teol.prosperidade

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SEP – SEMINÁRIO EVANGÉLICO DE PATOS CURSO BACHAREL EM TEOLOGIA A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE DISCIPLINA – TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA Sem. Edson Poujeaux Gonçalves Professor: Pr. Nelson dos Santos 1

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Page 1: Teol.prosperidade

SEP – SEMINÁRIO EVANGÉLICO DE PATOS

CURSO BACHAREL EM TEOLOGIA

A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

DISCIPLINA – TEOLOGIA CONTEMPORÂNEASem. Edson Poujeaux GonçalvesProfessor: Pr. Nelson dos Santos

PATOS – PB OUTUBRO DE 2007

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Page 2: Teol.prosperidade

A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

SUMÁRIO

1 O FENÔMENO NEO-PENTECOSTAL 22 TEOLOGIA DA PROSPERIDADE - HERESIA OU SEITA? 32.1 OS PRECURSORES DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE 32.2 OS ATUAIS PREGADORES DESTA TEOLOGIA NO BRASIL 43 O QUE É A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE 63.1 Autoridade Espiritual 63.2 Bênçãos e Maldições da lei 63.3 Confissão Positiva 64 A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE NO BRASIL 74.1 Características da versão brasileira adaptada 84.1.1 O Papel do “Diabo 84.1.2 Doutrina da Reciprocidade 94.1.3 Sacrifícios 104.1.4 Auto-ajuda 115 OS ENSINOS DA TEOL.PROSPERIDADE À LUZ DA BÍBLIA 135.1. AUTORIDADE ESPIRITUAL 135.1.1 Os profetas, hoje 135.1.2 Autoridade das revelações 145.1.3. Homens são deuses 145.2 Saúde e Prosperidade 155.2.1 Bênção e Maldição da Lei 155.2.2 O cristão não deve adoecer 155.2.3 O cristão não deve ser pobre 165.3. Confissão Positiva 176 A VERDADEIRA PROSPERIDADE 186.1 A PROSPERIDADE ESPIRITUAL 186.2 PROSPERIDADE EM TUDO 186.2.1 BÊNÇÃOS E OBEDIÊNCIA. Dt 28.1-14 186.2.2 PROSPERIDADE EM TUDO (Sl 1.1-3; Dt 29.29) 186.2.3 CRENDO NOS SEUS PROFETAS (2 Cr 20.20) 196.2.4 PROSPERIDADE E SAÚDE (3 Jo 2) 196.2.5. BÊNÇÃOS DECORRENTES DA FIDELIDADE NO DÍZIMO 196.2.6. O JUSTO NÃO DEVE SER MISERÁVEL. (Sl 37.25) 197 CONCLUSÃO 19 Referências Bibliográficas 23

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A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

1 O FENÔMENO NEO-PENTECOSTAL

No Brasil, onde confessionários, hóstia sagrada, vestes imponentes, anjos,

santos e altares, rituais e símbolos da Igreja Católica sempre se confundiram com a

história da religiosidade, a alternância de credo chega a transformar a sociedade. No

início do século XX, quase 100% dos brasileiros se diziam seguidores do Vaticano.

Cem anos depois, o catolicismo segue como maioria absoluta, mas o maior país

católico do mundo entrou mesmo na rota da diversidade religiosa do mundo

globalizado.

Quais são a intensidade, os caminhos e os resultados da penetração dos

grupos não- católicos numa população que, no início do século XX, se declarava

99% católica — porcentagem hoje reduzida para 74%?

O tema foi discutido na assembléia geral da Conferência Nacional dos Bispos

do Brasil (CNBB), em Itaici (SP), em maio de 2003,  onde foi lançado o Atlas da

filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil, assinado pelos professores Cesar

Romero Jacob e Dora Rodrigues Hees, da PUC-Rio, e pelos pesquisadores

franceses Philipe Waniez e Violette Brustlein. O trabalho associa pela primeira vez a

cartografia à religião para jogar luz sobre a fé brasileira. Reúne 400 mapas, além de

tabelas, gráficos e análises dos movimentos que levaram a Igreja Católica a perder

em nove anos quase dez pontos porcentuais em seu rebanho: de 83,3% em 1991

para 73,9% em 2000.

O Atlas identifica em que territórios e condições demográficas e sociais vem

ocorrendo a transferência dos fiéis para as correntes evangélicas e para o grupo dos

“sem religião”, que subiu de 4,7% para 7,4% da população. A debandada se

concentra nas periferias dos grandes centros, na zona rural e nas fronteiras

agrícolas, áreas com um fenômeno histórico em comum: a atração de migrantes que

se tornam vítimas do desenraizamento cultural e do abandono do poder público.

E um fenômeno social que tem despertado a atenção de estudiosos na

atualidade é o crescimento acentuado das igrejas neo-pentecostais, que estão

inseridas no grupo das religiões “evangélicas”. De acordo com a publicação do Atlas

da filiação religiosa e indicadores sociais do Brasil (CNBB) os neo-pentecostais

cresceram de 6% para 10,6% da população brasileira nos últimos nove anos.

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As causas desse fenômeno são variadas. Uma delas - como mostra o estudo

- são as condições sócio-econômicas; a maciça utilização da mídia também tem seu

peso de influência e a competente administração empresarial dessas igrejas é algo

relevante. Mas a utilização da “teologia da prosperidade” nesse meio talvez seja a

causa primordial desse sucesso, uma vez que as outras dependem

fundamentalmente dela.

2 TEOLOGIA DA PROSPERIDADE - HERESIA OU SEITA?

Algumas obras norte-americanas, escritas contra a teologia da prosperidade,

tratam-na como se fosse uma heresia ou uma seita.

Ao nosso ver, acreditamos que ela não é uma seita. Uma seita é composta

por um grupo bem definido de pessoas, assim como os Testemunhas de Jeová ou

os Mórmons, que se chamam cristãos, mas negam doutrinas básicas da Bíblia, tais

como a trindade e a divindade de Cristo.

Na teologia da prosperidade, seus adeptos não negam nenhuma doutrina

básica nem buscam outro fundamento que não seja Cristo e os apóstolos. Antes,

trata-se de uma forma de compreender a Bíblia.

A Teologia da Prosperidade é algo novo na história da igreja. Parece que

nada assim já foi visto antes. Mas isso não quer dizer que ele tenha surgido de

modo repentino ou aparecido totalmente formado. Como todo movimento,

desenvolveu-se com o tempo, e isso significa que tem raízes ligadas a pessoas,

épocas e lugares diversos.

