terapia nutricional na doenÇa inflamatÓria intestinal · 2013. 7. 30. · terapia nutricional na...

47
TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES Joana Filipa Sampaio dos Santos Orientado por: Mestre Isabel Luísa Gomes Ferraz Pinto Tipo de documento: Monografia Porto, Fevereiro 2009

Upload: others

Post on 20-Jan-2021

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

TERAPIA NUTRICIONAL NA

DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL

NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

Joana Filipa Sampaio dos Santos

Orientado por: Mestre Isabel Luísa Gomes Ferraz Pinto

Tipo de documento: Monografia

Porto, Fevereiro 2009

Page 2: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES
Page 3: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

i

Dedicatória

Dedico a todos aqueles que compõem o meu coração…

Aos meus irmãos que Amo muito e aos quais desejo o melhor do mundo.

Espero que a Vida vos transforme um dia em adultos felizes e vos conserve sempre esses

sorrisos lindos!

À minha irmã, que apesar de por vezes, não o quer deixar parecer, é uma pessoa muito

bonita por dentro.

À minha avó materna que me Criou e me mostrou que existem pessoas que são a

personificação do Amor e da Luta.

Aos meus avós paternos por serem muito especiais.

Aos meus pais por me darem liberdade para escolher o meu caminho.

À minha Amiga Tânia por me ter ajudado a crescer e a tornar naquilo que sou hoje. Como

disseste um dia: “Podemos passar anos sem nos vermos, mas eu sei, que se um dia

precisar de ti, tu estarás lá, e tu sabes, que se precisares de mim, eu estarei contigo…”

Às minhas Amigas Ana Lourenço, Isabel, Carona, Natália, Márcia, Fabíola, Ceomara, muito

Obrigada me terem ajudado com a vossa amizade a ultrapassar este capítulo… Ficaram

comigo para sempre!

À Verinha por conseguir sempre chegar onde quer!

Ao meu namorado, por todo o Amor, Carinho, Afecto e Apoio que tornam todos os dias da

nossa Vida em dias felizes. Eu sei… Eu sinto… Vou Amar-te para sempre.

Page 4: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

ii

Agradecimentos

Agradeço a toda a equipa do Serviço de Nutrição e Alimentação da ULSM pela

forma como me receberam e acolheram. Agradeço em especial à minha

orientadora, Isabel Pinto, e à coordenadora do SNA, Dulce Senra.

Agradeço também ao Gonçalo que me motivou a escolher este tema desejando

do fundo do coração poder contribuir, por muito pouquinho que seja, de alguma

forma para a sua Vitória!

Page 5: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

iii

Índice

Dedicatória .......................................................................................................... i�

Agradecimentos ..................................................................................................ii�

Lista de Abreviaturas.......................................................................................... v�

Resumo..............................................................................................................vi�

Palavras-Chave..................................................................................................vi�

Abstract .............................................................................................................vii�

Key-words .........................................................................................................vii�

Introdução .......................................................................................................... 1�

Revisão da Literatura ......................................................................................... 3�

1.� Doença Intestinal Inflamatória ..................................................................... 3�

1.1 Doença de Crohn versus Colite Ulcerosa..................................................... 4�

2.� Implicações nutricionais na DII .................................................................... 5�

2.1 Especificidades da desnutrição calórica-proteíca na DII .............................. 7�

2.2 Deficiências de Fluidos e Electrólitos ........................................................... 9�

2.3 Lípidos e Hidratos de Carbono..................................................................... 9�

2.4 Deficiências de micronutrientes.................................................................. 10�

2.4.1 Cálcio e Vitamina D................................................................................. 10�

2.4.2 Ferro........................................................................................................ 11�

2.4.3 Zinco........................................................................................................ 12�

2.4.4 Magnésio................................................................................................. 13�

2.4.5 Folato ...................................................................................................... 14�

2.4.6 Vitamina B12 ........................................................................................... 15�

2.5 Interacção Fármaco-Nutriente.................................................................... 15�

3.� Outras complicações associadas .............................................................. 16�

Page 6: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

iv

4.� Terapia nutricional na DII........................................................................... 16�

4.1� Considerações dietéticas específicas..................................................... 18�

4.1.1� Fibra .................................................................................................... 18�

4.1.2 Lactose.................................................................................................... 19�

4.1.3 Diarreia Infecciosa:.................................................................................. 20�

4.2� Terapia nutricional na fase remissiva da DII........................................... 20�

4.3 Terapia nutricional em fase aguda ............................................................. 21�

4.4 Alimentação entérica Versus Alimentação parentérica .............................. 22�

4.5 Suporte nutricional versus Corticóides ....................................................... 24�

5.� Nutrientes imunomodeladores ................................................................... 26�

6.� Crianças..................................................................................................... 27�

Análise crítica e Considerações finais.............................................................. 28�

Referências Bibliográficas................................................................................ 33�

Page 7: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

v

Lista de Abreviaturas

AG n-3 – Ácidos Gordos Poliinsaturados ómega-3

AGCC – Ácidos Gordos de Cadeia Curta

CU – Colite Ulcerosa

DC – Doença de Crohn

DII – Doença Inflamatória Intestinal

IMC – Índice de Massa Corporal

Mg – Magnésio

NE – Alimentação Entérica

AP – Alimentação Parentérica

APT - Alimentação Parentérica Total

SIC – Síndrome do Intestino Curto

SRO – Solução de re-hidratação oral

Page 8: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

vi

Resumo

A Doença Inflamatória Intestinal (DII) - Doença de Crohn (DC) e a Colite

Ulcerosa (CU) - é uma doença crónica de etiologia desconhecida. A DII associa-

se frequentemente a distúrbios nutricionais significativos, que podem acarretar

consequências graves. Assim, a atenção dada aos aspectos nutricionais nestes

doentes deve considerar-se de extrema importância. O suporte nutricional pode

revelar-se necessário para corrigir a malnutrição energética ou de macro ou

micronutrientes específicos. Tendo em conta os efeitos adversos da terapêutica

a longo-prazo com corticóides, a alimentação entérica (AE) pode apresentar-se

como uma alternativa de terapia primária no tratamento da DC. A consideração

individualizada do estado nutricional de cada doente com DII é essencial para

promover a melhoria da sua qualidade de vida, e evitar o aparecimento de co-

morbilidades.

Palavras-Chave

Doença Inflamatória Intestinal, distúrbios nutricionais, terapia nutricional,

alimentação entérica, alimentação parentérica.

Page 9: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

vii

Abstract

Inflammatory Bowel Diseases (IBD) - Crohn’s Disease and Ulcerative Colitis- are

chronic diseases with unknown etiology. IBD are often associated with significant

nutritional disturbances which can cause severe consequences. As so, the

attention given to patient’s nutritional aspects is of great importance. Nutritional

support can be necessary to address malnutrition in terms of calorie intake or

specific macro or micronutrients. Given the adverse side-effects of

corticosteroids’ long-term use, enteral nutrition can be considered an alternative

to Crohn’s disease primary treatment. The individual attention to IBD patients’

nutritional status is crucial to improve their quality of life and prevent co-

morbidities.

Key-words

Inflammatory Bowel Disease, nutritional disturbances, nutritional therapy,

parental nutrition, enteral nutrition.

Page 10: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES
Page 11: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

1

Introdução

A Doença Inflamatória Intestinal (DII) é uma doença crónica de etiologia

desconhecida que possui duas formas principais de apresentação: a Doença de

Crohn (DC) e a Colite Ulcerosa (CU).(1-3) Dados epidemiológicos sugerem que a

sua taxa de incidência tem vindo a aumentar a nível mundial, sobretudo nos

países desenvolvidos, sugerindo que os factores ambientais possam ter um

papel na DII.(4)

Embora a DC e a CU partilhem algumas características clínicas,

apresentam diferenças em relação aos factores genéticos, à apresentação

clínica e ao tratamento.(5)

A DII encontra-se comummente associada a deficiências nutricionais que

podem variar desde alterações discretas dos oligoelementos até estados óbvios

de desnutrição grave.(1) Estas deficiências têm origem multifactorial(6), e

dependem da actividade da doença - fase activa ou fase remissiva.(1) Embora os

distúrbios nutricionais sejam experimentados nas fases activas das DC e CU,

demonstram-se mais frequentes na DC.(1, 6) Por outro lado, por vezes, as

terapias farmacológicas usadas no tratamento da DII agravam o estado

nutricional ao interagirem com a “normal” absorção de nutrientes.(7, 8)

