telecurso 2000 - historia do brasil volume2

137
O que é uma república? Esta pergunta tem sido respondida de diversas maneiras pelas sociedades humanas através dos tempos. Nos dias de hoje, no Brasil, como poderíamos respondê-la? Vamos supor que estamos fazendo uma pesquisa de opinião e ouvindo as pessoas na rua sobre esse tema. Podemos imaginar uma resposta. Por exemplo: “É a forma de governo em que os cidadãos elegem os seus governantes por um prazo determinado, ao contrário da monarquia, em que o poder é hereditário e vitalício.” Uma boa definição, mas que se mostra pouco informada a respeito dos modernos regimes monárquicos em que o povo, apesar de não escolher seu rei ou rainha, elege o chefe de governo e os membros do Poder Legislativo. Mesmo assim, continua sendo uma boa resposta, pois iden- tifica dois princípios gerais do regime republicano: a soberania popular soberania popular soberania popular soberania popular soberania popular - isto é, o poder é do povo, cabe a ele a decisão final sobre a melhor forma de organização do país - e a provisoriedade dos representantes eleitos provisoriedade dos representantes eleitos provisoriedade dos representantes eleitos provisoriedade dos representantes eleitos provisoriedade dos representantes eleitos por esse mesmo povo. Na história do mundo ocidental, os regimes monárquicos absolutistas predominaram durante muito tempo. No século XIX, como uma conseqüência das revoluções liberais, o absolutismo foi sendo substituído por monarquias constitucionais ou por repúblicas. Enquanto as primeiras permaneceram muito fortes na Europa até a Primeira Guerra Mundial, na América as repúblicas dominaram o cenário político desde a primeira metade do século XIX. No Brasil, a república tornou-se realidade no final do século XIX. A mudança de forma de governo trouxe, como vimos nas últimas aulas, desconfianças e conflitos para todos os gostos. Mas, com ela, novas esperanças de participação também vieram à tona. Será que agora, com o fim da escravidão e com a Será que agora, com o fim da escravidão e com a Será que agora, com o fim da escravidão e com a Será que agora, com o fim da escravidão e com a Será que agora, com o fim da escravidão e com a possibilidade de maior envolvimento político, o país encontraria seu rumo e possibilidade de maior envolvimento político, o país encontraria seu rumo e possibilidade de maior envolvimento político, o país encontraria seu rumo e possibilidade de maior envolvimento político, o país encontraria seu rumo e possibilidade de maior envolvimento político, o país encontraria seu rumo e se tornaria uma nação moderna? se tornaria uma nação moderna? se tornaria uma nação moderna? se tornaria uma nação moderna? se tornaria uma nação moderna? Essa questão marcou, e marca, toda a nossa trajetória republicana, que já dura um pouco mais de cem anos. Nas próximas aulas, você acompanhará os diversos momentos da nossa história republicana. Verá que a república que construímos teve muitas caras, muitas faces. A república dos brasileiros foi, e tem sido, marcada pela instabilidade instabilidade instabilidade instabilidade instabilidade e pela diversidade diversidade diversidade diversidade diversidade. Afinal, nossa república teve de formar os estados da federação, os diferentes grupos sociais (que se espalharam e ganharam força), os costumes políticos e as invenções culturais. São muitos e muito distintos os personagens e as situações. Nossa viagem agora é pelas diferenças. De agora em diante, você percorrerá um longo e sinuoso trajeto. Um caminho que continuamos a trilhar e a construir. Parte III A repœblica dos brasileiros

Upload: historia-tc

Post on 06-Jun-2015

4.097 views

Category:

Documents


138 download

TRANSCRIPT

O que é uma república? Esta pergunta tem sido respondida de diversasmaneiras pelas sociedades humanas através dos tempos. Nos dias de hoje, noBrasil, como poderíamos respondê-la? Vamos supor que estamos fazendo umapesquisa de opinião e ouvindo as pessoas na rua sobre esse tema. Podemosimaginar uma resposta. Por exemplo: “É a forma de governo em que os cidadãoselegem os seus governantes por um prazo determinado, ao contrário da monarquia, emque o poder é hereditário e vitalício.” Uma boa definição, mas que se mostra poucoinformada a respeito dos modernos regimes monárquicos em que o povo, apesarde não escolher seu rei ou rainha, elege o chefe de governo e os membros doPoder Legislativo. Mesmo assim, continua sendo uma boa resposta, pois iden-tifica dois princípios gerais do regime republicano: a soberania popularsoberania popularsoberania popularsoberania popularsoberania popular − isto é,o poder é do povo, cabe a ele a decisão final sobre a melhor forma de organizaçãodo país − e a provisoriedade dos representantes eleitosprovisoriedade dos representantes eleitosprovisoriedade dos representantes eleitosprovisoriedade dos representantes eleitosprovisoriedade dos representantes eleitos por esse mesmo povo.

Na história do mundo ocidental, os regimes monárquicos absolutistaspredominaram durante muito tempo. No século XIX, como uma conseqüênciadas revoluções liberais, o absolutismo foi sendo substituído por monarquiasconstitucionais ou por repúblicas. Enquanto as primeiras permaneceram muitofortes na Europa até a Primeira Guerra Mundial, na América as repúblicasdominaram o cenário político desde a primeira metade do século XIX.

No Brasil, a república tornou-se realidade no final do século XIX. A mudançade forma de governo trouxe, como vimos nas últimas aulas, desconfianças econflitos para todos os gostos. Mas, com ela, novas esperanças de participaçãotambém vieram à tona. Será que agora, com o fim da escravidão e com aSerá que agora, com o fim da escravidão e com aSerá que agora, com o fim da escravidão e com aSerá que agora, com o fim da escravidão e com aSerá que agora, com o fim da escravidão e com apossibilidade de maior envolvimento político, o país encontraria seu rumo epossibilidade de maior envolvimento político, o país encontraria seu rumo epossibilidade de maior envolvimento político, o país encontraria seu rumo epossibilidade de maior envolvimento político, o país encontraria seu rumo epossibilidade de maior envolvimento político, o país encontraria seu rumo ese tornaria uma nação moderna?se tornaria uma nação moderna?se tornaria uma nação moderna?se tornaria uma nação moderna?se tornaria uma nação moderna?

Essa questão marcou, e marca, toda a nossa trajetória republicana, que jádura um pouco mais de cem anos. Nas próximas aulas, você acompanhará osdiversos momentos da nossa história republicana. Verá que a república queconstruímos teve muitas caras, muitas faces. A república dos brasileiros foi, etem sido, marcada pela instabilidadeinstabilidadeinstabilidadeinstabilidadeinstabilidade e pela diversidadediversidadediversidadediversidadediversidade. Afinal, nossarepública teve de formar os estados da federação, os diferentes grupos sociais(que se espalharam e ganharam força), os costumes políticos e as invençõesculturais. São muitos e muito distintos os personagens e as situações. Nossaviagem agora é pelas diferenças. De agora em diante, você percorrerá umlongo e sinuoso trajeto. Um caminho que continuamos a trilhar e a construir.

Parte IIIA república dosbrasileiros

Módulo 8As bases

da Primeira República

Em aulas anteriores, você pôde perceber que foi muito mais fácil para osrepublicanos civis e militares promover a derrubada do Estado monárquico doque construir a nova ordem republicana. O que fazer? Como o governo federalpoderia recuperar o controle da situação política, até então marcada pelainstabilidade?

Nas próximas três aulas, você poderá acompanhar essa questão. Verá aindaque o país passava por um importante processo de modernização econômica.Naqueles tempos de predomínio do café, surgiam as indústriais e cresciam ascidades. E, com elas, ganhavam força novos segmentos sociais: os industriais eos operários.

Em nossa viagem, estamos desembarcando no século XX.

21A U L A

A esta altura, você já pôde perceber queiniciamos o terceiro bloco de nosso curso. Entramos na República, depois deviajar pela Colônia e pelo Império.

Há muitas maneiras de iniciar nossa passagem pela República. Escolhemosum ditado que já se tornou popular no Brasil: “ÉÉÉÉÉ dando que se recebedando que se recebedando que se recebedando que se recebedando que se recebe” .

Em situações de disputa pela distribuição de cargos públicos ou de verbaspara a realização de obras, volta e meia esse princípio é utilizado. Significa que,em troca do apoio de um político a alguma lei enviada ao Congresso peloExecutivo, alguma recompensa o político deve receber.

Esse assunto tão importante e atual tem raízes antigas na história do Brasil,atravessa a República e permanece em nossa memória. Vamos entender suasorigens?

Vamos acabar com a instabilidade! A política dos governadores

Os primeiros dez anos da República brasileira caracterizaram-se por inten-sos conflitos entre diferentes grupos da sociedade: dos representantes políticosda classe dominante com os militares, dos próprios políticos entre si, e entre ospolíticos e o povo. Todos queriam controlar o poder, tinham interesses diversose discordavam em suas concepções de como organizar a República.

Acrescente-se a isso a existência de uma crise econômica e financeiraconstante, caracterizada por inflação, endividamento externo, gastos excessivosdo governo e declínio dos preços dos produtos de exportação.

Como resolver todos esses problemas?

Depois de muitos conflitos, e com o fortalecimento dos grupos políticosligados aos cafeicultores de São Paulo, algumas saídas começaram a ser pensa-das: a volta dos militares aos quartéis, o controle da participação das camadaspopulares e dos conflitos entre grupos dominantes e, por fim, o desenvolvimen-to de uma política de saneamento da crise financeira.

No fim do governo de Prudente de Moraes (1894-1898), alguns dessesdesafios já tinham sido contornados, com a derrota dos militares jacobinos e seuafastamento do palco dos acontecimentos políticos. Também a revolta de Canu-dos foi sufocada, eliminando um foco de contestação ao regime na área rural.

�É dando que serecebe�

Abertura

Movimento

21A U L A

Mas muito restava para ser feito quando, em 1898, Campos Sales foi eleitopresidente. Era preciso consolidar a República, e o novo governo direcionou suaatuação para dois objetivos:

· a renegociação da dívida externa do país com os banqueiros estrangeiros ea elaboração de um plano para equilibrar as finanças brasileiras;

· adoção da política dos governadorespolítica dos governadorespolítica dos governadorespolítica dos governadorespolítica dos governadores.

Na aula de hoje, vamos estudar a montagem e o funcionamento da políticada políticada políticada políticada políticados governadoresdos governadoresdos governadoresdos governadoresdos governadores. Essa política caracterizou a Primeira República, ou RepúblicaVelha − o período que se estende de 1889 até a Revolução de 30. O que vem a serisso?

A idéia central que presidiu a organização da política dos governadores foio compromissocompromissocompromissocompromissocompromisso. Conforme já dissemos, as oligarquias, isto é, os grupos depolíticos que dominavam os Estados, viviam brigando entre si pelo controle dopoder. Essas disputas se expressavam especialmente nos momentos de eleições,tanto para o Executivo como para o Legislativo, nos municípios, nos Estados eno país.

Na Primeira República não havia Justiça Eleitoral independente nem votosecreto. Sempre, ao final das eleições, havia dúvidas acerca de que candidatoshaviam sido legitimamente eleitos. Isso gerava conflitos intermináveis e umaforte instabilidade do Congresso. E o presidente da República tinha dificuldadesde construir uma base de apoio sólida para garantir a aprovação de seus projetos.

Esse problema não era uma novidade da República, pois conflitos semelhan-tes já ocorriam no Império. A grande diferença era que no regime monárquicoexistia um grande árbitro − o imperador, que, no exercício do Poder Moderador,controlava os conflitos entre os diferentes grupos e promovia seu revezamentono poder.

Em tempo

O caricaturista retratouCampos Sales voltandoda Europa e dizendoaos concidadãos quehavia muita esperançano futuro da república.Fonte: Isabel Lustosa

21A U L A Na ausência da Justiça Eleitoral, desenvolveram-se inúmeras formas de

fraude que receberam nomes engraçados. Você conhece as expressões curralcurralcurralcurralcurraleleitoraleleitoraleleitoraleleitoraleleitoral e degoladegoladegoladegoladegola?

· curralcurralcurralcurralcurral eleitoraleleitoraleleitoraleleitoraleleitoral: na República Velha, era um lugar próximo do local devotação, para onde eram levados os eleitores das áreas rurais, no dia deeleição. Cada “coronel”, ou chefe local, tinha o seu curral, e aí distribuía aoseleitores envelopes fechados contendo as células dos candidatos em queeram obrigados a voltar. Era o voto conhecido como “de cabresto”, porqueo eleitor era dominado por um freio, como uma montaria, ou “marmita”,porque já vinha pronto. Depois da votação, os eleitores recebiam umarefeição e eram levados de volta para casa.

· degoladegoladegoladegoladegola: era a eliminação dos candidatos ao Legislativo que não tinham sidoaprovados pelos governos dos Estados. O problema era que não bastavaganhar a eleição, era preciso ser confirmado. E nem sempre os vitoriososeram aprovados. Ganhavam, mas não levavam!

Embora já se votasse desde o período colonial, o título de eleitor só foiinstituído em 1881. Nele só constavam nome, data de nascimento, filiação,estado civil e profissão. Mas, note bem, não havia o retrato do eleitor! Essasituação permaneceu na República, o que dava margem a inúmeras fraudes. Nomomento do alistamento, na votação, na contagem dos votos e na elaboração dasatas com os resultados finais das eleições, criavam-se nomes falsos, votavamdefuntos, somava-se errado. Era a chamada eleição a “bico de pena”.

A política dos governadores tinha como objetivo en-contrar uma saída para esses problemas. Ela deveria, antesde mais nada, fortalecer a posição do presidente da Repú-blica e dos governadores de Estado em face dos deputados.Mas como isso seria feito? Mediante um acordo que elimi-naria as brigas, mas não necessariamente as fraudes.

No momento das eleições para o Legislativo federal, osgovernadores fariam a lista dos candidatos dos seus respec-tivos Estados que deveriam ser eleitos. Uma vez eleitos,esses parlamentares tinham a obrigação de apoiar sempreo presidente da República. Em troca, o governo federaldava total liberdade ao governador do Estado que o estavaapoiando para controlar seus opositores e promover perse-guições políticas e violências. Além disso, também eramconcedidos, ao governador, verbas para a realização deobras e o direito de nomeação para cargos públicos.

Esse tipo de acordo também acontecia entre os gover-nadores e os chefes municipais − os prefeitos − e entre osprefeitos e os seus amigos “coronéis”, grandes proprietári-os rurais que controlavam os eleitores.

Como você pode perceber, existia uma corrente em quecada um trocava favores com outros. O nome desse acordoera pacto oligárquicopacto oligárquicopacto oligárquicopacto oligárquicopacto oligárquico. Ele tinha por base o compromissocoronelístico, ou seja, a troca de favores políticos entre asoligarquias e os coronéis.

Em tempo

O jogo de cartasmarcadas naseleições da PrimeiraRepública.Fonte: Isabel Lustosa

21A U L AEsse tipo de comportamento foi retratado em muitas obras da literaturaliteraturaliteraturaliteraturaliteratura

brasileira brasileira brasileira brasileira brasileira e em programas de TVprogramas de TVprogramas de TVprogramas de TVprogramas de TV. A novela Gabriela, inspirada num livro deJorge Amado, nos mostra a atuação de vários personagens desse sistema. RamiroBastos, grande fazendeiro de cacau e chefe político do município de Ilhéus,controla toda a vida local, lidera outros coronéis e persegue duramente seusadversários políticos, com a concordância do governador.

Você conhece outros exemplos?

O federalismo desigual

Mas é importante compreender que nesse acordo entre as oligarquias nãohavia uma igualdade em todo o país. Existiam grupos regionais que eram muitomais poderosos que outros, dependendo dos Estados que controlavam. Porexemplo: as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais tinham uma posiçãoprivilegiada, e por isso esses Estados eram chamados de “primeira grandeza”.

A seguir, tínhamos os Estados de “segunda grandeza”. O Rio Grande do Sulocupava uma posição especial nesse grupo, que compreendia ainda os Estadosda Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco. Por fim, vinham os chamados “estadossatélites”, de poder político e econômico reduzido.

Como você pode ver, existia uma hierarquia hierarquia hierarquia hierarquia hierarquia entre os Estados. Conseqüen-temente, o grau de autonomia de cada um era diferente. De fato, a descentralizaçãodefinida pela Constituição de 1891 estabelecia um federalismo desigual, pois osEstados mais fracos não tinham autonomia e sofriam constantes intervenções dogoverno federal, controlado em geral pelas oligarquias de Minas e São Paulo.

Na obra Terras do sem fim, ao relatar conflitos políticos em Ilhéus, o autorJorge Amado usa o personagem Virgílio, advogado contratado pelos coronéis,para anunciar esta ameaça:

O governo estadual se afastava cada vez mais do federal e era certo paraquem tivesse visão que não ia poder se manter no poder nas próximas eleições.Ou talvez caísse antes. Havia na Bahia quem falasse que haveria intervençãofederal no Estado.

Em tempo

Em tempo

À esquerda, acaricatura deNogueira Accioly,“dono do Ceará”.À direita, caricaturado oligarcapernambucano,Rosa e Silva,abraçando o Piauí.

21A U L A A política dos governadores foi eficaz porque conseguiu resolver alguns

problemas que ameaçavam a estabilidade da República brasileira. Ao mesmotempo, seu funcionamento resultou no enorme fortalecimento dos grupos leaisao governo − a situaçãosituaçãosituaçãosituaçãosituação − em detrimento dos grupos de oposiçãooposiçãooposiçãooposiçãooposição. Com isso,tornava-se praticamente impossível o rodízio do poder, um dos fundamentos doEstado democrático.

Essa forma de fazer política dificultou muito a organização e o fortalecimen-to dos partidos políticos no Brasil. Durante a Primeira República, não se desen-volveram partidos nacionais, apenas partidos regionais, com programas nãodefinidos. Esses partidos baseavam suas práticas na troca de favores, no “édando que se recebe”. Outra conseqüência foi a exclusão da participação políticaimposta às camadas populares, que se sentiam pouco estimuladas e muitorestringidas.

É verdade que o crescimento das cidades e a diferenciação das atividades,especialmente a expansão da indústria e do comércio, permitiram o desenvolvi-mento de movimentos da classe trabalhadora, como greves, “quebra-quebras”,iniciativas de organização sindical. Nos centros urbanos, a liberdade de circula-ção de pessoas e de idéias era muito maior. Mas, com tudo isso, a vida políticanão se diferenciava muito daquela que vigorava no interior rural.

Mesmo no Rio de Janeiro, capital da República e principal centro do país, aseleições, como diz o historiador José Murilo de Carvalho, eram “uma operaçãode capangagem”, pois os chefes políticos das diferentes freguesias da cidadecriavam constantes tumultos para evitar a participação de seus opositores,especialmente se pertencessem às camadas populares.

Hoje vimos o modo de fazer política na Primeira República. Na próximaaula, examinaremos como os grupos dirigentes brasileiros enfrentaram asquestões econômicas que ameaçavam a estabilidade do regime republicano.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item Vamos acabar com a instabilidade! A política dos governado-Vamos acabar com a instabilidade! A política dos governado-Vamos acabar com a instabilidade! A política dos governado-Vamos acabar com a instabilidade! A política dos governado-Vamos acabar com a instabilidade! A política dos governado-resresresresres e explique por que a política dos governadores eliminou as brigas masmanteve as fraudes.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Dê um novo título a esta aula.

Últimaspalavras

Exercícios

22A U L A

Alguém já disse, com razão, que todobrasileiro é, ou gostaria de ser, técnico de futebol. Basta a seleção brasileira jogarpara todo mundo começar a dar palpite. Somos grandes palpiteiros.

Ultimamente, uma das manias nacionais tem sido falar também sobre aeconomia brasileira. Em todos os telejornais existe a figura do comentaristaeconômico. Muitos de nós já estão mais familiarizados com a difícil linguagemdos economistas, o “economês”“economês”“economês”“economês”“economês”. Nestes tempos de sucessivos planos econômi-cos, de forte presença do Estado na definição dos rumos da economia, muitossabem que qualquer medida do governo pode afetar a vida de muita gente. Énatural, por conseguinte, tanto interesse.

Na Primeira República, a história era outra. Política econômica era um temapara poucos. O café era o eixo fundamental da nossa economia, e o poder públicointerferia bem menos que nos dias de hoje.

Nesta aula, veremos como o Estado se fazia presente naquela economiaagroexportadora. Examinaremos ainda os principais fatores responsáveis pelaexpansão da indústria nas primeiras décadas do século XX.

Salvar o café

O Império caiu, mas o “rei café” não perdeu a majestade. Na década de 1890,a produção cafeeira viveu um crescimento vertiginoso. A produção médiaaumentou de 6,5 milhões de sacas entre 1891 e 1895 para 11,7 milhões entre 1896e 1902.

Esse fato certamente está relacionado, entre outros fatores, ao aumento daprocura do produto no plano internacional e, ainda, ao grande movimento deimigração naquela última década do século XIX.

Entre 1888 e 1900 [ingressaram no Brasil] cerca de 1.400.000 pessoas, das quais890.000 se fixaram em São Paulo.João Manuel Cardoso de Mello, João Manuel Cardoso de Mello, João Manuel Cardoso de Mello, João Manuel Cardoso de Mello, João Manuel Cardoso de Mello, O capitalismo tardio, O capitalismo tardio, O capitalismo tardio, O capitalismo tardio, O capitalismo tardio, p. 124p. 124p. 124p. 124p. 124

Estava finalmente equacionado o problema da falta de braços para a lavouracafeeira, que por muito tempo havia atormentado o espírito dos produtores.

Estado e economiana Primeira República

22A U L A

Abertura

Movimento

22A U L A A euforia expansionista logo enfrentaria problemas. O grande aumento da

produção, ao lado da diminuição da procura, foi responsável por uma quedaacentuada dos preços no mercado internacional. O recurso utilizado paracompensar as perdas eram as constantes desvalorizações da moeda nacional queocorriam naqueles difíceis anos iniciais da República.

A desvalorização da moeda nacional tem reflexos importantes na economiade um país. Um deles é o encarecimento dos produtos importados, o queprejudica os importadores e consumidores desses bens.

Já para os exportadores, a desvalorização torna-se lucrativa, pois lhesgarante mais recursos na conversão da moeda internacional pela nacional.

Assim, naqueles tempos de queda nos preços do café, a desvalorização damoeda era muito bem vista pelos cafeicultores. Dessa forma, eles podiam mantersuas margens de lucro. Isso não ocorreria se houvesse uma política de valoriza-ção da moeda, pois eles seriam obrigados a arcar com seus prejuízos.

Essa situação, no entanto, não durou muito tempo. Na gestão do presidenteCampos Sales (1898-1902), adotou-se um rígido programa econômico voltadopara enfrentar os problemas decorrentes do desequilíbrio das contas do governoe da virtual incapacidade do país de honrar seus compromissos externos.

Para isso, Campos Sales obteve um empréstimo externo de 10 milhões delibras. Em troca, o governo comprometeu-se a acertar as contas externas e aestabilizar a economia por meio de uma política contencionista, deflacionáriadeflacionáriadeflacionáriadeflacionáriadeflacionária,que retirava parte do papel-moeda de circulação.

Isso significava, também, uma política de valorização da moedavalorização da moedavalorização da moedavalorização da moedavalorização da moeda. Essapolítica, como sabemos, afetava a já debilitada debilitada debilitada debilitada debilitada economia cafeeira.

A situação do café tornou-se ainda mais crítica no governo de RodriguesAlves (1902-1906). A queda acentuada de preços não abalou a decisão dopresidente da República, que se recusava a proteger o produto por meio dadesvalorização da moeda ou de qualquer outro mecanismo de natureza econô-mica.

Diante disso, os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiroreuniram-se na cidade paulista de Taubaté para adotar uma nova políticacafeeira. Foi então assinado o Convênio de TaubatéConvênio de TaubatéConvênio de TaubatéConvênio de TaubatéConvênio de Taubaté (1906), que estabeleceu asseguintes diretrizes:· a crise era de tal ordem que se fazia necessária a intervenção dointervenção dointervenção dointervenção dointervenção do

poder público no mercadopoder público no mercadopoder público no mercadopoder público no mercadopoder público no mercado;

· os Estados deveriam obter um empréstimo externo para comprar e estocarcomprar e estocarcomprar e estocarcomprar e estocarcomprar e estocaros excedentes de caféos excedentes de caféos excedentes de caféos excedentes de caféos excedentes de café;

· era necessário criar mecanismos que impedissem a excessiva valorizaçãoexcessiva valorizaçãoexcessiva valorizaçãoexcessiva valorizaçãoexcessiva valorizaçãoda moeda da moeda da moeda da moeda da moeda e novas crises de superproduçãonovas crises de superproduçãonovas crises de superproduçãonovas crises de superproduçãonovas crises de superprodução.

Esboçava-se aí uma política de valorização do cafépolítica de valorização do cafépolítica de valorização do cafépolítica de valorização do cafépolítica de valorização do café. Mas, como os Estadosde Minas Gerais e Rio de Janeiro não assumiram de fato a orientação doconvênio, São Paulo tratou de agir. Obteve empréstimos externos e,

em fim de 1907 (...) comprou cerca de 8,2 milhões de sacas [de café], que foramarmazenadas nas principais cidades da Europa e dos Estados Unidos.Boris Fausto, Boris Fausto, Boris Fausto, Boris Fausto, Boris Fausto, História do Brasil, História do Brasil, História do Brasil, História do Brasil, História do Brasil, p. 267p. 267p. 267p. 267p. 267

Em tempo

Desvalorizarnossa moeda quer

dizer que ela valerámenos em relaçãoà moeda de outro

país, no caso,o dólar.

Deflacionarquer dizer diminuir

a quantidade dedinheiro em

circulação. Quantomais dinheiro

houver emcirculação, maior

a chance deaumentar a

inflação.

Pintura a óleo deCândido Portinari

22A U L ASó em 1908, no governo do presidente Afonso Pena (1906-1909), o governo

federal avalizou o empréstimo de 15 milhões de libras que o Estado de São Paulorequereu para intervir com maior rigor no mercado do café.

Os resultados foram imediatos. Já em 1909, os preços começaram a subir e semantiveram em alta até 1912. O sucesso do empreendimento consolidou apresença federal no setor cafeeiro. As crises do café, a partir de então, deixaramde ser apenas um problema dos cafeicultores e do Estado de São Paulo: transfor-maram-se em uma questão nacional, assumida pelo governo federal.

A força dos interesses cafeicultores expressou-se também em 1921, quandonovamente o governo federal interveio no mercado e promoveu novas valo-valo-valo-valo-valo-rizações do produtorizações do produtorizações do produtorizações do produtorizações do produto.

Em síntese, como se percebe, não foram muito fáceis as relações do governofederal com os interesses do café. Entre 1898 e 1906, o poder público federal optoupor adotar ou manter programas de estabilização econômica. Com isso, teve deenfrentar fortes pressões do setor cafeeiro, interessado em medidas que prote-gessem o produto, como a desvalorização da moeda. Após o Convênio deTaubaté, o setor obteve vitórias expressivas até assegurar a garantia do governofederal.

A partir daí, a política econômica brasileira adotou uma postura de maiorproteção ao café até meados da década de 1920, quando o Estado de São Pauloassumiu a defesa permanente do produto.

Nas próximas aulas, você verá que ocorreram novos embates entre o setorcafeeiro e o governo federal no final da década de 1920.

Tudo isso nos leva a duas importantes conclusões sobre as relações doEstado com os interesses cafeeiros nas primeiras décadas republicanas. Primei-ra: eram inegáveis a força e a importância do setor cafeeiro, que teve na elitepolítica paulista seu principal porta-voz. Segunda: não houve, por parte dogoverno federal, mesmo nos governos de presidentes paulistas, uma defesaintransigente e permanente do café. Ocorreu o que o economista Winston Fritschchamou de uma “política cambiante”, que ora agia no sentido de garantir oequilíbrio econômico, ora protegia o café (Winston Fritsch, Sobre as interpretaçõestradicionais sobre a lógica da política econômica na Primeira República, p. 342).

Isso nos leva a crer, portanto, que o governo federal, mesmo reconhecendoa força do café e atendendo várias vezes às suas reivindicações, não podia deixarde levar em conta o equilíbrio econômico − e outros interesses que também opressionavam, no plano externo e interno.

Fazendeiro decafé inspecionaa plantação.

22A U L A

Explique o que você entendeu por política de valorização do café.

Expansão industrial e urbana

Na passagem do século XIX para o século XX, outros produtos primáriosse destacaram na nossa pauta de exportações. Dois deles merecem ser citados:o cacau e a borracha. O primeiro cresceu no sul da Bahia, embalado pelo aumentodo mercado externo.

A produção baiana atingiu a marca de 13.000 toneladas, recriando passageira-mente, com as importações inglesas, a prosperidade dos latifundiários daquelaregião. Logo depois [por volta de 1900], os ingleses, que haviam investido naCosta do Ouro, sua colônia, deixaram de importar, o que levou à estagnação eà crise da produção baiana.Francisco Alencar e outros, Francisco Alencar e outros, Francisco Alencar e outros, Francisco Alencar e outros, Francisco Alencar e outros, História da sociedade brasileiraHistória da sociedade brasileiraHistória da sociedade brasileiraHistória da sociedade brasileiraHistória da sociedade brasileira, p. 191, p. 191, p. 191, p. 191, p. 191

A produção da borracha na Amazônia não foi muito diferente da do cacaubaiano. Após um breve período de grande expansão, que se prolongou do fim doséculo passado até 1914, a produção entraria em franca decadência comoresultado da forte concorrência externa das colônias inglesas, francesase holandesas.

Mas, se nessas regiões parecia que a história brasileira se repetia como nostempos da América portuguesa, em algumas grandes cidades do Sudeste asituação era bem diferente.

Vivia-se uma época de transformações nos costumes, no comportamento,muito impulsionadas pelas novas tecnologias e pelo clima de otimismoque aqui chegavam.

Era a época do progresso, no mundo e no Brasil.

A euforia tomou conta do planeta. (...) Os povos saúdam, cheios de encantamen-to, o advento do século XX.(...) De repente, após milênios de civilização, o homem tinha em seu poderengenhos inacreditáveis: um carro que anda sem precisar de cavalos, um fio queinstantaneamente transmite mensagens de um continente a outro, uma lâmpa-da sem gás, nem pavio, um aparelho para conversar com pessoas a longadistância, outro para tirar retratos perfeitos como um espelho, (...) uma telamágica onde são projetadas imagens de pessoas, bichos e coisas movendo-seanimadamente, igualzinho à vida real... E para coroar este festival de deslum-bramento, vira realidade o mais caro sonho do ser humano: voar!Nosso Século: 1900-1910, Nosso Século: 1900-1910, Nosso Século: 1900-1910, Nosso Século: 1900-1910, Nosso Século: 1900-1910, p. 55p. 55p. 55p. 55p. 55

Em meio a tudo isso, cresciam também as atividades industriais, especial-mente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Pouco a pouco, a economiaagroexportadora brasileira se modernizava.

Na Aula 18, vimos que, na segunda metade do século XIX, surgiramalguns empreendimentos industriais. No final do século, com o avanço daimigração estrangeira, a atividade industrial brasileira ganhou corpo. As cida-des cresciam de importância e, com elas, ampliava-se o mercado consumidor.

Foi na maior dessas cidades, o Rio de Janeiro, que a atividade industrial sedesenvolveu com maior força naquele final do século XIX e início do século XX.

Em tempo

Pausa

22A U L AAlém do mercado consumidor em franca expansão, havia, na capital federal,

comerciantes e banqueiros que se interessavam em investir parte de seus capitaisem novas atividades, como as industriais.

Formaram-se, assim, tanto grandes fábricas produtoras de tecidos e cervejae grandes moinhos de trigo como pequenas e médias oficinas produtoras decalçados.

Em São Paulo, a indústria também acompanhou a expansão da cidade. BorisFausto afirma que, de 1890 para 1900,

a população paulistana passou de 64.934 para 239.820 habitantes, registrandouma elevação de 268% em dez anos...Boris Fausto, Boris Fausto, Boris Fausto, Boris Fausto, Boris Fausto, História do BrasilHistória do BrasilHistória do BrasilHistória do BrasilHistória do Brasil, p. 286, p. 286, p. 286, p. 286, p. 286

Esse espetacular crescimento se relacionava ao enorme impulso que o caféalcançara nas terras paulistas naquela passagem do século XIX para o XX.E, à sombra do café, cresceria a indústria paulistaà sombra do café, cresceria a indústria paulistaà sombra do café, cresceria a indústria paulistaà sombra do café, cresceria a indústria paulistaà sombra do café, cresceria a indústria paulista. Vejamos como isso ocorreu.

Como você já deve saber, formou-seem São Paulo um conjunto de atividadeseconômicas que giravam em torno do café.Alguns autores chamaram esse conjunto,que envolvia a produção, a distribuição, ofinanciamento e a comercialização do pro-duto, de complexo cafeeirocomplexo cafeeirocomplexo cafeeirocomplexo cafeeirocomplexo cafeeiro.

Todas essas atividades foram funda-mentais para a criação de fatores respon-sáveis pela expansão industrial. Porexemplo: com a grande imigração para asatividades cafeeiras, criava-se um merca-do consumidor para os produtos industri-ais; com a expansão das estradas de ferro,ampliava-se o mercado para o interior doEstado.

Além disso, os capitais investidos nocafé passaram também a ser aplicados naindústria.

Expansão urbanano começo doséculo XX.Fonte: Nosso Século

Fábrica emSão Paulo.

22A U L A O papel dos imigrantes na industrialização de São Paulo foi dessa forma

descrito por Boris Fausto:

Os imigrantes surgem nas duas pontas da indústria, como donos de empresa eoperários. (...) Eles tiveram um papel fundamental nas empresas manufatureirasda cidade de São Paulo, nas quais, em 1893, 70% de seus integrantes eramestrangeiros.Boris Fausto, Boris Fausto, Boris Fausto, Boris Fausto, Boris Fausto, História do Brasil, História do Brasil, História do Brasil, História do Brasil, História do Brasil, p. 287p. 287p. 287p. 287p. 287

A indústria paulista, que pela força do café logo tornou-se a mais importantedo país, também se caracterizou como uma indústria de bens de consumo não-duráveis (tecidos, alimentos).

Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), esses ramos da indústriabrasileira ganharam maior força. O conflito internacional diminuía a concorrên-cia externa e permitia uma ocupação maior do mercado brasileiro por produtosnacionais.

Mas foi apenas no pós-guerra que se iniciou um processo mais consistentede mudança do perfil limitado da nossa indústria. Na década de 1920, foi criadaa primeira indústria siderúrgica no país, a Belgo-Mineira. Iniciava-se assim aimplantação da chamada indústria de baseindústria de baseindústria de baseindústria de baseindústria de base, fundamental para romper com adependência externa e garantir um ritmo mais acelerado de desenvolvimento.

Você saberia dizer quais são os limites de uma industrialização baseadaapenas nos bens de consumo não-duravéis?

Sabe de cabeça?Ótimo! Responda logo para não esquecer.Não sabe ainda? Pense um pouco, discuta com seus companheiros de

trabalho, pesquise nos livros de História.

Para finalizar, voltemos ao Estado.O Estado procurou, muitas vezes, proteger o café. O que dizer de sua relação

com a indústria? O Estado também protegeu, ou simplesmente desconheceu aimportância das atividades industriais?

Essa é uma antiga controvérsia entre os historiadores, que se prolonga atéhoje. Há os que afirmam o caráter inteiramente antiindustrializante da políticagovernamental, e os que dizem que não era bem assim, que a política dedesvalorização do câmbio encarecia os produtos importados e assim defendia aindústria nacional.

Em um ponto, porém, há consenso: não havia uma política de estímulos ànão havia uma política de estímulos ànão havia uma política de estímulos ànão havia uma política de estímulos ànão havia uma política de estímulos àindústriaindústriaindústriaindústriaindústria. Ela não era a prioridade do governo naquelas décadas de predomínioda agroexportação.

Na próxima aula, estudaremos um pouco a vida da sociedade industrialbrasileira: o empresariado e o mundo do trabalho. Não perca!

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item Expansão industrial e urbanaExpansão industrial e urbanaExpansão industrial e urbanaExpansão industrial e urbanaExpansão industrial e urbana e explique a frase contida notexto da aula: “...à sombra do café, cresceria a indústria paulista”.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Releia o item Salvar o caféSalvar o caféSalvar o caféSalvar o caféSalvar o café e explique por que os Estados de São Paulo,Minas Gerais e Rio de Janeiro promoveram uma ampla intervenção no setorcafeeiro no governo do presidente Rodrigues Alves.

Em tempo

Últimaspalavras

Exercícios

Em tempo

Chamamosindústria de base

aquela que cria ascondições para odesenvolvimentoindustrial. São as

que operam aextração de

minérios paraoutros setores

industrias.

23A U L A

Vamos viajar hoje pelo mundo da fábrica.Imagine-se como um trabalhador que ingressa pela primeira vez em uma grandeindústria. Você, como qualquer outro novato, ficaria certamente atordoado como barulho daquelas máquinas modernas e com o trabalho incessante dos operá-rios. Tudo funciona como um relógio; cada minuto é importante; o tempo éracionalizado; as máquinas ditam o ritmo da produção; o trabalho é coletivo edisciplinado.

Se, nos dias de hoje, tempo das novas tecnologias e da informática, ainda nosimpressionamos com tudo isso, imagine o impacto que a introdução do sistemade fábrica deve ter causado muito tempo atrás − na Europa, no início do séculoXIX, e no Brasil, cerca de cem anos depois.

Como será que era viver essa nova realidade? Um importante escritorfrancês, perplexo com a grande indústria inglesa, assim descreveu o mundofabril:

Desta vala imunda a maior corrente da indústria humana flui para fertilizar omundo todo. Deste esgoto imundo jorra ouro puro. Aqui a humanidade atingeo seu mais completo desenvolvimento e sua maior brutalidade; aqui a civilizaçãofaz milagres e o homem civilizado torna-se quase um selvagem.Alexis de Tocqueville, 1835, citado por Eric Hobsbawm, Alexis de Tocqueville, 1835, citado por Eric Hobsbawm, Alexis de Tocqueville, 1835, citado por Eric Hobsbawm, Alexis de Tocqueville, 1835, citado por Eric Hobsbawm, Alexis de Tocqueville, 1835, citado por Eric Hobsbawm, A era dasA era dasA era dasA era dasA era dasrevoluçõesrevoluçõesrevoluçõesrevoluçõesrevoluções, p. 43, p. 43, p. 43, p. 43, p. 43

Nesta aula, vamos estudar algumas características básicas da sociedadeindustrial. Vamos ver também como determinados segmentos da sociedadebrasileira viveram todas essas transformações no início do século XX.

Sociedade industrial

Charles Chaplin lançou, em 1936, uma de suas obras-primas: o filmeTempos Modernos. Nele, Chaplin apresenta o mundo moderno industrial deforma poética e crítica. Há cenas que se tornaram clássicas na história do cinemamundial; em uma delas, o protagonista, Carlitos, se vê engolido pelas enormesengrenagens industriais; em outra, enlouquece e sai apertando parafusos imagi-nários por toda parte. No filme, não são os homens, mas as máquinas queemitem sons.

23A U L A

Abertura

Movimento

A formaçãoda sociedade

industrial brasileira

Em tempo

23A U L A Os dramas contidos no filme de Chaplin eram parte constitutiva daquela

nova sociedade urbano-industrial que se gerara na Europa desde a RevoluçãoIndustrial. Com a introdução da máquina no processo produtivo, as sociedadeshumanas mudaram o rumo da história, pois tornaram-se

capazes da multiplicação rápida, constante e até o presente ilimitada, de homens,serviços e mercadorias.Eric Hobsbawm, Eric Hobsbawm, Eric Hobsbawm, Eric Hobsbawm, Eric Hobsbawm, A era das revoluçõesA era das revoluçõesA era das revoluçõesA era das revoluçõesA era das revoluções, p. 44, p. 44, p. 44, p. 44, p. 44

Com a Revolução Industrial, a fábrica transforma-se na sede da novasociedade. Nela são geradas muitas mudanças. O trabalho torna-se cada vezmais coletivo e intenso. O mercado em expansão exige novos métodos queracionalizem o esforço dos operários. O tempo passa a ser visto como o tempo dafábrica.

Na sociedade pré-industrial, a noção de tempo era bem diferente. A vida eo trabalho não tinham o caráter de regularidade como na fábrica. Depen-dendo da atividade, o trabalhador poderia passar determinadas épocas semnenhuma ocupação. Era muito comum o trabalho por tarefas, e muitas pessoasfaziam seu próprio horário.

Essa cultura não condizia com a sociedade industrial. Com a fábrica, criou-se um discurso em favor do tempo útil, contra a ociosidade. Repare no texto aseguir:

Preguiça, silenciosa assassina, não mais tenhas minha mente aprisionadaNão me deixes nenhuma hora mais contigo, sono traidorCitado por Edgar de Decca, Citado por Edgar de Decca, Citado por Edgar de Decca, Citado por Edgar de Decca, Citado por Edgar de Decca, O nascimento da fábrica, O nascimento da fábrica, O nascimento da fábrica, O nascimento da fábrica, O nascimento da fábrica, p. 16p. 16p. 16p. 16p. 16

Em meio a tudo isso, formava-se o empresariado industrial, que se apro-priou das idéias baseadas na livre iniciativalivre iniciativalivre iniciativalivre iniciativalivre iniciativa para romper com os monopólios eentraves produzidos pelo Estado.

As relações de trabalho também sofreram profundas alterações no mundoda fábrica. Entrou em cena o contrato de trabalhocontrato de trabalhocontrato de trabalhocontrato de trabalhocontrato de trabalho entre o empresário e otrabalhador. Nele, estabeleceu-se um acordo com regras fixas e objetivas (valordo salário, horas de trabalho, punições).

Agora, a tendência era o afastamento do empresário do contato direto comseus empregados. Reduziu-se o caráter paternalista tão presente no mundo pré-industrial. Estavam fixadas as bases da sociedade liberal-capitalista.