2.1 OS PRECURSORES DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

Seus precursores foram:

A) Essek William Kennyon (Nova York, EUA, 1867) - Nasceu em 24.04.1867,

Saratoga, Nova York, EUA, falecendo aos 19.03.48. Nos anos 30 a 40,

desenvolveram-se os ensinos de Essek William Kennyon. Segundo PIERATT, 1993

(p. 27), ele tinha pouco conhecimento teológico formal. "Kennyon nutria uma

simpatia por Mary Baker Eddy" (Gondim,1993, p. 44), fundadora do movimento

herético "Ciência Cristã", que afirma que a matéria, a doença não existem. Tudo

depende da mente.

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Page 5: Teol.prosperidade

Kenyon pastoreou igrejas batistas, metodistas e pentecostais. Depois, ficou

sem ligar-se a qualquer igreja. De acordo com Hanegraaff, 1996, Kenyon sofreu

influência das seitas metafísicas como Ciência da Mente, Ciência Cristã e Novo

Pensamento, que é o pai do chamado "Movimento da Fé". Esses ensinos afirmam

que tudo o que você pensar e disser transformará em realidade. Enfim, tais ensinos

enfatizam o "Poder da Mente".

B) Kenneth Hagin (Texas, EUA, 1918) - Discípulo de Kennyon. Sofreu várias

enfermidades e pobreza na juventude. Aos 16 anos diz ter recebido uma revelação

quando lia Mc. 11.23,24:

23 Porque em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele.24 Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco. (Bíblia Almeida, ed. RA).

Hagin interpreta esta passagem bíblica entendendo que “tudo se pode obter

de Deus, desde que confesse em voz alta, nunca duvidando da obtenção da

resposta, mesmo que as evidências indiquem o contrário”. Isso, então, é a essência

da "Confissão Positiva".

Foi pastor de uma igreja batista (1934-1937); depois se ligou à Assembléia de

Deus (1937-1949), em seguida passou por várias igrejas pentecostais e, finalmente,

fundou seu próprio ministério, aos 30 anos, fundando o Instituto Bíblico Rhema. Foi

criticado por ter escrito livros com total semelhança aos de Kenyon, mas defendeu-

se, dizendo que não era plágio, que os recebera diretamente de Deus.

C) Kenneth Copeland, seguidor de Hagin, diz que "Satanás venceu Jesus na

cruz" (HANEGRAAFF,1996, p. 36).

D) Benny Hinn. Tem feito muito sucesso. Diz que teve a revelação de que “as

mulheres originalmente deveriam dar à luz pelo lado de seus corpos”. (id., p. 36).

2.2 OS ATUAIS PREGADORES DESTA TEOLOGIA NO BRASIL

A) R.R Soares: Da Igreja Internacional da Graça (uma divisão da Igreja Universal do

Reino De Deus) e também da Graça Editorial (a maior publicadora dos livros dos

Movimentos da Fé no Brasil) ela publica os livros de Kenneth Hagin, T.L. Osdorn e

outros. RR Soares é cunhado do Bispo Edir Macedo, e autor de vários livros que

propagam tal teologia.

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Page 6: Teol.prosperidade

B) Bispo Edir Macedo: Da Igreja Universal Do Reino De Deus e da Editora Universal

Produções. Rede Record de Televisão e uma centena de rádios convencionais hoje

esparramadas ao longo do mundo.

C) “Apóstola” Valnice Milhomens: Estudou na Escola de Hagin, do Ministério Palavra

da Fé, e agora é “apóstola”, tendo fundado várias igrejas. Acompanha o “Apóstolo”

René Terranova, do MIR - Ministério Internacional de Restauração.

D) Cássio Colombo: Do Ministério Maná Cristo Salva; Ligado as Igrejas Maná de

Portugal, do Pr. Jorge Tadeu.

E) Jerônimo Onofre da Silveira. Pastor do Templo dos Anjos, presidente da Escola

de Ministério Jeová-Jirê, diretor do Seminário “Ministros Labareados de Fogo”, e

presidente do Centro de Convenções Jeová-Jirê; conferencista internacional e autor

dos livros “Provisões e Riquezas”, “Os Gafanhotos do inferno”, “O dom de adquirir

Riquezas”, “Os Exterminadores de Riquezas”. etc.

F) Cristiano Netto. Conferencista Internacional, fundador do Ministério Cristiano

Netto, autor dos livros “O Melhor Vencedor do Mundo”, “As Sete Chaves da

Riqueza”, “Como Prosperar em Tempos de Crise”.

G) Jorge Linhares: Pastor da Igreja Batista Getsêmica, autor do livro “Benção e

Maldição”.

H) O grupo musical gospel Diante do Trono, da Igreja Batista da Lagoinha de Belo

Horizonte – MG. Este grupo é o que mais vende CDs evangélicos no Brasil e tem

influenciado fortemente a juventude evangélica brasileira, tendo fama de “ungidos”.

A Igreja Batista da Lagoinha tem se tornado referencia a tal ponto de haver

caravanas para ir assistir seus cultos e conhecer a igreja. Só que, tal igreja tem

disseminado um festival de doutrinas antibíblicas. A IBL partilha dos ideais do MIR

(Ministério Internacional de Restauração). Esse ministério tem sido o principal

responsável pela disseminação do G12 em terras brasileiras e é presidido por seu

fundador René Terra Nova, que afirma ser “Apostolo”. A IBL já adotou, não só o

G12, mas também a onda de “restauração do apostolado” ungindo Marcio Valadão,

seu pastor presidente, “Apostolo”, além de ter cedido seu templo para a

consagração de René Terranova “Apóstolo” do Brasil e da América Latina, culto este

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Page 7: Teol.prosperidade

que teve a presença da “Apóstola” Valnice Milhomens, e do “Apóstolo” Mike Shea,

conhecido por ministrar louvor de costas, características esta da igreja ortodoxa

antioquina.

3 O QUE É A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

A teologia da prosperidade une o fútil ao desagradável, ou seja, é uma

mistura de ganância e comodismo. Os adeptos da teologia da prosperidade acham

que nós temos direito de reivindicarmos o que quisermos de Deus, esquecendo da

soberania divina.

As idéias de Hagin que levaram ao estabelecimento da teologia da

prosperidade podem ser divididas em três pontos principais:

3.1 Autoridade Espiritual

Segundo K. Hagin, Deus tem dado autoridade (unção) a profetas nos dias

atuais, como seus porta-vozes.

