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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 9 • nº1928 Fevereiro/2015 Brumado O quintal produtivo, também chamado “terreiro” é um espaço enraizado na memória das famílias sertanejas como lugar do acolhimento e da alegria, das conversas entre vizinhos, lugar de festejos, lembranças e brincadeiras. A utilização desses espaços ao arredor da casa, reafirma que o uso sustentado da terra associado à otimização do uso da água, a diversidade produtiva dos sistemas agrícolas, bem como a gestão do conhecimento pelos próprios agricultores e agricultoras são estratégias para o fortalecimento agricultura familiar. O cultivo de diversas plantas no terreiro da casa, representa a expressão mais significativa do modo de vida do povo sertanejo, tendo as mulheres como as principias cultivadoras dos quintais produtivos. Tomate, beterraba, cenoura, pepino, couve, cebolinha, coentro, berinjela, pimentão, alface, abóbora, alho, milho, maxixe, melancia. Todos esses produtos são cultivados em uma área de menos de meio hectare. A diversidade das espécies é fruto da dedicação de agricultoras e agricultores da Comunidade Boi Morto, localizada a 54 km da sede do município de Brumado, região sudoeste da Bahia. Lá, residem cerca de 80 famílias. Dessas, 26 conquistaram as tecnologias de produção da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Diversos agricultores e agricultoras já sentem sua vida mudar completamente, aumentando a sustentabilidade produtiva das unidades familiares e garantindo maior segurança alimentar e nutricional das famílias. Dona Maria Celeste Souza conta que já passou muita dificuldade por falta de água. A lata de água na cabeça era uma rotina diária e dedicava várias horas por dia na execução da tarefa. Cada família cultivava apenas um canteiro de hortaliças próximo a uma barraginha. Além disso, as pessoas abriam poço artesiano manualmente a procura de água. A agricultora ainda ressalta que já teve que se mudar para São Paulo para trabalhar no corte de cana. “Com a chegada das tecnologias de produção da ASA, nossa vida melhorou muito. Agora depois da chuva, é uma alegria muito grande, ver a cisterna cheia e muita fartura em nosso quintal”, afirma alegremente a agricultora. Dona Marinalva Moço dedica várias horas por dia para cuidar de seu quintal. Ela diz que as cisternas são um sonho que se concretizou, trazendo melhoria na qualidades de vida das famílias. “Antes a gente não tinha como produzir, e as vezes, nem como comprar. Hoje, já estamos vendendo, os vizinhos vêm aqui comprar e também partilhamos com os amigos. A venda das hortaliças já ajuda na merenda das crianças”, destaca. Tecnologias sociais motivam agricultores e agricultoras da comunidade Boi Morto com produção agroecológica Dona Maria Celeste Souza Dona Marinalva Moço

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A comunidade Boi Morto, município de Brumado, após a conquista das tecnologias sociais, vem se dedicando na produção agroecológica ao arredor de casa, reafirmando a possibilidade de vida digna na região semiárida.

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Page 1: Tecnologias sociais motivam agricultores e agricultoras da comunidade Boi Morto com produção agroeco

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 9 • nº1928

Fevereiro/2015

Brumado

O quintal produtivo, também chamado “terreiro” é um espaço enraizado na memória das famílias sertanejas como lugar do acolhimento e da alegria, das conversas entre vizinhos, lugar de festejos, lembranças e brincadeiras. A utilização desses espaços ao arredor da casa, reafirma que o uso sustentado da terra associado à otimização do uso da água, a diversidade produtiva dos sistemas agrícolas, bem como a gestão do conhecimento pelos próprios agricultores e agricultoras são estratégias para o fortalecimento agricultura familiar. O cultivo de diversas plantas no terreiro da casa, representa a expressão mais significativa do modo de vida do povo sertanejo, tendo as mulheres como as principias cultivadoras dos quintais produtivos.Tomate, beterraba, cenoura, pepino, couve, cebolinha, coentro, berinjela, pimentão, alface, abóbora, alho, milho, maxixe, melancia. Todos esses produtos são cultivados em uma área de menos de meio hectare. A diversidade das espécies é fruto da dedicação de agricultoras e agricultores da Comunidade Boi Morto, localizada a 54 km da sede do município de Brumado, região sudoeste da Bahia. Lá, residem cerca de 80 famílias. Dessas, 26 conquistaram as tecnologias de produção da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Diversos agricultores e agricultoras já sentem sua vida mudar completamente, aumentando a sustentabilidade produtiva das unidades familiares e garantindo maior segurança alimentar e nutricional das famílias.Dona Maria Celeste Souza conta que já passou muita dificuldade por falta de água. A lata de água na cabeça era uma rotina diária e dedicava várias horas por dia na execução da tarefa. Cada família cultivava apenas um canteiro de hortaliças próximo a uma barraginha. Além disso, as pessoas abriam poço artesiano manualmente a