Essas transformações não foram vividas sem problemas nas sociedadeseuropéias. Na Inglaterra, no final do século XVIII e início do século XIX, iniciou-se um movimento de quebra de máquinas; protestava-se contra a perda depostos de trabalho e contra a rígida disciplina estabelecida pela fábrica; nessemovimento,

os quebradores de máquinas distinguiram entre aqueles tornos de fiar(...) apropriados para a produção doméstica, e que não destruíam, eaqueles outros mais amplos, apropriados exclusivamente para a suautilização em fábricas, que destruíamDavid Dickson citado por Edgar de Decca, David Dickson citado por Edgar de Decca, David Dickson citado por Edgar de Decca, David Dickson citado por Edgar de Decca, David Dickson citado por Edgar de Decca, O nascimento da fábrica, O nascimento da fábrica, O nascimento da fábrica, O nascimento da fábrica, O nascimento da fábrica, p. 31p. 31p. 31p. 31p. 31

Em tempo

Livre iniciativaé uma crença

na liberdade decomércio e

de produção. Deacordo com ela,

cada vez menos oEstado intervém

nas atividadeseconômicas da

sociedade.

23A U L AGradativamente, o operariado inglês buscou novas formas de organização

para resistir às enormes jornadas de trabalho e às péssimas condições de vida.Era o início do movimento sindicalmovimento sindicalmovimento sindicalmovimento sindicalmovimento sindical, que se desenvolveu na Inglaterra e emvários outros países europeus no decorrer do século XIX.

Paralelamente, surgiram correntes ideológicas anticapitalistas, organiza-das em movimentos ou partidos políticos, que passaram a exercer forte influên-cia no movimento sindical. Entre outras, destacaram-se as correntes anarquistaanarquistaanarquistaanarquistaanarquista(que defendia a supressão do Estado) e socialista-marxista socialista-marxista socialista-marxista socialista-marxista socialista-marxista (que propunha arevolução proletária e a instalação de um governo de trabalhadores).

No final do século XIX e início do século XX, o movimento sindical já ganharamaior densidade social e política, o que resultou em importantes conquistas paraos trabalhadores.

Primeiros industriais no Brasil

Como vimos na Aula 22, foi no final do século passado e nas primeirasdécadas do século XX que a indústria tornou-se uma realidade na vida dealgumas cidades brasileiras. A partir daí, iniciou-se a formação da sociedadeindustrial brasileira, fruto especialmente da ação de dois novos agentes sociais:o empresariado industrial e o operariado.

No interior daquela sociedade fundada na agroexportação, cresceram asprimeiras indústrias no Brasil. No país dos bacharéis e dos grandes proprietáriosrurais, começava a ganhar forma a figura do industrial. Muitos deles, especial-mente em São Paulo, eram imigrantes que chegaram ao Brasil com algum capitale muita disposição de ganhar dinheiro. Outros tinham origem na agroexportaçãoe nas casas comerciais.

Não foram poucos os problemas enfrentados pelos primeiros industriais.Um deles era a concorrência externa, em razão da falta de uma política dogoverno federal para proteger a indústria nacional. Outro, contraditoriamente,era a crítica, feita por vários setores, de que a indústria brasileira era “artificial”,dependente do governo e responsável pela carestia. Finalmente, os industriaisenfrentavam a luta operária por melhores salários e condições de trabalho.

Correntesideológicas sãoformas deexpressão deidéias, depropostas, devisões de mundoou de governo.

Jorge Street, um dos pioneiros da industrialização brasileira.

23A U L A Em meio a tudo isso, os empresários industriais trataram de criar associações

de classe para a defesa de seus interesses. Passaram também a participar deforma mais ativa no debate sobre o papel da indústria no desenvolvimentobrasileiro. Naquele começo do século XX, destacaram-se alguns políticos elíderes de classe que defendiam, além de tarifas protecionistas, uma políticagovernamental de amparo à indústria como forma de reduzir a dependência dopaís em relação aos capitais externos.

Perante a opinião pública em geral, e em particular perante os trabalhadores,os industriais tentavam convencer a sociedade de que seu capital, sua riqueza,era fruto exclusivamente de seu esforço pessoal, e não de privilégios governa-mentais. Eram divulgadas histórias de imigrantes que aqui chegaram pobres eque, com seu suor, alcançaram o sucesso.

Vida operária

Fábricas de tecidos em São Paulo. Ano: 1912.Inspeção de funcionários doDepartamento de Trabalho. Trechos do relatório:

Uma fábrica: A duração do trabalho diário é de 11 horas úteis. Otrabalho é interrompido pelo almoço, que dura uma hora e meia, e pelocafé, para o qual os operários têm direito a um quarto de hora. Trabalhamnesta fábrica 500 operários, na maioria italianos e espanhóis. (...)Impressão desagradável causa ao visitante o excessivo número de meno-res em trabalho (...).Outra fábrica: Os contramestres são todos adultos, de nacionalidadeitaliana e em número de 20. Entre os 374 operários recenseados, anacionalidade predominante é italiana, vindo em seguida a espanhola edepois a brasileira: dos brasileiros, 44 são menores de 12 anos.Esqueléticos, raquíticos, alguns! O tempo de trabalho varia para asseções de onze horas e meia a doze horas e meia por dia. (...).Boletim do Departamento Estadual do Trabalho citado por Maria AuxiliadoraBoletim do Departamento Estadual do Trabalho citado por Maria AuxiliadoraBoletim do Departamento Estadual do Trabalho citado por Maria AuxiliadoraBoletim do Departamento Estadual do Trabalho citado por Maria AuxiliadoraBoletim do Departamento Estadual do Trabalho citado por Maria AuxiliadoraGuzzo de Decca, Guzzo de Decca, Guzzo de Decca, Guzzo de Decca, Guzzo de Decca, Indústria, trabalho e cotidianoIndústria, trabalho e cotidianoIndústria, trabalho e cotidianoIndústria, trabalho e cotidianoIndústria, trabalho e cotidiano, p. 39-40, p. 39-40, p. 39-40, p. 39-40, p. 39-40

Você, que leu com atenção o documento, percebeu que estamos diante de umbom ponto de partida para estudar o que era a vida operária naquele início doséculo XX. Vejamos algumas informações contidas no relatório acima.

Nas duas fábricas visitadas, há algumas características comuns: predomínio deestrangeiros entre os operários, longa jornada de trabalho e presença significativade menores de idade. Na descrição, percebe-se ainda uma certa crítica à utilizaçãodo trabalho infantil; não há, no entanto, nenhuma menção a multas ou punições.

Esses dados já nos permitem esboçar um breve perfil do operário de SãoPaulo naquelas primeiras décadas republicanas. Como veremos adiante, acomposição e a atuação dos operários na cidade do Rio de Janeiro tinhamcaracterísticas um pouco diferentes.

O grande número de estrangeiros entre os operários de São Paulo tem sidodestacado por diversos estudiosos. Com a grande imigração ocorrida no final doséculo XIX em direção às fazendas de café, muitos trabalhadores tomaram orumo da cidade em busca de melhores condições de vida. Destaca-se a fortepresença de italianos entre os primeiros operários.

O impacto da presença de imigrantes na formação da classe operária em SãoPaulo foi expressivo. Foram principalmente eles que difundiram no meio

23A U L Aoperário as idéias de transformação radical da sociedade pela via revolucionária,

socialista ou anarquista.O anarquismo ganhou força e logo se transformou na principal corrente

política de base operária. E não era difícil entender por quê.

Naquela sociedade com um mercado de trabalho em formação, em quepraticamente inexistia qualquer proteção ao trabalhador; em que a utilização dotrabalho infantil era justificada como forma de se retirar os meninos da rua; emque, em suma, eram extremamente duras as condições de trabalho, as idéias desupressão do Estadosupressão do Estadosupressão do Estadosupressão do Estadosupressão do Estado e de todas as formas de repressãotodas as formas de repressãotodas as formas de repressãotodas as formas de repressãotodas as formas de repressão encontravam boareceptividade. Governo e patrões eram vistos como inimigos que deveriam sercombatidos a todo custo.

Os anarquistas não confiavam nas instituições liberais. Desprezavam ospolíticos, os partidos e o parlamento. Defendiam a atuação sindical de resistênciae combatiam tanto as correntes que defendiam a existência de um partido operáriocomo os sindicatos ou associações de caráter assistencialista. Tiveram ainda umimportante papel nas tentativas de organização operária em nível nacional.

Por tudo isso, as lideranças anarquistas foram bastante perseguidas pelosempresários e pelo governo. Na grande imprensa, sua imagem era apresentadacomo a de um terrorista estrangeiro que vinha destruir a paz existente nasrelações entre os operários brasileiros e seus patrões. Até foram criadas nessaépoca leis de expulsão do país de lideranças operárias estrangeiras, com oobjetivo de enfraquecer a corrente anarquista.

Imagem doanarquista terrorista.Fonte: Nosso Século

23A U L A A educação do trabalhador era outra preocupação básica do anarquismo.

Para os anarquistas,

a luta só se faria, e principalmente a nova sociedade só se implantaria, sehouvesse uma transformação profunda no homem trabalhador. O que o projetoanarquista almejava era uma revolução social e não apenas uma revoluçãopolítica. Daí o privilégio da educação entendida como ampla formação cultural.O fato de terem sido os anarquistas os principais pioneiros em atividades comoteatro, educação musical, práticas de leitura, criação de escolas e universidadespopulares, não é casual. E, por esta razão, não é casual também que velhosmilitantes operários, anarquistas ou não, considerem até hoje que foi educandoque os libertários mais contribuíram para a constituição da identidade da classetrabalhadora..Angela Gomes, Angela Gomes, Angela Gomes, Angela Gomes, Angela Gomes, A invenção do trabalhismoA invenção do trabalhismoA invenção do trabalhismoA invenção do trabalhismoA invenção do trabalhismo, p. 92, p. 92, p. 92, p. 92, p. 92

Já na cidade do Rio de Janeiro, houve maior diversidade entre as correntesque disputavam o controle do movimento operário. Para o historiador BorisFausto, a menor presença do anarquismo na capital pode ser explicada pelo fatode que o operariado carioca

se concentrava em atividades vitais dos serviços (ferroviários, marítimos edoqueiros), [sendo por isso] tratados com um mínimo de consideração pelogoverno. Havia também no Rio maior contingente de trabalhadores nacionaisimbuídos de uma tradição paternalista nas relações com os patrões e o governo.Boris Fausto, Boris Fausto, Boris Fausto, Boris Fausto, Boris Fausto, História do Brasil, História do Brasil, História do Brasil, História do Brasil, História do Brasil, p. 209p. 209p. 209p. 209p. 209

Esse fato foi, em parte, responsável também pela emergência de correntespolíticas não revolucionárias, que buscavam menos o confronto e mais a nego-ciação. Eram chamados, pejorativamente, de “amarelos” pelas tendências maisradicais.

Everaldo Dias Evaristo de MoraisJosé OiticicaAntonio Piccarolo

Todos esseshomens eram

anarquistas, menosAntonio Piccarolo eEvaristo de Morais,

que eramsocialistas.

Em tempo

Gigi Damiani Edgard Levenroth Otávio Brandão Astrojildo Pereira

23A U L AA despeito da repressão governamental e patronal e das enormes dificulda-

des de organização daí resultantes, os movimentos sindicais paulista e cariocativeram condições, no decorrer da década de 1910, de obter maior apoio entre ostrabalhadores, tornando-se, inclusive, capazes de liderar importantes movi-importantes movi-importantes movi-importantes movi-importantes movi-mentos grevistas entre os anos de 1917 e 1920mentos grevistas entre os anos de 1917 e 1920mentos grevistas entre os anos de 1917 e 1920mentos grevistas entre os anos de 1917 e 1920mentos grevistas entre os anos de 1917 e 1920.

Para isso, foi importante a divulgação, pelos anarquistas, de um conjunto deidéias que procurava reforçar uma imagem positiva do trabalhador como

um homem honesto, mas explorado econômica e socialmente e, por isso mesmo,digno do maior respeito e atenção por parte da sociedade em geral..Angela Gomes, Angela Gomes, Angela Gomes, Angela Gomes, Angela Gomes, A invenção do trabalhismoA invenção do trabalhismoA invenção do trabalhismoA invenção do trabalhismoA invenção do trabalhismo, p. 90, p. 90, p. 90, p. 90, p. 90

Dessa forma, combatia-se a imagem, difundida pelo governo e pela grandeimprensa, que apresentava o trabalhador brasileiro como vítima da ação de“baderneiros e terroristas”.

A ascensão do movimento sindical brasileiro, é bom lembrar, não foi um fatoisolado: naqueles anos, em boa parte da Europa, explodiam movimentos detrabalhadores impulsionados pela vitória do socialismo na Rússia. *Por sinal,como resultado direto da implantação do socialismo naquele país europeu,criou-se, em 1922, o Partido Comunista do Brasil (PCB) que, em pouco tempo,passou a disputar, principalmente com os anarquistas, o controle do movimentosindical.

A maior presença do movimento operário na cena política teve por resultadoa aprovação, pelo Congresso, de algumas leis trabalhistas, como a lei de fériaspara trabalhadores da indústria e do comércio e as limitações ao trabalho dosmenores. A regulamentação e aplicação dessas leis encontrou forte resistênciado empresariado.

Vejamos agora, para finalizar, alguns aspectos da vida operária fora dasfábricas e dos sindicatos.

Nas grandes cidades, a habitação típica dos trabalhadores urbanos era a casade cômodos ou cortiço, localizada, em geral, em áreas centrais próximas aoslocais de trabalho. Em algumas fábricas mais distantes do centro, e mesmo nointerior, muitas vezes foram criadas vilas operárias que permitiam melhoresacomodações que os cortiços e uma maior possibilidade de controle da mão-de-obra por parte dos empresários.

Nos cortiços e vilas, os operários utilizavam seu tempo livre nos times defutebol, nas associações recreativas, casas de jogos, cordões carnavalescos etc.

Vila operáriae chaminé daCia. Nacional deTecidos de Juta,em São Paulo.

23A U L A Em seu bairro ou em sua cidade, é possível que exista ainda hoje, funcionan-

do ou não, uma fábrica que foi fundada nas primeiras décadas do século XX. Façauma pequena pesquisa sobre ela. Verifique se existia, nas proximidades, umavila operária. Anote o ano da fundação da fábrica, seus fundadores, o número deoperários, e como era a vida daquela comunidade.

Às vezes, com algumas entrevistas, você pode conseguir essas e muitasoutras informações.

Nesta aula, vimos que o final do século XIX e as primeiras décadas do séculoXX foram anos de mudança no Brasil. A extinção do trabalho escravo, a grandeimigração e ainda os recursos acumulados no comércio e na agroexportaçãocriaram condições para o surgimento e expansão da indústria em nosso país.

A partir daí, iniciou-se um processo de modernização que teve por base,fundamentalmente, dois novos atores sociais: o empresariado industrial e ooperariado. O primeiro ganhou força e organização nas lutas contra a tese doartificialismo da indústria brasileira e ainda nos embates diretos com o movimentooperário. O segundo ator social, o operariado, procurou forjar sua identidade sejano enfrentamento diário com empresários e forças policiais do governo, seja nacriação de um discurso que construía uma imagem, ou seja, criar sua própriafeição positiva do trabalhador.

O resultado de tudo isso foi a formação de uma sociedade mais diversificadae complexa que, na década de 1920, passou a se mostrar cada vez mais descontentecom o predomínio dos grupos oligárquicos. É o que veremos nas próximas aulas.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item Sociedade industrial Sociedade industrial Sociedade industrial Sociedade industrial Sociedade industrial e identifique três características bási-cas da sociedade industrial.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Releia o item Vida operáriaVida operáriaVida operáriaVida operáriaVida operária e caracterize duas correntes políticas queparticiparam do movimento operário na Primeira República.

Pausa

ORÇAMENTO FAMILIAREm 1918, o salário mensal de um trabalhador rural ou urbano variava entre 80$000 e 120$000.

Segundo pesquisa de Hélio Negro e Edgard Leuenroth, o consumo mínimo de uma famíliaoperária pequena (homem, mulher e duas crianças) nunca era menor que 207$650,

o que obrigava quase todos os seus membros a trabalhar.

Exercícios

DESPESAS MENSAIS

ALIMENTAÇÃO

12 kg de arroz de 2ª ........................ 9$60012 kg de feijão .................................. 4$20018 kg de batatas .............................. 5$40015 kg de pão .................................... 7$50010 kg de farinha de mandioca ......... 4$0005 kg de macarrão ............................. 5$00010 kg de carne .............................. 10$0007 kg de toucinho ou banha ........... 11$2007,5 kg de açúcar .............................. 7$0003 kg de café ...................................... 3$00015 litros de leite ............................... 9$000Verduras ........................................... 6$000Cebola, alho, sal,pimenta, vinagre,querosene, vassoura etc. ............ 28$000ALUGUEL

(2 cômodos, com cozinha) ........... 45$000OUTRAS NECESSIDADES

Sabão ............................................... 6$0003 sacos de carvão ............................ 9$000Fósforos, cigarros,barbeiro e sociedade desocorros mútuos ........................... 17$000SOMA MENSAL ................................. 166$900

DESPESAS ANUAIS (VESTUÁRIO)HOMEM:2 ternos ......................................... 80$0002 pares de sapatos ....................... 24$0002 chapéus ...................................... 14$0003 camisas ...................................... 12$0003 ceroulas ......................................... 9$000Meias etc ....................................... 12$000MULHER

3 vestidos de chita ........................ 60$0002 pares de sapatos ou chinelos ... 24$0003 camisas ...................................... 15$0003 saias brancas ............................. 21$00012 pares de meias ........................ 18$0002 CRIANÇAS

Roupas e calçados ..................... 100$000DESPESAS ANUAIS (OUTRAS NECESSIDADES)Móveis, louça e outros objetos .. 100$000

TOTAL DAS DESPESAS ANUAIS ........... 489$000ou seja, por mês ........................... 40$750

SOMA:DESPESA MENSAL ........................... 166$900PARCELA MENSAL DA DESPESA ANUAL . 40$750TOTAL DE GASTOS POR MÊS ............. 207$650

Últimaspalavras

80$000 lê-seoitenta mil réis

Fon

te:

Nos

so S

écul

o (1

910-

1930

)

Módulo 9A crise da república

oligárquica

A Primeira Guerra Mundial, que se desenro-lou entre 1914 e 1918, marcou o início de um novo tempo. Para alguns historia-dores, foi a partir daí que começou o século XX.

No Brasil, esse sentimento de mudança, de transformação, também se fezpresente durante e após o grande conflito mundial. Para intelectuais e políticos,aquela República das oligarquias, que você conheceu nas três aulas anteriores,mostrava-se incapaz de acompanhar os novos tempos.

Era preciso construir a nação, criar novas referências, repensar a cultura.No quadro político, os anos 20 foram anos de radicalização. O governo

enfrentaria, a todo momento, levantes e conspirações.Em 1930, os grupos dirigentes da República oligárquica venceram no voto,

mas perderam nas ruas o controle da vida política. Era a Revolução de 30.Tudo isso você estudará nas próximas duas aulas.

24A U L A

Pátria, morrer por tiou pelo menos teofertar este ramode palavras ardentes.Vou à rua, perorocom voz de calça curtaordeno ao municípioque marche resolutoa combater os boches.Carlos Drummond de Andrade,Carlos Drummond de Andrade,Carlos Drummond de Andrade,Carlos Drummond de Andrade,Carlos Drummond de Andrade, 1914 1914 1914 1914 1914

Os versos de Carlos Drummond de Andrade falam da guerra, dos senti-mentos de um garoto pelo seu país. Num rompante de patriotismo, ele pede aentrada do país na guerra. A voz desse menino não é um fato isolado.

Em outubro de 1917, quando os submarinos alemães bombardearam osnossos navios mercantes, ocorreu uma verdadeira explosão de patriotismo.Nas praças públicas, multidões se acotovelaram exigindo uma posição dogoverno.

Todo esse clima de exaltação patriótica já vinha sendo preparado anterior-mente. Em 1916, Olavo Bilac dera início à campanha cívica. Ele viajou por todoo Brasil fazendo inflamados discursos em que defendia o serviço militar obriga-tório e a mobilização do Exército.

O que mobilizava os corações e mentes era a idéia de defender as fronteirasda nacionalidade. Para esse nacionalismo militarista, defender as fronteirassignificava defender a nossa língua, os nossos costumes e a nossa cultura:“esta guerra universal e minha”, diz a poesia de Drummond.

Essas idéias fizeram época. Foi por causa delas que o Brasil afinal foi para aguerra, ao lado dos Aliados. Em defesa da civilizaçãocivilizaçãocivilizaçãocivilizaçãocivilização.

Nesta aula, você vai ver como o final da guerra, em 1918, modificou o nossopaís. Mudou o cenário internacional, mudaram as ideologias, mudou o Brasil. Énessa roda viva que vemos aparecer uma nova imagem do país.

Que imagem é essa?Você vai ver também o que significou “lutar pela civilização”. Que realidade

estava por trás dessa palavra?Quando o Brasil entrou na guerra, em 1917, entrou defendendo os ideais da

civilização francesa. A influência dessa cultura era muito forte, não só no nosso

Brasil:a nação revisitada

Abertura

24A U L A

24A U L Apaís, mas no mundo inteiro. Paris era o centro exportador da literatura, da

pintura, das operetas e dos cafés-concertos.Esse período da influência francesa durou mais de trinta anos e ficou

conhecido como a Belle Epoque. Os nossos intelectuais viviam voltados para a“Cidade Luz”, como era chamada Paris.

O escritor Lima Barreto fez uma piada sobre o assunto, dizendo que ointelectual brasileiro “anda, come, dorme e sonha em Paris”.

O que vinha da França era civilizado. O que estava aqui era primitivo e nãoprestava. Essas idéias acabaram quando acabou a guerra. Terminado o conflito,que durou quatro anos, a Europa já não era a mesma. Ruínas. Desolação. Cidadesinteiras desapareceram. A “Cidade Luz” já não brilhava.

Muita gente perdera a vida, muita gente perdera a ilusão de ver um mundomelhor. Desmoronara a idéia de progresso indefinido. Desmoronara a Europacomo modelo de civilização e desenvolvimento.

O fim da guerra foi o fim dessa ideologia chamada liberalismoliberalismoliberalismoliberalismoliberalismo. Afinal decontas, que comunidade era essa, na qual os irmãos se matavam nos campos debatalha? Que liberdade mais enganosa fazia alguns países enriquecerem à custade outros? Que igualdade de condições permitia que uns tivessem todos osdireitos e outros mal conseguissem sobreviver?

Em 1916, um escritor chamado Spengler escreveu um livro que ficou famoso:A decadência da civilização ocidental. Esse livro anunciava a decadência daEuropa e a aurora do Novo Mundo. Era na América que ia surgir a novacivilização.

Era mais uma utopia! Mas essa imagem tão promissora teve papel importan-te. Levou os brasileiros a se olharem. Perplexos, eles chegaram à conclusão deque quase nada sabiam sobre a nossa cultura!

Mais uma vez foi o escritor Lima Barreto quem chamou a atenção para o fato:“Nós não nos conhecemos uns aos outros, dentro do nosso próprio país.”

Era necessário encarar o país. Até então, o Brasil tinha, ou desejava ter, a carada França. Podia ser uma máscara bonita, de Pierrô. Mas o que estava por trásdela?

Movimento

Utopia é umareferênciaimaginária a umasituação perfeita.De tão perfeita, ésempre irrealizável.

Café no Rio deJaneiro, onde sereuniam artistas eintelectuais.

24A U L A Se nós dermos um salto na história e chegarmos a 1992, vamos ver os

estudantes que saíram de cara pintada para as ruas. Eles reivindicavam umBrasil melhor e mais justo.

Os caras-pintadas usaram máscaras para expressar o seu protesto. Nasmáscaras dos estudantes estava uma das caras do Brasil dos anos 90.

As expressões variam de acordo com a época...

A década de 1920 foi uma época de intensas inda-gações e descobertas. Os artistas e intelectuais busca-ram um novo jeito de expressar o país por meio daliteratura, das artes plásticas, da música e da pintura.Esse movimento ganhou o nome de modernismomodernismomodernismomodernismomodernismo. Oque é ser modernoser modernoser modernoser modernoser moderno? É estar de acordo com a moda? Écopiar modelos? Ou será que ser moderno é só seatualizar atualizar atualizar atualizar atualizar sem precisar copiar?

Eram essas perguntas que estavam na cabeça dosnossos artistas e intelectuais. Eles queriam atualizar atualizar atualizar atualizar atualizar anossa cultura. Mas, para isso, era preciso descobri-la.

O marco simbólico do modernismo brasileiro foi aSemana da Arte Moderna, que se realizou em São Pauloem fevereiro de 1922. Mas esse foi só um marco simbó-lico. O modernismo já vinha acontecendo antes daSemana e iria continuar acontecendo depois dela, comovamos ver adiante.

No Rio da Janeiro, desde o final do século XIX, jáse percebia um interesse pela música popular, como omaxixe, o corta-jaca e as modinhas. Alguns artistas

compreendiam que a cultura negra devia ser respeitada como expressão doBrasil. Também em São Paulo, Minas e outros Estados essa atitude começavaa existir.

Mas, afinal de contas, o que aconteceu em São Paulo na Semana de ArteModerna?

Entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal, foramrealizados concertos, exposições, palestras. No seu concerto, o maestro e compo-sitor Heitor Villa-Lobos causou grande impacto ao incorporar à orquestrainstrumentos de congada, tambores e uma folha vibratória de zinco.

Na época, esses instrumentos eram considerados populares e não deviamfazer parte de uma orquestra. A congada e os tambores pertenciam às culturasnegra e indígena, vistas como primitivas e bárbaras. Os modernistas mostraramque eram justamente essas culturas que tornavam o nosso país original ediferente.

Esse era o espírito do movimento: mostrar uma nova imagem do país, umanova fisionomia cultural. O que antes era escondido, agora era mostrado. Por quenegar as culturas africana e indígena, se elas faziam parte da nossa realidade?

Na Semana de Arte Moderna também foram expostas as pinturas de AnitaMalfatti, Di Cavalcanti, Goeldi. Mário de Andrade, Oswald de Andrade eRonald de Carvalho apresentaram ao público os seus escritos.

Em tempo

24A U L AA Semana funcionou como um estopim. A arte buscava refletir as transfor-

mações por que passavam o mundo e o país. Em meio a um acelerado processode industrialização e urbanização, surgiam nas grandes cidades edifícios, letrei-ros luminosos, viadutos, máquinas e fábricas.

O tempo corria mais rápido. A arte precisava acompanhar o “fluxo da vidamoderna”, diziam os modernistas. Para isso, era necessário mudar a maneiratradicional de se expressar. Mais ousadia criativa, mais rebeldia e menosformalidade. Mas era necessário, também, responder a algumas perguntas.

Que país é este? Quem somos nós? Os modernistas contaram uma outrahistória do Brasil. Não aceitavam mais a história “balofa” dos heróis, dos grandesfeitos, dos monumentos e medalhas, e então usaram o humor humor humor humor humor e a sátirasátirasátirasátirasátira.A história que contaram falava da cobiça dos povos, da exploração dos índios enegros, da depredação de nossas riquezas. Vejamos como Oswald de Andradecontou sua “História pátria”:

Lá vai uma barquinha carregada deaventureirosLá vai uma barquinha carregada debacharéisLá vai uma barquinha carregada decruzes de cristo...

Essas barquinhas eram as caravelas da colonização portuguesa, escrevendoa nossa história. Uma história de altos e baixos, aventura e violência, amor e ódio.Mas repare como essa história era contada agora com humor e criatividade! Esseera o estilo dos modernistas.

Oswald de Andrade (sentado no chão), em foto com outrosorganizadores da Semana de 22.

24A U L A

Em 1928, Mário de Andrade publicou Macunaíma, cujo personagem-título era a cara do Brasil. Macunaíma nasceu índio, depois virou negro e depoisbranco. Essa era a imagem do nosso país na sua diversidade de culturas.Macunaíma sobrevoou o país num pássaro chamado tuiuiú. Ele viu o paíslá do alto. Viu como as regiões são diferentes, mas viu também que são essasdiferenças que fazem o Brasil.

Mário de Andrade mostrava que nós não somos completamente brancos,nem completamente negros, nem completamente índios. Somos um povo emformação. Com muito mais perguntas do que respostas...

Mas os escritores modernistas não pensavam sempre igual. Dentro domovimento existia um grupo chamado Verde Amarelo, ao qual pertencia oescritor Cassiano Ricardo. Na mesma época em que Mário de Andrade escreveuMacunaíma, Cassiano Ricardo escreveu Martim Cererê. O personagem-título eraagora um herói bem comportado, sério e patriota. Você se lembra do nacionalis-mo de Olavo Bilac? Pois Martim Cererê era uma espécie de soldado sempredefendendo as nossas fronteiras. Ele não olhava do alto, como Macunaíma.

O que estamos querendo mostrar é como o modernismo iria construirdiferentes visões da nacionalidade. Alguns viam o país como uma interrogação,um desafio. Já outros preferiam vê-lo como realidade pronta a ser louvada emversos. Mas, apesar dessas diferenças, o modernismo teve um saldo muitopositivo: mostrou como era importante pensar a nossa cultura e ousar novasformas de expressão.

Desenho deCícero Dias parao livro Macunaíma.

24A U L AO jeito rebelde que caracteriza a maior parte dos artistas modernistas é uma

marca da nossa cultura. Ela reaparece na década de 1970 com o movimentotropicalista.

Também na música de Raul Seixas vemos essa atitude de indagação:

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulantedo que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...

Essa foi uma das propostas do modernismo: acabar com as velhas opiniõessobre o Brasil, sobre a nossa cultura. Ser moderno era estar a par das inovaçõesartísticas e intelectuais. Mas ser moderno era, sobretudo, absorver essas informa-ções de forma criativa e crítica.

A cultura exprime o jeito de ser de cada nacionalidade. Ela não está só noslivros, mas nas cirandas, vaquejadas, marujadas; está no vatapá, tacacá, arroz decuxá; nas histórias de botos encantados, da mula sem cabeça, do Saci Pererê.Também são cultura o casario colonial, as igrejas barrocas e as carrancas do rioSão Francisco...

O que o modernismo mostrou é que a cultura não está apenas nas grandescidades, mas nas várias regiões brasileiras. Na década de 1930, o modernismotomou grande impulso no Nordeste. Foi o movimento do regionalismo literárioregionalismo literárioregionalismo literárioregionalismo literárioregionalismo literário.

Os romances de Jorge Amado falam da Bahia, José Lins do Rego descreve osengenhos de açúcar; Graciliano Ramos conta a vida de Alagoas, Érico Veríssimoa do Rio Grande do Sul. Já em Pernambuco é Gilberto Freyre quem busca umanova interpretação sociológica para a cultura brasileira. Esse movimento deuorigem a uma nova imagem nova imagem nova imagem nova imagem nova imagem do Brasil.

Na década de 1920, os nossos artistas e intelectuais estavam construindouma nova imagem do Brasil. Nessa imagem, eles mostraram que o Brasil secaracterizava por muitas culturas.

Dê uma olhada no texto e responda: que cara ou que caras você acha que oBrasil deve ter? Brasil-Pierrô? Brasil-Macunaíma? Brasil-Cererê? Brasil-cara-pintada?

Explique por que você escolheu uma dessas caras como expressão do país.

Nesta aula, vimos como as mudanças ocasionadas pela Primeira GuerraMundial afetaram culturalmente o nosso país. Vimos também como os nossosartistas e intelectuais construíram uma nova imagem do Brasil, de acordo comos tempos modernos.

Mas os efeitos da guerra não pararam por aí. Em 1929, a crise econômicamundial gerou uma onda de desemprego nos campos e fábricas. O governorepublicano caiu no descrédito popular.

É dessa crise política que vamos falar na nossa próxima aula...

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Explique a frase de Lima Barreto: “O intelectual brasileiro anda, come,dorme e sonha em Paris”.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Identifique uma proposta do movimento modernista.

Em tempo

Exercícios

Últimaspalavras

Pausa

Interpretaçãosociológica querdizer interpretaçãomais fiel àscaracterísticas deuma sociedade.

25A U L A

25A U L A

Os anos 20 trouxeram profundas transfor-mações para a sociedade brasileira. Nessa década se manifestaram a crise dopacto oligárquicopacto oligárquicopacto oligárquicopacto oligárquicopacto oligárquico, a demanda de maior participação política dos setores urbanose a insatisfação dos militares.

O ano de 1922, em especial, reuniu uma sucessão de acontecimentos quemudaram de forma significativa o panorama político e cultural do país. Não foiapenas o ano da Semana da Arte Moderna. Foi também o ano de uma disputadasucessão presidencial que revelou divergências sérias entre as oligarquias, o anoda criação do Partido Comunista do Brasil, e o ano do início do movimentotenentista.

O ano do centenário da Independência indicava, em suma, que novos ventosestavam soprando sobre o país.

As oligarquias desafinam

Vamos começar a aula de hoje estudando a crise do acordo entre as oligar-quias, manifestada na sucessão presidencial de 1922. Na Aula 21, você estudouo pacto oligárquico. Volte lá e confira.

Você aprendeu também que a política dos governadores, com o propósito dereduzir a instabilidade política que ameaçava a República brasileira, neutralizouas oposições oposições oposições oposições oposições e criou mecanismos para garantir que as forças da situaçãosituaçãosituaçãosituaçãosituaçãofossem sempre vitoriosas.

O resultado foi que, durante vários anos, as eleições para presidente daRepública tiveram um candidato único, oficial, e não houve uma verdadeiradisputa eleitoral. A exceção foi a sucessão presidencial de 1910sucessão presidencial de 1910sucessão presidencial de 1910sucessão presidencial de 1910sucessão presidencial de 1910, quando RuiBarbosa, candidato de oposição ao marechal Hermes da Fonseca, lançou aCampanha Civilista e foi derrotado. Após as eleições, contudo, não houvecontestação dos resultados finais.

Já em 1922, a situação seria diferente. Pela primeira vez, o confronto entre osgrandes Estados e os Estados de segunda grandeza se apresentou claramentenuma disputa pela presidência da República, revelando os conflitos regionaisentre as oligarquias e os problemas do federalismo desigual brasileiro.

Esse confronto assumiu sua forma plena com o movimento da ReaçãoReaçãoReaçãoReaçãoReaçãoRepublicanaRepublicanaRepublicanaRepublicanaRepublicana, que lançou a candidatura dissidente de Nilo Peçanha em oposiçãoà candidatura oficial de Artur Bernardes. Enquanto Bernardes contava com

Abertura

Movimento

Os anos loucos: a criseda década de 1920

25A U L Ao apoio de Minas Gerais, São Paulo e pequenos Estados, uniram-se em torno

da Reação Republicana Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambucoe Distrito Federal. Esses Estados tentavam construir um eixo alternativoeixo alternativoeixo alternativoeixo alternativoeixo alternativode poderde poderde poderde poderde poder.

A plataforma da Reação Republicana defendia a regeneração dos princípiosrepublicanos e a formação de partidos políticos nacionais. Criticava a formacomo se desenvolvia o federalismo no Brasil, que beneficiava apenas os grandesEstados.

Para enfrentar a ameaça permanente que rondava a candidatura da oposi-ção, que antes mesmo da disputa já tinha sua derrota traçada, a Reação Republi-cana desencadeou uma forte propaganda eleitoral, coisa pouco comum naseleições da Primeira República. E, o que é muito importante, buscou tambémapoio militar.

No carnaval de 1922, às vésperas das eleições presidenciais, a populaçãocarioca, engajada na campanha eleitorial, cantava a seguinte marchinha: “Ai, seuMé! Ai, Mé, Mé! Lá no Palácio das Águias, olé! Não hás de pôr o pé!”

O Palácio das Águias era o Catete, sede do governo.E “seu Mé” era o apelido de Artur Bernardes...

Os militares voltam à cena

Apesar do clima de intensa agitação política que marcou os primeiros mesesde 1922, as eleições se realizaram na data prevista, em 1º de março. Os resultadoseleitorais, controlados pela máquina oficial, deram a vitória a Bernardes, com 466mil votos, contra 317 mil de Nilo Peçanha. Mais uma vez, o esquema eleitoralvigente na República Velha funcionou para garantir a vitória do candidatoda situação.

Mas, diferentemente das eleições anteriores, a oposição não aceitoua derrota. A Reação Republicana desencadeou uma campanha para mantera mobilização dos seus aliados e estimular a insatisfação militar. A faltade prestígio e poder que os militares enfrentavam havia algum tempo eraa responsável por essa insatisfação.

Os militares ocuparam, sem dúvida, um lugar importante durante toda aPrimeira República (1889-1930). Mas a força que tiveram na primeira décadarepublicana, ou seja, de 1889 a 1899, foi decrescendo, consideravelmente,depois. O fechamento da Escola Militar da Praia Vermelha após suaúltima revolta, em 1904, e a criação da Escola Militar do Realengoalteraram profundamente a formação da oficialidade do Exército.O propósito da nova escola não era formar soldados-cidadãos, comum pé no Exército e outro na sociedade e na política. A idéia eraformar soldados profissionais.

Contudo, uma série de incidentes ocorridos no início dos anos 20iria recolocar na ordem do dia a participação dos militares na política.

Um desses incidentes foi o episódio das chamadas “cartas falsas”,que estourou ainda antes das eleições presidenciais, e permitiu quedois movimentos distintos, a rebeldia militar e a Reação Republicana,se articulassem para contestar as estruturas políticas da PrimeiraRepública.

Em tempo

Arthur Bernardes.

25A U L A Você sabe o que eram essas famosas “cartas falsas”? Eram cartas que haviam

sido supostamente enviadas pelo candidato Artur Bernardes ao líder políticomineiro Raul Soares, contendo ácidas críticas à corporação militar. O conteúdode uma das cartas era o seguinte:

Estou informado do ridículo e acintoso banquete dado pelo Hermes [referênciaà comemoração da posse do marechal Hermes da Fonseca na presidência doClube Militar], esse sargentão sem compostura, aos seus apaniguados e de tudoque nessa orgia se passou. Espero que use de toda energia (....) pois esta canalhaprecisa de uma reprimenda para entrar na disciplina (...). A situação não admitecontemporizações, os que forem venais, que é a quase totalidade, compre-os comtodos os seus bordados e galões.

Em tempo

A Marcha dos 18do Forte de

Copacabana.

Mapa dotrajeto da

ColunaPrestes.

25A U L A

Em tempo

A publicação dessas cartas, em outubro de 1921, pelo Correio da Manhã,jornal carioca que apoiava a Reação Republicana, caiu como uma bomba, criandouma indisposição completa entre o candidato da situação e segmentos militares.Bernardes venceu a eleição, mas estava preparado o caminho para a eclosão daprimeira revolta tenentista, em julho de 1922.

O tenentismo foi um conjunto de movimentos militares que se desenvolve-ram ao longo de toda a década de 1920, até 1932, liderados pela jovem oficiali-jovem oficiali-jovem oficiali-jovem oficiali-jovem oficiali-dade das forças armadasdade das forças armadasdade das forças armadasdade das forças armadasdade das forças armadas. Os chamados “tenentes” tinham como objetivomoralizar os costumes políticos, defender o voto secreto e advogar a criação demoralizar os costumes políticos, defender o voto secreto e advogar a criação demoralizar os costumes políticos, defender o voto secreto e advogar a criação demoralizar os costumes políticos, defender o voto secreto e advogar a criação demoralizar os costumes políticos, defender o voto secreto e advogar a criação deum Estado centralizado que pudesse modernizar o paísum Estado centralizado que pudesse modernizar o paísum Estado centralizado que pudesse modernizar o paísum Estado centralizado que pudesse modernizar o paísum Estado centralizado que pudesse modernizar o país.

Esse primeiro levante foi derrotado, assim como o foram as iniciativas decontestação da Reação Republicana. Em novembro de 1922, Bernardes tomouposse como presidente da República sob estado de sítio, desencadeando forterepressão contra todos aqueles que se haviam oposto à sua candidatura.

Desse modo, as oligarquias conseguiram temporariamente administrar suacrise interna e neutralizar os conflitos dos setores urbanos, que pleiteavam maiorparticipação política. Em 1926, nova sucessão presidencial ocorreria sem maio-res problemas, tendo como candidato único Washington Luís, governador deSão Paulo.

Se a pacificação dos grupos oligárquicos foi conseguida rapidamente com amarginalização, mais uma vez, das oposições, os levantes tenentistas continua-ram ainda por algum tempo. Em 1924 eclodiu a revolta de São Paulo, e a seguirteve início a marcha da Coluna PrestesColuna PrestesColuna PrestesColuna PrestesColuna Prestes, movimento militar desencadeadocontra o governo Bernardes.

A Coluna Prestes originou-se de um grupo de militares rebeldes que tinhamparticipado de levantes contra o governo federal em 1924, no Rio Grande do Sule em São Paulo. Formou-se em dezembro daquele ano e percorreu a pé cerca de30 mil quilômetros, por treze Estados, com o objetivo levar uma mensagemrevolucionária a todo o país.

Expressão mais radical dos movimentos militares da década de 1920 quepleitearam reformas políticas, a Coluna Prestes foi combatida por diferentesadversários arregimentados pelo governo federal, mas venceu grande parte doscombates que travou.

Ainda assim, em 1927, contando com poucos remanescentes, refugiou-se naBolívia e depôs as armas.

E chegaram os gaúchos

O governo de Washington Luís iniciou-se em clima de estabilidade políticae econômica. Como já vimos, os desafios colocados pelas oligarquias no início dadécada de 1920, questionando a maneira como funcionava a política dosgovernadores, pareciam estar resolvidos definitivamente.

Mas era apenas uma impressão. Logo, novas nuvens se formaram anuncian-do tempestade... Era a Revolução de 1930 que se aproximava.

Em 1929, iniciou-se mais um vez um processo de sucessão presidencial.Tudo indicava que as regras que norteavam o funcionamento da política naPrimeira República seriam mais uma vez cumpridas − as forças da situação, pormeio do presidente da República, indicariam o candidato oficial, que deveria serapoiado por todos os grupos dominantes nos Estados.

Estado desítio: suspensãotemporária dedireitos individuaise coletivosprevistos naConstituição deum país.

