terminologia-previsão do tempo-inmet_ jaci_saraiva

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147 TBRMINOLOGIA DE PREVISÃO: COMPOSIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE PREVISÕES DE TEMPO PARA O PÚBLICO. Autores: HÉLIO DOS SANTOS SILVA (1) JACI MARIA BILHALVA SARAIVA (2) RESUMO: Previsões que geralmente consistem de expressões verbais e numéricas assumem um papel importante na comunicação da informação do tempo para o público em geral. Todavia, até hoje foram feitos relativamente poucos estudos envolvendo a composição e a interpretação de tais previsões. Alguns desses estudos indicam que muitas expressões correntemente utilizadas em previsões para o público estão sujeitas a um largo espectro de interpretação (e até má-interpretação), e que a habilidade das pessoas em entender o conteúdo das previsões redigidas é bastante limitada. Este estudo focaliza brevemente a terminologia da previsão e a compreensão desta terminologia, no contexto das previsões de curto prazo (de até 24 horas) para o público. Visa também incentivar a discussão sobre este tema, uma vez que sua importância reside na melhoria do canal de informação entre a parte meteorológica operacional e o público em geral. Os resultados dos estudos anteriores acerca da terminologia de previsão e questões relacionadas incluem tópicos como: os valores das variáveis meteorológicas, as palavras usadas para descrever os eventos, uso de expressões verbais e numéricas (palavras x números), o modo de expressar incertezas, a quantidade de itens de informações, e o conteúdo e formato das informações. O impacto dos sistemas de previsão, o papel das previsões feitas por computador, as implicações dos novos modos de comunicação, e a utilização das previsões de tempo também são abordados neste estudo, porém de uma maneira menos aprofundada. É feita ainda uma breve discussão dos termos utilizados pelo órgão oficial de previsão de tempo no país e sao dadas algumas sugestões no sentido de diminuir o grau de incerteza contido nas previsões e, consequentemente, aumentar o índice de acerto destas previsões. Isto, sem dúvida, deverá aumentar a confiabilidade do sistema de previsão e divulgação para o público, que é utilizado atualmente. (1) Professor da Universidade Regional de Blumenau - FURB (2) Meteorologista da Universidade Regional de Blumenau - FURB

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Page 1: Terminologia-Previsão do Tempo-INMET_ JACI_SARAIVA

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TBRMINOLOGIA DE PREVISÃO: COMPOSIÇÃO

E INTERPRETAÇÃO DE PREVISÕES DE TEMPO

PARA O PÚBLICO.

Autores: HÉLIO DOS SANTOS SILVA (1)JACI MARIA BILHALVA SARAIVA (2)

RESUMO:

Previsões que geralmente consistem de expressõesverbais e numéricas assumem um papel importante na comunicaçãoda informação do tempo para o público em geral. Todavia, até hojeforam feitos relativamente poucos estudos envolvendo a composiçãoe a interpretação de tais previsões. Alguns desses estudosindicam que muitas expressões correntemente utilizadas emprevisões para o público estão sujeitas a um largo espectro deinterpretação (e até má-interpretação), e que a habilidade daspessoas em entender o conteúdo das previsões redigidas é bastantelimitada.

Este estudo focaliza brevemente a terminologia daprevisão e a compreensão desta terminologia, no contexto dasprevisões de curto prazo (de até 24 horas) para o público. Visatambém incentivar a discussão sobre este tema, uma vez que suaimportância reside na melhoria do canal de informação entre aparte meteorológica operacional e o público em geral.

Os resultados dos estudos anteriores acerca daterminologia de previsão e questões relacionadas incluem tópicoscomo: os valores das variáveis meteorológicas, as palavras usadaspara descrever os eventos, uso de expressões verbais e numéricas(palavras x números), o modo de expressar incertezas, aquantidade de itens de informações, e o conteúdo e formato dasinformações.

O impacto dos sistemas de previsão, o papel dasprevisões feitas por computador, as implicações dos novos modosde comunicação, e a utilização das previsões de tempo também sãoabordados neste estudo, porém de uma maneira menos aprofundada.

