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LETRAS LIBRAS|111 TEORIAS DA TRADUÇÃO II

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TEORIAS

DA TRADUÇÃO II

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TEORIAS DA TRADUÇÃO II

Janaína Aguiar Peixoto

Kátia Michaele Fernandes Conserva

Prezados (a) alunos (a),

Sejam bem vindos à disciplina Teorias da Tradução II.

Nesta etapa continuaremos estudando uma ferramenta fundamental para o professor

bilíngue, que atuará no ensino da LIBRAS como língua materna para pessoas surdas e, como

segunda língua para pessoas ouvintes: a tradução.

O conteúdo a ser abordado consiste em três unidades como veremos a seguir:

UNIDADE 1 – A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA TRADUÇÃO PARA O PROFESSOR BILÍNGUE

1.1 A atuação do professor de Libras

1.2 A Formação do professor de Libras

UNIDADE 2 – TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO NO CONTEXTO CULTURAL DO POVO SURDO

2.1 Artefatos culturais do povo surdo

2.1.1 – Artefato cultural: experiência visual

2.1.2 – Artefato cultural: linguístico

2.1.3 – Artefato cultural: literatura surda

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2.2 – Tipos de tradução

2.2.1 – Tradução intralingual

2.2.2 – Tradução interlingual

2.2.3 – Tradução intersemiótica

2.3 – Tradução de músicas compostas em Língua Portuguesa para a LIBRAS

2.4 – Interpretação versão voz

2.4.1 – O que é uma interpretação versão voz?

2.4.2 – Como proceder antes da interpretação?

2.4.3 – Como proceder durante a interpretação?

2.4.4 – Como proceder após a interpretação?

UNIDADE 3 – O TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS (TILS)

3.1 – Histórico profissional do TILS

3.2 – Perfil deste profissional

Embarque nesta viagem ao mundo da tradução: assistindo o vídeo, praticando com os

exercícios propostos e lendo as unidades a seguir.

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UNIDADE I

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA TRADUÇÃO PARA O PROFESSOR BILÍNGUE

Fonte: asgfsurdos.org.br

Estamos num curso formado por alunos surdos e ouvintes, então, partindo desta realidade,

gostaríamos de introduzir o tema desta disciplina lançando a seguinte questão: a tradução e

interpretação para a LIBRAS é realizada apenas por pessoas ouvintes ou pode ser feita também

por pessoas surdas?

Com base no contexto em que vivemos atualmente no Brasil podemos afirmar que a

comunidade surda já possui excelentes produções literárias. Com certeza muitas ainda virão, pois

há uma longa caminhada a percorrer, mas a literatura visual já possui traduções, adaptações e

produções feitas pelos surdos, como vimos no 3º período na disciplina Literatura Visual.

Com isto, é de extrema relevância para a formação de um aluno do curso de Licenciatura

Plena em LETRAS: LIBRAS/Língua Portuguesa, futuro professor bilíngue, estudar as teorias da

tradução de uma forma contextualizada com a prática. Mas, inicialmente precisamos definir quem

é este professor bilíngue que está sendo formado; quais os parâmetros legais para esta formação;

qual a atuação deste profissional e porque a tradução é importante neste contexto prático.

1.1 A atuação do professor de LIBRAS

Fonte:librascursopedagogia.blogspot.com

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Art. 3o A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

§ 1o Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial são considerados cursos de formação de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério.

§ 2o A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto.

O capítulo II do Decreto 5626/2005 que regulamenta a Lei 10.436/2002 declara que:

Então o quê este decreto considera curso de formação de professores?

LIBRAS

Fonaudiologia Formação de Professores

Ensino Superior

Ensino Médio

Ensino Privado Ensino Público

Municipal Federal

Estadual

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Isto implica dizer, que ao se formar você poderá dar aula no curso de Fonoaudiologia e

nestes cursos acima citados. Você percebeu quantas licenciaturas o professor de LIBRAS poderá

trabalhar? Exatamente. TODAS! Então, as pessoas que cursam Licenciatura em Química, por

exemplo, terão uma disciplina obrigatória de LIBRAS.

Além disso, você, futuro professor de LIBRAS poderá também ministrar a LIBRAS como

disciplina optativa nos demais cursos, como por exemplo: Administração, Direito, Ciências da

computação, Engenharia, Nutrição...Enfim, todos os cursos superiores. Sendo assim, várias

oportunidades de trabalho surgiu com esta abertura na lei. Mas com isto, surge também um

problema que o decreto previu: a formação destes professores.

1.2 A formação do professor de LIBRAS

FONTE: http://librasitz.blogspot.com

Formação de Professores

Licenciaturas Todas

Matemática

Biologia

Física

...todas Normal

Médio

Superior

Pedagogia

Educação Especial

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O capítulo III do Decreto 5626/2005 regulamenta a formação do professor de Libras e o

perfil mínimo para a atuação nesta área como veremos a seguir. A partir do Decreto dois cursos de

graduação surgiram:

Licenciatura plena em Letras: Libras

Curso à distância e presencial iniciado em 2006 pela UFSC com diversos pólos em todo o Brasil.

A primeira turma formou-se em 2010. Nesta turma pioneira tivemos a representação da Paraíba

com alunos formados no pólo de Fortaleza, sendo 5 surdos e 2 ouvintes.

Licenciatura plena em Letras: Libras

Curso à distância iniciado em 2010 pela UFPB com diversos pólos em toda a Paraíba. Vários

alunos de Estados vizinhos são contemplados por esta formação. A conclusão deste curso será

em dezembro de 2013 e a formatura em 2014. Você faz parte desta construção histórica!

Enquanto não há pessoas formadas suficientes para a atuação, o decreto determinou o

perfil mínimo exigido para o exercício da profissão de professor de LIBRAS:

ð I - professor de Libras, usuário16 dessa língua com curso de pós-

graduação ou com formação superior e certificado de proficiência em

Libras17, obtido por meio de exame promovido pelo Ministério da

Educação;

ð II - professor ouvinte bilíngue: Libras - Língua Portuguesa, com pós-

graduação ou formação superior e com certificado obtido por meio de

exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da

Educação.

Agora que compreendemos o processo de formação do professor de LIBRAS (surdo e

ouvinte) gostaria de lançar uma pergunta para que juntos possamos refletir: Para quem serão

ministradas as aulas de LIBRAS nos cursos superiores citados? Que público é este?

