teoria(s) do direito · 2020. 5. 12. · editor da revista eletrônica o jurídico da faculdade de...

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TEORIA ( S ) DO DIREITO: do Jusnaturalismo ao Pós-Positivismo HUDSON COUTO FERREIRA DE FREITAS COLEÇÃO DIREITO E JUSTIÇA

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Page 1: TEORIA(S) DO DIREITO · 2020. 5. 12. · editor da revista eletrônica O Jurídico da Faculdade de Direito da Alis Bom Despacho-MG. Advogado com expe-riência nas áreas do Direito

ISBN 978-85-67020-75-4

Segundo a tradição jurídica, a teoria do Direito oscila entre o jusnaturalismo e o juspositi-vismo que teriam pressupostos diversos. O juspositivismo te-ria superado o jusnaturalismo, como novo paradigma: o Direito como ciência autônoma, separa-do da Moral. Após o holocausto, surgem teses neojusnaturalistas, anti e pós-positivistas, todas crí-ticas do positivismo. No Brasil, a partir de Dworkin e Alexy, se dizem pós-positivistas os que aduzem que no Direito há re-gras e princípios. A ponderação de valores de Alexy tem surgido, na prática forense a partir do STF, como alternativa ao positi-vismo exegético/formalista que ainda se mantém como método majoritário na prática forense e no ensino jurídico, o que deno-ta forte sincretismo no Direito Pátrio. Este livro faz uma leitura crítica das teorias do direito e apresenta uma proposta pós--positivista, inserida no paradig-ma pragmático da linguagem, visando uma melhor compreen-são do Direito.

Na prática jurídica dos advogados e dos juízes, tem-se tornado comum o dis-

curso de que há regras e princípios no or-denamento jurídico e que a forma de apli-cação destes últimos seria por meio de uma ponderação de valores.Não obstante, ainda se vê largamente no dia a dia forense uma postura positivista, especial-mente de fundo exegét ico, o que demonstra que nossa prática jurídica mantém uma postura de sincretismo teórico forte, oscilando entre discursos pretensamente pós-positivistas e a manutenção de uma postura exegética ainda muito arraigada.Diante disso, a presente tese tem a preten-são de lançar luzes sobre o tema, e buscará enquadrar as teorias e teses jusnaturalistas, juspositivistas, antipositivistas e pós-positivistas em termos paradigmáticos, no intuito de con-tribuir para uma melhor compreensão acerca da teoria do Direito.

TEORIA(S) DO DIREITO:do Jusnaturalismo ao Pós-Positivismo

HUDSON COUTO FERREIRA DE FREITAS

COLEÇÃO

DIREITO E JUSTIÇA

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o ao Pós-Positivismo

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FERREIRA DE FREITAS

HUDSON COUTO FERREIRA DE FREITASDoutor em Direito Público (2013), Mestre em Direito Público (2006) e graduado em Direito (1997), todos pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Professor de Direi-to Constitucional, Teoria da Consti-tuição, Direito Administrativo, Direito Eleitoral e Hermenêutica Jurídica nas instituições: Alis (Bom Despacho-MG), FASEH (Vespasiano-MG), Pitágoras (Betim-MG). Coordenador de TCC e editor da revista eletrônica O Jurídico da Faculdade de Direito da Alis Bom Despacho-MG. Advogado com expe-riência nas áreas do Direito Público: Constitucional, Administrativo e Direi-tos Humanos. Autor do livro Teoria(s) do Poder Constituinte: visão clássica, visão moderna e visão contemporâ-nea, editora Arraes e do livro Teoria(s) do Direito: do Jusnaturalismo ao Pós--positivismo, editora DPlácido. Autor de artigos jurídicos variados.

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HUDSON COUTO FERREIRA DE FREITAS

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Copyright © 2014, D’ Plácido EditoraCopyright © 2014, Hudson Couto Ferreira de Freitas

Editor ChefePlácido Arraes

Produtor EditorialTales Leon de Marco

Capa Tales Leon de Marco(Sobre imagem de Sxc.hu)

DiagramaçãoBárbara Rodrigues da Silva

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia da D`Plácido Editora.

Catalogação na Publicação (CIP)Ficha catalográfica

Freitas, Hudson Couto Ferreira de.Teoria(s) do Direito: do jusnaturalismo ao pós-positivismo -- Belo Horizonte:

Editora D’Plácido, 2016.