3.2 Bênçãos e Maldições da lei

K.Hagin diz, com base em Gl. 3.13,14, que fomos libertos da maldição da lei,

que são: 1) Pobreza; 2) doença e 3) morte espiritual. Segundo essa doutrina, o

cristão tem direito a saúde e riqueza; diante disso, doença e pobreza são maldições

da lei. Eles ensinam que "todo cristão deve esperar viver uma vida plena, isenta de

doenças" e viver de 70 a 80 anos, sem dor ou sofrimento. Quem ficar doente é

porque não reivindica seus direitos ou não tem fé. E não há exceções.

Pregam que Is. 53.4,5 é algo absoluto. Fomos sarados e não existe mais

doença para o crente. Os seguidores de Hagin enfatizam muito que o crente deve

ter carro novo, casa nova própria, as melhores roupas, uma vida de luxo. Utilizando

a Bíblia fora de contexto, alegam, dentre outras conclusões, que: O pecado de Adão

fez com que “o homem perdesse a produtividade, José era um empresário

madeireiro, Jesus se rodeou de amigos e damas ricas e que dispunha de tanto

dinheiro que necessitou de um tesoureiro”.

3.3 Confissão Positiva

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Page 8: Teol.prosperidade

É o terceiro ponto da teologia da prosperidade. Ela está incluída na "fórmula

da fé", que Hagin diz ter recebido diretamente de Jesus, que lhe apareceu e mandou

escrever de 1 a 4, a "fórmula". Se alguém deseja receber algo de Jesus, basta

segui-la:

a) "Diga a coisa" positiva ou negativamente, tudo depende do indivíduo. “De acordo

com o que o indivíduo quiser, ele receberá”. Essa é a essência da confissão positiva.

b) "Faça a coisa". "Seus atos derrotam-no ou lhe dão vitória. De acordo com sua

ação, você será impedido ou receberá".

c) "Receba a coisa". Compete a nós a conexão com o dínamo do céu". A fé é o pino

da tomada. Basta conectá-lo.

d) "Conte a coisa" a fim de que outros também possam crer". Para fazer a "confissão

positiva", o cristão dever usar as expressões: exijo, decreto, declaro, determino,

reivindico, em lugar de dizer : peço, rogo, suplico; jamais dizer: "se for da tua

vontade", pois isto destrói a fé.

4 A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE NO BRASIL

Como vimos, a Teologia da Prosperidade teve sua origem na década de 40

nos Estados Unidos, mas a efetiva introdução no meio evangélico se deu na década

de 70. Adicionou um forte cunho de auto-ajuda e valorização do indivíduo,

agregando crenças sobre cura, prosperidade e poder da fé através da confissão da

"Palavra" em voz alta e "No Nome de Jesus" para recebimento das bênçãos

almejadas; por meio da Confissão Positiva, o cristão compreende que tem direito a

tudo de bom e de melhor que a vida pode oferecer: saúde perfeita, riqueza material,

poder para subjugar Satanás, uma vida plena de felicidade e sem problemas. Em

contrapartida, dele é esperado que não duvide minimamente do recebimento da

bênção, pois isto acarretaria em sua perda, bem como o triunfo do Diabo. A relação

entre o fiel e Deus ocorre pela reciprocidade, o cristão semeando através de dízimos

e ofertas e Deus cumprindo suas promessas.

No Brasil a primeira e principal igreja seguidora dessa doutrina é a IURD

(Igreja Universal do Reino de Deus), fundada em 1977 por Edir Macedo que adaptou

as suas práticas para as características brasileiras, além de possuir metodologias e

princípios próprios. Em vez de ouvir num sermão que "é mais fácil um camelo

atravessar um buraco de agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus" (Mateus

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Page 9: Teol.prosperidade

19,24 e Marcos 10,25), agora a novidade reside na possibilidade de desfrutar de

bens e riquezas, sem constrangimento e com a aquiescência de Deus.

Para os pobres e desafortunados de uma em maneira geral, o direito de

possuir as bênçãos como filho de Deus traz alívio e esperança na solução de todos

os seus problemas. Segundo Edir Macedo, Jesus veio pregar aos pobres para que

estes se tornassem ricos. Arrependimento e redenção, tema central no Cristianismo,

e as dificuldades nesta vida para o justo de Deus são temas raramente tratados.

Além da IURD temos as Igrejas Renascer em Cristo, Comunidade Evangélica Sara

Nossa Terra, Nova Vida, Bíblica da Paz, Cristo Salva, Cristo Vive, Verbo da Vida,

Nacional do Senhor Jesus Cristo e pelas organizações Adhonep, Missão Shekinah e

Internacional da Graça de Deus.

4.1 Características da versão brasileira adaptada

4.1.1 O Papel do “Diabo”

Um importante ponto dentro da doutrina da IURD, assim como na maioria das

outras igrejas neo-pentecostais brasileiras é a intervenção do Diabo na vida do

homem. Ele, o Diabo, é o elemento perturbador que está entre a graça de Deus e os

pedidos do crente. As bênçãos estão ao alcance de todos mediante a fé, inclusive

com a alteração radical de realidades miseráveis em vidas prósperas; porém, se

alguém tiver qualquer envolvimento direto ou indireto com o Diabo ou não estiver

disposto a "sacrificar" para a obra de Deus, não será agraciado. Não é

primordialmente o pecado (individual ou social) que impede a posse dos bens, mas

o Diabo, que age segundo seu próprio arbítrio, contra quem o crente deve lutar. Uma

vez que a responsabilidade fica por conta do fiel e do Diabo, cria-se uma linha de

tensão entre a posse da bênção e a atuação diabólica. Este mecanismo permite

explicar porque muitos fiéis não alcançam a graça.

Ao longo do ano de 2001, a IURD passou a utilizar o vocábulo ”encosto” que

na linguagem popular corresponde aproximadamente à “obsessor” na nomenclatura

espírita. O encosto passou a ser a entidade que “pessoalmente” provoca todo e

qualquer tipo de mal ao homem, aparentemente a serviço do Diabo. Provavelmente,

essa mudança estratégica se deva a dois fatores: Primeiro o de sugerir ao crente

que ele pode vencer mais facilmente o inimigo, já que não se trata do próprio Diabo

em pessoa; e segundo pelo aprendizado prático dos pastores que perceberam que

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Page 10: Teol.prosperidade

não estão tratando sempre com a mesma entidade durante as seções onde

supostamente o Diabo se manifestava através de alguns fiéis.

