b$rros vigiados por ca$sa dos ladrKes de caca$.  Mas &erradas começo$ a ser mesmo m$ito /alada )$ando danomeaço dos s$bdelegados. ; pre/eito de Ilh4$s, a instOncias de =$ca

?adaró, nomeara $m s$bdelegado de polEcia para &erradas. 3ra $mamaneira de /erir Hor'cio, de se meter nas terras dele. Disseram )$ea)$ilo +' era $m povoado e no importava )$e estivesse em terras deHor'cio. 3ra necess'rio )$e a +$stiça se implantasse ali e se p$sessecobro aos assassinatos e ro$bos )$e se s$cediam. ; delegado chego$ por$ma tarde. Binha com tr0s soldados de polEcia, an4micos e tristes.Chegaram montados e pela noite voltaram a p4 e n$s, após terem tomado$ma s$rra tremenda. ; +ornal governista de Ilh4$s /alo$ no ass$ntoatacando Hor'cio, o +ornal da oposiço perg$nto$ por )$e nomeavam $ms$bdelegado e no entanto no calçavam nem $ma r$a, no p$nham nem$m candeeiro de il$minaço nas es)$inas #s ben/eitorias )$e &erradas

poss$Ea eram /eitas pelo coronel Hor'cio da >ilveira. >e, o m$nicEpio)$eria intervir na vida da localidade )$e ento contrib$Esse tamb4m comalg$m progresso para ela. &erradas vivia em pa(, no precisava depolEcia, precisava era de calçamento, de l$( e de 'g$a encanada. Mas noadiantaram os arg$mentos do +ornal da oposiço )$e respondia aosinteresses de Hor'cio. ; pre/eito, sempre atiçado por =$ca, nomeo$ o$trodelegado. este era conhecido como valente, era Bicente aranga$, )$e/ora m$ito tempo +ag$nço dos ?adarós. Chego$ com de( soldados,conversando m$ito, )$e ia /a(er e acontecer. Logo no dia seg$inteprende$ $m trabalhador de Hor'cio )$e armara $ma baderna n$ma casade raparigas. Hor'cio mando$ $m recado pra ele soltar o homem. 3lemando$ di(er )$e Hor'cio viesse soltar. Hor'cio veio mesmo, solto$ ohomem, Bicente aranga$ /oi morto no caminho dos Macacos )$ando

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proc$rava se esconder na /a(enda de Maneca Dantas. #rrancaram2lhe apele do peito, as orelhas e os ovos e mandaram t$do de presente aopre/eito de Ilh4$s. Desde esse tempo no havia s$bdelegado em &erradaspor mais )$e =$ca ?adaró proc$rasse $m homem )$e )$isesse o cargo.  Hor'cio (era constr$ir $ma capela e conseg$i$ $m /rade )$e viesse

para ali. &rei ?ento parecia mais $m con)$istador de terra )$e $msacerdote de Cristo. >$a pai@o era o col4gio )$e as /reiras estavamconstr$indo em Ilh4$s com todas as dic$ldades, e todo o dinheiro )$econseg$ia arrebanhar em &erradas enviava para as /reiras, para a s$aobra. Por isso no era simpati(ado no povoado. 3speravam )$e ele sepreoc$passe mais com &erradas, )$e pensasse em levantar $ma igre+amelhor )$e a de !abocas para s$bstit$ir a capela. Mas &rei ?ento sópensava no col4gio das /reiras )$e se iniciara mon$mental no morro daCon)$ista, na cidade de Ilh4$s. &ora $m pro+ecto dele, c$stara2lhe m$itoconvencer ao arcebispo da ?ahia, para )$e mandasse as /reiras. 3 se asobras se haviam iniciado devia2se a &rei ?ento )$e /ormo$ comissKesde senhoras em Ilh4$s. 3 ele, se aceitara a)$ele l$gar de capelo em&erradas, /ora com o to de arran+ar dinheiro ali para as obras do col4gio.Metia2lhe medo a indi/erença dos coron4is pela ed$caço das lhas.Pensavam m$ito nos lhos, em /a(er deles m4dicos, advogados o$engenheiros, as tr0s prossKes )$e haviam s$bstit$Edo a nobre(a, masnas lhas no pensavam, bastava )$e aprendessem a ler e a co(inhar. 3m&erradas no perdoavam a &rei ?ento o desinteresse pelo povoado.Di(iam )$e ele dormia com a co(inheira, $ma m$latinha )$e viera da/a(enda de Hor'cio. 3, )$ando ela pari$, apesar de )$e todo m$ndo sabia)$e o menino era lho de Birg$lino, o empregado do sErio, todos achavam

)$e ele se parecia com &rei ?ento. &rei ?ento sabia dos coment'rios,encolhia os ombros, saEa A cata de dinheiro para o col4gio. !inha $msecreto despre(o por a)$ela gente toda )$e ele consideravairremediavelmente perdida, assassinos, ladrKes, homens sem lei, semrespeito a De$s. >eg$ndo &rei ?ento no havia $m só morador de&erradas )$e no ho$vesse h' bastante tempo con)$istado a eternidadedo in/erno. 3 o di(ia nos sermKes de po$cos assistentes nas missas dedomingo.  3ssa opinio do /rade era mais o$ menos generali(ada pelas terras docaca$ onde &erradas era sinónimo de morte violenta. Mais )$e ocatolicismo representado pelo /rade com se$ desinteresse pela povoaço,

o espiritismo medrava. -a casa de 3$/rosina, $ma m4di$m )$e começavaa criar /ama, os FcrentesF se re$niam para o$vir os parentes e os amigosmortos. 3$/rosina tremia na cadeira, começava a /alar com a lEng$aembolada, $m dos presentes reconhecia a vo( de $m de/$nto conhecido.Contavam )$e, h' m$ito tempo, os mortos, principalmente o espErito de$m Endio )$e era o g$ia de 3$/rosina vinha an$nciando os bar$lhos porca$sa da mata de >e)$eiro rande. #)$elas pro/ecias eram comentadas ening$4m era cercado de tanto respeito em &erradas como a m$lata3$/rosina )$e atravessava a s$a magre(a pelas r$as enlameadas. Com os$cesso das FsessKesF, 3$/rosina inicio$ tamb4m $ns tratamento demol4stias pelo espiritismo, com relativo s$cesso. &oi só ento )$e o Dr. =ess4 &reitas, )$e era m4dico em !abocas e )$e vinha $ma ve( porsemana a &erradas para atender aos doentes do povoado, )$e era

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chamado tamb4m nas noites de tiroteio, $ni$ a s$a campanha A de &rei?ento, contra 3$/rosina. 3la lhe estava tirando a clientela, os doentes de/ebre iam cada ve( mais A m4di$m )$e ao m4dico. &rei ?ento chego$ a/alar com Hor'cio. Mas Hor'cio no ligo$. Di(em )$e /oi por isso )$e &rei?ento invento$ a)$ela história sobre Hor'cio e as sessKes espEritas. &rei

?ento tinha 2 seg$ndo &erradas 2 $ma lEng$a venenosa. 3 desta ve( /oramesmo ele )$em espalhara a história. Di(ia esta )$e, em certa sessoespErita em casa de 3$/rosina, chamaram o espErito de M$ndinho de #lmeida, $m dos primeiros con)$istadores de terra, o mais terrEvel delesmorto m$itos anos antes, mas c$+a /ama de malvade( ainda perd$rava.&alava2se nele como sEmbolo de homem r$im.  3$/rosina emprego$2se toda em chamar o espErito de M$ndinho de #lmeida. -o havia +eito dele vir. &oi $ma l$ta tremenda, a m4di$m serebentando n$m es/orço enorme de tremedeiras e transes. Por m, aocabo de mais de $ma hora de trabalho, os assistentes +' cansados detanta concentraço, M$ndinho de #lmeida chego$, m$ito cansado e m$itoapressado. J$e dissessem logo o )$e )$eriam, ele tinha )$e voltarrapidamente. # m4di$m perg$nto$ com doç$ra1  2 Mas, por )$e tanta pressa, irmo  2 #h no in/erno a gente est' m$ito oc$pado. !odo m$ndo.. 2respondera o espErito de ma$s modos, e pelos ma$s modos os mais velhosarmaram )$e era mesmo M$ndinho de #lmeida.  2 ; )$e 4 )$e esto /a(endo 2 )$is saber 3$/rosina, vo( da c$riosidadegeral.  2 !amos +$ntando lenha o dia todo. !rabalha todo m$ndo, os pecador eos diabo. .

  2 Pra )$e tanta lenha, irmo  2 !amos /a(endo a /og$eira pro dia )$e vier Hor'cio. . .  3ram assim as histórias do povoado de &erradas, /e$do de Hor'ciocoito de bandidos. Dali partiram para as matas os desbravadores de terra.3ra $m m$ndo primitivo e b'rbaro c$+a <nica ambiço era dinheiro. Cadadia chegava gente desconhecida em b$sca de /ort$na. De &erradas,partiam as novas estradas rec4m2abertas da terra do caca$. De &erradas,os homens de Hor'cio iam partir para dentro das matas de >e)$eirorande. -a)$ele dia &erradas vivia das notEcias )$e o velho tro$@era como cad'ver. =$ca ?adaró passara por ali na ida para !abocas. -a volta +'no poderia vir por &erradas, teria )$e proc$rar o$tro caminho. De

manh para a tarde &erradas se ps em p4 de g$erra. Chegaram +ag$nçospara g$ardar o arma(4m de Hor'cio. -as vendas, os homens bebiam maiscachaça )$e normalmente. -o princEpio da noite, Hor'cio chego$.

Chego$ com $ma comitiva grande, $ns vinte cavalos, $ma tropa deb$rros )$e cond$(ia as bagagens. >e dirigiam a !abocas, onde, no diaseg$inte, 3ster tomaria o trem para Ilh4$s. 3la vinha montada ' maneirada)$ele tempo, sentada de banda no selim )$e tinha cabeço de pratacomo de prata era o cabo do reben)$e )$e ela tra(ia na mo. # se$ ladomarchava BirgElio n$m cavalo tordilho. Mais atr's, ao lado de Hor'ciopesado na s$a montaria, vinha, bai@o e tronc$do, o rosto cortado por $mlongo talho de /aco, compadre ?ra(, dono de $ma roça +$nto das matasde >e)$eiro rande, respeitado como ele só na (ona do caca$. !ra(ia$ma repetiço na /rente da sela e sobre ela descansava a mo )$e

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seg$rava a r4dea. 3 vinham cabras e tropeiros, repetiço no ombro, orevólver no cinto. &echando a marcha cavalgava Maneca Dantas )$ehavia /racassado na s$a misso ante o coronel !eodoro Martins, opropriet'rio das ?ara<nas. 3ste cara com os ?adarós. Binham todosn$m gr$po cerrado, levantando poeira na estrada de barro vermelho. ;s

tropeiros gritavam pelos b$rros de carga, a)$ilo parecia mais $mpe)$eno troço de e@4rcito invadindo $m povoado. 3ntraram n$m galope.Logo no começo da r$a, Hor'cio passo$ na /rente de todos e risco$ o solocom as patas do se$ cavalo ao parar de/ronte da casa de &arhat, o sErio,onde iam pernoitar. #ssim com o cavalo levantado sobre as patastraseiras, levantado ele tamb4m da sela, o cho com as marcas do riscodas patas do animal, o reben)$e n$ma mo, a o$tra s$stentando pelar4dea o e)$ilEbrio do cavalo, Hor'cio parecia $ma est't$a e)$estre de $mantigo g$erreiro. ;s cabras e os tropeiros se espalharam pelo povoado)$e /ervia de coment'rios. -essa noite po$ca gente dormi$ em &erradas.3ra como $ma noite de acampamento antes da manh da batalha.

-

  Com se$s longos chicotes )$e estalavam ao tocar o solo, os tropeirosatravessavam as r$as enlameadas de !abocas. ritavam, para os b$rrosno entrarem pelos becos e pelas r$as novas )$e se abriam1  2 3h Diamante Dianho Pra /rente, b$rro da desgraça..  -a /rente da tropa chocalhando de g$i(os, com $m peitoral en/eitado,ia o b$rro )$e melhor conhecia o caminho, a Fmadrinha da tropaF. ;scoron4is re)$intavam no en/eite dos peitorais das Fmadrinhas das

tropasF, era $ma prova da s$a /ort$na e da se$ poderio.  ; grito dos tropeiros atravessava dia e noite o povoado de !abocas, seelevando sobre todas as vo(es e todos os r$Edos1  2 V, Piranha !oca pra /rente, ?orboleta M$la empacadeira dosdiabos...  3 os longos chicotes estalavam no ar e no solo, en)$anto as tropas deb$rros revolviam a lama das r$as no se$ passo seg$ro e tardio. De $maporta )$al)$er $m conhecido pilheriava com o tropeiro na pilh4ria maisgasta de !abocas1  2 Como vai, m$lher de tropeiro  2 Bo$ ver t$a me da)$i a po$)$inho.. .

  Por ve(es entravam boiadas )$e vinham do serto e )$e, o$ paravamem !abocas, vendidas aos abatedores, o$ seg$iam no caminho de Ilh4$s.;s bois m$giam nas r$as, os va)$eiros vestidos de co$ro, nos se$spe)$enos cavalos de tanta agilidade, se mist$ravam aos tropeiros nas vendas onde bebiam cachaça o$ nas casas das rameiras onde b$scavam$m carinho de m$lher. Cavaleiros atravessavam a r$a no galope doscavalos, o revólver no cinto. #s crianças )$e brincavam na lama sea/astavam r'pidas, abrindo caminho. 3 mil ve(es por dia a lama das r$asera revolvida, caca$ e mais caca$ se depositava nos arma(4ns enormes. #ssim era !abocas.

  Primeiro no teve nome, )$atro o$ cinco casas apenas A margem dorio. Depois /oi o povoado de !abocas, as casas se constr$indo $mas atr's

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das o$tras, as r$as se abrindo sem simetria ao passo das tropas de b$rros)$e tra(iam caca$ seco. # estrada de /erro avanço$ de Ilh4$s at4 ali e,em torno dela, nasceram novas casas. 3 eis )$e no eram só casas debarro batido, sem pint$ra, de +anelas de t'b$as, casas levantadas 'spressas, casas mais para po$so )$e mesmo para moradia como as de

&erradas, Palestina e M$t$ns. 3m !abocas se levantaram casas de ti+olose tamb4m casas de pedra e cal, com telhados, vermelhos, com +anelas de vidro, $ma parte da r$a central tinha sido calçada de pedras. verdade)$e as o$tras r$as eram $m p$ro lamaçal, revolvido diariamente pelaspatas dos b$rros )$e chegavam de toda a (ona do caca$, carregados comsacos de )$atro arrobas. #s r$as se abriam em arma(4ns e arma(4nsonde o caca$ era depositado. #lg$mas casas e@portadoras +' tinham lialem !abocas e ali compravam o caca$ aos /a(endeiros. 3 se bem notivesse sido ainda instalada $ma lial do ?anco do ?rasil, havia $mrepresentante banc'rio )$e evitava a m$itos coron4is /a(erem a viagemde trem a Ilh4$s para depositar e retirar dinheiro. -o meio de $ma largapraça plantada de capim, havia sido constr$Eda a igre+a de >o =os4,padroeiro da localidade. J$ase em /rente, n$m dos po$cos sobrados de!abocas, estava a Lo+a Maçónica )$e re$nia no seio a maioria dos/a(endeiros e )$e dava bailes e mantinha $ma escola.  Do o$tro lado do rio +' se levantavam v'rias casas e começava2se a/alar em constr$ir $ma ponte )$e ligasse os dois pedaços da cidade. ;shabitantes de !abocas tinham $ma grande reivindicaço1 )$e o povoado/osse elevado A categoria de cidade e /osse sede de governo e de +$stiça,com se$ pre/eito, se$ +$i(, se$ promotor, se$ delegado de polEcia. #lg$4m +' prop$sera at4 o nome )$e devia ter o novo m$nicEpio e a nova cidade1

Itab$na, )$e em lEng$a g$arani )$er di(er Fpedra pretaF. 3ra $mahomenagem As grandes pedras )$e s$rgiam nas margens e no meio dorio e sobre as )$ais as lavadeiras passavam o dia no se$ trabalho. Mascomo !abocas respondia politicamente a Hor'cio, sendo ele o maior/a(endeiro das pro@imidades, o governo do 3stado no atendia ao apelodos moradores. ;s ?adarós di(iam )$e era $m plano polEtico de Hor'ciopara dominar ainda mais a)$ela (ona. !abocas contin$ava $m povoado dom$nicEpio de >o =orge dos Ilh4$s. Mas +' m$ita gente )$ando escreviacartas, no as datava mais de !abocas e, sim de Itab$na. 3 )$andoperg$ntavam a $m morador dali, )$e estivesse de passeio em Ilh4$s, deonde ele era, o homem respondia cheio de org$lho1

  2 >o$ da cidade de Itab$na.. .  Havia $m s$bdelegado, era a maior a$toridade. Isso de nome, por)$eem verdade, a maior a$toridade era Hor'cio. ; s$bdelegado era $m e@2cabo do e@4rcito, pe)$eno, magro e valente, )$e se mantinha ali apesarde todas as ameaças dos cabras de Hor'cio. &ora h'bil tamb4m,proc$rava no ab$sar da s$a a$toridade, e só se envolvia n$m bar$lho)$ando o$ +' as /eridas eram graves o$ alg$4m havia caEdo morto.Hor'cio se dava com ele, e, mais de $ma ve(, havia apoiado alg$masatit$des do cabo mesmo contra +ag$nços se$s. J$ando Hor'cio chegavaem !abocas, o cabo 3smeraldo ia sempre visit'2lo, trocar dois dedos deprosa com ele. 3 sempre /alava na possibilidade de $ma reconciliaçocom os ?adarós. Hor'cio ria, se$ riso para dentro, batia no ombro docabo1

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  2 !$ 4 $m homem direito, 3smeraldo. Por)$e t$ ta servindo a esses?adarós 4 )$e e$ no entendo. -o dia )$e t$ )$iser, tem $m amigo Asordens.  Mas 3smeraldo sentia por >inh ?adaró $ma veneraço )$e vinha delonge, de dias remotos )$ando haviam os dois varado +$ntos as matas da

terra do caca$. -essas terras se di(ia )$e os homens de >inh eram 4ispor ami(ade. J$em so ligava a ele no o abandonava n$nca. J$e no eracomo Hor'cio, homem de trair os se$s amigos.  3m !abocas )$em era amigo e eleitor de Hor'cio mantinha sempre$ma atit$de de hostilidade em relaço aos amigos e eleitores dos?adarós. -as eleiçKes havia bar$lhos, tiros e mortes. Hor'cio ganhavasempre e sempre perdia por)$e as $rnas eram /ra$dadas em Ilh4$s. Botavam vivos e mortos, m$itos votavam sob a ameaça dos cabras.-esses dias !abocas se enchia de +ag$nços )$e g$ardavam as casas dosche/es polEticos locais* a do Dr. =ess4, )$e era eternamente o candidato deHor'cio, a de Leopoldo #(evedo, che/e dos governistas, a do Dr. PedroMata, agora tamb4m a do Dr. BirgElio, o novo advogado. Havia $ma/arm'cia para cada partido e nenh$m doente )$e votasse nos ?adarós setratava com o Dr. =ess4. 3ra com o Dr. Pedro. ;s dois m4dicos mantinhamrelaçKes pessoais, mas di(iam horrores $m do o$tro. Dr. Pedro di(ia )$e oDr. =ess4 no ligava para os en/ermos, m$ito mais preoc$pado com apolEtica e com a s$a roça de caca$. Dr. =ess4 armava. e a pop$laço /a(iacoro, )$e o Dr. Pedro no respeitava as en/ermas, )$e $m homem casadoo$ pai de /amElia no lhe podia entregar s$a m$lher o$ s$a lha para $me@ame geral. Havia tamb4m $m dentista para cada $m dos partidos. !odoo povoado estava dividido nos dois partidos polEticos e trocava desa/oros

pesados nos +ornais de Ilh4$s. Hor'cio +' encomendara as m')$inas para/$ndar em !abocas $m seman'rio )$e Dr. BirgElio dirigiria.  >ó os advogados eram m$itos, seis o$ sete na)$ele povoado,ganhando dinheiro todos com os Fca@i@esF escandalosos. Mais )$e emIlh4$s, era em !abocas )$e o Fca@i@eF medrava. Homens )$e h' anosposs$Eam terras e plantaçKes as perdiam de $m dia para o$tro devido a$m Fca@i@eF bem /eito. -o havia coronel )$e se animasse a /a(ernegócios sem antes cons$ltar $m bom advogado, se resg$ardarcompletamente da possibilidade do Fca@i@eF /$t$ro. m negro de !abocas,Cla$dionor, /a(endeiro )$e colhia s$as mil arrobas de caca$, (era certa ve( $m Fca@i@eF )$e cara c4lebre e /ora citado mesmo pelos +ornais da

?ahia. # vitima /ora o coronel Misael, c$+a /ort$na +' era meio lend'riaainda na)$ele tempo, /a(endeiro de m$itas mil arrobas, accionista dasobras do porto e da estrada de /erro, dono de $m banco em Ilh4$s. 3ratoda $ma /orça económica, tinha $m advogado por genro. Pois aindaassim /ora logrado pelo negro Cla$dionor. -a )$iet$de da s$a /a(enda,Cla$dionor est$dara o Fca@i@eF e o reali(ara com a a+$da do Dr. %$i.  m dia aparece$ para o coronel Misael e lhe pedi$ setenta contos der4is emprestados, para comprar $ma roça. Misael empresto$ com +$rosaltos e pra(o c$rto1 seis meses. !amb4m o coronel Misael tinha se$ plano,)$e era car com a /a(enda de Cla$dionor )$ando este no pagasse.Cla$dionor era anal/abeto e assino$ em cr$( os doc$mentos dereconhecimento de dEvida. Bolto$ para a s$a /a(enda e, na passagem porItab$na, contrato$ $m pro/essor de primeiras letras. Levo$2o para a roça

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e com ele aprende$ a ler e a assinar o nome. >eis meses depois, )$ando adEvida vence$, Cla$dionor apenas nego$ )$e devesse. J$e n$nca tomaradinheiro alg$m a Misael, )$e era t$do $ma trampa do coronel. 3 a melhorprova 2 arg$mentava o Dr. %$i, se$ advogado 2 era )$e Cla$dionor sabialer per/eitamente e assinava o nome. 3 o coronel Misael perde$ setenta

contos de r4is, Cla$dionor a$mento$ s$as terras e a+$do$ 's /estas de>o =os4 na)$ele ano.  3m verdade no se podia di(er )$e /ossem apenas seis o$ seteadvogados. 3stes, eram os )$e moravam em !abocas. Mas os )$ehabitavam em Ilh4$s trabalhavam tamb4m no povoado, e os de !abocastrabalhavam na cidade. 3ram apenas tr0s horas e meia de trem, $m diahavia de ser to somente )$arenta e cinco min$tos pela estrada derodagem )$e havia de ser constr$Eda com o progredir da (ona,

3m meio aos Fca@i@esF, As l$tas polEticas As intrigas e 's /estas daIgre+a o$ da Maçonaria, vivia !abocas, )$e antes no tivera nome e agorapensava em se chamar Itab$na. M$itas ve(es o sang$e de homens caEdosnos bar$lhos se mist$rava ' lama das r$as. ;s b$rros revolviam t$do nose$ passo lento. Por ve(es, )$ando o Dr. =ess4 chegava com s$a mala de/erros, c$stava encontrar a /erida, por)$e a lama cobria o corpo dohomem. Mas, ainda assim, a /ama de !abocas corria m$ndo, se /alavadesse povoado at4 no serto, e certo +ornal da ?ahia +' o chamara deFcentro de civili(aço e de progressoG.

 

Margot estende$ a mão, aponto$ o trecho de r$a )$e se via pela +anela

aberta, )$eria indicar todo o povoado de !abocas1  2 Isto 4 a <ltima terra do m$ndo. . . $m cemit4rio. .  BirgElio a p$@o$ para si, Margot dei@o$ a cadeira com m'2vontade, veio se sentar nas pernas dele1  2 Boc0 4 $ma gatinha mal acost$mada.  3la se levanto$ n$m repente, /alo$ (angada1  2 3 só o )$e voc0 sabe di(er.. 3$ 4 )$e so$ c$lpada.. J$ando voc0 veiose meter nessa terra no /alto$ )$em lhe abrisse os olhos. Me lembro de =$venal di(endo )$e voc0 devia era ir pro %io, /a(er carreira. -o sei por)$e voc0 aceito$ vir poróta)$is.. .  BirgElio chego$ a abrir a boca para /alar. Mas co$ com o gesto pela

metade, encontrando )$e no valia a pena. >e /osse $m m0s antes, eleperderia, sem d<vida, $m tem o enorme em e@plicar para a amante )$eali estava o se$ /$t$ro, )$e se a oposiço vencesse as eleiçKes, como t$doindicava )$e venceria, ele seria candidato a dep$tado por a)$ela (ona)$e era a mais próspera do 3stado. J$e o caminho do %io de =aneiro eram$ito mais /'cil atrav4s das estradas do caca$, )$e atrav4s do mar, n$mtransatlOntico. J$e !abocas era terra de dinheiro e )$e ele, em po$cosmeses, havia ganho ali o )$e no ganharia em anos de advocacia n$macapital. =' lhe e@plicara isso mais de $ma ve(, sempre )$e Margot sentiasa$dades das /estas, dos cabar4s, dos teatros da ?ahia. De certa maneira

ele compreendia o sacri/Ecio )$e a amante estava /a(endo. #)$ele casocomeçara )$ando ele era ainda )$artanista. Conhecera Margot n$ma

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penso de m$lheres, dormira com ela alg$mas ve(es, no tardo$ )$e am$lher se en@odo(asse por ele. 3 )$ando ele esteve a pi)$e deabandonar os est$dos, devido A morte do pai )$e dei@ara mal os negóciosda /amElia, ela viera lhe o/erecer o )$e poss$Ea e o )$e ganhava cadanoite. #)$ele gesto o comovera e, como $m che/e polEtico oposicionista

lhe conseg$ira $m emprego na secretaria do partido e $m l$gar naredacço do +ornal, ele p$dera car com Margot só para si. Passo$ apagar o )$arto dela na penso, dormia l' todas as noites, saEa mesmocom ela para os teatros. >ó no vivia p$blicamente com a amante por)$eisso seria $m escOndalo )$e poderia pre+$dicar s$a carreira. Mas /oi no)$arto de Margot )$e, com =$venal e o$tros colegas, concebe$ toda acampanha acad4mica )$e /aria dele o orador da t$rma e +$nto a elaescreve$ o disc$rso de /ormat$ra.  3 )$ando, aconselhado pelo che/e polEtico aceito$ o l$gar de advogadodo partido em !abocas perde$ horas para convencer Margot de )$e deviair com ele. 3la no )$eria, achava de menos as /estas, a vida e omovimento da ?ahia. >empre acreditara )$e BirgElio, logo depois de/ormado, r$maria para o %io de =aneiro. !amb4m BirgElio pensava omesmo nos se$s dias de acad4mico. Mas os che/es polEticos so$beramconvence2lo de )$e, se )$eria /a(er carreira, devia perder $ns anosna)$elas terras novas do caca$. 3 veio, apesar de Margot ter declarado)$e estava t$do terminado entre eles. &ora $ma noite dolorosa a)$ela<ltima noite na FPenso #mericanaF. 3la chorava, abraçada a ele, e oac$sava de abandon'2la. 3le di(ia )$e era ela )$em o abandonava, nogostava dele. Margot tinha medo1  2 Boc0 vai pra l', vai casar com $ma tabaroa rica )$al)$er, me larga

na)$elas brenhas.. -o vo$ no...  2 Boc0 no gosta 4 de mim. >e gostasse ia mesmo..  >e poss$Eram em meio A agonia da)$ela noite )$e pensavam ser a<ltima )$e passavam +$ntos. 3 se re)$intaram no amor, )$erendo cada$m conservar do o$tro a melhor lembrança.  3le veio so(inho, mas po$cas semanas se passaram e ela chego$inesperadamente, escandali(ando Ilh4$s com se$s vestidos da <ltimamoda, com se$s chap4$s largos, com o rosto pintado. 3 a noite doreencontro enche$ as r$as de Ilh4$s de s$spiros e ais de amor. Biera comele para !abocas e nos primeiros tempos se comportara bem, parecia teres)$ecido a vida brilhante e alegre da ?ahia, parecia at4 $ma senhora

casada, c$idando da ro$pa dele, dirigindo a comida na co(inha, todaentreg$e a ele, desc$idando $m po$co da elegOncia, dei@ando os cabeloscaErem sobre os ombros sem reclamar contra a /alta de cabeleireiros )$elhe (essem os complicados penteados de ento.  -o viviam +$ntos, )$e BirgElio no podia escandali(ar o povoadopreconceit$oso. ele era advogado de $m partido polEtico, tinharesponsabilidades. 3la vivia n$ma casa bonita com a amante de $mcomerciante local. -essa casa BirgElio passava $ma grande parte do dia,por ve(es recebia l' mesmo alg$m constit$inte mais apressado, l' comiae dormia. l' redigia os considerandos dos casos )$e tinha de de/enderperante a +$stiça, em Ilh4$s.  Margot parecia /eli(, os vestidos de grandes babados dormiames)$ecidos nos arm'rios, )$ase no /alava na ?ahia. Mas aos po$cos /oi

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se cansando. #os po$cos /oi se dando conta de )$e era mais largo do )$eela pensava, o tempo )$e ele devia passar ali. Demais ele, em geral,evitava lev'2la a Ilh4$s nas s$as repetidas viagens, para el$dir oscoment'rios maliciosos. 3 )$ando ela ia, era no$tro trem e na cidadepo$co o via. 3, o )$e era pior, o vira mais de $ma ve( de conversa com

moças casadoiras, lhas de /a(endeiros ricos. -esses dias o m$ndo vinhaabai@o, Margot abria a boca em escOndalos )$e abalavam a r$a, e, nem BirgElio lhe di(er )$e a)$ilo era necess'rio para a s$a carreira, nem issoa comovia. >aEam brigados e ela lhe lançava em rosto o sacri/Ecio )$eestava /a(endo por ele, socada ali na)$elas brenhas, )$ando podia estarna ?ahia, vivendo no bom e no melhor, por)$e no /altava comercianterico o$ polEtico montado na vida, )$e )$isesse botar casa para ela. M$itosa haviam convidado, ela dei@ara t$do para vir atr's dele, /eito $ma tola.  2 ?em )$e Cl4o me di(ia )$e no viesse... J$e era essa a paga )$e voc0 ia me dar. . .  #s brigas terminavam sempre no abrir de $ma garra/a de champanhae no estalar dos bei+os, na noite de amor delirante. Mas restava depois,cada ve( maior dentro de Margot, a sa$dade da vida boa da ?ahia e acerte(a de )$e BirgElio no sairia mais da)$elas terras. 3 o tempo entreas brigas ia dimin$indo, agora se s$cediam com espaço de po$cos dias,por )$al)$er motivo. 3la se )$ei@ava da /alta de cost$reiras, de )$e aliestava botando se$ cabelo a perder, de )$e estava engordando, de )$enem sabia mais dançar, de tanto tempo )$e no dançava.  -essa tarde a coisa /ora mais s4ria. ele an$nciara )$e ia a Ilh4$s ondese demoraria $ns )$in(e dias o$ mais. Margot p$lo$ de contente. Ilh4$sanal era $ma cidade, se podia dançar no cabar4 de -ho(inho, havia

alg$mas m$lheres com )$em era possEvel conversar, no eram só a)$elasraparigas im$ndas de !abocas, vindas na s$a maioria das roças,deoradas pelos coron4is o$ pelos capata(es e )$e caEam na vida nopovoado. Mesmo a m$lher )$e vivia com ela, a amante do comerciante,era $ma m$lata )$e nem sabia ler, de corpo bonito e de riso idiota, )$e olho de $m /a(endeiro des/r$tara e )$e o comerciante tirara da r$a doPoço )$e era a r$a de m$lheres /'ceis. 3m Ilh4$s, havia m$lheres )$e vinham da ?ahia e do %eci/e, havia mesmo m$lheres chegadas do %io de =aneiro, e com elas era possEvel conversar sobre vestidos e penteados.Margot se alvoroço$ toda )$ando BirgElio an$ncio$ a ida a Ilh4$s e ademora na cidade. Corre$ para ele, o enlaço$ pelo pescoço, bei+o$2o

repetidas ve(es na boca1  2 J$e bom J$e bom  Mas a alegria no d$ro$ por)$e ele lhe aviso$ )$e no podia lev'2la. #ntes mesmo de )$e ele e@plicasse por )$e no a levava, ela +' gritavaentre sol$ços e l'grimas1  2 Boc0 tem 4 vergonha de mim. . . ;$ tem alg$ma o$tra em Ilh4$s. . capa( de estar metido com alg$ma sem2vergonha. Mas )$e sabendo )$ee$ )$ebro a cara dela, )$e /aço $m escOndalo )$e todo o m$ndo vaisaber. . . Boc0 no sabe )$em so$ e$, ainda no me vi$ (angada. . .  BirgElio dei@o$ )$e ela gritasse e só )$ando ela paro$, apenas asl'grimas corriam dos olhos e os sol$ços saEam do peito, 4 )$e elecomeço$ a e@plicar, com $ma vo( )$e proc$rava /a(er a mais carinhosapossEvel, por )$e no a levava. Ia a negócios s4rios, no teria tempo para

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c$idar dela, ser' )$e ela no sabia ainda )$e as coisas estavam se pondo/eias entre Hor'cio e os ?adarós por ca$sa da mata de >e)$eiro rande3la /e( com a cabeça )$e sim, )$e sabia. Mas no via na)$ilo motivo paraele no a levar. 3, )$anto ao tempo, no tinha importOncia. 3le no haviade trabalhar a noite toda e era pela noite )$e a acompanhava ao cabar4

)$ando estavam em Ilh4$s.  BirgElio co$ proc$rando arg$mentos. >entia )$e ela tinha ra(o e )$eas desconanças )$e vinham no vo( dela, nas ac$saçKes vagas de )$ee@istia o$tra m$lher, )$e vinham nesse olhar entre raivoso e medroso )$eela p$nha ao t'2lo, eram certas. 3le no )$eria lev'2la por)$e ia no sótratar dos interesses de Hor'cio, como pensava em poder, nesses dias, tertodo o tempo para 3ster. 3ster no lhe saEa da cabeça. #inda no dei@arade o$vir, dia e noite, a)$ele pedido desocorro )$e ela m$rm$rara, )$ando o marido estava na varanda1  2 FMe leve embora... Pra longe da)$i...  BirgElio sabia )$e se Margot /osse a Ilh4$s no tardaria a o$vir alg$mcoment'rio maledicente. 3 seria $m in/erno, ela era capa( de $mescOndalo )$e incl$sive envolvesse 3ster. 3 BirgElio no sabia colocar +$ntas, n$m mesmo p4, 3ster e Margot. 3sta /ora a amante dos tempos deest$dante, )$e so tempos de lo$c$ras. 3ster era o amor descobertoentre as matas, a)$ele )$e chega $m dia e 4 mais /orte )$e o m$ndo. -o)$eria )$e ela /osse, estava decidido. Mas no a )$eria /erir tamb4m, eleno sabia magoar $ma m$lher. Proc$rava como $m desesperado $marg$mento decisivo. 3 acredito$ encontr'2lo )$ando disse a Margot )$eno )$eria dei@'2la em Ilh4$s sem poder c$idar dela, tinha ci<me doso$tros, a casa de Machado, onde ela po$sava sempre, era a casa de

m$lheres mais /re)Wentada pelos coron4is de maior /ort$na. 3ra porci<mes )$e no a levava. Disse, dando A s$a vo( a maior /orça deconvicço )$e conseg$i$. Margot sorri$ por entre as l'grimas. BirgElio sesenti$ vitorioso. 3 esperava poder dar o ass$nto por terminado, )$andoela veio, sento$2se no se$ colo e /alo$1  2 !' com ci<me da t$a gatinha Por )$e Boc0 bem sabe )$e e$ nemligo pras propostas )$e me /a(em. >e e$ me so)$ei a)$i /oi por t$a ca$sa,por )$e havia de te enganar  ?ei+o$2o m$ito, agora pedia1  2 Leva t$a gatinha, me$ negro, e$ +$ro )$e no saio. >ó com voc0 parair no cabar4. -o saio do )$arto, no converso com homem nenh$m.

J$ando voc0 no tiver tempo e$ passo o dia trancada..  BirgElio senti$ )$e estava cedendo. M$do$ de t'ctica1  2 !amb4m no sei o )$e 4 )$e voc0 acha de to horroroso em !abocas)$e no pode passar de( dias a)$i so(inha. . . >ó )$er estar metida emIlh4$s. . .  3la levanto$2se, /oi )$ando aponto$ a r$a1  2 3 $m cemit4rio. . .  &alo$ de novo no erro dele ter se metido ali, sacricando se$ /$t$ro ea vida dela. BirgElio penso$ em e@plicar. Mas compreende$ )$e no valiamais a pena, na)$ela hora vi$ )$e se$ caso com Margot havia chegado aom. Desde )$e conhecera 3ster )$e no tinha olhos para o$tra m$lher.Mesmo na cama, com Margot, no era o mesmo amante de o$tras noites,sens$al, apai@onado pelo corpo dela. =' olhava com certa indi/erença os

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se$s encantos, as co@as roliças, os se$s seios de virgem, as invençKes )$eela sabia para tornar ainda mais saborosa a hora do amor. #gora, se$peito era só dese+o, mas dese+o de 3ster dela toda se$s pensamentos ese$ corpo, se$ coraço e se$ se@o. Por isso co$ de boca semi2abertana)$ele gesto de )$em ia começar a di(er )$al)$er coisa. Margot

esperava. 3 como ele no /alasse, apenas levantasse a mo como a di(er)$e no valia a pena, ela volto$ A carga1  2 !$ me trata como $ma escrava. >e toca pra Ilh4$s, me larga a)$i.Depois vem com essa história de ci<me. Conversa ada. 3$ 4 )$e so$mesmo besta. Mas agora no vo$ ser mais.. #gora )$ando vier $m comconversa pra me$ lado, )$erendo me levar pra Ilh4$s e pra ?ahia, e$ vo$dar trela. ..  BirgElio se irrito$1  2 Por mim, minha lha, pode dar.. Pensa )$e e$ vo$ morrer  3la se en/$rece$1  2 3$ a)$i bancando a tola.. -o /alta homem atr's de mim... =$ca?adaró vive pelo beiço me mandando recado... 3 e$ /eito besta por t$aca$sa e t$ o )$e )$er 4 se tocar pra Ilh4$s, atr's com certe(a de alg$matabaroa rica pra casar pelo dinheiro dela...  BirgElio se levanto$, os olhos cheios de raiva1  2 Cala a boca...  2 Pois no calo. Deve ser isso mesmo. !$ )$er 4 enganar $matabaroinha )$al)$er, agarrar o dinheiro dela. ..  BirgElio viro$ as costas da mo, bate$ com ela na boca da m$lher. ;sang$e corre$ do beiço partido, Margot olho$ ass$stada. J$is di(er $mdesa/oro mas apenas rompe$ em sol$ços1

  2 !$ no gosta mais de mim. . . !$ n$nca tinha me tocado...  3le se comove$ tamb4m. 3 se admira do se$ gesto br$to. >entia )$e oclima da)$ela terra estava penetrando nele tamb4m, estava a modic'2lo. =' no era o mesmo homem )$e chegara meses antes da ?ahia, todogentil, incapa( de pensar em bater n$ma m$lher. !amb4m sobre ele, sercivili(ado de o$tra terra, pesava o clima da terra do caca$. ?ai@o$ acabeça envergonhado. ;lhava a mo com triste(a. #ndo$ para Margot,tiro$ o lenço, limpo$ a gota de sang$e1  2 Me perdoe, minha lha. Perdi a cabeça, 4 tanto negócio em )$epensar )$e me pKe nervoso... 3 tamb4m voc0 /alando em me dei@ar, em =$ca ?adaró, em ir com o$tro... &oi sem )$erer. . .

  3la sol$çava, ele promete$1  2 -o chore mais, e$ lhe levo a Ilh4$s. . .  Margot s$spende$ a cabeça, +' sorria. Pensava )$e ele lhe batera porci<mes. >e sentia ainda mais dele. BirgElio era se$ homem. >e apoio$nele, estava pe)$ena e terna, toda metida no peito dele. 3 se enche$ dedese+o e o arrasto$ consigo para o )$arto.

  ;s gritos dos al/aiates alcançaram o Dr. =ess4 )$e +' ia na es)$ina1

  2 Do$tor Do$tor =ess4 l Cheg$e a)$i  3stavam os )$atro al/aiates na porta da F!eso$ra de ParisF, a melhor

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al/aiataria de !abocas, propriedade de !onico ?orges )$e, nestemomento, seg$rava as metades de $ma calça n$ma mo e na o$tra aag$lha e a linha. # F!eso$ra de ParisF era no somente a melhoral/aiataria de !abocas como tamb4m, no di(er de todos, o )$artel2generaldas m's lEng$as locais. #li se comentavam todos os /atos, ali se sabia de

todos os acontecimentos, se sabia at4 o )$e se comia nas casaspartic$lares. -a)$ele dia a F!eso$ra de ParisF estava alvoroçada com asnoticias chegadas de &erradas na rabada da comitiva de Hor'cio. Por isso!onico ?orges reclamava aos berros a presença esclarecedora do Dr. =ess4.

3 )$ando ele chego$, gordo, bai@o e apressado, o chap4$ no alto dacabeça, os óc$los )$erendo cair pelo nari(, as botas m$itos s$+as de lama,perg$ntando o )$e )$eriam, $m dos al/aiates corre$ com $ma cadeirapara ele se sentar1  2 3ste+a a gosto, do$tor.  ; m4dico sento$2se, deposito$ no cho de ladrilhos a s$a maleta de/erros. Maleta )$e era c4lebre no povoado por)$e dentro dela o m4dicolevava as mais diversas coisas1 desde o bist$ri at4 gro de caca$ seco,desde in+ecçKes at4 /r$tas mad$ras, desde vidros de rem4dios at4 osrecibos a cobrar das casas )$e poss$Ea para al$g$el. !onico ?orges, )$ehavia ido aos /$ndos da casa, chego$ com $m grande abacate mad$ro )$eo/erece$ ao Dr. =ess41  2 $ardei isso pro senhor, do$tor.  =ess4 agradece$, mete$ o abacate entre as in<meras coisas )$eabarrotavam a maleta. ;s al/aiates cercaram o m4dico. P$@aram ascadeiras para perto da dele, dali dominavam toda a r$a. Dr. =ess4 se

adianto$1  2 J$e h' de novo  2 ; senhor 4 )$em pode contar, do$tor 2 ri$ !onico ?orges. 2 ; senhor4 )$em bem sabe. . .  2 De )$e  2 !o di(endo por aE )$e a coisa vai se es)$entar entre o coronelHor'cio e os ?adarós. .. 2 adianto$ o$tro al/aiate.  2 J$e =$ca ?adaró anda recr$tando gente... 2 completo$ !onico.  2 Isso no 4 novidade, e$ +' sabia 2 /alo$ o m4dico.  2 Mas tem $ma coisa )$e o senhor no sabe.. Posso garantir.  2 Bamos a ver. . .

  2 J$e =$ca ?adaró +' tem $m agrónomo contratado para /a(er amediço das matas de >e)$eiro rande. . .  2 ; )$e est' me di(endo J$em lhe disse  !onico /e( $m gesto cheio de mist4rio1  2 ;s lhos da Candinha, se$ do$tor... ; )$e 4 )$e no se sabe em!abocas #)$i, )$ando no se tem o )$e /alar, se inventa...  Mas =ess4 )$eria saber1  2 &alando s4rio. . . J$em disse  !onico ?orges bai@o$ a vo(1  2 &oi o #(evedo da lo+a de /erragens. &oi l' )$e =$ca redigi$ otelegrama chamando o homem.. .  2 Isso e$ no sabia... Bo$ mandar $m recado pro compadre Hor'cioho+e mesmo..

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  ;s al/aiates se olharam1 a coisa estava /eia. !onico contin$o$1  2 Di()$e o coronel Hor'cio mando$ dona 3ster pra Ilh4$s pra ela nocorrer perigo na /a(enda... J$e ele vai entrar pela mata ainda essasemana... J$e +' /e( $m contrato com ?ra(, com &irmo, com =os4 da%ibeira e com =arde pra diviso da mata... 3le ca com metade e divide

a o$tra metade com os )$e a+$dar ele. verdade, do$tor  ; m4dico )$is negar.  2 Pra mim 4 novidade...  2 Do$tor. . . 2 !onico ?orges entorno$ os olhos. R Pois se at4 se sabe)$e /oi o Dr. BirgElio )$em redigi$ o contrato, )$e est' selado e t$do... #hI )$e Maneca Dantas tamb4m /a( parte. !odo m$ndo +' sabe, do$tor, 4segredo em saco /$rado. . .  Dr. =ess4 acabo$ por con/essar e con/esso$ tamb4m )$e at4 ele iria ter$m pedaço da mata. !onico ?orges pilherio$1  2 3nto at4 o senhor vai pegar no pa$ /$rado, hein, do$tor ='compro$ se$ Colt trinta e oito ;$ )$er $m parab4l$m >e )$er lhe vendo$m em bom estado...  Dr. =ess4 ri$ tamb4m1  2 =' esto$ m$ito velho para começar carreira de valente...  %iram todos, a covardia do Dr. =ess4 era proverbial. 3 o )$e espantavaera ele ser, apesar disto, $m homem respeitado nas terras do caca$. # <nica coisa )$e realmente desmorali(ava alg$4m por completo, na)$ela(ona, de &erradas a Ilh4$s, era a covardia. Homem com /ama de covardeera homem sem /$t$ro nessas estradas e nesses povoados. >e alg$ma virt$de era e@igida a $m homem para tentar a vida no s$l da ?ahia, na4poca da con)$ista da terra, essa virt$de era a coragem pessoal. Como se

avent$rar alg$4m entre +ag$nços e con)$istadores de terra, entreadvogados sem escr<p$los e assassinos sem remorsos, se no levasseconsigo a despreoc$paço da vida e da morte  Homem )$e apanhava sem reagir, )$e /$gia de bar$lho, )$e no tinha$ma história de valentia para contar, no era levado a s4rio entre osgrapi<nas. Dr. =ess4 era a <nica e@ceço. M4dico em !abocas, vereadorem Ilh4$s, eleito por Hor'cio, sendo $m dos che/es polEticos da oposiço,/ora a <nica pessoa )$e se s$stentara no conceito p<blico apesar de todoso saberem medroso. # covardia do Dr. =ess4 era proverbial e )$ando)$eriam medir a de o$tro, a medida era sempre o m4dico1  2 3 )$ase to medroso )$anto o do$tor =ess4...