BibliografiaISBN: 978-85-67020-75-4

1. Direito 2. Direito Constitucional 3. Direito Civil I. Título II. Direito Cons-titucional III. Direito Civil IV. Hudson Couto Ferreira de Freitas

CDU347 CDD 342.1

Editora D’PlácidoAv. Brasil, 1843 , SavassiBelo Horizonte - MGTel.: 3261 2801CEP 30140-002

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Dedico este livro à minha família: Svetlana Maria de Miranda, esposa sempre presente e por

demais amada. Meu entiado Victor Miranda, que tem se tornado um grande homem e amigo. Meu filho amadíssimo, Rafael Freitas, que me ensina a cada

segundo a tentar ser sempre melhor.Agradeço aos meus Pais, Tarcísio Ferreira de

Freitas e Irene Couto de Freitas e a meus irmãos, Braulio Freitas e Alysson Freitas, por serem

meu porto seguro de sempre.

Agradeço imensamente ao Prof. Dr. Álvaro Ricardo de Souza Cruz, que aceitou a empreitada de

me orientar ao longo do Doutoramento e de quem possuo a mais profunda admiração; aos Profs. Drs.

Leonardo Ferraz e Gustavo Nassif, colegas e amigos desde os tempos de Mestrado e que me deram o apoio e incentivo fundamentais para a conclusão do Doutorado.

Agradeço ao amigo Plácido e à Editora D’Plácido por apostarem nesta obra implementando sua publicação.

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SUMÁRIO

PREFÁCIO Prof. Dr. Álvaro Ricardo de Souza Cruz 11

APRESENTAÇÃO Prof. Dr. Gustavo Costa Nassif 17

CAPÍTULO 1 Introdução 21

CAPÍTULO 1I O paradigma JP: Jusnaturalismo/Positivismo Jurídico 29

2.1 Propostas Jusnaturalistas 432.2 Propostas positivistas 742.3 As quatro teses atribuídas ao positivismo

apresentadas por Nino e Struchiner: Ceticismo Ético, Positivismo Ideológico, Formalismo Jurídico e Positivismo Conceitual 92

2.3.1 O ceticismo ético 942.3.2 O positivismo ideológico 1012.3.3 O formalismo jurídico 1102.3.4 Positivismo conceitual

ou metodológico 1152.3.5 Positivismo inclusivo e

Positivismo exclusivo 124

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2.4 O Conceito de Direito em Kelsen, Raz, Ross e Hart 135

2.4.1 Kelsen 1362.4.2 Raz 1412.4.3 Ross 1452.4.4 Hart 161

CAPÍTULO III Propostas Antipositivistas e Pós-Positivistas: A Caminho da Superação do Paradigma JP 177

3.1 Principais características e problemas do positivismo: digressões críticas 179

3.1.1 Principais premissas da Teoria Crítico-Deliberativa e Fenomenológica do Direito elaborada por Cruz 207

3.2 A tese pós-positivista de Ronald Dworkin 2143.3 A tese antipositivista de Robert Alexy 266

CAPÍTULO 1V A superação do paradigma JP e a inserção do direito no paradigma pragmático da linguagem 303

CAPÍTULO V Breve análise jurisprudencial do stf - Supremo Tribunal Federal: entre o Positivismo e o Pós-Positivismo 359

5.1 Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº54/DF 360

5.1.1 Voto da ministra Ellen Gracie 3615.1.2 Voto do ministro

Ricardo Lewandowski 364

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5.1.3 Voto do ministro Marco Aurélio 3685.2 Arguição de Descumprimento de Preceito

Fundamental nº 132/RJ 3795.2.1 Voto do ministro

Ricardo Lewandowski 380

5.2.2 Voto do ministro Marco Aurélio 3855.3 Uma constatação possível: sincretismo

teórico e metodológico no Supremo Tribunal Federal 398

CONCLUSÃO 401

REFERÊNCIAS 411

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PREFÁCIO

Diariamente os profissionais do direito chegam aos seus gabinetes ou seus escritórios e se deparam com pilhas de processo na mesa. Animados ou não, descansados ou não sabem que, ao menos em tese, terão de ler cada um deles. A leitura em si do feito já é um compromisso moral que esse profissional tem com as partes envolvidas no caso. Nem sempre isso se dá. Não é raro que esses profissionais simplesmente “corrijam o Português” de um trabalho feito por um assessor, um advogado júnior ou até mesmo por um estagiário.

Dessa maneira, inúmeras peças processuais são redigi-das diariamente. Como uma grande fábrica de automação o trabalho se divide em grandes círculos concêntricos nos quais a especialização acaba se impondo. Penalistas cuidam de questões criminais assim como o setor de estofamento se responsabiliza pela produção dos estofados. Tributaristas tratam de questões fiscais assim como o setor de instalação de autopeças do automóvel.