25A U L A

Em tempo

Mas, dessa vez, o “racha” não se deu entre candidatos representantes dosEstados dominantes e dos Estados de segunda grandeza. Aconteceu no coraçãodo próprio grupo dominante. Washington Luís desejava fazer seu sucessor eindicou Júlio Prestes − que, como ele, era representante de São Paulo. Aconteceque Minas acreditava estar no direito de ocupar a presidência da República.

Essa divergência entre Minas e São Paulo logo abriu espaço para que outrasdivergências latentes, sufocadas no passado, pudessem ressurgir. E a oligar-oligar-oligar-oligar-oligar-quia gaúcha quia gaúcha quia gaúcha quia gaúcha quia gaúcha não ia perder essa oportunidade.

Em julho de 1929, com o apoio mineiro, foi lançada a candidatura do gaúchoGetúlio Vargas, tendo como vice o governador da Paraíba, João Pessoa. Estavaformada a Aliança LiberalAliança LiberalAliança LiberalAliança LiberalAliança Liberal, cuja base de sustentação eram Minas, Rio Grandedo Sul, Paraíba e mais alguns grupos de oposição ao governo federal devários Estados − tais como o Partido Democrático de São Paulo e outrosgrupos de civis e militares descontentes.

A plataforma da Aliança Liberal estava voltada para conquistar asimpatia das classes médias e de alguns setores operários. O programapropunha medidas de proteção ao trabalhador (aplicação de lei de férias,regulamentação do trabalho do menor e da mulher) e a reforma política dopaís (voto secreto, justiça eleitoral e anistia aos presos políticos).

11 - João Pedro12 - Paulo Krüger da

Cunha Miranda13 - Ari Salgado Freire14 - Nélson Machado

15 - Manuel LimaNascimento

16 - Sadi Vale Machado17 - André Trifino Correia18 - Ítalo Landucci

1 - Miguel Costa2 - Luís Carlos Prestes3 - Juarez Távora4 - João Alberto5 - Siqueira Campos

6 - Djalma Dutra7 - Cordeiro de Farias8 - José Pinheiro Machado9 - Atanagildo França10 - Emídio da Costa Miranda

25A U L A

Em tempo

A acirrada disputa eleitoral iniciada em 1929 seria agravada pela profundacrise econômica mundial. Essa crise foi provocada pela quebra, em outubro, dabolsa de Nova Iorque.

No final do ano, já havia centenas de fábricas fechadas no Rio e em São Paulo,e mais de um milhão de desempregados em todo o país. A crise atingiu tambéma cafeicultura paulista, provocando uma queda dos preços do café e liquidandoo programa de estabilização financeira do governo.

As eleições se realizaram em março de 1930 e, conforme era esperado, avitória coube a Júlio Prestes, que recebeu 1.091.000 votos contra 737 mil dados aGetúlio Vargas.

Nas eleições de 1930, o Bloco Operário Camponês (BOC), patrocinado peloPartido Comunista, lançou um candidato a presidente da República. Obteveuma votação simbólica, mas que expressava a demanda concreta de participaçãopolítica das classes trabalhadoras.

Divulgados os resultados, parecia mais uma vez que a regra de ouro dapolítica dos governadores seria mantida, e que a vitória do candidato oficial seriareconhecida. Mas, em pouco tempo, estava em marcha um movimentoconspiratório para depor Washington Luís pela força das armas e liquidar oregime oligárquico da Primeira República.

Um acontecimento inesperado deu força à conspiração revolucionária. Em26 de julho, João Pessoa foi assassinado em Recife e, assim, transformado emmártir. Nos meses seguintes cresceu a articulação revolucionária, com a adesãode importantes quadros do Exército. O comando geral do movimento armado foientregue ao tenente-coronel Góis Monteiro.

Comício daAliança Liberal.

25A U L A A revolução estourou em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul em 3 de

outubro de 1930. Depois de algumas resistências, a situação no Nordestetambém pendeu para os revolucionários. A 24 de outubro, os generais TassoFragoso, Mena Barreto e Leite de Castro e o almirante Isaías de Noronhadepuseram o presidente Washington Luís no Rio de Janeiro e constituíram umajunta provisória de governo.

A junta tentou permanecer no poder, mas a pressão dos revolucionáriosvindos do Sul e das manifestações populares obrigaram-na a entregar o poder aGetúlio Vargas, que tomou posse na presidência da República a 3 de novembrode 1930.

Estava encerrada uma fase da história política brasileira, com o fim daRepública Velha.

Segundo Boris Fausto, um dos principais estudiosos da Primeira República,

a Revolução de 1930 não foi feita por representantes de uma supostanova classe social: a classe média ou a burguesia industrial (...). Osvitoriosos de 30 compunham um quadro heterogêneo tanto do ponto devista social como político. Eles tinham-se unido contra um mesmoadversário, com perspectivas diversas.

A heterogeneidade dos grupos revolucionários e a dificuldade de cada umse sobrepor aos demais criariam problemas para a reorganização do novo Estadobrasileiro. Esse assunto será objeto da nossa atenção na próxima aula.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item As oligarquias desafinam As oligarquias desafinam As oligarquias desafinam As oligarquias desafinam As oligarquias desafinam e explique o que foi a ReaçãoRepublicana.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Releia o item Os militares voltam à cenaOs militares voltam à cenaOs militares voltam à cenaOs militares voltam à cenaOs militares voltam à cena e explique as principaispropostas do movimento tenentista.

Últimaspalavras

Exercícios

Você pôde ver, pelas aulas anteriores, que a sociedade brasileira ganhouuma vibração importante nas primeiras décadas deste século. A efervescênciados anos 20 não ficou reduzida ao panorama cultural, que foi riquíssimo.Também tomou conta da política, pela voz de novos atores, de grupos deoposição aos velhos costumes. Parecia que viveríamos prolongados tempos departicipação. Parecia que experimentaríamos o momento democrático.

Mas não se faz uma democracia da noite para o dia.Nas próximas três aulas você vai aprender como, em nosso país, os políticos

resistiram à experiência democrática.

Módulo 10Tempos sombrios

da democracia

26A U L A

Na Aula 25 você viu que, graças ao movi-mento conhecido como Revolução de 30Revolução de 30Revolução de 30Revolução de 30Revolução de 30, Getúlio Vargas tornou-se presidenteda República. E agora vai ver como, durante quinze anos consecutivos, elemanteve esse título.

Mas, afinal, o que foi a Revolução de 30? Quais as forças vitoriosas em 30 eque projetos estavam em disputa? Quais as principais transformações ocorridasno país? Como foi possível a permanência de Vargas no poder durante quinzeanos?

A Revolução de 30 e o novo perfil do Estado

Com a Revolução de 30, o Brasil transformou-se. Modificações importantesocorreram nos campos político, econômico e social. Uma das primeiras medidasadotadas pelo governo revolucionário foi o fechamento do Congresso Nacionale das assembléias legislativas estaduais e municipais.

Getúlio Vargas passou a governar por meio de decretos-leis. Limitou o poderdos Estados. Os governadores, que haviam sido eleitos pelo voto direto, foramsubstituídos por interventores nomeados diretamente pelo presidente da Repú-blica. O Executivo federal tornou-se todo-poderoso. Uma ditadura ditadura ditadura ditadura ditadura foi instaladano país.

Diferentemente da República Velha, o Estado implantado no pós-30 era maisintervencionista e mais centralizador. Havia maior integração nacional e menorautonomia estadual. As tradicionais oligarquias rurais continuaram fortes, masforam vendo seu poder diminuído a cada dia.

A economia permaneceu voltada basicamente para a agricultura, mas haviauma preocupação em acelerar a industrialização do país. O papel das ForçasArmadas, em especial do Exército, foi redimensionado. Além de garantir aordem interna, as Forças Armadas deveriam ser um suporte para a criação deuma indústria de base nacional.

A questão social, considerada na República Velha como “caso de polícia”,passou a ser vista como uma questão política. Reconhecia-se a importância daclasse operária. Ao mesmo tempo que adotava uma legislação que atendia aantigas reivindicações dos trabalhadores, o governo passou a intervir na ativi-dade sindical.

As incertezas dademocracia

26A U L A

Abertura

Movimento

Quando opresidente governa

por decretos-leis,ele toma para si,como presidente,

as funções quecabem ao

Poder Legislativo.

26A U L AOs sindicatos ficavam vinculados diretamente ao Ministério do Trabalho.

Adotou-se o princípio da unicidade sindical: legalmente, só era possível aexistência de um único sindicato por categoria profissional.

A sindicalização não era obrigatória. Mas, se a sindicalização não eraobrigatória, por que o movimento operário aceitou esse enquadramento?

No início, a resistência contra o enquadramento sindical foi grande. Houvemuitos protestos e, conseqüentemente, muitas prisões. Mas, aos poucos, ostrabalhadores foram cedendo. Além da repressão governamental, houve pres-são das próprias bases operárias. Isso porque só os trabalhadores que fossemoficialmente sindicalizados poderiam gozar dos benefícios sociais criados nopós-30: férias, regulamentação do horário de trabalho, regulamentação dotrabalho do menor, criação dos institutos de Aposentadoria e Pensões e possibi-lidade de lutar por direitos perante as Juntas de Conciliação e Julgamento.

Você conhece os direitos sociais que você tem como trabalhador? Listequais são os seus direitos e verifique se estão sendo cumpridos.

Ditadura X democracia: a reconstitucionalização do país

Conforme você viu na aula anterior, os vitoriosos em 1930 compunhamum quadro heterogêneo. Diferentes forças políticas e variados segmentossociais haviam participado da revolução. À medida que o governo Vargasadotou propostas mais centralizadoras e autoritárias, setores mais liberaiscomeçaram a fazer oposição ao regime.

Em julho de 1932, São Paulo levantou-se em armas. Os paulistas sentiam-sepreteridos pelo governo federal. Exigiam o fim da ditadura e maior autonomiaestadual. Afinal, São Paulo, o Estado mais poderoso da federação, vinha perden-do poder político.

Pausa

Getúlio Vargas emcaravana pelaRevolução de 1930,saindo de PortoAlegre em direção aoRio de Janeiro.

26A U L A A chamada Revolução Constitucionalista de 1932 Revolução Constitucionalista de 1932 Revolução Constitucionalista de 1932 Revolução Constitucionalista de 1932 Revolução Constitucionalista de 1932 mobilizou os mais

variados setores da sociedade: cafeicultores, classe média, industriais. O PartidoDemocrático, uma das principais forças da Revolução de 30, tambémaderiu ao movimento. A luta durou três meses.

São Paulo foi derrotado militarmente, mas conseguiu importantes ganhospolíticos. O processo de constitucionalização do país acelerou-se. Em maio de1933 ocorreram as eleições para a Assembléia Nacional Constituinte, instaladano dia 15 de novembro do mesmo ano.

A nova Constituição, aprovada em julho do ano seguinte, foi orientadapredominantemente por princípios liberais-democráticos. Ampliou os direitospolíticos da população, estabeleceu eleições diretas para todos os níveis. Pelaprimeira vez na história do Brasil, as mulheres podiam votar.

A Constituição também retomou o princípio da liberdade e da autonomiasindical, existente no país antes de 1930. O Brasil era definido como umaRepública federativa. Projetos mais centralizadores conviviam com projetos queasseguravam mais poder aos estados.

Adotavam-se algumas medidas nacionalistas. As jazidas minerais e quedasd’ água, julgadas básicas para a defesa econômica ou militar do país, deveriamser nacionalizadas progressivamente.

A Assembléia Nacional Constituinte foi instalada com a finalidade deelaborar uma nova Constituição para o país e eleger um presidente da República.Em julho de 1934, Getúlio Vargas foi eleito presidente da República com amaioria dos votos dos deputados constituintes.

Com o encerramento dos trabalhos, a Assembléia Nacional Constituinte foitransformada em Congresso ordinário. As eleições diretas para a presidência daRepública estavam marcadas para 3 de janeiro de 1938.

De acordo com as regras estabelecidas, Vargas não podia ser candidato. Paramodificar a Constituição era necessário o apoio de 2/3 do Congresso. Em seuprimeiro discurso como presidente constitucional, Vargas não escondeu suainsatisfação com a nova Constituição e privadamente disse: “Serei o primeirorevisor dessa Constituição.”

Mobilização popular e limites do liberalismo

A Constituição liberal de 1934 teve, na realidade, vida curta. Com o fim daPrimeira Guerra Mundial, idéias autoritárias e totalitárias proliferaram em todoo mundo. A democracia liberal entrou em crise. Era responsabilizada pelasituação de desemprego e de miséria que assolava diversos países capitalistas.

O nazismonazismonazismonazismonazismo, o fascismo fascismo fascismo fascismo fascismo e o comunismo comunismo comunismo comunismo comunismo surgiam como alternativas aomodelo liberal-democrático. Em 1922, o líder fascista Mussolini assumiu o poderna Itália. Em 1933, com a ascensão de Hitler, o nazismo se tornou vitorioso naAlemanha. Nesse mesmo período, Stalin, o principal dirigente comunista daUnião Soviética, vivia seus dias de glória.

No Brasil, com o fim do regime ditatorial e a implantação de um regimeconstitucional, o processo político radicalizou-se. A vida sindical renasceu.Greves eclodiram por toda parte. Dois importantes movimentos mobilizaram asclasses médias.

De um lado, a Ação Integralista BrasileiraAção Integralista BrasileiraAção Integralista BrasileiraAção Integralista BrasileiraAção Integralista Brasileira (AIB), criada em 1932 com umcaráter profundamente nacionalista e antiliberal. O lema da AIB, dirigida porPlínio Salgado, era “Deus, Pátria e Família”.

Em tempo

26A U L ADe outro lado estava a Aliança Nacional Libertadora Aliança Nacional Libertadora Aliança Nacional Libertadora Aliança Nacional Libertadora Aliança Nacional Libertadora (ANL), criada em

março de 1935. Era inspirada na proposta das frentes populares frentes populares frentes populares frentes populares frentes populares da Europa, quetinham o objetivo de deter o avanço do nazi-fascismo em escala mundial.

Composta por socialistas, comunistas, católicos e liberais, a ANL combatiao governo Vargas e se propunha defender os interesses ameaçados das classespopulares por meio da luta contra o imperialismo e o latifúndio. Tendo comopresidente de honra o líder comunista Luiz Carlos Prestes, a ANL rapidamenteconseguiu mais de cem mil filiados.

Como resposta às mobilizações populares, o governo ace-nou com uma série de medidas repressivas, entre elas a Lei deSegurança Nacional. Em julho de 1935, quatro meses após a suafundação, a ANL foi colocada na ilegalidade.

A partir daí, a proposta de derrubar o governo Vargas pormeio de uma insurreição armada, que vinha sendo veiculadapelo Partido Comunista, foi ganhando força. A proposta rece-beu a adesão de alguns militares remanescentes do tenentismo.

Em novembro de 1935, eclodiu a revolta liderada peloscomunistas. A rebelião, restrita às cidades de Natal, Recife eRio de Janeiro, foi rapidamente debelada, mas acarretou gra-ves conseqüências para o país. O comunismo passou a serconsiderado o inimigo número 1 do governo.

Milhares de pessoas foram presas em todo o país.O Congresso passou a aprovar todas as medidas repressivassolicitadas pelo Executivo. Gradativamente, o Legislativo foirecuando e cedendo espaço para o fortalecimento de Vargas.

Passeata dos integralistas.

A revolta comunista.

26A U L A Em setembro de 1936 foi criado o Tribunal de Segurança Nacional, para

julgar os crimes das pessoas acusadas de envolvimento com o levante comunis-ta. Entre elas estava Pedro Ernesto, o prefeito do Distrito Federal.

Inflando o fantasma do comunismo, Vargas consolidou sua aliança com osmilitares, com os empresários, com a Igreja e com os integralistas. Para fortalecerseus planos continuístas, ou seja, de permanecer no poder, Vargas interveio emEstados que demonstravam maiores resistências e afastou diversos oficiaislegalistas dos cargos de chefia.

O clima golpista voltou a se acender em setembro de 1937, quando foiapresentado à nação um documento, forjado pelo próprio governo, sobre umanova revolta comunista que supostamente eclodiria em breve no país. Essedocumento falso ficou conhecido como Plano CohenPlano CohenPlano CohenPlano CohenPlano Cohen.

No dia 10 de novembro, tropas militares cercaram o Congresso. Vargasapresentou à nação uma nova Constituição. Por meio de um golpe, tinha inícioo Estado NovoEstado NovoEstado NovoEstado NovoEstado Novo.

Na próxima aula, você vai aprender o que foi o Estado Novo. Quais asprincipais medidas adotadas pelo novo governo? Quais os aliados de Vargas?Por que Vargas foi deposto, em outubro de 1945?

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item A revolução de 30 e o novo perfil do EstadoA revolução de 30 e o novo perfil do EstadoA revolução de 30 e o novo perfil do EstadoA revolução de 30 e o novo perfil do EstadoA revolução de 30 e o novo perfil do Estado e identifique duasimportantes mudanças que ocorreram na vida política e social do Brasil, nosprimeiros anos da década de 1930.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Releia o item Mobilização popular e limites do liberalismoMobilização popular e limites do liberalismoMobilização popular e limites do liberalismoMobilização popular e limites do liberalismoMobilização popular e limites do liberalismo. Identifiqueduas razões que levaram o governo a fechar o Congresso Nacional e aimplantar o Estado Novo

Últimaspalavras

Exercícios

27A U L A

Vivemos num país em que é bastante difun-dida a noção de direitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociais, principalmente os trabalhistas e previdenciários.É certo que, ainda hoje, existem trabalhadores que não têm conhecimento dosseus direitos e, assim, deixam de lutar por eles. Trata-se, porém, de uma minoria.

Mas, se os direitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociais são em geral conhecidos, a grande maioria dostrabalhadores desconhece a sua origem. Ou atribui essa origem, simplesmente,à generosidade de Getúlio Vargas, que ficou também conhecido como “pai dospai dospai dospai dospai dospobrespobrespobrespobrespobres”.

Nesta aula, você verá como a criação dos direitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociais, ao lado de umasérie de outras medidas, fez parte de um amplo projeto de construção nacionalrealizado, justamente, num período em que se restringiu a cidadania políticacidadania políticacidadania políticacidadania políticacidadania política.A restrição se deu por meio da eliminação de direitos políticosdireitos políticosdireitos políticosdireitos políticosdireitos políticos, como os direitosde manifestação, de participação, de voto e de organização partidária.Esse período ficou conhecido como o Estado Novo.

Democracia X desenvolvimento

O Estado Novo, como você pôde ver na última aula, teve início no dia 10 denovembro de 1937, com um golpe liderado por Getúlio Vargas, com o apoio dasforças armadas. Com o golpe, o Congresso Nacional, as assembléias legislativase as câmaras municipais foram fechados; os governadores tornaram-se ou foramsubstituídos por interventores interventores interventores interventores interventores nomeados diretamente por Vargas, e foi impostauma nova Constituição.

Em sua “Proclamação ao povo brasileiro”, transmi-tida pelo rádio na noite do próprio dia 10, Vargasdefiniu o golpe como a única atitude possível, diante dasituação em que se encontrava o país. E que situação eraessa?

Era uma situação, segundo ele, de perigo, de desa-gregação, de afronta à autoridade. Uma situação, enfim,em que o Estado, fraco, ameaçado, se encontrava impe-dido de promover medidas necessárias ao bem-estar eao desenvolvimento da nação.

Entre os perigos que ameaçavam a nação, na pers-pectiva dos promotores do golpe, estava o comunismo.

A nova centralização:o Estado Novo - I

Abertura

Movimento

27A U L A

Revolucionários na capital federal.

27A U L A Ele teria se infiltrado em vários setores da vida do país, inclusive o militar, como

evidenciava o levante ocorrido em novembro de 1935. Cabia, portanto, extirpá-lo.Além do comunismo, contudo, haveria razões de ordem política e institucional

pesando para que a situação do Brasil se tornasse caótica. De acordo com Vargas,a Constituição liberal de 1934 impunha sérios limites ao Poder Executivo,conferindo grande força ao Legislativo e aos partidos políticos. E, como ospartidos eram controlados por oligarquiasoligarquiasoligarquiasoligarquiasoligarquias estaduais, o Congresso havia setornado um lugar onde se expressavam não os interesses gerais da nação, e simos de grupos regionais que competiam entre si. Leia o trecho da proclamação deVargas transcrito abaixo. Procure ver qual era a sua avaliação da democraciademocraciademocraciademocraciademocracia e dosufrágio universalsufrágio universalsufrágio universalsufrágio universalsufrágio universal, ou seja, do direito de voto válido para todos, naquele momento:

Nos períodos de crise, como o que atravessamos, a democracia de partidos, emlugar de oferecer segura oportunidade de crescimento e de progresso, dentro dasgarantias essenciais à vida e à condição humana, subverte a hierarquia, ameaçaa unidade pátria e põe em perigo a existência da Nação, extremando ascompetições e acendendo o facho da discórdia civil. (...)O sufrágio universal passa, assim, a ser instrumento dos mais audazes emáscara que mal dissimula o conluio dos apetites pessoais e de corrilhos. Resultadaí não ser a economia nacional organizada que influi ou prepondera nasdecisões governamentais, mas as forças econômicas de caráter privado, insi-nuadas no poder e dele se servindo em prejuízo dos legítimos interesses dacomunidade.Getúlio Vargas, Getúlio Vargas, Getúlio Vargas, Getúlio Vargas, Getúlio Vargas, A nova política do Brasil,A nova política do Brasil,A nova política do Brasil,A nova política do Brasil,A nova política do Brasil, v. 5, p. 21 e 22 v. 5, p. 21 e 22 v. 5, p. 21 e 22 v. 5, p. 21 e 22 v. 5, p. 21 e 22

O que se pode perceber é que a avaliação de Vargas era a de que ademocraciademocraciademocraciademocraciademocracia, o sufrágio universalsufrágio universalsufrágio universalsufrágio universalsufrágio universal, o amplo direito de participação política, nãofuncionavam de fato como instrumentos por meio dos quais a maioria do povomanifestava a sua vontade, intervindo nas decisões governamentais. SegundoVargas, eles eram, isso sim, meios pelos quais as minorias impunham os seusinteresses à nação como um todo.

Esse tipo de análise era relativamente difundido naquele momento. Comovocê viu nas aulas anteriores, o final da década de 1920 e o início da de 1930

foram marcados por uma forte crise do sistema capitalistamundial, o que resultou em críticas ao liberalismoliberalismoliberalismoliberalismoliberalismo e aosistema representativosistema representativosistema representativosistema representativosistema representativo. Propunha-se o fortalecimento doPoder Executivo e uma intervenção maior do Estado naeconomia.

Nos Estados Unidos, essa intervenção se deu pormeio de uma série de políticas implementadas pelo entãopresidente Franklin Roosevelt. Essas políticas ficaramconhecidas como o New DealNew DealNew DealNew DealNew Deal. Nos Estados Unidos,a presença mais firme do Estado se deu sem que fossemabandonados os princípios democráticos. Mas o mesmonão ocorreu em alguns países da Europa, como a Itália

e a Alemanha, onde foram impostos regimes totalitários regimes totalitários regimes totalitários regimes totalitários regimes totalitários - o fascismofascismofascismofascismofascismoe o nazismonazismonazismonazismonazismo.

No Brasil, com Vargas, assim como na Argentina, com Juan DomingoPerón, também se observou a instalação de regimes de força, ainda que nãototalitáriostotalitáriostotalitáriostotalitáriostotalitários. Esses regimes suprimiram os direitos políticosdireitos políticosdireitos políticosdireitos políticosdireitos políticos e o sistema repre-sistema repre-sistema repre-sistema repre-sistema repre-sentativosentativosentativosentativosentativo. A democraciademocraciademocraciademocraciademocracia era vista como obstáculo, e não como condição básicapara o desenvolvimento e a modernização.

FG

V/C

PD

OC

. A

RQ

. G

etúl

io V

arga

s

Getúlio Vargas falandoà nação por ocasião

da instauraçãodo Estado Novo,10 de novembro

de 1937.

27A U L ANo Brasil, a centralizaçãocentralizaçãocentralizaçãocentralizaçãocentralização do poder, com o fortalecimento do Executivo, foi

acompanhada de um sistema de censura aos meios de comunicação que seencarregou de silenciar eventuais manifestações de descontentamento.

Ao mesmo tempo, um forte esquema de repressão foi empregado paraneutralizar a oposição. Não só os comunistas foram atingidos pela repressãopolítica. Ela alcançou todos aqueles, mesmo liberais, que eram consideradoscontrários ao regime.

Na ausência de um Poder Legislativo, o Executivo passou a concentrartambém as suas funções, elaborando leis e constituindo-se na única fontegeradora de políticas para o país. Durante todo o período do Estado Novo,Vargas governou por decretos-leisdecretos-leisdecretos-leisdecretos-leisdecretos-leis, isto é, todos os decretos presi-denciais valiam automaticamente como lei, independentemente de qualqueravaliação. Até mesmo porque não havia quem os avaliasse.

Como você pode perceber, as leis, num regime autoritário como o EstadoNovo, são impostas sem discussão e sem crítica.

Compare essa situação com a que se observa num regime democrático, comoo que vivemos hoje.

Modernização com tradição

Com o Estado Novo, os poderes executivos estaduais passaram a serocupados por interventoresinterventoresinterventoresinterventoresinterventores - homens de confiança, indicados e diretamentesubordinados a Vargas. No lugar das assembléias legislativas, foram criadosdepartamentos administrativos, cujos membros eram nomeados também pelopresidente da República e que, em alguma medida, exerciam um controle sobreos atos dos interventoresinterventoresinterventoresinterventoresinterventores.

Aos departamentos administrativos cabia, entre outras coisas, aprovar osdecretos-leisdecretos-leisdecretos-leisdecretos-leisdecretos-leis dos interventoresinterventoresinterventoresinterventoresinterventores, aprovar e fiscalizar os orçamentos dos Estadose avaliar o desempenho e a eficácia dos órgãos estaduais, apresentando suges-tões de mudança.

Se as decisões do Executivo, com o fechamento do Legislativo, passaram aser impostas, é preciso ver, contudo, que elas não eram fruto apenas dasvontades ou dos caprichos individuais do presidente, dos ministros, e mesmodos interventoresinterventoresinterventoresinterventoresinterventores ou dos secretários estaduais. Uma série de conselhos e órgãostécnicos foi criada, durante o Estado Novo, tendo como função promoverestudos e discussões, propor medidas e assessorar o governo na elaboração e naexecução de suas decisões.

Alguns desses órgãos foram o Conselho Técnico de Economia e Finanças doMinistério da Fazenda, o Conselho Nacional do Petróleo, o Conselho de Águase Energia e a Comissão Executiva do Plano Siderúrgico Nacional.

Não se pode esquecer, também, o importante papel que os militares −que foram uma peça-chave no golpe de 1937 − passaram a desempenhar nadefinição de prioridades, na formulação e na implementação de políticas.

Na visão das Forças Armadas, o Estado brasileiro devia investir em ativida-des estratégicas que garantissem a sua soberania e que, por isso mesmo, eramconsideradas questão de segurança nacional.

Entre essas atividades estava o desenvolvimento de indústrias de base,como a siderurgia, e o suprimento de recursos energéticos, como o petróleo.

Pausa

27A U L A Você já deve ter-se dado conta, a esta altura, de que uma boa parte das

reformas que o governo propõe, hoje, está ligada a processos e idéias que tiveramorigem, justamente, no Estado Novo. Questiona-se hoje aquilo que, naquelaépoca, era considerado condição necessária à própria sobrevivência da nação:um Estado grande, altamente centralizado, interventor e agente fundamental daprodução e do desenvolvimento econômicos.

Não por acaso, o presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que, como seu governo, chegaria ao fim a Era Vargas.

Juntamente com a interrupção do jogo político representativo representativo representativo representativo representativo, a centraliza- centraliza- centraliza- centraliza- centraliza-çãoçãoçãoçãoção administrativa administrativa administrativa administrativa administrativa promovida por Vargas era apresentada como requisitobásico para o aumento da eficiência e da racionalidade do Estado. Defendia-setambém que era a única forma de eliminar a influência de grupos privados, comoas oligarquiasoligarquiasoligarquiasoligarquiasoligarquias regionais, sobre os processos decisórios nacionais.

O governo passou a privilegiar, na composição e na ascensão de seusquadros, não os critérios da filiação partidária ou da indicação política, mas o domérito, da formação profissional e da capacidade técnica. Foram instituídosconcursos para o acesso a cargos públicos. Foi inclusive criado, em 1938, umórgão especialmente voltado para a reforma e a modernização da administraçãopública: o DaspDaspDaspDaspDasp, Departamento Administrativo do Serviço Público.

Será que o Estado Novo conseguiu finalmente tornar mais justo o acesso aoscargos públicos, eliminando por completo o favorecimento, o nepotismo e oclientelismo? O Estado Novo pôde atender aos anseios gerais da nação, colocan-do-se, efetivamente, acima dos interesses particulares? É claro que não.

Apesar de terem sido feitas mudanças importantes, e apesar de o paíster, de fato, adquirido uma face moderna, é preciso destacar que o Estado Novo,além de autoritárioautoritárioautoritárioautoritárioautoritário, tinha características fortemente tradicionais. Não se deveesquecer que as oligarquiasoligarquiasoligarquiasoligarquiasoligarquias regionais continuavam bastante poderosas e queVargas, ele mesmo, era originário da oligarquia gaúcha.

Esses grupos tinham a sua base de poder no campo, no controle que exerciamsobre as grandes propriedades e as populações rurais. Essa base de poder não foiameaçada pelas principais medidas implementadas pelo Estado Novo, porquea ação direta deste se deu na área urbana. Mais do que isso: se as oligarquiastiveram que abrir mão de parte da sua influência, elas, por outro lado, tambémforam beneficiadas por políticas, obras e investimentos, além de cargos públicos.

Os próprios interventoresinterventoresinterventoresinterventoresinterventores acabaram constituindo vínculos estreitos com asoligarquias regionais, utilizando os recursos de que dispunham de formaclientelística. Vários deles criaram fortes bases políticas nos Estados, afirmando-se como grandes lideranças.

Você pode estar se perguntando: afinal, pelo menos o Estado Novo represen-tou os interesses gerais da nação, como prometera de início?

Infelizmente, não. É preciso ver que, com Vargas à frente, era um grupoespecífico, que não havia sido eleito e que havia tomado o poder por meio de umgolpe, que dizia falar em nome da nação. E, como o país se encontrava sobcensura, com direitos políticosdireitos políticosdireitos políticosdireitos políticosdireitos políticos suspensos e ameaça permanente de prisão, édifícil avaliar se havia mesmo, desde o início, uma sintonia efetiva entre governoe povo - entre Estado e nação.

Em tempo

27A U L AO pai dos pobres

Ainda que não houvesse, desde o início, uma sintonia efetiva entre Estadoe nação, o importante é perceber como ela foi sendo construída ao longo dotempo, de maneira tal que Vargas terminou se afirmando como uma das maioreslideranças políticas da história do Brasil. Isso se deu por meio de algunsmecanismos básicos, entre eles a educação.

O Ministério da Educação e Saúde, chefiado por Gustavo Capanema, desem-penhou um papel fundamental no projeto político desenvolvido pelo EstadoNovo. Sua ação foi dirigida, principalmente, para criar e afirmaruma nova idéia de nacionalidade.

À educação coube a importante função de formar os cidadãosbrasileiros, dotando-os de valores e noções comuns a toda a nação.E por educação, nesse caso, deve ser entendida não apenas aquelaformal, que se dava dentro das salas de aula, mas também a que sechamava de extra-escolarextra-escolarextra-escolarextra-escolarextra-escolar. Foi assim, por exemplo, que se criou oInstituto Nacional do Livro. Entre outras coisas, o instituto foiresponsável pela disseminação de bibliotecas no país.

A propaganda política foi muito utilizada no período doEstado Novo. Por meio dela, o governo queria divulgar, no rádioe na imprensa, uma nova maneira de pensar o Brasil, de criaruma imagem de sociedade brasileira. Falava-se muito na criaçãode um “homem novo” para um “Estado Novo” de uma “NovaNação”. A propaganda ficou a cargo do DIP, o poderoso Depar-tamento de Imprensa e Propaganda, criado em 1939.

A presença forte do DIP se fez sentir em áreas e meiosbastante diversos, que iam desde o cinema até a literatura,passando pelo rádio, a imprensa e o teatro.

O DIP não apenas se encarregava da censura, filtrando aquiloque poderia ser dito, como também produzia seus própriosmateriais de divulgação e propaganda: cartazes, fotos, filmes,notícias, revistas, livros e cartilhas escolares, entre outros.

A máquina de propaganda do Estado Novo foi, de fato, empregada paraimpor a figura de Vargas como grande líder, benfeitor e condutor dos destinosda nação, identificando-o com o próprio Estado. Era como se Vargas e o Estadofossem inseparáveis.

Entre as realizações, uma que foi sem dúvida mais enfatizada pela propa-ganda, e que gerou a visão de Vargas como pai dos pobrespai dos pobrespai dos pobrespai dos pobrespai dos pobres, foi a legislaçãolegislaçãolegislaçãolegislaçãolegislaçãotrabalhistatrabalhistatrabalhistatrabalhistatrabalhista. Na verdade, mesmo antes do Estado Novo - mais especificamente,a partir de 1930, e já, portanto, com Vargas à frente do governo do país - podiamser percebidas iniciativas mais significativas em relação aos direitos dos traba-lhadores e à sua organização em sindicatos.

Foi sob o Estado Novo, no entanto, que se organizou a Justiça do Trabalho(1939), que se criou o salário mínimo regional (1940), que se estabeleceu oimposto sindical (1940) e que surgiu a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT(1943).

A ordem e a harmonia eram garantidas pela própria estrutura sindicalcriada. A Constituição de 1937 dizia que a organização em sindicatos era livre,mas acrescentava que apenas os sindicatos reconhecidos pelo Estado teriam,legalmente, o direito de representação de uma categoria.

Além disso, ficavam proibidos a greve greve greve greve greve e o locaute locaute locaute locaute locaute (locaute, do inglêslock-out, quer dizer greve patronal), que eram considerados nocivos aos interes-

Jovens carregam estandarte de GetúlioVargas em manifestação cívica.

27A U L A ses da nação. Se acrescentarmos, ainda, o fato de que se tratava de um momento

de intensa repressão política, veremos que a margem de atuação dos sindicatosera bastante reduzida.

Não pense você, entretanto, que tudo isso não passava de uma estratégiapara iludir os trabalhadores, fazendo-os acreditar que tinham direitos quando,na realidade, as coisas não eram bem assim. Mais do que criar direitos, o governobuscou garantir a sua aplicação, o que gerou descontentamentos em algunssetores do empresariado.

Esses descontentamentos, contudo, foram sendo neutralizados pelo forteestímulo à industrialização, dado pelo Estado Novo. Uma das expressões desseestímulo foi o pesado investimento feito pelo governo na criação de umaindústria de base no país, cujo exemplo maior era a Companhia SiderúrgicaNacional, de 1941. Desse processo também resultou a criação do Serviço Nacio-nal de Aprendizagem Industrial (Senai), em 1942, com o objetivo de formarmão-de-obra para a indústria.

Na realidade, é no próprio esforço de industrialização desenvolvido peloEstado Novo que a legislação trabalhista se inclui. O que se buscou com ela, emlarga medida, foi regulamentar as relações de trabalho, além, é claro, de controlara atividade sindical, eliminando a possibilidade de conflitos e perturbações.

É preciso acentuar, contudo, que, se alguns direitos foram criados e garan-tidos, eles se restringiram, unicamente, aos trabalhadores urbanos. Os trabalha-dores rurais continuaram sujeitos aos grandes proprietários, excluídos da cida-cida-cida-cida-cida-dania dania dania dania dania representada pelos direitos trabalhistasdireitos trabalhistasdireitos trabalhistasdireitos trabalhistasdireitos trabalhistas.

O mesmo governo, portanto, que promoveu a industrialização e queregulamentou as relações de trabalho e a organização sindical nas cidades,absteve-se de intervir no campo, deixando intacto o controle das oligarquiasoligarquiasoligarquiasoligarquiasoligarquiasrurais sobre os camponeses.

Foi apenas no governo João Goulart, em 1963, que alguns dos direitosbásicos passaram a ser efetivamente estendidos ao campo, por meio da leichamada Estatuto do Trabalhador Rural.

Nesta aula, você viu como a criação dos direitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociaisdireitos sociais esteve associada àpolítica de promoção da industrialização feita pelo Estado Novo. Mas o que foiessa política de industrialização?

Esse será o tema da próxima aula. Nela, você também verá, entre outrosassuntos, como a legislação trabalhista e a estrutura sindical propiciaram acriação de um movimento chamado “trabalhista”, ligado à imagem e à liderançade Vargas. Esse movimento serviu de base, às vésperas da queda do EstadoNovo, para a formação do PTB, Partido Trabalhista Brasileiro.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item Democracia X desenvolvimento Democracia X desenvolvimento Democracia X desenvolvimento Democracia X desenvolvimento Democracia X desenvolvimento e explique a frase contida notexto da aula: “A democracia era vista como obstáculo, e não como condiçãobásica para o desenvolvimento e a modernização.”

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Releia o item O pai dos pobres O pai dos pobres O pai dos pobres O pai dos pobres O pai dos pobres e explique como o governo procurou cons-truir a imagem de Vargas como grande líder popular e condutor da nação.

Exercícios

Em tempo

Últimaspalavras

28A U L A

Na aula anterior, você viu como GetúlioVargas organizou o regime do Estado NovoEstado NovoEstado NovoEstado NovoEstado Novo, em sua face política, cultural esocial. Nesta aula, você verá em que base econômica esse projeto se assentava,e como o governo organizou as relações entre o capital e o trabalho.

Deve-se ter em mente que os anos 30 testemunharam a reorganizaçãoeconômica do país no sentido da industrialização e da urbanização. Além disso,você verá que o regime do Estado Novo foi contemporâneo às transformaçõespolíticas por que passavam os países da Europa. Foram transformações quelevaram o mundo à Segunda Guerra Mundial.

Como o Brasil se inseriu nesse conflito? Quais foram as conseqüências daguerra para o país, tanto na área econômica quanto política?

A crise de 1929 e a industrialização brasileira

Na Aula 25, vimos que, em outubro de 1929, após um período de relativaprosperidade na economia mundial, a bolsa de valores de Nova York teve umaqueda sem precedentes na história.

Como conseqüência, diversas instituições financeiras foram à falência. Aprodução industrial e agrícola retrocedeu, e houve uma altíssima elevação dataxa de desemprego, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, com repercus-sões sobre a economia internacional como um todo. As conseqüências foramduras para o Brasil. Os países industrializados (Estados Unidos, Inglaterra eoutros) diminuíram muito a compra dos produtos agrícolas que nós exportáva-mos. Com isso, atingiram nosso principal produto de exportação: o café.

Você sabia que, na década de 1920, o café era responsável por 70% da rendaobtida pelo Brasil com exportações?

Com a redução de suas vendas de café para o exterior, assim como de outrosprodutos primários, o Brasil não conseguia recursos para equilibrar suas contase, portanto, não podia importar os produtos industrializados necessários àeconomia. Aliás, os produtos industrializados que o Brasil importava tambémficaram mais caros.

A nova centralização:o Estado Novo - II

28A U L A

Abertura

Movimento

Em tempo

28A U L A Começou aí o processo de substituição de importaçõessubstituição de importaçõessubstituição de importaçõessubstituição de importaçõessubstituição de importações. Isto é: o Brasil

passou a produzir mercadorias que antes eram compradas no exterior.O país já contava então com indústrias de bens de consumo, principalmente

têxteis e alimentos, e com uma pequena indústria de base. A necessidade desubstituição de importações de produtos mais sofisticados levou o governo autilizar a capacidade ociosa do parque industrial.

Nessa estratégia, foi muito importante a política de intervenção estatal naeconomia inaugurada pelo Estado Novo. Ela permitiu o controle e odirecionamento da produção, sob forte regulamentação.

Você deve estar se perguntando: como os empresários e os trabalhadores seinseriram nessa política do governo?

No caso dos empresários, foi fundamental a contribuição dada ao Estado pororganizações como a Fiesp Fiesp Fiesp Fiesp Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).A Fiesp apoiava o controle estatal sobre a política econômica do país, queprotegia as indústrias existentes e favorecia as novas iniciativas.

Se as classes empresariais se organizavam em torno do Estado e participa-vam diretamente na definição da política econômica do país, qual era a posiçãodas classes trabalhadoras? O que fez o Estado para atraí-las?

Um dos recursos de que o Estado lançou mão foi a ideologia do trabalhismo trabalhismo trabalhismo trabalhismo trabalhismo.Criar uma imagem positiva do trabalhador era uma meta importante do EstadoNovo. Com isso, o governo pretendia também disciplinar a relação entreempregadores e operários e diminuir o conflito entre capital e trabalho.

Dizia Vargas em discurso pronunciado no 1º de Maio de 1943:

(...) à medida que impulsionamos as forças produtoras para favorecer o progres-so geral e unificar economicamente o país, organizamos o trabalho, disciplina-mos sem compressões inúteis, afastando a luta de classes e estabelecendo asverdadeiras bases da justiça social.Getúlio Vargas,Getúlio Vargas,Getúlio Vargas,Getúlio Vargas,Getúlio Vargas, A nova política do Brasil, A nova política do Brasil, A nova política do Brasil, A nova política do Brasil, A nova política do Brasil, v. 10, p. 51v. 10, p. 51v. 10, p. 51v. 10, p. 51v. 10, p. 51

Em tempo

Getúlio Vargas emreunião com seu

ministério porocasião da

declaração deguerra aos países

do Eixo. Rio deJaneiro, 31 de

agosto de 1942.

FG

V/C

PD

OC

.AR

Q. O

swaldo A

ranha

28A U L ADurante o Estado Novo, foi aprovada uma série de leis trabalhistas que

organizariam as relações entre capital e trabalho por muitos anos no Brasil. Foiabolida a pluralidade sindicalpluralidade sindicalpluralidade sindicalpluralidade sindicalpluralidade sindical. O que isso significa? Significa que o Estado sóreconhecia a existência legal de um um um um um sindicato por categoria profissional. Foiinstituído o imposto sindical, de recolhimento obrigatório, sobre o salário dotrabalhador. Esse dinheiro iria para o Ministério do Trabalho, que então orepassaria aos sindicatos.