  ;$ ento1  2 3 to covarde )$e nem parente do do$tor =ess4..  -o era, como podia parecer, $m boato lançado pelos inimigospolEticos do m4dico. ;s se$s próprios correligion'rios no contavam comele para as horas de bar$lho. 3 mesmo eles comentavam pelos bote)$inse pelas casas de rameiras as histórias )$e comprovavam a covardia dodo$tor =ess4.  -$m bar$lho de proporçKes )$e ho$vera em !abocas entre a gente deHor'cio e a gente dos ?adarós, por e@emplo, se contava )$e o Dr. =ess4havia enveredado por $ma casa de m$lheres da vidaQ e /ora encontradoescondido debai@o da cama. De o$tra /eita, ele disc$rsava d$rante $mFmeetingF de propaganda eleitoral, do alto de $ma trib$na improvisadano porto de Ilh4$s. &ora d$rante a <ltima campanha eleitoral para

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renovaço do >enado e da COmara de Dep$tados. Bierada ?ahia, como candidato a dep$tado da oposiço por a)$ela (ona, $mrapa( )$e começava s$a carreira polEtica, lho de $m e@2governador do3stado. ; rapa( viera /a(er s$a propaganda com m$ito medo. Lhe haviamcontado brabe(as dessa terra e ele temia receber $m tiro o$ $ma

p$nhalada. Hor'cio mando$ cabras para Ilh4$s para garantir o comEcio.;s cabras cercaram a trib$na, os revólveres nos cintos, prontos parat$do. ;s homens dos ?adarós se haviam distrib$Edo entre a m$ltidoc$riosa de o$vir o moço da ?ahia )$e tinha /ama de bom orador. Primeiro/alo$ o Dr. %$i, meio b0bedo como sempre, e mete$ o pa$ no governo/ederal. Depois disc$rso$ o Dr. =ess4, a )$em cabia /a(er a apresentaço,do candidato, aos eleitores. 3 por m chego$ a ve( do visitante, 3steando$ mais para /rente da trib$na, $ma pe)$ena trib$na improvisadacom t'b$as de cai@Kes velhos, )$e balançava sob o peso dos oradores.!ossi$ para chamar a atenço, o silencio era completo, começo$1  2 >enhoras, senhores e senhoritas... 3$...  -o pode di(er mais nada. Como no havia senhoras nem senhoritas,$m gaiato grito$.  2 >enhorita 4 a me..  %iram, o$tros pediram silencio. ; orador /alo$ em Fm' ed$caçoF. ;scabras dos ?adarós se aproveitaram do ($m2($m para começar o tiroteio,logo respondido pelos homens de Hor'cio. Di(em )$e ento, )$ando omoço candidato )$is se meter debai@o da trib$na para /$gir As balas )$ese cr$(avam, +' encontrara o l$gar oc$pado pelo do$tor =ess4, )$e no sólhe /e( l$gar, como lhe disse1  2 >e o senhor no )$er car desmorali(ado volte para se$ l$gar. #)$i

só e$ tenho o direito de me esconder por)$e so$ covarde de tradiço...  3, como o rapa( no concordasse e )$isesse, A /orça, se meter sob atrib$na, embolaram os dois na disp$ta do esconderi+o. >eg$ndo constaesta /oi a <nica ve( )$e do$tor =ess4 brigo$. 3 alg$mas pessoas )$eestavam pró@imas, e p$deram apreciar a briga, a narravam sempre comoa coisa mais cómica a )$e haviam assistido, direitinho $ma briga dem$lheres, $m arranhando a cara do o$tro.  !onico ?orges p$@o$ a cadeira, acerco$2se mais ao m4dico1  2 >abe )$em chega de ho+e para amanh  2 J$em 4  2 ; coronel !eodoro... Di( )$e t' +$ntando homem na /a(enda pra

entrar a)$i...  Dr. =ess4 se ass$sto$1  2 !eodoro ; )$e 4 )$e vem /a(er  !onico no sabia1  2 >ó sei )$e vem com m$ito +ag$nço... ; )$e vem /a(er no sei. Mas 4ter coragem, hein, do$tor  ;$tro al/aiate completo$1  2 ;lhe )$e entrar em !abocas, com tanta gente do coronel Hor'cioa)$i... 3 depois de ter dado $ma resposta da)$elas. . . Como /oi mesmo,!onico  !onico sabia de memória1  2 Di( )$e ele responde$ ao coronel Maneca1 FDiga a Hor'cio )$e e$no me +$nto com gente da laia dele, )$e no trato com tropeiroF.

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  Comentavam a resposta )$e !eodoro dera a Maneca Dantas )$andoeste o /ora convidar em nome de Hor'cio para se aliarem na con)$ista damata de >e)$eiro rande. Dr. =ess4 se admiro$1  2 !amb4m voc0s sabem t$do. . . #)$i se corta a vida de todo m$ndo,no escapa ning$4m...

  m dos al/aiates ri$1  2 Pois se 4 a diverso da terra, do$tor...  !onico ?orges )$eria saber se havia alg$ma ordem de Hor'cio emrelaço a !eodoro, se ele chegasse a entrar em !abocas1  2 -o sei... -o sei nada... 2 e o m4dico pego$ a maleta e se levanto$apressado. Parecia ter se lembrado de repente de algo $rgente a /a(er.  !onico ?orges, antes )$e ele saEsse, lanço$ o <ltimo boato1  2 Di()$e, do$tor, o do$tor BirgElio t' se derretendo pro lado de dona3ster..  =ess4 co$ s4rio, responde$ +' com o p4 na porta1  2 >e voc0 )$er $m conselho de $m homem )$e vive nessa (ona vai/a(er vinte anos, o$ça1 /ale mal de t$do, das m$lheres de todo m$ndo,/ale mal de toda a gente, /ale mal mesmo de Hor'cio, mas n$nca /ale dam$lher dele. Por)$e se ele chegar a saber e$ no do$ $m real pela s$a vida. conselho de amigo...

3 arribo$, dei@ando !onico ?orges branco, p'lido de medo. Comento$para os o$tros1  2 >er' )$e ele conta ao coronel Hor'cio  3, apesar dos o$tros haverem achado )$e no, )$e Dr. =ess4 era $mhomem bom, !onico no descanso$ en)$anto no pode ir ao cons$ltório

do m4dico a lhe rogar )$e no Fcontasse nada ao coronel, )$e a)$elahistória lhe /ora contada pela m$lher )$e vivia com Margot e )$e tinhaassistido a $ma disc$sso entre BirgElio e a amante por ca$sa de $mao$tra (inha, )$e ela pensava )$e /osse dona 3sterF.  2 Isso 4 $ma terra desgraçada, do$tor, se /ala de todo m$ndo 2concl$i$. 2 -o escapa ning$4m. . . Mas minha boca agora t' /echada acadeado. -o do$ nem $m pio. >ó tinha /alado mesmo ao senhor.  Dr. =ess4 o sossego$1  2 B' descansado, !onico. Por mim Hor'cio no vai saber nada... #gora,o melhor )$e voc0 /a( 4 se calar. # no ser )$e este+a )$erendo ses$icidar...

  #bri$ a porta, !onico sai$, entro$ $ma m$lher. Dr. =ess4 c$sto$ aencontrar, na con/$so da maleta, o aparelho para a$sc$ltar o peito dadoente.  -a sala de espera do cons$ltório homens e m$lheres conversavam.ma m$lher )$e estava com $ma criança pela mo, ao ver !onico ?orges,largo$ a s$a cadeira, se apro@imo$ do al/aiate. Binha sorrindo1  2 Como vai, se$ !onico  2 Bo$ indo, dona Nena. 3 a senhora  3la nem responde$. J$eria contar.  2 ; senhor +' so$be do escOndalo  2 J$e escOndalo  2 J$e o coronel !otonho do %iacho Doce largo$ a /amElia pra ir atr'sde $ma rapariga, $ma sirigaita da ?ahia 3mbarco$ com ela, no trem, na

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 vista de todo m$ndo...  !onico ?orges /e( $m gesto de en/ado.  2 Isso 4 velho, dona Nena. #gora garanto )$e a senhora no sabe 4 danovidade...  # m$lher se abri$ em c$riosidade, estico$ o corpo todo. nervosa1

  2 J$al, se$ !onico  !onico ?orges d$vido$ $m momento. Dona Nena esperava n$maOnsia1  2 Conte logo...  3le espio$ para todos os lados, p$@o$ a m$lher mais para longe dasala, bai@o$ a vo(.  2 !o di(endo por aE )$e o do$tor BirgElio. . .  >$ss$rro$ o resto no o$vido da velha. 3sta e@plodi$ em e@clamaçKesde s$rpresa1  2 >er' possEvel J$em havia de di(er, hein  !onico ?orges pedi$1  2 3$ no lhe disse nada, hein... >ó contei por ser a senhora...  2 ;ra, se$ !onico, o senhor sabe )$e a minha boca 4 $m co/re... Mas)$em havia de di(er, hein Parecia $ma m$lher direita. . .  !onico ?orges desaparece$ na porta. Dona Nena volto$ A sala,e@amino$ com os olhos os clientes )$e esperavam. -o havia ning$4m)$e valesse a pena. 3nto decidi$ dei@ar a in+ecço do neto para o diaseg$inte. De$ boas tardes aos demais, disse )$e estava cando tarde eela no podia esperar mais, tinha hora marcada no dentista. >ai$arrastando a criança. ; boato )$eimava2lhe a lEng$a, ia alegre como setivesse ganho $m bilhete de loteria. !oco$2se a toda pressa para a casa

das #ventinas, tr0s solteironas )$e moravam perto da igre+a de >o =os4.

4

  Dr. =ess4 e@aminava o homem, bate$2lhe ma)$inalmente no peito e nascostas, encosto$ o o$vido, mando$ )$e ele dissesse trinta e tr0s. 3m verdade estava m$ito longe dali, o pensamento em o$tras coisas. -a)$eledia o cons$ltório havia estado cheio. 3ra sempre assim... J$ando eletinha pressa o cons$ltório se enchia de gente )$e no tinha nada, )$e vinha só para tomar2lhe tempo. Mando$ )$e o homem se vestisse,

rabisco$ $ma receita1  2 Mande preparar na &arm'cia >o =os4... L', vo lhe /a(er maisbarato... 2 isso no era verdade, por4m a &arm'cia >o =os4 era de $mcorreligion'rio polEtico, en)$anto )$e a Q PrimaveraF era de $m eleitordos ?adarós.  2 -ada de grave, do$tor  2 -ada. 3sse catarro 4 mesmo das ch$vas na mata.. !ome esserem4dio, vai car bom. Bolte com )$in(e dias. .  2 -o vo$ poder no, se$ do$tor. -o v0 )$e 4 $m c$sto poder sair daroça pra dar $m p$lo a)$i !rabalho m$ito longe. . .

  Dr. =ess4 )$eria enc$rtar a conversa1  2 ?em, venha )$ando p$der... Boc0 no tem nada de s4rio.

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  ; homem pago$, o m4dico emp$rro$2o at4 a porta. #inda atende$ ao$tro, $m trabalhador velho, p4s descalços, camisa de b$lgariana, )$e vinha em b$sca de $m rem4dio para a m$lher )$e Ftinha $ma /ebre )$eia e vinha, todos os meses derr$bava a pobre na camaF. 3n)$anto ohomem contava a s$a história comprida, Dr. =ess4 pensava no )$e o$vira

na al/aiataria. D$as notEcias desagrad'veis1 primeiro a)$ela da pró@ima vinda de !eodoro a !abocas. J$e diabo ele viria /a(er Devia desconar)$e !abocas no era bom l$gar para a sa<de dele. Mas !eodoro erahomem de coragem, amigo de /a(er estrepolias. >e vinha a !abocas, eracom certe(a para /a(er alg$ma coisa mal/eita. Dr. =ess4 precisava mandaravisar a Hor'cio, )$e estava em Ilh4$s. ; pior 4 )$e o trem +' haviasaEdo, só podia mandar o recado no dia seg$inte. 3m todo caso /alariacom o Dr. BirgElio nesse mesmo dia. 3 ento se lembro$ da seg$ndanotEcia1 estavam comentando no povoado )$e o Dr. BirgElio se derretiapara o lado de comadre 3ster 9ela e Hor'cio eram padrinhos de $m lhodo Dr. =ess4, )$e tinha nove, $ma escadinha de crianças, cada $ma mais velha )$e a o$tra $m ano:. Dr. =ess4 pensava no caso. %elembrava 3sterpassara )$atro dias em !abocas, en)$anto esperava )$e Hor'cioresolvesse $ns negócios e a p$desse acompanhar a Ilh4$s. 3 d$ranteesses )$atro dias BirgElio havia aparecido m$ito em casa do m4dico ondeo coronel estava hospedado. &icava $m tempo enorme na salaconversando com 3ster e riam os dois. 3le mesmo, =ess4, pegara ascriadas comentando. ; diabo /ora a)$ela /esta na casa de %esende, $mcomerciante c$+a m$lher aniversariava. ;/erecera $ma mesa de doces, ecomo havia piano na casa e moças )$e tocavam, tinham improvisado $marrasta2p4. 3m !abocas m$lher casada no dançava. Mesmo em Ilh4$s,

)$ando alg$ma mais moderna dançava era com o marido. DaE o escOndalo)$ando 3ster sai$ dançando com BirgElio. Dr. =ess4 se lembrava )$e BirgElio pedira. Licença a Hor'cio para dançar com ela e o coronel dera,org$lhoso de ver a esposa brilhar. Mas o povo no sabia disso ecomentava. 3sse era $m ass$nto /eio. !o /eio o$ mais )$e o da vinda de!eodoro. Dr. =ess4 coça a cabeça. #h se Hor'cio chegasse a saber dessasm$rm$raçKes... # coisa ia ser braba... ; cliente )$e +' terminara decontar as dic$ldades de s$am$lher e )$e esperava em silencio o diagnóstico do m4dico, /alo$1  2 Bosmic0 no acha )$e 4 maleita, se$ do$tor  Dr. =ess4 o olho$ espantado. !inha se es)$ecido dele inteiramente. &e(

com )$e o homem repetisse $ns detalhes, esteve de acordo1  2 impal$dismo, sim.  %eceito$ )$inino. %ecomendo$ a /arm'cia >o =os4 mas se$pensamento +' estava de novo nas complicaçKes da vida de !abocas. #sm's lEng$as 2 e )$em no era m' lEng$a em !abocas 2 estavam tomandoconta da vida de 3ster. Ma$ negócio. Para a)$ela gente no havia m$lhercasada )$e /osse honesta. 3 no havia nada )$e !abocas go(asse tantocomo $m escOndalo o$ $m trag4dia passional. 3 ainda por cima a notEciade )$e !eodoro ia entrar no povoado. J$e diabo vinha /a(er  Dr. =ess4 vesti$ o paletó. Bisito$ dois o$ tr0s doentes, em todas ascasas o coment'rio obrigatório eram os bar$lhos )$e se avi(inhavam porca$sa da mata de >e)$eiro rande. !odos )$eriam notEcias, o m4dico eraEntimo de Hor'cio, era )$em bem podia saber. Depois =ess4 /oi ao r$po

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3scolar. 3le o dirigia desde $m governo anterior, )$ando o se$ partidoestava por cima. -$nca /ora demitido seria $m escOndalo demasiadogrande, +' )$e ele (era constr$ir o pr4dio novo do r$po e era m$itoapoiado pelas pro/essoras. 3ntro$ pelo p'tio, atravesso$ $ma sala.3s)$ece$ tanto a 3ster como a !eodoro. 3s)$ece$ tamb4m a mata de

>e)$eiro rande. #gora estava pensando era na /esta )$e o r$po3scolar preparava para comemorar o FDia da TrvoreF, daE a dois dias. ;smeninos )$e corriam pelo p'tio se atrapalhavam nas pernas c$rtas dom4dico. ele seg$ro$ dois o$ tr0s, mando$ )$e proc$rassem as$bdirectora e a pro/essora de port$g$0s. #travesso$ mais $ma sala dea$la, os meninos se levantaram ' s$a passagem. &e( sinal para )$e sesentassem, sai$ no$tra sala. # s$bdiretora e $mas )$antas pro/essoras +'o esperavam.  >ento$2se, ps o chap4$ e a maleta em cima de $ma mesa. P$@o$ olenço e limpo$ o s$or )$e escorria no rosto gordo.  2 ; programa +' est' /eito. . . 2 in/ormo$ a s$bdiretora.  2 Bamos ver...  2 Primeiro temos a sesso a)$i. Disc$rso...  2 ; Dr. BirgElio no pode /alar por)$e vai amanh pra Ilh4$s a negociodo coronel Hor'cio... &ala mesmo 3stanisla$... 2 3stanisla$ era $mpro/essor partic$lar, orador obrigatório de )$anta /esta havia em&erradas. 3m cada disc$rso repetia, sobre )$al)$er acontecimento, osmesmos tropos de retórica e as mesmas imagens. Havia em &erradas)$em so$besse de cor o Fdisc$rso de 3stanisla$F.  2 J$e pena... 2 lastimo$ $ma pro/essora magrinha )$e era admiradorado Dr. BirgElio. 2 ; do$tor /ala to bem e 4 to bonito...

  #s o$tras riram. Dr. =ess4 limpava o s$or1  2 J$e 4 )$e e$ posso /a(er  # s$bdiretora contin$o$ se$ in/orme1  2 Pois bem1 primeiro, sesso solene no r$po. Disc$rso do pro/essor3stanisla$ 9corrigi$ o nome no papel )$e lia:. Depois declamaço pelosal$nos. Por <ltimo cantaro todos em coro o FHino da #rvoreF. 3mseg$ida /ormat$ra e marcha at4 a praça da Matri(. #E, plantio de $mcaca$eiro, disc$rso do do$tor =ess4 &reitas e poesia da pro/essora Irene.  ; m4dico es/rego$ as mos1  2 M$ito bem, m$ito bem.  #bri$ a maleta, e@trai$ dela $mas /olhas de papel almaço cortadas

pela metade, ao comprido. 3ra o se$ disc$rso. Começo$ a ler para aspro/essoras. #os po$cos /oi se ent$siasmando, se levanto$, lia agora comtodos os gestos, a vo( /orte e elo)$ente. # meninada se +$nto$ na portada sala e, apesar dos repetidos Fpsi$sF da s$bdiretora, no mantevesilencio. #o Dr. =ess4 po$co importava. 3stava embriagado pelo se$disc$rso e lia com 0n/ase1 8A ;r#ore ? um prese!te de Deus aos home!s. !osso irm*o

 #egetal1 ue !os d; sua somra resca1 sua ruta gostosa1 suamadeira t*o =til para a co!stru>*o de m@#eis e outros oectos de

co!orto. 'om tro!cos de ;r#ores oram co!stru9das as cara#elasue descoriram o !osso idolatrado rasil. As cria!>as de#em

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amar e respeitar as ;r#ores.8 

2 M$ito lindo... M$ito lindo... 2 apla$di$ a s$bdiretora.  #s pro/essoras comentavam1  2 ma bele(a. . .

  2 Bai /a(er s$cesso. .  Dr. =ess4 s$ava por todos os poros. Passo$ o lenço na cara, de$ $mberro com os meninos )$e ainda se demoravam na porta e )$e saEram emdisparada. >ento$2se de novo1  2 !' bom, hein 3 escrevi de repente, ontem de noite. .. 3sses diaspassados no p$de por)$e o compadre e a comadre estavam em casa, e$tinha )$e /a(er sala...  2 Di(em )$e para dona 3ster no era preciso R /alo$ $ma pro/essora. 2J$e o do$tor BirgElio /a(ia o dia todo...  2 !amb4m se /ala de t$do. . . 2 protesto$ a pro/essora magra. 2 !erraatrasada 4 assim mesmo... 2 ela viera da ?ahia e no se acost$mava com!abocas.  ;$tra pro/essora )$e era grapi<na, se senti$ o/endida1  2 Pode ser atrasada para )$em )$er chamar descaraço de progresso.>e 4 progresso car no porto at4 de( horas da noite agarrada comrapa(es, ento graças a De$s, !abocas 4 m$ito atrasada mesmo.  3ra $ma al$so a $m namoro da pro/essora com $m rapa( tamb4m da?ahia, empregado de $ma casa e@portadora, namoro escandaloso )$etoda !abocas comentava. # pro/essorinha reagi$1  2 Isso 4 comigo Pois bem, namoro como )$ero, )$e sabendo. 3 nodo$ o$sadia pra ning$4m. # vida 4 minha, pra )$e se metem Converso

at4 a hora )$e bem )$iser... Prero isso a car solteirona como voc0. . .-o nasci pra vitalina.  Dr. =ess4 se mete$1  2 Calma, calma. . . !em coisas de )$e se /ala com ra(o, mas temcoisas )$e e@ageram sem motivo. 3nto só por)$e $m moço visita $masenhora casada e lhe empresta $ns livros pra ler, +' 4 pra se /a(erescOndalo Isso 4 atraso, sim...  !odas concordaram )$e era atraso. #li's, seg$ndo a s$bdiretora, nose di(ia nada demais. >ó se notara a insist0ncia do advogado em car)$ase o dia inteiro na casa do m4dico, conversando na sala com dona3ster. # pro/essora )$e protestara )$ando a o$tra /alo$ do atraso de

!abocas acrescento$ )$e Fesse do$tor BirgElio no respeitava mesmo as/amElias de !abocas. !inha $ma m$lher da vida habitando n$ma r$a de/amElias e era $m escOndalo toda a ve( )$e se despediam. &icavam aosbei+inhos na porta da r$a, toda a gente vendoF. #s pro/essoras riramm$ito e@citadas. ; próprio Dr. =ess4 pedi$ detalhes. # pro/essoramoralista )$e morava perto de Margot, se estende$1  2 3 $ma imoralidade. # gente at4 peca, como e$ +' disse ao padre!om4. Peca sem )$erer. Peca com os olhos e os o$vidos. Pois a tal dem$lher chega na porta vestida com $ma bata meio aberta na /rente,)$ase n$a, e se agarra no pescoço do do$tor BirgElio e cam )$e nem

cachorro a se bei+arem e a di(erem coisas.  2 J$e 4 )$e di(em 2 )$is. saber a baiana, se$ corpo magro se

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movendo em gestos nervosos, os olhos n$m espasmo ao o$vir a)$eladescriço. 2 J$e 4 )$e di(em  # pro/essora se vingo$1  2 3 no 4 atraso contar  2 Dei@e de ser tola... ; )$e di(em

  2 Fme$ cachorrinhoF pra c', Fminha gatinhaF pra l'... FMe$ co(inhode l$@oF, 2 abai@o$ a vo(, cobri$ o rosto com vergonha do m4dico 2 FminhaegWinha p$ladoraF.  2 ; )$e 2 /e( a s$bdiretora r$bori(ada.  2 #ssim mesmo... ma imoralidade..  2 3 n$ma r$a de /amElias... 2 reclamo$ o$tro.  2 Pois 4. #o meio2dia vem at4 gente de o$tras r$as pra assistir. $mteatro.. 2 disse, res$mindo t$do.  Dr. =ess4 bate$ com a mo na testa, se recordando1  2 ; teatro... Ho+e 4 dia de ensaio e e$ nem me lembrava... !enho )$ecomer mais cedo, se no vai atrasar t$do.  >ai$ )$ase correndo pelo r$po 3scolar, agora +' deserto de crianças,o silencio pelos p'tios e pelas salas de a$las. >ó a vo( das pro/essorascomentando a vida do Dr. BirgElio ainda se prolongava at4 a porta da r$a1  2...$ma indec0ncia...  Dr. =ess4 come$ As pressas, responde$ A perg$nta da esposa sobre asa<de de %ibeirinho, $m cliente amigo, p$@o$ as orelhas de $m dos lhos,se toco$ para a casa de La$ro onde ia ensinar o Fr$po de #madores!abo)$enses )$e tinha $ma representaço marcada para breve. ='circ$lavapelo povoado e at4 por &erradas $m volante an$nciando1

SADO1 $7 DE JH",OTEATRO S)O JOS

SERA +EADA A 'E"A A IM(ORTA"TE (EA EM- ATOS1 I"TITH+ADA  AM(IROS SO'IAIS

 AGHARDEM (ROGRAMAS(E+O GRH(O DE AMADORES TAOKHE"SES.

SH'ESSOL SH'ESSOL SH'ESSOL

  Havia a polEtica, havia a /amElia, havia a medicina, havia as roças e as

casas para al$gar, havia o r$po 3scolar, havia t$do isso com )$e sepreoc$par, mas a grande pai@o real do Dr. =ess4 era o Fr$po de #madores !abo)$ensesF. Levara anos ideando a s$a /$ndaço. >empres$rgiram dic$ldades. Primeiro teve )$e vencer, com encarniçada l$ta, arec$sa das moças locais a tomarem parte n$ma representaço teatral. 3só a vencera por)$e chegara a !abocas, vinda do %io, onde est$dava, alha de $m comerciante rico. 3sta 4 )$e animara a mais alg$mas aFdei@arem de besteirasF e a entrarem para o r$po de #madores. Masainda assim Dr. =ess4 tivera )$e conseg$ir a$tori(aço dos pais e no /ora/'cil. J$ando conseg$ia era sempre acompanhada do nal coment'rio

materno1  2 >ó dei@o por)$e 4 o senhor )$em pede, do$tor...

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  ;$tras rec$savam peremptoriamente1  2 3sse negócio de teatro no 4 para moça direita..  Mas, anal o gr$po se /ormara, e representara a primeira peça, $mdrama escrito pelo pro/essor 3stanisla$1 F# )$eda da ?astilhaF. &oi $ms$cesso enorme. #s mes das artistas no cabiam em si de org$lho.

Ho$ve at4 alg$mas )$e brigaram na disc$sso sobre )$al das lhasrepresentara melhor. 3 Dr. =ess4 começo$ a ensaiar o$tra peça, essa s$a,de car'cter histórico2nacional, sobre Pedro II. &oi representada embene/Ecio das obras da Matri(, )$ando esta ainda se estava constr$indo. #pesar de )$e a representaço teve )$e lamentar $m incidente s$rgidoQentre dois artistas em cena, /oi tamb4m $m 0@ito )$e solidico$denitivamente o prestEgio do Fr$po de #madores !abo)$ensesF. ;gr$po passara a ser $m org$lho de !abocas, e cada ve( )$e $m habitantedo povoado ia a Ilh4$s, no dei@ava de /alar nos #madores para /erir oshabitantes da cidade )$e, se bem tivesse $m bom !eatro, no tinhanenh$m gr$po de artistas. ; sonho act$al do Dr. =ess4 era levar o gr$po aIlh4$s, para ali $ma representaço. Contava com o s$cesso de FBampiros>ociaisF, peça )$e ele tamb4m escrevera, para convencer as mes depermitirem )$e as s$as lhas /ossem representar na cidade vi(inha.  3nsaio$ largas horas. &a(ia as moças e os rapa(es repetirem os gestoslongos, a vo( trem$la, a declaraço a/etada. #pla$dia a $m, reclamavacom o$tro, s$ava pelo rosto todo e estava /eli(.  >ó )$ando sai$ do ensaio se lembro$ novamente da mata de >e)$eirorande, de !eodoro, de 3ster, do do$tor BirgElio. Pego$ a maleta onde osoriginais da peça se mist$ravam com medicamentos e corre$ para a casado advogado. Mas este estava em casa de Margot e Dr. =ess4 se toco$

para l'.  ; sino da igre+a bate$ as nove horas e as r$as estavam desertas. ;sFamadoresF se recolhiam, as mes acompanhando as lhas. m b0bedo/alava so(inho n$ma es)$ina. -$m bote)$im, homens disc$tiam polEtica.Mais )$e os lampiKes de )$erosene, a l$a cheia il$minava a r$a.  Do$tor BirgElio estava em pi+ama. # vo( de Margot vinha do )$arto)$erendo saber )$em era. Dr. =ess4 descanso$ a maleta n$ma cadeira dasala1  2 Consta )$e o Coronel !eodoro vem aE. ; senhor avise ao compadreHor'cio. -ing$4m sabe o )$e 4 )$e ele )$er a)$i. . .  2 &a(er arr$aça na certa...

  2 3 h' $ma coisa grave.  2 Diga.  2 Di(em )$e =$ca ?adaró mando$ chamar $m agrónomo para medir amata de >e)$eiro rande e tirar $m tEt$lo de propriedade...  Do$tor BirgElio ri$, satis/eito de si mesmo1  2 Pra )$e 4 )$e e$ so$ advogado, do$tor # mata +' est' registrada,com mediço e t$do, no cartório de BenOncio, como propriedade docoronel Hor'cio, de ?ra(, de Maneca Dantas, da vi<va Merenda, de&irmo, de =arde e. . . 2 lamento$ a vo( 2 do Dr. =ess4 &reitas. .. ; senhortem )$e ir l' amanh assinar..  3@plico$ o Fca@i@eF, a cara do m4dico se abri$ n$m sorriso1  2 Parab4ns, do$tor.. 3ssa 4 de mestre...  BirgElio sorri$ modesto1

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  2 C$sto$ dois contos de r4is convencer o escrivo. ; mais /oi /'cil Bamos ver agora o )$e eles /a(em. Bo chegar tarde...  Dr. =ess4 co$ $m momento silencioso. 3ra $m golpe de mo cheia.Hor'cio se adiantara aos ?adarós, agora era legalmente dono da mata.3le e os se$s amigos entre os )$ais o Dr. =ess4. 3s/rego$ as mos gordas,

$ma na o$tra1  2 !rabalho bem /eito. . . -o h' o$tro advogado a)$i como o senhor...3, com essa, vo$ saindo, vo$ dei@ar os dois 2 apontava para o )$arto ondeMargot esperava 2 so(inhos... Isso no so horas de conversar... ?oanoite, do$tor.  J$ando chegara vinha pensando em tocar a BirgElio nos coment'rios)$e andara o$vindo sobre ele e 3ster. Pensava em lhe aconselhar mesmoa, em Ilh4$s, no proc$rar m$ito a casa de Hor'cio. -a cidade as lEng$aseram to maliciosas )$anto no povoado. Mas agora no di(ia nada, tinhamedo de o/ender o advogado, de o magoar. 3 ho+e, por nada dessem$ndo, =ess4 )$eria magoar o Dr. BirgElio )$e dera $m golpe to s4rionos ?adarós.  BirgElio o acompanho$ at4 a porta. Dr. =ess4 desce$ r$a abai@o, noencontrava ning$4m no se$ caminho a )$em dar a notEcia, alg$4m deconança. Legalmente os ?adarós estavam perdidos. ; )$e 4 )$e podiam/a(er agora Chego$ at4 o bote)$im. 3spio$ da porta. m dos homens)$e bebia perg$nto$1  2 Proc$ra alg$4m, do$tor  #li tampo$co havia )$em merecesse tomar conhecimento de tamanhanotEcia. %esponde$ com $ma perg$nta1  2 >abe onde anda !onico ?orges

  2 =' /oi dormir 2 in/ormo$ $m. 2 3ncontrei /a( po$co com ele, ia próslados da casa da rapariga...  Dr. =ess4 /e( $ma careta de contrariedade. !inha )$e g$ardar a grandenotEcia at4 o dia seg$inte. Contin$o$ a andar, com se$ passo ligeiro ec$rto de homem gordo. Mas, antes de chegar a casa, ainda paro$ $mmomento para reconhecer de )$em era o caca$ tra(ido por $ma tropa de$ns )$in(e b$rros )$e entrava povoado adentro, n$m chocalhar deg$i(os, a vo( do tropeiro despertando os vi(inhos.  2 V, b$rro desgraçado !oca pra /rente, Canivete.

5

  ; homem chego$ a/obado na lo+a de /erragens1  2 >e$ #(evedo >e$ #(evedo  ; empregado atende$1  2 >e$ #(evedo est' l' dentro, se$ In'cio.  ; homem entro$ lo+a adentro. >e$ #(evedo /a(ia contas repassando as/olhas de $m grande livro. Bolto$2se1  2 J$e 4 )$e h', In'cio  2 ; senhor ainda no sabe  2 Diga logo, homem... Coisa s4ria

  In'cio tomo$ /olego. Biera )$ase correndo.  2 #cabei de saber agorinha mesmo. Bosmec0 no imagina, vai cair de

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costas.  >e$ #(evedo largo$ o l'pis, o papel e o livro de vendas a cr4dito.3spero$ com impaci0ncia.  2 o maior Fca@i@eF )$e +' vi /alar.. . Do$tor BirgElio molho$ as mosde BenOncio e registro$ no cartório dele $m tEt$lo de propriedade das

matas de >e)$eiro rande em nome do coronel Hor'cio e mais cinco o$seis1 ?ra(, Dr. =ess4, coronel Maneca, no sei mais )$em.  >e$ #(evedo se levanto$ na cadeira1  2 3 a mediço J$em /e( -o vale esse registro...  2 !' t$do legal, se$ #(evedo. !$do legal(inho, sem /altar $ma vErg$la.; moço 4 $m advogado bamba. #rran+o$ t$do direitinho. # mediço +'havia, $ma velha )$e tinha sido mandada tirar /a( m$ito tempo pelonado M$ndinho de #lmeida )$ando ando$ abrindo roça pra a)$eleslados. -$nca chego$ a se registrar por)$e o coronel M$ndinho estico$ ascanelas. Mas BenOncio tinha o doc$mento da mediço. . .  2 -o sabia disso...  2 -o se alembra )$e o coronel M$ndinho at4 mando$ b$scar $magrónomo na ?ahia pra /a(er a mediço e veio $m barb$do, cachaceirocomo ele só  2 #gora sim, me lembro.  2 Pois do$tor BirgElio desencavo$ a mediço, o resto /oi /'cil, /oi só/a(er $ma ras$ra nos nomes e registrar t$do no cartório. Di( )$e por aE)$e BenOncio recebe$ de( contos pelo trabalho.  >e$ #(evedo sabia dar valor ' in/ormaço1  2 In'cio, m$ito obrigado, esse 4 $m /avor )$e e$ no vo$ es)$ecer. Boc0 4 $m amigo direito. #gora mesmo vo$ com$nicar a >inh ?adaró. 3

ele 4 reconhecido, voc0 sabe. . .  In'cio sorri$1  2 Diga ao coronel >inh )$e e$ to$ A disposiço dele.. . Pra mim no h'o$tro che/e nessa (ona. 3$ so$be do acontecido, vim direitinho a)$i. . .  >e despedi$, se$ #(evedo co$ $m momento mat$tando. Depoistomo$ da pena, se debr$ço$ sobre a mesa, escreve$ com s$a letra di/Ecil$ma carta a >inh ?adaró. Mando$ o empregado chamar $m homem.3ste chego$ min$tos depois. 3ra $m m$lato esc$ro, descalço mas deesporas, $m revólver saindo por bai@o do paletó rasgado1  2 #s ordens, se$ #(evedo...  2 Milito, voc0 vai montar no me$ cavalo e tocar A toda pra /a(enda

dos ?adarós, entregar essa carta a >inh. De minha parte. 3 de toda$rg0ncia.  2 Bo$ por &erradas, se$ #(evedo  2 Por &erradas, 4 m$ito mais perto.. .  2 Di()$e h' ordens do coronel Hor'cio de no dei@ar homens dos?adarós passar l'. . .  2 Isso 4 conversa.. . ;$ 4 )$e voc0 t' com medo  Bosmec0 +' me vi$ com medo >ó )$eria saber...  2 Pois ento. >inh vai lhe recompensar bem pois 4 $ma notEciaimportante...  ; homem recebe$ a carta. #ntes de sair em b$sca do cavalo,perg$nto$1  2 !em resposta

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  2 -o.  2 3ntonces at4 mais ver, se$ #(evedo.  2 ?oa viagem, Milito.  Da porta o homem volto$ a cabeça1  2 >e$ #(evedo

2; )$e 4  2 >e e$ car na estrada, por &erradas, vosmec0 olhe por minha m$lhere me$s lhos..

6

  DonG#na ?adaró na varanda da /a(enda conversa com o homem )$eacabara de desmontar1  2 &oi a Ilh4$s, Milito. >ó volta da)$i a tr0s dias..  2 3 se$ =$ca  2 !amb4m no est'... coisa $rgente  2 Penso )$e 4, sinh' dona. >e$ #(evedo mando$ )$e e$ tocasse semparar, )$e cr$(asse por &erradas por ser mais perto... 3 &erradas t' emp4 de g$erra...  2 Como voc0 /e(  2 Cortei por detr's do la(areto, ning$4m me vi$...  DonG#na se decidi$, abri$ a carta, deci/ro$ as garat$+as  2 >er' coisa $rgente  2 #cho )$e 4, sinh' DonG#na. >e$ #(evedo me disse )$e era de m$itaimportOncia e de m$ita pressa. #t4 me mando$ no cavalo dele.  DonG#na se decidi$, abri$ a carta, deci/ro$ as garat$+as de #(evedo.

>e$ rosto se /echo$1  2 ?andidos  Ia entrando com a carta na mo. Mas lembro$2se do portador1  2 Milito, sente a)$i na varanda. Bo$ lhe mandar $ma pinga..  rito$1  2 %aim$nda %aim$nda  2 ; )$e 4, madrinha  2 >irva $ma cachaça a se$ Milito a)$i na varanda...  3ntro$ para a sala, ando$ de $m lado para o$tro, parecia $m dosirmos ?adarós )$ando estes pensavam o$ disc$tiam. !ermino$ porsentar na cadeira alta de >inh, o rosto /echado na preoc$paço da

notEcia. ; pai e o tio estavam em Ilh4$s e esse era $m recado )$e nopodia esperar. J$e devia /a(er Mandar a carta pro pai >ó chegaria aIlh4$s no dia seg$inte, t$do se demoraria. De repente lembro$2se,levanto$, volto$ para a varanda. Milito bebia se$ c'lice de cachaça.  2 !' m$ito cansado. Milito  2 -o, sinh'. &oi $ma corridinha. ;ito l4g$as pe)$enas. .  2 3nto voc0 vai montar de novo e dar $m p$lo nas ?ara<nas. Bai levar$m recado me$ pro coronel !eodoro. Diga a ele )$e venha a)$i conversarcomigo imediatamente. 3 voc0 volte com ele..  2 #s ordens, sinh' DonG#na.

  2 J$e ele venha logo )$e possa. J$e 4 coisa s4ria...  Milito monto$. #caricio$ o cavalo, se despedi$1

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  2 ?oa tarde, sinh'...  3la co$ da varanda olhando o homem )$e partia. 3stava tomandoresponsabilidades. J$e diria >inh )$ando so$besse Bolto$ a ler a cartade se$ #(evedo e concl$i$ )$e tinha /eito bem em mandar chamar!eodoro. M$rm$ro$ mais $ma ve(1

  2 ?andidos. 3 esse advogado(inho... Merece $m tiro. . .  ; gato veio e se enrosco$ nas s$as pernas. DonQ#na bai@o$ a mo e oacaricio$ s$avemente. >e$ rosto no tinha nenh$ma d$re(a, era $mpo$co melancólico, os /$ndos olhos negros, a boca de l'bios sens$ais. Bista assim na varanda, DonG#na ?adaró parecia $ma tEmida menina docampo.

$7

  -o r$po 3scolar t$do ando$ m$ito bem. Dr. =ess4 tinha conseg$ido)$e alg$ns comerciantes /echassem s$as lo+as e arma(4ns paracomemorar o FDia da TrvoreF. -o r$po 3scolar, onde o pro/essor3stanisla$ lera se$ disc$rso e $ns meninos declamaram, havia po$caassist0ncia al4m das pro/essoras e das crianças, mas a Praça da Matri(estava cheia. -o r$po, Dr. =ess4 presidi$ a sesso, os meninos lheo/ereceram $m ramalhete de ores. Marcharam para a Praça onde +'esperavam os dois col4gios partic$lares da localidade1 o de 3stanisla$ e ode dona $ilhermina, pro/essora c4lebre pela r$de(a com )$e tratavase$s discEp$los. Dr. =ess4 marchava na /rente do r$po, emp$nhando se$ramalhete de ores.  # Praça estava repleta de gente. M$lheres com os vestidos de /estas,

moças )$e espiavam os namorados, alg$ns comerciantes, os empregadosdas casas )$e haviam /echado na)$ele dia. !odos )$eriam aproveitar ainesperada diverso s$rgida no ritmo triste da vida de !abocas. ; r$po/ormo$ de/ronte dos col4gios partic$lares. ; pro/essor 3stanisla$, )$etinha $ma velha di/erença com dona $ilhermina, se apro@imo$ dos se$sal$nos para lhes impor silencio. Dese+ava )$e eles se comportassem pelomenos to bem como os da rival, )$e estavam s4rios e calados sob o olharde br$@a da mestra. =$nto a $m b$raco recentemente aberto, em meio daPraça, haviam colocado $m caca$eiro novo, de po$co mais de $m ano.3ra a 'rvore para ser plantada na solenidade. ; s$bdelegado via+ara, os?adarós o haviam chamado a Ilh4$s, e por isso a /orça policial 2 oito

soldados R no comparecera. Mas a F3$terpe X de MaioF 2 )$e /ora/ardada com dinheiro de Hor'cio 2 estava presente com se$sinstr$mentos m$sicais. 3 /oi a ela )$e co$be iniciar o ato, tocando o hinonacional. ;s homens tiraram os chap4$s, /e(2se sil0ncio. ;s meninos dostr0s col4gios cantaram a letra. ; sol )$eimava de to )$ente. #lg$nsabriam g$arda2sóis para se resg$ardar.  J$ando a m<sica termino$, Dr. =ess4 chego$ bem para o centro dapraça e começo$ se$ disc$rso. De todos os lados pediam silencio. #spro/essoras iam entre os al$nos reclamando ordem e menos bar$lho. Masno obtinham grandes res$ltados. >ó havia mesmo silencio entre os

discEp$los de dona $ilhermina, )$e se mantinha rEgida, as moscr$(adas na /rente, metida n$m vestido branco, engomado e d$ro. J$ase

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ning$4m conseg$ia o$vir o )$e o Dr. =ess4 di(ia e po$cagente o conseg$ia ver, pois como no haviam armado trib$na, eledisc$rsava mesmo no cho. #inda assim, )$ando ele termino$,apla$diram m$ito. #lg$ns cavalheiros vieram c$mpriment'2lo. 3leapertava as mos, )$e lhe eram estendidas, modesto e comovido. &oi o

primeiro a reclamar silencio para )$e p$desse o$vir a poesia dapro/essora Irene. # vo( /raca da pro/essora se esganiço$ nos versos1

8e!dita a seme!te ue ecu!da a1 terra. . 8 

;s meninos chamavam os vendedores de )$eimados )$ase aos gritos.%iam, conversavam, disc$tiam, trocavam pontapés. #s pro/essorasprometiam castigos para o dia seg$inte. # pro/essora Irene s$spendia $mbraço bai@ava e s$spendia o o$tro1 

8Ár#ore e!dita ue dá somra e ruta...8 

; tropel dos cavalos a$mento$ e eles irromperam na Pra ça da Matri(.3ra o coronel !eodoro das ?araúnas, à /rente de do(e homens armados.3ntraram dando $ns tiros para o ar, os cavalos pisando o capim da Pra ça.!eodoro atravesso$ entre os colégios, os meninos corriam, corriam asm$lheres e os homens. Paro$ bem em /rente ao gr$po re$nido em torno A'rvore. # pro/essora Irene engoli$ o verso )$e ia di(er, ainda estava como braço levantado. !eodoro tinha o revólver na mo1  2 J$e /$' 4 esse !o plantando $ma roça a)$i na Praça  =ess4 e@plico$ a comemoraço em palavras trem$las. !eodoro ri$,

parece$ concordar1  2 3nto plantem logo. J$ero ver...  #ponto$ o revólver, os cabras chegaram mais para perto, seg$ravamas repetiçKes. =ess4 e mais dois homens plantaram o caca$eiro. verdade)$e a cerimónia /oi m$ito diversa da )$e o Dr. =ess4 imaginara. -otivera mesmo solenidade nenh$ma, apenas emp$rraram, As pressas, ocaca$eiro dentro do b$raco, cobriram2no com a terra )$e se ac$m$lavaao lado. %estava po$ca gente na Praça, a maioria correra.  2 =' est' 2 perg$nto$ !eodoro.  2 ='. .  2 #gora vo$ orvalhar ele. . . 2 ri$ !eodoro.

  3,, de cima mesmo do cavalo, abri$ a brag$ilha, p$@o$ o se@o, $rino$em cima do caca$eiro. Mas no acertava direito, a $rina respingava emtodo m$ndo. # pro/essora Irene tapo$ os olhos com a mo. #ntes deacabar, !eodoro de$ $m +eito com 1 mo, o resto da $rina cai$ em cima doDr. =ess4. Depois chamo$ pelos se$s homens, saEram n$m galope pela r$acentral. ;s assistentes )$e no tinham podido /$gir caram sem gestos,olhando $ns para os o$tros. ma pro/essora limpava o rosto onde caEram$ns pingos de $rina. ;$tra se assombrava1  22 ;ra, +' se vi$  !eodoro atravesso$ a r$a dando tiros. #o nal, /a(endo es)$ina com

$m beco, cava o cartório de BenOncio. #li pararam, saltaram doscavalos, BenOncio e os empregados só tiveram tempo de escap$lir pelos

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/$ndos. !eodoro chamo$ por $m dos se$s homens, oste chego$ com $magarra/a, começo$ a derramar )$erosene no cho e nas estantes pe+adasde pap4is. J$ando termino$, +ogo$ a garra/a ao acaso.  2 Mete /ogo. . . * ordeno$ !eodoro.  ; cabra risco$ $m /ós/oro, a chama ando$ pelo cho, se elevo$ por

$ma estante, encontro$ $ma /olha de papel, engordo$ nos doc$mentosar)$ivados no cartório. !eodoro sai$ com o cabra, agora os se$s homensg$ardavam a es)$ina, esperando )$e o /ogo tomasse corpo. !eodoro vestia $m paletó branco sobre a calça de brim c')$i, tinha $m solit'rioenorme no dedo mEnimo. -a r$a ia +$ntando gente. !eodoro ordeno$ aoscabras )$e montassem. Com as patas dos cavalos espalhavam os c$riososmais pró@imos. -a r$a iam aparecendo homens de Hor'cio, armados.!eodoro dobro$ a es)$ina com se$s capangas, proc$rando a estrada deM$t$ns. J$ando eles partiram, a gente enche$ a r$a, BenOncio aparece$arrancando os cabelos, os homens de Hor'cio correram com as armas. Daes)$ina atiraram, os cabras de !eodoro respondiam. 3stes iam abrindocaminho entre o povo )$e chegava, correndo pelo beco para ver oinc0ndio. #ntes )$e !eodoro se perdesse no começo da estrada, $m dosse$s homens cai$ baleado. ; cavalo contin$o$ a correr sem cavaleiro, +$nto com o resto da comitiva. ;s homens de Hor'cio andaram para o/erido e terminaram com ele a /aco.