É feita ainda uma breve discussão dos termosutilizados pelo órgão oficial de previsão de tempo no país e saodadas algumas sugestões no sentido de diminuir o grau deincerteza contido nas previsões e, consequentemente, aumentar oíndice de acerto destas previsões. Isto, sem dúvida, deveráaumentar a confiabilidade do sistema de previsão e divulgaçãopara o público, que é utilizado atualmente.

(1) Professor da Universidade Regional de Blumenau - FURB(2) Meteorologista da Universidade Regional de Blumenau - FURB

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1 - INTRODUÇÃO

As previsões de tempo são geralmente apresentadasao público em geral sob a forma de uma mensagem redigida. Estasmensagens contêm um conjunto de valores de variáveismeteorológicas de modo a caracterizar uma dada tendência no tempo(prognóstico). As palavras utilizadas para descrever talprognóstico incluem as variabilidades espacial e temporal dasprincipais grandezas "primárias" (temperatura, pressão, vento,cobertura do céu, e outros), à superfície e noutros níveis daatmosfera, além das suas intensidades. O uso de números dentrodestas mensagens é uma maneira de tornar mais clara e invariávela informação, à medida que exista uma real compreensão, por partedo público, do significado da variação destes números comsituações de tempo já observadas e definidas anteriormente(diagnósticos passados). No entanto, nem sempre se consegueexpressar quantitativamente uma determinada variabilidade devidoà participação de diversas grandezas no evento. Isto leva a umacomponente de incerteza naquela variabilidade, que precisa sercolocada na mensagem, de uma maneira bem clara, até mesmo sob aforma de uma probabilidade de ocorrência.

A decisão de se colocar um determinado número deítens de informação de modo a melhor caracterizar a situaçãofutura é ainda muito discutida. De acordo com Murphy e Brown(1983), geralmente, uma previsão do tempo expressa sob a formade uma mensagem redigida, contém vários segmentos, cada um dosquais relacionados com uma variável meteorológica específica. Nocaso de um diagnóstico e da análise da tendência do tempoatravés de parâmetros previsores tais como advecção detemperatura, advecção de vorticidade e divergência no campo dovento, tais segmentos especificam o valor ou valores que umavariável (primária ou derivada) assumiu, e nos prognósticos, oque é esperado assumir, no intervalo de validade de previsão.

Outro ponto importante é a distribuição ou oarranjo desses itens de informações dentro destas mensagens. Umamaneira usual é a colocação da previsão "geral" do tempo comoprimeiro item. Em seguida os valores das principais variáveisprimárias tais como temperatura (máxima e mínima) 9 umidaderelativa, vento, e algumas outras.

Logicamente, quando se implanta um sistema deprevisão meteorológico, hidrológico e outros, deve-se ter ocuidado de observar e analisar o impacto causado por este "novo"método ou mecanismo no público, quer seja em geral, quer seja emgrupos de atividades específicas, que são o destino final dofluxo destas informações. Esta análise se torna importante porquepermite que se calcule o grau de confiabilidade do sistemaimplantado. Uma vez que se pode avaliar os desvios ocorridosdesde a mensagem original até a mensagem que chega ao destino,que é o público, mais facilitada fica a tarefa de correção dasdistorções, principalmente no tocante à terminologia.

No caso do desenvolvimento e implantação dainformática no sistema de previsão de tempo, é interessante quese diga que esta ferramenta apenas ajuda a complementar apreparação dos diagnósticos e prognósticos. Através do uso de

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programas computacionais que calculam diversos parâmetrosderivados e ainda podem simular o comportamento geral daatmosfera de uma maneira numérica, consegue-se ter numa mesmaanálise, a participação das diversas grandezas sob o ponto devista da Dinâmica da atmosfera, coisa que torna humanamentedifícil para um previsor, a concatenação das váriaspossibilidades para as situações futuras devido ao volume deinformações.

o trabalho aqui apresentado focaliza, na secção 2,de uma maneira muito sucinta, a terminologia da previsão de temporealizada no Brasil, pelo Instituto Nacional de Meteorologia(INMET), e a sua compreensão, no contexto das previsões quecontêm informações relacionadas com as condições de tempo dodia-a-dia. Incentiva ainda, a discussão deste tema por toda acomunidade meteorológica, pois trata-se de uma maneira na qualpoder-se-á tentar evitar a perda da informação meteorológica,que ocorre desde o previsor até o público em geral, uma vez quetal informação é "traduzida" frequentemente da linguagem técnicapara uma linguagem próxima da jornalística.

