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PODER JUDICIÁRIO Em 27/10/2010
TERMO DE AUTUAÇÃO
Em Brasília, 27 de Outubro de 2010 a seção de Classificação e Distribuição autua os documentos adiante, -em folhas com apensos na seguinte conformidade;
Processo: 50542 90201040134 00
Classe: 2100 - MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL
Objeto: INQüÉRITO/PROCESSO/RECURSO ADMINISTRATIVO - ATOS ADMINISTRATIVOS -ADMINISTRATIVO
Vara: 15^ VARA FEDERAL
DISTRIBUIÇÃO AUTOMÁTICA EM 27/10/2010
O sistema gerou relatório de prevenção.
PARTES:
IMPTE ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - CONSELHO FEDERAL
IMPDO SECRETARIO DA RECEITA FEDERAL DO BEIASIL
Para constar, lavro e assino o presente
SERVIDOR
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EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL, EM BRASÍLIA, DF
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5Ü542-90-2010.4.01 -3400 V " / „ 3,1 t/
Distribuição Urgente - Pedido de Medida Liminar
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- I
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB) -
CONSELHO FEDERAL, regida pela Lei Federal n° 8.906/94 ("Estatuto da Advocacia e a
Ordem dos Advogados do Brasil - EAOAB" ou "Estatuto da Advocacia"), em defesa da
ordem jurídica e na tutela dos legítimos direitos de seus membros, inscrita no CNPJ/MF
sob o n° 33.205.451/0001-14, com sede na SAS QD 5 LT 01 Bloco M, Edifício Sede da
OAB, ASA SUL, CEP 70.070-050, por seu patrono infra-assinado (instrumento de
mandato anexo), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com
fundamento no art. 5°, LXX, "b", da Constituição Federal de 1988, na Lei n^ 12.016/09 e
na própria Lei n° 8.906/94, com as alterações posteriores, impetrar o presente
MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO
com pedido de medida liminar, em caráter repressivo, contra ato do SR. SECRETÁRIO
DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL, com endereço no Ministério da Fazenda,
Esplanada dos Ministérios, Bloco P, Edifício Sede, em Brasília, DF, ou quem lhe faça as
vezes no exercício da coação ora impugnada, pelos motivos de fato e de direito a seguir
aduzidos.
SlNTESE DO MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO
O art. 7° e o parágrafo único do art. 8° da Portaria RFB n° 1.860/10 (Doe. 1).
editada pela d. Autoridade Coatora, não podem subsistir porque são ilegais, nem o
inconstitucional art. 5° da Medida Provisória n° 507/10 (Doe. 2) que pretenderam
regulamentar - passando a exigir instrumento público de procuração para a (xtnstituiçào de
advogados para atuação perante os órgãos fazendáhos -, pelos seguintes motivos:
1) Houve abuso de poder e desvio de finalidade na edição da MP n° 507/10, pois inexistiu
qualquer "caso", 'relevância" ou "urgência" efetivamente relatados na Exposição de
Motivos (Doe. 2) da medida provisória, que são os pressupostos constitucionais cumulativos,
indispensáveis e determinantes para autorizar a adoção de medida provisória, a teor do
caput do art. 62 da CF, à luz da jurispnjdência do E. STF;
2) É absolutamente vedada a adoção de medida provisória criando restrições em matéria
relativa a direitos da cidadania (art. 62, § 1°, !, "a", da CF, na redação da Emenda
Constitucional n° 32, de 2001);
3) É igualmente vedada a cobrança de taxas para que o cidadão possa bem exercer o direito
de petição e de obtenção de certidões perante o Poder Público (art. 5°, XXXIV da CF), ainda
que por meios oblíquos, tais como a exigência de emolumentos cobrados pelos Cartórios de
Notas para outorga de procurações aos seus advogados, por instrumento público;
4) A exigência de procuração por instrumento público para o exercício de direitos fundamentais
e para o acesso a órgãos fazendários (direitos à informação, de petição, à obtenção de
certidões, à ampla defesa e ao contraditório no processo administrativo, por meio de advogado) viola o principio do devido processo legal substancial: proporcionalidade.
razoabilidade e ísonomia (art. 5°, LIV, da CF); e
5) A Lei Federal n° 8.906/94 ("Estatuto da Advocacia e a OAB") é LEI ESPECIAL e definiu que
o advogado ''postula, em juízo ou fora dele, fazendo prova do mandato" (art. 5° do Estatuto
da Advocacia), sem exigir Instrumento público. Desse modo, a Portaria RFB n° 1.860/10 é
claramente ilegal ao não excepcionar as procurações outorgadas a advogados da REGRA
GERAL criada pelo art. 5° da MP n° 507/10, violando o livre exercício da atividade
profissional (art. 2°, §2^ da LICC; art. 5^ inc. XIII e art. 170, parágrafo único, da CF).
'
Dos Fatos e do Direito
A Ordem dos Advogados do Brasil, na defesa da Constituição e da
ordem jurídica do Estado Democrático de Direito e pugnando pela boa aplicação
das leis e pela rápida administração da justiça (inc. I do art. 44 do Estatuto da
Advocacia e a OAB), bem como na defesa dos legítimos interesses de seus
membros (inc. II do art. 44 do mesmo Estatuto), impetra o presente mandamus a fim de
afastar os efeitos do art. 7° e parágrafo único do art. 8°, da Portaria RFB n° 1.860, de 11
de outubro de 2010 (D.O.U. de 13/10/2010, cópia anexa, Doe. 1), editada pela d.
Autoridade Coatora, que pretendeu regular o inconstitucional art. 5° da Medida
Provisória n° 507, de 5 de outubro de 2010 (D.O.U. de 6/10/2010, cópia anexa, Doe. 2).
As disposições da portaria estão assim vertidas:
"Art. 75 Somente por instrumento público especifico, o contribuinte poderá conferir poderes a terceiros para, em seu nome, praticar atos perante órgão da administração pública que impliquem fornecimento de dado protegido pelo sigilo fiscal, vedado o substabelecimento por instrumento particular.
§ 15 Para produzir efeitos, o instrumento público específico de que trata o caput deve atender às seguintes condições:
I - ser formalizado por meio de procuração pública lavrada por tabelião de nota, na forma do inciso I do art. 7^ da Lei n^ 8.935^, de 18 de novembro de 1994, ou, em se tratando de outorgante no exterior, no serviço consular, nos termos do art. 1° do Decreto n° 84.451, de 31 de janeiro de 1980;
II - possuir os seguintes requisitos:
a) qualificação do outorgante, inclusive com o número de inscrição no Cadastro de (f^ Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda (CPF) ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ);
'Art. 7° Aos tabeliães de notas compete com exclusividade: I - lavrar escrituras e procurações, públicas,"
&rde9n doa (^^dvcaado<i do HÕ-yoóU
b) qualificação do outorgado, inclusive com o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda (CPF);
c) relação dos poderes conferidos, que poderão ser amplos e gerais ou específicos e especiais;
d) declaração de que a procuração tem por objeto a representação do outorgante perante o órgão detentor das informações fiscais requeridas; e
e) prazo de validade, que não poderá ser superior a cinco anos;
III - ter sido efetuada a transmissão eletrônica, para a Secretaria da Receita Federal do Brasil, do extrato da procuração, com as seguintes informações:
a) número do registro público da procuração;
b) número de inscrição no CPF ou no CNPJ do outorgante e o número de inscrição
no CPF do outorgado;
c) relação dos poderes conferidos;
d) prazo de validade da procuração; e
e) no caso de substabelecimento, o nome do cartório e o número da procuração original ou do substabelecimento antecedente, se tiouver.
§2° A transmissão das informações de que trata o inciso III do § 1° deve ser efetuada pelo cartório de notas, ou pelo serviço consular, por meio de Programa Gerador de Extrato de Declaração (PGED) a ser disponibilizado no sitio da Secretaria da Receita Federal do Brasil no endereço www.receita.fazenda.gov.br.
§ 3° As disposições de que tratam o inciso III do § 1° e o § 2° não se aplicam aos cartórios que, a partir da implementação do registro eletrônico de que trata o art. 37 da Lei n° 11.977, de 7 de julho de 2009, disponibilizarem eletronicamente a procuração de que trata o inciso I à Secretaria da Receita Federal do Brasil.
§4° No caso de não cumprimento do disposto no inciso III, o atendimento pelo órgão a que se refere o caput somente será concluído após a verificação da autenticidade dá procuração.
§ 5° A Secretaria da Receita Federal do Brasil dará acesso público aos dados obtidos na forma do inciso III do §1°.
Art. 85 As disposições do art. 7^ não alcançam as procurações já anexadas a processos ou apresentadas antes da edição desta Portaria.
Parágrafo único. As procurações de que trata o caput perderão a validade perante a Secretaria da Receita Federal do Brasil no prazo de 5 anos contados da publicação desta Portaria, salvo se dispuserem prazo de validade menor." (g.n.)
4
O^^/e^n- doá (^*diAoa<ido4^ do oõraaU
^ondemo (federa/
Como mencionado, referidos dispositivos tiveram por finalidade
regulamentar o art. 5° da MP n° 507/10, cujo caput determinou:
"kú.. 5e Somente por instrumento público específico, o contribuinte poderá conferir
poderes a terceiros para, em seu nome, praticar atos perante órgão da administração
púNica que impliquem fornecimento de dado protegido pelo sigilo fiscal, vedado o
substabelecimento por instrumento particular "(g.n.)