Exatamente. Trata-se de alunos ouvintes!

Então a metodologia de ensino que deverá ser utilizada para este público é voltada para o

ensino da LIBRAS como segunda língua (L2), pois a língua materna destes alunos é a Língua

Portuguesa (L1). Neste contexto a tradução de textos será a ferramenta mais utilizada pelo

professor de LIBRAS. Inclusive para a elaboração de uma aula, o professor, que utilizará como

Língua de instrução a LIBRAS, precisará preparar seus slides utilizando recursos para facilitar o 16

O termo “usuário da língua” refere-se à pessoa surda. 17

PROLIBRAS: Exame realizado anualmente, promovido pelo MEC e organizado pela UFSC em todo o Brasil.

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entendimento do aluno ouvinte numa aula ministrada em LIBRAS, isto inclui recursos da língua

materna destes alunos na sua modalidade escrita.

Entendemos então que o objetivo desta disciplina não é preparar Tradutores e Intérpretes

de Língua de Sinais, embora estudaremos um pouco sobre este profissional que faz parte do

contexto bilíngue atual em que vivemos, e sim, apresentar a tradução como uma prática

pedagógica do professor de LIBRAS.

Mesmo no caso de alguns professores surdos que não se interessam pelo ensino da Libras

como L2 e preferem investir no ensino desta língua como L1 nas escolas bilíngues, a tradução é

também uma ferramenta no processo de aprendizagem da criança surda.

Você pode estar se perguntando: Eu, enquanto professor, farei as traduções dos meus

materiais didáticos sozinhos?

Não necessariamente. Pois a presença dos intérpretes em escolas bilíngues é obrigatória.

Os planejamentos quanto ao conteúdo, bem como a elaboração dos materiais são realizados em

conjunto. Além disso já existem várias adaptações e traduções prontas18:

18

Leia a reportagem em http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2011/10/literatura-em-libras-estimula-inclusao-e-

desenvolvimento-de-criancas-surdas.html, disponível também no ambiente virtual desta disciplina.

RESUMINDO

O professor utilizará a tradução como ferramenta tanto no ensino da Libras como primeira língua (L1), neste caso alunos surdos, quanto no ensino da Libras como segunda língua (L2), neste caso ouvintes.

Exemplo de tradução: Pinóquio. FONTE: portallibras.com.br

Exemplo de adaptação: A cinderela surda feneisrs.blogspot.com

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EXERCITANDO

1) O que aborda o Capítulo II do Decreto 5.626/2005?

(a) A formação do Professor de Libras;

(b) A Inclusão da Libras como disciplina curricular;

(c) O perfil mínimo para o exercício da profissão.

2) O que o Decreto considera Formação de Professores? (a) Todos os cursos superiores.

(b) Fonoaudiologia e Pedagogia.

(c) Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o curso normal de

nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial.

3) Você considera a tradução como uma ferramenta útil para o professor de Libras? ( )Sim ( )Não. Por quê? _____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

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_____________________________________________________________________________

4) A LIBRAS poderá ser inserida como Disciplina Escolar Municipal, no 7º ano, por exemplo? ( ) Sim ( ) Não Jusifique: _____________________________________________________________________________

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5) Pesquise materiais Didáticos que servirão como instrumentos para o ensino da LIBRAS como: Obras produzidas por surdos, traduções de clássicos para a Libras e adaptações feitas para a cultura surda e liste abaixo: _____________________________________________________________________________

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UNIDADE II

TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO

NO CONTEXTO CULTURAL DA COMUNIDADE SURDA

Fita azul (símbolo da luta do povo surdo)

FONTE: http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/libras/unidade1/comunidade_culturasurda.htm

Viver por meio de mensagens traduzidas é a realidade do dia-a-dia da pessoa com

Identidade Surda. Esta identidade que revela o “jeito surdo de ser”, parte da identificação com a

língua de sinais que revelam a participação política e a militância pelo direito de vivenciar o

mundo de uma forma visual. A divulgação destes discursos mencionados para a sociedade

majoritária formada por ouvintes depende de uma tradução. Na realidade, no contexto atual,

onde o multiculturalismo é uma realidade, as traduções culturais são estratégias de sobrevivência.

2.1 ARTEFATOS CULTURAIS DO POVO SURDO

Este termo, “povo surdo”, não parte do objetivo de segregar as pessoas com surdez ou ir

de encontro com a inclusão, como esclarece Strobel19 (2008, p. 33):

Mas isto não quer dizer que o povo surdo se isola da comunidade ouvinte, o que estamos explicando é que os sujeitos surdos, quando se identificam com a comunidade surda, estão mais motivados a valorizar a sua condição cultural e, assim, passam a respirar com mais orgulho e autoconfiantes na sua construção de identidade e ingressam em uma relação intercultural, iniciando uma caminhada sendo respeitado como sujeito “diferente” e não como deficiente.

19

A Doutora em Educação Karin Strobel é diretora-presidente da FENEIS - Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos.

Protagonista de muitos dos momentos históricos e culturais do povo surdo brasileiro, tanto como surda quanto como profissional.

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Ao ver os surdos como eles são, dentro do contexto sócio-histórico, estamos

reconhecendo-os como integrantes de um povo sem demarcação geográfica, porém com

qualidades em comum que os caracterizam. Strobel (2008, p. 8), define povo surdo como um

grupo de:

Sujeitos surdos que não habitam no mesmo local, mas que estão ligados por uma origem, por um código ético de formação visual, independente do grau de evolução linguística, tais como a língua de sinais, a cultura surda e quaisquer outros laços.

Nesse sentido, ao abordar a identidade cultural do povo surdo tratamos de uma cultura

que possui artefatos20, que segundo Strobel (2008), divide-se em oito artefatos culturais:

experiência visual, linguístico, familiar, literatura surda, vida social e esportiva, artes visuais,

política, materiais21.

Dentre os oito artefatos citados, destacamos três que são fundamentais para o

entendimento da importância da tradução nesta cultura e suas peculiaridades: experiência visual,

linguístico e literatura surda.