O mar 

1

  ; homem de colete a($l no responde$. &icava mi$dinho com oenorme colete a($l desabando sobre as calças de brim pardo, maispardas ainda da s$+eira.  Ia $ma noite lErica l' /ora. # poesia da noite chegava at4 o balcoseboso da venda atrav4s d$m pedaço de l$ar )$e caia sobre as pedras dar$a, as estrelas entrevistas pelas portas abertas, o longEn)$o som de $m violo )$e alg$4m tocava ao mesmo tempo )$e $ma vo( de m$lher,morna vo( sot$rna, cantava certa m<sica sobre amores perdidos n$madistante mocidade. !alve( mais )$e o l$ar e )$e as estrelas, )$e o cheiropecaminoso dos +asmineiros no sobrado pró@imo, )$e as l$(es do navioil$minado, talve( mais )$e t$do isso, a vo( morna da m$lher, )$e cantava

na noite, pert$rbo$ os coraçKes cansados dos homens )$e dormiam,sentados em cai@otes o$ encostados no balco.

; de anelo /also repeti$ a perg$nta, +' )$e o homem de colete a($lno respondia1  2 3 voc0, se$ lesma, n$nca teve $ma m$lher. ..  Mas /oi o loiro )$em /alo$1  2 ;ra, $ma m$lher.. De(enas de m$lheres em todos os portos. M$lher 4bicho )$e no /alta para marinheiro. 3$, por mim, tive 's d<(ias. . . 2 /a(ia$m gesto com as mos, abrindo e /echando os dedos.  # prostit$ta c$spi$ por entre os dentes podres, olho$ com interesse oloiro marinheiro1  2 Coraço de marinheiro 4 como as ondas do mar )$e vo e vem. ?em)$e conheci =os4 de >anta. m dia /oi embora se$ calado n$m navio )$e

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nem era dele. . .  2 ;ra 2 contin$o$ o marinheiro 2 $m marEtimo no pode ancorar mesmoem carne de m$lher nenh$ma. m dia vai embora, a doca ca va(ia, vemo$tro e atraca. M$lher, me$ bem, 4 bicho mais traiçoeiro )$e temporal de vento.

  #gora $m pedaço de l$ar /orce+ava entrar pela porta, il$minando ocho de t'b$as grossas. ; de anelo /also c$t$co$ o colete do o$tro coma /aca de partir carne seca1  2 &ala, lesma. -o 4 verdade )$e 4 direitinho $ma lesma Boc0s +' viram alg$4m to parecido com $ma lesma!$ +' teve m$lher  # prostit$ta ri$ 's gargalhadas, passo$ o braço pelo pescoço domarinheiro loiro e riram +$ntos ento. ; de colete a($l bebe$ o resto dacachaça )$e estava no copo, limpo$ a boca com a manga do paletó econto$1  2 DaE voc0s no sabem onde /oi, /oi m$ito longe da)$i, no$tro porto,no$tra terra bem maior. &oi n$m bote)$im, me lembro o nome1 F-ovoM$ndoF.  ; de anelo pedi$ mais cachaça dando $m m$rro na mesa.  2 3$ conhecia a amiga dela, estavam as d$as mais $m rapa(, e$tomava $m trago com $m companheiro e tava se conversando dasr$indades da vida. Di( )$e no h' pai@o de primeiro olhar, bem )$e 4mentira...  # prostit$ta apoio$ com a cabeça e aperto$ $m po$co mais o braço/orte do marinheiro loiro. # vo( da m$lher )$e cantava enche$ de s<bitoa cena s$+a da venda1

8(artiu para !u!ca mais #oltar...8 

&icaram o$vindo. ; de anelão sorvia a cachaça em pe)$enos tragoscomo se /osse $m licor caro, en)$anto esperava, o rosto ansioso, )$e ohomem do colete a($l contin$asse.  2 J$e importa 2 disse este e limpo$ a boca com a manga do paletó.  2 # l$a est' grande e bonita. H' m$ito tempo no ve+o ela assim 2s$ss$rro$ a prostit$ta se chegando mais para o loiro.  2 Conta Conta o resto. . . 2 pedi$ o de anelo /also.  2 Pois /oi. Como e$ tinha /alado, tava sentado com $m amigo virando

$m trago. 3 ele tava se )$ei@ando da vida, a patroa dele andava com$mas ma(elas, o arame apertado, m$ito c$rto. !ava triste, e$ tamb4m +'tava cando triste, /oi )$ando ela entro$. Binha com o$tra, e$ +' disse  2 Disse, sim 2 e@clamo$ o marinheiro loiro )$e começava a seinteressar pela história. !amb4m o espanhol, dono da venda, se encosto$no balco para o$vir. # vo( da m$lher )$e cantava vinha em s$rdina do/$ndo misterioso da noite. ; de colete a($l agradece$, com $m gesto, aomarinheiro loiro e contin$o$1  2 Pois /oi. Binha com a o$tra e $m /$lano. # o$tra e$ conhecia, medava com ela desde o$tros tempos. Mas, gentes, )$ase no via a

conhecida, só via mesmo ela.  2 3ra morena 2 perg$nto$ o do anelo /also )$e tinha $ma )$eda

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pelas morenas.  2 Morena -o. -o era morena, nem loira tamb4m, mas, 4 engraçado,parecia $ma estrangeira, gente de o$tra terra.  2 >ei como 4... 2 /alo$ o loiro )$e era marinheiro de $m carg$eiro )$e varava mar largo. ; de colete a($l agradece$ com $m o$tro gesto.

  # prostit$ta m$rm$ro$, m$ito chegada ao marinheiro1  2 !$ sabe t$do... 2 sorri$. 2 B0 como a l$a est'... rande, grande e toamarela..  2 Como esse moço disse... 2 o de colete a($l aponto$ o marinheiro como beiço. 2 Parecia embarcadiça de $m navio vindo de longe. -o seimesmo como cheg$ei perto. Parece )$e /oi o amigo )$e estava comigo)$e se chego$ para /alar com a o$tra. DaE, a o$tra disse )$em nós era,co$ conversando com a gente... ; )$e /oi )$e converso$ +$ro )$e nosei.. >ó vi ela e ela no /alo$, só )$e ria, $ns dentes brancos, brancos, )$enem areia da praia... Bai o me$ amigo /alava, contava as triste(as dele. # o$tra /alava tamb4m, penso )$e consolava. Berdade, no sei. 3la e o/$lano tavam calados mas ela ria 2 sorri$ lembrando e sorrindo /alo$ 2 eria depressa, to depressa n$nca vi ning$4m rir. ;s olhos dela... 2 paro$se recordando. 2 -o sei como eram os olhos dela... 2 abanava as mos. RMas parecia a m$lher de $ma história )$e o negro #st4rio contava abordo do navio s$eco, a)$ele )$e a/$ndo$ na barra dos Co)$eiros. . .  ; de anelo /also passo$ o p4 na r4stia de l$ar, c$spi$, perg$nto$1  2 3 o porreta )$e tava com ela era dono dessa embarcaço tomaneira  2 >ei l'... -o tinha porte no... Parecia mais amigo sei la.. . >o seimesmo )$e ela ria, ria, os dentes brancos, o rosto branco, os olhos. . .

  #gora metia os dedos pelos bolsos do colete a($l, sem +eito para asmos at4 )$e resolve$ emborcar o copo de cachaça.  2 3 depois 2 )$is saber o de anelo.  2 Pagaram, /oram embora os tr0s. !amb4m /$i embora, voltei aobote)$im tantas ve(es. . . ma ve( vi ela de novo. Binha de longe, tinhacerte(a. De m$ito longe, no era da)$ela terra. .  2 !o bonita a l$a. . . 2 disse a rameira e o marinheiro reparo$ )$e elatinha os olhos tristes. 3la )$eria di(er o$tra coisa mas no encontro$ aspalavras.  2 De longe, )$em sabe se do /$ndo do mar >ó sei mesmo )$e veio e/oi embora. 3 só mesmo o )$e sei. 3la nem reparo$ em mim. Mas at4 ho+e

me lembro do +eito dela rir, dos dentes, da branc$ra dela. 3 o vestido 2)$ase grito$ de alegria ao recordar do novo detalhe 2, o vestido demangas abertas. . .  3mborco$ o copo, estico$ o beiço, no estava mais alegre. # vo( dam$lher )$e cantava na noite lErica ia s$bindo devagarinho1

8(artiu para !u!ca mais #oltar. . .8 

2 3 depois 2 perg$nto$ novamente o de anelão /also.  ; de colete a($l no responde$ e a prostit$ta no sabia se ele estava

olhando para a l$a o$ para alg$ma coisa )$e ela no via, la, mais al4m dal$a, e das estrelas, mais al4m do c4$, mais al4m da noite to tran)$ila.

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!amb4m n$nca so$be por )$e lhe de$ a)$ela vontade de chorar. 3 antes)$e as l'grimas viessem, parti$ com o loiro marinheiro para a /esta danoite de l$ar.  ; espanhol se encosto$ no balco para o$vir as avent$ras do deanelo /also, mas o de colete a($l agora estava de novo indi/erente,

tando a l$a amarela no c4$. ; de anelo paro$ a história de $macabrocha, )$e contava com grandes gestos, viro$2se para o espanhol,aponto$ o de colete a($l1  2 -o parece direitinho $ma lesma 

%

  -a noite de conversas no cais, a cidade de Ilh4$s dormia se$ sonoin)$ieto, cortado de boatos )$e chegavam de &erradas, de !abocas e de>e)$eiro rande. Começara a l$ta entre os ?adarós e Hor'cio. ;s doisseman'rios )$e se p$blicavam na cidade trocavam descompost$ras violentas,cada )$al /a(ia o elogio dos se$s che/es, arrastava no lodo a vida dosche/es contr'rios. ; melhor +ornalista era a)$ele )$e sabia @ingar commais viol0ncia. -o se respeitava nada, nem a /amElia, nem a vidaprivada.  Man$el ;liveira, o director do F; Com4rcioF, o +ornal dos ?adarós,estava per$ando o +ogo de p)$er, sentado por detr's de =$ca. ;s o$trosparceiros eram o coronel &erreirinha, !eodoro das ?ara<nas, e o capito =oo Magalhes. &ora &erreirinha, )$e o conhecia desde )$e haviam via+ado +$ntos da ?ahia para Ilh4$s, )$e apresentara o capito a =$ca.

  2 m moço ed$cado. . . 2 dissera. 2 M$ito rico, via+a por des/astio...Capito re/ormado. De engenharia...  =$ca ?adaró tinha vindo por $m ass$nto da mata de >e)$eiro rande. )$e o Dr. %oberto, o agrónomo, no estava em Ilh4$s, havia via+adopara a ?ahia, e =$ca tinha pressa em /a(er a mediço da mata para poderregistrar a propriedade. J$ando o$vi$ /alar )$e havia $m engenheiro nacidade penso$ )$e o problema estava resolvido. &erreirinha /e( asapresentaçKes. =$ca /oi logo propondo1  2 Capito, m$ito pra(er em conhece2lo. !enho $m negócio pro senhorganhar dinheiro. . .  =oo Magalhes se interesso$, talve( a)$ela /osse a oport$nidade )$e

ele tanto proc$rava. Biera para Ilh4$s em b$sca de dinheiro, mas dedinheiro grande, no apenas do )$e lhe dei@avam as mesas de p)$erProc$ro$ ser gentil com =$ca1  2 ; pra(er 4 todo me$. #li's, e$ +' conheço o senhor. Biemos da ?ahiano mesmo navio... #penas no ho$ve ocasio de sermos apresentados...  2 Isso mesmo... 2 recordo$ &erreirinha. R Boc0 tamb4m vinha no navio, =$ca. >ó )$e tava m$ito oc$pado com $ma donaG )$e vinha tamb4m. . . 2bate$ com a mo na barriga de =$ca e ri$.  =$ca lamento$ )$e no se ho$vessem conhecido antes e entro$ noass$nto )$e lhe interessava1

  2 Capito, o )$e se passa 4 o seg$inte1 nossa /a(enda /a( divisa com$ma mata )$e no e de ning$4m, mas 4 mais da gente )$e de )$al)$er

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pessoa, por)$e nós 4 )$em primeiro entro$ nela. # mata de >e)$eirorande. #gora nós )$er derr$bar ela pra plantar caca$. Bem daE, $mche/e de +ag$nço )$e tem a)$i, $m tal de Hor'cio da >ilveira, )$is /a(er$m trabalho s$+o1 arran+o$ $ma mediço velha e registro$ a mata nonome dele e de $ns amigos dele... Mas no teve nada por)$e a gente

des/e( o Fca@i@eF em dois tempos.  2 ;$vi /alar... Inc0ndio n$m cartório, no /oi !rabalho cora+oso, bem/eito. &i)$ei admirado... 2 o capito =oo Magalhes acompanhava s$aspalavras de gestos e@pressivos. 2 &oi o senhor >e /oi, me$s parab4ns.osto de homens decididos.  2 -o. &oi o compadre !eodoro, dono das ?ara<nas. 3 $m homem debrio e de coragem.. .  2 !' se vendo. . .  2 #gora nós tamos proc$rando $m engenheiro agrnomo pra /a(er amediço da mata. Mas, por desgraça, o Dr. %oberto via+o$ e 4 o <nico )$eh' a)$i )$e sirva. ;s o$tros dois so $ns covardes, no )$iseram semeter. 3nto, se passo$ )$e e$ o$vi )$e o senhor 4 engenheiro e vimcons$ltar se o senhor )$er /a(er a mediço. # gente paga bem.. . 3)$anto A vingança de Hor'cio, no tenha medo, a gente lhe garante.  ; capito =oo Magalhes ri$ s$perior1  2 ;ra, pelo amor de De$s... &alar de medo a mim >abe em )$antasrevol$çKes +' tomei parte, coronel Mais de $ma d<(ia... #gora no sei 4se e$ posso, legalmente, 2 /risava o termo 2 /a(er a mediço. 3$ no so$engenheiro agrónomo. >o$ engenheiro militar. -o sei se tem valor.. .  2 #ntes de vir lhe /alar e$ cons$ltei me$ advogado e ele disse )$e sim,)$e o senhor podia. J$e os engenheiros militares podem e@ercer. . .

  2 -o esto$ to certo assim.. . Demais, me$ tEt$lo no 4 registrado na?ahia. >ó no %io. ; cartório no vai aceitar mediço minha...  2 Isso no tem importOncia... # gente arran+a com o escrivo. Por issono...  =oo Magalhes ainda d$vidava. -o era nem militar nem engenheiro,sabia bem era +ogar )$al)$er esp4cie de +ogo, sabia era trabalhar com$m baralho e tamb4m ganhar a conança dos demais. Mas dese+ava $maoport$nidade maior, dese+ava /a(er $m dinheiro grande, no viver nadepend0ncia eterna das mesas de +ogo, $m dia com m$ito, no o$tro sem$m tosto. #nal, )$e perigo corria ;s ?adarós estavam por cima napolEtica, todas as possibilidades de ganhar a l$ta eram deles, e se eles a

ganhassem, a propriedade da mata de >e)$eiro rande no seria n$ncadisc$tida. 3, mesmo )$e viessem a saber )$e a mediço era ilegal, /eitapor $m charlato, ele +' estava longe, go(ando no$tras terras o dinheirorecebido. Balia a pena arriscar. 3n)$anto pensava, olhava =$ca ?adaró)$e diante dele, impaciente, batia com o reben)$e na bota. =ooMagalhes /alo$1  2 # verdade 4 )$e e$ so$ de /ora e no )$eria me meter em encrencasda)$i... >e bem a verdade 4 )$e simpati(o m$ito com a ca$sa do senhor edo se$ irmo. Principalmente depois do inc0ndio do cartório. 3sses atosde coragem me con)$istam. . . 3nm. . .  2 Pagamos bem, capito. ; senhor no vai se arrepender.  2 -o esto$ /alando em dinheiro. . . >e (er 4 por simpatia. .  2 Mas 4 )$e a gente tem )$e acertar isso tamb4m. -egócio 4 negócio,

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apesar do /avor a gente car devendo sempre. . .  2 Isso 4 verdade...  2 J$anto o senhor pede pelo trabalho Bai ter )$e passar $ns oito diasna /a(enda. .  2 3 os instr$mentos 2 perg$nto$ =oo Magalhes para ganhar tempo e

poder calc$lar )$anto podia pedir. R ;s me$s caram no %io. . .  2 -o tem nada. Consigo os do Dr. %oberto com a m$lher dele.  2 >e 4 assim... 2 penso$. 2 ?em, e$ no venho a)$i para trabalhar, venho a passeio. . . Dei@e ver1 oito dias na /a(enda, vo$ ter )$e perder onavio de )$arta2/eira.../alo$ directamente para =$ca. 2 3$ ia para a ?ahia)$arta2/eira 2 volto$ a m$rm$rar. 2 !alve( no alcance mais o negócio demadeiras no %io a tempo de /ech'2lo... m transtorno... 3nm... 2 /alo$para =$ca novamente )$e esperava nervoso, ami$dando os golpes doreben)$e na bota. 2 Binte contos, creio )$e no 4 m$ito. . .  2 m$ito dinheiro. . . 2 /e( =$ca ?adaró. 2 Da)$i a oito dias chega Dr.%oberto e /a( o serviço por tr0s contos...  =oo Magalhes /e( $m gesto com o rosto e@pressando s$a completaindi/erença, como a di(er )$e ento esperassem.  2 3 m$ito dinheiro. . . 2 repeti$ =$ca ?adaró.  2 Be+a1 tr0s contos lhe cobra o agrónomo. Mas ele tem o tEt$loregistrado na ?ahia, vive disso, só volta da)$i a oito dias, se voltar. 3$ vo$ arriscar minha carreira prossional, posso at4 ser processado eperder me$ tEt$lo e at4 minha patente... Demais esto$ a passeio, vo$perder o navio e talve( $m grande negócio de centenas de contos... >eco 4 mais por simpatia )$e pelo dinheiro...  2 %econheço isso, capito. Mas 4 m$ito dinheiro. >e o senhor )$er de(

contos, 4 trato /eita, vamos amanh mesmo. . .  =oo Magalhes props $m acordo1  2 J$in(e contos..  2 >e$ capito, e$ no so$ sErio nem mascate. Posso pagar os de(contos e 4 pela pressa )$e e$ pago. >e o senhor )$er, pode receber ho+emesmo e amanh a gente embarca. . .  =oo vi$ )$e no adiantava disc$tir1  2 ?em, +' )$e vo$ /a(er o /avor, /aço completo. 3st' certo.  2 Bo$ lhe car devendo a vida toda, capito. 3$ e me$ irmo. ; senhorpode contar com a gente pro )$e )$iser..  #ntes de se despedir perg$nto$1

  2 J$er receber agora mesmo >e )$er, vamos at4 em casa...  2 ;ra, por )$em me toma.. J$ando o senhor )$iser pagar... -o h'pressa...  2 3nto podEamos nos encontrar ho+e A noite. . .  2 ; senhor +oga p)$er  &erreirinha apla$di$ ent$siasmado1  2 ?oa id4ia... &aremos $ma mesinha no cabar4.  2 !' certo 2 disse =$ca. 2 Lhe levo o dinheiro l'... 3 depois vo$ ganharele no +ogo e ca de graça a mediço. .  =oo Magalhes pilherio$ tamb4m1  2 3$ 4 )$e vo$ ganhar mais de( pacotes e cobrar os vinte )$e )$eria... Benha /orrado, se$ =$ca ?adaró...  2 &alta $m parceiro 2 aviso$ &erreirinha.

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  2 3$ levo !eodoro 2 resolve$ =$ca.  3 agora estavam ali, na sala dos /$ndos do cabar4 de -ho(inho, +ogando a)$ele p)$er =$ca ?adaró cada ve( gostava mais do Capito.3ra $m tipo dos dele, conversador, e@periente em m$lheres, contador deanedotas picantes, vivido. ; +ogo se dividia entre os dois. !eodoro e

&erreirinha perdiam, !eodoro perdia m$ito dinheiro. anhava =$caalg$m, =oo Magalhes ganhava m$ito. ; caci/e era alto, Man$el ;liveira/oi A sala de danças chamar #strogildo, $m o$tro /a(endeiro, para virapreciar o tamanho das apostas. &icaram os dois per$ando1  2 >e$s 5SY mais X8Y. . 2 di(ia !eodoro.  2 =' est' perdendo mais de dois contos. .. R m$rm$ro$ Man$el de;liveira a #strogildo. 2 -$nca vi peso ig$al.  =$ca ?adaró pago$ para ver. !eodoro mostro$ $ma trinca de nove. # de =$ca era de de(1  2 -a cabeça, compadre...  %ecolhe$ as chas. -ho(inho entrava m$ito cheio de c$mprimentos epilh4rias. !ra(ia $ma rodada de $Es)$e. Man$el de ;liveira tomo$ se$copo. Per$ava o +ogo para pegar esses biscates1 $m $Es)$e, $ma chaperdida no bacarat o$ na roleta.  2 ?om $Es)$e . . 2 disse.  ; capito =oo Magalhes estalo$ a lEng$a, aprovando1  2 Melhor )$e esse só mesmo $m )$e me vendiam no %io, )$e vinha decontrabando... m n4ctar..  !eodoro pedia silencio. !oda a gente di(ia )$e !eodoro no sabiaperder, o )$e era $ma pena, +' )$e ele +ogava m$ito e de toda classe de +ogo. Di(iam tamb4m )$e ele podia estar m$ito rico se no /osse esse

 vEcio. -os dias )$e ganhava pagava bebida para todo m$ndo, davadinheiro a m$lher, /a(ia ceias com champanha, no cabar4. Mas )$andoperdia se p$nha impossEvel, reclamava contra t$do.  2 P)$er se +oga 4 calado 2 protesto$.  &erreirinha de$ cartas. !odos /oram ao +ogo. Man$el de ;liveirasaboreava se$ $Es)$e sentado atr's da cadeira de =$ca ?adaró. -emreparava no +ogo, dedicado totalmente A bebida. Por detr's de !eodoro,em p4, o coronel #strogildo seg$ia o p)$er -o se$ rosto, )$e seapertava de desaprovaço, =oo Magalhes lia o +ogo de !eodoro. 3stepedi$ d$as cartas, #strogildo /e( $ma careta de desacordo. =ooMagalhes ento no pedi$ nenh$ma se bem só tivesse $m par

 vagab$ndo. !eodoro largo$ as cartas em cima da mesa1  2 J$ando )$ero passar $m ble/e encontro $m de +ogo /eito. . .  ;s o$tros correram tamb4m, =oo recolhe$ as chas.  -ho(inho aparece$ )$erendo saber se dese+avam alg$ma coisa mais.!eodoro o corre$ de ma$s modos1  2 B' amolar a me.. .  Ia a todas as mos e perdia sempre. Certa hora )$ando ele abandono$$m par de ases para pedir $ma carta para $sh, #strogildo no seconteve e comento$1  2 !amb4m assim voc0 só tem mesmo )$e perder. . . Isso no 4 +ogarp)$er, 4 +ogar dinheiro /ora.. . Desmanchar $m +ogo desse...  !eodoro p$lo$ da cadeira, )$eria brigar1  2 3 voc0 o )$e 4 )$e tem com isso, se$ lha da p$ta ; dinheiro e me$

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o$ 4 se$ Por )$e no se mete na s$a vida. .  #strogildo replicava1  2 &ilho da p$ta 4 voc0, se$ valento de merda. . . 2 sacava o revólver)$erendo atirar.  =$ca ?adaró e &erreirinha se meteram. =oo Magalhes proc$rava

aparentar calma, no demonstrar o medo )$e sentia. Man$el de ;liveiranem se movia da cadeira, saboreando se$$Es)$e indi/erentemente. #proveito$ a con/$so para derramar no se$copo metade da bebida do copo de &erreirinha )$e ainda estava cheio.  !inham tomado o revólver de #strogildo, tamb4m o de !eodoro. =$ca?adaró pedia calma1  2 Dois amigos... J$e besteira 4 essa... Dei@e as balas pra gastar comHor'cio e os homens dele. . .  !eodoro volto$ a sentar, ainda reclamando contra os Fper$sF. Lhedavam a(ar, di(ia. #strogildo, $m po$co p'lido, se sento$ tamb4m, desta ve( ao lado de =oo Magalhes. =ogaram mais $mas mos, &erreirinhaprops )$e /ossem dançar $m bocado na sala da /rente. Contaram aschas, =oo Magalhes ganhava )$ase tr0s contos, =$ca ?adaró tinha $ml$cro de conto e tanto. #ntes )$e saEssem =$ca /e( $m apelo a !eodoro e #strogildo1  2 Bamos acabar com isso... Isso 4 coisa mesmo de +ogo. . . # gente cade cabeça )$ente. . .  2 3le me o/ende$ 2 disse #strogildo.  !eodoro o/erece$ a mo, o o$tro aperto$. >aEram para a sala da /rentemas !eodoro no demoro$, disse )$e estava com dor de cabeça, /oi paracasa. &erreirinha comento$1

  2 3sse vai morrer assim por $ma besteira... De $m tiro sem por)$e.. .  =$ca o desc$lpava1  2 !em se$s repentes mas 4 $m homem bom. ..  # sala do cabar4 estava animada. m negro velho se rebentava emcima de $m piano, ainda mais velho )$e ele, en)$anto $m s$+eito decabeleira loira /a(ia o )$e podia com $m violino.  2 ;r)$estra r$in(inha. . . 2 /alo$ &erreirinha.  2 In/ame. . 2 re/orço$ Man$el de ;liveira.  Pares dançavam $ma valsa m$ito agarrados. M$lheres de diversasidades estavam espalhadas pelas mesas. 3m geral se bebia cerve+a, n$mao$ no$tra mesa havia copos de $Es)$e e gim. -ho(inho veio servir. =$ca

?adaró tinha antipatia aos dois garçons do cabar4 por)$e eram ambospederastas. 3ra sempre servido pelo próprio dono. 3, como ele cost$mava/a(er despesas grandes, -ho(inho servia m$ito h$milde, gastandomes$ras. &erreirinha sai$ dançando com $ma m$lher m$ito nova, nodevia ter mais de )$in(e anos. &a(ia po$co )$e aparecera na prostit$içoe &erreirinha era doido por meninas assim, Fverdinhas e tenrasF, comoe@plico$ a =oo Magalhes. ma m$lher velh$sca veio se sentar ao ladode Man$el ;liveira1  2 Paga $m pra mim, Mano 2 perg$nto$ apontando o $Es)$e.  Man$el de ;liveira cons$lto$ =$ca ?adaró com os olhos. Como esseaprovasse, chamo$ por -ho(inho e mando$ a$torit'rio1  2 ?ai@e depressa $m $Es)$e a)$i para a dama. .  # or)$estra paro$, &erreirinha começo$ a contar $m caso )$e se

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passara com ele, /a(ia tempos1  2 #)$i a gente tem )$e ser de t$do, se$ Capito. ; senhor, )$e 4engenheiro militar, vai /a(er serviço de agrónomo... 3 e$, )$e so$lavrador e ignorante, +' tive )$e ser at4 m4dico operador. . .  2 ;perador

  2 Pois assim /oi. m trabalhador da minha /a(enda engoli$ $m osso decotia, o bicho atravesso$ no estmago do desgraçado, ia matando ele.-o podia /a(er s$as necessidades, no dava tempo tamb4m de tra(erpra cidade. -o tive o$tro +eito, operei e$ mesmo. .  2 Mas como  2 #rran+ei $m arame comprido e grosso, dobrei a ponta como $man(ol, lavei com 'lcool primeiro, virei o homem de b$nda pra cima esape)$ei o arame no c$ do desin/eli(. De$ trabalho, sai$ $m bocado desang$e mas o osso sai$ tamb4m e at4 ho+e o homem t' vivo.. .  2 &ormid'vel, hein  2 3sse &erreirinha. . .  2 ; pior /oi a /ama depois, se$ capito. Binha gente de longe meproc$rar para se tratar. . . >e e$ desse de botar cons$ltório arr$inavam$ito m4dico bom.. .  %i$, riram todos com ele. =$ca ?adaró /alo$1  2 # gente tem mesmo )$e ser t$do. !em tabar4$ da)$i, capito, )$e d'liço em advogado. . .  2 !erra de /$t$ro. . . 2 elogio$ =oo Magalhes.  Man$el de ;liveira combinava encontros com a prostit$ta velha. =$ca?adaró só tinha olhos para Margot )$e estava no$tra mesa com Dr. BirgElio. #strogildo acompanho$ o se$ olhar, penso$ )$e ele estivesse

mirando o advogado1  2 3sse 4 o tal Dr. BirgElio )$e /e( o Fca@i@eF da mediço. . .  2 =' sei 2 responde$ =$ca. 2 Conheço ele.  =oo Magalhes olho$ tamb4m e c$mprimento$ Margot com a cabeça. =$ca ?adaró )$is saber1  2 ; senhor conhece ela  2 >e conheço... >e dava m$ito com $ma pe)$ena )$e e$ tinha na?ahia, de nome Bioleta. !' com do$tor BirgElio h' dois anos.  2 bonita. . . 2 /e( =$ca ?adaró.  =oo Magalhes compreende$ )$e ele estava interessado na m$lher. Bia nos olhos )$e ele p$nha, na vo( com )$e di(ia )$e ela era bonita.

Penso$ em tirar partido1  2 3 $m pedaço. . . M$ito minha amiga. . .  =$ca viro$ para ele. =oo Magalhes disse n$m tom de indi/erença,como )$e no acaso1  2 3la se hospeda em casa de Machado. #manh )$ando ela tiver só, vo$ lhe /a(er $ma visita. -o gosto de ir )$ando est' o do$tor, por)$e ele4 m$ito ci$mento. 3la 4 m$ito dada, boa menina.. .  2 #manh o senhor no vai poder, capito. De manh(inha sai para aroça. -o trem das oito da manh.  2 3 verdade. 3nto vo$ )$ando voltar. . .  #strogildo comentava1  2 3 $m m$lhero.  -a mesa pró@ima Margot e BirgElio conversavam animadamente. 3la

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estava agitada, movia os braços e a cabeça.  2 3sto disc$tindo. . . 2 disse =$ca.  2 Bivem brigando. . . 2 in/ormo$ a velha )$e estava com Man$el de;liveira.  2 Como 4 )$e t$ sabe

  2 Machado me conto$... 3 cada escOndalo...  Mandaram vir mais $Es)$e # or)$estra toco$, Margot e BirgElio saEramdançando, mas ainda na dança disc$tiam. -o meio da m<sica Margotlargo$ o braço de BirgElio e sento$2se. ; advogado co$ $m momentosem saber o )$e /a(er, mas logo chamo$ o garço, pago$ a despesa,tomo$ o chap4$ )$e estava n$ma cadeira e sai$.  2 3sto brigando. . . 2 disse =$ca ?adaró.  2 Desta ve( parece coisa s4ria. . . 2 /alo$ a m$lher.  Margot agora olhava a sala proc$rando aparentar indi/erença. =$ca?adaró c$rvo$2se na cadeira /alo$ bai@inho para =oo Magalhes1  2 ; senhor )$er me /a(er $m /avor, Capito  #s ordens...  2 Me apresente a ela...  =oo Magalhes olho$ o /a(endeiro com pro/$ndo interesse. &a(iaplanos. Desta terra do caca$, sairia rico.

&

  -a noite lErica de l$a cheia, BirgElio seg$ia pelo leito da estrada de/erro. >e$ coraço ia aos p$los, +' nem se lembrava da cena violenta comMargot no cabar4. J$ando, por $m min$to, penso$ nela, /oi para

encolher os ombros com indi/erença. 3ra melhor )$e a)$ilo terminassede $ma ve(. 3le a )$isera levar para casa, dissera )$e tinha $m negócio)$e o prenderia /ora at4 m$ito tarde, por isso no podia car com ela.Margot, )$e +' andava desconada, com a p$lga atr's da orelha, noaceito$ desc$lpas1 o$ ele ia com ela para casa o$ ela caria no cabar4 eestaria t$do acabado entre eles. >em saber mesmo por )$e, ele proc$ravaconvence2la de )$e e@istia $m negócio importante, de )$e ela devia irpara casa e dormir. 3la se negara, terminara brigando e ele saEra semse)$er se despedir. !alve( agora ela estivesse sentada A mesa de =$ca?adaró. Com a presença dele Margot o havia ameaçado1  2 J$e me importa Homem no me /alta. só ver os olhos )$e =$ca

?adaró t' me botando...  #)$ilo no o molestava. 3ra melhor assim, )$e ela se /osse com o$tro,seria a melhor das sol$çKes. J$ando penso$ nisso, sorri$. Como as coisasm$davam com o tempo >e $m ano antes ele pensasse em Margot como$tro homem, era capa( at4 de perder a cabeça e /a(er $ma besteira.Certa ve(, na FPenso #mericanaF, na ?ahia, ele /e( $m escOndalo, brigo$e acabo$ na polEcia, só por)$e $m rapa( )$al)$er dissera $ma piada aMargot. #gora se sente at4 aliviado ao saber )$e =$ca ?adaró est'interessado nela, )$e vive de olho espichado para as carnes da s$aamante. >orri$ novamente. =$ca ?adaró só tinha motivos para odi'2lo,

 BirgElio era o advogado de Hor'cio. 3, no entanto, sem o saber, =$ca lheestava prestando $m grande /avor.

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  Mas, no leito da estrada, proc$rando acertar o passo pela distOnciados dormentes, ele +' no pensava em Margot. -essa noite se$s olhosen@ergavam a bele(a do m$ndo1 a l$a cheia se derramando sobre a terra,as estrelas enchendo o c4$ da cidade, os grilos )$e cantavam no matorralem torno. m trem de carga apito$ ao longe e BirgElio abandono$ o leito

da estrada. Ia +$nto aos /$ndos das casas, grandes )$intais silenciosos.-$m porto $m casal se amava. BirgElio se desvio$ para )$e no oconhecessem. -$m porto mais adiante 3ster o esperava.  # casa nova de Hor'cio em Ilh4$s, Fo palaceteF, como o chamava todagente, cava na cidade nova, constr$çKes )$e nasciam na praia,derr$bando os co)$eiros. !odas estas casas davam os /$ndos para aestrada de /erro. ma companhia se organi(ara, comprara os terrenosplantados de co)$eiros e os vendia em lotes. #E Hor'cio, depois decasado, constr$Era se$ sobrado, $m dos melhores de Ilh4$s, os ti+olos/eitos especialmente na olaria da /a(enda, cortinas e moveis mandados virdo %io de =aneiro. -os /$ndos do palacete, 3ster estar' esperandotrem$la de medo, ansiosa de amor.  BirgElio apressa o passo. =' est' atrasado, a briga com Margot (eracom )$e ele saEsse depois da hora. ; trem de carga passa por eleil$minando t$do com se$s holo/otes poderosos. BirgElio p'ra, esperando)$e ele se v', e toma de novo pelo leito da estrada. Dera trabalhoconvencer a ster )$e o viesse esperar no porto, para poderem /alartran)$ilamente. 3la tinha medo das empregadas, das m's2lEng$as deIlh4$s, e tinha medo )$e $m dia Hor'cio viesse a saber. ; caso de amordeles dois at4 ento no passara de $m namoro de longe, palavrastrocadas rapidamente, $ma carta )$e ele escrevera, longa e ardente, $m

bilhete de resposta de 3ster com d$as o$ tr0s palavras apenas1 F!e amo,mas 4 impossEvelF, apertos de mo no cr$(ar de portas, olhares /$ndos dedese+o. 3 pensavam )$e, como era to po$co, ning$4m tinha ainda sedado conta, no imaginavam se)$er )$e toda Ilh4$s comentava o caso,considerando2os amantes, rindo de Hor'cio. Depois da carta, )$andoHor'cio voltara para a /a(enda, ele (era $ma visita a 3ster. 3ra $ma verdadeira lo$c$ra desaar assim o poder de m$rm$raço da cidade.3ster o disse, pedindo )$e ele /osse embora. 3 para )$e ele /osse, elaprometera se encontrar com ele, na noite seg$inte, no porto. ele )$iserabei+'2la, ela /$gira.  ; coraço de BirgElio est' como o de $m adolescente enamorado.

P$lsa com a mesma rapide(, sente a bele(a da noite com a mesmaintensidade. #li 4 o porto dos /$ndos do palacete de Hor'cio. BirgElio seapro@ima trem$lo e comovido.  ; porto est' semi2encostado, ele emp$rra e entra. >ob $ma 'rvoreenvolta n$ma capa, banhada pela l$a, ster o espera. Corre para ela,toma2lhe das mos1  2 Me$ amor  ; corpo dela treme, se abraçam os dois, as palavras so in<teis aol$ar.  2 J$ero te levar comigo, embora. Para longe da)$i, para longe detodos, constr$ir o$tra vida.  3la chora mansamente, s$a cabeça no peito dele. Dos cabelos dela vem $m per/$me )$e completa a bele(a e o mist4rio da noite. ; vento

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tra( o r$Edo do mar )$e est' do o$tro lado e se con/$nde com o chorodela.  2 Me$ amor  3 o primeiro bei+o, tem todo o mist4rio do m$ndo, toda a bele(a danoite, grande como a vida e como a morte.

  2 Me$ amor  2 3 impossEvel, BirgElio. !em me$ lho. # gente no pode /a(er isso..  2 -ós levamos ele tamb4m... Bamos para longe, para o$tras terras...;nde ning$4m conheça a gente...  2 Hor'cio ir' atr's da gente at4 no m do m$ndo. . .  Mais )$e as palavras, os bei+os lo$cos de amor sabem convencer. # l$ados namorados se debr$ça sobre eles. -ascem estrelas no ,c4$ da cidadede Ilh4$s. 3ster pensa em soror #ng4lica1 voltava os tempos em )$e erapossEvel sonhar. 3 reali(ar os sonhos tamb4m. &echo$ os olhos sob asmos de BirgElio no se$ corpo.  Debai@o da capa, BirgElio encontro$ n$inho o corpo de 3ster. Cama del$ar, lençol de estrelas, s$spiros da hora da morte )$e so os s$spiros eos ais da hora e@trema do amor.  2 Bo$ contigo, me$ amor, para onde t$ )$iseres. . .  Completo$ morrendo nos braços dele1  #t4 para a morte. .

-

  ; capito =oo Magalhes sorria da o$tra mesa. Margot sorri$tamb4m. ; capito levanto$2se, veio apertar s$a mo1

  2 >o(inha  2 Pois 4. . .  2 ?rigaram  2 !' t$do terminado.  2 De verdade ;$ 4 como das o$tras ve(es  2 Desta ve( se acabo$. -o so$ m$lher pra so/rer des/eitas...  =oo Magalhes tomo$ $m ar conspirativo1  2 Pois e$, como amigo, te digo, Margot, )$e isso 4 $m alto negóciopara ti. >ei de gente da)$i, cheia de dinheiro, )$e est' de orelha m$rchapor voc0. #gora mesmo. . .  2 =$ca ?adaró... 2 atalho$ ela.

  ; capito =oo Magalhes /e( com a cabeça )$e sim1  2 !' pelo beiço...  Margot estava cansada de saber1  2 -o 4 de ho+e )$e sei disso.. . Desde o navio ele de$ em cima de mim.3$ no topei, tava mesmo enrabichada com BirgElio...  2 3 agora  Margot ri$1  2 #gora 4 o$tra conversa. J$em sabe...  ; capito tomo$ $m ar protetor, de$ conselhos*  2 Dei@e de ser boba, menina, trate de encher se$ p42de 2meia en)$anto

4 moça. 3sse negócio de amante pobre, minha lha, só serve para m$lhercasada com homem rico. . .

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  3la se dei@ara convencer1  2 3$ /$i boba mesmo. -a ?ahia tava assim R +$ntava os dedos n$mgesto 2 de gente rica atr's de mim. !$ sabe...  ; capito apoio$ com a cabeça. Margot se lamentava1  2 3 e$, /eito tro$@a, atr's de BirgElio. Me so)$ei nessas brenhas, vivia

remendando meia em !abocas... #gora acabo$..  2 !$ )$er ser apresentada a =$ca ?adaró  2 3le pedi$  2 !' doidinho. . .  ; capito =oo Magalhes volto$2se na cadeira, chamo$ com o dedo. =$ca ?adaró se levanto$, abotoo$ o paletó, veio sorrindo. J$ando ele saEada mesa, #strogildo comento$ para Man$el de ;liveira e &erreirinha1  2 Isso vai terminar em bar$lho. . .  2 !$do em Ilh4$s termina em bar$lho... R responde$ o +ornalista.  =$ca chegava +$nto A mesa, =oo Magalhes )$is /a(er asapresentaçKes, mas Margot no de$ tempo1  2 -ós +' nos conhecemos. ma ve( o coronel me marco$ de belisco.  =$ca ri$ tamb4m.  2 3 vosmec0 /$gi$, n$nca mais p$s os olhos em cima de s$a carnaço...>abia )$e andava por !abocas, tenho ido l' mas no lhe vi. Di( )$e tavacasada, e$ respeitei..  2 >e divorcio$.. . 2 an$ncio$ =oo Magalhes.  2 ?rigo$  Margot no )$eria dar grandes e@plicaçKes1  2 Me dei@o$ por $m negócio, no so$ m$lher pra se trocar pornegócios...

  =$ca ?adaró ri$ de novo1  2 Ilh4$s inteiro sabe )$e negócio 4 esse...  Margot /ran(i$ o rosto1  2 J$e 4  =$ca ?adaró no tinha papas na lEng$a1  2 a m$lher de Hor'cio, a dona 3ster.. ; do$tor(inho anda metidocom ela...  Margot morde$ os l'bios. Ho$ve $m silencio, aproveitado por =ooMagalhes para se retirar e voltar para a s$a mesa. Margot perg$nto$1  2 verdade  -o so$ homem pra mentiras...

  3la ento ri$ largamente e perg$nto$ com a vo( a/etada1  2 -o me o/erece nada para beber  =$ca ?adaró chamo$ por -ho(inho1  2 ?ai@e champanha...  J$ando encheram as taças, ele disse para Margot1  2 ma ve( lhe ( $ma proposta no navio. >e arrecorda  2 Me lembro, sim.  2 !o$ /a(endo ela de novo. ?oto casa pra vosmec0, lhe do$ de t$do. >ó)$e m$lher minha 4 minha só e de mais ning$4m. . .  3la vi$ o anel no dedo dele, tomo$2lhe a mo, elogio$1  2 ?onito  =$ca ?adaró tiro$ o anel, eno$ n$m dedo de Margot1  2 3 para vosmec0. . .

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  >aEram b0bedos os dois pela madr$gada, eles e mais Man$el ;liveira,)$e, mal vira o espo$car das garra/as de champanha, se chegara para amesa e bebera mais )$e os dois +$ntos. Ia $m /rio matinal pelo cais deIlh4$s. Margot cantava, o +ornalista /a(ia coro, =$ca ?adaró dava pressapois tinha de sair no trem das oito. ;s pescadores +' chegavam das s$as

pescarias no alto mar.

  ma ordenança m$nicipal proibia )$e as tropas de b$rros )$e tra(iamcaca$ chegassem at4 o centro da cidade. #s r$as centrais de Ilh4$s eramcalçadas todas elas e d$as o eram de paralelepEpedos, n$m sinal deprogresso )$e inchava de vaidade o peito dos moradores. #s tropasparavam nas r$as pró@imas A estaço e o caca$ entrava na cidade emcarroças p$@adas par cavalos. 3ra depositado nos grandes arma(4nspró@imos ao porto. #li's, $ma grande parte do caca$, )$e chegava aIlh4$s para ser embarcado, no descia mais no lombo dos b$rros1 vinhapela 3strada de &erro o$ bai@ava em canoas desde o ?anco2da2Bitória,pelo rio Cachoeira, )$e desembocava no porto.  ; porto de Ilh4$s era a preoc$paço maior dos moradores. -a)$eletempo e@istia apenas $ma ponte onde atracar os navios. J$ando coincidiachegar mais de $m navio na mesma manh, a mercadoria de $m deles eradesembarcada em canoas. Por4m +' se /$ndara $ma sociedade annimapara beneciar e e@plorar o porto de Ilh4$s, /alava2se em constr$ir maispontes de atracaço e grandes docas. &alava2se tamb4m, e m$ito, emmelhorar a entrada perigosa da barra, em /a(er vir dragas )$e a

apro/$ndassem.  Ilh4$s nascera sobre ilhas, o corpo maior da cidade n$ma ponta deterra, apertado entre dois morros. Ilh4$s s$bira por esses morros 2 o donho e o da Con)$ista 2 e invadira tamb4m as ilhas vi(inhas. -$madelas cava o arrabalde de Pontal onde a gente rica da cidade tinha s$ascasas de veraneio. # pop$laço crescia ass$stadoramente desde )$e alavo$ra do caca$ se estendera. Por Ilh4$s saEa para a ?ahia )$ase toda aprod$ço do s$l do 3stado. Havia apenas $m o$tro porto 2 ?arra do %io2de2Contas 2 e esse era $m porto pe)$enEssimo, onde só os barcos a veladavam calado. ;s moradores de Ilh4$s sonhavam em e@portar alg$m diao caca$ directamente, sem ter )$e mand'2lo para a ?ahia. 3ra $m

ass$nto )$e estava sempre nos +ornais1 o apro/$ndamento da barra )$eno dava passagem a navios de grande calado. ; +ornal da oposiço oaproveitava para atacar o governo, o +ornal governista $sava deletamb4m noticiando de )$ando em ve( )$e o Fm$ito digno e operosopre/eito m$nicipal estava em negociaçKes com os governos estad$al e/ederal para conseg$ir, nalmente, $ma sol$ço satis/atória para a)$esto do porto de Ilh4$sF. Mas a verdade 4 )$e o ass$nto n$nca iaadiante, o governo estad$al p$nha travas, protegendo a renda do portoda ?ahia. Mas a )$esto das obras do porto servia para encher, )$asecom as mesmas palavras, as plata/ormas governamentais de ambos os

candidatos A Pre/eit$ra1 o governista e o da oposiço. M$davam somenteo estilo1 a plata/orma do candidato dos ?adarós era escrita pelo Dr.