A Legislação é consultada, os precedentes e os stan-dards jurídicos, como razões generalizáveis, provas e evi-dências são examinadas e por fim a “linha de produção” acaba por gerar milhares de decisões todos os dias. E, para se evitar que a litigiosidade prospere inutilmente, técnicas de jurisdição de massa, como a uniformização forçada de súmulas, se desenvolvem cada vez mais.

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Pouco se pergunta sobre essa “linha de produção”. Pouco se pergunta sobre o que essa linha produz. Quase ninguém perguntaria se a comparação do Direito com uma linha de produção empresarial é adequada ou não. Por quê? Temos uma hipótese como resposta. Durante os vinte anos de duração do regime militar o Direito foi concebido pelas Faculdades como uma linha de produção de autômatos. Para tanto, um discurso ideológico ainda hoje prevalecente é o que o Direito é bastante em si mesmo, prescindindo da colaboração de outras áreas do conhecimento.

Logo, um estudante de Direito não deveria estu-dar disciplinas como Economia, Sociologia, História, Psicologia, Política ou Filosofia. Ele deveria conhecer a legislação brasileira e saber como aplicá-la em processos judiciais. Não lhe cabia perguntar o porquê das coisas e muito menos discutir se essa legislação era injusta ou não e menos ainda se o Direito como um todo colaborava para a reprodução de tais injustiças.

Era, portanto, o período do paraíso do Positivismo Exegético e dos discursos rebuscados. Era a era do “Doutor de Direito com anel no dedo”. Como alternativa única, a luta armada, pois a arena do Direito estava interditada.

“Ado ado ado, cada um no seu quadrado”. Qualquer esforço em torno de mudar o conceito de Direito por meio da interdisciplinaridade ou da transdisciplinaridade era delírio de “Filósofo” que nada conhecia do verdadeiro Direito. A lógica era e é simples: “O direito e a realidade na prática são muito distantes da teoria”...

O Direito e sua prática eram coisas simplesmente dadas a nós e, para aqueles que trabalhavam com ele não interessava saber o porquê das coisas, pois a correção de uma decisão se dava pela autoridade daqueles que decidiam e pela correspondência entre a norma e a realidade dos fatos. A interpretação nesse modo de ver se limitava ao encaixe do dever ser normativo ao ser dos casos concretos.

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Em “juridiquês”, a perfeita subsunção da hipótese legal de incidência ao fato gerador!

Desse modo, a correção de uma decisão jurídica sempre se dava pela correspondência do plano normativo com a realidade fática. Assim, perguntas que tais como “se uma prática abortiva é ou não um crime”, “se uma conduta é ou não tributável”, ou “se um acordo comercial é ou não lícito” deveriam ser respondidas objetivamente nessa relação subsuntiva.

O domínio da faticidade da autoridade, que cria o plano normativo e que o aplica seria suficiente para “le-gitimar” o modo de produção do Direito. Faria pouco sentido procurar um Direito Natural, de fundo episte-mológico ou transcendental/religioso para fundar a ação do Direito, mesmo porque o Jusnaturalismo estaria “fora de moda no Brasil”.

No entanto, algumas dúvidas nos ocorrem e deveriam ocorrer para aqueles que não se negam o privilégio ôntico e ontológico de poder perguntar. Uma delas é a seguinte: qualquer decisão que eu tome não pode prescindir de argu-mentos, pois senão seria mero ato de força. Argumentar é a chave do direito. Você pode assumir que a escravidão é “na-turalmente” ilícita ou dizer que sua ilicitude decorre de sua proibição na legislação. Contudo, outrem poderia encontrar argumentos na Bíblia dizendo que a escravidão decorre da diferença natural entre as raças. E poderia ainda questionar se a omissão legislativa faria a escravidão um instituto lícito. Ou poderia ainda perguntar por que a legislação a proibiu.

A resposta a cada uma dessas questões pressupõe uma argumentação de fundo ético para tanto. Mesmo sem perceber fundamentos de matiz utilitarista, liberal, comunitarista, hedonista ou de outro espectro serão desenvolvidos no esforço de compreender por que a escravidão é um ilícito ou porque essa prática abortiva é lícita e aquela não. A questão é que todos os conceitos

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que lidamos no Direito perpassam por argumentos de fundo moral, ético e pragmáticos/políticos.

Desse modo, a crença dominante em nossa práxis de que a ação da Moral é meramente contingente parece enfrentar dificuldades. Mas, um retorno ao jusnaturalis-mo, mesmo que de um modo refinado, como faz Robert Alexy pela reformulação da “fórmula da injustiça” de Gustav Radbruch tampouco nos soam como aceitáveis.