Na secção 3 são colocadas algumas conclusões a quechegaram os autores e algumas sugestões acerca do que se podefazer para diminuir tal perda de informação, e com issoadquirir maior confiabilidade do sistema de previsão junto aopúblico.

2 - DISCUSSÃO

As previsões de tempo elaboradas pelo INMET, deacordo com o seu "Manual de Previsão", têm validade para 24 horase abrangem os seguintes itens: período da previsão, estado docéu, estado do tempo, temperatura (com estimativa de máxima emínima), ventos, visibilidade, e algumas informações adicionais.

O período da previsão normalmente é de 24 horas,porém existem distintamente definidos 4 períodos de 6 horas,nomeados da seguinte maneira: noite (18h às 24h), madrugada (Ohàs 6h), manhã (6h às 12h) e tarde (12h às 18h). Assim, nasprevisões, a menção do período em que é esperado ocorrer umdeterminado fenômeno é importante porque explicita de uma maneiramais direta, este item da previsão. Outros períodos maiscurtos também são utilizados, tais como amanhecer (5h às 7h),anoitecer (17h às 19h), durante o dia (6h às 18h) e durante anoite (18h às 6h). O início do período de validade da previsãoadotado é às 24h, horário local.

O estado do céu é indicado de uma maneira simplesporém o tempo "nublado", que indica "com nuvens" é poucocompreendido, por mais estranho que possa parecer. Além disso,seus termos complementares tais como "encoberto" e "parcialmentenublado" são frequentemente confundidos com aquele intermediáriopelo motivo do público não ter noção da divisão do céu (emquadrantes ou octantes, que seja). Assim, os termos "poucasnuvens" e "muitas nuvens" parecem ser mais objetivos.

O estado do tempo é mencionado quando um

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determinado fenômeno é esperado acontecer no período de validadeda previsão. Tais fenômenos podem ser enumerados como: chuva,chuvisco, névoa (seca e úmida), nevoeiro, granizo, trovoadas,neve, geada, ou algum outro. Além disso, termos como "esparsas"e "isoladas" não são muito bem aceitos pelo pfiblico por ser muitogeneralizados, pois, por exemplo: "chuvas isoladas" indicam queem "algum" lugar da região de validade da previsão, podem (ouvão) ocorrer chuvas. Isto, para o pfiblico fica um tanto vago. Aregionalização das previsões viria tirar esta componente poucoobjetiva. Algumas expressões também são utilizadas para adefinição de algumas condições de tempo tais como: instável,instável com chuvas, instável com pancadas e trovoadas esparsas,e outras. Todavia, quando se utiliza os termos "ocasionalmente" e"intermitente", ao invés de simplificar, complica o entendimentoda previsão por parte do pfiblico. Já o termo "possibilidade"carrega em si toda a noção de incerteza na ocorrência de umdeterminado fenômeno ou determinada situação.

A tendência na variação da temperatura é incluídanas previsões e assume um papel importante nas necessidades e nocomportamento do pfiblico em geral. Assim, os termos "em elevação"ou "em declínio" se mostram mais aceitáveis do que o termo"estável", o que parece indicar que o pfiblico espera sempre umamudança na temperatura. Os valores das temperaturas extremas sósão tomados em conta, na maior parte do pfiblico, quando sãoanormalmente extremos: ou a mínima prevista é muito baixa, ou amáxima prevista é muito alta, por causa das suas consequências.

Com relação ao vento, sua direção e intensidade sãoimportantes uma vez que na maior parte das situações de tempo,esta variável assume características bem marcantes. A mudança dedireção ou a possibilidade de ocorrência de ventos fortes, porvezes danosos, devem sempre constar destas previsões. Os termosutilizados para indicar sua intensidade são "calmo", "fraco" e"moderado". Todavia, o termo "rajada" é pouco conveniente aopfiblico, pois é facilmente associado ao termo "forte", queexpressa uma outra situação.

