termômetro de kanitz aplicado nas demonstrações financeiras
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAISInstituto de Educação Continuada
Controladoria Corporativa
O Risco de Crédito Empresarial: Uma análise com base no
termômetro de Kanitz.
Adriano Demétrius Melo Librelon
Contagem2013
Adriano Demétrius Melo Librelon
O Risco de Crédito Empresarial: Uma análise com base no
termômetro de Kanitz.
Artigo apresentado à matéria de Metodologia Científica do curso de Controladoria Corporativa do Instituto de Educação Continuada da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Orientador: Marco Antônio.
Área: Controladoria
Contagem2013
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAISInstituto de Ciências Econômicas e Gerenciais
Curso de Ciências Contábeis
Artigo apresentado à matéria de Metodologia Científica do curso de Controladoria Corporativa do Instituto de Educação Continuada da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em
Controladoria Corporativa.
O Risco de Crédito Empresarial: Uma análise com base no
termômetro de Kanitz.
Resumo de avaliação
CONCEITO ________________
Aos meus pais, Dilma e Valdir, por seus
esforços e sacrifícios para que me
tornasse uma pessoa digna de seus
ensinamentos.
A minha companheira Bárbara, por seu
carinho e compreensão nos momentos de
ausência.
AGRADECIMETOS
Ao senhor nosso Deus pelo dom da vida e por ter me proporcionado o
encontro com as pessoas que fazem parte de minha jornada.
Aos meus pais pelo seu apoio em horas de dificuldade e nas horas de alegria.
A minha companheira Bárbara por seu amor e carinho, por sua compreensão
e ajuda.
Aos diretores do Grupo empresarial SARITUR pelo seu apoio e pelas
oportunidades concedidas.
Aos professores, funcionários e colegas do curso de Controladoria
Corporativa do Instituto de Educação Continuada da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais pela rica experiência de aprendizagem adquirida no período de
convivência.
“Em momentos de crise, só
a imaginação é mais
importante que o
conhecimento”
Albert Einstein
RESUMO
A análise de balanços através de indicadores contábeis tem se desenvolvido
no meio acadêmico graças à integração com a comunidade empresarial. O escopo
desses indicadores é abrangente e a possibilidade de criarem-se novas fórmulas de
acordo com necessidades específicas tem como limite a experiência e a criatividade
de cada pessoa. Para que o analista não se sinta perdido diante de um grande
volume de índices, quocientes, indicadores, muitas vezes repetitivos ou até
contraditórios, essas análises são dispostas em grupos ou modelos específicos que
procuram verificar a situação de uma determinada empresa sob os mais variados
enfoques. As análises tradicionais são dispostas em grupos de indicadores que
procuram avaliar as situações de liquidez, endividamento, rentabilidade e
alavancagem, retorno de investimento, estrutura dos ativos e qualidade dos
passivos. Outras análises se compõem de modelos com capacidade preditiva,
estruturados a partir de uma cesta de informações e ponderadas de acordo com
critérios estatísticos. É o caso do modelo de previsão de falência elaborado por
KANITZ e que é o enfoque deste estudo.
Palavras chave: Análise financeira, demonstrações financeiras, risco de crédito,
termômetro de insolvência.
ABSTRACT
The balance sheet analysis using financial indicators have been developed in
academia thanks to integration with the business community. The scope of these
indicators is comprehensive and the possibility to create new formulas according to
specific needs is limited by the experience and creativity of each person. For the
analyst does not feel lost in front of a large volume of indexes, ratios, indicators often
repetitive or even contradictory, these analyzes are arranged in groups or specific
models that seek to verify the situation of a particular company under various
approaches . Traditional analyzes are arranged in groups of indicators that seek to
assess the situations of liquidity, debt, profitability and leverage, return on
investment, structure of assets and liabilities of quality. Further analyzes are
composed of models with predictive ability, structured around a basket of information
and weighted according to statistical criteria. It is the case of bankruptcy prediction
model developed by KANITZ and that is the focus of this study.
