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UM BREVE PAPO SOBRE TEÓFILO DIAS Professor esp. Carvalho Junior

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UM BREVE PAPO

SOBRE TEÓFILO DIAS Professor esp.

Carvalho Junior

“Lá na terra formosa, onde os palmares,

Com fronte altiva devassando as nuvens

Roçam os céus azuis, — meus olhos pasmos

Do verde escuro das florestas virgens

Sorriram da existência à luz primeira.”

(Trecho de Minha Terra, in Lira dos Verdes Anos)

Gênioexplosivo,

pequeno,

mestiçoe

pobre*

*CASEMIRO, 2008.

DADOS BIOGRÁFICOSTeófilo Odorico Dias de Mesquita — poeta, jornalista, advogado, político brasileiro.

NASCIMENTO: Caxias/MA, 08 de novembro de 1854.

DESAPARECIMENTO (✙): Amparo/SP, 29 de março de 1889 (complicações cardíacas). (cf. CASEMIRO, 2010)

TEMPO DE VIDA FÍSICA: 34 anos e alguns meses.

FILIAÇÃO: Odorico Antônio de Mesquita (advogado) e de Joana Angélica Dias de Mesquita (irmãdo poeta Gonçalves Dias).

CASAMENTO: Em 1880, Teófilo Dias casa-se com Gabriela Frederica Ribeiro de Andrada, dafamília de José Bonifácio, com quem teve dois filhos: Gabriela Margarida e Teófilo.

AMIZADES: Cultivou íntimas relações de amizade com Assis Brasil, Lúcio de Mendonça, ValentimMagalhães e, principalmente, com Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior, cujo pai, o Visconde deOuro Preto, seria o último presidente do Conselho de Ministros do Império, derrubado em 15 denovembro de 1889.

FORMAÇÃOIniciou sua formação na capital São Luís (1861-1874) no Instituto de Humanidades.

Mudou-se para o Rio de Janeiro com 20 anos de idade, onde morou, albergado no Convento de SantoAntônio, por cerca dois anos (1875-1876), realizando os exames preparatórios para o curso de Direito,onde efetivamente ingressa, em 1877. Neste período na então capital do país relaciona-se com muitosintelectuais, como: Alberto de Oliveira, Aluísio de Azevedo, Benjamin Constant, Machado de Assis entreoutros.

Conclui a formação em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1881, na Faculdade do Largo de São Francisco(SP). Ao lado da advocacia, exerce o jornalismo, colaborando com os jornais Província de São Paulo e ARepública, e ainda na Revista Brasileira, de José Veríssimo. Em 1878 participa da chamada "Batalha doParnaso", formada por escritores que, no Rio e em São Paulo, reagiam contra o movimento romântico.

Exerceu, ao longo da vida, as mais variadas profissões, como sargento do exército, comerciante,professor de Gramática Filosófica e Francês (no Colégio Aquino) e fiscal de crédito do Banco Real.

Ingressa na política (SP), pelo Partido Liberal, elegendo-se deputado provincial em 1885, emmandato que durou até o ano seguinte.

CADEIRAS ACADÊMICAS

❑ Patrono da cadeira nº 36 da Academia Brasileira de Letras, por escolha do

fundador Afonso Celso;

❑ Patrono da cadeira nº 19 da Academia Maranhense de Letras;

❑ Patrono da cadeira nº 21 da Academia Caxiense de Letras.

OBRA O Parnasianismo, no Brasil, teve como marco inicial a publicação da obra "Fanfarras", deTeófilo Dias, em 1882.

Alfredo Bosi em História concisa da literatura brasileira (1994) diz que as “Fanfarras”:“podem chamar-se, de direito, o nosso primeiro livro parnasiano”.

Teófilo foi bastante influenciado por Baudelaire e pela poesia francesa de um modo geral.Os nomes mais celebrados acabaram sendo os de Olavo Bilac, Alberto de Oliveira eRaimundo Correia (tríade parnasiana).