A conclusão de que o próprio conceito de Direito é interpretativo e que a condição hermenêutica do homem não é afastável, mesmo diante de casos aparentemente simples e que dariam azo ao raciocínio de Emílio Betti, qual seja, “in claris cessat interpretatio”, o homem julga e apõe seus valores, consciente ou inconscientemente disso.

Logo, ganha enorme atualidade a presente obra, pois Hudson Freitas com enorme maestria conduz ao leitor a resgatar os fundamentos e pressupostos das principais correntes jusnaturalistas e positivistas sobre o modo como compreendem o Direito. E não se furta a dar sua visão da forma pela qual nos esforçamos em construir o que designamos de “Além do positivismo jurídico”.

Hudson, ao contrário do que ensinam a maior parte das obras especializadas, procura atestar não apenas as distinções entre o(s) Jusnaturalismo(s) e o(s) Positivismo(s) Jurídico(s), mas também aquilo que os aproxima de modo a denunciar a existência de um paradigma “juspositivista”.

E, para o contentamento daqueles que entendem que um trabalho de Direito exige não somente a teoria e sim a prática, Hudson responde secamente: não há teoria sem prática e prática sem teoria. A aplicação do Direito não se faz pela pressuposição de que há um plano normativo do dever ser que espera para ser encaixado no ser dos fatos. Não, a verdade não se dá por correspondência e a crença de que a aplicação do direito implica certeza e exatidão matemáticas é um erro.

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A riqueza que se descortina no vislumbre de um novo paradigma ou ao menos na abertura que a Linguagem traz para a estética e para a ética são revolucionárias. A associa-ção de conceitos entre normas, precedentes e standards se somam aos conceitos que formulamos sobre as evidências e as provas dos autos. Conceitos sobre conceitos, interpre-tação de interpretação, um jogo de linguagem sem fim, mas com paradas provisórias, como a edição de uma lei ou a publicação de uma decisão judicial ou administrativa.

Difícil? Pode ser que sim, mas se o é, a dificuldade está justamente naquele que escreve o prefácio e que no fundo percebe a injustiça da homenagem que o autor dessa obra faz a ele. Consolo somente um: o de perceber que o aluno se tornou maior do que aquele que chamava de mestre. Passe par tout de um tempo que torna o mestre em aluno e o aluno em mestre. Comme si as coisas pudessem se inverter, porquanto não possuem uma essência que os eternaliza.

Que bom que tudo muda! Talvez também o modo de ensino e o de aplicação do Direito. Um dia no qual a interdisciplinaridade não seja mais um recurso meramente retórico e a transdisciplinaridade com a Filosofia, com a Política, a Economia, a Sociologia, a História e a Psicologia possam construir um Direito mais humano, mais ético, mais responsável. Uma obra que é o apelo que faz a seus leitores. Um apelo que pede resposta. Uma resposta que faz de você leitor o que você é. Sempre!!!

Fevereiro de 2014.Álvaro Ricardo de Souza Cruz

Doutor em Direito Constitucional, Mestre em Direi-to Econômico, Professor da Graduação e Pós-Graduação da

PUC Minas, Procurador da República em Minas Gerais, Vi-ce-Presidente do Instituto Mineiro de Direito Constitucional,

Membro do Instituto de Hermenêutica Jurídica - IHJ

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APRESENTAÇÃO

“A unidade de tudo o que se deixa visar hoje, atra-vés dos mais diversos conceitos da ciência e da escritura,

está determinada em princípio, com maior ou menor segredo mas sempre, por uma época histórico-metafísi-

ca cuja clausura nos limitamos a entrever.”(...)Jacques Derrida, “A solidariedade dos seres vivos”.

“A lei da hospitalidade absoluta manda romper com a hospitalidade de direito, como a justiça

ou como a justiça como direito.”Anne Dufourmantelle, “Convida Jacques Derrida

a falar da hospitalidade”.

Foi exatamente nisso que o professor Hudson Couto Ferreira de Freitas se limitou a entrever. Na clausura existente em virtude das posições ortodoxas (im)postas pela teoria do direito entre jusnaturalismo e juspositivismo. Como alguém poderia entrever ou simplesmente se limitar a atraver no silêncio claudicante dessas posições? Não me pareceu uma simples questão de sentimento ou coragem, mas de sentimento (e) coragem. Foi necessário ousadia e reflexão. Ao lançar-se nessa empreitada originada nesse seu “sentir antecipadamente” Doutor Hudson impulsionou uma verdadeira desconstrução cujos transbordamentos serão sentidos pelo leitor na presente obra.