A este propósito devemos lembrar, mais uma vez, que segundo a doutrina da

IURD, o indivíduo não é exatamente a sede do pecado, o que exigiria dele o

arrependimento, mas uma vítima da ação maligna: o ato de pecar não deriva de sua

escolha, mas o Mal é fruto do encosto que atrapalha a sua vida, em especial a

financeira, que consideram um sinal de bênção.

4.1.2 Doutrina da Reciprocidade

Na busca da bênção, o fiel deve determinar, decretar, reivindicar e exigir de

Deus que Ele cumpra sua parte no acordo; ao fiel compete dar dízimos e ofertas. A

Deus cabe abençoar. Ao estabelecer esta relação de reciprocidade com Deus, o que

ocorre é que Ele, Deus, fica na obrigação de cumprir todas as promessas contidas

na Bíblia na vida do fiel. Torna-se cativo de sua própria Palavra.

Macedo ensina como proceder:

Comece hoje, agora mesmo, a cobrar d'Ele tudo aquilo que Ele tem prometido (...) O ditado popular de que 'promessa é divida' se aplica também para Deus. Tudo aquilo que Ele promete na sua palavra é uma dívida que tem para com você (...) Dar dízimos é candidatar-se a receber bênçãos sem medida, de acordo com o que diz a Bíblia (...) Quando pagamos o dízimo a Deus, Ele fica na obrigação (porque prometeu) de cumprir a Sua Palavra, repreendendo os espíritos devoradores (...) Quem é que tem o direito de provar a Deus, de cobrar d'Ele aquilo que prometeu? O dizimista! (...) Conhecemos muitos homens famosos que provaram a Deus no respeito ao dízimo e se transformaram em grandes milionários, como o Sr. Colgate, o Sr. Ford e o Sr. Caterpilar. (MACEDO, Vida com Abundância, p. 36)

E prossegue: Ele (Jesus) desfez as barreiras que havia entre você e Deus e agora diz “volte para casa, para o jardim da Abundância para o qual você foi criado e viva a Vida Abundante que Deus amorosamente deseja para você” (...). Deus deseja ser nosso sócio (...). As bases da nossa sociedade com Deus são as seguintes: o que nos pertence (nossa vida, nossa força, nosso dinheiro) passa a pertencer a Deus; e o que é d'Ele (as bênçãos, a paz, a felicidade, a alegria, e tudo de bom) passa a nos pertencer. (MACEDO, Vida com Abundância, pp. 25,85-86)

O Neo-pentecostalismo se caracteriza exatamente por este tipo de

relacionamento do fiel com Deus, inspirada na Teologia da Prosperidade: o cristão

tem direito a tudo de bom e de melhor neste mundo. Nas palavras de Macedo: A

Bíblia tem mais de 640 vezes escrita a palavra oferta. Oferta é uma expressão de fé.

Se Deus não honrar o que falou há três ou quatro mil anos, eu é que vou ficar mal .

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Page 11: Teol.prosperidade

(MACEDO, O Globo, 29/4/1990). Cabe ao fiel demonstrar revolta diante de Deus e

"de dedo em riste" exigir que as promessas bíblicas se cumpram.

4.1.3 Sacrifícios

Torna-se impossível não evidenciar que essa relação agrega um forte

simbolismo ao dinheiro: o fiel propõe trocas com Deus para conseguir a bênção

desejada. Neste discurso, a soberania de Deus é compartilhada pelo fiel na relação

de troca. É incentivado que o fiel se acomode ao mundo das novas tecnologias,

acumule riquezas, more melhor, possua carro e não tenha sentimento de culpa por

não negar o mundo; pelo contrário, a conduta ascética tem diminuído entre os

pentecostais desde a década de 70.

Na relação de troca o fiel dá o dízimo, ofertas, participa das campanhas:

É necessário dar o que não se pode dar. O dinheiro que se guarda na

poupança para um sonho futuro, esse dinheiro é que tem importância, porque o que

é dado por não fazer falta não tem valor para o fiel e muito menos para Deus.

(MACEDO, Isto É Senhor, 22/11/1989).

E tem a garantia dos pastores iurdianos de que Deus cumprirá sua parte: Ele

ficará na obrigação de cumprir Sua Palavra. (MACEDO, Mensagens, p. 23). E ainda,

O ditado popular de que 'promessa é dívida' se aplica também a Deus. (CRIVELLA,

501 Pensamentos do Bispo Macedo, p. 103). A ênfase na necessidade de dízimos e

ofertas é explicada pelos líderes da IURD: caso o fiel não alcance o sucesso

almejado, a responsabilidade e a falha são suas.

As doações em dinheiro ou bens são presentes colocados no altar de Deus,

logo, para uma grande bênção, um valioso presente! A fé é um instrumento de troca;

uma mercadoria, e nesta relação "toma lá, dá cá", a imagem de Deus torna-se mais

próxima e trivializada, em oposição à doutrina difundida pelo protestantismo histórico

e pelo catolicismo tradicional, a partir da qual reverência e submissão são

enfatizadas.

Dependendo do grau de interesse do ofertante, o presente, por mais caro que

seja, ainda assim se torna barato diante daquilo que está proporcionando ao

presenteado. Quando há um profundo laço de afeto, ternura e amor entre o que

presenteia e o que recebe, o presente nunca deve ser inferior ao melhor que a

pessoa tem condições de dar. (MACEDO, O Perfeito Sacrifício: o significado

espiritual do dízimo e ofertas, p. 12)

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Page 12: Teol.prosperidade

O fiel deve sacrificar o "seu tudo". A IURD tem uma campanha em que

estimula o fiel a doar o máximo que puder na espera da bênção. Muitas pessoas dão

tudo o que têm naquele momento de sua vida: uma caderneta de poupança, o

dinheiro para comprar comida, o dinheiro para o ônibus, e assim por diante.

Aqueles que vêem as doações das ofertas com maus olhos, ou seja, do ponto

de vista meramente mercadológico, principalmente do lado da Igreja, também têm

dificuldades para compreender a razão da vinda do Filho de Deus ao mundo. (...)

haja vista que a oferta está intimamente relacionada com a salvação eterna em

Cristo Jesus. (MACEDO, O Perfeito Sacrifício: o significado espiritual do dízimo e

ofertas, p. 14)

O adepto é conclamado a concorrer por melhores condições num mundo de

extrema desigualdade social. E ainda tem de assumir uma responsabilidade a mais:

a de ter sucesso, senão sua vida pode estar comprometida com as forças malignas

ou com sua própria incapacidade de gerenciar suas possibilidades. Há muitas

oportunidades para aqueles que vivem nos bolsões de pobreza? É onde se

encontram muitas igrejas da Universal. Mas, mesmo assim, é preciso "sacrificar"

diante de Deus e, de preferência, em dinheiro: Aqueles que examinam o custo do

sacrifício jamais sacrificarão uma grande oferta, e aqueles que não sacrificam para a

obra de Deus jamais conquistarão qualquer vitória. (CRIVELLA, 501 Pensamentos

do Bispo Macedo, p. 21).

