tensÕes no mar do sul da china - ufrgs.br · co-diplomática da região. a linha de nove traÇos...

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TENSÕES NO MAR DO SUL DA CHINA Conhecido também como Mar da China Meridional, é um mar marginal do Oceano Pacífico. Mares marginais são os golfos de grandes dimensões que penetram mais ou menos nos continentes, a exemplo do Golfo do México. A sua área cobre cerca de 3 500 000 km², a qual possui centenas de ilhotas que formam o arquipélago do Mar do Sul da China. Atualmente, as tensões na região não se encaixam como uma crise propriamente dita, pois não há conflito bélico, porém essa região tem um grande potencial para um futuro conflito. O QUE É O MAR DO SUL DA CHINA? “É UMA ÁREA ONDE MAIS DE MEIA DÚZIA DE PAÍSES TÊM SOBREPOSIÇÕES TERRITORIAIS SOBRE UM FUNDO DO MAR COM RESERVAS COMPROVADAS DE PETRÓLEO DE SETE BILHÕES DE BARRIS E CERCA DE 900 TRILHÕES DE PÉS CÚBICOS DE GÁS NATURAL.” CRONIN & KAPLAN, 2011 China Hong Kong Macau República da China (Taiwan) Filipinas Malásia Brunei Indonésia Singapura Tailândia Camboja Vietnã QUAL SUA IMPORTÂNCIA? Esses arquipélagos de ilhas, recifes e outras formações marinhas são considerados pontos estratégicos devido a sua importância para o fluxo comercial da região e a suas reservas naturais, especialmente de petróleo e gás natural. No Mar do Sul da China, conhecido como “garganta do Pacífico”, circulam não apenas mercadorias originárias dos países com acesso à bacia, mas também dos EUA, país que possui cerca de 1,2 trilhões de dólares transitando nesta região. QUAIS OS TERRITÓRIOS EM DISPUTA? Diversas nações, como China, Vietnã, Malásia, Filipinas, começaram a reivindicar soberania sobre certos territórios, principalmente os referentes às ilhas Paracel e ilhas Spratly. Dada a ampla importância da bacia, logo o dragão chinês começou a buscar preponderância e controle sobre parte majoritária do Mar do Sul da China ao clamar por áreas presentes em sua “linha de nove traços”. Essa linha demarca os territórios sobre os quais a República Popular da China reivindica soberania. Abrange as ilhas Paracel, Spratly, Dongsha, Zhongsha e Huangyan, assim como a área de aterramento marítimo conhecida como "Grande Muralha de Areia". O principal argumento para a demarcação seria a presença histórica, datando da época imperial, de pescadores chineses na região. Foi publicada pelo governo chinês por meio de Nota Verbal submetida à Organização das Nações Unidas em 2009 em resposta a reivindicações territoriais da Malásia e do Vietnã. Quais Estados possuem acesso ao Mar?

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Page 1: TENSÕES NO MAR DO SUL DA CHINA - ufrgs.br · co-diplomática da região. A LINHA DE NOVE TRAÇOS Reivindicações territoriais no Mar do ... ilhas artificiais e o exercício de

TENSÕES NO MAR DO SUL DA CHINA

Conhecido também como Mar da China Meridional, é um mar marginal do Oceano Pacífico. Mares marginais são os golfos de grandes dimensões que penetram mais ou menos nos continentes, a exemplo do Golfo do México. A sua área cobre cerca de 3 500 000 km², a qual possui centenas de ilhotas que formam o arquipélago do Mar do Sul da China. Atualmente, as tensões na região não se encaixam como uma crise propriamente dita, pois não há conflito bélico, porém essa região tem um grande potencial para um futuro conflito.

O QUE É O MAR DO SUL DA CHINA?

“É UMA ÁREA ONDE MAIS DE MEIA DÚZIA

DE PAÍSES TÊM SOBREPOSIÇÕES

TERRITORIAIS SOBRE UM FUNDO

DO MAR COM RESERVAS

COMPROVADAS DE PETRÓLEO DE SETE

BILHÕES DE BARRIS E CERCA DE 900

TRILHÕES DE PÉS CÚBICOS DE GÁS

NATURAL.”