As consequências nutricionais mais comuns são a perda de peso,

hipoalbuminémia, balanço azotado negativo, anemia, deficiências vitamínicas

(Folato, B12, D) e minerais (Ferro, cálcio, zinco e Magnésio),(9) podendo também

ocorrer com frequência deficiências a nível hidroelectrolítico.(10) Durante a

infância ou no início da adolescência a DII tem um grande impacto sobre o

estado nutricional e crescimento. Estudos indicam para estes casos uma

prevalência do atraso do crescimento entre os 36 a 88%.(6) A DII encontra-se

Page 12: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

2

positivamente associada a algumas patologias, tais como a osteoporose, tendo

em conta o seu impacto no estado nutricional e os tratamentos farmacológicos

que implica.(6, 10, 11)

A atenção para as questões nutricionais relacionadas com a alimentação

deve ser considerada fundamental na monitorização de doentes com DII.(11)

Contudo, não existe ainda consenso sobre as indicações e normas de terapia

nutricional, para os doentes que sofrem desta patologia.(6) Na tomada de decisão

devem levar-se em conta as necessidades nutricionais individuais, as

intolerâncias e as alergias alimentares, bem como, a fase de actividade da

doença.(10)

A terapia nutricional oral, entérica ou parentérica pode ser necessária,

sendo a via oral a de eleição sempre que esta se mostre adequada e eficaz.(1, 6)

No que diz respeito à comparação da alimentação entérica (AE)(1, 6) com a

alimentação parentérica (AP), embora estas demonstrem impactos nutricionais

semelhantes(6), na literatura, verifica-se uma tendência favorável à utilização da

AE(1, 6) em portadores de DII, reservando-se a AP total para situações

específicas, ou em que a AE não seja possível.(1, 6, 11)

O uso do suporte nutricional como tratamento primário na DC tem sido

motivo de discussão devido aos efeitos secundários do tratamento a longo-prazo

com corticóides.(11) O tratamento da DII com nutrientes imunomodeladores é

uma nova modalidade terapêutica baseada nas suas propriedades

farmacológicas que se tem apresentado de forma promissora.(1)

Neste contexto, e uma vez que se trata de um tema em que existem ainda

muitas informações contraditórias torna-se importante e relevante perceber de

Page 13: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

3

que forma é que a nutrição pode influir na actividade da DII e na qualidade de

vida dos doentes.

Revisão da Literatura

1. Doença Inflamatória Intestinal

A Doença Inflamatória Intestinal (DII) é uma doença gastrointestinal que

possui duas formas principais de apresentação: a Doença de Crohn (DC) e a

Colite Ulcerosa (CU),(1, 3, 12) cujos diagnósticos dependem de uma combinação

de sinais clínicos, radiológicos, endoscópicos e histológicos.(13) Tanto a DC como

a CU são processos inflamatórios crónicos, que cursam de maneira imprevisível

com períodos de actividade e remissão variáveis.(9, 14) Estudos retrospectivos

sobre a epidemiologia da DII realizados sobretudo a partir de 1980, firmam a

noção de que actualmente existe uma tendência mundial para o aumento da

incidência, mesmo em países anteriormente considerados como de baixo risco,

embora os estudos sobre a ocorrência de CU e DC sejam escassos nos países

em desenvolvimento.(1, 4, 9) Esta tendência parece de facto representar um

aumento da frequência e não apenas estar ligada a uma maior identificação.(4, 9)

As últimas décadas têm testemunhado um progresso significativo na

compreensão da etio-patogénese, genética e terapêuticas das DII.(11) Apesar

disso, a causa da DII não é ainda completamente conhecida, parecendo envolver

a interacção de factores ambientais, microflora entérica, predisposição genética

e uma resposta imune anormal ou auto-imune na parede intestinal.(5, 13, 15)

Acredita-se que a dieta e vários factores dietéticos podem desempenhar um

papel na modelação no processo da doença.(5, 16, 17)

Page 14: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

4

A DII instala-se com maior frequência nos indivíduos com idades

compreendidas entre os quinze e trinta anos, embora o 1º surto da doença possa

ocorrer mais tarde na vida adulta. Ambos os sexos são igualmente afectados. A

ocorrência encontra-se aumentada em familiares dos doentes, particularmente

em parentes de 1º grau.(5)

1.1 Doença de Crohn versus Colite Ulcerosa

A DC e a CU partilham algumas características clínicas, tais como:

intolerâncias alimentares, diarreia, febre, perda de peso, anemia, desnutrição,

comprometimento do crescimento em crianças e adolescentes, e manifestações

extra-intestinais - artrite, problemas hepáticos e dermatológicos. No entanto

estas patologias apresentam características distintas em relação aos factores

genéticos, apresentação clínica e tratamento.(2, 5)

A diarreia aguda sanguinolenta é a manifestação dominante na CU, enquanto

que na DC os principais sintomas são a diarreia e perda de peso.(1) A DC pode

ocorrer em qualquer parte do tracto gastrointestinal de forma segmentada, sendo

mais frequente no íleo e no cólon. (5, 14, 18) O íleo distal é a zona de eleição para o

aparecimento da doença, com inflamação que atinge desde a mucosa até à

serosa.(5, 19) A CU é um processo de doença contínuo que começa no recto e

progride de forma retrógrada para envolver comprimentos variáveis de cólon,

que atinge geralmente apenas a mucosa.(1, 5, 18)

Em ambas as DII o risco de doença maligna é maior com a doença de longa

duração. As razões para o risco aumentar não estão firmemente estabelecidas,

mas podem estar associadas com um estado proliferativo maior e factores

nutricionais. (5) Apesar da desnutrição poder ocorrer em ambas as formas de DII

é provável que tenha um maior impacto em doentes com DC.(3, 5, 20) Existem

Page 15: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

5

diferenças fundamentais no padrão de desnutrição entre DC e CU. A DC quando

afecta o intestino delgado tende a conduzir a uma maior incidência de

desnutrição proteico-energética, e de nutrientes específicos do que a doença que

atinge apenas o cólon e do que a CU.(11) Além disso, os doentes com DC

geralmente desenvolvem desnutrição durante um longo período de tempo,

enquanto que os doentes com CU tendem a ser relativamente bem nutridos em

remissão, podendo desenvolver deficiência nutricional precipitada durante a fase

aguda da doença.(11)

2. Implicações nutricionais na DII

A desnutrição é frequente na DII, atingindo até 83% dos doentes que se

apresentam em fase aguda. As deficiências nutricionais podem variar desde

alterações discretas dos níveis dos oligoelementos até estados óbvios de

desnutrição grave, com grande perda de peso.(1, 6, 18, 20, 21)

A desnutrição proteico-energética e a deficiência de nutrientes específicos têm

origem em múltiplos factores, que incluem a actividade e duração da doença(6),

as interacções fármaco-nutriente, a localização da inflamação, os sintomas e as

restrições dietéticas, ou mesmo o sobrecrescimento bacteriano.(7)

A redução da ingestão alimentar é considerada a principal causa da

desnutrição, surgindo muitas vezes como o resultado do medo de provocar dor

abdominal ou diarreia, ou da imposição de restrições alimentares ou realização

de “jejum terapêutico”, durante as fases activas da doença. A anorexia aguda

poderá estar relacionada com o aumento dos níveis de citocinas de resposta

inflamatória, IL-1 e TNF. A diminuição da ingestão, da absorção e perda de

massa muscular aparecem também associadas à obstrução intestinal, à

presença de fístulas, ou à inflamação intestinal extensa.(6, 10) A absorção de

Page 16: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

6

nutrientes poderá estar também prejudicada pelo sobrecrescimento bacteriano,

devido a fístulas ou estreitamentos do segmento intestinal.(6) A perda proteica

exudativa ocorre nas áreas de inflamação e ulceração da mucosa, sendo

proporcional à actividade da doença. Os distúrbios hidroelectróliticos podem

surgir como consequência da presença de diarreia.(10)

Os défices nutricionais associam-se com a evolução clínica adversa(6),

afectando a imunidade humural e celular, as fístulas e sua cicatrização, o

balanço azotado e a calcificação óssea.(18) Além disso, reduzem a tolerância às

perdas sanguíneas, gerando maiores taxas de morbilidade no pós-operatório, e

recuperação funcional mais lenta.(6, 9)

Os défices nutricionais ocorrem com incidências variáveis. Os mais

comuns são a anemia, a hipoalbuminémia, o défice de oligoelementos (ferro,

cobre, selénio, magnésio, zinco), o défice de vitaminas (A, B, D, E, K) e a

redução de antioxidantes enzimáticos (dismutase do superóxido, catalase,

peroxidase da glutationa) e não enzimáticos (vitamina C, E, B, caroteno,

glutationa e taurina)(1, 6, 9)

A maior susceptibilidade a danos tecidulares oxidativos parece estar

relacionada com uma menor capacidade antioxidante nestes doentes. Alguns

estudos têm demonstrado que o stress oxidativo se manifesta com uma redução

do ácido ascórbico (vitamina C) plasmático e com um aumento das

concentrações da peroxidase da glutationa, glutationa e �-tocoferol (vitamina

E).(8)

Encontra-se descrito na literatura que a maioria das compilações da DII

severa, tais como, a má cicatrização, a caquexia e a susceptibilidade à infecção

ocorrem mais frequentemente em doentes desnutridos.(18) Deste modo, revela-se

Page 17: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

7

importante que os clínicos tenham um alto índice de suspeição para a

desnutrição nestes doentes, quer estejam em fase remissiva ou em fase activa

da doença(11), uma vez que mesmo doentes com DC em fase inactiva podem

sofrer várias deficiências nutricionais.(14)

A correcta gestão clínica da DII exige a identificação dos défices

nutricionais a fim de escolher a terapia nutricional mais ajustada a cada situação.