Experiências de Teófilo no campo da tradução: textos de Baudelaire, Byron, Longfellow eMusset, entre outros.

BIBLIOGRAFIA:

Flores e Amores, Caxias, 1874;

Cantos Tropicais, São Paulo, 1878;

Fanfarras, São Paulo, 1882;

Lira dos Verdes Anos, São Paulo, 1878;

A comédia dos deuses, São Paulo, 1888.

CRÍTICA (I)MANUEL BANDEIRA: "A estética parnasiana cristalizou-se entre nósdepois da publicação de Fanfarras, de Teófilo Dias, livro em que omovimento anti-romântico começa a se definir no espírito e na formados parnasianos franceses, já esboçados em alguns sonetos deCarvalho Júnior.*..”.* Carvalho Junior: Francisco Antônio de Carvalho Júnior, poeta carioca ((Rio de Janeiro/RJ, 1855 - idem 1879), autorde Parisina.

PINHEIRO CHAGAS (escritor português, na introdução de A comédia dos deuses): “Alíngua portuguesa no Brasil, manejada por um escritor de pulso, comoo senhor Teófilo Dias, enriquece-se de um modo estranho; toma novasfulgurações, como os pobres pirilampos da Europa, que na Américado Sul se mudam em aladas estrelas. A metrificação variada, masvariada com arte infinita, presta uns misteriosos efeitos a algumas dassuas cenas mais dramáticas.”

CRÍTICA (II)

JOSÉ VERÍSSIMO |in "História da Literatura Brasileira“| registra que "A inspiraçãoromântica tão consoante com a nossa índole literária, como é de ver, se nãodesvanecera totalmente ao influxo da nova poética. Não só é ainda visível naquelespoemas mas em dois novos poetas que por esse tempo apareceram, o Sr. Alberto deOliveira, que viria a ser talvez o mais típico dos nossos parnasianos, e o malogradoTeófilo Dias. Tanto as Canções românticas do primeiro, como a Lira dos verdes anos eos Cantos tropicais do segundo são de 1878, e em ambos, de mistura com a toadageral do nosso lirismo romântico, há claros toques da nova poética.“.

ANTONIO CÂNDIDO (1918, passa de “um romântico ingênuo a um analista bastante sutilda emoção erótica”*): "apesar de predominarem numericamente em sua obra osversos de inspiração romântica, as traduções e a poesia social, a sua validade é devida,hoje, aos poemas da primeira parte de Fanfarras, intitulada significativamente 'FloresFunestas‘”.

*DIAS, TEÓFILO. Poesias Escolhidas. (Prefácio, Seleção e Notas por Antonio Candido) São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1960.

A INFLUÊNCIA DE BAUDELAIRE “OS PRIMEIROS BAUDELAIRIANOS”

“E, para seguir falando nessa curiosa tendência, extrapolação domodelo baudelairiano, lembremos que a sua manifestação maisvistosa é "A matilha", de Teófilo Dias — uma caçada simbólicaonde os cães do desejo, lançados numa carreira desenfreada,alcançam afinal a presa, isto é, a posse, numa imagem que deixaexpostas as componentes de violência do amor”.

CÂNDIDO, Antônio. A Educação Pela Noite e Outros Ensaios.Https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4094429/mod_resource/content/1/Antonio%20Candido%20-%20Os%20primeiros%20baudelairianos.pdf (p. 13).

TEXTO CRÍTICO

*"Foi muito interessante derrubar os clichês apostilescos quefantasmagorizavam a lírica do poeta: os versos de Teófilo Dias podemcausar fortes vertigens no leitor desavisado, justamente pelamultiplicidade de faces que sua obra assume (por vezes podemospensar que não se trata de um mesmo literato). A fortuna crítica sobreo poeta está repleta da insistente tentativa de encarcerarconceitualmente sua obra".

*|TEÓFILO DIAS E A NATUREZA DE UM BRASIL MODERNO, Fábio Martinelli Casemiro|

ESTUDO ACADÊMICO (RECOMENDADO)

Dissertação de Mestrado de Fabio Martinelli Casemiro (2008).