procura de água. A agricultora ainda ressalta que já teve que se mudar para São Paulo para trabalhar no corte de cana. “Com a chegada das tecnologias de produção da ASA, nossa vida melhorou muito. Agora depois da chuva, é uma alegria muito grande, ver a cisterna cheia e muita fartura em nosso quintal”, afirma alegremente a agricultora.Dona Marinalva Moço dedica várias horas por dia para cuidar de seu quintal. Ela diz que as cisternas são um sonho que se concretizou, trazendo melhoria na qualidades de vida das famílias. “Antes a gente não tinha como produzir, e as vezes, nem como comprar. Hoje, já estamos vendendo, os vizinhos vêm aqui comprar e também partilhamos com os amigos. A venda das hortaliças já ajuda na merenda das crianças”, destaca.

Tecnologias sociais motivam agricultores e agricultoras da comunidade Boi Morto com produção agroecológica

Dona Maria Celeste Souza

Dona Marinalva Moço

Page 2: Tecnologias sociais motivam agricultores e agricultoras da comunidade Boi Morto com produção agroeco

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

Seu José Mário e dona Maria Moço são os pais de Marilene, eles ficam emocionados ao ver água perto de casa e o quintal com grande diversidade de

plantas. Seu Mário, como é conhecido popularmente, já está fazendo alguns experimentos e dar dicas para produzir de forma agroecológica. “A babosa, por ser um tipo de planta medicinal bem conhecida no Brasil, resolvi inventar um repelente para minhas plantas e deu certo. Cortei pedaços pequenos de babosa, coloquei numa lata de 20 litros e cozinhei, deixei esfriar e depois engarrafei. Então joguei no feijão nascido de 15 dias para cá e percebi que os

insetos despareceram. Fiz o teste também nas hortas e acredito que isso será uma coisa muito boa”, afirma o agricultor com um sorriso no rosto.

Dona Zita Borges, também afirma que a babosa é um ótimo repelente para as hortaliças e também no combate a doenças em galinhas. “Eu peguei três pedacinhos da babosa, coloquei num balde com água, uma tampinha de

água sanitária e deixei de molho por três dias. Depois

pulverizei nas hortas. Também utilizei esse repelente para as galinhas

beberem. Aqui morria muitas galinhas, depois que fiz isso, nunca mais morreram. Se está dando certo, vou continuar usando esse repelente”, salienta dona Zita.

O quintal produtivo de seu Deusdete Santos e dona Zeine Aparecida é um exemplo bem sucedido de um cultivo diversificado de hortaliças. O agricultor afirma que ao participar do intercâmbio e cpacitções, aprendeu como organizar seu quintal, trabalhando de forma agroecológica, utilizando a rotação de cultura e os defensivos naturais. Agora ele já está passando seus conhecimentos para outras pessoas. “O que a gente aprende tem que ser passado um para o outro e assim vai. As pessoas passam por aqui e ficam admirados com o meu quintal”, argumenta seu Deusdete.A produção dos quintais agroecológicos está favorecendo que as famílias se alimentem melhor, bem como um aumento da renda familiar, mediante a comercialização dos produtos e consequentemente melhorando a qualidade de vida das famílias envolvidas.

Realização Apoio

Dona Zita Borges

Família de seu Deusdete apresenta seu quintal produtivo