teores de Ácido anacárdico em pedúnculos de cajueiro

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Teores de Ácido Anacárdico Em Pedúnculos de Cajueiro

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  • 1075Teores de cido anacrdico em pednculos de cajueiro Anacardium microcarpum e em oito clones...

    Cincia Rural, v.34, n.4, jul-ago, 2004.

    Cincia Rural, Santa Maria, v.34, n.4, p.1075-1080, jul-ago, 2004

    ISSN 0103-8478

    Teores de cido anacrdico em pednculos de cajueiro Anacardium microcarpum e em oitoclones de Anacardium occidentale var. nanum disponveis no Nordeste do Brasil

    Tnia da Silveira Agostini-Costa1 Katiane Arrais Jales2 Deborah dos Santos Garruti3Viviane Azevedo Padilha2 Jedaias Batista de Lima2 Maria de Jesus Aguiar4

    Joo Rodrigues de Paiva5

    Anacardic acid content in cashew apples from Annacardium microcarpum and eight clones of Anacardiumoccidentale from Northeastern Brazil

    1Farmacutico Bioqumico, Doutora, Pesquisadora, Embrapa Recursos Genticos e Biotecnologia, C.P.02372, 70770-900, Braslia,DF. E-mail: [email protected] Autor para correspondncia.

    2Acadmicos do Curso de Qumica, bolsistas, Embrapa Agroindstria Tropical, C. P. 3761, 60511-110, Fortaleza, CE.3Engenheiro de Alimentos, Doutora, Pesquisadora, Embrapa Agroindstria Tropical.4Engenheiro Agrnomo, Mestre, Pesquisadora, Embrapa Agroindstria Tropical.5Engenheiro Agrnomo, Doutor, Pesquisador, Embrapa Agroindstria Tropical.

    RESUMO

    O cido anacrdico, composto fenlico presenteem pednculos de caju e em algumas plantas medicinais,vem sendo associado a uma srie de atividades biolgicasespecficas. O objetivo deste trabalho foi determinar o teordeste composto em pednculos de cajueiro A. microcarpume em oito clones de A. occientale var. nanum disponveis naregio Nordeste do Brasil, avaliando, tambm, algumascaractersticas fsico-qumicas e sensoriais destes pednculos.Os pednculos do clone BRS 189 apresentaram os maioresteores de cido anacrdico. Pednculos da espcieAnacardium microcarpum e pednculos de cajueiro anoprecoce, clones END 189 e 183, Embrapa 50 e 51 e CCP 09no diferiram significativamente dos pednculosprocedentes do clone controle, CCP 076. Pednculos doclone CCP 1001 apresentaram os menores teores de cidoanacrdico. As anlises fsico-qumicas e sensoriaisconfirmaram evidncias de que os clones CCP 09 e 1001no so apropriados para o consumo in natura.

    Palavras-chave: caju, anlise sensorial, alimento funcional.

    ABSTRACT

    Anacardic acid, a phenolic compound presentin cashew apple and in some medicinal plants, is beingassociated to some specific biological effects. The purposeof this work was to determine anacardic acid content inpeduncles of A. microcarpum and eight clones of A.occidentale from Northeastern Brazil, evaluating somephysical-chemical and sensory characteristics of thesepeduncles. Cashew apples from BRS 189 clone of early cashewtree presented the highest values of anacardic acid. Cashewapples from A. microcarpum and END 189, END 183,Embrapa 50, Embrapa 51 e CCP 09 clones of early cashewtree did not differ from control CCP 076 clone. Cashewapples from CCP 1001 clone presented the minor values ofanacardic acid. Physical-chemical and sensory analyses

    showed evidence that CCP 09 and CCP 1001 clone are notappropriate to fresh consuption.

    Key words: sensory analysis, cashew, functional food.

    INTRODUO

    O caju a cultura de maior importnciascio-econmica para a regio Nordeste do Brasil. Aamndoa muito apreciada, constituindo, juntamentecom o lquido da casca da castanha (LCC), o principalproduto de exportao. O pednculo de aparnciaextica apresenta alto teor de vitamina C e grande valornutricional, entretanto, o aproveitamento ainda insignificante em relao quantidade da matria-primapotencialmente disponvel.