CASEMIRO, Fabio Martinelli. Carne, imagem e revolta na lirica de Teofilo Dias. 2008. 206 p. Dissertação (mestrado) - UniversidadeEstadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, SP. Disponível em:<http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/270251>. Acesso em: 24 fev. 2019.

RESUMO: A obra lírica de Teófilo Dias (1854 - 1889) é hoje composta de quatro livros:Lira dos Verdes Anos, Cantos Tropicais, Fanfarras e A Comédia dos Deuses. Sua poesia éconsiderada pela crítica, por vezes baudelairiana, por vezes parnasiana, ora simbolista.Este trabalho rompe com as "escolas literárias" e demais reduções teóricas e visacompreendê-la a partir das discussões estéticas e políticas próprias de sua historicidade.Em seu canto lírico, elaborado a partir da ressonância de várias tendências nacionais eestrangeiras, o culto ao belo-horrível e a mobilização política não se mostram isolados,mas como peças que harmonicamente se fundem no vitral da imagem.

POEMAS

A MATILHA

Pendente a língua rubra, os sentidos atentos,

Inquieta, rastejando os vestígios sangrentos,

A matilha feroz persegue enfurecida,

Alucinadamente, a presa malferida.

Um, afilando o olhar, sonda a escura folhagem;

Outro consulta o vento; outro sorve a bafagem,

O fresco, vivo odor, cálido, penetrante,

Que, na rápida fuga, a vítima arquejante

Vai deixando no ar, pérfido e traiçoeiro;

Todos, num turbilhão fantástico, ligeiro,

Ora, em vórtice, aqui se agrupam, rodam, giram,

E, cheios de furor frenético, respiram,

Ora, cegos de raiva, afastados, dispersos,

Arrojam-se a correr. Vão por trilhos diversos,

Esbraseando o olhar, dilatando as narinas.

Transpõem num momento os vales e as colinas,

Sobem aos alcantis, descem pelas encostas,

Recruzam-se febris em direções opostas,

Té que da presa, enfim, nos músculos cansados

Cravam com avidez os dentes afiados.

Não de outro modo, assim meus sôfregos desejos,

Em matilha voraz de alucinados beijos

Percorrem-te o primor às langorosas linhas,

As curvas juvenis, onde a volúpia aninhas,

Frescas ondulações de formas florescentes

Que o teu contorno imprime às roupas eloquentes:

O dorso aveludado, elétrico, felino,

Que poreja um vapor aromático e fino;

O cabelo revolto em anéis perfumados,

Em fofos turbilhões, elásticos, pesados;

As fibrilas sutis dos lindos braços brancos,

Feitos para apertar em nervosos arrancos;

A exata correção das azuladas veias,

Que palpitam, de fogo intumescidas, cheias,

— Tudo a matilha audaz perlustra, corre, aspira,

Sonda, esquadrinha, explora, e anelante respira,

Até que, finalmente, embriagada, louca,

Vai encontrar a presa — o gozo — em tua boca.

A ESTÁTUA

Fosse-me dado, em mármor de Carrara,

Num arranco de gênio e de ardimento,

Às linhas do teu corpo o movimento

Suprimindo, fixar-te a forma rara,

Cheio de força, vida e sentimento,

Surgira-me o ideal da pedra clara,

E em fundo, eterno arroubo, se prostrara,

Ante a estátua imortal, meu pensamento.

Do albor de brandas formas eu vestira

Teus contornos gentis; eu te cobrira

Com marmóreo cendal os moles flancos,

E a sôfrega avidez dos meus desejos

Em mudo turbilhão de imóveis beijos

As curvas te enrolara em flocos brancos.

Do livro Fanfarras (1882). Poema integrante da série “Flores Funestas”.

OS SEIOS

Como serpente arquejanteSe enrosca em férvida areia,Meu ávido olhar se enleiaNo teu colo deslumbrante.