Controlados pelo Estado, os sindicatos perderam sua força políticareivindicatória e passaram a funcionar como associações recreativas eassistencialistas. A relação trabalhador-sindicato passou a ter o Estado comointermediário. Em outras palavras, as leis sindicais colocaram os sindicatos soba tutela tutela tutela tutela tutela do Estado.

Note que a instituição do imposto sindical imprimiu uma falsa imagem derepresentatividade aos sindicatos. Por quê?

Ao ser descontado compulsoriamente da folha de pagamento, o impostogarantia recursos à direção sindical independentemente do grau de participa-ção dos trabalhadores nas atividades da organização e do apoio das massasa seus dirigentes.

Foi também nesse período, precisamente em maio de 1940, que se instituiua lei do salário mínimosalário mínimosalário mínimosalário mínimosalário mínimo. Essa lei estipulou um mínimo de remuneração parasatisfazer as despesas de alimentação, vestuário, habitação, higiene e transportedo trabalhador.

Finalmente, em 1943, um decreto presidencial criou a Consolidação das Leisdo Trabalho, a CLTCLTCLTCLTCLT. Por meio dela, como o próprio nome indica, as leistrabalhistas antes adotadas foram sintetizadas e finalmente consolidadas.

Em seu conjunto, as leis trabalhistas instituídas durante o período deintervenção estatal na economia garantiram ao governo de Getúlio Vargas ocontrole do movimento sindical durante a passagem de uma economiaagroexportadora para uma economia urbano-industrial.

Guerra no horizonte

Você viu que a substituição de importações no Brasil teve como uma de suasorigens a desaceleração da economia mundial. No entanto, após um período decrise internacional, os Estados Unidos e a Alemanha começaram a competirpelos mercados latino-americanos. Consideravam os países da América Latinaexcelentes fornecedores de matérias-primas e compradores de produtos manu-faturados.

Que fez o Brasil, que desejava se industrializar, diante dessa disputa entreEstados Unidos e Alemanha pelo mercado brasileiro?

Adotou uma política de assinar acordos comerciais com os dois países,procurando obter os recursos necessários para o seu desenvolvimento econômi-co. Na lista das reivindicações brasileiras, destacava-se o financiamento de umagrande usina siderúrgica. Tratava-se de uma peça fundamental para a indus-trialização do país, já que lhe daria autonomia na produção do aço.

Embora não interessasse aos Estados Unidos promover a industrializaçãobrasileira, a possibilidade de o Brasil estreitar suas relações com a Alemanha fez

Pausa

28A U L A com que o governo norte-americano garantisse os empréstimos necessários para

a construção da usina de Volta Redonda (RJ).Mas o panorama internacional estava longe de ser tranqüilo. Em setembro

de 1939, um novo conflito mundial rebentou na Europa e, em dezembro de 1941os Estados Unidos declararam guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itáliae Japão), unindo-se aos Aliados.

Com isso, Getúlio Vargas viu chegar ao fim seu poder de barganha comrelação à Alemanha e aos Estados Unidos. Agora, era preciso definir-se comrelação à guerra mundial: ou ficava ao lado de um, ou ao lado do outro.

Em janeiro de 1942, o governo brasileiro rompeu relações diplomáticas coma Alemanha e a Itália. Em conseqüência da decisão do governo, a frota mercantebrasileira seria alvo de diversos ataques de submarinos alemães.

Você sabia que, só entre os meses de junho e agosto de 1942, cerca de deznavios foram torpedeados na costa brasileira?

Por causa desses ataques, e graças à forte campanha política e ideológica dosAliados, dia a dia aumentava a simpatia da população brasileira pela luta contraos regimes nazista e fascistanazista e fascistanazista e fascistanazista e fascistanazista e fascista da Alemanha e da Itália.

Em tempo

Manifestação pelaentrada do Brasil na

Segunda GuerraMundial.

Na SegundaGuerra Mundial,Aliados eram os

países que seassociaram contra o

Eixo (Alemanha,Itália e Japão).Inicialmente os

Aliados eram Françae Inglaterra.

Posteriormentecontaram coma entrada dos

Estados Unidos.

28A U L AO nazismo foi a versão alemã da ideologia autoritária fascista surgida na

Itália nos anos 20. Semelhantes em sua oposição à ordem liberal-democrática eem seu culto à nação, às virtudes militares e à obediência a um líder, apresenta-vam, porém, uma grande diferença: na ideologia nazista era o racismo central -a crença na superioridade de uma raça.

Com Adolf Hitler à frente, o Partido Nacional-Socialista alemão, porta-vozdo nazismo, chegou ao poder no ano de 1933. Dali até o final da guerra, em maiode 1945, estima-se que seis milhões de judeus foram mortos nos campos deconcentração.

Finalmente, em 22 de agosto de 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanhae à Itália. Começaram então os planos de enviar tropas brasileiras para lutar aolado dos Aliados do outro lado do Atlântico. A Força Expedicionária Brasileira(FEB) foi criada em abril de 1943. Em junho de 1944, o primeiro contingentepartiu para a Itália.

Nossos pracinhas lutaram ao lado das forças norte-americanas contra posi-ções alemãs em território italiano. Entre suas principais vitórias, destacam-seMonte Castelo, Castelnuovo e Montese.

Nesse esforço, mais de quatrocentas vidas se perderam, abatidas pelastropas inimigas e pelo intenso inverno europeu que nossos pracinhas nãoestavam preparados para enfrentar.

A queda de Getúlio Vargas ou o fim do Estado Novo

Vimos que a população brasileira foi gradualmente se aproximando dacausa aliada na luta contra os regimes autoritários do Eixo. Pois bem: ao declararguerra à Alemanha e à Itália, Vargas criou para si um grave problema. Afinal,havia uma incoerência! Como apoiar os Aliados em defesa da democracia emanter um regime autoritário no país? Por toda parte começaram as manifesta-ções pelo fim do regime do Estado Novo.

Procurando reverter essa tendência, Vargas adotou algumas medidas polí-ticas liberalizantes. Em fevereiro de 1945, convocou eleições presidenciais elegislativas, em data a ser marcada 90 dias depois. Em abril, concedeu anistia atodos os presos políticos. Em maio, marcou as eleições para o mês de dezembro.Paralelamente, iniciou-se o processo de constituição dos partidos políticos.

Mas começou, também, o chamado movimento queremistaqueremistaqueremistaqueremistaqueremista.

Em tempo

Embarque detropas brasileiraspara a guerra.

28A U L A A palavra queremistaqueremistaqueremistaqueremistaqueremista se originou da palavra de ordem “Queremos Getú-

lio”, usada nas manifestações de rua por aqueles que desejavam que Getúliocontinuasse presidente ou se declarasse candidato nas próximas eleições.

Outro slogan que se ouvia na época era “Constituinte com Getúlio”. Ou seja,Getúlio podia ficar, bastava que se fizessem eleições para uma AssembléiaNacional Constituinte.

Apoiavam o movimento queremista as massas populares ligadas aotrabalhismo e os comunistas anistiados. Os trabalhistas compunham a correntemais fiel ao ditador. Mas, para os comunistas, a eleição de um novo presidente,com a Constituição de 1937 ainda em vigor, era vista com desconfiança.

As elites conservadoras que ainda apoiavam Vargas viram na aliança dopresidente com os comunistas, e nas supostas intenções de Vargas de perma-necer no poder, razão indiscutível para o golpe que o destituiu, em 29 deoutubro de 1945.

Nesta aula você acompanhou os últimos momentos do regime do EstadoNovo. Viu que a derrota do nazi-fascismo na Europa teve forte influência sobrea queda de Getúlio Vargas.

A seguir, você verá como se processou a redemocratização política brasilei-ra. Quais foram os principais partidos políticos então criados? Quais eram assuas bases eleitorais?

Você viu também que, a partir de 1942, o Brasil se alinhou às democraciaslideradas pelos Estados Unidos. Quais as conseqüências políticas e econômicasdesse alinhamento para o Brasil? Como se organizou o mundo no pós-1945,e qual a posição do Brasil frente às novas potências?

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item Guerra no horizonte Guerra no horizonte Guerra no horizonte Guerra no horizonte Guerra no horizonte e explique por que o governo brasileirodeclarou guerra à Alemanha

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Releia o item A queda de Getúlio Vargas A queda de Getúlio Vargas A queda de Getúlio Vargas A queda de Getúlio Vargas A queda de Getúlio Vargas e identifique uma razão quecontribuiu para a queda de Vargas e o fim do Estado Novo.

Em tempo

Últimaspalavras

Exercícios

Manifestaçãoqueremista.

29A U L A

Este módulo levará você a um momento importante de nossa históriarepublicana − o da redemocratizaçãoredemocratizaçãoredemocratizaçãoredemocratizaçãoredemocratização do país, com a queda do governoditatorial de Vargas.

Nas três aulas seguintes, você vai entrar em contato com os surpreendentescaminhos da política. Verá, por exemplo, como um ditador deposto pôde voltarao governo pelos votos, ou, como ele mesmo diria, “nos braços do povo”.

Venha...

Módulo 11A volta de Vargas

ao poder

29A U L A

Na aula passada vimos que, em 1945, Vargasconvocou eleições para a presidência da República. Mas o regime do EstadoNovo chegou ao fim antes que elas se realizassem, com o golpe de 29 de outubro.

Nesta aula, você verá como o país se organizou, a partir de então,no caminho da redemocratização política. Além disso, saberá de que formao alinhamento aos Estados Unidos condicionou as opções políticas do Brasilno plano internacional. Você vai conhecer também as opções de políticaeconômica do governo Dutra. governo Dutra. governo Dutra. governo Dutra. governo Dutra.

Partidos políticos e Assembléia Nacional Constituinte

Com o golpe de 29 de outu-bro de 1945, o então presidentedo Supremo Tribunal Federal,ministro José Linhares, foiempossado na presidência daRepública. Sua principal ta-refa foi a condução das elei-ções legislativas e presiden-ciais marcadas por GetúlioVargas quando ainda esta-va no poder, em maio da-quele ano.

Os principais parti-dos políticos em disputaeram a União Democrá-tica Nacional (UDN), oPartido Social Demo-crático (PSD), o Parti-do Trabalhista Brasi-leiro (PTB) e o PartidoComunista Brasileiro(PCB).

A ordemliberal-democrática

29A U L A

Abertura

29A U L AA UDN UDN UDN UDN UDN nascera como uma verdadeira frente de oposição ao regime do

Estado Novo, reunindo aqueles que já não pertenciam, ou jamais haviampertencido, à máquina de governo getulista. O PSD PSD PSD PSD PSD, ao contrário, nascera a partirdessa mesma máquina. Era um partido de natureza conservadora, e se apoiavanas chamadas interventorias estaduais. Já o PTB PTB PTB PTB PTB era a expressão política dosindicalismo sob a tutela do Estado.

Você deve notar que, pela primeira vez na história do país, os partidosdeveriam ter representação nacional. Na República Velha, as bancadas partidá-rias eram de natureza estadual ou regional. Essa situação se manteve depois de1930, até a dissolução dos partidos, em 1937. Note também que, de meados dadécada de 1930 até 1945, o eleitorado brasileiro aumentou de 1,5 milhão para7,5 milhões de pessoas.

Os candidatos que disputavam a presidência da República eram o brigadei-ro Eduardo Gomes, antigo líder das revoltas tenentistas, da UDN, e o generalEurico Gaspar Dutra, ex-colaborador de Vargas durante o Estado Novo, lançadopelo PSD e apoiado igualmente pelo PTB. O PCB também lançou um candidato,Yedo Fiúza. Embora pouco conhecido das massas populares, ele obteve cerca de10% dos votos.

Veja só os caminhos da política. Dutra, um dos articuladores do golpe deoutubro de 1945 contra Vargas, foi o candidato do PSD e obteve apoio do PTB.

Então, veja bem: embora o governo Dutra não deva ser visto como meracontinuidade do anterior, a derrubada de Vargas também não significou aderrota das forças conservadoras que o apoiavam. O alvo do golpe fora a pessoado presidente e suas vinculações com as forças trabalhistas e comunistas, e nãoos interesses da oligarquia que ele também representava.

O fraco desempenho de Dutra durante a campanha presidencial o levoua buscar o apoio do PTB. Em troca do apoio à candidatura Dutra, o PTB exigiua nomeação de um dos membros do partido para o Ministério do Trabalho.

Dessa forma, Vargas obteve uma dupla vitória nas eleições de 1945: algunsde seus antigos colaboradores permaneceram no poder, e a política trabalhistasob tutela estatal teve garantia de continuidade.

O governo de Dutra, eleito com cerca de 55% dos votos, foi marcadopoliticamente pela promessa da redemocratização. Na realidade, porém, de 1946a 1951, o país foi administrado de forma elitista e conservadora.

Veja, por exemplo, os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte,iniciados em 2 de fevereiro de 1946. O partido majoritário na Assembléia era o

Em tempo

Grupo demanifestantes pró-Eduardo Gomes.

29A U L A PSD, seguido da UDN. A maioria conservadora evitou que fossem dados passos

largos no sentido da democratização. A despeito da adoção de eleições diretaspara o Executivo e o Legislativo, a nova Constituição manteve intactos osprincipais aspectos da carta estadonovista.

Embora a Assembléia Nacional Constituinte de 1946 tenha representadoum avanço democrático na vida política do país, deve-se ter em mente que a suacomposição social estava longe de ser pluralista. Veja o que disse AliomarBaleeiro, ele mesmo representante da oligarquia baiana:

Se se fizer um inquérito da composição social e profissional desta Assembléia,verificaremos que todos nós, ou pelo menos nossos parentes, saímos das classes agrárias,que se têm libertado sempre do pagamento de impostos, que então passam a recair semprediretamente sobre o proletariado.

Citado por Leôncio Basbaum, Citado por Leôncio Basbaum, Citado por Leôncio Basbaum, Citado por Leôncio Basbaum, Citado por Leôncio Basbaum, História sincera da República, História sincera da República, História sincera da República, História sincera da República, História sincera da República, p. 179p. 179p. 179p. 179p. 179

O traço conservador do governo foi acompanhado de forte oposição aocomunismo. O movimento trabalhista, que desde o ano de 1945 ia ganhandoforça, tinha como um de seus objetivos a recuperação do poder de compra dossalários. Mas era visto, pelo novo governo, como sendo manipulado pela mão docomunismo internacional. Isso refletia a incapacidade dos governantes deperceber o sentido social das greves. A reação do governo foi implacável. Estima-se em 400 o número de intervenções federais em sindicatos, entre 1947 e 1950.Houve também inúmeras detenções.

Terminados os trabalhos da Constituinte, a oposição aos partidos de esquer-da no Brasil, e mais particularmente ao PCB, se intensificou. Em outubro de 1947,cinco meses antes de o Brasil romper relações diplomáticas com a UniãoSoviética, o PCB teve cassado o seu registro. A seguir, começou a batalha dacassação dos mandatos de todos os parlamentares comunistas eleitos em 1945,que os tirou do Congresso e os jogou na clandestinidade.

Em tempo

Parlamentaresprotestando

contra acassaçãodo PCB.

29A U L A

Em tempo

Em toda a sua história, o PCB esteve quase sempre na ilegalidade. Criado emmarço de 1922, foi fechado pelo governo logo a seguir, em junho do mesmo ano.Em janeiro de 1927, retornou à legalidade por apenas alguns meses. Ao fim daSegunda Guerra Mundial, pelo fato de o Brasil ter-se unido às forças aliadas deque fazia parte a União Soviética, foram restabelecidas relações diplomáticascom Moscou e o PCB obteve seu registro no Tribunal Superior Eleitoral. Depoisde ter seu registro cassado em 1947, somente em 1985 o partido voltou àlegalidade, embora bastante debilitado após tantos anos na clandestinidade.

Será que o anticomunismo do governo Dutra coincidiu com a reversão daaliança Estados Unidos-União Soviética? Ou foi, na realidade, resultado desseprocesso? Vejamos, então, como o Brasil se inseria no mundo do pós-guerra.

A Guerra Fria chega ao Brasil

Você já ouviu falar em “guerra fria”? Guerra Fria foi o nome dado à disputapolítico-ideológica entre os mundos capitalista e comunista, iniciada poucosanos depois do término da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Durou mais dequarenta anos. Os personagens principais foram os Estados Unidos da Américado Norte e a União Soviética. A guerra entre esses dois países nunca chegou àsvias de fato, mas produziu inúmeros conflitos em diversas partes do mundo.

Finda a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviéticasurgiram no cenário internacional na qualidade de grandes potências. Masconcretamente, no pós-guerra imediato, seus recursos de poder não eramequivalentes. Ao contrário da União Soviética, os Estados Unidos não sofreramataques militares a seu território. Além disso, desde 1945, podiam contar comum importante instrumento de poder: a bomba atômicabomba atômicabomba atômicabomba atômicabomba atômica.

Em 6 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram sobre a cidade japonesade Hiroshima a primeira bomba atômica, matando cerca de 80 mil pessoas eferindo outras 90 mil. A seguir, em 9 de agosto, outra bomba foi lançada sobreo Japão, desta vez sobre a cidade de Nagasaki, igualmente com altíssimo númerode vítimas. Só em 1949 a União Soviética explodiu experimentalmentesua primeira bomba atômica, seguida pela Inglaterra, em 1952, a França, em 1960e a China, em 1964.

Como se combinavam a política interna e a política externa do governoDutra? Internamente, o presidente Dutra se preocupava com a ação do comunis-mo internacional. Externamente, o governo brasileiro se associou à política dogoverno norte-americano de contenção da União Soviética.

Havia, assim, uma sintonia entre política interna e política externa. Portan-to, enquanto o alinhamento do Brasil aos Estados Unidos foi um instrumentoutilizado por Vargas para obter momentaneamente vantagens políticas, eco-nômicas e militares, para Dutra ele foi um objetivo permanente objetivo permanente objetivo permanente objetivo permanente objetivo permanente de políticaexterior. Nas relações bilaterais e multilaterais, o Brasil procurou adequar suasdemandas e interesses aos objetivos de conter o comunismo internacional,sempre ao lado dos Estados Unidos.

Em tempo

29A U L A Desenvolvimento econômico:

liberalismo ou intervenção?

No que diz respeito à economia, o gover-no Dutra foi caracterizado pela aplicação deuma política liberal, permeada por algumasintervenções do Estado. Ao sabor das neces-sidades, as posições liberais cediam o lugar amedidas intervencionistas.

No início de seu governo, como forma dedeter a inflação, Dutra adotou uma políticaeconômica liberal que incentivava a importa-

ção de bens manufaturados. Como conseqüência, em pouco tempo esgotaram-se as reservas cambiais.

O governo decidiu então adotar uma política de maior controle das impor-tações. Passou a beneficiar apenas os artigos essenciais, como equipamentos,maquinaria e combustível. As medidas tomadas nesse sentido resultaram emincentivo à produção industrial interna, dando início ao período de “industria-lização espontânea”. Mas, e a inflação?

Como a estratégia anterior não resolveu o problema inflacionário, o governoprocurou coordenar os gastos públicos por meio do chamado Plano SaltePlano SaltePlano SaltePlano SaltePlano Salte - onome vem das letras iniciais de sssssaúde, alalalalalimentação, tttttransporte e eeeeenergia.

O fracasso desse plano determinou o arrocho salarial como saída para contera espiral inflacionária. Dutra permanecia, dessa forma, fiel aos postuladosclássicos do liberalismo econômico.

Nesta aula você viu como a redemocratização veio acompanhada de umaforte dose de conservadorismo, tanto na área política quanto econômica. Na aulaseguinte, você acompanhará o retorno de Getúlio Vargas ao poder. Tendo-semantido por um bom tempo ao largo das disputas políticas, o então senador peloPSD foi dia a dia articulando sua candidatura à presidência da República pelopartido criado à sua semelhança, o PTB.

O retorno de Vargas “nos braços do povo”, os principais traços de seusegundo governo (de 1951 a 1954) e as disputas políticas que o levaram aosuicídio serão objeto de nosso próximo encontro. Até lá.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Explique por que, naqueles anos de construção da democracia no país, ogoverno Dutra rompeu relações diplomáticas com a URSS e cassou o registrodo PCB.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Releia o item Desenvolvimento econômico: liberalismo e intervençãoDesenvolvimento econômico: liberalismo e intervençãoDesenvolvimento econômico: liberalismo e intervençãoDesenvolvimento econômico: liberalismo e intervençãoDesenvolvimento econômico: liberalismo e intervençãoe explique a frase contida no texto da aula: “Dutra permaneceu fielaos postulados clássicos do liberalismo econômico”.

Exercícios

Eurico Gaspar Dutra (centro) assiste a manifestação em palanque.

Reservascambiais são os

recursos em moedaestrangeira e ouro

de um paísdestinadas a cobrireventuais prejuízos

das contasinternacionais.

Últimaspalavras

30A U L A

Em dezembro de 1994, quando foi eleito pre-sidente da República, Fernando Henrique Cardoso foi ao Senado para sedespedir de seus colegas e fez um discurso. Afirmou que, para construir o futurodo Brasil, era preciso fazer um acerto de contas com o passado. E explicou quepassado era esse:

(...) um pedaço do nosso passado político que ainda atravanca o presente eretarda o avanço da sociedade. Refiro-me ao legado da Era Vargas, ao seu modelode desenvolvimento autárquico e ao seu Estado intervencionista.

E continuou:

Esse modelo, que à sua época assegurou progresso e permitiu a nossa indus-trialização, começou a perder fôlego nos final dos anos 70.

Na Aula 28, falamos sobre a política econômica do primeiro governo Vargas.Na aula 29, sobre a do governo Dutra. Vamos falar agora sobre uma ampladiscussão que estava acontecendo nos anos 40 e 50, sobre o tipo de desenvolvi-mento que deveríamos adotar. Vamos procurar entender, na aula de hoje, o quefoi esse modelo de desenvolvimento da Era Vargas - que, segundo FernandoHenrique Cardoso, permaneceu quase cinqüenta anos em vigor.

O modelo de desenvolvimento da Era Vargas

Ao final da Segunda Guerra Mundial, enquanto o mundo se dividia em doisblocos que se manteriam em permanente tensão na Guerra Fria, acalorou-se noBrasil a discussão sobre os rumos que deveríamos seguir em nosso esforço dedesenvolvimento.

Um grupo liderado pelo industrial paulista Roberto Simonsen dizia que eraimportante o país continuar a se industralizar e abrir mais fábricas para produziraquilo que até então vinha de outros países, como máquinas, tratores, cami-nhões, automóveis.

Além de investir mais na indústria, era preciso também abrir novas estradas,aumentar as linhas ferroviárias, melhorar os portos. Tudo isso para que asmatérias-primas pudessem chegar até as fábricas. E, depois, para que os produ-tos das fábricas pudessem chegar até os consumidores de todo o país.

30A U L A

Abertura

Movimento

O Estado na dianteira:intervencionismo edesenvolvimento nosegundo governo Vargas

30A U L A Era preciso ainda que o Brasil explorasse o seu petróleo, o seu carvão, o

manganês, o ferro e outros produtos minerais. A agricultura também tinha de semodernizar. O agricultor precisava de tratores, de sementes de melhor qualida-de, de irrigação.

Tudo isso, para se concretizar, exigia o planejamento das medidas a seremtomadas e grande soma de capitais. Mas os nossos empresários não tinhamgrandes recursos, e faltavam também conhecimentos técnicos. Era precisoimportar novas tecnologias. Os empresários precisavam da ajuda do governo oude empresas e empresários estrangeiros.

Esse grupo liderado por Roberto Simonsen contava com o apoio de muitosindustriais, militares, jornalistas, professores, trabalhadores, escritores e outros.A proposta que defendiam foi chamada de modelo desenvolvimentistamodelo desenvolvimentistamodelo desenvolvimentistamodelo desenvolvimentistamodelo desenvolvimentista.

Pouco tempo depois, esse grupo se dividiu. De um lado, ficaram aqueles quepensavam que, se o Brasil precisava desenvolver a sua indústria, não importavaquem iria investir: podiam ser os empresários brasileiros, os estrangeiros ou ogoverno. De outro lado, colocaram-se os que acreditavam que só os empresáriosbrasileiros e o governo é que deveriam explorar os nossos recursos naturais.

Este último grupo não aceitava a participação do capital estrangeiro nonosso desenvolvimento. Argumentava que os estrangeiros só queriam exploraros nossos produtos naturais e nos vender os seus produtos industrializados. Nãoacreditava que empresas estrangeiras pudessem vir para o Brasil e produziraqui. Integrado também por muitos políticos, militares, jornalistas, escritores eoutros, esse grupo ficou conhecido como o dos nacionalistasnacionalistasnacionalistasnacionalistasnacionalistas.

Mas havia ainda um grupo que não concordava nem com osdesenvolvimentistas nem com os desenvolvimentistas-nacionalistas. Era o gru-po liderado pelo economista Eugênio Gudin. Esse grupo entendia que o Brasilnão deveria se preocupar com a industrialização, e sim incentivar a agricultura,melhorar e diversificar a produção agrícola. Dizia que nós, brasileiros, tínhamosdemonstrado que éramos capazes de produzir bem na agricultura, pois conse-guíamos exportar café, cacau, açúcar, algodão e outros produtos agrícolas. Comos recursos da venda desses produtos no exterior poderíamos comprar automó-veis, geladeiras, máquinas etc. Se os estrangeiros quisessem vir aqui abrirfábricas, ótimo para nós. Se os nossos empresários conseguissem produzir benscom custos baixos, ótimo também. Mas o governo não deveria entrar na produ-ção, nem planejar a economia. A produção deveria ser deixada para os empre-sários privados.

Essa posição, ou modelo de desenvolvimento, foi chamada de neoliberalneoliberalneoliberalneoliberalneoliberal.O grupo defensor desse modelo reunia grande número de exportadores, repre-sentantes de empresas estrangeiras, jornalistas, escritores e políticos.

Getúlio Vargas volta ao poder

Em 1950, no meio dessa discussão toda, deveria ser feita a eleição dopresidente da República que iria substituir o presidente Eurico Gaspar Dutra.

Os partidos políticos apresentaram os seus candidatos. A UDN lançou omesmo candidato que havia concorrido em 1945, o brigadeiro Eduardo Gomes.O PSD lançou o mineiro Cristiano Machado. O PTB e o Partido Social Progres-sista (PSP) lançaram juntos Getúlio Vargas, o ditador do Estado Novo que foraderrubado pelos militares em 1945.

Em sua campanha eleitoral, nos comícios que fez ao percorrer todos osEstados da federação, Vargas garantiu ao povo que, se fosse eleito, iria continuar

30A U L Aincentivando a industrialização, como fizera durante seu primeiro governo.

Dizia que só a indústria permitiria que o Brasil atingisse a sua independênciaeconômica e se tornasse um país desenvolvido como os Estados Unidos, a UniãoSoviética e outros países importantes da Europa. Era favorável à exploração dosnossos recursos naturais, como petróleo, manganês, ferro, carvão, por empresá-rios nacionais ou pelo governo, embora aceitasse a participação dos capitaisestrangeiros em outros setores da economia.

Vargas defendia também a maior intervenção do Estado na área econômica,o que significava que o governo deveria estabelecer as regras da produção etambém produzir. Como se vê, seu discurso de campanha estava próximo domodelo desenvolvimentista-nacionalistadesenvolvimentista-nacionalistadesenvolvimentista-nacionalistadesenvolvimentista-nacionalistadesenvolvimentista-nacionalista.

Outra promessa que Vargas fez durante a campanha foi continuar suapolítica de defesa dos direitos dos trabalhadores. Agora, prometia aos trabalha-dores rurais os mesmos direitos que tinham os das zonas urbanas. O fato é queGetúlio Vargas ganhou as eleições de 3 de outubro de 1950 com 48,7% do totalde votos.

Essa vitória foi muito mal recebida pelos perdedores, especialmente a UDN,que não perdoava Vargas por ter governado, durante o Estado Novo, sob umregime de ditadura. A oposição não acreditava que ele pudesse governar dentrode um regime democrático. Tentou, então, impedir a sua posse. O argumentousado foi o de que Vargas não conseguira a maioria absoluta de votos, ou seja,a metade dos votos mais um. Ocorre que a legislação eleitoral daquela época nãoexigia isso.

Hoje, para ser eleito presidente da República, o candidato precisa obtermaioria absoluta de votos. Se nenhum candidato obtiver essa quantidade devotos na primeira eleição, a lei exige um segundo turno de disputa para os doisprimeiros candidatos mais votados. O candidato que tiver 50% mais um dosvotos é o vencedor.

Em 1950, portanto, a UDN não tinha razão quando contestou a vitória deVargas. A Justiça não concordou com o pedido de anulação do resultado, eGetúlio tomou posse no dia 31 de janeiro de 1951.

Você já votou para presidente no Brasil? De quantas eleições para presi-dente já participou? Quando foram as eleições? Quais foram os candidatos?A que partidos eles pertenciam?

Em tempo

Pausa

Charge da fácilvitória de GetúlioVargas naseleições.

30A U L A Você já está entendendo que Getúlio assumiu o governo enfrentando uma

forte oposição. Mas ele era um político que sabia conciliar, procurava semprecontemporizar, harmonizar. Essa era uma das características da sua maneira deagir politicamente. Ele formou o seu ministério, inclusive, com políticos daoposição, e procurou trazer para o governo a UDN, o partido que mais o criticava.Em contrapartida, convidou para o Ministério da Guerra - que atualmente sechama Ministério do Exército - um militar nacionalista, o general Estillac Leal.Essa escolha foi muito criticada por seus opositores, que já temiam que eleadotasse uma política nacionalista.

Para o Ministério da Fazenda foi nomeado o empresário paulista HorácioLafer. Para o Ministério das Relações Exteriores, João Neves da Fontoura. Amboseram favoráveis ao desenvolvimento da indústria nacional com o apoio dogoverno, mas aceitavam a participação do capital estrangeiro no nosso desenvol-vimento. Não se pode dizer que fizessem parte do grupo dos nacionalistas.

Mas como foi o seu governo?

Logo no início do seu governo, Vargas criou uma Assessoria Econômica daPresidência da República. Esse tipo de órgão era uma novidade na época.Significou o começo da valorização do técnico, do especialista, do economista, naindicação de soluções para os problemas do país.

Esses técnicos foram introduzindo novos métodos de trabalho, preparandoplanos de desenvolvimento. A Assessoria Econômica era coordenada peloeconomista Rômulo Almeida e dela participaram Jesus Soares Pereira, JoãoNeiva de Figueiredo, Inácio Rangel, Tomás Pompeu Acióli Borges, OtolmiStrauch, Cleanto de Paiva Leite, Mário da Silva Pinto e Saldanha da Gama.

Eles ajudaram o governo a preparar muitos projetos, principalmente pararesolver problemas como os do petróleo, do carvão e da electricidade. Tambémprepararam um programa de preservação, ampliação e melhor utilização dasreservas florestais. Como você vê, a preocupação com o meio ambiente já existia:tentou-se iniciar uma política para impedir a devastação das nossas florestas.

Um projeto muito importante elaborado pela Assessoria Econômica foio de criação de uma empresa nacional para explorar o nosso petróleo.O Congresso aprovou a criação da Petrobrás em 3 de outubro de 1953, comouma empresa que detinha o monopólio estatal do petróleomonopólio estatal do petróleomonopólio estatal do petróleomonopólio estatal do petróleomonopólio estatal do petróleo.

Getúlio Vargas eTancredo Neves

(à direita).

30A U L AIsso significava que nenhuma outra empresa poderia fazer concorrência à

Petrobrás. A ela cabiam a pesquisa e exploração das jazidas de petróleoexistentes no Brasil; o refino do petróleo tanto nacional como estrangeiro, e otransporte do petróleo bruto e seus derivados.

A discussão sobre a criação da Petrobrás envolveu muita gente. O debatesaiu dos gabinetes, dos ministérios, e foi para as ruas. A população participoude comícios, encontros, manifestações. Os nacionalistas, que defendiam acriação de uma empresa nacional para explorar o petróleo, foram os responsá-veis pela campanha “O petróleo é nosso.” Eles apelidaram as pessoas que eramcontrárias à solução nacionalista de “entreguistas”. Quer dizer: seriam pessoasque queriam entregar os nossos recursos naturais para os estrangeiros, e, porisso, deviam ser consideradas traidoras da pátria.

Além da Petrobrás, o governo Vargas propôs ao Congresso o Plano Nacionalde Eletrificação e a criação da Eletrobrás. Mas esse projeto encontrou muitasresistências, e só seria aprovado no ano de 1961. Em 1953 foi aprovado o Planodo Carvão Nacional, que procurava resolver as dificuldades do país na obtençãode carvão para a indústria siderúrgica.

Outra preocupação do governo foi a de estudar e dar solução aos problemasda Amazônia. Ainda em 1953 foi criada a Superintendência do Plano deValorização Econômica da Amazônia, a SPVEA, que deveria coordenar todas asmedidas necessárias para desenvolver a produção extrativa, a produção agríco-la, a pecuária e a instalação de indústrias nessa região.

O plano para a Amazônia incluía desde a abertura de estradas, a utilizaçãodos rios como vias de navegação, a ampliação da capacidade de produção deenergia elétrica, a defesa contra as inundações, até pesquisas sobre o solo,os vegetais, os animais, o clima e a população.

Também o desenvolvimento do Nordeste foi objeto de preocupação, comodemonstra a criação do Banco do Nordeste do Brasil, em 1952.

Em tempo

Campanha“O Petróleo é nosso”

30A U L A O governo instituiu ainda uma comissão para estudar e planejar a fabricação

de jipes, tratores e caminhões. O trabalho dessa comissão teve continuidade nogoverno de Juscelino Kubitschek, e foi a partir dele que se originou a indústriaautomobilística no Brasil.

O Instituto Brasileiro do Café (IBC) também surgiu durante o governoVargas. Seu objetivo era realizar a política cafeeira, tanto interna como externa-mente, e fazer pesquisas e experimentações para criar novos arbustos, maisresistentes a pragas e a geadas e que dessem um melhor café. Cabia ao IBCdefender os preços do café no mercado internacional, já que a competição eramuito grande: outros países, principalmente os africanos, começavam a produ-zir em grande quantidade.

Ao lado do trabalho da Assessoria Econômica, o ministro da Fazenda,Horácio Lafer, preparou o Plano Nacional de Reaparelhamento Econômico,conhecido como Plano LaferPlano LaferPlano LaferPlano LaferPlano Lafer.

O plano deveria contar com a cooperação financeira dos Estados Unidos.Dele faziam parte projetos para a criação de novas fontes de energia elétrica, amodernização da rede de transportes ferroviários e rodoviários, a construção dearmazéns e frigoríficos, a criação e ampliação dos serviços portuários e aintrodução de novas técnicas na agricultura. Esse plano encontrou muitosobstáculos para ser executado, principalmente porque dependia de financia-mentos que foram prometidos mas que não chegaram na quantidade esperada.

Para financiar e receber os empréstimos estrangeiros obtidos para os proje-tos do Plano Lafer, foi criado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico,o BNDE. Hoje ele se chama Banco Nacional de Desenvolvimento Econômicoe Social, BNDES. É um órgão que financiou e continua a financiar projetosde modernização do país.

No ano de 1954 já começavam a aparecer os primeiros resultados daadministração Vargas. A Petrobrás entrava em funcionamento, era inauguradaa Companhia Siderúrgica Mannesmann, em Minas Gerais, e a usina de PauloAfonso, no Nordeste, começava a produzir energia para a Bahia e Pernambuco.Ao mesmo tempo, com as medidas de incentivo e o apoio do governo, asindústrias trabalhavam a todo vapor.

Você certamente já entendeu o discurso do presidente Fernando HenriqueCardoso. Vargas adotou uma política em que o governo investia na industriali-

zação, criando empresas para produzirbens e serviços. Ao mesmo tempo, pro-mulgava leis e regulamentos para con-trolar as atividades econômicas.

Essa política, que é chamada deautárquicaautárquicaautárquicaautárquicaautárquica, intervencionista intervencionista intervencionista intervencionista intervencionista e centra-centra-centra-centra-centra-lizadoralizadoralizadoralizadoralizadora, caracterizou a chamada EraVargas.

Hoje, esse modelo econômico estásendo criticado. Seus críticos dizem queo governo investiu em muitas áreas emque os empresários privados tinham ca-pacidade de entrar. Consideram que ogoverno só deve investir em serviçospúblicos, ou seja, naqueles que não po-dem dar lucros e que são essenciais paraa população, como educação básica, saú-de, segurança e outros.

Brasilindustrial.

30A U L A

Em tempo

O argumento mais importante contra a manutenção do modelo da EraVargas é o de que o governo não dispõe atualmente de recursos para fazer tudo.Aquelas empresas estatais que tiveram bom desempenho, como a Petrobrás,hoje precisam de muitos recursos para continuar a atender às novas exigênciasdo país. Nosso desenvolvimento industrial é muito maior e mais complexo doque nos anos 50 e 60. Portanto, é preciso mudar o modelo, para nos adaptarmosaos novos tempos.

Vamos observar um pouco os números, porque eles nos ajudam a entendercomo o Brasil mudou. Para começar, nós tínhamos em 1940 uma população de41.236.315 habitantes; em 1950, quando Vargas voltou ao poder, essa popula-ção já era de 51.944.397. Em 1991, quando foi feito o último recenseamento,nossa população já era de 146.917.459.

Ao longo desses anos, não apenas a população cresceu, como mudou aproporção das pessoas que moram no campo e das que moram na cidade.Quando Vargas governou, a maior parte da população vivia nas zonas rurais.Agora, vive nas zonas urbanas.

Em relação à população adulta que trabalha e produz riquezas, ganhasalários, paga impostos - a chamada de população economicamente ativa - ,em 1950, 59,9% se dedicavam à agricultura; hoje, somente 22,8% trabalhamnessa área econômica.

Enquanto isso, os 14,2% que trabalhavam na indústria em 1950 passarampara 22,7% em 1991.

Esta aula tratou do governo democrático de Vargas, período de muitasiniciativas. O governo criou empresas e, com empréstimos, estimulou os empre-sários nacionais a investir na construção de novas fábricas e a ampliar as jáexistentes. Essas iniciativas permitiram que o Brasil deixasse de ser um país deeconomia agrícola para se transformar em um país industrial.

A política de Vargas teria continuidade no governo de Juscelino Kubitschek,quando foram feitos muitos investimentos na industrialização. Mas, apesardisso, o período terminou em meio a uma grande crise política que culminou como suicídio de Getúlio.

É o que você vai ver na próxima aula.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item Modelo de desenvolvimento do Governo Vargas Modelo de desenvolvimento do Governo Vargas Modelo de desenvolvimento do Governo Vargas Modelo de desenvolvimento do Governo Vargas Modelo de desenvolvimento do Governo Vargas eestabeleça comparações entre as propostas desenvolvimentista,nacional-desenvolvimentista e liberal.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Releia o item Mas como foi o seu governo? Mas como foi o seu governo? Mas como foi o seu governo? Mas como foi o seu governo? Mas como foi o seu governo? e explique o que significamodelo autárquico de desenvolvimento.

Últimaspalavras

Exercícios

31A U L A

31A U L A

No dia 24 de agosto de 1954, entre 8h25e 8h40 da manhã, o presidente da República, Getúlio Vargas, se suicidou comum tiro no coração. Deixou uma carta-testamento dirigida ao povo brasileiro.Em um dos trechos dessa carta, ele diz:

Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos gruposinternacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime degarantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso.Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quiscriar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas atravésda Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma.A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o povo sejaindependente (...)

Na aula de hoje, vamos tentar explicar o que aconteceu para que Vargasse suicidasse. E entender o significado da carta que ele deixou.

Vargas enfrenta a oposição

Na última aula, vimos que a volta de Vargas ao poder, em 1951, provocou umareação contrária de muitas pessoas, que tentaram inclusive impedir a sua posse.Isso, em grande parte, estava ligado ao fato de ele ter governado durante o períododo Estado Novo como o ditador que suprimiu as liberdades democráticas, impôscensura rigorosa à imprensa, pôs os adversários do regime na cadeia.

Havia ainda outro aspecto da sua forma de governar que não era muito bemaceito pela oposição: ele se dirigia diretamente ao povo, fazia grandes comíciosem que prometia melhorar a situação dos trabalhadores, em vez de utilizarinstituições como partidos políticos, sindicatos, associações. Ele não estimulavao fortalecimento dessas instituições.

Como está dito na carta-testamento, Vargas voltou em 1951 como presidenteeleito pelo povo e com as instituições democráticas em pleno funcionamento.Mas os antigetulistas não acreditavam que ele fosse respeitar as regras democrá-ticas. Entre os maiores adversários civis do governo estava a UDN, que formouum bloco oposicionista junto com o Partido Libertador (PL), o Partido Republi-cano (PR) e o Partido Democrata Cristão (PDC).

O suicídio de Vargase a carta-testamento

Abertura

Movimento

31A U L AOs jornais de maior prestígio também não apoiavam o governo. O principal

líder e porta-voz da oposição era o jornalista Carlos Lacerda, diretor do jornalTribuna da Imprensa. Lacerda se destacou por suas posições radicais e por ter umagrande capacidade verbal. Seus discursos eram inflamados, tinham um tomemocional e causavam forte impressão.

A política de desenvolvimento do governo Vargas provocava muitos confli-tos dentro da própria equipe de governo. De um lado estava a AssessoriaEconômica, com uma posição mais nacionalista. De outro lado, o grupo doministro da Fazenda, Horácio Lafer, e do ministro da Relações Exteriores, JoãoNeves da Fontoura, favorável a uma maior participação do capital estrangeiro nanossa economia.

Além disso, Vargas teve de enfrentar outras dificuldades. Uma delas foi oaumento da inflação. Quando ele assumiu o governo, em janeiro de 1951, a taxaanual de inflação era de 12,34%. Mas, em 1954, chegou a 25,86% - o que, para aépoca, era muito.