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As consequências dessa análise levou o autor a rede-finir tais conceitos e suas adjacências. Esta postura afetou também o contexto nos quais estavam inseridos. O primei-ro obstáculo consistiu, portanto, em identificar as supostas fronteiras entre Jusnaturalismo e Positivismo Jurídico. Essa percepção de que os limites guardam uma ambivalência entre o que está conceituado e o que não está encontra-se inscrita claramente no texto. Em determinadas situações, evidencia, dependendo da posição em que se encontre em relação a tais limites, isso poderá fazer muita “diferença”.

Assim foram resgatadas as principais teses e caracte-rísticas relativas às teorias jusnaturalistas e juspositivistas demonstrando que ambas as posições encontram-se inse-ridas no mesmo paradigma. O autor quebra as fibras por ventura existentes acerca das respectivas teorias provocan-do o desalojamento das oposições para além da polaridade, com o objetivo de denunciar os seus limites e ampliar ao máximo suas possibilidades.

O texto se aperfeiçoa, a partir daí, com a indicação do caminho para uma proposta de superação do que o autor designa “Paradigma JP-Jusnaturalismo/Positivismo Jurídico”. Antes, porém, tece suas pertinentes críticas ao que vem sendo chamado de pós-positivismo, ora mais ácidas em relação ao antipositivismo de Robert Alexy, ora mais moderadas em relação a tese pós-positivista de Ronald Dworkin.

Assim como “um” segundo Wittgeinstein com seus “jogos de linguagem”, Hudson rompe com os modelos fechados, totalizantes, conclusivos e classificatórios e pro-cura ainda criar uma abertura que lhe permite ir além de qualquer conceito enrijecido “e atento ao mundo irreduti-velmente por vir que se anuncia no presente, para além da clausura do saber”, como afirmava Jacques Derrida.

No capítulo “a superação do paradigma JP e a inser-ção do direito no paradigma pragmático da linguagem”

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o autor alicerça o seu estudo na Teoria Crítica do Direito valendo-se dos pressupostos procedimentais de J. Habermas adicionada às premissas da Teoria Crítico-Deliberativa e Fenomenológica do Direito do Professor Álvaro de Souza Cruz estimulado em “buscar um além do positivismo jurí-dico”. Como relembra o próprio professor Álvaro acerca da ausência de linearidade advertida por Derrida para o leitor de Lévinas que: “a cada vez que se diz algo de novo, ele o dizia de modo novo, pois sempre o dito se fazia acompanhar pelo não dito, por aquilo que não se podia dizer”.

Neste contexto, em que se busca ir “além do po-sitivismo” perfectivelmente, Hudson Freitas analisa a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e constata a existência de um forte sincretismo teórico e metodo-lógico no âmbito daquela Corte. Destaca a mistura de teses e métodos jurídicos que são incompatíveis entre si o que denota, no mínimo, a inobservância daquilo que a presente tese veio lançar luzes.

Está presente na obra que o “Direito” não é soberano de si, pois ele não começa no “cogito”, mas na complexa rede de significantes em que os homens estão inseridos, assim como toda consciência vem de fora e os signos são incorporados pelas relações intersubjetivas. É partir dessa relação que o direito se estrutura. Pois só é possível construir uma ordem jurídica legítima e democrática por intermédio de um diálogo permanente.

O presente livro constitui, a nosso ver, um valioso estudo realizado pelo Professor Doutor Hudson Couto Ferreira de Freitas destinado ao público leitor.

Março de 2014.Prof. Dr. Gustavo Costa Nassif

Doutor e Mestre em Direito Público pela Puc-Minas

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1CAPÍTULO 1

Introdução

De há muito que a teoria do Direito vem oscilando entre propostas jusnaturalistas e juspositivistas, de modo que se tornou comum entendê-las como teses que parti-riam de pressupostos diversos.

Assim, sedimentou-se a ideia de que as teses jusposi-tivistas teriam logrado superar as jusnaturalistas, alçando o Direito a um novo paradigma, quando o mesmo passou a ser tratado como uma ciência autônoma e destacada, definitivamente, da Moral.

Ainda em uma leitura linear, vem se firmando, nas cadeiras jurídicas, também o entendimento de que o po-sitivismo seria uma tese já superada por novas teorias que veem sendo classificadas como pós-positivistas.

Com isso, tornou-se habitual e sinônimo de eru-dição jurídica, abonar as teorias que, a partir de Ronald Dworkin, passaram a conceber o Direito como sendo um ordenamento que traz em seu interior duas espécies normativas: as regras e os princípios.