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enaro, a do candidato de Hor'cio se devia A pena, m$ito mais brilhante,do Dr. %$i.  3m Ilh4$s podia se medir a /ort$na dos coron4is pelas casas )$eposs$Eam. Cada )$al levantava $ma casa melhor e aos po$cos as /amEliasiam se acost$mando a demorar mais na cidade )$e nas /a(endas. #inda

assim essas casas passavam /echadas grande parte do ano, habitadassomente por ocasio das /estas da Igre+a. 3ra $ma cidade sem diversKes,apenas os homens tinham o cabar4 e os bote)$ins onde os ingleses da3strada de &erro matavam a s$a melancolia bebendo $Es)$e e +ogandodados e onde os grapi<nas trocavam disc$ssKes e tiros. #s m$lheresrestavam como <nicas diversKes as visitas de /amElia a /amElia, oscoment'rios sobre a vida alheia, o ent$siasmo posto nas /estas da Igre+a. #gora, com o inEcio da constr$ço do col4gio das /reiras, alg$massenhoras se haviam organi(ado para conseg$ir /$ndos para as obras. 3reali(avam )$ermesses e bailes onde /a(iam coletas. # Igre+a de >o =orge, padroeiro da terra, grande e bai@a, sem bele(a ar)$itectónica masrica em o$ro no se$ interior, dominava $ma praça onde se plantara $m +ardim. 3@istia tamb4m a Igre+a de >o >ebastio, pró@ima ao cabar4, em/rente ao mar. 3 no morro da Con)$ista estava na /rente do cemit4rio acapela de -ossa >enhora da Bitória, dominando a cidade desde o alto.3@istia tamb4m $m c$lto protestante )$e servia aos ingleses da 3strada eao )$al haviam aderido $ns )$antos moradores. ; mais, em mat4riareligiosa, eram as v'rias FsessKes espEritasF nas r$as de canto,proli/erando cada dia mais. #li's, a cidade de Ilh4$s com os se$spovoados e as s$as /a(endas de caca$, tinha m' /ama na #rcebispado da?ahia. M$ito se comentava ali a /alta de religiosidade dos habitantes, as

missas desertas de homens, a prostit$iço sendo enorme, a /alta desentimentos religiosos verdadeiramente assombrosa1 $ma terra deassassinos. 3ra pe)$eno o n<mero de padres da cidade e do m$nicEpio,em relaço ao n<mero de advogados e m4dicos. 3 v'rios desses padres seconvertiam, com o correr do tempo, em /a(endeiros de caca$, po$co sepreoc$pando com a salvaço das almas. Citava2se o caso do Padre Paiva,)$e levava sob a batina $m revólver e no se pert$rbava se acontecia $mbar$lho perto dele. ; Padre Paiva era ca$dilho polEtico dos ?adarós emM$t$ns, nas eleiçKes tra(ia levas de eleitores, di(iam )$e ele prometia verdadeiros pedaços do paraEso e m$itos anos de vida celestial aos )$e)$isessem votar com ele. 3ra vereador em Ilh4$s e no se interessava o

mEnimo pela vida religiosa da cidade. =' o cónego &reitas se interessava.Certa ve( (era $m sermo )$e cara c4lebre por)$e comparava odinheiro gasto pelos coron4is no cabar4, com as m$lheres de m' vida,com o po$co dinheiro recoletado para as obras do col4gio das /reiras.&ora $m sermo violento e apai@onado mas sem nenh$m res$ltadopr'tico. # Igre+a vivia das m$lheres e estas viviam dela, das missas, dasprocissKes, das /estas de >emana >anta. Mist$ravam o coment'rio da vida alheia com o en/eitar os altares, com o /a(er novas t<nicas para asimagens dos santos.

 # cidade cava entre o rio e o mar, praias belEssimas, os co)$eirosnascendo ao largo de todo o areal. m poeta )$e certa ve( passara porIlh4$s e dera $ma con/er0ncia, a chamara de Fcidade das palmeiras ao ventoF, n$ma imagem )$e os +ornais locais repetiam de )$ando em ve(.

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  # verdade, por4m, 4 )$e as palmeiras apenas nasciam nas praias e sedei@avam balançar pelo vento. # 'rvore )$e in$Ea em Ilh4$s era a 'rvoredo caca$, se bem no se visse nenh$ma em toda a cidade. Mas era ela)$e estava por detr's de toda a vida de >o =orge dos Ilh4$s. Por detr'sde cada negócio )$e era /eito, de cada casa constr$Eda, de cada arma(4m,

de cada lo+a )$e era aberta, de cada caso de amor, de cada tiro trocadona r$a. -o havia conversaço em )$e a palavra caca$ no entrassecomo elemento primordial. 3 sobre a cidade pairava, vindo dos arma(4nsde depósito, dos vagKes de estrada de /erro dos porKes dos navios, dascarroças e da gente, $m cheiro de chocolate, )$e 4 o cheiro do caca$seco.  3@istia o$tra ordenança m$nicipal )$e proibia o porte de armas. Masm$ito po$cas pessoas sabiam )$e ela e@istia e, mesmo a)$eles po$cos)$e o sabiam, no pensavam em respeit'2la. ;s homens passavam,calçados de botas o$ de botinas de co$ro grosso, a calça c')$i, o paletóde casimira, e por bai@o deste o revólver. Homens de repetiço a tiracoloatravessavam a cidade sob a indi/erença dos moradores. #pesar do )$e +'e@istia de assentado, de denitivo, em Ilh4$s, os grandes sobrados, asr$as calçadas, as casas de pedra e cal, ainda assim restava na cidade $mcerto ar de acampamento. Por ve(es, )$ando chegavam os naviosabarrotados de emigrantes vindos do serto, de >ergipe e do Cear',)$ando as pensKes de perto da estaço no tinham mais l$gar de tocheias, ento barracas eram armadas na /rente do porto. Improvisavam2se co(inhas, os coron4is vinham ali escolher trabalhadores. Dr. %$i, certa ve(, mostrara $m da)$eles acampamentos a $m visitante da capital1  2 #)$i 4 o mercado de escravos. . .

  Di(ia com $mG certo org$lho e certo despre(o, era assim )$e eleamava a)$ela cidade )$e nascera de repente, lha do porto, amamentadapelo caca$, +' se tornando a mais rica do 3stado, a mais prósperatamb4m. 3@istiam po$cos ilheenses de nascimento )$e +' tivessemimportOncia na vida da cidade. J$ase todos, /a(endeiros, m4dicos,advogados, agrónomos, polEticos, +ornalistas e mestres de obras eramgente vinda de /ora, de o$tros 3stados. Mas amavam entranhadamentea)$ela terra avent$rosa e rica. !odos se di(iam grapi<nas e )$andoestavam na ?ahia, em toda parte eram /acilmente reconhecEveis peloorg$lho com )$e /alavam.  2 #)$ele 4 $m ilheense... 2 di(iam.

  -os cabar4s e nas casas de negócios da capital eles arrotavam valentia e ri)$e(a, gastando dinheiro, comprando do bom e do melhor,pagando sem disc$tir preços, topando bar$lhos sem disc$tir o por)$e.-as casas de rameiras, na ?ahia, eram respeitados, temidos, eansiosamente esperados. 3 tamb4m nas casas e@portadoras de prod$tospara o interior, os comerciantes de Ilh4$s eram tratados com a maiorconsideraço, tinham cr4dito ilimitado.  De todo o -orte do ?rasil descia gente para essas terras do >$l da?ahia. # /ama corria longe, di(iam )$e o dinheiro rodava na r$a, )$ening$4m /a(ia caso, em Ilh4$s, de prata de dois mil2r4is. ;s navioschegavam ent$pidos de emigrantes, vinham avent$reiros de toda aesp4cie, m$lheres de toda a idade, para )$em Ilh4$s era a primeira o$ a<ltima esperança.

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  -a cidade todos se mist$ravam, o pobre de ho+e podia ser o rico deamanh, o tropeiro de agora poderia ter amanh $ma grande /a(enda decaca$, o trabalhador )$e no sabia ler poderia ser $m dia che/e polEticorespeitado. Citavam2se e@emplos e citava2se sempre Hor'cio, )$ecomeçara tropeiro e agora era dos maiores /a(endeiros da (ona. 3 o rico

de ho+e poderia ser o pobre de amanh se $m mais rico, +$nto com $madvogado, (esse $m Fca@i@eF bem /eito e tomasse s$a terra. 3 todos os vivos de ho+e poderiam amanh estar mortos na r$a, com $ma bala nopeito. Por cima da +$stiça. do +$i( e do promotor, do +<ri de cidados,estava a lei do gatilho, <ltima instOncia da +$stiça de Ilh4$s.  # cidade por a)$ele tempo começava a se abrir em +ardins, om$nicEpio contactara $m +ardineiro /amoso na capital. ; +ornal daoposiço atacara di(endo )$e Fm$ito mais )$e de +ardins Ilh4$s precisavade estradasF. Mas, mesmo os oposicionistas mostravam org$lhosos aos visitantes as ores )$e cresciam nas praças antes plantadas de capim. 3)$anto As estradas, os homens e os b$rros as iam abrindo no se$ passoem b$sca de caminhos para tra(er o se$ caca$ at4 o porto de Ilh4$s, at4 omar dos navios e das viagens. 3ra assim o porto de >o =orge dos Ilh4$s,)$e começava a aparecer nos mapas económicos mais novos, cobertospor $ma planta de caca$.

  ; +ornal da oposiço, F# &olha de Ilh4$sF, )$e saEa aos s'bados,ress$mava na)$ele n<mero $ma viol0ncia ina$dita. 3ra dirigida por&ilemon #ndr4ia $m e@2al/aiate )$e viera da ?ahia para Ilh4$s, onde

abandonara a prosso. Constava na cidade )$e &ilemon era incapa( deescrever $ma linha, )$e mesmo os artigos )$e assinava eram escritos poro$tros, ele no passava de $m testa2de2/erro. Por )$e ele terminaradirector do +ornal da oposiço ning$4m sabia. #ntes /a(ia trabalhospolEticos para Hor'cio, e, )$ando este compro$ a m')$ina impressora eas cai@as de tipos para o seman'rio, toda a gente se s$rpreende$ com aescolha de &ilemon #ndr4ia para director.  2 >e ele mal sabe ler...  2 Mas tem $m nome de intelect$al. .. 2 e@plico$ Dr. %$i. 2 >oa bem... 3$ma )$esto de est4tica... R enchia a boca para pron$nciar 2 &ilemon #ndr4ia -ome de grande poeta. 2 concl$Ea.

  # gente de Ilh4$s responsabili(ava em geral o Dr. %$i pelos artigos deF# &olha de Ilh4$sF. 3 se /ormavam verdadeiros gr$pos torcedores)$ando, em 4poca de eleiçKes, F# &olha de Ilh4$sF e F; Com4rcioFiniciavam $ma da)$elas polemicas cheias de ad+ectivos ins$lt$osos. De$m lado o Dr. %$i, com se$ estilo palavroso e de /rases redondas eempoladas, de o$tro lado Man$el de ;liveira e por ve(es Dr. enaro.Man$el de ;liveira era prossional de imprensa. !rabalhava em v'rios +ornais da ?ahia at4 )$e =$ca ?adaró, )$e o conhecera nos cabar4s dacapital, o contratara para dirigir F; ComercioF. 3ra mais 'gil e maisdirecto, )$ase sempre /a(ia mais s$cesso. )$anto aos artigos do Dr.

enaro, eram cheios de citaçKes +$rEdicas, o advogado dos ?adarós erageralmente considerado o homem mais c$lto da cidade, /alava2se com

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admiraço das centenas de livros )$e ele poss$Ea. #demais levava $ma vida m$ito reservada, vivendo com se$s dois lhos sem )$ase sair decasa, sem aparecer nos bote)$ins, sem ir ao cabar4. 3ra abst4mio, e,)$anto a m$lheres, di(iam )$e Machado ia $ma o$ d$as ve(es por m0s As$a casa e dormia com ele. Machado +' estava velha, viera para a cidade

)$ando ela apenas começava a crescer, /ora a grande sensaço /emininade Ilh4$s h' vinte anos passados. #gora tinha $ma casa de m$lheres, no/a(ia mais a vida. #bria e@ceço apenas para o Dr. enaro )$e, seg$ndoela, no se acost$mava com o$tra m$lher.  !alve( /osse por isso )$e o artigo de /$ndo de F# &olha de Ilh4$sF, )$eoc$pava )$ase toda a primeira p'gina do pe)$eno seman'rio daoposiço, neste s'bado, chamava o Dr. enaro de F+es$Eta hipócritaF. 3ele era, nesse dia, o menos atacado de todos os amigos dos ?adarós. ;artigo se devia ao inc0ndio do cartório de BenOncio em !abocas. F# &olhade Ilh4$sF condenava de $ma maneira violenta a)$ele Fato de barbarismo)$e dep$nha contra os /oros de terra civili(ada de )$e go(ava om$nicEpio de Ilh4$s no conceito do paEsF. ; coronel !eodoro re$nia emtorno a se$ nome, nas col$nas do seman'rio, $ma magnEca colecço des$bstantivos e ad+ectivos ins$ltantes1 FbandidoF, F4brio habit$alF,F+ogador de prosso e tend0nciasF, Falma s'dicaF, Findigno de habitar$ma terra c$ltaF, Fsedento de sang$eF. #inda assim restava para os?adarós. =$ca aparecia como Fcon)$istador barato de m$lheres /'ceisF,como Fdesp$dorado protetor de rameiras e bandidosF e a >inh o +ornal/a(ia as ac$saçKes de sempre1 Fca@i@eiroF, Fche/e de +ag$nçosF, Fdono de/ort$na mal ad)$iridaF, Frespons'vel pela morte de de(enas de homensF,Fche/e polEtico sem escr<p$losF.

  ; artigo reclamava +$stiça. Di(ia )$e legalmente no havia comodisc$tir a propriedade da mata de >e)$eiro rande. J$e a mata /oramedida e o se$ tEt$lo de propriedade registrado no cartório. 3 )$e noera propriedade de $m só e, sim, de diversos lavradores. Havia entre elesdois, /a(endeiros /ortes, 4 verdade. Mas a maioria R contin$ava o +ornal 2eram pe)$enos lavradores. ; )$e os ?adarós dese+avam era se apossarda mata para eles só, pre+$dicando assim no só os legEtimospropriet'rios como tamb4m o progresso da (ona, a s$bdiviso dapropriedade )$e Fera $ma tend0ncia do s4c$lo, como se podia comprovarcom o e@emplo da &rançaF. #rmava )$e o coronel Hor'cio, progressistae adiantado, ao resolver derr$bar e plantar de caca$ a mata de >e)$eiro

rande, pensara no somente nos se$s interesses partic$lares. Pensaratamb4m no progresso do m$nicEpio e associara A s$a empresa civili(adoratodos os pe)$enos lavradores )$e limitavam com a mata. Isso se chamavaser $m cidado <til e bom. Como pensar em compar'2lo com os ?adarós,Fambiciosos sem escr<p$losF, )$e olhavam apenas os se$s interessespessoais F# &olha de Ilh4$sF terminava se$ artigo an$nciando )$eHor'cio e os demais legEtimos propriet'rios de >e)$eiro rande iriamrecorrer aos trib$nais e )$e, )$anto ao )$e s$cedesse se os ?adaróstentassem impedir a derr$ba e o plantio da mata, eles, os ?adarós eramos respons'veis. 3les haviam iniciado o $so da viol0ncia. # c$lpa eradeles pelo )$e viesse depois. ; artigo terminava com $ma citaço emlatim1 Falea +acta estF.  ;s leitores habit$ais das polemicas caram e@citadEssimos. #l4m de

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)$e se an$nciava $ma polemica de viol0ncia sem precedentes, notavam)$e este artigo no era do Dr. %$i, conheciam o estilo deste de longe. Dr.%$i era m$ito mais retórico, m$ito bom n$m disc$rso no +<ri mas sem amesma /orça no +ornal. 3 este artigo revelava $m homem mais en4rgico,de raciocEnio mais claro e ad+ectivos mais d$ros. -o tardo$ )$e se

so$besse )$e o a$tor do artigo era o Dr. BirgElio, o novo advogado dopartido )$e residia em !abocas mas )$e estava em Ilh4$s na)$eles dias.&ora o próprio Dr. %$i, a )$em alg$ns haviam dado os parab4ns peloartigo, )$em revelara a identidade do a$tor. #crescentava )$e BirgElioera directamente interessado no ass$nto, +' )$e /ora ele o a$tor doregistro da mata de >e)$eiro rande no cartório )$e !eodoro incendiara. #s m's2lEng$as no dei@aram de di(er )$e ele estava interessado era naesposa de Hor'cio. 3 go(avam de antemo a maneira como, sem d<vida,F; Com4rcioF, na s$a ediço de )$inta2/eira, comentaria esse aspecto da vida Entima do advogado e de Hor'cio.  Mas, para s$rpresa geral, F; Com4rcioF na s$a resposta ao artigo,resposta )$e no pecava pela serenidade, desconhece$ o ass$nto /amiliar)$e a cidade comentava. #li's, no inEcio do se$ artigo, F; Com4rcioFan$nciava aos se$s leitores )$e no iria $sar da Fling$agem de ,esgotoFdo Fpas)$imF )$e to vilmente atacara os ?adarós e os se$scorreligion'rios. -em tampo$co se envolver na vida privada de )$em)$er )$e /osse, como era h'bito do s$+o órgo da oposiço. 3m relaço aessa <ltima armativa no a c$mpri$ seno a meias, +' )$e rememoravatoda a vida de Hor'cio Fesse e@2tropeiro )$e enri)$ecera ning$4m sabecomoF, mist$rando casos p<blicos com o processo pela morte dos tr0shomens 9Fescapo$ da +$sta condenaço devido A chicana de advogados

)$e desmorali(avam a prosso, mas no escapo$ da condenaçop<blicaF: com coisas m$ito pessoais como a morte de s$a primeira esposa9Fos misteriosos casos /amiliares de parentes desaparecidos s$bitamentee enterrados A noiteF:. 3, )$anto A )$esto da ling$agem, aE ento F;Com4rcioF no c$mpria absol$tamente a promessa /eita. Hor'cio eratratado de assassino para bai@o. ; Dr. %$i era o Fcachaceiro inveteradoF,o Fco de la )$e latia e no sabiamorderF, o Fma$ pai de /amElia )$e vivia nos bote)$ins sem se preoc$parcom os lhos e a esposaF. Mas )$em levava os ad+ectivos mais violentosera o Dr. BirgElio. Man$el ;liveira começara o trecho sobre o advogadodi(endo )$e Fdese+ara molhar s$a pena n$m esgoto para escrever o nome

do Dr. BirgElio CabralF. Com essas palavras iniciava F; Com4rcioF $maFres$mida biograa do advogadoF, )$e no era to res$mida assim. Binhados tempos de acad4mico, relembrava as /arras de BirgElio na ?ahia, Facara mais conhecida em todos os prostEb$los da capitalF, as s$asdic$ldades para terminar o c$rso1 Ftendo )$e viver das migalhas caEdasda mesa deste corvo )$e 4 >eabraF. Margot entrava em cena, se bem se$nome no aparecesse. Di(ia o trecho1

  F-o /oram, no entanto, somente polEticos de m' /ama )$e encheram apança do est$dante malandro e desordeiro. ma elegante cocote / oi vitima dos se$s h'bitos de chantagista. !endo enganado a +ovem bele(a, oest$dante sala/r'rio vive$ As c$stas dela e, As c$stas deste dinheiroad)$irido na cama, o Dr. BirgElio Cabral conseg$i$ se$ tEt$lo de bacharel

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em direito. -o 4 preciso acrescentar )$e* depois de /ormado e de estar aserviço do tropeiro Hor'cio, o mal2agradecido abandono$ a s$a vitima,a)$ela boa e bela criat$ra )$e o a+$dara, nos vaiv4ns da sorte.F

  ; artigo enchia p'gina e meia, apesar de F; Com4rcioF ser bastante

maior )$e F# &olha de Ilh4$sF. 3@aminava demoradamente o caso docartório de BenOncio. 3@plicava ao p<blico o Finomin'vel ca@i@eF )$e eraregistrar $m tEt$lo de propriedade ' base de $ma velha mediço +' sem valor legal e )$e, ademais, /ora ras$rada para s$bstit$ir o nome deM$ndinho de #lmeida pelo de Hor'cio e Fse$s se)$a(esF. 3 atrib$Ea oincendi do cartório ao próprio BenOncio, F/also servidor da +$stiça )$e, aolhe pedir o coronel !eodoro para ver a mediço, pre/eri$ incendiar se$cartório destr$indo assim as provas da s$a vile(aF. #presentava os?adarós como $ns santos, incapa(es de /a(er mal a $ma mosca. #visava)$e os Fins$ltos miser'veisF do Fpas)$im oposicionistaF estavam longe deatingir o bom nome de pessoas to conceit$adas como os ?adarós, ocoronel !eodoro e Fesse il$stre l$minar da ci0ncia do direito, )$e 4 o Dr.enaro !orres, org$lho da c$lt$ra grapi<naF. Por <ltimo se re/eria AsFameaças de Hor'cio e se$s ces de laF. ; p<blico +$lgaria, no /$t$ro, de)$em partiram primeiro a)$elas ameaças de /a(er correr sang$e epesaria as responsabilidades Fna balança da +$stiça pop$larF. Por4m, )$eHor'cio so$besse )$e as s$as F/an/arronadas ridEc$lasF no metiam medoa ning$4m. ;s ?adarós estimavam l$tar com as armas do direito e da +$stiça, mas sabiam tamb4m 2 armava F; Com4rcioF 2 l$tar com)$al)$er arma )$e o Fdesleal advers'rioF escolhesse. 3m )$al)$erterreno os ?adarós sabiam dar o merecido a gente Fda laia desses

bandidos sem consci0ncia e desses advogados sem escr<p$losF. 3,respondendo ao Falea +acta estF, o artigo de F; Com4rcio terminavatamb4m com $ma citaço latina1 FJ$o$s)$e tandem, !ropeiros, ab$terepatientia nostraF 3ssa citaço /ora a colaboraço do Dr. enaro ao artigode Man$el de ;liveira.  Ilh4$s se deliciava pelas es)$inas.

4

  J$ando, calçado de botas enlameadas, a barba crescida, o capito =oo Magalhes volto$ da mata de >e)$eiro rande, diversos sentimentos

desencontrados andavam dentro dele. &ora para passar oito dias, levara)$in(e, demorando2se na /a(enda dos ?adarós mesmo depois determinado o serviço. >e arran+ara de )$al)$er maneira com osinstr$mentos do agrónomo 2 com o teodolito, a trena, o omimetro, abali(a 2 instr$mentos )$e ele n$nca havia visto antes na s$a vida de +ogador de prosso. ; c'lc$lo real da mediço das terras se devia m$itomais aos trabalhadores )$e o haviam acompanhado e a =$ca ?adaró do)$e a ele, )$e só (era apoiar t$do )$e os o$tros armavam, rabiscandoc'lc$los sobre )$adrados e triOng$los. Haviam passado dois dias namata, os negros carregando os instr$mentos, =$ca a acompanh'2lo

e@ibindo se$ conhecimento da terra1  2 Capito, boto a mo no /ogo )$e no m$ndo inteiro no h' terra ig$al

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a essa para o plantio do caca$.. .  =oo Magalhes se c$rvava, enchia a mo com a terra h<mida1  2 de primeira, sim... ?em ad$bada ela vai ser ótima. . .  2 -em precisa estr$me nenh$m.. . Isso 4 terra nova, terra /orte, se$Capito. #s roças a)$i vo carregar como n$nca carrego$ roça nenh$ma.

  =oo Magalhes ia aprovando, no se metia m$ito pela conversa noreceio de di(er besteira. =$ca ?adaró contin$ava, mata adentro, /a(endo oelogio das terras onde as 'rvores cresciam agrestes.  Por4m mais )$e a bondade das terras de >e)$eiro rande, interessaraao Capito a g$ra morena de DonG#na ?adaró. =' em Ilh4$s ele o$vira/alar nela, di(iam )$e /ora DonG#na )$em dera ordens a !eodoro para )$eincendiasse o cartório de BenOncio. 3m Ilh4$s se /alava de DonG#na comode $ma moça estranha po$co chegada 's conversas das comadres, po$coamiga das /estas da Igre+a 9apesar da me to religiosa:, po$co amiga debailes e namorados. %aras pessoas se lembravam de hav42la vistodançando e nenh$ma delas saberia respeitar o nome de $m namoradose$. Bivera sempre mais interessada em aprender a montar a cavalo, aatirar, a saber dos mist4rios da terra e das plantaçKes. ;lga comentavacom as vi(inhas o despre(o com )$e DonG#na tratava os vestidos )$e>inh mandava b$scar na ?ahia o$ no %io, vestidos caros reali(ados porcost$reiros de /ama. DonG#na no se preoc$pava com eles, )$eria erasaber dos potros novos )$e haviam nascido na /a(enda. >abia o nome detodos os animais )$e a /amElia poss$Ea, mesmo dos b$rros de carga.!omara a si a contabilidade dos negócios dos ?adarós e era a ela )$e>inh se dirigia cada ve( )$e necessitava de $ma in/ormaço. # esposade =$ca di(ia sempre )$e FDonG#na devia ter nascido homemF.

  =oo Magalhes no penso$ o mesmo. !alve( tivessem sido os olhosdela, )$e lhe lembravam o$tros olhos adorados, )$e primeiro ganharams$a atenço. 3n)$anto a c$mprimentava, re)$intando nas palavras, elese perde$ na contemplaço da)$eles olhos meigos onde, de s<bito,s$rgiram /$lg$raçKes intensas, ig$ais A)$eles o$tros olhos )$e o tavamcom tanto despre(o $m dia. Depois es)$ece$ mesmo os olhos da moça)$e cara no %io de =aneiro, )$ando, com o correr dos dias, /e( maisintimidade com DonG#na. -o havia o$tra conversa na casa dos ?adarós,na)$eles dias, )$e a mata de >e)$eiro rande e os propósitos de Hor'cioe s$a gente. &a(iam con+et$ras, levantavam hipóteses, calc$lavampossibilidades. J$e /aria Hor'cio )$ando so$besse )$e os ?adarós

estavam medindo a mata e iam registrar a mediço e retirar $m tEt$lo depropriedade =$ca no tinha d<vidas1 Hor'cio tentaria entrar na mataimediatamente, en)$anto /aria correr no /oro de Ilh4$s $m processo pelaposse da terra, baseado no registro /eito no cartório de BenOncio. >inhd$vidava. Pensava )$e, estando Hor'cio sem apoio do governo, comooposicionista )$e era, tentaria primeiro legali(ar a sit$aço com $mFca@i@eF )$al)$er, antes de recorrer a /orça. De Ilh4$s, =$ca tro$@era as<ltimas novidades1 o caso escandaloso de 3ster com Dr. BirgElio, ob+ectode m$rm$raçKes da cidade toda. >inh no acreditava1  2 Isso 4 conversa de )$em no tem o )$e /a(er. ..  2 >e ele at4 dei@o$ a m$lher )$e tinha, >inh. $m /ato. 3sto$ bemin/ormado... 2 e ria para =oo Magalhes lembrando Margot.  =oo Magalhes se envolvia na)$elas disc$ssKes e conversas, tomava

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parte nelas como se /osse $m homem dos ?adarós, ig$al a !eodoro das?ara<nas, na noite )$e o coronel dormi$ l'. >e sentia como $m parente.3 cada ve( )$e DonG#na o olhava e pedia, respeitosamente, a Fopinio doCapitoF, =oo Magalhes se e@tremava em ins$ltos A gente de Hor'cio.Certa ve( em )$e noto$ mais doces e interessados os olhos dela, ele ps

memo A disposiço dos ?adarós o Fse$ conhecimento militar, de capito)$e tomara parte em $mas oito revol$çKesF. 3stava ali, estava 's ordens.>e ho$vesse l$ta podiam contar com ele. 3ra homem para o )$e)$isessem. Disse, e to$ DonG#na e sorri$ para ela. DonG#na corre$ paradentro, s$bitamente tEmida e envergonhada, en)$anto >inh ?adaróagradecia ao Capito. Mas esperava )$e no /osse preciso, )$e t$do seresolvesse em pa(, )$e no tivesse )$e correr sang$e. 3 verdade )$e eleestava se preparando 2 di(ia 2 mas com esperanças de )$e Hor'ciodesistisse de disp$tar com ele a posse da mata. %ec$ar no rec$aria, erache/e da /amElia, sabia das s$as responsabilidades, demais tinhacompromissos com amigos, gente como o compadre !eodoro das?ara<nas )$e estava se sacricando por ele. >e Hor'cio /osse paradiante, ele iria tamb4m. Mas ainda tinha esperanças. . . =$ca encolhia osombros, para ele era certo )$e Hor'cio tentaria entrar na mata A /orça e)$e m$ito sang$e seria derramado antes )$e os ?adarós p$dessemplantar em pa( se$ caca$ nessas terras. ; capito =oo Magalhesnovamente se ps A disposiço1  2 Para o )$e )$iserem. . . -o gosto de arrotar valentia mas esto$acost$mado com essas encrencas. . .  -a)$ele dia, ele só vi$ DonG#na ?adaró )$ando chego$ a hora not$rnada leit$ra da ?Eblia. 3la /oi recebida com $ma gargalhada de =$ca, )$e a

apontava com o dedo1  2 J$e 4 )$e h' 3 o m do m$ndo  >inh olho$ tamb4m. DonG#na estava s4ria, o rosto /echado emseveridade. !anto trabalhara com a a+$da de %aim$nda para /a(er a)$elepenteado parecido com $m )$e 3ster e@ibira em Ilh4$s n$ma /esta, eagora se riam dela... Bestia $m dos vestidos de sair, )$e cava estranhona sala da casa2grande da /a(enda. =$ca contin$ava a rir, >inh noentendia o )$e se passava com a lha. >ó =oo Magalhes se sentia /eli(,e se bem percebesse o ridEc$lo da g$ra de DonG#na, ataviada como para$m baile, se ps s4rio tamb4m e dobro$ os olhos n$ma lang$ide(agradecida. Mas ela no olhava ning$4m e pensava )$e todos estavam

rindo dela. Por m s$spende$ os olhos e )$ando vi$ )$e o capito amirava enternecido, teve /orças para di(er a =$ca1  2 De )$e t' rindo ;$ pensa )$e só s$a m$lher 4 )$e pode se vestirbem e se pentear  2 Minha lha, )$e palavras so essas R repreende$ >inh, admiradoda veem0ncia dela mais ainda )$e dos tra+es.  2 ; vestido 4 me$, /oi o senhor )$em me de$. Ponho ele )$ando )$ero,no 4 para ning$4m se rir...  2 Parece $m espantalho. . 2 go(o$ =$ca.  3nto =oo Magalhes resolve$ intervir1  2 3st' m$ito elegante.. Parece $ma carioca, assim se vestem as moçasdo %io... =$ca est' 4 brincado.  =$ca ?adaró olho$ o capito. Primeiro penso$ em brigar, seria )$e

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a)$ele s$+eito estava tentando lhe dar $ma liço de boa ed$caço. Masdepois reeti$ )$e devia ser obrigaço dele, como visita, ser gentil com amoça. 3ncolhe$ os ombros1  2 osto 4 gosto, no se disc$te...  >inh ?adaró ps m ' disc$sso1

  2 Leia, minha lha. .  Mas ela sai$ correndo para dentro, no )$eria chorar na vista doso$tros. &oi nos braços de %aim$nda )$e dei@o$ )$e os sol$ços aba/adossaEssem do se$ peito. 3 nessa noite, /oi o capito =oo Magalhes )$em,pro/$ndamente pensativo, le$ os trechos da ?Eblia para >inh ?adaró )$eo olhava pelo rabo do olho, como )$e a medi2lo e e@amin'2lo.  -o o$tro dia, )$ando o capito levanto$2se e sai$ n$m passeiomatinal, +' encontro$ DonG#na no c$rral, a+$dando a pear as vacas )$edavam leite para a casa2grande. C$mprimento$2a e se apro@imo$. 3las$spende$ o rosto, largo$ por $m momento o peito da vaca, /alo$1  2 ;ntem e$ ( $m papel triste. . . ; senhor deve estar pensando $mbocado de coisas... !abaroa )$ando se mete a moça de cidade 4 sempreassim... 2 e ri$ mostrando os dentes brancos e per/eitos.  ; capito =oo Magalhes sento$2se na cancela1  2 # senhora estava linda. . . >e estivesse n$m baile, no %io, no haveriao$tra m$lher to bonita. Lhe +$ro.  3la o olho$, perg$nto$1  2 -o gosta mais assim como e$ so$ todos os dias  2 Para /alar a verdade, sim 2 e o capito estava /alando a verdade. 2 #ssim 4 como e$ gosto. $ma bele(a. .  3nto DonG#na erg$e$2se, tomo$ do balde com leite1

  2 ; senhor 4 $m homem direito. . . osto de )$em /ala a verdade... 2 eo to$ nos olhos e era a maneira dela declarar se$ amor.  %aim$nda aparece$ rindo, risadinha c$rta de c$mplicidade, recebe$os baldes )$e DonG#na seg$rava, saEram as d$as. =oo Magalhes /alo$em vo( bai@a para as vacas do est'b$lo1  2 Parece )$e vo$ me casar 2 olho$ a /a(enda em torno, a casa2grande,o terreiro, as roças de caca$, com $m ar de propriet'rio. Mas lembro$2s4de =$ca e de >inh, dos +ag$nços )$e se +$ntavam na /a(enda, eestremece$.  Pela /a(enda ia $m movimento /ora do com$m. ;s trabalhadorespartiam todas as manhs para as roças, a colher caca$, o$tros pisavam

caca$ mole nos cochos o$ dançavam sobre o caca$ seco nas barcaças,cantando s$as tristes cançKes1

8ida de !egro ? di9cil di9cil como u?. . . 8

  Lamentos )$e o vento levava, gemidos sob o sol nas roças de caca$,no trabalho da manh A noite1

8Eu uero morrer de !oite

em lo!ge1 !uma tocaia. ..Eu uero morrer de a>oite

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Dos ordados de tua saia...8

  ;s trabalhadores gemiam se$s cantos nos dias de trabalho,se$s cantosde servido e de amor impossEvel, .mas, ao mesmo tempo, se re$nia na/a(enda $ma o$tra pop$laço. Parecidos com os trabalhadores no /Esico e

na r$de(a da vo(, na maneira de /alar e no modo de se vestir, esseshomens )$e chegavam diariamente ' /a(enda, abarrotando as casas dostrabalhadores, v'rios dormindo +' nos depósitos de caca$, o$trosespalhados pela varanda da casa2grande, eram os +ag$nços )$e vinham,mandados por !eodora, recr$tados por =$ca, mandados pelo cabo3smeraldo, de !abocas, o$ por se$ #(evedo, pelo padre Paiva, de M$t$ns,g$ardar a /a(enda dos ?adarós e esperar os acontecimentos. #lg$nschegavam montados, eram po$cos. ;s mais vinham a p4, a repetiço noombro, o /aco no cinto. Chegavam e na varanda da casa2grandeesperavam ordens de >inh ?adaró, en)$anto sorviam o copo de cachaça)$e DonG#na mandava servir. 3ram, em geral, homens calados, de po$caspalavras, de idade )$ase sempre indenida, negros e m$latos, de )$andoem ve( $m loiro contrastando com os o$tros. >inh e =$ca conheciam atodos e DonG#na tamb4m. #)$ele espet'c$lo se repetia diariamente, =ooMagalhes calc$lava )$e $ns trinta homens haviam chegado na /a(endadepois dele. 3 se perg$ntava o )$e sairia da)$ilo t$do, como andariam ospreparativos na /a(enda de Hor'cio. >e sentia interessado, preso A)$elaterra como se de repente ho$vesse botado raE(es nela. #gora, se$spro+ectos de viagem se es/$maçavam, no via como sair de Ilh4$s, no viapor )$e seg$ir adiante.  &oi assim, cheio desses pensamentos, )$e chego$ a Ilh4$s. -o trem,

ao lado de >inh ?adaró )$e dormira a viagem toda, ele reectialargamente. -a v4spera se despedira de DonG#na na varanda1  2 Bo$ embora amanh.  2 =' sei. Mas vai voltar, no vai  2 >e voc0 dese+a, e$ volto...  3la olho$, /e( )$e sim com a cabeça, corre$ para dentro sem lhe dartempo ao bei+o )$e ele tanto esperava e dese+ara. -o o$tro dia no a vira.&ora %aim$nda )$em lhe dera o recado1  2 DonG#na manda di(er a vosmec0 )$e na /esta de >o =orge ela vai emIlh4$s. . 2 lhe de$ $ma or )$e ele agora tra(ia na carteira.  -o trem vinha pensando. Proc$ro$ reetir seriamente e chego$ A

concl$so de )$e estava se metendo em /$nd$ras. Primeiro a)$elahistória de medir terras, de assinar doc$mentos. -o era nemengenheiro, nem capito, a)$ilo podia lhe dar $ma complicaço comprocesso e cadeia. 3ra o bastante para ele arribar no primeiro navio, +'tinha ganho dinheiro s$ciente para v'rios meses sem preoc$paçKes.Mas o pior era esse namoro com DonG#na. =$ca +' desconava da coisa,dissera $mas piadas, rira, parecia estar de acordo. Lhe avisara )$e )$emcasasse com DonG#na teria )$e andar direitinho se no era capa( at4 deapanhar da esposa. 3 >inh o olhava como )$e a est$d'2lo, certa noiteperg$ntara m$ito por s$a /amElia, s$as relaçKes no %io, o estado dos se$s

negócios. ; capito =oo Magalhes se eno$ n$ma mon$mental s4rie dementiras. #gora no trem, a)$ilo t$do lhe dava medo, se$s olhos

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instintivamente proc$ravam de )$ando em ve( o cano da parab4l$m )$eaparecia sob o paletó de >inh. Pensando bem, o )$e ele devia /a(er erair embora, embarcar para a ?ahia, e mesmo l' no demorar por ca$sada)$ela história de mediçoQ de terras. -o podia voltar ao %io, mastinha todo o -orte A s$a disposiço, os $sineiros de aç<car de

Pernamb$co, os donos de seringais, da #ma(ónia. !anto em %eci/e comoem ?el4m o$ em Mana$s, poderia mostrar s$as habilidades no p)$er econtin$ar a viver s$a vida sem maiores complicaçKes )$e a desconançade $m parceiro de +ogo, a e@p$lso de $m cassino, o$ $m chamado ApolEcia sem conse)$0ncias. 3, no trem, o capito =oo Magalhes decidi$)$e embarcaria no primeiro navio. !inha $ns )$in(e o$ de(asseis contoslivres, era o bastante para se divertir $ns tempos. Mas, )$ando >inh?adaró desperto$ e ele vi$2lhe os olhos, recordo$ os de DonG#na ecompreende$ )$e a moça +ogava $m papel nesse ass$nto. >empreproc$rara pensar no caso de $ma maneira cEnica, vendo apenas apossibilidade de entrar, pelo casamento, na /amElia dos ?adarós, na/ort$na dos ?adarós. Mas agora sentia )$e no era apenas isso. >entia/alta dela, do +eito br$sco )$e ela tinha ora meiga, ora severa, trancadana s$a virgindade sem bei+os e sem sonhos de amor. 3la viria A /esta de>o =orge, em Ilh4$s, mandara lhe di(er. Por )$e no esper'2la e decidirda s$a partida depois da /esta )$e estava pró@ima #t4 l' no haviaperigo. ; perigo estaria em >inh ?adaró mandar pedir no %ioin/ormaçKes sobre ele. 3nto no escaparia, com certe(a, da vingançada)$ela gente r$de e sensEvel, seria /eli( se escapasse com vida. ;lha ocano do revólver. Mas os olhos de >inh ?adaró tra(em DonG#na para +$nto dele.. ; capito =oo Magalhes est' sem saber o )$e decidir. ;

trem apita entrando na estaço de Ilh4$s.  # noite /oi visitar Margot, tra(ia $m recado de =$ca para ela. Margotm$dara de casa, saEra da penso de Machado e al$gara $ma casape)$ena. onde vivia so(inha, com $ma empregada )$e co(inhava earr$mava. De !abocas haviam chegado s$as coisas e ela agora passeavas$a elegOncia pelas r$as de Ilh4$s, atravessando com a sombrinharendada por entre as m$rm$raçKes do povo. !oda a gente +' sabia )$e =$ca ?adaró estava com ela. #s opiniKes se dividiam )$anto A maneiracomo o caso se concreti(ara. # gente dos ?adarós armava )$e =$ca atomara de BirgElio, en)$anto a gente de Hor'cio garantia )$e BirgElio +' ahavia dei@ado. Depois do artigo de F; Com4rcioF as m$rm$raçKes

cresceram e os eleitores dos ?adarós apontavam na r$a a Fm$lher )$epagara os est$dos do Dr. BirgElioF. Margot tri$n/ava. =$ca mandara abrircr4dito para ela nas lo+as, os comerciantes se c$rvavam melosos.  Margot o/erece$ $ma cadeira na sala de +antar, o capito sento$. #ceito$ o ca/4 )$e a criada tra(ia, de$2lhe o recado de =$ca. 3le viria nasemana seg$inte, )$eria saber se ela precisava de alg$ma coisa. Margotcrivo$ o capito de perg$ntas sobre a /a(enda. !amb4m ela se sentiacomo dona da propriedade dos ?adarós. Parecia ter es)$ecido BirgEliointeiramente, só /alo$ nele $ma ve(, para perg$ntar a =oo se ele havialido o artigo de F; Com4rcioF.  2 J$em me /a(, me paga... 2 armo$.  Depois /e( o elogio de Man$el de ;liveira, F$m s$+eito bat$ta, det$tano na cabeçaF. 3 completava1

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  2 Demais, 4 $m pOndego... Divertido como ele só. >empre vem a)$i me/a(er companhia... to engraçado..  ; capito =oo Magalhes descono$ dos elogios, )$em sabe seMargot, na a$s0ncia de =$ca, no estava se deitando com o +ornalista 3,como se sentia parecido com ela, avent$reiros e estranhos os dois no

meio da)$ela gente da terra, acho$2se obrigado a lhe dar $m conselho1  2 Me di( $ma coisa !$ tem alg$m chamego com esse ;liveira  3la nego$, mas sem /orça1  2 -o v0 logo. . .  2 3$ esto$ )$erendo te dar $m conselho... !$ no )$er cantar, no /a(mal, e$ mesmo no )$ero saber. Mas vo$ te di(er1 c$idado com os?adarós. -o 4 gente para brin)$edo.. . >e t$ tem amor A pele no penseem enganar $m ?adaró... -o 4 gente para brincadeira...  Di(ia a Margot, parecia )$erer convencer a si mesmo1  2 3 melhor desistir do )$e pensar em enganar eles...

5

  Perto do porto, n$m sobrado, estava a casa e@portadora FN$de, Irmo eCia1 G 3mbai@o era depósito de caca$, no andar s$perior cavam osescritórios. ma das tr0s o$ )$atro rmas )$e começavam a se dedicar Ae@portaço de caca$, )$e se iniciara /a(ia po$cos anos. #ntes a prod$ço,ainda pe)$ena, era toda cons$mida no paEs. Mas com o crescimento dalavo$ra, alg$ns comerciantes da ?ahia e alg$ns estrangeiros, s$Eços ealemes, /$ndaram rmas para a e@portaço de caca$. 3ntre elas estavaa dos irmos N$de, dois e@portadores de /$mo e de algodo. Criaram $ma

secço para o caca$. #briram a lial em Ilh4$s e mandaram para elaMa@imiliano Campos, $m velho empregado, +' de cabelos brancos, comm$ita e@peri0ncia. -esse tempo eram as casas e@portadoras )$e sec$rvavam ante as coron4is, os empregados e gerentes se dobrando emmes$ras e cortesias, os propriet'rios o/erecendo almoços aos /a(endeiros)$ando estes via+avam A capital, levando2os aos cabar4s e 's casas dem$lheres. #inda eram pe)$enas as casas e@portadoras de caca$, emgeral eram apenas secçKes de grandes casas e@portadoras de tabaco,ca/4, algodo e coco.  Por isso )$ando >inh ?adaró termino$ de s$bir as escadas de QN$de,Irmo e Cia1G e abri$ a porta do escritório do gerente, Ma@imiliano

Campos se levanto$ apressadamente, veio lhe apertar a mo1  2 J$e boa s$rpresa, coronel.  ;/erecia2lhe a melhor cadeira, a s$a, e sentava2se modestamenten$ma das cadeiras de palhinha1  2 H' )$anto tempo no aparecia. 3$ o /a(ia na propriedade, tratandoda sa/ra..  2 3stava por l'... !rabalhando.  2 3, como vo as coisas, coronel J$e me di( da sa/ra desse anoParece )$e dei@a a do ano passado longe, hein -ós, a)$i, +' compramosat4 este m0s mais caca$ )$e d$rante todo o ano passado +$nto. 3 isso )$e

alg$ns /a(endeiros /ortes, como o senhor, ainda no venderam s$assa/ras. . .