    Os cidos anacrdicos so compostosfenlicos biosintetizados a partir de cidos graxos. Elesconstituem cerca de 90% do lquido que extrado dacasca da castanha de caju, sendo que, em taisconcentraes, apresentam propriedades custicas eirritantes (DIGENES et al., 1996). Entretanto, nospednculos de caju, a proporo destes compostosfenlicos muito baixa (SHOBHA et al., 1994) e suaspropriedades biolgicas esto merecendo atenoespecial nos ltimos anos. KUBO et al. (1993)demonstraram o potencial antitumor do cidoanacrdico presente no suco de caju comercial,sugerindo que o consumo contnuo do pednculo,assim como de seus subprodutos, durante perodosprolongados pode ser vantajoso no controle de

    Recebido para publicao 15.04.03 Aprovado em 03.12.03

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    tumores. O cido anacrdico encontrado em Ginkgobiloba foi associado ao tratamento e preveno dedoenas crebro-vasculares, cardiovasculares etumorognicas (WANG et al., 1998; ITOKAWA et al.,1987). Alm dessas propriedades, sua atividadeantimicrobiana e inibidora de enzimasfarmacologicamente importantes vem sendo estudada(KUBO et al., 1994a; KUBO et al., 1994b; SHOBBA etal., 1994; HIMEJIMA & KUBO, 1991; KUBO et al.,1987).

    O cajueiro ano precoce (Anacardiumoccidentale L. var. nanum) tem sido cultivado na regioNordeste do Brasil, pois apresenta porte reduzido dasplantas, facilitando a colheita manual do pednculo,apresenta pednculos com elevados teores deacares, menor teor de taninos oligomricos eprodutividade satisfatria (SILVA JUNIOR & PAIVA,1994). A espcie A. microcarpum produz pednculospequenos, mas com excelente grau de doura.Considerando-se a escassez de estudos sobre osteores de cido anacrdico em pednculos de caju, oobjetivo deste trabalho foi quantificar o teor destescompostos em pednculos de cajueiros cultivados noNordeste do Brasil, correlacionar estes teores comalguns parmetros meteorolgicos e executar algumasanlises fsico-qumicas e sensoriais, visando fornecersubsdios para estudos nutricionais futuros quetenham como objetivo recomendar o consumo destespednculos in natura.

    MATERIAL E MTODOS

    Os clones de cajueiros avaliados nesteestudo e o nmero de repeties variaram de acordocom a produtividade de cada safra. Durante a safra de2001, pednculos da especie A. microcarpum e declones de cajueiro ano precoce (A. occidentale) CCP076, CCP 1001, CCP 09, BRS 189, Embrapa 50 e Embrapa51 foram colhidos para anlise de cido anacrdico.Trs lotes de pednculos da espcie A. microcarpum(cerca de 40 unidades/lote) foram colhidos em Pacajus,Cear (s 4 10' 22", o 38 27' 39"). Trs lotes depednculos do clone Embrapa 50 foram colhidos emParaipaba, Cear (s 3 26' 20", o 39 8' 52"). Para todosos demais clones, os pednculos foram analisados emseis lotes, trs procedentes de Pacajus e trsprocedentes de Paraipaba.

    Devido s variaes climticas ocorridasdurante a safra de 2000, neste ano, no foi possvelobter pednculos em Pacajus, com exceo de trslotes de pednculos do clone CCP 076. No entanto,foram empregados nas avaliaes cinco lotes depednculos dos clones de cajueiro ano precoce CCP

    076 e CCP 1001 e quatro lotes do clone CCP 09procedentes de Paraipaba. Foram analisados, ainda,trs lotes dos clones de cajueiro ano precoce CCP076, END 189, END 183 e BRS 189 procedentes daFazenda Pimenteira, pertencente ao grupo CIONE,situada em Aracati, CE (s 4 33' 43", o 37 46' 11").