Colocado nestes termos, é o fiel quem decide: Tudo depende de você. Se

perseverar, automaticamente conquistará as bênçãos de Deus. E assim, entrará na

terra prometida. (MACEDO, Mensagens, p. 21).

E a igreja administra a sua doação: A árvore proibida, no paraíso,

representava o dízimo, isto é, a parte de Deus na qual o homem não podia sequer

tocar, embora pudesse regá-la e fazê-la crescer. (CRIVELLA, 501 Pensamentos do

Bispo Macedo, pp. 99-100). Já ao fiel cabe expulsar Satanás, participar das

correntes de prosperidade, ler sobre como muitos irmãos conseguiram resultados

exigindo de Deus o que têm direito. De resto, aquele que não alcançar uma bênção,

não dará testemunho nem será citado nos livros.

4.1.4 Auto-ajuda

“É certo que muitas pessoas neste mundo são ricas, mesmo sem possuírem Deus no coração. Vencem, entretanto, porque confiam na

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Page 13: Teol.prosperidade

força do seu trabalho, e por isso, são possuidoras de uma riqueza honesta e digna. (...) Reafirmo que nossa vida depende de nós mesmos”. (MACEDO, Mensagens, pp. 27, 22).

Algumas das características do discurso “iurdiano” denotam a recomendação

de autoconfiança; o fiel deve crer nele mesmo, em sua capacidade individual. A

estratégia oferecida pela IURD, baseada na Teologia da Prosperidade, estimula o

membro da igreja a ser participativo nos cultos em relação a ofertas e dízimos e

reivindicar perante Deus aquilo que lhe pertence por direito. Se todo o discurso

sobre espiritualidade vem atrelado à intervenção do Diabo, quando se trata de

dinheiro, o fiel tem de ir à luta e buscar a Deus com revolta, que neste caso, assume

um sentido de inconformidade com a própria situação: doença, pouco dinheiro, ser

empregado assalariado, etc., e é Deus quem tem que assumir Sua posição diante

do fiel: a IURD assim o exige. Porque Deus é obrigado, como em um contrato, a

fazer sua parte!

Depende apenas de você o que será feito de sua vida, pois quem decide nosso destino somos nós mesmos. Não são as outras pessoas; não é Deus, nem o Diabo. (...) Não adianta ficar só jejuando ou orando. É preciso buscar o que você quer; fazer a sua parte, e então falar ousadamente com Deus, revoltado com a situação. Você deve dar o primeiro passo, pois Deus não o fará por você. (MACEDO, Mensagens, p. 28)

5 OS ENSINOS DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE À LUZ DA BÍBLIA

5.1. AUTORIDADE ESPIRITUAL.

5.1.1 Os profetas, hoje

Segundo K. Hagin, Deus tem dado autoridade (unção) a profetas nos dias

atuais, como seus porta-vozes. Ele diz que "recebe revelações diretamente do

Senhor"; "...Dou graças a Deus pela unção de profeta...Reconheço que se trata de

uma unção diferente...é a mesma unção, multiplicada cerca de cem vezes" (Hagin,

Compreendendo a Unção, p. 7).

O QUE DIZ A BÍBLIA:

O ministério profético, nos termos do AT, duraram até João (Mt 11.13). Os

profetas de hoje são os ministros da Palavra (Ef 4.11). O dom de profecia (1Co.

12.10) não confere autoridade profética.

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Page 14: Teol.prosperidade

5.1.2 Autoridade das revelações

Essa autoridade deriva das "visões, profecias, entrevistas com Jesus, curas,

palavras de conhecimento, nuvens de glória, rostos que brilham, ser abatido (cair)

no Espírito", rejeição às doenças, ordenando-lhes que saiam, etc. Ele diz que quem

rejeitar seus ensinos "serão atingidos de morte, como Ananias e Safira" (Pieratt, p.

48).

O QUE DIZ A BÍBLIA.

A Palavra de Deus garante autoridade aos servos do Senhor (cf. Lc 24.49; At.

1.8; Mc 16.17,18). Mas essa autoridade ou poder deriva da fé no Nome de Jesus e

da Sua Palavra, e não das experiências pessoais, de visões e revelações atuais.

Não pode existir qualquer "nova revelação" da vontade de Deus. Tudo está na Bíblia

(Ver At. 20.20; Ap. 22.18,19).

Se um homem diz que lhe foi revelado que a mulher deveria ter filhos pelos

lados do corpo, isso não tem base bíblica, carecendo tal pessoa de autoridade

espiritual. Deveria seguir o exemplo de Paulo, que recebeu revelação extraordinária,

mas não a escreveu (cf. 2 Co 12.1-6).

5.1.3. Homens são deuses

Diz Hagin: "Você é tanto uma encarnação de Deus quanto Jesus Cristo o

foi..." (Hagin, Word of Faith, 1980, p. 14). "Você não tem um deus dentro de você.

Você é um Deus" (Kenneth Copeland, fita cassete The Force of Love, BBC-56). "Eis

quem somos: somos Cristo!" (Hagin, Zoe: A Própria Vida de Deus, p.57). Baseia-se,

erroneamente, no Sl 82.6, citado por Jesus em Jo. 10.31-39. "Eu sou um pequeno

Messias" (Hagin, citado por Hanegraaff, p. 119).