2.2 .1 Artefato cultural: experiência visual

Nascer em determinado contexto social, em determinada época e pertencer a

determinado grupo, já diz muito sobre quem você é e sua forma de pensar. Os indivíduos não

agem da forma que quer deliberadamente, sempre existe por trás desta ação uma construção

simbólica com raiz cultural transmitida de geração para geração. Isso nos faz retomar o fato de

que os surdos compartilham da mesma nacionalidade e naturalidade dos ouvintes e vivenciam

experiências comuns, porém, também possuem uma cultura própria.

20

Segundo constatamos em diversos autores nos campos dos Estudos Culturais, o conceito “artefatos” não se referem apenas a

materialismos culturais, mais àquilo que na cultura constitui produções do sujeito que tem seu próprio modo de ser, ver, entender

e transformar o mundo. (STROBEL,2008, p.37)

21 Quando a cultura surda é abordada em muitos trabalhos acadêmicos ou palestras a definição resume-se a citação de artefatos

culturais materiais como TDD (telefone para surdos) e campainha luminosa, por exemplo. Acredito que a intenção da autora ao

citar este artefato como o último em sua obra objetiva ressaltar que ele não é o principal da lista. Minimizar a cultura surda à

apenas um artefato, seja ele qual for, é o mesmo que dizer que a cultura brasileira resume-se às roupas do carnaval, ou que a

cultura indígena resume-se ao arco e flecha, que são nada mais nada menos que artefatos culturais materiais.

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Os ouvintes são acometidos pela crença de que ser ouvinte é melhor que ser surdo, pois na ótica ouvinte, ser surdo é o resultado da perda de uma habilidade ‘disponível’ para a maioria dos seres humanos. No entanto, essa parece ser uma questão de mero ponto de vista.

Nesse sentido, entender a Cultura Surda como multicultural é o primeiro passo para

admitir a existência da mesma. Partindo desta abordagem multiculturalista é possível afirmar que

a comunidade surda partilha com a comunidade ouvinte do mesmo espaço, do mesmo tipo de

vestuário e alimentação, dentre outros hábitos e costumes, mas possui uma experiência visual de

mundo que sustenta os aspectos peculiares da sua cultura.

A constatação que o surdo elabora sua construção de mundo através de experiências

visuais e os ouvintes através de experiências sonoras é apenas o ponto inicial para diferenciar as

duas culturas. Neste cenário multicultural, onde estas duas culturas convivem num contexto

comum, no nosso caso, o território brasileiro, é de extrema relevância ressaltar que não há

melhores nem piores e sim, diferentes, como afirma Salles (2004, p. 36):

Vemos um exemplo disso na história contada pela autora:

Um menino surdo demorou a perceber que era diferente, pois todos os integrantes da sua família eram como ele. Como brincava com seus irmãos, demorou a sentir necessidade de fazer amigos fora deste círculo. Ao iniciar uma amizade com uma amiguinha vizinha, começou a estranhar a falta de habilidade da mesma em comunicar-se na língua de sinais e tentava ao máximo ajudá-la com esta dificuldade criando artifícios para que comunicação fosse possível.

Certo dia, este menino, muito preocupado, pergunta a sua mãe qual era o problema da sua amiguinha. Ele queria entender porque ela às vezes movimentava os lábios quando estava perto da mãe e a mãe também correspondia da mesma forma, e por que ela tinha tanta dificuldade em comunicar-se. Foi então que a mãe explicou ao menino que ela não tinha problema algum, porém era diferente dele, pois se comunicava com os movimentos dos lábios e não com as mãos.

Ao fazer a afirmação que a família vizinha era ouvinte e não surda como a deles, o menino indagou a mãe se apenas a família vizinha era assim ou se havia mais pessoas como eles. Então sua mãe explicou que na realidade a maioria das pessoas é ouvinte e a minoria é formada por pessoas surdas, fato que ele ainda não tinha atentado. (SALLES,2004, p.37-38).

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O interessante desta experiência é que para este surdo congênito a sensação de perda era

inexistente, para ele, eram os vizinhos que tinham uma perda e um problema de comunicação.

Com isto, entendemos que a sensação de perda auditiva na realidade vem do outro e não de si

mesmo.

Já Strobel (2008, p. 40) cita uma situação totalmente diferente: o fato de uma criança

surda filha de pais ouvintes que pensa que vai morrer por nunca ter visto um surdo adulto. Isto

nos faz refletir que um surdo nascido numa família onde todos são ouvintes e apenas ele é o

diferente, precisa ter contato com outros surdos para não sentir-se eternamente deslocado sem a

sensação de pertencimento.

No caso de um surdo congênito nascido em família de ouvintes ao ter contato com a

cultura surda, posteriormente, ele se identificará com o que nesta cultura constitui produções do

sujeito que tem seu próprio modo de ser, ver, entender e transformar o mundo. Isto acontece

através da substituição de informações sonoras, para as informações visuais.

A autora ainda relata varias situações vivenciadas por ela e por outros surdos que

exemplificam de forma esclarecedora o que significa o artefato cultural denominado experiência

visual, dentre elas selecionamos o relato a seguir:

Uma vez meu namorado ouvinte me disse que iria fazer uma surpresa para mim pelo meu aniversário; falou que iria me levar a um restaurante bem romântico. Fomos a um restaurante escolhido por ele, era um ambiente escuro com velas e flores no meio da mesa, fiquei meio constrangida porque não conseguia acompanhar a leitura labial do que ele me falava por causa da falta de iluminação, pela fumaça da vela que desfocava a imagem do rosto dele, que era negro; e para piorar, havia um homem no canto do restaurante tocando música, que sem poder escutar, me irritava e me fazia perder a concentração por causa dos movimentos dos dedos repetidos de vai-e-vem com seu violino. O meu namorado percebeu o equívoco e resolvemos ir a uma pizzaria! (STROBEL, 2008, p. 38)

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Ler é traduzir. Culturas são traduzidas em atos de leitura, que movimentam significantes os quais passam a operar em vários circuitos sociais. A trama do texto se confunde com os sujeitos que se enredam em seus nós e tentam fazer laços com a história. Os atos performáticos das culturas surdas são materiais inéditos que tem muito a narrar sobre as zonas de contato que se tecem cotidianamente e instauram lógicas diferentes de operar com os sentidos.

2.1.2 Artefato cultural: linguístico

A cultura do povo surdo é reescrita historicamente através do fortalecimento que acontece

de geração para geração, e a maior característica desta vivência de mundo visual compartilhada

por este povo é a sua forma de comunicação, a língua de sinais.