A explicação para esse aumento está no fato de que, para industrializar opaís, era necessário fazer muitas compras de máquinas e matérias-primas noexterior, ou seja, aumentar as importaçõesaumentar as importaçõesaumentar as importaçõesaumentar as importaçõesaumentar as importações.

Nessa época houve também um grande aumento dos preços nomercado internacional, devido à Guerra da Coréia. O conflito entre aCoréia do Norte e a Coréia do Sul durante os anos de 1950 e 1953 foio ponto culminante da chamada Guerra Fria. A China apoiou ainvasão da Coréia do Norte à Coréia do Sul, e os Estados Unidosapoiaram a Coréia do Sul. O conflito termina em 1953 com oreconhecimento das duas Coréias pelos Estados Unidos e pelaUnião Soviética.

O Brasil tinha de pagar mais caro pelos produtos que com-prava no estrangeiro. Dos produtos que exportávamos, o únicoque permitia o equilíbrio das nossas contas externas era o café.O algodão, que figurava como segundo produto de exportaçãobrasileiro, teve uma queda enorme de preços no mercadointernacional.

Além disso tudo, o Brasil também se endividou interna-mente. O Banco do Brasil foi muito generoso, nesse período,com os empresários nacionais. Financiou a instalação, aexpansão e a modernização de muitas indústrias. Conclu-são: o Estado aumentou muito os seus gastos - e, quandoo Estado gasta mais do que arrecada, vem a inflação.

Com o aumento da inflação, aumentou o custo devida: os salários perderam valor, e os trabalhadores e ossindicatos começaram a pedir reajustes salariais.

Em janeiro de 1953, irrompeu no Rio de Janeiro aprimeira de uma série de greves de trabalhadores: foia dos têxteis, pedindo um aumento salarial de 60%.Em março foi a vez dos operários paulistas, quedecretaram uma greve geral.

Os empresários acusavam Vargas de respon-sável pela série de greves que começavam aeclodir. Diziam que ele utilizava o PTB para insu-flar essas greves. Seu objetivo seria estabelecer umclima de desordem no país e, com isso, favorecer um golpepara continuar no poder.

A crise naimprensa.

31A U L A Para solucionar as dificuldades econômicas e os problemas sociais e dimi-

nuir a pressão que lhe faziam a oposição e a imprensa, ainda em 1953 Vargasresolveu mudar o seu ministério.

Para ser ministro do Trabalho, convidou João Goulart - um jovem políticogaúcho, do PTB, que tinha boas relações com os líderes sindicais. Parao Ministério da Fazenda, convidou seu amigo Osvaldo Aranha, que se dedicouao combate da inflação.

Mas a escolha de Goulart foi a que trouxe os maiores problemas. Provocoudescontentamento entre os opositores, principalmente entre os políticos daUDN e os militares antinacionalistas. A imprensa começou a divulgar que essaescolha tinha outras intenções. Uma delas seria formar, no Brasil, uma “repúbli-ca sindicalista”.

Essa “república” seria um governo no qual os sindicatos de trabalhadoresteriam grande poder. Dizia-se na época que Vargas estava tentando fazer umaaliança com o presidente da Argentina, Juan Domingo Perón, para estabeleceraqui um regime sindicalista sob seu controle. Com isso, os antigetulistas queriamdizer que Vargas estava tramando derrubar o regime democrático.

Sempre a desconfiança, o medo de que ele repetisse o golpe de 1937. Ou seja,o passado de Vargas o condenava. E os udenistas conspiravam para afastá-lodo governo.

João Goulart, em fevereiro de 1954, procurou acalmar os sindicatos e ostrabalhadores que haviam deflagrado numerosas greves propondo um aumentode 100% para o salário mínimo. Essa proposta teve uma repercussão negativaentre os empresários, os políticos antigetulistas e os militares.

Logo a seguir, 42 coronéis e 39 tenentes-coronéis do Exército divulgaram umdocumento que ficou conhecido como manifesto dos coronéismanifesto dos coronéismanifesto dos coronéismanifesto dos coronéismanifesto dos coronéis. Nele, reclama-vam que o governo não tinha se preocupado em melhorar a situação do Exército.Seus equipamentos eram velhos e seus salários, muito baixos. Diziam ainda que,se fosse dado um aumento de 100% para os salários dos trabalhadores, umoperário não qualificado passaria a ganhar mais que um cidadão com níveluniversitário.

Em tempo

Vargas e a imagem do “bom velhinho”.

31A U L AHavia, assim, um descontentamento no meio militar, sobretudo entre os

oficiais anticomunistas e antipopulistas que não aceitavam a forma de governarde Vargas. Com todas essas críticas, João Goulart pediu demissão do Ministériodo Trabalho, saindo com uma imagem de político que queria favoreceros trabalhadores.

Vargas busca uma saída

Diante de uma oposição cada vez mais bem organizada e mais agressiva,Vargas achou que a saída era ter uma postura mais nacionalista e mais popular.No dia 1º de maio de 1954, assinou um decreto aumentando afinal o saláriomínimo em 100%. Vargas se refere a esse fato na carta-testamento, dizendo queo aumento desencadeou ódios.

É verdade que esse sentimento existia, tanto da parte dos militares como dospolíticos e empresários, que passaram a se organizar para tirar Vargas dogoverno. E as posições nacionalistas do presidente também provocavam adesconfiança dos capitais e das empresas estrangeiras.

Por outro lado, Vargas não conseguia convencer os nacionalistas das suasintenções. A sua forma de agir, tentando sempre conciliar, fazendo concessõesaos adversários, trazia desconfianças para os seus próprios aliados.

Os jornais de maior circulação no Rio de Janeiro - como O Globo, Correio daManhã, Diário de Notícias, Diário Carioca e O Jornal - e em São Paulo - comoO Estado de S. Paulo e a Folha da Manhã - não davam notícias sobre as realizaçõesdo governo: só apresentavam críticas e aspectos negativos.

Vargas procurou solucionar essa dificuldade de comunicação com o públicoajudando na criação do jornal Última Hora. O Banco do Brasil fez empréstimosvantajosos para o seu proprietário, o jornalista Samuel Wainer, que era amigo deVargas. Era um jornal popular muito bem feito. Em pouco tempo, alcançougrande número de leitores. Os outros jornais desconfiaram que Wainer receberaajuda do governo e começaram a buscar provas para incriminar Vargas. Mas nãoconseguiram.

Vargas sofria cada vez mais acusações de estar favorecendo os amigos, deque seu governo cometia muitos erros, de que havia muita corrupção. CarlosLacerda fazia grandes discursos, nos quais atacava de maneira agressiva a figurade Vargas. A Tribuna da Imprensa era o mais violento dos jornais contra Getúlio.

Nesse ambiente de paixões, em 5 de agosto de 1954, ocorreu o chamadoatentado da Tonelerosatentado da Tonelerosatentado da Tonelerosatentado da Tonelerosatentado da Toneleros.

Você sabe o que foi o atentado da Toneleros?O jornalista Carlos Lacerda foi alvo de uma tentativa de assassinato:

ao chegar em casa, na rua Toneleros, em Copacabana, no Rio de Janeiro,um desconhecido atirou contra ele. Mas foi um amigo do jornalista - o majorda Aeronaútica Rubem Florentino Vaz - quem foi atingido e morreu. Lacerdafoi ferido no pé.

A oposição atribuiu a responsabilidade por esse atentado ao governoVargas. Foi instalada uma comissão de inquérito que rapidamente chegou àidentificação dos culpados. O responsável direto era o chefe da guarda pessoalde Vargas no palácio do Catete, Gregório Fortunato.

Em tempo

31A U L A A partir daí, os acontecimentos se precipitaram. Vargas procurou demons-

trar que não tinha conhecimento prévio desse atentado, e que tudo faria paraesclarecer a situação e punir os responsáveis.

Mas os políticos - principalmente da UDN - e os militares passaram a exigira sua renúncia ao governo.

Foi sobre Vargas que recaíram todas as responsabilidades pelos males queafligiam o país. Foi na sua pessoa que se concentraram todas as críticas e todosos ódios, tanto dos políticos, dos militares como dos empresários.

Os momentos finais da vida do presidente Vargas foram marcados pelotumulto, pela agitação nacional. A minissérie Agosto, baseada num romance deRubem Fonseca e exibida pela TV Globo, relata aqueles acontecimentos.

Procure conversar com pessoas à sua volta que viveram aquele período.Vamos ver como anda a memória brasileira?

�Saio da vida para entrar na história�

As pressões para deixar o Palácio do Catete levaram Vargas ao suicídio, nodia 24 de agosto de 1954. O suicídio teve enorme impacto na população eprovocou forte reação popular. A carta-testamento, encontrada na mesa decabeceira do presidente morto, foi lida e divulgada pela Rádio Nacional, chegan-do rapidamente a todos os recantos do Brasil.

Nessa carta, da qual você já conhece um trecho, Vargas se apresentava comoo grande defensor da classe trabalhadora e como o político que tudo fizera paratornar o Brasil um país desenvolvido. Apresentava-se também como vítima degrupos nacionais e estrangeiros que não aceitavam que os trabalhadores tives-

Pausa

Getúlio Vargas eGregório Fortunato(atrás, de chapéu).

31A U L Asem garantidos os seus direitos sociais. Esses grupos, dizia o presidente, faziam

tudo para impedir que o Brasil se tornasse independente economicamente.Vargas, mais uma vez, explorava a figura do “pai dos pobres”, daquele que

concedera aos trabalhadores os seus direitos. Com a carta-testamento, deixouuma imagem de herói, daquele que lutou pelo bem do país mas que teve de sesacrificar, porque perdeu a batalha final.

Vejamos o que dizia Vargas em outros trechos dessa carta:

Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue.Se as aves de rapina querem o sangue de al-guém, querem continuar sugando o povo bra-sileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.Escolho este meio de estar sempre convosco.Quando vos humilharem, sentireis minha almasofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater àvossa porta, sentireis em vosso peito a energiapara a luta por vós e vossos filhos. Quando vosvilipendiarem, sentireis no pensamento a for-ça para a reação. Meu sacrifício vos manteráunidos e meu nome será a vossa bandeira deluta. Cada gota de meu sangue será uma cha-ma imortal na vossa consciência e manterá avibração sagrada para a resistência. Ao ódiorespondo com perdão. E aos que pensam queme derrotaram respondo com a minha vitória.Era escravo do povo e hoje me liberto para avida eterna. Mas esse povo de quem fui escravonão mais será escravo de ninguém. Meu sacri-fício ficará sempre em sua alma e meu sangueserá o preço do seu resgate.Lutei contra a espoliação do Brasil. Tenholutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, acalúnia não abateram o meu ânimo. Eu vos deia minha vida. Agora vos ofereço a minha mor-te. Nada receio. Serenamente dou o primeiropasso no caminho da eternidade e saio da vidapara entrar na história.

Você pode imaginar que sentimentos essa carta despertou na população.Ao tomar conhecimento do suicídio e dessa mensagem, o povo foi paraas ruas chorar a morte do seu líder e se vingar dos seus opositores, daqueles queforam identificados como os responsáveis pela sua morte.

No Rio de Janeiro, uma multidão foi para o palácio do Catete para prestar aúltima homenagem ao presidente. No centro da cidade, grupos se formarampara apedrejar e incendiar os jornais de oposição. Foram feitas tentativas deapedrejar a embaixada americana e empresas estrangeiras.

Em São Paulo, milhares de operários entraram em greve de protesto e semanifestaram contra os opositores de Vargas. Em Porto Alegre, foram queima-dos os jornais anti-Vargas e foram atacadas as sedes da UDN e do PartidoLibertador. Em Belo Horizonte e Recife, a população também foi para as ruas semanifestar contra os opositores do presidente morto.

31A U L A A emoção, a tristeza e o desespero popular foram tão fortes que atemoriza-

ram e desconcertaram os antivarguistas, que esperavam, com o afastamento deVargas, liquidar o getulismo.

A Era Vargas, na verdade, não terminou em 1954. Sob muitos aspectos, elasobrevive até hoje, como nós já vimos. A forma como Getúlio decidiu sair da vidapara entrar na história permitiu a sobrevivência da democracia até 1964. Permi-tiu também a continuidade da sua política desenvolvimentista com JuscelinoKubitschek.

A carta-testamento, como ele queria, transformou-se em bandeira de lutapara o PTB e para todos os getulistas.

Vargas é um dos raros personagens da nossa história que ficaram namemória popular. Muitas são as razões que podem explicar esse fenômeno. Umadelas é o fato de ele ter permanecido longo tempo no cenário político. Governouo Brasil durante quase 19 anos. Uma segunda razão foi o fato de que com ele, epor meio do seu governo, o Brasil entrou na era da industrialização, deixou deser um país agrícola.

Mas é preciso também levar em consideração as suas relações com o povo,com os trabalhadores urbanos, a forma como ele se dirigia às massas, e, princi-palmente, a implantação da legislação trabalhista entre nós, nas décadas de 1930e 1940. Nessa época, ainda era difícil, para as elites brasileiras, a aceitação dosdireitos sociais como algo fundamental nas sociedades modernas.

O suicídio foi outro elemento que, sem dúvida, contribuiu para a permanên-cia tão forte da imagem de Vargas no seio da população. Esse gesto, junto coma carta-testamento, transmitiu a imagem do sacrifício, do homem que deu a vidapelo bem do Brasil e pelo povo brasileiro.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item Vargas enfrenta a oposição Vargas enfrenta a oposição Vargas enfrenta a oposição Vargas enfrenta a oposição Vargas enfrenta a oposição e explique a frase contida notexto da aula: “O passado do presidente Vargas o condenava”.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Explique por que o suicídio de Vargas provocou forte reação popular.

Últimaspalavras

Exercícios

32A U L A

Este módulo levará você a um momento da história do Brasil que ficouconhecido como os anos douradosos anos douradosos anos douradosos anos douradosos anos dourados. Depois do dramático final do governoVargas, entraremos no período JK - tempo do otimismo desenvolvimentista, damudança da capital, da efervescência cultural. Tempo de um presidente risonho,alegre, “pé-de-valsa”, que queria fazer o país progredir “50 anos em 5”...

Vamos ver por que esse período ficou na memória de tantos brasileiros comoos “bons tempos” que não voltam mais...

Módulo 12Os anos dourados

32A U L A

O período de 1956 a 1961 aparece no cenáriopolítico brasileiro como o da estabilidade política. Juscelino Kubitschek foi oúnico presidente civil que, entre 1930 e 1994, conseguiu manter-se até o fim domandato presidencial por meios constitucionais.

A população brasileira viveu uma fase de muito otimismo. O país alcançavaaltos índices de crescimento. Novas indústrias eram criadas e, muito importante,ampliava-se consideravelmente o número de empregos. Além de tudo isso,dava-se início à construção e inauguração da nova capital, Brasília.

Como explicar a estabilidade política em um país que saía de uma crise quelevara um presidente ao suicídio? Como Juscelino Kubitschek conseguiu con-quistar o apoio dos políticos, dos militares, dos empresários, da população?Como, e a que preço, executou seu programa de desenvolvimento econômico?

Um começo difícil: a eleição e a posse

Com a morte de Vargas, subiu ao poder o vice-presidente João CaféFilho, que deveria preparar as eleições de outubro de 1955 para umnovo mandato presidencial. O seu governo foi formado por muitosantigetulistas e tinha vários políticos da UDN.

Em fevereiro de 1955, o PSD lançou oficialmente o seu candidatoà presidência: o então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschekde Oliveira. Imediatamente surgiu uma oposição a essa candidatura,por parte da UDN e dos grupos antigetulistas. Eles começaram adefender a intervenção dos militares para impedir a realização daseleições, pois viam na possível vitória de Juscelino um retorno aopassado, ao período Vargas.

A situação se complicou ainda mais com o lançamento da candida-tura de João Goulart à vice-presidência, pelo PTB, na chapa de Jusce-lino. Isso porque a união dos dois partidos, PSD e PTB, reforçava aschances de vitória eleitoral de seus candidatos.

Havia ainda um outro problema: o nome de Goulart, ex-ministrodo Trabalho de Getúlio, fornecia fortes argumentos para que se iden-tificasse a chapa PSD-PTB como a ressurreição do que havia de maisnegativo no governo Vargas.

O nacional-desenvolvimentismo

32A U L A

Abertura

Movimento

Juscelino Kubitschek

32A U L APara complicar de vez a situação, o Partido Comunista Brasileiro, mesmo

clandestino, resolveu lançar um manifesto de apoio à chapa PSD-PTB.

Volte à aula anterior e veja quais as razões que justificavam a reação dosantigetulistas contra João Goulart, o popular Jango. Faça um pequeno resumo.

Outros candidatos também disputavam essa eleição. A UDN, junto comoutros pequenos partidos como o Partido Democrata Cristão (PDC), o PartidoSocialista Brasileiro (PSB) e o Partido Libertador (PL), lançou o nome dogeneral Juarez Távora. Concorriam ainda o paulista Ademar de Barros, peloPartido Social Progressista (PSP), e Plínio Salgado, antigo líder do movimentointegralista, pelo Partido de Representação Popular (PRP).

Afinal saiu vitoriosa a chapa Juscelino-Jango, com 36% dos votos. Abriu-seentão um período de contestação desse resultado. Mais uma vez, os perdedoresinvocaram a tese da maioria absoluta: a chapa do PSD-PTB não tinha alcançadoa metade dos votos mais um. A oposição também usou como argumento o fatode que Juscelino se elegera com os votos dos comunistas, o que feria a legitimi-dade da eleição.

Você sabe o que isso significa? Significa que o Partido Comunista, conside-rado um partido ilegal em 1947, não poderia eleger um candidato.

Ainda para tentar impedir a posse dos eleitos, falava-se muito em fraude ecorrupção durante a eleição. Na verdade, os grupos que haviam trabalhado paraafastar Vargas do poder e que tiveram o apoio de lideranças militares estavamnovamente perdendo a chance de assumir o controle do governo. Por isso, aoposição começou a fazer todo o possível para impedir a posse dos vencedores.Abriu-se então uma nova crise política, que teve o seu ponto culminante nochamado movimento do 11 de novembromovimento do 11 de novembromovimento do 11 de novembromovimento do 11 de novembromovimento do 11 de novembro.

Esse movimento foi liderado pelo general Henrique Teixeira Lott, ministroda Guerra do presidente Café Filho. Tudo começou quando, no início denovembro de 1955, morreu o general Canrobert Pereira da Costa, presidente doClube Militar e um dos mais importantes opositores de Vargas nos meiosmilitares. Durante o enterro, o coronel Bizarria Mamede, um dos que haviamassinado o manifesto dos coronéis (volte à Aula 31), aproveitou para fazer umdiscurso violento contra a eleição de Juscelino e Goulart.

O general Lott, tentando evitar a politização dentro das forças armadas,pediu ao presidente da República a punição de Mamede. Naquele momento,ocupava interinamente a presidência o presidente da Câmara dos Deputados,Carlos Luz. Luz estava substituindo Café Filho, que fora hospitalizado porproblemas cardíacos.

Carlos Luz negou-se a punir o coronel Mamede. O general Lott então pediudemissão; a seguir, mudou de idéia e encabeçou um movimento que destituiuCarlos Luz e colocou no governo Nereu Ramos, presidente do Senado.

Essa intervenção militar − ou “contragolpe preventivo”, como foi chama-da − teria por objetivo neutralizar uma suposta conspiração tramada nointerior do próprio governo com o fim de impedir a posse do presidente eleito.

Nereu Ramos exerceu a presidência até Juscelino e Goulart tomarem posse,em 31 de janeiro de 1956, numa situação de censura à imprensa, estado de sítio− enfim, de grande tensão política.

Você já percebeu que Juscelino teria de ser muito habilidoso para superartodas as crises que iriam se manifestar durante o seu governo. Mas era umhomem que sabia lutar pelos seus objetivos.

Pausa

32A U L A Ele mesmo assim se definia:

De meu governo nunca se poderá dizer que não soube o que queria e quenão soube querer. Quando assumi a Presidência da República, tinhaperfeitamente definidos os objetivos a que me lançaria, com todo empe-nho que me fosse dado concentrar, com a firme determinação que, mercêde Deus, nunca me faltou (...). Sempre soube o que queria. Sempre soubequerer.

A estabilidade: a aliança PSD-PTB e as forças armadas

JK, nome pelo qual ficou conhecido Juscelino Kubitschek, iniciou o seugoverno com um apoio maciço no Congresso. Esse apoio veio da aliança entreo PSD e o PTB, que se fizera durante a eleição e que permaneceu durante todoo seu governo.

Juscelino formou o seu ministério com uma maioria de políticos do PSD,partido que tinha o maior número de deputados no Congresso. Reservou parao PTB seis ministérios, entre eles o do Trabalho e o da Agricultura. Parao Ministério da Guerra, convidou o general Henrique Teixeira Lott.

Veja só a habilidade do presidente JK! Compôs seu ministério de forma acontrolar possíveis conflitos. O PSD dava apoio para a sua política econômica emantinha o controle sobre as bases rurais. O PTB, controlando o Ministério doTrabalho, os sindicatos e os institutos de previdência, poupava o governo detomar medidas repressivas ou antipáticas em momentos de reivindicação sala-rial. Assim, Juscelino protegeu-se de problemas vindos dos dois lados: do campoe da cidade.

O general Lott foi uma peça-chave no controle dos militares. Era um homemque não demonstrava simpatias partidárias, o que permitia neutralizar todas asdivisões entre a oficialidade. Além disso, Juscelino procurou atender às reivin-dicações da corporação militar.

Você está lembrado de que uma das críticas que os militares fizeram aogoverno Vargas no manifesto dos coronéis era a de que eles eram mal remune-rados, seus equipamentos eram velhos, ultrapassados etc. Pois bem: Juscelinoprocurou equipar melhor as forças armadas, destinando recursos para a produ-ção de material bélico; deu aumentos salariais, promoveu mesmo aqueles quelhe faziam oposição, deu recursos para a ampliação dos colégios e academiasmilitares, investiu na modernização dos fortes, reaparelhou a Força AéreaBrasileira (FAB).

Essas medidas foram mudando a imagem de Juscelino junto aos milita-res, que inicialmente o viam como o herdeiro de Vargas e, por isso, nãoo aceitavam.

A política econômica: o Plano de Metas

O Brasil não produzia automóveis quando se iniciou o governo JK. Noentanto, ao se encerrar o seu mandato presidencial, a nova indústria automobi-lística já produzia 81.753 automóveis e 51.325 caminhões.

Em tempo

32A U L AA política adotada por Juscelino, que permitiu um salto na economia

brasileira e foi chamada de nacional-desenvolvimentistanacional-desenvolvimentistanacional-desenvolvimentistanacional-desenvolvimentistanacional-desenvolvimentista, baseou-se em trêsorientações:

· aumento da intervenção do governo na economia;

· incentivo aos empresários nacionais para que ampliassem e abrissem novasindústrias;

· incentivo aos empresários estrangeiros para que viessem instalar aqui seusempreendimentos.

Vimos que, até o governo Vargas, os grupos que discutiam a orientação a serdada ao nosso desenvolvimento ainda não aceitavam juntar esses três parceiros.Mas Juscelino conseguiu fazê-lo. Recebeu o apoio de políticos, empresários,militares, jornalistas e intelectuais para a sua política econômica. É verdade queos grupos nacionalistas olhavam para ela com desconfiança - mas percebiamque o país estava se desenvolvendo.

Foi no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) que um grupo deintelectuais formulou muitas das idéias sobre o desenvolvimento nacionalista.Eles defendiam que a industrialização deveria ser feita pelos empresáriosnacionais, pois essa seria a única maneira de o Brasil se tornar um país autônomo,independente.

Esse grupo não aceitava que os empresários estrangeiros explorassemdeterminadas indústrias que eram vistas como suporte para outras, como asiderurgia, por exemplo. Mas, de toda forma, o grupo apoiou a política adotadapor Juscelino, por ver nela pontos em comum com as suas idéias.

Juscelino Kubitschek naCaravana de IntegraçãoNacional, fevereiro de 1960.

32A U L A Por outro lado, o programa de desenvolvimento de Kubitschek ia ao encon-

tro dos desejos dos militares, que queriam que o Brasil deixasse de ser pobre paraevitar a penetração de idéias comunistas.

A Escola Superior de Guerra (ESG) foi um dos centros de estudo nos quaisse defendeu a tese de que era preciso um desenvolvimento rápido para queo Brasil garantisse sua segurança nacional. Para isso, teríamos de nos aliar aospaíses que combatiam o comunismo, ou seja, os Estados Unidos e os países daEuropa Ocidental. Não é difícil perceber que os militares da ESG eram favoráveisà vinda de capitais estrangeiros para ajudar o Brasil a se desenvolver.

A política econômica do governo Kubistchek ficou definida no Plano dePlano dePlano dePlano dePlano deMetasMetasMetasMetasMetas. Esse plano continha trinta objetivos, ou metas, que deveriam ser atingi-dos em cinco anos. O plano previa integrar o desenvolvimento industrial como desenvolvimento de setores como estradas, energia, transportes, portose educação. Previa também a construção da nova capital, Brasília, que erachamada de meta-síntesemeta-síntesemeta-síntesemeta-síntesemeta-síntese. Para fazer o Plano de Metas, o governo JK criou os

Grupos ExecutivosGrupos ExecutivosGrupos ExecutivosGrupos ExecutivosGrupos Executivos, órgãos administativos especiais que seencarregavam de todas as providências necessárias paraque as metas fossem cumpridas.

Esses grupos eram integrados tanto por administrado-res públicos como por industriais e especialistas da área emque o grupo atuava. Ficavam ligados diretamente ao presi-dente da República, o que lhes dava autonomia e agilidadepara trabalhar. Com isso, os ministérios e o Congresso nãopodiam interferir nas orientações e decisões. O que Jusceli-no queria era que as metas fossem cumpridas, que nãosofressem atraso por razões políticas.

A criação dos Grupos Executivos Grupos Executivos Grupos Executivos Grupos Executivos Grupos Executivos foi uma inovaçãopolítica e administrativa. Além desses grupos, o governocriou outros órgãos paralelos aos que já existiam na admi-nistração pública, também como forma de agilizar soluçõese resolver problemas.

Foi no governo JK que muitos órgãos bem conhecidos hoje foram criados.Entre eles, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SudeneSudeneSudeneSudeneSudene), quesurgiu ao lado do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DnocsDnocsDnocsDnocsDnocs).

A Sudene pretendia incentivar a industrialização do Nordeste. Era forma-da por técnicos competentes e estava ligada diretamente ao presidenteda República.

A política econômica do governo Juscelino Kubitschek provocou, de fato,grandes mudanças no país. Os números ajudam a entender melhor os resultadosalcançados pelo Plano de Metas e o que ocorreu nos anos JK.

Pelo quadro abaixo, você pode acompanhar o sucesso de algumas das metaspropostas pelo governo:

PresidenteKubitschek na usina

hidrelétrica deFurnas, Minas

Gerais.

Em tempo

1961 1961 1961 1961 1961

5.000.000 kw

3.000.000 t

75.500 barris/dia

200.000 t

2.000.000 t

1956 1956 1956 1956 1956

3.000.000 kw

2.000.000 t

6.800 barris/dia

90.000 t

1.000.000 t

Energia elétrica

Produção de carvão mineral

Produção de petróleo

Celulose e papel

Produção siderúgica

32A U L ABrasília e a inflação

Juscelino escolheu como símbolo do seu período de governo a construção danova capital no interior do país. O urbanista Lúcio Costa e o arquiteto OscarNiemeyer foram convidados a conduzir os trabalhos de criação e realização doprojeto.

A construção de Brasília provocou um grande entusiasmo na população, quevia surgir, no meio do cerrado do Centro-Oeste brasileiro, uma nova cidade.

Para lá se deslocou enorme quantidade de trabalhadores, principalmente doNordeste. Eram os candangoscandangoscandangoscandangoscandangos, como foram chamados os operários da constru-ção civil que ergueram Brasília.

Prepare-se para um exercício mental.Vamos imaginar a construção de uma cidade. O que é preciso existir em uma

cidade?Sabe por que nós não pensamos nisso com freqüência? Porque, em geral,

uma cidade se faz aos poucos. É preciso que tenha serviços públicos, escolas,hospitais, ruas, locais de moradia, de diversão...

E se essa cidade for construída para ser a capital de um país do tamanho doBrasil? Precisará ter todos os serviços do governo, as repartições... Os ministériosterão de se deslocar da antiga para a nova capital...

Pense sobre isso para entender por que os anos JK foram tão falados.

O próprio presidente confessou que a construção da nova capital foi tarefadura.

Não foi fácil. Nem esperava eu que o fosse. Não me habituei, desde ainfância, às coisas fáceis. Tudo que consegui foi lutando decididamente,à custa de trabalho e sacrifício, não sei se mais trabalho ou maissacrifício, mas ambos igualmente porfiados e duros. Posso assegurar,todavia, que a luta por Brasília foi um dos combates mais árduos deminha vida. A medida de minha determinação de levar a cabo a constru-ção da nova capital pode ser dada por um simples exemplo: assoberbado

Pausa

Aspecto da construção de Brasília.Ao lado, o projeto da cidade.

32A U L A por problemas de toda a ordem, com

trinta metas a cumprir, viajei, du-rante os 41 meses da construção deBrasília, quase trezentas vezes parao local das obras. Não parei, nãodescansei, não ouvi os críticos nemos temerosos. E o resultado aí está:Brasília - Capital da Esperança.

Mas a construção de Brasília des-viou a atenção da população de outrosproblemas que estavam ocorrendo. Umdeles era a inflação, provocada pelosgastos excessivos do governo.

Quando Juscelino assumiu o poder,os preços subiam 12,5% ao ano; quandodeixou o governo, essa taxa tinha subidopara 30,5% ao ano.

Entretanto, foi nesse período que o salário mínimo teve o seu mais altopoder aquisitivo. Os 3.800 cruzeiros de 1957 compravam 22% mais que os 240cruzeiros de 1940, ano de criação do salário mínimo.

O fato de o governo gastar mais do que arrecadava de impostos fazia comque aumentasse a dívida do Estado. Você sabe que, se gastamos mais do queganhamos, o resultado é dívida!

Além de gastar muito para construir Brasília, o governo também gastoumuito aumentando os salários dos funcionários civis e militares. E, mais ainda,gastava dinheiro porque emprestava aos empresários com juros baixos.

Como nessa época não existia correção monetária, os empresários recebi-am empréstimos dos bancos e, quando iam pagar as dívidas, acabavampagando muito menos do que haviam tomado de empréstimo, porque coma inflação a moeda tinha se desvalorizado.

Um outro problema que JK teve de enfrentar foi o dos produtos agrícolas queeram exportados. O Brasil foi recebendo cada vez menos pela mesma quantidadeque vendia no exterior - seja porque os preços estavam baixando no mercadointernacional, seja porque começaram a surgir concorrentes, como no caso daprodução de café.

Todas essas dificuldades levaram JK a tentar diminuir o déficit ou seja, adívida, pois as críticas à sua política começavam a aumentar. Essas críticas nãoeram apenas internas: também vinham dos organismos internacionais queestavam dando empréstimos ao Brasil para financiar parte do Plano de Metas.

Juscelino preparou então um programa de estabilização que pretendiarestringir o crédito aos empresários. Mas estes, imediatamente, se organizaramcontra o governo.

Para que o Brasil continuasse recebendo empréstimos estrangeiros, o FundoMonetário Internacional (FMI) teria de concordar com essa política de estabili-zação do governo. E o FMI fez numerosas exigências para aprová-la.

Acontece que, nesse momento, os nacionalistas e os comunistas passaram afazer severas críticas a JK, acusando-o de se submeter às decisões estrangeiras.Os nacionalistas e os comunistas estavam convencidos de que isso levariao Brasil a se tornar dependente dos Estados Unidos, a perder a sua soberania.

Aspecto do prédio do Congresso Nacional em Brasília.

O FMI é umaorganização

financeirainternacional criada

em 1944. Trata-sede uma agência

especializada daOrganização das

Nações Unidas(ONU), que faz

parte do sistemafinanceiro

internacional. OFMI foi criado como fim de promover

a cooperaçãomonetária no

mundo capitalista elevantar fundospara auxiliar os

países queencontrem

dificuldades nospagamentos

internacionais.

Correçãomonetária quer

dizer correção dovalor do dinheiro,

ou seja, oacréscimo peladepreciação do

valor original.

32A U L AAo final de seu governo, Juscelino queria fazer o seu sucessor. Preferiu

ganhar as simpatias dos militares, empresários, comunistas, nacionalistas, erompeu as negociações com o FMI. Abandonou, assim, o programa de estabili-zação. Ele queria que o seu sucessor fosse o general Lott, candidato do PSD-PTB,mas não obteve sucesso. O eleito foi Jânio Quadros, que teve o apoio da UDN.

A política nacional-desenvolvimentista definida no governo JK não seencerrou com o fim do seu mandato. Ela teria continuidade, principalmentedurante os governos militares após 1964.

Mas a Era JK Era JK Era JK Era JK Era JK não foi só de desenvolvimento econômico. Foi uma época degrande criatividade cultural, em que surgiram movimentos como o CinemaNovo, a Bossa Nova. Foi uma fase de muitos debates de idéias.

Foi ainda durante o governo de JK que o Brasil ganhou a Copa do Mundo naSuécia, em 1958!

Agora, você certamente já começou a entender por que o governo JK deixouboas lembranças, por que esse período é visto como os “anos dourados”...

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item A estabilidade: a aliança PSD/PTB e as forças armadasA estabilidade: a aliança PSD/PTB e as forças armadasA estabilidade: a aliança PSD/PTB e as forças armadasA estabilidade: a aliança PSD/PTB e as forças armadasA estabilidade: a aliança PSD/PTB e as forças armadas.Explique como o presidente Juscelino Kubitschek conseguiu obter apoiopolítico e militar.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Explique a frase contida no texto: “O governo Juscelino Kubitschek provo-cou, de fato, grandes mudanças no país”.

Últimaspalavras

Exercícios

33A U L A

33A U L A

Na aula anterior, vimos como as bases desustentação política do governo Juscelino Kubitschek garantiram-lhe estabilida-de e permitiram-lhe levar adiante um plano econômico baseado nos princípiosdo nacional-desenvolvimentismo. Nesta aula, vamos ver como o desen-volvimentismo tomou conta da sociedade brasileira dos anos 50.

Aqui, como em toda parte, depois do final da guerra, em 1945, era possívelsentir uma tendência ao otimismo e à esperança. Veremos de que forma esseclima se consolidou no Brasil, por meio de novas formas de expressão cultural− na música, no cinema, no teatro, nas artes plásticas e na literatura − voltadassobretudo para as camadas urbanas da nossa sociedade.

Após a guerra, a utopia de construção de um novo mundo

O final da Segunda Guerra Mundial impôs grandes mudanças no cenáriointernacional, inclusive no Brasil. A mesma coisa acontecera em 1918, ao términoda Primeira Guerra, como você já viu na Aula 25.

As duas superpotências emergentes, Estados Unidos e União Soviética,engajadas na Guerra Fria, procuravam ampliar suas áreas de influência. Erapreciso reconstruir os países destruídos da Europa Ocidental. A ajuda financeirapara isso veio dos Estados Unidos, por meio do chamado Plano Marshall.

Aos poucos, ao longo dos anos 50, junto com o apoio financeiro, o estilo devida e a cultura dos americanos foram penetrando em vários países.

Sociedade e culturanos anos dourados

Abertura

Movimento

Propagandas veiculadas em revistas ao longo da década de1950.

33A U L AEra um momento de grande prosperidade econômica dos Estados Unidos.

Houve um grande aumento da produção, acompanhado de um aumento dacapacidade de consumo. Com materiais desenvolvidos durante a guerra, comoo plástico ou o nylon , a indústria americana passou a produzir em massa objetosde uso pessoal e doméstico.

Cada vez mais chegavam às lojas geladeiras, máquinas de lavar, barbeado-res, televisores, rádios portáteis, automóveis e outros bens. Com um custode fabricação mais baixo, esses produtos podiam ser vendidos mais baratoe traziam a marca do práticopráticopráticopráticoprático, do eficiente eficiente eficiente eficiente eficiente e do modernomodernomodernomodernomoderno.

Era exatamente esse novo estilo de vida, que vinha com tais produtos, quepassava a ser praticado no mundo ocidental. Acompanhava-o um sentimento deesperança e otimismo trazido pelo final da guerra e pelo conseqüente desejo deuma vida melhor. Prezava-se o maior conforto propiciado pelos novos objetos,que simplificavam o trabalho no cotidiano doméstico e abriam maior espaçopara o lazer.

As inovações científicas e tecnológicas desenvolvidas durante a guerra e aolongo da década de 1950 chegaram para ficar. Novas formas de pensar e agir seconsolidaram a partir do uso da energia nuclear e dos grandes computadores, daprodução de antibióticos, do lançamento dos primeiros satélites artificiais.Falava-se do renascimento de um novo homem e de um novo mundo.

Os Estados Unidos, no esforço de afirmar seu poderio econômico e político-ideológico, procuraram dominar também os países não-europeus. O Brasil,aliado declarado dos norte-americanos desde a Segunda Guerra, situava-se emsua área de influência.

A política do governo brasileiro voltava-se expressamente para a difusão deideais e valores norte-americanos, e, ao longo da década de 1950, essa influênciase ampliou. Um novo estilo de vida e de comportamento passou a ser exaustiva-mente mostrado pelas revistas, pelo cinema e pela televisão, o mais novo meiode comunicação de massa.

A introdução da televisão no Brasil ocorreu em 1950, na cidade de São Paulo,seguindo-se depois o Rio de Janeiro (1951), Belo Horizonte (1955) e Porto Alegre(1959). Não havia ainda, naquele momento, um sistema de redes nacionais.As câmeras eram pesadas, os recursos técnicos mostravam-se precários. Haviamuito improviso, e eram os atores e diretores do rádio que trabalhavam para atelevisão. A programação era quase toda ao vivo, e os principais programas eramos telejornais, teleteatros, programas musicais e de variedades, muitas vezespatrocinados por empresas que, assim, começavam a fazer a publicidade de seusprodutos. Esse foi o caso do Repórter Esso e do Teatrinho Trol, entre outros.

Em 1956, já funcionavam aproximadamente 250 mil televisores nas trêsmaiores cidades do país; em 1959 acelerou-se a fabricação nacional de aparelhosde televisão.

Foi durante a década de 1950 que se consolidou no Brasil a chamadasociedade urbano-industrial. Uma das conseqüências desse fenômeno foi odesenvolvimento de uma cultura de massa, traduzida pelo aumento do consu-mo de programas de rádio (era o tempo das radionovelas e dos programas dehumor), de jornais, revistas, filmes americanos e também nacionais − o destaqueia para as chamadas chanchadaschanchadaschanchadaschanchadaschanchadas, que tratavam dos temas do cotidiano soba forma de comédia, ao som de músicas de carnaval.

Em tempo

33A U L A As casas e os edifícios dos grandes centros urbanos como Rio de Janeiro, São

Paulo e Belo Horizonte, assim como o mobiliário dessas construções, passarama privilegiar formas mais livres, mais funcionais e menos adornadas, com curvase volumes não habituais. Você conhece os móveis de pé-palito e as lumináriascom hastes longas, finas e coloridas? Era o moderno moderno moderno moderno moderno invadindo a vidanas cidades.

A juventude passou a ser agente de um novo comportamento. Blusas e calçasde fibras sintéticas, como a helanca helanca helanca helanca helanca e o ban-lonban-lonban-lonban-lonban-lon, jaquetas de couro e calças debrim de origem tipicamente norte-americana compunham o vestuário dosjovens. Eles dançavam um novo ritmo, o rock and rollrock and rollrock and rollrock and rollrock and roll, e andavam de lambretalambretalambretalambretalambreta.

A influência francesa na nossa cultura perdeu pouco a pouco seu espaço,permanecendo intensa apenas nos círculos de elite. De qualquer forma, popula-rizou-se um novo estilo de vida nos centros urbanos, que tinham como modeloa cidade do Rio de Janeiro, capital da República até 1960, e, dentro dela, o bairrode Copacabana.

Seus bares, cinemas e lanchonetes, ao lado de sua famosa praia, atraíamjovens e adultos, políticos, turistas e artistas de cinema de todo o mundo. EmCopacabana surgiu o primeiro supermercado com auto-serviço, e abriram-se asprimeiras lojas de eletrodomésticos da cidade.

A fabricação nacional de geladeiras, televisores, rádios portáteis, máquinasde lavar e barbeadores, e ainda o aumento do parque automobilístico, garanti-ram a difusão desse novo estilo de vida nos centros urbanos brasileiros.

Isso foi possível devido à política do governo Juscelino Kubitschek, que sepreocupou em fazer do Brasil um país industrializado e dinâmico, nos moldesdos ideais desenvolvimentistas. Consumir produtos “modernos”, “práticos”,“funcionais” e “dinâmicos”, como dizia a propaganda dos meios de comunica-ção, era estar em compasso com a vida moderna dos países desenvolvidos.

Roupas de fibras sintéticas tornaram-semoda nessa época.

33A U L AComo você pode ver, vários aspectos − de ordem econômica, política,

ideológica, social e cultural − fortaleceram os sentimentos de otimismo e espe-rança que caracterizaram o governo Kubitschek.

Com base nos elementos expostos nesta aula e também na anterior, expliquepor que esse momento da história do país recebeu o rótulo de “anos dourados”.

Voltar-se para o Brasil sem dar as costas para o mundo

A possibilidade de produzir algo novo mobilizou também o meio cultural.Vários movimentos no campo artístico nasceram ou tomaram impulso no Brasilao longo da década de 1950.

Surgiram novas formas de pensar e fazer cinema, teatro, música, literaturae artes plásticas. A própria arquitetura se renovou, por meio de uma revisão doque fora feito até então.

Todas essas experiências possuíam um objetivo em comum: identificar etrazer à tona elementos da cultura popular e da nacionalidade brasileira,integrando-os a expressões artísticas inovadoras que vinham surgindo emalguns países do mundo.