O QUE A BÍBLIA DIZ

Satanás, no Éden, incluiu no seu engodo, que o homem seria "como Deus,

sabendo o bem e o mal" (Gn 3.5). Isso é doutrina de demônio. Em Jo. 10.34, Jesus

citou o Sl. 82.6, mostrando a fragilidade do homem e não sua deificação: "...Todavia,

como homem morrereis e caireis, como qualquer dos príncipes" (v. 7). "Deus não é

homem" (Nm 23.19; 1 Sm 15.29; Os 11.9 Ex 9.14). Fomos feitos semelhantes a

Deus, mas não somos iguais a Ele, que é Onipotente (Jó 42.2;...); o homem é frágil

14

Page 15: Teol.prosperidade

(1 Co 1.25); Deus é Onisciente (Is 40.13, 14; Sl 147.5); o homem é limitado no

conhecimento (Is 55.8,9). Deus é Onipresente (Jr. 23.23,24). O homem só pode

estar num lugar (Sl 139.1-12). Diante desse ensino, pode-se entender porque os

adeptos da doutrina da prosperidade pregam que podem obter o que quiserem,

nunca sendo pobres, nunca adoecendo. É que se consideram deuses!

5.2 Saúde e Prosperidade

Esse tema insere-se no âmbito das "promessas da doutrina da prosperidade".

Segundo essa doutrina, o cristão tem direito a saúde e riqueza; diante disso, doença

e pobreza são maldições da lei.

5.2.1 Bênção e Maldição da Lei

Com base em Gl 3.13,14, K.Hagin diz que fomos libertos da maldição da lei,

que são: 1) Pobreza; 2) doença e 3) morte espiritual. Ele toma emprestadas as

maldições de Dt 28. contra os israelitas que pecassem. Hagin diz que os cristãos

sofrem doenças por causa da lei de Moisés.

O QUE DIZ A BÍBLIA

Paulo refere-se, no texto de Gl. 3 à maldição da lei a todos os homens, que

permanecem nos seus pecados. A igreja não se encontra debaixo da maldição da lei

de Moisés. (cf. Rm 3.19; Ef 2.14). Hagin diz que ficamos debaixo da bênção de

Abraão (Gl 3.7-9), que inclui não ter doenças e ser rico. Ora, Abraão foi abençoado

por causa da fé e não das riquezas. Aliás, estas lhe causaram grandes problemas.

Muitos cristãos fiéis ficaram doentes e foram martirizados, vivendo na pobreza, mas

herdeiros das riquezas celestiais (1 Pe. 3.7).

Os teólogos da prosperidade dizem que Cristo, na Cruz, "removeu não

somente a culpa do pecado, mas os efeitos do pecado" (Pieratt, p. 132). Mas isso

não é verdade, pois Paulo diz que "toda a criação geme", inclusive os crentes,

aguardando a completa redenção.

5.2.2 O cristão não deve adoecer

Eles ensinam que "todo cristão deve esperar viver uma vida plena, isenta de

doenças" e viver de 70 a 80 anos, sem dor ou sofrimento. Quem ficar doente é

15

Page 16: Teol.prosperidade

porque não reivindica seus direitos ou não tem fé. E não há exceções (Pieratt, p.

135). Pregam que Is. 53.4,5 é algo absoluto. Fomos sarados e não existe mais

doença para o crente.

O QUE DIZ A BÍBLIA

"No mundo, tereis aflições" (Jo. 16.33). O apóstolo Paulo viveu doente (Ver 1

Co. 4.11; Gl. 4.13), passou fome, sede, nudez, agressões, etc. Seus companheiros

adoeceram (Fp 2.30). Timóteo tinha uma doença crônica (1Tm. 5.23). Trófimo ficou

doente (2 Tm 4.20). Essas pessoas não tinham fé? Jesus curou enfermos, e citou Is

53.4,5 (cf. Mt 8.16,17).

No tanque de Betesda, havia muitos doentes, mas Jesus só curou um (cf. Jo.

5.3,8,9). Deus cura, sim. Mas não cura todos as pessoas. Se assim fosse, não

haveria nenhum crente doente. Deve-se considerar os desígnios e a soberania

divina. Conhecemos homens e mulheres de Deus, gigantes na fé, que têm adoecido

e passado para o Senhor.

5.2.3 O cristão não deve ser pobre

Os seguidores de Hagin enfatizam muito que o crente deve ter carro novo,

casa nova (jamais morar em casa alugada!), as melhores roupas, uma vida de luxo.

Dizem que Jesus andou no "cadillac" da época, o jumentinho. Isso é ingênuo, pois o

"cadillac" da época de Cristo seria a carruagem de luxo, e não o simples jumentinho.

Na teologia da prosperidade, o céu é aqui e agora! Claro, com sucesso

financeiro, prosperidade material, caro importado, roupas de grife, casa em certos

lugares... Verdadeiro sinal de que alguém "repousa na benção de Deus".

Nesta ótica "God is fashion", a concepção de sacrifício é deturpada.

Ricardo Mariano, sociólogo que estuda há oito anos o fenômeno pentecostal

brasileiro, crê que essa remuneração é aceita com naturalidade pelos membros da

igreja pois eles vêm projetado na liderança seu próprio anseio, como fruto da

teologia da prosperidade. O sociólogo acredita que a imagem propagada pela

sociedade de que o pastor é sempre um homem rico foi criada a partir de alguns

exemplos na história recente da igreja no Brasil e nos EUA. "Líderes pentecostais de

igrejas bem-sucedidas tendem a ter um excelente padrão de vida, pois a

administração da obra está integralmente em suas mãos. É fácil observar quem tem

16

Page 17: Teol.prosperidade

este poder totalitário, pois a coisa é tratada como negócio de família, e passa de pai

para filho", explica o estudioso.

(http://www.icmbrasil.org/index.htm?teoprosp.htm~principal - acessado em 10.10.07 - 17h13m)

Morando em luxuosas mansões nos melhores bairros da cidade, ou mesmo

em prósperos balneários no exterior, incorporando personagens criados por seus

assessores de marketing e até ostentando jóias caras, eles mais se parecem com os

emergentes jogadores de futebol ou artistas de Hollywood. E, na maioria dos casos,

é assim que são tratados pelos fiéis, que os vêem como figuras míticas e

exemplares, enquanto o Filho do Homem, não tinha onde reclinar a cabeça (cf. Mt

8,20 e Lc 9,58). (http://www.icmbrasil.org/index.htm?teoprosp.htm~principal - acessado em 10.10.07 - 17h13m)

O QUE DIZ A BÍBLIA

A Palavra de Deus não incentiva a riqueza (também não a proíbe, desde que

adquirida com honestidade, nem santifica a pobreza); Paulo diz que aprendeu a

contentar-se com o que tinha (cf. Fp 4.11,12; 1 Tm 6.8);

Jesus enfatizou que só uma coisa era necessária: ouvir sua palavra (Lc

10.42); Ele disse que é difícil um rico entrar no céu (Mt 19.23); disse, também, que a

vida não se constitui de riquezas (Lc 12.15). Os apóstolos não foram ricaços, mas

homens simples, sem a posse de riquezas materiais. S. Paulo advertiu para o perigo

das riquezas (1 Tm 6.7-10).