Keywords: Financial Analysis, financial statements, credit risk, thermometer
insolvency.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Diagrama do Sistema Dupont ............................................................. 15
Figura 2 Termômetro de Insolvência de Kanitz ................................................. 19
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Índices da Análise Dupont ................................................................ 21
TABELA 2 Indicador de Insolvência de Kanitz ................................................... 22
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................1.1 Problema de pesquisa ..............................................................................
2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................2.1 Demonstrativos e índices financeiros ....................................................2.2 Análise de risco de crédito ......................................................................2.2.1 Sistema Dupont de análise ...................................................................2.2.2 O modelo de Kanitz ...............................................................................2.2.3 Método para construção do modelo de Kanitz ...................................
3 ANÁLISE .......................................................................................................3.1 Resultados Obtidos ..................................................................................
4 CONCLUSÃO ................................................................................................
REFERÊNCIAS ................................................................................................
ANEXO .............................................................................................................
1112
121214141519
2020
23
24
25
1. INTRODUÇÃO
O movimento econômico, como um todo, está diretamente relacionado com o
fluxo de capitais e suas alocações. Isso é feito geralmente sob a forma de
concessão de crédito/empréstimos que visa gerar cada vez mais valor. Porém, cada
um desses empréstimos possui um risco associado de não pagamento. Essa
percepção de risco controla os movimentos do mercado da seguinte forma, em
épocas de alta temos grande crescimento da economia, dessa forma a maioria dos
contratos são cumpridos o que faz com que os credores subavaliem os riscos e
concedam mais crédito fomentando mais desenvolvimento.
Ocorre que, esse desenvolvimento acelerado encontra diversos pontos de
gargalos, que torna difícil sua sustentação. Com isso, aumentam os números de
inadimplência e a súbita percepção de um grande risco nas transações faz com que
os agentes financeiros reduzam a concessão de crédito, o que restringe o
crescimento e agrava a crise. Nesse contexto, atuando como protagonistas,
encontramos os bancos e as autoridades monetárias. Esta última atuando como
agente regulador e supervisor dos bancos, como por exemplo a CVM-Comissão de
Valores Mobiliários.
Os agentes financeiros realizam serviços como a transformação de prazos e
riscos. No primeiro caso um depósito à vista na ponta da cadeia vira um empréstimo
de longo prazo na outra ponta. Já no segundo caso, uma transação de baixo risco
como um depósito num banco de confiança pública tem seu risco aumentado
quando o banco empresta o dinheiro a outrem. A utilização desses serviços gera a
alavancagem, que corresponde à expansão no valor dos ativos quando uma mesma
soma pode ser ré emprestada várias vezes.
Esse capital fictício é a origem do descolamento do valor financeiro do valor
gerado na economia real. Por esses e outros motivos é que temos a necessidade
de proteger o sistema financeiro e fazemos isso com agentes reguladores e
implantação de políticas monetárias. A relação entre instituições e mercados
financeiros nasce basicamente da necessidade de fundos das empresas
(captadora) e da disponibilização de capital ocioso pelos indivíduos (fornecedores) e
fundos.
1.1 Problema de pesquisa
Os bancos atuam como grandes mobilizadores de capital, advindo em grande
parte da poupança líquida das famílias. Sob algum risco, eles emprestam dinheiro
às empresas, para que estas possam produzir valor utilizando tais recursos. Com
efeito, entendendo tais operações de crédito e seus riscos associados, torna-se
possível aperfeiçoar o fluxo de dinheiro e, portanto obter melhor crescimento
econômico.
Então, a concessão de crédito empresarial pode ser avaliado com uso de
ferramentas de análise de risco de crédito, tal como o Termômetro de Insolvência
de Kanitz? O objetivo do trabalho desenvolvido neste artigo, que consiste em
estudar instrumentos para uma melhor avaliação sobre a situação financeira das
empresas.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Demonstrativos e índices financeiros
Para Gitman (2005), as principais demonstrações financeiras são:
demonstração do resultado do exercício, balanço patrimonial, lucros retidos e fluxo
de caixa. A seguir temos a análise de tais demonstrações: Demonstração do
resultado do exercício - Este tipo de demonstrativo fornece um resumo do resultado
das operações realizadas (ganhos e gastos) pela empresa em determinado período.
Balanço patrimonial - Este tipo de demonstrativo nos mostra uma descrição
sintética, como se fosse um raio-X, da situação financeira da empresa num
determinado momento.
