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frutas, legumes e flores | Janeiro 2020 16 «TEMOS A ESTRATÉGIA NACIONAL PARA A FILEIRA HORTOFRUTÍCOLA PRONTA PARA APRESENTAR AO GOVERNO»

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«Temos a esTraTégia NacioNal para a Fileira HorToFruTícola

proNTa para apreseNTarao goverNo»

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Maria do Carmo Martins, secretária-geral do Centro Operacional e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN-CC), faz um balan-ço dos quase 20 anos de actividade desta entidade e explica que medidas propõem num estudo estratégico que elaboraram para a fileira em conjunto com a Portugal Fresh e a FNOP.Ana Gomes Oliveira

o coTHN está prestes a celebrar vinte anos de existência. Já foram cumpridos muitos dos objectivos para o qual foi criado? Penso que sim, embora ao longo do tempo apareçam sempre novos objectivos e desafios. É uma actividade que se vai sempre renovando. Mas podemos fazer um balanço positivo destes vinte anos. O COTHN foi criado essencialmente para fazer a ponte entre a investigação e a produção porque são duas esferas que não vivem uma sem a outra, mas têm linguagens e tempos muito di-ferentes. Por um lado, levamos à investigação quais os problemas concretos que a produção sente e, por outro lado, trazemos os resultados produzidos pela investigação até à produção. Trazemos esse conhecimento cá para fora para que também a fileira possa desenvolver-se.

No fundo têm potenciado a investigação. Exactamente. Sempre se fez investigação. O COTHN nunca veio para fazer investigação, o que fazemos é a ponte entre as duas partes. Passados quase estes 20 anos, muita coisa foi feita e actual-mente um desses resultados é por exemplo olharmos para aquilo que temos, estamos envolvidos em 16 Grupos Operacionais e que são projectos que resultam desta união entre a investigação e a produção. Estamos a falar de problemas que foram colocados pe-los produtores e que têm sido alvo de estudo por parte da comuni-dade científica. Acho que hoje é mais fácil fazer isso. Há vinte anos era muito mais difícil. Porque havia uma distância maior e a inves-tigação aplicada estava para segundo plano. O que hoje temos em campo é o resultado do trabalho que tem sido feito ao longo des-tas duas décadas. Além disso, temos vindo a alcançar mais zonas do País, apesar de estarmos aqui na zona Oeste. Na Cova da Beira, por exemplo, estamos com quatro Grupos Operacionais.

como fazem o levantamento das situações que os produto-res gostariam de ver investigadas? Em primeiro lugar, o Centro Operativo nasceu por vontade da pro-dução, que tem estado sempre muito próxima do COTHN, com as Organizações de Produtores a terem um grande peso. Essa pro-ximidade sempre existiu, mas há momentos muito importantes para percebermos os problemas da produção, como os balanços das campanhas. São momentos em que sabemos o que correu bem e mal e onde percebemos quais as dificuldades que estão a sentir, ajudando-nos a planificar o que vamos trabalhar e a sentir o pulso às diferentes fileiras. O facto do COTHN prestar alguns ser-viços à produção também nos faz ter esta proximidade. Estamos a falar da implementação dos referenciais de qualidade nas centrais fruteiras, as inspecções dos pulverizadores, a rega... Há cerca de seis anos estivemos também envolvidos num estudo que foi feito no âmbito da Rede Inovar, uma iniciativa das redes temáticas do

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antigo PRODER, em que fizemos um estudo prospectivo para a fileira permitindo-nos identificar as suas principais dez ne-cessidades.

Que necessidades eram essas? Os dois primeiros pontos dessa lista tinham a ver com a trans-ferência de conhecimento, com a água a ser o terceiro factor identificado. Havia também preocupações com as pragas e doenças. A partir dessa lista e tendo em conta que em 2017 fomos reconhecidos como Centro de Competências elaborá-mos uma Agenda de Inovação e Investigação para a fileira, que estamos agora a concluir. Criámos um grupo de traba-lho e já temos um esboço desta agenda que vamos colocar à validação da fileira e onde constam os grandes desafios. Já referi alguns, mas há também a questão das alterações climáticas e da necessidade de se continuar a ter este desem-penho das exportações. É necessário criar condições, não só

ao nível da abertura de mercados, mas tendo também em conta os produtos nos quais conseguimos ser competitivos, quer em termos de qualidade ou quantidade. Se não for pensada e concertada, a abertura de novos destinos vira-se

«Tendo em conta que em 2017 fomos reconhecidos como centro de competências, elaborámos uma agenda de inovação e investigação para a fileira, que estamos agora a concluir»

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contra nós. Não vale a pena entrarmos num mercado onde não vamos ter capacidade de entregar os nossos produtos porque ficamos com uma má imagem. Outro grande desafio passa pelo aumento do consumo. Queremos fazer mais com a produção nacional. Temos um consumo de frutas e legu-mes per capita superior à média europeia mas queremos que este consumo seja de produção nacional. E temos também trabalho para fazer nessa área. Promovendo no mercado in-terno.