O Índice de Massa Corporal (IMC), a história de peso, a presença de edema e os

estudos da albumina sérica e ferro fornecem uma indicação rápida para a

detecção de risco nutricional. A avaliação do estado nutricional não deve basear-

se apenas num indicador, mas resultar do estudo conjunto da história alimentar,

exame físico, parâmetros laboratoriais e análise clínica.(7)

2.1 Especificidades da desnutrição proteico-energética na DII

A desnutrição proteico-energética é comummente associada à DII(9)

encontrando-se descrita na literatura uma prevalência de 20-85%.(11) A

Hipoalbuminémia é encontrada em 25-80% e 25-50% dos doentes hospitalizados

com DC e CU, respectivamente.(11, 22)

A manifestação mais comum da desnutrição proteico-energética é a perda

de peso. Embora existam excepções, a perda de peso é geralmente mais

comum em doentes com DC, sobretudo nos com doença severa, do que nos

com CU. A perda de peso ocorre em mais de 62% dos casos, durante a

exacerbação dos sintomas. No entanto, ao contrário do que acontece na CU, na

DC a perda de peso pode ocorrer mesmo na fase inactiva da doença. (18)

Actualmente, não existe consenso sobre o quanto se encontra aumentada

a taxa metabólica basal na DII. Na DC, o aumento do dispêndio energético em

repouso, o aumento de peroxidação lipídica, a redução da oxidação de glicose e

Page 18: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

8

a diminuição da termogénese induzida pelos alimentos têm sido relatados quer

na fase activa quer na fase inactiva da doença.(11) Scheneeweiss et al, mostrou

que doentes com DC activa manifestavam alterações no substrato de oxidação

similares àqueles que eram observados durante jejum prolongado (menor

oxidação de proteínas e glicose, e maior metabolismo de gorduras), sem

alteração da taxa metabólica basal. Estes dados indiciam que a perda de peso

nestes doentes poderá surgir como resultado da anorexia, má absorção intestinal

e perdas, ao invés de hipermetabolismo.(6)

Os resultados de vários estudos presentes na literatura sugerem um

aumento ligeiro da energia para além do que é previsto na equação de Harris-

Benedict, para doentes com DII activa sem abcesso ou sepsis. Em 2002, Barak

et al sugeriu a utilização de um factor de stress de 1,05 – 1,10 em doentes

hospitalizados com DII activa.(11)

Assim, não há evidências sólidas para apoiar a suplementação energética

sobre a necessidade metabólica prevista pela fórmula de Harris-Benedict,

excepto nos doentes com menos de 90% do peso de referência durante a fase

activa da doença. Portanto a estimativa adequada das necessidades situar-se-á

nas 25 a 35 kcal / kg / dia para a maioria dos adultos com DII.(6, 11)

No que às proteínas diz respeito as suas necessidades parecem estar de

facto aumentadas. As perdas causadas pela inflamação do tracto intestinal, o

catabolismo que ocorre na presença de infecção e possivelmente a maior

necessidade para a cicatrização no caso dos doentes pós cirurgia justificam este

aumento das necessidades.(7, 18) Assim, estudos apontam para adequar a

estimativa das necessidades proteicas a 1,0-1,5 g / kg / dia para adultos, e a 2,0

g / kg / dia para doentes desnutridos ou com sépsis. (6, 11)

Page 19: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

9

2.2 Deficiências de Fluidos e Electrólitos

As deficiências de fluidos e electrólitos são comuns e associam-se à

presença de diarreia. Os doentes submetidos a recessões cirúrgicas e que

desenvolveram no pós-operatório, síndrome do intestino curto (SIC) encontram-

se muito susceptíveis a este tipo de deficiências. (10)

A correcção pode ser feita com a utilização de soluções de re-hidratação

oral (SRO) que foram primeiramente descritas por Harrison para tratamento de

diarreia infantil. Desde então, a sua composição evoluiu e actualmente a sua

composição aproximada consiste em: 90mmol/l glicose, 45mmol/l cloreto de

sódio, 45mmol/l citrato de sódio, 20mmol/l cloreto de potássio. As concentrações

de compostos de sódio não devem ser inferiores a 90 mmol/l. As bebidas

desportivas são muitas vezes inapropriadamente prescritas como substitutos das

SROs. Estas bebidas apresentam uma baixa concentração de sódio, são ricas

em açucares simples e têm alta osmolaridade, características que poderão

provocar um aumento do volume e do número de dejecções diarreicas.(10)

2.3 Lípidos e Hidratos de Carbono

A esteatorreia é encontrada apenas na DC e sua incidência situa-se nos

30%.(10, 18) A extensão e gravidade da doença no intestino delgado pode

determinar o grau de esteatorreia na DC, sendo que a extensão da recessão

cirúrgica também tem influência.(10, 18)

O metabolismo dos ácidos biliares apresenta-se perturbado nos doentes

com DC severa, tal como nos que foram submetidos a recessão intestinal. Os

ácidos biliares são absorvidos no ileo distal, sendo que a sua lesão ou recessão

poderá resultar na má absorção destes e consequentemente na má absorção de

lípidos e vitaminas lipossolúveis.(1)

Page 20: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

10

Os hidratos de carbono (HC) da dieta são normalmente assimilados no

intestino delgado proximal. A sua absorção neste local não é completa, e os que

não foram absorvidos passam para o cólon onde sofrem fermentação bacteriana

transformando-se em ácidos gordos voláteis e gás.(18) A má absorção de HC

pode ser determinada pelo teste da absorção de D-xilose.(1, 18)

2.4 Deficiências de micronutrientes

Na DII ocorrem com diferentes graus de significado clínico e incidências

variáveis uma vasta gama de deficiências vitamínicas e minerais, que

seguidamente serão discutidas. (11, 18)

2.4.1 Cálcio e Vitamina D

A ocorrência da doença metabólica do osso é comum em doentes com

DC,(8) sendo geralmente resultado da deficiente ingestão ou má absorção de

Cálcio e Vitamina D.(10, 23) Nos doentes com DII, os níveis plasmáticos de Cálcio

encontram-se normais pois são mantidos pelo Hiperparatiródismo secundário,

que espolia o cálcio do esqueleto.(11) Por outro lado, a osteoporose induzida por

corticóides é um fenómeno comum sobretudo nos doentes submetidos a

tratamento anti-inflamatório prolongado. A corticoterapia interfere com a

homeostasia do cálcio, uma vez que, inibe a sua absorção intestinal e actua a

nível renal diminuindo a sua reabsorção tubular.(7) Em adição, a ingestão

diminuída de produtos lácteos como resultado de dietas restritivas em lactose

pode potenciar estas deficiências. (7)

Todos os doentes com DII devem ser aconselhados a consumir uma dieta

rica em Cálcio, como meio eficaz de profilaxia contra a osteopenia e

osteoporose.(11) A suplementação com cálcio e vitamina D deverá ser utilizada se

Page 21: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

11

o consumo alimentar não for adequado.(24) Os suplementos de Cálcio consistem

geralmente em Carbonato de Cálcio.(10)

No entanto, em doentes com DII e osteoporose induzida pelos corticóides,

a literatura evidencia que o uso isolado de suplementação oral de Cálcio e

vitamina D não tem demonstrado um efeito benéfico sobre a densidade mineral

óssea, após um ano de tratamento.(11) Assim, nestes casos, a suplementação

com cálcio e vitamina D deverá ser combinada com o uso de outras terapias de

impacto metabólico, tais como os bifosfonatos e os diuréticos tiazidicos, entre

outras.(11, 24)

2.4.2 Ferro

A deficiência em ferro ocorre em 25 a 50% dos casos de DC, e em mais

de 2/3 dos doentes com CU.(18)

Na DII, a deficiência de ferro pode ocorrer pela diminuição do aporte

alimentar e por perdas sanguíneas adicionais, mais comummente observadas na

CU.(8, 25) Encontra-se também descrito na literatura, que os doentes com DC para

além de um baixo consumo de ferro alimentar, evitam alimentos de alto teor de

fibra fortificados com este mineral, por exemplo cereais fortificados, por temerem

que estes agravem os sintomas da doença.(8, 26, 27)

A correcção desta deficiência pode ser difícil apenas com a dieta, sendo

que a suplementação com ferro se apresenta como uma prática adicional. A

deficiência de ferro é tratada com suplementos de Ferro, como o sulfato ferroso

ou o gluconato ferroso. As fontes alimentares ricas em vitamina C podem ser

utilizadas como promotoras do aumento da biodisponibilidade de ferro.(7)

Os doentes com DII frequentemente não toleram a suplementação oral de

ferro. Existem evidências de que, uma vez no cólon, o ferro aumenta o stresse

Page 22: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

12

oxidativo e pode exacerbar a inflamação. Por esta razão, é por vezes necessário

administrar o ferro através de infusão intravenosa ou de injecção

intramuscular.(10)

Mesmo que o ferro oral seja tolerado, o grau de deficiência dos níveis de

ferritina podem não melhorar e os níveis de hemoglobina permanecerem baixos.