CRONIN & KAPLAN, 2011

China

Hong Kong

Macau

República da China (Taiwan)

Filipinas

Malásia

Brunei

Indonésia

Singapura

Tailândia

Camboja

Vietnã

QUAL SUA IMPORTÂNCIA?Esses arquipélagos de ilhas, recifes e outras formações marinhas

são considerados pontos estratégicos devido a sua importância para o fluxo comercial da região e a suas reservas naturais,

especialmente de petróleo e gás natural. No Mar do Sul da China, conhecido como “garganta do Pacífico”, circulam não apenas mercadorias originárias dos países com acesso à bacia, mas

também dos EUA, país que possui cerca de 1,2 trilhões de dólares transitando nesta região.

QUAIS OS TERRITÓRIOS EM DISPUTA?

Diversas nações, como China, Vietnã, Malásia, Filipinas, começaram a reivindicar soberania sobre certos territórios, principalmente os referentes às ilhas Paracel e ilhas Spratly. Dada a ampla importância da bacia, logo o dragão chinês começou a buscar preponderância e controle sobre parte majoritária do Mar do Sul da China ao clamar por áreas presentes em sua “linha de nove traços”.

Essa linha demarca os territórios sobre os quais a República Popular da China reivindica soberania. Abrange as ilhas Paracel, Spratly, Dongsha, Zhongsha e Huangyan, assim como a área de aterramento marítimo conhecida como "Grande Muralha de Areia". O principal argumento para a demarcação seria a presença histórica, datando da época imperial, de pescadores chineses na região. Foi publicada pelo governo chinês por meio de Nota Verbal submetida à Organização das Nações Unidas em 2009 em resposta a reivindicações territoriais da Malásia e do Vietnã.

Quais Estados possuem

acesso ao Mar?

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A “linha de nove traços”

chinesa demarca um

território muito além do

previsto pelas normas do

Direito do Mar, alegam

alguns países da região,

como Vietnã, Filipinas e

Malásia. A natureza das

exigências da China, então,

serviram como catalisador

de uma já complicada

situação jurídica e política.

Questões de soberania territorial de Estados do

Sudeste Asiático confli-

taram com o ideal de

reivindicação histórica

sustentado pelo governo

chinês. Isso foi interpretado

com receio, visto que

poderia comprometer a

estabilidade da região e

significar o controle hege-mônico da mesma por

Pequim. A efetiva ocupação

de ilhas do Mar do Sul da

China por algumas dessas

nações, a construção de

ilhas artificiais e o exercício

de atividades militares pela

China levaram a um

aumento das tensões,

levantando debates sobre o

risco que essas disputas

significariam para a biodi-

versidade marinha, as

relações entre os países e a

respectiva situação políti-

co-diplomática da região.

A LINHA DE NOVE TRAÇOS

Reivindicações territoriais no Mar do Sul da China

VIETNÃReclama soberania das ilhas Paracel e

Spratly. A relação entre China e Vietnã é uma das mais tensas da região.

CHINADisputa o domínio dos dois arquipélagos.

Empreendeu diversas atividades de construção de ilhas artificiais em sete recifes

de corais que ocupa nas ilhas Spratly entre dezembro de 2013 e outubro de 2015.

TAIWANPleiteia o território das ilhas Paracel. Ocupa,

também, a maior ilha do arquipélago de Spratly.

BRUNEIO sultanato de Brunei reivindica um pequeno

recife das ilhas Spratly dentro de sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE).

MALÁSIAReclama também as áreas presentes em sua ZEE, assim como poucas ilhas da cadeia das

Spratlys.

FILIPINASDetêm um forte relacionamento com os

Estados Unidos, apesar de Washington não ter se mostrado ativo na defesa de suas ilhas

ocupadas no arquipélago Spratly, reivindicado em sua totalidade pelo governo

filipino. No início de 2013, as Filipinas iniciaram um procedimento arbitral contra a China na Corte Permanente de Arbitragem,

que teve todo o seu curso e suas decisões negados por Pequim.

A disputa no Mar do Sul da China é sobre soberania,mas quais são as regras que regulam o Direito do Mar?

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)

A Convenção de 1982 da ONU sobre Direito do Mar (UNCLOS), vigente desde 1994, é um acordo internacional que acomoda um esquema regulatório para o uso dos mares e oceanos. Um dos seus principais objetivos é assegurar a conservação e uso equitativo do espaço marítimo, assim como a proteção e preservação da vida marinha. A UNCLOS também aborda questões como soberania e direitos de navegação. Define e codifica conceitos herdados do direito internacional costumeiro referentes a assuntos marítimos, como mar territorial, zona econômica exclusiva, plataforma continental e outras divisões do espaço. A Convenção também estabelece os princípios gerais da exploração dos recursos naturais do mar, como os recursos vivos, os do solo e os do subsolo. Criou, também, o Tribunal Internacional do Direito do Mar, competente para julgar as controvérsias relativas à interpretação e à aplicação do tratado.