A partir do reconhecimento de que os princípios se-riam, agora, autênticas normas jurídicas deontológicas, os assim chamados adeptos do pós-positivismo acreditam ter definitivamente superado tanto o jusnaturalismo quanto, e principalmente, o positivismo jurídico.

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No Brasil, especialmente, as teses mais difundidas tem sido a de Ronald Dworkin e a de Robert Alexy, sendo que se pode perceber que a adoção, quase sempre equivocada e de forma irrefletida, do método da ponderação de valores preconizado por Alexy vem sendo largamente utilizada pelos tribunais, especialmente os superiores.

Destarte, na prática jurídica dos advogados e dos juízes, tem-se tornado comum o discurso de que há regras e prin-cípios no ordenamento jurídico e que a forma de aplicação destes últimos seria por meio de uma ponderação de valores.

Não obstante, ainda se vê largamente no dia a dia forense uma postura positivista, especialmente de fundo exegético, o que demonstra que nossa prática jurídica mantém uma postura de sincretismo teórico forte, oscilando entre discursos pretensamente pós--positivistas e a manutenção de uma postura exegética ainda muito arraigada.

Diante disso, a presente tese tem a pretensão de lançar luzes sobre o tema, e buscará enquadrar as teorias e teses jusnaturalistas, juspositivistas, antipositivistas e pós-positi-vistas em termos paradigmáticos, no intuito de contribuir para uma melhor compreensão acerca da teoria do Direito.

Para tanto, a partir das teses desenvolvidas por Ál-varo Ricardo de Souza Cruz, configurando uma Teoria Crítico-Deliberativa e Fenomenológica do Direito, que será o marco teórico deste trabalho, propor-se-á a possi-bilidade de se trabalhar o Direito no âmbito e a partir de dois grandes paradigmas: (i) o paradigma mentalista, que engloba tanto a filosofia clássica, marcada pela ontologia essencialista, quanto a filosofia da consciência cartesiana e a ciência moderna newtoniana/galileana; (ii) e o para-digma pragmático da linguagem, que será compreendido/formado a partir dos ganhos trazidos pelo giro linguísti-co-pragmático e pelo giro hermenêutico.

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Com este enquadramento paradigmático, buscar-se-á demonstrar que o jusnaturalismo e o positivismo jurídico, na verdade, compartilham de importantes pressupostos, de modo que ambos podem ser inseridos no mesmo pa-radigma, o mentalista.

Dessa forma, será possível compreender que as teses jusnaturalistas e juspositivistas formam um único paradigma jurídico que será designado, neste trabalho, de paradigma JP: jusnaturalismo/positivismo jurídico, para-digma jurídico este que se vê inserido no paradigma filosófico mentalista.

Para tanto, serão analisadas variadas propostas jusna-turalistas e juspositivistas, bem como autores que podem ser tidos como reconhecidos expoentes e defensores de teorias que se enquadram em uma ou outra vertente deste paradigma JP.

Demonstrando-se o enquadramento das teorias e autores que serão estudados no paradigma JP que, por sua vez, insere-se no paradigma filosófico mentalista, serão analisadas duas teorias contemporâneas, que veem obtendo enorme adesão e difusão, inclusive, no Brasil, e que se pretendem anti-positivistas e pós-positivistas: as teses de Robert Alexy e de Ronald Dworkin.

A reconstrução crítica, com base no marco teórico fornecido pela Teoria Crítico-Deliberativa e Fenomeno-lógica do Direito formulada por Cruz, dos pensamentos destes dois autores, terá o escopo de confirmar que, enquanto Robert Alexy enquadra-se como um autor antipositivista que não logrou superar o paradigma mentalista, Ronald Dworkin, tão logo efetivamente abandona sua distinção entre regras e princípios, a partir de seu livro A Justiça de Toga, finda por ter sucesso em retirar o Direito do nível do paradigma mentalista, de modo que os principais aspectos de sua teoria do

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Direito Como Integridade se revelam como eficientes suportes para se alçar o Direito ao âmbito do paradigma pragmático da linguagem.

Por fim e ainda com base no marco teórico fornecido pelas teses de Cruz, que realizam uma leitura crítica acerca do giro linguístico-pragmático e do giro hermenêutico, bem como de seus principais expoentes, tais como Witt-genstein, Habermas, Gadamer e Heidegger, será feita uma proposta de enquadramento do Direito nos quadros do paradigma pragmático da linguagem.

A tese se vê dividida em seis capítulos, sendo o primeiro composto por esta introdução.

No segundo capítulo, serão reconstruídas as principais e variadas teses jusnaturalistas e juspositivistas.