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  2 Por isso vim.. . 2 disse >inh.  Ma@imiliano Campos se torno$ ainda mais cortes1  2 %esolve$ no esperar preços mais altos #cho )$e o senhor /a(bem. . . -o acredito )$e o caca$ de mais de cator(e mil2r4is a arrobaesse ano. . . 3 olhe )$e, por cator(e mil2r4is, 4 melhor plantar caca$ )$e

di(er missa cantada. . . 2 ri$ com a comparaço.  2 Pois e$ acho )$e d' mais, se$ Ma@imiliano. #cho )$e vai dar )$in(emil2r4is pelo menos, no m da sa/ra. J$em p$der g$ardar se$ caca$, vaiganhar dinheiro m$ito. . # prod$ço no chega pra )$em )$er. Di( )$e sónos 3stados nidos. . .  Ma@imiliano Campos balanço$ a cabeça1  2 3 verdade )$e se coloca )$anto caca$ ha+a... Mas isso de imporpreços, coronel, ainda so os gringos )$e, impKem. ; nosso caca$ aindano 4 nada em vista do caca$ da Costa dG;$ro. a Inglaterra )$em /a( opreço. J$ando os senhores tiverem plantado essa terra toda, tiveremderr$bado toda essa mataria )$e ainda h', pode ser )$e ento a gentepossa impor os nossos preços nos 3stados nidos...  >inh ?adaró se levanto$. # barba cobria2lhe a gravata e o peito dacamisa1  2 Pois isso 4 )$e vo$ /a(er, se$ Ma@imiliano. Bo$ derr$bar a mata de>e)$eiro rande e plantar ela de caca$. Da)$i a cinco anos to$ lhe vendendo caca$ dessas terras. . . 3 aE a gente pode impor os preços...  Ma@imiliano +' sabia. J$em em Ilh4$s no sabia ainda dos pro+ectosdos ?adarós a respeito da mata de >e)$eiro rande Mas todos sabiamtamb4m )$e Hor'cio tinha id0nticos propósitos. 3 Ma@imiliano /alo$ noass$nto. >inh ?adaró esclarece$1

  2 # mata 4 minha, agora mesmo venho de registrar o tEt$lo depropriedade no cartório de Domingos %eis. minha e ai de )$em )$iserse meter nela...  Di(ia com convicço e Ma@imiliano Campos rec$o$ diante do dedoestendido de >inh ?adaró. Mas este ri$ e props conversarem denegócios1  2 J$ero vender minha sa/ra. Desde agora vendo do(e mil arrobas..Ho+e est' marcando cator(e mil e d$(entos r4is por arroba.. >o cento esetenta contos de r4is. !' de acordo  Ma@imiliano /a(ia contas. >$spende$ a cabeça, tiro$ os óc$los1  2 3 o pagamento

  2 -o )$ero dinheiro agora. J$ero e )$e o senhor abra o cr4dito dessedinheiro para mim. Bo$ precisar para em pregar na derr$ba da mata eno plantio das roças.. Bo$ retirando toda semana...  2 Cento e setenta contos e )$atrocentos mil2r4is.. an$ncio$Ma@imiliano terminando as contas.  Conversaram os detalhes dó negócio. ;s ?adarós vendiam, se$ caca$a FN$de, Irmo e Cia1G h' v'rios anos. 3 para nenh$m dos se$s clientes dos$l da ?ahia a casa e@portadora tinha tantas atençKes como para osIrmos ?adarós.  >inh se despedia. Boltaria no dia seg$inte para assinar o contrato de venda1 #inda no escritório, disse1  2 Dinheiro pra derr$bar a mata e plantar caca$ 3 tamb4m para l$tar,se /or preciso, se$ Ma@imiliano R estava s4rio, alisando a barba com a

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mo, olhar d$ro.  Ma@imiliano no encontro$ o )$e di(er, perg$nto$1  2 3 a menina DonG#na como vai  ; rosto de >inh perde$ toda a d$re(a, se abri$ n$m sorriso1  2 !' $ma moça.. 3 bonita no tarda a casar...

  Ma@imiliano no encontro$ o )$e di(er, perg$nto$1 no, só o dei@o$ nacalçada da r$a, n$m longo aperto de mo1  2 M$itos votos de /elicidade para toda a /amElia, coronel.  >inh ?adaró ando$ para o centro da r$a, a mo no chap4$.retrib$indo as sa$daçKes )$e recebia de todos os lados. Homensatravessavam a r$a para vir c$mpriment'2lo.

;s sinos repicavam na tarde /estiva do dia de >ão =orge. 3ra a /estamaior de Ilhé$s, a /esta do padroeiro da cidade. ; Pre/eito, no atoreali(ado pela manhã na Intendência M$nicipal, relembrava a)$ele =orgede &ig$eiredo Correia )$e /ora donatário da capitania dos Ilhé$s e )$eplantara ali os primeiros engenhos r$dimentares, engenhos de açúcar )$elogo os índios destr$íram. 3, com ele, comparo$ os )$e vieram depois,tra(endo a planta do caca$. Dr. enaro /alara também n$m disc$rsorepleto de citações em líng$a estrangeira )$e a maior parte da gente nãoentendera.  -essas comemoraçKes ociais os correligion'rios de Hor'cio nohaviam tomado parte. Mas agora estavam todos vestidos de /ra)$e negro,atravessando as r$as da cidade, a caminho da catedral de onde sairia a

procisso de >o =orge )$e percorria as r$as mais importantes de Ilh4$s.  ; cónego &reitas b$scara sempre passar por cima das diverg0nciaspolEticas dos grandes coron4is. -o se envolvia nelas, se dava com os?adarós e com Hor'cio, com o Pre/eito de Ilh4$s e com o Dr. =ess4. >e/a(ia $ma s$bscriço em bene/Ecio das obras do Col4gio das &reiras,tirava d$as cópias para )$e assim nem >inh ?adaró nem Hor'ciotivessem )$e assinar em seg$ndo l$gar. !anto $m como o$tro cavasatis/eito em receber o papel limpo de rmas, pensando cada $m )$e erao primeiro a por o se$ nome. 3ssa h'bil polEtica /a(ia com )$e, em tornoda Igre+a, governo e oposiço se encontrassem $nidos. #o demais, ocónego &reitas era bastante liberal, n$nca (era )$esto de )$e a

maioria dos grandes coron4is pertencesse A Lo+a Maçónica. verdade)$e a+$do$ >inh ?adaró no combate )$e este move$ contra a maçonaria9)$e elegera Hor'cio para ro2Mestre: mas sem aparecer, sempre pordetr's do pano. >$a <nica l$ta aberta era contra o c$lto dos ingleses, aIgre+a Protestante. -o mais, ia se e)$ilibrando. -as novenas de >anto #ntónio se a senhora de Hor'cio patrocinava a primeira, a senhora de =$ca ?adaró e DonG#na patrocinavam a <ltima. 3 os dois rivais seesmeravam no l$@o de /og$etes e bombas nas noites em )$e as esposasapadrinhavam as novenas. -o m0s de maio, ele entregava a $m a missacantada, a o$tro o c$idado do altar. J$ando podia +ogava com a rivalidade

e, )$ando via interesse, proc$rava harmoni(ar.

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  3m /rente A praça onde cava a Matri( os homens abotoados nos/ra)$es negros esperavam a passagem apressada das m$lheres )$epenetravam na Igre+a. Passo$ 3ster pelo braço de Hor'cio, m$itoelegante, n$m da)$eles vestidos )$e lhe lembrava o tempo de est$danteno col4gio das mon+as na ?ahia. BirgElio a vi$ passar, saco$ o chap4$ de

coco para sa$dar. Hor'cio balanço$ a mo, dando ade$s, 3ster aceno$com a cabeça.  # gente em torno cochicho$ entre si, em sorrisos morda(es. Logodepois passaram >inh e =$ca ?adaró. >inh dava o braço a DonG#na. =$ca vinha ao lado da esposa. &oi a ve( do Capito =oo Magalhes, )$e,ao contr'rio de )$ase todos, $sava /ra)$e cin(ento n$m escOndalo dedistinço, tirar a cartola e dobrar2se na sa$daço. DonG#na esconde$ orosto no le)$e, >inh levo$ a mo ao chap4$, =$ca grito$1  2 ;l', Capito  2 !o namorando. . . 2 disse $m moça.  Dr. =ess4 vinha apressado, s$ando m$ito, )$ase correndo na r$a.Paro$ $m min$to para /alar com BirgElio, sai$ depressa. Dr. enaro vinhagrave e solene, em passos cadenciados, olhando para o cho. ; Pre/eitopasso$, passaram Maneca Dantas, dona #$ricEdia e os lhos. !eodoro das?ara<nas vestia como sempre. #penas, em ve( de botas e c$lote c')$i,levava $ma calça branca per/eitamente engomada. -o dedo, o solit'rioenorme brilhava. Margot passo$ tamb4m, mas no entro$ na Igre+a* co$n$m canto da praça conversando com Man$el de ;liveira. #s m$lheres aespiavam pelo rabo dos olhos, comentando os se$s vestidos e os se$smodos.  2 3 a nova amante de =$ca ?adaró.. . 2 disse alg$4m.

  2 Di(em )$e antes era o do$tor BirgElio...  2 #gora ele tem coisa melhor...  %iam. Homens de p4s descalços estavam mais a/astados. # m$ltidosobrava da igre+a, sobrava da praça, se espalhava pelas r$as. ; cónego&reitas e o$tros dois padres saEram pela porta. Começaram a ordenar aprocisso. Primeiro sai$ $m andor com o Menino =es$s, $ma imagempe)$ena. 3ra levado por crianças vestidas de branco, )$atro meninosescolhidos entre os de melhores /amElias. Ia, entre eles $m lho deManeca Dantas. ; andor tomo$ para a r$a em /rente da Matri(, adianteia a ?anda de M<sica. #tr's marchavam, /ardados, os col4gios, sob oolhar das pro/essoras. J$ando ho$ve espaço, sai$ o andor da Birgem

Maria, +' bastante maior, levado por moças da cidade. ma delas eraDonG#na ?adaró. #o passar, olho$ para =oo Magalhes e sorri$. ;capito a acho$ parecido com a Birgem do andor, apesar dela ser morenae a imagem ser de porcelana a($l. # ?anda de M<sica e os meninos doscol4gios andaram mais para a /rente, os homens, nas calçadas, estavamtodos de chap4$ na mo. Bestidas de branco, nos pescoços tas a($is decongregaçKes, saEram 's do andor da Birgem, as al$nas das /reiras. 3saEram tamb4m as senhoras. # m$lher de =$ca vinha pelo braço domarido, 3ster vinha com $ma amiga, a esposa de Maneca Dantas, dona #$ricEdia, )$e achava t$do lindo. &i(eram espaço e sai$ o andor de >o =orge, grande e rico. ; >anto era enorme, montado no se$ cavalo,matando o drago. !ra(iam2no, nos varais da /rente, Hor'cio e >inh?adaró. 3, nos de tr's, Dr. enaro e Dr. =ess4. 3stes conversavam entre

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m$rm<rio, de s<bito se elevava como se estivesse m$ito pró@ima1

0Mi!ha si!a ? sem espera!>a. . . traalhar !oite e dia...3

   #tr's de si, >inh ?adaró o$via o trotar dos b$rros onde vinham os

capangas. 3ram tr0s1 o m$lato Biriato, !elmo, $m alto e magro, de tirocerto e vo( e/eminada, e Costinha, o )$e matara o coronel =acinto. Binham conversando entre si, a brisa da noite tra(ia at4 >inh ?adaró $nsrestos de di'logo1  2 ; homem mete$ a mo na porta, /oi $m alvoroço...  2 #tiro$  2 -o de$ tempo...  2 História com m$lher d' sempre em desgraça...  >e o negro Damio estivesse ali, >inh o chamaria e ele viria a se$lado e >inh contaria para ele alg$ns dos se$s pro+ectos )$e o negroo$viria calado, aprovando com s$a imensa cabeça. Mas Damio andavamal$co pelas estradas do caca$, rindo e chorando )$e nem $ma criança e/ora preciso )$e >inh $sasse de toda a s$a energia para )$e =$ca nomandasse li)$idar o negro. Certa ve( ele passara pelas pro@imidades da/a(enda, choramingando, e os )$e o viram disseram )$e estavairreconhecEvel, magro e coberto de lama, os olhos /$ndos, m$rm$randocoisas sobre meninos mortos e cai@Kes brancos de an+os. 3ra $m negrobom e at4 ho+e >inh ?adaró no compreende por )$e ele erro$ apontaria na noite em )$e atiro$ em &irmo. >er' )$e +' estava mal$co # m<sica, )$e volto$ na c$rva da estrada, tro$@e novamente a lembrançada)$ela tarde. >inh ?adaró se lembro$ do )$adro na sala de visitas1 a

camponesa e os pastores, a pa( a($l, as gaitas )$e tocavam. Devia ser$ma m<sica mais alegre, com palavras doces de amor. ma m<sica paradançar, a moça tinha $m p4 no ar n$m gesto de baile. -o seria $mam<sica como essa )$e parecia m<sica para enterro1

0Mi!ha #ida ? de pe!ado'heguei e ui amarrado

!as grilhetas do cacau...3

  >inh ?adaró proc$ra en@ergar para os lados da estrada. Deve ser dealg$ma casa de trabalhador nas pro@imidades. ;$ ser' de alg$m homem

)$e vai andando no atalho, a viola no peito, enc$rtando o caminho com as$a m<sica &a( bem )$in(e min$tos )$e ela acompanha a comitiva,/alando da vida nessas terras, do trabalho e morte, do destino da gentepresa ao caca$. Mas os olhos de >inh ?adaró, olhos acost$mados Aesc$rido da noite, no divisaram nenh$ma l$( na redonde(a. >ó os olhosde press'gio de $m cor$+o )$e pio$ gravemente. Devia ser alg$mhomem )$e vinha por alg$m atalho, o )$e cantava. 3staria enc$rtando ocaminho com s$a m<sica. estava a$mentando o caminho de >inh ?adaró)$e ia para a /a(enda. 3ssas eram estradas de perigo, agora no haviamais sossego nesses caminhos em redor da mata de >e)$eiro rande.

-a)$ela tarde, )$ando ele dera ordens para o negro Damio derr$bar&irmo, ele ainda tinha esperanças. Mas agora era tarde. #gora a l$ta

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estava declarada, Hor'cio ia entrar pela mata de >e)$eiro rande,preparava homens, /a(ia correr $m processo em Ilh4$s, disp$tando aposse das terras. -a)$ela tarde a moça dos campos e$rope$s bailavan$m p4 só, todavia >inh ?adaró tinha esperanças. # vo( do homem )$ecanta 2 decididamente vem pelo atalho 2 se apro@ima, a$menta em

 vol$me, a$menta em triste(a1

0Kua!do eu morrer Me le#em !uma rede ala!>a!do...3

  #gora passariam as redes na estrada, seria $ma cena )$e se repetiriaem m$itas noites. 3 o sang$e pingaria delas e regaria a terra. essa noera $ma terra para bailes e pastores a($is, de boinas encarnadas. 3ra$ma terra negra, boa para o caca$, a melhor do m$ndo. >obe a vo( maispró@imaainda, s$a canço de morte1

0Kua!do eu morrer Me e!terrem !a eira da estrada...3

  Havia cr$(es sem nomes pela estrada. Homens )$e haviam caEdo, debala o$ de /ebre, sob o p$nhal tamb4m, nas noites de crime o$ de doença.Mas os caca$eiros nasciam e /r$ticavam, se$ Ma@imiliano dissera )$e,no dia em )$e todas as matas estivessem plantadas, eles imporiam se$spreços nos mercados norte2americanos. !eriam mais caca$ )$e osingleses, em -ova Zor)$e se saberia do nome de >inh ?adaró, dono das

/a(endas de caca$ de >o =orge dos Ilh4$s. Mais rico)$e Misael... -a beira de $ma estrada repo$saria Hor'cio, com cr$(essem nome estariam &irmo e ?ra(, =arde e N4 da %ibeira1 3les tinham)$erido assim. >inh ?adaró pre/eriria )$e /osse como os oleograv$ra,como $m baile, todos alegres, os homens com s$as gaitas no campo a($l. # c$lpa era de Hor'cio... Por )$e se metia em terras )$e eram s$as, sópodiam ser dos ?adarós, ning$4m pensaria em disp$tar com eles. . .Hor'cio 4 )$e )$isera, pela vontade dele, >inh ?adaró, seria $ma /esta,a moça com o p4 no ar iniciando $m bailado sobre as ores dacampina. . . m dia ia ser como na)$elas terras da 3$ropa.. >inh ?adaróderrama $m sorriso sobre a barba, tamb4m ele v0 o /$t$ro como as

cartomantes e os pro/etas. -a c$rva da estrada, onde ela se ramica como atalho, s$rge o homem com a viola1

0Kua!do eu morrer Me e!terrem por aiBo de um coueiro3

 Mas o som da cavalhada, )$e trota na estrada, cala a vo( do m<sico. 3

agora >inh ?adaró sente /alta dela. =' no v0 a moça bailando nas terrasdo caca$, as matas plantadas, os preços ditados desde Ilh4$s. 3le v0 4 ohomem )$e anda, os dedos ainda no violo, os p4s vencendo a estrada

enlameada. >ai para $m lado, dando passagem a >inh ?adaró e aos se$scabras1

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  2 ?oa noite, patro...  2 ?oa...  ;s cabras respondem em coro1  2 ?oa viagem...  2 J$e -osso >enhor acompanhe vosmec0s...

  #gora a m<sica se a/asta, o homem pinica s$a viola cada ve( maislonge, em breve no se o$vir' s$a vo( cantando triste(as, se lamentandoda vida, pedindo )$e o enterrem debai@o de $m caca$eiro. Di(em )$e 4a)$ele visgo do caca$ mole )$e prende os homens ali. >inh ?adaró nosabe de ning$4m )$e tenha voltado. Conhece m$itos )$e lamentam,assim como esse negro, se lamentam dia e noite, nas casas, nosbote)$ins, nos escritórios, no cabar4, )$e di(em )$e essa terra 4desgraçada, 4 mesmo $ma terra in/eli(, 4 o m do m$ndo, sem diversKese sem alegria, onde se mata gente por $m nada, onde ho+e se 4 rico eamanh se 4 mais pobre )$e =ó. >inh ?adaró conhece m$itos, +' o$vi$essas conversas de(enas de ve(es, +' vi$ homens venderem s$as roças, +$ntarem o dinheiro e +$rarem na beira da estrada )$e n$nca mais voltariam. Partiam para Ilh4$s para esperar o primeiro navio )$e saEssepara a ?ahia. -a ?ahia tinha de t$do, cidade grande, com4rcio de l$@o,casa de con/orto, teatro e bonde de b$rro. L' tinha de $m t$do, o homemestava com o dinheiro no bolso, pronto para go(ar a vida. Mas antes donavio sair o homem voltava, o visgo do caca$ est' pegado na sola dosse$s p4s, e ele vinha e enterrava de novo o se$ dinheiro n$m pedaço deterra para plantar caca$eiro. . . #lg$ns chegavam a ir, embarcavam,cortavam as ondas do mar, e onde chegavam no /alavam no$tra terra)$e nessas terras de Ilh4$s. 3, era certo, to certo )$anto ele se chamar

>inh ?adaró, )$e passados seis meses o$ $m ano, o homem voltava, semdinheiro, para recomeçar a plantar caca$. Di(iam )$e era o visgo docaca$ mole )$e agarra nos p4s de $m e n$nca mais larga. Di(iam ascançKes cantadas nas noites das /a(endas.. .  3ntraram por entre os caca$eiros. 3sto na roça da vi<va Merenda,nos costados da mata de >e)$eiro rande. !inham dito a >inh ?adaró)$e ela tinha /eito acordo tamb4m com Hor'cio. -em por isso ele )$iseradei@ar de aproveitar o atalho )$e enc$rtava se$ caminho de )$ase meial4g$a. >e ela estava com Hor'cio, pior para ela e para os dois lhos )$eela tinha. Por)$e ento a)$elas roças passariam a se +$ntar As roçasnovas )$e os ?adarós iam plantar nas matas de >e)$eiro rande. Dentro

de cinco anos ele, >inh ?adaró, entraria nos escritórios de FN$de,Irmos e Cia.F e lhes venderia caca$ colhido nas roças novas. #ssim odissera e assim o /aria. -o era homem de d$as palavras. Mesmo )$e amoça tivesse )$e terminar se$ bailado rec4m2iniciado no )$adro da salada casa2grande. Depois ento ela bailaria sobre $m campo amarelo doo$ro do caca$ mad$ro, )$e era bem mais bonito )$e a)$ele a($l do)$adro. ?em mais bonito.. .  ; primeiro tiro /oi logo acompanhado de m$itos o$tros, >inh ?adarósó teve tempo de levantar o cavalo )$e recebe$ a descarga no peito ecai$ de lado. ;s se$s +ag$nços desmontavam, se atrincheiravam pordetr's dos b$rros deitados. >inh ?adaró proc$rava livrar a perna )$eestava presa por bai@o do cavalo agoni(ante. >e$s olhos pes)$isavam aesc$rido e /oi ele )$em, ainda deitado, locali(o$ os +ag$nços de Hor'cio

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na tocaia, atr's de $ma +a)$eira perto do atalho.  2 !o detr's da +a)$eira.. 2 disse.  #gora havia $m silencio total depois das primeiras descargas. >inh?adaró conseg$i$ livrar a perna, levanto$2se em toda a alt$ra, $m tiro/$ro$ se$ chap4$. Disparo$ o parab4l$m, grito$ para os se$s homens1

  2 Bamos acabar com eles  # cabeça de $m dos assaltantes aparece$ por detr's da +a)$eiraacertando a pontaria. !elmo disse ao lado de >inh ?adaró, com s$a vo(e/eminada1  2 ; me$ +' t', patro. . . 2 elevo$ a repetiço, a cabeça do homem atr'sda +a)$eira balanço$ como $m /r$to mad$ro e cai$. >inh ?adaróavanço$ atirando, agora estavam ele e se$s homens por tr's de $nscaca$eiros, e podiam ver os homens escondidos na tocaia. 3ram cinco,contando com o )$e morrera. ;s dois lhos de Merenda e mais tr0scapangas de Hor'cio. >inh ?adaró carregava a arma, por detr's dele Biriato atiro$. &oram andando pelos caca$eiros o plano de >inh eratomar a retag$arda dos al$nos, de Hor'cio. Mas estes perceberam eacharam )$e era melhor romper /ogo para evitar a manobra do coronel.!iveram )$e se a/astar $m po$co das +a)$eiras e >inh ?adaró )$eimo$$m. ; homem se torce$ com o tiro, a mo para cima, o p4 no ar. Biriatoacabo$ com ele1  2 Descansa, o da me... Isso no 4 hora de dançar...  >inh no meio de todo o bar$lho, se lembro$ da moça do )$adrodançando n$m p4 só. -o era hora de dançar, Biriato tinha ra(o. &oramandando mais. m tiro acerto$ no ombro de Costinha, o sang$e molho$ aponta das calças de >inh ?adaró.

  2 -o 4 nada...2 disse Costinha.2 >ó arranho$ e ainda atirava.  Contin$aram o cerco, os tr0s homens )$e restavam na tocaia viram)$e no adiantava. #inda estava em tempo, se meteram pela roça.>inh descarrego$ o parab4l$m na direcço em )$e eles iam. Depoisando$ at4 o cavalo negro, passo$ a mo sobre o se$ pescoço aindamorno. ; sang$e corria no peito do cavalo, /a(ia poça no cho. !elmo seapro@imo$, começo$ a tirar a sela do animal morto. Biriato tro$@e o b$rroem )$e vinha montado, e )$e se a/astara $m po$co com o tiroteio, e nele>inh ?adaró monto$. !elmo levava no peitoral do se$ b$rro os arreios docavalo. 3 na s$a gar$pa, Biriato levava Costinha )$e apertava a /eridacom a mo.

  Iam a passo pela estrada. >inh ?adaró ainda seg$rava o parab4l$mna mo. >e$ olhar, )$ase triste, se a/$ndo$ na esc$rido em torno. Masagora no vinha m<sica nenh$ma, vo( )$e cantasse as desgraças dessaterra. -o havia l$a, tampo$co, )$e il$minasse os cad'veres +$nto aoscaca$eiros. #tr's, !elmo se vangloriava com s$a vo( na, )$e parecia dem$lher1  2 #certei /oi na cabeça do peste...  # l$( de $ma vela, )$e a sa$dade de mos piedosas havia acendido,il$minava $ma cr$( recente na estrada. >inh ?adaró penso$ )$e se/ossem il$minar todas as cr$(es )$e iam se levantar de agora em diante,as estradas da terra do caca$ cariam mais il$minadas )$e mesmo asr$as de Ilh4$s. >e entristece$ de todo. F-o 4 tempo para dança, moça,mas e$ no tenho c$lpa, noF.

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 %

  3 os bar$lhos, começados nessa noite, no pararam mais at4 )$e amata de >e)$eiro rande se trans/ormo$ em roças de caca$. Depois a

gente desta (ona, de Palestina a Ilh4$s, mesmo a gente de Itapira, iacontar o tempo em /$nço desta l$ta1  2 Isso acontece$ antes dos bar$lhos de >e)$eiro rande..  2 &oi dois anos depois de acabada a l$ta de >e)$eiro rande. .  &oi a <ltima grande l$ta da con)$ista da terra, a mais /ero( de todas,tamb4m. Por isso co$ vivendo atrav4s dos anos, as s$as históriaspassando de boca em boca, relatadas pelos pais aos lhos, pelos mais velhos aos mais +ovens. 3 nas /eiras dos povoados e das cidades os cegos violeiros cantavam a história da)$eles bar$lhos, da)$eles tiroteios )$eencheram de sang$e a terra negra do caca$1

8Foi praga de eiticeiroEm !oite de eiti>aria. . .8

  ;s cegos so os poetas e os cronistas dessas terras. Pela s$a vo(esmoler, nas cordas das s$as violas perd$ra a tradiço das histórias docaca$. # m$ltido das /eiras, os homens )$e vem para vender s$a/arinha, se$ milho, s$as bananas e laran+as, os homens )$e vem paracomprar, se re<nem em torno aos cegos para o$virem as histórias dotempo do começo do caca$ )$ando era tamb4m o começo do s4c$lo. =ogam nE)$eis nas c$ias ao p4 do cego, a viola geme, a vo( conta dos

bar$lhos de >e)$eiro rande, da)$elas mortandades passadas1

8"u!ca se #iu ta!to tiroTa!to deu!to !a estrada.8

  Homens se acocoram no cho, o rosto sorridente, o$tros se apoiamnos bordKes, os o$vidos atentos ' narraço do cego. # viola acompanhaos versos, s$rgem diante dos homens a)$eles o$tros homens )$e abrirama oresta no passado, )$e a derr$baram, )$e mataram e morreram, )$eplantaram caca$ #inda vivem m$itos dos )$e tomaram parte dosbar$lhos de >e)$eiro rande. #lg$ns g$ram nesses versos )$e os cegos

cantam. Mas os o$vintes )$ase no relacionam os /a(endeiros de ho+e aoscon)$istadores de ontem. 3 como se /ossem o$tros seres, to di/erenteseram os tempos. #ntes a)$i era a mata /echada de 'rvores e de mist4rios,ho+e so as roças de caca$, abertas no amarelo dos /r$tos parecendo deo$ro. ;s cegos cantam, so histórias de espantar1

8Eu #ou co!tar uma hist@riaHma hist@ria de espa!tar.8

  ma história de espantar, a história da mata de >e)$eiro rande. -a

mesma noite em )$e os irmos Merenda e os tr0s cabras de Hor'ciohaviam atacado a >inh ?adaró no atalho, nessa mesma noite =$ca parti$

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O chee dos [email protected] #eN1 ele ia s@1

com ci!co homem acaou. Juca !*o era me!os1coragem !ele sora#a1

E Juca !*o respeita#a"em os gra!des !em os peue!os.8

  Mas contavam tamb4m da coragem da gente de Hor'cio, dos homens)$e iam com ele, de ?ra(, e sobre todos cora+oso, )$e /erido com tr0sbalas matara ainda assim dois homens1

8raN de !ome rasili!o Jos? dos Sa!tos1 se chama#a1

m ele ta#a C!oMesmo do ch*o atira#a1Ta!do erido1 mata#a8

  %etratavam Hor'cio, desde a s$a /a(enda, dando s$as ordens aoshomens, mandando2os pelos caminhos )$e cercavam a mata de >e)$eirorande1

8,or;cio as orde!s da#aEra sua Se!horia1

'ara saia pra estrada1(ra aNer estrepolia.. 8

  ;s rimances da l$ta de >e)$eiro rande iam desaando as g$ras eos /eitos, as in)$ietaçKes tamb4m. Di(iam das esposas1

8Mulher casada !*o ha#iaS@ se osse !a ahia...

(or aui ; se diNia:'asada era s@ proecto

2 Mesmo as ue ti!ha !etoDe #i=#a !o outro dia.8

  ;s homens das /eiras )$e o$vem, vinte anos depois, nos povoadosplantados sobre a terra onde /ora a mata de >e)$eiro rande, soltame@clamaçKes de admiraço, riem se divertindo, comentam em /rasesc$rtas. Pela vo( do cego desla ante eles este ano e meio de l$tas, dehomens morrendo, de homens matando, a terra ad$bada com sang$e. 3)$ando os cegos terminam1

8Eu ; co!tei uma hist@ria1Hma hist@ria de espa!tarL8

eles derr$bam mais alg$mas moedas na c$ia do narrador, e saem entrecoment'rios1 F/oi coisa de /eiticeiroF. #ssim di( o romance, assim eles o

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di(em ho+e tamb4m. &oi coisa de /eiticeiro, em noite de /eitiçaria. # pragado negro =eremias era distrib$Eda, na)$ele tempo das l$tas, pelasestradas, de /a(enda em /a(enda, na vo( do negro Damio, magro e s$+o,doido manso, choramingando pelos caminhos do caca$.

&  #inda no haviam se)$er es/riado os coment'rios nascidos da tocaia

contra >inh ?adaró e da morte dos irmos Merenda, )$ando Ilh4$s /oisac$dida pelo incidente entre o Dr. BirgElio e =$ca ?adaró, no cabar4 dacidade. #li's, na)$ele ano e meio os acontecimentos se s$cederam comtanta rapide( )$e dona Iai' Mo$ra, solteirona )$e (elava por $m altar daIgre+a de >o >ebastio, disse ' s$a amiga dona Lenita >ilva, )$e (elavapelo altar em /rente1  2 >e passa tanta coisa, Lenita, )$e a gente nem tem tempo de /alardireito sobre nenh$ma delas... !' t$do m$ito depressa...  # verdade 4 )$e tanto Hor'cio como os ?adarós tinham pressa. m eo$tro dese+avam derr$bar a mata )$anto antes e )$anto antes plant'2lade caca$eiros. # l$ta comia dinheiro, as /olhas de pagamento se elevavamnos s'bados a alt$ras n$nca vistas antes, os +ag$nços recebendo em dia,o preço das armas a$mentando. !anto os ?adarós como Hor'cio tinhampressa e, por isso, a)$eles meses /oram to cheios )$e as beatas nodavam conta dos /atos a comentar. #inda estavam /alando de $m )$andos$cedia o$tro )$e lhes reclamava atenço. ; )$e se passava tamb4m comos dois +ornais. #contecia, por ve(es Man$el de ;liveira estar escrevendo$m artigo descompondo Hor'cio por $ma arr$aça de se$s cabras e

receber a notEcia de o$tra m$ito maior. # viol0ncia de F; Com4rcioF e daF# &olha de Ilh4$sF no conhece$ limites nesse ano. =' no haviaad+ectivos ins$lt$osos, )$e no estivessem gastos e /oi $ma /esta naredacço de F; Com4rcioF no dia )$e o dr, enaro mando$ b$scar no %io9as livrarias da ?ahia no o tinham A venda: $m grande dicion'rioport$g$0s, editado em Lisboa, especiali(ado em termos )$inhentistas. &oi)$ando, para g'$dio e admiraço dos moradores, F; Com4rcioF passo$ achamar Hor'cio e se$s amigos de F/$oF, Fme)$etre/eF, viloF,Fib$steiroF, e de o$tros ad+ectivos dessa idade. F# &olha de Ilh4$sFresponde$ caindo no calo nacional, no )$al o Dr. %$i era $maa$toridade. ; processo )$e Hor'cio /a(ia correr no /oro de Ilh4$s

contin$ava sem sol$ço. FCorrer no /oroF era a mais inade)$ada dase@pressKes +$rEdicas )$ando se tratava de $m processo de gente daoposiço contra gente do governo, como era o caso act$al. ; +$i( estavaali para de/ender os interesses dos ?adarós. 3, se no o (esse bem, omenos )$e podia lhe acontecer era o governador do 3stado trans/eri2lopara $ma cidade(inha )$al)$er do serto, /altade todo con/orto, perdida e es)$ecida de todos onde ele vegetaria anos eanos. =' o +$i(ado de Ilh4$s, ao contr'rio, era caminho para a >$premaCorte do 3stado, para trocar o tEt$lo de +$i( pelo de desembargador, tEt$lom$ito mais sonoro e m$ito melhor pago. -o adiantava a /orça )$e o Dr.

 BirgElio e Dr. %$i /a(iam, bombardeando o +$i( com petiçKes,re)$erimentos pedidos de vistoria. ; processo marchava, seg$ndo

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Hor'cio, Fa passos de c'gadoF, e ele conava m$ito mais em tomar asterras A /orça )$e pela lei. 3 /a(ia com )$e R ao contr'rio do processo 2 osacontecimentos andassem depressa. !amb4m aos ?adarós interessava)$e marchassem o mais r'pido possEvel. #s eleiçKes se apro@imavam,seria no ano seg$inte, e m$ita gente di(ia )$e era )$ase certo o

rompimento entre o governo do 3stado e o governo &ederal devido A)$esto da s$cesso presidencial. 3 se o governo do 3stado caEsse, os?adarós passariam a ser oposiço, +' no haviam de contar com o +$i(,ento o processo de Hor'cio FcorreriaF realmente.  !$do isso se comentava pelos bote)$ins, pelas es)$inas, nas casas deIlh4$s, e at4 nos navios )$e paravam no porto, entre os estivadores )$eos carregavam e os marinheiros )$e iam seg$ir viagem. -as cidadesdistantes, em #raca+$ e em Bitória, em Maceió e no %eci/e, se /alavanessas l$tas de Ilh4$s como se /alava nas l$tas do Padre CEcero, em =$a(eiro do Cear'.  BirgElio havia ido ' ?ahia e conseg$ira de $m desembargador, )$eapoiava a oposiço, $m parecer /avor'vel a Hor'cio no caso da posse dasterras de >e)$eiro rande. 3 o :$ntara aos a$tos do processo e o Dr.enaro )$ebrava a cabeça em cima dos livros de direito para Fesmagar oparecerF, como prometera ao +$i( )$e estava aterrori(ado com a)$elaintromisso de $m desembargador n$m processo )$e ainda se encontravaem primeira instOncia. Por4m, mais )$e o parecer do desembargador, o)$e deve ter levado =$ca ?adaró a provocar o Dr.BirgElio /oi, sem d<vida,a sene de artigos )$e este havia escrito no di'rio oposicionista da ?ahiasobre as l$tas em Ilh4$s. ;s artigos de F# &olha de Ilh4$sF noincomodavam o mais mEnimo aos ?adarós. Mas a)$eles artigos n$m

 +ornal di'rio da ?ahia tiveram reperc$sso mesmo /ora do 3stado e, sebem os di'rios do governo ho$vessem de/endido >inh ?adaró, ogovernador lhe (era saber )$e era bom evitar )$al)$er p$blicidadesobre Fesses incidentesF n$m momento em )$e o governo estad$al no seencontrava em m$ito boa harmonia com o /ederal. Hor'cio tiveraconhecimento do /ato e BirgElio andava nas mas de Ilh4$s como $m vitorioso.  Certa noite, ele /oi ao cabar4. H' m$ito )$e no aparecia, s$as noitesagora eram nos braços de 3ster, lo$cas noites de amor e de delErio, acarne dela despertada em sens$alidade, se ed$cando nos re)$intes )$eele aprendera com Margot. Mas Hor'cio estava em Ilh4$s e BirgElio co$

sem ter onde ir. =' se acost$mara em no estar em casa A noite, e sedirigi$ ao cabar4 para tomar $m $Es)$e Ia com Maneca Dantas, o coronelhavia chegado com Hor'cio. BirgElio o convidara.  2 Bamos dar $m p$lo no cabar4  Maneca Dantas ri$, pilherio$1  2 ; senhor )$er desviar $m pai de /amElia do bom caminho, do$tor!enho esposa e lhos, no ando nesses l$gares...  %iram os dois, s$biram as escadas. -a sala do /$ndo =$ca ?adaró +ogava com =oo Magalhes e o$tros amigos. -ho(inho di(ia, em tom desegredo, aos amigos )$e Fera $m p)$er brabo, caci/e to alto ele n$ncatinha vistoF. BirgElio e Maneca Dantas /oram para a sala de dança, onde opianista e o violinista tocavam as m<sicas em voga. >entaram2se, pediram$Es)$e e BirgElio vi$ logo Margot )$e estava n$ma mesa com Man$el de

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;liveira e o$tros amigos dos ?adarós. ; +ornalista 2 )$e no brigava comning$4m, armando )$e ele Fera $m prossional de imprensa e )$e,a)$ilo )$e escrevia no +ornal era a opinio dos ?adarós e nada tinha )$e ver com a s$a, partic$lar 2 eram coisas distintasF R c$mprimento$ BirgElio.; advogado responde$. c$mprimentando a todos. Margot sorri$ para ele,

acho$2o belo, lembro$2se de o$tras noites, aperto$ o l'bio n$m gestoinicial de dese+o. -ho(inho tro$@e a garra/a.  2 3sse 4 do bom... 3scoc0s... >ó sirvo dele aos /reg$eses escolhidos.-o 4 para todo m$ndo...  2 J$al 4 a proporço de 'g$a 2 pilherio$ Maneca Dantas.  -ho(inho +$ro$ )$e era incapa( de mist$rar o $Es)$e e )$anto maisa)$ele, $m $Es)$e realmente... +$ntava os dedos, levava2os assim at4 osl'bios e soltava sobre eles $m bei+o estalado, demonstrando com essasmEmicas a bondade do $Es)$e Depois )$is saber por )$e o Dr. BirgElio noaparecia h' tanto tempo... 3le sentira /alta. BirgElio res$mia os motivospor )$e dei@ara de vir ao cabar41  2 ;c$paçKes, -ho(inho, oc$paçKes.  -ho(inho retiro$2se mas Man$el de ;liveira, )$e vira a garra/a de$Es)$e, se apro@imo$ para perg$ntar ao Dr. BirgElio notEcias de o$tro +ornalista )$e era amigo com$m dos dois e )$e trabalhava na ?ahia, nodi'rio da oposiço.  2 Bi$ o #ndrade por l', do$tor 2 perg$nto$ após apertar a mo de BirgElio e a de Maneca Dantas.  2 =antamos +$ntos $ma ve(.  2 3, como vai  2 #h o mesmo de sempre. ?ebendo desde )$e acorda at4 )$e deita.

Contin$a com os mesmos h'bitos... /ormid'vel  Man$el de ;liveira lembro$1  2 #inda escreve os s$eltos inteiramente b0bedo  2 Caindo. .  Maneca Dantas pedia a -ho(inho o$tro copo, servia o +ornalista. #gradecendo a gentile(a, Man$el de ;liveira lhe e@plico$1

$m colega, coronel. # melhor pena da ?ahia... =ornalista est' ali,completo. Mas bebe de /a(er medo. J$ando acorda, mesmo antes delimpar os dentes, emborca, o$ FsaboreiaF, como ele di(, $m copo decachaça. 3 contin$a... -a redacço n$nca ning$4m vi$ o #ndrade com ocorpo bem e)$ilibrado. Mas a cabeça, coronel, essa 4 sempre a mesma...

Cada tópico.. . m primor.. . 2 3mborco$ o copo, m$do$ de ass$nto. 2 ?om$Es)$e..  #ceito$ a nova dose, com o copo cheio despedi$2se, ia voltar para s$amesa. Mas antes disse a BirgElio1  2 !em $ma conhecida s$a na nossa mesa )$e est' com sa$dades 2olharam para Margot. 2 Di( )$e gostaria de dançar $ma valsa com osenhor...  Pisco$ o olho, /oi andando1  2 J$em /oi rei, sempre 4 ma+estade...  BirgElio ri$ com o coment'rio. -o /$ndo estava sem interesse nenh$m. Biera ao cabar4 para beber $m po$co e conversar, no viera atr's dem$lher. M$ito menos de $ma m$lher )$e act$almente era amante de =$ca?adaró, mantida por ele. Demais temia )$e Margot, com )$em no

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 voltara a /alar desde a)$ela o$tra noiteQ nesse mesmo cabar4, começassecom recriminaçKes. *-o estava interessado nela, para )$e dançar ento,reatar laços partidos De$ de ombros, bebe$$m trago de $Es)$e Mas Maneca Dantas estava interessado. 3le gostaria)$e a gente do cabar4 visse BirgElio dançando com Margot. #ssim

saberiam )$e ela vivia lo$)$inha pelo advogado, )$e só estava com =$capor)$e BirgElio a dei@ara. -o haveria mais )$em dissesse )$e =$ca atomara do o$tro. &alo$1  2 # moça no tira os olhos do senhor, do$tor...  BirgElio espio$, Margot sorri$, os olhos presos nele. Maneca Dantasperg$nto$1  2 Por )$e no dança $ma rodada com ela  #inda assim BirgElio reetia1 Fno valia a penaF. >e move$ na cadeira.Margot na o$tra mesa penso$ )$e ele ia se levantar para tir'2la e se psde p4. Isso o obrigo$ a decidir2se. -o tinha o$tro +eito )$e dançar. 3ra$ma valsa lOng$ida, saEram os dois pela sala e logo a gente toda os olho$,as rameiras comentavam. Da mesa onde estava Margot, $m homem )$isse levantar. Ho$ve $m princEpio de disc$sso entre ele e Man$el de;liveira. ; +ornalista proc$rava convence2lo de algo mas o homem, apóso$vi2lo, se desprende$ da mo de ;liveira )$e o seg$rava, e parti$ para asala de +ogo.  # m<sica da valsa se arrastava no piano velho. BirgElio e Margotdançavam sem trocar palavra mas ela ia de olhos cerrados, os l'biosapertados.  =$ca ?adaró chego$ da sala de +ogo. #tr's dele vinham =ooMagalhes, o homem )$e o /ora chamar, e os o$tros parceiros de p)$er

Da porta )$e com$nicava as d$as salas =$ca co$ olhando, as mosmetidas no bolso, os olhos cintilando. J$ando a m<sica acabo$, oshomens )$e dançavam bateram palmas pedindo bis. &oi nesse momento)$e =$ca ?adaró atravesso$ a sala, tomo$ Margot por $m braço, e ap$@o$ para a mesa. 3la rel$to$ $m po$co, BirgElio se adianto$, ia /alar,mas Margot impedi$ )$e ele dissesse )$al)$er coisa1  2 -o se meta, por /avor..  BirgElio co$ $m min$to indeciso, olhava =$ca )$e esperava, mas selembro$ de 3ster. . . )$e lhe importava Margot 2 c$mprimento$ a e@2amante sorrindo1  2 M$ito obrigado, Margot 2 e volto$ para s$a mesa onde Maneca

Dantas estava de p4, a mo no revólver, na e@pectativa do bar$lho.  =$ca ?adaró arrastara Margot para a mesa onde disc$tiram os dois em vo( alta, todo m$ndo o$vindo. Man$el de ;liveira proc$rava intervir,por4m =$ca ?adaró o olho$ de tal maneira )$e o +ornalista acho$ melhorcalar2se. # disc$sso a(edo$2se entre =$ca e Margot, ela )$is levantar2se,ele a sento$ violentamente. -as o$tras mesas havia $m sil0ncio completo,at4 o pianista espiava. =$ca volto$2se1  2 Por )$e diabo no toca a merda desse piano 2 grito$ e o velhote seatiro$ em cima do piano e os pares saEram dançando.  -o demoro$, =$ca tomo$ Margot pela mo, arrasto$2a consigo.J$ando passava em /rente A mesa onde estavam BirgElio e Maneca, =$cadisse para a m$lher )$e ia )$ase de rastos1  2 Bo$ lhe ensinar a respeitar macho, s$a p$ta mal2acost$mada...

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Parece )$e 4 a primeira ve( )$e vive com $m homem. .  Disse para )$e BirgElio o$visse e o advogado ia se levantando da mesa,tinha perdido a cabeça. Maneca Dantas 4 )$e o seg$ro$, vi$ )$e ele iamorrer nas mos de =$ca se tentasse $m gesto. =$ca e Margot saEram pelaescada, de dentro da sala se o$via o som das bo/etadas )$e ele dava na

amante. BirgElio estava p'lido. Maneca Dantas lhe e@plicava )$e no valiaa pena.  ; incidente no passo$ disso e no o$tro dia BirgElio o havia es)$ecido)$ase completamente. =' no pensava no ass$nto, Margot no lheinteressava. !inha ido viver com =$ca ?adaró por)$e )$isera, o plano de BirgElio era envi' la para a ?ahia, dar2lhe dinheiro para $ns )$antosmeses. 3la pre/erira se meter com =$ca na mesma noite do rompimento,se /a(er amante dele, /ornecera ao +ornal dos ?adarós detalhes sobre a vida de BirgElio como est$dante. >e ela agora apanhava de =$ca, se nopodia dançar com )$em )$isesse, era c$lpa dela, ele, BirgElio, nada tinhacom isso. 3, de certa maneira, no dei@ava de dar ra(o a =$ca. >eMargot ainda /osse s$a amante ele no haveria de gostar de v2ladançando com o homem )$e a tivera antes. Por m$ito menos BirgElio,(era $ma arr$aça n$m cabar4 da ?ahia po$cos anos atr's. 3ncontravadesc$lpa at4 mesmo para o ins$lto de =$ca na saEda. ; coronel devia estarci$mento e se e@altara. BirgElio se encontrava satis/eito com ManecaDantas por te2lo obrigado a sentar2se )$ando ele )$ase ia perdendo acabeça e se metendo n$ma briga por ca$sa de Margot. -o pretendiase)$er negar o c$mprimento a =$ca se este o sa$dasse na r$a. -og$ardava raiva dele, compreendia o )$e se passara, e principalmente nose interessava em brigar com ning$4m por ca$sa de Margot.