Com efeito, tal exigência de instrumento público de procuração,
coercitivamente imposta pela d. Autoridade Coatora, criou enorme e complexo obstáculo
burocrático ao cidadão e às empresas que, para a constituição de advogados para a
mínima defesa de seus direitos, obtenção de vista de autos, extração de cópias ou
certidões, ou para a obtenção de informações gerais perante os órgãos
fazendários, terão agora cue recorrer a um burocrático, complexo, custoso e
desnecessário procedimento perante um Tabelião Público, pelo motivo de serem elas,
por natureza, guamecidas por sigilo fiscal.
Assim, desde a publicação de tal medida provisória e sua regulamentação
pela portaria em apreço, o advogado está impedido de ser constituído por mandato por
instrumento privado para obter vistas de autos de processo administrativo, requisitar
cópias ou certidões e até mesmo poderá se dar o grave constrangimento, já noticiado
alhures, de ver negada protocolização de impugnações, recursos e defesas
administrativas (caso as possa preparar, mesmo que precariamente, sem prévio acesso
às informações detidas pelas repartições fiscais!). Isto porque, com a edição da portaria
l 5\
V'me^Tt dcá C^dvoaado4^ do co'yaaU
da d. Autoridade Coatora, os funcionários dos órgãos fazendários a ela subordinados
passaram a compulsoriamente exigir a apresentação de procuração por instrumento
público, lavrado em Cartório de Notas. Inclusive, até mesmo para um simples
substabelecimento a um advogado ou Estagiário de Direito do próprio escritório, ou
então para um advogado em outra localidade, está sendo exigido aue se recorra a um
Tabelião Público para lavratura de um novo instrumento público de mandato.
No entanto, a portaria que regulamentou a medida provisória em apreço
não encontra meios de prevalecer. Seja porque, entre outros desvios jurídicos, regulou
de forma ilegal a própria medida provisória - por não ter excepcionado da regra geral do
instrumento público a procuração outorgada a advogados, jà que a outorga de mandato
aos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil é regida por legislação especial - , seja
porque buscou apoio em uma medida provisória eivada de nulidades flagrantes,
tamanha a série de violações perpetras à ordem constitucional pátria.
Sem dúvida, para bem se adequar à ordem jurídica nacional, a própria
medida provisória já teria de ter excepcionado a outorga de mandato a advogados da
regra geral da exigência de instrumento público. Ademais, é indubitável que, de qualquer
modo, ao instituir tal complexa, custosa e extraordinária exigência para a prática de
atos ordinários e necessários do cidadão - no caso em debate no presente writ,
Impactando seriamente na constituição de advogados à defesa de seus legítimos
interesses perante o Poder Público - referida disposição normativa exorbitou da
competência constitucional atribuída ao Sr. Presidente da República para a edição de
6 \
^/-i^dem, doá C£^dvoaado<i do i^^fOaU
medida provisória, contaminando igualmente o ato normativo editado pela d. Autoridade
Coatora. Afrontou, pois, o próprio princípio da legalidade (Inc. II do art. 5° da CF), pois é
um texto editado sem competência legislativa que lhe legitime, além de violar diversos
comandos magnos no plano dos Direitos e Garantias Fundamentais do cidadão.
Igualmente, a portaria em comento e a medida provisória da qual deriva,
atentaram contra o exercício da Advocacia, pois aue é da essência da atuação do
advogado a sua constituição por um mandato, para fins de promover a fruição, para o
cidadão, do seu direiito de petição, do direito à informação e à obtenção de certidões dos
órgãos públicos, bem como ao amplo exercido do direito de defesa e ao contraditório no
processo administrativo. Por isso, o múnus público do advogado no seu ministério
privado (§1° do art. 2° da Lei n° 8.906/94), sendo ele ""indispensável à administração da
justiça" (art. 133 da CF), tanto no plano judicia! quanto no administrativo.
É o que se verá na seqüência.
/ - DA VIOLAÇÃO À COMPETÊNCIA LEGISLATIVA EXTRAORDINÁRIA ESTABELECIDA NO ART. 62 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, NO QUE SE REFERE AOS PRESSUPOSTOS DE "CASO". "URGÊNCIA" E "RELEVÂNCIA" PARA FINS DA ADOÇÃO DE MEDIDAS PROVISÓRIAS.
Diz a Constituição Federal, ao tratar de medida provisória:
"Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetè-las de imediato ao Congresso Nacional." (g.n.)
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Oi^d^m- doá (^^d^M>aadoá do CAJ^^oaU
Ou seja, a Constituição Federal exige a existência de "caso" de
"relevância" e "urgência" para a edição do veículo extraordinário excepcional, como
elementos jurídicos de densidade própria e objetividade minimamente identificável. Isto
para impedir que impere o subjetivismo, que instrumentaliza o arbítrio e a opressão e é
incompatível no Estado de Direito.
Cabe, pois, primeiramente verificar se tais requisitos foram atendidos para
edição de tal veículo normativo excepcional.
A Medida Provisória n° 507/10 tratou de dois assuntos: nos seus artigos 1°
a 4°, detalhou sanções específicas para funcionários públicos que violassem sigilo fiscal
e, por seu artigo 5**, passou a exigir instrumento público de procuração para a prática de
atos perante órgão da administração pública que impliquem fornecimento de dados
protegidos por sigilo fiscal.
A sintética Exposição de Motivos (cópia anexa, Doe. 2) deixa transparente
que singelamente é reconhecido que iá existem sanções disciplinares tratando da
matéria. Isto porque, como sabido, a Lei Federal n° 8.112/91 ("Que dispõe sobre o
regime jurídico dos funcionários civis da União") já disciplina os deveres e obrigações
gerais do funcionário público federal, entre eles o dever de sigilo funcional e a
proibição de atuar em violação às leis e aos interesses da Administração Pública. Ou
seja, o detalhamento promovido pela medida provisória, nesse aspecto, além de ser de
questionável necessidade, certamente nada guarda de "urgência" e de "relevância" que
justificasse suprimir tal matéria do regular tratamento em projeto de lei a ser submetido à
prévia apreciação do Congresso Nacional. Inclusive, embora sanções administrativas ^
não tratem de direito penal (matéria vedada para medidas provisórias), de qualquer
modo sua característica também sancionatória não se mostra compatível com a
natureza precária do instrumento legislativo excepcional, a teor do art. 62 da CF.
&-yde9Pt doá C^^duoaadxi^ do ZAJ^^aoic
Ora, regular sanções administrativas para quebra de sigilo funcional é
matéria iá tratada, em caráter geral, pela legislação em vigor, no mínimo, nas últimas
duas décadas. A Exposição de Motivos não fundamenta ou apresenta nenhum ""caso"
(exigência expressa do art. 62 da CF) - no sentido de fato, evento ou acontecimento
juridicamente relevante, para fins de deflagração da competência constitucionalmente
atribuída ao Sr Presidente da República - que justificasse o extraordinário uso de
medida provisória e que suportasse qualquer ""urgência" (no sentido que lhe empresta o
texto constitucional), a fim de autorizar a supressão da competência do Poder
Legislativo em matéria de produção de leis.
É também evidente a falta de qualquer fundamentação relevante quanto
ao motivo pelo qual o cidadão, para a boa defesa de seus direitos ou para nomear um
advogado ou representante para bem apoiá-lo na prática de atos perante os órgãos
fazendários, deva agora fazê-lo por procuração por instrumento público. A Exposição
de Motivos é absolutamente lacônica nesse assunto, apenas afirmando que tal medida
se deve para "garantir maior segurança na utilização de procuração", In verbis:
"Temos a honra de submeter à apreciação de Vossa Excelência a Medida
Provisória que: [...] (iii) introduz regramento especifico, para garantir maior
segurança na utilização de procuração com o ftto de operar mandato,
conferindo poderes a terceiros para, praticar atos ou administrar interesses
perante unidades da Secretaria da Receita Federal do Brasil." (g.n.)
A Exposição de Motivos não apresenta, pois, qualquer iustíficativa
guanto à Relevância" concreta da guestão. nem no que concerne à necessidade do
tema ser veiculado por medida provisória. Ainda, carece a Exposição de Motivos de '
fundamentos que demonstrem qualquer necessidade, cie caráter republicano.
democrático ou próprio do Estado de Direito, neste momento, de ser criado tal
^t^de^ít do<i^ (^dvoaadoá do ^^o^oáU
m^u - ̂ ^
gravíssimo empecilho ao exercício de importantíssimos direitos basilares da
cidadania (pois afeta o direito do cidadão ao acesso à informação, o direito de petição,
o direito de obter certidões e o direito ao contraditório e à ampla defesa, todos
constitucionalmente assegurados).
Com efeito, deve-se facilitar o acesso do cidadão à Administração Pública
e aos meios de defesa, inclusive no processo administrativo junto aos órgãos
fazendários, e não o contrário!
Ao final do texto, sem preocupação de sequer simular uma suposta
"urgência" concreta para disciplinar a matéria por medida provisória, a Exposição de
Motivos diz o seguinte, após tratar da questão das "sanções" dos funcionários públicos:
X-j Além disso, a medida se faz urgente para fazer reduzir, imediatamente, o
risco de acesso aos dados sigilosos dos contribuintes mediante fraude em
instrumento de mandato", (g.n.)