O balanço patrimonial é dividido em dois campos, a primeira fica com os
ativos, que corresponde ao que a empresa possui em termos de bens, dinheiro,
aplicações e outras contas. Já a segunda parte corresponde aos passivos e
patrimônio líquido. Passivos representam o que a empresa deve, enquanto
patrimônio líquido corresponde aos direitos dos proprietários da empresa. Este
último pode ser tratado como um setor de financiamento interno da própria
empresa.
Demonstração de lucros retidos - Esta demonstração apresenta o lucro
líquido obtido em um exercício juntamente com os lucros já reinvestidos na
empresa. Demonstração de fluxo de caixa - Trata-se de uma demonstração que
resume as entradas e saídas de caixa da empresa num determinado período. É um
dos demonstrativos mais utilizados por permitir aos administradores identificarem
pontos de ineficiência e medirem o progresso de algumas metas pré-determinadas.
Pode ser obtido a partir da demonstração do resultado do exercício e do
balanço patrimonial. Exemplos das informações obtidas com esses demonstrativos,
podem ser vistos na secção de resultados obtidos, e são usados na análise
segundo o modelo DuPont e o termômetro de Kanitz.
Como ferramenta para analisar e acompanhar o desempenho de uma
determinada empresa pode-se utilizar alguns índices financeiros, cujos elementos
básicos são obtidos a partir da demonstração do resultado do exercício e do
balanço patrimonial.
A comparação dos índices pode ser feita em três formas, análise em corte
transversal (benchmarking), análise de séries temporais e uma análise combinada
das duas anteriores. A primeira delas corresponde à comparação dos índices da
empresa com índices de um ou mais concorrentes.
Também podem ser feitas comparações de médias setoriais utilizando esse
processo. O segundo tipo de análise trata da evolução de um determinado índice
com relação ao tempo. Devemos antes de analisar os índices lembrar que eles não
fornecem nenhuma evidência conclusiva sobre um determinado problema, apenas
nos fornece pistas.
Durante a análise de uma empresa não se deve utilizar índices isolados,
temos que estar atentos a efeitos de sazonalidade e efeitos de inflação sobre os
ativos desta. Cuidados quanto à credibilidade dos demonstrativos e sua confecção
também devem ser tomados. Os índices estudados se dividem de forma a oferecer
informações sobre fundamentos da empresa, tais como liquidez, atividade,
endividamento, rentabilidade e valor de mercado.
2.2 Análise de risco de crédito
A disponibilidade de crédito para o mercado é afetada diretamente pelo índice
de inadimplência das empresas. Assim, a insolvência, estado em que se encontram
as empresas incapazes de saldar suas dividas com credores, representa um
problema gravíssimo.
Desenvolver e estudar métodos para identificar essa situação e otimizar a
concessão de crédito é de grande interesse tanto para as empresas, quanto para
seus credores. Este é o problema proposto para este trabalho, que visa o estudo e
avaliação do risco de crédito empresarial.
Nas análises de risco de crédito tradicionais, geralmente é utilizada uma
grande quantidade de indicadores financeiros. Elas envolvem a simples leitura e
comparação de indicadores financeiros, tais como mostrados no item 2.2.2. Esse
procedimento fornece um excesso de informações, que nem sempre são relevantes
no estudo da empresa, comprometendo a eficiência da análise.
Já outras análises utilizam um conjunto de indicadores financeiros
ponderados segundo um ferramental estatístico. Um tipo de análise que exemplifica
isso é o próprio termômetro de insolvência de Kanitz, objeto que será estudado
detalhadamente nos próximos tópicos.
2.2.1 Sistema DuPont de análise
Gitman (2005) indica que o sistema DuPont de análise é utilizado para extrair
determinados índices das demonstrações financeiras de modo a facilitar a avaliação
da empresa. Através das demonstrações de resultados e do balanço patrimonial
retiramos informações de modo a obter duas medidas de rentabilidade ROA
(Retorno sobre os Ativos Totais) e ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido).
Na próxima página temos a figura do diagrama do sistema DuPont, com os
elementos da Demonstração do Resultado do Exercício e do Balanço Patrimonial,
os indicadores vão se dissecando até chegar no ROE, formado pelo produto entre o
multiplicador da alavancagem financeira com o ROA.