    Em ambas as safras e nas diferentesprocedncias, os pednculos do clone CCP 076 foramempregados como controle. Esse clone, por apresentarexcelente produtividade e pednculos de timaqualidade para consumo in natura, , atualmente, omais difundido. Cada lote de pednculo de caju foiobtido em diferentes semanas, durante cada safra. Ospednculos foram colhidos aleatoriamente pela manh(cerca de 40 unidades/lote), em estado de maturaoapropriado para o consumo in natura e transportadosem caixas apropriadas. Cerca de vinte unidades depednculos foram selecionados e quarteadoslongitudinalmente. As primeiras fraes foramagrupadas, constituindo uma contra-prova, que foicongelada a 20oC e utilizada de acordo com anecessidade. As segundas fraes foramhomogeneizadas em liquidificador. Destas fraeshomogeneizadas, foram retiradas trs amostras queserviram como repeties e foram submetidas sanlises.

    A obteno do padro de cido anacrdico ea determinao deste composto em pednculos de cajufoi feita conforme AGOSTINI-COSTA et al. (2003). Para aobteno do padro, o cido anacrdico foi extrado comhexano a partir das cascas de castanhas de caju, epurificado em coluna de slica acidificada. O padroapresentou-se puro quando identificado porcromatografia em camada delgada, por varreduraespectral no ultravioleta e por anlises de ressonnciamagntica nuclear de 1H, 500 MHz e de 13C, 125 MHz(Brucker, Avance DRX 500). A extrao analtica do cidoanacrdico foi feita por partio com clorofrmio, metanole gua. O extrato foi purificado em mini-coluna de slica eo cido anacrdico, diludo em hexano, foi quantificado a320 nm em espectrofotmetro de varredura espectralultravioleta-visvel (Varian, modelo Cary 50).

    As determinaes de acares redutores,acidez total titulvel, pH e slidos solveis totais(oBrix) foram feitas de acordo com os mtodosanalticos do INSTITUTO ADOLFO LUTZ (1985).

    A anlise sensorial foi realizada compednculos de quatro clones de cajueiro ano precocecultivados tanto em Pacajus como em Paraipaba, etambm da espcie A. microcarpum cultivados emPacajus. Uma equipe composta de 13 julgadoresselecionados e treinados (GARRUTI et al., 2002)avaliou cada amostra, em trs repeties, quanto

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    Impresso Global. Foi utilizada uma escala noestruturada de 9 cm ancorada nos extremos com ostermos muito ruim e muito boa.

    Visando explorao dos resultados obtidos,parmetros meteorolgicos, como precipitao,temperatura e umidade relativa, ocorridos nas EstaesExperimentais da Embrapa em Paraipaba e Pacajus duranteas safras de 2000 e 2001, foram checados para avaliar acorrelao dos mesmos com os teores de cido anacrdicoobtidos. Foram consideradas, separadamente, as mdiasdas repeties dos clones CCP 076, CCP 1001 e CCP 09.Os perodos cujos parmetros meteorolgicos foramavaliados corresponderam: i) s faixas entre as quartas equintas semanas que antecederam as colheitas de cadalote de pednculos de caju (estimativa da quinzenareferente ao metabolismo rpido do cido anacrdicosegundo SHOBHA et al.,1994); ii) s faixas entre asquartas e oitavas semanas que antecederam as colheitasde cada lote (estimativa do perodo mdio referente aos35 dias de desenvolvimento dos pednculos de caju,desde a polinizao at o final do metabolismo rpido docido anacrdico).

    A anlise estatstica dos resultados foirealizada utilizando-se o programa SAS (verso 8e, Cary,NC). Os resultados dos teores de cido anacrdicoobtidos em cada ano (2000 e 2001) foram submetidosseparadamente Anlise de Varincia (ANOVA) e Teste

    de Tukey em nvel de 5% de probabilidade de erro paracomparao entre as mdias. Como as variaes dasrepeties foram de origem analtica e inferiores a 5%,foi calculada uma mdia das trs repeties que servirampara as anlises estatsticas de cada lote (uma mdiapor lote). As comparaes foram feitas entre as mdiasdos diferentes clones analisados e do controle, CCP076, que apresenta excelente produtividade, o clonemais difundido e, por isso, foi facilmente obtido nasduas safras e nas diferentes origens. Para avaliar o efeitodo ano, foram consideradas as mdias das repetiesdos clones CCP 076, CCP 1001 e CCP 09. Os resultadosda anlise sensorial foram submetidos Anlise deVarincia (ANOVA) e Teste de Tukey em nvel de 5% designificncia para comparao de mdias. As anlisesdas possveis correlaes entre os teores de cidoanacrdico e os parmetros meteorolgicos obtidosforam feitas empregando-se a anlise de Correlao dePearson, de acordo com BOX et al. (1978).