A visibilidade é uma grandeza constante da previsãoque tem sua principal utilidade no tráfego de um modo geral, sejaaéreo, terrestre ou marítimo. Sendo uma das informações maisespecíficas, do ponto de vista da utilização, preserttes na r

mensagem de previsão, frequentemente seus valores estãorelacionados com a ocorrência de nevoeiros, névoa fimida e nevoaseca. No caso da previsão de algum destes fenômenos que possamreduzir a visibilidade a valores inferiores a 1.000 metros, umaviso meteorológico especial é recomendável.

Quanto-à utilização da previsão nas suas diferentesescalas de tempo, convém mencionar aqui os diversos tipos deprevisão de tempo. A previsão para diferentes fins levam adiferentes termos de vocabulário. Enquanto as previsões acurtíssimo prazo têm como destino principal os sistemas de alertahidrometeorológico, o controle de vôo, etc, as de curto prazo têmcomo usuários os profissionais da agricultura, os navegadoresmarítimos, etc. Já a previsão a longo prazo interessa ao pfiblicono sentido de preparar seus planejamentos futuros, e consistem de,

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vigílias para períodos de 5 - la dias, 1 mês ou mesmo para apróxima estação. Os avisos e alertas relacionados com eventosadversos de tempo, tais como ventos fortes, linhas deinstabilidade, geadas, também necessitam de uma terminologiaprópria e meios eficazes de difusão da informação.

3 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Em suma, é pensamento dos autores que a elaboraçãoda previsão do tempo realizada atualmente no INMET, regionalizadapelos seus distritos, mostra-se ainda levemente deficiente determos que mais objetivamente exponha a situação e tendência dotempo. Logicamente termos mais categóricos são os mais esperadospelo público, ou seja, termos que contenham apenas uma mínimaquantidade de incerteza.

Uma maneira de se chegar a termos mais categóricosnestas previsões, e logicamente, atingir um maior índice deacerto, é a utilização da ferramenta computacional na simulaçãoe nos cálculos de parãmetros atmosféricos. Ou seja, o previsordeve contar com o maior número possível.de informações do tempo,uma vez que uma boa previsão se consegue a partir de umdiagnóstico, o mais correto possível, e ainda da continuidadedesde as análises anteriores.

Para isso, sugere-se aqui incrementar a elaboraçãode um "~'1anual" com base na Climatologi a Sinótica. Este manualdeveria conter, além de outras informações, a evolução dediversas situações de tempo, com imagens de satélite, cartassinóticas, campos de algumas grandezas derivadas e ainda umasinopse da situação. À medida que for se encontrando no dia-a-dia,uma situação semelhante a alguma já exemplificada no manual, oprevisor terá uma maior noção do desenvolvimento do tempo, econsequentemente, poderá diminuir consideravelmente a margem deincerteza da sua previsão.

Esta iniciativa também viria ajudar na confecção deprevisão e curtíssimo prazo, que está mais atenta a eventos deescala de tempo de duração bem menores que 24 horas, tais como aformação e propagação de linhas de instabilidade e complexosconvectivos. Neste caso, não há qualquer mecanismo normal dedivulgação ao público, a não ser por comunicados, e basicamenteserve de maneira direta aos órgãos de Defesa Civil e Imprensatais como rádio e televisão. Com isso, o público recebe asinformações, principalmente nas situações adversas de tempo, noque se chama "em cima da hora".

4 - AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a colaboração que tiveram porparte dos previsores do 89 Distrito do INMET, em Porto Alegre,sem a qual, este trabalho certamente não poderia ser realizado.

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5 - REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MURPHY, A. H. e BROWN, B. G. Forecast termilogy: composition andinterpretation of ?ublic weather forecasts. Bulletim AmericanMeteorological Soclety. Nova Iorque, 1983. vo. 64, n9 1,p. 13-22.

MANUAL de Previsão Meteoroló~ica. Instituto Nacional de Meteoro­logia (INMET). Brasília. Is.d. I.