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TEMA A: ASSISTÊNCIA E TECNOLOGIAS DO CUIDADO O FAZER PARA REFAZER: A OFICINA TERAPÊUTICA DE TRABALHOS MANUAIS NO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL ¹ Carla Patrícia Dias França de Paiva Santos ² Maria Beatriz Garcia Mourão ³ ¹ Unidade Básica de Saúde (UBS) responsável pela inscrição: Novo Riacho; ² Psicóloga da UBS Novo Riacho, e-mail: [email protected]; ³ Assistente Social da UBS Novo Riacho A Oficina Terapêutica de trabalhos manuais da Unidade Básica de Saúde Novo Riacho, localizada no Distrito Eldorado, é desenvolvida há aproximadamente 15 anos no município de Contagem, Minas Gerais. Oferece um espaço que possibilita a construção de novas perspectivas e saídas que ultrapassam a intervenção medicamentosa e psicológica. Atualmente é direcionada a usuários com transtornos mentais que apresentam algum grau de ruptura social e/ou com comprometimento das relações interpessoais. Os encaminhamentos são realizados pela equipe de saúde mental, após definição do projeto terapêutico individual de cada usuário. As Oficinas comportam até 12 participantes e são realizadas semanalmente, com duas horas de duração. Em cada encontro estão presentes o Assistente Social e o Psicólogo, que atuam como facilitadores e mediadores das ações realizadas por usuários portadores de quadros psíquicos diversos. Atualmente temos um número maior de pacientes graves, egressos do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), com histórico de internações em hospitais psiquiátricos e de difícil aderência ao tratamento convencional. Os participantes realizam durante estas horas atividades artesanais de baixa complexidade que são definidas pelo coletivo de usuários a partir do desejo e da habilidade manifestada por um deles ou através da identificação de moradores da comunidade que se disponham a atuar como multiplicadores voluntários, ensinando técnicas diversas de artesanato. Os materiais para a realização dos trabalhos manuais são adquiridos com recursos advindos da venda dos mesmos durante bazar de fim de ano ou através de doações feitas pela comunidade. A partir do trabalho realizado e da proximidade com o local de residência do usuário, do ambiente acolhedor e da relação com outros pacientes, observamos uma melhor adesão ao tratamento (inclusive medicamentoso), além de maior interação com a comunidade, aumento da autonomia e melhora do autocuidado. A participação do usuário na atividade proposta também permite melhor monitoramento dos quadros, possibilitando intervenção rápida antes que nova crise se instale, sendo possível também o direcionamento para outras áreas (como ginecologia, odontologia e clínica médica), ampliando assim o acesso a toda a rede de saúde. Consequentemente, verificamos diminuição na frequência e intensidade das crises e da necessidade de intervenção pelos CAPS, além de redução da quantidade de medicação inicial em pelo menos 4 casos. A oficina também tem contribuído para o aumento da autoestima, para complementação da renda de alguns usuários, formação de laços e retomada de rotinas. Como maiores dificultadores do trabalho salientamos a dificuldade de aquisição de insumos e ampliação da oferta de atividades, o que muitas vezes precariza o trabalho e, o fato da oficina não ser incluída como estratégia institucional, sendo muitas vezes interrompida por questões geralmente alheias ao desejo dos profissionais envolvidos.

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TEMA A: ASSISTÊNCIA E TECNOLOGIAS DO CUIDADO

O FAZER PARA REFAZER: A OFICINA TERAPÊUTICA DE TRABALHOS MANUAIS NO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL ¹

Carla Patrícia Dias França de Paiva Santos ²

Maria Beatriz Garcia Mourão ³

¹ Unidade Básica de Saúde (UBS) responsável pela inscrição: Novo Riacho;

² Psicóloga da UBS Novo Riacho, e-mail: [email protected];

³ Assistente Social da UBS Novo Riacho

A Oficina Terapêutica de trabalhos manuais da Unidade Básica de Saúde Novo Riacho, localizada no Distrito Eldorado, é desenvolvida

há aproximadamente 15 anos no município de Contagem, Minas Gerais. Oferece um espaço que possibilita a construção de novas

perspectivas e saídas que ultrapassam a intervenção medicamentosa e psicológica. Atualmente é direcionada a usuários com

transtornos mentais que apresentam algum grau de ruptura social e/ou com comprometimento das relações interpessoais. Os

encaminhamentos são realizados pela equipe de saúde mental, após definição do projeto terapêutico individual de cada usuário. As

Oficinas comportam até 12 participantes e são realizadas semanalmente, com duas horas de duração. Em cada encontro estão

presentes o Assistente Social e o Psicólogo, que atuam como facilitadores e mediadores das ações realizadas por usuários portadores

de quadros psíquicos diversos. Atualmente temos um número maior de pacientes graves, egressos do Centro de Atenção Psicossocial

(CAPS), com histórico de internações em hospitais psiquiátricos e de difícil aderência ao tratamento convencional. Os participantes

realizam durante estas horas atividades artesanais de baixa complexidade que são definidas pelo coletivo de usuários a partir do

desejo e da habilidade manifestada por um deles ou através da identificação de moradores da comunidade que se disponham a atuar

como multiplicadores voluntários, ensinando técnicas diversas de artesanato. Os materiais para a realização dos trabalhos manuais

são adquiridos com recursos advindos da venda dos mesmos durante bazar de fim de ano ou através de doações feitas pela

comunidade. A partir do trabalho realizado e da proximidade com o local de residência do usuário, do ambiente acolhedor e da relação

com outros pacientes, observamos uma melhor adesão ao tratamento (inclusive medicamentoso), além de maior interação com a

comunidade, aumento da autonomia e melhora do autocuidado. A participação do usuário na atividade proposta também permite

melhor monitoramento dos quadros, possibilitando intervenção rápida antes que nova crise se instale, sendo possível também o

direcionamento para outras áreas (como ginecologia, odontologia e clínica médica), ampliando assim o acesso a toda a rede de

saúde. Consequentemente, verificamos diminuição na frequência e intensidade das crises e da necessidade de intervenção pelos

CAPS, além de redução da quantidade de medicação inicial em pelo menos 4 casos. A oficina também tem contribuído para o aumento

da autoestima, para complementação da renda de alguns usuários, formação de laços e retomada de rotinas. Como maiores

dificultadores do trabalho salientamos a dificuldade de aquisição de insumos e ampliação da oferta de atividades, o que muitas vezes

precariza o trabalho e, o fato da oficina não ser incluída como estratégia institucional, sendo muitas vezes interrompida por questões

geralmente alheias ao desejo dos profissionais envolvidos.