Figura 1. Diagrama do Sistema DupontFonte: Adaptado pelo autor
2.2.2 O modelo de Kanitz
O Professor Stephen Charles Kanitz, do Departamento de Contabilidade da
FEA/USP, foi responsável, durante mais de 20 anos, pela elaboração da análise
econômica e financeira das 500 Melhores e Maiores empresas brasileiras editada
pela Revista Exame. Fruto de seu trabalho junto às empresas e de suas pesquisas,
elaborou um modelo de previsão de falências, também conhecido como fator de
insolvência.
Para a elaboração de seu modelo de previsão de insolvência, Kanitz utilizou-
se de “Uma Centena de Balanços” distribuídas por dois grupos de empresas – as
boas e as insolventes – respeitadas a similaridade do setor de atividade e
proximidade do capital. Foram excluídas as empresas de serviços, imobiliárias e
participações. Segundo o autor, no item de apresentação de seu livro, publicado em
1978, foram utilizadas técnicas de análise discriminantes e regressão linear múltipla
para obter a ponderação estatística das cinco variáveis utilizadas.
Segundo Kanitz:
“Para calcular o fator de insolvência... usamos uma combinação de índices,
ponderados estatisticamente..., trata-se de uma ponderação relativamente
complexa...”.
A seguir, temos o modelo proposto por Kanitz:
Fator de Insolvência = 0,05.X1 + 1,65.X2 + 3,55.X3 – 1,06.X4 – 0,33.X5
Em que:
X1 = Lucro Líquido / Patrimônio Líquido
X2 = Liquidez Geral
X3 = Liquidez Seca
X4 = Liquidez Corrente
X5 = Capitais de Terceiros / Patrimônio Líquido
Também se faz necessário destacar que o resultado de cada variável utilizada
na equação é obtido através da aplicação de indicadores que evidenciam a situação
financeira (índices de estrutura de capital e endividamento) e econômica (índices de
rentabilidade). Sendo assim, a primeira variável (RPL) faz parte do índice de
rentabilidade que diferente dos índices de estrutura de capital e liquidez, esse retrata
a situação econômica da empresa, isto é, a rentabilidade das operações realizadas
pelos seus gestores.
A Rentabilidade do Patrimônio Líquido (RPL) é encontrada pela fórmula:
RPL = ___LUCRO LÍQUIDO____
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Para Matarazzo (2010), esse índice “indica o quanto à empresa obteve de
lucro para cada R$ 100,00 de capital próprio investido”. O ideal para a empresa é
que quanto maior, melhor, pois significa que a empresa está tendo lucro face ao seu
patrimônio líquido. Após terem sido apresentados os principais conceitos envolvidos
na análise do balanço financeiro de uma empresa, de acordo com o modelo contábil
selecionado, o trabalho parte para a descrição e análise dos resultados da empresa
avaliada.
Os índices de liquidez assim como os índices de estrutura de capitais também
evidenciam a base da situação financeira da empresa. Eles têm como objetivo
verificar se a empresa tem condições de cumprir suas obrigações, ou seja, pagar
suas dívidas. Esse resultado é obtido através da relação entre os diretos realizáveis
e o passivo exigível. Tais indicadores buscam evidenciar a condição da empresa de
saldar suas dívidas e de sua estrutura de endividamento. São indicadores extraídos
apenas do balanço patrimonial, razão porque são considerados indicadores
estáticos. Quer dizer que no momento seguinte esses indicadores serão alterados
(PADOVEZE, 2000, p. 150).