    RESULTADOS E DISCUSSES

    Os pednculos de cajueiro ano precoceclone BRS 189 apresentaram os maiores valores mdiosde cido anacrdico (Figura 1). A proporo de cidoanacrdico em pednculo de caju aumenta rapidamentedurante o desenvolvimento, atingindo cerca de 1,5%

    Figura 1 - Teores de cido anacrdico em pednculos de A. microcarpum (microc.) e em pednculos de oito clones de cajueiro A.occidentale ano precoce procedentes de Pacajus, Paraipaba e Aracati, CE, safras 2001 e 2000; clone CCP 076 = controle;cada barra corresponde mdia de trs a cinco lotes analisados em trs repeties.

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    do peso do pednculo na terceira semana aps apolinizao e, praticamente, desaparece durante asduas semanas subseqentes (SHOBHA et al., 1994).Segundo estes autores, o acmulo rpido de acar egua no pednculo acompanha a interrupo da sntesede cido anacrdico. Os baixos teores deste compostono foram quantificados por SHOBHA et al. (1994) empednculos maduros.

    Em 2001, a mdia de cido anacrdicoencontrada nos pednculos BRS 189 de Paraipaba(51,0 mg/100g) diferiu significativamente da mdiaencontrada para o clone controle CCP 076 do mesmolocal (33,0 mg/100g). Os pednculos do clone BRS189, lanado recentemente para o plantio comercial naregio Nordeste do Brasil, apresentaram boa impressoglobal nos provadores para o consumo in natura, nodiferindo do clone CCP 076 (Tabela 1). A qualidadesensorial do pednculo de caju para consumo innatura est relacionada, principalmente, doura(PAIVA et al., 1998). Os principais componentes dadoura, slidos solveis totais (SST) e acidez, dopednculo BRS 189 (Tabela 2), tambm, no diferiramem relao ao controle, o que justifica a boa aceitaocomercial destes pednculos.

    Os teores de cido anacrdico (Figura 1)dos pednculos da espcie A. microcarpum (Pacajus,2001) e dos clones de cajueiro ano precoce, END 189(Aracati, 2000); END 183 (Aracati, 2000); Embrapa 50(Paraipaba, 2001); Embrapa 51 (Pacajus e Paraipaba,2001 e Aracati, 2000) e CCP 09 (Pacajus e Paraipaba,2001 e Paraipaba 2000) no diferiramsignificativamente, em nvel de 5% de probabilidadede erro, daqueles provenientes do clone controle, CCP076 cultivado no mesmo local e na mesma safra dosdemais clones. Segundo SILVA JUNIOR & PAIVA(1994), os pednculos do clone CCP 076 apresentaramexcelente grau de doura quando comparados ao cloneCCP 09. No presente trabalho, os pednculos do cloneCCP 09 apresentaram baixo teor de SST e/ou acaresredutores (Tabela 2). Em trabalho paralelo, realizadocom os mesmos pednculos, observou-se elevado teor

    de taninos adstringentes. Estes dois parmetrosjustificam a baixa aceitao do pednculo deste clonepara o consumo in natura. Na anlise sensorial, ospednculos desse clone obtiveram a mdia mais baixaque diferiu do controle CCP 076 (Tabela 1).

    Os pednculos da espcie A. microcarpumso popularmente referidos como de excelente sabor elivre de adstringncia (popularmente chamada detravo ou rano), entretanto, os teores de cidosanacrdicos destes pednculos no diferiram docontrole. O elevado teor de acar e SST destespednculos (Tabela 2), com repercusso na doura,aparentemente, responsvel pela boa aceitaosensorial popularmente observada. Entretanto, otamanho reduzido destes pednculos ainda umobstculo para o mercado, cujos consumidorespreferem pednculos com peso variando entre 100 e140g (PAIVA et al., 1998). Esse fato foi confirmado,neste trabalho, pela baixa impresso global observadapara os pednculos deste clone, que diferiu daimpresso global do controle, CCP 076 (Tabela 1).Apesar do alto grau de doura e baixa adstringnciadesse material (GARRUTI et al., 2002), aspectosrelacionados a sua aparncia prejudicaram a avaliaoglobal que o provador fez da amostra.