Como exemplo deste artefato fundamental cito mais uma vez um relato da autora:

Um fato interessante é que a Língua de sinais por muitos anos foi considerada ágrafa, ou

seja, uma língua que não possui sua modalidade escrita, mas atualmente existe a ELS (Escrita em

Língua de Sinais) ou Sign Writing trazida para o Brasil pela doutora surda Marianne Stumpf em

1996.

2.1.3 Artefato cultural: literatura surda

Massutti (2007, p. 110), destaca a importância das produções literárias dos surdos para o

fortalecimento e reconhecimento desta cultura quando afirma:

Em escola de ouvintes, além de muitas outras disciplinas, eu tinha aula de religião que não entendia muito, as únicas coisas que sabia era que Deus era muito importante e, se morresse iria ficar de frente com Ele, e isto me incomodava, me deixando muito ansiosa. Minha mãe percebeu e me questionou, expliquei a ela através de gestos e vocabulários isolados que, se eu morresse como Deus iria me entender? Não sabia falar. Minha mãe explicou que Deus entendia qualquer língua.

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Um traço cultural marcante, é o fato de que em toda cidade onde existe surdo, existe um

“point de encontro” onde os surdos de todo credo, idade, gênero e status social reúnem-se para

conversar em LIBRAS. Normalmente, um surdo quando viaja para determinada cidade, além dos

pontos turísticos, gosta também de conhecer este “point”. Em João pessoa este local é o

“Shopping Tambiá”, no centro da cidade. Além deste local neutro, outras instituições, inclusive

ambientes religiosos servem de espaço para o desenvolvimento das manifestações culturais da

comunidade surda, como ressalta Strobel (2008, p. 34):

O que sucede é que quando os sujeitos surdos estão em comunhão entre eles e

quando compartilham suas metas dentro da associação de surdos, federações,

igrejas e outros locais dá o sentido de estarem em comunidades surdas.

Desta socialização surgem piadas e poesias surdas que exploram a expressão facial e

corporal e que em sua grande maioria abordam temáticas que refletem a incompreensão dos

surdos em relação à cultura ouvinte e vice-versa. Como em toda piada existe uma vítima, assim

como acontece na piada do brasileiro que a vítima é sempre o português, nas piadas de surdos a

vítima é sempre o intérprete de língua de sinais, por ser o ouvinte mais próximo deles.

A literatura surda ou literatura visual, que contém estas poesias, piadas, fábulas e

anedotas, é produzida em língua de sinais por atores e poetas surdos e distribuída em DVD ou em

CD-ROOM. Estas literaturas de estudos científicos e autobiografias produzidas por escritores

surdos têm contribuído para a representação da cultura surda no espaço literário. Dentre estes

escritores é possível destacar os seguintes nomes, Gladis Perlin (As Identidades Surdas, 1998),

Ronice de Oliveira (Meus sentimentos em folha, 2006), Marianne Stumpf (Sistema Signwriting: por

uma escrita funcional para o surdo, 2005), Shirley Vilhalva (Recortes de uma vida: Descobrindo o

Amanhã, 2001).

2.2 A INTERPRETAÇÃO INTERLINGUÍSTICA, INTERMODAL E INTERSEMIÓTICA

Roman Jakobson, linguista russo classifica a tradução em três tipos: intralingual, a tradução

interlingual e a tradução intersemiótica.

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2.2.1 - Tradução intralingual: ou paráfrase, que é reescrever um texto a partir dos signos de uma

mesma língua.

2.2.2 - Tradução interlingual: é a interpretação de signos verbais por meio de uma segunda língua,

ou seja, “passar” o texto de uma língua para outra.

2.2.3 - Tradução intersemiótica: ou transmutação, que é a interpretação de signos textuais por

outros signos não-verbais, ou seja, a interpretação de um sistema de signos para outro. Por

exemplo, da arte verbal para a música, a dança, o cinema ou a pintura.

Fonte: baixaki.com.br

Exemplos de variação linguística (geográfica):

Na LIBRAS: Sobrinho, cunhado, feriado (veja no vídeo da disciplina).

Na Língua Portuguesa:

Aipim (Rio de Janeiro), Mandioca (São Paulo) e Macaxeira (Paraíba)

FONTE: altino.blogspot.com

Exemplo: Alemão para o Português

Agora nos

comunicaremos

apenas em LIBRAS,

portanto, é proibido

falar em Português.

TEXTO EM LÍNGUA PORTUGUESA

(LINGUAGEM VERBAL)

FOTOGRAFIA

(LINGUAGEM NÃO VERBAL)

TRADUÇÃO INTERSEMIÓTICA

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Partindo desta base teórica, Segala (2010, p. 29), destaca a utilização de um termo, fruto

de estudos recentes:

Os Estudos da Tradução aplicados aos Estudos Surdos e de Língua de Sinais é

muito recente. As pesquisas teóricas estão apenas começando e, por isso, o uso

do termo Tradução Intermodal (interlinguística) ainda não foi reconhecido na

pesquisa da comunidade surda. Esse termo é uma expressão que pode definir

esse tipo de tradução relacionando uma língua oral-auditiva a uma língua

cinésico/visual ou visual/espacial.

Então, a tradução/interpretação que envolve duas línguas de modalidade diferentes, como

a Língua de Sinais, que utiliza o canal visual-espacial e a Língua Portuguesa, que utiliza o canal oral-

auditivo, pode ser denominada de Intermodal, uma nomenclatura que reflete ainda mais a

especificidade em questão.

Sendo assim, a tradução/interpretação de uma língua oral para a uma língua de sinais é

interlingual, Intermodal e poderá ser Intersemiótica se o tradutor envolver algum outro tipo de

informação visual tais como: ícones, desenhos, fotos, pintura, vídeo, slides (muito utilizado por

professores de Libras), dança, dentre outros.

FONTE: http://amarparaincluir.blogspot.com/2011/08/os-tres-porquinhos.html

Como vimos na figura acima a tradução dos três porquinhos pode ser classificada como

intermodal, interlíngual e intersemiótica, visto que foram utilizados diversos desenhos. Neste

caso, foi então explorada a arte visual, com o objetivo educacional de servir como ferramenta no

aprendizado da língua materna (L1) de crianças surdas.