Ora, o advérbio "imediatamente" é simplesmente lançado no texto
sem qualquer justificativa para tal açodamento. Não se expõe gualguer fato gue
iustifigue qualguer necessidade urgente de edição de medida provisória para
"imediatamente" proibir os cidadãos ou empresas de, muito especialmente, constituírem
advogados por instrumento particular para obtenção de informações de seu interesse,
necessárias às mais diversas práticas de negócios de seu dla-a-dia ou à sua legítima
defesa perante os órgãos fazendários e no processo administrativo.
Em suma, considerando os termos do caput do art. 62 da Constituição
Federal, que exige caso, relevância e urgência para permitir a edição de medida
provisória pelo Sr. Presidente da República, a Exposição de Motivos da MP n*̂ 507/10 é
eloqüente quanto a inexistir: /
V 10
Wè^?^ doé^ (S^diMmado<í do ijo-yaaic
a) Qualquer "caso", no sentido de uma anomalia fática juridicamente relevante a
justificar ou fundamentar a edição da medida provisória;
b) Qualquer "relevância", não havendo fundamento no texto da Exposição de Motivos
quanto à necessidade efetiva de ora se passar a exigir procuração por instrumento
público - em especial, para constituição de advogados - , criando-se mais uma
custosa e complexa burocracia perante Cartórios de Notas, e porque tal prática
melhor atenderia aos interesses dos cidadãos, das empresas e ao Bem Comum; e
c) Qualquer "urgência", uma vez que meramente afirma, sem qualquer fundamentação
e, portanto, sem demonstrar gualguer interesse público gue o iustífícasse, que
pretende "reduzif, "imediatamente", o "risco de acesso a informações sigilosas".
Desse modo, não demonstrando gualguer "anomalia fática". não estando
lastreada em qualguer evento gue a justificasse, não fundamentando a "relevância" e
sendo a "urgência" acima descrita uma mera quimera, não pode a MP n° 507/10
subsistir e, por decorrência, nem a ilegal Portaria n° 1.860/10, que ampliou as
restrições relativas às exigências do instrumento público de procuração. Assim, o art. 5°
da medida provisória e o ato regulador inferior certamente não se coadunam com a
ordem jurídica pátria, ao estipularem a exigência de que o contribuinte, cidadão ou
empresa constituam advogados apenas por um burocrático, custoso e complexo
instrumento público de procuração, para fins de representá-los perante os órgãos
fazendários.
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&rde9ft doa <^£^dvoaadcá do CAjy^aai/
No sentido de que o pressuposto constitucional da existência do caso
(fato) é fundamental para validar a edição de medida provisória, é o voto condutor da
lavra do Ministro Carlos Britto do E. STF, na ADI 3964 MC/DF (Julg. 12/12//07 - DJe
10/04/08):
"[...] 11. [...] o pressuposto constitucional para essa investidura do Presidente da
República em função normativa primária está na ocorrência de um caso, um
fato, um acontecimento do mundo do ser (Kelsen) que se revista ao mesmo
tempo, de relevância e urgência. Mas um fato urgente e relevante, frise-se, no
sentido der requerer uma pronta resposta nomiativo-estatal. Uma solução oficial
tão instante que não pode esperar sequer a tramitação de um projeto de lei em
caráter de urgência (§§ 1°, 2^ e 3° do art. 64 da CF/SSp.
12. É a medida provisória, portanto, uma regração que o Presidente fica
autorizado a baixar para o enfrentamento de certos tipos de anomalia fática.
Um tipo de anormalidade - este o ponto central da questão - geradora de
instabilidade ou conflito social aue nào encontra imediato eauacionamento nem
na Constituição, diretamente, nem na ordem legal iá estabelecida. Por isso que
demandante de uma resposta normativa que não pode aguardar as formas
constitucionais de tramitação dos projetos de lei [...]
3 Para a edição de uma MP, é preciso uma soma de relevância e urgência. Não uma coisa ou outra. alternativamente, como, agora sim, sucedia com os Decretos-leis na Constituição de 67/69, verbis: "Art. 55. O Presidente da República, em caso de urgência ou de interesse público relevante, e desde que não haja aumento de despesa, poderá expedir decretos-leis sobre as seguintes matérias:" (g.n. e do original)
Ao desatender ao pressuposto da "urgência" constitucionalmente exigida,
o Sr. Presidente da República igualmente excedeu-se na sua competência legislativa
extraordinária, indevidamente invadindo a competência originária do Congresso
Nacional. Nessa perspectiva, violou o princípio da legalidade geral (Inc. II do art. 5° da
CF), bem como os princípios que devem reger a Administração Pública constantes do
capuf do art. 37 do texto mago. Ora, a Democracia Representativa e Participativa
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lastreia a elaboração das leis primordialmente no âmbito do Poder Legislativo, onde os
debates devem ocorrer de forma a que a sociedade tenha prévio acesso ás idéias e ao
contraditório, produzindo a reflexão necessária para a produção legislativa. Pelas
medidas provisórias não há contraditório das forças políticas, que se darão apenas a
posteriori, sendo assim um ato de força do Poder Executivo que limita o próprio controle
da Sociedade sobre a produção legislativa. Daí ser um ato que sofre nítidas restrições
constitucionais para sua edição, no Estado de Direito brasileiro.
Insere-se, assim, a possibilidade da edição excepcional de medidas
provisórias em uma espécie de poder geral de cautela do chefe do Poder Executivo.
Somente a título de preservar a coletividade de alguma "anomalia fática" (o caso que a
Constituição tem como pressuposto para edição do instrumento legislativo excepcional),
que se mostre relevante e urqente (havendo, pois, pericuium in mora), justificar-se-ia o
ato legislativo extraordinário do Sr. Presidente da República. Nesse sentido também foi
o voto do Ministro Celso de Mello na ADI 221 MC/DF (Sessão de 29/3/90, DJ: 22/10/93):
"[...] As medidas provisórias, cuja edição resulta do exercício, pelo Presidente da
República, de competência constitucional extraordinária, representam a
expressão concreta de um poder cautelar geral deferido ao Chefe do Poder
Executivo da União.
O aue iustifica a edição dessa espécie normativa, com força de lei, em nosso
direito constitucional, é a existência de um estado de necessidade, que impõe ao
Poder Público a adoção imediata de providências, de caráter legislativo,
inalcançáveis segundo as regras ordinárias de legiferação, em face do próprio
pericuium in mora que fatalmente decorreria do atraso na concretização da
prestação legislativa. [...]". (g.n. e do original)
13
j j
Ora, além de nada ter sido fundamentado, na Exposição de Motivos da
MP n° 507/10, quanto ao caso ou relevância constitucionais que justificassem a sua
edição para tratar da questão da exigência de procuração por instrumento público,
também nada se demonstrou em termos de urgência no tratamento do assunto que
constitucionalmente justificasse subtraí-lo do processo legislativo ordinário, no âmbito do
Congresso Nacional.
Nessa perspectiva, desatendendo aos requisitos constitucionais,
indispensáveis e cumulativos, autorizadores da adoção do veículo legislativo
extraordinário que é a medida provisória, houve abuso de poder e desvio de finalidade
na edição da MP n° 507/10. Assim, já por essa ótica, a MP n° 507/10, em especial o seu
art. 5°, não encontra meios de prevalecer, por claramente desatender aos pressupostos
do art. 62 da Constituição Federal, pois não se fundamentou em qualquer caso
(anomalia fática), não houve qualquer fundamentação da relevância (interesse público
relevante) nem demonstração de qualquer urgência {estado de necessidade e pericuium
in mora) justificando sua edição, contaminando, em decorrência, por vício de ilegalidade,
a Portaria RFB n° 1.860/2010, editada pela d. Autoridade Coatora, que a regulamentou.
// • DA VIOLAÇÃO À COMPETÊNCIA LEGISLATIVA EXTRAORDINÁRIA ESTABELECIDA NO ART. 62 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, NO QUE SE REFERE À PROIBIÇÃO DE MEDIDA PROVISÓRIA TRATAR DE RESTRIÇÃO DE DIREITOS DA CIDADANIA.
Diz a Constituição Federal, quanto à proibição de se restringir direitos da
cidadania por medida provisória:
"Art, 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República' poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
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ã9«í«íá« - "Si ^
§1°É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I - relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral;" (g.n.)
Ora, os direitos de acesso à informação e à obtenção de certidões, aos
meios de defesa e contraditório, e o direito de petição, inclusive no processo
administrativo e perante os órgãos fazendários, decorrem de princípios, garantias e
valores elementares da cidadania!
A Constituição Federal de 1988 foi justamente denominada, quando de
sua promulgação, de "Constituição Cidadã" pelo Deputado Ulisses Guimarães.
Estabeleceu, sublinhe-se, princípios e valores de obrigatória observância pela
Administração Pública. É, assim, pródiga em determinar a facilitação dos meios de
acesso do cidadão aos Poderes Públicos, como se pode observar, por exemplo, dos
seguintes comandos normativos:
"Art. 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[.-]
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da
fonte, quando necessário ao exercício profissional;
[...]
XXXlll - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; /
' 15
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra
ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos
e esclarecimento de situações de interesse pessoal;"
Eliminar barreiras de acesso à informação e à defesa perante a
Administração Pública é fomentar direitos da cidadania. Injusta e ilegitimamente criá-las,
na forma que fez o art. 5** da MP n° 507/10 -e a Portaria editada pela d. Autoridade
Coatora - eqüivale a permitir a edição de medida provisória tratando de matéria relativa
à "cidadania": o que em boa ora o Legislador Constituinte Derivado houve por bem
expressamente proibir ao Poder Executivo!