    Os pednculos do clone CCP 1001apresentaram os menores teores de cido anacrdico(Figura 1), que diferiram significativamente dos valoresencontrados para o clone controle CCP 076 de ambosos locais em 2001. Estes pednculos possuem baixoteor de acar (Tabela 2) e apresentaram impressoglobal inferior ao clone controle (Tabela 1).

    Nenhuma referncia sobre o teor de cidoanacrdico determinado em pednculos maduros foiencontrada, sendo que o suco de caju comercialapresentou 0,98-1,5mg 100mL-1 (LIMA, 1999) e o sucoliofilizado apresentou 50mg 100g-1 (KUBO et al., 1986).Considerando-se a caracterstica lipossolvel do cidoanacrdico, acredita-se que, durante a extrao dosuco, grande parte do cido anacrdico permaneaadsorvida no bagao do pednculo.

    O local de avaliao dos clones, onde foramcolhidos os pednculos para anlise, no influenciounos teores de cido anacrdico. Entretanto, o ano decolheita apresentou efeito significativo nos teores depednculos dos clones CCP 09 e CCP 076, quandoconsiderados os clones CCP 09, CCP 1001 e CCP 076procedentes de Paraipaba e de Pacajus analisados nosanos 2000 e 2001. A elevada precipitao pluvialobservada no ano 2000 foi o principal agente climticodiferenciador observado, quando foram verificados osmenores teores de cido anacrdico em pednculo decaju. No perodo compreendido entre julho e novembro

    Tabela 1 - Anlise sensorial de pednculos de clones de cajueiro A.occidentale var. nanum e cajueiro A. microcarpum.

    Clone Impresso global1

    CCP 076 (controle) 5,95 aBRS 189 5,49 abCCP 1001 5,38 bcMicrocarpum 5,32 bcCCP 09 4,92 c

    1Valores com letras diferentes apresentam diferena significativaem nvel de 5%.

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    de 2000, a precipitao atingiu 203 mm em Pacajus e166mm em Paraipaba. No mesmo perodo do ano 2001,a precipitao atingiu apenas 31,4mm em Pacajus e29,4mm em Paraipaba.

    A umidade relativa apresentou correlaonegativa com os teores de cido anacrdico dospednculos de todos os clones considerados: CP 09,CP 076 e CP 1001 (Tabela 3). Este efeito foi significativoquando avaliados os dois perodos: perodo associadoao metabolismo rpido do cido anacrdico (15 dias) eperodo mdio estimado de desenvolvimento dopednculo desde a polinizao at o final dometabolismo do cido anacrdico (35 dias).

    A precipitao pluvial (Tabela 3) apresentoucorrelao negativa com os teores de cido anacrdicodos pednculos CP 1001 e CP 09. Para os pednculosdo clone CP 1001, a precipitao apresentou efeitonos dois perodos avaliados. Para o CP 09, o efeito foiobservado apenas quando considerado o perodoestimado desde a polinizao at o final dometabolismo do cido anacrdico. Os teores de cidoanacrdico dos pednculos CP 076 no apresentaramcorrelao significativa com a precipitaopluviomtrica.

    A temperatura ambiente foi correlacionadaapenas com os teores de cido anacrdico dos pednculos

    Tabela 2 - Anlises fsico-qumicas de pednculos de clones de cajueiro A. occidentale var. nanum e cajueiro A. microcarpum procedentesde Pacajus e Paraipaba, CE.

    Pacajus* Paraipaba*Determinao

    CCP 076 CCP 09 BRS 189 A. microcarpum CCP 076 CCP 09 BRS 189 CCP 1001

    pH 4,46ab 4,36ab 4,36ab 4,66a 4,37ab 4,41ab 4,27b 4,27bSST1 12,2ab 11,3ab 12,0ab 13,5a 10,8b 10,9b 11,7ab 10,7bATT2 0,29ab 0,25b 0,32ab 0,30ab 0,27ab 0,24b 0,34ab 0,37aAucares e redutores3 10,49ab 10,53ab 9,33ab 11,55a 10,38ab 9,13ab 10,42ab 8,55b

    1Slidos solveis totais (oBrix); 2 acidez total titulvel (g de cido ctrico / 100g); 3 (%); *valores na mesma linha com letras diferentesapresentam diferena significativa em nvel de 5%..