Assim, se ao fim de um mês, nestas circunstâncias, não se observarem

alterações na hemoglobina deverá fornecer-se o ferro por via parenteral.(10)

2.4.3 Zinco

Na DII, os doentes podem ver as suas necessidades em zinco

aumentadas por aumento do volume e/ou frequência das dejecções, e pelo

desenvolvimento de fístulas. É estimado que, por cada litro de fezes, podem ser

espoliados cerca de 15mg de Zinco. Assim, apesar das dificuldades do

diagnóstico bioquímico, as deficiências de zinco ocorrem tipicamente em doentes

com diarreia inflamatória e número/volume de dejecções aumentados.(7) Estudos

sugerem que esta deficiência se encontra presente em mais de 40% dos doentes

com DC.(18)

A maioria dos estudos demonstra nos doentes com DC, níveis de zinco

plasmático diminuídos quando comparados com controlos, apesar de não se

detectarem sintomas de deficiência. Assim, todos os doentes que tenham

diarreia significativa (+ 300g fezes/dia) devem receber suplementação de Zn, até

a diarreia terminar. Esta suplementação é normalmente realizada com glutamato

de zinco na dose de 20-40mg/dia.(10)

A sua suplementação, tendo em conta que o zinco é fundamental para a

cicatrização de feridas deve ser um factor a considerar em doentes que

apresentam fístulas persistentes. Para além disso, e tendo em conta que o zinco

Page 23: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

13

é um co-factor da dismutase do superóxido a sua suplementação poderá

constituir uma protecção contra dano celular mediado por radicais livres.(11)

2.4.4 Magnésio

A deficiência de magnésio (Mg) é uma complicação frequente na DII (7, 8)

estando presente em 13 a 88% dos doentes.(8, 28) A deficiência de Mg é comum

na DC, especialmente em doentes que foram submetidos a recessão cirúrgica do

intestino. (10)

A diminuição da ingestão, a má absorção intestinal e perdas aumentadas

são as principais causas da deficiência de Mg.(8, 28) Os doentes com Síndrome do

Intestino Curto apresentam-se mais susceptíveis ao aparecimento desta

deficiência.(7)

O Mg pode ser reposto quer por via entérica quer por via parentérica. O pH

do tracto gastrointestinal, o tempo de trânsito intestinal e o conteúdo em gordura

da refeição podem afectar a absorção do Mg. Por outro lado, a suplementação

entérica com altas doses de Mg pode causar diarreia, principalmente se for

administrada num curto período de tempo. (7, 10)

A suplementação com gluconato de Mg parece ser a melhor escolha para

a suplementação por via entérica pelo seu elevado grau de solubilidade, uma vez

que os sais menos solúveis poderão causar diarreia. A dissolução da

suplementação na SRO e a sua distribuição ao longo do dia parece contribuir

para evitar a diarreia.(10)

Em doentes de Crohn com suporte parentérico a dose recomendada é de

pelo menos 120mg/dia. Quando por via oral a suplementação pode atingir os

700mg/dia dependendo da gravidade da má absorção.(8, 28)

Page 24: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

14

2.4.5 Folato

A depleção de ácido fólico ocorre em cerca de 1/3 dos doentes com DII e

varia com actividade da doença.(18) A deficiência de folato pode ser resultado do

aporte alimentar insuficiente, de perdas intestinais aumentadas ou, menos

frequentemente, da inibição competitiva causada por alguns fármacos usados no

tratamento da doença.(7, 11)

As melhores fontes dietéticas de folato (ex. hortaliças e legumes) são

muitas vezes difíceis de tolerar por alguns doentes com DII. Assim, em alguns

casos a suplementação poderá ser benéfica.(18)

Historicamente, a DII de instalação prolongada, principalmente a CU, está

associada à carcionogénese.(5, 7) Apesar da dificuldade de estabelecer

associações entre o risco de cancro e os factores dietéticos o folato tem-se

revelado um dos nutrientes anti-carcinogénicos mais promissores. A deficiência

de folato está associada a danos no DNA o que se supõe ser um dos

mecanismos responsáveis na patogénese do cancro associado à CU. Dados

epidemiológicos têm demonstrado uma relação inversa entre o consumo de

folato e cancro colo-rectal.(7, 10, 11)

Outro efeito adverso da deficiência de folato é o aumento da homocisteína

sérica, um conhecido indutor de estados de hipercoagulação. A

hiperhomocisteinemia tem sido relatada em 26,5% dos doentes com DII, em

comparação com apenas 3,3% dos controlos.(11)

A suplementação oral de folato deve ser recomendada para doentes com

DII, como um agente anti-neoplásico e anti-trombótico.(7, 11) Contudo, não

existem ainda estudos prospectivos que demonstrem o impacto da

suplementação com folato na incidência de cancro e na ocorrência de eventos

Page 25: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

15

trombóticos, associados à DII.(11) Os doentes com DII devem fazer por rotina

1mg/dia de ácido fólico. A sua monitorização periódica, revela-se necessária

dado que a suplementação em ácido fólico poderá dissimular possíveis

deficiências de Vitamina B12. O melhor indicador nutricional do folato orgânico é

o folato eritrocitário.(7)

2.4.6 Vitamina B12

A deficiência de vitamina B12 está presente em 1/3 dos doentes com DC

em fase aguda não tratados. Contudo, cerca de 50 a 75% dos doentes

apresentam diminuição da absorção de vitamina B12. O défice de vitamina B12

poderá estar presente nos doentes que fizeram recessões de estômago, por não

produção do factor intrínseco, e nos doentes submetidos a recessões do ileo

distal, por diminuição da absorção. Os doentes com recessões ileais requerem

geralmente suplementação com vitamina B12 por via parentérica, uma vez que o

complexo factor intrínseco –vit B12 é apenas absorvido no íleo distal.(1, 7, 10, 18)

A Homocisteinemia é um indicador de deficiência de vitamina B12, com

baixa especificidade, uma vez que também é afectada pelo folato e a vitamina

B6. Embora a via intra-muscular seja a escolha mais comum, a suplementação

oral é possível com altas doses de Vitamina B12 sintética.(7)

2.5 Interacção Fármaco-Nutriente

Algumas das deficiências nutricionais da DII estão relacionadas com a

interacção Fármaco-Nutriente.(7, 8) Alguns dos medicamentos comummente

utilizados podem ocasionar alteração da absorção de cálcio, das vitaminas

lipossolúveis (A,D,E e K) e do folato. A homeostasia do cálcio pode ver-se

alterada pela utilização de corticóides (tal como referido anteriormente); o folato

Page 26: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

16

pela utilização de sulfassalazina, e as vitaminas lipossolúveis pela

colestiramina.(1, 6, 7, 11)

3. Outras complicações associadas

Nos doentes com DII, o impacto das várias deficiências nutricionais na

densidade mineral óssea, na carcinogénese e na trombofilia(29) possui uma

especial relevância. A Osteopenia e a Osteoporose são cada vez mais

reconhecidas como morbilidades extra-intestinais líderes na DII. Os dados sobre

a sua prevalência na DII são pouco consistentes pois variam de acordo com a

heterogeneidade das coortes, e com a falta de uniformidade dos critérios

metodológicos e de diagnóstico. O uso de corticóides aparece também

associado à Diabetes Mellitus e à perda muscular. A anemia e a

hipoalbuminémia aparecem também frequentemente associadas à DII.(1, 6, 7, 11)

4. Terapia nutricional na DII

A diminuição da ingestão, a má absorção, as perdas aumentadas de

nutrientes, o aumento das necessidades, e as interacções fármaco-nutriente

podem causar deficiências nutricionais e funcionais que exigem correcção

adequada com terapia nutricional. (6) Os objectivos da dietoterapia na DII são os

seguintes: (1)

• Aplicar a dietoterapia adequada de acordo com o tipo e actividade da doença;

• Utilizar dietas que diminuam a actividade da doença;

• Manter e/ou recuperar o estado nutricional do doente;

• Aumentar o tempo de remissão da doença;

• Reduzir as indicações cirúrgicas;

• Reduzir as complicações pós-operatórias.