OS INTERESSES DE CADA PAÍS

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A “linha de nove traços”

chinesa demarca um

território muito além do

previsto pelas normas do

Direito do Mar, alegam

alguns países da região,

como Vietnã, Filipinas e

Malásia. A natureza das

exigências da China, então,

serviram como catalisador

de uma já complicada

situação jurídica e política.

Questões de soberania territorial de Estados do

Sudeste Asiático confli-

taram com o ideal de

reivindicação histórica

sustentado pelo governo

chinês. Isso foi interpretado

com receio, visto que

poderia comprometer a

estabilidade da região e

significar o controle hege-mônico da mesma por

Pequim. A efetiva ocupação

de ilhas do Mar do Sul da

China por algumas dessas

nações, a construção de

ilhas artificiais e o exercício

de atividades militares pela

China levaram a um

aumento das tensões,

levantando debates sobre o

risco que essas disputas

significariam para a biodi-

versidade marinha, as

relações entre os países e a

respectiva situação políti-

co-diplomática da região.

A LINHA DE NOVE TRAÇOS

Reivindicações territoriais no Mar do Sul da China

VIETNÃReclama soberania das ilhas Paracel e

Spratly. A relação entre China e Vietnã é uma das mais tensas da região.

CHINADisputa o domínio dos dois arquipélagos.

Empreendeu diversas atividades de construção de ilhas artificiais em sete recifes

de corais que ocupa nas ilhas Spratly entre dezembro de 2013 e outubro de 2015.

TAIWANPleiteia o território das ilhas Paracel. Ocupa,

também, a maior ilha do arquipélago de Spratly.

BRUNEIO sultanato de Brunei reivindica um pequeno

recife das ilhas Spratly dentro de sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE).

MALÁSIAReclama também as áreas presentes em sua ZEE, assim como poucas ilhas da cadeia das

Spratlys.

FILIPINASDetêm um forte relacionamento com os

Estados Unidos, apesar de Washington não ter se mostrado ativo na defesa de suas ilhas

ocupadas no arquipélago Spratly, reivindicado em sua totalidade pelo governo

filipino. No início de 2013, as Filipinas iniciaram um procedimento arbitral contra a China na Corte Permanente de Arbitragem,

que teve todo o seu curso e suas decisões negados por Pequim.

A disputa no Mar do Sul da China é sobre soberania,mas quais são as regras que regulam o Direito do Mar?

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS)

A Convenção de 1982 da ONU sobre Direito do Mar (UNCLOS), vigente desde 1994, é um acordo internacional que acomoda um esquema regulatório para o uso dos mares e oceanos. Um dos seus principais objetivos é assegurar a conservação e uso equitativo do espaço marítimo, assim como a proteção e preservação da vida marinha. A UNCLOS também aborda questões como soberania e direitos de navegação. Define e codifica conceitos herdados do direito internacional costumeiro referentes a assuntos marítimos, como mar territorial, zona econômica exclusiva, plataforma continental e outras divisões do espaço. A Convenção também estabelece os princípios gerais da exploração dos recursos naturais do mar, como os recursos vivos, os do solo e os do subsolo. Criou, também, o Tribunal Internacional do Direito do Mar, competente para julgar as controvérsias relativas à interpretação e à aplicação do tratado.

OS INTERESSES DE CADA PAÍS

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A DISPUTA ENTRE AS POTÊNCIAS GLOBAIS NA REGIÃO: CHINA X EUA

A disputa pela hegemonia no Sistema Internacional (SI) entre as duas potências - China e Estados Unidos - é um dos fatores da tensão na região sudeste asiática. As capacidades de projeção de força desses países sobre

essa região podem ser analisadas por meio de dois focos principais: questões político-militar e comerciais.

Os EUA utilizam a estratégia mais ofensiva conhecida como “comando dos comuns” por meio da qual quaisquer áreas que não pertençam a nenhum Estado e que sejam importantes para o acesso a grande parte mundo podem ser utilizadas pelos EUA e negadas aos demais. Essa estratégia, entretanto, gerou reações dos outros atores.