O vigor do movimento cultural encontrava eco junto às camadas médiasurbanas em franca expansão, sobretudo universitárias. Estava em sintonia nãosó com o espírito nacionalista da época, mas também com a crença nas possibi-lidades de desenvolvimento e transformação do país.Vejamos, com mais detalhes, como isso ocorreu emcada uma das áreas artísticas.

O cinema cinema cinema cinema cinema feito no Brasil durante a década de1950 procurou retratar aspectos da realidade do país.Essa, aliás, era uma tendência inaugurada no pós-guerra pelo cinema italiano, que, com o movimentodo neo-realismoneo-realismoneo-realismoneo-realismoneo-realismo, se preocupava em documentar osproblemas sociais e humanos.

Assim, tanto um jovem cineasta independente,como Nelson Pereira dos Santos, quanto os filmes daVera Cruz, o grande estúdio da época, construídonos moldes da indústria cinematográfica norte-ame-ricana, buscavam abordar temas da cultura popular.Até mesmo as chanchadas, em tom de comédia,traziam às telas temas do cotidiano urbano.

O neo-realismo italiano, juntamente com a reno-vação dos cinemas francês e japonês, influencioudecisivamente um importante movimento do cine-ma brasileiro no final da década de 1950 e início dosanos 60: foi o chamado Cinema Novo Cinema Novo Cinema Novo Cinema Novo Cinema Novo, que alcançariarepercussão internacional.

O Cinema Novo pretendia ser um instrumentode reflexão sobre a realidade brasileira. Os cineastastraziam para a tela os problemas do povo e dosubdesenvolvimento. A nova linguagem, além deutilizar poucos recursos de produção, criava umaforma diferente de contar essas histórias.

Pausa

Cena da peça Revoluçãona América do Sul, deAugusto Boal. Teatro deArena, 1960 (em cima).

Cena do filme Rio 40 graus, deNelson Pereira do Santos (embaixo).

33A U L A A renovação cultural também se processou no teatroteatroteatroteatroteatro, não só em relação

à temática, mas também em relação à encenação. Com um despojamentosemelhante ao do cinema, as montagens se faziam sem cenários, com umpalco no centro da platéia e com os atores interpretando seus personagens deforma mais realista. Essa foi a marca do Teatro de Arena de São PauloTeatro de Arena de São PauloTeatro de Arena de São PauloTeatro de Arena de São PauloTeatro de Arena de São Paulo, que emmeados da década de 1950 desenvolveu uma temática voltada para osproblemas sociais e políticos, dentro de um projeto de conscientização e decriação de um teatro popular.

Esses objetivos inspiraram tam-bém o Grupo OficinaGrupo OficinaGrupo OficinaGrupo OficinaGrupo Oficina, formado em1958 por universitários da Faculdadede Direito do Largo de São Francisco,na capital paulista. Tanto o Teatro deArena quanto o Oficina, liderados res-pectivamente por Augusto Boal e JoséCelso Martinez Correia, desenvolve-ram suas experiências por influênciados teatros de vanguarda norte-ame-ricano e europeu e da obra do drama-turgo alemão Bertolt Brecht. Novosautores surgiram na dramaturgia bra-sileira, como Oduvaldo Viana Filho eGianfrancesco Guarnieri.

A música brasileira música brasileira música brasileira música brasileira música brasileira também serevitalizou com o movimento conhe-cido como Bossa NovaBossa NovaBossa NovaBossa NovaBossa Nova, que se iniciouem 1958. Os músicos incorporaram àcanção popular brasileira algumas ma-nifestações da música popular estran-geira, sobretudo de ritmos norte-ame-ricanos como o jazz e algumas de suasmodalidades, como o be-bop.

A Bossa Nova trazia consigo umanova forma de interpretação, mais

intimista. Trazia também uma nova orquestração, um novo ritmo e uma integraçãoestreita entre letra e música.

A indústria do disco, em franca expansão, logo divulgaria novos composi-tores, como Antônio Carlos Jobim, João Gilberto e o poeta Vinícius de Moraes,e novas cantoras, como Silvinha Teles e Nara Leão. Proliferavam as apresenta-ções nos bares de Copacabana e os espetáculos nas universidades cariocas.

Você conhece a letra da música Desafinado, de João Gilberto, feita em 1958?A letra diz:

Se você insiste em classificarMeu comportamento de antimusicalEu, mesmo sentindo, devo argumentarQue isso é bossa novaQue isso é muito natural

A música Desafinado dá o tom do impacto produzido por essa nova formade cantar e de compor.

Pausa

Reprodução de capa de disco.

33A U L AJá vimos como Brasília expressava uma nova concepção de vida urbana. Era

o projeto de uma cidade moderna, sem contrastes sociais. Seus idealizadores,Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, são a expressão máxima da arquitetura modernabrasileira, diretamente ligada aos fundadores da arquitetura moderna européia,como o suíço Le Corbusier e os alemães Walter Gropius e Mies Van der Rohe.

Mas não foi só a capital do país que mudou de cara: as casas, os edifíciosresidenciais ou de escritórios, alguns edifícios públicos como o Museu de ArteModerna do Rio de Janeiro, alteraram a paisagem urbana ao longo da década de1950. Nos seus interiores, via-se uma concepção também moderna de decoraçãoe mobiliário, que utilizava materiais locais com um desenho prático, leve e semenfeites.

Foi no início da década de 1950 que se consolidaram no Brasil os conceitosfundamentais da arte moderna, que já vinham sendo difundidos no exterior. Aarte figurativa arte figurativa arte figurativa arte figurativa arte figurativa cedeu lugar à arte abstrataarte abstrataarte abstrataarte abstrataarte abstrata, muitas vezes geométricageométricageométricageométricageométrica. ArteArteArteArteArteabstrataabstrataabstrataabstrataabstrata é uma forma de expressão artística que rejeita a representação darealidade exterior - como faz a arte figurativacomo faz a arte figurativacomo faz a arte figurativacomo faz a arte figurativacomo faz a arte figurativa -, concebendo a arte como umaorganização de formas e cores puras. A sua vertente geométricageométricageométricageométricageométrica privilegia arelação forma e cor organizadas a partir dos princípios da geometria. O queinteressava não era a arte como representação e sim como um processo deconhecimento.

Sob a influência das artes plásticas, alguns poetas, chamados de concretistas concretistas concretistas concretistas concretistas,procuraram associar o sentido de sua poesia ao próprio aspecto material daspalavras. Os concretistas faziam uma poesia fora das estruturas tradicionais dalíngua, utilizando as próprias palavras como objetos concretos, isto é , conside-ravam entre outros aspectos o espaço gráfico; a cor, o tamanho e a forma da letraetc... . Veja como exemplo este trabalho de Haroldo de Campos, intitulado“ nascemorre”, de 1958.

Mas surgiu também uma outra poesia, que, demonstrando seu compromis-so com os problemas sociais, se voltava para temas regionalistas. É o caso de JoãoCabral de Melo Neto, que em 1955 publicou Morte e vida severina. Eis aqui umtrecho de Morte e Vida Severina: Essa cova em que estás,/ com palmos medida,/é a conta melhor / que tiraste em vida./ É de bom tamanho,/ nem largo nemfundo,/ é a parte que te cabe/ neste latifúndio./ Não é cova grande, é cova medida,/ é a terra que querias/ ver dividida.

senascemorre nascemorre nasce morre

renasce remorre renasceremorre renasce

remorrerere

desnascedesmorre desnasce

desmorre desnasce desmorre

nascemorrenascemorrenascemorrese

Haroldo de Campos, nascemorre, 1958

33A U L A Na prosa, João Guimarães Rosa despontou com Grande sertão: veredas. Essa

obra, utilizando uma temática regional, inovou a própria linguageminovou a própria linguageminovou a própria linguageminovou a própria linguageminovou a própria linguagem, por meiode uma fusão entre o falar do sertão e dos índios, o latim e o português arcaico.

O outro lado da moeda

A preocupação com a pobreza, com o atraso e com as condições de vida dohomem brasileiro - tema dos filmes do Cinema Novo, da literatura e do teatropoliticamente engajados - refletia os problemas que os movimentos sociais,urbanos e agrários, também procuravam enfrentar.

Ocorreram, assim, protestos nas cidades e no campo. Houve uma intensifi-cação de greves a partir de 1958. Sindicalistas, petebistas e comunistas reivindi-cavam aumentos salariais diante do aumento da inflação e da alta do custo devida. Os estudantes, por sua vez, promoviam manifestações por meio da UniãoUniãoUniãoUniãoUniãoNacional dos EstudantesNacional dos EstudantesNacional dos EstudantesNacional dos EstudantesNacional dos Estudantes, a UNEUNEUNEUNEUNE.

A questão da reforma agrária transformou-se na principal bandeira domovimento das Ligas CamponesasLigas CamponesasLigas CamponesasLigas CamponesasLigas Camponesas, lideradas por Francisco Julião. A reivindi-cação de reforma agrária consistia na luta pela distribuição das terras improdu-tivas em poder dos grandes proprietários entre uma massa de trabalhadoresrurais que não dispunham de área para produzir. Os políticos começaram aincorporar em seus discursos o tema da reforma agrária, mesmo que nãohouvesse uma real intenção de atender às reivindicações dos homens do campo.

Os problemas que atingiam a maior parte da população brasileira contri-buíram para o agravamento das tensões no campo e na cidade. A radicalizaçãoradicalizaçãoradicalizaçãoradicalizaçãoradicalizaçãopolítica política política política política dos primeiros anos da década de 1960 seria o resultado das tensões nãoresolvidas.Essa será a matéria da próxima aula.

Como já foi dito aqui algumas vezes, o que ficou como lembrança dos anos50, e sobretudo da chamada Era JK, foi a idéia de que aqueles foram “anosdourados”.

Havia o otimismo e a esperança que refletiam profundas alterações na vidadas pessoas, em termos mundiais. Uma parcela da população dos centrosurbanos pôde consumir mais produtos, novos e melhores.

Mas, como em todos os países subdesenvolvidos, aqui no Brasil, palco dapobreza, do atraso e de acirradas diferenças sociais, também crescia o sentimentode que era necessário caminhar na direção de uma sociedade mais justa. Reverteraquela situação de pobreza, atraso e diferenças sociais foi desejo de estudantes,trabalhadores, intelectuais e artistas. Como esse movimento foi vivido noBrasil?É o que veremos no próximo módulo.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item Após a guerra, a utopia de construção de um novo mundoApós a guerra, a utopia de construção de um novo mundoApós a guerra, a utopia de construção de um novo mundoApós a guerra, a utopia de construção de um novo mundoApós a guerra, a utopia de construção de um novo mundoe caracterize o novo estilo de vida que passou a ser difundido pelos meios decomunicação no Brasil dos anos 50.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Releia o item Voltar-se para o Brasil sem dar as costas para o mundo Voltar-se para o Brasil sem dar as costas para o mundo Voltar-se para o Brasil sem dar as costas para o mundo Voltar-se para o Brasil sem dar as costas para o mundo Voltar-se para o Brasil sem dar as costas para o mundo eidentifique um elemento comum presente nos vários movimentos culturaisbrasileiros da década de 1950.

Últimaspalavras

Exercícios

34A U L A

Os caminhos da democracia têm muitos obstáculos a ultrapassar. Construiruma sociedade com os direitos dos cidadãos respeitados, com a liberdadegarantida e os deveres cumpridos, é uma tarefa longa e freqüentementedescontínua. Os anos 60 da história do Brasil nos colocam diante desse desafio.Uma sociedade viva, plural, muitos grupos se manifestando. Uma incapacidadede conviver com todas essas manifestações.

Este módulo trata dos dois movimentos: o de manifestação das diferenças −portanto, da democracia − e o de repressão das diferenças − portanto,do autoritarismo.

Módulo 13Os desafios

da década de 1960

34A U L A

Na aula passada, fizemos uma pequena vi-agem pelo final da década de 1950, quando encontramos variadas manifesta-ções da cultura brasileira, popular e erudita. Essa efervescência era, em grandeparte, um produto da “euforia” desenvolvimentista. No entanto, o clima deotimismo foi quebrado pelos grandes desafios que a nova década nos trouxe.

Nesta aula, você vai ver de que forma as conjunturas política e econômica doinício dos anos 60 foram marcadas pela herança herança herança herança herança − positiva e negativa − doperíodo desenvolvimentista. Vamos acompanhar a eleição e o governo de JânioQuadros, o presidente que obteve o maior número de votos que o Brasil jamaistinha dado a um candidato até então. Pois esse presidente tão votado renunciouao cargo com menos de oito meses de governo.

A �vassoura� chega ao Planalto

As eleições presidenciais de 3 de outubro de 1960 deram uma espetacularvitória a Jânio Quadros, ex-prefeito e ex-governador de São Paulo. Jânio foicandidato de uma ampla união de partidos. Veja só quantos se juntaram paraelegê-lo: UDN, PTN, PDC, PR e PL. A esses partidos uniram-se as dissidênciasdo PTB, PSD, PRP, PSP e PSB.

Os anos radicais: ogoverno Jânio Quadros

34A U L A

Abertura

Movimento

Campanhapresidencial deJânio Quadros.

34A U L AJânio obteve 48% (quase seis milhões) dos votos válidos, contra os 32% dados

ao marechal Henrique Teixeira Lott. Como você viu na Aula 32, Lott era ministroda Guerra do governo Kubitschek e candidato oficial do governo pela aliançaPSD-PTB. Outro ex-governador de São Paulo, Ademar de Barros, tambémcandidato, obteve 20% dos votos.

A eleição de Jânio teve o comparecimento de 80% do eleitorado. Até então,nunca tantos eleitores haviam dado seu voto no Brasil.

Para a vice-presidência, foi novamente eleito João Goulart, candidato dacoligação PSD-PTB e ex-vice presidente de Kubitschek.

Você deve estar perguntando: como podem ser eleitos um presidente de umpartido e um vice-presidente de outro?

Uma boa pergunta, essa. Acontece que, pela legislação eleitoral da época, aocontrário da atual, o eleitor podia votar em candidatos à presidência e à vice-presidência de chapas diferentes, como se fossem duas eleições distintas.

Vimos que Jânio Quadros se elegeu como candidato de oposição a JuscelinoKubitschek. Mas como explicar uma vitória tão consagradora, se o governoJuscelino havia sido, aparentemente, tão bem-sucedido, cumprindo sua promes-sa de realizar “50 anos em 5”?

Pense um pouco...Volte à aula anterior e tente expor sua opinião.

Voltemos juntos à “herança” do governo JK. Só no final do governo foipossível sentir as principais conseqüências negativas do desenvolvimento eco-nômico acelerado daquele período. Os grandes investimentos necessários àrealização do Plano de Metas criaram um desequilíbrio entre as receitas obtidas(basicamente dos impostos) e as despesas efetuadas pelo Estado. Como nãopodia obter mais receitas, o governo tentou cobrir esse “rombo” com a emissãode papel-moeda.

O que significa isso? Significa que, como o governo gastava mais do querecebia, começou a fabricar dinheiro para pagar o que devia. Parece uma soluçãomágica, não é? Mas, na realidade, é uma armadilha.

Esse “excesso” de dinheiro em circulação acabou provocando um fenômenopor nós bastante conhecido: a inflaçãoinflaçãoinflaçãoinflaçãoinflação. Em 1960, a taxa inflacionária anualchegou a mais de 30%.

Você pode achar que é um índice pequeno, comparado às taxas de inflaçãoque nos afetaram tanto na década de 1980. Mas começava ali o nosso grandeproblema de controlar a inflação e os gastos exagerados do governo. Outraconseqüência negativa do Plano de Metas foi o crescimento da dívida externa.Você sabe o que é isso? É quanto o Brasil tem de pagar aos países desenvolvidosque nos emprestam dinheiro. No período de 1955 a 1960, nossa dívida externacresceu em 60%!

Jânio Quadros se aproveitou desses problemas do governo anterior e fezuma campanha eleitoral com muitas críticas ao governo JK. Prometia umgoverno austero e moralizador. A vassouravassouravassouravassouravassoura, símbolo de sua campanha, serviapara mostrar sua intenção de fazer uma verdadeira “limpeza” na administraçãopública: acabaria com a corrupção e com o empreguismo.

Outra imagem que Jânio usava desde os tempos de prefeito em São Paulo −o “tostão contra o milhão” − ilustrava o desejo do presidente de se apresentarcomo o candidato das camadas mais pobres. Prometia ao povo lutar contra os

Pausa

34A U L A privilégios dos poderosos. Com isso, ele conseguiu conquistar votos de muitos

eleitores de camadas sociais diferentes - às vezes, até mesmo de camadasopostas. Mas era difícil atender a reivindicações tão diferentes sem que ninguém“pagasse a conta”.

O governo Jânio Quadros

Quando tomou posse, em 31 de janeiro de 1961, Jânio Quadros quis marcarseu governo com uma política de “arrumar a casa”. Prometeu corrigir osdesequilíbrios internos e externos antes que o país voltasse a um novo ciclo dedesenvolvimento econômico. As prioridades eram o combate à inflação, pormeio do controle dos gastos públicos, e o reequilíbrio das contas externas.

A primeira medida importante ocorreu já em março de 1961. O governo fezuma maxidesvalorização maxidesvalorização maxidesvalorização maxidesvalorização maxidesvalorização de 100% do cruzeiro em relação ao dólar, ou seja,reduziu o valor da moeda brasileira em relação ao dólar. A moeda brasileirapassou a valer menos 100% do valor do dólar. Passou a valer a metade do quevalia antes. Além disso, cortou a ajuda para as importações de trigo e petróleo.

A conseqüência imediata dessas medidas foi uma alta generalizada do custode vida. Todos os produtos cuja fabricação dependia de insumos (máquinas,matérias-primas) importados aumentaram de preço. Aí estavam incluídos pro-dutos essenciais derivados do trigo e do petróleo, como pão e gasolina.

Na política, Jânio Quadros tomou outra decisão de grande impacto. Quisromper com a tradição de alinhamento permanente com os Estados Unidos.Agora, o Brasil pretendia conduzir suas relações internacionais em funçãoexclusivamente dos seus próprios interesses, mesmo que estes não se ajustassem- e, em alguns casos, até mesmo se opusessem - aos objetivos de Washington.

Sabe o que aconteceu? O Brasil reatou relações diplomáticas e comerciaiscom diversos países socialistas, inclusive a União Soviética.

Jânio Quadros comChe Guevara, um dos

principais líderes darevolução cubana.

34A U L AOs jornais da época mostravam em primeira página foto do presidente Jânio

com o líder da revolução cubana Che Guevara.Pesquise as relações do governo Jânio com países do Terceiro Mundo,

especialmente com os Estados africanos e com os nossos vizinhos latino-americanos. Essa política ficou conhecida como política externa independentepolítica externa independentepolítica externa independentepolítica externa independentepolítica externa independente.Por sinal, ela teve continuidade mesmo após a saída de Quadros da presidência,já que foi plenamente incorporada por seu sucessor.

O que dizer de um governo que, com menos de oito meses, se interrompe porvontade própria? No dia 25 de agosto de 1961, menos de oito meses após tomarposse, Jânio Quadros encaminhava ao Congresso um documento comunicandoa sua renúncia ao cargo de presidente da República.

Mas como um presidente eleito com tanto apoio popular pôde frustrar asesperanças de quase seis milhões de eleitores? Como um governo que se inicioucom o apoio de tantos e variados partidos e grupos pôde, em tão curto espaço detempo, sentir-se isolado a ponto de tomar uma atitude tão dramática?

Isso ocorreu porque a força política de Jânio acabou se transformando em suafraqueza. Como poderia um governo atender a tantos grupos, cada qual cominteresses tão diferentes? Durante a campanha eleitoral foi possível conciliar osdiversos interesses em jogo. Mas, quando o discurso transformou-se em ação, osproblemas se complicaram.

Em primeiro lugar, o presidente não contava com o apoio da maioria dosdeputados para aprovar suas propostas. Os maiores partidos, o PSD e o PTB,tinham-se transformado em oposição. Ao mesmo tempo, algumas atitudestomadas por Jânio contribuíram para desgastar ainda mais o governo junto aosparlamentares oposicionistas.

Fiel às promessas de campanha e procurando comprometer a administraçãoKubitschek, Jânio promoveu uma verdadeira devassa na administração pública.Instalou dezenas de inquéritos administrativos que atingiram justamente aque-les setores da administração que serviam de base política para o PSD e o PTB.

E fez mais: conseguiu, brigar também com a UDN, partido que haviacontribuído para a sua eleição e que esperava, enfim, chegar ao poder. Opresidente não consultava as lideranças, quer para a distribuição de cargos evantagens dentro do governo, quer para a definição de políticas. Assim, a UDNviu-se na delicada posição de ter de apoiar um governo do qual, de fato,participava muito pouco.

O que aconteceu foi que algumas lideranças, como Carlos Lacerda, passaramdecididamente para a oposição. Por sinal, o relacionamento de Jânio com a UDNe com os partidos políticos em geral é também revelador de uma outra caracte-rística de seu governo: o forte personalismopersonalismopersonalismopersonalismopersonalismo. O presidente governava aparente-mente acima dos partidos, da burocracia estatal e dos grupos sociais organiza-dos. Jânio acreditava que sua autoridade vinha exclusivamente dele e do poderque lhe fora dado pelo voto popular.

Quando você ouve falar de “governo”, o que lhe vem à cabeça?Um governo é o Poder Executivo, ou seja, o presidente e os ministros? Ou

o governo é o Executivo se relacionando com os outros poderes, o Legislativoe o Judiciário?

Releia a aula e veja de que maneira o presidente Jânio Quadros entendeuessa questão. Como você avalia o comportamento político de Jânio? Seria deum democrata?

Em tempo

Pausa

34A U L A E como ficou a relação do Brasil com os outros países? Aqui também os

problemas foram aparecendo. Os setores mais conservadores da sociedadebrasileira, civis e militares, justamente aqueles que eram a base de sustentaçãopolítica do governo, começaram a desconfiar da política externa independentepolítica externa independentepolítica externa independentepolítica externa independentepolítica externa independente.Para eles, o presidente estaria conduzindo nossa política externa para rumos“comunizantes”.

Nem mesmo a política econômica de Quadros conseguiu apoio generaliza-do, pois os salários foram congelados, enquanto a inflação e o custo de vidacontinuaram subindo.

A renúncia

A esta altura você já deve estar suspeitando de que muita coisa ia mal. Menosde um ano após o início do mandato, o presidente se deparava com um quadrode crescente oposição e isolamento político. Foi o que, afinal, levou Jânio ao gestoda renúncia.

Em carta dirigida ao povo brasileiro, o presidente atribuía as dificuldadesenfrentadas por seu governo à ação de forças ocultas. Mas não esclareciaexatamente a que ou a quem estava se referindo.

Fui vencido pela reação e, assim, deixo o governo. (...) Sinto-me, porém,esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou meinfaman, até com a desculpa da colaboração. Se permanecesse não manteria aconfiança e a tranqüilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minhaautoridade. (...) A mim não falta a coragem da renúncia.

Esses são trechos da carta do presidente Jânio Quadros à nação no ato de suarenúncia. Visivelmente, ela se inspirou na carta-testamento de Vargas, que vocêviu na Aula 31. Em que aspectos as duas são comparáveis?

Os estudiosos consideram que os objetivos não declarados de Jânio erambem mais ambiciosos. Ele contava que seu pedido de renúncia fosse negadopelo Congresso. Assim, ele voltaria “nos braços do povo”, reassumindo apresidência com poderes muito maiores e com o apoio das massas popularese dos militares.

No caso dos militares, Jânio avaliava − e com razão, como veremos adiante− que haveria um veto militar à posse do vice-presidente João Goulart napresidência da República.

Mas o que ocorreu, de fato, foi a pronta aceitação da renúncia pelo Congres-so. De acordo com a lei, tomou posse do governo o deputado Ranieri Mazzilli,presidente do Congresso, tendo em vista que João Goulart se encontrava forado país, chefiando uma missão comercial brasileira na China.

Também a população, perplexa, não esboçou qualquer reação ao gestodo presidente.

Poucos dias depois, os ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáuticadivulgaram um manifesto em que vetavam a posse do vice-presidente ausente.Por trás do veto dos militares estavam as desconfianças que estes nutriamem relação à figura de Jango e à sua trajetória política, fortemente associadaao getulismo e ao sindicalismo do PTB.

Pausa

34A U L AVocê lembra que João Goulart já fora motivo de uma crise com os militares

durante o segundo governo Vargas, quando era ministro do Trabalho e quiselevar em 100% o salário mínimo? Desde aquela época se dizia que ele tinha aintenção de transformar o Brasil numa “república sindicalista”, nos moldes doque fizera Perón na Argentina.

Apesar de ser um grande proprietário de terras, e de defender a propriedadeprivada e um capitalismo “humano” e “patriótico”, Jango era acusado pelossetores mais conservadores de “tendências comunistas”. Para esses segmentos,sua ascensão à presidência da República, apesar de garantida pela Constituição,significaria a “comunização” do Brasil.

Estabeleceu-se então um impasse que, por alguns dias, dividiu o país emduas correntes opostas. De um lado, ficaram os que achavam que se deveriaobedecer à Constituição e dar posse governo a Jango. Nesse campo estavam ossindicatos de trabalhadores, as organizações estudantis, algumas entidadesempresariais, deputados federais e estaduais nacionalistas e de centro-esquerdae vários governadores de Estado. Do outro lado, estavam os que se colocavamcontra a posse de Jango e defendiam a realização de novas eleições presidenciais.

O Congresso se reuniu e aprovou uma solução de conciliação entre as duascorrentes. Foi votada a Emenda Constitucional n.º 4 Emenda Constitucional n.º 4 Emenda Constitucional n.º 4 Emenda Constitucional n.º 4 Emenda Constitucional n.º 4, que alterou a Constitui-ção de 1946 para instituir no país o parlamentarismoparlamentarismoparlamentarismoparlamentarismoparlamentarismo. Com isso, foi aceita aposse de João Goulart.

Nesta aula, você viu que, apesar da “euforia desenvolvimentista”, a herançado governo JK também teve seu lado negativo, deixando diversos problemaspendentes para o governo seguinte resolver.

Você viu também que Jânio Quadros, apesar do apoio popular, não conse-guiu cumprir as promessas de campanha. E acabou mergulhando o país numacrise política, ao renunciar à presidência. A solução encontrada para sair da crisefoi a adoção do parlamentarismo.

Mas você agora deve estar se perguntando: quais foram as mudançasintroduzidas pelo parlamentarismo? Por que essas mudanças permitiram supe-rar o veto à posse de João Goulart? Essas são boas questões para você refletirenquanto aguarda a próxima aula.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item O governo Jânio QuadrosO governo Jânio QuadrosO governo Jânio QuadrosO governo Jânio QuadrosO governo Jânio Quadros e explique o significado dapolítica externa independente.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Releia o item A renúncia A renúncia A renúncia A renúncia A renúncia e identifique duas razões que contribuírampara a renúncia do presidente.

Últimaspalavras

Exercícios

35A U L A

35A U L A

Na aula passada, vimos que o governo deJânio Quadros evoluiu rapidamente do otimismo inicial para uma grave crisepolítica. A renúncia do presidente dividiu a sociedade brasileira em pólosopostos, e a fórmula encontrada para superar o impasse foi a implantação doparlamentarismo.

Nesta aula, veremos como funcionou o novo sistema de governo duranteo curto período em que esteve em vigor. Veremos ainda que a sua implantaçãonão foi suficiente para impedir a crescente radicalização dos grupos políticose sociais, que acabou levando à derrubadaderrubadaderrubadaderrubadaderrubada do governo de João Goulart.

Parlamentarismo e presidencialismo

No sistema de governo presidencialista, que era o que o Brasil possuía atéentão, o poder Executivo se concentra na figura do presidente da República.Mas o que significa isso? Significa que cabe ao presidente tomar as principaisdecisões e iniciativas para governar o país.

Já no parlamentarismo, quem detém esse poder é o parlamento, ou Con-gresso. O partido ou a coligação partidária que tem a maioria no parlamentoescolhe, entre os parlamentares eleitos, o chefe de governochefe de governochefe de governochefe de governochefe de governo, também chamadode primeiro-ministroprimeiro-ministroprimeiro-ministroprimeiro-ministroprimeiro-ministro.

O primeiro-ministro, por sua vez, organiza um conselho de ministrosconselho de ministrosconselho de ministrosconselho de ministrosconselho de ministros,também chamado de gabinete ministerial. Seus membros devem ser, igual-mente, escolhidos entre os parlamentares eleitos. O primeiro-ministro e seugabinete são responsáveis pelo desenvolvimento de todas as políticas dogoverno e pelo comando da administração federal. Mas têm de prestar contasao parlamento.

O parlamento pode apoiar - dando um voto de confiança - ou derrubar −dando um voto de censura - o gabinete. Quando um gabinete é derrubado,tenta-se formar outro e, caso isso não seja possível, convocam-se novas eleiçõesparlamentares para a formação de uma nova maioria partidária.

O cargo de presidente da República não desaparece no sistema parlamen-tarista, mas seus poderes são muito reduzidos. O presidente da República,nesse caso, é considerado chefe de Estadochefe de Estadochefe de Estadochefe de Estadochefe de Estado. É eleito pelo voto direto, e a elecabe nomear o primeiro-ministro e seu gabinete.

Os anos radicais:o governoJoão Goulart

Abertura

Movimento

35A U L AAlgumas das democracias mais desenvolvidas do mundo adotam o parla-

mentarismo. É o caso da Alemanha, da Itália, do Canadá, da Suécia, do Japão eda Inglaterra. Os três últimos países − isto é, Suécia, Japão e Inglaterra − sãoexemplos de monarquias parlamentares: nelas, o cargo de chefe de Estadoé exercido pelo rei (ou imperador) ou pela rainha.

Lembre-se de que o Brasil também já foi uma monarquia parlamentar.

A redução dos poderes presidenciais, trazida pelo parlamentarismoinstituído pela Emenda Constitucional nº 4, diminuiu a resistência dos gruposde oposição à posse de João Goulart na presidência, depois da renúnciade Jânio Quadros.

Mas a Emenda Constitucional também previa a convocação, algum tempodepois, de um plebiscitoplebiscitoplebiscitoplebiscitoplebiscito. Por meio dele, o eleitorado decidiria se o sistemaparlamentar deveria ser mantido ou se devíamos retornar ao presidencialismo.Assim, os que defendiam que Goulart assumisse a presidência com plenospoderes passaram a concentrar seus esforços na realização do plebiscito.

Você sabe o que quer dizer plebiscitoplebiscitoplebiscitoplebiscitoplebiscito?Procure a palavra no dicionário. Que relação se pode estabelecer entre

plebiscito e democracia?

Durante o curto período em que estevevigente − apenas 14 meses −, o novo siste-ma de governo deu lugar à formação detrês gabinetes ministeriais. O primeiro (se-tembro de 1961/julho de 1962) foi chefiadopelo primeiro-ministro Tancredo Neves(PSD); o segundo (julho/setembro de 1962),por Brochado da Rocha (PSD); e o terceiro(setembro de 1962/janeiro de 1963), porHermes Lima (PSB).

Mas a principal medida implementadadurante esse período foi a antecipação dadata do plebiscito, que foi marcado parajaneiro de 1963. Os setores que haviam de-fendido a posse de Goulart novamente semobilizaram em uma intensa campanhanacional para que a população votasse “não”ao parlamentarismo.

Ao final, a volta ao presidencialismo venceu por esmagadora margemde votos − quase 9,5 milhões, contra cerca de 2 milhões dados à manutençãodo sistema parlamentar.

O Plano Trienal e as reformas de base

Voltamos, portanto, para o regime presidencialista, ou seja, aquele queconfere maiores poderes ao presidente da República.

Em tempo

Pausa

Reunião ministerialdo governo JoãoGoulart (o 2º daesquerda para adireita). O 1º éTancredo Neves.

35A U L A Tendo recuperado plenamente os poderes executivos que a Constituição de

1946 lhe garantia, Jango lançou então as primeiras medidas para enfrentar ossérios problemas econômicos e sociais que o Brasil vivia.

Na realidade, enquanto durou o parlamentarismo, o governo ficara prati-camente paralisado. Isso agravou ainda mais a situação econômica: a taxade inflação pulou de 37% em 1961 para 51% em 1962, enquanto a taxade crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) desceu a 5,4% em 1962, contraos 7,3% de 1961.

Para atacar de frente esses problemas, o governo lançou o Plano Trienal dePlano Trienal dePlano Trienal dePlano Trienal dePlano Trienal deDesenvolvimento Econômico e SocialDesenvolvimento Econômico e SocialDesenvolvimento Econômico e SocialDesenvolvimento Econômico e SocialDesenvolvimento Econômico e Social. Elaborado pelo economista Celso Furta-do, que ocupava então o cargo de ministro extraordinário do Planejamento,o Plano Trienal tinha dois objetivos difíceis de conciliar:

· em primeiro lugar, queria reduzir a tendência à aceleração inflacionária,que, se continuasse, poderia resultar num total descontrole das taxas deinflação;

· o segundo objetivo era o de voltar às taxas de crescimento econômicoalcançadas no período “de ouro” do desenvolvimento (entre 1957 e 1961),que giravam em torno de 7% anuais.

A manutenção do crescimento econômico era necessária, pois somenteassim se poderiam criar empregos e assegurar a distribuição de renda, fatoresindispensáveis para uma melhoria das condições de vida dos brasileiros.

Para alcançar o primeiro objetivo, ou seja, controlar a inflação, o governopretendia adotar medidas como a redução dos gastos públicos, a contenção docrédito ao setor privado e a renegociação da dívida externa.

Em relação à dívida, em março de 1963 o ministro da Fazenda, San TiagoDantas, visitou Washington, lá obtendo empréstimos de cerca de US$ 400milhões. Entretanto, somente uma pequena parcela foi liberada imediata-mente. O restante ficava condicionado à evolução da situação econômicabrasileira.

De fato, nem o governo norte-americano, nem o Fundo Monetário Interna-cional (FMI), nem os credores internacionais estavam convencidos da viabilida-de do Plano Trienal, preferindo uma atitude de “pagar para ver”. E já em meadosde 1963 o próprio governo brasileiro tomava medidas que comprometiam osobjetivos do Plano. Concedeu um reajuste salarial de 60% ao funcionalismopúblico (quando o previsto era de apenas 40%) e relaxou o controle sobrea concessão de empréstimos bancários aos empresários.

Nem os empresários nem os sindicatos dos trabalhadores viam com bonsolhos o Plano Trienal. Ambos achavam que esse plano levaria o país paraà recessãorecessãorecessãorecessãorecessão. Você já deve saber que recessão significa uma diminuição de ritmoem todas as atividades econômicas. Geralmente ela é acompanhada de queda naprodução industrial, desemprego, redução salarial e queda no consumoe nas vendas.

Assim, já no segundo semestre de 1963 ficou evidente que o governo nãotinha apoio suficiente para implantar o Plano Trienal. O resultado disso é quea inflação continuou a subir e também as taxas de crescimento econômicodespencaram (0,6% do PIB em 1963), chegando ao seu nível mais baixo desdeo início da Segunda Guerra Mundial.

Outra medida importante do governo Jango foi o compromissso assumidocom a realização das chamadas reformas de basereformas de basereformas de basereformas de basereformas de base, consideradas essenciais parauma transformação profunda das estruturas econômicas e sociais brasileiras.

35A U L AAs reformas de base incluíam as reformas do sistema bancário; urbana e

administrativa; da legislação eleitoral, prevendo, entre outras coisas, a extensãodo direito de voto aos analfabetos; universitária; fiscal, ou seja, do sistema decobrança de impostos; a regulamentação da remessa de lucros para o exterior, e,principalmente, a reforma agrária. Esta última só poderia ser realizada comalterações na Constituição de 1946.

A Constituição estabelecia que as desapropriações de terras só poderiam serfeitas mediante a “prévia e justa indenização em dinheiro”. Na prática, essaexigência impedia a realização de uma reforma agrária ampla, porque o governoteria de gastar muito dinheiro com as indenizações.

Para contornar esse problema, o presidente enviou ao Congresso um projetode emenda constitucional. Mas o projeto foi vetado pela maioria conservadorado PSD e da UDN.

Como você vê, o tema da reforma agrária é muito antigo em nossa história,e sua solução não parece ser tão fácil!

O objetivo das reformas de base era ampliar a participação dos trabalhadoresna vida política e cultural, melhorar a distribuição da terra e da renda e eliminarobstáculos ao desenvolvimento econômico do país.

As reformas não tinham, portanto, um caráter anticapitalista. Ao contrário,pretendiam aprofundar o desenvolvimento capitalista brasileiro em basesnacionais. Para isso, era preciso aumentar o mercado interno e controlar mais osinvestimentos externos.

Mas nem todos viam as reformas com simpatia, e muitos não concordavamcom a sua implantação. O debate a esse respeito − na imprensa, no Congresso,nos sindicatos − agravou ainda mais a polarização política e ideológica que jávinha crescendo na sociedade brasileira. A divisão da sociedade entre os setoresa favor e contra as reformas foi ficando cada vez mais radical.

Mas como se posicionavam os partidos políticos em relação a essa divisão?Você deve lembrar que o presidente João Goulart pertencia ao PTB, que

apoiava as reformas.Mas será que o PSD, bem mais conservador, ainda mantinha a antiga aliança

com o partido do presidente?E quanto à UDN, que voltara a ser oposição?

Na realidade, a divisão da sociedade em pólos opostos era facilitada pelofato de que os três grandes partidos políticos surgidos em 1945 (PSD, PTB e UDN)passavam por uma verdadeira “crise de identidade”.

Tanto no PSD como na UDN surgiram dissidências que reuniam os parla-mentares mais progressistas: a ala moçaala moçaala moçaala moçaala moça do PSD e a bossa novabossa novabossa novabossa novabossa nova da UDN. Essasdissidências apoiavam as reformas de base e outras propostas de conteúdonacionalista. Ao mesmo tempo, assistia-se ao crescimento eleitoral do PTBe ao surgimento, também dentro desse partido, de uma ala mais moderada(os chamados “fisiológicos”) e uma ala mais radical (o “grupo compacto”ou “ideológico”).

A polarização política estendia-se também aos setores organizadosda sociedade, como os sindicatos, as agremiações estudantis e as associaçõesde empresários e profissionais liberais.

Em tempo

Pausa

35A U L A Entre 1961 e 1963, o movimento sindical viveu um momento de intensa

organização e mobilização. Nesse período, foram deflagradas 435 greves, con-tras as cerca de 177 ocorridas entre 1958 e 1960. Além disso, o envolvimento dossindicatos nas lutas políticas abriu espaço para o surgimento de organismos quecoordenavam a ação de sindicatos de diversas categorias sob uma mesmaorientação política.

Assim, em fins dos anos 50 e início dos 60 surgiram entidades como o PUA(Pacto de Unidade e Ação) e o Fórum Sindical de Debates. Em 1962, surgia oComando Geral de Greve, que pouco depois se transformou no Comando Geraldos Trabalhadores (CGT) e comandou duas grandes greves gerais de caráterpolítico. O CGT era ilegal, segundo a legislação sindical da época, que proibia acriação de centrais sindicais horizontais, isto é, sindicatos de diferentes catego-rias profissionais não podiam se reunir numa mesma organização.

Ainda assim, o governo “fechou os olhos” para a atuação do CGT, que eracontrolado por lideranças sindicais ligadas ao PTB e ao PCB (outro partido quetambém era ilegal, mas tinha sua atuação tolerada pelo governo).

Mas não eram apenas os trabalhadores urbanos que se mobilizavam. Tam-bém os trabalhadores rurais avançavam na sua organização, representados pelasLigas Camponesas e pelos sindicatos rurais. As ligas camponesas foram associa-ções de caráter civil que se difundiram a partir da área canavieira de Pernambuco.Criadas com o objetivo de garantir os direitos dos trabalhadores rurais, elas seafirmaram nacionalmente já no início dos anos 60, colocando-se à frente da lutapor uma reforma agrária, cunhando o mote “Reforma Agrária na Lei ou naMarra”.

Em 1963, diversas federações de trabalhadores rurais fundaram a Contag(Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), que logo a seguir sefiliou ao CGT. A defesa da “reforma agrária radical” transformou-se, então, naprincipal bandeira da confederação.

Também os estudantes, representados pela UNE (União Nacional dosEstudantes), mobilizavam-se em todo país na defesa das reformas de base,especialmente a reforma universitária.

No pólo oposto, surgiram organismos como o Ibad (Instituto Brasileiro deAção Democrática) e o Ipes (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), quereuniam empresários, tecnocratas, professores universitários, jornalistas, eco-nomistas e profissionais liberais em geral. Esses institutos foram criados com oobjetivo de defender a livre empresa e a economia de mercado. Defendiam umcapitalismo moderno e totalmente aberto ao capital estrangeiro. Suas atividadeseram estudos e debates, e também a propaganda política junto aos empresários,às forças armadas, à Igreja, ao Congresso, aos sindicatos etc.

Assim, os dois institutos se transformaram no centro da oposição civil àsreformas de base. Mas o Ipes e o Ibad também atuavam cada vez mais entrosadoscom os círculos de oposição militar que teriam participação decisiva na derruba-da do governo Jango.

Vamos ver outra vez como se movimentava a sociedade? Olhe bem quantasassociações, organizações e entidades!

Volte ao texto e confira o que são esses grupos e siglas: ala moça do PSD;bossa nova da UDN, CGT, Contag, Ibad, Ipes...

Pausa

35A U L AEpílogo: o movimento militar de 1964

Em setembro de 1963, um episódio grave revelou o grau de radicalizaçãopolítica em que o país mergulhara. Cerca de 500 sargentos do Exército, da Marinhae da Aeronáutica se revoltaram em Brasília. Protestavam contra uma decisão doTribunal Superior Eleitoral que anulava a eleição de candidatos-sargentos (proi-bida pela legislação eleitoral da época) ocorrida nas eleições de 1962.

Apesar de a rebelião ter sido reprimida em poucas horas, o episódio tevereprecussões muito graves. Para os altos escalões das Forças Armadas, aquilorepresentava claramente uma quebra da disciplina e da hierarquia militares.