Page 27: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

17

A atenção para as questões nutricionais relacionadas com a alimentação

deve ser considerada fundamental na monitorização de doentes com DII. (11)

Embora sejam vários os aspectos partilhados pela DC e CU, é

fundamental considerá-las como 2 patologias distintas, no que à terapia

nutricional diz respeito.(1) De facto, embora muitas das implicações destas

patologias possam ser analisadas em conjunto, o seu tratamento,

particularmente do ponto de vista nutricional requer considerações isoladas.(10)

Existem três indicações principais para o suporte nutricional intensivo em

doentes com DII: A primeira corresponde à terapia auxiliar para corrigir ou evitar

a desnutrição e favorecer o crescimento em crianças. A segunda refere-se ao

tratamento primário da inflamação intestinal aguda na DC, mas não na CU. A

terceira inclui uma pequena percentagem de doentes com DC que podem exigir

suporte nutricional de longa duração devido ao Síndrome do Intestino Curto ou

doença activa severa.(1)

Contudo, ainda não existe consenso sobre as indicações e normas de

terapia nutricional para estes doentes, logo não existe um protocolo único,

uniforme e efectivo para doentes com DII descrito na literatura. (6) As decisões

sobre a reabilitação de doentes malnutridos com DC requerem a avaliação da

situação gastrointestinal do doente. Torna-se necessário perceber qual é a

extensão da doença, se existe obstrução intestinal, e história de cirurgia

intestinal prévia(30). Na toma desta decisão devem também levar-se em conta as

necessidades energéticas e proteicas do doente, bem como as suas

intolerâncias e alergias alimentares.(10)

Page 28: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

18

4.1 Considerações dietéticas específicas

4.1.1 Fibra

Na literatura internacional não existe consenso sobre os benefícios da fibra

alimentar na DII.

Alguns estudos em doentes com DC têm demonstrado a associação do

aumento do teor de fibra da dieta com a diminuição dos riscos de doença, da

sintomatologia, das taxas de ataque agudo, bem como um aumento no tempo de

remissão. Heaton e tal., mostrou que as taxas de internamentos hospitalares e

de obstrução intestinal foram significativamente menores em doentes com DC,

que tinham uma dieta rica em fibras e hidratos de carbono complexos. No

entanto, estudos posteriores, tal como o de Ritchie et al., não conseguiram

reproduzir esses resultados. Do mesmo modo, um estudo com doentes de DC

relatou uma diminuição dos sintomas com consumos alimentares de baixo teor

em fibra e carnes brancas.(8)

Em adição, uma dieta de baixo teor em fibra é frequentemente

aconselhada para doentes que apresentam estenose do intestino delgado ou

síndromes oclusivos do intestino grosso. (8, 11)Durante surtos caracterizados por

diarreia é também prudente que os doentes reduzam temporariamente a sua

ingestão de fibra alimentar, embora não existam estudos que o demonstrem. (11)

Uma dieta baixa em fibra pode também ser benéfica no subgrupo de doentes

com co-existência de DII e síndrome do intestino irritável, nos quais os sintomas

abdominais são atribuídos à fermentação bacteriana da fibra alimentar

insolúvel.(11) Actualmente, não existem estudos prospectivos do efeito da

restrição da quantidade ou do tipo de fibra alimentar sobre os sintomas

abdominais em indivíduos com doença inflamatória do intestino em remissão.

Page 29: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

19

Assim, o papel de fibra precisa de ser elucidada em maior pormenor através de

ensaios clínicos controlados. (8)

4.1.2 Lactose

Na gastrenterologia é prática comum banir produtos lácteos durante

erupções da DII. De facto, os estudos têm demonstrado um aumento da

prevalência da malabsorção da lactose em doentes com DC. Num estudo que

analisou 260 doentes com doença inflamatória intestinal, Mishkin et al.,

encontrou-se uma prevelência de malabsorção de lactose de 40% em doentes

com DC, em comparação com 29,2% nos controlos de baixo risco étnico para

malabsorção de lactose, e 13,3% em doentes com CU.(1, 11)

Os doentes com DC confinada ao íleo distal são mais susceptíveis a

sofrerem de malabsorção da lactose do que são aqueles com CU. Do mesmo

modo, os estudos parecem indicar que malabsorção é mais frequente nos

doentes em fase activa. Um estudo alemão encontrou uma prevalência de

malabsorção de lactose em 83,3% em doentes com DC em fase activa.(11)

A malabsorção de lactose na DC parece poder ser independente da

actividade da lactase no duodeno, encontrando-se mais relacionada com o

resultado do sobrecrescimento de bactérias no intestino delgado e com o

aumento do tempo do trânsito intestinal.(1)

Independentemente da etnia, a malabsorção da lactose deve ser estudada

em doentes com DC envolvendo o intestino delgado e que apresentem diarreia

persistente. A malabsorção da lactose pode ser facilmente detectada pelo teste

do hidrogénio expirado.(11)

A restrição da lactose deverá ser equacionada nos doentes com CD

envolvendo o intestino delgado, um estudo caso-controlo demonstrou que uma

Page 30: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

20

dieta entérica polimérica isenta de lactose melhorava significativamente a

composição da massa corporal em doentes com DC intolerantes à lactose.

Poderão ser utilizadas nas dietas restritas em lactose bebidas de soja

enriquecida com cálcio ou leite de vaca semi-digeridos ou isentos em lactose.(1, 7)

Não existe nenhuma evidência para apoiar a utilização de uma dieta pobre

em lactose em doentes com CU, ou nos doentes com doença de Crohn em que

a inflamação esteja confinada ao intestino grosso.(11)

4.1.3 Diarreia Infecciosa:

A diarreia infecciosa conduz frequentemente a recidivas na DII. Assim,

doentes com DII deverão ser aconselhados a evitar alimentos que são

associados com um risco aumentado de transmissão de patogénios conhecidos

por causarem gastroenterite. Especificamente, deverão evitar-se carnes mal

cozinhadas, ovos crus, produtos hortícolas crus não desinfectados, entre outros.

Devem também, ser tomadas precauções dietéticas durante viagens para áreas

com padrões de baixa higiene alimentar.(11)

4.2 Terapia nutricional na fase remissiva da DII

A qualidade de vida dos doentes em remissão é significativamente melhor

do que a daqueles que se encontram em fase aguda, podendo até ser

comparada à da população em geral. (14, 31)

Normalmente, a maioria dos doentes em fase de remissão da doença

podem adoptar uma alimentação liberalizada, com ingestão de ingestão calórica

e proteica suficiente para manter e/ou restaurar a massa corporal.(1, 6) Algumas

restrições poderão ser necessárias com base em intolerâncias individuais,

auxiliando na diminuição da ocorrência de flatulência, diarreia e estenose

Page 31: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

21

intestinal. (1, 32) Doentes com intolerância à lactose beneficiam de sua restrição, o

que diminui a produção de gás intestinal e a diarreia. Os doentes que tenham

sido sujeitos a recessão cirúrgica do intestino, devem adoptar dietas com baixo

teor de gordura. Doentes com estenose intestinal devem evitar alimentos ricos

em fibras, tais como cereais integrais, sementes, frutas e legumes crus.(1, 10, 11) A

substituição da gordura comum por triglicerídeos de cadeia média (TCMs) é

necessária na presença de esteatorreia. Alguns doentes também devem

restringir a ingestão de oxalato para prevenir a formação de cálculos de oxalato

de cálcio ao nível do tracto urinário. (6)

Na literatura é recomendado o uso de dietas de exclusão, especialmente

para doentes que estão constantemente com a doença em actividade. A dieta

de exclusão consiste em identificar e excluir alimentos que afectam a actividade

da doença ou exacerbam os sintomas, de forma a promover menos surtos de

activação da doença que a dieta normal, e aumentar a albumina sérica.(1)

Contudo, embora as intolerâncias alimentares tenham sido demonstradas em

pequenas séries de doentes com DC, este problema não é reprodutível e o papel

das dietas de exclusão na DII não está ainda esclarecido. (10)

4.3 Terapia nutricional em fase aguda

A terapia nutricional especializada está indicada nas fases de

exacerbação aguda, grave e recorrente da doença, preparação pré-operatória de

doentes desnutridos, fístulas do aparelho digestivo, SIC (anatómico ou

funcional), e crescimento comprometido. Habitualmente, muitas destas

indicações baseiam-se em conhecimentos clínicos, e não, propriamente em

resultados de ensaios clínicos. A lógica destas indicações reside, muitas vezes,

Page 32: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

22

no facto dos doentes desnutridos terem feridas não cicatrizadas e

comprometimento imunológico. (6)