Deste modo, os índices de liquidez usados na equação de Kanitz são: liquidez
geral, liquidez seca e liquidez corrente. O primeiro é representado pela fórmula:
ILG = __ATIVO CIRCULANTE + REALIZÁVEL A LONGO PRAZO__
PASSIVO CIRCULANTE + EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
Segundo Marion (2002, p. 89) esse índice indica a capacidade de pagamento
da empresa a longo prazo, considerando tudo o que ela converterá em dinheiro (a
curto e longo prazo), relacionando-se com tudo o que já assumiu como dívida (a
curto e longo prazo). O ideal para a empresa é que quanto menor o percentual,
melhor, pois significa que a empresa tem condições de cumprir com suas obrigações
totais com o seu ativo circulante mais o ativo realizável a longo prazo. Já o índice de
liquidez corrente (ILC) é evidenciado pela fórmula:
ILC = ATIVO CIRCULANTE
PASSIVO CIRCULANTE
Esse índice indica se a empresa tem bens e direitos e curto prazo suficientes
para cumprir com suas obrigações de curto prazo. O ideal para a empresa é que
quanto maior seja esse percentual, melhor, pois significa a empresa possui recursos
suficientes para cumprir suas obrigações de curto prazo. E por fim o índice de
liquidez seca é calculado por:
ILS = DISP + AF + DRL
PC
De acordo com Silva (1995, p. 227) esse índice “indica quanto à empresa
possui em dinheiro, mais aplicações financeiras a curto prazo, mais duplicatas a
receber, para fazer face a seu passivo circulante”. O ideal para a empresa é que
quanto maior for esse percentual, melhor, pois significa que a empresa tem
condições de cumprir com suas obrigações de curto prazo através do seu disponível
mais aplicações financeiras mais duplicatas a receber líquidas (duplicatas a receber
menos provisão para devedores duvidosos).
Torna-se necessário evidenciar o que: (1) DISP significa disponibilidades; (2)
AF, Aplicações Financeiras; (3) DRL, duplicatas a receber (líquidas de provisão para
devedores duvidosos); e (4) PC, passivo circulante.
Os índices de estrutura de capitais mostram a estruturação do capital da
empresa, isto é, se a empresa possui dependência de capitais de terceiros ou se a
maior parte de seus recursos disponíveis são próprios. Sendo assim, tais
indicadores demonstram como se comportou a situação financeira da empresa, ou
seja, qual a linha de estratégia que ela segue para tomar as grandes decisões
financeiras, no que diz respeito à obtenção e aplicação de recursos. A última
variável utilizada no modelo é a participação de capitais de terceiros representado
pela fórmula:
PCT = PASSIVO CIRCULANTE + EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Esse índice indica a relação entre o capital próprio e o de terceiros, ou seja,
se a empresa possui dependência ou não de terceiros. O ideal para a empresa é
que e quanto menor seja esse percentual, pois significa que ela consegue manter-se
com seus recursos.
Neste modelo, obtém-se um número denominado de Fator de Insolvência que
determina a tendência de uma empresa falir ou não. Para facilitar, o autor criou uma
escala chamada de Termômetro de Insolvência, indicando três situações diferentes.
Os valores positivos indicam que a empresa está em uma situação boa ou
“solvente”, se for menor do que “-3” a empresa se encontra em uma situação ruim ou
“insolvente” e que poderá levá-la à falência. O intervalo intermediário, de “0” a “-3”,
chamada de “penumbra” representa uma área em que o fator de insolvência não é
suficiente para analisar o estado da empresa, mas inspira cuidados.
Figura 2. Termômetro de Insolvência de KanitzFonte: Adaptado pelo autor.
Uma empresa que apresenta um fator de insolvência positivo tem menor
possibilidade de vir a falir e essa possibilidade diminuirá à medida que o fator
positivo for maior. Ao contrário, quanto menor for o fator negativo maior será as
chances de a empresa encerrar suas atividades.
2.2.3 Método para construção do modelo de Kanitz
Kassai e Kassai (1998) em seu artigo sobre o modelo de Kanitz, nos fornece
algumas pistas sobre o caminho a ser seguido e o ferramental estatístico utilizado,
apesar de Kanitz não ter revelado de forma clara a metodologia utilizada para a
construção do seu modelo,
Nos métodos de previsão, tal como o termômetro de insolvência, na análise
discriminante são selecionadas amostras de empresas tidas como solventes ou
insolventes.
A análise discriminante, também chamada de análise do fator discriminante
ou análise discriminante canônica, é uma técnica estatística desenvolvida a partir
dos cálculos de regressão linear e, ao contrário desta, permite resolver problemas
que contenham não apenas variáveis numéricas, mas também variáveis de natureza
qualitativa, como é o exemplo de empresas solventes e insolventes.