QUAL A ESTRATÉGIA DOS EUA NA REGIÃO DO MAR DO SUL DA CHINA?

A China, por sua vez, adota uma conduta mais defensiva ao aumentar seus gastos militares e reforçar suas Forças Armadas para fazer frente e reduzir

a influência norte-americana na região. Esse fator, aliado ao notável crescimento econômico chinês nos últimos anos não poderia ficar sem

uma resposta norte-americana.

O Pivô para Ásia foi o movimento adotado pelo governo Obama a partir de 2011. Também conhecido como “estratégia de rebalanceamen-to”, a estratégia objetiva contrabalancear as capacidades chinesa no Mar do Sul da China e no Pacífico, em geral, por meio do aumento da presença norte-americana na região. Concomi-tante a isso, os EUA procuram manter a capaci-dade de projeção de poder na região para diminuir a capacidade de dissuasão chinesa na região. Para efetuar tais planos, EUA contam com seus aliados regionais como Japão, Filipinas, Cingapura, Vietnã e Índia. Dessa forma, ao utilizar atores regionais já envolvidos na disputa a nível regional pela região, a disputa global que permeia as tensões no Mar do Sul da China adquire a aparência de ser parte das disputas regionais.

A Parceria Transpacífica (TPP) é um acordo que busca

liberalizar e estabelecer regras e disciplinas governando

comércio e investimento entre seus 12 membros.

Impulsionado pelo governo Obama, o TPP aumentaria a

presença comercial norte-americana na região e, por conseguinte, aumentaria

sua presença no Mar do Sul da China. Contudo, acredita-se

que o acordo seria uma tentativa de afastar os países

asiáticos da China, o que contribuiria para o acirramento

das tensões na região.

O QUE É O TPP?

PERSPECTIVAHISTÓRICA

Qual a formação histórico-cultural do Sudeste Asiático?

O Sudeste Asiático é uma região marcada por heranças chinesas, indianas e, posteriormente, muçulmanas. O sistema tributário chinês foi caracterizado pela centralização dos territórios satélites do Império em torno do governo central. A China não possuía recursos para subjugar essas regiões, logo, a solução foi torná-las parte da sua zona de influência, isto é, promover a assimilação dos valores e das instituições chinesas. Esse sistema permitiu a absorção dos povos bárbaros - países conhecidos hoje como Coreia, Tailândia, Vietnã, Laos, entre outros - e a manutenção da paz na região por muitas dinastias. A civilização indiana, por outro lado, foi marcada por uma grande diversidade cultural, étnica e religiosa, resultado de séculos de migrações e invasões que estabeleciam novas hierarquias e relações sociais. Por essa razão, os impérios hindus não foram capazes de criar um centro de poder como o chinês.

Como foram os primeiros contatos com o Ocidente?

Os chineses possuíam grande conhecimento naval, mas não viajavam grandes distâncias, durante a dinastia Ming, a exploração além-mar basicamente

buscava ampliar o Império tributário e criar novos laços comerciais. Posteriormente ameaças no norte da China provocaram o desmantelamento da

frota naval e o fim das expedições chinesas - enquanto o Ocidente iniciava seu período de jornadas ultramar. Apenas em 1514, o Ocidente realiza os primeiros contatos com a China, mas, já em 1550, os portugueses conseguem permissão

do imperador para estabelecer um entreposto comercial em Macau e, assim, iniciar as relações comerciais entre os dois países.

A revolução industrial alterou as dinâmicas ocidentais, mas quais foram os impactos para a China?

China, em desvantagem frente aos avanços europeus, é obrigada a fazer mais concessões. A necessidade de novos mercados aliada à expansão capitalista tornaram as “concessões chinesas” insuficientes para os novos objetivos Ocidentais. Além disso, Portugal perde espaço para outras potências, como a Holanda.

Em 1760, o governo chinês, tentando resguardar sua soberania, faz com que todo o comércio externo seja restringido a região de Cantão. Posteriormente, a Grã-Bretanha, que comercializava chá com a China, percebe, a partir da Missão Macartney, que o governo chinês não está disposto a dar boas-vindas aos estrangeiros. Os britânicos precisariam de um novo produto para melhorar a sua balança comercial: o ópio. Sob o controle da Companhia da Índias Orientais, essa foi a resposta que os britânicos encontraram para escoar a produção indiana e ganhar o mercado chinês.