Além de assegurar as garantias atinentes ao direito de petição e ao direito
à informação como essenciais à ordem jurídica "cidadã" inaugurada pela Carta de 1988,
igualmente no campo dos Direitos e Garantias Fundamentais, dispôs o Constituinte
Originário:
"Aft. 5^....
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal:
LV-aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes:"
Ora, nada mais natural, nos regimes civilizados e nas Democracias
modernas, que a defesa e a representação do cidadão e da empresa, perante os
Poderes Públicos, para a legítima defesa de seus direitos e interesses, se faça por meio
de seus advogados. Desse modo, é inevitável concluir que a MP rf 507/10 instituiu
16
\
inédita, custosa e complicada barreira ao amplo exercício do direito de defesa, no
campo do devido processo legal. Imiscuiu-se e limitou, tornando mais onerosa,
complexa e burocrática a outorga de mandato ao advogado que representará o
contribuinte perante os órgãos fazendários, em processos administrativos, afetando
assim, também nessa perspectiva, inequivocamente, matéria atinente a direitos
fundamentais da cidadania!
Conforme bem demonstra a Advogada da União, Administrativista e
Professora Universitária Luziânia Carla Pinheiro Braga, em seu ensaio doutrinário
"PROCESSO ADMINISTRATIVO COMO INSTRUMENTO DE CIDADANIA"^:
%..] 'o prestígio da Administração é assegurado sempre oue há possibilidade de resolver-se
o litígio entre o administrado e o Estado na própria esfera administrativa, dada a mínima
repercussão dos procedimentos internos'. (CRETELLA JÚNIOR, José. Controle
Jurisdicionaí do Ato Administrativo, 3^ ed., Rio de Janeiro: Forense, 1993, p. 332). [...]
O processo administrativo há de ser sedimentado como um canal de participação e
instrumento chancelador da legitimidade das decisões levadas a efeito pela administração
pública, em todos os seus âmbitos de atuação - exemplo in concretu de exercício da
cidadania". [...]
O objetivo substancial do processo administrativo é o cumprimento maior da ordem
jurídica, especificamente, no tocante à função administrativa - o que leva, como
finalidade última e supera, a consecução da justiça material, em outras palavras, in
concretu. Tal conseqüência não há que ser desprezada, afinal, pacificação de conflitos,
distribuição de iustíca e asseguramento dos primados constitucionais do Estado
Democrático de Direito configuram-se em pilastras pacifícadoras que permitem a
qualquer gestão administrativa a possibilidade de implementar, com êxito,
partjcipatjvidade e legitimidade, suas decisões oriundas das políticas públicas. O
PROCESSO ADMINISTRATIVO FUNCIONAL E EFICAZ REPISE-SE, SOB PENA DE
REDUNDÂNCIA, MILITA EM FAVOR DA IMPLEMENTAÇÃO DE UMA VERDADEIRA
DEMOCRACIA. U
Processo Administrativo como Instrumento de Cidadania • participação dos administrados na administração pública",
elaborado em 01.2004. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8476. Acesso em 12/10/2010.
17
Eis o ensinamento de ODETE MEDAUAR, in verbis.'
A processualidade está associada ao exercício do poder O poder é, por si próprio,
autoritário. No âmbito estatal, a imperatividade característica do poder, para nào ser
unilateral e opressiva, deve encontrar expressão em termos de paridade e
imparcialidade no processo preordenado. Dai a importância dos momentos de
fonnação da decisão como legitimação do poder em concreto, pois os dados do problema
que emergem no processo permitem saber se a solução é correta ou aceitável e se o
poder foi exercido de acordo com as finalidades para as quais foi atribuído.
[...] Em outras palavras: NO PROCESSO ADMINISTRATIVO DESTACA-SE O ESPAÇO
CONFERIDO À CIDADANIA. Processo administrativo é instrumento de inegável
materialidade, onde se busca alcançar as finalidades administrativas e os fins súperos do
Estado de Direito: segurança jurídica e legitimidade na relação entre Administração e
Administrado. Extrapolou-se o perfil do processo administrativo ligado somente à
dimensão do ato administrativo em si, para chegar a legitimação do poder." {grifos e
destaques nossos)
Nessa perspectiva, a criação de barreiras burocráticas de acesso à
Administração Pública e aos meios de ampla defesa, ao direito de petição e à obtenção
de informações e certidões iunto aos órgãos fazendários e nos processos
administrativos, implica sério atentado aos próprios princípios legitimadores do
exercício do poder estatal, em um Estado de Direito.
O acesso à jurisdição administrativa-fazendáría não pode ser iniustamente
negado e nem indevidamente dificultado ou restringido. Tais garantias são inclusive
declaradas pela Lei Federal n° 9.784/99. Este diploma normativo, de caráter geral,
regula o processo administrativo federal - seguindo os rumos traçados pelo art. 37 da
CF - "visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e ao melhor
cumprimento dos fins da Administração" (art. 1°), e determina, in verbis: i
"Art. 2^ A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança íurídica. interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão obsen/ados, entre outros, os critérios de:
VI - adequação entre meios e fms, vedada a imposição de obrigações. restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público:
IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos administrados;
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção de provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam resultar sanções e nas situações de litígio;
CAPITULOU DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS
Art. 32 O administrado tem os seguintes direitos perante a Administração, sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados:
I - ser tratado com respeito pelas autoridades e sen/idores, que deverão facilitar o exercido de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações;
li - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter cópias de documentos neles contidos e conhecer as decisões proferidas:
III - formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente;
IV - fazer-se assistir facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatória a representação, por força de lei.
Toda essa declaração exemplificative de direitos fundamentais da
cidadania, cuja origem repousa no texto magno e que é explicitada na Lei Federal n°
9.784/99, foi a um só golpe afrontada, Ignorada e vilipendiada pelas disposições
vertentes da medida provisória e da portaria que a regulamentou. A medida
19
f
provisória não prestou vênia e mínima observância aos ditames constitucionais e nem a
portaria que a regulamentou observou as demais leis federais que diretamente
descumpriu, estando assim eivadas de vícios jurídicos insanáveis. Daí, ambos os atos
impugnados neste wr/í se afiguram incompatíveis com a ordem positiva em vigor. Isto os
torna insustentáveis perante o sistema normativo pátrio e imprestáveis à manutenção da
exigência da d. Autoridade Coatora de que os membros da Impetrante apresentem
procuração por instrumento público perante os órgãos fazendários. para atuarem em
nome de seus constituintes.
Destarte, por ter tratado de matéria atinente a direito da cidadania, criando
barreira de acesso e dificultando substancialmente a outorga de mandato a advogado
para o exercício do direito de petição, para a obtenção de informação e certidões e
necessário à amola defesa do contribuinte iunto aos órgãos fazendários e em processos
administrativos, também por aqui não poderão prevalecer os atos coatores ora
impugnados neste writ.
Ill - DA VIOLAÇÃO À GARANTIA DO DIREITO FUNDAMENTAL DE PETIÇÃO E À OBTENÇÃO DE CERTIDÃO PARA A DEFESA DE DIREITOS. POR MEIO DE SEUS ADVOGADOS, POR EXIGIR O PAGAMENTO DE TAXAS, O QUE É VEDADO PELO INC. XXXIV DO ART. 5*» DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Para defesa de direitos e preservação de seus legítimos interesses, a
Constituição Federal assegura a todos os cidadão o Direito de Petição e à obtenção de
Certidões dos Poderes Públicos, independentemente do pagamento de taxas. Isto
justamente para não criar uma barreira ao cidadão que lhe impeça ou dificulte o acesso
aos meios de defesa e de informação perante os órgãos da administração. Sem dúvida,
exercer o seu direito de petição e de acesso à informação por meio de advogado é
20 l
muitas vezes significativo, guando não mesmo indispensável, para a fruição de suas
garantias e de seus direitos fundamentais perante o Estado, pois, afinal, conforme bem
reconhecido pelo texto constitucional, "o advogado é indispensável à administração da
justiça" (art. 133 da CF), igualmente no plano da jurisdição administrativa.
Dispõe o inc. XXXIV do art. 5° da CF:
"Ati.5°[„.]
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra
ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal;"
Ora, custas e emolumentos de serviços notaria, cujas regras gerais de
cobrança estão fixadas na Lei Federal n° 10.169/00, tem indubitável natureza tributária
de TAXA, como há anos é pacificamente reconhecido pela jurisprudência do E.
Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido, o Ministro Celso de Mello destacou na ADI
1.378/ES:
"A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou orientação no sentido de que as custas judiciais e os emolumentos concernentes aos serviços notariais e registrais possuem natureza tributária, auallficando-se como taxas remuneratórias de serviços públicos, sujeitando-se, em conseqüência, quer no que concerne à sua instituição e majoração, quer no que se refere à sua exigibilidade, ao regime jurídico-constitucional pertinente a essa especial modalidade de tributo vinculado, notadamente aos princípios fundamentais que proclamam, dentre outras, as garantias essenciais (a) da resen/a de competência impositiva, (b) da legalidade, (c) da isonomia e (d) da anterioridade." (Julgamento: 30/11/1995. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicação DJ 30-05-1997 PP-23175. EMENT VOL-01871-02 PP-00225). (g.n.)