Nesse momento, o jusnaturalismo será analisado em três grandes vertentes: a) o período da antiguidade clássica, de um jusnaturalismo baseado numa visão cosmológica do mundo e da natureza; b) a fase medieval, em que a visão cosmológica é substituída por uma versão teológico-cris-tã, de modo que Deus (especificamente o Deus católico) torna-se a origem e a fonte de todas as coisas, incluindo o Direito; c) e o período iluminista, em que surge a versão de um Direito Natural baseado no ideal de uma razão pura, lastreada no cogito cartesiano.

O positivismo jurídico, por sua vez, será apresenta-do em suas variadas versões, especialmente a partir das analises de Nino e Struchiner, acerca da identificação de quatro grandes eixos de teses positivitas: o Ceticismo Ético, o Positivismo Ideológico, o Formalismo Jurídico e o Positivismo Conceitual.

Além disso, serão também vistas as contribuições po-sitivistas mais contemporâneas, que se desdobram em duas vertentes: o Positivismo Inclusivo, ou Incorporacionista e o Positivismo Excludente, ou Exclusivo.

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Ainda para se consolidar o estudo acerca do posi-tivismo, serão vistos os principais elementos de alguns dos autores positivistas de maior renome, quais sejam, Kelsen, Raz, Ross e Hart, de modo a se destacar suas importantes contribuições para a teoria do Direito e demarcar o positivismo jurídico como inserido no pa-radigma mentalista.

No capítulo terceiro, será analisada a tese pós-positi-vista de Dworkin, de modo a se perceber que, enquanto o mesmo manteve sua distinção entre regras e princípios, permaneceu enclausurado no âmbito do paradigma men-talista, o que somente terá sido definitivamente superado a partir de seu A Justiça de Toga, quando abandona tal distinção entre espécies normativas.

Será também levantada, no terceiro capítulo, a tese antipositivista de Alexy, analisando-se como sua teoria da argumentação jurídica e sua proposta de solução de colisão entre princípios/direitos fundamentais, entendidos como mandados de otimização, revelam-se incapazes de retirar o Direito do paradigma mentalista.

Dentre outras questões que serão apresentadas, bus-car-se-á demonstrar que o antipositivismo alexyano finda por se revelar como um retorno ao jusnaturalismo, uma vez que suas construções, que levam a uma compreensão e aplicação do Direito de forma axiológica, implodem o código binário interno ao sistema jurídico, e, com isso, seu operar deontológico, além de submeter o Direito à Moral, por meio de uma renovação da fórmula de Radbruch e da adoção do princípio da universalidade kantiano como fundamentos últimos da legitimidade do Direito.

De fato, a constatação a que se chegará, é a de que a teoria de Alexy retoma a perspectiva de um amálgama normativo, ao promover uma verdadeira submissão do Di-reito à Moral, o que faz com que sua tese se mantenha,

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indelevelmente, nos limites do paradigma mentalista e, consequentemente, no âmbito do paradigma jurídico JP.

Ainda no capítulo terceiro, serão anotadas as prin-cipais características da Teoria Crítico-Deliberativa e Fenomenológica do Direito, assentando-se, assim, as bases do marco teórico desta tese que será o suporte para se construir uma proposta de superação do paradigma JP e a inserção do Direito no âmbito do paradigma pragmático da linguagem, sendo este o objetivo central do trabalho.

Além disso, serão apresentadas algumas digressões crí-ticas acerca do positivismo jurídico, levantando-se suas prin-cipais características e gargalos, o que facilitará a construção dos caminhos teóricos que permitirão a sua superação.

No capítulo quatro, por sua vez, serão reforçadas as críticas à tese alexyana, bem como reconduzidas as no-ções do Direito Como Integridade de Dworkin, e, além disso, serão apresentados os elementos que, entendemos, possibilitarão a identificação dos ganhos trazidos pelo giro linguístico-pragmático e pelo giro hermenêutico que permitirão a construção do paradigma pragmático da linguagem, no bojo do qual se pretende inserir a prag-mática e a compreensão do Direito.

Nesse momento, com suporte na Teoria Crítico-De-liberativa e Fenomenológica do Direito construída por Álvaro Ricardo de Souza Cruz, marco teórico desta tese, será apresentada uma proposta de superação do paradig-ma JP e a inclusão do Direito no âmbito do paradigma pragmático da linguagem.