5.3. Confissão Positiva

É o terceiro ponto da teologia da prosperidade. Ela está incluída na "fórmula

da fé", que Hagin diz ter recebido diretamente de Jesus, que lhe apareceu e mandou

escrever de 1 a 4, a "fórmula". Como já mencionamos acima, se alguém deseja

receber algo de Jesus, basta segui-la:

a) "Diga a coisa" positiva ou negativamente, tudo depende do indivíduo. “De acordo

com o que o indivíduo quiser, ele receberá”. Essa é a essência da confissão positiva.

b) “Faça a coisa". "Seus atos derrotam-no ou lhe dão vitória. De acordo com sua

ação, você será impedido ou receberá".

c) "Receba a coisa". Compete a nós a conexão com o dínamo do céu". A fé é o pino

da tomada. Basta conectá-lo.

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Page 18: Teol.prosperidade

d) "Conte a coisa" a fim de que outros também possam crer". Para fazer a "confissão

positiva", o cristão dever usar as expressões: exijo, decreto, declaro, determino,

reivindico, em lugar de dizer: peço, rogo, suplico; jamais dizer: "se for da tua

vontade", segundo Benny Hinn, pois isto destrói a fé.

Mas Jesus orou ao Pai, dizendo: "Se é da tua vontade... faça-se a tua

vontade..." (Mt 26.39,42). ““Confissão positiva” se refere literalmente a trazer à

existência o que declaramos com nossa boca, uma vez que a fé é uma confissão”

(Romeiro,1993, p. 6).

6 A VERDADEIRA PROSPERIDADE

A Palavra de Deus tem promessas de prosperidade para seus filhos. Ao

refutar a "Teologia da Prosperidade", não devemos aceitar nem pregar a "Teologia

da Miserabilidade".

6.1 A PROSPERIDADE ESPIRITUAL

Esta deve vir em primeiro lugar. Sl 112.3; Sl 73.23-28. É ser salvo em Cristo

Jesus; batizado com o Espírito Santo; é ter o nome escrito no Livro da Vida; é ser

herdeiro com Cristo (Rm 8.17); Deus escolheu os pobres deste mundo para serem

herdeiros do reino (Tg 2.5); somos co-herdeiros da graça (1 Pe 3.7); devemos ser

ricos de boas obras (1 Tm 6.18,19); tudo isso nos é concedido pela graça de Deus.

6.2 PROSPERIDADE EM TUDO

Deus promete bênçãos materiais a seus servos, condicionando-as à

obediência à sua Palavra e não à "Confissão Positiva".

6.2.1 BÊNÇÃOS E OBEDIÊNCIA. Dt 28.1-14

São bênçãos prometidas a Israel, que podem ser aplicadas aos crentes, hoje.

6.2.2 PROSPERIDADE EM TUDO (Sl 1.1-3; Dt 29.29)

As promessas de Deus para o justo são perfeitamente válidas para hoje. Mas

isso não significa que o crente que não tiver todos os bens, casa própria, carro novo,

etc, não seja fiel.

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Page 19: Teol.prosperidade

6.2.3 CRENDO NOS SEUS PROFETAS (2 Cr 20.20)

Deus promete prosperidade para quem crê na Sua palavra, transmitida pelos

seus profetas, ou seja, homens e mulheres de Deus, que falam verdadeiramente

pela direção do Espírito Santo, em acordo com a Bíblia, e não por entendimento

pessoal.

6.2.4 PROSPERIDADE E SAÚDE (3 Jo 2)

A saúde é uma bênção de Deus para seu povo em todos os tempos. Mas não

se deve exagerar, dizendo que quem ficar doente é porque está em pecado ou

porque não tem fé.

6.2.5. BÊNÇÃOS DECORRENTES DA FIDELIDADE NO DÍZIMO (Ml 3.10,11)

As janelas do céu são abertas para aqueles que entregam seus dízimos

fielmente, pela fé e obediência à Palavra de Deus.

6.2.6. O JUSTO NÃO DEVE SER MISERÁVEL. (Sl 37.25)

O servo de Deus não deve ser miserável, ainda que possa ser pobre, pois a

pobreza nunca foi maldição, de acordo com a Bíblia.

7 CONCLUSÃO

É evidente que esta teologia tem conseguido, até o momento, um grande

sucesso, tendo em vista o objetivo da expansão do número de fiéis e da área de

abrangência das igrejas, inclusive a nível internacional.

Todavia, o que podemos observar, na prática, é que a tal Teologia da

Prosperidade funciona... Essencialmente para os líderes destas Igrejas.

A Bíblia não nos ensina a fazermos uma barganha com Deus. Não somos

ensinados a ter que dar “tanto” para receber “tanto”. Deus não se condiciona aos

nossos caprichos: quando nos abençoa é pela sua misericórdia e tudo que

recebemos é por sua infinita graça.

O poder da fé é um dos mais contundentes ensinamentos de Jesus, basta

lembrar que segundo ele, se tivermos fé do tamanho de um grão de mostarda

poderemos ordenar e a montanha se moverá. É evidente que se trata de uma figura

de linguagem, e é claro que devemos condicionar a realização dos nossos desejos

19

Page 20: Teol.prosperidade

às leis e a “vontade” de Deus. “Pai seja feita a tua vontade” - Disse Jesus. Este

argumento refuta a idéia da confissão positiva, se tomada como algo absoluto.

Os sacrifícios se apóiam principalmente nos textos do antigo testamento. A

prática de sacrifícios remonta o tempo das sociedades agrárias, onde eram

realizados com o objetivo de pacificar os deuses e solicitar boas colheitas. Apoiada

nessa idéia, a “reciprocidade” de Deus não dá para ser levada a sério.

Aliás, os movimentos da fé conhecem pouco acerca da doutrina da graça,

uma doutrina tão defendida pelos reformadores. O Deus Todo Poderoso, que

conhece tudo e que faz infinitamente mais do que pedimos ou pensamos, está

sendo trocado por Aladim, o gênio da lâmpada, que só é buscado quando precisam

de algum favor. Um Deus que tem que cumprir com todos pedidos dos pregadores

da Fé.