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No próximo tópico praticaremos um pouco sobre este tipo de tradução ao explorarmos a

música como ferramenta no ensino de alunos ouvintes, pois da mesma forma que um aluno ao

aprender o Inglês, como segunda língua, por exemplo, gosta de praticar treinando por meio de

traduções de músicas românticas, o aluno ouvinte que aprende a Libras como segunda língua tem

o mesmo interesse, pois faz parte de sua cultura.

2.3 TRADUÇÃO DE MÚSICAS COMPOSTAS EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA A LÍNGUA

BRASILEIRA DE SINAIS

Figura: Jéssica (Surda de Campina Grande-PB traduzindo o Hino Nacional Brasileiro no Encontro Estadual de Surdos na Bahia).

FONTE: Foto das autoras

Para uma boa interpretação de música faz-se necessário antes de qualquer coisa “ligar o

botão da criatividade”. Este componente é fundamental para a beleza de uma interpretação de

música para a Língua gestual-visual, a Língua de Sinais.

Podemos observar a relevância da criatividade no ato de uma interpretação quando, por

exemplo, ao invés de simplesmente interpretar a palavra amor com o sinal equivalente, o

intérprete opta por fazer a dactilologia da palavra em forma de um coração, no ritmo da música e

com uma expressão facial que destaca o sentido poético do sinal inserido neste contexto.

Observe este exemplo no vídeo

Entendendo então que a beleza de uma música sinalizada depende de vários fatores,

propomos quatro etapas que norteiam uma boa interpretação de músicas compostas em Língua

Portuguesa para a Língua Brasileira de Sinais.

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LETRAS LIBRAS|130

EXEMPLO DE ATIVIDADE QUE PODERÁ SER UTILIZADA PELO PROFESSOR DE LIBRAS

Solicite aos alunos ouvintes que façam esta atividade em casa

Experimente ouvir uma música com um estilo marcante como rock ou frevo por exemplo. Coloque um fone de ouvido e tente passar para um surdo qual o estilo musical que você está ouvindo, sem utilizar os sinais, apenas através dos movimentos de mãos e cabeça e de expressão facial e corporal. Vale ressaltar que a ideia não é dançar, mas seguindo o ritmo da música você perceberá que é possível mostrar visualmente as mãos subindo e descendo enquanto você interpreta aquela música, com isto o surdo identificará a característica marcante do frevo.

Apresentação de uma música em Libras realizada num casamento (estilo sacro).

LETRAS LIBRAS|130

Solicite aos alunos ouvintes que façam esta atividade em casa

Pratique separadamente esta etapa, isto te ajudará a sentir a ideia da música. Escolha uma música e não faça nenhum sinal, apenas pense em qual você usaria e utilize a ENM do sinal que você pensou.

1ª Etapa: Encontre o estilo musical

Busque transmitir o estilo da música. Exemplos de estilos musicais (Sacra, Romântica, Rap, Rock, Reage,

Forró, Funk, Samba, etc).

Veja esta dinâmica no vídeo da disciplina!

2ª Etapa: Respeite a expressão facial e corporal ou ENM - Expressão não Manual de cada sinal

Isto é fundamental, pois ao interpretar uma música para a LIBRAS muitos TILS supervalorizam o ritmo da

música e esquecem de preservar a clareza da língua respeitando os parâmetros da mesma que são CM:

Configuração de mãos, L: Locação, M: Movimento, Or: Orientação da palma da mão e ENM: Expressão não

manual. Acreditamos que a ENM é a mais prejudicada neste processo, pois o fato de demonstrar o estilo

musical, citado na 1ª etapa não significa que um sinal como PARADO e SILENCIOSO, por exemplo, serão

realizados “dançando”.

Veja esta dinâmica no vídeo da disciplina!

EXEMPLO DE ATIVIDADE QUE PODERÁ SER UTILIZADA PELO PROFESSOR DE LIBRAS

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LETRAS LIBRAS|131

No vídeo da disciplina veremos o exemplo disto com este trecho da música de Lulu

Santos: Como uma onda

3ª Etapa: Traduza a letra da música

Nesta etapa temos várias armadilhas, pois uma tradução de música, poesia ou qualquer tipo de

produção artística, independente da língua, requer uma interpretação intercultural da obra em

questão. Você não poderá simplesmente repassar termos de forma descontextualizada, metáforas

não traduzidas, simplesmente por ser belo na língua fonte, pois você poderá produzir ideias

equivocadas na mensagem que chegará à língua alvo.

Por exemplo, no trecho da música citada anteriormente: “Aqui dentro, sempre como uma onda

do mar”, a tradução precisa abranger a comparação de forma explicativa. Não basta apenas

repassar a mensagem “ao pé da letra”. Pois, não podemos dizer simplesmente que existe uma

onda do mar dentro de nós.

4ª Etapa: Encontre a harmonia da música sinalizada

Nesta etapa final da tradução de uma música escrita em Língua Portuguesa para Libras, você

combinará todas as etapas anteriores. É o momento que vamos harmonizar o Estilo (ritmo) + ENM

+ Letra que estudamos separadamente.

Observe o exemplo no vídeo

Tudo que se vê não é Igual ao que a gente Viu há um segundo

Tudo muda o tempo todo No mundo

Não adianta fugir Nem mentir

Pra si mesmo agora Há tanta vida lá fora Aqui dentro sempre

Como uma onda no mar Como uma onda no mar Como uma onda no mar

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LETRAS LIBRAS|132

Entendendo então como acontece uma tradução de músicas para a língua de sinais, você

poderá solicitar que seus alunos pratiquem os sinais aprendidos em aula, traduzindo uma música.

Com isto você poderá aproveitar a oportunidade para tirar dúvidas quanto à sintaxe das frases

contidas na letra da música escolhida por este aluno.

Veremos a seguir um tipo de interpretação muito utilizada no contexto bilíngue atual, onde

o profissional surdo passa de mero expectador para profissional atuante que expõe suas ideias na

sua língua, a língua de sinais.

2.4 INTERPRETAÇÂO VERSÃO VOZ

2.4.1 O que é uma Interpretação Versão Voz22?

É a interpretação da LIBRAS para o Português. Isto acontece quando a mensagem está em

Língua de Sinais (língua fonte)23 e o TILS deverá interpretá-la para a Língua Oral do país.