A terapia nutricional entérica ou parentérica pode ser necessária durante a

DII. (1, 6) Quando o doente consegue uma ingestão proteico-energética adequada

por via oral, esta deve ser a via de eleição. Porém, se o doente for incapaz de

atingir as suas necessidades nutricionais diárias por via oral, estas poderão ser

completadas com suplementos comerciais ou com a introdução de alimentação

entérica ou parentérica.(1)

4.4 Alimentação entérica Versus Alimentação parentérica

A DC e a CU exibem diferentes respostas ao suporte nutricional entérico e

parentérico. (6) Estudos comparativos em relação à alimentação entérica (AE) e

alimentação parentérica (AP) mostram resultados nutricionais semelhantes entre

si, tanto para a DC como para a CU. (6) No entanto, verifica-se na literatura, a

tendência favorável à utilização da AE nos portadores de DII (1, 6), devido ao seu

baixo índice de complicações associadas e custos mais baixos.(6) Sendo assim,

a alimentação parentérica total (APT) deve ser reservada apenas para situações

onde a AE esteja contra-indicada ou em situações clínicas específicas (1, 6, 11) ,

como a hemorragia maciça, a perfuração intestinal ou a obstrução, o megacólon

tóxico, e alguns casos extremos de síndrome do intestino curto. (6)

A APT tem-se demonstrado um eficaz promotor da melhoria do estado

nutricional e crescimento, e importante na melhoria da qualidade de vida de

doentes com CD severa e Síndrome do Intestino curto seguidos no domicílio. (6)

Esta parece ter também um papel benéfico na cicatrização de fístulas no pós-

operatório que surgem a partir de anastomoses cirúrgicas, ou de fistulas mais

complicadas na D. Crohn.(6, 11) No entanto, é difícil defendê-la como terapia

Page 33: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

23

dietética única (8), já que esta está associada a um aumento significativo dos

custos(1) e do tempo de internamento hospitalar, e a muitas complicações

relacionadas ao uso dos acessos venosos centrais, tais como a sepsia e a

trombose venosa. (11)

A APT, como terapia primária para a DII, tem sido utilizada para descanso

intestinal e na correcção de deficiências nutricionais. No entanto, a hipótese de

que o “descanso intestinal” que ocorre na APT pode permitir a cicatrização da

mucosa tem sido contestada (11) pois, o descanso total do intestino parece não

ser essencial para a cicatrização da mucosa. (6) Para além disso, as

complicações associadas à APT não justificam a sua utilização para fins de

indução de remissão na DC. (11)

Estudos que compararam a AE versus a AP, como adjuvantes

terapêuticos para a terapia com corticóides em doentes com CU, mostraram

maior frequência de infecções pós-operatórias em doentes com AP, sugerindo a

AE como mais segura e nutricionalmente efectiva em ataques de CU. (1) A AE

além de fornecer os nutrientes para a recuperação e manutenção do estado

nutricional, oferece vantagens tais como a melhoria dos mecanismos de defesa

imunológica e preservação da mucosa intestinal, previne a translocação

bacteriana (1), e pode ter um papel essencial na monitorização da doença. (10)

Apesar de frequentes, as complicações da AE, como a diarreia, a flatulência, as

cólicas, o refluxo gastroesofágico e a aspiração são menos graves do que as

causadas pela APT. (8)

O consenso parece existir sobre a via de administração da dieta, contudo,

o mesmo não ocorre em relação ao tipo de dieta a ser administrada.(1, 33) Têm

sido testados diferentes tipos de dietas – dietas elementares; dietas poliméricas;

Page 34: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

24

e dietas peptídicas contendo péptidos de tamanhos variáveis.(8) Meta-análises

não conseguiram mostrar benefício de qualquer um dos tipos de alimentação

entérica sobre os outros. (1) No entanto, um estudo de Verma et al. descobriu que

uma dieta polimérica é tão eficaz como uma dieta elementar na indução da

remissão clínica na DC activa. Os autores concluíram que a fonte de azoto, seja

ela aminoácidos na dieta elementar ou a proteína intacta na dieta polimérica, era

improvavelmente relevante para a eficácia terapêutica da AE, quando utilizado

como terapia primária na DC aguda. (8) Do mesmo modo, os resultados de

alguns estudos causaram dúvidas sobre a teoria hipoalergénica da reduzida

carga antigénica das dietas elementares e sobre a teoria do descanso intestinal,

que poderia ser promovido pelo fornecimento de nutrientes pré-digeridos. Assim,

uma melhoria no quadro geral do estado nutricional continua, portanto, a ser uma

explicação plausível para a eficácia terapêutica da AE na DC. (8)

4.5 Suporte nutricional versus Corticóides

Na DII existe justificadamente um sentimento de mal-estar crescente entre

clínicos e doentes no que diz respeito à utilização de corticóides a longo prazo.

Este factor deve ser o catalisador para revisitar o uso da alimentação entérica

como tratamento primário na DC.(11)

Em 1984, foi relatado que a substituição da alimentação de doentes com

DC em fase activa por uma dieta entérica elementar produziu taxas de remissão

comparáveis às obtidas com corticóides, abrindo caminho para uma abordagem

alternativa ao tratamento convencional de imunomodulação farmacológica. (11)

Mais tarde, a conclusão de que os corticosteróides são mais eficazes que a AE

na indução de remissão foi confirmada, após uma análise que incluiu estudos

inéditos concordantes com as meta-análises anteriormente publicadas. (7, 11)

Page 35: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

25

Contudo, existem várias ressalvas à aplicação destas observações e para

a renúncia da AE, tendo como pressuposto que ela é menos eficaz do que os

corticosteróides. Alguns autores alertam que as conclusões das meta-análises

favoráveis à utilização de corticoterapia apresentam viéses, e que os doentes

que completaram com sucesso a AE alcançaram taxas de remissão comparáveis

aos que receberam corticosteróides. (11) É de salientar que a taxa global de

remissão observada com AE foi de cerca de 60%, que é 20-30% superior à taxa

de resposta observada com placebo.(1) Um potencial factor confundidor das

meta-análises é a heterogeneidade das formulações estudadas. Um estudo

retrospectivo a partir de um único centro no Reino Unido, que usou uma

formulação elementar específica em 113 doentes com DC durante 10 anos,

refere uma taxa de remissão de 85% com AE, que é um valor de eficácia bem

próximo dos encontrados para a terapêutica farmacológica.

Em adição, uma comparação de eficácia isolada entre AE e

corticosteróides é insuficiente, já que os dois tratamentos possuem perfis de

segurança inteiramente contrastantes. A AE não tem efeitos negativos

conhecidos a longo prazo, considerando que a morbilidade associada com

corticóides é multifactorial.(11) Estudos demonstram que a associação simultânea

das duas terapias é mais eficaz do que a sua aplicação isolada.(1)

Apesar dos benefícios da AE no tratamento da DC, a simplicidade do

tratamento farmacológico faz com que este seja a escolha mais imediata.(6) Do

mesmo modo, embora exista um consenso geral sobre a necessidade de evitar o

uso de corticóides em crianças devido ao seu efeito sobre o crescimento, há um

irracional sentimento de complacência sobre o uso de corticosteróides em

adultos. (11) A palatabilidade da dieta entérica, a monotonia do uso de fórmulas

Page 36: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

26

líquidas e a frequente necessidade de recorrer à entubação têm vindo a ser

apontados como factores que tornam a AE pouco atraente. (6)

5. Nutrientes imunomodeladores

Os doentes procuram terapias complementares que possam ajudar na

gestão das suas patologias, e é importante que os clínicos se encontrem

informados sobre as mesmas.(34) Embora a patogénese da DII não seja ainda

completamente conhecida, muitos suspeitam que a dieta e vários factores

dietéticos possam ter um papel na modulação do processo da doença. (34)

O tratamento da doença DII com nutrientes imunomodeladores é uma

nova modalidade terapêutica baseada nas suas propriedades farmacológicas,

que têm apresentado perspectivas interessantes e promissoras. Estes nutrientes

actuam modulando a resposta imuno-inflamatória, mantendo a integridade da

mucosa intestinal e melhorando o estado clínico e, consequentemente o estado

nutricional destes doentes. Assim, o plano nutricional tem que incluir nutrientes

para fornecer energia, reduzir a indução do estímulo do antigénio, regular a

resposta inflamatória e imunológica estimulando o trofismo da mucosa. (1)