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A DISPUTA ENTRE AS POTÊNCIAS GLOBAIS NA REGIÃO: CHINA X EUA

A disputa pela hegemonia no Sistema Internacional (SI) entre as duas potências - China e Estados Unidos - é um dos fatores da tensão na região sudeste asiática. As capacidades de projeção de força desses países sobre

essa região podem ser analisadas por meio de dois focos principais: questões político-militar e comerciais.

Os EUA utilizam a estratégia mais ofensiva conhecida como “comando dos comuns” por meio da qual quaisquer áreas que não pertençam a nenhum Estado e que sejam importantes para o acesso a grande parte mundo podem ser utilizadas pelos EUA e negadas aos demais. Essa estratégia, entretanto, gerou reações dos outros atores.

QUAL A ESTRATÉGIA DOS EUA NA REGIÃO DO MAR DO SUL DA CHINA?

A China, por sua vez, adota uma conduta mais defensiva ao aumentar seus gastos militares e reforçar suas Forças Armadas para fazer frente e reduzir

a influência norte-americana na região. Esse fator, aliado ao notável crescimento econômico chinês nos últimos anos não poderia ficar sem

uma resposta norte-americana.

O Pivô para Ásia foi o movimento adotado pelo governo Obama a partir de 2011. Também conhecido como “estratégia de rebalanceamen-to”, a estratégia objetiva contrabalancear as capacidades chinesa no Mar do Sul da China e no Pacífico, em geral, por meio do aumento da presença norte-americana na região. Concomi-tante a isso, os EUA procuram manter a capaci-dade de projeção de poder na região para diminuir a capacidade de dissuasão chinesa na região. Para efetuar tais planos, EUA contam com seus aliados regionais como Japão, Filipinas, Cingapura, Vietnã e Índia. Dessa forma, ao utilizar atores regionais já envolvidos na disputa a nível regional pela região, a disputa global que permeia as tensões no Mar do Sul da China adquire a aparência de ser parte das disputas regionais.

A Parceria Transpacífica (TPP) é um acordo que busca

liberalizar e estabelecer regras e disciplinas governando

comércio e investimento entre seus 12 membros.

Impulsionado pelo governo Obama, o TPP aumentaria a

presença comercial norte-americana na região e, por conseguinte, aumentaria

sua presença no Mar do Sul da China. Contudo, acredita-se

que o acordo seria uma tentativa de afastar os países

asiáticos da China, o que contribuiria para o acirramento

das tensões na região.

O QUE É O TPP?

PERSPECTIVAHISTÓRICA

Qual a formação histórico-cultural do Sudeste Asiático?

O Sudeste Asiático é uma região marcada por heranças chinesas, indianas e, posteriormente, muçulmanas. O sistema tributário chinês foi caracterizado pela centralização dos territórios satélites do Império em torno do governo central. A China não possuía recursos para subjugar essas regiões, logo, a solução foi torná-las parte da sua zona de influência, isto é, promover a assimilação dos valores e das instituições chinesas. Esse sistema permitiu a absorção dos povos bárbaros - países conhecidos hoje como Coreia, Tailândia, Vietnã, Laos, entre outros - e a manutenção da paz na região por muitas dinastias. A civilização indiana, por outro lado, foi marcada por uma grande diversidade cultural, étnica e religiosa, resultado de séculos de migrações e invasões que estabeleciam novas hierarquias e relações sociais. Por essa razão, os impérios hindus não foram capazes de criar um centro de poder como o chinês.

Como foram os primeiros contatos com o Ocidente?

Os chineses possuíam grande conhecimento naval, mas não viajavam grandes distâncias, durante a dinastia Ming, a exploração além-mar basicamente

buscava ampliar o Império tributário e criar novos laços comerciais. Posteriormente ameaças no norte da China provocaram o desmantelamento da

frota naval e o fim das expedições chinesas - enquanto o Ocidente iniciava seu período de jornadas ultramar. Apenas em 1514, o Ocidente realiza os primeiros contatos com a China, mas, já em 1550, os portugueses conseguem permissão

do imperador para estabelecer um entreposto comercial em Macau e, assim, iniciar as relações comerciais entre os dois países.

A revolução industrial alterou as dinâmicas ocidentais, mas quais foram os impactos para a China?