21
Patente, assim, oue submeter o cidadão à cobrança de TAXA para a
expedição de procuração por instrumento público para que possa constituir advogado
para o exercício de seu direito de petição, para a obtenção de certidões ou para a sua
defesa em processos administrativos perante os órgãos fazendários, importa igualmente
em clara violação ao texto expresso da Constituição Federal, em mais uma violação e
grave desrespeito perpetrados contra a ordem iurídica pela insustentável medida
provisória e pela insuficiente e ilegal portaria editada pela d. Autoridade Coatora.
/// . DA DESPROPORCIONALIDADE DA EXIGÊNCIA DE PROCURAÇÃO POR INSTRUMENTO PUBLICO PARA O EXERCÍCIO DO DIREITO DE PETIÇÃO, DO DIREITO À OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DO DIREITO DE DEFESA NO PROCESSO ADMINISTRATIVO.
O art. 5° da MP n"̂ 507/10 e respectiva Portaria n' 1.860/2010 que ao
regulá-lo, criou barreiras ainda maiores que as previstas na própria medida provisória,
fazem tabula rasa das garantias magnas ao direito de petição, ao direito de obtenção de
infonvações junto à administração pública e à própria garantia à obtenção de certidões
assegurada pelo texto magno - , bem como ao legítimo e amplo direito de defesa,
inclusive no processo administrativo, por meio do livre exercício profissional do
advogado.
Tal série de violações perpetrada pela medida provisória e sua
regulamentação, está igualmente em franca oposição ao princípio da razoabilidade ou
proporcionalidade, reconhecido há décadas pelo STF^ como aspecto substantivo do
princípio do devido processo legal, consagrado no art. 5^ LIV, da CF/1988, in verbis;
3 RE 18.331, RE 18.976, RE 76.455, RE 100.918, RE 106.759, RE 115.452, RE 202.313, RE 203.954, MS 21.154, RMS 21.046. ADIMC 855, ADIN 958, ADIMC 1.407, ADIMC 1.753, ADIMC 1.922, ADIMC 1.976, ADIMC 2.290, ADIMC 2.317, SS 1.320, HC 45.232. Para um comentário completo a respeito de tais acórdãos vide GODOI, Marciano Seabra de; SALIBA, Luclana Gouiart Ferreira. Razoabilidade e Proporcionalidade. In: GODOl, Marciano Seabra de. (Coord.). Sistema tributário r}acional na jurisprudência do STF. São Pauio: Dialética. 2002. p. 320 e ss. /
1 * 22
^•yde'nt doá CS^*dv4mado4^ do z^-roâíc
Art. 5° [...]
[...] LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal:
Em sentido material, o princípio do "substantive due process of laW
consubstancia-se no princípio da proibição do excesso {Obermassverbot, na doutrina
alemã) ou princípio da razoabilidade ou da proporcionalidade
ÇVert)ãltnismãssigkeitsprinzip'% Tal princípio encontra fundamento constitucional
também no princípio da igualdade-* (arts. 5°, caput, da CF/1988), isto é, na igualdade de
eficácia de direitos e garantias fundamentais ou sociais, de tal modo que a eficácia de
tais valores constitucionais seja proporcionalmente igual.
Em outras palavras, "àqueles chamados a decidir [...] impõe-se, portanto,
a tarefa de identificar os valores pertinentes em colisão, ponderando-os, para encontrar
a melhor (otimizada) solução possível para o problema. Um direito ou garantia
fundamental ou um bem jurídico constitucional não pode ser completamente preferido a
outro, se essa preferência prejudica desigual e, assim, desproporcionalmente outro
direito ou garantia fundamental. Nisso consiste o princípio da proporcionalidade"^
Exige-se, portanto, com base no princípio da proporcionalidade ou da
proibição do excesso que^: (i) o fim ou fins perseguidos sejam legítimos ("legitimer
Zwec/c"); (li) o meio empregado seja apropriado para realizar o fim legítimo
* HUSTER, Stefan. Rechte und Ziele. Berlin: Duncker & Humblot, 1993. p. 96 e ss. {tradução livre, Douglas Yamashita).
5 ARNIM, Hans Herbert Gemeinwohl und GnjppeninterrBsse: die Durchsetzungssc^wàche allgemeiner Interessen in der pluralistischen Demol<ratie; ein Beitrag 2U Verfassungsrechtlichen Grundfragen der Wirtsciiaftsordnung. Frankfurt a, M.: Metzner, 1977. p. 54 (tradução livre, Douglas Yamashita).
6 STERN, Klaus. Das Staatsrecht der Bundesrepubllk Deutschiand. Munique: C. H. Beck, 1984.1.1, p. 866; PIEROTH, Bodo; SCHLINK, Bemhard. GmndrecW - Staatsrecht II. 12. Aufl. Heidelberg: C. F. Müller, 1996. p. 74 e ss. (tradução livre, Douglas Yamashita).
23
&7ide/m doá <^^dvoaado<í da íiô-itaáíé
["Geeignetheit"); (iii) o meio escolhido seja um instrumento menos danoso e pelo menos
tão eficiente quanto outros meios disponíveis para realizar o fim legítimo
{^Erforderlichkeif)\ e (iv) o sacrifício decorrente do meio utilizado esteja em relação
devidamente sopesada e ponderada com a legítima finalidade perseguida
(Verhãltnismãfligkeit im engeren Sinne).
O dever do Estado de preservar o sigilo fiscal é obrigação inerente ao
poder estatal. No entanto, há total falta de fundamentação, na Exposição de Motivos da
medida provisória (Doe. 2), deixando de dar cuaiscuer mostras de adecuacão entre os
fins (a preservação do sigilo) e os meios (a obrigação compulsória de outorga de
procuração por instrumento público). Em especial, sendo os membros da Impetrante,
pela própria natureza de sua profissão, quem ordinariamente representa o cidadão
e o contribuinte nas lides jurídicas no âmbito dos procedimentos e processos
administrativos fiscais, é notória a gravidade de inexistir qualquer motivação,
tanto na medida provisória quanto na sua ilegal regulamentação pela portaria ora
impugnada, no que se refere à proibição para constituir advogado por Instrumento
particular, por decorrência da vedação geral do art. 5° da MP n*' 510/2010 e do art.
7*» da Portaria n*» 1.860/2010.
Ora, os advogados são profissionais qualificados por curso superior de
bacharelado em Direito e submetidos a exame profissional da Ordem dos Advogados do
Brasil. Somente daí obtêm sua identidade e número de inscrição profissional. Em nada
se revela mais ou menos protegido o sigilo fiscal de seu cliente se a procuração
outorgada ao advogado se der por instrumento pijblico ou privado. A Lei Federal n^
8.906/94 impõe o dever de sigilo profissional, cuja quebra constitui infração disciplinar
(art. 34, VII), pois ele é intrinseco à missão do advogado, além da obrigação inafastável
de estrita observância ao Código de Ética e Disciplina.
24
Ou seja, é absolutamente indiferente aos órgãos fazendários, para
fins de proteção do sigilo fiscal, se o advogado está ou não municiado de
procuração por instrumento particular ou público, para a defesa dos interesses e
direitos do contribuinte. Nada há de interesse público relevante na exigênaia. que
apenas cria uma custosa, burocrática e complexa barreira de acesso aos órgãos
fazendários e ao livre exercício da advocacia e à fruição de direitos basilares da
cidadania do contribuinte, de todo ilegal e inconstitucional!
Desse modo, inexistente qualquer razão relevante, do ponto de vista do
interesse público voltado ao Bem Comum, que justifique a necessidade de se impor ao
cidadão o dever de se dirigir a um Cartório de Notas, com todos os custos de taxas e as
as dificuldades de locomoção e burocráticas que Isto supõe, para constituir um
advogado por instrumento público de procuração - nem a necessidade de um advogado
substabelecer a um colega também por meio de um Tabeiião Público - sendo evidente a
incompatibilidade da exigência ora impugnada com as suas supostas finalidades.
Para fins de proteção ao sigilo fiscal do cidadão, relativamente ao mandato
outorgado ao advogado por instrumento particular ou público, de pouco ou nada serve
a exigência ora instituída pela medida provisória e regulada pela portaria da d.
Autoridade Coatora, considerando-se a existência de uns poucos mal intencionados e
facínoras que poderiam eventualmente comparecer aos órgãos fazendários para tentar
quebrar o sigilo fiscal de terceiros, o poderiam fazê-lo tanto munidos de falsas
procurações por instrumento privado quanto de porte de um falso papel de instrumento
público. Obviamente, isto não justifica impor uma regra geral de barreira de acesso
aos órgãos fazendários aos IVIILHÕES de contribuintes brasileiros!
25
Ou seja, a desproporção entre os meios e os fins é de uma evidência
solar. Inverte-se totalmente a presunção de boa-fé e honestidade que deve imperar
nas relações fisco-contribuinte e cidadão-administraçâo pública: a fim de
supostamente evitar que uns poucos (e, supostamente, raros) salteadores e corruptos
(estes sem necessidade de qualquer procuração, pública ou privada) tivessem um
pouco mais de dificuldade para burlar o acesso a dados protegidos pelo sigilo fiscal,
PUNEM-SE TODOS OS BONS CONTRIBUINTES E CIDADÃOS HONESTOS
BRASILEIROS QUE TENHAM NECESSIDADE DE CONSTITUIR UM ADVOGADO
PARA LEGITIMAMENTE OBTER INFORMAÇÕES PERANTE OS ÓRGÃOS
FAZENDÁRIOS, EXERCER O DIREITO DE PETIÇÃO, OBTER CERTIDÕES PARA OS
ATOS MAIS ORDINÁRIOS DA VIDA CIVIL (VENDA DE IMÓVEIS, PARTICIPAR DE
LICITAÇÕES ETC.) E EXERCER A AMPLA DEFESA OU REQUERER CRÉDITOS E
DIREITOS EM PROCESSO ADMINISTRATIVO!