Uma leitura mesmo superficial dos evangelhos mostra a total despreocupação

de Jesus pelos bens materiais. Mesmo o seu reino, não era desse mundo. A Quem

quisesse seguí-lo aconselhava a vender seus bens e dá-los aos pobres. Disse que a

riqueza dificultava a entrada no reino de Deus. Aos pobres, famintos e sofredores

recomendou paciência.

“Não ajunteis riquezas na terra, onde a traça e a ferrugem as corroem, e os

ladrões assaltam e roubam. Ajuntai riquezas no céu, onde nem traça nem ferrugem

as corroem, onde os ladrões não arrombam nem roubam. Pois onde estiver vosso

tesouro, aí também estará o coração” (Mt 6,19-21). Quem vive apegado a riqueza

termina por ser seu escravo: “Pois onde estiver vosso tesouro, aí também estará o

coração” (Mt 6,21 e Lc 12,34).

Que tesouro Deus quer para nós ? Estas distrações e falsos deuses da terra,

onde tudo é passageiro e corruptível? “Ninguém pode servir a dois senhores. Pois

ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e abandonará o outro. Não podeis

servir a Deus e às riquezas” (Mt 6, 24).

Amar e servir a Deus no próximo, nos pequenos (cf. Mt 25), procurar o Reino

de Deus... é esta a mensagem do Evangelho. E como tal, tudo tem que ser posto a

seu serviço, incluindo as riquezas.

20

Page 21: Teol.prosperidade

Quando um fiel doa à Igreja, não pode ser como quem resolve uma equação

matemática, esperando que na outra ponta, como resultado final e imediato, Deus

lhe garanta juros e dividendos de retorno.

De fato, nesta vida se cumpre o que Cristo disse: "E quem não toma a sua

cruz e não me segue, não é digno de mim" (Mt 10,38). Não são os bens e os

“tesouros desse mundo” que anima o cristão e a cristã, mas a fé e a esperança nas

promessas de Cristo. A felicidade plena e absoluta foi prometida para a outra vida,

quando da nossa Ressurreição, em que veremos Deus "face a face", e onde

finalmente a alma humana encontrará alegria e gozo total.

Assim, torna-se evidente que essa doutrina apregoada por Jesus é

diametralmente oposta à teologia da prosperidade.

Isso não significa que a riqueza, a saúde e o bem estar devam ser repudiados

pelo cristão, pois que são necessárias, mas não pode fazer disso a razão principal

da sua vida: Buscai, em primeiro lugar, construir o reino de Deus dentro de vós!

O crente em Jesus tem o direito de ser próspero espiritual e materialmente,

segundo a bênção de Deus sobre sua vida, sua família, seu trabalho. Mas isso não

significa que todos tenham de ser ricos materialmente, no luxo e na ostentação. Ser

pobre não é pecado nem ser rico é sinônimo de santidade.

De um lado, não devemos aceitar os exageros da "Teologia da Prosperidade",

mas, por outro, igualmente também não devemos aceitar a "Teologia da

Miserabilidade". Ora, sabemos que Deus é fiel em suas promessas!

Na vida material, a promessa de bênçãos decorrentes da fidelidade nos

dízimos aplica-se á igreja. A saúde é bênção de Deus. Contudo, servos de Deus,

humildes e fiéis, adoecem e muitos são chamados á glória, não por pecado ou falta

de fé, mas por desígnio de Deus.

Curiosa é a conclusão a que chegou a pesquisadora de religiões Mary

Schultz, citada por Belvedere Neto, em artigo publicado pelo CACP - Centro

Apologético Cristão de Pesquisas, que nos mostra como terminaram alguns dos

grandes pregadores da prosperidade e da saúde perfeita. De se observar:

1. E. W. Kennyon faleceu vitima de um tumor maligno.

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Page 22: Teol.prosperidade

2. John Wimber e seu filho Chris morreram de câncer.

3. A . A. Allen morreu de alcoolismo.

4. John Lake morreu de um colapso.

5. Gordon Lindsey morreu do coração.

6. O cunhado de Kenneth Haigin morreu de câncer.

7. O mesmo aconteceu à sua irmã.

8. Sua esposa foi operada e o próprio Haigin usou óculos até morrer.

9. Kathryn Khulmann morreu do coração.

10. Daisy Osborne morreu de câncer, jurando que havia sido curada.

11. Jamie Buckingham morreu de câncer.

12. Fred Price conseguiu uma quimioterapia para a sua esposa.

13. John Osteen procurou ajuda médica para curar o câncer da esposa.

14. A esposa de Charles Capps fez tratamento médico de câncer e também Joyce

Meyer.

15. Mack Timberlake está se tratando de um câncer na garganta.

16. R. W. Shambach fez quatro pontes safenas.

17. O Profeta Keith Greyton morreu de AIDS.

             http://www.cacp.org.br/estudos/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=453&menu=7&submenu=4 - acessado em

10.10.07, às 17h07m

Isso é uma prova convincente não são bem assim como pregam

entusiasticamente esses “profetas” do materialismo. Por ai percebe-se que não

vivem o que pregam!

Assim, que o Senhor nos ajude a entender melhor essas verdades!

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Page 23: Teol.prosperidade

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOMES, Wilson. Nem anjos nem demônios. interpretações do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes.GONDIM, Ricardo. O Evangelho da Nova Era. Abba, S. Paulo, 1993. HANEGRAAFF, Hank. Cristianismo em Crise. CPAD, Rio, 1996. MARIANO, Ricardo. Os pentecostais e a teologia da prosperidade. In Novos Estudos. SP CEBRAP PIERATT, Alan. O Evangelho da Prosperidade. Edições Vida Nova, S. Paulo 1993.ROMEIRO, Paulo. Super Crentes. Mundo Cristão, S. Paulo, 1993.Revista Brasileira de História - vol.22, no. 43, SP - Os pentecostais: entre a fé e a política.http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/religiao/teologia-da-prosperidade.html - acessado 10.10.07 - 17hshttp://www.cacp.org.br/midia/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=1154&menu=16&submenu=6, acessado em 11.10.07, às 10h18m.http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=4180 - acessado em 10.10.07 - 17h08mhttp://www.icmbrasil.org/index.htm?teoprosp.htm~principal - acessado em 10.10.07 - 17h13mhttp://www.vidacomdeus.com.br/colaboradores/joaquim/O_Movimento_da_Fe_Confissao_Positiva_e_a_Teologia_da_Prosperidade_no_Brasil.htm - acessado 10.10.07 - 16h58mhttp://www.cacp.org.br/estudos/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=453&menu=7&submenu=4 - acessado em 10.10.07, às 17h07m

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