  Mas de boca em boca, nos coment'rios da cidade, o incidentecrescera. ns di(iam )$e =$ca arrancara Margot dos braços do Dr. BirgElio e a espancara na vista dele. ;$tros tinham $ma verso maisdram'tica. >eg$ndo estes, =$ca encontrara Margot aos bei+os com o Dr. BirgElio e sacara o revólver. BirgElio por4m, no lhe dera tempo paraatirar, embolara com ele, tinham l$tado pela posse da m$lher. 3ssa verso era geralmente aceita. 3, at4 )$e os )$e haviam assistido aoincidente narravam2no com grandes contradiçKes1 seg$ndo $ns, =$casaEra do cabar4 para evitar )$e o Dr. BirgElio tirasse Margot para dançarnovamente e na passagem pedira desc$lpas ao advogado. # maioria,por4m, achava o contr'rio1 )$e =$ca convidara BirgElio para brigar e este

se acovardara.  #pesar de saber de como coisas carentes de toda a importOncia erama$mentadas em Ilh4$s, BirgElio se admiro$ da seriedade )$e Hor'cioconcede$ ao incidente. ; coronel o mandara, no dia seg$inte, convidarpara +antar. BirgElio aceito$ encantado, proc$rava mesmo $m prete@topara ir A s$a casa e assim estar $m instante pró@imo a 3ster, sentindo s$apresença, o$vindo s$a vo( bem2amada.  Chego$ po$co antes do +antar, na porta se encontro$ com ManecaDantas )$e /ora tamb4m convidado. ; coronel o abraço$ e Hor'ciotamb4m o aperto$ nos se$s braços )$ando entraram. BirgElio osencontro$ m$ito graves, imagino$ )$e alg$ma coisa nova ho$vesseacontecido pras bandas de >e)$eiro rande. =' ia perg$ntar )$enovidades havia, )$ando a criada an$ncio$ )$e o +antar estava na mesa e

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 BirgElio se es)$ecia de t$do por)$e ia ver 3ster. Mas 3ster oc$mprimento$ /riamente, BirgElio noto$ nos se$s olhos o vestEgio del'grimas recentes. # primeira coisa )$e lhe ocorre$ /oi )$e Hor'cio haviasabido alg$ma coisa entre ele e 3ster e )$e o +antar no era mais )$e$ma cilada. &ito$ de novo 3ster e se de$ conta )$e ela no estava apenas

triste, estava o/endida, (angada com ele. 3 o coronel Hor'cio estavaam'vel, mais am'vel do )$e n$nca. -o, no era, com certe(a, nada emrelaço ao caso dele com 3ster. 3nto, )$e diabo seria  Hor'cio e Maneca Dantas gastaram )$ase toda a conversa do +antar. BirgElio se recordava de o$tro +antar, na /a(enda, )$ando conhecera 3ster.Po$cos meses se haviam passado e ela era dele, ele conhecia todos assegredos da)$ele corpo amado, tomara dele para si, lhe ensinara osmist4rios mais doces do amor. 3ra s$a m$lher, no pensava no$tra coisaseno em lev'2la embora para longe da)$elas terras de bar$lhos emortes. Para o %io de =aneiro, onde teriam s$a casa, onde viveriam s$a vida. -o era apenas $m sonho. BirgElio esperava to2somente ganhar $mpo$co mais de dinheiro e a resposta de $m amigo )$e, no %io, proc$ravapara ele $ma colocaço n$m escritório de advocacia o$ $m bom empregop<blico. >ó BirgElio e 3ster conheciam esse segredo, os se$s detalhesplane+ados entre bei+os na grande cama )$e oc$pava )$ase todo o )$artoda alcova. Imaginavam esse dia em )$e seriam $m do o$tro totalmente,sem )$e o amor /osse cortado pelo medo, como o era nessas noites deagora, as carEcias pert$rbadas pelo receio de )$e as empregadasdesconassem de )$e ele estava na casa. >onhavam, esse o$tro dia)$ando ela p$desse ir ao lado dele nas r$as, se$ braço passado pelo de BirgElio, mo na mo, $m do o$tro para sempre. 3n)$anto Maneca

Dantas e Hor'cio conversam sobre a sa/ra, o preço do caca$, as ch$vas, ocaca$ mole )$e se perde$ BirgElio rememora esses momentos na cama,entre as carEcias, em )$e plane+avam a /$ga, est$dando os detalhesmEnimos, terminando t$do em bei+os alegres e demorados )$e acendiam acarne para o amor at4 )$e a madr$gada e@p$lsava BirgElio, em passos/$rtivos, da casa de Hor'cio.  &oi arrancado dos se$s pensamentos )$ando, aproveitando $mmomento em )$e o di'logo entre Hor'cio e Maneca Dantas parara, 3ster/alo$1  2 Disse )$e o senhor ontem ando$ /a(endo de cavaleiro andante,do$tor BirgElio 2 sorna, mas se$ rosto estava triste.

  2 3$ 2 /e( BirgElio s$stentando o gar/o no ar.  2 3ster t' /alando 4 do bar$lho de ontem no cabar4... 2 disse Hor'cio. 23$ tamb4m andei sabendo.  2 Mas se no ho$ve bar$lho nenh$m... R conto$ BirgElio.  3 e@plico$ o caso1 se sentia innitamente triste na v4spera, sa$dadeno sabia de )$e 2 e olhava 3ster 2 e, tendo encontrado o coronel Maneca,este o convido$ para irem ao cabar4..  Maneca Dantas olho$, rindo1  2 ; senhor me arrasto$, do$tor. Conte a história direito. .  Chegados no cabar4, estava bebendo $m $Es)$e inocente )$ando veio/alar com eles o Man$el de ;liveira. 3 na mesa dele estava $ma m$lher)$e BirgElio havia conhecido na ?ahia, nos se$s tempos de est$dante.Dançaram $ma valsa, )$ando ele pedia o bis, =$ca ?adaró aparece$ e

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carrego$ com a m$lher. 3le no tinha nenh$m interesse pela m$lher enem teria se importado se =$ca no ho$vesse, ao passar por ele, dito$mas palavras desagrad'veis. Mas, ainda assim, o coronel ManecaDantas o impedira de reagir, e BirgElio se achava agradecido ao coronelpor)$e evitara )$e ele (esse $ma besteira por $ma criat$ra )$e no lhe

interessava absol$tamente. &ora isso, mais nada. Invocava o testem$nhode Maneca Dantas. 3ster parecia indi/erente As e@plicaçKes, disse com$ma vo( a/etada1  2 3 )$e tem demais Cabar4 4 mesmo para rapa( solteiro, semresponsabilidade de /amElia. ; senhor /a( bem em se divertir, no tem)$em so/ra por isso. . . #gora, o compadre Maneca 4 )$e no est' direito.. . 2 e ameaçava com o dedo. 2 !em esposa e lhos. Bo$ contar A comadre,hein 2 ameaçava sorrindo se$ sorriso triste.  Maneca Dantas pedi$, rindo m$ito, )$e ela no dissesse nada a dona #$ricEdia1  2 ci$menta de /a(er medo...  Hor'cio encerrava o ass$nto1  2 Dei@e disso, m$lher. !odo m$ndo tem direito de se divertir $ma ve()$e o$tra, de matar as m'goas. . .  #gora BirgElio estava mais descansado. =' sabia o por)$e da (anga de3ster, do ar /orçado de indi/erença, dos vestEgios de l'grimas. ; )$e noteria ela sabido atrav4s dessas incrEveis solteironas da cidade, essasbeatas sem o )$e /a(er se no /alar da vida alheia 3 dese+ava te2la nosbraços para lhe e@plicar, em meio a mil carEcias, )$e Margot norepresentava nada para ele, )$e dançara com ela )$ase por acaso. >entia$ma imensa tern$ra por 3ster e mesmo certa vaidade de sabe2la triste

por ci<mes. -a mesa, a criada servi$ o ca/4.  Hor'cio convido$ BirgElio a passar ao se$ gabinete para conversarem$m ass$nto. Maneca Dantas /oi com eles, ster co$ c$rvada sobre ocrochet.  ; gabinete era $ma peça pe)$ena onde o grande co/re de /erro era omóvel )$e mais chamava a atenço. BirgElio sento$2se, Maneca Dantesp$@o$ a cadeira de braços1  2 3ssa 4 mais larga para minhas banhas...  Hor'cio co$ de p4, /a(ia $m cigarro de palha. BirgElio esperava,pensava )$e se tratasse de alg$m detalhe +$rEdico do processo, sobre o)$al Hor'cio )$isesse a s$a opinio. ; coronel demorava na /abricaço

do cigarro, rolando o /$mo lentamente na mo calosa, raspando a palhade milho com $m canivete. Por m /alo$1  2 ostei de como o senhor conto$ o caso a 3ster. >e no ela ia carass$stada, ela lhe estima m$ito, do$tor. # pobre a)$i no tem )$ase com)$em conversar, tem $ma ed$caço m$ito di/erente das o$tras m$lheresda)$i. . . osta de conversar com o senhor, os dois /alam a mesmalEng$a...  BirgElio bai@o$ a cabeça e Hor'cio contin$o$, após acender o cigarro)$e terminara de /a(er1  2 Mas a)$i para nós, do$tor, esse negócio de ontem tem se$ lado /eio.; senhor sabe o )$e 4 )$e =$ca ?adaró anda di(endo por aE  2 -o sei e, pra lhe /alar a verdade, coronel, no me interessa. ;s?adarós no devem gostar de mim e e$ reconheço )$e tem ra(o. >o$

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  2 Mas isso no 4 coragem, coronel. Mandar $m +ag$nço matar $mhomem, a sang$e /rio, isso no 4 coragem... >e /osse e$ me encontrarcom =$ca na r$a, meter a mo no rosto dele, est' certo. . . Mas mandar$m cabra dar $m tiro Pra mim isso no 4 coragem...  2 #)$i 4 assim do$tor. 3 se o senhor pensa em /a(er carreira a)$i,

dei@e )$e e$ chame o cabra... >e no, no tem +eito. ; senhor pode ser omelhor advogado do m$ndo, ning$4m vai proc$rar o senhor...  2 3 mesmo tem o partido... 2 disse Maneca Dantas.  BirgElio sento$2se de novo. %eetia. -$nca esperava por a)$ilo. >abia)$e Hor'cio tinha ra(o. -a)$ela terra mandar matar era coragem, /a(ia$m homem respeitado. >abia tamb4m )$e no havia nenh$ma trampana)$ilo t$do. >e ho$vesse alg$m bar$lho com a +$stiça a c$lpa serialançada em cima de Hor'cio. Mas apesar disso t$do, ele no via motivopara mandar assassinar =$ca ?adaró. Hor'cio /alava1  2 Bo$ lhe di(er $ma coisa, do$tor, por)$e so$ se$ amigo. De )$al)$ermaneira e$ vo$ mandar li)$idar =$ca ?adaró. =' tava disposto a isso, elemato$ )$atro homens me$s. . . 2 emendo$ 2. . . isso 4, se$s homensmataram, mas a)$i 4 como se ele tivesse matado. !oco$ /ogo n$maplantaço de &irmo e ataco$ a casa de ?ra(. !' /a(endo estrepoliasdemais, 4 melhor acabar de $ma ve(. Pra semana vo$ mandar derr$bar ocomeço da mata, =$ca ?adaró no vai assistir...  Paro$, mais $ma ve( acende$ o /ós/oro, pito$ a ponta de cigarro.;lho$ BirgElio, s$a vo( era pesada como socos1  2 >ó )$ero /a(er $m /avor ao senhor. ; senhor d' a ordem ao cabra, etodo m$ndo vai saber, mesmo )$e e$ responda +<ri, )$e /oi vosmec0)$em mando$ li)$idar =$ca ?adaró. 3 ning$4m se mete mais a)$i com o

senhor, nem com m$lher s$a... Bo lhe respeitar...  Maneca Dantas bate$ no ombro de BirgElio, para ele era a coisa maissimples do m$ndo1  2 -o c$sta nada di(er cinco palavras...  Hor'cio concl$i$1  2 osto do senhor, do$tor, 4 $m homem de saber. Mas a)$i nessasterras, o saber só no adianta pra ning$4m, se$ do$tor. . .  BirgElio bai@o$ a cabeça. ; coronel ia mandar matar =$ca, mas )$eria)$e /osse ele )$em desse a ordem ao +ag$nço, assim ele entraria para orol dos homens valentes de Ilh4$s.. Penso$ em 3ster na o$tra sala,/a(endo croch4, roEda de ci<mes. >onhava viver com ela, partir para

o$tras terras, $ma terra civili(ada, onde a vida h$mana valesse alg$macoisa. Ir para longe dali, da)$elas matas, da)$eles povoados, da)$elacidade b'rbara, da)$ela sala onde os dois coron4is lhe aconselhavampara se$ bem 2 para se$ bem )$e ele mandasse matar $m homem.. &$gircom 3ster e seriam o$tras as manhs de cada dia, mais belas as tardes,as noites sem o$tros )$ei@$mes )$e os ais de amor. -o$tras terrasdistantes...  # vo( de Hor'cio voltava a atravessar o gabinete1  2 >e resolva, do$tor...

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  #s ch$vas longas do inverno eram pesadas, a 'g$a cantava nostelhados, escorria pelos vidros da +anela. ; vento do mar sac$dia as'rvores do )$intal derr$bando as /olhas e os /r$tos verdes. 3ster /echo$os olhos e vi$ a /olha voando, rodando lo$camente no ar, os pingos dech$va se ac$m$lando sobre ela, /a(endo2a pesada, derr$bando2a no cho.

3ssa viso lhe de$ /rio e ainda mais sono e ela se aperto$ contra oamante, as pernas enadas por entre as dele, a cabeça no se$ peito largo. BirgElio bei+o$ os cabelos /ormosos da m$lher, depois cobri$ mansamentecom os l'bios os olhos de p'lpebras cerradas. 3ster estende$ o braço n$,cingi$ a cint$ra do amante. ; sono vinha chegando, cada ve( maispesado, o corpo cansado da viol0ncia da posse rec4m2terminada. BirgEliotento$ conversar ainda, contar2lhe casos, a vo( apressada e nervosa.J$eria )$e ela no dormisse, )$e lhe (esse companhia. 3ra meia2noite ea ch$va no parava, cada ve( mais /orte, com ela vinha o sono )$eamolecia o corpo de 3ster. BirgElio /alava, relatava2lhe casos acontecidoscom ele )$ando est$dante na ?ahia. &alo$ mesmo em o$tras m$lheres)$e haviam passado em s$a vida para ver se assim ela despertava, reagiacontra o sono. 3ster respondia por monossElabos, termino$ por virar debarriga para bai@o no colcho, o rosto escondido no travesseiro. #indam$rm$ro$1  2 Conte, amor...  Mas ele logo vi$ )$e ela estava dormindo e ento senti$ todo o va(iodas palavras )$e di(ia, /rases sobre a vida na &ac$ldade. Ba(ias,totalmente va(ias de sentido e de interesse. #s gotas de ch$va escorriampelo vidro da +anela, BirgElio penso$ )$e eram como l'grimas. Devia serbom poder chorar, dei@ar )$e o so/rimento saEsse pelos olhos, escorresse

pelo rosto... 3ra assim )$e 3ster /a(ia. J$ando so$bera )$e ele dançaracom Margot no cabar4, ela dei@ara )$e as l'grimas corressem pelo rosto,e depois lhe /ora m$ito /'cil esc$tar as e@plicaçKes de BirgElio, acreditarnelas. M$ita gente era assim, se consolava com as l'grimas. Mas BirgEliono sabia chorar. -em mesmo )$ando recebera na r$a a notEcia de )$e opai morrera no serto, de repente. 3 )$eria ao pai com lo$c$ra, sabia dosacri/Ecio )$e c$stava ao velho mant02lo nos est$dos, sabia do org$lho)$e o pai sentia por ele. -em nesse dia chorara. &icara com $m nó nagarganta, parado na r$a, onde o conhecido lhe entregara a carta da tiacom a notEcia. m nó na garganta mas nenh$ma l'grima nos olhos secos,terrivelmente secos, to secos )$e ardiam. -enh$ma l'grima... Pelos

 vidros da +anela escorrem as l'grimas da ch$va, $ma atr's da o$tra. BirgElio penso$ )$e a noite chorava pelos mortos todos da)$ela terra.3ram m$itos, só mesmo $m temporal de ch$va pesada para atender atanta morte violenta J$e /a(ia ele na)$ela terra, por )$e viera para ali #gora era tarde, havia 3ster, só iria embora com ela. J$ando viera, aambiço enchia2lhe o peito, via rios de dinheiro, $ma cadeira noparlamento, $m /$t$ro polEtico, ele mane:ando toda essa (ona /4rtil docaca$. -os primeiros tempos só penso$ nisso e t$do ia bem, t$do comoele dese+ara1 ganhava dinheiro, os coron4is conavam nele, tinha 0@itocomo advogado, e a )$esto polEtica marchava bem, o governo estad$alse a/astava cada ve( mais do /ederal e era certo, para )$em tivesse viso,)$e no tinha possibilidades de se manter no poder nas pró@imaseleiçKes. ;$ talve( mesmo caEsse antes. Havia, na ?ahia, )$em /alasse em

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intervenço /ederal no 3stado. ;s se$s che/es estavam no %io tramandonegociaçKes, haviam sido recebidos pelo Presidente da %ep<blica, asit$aço se esclarecia cada ve( mais, havia grandes possibilidades de )$eele /osse candidato a dep$tado nas eleiçKes do ano seg$inte, e, seho$vesse a m$dança polEtica, no restavam d<vidas )$anto A s$a

eleiço...  Mas aparecera 3ster e t$do a)$ilo dei@o$ de ter importOncia. >ó elaimportava se$ co o se$s olhos, s$a vo(, se$s dese+os, se$ carinho por ele. #nal podia tamb4m /a(er carreira desde o %io, este havia sido se$pensamento inicial )$ando se /ormara em Direito. >e arran+asse $m l$garn$mescritório de advocacia de boa clientela, no tardaria a ir para diante,a)$eles tempos em !abocas e Ilh4$s de m$ito lhe haviam servido. #prendera mais na)$ele ano e oito meses )$e nos cinco de &ac$ldade.Cost$mavam di(er )$e Fadvogado de Ilh4$sF podia advogar em )$al)$erl$gar do m$ndo e era verdade. #li todas as s$tile(as da prosso se/a(iam necess'rias, o conhecimento completo das leis e da maneira deb$rlar as leis. 3m )$al)$er parte BirgElio teria, sem d<vida, grandes/acilidades para tri$n/ar, no era em vo )$e, em Ilh4$s, o consideravam +' $m dos melhores advogados do /oro. 3 claro )$e no seria to /'cil eto r'pido )$anto ali, onde +' tinha nome /eito e carreira polEticainiciada.. %'pido e /'cil... BirgElio demoro$ nas d$as palavras )$epensara. %'pido, podia ser. &'cil no era... >eria /'cil, por acaso, ter )$emandar matar homens para se /a(er respeitado Para poder s$bir noconceito de todos, poder /a(er carreira polEtica -o era /'cil... Pelomenos para ele, BirgElio, ed$cado no$tra terra, no$tros cost$mes, com

o$tros sentimentos. Para os coron4is dali, para os advogados )$e haviamenvelhecido na)$ela terra tamb4m, para eles era /'cil, para Hor'cio, paraos ?adarós, para Maneca Dantas, para o Dr. enaro com toda s$a c$lt$rapernóstica e s$a seriedade de homem )$e no /re)$entava casa dem$lher da vida. Mandavam matar como mandavam podar $ma roça, o$tirar $ma certido de idade no cartório. >im para eles era /'cil e BirgElion$nca havia se demorado em considerar o estranho desse /ato. >ó agoraolhava com o$tros olhos para estes homens r$des das /a(endas, essesadvogados manhosos da cidade e dos povoados, )$e calmamente,mandavam cabras esperar inimigos na estrada, por tr's de $ma 'rvore.>$a ambiço, primeiro, o amor de 3ster e o

dese+o de partir com ela depois, (eram com )$e ele n$nca se lembrassede reetir sobre o terrEvel da)$eles dramas )$e eram o )$otidianoda)$ela terra. &ora preciso )$e ele se visse obrigado a ter )$e mandar,ele tamb4m, matar $m homem, para sentir a desgraça da)$ilo t$do, oterrEvel da)$eles /atos, o )$anto a)$ela terra pesava sobre os homens. ;strabalhadores nas roças tinham o visgo do caca$ mole preso aos p4s, virava $ma casca grossa )$e nenh$ma 'g$a lavava +amais. 3 eles todos,trabalhadores, +ag$nços, coron4is, advogados, m4dicos, comerciantes ee@portadores, tinham o visgo do caca$ preso na alma, l' dentro, no maispro/$ndo do coraço. -o havia ed$caço, c$lt$ra e sentimento )$e olavassem. Caca$ era dinheiro, era poder, era a vida toda, estava dentrodeles, no apenas plantado sobre a terra negra e poderosa de seiva.-ascia dentro de cada $m, lançava sobre cada coraço $ma sombra m',

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apagava os sentimentos bons. BirgElio no estava com ódio nem deHor'cio nem de Maneca Dantas, m$ito menos do negro )$e sorria)$ando ele lhe ordenara tocaiar =$ca ?adaró nessa noite de )$inta2/eira)$e tanto c$sta a passar. !inha ódio era do caca$... >e revoltava por)$ese sentia dominado, por)$e no tivera /orças para di(er no e dei@ar )$e

Hor'cio so(inho /osse respons'vel pela morte de =$ca. -o sabia mesmocomo a)$ela terra, a)$eles cost$mes, t$do )$e nascia +$nto com o caca$,se haviam apossado dele. ma ve( em !abocas esbo/eteara Margot e /oi)$ando se de$ conta de )$e havia o$tro BirgElio )$e ele no conhecia,no era o mesmo dos bancos acad4micos gentil e am'vel, ambicioso, masrisonho, tendo pena das desgraças alheias, sensEvel ao so/rimento. Ho+eera $m homem r$de, em )$e se di/erenciava de Hor'cio 3ra ig$al a ele,os sentimentos eram os mesmos. J$ando conhecera 3ster, pensava )$e iasalv'2la de $m monstro, de $m ser ab+ecto e torpe. Mas )$e di/erençahavia 3ram os dois assassinos, mandantes de capangas, viviam os doisem /$nço do caca$, do o$ro dos /r$tos dos caca$eiros.  # esta hora 2 pensa BirgElio 2 =$ca +' ter' recebido o tiro e ser' apenas$m cad'ver a mais nas estradas do caca$, no ser', como os o$tros,enterrado +$nto a $ma 'rvore, $ma cr$( tosca lembrando oacontecimento. =$ca 4 /a(endeiro importante, o corpo vir' para Ilh4$s,ser' enterrado com grande acompanhamento, Dr. enaro deitar'disc$rso no cemit4rio, comparar' =$ca com g$ras históricas. !alve( opróprio BirgElio v' ao enterro, no 4 $m /ato novo nessas terras )$e oassassino acompanhe o cai@o da vEtima. De alg$ns contam )$e at4pegaram na alça do cai@o, o ar triste, a ro$pa negra de cerimónia. -o,ele no ir' ao enterro de =$ca, como poder' tar o rosto de dona ;lga

 =$ca no era $m bom marido, vivia metido com m$lheres, +ogando peloscabar4s, mas ainda assim dona ;lga h' de chorar e de so/rer. Como t'2lana hora do enterro -o, o )$e ele tinha a /a(er era ir embora, via+arpara longe, onde nada lhe recordasse Ilh4$s, o caca$, as mortes. ;ndenada lhe recordasse a)$ela noite na casa de 3ster, no gabinete docoronel, )$ando BirgElio disse )$e chamasse o cabra. Por )$e dissera sim,se no por)$e estava irremediavelmente ligado A)$ela terra, o dese+o delevar 3ster para longe no era mais )$e $m sonho, )$e se adiava sempreLigado A)$ela terra, esperando, ele tamb4m, plantar roça de caca$,esperando no /$ndo )$e Hor'cio morresse na)$eles bar$lhos de >e)$eirorande e ele p$desse casar m 3ster. >ó agora tamb4m se d' conta de )$e

esse /oi $m dese+o )$e esteve sempre no se$ coraço, )$e espero$ cadadia a notEcia da morte do coronel, derr$bado por $ma bala de $m homemdos ?adarós... 3n)$anto plane+ava $m emprego no %io, ganhar maisdinheiro para partir, en)$anto encontrava arg$mentos para demorar a/$ga com 3ster, estava apenas esperando a)$ilo )$e considerava /atal1)$e os ?adarós mandassem matar Hor'cio e assim terminar com oproblema. Certa ve( pensara nisso e proc$ro$ depois es)$ecer essemomento. Pensara )$e se acontecesse Hor'cio morrer ele aconselharia a3ster a entrar n$m acordo com os ?adarós para a diviso da mata de>e)$eiro rande e a terminaço da l$ta. -a)$ela tarde enganara a simesmo di(endo )$e pensava no /ato como $m acontecimento prov'vel)$e no podia /altar nos se$s c'lc$los de advogado da /amElia. Mas agora,na cama, olhando as l'grimas da ch$va )$e desli(avam na +anela, ele

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con/essa )$e no tem /eito nesses meses o$tra coisa )$e esperar anotEcia da morte de Hor'cio, $m tiro no peito, $m cabra )$e /oge... >im,nada mais lhe resta )$e esta perspectiva. #gora no pode mais /$girda)$ela terra, agora est' denitivamente ligado a ela, ligado por $mcad'ver, por =$ca ?adaró )$e ele mando$ matar. . . #gora 4 esperar )$e,

mais dia menos dia, cheg$e a ve( do tiro de Hor'cio, do enterro dele. 3ento ter' 3ster e ter' as propriedades e a mata de >e)$eiro randetamb4m. >er' rico e respeitado che/e polEtico, dep$tado, senador, o )$e)$iser. &alaro mal dele nas r$as de Ilh4$s mas o c$mprimentaroservilmente se c$rvaro diante dele. -o havia o$tro +eito... -oadiantava pensar em /$gir, em ir para longe, em recomeçar a vida. Paraonde )$er )$e /osse levaria consigo a viso de =$ca ?adaró caindo docavalo, a mo tapando a /erida, viso )$e BirgElio v reetida no vidro da +anela onde a 'g$a corre. B atrav4s de se$s olhos, secos, sem l'grimas,pensa )$e seco est' se$ coraço tamb4m, coberto pela sombra do caca$.  -o adianta mais pensar em /$gir, agora se$s p4s esto presos ao visgo da)$ela terra, visgo de caca$ mole, visgo de sang$e tamb4m.-$nca mais ser' possEvel sonhar o$tra vida di/erente. #gora ele eratamb4m $m grapi<na, denitivamente $m grapi<na. F-o 4 mais possEvelsonhar, 3ster.F  >e$s olhos secos, s$as mos trem$las, se$ coraço doEdo. 3sterressona na noite /resca de ch$va. -essa noite de )$inta2/eira, na estradade &erradas, $m homem derr$bo$ =$ca ?adaró do se$ cavalo. BirgElio seabraça ' m$lher. ster semi2adormecida sorri1  2 #gora no, amor.. .  3 a ang<stia a$menta, ele veste a ro$pa )$ase correndo, sente $ma

necessidade de dei@ar )$e a ch$va caia sobre ele sobre s$a cabeçaardente, lave s$as mos s$+as de sang$e, lave se$ coraço manchado. >ees)$ece de descer em passos c$idadosos para no acordar asempregadas. 3 sai pelo )$intal, no leito da estrada de /erro arranca ochap4$ e dei@a )$e a ch$va escorra sobre o se$ rosto, como se /ossem asl'grimas )$e ele no choro$.

  Mas no havia motivo nem para tamanha ang<stia de BirgElio, nempara a alegria )$e Dr. =ess4 pensava descobrir no rosto de Hor'cio )$e

po$sava na)$ela noite em s$a casa em !abocas. ; coronel, desde )$e osbar$lhos de >e)$eiro rande haviam começado, desistira de via+ar Anoite, pelas estradas, apesar dos homens )$e o acompanhavam. Comono p$dera seg$ir para a /a(enda A tarde, alg$ns negócios o haviamretido em !abocas, dei@o$ para sair na manh seg$inte e se diverti$ nom da tarde assistindo As cons$ltas do Dr. =ess4. &icara no cons$ltório domedico )$e atendia aos en/ermos. 3, como )$ase todos eles eramconhecidos e eleitores se$s, Hor'cio no estava perdendo tempo. !inha$ma /rase para cada $m, perg$ntava pelos negócios, pela vida, pela/amElia. >abia ser am'vel )$ando )$eria, e na)$ele dia se sentia

partic$larmente alegre, alegria )$e a$mentava A proporço )$e a tardecaEa. Da +anela do cons$ltório, ele vira =$ca ?adaró, de botas e esporas,

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)$ando o homem ia levar a repetiço ao ombro para rmar a pontaria, #ntónio BEtor percebera $m r$mor levEssimo ao lado da estrada, e,pensando )$e /osse alg$ma paca o$ alg$m tat$, dirigi$ o b$rro paradentro do roçado, o revólver na mo para levar a caça morta de presentepara DonG#na. Bi$ o cabra levantando a arma. #tiro$ imediatamente, mas

erro$. ; homem se volto$ ento para ele, e acerto$ o tiro na perna de #ntónio BEtor )$e só no o recebe$ no peito por)$e estava saltando dob$rro. Com o r$Edo dos tiros, =$ca e Biriato se apro@imaram e o cabra noteve tempo de /$gir. #ntes de mat'2lo e antes mesmo de atender a #ntónio BEtor, =$ca aperto$ o homem com perg$ntas1  2 Diga )$em /oi e e$ lhe dei@o ir em pa(...  ; cabra con/esso$1  2 &oi Dr. BirgElio mais o coronel Hor'cio...  J$ando ele +' se a/astava, Biriato s$spende$ a repetiço, o claro dotiro il$mino$ a noite, o homem cai$ para a /rente. =$ca, )$e estavaamarrando a perna de #ntónio BEtor com $m trapo arrancado da s$aprópria camisa de seda, ao o$vir o tiro, se levanto$1  2 -o disse )$e ele podia ir em pa( 2 grito$ irritado.  Biriato se desc$lpo$1  2 3 $m de menos, patro...  2 3$ devia lhe ensinar a me obedecer. J$ando e$ digo $ma coisa 4para ela ser /eita. Palavra de =$ca ?adaró no volta atr's.  Biriato bai@o$ a cabeça sem responder. #ndaram at4 o homem, eleacabava de morrer. =$ca /e( $ma careta de aborrecimento1  2 Benha a+$dar 2 disse a Biriato.  P$seram #ntónio BEtor em cima do b$rro, Biriato tomo$ da r4dea,

seg$iram a passo. #ssim chegaram A /a(enda, onde as placas de)$erosene ainda acesas revelavam a in)$ietaço de >inh )$e esperava oirmo m$ito mais cedo. >aEram todos para o terreiro, vieram +ag$nços etrabalhadores, a+$daram #ntónio BEtor a desmontar. Havia $ma con/$sode perg$ntas, de gente )$e se apertava para atender ao /erido. ; próprio>inh ?adaró pego$ nos ombros de #ntónio BEtor para lev'2lo paradentro. Deitaram2no sobre $m banco. DonG#na grito$ por %aim$ndapedindo 'lcool e algodo. #o o$vir o nome da m$lata, #ntónio BEtor volto$a cabeça. 3 somente ele e DonG#na notaram )$e as mos de %aim$ndatremiam )$ando ela entrego$ o pacote de algodo e a garra/a de 'lcool.&ico$ depois a+$dando DonG#na nos c$rativos 9a bala apenas rasgara a

carne, sem atingir nenh$m osso: e s$as mos r$des e pesadas setornaram delicadas e ternas, tamb4m elas eram s$aves mos de m$lher.Para #ntónio BEtor eram m$ito mais doces, ternas e s$aves, )$e as mosleves e nas de DonG#na ?adaró.

  -a manh de sol claro e brando, a m$lata %aim$nda entro$ na casados trabalhadores. !ra(ia $ma garra/a de leite, tra(ia po )$e DonG#namandava para #ntónio BEtor. # casa estava va(ia, os trabalhadores

andavam pelas roças colhendo caca$. #ntónio BEtor dormia $m sonoin)$ieto de /ebre. %aim$nda paro$ ao lado da cama, contemplo$ o

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homem )$e dormia. # perna amarrada de c$rativo saEa de bai@o dacolcha velha, mostrando o p4 enorme, coberto de visgo de caca$ )$ehavia secado. -essa tarde, ele no a esperaria na beira do rio para a+$d'2la a levantar a lata dG'g$a. %aim$nda sente medo. >er' )$e ele vaimorrer >inh ?adaró disse )$e a /erida 4 sem importOncia, )$e, com

tr0s o$ )$atro dias, #ntónio BEtor estar' de p4 pronto para o$tra. Mas,ainda assim, %aim$nda tem medo e, se o negro =eremias no tivessemorrido, ela se atreveria a atravessar a mata e ir em b$sca de $mrem4dio do /eiticeiro. #)$ele rem4dio de /arm'cia, )$e est' ao lado do +ira$ do doente e )$e ela tem )$e lhe dar agora, no merece a conançade %aim$nda. 3la sabe $ma oraço contra /ebre e mordida de cobra )$es$a me lhe ensino$ na co(inha da casa2grande. =$nta os +oelhos no choe re(a, antes de acordar #ntónio BEtor para lhe dar o rem4dio1

  F&ebre maldita, tr0s ve(es te enterro nas pro/$nde(as da terra. # primeira em nome do Padre* a seg$nda em nome do &ilho* a terceira do3spirito >anto* com as graças da Birgem Maria e a de !odos os >antos. !eescon+$ro, /ebre maldita e mando )$e t$ volte pras pro/$nde(as da terradei@ando me$...”

  >eg$ndo a negra velha %isoleta ao chegar aE era preciso di(er oparentesco do doente com a pessoa )$e pedia1 Fme$ irmoF, Fme$maridoF, Fme$ paiF, Fme$ patro. %aim$nda co$ $m instante indecisa.!alve( se no /osse to grave e se ele no dormisse, talve( a m$lata%aim$nda no contin$asse a oraço1

  “. . . dei@ando me$ homem c$rado de todos os males, am4mF.  #cordo$ #ntónio BEtor. >e$ rosto estava novamente (angado, se$smodos br$scos1  2 3 hora do rem4dio. .  >eg$ro$ a cabeça dele sob se$ braço roliço. #ntónio BEtor engoli$ acolherada da medicaço, olhava %aim$nda com os olhos /ebris. # m$lataando$ para a)$ilo )$e era chamado de /ogo1 tr0s pedras em meio das)$ais estavam $mas brasas apagadas e $ns pedaços de madeira meio)$eimados. 3m cima, $ma lata com $m po$co de 'g$a. =ogo$ a 'g$a /ora,derramo$ o leite na lata, acende$ o /ogo. #ntónio BEtor a acompanhava

com os olhos. -o sabia como começar. %aim$nda acocoro$2se ao lado do/ogo, esperando )$e o leite /ervesse. #ntónio BEtor se decidi$ e chamo$1  2 %aim$nda  3la viro$ a cabeça, olhando.  2 Bem c'.  Beio de m' vontade, com passos pe)$enos, demorados.  2 >ente a)$i 2 pedi$ ele /a(endo l$gar no +ira$.  2 -o.  #ntónio BEtor olho$ para a m$lata, re$ni$ /orças, perg$nto$1  2 !$ )$er casar comigo  3la co$ mais (angada ainda. &echo$ o rosto, as mos pegavam naspontas da saia, olhava o cho de barro batido. -o responde$, corre$para o leite )$e /ervia1

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  2 J$ase derrama.  #ntónio BEtor se derreo$ na cama, cansado do es/orço. 3la agora/ervia 'g$a para o ca/4, servia n$ma caneca, molho$ o po para ele noter trabalho. Depois lavo$ a caneca, apago$ o /ogo1  2 -a hora do almoço e$ volto.

  #ntónio BEtor no di(ia nada, só a olhava. #ntes de sair, ela paro$ denovo ante ele, os olhos novamente no cho, novamente as mos oc$padascom a saia, o rosto (angado, (angada a vo( tamb4m1  2 >e padrinho >inh dei@ar, e$ )$ero, sim. . .  3 desaparece$ pela porta, #ntónio BEtor senti$ a /ebre a$mentar.

4

  =$ca ?adaró acabara de combinar com >inh os <ltimos detalhes daderr$bada da mata. -a seg$nda2/eira começariam. =' haviam sidoescolhidos os homens, os )$e iam derr$bar a oresta, iniciar as)$eimadas, e os )$e iam garantir, com s$as repetiçKes, o trabalho doso$tros.  2 >eg$nda2/eira me toco pra mata. . .  >inh estava sentado na s$a alta cadeira a$strEaca. =$ca ainda tinha o)$e di(er, >inh esperava1  2 ?om caboclo esse #ntónio BEtor. . .  2 3 boa coisa... 2 assenti$ >inh.  =$ca ri$1  2 3ssa gente 4 engraçada. &$i l' conversar com ele. 3 a seg$nda ve()$e ele me tira de $m ap$ro... Primeiro /oi em !abocas, t$ lembra

  2 Me lembro...  2 ;ntem, de novo. &$i l' perg$ntar o )$e ele )$eria. Disse )$e pensavaem lhe dar a)$ele pedaço de terra )$e resto$ da )$eimada do anopassado e )$e no /oi plantado ainda. -os lados do %epartimento. !erraboa, ali d' $ma roça grande. >abe o )$e ele disse  2 J$e /oi  =$ca ri$ de novo1  2 Disse )$e só )$eria $ma coisa. J$e t$ dei@asse ele casar com%aim$nda. ;ra, +' se vi$... !em cada $ma... Bo$ dar terra ao desgraçado eele pre/ere essa br$@a horrorosa. . . 3$ prometi )$e t$ ia consentir...  >inh ?adaró no /e( ob+ecçKes1

  2 3 )$ando ele casar ca com a terra tamb4m. J$ando t$ /or em Ilh4$sde ordem a enaro pra registrar no cartório. 3 $m m$lato bom... 3%aim$nda tamb4m tem direito, prometi a nosso pai )$e no dei@aria eladeserdada )$ando ela /osse casar. Do$ me$ consentimento.  Ia levantar a vo( chamando %aim$nda e DonG#na para dar a notEcia)$ando $m gesto de =$ca o /e( parar.  2 3 )$e e$ tenho o$tro pedido de casamento a /a(er. . .  2 ;$tro !$ agora viro$ >anto #ntónio dos trabalhadores  2 Dessa ve( no 4 trabalhador, no. . .  2 3 )$em 4

  =$ca proc$rava $ma maneira de entrar no ass$nto1  2 3 engraçado... %aim$nda e DonG#na so da mesma idade, mamaram

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as d$as nos peitos da negra %isoleta... Cresceram +$ntas, era bom )$ecasassem +$ntas..  2 DonG#na 2 >inh ?adaró aperto$ os olhos, passo$ a mo na barba.  2 3 o capito =oo Magalhes. Me /alo$ agora em Ilh4$s 1. . Parece $mhomem direito. . .

  >inh ?adaró /echo$ os olhos. J$ando os reabri$, /alo$1  2 =' tava vendo )$e ia dar em coisa... ?em )$e vi DonG#na todaassanhada no lado do capito. #)$i e n' procisso. . .  2 J$e t$ acha  >inh reetia1G  2 -ing$4m conhece ele direito... Di( )$e 4 no sei )$anta coisa no %io,)$e /a( e acontece, mas ning$4m conhece ele direito. !$ )$e sabe  2 -o sei mais )$e t$1 Mas acho )$e no tem nada. #)$i t$do 4 denovo, >inh, t$ bem sabe. #)$i t$do começa e depois 4 )$e se vai medir ohomem. Pra tr's, )$em sabe o )$e co$ ; )$e t' pra /rente 4 )$e vale.3 o capito me. parece $m homem capa( de se +ogar nessa vida comcoragem. . .  2 Pode ser. . .  2 Medi$ as terras sem ter registro do tEt$lo dele, e$ sei )$e /oi pelodinheiro, no /oi por ami(ade. Mas DonG#na ele no )$er pelo dinheiro, 4por ami(ade. 3$ conheço as pessoas to bem como conheço as terras...3le t' )$erendo casar, pode ser )$e no tenha $m vint4m, se+a limpo, e v' começar. Mas vai com coragem, 4 melhor )$e o$tro )$e )$eira edescansar. . .

>inh reetia, os olhos semicerrados, as mos alisando a barba negra. =$ca contin$o$1

  2 !em $ma coisa, >inh. !$ só tem essa lha, e$ no tenho lhonenh$m, a no ser na r$a, lho )$e no leva me$ nome. ;lga no servepra parir, o m4dico +' disse. m dia desse e$ co derr$bado com $m tiro,t$ sabe )$e vai ser assim. Inimigo me sobra... -o vo$ chegar no mdesses bar$lhos... 3, depois, )$ando t$ tiver velho, )$al 4 o ?adaró )$e vai colher caca$, )$e vai eleger o intendente de Ilh4$s J$al 4  >inh no respondia, =$ca completo$1  2 3le 4 $m homem como a gente. . . J$em sabe se no 4 só $m +ogador !alve( )$e se+a, +' me disseram. 3 isso t$do 4 $m +ogo, +ogo combar$lho no m, a gente precisa de $m homem assim... m )$e possatomar me$ l$gar )$ando me li)$idarem.. .

  #ndo$ pela sala, pego$ do reben)$e )$e estava sobre $m banco, batianas botas1  2 !$ podia casar ela com $m do$tor, )$e adiantava Ia comer os l$crosdo caca$, n$nca mais plantava raça, n$nca mais derr$bava mata. Ia go(arpelo m$ndo o )$e n$nca go(o$. ; capito +' /e( isso t$do, agora )$er 4plantar roça. o isso 4 )$e acho bom. . .  %aim$nda entro$ na sala para varre2la, $m gesto de >inh a e@p$lso$. =$ca narrava1  2 Disse a ele1 só tem $ma coisa, capito. J$em casar com DonG#na tem)$e levar o nome dela. ao contr'rio de todo m$ndo )$e o homem d' onome ' m$lher. J$em casar com DonG#na tem )$e virar $m ?adaró...  2 3 ele )$e disse  2 Primeiro no gosto$, no. Disse )$e os Magalhes tinham /eito e

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acontecido. Depois, )$ando vi$ )$e no tinha +eito, disse )$e sim.  >inh ?adaró grito$ para dentro1  2 DonG#na %aim$nda. Benham c'  Chegaram as d$as. DonG#na parecia desconada do )$e conversavamse$ pai e se$ tio. %aim$nda tra(ia a vasso$ra na mo, pensava )$e a

chamavam para varrer a sala. 3 /oi a ela )$e >inh se dirigi$ primeiro1  2 #ntónio BEtor )$er casar com voc0... 3$ disse )$e sim. Do$ as terras)$e to por tr's das roças do %epartimento de dote. !$ )$er  %aim$nda no vinha para onde olhar1  2 >e padrinho acha bom...  2 3nto v' se preparando pro casamento. Bai ser logo pra no dartempo de se perder antes... Pode ir pra dentro.  %aim$nda sai$. >inh chamo$ DonG#na para mais perto da s$acadeira.  2 Mandaram pedir tamb4m t$a mo, minha lha. =$ca acha bom, e$no sei )$e achar... &oi esse capito )$e teve a)$i. . . J$e t$ acha  DonG#na estava ig$al a %aim$nda na /rente de #ntónio BEtor. ;s olhosno cho, as mos na saia, sem +eito para /alar1  2 &oi o capito =oo Magalhes  2 3sse mesmo. !$ gosta dele  2 osto, sim, pai.  >inh ?adaró coo$ a barba lentamente1  2 Peg$e a ?Eblia, vamos ver o )$e ela di(..  3nto DonG#na tiro$ os olhos do cho, as mos da saia, s$a vo( era/orte e decidida.  2 Diga o )$e disser, me$ pai, e$ só me caso com $m homem no m$ndo1

4 com o capito. Mesmo )$e se+a sem s$a b0nço...  Disse e se +ogo$ aos p4s do pai, abraçando s$as pernas. 