Após a obtenção e seleção dos dados, é feita a atribuição de números
quaisquer às variáveis não numéricas. Por exemplo, solvente=1 e insolvente=0. A
partir disto, para obter os coeficientes da função discriminante faz-se cálculos de
regressão linear múltipla.
O processo para a construção de um modelo de previsão de insolvência é
relativamente simples. A qualidade de um modelo é avaliada pelo seu grau de
precisão e pela habilidade do autor na escolha de quais e quantos indicadores
contábeis serão utilizados. O ideal é atingir um grau de precisão maior possível,
próximo a 100% e com um número menor possível de indicadores ou informações.
Neste artigo não será abordado a forma de cálculo estatístico aplicada à
época do modelo de Kanitz, até mesmo porque o objetivo deste trabalho é a
abordagem, nos próximos tópicos, dos resultados da análise feita com base em tal
ferramenta.
3 ANÁLISE
3.1 Resultados obtidos
De forma a aplicar alguns dos conhecimentos obtidos acima, temos abaixo
um breve estudo da situação financeira da empresa Magazine Luiza, a partir de
dados dos anos de 2010, 2011 e 2012. Para isso, inicialmente será utilizado o
modelo DuPont, método que utiliza grupo específico de indicadores para analisar os
pontos chave da situação financeira da empresa. Feito isto, aplicaremos o
Termômetro de Insolvência de Kanitz, para caracterizar sua situação como solvente
ou não conforme a pontuação obtida. Seguem os índices obtidos pela análise
Duppont:
Tabela 1 – Índices da Análise Dupont
Índices da Análise Dupont 2012 2011 2010Margem líquida -0,09% 0,18% 1,43%Giro do Ativo Total 115% 110% 103%Retorno Sobre os Ativos Totais (ROA) -0,10% 0,20% 1,48%Multiplicador de Alavancagem Financeira 9,20 7,86 82,86 Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) -0,94% 1,58% 122%
Fonte: Elaborado pelo autor.
Pode-se notar que o ROE, apresentou queda consecutiva nos três anos,
chegando a -0,94% (Zero ponto noventa e quatro pontos percentuais negativos) no
último ano. A empresa obtinha bom retorno em 2010, com uma variação negativa
nos anos seguintes, revelando um resultado inferior em 2011 e prejuízo em 2012.
O multiplicado de alavancagem financeira, que indica quantas vezes o ativo
total corresponde ao patrimônio líquido, apresentou queda drástica comparando-se
2010 ao anos seguintes, oscilação esta justificada pelo aumento da rubrica Capital
realizado, indicando grande aplicação de recursos de sócios na empresa.
O ROA acompanhou a mesma variação do ROE, tendo em vista que o ROA é
o resultado a multiplicação do Giro total de Ativo pela margem líquida. A receita
apresentou um crescimento nos anos seguintes à 2010, assim como a margem
líquida apresentou uma queda, chegando a ficar negativa em 2012.
Pode-se notar que o aumento nas despesas operacionais com vendas foi
responsável, em grande parte, pelo baixo desempenho nos ano de 2012 e 2011 se
comparados à 2010.
Também com base nos demonstrativos financeiros foi aplicado o termômetro
de Kanitz para a empresa.
Tabela 2 – Indicador de Insolvência de Kanitz
Índices do Balanço Pesos PonderaçãoRP -0,04 0,05 -0,00195LG 0,92 1,65 1,51934LS 0,83 3,55 2,95377LC 1,13 1,06 1,19606GE 8,20 0,33 2,70466
0,57
Índices do Balanço Pesos PonderaçãoRP 0,08 0,05 0,00386LG 0,93 1,65 1,52677LS 0,73 3,55 2,58076LC 1,13 1,06 1,19388GE 6,86 0,33 2,26222
0,66
Índices do Balanço Pesos PonderaçãoRP 2,32 0,05 0,11603LG 0,82 1,65 1,35830LS 0,76 3,55 2,70397LC 1,08 1,06 1,14276GE 81,86 0,33 27,01475
-23,98FI = 0,05RP+1,65LG+3,55LS-1,06LC-0,33GE
Fator de Insolvência - Modelo de Kanitz - 2012
FI = 0,05RP+1,65LG+3,55LS-1,06LC-0,33GE
Fator de Insolvência - Modelo de Kanitz - 2011
FI = 0,05RP+1,65LG+3,55LS-1,06LC-0,33GE
Fator de Insolvência - Modelo de Kanitz - 2010
Fonte: Elaborado pelo autor.