Na sequência, já no capítulo cinco, serão analisa-das, criticamente, duas recentes decisões do Supremo Tribunal Federal, no exercício do Controle Concen-trado de Constitucionalidade, especialmente os votos proferidos por Ricardo Lewandowski, Ellen Gracie e Marco Aurélio, nas Arguições de Descumprimento de

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Preceito Fundamental nº 54 e nº 132, com vistas a se verificar, por amostragem, o sincretismo teórico que impregna a prática jurídica/judiciária naquela Suprema Corte e, por via oblíqua, no Judiciário Brasileiro.

Esta verificação jurisprudencial, mesmo que breve e por amostragem, será suficiente para se demonstrar que a aplicação do Direito Brasileiro transita por diversas e, até mesmo, incompatíveis teorias jurídicas, como, por exem-plo, teses positivistas que passam pela Escola da Exegese, Escola Histórica do Direito, por posturas formalistas/legalistas, de ceticismo ético e de um positivismo exclusivo e, até mesmo, de um positivismo inclusivo.

Além disso, desta análise jurisprudencial também se poderá perceber argumentos que se afastam do positi-vismo, passando pela adoção/influência do pensamento alexyano e seu método da proporcionalidade, chegando-se a visões que já se perfilam ou flertam com uma leitura do Direito a partir do giro linguístico-pragmático e do giro hermenêutico.

Ressalta-se que a leitura crítica desenvolvida sobre tais decisões será feita com suporte no marco teórico adotado nesta tese, de forma a se proporcionar, mesmo que breve e sucintamente, uma visualização dos estudos e conclusões apresentados como contribuição para uma melhor e mais refinada compreensão da nossa prática jurídica.

Por fim, no capítulo seis encontra-se a conclusão, seguida da bibliografia.

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ISBN 978-85-67020-75-4

Segundo a tradição jurídica, a teoria do Direito oscila entre o jusnaturalismo e o juspositi-vismo que teriam pressupostos diversos. O juspositivismo te-ria superado o jusnaturalismo, como novo paradigma: o Direito como ciência autônoma, separa-do da Moral. Após o holocausto, surgem teses neojusnaturalistas, anti e pós-positivistas, todas crí-ticas do positivismo. No Brasil, a partir de Dworkin e Alexy, se dizem pós-positivistas os que aduzem que no Direito há re-gras e princípios. A ponderação de valores de Alexy tem surgido, na prática forense a partir do STF, como alternativa ao positi-vismo exegético/formalista que ainda se mantém como método majoritário na prática forense e no ensino jurídico, o que deno-ta forte sincretismo no Direito Pátrio. Este livro faz uma leitura crítica das teorias do direito e apresenta uma proposta pós--positivista, inserida no paradig-ma pragmático da linguagem, visando uma melhor compreen-são do Direito.

Na prática jurídica dos advogados e dos juízes, tem-se tornado comum o dis-

curso de que há regras e princípios no or-denamento jurídico e que a forma de apli-cação destes últimos seria por meio de uma ponderação de valores.Não obstante, ainda se vê largamente no dia a dia forense uma postura positivista, especial-mente de fundo exegét ico, o que demonstra que nossa prática jurídica mantém uma postura de sincretismo teórico forte, oscilando entre discursos pretensamente pós-positivistas e a manutenção de uma postura exegética ainda muito arraigada.Diante disso, a presente tese tem a preten-são de lançar luzes sobre o tema, e buscará enquadrar as teorias e teses jusnaturalistas, juspositivistas, antipositivistas e pós-positivistas em termos paradigmáticos, no intuito de con-tribuir para uma melhor compreensão acerca da teoria do Direito.

TEORIA(S) DO DIREITO:do Jusnaturalismo ao Pós-Positivismo

HUDSON COUTO FERREIRA DE FREITAS

COLEÇÃO

DIREITO E JUSTIÇA

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HUDSON COUTO FERREIRA DE FREITASDoutor em Direito Público (2013), Mestre em Direito Público (2006) e graduado em Direito (1997), todos pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Professor de Direi-to Constitucional, Teoria da Consti-tuição, Direito Administrativo, Direito Eleitoral e Hermenêutica Jurídica nas instituições: Alis (Bom Despacho-MG), FASEH (Vespasiano-MG), Pitágoras (Betim-MG). Coordenador de TCC e editor da revista eletrônica O Jurídico da Faculdade de Direito da Alis Bom Despacho-MG. Advogado com expe-riência nas áreas do Direito Público: Constitucional, Administrativo e Direi-tos Humanos. Autor do livro Teoria(s) do Poder Constituinte: visão clássica, visão moderna e visão contemporâ-nea, editora Arraes e do livro Teoria(s) do Direito: do Jusnaturalismo ao Pós--positivismo, editora DPlácido. Autor de artigos jurídicos variados.

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