5

  Dr. =ess4 largo$ a representaço no meio, os amadores do r$po!abo)$ense caram sem se$ director )$e era tamb4m o ponto. Issoestrago$ $m po$co o espet'c$lo +' )$e alg$ns artistas no sabiamper/eitamente as s$as partes, declamavam com a a+$da do ponto. ; )$eno teve grande importOncia, por)$e a pop$laço de !abocas po$co sedemoro$ a comentar a representaço de FBampiros >ociaisF, inteiramente

entreg$e )$e co$ ' comoço da notEcia tra(ida pelo homem )$e vierab$scar o Dr. =ess41 Hor'cio estava doente, derr$bado pela /ebre. Dr. =ess4abandonara o espet'c$lo pelo meio, re$nira na maleta medicamentos v'rios e montara em seg$ida. ; cabra o acompanho$, mas a notEcia co$,corre$ pelas las de espectadores de boca em boca. 3, no o$tro dia,)$ando As on(e horas 3ster desembarco$ do trem e, na estaço, semalmoçar se)$er, monto$ no cavalo )$e a esperava, cercada pelos cabras)$e haviam vindo b$sc'2la, +' toda !abocas sabia )$e Hor'cio pegara a/ebre )$ando atendia a >Elvio )$e morrera /a(ia tr0s dias. # vi<va de>Elvio iniciava $ma novena pelo restabelecimento de Hor'cio F$m homem

to bomF, di(ia. BirgElio acompanhara 3ster at4 !abocas, indi/erente aoscoment'rios, mas no /oi para a /a(enda de Hor'cio nesse dia. >$biria se

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o coronel piorasse. #gora ele tamb4m $sava revólver, desde )$e so$bera)$e =$ca ?adaró escapara da tocaia. !abocas vivia na espera de cadaportador )$e chegava da /a(enda em b$sca de rem4dios. ; cons$ltório doDr. =ess4 estava /echado e s$a esposa avisava aos clientes )$e o Fdo$torsó voltaria )$ando o caso do coronel Hor'cio tivesse se decididoF. &rase

)$e era trad$(ida pelos moradores como $m aviso de )$e Dr. =ess4 só voltaria acompanhando o cad'ver de Hor'cio, pois ning$4m escapavada)$ela /ebre. Citavam casos, eram in<meros, trabalhadores e coron4is.do$tores e comerciantes. Circ$lavam mais $ma ve(, entre as beatas,a)$elas histórias do diabo preso n$ma garra/a saindo $m dia para levarconsigo a alma de Hor'cio. Di(iam )$e &rei ?ento +' via+ara de &erradaspara a /a(enda, levando a e@trema2$nço para Hor'cio, pronto paracon/ess'2lo e absolve2lo dos pecados.  Mas Hor'cio no morre$. >ete dias depois a /ebre começo$ a dimin$irat4 cessar completamente. Mais )$e as medicaçKes do Dr. =ess4, talve( otenha salvo o se$ corpo /orte, de homem sem vEcios e sem en/ermidades,de órgos per/eitos. 3, mal a /ebre começo$ a abandon'2lo, ele ordeno$)$e se$s homens iniciassem a derr$bada da mata de >e)$eiro rande. BirgElio /oi chamado A /a(enda, o coronel )$eria cons$lt'2lo sobredetalhes +$rEdicos. Biera antes $ma ve(, o coronel delirava, s$a /ebrecheia de visKes de caca$, matas se derr$bando, roças )$e eramplantadas. Dava ordens aos gritos, plantava e colhia caca$ no se$ delErio.3ster no abandonava a cama do en/ermo, estava magra, era de $madedicaço sem limites. J$ando BirgElio chegara, da primeira ve(, elaapenas lhe perg$nto$ se sabia notEcias do lho )$e cara em Ilh4$s, eleno conseg$i$ )$ase v2la só. 3 )$ando a vi$ e a bei+o$, /oi por $m

momento, )$ando ela voltava da co(inha para o )$arto com $ma bacia de'g$a )$ente. Po$co se /alavam e BirgElio so/rera como se tivesse sendotraEdo. Mas tamb4m ele tinha os olhos cobertos por certa in)$ietaço, sesentia c$lpado da doença de Hor'cio, da s$a morte )$e encontravainevit'vel, como se o coronel ho$vesse adoecido devido aos se$s dese+os.Compreendia )$e 3ster sentia a mesma coisa, mas, ainda assim, a)$ilolhe doEa como $ma traiço.  J$ando Hor'cio, +' /ora do perigo* o mando$ chamar, ele proc$ro$ semostrar triste como 3ster, tinha a sionomia cansada e abatida. -o)$arto onde, sobre os alvos lençóis, o coronel estava vestido com o se$camisolo, 3ster se destacava, sentada na cama, $ma mo de Hor'cio

entre as s$as. Hor'cio n$nca se sentira to /eli( como no m dessa /ebre,)$e lhe provara a dedicaço da esposa. 3 isso o /a(ia ativo, dando ordensno só aos trabalhadores como a Maneca Dantas e a ?ra( )$e, na)$eledia, o haviam vindo visitar. BirgElio entro$ no )$arto, abraço$ o coronelpor cima da cama, aperto$ /riamente a mo de 3ster, abraço$ ManecaDantas, de$ os parab4ns a =ess4 Fpelo se$ milagreF. Mas Hor'cio ri$1  2 #bai@o de De$s )$em me salvo$ /oi essa a)$i, se$ do$tor 2 mostrava3ster ao se$ lado.  Depois se desc$lpava com o Dr. =ess4.  2 claro )$e o compadre /e( t$do, rem4dio, tratamento, o diabo. Masse no /osse ela )$e no dormi$ esse tempo todo, e$ nem sei...  3ster levanto$2se, sai$ do )$arto. BirgElio, sem o notar, oc$po$ o l$gar)$e ela dei@ara vago na cama. >ento$2se sobre o calor )$e restara da

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amante e $ma s<bita raiva de Hor'cio tomo$ conta dele. -o morrera... BirgElio dei@o$ por $m momento )$e os se$s mais remotos e escondidospensamentos viessem at4 se$ coraço. -o morrera... #h se ele p$dessemandar mat'2lo...  D$rante alg$ns min$tos nem presto$ atenço ao )$e conversavam,

todo entreg$e aos se$s pensamentos. &oi preciso $ma perg$nta deManeca Dantas para cham'2lo A conversa1  2 J$e acha, do$tor  3ncontro$ 3ster, depois para os lados da barcaça. 3la se abraço$ nele,sol$çava1  2 !$ no achas )$e e$ devia /a(er assim -o podia ser de o$tro modo.  >e comove$, acaricio$ o corpo amado por cima dos vestidos. ?ei+o$2lhe os olhos, as /aces, interrompe$ alarmado1  2 !$ est's com /ebre  3la disse )$e no, era cansaço. ?ei+o$2o m$ito, pedi$2lhe )$e cassena)$ela noite, ela conseg$iria ir ao )$arto dele nas s$as idas e vindaspela casa, atendendo ao doente. 3le promete$, comovido e sa$doso dascarEcias dela, só a dei@o$ )$ando viram o gr$po de trabalhadores )$e vinha pela estrada.  Mas, na hora do +antar, 3ster +' no s$porto$ estar ali sentada,comendo. >e )$ei@o$ de arrepios de /rio, sai$ As pressas para vomitar. BirgElio volto$2se m$ito p'lido para o Dr. =ess41  2 3la pego$ a /ebre.  ; m4dico se levanto$, ando$ para dentro, 3ster estava trancada nalatrina. BirgElio se levanto$ tamb4m, po$co se importava com ManecaDantas e com ?ra(. &ico$ ao lado do m4dico no corredor. 3ster abri$ a

porta, se$s olhos ardiam, BirgElio pego$ no braço dela.  2 3st's sentindo alg$ma coisa  3la sorri$ meigamente, aperto$ de leve a mo dele1  2 -o 4 nada, no.. . >ó )$e no ag$ento em p4. Bo$ deitar $m po$co.Depois volto...  #inda de$ $ma ordem a &elEcia, entro$ para o )$arto onde BirgEliodormira na)$ela noite distante da s$a primeira visita A /a(enda, deito$ nacama, ele co$ olhando do corredor. Dr. =ess4 entro$ tamb4m, pedi$licença, /echo$ a porta do )$arto. 3m /rente, Hor'cio )$eria saber )$emovimento era a)$ele. BirgElio entro$ no )$arto do coronel an$ncio$ com vo( entrecortada1

  2 3la pego$ a /ebre tamb4m...  J$is di(er mais alg$ma coisa e no pode, co$ olhando Hor'cio. ;coronel arregalo$ os olhos, a boca semi2aberta, tamb4m ele )$eria di(eralg$ma coisa e tamb4m ele no podia. 3stava como $m homem )$erolasse solto no ar e no visse nada em )$e se pegar. BirgElio teve vontade de abraç'2lo, de se lastimar com ele, de chorarem os dois +$ntos,dois desgraçados. . .

;s coment'rios eram $nOnimes em Ilh4$s1 os ?adarós levavamevidente vantagem nos bar$lhos pela posse de >e)$eiro rande. 3 no

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eram só os coment'rios das velhas beatas, nas sacristias das igre+as, )$eo armavam. ;s entendidos, nos bote)$ins, at4 os advogados no /oro,estavam de acordo )$e os irmos ?adarós tinham a partida )$ase ganha,para o )$e concorrera em m$ito a en/ermidade de Hor'cio. ; processoestava parado no /oro, atravancado com petiçKes opostas pelo Dr. enaro

e reconhecidas pelo +$i(. 3 =$ca ?adaró havia entrado pela mata e abriraclareiras na (ona )$e limitava com a /a(enda >antG#na, iniciando as)$eimadas.  3 verdade )$e tiroteios se s$cediam, )$e o coronel Maneca Dantaspor $ma arte e arde, ?ra(, &irmo, e N4 da %ibeira e os demais pe)$enoslavradores da vi(inhança, por o$tra parte, /a(iam o possEvel paradic$ltar o trabalho dos homens dos ?adarós. Maneca Dantas armo$ $matocaia para os trabalhadores )$e iam derr$bar $m pedaço da mata, )$eres$lto$ n$m tiroteio grande. ?ra( invadi$ com alg$ns homens oacampamento na beira da mata, n$ma noite em )$e =$ca no estava.Mas, apesar disso, o trabalho prosseg$ia, os ?adarós se estabeleciam namata.  3 revidavam com viol0ncia os ata)$es da gente de Hor'cio. 3n)$anto =$ca acompanhava e g$ardava os trabalhadores, !eodoro das ?ara<nasatacava. #parece$ $ma noite na roça de =os4 da %ibeira, incendio$ odepósito de caca$ seco botando a perder d$(entas e cin)$enta arrobas decaca$ +' vendido, incendio$ a casa2grande, mato$ $m trabalhador )$ede$ o alarme, inicio$ $m inc0ndio nas plantaçKes de mandioca,dicilmente dominado depois por N4 da %ibeira.  3m Ilh4$s +' se di(ia )$e !eodoro das ?ara<nas, depois )$e incendiarao cartório de BenOncio, tomara amor aos inc0ndios. Para a F&olha de

Ilh4$sF ele passo$ a ser e@cl$sivamente o Fincendi'rioF. ; Dr. %$iescreve$ $m c4lebre artigo em )$e comparava !eodoro a -ero, cantandodepois do inc0ndio de %oma. =os4 da %ibeira e se$s trabalhadores eramcomparados aos Fprimeiros cristosF, vEtimas da lo$c$ra criminosa esang$in'ria do novo -ero, Fmais monstr$oso ainda )$e o degeneradoimperador romanoF. De todos os artigos p$blicados d$rante os bar$lhosde >e)$eiro rande, este /oi )$e obteve maior s$cesso, chego$ a sertranscrito pelo di'rio da oposiço na ?ahia sob o tEt$lo de F;s crimes dosgovernistas em Ilh4$sF. &oi iniciado $m processo contra !eodoro.  Mas, o )$e em denitivo torno$ os coment'rios /avor'veis aos?adarós /oi o /ato de Hor'cio no ter podido, mesmo )$ando melhoro$,

iniciar a derr$ba da mata do lado em )$e esta limitava com s$a /a(enda.Havia )$em atrib$Esse a po$ca energia de Hor'cio A doença de 3ster,mas, /osse como /osse, a verdade 4 )$e os trabalhadores e os +ag$nçosenviados pelo coronel haviam voltado $ma e d$as ve(es sem conseg$ir seestabelecer na mata e iniciar a abert$ra das clareiras para as )$eimadas.Desta ve( /ora o próprio >inh ?adaró )$em cheara os homens )$ehaviam acometido por d$as noites seg$idas, contra o acampamentocheado por =arde. ;s trabalhadores de Hor'cio terminaram porabandonar a empresa. #penas ?ra(, com alg$ns homens se$s, abria $mape)$ena clareira nos se$s limites com a mata e iniciava $ma )$eimada,mas coisa red$(ida, innitamente menor )$e as )$eimadas +' /eitas pelos?adarós.  #inda assim havia )$em apostasse em Hor'cio. 3stes baseavam2se

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principalmente na maior /ort$na do coronel, homem de m$ito dinheiro no?anco, capa( de s$stentar a l$ta por m$ito tempo. -o só a derr$ba e oplantio da mata comiam dinheiro, como tamb4m, e mais )$e t$do, ocomiam os +ag$nços em armas. >em es)$ecer )$e >inh ?adaró sepreparava para casar a lha e a )$eria casar com todo l$@o, mandava vir

$ma m$ltido de coisas do %io de =aneiro, estava re/ormando porcompleto s$a casa em Ilh4$s, acrescentando toda $ma ala onde o novocasal ia residir, pintando de novo tamb4m a casa2grande da /a(enda.!rabalhavam cost$reiras, trabalhavam m$lheres )$e /a(iam rendas, ocasamento da lha de $m coronel era $m acontecimento. # moça tinha)$e levar ro$pa para m$itos anos, ro$pa de cama )$e serviria depoispara lhos e netos. Colchas, lençóis e cobertores, /ronhas e toalhas demesa, ricamente bordadas. Portadores /oram ao serto para comprar asrendas mais nas. ; dinheiro saEa /'cil, /osse para pagar +ag$nçosencarregados de matar, /osse para pagar cost$reiras e sapateiros )$e vestiam e calçavam a noiva. 3m Ilh4$s se /alava nesse casamento )$asetanto como nos bar$lhos de >e)$eiro rande. =oo Magalhes dei@ara acidade, andava pela /a(enda a+$dando =$ca na derr$ba da mata, de)$ando em ve( bai@ava a Ilh4$s, /ormava s$a rodinha no cabar4, ia +$ntando dinheiro no p)$er -a /a(enda no tinha despesa, /a(iaeconomias.  Por4m v'rias pessoas sabiam )$e o dinheiro da sa/ra deste ano, >inh?adaró +' o havia gasto )$ase todo. Ma@imiliano contava aos Entimos )$eo coronel +' prop$sera mesmo vender adiantado, por preços bastantemais bai@os, a sa/ra do ano seg$inte. 3n)$anto )$e Hor'cio no venderase)$er metade do se$ caca$ +' colhido nesta sa/ra. #inda assim eram

po$cas as pessoas )$e apostavam em Hor'cio. # maioria era pelos?adarós, no viam possibilidade deles perderem, e por isso mandavam/a(er ro$pa nova para comparecer ao casamento de DonG#na. #s beatas eas m$lheres casadas, se re$niram pelas tardes na casa de =$ca ?adaró,onde ;lga e@ibia a ri)$e(a dos vestidos chegados do %io, das an'g$as decambraia bordadas, das camisas de dormir )$e eram $m sonho. Mostravaos espartilhos elegantEssimos, as rendas nas vindas do Cear'. #s bocasse abriam em FohsF de admiraço. Havia coisas )$e Ilh4$s n$nca tinha visto,n$m re)$inte )$e armava o poder da /amElia ?adaró.  3, )$ando >inh atravessava as r$as estreitas da cidade, o rosto

melancólico emold$rado na barba negra, os comerciantes se dobravamem c$mprimentos e o mostravam aos cai@eiros2via+antes chegados da?ahia o$ do %io de =aneiro  2 o dono da terra... >inh ?adaró.

$7

  3ster morre$ n$ma manh clara de sol, )$ando os sinos repicavam nacidade, convidando os habitantes para $ma missa /estiva. # doença havia2lhe comido )$ase toda a bele(a, o cabelo caEra, era $m /antasma da

/ormosa m$lher )$e /ora antes, os olhos saltando no rosto magro, certade )$e ia morrer e dese+ando viver. -a /a(enda, nos primeiros dias da

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/ebre, teve delErios horrEveis, encharcava os lençóis de s$or, /alavapalavras soltas, certa ve( se abraço$ a Hor'cio gritando )$e $ma cobraestava enrolada no se$ pescoço e a ia estrang$lar. Maneca Dantas, )$eestivera $ns dias na /a(enda de Hor'cio e )$e tinha grandes s$speitasacerca das relaçKes entre BirgElio e 3ster, tremia de medo )$e ela /alasse

no advogado d$rante as noites de /ebre. Mas, ela no parecia ver nadamais )$e as cobras nos charcos da mata, silenciosas e traiçoeiras,prontas para o bote em cima de $ma r inocente. 3 gritava e so/ria,aigia todos os assistentes, a m$lata &elEciachorava.  Dr. =ess4, )$ando vi$ )$e a /ebre no cedia, aconselho$ )$e 3ster/osse transportada para Ilh4$s. &oi $ma cena triste )$ando a rede sai$ da/a(enda no ombro dos trabalhadores. Dr. =ess4 disse a BirgElio, )$andomontava1  2 #t4 +' parece enterro... Coitada da comadre...  Hor'cio acompanho$ a esposa. Iam calados os tr0s, BirgElio no tinhapalavras desde )$e ela adoecera. #ndava m$do pelos cantos da casa2grande, todos os dias encontrava $m prete@to para no descer para!abocas. !amb4m ning$4m reparava nele, ia $ma con/$so pela casa,cabras )$e partiam montados, em b$sca de rem4dios, negras )$e /erviambacias de 'g$a, Hor'cio )$e dava ordens sobre as entradas na mata e)$e corria para a cama onde 3ster delirava.  J$ando a /oram transportar para a rede, ela teve $m momento del$cide(, tomo$ da mo de Hor'cio, como se ele /osse dono dos destinosdo m$ndo, e rogo$1  2 -o dei@e )$e e$ morra...

  BirgElio sai$ desesperado para o terreiro, o olhar dela /ora para ele,era $m olhar s$plicante, $m dese+o doido de viver. Bi$ na)$ele olhar de$m seg$ndo todo o sonho de o$tra vida no$tra terra, livres os dois no se$amor. #gora ele no sentia ódio de ning$4m, só da)$ela terra )$e amatava, )$e a prendia ali para sempre. Mais )$e ódio, tinha medo.-ing$4m se libertava da)$ela terra, ela prendia todos os )$e )$eriam/$gir.. . #marrava 3ster com as cadeias da morte, amarrava a eletamb4m, n$nca mais o largaria. . . #ndo$ por dentro das roças at4 )$egritaram por ele, era hora de montar. -a /rente ia a rede coberta por $mlençol. 3les marchavam atr's, $ma viagem terrivelmente longa. Pararamem &erradas, a /ebre a$mentava, 3ster agora gritava )$e no )$eria

morrer.. .  Chegaram a !abocas no princEpio da noite, a casa do Dr. =ess4 seenche$ de visitas. BirgElio no dormi$ toda a noite, rolo$ na s$a cama desolteiro na )$al no se deitava havia m$ito tempo... Lembrava as noitescom 3ster, as carEcias sem m, os corpos vibrando no amor, noites depai@o na casa de Ilh4$s. 3 a vi$ partir no o$tro dia n$m vago especial,deitada n$ma cama improvisada, Hor'cio sentado de $m lado, Dr. =ess4)$ase dormindo do o$tro. ; m4dico tinha $ma sionomia cansada eabatida, os olhos /$ndos na cara gorda. 3ster olho$ BirgElio e ele senti$)$e ela se despedia. # c$riosidade enchera a estaço e, )$ando ele sai$do vago e abriram alas dando2lhe passagem, os coment'rios o seg$iramr$a a /ora.  -o o$tro dia no resisti$, /oi para Ilh4$s. ?ebia nos bote)$ins, )$ando

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 voltava da casa de Hor'cio, n$ma visita )$e ele demorava o mais )$epodia. -o tinha cabeça para acompanhar os processos )$e patrocinavana /oro. #ndava sonolento e irritado, se sentia só, sem $m amigo. ManecaDantas, )$e se apegara a ele, /a(ia2lhe /alta. ostaria de conversar comalg$4m, de desaba/ar, de contar t$do, o )$e s$cedera e o )$e haviam

sonhado, o )$e era belo 2 a vida no$tra terra, os dois entreg$es ao se$amor 2 e tamb4m, o )$e era miser'vel 2 o dese+o de )$e Hor'cio morressede $m tiro para bem deles. Pensava por ve(es em ir embora, mas sabia)$e +amais iria, )$e estava ligado A)$ela terra em denitivo. 3 a <nicacoisa )$e o arrancava da s$a sonol0ncia eram as conversas sobre osbar$lhos de >e)$eiro rande. Como )$e a)$elas conversas o ligavammais a 3ster, por ca$sa da mata de >e)$eiro rande eles se haviamconhecido e amado. Hor'cio por mais )$e so/resse com a doença daesposa, no desc$idava $m momento dos negócios. Dava ordens, /a(iacom )$e os lavradores e os capata(es descessem a Ilh4$s paraconversarem com ele. Maneca Dantas veio $ma ve(, tro$@e dona #$ricEdia para a+$dar na casa, para tomar conta da criança. BirgElio sedemorava em di'logos com os coron4is sobre as possibilidades politicassobre como cond$(ir o processo no /oro, sobre os artigos de F# &olha deIlh4$s. Hor'cio +' lhe /alara na s$a candidat$ra a dep$tado. 3, d$rante adoença de 3ster, o advogado terminara por estimar Hor'cio, sentia2seligado a ele, agradecido pelo coronel R )$e parecia incapa( de sentir e deso/rer 2 estar so/rendo tamb4m, de todos os es/orços )$e ele /a(ia parasalvar 3ster1 +$ntas m4dicas, promessas A Igre+a, missas mandadas re(ar.  >omente $ma ve( BirgElio conseg$i$ /alar a sós com 3ster. 3 elaparecia esperar e@cl$sivamente por isto para morrer. &oi na v4spera do

/alecimento. #proveitando Hor'cio ter saEdo, e dona #$ricEdia estarcochilando na sala, ele entro$ no )$arto para s$bstit$ir Dr. =ess4 )$e nose ag$entava de cansaço. 3ster dormia, se$ rosto banhado de s$or.3scaldava de /ebre, BirgElio po$so$ a mo na s$a testa. Depois tiro$ olenço limpo$2lhe o s$or. 3 ela se move$ na cama, geme$, termino$ poracordar. Demoro$ a reconhece2lo e a ver )$e estavam sós. J$ando ocompreende$, tiro$ de sob o lençol a mo descarnada, tomo$ a mo delee a ps sobre o seio. Depois sorri$, /e( $m es/orço e disse1  2 J$e pena e$ morrer...  2 Boc0 no vai...  &e( $m es/orço enorme1

  2. . . morrer no...  3la sorri$ de novo, era o sorriso mais triste do m$ndo1  2 Dei@a e$ te ver...  BirgElio a+oelho$2se nos p4s da cama, a cabeça sobre a dela, bei+o$2lheno rosto, nos olhos, na boca )$eimando de /ebre. 3 dei@o$ )$e asl'grimas viessem e molhassem as mos dela, l'grimas mornas descendosobre o rosto. &oram min$tos sem palavras, a mo /ebril nos cabelos dele,a boca amarg$rada bei+ando o rosto )$e a /ebre desg$rara.  ; r$Edo de dona #$ricEdia, )$e despertava, o /e( levantar2se, masantes ela o bei+o$ se despedindo. 3le sai$ para chorar l' /ora ondening$4m o visse. Dona #$ricEdia entro$ no )$arto, 3ster parecia m$itomelhor.  F3ra a visita da sa<deF, disse dona #$ricEdia no dia seg$inte )$ando

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ela morre$. 3ra a despedida do amor, somente BirgElio sabia.  Beio m$ita gente para o enterro. De !abocas chego$ $m trem especial, veio gente de &erradas, Maneca Dantas, os lavradores de +$nto da matade >e)$eiro rande, vieram amigos do ?anco2da2Bitória, toda Ilh4$scomparece$. -o cai@o negro, o rosto da morta rec$perara alg$ma

bele(a e BirgElio a vi$ como na v4spera, sorrindo, /eli( de ser amadoe de amar.  ; pai de 3ster chorava, Hor'cio recebia os p0sames vestido de negro,dona #$ricEdia /a(ia g$arda +$nto ao cad'ver. ; cai@o sai$ pelo m datarde, o crep<sc$lo alcanço$ o enterro no caminho do cemit4rio. Dr. =ess4disse $mas palavras, o cónego &reitas encomendo$ o corpo, osassistentes proc$ravam descobrir a dor no rosto p'lido de BirgElio.  Maneca Dantas se desc$lpo$ de no aceitar )$ando BirgElio o chamo$para +antarem +$ntos1 tinha )$e /a(er companhia a Hor'cio nessaprimeira noite de no+o. BirgElio ando$ só pelas r$as, bebe$ n$m bote)$imonde senti$ a c$riosidade )$e o cercava, ando$ pelo cais, demoro$ naponte onde $m navio era descarregado, troco$ $mas palavras com $mhomem de colete a($l )$e estava b0bedo, proc$rava onde ir, alg$4m com)$em /alar longamente, alg$4m sobre c$+o peito p$desse chorar todo opranto )$e lhe enchia o coraço. 3 termino$ indo bater em casa deMargot )$e +' dormia e )$e o recebe$ s$rpresa. Mas )$ando o vi$ totriste e desgraçado, se$ coraço se abrando$ e o acolhe$ no se$ seio como mesmo carinho maternal com )$e o acolhera na)$ela o$tra noite, na?ahia, )$ando ele so$bera )$e se$ pai morrera no serto. . .

$$

  3 passaram as ch$vas do inverno e chegaram os dias )$entes do vero. #s ores do caca$ começaram a nascer nos troncos e nos galhos,na oraço da nova sa/ra. randes levas de trabalhadores, )$e agora notinham roça para colher nem caca$ para secar, /oram empregadas naderr$ba da mata de >e)$eiro rande pelos ?adarós e por Hor'cio.Por)$e Hor'cio, após a morte de 3ster se entregara por completo A l$tapela posse da mata. 3 ele tamb4m entrara pela oresta, repelira ata)$esdos cabras dos ?adarós, abrira clareiras, (era enormes )$eimadas.Progrediram de $m e de o$tro lado da mata, n$ma corrida para ver )$emchegava mais cedo. ;s bar$lhos haviam parado $m po$co, os entendidos

di(iam )$e eles recomeçariam )$ando Hor'cio e os ?adarós seencontrassem nas margens do rio )$e dividia a mata. Hor'cio tinha em BirgElio o mais eciente colaborador. -o só o processo marchava,devagar 4 verdade, obrigado pelo bombardeamento de petiçKes com )$eo advogado brindava diariamente o +$i(, como a peça de ac$saço )$e eleescrevera, como advogado de N4 da %ibeira, contra !eodoro das?ara<nas, era $ma obra2prima +$rEdica. #o demais, BirgElio est$dava oregistro de propriedade da mata /eito por >inh ?adaró, e descobria nelegrandes deci0ncias legais. # mediço, por e@emplo, era incompleta, nodeterminava os limites verdadeiros da mata, era $ma coisa vaga e

imprecisa. BirgElio /e( $ma longa e@posiço ao +$i( )$e /oi +$ntada aoprocesso de Hor'cio.

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  3 terminaram os dias c'lidos do vero e voltaram as ch$vas longas doinverno, amad$recendo os /r$tos dos caca$eiros, il$minando de o$ro asroças /echadas de sombra. !erminados os meses do paradeiro, oscai@eiros2via+antes encheram os caminhos de !abocas, &erradas, Palestinae M$t$ns, cortavam o mar no r$mo de Ilh4$s. Binham emigrantes

tamb4m, levas e levas nas terceiras classes dos navios s$perlotados,chegavam sErios )$e s$biam para a mata com a mala de mascateamarrada nas costas. M$itos dos troncos carboni(ados pelas )$eimadasna mata de >e)$eiro rande oresciam novamente em brotos verdes,alegrando as clareiras. -ovas estradas +' e@istiam, com as ch$vasnasciam ores em torno das cr$(es plantadas no cho no invernopassado. -esse ano a mata de >e)$eiro rande dimin$Era de )$asemetade. 3stava cercada de clareiras e )$eimadas, vivia se$ <ltimoinverno. Pelas manhs de ch$va, os trabalhadores passavam, as /oicesnos ombros, se$ canto triste ia morrer no mist4rio da mata1

8O cacau ? oa la#ra... J; chegou a !o#a sara...8

$%

  3 na entrada do inverno DonG#na caso$2se com o capito =ooMagalhes. =$ca e ;lga eram padrinhos do noivo, Dr. enaro e a esposado Dr. Pedro Mata eram os da noiva. ; cónego &reitas )$ando abençoo$ ocasal, ligo$ tamb4m Fpara a vida e para a morteF a #ntónio BEtor e%aim$nda. #ntónio BEtor calçava $mas botinas negras )$e o

incomodavam m$itEssimo. %aim$nda tinha o rosto (angado de sempre. 3,' noite, por mais )$e DonG#na lhes dissesse )$e eles no deviamtrabalhar na)$ele dia, ela co$ na co(inha a+$dando e ele servi$ bebidaaos convidados capengando $m po$co devido 's botinas novas.  &oi $ma /esta )$e /e( 4poca em Ilh4$s. DonG#na estava linda no se$ vestido branco, o grande v4$ da viagem, as ores de laran+eiras, a aliançalarga de o$ro. =oo Magalhes, metido n$m /ra)$e m$ito elegante,arrancava e@clamaçKes de admiraço das mocinhas casadoiras. >inh?adaró presidia a /esta, $m po$co triste, acompanhando com o olhar alha )$e ia de $m lado para o$tro, atendendo aos convidados.  -o )$arto dos noivos, ante a cama repleta de presentes, deslavam os

convidados. Havia aparelhos de ch', bibels, talheres, +ogos de ro$pas,$m revólver Colt X[, cano longo, de aço cromado com cabo de marm,$ma obra2prima, presente de !eodoro ao capito =oo Magalhes.!eodoro bebia champanha, /a(ia pilh4rias com o capito sobre a macie(do colcho. ;s convidados saEam do e@tasiamento no )$arto para a salade baile, onde a banda de m<sica, em /ardamento completo, tocava valsase polcas, de )$ando em )$ando $m ma@i@e.  -a hora )$e os rec4m2casados /oram se recolher, pela madr$gada, =$ca ?adaró seg$ro$ a sobrinha e o amigo, recomendo$2lhes rindo1  2 J$ero $m menino, hein m ?adaró de lei

  # l$a2de2mel, passada na /a(enda, /oi br$scamente interrompida pelanotEcia do assassinato de =$ca, em Ilh4$s. Depois do casamento ele s$bira

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para a /a(enda com os sobrinhos, se dirigira logo para dentro da matacom $ma t$rma de homens. Boltara ' cidade para passar o s'bado e odomingo, tinha sa$dades de Margot.  -o domingo /ora almoçar com $m m4dico rec4m2chegado a Ilh4$s )$etro$@era $ma carta de apresentaço para =$ca, de $m amigo da ?ahia. ;

m4dico morava na penso de $m sErio, n$ma r$a central. # antiga sala de visitas havia sido trans/ormada em re/eitório e =$ca e o m4dico oc$pavama primeira mesa da sala, ao lado da porta da entrada. #s costas de =$ca?adaró davam e@actamente para a r$a. ; cabra encosto$ o revólver naporta e de$ $m <nico tiro. =$ca ?adaró /oi caindo lentamente em cima damesa, o m4dico estende$ os braços para seg$r'2lo, mas ele de s<bito selevanto$, com $ma mo se amparava na porta, com a o$tra s$stentava orevólver. ; cabra corria r$a a /ora, pelo passeio, mas os tiros oalcançaram, /oram tr0s, ele se abate$ como $m /ardo. =$ca ?adaróescorrego$ pela porta, o revólver salto$2lhe da mo ao bater nas pedrasdo calçamento. >e passara t$do n$ma rapide( de min$tos, os hóspedescorriam para =$ca, na r$a se +$ntava gente em torno ao cabra caEdo.  =$ca ?adaró morre$ tr0s dias depois, cercado pela /amElia, tendo antess$portado com estoicismo a operaço )$e o m4dico tentara para e@trair abala. &altavam todos os rec$rsos em Ilh4$s para $ma operaçosemelhante. -em cloro/órmio havia. =$ca ?adaró sorri$ en)$anto d$ro$ aoperaço. ; m4dico novo /e( t$do para salv'2lo, >inh lhe havia dito1  2 >e salvar me$ irmo, pode pedir )$anto )$iser.  Mas no adianto$, como no adiantaram os o$tros m4dicos de Ilh4$s,nem Dr. Pedro )$e veio de !abocas. #ntes de morrer, =$ca chamo$ >inhem partic$lar, pedi$ )$e ele desse $m dinheiro a Margot. Depois /alo$

com o capito e DonG#na, agora o )$arto estava cheio de gente1  2 J$ero $m menino, hein, no se es)$eçam m ?adaró 2 e pedi$ aDonG#na alisando s$a mo1 2 Ponha me$ nome...  ;lga /a(ia $m berreiro escandaloso, mas =$ca no ligo$ importOncia,morre$ tran)$ilamente. #penas lamento$ nas s$as <ltimas palavras, nopoder ver a mata de >e)$eiro rande plantada de caca$.  Depois do de 3ster, no ho$vera em Ilh4$s enterro com tamanhoacompanhamento. !amb4m para ele viera $m trem especial de !abocas, #ntónio BEtor voltara a calçar as botinas rangedeiras, chorava como $mmenino. Man$el ;liveira escrevera $m necrológio cheio de ad+ectivos noF; Com4rcioF, Dr. enaro boto$ disc$rso na beira da sep$lt$ra, disc$rso

 violento contra Hor'cio. !eodoro das ?ara<nas +$rava vinganças. J$andodesceram o cai@o ' sep$lt$ra, DonG#na +ogo$ $m ramalhete de ores,>inh atiro$ a primeira p' de terra.  # noite, na casa triste, >inh andava de $m lado para o$tro. Imaginavacomo se vingar. >abia )$e de nada adiantava mandar derr$bar cabras deHor'cio, os lavradores )$e com ele se haviam associado, só adiantavamandar acabar com o coronel. >ó $ma vida poderia pagar a vida de =$ca,e era a de Hor'cio da >ilveira. Decidi$ )$e o mandaria matar /osse como/osse. !eve $ma conversa com !eodoro e com o capito, A d$al DonG#naassisti$. Dr. enaro e o delegado achavam )$e Hor'cio devia serprocessado. ; cabra )$e matara =$ca era $m =ag$nço de Hor'cio, todagente sabia )$e trabalhava na s$a /a(enda. Mas >inh /a( $m gesto violento com a mo no era caso para processo. -o só no cava /'cil

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provar a responsabilidade de Hor'cio +' )$e o cabra morrera, como >inh?adaró no se sentiria vingado com ver Hor'cio no banco dos r4$s.DonG#na era da mesma opinio e o capito concordo$ tamb4m. ele estava$m po$co ass$stado, no sabia como t$do a)$ilo ia terminar. !eodoro das?ara<nas s$bi$ no dia seg$inte para tratar do ass$nto.

  Mas, matar Hor'cio, no era tare/a /'cil. ; coronel sabia )$e, tanto asestradas como a cidade de Ilh4$s, eram l$gares perigosos para ele. 3 nosaia )$ase n$nca da /a(enda. J$ando vinha a &erradas o$ a !abocas, $macomitiva de m$itos homens o rodeava, cabras de pontaria certeira, )$asesempre ?ra( vinha a se$ lado. # Ilh4$s no volto$ d$rante meses, BirgElioera )$em s$bia A /a(enda para in/ormar ao coronel sobre a marcha dosprocessos. Por)$e, com o correr dos dias, Dr. enaro convencera >inhde processar Hor'cio. >inh veio a concordar, tinha agora as s$as ra(Kes.; delegado /e( $m in)$4rito, se transporto$ a !abocas, arrolo$ $ma s4riede testem$nhas )$e armavam )$e o cabra )$e assassinara =$ca eratrabalhador da /a(enda de Hor'cio. 3 $m homem do cais, )$e $sava $manelo /also no dedo, no teve d<vidas em relatar ao delegado a conversa)$e mantivera na v4spera do crime, na venda de $m espanhol, com oassassino. este tinha bebido m$ito e o de anelo /also p$@o$ pela s$alEng$a. ; homem estava cheio de dinheiro, e@ibia $ma nota de cem mil2r4is, narrara em segredo )$e ia F/a(er $m trabalho de importOncia amando do coronel Hor'cioF. 3sta era a testem$nha mais importantecontra Hor'cio. ; promotor aceito$ a den<ncia, >inh ?adarópressionava sobre o +$i(, t$do )$e BirgElio pode conseg$ir /oi )$e Hor'ciono so/resse priso preventiva. ; +$i( se desc$lpava perante >inh?adaró1 F)$em se atreveria a ir prender Hor'cio na s$a /a(enda Para

bem do respeito )$e a +$stiça devia merecer era melhor )$e Hor'cio só/osse preso nos dias do +<ri. BirgElio prometera )$e Hor'cio compareceriaao +$lgamento”.  Dr. enaro tinha grandes esperanças de conseg$ir $m corpo de +$rados )$e condenasse o coronel. ;s ?adarós estavam por cima napolitica, era possEvel at4 a pena m'@ima. Mas >inh tinha esperança erade li)$idar com o coronel antes dele entrar em +<ri. ;$, no <ltimo caso,como dissera a =oo Magalhes, no próprio dia do +<ri. Por isso admitira oprocesso.

Hor'cio parecia no se preoc$par $m min$to se)$er com a)$eleprocesso. J$eria notEcias era do o$tro, do )$e ele /a(ia correr contra

>inh e !eodoro pela propriedade da mata de >e)$eiro rande. -o meiode todos esses processos os advogados enri)$eciam, se ins$ltavam naspetiçKes, preparavam os disc$rsos para o +<ri.  #pesar de todas as dic$ldades por d$as ve(es, a vida de Hor'ciocorre$ perigo. Primeiro /oi $m homem de !eodoro )$e conseg$i$ chegarat4 $ma goiabeira perto da casagrande do coronel. 3spero$ aE v'riashoras at4 )$e Hor'cio aparece$ na varanda e sentando2se n$m banco,começo$ a cortar cana para $ma besta )$e poss$Ea, m$ito mansa. ; tiropego$ no animal, Hor'cio, sai$ correndo atr's do cabra mas no oalcanço$ mais. -o$tra ocasio /oi $m velho )$e aparece$ na /a(enda dos?adarós se o/erecendo a >inh para li)$idar Hor'cio. -o )$eriapagamento, t$do )$e )$eria era $ma arma. !inha contas a a+$star com ocoronel, in/ormo$. >inh mando$ )$e lhe dessem $ma repetiço. ; velho

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/oi morto )$ando tentava se apro@imar da casa2grande de Hor'cio n$manoite de l$a. #lg$4m lembro$ )$e ele era o pai de =oa)$im, )$e /ora donode $ma roça )$e ho+e pertencia a Hor'cio.  Diante dessas ameaças, Hor'cio re/orço$ a g$arda da /a(enda, saEararamente, mas, nem por isso se$s homens dei@aram de abrir clareiras na

mata de >e)$eiro rande. -o tardaria, e se encontrariam com oshomens dos ?adarós )$e vinham pelo o$tro lado. Cada ve( era menosespessa a oresta, as m$das de caca$ )$e deviam ser plantadas na mataenchiam arma(4ns n$ma e no$tra /a(enda. J$ando acontecia cabras deHor'cio se encontrarem com cabras dos ?adarós havia tiroteio na certa,corria sang$e nas estradas.

$&

  3, )$ando +' os homens na mata o$viam o r$Edo dos machados dosadvers'rios no o$tro lado do rio, Ilh4$s desperto$ n$ma manh com anotEcia sensacional )$e o tel4gra/o tro$@era1 o governo &ederal decretaraa intervenço no 3stado da ?ahia. #s tropas do e@4rcito haviam oc$padoa cidade, o governador ren$nciara, o che/e da oposiço, )$e chego$ do%io n$m vaso de g$erra, tomara posse como interventor. Hor'cio agoraera governo, >inh ?adaró estava na oposiço. ; telegrama do novointerventor demitia o pre/eito de Ilh4$s, nomeava o Dr. =ess4 para oposto. -o primeiro navio vindo da ?ahia, chegaram o novo +$i( e o novopromotor e, com eles, a nomeaço de ?ra( para delegado do m$nicEpio. ;antigo +$i( /ora designado para $ma pe)$ena cidade do serto, mas noaceito$ e pedi$ ren<ncia do cargo. M$rm$ravam )$e ele +' estava rico e

no precisava mais da magistrat$ra para viver. # F&olha de Ilh4$sp$blico$ $m n<mero especial, a primeira p'gina em d$as cores.  &oi só ento )$e Hor'cio aparece$ em Ilh4$s, atendendo a $mtelegrama do interventor )$e o convidava a ir a ?ahia paracon/erenciarem. %ecebe$ os c$mprimentos dos amigos e dos eleitores, BirgElio embarco$ com ele, $ma m$ltido veio tra(e2los ao cais. # bordo,Hor'cio disse ao advogado1  2 Pode2se considerar dep$tado /ederal, do$tor...  >inh ?adaró tamb4m veio a Ilh4$s. Converso$ A noite com Dr.enaro, com o e@2+$i(, com o capito =oo Magalhes. ;rdeno$ a se$shomens )$e apressassem a derr$ba da mata. Bolto$ no o$tro dia, !eodoro

das ?ara<nas o esperava na /a(enda >antG#na

$-

  ; telegrama de ?ra( arranco$ Hor'cio das conversas polEticas com ointerventor, dos braços das m$lheres nos cabar4s da ?ahia, dos aperitivoscom polEticos nos bares mais chi)$es, e o tro$@e de volta no primeironavio. ;s homens dos ?adarós no só haviam caEdo sobre ostrabalhadores de Hor'cio )$e derr$bavam a mata, /a(endo $ma verdadeira carnicina, como haviam incendiado $ma )$antidade de roças

de caca$. D$rante toda a)$ela l$ta as roças de caca$ haviam sidorespeitadas, como se os advers'rios obedecessem a $m t'cito

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compromisso. ; /ogo devorava cartórios, plantaçKes de milho e mandioca.arma(4ns com caca$ seco, matavam2se homens mo se respeitavam oscaca$eiros.  Por4m >inh ?adaró sabia )$e estava +ogando s$a <ltima cartada. # m$dança da sit$aço polEtica ro$bara se$s melhores tr$n/os. ma prova

disso era a desagrad'vel s$rpresa )$e tivera ao ir vender a sa/ra vindo$ra, por adiantado, a FN$de, Irmo o( Cia.F estes se mostraramdesinteressados /alaram em dic$ldades de dinheiro, prop$seramnalmente comprar o caca$ mas com $ma garantia hipotec'ria. >inh seen/$recera1 pedir $ma hipoteca de roças a ele, >inh ?adaróMa@imiliano temera )$e o coronel o agredisse, de to violento )$e cara.Mas se rec$so$ a comprar o caca$ +' )$e >inh no )$eria dar asgarantias pedidas. F3ram ordensF, di(ia. 3 >inh ?adaró teve )$e vendero caca$ ' casa e@portadora de $ns s$Eços, por preços miser'veis. Diantedisso t$do, de$ carta branca a !eodoro para agir como )$isesse emrelaço A mata. !eodoro, ento, pegara /ogo nas roças de &irmo, de =arde,e mesmo em alg$mas de Hor'cio. ; inc0ndio d$rara dias, o vento opropagava, as cobras /$giam silvando.  -o cais de Ilh4$s os amigos de Hor'cio apertavam a s$a mo,lamentavam as barbaridades dos ?adarós. Hor'cio no di(ia nada.Proc$rava ?ra( entre os presentes, /oi com ele )$e converso$ longamentena sala da delegacia. Prometera ao interventor )$e t$do seria /eitolegalmente. DaE os +ag$nços )$e assaltaram a /a(enda dos ?adarós, ecercaram a casa2grande, aparecerem nos +ornais )$e noticiaram o /atotrans/ormados em Fsoldados da polEcia )$e proc$ravam capt$rar oincendi'rio !eodoro das ?ara<nas, )$e seg$ndo constava, estava acoitado

na /a(enda >antG#naF.  ; cerco da casa2grande dos ?adarós /oi o m da l$ta pela posse dasterras de >e)$eiro rande. !eodoro )$is se entregar para assim tirar oprete@to legal de )$e Hor'cio se valia. >inh no admiti$, /e( com )$e eleembarcasse escondido para Ilh4$s, onde amigos o meteram n$m navio)$e saEa para o %io deQ =aneiro. Depois se veio a saber )$e !eodoro @araresid0ncia em Bitória do 3spErito2>anto, com $ma casa de com4rcio.!alve( Hor'cio tenha sabido da /$ga de !eodoro. Mas, se o so$be, nadadisse, contin$ava a cercar a casa2grande da /a(enda >antG#na como senela !eodoro estivesse escondido. # mata de >e)$eiro rande estavaderr$bada, agora as )$eimadas se con/$ndiam com as roças incendiadas,

no havia limites entre elas. -o e@istiammais nem onças nem macacos, no mais assombraçKes tamb4m. ;strabalhadores haviam encontrado os ossos de =eremias e os haviamenterrado. 3m cima plantaram $ma cr$(.  >inh ?adaró resisti$, com se$s cabras, )$atro dias e )$atro noites. 3só )$ando ele cai$ /erido e /oi, por ordem de DonG#na, cond$(ido paraIlh4$s, 4 )$e Hor'cio pode se apro@imar da casa2grande. >inh descerapela manh n$ma rede levado nos ombros dos homens, e, A noite, ocapito =oo Magalhes /e( com )$e ;lga e DonG#na montassem e via+assem tamb4m. %aim$nda ia com elas, cinco +ag$nços asacompanhavam. Devia na)$ela noite dormir na /a(enda de !eodoro, nodia seg$inte alcançar o trem para Ilh4$s.  =oo Magalhes, com os homens )$e lhe restavam, se entrincheiro$ na

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beira do rio. #ntónio BEtor, ao se$ lado, de )$ando em ve( s$spendia arepetiço e disparava. ; capito, olhos acost$mados ' l$( da cidade, nodisting$ia nada nas trevas da)$ela noite sem l$a. >obre )$em o m$latoatirava Mas o tiro )$e respondia provava )$e #ntónio BEtor tinha ra(o,os olhos do m$lato estavam habit$ados ' esc$rido das roças, via

per/eitamente dentro da noite os homens )$e se apro@imavam.  &oram, por m, cercados, tiveram )$e rec$ar para a estrada, amaioria cai$ na mo dos cabras de Hor'cio. %ec$aram =oo Magalhes eseis homens, cada ve( para mais longe, cada ve( $m n<mero menor decabras, at4 )$e /oram )$atro somente. 3nto #ntónio BEtor desaparece$,)$ando volto$ tra(ia $m b$rro selado1  2 >e$ capito, monte e v' embora. #)$i no h' mais o )$e /a(er.  3ra verdade. ;s cabras de Hor'cio, com ?ra( ' /rente, entravam noterreiro da casa2grande dos ?adarós. =oo Magalhes perg$nto$1  2 3 voc0s  2 -ós vai a p4 g$ardando vosmec0...  -o mesmo momento )$e eles partiram, ?ra( entrava na varanda dacasa deserta. Havia $m silencio completo na noite sem l$a. ;s cabras deHor'cio estavam re$nidos no terreiro, prontos para entrar na casa. mdeles, obedecendo a $ma ordem, risco$ $m /ós/oro para acender $m /ó.; tiro veio de dentro da casa, raspo$ na l$(, no mato$ o homem por $mmilagre. ;s o$tros se atiraram no cho, /oram entrando de rastros nacasa. De dentro alg$4m atirava, proc$rando visar Hor'cio no meio doscapangas, ?ra( aviso$ o coronel1  2 3 mais de $m...  3ntraram na casa, as armas na mo, os olhos atentos, proc$rando. Iam

,com ódio, )$eriam /a(er a estes <ltimos de/ensores mais ainda do )$ehaviam /eito aos )$e caEram na beira do rio e na estrada e dos )$aishaviam arrancado os olhos e os beiços, as orelhas e os ovos. Correram acasa toda sem encontrar ning$4m. ;s tiros haviam cessado, ?ra(comento$1  2 !ermino$ a m$niço. . .  ?ra( ia na /rente, dois cabras a se$ lado, Hor'cio vinha logo atr's. >órestava o sóto. &oram s$bindo a escada estreita, ?ra( abri$ a porta com$m pontap4. DonG#na ?adaró atiro$, $m cabra cai$. 3 como era a <ltimabala )$e lhe restava, ela +ogo$ o revólver para o lado de Hor'cio e dissecom despre(o1

  2 #gora mande me matar, assassino...  3 de$ $m passo A /rente. ?ra( abria a boca n$m espanto. 3le tinha visto )$ando ela passara com ;lga e %aim$nda, g$ardada por $ns po$coshomens, /$gindo. 3le dei@ara )$e a comitiva passasse ao alcance dasbalas, sem atirar. Como diabo tinha voltado DonG#na de$ o$tro passo A/rente, se$ volto$ enche$ a pe)$ena porta do sóto.  Hor'cio sai$ para $m lado da escada1  2 B' embora, moça... 3$ no mato m$lher..  DonG#na bai@o$ a escada, atravesso$ a sala, olho$ a óleo2grav$ra, $mabala )$ebrara o vidro, rasgara o peito da moça )$e bailava. >ai$ para oterreiro, os homens a tavam m$dos. $m m$rm$ro$1  2 Diabo de m$lher cora+osa  DonG#na tomo$ $m dos cavalos )$e estavam arreados, olho$ mais $ma

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 ve( a casa2grande, monto$, esporeo$ o animal e parti$ na noite sem l$a esem estrelas. >ó ento, depois do se$ v$lto ter se perdido na estrada,Hor'cio levanto$ o braço e a vo(, de$ $ma ordem, os homens p$seram/ogo na casa2grande dos ?adarós.