    Tabela 3. - Matriz de correlao de Pearson entre teores de cido anacrdico em pednculos de clones de cajueiro ano precoce e parmetrosmeteorolgicos correspondentes

    Clone Parmetro Acido anacrdico Precipitao1 Temperatura1 Umidade relativa1 Precipitao2 Umidaderelativa2

    Ac. anacrdico 1,00000 -0,27393 0,70557* -0,73154* -0,72095* -0,65217*Precipitao1 1,00000 -0,62994* 0,67079* 0,62787* 0,46330

    CCP 09 Temperatura1 1,00000 -0,84209* -0,78385* -0,57960*U. relativa1 1,00000 0,85909* 0,68139*

    Precipitao2 1,00000 0,69331*U. relativa2 1,00000

    Ac. anacrdico 1,00000 -0,25026 0,00024 -0,52981* -0,39328 -0,52736*Precipitao1 1,00000 -0,12645 0,76285* 0,76703* 0,55821*

    CCP 076 Temperatura1 1,00000 -0,42501 -0,49087 -0,68311*U. relativa1 1,00000 0,85587* 0,86265*

    Precipitao2 1,00000 0,82995*U. relativa2 1,00000

    Ac. anacrdico 1,00000 -0,58103* -0,19501 -0,63398* -0,57747 * -0,76803*Precipitao1 1,00000 -0,34695 0,38559 0,58476* 0,81585*

    CCP 1001 Temperatura1 1,00000 -0,05189 -0,18661 -0,24180U. relativa1 1,00000 0,27669 0,73550*

    Precipitao2 1,00000 0,47456U. relativa2 1,00000

    1Perodo de 35 dias entre as quartas e quintas semanas que antecederam as colheitas de cada lote; 2 Referente s primeiras 5 semanas dedesenvolvimento dos pednculos; *significativo a 5%; N=12.

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    do clone CCP 09. Entretanto, provavelmente, este efeitoapresentou influncia da alta correlao observada entretemperatura/precipitao e umidade relativa. A umidaderelativa foi o parmetro meteorolgico de efeito geral maispronunciado nos teores de cido anacrdico dos trsclones considerados. Alm da precipitao, outros fatorescomo relevo, tipo de solo, vegetao e temperatura ambientetambm interferem na umidade relativa. Curiosamente, naregio do Planalto Central do Brasil, onde a umidade relativa muito baixa, podendo atingir a marca de 10% entre osmeses de julho e setembro, ocorre um atraso na produodos pednculos de caju, em relao safra do nordeste.Os pequenos pednculos produzidos nesta regio soreferidos como pouco apropriados para o consumo innatura, devido ao elevado rano.

    As propriedades biolgicas do cido anacrdicofazem do pseudofruto do caju uma fonte promissora decompostos bioativos, cujo aproveitamento poder vir a serestimulado. Estudos futuros sobre a ingesto diettica docido anacrdico, nas concentraes encontradas nospednculos de caju analisados, podem abrir caminho para aconfirmao da atuao deste composto na preveno dedoenas crnico-degenerativas. Estas propriedades poderoinserir perspectivas para explorao do pednculo de cajucomo alimento funcional, evitando-se as perdas ocorridas,reforando-se o valor nutricional na alimentao da populaoem geral e favorecendo o desenvolvimento econmico e social,principalmente, na regio Nordeste do Brasil.

    CONCLUSES

    Os pednculos de cajueiros anes precocesclone BRS 189 apresentaram os maiores teores de cidoanacrdico. Pednculos do clone CCP 1001apresentaram os menores teores deste cido fenlico.As anlises fsico-qumicas e sensoriais confirmaramevidncias de que os clones CCP 09 e CCP 1001 noso apropriados para o consumo in natura.

    AGRADECIMENTOS

    Ao Banco do Nordeste do Brasil pelo suportefinanceiro e ao CENAUREM pelas anlises de ressonnciamagntica nuclear. Ao Dr. Guy Capdeville pelas sugestesoferecidas.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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