Para que possuíssem algum mérito ou lógica - que absolutamente não
têm - a portaria da d. Autoridade Coatora e a medida provisória da qual se origina
supostamente teriam de partir de uma equivocada premissa, que de per si se
configura fantástica e absurda em sua própria concepção: a de que uma parcela
significativa dos cidadãos brasileiros estaria acometida de alguma patologia criminosa
gue os forcasse a recorrer aos órgãos fazendários para a guebra do sigilo fiscal de
outrem!
Não se mostra, por essa ótica, minimamente legítimo impor um
desnecessário, custoso, complexo e burocrático encargo a TODOS os cidadãos
brasileiros honestos que necessitam constituir advogados para bem representá-los [/
perante o fisco. Isto porque É PROVÁVEL QUE PRATICAIVIENTE 100% DE
CONTRIBUINTES - pessoas físicas e empresas - QUE RECQRRAM
26
mi^u - ® ^
DIUTURNAMENTE AOS ÓRGÃOS FAZENDÁRIOS O PAGAM POR NECESSIDADE
COMPULSÓRIA DE CUMPRIR EXIGÊNCIAS LEGAIS. PLEITEAR DIREITOS.
CUMPRIR OBRIGAÇÕES OU DEFENDER-SE EM PROCESSOS ADMINISTRATIVOS
£ NÃO PARA ILICITAMENTE QUEBRAR O SIGILO FISCAL DE TERCEIROS. Não se
pode considerar que algumas poucas e raríssimas exceções pudessem dar guarida à
pretensão subjacente à medida provisória e á portaria ora impugnadas.
O fim almeiado. portanto, criou uma absurda, ilegal e inconstitucional
dificuldade burocrática a MILHÕES de brasileiros, de discutível ou mesmo nenhuma
eficácia prática relativamente a uns poucos mal intencionados que porventura
pretendessem ilicitamente quebrar o sigilo fiscal de terceiros. Não auarda qualouer
razoabilidade ou proporção com o meio utilizado: a criação de uma barreira de acesso
a dezenas de MILHÕES de contribuintes, afetando os seus direitos constitucionais de
petição, de obtenção de informações junto à administração pública, de extração de
certidões e para o exercido do direito de defesa e requisição de direitos, por seus
advogados, em processos administrativos perante os órgãos fazendários.
Ademais, há que se considerar a obrigação do Estado de respeitar o
direito fundamental à mínima interferência estatal, como leciona Carlos Ari Sundfeld^:
".....os condicionamentos que da lei resultem para os direitos só serào legítimos quando
vinculados à realização de interesse público real e claramente identificado.... Daí a
enunciaçào do principio da mínima intervenção estatal na vida privada O princioio da
mínima interferência na vida privada exige, portanto que: a) todo condicionamento esteja
ligado a uma finalidade pública, ficando vetados os constrangimentos que a ela não se
vinculem; ; c) a interferência estatal guarde relação de equilíbrio com inalienabilidade
dos direitos individuais" (g.n.) \
SÜNDFELD, Carlos Ari. Direito Administrativo Onienador. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 68.
27
Na mesma linha, com base no princípio do devido processo legal, em sua
perspectiva substancial, Maria Rosynete Oliveira Lima^, com remissão aos
ensinamentos de Willis Santiago Guerra, assim se posiciona:
"...0 mandamento da proporcionalidade tem uma tríplice manifestação: adequação,
exigibilidade e proporcionalidade a medida é ....exigível quando o meio escolhido
causa o menor prejuízo possível: e ê proporcionai, em sentido estrito, quando há
conespondência entre o meio e o fim escolhidos.
Ainda nesta perspectiva, ao criar uma complexidade burocrática
irrazoável, ilegítima e desnecessária ao contribuinte, pessoa física ou empresas, em
especial para os de menor poder econômico, instituiu uma punição indireta àqueles que
necessitam juridicamente defender-se ou obter informações para esclarecimento de
situações de seu intesse perante o fisco. Isto pelas dificuldades que agora lhes causa, e
lhes custa, a constituição de um advogado para lhes defender ou assessorar nas
complexas leis e questões tributárias. É, sem dúvida. PUNIR os cidadãos e os
empresários brasileiros exigindo que agora compulsoriamente compareçam a Cartórios
de Notas como condição sine qua non para poderem exercer o seu direito de defesa em
processo administrativo, por seus advogados. Nessa perspectiva, é também evidente a
ilegalidade da portaria editada pela d. Autoridade Coatora e inconsfitucionaiidade da
medida provisória da qual se origina, pois, por meios indiretos, dificultando a defesa do
contribuinte por meio de seus advogados, o fisco estaria se utilizando de um ilegítimo
instrumento coercitivo para a cobrança de tributos.
LIMA, Maria Rosynete Oliveira. Devido Processo Legal. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1999, p. 285.
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Esta conclusão da ilegitimidade do art. 7° e parágrafo único do art. 8° da
Portaria RFB n° 1.860/10 e do art. 5° da MP n° 507/10, no sentido de que não se pode
instituir punição indireta ao contribuinte como meio coercitivo para impedir sua defesa ou
forcá-lo a recolher tributos indevidamente (que estejam em litígio ou que sejam de
duvidosa exigibilidade) constitui, inclusive, o espírito norteador de nada menos do que
três súmulas do E. Supremo Tribunal Federal, a saber:
SÚMULA 70 - é inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para a cobrança de tributos.
SÚMULA 323 - é inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos.
SÚMULA 547 - não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estampilfias, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais.
Ademais, a medida provisória e a portaria que a regulamentou criaram
duas classes de defensores: agueles com todas as facilidades e privilégios, que
defendem a União e os interesses das autoridades constituídas; e agueles gue
defendem o cidadão e as empresas perante os órgãos fazendários, com todas as
burocracias e complexidades, até mesmo para a simples outorga de um instrumento de
mandato, que agora se fará apenas mediante o complexo, custoso e burocrático
recurso a Tabelião de Notas! E, de se destacar, o advogado do contribuinte, a cada
simples substabelecimento (mesmo para um colega de seu próprio escritório!), precisará
novamente fazê-lo por procuração lavrada em Cartório!
29
Nessa perspectiva, é evidente que a medida provisória em comento
também instituiu um indevido tratamento privilegiado aos defensores da Fazenda - com
todos os privilégios do crédito tributário, as facilidades e meios de acesso à informação,
de petição e de defesa do Estado - vis-à-vis o advogado do contribuinte, com mais esta
dificuldade ao livre exercício profissional.
A complexidade e as barreiras de acesso ora criadas também mais
afetarão os contribuintes com menores recursos e meios - cidadãos menos abastados e
micro e pequenas empresas - e os advogados de escritórios de menor monta em
termos econômicos, situados em cidades de menor porte ou periferia das Capitais.
Assim, o ato coator privilegia os mais ricos e fortes, com maiores recursos e meios à
disposição, em detrimento dos mais fracos e mais humildes, que sempre encontrarão
maiores dificuldades e custos para enfrentar a complexa burocracia dos Tabeliães
Públicos, isto sempre que forem nomear advogados para a prática de atos jurídicos
perante as repartições fiscais, necessários para obter informações, certidões, peticionar
ou para se defender ou pleitear direitos em processos administrativos.
Assim, a MP n° 507/10 e a Portaria RFB n° 1.860/10 também afrontam o
Princípio da isonomia insculpido no caput do art. 5° e Inc. II da CF.
Por sua vez, o parágrafo único do art. 8° da indigitada portaria, cuja leitura
é evidentemente ambígua, dá margens, no mínimo, a duas insólitas interpretações,
ambas ilegais: ou tornou ainda pior a exigência da medida provisória, ao obrigar que o
contribuinte renove a cada 5 (cinco) anos o mandato antes outorgado por instrumento
público, onerando-o mais uma vez com todas as taxas, dificuldades e complexidades da
exigência; ou então exige que o contribuinte substitua as procurações por instrumento
particular existentes nos processos administrativos em curso nos órgãos fazendários
quando da sua edição, o que daria eficácia retroativa à medida provisória, também de
30
&'mem aoá C^^ditoacuÂxs^ ao- cAJ^toóM
todo ilegal e inconstitucional. Aliás, a irrazoabilidade da exigência é igualmente notável,
pois mesmo no âmbito administrativo, o prazo de cinco anos não é nada extenso e nem
extraordinário em face dos longos anos que os órgãos fazendários demoram, muitas
vezes, no atendimento de demandas do cidadão, principalmente quando possam ser
favoráveis ao contribuinte (em procedimentos administrativos de repetição de indébito,
por exemplo).
Logo, por qualquer ângulo que se observe, a exigência ora instituída pelo
art. 5** da MP n° 507/10 viola o principio constitucional da proporcionalidade, fundado no
princípio do ''substantive due process of lav/' (art. 5**, LIV, da CF) e no princípio da
igualdade (art. 5^ caput, da CF), contaminando, assim, indelevelmente, a portaria ora
impugnada. Não há dúvida, destarte, de que há uma inequívoca irrazoabilidade e
desproporcionalídade de meios e fins na exigência veiculada pela medida provisória e
portaria regulamentar, de que TODOS os cidadãos brasileiros tenham que comparecer a
um Cartório de Notas para lavrar um instrumento público de procuração, quando
necessitem constituir um advogado para bem representá-los perante o fisco!