Quando o descobres, no arMorno calor se dissolveDo aroma, em que ele se envolve,Como em neblina o luar.

Se ao corpo te enrosco os braços,A terra e os céus estremecem,E os mundos febris parecemDerreter-se nos espaços!

E tu nem sequer presumesQue então, querida, até creio,Sorver, desfeito em perfumes,Todo o sangue do teu seio.

Depois que aspiro, ansiado,Do teu níveo colo o incenso,Minh'alma semelha um lençoDe viva essência molhado.

Deixa que a louca se deiteNesse torpor, que extasia,E que o vinho do deleiteMe espume na fantasia;

Pois não há ópio ou haschis (l)Que me abrilhante as ideiasComo as fragrâncias sutisQue fervem nas tuas veias!

(l) Escrevemos hoje "haxixe".

Teófilo Dias, Poesias escolhidas. Seleção, introdução e notas por Antônio Cândido. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, Comissão de Literatura,1960.

ASCENSÃO

Trago ao peito uma flor de fogo estilhaçada.Cerro os olhos num leito e abro os olhos num horto...Em pânico atirara a suprema cartadae entre os mortos sou vivo e entre os vivos sou morto...

Réu, vítima e juiz na consciência culpadaante impasses fatais, mendigando conforto,náufrago desditoso em pávida jangada,ora ali, ora além, ao léu, sem luz, sem porto!

Por onde agora vou, aceito o estudo insano,no pó da Terra, o lar de Deus!... Na dor da espera,a lei de Amor!... No umbral do Espaço, o fim do engano!...

E endereço ao futuro a esperança perdida,no azul de novo céu, no albor de nova era,de cruz em cruz, de sol em sol, de vida em vida!...

LAFET ANGIUS*

O som, que a tua voz límpida exalagrato feitiço mágico resume;a frase mais vulgar, na tua fala,colorido, matiz, brilhando, assume

Afaga como a luz; como um perfumepela alma filtra, e se insinua, e cala,é só ouvi-la o espírito presumeque um éter, feito de torpor, o embala.

Quando a paixão altera-lhe a frescura,quando o frio desdém lhe tolda o acordea viva polidez vibrante e pura,

Não se lhe nota um frêmito discorde;Apenas, do primor, com que fulgura,Às vezes a ironia salta - e morde.

*JORNAL O AMERICANO (p. 2): http://200.144.6.120/uploads/acervo/periodicos/jornais/BR_APESP_IHGSP_AMNO_18810622.pdf

TRECHOS

Minha alma é um velho arsenal

Cheio de armas assassinas;

Tem a mudez sepulcral

Que paira sobre as ruínas.

(SPLEEN)

Há uma alma que suspira

Em cada ponto do espaço

Quando caminhas: teu passo

Murmura como uma lira.

(ESFINGE)

FONTES

❑ http://www.academia.org.br

❑ www.literaturabrasileira.ufsc.br

❑ http://www.antoniomiranda.com.br

❑ http://enciclopedia.itaucultural.org.br

❑ CÂNDIDO, Antônio. A Educação Pela Noite e Outros Ensaios.Https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4094429/mod_resource/content/1/Antonio%20Candido%20-%20Os%20primeiros%20baudelairianos.pdf (p. 13).

❑ CASEMIRO, Fabio Martinelli. Carne, imagem e revolta na lírica de Teófilo Dias. 2008. 206 p. Dissertação (mestrado) -Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, SP. Disponível em:<http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/270251>. Acesso em: 24 fev. 2019.

❑ _________. Teófilo Dias e a natureza de um Brasil Moderno. Publicado em Revista Literatura em Debate, v. 4, n. 7, p.17-29, ago.-dez., 2010. Recebido em 18 out; aceito em 20 nov. 2010): file:///C:/Users/Usuario/Downloads/557-2657-1-PB.pdf|

❑ facebook.com/dicionariodepoetascaxienses (adm. Carvalho Junior)

❑ www.ebiografia.com