Por essa época, cresciam as articulações para derrubar João Goulart.Setores civis e militares se uniam para a derrubada. À frente do movimentoconspiratório estava o general Humberto de Alencar Castelo Branco, chefedo Estado-Maior do Exército, que tinha o apoio dos oficiais da Escola Superiorde Guerra (ESG) e dos civis do Ipes.

Os conspiradores contavam ainda com a adesão dos governadores dosprincipais Estados: Carlos Lacerda (Guanabara), Magalhães Pinto (MinasGerais), Ademar de Barros (São Paulo), Ildo Meneghetti (Rio Grande do Sul) eNey Braga (Paraná). E tinham o apoio de oficiais que ocupavam postosimportantes na hierarquia militar, como o general Olímpio Mourão Filho(chefe da 4ª Região Militar) e o general Justino Alves Bastos (comandantedo IV Exército, sediado no Nordeste).

O governo de João Goulart sustentava-se com muita dificuldade. Os setoresnacionalistas e de esquerda mais radicais exigiam a implantação imediata dasreformas de base. Os moderados começavam a olhar com desconfiança.

Um novo acontecimento acabou demonstrando que o governo cedera àspressões dos radicais. Durante o chamado comício da Centralcomício da Centralcomício da Centralcomício da Centralcomício da Central, em 13 de marçode 1964, que contou com a presença do próprio presidente da República e foiassim chamado por ter sido realizado diante da estação ferroviária da Centraldo Brasil, no centro do Rio de Janeiro, cerca de 250 mil participantes manifes-taram apoio popular às reformas de base. Estavam ali para pressionaro Congresso a aprová-las.

Comício de 13 de março de 1964, quereuniu 250 mil pessoas na Central do

Brasil. Na foto à esquerda, opresidente João Goulart e sua

esposa Maria Theresa.

35A U L A No discurso de encerramento da manifestação, Jango

anunciou os decretos de desapropriação de terras eestatização das poucas refinarias de petróleo privadasnacionais, anteriores à criação da Petrobrás. Prometeuainda que enviaria ao Congresso o projeto de outrasreformas e decretaria, nos dias seguintes, medidas comotabelamento de aluguéis e controle de preços.

Mas as oposições também saíam às ruas em todo opaís. A mais importante dessas manifestações foi a Mar-cha da Família com Deus e pela Liberdade, realizada emSão Paulo, que reuniu cerca de 500 mil pessoas. Organi-zada por movimentos femininos, com a total colaboraçãodo governo de São Paulo, de setores da Igreja Católica ede entidades empresariais como a Fiesp e a SociedadeRural Brasileira, a marcha demonstrava o descontenta-mento das classes média e alta com os rumos que vinhatomando o governo Goulart.

Finalmente, uma nova rebelião militar, dessa vezenvolvendo marinheiros e fuzileiros navais, precipitou omovimento para depor o presidente da República. Namadrugada de 31 de março, tropas militares vindas deMinas Gerais começaram a se movimentar na direção doRio de Janeiro. Em todo o país, diversas outras forçasmilitares apoiaram o golpe de Estado. O presidente se

recusou a estimular qualquer resistência armada ou civil, para evitar o “derra-mamento de sangue inocente”. Aceitando a deposição, Jango voou para o exíliono Uruguai. Já na madrugada de 2 de abril, o Congresso declarava vaga apresidência da República e empossava o deputado Ranieri Mazzilli como o novopresidente. Encerrava-se, assim, a experiência democrática iniciada em 1945.

Nesta aula, vimos como o governo de João Goulart foi marcado pelapolarização que dividia toda a sociedade brasileira, inclusive os grandes parti-dos políticos. Também pudemos acompanhar como a mobilização pró ou contraas reformas de base foi tomando rumos cada vez mais radicais, até ser interrom-pida pelo movimento civil e militar que depôs o presidente João Goulart.

Na próxima aula, entraremos em uma nova etapa da história da sociedadebrasileira, caracterizada pelo regime militar que vigorou de 1964 a 1985.A consolidação política e institucional do novo regime, bem como as importan-tes medidas tomadas no plano econômico, serão objeto de nosso estudo.

Mas você deve estar se perguntando: qual foi a reação da sociedade a umamudança tão profunda? E quanto aos setores que apoiavam o governo deposto,e agora se viam na oposição?

Os diversos rumos tomados pela oposição ao regime militar também serãoanalisados a seguir.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item O plano Trienal e as Reformas de Base O plano Trienal e as Reformas de Base O plano Trienal e as Reformas de Base O plano Trienal e as Reformas de Base O plano Trienal e as Reformas de Base e explique por queo governo João Goulart apoiou as Reformas de Base.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Releia o item Epílogo: o movimento militar de 64 Epílogo: o movimento militar de 64 Epílogo: o movimento militar de 64 Epílogo: o movimento militar de 64 Epílogo: o movimento militar de 64 e explique a seguintefrase contida no texto: “O governo de João Goulart sustentava-se com muitadificuldade”.

Últimaspalavras

Exercícios

Marcha da Família comDeus e pela Liberdade,manifestação ocorridaem São Paulo quelevou às ruas cercade 500 mil pessoas.

36A U L A

Você certamente já ouviu a expressão “regi-me militar”. Ela se refere ao período que se iniciou com o golpe de 1964 e quecontinuou, em sucessivos governos chefiados por militares, até 1985, quando opoder retornou aos civis. A expressão “regime militar” significa que as ForçasArmadas, nesses 21 anos, estiveram no controle do poder político no Brasil.

Já tivemos ocasião de conhecer, neste curso, diversos episódios em que osmilitares intervieram no processo político por meio de golpes de Estado. O anode 1964 representa, no entanto, um marco na história política do Brasil, pois osmilitares não apenas assumiram, como permaneceram no poder.

Compreender por que isso ocorreu, e conhecer o que se passou no paísdurante esse longo período, é o objetivo desta e da próxima aula.

A implantação do regime autoritário

Os militares envolvidos no golpe de 1964 justificaram sua ação afirmandoque o objetivo era restaurar a disciplina e a hierarquia nas Forças Armadase deter a “ameaça comunista” que, segundo eles, pairava sobre o Brasil.

Uma idéia fundamental para os golpistas era que a principal ameaça à ordemcapitalista e à segurança do país não viria de fora, por meio de uma guerratradicional contra exércitos estrangeiros. A ameaça viria de dentro do própriopaís, com brasileiros que atuariam como “inimigos internos”, para usar umaexpressão da época.

Esses “inimigos internos” procurariam atingir seu objetivo − que seriaa implantação do comunismo no país pela via revolucionária − por meioda “subversão” da ordem existente. Daí serem chamados, pelos militares,de “subversivos”.

Diversos exemplos internacionais, como as guerras revolucionárias ocorri-das na Ásia, na África e principalmente em Cuba, com Fidel Castro, serviampara reforçar essa visão de mundo. Ela estava na base da chamada doutrinadoutrinadoutrinadoutrinadoutrinade segurança nacionalde segurança nacionalde segurança nacionalde segurança nacionalde segurança nacional e das teorias de “guerra anti-subversiva” ou “anti-revolucionária” ensinadas nas escolas superiores das Forças Armadas.

Os militares que assumiram o poder em 1964 acreditavam que o regimedemocrático que vigorara no Brasil desde o final da Segunda Guerra Mundial,em 1945, havia se mostrado incapaz de deter a “ameaça comunista”. Deu-seinício, então, à implantação de um regime político marcado pelo autoritarismoautoritarismoautoritarismoautoritarismoautoritarismo,

O regimemilitar - I

36A U L A

Abertura

Movimento

36A U L A isto é, um regime político que privilegiava a autoridade autoridade autoridade autoridade autoridade do Estado em relação

às liberdades individuais, e o Poder Executivo em detrimento dos poderesLegislativo e Judiciário.

Em aulas anteriores, você tomou conhecimento de como se governa nosregimes democráticos. Os três poderes − Executivo, Legislativo e Judiciário −têm pesos importantes no funcionamento do governo.

Volte às aulas anteriores para perceber a diferença entre a forma democráticade governar e a que você está conhecendo agora.

Logo após a derrubada do governo Goulart, foi organizada uma juntamilitar que tinha como “homem forte” o general Artur da Costa e Silva. Essajunta se autodenominou Comando Supremo da RevoluçãoComando Supremo da RevoluçãoComando Supremo da RevoluçãoComando Supremo da RevoluçãoComando Supremo da Revolução e permaneceuduas semanas no poder.

Nesse período, foi baixado um Ato InstitucionalAto InstitucionalAto InstitucionalAto InstitucionalAto Institucional, uma invenção do gover-no militar que não estava prevista na Constituição de 1946 nem possuíafundamentação jurídica. Seu objetivo era apenas justificar os atos de exceçãoque se seguiram.

Houve muitas prisões de pessoas ligadas à esquerda ou vistas pelos militarescomo “subversivas”. Surgiram acusações de tortura em diversos pontos do país.

Ao longo do mês de abril de 1964 foram abertos centenas de InquéritosPoliciais-Militares (IPMs). Esses inquéritos, chefiados em sua maioria por coro-néis, tinham o objetivo de apurar atividades consideradas subversivas peloEstado.

Inúmeras pessoas foram atingidas em seus direitos: parlamentares tiveramseus mandatos cassados, cidadãos tiveram seus direitos políticos suspensos efuncionários públicos, civis e militares foram demitidos ou aposentados.

Entre os cassados, encontravam-se personagens que ocuparam posições dedestaque na vida política nacional, como João Goulart, Jânio Quadros, MiguelArraes, Leonel Brizola e Luís Carlos Prestes. No decorrer do regime militar,seriam cassados também Juscelino Kubitschek, Ademar de Barros e CarlosLacerda.

Pausa

Cartaz com retrato deterroristas procurados

(à esquerda) erepressão policial nas

ruas (à direita).

36A U L AOs políticos mencionados permaneceram de forma viva em nossa história

política. Você sabe dizer quem são eles? Faça este exercício pesquisando as aulasanteriores.

No dia 15 de abril de 1964, assumiu a presidência da República o generalHumberto de Alencar Castelo Branco, que havia sido eleito indiretamente,dias antes, por um Congresso já bastante afetado pelas cassações. Além deconseguir o consenso das Forças Armadas e de boa parte da sociedade civil,Castelo Branco contava também com o apoio de diversos governadores civise importantes empresários. O novo presidente assumia o poder prometendoo retorno do país à normalidade democrática e a retomada do crescimentoeconômico.

A nova política econômica e as divisões entre os militares

Na área econômica, o governo Castelo Branco lançou o Programa de AçãoEconômica do Governo (PAEG), cujo objetivo principal era o combate à inflação.Para isso, o governo reduziu o déficit do setor público, diminuiu o crédito parao setor privado e comprimiu os salários. Outras medidas importantes foram acriação da correção monetária, do Banco Nacional de Habitação (BNH), e arenegociação da dívida externa.

Quanto à política salarial, a estabilidade no emprego foi substituída peloFundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O governo conseguiu derrubaras taxas de inflação e preparar o país para o crescimento econômico dos anosseguintes. Isso foi facilitado pela adoção de medidas duras na área econômica,especialmente para a classe trabalhadora.

Desde o início do regime militar, podia-se perceber uma divisão entre doisgrupos de militares. Havia aqueles que defendiam medidas mais radicais nocombate à “subversão” e a continuidade dos militares no poder por tempoindeterminado. Mas havia também os que pregavam o retorno à normalidadepolítica e jurídica, bem como a devolução do poder aos civis em um futuropróximo. O primeiro grupo, mais radical, ficou conhecido como a “linha dura”.Esse grupo se aglutinou em torno do ministro da Guerra, Artur da Costa e Silva.O outro grupo, mais moderado, permanecia próximo ao presidente CasteloBranco. Incluía militares que participavam do governo, como Ernesto Geisel,Cordeiro de Farias e Golbery do Couto e Silva.

Castelo Branco, no início de seu governo, deu alguns sinais importantes deque pretendia cumprir, ao menos em parte, suas promessas de fazer retornar opaís à normalidade política. Os poderes de exceção previstos no Ato Institucional,como a cassação de mandatos de parlamentares e de direitos políticos, e ademissão de servidores públicos, deveriam durar apenas alguns meses. CasteloBranco cumpriu esses prazos, apesar dos pedidos da linha dura para que elesfossem prorrogados. Além disso, foram mantidas as eleições diretas previstaspara os governos de onze Estados. As eleições foram realizadas em3 de outubro de 1965, apesar da oposição da “linha dura”.

Nessas eleições, candidatos oposicionistas venceram nos Estados maisimportantes. Foi o caso do então Estado da Guanabara, com Negrão de Lima, ede Minas Gerais, com Israel Pinheiro. Considerando as vitórias da oposição umaameaça para o governo, a “linha dura” passou a pressionar o presidente CasteloBranco no sentido de um maior fechamento do regime. O ministro da Guerra

Pausa

36A U L A Costa e Silva tornou-se porta-voz dos oficiais mais radicais, chegando a criticar

publicamente as eleições.O processo culminou na promulgação de um novo ato institucional,

batizado como AI-2AI-2AI-2AI-2AI-2. O novo ato estabelecia eleições indiretas para presidente,que seriam realizadas por um colégio eleitoral formado por deputados e senado-res, e reabria o processo de cassações de mandatos e de suspensão de direitospolíticos.

Os partidos políticos foram extintos. Em lugar do pluripartidarismopluripartidarismopluripartidarismopluripartidarismopluripartidarismo −sistema que permitia a existência de diversos partidos políticos −, surgiu noBrasil o bipartidarismobipartidarismobipartidarismobipartidarismobipartidarismo, com a criação de apenas dois partidos: de um lado, aAliança Renovadora Nacional (Arena), de apoio ao governo; de outro, o Movi-mento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição.

O retorno à normalidade democrática prometido por Castelo Branco torna-va-se, dessa forma, mais distante.

O fechamento do regime

Pelo que estamos vendo, a “linha dura” militar foi aumentando sua influên-cia no interior do regime. Uma decorrência disso foi a vitória da candidatura deCosta e Silva à presidência da República, mesmo não sendo essa a opção desejadapelo presidente Castelo Branco e pelos oficiais a ele ligados.

Em 15 de março de 1967, Costa e Silva assumiu a presidência, após ter sidoeleito indiretamente pelo Congresso Nacional. O segundo presidente do regimemilitar prometeu, também, restabelecer a ordem jurídica e retomar o desenvol-vimento.

Os anos de 1967 e 1968 foram de intensa radicalização política. Do lado dogoverno, houve um aumento do aparato repressivo, tendo setores das ForçasArmadas assumido funções antes reservadas à polícia. Novos órgãos de infor-mação e repressão foram criados.

O sistema político reduziu extremamente a voz da oposição dentro dogoverno. A oposição ao regime passou a ser manifestada por meio de diversosmovimentos sociais. Houve uma tentativa de reorganização do movimentooperário, com greves nas cidades industriais de Contagem (MG) e Osasco (SP),as primeiras desde o início do regime militar.

Surgiu também, de forma cada vez mais clara, uma ala progressistaala progressistaala progressistaala progressistaala progressista daIgreja católica. Essa parte do clero, embora minoritária no interior da Igreja,apelava pela não-violência e denunciava a falta de liberdade no país.

Em 1967 e, principalmente, em 1968, o movimento estudantil atingiu oponto mais alto de oposição ao regime militar, realizando diversas manifes-tações de protesto e passeatas. Em um desses eventos, ocorrido em março de1968, no centro da cidade do Rio de Janeiro, a repressão da Polícia Militarresultou na morte do estudante Édson Luís de Lima Souto. Seu enterro e suamissa de sétimo dia reuniram multidões e foram duramente reprimidos pelapolícia.

Mesmo assim, a oposição não retrocedeu. Em seguida, o Rio de Janeiro foipalco dos maiores atos públicos até então realizados contra o regime militar:a Passeata dos 100 Mil, em junho, e a Passeata dos 30 Mil, em julho.

O governo reagiu, proibindo todas as passeatas e aumentando a repressão.O processo de “endurecimento” do regime culminou com o Ato Institucionalnº 5, o AI-5AI-5AI-5AI-5AI-5, baixado na sexta-feira, 13 de dezembro de 1968. Esse ato, o mais durode todo o período, conferia poderes quase absolutos ao presidente da República.

36A U L AOs �anos de chumbo�

O AI-5 abriu caminho para umamaior utilização do aparelho repressivo.A censura atingiu pesadamente a im-prensa, que não podia mais divulgar no-tícias consideradas “indesejáveis” pelogoverno.

O Congresso foi novamente expur-gado, em mais uma onda de cassações, eo Poder Judiciário também foi atingido.As forças policiais estaduais passaramao controle do Ministério da Guerra.

Com o AI-5, as possibilidades deoposição se tornaram muito difíceis.O Brasil entrou num dos períodos demaior falta de liberdade política de suahistória contemporânea.

Nessa conjuntura, uma parte dos movimentos de esquerda viu na lutalutalutalutalutaarmada armada armada armada armada a única alternativa possível de enfrentamento do regime militar. Surgiuuma guerrilha urbana, dividida em diversas organizações.

Os guerrilheiros conseguiram levar a cabo diversas ações que desafiaram ogoverno, como assaltos a banco, roubos de armas e seqüestros de aviões e dediplomatas estrangeiros, que seriam trocados por presos políticos.

A escalada das ações guerrilheiras coincidiu com um aparente momento decrise no regime militar, ocasionado pelo afastamento de Costa e Silva dapresidência da República, em agosto de 1969, por problemas de saúde. Em seulugar, assumiu uma junta militar que governou o país por dois meses. Ao finalde longas deliberações, o Alto Comando das Forças Armadas escolheu o generalEmílio Garrastazu Médici para ocupar a presidência.

O novo governo intensificou a luta contra a guerrilha, de modo que, empouco mais de um ano, os principais grupos envolvidos na luta armada foramderrotados. Diversos de seus líderes, como o ex-deputado Carlos Marighella e oex-capitão do Exército Carlos Lamarca, foram mortos. Uma última tentativa deguerrilha ocorreria mais tarde na região do rio Araguaia, sendo finalmentederrotada, no início de 1974.

O período que se seguiu ao AI-5 ficou conhecido, como “anos de chumbo”,não apenas devido ao fato de ocorrerem confrontos armados entre pequenosgrupos guerrilheiros e forças policiais e militares, nos quais ocorreram mortes deambos os lados, mas principalmente em uma alusão à falta de liberdade políticae à repressão que atingiu um setor muito mais amplo da sociedade brasileira doque aquele envolvido na luta armada. A repressão desencadeada pelo governoresultou em prisão de opositores do regime, tortura e desaparecimentode pessoas.

Para você compreender melhor o que se passou no Brasil nesse período valeverificar a situação política da América Latina, nessa mesma ocasião. Procuretambém se informar, ler sobre o confronto EUA-URSS, a chamada “Guerra Fria”,bem como obter informações sobre o movimento estudantil de contestaçãoaos governos, particularmente o da França em 1968.

Em tempo

Presidente Costa e Silva.

36A U L A

Últimaspalavras

Exercícios

O �milagre econômico�e o ufanismo

Enquanto isso, ocorria, na área econô-mica, aquilo que ficou conhecido como o“milagre brasileiro”. A inflação permane-ceu controlada e a economia cresceu emníveis elevados. A euforia tomou conta domercado financeiro. Para acelerar o desen-volvimento do país, o governo investiupesadamente em diversas obras de im-pacto, como a construção da rodoviaTransamazônica e o início da construção dausina hidrelétrica de Itaipu.

Aproveitando o sucesso do campo eco-nômico, que situou o país como 8ª econo-mia do mundo, o regime militar promoveumanifestações ufanistas, isto é, que vanglo-riavam as riquezas e as realizações nacio-nais e apelavam para o sentimento patrióti-co. O tricampeonato de futebol conquista-do pelo Brasil na Copa do Mundo de 1970,realizada no México, também foi utilizadopelo governo para promover a imagemde um “Brasil Grande”.

Acompanhamos, nesta aula, os dez primeiros anos do regime militar, quevão de março de 64 até o fim do governo Médici, no início de 1974. Vimos aascensão, no interior do regime, da “linha dura” e a forte repressão sofrida pelaoposição. Falamos, também, das ações de guerrilha desencadeadas pelosopositores do regime. Verificamos que ao mesmo tempo em que o país vivia umdos períodos de maior fechamento político de sua história, a economia cresciaaceleradamente. Neste contexto, o governo investiu na propaganda ideológica.Na próxima aula, iremos acompanhar os dez anos finais do regime militar,até seu encerramento em 1985.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia o item A implantação do regime autoritário A implantação do regime autoritário A implantação do regime autoritário A implantação do regime autoritário A implantação do regime autoritário e explique de quemaneira os militares procuraram justificar a implantação de um regimeautoritário no país.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Dê um novo título ao item Os “anos de chumbo” Os “anos de chumbo” Os “anos de chumbo” Os “anos de chumbo” Os “anos de chumbo”.

Propaganda política.

37A U L A

Nos dez anos finais do regime militar,o Brasil foi governado pelos generais Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo.A volta dos civis ao poder se deu em 1985.

Como foi possível a “abertura” política? Que novos caminhos foram segui-dos pela oposição? O que aconteceu com a economia brasileira? É o que vocêverá nesta aula.

O projeto de �abertura� e a oposição da �linha dura�

O quarto presidente do regime militar, general Ernesto Geisel,assumiu a presidência prometendo promover, na área política,uma distensão “lenta, gradual e segura”.

Vimos que todos os presidentes militares anteriores haviamassumido a presidência com a mesma promessa de normalizarpoliticamente o país. Durante o governo Geisel, no entanto, dife-rentemente de seus antecessores, esse discurso transformou-se emum projeto de liberalização política efetivo. Tal projeto ficouconhecido como “abertura”. Ele representou o início do fim doregime militar. Como foi possível essa mudança de rumo?

Para responder a essa pergunta, devemos em primeiro lugarperceber que Ernesto Geisel não pertencia à “linha dura” militar,preponderante nos governos de Costa e Silva e Médici. Vimos, naaula anterior, que Geisel participou do governo Castelo Branco, damesma forma que seu principal assessor na presidência, o generalGolbery do Couto e Silva.

Ambos apoiavam as posições mais moderadas de CasteloBranco, opondo-se às medidas mais radicais preconizadas pela“linha dura” militar. É por isso que a ascensão de Geisel eGolbery marcou o retorno ao poder dos remanescentes dogrupo castelistagrupo castelistagrupo castelistagrupo castelistagrupo castelista, ou seja, do grupo alinhado a Castelo Branco.

Para levar adiante o projeto de “abertura” , tornava-senecessário vencer as resistências da “ linha dura” militar, quecontinuava localizada principalmente nos órgãos de informaçãoe repressão.

O regimemilitar - II

37A U L A

Abertura

Movimento

Posse de João Figueredo naPresidência da República.

37A U L A Vimos na aula anterior que esses órgãos foram ganhando grande poder e

autonomia no interior do regime militar. Recuperar o controle efetivo sobre aárea repressiva se tornou, dessa forma, a principal tarefa dos partidários da“abertura”.

O primeiro grande enfrentamento de Geisel com a “linha dura” ocorreu emoutubro de 1975, após a morte do jornalista Vladimir Herzog em dependênciasdo DOI-CODI do II Exército, em São Paulo. A morte de Herzog, ocorrida duranteviolenta sessão de tortura, foi divulgada como tendo sido “suicídio por enforca-mento”. Já que Herzog era judeu, foi realizado um culto ecumênico, celebradopor d. Paulo Evaristo Arns, da Igreja Católica, pelo rabino Henry Sobel, da IgrejaIsraelita, e pelo pastor Jayme Wright, da Igreja Evangélica. Essa cerimôniareuniu uma multidão na praça da Sé, centro de São Paulo, e transformou-se emuma grande manifestação política.

Poucos meses depois, em janeiro de 1976, o operário Manuel Fiel Filhotambém foi morto nas dependências do DOI-CODI de São Paulo, nas mesmascondições. Mais uma vez, a versão oficial foi de “enforcamento”. Mas o presiden-te Geisel agiu com rapidez, exonerando o comandante do II Exército. Era umclaro aviso à “linha dura” de que atos da mesma natureza não seriammais tolerados.

Esses episódios revelam a violência do poder sobre os cidadãos.Um regime democrático é aquele no qual os cidadãos têm direitos que devemser respeitados.

Você conhece seus direitos como cidadão? Como empregado? Faça uma listado que você conhece como direitos seus. Compare com a lista de um colega.

O enfrentamento decisivo de Geisel com a “linha dura” ocorreu em 1977.O ministro da Guerra, general Sílvio Frota, ficou conhecido por sua atuação nocombate ao comunismo e à subversão. Em seus pronunciamentos e relatórios,esses temas sempre apareciam e, neles, Frota chegou mesmo a criticar a orienta-ção do governo. Assim como ocorrera no governo Castelo Branco, os militaresmais radicais passaram a se reunir em torno do ministro da Guerra. O generalFrota se tornou provável candidato à sucessão, contra a vontade do própriopresidente Geisel.

Dessa vez, no entanto, a história não se repetiria. Geisel demitiu Frota no dia12 de outubro de 1977, alegando que as diferenças de opinião entre os doisquanto à orientação política do governo haviam chegado ao limite. Apesar dealguns militares mais radicais terem se disposto a contestar a demissão de Frota,a maioria do Alto Comando do Exército acabou ficando ao lado do presidenteGeisel. Com isso, na área militar, o caminho para a “abertura” ficou livre.

Os novos caminhos da oposição

Mas em diversas ocasiões a liberalização política do governo Geisel usou osinstrumentos autoritários, como a censura e o AI-5. O governo procurava deixarclaro que pretendia manter o controle sobre o processo de “abertura”.

Em abril de 1977, por exemplo, após o Congresso ter se recusado a aprovarum projeto de reforma do Poder Judiciário elaborado pelo governo, Geiselfechou o Congresso por duas semanas e, nesse período, baixou uma sériede medidas que ficaram conhecidas como Pacote de AbrilPacote de AbrilPacote de AbrilPacote de AbrilPacote de Abril.

Pausa

37A U L ATais medidas destinavam-se principalmente a garantir a maioria do partido

do governo, a Arena, sobre o partido de oposição, o MDB, que vinha apresentan-do considerável crescimento eleitoral.

Durante o governo Geisel, a oposição teve grande crescimento e passou autilizar novos métodos de luta e resistência. Ao final do governo, sua principalbandeira era a luta pela anistia.

Ao mesmo tempo, ressurgia o movimento operário, com uma grande grevedos metalúrgicos do ABC paulista em maio de 1978. Essa greve, que projetounacionalmente o líder sindical Luís Inácio Lula da Silva, marcou o nascimentodo novo sindicalismonovo sindicalismonovo sindicalismonovo sindicalismonovo sindicalismo, surgido a partir das bases operárias e desvinculadodos sindicatos oficiais ligados ao Estado.

A crise econômica

Quando Geisel assumiu a presidência, os anos do “milagre econômico”haviam ficado para trás e o país começava a viver um longo período de criseeconômica. O mundo inteiro sofrera, em finais de 1973, o impacto do aumentodo preço do petróleo, determinado pelos países produtores. Essa crise dopetróleo também atingiu profundamente o Brasil, que importava mais de 80%do petróleo que consumia.

Apesar disso, o governo procurou evitar a recessão apostando no crescimen-to. O plano econômico elaborado pelo governo Geisel dava grande destaque aopapel do Estado como promotor do desenvolvimento. Em seu governo, empre-sas estatais como a Petrobrás, a Eletrobrás e a Embratel registraram grandecrescimento. Isso gerou oposição de círculos empresariais privados, que critica-vam o intervencionismo do Estado na política econômica e pediama “desestatização” da economia.

Exilados políticoscomeçam a voltarpara o Brasil,principalmente a partirde 1975.

37A U L A Os resultados da política econômica do governo Geisel são controversos,

inclusive entre os economistas. O que se pode perceber com clareza é quefracassaram alguns projetos de grande porte, como a Ferrovia do Aço e oPrograma Nuclear.

Em outras áreas, como nas indústrias de aço, alumínio e na produção depetróleo, o crescimento foi significativo. A economia manteve um índice decrescimento razoável, embora a inflação tenha se elevado e a dívida externatenha crescido muito.

O último governo militar

Ernesto Geisel foi o único presidente do regime militar que conseguiu elegero sucessor de sua preferência. O general João Figueiredo, chefe do SNI duranteo governo Geisel, era um auxiliar afinado com o projeto de “abertura”.

Seu governo já se iniciou sem o AI-5. O bipartidarismo foi extinto. Surgiramnovos partidos. Outra medida de grande importância foi a aprovação de umprojeto de anistia política para os condenados por atos praticados contra oregime. Os responsáveis pela repressão aos presos políticos também foramperdoados, anistiados por essa medida.

No entanto, o governo Figueiredo teve seu início marcado por diversos atosterroristas de direita. Eram principalmente atentados a bomba contra pessoas eorganizações ligadas à defesa da democracia e contra bancas de jornal quevendiam publicações de esquerda.

A escalada terrorista culminou no chamado caso Riocentrocaso Riocentrocaso Riocentrocaso Riocentrocaso Riocentro. Em 30 de abrilde 1981, durante a realização de um festival de música no centro de convençõesdo Riocentro, no Rio de Janeiro, uma bomba explodiu acidentalmente em umcarro ocupado por dois militares, matando um e ferindo gravemente o outro.A versão oficial distorceu os fatos, procurando caracterizar os dois militarescomo vítimas de um atentado, e não como terroristas.

Veja você como são frágeis as convicções democráticas e como é difícilo caminho para a democracia! O presidente Figueiredo, ao assumir o governo,fez um pronunciamento a favor da abertura política dizendo que “prendiae arrebentava” os que fossem contra a democracia. O episódio terroristado Riocentro era a chance de ele cumprir sua ameaça.

Apesar desses eventos, a normalização política continuou, com a realizaçãode eleições diretas para governador em 1982. A oposição venceu em diversosEstados. O crescimento da oposição culminou, em 1984, na campanha pelas“Diretas Já”. Milhões de brasileiros foram às ruas, em grandes manifestações,pedir que a eleição do próximo presidente da República fosse direta − e não,como até então ocorrera durante o regime militar, indireta, feita por um colégioeleitoral. Apesar da enorme mobilização popular, a proposta foi derrotada noCongresso.

O governo não conseguiu, no entanto, que seu candidato, Paulo Maluf,vencesse as eleições. Dissidentes do PDS, o novo partido do governo, formarama Frente LiberalFrente LiberalFrente LiberalFrente LiberalFrente Liberal. Esta se uniu ao PMDB, o maior partido de oposição, criando aFrente DemocráticaFrente DemocráticaFrente DemocráticaFrente DemocráticaFrente Democrática. Seu candidato, o ex-governador de Minas Gerais, TancredoNeves, foi o vitorioso. Chegava ao fim o regime militar.

Em tempo

37A U L A

As duas últimas aulas trataram dos governos militares. Vimos de que formaa sociedade foi perdendo sua liberdade de manifestação política. Mas a socieda-de persistia. Dava mostras de sua vitalidade na cultura, nas artes, na música.As próximas duas aulas leverão você a uma viagem pela cultura dos anos60 e 70. Venha...

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Explique como o presidente Geisel desenvolveu a chamada “aberturapolítica”.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Caracterize o governo do presidente Figueiredo.

Últimaspalavras

Exercícios

Manifestação emapoio às eleiçõesdiretas parapresidente, em1984.

38A U L A

38A U L A

O morro não tem veze o que ele fezjá foi demaisMas olhem bem vocêsquando derem vez ao morrotoda a cidade vai cantar.

Este samba foi composto por Tom Jobim e Vinicius de Moraes na abertura dadécada de 1960. Muita coisa aconteceu naqueles anos. Houve uma grandereviravolta na nossa história política e cultural. Só para lembrar, ao longo dosanos 60 tivemos cinco presidentes: Jânio Quadros, João Goulart, Castelo Branco,Costa e Silva e Médici. Entre Goulart e Castelo, um golpe de Estado inaugurouo regime militar.

Como andavam as idéias daqueles que, nesses anos, se dedicavam à artee à cultura? Que diziam sua música, seu teatro, seu cinema? Quais eramsuas preocupações? É isso o que esta aula vai mostrar.

A arte engajada

Era no morro, como dizia a canção, que viviam aqueles que, quandotivessem vez, fariam a cidade cantar. Era hora de construir a nova sociedaderevolucionária, que libertaria os oprimidos com a ajuda dos jovens estudantes edos intelectuais. Era o tempo da arte participante arte participante arte participante arte participante arte participante e do jovem engajadojovem engajadojovem engajadojovem engajadojovem engajado. Comovocê sabe, engajado engajado engajado engajado engajado é aquele que se filia a uma causa e luta por ela. A grandecausa, na época, era a de uma sociedade mais justa e igualitária.

Você deve estar lembrado do jovem de 1950: rebelde, vaselina nos cabelose jaqueta de couro. Montado na sua lambreta, ele era o jovem transviado jovem transviado jovem transviado jovem transviado jovem transviado quese dizia dono do seu próprio destino, desafiando a todos.

No final dos anos 50, essas idéias já não valiam mais. Agora, nos anos 60,o que valia era a imagem do jovem estudante responsável que queria mudar opaís. Foi por meio da UNE (União Nacional dos Estudantes) e do CPC (CentroPopular de Cultura) que os jovens partiram para a ação política. O lema da UNEconvocava: “A hora é de ação!” O trabalhador, fosse ele operário ou camponês,era o alvo principal desse projeto de “conscientização” sobre os problemasnacionais.

Da revoluçãopolítica à revoluçãodos costumes

Abertura

Movimento

38A U L AA educação era uma das preocupações centrais da época. Paulo Freire criou

um método de baixo custo para alfabetizar adultos em 40 horas. Esse métodocomeçou a ser aplicado por todo o país com a ajuda da CNBB (ConfederaçãoNacional dos Bispos do Brasil), do MEB (Movimento de Educação de Base) e doMCP (Movimento de Cultura Popular).

A campanha dizia: “Educar para libertar”. Só depois que o povo soubesse lere escrever é que poderia lutar pelos seus direitos. Por isso era necessárioalfabetizar a população de acordo com as experiências do seu dia-a-dia. Em vezde ensinar que “vovó viu a uva”, os alfabetizadores do método Paulo Freireensinavam as palavras casacasacasacasacasa, comidacomidacomidacomidacomida, saúde saúde saúde saúde saúde e educaçãoeducaçãoeducaçãoeducaçãoeducação.

Para o CPC, entraram jovens como Oduvaldo Viana Filho e Leon Hirszman,que receberam o apoio de outros tantos artistas e intelectuais como FerreiraGullar, Carlos Lyra e Arnaldo Jabor. Eles produziram peças teatrais e showsmusicais, editaram livros e revistas, realizaram o filme Cinco vezes faveladentro do espírito do cinema-verdade.

Para o pessoal do CPC, o importante era criar uma linguagem que pudesseser compreendida pelas camadas populares e fazer com que elas aprendessema lutar pelos seus direitos. A idéia era despertar uma “nova consciência popu-lar”, pela denúncia do subdesenvolvimento e do imperialismo.

O golpe de 1964 evidentemente veio mudar esse quadro. A sede da UNE foiincendiada, o CPC foi fechado e a ação dos estudantes foi dificultada.

Ilustração do programada peça Revolução na

América do Sul deAugusto Boal.

38A U L A Mas a idéia da arte engajada não morreu ali. Ela se manteve viva no Cinema

Novo, no teatro, na música. Ainda em 1964 estreou o filme Deus e o Diabo naTerra do Sol, de Gláuber Rocha, enquanto a cantora estreante Maria Betâniasoltava a voz no show Opinião:

Podem me prender,podem me bater,podem até deixar-me sem comer,que eu não mudo de opinião...

Nem toda a juventude, porém, estava envolvida com o projetorevolucionário de mudar a sociedade brasileira. O programa JovemGuarda, lançado em 1965 pela TV Record, também tinha o seupúblico garantido entre os jovens da classe média.

Diferentemente daquele grupo que se inspirava no regional, nosofrimento e na miséria do povo, a jovem guarda falava nos“carangos”, na garota “papo firme” que era “uma brasa, mora”!

Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos estouravam nasparadas de sucesso com o iê-iê-iê. Em 1966, Quero que vá tudo proinferno foi a música que mais tocou em todas as rádios do país. Eraum outro jeito de a juventude expressar o seu sentimento derebeldia e a vontade de quebrar alguns tabus... Na televisão,Chacrinha liderava os programas populares. Também faziam su-cesso as telenovelas, como O direito de nascer.

Cena do filmeDeus e o Diabo na Terra do Sol.

Três flagrantes do programa Jovem Guarda da TV Record.

38A U L AO tropicalismo a caminho

Caminhando contra o vento,sem lenço sem documento,no sol de quase dezembro,eu vou....Eu abro uma Coca-Cola,ela pensa em casamento...

Em 1967, Alegria, Alegria, música de Caetano Veloso apresentada noIII Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, com acompanhamentode guitarra elétrica − o que até então estava reservado à música “alienada”da Jovem Guarda −, já deixava perceber alguns traços do movimento tropicalista.

Repare só na letra. Ela mostra em rápidos flashes o que se passa com opersonagem, as suas sensações e o seu jeito de olhar o mundo: desafio, despre-ocupação, despojamento, a Coca-Cola americana, a namorada que quer casar...São coisas e valores diferentes. A intenção é registrá-los, sem ensinar nadaa ninguém.

Isso era o Tropicalismo. Desse movimento cultural participaram artistascomo Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rogério Duprat, Hélio Oiticica, José CelsoMartinez Correia e muitos outros. O público, para eles, não era mais um conjuntode pessoas que ficavam do lado de lá, só vendo e escutando o que acontecia nopalco. Agora era a hora do público participantepúblico participantepúblico participantepúblico participantepúblico participante. O Tropicalismo lutava por umanova estéticanova estéticanova estéticanova estéticanova estética, buscava um outro jeito de ser e de se expressar culturalmente.“A imaginação no poder!” “Abaixo a cultura de elite!”

O que os tropicalistas queriam dizer exatamente com essas palavras?A resposta é clara: eles eram contra a arte engajada e a estética revolucionária.Criticavam o tratamento paternalista dado ao público pelos artistas. Comoacabar com a alienação, se já se dava tudo explicadinho ao povo? Se tudo já vinhaexplicado, o povo não podia pensar com a sua própria cabeça. Assim, a suacapacidade de imaginação e de pensamento não ia adiante.

Caetano Velosoe Gal Costa.

38A U L A

Em tempo

Os tropicalistas também achavam que a mudança era necessária. Só que eladevia acontecer de uma outra maneira: não por meio da política, mas a partir dacrítica dos comportamentos e dos costumes. Por isso eles se recusavam a ser“bons moços”, preferindo usar roupas coloridas, cabelos longos, e ter atitudespouco convencionais.

Uma das coisas que o Tropicalismo mais criticava nos jovens revolucionáriosera a sua esperança exagerada no futuro. O importante era viver “o aqui e o agora”.Querer mudar o mundo, viver para a realização de um projeto futuro era conside-rado “caretice”, coisa de gente “quadrada”, conforme a expressão da época.

O final da década de 1960 foi marcado no mundo inteiro pela rebelião dajuventude. O movimento hippie defendia a revolução individual, criticando osvalores da sociedade tecnocrata. Em vez de brigar violentamente pelas suasidéias, os hippies diziam: “Faça amor, não faça a guerra”!

Em maio de 1968, em Paris, os jovens levantaram barricadas nas ruas.Eles diziam coisas como: “O sonho é realidade”, “É proibido proibir”...

Em 1969, surgiu no Rio de Janeiro o jornal O Pasquim, no qual colaboravamjornalistas e humoristas como Millôr Fernandes, Ziraldo, Jaguar, Paulo Francise Henfil. Esse jornal foi muito importante na época, porque criou um novo estilode comunicação. Seus editores conseguiam dizer o que queriam, mas nãobrigavam diretamente com o governo e as autoridades.

É bom lembrar que em dezembro de 1968 fora editado o AI-5, que dava aogoverno controle total sobre a sociedade. Então, era muito difícil exercer o direitode crítica e a liberdade de pensamento. Tudo tinha de ser muito bem pensadoantes de ser dito, pois o governo tinha o poder de censurar, proibir e reprimir.

A sociedade só podia recorrer ao poder da imaginação para escapar dacensura. Por isso foi tão importante a comunicação por meio de imagens.Com humor e ironia, muitas idéias e valores foram transmitidos. Era tambémuma maneira de brincar com a situação política, cada vez mais tensa.

Veja só o que o Jornal do Brasil publicou no seu boletim meteorológico daprimeira página no dia 14 de dezembro de 1968, quando noticiou a edição doAI-5: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. Máx.: 38°Cem Brasília. Mín.: 3°C nas Laranjeiras.”

E do outro lado, na mesma página: “Ontem foi o dia dos cegos.”

Nesta aula vimos como a década de 1960 é importante para entendermos onosso país de hoje. Vimos que amplos setores da sociedade estavam voltadospara a questão da mudançamudançamudançamudançamudança. Os intelectuais engajados achavam que só umarevolução poderia mudar as coisas. Já o movimento tropicalista partia para acrítica de comportamentos como caminho para a mudança social. Vimos que ohumor teve um papel importante na época: mesmo no interior de um regimemilitar autoritário e repressor, procurou burlar a censura e aliviar as tensões.

Na próxima aula, você verá que caminhos tomou a nossa vida culturalna década de 1970.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Explique o lema da UNE nos anos 60: “A hora é de ação”.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Caracterize o movimento tropicalista.

Últimaspalavras

Exercícios

39A U L A

De repente é aquela corrente pra frente,parece que todo o Brasil deu a mão.Todos ligados na mesma emoção,tudo é um só coração.

Essa marchinha comemorava euforicamente o tricampeonato mundial defutebol conquistado pelo Brasil em 1970. A década começava com uma verdadei-ra onda de ufanismo que iria louvar o “milagre brasileiro” do crescimentoeconômico e da modernização.

Mas será que o Brasil estava mesmo todo demãos dadas, batendo num só coração?

Não. Havia também os que estavam presos,perseguidos, ou que deixaram o país porque aquinão havia liberdade de expressão.