Ao aplicar-se o Termômetro de Insolvência de Kanitz obtivemos um escore de
0,57. Tal pontuação indica que a empresa continua na situação de solvente, com
situação financeira favorável ao crédito. Conforme visto, para estudar a situação
financeira de da Magazine Luiza foram utilizados os demonstrativos financeiros da
empresa. Inicialmente foram tomados alguns índices segundo o sistema DuPont,
que seguiram uma ordem de análise, a partir do ROE até a margem líquida. Dessa
maneira, conseguimos dissecar várias informações, para obter de forma rápida,
algumas conclusões sobre a situação da empresa. Após estudar a situação da
empresa pelo modelo DuPont, aplicamos o Termômetro de Insolvência de Kanitz
para classificá-la como solvente ou não. Com efeito, a partir destes exemplos de
análises, obtivemos suporte para fundamentar uma possível concessão de crédito à
empresa.
4 Conclusão
A primeira parte do trabalho teve como objetivo principal desenvolver uma
base de conhecimentos na área de avaliação financeira, de modo a permitir um
aprofundamento futuro em suas diversas áreas de aplicação. O estudo foi
estruturado de maneira que, inicialmente foi feito um contato com os fundamentos
das finanças e suas relações com as organizações empresariais. Tão logo, realizou-
se o estudo de demonstrativos e índices financeiros bem como sua análise e
aplicação. Além da análise do sistema DuPont, foi feita a revisão de literatura
acadêmica do Termômetro de Insolvência de Kanitz. Nesta revisão, estudou-se o
método da análise de discriminante e regressão linear, que pode ser usado na
construção de modelos análogos. De forma a fixar os conhecimentos adquiridos,
aplicou-se o modelo DuPont à empresa Magazine Luiza, com dados referentes ao
período de 2010, 2011 e 2012. E, após observar sua situação financeira por este
sistema de análise, foi utilizado na empresa o Termômetro de Insolvência de Kanitz.
Assim, foram tiradas conclusões a respeito da situação financeira da empresa
e, com o valor de 0,57, obtido pelo Fator de Insolvência, a empresa foi classificada
como solvente. Dessa maneira, a partir dos dois exemplos de análises aplicados,
obtivemos suporte para fundamentar uma possível concessão de crédito à empresa.
Vale ressaltar que as análises que utilizam apenas a interpretação de índices
financeiros na avaliação financeira, tal como o modelo DuPont visto, são subjetivas e
não fornecem ao analista uma resposta prática. É justamente neste ponto que reside
a grande validade de modelos tais como o de Kanitz, pois a partir de um padrão
estatístico obtido temos uma resposta imediata sobre a solvência de determinada
empresa.
REFERENCIAS
A aplicação dos Modelos de Previsão de Falência. Disponível em: <http://www. controladoria.ufpe.br/anais2007/arquivos/Area%20Tematica%20%28a%29/2.pdf>. Acesso em:13 de Abril. 2013
GITMAN, L. Princípios da Administração Financeira. 10ª. Ed. SP: Pearson, 2005.
KANITZ, S.C. Como prever falências. São Paulo: McGraw Hill, 1978.
KASSAI, José Roberto & Sílvia. O termômetro de Kanitz. Trabalho apresentado no ENANPAD/98, Foz do Iguaçu/PR, setembro/98.
LUIZA, Magazine. Demonstrações Financeiras.Disponível em: < http:// www. econoinfo.com.br/ demonstracoes-financeiras/balanco-patrimonial ?ce=MGLU>. Acesso em: 20 de Abril de 2013.
MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços: abordagem básica e gerencial. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2010.
PADOVEZE, C.L. Contabilidade gerencial: um enfoque em sistema de informação contábil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
SILVA, J. P. Análise financeira das empresas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1995.