N - A LEI FEDERAL N° 8M6/94 ("ESTATUTO DA ADVOCACIA E A OAB -EAOAB") É LEI ESPECIAL E NÃO PODE SER REVOGADA POR NORMA GERAL: ILEGALIDADE DA PORTARIA RFB N' 1M0/10 POR VIOLAÇÃO AO PRINCIPIO INSCULPIDO GERAL DE DIREITO INSCULPIDO NA LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL-LICC.
Ao tratar das antinomias iurídicas. declara a Lei de Introdução ao Código
Civil - LICC (Decreto-Lei n° 4.657/42):
"Art. 2^ Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
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íWeí?^ aoa CSola^no^a^ioó^ <io ÍAJ-yoóil
%1^ k lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior
§2^ A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior." (o.n.)
A Advocacia é regida por legislação federal ESPECIAL: Lei Federal n°
8.906, de 1994 ("Estatuto da Advocacia eaOAB- EAOAB'). No caso do mandato dos
advogados, dispõe o art. 5° do Estatuto da Advocacia:
"Art. 5" O advogado postula, em juízo ou fora dele, fazendo prova do mandato."
Como não é lícito distinguir onde a lei não distinguiu, cumpre constatar
que não há restrição legal, portanto, pela Lei Federal n° 8.906. de 1994. à outorga de
procuração por instrumento privado ou público ao advogado.
Por isso, o mandato do advogado é ordinariamente constituído por
instrumento particular, que o habilita para a prática geral dos atos processuais (art. 13
do Código de Processo Civil e art. 5°, §2^ do EAOAB), com poderes especiais
expressos, quando necessário. Importante destacar que, a fim de ampliar o direito de
acesso aos meios de defesa judicial - direito basilar da cidadania - a Lei Federal n°
8.952, de 1994, inclusive eliminara a necessidade de reconhecimento de firma em
Cartório de Notas, relativamente ao mandato judicial a advogado (ato em si de menor
complexidade, custo e burocracia do que a lavratura de procuração por instrumento
público).
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&'menv aoá (^<mM>aadoa- ao ZAJí^cuycl
Ora, como a atividade do advogado, perante a jurisdição judicial ou
administrativa, se dá exclusivamente por meio de instrumento de mandato, a existência
da procuração é condição especialíssima e indispensável da Advocacia para atuar
na defesa nos legítimos interesses de seus constituintes. Por Isso a matéria é objeto de
lei especial, que não pode ser revogada ou alterada por norma geral. Menos ainda
poderia o ato coator - uma inferior portaria editada pela d. Autoridade Coatora - afrontar
a ordem iurídica pátria, ao regulamentar a regra geral da medida provisória, deixando de
excepcionar da obrigatoriedade de instrumento público os instrumentos de
procuração outorgados a advogados.
No sentido de ser pacificamente admitida a natureza de lei especial à Lei
Federal n° 8.906/94 ("Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasif), é a
decisão unânime do E. STF no HC 88702/SP, no v. Acórdão relatado pelo Ministro
Celso de Mello:
EMENTA: ADVOGADO - CONDENAÇÃO PENAL MERAMENTE RECORRÍVEL -
PRISÃO CAUTELAR - RECOLHIMENTO A "SALA DE ESTADO-MAIOR" ATÉ O
TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA - PRERROGATIVA
PROFISSIONAL ASSEGURADA PELA LEI N° 8.906/94 (ESTATUTO DA ADVOCACIA. ART T, V) - INEXISTÊNCIA, NO LOCAL DO RECOLHIMENTO PRISIONAL, DE
DEPENDÊNCIA QUE SE QUALIFIQUE COMO "SALA DE ESTADO-MAIOR" -
HIPÓTESE EM QUE SE ASSEGURA, AO ADVOGADO, O RECOLHIMENTO "EM
PRISÃO DOMICILIAR" (ESTATUTO DA ADVOCACIA, ART. V, V, "IN FINE") -SUPERVENIÊNCIA DA LEI N° 10.258/2001 • INAPUCABILIDADE DESSE NOVO DIPLOMA LEGISLATIVO AOS ADVOGADOS - EXISTÊNCIA, NO CASO, DE ANTINOMIA SOLÚVEL - SUPERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE CONFLITO MEDIANTE UTILIZAÇÃO DO CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE - PREVALÊNCIA DO ESTATUTO DA ADVOCACIA - CONFIRMAÇÃO DAS MEDIDAS LIMINARES ANTERIORMENTE
DEFERIDAS - PEDIDO DE "HABEAS CORPUS" DEFERIDO. -
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0 Estatuto da Advocacia (Lei n° 8.906/94], em norma nào derrogada pela Lei n°
10.258/2001 (que alterou o art. 295 do CPP), garante, ao Advogado, enquanto não
transitar em julgado a sentença penal que o condenou, o direito de "não ser recolfiido
preso [...], senão em sala de Estado-Maior [...] e, na sua falta, em prisão domiciliar" (art.
7°, inciso V). [...]- Existe, entre o art. T, inciso V, do Estatuto da Advocacia (norma
anterior ESPECIAL) e a í.e/ n^ 10.258/2001 (norma posterior GERAL), que alterou o
art. 295 do CPP, situação reveladora de típica antinomia de segundo grau,
eminentemente solúvel, porgue superável pela aplicação do critério da
especialidade C\ex posterior generalis non derogat priori speciali'̂ , cuja
incidência, no caso, tem a virtude de preservar a essencial coerência, integridade e
unidade sistêmica do ordenamento positivo (RTJ 172/226-227), permitindo, assim,
gue coexistam, de modo harmonioso, normas em relação de (aparente) conflito.
Doutrina. Conseqüente subsistência, na espécie, não obstante o advento da Lei n°
10.258/2001, da nonna inscrita no inciso V do art. 7° do Estatuto da Advocacia [...] -
Decisão: A Turma, por votação unânime, por entender que não se aplica, aos
Advogados, a Lei n° 10.258/2001 (que alterou o art. 295 do CPP), eis gue subsistente,
guanto a esses profissionais, a prerrogativa fundada na norma inscrita no inciso V
do art. 7° do Estatuto da Advocacia, deferiu o pedido de habeas corpus, [...]. (2^
Turma, 19.09.2006. DJ 24-11-2006 PP-00089 - EMENT VOL-02257-06 PP-01083) (grifos
e destaques e nossos)
Desse modo, não fossem os demais vícios que contaminam a MP n°
507/10, a d. Autoridade Coatora, pela portaria regulamentar, poderia ter bem atendido à
ordem jurídica pátria ao reconhecer que o art. 5° da MP n° 507/10, norma geral, iamais
poderia ter revogado ou modificado o art. 5° da Lei Federal n̂ 8.906/94. norma
especial que regula especificamente a matéria, em se tratando da Advocacia, nos
termos declarados pelo princípio geral de direito veiculado pelo art. 2°, §2° da LICC e
acatado pela jurisprudência pacífica do E. Supremo Tribunal Federal, que permite a
hamionização do sistema jurídico pátrio mediante a aplicação do critério da
especialidade: "LEX POSTERIOR GENERALIS NQN DEROGAT PRIORI SPECIALP\
(g-n.)
&'m0m 004^ (^^avoaaao<i ao i^-yoáU
Assim, por não fazer a exceção às procurações a serem outorgadas a
advogados, reguladas por lei especial (art. 5° da Lei n° 8.906/94) - justamente pela
natureza especialíssima da profissão, em que o mandato é o instrumento fundamental
do mister da Advocacia - incorreu a indigitada Portaria RFB n^ 1.860/10 em mais uma
manifesta ilegalidade, carecendo, pois, também por esta perspectiva, de qualquer
sustentação perante a ordem jurídica pátria.
VI - DA LEGITIMIDADE ATIVA DA OAB PARA IMPETRAÇÃO E DO CABIMENTO DO PRESENTE MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO
A Impetrante é entidade que, entre outras atividades, tem o dever de, na
forma do art. 44 da Lei Federal n° 8.906/94 ("Estatuto da Advocacia e a Ordem dos
Advogados do Brasil - EAOAB"), defender a Constituição, a ordem iurídica do Estado
Democrático de Direito, os direitos humanos, a justiça social, e puanar pela boa
aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da
cultura e das instituições jurídicas (inciso I); e promover, com exclusividade, a
representação e a defesa dos legítimos interesses dos advogados, em toda a República
Federativa do Brasil (inciso II).
Para tanto, mencionado diploma legal igualmente outorga à Impetrante a
competência para "dar cumprimento efetivo às finalidades da OAB' (art. 54,1, EAOAB) e
"representar, em iuízo ou fora dele, os interesses coletivos ou individuais dos
advogados" (art. 54, II, g.n.). Dentre as competências legais da OAB, cabe destacar a
referida no inciso XIV do art. 54 do Estatuto que preconiza a possibilidade de impetração
de mandado de segurança coletivo para defesa dos legítimos direitos e interesses de V
seus membros e para fazer prevalecer o interesse público subjacente às disposições doM
art. 44, acima mencionadas.