China, em desvantagem frente aos avanços europeus, é obrigada a fazer mais concessões. A necessidade de novos mercados aliada à expansão capitalista tornaram as “concessões chinesas” insuficientes para os novos objetivos Ocidentais. Além disso, Portugal perde espaço para outras potências, como a Holanda.

Em 1760, o governo chinês, tentando resguardar sua soberania, faz com que todo o comércio externo seja restringido a região de Cantão. Posteriormente, a Grã-Bretanha, que comercializava chá com a China, percebe, a partir da Missão Macartney, que o governo chinês não está disposto a dar boas-vindas aos estrangeiros. Os britânicos precisariam de um novo produto para melhorar a sua balança comercial: o ópio. Sob o controle da Companhia da Índias Orientais, essa foi a resposta que os britânicos encontraram para escoar a produção indiana e ganhar o mercado chinês.

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OS TRATADOS DESIGUAISTRATADO DE NANQUIM

Assinado após a Guerra do Ópio - resposta da Grã Bretanha a tentativa do governo chinês de bloquear o comércio irregular da droga - abriu cinco portos chineses ao comércio britânico e cedeu Hong Kong.

Outros países, como Rússia, Alemanha, EUA, e Japão, além das tradicionais Inglaterra e França, passaram a intervir no sudeste asiático e a anexar territórios.

COMO FOI O IMPERIALISMO NO SUDESTE ASIÁTICO?

Quais as consequências do colonialismo para a região?

Apesar de seu tamanho e poder, a soberania chinesa saiu seriamente abalada do período colonial. O resultado desse processo foi a

implementação do Sistema Westfaliano na China pelo qual o sistema internacional é composto por Estados-Nação soberanos.

O século XX, em especial a década de 1970, é marcado pelo forte crescimento dos países asiáticos. Os Tigres Asiáticos, a ascensão japonesa

por meio da adoção de estruturas democráticas e as reformas Deng na China, por fim, conferiram a esse país o status de potência mundial e aos

países asiáticos, relevância no cenário mundial contemporâneo.

TRATADO DE SHIMONOSEKI �1895�

Concomitantemente ocorria a Restauração Meiji no Japão que representou certa retomada da soberania e da economia japonesa por meio da assimilação de estruturas ocidentais. O Japão passou a desempenhar papel de potência imperialista nessa região e invadiu possessões chinesas como a Península da Coreia, o que desencadeou a Primeira Guerra Sino-Japonesa. O tratado resultou no pagamento de uma indenização ao Japão, além de ceder ilhas e a região estratégica de Lião Tung, no sul da Manchúria, entre outras determinações.

Em 1888, ocorre a Revolta dos Boxers, tentativa dos chineses de expulsarem os estrangeiros. As grandes potências formaram

uma coalizão que massacrou os planos chineses, apesar disso, em 1912, os rebeldes se unem na República Chinesa comandada

pelo Kuomintang.

Em 1933, o Japão anexou a Manchúria e iniciou a Segunda Guerra Sino-Japonesa. O japoneses conseguem anexar mais alguns

territórios continentais e ultramarinos nos anos seguintes, contudo, ao fim da Segunda Guerra Mundial, o país assinou a

Declaração do Cairo por meio da qual foi obrigado a devolver os territórios chineses ocupados. O pós Segunda Guerra também é

marcado por movimentos nacionalistas de independência em todo o mundo. Na Ásia, esses movimentos caracterizaram-se pela

forte influência do comunismo.

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OS TRATADOS DESIGUAISTRATADO DE NANQUIM

Assinado após a Guerra do Ópio - resposta da Grã Bretanha a tentativa do governo chinês de bloquear o comércio irregular da droga - abriu cinco portos chineses ao comércio britânico e cedeu Hong Kong.

Outros países, como Rússia, Alemanha, EUA, e Japão, além das tradicionais Inglaterra e França, passaram a intervir no sudeste asiático e a anexar territórios.

COMO FOI O IMPERIALISMO NO SUDESTE ASIÁTICO?

Quais as consequências do colonialismo para a região?

Apesar de seu tamanho e poder, a soberania chinesa saiu seriamente abalada do período colonial. O resultado desse processo foi a

implementação do Sistema Westfaliano na China pelo qual o sistema internacional é composto por Estados-Nação soberanos.

O século XX, em especial a década de 1970, é marcado pelo forte crescimento dos países asiáticos. Os Tigres Asiáticos, a ascensão japonesa

por meio da adoção de estruturas democráticas e as reformas Deng na China, por fim, conferiram a esse país o status de potência mundial e aos

países asiáticos, relevância no cenário mundial contemporâneo.