A glutamina (1, 6, 7, 10, 11), os ácidos gordos de cadeia curta (AGCC) (1, 6, 35) ,

os ácidos gordos ómega3 (AG n-3) (1, 6, 7, 11), os pré e os probióticos,(1, 6, 13, 14, 19)

são alguns imunomodeladores a serem estudados. A glutamina parece ser o

menos promissor pelo menos até que se encontre a sua possível “dose óptima”

de utilização. Os AGCC, sobretudo o butirato que é o mais extensamente

estudado, parecem demonstrar-se benéficos na gestão da CU. Os AG n-3 têm

demonstrado um efeito positivo sobre a DII, sendo este atribuído a alterações do

perfile dos mediadores inflamatórios. Os probióticos são possivelmente aqueles

que demonstram maior relevância para a terapia clínico-nutricional a longo prazo

Page 37: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

27

na DII. Mesmo assim e embora existam já alguns estudos sobre o tema, ainda

não existem evidências concretas do efeito destes “nutrientes

imunomodeladores” na DII.(1)

6. Crianças

A DII durante a infância ou início adolescência tem um grande impacto

sobre o estado nutricional e crescimento.(23, 36-38) A prevalência do atraso do

crescimento linear em estudos de grande dimensão tem variado entre os 36 a

88%.(6) O crescimento retardado tem etiologia multifatorial, e está relacionado

principalmente com baixa ingestão alimentar e efeitos anorexigénios devidos ao

aumento da expressão de citocinas TNF-�. (39) As alterações nos níveis da

hormona crescimento plasmáticos também têm sido implicados.(37)

Os tratamentos que visem reverter o fracasso no crescimento necessitam

de ter em conta a nutrição e também os alvos subjacentes ao processo

inflamatório. A AE está indicada como um adjuvante para corrigir e prevenir a

desnutrição, na promoção o crescimento, e como terapia principal para a

inflamação activa, especialmente na DC.(6, 37, 39, 40).

Embora existam evidências de conflito quanto à eficácia da alimentação

entérica, em comparação com corticosteróides para induzir remissão, há um

baixo nível de evidência que sugere o benefício da abordagem nutricional na

população pediátrica. (34) A resposta à alimentação entérica (AE) em crianças é

semelhante à observada em adultos, e os doentes do sexo masculino são mais

vulneráveis ao crescimento impróprio uma vez que este ocorre num período mais

tardio.(6)

Em doentes pediátricos, a infusão de soluções dietéticas durante a noite é

uma prática comum, evitando maiores interferências com as actividades

Page 38: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

28

quotidianas. (1) A utilização da AE em crianças deve tomar em conta a sua

aceitação e tolerância uma vez que muitos produtos têm gostos desagradáveis e

são fornecidos através de sonda nasogátrica. Estes problemas são parcialmente

controlados através do uso de dietas poliméricas em detrimento de dietas

elementares, sem redução da eficácia do tratamento.(6)

Análise crítica e Considerações finais

A DC e a CU são processos inflamatórios crónicos que cursam de forma

imprevisível com períodos de actividade e remissão variáveis, sendo vários os

défices nutricionais que podem ser experimentados, quer ao nível dos macro

como dos micronutrientes.(7, 9, 34)

A DII tem impacto sobre o estado nutricional dos doentes e este, por sua

vez, interfere com a evolução da própria doença, afectando a imunidade humoral

e celular, o crescimento corporal linear e a maturação sexual em crianças, a

cicatrização de fístulas, o balanço azotado e a descalcificação óssea. Além

disso, os défices nutricionais reduzem as tolerâncias às perdas sanguíneas,

gerando maiores taxas de morbilidade no pós-operatório, o que pode causar

recuperação funcional mais lenta. Sabe-se também que complicações, como a

sepsis e perda de massa muscular, afectam sobretudo os doentes severamente

desnutridos.(6)

Neste contexto, a atenção às questões nutricionais deve ser considerada

fundamental. A avaliação do estado nutricional requer a combinação de vários

indicadores - físicos, laboratoriais, história de peso, ingestão alimentar,

sintomatologia e actividade da doença.(7) Os objectivos da terapia nutricional

Page 39: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

29

nestes doentes vão depender do tipo, da actividade da doença, do estado

nutricional, da história clínica intestinal e da idade.

A DC e a CU apresentam progressão e desenvolvimento de défices

nutricionais diferentes. De facto, na DC os défices nutricionais desenvolvem-se

de forma lenta e progressiva, mesmo durante as fases remissivas da doença,

enquanto que na CU o estado nutricional se mantém frequentemente preservado

nas fases inactivas da doença, precipitando-se drasticamente durante as fases

de actividade da mesma.(11)

As terapêuticas farmacológicas usadas na DII podem ter impacto na

biodisponibilidade de alguns nutrientes sendo necessário ter este factor em linha

de conta. Algumas das patologias associadas à DII podem ver-se melhoradas

com a associação da suplementação com nutrientes específicos, que pode ser

também usada como medida profilática.

São muitos os factores envolvidos na malnutrição destes doentes. A

localização da doença, pode ser factor determinante no tipo e gravidade das

deficiências nutricionais encontradas. Talvez, por isso, doentes com DC cuja

inflamação se localiza a nível do intestino delgado tenham maior probabilidade

de sofrer de défices nutricionais, do que aqueles cuja inflamação esteja

confinada ao cólon, o que acontece na CU.(7) De facto, este tipo de factores

transformam a DII numa doença que não pode ser encarada de forma

transversal necessitando de ser avaliada individualmente.

Existem algumas considerações dietéticas que devem ser feitas, embora

continuem a gerar controvérsia, e existam nesta área estudos com resultados

contraditórios. As dietas ricas em fibra associam-se a taxas de internamento

hospitalares e de obstrução intestinal mais baixas, no entanto, em casos de

Page 40: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

30

estenose ou obstrução do intestino, em surtos de diarreia, ou na presença de co-

existência de síndrome do intestino irritável, é aconselhada uma dieta com baixo

teor em resíduos.(8, 11) A lactose parece apresentar uma prevalência de

intolerância aumentada na DC localizada no intestino delgado, principalmente

durante as fases activas da doença.(1, 11) Os doentes com DII devem também

evitar alimentos e situações propícias às toxinfecções alimentares, uma vez que

a diarreia infecciosa é um potente indutor das recidivas da doença.(11)

A manutenção das fases remissivas revela-se de extrema importância

para os doentes com DII uma vez que representa melhoria na sua qualidade de

vida.(14) A maioria dos doentes em remissão deve ser incentivada a adoptar uma

alimentação liberalizada, podendo ser necessárias algumas restrições no caso

de intolerâncias individuais, de forma a auxiliar a diminuição da ocorrência de

flatulência, de diarreia e de estenose intestinal, desde que haja cooperação do

doente.(1, 6) Embora o benefício do uso de dietas de exclusão permaneça ainda

não totalmente esclarecido ele é recomendado na literatura, já que tem

demonstrado eficácia na manutenção do período de remissão na DC, sendo

especialmente recomendado nos doentes com DII em constante actividade. (1)

Em fases agudas da DII a terapia nutricional especializada está indicada.

A via de eleição deve ser a oral, contudo manter uma oferta calórico-protéica

adequada durante a fase aguda da doença por esta via é difícil, devido ao

quadro de anorexia e sintomas desagradáveis experimentados por estes doentes

após a ingestão dos alimentos, entre outros factores. No caso da ingestão do

doente se demonstrar insuficiente para atingir as suas necessidades nutricionais

diárias deve ser completada com suplementação, ou poderá ser introduzido

Page 41: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

31

suporte nutricional entérico ou parentérico. A DC e a CU exibem respostas

diferentes ao suporte nutricional.

O suporte nutricional intensivo pode ser indicado como terapia primária da

inflamação intestinal aguda na DC mas não na CU, ou como adjuvante na

indução e manutenção da remissão da doença. Embora a eficácia da APT seja

comparável à da AE, devido às suas complicações e custos associados deve ser

reservada apenas para doentes em que a AE esteja contra-indicada ou para

situações clínicas específicas. No que diz respeito ao tipo de AE a ser utilizada,

os estudos demonstram que tanto as dietas elementares como as poliméricas

são eficazes na indução de remissão a curto-prazo e na melhoria do estado

nutricional dos doentes, não existindo diferenças significativas entre elas.(6)

Como consequência dos seus efeitos secundários, têm sido debatidas

alternativas ao uso da terapêutica farmacológica a longo-prazo com corticóides.

Embora a eficácia deste tratamento se tenha demonstrado superior à da AE na

diminuição da actividade da doença em DC, na AE não são conhecidas

complicações a longo-prazo. Este factor, mais do que a própria eficácia do

tratamento deve ser motivo para se ponderar o seu uso como tratamento

primário na DC, de forma a evitar o uso de corticóides, tal como acontece no

tratamento de crianças com DII. Em adição, Lindor et al mostrou que a

associação destas duas terapias é mais eficaz que a sua aplicação isolada,

podendo acrescentar-se que a AE pode assim, ter um efeito atenuante dos

efeitos catabólicos dos corticóides.