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Neste contexto cumpre referir que o inconstitucional art. 5** da MP n°
507/10 e ilegal Portaria RFB n** 1.860/2010, editada pela d. Autoridade Coatora, atingem
gravemente direitos fundamentais de defesa, de petição, de obtenção de
informação e certidões e de ampla defesa do contribuinte por meio da
constituição de advogado. Indubitavelmente, tal limitação ao exercício profissional da
Advocacia causa danos públicos e notórios aos membros da Impetrante, objeto de
guarida constitucional, pois "o advogado é indispensável à administração da Justiça"
(art. 133, caput, da CF), o que também se estende à defesa e à representação dos
contribuintes na esfera administrativa, envolvendo direitos basilares da cidadania, como
se dá no presente mandamus.
O advogado está, assim, seriamente impedido de exercer suas legítimas
atividades profissionais na defesa e representação de seus constituintes iunto aos
órgãos fazendários. o que também viola a garantia constitucional ao livre exercício
profissional, objeto do inc. XIII do art. 5** e do parágrafo único do art. 170 da Carta
Maior, deixando solteira a valorização do legítimo trabalho humano objeto de especial
proteção pelo legislador magno (art. 170, caput, da CF).
São, pois, inúmeros os malefícios e iniusticas direta e indiretamente
causados pela malsinada medida provisória e portaria que a regulamentou,
evidenciando-se, assim, a imperiosa e inarredável necessidade de a Impetrante vir
a iuízo para postular tutela íurisdicional visando impedir a continuidade dos
graves danos causados pelo ato coator. que continuarão a produzir suas
perniciosas conseqüências, atingindo contribuintes, pessoas físicas e empresas,
a comunidade jurídica e especialmente os advogados que atuam - ou venham a '
atuar - junto aos órgãos fazendários, se, imediatamente e In limine, Vossa
Excelência não obstar os graves, ilegais e Inconstitucionais efeitos dos art. 5** da
IVIP n̂ 507/10 e portaria que a regulamentou, ora impugnados. KX
Uicctem doá^ C^^lmÁoaaaoa da ^Ut^ctáic
Em outras palavras, o acima exposto deixa clara a legitimidade ativa da
Impetrante para postular tutela jurisdicional que, incidentalmente, reconheça o pleno
descabimento das disposições normativas acima mencionadas e, por isso, impori:e na
emissão de ordem, mandamental e repressiva, determinando gue a d. Autoridade
Coatora se abstenha de impor a exigência de procuração por instrumento público aos
advogados inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil.
E nem se cogite, com a devida vênia, de se exigir autorização específica
para o ajuizamento do presente mt É que, como visto acima, a própria Lei Federal n°
8.906/94 outorga à Impetrante a possibilidade dela judicialmente atuar na defesa dos
interesses de seus integrantes, bem como tal autorização é igualmente desnecessária à
vista do art. 21 da Lei Federal n° 12.016/09, ao tratar do cabimento do mandado de
segurança coletivo, de interesse da totalidade ou de parte de seus membros.
DO PEDIDO E DA MEDIDA LIMINAR
Como se depreende de tudo quanto exposto, líquido e certo é o direito da
Impetrante de obter tutela jurisdicional que incidentalmente reconheça as
inconstitucionalidades, ilegalidades e o descabimento das ilegais disposições da Portaria
RFB n° 1.860/2010 gue pretenderam regular o inconstitucional art. 5° da MP n^ 507/10. a
fim de sustar-lhes todos e quaisquer efeitos com relação aos instrumentos de
procuração e substabelecimentos outorgados relativamente a advogados e
estagiários de direito inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil.
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G^raem do<i CS^€Ívoç<ido4' d> ̂ Jj^^aâié
Por sua vez, tendo sido publicada a ilegal regulamentação pela Portaria
RFB n<* 1.860 em 13/10/2010, estão em pleno vigor os efeitos do art. 5° da MP n̂ 507/10
e, por decon-ência, do ato regulamentador. Desse modo, os membros da Impetrante estão
proibidos de exercer suas atribuições perante os órgãos fazendários. salvo se vierem a ser
constituídos por instmmento público de procuração. No mesmo sentido, somente poderão
passar a outorgar substabelecimentos por instmmento lavrado em Tabelião de Notas. Isto
impõe públicos e notórios danos ao livre exercício de seu mister profissional e sérios riscos
aos contribuintes gue necessitam urgentemente constituir advogados para cumprir prazos
em curso e para a prática de negócios ordinários da vida civil e empresarial, que ora estão a
demandar a subordinação às taxas de Cartórios de Notas e a submissão a uma injusta
ban-eira de acesso aos órgãos fazendários, complexa, custosa e burocrática. Esta grave
situação prejudica principalmente os cidadãos de menores meios e recursos, as micro e
pequenas empresas e os advogados de menor estrutura econômica, em especial aqueles
situados nas pequenas cidades do País e periferias das Capitais.
Demonstra-se, assim, evidente o ""periculum In mora", relacionado com a
possibilidade, concreta, atual e iminente, de perdas de prazo, de impossibilidade do livre
exercício da atividade profissional dos advogados na plena defesa de contribuintes - pela
proibição de vistas, obtenção de cópias de processos administrativos, promoção de defesas
administrativas ou levantamento de informações perante o fisco - salvo se municiados de
procuração por instiumento público, como indevida, ilegal e inconstitucionalmente é ora
exigido pela d. Autoridade Coatora. Ademais, o advogado está impedido de ser constituído
por instnjmento de mandato particular por cidadãos e empresas para representá-los em
atividades juridicas necessárias a atos ordinários de negócios, como venda de imóveis,
operações de comércio exterior, participação em licitações públicas etc, enfim, diversos atos
diários da vida civil de cidadãos e empresas que dependem de infomiações e certidões a
serem obtidas, com agilidade e menor burocracia - como constitucional e legalmente
assegurado - perante os órgãos fazendários. Isto tudo tem sido impossibilitado,
comprometido ou muito dificultado pela notoriamente inconstitucional MP rf 507/10 e ilegal
Portaria RFB n̂ 1.860/10. que lhe atribuiu eficácia concreta.
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<
y-yaent dcâ (^o^diw&adc^ do- ^AJ-yaá€/
Destarte, com o robusto fumus boni iuris demonstrado ao longo da
exordial, em vista da presença dos requisitos exigidos pelo art. 7°, inc. Ill, da Lei Federal n**
12.016/09, REQUER, após ser dada prévia ciência do presente mandamus ao d.
Representante Judiciai da União Federal, nos termos do §2° do art. 22 da Lei n°
12.016/09, a concessão de IVIEDIDA LIMINAR para desde logo determinar que a d.
Autoridade Coatora imediatamente suspenda a eficácia do art. T e parágrafo único do
art. 8°. da Portaria RFB n̂ 1.860/2010, abstendo-se de exigir procuração por instrumento
público dos membros da Impetrante, sustando desde já todos os efeitos das disposições
nomriativas impugnadas neste writ. Requer, portanto, a plena suspensão da descabida
exigência de procuração por instrumento público veiculada tanto pela indigitada portaria
quanto pela medida provisória da qual se origina, de modo que os mandatos outorgados
a advogados e estagiários de direito integrantes da OAB, para atuar perante os órgãos
da administração pública possam se dar sem as restrições dos malsinados atos
normativos, ou seja, por instrumento particular de mandato e sem guaisguer exigências
burocráticas adicionais a serem cumpridas por meio de Tabelião de Notas.
Tendo em vista a urgência refletida no perícuium in mora em face de
situações concretas, atuais e iminentes de prejuízos diários e muitas vezes in^eparáveis (ou
de difícil reparação), em face dos diversos atos que estão demandando a inconstitucional,
ilegal, injusta e indevida outorga de procurações por instrumento público para a prática de
atos perante os órgãos fazendários, nos tennos do inc. XXXV do art. 5° da CF, que dispõe
que "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito"
(g.n.), garantindo o recurso eficaz ao Poder Judiciário, requer se digne Vossa
Excelência em determinar a urgente intimacão do d. Representante Judicial da
União Federal para que, querendo, se pronuncie no prazo de 72 (setenta e duas
horas) de que trata o S2° do art. 22 da Lei n** 12.016/2009. Transcorrido este prazo, ̂
com ou sem a manifestação da d. Autoridade Coatora, requer se digne Vossa.
Excelência desde já em determinar a imediata remessa dos autos à conclusão paral
apreciação do pedido de medida liminar, nos termos acima produzidos. X
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&-ydem doá (^íduoaadoó^ df> í^-yaaií
Por todo o exposto, uma vez deferida a concessão /M/b Wis da medida
liminar, com ou sem a prévia manifestação da d. Autoridade Coatora, requer seja a ação
regulannente processada para que, ao final, se conceda definitivamente a segurança para
os mesmos efeitos acima requeridos.
Outrossim, requer expedição de ofício à d. Autoridade Coatora indicada no
intróito para, querendo, prestar infomiações que entenda pertinentes, ouvindo-se, ainda, o
d. Representante do Ministério Público.
Declara-se, sob as penas da lei, que as cópias anexas são autênticas.
Dá-se à presente, para efeitos legais, o valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais).
Termos em que, P. Deferimento.
Brasília, DF, 26 de outubro de 2010.
CAVALCANTEJUNIOR Kresidente aa UAb
ANTONIO CARLOS RODRIGUES DO AMARAL
OAB/SP N° 92.905
Vice-Presidente da Comissão de Direito Tributário da OAB
Presidente da Comissão de Direito Tributário da OAB SP
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