TRATADO DE SHIMONOSEKI �1895�

Concomitantemente ocorria a Restauração Meiji no Japão que representou certa retomada da soberania e da economia japonesa por meio da assimilação de estruturas ocidentais. O Japão passou a desempenhar papel de potência imperialista nessa região e invadiu possessões chinesas como a Península da Coreia, o que desencadeou a Primeira Guerra Sino-Japonesa. O tratado resultou no pagamento de uma indenização ao Japão, além de ceder ilhas e a região estratégica de Lião Tung, no sul da Manchúria, entre outras determinações.

Em 1888, ocorre a Revolta dos Boxers, tentativa dos chineses de expulsarem os estrangeiros. As grandes potências formaram

uma coalizão que massacrou os planos chineses, apesar disso, em 1912, os rebeldes se unem na República Chinesa comandada

pelo Kuomintang.

Em 1933, o Japão anexou a Manchúria e iniciou a Segunda Guerra Sino-Japonesa. O japoneses conseguem anexar mais alguns

territórios continentais e ultramarinos nos anos seguintes, contudo, ao fim da Segunda Guerra Mundial, o país assinou a

Declaração do Cairo por meio da qual foi obrigado a devolver os territórios chineses ocupados. O pós Segunda Guerra também é

marcado por movimentos nacionalistas de independência em todo o mundo. Na Ásia, esses movimentos caracterizaram-se pela

forte influência do comunismo.

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REDAÇÃO: BÁRBARA ZIETLOW E CAMILLA MARTINS | DIAGRAMAÇÃO: VITÓRIA KRAMER

ASEANAssociação das Nações do Sudeste Asiático é um bloco econômico criado em 8 de agosto de 1967. Composto por 10 países do sudeste asiático - Tailândia, Filipinas, Malásia, Cingapura, Indonésia, Brunei, Vietnã, Mianmar, Laos e Cambo-ja - o bloco tem como objetivo estimular o comércio entre os membros, preser-var a estabilidade política e econômica e proporcionar a integração cultural e o desenvolvimento social da região. Tentativas de resolução da disputa terri-torial no Mar do Sul da China estão sendo feitas no âmbito da ASEAN.

Capacidade dissuasóriaCapacidade que um Estado tem de convencer os outros Estados do Sistema Internacional de que o custo de realizar uma ofensiva militar contra ele excede os ganhos.

HegemoniaO conceito de hegemonia está ligado ao de preponderância militar a nível global.

PotênciaNação ou Estado capaz de exercer poder e dissuasão sobre a diplomacia mundial devido à sua grande força econômica, política e militar. As opiniões desses atores são fortemente consideradas por outras nações antes de empreender uma ação diplomática ou militar. As variáveis as variáveis utilizadas para classificar os Estados como grandes potências resumem-se em: capacidade de desferir um segundo ataque nuclear; comando do espaço sideral e a capaci-dade de não ser derrotado em uma guerra convencional.

Projeção de forças/poderCapacidade de um Estado de implemen-tar políticas por meio da força ou da ameaça do uso dessa em um território distante das suas fronteiras.

Sistema WestfalianoA Paz de Westfália é uma série de trata-dos que encerraram a Guerra dos Trinta Anos na Europa em 1648. Inaugurou o Sistema de Estado-Nação de Westfália, o qual é o consenso entre os Estados europeus do princípio de soberania estatal e o conceito de Estado-Nação. O Estado se tornava a célula política mais importante nas questões políticas. Há várias divergências sobre se essa suposição ainda é válida contempora-neamente.

SoberaniaNo âmbito do direito internacional, a soberania refere-se ao direito de um Estado de exercer os seus poderes. A violação da soberania de um país pode resultar em sanções, tanto políticas quanto econômicas, e, em casos extremos, deflagração de um conflito bélico.

Zona Econômica ExclusivaDe acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, os países costeiros têm direito a declarar uma zona econômica exclusiva (ZEE) de espaço marítimo para além das suas águas territoriais, na qual podem utilizar recursos tanto vivos como não-vivos O país também tem respons-abilidade na gestão ambiental da zona. A ZEE é delimitada, em princípio, por uma linha situada a 200 milhas marítimas da costa e separa as águas nacionais das águas internacionais.

GLOSSÁRIO