Há ainda a questão da sustentabilidade. o que defen-dem nessa área? Quando falamos em sustentabilidade, falamos também da competitividade. Sabemos que temos custos de produção cada vez mais elevados e temos de perceber como podemos optimizá-los, ser mais eficientes. E aí a agricultura de precisão tem um papel importantíssimo e que pode vir a ajudar-nos. Todas estas medidas estão ligadas à questão ambiental, que é incontornável. Aliás, todas as linhas da próxima PAC vêm muito orientadas para uma agricultura mais verde e temos de saber tirar partido disso. Há muitos desafios que a fileira tem pela frente e que são importantes. Percebendo esses de-safios, o COTHN, juntamente com a Portugal Fresh e com a FNOP, temos concluída uma proposta que vamos apresentar à ministra da Agricultura de uma Estratégia Nacional para a Fileira Hortofrutícola.

em termos gerais, o que propõe esta estratégia?Identifica os grandes desafios da fileira e estabelece três ob-jectivos estratégicos. O primeiro é o de equilibrar a balança comercial. Só conseguimos ser competitivos se estivermos organizados para ganhar dimensão, caso contrário será muito difícil. Para esse equilíbrio é preciso também aumen-tar as exportações para mercados em crescimento e que valorizem a produção, bem como abrir mercados variados com a tal estratégia conjunta entre a produção e a tutela.

e qual é o segundo objectivo estratégico? O de criar valor na fileira e aumentar o consumo, que já fa-lámos um bocadinho, e melhorar o interesse pela adesão à organização de produtores.

o que é preciso melhorar? Temos sentido nos últimos tempos uma dificuldade muito grande ao nível da questão das organizações e do seu reco-

nhecimento. Este processo é muito importante para a fileira porque vai buscar um conjunto de fundos que estão dispo-níveis no âmbito da OCM e que permite que as empresas continuem a fazer investimentos na sua modernização com apoio a 50%. Mas este reconhecimento passa por três enti-dades nacionais: pelo Gabinete de Planeamento e Políticas, que define a estratégia para as OP; depois pelas direcções regionais de Agricultura, que aprovam os planos operacio-nais e que verificam o cumprimento dos requisitos exigidos; e pelo IFAP, que trata dos pagamentos. Acontece que existe uma descoordenação entre estas três entidades e isso tem criado problemas gravíssimos. Há entendimentos diferentes entre as três partes e os processos não avançam. Ou seja, uma ferramenta que é fundamental para o sector não está a ter o efeito esperado, está a ter até, fruto desta desarticu-lação, um efeito contrário, que é o de repelir e desmotivar a adesão.

voltando à estratégia, o que se identifica mais? A necessidade do aumento do valor do produto, que passa por promover as DOP e as IGP. Achamos que isso tem de ser agarrado. Uma DOP ou IGP reconhece que em Portugal há uma produção diferenciada, de qualidade. E é por aí que va-mos conseguir ganhar esse valor. É preciso promover o valor intrínseco destas frutas e hortícolas, fazendo a promoção do consumo, e por outro lado aumentar a sustentabilidade na produção nacional. Foi aquilo que já falámos, diminuir cus-tos de produção através do aumento da eficiência nos usos dos recursos, a questão energética e a questão da água, quer na disponibilidade de armazenamento, quer no seu uso eficiente. Nesta matéria entendemos que devemos ser um bocadinho mais arrojados e avançamos com a ideia da dessanilização, que já acontece em Espanha. No documento apontamos caminhos para o problema das pragas e doen-ças, defendendo estratégias de controlo alternativas ao uso de produtos fitofármacos, mas salientando que de momen-to não podemos ser competitivos se não continuarmos a dis-por dessas ferramentas. Na nossa proposta falamos ainda da importância da economia circular e da necessidade de investimento em vias de comunicação e mobilidade. É pre-ciso olhar outra vez para o caminho de ferro, onde não tem havido investimento. Portugal está na ponta da Europa e era fundamental haver a ligação de alta velocidade para o centro da Europa. Por último, gostaria de destacar a refe-rência à importância da incorporação da inovação, que é um desafio para nós e que tem muito a ver com a agenda de Inovação que o Centro de Competências está a ultimar, e às alterações climáticas, que é um tema transversal a todo o do-cumento, mas onde falamos do papel de medidas de apoio para o apoio à gestão de crises. É preciso rever os seguros que existem actualmente.