Vamos ver, nesta aula, o que as pessoas conse-guiram “dizer” nesses anos que começaram sob asombra do AI-5 e se encerraram com a esperançatrazida pela anistia.

O império da censura

O início da década de 1970 foi um momento de forte repressão política eendurecimento do regime militar. De um lado, a guerrilha rural e urbana, osseqüestros, os assaltos a bancos para obter fundos para a os movimentosrevolucionários; de outro, as prisões, a tortura, a morte e o exílio.

Grande parte dos intelectuais e artistas foi obrigada a abandonar o país.Passaram temporadas mais ou menos longas no exterior Oscar Niemeyer,Augusto Boal, Darcy Ribeiro, Glauber Rocha, Chico Buarque de Holanda,Gilberto Gil, Caetano Veloso, Paulo Freire... Foram os “anos de chumbo” de quefalamos na Aula 36.

Você deve estar lembrado de como, no início da década de 1960, era forte aidéia de engajamento, e eram numerosas as manifestações de uma arte partici-pante. Agora, a situação era outra.

Fortalecida pelo AI-5, a censura dificultava o exercício da vida cultural epolítica. Eram proibidos livros, peças de teatro, canções que defendessem idéiasdiferentes daquelas do regime militar. A apresentação do balé Bolshoi natelevisão brasileira chegou a ser proibida porque o grupo era russo...

Ufanismo e repressão,indústria cultural

e contracultura

39A U L A

Abertura

Movimento

39A U L A Talvez você conheça uma música de Chico Buarque de Holanda que diz:

Acorda, amor.Eu tive um pesadelo agora:Sonhei que tinha gente lá fora,Batendo no portão,Que aflição!Era a “dura”,Numa muito escura viatura.Minha nossa, santa criatura!Chame, clame, chame, chame o ladrão, chame o ladrão!

Chico Buarque mostra o medo que reinava dentro de cada um. A vida eravivida como um pesadelo, no qual o cidadão apavorado acabava pedindosocorro ao ladrão em vez de pedir à polícia. Era uma maneira bem-humorada deexpressar uma situação política cada vez mais tensa. Mas, sobretudo, era umaforma inteligente de driblar a censura.

Buscando caminhos

Entre os extremos da marchinha ufanista e do drible à censura, o queaconteceu com a cultura brasileira nos anos 70? Houve quem falasse em vaziovaziovaziovaziovazioculturalculturalculturalculturalcultural. Realmente, não era mais possível identificar movimentos coerentes ecom programas mais ou menos definidos, do tipo arte engajada, Tropicalismoe assim por diante. Mas isso não quer dizer que vários caminhos não estives-sem sendo tentados.

Um desses caminhos foi o do investimento na indústria culturalindústria culturalindústria culturalindústria culturalindústria cultural, destina-da a atingir o grande público e a criar um mercado de consumidores. Paraalcançar esse objetivo, nada melhor que a televisão!

A estética do subdesenvolvimentoestética do subdesenvolvimentoestética do subdesenvolvimentoestética do subdesenvolvimentoestética do subdesenvolvimento, que marcara os anos 60, foi cedendoo lugar à magia visual da televisão. Sobretudo a partir de 1973, com a introdu-ção da televisão em cores e a incorporação de uma tecnologia avançada, a TVGlobo firmou o “padrão Globo de qualidade”, que iria se difundir por todo opaís por meio de uma rede de integração nacional. Vem dos anos 70 o sucessodo Jornal Nacional, do Fantástico, das telenovelas...

A década assistiu igualmente ao crescimento das gravadoras, das rádios,das editoras. O cinema também procurava entrar na era industrial e conquistaro público habituado às produções estrangeiras.

Muitos filmes importantes foram feitos com financiamento estatal pormeio da Embrafilme, criada em 1975. Dona Flor e seus dois maridos, adaptação doromance de Jorge Amado dirigida pelo jovem cineasta Bruno Barreto, foi umsucesso de bilheteria e alcançou repercussão internacional.

Mas houve ainda outros caminhos. Houve aqueles que preferiram mani-festações mais “artesanais”, mais “fora do sistema”, mais individuais.

Você está lembrado de que, na aula anterior, falamos no movimento hippiedo final dos anos 60? Tendo se originado na mesma época, chegou aos anos 70um movimento chamado de contraculturacontraculturacontraculturacontraculturacontracultura. Aqui no Brasil, como nos outrospaíses, a contracultura procurava se opor à cultura oficial, valorizando aquelasmanifestações que eram consideradas marginaismarginaismarginaismarginaismarginais. Foi sobretudo no teatro quea contracultura encontrou seu meio de expressão.

39A U L AEm 1969, na virada da década, a produtora paulista Ruth Escobar montou

Cemitério de automóveis, de Fernando Arrabal. Era uma peça surrealista e anárqui-ca. No ano seguinte, foi a vez de O balcão, de Jean Genet, de grande impactovisual.

Enquanto isso, o Grupo Oficina encenava Na selva das cidades, de Brecht,questionando o sistema social e cultural vigente. A radicalização chegaria aomáximo com a montagem seguinte, da peça Gracias Señor, criação coletiva dogrupo que conclamava a platéia à libertação do corpo e da mente. No Rio deJaneiro, a peça Hoje é dia de rock, de José Vicente, propunha a utopia e aliberdade individual.

Novos grupos iriam surgir ao longo da década, como o Asdrúbal Trouxeo Trombone, de 1975. Sua montagem de Trate-me leão falava dos caminhose descaminhos da juventude.

Na literatura, os anos 70 foram a época dos poetas “marginais” e seuslivrinhos mimeografados vendidos nas portas dos cinemas, dos teatros, nasmesas de bar. Torquato Neto, Wally Salomão, Chacal, Cacaso, Paulo Leminskie outros juntaram seus versos aos dos poetas mais velhos, que continuavama produzir.

As memórias foram outro gênero que floresceu na época, a começar peloBaú de ossos (1972), de Pedro Nava, até O que é isso, companheiro? (1979),de Fernando Gabeira, que voltava do exílio e abria um filão de relatos daexperiência da guerrilha.

Um outro traço característico da época foi a explosão da chamada impren-impren-impren-impren-impren-sa nanicasa nanicasa nanicasa nanicasa nanica, em contraposição à grande imprensa. A marca dessas publicaçõesera a irreverência, o humor e sátira de costumes.

O que se pode perceber de tudo isso é que a revolução dos costumesrevolução dos costumesrevolução dos costumesrevolução dos costumesrevolução dos costumes quecomeçara nos anos 60 prosseguiu. Ela modificava os valores e a forma de pensar,sentir e viver.

Cena da peça teatralMacunaíma, dirigidapor Antunes Filho.

39A U L A A idéia do instante instante instante instante instante substituía a idéia de futuro. Muitas

pessoas não acreditavam mais em um projeto revolucionário queapostava num resultado lá na frente. Importava viver o momento,o aqui e agora. Era preciso mudar a linguagem e a vida, mudar asrelações já prontas, viajar, tornar-se mutante. Os valores eramquestionados no dia-a-dia. Quebrar as estruturas. Ser radical.Protestar.

A repressão do governo militar dificultava a participaçãopolítica e a vida cultural, mas a sociedade conseguia criar novasformas de expressão. As manifestações políticas mudaram. Sur-giu um outro jeito de protestar. Criticava-se o autoritarismo dafamília, da escola e da universidade. Criticava-se a repressãosexual e as normas institucionais. A liberdade do indivíduo era agrande causa. Essa era uma outra maneira de fazer política, umoutro jeito de participar.

Por 21 anos, os militares estiveram no controle direto da política nacional.O Brasil de 1985 era muito diferente do de 1964. É verdade que houve umsignificativo desenvolvimento da infra-estrutura econômica nacional, fato sem-pre destacado pelos defensores do regime militar.

No entanto, a economia brasileira em 1985 apresentava problemas graves.Após duas décadas, a distribuição de renda no país havia piorado, aumentandoo fosso entre os mais ricos e os mais pobres. Além disso, o país chegou ao finaldo regime militar com inflação em alta, aumento do desemprego e uma dívidaexterna recorde.

Além dos problemas na área econômica, a falta de democracia e a violentarepressão exercida contra todos aqueles que se opuseram ao regime militardesorganizaram a vida política do país. Deixaram feridas difíceis de cicatrizar namemória nacional.

Superar esse legado tornou-se o grande desafio para a nascente democraciabrasileira. Ela teria de aprender a lidar com as diferenças, com os direitos civis,com a liberdade. Uma nova Constituição seria escrita. E, nela, teríamos de incluira sociedade brasileira em todas as suas distinções, em toda a sua riquezae variedade. É por onde passaremos no último ponto de nossa viagem.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Caracterize a indústria cultural dos anos 70 no Brasil.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Identifique características básicas da “contracultura”.

Exercícios

Últimaspalavras

Capas de publicações alternativas.

A história política brasileira nos ensina que nossa democracia foi constante-mente ameaçada. Os momentos de abertura, no entanto, trazem em seu coloridotoda a vida que uma sociedade livre pode expressar.

Nosso último módulo traz um desses ricos momentos: aquele em que foramentregues à sociedade os destinos da política brasileira. Uma nova Constituiçãotraduziria os novos caminhos que a sociedade exigia.

A “Constituição cidadã” é o tema deste nosso último encontro.

Módulo 14Os desafios

da nação democrática

40A U L A

Em aulas anteriores, você acompanhou oprocesso de transição política pelo qual o Brasil retomou lentamente o caminhoda democracia, após 21 anos de ditadura.

Você certamente deve se lembrar da expectativa que tomou conta do país noinício de 1985 diante da doença do presidente eleito Tancredo Neves, e daconsternação por sua morte, às vésperas de tomar posse. Em seu lugar assumiuo vice-presidente, José Sarney, a quem coube fazer um governo de transiçãogoverno de transiçãogoverno de transiçãogoverno de transiçãogoverno de transição.

A transição democrática só terminou, no entanto, com a convocação daAssembléia Nacional Constituinte, a promulgação da nova Constituição de 1988e a eleição presidencial de 1989.

Na aula de hoje você vai acompanhar a feitura da nova Constituição. Vaisaber como ela mudou e ainda poderá mudar a nossa vida.

Vamos fazer uma pequena viagem ao mundo dos direitos e dos deveres, aomundo das leis que um povo cria para tentar viver melhor, com paz e justiça.Uma viagem ao mundo da cidadania.

As Constituições brasileiras

O que é uma Constituição? De que modo as leis influenciam o nosso dia-a-dia? O que significa viver num “regime constitucional”?

A Constituição é o mais importante conjunto de leis de um país, e por issoela também é conhecida como a Carta Magna Carta Magna Carta Magna Carta Magna Carta Magna de uma nação. Na Constituição

40A U L A

A redemocratização

Abertura

Movimento

População seguecortejo por ocasião

da morte deTancredo Neves.

40A U L Ada República Federativa do Brasil estão contidos os princípios, direitos e deveres

fundamentais que regem a vida pública dos cidadãos brasileiros.Assim como nos estatutos dos clubes e associações, todas as leis que

estabelecem tudo aquilo que podemos e não podemos fazer são baseadas nasnormas constitucionais.

Antes da Constituição de 1988 já haviam sido promulgadas seis CartasMagnas em nosso país: uma durante o Império, em 1824, e cinco durante aRepública, em 1891, 1934, 1937, 1946 e 1967. Tivemos também a Emenda Consti-tucional de 1969, que alterou a Carta de 1967 em vários aspectos essenciais.

Em geral, a elaboração de uma Constituição, em uma democracia, é atribui-ção de uma Assembléia Constituinte especialmente eleita pelo povo para talfinalidade. Esse princípio, contudo, nem sempre foi respeitado em nossa histó-ria, tão repleta de crises políticas.

Você deve estar lembrado de que, em 1937, Getúlio Vargas simplesmente“outorgou” (na verdade, impôs) a Constituição que viria a reger o Estado Novo.Assim também ocorreu com a Constituição de 1967, emendada em 1969, e queregeu nossa vida pública até 1988. Na verdade, ela foi imposta pelo regimemilitar, sem qualquer consulta ao povo ou a seus representantes.

Para retornar definitivamente à democracia era necessário, portanto, elabo-rar uma nova Constituição, que estabelecesse as regras para a convivência livree democrática dos brasileiros. Uma nova Carta que fosse feita pelos representan-tes legítimos do povo.

Eleitos em novembro de 1986, os deputados e senadores constituintesiniciaram os trabalhos da Assembléia em 1º de fevereiro de 1987.

Começava então um rico período de debates e de movimentação política.Não apenas os parlamentares, mas também todos os setores organizados dasociedade civil, procuraram deixar no novo documento a marca de seus interes-ses e ideais.

Você sabe o que são “setores organizados” ou “grupos de pressão”? Sãoqualquer forma de associação de pessoas que se juntam, se organizam para lutarpor alguma causa, alguma idéia ou interesse. Assim, os sindicatos, as associaçõesde moradores, até mesmo os condôminos de um prédio, podem ser exemplosde setores organizados.

Você faz parte, ou já fez parte, de algum grupo ou associação?Use sua imaginação e pense: de que grupos voce poderia participar para

atingir um determinado fim? A que tipo de pessoas você poderia se associar,se precisasse?

Uma verdadeira caravana de pessoas, das maisdiversas regiões, se dirigiu ao Congresso Nacional, emBrasília, para fazer valer os seus pontos de vista juntoaos congressistas. Entre elas estavam empresários,sindicalistas, fazendeiros, lavradores, profissionais detodos os tipos, líderes religiosos e comunitários,e muitos outros.

Uma Constituição trata de todas as regras queorientam a vida em sociedade: as econômicas, as polí-ticas, as educacionais, as sociais. Os deputados discu-tem todos os aspectos antes de votar o texto final.

Pausa

UlissesGuimarães ergueexemplar daConstituiçãoFederal de 1988.

40A U L A Já pensou como são demorados os trabalhos?

Os trabalhos da Constituinte duraram cerca de 19 meses, durante os quais osparlamentares se dividiram em oito comissões e 24 subcomissões temáticas, cadauma responsável pela regulamentação de um tema diferente. Ao longo desseperíodo, outras propostas de artigos, elaboradas não pelos parlamentares, masdiretamente por quaisquer cidadãos, foram incluídas no debate.

No dia 5 de outubro de 1988, num emocionante discurso à nação, em queprocurava destacar os avanços que a Constituição trazia em matéria de direitosindividuais e sociais, o deputado Ulisses Guimarães, que havia presidido ostrabalhos da Assembléia Constituinte, saudou a promulgação da Carta Magna.

A Constituição mudou na sua elaboração (...), mudou quando quer mudaro homem em cidadão, e só é cidadão quem ganha justo e suficiente salário, lêe escreve, mora, tem hospital e remédio, lazer quando descansa.

Com essas palavras, o deputado Ulisses Guimarães expressou os objetivosda nova Constituição, que chamou de “Constituição cidadã”.

A Constituição de 1988

A primeira parte da Constituição trata dos seus princípios fundamentaisprincípios fundamentaisprincípios fundamentaisprincípios fundamentaisprincípios fundamentais.Em 1988, pela primeira vez, declarou-se aí que a República Federativa do Brasilé um Estado Democrático de Direito, quer dizer, uma nação de cidadãos iguaisentre si e governados pelas mesmas leis.

Os fundamentos desse Estado são a soberania, a cidadania, a dignidade dapessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e opluralismo político. O poder se origina do povo e deve ser exercido por meiode representantes eleitos ou diretamente pelo povo, por meio de referendose plebiscitos.

Essa parte da Constituição define também os objetivos fundamentais danossa República: construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir odesenvolvimento nacional, acabar com a pobreza e a marginalização e reduziras desigualdades sociais e regionais, e promover o bem de todos sem qualquertipo de preconceito ou discriminação.

Uma vez estabelecidos os princípios fundamentais, passam a ser definidospela nova Carta os direitos e garantias fundamentais direitos e garantias fundamentais direitos e garantias fundamentais direitos e garantias fundamentais direitos e garantias fundamentais dos cidadãos brasileiros.São definidas quatro categorias de direitos: individuais e coletivos, sociais,da nacionalidade e políticos. São arrolados também os preceitos que regemos partidos políticos.

Os brasileiros têm garantidos os seus direitos civis, ou seja, a igualdadeperante a lei e o direito à justiça; os seus direitos sociais, que dizem respeito aoseu bem-estar e à participação na riqueza aqui produzida; e também os seusdireitos políticos, quer dizer, a liberdade de cada um para manifestar seuspensamentos, candidatar-se e apoiar seus candidatos aos cargos públicos,e associar-se para defender seus pontos de vista e seus interesses.

A Constituição de 1988 ampliou os direitos de associação, sem intervençãodo Estado. E o direito de voto foi igualmente estendido a um maior número depessoas. Assim, mais brasileiros podem votar, e fica mais fácil se associar a outraspessoas para defender os seus interesses e as suas idéias.

Em tempo

40A U L AVocê sabia que só pela Constituição de 1934 as mulheres conquistaram o

direito de votar?

Como você sabe, o Brasil é uma federação de Estados, e estes são divididosem municípios. Você vive num município, que faz parte de um Estado, que porsua vez compõe a federação.

A Constituição de 1988, na parte referente à organização do Estadoorganização do Estadoorganização do Estadoorganização do Estadoorganização do Estado,introduziu modificações importantes na organização da nossa federação. Osmunicípios ganharam maior autonomia, passando a se reger por leis orgânicasvotadas por suas próprias Câmaras de vereadores.

Os impostos passaram a ter uma nova distribuição que beneficiou osEstados e municípios em detrimento da União, ou seja, do governo federal.Houve também uma nova distribuição de encargos entre os três níveis degoverno, passando aos municípios a responsabilidade pelo ensino fundamen-tal, pela pré-escola e pela saúde.

Além disso, foram estabelecidos os princípios que deveriam nortear todaa administração pública, tanto no município quanto nos Estados e no governofederal: legalidade legalidade legalidade legalidade legalidade, impessoalidadeimpessoalidadeimpessoalidadeimpessoalidadeimpessoalidade, moralidade moralidade moralidade moralidade moralidade e publicidadepublicidadepublicidadepublicidadepublicidade. Assim, alémde votar para os cargos de prefeito, governador, presidente, vereador, deputa-do e senador, você tem também o direito e o dever de cobrar deles o cumpri-mento de todos esses princípios.

De acordo com a nova Carta, o Brasil continua a ser presidencialista, istoé, governado por um presidente eleito pelo povo. E, segundo a parte daConstituição que trata da organização dos poderesorganização dos poderesorganização dos poderesorganização dos poderesorganização dos poderes, o Estado continua sendodividido em três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

O Poder Legislativo faz as leis que regulam o nosso dia-a-dia. O Executivogoverna de acordo com essas leis e garante o cumprimento delas. O Judiciáriointerpreta o sentido das leis e determina a sua justa aplicação sempre quehá conflito em torno delas.

Com a nova Constituição, o Poder Legislativo recuperou uma sériede vantagens perdidas no período ditatorial. Além de fazer as leis, ele tema missão de fiscalizar a administração realizada pelo Executivo.

Em tempo de eleição, os candidatos sempre fazem promessas. Algumasvezes essas promessas ou compromissos são razoáveis, quer dizer, se referem acoisas que os políticos podem realmente tentar realizar. Outras vezes, contudo,as promessas são totalmente irreais e impossíveis.

Assim, por exemplo, quando um candidato a vereador diz que vai acabarcom a inflação, ele está obviamente mentindo. Essa é uma tarefa que dificilmenteele pode executar.

Levando em conta a divisão de responsabilidades entre o governo federal,os Estados e os municípios, e entre os poderes da República, imagine algumastarefas diferentes que é justo esperar e cobrar dos diferentes ocupantes de cargospúblicos.

A ordem econômica ordem econômica ordem econômica ordem econômica ordem econômica foi um dos assuntos que mais polêmicas provocou aolongo dos trabalhos da Assembléia Constituinte.

Essa parte da nova Carta estabelece as normas e os princípios que regulamtodas as atividades relativas ao trabalho e à produção dos bens que consumimos.Aqui se define o que é uma empresa nacionalempresa nacionalempresa nacionalempresa nacionalempresa nacional, quais as funções sociais dafunções sociais dafunções sociais dafunções sociais dafunções sociais da

Em tempo

Pausa

40A U L A propriedade propriedade propriedade propriedade propriedade e uma série de normas que regem o uso das riquezas mineirais do

nosso território.Na parte relativa à ordem socialordem socialordem socialordem socialordem social, os avanços da nova Constituição foram

numerosos, embora ainda estejamos muito longe de poder ver as normasconstitucionais em pleno vigor.

A ordem social é definida tendo por base o trabalho, e, como seu maiorobjetivo, o bem-estar e a justiça sociais. Essa é a parte da Constituição que ditaas regras para a previdência social, a saúde e a assistência social. A nova Cartainovou estendendo esses direitos a todos os brasileiros, da cidade e do campo.

A saúde é declarada um direito de todos os brasileiros e um dever do Estado.Criou-se o sistema único de saúde, que possui como atribuições, além doatendimento médico e hospitalar, o controle dos alimentos, do meio ambiente eo saneamento básico.

Já a previdência social se destina a garantir as aposentadorias e as pensõesdos seus segurados. Com a nova Carta, foram ampliados os tipos de benefíciospagos pela previdência, e foi aberta a participação a qualquer contribuinte.

Quanto à assistência social, ela busca a proteção de todos os cidadãos maiscarentes e incapazes de se prover, e não depende de contribuições.

Outra seção importante é a que trata da educação. O ensino é um direito detodos e um dever do Estado e da família. De acordo com a nova Carta, todosdevem ter acesso à educação gratuita. A nova Constituição prevê também aelaboração periódica de um plano nacional de educação que promova a elimina-ção do analfabetismo e o aprimoramento da educação em todo o país.

A nova Carta é, portanto, um documento vasto, abrangente e polêmico, queregula praticamente toda a nossa a vida social, e expressa assim os mais carosdesejos da população brasileira.

Apesar dos seus erros e excessos, ela nos fornece uma base sólida de direitose garantias fundamentais e de princípios democráticos que nos permitemconstruir uma nova ordem social, enfrentando os enormes desafios econômicose sociais legados pelo passado mais ou menos recente.

Chegando até hoje

Com a promulgação da Constituição de 1988, estava aberta a campanha paraa primeira eleição presidencial pelo voto direto após 29 anos. Isso mesmo. Desde1960 o país não se mobilizava em torno de eleições presidenciais. Partidos ecandidatos se apresentaram, e não foram poucos! Os principais concorrentesforam Ulisses Guimarães, pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro(PMDB); Luiz Inácio Lula da Silva, pelo Partido dos Trabalhadores (PT);

Fernando Collor de Melo, pelo Partido daReconstrução Nacional (PRN); AurelianoChaves, pelo Partido da Frente Liberal (PFL);Mário Covas, pelo Partido da Social Demo-cracia Brasileira (PSDB); Leonel Brizola, peloPartido Democrático Trabalhista (PDT);e Paulo Maluf, pelo Partido DemocráticoSocial (PDS).

Pela nova Constituição, as eleiçõesdevem ser feitas em dois turnos, desdeque nenhum candidato obtenha mais de 50%dos votos válidos no primeiro turno.

Manifestaçãoestudantil pelo

impeachment dopresidente Collor.

40A U L AEm 1989, como ninguém conseguiu mais de 50% dos votos na primeira

rodada da eleição, foram para o segundo turno os dois candidatos que obtiveramo maior número de votos no primeiro: Fernando Collor de Melo e Luiz InácioLula da Silva.

A disputa foi acirrada. A vitória coube a Fernando Collor, mas Lula obteveapenas quatro milhões de votos menos, em um eleitorado de aproximadamente66 milhões.

O governo Collor se elegeu com a promessa de modernizar o país, garantira democracia e defender os “descamisados”, ou seja, os despossuídos, os maispobres. Porém, mais uma vez, os brasileiros tiveram de enfrentar as conseqüên-cias das ações irregulares do governo. O governo Collor foi acusado de consentirno desvio e na apropriação privada de uma imensa quantidade de recursospúblicos.

Imagine você! O mesmo governo que se elegeu para proteger os“descamisados” teve de responder à acusação de corrupção.

Para apurar as denúncias, foi criada no Congresso Nacional uma ComissãoParlamentar de Inquérito (CPI). O movimento das ruas, a pressão dos setoresorganizados e a ação da CPI resultaram no impeachmentimpeachmentimpeachmentimpeachmentimpeachment do presidente Collor.

Você sabe o que quer dizer impeach-impeach-impeach-impeach-impeach-mentmentmentmentment?

Quer dizer impedimento. O presidenteCollor foi impedido de permanecer na pre-sidência da República. Isso ocorreu no se-gundo semestre de 1992, em pleno funcio-namento das instituições democráticas.

Com o impedimento do presidenteCollor e, de acordo com a Constituição,assumiu o governo o vice-presidente,Itamar Franco, que conduziu o país até aseleições diretas de 1994.

Novamente partidos e candidatos seapresentaram à nação. Os principais con-correntes foram Fernando Henrique Car-doso (PSDB); Luiz Inácio Lula da Silva(PT); Leonel Brizola (PDT) e Orestes Quércia(PMDB). Dessa vez, o candidato vencedor,Fernando Henrique Cardoso, conseguiumais de 50% dos votos válidos logo noprimeiro turno da eleição. Não houve, por-tanto, o segundo turno. Desde janeiro de1995, Fernando Henrique Cardoso gover-na o Brasil.

Nossa aventura pela história do Brasil chega ao seu ponto final. Não é aaventura de viajar que chega ao fim. É o roteiro que definimos que se conclui.

Mas, se a aventura não termina, por onde nos deve conduzir agora? Pelamais importante das viagens. Aquela que fazemos no presente. A que nos ensinao que somos, que direitos temos e em que sociedade queremos viver.

Um país que se permitiu conviver com três século de escravidão, umasociedade que recentemente consentiu uma ditadura militar por 21 anos, umanação que ainda olha sem a devida indignação para uma concentração tão brutalde renda tem muito o que aprender.

Finalde viagem

Os jovenscara-pintadaspelo impeachmentdo presidente Collor.

40A U L A A nação precisa estar mais atenta às violências de cada dia, contra

cada cidadão. Essa mensagem de vigilância permanente é o que os professoresque escreveram estas aulas querem deixar para você.

Um país se faz com as diferenças, e não com a imposição do aceitável.Esta é a lição de todo dia.

Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Exercício 1Releia a aula e explique o significa viver em um regime constitucionalregime constitucionalregime constitucionalregime constitucionalregime constitucional.

Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Exercício 2Releia a aula e explique o que mudou na vida política brasileira coma Constituição de 1988.

Exercícios

Aula 21 - �É dando que se recebe�

1.1.1.1.1. A política dos governadores representou um acordo entre o presidente daRepública e os governadores dos Estados. O primeiro, em troca de apoiopolítico, garantiu ampla liberdade de ação aos governadores. Estes,fortalecidos, utilizaram-se da fraude e da violência física, entre outrosmétodos, para controlar a política dos seus Estados.

2.2.2.2.2. Alguns exemplos de resposta: Pacto oligárquico/Acordo entre as oligar-quias /A política das oligarquias e dos coronéis.

Aula 22 - Estado e economia na Primeira República

1.1.1.1.1. A expansão cafeeira favoreceu o desenvolvimento industrial paulista porqueestimulou a vinda de um grande número de imigrantes que serviram comomão-de-obra e mercado consumidor para a indústria; capitais investidos nocafé foram repassados à indústria; a infra-estrutura criada, em grande parte,pela economia cafeeira, foi fundamental para o desenvolvimento industrialno Estado de São Paulo.

2.2.2.2.2. A intervenção ocorreu em virtude da acentuada queda dos preços do café eda falta de uma política protecionista protecionista protecionista protecionista protecionista por parte do governo federal, muitomais preocupado em assegurar o equilíbrio financeiro do país.

Aula 23 - A formação da sociedade industrial brasileira

1.1.1.1.1. Divisão do trabalho, novos métodos de racionalização do trabalho, contratode trabalho.

2.2.2.2.2. O movimento operário dividia-se em correntes revolucionárias e moderadas.Os anarquistas representaram a mais importante corrente revolucionária.Defendiam a supressão do Estado e de todas as formas de opressão política.Os moderados, muitas vezes denominados pejorativamente de “amarelos”,defendiam melhores condições de vida e trabalho e buscavam mais anegociação do que o confronto com o empresariado e o governo.

Gabaritosdas aulas 21 a 40

Aula 24 - Brasil: a nação revisitada

1.1.1.1.1. O autor critica a intelectualidade brasileira que, fascinada pela culturafrancesa, não consegue enxergar as manifestações culturais brasileiras.

2.2.2.2.2. O modernismo defendia e valorizava a diversidade cultural brasileira.

Aula 25 - Os anos loucos: a crise da década de 1920

1.1.1.1.1. Foi um movimento político liderado por grupos oligárquicos de importantesEstados − Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Pernambuco − criadopara concorrer às eleições presidenciais de 1922 e combater o predomínio dasoligarquias de Minas Gerais e São Paulo

2.2.2.2.2. Os tenentes eram favoráveis ao fim das fraudes e da manipulação eleitoral.Defendiam a moralização das instituições políticas e um governo centralizado,capaz de resolver os graves problemas do país.

Aula 26 - As incertezas da democracia

1.1.1.1.1. Maior centralização política, com o fechamento do Congresso e ofortalecimento do Poder Executivo; nova política social baseada naorganização e no controle do movimento sindical.

2.2.2.2.2.11111ª Quadro internacional marcado pela crise das instituições liberais e

fortalecimento das propostas autoritárias e totalitárias.22222ª As elites brasileiras ficaram assustadas com a revolta comunista de 1935.

Getúlio Vargas aproveitou-se disso para fortalecer o seu governo e dar ogolpe que instaurou a ditadura no país, com amplo apoio de liderançasmilitares e políticas.

Aula 27 - A nova centralização: o Estado Novo - I

1.1.1.1.1. Para Vargas, o regime democrático era uma farsa a serviço das minorias; alémdisso, segundo ele, a livre competição entre os partidos enfraquecia e dividiao país.

2.2.2.2.2. A máquina de propaganda criada pelo governo foi fundamental para construira imagem de Vargas como grande líder nacional. Além disso, o governotomou uma série de iniciativas no campo social, como a legislação trabalhista,que reforçou a imagem de Vargas como “pai dos pobres”.

Aula 28 - A nova centralização: o Estado Novo - II

1.1.1.1.1. Desde o início dos conflitos, o governo brasileiro procurou não se envolver:manteve relações diplomáticas com os dois lados. A entrada dos EstadosUnidos na guerra, no entanto, obrigou o governo brasileiro a sair daconfortável posição de neutralidade que até então mantinha. As pressõesexternas e internas tornaram-se cada vez maiores. O bombardeio de naviosbrasileiros, em julho/agosto de 1942, foi o estopim para o ingresso do Brasilna guerra, ao lado dos aliados e contra o Eixo.

2.2.2.2.2. A participação das tropas brasileiras na guerra contra as ditaduras nazi-fascistas desgastou a ditadura varguista. O governo começou a se isolar etentou liderar uma transição para a democracia. Suas manobras não deramcerto, e Vargas foi derrubado em outubro de 1945.

Aula 29 - A ordem liberal-democrática

1.1.1.1.1. No plano internacional, os anos do pós-guerra foram marcados pela ascensãodo comunismo na Europa e em outras partes do mundo. O combate aocomunismo passou a ser tarefa primordial do governo norte-americano.Surgia a Guerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra FriaGuerra Fria, confronto político-ideológico entre os Estados Unidose a União Soviética. O governo Dutra logo tratou de mostrar de que ladoestava: adotou uma política externa de alinhamento ao governo norte-americano. Essa política se relacionava ao interesse do governo brasileiro depreservar e ampliar as relações políticas e econômicas com o país líder dobloco ocidental na luta contra o comunismo. Ao mesmo tempo, tratoutambém de adotar uma política de caráter repressivo aos movimentostrabalhistas influenciados pela ação do PCB. Foi, portanto, nesse contexto deradicalização política externa e interna que o governo brasileiro tomoumedidas como o rompimento de relações com a URSS e a cassação do PCB.

2.2.2.2.2. O governo Dutra adotou um conjunto de medidas baseadas no liberalismoeconômico, tais como: controle dos gastos públicos e ampliação dasimportações como forma de combater o aumento da taxa de inflação.

Aula 30 - O Estado na dianteira: intervencionismo edesenvolvimento no segundo governo Vargas

1.1.1.1.1. As duas primeiras propostas defendiam o apoio do Estado à industrializaçãobrasileira. A proposta desenvolvimentista via com bons olhos o ingresso decapitais e empresas estrangeiras. Já a proposta nacionalista defendiafundamentalmente o capital nacional. Os liberais não concordavam que oEstado deveria planejar e subsidiar a industrialização. Defendiam que aindústria deveria crescer com seus próprios recursos.

2.2.2.2.2. Em linhas gerais, pode-se dizer que um modelo autárquico dedesenvolvimento é aquele preocupado em atender autonomamente a todasas necessidades econômicas de um país. O segundo governo Vargas criouuma série de empresas e ampliou a intervenção estatal na economia. Essasmedidas tiveram por objetivo, entre outros, reduzir a influência externa emnosso desenvolvimento econômico. O modelo autárquico tende a ver comdesconfiança a presença maciça de capitais externos em determinadossetores econômicos considerados estratégicos (energia, comunicações).

Aula 31 - O suicídio de Vargas e a carta-testamento

1.1.1.1.1. A oposição civil e militar desconfiava que, a qualquer momento, Vargaspoderia se utilizar do seu prestígio junto aos trabalhadores para promoverum golpe semelhante ao que instaurou o Estado Novo em 1937.

2.2.2.2.2. Apesar da crise, Vargas era um político popular. O seu suicídio abalou aopinião pública. A carta-testamento o coloca como vítima de uma conspiraçãoque envolvia grupos nacionais e internacionais. Ele era o herói que sesacrificou pelo seu povo. Além disso, as inúmeras leis sociais colocadas emvigor em seus governos fortaleceram muito sua imagem de “pai dos pobres”.

Aula 32 - O nacional-desenvolvimentismo

1.1.1.1.1. Juscelino Kubitschek contou com apoio maciço no Congresso Nacional. Paraisso, tratou de garantir pastas em seu ministério para os partidos que o

elegeram − o PSD e o PTB. JK procurou também não desagradar aosmilitares. Garantiu melhores equipamentos e aumentos salariais às ForçasArmadas.

2.2.2.2.2. Muita coisa mudou no Brasil nos anos JK. Para começar, pode-se dizer queocorreu uma mudança no clima político do país. Após o drama da morte deVargas, a sociedade brasileira viveu anos de otimismo e esperança. Houve,também, uma importante alteração na relação do governo federal com asinstituições políticas e com os meios de comunicação. JK conseguiu dialogarcom as instituições e garantir plena liberdade de expressão. Finalmente,ocorreu uma importante mudança no perfil da nossa economia. O paísingressou em uma nova fase industrial e passou a contar com uma economiamais moderna e diversificada.

Aula 33 - Sociedade e cultura nos anos dourados

1.1.1.1.1. Um estilo de vida baseado na moderna sociedade norte-americana. O rádio,as revistas e a televisão divulgavam a imagem de um homem e de umamulher ativos, com uma vida marcada pelo conforto e pela praticidade. Vive-se a era dos eletrodomésticos e do automóvel. Tecnologia e progresso andamde mãos dadas. O jovem é apresentado como alguém de personalidade, livrede compromissos e rebelde.

2.2.2.2.2. Resgate e valorização da cultura popular. Estabelecer relações entre a culturapopular brasileira e movimentos culturais de outras partes do mundo,particularmente da Europa e dos EUA.

Aula 34 - Os anos radicais: o governo Jânio Quadros

1.1.1.1.1. Foi uma nova orientação na política externa brasileira. Representou oabandono da política de alinhamento com o governo norte-americano.Teve por objetivo inserir o país de uma outra maneira no panoramainternacional. Para isso, o governo procurou aproximar-se de países dediferentes ideologias. Foram reatadas as relações com a URSS.

2.2.2.2.2. Entre outras, podem ser citadas: a falta de apoio dos grandes partidos noCongresso Nacional; o crescente isolamento político que o presidentepassou a sofrer muito em função das crescentes críticas que setoresconservadores desencadearam à política externa independente política externa independente política externa independente política externa independente política externa independente e, também,à sua orientação política interna personalista e autoritária.

Aula 35 - Os anos radicais: o governo João Goulart

1.1.1.1.1. O governo João Goulart tinha por objetivo imediato debelar a inflação eretomar o crescimento econômico. Em uma perspectiva de longo prazo, ogoverno acreditava que o país somente resolveria seus principais problemaseconômicos se fossem adotadas mudanças de caráter estrutural: as reformasde base. Se estas fossem implementadas, o país ampliaria o seu mercadointerno, o que favoreceria a expansão industrial.

2.2.2.2.2. O governo de João Goulart, no final de 1963 e nos primeios meses de 1964,encontrava-se em meio a um intenso bombardeio político. De um lado, forçaspolíticas nacionalistas e de esquerda, com apoio nos sindicatos e no movimentoestudantil, exigiam a imediata aprovação e aplicação das reformas de base.Essas medidas vinham sendo sistematicamente barradas no Congresso, de

maioria conservadora. De outro lado, grupos políticos conservadores, comapoio de setores empresariais, de profissionais liberais e de militares,afastavam-se cada vez mais do governo, que consideravam fraco e incapazde solucionar a crise política e econômica. O resultado de tudo isso foi aradicalização política por parte do governo − o que contribuiu para a suaqueda, em março de 1964.

Aula 36 - O regime militar - I

1.1.1.1.1. Para os militares, o país vivia um momento de guerra revolucionária. Asinstituições democráticas haviam, até aquele momento, se mostrado incapazesde derrotar a “subversão”. Apenas um governo forte seria capaz de vencera crescente ameaça comunista.

2.2.2.2.2. Alguns exemplos de resposta: “Sob a égide do AI-5”; “ Ditadura militar”;“Repressão e luta armada”.

Aula 37 - O regime militar - II

1.1.1.1.1. O governo do presidente Geisel promoveu uma “lenta e segura” aberturapolítica. Medidas de caráter liberal, como maior liberdade de expressão,foram acompanhadas de medidas de caráter repressivo, como o fechamentodo Congresso e a cassação de parlamentares da oposição. Mesmopromovendo uma lenta distensão política, o governo enfrentou sériosproblemas com a “ linha dura”. A estratégia do governo foi afastá-la dosprincipais centros de decisão. A eleição do general Figueiredo,comprometido com a liberalização política, garantiu a continuidade daabertura. O presidente Geisel extinguiu o AI-5.

2.2.2.2.2. O governo Figueiredo foi marcado pelas idas e vindas do “projeto deabertura política”. Os presos políticos foram libertados e anistiados.Assegurou-se maior liberdade partidária. Criou-se um clima favorável aoretorno da democracia. Foram promovidas, depois de 17 anos, eleiçõesdiretas para os governos dos Estados. Mas os anos do governo Figueiredotambém foram de tensão política. Terroristas de direita promoveramatentados com o intuito de impedir a continuidade da abertura. O governomanteve impunes esses atentados. No final do seu mandato, o governoprocurou, mais uma vez, controlar a sucessão. Para isso, tratou de impedira vitória da emenda que transformava as eleições presidenciais em eleiçõesdiretas. A derrota da campanha das “Diretas Já” abriu caminho para aconstituição de uma frente política liderada pela candidatura de TancredoNeves, que permitiu, pela primeira vez, a vitória de um candidato deoposição no Colégio Eleitoral.

Aula 38 - Da revolução política à revolução dos costumes

1.1.1.1.1. A União Nacional dos Estudantes defendia o engajamento dos jovens noprocesso de transformações políticas que o país estava vivendo naquelecomeço da década de 1960. A UNE defendia a existência de uma culturaengajada, voltada para as massas populares.

2.2.2.2.2. Foi um movimento cultural da segunda metade dos anos 60 que defendiauma nova estética, livre dos compromissos políticos da arte engajada.Os tropicalistas acreditavam que as mudanças no país deveriam passarpela revolução dos costumes e do comportamento.

Aula 39 - Ufanismo e repressão, indústria cultural e contracultura

1.1.1.1.1. Nos primeiros anos da década de 1970 a economia brasileira cresceurapidamente. Era o tempo do “milagre econômico”. Naquele momento,ganhou força a produção cultural voltada para as grandes massasprodução cultural voltada para as grandes massasprodução cultural voltada para as grandes massasprodução cultural voltada para as grandes massasprodução cultural voltada para as grandes massas.O grande veículo de comunicação era a televisão. A TV em cores colocavano ar as maravilhas do mundo moderno. A indústria fonográfica, muitasvezes acompanhando a televisão, também teve uma enorme expansão. Jáa indústria cinematográfica, mesmo contando com o apoio do governofederal, por meio da Embrafilme, encontrou dificuldades para se firmarcomo veículo de comunicação de massa.

2.2.2.2.2. A contracultura foi um movimento cultural de combate à cultura oficial.Opunha-se à sociedade de consumo e à indústria cultural. Defendia a artemarginal, a liberdade individual e a radicalização política.

Aula 40 - A redemocratização

1.1.1.1.1. Um regime constitucional é aquele em que os cidadão vivem sob a proteçãode uma lei fundamental que estabelece os princípios e regras básicas de umadeterminada sociedade. Em um regime ditatorial, o respeito aos direitosindividuais e coletivos fica a critério dos detentores do poder.

2.2.2.2.2. A promulgação da Constituição, em 1988, representou o término de umalonga transição política, iniciada no começo do governo Geisel, em 1974.O país passava agora a contar com instrumentos legais democráticos,fundamentais para o enfrentamento dos nossos graves problemas sociais.A Constituição de 1988 valorizou a participação política. Ampliou o diretode voto, garantindo esse direito para o analfabeto e para os jovens maioresde 16 anos. Permitiu ampla liberdade partidária. Ampliou a autonomia dosEstados e municípios. Fortaleceu o poder Legislativo. Não foi por acaso,portanto, que o presidente da Constituinte − o deputado Ulisses Guimarães− a denominou Constituição cidadã.