$

  ; Dr. enaro, )$e era amigo de /rases brilhantes, cost$mava di(er,anos depois, )$ando se m$dara para a ?ahia onde podia ed$car melhoros lhos, ao se re/erir aos bar$lhos de >e)$eiro rande1  2 !oda a)$ela trag4dia termino$ n$ma com4dia...  3le )$eria se re/erir ao +$lgamento de Hor'cio pelo +<ri de Ilh4$s.Po$co antes o +$i( lavrara sentença no processo movido por Hor'cio emde/esa dos se$s direitos de propriedade das terras de >e)$eiro rande. # sentença reconhecia os direitos do coronel Hor'cio da >ilveira e dos se$sassociados e entregava !eodoro das ?ara<nas A promotoria p<blica paraser processado pelo inc0ndio do cartório de BenOncio em !abocas.!amb4m >inh ?adaró e o capito Magalhes eram ac$sados porhaverem registrado $m tEt$lo ilegal de propriedade. 3sse novo processono seg$i$ adiante por)$e Hor'cio, a conselho de BirgElio, no seinteresso$ por ele. # /amElia ?adaró economicamente estava mal,devendo dinheiro aos e@portadores, com d$as sa/ras sacricadas, as s$as/a(endas no haviam a$mentado nesse ano de bar$lho. #o contr'rio, nosó a casa2grande, as barcaças e as est$/as estavam destr$Edas como asm$das de caca$eiro tinham sido )$eimadas, alg$mas roças so/reramgrandes danos. ;s ?adarós levariam m$itos anos a reconstr$ir $ma parte

da)$ilo )$e /ora a s$a grande /ort$na. =' no eram advers'rios paraHor'cio.  3 o +<ri /oi apenas $m consagraço do coronel. 3le se entrego$ 'priso na v4spera do +$lgamento. # melhor sala da Pre/eit$ra M$nicipal,)$e era onde /$ncionavam tamb4m o /oro e a cadeia, /oi trans/ormada emdormitório. ?ra( dispenso$ os soldados, ele mesmo /a(ia companhia aHor'cio. ;s amigos encheram a sala, o coronel conversava, mandava vir$Es)$e, /oi $ma /arra a noite toda.  ; +<ri se inicio$ no o$tro dia As nove horas da manh, d$ro$ at4 astr0s da madr$gada do dia seg$inte. ;s ?adarós haviam /eito vir da ?ahia$m advogado de m$ito renome, Dr. &a$sto #g$iar para, com Dr. enaro,

servir de a+$dante da promotoria. ; novo promotor, toda gente sabia, ia/a(er $ma ac$saço m$ito deciente, era correligion'rio polEtico deHor'cio.  ; =$i( entro$ na sala, acompanhado do promotor, dos escrives e dosmeirinhos, vestia a toga negra, sento$2se na alta cadeira sobre a )$al$ma imagem de Cristo cr$cicado vertia sang$e de $m vermelho esc$ro. #o lado do +$i( sento$2se o promotor, p$seram cadeiras para o Dr. enaroe o Dr. &a$sto, a+$dantes de promotoria. -a trib$na da de/esa seencontravam BirgElio e Dr. %$i. ; +$i( pron$ncio$ as palavrasreg$lamentares, a sesso do +<ri estava aberta. ma m$ltido invadi$ a

sala sobrava gente pelos corredores. m menino, )$e anos depois iriaescrever as histórias dessa terra, /oi chamado por $m meirinho para

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sacar da $rna o nome dos cidados )$e iriam constit$ir o conselho desentença. >aco$ $m carto, o +$i( le$ o nome, $m homem se levanto$,atravesso$ a sala, tomo$ assento n$ma das sete cadeiras reservadas aos +$rados. Mais o$tro carto sai$ da $rna. ; +$i( le$1  2 Man$el Dantas.

  ; coronel Maneca Dantas se levanto$, mas nem chego$ a andar. # vo(do Dr. enaro atravesso$ a sala1  2 %ec$so...  2 %ec$sado pelo órgo de ac$saço... 2 an$ncio$ o +$i(.  Maneca Dantas sento$2se, o menino contin$ava a tirar os cartKes. De ve( em ve( $m nome era rec$sado, ora pela promotoria, ora pela de/esa,por m o conselho de +$rados co$ constit$Edo. 3ntre os assistentes setrocavam coment'rios1  2 #bsolvido por $nanimidade.. .  2 -o sei no... H' dois votos d$vidosos... 2 ciciavam nomes.  2 !alve( tr0s 2 disse o$tro. 2 =os4 &aria no 4 m$ito de Hor'cio, no...Pode votar contra...  2 ;ntem Dr. %$i estava em casa dele. Bota pela absolviço.  2 Bai haver apelaço. . .  2 nanimidade na certa, )$e apelaço )$e nada  #s apostas eram sobre a possibilidade o$ no de apelaço. ; >$premo!rib$nal do 3stado respondia ainda ao governo derr$bado. >e ho$vesseapelaço talve( Hor'cio /osse condenado o$, pelo menos, enviado a novo +<ri. # maioria dos assistentes, por4m, achava )$e o coronel seriaabsolvido por $nanimidade no havendo, por conse)$0ncia l$gar para aapelaço. ;s +$rados prestaram +$ramento de F+$lgar com +$stiça, de

acordo com as provas e a s$a consci0nciaF e se sentaram. ; menino )$etirara os cartKes da $rna dei@o$ o estrado do +$i( e veio se sentar pordetr's da trib$na de de/esa. 3 desse l$gar assisti$ a todo o +$lgamento,esc$tando de olhos acesos os debates. Mesmo pela madr$gada, )$andoalg$ns assistentes cochilavam nos bancos, o menino seg$ia nervoso odesenrolar do espet'c$lo.  ;s coment'rios pararam de s<bito e $m silencio se elevo$ na salapor)$e o +$i( ordenava ao delegado )$e (esse entrar o r4$. ?ra( sai$para logo voltar acompanhando o coronel Hor'cio da >ilveira. Doissoldados o ladeavam. Hor'cio vestia $m /ra)$e negro, o cabelo penteadopara tr's, o rosto s4rio, )$ase comp$ngido. Paro$ em /rente ao +$i(, o

silencio era pesado, os assistentes se dobraram para a /rente. ; +$i(perg$nto$1  2 >e$ nome  2 Hor'cio da >ilveira, coronel da $arda -acional.  2 Prosso  2 #gric$ltor.  2 Idade  2 Cin)$enta e dois anos.  2 %esid0ncia  2 &a(enda ?om -ome, no m$nicEpio de Ilh4$s.  2 >abe do )$e 4 ac$sado  # vo( do coronel era clara e /orte1  2 >im.

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  2 !em alg$ma coisa a ad$(ir em s$a de/esa  2 ;s me$s advogados o /aro. . .  2 !em advogados J$ais  2 ; Dr. BirgElio Cabral e o Dr. %$i &onseca.  ; +$i( aponto$ o pe)$eno banco dos r4$s1

  2 Pode sentar2se.  Mas Hor'cio se manteve de p4. ?ra( compreende$ retiro$ o bancoh$milhante, tro$@e $ma cadeira. #inda assim Hor'cio no se sento$. &oi$ma sensaço pela sala. Dr. %$i peticiono$ ao +$i( para )$e concedesseao ac$sado o direito de assistir ao +$lgamento de p4 e no sentadona)$ele simbólico banco dos criminosos. ; +$i( concede$ e de todos oscantos da sala se podia ver a g$ra gigantesca do coronel, as moscr$(adas sobre o peito, os olhos tos no +$i(. ; menino se levantara para v2lo melhor e o encontro$ soberbo +amais o es)$eceria.  ; escrivo lia o processo. # leit$ra d$ro$ tr0s longas horas, osdepoimentos das testem$nhas deslando $m a $m. De )$ando em ve( osadvogados tomavam notas em pap4is. #o lado do Dr. enaro se elevava$ma pilha de livros gordos de direito. J$ando termino$ a leit$ra doprocesso era $ma da tarde e o +$i( s$spende$ a sesso por $ma hora parao almoço. ; conselho de +$rados co$ na sala, sem poder se avistar comning$4m, o almoço para eles veio do hotel, pago pela Pre/eit$ra. #penaspara Camilo óis veio de casa, +' )$e ele so/ria do estmago e tinha $madieta especial.  ; menino )$e assistia ao +<ri, saEra pela mo do pai, mas +' estava naporta da sala )$ando o meirinho badalo$ a grande sineta chamando osadvogados e os escrives. -ovamente Hor'cio entro$ e se posto$ de p4

ante o +$i(. &oi dada a palavra ao representante da promotoria p<blica.Como se esperava, no /oi $ma grande ac$saço. ; promotor /alo$ meiahora, dei@o$ in<meras saEdas para os advogados de de/esa. Mas, como deh'bito, termino$ pedindo a pena m'@ima, )$e eram trinta anos de priso.Dr. enaro, oc$po$ a trib$na da promotoria depois dele. &alo$ d$ranted$as horas mist$rando citaçKes lidas nos livros, alg$mas em /ranc0s,o$tras em italiano, com o e@ame demorado das declaraçKes dastestem$nhas )$e provavam, seg$ndo ele de modo indisc$tEvel, )$e oassassino era $m cabra a serviço de Hor'cio. &e( cavalo de batalha dasdeclaraçKes do homem de anelo /also )$e conversara com o assassino na v4spera do crime. Historio$ os bar$lhos de >e)$eiro rande, termino$

di(endo )$e se Fo mandante no /osse condenado, a +$stiça em terras deIlh4$s no seria seno a mais tr'gica das /arsasF. Cito$ $mas /rases emlatim e se sento$. Pelos assistentes, )$e po$co haviam entendido da)$elacon/$so de lEng$as citadas pelo Dr. enaro, ia $ma admiraço pelac$lt$ra do advogado. -o disc$tiam a s$a posiço1 estimavam2no comoalg$ma coisa de valor )$e pertencia a Ilh4$s.  !eve a palavra o Dr. &a$sto e as cabeças se adiantaram c$riosas. 3sseadvogado vinha precedido da /ama de grande orador, de/esas s$ascaram c4lebres na ?ahia. Berdade )$e o povo de Ilh4$s teria pre/eridoesc$t'2lo n$ma de/esa )$e n$ma ac$saço. Constava )$e >inh ?adaró ocontratara por )$in(e contos de r4is. Dr. &a$sto no /alo$ longamente, seg$ardava para a r4plica. &oi $m disc$rso sonoro, dito com $ma vo(cortada de emoço. &alava na esposa sem marido, no irmo sem irmo,

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/e( o elogio de =$ca ?adaró, cavaleiro andante da terra do caca$F. >$a vo( ora s$bia, ora bai@ava, se enchia de ódio ao /alar de Hor'cio,F+ag$nço )$e se torno$ che/e de +ag$nçosF, se enchia de delicade(a ao/alar de ;lga Fa pobre esposa inconsol'velF. &e( $m apelo nal aossentimentos nobres de +$stiça do conselho de +$rados 3 com o se$

disc$rso a sesso /oi s$spensa para o +antar.  # noite a assist0ncia /oi m$ito maior e o menino teve dic$ldades paraoc$par o se$ l$gar. ;s empregados no com4rcio, )$e no haviam podido vir de manh e A tarde, lotavam agora at4 as escadas da pre/eit$ra. !odagente )$eria o$vir os disc$rsos dos advogados da de/esa. Primeiro /alo$ BirgElio e o se$ disc$rso respondia ao Dr. enaro. 3smago$ astestem$nhas. Provo$ a /ra)$e(a do processo todo e /e( sensaço )$ando,ao se re/erir ao homem de anelo /also, )$e era a pedra ang$lar daac$saço, revelo$ )$e se tratava apenas de $m ladro, de nome&ernando, chegado a Ilh4$s h' alg$ns anos onde se trans/ormara n$mmalandro de meios de vida desconhecidos. 3sta Ftestem$nha to cara Aac$saçoF se encontrava na)$ele momento nos c'rceres de Ilh4$s, presopor vagab$ndagem e arr$aças. J$e valor podia ter a palavra de $mhomem destes m ladro, $m vagab$ndo, $m mentiroso. Dr. BirgElio le$declaraçKes )$e ele colhera do espanhol, dono da venda onde o cabraestivera conversando com o homem do anelo /also. ; espanhol di(ia )$eo de anelo /also sempre tivera /ama de mentiroso, gostava de contarhistórias, de inventar casos, e o espanhol desconava )$e /ora ele orespons'vel pelo desaparecimento, em d$as ocasiKes do dinheiro paratroco, g$ardado na gaveta do balco da venda. J$e valor legal,testem$nhal, podia ter a palavra de $m tipo desta ordem ; Dr. BirgElio

relanceava os olhos desde o +$i(, passando pelo conselho de sentença, at4aos assistentes. -arro$ ele tamb4m, a se$ modo, os bar$lhos de >e)$eirorande. Lembro$ o o$tro processo, pela posse das terras, perdido pelos?adarós. Lembro$ o inc0ndio do cartório de BenOncio. Pedi$ +$stiça aom de d$as horas e sento$2se. Dr. %$i responde$ ao Dr. &a$sto. >$a vo(poderosa, $m po$co trem$la devido ' bebida, ressoo$ na sala. !reme$,choro$, se emociono$, ac$so$, de/ende$, /e( a gente chorar, /e( a genterir, /oi violento com o Dr. &a$sto )$e Fo$sara c$spir palavras mes)$inhassobre a personalidade sem m'c$la desse ?a\ard de Ilh4$s )$e era ocoronel Hor'cio da >ilveiraF. 3@cepto os advogados e o menino, ning$4msabia )$em era ?a\ard, mas todos acharam a imagem m$ito bonita.

Hor'cio, de e os braços sobre o peito, no demonstrava nenh$m cansaço.Por ve(es sorria, )$ando as ironias do Dr. %$i contra o Dr. &a$sto erammais /erinas e venenosas. 3 vieram as r4plicas, /alaram todos mais $ma ve(, repetindo o )$e +' haviam dito. De novo, aparece$ apenas $mdepoimento tra(ido pelo Dr. enaro para contrapor ao do espanhol, donoda venda citado pelo Dr. BirgElio. Dr. enaro tamb4m conversara com $mconhecido do homem do anelo /also, $m o$tro /re)$entador da venda,$m de colete a($l. 3ste dissera )$e o de anelo /also Fera $ma boapessoa, se bem no parecesseF. >$as histórias podiam parecer inventadasmas m$itas delas tinham acontecido mesmo. 3 o Dr. enaro clamo$contra a Fmis4ria da polEcia local )$e metera no c'rcere $m inocente sópor)$e dep$sera no processoF. Dr. &a$sto /e( se$ grande disc$rso.Proc$ro$ tremer a vo( mais )$e Dr. %$i, conseg$i$ )$e alg$ns assistentes

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chorassem tamb4m, de$ o m'@imo )$e pode. Dr. BirgElio /alo$ de(min$tos somente sobre o homem do anelo /also. Dr. %$i encerro$ osdisc$rsos /a(endo imagens entre a +$stiça e a est't$a de Cristo )$ependia sobre a cabeça do +$i(. !ermino$ com $ma grande /rase, )$eest$dara dois dias antes.

  F#o absolver o coronel Hor'cio da >ilveira provareis, senhores doconselho de sentença, atodo o m$ndo civili(ado* c$+os olhos esto voltados para esta sala, )$e emIlh4$s no e@isteapenas o caca$, a terra /4rtil e o dinheiro, provareis )$e em Ilh4$s e@istea =$stiça, me detodas as virt$des de $m povoF

  #pesar do e@agero de todo o m$ndo voltado para a)$ela sala de +<riem Ilh4$s, o$ talve( por isso mesmo, a /rase arranco$ palmas )$e o +$i(/e( calar por interm4dio do meirinho )$e sac$dia a sineta. ; conselho desentença se retiro$ da sala para +$lgar da c$lpabilidade o$ da inoc0nciado r4$. Hor'cio /oi retirado tamb4m, co$ no corredor conversando comse$s advogados. J$in(e min$tos depois os +$rados voltaram ' sala, ?ra(chego$ para cond$(ir Hor'cio. 3ste acabara de receber a notEcia pelo Dr. BirgElio1  2 nanimidade  ; +$i( le$ a sentença absolvendo o coronel Hor'cio da >ilveira por$nanimidade de votos. #lg$ns assistentes começaram a se retirar. ;$trosabraçavam Hor'cio e os advogados. ?ra( lavro$ a ordem de liberdade,

Hor'cio sai$ entre os amigos )$e o iam acompanhar A casa.  ; pai do menino tomo$ o lho pelo braço, vi$ )$e ele estava cansado,s$spende$2o no ombro. ;s olhos do menino ainda olharam Hor'cio )$esaEa.  2 De )$e /oi )$e gosto$ mais 2 perg$nto$2lhe o pai.  ; menino sorri$ levemente, con/esso$1  2 De t$do, de t$do, gostei mais /oi do homem de anelo /also, o )$esabe histórias. .  Dr. %$i )$e passava perto o$vi$, acaricio$ a cabeça loira do menino.Depois desce$ as escadas correndo, para alcançar Hor'cio )$e saEa pelaporta principal da Pre/eit$ra penetrando na manh clara )$e se elevava

no mar sobre a cidade de Ilh4$s.

O (rogresso

$

  Meses depois, n$m princEpio de tarde, inesperadamente o coronelHor'cio de >ilveira desmonto$ de $m cavalo na porta da casa2grande deManeca Dantas. Dona #$ricEdia aparece$ arrastando as banhas, m$itosolEcita, )$erendo saber se o coronel +' havia almoçado. Hor'cio disse

)$e sim, tinha o rosto cerrado, os olhos pe)$enos, a boca rep$@ada n$mgesto d$ro. m trabalhador /oi chamar Maneca Dantas )$e andava pelas

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roças, dona #$ricEdia co$ /a(endo sala. &alava )$ase so(inha, Hor'cioapenas soltava $m FsimF o$ $m FnoF )$ando ela parava. Dona #$ricEdiacontava histórias dos lhos, lo$vava a intelig0ncia do mais velho, o )$e sechamava %$i. Por m Maneca Dantas chego$, abraço$ o coronel, caramconversando. Dona #$ricEdia se retiro$ para providenciar $ma

FmerendaF.  3nto Hor'cio levanto$2se, olho$ pela +anela as roças de caca$.Maneca Dantas esperava. >$cederam2se os min$tos em silencio. Hor'ciotinha o olhar perdido na estrada )$e passava nas imediaçKes da casa. Derepente se volto$ e /alo$1  2 #ndei arr$mando $mas coisas no palacete de Ilh4$s. mas coisas de3ster...  Maneca Dantas senti$ o coraço bater mais apressado. Hor'cio oolhava com se$s olhos baços, )$ase sem e@presso. >ó a boca estavacortada com $m traço d$ro.  2 3ncontrei $mas cartas...  Completo$ com a mesma vo( em s$rdina1  2 3ra amante do do$tor BirgElio. . .  Disse, e volto$ a olhar atrav4s do vidro da +anela. Maneca Dantas selevanto$, boto$ a mo no ombro do compadre1  2 3$ sabia, /a( tempo. M's, nessas coisas, no vale a pena a gente semeter. . . 3 a pobre da comadre pago$ com +$ros morrendo da)$elamaneira...  Hor'cio dei@o$ a +anela, sento$ n$m banco da sala. ;lhava o cho.Parecia recordar /atos antigos, momentos bons, lembranças /eli(es1  2 engraçado... Primeiro, e$ sabia )$e ela no gostava de mim. Bivia

chorando pelos cantos di(ia )$e era medo das cobras. -a cama seencolhia )$ando e$ tocava nela... Me dava raiva mas e$ no di(ia nada, ac$lpa era minha mesmo, e$ /$i casar com m$lher moça e ed$cada...  ?alanço$ a cabeça, olhando Maneca Dantas. 3ste o$via em silencio, orosto descansando nas mos, sem $m gesto.  2 De repente ela m$do$, co$ boa, e$ cheg$ei a acreditar )$e ela tavagostando de mim. #ntes e$ me metia na mata, me metia em bar$lhos, erasó pelo dinheiro, $m po$co pelo menino. Mas depois ( t$do, era por ela,tava certo )$e ela gostava de mim...  3stende$ o dedo1  2 !$ no te imagina, compadre, o )$e e$ senti )$ando ela morre$.

!ava ali dando ordens aos homens mas tava pensando em me matar. 3 sóno dei $m tiro na cabeça por ca$sa do menino, lho me$ e dela, lho dotempo r$im, 4 verdade, mas t$do tinha passado, ela cara carinhosa eboa. >eno tinha me matado )$ando ela morre$...  %i$ para dentro se$ riso amedrontador1  2 3 di(er )$e t$do era pelo o$tro, pelo do$tor(inho. !ava boa ecarinhosa, era por ele. 3$ comia os restos, era as sobras. . .  Dona #$ricEdia entrava na sala, chamava para a merenda. # mesaatestada de doces, de )$ei+os, de /r$tas. Comeram o$vindo o papag$earde dona #$ricEdia )$e p$@ava pelo lho mais velho, obrigando a criança aresponder a perg$ntas históricas, a ler corrido para o padrinho o$vir, arecitar $ns versos.  Depois voltaram para a sala de visitas e Hor'cio no /alo$ mais.

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)$e engana marido, com tanto perigo, ainda se d' o l$@o de escrevercartinhas de amor. Coisa de idiota. . . 3le de )$ando em ve( tinha $maamante, 4 claro )$e n$nca m$lheres casadas. 3ra $ma )$e o$tra raparigabonita )$e enchia o olho de Maneca Dantas e ele lhe montava casa. Ia l',dormia, comia e bebia, mas escrever carta, n$nca... #s ve(es recebia $ma

o$ o$tra... 3ram )$ase sempre pedidos de dinheiro, mais o$ menos$rgentes. Pedidos de dinheiro )$e vinham mist$rados com bei+os e /rasescarinhosas. ; Coronel Maneca Dantas rasgava logo as cartas, antes )$e ool/ato no de dona #$ricEdia sentisse o cheiro imp$ro de per/$me barato)$e sempre as impregnava... Pedidos de dinheiro, nada mais...  Maneca Dantas se lembra dessas cartas en)$anto BirgElio na sala de +antar serve $ma pinga nos c'lices. Destr$Ea todas # verdade 4 )$e $macarta ele n$nca destr$Era e a levava na carteira, at4 ho+e, escondida entrepap4is. 3ra $m perigo di'rio )$e corria1 imaginem se dona #$ricEdiadescobrisse ; m$ndo vinha abai@o, com certe(a. Maneca Dantas, apesarde estar só na sala, olha em redor, se certica de )$e ning$4m o espia,abre a carteira e saca, de entre contratos de venda de caca$, $ma cartagarat$+ada com $ma letra /eia, cheia de borrKes e de erros de ortograa.&ora Doralice, $ma pe)$ena )$e ele tivera na ?ahia, certa ve( )$e sedemorara dois meses na capital /a(endo $m tratamento na vista.Conhecera2a n$m cabar4, viveram +$ntos a)$eles meses, de todas asm$lheres )$e ele tivera ela /ora a <nica )$e lhe escrevera $ma carta sempedir dinheiro, do princEpio ao m. Por isso ele a g$ardara, apesar deDoralice ser apenas $ma recordaço vaga edistante, ainda assim doce recordaço. ;$ve os passos de BirgElio, mete acarta no bolso. ; advogado entro$, os c'lices e a garra/a se e)$ilibrando

n$ma bande+a.  Maneca Dantas bebe a cachaça, volta a bater na pobre história )$e/ora o m'@imo )$e s$a imaginaço conseg$ira1 F)$e o$vira $m boato de)$e >inh ?adaró ia mandar tocaiar Dr. BirgElio nessa noite, no caminhode &erradas, para se vingar da morte de =$caF. BirgElio ri1  2 Mas isso 4 idiota, Maneca... !otalmente idiota. 3 logo no caminho de&erradas, $ma estrada do coronel Hor'cio... >e h' $m l$gar seg$ro 4 ocaminho de &erradas... 3 e$ no vo$ dei@ar me$ cliente esperando. #l4mde )$e, 4 $m eleitor...  ; )$e lhe parecia cómico era a id4ia de $ma tocaia contra ele nocaminho de &erradas, /eita por gente dos ?adarós1

  2 3 no caminho de &erradas, nas barbas de Hor'cio  Manecas Dantas se levanto$1  2 ; senhor )$er ir por cima de t$do  2 Bo$, no tenha d<vida...  3nto Maneca Dantas perg$nto$1  2 3 se /osse o próprio compadre )$em )$isesse...  2 ; coronel Hor'cio  2 3le descobri$ t$do.. 2 Maneca Dantas olhava para o lado, no )$eria ver o rosto do advogado.  2 Descobri$ o )$e  2 ;s negócios de vosmec0 mais a comadre.. !amb4m essa mania decarta... 3le /oi reme@er nas coisas dela.. 2 olhava para o lado, a cabeçabai@a, parecia o c$lpado de t$do, no tinha coragem de tar o rosto de

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 BirgElio.  Mas este no sentia nenh$ma vergonha do acontecido. &e( ManecaDantas sentar2se ao se$ lado e lhe conto$ t$do. #s cartas >im, escreviacartas, recebia dela tamb4m, era $ma maneira de estarem pró@imosna)$eles dias em )$e no podiam se ver, no podiam estar +$ntos,

entreg$es $m ao o$tro. . -arro$ todo o romance, disse da s$a /elicidade,dos pro+ectos de /$ga, das noites de amor. &alo$ palavras apai@onadas,lembro$ a morte dela. >im, ele tinha compreendido o desespero deHor'cio na)$ele dia em )$e ela morrera e por isso se ligara a ele, nohavia ido embora, cara ali para /a(er2lhe companhia.  2 3ra $ma maneira de estar perto de 3ster, compreende  ; coronel no compreendia direito, mas essas coisas de amor sosempre assim... BirgElio /ala sem parar. Por )$e no ia embora Por )$e)$eria estar ali, perto de Hor'cio, a+$dando o coronel nos negócios #lit$do lhe lembrava ster a morte dela o prendera ali para sempre. ;so$tros era o caca$ )$e prendia, a ambiço de dinheiro. 3le estava presopelo caca$ tamb4m, mas no por interm4dio do dinheiro. 3stava presopela lembrança dela, o corpo )$e estava no cemit4rio, a s$a presença )$eestava em toda parte, no palacete de Ilh4$s, na casa do Dr. =ess4, ali em!abocas, na /a(enda, e em Hor'cio, principalmente em Hor'cio. . . BirgElio no tinha ambiçKes, gastava o dinheiro como $m lo$co, t$do o)$e ganhava, n$nca )$isera comprar roça de caca$, )$eria apenas estarperto dela e ela estava ali na)$eles povoados e na)$elas /a(endas, cada ve( )$e $ma r gritava na boca de $ma cobra ele a tinha nos braçosnovamente, como na)$ela primeira ve( na casa2grande da /a(enda.  2 Compreende, Maneca

  3 ri melancólico, e di( )$e Maneca Dantas no pode compreende2lo.>o )$em teve $m amor doido na vida, $m amor desgraçado, poder'entender o )$e ele est' di(endo. Maneca Dantas no encontra nadamelhor )$e mostrar2lhe a carta de Doralice, <nica maneira de e@pressars$a solidariedade.  BirgElio a l0, as palavras $medecem os olhos de ManecaDantas1

0Sauda>Pes3 

Me$ )$erido Maneca estimo )$e esta mal traçada linha v' Li encontrar

go(ando per/eita sa<de. Maneca vosse /oi m$ito ingrato para mim noescreve$ a s$a sempre es)$ecida Doralice )$e est' a s$a espera. Manecae$ mando Li perg$ntar )$ando vosse vem para e$ li esperar no caes dedesembar)$e. Maneca todas as noites )$ando e$ vo$ dormir sonho com vosse. De todos nossos passeio )$e nós dava e$ vosse, 3diti e a Dandacantando o ma@i@e de nome Dei Me$ Coraço. Maneca vosse t' em Ilh4$sno v' pra r$a das p$tas para no vim /raco. !$mara )$e vosse +' cheg$e)$e 4 para nós go('. Me$ linho )$ando 4 )$e e$ tenho a sorte de go(' $se$ belo corpo Mas no tem nada $ )$e 4 se$ est' g$ardado.Maneca escreva para mim )$anto mais breve milhor. Maneca vosse

meadisc$lpe os erro nada mais, aceiti m$ito bei+o da s$a pretaD;%#LIC3. -ada mais. ;lhe $ endereço 6[ r$a 8 de =$lho. #de$s da s$a

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3>J3CID# D;%#LIC3F.  J$ando termino$ de ler, BirgElio perg$nto$1  2 3ra bonita  2 3ra $ma boneca... 2 a vo( de Maneca Dantas est' tr4m$la. &icaramsem ass$nto, BirgElio olhando o coronel )$e g$ardava a carta no meio dos

pap4is )$e enchiam a carteira. #t4 ele, $m coronel de Ilh4$s, tinha a s$ahistória de amor... BirgElio serve mais cachaça. Maneca Dantas volta ainsistir1  2 3$ gosto do senhor, do$tor, e$ lhe peço )$e no v'. !ome $m navio, v' para a ?ahia, o senhor 4 $m moço inteligente, em )$al)$er parte /a(carreira...  Mas BirgElio di( )$e no. -o dei@ar' de ir a &erradas nessa noite.Morrer no lhe importa, o triste 4 viver sem 3ster. ; coronelcompreende J$e lhe importa viver >e sentia s$+o, metido na)$ele visgode caca$ at4 o pescoço. . . J$ando 3ster era viva, restava a esperança deir embora com ela. . . #gora, nada mais importa... Maneca Dantas lheo/erece t$do o )$e pode o/erecer1  2 >e e /or m$lher, Do$tor, e$ lhe do$, se o senhor )$iser, o endereçonovo de Doralice... $ma bele(a, o senhor vai es)$ecer...  BirgElio agradece1  2 Boc0 4 $m homem bom, Maneca Dantas. . . c$rioso como voc0spodem /a(er tantas desgraças e, apesar disso, serem homens bons. . .  Concl$i$ de $m modo denitivo1  2 Bo$ ho+e a &erradas... >e tiver tempo morrerei como manda a leida)$i, a lei do caca$, levando $m comigo. . . -o 4 assim mesmo  3, pela noite Maneca Dantas o vi$ partir montado, so(inho, r$mo de

&erradas, se$ riso triste. Comento$ para si mesmo1  2 !o moço, coitado  -a estrada, BirgElio o$ve a vo( )$e canta sobre os bar$lhos de>e)$eiro rande1

0Eu #ou co!tar uma hist@riaHma hist@ria de espa!tar. . .3

  ma história de espantar, a história da)$elas terras, a históriada)$ele amor. ma r grita na boca de $ma cobra. ma ve( BirgElio

sonhara $m sonho romOntico1 aparecera A noite, n$m cavalo preto, na varanda da casa2grande. >eria a enorme l$a amarela no c4$, sobre oscaca$eiros e sobre a mata. 3ster o esperaria medrosa e tEmida, a/oitapor4m no se$ medo e na s$a timide(, ele nem pararia o cavalo. !omariadela pela cint$ra e a poria na gar$pa, partiriam por entre as roças decaca$, cortariam as estradas, os povoados e as cidades, cortariam no se$cavalo negro o mar dos transatlOnticos e dos carg$eiros, iriam no se$galope para o$tras terras distantes. >ilva a cobra, grita a r assassinada.3ster vai na gar$pa do cavalo, de onde veio ela BirgElio solta a r4dea,dei@a )$e o cavalo corra. ; vento corta se$ rosto. 3ster vai seg$ra na s$a

cint$ra. ma história de espantar. Iro para o m do m$ndo, os p4s livresdo visgo de caca$ mole )$e os prende ali... esse cavalo tem asas, iro

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para m$ito longe das cobras, das rs assassinadas, para m$ito longe dasroças de caca$, dos homens mortos na estrada, das cr$(es il$minadas por velas nas noites de sa$dade. Pelos ares vai o cavalo negro sobre as roças,sobre as matas, sobre as )$eimadas e clareiras. 3ster vai com BirgElio,gemero de amor na noite de l$ar. Bo pelos ares, 4 desen/reado o galope

do cavalo. . . ; l$ar envolve a noite, chega $ma m<sica de longe. mhomem canta1

8Eu ; co!tei uma hist@ria1Hma hist@ria de espa!tar. ..8

  3 como $ma marcha n$pcial. -$nca ning$4m saber' )$e o <ltimo verso da)$ela história seria escrito nessa noite, na estrada de &erradas.J$e importa a morte, $m tiro no peito, $ma cr$( na estrada, $ma velaacendida por Maneca Dantas, se 3ster vai com ele na gar$pa do se$cavalo negro para o$tras terras )$e no se+am essas terras do caca$ # m<sica o acompanha como $ma marcha n$pcial. ma história deespantar.

&

  # cidade de Ilh4$s desperto$ emocionada. #s r$as estavam atapetadasde ores, bandeiras pendiam das +anelas dos sobrados, os sinosrepicavam /estivos na manh alegre. # m$ltido se encaminhava para ocais, enchia a ponte de desembar)$e. Binham os col4gios1 as moças doin'sio -ossa >enhora da Bitória )$e era o col4gio das /reiras, rec4m2

terminado e )$e dominava a cidade do alto do morro, os meninos emeninas dos col4gios partic$lares, os mais pobres do r$po 3scolar. Binham todos nos $ni/ormes de /esta, as moças do col4gio das /reirastra(iam $ma ta a($l sobre os vestidos brancos, sEmbolo de congregaçKesreligiosas. # ?anda de M<sica passo$ tamb4m, no vistoso $ni/orme vermelho e negro, tocando marchas na manh movimentada. ?ra(comandava os soldados de polEcia )$e levavam os /$(is ao ombro. -aponte se apertavam os homens mais importantes da cidade, envergandoos /ra)$es negros das grandes ocasiKes. Dr. =ess4, act$al pre/eito deIlh4$s, s$ava sob o colarinho d$ro, recordando as /rases do disc$rso )$eia pron$nciar dentro em po$co e )$e levara dois dias decorando. >inh

?adaró veio tamb4m, com a lha e o genro, o coronel co@eava $m po$coda perna direita, a )$e /ora /erida no assalto A casa2grande. -o porto,governistas e oposicionistas se con/$ndiam, mist$rados entrepadres e /reiras. #t4 &rei ?ento descera de &erradas, conversava com as/reiras na s$a lEng$a atrapalhada. ; com4rcio /echara nesse dia, am$ltido se espalhava pelo cais.  # venda do espanhol, )$e era perto da ponte, estava cheia de gente. ;de anelo /also, )$e perdoara generosamente ao espanhol as s$asin/ormaçKes ' polEcia, di(ia ao de colete a($l1  2 ;ra $m ?ispo... 3 o )$e 4 $m ?ispo para se /a(er tanto bar$lho ma

 ve( e$ conheci $m #rcebispo no >$l. >abe o )$e parece Parece $malagosta co(ida...

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  ; de colete a($l no disc$tia. Podia ser verdade, )$em sabe -essedia chegava o primeiro ?ispo de Ilh4$s. m recente decreto papalpromovera a paró)$ia de Ilh4$s a diocese. m cónego da ParaEba /orasagrado ?ispo. ;s +ornais da ?ahia di(iam )$e era $m homem de grandes virt$des e grande saber. Para Ilh4$s era o ?ispo, era a importOncia

ad)$irida pela cidade, era o progresso. #pesar da /alta de religiosidade)$e, seg$ndo o cónego &reitas, caracteri(ava essa terra, Ilh4$s estavaorg$lhosa de poss$ir $m ?ispo e se preparava para receb02lo regiamente.  ente veio correndo pela praia, +' se avistava o navio perto da pedrado %apa. Pelas r$as estreitas passavam homens e m$lheres apressados, acaminho do porto. #s beatas levavam @ales negros na cabeça, no podiamse)$er /alar de to nervosas. #s moças e os rapa(es aproveitavam paranamorar. #t4 prostit$tas tinham vindo, mas olhavam de longe, so haviam +$ntado em $m gr$po alegre por detr's das barracas de venda de [email protected] padres, os habitantes da cidade se perg$ntavam de ondehaviam saEdo tantos. Chegaram, dos povoados do interior, os vig'rios deItapira e de ?arra do %io de Contas, haviam /eito $ma viagem di/Ecil para vir c$mprimentar o ?ispo.  m grande tapete se estendia na ponta de desembar)$e, era o tapeteda escadaria nobre da Pre/eit$ra. >obre ele o ?ispo pisaria.  ; navio começo$ a cr$(ar a barra, vinha embandeirado, apito$longamente. &og$etes espo$caram no ar, na ilha do Pontal. ;s soldadosdisparavam se$s /$(is, n$m arremedo de salva. ;s padres, o Pre/eito, oscoron4is e as /reiras, os comerciantes ricos tamb4m se adiantaram pelaponte. ; navio atraco$ entre vivas, os /og$etes s$biam, e@plodiam porcima da cidade. ;s sinos badalavam, o ?ispo desce$, era $m homen(inho

bai@o e gordo. Dr. =ess4 inicio$ se$ disc$rso de boas2vindas.  # m$ltido acompanho$ o ?ispo at4 ' casa do cnego &reitas, ondeho$ve $m almoço Entimo, as pessoas gradas apenas. # tarde re(o$2seb0nço solene na Catedral de >o =orge. Maneca Dantas levo$ os lhos, o)$e se chamava %$i declamo$ $ns versos sa$dando o Fpai espirit$alF. ;prelado lo$vo$ a precoce intelig0ncia da criança. >inh ?adaró tamb4m visito$ o ?ispo, pedi$ s$a b0nço para o neto )$e ia nascer.  # noite ho$ve /ogos de arti/Ecio, en)$anto na Pre/eit$ra se celebrava ogrande ban)$ete )$e a cidade de Ilh4$s o/erecia ao se$ primeiro ?ispo. ;novo promotor /alo$ em nome do povo, o ?ispo agradece$ em brevespalavras, di(endo de s$a satis/aço em se encontrar entre os grapi<nas.

Logo depois do ban)$ete, o bispo se retiro$, estava cansado. Mas a /estase prolongo$, e, por volta das d$as da madr$gada, Dr. %$i sai$inteiramente b0bedo. Ia tropeçando pela r$a, no encontrava ning$4m,no cais deparo$ com o homem do anelo /also e, ' /alta de o$tro, lhee@plico$ a s$a teoria1  2 3m roça de caca$, nessas terras, me$ lho, nasce at4 ?ispo, nasceestrada de /erro, nasce assassino, ca@i@e, palacete, cabar4, col4gio nasceteatro nasce at4 cobra .. 3ssa terra d' t$do en)$anto der caca$...  ; )$e no concordava com o artigo )$e o Dr. %$i p$blicara nesse diaem F# &olha de Ilh4$sF. #li's, pela primeira ve(, o pensamento de F# &olha de Ilh4$sF coincidia com o de Fo Com4rcioF. 3@altavam ambos oprogresso do m$nicEpio e da cidade, ressaltavam a importOncia da vindado ?ispo /a(iam ambos pro/ecias sobre o /$t$ro esplendoroso reservado a

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Ilh4$s. Man$el de ;liveira escrevia1 F# elevaço a diocese no 4 seno$m ato de reconhecimento ao progresso vertiginoso de Ilh4$s,con)$istado pelos grandes homens )$e sacricaram t$do ao bem dap'tria1G 3 Dr. %$i concordava no o$tro +ornal1 FIlh4$s, berço de tantoslhos trabalhadores, de tantos homens de intelig0ncia e de car'cter )$e

abriam clareiras de civili(aço na terra negra e b'rbara do caca$.F 3ra aprimeira ve( )$e os dois +ornais estavam de acordo.; entanto, se e)$ilibrando no cais, Dr. %$i repetia, aos berros, ao

homem do anelo /also1  2 !$do 4 o caca$, me$ lho... -asce at4 ?ispo em p4 de caca$eiro. . .at4 ?ispo. .  Para o do anelo /also nada era impossEvel no m$ndo1  2 3 daE, )$em sabe

-

  3, após as eleiçKes )$e levaram o Dr. =ess4 &reitas A COmara &ederalcomo dep$tado do governo 9F)$e ir' /a(er l' essa cavalgad$raF,perg$ntara o Dr. %$i aos conhecidos:, e )$e trans/ormara o interventorem governador constit$cional do 3stado, $m decreto crio$ o m$nicEpio deItab$na, desmembrando2o do de Ilh4$s. # sede do novo m$nicEpio era oe@2arraial de !abocas, agora cidade de Itab$na. ma ponte sobre o rioligava os dois lados da +ovem cidade.  Hor'cio, )$e tinha elegido Maneca Dantas para Pre/eito de Ilh4$s na vaga de =ess4, elege$ para Pre/eito de Itab$na o se$ #(evedo, a)$elemesmo da lo+a de /erragens )$e /ora homem devotado dos ?adarós e por

eles se arr$inara. >e$ #(evedo no sabia estar por bai@o em polEtica eentrara em acordo com Hor'cio. >e$s eleitores haviam votado para Dr. =ess4 na chapa de dep$tados, se$ #(evedo em troca ganho$ a novaPre/eit$ra.  -o dia da posse armaram com ores e /olhas de co)$eiro $m arco2de2tri$n/o na Praça da Matri(. -$m recorde de tempo havia sido constr$Edo$m pr4dio moderno para a Pre/eit$ra. De Ilh4$s chegara $m tremespecial tra(endo Hor'cio, o ?ispo, Maneca Dantas, o +$i(, o promotor,/a(endeiros e comerciantes, senhoras e moças. !oda a gente importanteda)$ela )$e passo$ a ser a Fcidade vi(inhaF. -a estaço, os habitantes daItab$na se emp$rravam para apertar a mo de Hor'cio.

  # posse do primeiro Pre/eito /oi solene. >e$ #(evedo ao prestar +$ramento, +$ro$ tamb4m, no disc$rso )$e pron$ncio$, eterna delidadepolEtica ao overnador do 3stado e ao coronel Hor'cio da >ilveira,Fben/eitor da (ona caca$eiraF. Hor'cio o olhava com se$s olhos mi<dos. #lg$4m m$rm$ro$ ao lado do coronel, se re/erindo A po$ca delidade dese$ #(evedo aos partidos1  2 J$em no te conhece )$e te compre, cavalo velho...  Mas Hor'cio acrescento$1  2 3le vai andar com a r4dea c$rta..  # tarde ho$ve )$ermesse na praça, leilo de prendas, retreta. # noite

o grande baile no salo principal da Pre/eit$ra. #s moças e os rapa(esdançavam. ; ?ispo no acho$ conveniente car no salo de danças, /oi

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para o$tra sala, onde estavam servindo o b$]et. Doces nosencomendados As irms Pereiras, Fverdadeiras artistasF, seg$ndo ManecaDantas )$e era conhecedor. 3 toda classe de bebidas desde champanhaat4 cachaça. 3m torno ao ?ispo se /ormo$ $ma roda, Hor'cio, ManecaDantas, se$ #(evedo, o +$i(, ?ra(, v'rios o$tros. 3ncheram2se as taças

mais nas com o mais no champanha. #lg$4m brindo$ pelo ?ispo,depois o promotor de Ilh4$s, )$e )$eria agradar a Hor'cio, levanto$ s$ataça para brindar pelo coronel. &e( $m breve disc$rso e@altando a g$rade Hor'cio. !ermino$ lamentando inocentemente )$e Fno estivessem aliao lado do coronel Hor'cio da >ilveira, nesta hora do se$ grande tri$n/ode cidado, nem a s$a dedicada esposa, a sempre recordada dona 3ster, vEtima abnegada do se$ devotamento e amor ao esposo, nem a)$eleines)$ecEvel cidado )$e tanto trabalhara pelo progresso do novelm$nicEpio de Itab$na, Dr. BirgElio Cabral, )$e morrera nas mos demes)$inhos inimigos polEticosF ; orador armo$ )$e isso se dera nostempos, pró@imos e +' to distantes, em )$e todavia a civili(aço noalcançara essas terras, )$ando Itab$na ainda era !abocas. FHo+e esses/atos, disse, so apenas recordaçKes tristes e lament'veis1G  >$spende$ a taça brindando. Hor'cio estende$ a mo, levanto$ s$ataça tamb4m, bate$ com ela na do promotor bebendo em lembrança de3ster e de BirgElio. J$ando os c'lices se encontraram, sonoridades clarase pe)$enas se elevaram no ar.  2 Cristal bacarat... 2 disse Hor'cio ao ?ispo )$e estava a se$ lado.  3 sorri$ $m sorriso cheio de doç$ra e de satis/aço.

  Cinco anos demoravam os caca$eiros a dar os primeiros /r$tos. Masa)$eles )$e /oram plantados sobre a terra de >e)$eiro randeenoraram no m do terceiro ano e prod$(iram no )$arto. Mesmo osagrónomos )$e haviam est$dado nas /ac$ldades, mesmo os mais velhos/a(endeiros )$e entendiam de caca$ como ning$4m, se espantavam dotamanho dos cocos de caca$ prod$(idos, to precocemente, por a)$elasroças.  -asciam /r$tos enormes, as 'rvores carregadas desde os troncos at4os mais altos galhos, cocos de tamanho n$nca visto antes, a melhor terrado m$ndo para o plantio do caca$, a)$ela terra ad$bada com sang$e.

Montevid4$, agosto de 5678.

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