a estratégia deste governo tem dado importância à agricultura familiar. Que visão têm desta matéria? Também falamos na nossa proposta. A agricultura familiar

Bilhete de identidade• Nome: Maria do Carmo Martins • Data de nascimento: 6 de Fevereiro de 1974 • Formação académica: Licenciatura em Engenharia

Agronómica com mestrado em Economia Agrária e Sociologia Rural

• Cargo actual: secretária-geral do COTHN

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tem o seu papel e achamos que deve ser apoiada, mas apoia-da por via da organização, para que não venha distorcer o mercado, que é isso que pode acontecer se embarcarmos muito no apoio de forma desorganizada. Até porque esta agricultura é a mais vulnerável a todas estas questões que fa-lámos, como por exemplo a incorporação da tecnologia, que é fundamental para estas explorações. Só se consegue com organização.

Falámos logo no início do papel do coTHN como ponte entre a produção e a investigação aplicada. Que tipo de acções fazem para a transferência de conhecimento? Fazemos os balanços das campanhas, onde levamos alguns resultados de projectos que temos em curso. Em 2019, por exemplo, no balanço da pêra e da maçã, trouxemos a Uni-versidade de Coimbra que tem estado a investigar ao nível do percevejo asiático. A praga ainda não está em Portugal, mas está na Europa e tem causado prejuízos gravíssimos. Por meio deste estudo potenciado pela Associação de Produto-res de Kiwi, os técnicos e produtores presentes ficaram alerta para este problema. Além disso, a agenda anual do COTHN é sempre muito rica neste tipo de iniciativas, quer seja através de workshops, quer seja na realização de dias de campo dos vários Grupos Operacionais. Além disso, temos o nosso site e boletins informativos. Retomámos também os cadernos de campo. Estamos a fazer uma colecção com uma linguagem

muito acessível que qualquer agricultor pode consultar. Numa componente mais para técnicos, estamos a tentar voltar a ter visitas técnicas a outras entidades similares à nossa noutros países da Europa, onde possamos fazer troca de experiências e de informação.

Temos falado muito de investigação. Que papel tem tido o iNiav neste vosso percurso? Está na génese da nossa criação e tem tido um papel funda-mental. Passou um período difícil por falta de verbas e aqui não posso deixar de referir o empenho do engenheiro Rui de Sousa que conseguiu aguentar a estação numa verdadei-ra travessia pelo deserto, sem nunca desistir e os resultados

«Queremos fazer mais com a produção nacional. Temos um consumo de frutas e legumes per capita superior à média europeia mas queremos que este consumo seja de produção nacional»

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TESTEMUNHA

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25SYNCRON &NITROACTIVE

Flores/rama Produção (Ton/ha)Frutos/rama

25,6

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31,0TESTEMUNHA

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35

30

25SYNCRON &NITROACTIVE

Flores/rama Frutos/rama Produção (Ton/ha)

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2012 2013

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ACTIVA OS PROCESSOS FISIOLÓGICOS RESPONSÁVEIS PELA ESTIMULAÇÃO DA QUEBRA DA DORMÊNCIA

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«a agricultura familiar tem o seu papel e achamos que deve ser apoiada por via da organização, para que não venha distorcer o mercado»

Fruto da forma como as coisas estão estruturadas, sabemos que por vezes é difícil pôr as universidades a trabalharem jun-tas. Mas isso tem acontecido e esta rede é importante para a nossa actividade.

Quais são as metas do coTHN para este ano de 2020? Nos primeiros meses do ano esperamos ter dois marcos mui-to importantes: a apresentação do estudo estratégico para a fileira e a conclusão da Agenda de Inovação. Esta agenda também é muito importante porque esperamos que ajude a marcar a investigação que vai ser feita nos próximos anos. Além disso, em 2020, a actividade do COTHN vai ser muito pautada pelos Grupos Operacionais. Estamos a 50% dos pro-jectos (todos começaram em 2018) e temos de começar a co-locar informação cá fora. Vai ser um ano muito cheio e é para isso que existimos!

estão à vista. Esta direcção conseguiu dar a volta e está a con-seguir dar resposta ao que a produção anseia. O INIAV não faz isso sozinho, está com outras entidades, universidades e escolas agrárias. E penso que também aqui o COTHN teve um papel importante, porque conseguiu criar um ecossistema de entidades do sistema científico e tecnológico que não existia.