Vale ressaltar que é fundamental ter um bom vocabulário nas duas línguas para que a

interpretação não seja prejudicada, pois se o intérprete cometer erros de concordância, omissões,

distorções ou trocas de fonemas, bem como equívocos linguísticos, dentre outras, a mensagem

inicial chegará prejudicada e, em determinadas situações, poderá provocar descaso e desânimo no

ouvinte receptor da mesma.

2.4.2 Como proceder antes da interpretação?

Ciente de que nenhuma interpretação ou tradução terá 100% de integridade com a

mensagem inicial24 o TILS deverá tomar algumas providências para minimizar os possíveis prejuízos.

1º - Prévia do conteúdo: Faz-se necessário que o intérprete apresente-se ao emissor surdo que

poderá ser, por exemplo, um professor, pastor, conferencista, palestrante, entrevistado, dentre outros,

para que, com este primeiro contato, algumas informações sobre o conteúdo sejam compartilhadas, antes

da interpretação. Em algumas destas situações a pessoa surda já leva um resumo por escrito da sua

palestra, ou envia por e-mail com antecedência. Fato este, que favorece a qualidade do serviço de

interpretação.

22

A maioria das dicas e orientações dadas para esta modalidade de interpretação servem também para a interpretação

“sinalizada” da Língua Portuguesa para Língua de Sinais.

23 Geralmente neste caso a mensagem é expressada por uma pessoa surda ou por uma pessoa ouvinte fluente em LIBRAS.

24 Leia o artigo Tradução 100% não existe disponível em http://fidusinterpres.com/?p=149 e no ambiente virtual desta disciplina.

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LETRAS LIBRAS|133

2º - Sinais específicos: O intérprete não é especialista em todas as áreas do conhecimento,

portanto, têm alguns termos específicos de determinadas áreas que o mesmo desconhece, então neste

momento de preparação, o TILS deverá aproveitar a oportunidade para perguntar se o palestrante utiliza

algum sinal específico para os termos em questão. Além disso, ainda devemos lembrar do regionalismo,

com os famosos “sotaques”, que precisam ser identificados para que não hajam equívocos na

interpretação.

3º - Local para a interpretação: É preciso haver um acordo entre o emissor sinalizador e o

intérprete quanto ao melhor local de posicionamento, tanto do palestrante como do intérprete, para que a

visualização dos sinais seja clara, sem impedimentos como, por exemplo, arranjos de flores nas mesas, ou

câmera de vídeo. Para tanto, o intérprete deverá estar sentado ou em pé, de frente, numa distância que

garanta esta visualização.

Vale ressaltar, que cabe ao intérprete também verificar se o local do seu posicionamento

está ao alcance de um microfone. Além disso, providenciar ou solicitar água para sua hidratação,

evitando assim o transtorno das ocorrências de rouquidão ou tosse no momento da interpretação.

4º - Selecionar alguém para o apoio: Este item assim como os outros é de extrema relevância. Solicite

que outro intérprete sente ao seu lado. Isto não significa não que você seja inferior a este em capacidade,

mas que enquanto profissional você zela pela qualidade do serviço. Então, solicite com antecedência a

outro profissional que seja o seu apoio para te auxiliar de uma forma geral, como por exemplo, com os

sinais que sofrem variações linguísticas, sinais técnicos, dúvidas corriqueiras, dentre outras. Esta pessoa

que servirá como apoio poderá te substituir nos possíveis imprevistos,

2.4.3 Como proceder durante a interpretação?

1º O intérprete precisa passar a intenção de quem faz o discurso: Através da entonação e volume da voz

bem como a seleção do vocabulário adequado o intérprete deverá refletir as ideias emitidas em sinais pelo

emissor surdo.

Gildete Amorim interpretando Vanessa Vidal (surda) no concurso Miss Brasil. FONTE: csjonline.web.br.com

Janaína interpretando uma palestra de Robson Peixoto (surdo) em ambiente religioso.FONTE: Foto da autora

POSIÇÃO: EM PÉ POSIÇÃO: SENTADA

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2º A importância da imparcialidade: O intérprete não deverá fazer correções da mensagem proferida pelo

emissor. Nem demonstrar sua opinião pelo tom de voz ou expressão facial/corporal. É importante lembrar

que embora seja a sua voz, ao interpretar não são as suas ideias, crenças ou opiniões que o receptor espera

ouvir naquele momento enquanto você desempenha o papel de intérprete.

3º O intérprete não pode interagir com a plateia: A invisibilidade do intérprete não é algo fácil de ser

administrado no caso de uma interpretação versão voz. Em alguns casos o ouvinte que está assistindo uma

palestra ministrada por um surdo dirige-se ao intérprete e diz: “Qual a opinião dele (o palestrante) ...”. Esta

situação é bastante delicada, pois gera uma desconcentração do intérprete e do palestrante. Nesta

situação, o intérprete de apoio orienta ao ouvinte que ele deve levantar a mão e direcionar-se ao

palestrante. Em outros casos, principalmente em reuniões, o intérprete em atuação que deseja emitir sua

opinião, deverá pedir que outro intérprete assuma a interpretação substituindo-o para que assim ele possa

expor suas ideias.

2.4.4 Como proceder após a interpretação:

1º - O intérprete deverá ficar posicionado (a) próximo ao palestrante surdo, pois alguém poderá abordá-lo

(a) e necessitará dos serviços de interpretação.

2º - O intérprete responde quanto à interpretação. Não deverá receber elogios ou críticas quanto à palestra

ou mensagem, ele foi intérprete e não expositor das ideias, então o mesmo deverá encaminhar os méritos

do conteúdo ministrado para o palestrante.

EXERCITANDO

1) Elabore dois slides com as traduções intersemióticas das seguintes frases:

a) A Língua de Sinais não é universal.

b) O intérprete transmite uma mensagem oral para uma língua gestual que é recebida

visualmente.

RESUMINDO

O Povo surdo possui artefatos culturais que não resume-se aos materiais de adaptações das informações sonoras para visuais.

A tradução de uma Língua Oral para uma Língua de Sinais além de ser Interlingual e Intermodal ela poderá ser somada a uma tradução Intersemiótica, quando além das Línguas utiliza-se imagens filmadas, fotografadas ou desenhadas.

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LETRAS LIBRAS|135

Em vários países há tradutores e intérpretes de língua de sinais. A história da constituição deste profissional se deu a partir de atividades voluntárias que foram valorizadas enquanto atividade laboral na medida em que os surdos foram conquistando o seu exercício de cidadania.