ANEXO I Demonstrações Financeiras Magazine Luiza
Ativo 31/12/2012 31/12/2011 31/12/2010Valores em milhões de reais (M) (12m) (12m) (12m)Ativo Total 5.664,80 4.877,40 3.927,80Ativo Circulante 4.070,00 3.567,10 2.895,60Caixa e Equivalentes de Caixa 423,1 173,1 328,9Aplicações Financeiras 175,2 75 46,7Contas a Receber 2.104,50 1.927,80 1.524,70Estoques 1.068,80 1.264,70 849,8Tributos a Recuperar 214,8 24,6 46,5Outros Ativos Circulantes 83,6 102 99Outros 83,6 102 99Ativo Não Circulante 1.594,80 1.310,20 1.032,20Ativo Realizável a Longo Prazo 578,9 371,4 298,7Aplicações Financeiras Avaliadas a Valor Justo 59,3 43,3 32Contas a Receber 1,8 9,4 18,7Tributos Diferidos 201,7 178,9 168,2Imposto de Renda e Contribuição Social Diferidos 201,7 178,9 168,2Outros Ativos Não Circulantes 316,1 139,8 79,8Imobilizado 575,2 489,9 358,8Intangível 440,7 448,9 374,6Passivo e Patrimônio Líquido 31/12/2012 31/12/2011 31/12/2010Valores em milhões de reais (M) (12m) (12m) (12m)Passivo Total 5.664,80 4.877,40 3.927,80
Passivo Circulante 3.607,00 3.167,10 2.685,90Obrigações Sociais e Trabalhistas 139,5 121,6 116,5Fornecedores 1.328,20 1.267,80 1.132,30Obrigações Fiscais 80,2 49,3 39,4Empréstimos e Financiamentos 317,2 129,7 108,8Outras Obrigações 1.742,00 1.598,80 1.288,90
Passivos com Partes Relacionadas 26 25,5 21,7Outros 1.716,00 1.573,30 1.267,20
Passivo Não Circulante 1.441,70 1.089,30 1.194,40Empréstimos e Financiamentos 918,8 581,7 666,1Outras Obrigações 323,8 323,4 332,6
Outros 323,8 323,4 332,6Tributos Diferidos 0 10,8 13,7
Imposto de Renda e Contribuição Social Diferidos 0 10,8 13,7Provisões 199,2 173,4 182
Provisões Fiscais Previdenciárias Trabalhistas e Cíveis 199,2 173,4 182Patrimônio Líquido Consolidado 616 620,9 47,4
Capital Social Realizado 606,5 606,5 43Reservas de Capital 2,8 0 0Reservas de Lucros 6,6 14,4 4,4
Reserva Legal 4 4 3,4Reserva de Retenção de Lucros 2,6 10,4 1Outros Resultados Abrangentes 0,1 0 0
Demonstração do Resultado 31/12/2012 31/12/2011 31/12/2010Valores em milhões de reais (M) (12m) (12m) (12m)Receita de Venda de Bens e/ou Serviços 7.665,10 6.419,40 4.808,00Custo dos Bens e/ou Serviços Vendidos -5.146,60 -4.275,10 -3.166,30Resultado Bruto 2.518,50 2.144,30 1.641,80Despesas/Receitas Operacionais -2.370,30 -1.930,60 -1.390,30Despesas com Vendas -1.581,00 -1.343,30 -960,2Despesas Gerais e Administrativas -482 -441,6 -317,3Perdas pela Não Recuperabilidade de Ativos -338,5 -244,9 -175,3Outras Receitas Operacionais 31,3 99,2 62,5Resultado Antes do Resultado Financeiro e dos Tributos
148,3 213,7 251,4
Resultado Financeiro -172,3 -165,7 -141,5Receitas Financeiras 55,7 51,7 36,6Despesas Financeiras -228 -217,4 -178Resultado Antes dos Tributos sobre o Lucro -24 47,9 110Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro
17,3 -36,3 -41,1
Resultado Líquido das Operações Continuadas
-6,7 11,7 68,8
Lucro/Prejuízo Consolidado do Período -6,7 11,7 68,8Atribuído a Sócios da Empresa Controladora -6,7 11,7 68,8
Fonte: Site www.Econoinfo.com.br