Os nutrientes com efeitos imunomodeladores são tema actual e gerador

de controvérsia, mais estudos são ainda necessários para que se possam

afirmar como mais-valias no tratamento da DII.

Page 42: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

32

Sendo assim, podemos concluir que cada um dos pontos abordados neste

trabalho poderia constituir, por si só um tema para ser trabalhado

individualmente. A nutrição é de facto, e mais uma vez, um tema de extrema

relevância na gestão de uma patologia, neste caso da DII. De facto, embora a

etiologia da DII não seja ainda totalmente conhecida, sabe-se que está

associada a diversas deficiências nutricionais. Os profissionais de saúde devem

estar atentos para que estas possam ser detectadas e tratadas o mais

precocemente possível. A DII não deve ser encarada de forma transversal,

devendo existir sempre uma avaliação caso-a-caso. Se assim for, a nutrição

poderá ser de importante relevância na recuperação e/ou manutenção do estado

nutricional do doente, tal como na gestão da actividade da doença e na melhoria

da qualidade de vida.

Page 43: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

33

Referências Bibliográficas

1. Flora APL, Dichi I. Aspectos actuais na terapia nutricional da Doença Inflamatória Intestinal. Revista Brasileira de Nutrição Clínica. 2005; 21 (2):131-37 2. Rothfuss KS, Stange EF, Herrlinger KR. Extraintestinal manifestations and complications in inflammatory bowel diseases. World J Gastroenterol. 2006; 12(30):4819-31 3. Ochsenkuhn T, Sackmann M, Goke B. [Inflammatory bowel diseases (IBD) -- critical discussion of etiology, pathogenesis, diagnostics, and therapy]. Radiologe. 2003; 43(1):1-8 4. Gismera CS, Aladren BS. Inflammatory bowel diseases: a disease (s) of modern times? Is incidence still increasing? World J Gastroenterol. 2008; 14(36):5491-8 5. Mahan KL, Escott-Stump S. Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 11ª edição ed. São Paulo: Rocca; 2005. 6. Campos FG, Waitzberg DL, Teixeira MG, Mucerino DR, Habr-Gama A, Kiss DR. Inflammatory bowel diseases: principles of nutritional therapy. Rev Hosp Clin Fac Med Sao Paulo. 2002; 57(4):187-98 7. Eiden KA, M.S., R.D. Nutritional Considerations in Inflammatory Bowel Disease. Practical Gastroenterology. 2003; (Nutritional Issues in Gastroenterology):33-54 8. Moorthy D, Cappellano KL, Rosenberg IH. Nutrition and Crohn's disease: an update of print and Web-based guidance. Nutr Rev. 2008; 66(7):387-97 9. Salviano FN, Burgos MGPA, Santos EC. Perfil socioeconómico de doentes com Doença Inflamatória Intestinal internados em um Hospital Universitário. Arq Gastroenterologia. 2007; 44 - no.2:99-106 10. Jeejeebhoy KN. Clinical nutrition: 6. Management of nutritional problems of patients with Crohn's disease. CMAJ. 2002; 166(7):913-8 11. Goh J, O'Morain CA. Review article: nutrition and adult inflammatory bowel disease. Aliment Pharmacol Ther. 2003; 17(3):307-20 12. Kucharzik T, Maaser C, Lugering A, Kagnoff M, Mayer L, Targan S, et al. Recent understanding of IBD pathogenesis: implications for future therapies. Inflamm Bowel Dis. 2006; 12(11):1068-83 13. Mach T. Clinical usefulness of probiotics in inflammatory bowel diseases. J Physiol Pharmacol. 2006; 57 Suppl 9:23-33 14. Akobeng AK. Review article: the evidence base for interventions used to maintain remission in Crohn's disease. Aliment Pharmacol Ther. 2008; 27(1):11-8 15. Langmead L, Feakins RM, Goldthorpe S, Holt H, Tsironi E, De Silva A, et al. Randomized, double-blind, placebo-controlled trial of oral aloe vera gel for active ulcerative colitis. Aliment Pharmacol Ther. 2004; 19(7):739-47 16. Lee KM. [Nutrition in inflammatory bowel disease]. Korean J Gastroenterol. 2008; 52(1):1-8 17. Reif S, Klein I, Lubin F, Farbstein M, Hallak A, Gilat T. Pre-illness dietary factors in inflammatory bowel disease. Gut. 1997; 40(6):754-60 18. Silk DB, Payne-James J. Inflammatory bowel disease: nutritional implications and treatment. Proc Nutr Soc. 1989; 48(3):355-61 19. Hedin C, Whelan K, Lindsay JO. Evidence for the use of probiotics and prebiotics in inflammatory bowel disease: a review of clinical trials. Proc Nutr Soc. 2007; 66(3):307-15

Page 44: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

34

20. Ghoshal UC, Shukla A. Malnutrition in inflammatory bowel disease patients in northern India: frequency and factors influencing its development. Trop Gastroenterol. 2008; 29(2):95-7 21. Grivceva Stardelova K, Misevska P, Zdravkovska M, Trajkov D, Serafimoski V. Total parenteral nutrition in treatment of patients with inflammatory bowel disease. Prilozi. 2008; 29(1):21-43 22. Driscoll R. Total parenteral nutrition in inflammatory bowel disease. Med Clin North Am. 1978; 62:185-201 23. Boot AM, Bouquet J, Krenning EP, de Muinck Keizer-Schrama SM. Bone mineral density and nutritional status in children with chronic inflammatory bowel disease. Gut. 1998; 42(2):188-94 24. Sapone N, Pellicano R, Simondi D, Sguazzini C, Reggiani S, Terzi E, et al. A 2008 panorama on osteoporosis and inflammatory bowel disease. Minerva Med. 2008; 99(1):65-71 25. Gasche C, Lomer MC, Cavill I, Weiss G. Iron, anaemia, and inflammatory bowel diseases. Gut. 2004; 53(8):1190-7 26. O’Morain C. Does nutritional therapy in inflammatory bowel disease have a primary or an adjunctive role? Scand J Gastroenterol. 1990; 172:29–34 27. Thornton J, Emmett P, Heaton K. Diet and Crohn’s disease: characteristics of the pre-illness diet. BMJ. 1979; 2:762–64. 28. Galland L. Magnesium and inflammatory bowel disease. Magnesium. 1988; 7(2):78-83 29. Tsiolakidou G, Koutroubakis IE. Thrombosis and inflammatory bowel disease-the role of genetic risk factors. World J Gastroenterol. 2008; 14(28):4440-4 30. Besnard M, Jaby O, Mougenot JF, Ferkdadji L, Debrun A, Faure C, et al. Postoperative outcome of Crohn's disease in 30 children. Gut. 1998; 43(5):634-8 31. Vogt W. [Inflammatory bowel disease--diagnosis and therapy]. Praxis (Bern 1994). 2005; 94(5):145-50 32. Vagianos K, Bector S, McConnell J, Bernstein CN. Nutrition assessment of patients with inflammatory bowel disease. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2007; 31(4):311-9 33. Mansfield JC, Giaffer MH, Holdsworth CD. Controlled trial of oligopeptide versus amino acid diet in treatment of active Crohn's disease. Gut. 1995; 36(1):60-6 34. Shah S. Dietary factors in the modulation of inflammatory bowel disease activity. MedGenMed. 2007; 9(1):60 35. Galvez J, Rodriguez-Cabezas ME, Zarzuelo A. Effects of dietary fiber on inflammatory bowel disease. Mol Nutr Food Res. 2005; 49(6):601-8 36. Bousvaros A, Sylvester F, Kugathasan S, Szigethy E, Fiocchi C, Colletti R, et al. Challenges in pediatric inflammatory bowel disease. Inflamm Bowel Dis. 2006; 12(9):885-913 37. Heuschkel R, Salvestrini C, Beattie RM, Hildebrand H, Walters T, Griffiths A. Guidelines for the management of growth failure in childhood inflammatory bowel disease. Inflamm Bowel Dis. 2008; 14(6):839-49 38. Pappa HM, Grand RJ, Gordon CM. Report on the vitamin D status of adult and pediatric patients with inflammatory bowel disease and its significance for bone health and disease. Inflamm Bowel Dis. 2006; 12(12):1162-74 39. Wiskin AE, Wootton SA, Beattie RM. Nutrition issues in pediatric Crohn's disease. Nutr Clin Pract. 2007; 22(2):214-22

Page 45: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

35

40. Shaoul R. The importance of nutrition in inflammatory bowel disease in children. Harefuah. 2005; 144:564-66

Page 46: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES
Page 47: TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL · 2013. 7. 30. · TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NUTRITIONAL THERAPY IN INFLAMMATORY BOWEL DISEASES

a1