UNIDADE III

O TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS (TILS)

FONTE: librasitz.blogspot.com

3.1 HISTÓRICO PROFISSIONAL DO TILS

Numa perspectiva histórica, a tradução é vista por diversos olhares que buscam seu

delineamento. Além de ser compreendida como arte, também é estudada como um processo

complexo, envolto por nuances entre a sensibilidade do tradutor e o conhecimento técnico.

Em seu livro, Os Tradutores na História, DELISLE e WOODSWORTH (2003) realizam um

resgate sobre a atuação dos tradutores e sua contribuição social. Em muitas comunidades, o

tradutor realiza toda a formação de uma língua por meio da análise linguística dos signos e muitas

vezes, em situações extremas, construindo até o alfabeto daquela língua.

Nesta perspectiva, a tradução é uma importante ferramenta para a disseminação do

conhecimento, pois contribui para a apreensão intelectual e cultural da humanidade. Conforme

Quadros (2004, p.13)

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LETRAS LIBRAS|136

Mediante pesquisas realizadas podemos constatar que em vários países a trajetória da

profissionalização do intérprete de língua de sinais percorre espaços semelhantes: maior

participação dos surdos nas discussões sociais e políticas e a oficialização das línguas de sinais.

A oficialização das línguas de sinais assegurou aos surdos o direito à acessibilidade

linguística através do intérprete, que buscou a profissionalização mediante os espaços que atuava.

Quadros (2004, p. 13, 14) relata a trajetória de alguns países:

· Estados Unidos – Desde 1815, destaca-se a atuação de Thomas Gallaudet como intérprete de

Laurent Clerc, surdo francês, que foi aos Estados Unidos para promover a educação de surdos

naquele país. Anos depois, em 1964, foi fundada uma organização nacional de intérpretes para

surdos, atualmente chamada RID25, a fim de estabelecer normas para a atuação do intérprete de

língua de sinais americana. Em 1972, o RID organizou um exame de proficiência com o objetivo de

oferecer um registro para os intérpretes aprovados.

Ainda hoje, o RID26 exerce as seguintes funções: selecionar os intérpretes, certificar os intérpretes

qualificados; manter um registro; promover o código de ética; e oferecer informações sobre

formação e aperfeiçoamento de intérpretes.

· Suécia: Neste país, a atuação de intérpretes de língua de sinais sueca é registrada em trabalhos

religiosos em 1875. O reconhecimento da profissão aconteceu em 1938 quando o parlamento

sueco estabeleceu cinco cargos de conselheiros para surdos com a ampliação dos cargos para mais

vinte pessoas atuarem como intérpretes. Logo, em 1947 o país tinha vinte e cinto intérpretes para

atender aos surdos suecos.

Em 1968, a Associação Nacional de Surdos junto à Comissão Nacional de Educação e à Comissão

Nacional para Mercado de Trabalho criaram o primeiro curso de treinamento para intérpretes.

· No Brasil, segundo a autora, o exercício da atividade do tradutor/intérprete teve início no campo

religioso durante os anos 80. Com o intuito de discutir a atuação profissional, uma série de ações

foi desenvolvida: a FENEIS27 promoveu em 1988 o I Encontro Nacional de Intérpretes de Língua de

Sinais; e em 1992, foi realizado o II Encontro Nacional, no qual foi discutido e votado o regimento

interno do Departamento Nacional de Intérpretes.

25

Registry of Interpreters for the Deaf.

26 Maiores informações no site http://www.rid.org

27 Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos.

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Art. 2o O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa.

O art. 4º estabelece diretrizes para sua formação tanto em nível médio quanto em nível superior. Em nível médio, a formação pode ter a estrutura de cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou; cursos de extensão universitária; e cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação.

Semelhante aos outros países, a oficialização da língua de sinais brasileira por meio da lei

nº 10.436, de 24 de abril de 2002, impulsionou uma série de reivindicações e conquistas

referentes à acessibilidade linguística dos surdos (QUADROS, 2007).

O reconhecimento da Libras como língua oficial do país conferiu aos surdos o respeito à

diferença linguística. A conceituação da surdez transitou da perspectiva biológica para a

psicossocial, reconstruindo também o papel das pessoas ouvintes sinalizantes para intérpretes de

Libras.

Tal fato promoveu grande impulso sobre a produção e interpretação de textos e materiais

didáticos. Percebe-se uma crescente iniciativa de projetos de interpretação dos mais diversos

trabalhos, dentre eles, a tradução/interpretação de obras literárias.

Enfim, no dia 1º de setembro de 2010, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sanciona a lei

nº. 12.319 que regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira

de Sinais (Libras), além de definir critérios para sua formação e atuação:

No parágrafo único vemos que “A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser

realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o

certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III”.

Conforme o art. 5º, a certificação para atuação em nível superior pode ser obtida através

do Exame Nacional de Proficiência em Tradução e Interpretação (Prolibras) até o dia 22 de

dezembro de 2015.

Atualmente, a comunidade surda tem vivido uma era de conquistas em que a expansão do

ensino da Libras, como também a formação de profissionais intérpretes tem alcançado

proporções cada vez maiores. Os critérios estabelecidos pela lei são necessários para diferenciar o

profissional tradutor / intérprete de ouvintes usuários da Libras sem as competências necessárias

ao tarefa de interpretação.

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LETRAS LIBRAS|138

3.2 Perfil deste profissional

Segundo Quadros (2007, p. 27) o intérprete de língua de sinais é o profissional que domina

a língua de sinais e a língua falada do país e que possui competência linguística para realizar a

tradução/interpretação das línguas envolvidas.

Quanto a isto, o linguista Jakobson, contribui ao identificar aspectos norteadores às

atividades de tradução e interpretação. Tais parâmetros orientam a análise da tradução em um

contexto linguístico atribuindo ao tradutor/intérprete competências necessárias ao exercício

profissional. São elas: competência linguística e competência referencial.

Já Chomsky contribui ao definir competência linguística como a capacidade que o falante

tem de produzir um número infinito de enunciados partindo de um número finito de parâmetros.

Outra competência essencial à tarefa tradutória é a competência referencial. Neste

contexto, o termo referencial faz alusão ao conceito de signo elaborado por Saussure,

“combinação de um conceito com uma imagem”. O desenvolvimento desta competência ocorre

quando o intérprete ao conviver com pessoas surdas conhece sua cultura adquirindo tanto

domínio linguístico, como conhecimento de questões culturais. (VASCONCELLOS e BARTHOLAMEI,

2009).

O tradutor deve buscar a competência nas duas línguas que traduz, entendendo que o fato

de ser nativo da língua não o constitui usuário competente. O tradutor/intérprete de língua de

sinais deve buscar elevar sua competência linguística por meio de estratégias de busca, como

também ser competente linguisticamente em relação às competências: lexical, gramatical,

semântica, fonológica.

Além das competências citadas, o intérprete deve agregar ao desempenho de sua função

uma conduta moral regida por princípios éticos. O código de ética do TILS em seu artigo 1º declara

que “O intérprete deve ser uma pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e

de equilíbrio emocional. Ele guardará informações confidenciais e não poderá trair confidências,

as quais foram confiadas a ele”. (QUADROS, 2004, p. 31-32).

O intérprete deve estar atento à formação e à conduta profissional, a fim de pautar suas

ações na ética e no conhecimento técnico, pois a transmissão do texto aliada à fidelidade constitui

uma importante tarefa para o tradutor/intérprete.

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LETRAS LIBRAS|139

MITOS SOBRE O TILS

- Professores de surdos são intérpretes de língua de sinais

Não é verdade que professores de surdos sejam necessariamente intérpretes de língua de

sinais. Na verdade, os professores são professores e os intérpretes são intérpretes. Cada

profissional desempenha sua função e papel que se diferenciam imensamente. O professor de

surdos deve saber e utilizar muito bem a língua de sinais, mas isso não implica ser intérprete de

língua de sinais. O professor tem o papel fundamental associado ao ensino e, portanto,

completamente inserido no processo interativo social, cultural e lingüístico. O intérprete, por

outro lado, é o mediador entre pessoas que não dominam a mesma língua abstendo-se, de

interferir no processo comunicativo.

- As pessoas ouvintes que dominam a língua de sinais são intérpretes.

Não é verdade que dominar a língua de sinais seja suficiente para a pessoa exercer a profissão

de intérprete de língua de sinais. O intérprete de língua de sinais é um profissional que deve ter

qualificação específica para atuar como intérprete.

Muitas pessoas que dominam a língua de sinais não querem e nem almejam atuar como

intérpretes de língua de sinais. Também, há muitas pessoas que são fluentes na língua de sinais,

mas não têm habilidade para serem intérpretes.

- Os filhos de pais surdos são intérpretes de língua de sinais

Não é verdade que o fato de ser filho de pais surdos seja suficiente para garantir que o

mesmo seja considerado intérprete de língua de sinais. Normalmente os filhos de pais surdos

intermediam as relações entre os seus pais e as outras pessoas, mas desconhecem técnicas,

estratégias e processos de tradução e interpretação, pois não possuem qualificação específica

para isso.

Os filhos fazem isso por serem filhos e não por serem intérpretes de língua de sinais.

Alguns filhos de pais surdos se dedicam a profissão de intérprete e possuem a vantagem de ser

nativos em ambas as línguas.

Isso, no entanto, não garante que sejam bons profissionais intérpretes. O que garante a

alguém ser um bom profissional intérprete é, além do domínio das duas línguas envolvidas nas

interações, o profissionalismo, ou seja, busca de qualificação permanente e observância do

código de ética. Os filhos de pais surdos que atuam como intérpretes têm a possibilidade de

discutir sobre a sua atuação enquanto profissional intérprete na associação internacional de

filhos de pais surdos (www.coda-international.org). (QUADROS, 2004, p. 29-30)

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EXERCITANDO

2) Qual o fato no histórico do profissional TILS você achou mais interessante?

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

3) Você conhece o código de ética do TILS? Na sua opinião qual o ítem mais difícil de ser cumprido?

_________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

4) Cite os mitos sobre o profissional TILS: ________________________________________________

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________

RESUMINDO

À medida que cresce a participação dos surdos nas discussões sociais e políticas cresce também o reconhecimento ao profissional Tradutor e Intérprete de Libras por parte da sociedade majoritária formada de ouvintes.

Além das competências citadas, o intérprete deve agregar ao desempenho de sua função uma conduta moral regida por princípios éticos registrados no Código de Ética do TILS.

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LETRAS LIBRAS|141

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tradução é uma atividade que abrange a interpretação do significado de um texto em

uma língua e a produção de um novo texto em outra língua, desde que exprima o texto original da

forma mais exata possível na língua destino. O texto resultante também se chama tradução. Quem

desconhece o processo de tradução quase sempre trata o tradutor como mero conhecedor de

dois ou mais idiomas.

Como vimos, no atual contexto dos estudos da tradução, percebe-se um deslocamento do

eixo da linguística para o eixo dos estudos culturais e a crescente configuração como uma

interdisciplina. Portanto, o conhecimento da língua não é isolado, mas dialoga com a cultura dos

usuários da língua.

Esperamos que o estudo desta disciplina possa ter contribuído com um acréscimo de

conhecimento que os auxilie na prática de ensino da Libras como primeira e/ou segunda língua.

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LETRAS LIBRAS|142

REFERÊNCIAS

DELISLE, J. Os Tradutores na História. São Paulo: Ática, Tradução Sérgio Bath, 1998.

MASUTTI, M. L. Tradução cultural: desconstruções logofonocêntricas em zonas de contato entre surdos e

ouvintes. Florianópolis: Ed. UFSC, 2007.

QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Secretaria de

Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos - Brasília: MEC ; SEESP, 2004.

SACKS, O. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SALLES, H. M. M. L. Ensino de língua portuguesa para surdos: caminhos para a prática pedagógica. Brasília:

MEC; SEESP, 2004.

SEGALA, R. R. Tradução intermodal e intersemiótica/interlíngual: Português brasileiro escrito para Língua Brasileira de Sinais. Florianópolis: Ed. UFSC, 2010. SKLIAR, C. A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 2005.

SOUZA JÚNIOR, J. E. G. Teoria e prática de tradução e interpretação da língua de sinais. São Paulo: Know

How, 2010.

STRÖBEL, K. L. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Ed. UFSC, 2008.

VASCONCELLOS, M. L. Estudos da Tradução I. UFSC: Santa Catarina, 2009.